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Licenciatura em Biologia – 3º Ano Projecto – 6º Semestre Relatório do Projecto de Biologia Colonização de madeira por macroinvertebrados em rios após um incêndio Por: Nuno Bem Junho 2012 Coordenadora: Leonor Morais Orientador: Pedro G. Vaz

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Licenciatura em Biologia – 3º Ano

Projecto – 6º Semestre

 

 

 

Relatório do Projecto de Biologia 

 

Colonização de madeira por macroinvertebrados em rios após 

um incêndio 

 

Por: Nuno Bem 

 

 

Junho 2012 

 

 

 

Coordenadora: Leonor Morais 

Orientador: Pedro G. Vaz 

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Agradecimentos 

 

Agradeço ao meu orientador Pedro Vaz por toda a ajuda e orientação no trabalho e por me ter 

permitido fazer o projecto baseando‐me na sua tese de doutoramento. Agradeço à Susana e 

ao  João por me  terem  ajudado na  triagem e  identificação do material biológico no CEABN. 

Estou  ainda  agradecido  pela  hipótese  de  trabalhar  no  laboratório  de  um  centro  de 

investigação durante este semestre. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Sumário 

Os fogos são uma importante perturbação que afecta ecossistemas lóticos um pouco por todo 

o país. A madeira que cai nos rios desempenha importantes funções para as comunidades de 

macroinvertebrados  que  neles  habitam,  podendo  servir  de  habitat  ou  alimento. A madeira 

queimada  tem  características  diferentes  da  não  queimada,  podendo  auxiliar  no  estudo  do 

impacte  do  fogo  nestes  ecossistemas  através  das  comunidades  de  invertebrados  nela 

presentes.  Foram  utilizados  substratos  artificiais  de  3  espécies  diferentes  de  madeira 

queimados/não queimados para avaliar essa colonização. Não existem diferenças significativas 

nas  comunidades  ao  nível  da  família  entre  a  madeira  queimada  e  não  queimada, mas  é 

evidente a existência de diferenças relevantes nas comunidades colonizadoras de madeira em 

troços de  rio  correspondentes  a  florestas diferentes. Conclui‐se que  será necessário utilizar 

métodos mais específicos, e que proporcionem maior equilíbrio nas condições de colonização 

para que os resultados possam ser significativos. 

 

Introdução 

Portugal,  tal  como  outros  países  da  região  Euro‐Mediterrânica,  é  afectado  anualmente  por 

fogos  florestais  com  efeitos  directos  e  indirectos  na  estabilidade  dos  ecossistemas. 

Recentemente, os anos 2003 e 2005 estavam entre aqueles em que o país era mais afectado 

por fogos florestais, particularmente na região centro onde foi efectuado este estudo (Vaz et 

al.,  2011).  Entre  os  sistemas  afectados  pelos  incêndios,  encontram‐se  os  rios,  de  extrema 

importância para os  locais em que se  inserem, e que potencialmente funcionam como  locais 

de  confluência dos  impactes das perturbações na  encosta  terrestre  adjacente  (Oscoz et  al., 

2011). De facto, o fogo afecta a floresta da encosta adjacente mas também a vegetação ripária 

(Vaz  et  al.,  2011). As  árvores queimadas morrem  ou  ficam mais  susceptíveis  a mortalidade 

devida  a  doença  e  caem  com maior  facilidade  aos  rios  por  acção  do  vento,  por  exemplo 

(Brenda et al., 2003; Pinto et al., 2009). Assim, a  longo prazo, um  legado dos fogos florestais 

nos  rios,  é  a madeira  queimada  que  cai  à  água. No  entanto,  pouco  se  sabe  ainda  sobre  o 

impacte da entrada de madeira resultante de um incêndio num ecossistema lótico. 

A  madeira  é  um  elemento  essencial  num  rio,  nomeadamente  para  as  comunidades  de 

macroinvertebrados bentónicos que a  colonizam,  i.e., organismos  invertebrados com menos 

de 200 a 500 µm que vivem a totalidade ou parte do seu ciclo de vida no fundo do rio ou perto 

deste  na  coluna  de  água  (Rosenberg  e  Resh,  1993).  Nesta  definição  incluem‐se  vários 

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anelídeos,  moluscos,  platelmintes,  nemátodos  e  artrópodes  (principalmente  insectos).  As 

perturbações  nas  encostas  adjacentes  acabam  assim  por  afectar  alguns  organismos‐chave 

destes ecossistemas, razão pela qual estes são por vezes usados como indicadores biológicos. 

