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GEOCAT Geologia – Caracterização Mineral e Ambiental Ltda. Rua 8, 2039 – Rio Claro – SP Resp.: Geólogo Marcos Roberto Masson “LEVANTAMENTO E MAPEAMENTO DAS NASCENTES DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CORUMBATAÍ INCLUÍDAS NA CARTA TOPOGRÁFICA DE RIO CLARO - 1:50.000 / IBGE” 2008-PCJ-317 Contrato Fehidro: 019/2009 Relatório Final Complementado Conforme Parecer Técnico CPLA/SMA Nº 118/13 Caracterização do Uso e Ocupação do Solo nas Áreas de Preservação Permanente das Nascentes nas Áreas Rural e Urbana. Aspectos Sócio Econômico e Cultural das Propriedades e as Relações com a Conservação Ambiental Tomador: FÓRUM PERMANENTE DE ENTIDADES CIVIS QUE EXERCEM ATIVIDADES AMBIENTAIS NAS BACIAS DOS RIOS PIRACICABA, CAPIVARI E JUNDIAÍ. Localização: Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí, Afluente Margem Direita do Rio Piracicaba, em Piracicaba – SP. Bacias PCJ – UGRHI 05 – Municípios de Rio Claro, Ipeúna, Santa Gertrudes e Corumbataí Piracicaba, Janeiro de 2014.

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GEOCAT Geologia – Caracterização Mineral e Ambiental Ltda. Rua 8, 2039 – Rio Claro – SP

Resp.: Geólogo Marcos Roberto Masson

“LEVANTAMENTO E MAPEAMENTO DAS NASCENTES DA BACIA

HIDROGRÁFICA DO RIO CORUMBATAÍ INCLUÍDAS NA CARTA

TOPOGRÁFICA DE RIO CLARO - 1:50.000 / IBGE”

2008-PCJ-317 Contrato Fehidro: 019/2009

Relatório Final Complementado Conforme Parecer Técnico CPLA/SMA Nº 118/13

Caracterização do Uso e Ocupação do Solo nas Áreas de Preservação Permanente das Nascentes nas Áreas Rural e Urbana.

Aspectos Sócio Econômico e Cultural das Propriedades e as Relações com a Conservação Ambiental

Tomador:

FÓRUM PERMANENTE DE ENTIDADES CIVIS QUE EXERCEM ATIVIDADES

AMBIENTAIS NAS BACIAS DOS RIOS PIRACICABA, CAPIVARI E JUNDIAÍ.

Localização:

Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí, Afluente Margem Direita do Rio

Piracicaba, em Piracicaba – SP.

Bacias PCJ – UGRHI 05 – Municípios de Rio Claro, Ipeúna, Santa Gertrudes e

Corumbataí

Piracicaba, Janeiro de 2014.

1. Introdução

Com base na metodologia apresentada no relatório final pela WF

Engenharia e no Primeiro Relatório Parcial de Campo e tendo como escopo

principal a caracterização das áreas de preservação permanente das

nascentes situadas na quadrícula – Rio Claro – IBGE, escala 1:50.000, foram

realizadas reuniões com os associados e lideranças do Sindicato Rural de Rio

Claro e da Associação de Produtores Familiares de Rio Claro, que têm

jurisdição sobre os demais municípios da região. Assim, pudemos verificar as

preocupações e as expectativas dos proprietários e produtores rurais em

relação às questões de preservação das APPs das Nascentes e ao longo dos

cursos d’água.

Nessas reuniões pudemos também entender que a resistência

apresentada pela comunidade rural no cumprimento do atual Código florestal

Brasileiro, baseia-se principalmente na falta de práticas e políticas públicas

direcionadas aos serviços ambientais a serem produzidos. Essas políticas

aguardadas até a presente data e que já ocorrem em outras regiões, devem

trazer no seu bojo, a valorização das áreas a serem conservadas e dos

serviços inerentes à manutenção das mesmas, conforme preconiza a

legislação.

Os levantamentos de campo realizados nas 12 (doze) áreas pré-

definidas pela metodologia apresentada, com base nas fotografias áreas

recentes, confirmam que os produtores e proprietários se utilizam das áreas de

preservação das nascentes e cursos d´água, por conta de serem áreas que

frequentemente se apresentam com melhores condições de produção

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agropecuária e que ao final contribui efetivamente na composição da rendada

propriedade.

