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1 Setembro de 2009 Relatório de Pesquisa Qualitativa

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Setembro de 2009

Relatório de Pesquisa Qualitativa

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Sumário Introdução ...................................................................................................................... 4

1. Metodologia ............................................................................................................... 7

1.1. Técnica utilizada ..................................................................................................... 7

1.2. Perfil dos entrevistados ........................................................................................... 8

1.3. Amostra ................................................................................................................... 9

1.4. Parâmetros e distribuição ........................................................................................ 9

1.5. Temas investigados ............................................................................................... 11

1.6. Mecanismos e procedimentos técnicos utilizados na investigação ....................... 11

1.6.1. Mapeamento das posições: ........................................................................ 11

1.6.2. Técnica de entrevistas sucessivas: ............................................................. 11

1.6.3. Rastreamento das informações: ................................................................. 12

1.6.4. Teste simulado da reação às notícias hipotéticas contrárias ao ponto de

vista do entrevistado: ........................................................................................... 12

1.7. Objetivos de análise .............................................................................................. 13

1.7.1. Vida profissional: ....................................................................................... 13

1.7.2. Vida escolar: .............................................................................................. 13

1.7.3. Trajetória social: ........................................................................................ 13

1.7.4. Experiência política: .................................................................................. 14

1.7.5. Características atitudinais: ......................................................................... 14

1.7.6. Meios de comunicação: .............................................................................. 14

1.7.7. Informação sobre o governo e políticas públicas: ...................................... 14

1.7.8. Posicionamento sobre os temas políticos: .................................................. 14

1.7.9. Auto-definição política: ............................................................................. 15

1.7.10. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos: ........................ 15

1.7.11. Relação do conjunto das variáveis estudadas: ......................................... 15

1.7.12. Sugestões para a fase quantitativa: .......................................................... 16

2. Caracterização dos segmentos estudados ................................................................. 17

2.1. Classe média ......................................................................................................... 17

2.1. Juventude .............................................................................................................. 23

3. Fatores contextuais ................................................................................................... 26

3.1. Trajetória social .................................................................................................... 26

3.1.1. Classe Média .............................................................................................. 26

3.1.2. Juventude ................................................................................................... 31

3.2. Experiência política .............................................................................................. 34

3.2.1. Classe média .............................................................................................. 34

3.2.2. Juventude ................................................................................................... 37

3.3. Características atitudinais ..................................................................................... 39

3.3.1. Classe Média .............................................................................................. 39

3.3.2. Juventude ................................................................................................... 42

4. Percepção do mundo político ................................................................................... 44

4.1. Apropriação política .............................................................................................. 44

4.1.1. Classe média .............................................................................................. 44

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4.1.2. Juventude ................................................................................................... 47

4.2. Posicionamento político ........................................................................................ 51

4.2.1. Classe média .............................................................................................. 51

4.2.2. Juventude ................................................................................................... 53

4.3. Coerência política ................................................................................................. 55

4.3.1. Classe média .............................................................................................. 55

4.3.2. Juventude ................................................................................................... 59

5. Comportamento em relação à mídia ........................................................................ 64

5.1. Meios de comunicação ...................................................................................... 64

5.1.1. Classe média .............................................................................................. 64

5.1.2. Juventude ................................................................................................... 69

5.2. Informação sobre o governo e políticas públicas .............................................. 74

5.2.1. Classe média .............................................................................................. 74

5.2.2. Juventude ................................................................................................... 78

6. Formação da opinião ................................................................................................ 84

6.1. Permeabilidade às notícias ................................................................................ 84

6.1.1. Classe média .............................................................................................. 84

6.1.2. Juventude ................................................................................................... 89

6.2. Relevância dos meios e outras referências ........................................................ 99

6.2.1. Classe Média .............................................................................................. 99

6.2.2. Juventude ................................................................................................. 105

6.3. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos ................................ 109

6.3.1. Classe Média ............................................................................................ 109

6.3.2. Juventude ................................................................................................. 116

7. Subsídios para o questionário da fase quantitativa ................................................ 121

7.1. Sugestões de perguntas para o questionário da fase quantitativa ................... 121

8. Considerações finais .............................................................................................. 131

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Introdução

O desenvolvimento tecnológico, a expansão do uso da Internet, da

telefonia celular e outras ferramentas de interconexão dos meios de

comunicação tem provocado importantes efeitos nas formas através das

quais as pessoas se informam, processam estas informações e constroem

referenciais valorativos e atitudinais.

Neste período de transformação convivem os tradicionais meios de

comunicação dos séculos XIX e XX (imprensa escrita, rádio, televisão) com a

nova mídia liderada pela Internet e suas várias ferramentas. Muitos

conteúdos dos meios tradicionais são crescentemente expostos na Internet

(notícias de jornais, revistas, filmes, música, etc.). Os jornais impressos,

particularmente, sentem o impacto da mudança comportamental verificada

especialmente no segmento jovem que prefere acompanhar noticiários

através da Internet ao invés dos tradicionais tablóides. A TV aberta sofre forte

concorrência da TV por assinatura, especialmente nos segmentos de maior

renda, em função da maior qualidade, especialização e diversidade das

opções de programação.

Qual é o impacto destas mudanças nos processos de formação de

opinião dos distintos segmentos sociais? O acesso direto a uma mídia mais

diversificada está gerando uma multiplicação de fontes e referenciais

informativos? Em que medida esta diversificação altera os referenciais de

formadores de opinião, especialmente nos segmentos que utilizam, de forma

mais intensa, as novas tecnologias da informação? Em que medida os

tradicionais referenciais da televisão aberta perdem força nos segmentos que

utilizam crescentemente as novas mídias? Em que medida o segmento jovem

opera outras formas e processos de construção de opinião? Qual é a eficácia

da propaganda e das notícias em cada um dos meios de comunicação? Em

que medida a nova classe média torna-se crescentemente autônoma em seu

processo de formação de opinião?

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Estas questões orientaram o desenvolvimento da presente pesquisa.

Nesta primeira fase de natureza qualitativa a investigação teve caráter

exploratório, visando o conhecimento em profundidade dos processos através

dos quais as pessoas se informam e formam as suas opiniões. Buscou-se

esquadrinhar os mecanismos de formação de opinião, examinando a

importância das notícias veiculadas pelos meios de comunicação, as fontes

de informação mais utilizadas, os referenciais de formadores de opinião

considerados mais confiáveis, as lógicas utilizadas na construção de

opiniões, valores e posições.

A investigação da fase qualitativa voltou-se aos dois segmentos

considerados mais relevantes para a observação dos fenômenos estudados:

a chamada nova classe média e a juventude. Foram escolhidas técnicas

adequadas aos objetivos de obtenção de um conhecimento em profundidade

do comportamento destes segmentos.

A exposição dos resultados desta primeira fase da pesquisa foi

organizada tendo por referência contemplar as principais dimensões da

análise, a seguir indicadas.

1. Caracterização dos segmentos estudados: definição conceitual e

operacional dos segmentos “classe média” e “juventude”.

2. Fatores contextuais: exame da relevância da trajetória social

(profissional, escolar e social), da experiência política e das características

atitudinais na conformação dos comportamentos e predisposições.

3. Percepção do mundo político: identificação do grau de apropriação

política (domínio dos termos, informação e conhecimento, gosto por política),

das características do posicionamento político e do grau de coerência em

relação a estas posições, ações e relações com os hábitos de informação e

formação de opinião.

4. Comportamento em relação à mídia: detalhamento da utilização dos

meios de comunicação, da percepção do comportamento da mídia e das

formas de obtenção de informação sobre o governo e políticas públicas.

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5. Formação da opinião: identificação das lógicas utilizadas para a formação

de opiniões, o grau de permeabilidade das pessoas às notícias, a relevância

dos meios e de outras referências para a construção de opiniões.

6. Subsídios para a fase quantitativa: sugestão de perguntas para o

questionário da segunda fase da pesquisa.

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1. Metodologia

O presente estudo tem por objetivo investigar como o processo de

informação e formação de opinião na era da comunicação digital no Brasil.

Para a realização do objetivo proposto, foi considerado necessário

iniciar a investigação através de um estudo em profundidade com pessoas

selecionadas de acordo com perfis típicos definidos.

Os dois segmentos selecionados para esta fase da pesquisa foram

àqueles considerados mais relevantes nesta investigação: jovens e classe

média. Optou-se por estudar em profundidade estes dois segmentos ao

invés de realizar um estudo menos profundo de um leque mais amplo e

diversificado de grupos sociais.

O estudo em profundidade proposto objetiva levantar subsídios para a

pesquisa quantitativa mais abrangente, representativa do conjunto da

população brasileira, que corresponde à segunda fase deste projeto.

1.1. Técnica utilizada

Para o conhecimento profundo e detalhado das maneiras como as

pessoas se informam e constroem os seus referenciais valorativos,

percepções, comportamentos, tendências e predisposições, a técnica de

entrevistas individuais em profundidade é a melhor por possibilitar o

conhecimento em sentido vertical das experiências, referências, e das formas

de formular opiniões e de tomar decisões e atitudes.

As entrevistas em profundidade serão realizadas em etapas

sucessivas até 4 entrevistas por entrevistado. Esta técnica possibilita

aprofundar assuntos progressivamente, alargando o encadeamento de

experiências e o inter-relacionamento das idéias, valores, percepções e

atitudes explicativas do comportamento.

Entrevistas individuais em profundidade sucessivas possibilitam

delinear o quadro valorativo e perceptivo dos entrevistados e os seus

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mecanismos de produção de julgamentos e tomadas de decisão. Conforme o

quadro valorativo há predisposição para aceitação de determinadas

propostas e discursos. O quadro de valores informa as possibilidades

atitudinais frente aos acontecimentos. Os mecanismos de produção de

julgamento e tomadas de decisão informam as fontes utilizadas e o modo de

operação, tornando possível a identificação de pontos de diálogo e maior

previsibilidade de ações e reações.

1.2. Perfil dos entrevistados

Nos dois segmentos investigados há consideráveis variações relativas

aos contextos sociais, nível econômico, nível informacional, conhecimento do

mundo político, envolvimento com temas desta natureza e trajetória

experimental. Mesmo no segmento de classe média, definido por seu poder

aquisitivo, há um largo espectro de diferenciações sócio-econômicas. No

grupamento definido por faixa etária há diferenciação sócio-econômica mais

acentuada, além da diferenciação interna, também relevante, do

comportamento e bagagem experimental, nas diferentes faixas de idade

daqueles considerados jovens.

O indivíduo que vive nos grandes centros urbanos tende a ter base

experimental e percepção do mundo político muito distintas daquele que vive

em pequenas cidades do interior dos estados. O mesmo pode ser dito em

relação àqueles que têm distintos níveis informacionais de sofisticação

política. A atividade profissional também é um elemento que pode implicar em

facilidade ou dificuldade de compreensão dos temas da política e em maior

ou menor proximidade do mundo político. Agregam-se a estas diferenciações

a diversidade cultural regional de um país de dimensões continentais.

Estes fatores foram considerados na escolha dos entrevistados dos

dois segmentos investigados.

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1.3. Amostra

A definição da amostra da pesquisa através da técnica de entrevistas

em profundidade foi feita de forma intencional, considerando os objetivos do

levantamento e as características de seu público-alvo. Considerando as

características dos dois segmentos foi considerada suficiente a seleção de 24

entrevistados por segmento. Assim, foram realizadas, com 24 entrevistados

de cada segmento, quatro séries de entrevista, totalizando 96 entrevistas em

profundidade com o segmento classe média e 96 entrevistas em

profundidade com o segmento jovem (192 entrevistas em profundidade ao

total).

1.4. Parâmetros e distribuição

Para fins deste estudo, a definição operacional de classe média foi

feita pelo critério de classificação sócio-econômica da ABEP, como sendo os

integrantes das classes B2 e C (C1 e C2).

Em relação à juventude, para fins operacionais deste estudo, foram

consideradas as faixas etárias entre 16 e 24 anos.

As entrevistas em profundidade foram distribuídas por todas as regiões

brasileiras e pelos municípios da capital, próximos à capital e distantes da

capital (interior) em igual proporção (32 entrevistas com pessoas residentes

na classe de distância A, 32 na classe de distância B e 32 na classe de

distância C, para cada um dos segmentos).

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Perfil dos Entrevistados - Classe Média

Perfil dos Entrevistados - Jovens

CIDADE PERFIL SEXO CLASSE ESCOLARIDADE IDADE

Salvador Classe média Feminino B2 Superior incompleto 21 anos

Goiânia Classe média Masculino B2 Superior completo 47 anos

Região Metropolitana Rio de Janeiro Classe média Feminino B2 Superior completo 36 anos

Porto Alegre Classe média Masculino B2 2º grau completo 32 anos

Região Metropolitana Porto Alegre Classe média Masculino B2 Superior completo 44 anos

Região Metropolitana Belo Horizonte Classe média Masculino B2 Superior incompleto 26 anos

Interior Minas Gerais Classe média Masculino B2 Superior incompleto 47 anos

Região Metropolitana Belém Classe média Masculino C1 2º grau completo 36 anos

Interior Bahia Classe média Feminino C1 2º grau completo 31 anos

Recife Classe média Masculino C1 2º grau incompleto 27 anos

Interior Goiás Classe média Masculino C1 2º grau incompleto 30 anos

São Paulo Classe média Feminino C1 Superior incompleto 30 anos

Interior Rio de Janeiro Classe média Feminino C1 Superior incompleto 33 anos

Região Metropolitana Porto Alegre Classe média Masculino C1 2º grau completo 22 anos

Interior Rio Grande do Sul Classe média Masculino C1 2º grau completo 30 anos

Interior Minas Gerais Classe média Feminino C1 2º grau incompleto 16 anos

Belém Classe média Feminino C2 1º grau completo 36 anos

Região Metropolitana Belém Classe média Feminino C2 2º grau incompleto 31 anos

Região Metropolitana Salvador Classe média Masculino C2 1º grau completo 40 anos

Goiânia Classe média Feminino C2 2º grau completo 35 anos

Região Metropolitana São Paulo Classe média Feminino C2 2º grau completo 49 anos

Interior São Paulo Classe média Feminino C2 1º grau completo 35 anos

Interior Rio Grande do Sul Classe média Feminino C2 2º grau completo 43 anos

Belo Horizonte Classe média Masculino C2 2º grau completo 21 anos

CIDADE PERFIL SEXO CLASSE ESCOLARIDADE IDADE

Porto Alegre Jovens Masculino A Superior completo 22 anos

Belém Jovens Feminino B1 Superior incompleto 20 anos

Região Metropolitana Porto Alegre Jovens Feminino B1 Superior incompleto 19 anos

Interior Rio Grande do Sul Jovens Feminino B1 Superior incompleto 24 anos

Região Metropolitana Belém Jovens Feminino B2 2º grau incompleto 16 anos

Salvador Jovens Feminino B2 Superior incompleto 23 anos

Interior Goiás Jovens Masculino B2 2º grau completo 20 anos

São Paulo Jovens Feminino B2 Superior completo 22 anos

Interior São Paulo Jovens Feminino B2 Superior incompleto 21 anos

Região Metropolitana Belém Jovens Masculino C1 2º grau completo 21 anos

Região Metropolitana Salvador Jovens Feminino C1 Superior incompleto 21 anos

Interior Pernambuco Jovens Masculino C1 2º grau incompleto 16 anos

Interior Pernambuco Jovens Masculino C1 2º grau completo 19 anos

Goiânia Jovens Masculino C1 2º grau incompleto 16 anos

Interior Rio de Janeiro Jovens Feminino C1 2º grau incompleto 22 anos

Região Metropolitana Porto Alegre Jovens Masculino C1 2º grau completo 24 anos

Recife Jovens Masculino C2 2º grau completo 18 anos

Região Metropolitana Recife Jovens Masculino C2 2º grau incompleto 19 anos

Interior Goiás Jovens Masculino C2 2º grau incompleto 23 anos

Interior São Paulo Jovens Feminino C2 2º grau completo 22 anos

Rio de Janeiro Jovens Masculino C2 2º grau completo 18 anos

Região Metropolitana São Paulo Jovens Feminino D 2º grau completo 23 anos

Porto Alegre Jovens Feminino D 1º grau completo 17 anos

Região Metropolitana Porto Alegre Jovens Masculino D 2º grau completo 21 anos

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1.5. Temas investigados

A fase qualitativa coletou informações buscando explorar em

profundidade o modo como ocorre o processo de formação de opinião. A

investigação buscou identificar a influência relativa dos meios de

comunicação nos processos de formação de opinião, e o modo como é feita a

construção de valores e posições. A partir do mapeamento das principais

idéias e posições sobre temas relevantes, foi feito o rastreamento do

processo de formação destas opiniões, reconstituindo os elementos e passos

mais significativos deste processo. Foram investigados os níveis de

informação e conhecimento, a posição dos entrevistados, os meios de

informação utilizados e as formas de construção das opiniões.

As principais hipóteses formuladas nesta fase serão testadas em um

levantamento quantitativo representativo do conjunto da população.

1.6. Mecanismos e procedimentos técnicos utilizados na investigação

Entre os principais procedimentos técnicos utilizados nas entrevistas

para aprofundar o conhecimento sobre os temas investigados destacam-se

os relacionados a seguir.