A madeira é continuamente fornecida e perdida nos ecossistemas de água doce e desempenha 

aí  várias  funções,  nomeadamente  ao  contribuir  para  a  manutenção  das  comunidades  de 

invertebrados (Benke e Wallace, 2003). Em pequenos rios, a madeira pode, por exemplo, criar 

uma barreira  ao  caudal,  formando um degrau,  semelhante  a uma pequena  cascata,  após o 

qual a água pára e forma uma zona sem corrente (Benke e Wallace, 2003). Assim, a madeira 

pode aumentar a heterogeneidade de micro‐habitats do  local e permitir uma maior retenção 

de matéria  orgânica,  propícia  à  colonização  por  vários  organismos  (Swanson  e  Lienkamper, 

1978; Harmon et al., 1986; Huryn e Wallace, 1987; Trotter, 1990; Gregory, 1992; Wallace et al., 

1995, 1999). Em alguns rios, a madeira é o único habitat estável para os macroinvertebrados 

(Benke e Wallace, 2003). A madeira fornece um substrato sólido que se degrada  lentamente 

quando  submergido  ‐  troncos  submersos  de  grandes  dimensões  podem  subsistir  durante 

séculos num rio (Harmon et aI., 1986; Wallace et al., 1996, 2001; Hyatt e Naiman, 2001; Bilby, 

2003). Além dos troncos individualizados, as acumulações de madeira nos rios de baixo declive 

são  também  hotspots  de  diversidade,  abundância,  biomassa  e  produção  secundária  de 

invertebrados  (Roeding  e  Smock,  1989;  Smock  et  al.,  1989,  1992; Weigelhofer  e Waringer,  

1999). Apesar de ter recebido menor atenção em relação a substratos minerais (e.g. pedras), a 

madeira nos  rios pode  ter  vantagens  face  a  estes.  Por  exemplo,  se um pedaço de madeira 

estiver preso ao leito do rio pode ser um substrato tão estável quanto uma pedra de grandes 

dimensões e funcionar igualmente como um local onde os invertebrados se fixam. Um pedaço 

de madeira pode  também  ser colonizado por algas,  fungos, bactérias, protistas, ou espécies 

vegetais que por sua vez servem de habitat ou alimento aos macroinvertebrados. No entanto, 

ao contrário dos substratos minerais, a madeira pode ainda servir directamente de alimento a 

algumas espécies (macroinvertebrados xilófagos) e proporcionar‐lhes refúgio, para além de ser 

particularmente  eficiente  no  aprisionamento  de  matéria  orgânica  devido  à  sua  estrutura 

ramificada (Benke e Wallace, 2003). 

Alguns  factores que  influenciam  a  colonização da madeira nos  rios por macroinvertebrados 

são o tipo de condicionamento prévio (e.g. se foi sujeita a alguma decomposição após cair no 

solo  e  antes  de  entrar  no  rio),  a  sua  textura,  dureza,  e  densidade  ‐  com  influência,  por 

exemplo,  na maior  ou menor  facilidade  de  desgaste  e  escavação  pelos  invertebrados  para 

formar um refúgio adequado  (Benke e Wallace, 2003). A colonização de substratos  lenhosos 

por  invertebrados  está  também  dependente  da  mobilidade  desses  organismos  (deriva, 

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natação,  rastejamento,  e  voo),  das  fontes  de  alimento  disponíveis,  da  competição,  e  da 

predação  (Mackay,  1992).  Destas  diferenças  resultam  graus  distintos  de  dependência  dos 

substratos lenhosos. Algumas espécies apenas se encontram em madeira e alimentam‐se dela 

(xilófagos  obrigatórios),  como  é  o  caso  de  alguns  trituradores  (Cummins  e Merritt,  1996; 

Wallace e Webster, 1996). Outros macroinvertebrados alimentam‐se de madeira mas também 

das acumulações de  folhas  caídas na água  (xilófagos  facultativos),  como é o  caso de alguns 

macroinvertebrados  de  hábitos  escavadores  (Hoffmann  e  Hering,  2000).  Por  fim,  algumas 

espécies têm uma afinidade para substratos lenhosos mas a sua dieta não depende da madeira 

(não‐xilófagos);  enquadram‐se  neste  grupo  alguns  raspadores,  colectores,  filtradores,  e 

predadores. 

Neste estudo, comparou‐se a colonização de madeira queimada com a colonização de madeira 

não  queimada  das  três  espécies  de  árvores  da  floresta  portuguesa mais  abundantes  e  que 

foram afectadas pelos grandes  incêndios de 2003 e 2005: sobreiro (Quercus suber), pinheiro‐

bravo  (Pinus  pinaster)  e  eucalipto  (Eucalyptus  globulus).  A  madeira  nos  rios  destas  três 

florestas  da  área  de  estudo  é  um  recurso  particularmente  escasso.  Em  estudos  recentes 

realizados em 27  rios da  região, Vaz et al.  (2011, 2012) documenta cerca de 3.3 pedaços de 

madeira a cada 100 m de  rio  (pedaços com >1 m de comprimento e >10 cm diâmetro), um 

valor  substancialmente  inferior  ao  na  maioria  dos  estudos  publicados  até  agora  noutras 

regiões do mundo. Além disso, os pedaços de madeira nos rios da região são pequenos face ao 

que é documentado para outras regiões, com diâmetros de 10, 8 e 7 cm e comprimentos de 

1.2, 5.2, e 4.3 m para troncos de sobreiro, pinheiro‐bravo, e eucalipto, respectivamente. Estas 

pequenas  dimensões  tornam  este  substrato  facilmente  transportável  pela  corrente.  Nos 

estudos  de  Vaz  et  al  (2011,  2012),  um  dado  que  evidencia  o  legado  dos  incêndios  que 

ocorreram na  região entre 2003 e 2007 é a quantidade de madeira queimada que ainda  se 

encontra nos  rios, com um valor médio de 70% de  troncos queimados nos 27  troços de  rio 

amostrados. 