Experiências em execução nas Bacias PCJ, nos municípios de Extrema,

Louveira e Botucatu e Joanópolis, demonstram que políticas voltadas à

preservação, se bem conduzidas, conseguem reverter situações de profunda

degradação, para sistemas ambientalmente estáveis.

Buscou-se também, junto à Universidade Estadual Paulista – UNESP –

Campus Rio Claro, pesquisas ou trabalhos que pudessem ajudar na avaliação

e esclarecimento das atuais condições econômico e social das propriedades

rurais para, conseguir definir um diagnóstico de prováveis correlações

existentes entre a falta de recursos, assistência técnica e políticas públicas

voltadas ao setor, com a situação de degradação ambiental das áreas de

preservação permanente, nas propriedades rurais e urbanas.

Outra busca por informações, ocorreu junto ao poder público municipal

de Rio Claro com entrevista à secretária municipal de planejamento,

desenvolvimento e meio ambiente, Olga Lopes Salomão e, secretário municipal

de agricultura, Carlos Alberto Teixeira De Lucca para auxiliar nas propostas de

conservação dos recursos hídricos junto aos agricultores locais. Nesta foi

coletada as opiniões e propostas da visão pública para gerenciamento destas

áreas, principalmente respeitando-se as realidades e particularidades locais e

municipais e as possibilidades de aplicação das ações necessárias para a

conservação dos corpos hídricos, que, sendo estas instituídas, serão passíveis

de serem praticadas.

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Nesse sentido e com a preocupação de atender ao escopo proposto,

foram selecionadas as atividades que mais poderiam influenciar na mudança

de atitude dos proprietários rurais em relação ao cumprimento do proposto pelo

Código Florestal, expresso pela Lei Nº 12.651, de 25 de maio de 2012.

Portanto, é fundamental esclarecer que as atividades propostas no

Termo de Referência, serão cumpridas, porém de maneira mais expedita,

tendo-se em vista o conhecimento que se tem sobre a vegetação existente, os

remanescentes florestais, os diversos compartimentos existentes, assim como

a ocorrência e a distribuição das espécies de ocorrência endêmica, de biomas

exclusivos e daquelas ocorrentes em situação da altitude mais elevada. Isto

posto, propõe-se a metodologia a ser descrita no item 3, a seguir.

2. Objetivos

Os objetivos da proposta é o de fazer levantamentos e mapeamento das

nascentes da bacia hidrográfica do Rio Corumbataí, SP, situadas dentro da

carta topográfica de Rio Claro (1:50.000 / IBGE). Levantamento dos usos e

ocupação das áreas de preservação permanente das nascentes, relacionando

com a atividade socioeconômica rural regional, buscando os motivos e as

demandas que caracterizam a situação socioambiental. Os levantamentos

resultarão num diagnóstico socioeconômico e ambiental da região, como

também fará um prognóstico das atividades a serem desenvolvidas para

superar as dificuldades, com o objetivo de tornar a região sócio e

ambientalmente sustentável. Além de levantar a situação sócioeconômica e

ambiental, serão produzidos relatórios fotográficos, com dados dos

proprietários, situação das APPs das nascentes e mapas correspondentes,

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também objeto dos produtos que já estão sendo elaborados e apresentados

pela empresa WF Ambiental.

Dentre os produtos, o levantamento do uso e ocupação do solo nas

Áreas de Preservação Permanente (APP) das respectivas nascentes, de

acordo com o Código Florestal vigente, ou seja, Lei Nº 12.651, de 25 de maio

de 2012.

3. Metodologia Adotada

Tendo como premissa a inexequibilidade de todas as atividades

conforme previstas no termo de referência e considerando que na área de

estudo existem vários tipos de uso do solo e vários tipos de drenagem, foram

dispostas ao acaso 12 amostras circulares de 1km de diâmetro (Área = 3,14

km²) como áreas representativas da carta, para orientação de uma posterior

checagem de campo.

A utilização de amostras circulares se justifica por serem amostras de

mesma área e contemplarem variados tipos de uso de solo e de drenagem,

como também fez Demattê et al (1993).

