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117 Relatório do Grupo de Trabalho sobre Financiamento da Educação AVALIAÇÃO Palavras-chave: financiamento da educação; custos da educação; recursos financeiros para a educação. Resumo O financiamento da educação é um tema urgente nas discussões sobre os rumos que se pretende dar à educação em nosso País, uma vez que, sem os recursos adequados, torna-se praticamente impossível atender ao princípio constitucional que assegura uma escola de qualidade para todos os brasileiros. O texto aqui apresentado é fruto do relatório de um grupo de trabalho criado pelo ministro Cristovam Buarque para analisar o tema. Nele são analisados os gastos feitos pelos diferentes níveis de governo, assim como pelas famílias, em educação. Discutem-se, ainda, os custos de uma escola de qualidade e o impacto da criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), bem como da implementação das metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE). A principal conclusão do relatório é que, para atingir os novos patamares de atendimento em qualidade e quantidade definidos pelo PNE, o Brasil deveria sair do atual patamar de gastos públicos em educação, da ordem de 4,3% do PIB, para atingir, em dez anos, o montante de 8% do PIB. Ao final, apontam-se também as possíveis fontes para viabilizar esste aumento significativo nos gastos com educação. Introdução O presente texto inclui as principais partes do relatório do grupo de trabalho criado pelo ministro Cristovam Buarque e estrutura-se com base nas seguintes questões: a) Quanto o Brasil gasta com educação (poder público e famílias)? b) Quanto custa um ensino de qualidade? c) Quais os recursos necessários para um ensino de qualidade, considerando ain- da a necessidade de cumprimento das me- tas do PNE? d) Quais as fontes possíveis de recur- sos adicionais? e) Qual o impacto da criação do Fundeb para as finanças dos três níveis de governo? 1. Gastos com educação 1.1 Gastos públicos Quanto aos gastos com educação no Brasil, usando a metodologia do Sistema Nacional de Informações sobre o Gasto So- cial (Sing), chegamos aos seguintes valores: R. bras. Est. pedag., BrasÌlia, v. 82, n. 200/201/202, p. 117-136, jan./dez. 2001.

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Relatório do Grupo de Trabalhosobre Financiamento da Educação

AVALIAÇÃO

Palavras-chave: financiamentoda educação; custos da educação;recursos financeiros para aeducação.

Resumo

O financiamento da educação é um tema urgente nas discussões sobre os rumos quese pretende dar à educação em nosso País, uma vez que, sem os recursos adequados,torna-se praticamente impossível atender ao princípio constitucional que assegura umaescola de qualidade para todos os brasileiros. O texto aqui apresentado é fruto do relatóriode um grupo de trabalho criado pelo ministro Cristovam Buarque para analisar o tema.Nele são analisados os gastos feitos pelos diferentes níveis de governo, assim como pelasfamílias, em educação. Discutem-se, ainda, os custos de uma escola de qualidade e oimpacto da criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica(Fundeb), bem como da implementação das metas estabelecidas no Plano Nacional deEducação (PNE). A principal conclusão do relatório é que, para atingir os novos patamaresde atendimento em qualidade e quantidade definidos pelo PNE, o Brasil deveria sair doatual patamar de gastos públicos em educação, da ordem de 4,3% do PIB, para atingir, emdez anos, o montante de 8% do PIB. Ao final, apontam-se também as possíveis fontes paraviabilizar esste aumento significativo nos gastos com educação.

Introdução

O presente texto inclui as principaispartes do relatório do grupo de trabalhocriado pelo ministro Cristovam Buarquee estrutura-se com base nas seguintesquestões:

a) Quanto o Brasil gasta com educação(poder público e famílias)?

b) Quanto custa um ensino de qualidade?c) Quais os recursos necessários para

um ensino de qualidade, considerando ain-da a necessidade de cumprimento das me-tas do PNE?

d) Quais as fontes possíveis de recur-sos adicionais?

e) Qual o impacto da criação doFundeb para as finanças dos três níveis degoverno?

1. Gastos com educação

1.1 Gastos públicos

Quanto aos gastos com educação noBrasil, usando a metodologia do SistemaNacional de Informações sobre o Gasto So-cial (Sing), chegamos aos seguintes valores:

R. bras. Est. pedag., BrasÌlia, v. 82, n. 200/201/202, p. 117-136, jan./dez. 2001.

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Tabela 1A – Gastos públicos com educação com porcentual do PIB(1998-1999)

Tabela 1B – Gasto público com educação por dependência administrativae nível de ensino

Pela Tabela 1A observa-se que o ensi-no fundamental respondeu, no biênio 1998-99, por 58% dos gastos públicos em educa-ção, ficando o ensino superior com 21%, oensino médio com 11% e a educação infan-til, com cerca de 10%.

Uma informação relevante é que os gas-tos com inativos não estão contabilizadosnas Tabelas 1A e 1B, uma vez que se tratamde despesas previdenciárias. Contudo,como a Lei de Diretrizes e Bases da Educa-ção Nacional (LDB) não veda a suacontabilização como "despesa com ensino",muitos entes federativos lançam esses va-lores como gastos com ensino, o que reduzo potencial de financiamento do setor, vis-to que, nesse mesmo biênio, essas despe-sas somaram 1% do PIB.

Na análise da Tabela 1B, constata-seuma certa divisão de tarefas entre os níveis

de governo, ficando a União com atuaçãoprioritária no ensino superior, os Estadosno ensino médio, os municípios na educa-ção infantil e, juntamente com os Estados,no ensino fundamental. Aliás este é um fatoque levanta uma certa preocupação, uma vezque, com o Fundef e a municipalização doensino fundamental por ele induzida, asso-ciada ao aumento da demanda pela educa-ção infantil, está havendo uma progressivasobrecarga sobre a esfera municipal que é amais pobre de recursos.

Por fim, cabe ainda comentar que o va-lor de 4,3% do PIB apresentado na Tabela1A é próximo daquele obtido quando cal-culamos o potencial mínimo de recursospara a manutenção e o desenvolvimento doensino, como determina a Constituição Fe-deral e a LDB. É o que mostra a Tabela 2.

Tabela 2 – Potencial mínimo de recursos para a educação2000 (% do PIB)

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Deve-se lembrar que a Tabela 2 foiconstruída levando-se em conta os efeitosredistributivos entre Estados e municípi-os do Fundo de Manutenção e Desenvol-vimento do Ensino Fundamental e de Va-lorização do Magistério (Fundef). Em 2000,de acordo com simulações, o conjunto dosEstados transferiu cerca de 0,2% do PIBpara os municípios.

