relatÓrio da semana pedagÓgica de 2019: a docência ... · relatÓrio da semana pedagÓgica de...

82
RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência Jurídica em um Contexto de Transformações REPORT ABOUT THE PEDAGOGICAL WEEK OF 2019: The Experience of Law Teaching in a Transforming Context Maria Paula Dallari Bucci Presidente da Comissão de Graduação da Faculdade de Direito da USP. Professora Associada do Departamento de Direito do Estado. Coordenadora da Semana Pedagógica de 2019. Rodrigo Pagani de Souza Membro titular da Comissão de Graduação da Faculdade de Direito da USP. Professor Doutor do Departamento de Direito do Estado. Coordenador da Semana Pedagógica de 2019. RESUMO * * Os signatários registram os seus agradecimentos a todos os participantes da Semana Pedagógica de 2019, que, na condição de expositores, debatedores, mediadores, servidores envolvidos na sua organização e viabilização, e expectadores, tornaram-na uma realidade. Para os fins da confecção deste relatório, registram sua especial gratidão aos membros da Comissão de Graduação que se incumbiram do papel de “relatores” dos trabalhos, tomando notas durante as atividades e elaborando memorandos de síntese das apresentações e debates havidos em cada mesa ou oficina, os quais, uma vez reunidos e consolidados, resultaram no presente documento. Foram eles, nomeadamente, conforme a sequência de atividades relatadas, os Professores Samuel Rodrigues Barbosa, José Augusto Fontoura Costa, Flávio Roberto Batista, Wagner Menezes, Ronaldo Lima dos Santos, Maria Cristina Carmignani e Rafael Diniz Pucci. Ainda para a confecção deste relatório, registram seu igualmente muito especial agradecimento a Waldemar Turi Baldusco, da Secretaria da Comissão de Graduação, responsável pela primeira consolidação e articulação dos memorandos em um só texto, de maneira competente e bastante proveitosa para a chegada a este produto final. Por fim, advertem que tanto os memorandos que lhe serviram de base, como este relatório em si, não foram submetidos à revisão dos participantes. Eventuais imprecisões, assim, podem ter involuntária e pontualmente ocorrido, sem embargo da expectativa dos signatários de que, a

Upload: others

Post on 28-Jul-2020

5 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência Jurídica em um Contexto de Transformações

REPORT ABOUT THE PEDAGOGICAL WEEK OF 2019:

The Experience of Law Teaching in a Transforming Context

Maria Paula Dallari Bucci

Presidente da Comissão de Graduação da Faculdade de Direito da USP. Professora Associada do Departamento de Direito do Estado.

Coordenadora da Semana Pedagógica de 2019.

Rodrigo Pagani de Souza Membro titular da Comissão de Graduação da Faculdade de Direito da USP.

Professor Doutor do Departamento de Direito do Estado. Coordenador da Semana Pedagógica de 2019.

RESUMO*

* Os signatários registram os seus agradecimentos a todos os

participantes da Semana Pedagógica de 2019, que, na condição de expositores, debatedores, mediadores, servidores envolvidos na sua organização e viabilização, e expectadores, tornaram-na uma realidade. Para os fins da confecção deste relatório, registram sua especial gratidão aos membros da Comissão de Graduação que se incumbiram do papel de “relatores” dos trabalhos, tomando notas durante as atividades e elaborando memorandos de síntese das apresentações e debates havidos em cada mesa ou oficina, os quais, uma vez reunidos e consolidados, resultaram no presente documento. Foram eles, nomeadamente, conforme a sequência de atividades relatadas, os Professores Samuel Rodrigues Barbosa, José Augusto Fontoura Costa, Flávio Roberto Batista, Wagner Menezes, Ronaldo Lima dos Santos, Maria Cristina Carmignani e Rafael Diniz Pucci. Ainda para a confecção deste relatório, registram seu igualmente muito especial agradecimento a Waldemar Turi Baldusco, da Secretaria da Comissão de Graduação, responsável pela primeira consolidação e articulação dos memorandos em um só texto, de maneira competente e bastante proveitosa para a chegada a este produto final. Por fim, advertem que tanto os memorandos que lhe serviram de base, como este relatório em si, não foram submetidos à revisão dos participantes. Eventuais imprecisões, assim, podem ter involuntária e pontualmente ocorrido, sem embargo da expectativa dos signatários de que, a

Page 2: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

2

Este artigo contextualiza e sintetiza as atividades da Semana Pedagógica, de 2019. Previstas no novo PPP da FDUSP, as semanas pedagógicas passaram a fazer parte do calendário oficial da unidade, realizando-se ao início de cada ano letivo, desde 2018, por iniciativa da Comissão de Graduação (CG), com o propósito específico de fomentar o intercâmbio de práticas de ensino do Direito entre os docentes e, de um modo geral, contribuir com a busca da excelência acadêmica pela instituição. Nesta edição de 2019 foram quatro dias de atividades, somando quase 30 horas. Os dois primeiros dias foram dedicados a uma reflexão institucional, com a presença de docentes que atuam na gestão da unidade e da universidade, acerca dos desafios ligados ao ensino, à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se efetivamente ao intercâmbio de práticas pedagógicas, envolvendo relatos de docentes da FDUSP e alguns outros convidados com reconhecido acúmulo intelectual sobre o ensino universitário. A reflexão institucional foi provocada pela dupla necessidade de implementar o novo PPP, aprovado em 2016, na unidade e a nova sistemática de avaliação do desempenho institucional calcada na apresentação de Projetos Acadêmicos (por todas as unidades da USP, seus departamentos e docentes, exigência da Resolução USP 7272/2016). Já a troca de experiências pedagógicas girou em torno de temas como o uso de monitorias, a promoção da pesquisa, da inclusão, da internacionalização e o uso de ferramentas digitais, como o e-Disciplinas (ambiente Moodle). Resultado notável foi um debate mais ampliado e mobilizador da comunidade da FDUSP. Credita-se tal amplitude seja ao formato de mesas de debates com múltiplos docentes, seja ao estímulo à participação de pós-graduandos como parte de sua preparação para o estágio supervisionado em docência no âmbito do consagrado PAE, seja, ainda, ao engajamento da CG e das demais instâncias da unidade, nalguma medida, no planejamento e concretização do evento, numa mobilização ímpar, condizente com o contexto de transformações. Palavras-chave: Semana Pedagógica – palestras – ensino jurídico - docência ABSTRACT This article contextualizes and sums up the activities of the Pedagogical Week

of 2019. Contemplated in the new Political Pedagogical Project (PPP) of the

USP’s Faculty of Law, the pedagogical weeks became part of the official

calendar of the faculty, taking place at the beginning of each academic year

since 2018 as an initiative of the Graduate Committee (CG). Their specific

purpose is to stimulate the interchange of teaching practices amongst the

partir das contribuições de todos os relatores, tenham conseguido produzir um documento, no geral, fiel e útil à memória institucional.

Page 3: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

3

professors and, in a broader sense, to contribute to the institution’s search for

academic excellence. In this 2019 edition there were four days of activities,

encompassing almost 30 hours. The first two days were dedicated to an

institutional reflection upon the challenges related to the teaching,

researching, extension, and management activities, with the presence of some

professors responsible for the University’s and the Faculty of Law’s

management. On the other hand, the last two days were effectively devoted to

the interchange of pedagogical practices, involving perspectives both from

professors of the Faculty of Law as well as from other external invited

professors with recognised intellectual baggage on higher education. This

institutional reflection was provoked by the double-necessity of implementing

the new PPP, approved in 2016, at the Faculty of Law and implementing as

well the new system of institutional performance’s evaluation grounded on the

presentation of Academic Projects (by all USP’s faculties, as well as its

departments and professors, as required by USP’s Resolution 7272/2016). The

exchange of pedagogical experiences revolved around some current hot topics,

such as the use of teaching assistance, the promotion of research, the

promotion of inclusion against discrimination of any kind, of

internationalization, as well as the use of digital teaching and learning tools,

such as e-Disciplinas (originally Moodle). A remarkable result was the taking

place of a much broader and mobilising debate at the Faculty of Law’s

community than that achieved by the first initiatives. Such amplitude is

credited to the more encompassing panels involving multiple professors, as

well as to the stimulus given to the participation of post-graduate students as a

part of their formal preparation for teaching assistant activities under the

well-established Program of Teaching Improvement (PAE). The higher level of

engagement is also credited to the specific contribution of all members of CG

and many other members of other institutional committees and instances of the

Faculty of Law, who took part in the planning and realisation of the event, in

an unparalleled mobilisation, tantamount to the context of expressive

transformations within the Faculty, the University, and the higher education’s

scenario in Brazil and abroad.

Keywords: Pedagogical Week - lectures - legal education - teaching Introdução: a docência jurídica em um contexto de transformações Previstas no novo Projeto Político-Pedagógico (PPP) da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP), as semanas pedagógicas passaram a fazer parte do calendário oficial

Page 4: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

4

da unidade, realizando-se ao início de cada ano letivo, desde 2018, com o propósito específico de fomentar o intercâmbio de práticas de ensino do Direito entre os docentes e, de um modo geral, contribuir com a busca da excelência acadêmica pela instituição.

Sua previsão no PPP foi feita na esteira da percepção de que se afigurava necessário um espaço institucionalizado de promoção do intercâmbio de experiências pedagógicas entre os docentes, especialmente de boas práticas e de desafios da docência. A expectativa era de que certamente adviriam ganhos institucionais com o incremento desse intercâmbio, costumeiramente pouco frequente. Mote para as primeiras experiências de troca neste formato, ainda nos anos de 2016 e 2017, foram as denominadas “Oficinas de Moodle”. Nelas os docentes reuniram-se para treinamento no uso desta plataforma digital de organização das atividades de ensino e aprendizado e interação com o corpo discente (atualmente denominada, na Universidade, de “e-Disciplinas”). Os treinamentos no uso da ferramenta evoluíram, naqueles mesmos anos, para as chamadas “Oficinas de Intercâmbio de Experiências Pedagógicas”, em que o compartilhamento de experiências pedagógicas para além do uso da ferramenta digital passou a ter lugar. Questões do tipo “Como dar uma boa aula expositiva?”, ou “Como realizar seminários sobre textos conceitualmente complexos?”, ou, ainda, “Experiências com uso de monitoria na graduação”, passaram a povoar aquelas Oficinas de Intercâmbio, ao lado de questões práticas ainda ligadas ao uso da ferramenta, do tipo “Como aplicar exercícios e avaliar atividades via Moodle?” ou “Limites e possibilidades do uso" daquela plataforma digital.

As Oficinas de Intercâmbio então foram o embrião das Semanas Pedagógicas formalmente instituídas no calendário da unidade. Digno de nota, ainda acerca das experiências embrionárias, foi o contexto de transformações em que se manifestaram. A FDUSP passava por intensas rodadas de

Page 5: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

5

discussão para a aprovação de um novo PPP, realizando-se várias mesas de debate do então denominado “Projeto Sanfran 190”, em alusão à comemoração dos 190 anos da criação dos cursos jurídicos no País, em 1827. Esta ambiência de reflexão acerca de um projeto para a instituição certamente contribuiu para que, paralelamente, no âmbito da Comissão de Graduação (CG), também se refletisse sobre a necessidade de institucionalização de espaços para discussões pedagógicas, de troca de experiências, de disseminação de boas práticas, de aperfeiçoamento individual dos docentes, e, neste processo, de busca da excelência acadêmica pela instituição como um todo.

A primeira Semana Pedagógica após a aprovação do PPP realizou-se em 2018, tendo lugar na semana anterior ao início das aulas de graduação, no pressuposto de que o momento seria propício a um intercâmbio potencialmente proveitoso ao planejamento de atividades que ainda estariam por se iniciar. Evidentemente, não se pressupunha que cada docente estaria a organizar o programa das respectivas disciplinas a ministrar exatamente naquele momento, tão próximo ao início das aulas, mas, com realismo, entendia-se que a ocasião poderia ser a melhor disponível para um intercâmbio de experiências e uma reflexão sobre os rumos. Afinal, tratava-se do prelúdio da retomada das atividades de ensino, prevista para a semana seguinte, cujo marco seriam as aulas magnas inaugurais do ano letivo para os cursos diurno e noturno de graduação. Aquela Semana de 2018, organizada no âmbito da CG, ainda seguiu o padrão das Oficinas de Intercâmbio dos anos anteriores.

Finalmente, nos dias 19 a 22 de fevereiro de 2019, realizou-se, no auditório Ruy Barbosa Nogueira, no prédio histórico das Arcadas, a Semana Pedagógica de 2019, conforme programação anexa a este relatório.

Como se pode verificar da consulta à programação, ela foi dividida em quatro dias de atividades. Os dois primeiros (19 e 20

Page 6: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

6

de fevereiro) foram dedicados a uma reflexão institucional, envolvendo depoimentos de docentes atuantes em diversas instâncias de gestão da unidade e da Universidade acerca dos desafios ligados ao ensino, à pesquisa, à extensão e à gestão. Os dois últimos (21 e 22 de fevereiro) foram dedicados efetivamente ao intercâmbio de práticas pedagógicas, envolvendo relatos de múltiplos docentes da FDUSP e de alguns outros convidados com reconhecida reflexão sobre ensino universitário.

Algumas inovações, decorrentes de aprendizados com as experiências anteriores, merecem destaque. Um conjunto delas esteve voltado à mobilização do público-alvo da Semana – docentes e pós-graduandos – para uma efetiva participação nos trabalhos e um aproveitamento da oportunidade.

Primeiramente, com vistas à mobilização dos docentes, uma das estratégias foi a realização de mesas de debate compostas por número significativo de expositores e debatedores. Não raro, os debatedores e expositores seriam oriundos de distintos departamentos.1 Deveras, entre os maiores desafios da Semana, desde as experiências embrionárias, sempre esteve a mobilização dos docentes para dela participarem. Fatores vários contribuem para que não seja frequente a disposição de grande parcela do corpo docente para o engajamento em discussões sobre métodos e práticas de ensino jurídico – entre esses fatores, certamente, o acúmulo de atividades tanto acadêmicas como, em muitos casos, profissionais. Como mobilizá-los? Como propiciar um espaço de intercâmbio no qual o docente sinta que o seu engajamento é proveitoso, para si e para os beneficiários de suas atividades? Mais do que isso, como estimulá-lo de tal forma que,

1 Mais de quarenta e cinco docentes estiveram envolvidos nos papeis

de expositores, debatedores, mediadores, e relatores, nas várias mesas, sem contar os que se somaram à expressiva maioria de pós-graduandos da plateia participante. Os nove departamentos da FDUSP também se fizeram representar nas mesas, assim como todas as principais comissões estatutárias da unidade.

Page 7: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

7

além de enxergar valor, tenha a disposição de efetivamente priorizar a participação na Semana em detrimento de outros tantos compromissos e responsabilidades? Este sempre fora e tem sido um dos maiores desafios, como, aliás, ressaltou o Diretor da FDUSP já na primeira edição da Semana Pedagógica em 2018. Pois, na programação para a Semana de 2019, cuidou-se de formatar mesas com vários debatedores, de tal sorte que o próprio engajamento nas mesas de debate já, em si, constituísse espaço mínimo de troca. Sem prejuízo, é claro, das participações pontuais no debate pelo público expectador, estimulada com o franqueamento da palavra.

Ainda nessa linha de mobilização, à congregação de número mais expressivo de debatedores e expositores nas mesas aliou-se a busca de apoio da diretoria, que foi decisivo – seja pelo envio, por esta, com antecedência, de convocação aos docentes, seja pela participação direta dos próprios Diretor e Vice-diretor na mesa inaugural, deflagrando os trabalhos com o compartilhamento de suas visões e simbolizando, com isto, a importância conferida pela instituição à reflexão sobre as práticas de ensino jurídico e os desafios para a melhoria da qualidade da experiência acadêmica.

Uma segunda inovação introduzida na Semana de 2019 foi a especial mobilização dos pós-graduandos. O convite já lhes vinha sendo dirigido nas experiências anteriores (na Semana de 2018 e, ainda, nas precursoras Oficinas de Intercâmbio); porém, faltava um incentivo maior. Desta feita, após tratativas entre a CG e a CPG, esta última responsável pelo tradicional Programa de Aperfeiçoamento do Ensino (PAE) no âmbito do qual pós-graduandos se dedicam ao chamado Estágio Supervisionado em Docência junto a professores, atuando como monitores ou “estagiários docentes” nas disciplinas de graduação, acertou-se que aqueles que participassem da Semana Pedagógica, em determinada medida, já cumpririam parte da Etapa de Preparação Pedagógica, prévia ao efetivo início dos estágios supervisionados.

Page 8: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

8

Assim, como resultado, observou-se um engajamento maior de pós-graduandos nas atividades. Ao cabo, os pós-graduandos que cumpriram requisito mínimo de presença (aferida com o auxílio de representantes das Secretarias da CG e da CPG) e apresentaram relatórios das atividades ficaram efetivamente dispensados de parte da Etapa de Preparação para o estágio em docência que aconteceria mais adiante no mês de abril.2 Importante ressaltar que a contribuição da CPG, para tal arranjo, foi decisiva.

Uma terceira medida para a Semana de 2019 residiu na mais efetiva mobilização dos próprios membros da CG, instância que tem assumido a responsabilidade pela concepção, organização e coordenação das semanas pedagógicas, em interação e articulação com outros tantos órgãos da unidade. Nesta edição de 2019, cada membro da CG, titular ou suplemente, esteve de alguma forma engajado nas atividades – seja como expositor, seja como mediador de mesa, seja, ainda, como relator das exposições e debates havidos.