Com base nessa orientação, serão visitadas as propriedades da região

da carta topográfica em escala 1/50.000 de Rio Claro (SF 23-Y-A-I-4)

compreendida na área de 71.412,48 hectares, que abrange os municípios de

Rio Claro (83,3% da área), Santa Gertrudes (6,5% da área), Ipeúna (9,7% da

área) e Corumbataí (0,5% da área), Itirapina, além dos distritos de Ajapi, Ferraz

e Batovi.

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Após as definições metodológicas orientativas, isto é, com base no

estabelecimento das áreas pré-selecionadas para visitas e checagem de

campo, conforme apresentado no relatório final da empresa WF Ambiental.

4. Resultados e Discussão

Foram programadas e realizadas várias visitas às propriedades

rurais, porém, os resultados não foram os esperados.

As dificuldades apresentadas pelos proprietários passaram pela

desconfiança do objetivo da visita, com a realização de caminhadas até as

nascentes, até o medo de assalto por desconhecimento das pessoas

envolvidas no trabalho.

Algumas informações relacionadas com a propriedade não foram

coletadas devido à ausência dos proprietários. Seja por residirem na cidade

ou por estarem ausentes no momento da visita de campo. Há inclusive, a

existência de propriedades onde não há moradias, seja para os

proprietários ou para funcionários. Estas possuem arrendamento a terceiros

para exploração agrossilvipastoril.

Vale destacar, que houve dificuldade com alguns funcionários

residentes das propriedades por não autorizar, inicialmente, a entrada na

propriedade e/ou não fornecia as informações básicas necessárias para

coleta de todos os dados locais. Pois, se faz necessário as informações da

área e do proprietário, bem como a confecção de relatório fotográfico.

Porém, devido à desconfiança nas visitas, quando do fornecimento

de alguns dados da propriedade pelo proprietário ou responsável, não era

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permitida a confecção de fotografias por estes entenderem que estariam

promovendo autodenuncia em razão da ocupação irregular das APP.

Nestes casos, fez-se apresentação das normas e procedimentos

legais para regularização deste uso. Mas o receio e “medo” de represália

por parte da Policia Ambiental em lavrar auto de infração, acabava por não

permitir que se fizesse as 2 (duas) atividades, coleta de dados local e

relatório fotográfico. Em alguns casos, inclusive, houve a seguinte proposta

por parte dos proprietários rurais: “se for fornecido os dados locais, não será

permitida a confecção de fotografias” e vice-versa, “se fotografado, não será

fornecido nenhum dado local”. Nestes casos, optou-se por confeccionar as

fotografias e a coleta de dados da propriedade foi realizada junto a

moradores das propriedades vizinhas.

A dificuldade dos trabalhos de campo se estendeu inclusive na

realização das reuniões com a comunidade, sejam com moradores e/ou

produtores rurais, seja com moradores dos bairros urbanos. Pois, há muita

resistência das pessoas em dar credibilidade a ações particulares sem a

participação efetiva de entidades, sejam elas públicas ou privadas. Com

isso, a desconfiança e descrença nos trabalhos forçosamente provocaram

buscas por novas estratégias de trabalho. Inclusive para a realização das

reuniões previstas. Estas somente terão sucesso de público com total

credibilidade quando da realização de parcerias com entidades

representativas, sejam de âmbito rural ou urbano, ou ainda através de

políticas públicas.

Porém, acaba-se por ficar dependente dos eventos promovidos por

estas entidades se não for promovido por políticas públicas uma boa

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educação ambiental sobre o tema com total divulgação dos benefícios

gerados ao se promover a preservação ambiental, rural ou urbana, para

conservação da qualidade e quantidade de água das nascentes.

E, apesar de prejudicada, a metodologia serviu para demonstrar que

deveríamos mudar a estratégia, tanto é, que por unanimidade, optou-se

pelo relatório fotográfico e o registro da localização através do GPS, para

caracterização dos usos e ocupação dos solos nas APPS das nascentes

junto aos moradores vizinhos.

Então, em consideração às dificuldades encontradas no campo,

optou-se por buscar parcerias com as entidades representativas dos

proprietários rurais, sindicato rural patronal, autarquias municipais,

entidades públicas e lideranças de bairros.

