relatÓrio final chromiec
TRANSCRIPT
ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ
PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
ELAINE REGINA STANKIWICH
A INFLUÊNCIA DO CONCRETISMO EM OSMAR CHROMIEC
Curitiba, agosto de 2013
ii
ELAINE REGINA STANKIWICH
A INFLUÊNCIA DO CONCRETISMO EM OSMAR CHROMIEC
Relatório contendo os resultados finais do projeto
de iniciação científica vinculado ao Programa PIC-
Embap.
Orientação: Drª Maria José Justino e Drndo
Fabrício
Vaz Nunes.
Pesquisa financiada com recursos da Fundação
Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico do Estado do Paraná.
Curitiba, agosto de 2013
iii
AGRADECIMENTOS
Ao Centro de Documentação e Pesquisa Guido Viaro do Museu da Gravura Cidade de
Curitiba, ao acervo do MAC - PR; à Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento
Científico e Tecnológico do Estado do Paraná; a Escola de Música e Belas Artes do
Paraná; aos meus orientadores Drª Maria José Justino e Drando
. Fabrício Vaz Nunes pela
atenção ao tema; ao Francis Rodrigues da Silva pela contribuição; à família Chromiec; e
a João Debs pelo apoio e incentivo.
iv
RESUMO
Chromiec (1948-1993), artista autoditada, foi atuante em Curitiba na década de 1970, é
considerado pioneiro na arte abstrato-geométrica no Paraná, desenvolvendo uma
trajetória de duas décadas de produção artística iniciada na Op-Art. Destas duas
décadas, dez anos são dedicados à geometrização da forma, depois Chromiec tende a
uma figuração ao final da carreira.
O que nos interessa nesta pesquisa é sua fase geométrica, e seu percurso criativo, em um
contexto um tanto hostil à abstração geométrica, como foi Curitiba no Paraná, até o
início da década de 70.
Palavras chave: Chromiec, Osmar (1948-1993); abstração geométrica; arte paranaense;
concretismo; neoconcretismo.
v
SUMÁRIO
Resumo iii
Sumário iv
Introdução 1
1 O PENSAMENTO CONCRETISTA NO BRASIL, década de 50 2
1.1 Construtivismo 4
2 O PENSAMENTO ABSTRATO NO PARANÁ 5
3 QUESTÕES FORMAIS DA ABSTRAÇÃO GEOMÉTRICA 7
3.1 A questão da forma geométrica, “concreta” 7
3.2 A grade na arte abstrata 8
3.3 Op art 8
4 OSMAR CHROMIEC 9
4.1 A influência do concretismo em Osmar Chromiec 9
4.2 OBRAS DE OSMAR CHROMIEC 12
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 31
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 32
6.1 Livros, monografias, teses e dissertações 32
6.2 Publicações em jornais 33
7 Créditos das ilustrações 34
ANEXOS 3
INTRODUÇÃO
A pesquisa trata da influência do Concretismo em Osmar Chromiec. Iniciamos
com a contextualização do movimento concreto, o pensamento concretista no Brasil na
década de 1950, as questões da forma geométrica, “concreta”. Em seguida faremos uma
breve imersão no pensamento e no cenário artístico Paranaense, Curitiba na década de
1970. No terceiro capítulo passamos aos conceitos que permeiam a forma geométrica e
nos aprofundamos no significado do termo “concreto”. E finalizando apresentamos um
panorama da trajetória artística de Chromiec e uma breve análise de suas obras, com
foco em sua fase abstrato-geométrica, na década de 1970.
Além das referências em livros, também foi realizada consulta em acervos
públicos disponíveis no Centro de Pesquisa Guido Viaro do Museu da Gravura de
Curitiba e no Museu de Arte do Paraná (MAC - PR), com acesso a documentos como
fotos, jornais e publicações da época.
Outra fonte de referência foi a monografia realizada por Francis Rodrigues sobre
a obra de Osmar Chromiec e monografia do Prof. Drando
Fabrício Vaz Nunes em que o
tema é a discussão do Concretismo no Brasil. Todas estas fontes contribuíram de forma
valiosa para o desenvolvimento desta pesquisa.
Estabelecer relações entre a obra de Chromiec, sua trajetória, o contexto
histórico, o pensamento concretista no Brasil e as questões formais da abstração
geométrica; tudo isto enriquece e contribui para uma melhor compreensão da arte
paranaense.
2
1 O PENSAMENTO CONCRETISTA NO BRASIL, década de 50.
Na década de 1950 no Brasil, vê-se o cenário do pós - guerra (1939-1945) e uma
busca por grande desenvolvimento industrial e urbano durante o governo de Juscelino
Kubitschek. Eleito em 1955, JK apresentou o seu Plano de Metas, cujo lema era
“cinquenta anos em cinco”. O plano consistia no investimento em áreas do setor
econômico, principalmente infraestrutura e indústria.
No cenário artístico há o surgimento de instituições culturais, apoiadas pela
iniciativa privada, que trouxeram grande contribuição à arte e à cultura de um país que
até então mantinha pouco contato com as instituições internacionais e com a arte que se
fazia na Europa. Entre 1940 e 1950, ainda conservávamos uma arte nacionalista,
ufanista, voltada às questões locais e com grande valorização de artistas como Portinari
e Di Cavalcanti, cujas obras eram focadas em temática social, uma arte figurativa.
Neste momento há uma grande valorização da arte brasileira, realizada através
de instituições culturais como os Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro
(MAM/RJ) e de São Paulo (MAM/SP), o Museu de Arte de São Paulo Assis
Chateaubriand (MASP) e a I Bienal Internacional de São Paulo (1951) 1. Este novo
cenário possibilitou o surgimento de novos artistas e um novo pensamento, então
surgiam os primeiros núcleos de linguagem abstrata no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Na I Bienal de Internacional de São Paulo realizada no Museu de Arte Moderna
de São Paulo (MAM/SP), temos a presença de alguns artistas internacionais, como o
arquiteto suíço Max Bill 2, cujo pensamento vai influenciar profundamente o meio
artístico local com ideias sobre a forma geométrica, “concreta”. Bill vai participar desta
primeira Bienal e é premiado com sua obra: Unidade Tripartida. Começa a se
desenvolver um “pensamento concretista” no Brasil, com bases em teorias como a de
Max Bill, do Neoplasticismo de Mondrian, influências estéticas vindas do
1 NUNES, Fabrício Vaz. Waldemar Cordeiro: da arte concreta ao “popcreto”. Campinas, São Paulo,
2004, p. 38. 2 Em 1936, Bill formulou os princípios da arte concreta, como um refinamento das ideias publicadas por
Theo van Doesburg. Artista plástico, escultor, arquiteto, designer gráfico. Estudou na Bauhaus em
Dessau. Mais tarde, idealizador e professor na Escola Superior da Forma, em Ulm, Alemanha. In: Arte
Directory. Disponível em: http://www.max-bill.com. Acesso: Jul. 2013.