Assim, observa-se pela Tabela 2 que opotencial de recursos mínimos destinadosao ensino, respeitadas as disposições legaisvigentes, em 2000, foi em torno de 4,44%do PIB. Esses recursos resultam principal-mente da reserva de mínimos orçamentári-os vinculados à educação pela Constitui-ção Federal, que somam cerca de 4,19% doPIB, e representam 94,4% dos recursos le-galmente destinados à educação, o que de-monstra a grande importância da vinculaçãoconstitucional à educação.

A outra fonte de recursos que dá sus-tentação ao financiamento protegido é o sa-lário-educação, que representa 5,6% dosvalores do financiamento protegido, masque tem peso diferenciado para cada entefederado. Ele representa cerca de 10% dosrecursos protegidos do governo federal e7,4% dos recursos geridos pelos Estados.

Outro resultado que chama a atenção,na tabela anterior, é a importância das re-ceitas de responsabilidade dos Estados nacomposição do financiamento público mí-nimo global da área de educação (50,1%).Em seguida, os municípios respondem por32,1% da capacidade de financiamento e,por último, o governo federal, que tem amenor capacidade de financiamento ligadoà educação, 0,79% do PIB, que represen-tam 17,8% do gasto público.

A Tabela 2 mostra, também, outro fatorelevante: quando se considera apenas aReceita Líquida de Impostos (critério cons-titucional), a União possui um potencialmuito pequeno de recursos para a educa-ção, inferior inclusive àquele dos municí-pios, apesar da sua capacidade de mobili-zar recursos ser muito maior. Isto ocorreporque a maior parte das receitas do gover-no federal advém das contribuições (soci-ais e econômicas) que representam 13% doPIB; das operações de crédito, que respon-dem por quase 30% do PIB, e daDesvinculação das Receitas da União (DRU),antigo Fundo de Estabilização Fiscal, quefica com cerca de 20% das receitas de im-postos e contribuições (em 1997 represen-tavam 3,3% do PIB). Estas informações são

importantes quando pensamos em novasfontes de recursos.

Cabe ainda comentar que, quando ana-lisamos o comportamento das receitas daUnião na última década, constata-se um es-vaziamento de seu potencial de arrecadaçãode impostos que são justamente a principalfonte de recursos para a educação. Em vir-tude deste fato, apesar de a União, hoje,gastar com manutenção e desenvolvimentodo ensino porcentuais bem acima do míni-mo constitucional (18%), sua parcela nosgastos com educação é inferior a um quintodo total.

Particular impacto representou a intro-dução da DRU sobre os recursos federaisaplicados em educação. Estimativa feita parao ano de 2003 indica que a educação teráuma perda bruta de R$ 3,6 bilhões. Consi-derando os recursos atualmente gastos quejá estão acima dos 18% constitucionais, essaperda ainda é de R$ 2,3 bilhões, um valorque a educação brasileira não pode abrir mão,em especial com a grande demanda de re-cursos federais para o setor. Este ano estáprevisto o fim da DRU, o que já propiciarárecursos adicionais, ao MEC, de cerca deR$ 2,3 bilhões em 2004. Lutar pela extinçãoda DRU como determina a legislação é, por-tanto, tarefa central para viabilizar umamelhoria no padrão de gastos federais comeducação.

É importante ressaltar também que,embora o potencial mínimo de recursospara a educação indicado na Tabela 2(4,44% do PIB) não esteja muito distantedaquele dos países ricos (a média da OCDEé 4,9% do PIB), como o nosso PIB é muitoinferior, o resultado é um valor disponí-vel por aluno muito pequeno. Assim, en-quanto o nosso recurso disponível poraluno é de, aproximadamente, R$ 900/alu-no (cerca de 12% da nossa renda percapita) na educação básica, nos EUA, quegastam cerca de 5% do PIB em educação,o gasto por aluno da educação básica é de,aproximadamente, US$ 7 mil (25% da ren-da per capita).

Uma última observação importante noque se refere aos gastos com educação é agrande discrepância entre os valores gas-tos nos diferentes Estados da Federação.Assim, considerando dados de 1998 parao ensino fundamental, diante de um gastomédio de R$ 670/aluno-ano, no Brasil; noMaranhão, esse valor era de R$ 401/aluno-ano, enquanto no Rio de Janeiro era deR$ 877/aluno-ano. Esta discrepância mos-tra a necessidade inadiável de a União

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cumprir o seu papel de reduzir o impactodas desigualdades regionais, sob pena decriarmos cidadãos de primeira e segundaclasse o que coloca a necessidade de sediscutir a criação do Fundo de Manuten-ção e Desenvolvimento da Educação Bási-ca (Fundeb), o que será feito no item 5deste trabalho.

Antes de analisarmos as despesas dasfamílias com educação, faremos uma breveanálise dos gastos do MEC.

1.2 Gastos do MEC

No orçamento do MEC para 2003(R$ 18 bilhões), a despesa com pessoal eencargos sociais dos 260 mil servidores (150mil inativos) – no valor de R$ 8,9 bilhões(R$ 2,9 bilhões para pagamento de inativose pensionistas) –, representa a metade dosgastos federais com educação e apenas 11%

da despesa com pessoal da União. Destaca-seque 87% das despesas de pessoal estão con-centrados no pagamento de professores e fun-cionários das Instituições Federais de EnsinoSuperior, correspondendo a R$ 7,7 bilhões.

Com relação aos gastos com custeio (R$8,6 bilhões), ocorre o inverso, uma vez quese concentra no ensino fundamental o mon-tante de R$ 4,6 bilhões, sendo: R$ 2,6 bi-lhões que a União, por meio do FNDE, trans-fere para Estados e municípios em carátersupletivo ou redistributivo e R$ 2 bilhõesda Bolsa-Escola.

O orçamento por programas permite avisualização da despesa pelo enfoque doobjetivo a ser alcançado, medido por indi-cadores claros e factíveis constantes do Pla-no Plurianual (PPA).

O MEC possui 27 diferentes Programas,divididos em nove Programas Finalísticosde responsabilidade do MEC e nove Pro-gramas Multissetoriais, que são de respon-sabilidade de outro órgão, mas com açõesno MEC. Os demais são Programas de Ser-viços ao Estado, Padronizados e de Gestão.