E, para uma próxima fase, deve-se desenvolver contatos e

agendamentos destas reuniões junto a entidades públicas ou privadas, para

apresentação do projeto, dos objetivos e resultados, assim como junto às

lideranças de bairros, rurais e urbanos, onde estão inseridas as nascentes.

A vertente sócio econômica, a ser levantada, ajudará a definir quais

ações e metas deverão ser levadas a cabo para que se faça a mudança de

atitude necessária para que as atividades econômicas incorporem a

componente ambiental, tanto na diversidade de espécies, quanto na

conservação e proteção do solo e da água.

Portanto, com o intuito de minimizar os impactos ambientais existentes

nas nascentes destes municípios da área de abrangência do projeto, o

presente trabalho levantou e mapeou todas as nascentes amostradas pré-

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definidas na metodologia a fim de orientar e aprimorar a gestão dos recursos

hídricos na carta topográfica em escala 1/50.000 de Rio Claro (SF 23-Y-A-I-4).

Dessa forma, a ONG - Fórum Permanente de Entidades Civis Que Exercem

Atividades Ambientais nas Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, espera

contribuir com a melhoria ambiental e de qualidade de vida, buscando através

do levantamento, informações que possam ser utilizadas pelos atores sociais

locais, para direcionar ações de gestão participativa e compartilhada dos

recursos hídricos da região da Bacia do Rio Corumbataí.

4.1. Dados levantados em entrevista com secretaria do meio

ambiente e secretário da agricultura do município de Rio

Claro Atualmente, o município de Rio Claro busca novas alternativas para

expansão urbana, seja para implantação de empreendimentos imobiliários

residenciais ou industriais. Mas esta expansão deve considerar e preservar as

zonas hídricas superficiais responsáveis pelo abastecimento e fornecimento de

água à zona urbana, seja para o abastecimento e fornecimento de água aos

municípios localizados à sua jusante.

E, apesar do município de Rio Claro ter grande potencial hidrológico

superficial, atualmente observa-se uma má gestão nas áreas dos recursos

hídricos superficiais. Compromete assim, tanto a quantidade e a qualidade de

água junto às nascentes como a qualidade da água que escorre

superficialmente até os pontos de captação superficial promovido pelo

Departamento Autônomo de Água e Esgoto (DAAE). Esta é realizada para

abastecimento de água à zona urbana, seja para uso residencial ou comercial.

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Então, em razão das dificuldades encontradas e apontadas para a

confecção dos trabalhos de campo, dados das nascentes e reuniões com a

comunidade, promoveu-se entrevista com a secretaria do meio ambiente e

secretário da agricultura do município de Rio Claro para coleta de mais dados e

informações. Optou-se pela escolha destes secretários em razão das

atividades propostas estarem diretamente relacionados com estas secretarias.

Inclusive escolheu-se o município de Rio Claro em razão deste ser mais

representativo regionalmente.

A secretaria do meio ambiente do município de Rio Claro, Olga Lopes

Salomão, mostrou-se interessada nos trabalhos de campo e colocou-se a

disposição para divulgação deste tipo de ação. Inclusive se manteve aberta a

discussões com relação à implantação de programa de pagamento por

serviços ambientais. Segundo observação pessoal, percebe-se um descaso e

total desinteresse da maioria da sociedade em promover uma preservação

ambiental simplesmente em razão da consciência pessoal de cada cidadão.

Pois, o modo de vida imposta pela sociedade nos remete a algo que

deve ser rentável para quem pratica qualquer tipo de atividade, mesmo que

esta seja uma simples preservação ambiental onde não há demanda

significativa de trabalhos e serviços. Ou seja, sem benefício próprio, a maioria

dos proprietários rurais, sejam moradores no campo ou na cidade, somente

devem-se mobilizar para preservar algum montante de área quando estes

obtiverem algum tipo de benefício. Ou em raros casos, quando estes tiverem

consciência da importância desta ação por recebimento de uma boa educação

ambiental.

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Havendo a implantação de programa, deve-se apenas promover

discussões de como arrecadar valores para serem depositados em um fundo

específico para este fim. Que administre e gerencie a preservação destas

áreas.

Há, porém, necessidade de nomeação de comissão para avaliação da

eficiência das ações previstas e implantadas, adequando sempre, os pontos

que se fizerem necessários.

