relatório sobre a morte do ex-presidente joão goulart

Upload: ramonsouza2014

Post on 01-Mar-2018

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    1/216

    Pgina 1de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    RELATRIO SOBRE A MORTE DO EX-PRESIDENTE JOOGOULART

    COMISSO DE CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS DAASSEMBLIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIOGRANDE DO SUL

    SUBCOMISSO PARA INVESTIGAR AS CIRCUNSTN-CIAS DA MORTE DO EX-PRESIDENTE JOO GOULART

    SUMRIO

    COMPOSIO DA COMISSO1. CRONOGRAMA DOS TRABALHOS2. INTRODUO3. DEPOIMENTOS RECOLHIDOS EM AUDINCIAS PBLICAS4. SNTESE DOS DEPOIMENTOS - PARTE MAIS IMPORTANTE

    5. INVESTIGAES REALIZADAS6. DOCUMENTOS RECEBIDOS7. CONCLUSO

    COMPOSIO DA SUBCOMISSO PARA INVESTIGAR ASCIRCUNSTNCIAS DA MORTE DO EX-PRESIDENTE JOOGOULART

    DEPUTADOS MEMBROSAdroaldo Loureiro PDT- Relator da SubcomissoEdson Brum PMDBPaulo Brum PSDBDionilso Marcon PTMarco Peixoto PP

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    2/216

    Pgina 2de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    SUBCOMISSO DESTINADA A INVESTIGAR EMQUE CIRCUNSTNCIA OCORREU MORTE DO EX-PRESIDENTE JOO GOULART, EM 06 DE DEZEMBRO DE1976, NA ESTNCIA DE SUA PROPRIEDADE, NAPROVNCIA DE CORRIENTES, NA ARGENTINA.

    CRONOGRAMA DOS TRABALHOS DA SUBCOMISSO

    26.02 Primeira audincia(Christopher Goulart (representando o Instituto Joo Goulart)entrega documentos da famlia para a Subcomisso).Jair Krischke cobra abertura dos arquivos secretos das ForasArmas. Loureiro diz que primeira reunio para ajustarcronograma de trabalhos.

    01.04 Segunda audinciaEx-deputado Joo Vicente refora que falta empenho dogoverno federal em esclarecer os fatos que cercam a morte deseu pai.Reunio conta com a manifestao de Lcia Peres e ndioVargas. Loureiro defende acionar Ministrio Relaes Exteriorpara ouvir ex-agente da CIA Frederick Latrash.

    03.04 Reunio no MPF em Porto Alegre

    Procuradora Suzete Bragagnolo recebe documentos que iroauxiliar o trabalho do MPF sobre circunstncias da morte deJango.

    30.04 Terceira audinciaUruguaios Javier Bov (advogado) e Roger Rodrigues(jornalista) falam sobre o funcionamento da Operao Condor,considerada pea-chave das aes conjuntas dos rgos derepresso dos governos ditatoriais do Conesul para eliminarinimigos polticos nas dcadas 70/80.

    06.05 Reunio com secretrio MallmannLoureiro e Christopher Goulart pedem ao secretrio deSegurana a devoluo dos manuscritos do preso Mario NeiraBarreiro retidos na PASC. Os manuscritos so os originais delivros que Barreiro estaria escrevendo sobre o perodo em queatuou como agente secreto do Uruguai, quando monitorouJango no exlio.

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    3/216

    Pgina 3de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    08.05 Oitiva na PASC com Mario Neira BarreiroO ex-agente do servio secreto do Uruguai confirma que houveoperao para eliminar Jango. Ele revela nomes e situaes.Participam da oitiva: Jair Krischke, Christopher Goulart, Javier

    Bov, Roger Rodrigues e a equipe da Secretaria Nacional dosDireitos Humanos, formada pelo ouvidor Fermino Fecchio Filho,Vera Regina Rotta e Mari Carmen Gerpe

    18.06 ltima audincia (perito DML)O perito Manoel Constant Neto fala de aspectos tcnicos sobreautpsia e responde perguntas da Subcomisso sobre apossibilidade de encontrar algum indcio de envenenamento naossada de Jango, caso ocorra exumao, 32 anos depois.

    INTRODUOA Subcomisso destinada a investigar em que

    circunstncia ocorreu morte do ex-presidente Joo Goulart,foi constituda no dia 20-02-2008, nos termos do RegimentoInterno da Assemblia Legislativa, por ato da presidncia daAssemblia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul,atendendo a requerimento deste relator.

    A instalao da Subcomisso situa-se no contexto daretomada da discusso pblica sobre a ao coordenada dosrgos de represso de vrios pases do cone sul da AmricaLatina, principalmente na dcada de 70, conhecida comoOperao Condor.

    A criao da Subcomisso na Comisso de DireitosHumanos se pautou pela idia de que a morte do ex-presidenteJoo Goulart no poderia ser excluda das investigaes sobre ahistria recente da represso em nosso continente. As razesque fundamentam essa idia ficaro claras ao longo dorelatrio. Basta lembrar a coincidncia temporal com o auge daOperao Condor e a relevncia da derrubada de seu governo,

    em 1964, ponto de partida da consolidao de regimesditatoriais no Cone Sul. De outro lado, havia a conscincia deque as circunstncias da morte, ocorrida h trinta e dois anos,sem que houvesse um laudo pericial adequado, no traziamgrande esperana sobre o surgimento de alguma provaconclusiva a favor ou contra a hiptese de homicdio. Agora, em29 de janeiro de 2008, em depoimento a Policia Federal, osenhor Mario Neira Barreiro, trouxe novos elementos quando

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    4/216

    Pgina 4de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    participante do servio secreto uruguaio e como testemunhapresente ao plano de assassinar com veneno o ex-presidenteJoo Goulart. Este fato novo, no poderia ficar sem a devidainvestigao desta Subcomisso, que com o seu trabalho traras demais comisses e rgos que se dedicaram ao mesmo

    tema anteriormente, luzes para a soluo da morte do ex-presidente Joo Goulart.

    O lapso temporal se deve ao excessivo cuidadoperceptvel na cobertura jornalstica, a censura, explicita ouvelada eventualmente, at, autocensura -, continuava forte,apesar do projeto de abertura que comeava a ser apregoadopelos lderes da ditadura vigente. De um lado, o regimeimplantado em 1964 dispunha de fora suficiente para impedira livre investigao das suspeitas envolvidas na morte de JooGoulart. De outro lado, as pessoas mais interessadas em

    encontrar respostas para suas dvidas supunham,acertadamente, que a tentativa de aprofundar a anlise,naquele momento, seria duplamente contraproducente: nohavia a menor condio de se levar a cabo uma investigaoimparcial, mas havia a possibilidade real de que a tentativa derealiz-la prejudicasse a consolidao da abertura do regime. Aprpria amplitude do movimento repressivo, articulandoagncias de vrios pases, cria embaraos investigao. Asresistncias no se situam apenas no mbito nacional, masincorporam acordos e solidariedades internacionais.

    Em boa parte do continente, os chamados anos dechumbo foram mantidos, com a cooperao entre pases para,por exemplo, perseguir quem era considerado subversivo, umaaliana batizada de Operao Condor.

    DEPOIMENTOS RECOLHIDOS EM AUDINCIAS PBLI-CAS

    Os depoimentos recolhidos ao longo de suasinvestigaes, em audincias pblicas, constituem uma dascontribuies mais importantes desta Subcomisso para odesvendamento das circunstncias em que ocorreu a morte doex-presidente Joo Goulart e para a formao de um repositriode informaes oficiais altamente relevantes para pesquisasfuturas. Por outro lado, como grande parte dos depoimentos

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    5/216

    Pgina 5de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    aqui reproduzidos foi construda a partir de um dilogo entre osdepoentes e os membros da Subcomisso, os temas no sotratados linearmente. Como so prprias dos dilogos, muitasvezes questes j tratadas reaparecem ao longo dos

    depoimentos em parte porque retomadas nosquestionamentos de outro parlamentar. Por vezes, tambm, asubstituio de um parlamentar por outro na conduo dequestionamentos resulta em passagens abruptas de um temapara outro. De qualquer maneira, a no ser quando realmenteexcessivas, as repeties foram mantidas na presentetranscrio; afinal, caber a pesquisadores futuros descobrir atque ponto significativo as diferenas entre formulaessimilares para descrever os mesmos fatos.

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    6/216

    Pgina 6de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    REUNIO DA SUBCOMISSODATA DE 26 DE FEVEREIRO DE 2008

    A presena do neto do ex-presidente Joo Goulart naprimeira audincia pblica realizada por esta Subcomisso

    significativa. Primeiro, ela demonstra o desejo da famlia do ex-presidente de esclarecer um fato da histria do Brasil (e delaprpria) que vem exigindo a ateno da nao. Segundo, elaprova a confiana da famlia na maturidade alcanada pelademocracia brasileira, que j pode avaliar nossas feridashistricas com imparcialidade, e, em particular, sua confianana Assemblia Legislativa do Rio Grande do Sul.

    O depoimento, como a maioria dos demais, comeoucom uma interveno inicial mais longa, seguida de dilogo

    com os parlamentares membros da Subcomisso. A intervenoinicial teve o seguinte contedo.

    Depoimento do senhor Christopher Goulart (neto do ex-presidente Joo Goulart)

    Primeiramente quero agradecer a presena de todos,louvar a atitude do Presidente da Subcomisso DeputadoAdroaldo Loureiro, que mostra compromisso perante o povo doRio grande do Sul, no sentido de que Jango era um presidente

    antes de todas as qualificaes certamente a ele atribudas eraum gacho. Um lder latino americano que lutou pela soberaniade nosso pas e pelo fortalecimento das bases. Um presidentecom uma viso nacionalista extrema numa situao conflitantede guerra fria. Na verdade Jango era um mrtir evitou duasguerras civis no pas em 1961 e 1964. Quero saudar a presenados deputados aqui presentes, presidente, do senhor Carlos,que em outras ocasies, j conversamos, do deputado MarcosLange. Jair Krischke de liderana nos direitos humanos. Na

    verdade deputado muito importante esclarecer a morte doex-presidente Jango, como ns viemos aqui, a morte misteriosade Jango. As circunstncias do que representava a volta deJango ao pas. Era o nico lder latino americano e nico lderbrasileiro capaz de unificar as esquerdas. Seu retorno ao Brasilrepresentava uma ameaa extrema, pelo seu perfil conciliador,seu perfil conservador e, perfil pacfico. Pela sua capacidade de