Quadro 1 – Orçamento do MEC por programas(Continua)

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Quadro 1 – Orçamento do MEC por programas(Conclusão)

1.3 Estimativa dos gastosdas famílias em educação*

Nesta parte trataremos da importânciados gastos com educação na composição dodispêndio das famílias e tentaremosdimensionar qual a importância desses gas-tos diante do valor do produto nacional. Paratanto, a seguir, apresentamos o resultado daPesquisa de Orçamento Familiar (POF) ela-borado pelo IBGE, para os anos de 1995-1996, relativo à distribuição porcentual dadespesa média mensal familiar, por grupo

* Jorge Abrahão de Castro

de despesas. Os resultados que são apre-sentados no Gráfico 1 mostram que nas 11regiões metropolitanas pesquisadas a par-ticipação da educação é de apenas 3,49%das despesas familiares, ficando bem abai-xo dos itens como habitação, alimentação,transporte, etc. Este baixo valor está relacio-nado com o fato de que a educação tem fortecomponente público, ou seja, os serviços pú-blicos, por serem gratuitos, têm um impactono consumo e nas estruturas da cesta de con-sumo das famílias, mas não nos gastos mone-tários das famílias.

Gráfico 1 – Distribuição porcentual da despesa média mensal familiar por grupode despesa (1995-1996)

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Apesar de os maiores gastos médiosdas famílias serem com habitação, alimen-tação, transporte, etc., as prioridades degastos são diferentes para os diversos ní-veis de rendimento e instrução. Os resulta-dos da pesquisa mostram mudanças no per-fil dos dispêndios médios, que variam deacordo com a renda e a instrução do chefedas famílias. Quando a renda e a instruçãoaumentam, cresce a participação média nosgastos totais dos itens: serviços pessoais,recreação, cultura e educação. É gasto comeducação 1,39% da despesa média mensalpara o grupo que ganha até dois salários

mínimos. Esse porcentual cresce continua-mente até atingir 3,98%, para o grupo de 30salários mínimos ou mais.

Quanto à estimativa do esforço orça-mentário familiar dirigido à área de educa-ção, respeitada a oferta de educação públicavigente, de acordo com os dados da tabela aseguir, este chegaria, ao final do ano de 2000,a 2,06% do PIB. Esses gastos resultam prin-cipalmente do pagamento de mensalidadesescolares para os cursos regulares e cursoscomplementares, compras de livros e revis-tas e outros gastos educacionais.

Os gastos destinados a mensalidadesescolares para os cursos regulares (educaçãobásica e superior) representam 64% dos gas-tos educacionais, outros cursos chegam a17%, ou seja, os gastos com mensalidadesatingem 81% dos gastos familiares com edu-cação; enquanto isso, os gastos com livros erevistas técnicas representam apenas 1%.

Aqui, de novo, deve-se salientar que,quanto mais elevada for a renda e a instru-ção do chefe, maior será o gasto da famíliaem termos absolutos e haverá maior diver-sidade do leque de produtos e serviços edu-cacionais consumidos entre os membros da

família. As famílias em pior situação de rendae instrução concentram seus gastos nas ne-cessidades básicas de sobrevivência commenos diversificação de consumo.

1.4 A situação dos saláriosdos professores

O aspecto central na discussão do fi-nanciamento da educação é a política salari-al. As Tabelas 4A, 4B e 4C, a seguir, apre-sentam alguns indicadores comparativos.

Tabela 4A – Salário médio de algumas ocupações de nível superiordo setor público (2000)

Tabela 3 – Estimativas para os gastos das famílias com educação (1996-2000)

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Tabela 4B – Salário anual inicial e final de um professor do setor público:comparação com alguns países escolhidos (em dólar PPP*)

Tabela 4C – Brasil – Salário dos professores da educação básicapor dependência administrativa para alguns Estados escolhidos (1997)

Uma rápida análise desse conjunto detabelas indica que os professores brasilei-ros ganham menos que outros profissionaisdo setor público do País, bem menos queseus colegas de outros países de renda percapita equivalente, possuem uma estruturade carreira pouco estimulante a permane-cer na profissão e constata-se uma grandediscrepância salarial entre Estados da Fe-deração e entre redes de ensino. Os melho-res valores são aqueles pagos pela rede fe-deral de ensino (escolas técnicas), e o me-lhor padrão de remuneração é o do DF, quetambém conta com recursos federais. Os

piores padrões salariais do País são encon-trados no Maranhão, Piauí, Alagoas eParaíba, que são também os Estados queapresentam os piores indicadores de quali-dade de ensino do País.

2. Custos de um ensinode qualidade

A Constituição Federal e a LDB estabe-lecem como dever do Estado garantir padrões

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mínimos de qualidade de ensino, definidoscomo a variedade e a quantidade mínimas,por aluno, de insumos indispensáveis aodesenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem (Cf. art. 206, inc. VII e LDB,art. 4º, inc. IX). Mas quanto custa uma esco-la de qualidade? Responder a essa perguntanão é fácil, e demanda infindáveis discus-sões. Uma coisa é certa, com menos deR$ 1.000/aluno-ano, dificilmente é possívelconstruir uma escola de qualidade, mesmo

considerando as diferenças regionais. Bastadizer que a Receita Federal permite um des-conto de cerca de R$ 2.000 por dependen-te, em virtude de despesas escolares, numaclara indicação de subsídio aos grupos demaior rendimento econômico.

A Tabela 5, a seguir, apresenta um ce-nário possível de uma escola de ensino fun-damental, que atenderia a determinados pa-drões mínimos de qualidade. Obviamente,trata-se de um exercício para ilustrar as des-pesas típicas de uma boa escola.

Tabela 5 – Estimativa de gasto hipotético de custeio de uma escolade ensino fundamental de qualidade

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O valor obtido, cerca de 24% do PIBper capita, tomado como uma primeira apro-ximação para um ensino de qualidade, é odobro do valor atualmente praticado, que éde 12% do PIB per capita. Isso mostra que,com certeza, o atual patamar de recursosexistentes para a educação é insuficientepara garantir um ensino de qualidade paraos alunos atualmente matriculados. O quedizer, então, das demandas de expansão dematrículas definidas pelo Plano Nacionalde Educação (PNE)?

Uma outra forma de ver como os re-cursos são insuficientes decorre da análisedo Fundef. Pela lei que regulamenta esteFundo (Lei nº 9.424/96), o valor mínimonacional a ser gasto por aluno deveria ser,em 2002, de R$ 761 para classes de 1ª a 4ªsérie e de R$ 799,05 para classes de 5ª a 8ªsérie e educação especial. Contudo, em de-sacordo com a lei, o governo federal fixouos seguintes valores, em 2002: R$ 418 (1ª a4ª série) e R$ 438,90 (5ª a 8ª série e educa-ção especial). Este desrespeito à lei signifi-cou que, no período de 1998 a 2002, a Uniãoficou devedora para com os Estados e mu-nicípios em R$ 12,76 bilhões, sem contar acorreção monetária. Para 2003, para efeti-var o cumprimento da lei, a União deverárepassar aos fundos estaduais R$ 4,2 bi-lhões, um valor seis vezes maior que a do-tação inicial e que representa 40% das des-pesas efetuadas com manutenção e desen-volvimento do ensino pela União, em 2002.Esse é mais um indicador de que são ne-cessários mais recursos para o financiamentode uma escola com padrões mínimos dequalidade para as diferentes regiões do País.

