relatÓrio tÉcnico - cientÍfico período: agosto/2014 a ... · 2 resumo no município de...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DIRETORIA DE PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA –
PIBIC: CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT,
PADRC E FAPESPA
RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO
Período: agosto/2014 a agosto/2015
( ) PARCIAL
(X ) FINAL
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título do Projeto de Pesquisa: AÇÕES DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E DE SAÚDE
NA ÁREA DO PÓLO INDUSTRIAL DE BARCARENA
Nome do Orientador: SIMONE DE FÁTIMA PINHEIRO PEREIRA
Titulação do Orientador: DOUTORA
Faculdade: QUÍMICA
Instituto/Núcleo: ICEN
Laboratório: LABORATÓRIO DE QUÍMICA ANALÍTICA E AMBIENTAL
Título do Plano de Trabalho: Estudo da viabilidade do uso do carvão de Buriti (Mauritia
flexuosa) no tratamento de águas contaminadas por elementos tóxicos em comunidades
carentes do município de Barcarena-PA.
Nome do Bolsista: Danilo Batistuta da Silva Lopes
Tipo de Bolsa:
( X ) PIBIC/ CNPq
( ) PIBIC/CNPq – AF
( )PIBIC /CNPq- Cota do pesquisado
( ) PIBIC/UFPA
( ) PIBIC/UFPA – AF
( ) PIBIC/ INTERIOR
( ) PIBIC/PARD
( ) PIBIC/PADRC
( ) PIBIC/FAPESPA
( ) PIBIC/ PIAD
( ) PIBIC/PIBIT
2
RESUMO
No município de Barcarena funciona, em plena operação, as plantas industriais,
ALBRÁS - ALUNORTE, dando a região o título de maior concentração de produção do
metal no país e 5° maior produtor mundial de alumínio perdendo apenas para Austrália,
EUA, Canadá e Rússia, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM) e Associação Brasileira de Alumínio (ABAL). A produção de lama vermelha
através de fábricas de alumina constitui um problema ambiental de proporções
consideráveis, devido às proporções do volume de lama vermelha gerado em uma
fábrica de alumina típica e sua causticidade. Uma fábrica de alumina pode gerar 0,5-2
toneladas de sólidos secos de lama vermelha para cada tonelada de alumina produzida.
Além disso, até 2 toneladas de licor cáustico de 5-20 g/L (como Na2CO3) podem
acompanhar cada tonelada de sólidos secos de lama. Sendo assim é um problema
considerável, que atualmente diz respeito a toda fábrica de alumina (Nunn, 1998). Na
área industrial citada é comum a ocorrência de acidentes ambientais, a prática de
depositar resíduos tóxicos sem tratamento a céu aberto é comum entre as empresas que
se instalam na área industrial de Barcarena contrariando o Art. 13 § 3o da lei ambiental
do estado do Pará que diz “Os resíduos portadores de microorganismos patogênicos ou
de alta toxicidade, bem como inflamáveis, explosivos, radioativos e outros classificados
como perigosos, antes de sua disposição final no solo, deverão ser submetidos a
tratamento e acondicionamento adequados”, associada a esta prática, a grande
incidência de chuvas na região, formam o cenário perfeito para os grandes desastres que
tem ocorrido ao longo dos anos nesta área. Tendo em vista todos os impactos
ambientais causados pelas indústrias de Barcarena e os riscos ambientais a que
comunidades ribeirinhas, poluções urbanas e os ecossistemas da área estão sujeitos a
Universidade Federal do Pará tendo o Laboratório de Química Analítica e Ambiental
(LAQUANAM) como executor, propõe o projeto AÇÕES DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL E DE SAÚDE NA ÁREA DO PÓLO INDUSTRIAL DE BARCARENA
onde estão sendo realizadas ações que possibilitem a proteção dos ecossistemas da área
afetada na qual está sendo desenvolvido um filtro utilizando carvão da casca do buriti
(Mauritia flexuosa) para o tratamento das águas contaminadas principalmente por
metais pesados.
3
1. INTRODUÇÃO
Os problemas decorrentes da atividade tóxica dos metais no meio ambiente têm
despertado grande interesse na comunidade científica e enormes preocupações nas
diversas organizações ambientais. Isso se deve, em parte, ao fato dos metais não
apresentarem propriedades de biodegradação, o que os fazem permanecer no ambiente
por muito tempo, causando contaminação dos solos e da água (GONÇALVES, 2008).
O município de Barcarena é marcado pela intensa atividade industrial,
caracterizada pelas indústrias de mineração e pelo escoamento da produção dessas
indústrias, através do Porto de Vila do Conde, localizado no município de Barcarena a
cerca de 40 km a oeste do município de Belém (PAZ, et al., 2011)
As atividades voltadas para a mineração tornam a contaminação dos sistemas
naturais por metais tóxicos um dos mais sérios problemas ambientais. Esses metais,
conhecidos também como metais pesados ou metais-traços, são elementos químicos que
contaminam o meio ambiente, provocando diferentes danos tanto à biota, quanto à flora
do local do sítio contaminado, bem como à comunidade humana (TSUTIYA, 2002).
A cidade vive hoje sérios problemas ambientais relativos não só às indústrias,
como também relativo aos problemas de saneamento básico (lixões, esgotos domésticos
e sanitários). Onde a empresa ALUNORTE processa a bauxita para a produção da
alumina que será utilizada para a produção do alumínio metálico. Para se obter a
alumina pura utiliza-se o processo proposto pelo químico austríaco Carl(Karl) Josef
Bayer em 1887, onde se usa NaOH para dissolver seletivamente Al2O3, a partir da
bauxita que contêm cerca de 55 % em Al2O3. Entretanto, a “lama vermelha”, que é
proveniente do processo Bayer, vem causando impactos negativos no meio ambiente
local e arredores. Impactos esses que afeta não somente quem trabalha diretamente com
àquele processo como também a população que utiliza as águas dos rios da região para a
sua subsistência. Visando essa problemática o presente trabalho propõe-se a verificar
viabilidade do uso do carvão de Buriti (Mauritia flexuosa) no tratamento de águas
contaminadas por elementos tóxicos no município de Barcarena notadamente utilizando
o processo de adsorção dos metais pesados pelo carvão de buriti.
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2. OBJETIVO GERAL
Verificar a viabilidade do uso do carvão de Buriti (Mauritia flexuosa) no
tratamento de águas contaminadas por chumbo em comunidades carentes do município
de Barcarena-PA, utilizando filtros desenvolvidos no Laboratório de química analítica e
ambiental (LAQUANAM) da UFPA.
2.1 OBJETIVOS ALCANÇADOS
.Revisão bibliográfica concluída.
. Sistema de filtragem automática usando bomba peristáltica e tubos de tygon já
concluída.
.Ensaio com as microcolunas simulando a filtragem contendo o carvão de buriti para a
remoção de chumbo das águas de consumo por algumas comunidades do Município de
Barcarena em andamento.
.Treinamento na técnica da emissão atômica com plasma induzido em concluida
.Análise do chumbo na água de consumo coletada em comunidades de Barcarena
comcluida
. Análise do chumbo nas amostras após filtragem
. Tratamento estatístico dos resultados
. Verificar a partir de análise se o uso do carvão de buriti é viável para a remoção de
chumbo em águas contaminadas
. Confecção do relatório final
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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 ADSORÇÃO
A adsorção é um fenômeno físico-químico onde o componente em uma fase
gasosa ou líquida é transferido para a superfície de uma fase sólida. Os componentes
que se unem à superfície são chamados adsorvatos, enquanto que a fase sólida que
retém o adsorvato é chamada adsorvente. A remoção das moléculas a partir da
superfície é chamada dessorção (MASEL, 1996). A migração destes componentes de
uma fase para outra tem como força motriz a diferença de concentrações entre o seio do
fluido e a superfície do adsorvente. Usualmente o adsorvente é composto de partículas
que são empacotadas em um leito fixo por onde passa a fase fluida continuamente até
que não haja mais transferência de massa. Como o adsorvato concentra-se na superfície
do adsorvente, quanto maior for esta superfície, maior será a eficiência da adsorção. Por
isso geralmente os adsorventes são sólidos com partículas porosas (BORBA, 2006).
Segundo LETTERMAN (1999); a adsorção de moléculas pode ser representada
como uma reação química:
Onde A é o adsorvato, B é o adsorvente e A.B é o composto adsorvido.
Os compostos permanecem adsorvidos na superfície do adsorvente pela ação de
diversos tipos de forças químicas como:
- Ligações de Hidrogênio
- Interações Dipolo-Dipolo
- Forças de London ou Van der Waals
Quando as moléculas de adsorvato presentes na fase fluída atingem a superfície
do adsorvente, a força residual, resultante do desequilíbrio das forças de Van der Walls
que agem na superfície da fase sólida, criam um campo de forças que atrai e aprisiona a
molécula. O tempo que a molécula de adsorvato fica ligada à superfície do adsorvente
depende diretamente da energia com que a molécula é segura, ou seja, é uma relação
entre as forças exercidas pela superfície sobre essas moléculas e as forças de campo das
outras moléculas vizinhas (HOMEM, 2001).
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Existem basicamente dois tipos de adsorção: a adsorção física ou fisiosorção e a
adsorção química ou quimiosorção. No entanto, em certas ocasiões os dois tipos podem
ocorrer simultaneamente (CHEREMISINOFF e ELLERBUSCH, 1978).
A adsorção física ocorre por uma diferença de energia e/ou forças de atração,
chamada força de Van der Waals, que tornam as moléculas fisicamente presas ao
carvão. Estas interações têm um longo alcance, porém são fracas. A energia produzida
quando uma partícula é fisicamente adsorvida é da mesma ordem da entalpia de
condensação. Este tipo de adsorção é sempre exotérmico e reversível. O equilíbrio é
estabelecido rapidamente, a menos que ocorra a difusão através da estrutura porosa.
A fisiosorção corresponde a uma interação de natureza puramente eletrostática
entre a partícula e os átomos superficiais do sólido.
Origina-se pela atração entre dipolos permanentes ou induzidos, sem alteração
dos orbitais atômicos ou moleculares das espécies comprometidas. Recebe também o
nome de adsorção de Van der Waals (DROGUETT, 1983). Entretanto, a quimiosorção,
corresponde a uma interação de tipo químico, na qual os elétrons de enlace entre as
moléculas e o sólido experimentam reordenamento e os orbitais respectivos mudam de
forma, de modo similar a uma reação química. Mas nem sempre a alteração eletrônica é
completa no sentido dos enlaces químicos comuns, covalentes ou iônicos; pode ocorrer
somente uma modificação ou deformação parcial dos orbitais (DROGUETT, 1983).
A entalpia de adsorção química é muito maior que a da adsorção física. Com
exceção de alguns casos, a adsorção química é exotérmica e reversível. A Tabela 1
apresenta as principais diferenças entre a quimiosorção e a fisiosorção.
Tabela 1 Diferenças entre a quimiosorção e a fisiosorção.
Fonte: MC CASH, 2001; RUTHVEN, 1984
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3.1.1 Adsorventes mais usados.
Sendo a adsorção um fenômeno essencialmente de superfície, para que um
adsorvente tenha uma capacidade adsortiva significante, deve apresentar uma grande
área superficial específica, o que implica em uma estrutura altamente porosa. As
propriedades adsortivas dependem do tamanho dos poros, da distribuição do tamanho
dos poros e da natureza da superfície sólida. Os adsorventes mais utilizados em escala
industrial atualmente são o carvão ativado, a sílica-gel, a alumina ativada e as peneiras
moleculares (VALENTE, 2012).
Os chamados adsorventes amorfos – carvão ativado, sílica-gel e alumina –
apresentam áreas específicas entre 200-1000m2/g, e uma faixa de distribuição de
tamanho de poros bem ampla, enquanto que as peneiras moleculares, por serem
materiais cristalinos apresentam um tamanho de poro de ordem de grandeza molecular
definido pela estrutura cristalina, e que praticamente não varia. Quanto ao tamanho dos
poros, estes podem classificar-se em três categorias, conforme sugere a IUPAC:
Microporos: diâmetro < 2nm
Mesoporos: diâmetro 2- 50nm
Macroporos: diâmetro > 50nm
A sílica-gel é formada quando um silicato solúvel é neutralizado por ácido
sulfúrico, retirando-se a água um sólido poroso é obtido. Sua composição química pode
ser expressa como SiO2.nH2O. Sua principal aplicação industrial como adsorvente é a
retirada de umidade de correntes gasosas, mas também foi utilizada na separação de
compostos aromáticos de parafínicos e naftênicos no processo Arosorb (VALENTE,
2012).
A alumina ativada é constituída de óxido de alumínio e é comumente obtida da
bauxita (Al2O3.3H2O). Sua aplicação industrial mais importante também é na
desidratação de correntes gasosas e em algumas purificações específicas de correntes
líquidas (valente, 2012).