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    7/216

    Pgina 7de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    articular. O que era um pssimo interesse para as ditadurasmilitares. Tanto que as esquerdas foram acionadas pelamobilizao na poca da distenso, liderada pelo GeneralGolbery do Couto e Silva, ento esse o ponto principal. A

    capacidade de coalizo que ele tinha. Inclusive muitosquestionavam isso no seu poder presidencialista, enfrentandooposio, inclusive, dentro do seu prprio partido. Mas, Jangosempre teve uma viso conciliadora social. Nunca teve aganncia de poder. Ele, dizia que o poder era um destino, e, odestino o conduziu a ser presidente do Brasil. Ento, as novasgeraes precisam saber qual a verdadeira histria, se elesofreu realmente um atentado, como existem provastestemunhais como desse individuo que est preso. Mas,

    tambm muitas outras provas escritas, documentos do exrcitoque podem vir a ser abertos, como documentos do Itamaraty,documentos de outros pases, como muito bem colocou o nossolder Jair Krischke. Documentos que a sociedade faz clamor quevenham tona. Ns no podemos ser enganados. A histriatem que ser bem contada, como ela efetivamente aconteceu. E, muito importante tambm falar da vida de Jango eo porqu ele foi morto. Ele era um lder que buscava asreformas estruturais para o pas que at hoje ainda no foram

    consolidadas como: na rea fiscal, tributria, urbana. O lderque controlava as remessas de lucros, durante a guerra fria,que era de espoliao aos trabalhadores brasileiros. Jango tinhaum compromisso com suas origens. Era o legatrio da cartatestamento de Getlio Vargas. Se vocs me permitirem, temuma questo familiar, eu tenho curiosidade de saber como omeu av faleceu. Na verdade como dizia Darcy Ribeiro, Jangono caiu pelos seus erros, mas pelas suas virtudes. Hojeabrimos os jornais e vemos um mar de lama, de corrupes,

    so os exemplos. Eu coloco a disposio uma vastadocumentao que ns temos. Temos buscado a mobilizaode vrios segmentos dos poderes: o subprocurador do inquritono Ministrio Pblico Federal; buscamos a mobilizao do PoderJudicirio; esta mobilizao da Subcomisso pela iniciativalouvvel do deputado Adroaldo Loureiro, que leve adiante ostrabalhos. Precisamos de um trabalho em conjunto com toda a

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    8/216

    Pgina 8de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    sociedade brasileira. No poder executivo tambm, recebemosda ministra Dilma Roussef vrios documentos confidenciais.Estamos lutando tambm no Senado para um acordo na reados Direitos Humanos entre os pases, para que essas

    informaes nos sejam concedidas com maiores facilidades,que no tenham que passar pelo Itamaraty para dependeremde cartas que vo levar mais de ano para chegarem srespostas. Solicitar por exemplo documentos do Arquivo doTerror do Paraguai, ou do Uruguai da Argentina. Ento essasiniciativas em conjunto tm efetiva importncia, pois o Brasil semostrou durante todo esse tempo, ter sido um pouco ineficazem relao apurao das responsabilidades daqueles queparticiparam de torturas, mortes, assassinatos. A Argentina tem

    um presidente preso Jorge Rafael Videla (1976 a 1981). Doispresidentes uruguaios esto presos Juan Maria Bordaberry(1973 a 1976) e Gregorio Conrado lvarez Armelino (1981 a1985). No Chile o General Augusto Jos Ramn Pinochet Ugartepresidente (1973 a 1990) teve a sua priso decreta, mas veio afalecer 10-12-2006, mas, o seu ministro general Juan ManuelGuillermo Contreras Seplveda Diretor do DINA est preso,condenado em 2007 a 10 anos de priso. Ento, est na horado Brasil comear a assumir essa responsabilidade sobre essa

    brutalidade de ocorreu. Eu, na verdade, tenho 31 anos e noparticipei disso, mas muita gente participou e muita gente temum clamor e um anseio de que isso efetivamente ocorra. Entoa nossa contribuio nesse sentido. Talvez o caso de Jangovenha a esclarecer tantos outros casos de represso, torturasde mortes que vem por trs de tudo isso. Aproveitando arelevncia ou destaque que o caso tem na mdia, por Jango setratar de um lder mundial. Ento porque no podemosaproveitar esse momento e fazer uma reflexo, essa a nossa

    luta. Mais uma vez agradeo a iniciativa desta Subcomisso e apresena do senhor Jair Krischke. Uma coisa importantetambm, meu pai sempre fala nisso: Christopher, sempre quefores falar de Jango, sempre irs encontrar resistncias, porque esse assunto ainda no bem assimilado. Talvezestejamos hoje, sobre certo ponto enfrentando essa resistncia.Do por que dessa Subcomisso, mas, como foi muito bem

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    9/216

    Pgina 9de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    colocado pelo deputado Adroaldo Loureiro, a histria continua,e, novos documentos iro aparecendo, novos fatos vmsurgindo, e o comprometimento deste parlamento e do povo doRio Grande do Sul sempre pertinente, e com certeza vai estar

    sempre preservando a memria de Jango. Muito obrigado atodos, e pela oportunidade.

    Depoimento do senhor Jair Krischke (Conselheiro doMovimento de Justia e Direitos Humanos no Rio Grande doSul)

    Na audincia pblica o senhor Jair Krischke, iniciou suainterveno com referncias elogiosas a criao daSubcomisso pelo deputado Adroaldo Loureiro, afirmando

    discordava da colocao de que a Subcomisso pretendecolaborar na elucidao do fato de como ocorreu morte deex-presidente Joo Goulart, discordo porque acho que estaSubcomisso poder prestar sim, uma enorme contribuio naelucidao deste episdio. Porque esta Casa tem tradio.Porque enquanto lhe ouvia deputado Adroaldo Loureiro, aquilembrava ao tempo da ditadura agora muito fcil a gentebrigar por direitos humanos mas, no faz tanto tempo eracomplicado. E, aqui em Porto Alegre aconteceu o seqestro dos

    uruguaios, vocs sabem. Primeiro caso de operao Condor,denunciado, investigado, condenado pela Justia do Rio Grandedo Sul e depois resultou em uma segunda condenao, em queo Estado teve que indenizar os dois, pelos cinco anos quepassaram injustamente na priso. Ento, esta Casa, naquelaocasio colaborou enormemente, esta Casa, teve um papelprotagnico, naquele episdio. Esta Casa tem experinciadeputado Adroaldo Loureiro, e lutou num tempo difcil, que eraa ditadura. Agora bem mais fcil. Ento, eu entendo que

    poder sim, trazer uma enorme contribuio. E, esse ttulodessa revista Morte sem Fim, ele verdadeiro, por que sem fim, pela nosso incompetncia. Porque a cidadaniabrasileira no teve a competncia de elucidar afinal de contas,para dizer cabalmente, olha foi uma morte natural, ou, foi umassassinato. Eu entendo que a nossa gerao deve isso para acidadania brasileira. Ns estamos tratando da morte de um ex-

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    10/216

    Pgina 10de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    presidente da repblica. Se ns no tivermos competncia euma atividade rigorosa para apurar esta morte, eu ponho emdvidas, se ns sabemos exercer, em plenitude, aquilo queinclusive a nossa Constituio nos garante, que o exerccio da

    cidadania. A morte do ex-presidente Joo Goulart, ela estenvolta em muitas suspeitas. E, vejam o atestado de bito dizcausa mortis enfermedad, doena. Como se pode imaginarque o ex-presidente Joo Goulart, um presidente da repblicafoi enterrado, em manga de camisa, cala jeans e de pdescalo. Mas, que coisa maluca essa. Agora, h pouco tempodeputado Adroaldo Loureiro, faleceu, o coronel Solon, aqui emPorto Alegre faz um ms, que era o superintendente da PoliciaFederal no Rio Grande do Sul, quando da morte do ex-

    presidente Joo Goulart. As tratativas para que o corpo viessepor terra, foram feitas com o vice-presidente General AlbertoPereira dos Santos, que autorizou o coronel Solon,superintendente da Polcia Federal, a que isso acontecesse. E,ele acabou respondendo a inqurito policial militar, e foidefenestrado da superintendncia da Policia Federal. E, a suacarreira como oficial do exrcito terminou a. Veja que coisamaluca. Que coisa infernal. Por qu? Por que autorizou que ocortejo viesse por terra. Essa foi grande culpa dele. Observem

    um homem honesto e um homem do golpe militar. Ningumseria superintendente da Polcia Federal, em qualquer lugar, seno fosse da confiana dos donos do poder, e, mesmo assim,ele pagou caro. Ento so dados que vo levando-nos assuspeitas. Agora, ns temos um cidado, uruguaio, que estpreso, aqui no presdio de alta segurana, assaltante debanco, sim, assaltante de carro forte, sim, contrabandista dearmas, sim e essa a sentena que ele cumpre, de haverpraticado esses crimes. Mas, ns honestamente no podemos

    deixar de at a exausto, deixar de investigar o que ele afirma.Por que tudo que ele afirma faz sentido. Ele refere que, aquelatriste figura da nossa histria, o delegado Srgio ParanhosFleury, esteve vrias vezes no Uruguai, sim, ele foi vrias vezespara organizar os esquadres da morte, e, era uma figuramuito conhecida e refere com muita segurana. Ele refere figura de um mdico legista da polcia de Montevidu, que teria

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    11/216

    Pgina 11de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    produzido um veneno que matou uma senhora de umimportante lder poltico do Uruguai. Colocou veneno emgarrafas de vinho. So trs garrafas de vinho branco que forampresenteados a trs importantes lderes polticos. Essa senhora,

    inadvertidamente abriu a garrafa de vinho, serviu uma taa,tomou um gole e morreu. Esse senhor que est aqui nopresdio disse que esse mdico legista, que era uma figurareconhecida da ultra direita uruguaia, tambm foi o autor, doproduto que produziu a morte do ex-presidente Joo Goulart,conforme declarou. Ento, declarao forte, que tm que serinvestigada a exausto. No porque ele est cumprindo umapena, que ns podemos desprezar ou minimizar o que eleafirma. As afirmativas so graves, fazem sentido e merecem

    uma investigao. Quanto a documentos deputado AdroaldoLoureiro, eu, agora em dezembro, passando por Montevidu,recolhi, documentos do servio secreto da polcia uruguaia,onde est o monitoramento do ex-presidente Joo Goulart e depessoas que circulavam muito prximas a ele. Vrias pessoasesto ali monitoradas. E, junto a um documento do serviosecreto do exrcito uruguaio, que inclusive relata uma reuniodo ex-presidente Joo Goulart, em Buenos Aires. Olha umdocumento do exrcito uruguaio, de uma reunio celebrada em

    Buenos Aires, estando presente o senador uruguaio ZelmarMichelini Guarch e o deputado Hctor Gutierrez Ruizassassinados em 1976 e o ex-presidente da Bolvia GeneralJoan Jos Torres Gonzles, tambm assassinado em BuenosAires em 1976. E, o ex-presidente Joo Goulart, em umareunio que tratava da situao de exilados brasileiros,uruguaios e bolivianos, que estavam num hotel no aeroporto deEzeisa, confinados, e os trs se reuniam para buscar umasoluo para essa terrvel situao que viviam esses exilados.