3
Construtivismo russo, da escola alemã Bauhaus e do pensamento de artistas como
Waldemar Cordeiro, líder e teórico do movimento Concretista em São Paulo.
Neste momento há um núcleo de arte concreta em São Paulo, sob liderança de
Cordeiro, e outro no Rio de Janeiro, com Ferreira Gullar e Ivan Serpa. Alunos do curso
de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), como Lygia
Pape, Helio Oiticica e Lygia Clark, tendo como teóricos os críticos Mário Pedrosa e
Ferreira Gullar, formam o Grupo Frente, em 1954.
O ano de 1952 e a exposição do Grupo Ruptura marcam o início oficial do
movimento concreto em São Paulo. Há desdobramentos da arte concreta em São Paulo
na poesia também, e fica evidente com o lançamento da revista Noigandres, em 1952,
editada pelos irmãos Haroldo de Campos e Augusto de Campos e Décio Pignatari.
Em 1956, ocorre a I Exposição de Arte Concreta no Brasil, em que artistas do
Rio e São Paulo expõem juntos. Nesta ocasião, ficam evidentes as divergências
poéticas, estéticas e ideológicas entre os dois grupos, e a partir deste momento eles vão
seguir caminhos distintos e culminar em duas vertentes, o grupo Concreto em São
Paulo, com Waldemar Cordeiro, e artistas como Geraldo de Barros, Lothar Charoux,
Féjer, Luiz Sacilotto; e os Neoconcretos no Rio de Janeiro, com Lygia Pape, Helio
Oiticica, Lygia Clark, Franz Weissmann, Abraham Palatnik, entre outros.
O Concretismo em São Paulo tem como características fundamentais o rigor
formal, a ideia da obra como pensamento, e a construção geométrica, matemática da
forma. O grupo Concreto nega radicalmente à arte a função de manifestar formas de
beleza, de proporcionar prazer estético. A arte concreta é, portanto para eles tornar
visível uma ideia, uma ideia de fundo geométrico - matemático 3. Para um artista
concreto, o objeto artístico é simplesmente a concreção de uma ideia, não há lugar para
a expressão individual no processo artístico. Para eles, toda obra de arte possui uma
base racional, em geral matemática. Fazem uso de materiais como esmalte, tinta
industrial, acrílico, madeira, materiais industriais.
O Concretismo no Rio também tem uma linguagem formal geométrica sim, mas
admitindo uma manifestação da experimentação, e da sensibilidade no fazer das obras
artísticas, em oposição aos paulistas que eram mais teóricos, e mantinham um maior
rigor formal. São duas vertentes distintas, porém a matriz que os originou é a mesma,
geométrica.
3 NUNES, Fabrício Vaz. Waldemar Cordeiro: da arte concreta ao “popcreto”. Campinas, São Paulo,
2004.
4
Nesta pesquisa não vamos nos aprofundar nestas divergências poéticas entre os
grupos e sim buscar compreender a questão do Concretismo no Brasil.
Destas experiências Concreta e Neoconcreta resultou uma arte nacional, porém
desprovida dos nacionalismos e regionalismos típicos do Modernismo de 1922. Surge
uma arte brasileira, porém com um caráter mais autônomo e universal. Uma arte que
pretende dialogar com uma arte contemporânea, produzida naquele momento.
1.1 Construtivismo
Como foi dito, o pensamento concretista no Brasil na década de 1950, também tem
influências estéticas vindas do Construtivismo russo, da escola alemã Bauhaus, do
Neoplasticismo 4 de Mondrian e Theo van Doesburg, e do pensamento e concepção de
forma de Max Bill.
A influência construtivista que recebemos aqui vem através do Manifesto Realista5,
escrito por Naum Gabo e Pevsner. Neste manifesto, Gabo traz uma visão mais “estética”
do Construtivismo e menos “política”. Ele considera a forma, seus desdobramentos,
seus espaços, vazios, e admite que a arte possa ter valor estético e não apenas funcional.
É este “Construtivismo” de Gabo que teremos como referência da “vanguarda russa” e
que será assimilado naquele momento no Brasil.
Russos como Alexander Rodchenko (1891 -1956) e Moholy-Nagy (1895 -1946),
Kazimir Malevich 6 (1878 – 1935) entre outros, apresentavam um trabalho de natureza
“construtiva”. Malevich vai propor experiências totalmente abstratas na pintura,
tratando de um espaço planificado, negando a ilusão das três dimensões do espaço.
O Construtivismo traz também conceitos como "organização da vida" através do
"método construtivo". Então tomamos isto como a ideia de “construir”; e nas palavras
de Helio Oiticica:
4 O termo liga-se diretamente às novas formulações plásticas de Piet Mondrian (1872-1944) e Theo Van
Doesburg (1883-1931). O movimento se organiza, em torno da necessidade de "clareza, certeza e ordem"
e tem como propósito central encontrar uma nova forma de expressão plástica, liberta de sugestões
representativas e composta a partir de elementos mínimos: a linha reta, o retângulo e as cores primárias,
azul, vermelho e amarelo, além do preto, branco e cinza. Neoplasticismo, In: Enciclopédia Itaú Cultural
Artes Visuais. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br. Acesso: jul. 2013. 5 In: AMARAL, Aracy A (supervisão). Projeto construtivo brasileiro na Arte (1950 – 1962). Rio de
Janeiro, Museu de Arte Moderna; São Paulo, Pinacoteca do Estado, 1977, p. 35.
5
... O fato real, porém, é que se torna inadiável e necessária uma
reconsideração do termo “construtivismo” ou “arte construtiva” dentro das
novas pesquisas em todo o mundo. Seria pretensioso querer considerar...
como construtivo somente as obras que descendem dos Movimentos
Construtivista, Suprematista e Neoplasticista, ou seja, a chamada “arte
geométrica”..., “O sentido de construção está estritamente ligado à nossa
época....Considero pois, construtivos os artistas que fundam novas relações
estruturais, na pintura(cor) e na escultura, e abrem novos sentidos de espaço e
tempo, os que acrescentam novas visões e modificam a maneira de ver e
sentir, portanto os que abrem novos rumos na sensibilidade contemporânea. 7
Portanto, construir uma nova forma, um novo fazer, uma nova percepção.