O trabalho dos relatores foi de especial relevância, acompanhando cada mesa e tomando notas, depois articuladas em memorandos que, uma vez reunidos, constituíram a base do presente relatório. Sem tal contribuição de todos e cada um dos membros do colegiado, este registro simplesmente não teria sido possível. A cada um deles, nomeados ao início deste relatório, os signatários reiteram o seu agradecimento e os votos de que este esforço coletivo de registro e memória possa ser útil a reflexões futuras, ajudando na busca incessante do aperfeiçoamento.

Merece registro, ademais, a atuação dos mediadores – também membros da CG –, os quais desempenharam, mais do

2 A consulta a estes relatórios de pós-graduandos também auxiliou, de modo complementar, na síntese expressa no presente relatório, paralelamente à consolidação dos memorandos preparados pelos docentes relatores.

Page 9: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

9

que o papel de mediação das exposições e debates, o de “anfitriões” responsáveis pelo bom andamento de cada sessão nos seus detalhes. Naturalmente, em se tratando de evento voltado ao público interno, todos os docentes em certa medida seriam “anfitriões” por estarem atuando no próprio ambiente de trabalho acadêmico, mas se fazia necessária e oportuna a divisão das tarefas, de tal maneira que um membro da CG pudesse dedicar-se à acolhida dos colegas expositores e debatedores convidados.3

Para além das medidas de mobilização dos docentes, dos pós-graduandos e da própria CG, uma quarta inovação, ainda em prol de uma mais ampla mobilização, foi a realização da Semana Pedagógica de 2019 já na primeira semana das atividades letivas na graduação (mais precisamente, de terça a sexta-feira daquela semana, reservada a segunda-feira para as tradicionais aulas inaugurais). Percebeu-se que o ambiente acadêmico naquela semana estaria mais efervescente, com maior frequência de docentes e também alunos, o que contribuiria para maior adesão aos convites de participação na Semana Pedagógica.4 Dúvida existia sobre se as atividades programadas para a Semana Pedagógica conflitariam, ou poderiam se confundir nalguma medida, com as da tradicional SEREC (Semana de Recepção aos Calouros), também organizada por comissão da faculdade e também organizada usualmente com bastante zelo pelos responsáveis. Um grato resultado foi a ausência de constatação, na prática, de qualquer interferência.

3 Os mediadores contribuíram, inclusive, no contato prévio com os convidados para integrar as mesas, no envio dos lembretes perto da data de realização do evento, etc.

4 Em que pese o fato de ainda não terem se iniciado as aulas de pós-graduação, o que sugeriu a necessidade de, no futuro, fazer-se um ajuste para que o próprio calendário da pós-graduação passe a prever a Semana Pedagógica como uma das atividades voltadas a pós-graduandos (ao lado dos docentes), mesmo anterior ao início das aulas de pós.

Page 10: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

10

Isto em grande medida devido à marcante distinção entre os públicos-alvo da Semana Pedagógica e da SEREC. A Semana Pedagógica volta-se aos docentes da instituição e também aos pós-graduandos, interessados no aperfeiçoamento das suas práticas de ensino do Direito; já a SEREC volta-se, por definição, aos calouros do curso de graduação, ainda que, naturalmente, mobilize parte do corpo docente e os demais discentes a recepcioná-los, com uma programação de atividades de acolhida e ambientação, acadêmicas e culturais. Dessa forma, o público-alvo da Semana Pedagógica é totalmente distinto daquele outro. Essa distinção realmente possibilitou o transcurso das distintas programações em paralelo, sem dificuldades por conta disso.

Por último, uma quinta inovação para esta Semana de 2019 – esta de cunho mais acentuadamente substantivo do que organizacional – residiu na própria agenda de debates concebida, que criou espaço para o debate das questões institucionais que estavam na “ordem-do-dia”, como prioritárias, embora fossem além do intercâmbio de experiências pedagógicas. Eram sobretudo as questões da implementação do PPP e da estruturação interna da política de avaliação do desempenho baseada na confecção de Projetos Acadêmicos. Esta dupla agenda de questões mais prementes encontrou na Semana mais um espaço institucional para ser refletida e debatida.

A fim de viabilizar o debate dessa agenda institucional, foram então congregados, de um lado, docentes engajados na gestão da própria Universidade – a exemplo de pró-reitores e presidentes de comitês universitários –, como maneira de ajudar a situar a unidade no contexto institucional mais amplo; de outra perspectiva, foram também convidados alguns docentes externos à FDUSP, de reconhecido acúmulo intelectual sobre o ensino universitário; por fim, as várias comissões institucionais da unidade foram envolvidas.

Page 11: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

11

Nesse ponto, dado que parte do debate seria a respeito de questões institucionais, formataram-se “sessões conjuntas” envolvendo as distintas comissões institucionais. Novamente destacou-se a estratégia organizacional. Montaram-se mesas que seriam, a um só tempo, parte das atividades da Semana Pedagógica e sessões conjuntas da CG com outras instâncias da unidade – nomeadamente, o Conselho Técnico-Administrativo (CTA), a Comissão de Pós-Graduação (CPG), a Comissão de Cultura e Extensão (CCEx) e a Comissão de Pesquisa (CPq). Tais sessões serviriam de canais para a desejada externalização e compartilhamento de visões acerca dos desafios de cada frente de atuação universitária – ensino, pesquisa, extensão e gestão –, especialmente na implantação do novo PPP e na estruturação da nova política de avaliação do desempenho institucional

Só se chegou a esta agenda com o engajamento de todo o colegiado da CG, que dedicou espaço em suas reuniões ordinárias, ao longo do ano de 2018, para discutir, em sucessivas rodadas, as minutas da programação da Semana Pedagógica de 2019. Dessa maneira, a programação final resultou de diagnóstico mais ponderado dos acertos e desacertos do passado e alguma reflexão sobre os desafios prioritários do presente e do porvir.

Como se pode observar, todas estas novidades da Semana Pedagógica de 2019 dizem muito com o ambiente de transformações internas à unidade e à própria USP, então vivenciado.

Mas, para além das transformações internas, sobretudo às ligadas à dupla agenda acima mencionada, externamente verificavam-se outros tantos desafios, como o da crise fiscal do Estado, a limitar o orçamento das universidades estaduais paulistas e, ao mesmo tempo, evidenciar a necessidade de mais eficiência no emprego dos recursos públicos.

Page 12: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

12

Enfrentava-se ainda o desafio do posicionamento da universidade e seu programa de pós-graduação perante as políticas de avaliação do Ministério da Educação (MEC) e da Capes, e até mesmo do seu posicionamento em rankings de mensuração de desempenho em geral, algo que, entre outras medidas, desencadeara a criação de uma Comissão de Indicadores de Desempenho, pela Diretoria, em fins de 2018, com vistas a estudar possíveis indicadores para a FDUSP.5 Tal iniciativa emergira em sintonia com a criação, junto à reitoria da Universidade, pouco antes, de um escritório ou unidade de inteligência para subsidiar o planejamento estratégico mediante a reunião de dados de desempenho e, inclusive, diálogo com as múltiplas instâncias externas de avaliação e ranqueamento.6

Em curso ainda se verificava o desafio da maior inclusão no âmbito da unidade, tendo se iniciado a efetiva implementação da política de cotas no sistema de ingresso no curso de Direito.

As novas ferramentas de ensino e pesquisa, inclusive as plataformas digitais; a transformação das carreiras jurídicas para muito além das interações no foro judicial, envolvendo a ampliação do âmbito da advocacia preventiva, da advocacia perante a administração pública e na própria administração pública, da advocacia em organizações da sociedade civil, assim como a necessidade de capacitação dos profissionais do direito para atuação em instâncias consultivas e, ainda, de mediação e arbitragem (no âmbito dos chamados métodos alternativos de

5 Referida Comissão foi criada por intermédio da Portaria GCI nº 046/2018, sendo composta pelos professores Nina Beatriz Stocco Ranieri (presidente), Ronaldo Porto Macedo Júnior, Rafael Mafei Rabelo Queiroz e Rodrigo Pagani de Souza.

6 O Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho da USP, para

subsidiar o planejamento e ações estratégicas da instituição, é dirigido atualmente por Aluisio Segurado, professor titular da Faculdade de Medicina da USP.

Page 13: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

13

resolução de conflitos); a própria transformação do perfil do ingresso na FDUSP, com sua formação básica já na era digital, e, ainda, a partir das cotas, com novos perfis socioeconômicos; as mutações do fenômeno jurídico propriamente dito, mais global, mais conectado a movimentos e políticas públicas não necessariamente gestados pelo Estado, mas pela atuação de múltiplos “atores” globais; todos esses, de certa maneira, são fatores a contribuir para o caldo de cultura a indicar um contexto de significativas transformações em curso, paralelamente aos desafios institucionais internamente desencadeados.

Neste contexto de expressivas transformações, a Semana Pedagógica de 2019 serviu para uma retomada das reflexões sobre o significado do exercício da docência em Direito, e, paralelamente, da função social da FDUSP. Para tanto, mais do que a troca de experiências sobre boas práticas pedagógicas e desafios comuns à experiência de sala-de-aula ou preparação para a sala-de-aula – propósito natural das semanas pedagógicas conforme originalmente concebidas –, a Semana de 2019 buscou, com esta agenda ligada à implementação do PPP e à estruturação da nova política de avaliação institucional, viabilizar uma reflexão mais ampla acerca do significado da docência em Direito e dos papeis da unidade e da Universidade na sociedade contemporânea.

Docentes e pós-graduandos puderam então efetivamente compartilhar experiências, mas também melhor conhecer as mudanças institucionais em curso, debatê-las e contribuir como seus artífices. 1. Sessão conjunta do CTA-CG: relações e convergências entre o PPP do curso e os Projetos Acadêmicos da Faculdade, dos Departamentos e dos Docentes

Page 14: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

14

A primeira mesa teve como expositores os professores Luiz Henrique Catalani, Presidente da Comissão de Atividades Acadêmicas do Conselho Universitário da USP (CAA); Floriano de Azevedo Marques Neto, Diretor da Faculdade de Direito; e Celso Fernandes Campilongo, Vice-diretor da Faculdade de Direito. A professora Maria Paula Dallari Bucci, presidente da Comissão de Graduação (CG) e coordenadora da Semana Pedagógica de 2019, atuou como mediadora dos debates. O professor Samuel Rodrigues Barbosa, membro da CG, foi relator.

A mesa começou com uma explicação da professora Maria Paula sobre como seriam divididos os eventos previstos para a Semana. Ela apontou que os primeiros encontros seriam destinados mais propriamente para o debate das questões ligadas à instituição, especialmente a temas relativos à avaliação e, tendo em vista os desafios de implantação do novo PPP, às áreas de pós-graduação, ensino, cultura e extensão; já os últimos dois dias da Semana seriam dedicados à discussão de práticas pedagógicas no ensino do Direito, a partir de relatos de boas experiências, diagnósticos de desafios de inclusão e diversidade, entre outros aspectos. O objetivo comum a toda a Semana residiria, resumiu a professora, em propiciar uma reflexão mais aprofundada sobre a busca da excelência. Tudo baseado na visão de que a excelência acadêmica depende de um projeto coletivo e compartilhado. Após as orientações da Professora Maria Paula, passou-se a palavra ao professor Luiz Henrique Catalani. Ele iniciou sua exposição recuperando um tanto do histórico que levou à propositura da nova política de avaliação institucional.

Nesse sentido, aludiu aos históricos da CPA (Comissão Permanente de Avaliação) e da CAA (Comissão de Atividades Acadêmicas do Conselho Universitário da USP). A CPA foi criada em 1992 e tratada na Deliberação nº 04/2000 do Conselho Estadual de Educação, que dispõe sobre o processo de avaliação

Page 15: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

15

institucional. Segundo as normas, este processo deveria ser contínuo, permanente e feito pela própria instituição de ensino superior. Entre os aspectos primordiais da sistemática de avaliação introduzida figuram a verificação da eficácia e da eficiência do ensino; a importância dos programas de ensino; a relevância da produção cultural e científica no âmbito desses programas; a preocupação com a eficácia da formação profissional; a importância das ações comunitárias; e a qualidade da gestão. A avaliação dar-se-ia em ciclos quinquenais, com metodologia decidida internamente, sendo a avaliação interna submetida à análise de uma comissão externa. Nessa sistemática, o relatório final seria analisado pela chamada Câmara de Educação Superior. Em suma, a própria Universidade ficaria responsável por definir objetivamente os parâmetros de sua avaliação.

Após a adoção desse sistema de avaliação institucional, chegou-se a certa altura a um diagnóstico de que, nele, faltava a avaliação do docente – feita apenas ao início da sua carreira. Faltava ainda, conforme também se diagnosticou, um efetivo planejamento das atividades acadêmicas, em face do qual fosse possível a mensuração dos resultados alcançados. Olhar para “resultados” sem a clareza de como teriam sido originalmente planejados seria pouco em termos de prática de avaliação.

Criou-se, então, um Grupo de Trabalho para estudo e concepção de um novo processo avaliativo. Em 2016, alterou-se o Estatuto e o Regimento Geral da USP, de forma a introduzir-se a avaliação docente e criar-se a figura dos Projetos Acadêmicos. Foram instituídas, ainda, a chamada CAI (Câmara de Avaliação Institucional) e a CAD (Câmara de Avaliação Docente).

Após essa recuperação do histórico, em suas linhas gerais, o professor Catalani passou a falar sobre como deve ocorrer o processo de avaliação do desempenho de cada unidade no âmbito da nova política de avaliação da USP introduzida em 2016. Antes

Page 16: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

16

da Resolução 7.272/2016 – que prevê um processo mais objetivo de avaliação das unidades, tendo como ponto principal o Projeto Acadêmico e, de maneira inovadora, propõe uma avaliação para os docentes –, o diagnóstico, como assinalado, foi no sentido de que os parâmetros utilizados para mensurar a qualidade acadêmica da instituição eram falhos, pois tinham como ponto de partida para a avaliação o resultado, descolado de um processo prévio de planejamento. Não partiam, assim, de um planejamento preliminar, em função do qual o resultado atingido poderia ser mensurado. A partir dessa observação, o professor Catalani explicou como funcionaria a nova sistemática de avaliação, depois de aplicadas as mudanças pretendidas.

Esclareceu que existem três níveis de planejamento: o mais amplo é o Projeto Acadêmico da unidade universitária, passando em seguida para o nível dos Projetos Acadêmicos departamentais, até o nível mais específico dos Projetos Acadêmicos de cada professor. Essa é a sequência, não o inverso (que seria partir dos docentes, para os departamentos, para as unidades). O princípio é delimitar o que a universidade espera do docente. Os Projetos Acadêmicos dos docentes precisam se enquadrar nos Projetos departamentais e da unidade. Assim, busca-se que a Universidade tenha condições de avaliar se cada professor cumpre seu papel dentro do departamento e da unidade; afinal, ele terá que se adaptar ao projeto de seu instituto.

Isso cria uma possibilidade de melhor estimativa da

qualidade do que é produzido, porque induz à reflexão sobre como o Projeto individual pode colaborar para que a unidade como um todo prospere.

O professor Catalani também ressaltou a questão de a USP ser realmente excelente no que faz, mas pontuando que isso não nos dá o direito de estacionar. É preciso renovar e reformular para que a instituição continue excelente e atualizada em qualquer ramo do conhecimento.

Page 17: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

17

Destacou também, nessa perspectiva de reformulação, que

a nova política de avaliação constitui uma oportunidade de as unidades definirem seus Projetos Acadêmicos, com os respectivos critérios de avaliação. E este processo de definição será – e já está sendo – um aprendizado.

De resto, assinalou que a progressão horizontal do docente na carreira estará articulada com a avaliação docente. Acerca deste contexto de mudanças e a necessidade de reformar as instituições, o professor Celso Campilongo agregou interessante complementação, dizendo que a avaliação é o caminho para a qualidade. E que o processo de avaliação é uma “janela de oportunidades” para as unidades. Assim, fazê-la de maneira diligente é extremamente importante.

O contexto também é propício para o aproveitamento dessa “janela”, ressaltou o professor Campilongo. A área do Direito é muito dinâmica e está em constante transformação. Estamos passando pela implantação de um novo PPP, têm sido discutidos novos regimentos internos para a Faculdade de Direito e sua pós-graduação,7 há novas diretrizes para cursos de Direito, segundo o MEC – tudo isso leva a Faculdade a passar por várias mudanças simultaneamente, o que demonstra o quão delicado é o momento em que estamos. O professor destacou também a pequena queda que a Faculdade de Direito quase sofreu no conceito da CAPES, que só foi recolocada em seu status anterior mediante decisão proferida em sede de recurso. Entre outros

7 Nesse sentido, por intermédio da Portaria CPG-FDUSP nº 08, de

25/06/2018, do presidente da CPG constituiu Subcomissão para reforma do Regimento e Regulamento do Programa de Pós-Graduação em Direito da FDUSP, composta pelos Professores Titulares Ana Elisa Liberatore Silva Bechara (presidente), José Reinaldo de Lima Lopes, André Ramos Tavares e Renato de Mello Jorge Silveira.

Page 18: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

18

aprendizados, um diz respeito ao quão importante e necessário é saber registrar adequadamente as publicações feitas. Salientou, ainda, a importância de priorizar a qualidade ao invés da quantidade de produções.