    Est l relatado. Isto muito grave. Esses documentos, eulamentavelmente no os trouxe uma cpia, mas coloco desdeagora a disposio. Mas se precisa avanar em termos dedocumentos, se precisam pedir oficialmente as colaboraesdos governos: argentino, do governo uruguaio, do governochileno, do governo paraguaio e do governo brasileiro para quese abram aqueles registros que no so este Christopher de

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    12/216

    Pgina 12de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    que foi entregue a famlia, mas os registros das forasarmadas, isso fundamental se ter. Nunca foi pedida acolaborao dos governos vizinhos. Podem estranhar, mas, oex-presidente Joo Goulart, nunca esteve no Chile, no perodo

    do seu exlio, verdade. Mas entre outros documentos que eutrouxe de Montevidu, eu trouxe do servio secreto uruguaio, alista dos brasileiros presos no estdio Nacional, quando dogolpe do Chile. Os brasileiros estavam no Chile. Que forampresos e levados para o estdio Nacional, quando do golpe de11 de setembro de 1973. E, onde estava esta lista? No serviosecreto do Uruguai. Eles sempre trocavam informaes,portanto, no Chile poder haver algum documento que nosajude a elucidar isso importante. Os pases precisam

    colaborar. E outra fonte importante de documentos so os doservio secreto norte-americano. Pode parecer uma piada demau gosto, mas, no . Eu digo aos senhores e as senhorasque, o servio secreto norte-americano, qualquer um deles,mas especialmente a CIA, cumpre a lei americana. A lei declassificao e desclassificao de documentos. Que no Brasilns copiamos. Collor de Mello mandou uma mensagem para oCongresso, que foi aprovada e, a lei que trata dessa matria noBrasil uma cpia da lei americana. A diferena que l eles

    cumprem a lei e ns aqui a no cumprimos. Aqui o Estadobrasileiro no cumpre a lei. Ento documentos americanos, doservio secreto americano, sempre que eles cumprem o prazode que so secretos, eles so desclassificados e tornadospblicos. Vo para a universidade Jorge Washington. O governoda Argentina pediu tudo quilo que havia nesses registros quediziam alguma coisa a respeito da Argentina, e, de algumcidado argentino. Na ocasio foi mandado dos Estados Unidospara a Argentina, 74.000 (setenta e quatro mil) documentos. E,

    por essas coisas da vida, eu tenho cpia. E, dentro destesdocumentos se encontram coisas fantsticas, por exemplo: umepisdio de Operao Condor, no aeroporto do Galeo, no dia12 de maro do ano de 1980, est descrito neste documentonorte americano, que conta como foi feita a operao, onde umsenhor talo-argentino de nome Horcio Domingo Perpiglio esua companheira Monica Susana Pinos de Binstoc, foram

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    13/216

    Pgina 13de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    seqestrados numa ao conjunta do aparelho repressivoargentino e brasileiro. Aeroporto do Galeo. Base area doGaleo. Um local de estabelecimento militar. E, o documentonorte-americano narra como aconteceu. duro a gente

    conhecer a nossa histria, l em Washington. Maslamentavelmente assim. E, entre outros documentos, eutenho um telegrama do servio secreto norte-americano, naocasio sediado em Porto Alegre, datado de 02 de abril de1964, um telegrama bem curtinho, - O presidente JooGoulart partiu para Montevidu. tudo o que diz o telegrama,mas, ele histrico, do servio secreto norte-americanoinformando a Washington. Eu tambm disponibilizo uma cpiadeste telegrama. Ento deputado Adroaldo Loureiro, eu

    entendo que a Assemblia Legislativa pode provocar o assunto,porque so relaes internacionais. Mas, tenho certeza de queos norte-americanos, assim como fizeram com a Argentinafaro, e disponibilizaro todos os documentos que digamrespeito ao Brasil. Porque eles tm. E, sempre vo, cumprindoa sua lei desclassificando. No a toa deputado AdroaldoLoureiro, que no museu Lyndon Baines Johnson, (presidenteUSA de 1963 a 1969) em Hunston no Texas, um grande museu,e, ali, esto reunidos todos os documentos relativos

    presidncia de Lyndon. Ali est a histria do golpe militar de1964 no Brasil. Toda a histria est escrita ali, e, o ttulo operao Brother Sam. O irmo Sam. Quantos navios estavamaqui na nossa costa, navios da armada norte-americana, quetipo de armamento possua e navios petroleiros. Conta ahistria do golpe. E, conta muito da atuao do embaixadorLincon Gordon, ao tempo, no Brasil. L no Rio de Janeiros seescrevia nas paredes, - basta de intermedirios, Lincon Gordon,para presidente -. E, verdade, no. Ele teve um papel

    protagnico no golpe de 64. uma pena que o governobrasileiro, qualquer um dos governos brasileiros, perodos ps-ditadura no teve a iniciativa de pedir esses documentos, e,disponibiliz-los para a sociedade brasileira. Acho que essasiniciativas deputado Adroaldo Loureiro, j seriam de um valorextraordinrio, muito ajudaria na elucidao da morte dopresidente Joo Goulart, mas, tambm, poderia prestar um

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    14/216

    Pgina 14de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    grande servio cidadania brasileira, contando mais dessepouco que ns sabemos, do mal da noite de trevas que seabateu sobre este pas durante 21 (vinte e um) anos. E foramlongos anos de chumbo. Era isso deputado Adroaldo Loureiro

    que eu tinha para informar preliminarmente e me colocar adisposio da Subcomisso sempre que houver necessidade.Muito obrigado.

    O depoente teve a oportunidade, ainda, de responder aquestionamentos feitos pelo deputado Adroaldo Loureiro, sobrepossveis linhas de investigao a serem seguidas pelaSubcomisso nos pases mencionados, e, se esses pasesestavam organizados na guarda destes documentos histricos.

    O que, alis, constituiu em efetiva contribuio para ostrabalhos.

    Continuao do depoimento do senhor Jair KrischkeBem eu lhe diria deputado Adroaldo Loureiro, que na

    Argentina, isto est muito bem organizado. Ns temos aSecretaria Nacional de Direitos Humanos, que um rgo dogoverno argentino, e que tem uma atuao muito ampla e podecolaborar. Junto a esta instituio existe o Arquivo Nacional da

    Memria, onde inclusive os documentos dos brasileirosdesaparecidos na Argentina, l esto. um arquivo que estpermanentemente sendo alimentado, na medida em quedocumentos vo aparecendo. Poder-se-ia fazer uma consultaao Arquivo Nacional da Memria e a Secretaria Nacional deDireitos Humanos, que um rgo do governo argentino. E, noUruguai ns poderamos pedir a colaborao, porque eles notm instituies deste gnero. Podemos pedir ao governouruguaio, atravs ou do Ministrio do Interior, por que as

    polcias, a no ser no Brasil, mas, em toda a Amrica Latinas,as polcias so afetas ao Ministrio do Interior e ao Ministriode Relaes Exteriores. So dois caminhos para se obterdocumentos no Uruguai. E, eu falo Ministrio de RelaesExteriores porque no Uruguai foi feito um trabalho magnfico deorganizao dos arquivos do Ministrio de Relaes Exteriores.E, eu dizendo isso assim, pode parecer meio vago, meio

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    15/216

    Pgina 15de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    distante, mas, eu me permito tomar um pouco do tempo dossenhores para contar algo bem concreto e que diz muitorespeito a ns, e, aqui no rio Grande do Sul, se diz solenementeque os documentos do DOPS foram queimados. O governo

    Amaral de Souza houve um belo dia em que os caminhescarregados com os papis do DOPS foram para uma olaria daBrigada Militar, em Alvorada, sirenes, e l foram queimados. Ateleviso mostrou, a imprensa fotografou foi alardeado queimaram-se os documentos do DOPS -. O governo Amaral deSouza, muito bem. Acho que em 1982, nesta luta porredemocratizar dos pases da regio, ns convidados a WilsonFerreira Adunati, aquele que escapou da morte, l em BuenosAires, a vir a Porto Alegre e a esta Casa, Assemblia Legislativa

    do Estado do Rio Grande do Sul, para uma palestra. E, ele veio.Estava exilado em Londres. E, o acompanhou seu filho JuanRaul, ex-senador do Uruguai, que fazia o seu exlio emWashington. Veja que gente subversiva. Um exlio em Londrese outro em Washington. No era em Moscou e nem emHavana. Bem, aqui estiveram e passaram trs dias conosco.Claro que muita gente veio do Uruguai, seus correligionrios doPartido Nacional, do Partido Blanco vieram, gente da FrenteAmpla Uruguaia vieram, de nibus de avio. Foi embora, eu

    lembro. Ns o hospedamos no Citi Hotel. Foi embora. A vidaanda e ele tenta voltar para o Uruguai para candidatar-se apresidente da repblica, ele j tinha escapado do homicdio emBuenos Aires. Volta e foi preso. E, mantido preso num quartel,at terminar o processo eleitoral e Sanguineti ser eleito.Acontecido isso, colocaram o Wilson Ferreira em liberdade.Existe uma prtica interessante no Uruguai, o partido quevence a eleio, distribui cargos para os partidos opositores. Opartido colocado em segundo lugar no processo eleitoral, ganha

    50 cargos, o terceiro 30. Sabe h distribuio de cargos noservio pblico. E cometeram o grave equivoco de dar umdesses cargos para um querido amigo meu, que esteve exiladoaqui em Porto Alegre, uruguaio do Partido Nacional. E derampara ele um importante cargo. Ele foi trabalhar no arquivomorto do Ministrio. Mas, ele era um tipo muito curioso egostava muito de revirar papis, e, em um belo dia, ele me liga

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    16/216

    Pgina 16de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    de montevidu e me diz assim No imagina o que euencontrei aqui. Eu encontrei um relatrio do ex-cnsul doUruguai, em Porto Alegre, relatando toda a visita do WilsonFerreira, inclusive reproduzindo dilogos entre aspas, que

    demonstra que havia uma escuta. E, no final tem um negcioque eu no vou te dizer por telefone. O que eu fao? -. Faz umxrox que eu estou indo para Montevidu. E fui paraMontevidu e trouxe os documentos. Trouxe o relatrio. E, orelatrio no final, nas ltimas linhas dizia assim E quemtransportava o Wilson Ferreira, de um lado para outro, eu voume permitir dizer o nome da pessoa porque era dessa Casa,respeitada figura desta Casa, era o comunista Rgis Ferretti,era o Procurador-Geral desta Casa. O comunista Rgis Ferretti.

    Que juntamos as fichas do DOPS -. Que fichas do DOPS?quelas queimadas? quelas queimadas? Com duas anotaesposteriores a queima. No fantstico. Transportava noautomvel Alfa Romeu placa tal. Ento, eu estou contando paraos senhores que mentira quando dizem que queimamdocumentos. No queimam. Informao no se destri nunca.Isso regra dos servios de espionagem em todo o mundo,no se destri. Essas do DOPS no foram destrudas elas forammodernizadas, elas foram micro-filmadas. Ento os papis a

    gente queima, no vai ocupar lugar com um monte de papis.Isso significa o seguinte: que havia uma colaborao estreitaentre todos os servios. No verdade? E que tudo queacontecia, at nesta Casa, estava monitorado. E, essasinformaes existem. Eu tenho estes documentos, como narreipor este episdio de extrema coincidncia com essa pessoa queolhou, fez um xrox e me passou. Ento, l no Uruguai nspodemos junto ao Ministrio de Relaes Exteriores, por isso eureferi, por que l foi feito um trabalho imenso de levantamento.

    Alguns documentos que se referem a brasileiros eu trouxe, jdesse arquivo. O Flvio Tavares monitorado. Tudo, o queacontecia. Dos jornalistas do que iam tratar. A Flvia Schilingest l. A questo do seqestro. O que acontecia aqui naAssemblia Legislativa l est relatado. E, claro com oMinistrio do Interior. No Paraguai, o famoso Arquivo do Terror,hoje est sob guarda do Poder Judicirio. Num setor, est

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    17/216

    Pgina 17de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    organizado, se pode ir l e consultar. E, no Chile, ainda est umpouco nebulosa a organizao do que se tem. Mas ns temosacesso ao que tiver. Isso eu fao umas duas ou trs consultas elhe disponibilizo essa informao. So os arquivos sim que

    poderiam ter alguma coisa a nos ajudar. No podemostransferir para uma gerao futura, de que morreu o ex-presidente Joo Goulart? Obrigado.