1.6.1. Mapeamento das posições: Primeiramente foi estruturado um amplo

painel das experiências, trajetórias, posições, idéias, percepções, ações e

decisões dos entrevistados, através de perguntas, inicialmente genéricas e

abertas, e, em um segundo momento, quando necessário, estimuladas

através de abordagens mais diretas e específicas.

1.6.2. Técnica de entrevistas sucessivas: A técnica de realização de quatro

entrevistas com cada entrevistado possibilitou a leitura prévia dos resultados

de cada entrevista por parte de equipe de analistas do Instituto Meta e, a

partir deste procedimento, a inclusão, de novas perguntas consideradas

pertinentes para esclarecer pontos não suficientemente esgotados ou

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contradições. Este mecanismo possibilitou o aprofundamento vertical de

assuntos, que poderiam passar despercebidos, se não houvesse a

possibilidade de retomar a entrevista em um novo momento.

1.6.3. Rastreamento das informações: Após a identificação das principais

posições dos entrevistados foi realizado o rastreamento das informações

retidas. Foram identificadas as fontes de informação mais importantes para a

construção das opiniões manifestas, as conversações realizadas sobre o

assunto, as lógicas utilizadas para alcançar as conclusões indicadas. Para

cada assunto mencionado foi verificado o grau de cristalização da posição (se

a opinião sobre o assunto é definitiva e dificilmente mudaria ou ainda não é

definitiva e poderia mudar dependendo de novos fatos e circunstâncias).

1.6.4. Teste simulado da reação às notícias hipotéticas contrárias ao

ponto de vista do entrevistado: A partir das informações fornecidas sobre

os posicionamentos políticos e as fontes de informação mais e menos

confiáveis, foram apresentadas notícias hipotéticas contrárias ao

posicionamento do entrevistado: em um primeiro momento como sendo de

fonte pouco confiável; em um segundo momento como sendo de fonte

confiável e, em um terceiro momento, como sendo de toda a mídia. Foram

identificadas as reações do entrevistado frente às notícias hipotéticas

(aceitação da notícia, desqualificação do meio, relativização da notícia,

reinterpretação das informações fornecidas ou outras). Por exemplo, quando

o entrevistado manifestou-se favorável a pena de morte, foi apresentada

notícia, elaborada pela equipe de analistas do Instituto Meta, que demonstra

os riscos e a ineficiência desta medida. A notícia foi apresentada como sendo

inicialmente de uma fonte considerada pouco confiável e depois de uma fonte

considerada confiável para verificar se o entrevistado desqualificaria a notícia

em função do meio e como ele reagiria frente a hipótese de veiculação da

mesma notícia em um meio considerado confiável ou em toda a mídia. Esta

técnica foi muito importante para identificar o grau de permeabilidade dos

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entrevistados em relação às notícias e as possibilidades de aceitação de

pontos de vista diferentes ou contrários.

1.7. Objetivos de análise

A análise realizada buscou identificar as características dos perfis

comportamentais individuais, estabelecendo conexão entre o contexto em

que estes perfis se inserem e o comportamento das pessoas em relação à

mídia. Buscou-se examinar o quanto a trajetória profissional, escolar, social e

quanto a experiência sobre política e os fatores atitudinais são relevantes

para explicar os comportamentos encontrados.

O exame dos dados coletados objetivou, em cada tema, identificar os

aspectos que serão a seguir indicados.

1.7.1. Vida profissional: O entrevistado está em uma escala ascendente,

descendente ou ainda em uma situação estável? No caso de desemprego,

que corresponde a uma situação limite de descenso, buscou-se observar se

não se trata de algo transitório, componente de um padrão irregular ou

ascendente.

1.7.2. Vida escolar: Qual é posição do entrevistado na hierarquia escolar? O

gosto pela leitura e estudo é um indicativo de predisposição para o

acompanhamento de notícias em jornais e revistas? O estudo sobre governo

na escola indica base de conhecimento sobre o assunto e predisposições

favoráveis ou desfavoráveis ao acompanhamento de notícias sobre o tema?

1.7.3. Trajetória social: O entrevistado está em uma escala ascendente,

descendente ou estável em termos do seu poder aquisitivo? Foram

observados também os padrões irregulares e atípicos, com o cuidado de

identificar se a situação do entrevistado é transitória ou momentânea.

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1.7.4. Experiência política: Qual o contato com a política desde o ambiente

familiar e escolar? Viveu processos de desilusão, gosto e participação? Qual

é o posicionamento político? Quais são os motivos explicativos deste

posicionamento e das predisposições para a leitura de notícias sobre o

assunto?

1.7.5. Características atitudinais: O entrevistado encontra-se em um estado

de satisfação ou de insatisfação e apresenta predisposições positivas ou

negativas em relação ao modo de lidar com a realidade?

1.7.6. Meios de comunicação: Quais são os níveis de acompanhamento de

notícias sobre política e governo, os meios utilizados, incluindo conversações,

e a avaliação da parcialidade e confiabilidade dos meios e da credibilidade

dos formadores de opinião?

1.7.7. Informação sobre o governo e políticas públicas: Quais são os

níveis de acompanhamento de notícias sobre governo, programas e

propagandas? Qual é a avaliação sobre a parcialidade dos meios em relação

ao Governo Federal? Qual é o resultado do rastreamento das informações

indicadas em relação às fontes e lógicas utilizadas?

1.7.8. Posicionamento sobre os temas políticos: Quais são os níveis de

informação sobre os temas políticos do momento, sobre política, situação de

classe e os posicionamentos sobre os temas políticos do momento e em

geral?

Os resultados da análise dos posicionamentos sobre temas políticos

foram agregados em conceitos mais condensados, considerando os

seguintes aspectos:

1.7.8.1. Apropriação política (se informa, conhece, gosta, percebe

adequadamente a sua situação social).

1.7.8.2. Percepção da política (Afetiva, moral, política, clientelística).

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1.7.8.3. Grau de coerência política (inter-relacionamento lógico entre as

posições políticas).

1.7.8.4. Perfis políticos conforme posicionamento (correspondência entre

as posições sustentadas e o posicionamento político correspondente em uma

escala esquerda-direita).

1.7.9. Auto-definição política: Qual é a auto-definição política dos

entrevistados em uma escala esquerda-direita? Qual é a sua auto-definição

tendo em vista as correntes políticas mais conhecidas? Qual é a sua

preferência partidária?

Os resultados da análise da auto-definição política foram agregados em

conceitos mais condensados, considerando o grau de coerência política. O

grau de coerência política observado nesta etapa foi agregado ao resultado

da etapa anterior referente à coerência dos posicionamentos políticos. Deste

modo a classificação resultante considerou as avaliações realizadas sob

esses dois ângulos investigados.

1.7.10. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos: Qual é a

reação às notícias hipotéticas? Quais são os graus de receptividade,

resistência, incorporação de informações e as lógicas utilizadas para a

interpretação das notícias? Quais critérios são utilizados para avaliar a

credibilidade da notícia? Qual é a utilidade do debate e conversação? Quais

são as possibilidades de mudança de opinião em função de conversas?

1.7.11. Relação do conjunto das variáveis estudadas: A partir dos

resultados das questões anteriores foram relacionadas as variáveis

estudadas, fatores contextuais e comportamentais, buscando explicações

para os comportamentos e posicionamentos assumidos, capazes de elucidar

de forma sintética os dados coletados.

Pontos já observados sob diferentes ângulos foram retomados neste esforço

analítico para serem contemplados conjuntamente. O posicionamento político

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e o grau de coerência foram ser analisados de forma mais abrangente e

sintética. A predisposição positiva foi considerada em diferentes aspectos.

Através da análise realizada, um conjunto de hipóteses, decorrentes das

perguntas formuladas, foi testado e os resultados foram sintetizados através

de perfis explicativos do comportamento em relação à mídia.

1.7.12. Sugestões para a fase quantitativa: Quais perguntas devem ser

feitas na fase quantitativa desta pesquisa? A partir dos resultados

encontrados foram selecionados os aspectos mais relevantes a serem

investigados através de um instrumento padronizado.

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2. Caracterização dos segmentos estudados

2.1. Classe média

A definição de classe média pode variar muito, assim como os

critérios de classificação e estabelecimento de fronteiras. A noção foi

originalmente utilizada para designar os segmentos intermediários, nem ricos,

nem pobres, que se fortaleceram com o desenvolvimento da sociedade

moderna, especialmente nos séculos XIX e XX. Mas como pobreza e riqueza

são termos relativos que variam conforme o contexto econômico-social e o

ponto de vista a noção foi muitas vezes utilizada de modo controverso. Na

literatura marxista estes segmentos foram inicialmente caracterizados como

“pequena burguesia”. Definições similares à classe média encontraram lugar

na sociologia de Max Weber que define as classes sociais em função da

situação econômica dos indivíduos. Posteriormente a teoria sistêmica

parsoniana passou a utilizar a classificação de estratificação social, muito

adequada à identificação de estratos médios. Aos poucos a noção de origem

popular e leiga foi incorporada aos textos acadêmicos e tornou-se recorrente

na literatura especializada e no jornalismo.

A relevância atribuída à classe média tornou-se considerável

com o crescimento quantitativo deste segmento nas sociedades

desenvolvidas, especialmente no período do pós-guerra. A expansão deste

segmento e de sua importância econômica alterou a percepção da estrutura

social nos países desenvolvidos: ao invés da estrutura piramidal, pareceu ser

cada vez mais apropriada, com a redução da pobreza e o crescimento dos

segmentos médios, a metáfora referente ao formato de um losango.

Simultaneamente ao crescimento de sua importância quantitativa na estrutura

econômica observou-se a expansão de sua relevância política e eleitoral.

Fenômeno semelhante tem ocorrido no Brasil na última década.

Os segmentos médios brasileiros expandiram-se consideravelmente nos

últimos anos em função do processo de expansão econômica do país e das

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políticas governamentais que estimularam a distribuição de renda. A

mudança foi detectada por vários indicadores do nível de renda e de poder

aquisitivo da população (IPEA, IBGE, ABEP). As pesquisas de mercado

registraram o crescimento considerável da chamada classe C (assim como

da B2) e o encolhimento em proporção semelhante das classes D e E.

Segundo dados da ABEP de 2007, 65,08% da população das regiões

metropolitanas se encontram nas classes B2, C1, C2. Na pesquisa realizada

pelo Instituto Meta em 2009 com amostra representativa do conjunto da

população brasileira foi verificada proporção semelhante (64,6%). Este

enorme contingente populacional situado em níveis intermediários sugeriu a

propriedade da estrutura em forma de losango, a exemplo do ocorrido nos

países mais desenvolvidos, para designar o novo desenho sócio-econômico

da sociedade brasileira.

A relevância deste fenômeno recente indicou a necessidade de

um conhecimento mais profundo. A ascensão social de segmentos

pauperizados para posição social intermediária pode ter estimulado diferentes

predisposições comportamentais. Em que medida estes segmentos

ascendentes percebem os fatores que possibilitaram esta ascensão? Em que

medida eles adquirem os hábitos correspondentes a sua nova situação

social? Em que medida tornam-se mais informados, ampliando a utilização

dos meios de comunicação? Em que medida eles desenvolvem capacidade

de conhecer e discernir os acontecimentos políticos? Em que medida eles

tornam-se crescentemente autônomos em seu processo de formação de

opinião? Compreender como este segmento social está se informando e

construindo seus referenciais, posições, percepções, valores e atitudes é

muito importante para a potencialização dos esforços de comunicação do

governo federal.

Para fins deste estudo, a definição operacional de classe média

foi feita pelo critério de classificação sócio-econômica da ABEP, como sendo

os integrantes das classes B2 e C (C1 e C2). O critério de classificação sócio-

econômica da ABEP considera vários fatores e é um bom indicador de poder

aquisitivo, ainda que tenha inúmeras falhas e seja um critério mais apropriado

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para estratificação social do que para classes sociais no sentido sociológico

do conceito.

Entre as principais falhas destaca-se a distorção gerada pelo

tamanho da família. Como a classificação atribui pontos aos bens de uso

doméstico existentes no domicílio, quanto maior o número de equipamentos

(televisores, rádios, geladeiras, veículos, etc.) maior a pontuação obtida.

Famílias maiores tendem a ter maior número de equipamentos do que uma

família composta por apenas uma ou duas pessoas residentes no domicílio.

Outra distorção refere-se à pontuação atribuída. Bens que tem valores

distintos (como rádio e televisor) recebem a mesma pontuação. A falta de

correspondência entre bens e valores também pode ser observada pelo

critério de apenas quantificar bens, sem qualificar os seus valores (cinco

carros populares antigos podem custar menos do que um carro sofisticado do

ano). A defasagem tecnológica é outro problema desta classificação, uma vez

que equipamentos superados como videocassete são considerados como

tendo a mesma pontuação de um DVD. O critério da ABEP ainda não

incorporou a posse de micro-computadores como um elemento de

classificação.

Apesar das inúmeras falhas apontadas, esta classificação foi

considerada preferencial, pois, de um lado, as distorções que podem ser

individualmente grandes, tornam-se pouco acentuadas em grandes

agregados, em níveis estatisticamente aceitáveis. Por outro lado, os outros

critérios possíveis também tendem a gerar distorções. É o caso da definição

por renda. Estudantes e donas de casa sem renda individual podem ter um

padrão sócio-econômico de classe média em função da renda familiar. Não

se conhece a distribuição da renda familiar por membro da família, tornando o

conceito de renda familiar per capita impreciso para a finalidade de escolher

pessoas a serem entrevistadas.

Assim, a opção pelo critério de classes sócio-econômicas da

ABEP não implica em desconsideração de suas falhas. Este critério foi

considerado o melhor disponível para os fins propostos. Através dele

desenha-se um universo sócio-econômico um pouco distinto daquele

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decorrente do modelo imaginário tradicional da família de classe média. As

famílias de comerciantes, pequenos empresários (“pequenos burgueses” na

terminologia marxista) ou de profissionais liberais bem sucedidos como

advogados, médicos, arquitetos e engenheiros costumam se situar entre as

classes B e A. Se perguntarmos a eles a que classe pertencem,

provavelmente dirão, que são membros da classe média. Mas pelo critério de

classificação da ABEP integrarão os estratos superiores (A, B1).

A correspondência feita pela ABEP entre as classes sócio-

econômicas e a renda familiar mensal contribui para a compreensão desta

diferença. Um casal de médicos que recebe, somando a renda dos dois

membros da família, R$ 10.000,00 por mês corresponde ao perfil de classe

A1. Outro casal que recebe R$ 6.500,00 corresponde ao perfil de classe A2 e

outro que recebe R$ 3.500,00 ao perfil de classe B1. Todos estes casos não

seriam considerados pelo critério de classe média adotado, que se refere aos

componentes das classes B2, C1 e C2. Estes componentes são aqueles que

têm renda familiar em média correspondente a R$ 2.013,00, R$ 1.195,00 e

R$ 726,00. Um casal que recebe salário mínimo cada membro, tem renda

mensal superior a R$ 726,00, estando assim incluído pelo critério adotado.

RENDA FAMILIAR POR CLASSES Pontos Renda média

Classe Pontos Renda média familiar (R$)

A1 42 a 46 9.773

A2 35 a 41 6.564

B1 29 a 34 3.479

B2 23 a 28 2.013

C1 18 a 22 1.195

C2 14 a 17 726

D 8 a 13 485

E 0 a 7 277

Fonte: ABEP 2008 De acordo com este critério a chamada nova classe média

integra, entre outros, segmentos de origem pobre, que viveram dificuldades

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na infância e conseguiram se afirmar em atividades profissionais que lhes

garantiram renda relativamente maior e comparativamente satisfatória.

“Ah, eu trabalho desde os 7 anos de idade. Meu primeiro

trabalho foi carregando trouxa de roupa na cabeça, que

minha mãe era lavadeira. Aí com quase 10, 12 anos eu

comecei a vender picolé, na rua. Com uns 11 e pouco eu

comecei a trabalhar com obra, junto com meu pai. (...) Aí

eu vim pra Salvador (16 anos) e fiquei trabalhando como

pedreiro, (...) contratado mesmo. (...) Fiquei fichado na

construção de 10 a 12 anos, mais ou menos, depois eu

passei um período fora, no interior, e trabalhei como

vendedor ambulante. Viajava muito, vendia roupas,

confecções, (...) como vendedor fiquei uns 4 anos. Depois

eu vim embora pra Salvador, (...) e comecei a trabalhar

com obras aqui, como autônomo até hoje. (...). Antes, eu

não tinha nem um colchão pra dormir. Dormia numa cama

de tábua, forrava com papelão. Hoje eu já tenho uma casa,

já tenho uma cama, já tenho um sofá pra repousar, então

hoje eu me considero mais rico do que antes” (Homem, 40

anos, ensino fundamental incompleto, classe C2).