Neste contexto, em razão do município de Rio Claro estar em região

estratégica e ser estruturado política e ambientalmente, este poderá promover

liderança junto aos municípios que tem as cabeceiras destes mananciais,

criando um fórum intermunicipal entre os municípios de Analândia, Corumbataí,

Ipeúna, Itirapina. Tanto junto aos municípios que dependem da quantidade e

qualidade de água proveniente da região, como por exemplo, o município de

Piracicaba.

Com relação ao secretário de agricultura do município de Rio Claro,

Carlos Alberto Teixeira De Lucca, além de todo o interesse nos trabalhos de

campo e disposição para divulgação de futuros trabalhos, possui envolvimento

em programas governamentais para fixação do homem no campo e melhoria

da renda familiar rural com atividades profissionais na propriedade rural.

Os programas governamentais são Programa de Aquisição de Alimentos

(PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Estes têm como

objetivo a promoção do abastecimento alimentar local através dos produtos

oferecidos pela agricultura familiar, como estratégia de combate à fome e à

desnutrição. A secretaria vem atuando também na modalidade da “Compra da

Agricultura Familiar para Doação Simultânea”, que se caracteriza pela

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aquisição de alimentos oriundos da agricultura familiar, de origem agrícola,

extrativa, ou da indústria familiar, visando à doação a populações em situação

de risco alimentar atendidas pela rede de proteção social de caráter

governamental ou não governamental.

Com isso, havendo esta fixação do homem no campo, mesmo que

através de agricultura familiar, há condições para início de uma boa educação

ambiental e conscientização desta população das importâncias de preservação

ambiental.

Inclusive, este tem posicionamento claro sobre quanto de área deve ser

preservada para cada nascente ou curso d'água, independente do que a

legislação federal quantifica. Ou seja, para uma efetiva preservação das faixas

ao redor das nascentes e consequentes faixas marginais junto a estes (APP),

deve-se analisar individualmente e pontualmente cada caso.

Deve-se caracterizar as condições de solo, topografia, geologia,

hidrologia, etc. De posse destas informações, estimar qual a real faixa de APP

deverá ser preservada, pois, assim, consegue-se efetivamente um aumento na

vazão de água destas nascentes e uma melhora significativa da sua qualidade.

Porém, deve-se também promover a preservação das faixas marginais

dos cursos d'água para continuidade da melhoria alcançada na nascente e

consequente melhor qualidade de água para captação, evitando inclusive,

assoreamento dos cursos d'água.

Também deverá ser promovido todo um trabalho de conservação de

solo nestes imóveis ao nível de microbacia para que haja uma diminuição do

escorrimento superficial (enxurradas) e que a água fique retida o maior tempo

possível em contato com a superfície do solo. Promovendo desta forma,

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infiltração forçada para as camadas mais profundas, auxiliando no aumento da

vazão de água pelas nascentes e evitando erosões e demais prejuízos

causados pelas enxurradas (Figura 1).

Figura 1. Gráfico de escorrimento superficial (Autor - Massato Kobiyama)

Então, dependendo do imóvel e da sua localização, quase que haverá

um valor monetário significativo à aquele proprietário que aderir ao programa

podendo buscar alternativas de trabalho e atividade rural para o incremento da

renda familiar.

Pode-se inclusive implantar atividades para exploração de produtos não

madeireiros das áreas com vegetação arbórea (casca, sementes, folhas,

galhos, frutos, etc.); criação de laminas d'água junto aos cursos d'água para

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criação de peixes, marrecos, etc.; cultivos comerciais de espécies arbóreas,

nativas ou exóticas, para exploração através de manejo sustentável (madeira,

látex, etc.). Todas atividades, é claro, devidamente regulamentadas,

regularizadas e aprovadas pelos órgãos gestores ambientais.

4.2. Caracterização da Vegetação

Quanto à flora nativa, a área de estudo, segundo dados extraídos de

levantamento de campo, há fragmentos de florestas latifoliadas, pertencentes

ao bioma Mata Atlântica, que em geral, está relacionada às escarpas das

Cuestas Basálticas, junto aos morros testemunho (ZAINE, 1996;

CAVALCANTI, 2003). Já, nas planícies fluviais, podem ser observados

acompanhando rios e ribeirões, a presença de florestas ribeirinhas, alagáveis

ou não, dependendo da fisiografia local.