    O deputado Adroaldo Loureiro comunicou que recebeuuma correspondncia do senhor Amndio Amaral, com telefonee endereo de So Borja, que seria interessante localiz-lo. Elefazia parte do servio secreto militar do Brasil e, relata nestedocumento, muita coisa semelhante ao que disse agora o Mario

    Neira Barreiro. O que diz aqui tem credibilidade e refora odepoimento do Mrio.

    TERMO DE DECLARAES DE MARIO NEIRA BARREIROA POLCIA FEDERAL

    Cpia do depoimento prestado a Policia Federal porsolicitao do Ministrio da Justia, obtida atravs de solicitaodo Deputado Adroaldo Loureiro, ao Superintendente da PoliciaFederal em Porto Alegre. Ofcio n 1224/2008-GAB/SR/DFP/RS.

    A sua senhoria o senhor Deputado Adroaldo Loureiro,Presidente da Subcomisso de Investigao da Morte de JooGoulart. Assemblia Legislativa-Porto Alegre RS. SenhorPresidente. Em ateno ao Of.006-08/SJCCDH, de 25.02.2008,encaminho a V.Sa., cpia do Termo de Declaraes prestadaspelo cidado uruguaio, MARIO NEIRA BARREIRO.Respeitosamente. Ademar Stocker. Superintendente RegionalSubstituto. SR/DFP/RS.TERMO DE DECLARAO que presta MARIO NEIRA BARREIRO

    Aos vinte e nove (29) dias do ms de janeiro (01) de 2008,nesta cidade de Charqueadas, no Presdio de Alta Segurana deCharqueadas-PASC, na presena do Delegado de Polcia FederalMauro Vinicius Soares, comigo, Alexandre Kuze Kipper, Escrivode Polcia Federal, a compareceu Mario Neira Barreiro, DNI-ROU 1453156-6, cidado uruguaio, filho de Carmen CeliaBarreiro Martinez e Hector Neira Domingues, nascido aos

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    18/216

    Pgina 18de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    09/08/1955 em Montevidu/ROU, engenheiro eletrnico,atualmente cumprindo pena na PASC, o qual, interrogado pelaautoridade policial, RESPONDEU QUE: compreende a lnguaportuguesa perfeitamente; QUE cumpre pena h

    aproximadamente 11 anos, j tendo sido preso em territriouruguaio por crime de cunho poltico; QUE sobre os fatosrelacionados morte de JOO GOULART, o depoente declinaque antes de completar a maioridade foi recrutado pelogoverno uruguaio para fazer cursos de preparao para integrarum grupo de aes militares anti-subversivas GAMMA, sendoque passou por diversos cursos no Uruguai e tambm noexterior, onde aprendeu processamento de informaesclassificadas, processo de avaliao das fontes, grampos

    telefnicos, escutas ambientais, estes ltimos ministrados poragentes da CIA e FBI; QUE chegou a fazer cursos no Brasil,agora j na maioridade, acreditando estar com 18 anos ealguns meses, especificadamente sobre inteligncia, polticasreinsurgentes, ministrados na Escola Superior de Guerra ESG,ministrado em So Paulo; QUE nesses cursos no Brasil tanto osinstrutores quanto os participantes sempre se apresentavamencapuzados; QUE tambm fez um curso de interrogatriopolicial no Brasil, sendo que um dos palestrantes foi o Delegado

    SRGIO FERNANDO PARANHOS FLEURY no DOPS de SoPaulo; QUE as tcnicas de interrogatrio policial eram utilizadasdiretamente nos presos polticos, com demonstraes prticasde como se proceder em choques eltricos, pau-de-araras,submarino seco e mido e outra tcnicas de tortura; QUEoutro palestrante que recorda foi o Capito MAGALHES da 2Sesso do 2 Exrcito Brasileiro, lotado em So Paulo, nopodendo precisar o nome completo do mesmo pelo decurso dotempo e lapso de memria; QUE aps ser arregimentado pelo

    servio secreto uruguaio, passou o 1 ano unicamente fazendocursos de inteligncia policial, tcnicas e tticas policiais,radiocomunicao, armamentos especiais, modus operandidosgrupos guerrilheiros que atuavam na Amrica Latina e tticaspara o combate a insurgncia; QUE no andamento de suapreparao funcional, foi designado para fazer parte da equipeCENTAURO, que era uma unidade do grupo GAMMA, cujo

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    19/216

    Pgina 19de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    objetivo era a monitorao eletrnica do ex-presidente JOOGOULART e sua famlia; QUE existia uma outra equipe de nomeANTARES, do mesmo grupo GAMMA, que tinha a atribuioprecpua de vigiar LEONEL BRIZOLA e sua famlia; QUE tambm

    existia uma terceira equipe denominada ORION que tinha afuno de vigiar outros exilados, porm, de importnciasecundria, que se aglomeravam no HOTEL ALHAMBRA emMontevidu, que era de propriedade ou arrendado por JANGO eadministrado pelo ex-Deputado cassado CLAUDIO BRAGA, dePernambuco; QUE trabalhou para o governo uruguaio por maisde 15 anos, sendo que especificamente por 3 anos ficouexclusivamente acompanhando os passos de JOO GOULART;QUE no desenvolvimento do trabalho foi efetuado a colocao

    de vrios pontos de escuta ambiental e telefnica na FAZENDAEL MILAGRO, no Departamento de Maldonado/ROU, depropriedade de JANGO, sendo que usavam 5 pontos de VHF/FMe mais o grampo do telefone residencial da fazenda, de n22030; QUE JANGO comprou a fazenda EL MILAGRO douruguaio ENRIQUE FOCH DIAZ VASQUEZ por 16.000.000 dePesos Uruguaios; QUE transcreveu inmeras ligaes depessoas importantes, tais como GENERAL PERON, MIGUELARRAES, RAUL RIFF, ARMINIO ALFONSO, GOMES TALARICO,

    DARY RIBEIRO, WALDIR BORGES, CLAUDIO BRAGA, IVO DEMAGALHES, entre outros; QUE as transcries dasdegravaes eram repassadas ao superior hierrquico dodepoente, que fazia chegar s mos do DELEGADO SERGIOFERNANDO PARANHOS FLEURY em So Paulo, atravs semprede uma nica pessoa, de codinome LAERCIO, membro doSIGMA, rgo de inteligncia brasileira ligado diretamente presidncia; QUE chamou ateno do depoente que JANGO, emcerta oportunidade, no quis atender ligaes do GENERAL

    PERON, MIGUEL ARRAES e nem de RAUL RIFF, o qual era ex-secretrio de imprensa do governo de JANGO, entoacompanharam na seqncia quando JANGO saiuacompanhado de seu motorista, conhecido como PERUANO, denome ROBERT ULRICH at um pequeno posto telefnico deSan Rafael, municpio prximo a fazenda; QUE aps JANGO terse utilizado do telefone, o depoente entrevistou o chefe do

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    20/216

    Pgina 20de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    posto telefnico e constatou-se, a, que tratava-se de umcdigo utilizado para burlar o sistema de vigilncia; QUE nestaocasio foi feita uma ligao para MIGUEL ARRAES na Arglia;QUE a descoberta da tentativa de burlar a vigilncia e falar

    assuntos desconhecidos causou ao servio secreto uruguaiogrande inquietao, em conta de que ARRAES tinha umarelao muito boa com o servio secreto argelino, o qual noera visto com bons olhos pelo governo uruguaio pela orientaopoltica da Arglia de acolher tantos asilados em seu territrio;QUE todas as cartas que JANGO remetia a seu filho JOOVICENTE, o qual estava morando em Londres, eraminterceptadas pelo servio secreto uruguaio, QUE apsxerocopiar, faziam as mesmas seguir seu destino normal; QUE

    as cartas enviadas por JANGO eram todas atravs do uruguaioCARLOS DE LEON, que era contador do mesmo em suasnegociaes rurais, sendo que as cartas recebidas de seu filhoJOO VICENTE eram tambm remetidas para o endereo deCARLOS DE LEONA, alcunha BOOK MAKER, mas deconhecimento do servio secreto; QUE exceo de todas asdemais, a ltima carta enviada por JANGO para seu filho foiretida em conta de seu contedo que deixava evidenciada ainteno de retornar a So Borja; QUE no mesmo espao de

    tempo, JANGO mandou a Porto Alegre, na qualidade deemissrio, PERCY PENALVO, que era empregado da estncia ELRINCON em Tacuaremb/ROU, amigo pessoal, scio em umaproduo de arroz na regio da CUCHILLA DEL OMB ecorreligionrio para entrevistas com o Cel. AZAMBUJA, Gal.SERAFIM VARGAS, Cel. SOLON RODRIGUES DE AVILA, nascidades de So Borja e Porto Alegre, a fim de saber como seriao clima na rea militar para seu retorno ao Brasil; QUE outramedida para burlar a vigilncia era a utilizao de vos que

    pousavam em zonas fronteirias, de onde atravessava afronteira de carro, sem a necessidade de declarar o seudestino; QUE outro fato que foi motivo de inquietao aoservio secreto do Uruguai e, na viso do depoente, acelerou amorte de JOO GOULART, foi o translado de um volumosocarregamento de ouro, via area, em um vo noturno,clandestino, no declarado a autoridade aeronutica, com ms

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    21/216

    Pgina 21de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    condies meteorolgicas, atravs de um avio Cesna 210, dafazenda EL MILAGRO, com escala Tacuaremb e Mercedes edestino final em So Borja; QUE todos os indcios antesdeclinados deixaram evidenciado que o retorno de JANGO ao

    Brasil era eminente, sendo que tal informao foi passada deimediato para o Delegado SERGIO FERNANDO PARANHOSFLEURY; QUE o piloto que efetuou o translado do ouro foiMANOEL SOARES LEAES, vulgo MANECO; QUE logo apsFLEURY tomar conhecimento das informaes relativas aJANGO, o mesmo rumou para Montevidu juntamente com oCel. Aviador FERDINANDO MUNIZ, que respondia pelo nome deguerra Comandante CALIXTO, sendo que o avio militarbrasileiro pousou na Base Aeronaval Capitan Curvelo; QUE foi o

    declarante que foi buscar, na base area, o Delegado FLEURYem um automvel Dodge Dart cedido pela Embaixada do EUA,sendo que levou-o diretamente a uma reunio convocada emcarter de urgncia pelo diretor do servio secreto uruguaioGal. LUIS VICENTE QUEIROLO; QUE o declarante assistiu areunio na base do servio secreto, de nome ARENAL, ondeouviu, expressamente, quando FLEURY disse que o presidenteno quer mais saber do retorno do JANGO, a ordem era parapor um fim nele; QUE em seguida o diretor do servio secreto

    questionou ao Delegado FLEURY o presidente GEISEL disseque era para ns matar o JANGO?, momento em que oDelegado FLEURY respondeu bem, ele no me disse comtodas as palavras, ele me disse que eu sabia o que tinha queser feito, que ele no queria saber do retorno de JANGO; QUEna prpria reunio foi decidido que a morte de JANGO seriafeita pelo servio secreto uruguaio atravs da troca demedicamentos de efeito antagnico, tendo em conta queJANGO tinha um histrico de problemas cardacos; QUE foi

    nomeado CARLOS MILLES GOLUGOSS, de codinome CAPITOADONES, o qual era mdico legista e j havia feito curso comagentes da CIA para especializao de utilizao de venenos,outras toxinas e elementos radioativos para morte lenta emseres humanos, para confeccionar o medicamento de efeitocontrrio e executar a troca pelo verdadeiro; QUE o declarantechegou a ver a confeco do veneno que era o composto de