No que respeita à estrutura física, o sobreiro possui uma madeira muito dura (Carvalho, 1997) 

e a sua casca (cortiça) fendida e grossa confere‐lhe alguma resistência ao fogo e tem potencial 

para  a  colonização  pelos  invertebrados.  O  pinheiro‐bravo  tem  uma  madeira  pesada  e 

moderadamente dura  (Carvalho, 1997) e a  sua casca é grossa e  tem  fissuras, o que a  torna 

numa  madeira  aparentemente  propícia  à  colonização  por  macroinvertebrados.  Em 

comparação  com  o  pinheiro‐bravo,  o  eucalipto  possui  uma  madeira  mais  densa  e  dura 

(Carvalho,  1997)  e  a  sua  casca  é  fina  e  lisa  e  solta‐se  com  grande  facilidade  com  o  fogo, 

características que à partida poderão não ser favoráveis à colonização. De um modo geral, o 

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fogo altera a estrutura da madeira, torna a sua superfície mais sulcada, menos elástica e mais 

quebradiça,  liberta‐lhe  a  casca  e  torna‐a  menos  dura.  O'Connor  (1991)  demonstrou  que 

pedaços  de madeira  sulcados  são  colonizados  por mais  espécies  de  invertebrados  do  que 

madeira  sem  reentrâncias.  No  entanto,  a madeira  queimada  também  fica menos  rica  em 

nutrientes, logo menos propícia a servir de alimento a invertebrados xilófagos. 

Este trabalho baseou‐se no estudo da colonização de madeira em rios, independentemente da 

sua utilização pelos macroinvertebrados, tendo sido quantificada a utilização desse substrato 

como  habitat.  Neste  estudo  pretendeu‐se  quantificar  as  famílias  de  macroinvertebrados 

bentónicos  que  colonizam  madeira  em  3  rios  de  florestas  de  sobreiro,  pinheiro‐bravo,  e 

eucalipto.  Em  cada  rio,  exploraram‐se  diferenças  de  abundância,  riqueza,  e  diversidade  de 

macroinvertebrados em madeira queimada e/ou não queimada. 

 

Materiais e Métodos: 

Selecção dos troços de amostragem 

Num Sistema de Informação Geográfica foram identificadas três sub‐bacias do Rio Tejo ardidas 

entre 2003 a 2007, dominadas por florestas de sobreiro (Quercus suber), pinheiro‐bravo (Pinus 

pinaster),  ou  eucalipto  (Eucalyptus  globulus),  respectivamente.  Após  validação  no  terreno, 

seleccionou‐se em cada sub‐bacia um rio de ordem 3 (Strahler, 1957) com a área de drenagem 

ocupada pela  floresta  ‐ ardida  ‐ dominante na sub‐bacia. Em cada rio  foi escolhido um troço 

homogéneo (<10 m) de fácil acesso. 

Área de Estudo 

Os  troços  seleccionados  estão  localizados  na  zona  centro‐Este  de  Portugal  (coordenadas: 

39°16’  a  39°39’N,  7°30’  a  8°14’W). O  clima  local  é mediterrânico,  caracterizado  por  verões 

quentes e secos e  invernos frios e húmidos. A área possui um relevo geralmente suave, com 

altitudes  entre  19  e  643 m  (altitude média  ~266 m).  A  ocupação  do  solo  é  dominada  por 

floresta, matos e agricultura (para mais pormenores ver Vaz et al., 2011). 

Desenho experimental 

Como  substrato  a  ser  colonizado  pelos macroinvertebrados  bentónicos  usaram‐se  troncos 

(diâmetro = 5‐10cm; comprimento = 10cm) de sobreiro, eucalipto e pinheiro‐bravo  (Fig.1‐A). 

Obtiveram‐se  60  troncos  de  cada  espécie,  metade  dos  quais  foi  queimada  em  condições 

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controladas  (~750°  C  durante  ~15  minutos)  no  Laboratório  Nacional  de  Engenharia  Civil   

(Fig.1‐B).  Troncos  queimados  e  não  queimados  de  cada  espécie  foram  tratados 

separadamente,  colocando‐se  grupos  de  10  unidades  em  sacos  de  plástico  de  rede          

(malha = 1cm) (Fig.1‐C). 