O professor Floriano de Azevedo Marques Neto enfatizou que o momento é de grandes desafios. Nessa linha, chamou a atenção para todos os desafios que essas mudanças institucionais provocam. Além das transformações internas pelas quais a Faculdade de Direito passa – a efetiva implantação do novo PPP e a necessidade de estruturação da política de mérito acadêmico adotada por toda a Universidade –, há também os desafios externos. Neste contexto, ponderou que a Faculdade de Direito não pode ser um enclave autárquico dentro da Universidade, nem pode ser avaliada sem considerar as suas especificidades.

Os debates que se seguiram permitiram aprofundar tópicos discutidos. Em especial, enfatizou-se que a Universidade está com a disposição de dar efetividade à política de avaliação. Além disso, em atenção a uma observação dirigida à mesa acerca da participação do corpo discente na nova sistemática, ponderou-se que a mesma deverá acontecer ao longo do processo, embora a estratégia ainda esteja para ser definida com mais detalhes.

Percebe-se que a primeira sessão conjunta propiciou, em resumo, a percepção de como a nova política de avaliação deve ser construída conjuntamente entre as unidades, seus departamentos e docentes, tendo como instrumentos os Projetos Acadêmicos. E nela se verificou também a ênfase na percepção de que tal processo de avaliação deve ser visto como uma “janela de oportunidades” para a FDUSP, a fim de que reflita sobre sua trajetória, significado atual e metas futuras.

Page 19: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

19

2. Sessão conjunta CG-CPG: a avaliação como referência para o futuro da pós-graduação na Faculdade de Direito e suas relações com o novo PPP

A segunda sessão conjunta envolveu como expositores os professores Ana Elisa Bechara, Vice-Presidente da CPG; José Reinaldo de Lima Lopes; e Virgílio Afonso da Silva. A mesa também contou com a participação do professor Otavio Pinto e Silva como mediador, e o professor José Augusto Fontoura Costa como relator.

O professor Otávio Pinto e Silva iniciou a sessão

esclarecendo o objetivo de tratar das relações entre graduação e pós-graduação, inclusive seus impactos no PPP.

Em seguida, o professor José Reinaldo passou a

apresentar uma reflexão sobre o tema a partir da abordagem de três pontos: 1. A relação entre graduação e pós-graduação; 2. A concepção de Ciência do Direito; e 3. O caráter profissionalizante dos cursos jurídicos.

Sobre o primeiro ponto, destacou a indissociabilidade

entre graduação e pós-graduação, dado que a formação dos professores ocorro nos programas de mestrado e, principalmente, doutorado. Deste modo, a espécie de conhecimento produzido em pós-graduação é passada sistemática e periodicamente à graduação.

Essa formação, porém, passou por uma transformação. Há

cerca de 40 anos, o modelo era pautado pela presença de grandes

juristas, dos quais se esperava uma apropriação enciclopédica de conhecimento prévio acumulado. Hoje esse modelo já não se apresenta, havendo maior especialização e a formação de nichos temáticos e metodológicos relacionados com a pesquisa.

Page 20: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

20

Deste modo, as disciplinas optativas possibilitam uma melhor e mais aprofundada integração entre a atividade de pesquisa e o ensino no bacharelado. Tais matérias aparecem como um elemento irritante do currículo, ou seja, como uma revelação de uma dinâmica de produção do conhecimento que contrasta com a relativa estabilidade pressuposta do conhecimento acumulado.

Além disso, a pós-graduação, embora ainda tenha um

formato de curso, possibilita aos estudantes a experiência de debates em seminários, o que os auxilia no preparo para a docência.

No que concerne à reflexão sobre a Ciência do Direito, o

expositor destacou que o Direito não se conhece por meios empíricos, mas se trata de uma ciência de outra natureza. Embora não seja empírica, tampouco é meramente ideal, como a Matemática e partes da Lógica. Por conseguinte, deveria haver um maior investimento na pós-graduação para a formação de uma expectativa teórica sólida. É isso que faria a diferença: uma formação teórica inserida na prática do debate.

Considerando o Direito uma prática social, é preciso

admitir que essa vem se transformando. Isso deve ser tomado em conta, até porque a prática jurídica implica que a ciência que a sustenta não é mero sofisma e ilusão.

Por fim, sobre o terceiro aspecto, o expositor destacou o

caráter profissional ou profissionalizante do curso de graduação em Direito. Mas os profissionais formados, além do domínio das técnicas básicas, devem ser capazes de atitudes críticas e sofisticadas. A pós-graduação, portanto, contribui com a manutenção e difusão de conhecimento abstrato, mesmo que se deva reconhecer (como na Medicina ou na Engenharia) a multiplicidade de formas alternativas para formar um mestre ou doutor.

Page 21: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

21

Finda a exposição, o professor Otávio Pinto e Silva

retomou a palavra, ocasião em que destacou a importância dos comentários do professor José Reinaldo de Lima Lopes a respeito das optativas como espaço de diálogo.

Passou-se, em seguida, à exposição do professor Luís

Virgílio Afonso da Silva. Sua opção foi a de insistir em pontos de dissenso entre os presentes na discussão atual sobre a pós-graduação na Faculdade de Direito.

Em primeiro lugar, destacou haver um caráter escolar na

estrutura didática e nos conteúdos organizados em disciplinas. O cerne do curso são as aulas e o que se espera do estudante é a presença em sala para ouvir as exposições. O professor Luís Virgílio considera isso inconveniente, sobretudo para o doutorado, percurso acadêmico que considera a própria essência da pós-graduação, pois é crucial para a realização de pesquisa a formação de pesquisadores.

A estrutura atual deve ser revista, pois produz alguns

impactos negativos: a) há muitas aulas, raramente conectadas com a pesquisa; b) as turmas são muito numerosas, o que impede um debate aprofundado; c) isso implica pouca pesquisa relacionada com as disciplinas; d) também gera pouca interação entre docentes e discentes, bem como entre os próprios discentes; e e) não é um espaço adequado para o debate metodológico.

Além disso, destacou que o mestrado é muito longo e o

doutorado, curto. Embora ambos exijam 40 créditos a serem cumpridos em três anos, a complexidade do doutorado é mais elevada. Em particular, a exigência do dobro de créditos em sala de aula como requisito do doutorado direto surge como uma punição para quem opta por, e reúne as condições suficientes para, cursar essa modalidade.

Page 22: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

22

A proposta do expositor é que o doutorado não tenha

exigência de créditos disciplinares, parcialmente substituídos por seminários de pesquisa formalmente estruturados.

Avançando, o expositor identificou, também, a falta de

fomento à dedicação integral. A Faculdade de Direito, por razões estruturais e históricas, tem uma proporção reduzida de docentes em RDIDP (Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa). Seria possível tratar de incrementar o número de professores nesse regime a partir de uma maior facilidade para a concessão de bolsas e auxílios de pesquisa, bem como a redução dos entraves burocráticos.

Propôs também um debate para rever o papel do docente

no programa de doutorado, o qual poderia ser melhor desenvolvido nos seminários de pesquisa do que nas exposições disciplinares.

Prosseguindo, apontou como de grande importância a

reforma do credenciamento dos docentes no programa de pós-graduação. Nesse sentido, identifica uma assimetria entre o processo de ingresso nos quadros da Universidade, mediante concursos públicos bastante concorridos e com elevada exigência e, por outro lado, o credenciamento na pós-graduação, que é muito fácil.

Quanto a docentes externos à unidade, afirmou, há um

tratamento bastante benévolo, enquanto os docentes aposentados são desvalorizados. Já para aqueles da unidade, os critérios de credenciamento não implicam qualquer seleção. Oferecer disciplinas e participar de bancas não indicadores relevantes de pesquisa de qualidade. É importante enfrentar a questão dos critérios com base em produção e de sua métrica. Por exemplo, deve ser utilizada a classificação do Qualis/CAPES ou seria preferível algum outro parâmetro?

Page 23: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

23

Embora se possa prever tensões e conflitos em torno da redefinição dos critérios de credenciamento, é necessário modificá-los no sentido de que se tornem mais exigentes e mais relacionados à pesquisa de qualidade.

Por fim, ponderou que a atribuição de vagas de orientação

não deve seguir simplesmente o grau na carreira, mas a experiência e o regime de trabalho.

Ao término da exposição, o professor Otávio Pinto e Silva

passou a palavra à terceira expositora, professora Ana Elisa Bechara, Vice-presidente da CPG.

A expositora iniciou sua fala ressaltando a importância

histórica e as peculiaridades dos programas de mestrado e doutorado em Direito da FDUSP.

Trata-se, como sabido, do mais antigo programa de pós-

graduação (PPG) brasileiro na área do Direito e, portanto, foi elaborado em um contexto muito diferente do atual. A formação de mestres e doutores ainda era vista como uma honraria acadêmica importante, mas com impacto relativamente baixo no processo de formação profissional. Isto em um contexto de crescimento do número de vagas de graduação em todo o País, sem, todavia, a correspondente possibilidade de formação específica para a atividade acadêmica.

Por outro lado, o crescimento do Programa se deu

mediante o credenciamento de mais e mais docentes, com abertura de diversas vagas. Isso gerou uma estrutura imensa, com cerca de 200 professores credenciados e grande contingente de estudantes. Não há, pelo menos na área, qualquer programa de dimensões equivalentes no País. E as métricas de avaliação são elaboradas tendo em mente PPGs com 20 ou 30 docentes.

Page 24: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

24

Além disso, dado o seu caráter pioneiro, o PPG da FDUSP foi o principal instrumento de nucleação de todos os programas brasileiros, até porque, durante longo período, a alternativa era o doutoramento no exterior. Essa circunstância gera uma gigantesca responsabilidade na condução de produtor e transmissor de conhecimento científico. Essa responsabilidade se mostra clara à medida que as finalidades históricas iniciais, relacionadas à oferta de credenciais acadêmicas com impacto social e profissional, foram sendo substituídas pela constituição de um lugar privilegiado de construção do pensamento científico e de formação de pesquisadores. A consciência desse papel é relacionada com a função nucleadora do Programa.

Entretanto, as condições da estruturação histórica do PPG

da FDUSP implicaram características que se encontram tensionadas com as exigências decorrentes da mudança de suas finalidades e das pressões externas referentes a) à produção científica, b) à nucleação e c) à avaliação.

Em primeiro lugar, o crescimento decorrente de um

inchaço sem a estruturação de instâncias e procedimentos intermediários terminou por conservar uma cultura muito individualizada, com foco na figura do professor, papel que não apenas abrange a capacidade de docência e pesquisa, mas incorpora a condição de grande jurista. Mas esse mesmo papel, dotado de muito sentido há 50 ou 60 anos, converteu-se em uma caricatura de si próprio, pois disfuncional em relação às responsabilidades próprias da pós-graduação da atualidade.

O arrasto inercial desse grande sistema o manteve, por

muito tempo, fechado ao mundo. Nunca se deu muita atenção à crítica externa, inclusive à avaliação da CAPES e à adequação a exigências práticas. A produtividade relativamente baixa, em muitos casos decorrente da falta do hábito de gerar registro

Page 25: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

25

acadêmico (por exemplo, preenchendo os currículos na Plataforma Lattes e alimentando o ORCID8), a escassez de projetos financiados e a baixa articulação em grupos de pesquisa são sintomas dessa condição.

Uma forma regulamentar e regimental não pode deixar de

tocar nesses tabus, particularmente o credenciamento e recredenciamento docente.

A avaliação, por seu turno, não pode gerar um

eficientismo ou produtivismo puro e simples, o que pode decorrer da adoção de critérios meramente formais e mais indicadores de produção. As formas de avaliação devem ser pensadas como instrumentos de incentivo e indução de condutas adequadas, inclusive mediante a sensibilização para sua necessidade, a formação de uma consciência do papel de pesquisador e formador de pesquisadores, da importância dos processos de orientação e das formas de potencialização mediante a estruturação de grupos e do fortalecimento das relações entre docentes e discentes.

Sem um bom sistema de avaliação não é razoável a

mudança dos fluxos de formação de uma forma de curso para um modo mais flexível e uma forma de programa que admita meios alternativos de cômputo de créditos e coloque o foco na pesquisa. Isso deve estar atrelado a uma mudança estrutural capaz de remover entulhos culturais, particularmente aqueles centrado no papel do grande jurista. De uma maneira importante, flexibilizar estruturas e fluxos para deixar os destinos do PPG da FDUSP nas mãos de gestores solitários das próprias orientações e pesquisas é, provavelmente, deletério, embora possa ser virtuoso em um bom punhado de casos.

8 Sobre esta associação sem fins lucrativos denominada “ORCID,

Inc.”, basicamente voltada à colaboração entre redes de pesquisadores científicos, constituída sob a legislação do Estado de Delaware, nos Estados Unidos da América, ver: <www.about.orcid.org>.

Page 26: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

26

Algumas ações e reflexões que podem ajudar a formar

uma nova cultura e indicam caminhos importantes para a compreensão das novas funções da pós-graduação, segundo a expositora, são:

a) A valorização do PAE como forma de relacionamento

com a graduação, evitando quaisquer excessos, como a substituição indevida do professor. A atividade docente também é parte da vida acadêmica e o PAE é uma boa oportunidade para que os mestrandos e doutorandos conheçam práticas adequadas;

b) O incremento da quantidade de créditos em disciplinas

optativas na graduação facilita a integração com a pós, mediante a presença da pesquisa no bacharelado.

c) A relativização do império do orientador, marcado pelo

excessivo individualismo, pela ausência de debate e diálogo. É importante não formar feudos ao redor dos orientadores e possibilitar o exercício indevido do poder que estes têm sobre os estudantes e os candidatos a vagas.

d) O estabelecimento de padrões éticos elevados, inclusive

no campo da autoria, originalidade e ineditismo. A fraude acadêmica acontece em vários momentos; cola, plágio (usurpação de autoria) e autoplágio (reutilização não referenciada do próprio material autoral, escamoteando a falta de ineditismo ou originalidade) não são admissíveis na academia. As coautorias são um instrumento importantíssimo para dar arena aos trabalhos de estudantes e professores, mas não podem se converter em um mero expediente de apropriação do trabalho dos orientandos.

e) A internacionalização não como projeto individual de

construção de relações com professores e pesquisadores de instituições estrangeiras, mas com uma dimensão institucional. Esta construída mediante: i) formalização de convênios, ii)

Page 27: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

27

inclusão de pesquisadores estrangeiros em grupos e redes de pesquisa e vice-versa, iii) envolver docentes estrangeiros na oferta de disciplinas e seminários na graduação e pós-graduação, iv) ir além do eixo tradicional de importação subserviente do saber do hemisfério norte para formas de cooperação efetiva, inclusive nas relações Sul-Sul, com os BRICs e com países asiáticos, v) trabalhar na criação de oportunidades e coorientações com professores estrangeiros e realização de convênios de dupla-titulação.

f) O estabelecimento de critérios de credenciamento e

recredenciamento pautado na produção e no exercício adequado de atividades na pós-graduação. As métricas de avaliação não devem ser tidas como elementos de engessamento, mas oportunidades para que os programas produzam o que há de melhor. Elas também devem servir para modificar uma cultura em que muitos professores sequer sabem as diferenças entre grupos de pesquisa e grupos de estudo, ou entre áreas de concentração, linhas de pesquisa e projetos de pesquisa.

O PPP ajudou a criar e consolidar uma visão institucional

de projeto coletivo. O aprofundamento da relação entre pós-graduação e graduação é fundamental para sua integral implementação.

O professor Otávio Pinto e Silva então agradeceu a exposição e, depois de afirmar que não pode mais haver pesquisa ensimesmada, abriu a palavra ao público.

Com a palavra, o professor Luís Fernando Massonetto propôs uma reflexão sobre o produtivismo. Afirmou que o Direito é normalmente considerado uma arte e prudência, mas é pouco tratado como ofício e profissão, compreendida como resultante de um processo de transmissão de um saber fazer. Isso torna os juristas obcecados pela ideia nova, o desejo de produzir o emplastro machadiano, mas sem que isso dependa de pesquisa.

Page 28: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

28

Trata-se de uma forma fantasiosa de desalienação do trabalho, do qual se quer fugir, e em que o conhecimento se converte em um adorno.

Na construção do Domo de Florença é clara a distinção

entre o projeto (arte) e o canteiro (ofício) em que o saber prático

significa saber mandar. Este, portanto, é transmitido como formação de hierarquia. No Direito é assim, se ensina a mandar, não a fazer – observou o professor.

Na pós-graduação se enfatiza a inspiração e a arte,

negando-se o trabalho como forma primária da produção. Há uma tradição da genialidade. Diante disso, a formação de uma nova pós-graduação passa pela compreensão do Direito como trabalho, como artefato.

Com a palavra, o estudante Mário, da pós-graduação,

afirmou que os alunos são tratados como meros receptáculos, como se mencionara na sessão matutina do evento. Questiona, portanto, a necessidade de compreender e considerar a importância do trabalho dos estudantes.

A professora Maria Paula Dallari Bucci ressaltou a

importância de haver uma oportunidade para os professores ouvirem a si próprios. Ressaltou ainda a necessidade de debate e a importância das políticas públicas.

Propôs, então, uma reflexão metodológica a partir da

experiência com alunos de outras unidades (EACH, UFABC, ECA, etc.), os quais encaram com maior naturalidade e clareza a montagem de projetos de pesquisa, enquanto os alunos da Faculdade de Direito encontram dificuldades no estabelecimento de perguntas de pesquisa e no recorte do objeto.