Há também alguns fragmentos vegetais originais de cerrado sensu lato,

em diversas expressões fisionômicas (fisionomia savânica - cerrado sensu

stricto, campo cerrados e campo sujo); fisionomia campestre (campo limpo) e;

fisionomia cerradão (embora menos frequente, mas geralmente relacionado a

manchas de solos mais férteis), sendo encontrados sobre alguns espigões, em

solos arenosos ou depósitos coluvionares (PONÇANO et al. 1981).

Pode-se concluir então, que a área de estudo encontra-se em área de

transição entre estes 2 (dois) tipos de biomas florestais, Bioma Mata Atlântica e

Bioma Cerrado. Estes estão dispostos de maneira que esta zona é definida

como sendo de transição, ou seja, é uma zona de contato entre biomas

distintos, Cerrado e Mata Atlântica.

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Os remanescentes dos fragmentos florestais da vegetação original,

embora restritos a determinadas áreas, ainda guardam grande diversidade

biológica e paisagística, fornecendo recursos para a fauna e proteção para o

solo e mananciais. Estes têm valor incontestável na manutenção da qualidade

ambiental regional.

Quanto às florestas latifoliadas, e que merece total atenção neste

estudo, basicamente são encontradas 2 (dois) tipos: floresta estacional

semidecidual e floresta estacional decidual. Porém, a floresta estacional

decidual é rara e ocorre sobre solos litólicos cascalhentos, com ocorrência

naturalmente fragmentada em meio à floresta estacional semidecídua,

diferenciando-se desta, apenas pela proeminente deciduidade foliar durante a

estação seca (Ivanauskas & Rodrigues 2000).

Esta ainda possui divisão relacionada ao seu posicionamento quanto

aos corpos hídricos: floresta ou mata seca (floresta estacional semidecidual

(FES) - IBGE, 1993); floresta ciliar ou mata ciliar (floresta estacional

semidecidual ribeirinha - RODRIGUES, 2001); floresta paludícula ou mata de

brejo (floresta estacional semidecidual com influência fluvial permanente –

RODRIGUES, 2001).

As florestas ribeirinhas são classificadas como: florestas ciliares –

acompanham rios de médio a grande porte (Ribeiro & Walter 2001); florestas

de galeria – acompanham riachos de pequeno porte e córregos com canal

definido, geralmente em fundos de vale, associadas ao cerrado e; florestas

paludosas (matas de brejo) – acompanham áreas brejosas nas cabeceiras de

drenagem e nos fundos dos vales (Rodrigues 1999).

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Estas estão são presentes em algumas encostas dos morros

testemunhos ou nas escarpas das Cuestas.

Esta formação florestal, FES, originalmente teve sua distribuição

concentrada principalmente nos domínios da Depressão Periférica Paulista,

com características próprias para pequenas manchas de cerrado.

Foi nessa condição que esta mais sofreu com as intervenções

antrópicas. Sendo, portanto, a formação mais ameaçada em termos de

degradação. Esta está restrita a pequenos remanescentes encravados em

áreas de difícil acesso, áreas inaptas para práticas agrícolas ou raras vezes,

protegida. Seja na forma de reservas ou parques ecológicos, seja por ação

institucional ou por iniciativa própria de alguns proprietários rurais.

Ela ocupa variadas condições edáficas, tanto em solos mais argilosos

como em solos mais arenosos. No entanto, apesar das mesmas características

fisionômicas, são observadas algumas particularidades florísticas e/ou

estruturais na formação florestal, dependendo das características do solo.

Quanto à formação florestal que forma as matas ciliares, esta acaba

ocorrendo associada às margens dos cursos d'água e afloramentos de água

natural (nascentes). Está sobreposta à faixa projetada denominada de Área de

Preservação Permanente (APP), nos mais diversos estágios de

desenvolvimento, pioneiro, inicial, médio e avançado.