Em  cada um dos  locais de estudo usaram‐se  três  sacos  com madeira queimada e  três  com 

madeira não queimada da espécie da floresta dominante nas imediações do rio. A 29 de Abril 

de 2011, os sacos de madeira queimada e não queimada  foram submersos no rio, dispostos 

alternadamente  e  a  distância  regular  (~80cm).  Para  garantir  a  estabilidade  da  disposição 

espacial do conjunto, os sacos  foram presos a uma corda esticada cujas extremidades  foram 

atadas à margem e cada um deles  foi mantido preso a uma pedra colocada no  fundo do rio 

(Fig.1‐D). O conjunto não foi perturbado durante o período de colonização. 

Recolha e acondicionamento dos macroinvertebrados 

A 26 de Maio de 2011, procedeu‐se à colheita do material. De  jusante para montante do rio, 

cada saco foi colocado num balde onde foi aberto e esvaziado dos 10 troncos. Com pincéis e 

pinças, os organismos  foram desalojados de cada  tronco para o balde.  Já  sem os  troncos, o 

conteúdo  de  cada  balde  foi  acondicionado  num  frasco  de  plástico  (1  litro)  com  sistema  de 

fecho estanque, a água excedente foi filtrada com um crivo de malha calibrada de 0.5mm e os 

organismos filtrados foram adicionados ao restante material (Fig.1‐E). Para fixar as amostras, 

usou‐se uma  solução de  formaldeído a 4%  recorrendo à água do  rio para a diluição. Para o 

local específico de cada saco, registou‐se: (i) a profundidade a que se encontrava o saco; (ii) o 

tipo de substrato do fundo; (iii) o tipo de corrente. 

Além  da  colheita  dos  organismos  que  colonizaram  a madeira,  foi  obtida  uma  amostra  de 

controlo  pela  técnica  kick  sampling.  Num  percurso  linear  de  jusante  para  montante 

abrangendo as imediações dos locais de colonização, fez‐se um varrimento activo do substrato 

do  leito do  rio para uma  rede de arrasto de mão com 25cm de  largura e malha de 0,5mm. 

Nesta técnica, o operador caminha a velocidade constante à frente da boca da rede de arrasto 

removendo  o  substrato  com  movimentos  semelhantes  a  pontapés  para  provocar  o 

desalojamento dos organismos do  fundo para  a  coluna de  água  e o  seu  arrastamento pela 

corrente para o interior da rede. O conteúdo do varrimento foi igualmente acondicionado num 

frasco de plástico. 

 

 

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Triagem e identificação  

A  triagem  e  a  identificação  das  amostras  foram  efectuadas  no  laboratório  do  Centro  de 

Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves. Após a  lavagem de cada amostra em água corrente e a 

remoção dos maiores detritos, os organismos foram separados a olho nu do restante material 

num  tabuleiro de triagem de  fundo branco. A água da triagem  foi  filtrada no crivo de malha 

calibrada de 0.5mm. Os organismos de cada amostra foram conservados em álcool a 70%. 

A  identificação  dos  macroinvertebrados  foi  efectuada  com  auxílio  de  uma  lupa  binocular 

(ampliação  máxima  40x).  Para  análise  de  resultados,  os  organismos  foram  geralmente 

separados até ao nível taxonómico da família, recorrendo às chaves de identificação de Oscoz 

et  al.  (2011),  Tachet  et  al.  (2000)  e  Serra  et  al.  (2009).  No  entanto,  em  alguns  casos,  a 

identificação  só  foi  possível  até  ao  nível  do  Filo  (Nematoda),  Classe  (Bivalvia)  ou  Ordem 

(Collembola e Himenoptera), e num pequeno número de  casos  foi possível até ao género e 

espécie. Cada taxa de dada amostra foi conservado em álcool a 70% com uma pequena porção 

de glicerina num frasco estanque pequeno identificado com a amostra e a família.  

 

   

B

C  D

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 Fig. 1 ‐ Procedimentos do desenho experimental, recolha e acondicionamento. A – Corte de pedaços de madeira de 10 cm de Eucalipto; B – Queima controlada dos troncos utilizados na colonização (Laboratório do LNEC); C – Sacos de madeira queimada e não queimada antes de colocados  no rio; D – Disposição dos sacos de rede com os troncos para colonização no rio espaçados 80 cm entre si; E – Recolha do e acondicionamento dos macroinvertebrados no campo.  