“Minha mãe nunca estudou, mas sabia ler, foi lavadeira,

depois faxineira em um clube até se aposentar. O pai

estudou até a 4ª série, foi motorista a vida toda, depois de

se aposentar, foi guarda. A mãe recebe aposentadoria e

pensão, cada uma de 1 SM, aluga um barracão, lava e

passa roupa, tem renda de uma R$ 1.000,00. Foi difícil a

vida na infância, eram 12 irmãos, nunca passaram fome e

estudaram, mas passaram outras necessidades. As

crianças não trabalhavam, só a partir dos 13 anos (...) Meu

primeiro trabalho foi de doméstica, tinha 12 anos. Aí com

16 anos trabalhei como despachante, fiquei até os 19,

quando tive a primeira filha, saí por causa da gravidez,

fiquei um tempo sem trabalhar ai voltei e comecei a

trabalhar num clube com serviços gerais. Às vezes saía

porque estava insatisfeita com o salário, porque estava

cansada, ai pedia demissão e saía. Fiquei desempregada

algumas vezes, mas por pouco tempo porque sempre que

procurei achei. Uma vez fique por dois anos, quando tive

um dos filhos em 2002. Aí fazia bicos, faxina, lavava

roupa. Depois sempre trabalhei como auxiliar de serviços

gerais. O último ano foi o de maior sucesso, pois estava

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em dois empregos. Estou bem mais rica, com certeza”

(mulher, 35 anos, ensino médio completo, classe C2).

“Nos períodos anteriores, foi havendo uma melhora

progressiva; eu dei o exemplo de melhora progressiva na

renda, a situação sócio-econômica, de acordo com a

moradia. Então, se no início, quando eu era bem pequena,

morava numa casa de sala, quarto, cozinha e banheiro,

obviamente o aluguel era mais barato do que uma casa

com dois quartos (...) E dessa casa de um quarto, a gente

já foi para um apartamento que era próprio; então, a renda

foi melhorando. E os meus pais sempre tinham, auxiliando

a renda, negócios paralelos, como a fabricação de doces.

Quando eu era pequena, depois eu me lembrei, eles

vendiam roupa, roupa de cama, pra complementar a

renda. Então, eles sempre tinham uma atividade paralela,

pra não ficar só no ordenado, que na época meu pai... só

que minha mãe sempre ajudou, ela fazia limpeza de pele,

depois eles vendiam roupa; então, cada época ela ajudava

de uma forma. Na minha adolescência, fazendo doce, que

foi a época que entrou mais grana – aí eles tinham uma

fabricação caseira mesmo (doces, salgados etc.), tinha já

uma clientela. E daí complementava a renda, foi daí que

eles compraram uma casa, reformaram a casa, que era

bem maior, tinha três quartos, 1 suíte, um banheiro, eram

3 salas, era uma casa bem maior, terraço, varanda. Depois

a gente vendeu e eu vim para esse apartamento aqui,

porque a casa era muito grande; minha mãe faleceu,

ficamos eu e meu pai, meu irmão casou” (Mulher, 36 anos,

ensino superior completo, classe B2).

Portanto, a nova classe média que se está referindo abriga um

contingente considerável de pessoas de origem pobre que se encontra

atualmente em níveis intermediários da estrutura social. O critério adotado é

técnico e tem por parâmetro os níveis de poder aquisitivo da população

brasileira. Conforme este critério foram operadas, na última década,

alterações na estrutura sócio-econômica com a passagem de contingentes

consideráveis de pobres situados nas classes D e E para níveis

intermediários (classes C e B1). O objetivo deste estudo é conhecer em maior

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profundidade as características desta nova classe média, seu modo de

perceber a política e seu comportamento em relação à mídia.

2.1. Juventude

A noção de jovem é distinta conforme o ambiente cultural e

social, variando com o tempo, contexto, condições tecnológicas da

sociedade, hábitos predominantes, desenvolvimento dos mecanismos de

preservação da saúde e expectativa de vida da população. Em sociedades

guerreiras e pouco desenvolvidas, que dispunham de precários

conhecimentos sobre medicina e frágil ou inexistente estrutura de tratamento

das doenças, a expectativa de vida média da população não ultrapassava 30

anos. O período da juventude, neste contexto, correspondia a uma fase muito

breve, pois as responsabilidades da vida adulta eram desde muito cedo

assumidas e o tempo de vida se encerrava precocemente.

A própria noção de juventude, tal como conhecemos hoje

inexistia nestes contextos. Esta noção é produto do desenvolvimento da

sociedade moderna industrial e de seu sistema educacional. A partir do

período em que se restringiu o trabalho de crianças e adolescentes e em que

se expandiu a universalização do direito à educação, reservando-se, para a

fase da infância e juventude, o período de formação escolar, formou-se a

noção cultural de juventude das sociedades ocidentais. O jovem passou a ser

visto como aquele que se encontra ainda desobrigado das responsabilidades

adultas, muitas vezes ainda sustentados pela família, em uma fase

intermediária de formação educacional, preparativa para o ingresso no

mundo profissional.

A imagem do jovem foi associada aos signos da ousadia,

impetuosidade, ingenuidade e rebeldia. Inexperiente, ainda não tendo vivido

as mazelas da vida, tende a ter maior disponibilidade e abertura ao novo, não

medindo as conseqüências de seus atos orientados por intenções e desejos

de liberdade e melhorias individuais e coletivas. Assim, tende a atuar como

agente de rompimento de hábitos e costumes sociais e de promoção de

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inovações comportamentais e culturais. Esta imagem consolidou-se na

metade do século passado nas modificações nos costumes, no vestuário, na

criação artística e musical, na relação entre homens e mulheres, nos

movimentos políticos, cujo principal paradigma é a década de 1960. Ao jovem

foi atribuída a imagem de rebelde, mudancista e sonhador. Esta imagem

muitas vezes se mostrou irreal, considerando que os grupos mais ativos

correspondiam a uma parcela, por vezes, reduzida do conjunto das pessoas

que compunham aquele segmento etário e que este processo mostrou ter

caráter cíclico. Insucessos e desilusões reforçaram comportamentos

conformistas e a reprodução de hábitos e valores tradicionais.

Com o desenvolvimento das sociedades contemporâneas houve

considerável alargamento do grupo etário considerado jovem. A elevação da

expectativa de vida da população (alcançando a faixa de 70 a 80 anos nas

sociedades desenvolvidas), resultante do desenvolvimento da medicina e da

estrutura de atendimento e preservação da saúde, o prolongamento do

período de formação educacional, a permanência dos filhos na casa dos pais

até idades mais tarde (ultrapassando, em muitos casos, a faixa dos 20 anos),

o retardamento do período de constituição de família, a maior flexibilidade e

fluidez das relações entre homens e mulheres possibilitando a prática sexual

sem casamento, entre outros fatores, estão provocando a ampliação do

período da chamada juventude.

Para fins operacionais deste estudo, serão consideradas as

faixas etárias entre 16 e 24 anos. Esta definição buscou recortar o período

mais característico da chamada juventude, ainda que definições mais

elásticas também possam ser consideradas aceitáveis. Constituem um marco

inicial os 16 anos em função da referência de reconhecimento de cidadania

decorrente da possibilidade legal de votar. Supõem-se maturidade mínima

necessária para a formulação de juízos sobre a sociedade. O limite de 24

anos buscou considerar as fases de mudanças comportamentais. Esta idade

supõe ingresso no mercado profissional. Ela é suficiente para a conclusão da

formação em nível superior de escolaridade. Também sinaliza o processo de

assunção de responsabilidades da vida adulta. A faixa entre 16 e 24 anos

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abrange uma variação comportamental considerável. Por isto, é necessário

subdividir esta grande faixa em intervalos menores e contemplar esta

subdivisão na escolha dos entrevistados.

A fase de transição chamada juventude é um momento

extremamente importante nos processos de definição dos referenciais

valorativos e atitudinais a serem adotados posteriormente. A crescente

identificação e utilização intensa por parte dos mais jovens das novas

tecnologias da informação têm diferenciado ainda mais este segmento do

ponto de vista da linguagem e do comportamento. Os termos utilizados, as

percepções do mundo, as formas de relacionamento, as lógicas subjacentes

às ações, constituem um universo distinto do ponto de vista comportamental.

Há uma grande barreira de comunicação entre este universo e o mundo

político formal governamental. Assim, conhecer em maior profundidade o

modo como este segmento se informa e utiliza as informações obtidas

também é fundamental para os mencionados esforços de comunicação do

Governo Federal.

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3. Fatores contextuais

3.1. Trajetória social

De alguma maneira o meio social forma predisposições

comportamentais. O background escolar e profissional, o poder aquisitivo, a

inserção na hierarquia social e a ascensão ou descenso social influenciam a

conformação de posicionamentos políticos e de comportamentos em relação

à mídia. Contudo, esta influência não é direta nem linear, não ocorrendo,

necessariamente, em uma relação de causa e efeito.

3.1.1. Classe Média

A trajetória social dos indivíduos deste segmento mostrou-se influente

nos casos em que o declínio econômico reforçou a percepção negativa dos

políticos e da política, a desilusão com o mundo político e a rejeição ao

acompanhamento dos noticiários sobre política e governo.

É o caso de um pequeno empresário, separado da esposa

recentemente, que sofreu descenso financeiro e não se interessa por nada a

não ser seu trabalho. Afastou-se inclusive dos meios de comunicação, à

exceção da Internet. Vive imerso no mundo financeiro. Está desiludido com o

governo porque não fez a reforma tributária. Responde processo por não

pagar os impostos. Anteriormente votava no PT, hoje critica os partidos e não

se alinha a nenhum. Atribui o seu desinteresse pela política à experiência

negativa vivida no período militar. Sua trajetória indica que o insucesso no

mundo empresarial, o descenso financeiro e o processo judicial referido

contribuíram para a cristalização de uma percepção negativa que acentuou o

desinteresse por assuntos sobre governo.

A gente não sabia de nada, então a gente, a minha

geração, foi criada um pouco alienada. Porque a gente era

tolido das informações, então qualquer coisa que se

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falasse você já era. Não sei se foi por isso, talvez por falta

de interesse mesmo. Mas hoje eu tenho muito é

desesperança mesmo. Atualmente, praticamente eu não

assisto, muito pouco, principalmente canal aberto, eu não

tenho assistido não. Ultimamente eu não estou vendo

nada de televisão. Você liga a televisão é só falando de

merda, de violência, de desastre, sabe, é uns trens (...) Ai

você pega um Jornal Nacional você vai filtrar uns 20, 30%

das informações são interessantes o resto é (...) Ai fica

misturando com esses assuntos de política que eu não

gosto, de violência. Então acabo não me dedicando muito

tempo. Aí você pega um mais, lá no 42, não no 42, na

Globo News, aí é um trem especifico mesmo, mas aí as

vezes fica encompridando demais o assunto. Então eu não

tenho muito saco não, por isso que eu falo pra você,

quando eu ligo a televisão eu fico zapiando” (Homem, 47

anos, nível superior completo, classe B2).

Contudo, a trajetória declinante nem sempre esteve associada à

percepção negativa do mundo político e à rejeição ao acompanhamento da

mídia. No caso de um indivíduo em situação difícil, há grande

acompanhamento dos noticiários dos meios de comunicação e a emissão de

juízos positivos sobre os acontecimentos relacionados ao país e ao governo

na atualidade. Desempregado há 5 meses, sem receber mais o auxílio

desemprego, fez alguns vestibulares sem sucesso, está sendo atualmente

sustentado pela esposa. Atualmente passa em torno de 15 horas em frente

da televisão, assiste a todos os noticiários, lê jornal e revistas todos os dias,

canaliza sua atenção às informações sobre os acontecimentos em todos os

terrenos, abrangendo a política. É bem informado e tem opiniões bem

elaboradas sobre os assuntos políticos e do governo.

“Excelente, melhorou muito, quem diria que há alguns

anos você ouviria falar que o Brasil pagou a dívida externa,

que o Brasil é credor. (...) O Brasil é respeitadíssimo, é o

ponto de equilíbrio do continente americano, os Estados

Unidos é a potência, mas o ponto de equilíbrio é o Brasil,

onde você ia ver que o Brasil tem a 4ª maior empresa

aérea do mundo, você vê que nós tivemos uma quebra na

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economia mundial (...) que aqui não afetou muito,

antigamente o Brasil entrava em crise, em colapso (...) o

homem tem 80% de aprovação do povão” (Homem, 37

anos, segundo grau completo, classe C1).

Por outro lado, a situação econômica relativamente melhor e a

predisposição profissional positiva indicou um comportamento mais receptivo

ao mundo político e às notícias veiculadas pela mídia. A posição social mais

elevada e a vontade de ascender socialmente estão relacionadas a uma

posição favorável ao status quo e a aceitação do estabelecido, abrangendo o

sistema político e os meios de comunicação. Ao invés de uma crítica

generalizada aos políticos, há o reconhecimento da sua importância e a

diferenciação entre bons e ruins. Do mesmo modo, há maior confiança nas

informações fornecidas pelos meios de comunicação e a distinção dos meios

mais confiáveis, evitando-se críticas generalizadas.

É o caso do retocador eletrônico que faz photoshop para um

grupo de fotógrafos como autônomo. No seu entender, a sua situação

financeira atual é melhor em relação à infância, ainda que nesta fase seu

padrão de vida era médio, sempre teve tudo que necessitou. Pensa que está

no caminho para atingir os seus objetivos profissionais e de vida. Acompanha

os noticiários em geral e, entre estes, as informações sobre política e

governo. Mostrou elevada aceitabilidade ao sistema político atual,

acreditando inclusive na inocência de representantes políticos atualmente

denunciados como corruptos como Sarney, e manifestou confiança em meios

de comunicação tradicionais como o jornal Estado de São Paulo e a TV

Globo. Mesmo reconhecendo que a TV Globo realiza algum tipo de

manipulação da opinião (como todos os meios), confia na veracidade das

informações fornecidas, especialmente pelo Jornal Nacional.

“Acho que mantive o crescimento (...) comparando com

minha infância acho que tô um pouco melhor. (...) Acho

que a gente é influenciado pela Rede Globo, não que eu

não goste, mas acho que a gente é influenciável, o Brasil

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só tem uma grande e é imbatível, nos Estados Unidos têm

três. (...) Na TV, o Jornal Nacional acho que é o que mais

confio, nem a Veja eu confio tanto. (...) Muitas pessoas

envolvidas tem que ter uma apuração melhor, acho que tá

tendo ou vai ter, a gente fica revoltado pelas coisas que

acontecem (...), acho que ele (Sarney) tinha que ser

melhor apurado eu confio nele, não culpo ele, acho que ta

envolvido mas foi influenciado por assessores. Ele assinou

uns papeis talvez ele nem ficou sabendo, de empregados

dele mas ganhando salários altos do Governo mas da

forma que eu vi na TV acho que a corrupção do grupo

dele, acho que talvez ele não sabia o que tava assinando,

eu acreditei nele” (Homem, 34 anos, nível superior

completo, classe B2).

Mesmo no caso de um nível econômico relativamente mais

baixo, a ascensão social pode desempenhar um papel importante nas

predisposições comportamentais em relação à política e à mídia. Quando

compreendida como decorrente de políticas atuais de redistribuição de renda,

a ascensão social constitui relevante elemento motivador de posicionamentos

favoráveis ao atual governo. Esta posição convive em esquemas perceptivos

que mantém a crítica à política e aos políticos em geral. Àqueles que

passaram de uma situação de pobreza para uma condição social um pouco

melhorada, em nível intermediário na estrutura social, também modificaram

os seus hábitos de informação, ampliando o acompanhamento às notícias,

incluindo as políticas.

É o caso do pedreiro que teve infância pobre, passou

dificuldades na vida, ficou desempregado quando nasceu o seu segundo

filho, mas depois sua situação foi melhorando e atualmente se encontra em

sua situação mais confortável. Acompanha muito os noticiários sobre política

e governo, encontra-se relativamente bem informado sobre estes assuntos,

reconhece a importância dos programas do Governo Federal para a melhoria

da vida da população brasileira e apóia o Presidente Lula.

“Assisto todos os jornais dos canais de TV (...). Nas rádios ouço programas sobre religião e música. (...) Leio jornal

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dos vizinhos de vez em quando, umas três vezes por semana. Não gosto do jornal A Tarde porque camufla a notícia. Leio Veja, Época e Contigo. (...) Na Internet, entro em blogs evangélicos todos os dias, Orkut, MSN e e-mail, uma hora por dia. Falo sobre política com a família, com vizinhos e com colegas de trabalho, umas duas a três vezes ao mês.(...) O PAC e o Bolsa Família estão melhorando a vida do povo. (...) Voto também pro presidente Lula. Porque ele era um homem pobre, né? Metalúrgico. Nunca teve um diploma, o primeiro diploma foi o de presidente. Então pra mim isso é gratificante. O Jacques Wagner também (...) porque eles realmente tão fazendo muitas coisas boas pra população mais menosprezada” (Homem, 40 anos, ensino fundamental incompleto, classe C2).

A estabilização em um nível sócio-econômico baixo tende está

associada à manutenção de graus baixos de informação e de uma percepção

mais acentuadamente negativa da política e dos políticos, através de uma

crítica generalizada e reducionista, que não diferencia o governo atual dos

anteriores e não percebe possibilidades de mudança. A desilusão e

descrença nestes casos são mais pronunciadas. Mesmo quando há grande

exposição à mídia, a desilusão, o desinteresse e a descrença conduzem a

não absorção dos conteúdos divulgados. É o caso de uma mulher, cozinheira

em casa de família, sem carteira assinada, que não se interessa por política,

conhece muito pouco as políticas e programas de governo. Não obstante,

assiste TV quase o dia inteiro, em torno de 11 horas por dia.