Por definição, APP é toda área protegida, coberta ou não por vegetação

nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem,

a estabilidade geológica e a biodiversidade; facilitar o fluxo gênico de fauna e

flora; proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

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Esta recebe ainda outras denominações: floresta ou mata de galeria;

mata justa fluvial ou mata marginal; mata ciliar; mata de fecho ou anteparo;

mata beira rio ou de condensação. Esta acaba sendo um mosaico complexo de

formação florestal que abrange desde florestas estacionais semideciduais até

as matas de transição (ecótono ciliar).

Por definição, matas ciliares são formações vegetativas formadas em

locais normalmente úmidos, com lençol freático superficial e solos

hidromórficos. As variações dos teores da água do solo são resultados de

diversos fatores: regimes pluviométricos, tipo do solo, topografia, margens e

traçado do rio.

A união de espécies vegetais de diferentes formações florestais nestas

faixas ciliares faz com que esta apresente elevada e complexa diversidade de

espécies além de grande heterogeneidade estrutural. BERTONI (1982) ressalta

a importância do conhecimento das espécies e do ambiente em que ocorrem

em razão do grau de importância ambiental que ela representa.

Segundo HUTCK, esta possui vegetação mais viçosa em razão de ser

formada sobre lençol freático pouco profundo. Ou seja, solo sempre úmido, rico

em matéria orgânica e com substâncias nutritivas.

Apresenta, portanto, mosaico florestal característico provocado pela

adaptabilidade fisiológica de algumas espécies em resistir à saturação hídrica

do solo, mesmo que seja por curtos períodos de tempo, sendo constituída de

espécies típicas de áreas ripárias.

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Dado a sua importância, esta faixa de preservação tem garantida sua

permanência por intermédio de legislação federal que define e dimensiona

estas faixas ciliares.

Então, para a situação de estudo, a APP tem definido pelo Art. 4, inciso

IV, da Lei Federal nº 12.651 de 25 de maio de 2012: “as áreas no entorno das

nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação

topográfica, no raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros”.

Inclusive, nesta legislação federal, se descreve as determinações e os

parâmetros do regime de proteção para estas faixas ciliares “Seção II, Art. 7,

Art. 8 e Art. 9”.

Cabe destacar neste momento, que alguns trechos das APP’s das

nascentes estudadas estão desprovidos de vegetação florestal nativa, sendo

atualmente praticada atividades agrossilvipastoris. E, segundo os proprietários

estas são praticadas desde antes de 22 de julho de 2008.

Portanto, seguindo as diretrizes legais atualmente vigentes, estas

encontram-se com uso e ocupação de solo consolidados em razão da prática

das atividades ser anterior a esta data, ficando assim, autorizado nestes casos,

exclusivamente, a continuidade destas atividades.

Porém, há larguras mínimas a serem respeitadas e preservadas.

Estando este montante relacionado diretamente com o tamanho da área onde

a nascente está inserida e a quantidade de módulos fiscais que a propriedade

que a comporta possui.

Para definição das APP das nascentes estudadas, esta seguirá as

determinações definidas em legislação retro descrita. Seja em relação à

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maneira de como fazer ou em relação ao dimensionamento da faixa de APP a

ser recomposta.

Ou seja, junto às nascentes, onde não há presença de formação

florestal nativa, será efetivada a recuperação da faixa do entorno destas com

raio de 15,0 (quinze) m, sendo medida a partir do ponto de afloramento natural.

Nos estratos superiores, pode-se observar a predominância de algumas

famílias, tais como: Anacardiaceae, Bombacaceae, Caesalpiniaceae,

Mimosaceae, Apocynaceae, Fabaceae, Lecythidaceae, Lauraceae.

Dentre as espécies mais comuns deste dossel estão: cambuí (Myrcia

albo-tomentosa), canjarana (Cabralea canjerana), capixingui (Croton

floribundus), capororoca (Rapanea umbellata), embaúba (Cecropia

pachystachia), guanandi (Calophyllum brasiliense), ingá (Inga sessilis), ipê-do-

brejo (Tabebuia umbellata), marinheiro-do-brejo (Guarea macrophylla),

guamirim (Blepharocalyx salicifolius), palmito-juçara (Euterpe edulis), peitode-

pomba (Tapirira guianensis), pindaíba-do-brejo (Xylopia emarginata), pinha-do-

brejo (Talauma ovata), pinheirinho (Podocarpus lambertii), sangra-d’água

(Croton urucurana), entre outras.