Análise de dados 

Para a análise usaram‐se sempre que possível as contagens por família de indivíduos em cada 

amostra ou, nos casos em que não  se chegou à  família na  identificação, o nível  taxonómico 

imediatamente  superior  (caso  de  Nematoda,  Bivalvia,  Collembola  e  Himenoptera).  Para  a 

análise da  abundância,  riqueza,  e diversidade de  taxa  (família ou nível  acima)  as  contagens 

foram  estratificadas  por  rio  (de  sobreiro,  eucalipto,  ou  pinheiro‐bravo)  e  por  madeira 

queimada ou não queimada. Assim, o número de frascos (N=21) foi estratificado em 3 grupos 

de  6  frascos  provenientes  de  cada  rio  (cada  um  com  2  grupos  de  3  frascos  da  madeira 

queimada e 3 da madeira não queimada), a que se acrescentaram os 3 frascos das amostras 

obtidas  por  kick  sampling.  Para  as  análises  de  riqueza  e  diversidade  de  taxa,  usaram‐se  os 

totais  das  contagens  em  cada  grupo.  Para  a  análise  das  abundâncias  dos  taxa  na madeira 

foram  calculadas  as médias  das  contagens  em  cada  grupo  e  os  respectivos  intervalos  de 

confiança a 95% (média ± 1.96√

, em que o N foi o número de frascos). As diferenças entre 

abundâncias não  foram  testadas estatisticamente. No entanto, assumiu‐se que quando dois 

intervalos  de  confiança  não  estavam  sobrepostos  representavam  diferenças  significativas 

entre as duas médias. A análise das abundâncias  foi  feita apenas para os  taxa considerados 

principais,  i.e.,  os  que  estavam  presentes  em  pelo  menos  50%  dos  frascos  e/ou  que 

representavam mais de 1% da quantidade total de invertebrados identificados. 

A  riqueza  biológica  (S)  correspondeu  ao  número  de  taxa  diferentes  identificados  em  cada  

grupo de frascos. Para calcular a diversidade biológica, usou‐se o  índice de Shannon‐Wienner 

(H'),  que  entra  em  consideração  com  os  valores  de  S  e  de  abundância,  expressa  pela 

frequência numérica dos taxa (pi): 

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9  

i

S

ii ppH ln'

1

 

Por  fim,  usou‐se  o  índice  de  equitatividade  (E),  que  expressa  a  semelhança  de  proporções 

entre os vários taxa nos grupos de frascos:  

max

'

H

HE  

Este índice varia entre 0 e 1, em que 1 é a diversidade máxima. Assim, a diversidade máxima 

(Hmax=ln S) equivale à situação em que todos os taxa teriam a mesma abundância. 

Resultados 

Padrões Gerais 

A família Chironomidae foi a que mais colonizou madeira nos três rios, representando 71% do 

total  de  indivíduos.  Para  além  dos  Chironomidae,  as  famílias  Elmidae  e  Leptophlebiidae 

também colonizaram a totalidade das 18 amostras de madeira colocadas nos 3 rios.  

No  total,  6403  índivíduos  colonizaram madeira  (1  filo,  3  classes,  11  ordens,  e  53  famílias), 

distribuídos pelos  rios de eucalipto, pinheiro‐bravo, e  sobreiro  ‐ madeiras queimadas e não 

queimadas ‐ como mostra a tabela 1. Nas 3 amostras feitas por kick sampling (Tabela 2) foram 

ainda  identificados 1036  indivíduos  (3  classes, 7 ordens, e 23  famílias).Observou‐se que nas 

amostras de colonização de madeira ocorreram 34 famílias de invertebrados que não estavam 

presentes nas amostras por kick sampling (Tabela 2). 

 

 

 

 

 

 

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10  

Tabela 1 – Contagens totais de macroinvertebrados que colonizaram madeira nos 3 rios das florestas de eucalipto, 

pinheiro‐bravo  e  sobreiro.  Os  resultados  foram  estratificados  também  por  madeira  queimada  e  madeira  não 

queimada em cada rio. NI = taxa não identificados. Para famílias com mais de um género identificado apresenta‐se 

o total de indivíduos da família e dos géneros. 

EUCALIPTO  PINHEIRO  SOBREIRO 

Filo/Classe/Ordem  Família  Género  Espécie 

Queimada 

Não

 

queimada 

Queimada 

Não

 queimada 

Queimada 

Não

 queimada 

Tricladida  Dugesiidae  Dugesia NI 1 

Nematoda  NI  NI NI 1 

Bivalvia  NI  NI  NI  1 

Gastropoda  Ancylidae  Ancylus  fluviatilis  1 

NI  NI  1  1 

Ancylidae Total  2  1 

Bithyniidae  Bithynia  NI  1 

NI  NI  1 

Bithyniidae Total  1  1 

Physidae  NI  NI  5 

Physa  NI  6  19  4 

Physidae Total  11  19  4 

Planorbidae  NI  NI  2  15 

Oligochaeta  Lumbriculidae  NI NI 3  1 

NI  NI NI 2  2  1 

Naididae  NI NI 3  4  26 

Stylaria lacustris 1  2 

Naididae Total  1  2  3  4  26 

Tubificidae  NI NI 1  5 

Rhynchobdellae  Glossiphoniidae  Glossiphonia NI 1  1 

Collembola  NI  NI  NI  2 

Coleoptera  Chrysomelidae  NI  NI  1  1 

Curculionidae  NI  NI  1 

Dytiscidae  NI  NI  1  3  1  12  7 

Elmidae  NI  NI  7  19  20  5  21  38 

Gerridae  NI  NI  1 

Gyrinidae  NI  NI  2  5  2 

Hydrophilidae  NI  NI  3 

Hygrobiidae  NI  NI  1 

Tenebionidae  NI  NI  1 

Diptera  Ceratopogonidae  NI  NI  1  1  2  1 

Chironomidae  NI  NI  888  1427  312  402  784  755 

Dixidae  NI  NI  10  2  15  1 

Dolichopodidae  NI  NI  2  6  1 

Limoniidae  NI  NI  2  10 

Psychodidae  NI  NI  49  23 

Simuliidae  NI  NI  2  2 

Syrphidae  NI  NI  1 

Thaumaleidae  NI  NI  60  13 

Tipulidae  NI  NI  1  1  11 

     