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    22/216

    Pgina 22de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    trs princpios ativos diferentes; QUE um componenteaumentava a fora do msculo cardaco, outro diminua otamanho dos vasos sanguneos e o terceiro aumentava adensidade do sangue, segundo as explicaes fornecidas pelo

    prprio mdico; QUE para a troca do medicamento foicontratado um araponga argentino de nome HECTOR,acreditando se chamar HECTOR RODRIGUEZ; QUE o remdioque JANGO usava vinha da Frana e ia diretamente para oHOTEL LIBERTY de Buenos Aires, onde HECTOR pegou osfrascos do remdio, os entregou para o servio secretouruguaio, o qual encaminhou ao Cap. ADONES, que colocou umcomprimido adulterado em cada frasco, fazendo o caminhoinverso para que se colocasse no mesmo lugar onde se

    encontrava; QUE da troca do medicamento at o resultado finalse passaram vrios meses, acreditando o depoente que foram6: QUE acredita o depoente que a demora para a morte deJANGO se deu unicamente em virtude de o mesmo serdesorganizado, em razo de que ele abria vrios frascos aomesmo tempo e tomava sempre poucos comprimidos de cadafrasco; QUE as trocas de medicamentos foram em nmero de3, uma no Hotel Liberty, outra no carro e outra na fazenda;QUE aps a morte de JANGO efetuaram a limpeza na fazenda,

    retirando todos os pontos de monitoramento, vigilncia e osfrascos com os remdios, permanecendo a vigilncia ainda emtorno de 90 dias para ver se tinha ficado alguma suspeita emrelao morte entre seus colaboradores mais prximos; QUEo depoente no participou, mas outros integrantes da equipepermaneceram na vigilncia no cemitrio onde JANGO foienterrado, visando evitar qualquer tipo de tentativa de remoodo corpo, tendo permanecido na vigilncia por 48 horas, prazoque o veneno poderia ser detectado no organismo, conforme os

    dizeres do Cap. ADONES; QUE no ano de 1984 o depoenteresolveu escrever um livro contando os pormenores da mortede JOO GOULART, em conta da morte suspeita de vrioscolegas do servio secreto, onde pode declinar o nome do Cap.ADONES, perito balstico MARIO ALVAREZ REGIS e seu irmoHUGO ALVARO REGIS, fotgrafo policial, alm de outrosagentes sua equipe, numa flagrante demonstrao de queima

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    23/216

    Pgina 23de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    de arquivo; QUE da equipe da qual o declarante fazia parte,todos foram mortos, apenas se salvando o diretor do serviosecreto Gal. QUEROLO e o agente da CIA, de nome FrederickLatrash; QUE a operao que resultou na morte de JANGO foi

    denominada de ESCORPIO, sendo que se deu, pelo queentende o declarante, por determinao do governo brasileiro,atravs de seu presidente na poca ERNESTO GEISEL, sendoque o planejamento coube ao Delegado FLEURY e a execuoao grupo GAMMA do servio secreto uruguaio, mas, tambm,em virtude do patrocnio financeiro ilimitado da CIA, que tinhainteresse de que nos pases sul-americanos permanecessemgovernos de direita que seriam considerados aliados no perodode Guerra Fria, sendo que, o governo norte-americano tentava

    evitar, de todas as formas, governos e lideres socialistas e deesquerda na Amrica Latina; QUE havia um agente da CIA quesempre levava presentes em dinheiro aos agentes do serviosecreto em troca de informaes a respeito de JANGO eBRIZOLA; QUE para finalizar, o declarante salienta que oservio secreto uruguaio tomou conhecimento e fez parte daOperao Escorpio como conseqncia da priso de uminformante do DOPS, TARZAN DE CASTRO, o qual estavatrabalhando clandestinamente em Montevidu, a mando de

    FLEURY, tentando se infiltrar em um grupo liderado porBRIZOLA e outras pessoa do Partido Comunista do Brasil queestavam exilados no Uruguai; QUE o depoente declina que temamplo interesse de esclarecer todos os fatos aqui elencados,pormenorizando ainda mais sua participao no evento, do qualsempre foi contrrio na morte de JANGO, mas nestaoportunidade espera uma manifestao da autoridadeconstituda brasileira para proteger sua integridade fsica, jque sofreu diversos atentados das mais diversas formas, sendo

    que as ameaas foram estendidas para seus familiares. Nadamais havendo, determinou a autoridade policial que fosseencerrada o presente termo, o qual lido e vai assinado portodos, inclusive por mim (assinatura - Alexandre Kuze Kipper),Escrivo de Polcia Federal que o lavrei. Declarante (assinatura- Mario Neira Barreiro). Autoridade (assinatura-Delegado dePolicia Federal Mauro Vinicius Soares)

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    24/216

    Pgina 24de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    REUNIO DA SUBCOMISSODATA DE 01 DE ABRIL DE 2008

    Depoimento do senhor Joo Vicente Goulart (filho do ex-

    presidente Joo Goulart)Eu gostaria de agradecer esta oportunidade, de estarhoje aqui nesta Subcomisso, que bravamente meu carodeputado Adroaldo Loureiro, V.Exa., abriu com determinao,coragem e sem dvida mais um exemplo, um esforo, paraque a gente consiga, de certa forma, colaborar com a histriado Brasil, com a histria da Amrica Latina, no sentido de que,no somente apurar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart, mas tambm, atravs de outras

    investigaes para nos dar uma elucidao, do que foi oprocesso de extermnio, daqueles que na Amrica Latinalutaram pela liberdade, pela democracia, e que foram atingidos,de certa forma pela Operao Condor, que se d em 75. Essemeu depoimento um raciocnio e uma linha de pensamentoque ns temos que comear a pensar nisto. No essaSubcomisso que evidentemente vai dar resposta final, massem dvida ela deu a resposta inicial. E por ai que temos decomear. Eu acho que para todos aqueles como ns, que

    vivemos aqueles anos difceis, a partir de 64. E, espero meucaro deputado Adroaldo Loureiro, que esta linha de raciocnio eeste depoimento fossem enviado ao Ministrio Pblico do RioGrande do Sul, que bravamente reconheceu que existe umalinha de pensamento e uma linha de investigao. O RioGrande do Sul conhece a Operao Condor. O Rio Grande doSul conhece o seqestro da Lilian Celiberti e conhece oseqestro do Universindo Dias. O Rio Grande do Sul tem essacoragem. Eu achei de uma bravura exemplar, porque num

    primeiro momento, quando surge esse depoimento, e, eu querodeixar bem claro, ns constitumos o Instituto Joo Goulart, hmais de trs anos, exatamente para resgatar a histriaesquecida, a histria que nas escolas de nosso pas no secontam, a histria das memrias das lutas polticas e sociaisdeste pas. Quando ns fizemos isso, celebramos um convniocom a TV Senado, e foi a, que ns fomos captar de um dos

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    25/216

    Pgina 25de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    depoimentos, que esse do Mario Neiva Barreiro, essapersonalidade, esse individuo que se encontra aqui preso e,que nos surpreendeu, em certos aspectos, o conhecimento queele tinha sobre o dia a dia de nossa famlia. Casos

    completamente que s mesmo com monitorao ele poderiasaber. Como ele poderia saber de uma batida que eu dei numcarro em Montevidu, que no teve nem BO. Quando ele meviu - Te recorda Vicente. E o telefone que eu no melembrava mais, 73321. Ento uma srie de circunstncias deque o monitoramento realmente existiu. No vamos de maneiraalguma dizer que suposio. No . At porque, quando agente consegue ver esse tipo de declarao, a gente estarpresente nisso, a gente v como a imprensa do nosso pas, age

    de uma forma to radical que a gente chega ao ponto, e euquero dizer isso meu caro deputado Adroaldo Loureiro, paraque o Ministrio Pblico do Rio Grande do Sul, quecorajosamente abriu e lavrou a ata de abertura de investigao.Porque quem deveria estar fazendo isso. O pedido no foi feitoao Ministrio Pblico Estadual. O pedido foi feito ao Procurador-Geral da Repblica. E, aqui os advogados sabem que cabe a elesim, investigar os crimes contra o chefe de Estado. Para nossasurpresa, o Rio Grande do Sul deu o exemplo, abriu a ata de

    investigao. Surpreende-nos por que, quando nos fomos l,colher esse depoimento em uma priso de segurana mxima.No fomos pedir a um presidirio atestado de idoneidademoral. Ns no fomos l para isso. Nos fomos saber sim se oseu relato correspondia s coisas que esto sendo investigada.E, falando em imoralidade, mais imoral o governo brasileiro.Muito mais imoral do que o Neiva Barreiro. Digo isso porqueesto aqui alguns documentos que depois eu vou lhe passarsecretos. Alguns inclusive do SNI, que dizem o seguinte s

    para conhecimento daqui de vocs esta correspondncia doSNI, informe tal: comunicamos, a correspondncia abaixorelacionada foi obtida de forma clandestina no domicilio donominado. Rascunho de Joo Goulart, para a entrevista aimprensa data em meados de fevereiro de 73, aps ter sidorecebido em audincia pelo General Pern. Redigiu o esboonum impresso mimeogrfico do major Pablo Vicente .

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    26/216

    Pgina 26de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    Documento nmero dois, subtrado da casa do ex-presidente impressos do Sexto Congresso do PCB, de dezembro de 1967 A morte do Seminarista, cartas a Dom Vicente Scherer, do ex-deputado Joo Carlos Gastal, volantes mimeografados do ERP e

    da coordenadora Peronista para Liberdade. Continua com umasrie de anotaes. Como anotaes de Joo Goulart em tornoda decida forada de seu avio em Passo de los Libres.Anotaes de Joo Goulart sobre a visita do General SerafimVargas. Carta do deputado Ulisses Guimares enviada a Jangopor Walter Giordano Alves ex-deputado do Rio Grande do Sul.Ento, qual a moralidade desse governo. Isto aqui muitomais imoral. Isso aqui so dvidas que o Governo brasileiro temcom a minha famlia e a histria deste pas. Eu, vou ainda

    solicitar, via judicial, que me sejam entre as cartas doPresidente Pern, do deputado Ulisses Guimares, que foramsubtradas de forma clandestina, como diz isso aqui. E vem oMinistro da Justia dizer que o Mario Neira Barreiro no temmoral para falar nisso. E, o Governo brasileiro, tem moral? Paradizer onde esto estes documentos subtrados de formaclandestina. Quem entra numa casa de um ex-presidente, comseus agentes, com agente B, subtraindo carta de UlissesGuimares, subtraindo carta de Pern, facilmente pode trocar

    um remdio, caro deputado Adroaldo Loureiro. Mas, muitofacilmente. Ento ns no viemos aqui, nessa Subcomisso, nointuito de criar polmica. Ns viemos de esclarecer os fatospblicos, e, acho que ns temos uma responsabilidade muitogrande, porque ligados a esta investigao, ligados a esse anode 1976, que foi um ano tremendamente difcil para todosaqueles que viveram no exlio, no rio da Prata, como pessoascomo Zelmar Miguellini e o Hctor Gutierrez que foramexterminados pela Operao Condor. Onde estamos n aqui,

    como cidado, se ns no prestarmos ateno e pedir umesclarecimento pblico. No viemos aqui nesta Subcomissodebater o conceito de anistia. Agora, o conceito de anistia noUruguai, hoje, est com dois ex-presidentes presos. Os ex-presidentes: Gregorio lvares e Juan Bordaberry. A Argentinaest com o ex-presidente Vidella, preso. Sabe por qu? Por quecrimes contra lesa humanidade no so anistiveis. E, esse o