O carvão ativado é um dos primeiros adsorventes conhecidos e um dos mais
utilizados atualmente. Pode ser produzido de várias maneiras e suas características vão
depender da matéria prima utilizada e da forma de ativação. Geralmente é produzido
pela decomposição térmica de material carbonáceo seguido pela ativação com vapor ou
dióxido de carbono em temperaturas elevadas. Sua superfície possui afinidade com
substâncias de caráter orgânico, conferindo-lhe sua principal aplicação atualmente, a
descontaminação de água destinada ao consumo humano. Utilizando-se de técnicas
8
modernas de ativação é possível produzir um novo material chamado peneira molecular
de carvão – um carvão ativado com estreita distribuição de tamanho de poros, na faixa
observada nas peneiras moleculares. Uma utilização em larga escala destas peneiras
moleculares de carvão é na separação de gases (VALENTE, 2012).
A grande maioria das peneiras moleculares são zeólitas, termos que praticamente
eram sinônimos até o surgimento de outros tipos de peneiras moleculares como as
alumino fosfatadas e as peneiras moleculares de carvão. Zeólitas são alumino-silicatos
de estrutura cristalina e porosa, de ocorrência natural ou sintetizados em laboratório
(VALENTE, 2012).
A estrutura cristalina das zeólitas é formada pela união de tetraedros de SiO4 e
AlO4 que formam poliedros característicos. Estes poliedros arranjam-se
tridimensionalmente dando origem a poros de dimensões moleculares e uniformes.
Como o grupo AlO4 apresenta excesso de cargas negativas a estrutura é compensada
eletronicamente por íons positivos. As diferentes configurações tridimensionais e a
presença de diferentes cátions de compensação determinam uma grande quantidade de
tipo de zeólitas, cada uma com seu diâmetro de poro característico (VALENTE, 2012).
O surgimento e posterior desenvolvimento deste tipo de material possibilitou um
grande impulso nos processos de separação por adsorção, uma vez que apresentam um
tamanho de poro bem definido, podendo o material ser seletivo à adsorção de uma
espécie cujo tamanho da molécula é da mesma ordem de grandeza dos poros. A
aplicação das zeólitas como catalisadores de seletividade molecular data de 1960, mas
foi após a formulação da zeólita sintética ZMS-5 que muitas novas aplicações surgiram,
tais como a conversão do metanol para gasolina, o craqueamento seletivo de n-parafinas
e a separação de isômeros de xilenos além de outras aplicações na biotecnologia,
indústria farmacêutica e engenharia ambiental. Muitos trabalhos vêm sendo
desenvolvidos recentemente objetivando desenvolver peneiras moleculares para
aplicações específicas. A possibilidade de ajustar as dimensões dos microporos e/ou as
propriedades químicas das zeólitas amplia o espectro de possíveis usos, tanto como
catalisadores, como agentes de separação altamente seletivos (VALENTE, 2012).
3.1.2 Equilíbrio de Adsorção
A distribuição do sorbato entre a fase fluida e a fase adsorvida envolve um
equilíbrio de fases, que é governado pelos princípios da termodinâmica. Dados de
equilíbrio são geralmente reportados na forma de isotermas, que são diagramas
9
mostrando a variação da concentração de equilíbrio no sólido adsorvente com a pressão
parcial ou concentração da fase fluida, em uma temperatura específica. A determinação
experimental das isotermas é o primeiro passo no estudo de um novo sistema
sorbato/adsorvente. A informação daí retirada é importante na estimação da quantidade
total de adsorvente necessária para um certo processo e consequentemente no
dimensionamento dos equipamentos a serem utilizados em tal processo adsortivo
(VALENTE, 2012).
Em geral, para a adsorção física em uma superfície homogênea e em baixas
concentrações, a isoterma toma uma forma linear com uma inclinação limite constante,
e a relação pode ser expressa pela Lei de Henry, dada pela seguinte relação:
(1)
Ou
(2)
Onde q representa a concentração da fase adsorvida, C a concentração da fase fluida e p
a pressão parcial da fase fluida, no caso de gases.
A constante de Henry (K ou K’) é uma constante de equilíbrio termodinâmico e
sua dependência com a temperatura segue a lei de van’t Hoff (equação (3)).
(3)
A adsorção em zeólitas bem como a adsorção em fase vapor geralmente é um
processo exotérmico e, neste caso, o valor da constante decresce com o aumento da
temperatura (VALENTE, 2012).
A Lei de Henry é bastante útil para baixas concentrações de sorbato, mas ao
aumentar-se gradativamente esta concentração, aumentam as interações entre as
moléculas adsorvidas e ocorre uma saturação na fase adsorvida. Logo, com o aumento
das concentrações as isotermas podem tomar formas mais complexas. Uma
classificação dos diferentes tipos de isotermas universalmente empregada é a
classificação de Brunauer, que as divide em cinco diferentes tipos (Figura 1). Adsorção
em sólidos microporos geralmente apresentam isotermas do tipo I; as formas mais
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complexas estão associadas com adsorção multicamada e/ou com variações do tamanho
dos poros. Muitos modelos matemáticos de isotermas de adsorção encontram-se
reportados na literatura para correlacionar dados de equilíbrio para os vários tipos de
isotermas existentes (VALENTE, 2012).
Figura 1. Classificação de Brunauer das Isotermas.
3.1.3 Isoterma de Langmuir
As isotermas do tipo I, que são as mais comuns, são geralmente representadas
pelo modelo de Langmuir:
(4)
Onde qs é o limite de saturação e b uma constante de equilíbrio que está diretamente
relacionada com a constante de Henry ( ).
Este modelo foi originalmente desenvolvido para representar a adsorção em
monocamada sobre uma superfície ideal, onde o calor de adsorção deve ser
independente da cobertura da fase sólida. Entretanto, por sua simplicidade e
versatilidade, este modelo é amplamente empregado para representar isotermas do tipo
I, com bons resultados, mesmo quando tais condições não são satisfeitas (VALENTE,
2012).
O modelo de Langmuir pode ser estendido para a adsorção em sistemas binários
ou multicomponentes:
11
(5)
A equação (5) mostra que a adsorção do componente 1 na pressão parcial p1 é
reduzida na presença do componente 2 devido à competição entre as duas substâncias.
Para que esta expressão seja consistente termodinamicamente, as concentrações de
saturação da monocamada para os dois componentes devem ser iguais, condição que
geralmente não é satisfeita para sistemas reais. Devido à dificuldade de se obter dados
experimentais para sistemas multicomponentes, muitas vezes estes são estimados a
partir de isotermas monocomponentes (VALENTE, 2012).
3.1.4 Carvão Ativado
Carvões ativados são materiais carbonosos porosos que apresentam uma forma
microcristalina, não grafítica, que sofreram um processamento para aumentar a
porosidade interna. Uma vez ativado, o carvão apresenta uma porosidade interna
comparável a uma rede de túneis que se bifurcam em canais menores e assim
sucessivamente. Esta porosidade diferenciada é classificada segundo o tamanho em
macro, meso e microporosidade.
Os carvões microporosos pertencem a uma classe de materiais importante,
conhecido como carvão ativado (C.A) sendo de larga aplicações através de sua
reconhecida produção mundial de aproximadamente 400.000 ton/ano (RODRÍGUEZ-
REINOSO e SABIO-MOLINA, 1998). O carvão ativado é utilizado como adsorvente,
catalisador ou suporte de catalisador. Na área de tratamento de efluentes é usado na
adsorção em fase líquida, por exemplo, na adsorção de moléculas orgânicas que causam
sabor, odor e toxicidade (LETTERMAN, 1999).
A característica incomparável do carvão é a larga superfície interna localizada
dentro da rede de poros estreitos, onde a maior parte do processo de adsorção tomará
lugar e cujo tamanho e forma dos poros também influenciam na seletividade da
adsorção através do efeito de peneira molecular (RODRIGUEZREINOSO e SABIO-
MOLINA, 1998).
A princípio, qualquer material com alto teor de carbono, denominado de agente
precursor (A.P) pode ser transformado em C.A, por exemplo, cascas de coco, carvões
minerais (antracito, betuminosos, linhito), turfas, madeiras, resíduos de petróleos.
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Atualmente são utilizados como agentes precursores, os caroços e cascas de oliva,
cereja, damasco, pêssego, azeitonas e ossos de animais. Em torno de 1/3 da produção
mundial de C.A. é de origem vegetal, sendo esta proporção muito maior nos Estados
Unidos da América e na Europa (CLAUDINO, 2003).
No Brasil, predominantemente, empregam-se madeira, carvão betuminoso e sub-
betuminoso, osso e casca de coco. Uma vez preparada a granulometria desejada, a
produção envolve, basicamente, a carbonização e ativação (ou oxidação) para
desenvolvimento dos vazios internos. A carbonização ou pirólise é usualmente feita na
ausência de ar, em temperaturas compreendidas entre 500 - 800oC, enquanto a ativação
é realizada com gases oxidantes em temperaturas de 800 a 900oC (DI BERNARDO,
2005).
Os carvões ativados podem ser preparados, ou manufaturados por uma variedade
de métodos. Estes poderiam ou não envolver ácidos sintéticos, bases e outras
substâncias num fluxo de gases ativantes tais como vapor (H2O), nitrogênio (N2) ou
dióxido de carbono (CO2). Seu rendimento e qualidade podem ser melhorados pela
remoção da umidade. Microondas podem ser usadas para a pirolise da fonte de carvão.
Por exemplo, o lignito e turfa são processados através de uma carbonização a baixas
temperaturas, seguida do tratamento com vapor ou hidróxido de potássio. O carvão pode
ser convertido em resinas de troca catiônicas por sulfonação, ou por nitração e redução.
Alguns processos tratam materiais carbonosos com ácido fosfórico e/ou cloreto de
zinco, resultando numa mistura carbonácea a elevada temperatura, seguida pela
remoção dos agentes ativantes através da lavagem com água (ORMI-ORGANIC
MATERIALS REVIEW INSTITUTE, 2006). Na Figura 2 é mostrado o diagrama
contendo as etapas do processo de ativação do carvão.
O carvão ativado pode ser adquirido em pó ou granulado. Com o uso do carvão
em pó (CAP) é necessário preparar adequadamente uma suspensão, que é adicionada,
geralmente, na água bruta ou pré-oxidada, enquanto no uso do carvão ativado granular
(CAG), têm-se colunas (filtros), após a filtração em ETAs (Estação de Tratamento de
Afluentes) que tratam água superficial. O CAG é caracterizado por pequenos poros e
grande superfície interna, enquanto o CAP está associado a grandes poros e menor
superfície interna (DI BERNARDO,2005).
Segundo a União Internacional de Química Pura e Aplicada – IUPAC (1982), os poros
podem ser classificados em função do diâmetro como (Figura 3):
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• Macroporos: maior que 50 nm
• Mesoporos: entre 2 e 50 nm
• Microporos secundários: entre 0,8 e 2 nm
• Microporos primários: menor que 0,8 nm
Figura 2. Fluxograma do processo de fabricação de Carvão ativado a partir de carvão
mineral. Modificado de DI BERNARDO, 2005.
14
Figura 3. Classificação do tamanho do poro segundo a União Internacional de Química
Pura e Aplicada – IUPAC, 1982.
3.2 CARACTERÍSTICAS ADSORTIVAS DO CARVÃO ATIVADO.
A aplicação industrial dos materiais carbonosos porosos se baseia
principalmente em suas propriedades texturais e em sua natureza química, portanto, a
sua caracterização destes materiais é de grande importância (RODRIGUEZ-REINOSO
e MOLINA-SABIO, 1998).
As propriedades texturais dos carvões ativados se fundamentam em duas
características importantes que são: tamanho de poro e a área superficial. Uma
metodologia para determinar a área superficial é a descrita por Brunauer-Emmett-Teller
(BET), determinada pela medida da isoterma de adsorção por moléculas de gás de
Nitrogênio (IUPAC, 1982; LETTERMAN, 1999).
A interação adsorvato/adsorvente na adsorção física é uma função da polaridade
da superfície do sólido e da adsortividade. O caráter não polar da superfície no carvão
ativado é fator preponderante na adsorção de moléculas não polares por um mecanismo
não específico, podendo ser incrementada pela adequada modificação da natureza
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química da superfície do carvão (por exemplo: oxidação), desde que este produza um
incremento na interação superfície-adsorvato (YING et al. 2007).
As propriedades do carvão ativado dependem das estruturas porosas e dos
grupos químicos presentes em sua superfície. As propriedades físicas da superfície são
descritas pela área superficial específica e porosidade, enquanto que as propriedades
químicas dependem da presença ou ausência de grupos ácidos ou básicos sobre sua
superfície (MORENO-CASTILLA, 2004).