“Juntando tudo faz só um quebra cabeça. Pra mim é tudo igual, junto uma coisa daqui outra dacolá e vou tentando entender” (Mulher, 31 anos, segundo grau incompleto, classe C2).

A trajetória da vida escolar desde a infância indica níveis de

conhecimento e informação que podem predispor ao acompanhamento de

notícias e informações sobre temas políticos. O acesso aos pensamentos

políticos, formas de governo, voto, atribuições de presidente, prefeitos e

deputados podem despertar o gosto pela informação sobre o tema. A

valorização do estudo como fonte de conhecimento, de preparo para

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enfrentar a vida quotidiana e para a disputa no mercado de trabalho pode ser

motivadora de leitura e aquisição de conhecimento.

É o caso de um entrevistado que não gosta de política, nem de

discussões políticas, mas, em virtude de sua formação escolar, gosta de ler e

estudar sobre vários assuntos. Assim, é bem informado e conhece as

políticas sociais do governo.

“É do estudo que tiramos o aprendizado para a vida do cotidiano, com a família, com os amigos enfim prá tudo inclusive para a vida profissional. (...) Sem leitura vivemos bitolados no mundo sem sonhos e sem perspectivas. (...) Eu gosto muito de assistir a TV Record ou Globo, sempre nos programas informativos, como telejornais. ( ...) As rádios da capital estão sempre deixando o cidadão bem informado sobre todos os políticos da região e do Brasil. (...) Sempre acompanho (notícias sobre o governo federal). No ultimo mês fiz questão de saber como ia acabar a confusão no senado por causa do Sarney, todas as vezes que eu ligava o rádio sempre aparecia alguma novidade sobre o caso. Como eu previa não deu em nada, como sempre, acabou tudo em pizza. (...) Eu fiquei muito curioso para saber sobre o programa Minha casa minha vida, estava sempre vendo na televisão as novidades e acho que o governo Lula acertou em cheio com este programa pois ele vai beneficiar o mais carentes” (Homem, 27 anos, segundo grau incompleto, classe C1).

3.1.2. Juventude

Poucos jovens manifestaram interesse em se informar sobre

governo e política. Os jovens que manifestaram interesse são oriundos de

famílias que se encontram em uma trajetória social ascendente, e

apresentaram uma predisposição positiva em se informar, que também

engloba política e governo, e um posicionamento político favorável, se não à

política de um modo geral, mas ao atual governo.

“Hoje estou mais „rica‟, no passado as coisas eram mais

humildes. Acho que agora o Brasil está começando a se

igualar, antes dava para ver quem era rico e quem era

pobre e hoje o rico não é mais rico, a não ser os políticos.

Os pobres estão podendo ter, através de financiamentos e

coisas que o governo está proporcionando, ter uma casa

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decente para morar. Acho que as coisas estão

melhorando, o pobre já não é tão pobre e o rico já não é

tão rico” (Mulher, 24 anos, Ensino Superior Incompleto,

Casse B1).

Estudos sobre temas sociais também podem ser fator que

desperte predisposições favoráveis na busca por informações sobre o

governo e maior aceitação do conteúdo comunicado. Quando o jovem

consegue aproximar a sua realidade com estes conteúdos, atribui importância

ao que lhe é comunicado.

“(...) sem meus conhecimentos como eu poderia entrar em

contato com meus clientes por e-mail, fax, fazer cálculo de

custos ou sequer falar corretamente com eles. E na minha

vida social, como eu poderia falar com meus amigos sobre

globalização se não soubesse do que se trata?! (...)

Estudei (sobre política e governo) por vários anos do

segundo grau. Principalmente em sociologia e história (...)

gostei, porque foi através delas que eu aprendi sobre

outras sociedades e de suas formas de lidarem com seus

governantes” (Homem, 18 anos, Ens. Médio Completo,

Classe C2).

“Até hoje eu estudo, em sociologia e historia moderna e contemporânea. (Gosto) porque me mostra como se deu a criação do país e como foi feito todos os processos de governabilidade não só do Brasil, como do mundo todo, de antes até hoje” Pedro (Homem, 19 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C2).

Apesar de a maioria dos jovens manifestar predisposição

positiva a se informar sobre assuntos diversificados, esta tendência não é

observada sobre os temas política e governo. Entre alguns jovens o gosto

pela leitura e estudo indicou predisposição para a leitura de livros, jornais e

revistas e elevado grau de informação. No entanto, a tendência geral

observada entre os jovens pesquisados é de predisposição negativa a se

informar sobre governo e política, independente de sua trajetória social.

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É o caso de jovens de classe alta, bem informados, que

acompanham os meios de comunicação com regularidade, dedicados aos

estudos, com trajetória social ascendente e satisfação com a sua trajetória

profissional atual, que demonstram predisposição negativa a informar-se

sobre governo e política.

“Gosto (de estudar) a gente fica com uma cabeça mais aberta, a gente aprende, você tem assunto, você sabe o que falar. (No colégio) tirava notas altas, sempre estudei muito, porque gosto de estudar. (Os estudos são importantes) profissionalmente, até mesmo pessoalmente, até mesmo para você saber como se conduzir diante da sociedade, como falar. (Já estudos sobre governo e política) não estudo e não gosto. As vezes eles (professores da faculdade de Direito) falam de política de governo, mais nada muito direcionado” (Mulher, 20 anos, Ensino Superior Incompleto, Classe B1).

O descenso social, presente na trajetória familiar de alguns

jovens, mostrou-se influente nos casos em que o declínio econômico reforçou

a percepção negativa de mundo. Como no caso de um jovem, que

atualmente está desempregado, é sustentado pelo pai e avalia sua situação

atual como ruim, por não ter recursos financeiros para suprir suas

necessidades. Este jovem credita o atual momento vivido ao desemprego,

fruto das péssimas condições do país. Atualmente não está procurando

emprego por acreditar que não há, ele esclarece que já procurou emprego e

não encontrou. Afirma que antes de se qualificar não adianta procurar

emprego, mas até o momento não está realizando nenhuma atividade que lhe

traga qualificação.

A predisposição negativa às informações sobre governo e

política está marcada, principalmente, pelo desinteresse sobre os temas da

política ou pela desilusão política. Esta tendência, também observada no

segmento de classe média, mostrou-se mais acentuada na juventude. Os

fatores explicativos podem estar relacionados ao curto período que compõe a

trajetória destes indivíduos ou às características do momento geracional

vivido.

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3.2. Experiência política

A experiência política contribui para a compreensão do

posicionamento político dos indivíduos. Experiências negativas podem, desde

cedo, conduzir à desilusão e a uma posição crítica e avessa aos políticos e à

política. As posições predominantes no ambiente familiar podem formar, pela

via afetiva, predisposições favoráveis, quando o indivíduo estabelece uma

relação positiva com os familiares. A situação inversa também é

encontradiça. A ausência de experiência política, por sua vez, pode provocar

distanciamento e indiferença.

3.2.1. Classe média

As relações familiares constituem importante fator conformador

de posicionamento político. É o caso de entrevistado adotado por família que,

em função da liderança exercida pelo pai, votava unida em Maluf. Aprendeu a

gostar de Maluf através do pai. Em função da forte ligação afetiva ao pai

manteve apreço por Maluf e suas idéias. Embora o entrevistado nunca tenha

se envolvido em política, o pensamento da família sempre esteve presente

em seus posicionamentos até a atualidade. A defesa de posições malufistas

sobre vários temas convive contraditoriamente com posicionamentos distintos

e, por vezes, contrários. Contudo, a referência foi mantida, mesmo em um

período de declínio do malufismo.

As relações familiares também exerceram considerável

influência no caso de um bancário que desenvolveu o gosto por política e

pela informação sobre o assunto através de conversas com seu pai, muito

envolvido politicamente, com quem conviveu intensamente no cotidiano. A via

afetiva foi muito relevante para a predisposição à informação sobre política e

à emissão de juízos positivos ao atual governo.

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“Eu tinha um tio que gostava muito da Arena e papai

era mais do lado do MDB, mais democrático. Não

gostava de Costa e Silva (…) Quando a gente

percebia que Dom Pedro não era o Dom Pedro, que

Tiradentes não era o Tiradentes, passava de uma

forma que a gente tinha que engolir daquela maneira.

(...) Adquiri o hábito de leitura com o pai quando

criança (...) Brasil deu salto e é um país mais

respeitado. (...) Os programas e ações do governo são

positivas porque mudaram a história do país e

produziram desenvolvimento. (...) Minha maior

satisfação é ver hoje doutores reconhecendo que nem

só título vale tudo, como no caso Lula” (Homem, 47

anos, nível superior incompleto, classe B2).

A experiência política, quando positiva, tende a estimular o

desenvolvimento de maior interesse em acompanhar notícias sobre assuntos

políticos, entre os quais os governamentais.

O bancário referido desenvolveu larga experiência política, em

função de uma predisposição favorável decorrente da convivência paterna e

consolidada através de duas atividades no âmbito profissional. Através desta

trajetória, passou a conhecer o cenário político e governamental, se apropriar

dos termos especializados da política, identificar os interesses em disputa no

jogo político e se posicionar sobre os temas mais relevantes.

Possui atualmente elevado grau de conhecimento dos

programas e as ações de governo, bem como de notícias e propagandas

veiculadas pela mídia. Fez referência as ações do governo: Duplicação das

estradas, Programa Luz para todos, Pré-sal, Substituição do Óleo diesel,

Energia alternativa, Notícia sobre barreira comercial, Comércio da laranja,

Valorização do açúcar no mercado internacional, Extradição de estrangeiros,

Intermediação de Lula em conflitos nos países da América Latina e Redução

do IPI. Acompanhou as propagandas sobre a Petrobrás, sobre cidadania

(direito do cidadão em ter sua documentação) e recuperação de rodovias.

Entre os principais assuntos políticos por ele mencionados destacaram-se as

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próximas eleições presidenciais de 2010. O entrevistado mostrou entender a

situação da disputa eleitoral, discorrendo sobre os principais agentes políticos

envolvidos: a candidatura da Dilma (apoiada pelo Lula), a candidatura do

PSDB (“Aécio não vai decolar e o candidato será Serra”) e Candidatura de

Marina Silva pelo PV (“perigosa para o PT”) e a candidatura de Ciro Gomes

(“ainda indefinida”). Também comentou a crise no senado, a gripe A H1N1, a

proposta da volta da CPMF, a situação de saúde de José Alencar.

Por outro lado, a relação inversa também foi observada.

Pessoas que tiveram experiências negativas ou experiência alguma sobre

política tendem a acompanhar menos os acontecimentos do mundo político,

tendo menor base de informações para formar juízos sobre o significado dos

mesmos. É o caso de uma de origem humilde, submetida ao voto de cabresto

pelo mando do pai. Não se sentia confortável e negava o comportamento pai.

Sua experiência negativa com a política, através do pai, gerou um

distanciamento com a área e um desinteresse em se informar sobre o

assunto. Atualmente não tem familiaridade alguma com políticas, programas

e ações sociais do governo.

“Eu lembro que era meu pai quem determinava em quem

minha mãe e meus irmãos mais velhos iam votar. (...) Eu

votei em quem eu achei que ia ser o certo. (...) Meu pai

ainda chegou a falar – ah, tem que votar em – mas eu

falei não, isso não existe, eu vou votar em quem eu acho

entendeu? Este foi o voto com mais gosto. Foi este, de

tirar aquela ditadura que vinha desde o tempo dos meus

pais”.

“Não acompanho notícias sobre o Governo Federal. Não

conheço nenhuma ação, nenhum programa do governo e

nem ouvi falar. Não tenho uma opinião (sobre o Governo

Federal). Sobre a crise no Senado eu ouvi, mas não

consegui focar nada não, sinceramente, eu não parei pra

ver” (Mulher, 32 anos, nível superior completo, classe B2).

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3.2.2. Juventude

As experiências políticas também se mostraram influentes na

formação de predisposições comportamentais dos jovens. Em alguns casos a

forte presença do tema da política no ambiente de convivência familiar e o

vínculo afetivo positivo entre o jovem e os parentes politicamente

posicionados resultaram em escolhas políticas convergentes. Contudo, a

opção política por um partido, candidato ou corrente política, não significa,

necessariamente, ação política engajada e percepção positiva da política.

É o caso de um jovem que recorda de conversas sobre teorias

políticas de esquerda em seu ambiente familiar e afirma que este ambiente

contribuiu muito para as suas escolhas.

“Meu pai e minha irmã mais velha foram pessoas muito

importantes pra ajudar a construir minha consciência

política. Se não fosse por eles acho que não teria

nenhuma consciência verdadeira” (Homem, 22 anos,

Ensino Superior Completo, Classe A).

No entanto, para este mesmo jovem, as percepções atuais são

negativas sobre a política, causadas pela desilusão decorrente das ações dos

políticos. Afirma que atualmente se informa e envolve menos com o assunto.

“Raramente converso, estou desiludido. Acho tudo muito

parecido, tudo muito conveniente, tudo muito corrupto. (...)

Com o tempo parei de vibrar com isso. Sempre costumo

votar no mesmo partido, mas o candidato importa menos”

(Homem, 22 anos, Ens. Superior Completo, Classe A).

A percepção mais recorrente entre os jovens pesquisados

remete à visão negativa da política. A presença do tema da política é mais

intensa em períodos eleitorais e adquire forte conotação pejorativa.

“(Na família) todo mundo só conversa de política quando

tá passando o horário de política e quando ta chegando

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perto das eleições, (...) brigando dizendo que não presta

(...)” (Mulher, 16 anos, Ens. Médio Incompleto, Classe B2).

Uma das entrevistadas comentou que em sua escola havia

conversas sobre política entre os alunos, mas devido ao seu desinteresse,

procurava se afastar nos momentos em que o assunto estava sendo

discutido.

“(Conversa sobre política na escola) Às vezes, assunto

bobo, acho política um saco, eu acho, não gosto (...) Eu

sempre ficava longe, como esse assunto não me

interessava, então eu não ficava perto, se alguém

estivesse conversando sobre política eu saía” (Mulher, 22

anos, Ens. Médio Incompleto, Classe C1).

Interessante observar que esta mesma jovem participou de

política, trabalhando nas eleições distribuindo panfletos para um comitê. Seus

relatos sobre estes momentos são positivos. As experiências mais diretas

podem contribuir para alterar a percepção negativa sobre o tema político,

desde que estas experiências façam sentindo para a pessoa, como no caso

da referida entrevistada, em que um posicionamento clientelista não lhe

causa estranhamento.

“Me chamaram pra ajudar, eu fui; algumas partes eu

gostava sim, porque a gente ouvia, muitas vezes os

vereadores iam lá e falavam a verdade realmente, que

ajudava, que fazia, eu via que isso acontecia, porque eu

conhecia” (Mulher, 22 anos, Ens. Médio Incompleto,

Classe C1, Interior do Rio de Janeiro).

O desgosto e o desinteresse pela política, recorrentes entre os

jovens entrevistados, podem estar associados à falta de informação e

identificação com o tema. A fala do jovem residente em Goiânia transcrita a

seguir indica a ausência de uma maneira atrativa de se comunicar com este

público.

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“Apesar de que eu falo que não gosto de política é porque

eu não entendo de política (...) Acho que não tem

direcionamento da política para os jovens” (Homem, 16

anos, Ens. Médio Incompleto, Classe C1, Goiânia).

3.3. Características atitudinais

A experiência de vida e os fatores psicológicos conformam

características atitudinais que podem ser relevantes para a compreensão dos

comportamentos.

3.3.1. Classe Média

Neste segmento, as características atutitunais mostraram-se

mais influentes para o delineamento de comportamentos políticos e em

relação à mídia. Atitudes mais críticas se mostraram, por vezes, associadas

à posição crítica na estrutura social ou à grande insatisfação com a situação

vivida. Pessoas que se encontram satisfeitas tendem a querer manter as

condições que possibilitarem esta satisfação em todos os terrenos. Se a

satisfação for associada à ação de um governante a atitude correspondente

se manifesta através de apoio político.

É o caso do indivíduo que assumiu uma posição política à

esquerda (então oposição e crítica ferrenha ao Governo Federal) na época

em que cursava universidade, dispunha de poucos recursos e vivia a

instabilidade própria da transição à vida adulta e depois dos 30, quando

melhorou a sua remuneração e formou família com filhos, passou a assumir

uma posição mais conservadora, inclusive na área política.

“Votei no PT dos 18 praticamente até os 30. Em

determinado momento começaram a haver aqueles

conchavos e eu não votei mais. Tenho muito azar com

meus candidatos, na última eleição votei no Júlio

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Rendecker que morreu no acidente da TAM, era um cara

muito sincero. (...) Votei no Simon para senador, deputado

federal Julio Rendecker, na última eleição acho que não

votei no Simon e sim no Paim e o Paim anda muito quieto,

acho que ele poderia ter mias presença nessa bandalheira

que estão fazendo com o Sarney na TV. Em Canoas votei

no Jairo Jorge para governadora votei na Yeda. As duas

vezes que o Lula perdeu eu votei nele e dessa vez votei

no Alckmin. Não é o Lula que governa, ele é assessorado,

ele tem o mesmo discurso para diferentes situações, ele é

muito bom de retórica. Vamos ver se consigo na próxima

eleição eleger o Serra ou o Alckmin. (...) Sou conservador.