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    27/216

    Pgina 27de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    nosso desafio. E, eu sinceramente, tenho que fazer mais umdepoimento no Senado Nacional e vou faz-lo com muitacoragem e com muita determinao. Ns tivemos a repressoneste pas, orientada, transmitida, realizada via imprensa. A

    imprensa majoritria deste pas: No, Geisel no. Geisel jamais. Eu quero aqui ler para que fique registrada nos anais, umagravao que de um jornalista, que no janguista, chama-se Elio Gaspari. uma conversa do Ernesto Geisel em 1974, umms antes de assumir a presidncia da Repblica, em conversa,com Dale Coutinho, que veio a ser o seu Ministro do Exrcito.Diz Geisel: Bom, eu acho que a subverso continua. Essenegcio no se acabou. Isto um vrus danado, que no hantibitico que liquide com facilidade. Resta mais nada, est

    resolvido. Voc v. De vez enquanto h uma desarticulao,morre gente ou gente presa. Ele continua a se movimentar.Da fala Dale Coutinho: eu que fui para So Paulo, logo em69, o que eu vi naquela poca, para hoje, o negcio melhoroumuito, agora melhorou, aqui entre ns, foi quando nscomeamos a matar. Geisel - Por que antigamente vocprendia o sujeito, e o sujeito ia l para fora. Coutinho, essetroo de matar uma barbaridade, mas eu acho que tem queser. Dale Coutinho - Eu fui obrigado a tratar desse

    problema presidente, l eu tive que matar. Geisel - Sabe,agora pegaram aquele tal lder e liquidaram com ele. No seiqual o nome dele. Dale Coutinho - A eu acho que oLuizo, ou Chico. Geisel - Bom. O que eu queria assinalar isso: Ns vamos ter que continuar no ano que vem. Ento vemme dizer aqui a grande imprensa nacional, que no existia, oque ns estamos inventando e o que V.Exa., meu deputadoAdroaldo Loureiro, com coragem, abriu esta Subcomisso. Bom.Quem sabe eles vo querer uma declarao oficial do Geisel em

    cartrio e assinado, mandando matar o Jango, atravs do SNI,isso no existe. Ns temos que ter a coragem de ser brasileirose dizer houve sim, em nosso pas, um crime contra a lesahumanidade, no foi s do Jango, foi de um monte dedesaparecidos. E, ns temos que assumir isso. Ns temos quetransmitir as novas geraes, que no podem repetir esseserros. Esse o nosso desafio. No o de cassar as bruxas,

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    28/216

    Pgina 28de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    como eles cassaram com o AI 5. O nosso desafio buscar asnossas juventudes, as novas geraes, chamando ateno paraestes crimes impraticveis. Crimes de tortura, crimes dedesaparecimento, crimes de assassinado uma coisa grave. E,

    p isso que estou aqui com muito orgulho, com muito prazerestar aqui, que sem dvida possa contribuir numa linha deraciocnio, para que o Ministrio Pblico e atravs inclusive como apoio da Assemblia Legislativa do Rio Grande do Sul, possaencaminhar alguns procedimentos que outros pases jencaminharam deputado Adroaldo Loureiro. Ns estamosencaminhando pedidos para que se esclarea a participao daCIA, da participao do Michel Tonley, do Frederick Latrash.No vamos ficar discutindo com a revista Veja, se um crime

    contra Jango um crime contra Salomon Hayala. Ns noestamos brincando com a vida de nossos parceiros, nossosamigos e combatentes. A revista Veja diz que o crime do Jango como o da Odete Hautman. Por favor, vamos ter uma posturamais sria quando se tratam dos desaparecidos, dos mortosdos torturados. Vamos respeitar o nosso pas, vamos respeitaras novas geraes. Vamos assumir nossos erros histricos. Sehouve torturadores, de crimes contra a lesa humanidade,vamos discutir na Assemblia, no Congresso Nacional. Ser que

    o crime de lesa humanidade anistivel. Cabe a vocs polticosdiscutirem isso. A minha impresso que sabido no Chile, queo Michel Tonly que derrubou o Aliende, no projeto Andria, euvou deixar a disposio da comisso esta linha de investigao,aonde o Perrios que morreu no Uruguai, o Carlos Millesmontaram um laboratrio e conseguiram cristalizar gases egaseificar cloretos. Isto est plenamente comprovado e algunsprocessos que correm no Uruguai e no Chile, que eles mataraminclusive um presidente o Frei, morto por uma sopa de

    bactrias. Entrou para fazer uma operao simples, com 70anos e no saiu mais. Existem declaraes que desocuparam asala, trocaram o piso e a equipe mdica e a causa da morte foiestafilococos dourados. E o Contreras solicitou ao Berrios paraeliminar o que foi o seu sucessor, com a mesma sopa debactrias. Isso realmente aconteceu. A me do Hber, a Ceclia,morreu envenenada pelo Adonis. Foram enviados no Natal, trs

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    29/216

    Pgina 29de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    litros de vinho branco envenenado para o senador Hber, paraFerreira Dunati e para Carlo Julio Pereira. Acho que a naobrasileira no pode conviver com a dvida. Existem caminhos aserem tomados, acho que um novo depoimento por parte desta

    Subcomisso ao Neira, se faz Necessrio. Quando ele fez odepoimento para mim ele no relatou outros fatos que o fezpara a Polcia Federal, como no Frederik Latrash que trouxe asampolas da CIA. Agora suposio minha, eu estou piamenteconvicto de que estas substncias vieram deste laboratrio queoperava no Chile. O atentado em Washington contra o Latelie,primeiramente seria por veneno num frasco de Chanel nmero5, depois foi abandonada e executaram atravs de explosivo. OUruguai, em cima do depoimento do Neira, j solicitou aos USA,

    o depoimento do Michel Doile e do Frederick Latrash. Estamosesperando o que aqui no Brasil. Tanto o Michel Doile e oFrederick Latrash, vivem hoje sob proteo do governoAmericano. Eles so testemunhas ocultas. Mas, um pedidoformal do parlamento atravs da Justia, como a Itlia fez, elescolocam o juiz solicitante, ou o parlamento solicitante em frentedo depoente, atravs de sala virtual. A famlia decidiu processardo governo Americano, vocs rasgaram a Constituiobrasileira, vocs tem que vir depor aqui. Independente do

    Ministrio Pblico Federal, que diz tratar-se de um ato deimprio. Os Estados Unidos processou o Chile no caso doLetiere e processou o Vaticano no caso dos padres pedfilos.Vamos escutar o Michel Toile o Frederick Latrash sobre oscrimes de lesa humanidade. disso que precisamos tercoragem. Ns vamos obter inmeras pistas e em aes queiremos realizar para esclarecer definitivamente isso. Agora lem Braslia, fecharam um clube, o Iate Clube, para um cidadochamado Brilhante Ustra, cheio de coronis do exercito e da

    aeronutica da ativa para dedicar um livro da histria do Brasil,dizendo meus companheiros pelos grandes servios queprestamos ao pas. Temos que conviver com isso e no temosque ter medo. Quem tem deve ter medo so os torturadores,assassinos. Deve ser formulada novas perguntas ao NiraBarreiro, como um elemento de codinome Pedro que diz que o e o da CIA. E o Frederick Latrash, que traduzindo era o chefe

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    30/216

    Pgina 30de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    de estao. Os USA, tinha em cada pas um agente deste tipo.O servio secreto brasileiro que autorizou a operao e a CIAque monitorava as aes pelo Uruguai. O Fleury esteve trsvezes no Uruguai. Isto de perguntar, cabe ao Estado Brasileiro,

    se existe vontade poltica, o Ministrio Pblico pode fazer essacolocao. Porque so processos lentos. Um requerimentodesses tem que ser feito atravs de um pedido judicial, quetem que tramitar na Assemblia Legislativa, vai para oItamaraty, para que o USA, o senado americano autorize a CIAa trazer o Frederick Latrash em frente a uma comisso ou coisaparecida. Esse caminho longo, mas precisamos saber. Casocontrrio essa iniciativa ir morrer como tantas outrasmorreram neste pas. Deputado Adroaldo Loureiro precisamos o

    cruzamento de informaes e dos documentos entre os pasesenvolvidos.Perguntado pelo Deputado Adroaldo Loureiro de como

    a Subcomisso poderia obter subsdios que viessem a ajudar naelucidao da morte do ex-presidente Jango Goulart, o mesmoinformou:Joo Goulart Eu gostaria de obter o depoimento do FrederickLatrash e do Romeu Tuma, que sem dvida tem muito adizerem sobre a Operao Condor e sobre a morte de Jango.

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    31/216

    Pgina 31de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    REUNIO DA SUBCOMISSODATA DE 30 DE ABRIL DE 2008

    Depoimento do senhor Roger Rodriguez (jornalista

    uruguaio dos direitos humanos na Amrica Latina)Roger Rodriguez, um profissional altamente qualificado

    e respeitado no Uruguai e aqui na Amrica Latina pelo trabalhoque realiza no mbito dos direitos humanos. uma credencialimportante por ser o ltimo preso do Uruguai, durante operodo da ditadura, e, principalmente pela sua luta noesclarecimento dos crimes ocorridos durante as ditadurasmilitares. Ele vai discorrer sobre o que ele conhece a respeitode todas essas circunstncias da Operao Condor e tudo queocorreu na Amrica Latina, no Uruguai, do que ele conheceaqui do Brasil, da Argentina, do Chile, enfim, enfocando muitoespecialmente a questo do desaparecimento do presidenteJoo Goulart. Primeiramente, farei uma breve apresentao,que tem a ver com as razes pelas quais estou aqui. Em 2002,recebi o prmio Direitos Humanos de Porto Alegre, outorgadopelo Movimento de Justia e Direitos Humanos do qual conselheiro Jair Krischke, meu amigo. Quando vim receber oprmio, estive em Charqueadas, porque fiquei sabendo que umdelinqente uruguaio dizia ter pertencido ao Servio deInteligncia Uruguaio e que Joo Goulart havia sido

    assassinado. Com a inquietude prpria dos jornalistas e comum pouco de experincia, j que estive trabalhando deste osanos 80 o tema dos direitos humanos, em particular o que foraa ordem repressiva em toda a regio, e tinha conseguido,depois de muitos anos, encontrar um rapaz desaparecido, ofilho de Sara Mendez y Monrichello com o Senador RafaelMichelini. Tambm conseguimos provar que uma centena deuruguaios que se acreditava desaparecidos na Argentina, narealidade, tinham sido seqestrados l, mas foram transferidosao Uruguai, onde foi lhes dada recluso de uma forma quase

    macia. Hoje isso discutido na Justia uruguaia. Quandoentrevistei esse uruguaio, j tinha alguns antecedentes dele.Estive trabalhando, nos anos 90, na Pulvata, que uma revistabem importante no Uruguai, e tnhamos acompanhado umasituao que se deu em muitos pases da regio, na poca dasditaduras, que foram os delitos cometidos pelo que se chamoua mo-de-obra desocupada. Ou seja, trata-se daquelesrepressores que, nos anos da ditadura, cumpriram funes