Por fim, uma boa notícia no que se re-fere aos recursos legalmente vinculados aoensino no Brasil. Levando-se em conta osindicadores mais recentes da receita de im-postos que apontam para um crescimentobem acima da evolução do PIB, em especial

do ICMS, pode-se estimar que o potencialmínimo de recursos legalmente vinculadosao ensino, chegue ao patamar de 5,0%, 5,5%do PIB. Deve-se ressaltar, contudo, que po-tencial mínimo de recursos vinculados aoensino é diferente de gastos com ensino, umavez que, nem sempre a lei é cumprida.

3. Demanda de recursospara a construção de uma

escola de qualidade levando-se em conta as metas fixadas

pelo PNE

A Tabela 6 apresenta um cenário consi-derando uma melhoria progressiva no pa-drão de gasto/aluno, no período que vai de2003 a 2011. Assim, para as creches, sairía-mos de um patamar de 15,5% do PIB percapita (R$ 1.188 de 2003) para 25,2% doPIB per capita (R$ 2.459 de 2003); na pré-escola e ensino fundamental, sairíamos de11,8% do PIB per capita (R$ 905 de 2003)para 19,2% do mesmo (R$ 1.873 de 2003);no ensino médio, de 12,4% (R$ 950 de 2003)do PIB per capita para 23,3% do PIB percapita (R$ 2.268 de 2003) e no ensino supe-rior de graduação, de 150% do PIB per capita(R$ 11.480 de 2003) para 100% do PIB percapita (R$ 9.745 de 2003), considerando que,nesse nível de ensino, a ampliação implica-rá uma redução de custos. Além disso, sãocontemplados recursos para a Alfabetiza-ção de Adultos, Educação de Jovens eAdultos, nas modalidades ensino funda-mental e médio e para a educação especialcom os mesmos valores per capita do ensi-no fundamental. Já no caso da educaçãoespecial, foi considerado um valor per capitaequivalente ao dobro daquele do ensinofundamental.

Tabela 6 – Recursos necessários para atendimento das metas do PNE(Continua)

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Tabela 6 – Recursos necessários para atendimento das metas do PNE

(Conclusão)

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Pelos dados indicados, e consideran-do adequado este cenário, o Brasil sairia deum patamar de gastos de 4,3% do PIB (semconsiderar os inativos), em 2003, para atin-gir, em 2011, 8% do PIB em gastos comeducação pública, um índice não muito dis-tante daquele constante do PNE (que é de7% do PIB), mas que foi vetado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.Lembrando-se, contudo, que programascomo Educação de Jovens e Adultos, nasmodalidades ensino fundamental e médio,com a melhoria da qualidade dos sistemasde ensino, tenderiam a extinguir-se, apro-ximaríamos, em médio prazo, (cerca de 15anos após o início do plano) de um pata-mar da ordem de 6,6% do PIB, um índice,absolutamente condizente com a riquezasocial do País. É inegável que esse "choque"de educação, diferente de outros que tive-mos, colocará o País em um novo patamarde desenvolvimento econômico e social.

4. Fontes possíveisde recursos para

a ampliação dos gastoscom educação no País

Resta, contudo, a pergunta: De ondeviriam os recursos para esse "choque deeducação". Seguem, abaixo, algumas suges-tões para o debate.

• Dos Estados e municípios: uma am-pliação dos gastos desses níveis de governopara 30% da Receita Líquida de Impostospropiciaria um adicional de 0,7% do PIB.

• Das Contribuições: Apenas a receitafederal com contribuições, em 2001, foi de13,4% do PIB. Embora cerca da metade des-se valor corresponda à previdência social,foram criadas várias contribuições, de na-tureza econômica, como a CPMF, que nadacontribuem para a educação que só possui,como contribuição específica, o salário-edu-cação (cerca de 0,3% do PIB). Umavinculação de 20% aplicada às contribui-ções econômicas e à DRU representaria umadicional de cerca de 1,5% do PIB.

• Redução de subsídios e renúncia fis-cal: Os incentivos fiscais no Brasil atingemcerca de 5% do PIB. Só com a dedução doimposto de renda relativa aos gastos dasfamílias com educação, a Receita Federaldeixa de arrecadar R$ 1 bilhão.

• Isenções de impostos para escolasprivadas: Apesar de ser um dos mais flo-rescentes negócios do País, boa parte dasinstituições privadas continua, por variadosmeios, a não pagar impostos.

• Criação de taxas ou contribuições,cujo uso estaria integralmente vinculado àmelhoria do sistema de ensino. De uma for-ma similar ao que ocorre nos EUA, porexemplo.

• Combate à sonegação: Segundo o ex-secretário da Receita Federal, EverardoMaciel, cerca do equivalente ao valor do PIBescapa à tributação no País. Se isso for ver-dade, o PIB real dobra e o gasto real comeducação desaba para aproximadamente2,2% do PIB.

• Operações de Crédito: No Brasil, odéficit fiscal foi utilizado para vários planosde desenvolvimento do País, para parear amoeda com o dólar, para segurar a inflação.Em todos esses momentos, a educação sófoi chamada para pagar a conta. Contudo,como mostrou a experiência de vários paí-ses, a educação é condição imprescindível,embora não suficiente, para o desenvolvi-mento econômico. Por que não usar o défi-cit fiscal para financiar um "choque de edu-cação"? Com certeza, além do impacto nocrescimento econômico, com reflexo imedi-ato na receita fiscal, haveria um impacto sig-nificativo na distribuição de renda, pois boaparte dos investimentos em educação incidesobre recursos humanos. Isto porque esseaumento de gastos em recursos humanosiria provocar uma melhoria na distribuiçãofuncional da renda, aumentando a fatia dotrabalho em relação à do capital, e tambémaumentaria a eqüidade na distribuição pes-soal da renda, pois os professores (princi-pais destinatários da elevação dos investi-mentos) não se situam nas faixas de altosrendimentos.