Da Bauhaus, teremos uma influência de teor estético principalmente, no que se
refere à simplificação das formas, e teorias da percepção, como a Gestalt. Do
Neoplasticismo de Mondrian temos o uso de horizontais e verticais, em especial no
concretismo paulista. De Max Bill, os desdobramentos sobre teorias da forma
geométrica. A Bauhaus traz uma estética e filosofia de proximidade entre trabalho
artístico e produção industrial, retoma, portanto, as relações entre arte e ofícios, arte e
indústria, que remete a movimentos como o arts and crafts, do art nouveau e do art
déco, que mantinham uma relação entre belas-artes e artes aplicadas, ou seja, uma
proposta utilitária para o objeto artístico, uma arte funcional, que serviria a indústria,
mas mantendo a estética, a beleza da forma. A estética e o pensamento da Bauhaus têm
influencia no design gráfico, na indústria e se relaciona com o fazer “concreto”, a forma
abstrato-geométrica.
2 O PENSAMENTO ABSTRATO NO PARANÁ
Além da presença da abstração geométrica, tendências abstratas informais que
exploravam o gesto e o ato do artista ganhavam destaque nas Bienais de São Paulo, na
década de 1950.
No cenário Paranaense neste mesmo período, décadas de 50 e 60, temos uma maior
presença do figurativo, com temática em paisagens, segundo a estética de Alfredo
Andersen 8. Neste momento a abstração geométrica não era aceita nas Escolas de Arte
em Curitiba, os professores, as Instituições, os Salões de Arte, as Galerias, o “mercado”
de arte eram hostis a esta linguagem. Nos cursos regulares de formação superior, como
7 FERREIRA, Glória. Escritos de Artistas-anos 60 e 70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006,
p. 87. 8 DA SILVA, Francis Rodrigues. Osmar Chromiec: a abstração geométrica na década de 1970.
Curitiba, 2012, p.27. In: GASSEN, Lilian Holanda. Mudanças culturais no meio artístico de Curitiba
entre as décadas de 1960 e 1990. Dissertação (Mestrado em História), UFPR, Curitiba, 2007, p. 14 -15.
6
a EMBAP, se mantinha uma proposta de ensino atrelada a uma arte figurativa. Artistas
abstratos como Fernando Calderari e João Osório, que eram professores da EMBAP,
ensinavam em suas disciplinas elementos de caráter acadêmico conforme os ensinados
pelos seus antigos professores discípulos de Andersen. O abstrato informal nem a
linguagem geométrica faziam parte da grade curricular da instituição. 9
Na década de 1960, no Paraná, há uma tendência ao abstrato informal, mas não o
geométrico. E segundo Lilian Hollanda Gassen10
, foi só no final da década de 1960 que
foi exposta em Curitiba, no 26º Salão Paranaense, uma obra abstrata geométrica de
Lothar Charoux. Até o início da década de 1970 nenhum artista paranaense tinha
produzido uma pintura realmente abstrata geométrica.
“Produzir uma pintura abstrata, na década de 1970, em Curitiba, já não era
nenhuma novidade. Mas uma pintura abstrata geométrica representava um acréscimo”.
11
Esta produção abstrata aqui no Paraná foi possível devido à organização de um grupo de
pessoas que tinham o intuito de deixar de lado uma tradição figurativa legada por
artistas de uma geração anterior 12
. Era comum a reunião em grupos, a troca de
experiências e de obras neste núcleo de novos artistas na década de 1970. Essa nova
geração passou a ter influência em júris de salões, fazendo com que o abstrato fosse
absorvido pelas instituições oficiais.
Chromiec foi um dos primeiros artistas paranaenses a trabalhar com a abstração
geométrica. Em relação ao contexto de arte brasileira, isto ocorreu de forma tardia
porque em Curitiba existia a resistência de alguns artistas, professores e críticos com
relação a esta linguagem artística. 13
9 DA SILVA, Francis Rodrigues. Op. cit, p.27.
10 GASSEN, Lilian Holanda. Mudanças culturais no meio artístico de Curitiba entre as décadas de
1960 e 1990. Dissertação (Mestrado em História), UFPR, Curitiba, 2007, p. 14 -15. 11
DA SILVA, Francis Rodrigues. Op. cit, p.27. 12
DA SILVA, Francis Rodrigues. Op. cit, p.35. 13
DA SILVA, Francis Rodrigues. Op. cit, p.34.
7
3 QUESTÕES FORMAIS DA ABSTRAÇÃO GEOMÉTRICA
3.1 A questão da forma geométrica, “concreta”.
No ambiente do pós-guerra marcado por certo otimismo e pelo desejo de
esquecer a barbárie dos anos anteriores, vemos emergir uma arte concreta, que não está
preocupada em representar a realidade ou qualquer resquício dela.
O cubismo vai introduzir o problema da bidimensionalidade do espaço pictórico.
A arte concreta nega qualquer representação visual que faça referência ao mundo
real, ao subjetivo, à emoção. Segundo Van Doesburg, um nu feminino, uma árvore ou
uma natureza-morta na tela não são elementos concretos, mas abstrações. Uma
abstração da forma a partir do real.
O que há de concreto numa pintura são os elementos formais. A pintura
concreta é "não abstrata", afirma Van Doesburg em seu manifesto, Manifeste sur l´Art
Concret 14
, “pois nada é mais concreto, mais real, que uma linha, uma cor, uma
superfície". O termo “concreto” define de forma mais clara que estamos tratando de
algo “real”, e não uma abstração visual. Van Doesburg dialoga com a forma pensando a
diagonal. E segundo sua teoria toda diagonal tende para o espaço, para o tridimensional.
Em contraponto, Mondrian mantém o uso de horizontais e verticais, valoriza o espaço
planificado, sem nenhuma sensação de profundidade. A pureza e o rigor formal, uma
obra plástica orientada pela geometria e clareza da forma.
Max Bill usa o termo “arte concreta” 15
como a arte que não faz referência aos
objetos do mundo real, definição que até então era chamada de arte "abstrata". Max Bill
divulga e populariza as ideias sobre arte concreta, e explora essa concepção de arte
concreta defendendo a incorporação de processos matemáticos à composição artística e
a autonomia da arte em relação ao mundo natural.