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    32/216

    Pgina 32de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    oficiais ou paraestatais, paramilitares ou parapoliciais e, quandoa democracia voltou a esses pases, ficaram sem trabalho.Muitos se organizaram em gangues de delinqentes e houveuma sucesso de roubos a bancos, a carros blindados, queaconteceram nos anos 90, no Uruguai, em particular. Isso ficou

    conhecido, no Uruguai, como a polibanda, por polcias eladres. Quando entrevistei Barreiro Neira eu tinha dados deque ele havia sido detido no Brasil por ter participado dessetipo de delito, ter participado de assaltos a caminhes blindadose bancos. Essa foi a acusao. E, evidentemente, nesse tipo deroubos, so utilizados armamentos e so necessrias umadestreza e uma logstica que um delinqente comum nopossui. No entanto, pessoas preparadas militarmente podemfaz-lo, como efetivamente ocorreu no Uruguai, nos anos 90.Quando entrevistei Barreiro Neira, em 2002, encontrei uma

    pessoa muito nervosa, mas com muito conhecimento de temasque eu investigava sobre a represso no Uruguai. Barreiro Neirafalava da existncia de um grupo Gama, que era um grupo deoperaes para-policiais ou de coordenao de extintos serviosmilitares ou policiais que tinham estado no Uruguai; tinhaconhecimento da existncia de uma base Martha, que foi umcentro de escutas telefnicas comandado por um policial muitoconhecido, que neste momento est preso no Uruguai, ocoracero (soldado) Ricardo Conejo Medina, envolvido noseqestro e assassinato da me de Margarida Gelman, Maria

    Cludia, nora do poeta argentino Juan Gelman, que acaba dereceber um Cervantes, o prmio mais importante da literaturana Espanha. Barreiro manejava muito bem os tempos e ainformao e foi um pouco surpreendente, porque na verdadefui buscar informaes sobre o Uruguai, quando comeou atrazer o caso Joo Goulart. Como jornalista, o nico que eupodia fazer em face de um tema que ele dominava muitomelhor do que eu, era grav-lo, fotograf-lo e public-lo eesperar a repercusso. Foi o que fiz. A informao teve certarepercusso no Uruguai, porque foi encarada pelo lado maisregional, pois Barreiro Neira havia falado sobre o seqestro edesaparecimento de uma professora, Elena Quinteros, que um caso muito famoso l, uma vez que foi seqestrada em1976, da embaixada da Venezuela, em Montevidu. O incidenteresultou na ruptura das relaes diplomticas entre Uruguai eVenezuela. O caso segue sem soluo, ainda, e est sendoinvestigado em nvel judicirio. Ele (Barreiro) sinalizava queJoo Goulart tivera participao no caso Quinteros, porque vivia

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    33/216

    Pgina 33de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    em uma casa, numa rua de Montevidu, cujo vizinho era oembaixador da Venezuela. Realmente, Goulart tinha uma casana rua (ininteligvel) em um bairro de Montevidu, e a poucosmetros se encontrava a casa particular do embaixadorvenezuelano. Ou seja, seria uma possibilidade, mas Barreiro

    Neira dava detalhes que davam credibilidade a seu testemunho.Pelo que pude investigar, ele mencionava, como a pessoa quesupostamente havia envenenado Joo Goulart, a um mdicouruguaio chamado Carlos Milles, que tambm diziam terligao, dois anos mais tarde, no assassinato de Ceclia Fontanade Heber, no Uruguai. Ceclia Fontana de Heber faleceu em 05de setembro de 1978, quando abriu uma garrafa de vinho quehaviam dado de presente a seu marido, e morreu envenenada.Essa garrafa de vinho no era a nica, seu esposo era MrioHeber, um dos principais lderes do Partido Nacional Uruguaio,

    o Partido Blanco, que era a oposio ante a ditadura uruguaia,dentro do territrio nacional, porque os grupos de esquerdaestavam no exlio ou presos. O certo que Mrio Heber eoutros trs integrantes da direo do Partido Nacional da pocareceberam essas garrafas de vinho, um vinho branco, e todasessas garrafas estavam envenenadas. Somente Ceclia Fontanabebeu da garrafa e caiu morta imediatamente. Esse casotambm, passados todos esses anos, comeou a serinvestigado, agora, no Uruguai e meu compatriota, JavierBarrios Bove, o advogado da famlia Heber, que trata de

    investigar esse caso perante a Justia uruguaia. Barreiro Neiramanejava muitas informaes e, evidentemente, se noparticipava de grupos operacionais da ditadura uruguaia, tinharelao com eles e muito conhecimento. Mas a maior surpresafoi quando comeou a descrever uma srie de detalhes emtorno do que ele denominou a Operao Escorpio, pela qual sematou Joo Goulart em dezembro de 1976. O que BarreiroNeira disse est nos registros desta comisso, h o testemunhoda TV Cmara, de Braslia, que fez um documentrio sobre otema. H tambm o testemunho solicitado pelo Ministrio deJustia brasileiro, e Barreiro Neira sempre acrescenta elementosdos quais se podem confiar ou desconfiar, porque somentetemos sua palavra. O que podemos, sim, no Uruguai, confirmar que muitos elementos que ele nos oferece foramefetivamente reais. De Neira Barreiro no Uruguai podemosconfirmar que participou de um grupo de ultradireita que agiunos anos 70, chamado Juventud Uruguaya de Pie, um grupodireitista que estava muito vinculado com o que foram os

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    34/216

    Pgina 34de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    esquadres da morte, l, que atuaram antes do golpe deEstado dos anos 71 e 72 no Uruguai. Esse grupo, JUP, tinhalaos com os esquadres da morte e estes se formaram logodepois da morte, tambm de um ataque do corao, dopresidente Oscar Gestido, cuja morte gerou a ascenso de

    Jorge Pacheco Areco, que foi o presidente do Uruguai desdeento e comeou o processo mais repressivo e autoritrio noPas, ainda no perodo institucional. Esses esquadres da morteconfirmaram, atualmente, tiveram relao direta com aingerncia estrangeira, em particular com o Departamento deEstado Norte-Americano, que, em plena guerra fria, no podiapermitir que no Uruguai surgisse um governo eventualmente defrente amplo, naqueles anos, que surgia, esquerda. Tambmpodemos afirmar que houve o assessoramento do corpodiplomtico paraguaio na criao desses esquadres da morte

    e, tambm, de pessoas vinculadas ao Estado Brasileiro. Osesquadres da morte, no Uruguai, definem os anos 60 eprincpio dos 70 e h personagens vinculados ao Brasil, queforam ao Uruguai preparar esses grupos, tanto dos esquadresda morte quanto da Juventud Uruguaya de Pie. Essa gentesurgiu em documentos que recentemente foram publicados noBrasil, creio que no Correio Brasiliense. Cludio Dantas lidoucom uma srie de informaes sobre os grupos de intelignciaque operavam em torno do corpo diplomtico brasileiro, e comoexistia uma relao com o Uruguai, nessa poca. Uma das

    pessoas vinculada aos esquadres da morte no Uruguai no fimdos anos 60 e princpio dos 70 era algum de nome Fleury, queera brasileiro, e que foi dirigente do DOPS, ou teve umimportante cargo nesse rgo. Mrio Barreiro tambm sinalizouque Leonel Brizola era perseguido e vtima de espionagem poroutro grupo operacional. Conversei com Leonel Brizola antes deele falecer, e o entrevistei vrias vezes, no Uruguai, porque elesempre ia para l, e ele me admitiu que fosse muitas vezesseguido, seus telefones grampeados, como todos os exiladosimportantes que estavam erradicados no Uruguai depois dogolpe de Estado no Brasil. H dados que so muito concretos.Efetivamente hoje se sabe com certeza que Joo Goulartpensava em voltar ao Brasil, em dezembro de 1976, e seefetivamente existia um sistema de interveno telefnica sobreJoo Goulart e sua casa, todo movimento que tenha havidopara voltar ao Brasil era escutado e as cpias dessas escutaseram dadas Embaixada Brasileira, aos grupos dos EstadosUnidos e outras embaixadas e corpos diplomticos bem como

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    35/216

    Pgina 35de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    aos corpos de inteligncia. Isto situa, indubitavelmente, amorte de Joo Goulart no cenrio do que foi o perodo maisnefasto da chamada Operao Condor, que foi o ano de 1976.Nesse ano, sucederam-se os assassinatos de Letelier, no Chile,de Prates, e trataram de matar outros dirigentes no exterior,

    em Roma. Foram assassinados os legisladores uruguaiosZelmar Michelini e Hctor Gutirrez Ruiz em Buenos Aires;morreu o general Torres, boliviano, tambm em Buenos Aires.Todos eles por homicdios nessa Operao Condor, que tinhapor objetivo cortar as cabeas dos lderes polticos dos gruposopositores s ditaduras da regio. Mas aquilo que ento jsabamos que havia uma conivncia entre ao que ia ser aditadura uruguaia, nesse perodo prvio ditadura no Uruguai,e Brasil, tambm se d nesses documentos e testemunhos noto distantes, sobre a existncia de uma suposta Operao 30

    Horas, pela qual, em 1971, se, nas eleies do Uruguai,ganhasse o Frente Amplo, o territrio seria invadido peloterceiro corpo do Exrcito brasileiro, nesse perodo de tempo,em 30 horas. Precisamente porque no haveria resistncia doexrcito uruguaio, que imediatamente iria se dobrar paraderrubar um eventual governo de esquerda. Nesse cenrio deguerra fria, o intervencionismo norte-americano no Uruguai foiterrivelmente provado nas investigaes que fizemos sobre oque ocorreu na ditadura. E isso no s no Uruguai, mas houveuma articulao repressiva entre todos os pases da regio com

    governos militares nessa poca. Os esquadres da morte eramimitaes das operaes bandeirantes do Brasil, ou do quehavia ocorrido na Operao Jacarta, em outro perodo. Uruguaiera um cenrio onde existia uma esquerda organizada no estilomais europeu, com partidos comunistas, marxistas-leninistas,partidos socialistas, tambm de tendncia marxista, gruposanarquistas, guerrilhas urbanas instaladas desde os anos 60,um movimento sindical e um movimento estudantil muitocomprometido com as lutas sociais desse perodo. Ou seja, hojeos investigadores uruguaios esto vendo, ao analisar a histria,que alguns chamam de histria recente e eu insisto em chamarde histria presente, porque at que no saibamos o queaconteceu segue sendo uma histria por averiguar, vodemonstrando como o Uruguai foi um balo de ensaio dessaguerra fria. Nesse cenrio, a presena de Joo Goulart e daoposio ou dos lderes opositores ditadura brasileira fazia-omuito mais interessante. Aqui foi mencionado que Goulart nomorreu sozinho, que morreram Juscelino e Lacerda em