5. Simulações paraa necessidade

de financiamentocom a criação do Fundeb*

A preocupação que dirige esta parte dotrabalho caminha no sentido de avaliar oimpacto do Fundeb na necessidade de fi-nanciamento para efetuar a complementaçãopela União e o que ocorrerá com as receitasfiscais de Estados e municípios.* Jorge Abrahão de Castro

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Para avaliar o impacto do Fundeb, tra-tam-se os dados mediante cenários que –contêm estimativas sobre as receitas e osdados censitários da matrícula – explorampossíveis regras de funcionamento a seremprevistas na legislação pertinente. Coleta-ram-se os dados a respeito da arrecadaçãodos impostos federais, estaduais e munici-pais e sua correspondente distribuição comobjetivo de servir de base para a fixação dasreceitas dos Estados e municípios e o cor-respondente poder de dispêndio a ser co-locado à disposição do Fundo. Os dadoscensitários da matrícula inicial na educa-ção básica são importantes delimitadorespara o cálculo dos critérios de partilhas dosrecursos. Os valores das estimativas dasreceitas para os três entes federados serãoparâmetros importantes para estabelecer-seo gasto aluno/ano e a complementação derecursos que a União terá que realizar cum-prindo seu papel redistributivo. Por fim,procura-se medir o impacto dessa inova-ção no financiamento da educação básicano ano de 2003, nas receitas de Estados emunicípios.

As preocupações prospectivas procu-ram em seu desenvolvimento, de algumamaneira, levar em conta as necessidades deformalização e composição de cenários, queobviamente não conseguem cobrir todas asespecificidades que as variáveis utilizadasexigiriam. Como em grande parte dos tra-balhos do gênero, tornou-se necessária autilização de considerável grau de arbítriopara a realização das projeções dosparâmetros utilizados.

Os resultados das estimativas apresen-tados na Tabela 7 mostram que a grandezada capacidade de gasto necessário para aconstituição do Fundeb vai depender dotipo de Cenário para o gasto aluno/ano quese adote. Por exemplo, no Cenário A – gas-to aluno/ano no nível do que se esperariapara o Fundef – o Fundo deveria contarcom cerca de R$ 47,8 bilhões, em 2003,(cerca de 4,14% do PIB), enquanto no Ce-nário C, de melhor gasto aluno/ano, osrecursos do Fundo seriam da ordem deR$ 73,8 bilhões, valor que deve represen-tar 6,4% do PIB e que em comparação comcenário anterior apresenta necessidade definanciamento 54% maior.

Para o Cenário A, o gasto aluno/anono Brasil deve situar-se, em boa parte dosEstados, acima do mínimo que foi estabe-lecido (R$ 780), mas todos os conjuntosdos municípios devem ficar abaixo do mí-nimo, com a média para o Brasil ficandoem torno de R$ 972 e com grande variaçãoem torno da média, o que demonstra a enor-me heterogeneidade de Estados e municí-pios em sua capacidade de financiar a edu-cação básica. Por isso, a complementação aser realizada pela União, em 2003, caso oFundeb fosse implementado, deveria che-gar a R$ 7,6 bilhões, o que representaria,de fato, um aumento de recursos para ofinanciamento da educação básica. Alémdisso, alguns Estados perderiam recursospara seus municípios (R$ 1,3 bilhões) e oconjunto dos municípios necessitariam deR$ 8,9 bilhões.

Tabela 7 – Estimativas da necessidade de recursos financeiros para a criaçãodo Fundeb (2003)

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Para o Cenário B, o gasto aluno/anono Brasil deve situar-se, em boa parte dosEstados, abaixo do mínimo que foi estabe-lecido (R$ 1.180) – apenas três Estados fi-cam acima – e os conjuntos dos municípi-os devem ficar abaixo do mínimo, com amédia para o Brasil ficando em R$ 1.235 ecom grande variação em torno da média.A complementação a ser realizada pelaUnião, em 2003, caso o Fundeb fosseimplementado, deveria chegar a R$ 20,6bilhões (1,78% do PIB), o que representa-ria, de fato, um grande aumento de recur-sos para o financiamento da educação bá-sica. Neste caso, os Estados não perderi-am recursos para seus municípios e emconjunto com os municípios demandari-am recursos da União.

Para o Cenário C, o gasto aluno/anodeve situar-se, em todos os Estados e mu-nicípios, abaixo do mínimo que foi estabe-lecido (R$ 1.500), com a média para o Bra-sil ficando em R$ 1.501. A complementaçãoa ser realizada pela União, em 2003, casoesse cenário se configurasse, deveria che-gar a R$ 33,6 bilhões (2,92% do PIB), o querepresentaria, de fato, um forte aumento derecursos para o financiamento da educaçãobásica e grande demonstração de priorida-de na área de educação. Nesse caso, os Es-tados não perderiam recursos para seusmunicípios e em conjunto com os municí-pios demandariam grande quantidade derecursos da União.

O aumento de recursos dacomplementação tem sua direcionalidade naperspectiva da correção da desigualdade nosdispêndios educacionais, em torno de ummínimo que garanta a oferta de educaçãode qualidade aceitável nacionalmente. Con-siderando-se esses parâmetros, observa-seque, dependendo do cenário, pode-se che-gar a diversos tipos de resultados para asnecessidades de financiamento que deman-dariam negociações também diferentes. Ocerto é que, quanto maior o valor previstopara o gasto aluno/ano mínimo, maior deveser a destinação de recursos para a RegiãoNordeste. Por exemplo, dos R$ 7,6 bilhõesda complementação previsto no Cenário A,R$ 5,8 bilhões destinar-se-iam à região, des-tacando-se os Estados do Maranhão e daBahia, que absorveriam juntos R$ 2,7 bi-lhões (35% da complementação).

Os resultados das estimativas mostramque o Fundeb, assim como o Fundef, poderepresentar no interior de cada Estado umaminirreforma tributária, que deve gerar

impasses e forçar negociações entre os diri-gentes dos executivos estaduais mais atingi-dos e os dirigentes do MEC, podendo atingiraté o vértice superior do governo, visando àcobertura das perdas de recursos estaduaismediante a alocação de recursos federais.Quem vai ganhar? Quem vai perder? Quan-to? Como? São questões que ficarão penden-tes de articulações e recursos de poder de cadadirigente estadual junto ao poder central. Nocaso das perdas de recursos municipais, acapacidade de alguns municípios de pressio-nar os dirigentes centrais para reporem suasperdas está na dependência da articulaçãopolítica desses dirigentes, sendo possível suaocorrência, porém restrita para poucos.

No conjunto, observa-se que em todas asregiões devem ocorrer movimentos nas duasdireções, predominando o processo dedescentralização de recursos dos Estados paraos municípios, não ocorrendo processo de cen-tralização. Nesse sentido, a criação do Fundebcoloca na agenda a questão da municipalizaçãoda educação básica, principalmente da creche,pré-escola e ensino fundamental. Alerta-seque, à primeira vista, a indução damunicipalização pela via da restrição fis-cal, que essa política pode suscitar, sem adevida coordenação por parte dos diver-sos entes federados, pode trazer sérios im-pactos nos resultados educacionais consi-derando-se os problemas na gestão local.