Com a palavra, o professor José Reinaldo de Lima Lopes

propôs reflexão a respeito das abordagens dogmática e não

Page 29: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

29

dogmática do Direito. Em complemento, a professora Ana Elisa Liberatore Bechara sugeriu discussão sobre publicação e pesquisa.

Novamente com a palavra, o Prof. José Reinaldo de Lima

Lopes criticou a prática da Faculdade de Direito, onde os professores não pesquisam de maneira adequada, embora estudem muito. A falta de prática em pesquisa implica a ausência de projetos e, como no Direito não há laboratórios como espaço de integração com os alunos, é muito difícil ensinar a pesquisar. Essa perspectiva muda em relação ao trabalho, já que se identifica a tendência a começar a escrever cedo.

O modelo tradicional, porém, vem sendo perturbado por

influências externas, particularmente da CAPES e da Reitoria. O tema de um novo modelo de Universidade vem sendo debatido e deve entrar na pauta da Faculdade de Direito.

Na opinião do professor José Reinaldo, uma saída é

incrementar o foco na teoria jurídica. Isso porque sem noções como as de norma e sistema é impossível ensinar Direito Civil ou Direito Penal, por exemplo. Observa, ademais, que desde o séc. XIX houve um deslocamento da teoria como compreensão das categorias e suas relações sistêmicas para a ação e decisão, para fora do sistema, portanto. Não obstante, a qualidade da dogmática depende da qualidade da teoria e, portanto, esta deve servir como orientadora da construção dos projetos de pesquisa.

Com a palavra, o professor Luís Virgílio Afonso da Silva

mencionou já haver oferta, em pós-graduação, de disciplina sobre pesquisa em Direito. Não obstante, ressaltando o entendimento apresentado em sua fala inicial, reafirmou que o foco em seminários de pesquisa é útil e prazeroso, servindo como âmbito de discussão em que se redefine o papel do estudante. Destacou haver necessidade de ócio produtivo, ilustrando o ponto com o tempo em que tocava contrabaixo na big band da Universidade

Page 30: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

30

de Kiel, em que se doutorou. Afirmou, ainda, que escrever bem é uma atividade difícil e lenta, que demanda muito tempo para reflexão. Daí a necessidade de dedicação em período integral, sobretudo em face do curto período de três anos e meio para construir uma tese de doutorado.

Tempo de reflexão e a integração dos projetos mediante a

participação em seminários de pesquisa são, portanto, passos que ajudam a implementar atividade investigativa de qualidade.

Encerrada a reflexão, passou-se a palavra à professora

Ana Elisa Liberatore Bechara, que destacou a necessidade de um maior envolvimento dos estudantes e da reflexão sobre o perfil dos professores pesquisadores.

Informou haver cerca de 100 grupos de pesquisa ativos na

faculdade, mas que seu registro aponta pouca participação de estudantes de pós-graduação. Indicou faltar uma cultura de maior envolvimento, apesar de programas como o PAE. A falta de envolvimento e o relativo isolamento dos professores, muitos com dedicação primordial a seus trabalhos fora da Universidade, como profissionais do Direito, devem ser superadas para que se melhorem os indicadores de produção.

Especificamente a respeito da produção, destacou a

necessidade de publicar mais, apesar do elevado número de palestras e conferências, muitas de caráter profissional, não acadêmico. Atualmente há alguns problemas a serem enfrentados na própria métrica avaliativa, como o destaque excessivo a revistas do extrato “A” do Qualis, com pouca valorização dos livros.

É importante participar com os estudantes da produção,

inclusive com artigos e outros produtos em coautoria, embora se deva ter muita cautela em relação à preservação da autoria (paternidade da obra) e de posturas abusivas. É importante

Page 31: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

31

publicar não apenas para alcançar requisitos, mas estes não podem ser perdidos de vista.

Com a palavra, o professor José Augusto Fontoura Costa

falou a respeito das alternativas e possibilidades de integração das pesquisas e elaboração de projetos abrangentes.

Destacou ser possível organizar os grupos em torno de

propostas temáticas ou propostas metodológicas. Linhas ou projetos predominantemente temáticos partem de uma problemática de fundo (por exemplo, proteção do meio ambiente) e possibilitam o recorte de temas específicos (por exemplo, a contribuição da poluição por veículos para o aquecimento global), admitindo análise multidisciplinar (por exemplo, compreensão econômica do transporte individual e análise da eficiência de normas jurídicas a respeito).

Do ponto de vista metodológico, é possível desenvolver

técnicas de pesquisa capazes de abranger mais de um tema ou problema. É o que acontece em outras ciências, nas quais muitas vezes a pesquisa é centralizada em um conjunto de equipamentos cujo uso justifica o investimento. No Direito isso é mais raro, mas o desenvolvimento da teoria jurídica, de técnicas de pesquisa sociológica ou econômica, entre outras, pode servir para organizar uma linha, projeto ou grupo de pesquisa.

Com a palavra, o professor Rodrigo Pagani de Souza

apresentou uma reflexão sobre a pesquisa na graduação, lembrando a importância dos trabalhos de iniciação científica como porta de entrada dos estudantes no universo da investigação. Destacou, ainda, que outra maneira quiçá mais trivial de ensinar os alunos da graduação a pesquisar é instigá-los a fazerem boas perguntas e a desenvolverem o raciocínio crítico nas aulas, debates e exercícios. Indagou então aos integrantes mesa se, para além dessas, existiriam outras maneiras, mais

Page 32: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

32

efetivas e específicas, de incentivo à pesquisa no ambiente de graduação.

O professor Otávio Pinto e Silva redirecionou a palavra ao

professor José Reinaldo de Lima Lopes, que destacou a necessidade de incentivar e induzir habilidades dos estudantes, o que se pode fazer: a) com maior abertura à possibilidade de experimentar, b) cuidando de apresentar caminhos metodológicos quando se propõe uma atividade, inclusive com a indicação de como pesquisar e realizando o controle da atividade; e c) atribuindo tempo para cada fase (identificação do tema, plano de pesquisa, primeiros tópicos, etc.).

Com a palavra, a professora Ana Elisa Liberatore Bechara

destacou a questão das teses de láurea e suas grandes limitações. Relatou que, enquanto presidente da Comissão de Pesquisa da FDUSP, recebia bolsas do CNPq para iniciação e que, a partir de sensibilização, passou a demanda de 6 a 8 projetos por ano para cerca de 45 ou 50 projetos, considerando a existência de verba suficiente e exigência de dedicação integral do estudante. Com a crise, as bolsas desapareceram: no terceiro ano havia apenas uma bolsa. Isso criou uma elevada frustração. Ainda assim, considera importante inserir pesquisa nas disciplinas de graduação.

Com a palavra, o professor Luís Virgílio Afonso da Silva

destacou que, no Direito, a forma de avaliação dos cursos impede que a pesquisa seja feita como se deseja, mas se pesquisa como se pode e como se deve. Entretanto, isso não significa ausência de reflexo da pesquisa sobre outros temas. Não se deve “dançar”, sempre, a música da CAPES.

Manifestou também algum ceticismo em relação à

pesquisa na graduação, sobretudo enquanto atividade generalizada. A tese de láurea, observou, é inútil na forma de monografia, embora pudesse trazer algum benefício, se possível, em outros formatos. Em acréscimo quanto a este ponto, o

Page 33: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

33

professor Otávio Pinto e Silva destacou que, conforme a nova regulamentação do tema, não se trata mais de tese de láurea, mas de trabalho de conclusão de curso (TCC), e que a exigência do formato monográfico já deixou de existir como diretriz para o curso.

Com a palavra, o estudante de pós-graduação Boni

questionou a importância de métodos qualitativos para o Direito e como a estatística e a inferência causal poderiam ser utilizadas.

O professor José Reinaldo de Lima Lopes observou que se

isso ajuda a formar novos juristas, e, portanto, estaria ótimo. Afirmou que esses métodos podem ser utilizados, desde que com seriedade.

O professor Otávio Pinto e Silva, depois de mencionar que

na FFLCH a estatística aterroriza os estudantes, encerrou a sessão, agradecendo aos palestrantes e aos demais participantes. 3. Sessão conjunta CG-CCEx: como aproveitar o vigor das atividades de cultura e extensão na FD para implantação do novo PPP? Nesta sessão conjunta, já no segundo dia da Semana Pedagógica, foi expositora a professora Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado, Pró-reitora de Cultura e Extensão da USP. Foram debatedores a professora Claudia Perrone Moisés, Presidente da CCEx na FDUSP, e os professores Gustavo Ferraz de Campos Mônaco, Nestor Duarte e Gustavo Henrique Justino de Oliveira, também membros da CCEx. A mediação coube ao professor Roberto Augusto Castelhano Pfeiffer e a relatoria ao professor Flávio Roberto Batista, ambos membros da CG. A sessão iniciou-se com a fala da Pró-reitora de Cultura e Extensão, que destacou a preocupação de acolhimento dos

Page 34: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

34

estudantes na Universidade, com seu lado psicológico cuidado na medida em que possamos oferecer algo que esteja fora dos muros da Universidade, e as atividades de cultura e extensão fazem bem isso. Observou de início, inclusive, que, em visita ao Departamento Jurídico do XI de Agosto (DJ), ficou encantada com o que faz a São Francisco em termos de extensão. Entende muito importante aquela atividade para a formação dos alunos, levando excelência e expertise dos docentes e alunos para fora dos muros. No âmbito da Universidade, apresentou slides para listar as principais atividades de cultura e extensão, cuidadas por uma equipe de 123 pessoas:

a) Biblioteca Brasiliana – Maior acervo mundial de livros sobre o Brasil, doado por José Mindlin e construído em parceria com a Metal Leve. Acervo de importância mundial. Fez exposições muito emblemáticas.

b) Centro Universitário Maria Antônia – TUSP (Teatro da

USP) e Cinusp (Cinema da USP), atividades de teatro e cinema. Também faz exposições, acabou de sediar uma exposição sobre a Batalha da Maria Antônia. Há um espaço aberto para lançamento de livros.

c) Centro de Preservação Cultural da USP na Casa de Dona Yayá – Grandes acervos de história, principalmente do bairro do Bexiga, com diversas atividades culturais aos finais de semana, como chorinho, teatro, corais, etc. Fez recentemente um guia dos bens tombados e um guia de museus e acervos;

d) CoralUSP – Atividade cultural sediada no Campus Butantã. A intenção é integrar as atividades de corais de unidades com as atividades do CoralUSP. Capitaneia a “retomada” do Teatro Guarnieri pela comunidade, acompanhada da OSUSP e do Cinusp.

Page 35: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

35

e) OSUSP (Orquestra Sinfônica da USP) – Uma das

principais orquestras do Brasil, faz apresentações regulares na Sala São Paulo, que são gratuitas para docentes e discentes, e faz atividades com comunidades vulneráveis próximas aos campi da USP, como apresentações e oficinas;

f) TUSP – Faz várias apresentações no Centro Universitário Maria Antônia, mas também retomará as apresentações no Guarnieri a partir de junho de 2019.

g) CINUSP – Várias apresentações na Maria Antônia e

numa sala nova no Guarnieri.

h) Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos – Marco da colonização portuguesa, há diversos sítios arqueológicos de importância internacional;

i) Parque CienTec – Várias atividades de ciência com visitas de escolas dos ensinos fundamental e médio. Sedia a feira universidade e profissões, com participação de 56.000 estudantes no ano passado.

j) Programas “USP comunidade” – Aproxima-Ação (contato com comunidades vulneráveis no entorno dos campi, já existe no Butantã e USP leste e será ampliado no interior), USP aberta à terceira idade, USP Escola (traz estudantes de escolas públicas para acompanhamento em física, química, matemática e português e capacitação para professores da rede pública; tem dificuldades com o transporte, mas o problema está sendo resolvido junto ao Estado; originou-se de um projeto da Faculdade de Física); Giro Cultural (oportunidade à comunidade de conhecer os pontos relevantes da USP, incluindo a São Francisco; o reitor autorizou recentemente a ampliação, passando a não mais apenas trazer pessoas do interior para a SP, mas também a levar pessoas de SP para o interior; estava prevista uma

Page 36: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

36

programação especial para os calouros em abril); USP Diversidade (comemoração dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, com painéis que circularam em todas as unidades e que então iriam para a estação República do Metrô; a parceria foi estendida para outras exposições); Escritório UNAIDS/ONU (parceria com a ONU para ser a primeira Universidade a receber um escritório da UNAIDS); USP legal (adequação dos sites para uso por pessoas com deficiência visual);

k) Cursos “in company” do Projeto Rondon para o Ministério da Defesa;

l) Edital de empreendedorismo social (Pacto Global ONU 2030): contemplará 28 projetos, com 25.000 reais cada um. Além da exposição das ações já desenvolvidas, a expositora abordou algumas metas para 2019: trailers USP na comunidade (quatro trailers, sobre cultura, educação, ciências e saúde), que deverão estar fora dos muros, usados pelos supervisores de projetos encaminhados e pela Prefeitura local, em espaços de grande fluxo de pessoas, em sistema de pool (agendamento de projetos-candidatos, para uso por uma semana a quinze dias, com 500 reais por dia para impressos, etc.). A visão é de que a Pró-reitoria aplique bem os recursos, sem excesso de economia e sem gastos perdulários. Cada projeto com viés social e comunitário deve ser olhado com empenho.

Em rápida intervenção, a professora Cláudia Perrone Moisés, presidente da CCEx da FDUSP, destacou o fato de que a cultura e extensão prioriza levar conhecimento e expertise para

fora dos muros. Observou que aqui na faculdade temos problemas com isso. Temos 77 atividades inscritas para 2019, sendo apenas 3 de cultura e 37 realmente de extensão, enquanto

Page 37: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

37

há inúmeras atividades apenas de grupos de estudo. Ademais, o professor da Faculdade de Direito tende a achar que cultura é apenas cultura jurídica. Temos que continuar trabalhando no sentido de incrementar essas culturas. Encerrou questionando a Pró-reitora sobre como está a discussão sobre a nova resolução da Universidade em matéria de cultura e extensão universitárias.

Em resposta, a Pró-reitora manifestou sua concordância com a visão da professora, criticando o senso comum segundo o qual a elite é a pesquisa, a pós-graduação é necessária, e o que sobrar vai para extensão. Ela entende que a melhor pesquisa se faz na extensão, pela convivência com a realidade prática. O aluno se encanta com a extensão – volta a citar o DJ, da FDUSP, nesse ponto. Pensando nisso, numa interlocução entre Pró-reitores, foi feita uma portaria conjunta para fazer valer créditos de extensão para os alunos e também para os professores como crédito-aula. Já foi fechada também uma disciplina para a pós, dando dois créditos para atividades de extensão, inclusive as culturais, por meio do “Entreartes”, que será integrado com o sistema Janus. Isso será também um parâmetro para a atribuição de recursos. Também está sendo estudado um modo de emitir certificados para estudantes por meio do sistema Apolo.

O professor Nestor Duarte abriu sua intervenção destacando que nossa Faculdade tem um caráter precursor nas atividades de cultura e extensão, muito antes do PPP, que incentiva atividades optativas e a autonomia dos estudantes para compor seu percurso, também como forma de incentivar renovação. O PPP distingue cultura e extensão de prática jurídica. Projetos de cultura e extensão dependem de frequência e avaliação. Para que um projeto tenha sucesso, é preciso que ele se funda numa disciplina rígida, lembrando-se – aponta o professor

Page 38: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

38

– que para a administração pública só se exige aquilo que a lei autorize. A autorização para certa atividade é muito importante para a atividade administrativa. Por isso destaca algumas disposições da Resolução 4.738 para demonstrar as características essenciais das atividades de cultura e extensão: a) art. 1º, pelo qual o caráter optativo já era enfatizado, ao encontro do PPP; b) art. 2º, que distingue extensão de prática jurídica; e c) art. 4º, por força do qual há liberdade do aluno para escolher e demonstrar habilidade, com necessidade de apresentar relatórios; não há disciplina sem rédeas, mas disciplina regulamentada e ao encontro do PPP.

Na sequência, descreve o professor que nossa CCEx emitiu a Deliberação nº 1/2015, segundo a qual é necessário ao credenciamento a descrição objetiva da atividade, excluídas as atividades de ensino, pesquisa e estágio profissional. Precisamos perseguir a precisão na definição das atividades, e nossa CCEx tem procurado observar isso. É bem verdade que algumas vezes os projetos desbordam, mas com a devida parcimônia a comissão tem procurado exigir a adaptação. A CCEx está efetivamente engajada no PPP. Há 77 atividades credenciadas, com o que avançaremos no horizonte apontado pelo projeto. Tratam-se de atividades que se enquadram e militam em favor do projeto. Não poderia deixar de fazer referência a atividades que efetivamente saem dos muros, a exemplo do DJ, das atividades no cárcere e nas comunidades.