A superfície ácida é formada quando uma solução oxidante é colocada em
contato com o carvão em temperaturas em torno de 300 a 4000C; esta superfície
caracteriza o carvão-L. As superfícies ácidas são caracterizadas pela presença de grupos
funcionais como: grupos carboxílicos, grupo fenol, grupo carbonilo, grupo anidrido
carboxílico, grupo ciclo peróxido. Por outro lado, a superfície básica é formada em
atmosfera inerte em temperaturas acima de 7000C; esta superfície caracteriza o carvão-
H. A superfície básica é caracterizada pela presença de um grupo funcional denominado
Pirano, conforme o ilustrado na Figura 4. (CHEREMISINOFF, 1978).
Figura 4. Principais grupos químicos na superfície do carvão ativado (BRENNAN,
2001).
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O carvão ativado é considerado um trocador iônico natural (HELFFRICH,
1962), sendo esta propriedade enriquecida pela ativação química. A superfície de carvão
tem tanto cargas negativas (aniônicas) como cargas positivas (catiônicas) para atrair
íons livres em solução ou suspensão. O tratamento de carvão com uma base
incrementará a capacidade do carvão para a troca com ânions, e a acidificação das
superfícies dá ao carvão um poder de trocador catiônico (JANKOWSKA, et al. 1991).
3.3 O BURITI
O buriti (Mauritia flexuosa) é uma planta tipicamente da floresta Amazônica e
cerrado e é considerada uma das palmeiras mais abundantes do país. Ocorrem em toda a
Amazônia, Brasil Central, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Piauí e São Paulo nas
áreas baixas de florestas abertas e fechadas, sobre solos mal drenados, brejosos ou
inundados (SARAIVA, 2009).
É conhecido popularmente por vários nomes: buriti, miriti (Brasil), aguaje
(Perú), cananguche e oriche (Colômbia), kikyura, ideui e palma-real (Bolívia), awuara,
aete, boche (Guianas), morete (Equador). Possui muitos nomes diferentes em etnias
indígenas como: ne´ê (Ye pâ-Masa), ohidu (Winikina Warao), vinu (Yawanawá), binu
(Kaxinawá), krow (Krahò), Liõkoho (Yanomami) e kuwai (Macuxi). Em textos
científicos encontra-se diversas sinonímias :Mauritia flexuosa Mart; Mauritia
sphaerocarpa Burret; Mauritia minor Burret; Mauritia flexuosa var. venezuelana
Steyerm. (ANDERSON, 1997; CAVALCANTE, 1991; KAHN, 1991; HENDERSON,
1995; FERNANDES, 2002; GOMEZ-BELOZ, 2002; CAMPOS E EHRINGHAUS,
2003; AMÓDIO E PIRA, 2007; DELGADO et al., 2007; NASCIMENTO et al., 2009).
O buritizeiro (Figura 5) contribui de diversas formas na manutenção do
ecossistema. Existe, por exemplo, uma espécie de orquídea baunilha (Vanilla sp.) que
estabelece em seus troncos. Existem também espécies restritas a este hábitat, por
exemplo: andorinhão-do-buriti (Reinarda squamata C.), rouxinol-do-rio-negro (Icterus
chrysocephalus L.), maracanã-do-buriti (Orthopsittaca manilata B.) e espécies de
insetos Rhodnius (Hemipera), vetores do agente causador da doença de Chagas, vivem
neste mesmo habitat. (GURGEL-GONÇALVES et al., 2003; GOULDING E SMITH,
2007).
17
Figura 5. Desenhos das estruturas principais do buriti (Mauritia flexuosa L. f). A: visão
geral buritizeiro; B: close da inflorescência; C: corte transversal do fruto; D: corte
vertical do fruto; E: fruto inteiro; F: flor estaminada; G: flor pistilada; H: folha.
Adaptado de VALENTE & ALMEIDA, 2001.
3.3.1 Distribuição do buriti.
O buriti é amplamente distribuído em vários tipos de florestas de áreas alagadas
e, por ser comum ao longo dos igarapés, representa uma rede imensa de alimento nas
florestas tropicais e savanas da Amazônia. Mais importante ainda, a palmeira em geral
tem frutos durante a estação das secas e assim, proporciona um estoque de alimento em
momentos de escassez para frugívoros destes ambientes (GOULDING & SMITH,
2007).
Sua distribuição ocorre em toda a Amazônia, Brasil Central, Bahia, Ceará,
Maranhão, Piauí e São Paulo (Figura 6), em florestas fechadas ou abertas, em solos mal
drenados e fracamente arenosos, em áreas de baixa altitude até 1000 m, sendo
considerada a palmeira mais abundante do Brasil (LORENZI et al., 2010)
18
.
Figura 6. Distribuição de Mauritia flexuosa no Brasil.
Fonte: LORENZI et al., 2010.
LEVI-STRAUSS (1995) relata que, em suas viagens de pesquisa etnográfica, as
mesmas matas de buritizais na Amazônia, Há décadas tais informações são
mencionadas por diversos autores (SPRUCE, 1871; BOUILLENNE, 1930 e MOORE,
1973 apud KAHN, 1988). Outros se maravilharam com a exuberância do buriti, tais
como Don Antonio de Almeida Lustosa, Arcebispo do Pará no início do século passado:
“entre as variadas espécies de palmeiras da Amazônia, o buriti é das que apresentam
mais elegantes e belos espécimes. As palmeiras (Figura 7), em geral, são esbeltas e
elegantes, mas o buriti é de linhas tão nobres e tão poéticas no seu todo que entre elas se
salienta” (LUSTOSA, 1930 apud CAVALCANTE, 1991).
19
Figura 7. Buritizeiro no Cerrado Brasileiro.
Fonte: SAMPAIO & CARRAZZA, 2012.
O buritizeiro pode ser macho ou fêmea, os machos produzem cachos com flores
alaranjadas, mas não produzem frutos. As fêmeas também produzem cachos com flores
alaranjadas, que se desenvolvem para a produção de frutos (SAMPAIO &
CARRAZZA, 2012).
Geralmente, há um macho para cada fêmea em uma vereda. As flores das fêmeas
precisam ser fertilizadas pelo pólen dos machos para que os frutos sejam produzidos. A
polinização ocorre principalmente por abelhas nativas, pequenos besouros e pequenas
moscas. A abelha-europa também visita as flores do buriti, mas não é uma polinizadora
eficiente. A época de floração do buriti varia entre regiões. No Cerrado, a floração
ocorre geralmente de novembro a abril e na Amazônia, a floração ocorre de abril a
junho (SAMPAIO & CARRAZZA, 2012).
O tempo de desenvolvimento, desde o surgimento do cacho, até o
amadurecimento dos frutos dura mais de um ano. No Cerrado, os frutos amadurecem
geralmente de setembro a fevereiro. Já na Amazônia a época de colheita em geral é
entre março e agosto. Cada buriti fêmea pode produzir entre 1 e 10 cachos com frutos
maduros em uma safra, sendo que cada cacho pode ter entre 450 e 2.000 frutos. É
possível encontrar frutos maduros de buriti todos os anos em um brejo, mas, com
20
exceção de algumas regiões onde a produção de frutos é intensa todos os anos, as safras
de alta produtividade costumam ser seguidas de um ou dois anos de baixa produtividade
(SAMPAIO & CARRAZZA, 2012).
O fruto tem forma elíptica a oval, envolto por um pericarpo (ou casca),
composto por escamas triangulares castanho-avermelhadas (Figura 8). O mesocarpo
(polpa ou massa) é fino, amarelado ou alaranjado, carnoso e oleoso. A polpa possui pH
em torno de 4,7 e é 20 vezes mais rica em vitamina A do que a cenoura, um alimento
que é fonte reconhecida desta vitamina (SAMPAIO & CARRAZZA, 2012).
Figura 8. Fruta do buriti normal e descascada.
Fonte: SAMPAIO & CARRAZZA, 2012.
O endocarpo do fruto (ou bucha) é formado por um tecido esponjoso, delgado,
branco a amarelado, com alto teor de celulose, que possui baixa densidade, o que
possibilita ao fruto boiar quando imerso em água. O endosperma (ou semente) é muito
duro, ovoide, possui em média 2,5 cm de diâmetro, ocupando a maior parte do volume
do fruto.
O fruto do buriti é muito rico em óleos, principalmente na polpa e na casca, em
proteínas e em vitaminas C e. O óleo é útil para a produção de cosméticos, como
cremes, sabonetes e óleos hidratantes, pois possui atividade bactericida, tem
propriedades antioxidantes e absorve os raios ultravioletas do sol, sendo considerado um
protetor solar natural para a pele. Além disso, o óleo de buriti, assim como os óleos de
oliva e canola, possui alto teor de ácidos graxos insaturados, que ao ser utilizado na
21
culinária, promove a produção do bom colesterol (ou HDL), no organismo, que faz bem
para a saúde. O óleo do buriti também tem sido cotado para a produção de biodiesel,
porém este uso pode não ser viável economicamente, pois o óleo possui alto valor
agregado devido às suas propriedades (SAMPAIO & CARRAZZA, 2012).
3.3.2 O buriti e seu uso em geral.
O buriti fornece alimentos, ração para animais, adubo, materiais de construção,
enfeites, utensílios domésticos, móveis, remédios, cosméticos, brinquedos e até mesmo
instrumentos musicais.
Cada parte desta planta possui pelo menos uma utilidade por exemplo: Talo:
Móveis como mesa, cadeira, banco, cama, estante, forro do telhado, portas, paredes,
brinquedos, pequenas caixas para embalar o doce de buriti, rabeca de buriti, balsas,
tapiti (ou tipiti, que é um utensílio utilizado para espremer a massa da mandioca para a
produção da farinha), cestos, artesanatos em geral; Palha: Cobertura do telhado, parede,
cestos, balanços, vassouras e artesanatos; Seda: fio de costura, corda e artesanatos de
capim-dourado, redes, tecidos, capa de chuva, toalhas de mesa, jogo americano,
artesanatos; Massa (polpa): Doces, sorvetes, sucos (conhecido como sembereba),
geleias, mingau feito com leite, raspa seca, óleo e vinho fermentado; Semente:
Comestíveis (quando imaturas), produção de mudas, ração para animais, artesanatos e
café em algumas regiões; Óleo: remédio contra mordida de cobra, cicatrização de
queimaduras e machucados, problemas respiratórios como asma, pneumonia e resfriado,
hidratante para a pele, protetor solar natural, sabão, biodiesel, usado na culinária para
fritar peixe, entre outros(: SAMPAIO & CARRAZZA, 2012).
3.4 CONTAMINAÇÃO DE ÁGUA DE CONSUMO POR CHUMBO
A água pode sofrer contaminação por patógenos e ser responsável pela
transmissão de inúmeras doenças. Sofre ainda contaminação por produtos químicos, os
quais são compostos tóxicos solúveis, inclusive metais pesados. Os resíduos industriais
são os mais danosos, e os resíduos agrícolas têm sofrido modificações e preocupado os
ambientalistas (SEWELL, 1978).
Os metais pesados são elementos tóxicos lançados por determinados tipos de
efluentes industriais. Muitos metais formam complexos estáveis com biomoléculas e
sua presença, mesmo em quantidades pequenas, pode ser prejudicial a vegetais e
animais. O íon metálico livre é a forma mais tóxica à vida aquática. A
22
biodisponibilidade e a toxicidade, bem como a dependência das espécies nos fenômenos
de transporte, estão relacionadas à forma química da substância. Portanto, a
determinação da concentração total de um metal pesado em uma amostra de água
oferece informação relativa sobre a sua toxicidade (BISINOTI et al., 2004).
Domingues (2009) utiliza a expressão “metais pesados” para indicar aqueles
elementos metálicos com peso atômico superior a 55,8 g.mol-1
, correspondente ao
Ferro, ou densidade maior que 5.0 g.cm3
O chumbo é um metal cinza-azulado, inodoro, maleável, sensível ao ar. Pertence
ao grupo IVB da Tabela Periódica. Possui quatro isótopos de ocorrência natural, com as
seguintes abundâncias: 204Pb (1,4%), 206Pb (24,1%), 207Pb (22,1%) e 208Pb (52,4%)
(IUPAC,1998).
Apesar de o chumbo ter quatro elétrons em sua camada de valência, somente
dois ionizam-se rapidamente. Nos compostos inorgânicos apresenta os estados de
oxidação +2 e +4, sendo que o +2 ocorre prevalentemente (WHO, 1995).
O chumbo tetraetila e tetrametila são exemplos importantes de compostos
ligados ao carbono sintetizados industrialmente, e usados como aditivos em
combustíveis, sendo portanto, fontes de contaminação ambiental. Ambos são líquidos
incolores. A volatilidade desses compostos é mais baixa do que a maior parte dos
aditivos de combustíveis. O ponto de ebulição do chumbo tetrametila é 110ºC e do
chumbo tetraetila é 200ºC, enquanto que, para a maioria dos hidrocarbonetos da
gasolina, a faixa varia entre 20 a 200ºC. A evaporação da gasolina tende a concentrar o
chumbo tetraetila e tetrametila no líquido residual (WHO, 1989).