Votei muitos anos no PT, mas sou muito conservador.

Acho que as mudanças propostas têm que ser mais

estudadas (...) não cair no liberalismo (nem) no populismo:

fazer farra com dinheiro público. Acredito que o

conservador é mais mão fechada” (Homem, 44 anos, nível

superior completo, classe B2).

Experiências de vida negativas engendram, conforme a reação

das pessoas, características atitudinais também negativas que se refletem

nas percepções da política e no comportamento em relação à mídia. Perdas,

desavenças, abalos emocionais podem reforçar o sentimento de impotência

política e a crença sobre a inutilidade de se informar sobre tais assuntos. É o

caso do entrevistado que viveu na infância e adolescência profundo

desgosto, resultado do abandono da família pelo pai. Essa situação gerou

insatisfação e desencanto que marcaram sua personalidade e se refletem em

sua percepção negativa da política e em seu desinteresse em acompanhar

noticiário sobre o assunto.

“Particularmente porque eu não acreditava que era uma

coisa boa. Eu achava que todos que participavam se corrompiam. Eu tinha uma cabeça assim...”.. “Não sou admirador da política brasileira e política internacional (...) prometem, prometem e nada. O povo é carente, cheio dessas promessas (....) o cumprir dessas promessas não acontece. (...) Uma questão que eu vejo falho na política hoje é essa questão do Bolsa escola, Bolsa família, isso é para deixar o pai de família, de certa forma, acomodado. (…..) Desculpe a expressão, que recebem uma miséria,

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hoje em dia a classe média tem 5, 6 filhos dentro de casa e recebe em torno de 200 e vai trabalhar para que?” (Homem, 26 anos, nível superior incompleto, classe B2)

Percepção negativa em relação à política e predisposição

negativa ao acompanhamento de noticiários sobre o assunto também são

evidentes no caso de entrevistada de 21 anos que possui um filho de 4 anos

e encontra-se, desempregada a um ano e seis meses, não tendo profissão

ou habilidades profissionais específicas. Abalada por problemas e conflitos

deste a infância, marcada pela pobreza e pela separação dos pais,

atualmente sem namorado, construiu uma percepção muito negativa sobre o

mundo e, particularmente sobre a esfera política. Mostrou-se refratária à

política e aos políticos, mantendo uma posição distante, não acompanhando

os noticiários, não se interessando sobre estes assuntos, não conversando

sobre os mesmo, e se recusando a qualquer exposição às notícias. Costuma

retirar-se da sala no horário político eleitoral e acessar a Internet no horário

do Jornal Nacional.

“A gente sempre viveu mais ou menos, (...) porque meu

pai nunca deu aquele valor certo, (...) e como eu sempre

morei com minha mãe, o pouco dinheiro que ela ganhava

era pra me manter, manter uma escola particular pra mim,

e manter a vida dela. Então a gente sempre viveu muito

regrado. (...) a gente dependia de minha avó. (...) Foi um

período em que minha mãe não tinha condição de pagar o

aluguel, a gente ficou morando numa casa de meu pai, lá

em Periperi (um dos bairros mais pobres de Salvador). Foi

muito ruim, a gente ficou dependendo de meu pai, meu

pai passando na cara, uma casa que era dele, e que a

gente tava vivendo lá. Foi a pior situação pra mim. Foi eu

ter que estudar em uma escola que não era boa, no

subúrbio. E a gente teve muita dificuldade financeira,

muita mesmo. (...) A maioria das conversas eram em

época de eleição. (...) Eu não lembro de nada, porque eu

nunca me envolvi com política. Eu nunca gostei, eu nunca

pesquisei (...) A gente vê eles fazendo tanta promessa,

tanta coisa (...) e quando a gente pára pra vê, não é nada

daquilo, (...) não cumpriu nada que prometeu. (...) São os

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políticos de uma forma geral, (...) então eu não me

interesso e nem procuro saber. (...) É o Brasil acomodado,

(...) o povo se acomoda, o povo não se junta. (...) Se o

povo se juntasse pra agir, com certeza seria um país

melhor, (...) mas não acontece porque todo mundo é

acomodado. (...) Não tô ouvindo nada sobre política.

Nada. (...) Não tem jeito não. (...) Eu não me interesso,

não vem nada sobre política na cabeça” (Mulher, 21 anos,

nível superior incompleto, classe B2).

3.3.2. Juventude

As características atitudinais dos jovens pesquisados se

mostraram menos influentes na definição de sua percepção sobre a política.

Isto ocorre, principalmente, por estes indivíduos apresentarem maior

distanciamento dos assuntos políticos.

Alguma relação entre características atitudinais e

posicionamento político encontrada refere-se à satisfação do entrevistado

com sua realidade atual e a percepção favorável à política.

É o caso do jovem de 19 anos, que atualmente mora com um

amigo, está procurando emprego, é sustentado pela família e afirma estar

satisfeito com sua vida, por estar abrindo os olhos para a realidade. Acredita

que alguns políticos pensam no futuro das pessoas e não apenas em si

mesmos e isto lhe agrada. Demonstra simpatia pelo PT e acredita que o atual

governo está atuando em prol das classes de menos poder aquisitivo.

“Devido ao PT oferecer melhores propostas, não se voltar

só para as pessoas mais ricas e sim voltado para ações

sociais, para os pobres” (Homem, 19 anos, Ensino Médio

Completo, Classe C1).

As características atitudinais também indicaram formas de

comportamento em relação à mídia. Os jovens que apresentaram

características atitudinais proativas e que se encontram satisfeitos com a sua

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realidade atual mostraram predisposição a se informar e interesse em buscar

mais informações sobre assuntos que lhes chamam a atenção na mídia.

É o caso da jovem empreendedora, que abriu uma lan house

em sua residência há aproximadamente um ano e meio, e atualmente utiliza

os meios de comunicação com intensidade. Esta jovem afirma que através da

Internet e da televisão busca informações que lhe possam ser úteis e que lhe

agreguem conhecimentos. Costuma entrar nos sites do governo para verificar

os programas disponíveis e se em algum é adequado ao perfil.

“(...) olho muito os sites do governo para ver se tem

alguma coisa que me interesse, site da educação,

Previdência social também eu vejo bastante para meus

clientes e fico olhando. Acesso sites do governo umas

duas ou três vezes por semana para ver se não tem

alguma coisa nova, algum benefício que possa me

beneficiar como empresária. Agora fizeram um projeto

para o micro-empreendedor pagar menos impostos...”

(Mulher, 24 anos, Ensino Superior Incompleto, Casse B1).

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4. Percepção do mundo político

4.1. Apropriação política

A apropriação política corresponde ao conhecimento do mundo

político, à capacidade de utilizar adequadamente os termos políticos, de

entender quais são os agentes mais influentes no cenário político, quais

interesses estão em jogo e qual é a lógica subjacente a conformação dos

posicionamentos assumidos pelos diferentes agentes. Os mais apropriados

são aqueles que gostam de política, se interessam pelos assuntos relativos

ao tema, se informam sobre os acontecimentos neste terreno, conhecem os

principais motivos das disputas, e entendem a sua posição na estrutura da

sociedade e no tabuleiro político, assumindo posicionamentos em

conformidade com os seus interesses.

4.1.1. Classe média

Poucos entrevistados mostraram-se politicamente apropriados.

Foram situações pouco recorrentes, correspondentes ao perfil de pessoas

mais envolvidas politicamente. Estas pessoas politicamente apropriadas

acompanham as notícias sobre política e governo e manifestam

posicionamentos políticos claros e coerentes. É o caso do bancário que tem

familiaridade desde a infância com debates políticos realizados entre os

parentes, gosta de política e apropriou-se dos termos e da lógica política,

demonstrando capacidade de discernimento e compreensão dos

acontecimentos. Está atualizado sobre os principais temas políticos do país.

Utiliza-se de critérios políticos racionais para interpretar os fatos. Define-se

como de centro-esquerda, socialista e petista. Pensa as ações políticas de

acordo com a lógica de táticas e estratégias. Acredita que a crise do Senado

foi criada para atingir Lula por causa das eleições e 2010.

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O entrevistado analisou o cenário político pré-eleitoral e as

potencialidades das candidaturas. É sua opinião que Serra enfrentará

dificuldades para vencer o pleito, porque já demonstrou que não tem imagem

adequada e o fôlego político necessário para eleições presidenciais. Dilma

pode ser prejudicada por causa do escândalo da secretária e doença

(câncer). Marina Silva foi considerada uma ótima política, mas não tem

chances de ganhar. Também emitiu opiniões sobre a reforma política. Esta

pergunta mostrou-se relevante para identificar àqueles que conhecem e

dominam mais os termos e o debate político, por se tratar de um tema

relativamente especializado. Para o entrevistado, as candidaturas deveriam

ser dos partidos e não dos candidatos. É favorável ainda à unificação da data

das eleições para os diferentes níveis do executivo e legislativo, por entender

que eleições a cada dois anos acarretam muitos gastos. Contudo, acredita

que a reforma não irá acontecer por não corresponder aos interesses os

parlamentares.

“Crise do senado já existe há muito tempo. A intenção de

tirar Sarney é afetar Lula, atingir o governo federal, está vindo em um momento político para atingir o governo. (...) O IOF penaliza os mais pobres.(...) Nunca vai acontecer (a reforma política), assim como a fiscal” (Homem, 47 anos, nível superior incompleto, classe B2).

O caso referido é uma exceção no contexto dos

comportamentos observados. De modo geral, os níveis de apropriação

política dos entrevistados se encontram em patamares muito baixos. A

percepção negativa da política e dos políticos, muito recorrente, se mostrou

associada ao desinteresse no acompanhamento dos noticiários sobre temas

políticos e de governo. Pessoas que não gostam de política, se encontram

desiludidas com o mundo político ou se sentem impotentes quanto à

possibilidade de interferência neste terreno, entendem ser inútil se informar

sobre estes assuntos. Disto decorre a baixa informação e a menor ainda

incorporação dos conteúdos recebidos.

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É o caso de indivíduo que acompanha pouco os noticiários

sobre política, assistindo eventualmente o jornal local da Rede Globo e o

Jornal Nacional. Quando perguntado sobre a sua opinião sobre alguma

notícia responde: “Não acho nada, porque não gosto de me envolver”.

Confunde o conceito de política com atividade dos políticos que considera

deplorável: “Acho que política é mais um emprego”. Utiliza termos

extremamente pejorativos para classificá-los: “sacanas”, “sem vergonhas”.

Não gosta dos políticos e por decorrência não gosta da política. Considera

que a população não exerce influência alguma sobre o governo e que os

políticos só se importam com o povo na época das eleições. Percebe

negativamente os partidos (“a corrupção começa neles”). Desconhece o

conceito de classe social (“sou classe normal”). É confuso sobre distribuição

de renda, reforma política, igualdade, cidadania, demonstrando por um lado

sua escassa informação sobre assuntos políticos e sociais e de outro a

dificuldade de compreender e utilizar os termos especializados da política.

“Eu não gosto de política. (...) O que a gente se

decepciona é porque eles prometem mundos e fundos e

não fazem nada. Em época de campanha eles asfaltaram

meia cidade e depois aqui na rua não se viu mais nada.

Eles não concluem, é isso que não gosto neles. (...) Para

mim os políticos são todos mentirosos, prometem e na

verdade não fazem nada. (...) Acho que ele desviou essa

verba mesmo e não está tendo como escapar disso aí, não

está tendo como tirar o foco dele, às vezes eles abafam e

cai no esquecimento e ele não está conseguindo isso aí,

por isso eu acredito que seja verdade. (...) Acho que

política é mais um emprego, um algo a mais para a pessoa

tentar ser, só que as pessoas querem um cargo político

porque conhecem alguém que tem um pouquinho mais de

status aí vai e se candidata „sou filho do fulano‟, „sou

parente do outro‟. Tiram o nome de pessoas que são mais

altos na sociedade e são pessoas que às vezes não

entendem o que é, tudo deveria ser estudado, a pessoa

deveria ter faculdade para isso aí. (...) Para mim políticos

são um bando de sem-vergonhas. Se eles aumentam, por

exemplo 30 reais no teu salário é ilusão porque esse valor

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vai vir descontado da tua conta de água, luz, vai aumentar

o leite, o feijão, aquilo ali vai ser nada, enquanto para lês é

mais fácil, fazem uma reunião no Senado e aumentam os

próprios salários; eles recebem uma verba só para

comprar roupas. (...) Não gosto porque no final acaba

sendo todo mundo sacana, não tem de quem a gente

possa dizer que não desvie nada, todos acabam

desviando” (Homem, 30 anos, segundo grau completo,

classe C1).

Mesmo no caso de pessoas que gostam de política e se

informam muito, observou-se elevado grau de confusão política e

incapacidade de interpretar e discernir os significados dos acontecimentos e

expressar conceitos e opiniões com clareza. É o caso de indivíduo que gosta

de política, assiste os noticiários em diversos canais, se informa também

através da Internet e de conversas com familiares, amigos e colegas de

trabalho, cujas posições contem noções confusas ou questionáveis.

“Eu assisto todos os jornais, vou pulando de um pra outro.

Costumo ler quando estou em casa sem fazer nada, Veja,

Época (...) Contigo. (...) Igualdade é bobagem, porque

quem ta lá em cima não quer ficar aqui em baixo (...) Não

quer se igualar. Já pensou um rico ficar pobre? (...)

Porque se os outros países tão em crise, porque o Brasil

vai aderir a crise? (...) Se a gente esperar pela crise, é aí

que ela vai chegar. (...) “Eu acho que não deveriam existir

tantos partidos (...) É muitos querendo disputar uma vaga.

(...) É ruim, (...) porque o povo não sabe em quem votar”

(Homem, 40 anos, nível fundamental incompleto, classe

C2).

4.1.2. Juventude Os níveis de apropriação política foram ainda mais baixos no

segmento jovem. De modo geral, os jovens pesquisados não procuram se

informar sobre política, não conhecem os termos especializados da área e o

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cenário político brasileiro, afirmam não gostar e demonstram desinteresse

pelo assunto.

Entre os raros casos que apresentaram maior nível de

informação política destaca-se a jovem que acompanha muito as notícias

atuais sobre política na mídia e manifestou interesse por este assunto.

Apesar de não ter hoje uma participação ativa na política, acredita que isto

seria interessante. Seu maior interesse atual é pelos programas do governo.

Avalia positivamente estas ações e crê que os escândalos que saem na

mídia são armações políticas com o objetivo de prejudicar o presidente e seu

governo.

“Muito pouco eu me lembro de ouvir falar de política

quando criança, mas agora jovem eu vejo muito, gosto

muito de jornal, estou sempre olhando os programas do

governo para saber se de repente eu não posso me

enquadrar. (...) Acho interessante participar de alguma

associação de bairro, mas nunca me interessei, porque

acho que no meu bairro não tem nenhuma. (...) Não tem

um motivo (para eu não participar), acho que é falta de

oportunidade. (...) Já participei quando era mais nova para

o PT do Marroni. Eles faziam comícios com shows e a

gente ia, carregava bandeira, colava adesivos, mas

trabalhar para eles eu nunca trabalhei. (...) (Notícias

recentes que se lembra) A crise no Senado,

superfaturamento de notas de serviços e salários pagos a

laranjas ou pessoas que não existem. Vejo também falar

sobre essas passagens e diárias. Ouço falar desse

negócio da Dilma Rousseff e do Senador aquele Dirceu. E

vejo também esses políticos fazendo de tudo para

derrubar o Lula fazendo transparecer que o governo dele

é ruim. Entre os principais assuntos também ouço falar

dos programas do governo, inclusive esse Minha Casa

Minha Vida que eu creio que seja o último (mais recente)

porque é o que eu mais ouvi falar ultimamente (...) A TV e

Internet são os em que mais vi (essas notícias) e no jornal

também, TV na Rede Globo e no Portal da Globo e no

portal do Governo” (Mulher, 24 anos, Ensino Superior

Incompleto, Casse B1).

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Casos como o ilustrado acima são exceções. Em geral, os

jovens acreditam que o mundo político não faz parte de sua realidade.

Manifestam desinteresse sobre as informações veiculadas nos meios de

comunicação. A baixa apropriação política está associada a não identificação

do jovem com o tema. É o caso do entrevistado que percebe a política como

“assunto de velho”. Ele acredita que entre os jovens de sua rede de

relacionamento “nenhum gosta de política” e que “jovem não pensa em

política”.

“Adolescente não gosta dessas coisas, parece assunto de

velho (...) eu tenho mais de 750 amigos (no Orkut) (...)

nenhum gosta de política (...) jovem não pensa em

política, se eles acham que jovem pensa, eles estão

doidos; se eles entrevistarem uns três nerds (...) aí eles

até estudam (...) agora, se você perguntar a adolescentes

normais, eles vão falar que não tem assunto” (Homem, 18

anos, Ensino Médio Completo, Classe C2).