A obra de arte não representa a realidade, mas evidencia estruturas, planos e
conjuntos relacionados, que falam por si mesmos. E, negando as correntes artísticas
subjetivas e líricas, recusa o sensualismo e a arte como expressão de sentimentos. Os
princípios do concretismo afastam da arte qualquer conotação lírica ou simbólica. O
quadro, construído exclusivamente com elementos plásticos, planos e cores, não tem
outra significação senão ele próprio, a construção do quadro, assim como seus
elementos, deve ser simples, a técnica dever ser mecânica, exata, clareza, absoluta.
14
In: AMARAL, Aracy A (supervisão). Op. cit, p. 42. 15
In: AMARAL, Aracy A (supervisão). Op. cit, p. 48.
8
Questões como ordem, ritmo, o espaço vazio, contraste, peso, equilíbrio, visualidade
fundamentam e compõe a forma concreta.
3.2 A grade na arte abstrata
A grade geométrica é uma estrutura composta por linhas horizontais e verticais
que se cortam, formando uma série de quadrados, linhas e colunas na mesma proporção.
A grade pressupõe uma ordem, um enquadramento, conduz a uma continuação e
repetição de elementos. É utilizada como suporte para a construção de uma imagem,
seja para auxiliar na perspectiva de uma obra de caráter figurativo, realista, ou para
trazer uma planaridade a uma obra abstrata geométrica, em que não há distinção entre
figura e fundo. A grade atua como auxiliar no fazer, e no final o que vemos é a obra, e
não a grade, ainda que ela exista. Artistas como Mondrian (1872 - 1944), e Kazimir
Malevich (1878 - 1935), utilizaram a “grade” em suas obras.
3.3 Op art
A Op art explora experiências perceptivas, efeitos visuais através da percepção,
estas sensações ilusórias ocorrem na estrutura física do olho ou no próprio cérebro,
colocando os processos de visão em dúvida através da composição da forma e das
relações cromáticas. A base destas composições é geométrica, são estruturas repetidas,
com a repetição de padrões, que criam ilusão de movimento e profundidade.
A Op art tem raízes no construtivismo e na teoria de Malevich, de “assegurar a
supremacia da sensibilidade pura em arte”. Artistas como Moholy-Nagy e Josef Albers
da Bauhaus desenvolveram pesquisas explorando as possibilidades de efeitos ilusórios
através das relações entre as cores. Albers trabalhou a cor e suas relações, em obras
como “Homenagem ao quadrado”.
Victor Vasarely também desenvolveu importante trabalho relacionado à Op art.
Com criações como composições de tabuleiros de xadrez, proporciona estímulos
oculares em preto e branco, usa de padrões geométricos, explorando a ambiguidade e
desorientação ótica. Vasarely explora estas relações entre obra e expectador.
9
A sensação na Op art gera um efeito físico em quem oberva, em que o sensorial,
a percepção torna-se mais importante do que a compressão intelectual da obra 16
.
4 OSMAR CHROMIEC
4.1 A influência do concretismo em Osmar Chromiec
Osmar Chromiec nasce em Curitiba, a 18 de julho de 1948, de origem polonesa
e italiana. Chromiec busca os ateliês livres, inicia seus estudos em arte como aluno do
curso de pintura na Escola Alfredo Andersen. Nos anos seguintes, de 1972 a 1973,
segue sob orientação da artista plástica e professora Janete Fernandes 17
. Após este
período prossegue seus estudos em pintura de maneira autoditada. Janete Fernandes traz
um método de ensino com discussão de trabalhos e de crítica, buscando um pensamento
em arte e o desenvolvimento da percepção. Com propostas inventivas para estas
reuniões, valorizava a pesquisa artística pessoal de seus alunos. Com ela, Osmar
aprendeu e tratou em sua obra de elementos da fragmentação da imagem, através de
princípios da composição 18
. Janete relata em depoimento que aprendeu este método de
ensino com Ivan Serpa 19
(Figura 29), quando este fazia visitas a Curitiba a convite da
Secretaria da Cultura do Estado do Paraná. 20
Chromiec preferiu estudar arte de maneira independente, pois considerava que
uma Escola limitava a liberdade de criação do artista; lembrando o contexto da época,
em que o ensino nas Escolas de Arte em Curitiba era com ênfase no figurativo, através
de método mais tradicional e acadêmico.
Chromiec segue seus estudos em arte, iniciando sua carreia artística em 1970 e
em paralelo a isso trabalha na indústria do pai, a Wadeslau Chromiec e Filho LTDA,
uma das principais fábricas de calhas de Curitiba.
16
STANGOS, Nikos. Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, p. 171. 17
Estuda na Polônia, entre 1970- 1971. De uma técnica pessoal, desenvolve formas tridimensionais, que
rompem a bidimensionalidade da parede, invadindo o espaço, integrando-se a uma realidade brasileira.
Pioneira na técnica de tecelagem entrecortada com esculturas em arame e que lhe permite modelar em lã e
sisal as mais variadas formas. Materiais “naturais” para encontrar criatividade, em uma sociedade
anestesiada pelo excesso de consumo. ARAÚJO, Adalice. Dicionário das artes plásticas no Paraná.
Curitiba: 2006. Vol. 1, p. 143. 18
Osmar Chromiec na Galeria Macunaíma do Rio de Janeiro. Gazeta do Povo. Curitiba, 23/09/1982. 19
Ivan Ferreira Serpa (Rio de Janeiro, 1923 – 1973). Em 1949, ministra suas primeiras aulas no Museu de
Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, Nesse mesmo ano, ao lado de Ferreira Gullar e Mário
Pedrosa, cria o Grupo Frente. Permanece na liderança do grupo até sua dissolução, em 1956. Ivan Serpa,
In: Enciclopédia Itaú Cultural Artes Visuais, disponível on-line: http://www.itaucultural.org.br. Acesso:
01 jul. 2013. 20
DA SILVA, Francis Rodrigues. Op. cit, p.31.
10
No decorrer de sua trajetória, ele participa de Salões, exposições coletivas e
individuais. É premiado várias vezes no Salão Paranaense. Também estará presente em
Bienais, como a XII Bienal de São Paulo, de 1973.
Em 1976, realiza sua primeira individual no Banco Nacional, e a partir deste
ano, Chromiec passa a se dedicar exclusivamente à arte, e por volta de 1980 já é um
artista reconhecido. Nos anos 80 ele é também um dos sócio-fundadores da Associação
Profissional dos Artistas Plásticos do Paraná, APAP-PR.