Recém aprovado em concurso para o cargo e tendo recebido os cumprimentos, por isso, do mediador, o professor Gustavo Mônaco recebeu a palavra agradecendo e iniciou destacando, pois, que ser Professor Titular traz responsabilidade que vai além do ensino e da pesquisa, razão pela qual pretendia,

Page 39: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

39

em sua intervenção, demonstrar como de uma disciplina de Direito Internacional seria possível extrair tanto uma atividade de cultura quanto uma atividade de extensão. Quando analisamos os projetos na CCEx, percebemos um engajamento cada vez maior dos alunos de pós. No Direito Internacional Privado (DIPr), informa que demos início a uma atividade de cultura que é a chamada “Cultura do debate e da tolerância”. Isso nasce pelo interesse de uma aluna de mestrado, que vem da UFCE, onde havia uma sociedade de debates bastante organizada e engajada em atividades nesse sentido mundo afora. Quando ela trouxe a proposta, o debate pelo debate não pareceu imediatamente vinculado a cultura e extensão. Era preciso adequá-lo a uma determinada cultura, e pareceu ao professor que a cultura da tolerância seria a cultura vinculada a isso. Trabalharam com textos que mostram a importância de sermos tolerantes com a diferença, o que está na essência do DIPr. O projeto de extensão ainda não foi apresentado formalmente, porque dependerá da assinatura de um convênio com a UFRR e a UERR, que têm um trabalho de excelência com migrantes refugiados atinente à sua documentação e inserção na comunidade. Agora, depois de alguns anos, é necessária a expertise em DIPr, porque as pessoas começam a se casar, ter filhos, suceder, etc. Há casos até de sequestro internacional de crianças. O professor esclarece que estão desenhando a atividade de modo a especificar que pesquisadores façam entrevistas in loco e descubram os problemas, encaminhando virtualmente consultas, para que, então, os alunos de graduação e pós em DIPr as respondam e preparem eventuais petições iniciais, quando for o caso. A intenção é que, nos casos mais sensíveis, com relevância social e jurídica (formação de jurisprudência), seja possível mandar algum aluno de pós, ou o professor, para fazer as audiências,

Page 40: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

40

dando uma retaguarda para o ensino de graduação. Desse modo, tudo se interliga e, pondera o professor, é possível pensar a partir de qualquer das disciplinas, por mais clássica que seja, uma atividade de cultura e extensão com um pouco de boa vontade.

Na sequência, o professor Gustavo Justino de Oliveira abriu sua intervenção destacando que se aproxima de onze anos de casa e vê uma mudança muito grande, não só de integração entre os professores. A questão geracional, que sempre foi problemática, vem se reduzindo e facilitando que as ações sejam um processo de construção. Estamos num momento grandioso da FDUSP, todos muito unidos. Temos um novo PPP, muito atualizado, já em curso. Há uma relevância muito grande das atividades de cultura e extensão. Tivemos no final do ano passado a Portaria nº 1.351/2018, do MEC, instituindo as novas diretrizes curriculares para os cursos de Direito. Nosso PPP já está totalmente alinhado à novas diretrizes curriculares. As instituições de ensino têm dois anos para implementar, e nosso projeto já sai na frente. Reflete já estar “antenado” com as discussões que estavam sendo feitas. O art. 7º da portaria fala sobre cultura e extensão, determinando que os cursos deverão estimulá-las. O art. 13 determina até 20% da carga horária para atividades complementares e prática jurídica, incluindo cultura. Nesse ponto, a Pró-reitora interveio para esclarecer que a incorporação de crédito pode chegar a até a 30% do curso, a critério da unidade.

Prosseguindo, o professor destacou que o processo de autoavaliação também deve ser ressaltado. O Direito tem que ter essa preocupação, incluindo o monitoramento do que está sendo feito. Propôs, em seguida, outras reflexões. Como o professor dentro da sala de aula pode estimular extensão e cultura? Há um

Page 41: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

41

viés institucional de estímulo, e existe uma preocupação da CCEx, mas é importante saber como cada professor pode estimular as atividades. Nesse sentido, considerou ser importante a exposição das atividades do próprio professor. A atividade profissional é relevante para a atividade acadêmica e vice-versa. Acredita que sua importância como professor em RTP é levar a realidade à sala de aula. Costuma utilizar de algo que criou com os alunos de pós-graduação: o método de estudo de caso. Todo semestre seleciona cinco a seis casos, e a turma trabalha os casos em grupo. Nesse semestre: decreto de porte de armas e os limites do poder regulamentar da Presidência. A ideia, claro, é um ponto de vista técnico-jurídico, sem viés ideológico. Outros casos a serem trabalhados: votação da Presidência do Senado; rompimento da barragem (ausência da fiscalização e responsabilidade); incêndio no Ninho do Urubu; alteração no decreto que regulamenta a Lei de Acesso à Informação, facilitando a colocação de documentos em status secreto e ultrassecreto, que sofreu veto legislativo na Câmara no dia anterior; lei estadual que proíbe o consumo de bebida alcóolica nas lojas de conveniência dos postos de gasolina (poder de polícia, limites, fiscalização, intervenção no domínio econômico). Há um grande índice de trancamento nas suas disciplinas, aponta, porque considera que a realidade em sala choca; todavia, é necessário estimular o contato com a realidade. Para quem fica na sala, avalia que a mudança positiva é muito grande. Os próprios alunos tomam iniciativas de pensar em projetos e vir conversar sobre os casos. Ilustra, assim, sua opinião de que o ensino tem um impacto no estímulo da extensão e cultura.

Outro ponto é a cultura. Observou que somos quase 200 professores e tentamos conviver ao máximo, mas essa história de Departamento o incomoda muito e sempre tentou inovar. Relatou,

Page 42: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

42

para ilustrar, que, em 2009, o professor Salles estava fazendo sua livre docência em processo civil sobre um tema que ele também pesquisava, e decidiram lecionar juntos na pós-graduação. Não existiam disciplinas interdepartamentais. Isso também é muito importante. A departamentalização, que é uma questão cultural, deve ser flexibilizada, e isso é importante para a extensão e a cultura. Disciplinas interdepartamentais estimulam atividades de extensão, porque os debates são mais enriquecidos.

O professor ressaltou novamente a importância de expor quem é o professor, não no sentido da formação e titulação. Ilustrou o ponto compartilhando que sua formação universitária foi em Direito e Música clássica. Os alunos não nos conhecem nesse sentido. Os professores tampouco entre si. É necessário saber o que essa formação cultural impacta na atividade docente. Sua formação musical influencia muito na sua atividade docente. Sua rigidez de método veio da Música, não da formação jurídica. Se havia um recital marcado, nos meses anteriores era necessário estudo e planejamento para um bom resultado. Embora não tenha concluído a formação em Música, houve um grande impacto, inclusive na advocacia na área de cultura. Houve um aluno, violinista, que chegou a identificar isso. Conclui ser importante que os alunos tenham essa referência. A cultura tem a ver com isso. Se ficamos muito no técnico-jurídico, não estimularemos a cultura. Esse resgate é um resgate em sala de aula, para além das políticas de estímulo. Temos que nos mostrar mais em sala de aula e as redes sociais auxiliam muito nesse conhecimento de quem é o professor. Nesse sentido, já utiliza profissional e academicamente, há muitos anos, as redes sociais.

O professor encerrou sua intervenção “pensando alto” nas três áreas que considera mais importantes para a extensão:

Page 43: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

43

diversidade, inclusão e cidadania; mecanismos extrajudiciais de solução de conflitos; e novas tecnologias e o Direito.

Comentando sua fala, a Pró-reitora observou que é necessário se alinhar ao novo perfil dos estudantes, para não se tornar desinteressante. Já se fala em escola sem professor. Os alunos sequer usam computador mais, apenas telefones celulares, e querem aprender fazendo. Daí um grande foco em EAD (Ensino a Distância) na Pró-reitoria de cultura e extensão. Finalizou tratando da importância do envolvimento cultural para a docência.

Iniciaram-se então as intervenções da plateia, abaixo enumeradas.

a) a professora Maria Paula Dallari Bucci, depois de destacar a vinculação entre a Semana Pedagógica e o novo PPP, indagou a respeito de como a cultura (que sequer é mencionada no tripé universitário) e a extensão devem ser contempladas nos Projetos Acadêmicos dos docentes. Em resposta, a Pró-reitora observou que há intenso diálogo entre as Pró-reitorias para definição das atribuições de cada área e sua integração. Voltou, então, a destacar a relevância da extensão para a pesquisa em ciências aplicadas, razão pela qual estaria sendo gestado o PAEX, nos moldes do PAE, mas voltado à extensão. A professora Cláudia Perrone Moisés mencionou que há muito desconhecimento sobre o conceito de cultura e extensão, e ponderou que grupos de estudo – que seriam, a priori, parte da pesquisa – são bem-vindos, desde que abertos à comunidade. Nessa linha, o professor Gustavo Mônaco destacou o modelo dos observatórios.

Page 44: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

44

b) Um aluno de pós-graduação comentou que sua área de pesquisa é a arte, mais especificamente a fotografia, como forma de transcrever teorias jurídicas, a ilustrar com a sua própria experiência a integração entre Direito e cultura.

c) O professor Rodrigo Pagani de Souza destacou o tema da inovação, mencionado em palestra anterior na Semana como algo tão importante para as universidades, na atualidade, a ponto de repensar-se o tripé “ensino, pesquisa e extensão” para algo mais abrangente, como “ensino, pesquisa, extensão e inovação”. E indagou se o plano da inovação acaba sendo acolhido pela extensão na atualidade, para onde vão parar, aparentemente, as iniciativas que não se enquadrem bem nas demais “caixinhas”. Ainda na mesma linha, tendo notado o que pareceu ser uma certa tensão subjacente nas falas a respeito do que seria “realmente” extensão, indagou os participantes sobre qual seria o enquadramento de iniciativas inovadoras e como poderiam ser acolhidos os grupos de estudo. A Pró-reitora concordou com a ponderação no que diz respeito à importância da formalização dos projetos, para possibilitar inclusive medição dos resultados, e destacou a importância de que as comissões temáticas nas unidades se conversarem para ações sinérgicas. O professor Gustavo Mônaco observou que foi uma visão deturpada, naturalizada, a de que a extensão seria uma área para onde vai tudo que não cabe nas outras, e que é preciso mudar isso. O professor Nestor objetou que, embora as amarras e definições sejam necessárias para circunscrever o que é cultura e extensão, elas não são tão rígidas nas normas em vigor. O professor Gustavo Justino destacou que há muitas conversões em diligência nos pareceres de credenciamento de atividades, justamente para adequar os projetos às normas pertinentes. A professora Cláudia voltou a enfatizar o indesculpável desconhecimento sobre o que é

Page 45: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

45

extensão, e acrescentou que, em cursos com relação com o mercado, como o Direito, é necessário tomar muito cuidado com a extensão. Comentou que já viu pesquisas de jurisprudência para escritórios disfarçadas como extensão.

Encerrando os trabalhos, o professor Roberto Pfeiffer, mediador da mesa, destacou a importância do diálogo e relembrou que a pesquisa, assim como a extensão, também atribui créditos aos estudantes. 4. Sessão conjunta CG-CPq: as linhas de pesquisa e suas relações com o novo PPP, as disciplinas optativas e Trabalhos de Conclusão de Curso

Esta última sessão do primeiro bloco da Semana Pedagógica, mais voltado à temática institucional, contou com as exposições do presença dos professores Luiz Nunes, ex-presidente da CERT, e Carlos Gilberto Carlotti Junior, Pró-reitor de Pós-Graduação da USP. Foram debatedoras as professoras Nina Ranieri e Ana Maria Nusdeo, respectivamente Presidente e Vice-presidente da CPq na FDUSP, assim como a professora Ana Elisa Bechara, Vice-presidente da CPG, e o professor Alberto Amaral Junior. Mediou os debates a professora Sheila Cristina Neder Cerezetti e os relatou o professor Wagner Menezes, ambos membros da CG. Mediando os trabalhos, a professora Sheila Neder abriu a sessão, realizando apontamentos gerais sobre os temas, especificamente sobre a importância das linhas de pesquisa, das disciplinas optativas e dos TCCs.

A seguir, a palavra foi passada ao professor Luiz Nunes, ex-presidente do CERT, que estabeleceu análise histórica da Universidade a partir da fundação da Faculdade de Direito e experiências vivenciadas na consolidação da Faculdade.

Page 46: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

46

Nessa linha, provocação inaugural de seu discurso foi:

qual parcela do PIB de São Paulo deve-se à USP? Estimou algo em torno de 30%, destacando que a Faculdade de Direito teria uma parcela grande de contribuição para o percentual, pois a faculdade fora criada quando São Paulo ainda era uma vila, contribuindo com a prosperidade dos negócios e com a motivação do poder público para subsequentemente criar outras escolas, como a Escola Politécnica e a Faculdade de Medicina, o que resultaria na criação da própria USP.

Ponderou que o papel que a Universidade cumpriu foi o

de formar bons estudantes de graduação e pós-graduação, citando entrevista do reitor da Universidade de Stanford, que faz menção ao relevante papel das universidades de formação de bons estudantes e não apenas ao da pesquisa.

E o futuro? Para onde iremos? Utilizando como exemplo a

Faculdade de Medicina e a Escola Politécnica, o professor propôs a seguinte reflexão: a escola de medicina formava médicos, até um certo ponto, com a gestão do Dr. Arnaldo, com o apoio da Fundação Rockefeller, isto entre 1910 e 1970. Em 70, com a reforma, a Faculdade de Medicina voltou-se para a realização de atividades de rotina e a criação de laboratórios médicos, mas, antes, o laboratório seria o Hospital das Clínicas, onde eram desenvolvidas as atividades de especialidade médica. Aos poucos, a Faculdade foi readquirindo a vocação para pesquisa. Num primeiro momento, pesquisa mais tradicional, mas, depois, avançando para a vanguarda dos estudos médicos – como exemplo, iniciativas para estudos de transplante do fígado, a partir de órgãos animais, para seres humanos.

Por sua vez, a Escola Politécnica, no que tange à função

de fazer projetos – função que se sobrepõe à de pesquisa –, citou pesquisa da Escola em parceria com a Shell sobre exploração de petróleo na camada do pré-sal, em que, para depurar o petróleo de

Page 47: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

47

outros gases, como metano e gás carbônico, se propôs método alternativo e inovador com a construção de cavernas em que o metano fica armazenado em tanques cavernosos sem impacto ao meio ambiente, permitindo a depuração da extração a uma distância que seria difícil para transporte, mas que permitirá que os gases sejam armazenados, até que se desenvolva tecnologia para transportá-los sem repercussão ao meio ambiente. Ou seja, existe um problema prático, acompanhado de pesquisa científica de elevado nível.

O expositor, então, com base nesses relatos de casos,

questionou: como se pode traduzir isso na linguagem do Direito? Em sua análise, propôs temas que devem ser enfrentados pelos juristas na contemporaneidade: a) mudanças climáticas envolvendo conhecimento interdisciplinar e solução de controvérsias; b) educação básica, envolvendo governança; c) revolução da biologia, envolvendo produção de medicamentos e corpos virais, armas bacteriológicas e biológicas; d) inteligência artificial, envolvendo aplicações de inteligência artificial, substituição das pessoas pela máquina.

Além disso, propôs integração entre os temas de análise,

destacando ser importante que a pesquisa chegue na sala de aula e repercuta na sala de aula. Inclusive a partir da implementação de disciplinas que surjam das pesquisas, encerrando, assim, com enfoque “inter” e “transdisciplinar” na pesquisa.

Nessa linha, argumentou que, para que sejam realizadas

pesquisas de excelente qualidade na Universidade, é necessária uma atenção maior ao período de graduação, incentivando-se a pesquisa desde o início.

Com a palavra, a professora Sheila Neder Cerezetti propôs

análise sobre a retroalimentação entre ensino e pesquisa, passando a palavra ao professor Carlos Gilberto Carlotti Jr., Pró-Reitor de pós-graduação da USP, para a sua exposição.

Page 48: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

48

O Pró-reitor iniciou apontando que, no Brasil, a pós-

graduação se desenvolve com a criação das grandes escolas a partir de 1965, quando as Faculdades davam título e o mercado reconhecia, não necessitando nenhuma entidade avalizadora dessa certificação.

A partir de 1965, o “parecer Sucupira” buscou

regulamentar a pós-graduação no Brasil, e até os dias atuais é o mecanismo referencial, lembrando que ocorreram planos plurianuais (de 2011 a 2020) para mudanças no sistema.

Tratou, nesse contexto, das diferenças regionais, com a

indução da criação de programas para atender o critério da redução das disparidades regionais. A agência reguladora é a CAPES, como entidade que regulamenta e cuida da pós-graduação. Apontou que a USP já foi responsável por mais de 50% dos doutores no Brasil, e, mesmo após uma expansão dos programas de pós-graduação em âmbito nacional, a USP é responsável por mais de 20% da formação de doutores no País.

Nesse sentido, o professor Carlotti Jr. defendeu que a USP

tem qualificação, mas também responsabilidade, visto que o que ocorre nele, o que nela se faz, repercute no Brasil todo, com relação a inovações, modelos e inspiração. Isto deve induzi-la a fazer mudanças constantes para o aperfeiçoamento de seus programas.

O professor citou a existência de 270 programas, entre os

cursos de Medicina, Direito, Engenharia, etc. Cada unidade tem um modelo de pós-graduação com várias áreas de concentração dentro do mesmo programa. Propôs então a seguinte reflexão: qual o papel da USP no cenário atual? Apontou a necessidade de se incutir qualidade no sistema de formação do aluno, estabelecendo questionamentos sobre como desenvolver tal formação, especialmente com vistas à formação de professores

Page 49: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

49

para o ensino. Apontou também que é desejo da sociedade que se formem doutores que interajam com atores outros da sociedade, que se relacionem com as agências públicas, as empresas e os serviços públicos. É preciso formar pessoas para o setor produtivo e para o setor público.