Além disso, o Fundeb levará à necessi-dade de uma grande quantidade de recur-sos para efetuar-se a complementação, pelaUnião, e também poderá acarretar transfe-rência de recursos financeiros dos Estadospara os municípios, o que, por um lado,permitirá a consolidação de um bloco razo-ável de recursos para a educação básica, poroutro poderá trazer problemas para a capa-cidade de gasto dos Estados.

Mesmo diante das inovaçõesintroduzidas, ainda permanecerá no planonacional a desigualdade na distribuição dosrecursos, fazendo conviver no mesmo Paísalunos que têm do poder público, no sen-tido do gasto realizado, uma grandedisparidade no valor do gasto despendido.Por exemplo, um aluno da educação básicano Estado do Maranhão merece do poderpúblico um gasto bem menor daquele queé realizado para o mesmo aluno no Estadode São Paulo.

Por fim, sugere-se que uma política definanciamento de tal dimensão deveria ser

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precedida de planejamento de ações, quetome como base uma estratégia vertical ehorizontalmente organizada, via condomíni-os ou consórcios de interesses regionais elocais, em torno da resolução de problemasgerais ou específicos. Uma estratégia dessetipo pode criar sinergias entre os entes

federados, principalmente entre Estados emunicípios e entre os próprios municípios,para gerar capacidades operativas nos níveisregional e local, com atenção especial às pe-quenas localidades, para que os recursos doFundeb tenham, de fato, eficácia e eficiênciaeducacional em sua aplicação.

Membros do Grupo de Trabalho:Otaviano Augusto Marcondes Helene (Inep), Pedro Luiz Bezerra (SE/MEC), Rubem

Fonseca Filho (SE/MEC), Paulo Eduardo Nunes de Moura Rocha (SPO/MEC), AntonioIbañez Ruiz (Semtec/MEC), Jorge Abrahão de Castro (Ipea), Valdomiro Luis de Sousa(Bolsa-Escola), Austregezilo Ferreira de Mello (Casa Civil), Ivan Castro de Almeida (Inep),José Marcelino de Rezende Pinto (Inep), Marluce Araújo de Lucena (SPO/MEC), CaioLuiz Davoli Brandão(SPO/MEC), Jacques Rocha Veloso (UnB), João Antonio Cabral deMonlevade (Consultor Legislativo do Senado).

Consolidação do Texto:José Marcelino de Rezende [email protected]

Abstract

Education finance is an urgent theme in the discussions on the directions that oneintends to give to the education in Brazil, since that, without the appropriate resources, itbecomes practically impossible to attend to the constitutional principals that assures aquality school for all the Brazilian people. The text here presented represents part of thereport of a working group created by the Education Minister Cristovam Buarque to analyzethe theme. In this work, the expenses in education done by the different government levelsare analyzed, as well as by the families. One still discusses the costs of a quality school andthe impact of the creation of the Fund of Maintenance and Development of the BasicEducation (Fundeb), as well as of the implementation of the established goals in the NationalPlan of Education (PNE). The main conclusion of the report it is that, to reach the newattendance landings in quality and amount defined by PNE, Brazil should leave the currentlanding of public expenses in education, of the order of 4,3% of GDP, to reach, in ten years,the amount of 8% of GDP. Finally, one points out the possible sources to make viable thissignificant increase in the expenses with education.

Keywords: education finance; education costs; financial resources for the education.

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Anexo 1

Critérios adotados para a elaboração da Tabela 6(Recursos necessários para o atendimento das metas do PNE)

1. Projeção do PIB

2. Creche (até 3 anos)

• Projeção da matrícula: Foi conside-rada a população projetada por idade sim-ples para os anos de 2003 a 2011. O PNE,assinado em janeiro de 2001, estabeleceu ameta de atendimento de 30% da populaçãocom até 3 anos de idade no prazo de 5 anos(até o ano de 2006), e a meta de 50% dapopulação com até 3 anos de idade no pra-zo de 10 anos (até o ano de 2011). A esti-mativa da matrícula total para o ano de 2003(ano corrente) considerou a tendência decrescimento apresentada entre os anos de2001 a 2002, ou seja, 5,4%. Desta forma, apartir da matrícula total estimada para 2003(1.218.354 matrículas), considerando a metapara 2006 de 4.250.575 matrículas, foi cal-culada a taxa média geométrica de cresci-mento anual do período 2003 a 2006. Omesmo critério foi considerado para operíodo 2006 a 2011. Para a estimativada matrícula na rede pública, foi consi-derada a participação relativa observa-da em 2002, último ano de informaçãodisponível do Censo Escolar.

• Gasto/Aluno (% PIB per capita): Foiconsiderado, para o ano de 2003, oporcentual calculado pelo Ipea/Disoc, para

o ano de 1998, para a educação infantil(15,53%). O Cenário supôs o atingimentodo porcentual de 25,23% no ano de 2011,considerando a hipótese de melhoria dascondições de infra-estrutura. Para a distri-buição desse porcentual, foi calculada a taxamédia geométrica de crescimento anual doperíodo 2003 a 2011.

3. Pré-Escola (4 a 6 anos)

• Projeção da matrícula: Foi conside-rada a população projetada por idade sim-ples para os anos de 2003 a 2011. O PNE,assinado em janeiro de 2001, estabeleceu ameta de atendimento de 60% da populaçãona faixa etária de 4 a 6 anos no prazo de 5anos (até o ano de 2006), e a meta de 80% dapopulação na faixa etária de 4 a 6 anos, com100% para a idade de 6 anos no prazo de 10anos (até o ano de 2011). A estimativa damatrícula total para o ano de 2003 (ano cor-rente) considerou a tendência de crescimen-to apresentada entre os anos de 2001 a 2002,ou seja, 5,4%. Dessa forma, a partir da matrí-cula total estimada para 2003 (3.838.087matrículas), considerando a meta para 2006de 4.400.470 matrículas, foi calculada a taxamédia geométrica de crescimento anual do

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período 2003 a 2006. O mesmo critério foiconsiderado para o período 2006 a 2011. Paraa estimativa da matrícula na rede pública,foi considerada a participação relativa ob-servada em 2002, último ano de informaçãodisponível do Censo Escolar.

• Gasto/Aluno (% PIB per capita): Foiconsiderado, para o ano de 2003, o mesmoporcentual calculado pelo Ipea/Disoc, parao ano de 1998, para o ensino fundamental(11,83%). O Cenário supôs o atingimentodo porcentual de 19,22% no ano de 2011,considerando a hipótese de melhoria dascondições de infra-estrutura. Para a distri-buição desse porcentual, foi calculada a taxamédia geométrica de crescimento anual doperíodo 2003 a 2011.