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    36/216

    Pgina 36de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    perodos similares, podendo tratar-se de assassinatos. Creioque ns, jornalistas, investigadores ou mesmo investigadoresparticulares no podemos continuar trabalhando sozinhos sobreessa poca, esse cenrio. Nos ltimos 20 anos trabalhei sobre aviolao dos direitos humanos, respondendo os meios de

    comunicao que tm suas polticas, seus sistemas e muitopoucas possibilidades de financiar uma investigao sria sobreesses temas. Nesses 20 anos tambm vi como foram abertascomisses investigatrias em nvel de parlamento argentino,uruguaio e brasileiro, sem chegar a muitas respostas. Li ocomeo da CPI que Brasil fez sobre o caso Goulart, e apesar detantas testemunhas, as suspeitas sobre o que definitivamenteocorreu com Goulart ficaram em aberto. Creio que obriga, dealguma maneira, e ante testemunhos como o de Barreiro Neira,que so praticamente inconformveis, porque temos

    elementos.... A tomar determinado tipo de posio poltica, eentre essas est a de exercitar a vontade poltica de dar umpasso adiante. Creio que esse material todo est nos arquivossecretos. Os arquivos que existem das ditaduras de todos osnossos pases. Recentemente, Joo Vicente Goulart, o filho deJoo Goulart, e Jair Krischke foi ao Uruguai e pediram aogoverno uruguaio que desarquivasse toda a documentao queexiste em nvel de inteligncia militar e policial sobre ossegmentos que Goulart, Brizola e os demais opositores ditadura brasileira podiam ter sido vtimas. O governo uruguaio,

    por meio de seu chanceler, Gonalo Fernandes, que comeouh poucos meses, comprometeu-se a faz-lo. Tambm vimoscomo Argentina libera alguns documentos, como Chile liberaalguns documentos e, sobretudo, vimos o que possua oDepartamento de Estado Norte-americano, quanto realidadedas ditaduras do Cone Sul quando desclassificou mais de 20 mildocumentos sobre a ditadura argentina, e creio que o dobrosobre a ditadura chilena. Curiosamente, a deciso poltica dedesarquivar os documentos do Chile estava relacionada com oassassinato de Letelier, que foi em Washington, voando em umauto por vrios metros acima, em pleno corao dos EstadosUnidos. No tenho a menor dvida que o Departamento deEstado Norte-Americano deve ter muita informao sobre isso,mas, claro, trata-se de uma posio poltica do Poder Executivobrasileiro solicit-la. Tenho certeza que vo encontrar diversosnveis de censura, como encontramos com o advogado JavierBarrios Bove, quando solicitamos ao Departamento de Estado,por meio de uma lei de liberdade de informao, que existe,

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    37/216

    Pgina 37de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    determinada informao sobre o outro caso do qual falavaBarreiro Neira, que era o assassinato daquela senhora, esposade um dirigente poltico, com um vinho envenenado. ODepartamento de Estado tinha a informao e em primeirainstncia no quis nos dar essa informao, alegando uma srie

    de regramentos para no d-la, e um deles era quecomprometia agentes da CIA ou atividades que a Agncia deInteligncia Norte-Americana podia ter realizado os locais emque podia ter participado. Isso nos dava a certeza que a CIAtinha material sobre o caso e que estava implicada nele. Ocerto que a CIA, logo depois de novos pedidos, trouxe tonamais material, e agora, em nvel de Estado Uruguaio, est sesolicitando a liberao desses documentos. Como saber se otestemunho de Barreiro Neira certo ou no, s saberemosinvestigando de forma paralela os fatos por ele apontados e a

    participao que ele possa ter tido. Estou convencido de queUruguai tem de tornar pblico o que tenha sobre a perseguiode que Joo Goulart foi vtima em meu Pas, durante essesanos. Estou tambm convencido de que o Estado Brasileiro e oParlamento brasileiro tm de pedir ou exigir dos Estados Unidosque liberem as informaes que possam ter sobre o assunto, etambm estou convencido que o prprio Brasil tem de tornarpblicos seus arquivos, porque neles no vamos encontrarsomente material sobre Joo Goulart, como tambm sobre oque ocorreu no meu Pas, na Argentina, no Chile, no Paraguai,

    na Bolvia, nos pases que estavam ao redor, tambm sofrendoditaduras. E no tenho a menor dvida de que o Brasil, quesofreu um dos primeiros golpes militares, em 1964, teveconhecimento, porque temos confirmado que muitos dosnossos repressores foram treinados na Escola de Guerra do Riode Janeiro, foram treinados por agentes do (ininteligvel)brasileiro, como antes ocorrera com os esquadres da morte.Todas essas informaes que se transmite quando se procuraser breve implica em muita documentao que se pode chegara portar, material, testemunhos que esto em comisses, queesto em livros. No Uruguai esto se realizando investigaesmuito srias, onde a idia de recuperar a memria histricaest vigente faz uns 20 anos, porque quando surgiu o governoinstitucional, em 1985, fez-se uma lei que procurou fechar tudoisso, mas impossvel tapar o sol com a peneira. Creio que,lamentavelmente, o Uruguai gerou, durante todos esses anos,uma cultura de impunidade, o que fez com que todos osuruguaios sejamos um tanto menos bons, e menos melhores,

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    38/216

    Pgina 38de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    medida em que cada um de ns tem o poder de fazer,conforme seu posto e seu lugar, com a certeza que nada ir lhepassar, seja um torturador, assassino ou pessoa que fez comque outras desaparecessem, ou violou, ou matou, no pode serjulgado, porque h uma lei que impede. Quer dizer, h certa

    impunidade por culpa disso. Recuperar a cultura dos direitoshumanos no Uruguai, no lugar da cultura da impunidade, umdesafio que estamos tratando de enfrentar. Mas para issorequer um alto conhecimento da memria histrica, e essaobriga a no olhar somente para frente, mas tambm saber oque passou. decisivo o que vai se passar para frente. Nessesentido e com muita humildade lhes digo que, sendo umapessoa que trata de seguir atentamente o processo poltico ehistrico brasileiro, s vezes sinto um pouco de vergonha porver que no Brasil essa memria histrica, por vezes, perdeu-se

    tanto. No ano passado pude participar de um seminrio Anistiae Direitos Humanos, em Braslia, no prprio Congresso, e vicomo uma srie de grupos sociais, polticos, culturais, tnicos,religiosos, encontravam-se e uniam-se para tratar de recuperaralgo que no caso brasileiro j no so somente 20 anos, so30, 30 e tantos, quase 40 anos de um processo histrico noqual houve uma srie de pessoas desaparecidas, e que omesmo que aconteceu na Argentina, no Chile, no Paraguai e noUruguai. Muitos dizem que o Brasil um continente grande queolha para dentro, pelo problema do idioma, ou pelo brilhante

    idioma, os castelhanos e os lusitanos no chegamos aencontrar um mecanismo de dilogo e, s vezes, o que passaao lado o Brasil no v, porque olha para dentro. E ns novemos o que acontece ao Brasil porque estamos olhando para olado. Parece-me que quando falamos de Mercosul e de avanospolticos ou integrao, a primeira integrao deveria ser a damemria histrica, sobretudo quando temos tanta coisa. Brasiltem informao do que aconteceu no Uruguai, seus arquivos,seus documentos a trazer tona; e o Uruguai tem informaodo que aconteceu ao Brasil. Provavelmente encontremosmateriais que tm relao ao que aconteceu a Joo Goulart, oucom a perseguio a Brizola, ou com a maneira como LilianCeliberti e Universindo Rodrigues foram seqestrados narealidade, e no somente o DOPS e uma pessoa que terminoupresa foram os responsveis, na verdade. Estou trabalhando hmuitos anos nesse assunto, como jornalista, e me colocointeiramente disposio desta Comisso para trabalhar einvestigar em tudo que puder, desde o Uruguai. Creio que um

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    39/216

    Pgina 39de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    tempo histrico no qual at temos a possibilidade de faz-lo,pois os governos que hoje temos no nosso continente so umpouco mais conscienciosos do que aquelas ditaduras, creio queso bem mais permissivos. Creio que os segredos no tmideologias, tm Estados que os cuidam, e isso s se rompe com

    luta poltica. Eu os convoco, para que, medida daspossibilidades, este Parlamento consiga que essa luta polticaseja feita e os arquivos sejam liberados. No sei se algumintegrante desta Comisso quer fazer alguma pergunta. Eu ficopor aqui, com a possibilidade de que o documento de tudo quefalei pode alcanar Comisso. Muito obrigado.

    O SR. RELATOR (Adroaldo Loureiro PDT) Obrigado, Roger, jornalista uruguaio. Muito bom o seudepoimento.

    Discorrendo sobre toda essa realidade, a questo do

    depoimento do Mrio Neira Barreiro, o Carlos Milles, o mdicoque, segundo Mrio Neira, foi quem produziu o veneno queacabou matando o Jango e com outros antecedentes.

    O SR. ROGER RODRIGUEZ Perdo, antecedentesos quais confirmo, pois Carlos Milles era um mdico quetrabalhava com venenos. Seu pai havia sido um qumico e suame uma oncologista conhecida no Uruguai. Quer dizer, elevinha de uma famlia de mdicos e possua conhecimentos defrmacos para realizar isso.

    O SR. RELATOR (Adroaldo Loureiro PDT) Isso

    confirma, no , o depoimento de Mrio Neira Barreiro. Claroque aqui compreendemos o que pretendeste dizer. Temos aquio Jair, que tambm uma pessoa conhecedora dessa realidadee tambm do idioma, e muito especialmente o Christopher, quepraticamente domina o idioma espanhol e o uruguaio que temtambm as suas nuances. De minha parte, estou satisfeito comseu depoimento. No sei se o Christopher tem algumasugesto.

    O SR. CHRISTOPHER GOULART Se ele pudesseacrescentar mais a respeito da participao da CIA no Uruguai,mais especificamente sobre as informaes que ele tem otrabalho investigativo.

    Vejo isso como bem pertinente, uma vez que o MrioNeira fala de um agente em especial chamado FrederickLatrash, que teria um consentimento na chamada OperaoEscorpio. Ento, que ele pudesse dissertar, de forma geral,essa participao da CIA no Uruguai.

  • 7/26/2019 Relatrio Sobre a Morte Do Ex-presidente Joo Goulart

    40/216

    Pgina 40de 216

    Subcomisso para investigar as circunstncias da morte do ex-presidente Joo Goulart

    O SR. ROGER RODRIGUEZ Sim, a interveno daCIA no Uruguai algo que est absolutamente confirmado. Osinvestigadores histricos esto demonstrando que de algumaforma Uruguai e Guatemala foram dois planos-pilotos doDepartamento de Estado dos Estados Unidos e a CIA no marco

    da guerra fria, na poca dos anos 60. Por ser opostos,Guatemala era um grande campesinato com possibilidades deorganizao e Uruguai era uma classe trabalhadorasindicalizada com uma identidade muito importante com ospartidos de esquerdas mais tradicionais e ortodoxos. NoUruguai, a participao do Departamento de Estado e da CIAest clara desde os anos 60, por meio de mltiplos trabalhos.Philip Agee, um ex-agente da CIA, escreveu um livro que sechamaA CIA por dentro. Ele esteve vrios anos no Uruguai, edurante esse tempo descreveu... ele faleceu no princpio

    deste ano, estive com ele, ele esteve radicado muitos anos emCuba, f