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11  

EUCALIPTO  PINHEIRO  SOBREIRO 

Filo/Classe/Ordem  Família  Género  Espécie 

Queimada 

Não

 

queimada 

Queimada 

Não

 queimada 

Queimada 

Não

 queimada 

Ephemeroptera 

Baetidae 

Baetis  NI  68  36  12  22  4 

Centroptilum  NI  3  2  7  14 

Cloëon  NI  15  10 

NI  NI  4 

Procloëon  NI  3  1  10  11 

Baetidae Total  74  37  12  24  40  35 

Caenidae 

Brachycercus  NI  4  4 

Caenis  NI  1  2  1  2  1  2 

NI  NI  0  1  4 

Caenidae Total  5  7  1  2  5  2 

Ephemerellidae  Ephemerella  NI  105  94  4  4 

Leptophlebiidae  Choroterpes  NI  11  16  50  64 

Habrophlebia  NI  166  158  123  110  2  1 

Thraulus  NI  2  1  1  3 

Leptophlebiidae Total  168  159  134  126  53  68 

Hemiptera  Hydrometridae  Hydrometra NI 7  4 

Mesoveliidae  NI NI 1 

Naucoridae  NI NI 1  1 

Naucoris NI 4 

Naucoridae Total  1  4  1 

Nepidae  Nepa NI 1 

Veliidae  NI NI 1 

Naucoridae  NI NI 1 

Himenoptera  NI  NI NI 1 

Odonata  Aeshnidae  NI NI 2  4  4  2  1 

Gomphidae  NI NI 1  1 

Lestidae  NI NI 5  2 

Plecoptera  Chloroperlidae  NI NI 1 

Leuctridae  NI NI 1 

Perlidae  NI NI 5 

Perlodidae  NI NI 3 

Trichoptera  Beraeidae  Bereodes NI 1 

NI NI 8  5  1 

Beraeidae Total  9  5  1 

Dryopidae  NI NI 1 

Glossosomatidae  NI NI 4 

Hydroptilidae  NI NI 1 

Limnephilidae  NI NI 5  4  1  2 

NI  NI NI 1  2 

Polycentropodidae  NI NI 11  2  11  9 

Psychomyiidae  NI NI 3  1 

Rhyacophilidae  NI NI 2 

 

 

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12  

No  geral,  nota‐se  que  existe  maior  quantidade  de  gastrópodes,  coleópteros,  dípteros, 

efemerópteros,  hemípteros,  odonatas  e  tricópteros,  tanto  em  diversidade  como  em 

abundância de indivíduos, na madeira, relativamente ao fundo dos troços de rio onde o estudo 

foi efectuado.  

 

Tabela 2 – Contagens totais de macroinvertebrados que colonizaram madeira nos 3 rios das florestas de eucalipto, 

pinheiro‐bravo e sobreiro. NI = taxa não identificados. Para famílias com mais de um género identificado apresenta‐

se o total de indivíduos da família e dos géneros. 

Filo/Ordem/Classe  Família  Género  Espécie  EUCALIPTO  PINHEIRO  SOBREIRO 

Bivalvia  Sphaeriidae  NI  NI  1  1 

Gastropoda  Ancylidae  Ancylus  NI  2  1 

Oligochaeta  Lumbriculidae  NI  NI  17 

Naididae  NI  NI  7 

NI  NI  NI  73 

Coleoptera  Dytiscidae  NI  NI  1 

Elmidae  NI  NI  5  12  30 

Diptera  Athericidae  NI  NI  2 

Ceratopogonidae  NI  NI  4 

Chironomidae  NI  NI  212  238  153 

Limoniidae  NI  NI  2  9 

Stratiomyidae  NI  NI  1 

Ephemeroptera  Baetidae  Baetis  NI  5  1 

Centroptilum  NI  7 

NI  NI  50 

Procloëon   NI  2  15 

Baetidae Total  5  3  72 

Caenidae  Brachycercus  NI  3 

Caenis  NI  8  9  14 

Caenidae Total  11  9  14 

Ephemerellidae  Ephemerella  NI  1  2 

Leptophlebiidae  Choroterpes  NI  7 

Habrophlebia  NI  39  68 

Thraulus  NI  2  2 

Leptophlebiidae Total 

41  70  7 

Hemiptera  Corixidae  NI  NI  1 

Odonata  Lestidae  NI  NI  5 

Plecoptera  Leuctridae  NI  NI  5 

Trichoptera  Beraeidae  NI  NI  7 

NI  NI  NI  2  1 

Phryganeidae  NI  NI  2 

Polycentropodidae  NI  NI  2 

Psychomyiidae  NI  NI  2  1 

Rhyacophilidae  NI  NI  2 

 