Outro desafiou que apontou é a necessidade de formação

para novas carreiras ou profissões que ainda não surgiram. Para tanto é preciso criar campos de estudo e de conhecimento pelo caminho da interdisciplinaridade. Por exemplo, importa pensar campos de atuação do profissional do Direito em diálogo com a Economia, com o setor produtivo, de modo a propiciar ao aluno expandir os seus conhecimentos.

Apontou que o aluno pode ter, e é desejável que tenha,

uma formação internacional a partir da cotutela e do intercâmbio acadêmico. Na FAPESP, 20% dos bolsistas têm alguma formação no exterior; na CAPES, 13%. Mencionou o programa de bolsas para o exterior. É preciso vocacionar a Faculdade de Direito para enviar alunos para o exterior. Em relação ao orientador, deve-se pensar a produção do professor em duas frentes: a) o professor- colaborador dentro da pós-graduação; e o b) e o professor que tem experiência, do programa.

Apontou que o núcleo central do perfil do docente de pós-

graduação deveria ser: a) disposição para orientar, que envolve vocação e tempo; b) captação de recursos, para pesquisa e bolsas; c) interação com o programa, com envolvimento e participação; e d) disposição para buscar parcerias

internacionais, sendo ideal que todo professor tivesse essa disposição, oferecendo disciplina em conjunto com parceiros internacionais e utilizando a internacionalização como ferramenta dos programas, especialmente com citações e impactos em revistas.

Page 50: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

50

No que tange ao programa de pós-graduação, defendeu que o papel da Universidade é facilitar o trabalho dos professores, criando mecanismos de flexibilização das atividades de pesquisa, focando na qualidade.

A seguir, questionou a avaliação dos programas e

destacou o que deve se modificar a partir de agora, apontando que, nos últimos anos, a avaliação era quantitativa, mas que agora será qualitativa.

Será cobrada a repercussão e a qualidade, com

informações a respeito do programa. Outro fator que será bastante avaliado serão os egressos, o que fazem e o que produzem. Isto terá repercussão na criação de iniciativas, de núcleos de estudo, de institutos, analisando-se como contribuem e onde atuam.

Para tanto, é preciso que os programas desenvolvam

estratégias para a busca de alunos e líderes que possam contribuir com a pós-graduação. Estrategicamente, cursos de extensão podem ser úteis à busca dos melhores alunos.

Os programas devem considerar ainda aspectos regionais

na sua avaliação, com impacto multidimensional. O programa será valorado em uma determinada região e no seu desenvolvimento.

Destacou o professor que os programas devem aumentar

os esforços com enfoque maior no doutorado e no pós-doutorado, que têm grande valor de pesquisa, com a tendência crescente de contratação de doutores pelas universidades. Lembrou, nessa linha, que o cenário ainda é desolador, uma vez que somente 1/3 dos pós-graduandos, com mestrado, vão para o doutorado; os outros param ali, quando, na verdade, o mestrado deveria ser encarado como uma etapa para preparação de doutorado, diminuindo o seu prazo de duração.

Page 51: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

51

O professor Carlotti Jr. finalizou sua exposição conclamando o público a pensar a que a USP se propõe na pós-graduação e a que a FDUSP também se propõe com sua pós-graduação na contemporaneidade.

Ao retomar o uso da palavra, na condição de mediadora, a

professora Sheila Neder destacou as discussões sobre as propostas de modificação do programa de pós-graduação e os impactos disso na Faculdade de Direito.

A seguir, iniciaram-se os debates, sendo concedida a

palavra à professora Nina Ranieri, que apresentou as atividades da CPq e sua função, relatando que tem feito esforços de interação com a CPG para atender critérios da CAPES e atuar de acordo com os objetivos institucionais. A professora Nina destacou esta necessidade de alinhamento com os objetivos da CAPES, de estabelecimento de programas de pesquisa coerentes com o PPP, citando impactos na organicidade e sistematicidade da produção da Faculdade. Mencionou, ainda, a internacionalização e o pós-doutorado como desafios nesse contexto.

Em específico, acerca da pesquisa, avaliou que são

necessários mais projetos de pesquisa, esses de caráter temporário, como uma diminuição das linhas de pesquisa. Uma generalização da descrição destas pode auxiliar a que agrupem mais projetos.

Acerca da iniciação científica na graduação, enfatizou

como esta pode ser benéfica, tanto para o aluno como para a instituição, uma vez que muitos projetos de iniciação científica acabam se transformando em projetos de mestrado e, algumas vezes, projetos de doutorado. A pesquisa na graduação, assim, tende a gerar pesquisas de maior qualidade na pós-graduação.

Page 52: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

52

Com a palavra, a professora Ana Maria Nusdeo, vice-presidente da CPq, também debatedora, propôs reflexão sobre o desafio de conectar as atividades de pesquisa à Universidade, mais precisamente aos objetivos e ao papel da USP, bem como a respeito do desafio de conectá-las com as atividades voluntárias e com as disciplinas optativas.

Por sua vez, o debatedor professor Alberto do Amaral Jr.,

fazendo uso da palavra, apresentou uma reflexão em torno de três eixos fundamentais: a) direitos humanos e sua contribuição à interdisciplinaridade; b) internacionalização a partir da formação de cultura política e de vocação; e c) função do programa de pós-graduação no enfrentamento de novos desafios.

Em matéria de internacionalização, destacou a

importância da busca por um intercurso cultural e científico cada vez maior com universidades estrangeiras. Sobre o enfrentamento de novos desafios, dialogou com a avaliação antecedente do professor Carlotti Jr. no sentido de que a USP deveria formar mais doutores, e complementou afirmando ser papel da Universidade ajudar a resolver problemas futuros da comunidade. Há de ter a Universidade um compromisso com o desenvolvimento social, assinalou.

A mediadora, professora Sheila, após dar como encerrada a participação dos debatedores, abriu os debates para participação do público presente.

A professora Maria Paula Dallari propôs reflexão sobre o método para a formação de quadros na graduação e na pós-graduação, que atuarão na implementação e desenvolverão políticas públicas.

O professor Otávio Pinto e Silva apresentou

questionamentos sobre mecanismos para realizar a ligação entre a pesquisa na graduação e as disciplinas optativas.

Page 53: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

53

Após interessante e profundo debate, com envolvimento

do público presente, a professora Sheila Cristina Neder Cerezetti encerrou a sessão.

5. Experiências Pedagógicas com Extensão e Pesquisa

A partir do terceiro dia Semana Pedagógica, as atividades passaram, como apontado ao início deste relatório, a se destinar mais especificamente ao intercâmbio de práticas de ensino do Direito e da docência de um modo geral.

Fizeram-se relatos de experiências nos campos da extensão e pesquisa, do ensino com uso de monitorias e do emprego de ferramentas digitais.

Nesta quinta mesa, sobre experiências com extensão e pesquisa, foram expositores os professores Maurício Stegemann Dieter e José Marcelo Martins Proença, ambos com relevantes experiências do gênero a compartilhar. Foi mediador o professor Vinícius Marques de Carvalho, e, relator, o professor Ronaldo Lima dos Santos, ambos membros da CG.

O professor Vinícius Marques de Carvalho abriu os trabalhos com agradecimentos aos organizadores, apontando a relevância das experiências pedagógicas com extensão e pesquisa e da intensa participação dos alunos de graduação e pós-graduação no desenvolvimento destas atividades.

Com a palavra, o professor Maurício Dieter também assinalou a importância das experiências pedagógicas com extensão e pesquisa na FDUSP, na qual se verifica uma intensa participação de docentes e discentes. Neste contexto, o PAE possui relevante papel de incremento das atividades do gênero.

Page 54: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

54

Acentuou, então, a necessidade de uma análise crítica

sobre as atividades de pesquisa e extensão no cárcere. Ponderou que o campo da criminologia implica uma grande questão ética e social, uma vez que o sistema carcerário constitui atualmente o maior crime contra a humanidade no País. A Criminologia está no centro do debate do Direito Penal, pois é o ponto de partida da crítica da racionalidade do Direito Penal, que simplesmente justifica a realidade e não a submete à crítica da razão. O campo criminológico enfrenta questão ética fundamental. Deve-se entender porque atualmente há crime no sentido ontológico, crime como reprodução da violência e criminalização como resposta repressiva ao problema da violência, sob pena de aprofundarmos as mazelas sociais e o subdesenvolvimento. A pesquisa e a extensão no cárcere é a questão ética fundamental a ser enfrentada; é o ponto de partida das ciências criminais empíricas e normativas.

A Criminologia tem base empírica, mas não se reduz ao

empirismo como método de observação e descrição, que apenas mede e dimensiona o objeto de estudo. A Criminologia possibilita uma verificação das determinações e determinantes de um fato, situação social. A pesquisa pressupõe o enfrentamento de dois elementos fundamentais: método e metodologia. O método antecede a pesquisa e a metodologia. No cárcere, é verificado o emprego de quatro métodos principais: o positivista (descritivo e conservador das bases sociais); o materialismo dialético (preocupação com a transformação social); o estruturalista e o pós-estruturalista. A filiação ao método é uma questão que passa pela evidência, pelo objeto e também por convicções. O materialismo-dialético, na visão do expositor, é o método comprometido com a transformação social. A descrição exaustiva de uma realidade não implica conhecê-la em sua totalidade. A realidade do cárcere reproduz a realidade social. A metodologia de análise político-econômica permite a compreensão de

Page 55: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

55

determinações socio-históricas concretas da situação do cárcere. A pesquisa no cárcere pressupõe o acesso ao ambiente.

O professor passou então a listar alguns equívocos

cometidos nas pesquisas de extensão: a) encantamento com a pesquisa; b) falta de imaginação criminológica, estudo; c) práticas e dinâmica desniveladas, com proveito somente para os que as exercem; d) encantamento de caráter romântico com os presos; trocas humanitárias de risco; e) atividades de extensão fisiológicas, que apenas justificam a prisão; f) limitações éticas da pesquisa. Destacou que estas são questões mínimas para pensar a pesquisa em Criminologia.

Com a palavra, o professor Marcelo Proença salientou a sua experiência, por três biênios, como membro da CCEx, trazendo elementos para o debate acerca das experiências pedagógicas com extensão e pesquisa. Apontou que, no Projeto Acadêmico de 2018 da FADUSP, há uma previsão normativa sobre pesquisa, cultura e extensão, com objetivos claros e requisitos mínimos de efetividade e de avaliação, destacando-se a previsão de fomento destas atividades de modo integrado com o ensino de graduação e atribuição de créditos aos discentes. Destacou, ainda, a previsão, no Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005/2014), de aumento, no prazo de 10 anos, das atividades de extensão até o total de 10% dos créditos exigidos na grade de uma universidade, orientadas prioritariamente para áreas de grande relevância social. Principalmente a partir de 2014, observa que houve um aumento substancial dos cursos de extensão, tendo havido aproximadamente 80 cursos de extensão nos anos de 2016, 2017 e 2018. Como exemplo, tem-se o premiado curso de extensão “Direito e Pobreza”, do professor Calixto Salomão Filho. Há atividades de extensão vinculadas a “SanFran Junior”, uma empresa júnior de prestação de assessoria jurídica, que permite um exercício prático das atividades de advocacia empresarial.

Page 56: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

56

Há também alguns cursos que podem ser questionados num primeiro momento, ensejando maiores justificativas para a sua aprovação, como se deu com o a proposta “Direito e Xadrez”, que hoje tem grande sucesso. As justificativas foram sérias e responsáveis, ligando xadrez, Direito e Filosofia do Direito. Cultura e extensão exigem seriedade, profissionalismo e responsabilidade na condução destes trabalhos. A responsabilidade é do professor ministrante e dos alunos participantes, de graduação e pós-graduação. Deve haver responsabilidade acadêmica e social. O objeto não pode ser apenas metas ou concessão de créditos. Nos últimos anos a CCEx, com a presidência da professora Ana Nusdeo, evoluiu muito na regulamentação e fixação de critérios para o credenciamento de atividades que integração a cultura e extensão. Atualmente há formulários específicos, simples e orientadores de credenciamento da atividade, de frequência de alunos e de métodos de avaliação individual. O aprimoramento não depende de mais formalizações, burocracias ou relatórios, mas de responsabilidades docente e discente.

Em seguida, possibilitada arguição pelo público, levantou-

se a questão da confusão técnica entre grupos de extensão, cursos de extensão e atividades de extensão, tendo sido verificado apenas um curso de extensão na FDUSP, no ano de 2018, vinculado ao DTBS. Indagou-se sobre a necessidade de maiores especificidades destas categorias e da não previsão de pós-graduandos na composição dos grupos de extensão.

O professor Rodrigo Pagani de Souza indagou aos

integrantes da mesa acerca de como enxergavam a visão ordinária da cultura e extensão como algo residual em relação às demais atividades acadêmicas (ensino e pesquisa), retomando algo que emergira dos debates anteriores na Semana. Ponderou que parecer haver necessidade de maior clareza sobre o conteúdo e significado da extensão universitária. Por fim, apontou o desafio atual de a FDUSP pensar os indicadores de qualidade de sua

Page 57: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

57

atuação, especialmente à luz dos diversos rankings internacionais e nacionais, compartilhando a reflexão de que muitos parecem utilizar, para mediar a qualidade de um curso ou universidade, a questão do seu impacto na sociedade. Seria a extensão, por excelência, um campo fértil para a produção de impactos na sociedade?

Em resposta, o professor Maurício Dieter realçou que o

professor se realiza na extensão, mas, em face da burocratização – quanto a algumas questões, como, p.ex., a composição dos participantes, as fontes de custeio, permissão ou não de participação de professores externos –, muitas vezes a solução é a informalidade. Apontou que em razão das questões éticas, por vezes, pode-se consultar a Comissão de Ética quando presente dúvida acerca de determinada conduta ou atividade. Destacou, inclusive, que já vivenciou experiência positiva de consulta à Comissão de Ética, obtendo importante respaldo. Quanto às medidas de medição de impacto, revelou a dificuldade de serem efetivadas no cárcere.

O professor Marcelo Proença apontou para a Resolução nº 4.738/2000,9 sobre cultura e extensão universitárias, como parâmetro para o enquadramento das atividades, mas ressaltou que a dificuldade permanece e, diante dela, realmente surge a solução da residualidade, o que não retira o mérito e a responsabilidade sobre estas atividades.

Após apontamentos da Professora Maria Paula Dallari

Bucci e do Professor Vinicius Marques de Carvalho, encerrou-se a mesa.

9 Trata-se da Resolução CoG e CoCEx nº 4.738, de 22 de fevereiro de

2000 (dos Conselhos Universitários de Graduação e de Cultura e Extensão), que “Institui a disciplina optativa ‘Atividades de Cultura e Extensão’, nos currículos dos cursos de graduação da USP”.

Page 58: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

58

6. Experiências pedagógicas com uso de monitoria

Nesta mesa foram expositores os professores Bernardo Bissoto Queiroz, José Maurício Conti e Carlos Alberto de Salles, compartilhando experiências de ensino com uso de monitoria, respectivamente, em Direito Romano, Direito Financeiro e Direito Processual Civil. Mediou os trabalhos, mais uma vez, o professor Vinícius Marques de Carvalho, atuando como relatora a professora Maria Cristina Carmignani, sendo ambos da CG.

Com a palavra, o professor Bernardo iniciou sua exposição explicando que iria dividi-la em três blocos, tratando, em primeiro lugar, de como se realiza a monitoria em Direito Romano (descritivo); depois, tecendo comentários sobre a origem deste trabalho de monitoria; por fim, fazendo algumas considerações especiais.

Descreveu, então, que a monitoria de Direito Romano é a

mais antiga da Faculdade, apontando-se, tradicionalmente, o seu início em 1971. No entanto, ao que parece, o início efetivo dessas atividades teria se dado em período ainda anterior. Certo é que a atividade conta com mais de 50 anos de existência, algo único na Faculdade.

Também se destaca a monitoria de Direito Romano em

pelo seu grande número de membros ativos: 4 professores, mais ou menos 10 alunos da pós-graduação, e em torno de 70 alunos de graduação. Durante o período em que a Faculdade possibilitava que a atividade de monitoria atribuísse créditos, a disciplina contava com mais de 100 alunos da graduação.

A monitoria foi implantada pelo professor Thomas Marky,

europeu que veio ao Brasil durante a 2ª guerra mundial e implantou aqui um método de ensino comum em faculdades

Page 59: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

59

europeias, especialmente na Alemanha. O método consistia em seminários, com a participação de pessoas em vários níveis da faculdade – alunos, professores, etc.

O modelo de monitoria foi adaptado à realidade brasileira

e se consolidou ao longo do tempo. Avaliou ser uma monitoria bem-sucedida, que passou por algumas adaptações, como, p.ex., em razão de mudanças no ensino universitário, na própria disciplina, entre outras.

A monitoria sempre foi desenvolvida para alunos de 1º

ano da graduação, atualmente obrigatória no 1º semestre e optativa no 2ª semestre.

Os monitores nela ingressam por meio de processo

seletivo (da graduação, ou não). No tocante à origem do trabalho da monitoria, na Revista

Romanitas (Thomas Marky), em 1970, foi publicado relato de experiências sobre o novo método prático para aprendizado do Direito Romano. Até então as aulas eram ministradas pelo professor titular Alexandre Corrêa.

Finalmente, tecendo alguns comentários a respeito da atividade de monitoria e as aulas, esclarece que o Direito Romano deve ser dado no 1º ano, envolvendo alunos da pós-graduação, e o foco deve ser o estudo de casos práticos (fontes), especialmente o Digesto, em grupos pequenos. Como os professores não podiam se dividir, contava-se com monitores da pós e alunos da graduação.