O abstracionismo geométrico vai influenciar profundamente a obra de
Chromiec. É considerado um dos pioneiros desta linguagem aqui no Paraná, neste
momento não existiam outros artistas que pensavam a abstração geométrica como ele.
Dentro deste campo do abstracionismo é mais difícil para o público entender,
os apreciadores são em um número muito restrito. As pessoas preferem
comprar casinhas, paisagens, poucos entendem a minha arte. Sempre pintei
neste estilo e acho que jamais conseguirei pintar um quadro figurativo. 21
Chromiec produziu durante duas décadas, de 1970 a 1990, e deste período, dez
anos foram dedicados ao geométrico. A influência do Concretismo em sua obra, ao que
parece, foi muito intuitiva, e não direcionada propositadamente, o que vemos aí é um
gosto pessoal, uma apreciação de Chromiec pela forma geométrica. Além disso, tem-se
o histórico de ele ter trabalhado na indústria, com chapas metálicas, com cortes e dobras
de metais, o que provavelmente influenciou seu “olhar”, trazendo uma vivência de
pensar os espaços, os planos, as sobreposições, “construir” as formas geométricas. Aqui
vemos um traço em comum com os artistas concretistas de São Paulo da década de 50, a
maioria deles também trabalhou na indústria.
Quanto a um referente em sua obra, Chromiec admite influência de Volpi 22
, mas
o que de fato o direcionou foi sua própria percepção e busca pessoal. Há registros
também de uma coleção de livros que está na casa de seus familiares, com publicações
como: Henri Matisse e Arcangelo Ianelli. 23
Dentro da explosão da criatividade de base da nova arte paranaense, Osmar
Chromiec identifica-se como um abstrato - geométrico sensível que tenta
salvar a forma da saturação através de uma lírica simplicidade onde se
integram linhas internas e externas, que muitas vezes se complementam em
21 Correio de Notícias, Curitiba, 9 agosto de 1977. [documento com referência disponível na pasta do
Osmar Chromiec no Centro de Documentação e Pesquisa Guido Viaro do MGCC]. 22
Correio de Notícias, Curitiba, 17 maio de 1980. [documento com referência disponível na pasta do
Osmar Chromiec no Centro de Documentação e Pesquisa Guido Viaro do MGCC]. 23
DA SILVA, Francis Rodrigues. Op. cit, p. 37.
11
dípticos e trípticos. Ele joga apenas com as suas únicas certezas: preto e
branco? Silêncio e com/ infinito e luz? Reta e curva/ morte e vida. 24
Sobre a relação entre a obra abstrato-geométrica de Osmar Chromiec e o
movimento Concreto na década de 50 em São Paulo, temos a opinião da crítica de arte
Maria Adalice de Araujo:
Os críticos de arte dos chamados “grandes centros” (São Paulo e Rio) tendem
a considerar como “nacionais”, fenômenos cuja importância foi sobretudo
local. Tal é o caso da “Semana de Arte Moderna de 1922” de São Paulo, que
no campo das artes visuais, nenhuma influência direta exerceria sobre os
estados do Sul do País: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul/ que
descobriram seus próprios caminhos para a integração, da forma mais
autônoma possível. Excessivamente dogmático seria também, tentar explicar
todo o abstracionismo geométrico brasileiro, tomando por base
exclusivamente: Samson Flexor, as Bienais Paulistas ou a I Exposição de
Arte Concreta de 57. Por exemplo, as obras de Osmar Chromiec, embora
inseridas numa “tendência abstrato-geométrica”, nada tem a ver com tais
fenômenos, correspondendo a mais uma entre as múltiplas tendências da
novíssima geração de artistas paranaenses...25
.
As considerações de Adalice Araujo são válidas e coerentes. Entretanto, o que
vemos é uma influência da arte concreta na obra de Chromiec de forma indireta, a partir
de Janete Fernandes, artista que o orientou no inicio da carreira. Janete, por sua vez teve
contato com o artista e professor Ivan Serpa, e dele obteve o método de ensino com
ênfase na percepção. E Serpa fez parte do grupo Frente, junto com artistas neoconcretos
do Rio de Janeiro, como Lygia Pape, Helio Oiticica e Lygia Clark. Portanto, estes
movimentos de arte concreta nos anos 50, provavelmente vão influenciar de maneira
indireta e até sutil a obra de Chromiec. Além disso, Chromiec trabalhou na indústria,
com manuseio de metais, esta vivência vai direcionar sua obra para as formas
geométricas. Este fato, o contato com a indústria, um traço em comum com os
concretistas paulistas.
24
ARAUJO. Adalice. 1973. [documento com referência disponível na pasta do Osmar Chromiec no
Centro de Documentação e Pesquisa Guido Viaro do MGCC] 25
O abstracionismo geométrico sensível de Osmar Chromiec. 16/09/1973. [documento com referência
disponível na pasta do Osmar Chromiec no Centro de Documentação e Pesquisa Guido Viaro do MGCC].
12
4.2 OBRAS DE OSMAR CHROMIEC
Chromiec vê na arte a possibilidade de expressão de sentimentos e assume uma
postura autêntica. De fato, para ele não importava se as pessoas gostavam ou não de sua
obra, importava a ele “fazer o que sentia”. Pintava mais por uma necessidade interior
do que pela intenção da comercialização de sua arte.
O acabamento de suas telas é cuidadoso, caracterizado por precisão, limpeza.