Grande parte dos jovens afirmou não utilizar os meios de

comunicação com o intuito de se informar sobre governo e política, pois estas

informações não lhes seriam úteis para o seu dia-a-dia. Percebem o meio

político negativamente, acreditam que as pessoas que se interessam pela

política o fazem por interesses pessoais, como no relato da jovem, que utiliza

uma lógica moral para fundamentar seu desinteresse.

“Muita gente se mete na política mais pelo fato de ter

poder (...) não tenho opinião formada em relação à política

(...) Eu não acho nada, a gente não é ninguém pra julgar

os outros, mas tem muita gente que entra na política e que

diz que se entrasse na política não ia fazer isso (...) mas

fica tão cego pelo dinheiro que acaba fazendo o que os

outros fazem (...) quando penso em política, penso logo:

político-ladrão (...) não tenho nada a opinar, diria que o

meu pensamento é igual ao das outras pessoas (...) não

tenho idéia formada sobre político, não sou do tipo de

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pessoa que fica vendo o que tão fazendo ou não” (Mulher,

16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe B2).

No caso de outra jovem, que está cursando Direito, a baixa

apropriação política decorrente da avaliação negativa do ambiente político se

traduz de forma mais intensa. Apesar desta jovem ter conhecimento teórico

sobre o tema, as ações percebidas na prática do meio político a fazem se

afastar deste ambiente, corroborando com o desinteresse pelas informações

que permeiam este meio.

“Se a gente for levar ao sentido literal da palavra, acho

que política é você arranjar um meio de interagir com a

sociedade de representar um povo, no sentido da

organização da sociedade, de trazer melhorias para a

sociedade, só que, pelo que eu vejo é que a política hoje é

sinônimo de lavagem de dinheiro de corrupção (...)

Porque, a cada novo representante nosso, sempre

acontece as mesmas coisas, a corrupção não diminui, o

desvio de verbas, isso nunca deixou de existir, é as

promessas, é „eu prometo, eu prometo‟, fica só na

promessa né, porque não é cumprido..a decepção é essa

que toda vez se repete a mesma estória” (Mulher, 20

anos, Ensino Superior Incompleto, Classe B1).

O desinteresse causado pela avaliação negativa da ação dos

políticos é um dos traços mais marcantes nas falas dos jovens, independente

do nível de escolaridade ou classe social destes. Assim como demonstrado

pela fala da jovem estudante de Direito acima relatada ou pela palavra do

jovem de classe C2 citado abaixo, quando o assunto da entrevista circundava

o mundo político, a avaliação negativa preponderou. Muitos que se

encontram distantes do mundo político preferem manter e mesmo acentuar

esta distância, recusando-se a se informar e até mesmo pensar sobre o

assunto.

“Prefiro ouvir nada, porque eu nem procuro pensar (em

política). É igual eu respondi, é tudo marketing, conversa,

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ninguém não acredita em ninguém, eu procuro nem

pensar sobre política. (...) É uns querendo ser melhor que

os outros, uns querendo ganhar na conversa, querendo

falar, sei lá, não sei nem explicar. (...) O modo deles

agirem na política, as vezes o político passa perto de você

e cumprimenta, se precisar de mim vai lá em casa e tal,

fica aquele jogo de marketing pessoalmente na política,

pra quem tem contato com político você entendeu. Ai

acabou a política não é mais nada, é tudo diferente.

Político já é difícil de você encontrar ele, quando você

precisa é tudo mais difícil...” (Homem, 23 anos, Ensino

Médio Incompleto, Casse C2).

4.2. Posicionamento político

Posicionamento sobre temas políticos supõe base informacional

mínima. Pessoas escassamente informadas sobre assuntos políticos e

governamentais têm grande dificuldade de assumir posições sobre os temas

políticos relevantes. Nesta pesquisa, a pergunta sobre reforma política

encontra-se na escala de maior dificuldade entre os temas abordados.

Aqueles entrevistados que emitiram juízos pertinentes sobre este assunto

mostraram elevado grau de apropriação política, capacidade de dominar os

termos especializados da política e de compreender a lógica do jogo político.

4.2.1. Classe média Poucos assumiram posições políticas coerentemente articuladas e

sustentadas através de argumentos fundamentados. Isto somente ocorreu

nas raras situações indicativas de elevado grau de apropriação política. É o

caso do individuo que gosta de política, domina os termos especializados da

área, conhece a relevância do voto no jogo político, compreende a lógica da

disputa e sustenta posições sobre os temas do debate político atual. Informa-

se muito através da TV por assinatura (Globo News, Band News) e Internet.

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“Acho que sim (ter influência), através do meu

voto consciente (...) O povo tem muito poder, é só

saber votar. Mas, sem dúvida, a classe que tem

mais poder são as famílias milionárias do país como

Gerdau, Ermírio de Moraes, Grendene, o clã

Marinho e assim por diante (...) Os homens são

iguais perante a constituição e aquele que foge à

regra deveria ser punido. O grande problema no

Brasil é justamente este, a impunidade. (...) O

escândalo do Senado é uma coisa que vem desde o

Antônio Carlos Magalhães que já tinha aqueles atos

secretos” (Homem, 43 anos, classe B2, nível

superior completo).

Inversamente, a ausência de posicionamento, muitas vezes, esteve

associada à desinformação sobre estes assuntos, ao desinteresse, ao

desgosto por política, à desilusão ou ao sentimento de impotência política. O

indivíduo que não gosta de política, que acredita ser a sua participação neste

terreno totalmente inócua, que não tem interesse por estes assuntos e não

acompanha o noticiário sobre eles tende a não conseguir se posicionar sobre

os temas deste mundo ou a assumir posições politicamente contraditórias.

Ilustra esta situação recorrente o caso de um indivíduo desencantado

e negativo em relação à política e aos políticos, que se sente impotente frente

às possibilidades de exercer influência sobre ações do governo. Desgosta da

política, é desinformado e desinteressado. Seu posicionamento reflete a

postura negativa e marca seu discurso que busca a desqualificação dos

agentes políticos e da vida política de forma geral. Sua crítica é generalizada

e depreciativa.

“Eu nunca me apeguei muito não. Eu não gosto

muito de política e nem tenho partido também (....)

Nunca me envolvi porque não gosto. Não assisto

notícias sobre política, assisto mais jornais para

saber como está a segurança, acidentes, esse tipo

de coisa (...) Não (escuto rádio), só quando estou no

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serviço às vezes a gente deixa o rádio ligado só para

ter um barulho na volta. Não ouço notícias no

rádio”.(...) Acho que não( influência sobre o governo)

a gente pesa tão pouco; pra eles o nosso peso na

verdade é quase nada, nós somos só mais um para

eles, nossa opinião só interessa pra eles nas

eleições. Nós na sociedade só somos um número.

(...) Acho que escutei sobre isso (redistribuição de

renda), é meio que padronizar, mas eu só escutei

“rapidão” hoje de manhã lá no serviço e escutei na

TV, não lembro o canal, escutei sobre essa

redistribuição salarial. (...) Acredito que seja, que o

país queira isso( igualdade social). (...) Pode até ser

(uma meta atingível), mas não é muito fácil, a

tendência é o comodismo. Seria interessante só que

aí, vamos supor, ninguém mais vai querer trabalhar

pra ninguém, todo mundo vai ter comércio e sendo

que precisa de empregados e as pessoas não vão

querer mais trabalhar de empregados” (homem, 30

anos, segundo grau completo, classe C1).

4.2.2. Juventude Poucos jovens apresentam posicionamentos sobre temas

políticos atuais que conformassem um pensamento politicamente coerente. A

falta de interesse pelo mundo político associada à baixa informação sobre

estes assuntos faz com que o jovem não possua posicionamentos sobre

determinados temas e apresente um discurso inconsistente quando emite sua

opinião. Mesmo aqueles que apresentam alguma apropriação política,

emitem opiniões contraditórias, que conformam um posicionamento

incoerente.

Demonstram esta associação as opiniões do jovem de 18 anos

que apresenta um perfil de desgosto político, por uma avaliação moral das

ações dos políticos. Ele acredita que nas eleições os políticos mentem para

conquistar seus cargos. Este jovem possui moderada apropriação política,

porém apresenta um posicionamento contraditório em seus argumentos,

quando menciona que “política é um tipo de organização onde se aliam

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pessoas importantes na sociedade para governar um país”, e defende a

supressão dos partidos “eu acho que não deveria existir partidos e só os

candidatos”, por achar que estas organizações não estão cumprindo seu

papel que seria “ajudar o povo como votar com consciência para lhes

representar na política do país”. Este jovem acredita que a população pode

exercer influência sobre a política e acredita na sua capacidade em interferir

no terreno político No entanto, não possui opinião clara sobre temas como

reforma política. Pensa a política de forma reducionista e pessoalizada,

limitando-a as eleições e as ações dos políticos. Apesar de apresentar um

posicionamento crítico à política em geral, avalia positivamente algumas

ações do Governo Federal, como no caso da crise econômica.

“Quando penso em política eu penso em eleições e penso

em pessoas mentindo para o povo para disputar um cargo

público (...) (Pode-se exercer influência na política) com as

pessoas indo para as ruas, dizer o que acham ou o que

pensam sobre um governo, se nada tivesse sido feito

durante todos estes anos, nada teria mudado, por

exemplo, quando o povo lutou para se libertar do regime

militar. (...) (Privatizações) Acho que não estou muito por

dentro do assunto para falar algo sobre. (Reforma política)

Teríamos de começar pela troca total de ministros e outros

cargos de confiança dentro do governo, para darmos mais

credibilidade às novas mudanças. (...) (Crise econômica)

Tenho certeza de que realmente a crise foi grave, porém

com o incentivo do governo Lula em baixar as taxas de

juros para estimular as compras, reduzir o IPI dos

produtos, foram muito bem vistos, temos agora é que

torcer para que os outros países também colaborem para

que a crise não volte (Homem, 18 anos, Ensino Médio

Completo, Classe C2).

A falta de posicionamento sobre temas políticos que

demonstram maior apropriação política tornam-se explícitas nas falas dos

entrevistados, como no caso do jovem de 16 anos que não soube emitir

opinião em relação à reforma política, além de não saber opinar sobre a crise

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do Senado e outros temas atuais, apresentando argumentos poucos

esclarecidos ou confusos.

“Aí você me pegou, porque esses assuntos mais assim

direcionados, eu não sei dizer, tanto é que não tenho

informações” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto,

Classe C1).

Este também é o caso da jovem de 19 anos que afirmou não ter

ouvido falar de crise no Senado, além de não ter conseguido se expressar

sobre a reforma política.

“Eu não ouvi falar em crise no Senado, não vejo os

noticiários porque estou na faculdade à noite” (Mulher, 19

anos, Ensino Superior Incompleto, Classe B1).

4.3. Coerência política

A coerência política refere-se à capacidade dos indivíduos

assumirem posições logicamente inter-relacionadas, internamente coerentes,

em conformidade com as preferências e opções políticas. Algum tipo de

coerência de acordo com a lógica interna do indivíduo sempre poderá ser

encontrada, pois há para cada posição assumida alguma motivação que faz

sentido para o indivíduo. Contudo, este tipo de análise tem caráter tautológico

e fraco poder explicativo, não se adequando ao objetivo deste estudo de

distinguir aqueles que apresentam maior e menor grau de coerência do ponto

de vista da lógica política.

4.3.1. Classe média

Os dados analisados mostraram que, considerando a coerência

do ponto de vista da lógica política, a incoerência é a regra e a coerência a

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exceção. Foram recorrentes as manifestações confusas sobre as posições

políticas e os comportamentos politicamente contraditórios.

A ausência de coerência decorre de vários fatores. As posições

políticas díspares ou contrárias convivem em um esquema perceptivo

contraditório que reúne blocos estruturados de idéias formadas de modo

independente e por motivações distintas. O mesmo entrevistado que é

favorável às privatizações em função de um exemplo positivo como o das

telecomunicações manifestou-se contrariamente ao enxugamento do Estado

por ter pena dos que poderão ser demitidos e por ter amigos empregados em

órgãos públicos. Também há os entrevistados que defenderam

posicionamentos sobre os temas abordados e, posteriormente à

apresentação das notícias hipotéticas contrárias aos seu ponto de vista,

mudaram de opinião, por acreditar na mídia ou por não sustentar sua posição

frente à controvérsia. As opiniões de entrevistados deste tipo são flutuantes.

É o caso do entrevistado que sustentou posição favorável à pena de morte e

aceitou a notícia hipotética contrária a esta proposta.

“Ia ter que acreditar, acho que ia acreditar, mas com pouco

de dúvida sobre esse pedacinho. A edição desse

pedacinho, mas dependendo com imagem e tal até

acreditaria. Mas acho que ia ter que me render e ia ter que

acreditar, acho que sim” (Homem, 32 anos, segundo grau

completo, classe B2).

A incoerência também foi observada na trajetória eleitoral.

Foram recorrentes as descrições das opções eleitorais politicamente

contraditórias, decorrentes da frustração com ação de candidatos escolhidos

que não corresponderam às expectativas dos votantes, de desinformação, de

escolha eleitoral em função da pessoa do candidato e não do partido e de

incapacidade de apropriação do jogo político.

É o caso do entrevistado que se auto-define como malufista,

afirma ter preferência pelo PSDB, tendo votado em Maluf, Collor, Fernando

Henrique, Marta Suplicy, Pita e Lula. A trajetória eleitoral deste entrevistado

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indica grande confusão do ponto de vista da lógica política. Mantém a defesa

de Maluf, apesar de votar em candidatos politicamente distintos: “Sou mais

Maluf do que Lula”. Contudo, considera que o voto mais importante, que lhe

deu maior satisfação, foi em Lula, não pelo partido, mas pela pessoa (“sou

mais pela pessoa que pelo partido”). Sua maior satisfação foi a vitória de Lula

nas eleições presidenciais.

“Minha família é malufista, lá tem aquele ditado que é

verdade mesmo ele rouba, mas faz, é verdade, fez metrô,

fez Anhangabaú. (...) Acho que chegou a hora de dar uma

chance pro PSDB (...) Importa o partido que o Maluf tiver,

é pela pessoa não tanto pelo partido, mas a gente votou

no Pitta porque ele era do Maluf, mas, acho que eu vou

votar esse ano sem analisar direito quem serão os

candidatos, acho que quem vai vir forte é o Serra (...)

Porque eu posso tanto ser do lado PT, PSDB, não tem

problema nenhum. O que vai determinar? (...) Maior

satisfação o Lula que venceu, imaginei que o PT ia mudar

mesmo o Brasil, a família acho que alguns foram contra o

Lula, mas acho que o vamo pra frente geral, a mídia me

empolgou” (Homem, 32 anos, segundo grau completo,

classe B2).

É também este o caso de indivíduo que, desgostoso com o

partido que elegera, e no qual sempre votou, deixou de votar por

desilusão, e atualmente se considera conservador, entre centro-esquerda

e centro, sem definição partidária, afirmando que escolheria entre o PT e o

PSDB no momento de eleições.

“Votei no PT sempre, o PT era sério „não fazemos

coligações, temos nossa estratégia política‟ e não abriam

mão mesmo, eu achava impressionante aquilo” (...) “O

Governo deixou a companhia quebrar para não pagar a

dívida. Isso me deixou muito indignado, não voto no Lula

de maneira nenhuma. (...) Sou conservador. Votei

muitos anos no PT, mas sou muito conservador. (...) Eu

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flutuo entre o dois e o três. Porque eles têm que lutar pelo

meu voto. Se meu voto ficar mais para a esquerda ou

direita é um voto fácil, eles têm que lutar pelo meu voto,

têm que apresentar propostas, por isso que digo que sou

de centro: se a proposta da esquerda é melhor eu voto na

esquerda, se a direita for melhor eu voto na direita. Eles

têm que conquistar meu voto, meu voto não é fácil, é uma

coisa muito pensada. (...) O socialista quer um estado um

pouco maior do que um capitalista quer, o capitalista quer

um estado mínimo e o socialista, um estado grande. O

governo comunista não deu certo, todos viraram

ditaduras. Os maiores exemplos de socialismo são a

França e a Alemanha que estão revendo algumas coisas

hoje em dia, algumas políticas porque com esse modelo

lá na frente os estados ficarão muito endividados, mas

são governos que deram certo em um determinado

momento tanto que o povo alemão e francês são muito

cultos, na parte da educação foram muito certos, só que

agora estão sendo pesos muito grandes para as

previdências. (...) Nunca votei no PDT, também não gosto

do PTB, são partidos sem identidade. O PDT era o partido

do Brizola, ele morreu e o PDT virou um partido de

interesses. O PMDB gaúcho é bom, o PMDB baiano não

presta, o PMDB não tem mais uma identidade nacional

ainda mais com o Sarney como presidente de honra do

partido e Renan Calheiros e outros. O PSDB já é um

partido com uma história: Fernando Henrique Cardoso,

José Serra, Alckmin, Aécio Neves em Minas Gerais, é um

partido que dá pra ver o partido e ver as pessoas, tem

proposta e identidade. No PT também consigo ver isso.

Hoje, se fosse olhar a proposta dos partidos iria com

PSDB ou PT. (...) Hoje é como se tivesse só três partidos

no Brasil, o PT, o PSDB e os outros” (Homem, 44 anos,

nível superior completo, classe B2).