 

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13  

Riqueza e Diversidade de Taxa 

A maior riqueza dos taxa que colonizaram madeira encontrou‐se nos rios de sobreiro, com 32 

taxa, seguida da colonização de madeira nos rios em pinheiro‐bravo, 28, e eucalipto, 26. Este 

gradiente  manteve‐se,  independentemente  das  madeiras  serem  queimadas  ou  não.  As 

madeiras queimadas  foram colonizadas por mais  taxa do que as não queimadas em  rios de 

sobreiro  e,  especialmente,  de  eucalipto.  Quanto  à  diversidade  de  taxa,  o  gradiente  foi 

diferente do de S, sendo maior em pinheiro‐bravo, seguido de sobreiro e eucalipto. Em todos 

os  casos,  a  madeira  queimada  teve  uma  maior  diversidade  de  taxa  que  a  madeira  não 

queimada. Todos os valores de equitatividade  respeitantes à  colonização de madeira  foram 

baixos (<0.5), sugerindo uma dominância vincada de alguns taxa.  

Tabela  3  –  Valores  dos  índices  de  diversidade,  equitatividade  e  riqueza  em  taxa  de  macroinvertebrados  que 

colonizaram madeira nos 3 rios das florestas de eucalipto, pinheiro‐bravo e sobreiro, com resultados estratificados 

também por madeira queimada e não queimada em cada rio (em cima). Na parte inferior da tabela, os valores dos 

índices dizem respeito às amostragens obtidas por kick sampling nos 3 rios. 

AMOSTRAGEM NA MADEIRA 

EUCALIPTO PINHEIRO SOBREIRO 

 

Queimada 

Não

 Queimada 

Queimada & 

Não

 queimada 

Queimada 

Não

 Queimada 

Queimada & 

Não

 queimada 

Queimada 

Não

 Queimada 

Queimada & 

Não

 queimada 

S (Riqueza de Taxa)  22  14 26 23 23 28 28 24  32 

H'(Diversidade de Taxa [Shannon‐Weaver]) 

1.12  0.77 0.94 1.44 1.27 1.37 1.32 1.16  1.28 

E (Equitatividade)  0.36  0.29 0.29 0.46 0.40 0.41 0.40 0.37  0.37 

AMOSTRAGEM KICK SAMPLING 

EUCALIPTO PINHEIRO SOBREIRO 

S (Riqueza de Taxa)  15 15 8 

H'(Diversidade de Taxa [Shannon‐Weaver]) 

1.22 1.26 1.27 

E (Equitatividade)  0.45 0.47 0.61 

 

 

Por fim, apesar de S ser maior nas amostras de madeira de sobreiro, H' e E foram maiores em 

pinheiro‐bravo,  sugerindo  que  neste  houve  uma melhor  repartição  das  abundâncias  pelos 

taxa. 

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14  

Relativamente à  comparação entre abundâncias de macroinvertebrados que  colonizaram  as 

madeiras e os que  foram amostrados por kick sampling,  foi evidente uma menor riqueza no 

segundo caso, sendo essa diferença ainda maior no caso do sobreiro. Na amostragem por kick 

sampling a equitatividade foi maior. Ao contrário do que acontece na colonização da madeira 

(queimada + não queimada), H’ nos kick samplings foi semelhante nos 3 rios. 

 

Padrões de Abundância das Principais Famílias na Madeira Queimada e Não Queimada 

Para  explorar  as  diferenças  de  colonização  entre madeira  queimada  e  não  queimada  pelos 

macroinvertebrados seleccionaram‐se 13 famílias principais cujo número médio de indivíduos 

estava  distribuído  como  se  mostra  na  figura  2.  De  um  modo  geral,  existiram  algumas 

diferenças  significativas  no  número  de  indivíduos  e  na  presença  das  principais  famílias  que 

colonizaram a madeira nos 3 rios. 

0.0

20.0

40.0

60.0

80.0

100.0

120.0

E P S 

Leptophlebiidae 

Queimada

Não queimada

Queimada & Não queimada

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

90.0

E P S 

Ephemerellidae 

Queimada

Não queimada

Queimada & Nãoqueimada

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

E P S

Baetidae 

Queimada

Não queimada

Queimada & Não queimada

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

E  P S 

Psychodidae 

Queimada

Não queimada

Queimada & Não queimada

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

E P S

Thaumaleidae 

Queimada

Não queimada

Queimada & Não queimada

0.0

100.0

200.0

300.0

400.0

500.0

600.0

E P S

Chironomidae 

Queimada

Não queimada

Queimada & Não queimada

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15  

Fig. 2 – Médias e  intervalos de confiança a 95% do número de  indivíduos das principais  famílias que colonizaram 

madeira queimada e não queimada em 3  rios do centro de Portugal em  florestas de eucalipto, pinheiro‐bravo, e 

sobreiro (E, P e S). 