Em todos os seminários estão presentes alunos da

graduação, da pós e professores, que se auxiliam mutuamente, no caso de dúvidas.

Page 60: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

60

O excesso de abstração no 1º ano fez com que a monitoria seja o primeiro momento de concretude para o aluno – avalia o expositor.

O Direito Romano, com paralelo no Direito Civil, serve de auxiliar para as aulas de Direito Civil; com os casos práticos do Direito Privado enfocados na disciplina romanística, os alunos conseguem absorver melhor os conceitos de outras disciplinas.

O aluno compreende melhor – enfim, ponderou o

professor Bernardo – que os conceitos de Direito Civil são fruto de uma evolução histórica:

a) é desafiadora, pois quebra a premissa básica de que

quem ensina é o professor;

b) torna um curso mais interessante, com aprofundamento, com atividades práticas e maior comunicação com o corpo discente (monitores de graduação e de pós-graduação, em geral, mais novos do que o professor);

c) envolve desafios de ordem pedagógica e ética, devendo estar pautada nos objetivos de saber, saber fazer e saber posicionar-se criticamente.

Quando há monitor, há duplicidade de objetivos. Noutras palavras, há objetivos para o aluno do curso e para o monitor. Qual o objetivo de ensino para o monitor (também um aprendiz)?

Importa uma síntese de objetivos. Tanto de

aprofundamento (discussão de textos, matérias práticas), como de comunicação (na qual o monitor auxilia o professor).

Acerca dos desafios éticos, pode-se apontar: como utilizar

a monitoria? Há limites acerca do quanto pode ser usado do curso

Page 61: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

61

para a monitoria? É comum a crítica a professores que usam mais monitorias do que tempo próprio em sala de aula.

Há desafios quanto ao aproveitamento do monitor. Como

orientar, acompanhar, ajudar na preparação das monitorias? Quando utilizar o monitor (p.ex., pode ser usado para corrigir provas?).

Em suma, como o docente estabelece limites junto aos

monitores e junto aos alunos monitorados? Todos esses foram desafios éticos e funcionais ligados à

monitoria e ao comprometimento tanto do professor, quanto do monitor, com a atividade, levantados pelo professor Carlos Alberto de Salles a partir de sua experiência. Em resumo, deixou a mensagem de que é necessário saber ponderar quais as funções de cada um, a partir de uma perspectiva ética. E completou sua abordagem salientando, como visto na enumeração acima, que os objetivos devem ser compartilhados entre professor e monitor para que, dessa forma, as finalidades convirjam.

Com a palavra, o professor José Maurício Conti concordou com a visão exposta pelo professor Salles e enfatizou a necessidade de comunicação ativa entre os participantes da monitoria através de reuniões para discussão do andamento das atividades. Acentuou também a necessidade de inclusão de tecnologias que possam colaborar para melhor apreensão do conteúdo.

Nessa linha, iniciou ponderando ser grande usuário da monitoria, também pela vontade de estar próximo aos alunos e aperfeiçoar os seus cursos.

Apontou que a monitoria na sua disciplina (Direito Financeiro) foi crescendo aos poucos, a partir de 2000, mas não é matéria que atrai muitos monitores – normalmente alunos da pós

Page 62: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

62

e poucos de graduação (2 ou 3). Tem, assim, um número bastante reduzido de monitores, se comparada à experiência em Direito Romano. Contudo, a monitoria em Direito Financeiro atrai alunos por ser tema atual, envolvendo assuntos que estão na ordem do dia (p.ex., reforma da Previdência, Estados-membros da federação falidos, etc.). Em termos de organização para a monitoria, acentuando ainda a importância das reuniões com a equipe e a divisão de atribuições. Apontou o aspecto positivo da existência feedback ao professor por intermédio dos monitores em razão da aproximação com os alunos. Ainda em termos de organização, destacou a utilização de instrumentos tecnológicos de comunicação – email, Facebook,

Instagram, etc.

Detalhou que seu curso é de duas aulas por semana, com uma parte expositiva e uma parte de atividades de monitoria. São escolhidos assuntos controvertidos ao longo do semestre; são separados textos, sendo uma atividade do monitor identificar textos e assuntos controvertidos; o monitor da pós formula questões, que são debatidas com os monitores da graduação e com os alunos.

Aspecto realçado foi o de a relação entre aluno-professor e aluno-monitor poder ser incrementada com o uso da monitoria. A distância entre alunos de graduação e professores é muito maior do que a separação existente entre monitores e alunos; afinal, estes são praticamente da mesma geração. Aí está também um aspecto relevante dessas experiências. Nos debates, o professor Bernardo teve a oportunidade de ponderar que a monitoria de Direito Romano é muito grande, mas dá muito trabalho – p.ex., para a inscrição on line de interessados

Page 63: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

63

na monitoria, seleção on line, avaliação de professores e monitores, acompanhamento do grupo por Whatsapp. 7. Experiências pedagógicas e inclusão

Nesta mesa foram expositores a professora Sheila Neder, Mariângela Magalhães e Conrado Hübner Mendes. Mediou os trabalhos o professor Carlos Portugal e os relatou o professor Rafael Diniz Pucci, ambos da CG.

Vale o destaque, durante as intervenções por ocasião dos debates e interação com o público, de membros do DDD (Direito, Discriminação e Diversidade), GPEIA (Grupo de Pesquisa e Estudos de Inclusão na Academia), GPTC (Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital), GEDS (Grupo de Estudos em Direito e Sexualidade) e GEPIM (Grupo Internacional das Minorias).

Aberta a sessão, o professor Carlos Portugal solicitou aos docentes integrantes da mesa que fizessem relato inicial das respectivas atividades e experiências pedagógicas, no âmbito do campo temático da “inclusão”.

Inicialmente, a professora Sheila Neder relatou e apresentou resultados da pesquisa e trabalho de extensão por ela coordenados, que deram ensejo à obra publicada em parceria entre o GPEIA e a Cátedra UNESCO de Direito à Educação na USP.10 A obra é fruto de labor que se iniciou nos anos de 2015 e

10 A obra, intitulada “Interações de gênero nas salas de aula da Faculdade de Direito da USP: um currículo oculto?”, encontra-se disponível em <https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000367420?posInSet=1&queryId=4c336374-e76c-4cf7-a1ab-fd7812d9b80d&fbclid=IwAR39UuEjFYSPIl_52vznO23dIyTyuXiRyNg3TXRtE5QoXBgXIk6B9WM9Ozs>.

Page 64: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

64

2016, a partir da demanda de um grupo – composto pelas estudantes da FDUSP – que procurou a professora Sheila relatando a um tempo mal-estar e silenciamento relativamente às interações de gênero no espaço da Faculdade. A bem da verdade, conforme se constataria, já as instalações físicas e salas de aula são marcadas por rigidez, hierarquia e força (o que se nota, e.g., pelas austeras gravuras de Professores homens apostas nas Salas, ambiente hostil e poltronas desconfortáveis). Aprofundando-se a investigação, verifica-se contexto fático chocante de quadro docente composto por 152 professores, dos quais 126 homens (82,9%) e 26 mulheres (17,1%). Em termos de composição dos quadros dirigentes, verifica-se que dos nove Departamentos que compõem a FDUSP, seis deles não contam com Professoras Titulares, e, em três, não há, mesmo, Professoras Associadas.

Cerne do trabalho, pois, foi perscrutar as interações na Faculdade de Direito a partir de marcadores de gênero. O método eleito foi a observação participante (com inspiração etnográfica), a par da condução de entrevistas em campo, com quatro turmas de graduação (parte delas em início do curso, parte ao final), aferindo-se, principalmente, dados relativos a perfil de gênero e geracional (e a utilização, pelos professores, de métodos de ensino com maior ou menor teor expositivo). Alguns problemas de pesquisa despontaram: diferenças de acolhimento entre homens e mulheres estudantes (verificando-se, e.g., que conteúdo de gênero estimula participação feminina, assim como grupos menores); há diferença de relações entre turmas do diurno e noturno (o que pode variar em virtude de padrão etário e classe social); docente ser homem ou mulher traz repercussão para características pedagógicas e interação.

As conclusões da obra apresentadas pela professora são instigantes, segundo as quais se constatou a existência de espécie de “currículo oculto” na FDUSP, com silenciamento crescente em relação aos problemas enfrentados pelas estudantes, sendo

Page 65: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

65

certo que a intersecção de gênero com fatores como idade, classe social e raça é essencial para se dimensionar o tema.

Com a palavra, o professor Conrado Hübner Mendes, então, relatou os trabalhos desenvolvidos pelo grupo de extensão DDD (Direito, Discriminação e Diversidade), que coordena, bem como na disciplina de graduação “Direito e Discriminação”, que leciona. Pontuou que os conhecidos marcadores de discriminação presentes nos cursos de Direito (diagnóstico da prevalência de método expositivo, hierárquico, autoritário, com vistas à formação de depósito de conhecimento e subserviência intelectual) ensejam a que se pense em abordagem transversal de “direito e discriminação”. A transversalidade se viabiliza pela possibilidade de cruzamento, e.g., de direito civil, penal, trabalhista, tributário, constitucional, etc., com a temática da discriminação, o que dá ensejo, inclusive, a que se transcenda o corpo disciplinar encontrado no exterior (normalmente “direito e gênero”, “direito e raça”, etc.).

No DDD se pensou, então, o desenvolvimento de dinâmicas pedagógicas que pudessem ser aplicadas em sala de aula, ensejando: no primeiro ano de atividades, a produção de cartilhas no campo temático “direito e discriminação”; no segundo ano de atividades, a produção de material didático para inovar aula em curso de direito civil, envolvendo outros Grupos de Extensão da FDUSP (Dandara, GEDs, etc.); no terceiro ano, a atividade voltou-se a exposição fotográfica, sendo que o mecanismo de avaliação consistiu em exposição com fotógrafos comentadores.

Por fim, a professora Mariângela Magalhães centrou sua exposição na disciplina Direito Penal e Gênero, bem como na Ouvidoria de Gênero da FDUSP (criada em 11/2018 através da portaria GDI 049/2018), sob sua responsabilidade como primeira Ouvidora. Como também foi objeto de relato pela professora Sheila Neder, a professora Mariângela Magalhães recebeu

Page 66: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

66

demandas das estudantes da FDUSP que, em seu dia-a-dia, enfrentam série de manifestações de cunho machista, o que permite constatar incômodo difuso. Discutiu-se a repercussão de evento acadêmico realizado no ano de 2018 nas dependências da FDUSP, em comemoração aos 30 anos da Constituição Federal, em que havia 33 (trinta e três) homens palestrantes e apenas duas mulheres (que não figuravam na condição de palestrantes, mas sim de mediadoras).

A professora Mariângela Magalhães trouxe ao debate hipóteses de tratamento sexista reportadas na FDUSP, relativas, por exemplo, a perguntas em sala de aula em que, em muitos casos, seria privilegiado o estudante em detrimento da estudante.

Com a palavra, o mediador, professor Carlos Portugal, à luz da pauta trazida à discussão, elaborou à mesa o seguinte problema: com a crise orçamentária enfrentada pela Universidade e a necessidade de alocar recursos escassos, é possível eleição de prioridades em matéria de elaboração de políticas universitárias de inclusão? E.g., de gênero, raça, social?

Uma série de experiências foram a partir daí relatadas, a indicar a impossibilidade de se eleger focos prioritários, de sorte que se deveria buscar tratamento equânime a todas as necessidades, multiplicando-se as fontes de atuação.

A professora Sheila Neder mencionou alguns caminhos para se fazer face à necessidade de inclusão de gênero – e.g., com maior diversidade nas bancas de concurso para professores, o que poderia ser, inclusive, objeto de reforma do Regimento Interno.

A professora Maria Paula Dallari Bucci relatou a inclusão

de tópicos sobre o papel da escravidão na formação das instituições brasileiras na Disciplina “Teoria Estado Brasileiro I”, bem como a criação na FDUSP da Comissão de Promoção da Diversidade (Comissão Permanente de esforço contra o

Page 67: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

67

Preconceito, dirigida pelas professoras Paula Forgioni, Eunice Prudente e Nina Ranieri, conforme GDI 036/2018).

Do público presente obteve-se, ainda, série de

contribuições relativas à necessidade de democratização ao acesso às provas de idiomas (FUVEST) para a Pós-Graduação, bem como estratégias várias para se fazer face à necessária inclusão – e.g., de gênero (a começar por estratégias pedagógicas como “fura fila”, dinâmica de “quebra gelo”, “estilingue”, “boomerang”, “ping pong”).

O professor Rafael Diniz Pucci mencionou o Grupo de

Extensão criado no Departamento de Teoria Geral do Direito (DFD), “Cartografia das Demandas Raciais a partir da obra de Milton Santos”, e a necessidade de a USP promover políticas de permanência estudantil paralelamente às iniciativas de inclusão, sob pena de estas remanescerem sem aplicação.

O professor Rodrigo Pagani de Souza mencionou a

criação, na Universidade, da Comissão de Indicadores de Desempenho, voltada ao estudo e proposição de possíveis indicadores de avaliação de desempenho institucional da FDUSP, sendo certo que a questão do impacto social tem sido destacada nos rankings de universidades levantados. Diante disso, indagou à mesa acerca de como identificar indicadores de inclusão apropriados, podendo-se extrair das manifestações que, embora reconhecidamente desafiadora, a tarefa de identificar tais indicadores é necessária.

8. Metodologia e interdisciplinaridade

O tema debatido na primeira mesa do último dia da Semana Pedagógica de 2019 foi metodologia e interdisciplinaridade no ensino universitário e, nalguma medida, jurídico, no Brasil. Foram expositores o professor José Garcez

Page 68: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

68

Ghirardi, da FVG Direito SP, e Maurício Pitrocola, da Faculdade de Educação da USP. Mediou os trabalhos o professor Samuel Rodrigues Barbosa, tendo-os relatado a professor Maria Paula Dallari Bucci, ambos da CG.

Com a palavra, o professor Garcez, sob o título “O fixo e o fluido”, sustentou que é preciso definir os termos do debate, identificando a origem dos desentendimentos e “limpando a área de diferenças de sentido”, na linha do que afirma Quentin Skinner.

Há três tipos de divergência no discurso: a) divergência semântica, envolvendo diferenças de sentido (p.ex., liberal, a favor de privatizações ou não?); b) divergência pragmática, envolvendo diferenças quanto à aplicação dos termos; e c) divergência valorativa, envolvendo diferenças quanto aos valores subjacentes a cada um dos termos.

Quanto à interdisciplinaridade, ela é relevante na medida em que há diferentes formas de validar afirmações. O termo “disciplina” tem três acepções: a) conjunto de regras sobre modos de agir e pensar (p.ex., disciplina mental cartesiana); b) punição; e c) campo do saber/conhecimento (p.ex., ciências humanas, exatas e biológicas).

Aqui, em campo do saber, a expressão “disciplina” é empregada como sinônimo de matéria (lembra “matéria bruta”, matéria-prima), e, assim, rigidez, estabilidade que contrasta com o aspecto processual que deve estar subjacente a uma estratégia de conhecimento. Combinando as três acepções, o expositor conclui expressando uma visão usual: os professores disciplinam os alunos, porque dominam a disciplina (os modos de agir e pensar e a matéria) e podem punir quem foge às regras.

Quanto à metodologia, trata-se do estudo dos métodos utilizados pelos participantes de uma comunidade epistêmica ou prática e da lógica que informa os diferentes métodos (como e por que). Método e metodologia são vulgarmente utilizados como

Page 69: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

69

sinônimos, embora tenham sentidos distintos, como se vê. A proposta metodológica por trás do processo de conhecimento é aspecto fundamental. Ela explica a aquisição de sentidos e orienta a revelação das premissas.

Seu ponto de partida é a relação entre sujeito e objeto.

Nas Faculdades de Direito, geralmente se privilegia o objeto. O objeto (a disciplina, matéria) pré-existe ao processo de conhecimento, de uma perspectiva positivista. O aluno está em posição infantilizada, como um sujeito mal formado, formatado, ao qual é apresentado discursivamente um valor, de modo a que ele apreenda o que foi apresentado. Isso define o ensino universitário. Essa forma não é hegemônica à toa, na medida em que reforça a hierarquia, a relação entre conhecimento, universidade e poder.

A crítica a partir do sujeito põe em questão a existência de um objeto fixo; a partir de que abordagens, que critérios? Também são importantes as condições de intelecção; numa relação dialógica, importa entender o outro, realçar a capacidade de percepção do aluno e de sua real capacidade de assimilar os conhecimentos, pelo professor. Por fim, com a crítica da perspectiva positivista, a nitidez do objeto está em xeque (p.ex., a mudança de centralidade do Estado nacional; o Estado grande demais para as coisas pequenas e pequeno demais para as coisas grandes). Isso requer diversos saberes sobre um objeto, diversas formas de validar o discurso e construir a verdade. A coexistência de discursos disciplinares não basta. A lógica do outro (“moldura de entendimento”) desestabiliza a da outra, disciplinar.

Em resumo, o objeto se cria enquanto se apresenta. E é isso que tem legitimado o trabalho das Faculdades de Direito de ponta no Brasil.

Com a palavra, o professor Maurício Pietrocola, sob o título “Disciplinar, tecnológico e ensino por projetos”, inicia destacando a aceleração da tecnologia nos últimos 100 anos. Esse

Page 70: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

70

período é caracterizado pela emergência da sociedade do conhecimento, em que surge o “capital de conhecimento”. Isso leva a desenvolver estratégias e currículos baseados no conhecimento.