Seu método de trabalho é rigoroso, pensa diversas possibilidades da forma no espaço (o
suporte) antes de finalizar o trabalho. A ideia de exercício da forma, aperfeiçoamento
através da repetição. Às vezes faço três ou quatro estudos para achar um que me
satisfaça”. Meu trabalho depende muito de equilíbrio. (...) Acho que meu trabalho tem
uma certa linha, sou coerente. Faço o desenho no papel e, se me agrada, passo para a
tela...26
A inspiração do trabalho de Osmar veio através da fábrica de sua família, do
manuseio de chapas metálicas na indústria do pai.27
“... Eu e meus irmãos fazíamos o
mesmo serviço, cortar e dobrar, junto com os empregados. Depois que a fábrica
começou a expandir, nós nos organizamos”. 28
Minha pintura tem muito a ver com o meio em quem vivo. No meu trabalho
convivo diariamente com estas formas. Trabalho em nossa fábrica desde os
17 anos, e aprendi a lidar com medidas e cortes em chapas, as quais são
recortadas em várias formas e tamanhos diferentes. Formas triangulares,
quadradas, redondas. A inspiração creio que seja inconsciente, pois estas
formas, com as quais trabalhei durante todos estes anos, e ainda continuo a
trabalhar, marcaram a minha pintura. A pessoa que vê o ambiente onde
trabalho irá compreender perfeitamente a importância que dou as mesmas, e
porque elas se incorporam a mim, estão dentro de mim. É o mesmo que você
pegar um pedaço de papel e desenhar várias formas geométricas e depois
recortar com a tesoura. No meu caso estas folhas de papel são de alumínio,
cobre, chapas galvanizadas e chapas de aço inoxidável.29
Repetição, simetria, e equilíbrio são constantes na obra de Chromiec, vem de
uma estrutura pensada, com diversos estudos de composição em papel, com grafite,
caneta e colagem. (Figuras 1 e 2)
26
Correio de Notícias, Curitiba, 17 de maio de 1980. [documento com referência disponível na pasta do
Osmar Chromiec no Centro de Documentação e Pesquisa Guido Viaro do MGCC]. 27
Chromiec, o vencedor do Salão Paranaense. Gazeta do Povo. Curitiba, 13/11/1981. 28
DA SILVA, Francis Rodrigues. Op. cit, p. 29. 29
ADALICE, Araújo. A geométrica sensibilidade de Osmar Chromiec. Catálogo de exposição –
Galeria Eucatexpo. Curitiba, agosto, 1978.
13
Figura 1 - Osmar Chromiec (estudo com caneta hidrográfica sobre papel). Acervo Wadeslau
Chromiec).
Figura 2 - Osmar Chromiec (estudo com caneta hidrográfica sobre papel). Acervo Wadeslau Chromiec.
Cada forma, cada linha é inserida em uma área da grade (Figura 3), a ser
ampliada depois no suporte final. Ou seja, a obra é “construída” quase que de forma
matemática, desenho dentro de quadrados, áreas quadradas. Neste trabalho (Figura 3),
Chromiec faz uso da colagem para estudar as formas de composição, e como em um
jogo, “brinca” com as diversas possibilidades de configuração deste espaço. Após esta
etapa a opção escolhida é ampliada em uma tela, com tinta acrílica.
14
Figura 3 - Osmar Chromiec, 1981 (estudo com colagem). Acervo Wadeslau Chromiec.
Figuras 4 e 5 - Osmar Chromiec (estudo com caneta hidrográfica sobre papel). Acervo Wadeslau
Chromiec.
Chromiec pensa em módulos, em áreas, as distancias entre os elementos na
composição são as mesmas, medidas padronizadas, possível devido ao uso de uma
configuração geométrica pré- estabelecida como base para a construção da obra, as
“grades”. (Figuras 4 e 5). Nestas imagens (Figuras 4 e 5), temos visível a grade como
base para a construção destes estudos. Há aqui um rebatimento das formas, em uma
configuração vertical (Figura 4) e horizontal (Figura 5), são planos simétricos.
Chromiec “constrói” padrões geométricos, através da repetição de formas. São
figuras, formas concêntricas, quadrados, triângulos. (Figuras 6 e 7). Aqui também há o
pensamento a partir de uma grade geométrica, que traduz ordem e ritmo a composição.
15
Figura 6 - Osmar Chromiec, Sem título (colagem com papel sobre madeira, 0,80 m x 0,80 m).
Acervo Wadeslau Chromiec.
Figura 7 - Osmar Chromiec (estudo com caneta hidrográfica sobre papel). Acervo Wadeslau Chromiec.
Algumas composições sugerem formas geométricas que vem para o espaço
(Figura 8), influência da vivência que Chromiec teve na fábrica de calhas da família,
com corte e dobra de metais. De fato, há esta sensação de dobra, rebatimento, planos
que se espelham. Uma sensação de movimento, desdobramento da forma.
16
Figura 8 - Osmar Chromiec, O amarelo predomina, 1975 (acrílica sobre tela, 0,95 x 0,95 m).
Acervo Wadeslau Chromiec.
Figura 9 - Osmar Chromiec, 1978 (estudo com acrílica sobre papel). Acervo Wadeslau Chromiec.
Neste estudo (Figura 9), as mesmas formas se movimentam no papel em
diferentes posições, esta série indica uma busca estética, de equilíbrio na composição,
uma compreensão do espaço. Um pensamento diagonal, que proporciona um maior
dinamismo, dialogando com os limites da área de composição.
No trabalho reproduzido na figura 10 há uma preocupação com um centro na
obra, o "encontro" das linhas em um eixo, simetria, equilíbrio entre áreas de cor e vazio.
Na imagem vista na figura 11, o artista busca um “contraponto”, um rebatimento da
17
forma, algo que se completa do outro lado, em outra cor. Chomiec trabalha com
algumas séries como estas, branco (o vazio) e uma segunda cor, azul ou vermelho, de
uma beleza simples e sutil.
Figura 10 - Osmar Chromiec, Sem título (colagem com papel sobre madeira, 0,80 x 0,80 m).
Acervo Wadeslau Chromiec.
18
Figura 11 - Osmar Chromiec, Sem título (colagem com papel sobre madeira, 0,80 m x 0,80 m). Acervo
Paulo Roberto Chromiec.
Figura 12 - Osmar Chromiec, Sem título, 1974 (colagem com papel sobre madeira, 0,80 m X 0,80 m).
Acervo Paulo Roberto Chromiec.
19
Figura 13- Osmar Chromiec, Sem título, 1974 (colagem com papel sobre madeira, 0,80 m x 0,80 m).
Acervo Wadeslau Chromiec.
Nas figuras 12 e 13 vemos também o uso de poucas cores, uma simetria
presente, uma poética simples, sensível, mas de uma compreensão geométrica da forma,
áreas de cores, áreas de “vazios” e “cheios”, sim e não, espaço branco que permite
leveza e proporciona elegância à obra.
Há na obra de Chromiec uma economia de elementos formais, uso de poucas
cores, e quando usa mais cores, predomina do verde, ocre, amarelo, azul, cinza, cores
sóbrias. (Figura 14). Ocasionalmente usa cores vibrantes, mas prevalece o uso das cores
opacas. Entretanto nesta pesquisa não será feito o aprofundamento da questão cor na
obra de Chromiec. Aqui nos detemos na questão da forma, do pensamento de Osmar
Chromiec com relação à abstração geométrica.