Maior coerência política foi encontrada nos casos de

entrevistados que têm preferência partidária, votam no mesmo partido em

todos (ou em quase todos) os processos eleitorais, e assumem posições

sobre temas políticos, em conformidade com as posições do partido e do

campo político, no qual ele se encontra inserido.

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Maior grau de coerência esteve associado ao posicionamento

político mais delineado e a menor permeabilidade às notícias contrárias ao

ponto de vista dos entrevistados. É o caso de individuo que se define como

socialista, prefere o PT, demonstrou posições bem construídas a partir de

apropriação política coerente com o ideário do campo ao qual pertence e

apresentou pouca permeabilidade às posições contrárias aos seus pontos de

vista.

“O ser humano deveria ter mais chances e alcançar

a igualdade. O princípio é dividir e não acumular (...) Porque quando você tem idéias socialistas não quer dizer que não possa adaptar posições mais flexíveis( centro-esquerda) (...) É o PT (...) O PT começou no início dos anos 80 e foi um partido que teve que sofrer várias adaptações e mudou a forma de agir. Atualmente, há radicais na base, mas é mais moderado. Possui laços sociais, está ligado a sem terras, sindicatos, mas está combinado à políticos mais moderados, faz concessões para formar coligação de peso e chegar ao poder” (Homem, 47 anos, nível superior incompleto, classe B2).

4.3.2. Juventude

Os jovens apresentaram graus de incoerência política ainda

mais elevados. A exceção foi ocaso do jovem de esquerda, que afirma ser

socialista e que simpatiza com os partidos PSTU e PSOL pelos programas

políticos que estes partidos defendem. Apresenta baixa participação política,

justificada por experiências negativas e desilusão. Comentou que quando

freqüentou reuniões do PT, percebeu que entre os participantes havia mais

interesse nas reuniões pelas possíveis vagas que uns indicavam aos outros

do que a busca pelo bem comum e isto não lhe agradou. Quando indagado

sobre sua preferência política, respondeu que prefere a Heloísa Helena, por

ela representar esperança, ter uma opinião concisa em prol do povo e por

acreditar que ela não o decepcionaria como ocorrido com Lula: “(...) tipo, um

outro golpe, trair de novo como o Lula fez”.

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“Quando se trata de debater assuntos que visem o bem

comum, sim, gosto (de política). (...) (Sou) um cara que

gosta da maioria, eu simpatizo com a causa da reforma

agrária, da reforma urbana, com aquela galera que pede

do governo federal o cumprimento da Constituição (...) o

pessoal que quer maior qualidade de vida (para a

população)” (Homem, 21 anos, Ensino Médio Completo,

Classe C1).

A incoerência política pode ser percebida em diferentes

momentos das entrevistas da maioria dos jovens. Desde incoerências por

utilização de lógicas de escolha diferentes até por manifestações de opiniões

confusas em relação aos conceitos utilizados.

É caso do jovem de 20 anos, que afirma ter uma preferência

partidária pelo PT por uma lógica afetiva, membros de sua família simpatizam

com o partido. Em certos momentos de sua fala afirmou, contrariamente, que

não possui preferência partidária, pois em qualquer partido encontra pessoas

que podem ser avaliadas positivamente. Define-se como socialista, porque

“socializa com os outros sua opinião”. Quando indicou sua posição na escala

esquerda/direita se definiu como “centro-direto”, afirmando que busca

diversas opiniões até achar o “certo”. A associação de direita como

semelhante a “certo”, como “direito” fez-se presente também em outras

entrevistas.

“(Preferência partidária) PT, porque minha família tá

sempre falando dele, minha mãe, meu padrasto que está

sem conversar comigo, não sei nem por que, sempre tá

conversando. (...) Pra pensar por um lado, (simpatizo com)

todos (os partidos) melhor dizendo, porque todos tem um

candidato certo, sempre tem um candidato, porque se eu

falar só um, não dá, porque sempre tem outros partidos

dentro da política (...) (Define-se) Como um socialista

porque eu to sempre procurando os outros né, vendo o

que é certo, o que é errado, sempre to pedindo opiniões.

Eu socializo com os outros, vou perguntando,

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perguntando, procurando, caçando pra saber. (...)

(Definição na escala esquerda/direita) Centro-direito.

Porque sempre eu to escutando a pergunta dos outros,

ah, o depoimento de outras pessoas, ou da oposição, ou

do lado que eu to apoiando, sempre to escutando os dois

lados pra ver qual dos dois tá certo. (Homem, 20 anos,

Ensino Médio Completo, Classe B2).

Há também aqueles que demonstram simpatia pelo atual

governo, mas não manifestam posicionamento no cenário político por

demonstrarem desinteresse com a política e demonstram desconhecimento

da lógica política. Como no caso do jovem de 19 anos que afirma que não

possui posicionamento político por não gostar de política, simpatiza com o

PT, se considera na escala direita/esquerda como centro-direita.

“(Como se define politicamente) Eu me defino como o

seguidor da política da boa vizinhança, ou seja eu não

gosto muito de política daí acho melhor não me meter

muito no assunto. (...) Eu gosto um pouco do PT (...) um

partido ligado mais para o povo e buscando sempre o

melhor para a maioria da população. (Como você se

situaria em uma escala de 1 a 5, sendo 1 a posição mais

à esquerda e 5 a posição mais à direita? 1-esquerda, 2-

centro-esquerda, 3-centro, 4-centro-direita e 5-direita) “Eu

me considero o quatro (centro-direita) (...) porque para

mim o que vale mesmo é você fazer sua parte” (Homem,

19 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C2).

Outro jovem, quando indagado sobre como se define

politicamente não soube responder: “Você me pegou, como assim?”. Na

escala esquerda/direita afirmou que é centro-direita, pois para ele estar no

centro seria sinônimo de estar encima do muro. Então indicou centro-direita

por relacionar direita com positividade. Diz-se socialista por gostar muito de

igualdade e não aceitar desigualdades, mas gostaria de se posicionar como

um moderador, aquele que modera um debate.

“(Escala esquerda/direita) Centro-direita, não no centro

porque é em cima do murro, na direita é porque tem a ver

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com positividade, pensamento reto. O esquerdo tem mais

a ver com coisa negativa pro país. (...) Vamos dizer como

um socialista, porque eu gosto muito da igualdade, eu

gosto muito do pensamento público para todos. Eu gosto

muito de ser igual a todo mundo. Eu não gosto de ter ali,

vamos dizer desigualdade, eu não gosto de desigualdade.

Então eu seria um socialista. Não tinha um moderador ai...

(...) Quando a gente faz um debate tem um moderador ali,

modera a discussão ali, enquanto os outros fica ali, eu tô

organizando. Olhando direitinho, quem tá dialogando,

quem tá fazendo isso, quem tá fazendo aquilo. Qual que é

o assunto que tá abrangendo mais, qual que é o assunto,

então eu seria mais o moderador mesmo, ficaria ali,

vamos dizer na moita, ai quando a coisa piorar eu

impunha os direitos. Né eu impunha mesmo, mostrava

como é que eu tava sentindo. Então um moderador, um

socialista-moderador, vamos dizer” (Homem, 16 anos,

Ensino Médio Incompleto, Classe C1).

O centro foi assumido por alguns que afirmam que não

possuem posicionamento político. Um dos jovens ainda indicou que “preferiria

o lado que não tivesse” uma postura política, para não precisar se envolver.

Este mesmo jovem define-se como conservador porque procura se

conservar, não se envolver com a política.

“(Escala esquerda/direita) No centro, nem na esquerda,

nem na direita, eu fico no meio, porque eu sou muito

desligado em termos de política.” (...) “...eu preferiria o

lado que não tivesse (uma postura política), fosse mais

tranqüilo, pra me afastar de tudo, debate, política, porque

pra mim não tem, no momento não influencia em nada na

minha vida pessoal, claro que tem muitas pessoas que

vivem no redor da gente que acaba atingindo a gente

também. (...) Conservador, porque é o que eu pude

conservar mesmo, não faço política, não sou governante

de ninguém, então eu procuro estar sempre na minha,

tranqüilo. Na época da política às vezes eu procuro dar

minha opinião mas não basta opinião, eu fico sempre na

minha” (Homem, 23 anos, Ensino Médio Incompleto,

Casse C2).

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Outro jovem se disse liberal, por associar a este conceito o

termo liberdade: “liberal é assim pode fazer o que quiser, como quiser...”

(Homem, 18 anos, Ensino Médio Completo, Classe C2).

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5. Comportamento em relação à mídia

5.1. Meios de comunicação

O meio preferencial de obtenção de informações variou

conforme o perfil social e etário dos entrevistados. TV por assinatura e

Internet são os meios preferidos pelos segmentos de classe média com maior

poder aquisitivo. Os mais jovens utilizam a Internet de forma mais intensa. A

grande exposição também está associada aos interesses profissionais. Os

segmentos com menor poder aquisitivo utilizam preferencialmente a TV

convencional aberta.

5.1.1. Classe média

É considerável a exposição à mídia, alcançando, em alguns

casos, a grande quantidade de 8 a 10 horas por dia. A maior exposição não

está necessariamente associada ao acompanhamento de notícias sobre

política e governo. Midiáticos acompanham os acontecimentos políticos pelo

fato deste tipo de conteúdo estar presente nos noticiários, mas, por

desinteresse por este tema, muitas vezes, acompanham de forma reduzida

ou superficial, retendo poucas informações sobre o assunto.

Aqueles que acompanham mais o noticiário político são os mais

politicamente apropriados. É o caso do entrevistado de classe média com

maior poder aquisitivo que utiliza preferencialmente, TV por assinatura e

Internet. Politicamente apropriado, domina os termos políticos e acompanha

os noticiários sobre o tema especialmente através da Globo News, Band

News, e pela Internet.

“Assisto Globo News. Assinávamos até pouco tempo atrás

o Band News que é muito bom, mas é basicamente a

Globo News para noticiários, tem o Em Cima da Hora e o

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Jornal das Dez deles que é muito bom. (...) O Jornal das

Dez é praticamente uma hora de jornalismo e o Em Cima

da Hora que é todo horário fechado: as oito, nove..., tem

sempre de 10 a 15 minutos de noticiário, a notícia é

sempre muito “on line”, aconteceu, eles já estão

noticiando. (...) Costumo assistir mais à noite, mais o

Jornal das Dez”. (...) “Acesso a internet todo dia, não

tenho horário específico, mas normalmente fico quase

uma hora por dia na internet. (...) Não tem nenhum site

que eu não gosto, acesso os que gosto muito. Gosto do

site da Globo. Tenho links de informação. Sou assinante

do Google e ali você consegue criar links de notícias sobre

vários assuntos. Nesse ponto eu não vou atrás de

notícias, o Google faz isso para mim e larga na minha

caixa” (Homem, 44 anos, ensino superior completo, classe

B2).

Na maior parte dos casos observados, é relativamente pequeno

o acompanhamento das notícias sobre política e governo. Mesmo nos casos

em que há grande exposição à mídia, se observou pouca atenção às notícias

sobre política. Por vezes, a notícia ouvida não é retida na memória, em

função da pequena importância atribuída a ela, por se tratar de assunto

considerado pouco interessante. É o caso da entrevistada que utiliza

intensamente TV e Internet, é pouco informada e possui grande desinteresse

por política. Tem 21 anos, cursa Enfermagem, está desempregada, assiste

TV e acessa a Internet intensamente, em torno de 5 horas no período da

manhã e no período das novelas da Rede Globo à noite, totalizando cerca de

8 a 10 horas por dia. Utiliza-se dos dois meios ao mesmo tempo se

deslocando de um para outro, privilegiando a Internet que costuma acessar

em torno de 5 horas diárias. Não se interessa e não absorve notícias

políticas, exceção feita aos escândalos. Usa TV e Internet como forma de

entretenimento e relacionamento.

“De manhã, de 8h às 13h a gente assiste, de tarde a TV

fica desligada, e à noite assisto novela. E quando passa o

horário político a gente desliga a TV. (risos) (...) (assiste)

Ana Maria Braga, desenhos animados, Malhação, Paraíso,

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e depois o jornal.(...) como aqui tem antena parabólica a

gente assiste tudo de São Paulo, mas aí eu vou pra

Internet.(...) E depois começa Caminho das Índias, que eu

assisto também.(...) Eu acordo, ligo a televisão, já

passando Ana Maria Braga. Aí eu tomo café, ajeito meu

filho, depois ligo o computador. (...) Depois ajeito ele pra ir

pra escola, e depois me ajeito pra ir pra faculdade. (...) E

aí, na volta, pego ele, a gente chega aqui, ligo a televisão

quando tá passando Malhação, e fica ligada até às 10h da

noite. (...) Ao mesmo tempo que estou na televisão, estou

na Internet também.(...) Todo dia é assim.(...) Diariamente,

Orkut (4 horas), MSN (4 horas, em paralelo com o Orkut),

e-mail (30 minutos) e Google (30 minutos)” (Mulher, 21

anos, nível superior incompleto, classe B2).

O uso intensivo da Internet também foi encontrado entre outras

faixas etárias compondo outros perfis. Este é o caso de um pequeno

empresário, comerciante de produtos de escritório e material gráfico, que

acessa a Internet diariamente por períodos de 5 a 6 horas. Assiste pouco a

TV aberta, não lê regularmente jornais e revistas. Utiliza o computador e a

Internet para desenvolver o trabalho da empresa e para relacionamento e

entretenimento. Quando chega em casa liga a televisão, o computador e a

Internet. Muitas vezes fica com a TV ligada, mas na Internet. Acessa MSN, e-

mail, Skype. Eventualmente, assiste notícias. É desgostoso e desiludido com

política.

“Mas eu não gosto muito de política não (...) Não, eu

praticamente eu não assisto, muito pouco, principalmente

canal aberto, eu não tenho assistido não. (...) Ultimamente

eu não estou vendo nada de televisão. As vezes eu leio

umas manchetes que me interessam um pouquinho. (...)

Ultimamente é pela Internet mesmo que eu tenho me

informado” (Homem, micro empresário,classe B2,superior

completo,47 anos).

A percepção sobre o comportamento da mídia encerra um

paradoxo: a elevada aceitação dos meios tradicionais mais utilizados - como

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a TV aberta, a Rede Globo e o Jornal Nacional – convive contraditoriamente

com grande desconfiança sobre a parcialidade destes meios e sua função de

manipulação.

É o caso do indivíduo que percebe a parcialidade dos meios,

suspeita de manipulação, mas mesmo assim confia, e confia muito em

comentarista que elegeu como referência.

“Acho que sim, uns 75% fiel, mas tem horas que eles

editam, cortam muito ainda mais em política, pra detonar a

pessoa, então acredito que sim, mas não 100%. A Globo é

bem parcial bem no que interessa, a Record também apela

pra classe C de mostrar coisas bregas, poderia ser mais

informativo, mais bacana, mais elitizado. (...) Acho que

manipulam a opinião pública sim (...) Eu acredito quando a

informação vem, se não o cara nem ia procurar, mas de

vez em quando o cara suspeita (de manipulação). (...)

Muito pouco (filtra), quando já acordo de manhã já peguei

as informações básicas. (...) O que eu mais confio é a TV,

a Internet é muito espontâneo, tem hora que não que não

seja real, mas em blog pode ter uma informação errada, a

que eu menos confio é rádio, não sei se é um público

menor, e TV, o Jornal Nacional acho que é o que mais

confio, nem a Veja eu confio tanto, era pra ta vendendo

muito mais, eles retraíram (...) Boris Casoy acho que

influencia muita gente, o Mauricio do GNT que fala de

bolsa, a do jornal do Brasil de manhã economia e política,

um senhor de cabelo branco esqueci o nome dele e a

Miriam Leitão. (...) Eu concordo com a opinião deles, eu

não sou chegado muito em política mas é uma informação

mais fácil, todo dia (...) Confio como uma referência

importante (Homem, 32 anos, segundo grau completo,

classe B2).

Neste mesmo sentido, foi observada a situação de um indivíduo

que percebe os meios de comunicação como parciais (“só mostram o lado

que interessa”). Considera que são manipuladores e por isso passíveis de

desconfiança, mas considera a televisão o meio mais confiável porque tem

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mais contato com a realidade, os comentários são ao vivo e Arnaldo Jabor é

o comentarista pelo qual se referencia.

“Acho que toda matéria tem alguém interessando em

como vai sair essa matéria, então de alguma forma ela vai

se manipulada (...) Vai de acordo com os interesses. (...)

Todo jornal manipula do jeito que quer (...) Mesmo que

manipulada, acredito a televisão é o meio mais utilizado

porque tem mais força para expor essa idéia, acho que

como a pessoa fala, como mostra, ela forma opinião dos

demais. (...) Ele (Arnaldo Jabbor) realmente tem uma

forma de colocar as palavras, que faz a gente pensar de

maneira mais ampla. Ele tem o dom” (Homem, 26 anos,

nível superior incompleto, classe B2).

Também ilustra a situação referida o caso de uma pessoa que

percebe a parcialidade dos meios de informação, especialmente da Globo,

confiando mais na Revista Veja do que na TV. Embora não considere a TV o

meio mais confiável, reconhece que é o mais influente na sua opinião, devido

à grande exposição.