O Pb é relativamente abundante na crosta terrestre, tendo uma concentração
média entre 10 e 20 mg/kg. As maiores fontes naturais de chumbo são emissões
vulcânicas, intemperismo geoquímico e névoas aquáticas. Uma pequena quantidade de
chumbo radioisotópico (207
Pb) é derivado do decaimento do gás radônio, lançado por
fontes geológicas. As maiores fontes geológicas de chumbo são as rochas ígneas e
metamórficas (WHO, 1995).
Estima-se que as taxas de emissão natural do chumbo são da ordem de 19.000
toneladas por ano (NRIAGU, PACINA, 1988, apud WHO, 1995), com fontes
vulcânicas sendo responsáveis por 6.400 toneladas por ano (WHO, 1995).
O teor de chumbo no solo é muito influenciado por atividades antropogênicas e
pelo transporte do metal através do ar, oriundo de várias fontes. Tanto a deposição seca
quanto a úmida são importantes vias de contaminação (WHO, 1995).
23
As atividades de mineração e fundição de chumbo primário (oriundo do minério)
e secundário (oriundo da recuperação de sucatas ou baterias) constituem importantes
fontes emissoras de chumbo. O impacto das atividades de mineração e fundição pode
persistir por longo período de tempo no ambiente (WHO, 1995).
Emissões atmosféricas de chumbo, resultantes de operações de mineração e
metalurgia, constituíram cerca de 22% de todas as fontes antropogênicas do metal, no
ano de 1983 (THORNTON, 1995).
No ano de 1984, a combustão da gasolina com chumbo adicionado foi
responsável por aproximadamente 90% do total de emissões antropogênicas. Em 1988,
essa porcentagem diminuiu para 34% das emissões anuais de chumbo (ATSDR,1993).
Com as medidas restritivas em relação ao uso do chumbo na gasolina em alguns países
na década de 90, essa quantidade diminuiu ainda mais. Embora a combustão do chumbo
na gasolina ainda seja uma fonte antropogênica importante de liberação do metal na
atmosfera em alguns lugares, liberações industriais no solo, provenientes de fundições
de metais, fábricas de baterias e indústrias químicas, são hoje os maiores contribuintes
para o total de chumbo liberado (ATSDR, 1993).
Na atmosfera o chumbo encontra-se na forma particulada. Essas partículas,
quando lançadas ao ar, podem ser removidas da atmosfera e transferidas para
superfícies e compartimentos ambientais por deposição seca ou úmida. Cerca de 40-
70% da deposição do chumbo ocorre por precipitação úmida, dependendo de fatores
como localização geográfica e nível de emissão na área (ATSDR, 1993; WHO, 1995).
Um dos fatores mais importantes que influenciam a toxicidade aquática do metal
é a concentração iônica livre, a qual interfere na disponibilidade do chumbo para os
organismos. A toxicidade do sal inorgânico de chumbo é muito dependente das
condições ambientais, como a dureza da água, pH e salinidade (WHO, 1989)
A contaminação de plantas por metais pode levar a problemas, como diminuição
do rendimento da safra e acúmulo dos elementos potencialmente tóxicos nas partes
comestíveis, usadas como alimento ou ração. O chumbo nos alimentos e ração provém
principalmente da deposição aérea de partículas ricas em chumbo no solo e na
superfícies das plantas. A contaminação industrial pode resultar em concentrações de
chumbo em plantas iguais a 30 mg/kg ou mais. Gêneros alimentícios provenientes de
plantas contêm mais chumbo do que os de origem animal (DUDKA, MILLER, 1999).
Nos últimos 20 anos, os padrões que definem os níveis aceitáveis de chumbo em
crianças mudaram. Em 1975, o Center for Disease Control (CDC), em Atlanta,
24
recomendava uma concentração máxima de chumbo em sangue considerada segura para
crianças igual a 30 µg/dL. Dez anos mais tarde, esse nível diminuiu para 25 µg/dL. Em
1991, baseado em evidências que mostravam a ocorrência de alguns efeitos adversos em
níveis tão baixos quanto 10 µg/dL, o CDC e a World Health Organization adotaram esse
valor como guia ou nível de ação oficial. Na Alemanha, em 1996, a Commission for
Human Biomonitoring também estabeleceu o valor guia em 10 µg/dL (RAGHUNATH
et al., 1999).
Para a população em geral, a exposição ao chumbo ocorre principalmente por
via oral, com alguma contribuição da via respiratória, enquanto que na exposição
ocupacional, a via principal é a inalatória, com pequena exposição oral. Considerando a
dificuldade de se distinguir as vias específicas e os níveis de exposição ao chumbo, os
efeitos desse metal na saúde humana serão apresentados em termos de exposição
interna, ou seja, relacionados aos níveis de chumbo em sangue. A plumbemia reflete a
dose absorvida de chumbo e a quantidade biologicamente ativa no organismo
(ZWENNIS et al., 1990).
A cólica constitui um sintoma precoce consistente de intoxicação por chumbo
em casos de exposição ocupacional ou em indivíduos expostos a altos níveis de
chumbo. É caracterizada por uma combinação dos seguintes sintomas: dor abdominal,
constipação, câimbras, náusea, vômito, anorexia e perda de peso. Embora os sintomas
gastrintestinais ocorram tipicamente em níveis de chumbo em sangue entre 100-200
µg/dL, esses sintomas têm sido observados em concentrações mais baixas (entre 4060
µg/dL) (ATSDR,1993). A cólica também tem sido observada como um sintoma de
intoxicação por chumbo em crianças, em níveis de plumbemia de aproximadamente 60-
100 µg/dL (EPA, 1986, apud ATSDR, 1993).
A anemia observada em intoxicações por chumbo resulta de dois mecanismos
principais: prejuízo na biossíntese do heme e aumento da taxa de destruição das células
vermelhas. Outro mecanismo, sugerido como parcialmente responsável pela anemia
satúrnica, estaria relacionado com a diminuição nas concentrações de eritropoietina
sérica, atribuído ao efeito tóxico do chumbo no túbulo renal, que é o local de produção
da eritropoietina (ROMEO et al., 1996). O limiar da concentração de chumbo em
sangue para um decréscimo dos níveis de hemoglobina, em adultos ocupacionalmente
expostos ao chumbo, é estimado em 50 µg/dL. Em crianças, esse limiar ocorre em torno
de 40 µg/dL (EPA, 1986, apud ATSDR, 1993).
25
Nos adultos, o efeito neurológico mais severo é a encefalopatia pelo chumbo, o
qual é um termo geral para descrever várias doenças que afetam o funcionamento de
cérebro. Os sintomas incluem apatia, irritabilidade, dificuldade de concentração, dor de
cabeça, tremor muscular, perda de memória e alucinações. A exposição ocupacional ao
chumbo tem sido frequentemente associada com sinais subjetivos de neurotoxicidade,
quais sejam, mal-estar, esquecimento, irritabilidade, letargia, dor de cabeça, fadiga,
impotência, diminuição da libido, tontura, fraqueza e parestesia, em concentrações de
chumbo em sangue na faixa de 40 a 120 µg/dL (ATSDR, 1993).
26
4. MATERIAIS E MÉTODOS
O projeto foi desenvolvido no Laboratório de Química Analítica e Ambiental
(LAQUANAM/UFPA).
4.1 ESTAÇÕES DE COLETA
O planejamento amostral envolveu o município de Barcarena, com o foco nas
comunidades do polo industrial e arredores e nas comunidades das ilhas, que embora
afastadas do polo industrial também reclamam da perda da qualidade da água
consumida e da qualidade de vida.
Em parceria com as lideranças comunitárias, foram escolhidas as seguintes
comunidades, divididos em dois grupos: Grupo 1 região próxima ao Pólo industrial:
Vila do Conde (Distrito Industrial, Maricá, Canaã, Ilha São João, Curupere, Acuí, Dom
Manuel, Pra Major Peteca), Vila Dos Cabanos (Fazendinha, Burajuba, Bairro
Murucupi, Bairro Laranjal, Vila Nova, Vila Itupanema). Grupo 2 região das ilhas:
Cafezal, Furo do Arrozal, Ilha Arapari, Ilha Arapiranga (Vila Arapiranga, Fleixeira e
Prainha), Ilha das Onças (Ponta de Cima e Furo Laranjeira), Ilha São Mateus (Vista
Alegre), Ilha Trambioca (Porto da Balsa) e Vicarai (Rio Aicaraú). Na Figura 14 são
apresentadas as localidades escolhidas para a realização do estudo. No total foram
selecionadas 26 localidades e 118 Estações de Coleta. A escolha das residências foi
aleatória e seguiu um planejamento usando o Google Earth como ferramenta de auxílio
na escolha das residências visitadas.
Devido algumas empresas do polo industrial de Barcarena usar o solo do
município para o depósito de rejeitos industriais o Ministério Público Federal solicitou
este estudo preliminar ao Laboratório de Química Analítica Ambiental (LAQUANAM)
tendo em vista o diagnóstico da condição da qualidade da água de consumo das
comunidades locais e dos arredores incluindo as ilhas.
27
4.2 INFORMAÇÕES SOBRE A COLETA E TRATAMENTO DAS AMOSTRAS DE
ÁGUA
Na tabela 2 são apresentadas as informações do trabalho de coleta. A coleta das
amostras de água seguiu o estabelecido pela CETESB (2011) e foi realizada em
parceria com a Marinha do Brasil, SEMA, LACEN-SESPA e MPF. As amostras foram
coletadas nos sistemas de abastecimentos das comunidades e nas residências dos
moradores nas condições de consumo (Figura 9).