4. Ensino Fundamental(7 a 14 anos)

• Projeção da matrícula: Foi conside-rada a população projetada para a idade de7 anos, para os anos de 2003 a 2011, e amatrícula do Censo Escolar 2002. O PNE,assinado em janeiro de 2001, estabeleceu ameta de atendimento de 100% da popula-ção na faixa etária de 7 a 14, de forma queno prazo de 5 anos (até o ano de 2006) astaxas de transição assumissem os seguin-tes valores: (1) promoção = 98%, (2)repetência = 1% e (3) evasão = 1%, paratodas as séries do ensino fundamental. Parao período de 2006 a 2011, as taxas de tran-sição foram mantidas no mesmo patamarde 2006. O porcentual de retorno de alu-nos de fora do sistema educacional partiudo valor observado em 2002, decrescendode forma linear até atingir a meta de 0% em2011. Para a estimativa da matrícula na redepública, foi considerada fixa a matrícula darede particular observada em 2002, últimoano de informação disponível do CensoEscolar.

• Gasto/Aluno (% PIB per capita): Foiconsiderado, para o ano de 2003, o mesmoporcentual calculado pelo Ipea/Disoc parao ano de 1998 no ensino fundamental(11,83%). O Cenário supôs o atingimentodo porcentual de 19,22% no ano de 2011,considerando a hipótese de melhoria dascondições de infra-estrutura. Para a distri-buição desse porcentual, foi calculada a taxamédia geométrica de crescimento anual doperíodo 2003 a 2011.

5. Ensino Médio(15 a 17 anos)

• Projeção da matrícula: Foi conside-rado o fluxo escolar estimado para o ensinofundamental, utilizando a população proje-tada para a idade de 7 anos, para os anos de2003 a 2011, e a matrícula do Censo Escolar2002. O PNE, assinado em janeiro de 2001,estabeleceu a meta de atendimento de 100%da população na faixa etária de 15 a 17, deforma que no prazo de 5 anos (até o ano de2006), as taxas de transição assumissem osseguintes valores: (1) promoção = 98%, (2)repetência = 1% e (3) evasão = 1%, paratodas as séries do ensino fundamental. Parao período de 2006 a 2011, as taxas de tran-sição foram mantidas no mesmo patamar de2006. O porcentual de retorno de alunosde fora do sistema educacional partiu dovalor observado em 2002, decrescendo deforma linear até atingir a meta de 0% em2011. As matrículas da 4ª série e não-seri-ada do ensino médio foram mantidas cons-tantes, conforme valor observado em 2002.Para a estimativa da matrícula na rede pú-blica, foi considerada fixa a matrícula darede particular observada em 2002, últimoano de informação disponível do CensoEscolar.

• Gasto/Aluno (% PIB per capita): Foiconsiderado, para o ano de 2003, o mesmoporcentual calculado pelo Ipea/Disoc parao ano de 1998 no ensino médio (12,41%).O Cenário supôs o atingimento do porcentualde 23,28% no ano de 2011, considerando ahipótese de melhoria das condições de infra-estrutura. Para a distribuição desseporcentual, foi calculada a taxa média geo-métrica de crescimento anual do período 2003a 2011.

6. Educação Superior

• Projeção da matrícula: Foi conside-rada a população projetada pelo Cedeplar/UFMG, por idade simples, para os anos de2003 a 2011. O PNE, assinado em janeiro de2001, estabeleceu como a meta de oferta dematrícula o correspondente a 30% da popu-lação na faixa etária de 18 a 24 anos no prazode 10 anos, ou seja, até o ano de 2011. Aestimativa da matrícula total para os anos de2002 e 2003 considerou a mesma proporçãoda matrícula em relação à população de 18 a24 anos calculada para o ano de 2001, ou

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seja, 12,83%. A partir da matrícula total es-timada para 2003 (3.098.360 matrículas) econsiderando a meta para 2011 de uma ofer-ta de 7.076.140 matrículas, foi calculada ataxa média geométrica de crescimento anualdo período 2003 a 2011. Para a estimativa damatrícula na rede pública, foi considerada aparticipação relativa observada em 2001, úl-timo ano de informação disponível do Cen-so Educação Superior.

• Gasto/Aluno (% PIB per capita): Foiconsiderado, para o ano de 2003, o gasto/aluno como 150% do PIB per capita. O Ce-nário supôs o atingimento do porcentualde 100% no ano de 2011, considerando ahipótese de redução dos recursos em fun-ção da melhoria das condições de infra-es-trutura instaladas no decorrer do período.Para a distribuição desse porcentual, foicalculada a taxa média geométrica de cres-cimento anual do período 2003 a 2011.

7. Educação Especial

• Projeção da matrícula: Foi conside-rada a população projetada pelo Cedeplar/UFMG, para os anos de 2003 a 2011, e aproporção de indivíduos portadores denecessidades especiais do CensoDemográfico 2000 na faixa etária de 7 a 14anos (1,6%). O PNE, assinado em janeirode 2001, estabeleceu a meta de oferta dematrícula correspondente a 100% da popu-lação portadora de necessidades especiaisna faixa etária de 7 a 14 anos no prazo de10 anos, ou seja, até o ano de 2011. A esti-mativa da matrícula total para o ano de 2003considerou a tendência de crescimento ob-servada de 2001 para 2002, ou seja, 12,4%.A partir da matrícula total da educação es-pecial para o ensino fundamental estimadapara 2003 (197.137 matrículas) e conside-rando a meta para 2011 de uma oferta de426.066 matrículas, foi calculada a taxamédia geométrica de crescimento anual doperíodo 2003 a 2011. Para a estimativa damatrícula na rede pública, foi consideradaa participação relativa observada em 2002,último ano de informação disponível doCenso Escolar.

• Gasto/Aluno (% PIB per capita): Foiconsiderado para o ano de 2003 o gasto/aluno como o dobro do porcentual estabe-lecido para o ensino fundamental regular,ou seja, 23,66% (2 x 11,83%) do PIB per

capita. O Cenário supôs o atingimento doporcentual de 38,44% no ano de 2011. Paraa distribuição desse porcentual, foi calcula-da a taxa média geométrica de crescimentoanual do período 2003 a 2011.

8. Alfabetização de Adultos

• Projeção da matrícula: Foi conside-rada a população analfabeta de 15 anos e maisdeclarada no Censo Demográfico 2000(16.294.889 analfabetos). Para os anos de 2001e 2002, foi abatido o correspondente às ma-trículas informadas no Censo Escolar 2000,2001 e 2002, relativas à Educação de Jovense Adultos nos cursos presenciais de alfabeti-zação. A partir desse novo contingente de15.971.285 de analfabetos no ano de 2003,foi estimado o número anual de matrículasnecessárias para a erradicação do analfabe-tismo até o final do ano de 2006.