20
Figura 14 – Osmar Chromiec, Figuras Geométricas, 1975 (acrílica sobre tela sobre chapa de madeira).
Acervo MAC-PR, Comodato BADEP.
Nesta obra (Figura14), há uma presença de profundidade, uma sensação de
perspectiva criada pela configuração do quadrando azul ao fundo; estas “unidades” de
formas em perspectiva se repetem, como módulos, em diferentes posições, unidades
sequenciais, possibilitando múltiplas formas de ver a mesma imagem, sugerindo
movimento.
Década de 1970:
A década de 1970 marca o início da carreira de Osmar Chromiec, que começou
trabalhando com experimentações com colagem e então se interessou pela Op Art.
Chromiec produziu pinturas monocromáticas, em preto e branco, com uso de repetições
de formas, criando a ilusão de ritmos e movimento, como a obra “Paisagem
Geométrica” (Figura 15), que lhe garantiu o 1º Prêmio no “Salão dos Novos” em 1970.
O principio da repetição segue em sua obra mesmo depois de sua fase Op art.
Os estudos (Figuras 16 e 17) revelam uma dedicação, preparo e um pensamento
na construção dos efeitos visuais que Chromiec queria proporcionar na obra. Nestes
21
trabalhos com referência na Op art, há um maior envolvimento do espectador, possível
por uma participação visual, perceptiva que a obra proporciona.
Figura 15 - Osmar Chromiec, Ilusão I, II, III (tríptico), 1970 (acrílica sobre tela, 1,44 m x 4,32 m).
Acervo MON.
Figura 16 - Osmar Chromiec (estudo com grafite sobre papel, 35 cm x 35 cm). Acervo Wadeslau
Chromiec.
22
Figura 17 - Osmar Chromiec (estudo com grafite sobre papel). Acervo Wadeslau Chromiec.
Além da pintura em tela, Chromiec segue com composições que faziam alusão à
escultura, ao tridimensional (Figura 18). São peças em madeira pintadas em preto e
branco, módulos unidos por elementos de encaixe (arruelas) e que juntos formam uma
única imagem, a obra. São painéis compostos por três, quatro ou mais peças (Figuras
20, 22 e 23 e 25). As Figuras 19 e 21 mostram como estas obras eram construídas e
unidas. A Figura 24 é um estudo de uma destas “construções”.
Há nestas estruturas uma busca de tridimensionalidade, uma integração da
moldura à obra, e presença de elementos vazados no interior. (Figura 18). Este
pensamento tridimensional, presente também em algumas pinturas, aparece nestas obras
integrando forma, espaço e cor.
A construção nestas obras continua buscando simetria e equilíbrio. Há uma
continuidade nestas estruturas, compostas por peças separadas e que juntas formam um
todo. A sensação de continuidade que se apresenta também na composição das formas
deste trabalho (Figura 25), círculos que parecem completar o seu fechamento em linhas
invisíveis. Formas concêntricas, envolvidas em quadrados também em continuidade,
além da relação de oposição de cores; preto, branco; cor, não cor.
23
Figura 18 - Osmar Chromiec, sem título (acrílica e verniz sobre placas de madeira, 8 módulos, 1,40 m x
0,80 m). Acervo Wadeslau Chromiec.
Figura 19 - Osmar Chromiec, sem título (acrílica e verniz sobre placas de madeira, 8 módulos,
1,40 m x 0,80 m). Acervo Wadeslau Chromiec. Detalhe.
24
Figura 20 - Osmar Chromiec, Geodésia, 1971 (acrílica sobre tela, 4 módulos, 1,24 m x 1,00 m).
Acervo Wadeslau Chromiec.
Figura 21 - Osmar Chromiec, Geodésia, 1971; detalhe. (acrílica sobre tela, 4 módulos, 1,24 m x 1,00 m).
Acervo Wadeslau Chromiec.
25
Figura 22 - Osmar Chromiec, Sem título (acrílica e verniz sobre placas de madeira, 9 módulos, 0,80 m x
0,80 m). Acervo Wadeslau Chromiec.
26
Figura 23 - Osmar Chromiec, sem título, 1973 (acrílica e verniz sobre placas de madeira, 1,00 m x 1,00
m). Acervo Wadeslau Chromiec.
Figura 24 - Osmar Chromiec, 1973 (estudo com desenho com grafite sobre papel e colagem).
Acervo Wadeslau Chromiec.
27
Figura 25 - Osmar Chromiec, Geodésia, 1971 (acrílica sobre tela, 4 módulos, 1,00 m x 1,00 m)
Acervo MAC-PR - prêmio aquisição do 28º Salão Paranaense.
Década de 80:
Na década de 80, Chromiec mantém os traços geométricos, porém de forma
mais sutil. Agora, faz alusão ao uso da grade, sobre um fundo quase monocromático,
com sucessivas camadas de cores e tons, um fundo com manchas, mais próximo de uma
abstração informal, mas mantém ainda características do período geométrico nas
estruturas da tela. (Figura 26).
A grade (Figura 26) assume aqui agora uma função figurativa, e não mais como
suporte para a construção da obra, mas como um valor estético. Esta grade ou estrutura
divide o plano, estabelece áreas. Nesta fase, o espaço tem uma profundidade maior,
através de certo movimento das tonalidades de cor, um relevo cromático. Há uma
melhor definição quanto ao uso de cores. E este estudo das cores, segue nas pesquisas
de Chromiec na década seguinte.
28
Figura 26 - Osmar Chromiec, Sem título II, 1981 (acrílica sobre tela, 1,20 m x 1,19 m). Acervo MAC-PR,
Prêmio Governo do Estado do Paraná, 38º Salão Paranaense.
Em sua última fase, final dos anos 80 e início dos 90, Chromiec trabalha com
grades, portões a partir de uma figuração (Figura 27). Outro tema são paisagens quase
monocromáticas com toque impressionista (Figura 28). São cenas de campo, marinhas e
casarios, Chromiec observa a natureza para criar composições. (Figuras 28 e 29).
Nesta fase há um retorno a figuração, mas talvez como suporte para um maior
estudo das cores, pois se percebe aqui um maior amadurecimento quanto ao uso da cor.