29
Tabela 2. Informações da coleta
Local Comunidade Amostra Localização Hora
Latitude Longitude
Ilha Arapiranga Vila Arapiranga VA01 1°20'38,40"S 48°33'29,52"O 10:10
Ilha Arapiranga Vila Arapiranga VA02 1°20'34,20"S 48°33'31,31"O 10:25
Ilha Arapiranga Vila Arapiranga VA03 1°20'32,06"S 48°33'28,62"O 10:35
Ilha Arapiranga Vila Arapiranga VA04 1°20'37.3"S 48°33'30,3"O 10:45
Ilha Arapiranga Fleixeira FL05 1°19'42,8"S 48°33'26,7"O 11:30
Ilha Arapiranga Fleixeira FL06 1°19'41,5"S 48°33'29,1"O 11:45
Ilha Arapiranga Fleixeira FL07 1°19'44,6"S 48°33'31,3"O 12:00
Ilha Arapiranga Fleixeira FL08 1°19'43,2"S 48°33'23,3"O 13:00
Ilha Arapiranga Prainha PR09 1°19'21,6"S 48°34'28,8"O 10:10
Ilha Arapiranga Prainha PR10 1°19'27,5"S 48°34'42,9"O 10:30
Ilha das Onças Furo Laranjeira FLR12 1°30'40,5"S 48°31'49,3"O 12:40
Vicarai Rio Aicaraú VI14 1°32'50,5"S 48°34'7,0"O 15:10
Cafezal Porto Cafezal CA17 1°29'34,4"S 48°35'24,9"O 16:30
Cafezal Porto Cafezal CA18 1°29'33,5"S 48°35'29,0"O 16:50
Ilha das Onças Ponta de Cima/Igarapé Mandií PC19 1°31'33,3"S 48°31'19,7"O 9:19
Ilha das Onças Ponta de Cima/Igarapé Mandií PC20 1°31'31,0"S 48°31'30,8"O 9:31
Ilha das Onças Ponta de Cima/Igarapé Mandií PC21 1°31'32,0"S 48°31'10,7"O 10:04
Ilha Arapari Arapari AR23 1°33'35,6"S 48°30'23,7"O 11:04
Ilha Arapari Arapari AR24 1°33'37,9"S 48°30'25,3"O 11:32
Ilha Arapari Arapari AR25 1°33'29,3"S 48°30'22,0"O 11:47
Ilha Trambioca Porto da Balsa PB26 1°29'24,2"S 48°37'41,7"O 13:56
Ilha Trambioca Porto da Balsa PB27 1°29'24,0"S 48°37'43,2"O 14:05
Ilha Trambioca Porto da Balsa PB28 1°29'20,8"S 48°37'42,0"O 14:12
Ilha Trambioca Porto da Balsa PB29 1°29'19,2"S 48°37'44,8"O 14:21
Ilha Trambioca Furo do Arrozal FA31 1°28'15,0"S 48°40'16,1"O 15:12
Ilha Trambioca Furo do Arrozal FA32 1°28'10,9"S 48°40'17,8"O 15:24
Furo do Arrozal Fazendinha FZ33 1°28'17,3"S 48°41'3,8"O 15:46
Furo do Arrozal Fazendinha FZ34 1°28'21,9"S 48°41'8,6"O 16:04
Furo do Arrozal Fazendinha FZ35 1°28'21,5"S 48°41'10,7"O 16:12
Vila do Conde Distrito Industrial DI37 1°34'1,9"S 48°45'24,6"O 10:31
Vila do Conde Distrito Industrial DI382
1°34'8,0"S 48°45'26,5"O 10:55
Vila do Conde Distrito Industrial DI39 1°34'9,3"S 48°45'28,1"O 11:00
Vila do Conde Distrito Industrial DI402
1°34'9,9"S 48°45'30,3"O 11:13
Vila do Conde Distrito Industrial DI412
1°34'13,0"S 48°45'30,5"O 11:23
Vila do Conde Distrito Industrial DI42 1°34'15,1"S 48°45'32,0"O 11:35
Vila do Conde Distrito Industrial DI432
1°34'7,1"S 48°45'34,9"O 11:40
Vila do Conde Distrito Industrial DI442
1°34'5,2"S 48°45'30,3"O 12:00
Vila do Conde Distrito Industrial DI45 1°33'58,8"S 48°45'31,2"O 12:15
Vila do Conde Distrito Industrial DI461
1°34'3,1"S 48°45'32,8"O 12:25
Vila do Conde Distrito Industrial DI472
1°34'17,9"S 48°45'40,6"O 12:30
Vila do Conde Maricá CN483
1°34'36,0"S 48°46'0,1"O 14:05
Vila do Conde Canaã CN492
1°34'45,5"S 48°45'58,4"O 14:10
Vila do Conde Canaã CN502
1°34'51,1"S 48°45'58,7"O 14:15
Vila do Conde Canaã CN512
1°34'42,7"S 48°45'56,8"O 14:26
Vila do Conde Canaã CN522
1°34'48,3"S 48°45'55,3"O 14:38
Vila do Conde Canaã CN532
1°34'53,3"S 48°45'51,5"O 14:45
Vila do Conde Canaã CN542
1°34'52,1"S 48°45'48,3"O 14:51
Vila do Conde Canaã CN552
1°34'48,0"S 48°45'47,8"O 15:00
Vila do Conde Canaã CN562
1°34'46,3"S 48°45'48,3"O 15:13
30
Vila do Conde Canaã CN572
1°34'46,5"S 48°45'49,3"O 15:22
Vila do Conde Canaã CN582
1°34'41,9"S 48°45'55,1"O 15:33
Vila do Conde Maricá CN593
1°34'39,7"S 48°45'57,7"O 15:40
Vila do Conde Maricá MC60 1°34'34,8"S 48°46'6,5"O 15:53
Vila do Conde Maricá MC61 1°34'42,4"S 48°46'7,1"O 16:03
Vila do Conde Ilha São João SJ62 1°34'26,7"S 48°45'58,3"O 16:17
Vila do Conde Ilha São João SJ63 1°34'27,7S 48°45'56,5"O 16:25
Vila do Conde Ilha São João SJ64 1°34'25,7"S 48°45'54,7"O 16:32
Vila do Conde Curupere CR654
1°34'43,7"S 48°45'15,9"O 8:55
Vila do Conde Curupere CR662
1°34'49,7"S 48°45'40,8"O 9:25
Vila do Conde Curupere CR672
1°34'48,7"S 48°45'36,0"O 9:30
Vila do Conde Curupere CR682
1°34'54,4"S 48°45'40,2"O 9:50
Vila do Conde Curupere CR692
1°34'57,8"S 48°45'41,9"O 10:00
Vila do Conde Acuí AC702
1°35'35,0"S 48°45'10,5"O 10:15
Vila do Conde Acuí AC712
1°35'37,6"S 48°45'9,3"O 10:22
Vila do Conde Acuí AC722
1°35'42,1"S 48°45'13,6"O 10:35
Vila do Conde Acuí AC732
1°35'45,6"S 48°45'17,2"O 10:47
Vila do Conde Vila do Conde VC752
1°33'42,5"S 48°45'27,3"O 11:17
Vila do Conde Vila do Conde VC76 1°33'49,2"S 48°45'45,1"O 11:33
Vila do Conde Vila do Conde VC775
1°34'1,4"S 48°46'3,8"O 11:51
Vila do Conde Vila do Conde VC78 1°34'7,0"S 48°46'3,8"O 12:11
Vila do Conde Vila do Conde VC792
1°34'8,6"S 48°46'4,2"O 12:16
Vila do Conde Vila do Conde VC80 1°34'11,0"S 48°46'7,4"O 12:22
Vila do Conde Vila do Conde VC812
1°34'15,4"S 48°46'2,8"O 12:33
Vila do Conde Vila do Conde VC822
1°34'18,3"S 48°45'53,5"O 12:40
Vila do Conde Vila do Conde VC83 1°34'6,1"S 48°45'53,7"O 12:54
Vila do Conde Vila do Conde VC842
1°33'53,2"S 48°45'37,1"O 14:08
Vila do Conde Dom Manuel DM852
1°34'17,0"S 48°44'54,6"O 14:25
Vila do Conde Dom Manuel DM862
1°34'19,9"S 48°44'52,7"O 14:31
Vila do Conde Dom Manuel DM872
1°34'24,8"S 48°44'51,3"O 14:40
Vila do Conde Dom Manuel DM882
1°34'28,5"S 48°44'45,3"O 14:50
Vila do Conde Dom Manuel DM892
1°34'25,6"S 48°44'50,5"O 14:57
Vila do Conde Pra Major Peteca PM902
1°34'40,7"S 48°44'8,7"O 15:18
Vila do Conde Pra Major Peteca PM912
1°34'46,8"S 48°44'3,7"O 15:26
Vila do Conde Pra Major Peteca PM922
1°34'48,9"S 48°44'5,0"O 15:32
Vila dos Cabanos Burajuba BJ93 1°31'59,8"S 48°42'6,9"O 15:49
Vila dos Cabanos Burajuba BJ94 1°31'50,0"S 48°42'7,0"O 15:59
Vila dos Cabanos Burajuba BJ95 1°31'34,6"S 48°42'9,5"O 16:09
Vila dos Cabanos Burajuba BJ962
1°31'34,0"S 48°42'8,6"O 16:20
Vila dos Cabanos Burajuba BJ972
1°31'36,8"S 48°41'56,7"O 16:29
Vila Nova Vila Nova VN989
1°31'14,0"S 48°43'20,5"O 9:05
Vila Nova Vila Nova VN992
1°31'12,9"S 48°43'23,6"O 9:15
Vila Nova Vila Nova VN1002
1°31'13,0"S 48°43'26,6"O 9:18
Vila Nova Vila Nova VN1012
1°31'16,6"S 48°43'11,1"O 9:45
Vila Nova Vila Nova VN1022
1°31'35,0"S 48°43'2,9"O 9:55
Itupanema Itupanema IP103 1°30'58,5"S 48°43'28,6"O 10:15
Itupanema Itupanema IP10410
1°30'51,8"S 48°43'20,4"O 10:35
Itupanema Itupanema IP1052
1°30'50,3"S 48°43'11,9"O 10:30
Itupanema Itupanema IP106 1°30'48,5"S 48°43'34,7"O 10:50
Itupanema Itupanema IP107 1°30'43,6"S 48°43'31,1"O 11:10
Vila dos Cabanos Bairro Murucupi MR108 1°31'33,9"S 48°41'23,1"O 11:55
Vila dos Cabanos Bairro Murucupi MR10912, 2
1°31'32,2"S 48°41'21,8"O 12:10
31
Vila dos Cabanos Bairro Murucupi MR110 1°31'37,9"S 48°41'38,8"O 12:30
Vila dos Cabanos Bairro Murucupi MR111 1°31'42,2"S 48°41'32,5"O 12:40
Vila dos Cabanos Bairro Murucupi MR11211
1°32'5,3"S 48°41'33,3"O 12:50
Vila dos Cabanos Bairro Laranjal LR113 1°31'4,7"S 48°40'27,8"O 14:40
Vila dos Cabanos Bairro Laranjal LR1142 1°31'5,7"S 48°40'26,1"O 14:45
Vila dos Cabanos Bairro Laranjal LR115 1°31'1,9"S 48°40'15,8"O 14:55
Vila dos Cabanos Bairro Laranjal LR1162 1°31'1,8"S 48°40'7,1"O 15:05
Vila dos Cabanos Bairro Laranjal LR1172 1°31'18,8"S 48°40'9,2"O 15:15
Barcarena Barcarena BC118
1°31'46,4"S 48°37'22,7"O 15:40
Barcarena Barcarena BC1192
1°30'58,3"S 48°37'13,7"O 15:56
Barcarena Barcarena BC12014
1°30'24,7"S 48°37'15,0"O 16:20
Barcarena Barcarena BC12114
1°29'57,4"S 48°37'18,7"O 16:30
Barcarena Barcarena BC1222
1°30'26,9"S 48°37'42,8"O 16:40
Barcarena Barcarena BC1232
1°30'20,1"S 48°37'24,3"O 16:55
Barcarena Barcarena ETA JSD13
1°31'46,4"S 48°37'21,0"O 15:42
Vila dos Cabanos Vila dos Cabanos ETA-VC17
1°30'52,6"S 48°42'26,4"O 16:40
Vila dos Cabanos Vila dos Cabanos ETA-VC36
1°30'52,6"S 48°42'26,4"O 16:45
Figura 10. Estação de bombeamento de Vila Nova
Figura 11. Armazenamento de água
32
Figura 12. Poço de residência no Bairro Murucupi
Figura 13. Estação de bombeamento de água VCabanos
Figura 14. Estação de bombeamento de água Barcarena
Figura 15. Água apresentada pelos moradores Maricá
Descrição das comunidades de Barcarena
O período de coleta foi do dia 27/08 a 06/09 de 2012, período de menor índice de
pluviosidade na região estudada. A maioria das amostras são de água de poço (com uma
profundidade média de 8 m) onde não se realiza tratamento convencional ou avançado.
Em poucas residências foi observado a colocação de hipoclorito para a desinfecção das
água obtido nos postos de saúde.
As características da água de consumo das comunidades do Grupo 1 são descritas
a seguir:
A cidade de Barcarena possui três grandes núcleos habitacionais, a própria cidade
de Barcarena com um sistema de abastecimento de água de poços precário,
administrado pela empresa de iniciativa privada Águas de Barcarena, Vila dos Cabanos
que conta com dois sistemas de distribuição, um poço profundo próximo a estrada do
33
Caripi e um poço no bairro Pioneiro e Vila do Conde que também capta água de poço e
distribui para os moradores.
Além dos sistemas de abastecimento dos três núcleos urbanos citados, também no
Distrito Industrial (Vila do Conde) a água é fornecida pelo sistema de distribuição de
água construído pela empresa Imerys por força de um Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC), firmado entre a empresa e o Ministério Público Estadual (MPE), neste
não há qualquer tratamento, nem cloração, nem correção de pH e nem aeração, é
caracterizado mais como um sistema de bombeamento de água subterrânea do que uma
estação de tratamento de água.
Em Vila Nova (Vila dos Cabanos), Itupanema (Vila dos Cabanos) e no conjunto
Jardim SD (Barcarena) também existem sistemas de captação e distribuição de água
subterrânea para suprir as necessidades dos moradores.
Nos Bairros Murucupi, Laranjal e Burajuba (Vila dos Cabanos) existem as duas
situações, água de consumo oriunda do sistema de abastecimento de Vila dos Cabanos e
Pioneiro e água de poço aberto pelos próprios moradores. Nas outras comunidades
Maricá, Canaã, Ilha São João, Curupere, Acuí, Dom Manuel e Pra Major Peteca, na sua
grande maioria, os moradores contam com a água de poços, muitas vezes de qualidade
precária.
Nos três maiores núcleos habitacionais se concentra a maior parte da população da
cidade que reclama da falta da qualidade da água. No sistema de abastecimento público
de Barcarena não foi identificado nenhum tipo de controle de qualidade da água de
consumo da cidade de acordo com o estabelecido na Portaria 2914/2011 do Ministério
da Saúde. Foi identificado a aeração da água para a eliminação do ferro na ETA de Vila
dos Cabanos e a cloração em algumas estações.
As características da água de consumo das comunidades do Grupo 2 são descritas
a seguir:
Na comunidade da Vila Arapiranga (Ilha Arapiranga) as pessoas se servem de
água de poço tipo amazonas (a comunidade não se serve de água trazida de outras
localidades). Segundo informado, há 4 poços principais na comunidade, que servem a
todos os moradores da vila. Ribeirinhos desta comunidade, mas que habitam em
moradias isoladas, utilizam água do poço da vila Fleixeira. Os poços, variam de 9 a 25
metros de profundidade. Nesta comunidade houve queixas em relação ao açaí que,
segundo informado, seca antes mesmo de ficar bom para a coleta.