• Gasto/Aluno (% PIB per capita): Foiconsiderada a hipótese de o tempo de alfa-betização corresponder a seis meses. Dessaforma, o gasto/aluno para alfabetização comoporcentual do PIB per capita corresponderiaà metade do adotado para o ensino funda-mental regular, ou seja, 5,9% em 2003, che-gando, em 2006, a 7,1%.

9. Educação de Jovense Adultos – Ensino

Fundamental

• Projeção da matrícula: O Cenárioconsiderou a meta de duplicação da matrí-cula informada no Censo Escolar de 2001,até o ano de 2006, e a quadruplicação até oano de 2011. A matrícula de 2003 foi proje-tada, considerando a taxa média geométricade crescimento anual observada no períodode 2000 a 2002. A partir dessa estimativa(3.961.336 matrículas), foi projetada a ma-trícula de forma a atingir, no ano de 2006,5.742.084 matrículas e, no ano de 2011,10.622.008 matrículas. Para a estimativa damatrícula na rede pública, foi considerada aparticipação relativa observada em 2002,último ano de informação disponível doCenso Escolar.

• Gasto/Aluno (% PIB per capita): Foiconsiderado o mesmo porcentual do ensi-no fundamental regular, ou seja, para o ano

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de 2003 o porcentual de 11,83%, calcula-do pelo Ipea/Disoc para o ano de 1998. OCenário supôs o atingimento do porcentualde 19,22% no ano de 2011, considerandoa hipótese de melhoria das condições deinfra-estrutura (material e recursos huma-nos). Para a distribuição desse porcentual,foi calculada a taxa média geométrica decrescimento anual do período 2003 a 2011.

10. Educação de Jovens eAdultos – Ensino Médio

• Projeção da matrícula: O Cenárioconsiderou a meta de duplicar a matrículainformada no Censo Escolar de 2001 até oano de 2006, e quadruplicar até o ano de2011. A matrícula de 2003 foi projetada,considerando a taxa média geométrica decrescimento anual observada no período de2000 a 2002. A partir dessa estimativa

(1.558.923 matrículas), foi projetada a ma-trícula total de forma a atingir, no ano de2006, 2.233.045 matrículas e, no ano de2011, 4.356.938 matrículas. Para a estima-tiva da matrícula na rede pública, foi consi-derada a participação relativa observada em2002, último ano de informação disponíveldo Censo Escolar.

• Gasto/Aluno (% PIB per capita): Foiconsiderado o mesmo porcentual adotadopara o ensino médio regular, ou seja, para oano de 2003 o porcentual de 12,41%, calcu-lado pelo Ipea/Disoc para o ano de 1998. OCenário supôs o atingimento do porcentualde 23,28% no ano de 2011, considerando ahipótese de melhoria das condições de infra-estrutura (material e recursos humanos). Paraa distribuição desse porcentual, foi calcula-da a taxa média geométrica de crescimentoanual do período 2003 a 2011.

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Anexo 2

Cálculo da manutenção e desenvolvimento do ensino da União*

* Elaborado pelo SPO-MEC.

A União deverá aplicar, anualmente,acima de 18%, e os Estados, o Distrito Fe-deral e os municípios, 25%, no mínimo,da receita resultante de impostos, compre-endida a proveniente de transferências, namanutenção e no desenvolvimento do en-sino, conforme o art. 212 da Constituição.

Os impostos de competência da Uniãosão:

• Imposto sobre a Importação (II);• Imposto sobre a Exportação (IE);• Imposto sobre a Propriedade

Territorial Rural (ITR);• Imposto sobre a Renda (IR);• Imposto sobre Produtos Industriali-

zados (IPI);• Imposto sobre Operações de Crédi-

to, Câmbio e Seguro (IOF).

Primeiramente, procede-se àdesvinculação de 20% dos impostos daUnião que compõem a base de cálculo dosrecursos da cota federal da MDE, conforme

o art. 76 do ADCT, incluído pela EmendaConstitucional nº 27, de 2000, por enquan-to até 2003.

Em seguida, retira-se da base de cálcu-lo a parcela da arrecadação de impostostransferida pela União aos Estados, ao Dis-trito Federal e aos municípios, que consti-tuirão o Fundo de Participação dos Esta-dos (FPE) e o Fundo de Participação dosMunicípios (FPM), a transferência de 50%do ITR aos municípios, conforme art. 158,II, da Constituição de 1988, e, ainda, 10%do IPI que corresponde à cota-parte dosEstados e DF do proporcional às exporta-ções dos Estados. Cabe lembrar que não sereduzirão dessa base as desvinculações porconta da DRU.

Por último, descontada a desvinculaçãoe a parcela da arrecadação transferida, apli-cam-se 18% sobre a base de cálculo e tem-seo mínimo de recursos a ser aplicado na edu-cação. A tabela a seguir sintetiza o cálculodo MDE da União para 2003.

Pelo exposto, essa desvinculação deimpostos federais representou uma perdapara a educação de recursos anuais da or-dem de R$ 3,6 bilhões, somente em 2003,ou seja, os recursos mínimos aplicados naeducação pelo governo federal poderiam serde R$ 12,2 bilhões, no mínimo, sendo:R$ 10,8 bilhões da MDE e R$ 1,4 bilhão dacota-parte federal do salário-educação e suacorrespondente aplicação financeira.

Por outro lado, as despesas passíveisde financiamento por recursos vinculadosda MDE, na PLOA 2003, representam, hoje,R$ 9,8 bilhões, dos quais R$ 7,1 bilhõessão da MDE, R$1,4 bilhão da cota-parte dosalário-educação e apenas R$ 500 milhõesde recursos ordinários do Tesouro, além deR$ 800 milhões de outras fontes.

Caso abatermos dos R$ 3,6 bilhões osR$ 1,3 bilhão de recursos ordinários e deoutras fontes, ainda assim a educação deixade aplicar R$ 2,3 bilhões nas ações da MDE,nesse ano, e, ao considerarmos que essapolítica vem se arrastando desde 1994, ouseja, há 10 anos, essas perdas representari-am aproximadamente R$ 20 bilhões.

Cabe lembrar que o pessoal inativo e ospensionistas do MEC, no valor de R$ 2,9bilhões, não estão sendo custeados com re-cursos da MDE, muito embora a LDB nãoproíba, também foi omissa a respeito.

Caso a DRU efetivamente acabe em2003, aumentariam os recursos mínimos daeducação federal em R$ 2,3 bilhões, passan-do para R$ 12,2 bilhões os recursos míni-mos disponíveis do MEC, dos quais R$ 1,4bilhão são oriundos do Salário-Educação.

R. bras. Est. pedag., BrasÌlia, v. 82, n. 200/201/202, p. 117-136, jan./dez. 2001.