 

Por  exemplo,  Dytiscidae  e  Naididae  apenas  apareceram  em  quantidades  relevantes  em 

sobreiro, Ephemerellidae ocorre da mesma forma em eucalipto, e Physidae em pinheiro‐bravo. 

Apesar de existirem diferenças no número médio de indivíduos entre madeira queimada e não 

queimada, estas diferenças não foram significativas. 

0.0

5.0

10.0 

15.0 

20.0 

25.0 

30.0 

E P S

Naididae

Queimada

Não queimada

Queimada & Não queimada

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

E P S

Physidae 

Queimada

Não queimada

Queimada & Não queimada

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

E P S 

Aeshnidae 

Queimada

Não queimada

Queimada & Não queimada

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

E P S 

Polycentropodidae 

Queimada

Não queimada

Queimada & Não queimada

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

E P S 

Dytiscidae 

Queimada

Não queimada

Queimada & Não queimada

0.0

5.0

10.0

15.0

20.0

25.0

30.0

E P S

Elmidae 

Queimada

Não queimada

Queimada & Não queimada

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

4.5

E P S 

Caenidae 

Queimada

Não queimada

Queimada & Não queimada

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16  

Discussão e Conclusões 

Com este estudo foi possível identificar pela primeira vez famílias de macroinvertebrados que 

colonizam madeira em rios das 3 principais florestas portuguesas. De um modo geral mostrou‐

‐se  claramente  que  as  comunidades  de  macroinvertebrados  que  colonizaram  madeira 

tenderam a ter uma maior riqueza biológica do que nas amostras por kick sampling e a serem 

dominadas por alguns taxa. Ao nível da família, não se detectaram diferenças entre o número 

de macroinvertebrados que colonizaram madeira queimada e não queimada dentro de cada 

rio.  No  entanto,  a  análise  mostrou  que  a  madeira  queimada  teve  sempre  uma  maior 

diversidade de taxa que a madeira não queimada. 

A presença da família de coleópteros Elmidae em todas as amostras de madeira poderá estar 

relacionada  com  a  capacidade  trituradora destes organismos  fitófagos perfuradores  e  cujos 

hábitos xilófagos já foram descritos antes em eucalipto (McKie e Cranston, 1998). A ocorrência 

de  famílias  de  invertebrados  predadores  como  alguns  Odonata  e  Plecoptera,  evidencia  a 

eventual existência de cadeias alimentares no próprio substrato  lenhoso  (Mackay, 1992). Os 

dípteros  da  família  Chironomidae,  conhecidos  por  serem  pouco  selectivos  no  seu  habitat 

(Benke e Wallace, 2003), estavam presentes em grandes quantidades na maioria das amostras, 

o que pode ter facilitado a colonização por  invertebrados predadores destes, como Nepidae, 

Notonectidae,  Corixidae,  Dytiscidae,  Hydrophilidae  e  alguns  Odonata.  Os  próprios  Elmidae, 

presentes em todos os frascos, podem ter contribuído para a criação de refúgios para outros 

invertebrados  na  madeira  devido  ao  seu  hábito  de  criar  galerias  nesta.  No  entanto,  não 

existindo um  controlo ao  longo do  tempo do momento exacto da  colonização, é  impossível 

tirar ilasões precisas. 

A reduzida equitabilidade nas amostras de macroinvertebrados na madeira pode ser explicada 

pela grande quantidade de indivíduos de certas famílias como Chironomidae e Leptophlebiidae 

em contraste com as restantes famílias com muito baixas quantidades de indivíduos (raras). A 

equitabilidade mais elevada na amostragem por kick sampling pode dever‐se à menor riqueza 

de famílias obtida por este método. 

A  não  existência  de  diferenças  significativas  entre  as  principais  famílias  de  invertebrados 

colonizadores na madeira queimada e não queimada pode dever‐se à  identificação  ter  sido 

feita apenas até ao nível taxonómico família. De facto, macroinvertebrados dentro da mesma 

família podem ter características morfológicas e ecológicas muito diferentes. 

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17  

Apenas uma  identificação que  inclua  tanto quanto possível macroinvertebrados com hábitos 

ecológicos mais  semelhante entre  si do que no caso da  família  (e.g. género) poderá dar um 

melhor contributo para explorar eventuais diferenças na colonização de madeira queimada e 

não  queimada  por macroinvertebrados  em  rios. Mais,  para  que  eventuais  diferenças  entre 

madeira  queimada  e  não  queimada  se  fizessem  notar  ao  nível  a  família,  um  desenho 

experimental diferente, em que os substratos das três espécies de árvores fossem colonizadas 

num só troço de rio em vez de três diferentes poderia ser vantajosa. 

 

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