34
Na comunidade Fleixeira (Ilha Arapiranga) há aproximadamente 30 habitações.
Há uma escola de ensino fundamental e um poço, com reservatório elevado, para
atender aos ribeirinhos, foi informado, entretanto que o acesso ao microssistema de
abastecimento de água é restrito com acesso controlado pela pessoa responsável pago
pela Prefeitura de Barcarena. Por isso, todas as casas da vila contam, também, com o
seu respectivo poço. A energia para a comunidade vem de grupo gerador. As amostras
FL05, FL06 (Poço precário, sem revestimento, sem desproteção sanitária) e FL07 são
de poços tipo Amazonas, já a amostra FL08 é de poço tubular, profundidade de 18
metros, diâmetro 100 milímetros, revestido que serve os ribeirinhos. O responsável
informou que os barqueiros (ribeirinhos) se abastecem da água do poço desta vila em
recipientes próprios. A água do reservatório não recebe tratamento, entretanto seria
fornecido hipoclorito para cada casa. Combustível e manutenção do microssistema de
água são por conta da Prefeitura de Barcarena, mas esse estaria parado há uma semana
por falta de uma peça da bomba. Foi coletada amostra de água (na torneira) que é
bombeada do poço do microssistema mantido pela prefeitura de Barcarena.
A comunidade da Prainha utiliza água de poço e gerador para bombear a água
para as residências. Não têm escola nem posto de saúde. Relatam problemas
relacionados à água: verminoses, diarréias etc. Segundo informado, aproximadamente a
metade da safra do açaí seca; não sabem o motivo. Recebem 1 vez por mês hipoclorito
do Agente de Saúde. Quatro famílias utilizam o poço. Uma outra amostra (PR10) foi
retirada de uma comunidade, um pouco afastadas do núcleo principal, há três (03) casas
e apenas duas são 2 habitadas; no total há três (03) habitantes somente. Foi informado
que a maioria dos moradores mudou-se para Icoaraci ou outras localidades. Retiram a
água do poço, coam, cloram e a utilizam. Há um gerador no local, mas a retirada da
água do poço é feita manualmente. O banheiro, com fossa precária, fica à
aproximadamente três (03) metros de distância do poço.
Morador do Furo Laranjeira informou que a água de consumo vem, de 8 em 8
dias, do microssistema de abastecimento da vila Cafezal. Para o restante dos afazeres, os
moradores utilizam água do rio. Ao longo daquele curso d'água habitam
aproximadamente 110 famílias. Os moradores informam que consomem água de rio
quando falta água. Nesta comunidade, há criança doente, com problemas gástricos.
No núcleo principal do rio Aicaraú (Vicarai) há uma escola de 1ª a 4ª série e igreja
evangélica; não têm energia elétrica da concessionária, nem grupo gerador próprio.
Nesta comunidade há um poço, tipo Amazonas, de aproximadamente 4 metros de
35
profundidade, que abastece duas torneiras públicas. O poço está a aproximadamente
1100 metros das torneiras que estão em local às margens do rio. A caixa d'água tem
capacidade para 5000 litros. Segundo informado, os moradores trazem um conjunto
motor/bomba, ligam, enchem o reservatório e depois levam o equipamento de volta.
Na comunidade Porto Cafezal é o local onde se encontra o poço que abastece
todas as comunidades ribeirinhas e casas isoladas com água para beber nos arredores do
Cafezal (aproximadamente 400 casas). Segundo informado, quando os ribeirinhos
buscam água no local, é porque falta água na vila, que tem colégio, centro comunitário
etc. Há reclamações de constante falta água. As amostras foram retiradas da torneira que
sai da tubulação de recalque do microssistema de abastecimento de água (duas torneiras
públicas servem a comunidade) e do poço do microsistema. Há ligações domiciliares de
água, mas esta não conta com cloração.
Comunidade Ponta de Cima (Igarapé Mandií), relatam que quando falta água, que
vem do cafezal (1 vez por semana), abastecem seus recipientes em Belém, apenas para
beberem. São apenas 60 litros, uma vez por semana, para seis pessoas que habitam duas
casas vizinhas. O local é alagado, o banheiro é composto de casinha com destino dos
dejetos no solo; a água das marés cobre o terreno em determinados dias do mês.
Problemas relatados: verminoses, diarreias, açaí cai facilmente, seca e cai ainda verde, o
camarão que antes era abundante, tornou-se de difícil acesso. Não têm escola nem posto
de saúde. Não utilizam água de Barcarena, usam o rio para banhos e lavagem de roupas.
Quando não têm água de Belém, utilizam água do rio para todos os fins; para clarear
usam um pó branco (sulfato de alumínio?) que forneceram-lhes. Usam também
hipoclorito.
Na Comunidade do Porto Arapari há uma escola infantil e uma escola de ensino
fundamental, municipais; um Posto de Saúde (PSF) com um médico e uma enfermeira,
e um posto da Polícia Militar (PM). Um estudo feito pelo LAQUANAM e pelo
LACEN-SESPA por solicitação da promotoria de Barcarena, indicou que todas as
amostras coletadas nesta comunidade estava imprópria para consumo. Nesta
comunidade os moradores utilizam-se da água do poço da comunidade São Felipe, que
fica a 6 km do Arapari (a água viria por tubulação e seria distribuída para algumas casas
e estabelecimentos do Arapari). Os moradores enchem seus garrafões com esta água,
cloram e utilizam. Compram água mineral quando preciso. Em análise laboratorial da
água do sistema de abastecimento da vila do Arapari teria sido registrado contaminação
36
(hepatite). No PSF, segundo informado, recebem água do sistema de abastecimento
local e usam para beber,.
Na Comunidade Porto da Balsa (Ilha Trambioca) existe um poço tubular que
abastece, por meio de canalização, água para várias casas, outros moradores utilizam
poço tipo Amazonas. O banheiro fica a 3 metros do poço. Problemas relatados: dores
nos ossos em todos os moradores
No Furo do Arrozal (Ilha Trambioca) existe um poço que serve a comunidade, ele
se encontra, juntamente com o reservatório, está a aproximadamente 10 metros da fossa
da Escola São José do Arrozal
Na Fazendinha (Furo do Arrozal) existe uma torneira localizada no trapiche do
porto da Praticagem que serve a comunidade. Também contam com poço amazonas,
distante das casas, para consumo e banho. Além disso, se utilizam da água do rio,
retirada do trapiche dos práticos, para várias finalidades. As pessoas desta comunidade
relatam problemas de micoses (8 pessoas na casa). Não têm posto de saúde nem escola.
Estudam em escola localizada na ilha Trambioca. Ônibus escolar não entra na
comunidade, só passa na estrada que vai ao Caripi.
O projeto foi desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Química
Analítica e Ambiental (LAQUANAM) da UFPA e por técnicos do Laboratório Central
da Secretaria de Saúde (SESPA-LACEN) dentro de um período de 12 meses
obedecendo a seguinte metodologia:
a) Levantamento da área de estudo e preparação dos laboratórios para a realização
das análises, levando em consideração a situação geográfica da área, o clima da região
em estudo, a geologia geral da região, o solo e a vegetação local e os problemas
socioambientais da região.
b) Viagem a campo para realização da amostragem
A coleta foi realizada em período de menor precipitação pluviométrica para a
região (de 27/08 a 06/09 de 2012). Devido as grandes áreas, necessitou-se de 118
amostras de água de consumo, para se ter uma representatividade estatística do todo.
As coletas nas ilhas foram realizadas com o auxílio de uma lancha da Marinha do
Brasil e no continente foram usados dois carros tipo cabine dupla com o apoio dos
técnicos do Ministério Público Federal e líderes comunitários locais, ao longo da área
de estudo em pontos escolhidos antecipadamente. Os locais de amostragens foram
georeferenciados através de um sistema de posicionamento global, o GPS (Global
Positionning System) marca Garmim.
37
As amostras foram coletadas em duplicata, através de garrafa modelo "Van
Dorn" (volume de 5 litros), sendo que as mesmas foram coletadas na superfície
(=100% de irradiação solar). Após coleta as amostras foram condicionadas em frascos
devidamente descontaminados, mantidas sob refrigeração a 4o C segundo
recomendação da CETESB (2011). Os ensaios físico-químicos (temperatura,
condutividade, sólidos totais dissolvidos (TDS), salinidade, oxigênio dissolvido (OD),
pH e Eh) foram realizados in situ utilizando sonda multiparâmetros para esta
finalidade.
c) Pré-tratamento das amostras
As amostras coletadas foram imediatamente transferidas para os laboratórios
envolvidos no projeto. Nestes laboratórios as amostras foram tratadas para análise dos
metais, e acondicionamento para determinações posteriores. As amostras de água foram
levadas resfriadas para o laboratório, imediatamente filtradas em membranas tipo GFF
(Millipore 0,45 mM) e preservadas com ácido nítrico suprapuro (pH<2) para posterior
análise dos metais.
d) Análises de água propriamente ditas
Elementos maiores e elementos tóxicos (LAQUANAM - UFPA - Belém) foram
determinados utilizando a espectrometria de emissão ótica com plasma indutivamente
acoplado (ICP-OES) foi usada para determinar os metais Ag, Al, B, Ba, Ca, Cd, Co, Cr,
Cu, Fe, K, Mg, Mn, Mo, Na, Ni, P, Pb, Se, Si, Sn, Sr, Ti, V e Zn.
e) Tratamento dos dados
Devido as características complexas das águas coletadas e devido a falta de
informações dos moradores e dos mantenedores das estações de distribuição foi
realizada a estatística descritiva para tratar os resultados como médias e faixas de
valores mínimos e máximos.
4.3.1 Determinação de metais por espectroscopia de emissão ótica com plasma
indutivamente acoplado (ICP-OES)
O ICP (plasma indutivamente acoplado) é um gás (é utilizado o argônio)
parcialmente ionizado, numa proporção de menos de 1%, produzido por uma tocha de
quartzo usando uma radiofreqüência de 1-2,5 KW, sendo a amostra introduzida no
centro da tocha na forma de aerossol, alcançando temperaturas de até 10000 K numa
fração de segundos. Neste intervalo de tempo a amostra sofre dessolvação, vaporização,
ionização e excitação eletrônica (SKOOG et al., 1998).
38
Devido à elevada temperatura alcançada nesta técnica, o ICP-OES (Figura 22) é
menos sujeito as interferências por elementos constituintes da matriz da amostra, sendo,
portanto muito útil na análise elementar de amostras complexas como amostras
ambientais (água, solo, sedimento) e biológicas (sangue, urina, tecidos).
Seu princípio analítico difere de outros métodos espectroanalíticos (por
exemplo, AAS e UV-VIS), pois se baseia na emissão da radiação e não na absorção da
radiação nos seus comprimentos de onda característicos, cuja energia emitida
corresponde à diferença entre as camadas eletrônicas de seus átomos. Também difere
destes por possibilitar a análise simultânea de até 70 elementos, sem a necessidade de
mudar suas condições de operação para cada elemento a ser analisado (SKOOG et al.,
1998).
Figura 16. Espectrômetro de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado (ICP-
OES) Varian, modelo Vista Pro.
Plasmas são gases tendo fração significante de seus átomos e moléculas ionizadas.
Campos magnéticos prontamente interagem com plasmas, e uma dessas interações é o
acoplamento induzido de campos variantes com o tempo com o plasma. Para entender a
formação do ICP, deve-se lembrar que correntes de alta freqüência fluindo numa bobina
de indução geram campos magnéticos oscilantes cujas linhas de força são orientadas
axialmente dentro da bobina. O campo magnético axial induzido faz com que partículas
carregadas (elétrons e íons) fluam em caminhos anulares fechados. Os elétrons e íons
encontram resistência ao seu fluxo, gerando assim aquecimento devido o efeito joule,
39
que ocorre quando partículas carregadas se deslocam no interior de um campo
magnético, conseqüência disso é uma ionização adicional, provocando assim o
surgimento do plasma de acoplamento induzido (Figura 23), tendo o formato de uma
tocha (FASSEL,1978).
Os espectros de emissão do plasma são freqüentemente complexos, constituindo
centenas e até milhares de linhas. Isto, embora pareça vantajoso, gera uma grande
probabilidade da ocorrência de interferências espectrais na análise quantitativa.
Conseqüentemente, a espectroscopia baseada na emissão por plasma necessita de
sistemas óticos de maior resolução e conseqüentemente de custo mais elevado que
aqueles empregados na espectroscopia de chama convencional (SKOOG et al., 1998).
Figura 17. Tocha ICP axial: 1) tubo injetor de amostra; 2) Fluxo principal de argônio; 3)
fluxo de argônio auxiliar; 4) bobina de radiofreqüência; 5) Tocha de quartzo; 6) bobina
de ignição; 7) Cone de resfriamento.