O conhecimento disciplinar é a forma canônica. Ao discorrer sobre a evolução histórica do pensamento disciplinar, o expositor aponta seu desenvolvimento como herança intelectual do iluminismo. Antes, os gregos baseavam o ensino nas “artes”, na forma do trivium ou quadrivium. A Enciclopédia de Diderot e D’Alembert (1751-1772) – que não é a única; houve outras no séc. XVIII, produzidas como obras coletivas, obras de referência – tinha inspiração em Descartes, nas Regras do Método, “como eu penso sem errar”? A disciplina resulta na produção de uma comunidade de especialistas. A Enciclopédia de Diderot e D’Alembert era apresentada como um Système Figuré des

Connoissances Humaines (Sistema Figurado/Figurativo dos Conhecimentos Humanos), baseado na memória, na razão e na imaginação, com o propósito de catalogar todo o conhecimento existente na humanidade. A imagem utilizada era a da árvore do conhecimento, cheia de folhas, metáfora pela qual já se reconhecia que o conhecimento tende à fragmentação. A disciplina é um fragmento do conhecimento organizado. Para Vigotski, as disciplinas são as formas mais elevadas do pensamento. Atualmente, há o problema das barreiras epistemológicas. A superação das barreiras é possível desde que se conheça as condições de pensamento do outro.

O expositor aponta a diferença entre ideia e conceitos. A ideia é do domínio do cotidiano; em relação a ela não se deve cobrar coerência. O conceito é parte do domínio teórico, resulta de um consenso após debate e tende à estabilidade e longevidade ao longo do tempo. Operar conceitualmente é fazer correlações dentro do mesmo domínio.

Sobre a tecnologia, o palestrante aponta que se trata de uma nova matriz do conhecimento, adotada pelo MIT

Page 71: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

71

(Massachussets Institute of Technology), a primeira instituição a adotar o termo “tecnologia” em seu nome, em 1870.

Essa noção tem duas acepções: a) holística, em que os indivíduos detêm o conhecimento do processo de produção de algo integralmente; o conhecimento é subjetivo, os sujeitos o detêm (p.ex., vidreiros de Murano); b) prescritiva, caso da linha de produção, especializada por etapa do processo (p.ex., fundições chinesas e cerâmicas romanas da antiguidade e produção em série contemporânea). Com a Revolução Industrial (séc. XVIII, planificação, com uso de máquinas térmicas), e depois, com o fordismo (séc. XX, planificação, com usos de alta complexidade), as tecnologias prescritivas passaram a predominar em relação às holísticas.

Nas tecnologias prescritivas, há necessidade de compreensão das outras partes, para poder executar uma parte específica. Não se pode depender do conhecimento subjetivo típico da tecnologia holística. O uso das tecnologias prescritivas se dissemina também na Administração Pública e nos serviços sociais. Isso diminui a resistência à “programação das pessoas” e à aceitação dos controles – o controle do processo por outros, de fora da disciplina. Abre-se campo para as “boas práticas”, embora se possa perguntar: quem as define? (no caso do Direito, seriam os manuais dos cursos jurídicos).

A educação enfatiza o conhecimento disciplinar e esconde o conhecimento por tecnologias. Com isso, não desenvolve a capacidade de tomada de posição frente à nova sociedade do conhecimento, os usos sociais da tecnologia. O grande problema da educação atual não está na organização disciplinar, mas nas limitações no interior das disciplinas.

Os objetivos da educação científica e tecnológica são a autonomia das partes, a comunicação com os demais e o domínio do todo. Disso deve resultar reflexão crítica sobre o papel do indivíduo: o que minha parte pode contribuir com o todo?

Page 72: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

72

São necessários projetos formativos que se conversem, realizando alfabetização científica e tecnológica. Essa metodologia de trabalhos por projetos foi experimentada na Bélgica, como estratégia para relativizar as barreiras disciplinares. A organização pedagógica se faz na forma de disciplinas tradicionais mais um projeto por ano. As disciplinas são imprescindíveis. 9. Oficina de Moodle básico

O tema que encerrou a Semana Pedagógica de 2019 tratou da plataforma virtual Moodle, atualmente denominada e-

Disciplinas. O expositor foi um dos idealizadores do projeto, o professor Ewout Ter Haar, do Instituto de Física da USP. Relatou os trabalhos o professor Flávio Roberto Batista, membro da CG. Apresentando-se, o professor Ewout relatou ser físico experimental que trabalha com tecnologia educacional há dez anos, desde que surgiu o Moodle, em 2009. Depois, passou a tratar de sua visão sobre educação, como introdução ao tratamento do sistema e-disciplinas, versão do Moodle na USP. Ele vê espaços educacionais como zonas de negociação. O currículo de ensino é tradicionalmente visto em termos de competências e habilidades, mas queremos ir além, trazer os novatos para o patamar do especialista. Para isso, é necessário negociar com o novato. Não adianta falar mais alto, é necessário encontrar uma língua comum. Segundo o sociólogo da ciência Peter Galison, na educação há uma zona de troca. Segundo a filosofia da ciência, no início do século XX o positivismo entende que as teorias evoluem, mas sempre dentro do mesmo método. Nos anos 60, os antipositivistas criticaram essa postura, entendendo que as novas teorias e esquemas influem na visão de mundo e, portanto, no modo como se fazem as observações. Segundo Galison, as comunidades de teóricos e experimentalistas

Page 73: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

73

evoluem independentemente, mas devem se comunicar entre si, o que ocorre nas “trading zones”. Teóricos e experimentalistas falam entre si em linguagem simplificada, analogamente aos idiomas pidgin (línguas de contato) surgidos quando comunidades de idiomas distintos se encontram. Isso deve ser pensado ao elaborar um curso.

Outro sociólogo da ciência, Harry Collins, escreveu sobre conhecimento tácito. Há conhecimentos que não há como explicitar. O chamado “aprendizado por osmose”. O aprendizado de coisas que não se pode articular, mas são adquiridos pela vivência. Segundo ele, a Internet é um meio de transmissão, e por isso não pode ser usado para educação. Ele não concorda com isso. O importante é saber como usar a Internet para se comunicar. Educação em meios digitais, educação tecnológica e tecnologia educacional tendem a tornar-se redundantes como mídia digital ou computação eletrônica. Devemos tomar cuidado com determinismo tecnológico e instrumentalismo (suposta neutralidade das tecnologias) e levar em conta as dificuldades de acesso. É cada vez mais uma realidade, mas ele se preocupa com a transformação de professores e tutores e a perda de autonomia didática (deskilling).

87% das universidades do Canadá já utilizam alguma forma de tecnologia na educação (ensino híbrido, que mescla ensino presencial com tecnologia incremental). Usam, assim, ambientes como Moodle, vídeo, aplicativos, mídias sociais. Na USP, o Moodle tem 40 mil alunos e 3 mil professores ativos no sistema (são 90 mil alunos no total). O dado de matrículas, um pouco mais objetivo, aponta as diversas matrículas em que cada aluno se engaja. O crescimento é constante, havendo um salto das humanas 3 anos atrás. FD está em quarto lugar no número de matrículas, atrás de FFLCH, EP, e EACH, mas em segundo no número de matrículas no Moodle. Quase dobrou o uso da plataforma nos últimos 3 anos.

Page 74: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

74

Diante dessa realidade, temos que saber na prática sobre “learning design”, como usar as ferramentas para criar oportunidades de aprendizagem. A tecnologia segue a abordagem pedagógica que é fundada na teoria de aprendizagem. Destaca algumas teorias de aprendizagem: comportamentalismo (Pavlov, por exemplo), que lida com recompensas e não tem hipóteses sobre o que acontece na cabeça do aluno; cognitivismo, que quer criar modelos de funcionamento dos processos de aprendizagem no cérebro (como exemplo de resultado, não se pode sobrecarregar os canais verbais e visuais); construtivismo social, que é a ideia de que se deve dialogar com a pessoa (Piaget, Vigotsky), os alunos já sabem fazer coisas sozinhos, mas potencialmente podem ir além com alguma ajuda (zona proximal de desenvolvimento).

Em princípio, a tecnologia segue as teorias de

aprendizagem, mas na prática baseamo-nos nas próprias experiências. Segundo pesquisa da Open University, 50% do uso é baseado em conteúdo, seguido por cerca de 25% de atividades avaliativas.

No Moodle USP, há uma fração de ambientes que é mero

repositório de arquivos (e no “mero” já há juízo de valor). Corresponde a cerca de um quarto. Eles têm cerca de 30 arquivos, além de 2 a 4 de tarefas ou atividades. Na FD, a fração de meros repositórios está entre 30 e 40%, mas vem caindo. Tirando os arquivos da análise, cada disciplina tem em média 3 a 4 ferramentas de avaliação e 1 a 2 ferramentas de comunicação. As ferramentas de feedback são muito pouco utilizadas.

O professor então começou a descrever e demonstrar exemplos concretos de uso. Primeiro, uma aula em que é transmitido conteúdo, requer-se relato de experiência e preenchimento de questões de múltipla escolha para extrair dados de aprendizagem. Outro exemplo, da EACH, pede preparação e questionários prévios para preparação para o momento nobre da

Page 75: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

75

aula. Embora dobre a carga horária da disciplina. Em outro exemplo, usando H5P, faz-se anotações, links para site, etc., por cima de vídeos. Os questionários do Moodle permitem também respostas construídas, não apenas múltipla escolha. As enquetes não podem ser confundidas com questionários. Servem para receber informações da turma, como uma pesquisa de opinião. Se você pergunta o que o aluno achou, as notas serão altas, mas se você faz perguntas sobre as possíveis abordagens e sugestões, as sugestões costumam ser ótimas. O glossário é uma ferramenta muito legal. As informações também podem ser obtidas por meio de relatórios. O relatório de atividade do curso avalia engajamento em cada recurso ou atividade, e o relatório de participação filtra a participação por usuário. O uso do “Bloco Progresso” exige a configuração da conclusão das atividades.

A oficina foi concluída com a apresentação do “modo

restrito” (possibilidade de tornar acessíveis certas partes do ambiente apenas após a conclusão de certas tarefas), do “diálogo” (perguntas e respostas particulares, diferentemente do fórum, mas sob controle do professor) e de um uso mais avançado da ferramenta “tarefa”, usada para receber arquivos dos alunos, com possibilidade de estabelecer previamente os critérios de avaliação por meio de rubricas, padronizando a avaliação, além da honestidade com os alunos.

10. Oficina de Moodle avançado

O objetivo dessa Oficina foi o compartilhamento de experiências específicas de professores da FDUSP. Compartilharam suas experiências os professores Marcos Augusto Perez, Juliana Krueger Pela e Maria Paula Dallari Bucci, esta junto ao pós-doutorando Rodrigo Boldrini. Mediou os trabalhos o professor Rodrigo Pagani de Souza e os relatou o professor Flávio Roberto Batista, ambos da CG.

Page 76: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

76

Com a palavra, o professor Marcos Augusto Perez relatou sua experiência de uso da ferramenta em matéria de pós ministrada com o professor Rodrigo Pagani de Souza. A cada aula há um conjunto de textos para leitura e uma ficha de reação (reaction paper), ideia inspirada na sua utilização na universidade de Yale, pela qual o aluno reage aos textos indicados como leituras prévias às aulas. Frisa-se que não se trata de um fichamento, mas de uma reação. A apreciação desses textos ajudar os professores a traçar roteiro das aulas, especialmente dos debates, nos quais utilizam um método socrático. Tem funcionado bem, o depoimento é positivo. O curso estimula a produção de um artigo por aluno, cujo projeto é discutido em conjunto em uma das aulas da disciplina, à metade do curso, resultando em artigos de grande qualidade, que geram até publicações. Há também os seminários, que envolvem, para além de uma apresentação preparada por alunos, o debate das questões suscitadas pela apresentação e a discussão das fichas de reação produzidas individualmente.

Com a palavra, a professora Juliana Krueger Pela

apresentou experiência com uso de questionário inserto no Moodle, a ser respondido em sala, para aferir o conhecimento do aluno. Ela apresenta questionário a ser respondido em sala para aferir conhecimento do aluno, embora haja diversas possibilidades, incluindo avaliação e respostas em casa.

As desvantagens são o grande trabalho para elaborar

bancos de questões e a impossibilidade de acesso de convidados aos bancos. Sua vontade é usar os questionários ativos. Isso demanda todos os estudantes portarem aparelhos e a internet funcionar. Há alternativas ao Moodle para a função do questionário ativo, como o socrative.com e o Google Forms. O Moodle pode ser usado para outras funcionalidades além da aula, como o espaço de orientação.

Page 77: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

77

Com a palavra, a professora Maria Paula e o pós-doutorando Rodrigo Boldrini fizeram relato de experiência, com o objetivo de apresentar as potencialidades de avaliação com uso da ferramenta. Todas as disciplinas da professora têm uma marca visual. Apresentou o exemplo do seminário: depois de lidos os textos previamente selecionados, o aluno responde as questões no Moodle. O Moodle sorteia uma questão do banco para resposta, usando a ferramenta do questionário. A nota era dada manualmente e lançada diretamente na planilha, o que aprendemos hoje ser um erro, ponderaram os expositores, a partir das lições aprendidas na Oficina do professor Ewout. Essas atividades correspondem a 40% da nota.

O professor Ewout então alertou sobre a possibilidade de colocar uma resposta padrão para facilitar o feedback. Outro exemplo trazido é como colocar as notas e a configuração de seus pesos.

Page 78: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

78

Anexo I

Programação completa da Semana Pedagógica:

Page 79: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

19/02/2019

3a feira

20/02/2019

4a feira

21/02/2019

5a feira

22/02/2019

6a feira

Manhã 9 às 12h30

Sessão conjunta CTA – CG: Relações e convergências entre o Projeto Político-Pedagógico do curso e os Projetos Acadêmicos da Faculdade, dos Departamentos e dos docentes Expositores: Presidente da Comissão de Atividades Acadêmicas (CAA) do Conselho Universitário da USP, Luiz Henrique Catalani, Diretor, Floriano Azevedo Marques Neto Vice-Diretor, Celso

Sessão conjunta CG-CCEx: Como aproveitar o vigor das atividades de cultura e extensão na FD para implantação do novo PPP? Expositora: Pró-Reitora de Cultura e Extensão: Maria Aparecida Machado Debatedores: Presidente e Vice da CCEx: Claudia Perrone Moisés e Marcos Perez Professores: Gustavo Mônaco, Nestor Duarte e Gustavo Justino Mediador: Roberto

Metodologia e interdisciplinaridade Maurício Pietrocola (FE-USP) José Garcez Ghirardi (FGV-SP) Mediador e relator: Samuel Rodrigues Barbosa

Page 80: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

80

Campilongo Mediadora: Maria Paula Dallari Relator: Samuel Rodrigues Barbosa

Pfeiffer Relator: Flávio Roberto Batista

Tarde 14 às 15h30

Experiências pedagógicas com extensão e pesquisa Maurício Dieter – Cárcere José Marcelo Martins Proença- Processo Mediador: Vinicius Marques de Carvalho Relator: Ronaldo Lima dos Santos

Oficina de Moodle Básico Ewout ter Haar (IF-USP) Mediador: Rodrigo Pagani de Souza Relator: Flávio Roberto Batista

Tarde 15h30 às 17h

Experiências pedagógicas com uso de monitoria Bernardo Bissoto Queiroz

Moodle Avançado Marcos Augusto Perez – Fichas de reação e exercícios no moodle

Page 81: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

81

– Direito Romano José Maurício Conti – Direito Financeiro Carlos Alberto de Salles – Direito Processual Civil Mediador: Vinicius Marques de Carvalho Relatora: Maria Cristina Carmignani

Maria Paula Dallari e Rodrigo Boldrini – Atribuição de notas para atividades no moodle Juliana Krueger Pela – Questionários no moodle Mediador: Rodrigo Pagani de Souza Relator: Flávio Roberto Batista

Tarde-noite 17 às 20h

Sessão conjunta CG-CPG: A avaliação como referência para o futuro da pós-graduação na FD e suas relações com o novo PPP Expositores: Vice da CPG: Ana Elisa Bechara e José Reinaldo Lima Lopes e Virgílio Afonso

Sessão conjunta CG-Cpq: As linhas de pesquisa e suas relações com o novo PPP, disciplinas optativas e TCCs Expositores: Luiz Nunes (ex-Presidente da CERT) e Pró-Reitor de Pós-Graduação da USP, Carlos Gilberto Carlotti

Experiências pedagógicas e inclusão Conrado Hübner Mendes Mariângela Magalhães Sheila Cristina Neder Cerezetti Mediador: Carlos Portugal Gouvêa Relator: Rafael Diniz Pucci

Page 82: RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A Docência ... · RELATÓRIO DA SEMANA PEDAGÓGICA DE 2019: A ... à pesquisa, à extensão e à gestão. Já os dois últimos, voltaram-se

82

da Silva Mediador: Otavio Pinto e Silva Relator: José Augusto Fontoura Costa

Jr. Debatedores: Presidente e Vice da CPq: Nina Ranieri e Ana Maria Nusdeo; Vice-Presidente da Comissão de Pós-Graduação: Ana Elisa Bechara e Alberto Amaral Jr. Mediadora: Sheila Cristina Neder Cerezetti Relator: Wagner Menezes