Nas palavras de Chromiec:
Na fase atual quero me comunicar mais com as pessoas. Não sei se vou
conseguir, mas quero fazer um trabalho mais regional, com motivos que me
cercam e que vejo diariamente... Quero mostras às pessoas que aquilo que
elas estão acostumadas a ver podem ser apreciadas de várias maneiras, cores
e detalhes. 30
30
ARAÚJO, Adalice. Dicionário das artes plásticas no Paraná. Curitiba: 2006. Vol. 1, p. 635.
29
Figura 27 - Osmar Chromiec, sem título, 1985 (acrílica sobre tela, 0,54 m x 0,65 m). Acervo Wadeslau
Chromiec.
Figura 28 - Osmar Chromiec, Paisagem.
30
Figura 29 - Osmar Chromiec, Sem título, 1993 (acrílica sobre tela, 0,50 m x 0,60 m).
Acervo Wadeslau Chromiec Neto.
31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredito que esta pesquisa tenha contribuído para o estudo da arte paranaense, e
para uma maior compreensão da obra e trajetória do artista Osmar Chromiec. Este
percurso permitiu transitar por conceitos e movimentos fundamentais para compreender
o pensamento e a forma geométrica em Osmar Chromiec. Foi possível também alcançar
o objetivo inicial: identificar traços, influências do concretismo na obra de Chromiec.
Um universo poético, histórico se desdobrou ao final da pesquisa, pois houve um
conhecimento não só das obras do artista, mas também de sua vida pessoal, seu círculo
de amigos, família e contexto de época.
Realizar esta pesquisa, esta investigação possibilitou ver, compreender a obra de
um artista que se dedicou a forma geométrica de maneira intuitiva, séria e corajosa.
A pesquisa revelou um acervo de obras de Chromiec ainda a ser explorado, em
especial os estudos, peças não disponíveis e desconhecidas do público. Compreender e
ver estes estudos permite compreender a obra de Chromiec. Este estudo também
possibilitou pensar um resgate da obra de Osmar Chromiec como proposta para um
projeto futuro.
32
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
6.1 Livros, monografias, teses e dissertações.
ARAÚJO, Adalice Maria de. Dicionário das Artes Plásticas no Paraná. Curitiba,
2006. Vol. 1
Arte Construtivista no Brasil. Coleção Adolpho Leiner. São Paulo, 1998.
AMARAL, Aracy A (supervisão). Projeto construtivo brasileiro na Arte (1950 – 1962).
Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna; São Paulo, Pinacoteca do Estado, 1977.
BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo: Vértice e ruptura do projeto construtivo brasileiro.
São Paulo: Cosac Naify, 1999.
COCCHIARALE, Fernando; GEIGER, Ana Bella. Abstracionismo Geométrico e
informal, a vanguarda brasileira nos anos cinquenta. Rio de Janeiro:
Funarte/Instituto Nacional de Artes Plásticas, 1987.
Concretismo. In: Enciclopédia Itaú Cultural Artes Visuais. Disponível em:
http://www.itaucultural.org.br. Acesso: 13 jul. 2013.
DA SILVA, Francis Rodrigues. Osmar Chromiec: a abstração geométrica na década
de 1970. Curitiba, 2012.
Ivan Serpa. In: Enciclopédia Itaú Cultural Artes Visuais. Disponível em:
http://www.itaucultural.org.br. Acesso: 01 jul. 2013.
FERREIRA, Glória. Escritos de Artistas – anos 60 e 70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2006.
Neoplasticismo. In: Enciclopédia Itaú Cultural Artes Visuais. Disponível em:
http://www.itaucultural.org.br. Acesso: 01 jul. 2013.
NUNES, Fabrício Vaz. Waldemar Cordeiro: da arte concreta ao “popcreto”.
Campinas, São Paulo, 2004.
PEDROSA, Mário. Forma e Percepção Estética. Edusp. 1996.
STANGOS, Nikos. Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
33
6.2 Publicações
ARAUJO, Adalice Maria de. A geométrica sensibilidade de Osmar Chromiec.
Catálogo de exposição – Galeria Eucatexpo. Curitiba, agosto, 1978.
O abstracionismo geométrico sensível de Osmar Chromiec. 16/09/1973. [documento
com referência disponível na pasta do Osmar Chromiec no Centro de Documentação e
Pesquisa Guido Viaro do MGCC].
ARAUJO, Adalice Maria de. 1973. [documento com referência disponível na pasta do
Osmar Chromiec no Centro de Documentação e Pesquisa Guido Viaro do MGCC]
A pintura de Osmar. Roteiro. 05 /1975. [documento com referência incompleta
disponível na pasta do Osmar Chromiec no Setor de Pesquisa do MAC-PR]
Correio de Notícias, Curitiba, 17 de maio de 1980. [documento com referência
disponível na pasta do Osmar Chromiec no Centro de Documentação e Pesquisa Guido
Viaro do MGCC].
Correio de Notícias. Curitiba, 9 agosto de 1977. [documento com referência disponível
na pasta do Osmar Chromiec no Centro de Documentação e Pesquisa Guido Viaro do
MGCC].
Diário do Paraná. Curitiba, 04/05/1980. [documento com referência incompleta
disponível na pasta do Osmar Chromiec no Setor de Pesquisa do MAC-PR].
O Estado do Paraná. Curitiba, 20/12/1981. [documento com referência incompleta
disponível na pasta do Osmar Chromiec do Centro de Documentação e Pesquisa Guido
Viaro do MGCC]
Osmar Chromiec na Galeria Macunaíma do Rio de Janeiro. Gazeta do Povo. Curitiba,
23/09/1982.
Chromiec, o vencedor do Salão Paranaense. Gazeta do Povo. Curitiba, 13/11/1981.
VIRMOND, Eduardo Rocha. Osmar Chromiec - Prisma e cor. Catálogo de exposição.
Exposição Galeria do Centro Cultural Brasil – Estados Unidos – 9/5/1975 a 23/5/1975.
Curitiba, Abril 1975.
34
7 Créditos das ilustrações
Todas as ilustrações foram extraídas de: DA SILVA, Francis Rodrigues. Osmar
Chromiec: a abstração geométrica na década de 1970. Curitiba, 2012, exceto:
- Figura 14: imagem da autora;
35
ANEXOS
Figura 30 - Ivan Serpa, série Amazônica nº 7, óleo sobre tela.
36
Figura 31 - Osmar Chromiec, Quadros que participaram da individual no Banco Nacional, 1976.
(foto: Acervo MAC-PR)
37
Figura 32 – Osmar Chromiec (foto: Acervo MAC-PR)