As amostras foram analisadas utilizando-se o equipamento nas condições
descritas na tabela 3.
40
4.3.2 Qualidade analítica
Os comprimentos de onda () das linhas de emissão, os limites de detecção e
quantificação para cada elemento, assim como os parâmetros da curva analítica
coeficiente angular, linear e de correlação estão na tabela 4, com valores de
concentração em µg/L.
O limite de detecção (LD) e limite de quantificação (LQ) dos métodos foi
realizado com a determinação de 10 brancos em momentos diferentes. O limite de
detecção é definido como a menor quantidade de um analito que pode ser detectado em
uma amostra. O limite de quantificação é a menor quantidade de um analito que pode
ser quantitativamente determinada com adequada exatidão e precisão (LEITE, 2002).
No presente trabalho o controle de qualidade das determinações foi realizado
através da análise de amostra de referência com certificado NIST/SRM (National
Institute of Standards and Technology) de elementos traço em água natural, onde foi
avaliada a exatidão das análises com recuperações variando de 87,98 % a 113,46 %.
Alguns elementos que não constavam do padrão de referência foram submetidos a testes
de adição padrão replicando a análise de uma amostra natural com adição de solução
com concentração conhecida dos metais. A faixa de recuperação encontrada foi de 87,5
a 104,71 %.
Tabela 3. Condições de operação do ICP-OES.
Parâmetros Condições
Potência da radiofreqüência (kW) 1,4
Pressão do nebulizador (kPa) 180
Fluxo de argônio do plasma (L/min) 15
Fluxo de argônio auxiliar (L/min) 0,75
Introdução da amostra (s) 40
Tempo de lavagem (s) 30
Tempo de estabilização (s) 15
Tempo de leitura (s) 1
Velocidade da bomba peristáltica (rpm) 15
41
Tabela 4. Parâmetros analíticos
Elementos (nm) LD (µg/L) LQ (µg/L) a b r
Ag 241,18 0,102 0,341 0,9973 0,0059 0,9996
Al 167,02 0,750 2,499 1,0046 -0,0105 0,9994
B 249,68 0,383 1,275 1,0196 0,0016 0,9993
Ba 455,40 0,145 0,482 0,9962 0,0082 0,9997
Ca 393,37 0,398 1,326 0,9805 0,0429 0,9987
Cd 228,80 0,827 2,757 0,9976 0,0052 0,9997
Co 238,89 0,142 0,475 1,0111 0,0110 0,9999
Cr 267,72 0,096 0,321 0,9984 0,0034 0,9992
Cu 213,60 2,779 9,263 0,9986 0,0031 0,9991
Fe 234,35 10,062 33,540 0,9985 0,0031 0,9991
K 766,49 0,102 0,341 0,9972 0,0064 0,9997
Mg 279,55 0,127 0,422 0,9954 0,0100 0,9992
Mn 260,57 0,081 0,270 0,9987 0,0028 0,9991
Mo 202,03 0,045 0,150 0,9977 0,0053 0,9991
Na 589,00 1,325 4,418 0,9959 0,0099 0,9997
Ni 216,56 0,069 0,230 0,9984 0,0034 0,9989
P 178,22 1,681 5,605 0,976 0,0576 0,9975
Pb 182,14 0,787 2,624 0,9945 0,0478 0,9983
Se 196,03 1,436 4,787 1,0277 -0,0738 0,9940
Si 250,69 0,081 0,272 1,0308 -0,0377 0,9957
Sn 235,49 0,792 2,642 1,007 0,0047 0,9995
Sr 216,60 0,195 0,651 0,9987 0,0028 0,9988
Ti 334,94 0,123 0,411 0,9977 0,0049 0,9997
V 292,40 0,089 0,297 1,0096 0,0100 0,9999
Zn 202,55 0,985 3,283 0,9991 0,0019 0,9988
4.4 PREPARO DO SISTEMA AUTOMÁTICO DE FILTRAGEM
Foi feita primeiramente a descontaminação das vidrarias com solução de ácido
nítrico a 10 % por 24 horas, logo após foi feita a pesagem dos carvões de buriti, sendo
eles três tipos buriti 1,3 (CB1,3), carvão de buriti 1,4 (CB1,4) e carvão de buriti 1,5
(CB1,5) 100 mg de cada carvão foram pesadas para o experimento (Figura 18), no total
foram 36 pesagens feitas, 12 para cada tipo de carvão. Em seguida foram preparadas as
microcolunas que simulam o filtro contendo o carvão entre as membranas de sílica
assim impedindo o contato direto do adsorvente com a solução.
42
Figura 18. microcoluna contendo o carvão de buriti para a simulação de filtragem.
Foram preparada as soluções de chumbo com 4 concentrações diferentes sendo
elas 10ppb, 50ppb, 100ppb e 200ppb (Figura 19), todas preparadas com água ultra pura
para fazer os ensaios com as microcolunas para a simulação da filtragem com o carvão
de buriti.
43
Figura 19. Soluções de chumbo com quatro concentrações diferentes para o
experimento.
Logo após foi feita a calibração da bomba peristáltica GIBSON modelo
MINIPLUS 3 para que se obtivesse as vazões precisas para o experimento, a bomba foi
calibrada em três estágios diferentes para o primeiro estágio do experimento calibrou-se
o equipamento para um vasão de 1 ml/min , no segundo estágio calibrou-se a bomba
para uma vasão de 2 ml/min , no terceiro estágio calibrou-se a bomba para uma vasão
de 3 ml/min demarcando na própria bomba aonde cada concentração irá passar no qual
será mostrado a frente (Figura 20).
O sistema para a filtragem foi montado a partir da primeira calibração da bomba
a 1 ml/min , no qual foi adicionado os capilares na bomba ligando a primeira
extremidade do capilar a microcoluna contendo o carvão de buriti fazendo assim a
sucção da solução pela bomba (Figura 21).
44
Figura 20. Bomba peristáltica demarcada para cada concentração de solução.
Figura 21. Primeira extremidade do capilar acoplada na microcoluna contendo o carvão
de buriti.
Em seguida foi colocada a outra extremidade no tubo falcon um para cada
concentração de solução correspondente, para o armazenamento da solução filtrada para
a análise no ICP-OES (Figura 22).
Após a montagem do sistema (Figura 23), formou-se um sistema acoplado
contendo a microcoluna com o carvão de buriti interligada com capilares na bomba
peristáltica cada um passando por ele sua respectiva solução de chumbo com
concentrações definidas na ordem crescente 10, 50, 100 e 200 ppb.
45
Figura 22. extremidade do capilar com vasão controlada de 1 ml/min.
Figura 23. Montagem do sistema automático para o ensaio de filtração com carvão de
buriti.
46
Ao iniciar o ensaio, colocou-se primeiramente 3 ml a microcoluna para dar
inicio a filtração pela bomba, como o equipamento no primeiro ensaio estava calibrado
para uma vasão de 1ml/min, demorou cerca de 45 min para a obtenção da solução
filtrada contida nos tubos falcon. A cada ensaio depois de obtido o volume desejavel da
solução filtrada que foi estabelecida como sendo 45 ml (volume ideal para a analise
posterior no ICP-OES) , foram retirados o capilares das microcolunas e postos em
contato com água ultra pura para a limpeza dos capilares para dar inicio a outro ensaio
com outro tipo de carvão o sistema completamente montado (Figuras 24 e 25) mostra
melhor o processo realizado.
Foi feito primeiramente o ensaio com o carvão 1,3, depois com o carvão 1,4 e
por ultimo carvão 1,5, na vasão de 1ml/min , o mesmo processo foi feito com 2ml/min e
3ml/min.
Figura 24. Sistema montado pronto para começar o ensaio.
48
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1. ANÁLISE DE PB EM ÁGUA DE CONSUMO DAS COMUNIDADES DE
BARCARENA
Antes da discussão dos resultados foi realizado o teste de hipóteses com o
objetivo de avaliar os resultados significativos e eliminar os resultados considerados
anômalos, baseando-se no fato de que segundo a resolução 357/05 do CONAMA o
limite permitido de chumbo em águas de classe 2 sendo de 0,01mg/L.
O chumbo na água de consumo (Tabela 5) apresentou uma variação de <0,0008
a 0,309 mg/L, com uma média geral de 0,066±0,066 mg/L, com um valor médio 6,6
acima do valor máximo permitido. Sua distribuição está mostrada nas figuras 36 e 37.
O chumbo esteve acima do limite máximo permitido pela Portaria 2914/2011 do
Ministério da Saúde em quase todas as comunidades avaliadas, estando abaixo do limite
de detecção do ICP-OES nas comunidades Prainha e Rio Aicaraú (Vicaraí) e com um
valor máximo na comunidade do Porto da Balsa na Ilha Trambioca com uma
concentração de chumbo de 0,3090 mg/L.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO) os níveis de chumbo em água
de consumo são normalmente inferiores a 0,005 mg/L (WHO, 1977), logo as médias
encontradas em Barcarena estão 13,2 vezes acima do nível normal preconizado pela
WHO.
A água consumida pelos moradores da Vila Nova (Vila dos Cabanos) apresentou
os maiores valores em termos de média para o chumbo (Pb) (0,1262 mg/L) estando
aproximadamente 13 vezes acima do VMP admitido pelo Ministério da Saúde, seguido
pela comunidade do Distrito Industrial (Vila do Conde) (0,1186 mg/L ~ 12 vezes
acima), Burajuba (Vila dos Cabanos) (0,1108 mg/L ~ 11 vezes acima) e Curupere (Vila
do Conde) (0,1070 mg/L ~ 11 vezes acima) todas as comunidades com os maiores
teores se localizam próximas ao Polo Industrial de Barcarena.
49
Tabela 5. Estatística descritiva do chumbo em água de consumo por comunidade
Comunidade Conc. Pb. (mg/L) Comunidade Conc. Pb. (mg/L)
Média Vila Arapiranga 0,0410 Média Curupere (Al) 0,1070
Mínimo Vila Arapiranga 0,0310 Mínimo Curupere <0,0008
Máximo Vila Arapiranga 0,0540 Máximo Curupere 0,2200
Média Fleixeira (Al) 0,0613 Média Acuí 0,0420
Mínimo Fleixeira <0,0008 Mínimo Acuí <0,0008
Máximo Fleixeira 0,0950 Máximo Acuí 0,0910
Média Prainha <0,0008 Média Vila do Conde (Al) 0,0605
Mínimo Prainha <0,0008 Mínimo Vila do Conde <0,0008
Máximo Prainha <0,0008 Máximo Vila do Conde 0,1320
Média Cafezal 0,0925 Média Dom Manuel (Al) 0,0644
Mínimo Cafezal 0,0840 Mínimo Dom Manuel <0,0008
Máximo Cafezal 0,1010 Máximo Dom Manuel 0,1320
Média Ponta de Cima 0,0477 Média Pra Major Peteca
(Ag, Al) 0,0277
Mínimo Ponta de Cima <0,0008 Mínimo Pra Major Peteca <0,0008
Máximo Ponta de Cima 0,0940 Máximo Pra Major Peteca 0,0830
Média Arapari (Ag) 0,0840 Média Burajuba (Al) 0,1108
Mínimo Arapari 0,0000 Mínimo Burajuba 0,0500
Máximo Arapari 0,2120 Máximo Burajuba 0,1650
Média Porto da Balsa 0,0940 Média Vila Nova (Ag) 0,1262
Mínimo Porto da Balsa <0,0008 Mínimo Vila Nova 0,0610
Máximo Porto da Balsa 0,3090 Máximo Vila Nova 0,1910
Média Furo do Arrozal 0,0300 Média Itupanema 0,0444
Mínimo Furo do Arrozal <0,0008 Mínimo Itupanema <0,0008
Máximo Furo do Arrozal 0,0600 Máximo Itupanema 0,0790
Média Fazendinha 0,0523 Média Bairro Murucupi 0,0782
Mínimo Fazendinha <0,0008 Mínimo Bairro Murucupi <0,0008
Máximo Fazendinha 0,0850 Máximo Bairro Murucupi 0,1170
Média Distrito Industrial (Al) 0,1186 Média Bairro Laranjal
(Al) 0,0388
Mínimo Distrito Industrial <0,0008 Mínimo Bairro Laranjal <0,0008
Máximo Distrito Industrial 0,3010 Máximo Bairro Laranjal 0,0960
Média Canaã (Al) 0,0505 Média Vila dos Cabanos
(Ag, Fe, Mn) 0,0480
Mínimo Canaã <0,0008 Mínimo Vila dos Cabanos 0,0350
Máximo Canaã 0,1290 Máximo Vila dos Cabanos 0,0610
Média Maricá 0,0320 Média Barcarena 0,0534
Mínimo Maricá <0,0008 Mínimo Barcarena <0,0008
Máximo Maricá 0,0720 Máximo Barcarena 0,1290
Média Ilha São João (Al) 0,0133 Furo Laranjeira 0,0880
Mínimo Ilha São João <0,0008 Rio Aicaraú <0,0008
Máximo Ilha São João 0,0400
Portaria 2914-11 Max para o Pb - 0,010 mg/L
50
5.2 TESTE DA EFICÁCIA DO BURITI COMO ADSORVENTE PARA O CHUMBO
A matriz dos resultados das concentrações de Pb foi refeita levando em
consideração apenas as amostras com resultados significativos para o objetivo geral do
trabalho além de algumas amostras de água filtradas com o carvão ativado de buriti para
contestar a eficácia da adsorção do carvão.