Já, no sub-bosque, são comuns arvoretas como cafezinho (Lacistema

hasslerianum) e, arbustos como erva-de-rato (Palicourea macgravii) e

jacaraticão-branco (Miconia theaezans), além de samambaias arborescentes

como guaricanga-do-brejo (Geonoma brevispatha), hortelã-do-brejo

(Hedyosmum brasiliense), xaxim (Cyathea delgadii e Cyathea atrovirens), entre

outras.

Nas bordas dos fragmentos florestais em estágio inicial, médio e

avançado de desenvolvimento, encontra-se comumente os arbustos: canela-

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do-brejo (Ocotea tristis), casca-d’anta (Drymis winterii), folha-de-bolo (Miconia

chamissois).

Cabe destacar, que os todos os indivíduos descritos foram identificados

através de caminhadas aleatórias pelos fragmentos florestais através da

observação dos materiais botânicos presentes, sendo destacadas as espécies

mais representativas.

5. Observações e conclusões

O pagamento por serviços ambientais é um dos pilares que sustentam a

nova legislação ambiental brasileira. Pois, de nada adianta aprovar toda uma

legislação especifica para o setor se não avançar-se a discussão por

pagamento de serviços ambientais. E isso tende a valorizar o produtor rural

que cuida do meio ambiente.

Este poderá ter três tipos diferentes de atuação: o primeiro tipo de

atuação seria a preservação da unidade de conservação, que busca preservar

ou recuperar áreas protegidas legalmente e que já são reservas, mas não têm

a proteção ou preservação adequada. O segundo tipo de atuação seria

incentivar o proprietário rural a recompor áreas degradadas com espécies

nativas para preservar as paisagens naturais e conservar a biodiversidade de

fauna e flora local, evitando o uso destas florestas para produção.

E, o terceiro tipo de atuação, e que está diretamente relacionado com o

presente estudo, é a de conservação da água, que busca minimizar a erosão,

recompor a cobertura das APP’s e proteger as bacias ou sub-bacias que

abastecem as zonas urbanas.

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Este, portanto, acaba sendo um projeto que, além de toda a

regulamentação e anuência dos órgãos ambientais, o produtor possa a ter

assistência técnica direta e ainda acaba por ter uma renda familiar adicional.

Segundo Moreira Mendes, esta é a maneira mais econômica de preservar o

meio ambiente.

Contudo, a idéia central dos sistemas de PSA é permitir que os

beneficiários de um serviço ambiental possam fazer pagamentos diretos,

contratuais e condicionados aos produtores destes tipos de serviços

ambientais, em retorno à adoção de práticas que asseguram a conservação e a

restauração dos ecossistemas (WUNDER, 2005).

Em resumo, da mesma forma que o uso da terra adequado pode ser

remunerado por gerar externalidades positivas, ou minimizar externalidades

negativas, e assim corrigir falhas do mercado e estimular financeiramente

determinadas práticas, as atividades urbanas que gerassem benefícios

coletivos semelhantes também deveriam ser passíveis de tal remuneração, na

forma de pagamento por serviços ambientais urbanos.

Cabe destacar, que as informações pertinentes à interferência da APP,

percentual de interferência e uso da APP, estão balizadas no dimensionamento

estipulado pela atual legislação federal. Não sendo considerados os usos

consolidados destas APP’s em razão de não ter dados específicos dos

registros imobiliários. Pois, quando da coleta de dados, não houve condições

para distinção de quantos imóveis rurais podem fazer a composição da

propriedade onde a nascente está inserida.

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Ressalta-se que o número de nascentes amostradas neste estudo foi de

35 (trinta e cinco), sendo que a distribuição geográfica das mesmas ocorre

conforme segue:

• Município de Santa Gertrudes 1 (uma);

• Município de Rio Claro 19 (dezenove);

• Município de Corumbataí 6 (seis);

• Município de Itirapina 2 (dois);

• Município de Ipeúna 6 (seis).

Portanto, quando da implantação de qualquer ação de iniciativa pública

ou privada, deverá, obrigatoriamente, ser realizado em regime intermunicipal,

dado que as bacias de contribuição das recargas destes mananciais

extrapolam os limites territoriais do município de Rio Claro, abrangendo toda a

região da Bacia do Rio Corumbataí.

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