Tabela 6. Análise da concentração de Pb antes e após à aplicação do carvão de buriti nas
soluções sintéticas e nas amostras das águas de Barcarena.
*= Valores aproximados.
De acordo com os resultados obtidos através da análise feita pelo ICP-OES,
pode se observar que algumas amostras depois da filtragem ficaram com sua
concentração abaixo do limite de detecção, isso se deve ao fato de que o carvão ativado
é considerado um trocador iônico natural (HELFFRICH, 1962), sendo esta propriedade
enriquecida pela ativação química. A superfície de carvão tem tanto cargas negativas
(aniônicas) como cargas positivas (catiônicas) para atrair íons livres em solução ou
Amostra Carvão Vazão Conc. (Ppm) Conc. Final
(ppm)
Rendimento
BP1 buriti 1,3 1ml/min 0,100 < LD 100%*
BP2 buriti 1,3 1ml/min 0,200 < LD 100%*
BP3 buriti 1,4 1ml/min 0,100 0,060 40,1%
BP4 buriti 1,4 1ml/min 0,200 0,019 90,5%
BP5 buriti 1,5 1ml/min 0,100 < LD 100%*
BP6 buriti 1,5 1ml/min 0,200 0,040 80,1%
BP7 buriti 1,3 2ml/min 0,100 0,022 77,8%
BP8 buriti 1,3 2ml/min 0,200 0,037 81,4%
BP9 buriti 1,4 2ml/min 0,100 < LD 100%
BP10 buriti 1,4 2ml/min 0,200 0,005 97,33%
BP11 buriti 1,5 2ml/min 0,100 < LD 100%*
BP12 buriti 1,5 2ml/min 0,200 < LD 100%*
BP13 buriti 1,3 3ml/min 0,100 0,038 62%
BP14 buriti 1,3 3ml/min 0,200 < LD 100%*
BP15 buriti 1,4 3ml/min 0,100 0,037 62,51%
BP16 buriti 1,4 3ml/min 0,200 0,052 74,06%
BP17 buriti 1,5 3ml/min 0,100 0,055 45,07%
BP18 buriti 1,5 3ml/min 0,200 < LD 100%*
AR-23 buriti 1,3 3ml/min 0,212 0,085 59,79%
CA-17 buriti 1,5 3ml/min 0,101 0,033 67,15%
FA-32 Buriti 1,3 3ml/min 0,06 0,035 42,21%
FZ-33 Buriti 1,3 3ml/min 0,072 < LD 100%*
PB-29 Buriti 1,3 3ml/min 0,309 < LD 100%*
PC-19 Buriti 1,5 3ml/min 0,094 0,0442 52,98%
51
suspensão. O tratamento de carvão com uma base incrementará a capacidade do carvão
para a troca com ânions, e a acidificação das superfícies dá ao carvão um poder de
trocador catiônico (JANKOWSKA, et al. 1991).
No gráfico da figura 26, estima-se o rendimento do carvão de buriti 1,3 nas
diferentes vazões segundo MORENO-CASTILLA (2004) as propriedades do carvão
ativado dependem das estruturas porosas e dos grupos químicos presentes em sua
superfície. As propriedades físicas da superfície são descritas pela área superficial
específica e porosidade, enquanto que as propriedades químicas dependem da presença
ou ausência de grupos ácidos ou básicos sobre sua superfície.
Figura 26. Rendimento do carvão de buriti 1,3 em diferentes vazões nas soluções
sintéticas.
Após a filtragem nota-se um decaimento considerável nas concentrações de Pb
em solução, as amostras BP-1 e BP-2, mostram que o carvão de buriti 1,3 teve um
rendimento de 100% na vazão de 1 ml/min assim como a amostra BP-14 revelou o
rendimento bem relevante na remoção de chumbo numa vazão de 3 ml/min.
A maior parte das aplicações de adsorventes requer um grande volume de poros
de pequeno diâmetro. O controle da distribuição do tamanho dos poros e a afinidade
superficial do carvão ativado são importantes aspectos na sua característica adsortiva
(CAMPOS, 1996).
00,020,040,060,08
0,10,120,140,160,18
0,2
BP - 1 BP - 2 BP - 7 BP - 8 BP - 13 BP - 14
1 ml/min 1 ml/min 2 ml/min 2 ml/min 3 ml/min 3 ml/min
0,1
0,2
0,1
0,2
0,1
0,2
0 0
0,022203 0,037219 0,038021
0
Carvão de buriti 1,3
Conc. Inicial Conc. Final
52
De acordo com o gráfico (figura 27), o carvão de buriti 1,4 teve um melhor
rendimento na adsorção de chumbo na vazão de 2 ml/min, mostrando assim sua
singularidade se comparado ao carvão de buriti 1,3 que obteve um melhor desempenho
numa vazão mais lenta.
Figura 27. Carvão de buriti 1,4 apresentando um melhor rendimento na vazão de 2
ml/min.
SOARES (2001) relata que a velocidade de adsorção representa a combinação
de efeitos de difusão através da camada laminar do fluido que circunvizinha o
constituinte, difusão interfacial e adsorção no interior dos poros da superfície.
Para KRUPA & CANNON (1996) O grau de adsorção que um carvão ativado
possui para adsorver moléculas e íons livres depende de um número de fatores,
incluindo o processo de ativação, a distribuição de sítios/poros, e os efeitos químicos
que envolvem a superfície do carvão ativado e as moléculas adsorvidas.
A adsorção de metais por carvão ativado tem sido apontada como um processo
econômico e eficiente na remoção e separação de constituintes indesejáveis. O grande
benefício do uso do carvão ativado como filtro é seu baixo custo, sendo provavelmente
o adsorvente mais amplamente utilizado na indústria afirma JOSÉ & MOREIRA
(1998), a baixo o gráfico (Figura 28) mostra o rendimento do processo de adsorção
obtido pelo uso do carvão de buriti 1,5 em diferentes vazões.
0
0,05
0,1
0,15
0,2
BP - 3 BP - 4 BP - 9 BP - 10 BP - 15 BP - 16
1 ml/min 1 ml/min 2 ml/min 2 ml/min 3 ml/min 3 ml/min
0,1
0,2
0,1
0,2
0,1
0,2
0,059941
0,019089 0 0,005351
0,037491 0,051895
Carvão de buriti 1,4
Conc. Inicial Conc. Final
53
Figura 28. Rendimento da adsorção do carvão ativado de buriti 1,5 em diferentes
vazões.
Nota-se que o carvão de buriti 1,5 teve um excelente rendimento de adsorção na
vazão de 2 ml/min, mas não somente nesta, o mesmo também revelou ser o bom
adsorvente na vazão de 1 e 3 ml/min. YING et al. (2007) aponta que a interação
adsorvato/adsorvente na adsorção física é uma função da polaridade da superfície do
sólido e da adsortividade. O caráter não polar da superfície no carvão ativado é fator
preponderante na adsorção de moléculas não polares por um mecanismo não específico,
podendo ser incrementada pela adequada modificação da natureza química da superfície
do carvão (por exemplo: oxidação), desde que este produza um incremento na interação
superfície-adsorvato.
O gráfico da figura 29 mostra o rendimento dos carvões de buriti na filtragem de
algumas amostras de água de Barcarena, o carvão ativado de buriti foi utilizado
principalmente porque segundo ALENCAR (2012) dentre os vários métodos de
remoção de contaminantes (inorgânicos, orgânicos e biológicos), a adsorção por carvão
ativo tem-se mostrado superior economicamente aos métodos eletroquímicos e de
membranas.
0
0,05
0,1
0,15
0,2
BP - 5 BP - 6 BP - 11 BP - 12 BP - 35 BP - 36
1 ml/min 1 ml/min 2 ml/min 2 ml/min 3 ml/min 3 ml/min
0,1
0,2
0,1
0,2
0,1
0,2
0
0,039815
0 0
0,05493
0
Carvão de buriti 1,5
Conc. Inicial Conc. Final
54
Figura 29. rendimento da eficácia real dos carvões de buriti nas águas contaminadas do
município de Barcarena.
Este gráfico é muito importante pois demonstra a eficácia real do adsorvente em
frente a contaminação das águas do município de Barcarena, pois a intoxicação por Pb
no homem causa danos ao sistema sangüíneo (destruição de glóbulos vermelhos),
nervoso (cérebro, espinha dorsal, nervos sensores e motores), renal, cardiovascular
(NEWLAND, 1982). O Pb que entra no organismo é inicialmente encontrado no
sangue, eventualmente o Pb se deposita nos ossos, onde ele substitui o cálcio devido os
íons Pb2+ e Ca2+ serem de tamanhos similares. O Pb permanece no corpo humano por
vários anos acumulando-se no organismo (BAIRD,1999).
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
3 ml/min 3 ml/min 3 ml/min 3 ml/min 3 ml/min 3 ml/min
buriti 1,3 buriti 1,5 Buriti 1,3 Buriti 1,3 Buriti 1,3 Buriti 1,5
AR-23 CA-17 FA-32 FZ-33 PB-29 PC-19
0,212
0,101 0,06 0,072
0,309
0,094 0,085264 0,033181 0,034676
0 0 0,0442
Águas de barcarena pós filtragem
Pb Antes da filtragem (mg/L) Pb Após filtragem (mg/L)
55
6. CONCLUSÕES
No presente estudo procurou-se mostrar o rendimento e eficácia do uso do
carvão ativado da casca do buriti para a remoção de Pb em águas contaminadas do
município de Barcarena. Observou-se que algumas concentrações de Pb decairam de
uma concentração inicial de 0,1 e 0,2 mg/L para concentrações abaixo do valor máximo
permitido (0,01 mg/L) de lançamento de efluentes em corpos receptores, valor este
preconizado pela legislação nacional vigente, em relação as amostras de águas filtradas
com o adsorvente, obteve-se bons resultados.
O carvão utilizado neste trabalho é um adsorvente promissor para ser utilizado
na remoção de metais presentes em efluentes industriais. Em comparação com o carvão
ativado comercial, obteve resultados próximos, mas, visto que é uma matéria-prima
barata (resíduo), apresenta um benefício muito grande para ser usado por comunidades
carentes que não tem uma posição econômica muito boa para fazer uso de carvões
ativados industriais.
Os métodos analíticos escolhidos da análise mostraram-se adequados para as
análises do chumbo em água.
Um artigo está sendo preparado para apresentação na revista SODEBRAS. Este
relatório foi encaminhado ao Ministério Público Federal para providências em relação a
saúde da população exposta ao chumbo através da água de consumo.
56
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60
DIFICULDADES – As dificuldades foram relacionadas a liberação de varba para
análise dos metais do projeto.
PARECER DO ORIENTADOR: O aluno ao longo do desenvolvimento de sua bolsa
apresentou excelente desempenho tendo desenvolvido seu trabalho de modo
responsável, com envolvimento e empenho em todos os sentidos, meu parecer é que o
aluno tem qualidades e, portanto seu relatório final deve ser aprovado.
DATA: 14/08/2015
61
FICHA DE AVALIAÇÃO DE RELATÓRIO DE BOLSA DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA
O AVALIADOR DEVE COMENTAR, DE FORMA RESUMIDA, OS
SEGUINTES ASPECTOS DO RELATÓRIO :
1. O projeto vem se desenvolvendo segundo a proposta aprovada? Se ocorreram
mudanças significativas, elas foram justificadas?
2. A metodologia está de acordo com o Plano de Trabalho ?
3. Os resultados obtidos até o presente são relevantes e estão de acordo com os
objetivos propostos?
4. O plano de atividades originou publicações com a participação do bolsista?
Comentar sobre a qualidade e a quantidade da publicação. Caso não tenha sido gerada
nenhuma, os resultados obtidos são recomendados para publicação? Em que tipo de
veículo?
5. Comente outros aspectos que considera relevantes no relatório
6. Parecer Final:
Aprovado( )
Aprovado com restrições( ) (especificar se são mandatórias ou recomendações)
Reprovado( )
7. Qualidade do relatório apresentado: (nota 0 a 5) _____________
Atribuir conceito ao relatório do bolsista considerando a proposta de plano, o
desenvolvimento das atividades, os resultados obtidos e a apresentação do relatório.
Data : _____/____/_____.
________________________________________________
Assinatura do(a) Avaliador(a)