“Eu acho que a Globo omite muita coisa e o SBT trás a

notícia mais nua, não mascara tanto. Tem notícias que

quando a Globo vai noticiar a outra emissora já falou bem

antes então eu não costumo confiar muito na Globo,

assisto porque é mais amplo o horário de noticiário, mas

quando quero confirmar se aquilo ali aconteceu mesmo eu

busco as outras informações. (...) Já cheguei a comprar

uma Veja só porque ouvi uma notícia e tive certeza de que

na revista deveria ter um pouco mais, confio muito na

revista Veja. Mesmo que eles levantem uma suposição

daqui a pouco ela se confirma. A revista é mais confiável

do que a TV, a TV mascara muito para não agredir e a

revista tu és obrigado a ir buscar a informação. (...)

Quando vejo o jornal das oito da Globo aquele jornalista

montou a sua matéria e levou para o jornal, mas em

função de uma empresa, a empresa que disse „vamos

falar sobre esse assunto‟, ou seja, aquilo ali foi permitido

por toda uma estrutura. Já quando o jornalista tem o seu

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programa ele é responsável por tudo aquilo ali então ele

está colocando a cara dele a tapa, ele é sozinho ali, pode

até ter opinião de outros, mas quem está expondo ali

aquela proposta de debate naquele espaço e levou

aqueles convidados para mim dou mais valor do que o

jornal normal. (...) Ainda é a TV( o meio mais importante

para formar sua opinião) porque nos horários de

jornalismo assisto à TV. Você não me vê sentada lendo

uma revista com exceção dos finais de semana, já a TV

todos os dias eu tenho acesso então ainda continua sendo

a TV” (Mulher, 43 anos, nível superior completo, classe

C2).

5.1.2. Juventude

As informações relacionadas com política e governo não

chamam a atenção dos jovens. Em geral, eles utilizam os meios de

comunicação para o entretenimento e informação sobre assuntos de seu

interesse.

Como no caso da jovem de 19 anos de classe B2 que possui

em sua residência acesso à internet, TV por assinatura, jornal impresso e

rádio, porém demonstra baixo nível de informação sobre os assuntos políticos

atuais. Seus hábitos em relação à mídia se restringem a filmes e novelas,

assiste pouco aos jornais televisivos da TV aberta ou fechada, não lê com

freqüência o jornal impresso que a família assina, utiliza a internet

diariamente para acessar seus emails, MSN e Orkut. Na internet não possui o

hábito de acessar sites específicos de notícias, apenas quando entra no site

de seu email e algum link lhe interessa o acessa para ler o conteúdo da

notícia. Justifica a falta de informação sobre política por desinteresse pelo

tema.

“Temos TV aberta e fechada. (...) Na TV aberta vejo mais

novelas, mais à noite. E na TV fechada eu vejo mais

filmes. (...) Noticiário às vezes assisto ao Jornal Nacional,

mas não é sempre, assisto somente de vez em quando,

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nesse horário estou indo para a faculdade, hoje como não

tenho aula de repente eu vou olhar. (...) O canal que mais

gosto é a Globo porque como gosto de ver filmes na

Globo passa bastante filme e as novelas da Globo são

melhores também. (...) Não gosto do canal sete (TVE),

não sei o nome do canal porque eu realmente não assisto,

os programas parecem bem antigos. Eu prefiro programas

mais atuais e a Globo está sempre se atualizando (...) A

gente assina a Zero Hora, às vezes eu leio e às vezes

não. Leio uma vez por semana. Não leio nada sobre

política, não tenho interesse. Gosto da Zero Hora porque

ela é bem diversificada, tem vários tipos de conteúdo. (...)

Na verdade na internet eu acesso mais os meus e-mails

mesmo, passo e-mails, converso com amigos pelo MSN,

tenho orkut também. Acesso todos os dias. Vejo as

notícias na página inicial do Hotmail e às vezes clico nos

links para ler as notícias. (...) Não tem um site que eu mais

goste, entro mais nos meus e-mails mesmo. (...) Na

faculdade com meus amigos a gente não fala de política.

E com os amigos de fora da faculdade também não. Só

em casa mesmo, mas não é sempre, é mais no período

eleitoral. (...) Não gosto muito de política então não

procuro me envolver. Não tenho um motivo para não

gostar, é falta de interesse mesmo por essa área. (...)

Pelas minhas cadeiras na faculdade eu estou no quarto

semestre (de administração), tenho algumas cadeiras que

falam sobre política, mas são poucas e não gosto dessas

cadeiras (...) Porque não é minha área de interesse. Não

gosto muito de política. Nós não temos o costume de falar,

quem fala mais é meu avô, política é um assunto raro aqui

em casa” (Mulher, 19 anos, Ensino Superior Incompleto,

Classe B1).

A tendência de os jovens utilizarem os meios de comunicação,

principalmente, como entretenimento foi observada em muitos casos. A

busca por informações estão diretamente relacionadas aos conteúdos de

interesses particulares. O acesso à internet, em especial, se traduz por esta

lógica que visa suprimir necessidades imediatas por informações específicas.

Como no caso da jovem que está participando de um processo

seletivo que envolve políticas públicas de seu município e por isso tem se

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mantida informada sobre este tema. O site que mais utiliza é o Google, que

lhe permite encontrar outros sites sobre assuntos específicos que esteja

interessada. Ademais, na internet, acessa seu email, MSN e Orkut, de forma

simultânea, para se relacionar com sua rede de contatos. Apesar de estar

acessando atualmente um site específico sobre políticas públicas, a jovem

manifesta desinteresse pela política em geral. O desinteresse é justificado

pela falta de identificação com o mundo político e seu modus operandi.

“Eu tenho acompanhado notícias sobre políticas públicas

daqui de Lauro de Freitas, (...) através do site da

Prefeitura. (...) Porque eu to participando de um processo

seletivo de projetos ligados a políticas públicas. (...) Tem

um muito legal sobre assuntos jurídicos, (...) que eu entro

muito, eles dão cursos gratuitos sobre diversos temas. (...)

Eu entro muito no site da revista NovaEscola, sobre

educação. (...) Ah, do Google eu vou pra vários outros,

mas é difícil eu me lembrar. (...) O e-mail eu diria que é um

tempo constante, (...) eu deixo sempre aberto pra ver

quem manda mensagens pra gente. (...) O Orkut também

eu deixo aberto, pra ver quem ta me mandando

mensagens instantâneas, né? (...) O MSN também fica

aberto, (...) porque eu posso falar com as pessoas direto

(...) Tem o lado interativo (e-mail, Orkut, MSN) e o

informativo (Google) que de lá eu vou pra vários outros e

YouTube. (Não se informa sobre política) Porque a gente

tem uma tendência (...) de se identificar com coisas que a

gente sente interesse, (...) mesmo reconhecendo a

importância (da política) eu acho pouco interessante. É

diferente de eu pegar informações como aquecimento

global que ta acontecendo no mundo, (...) assuntos

ligados a educação, a violência na escola, (...) violência

moral na escola, por exemplo, esses temas me

interessam. (...) Não vou dizer que foi algo que aconteceu

especificamente, mas posso dizer que é o geral que a

gente vê por aí, (...) que a gente vê políticos agindo em

períodos antes das eleições, prometendo coisas, (...) Só

pra se elegerem. Após a eleição, muitas coisas que eles

prometem, não cumprem. (...) A política, já há um certo

tempo, deixa as pessoas um pouco desacreditadas. (...) O

que a gente pode ver, o que a gente pode saber, acaba

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afetando o sentimento” (Mulher, 21 anos, Superior

Incompleto, Classe C1).

A confiabilidade nos meios de comunicação é elevada entre os

jovens. O meio de comunicação considerado mais confiável é, em geral, a TV

aberta. Sua forte presença nos lares brasileiros é indicada como razão para

que as informações transmitidas sejam consideradas verídicas. No entanto,

há contradição na opinião de grande parte dos jovens entrevistados, pois

estes consideram os meios de comunicação parciais, direcionados a algum

tipo de interesse das empresas que produzem a comunicação.

“O mais confiável é a TV. (...) Todos os meios são

confiáveis. Não considero nenhum meio de informação

menos confiável” (Homem, 16 anos, Ensino Médio

Incompleto, Classe C1).

“São parciais, não dá audiência dizer a verdade, e quando

dá você pode destruir a crença das pessoas na ética e no

futuro. (...) Não tem como dizer isso (meios confiáveis),

não tenho um detector de mentiras, mas acho que a TV é

um dos mais parciais” (Homem, 22 anos, Ensino Superior

Completo, Classe A).

“(Mais confiável) É TV aberta porque eu gosto muito de

ver as coisas, porque ali você vai ver se realmente é

verdade ou não, e jornal impresso, porque, por mais que

eles possam escorregar em alguma coisa, eles não vão

chegar ao ponto de inventar uma história qualquer”

(Mulher, 22 anos, Superior Completo, Classe B2).

A Internet foi indicada por muitos jovens como meio menos

confiável, pois os conteúdos comunicados nos sites possuem diversas fontes,

que nem sempre são divulgadas, além de existirem sites pessoais (blogs) em

que as informações são postadas sem haver, necessariamente, um cuidado

com o que é comunicado “o site é dele, então né, tem vários sites

respondendo por processos porque colocou coisa indevida, ou mentiu”

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(Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). Mesmo

considerando a Internet como um meio pouco confiável, seu dinamismo

encanta os jovens. A possibilidade de comunicação com outras pessoas,

independentemente da distância, fascina os internautas.

“Bem, para mim em primeiro lugar o mais confiável são as

TV abertas, depois as revistas, os jornais depois as rádios

e a Internet por ultimo, pois essa última sempre esta

enfrentando problemas com a pirataria, os chamados

hackers. (...) este é o meio de comunicação mais

revolucionário do século, a Internet nos proporciona a

oportunidade de falar e ver pessoas em outros lugares,

independente da distancia” (Homem, 18 anos, Ensino

Médio Completo, Classe C2).

“(Menos confiável) É Internet, Exemplo: um site, dizendo

da morte do Michael Jackson falou que ele tinha morrido,

mas ele nem tinha morrido ainda, eu não gosto, eu

procuro não me informar através de site, não confio”

(Mulher, 22 anos, Superior Completo, Classe B2).

Os jovens costumam confiar nas informações transmitidas por

formadores de opinião (blogueiros, colunistas, jornalistas, repórteres,

apresentadores). Os apresentadores do Jornal Nacional da Rede Globo

foram os mais indicados pelos entrevistados como pessoas que transmitem

confiança e veracidade quando comunicam uma informação.

“Willian Bonner e Fátima Bernardes, quando ele não está

no jornal, eu não tenho vontade de assistir (...) Eu adoro

assistir o jornal, aprendi com meu pai, todo dia eu assisto

Jornal Nacional, mas eu acho que eles são os repórteres

que você vê confiança neles falando, firmeza, sei lá, eu

gosto” (Mulher, 22 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe

C1).

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5.2. Informação sobre o governo e políticas públicas

De modo geral, foram encontrados baixos níveis de informação sobre

o governo e as políticas públicas. Os entrevistados que apresentaram maior

apropriação política informam-se mais sobre estes assuntos. Os

entrevistados que não gostam de política se informam mais sobre programas

específicos de governo, tendo em vista os benefícios que podem obter.

Houve ainda aqueles que não se interessam nem por estes assuntos que

poderiam resultar em benefícios pessoais imediatos.

5.2.1. Classe média

Neste segmento os entrevistados apresentaram níveis distintos

de conhecimento sobre o governo e as políticas públicas. O maior nível de

conhecimento esteve associado ao maior interesse por política. Aos

programas governamentais mais lembrados foram atribuídas conotações

positivas, pelos seus efeitos benéficos para a melhoria da situação da

população brasileira, e negativas, especialmente em função da visão

assistencialista percebida no Programa Bolsa Família.

“Bolsa Escola e Bolsa Família são os que me chamam

mais atenção porque acho que ele (o Governo) dá o peixe

e não ensina a pescar. Nada contra a dar o dinheiro, mas

junto deveria haver mais fiscalização e mais incremento de

força de trabalho. Tenho acompanhado muito a favela

Dona Marta no Rio de Janeiro onde a polícia resolveu

trabalhar. Por que o vandalismo tomou o poder? Porque o

poder público não fez nada. Acho que os programas de

governo deveriam ser mais voltados para a educação

porque somente com a educação é que esse povo vai ser

mais crítico e somente com a crítica que o povo vai poder

exigir porque se tu não sabes que tem a possibilidade de

mudar ninguém vai correr atrás de mudança, o governo é

desacreditado na maioria dos aspectos” (Mulher, 43 anos,

nível superior completo, classe B2).

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“São muito bons (os programas de governo). Tá

melhorando a vida do povo” (Homem, 40 anos, nível

fundamental incompleto, classe C2).

“Há ações que estão fazendo a redistribuição de rendas

através do Bolsa Família” (Homem,47 anos, superior

incompleto, classe B2).

“ProUni/Bolsa família, Bolsa escola/Minha casa, minha

vida. Conheci através da mídia, Internet e jornal. O Prouni

e programa Minha casa minha vida são maravilhosos

porque dá condições para quem não pode comprar sua

casa e o Prouni, ajuda a pessoa que é carente a estudar.

Bolsa família: é deixar o povo ocioso (….) não precisa

desse comodismo. Acho que o Bolsa família é um

programa para deixar as pessoas cômodas e não

buscarem trabalho. Acho um absurdo esse programa”

(Homem, 26 anos, nível superior incompleto, classe B2).

“As ações do governo são boas. É muito bom, porque o

presidente Lula, ajuda muito com o Bolsa Família e o

Bolsa Jovem, o PAC (...) Essas Bolsas ajudam muitas

pessoas” (Mulher, classe C2, 1º grau, 36 anos).

“Muitas pessoas falam que o governo Lula é

assistencialista, que ele lança estes programas para se

reeleger, mas eu não acho, creio que ele seja mais um

governo do povo do que dos ricos. (...) Principalmente

sobre o presidente Lula e suas ações governamentais,

que para mim sempre foram muito favoráveis. (...) Acho o

governo Lula direcionado para as classes mais carentes

da sociedade. (...) Eu tenho certeza que o governo esta

tentando fazer o melhor para a população, como dar mais

assistência aos pobres, aos mais velhos e as crianças

abandonadas” (Homem, 27 anos, segundo grau

incompleto, classe C1).

“O Bolsa Família tá ajudando muitas famílias que

passavam fome, que ficavam na rua. Acho que eles tão

administrando bem. (...) Minha opinião (sobre programas)

é que é um incentivo pra gente gostar do governo.

Também uma ajuda pras pessoas carentes, pras pessoas

que não têm condições. (...) Os programas têm surtido

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efeito, tá evoluindo sim” (Mulher, 21 anos, nível superior

incompleto, classe B2).

A percepção do comportamento da mídia em relação à

divulgação das notícias sobre o governo e suas políticas públicas dividiu

opiniões. Interessante observar que, em muitos casos, os meios de

comunicação foram percebidos como favoráveis ao atual governo. Por vezes,

houve desconfiança em relação a esta posição favorável da mídia ao governo

sendo considerada, por um entrevistado, como possivelmente decorrente de

acordo financeiro entre governo e mídia.

“São mais favoráveis (as notícias) pra dar mais uma

credibilidade ao governo. Às vezes acho que são

parceiros” (Homem, 40 anos, nível fundamental

incompleto, classe C2).

Do mesmo modo uma entrevistada que percebe as notícias

como favoráveis ao governo, desconfia que a Globo esconda os erros do

governo, com receio à ocorrência de represálias.

“São favoráveis( as notícias). Porque o que eles mostram

na mídia é o que estão fazendo de bom pra gente. (...) A

televisão mostra o de bom e o de ruim, mas eu acho que a

Globo esconde muita coisa que eles erram, que o governo

erra. Eu acho que é porque eles têm medo que o governo

possa fazer algo contra eles” (Mulher, 21 anos, nível

superior incompleto, classe B2).

Outra entrevistada percebe que as notícias da Rede Globo são

favoráveis ao governo porque a emissora tem linha de não enfrentamento

com os governos de modo geral.

“O jornalismo da Globo é favorável, a Globo sempre foi

muito a favor dos governos, vejo a Globo como uma

ovelhinha de presépio. Até mesmo o status da TV Globo

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nunca foi de crítica ao governo. O jornalismo da Globo

sempre foi mais cuidadoso com o governo, já os outros

canais não, eles transmitem informações sobre o governo

mais cruamente, mais com a intenção de crítica” (Mulher,

36 anos, nível superior completo, classe B2).

Houve também opiniões que relativizaram, afirmando que em

alguns casos os meios de comunicação são favoráveis e em outros não,

dependendo dos interesses econômicos dos grupos que controlam as

emissoras de TV.

“Isso é relativo (as notícias) (...) depende de onde o sapato

vai apertar o calo, por exemplo, a Band, o grupo

Bandeirantes é um dos grandes latifundiários do Brasil e

agora os caras querem criar uma lei (...) o fazendeiro

produziu tantas toneladas de grãos esse ano, ano que

vem para conseguir empréstimo vai ter que produzir um

pouco mais, se não fizer isso vai perder a terra (...) a Band

mete o pau nisso, assim como a Band, o Joelmir Beting

fala: não, o Brasil é credor do FMI (...) O Brasil tá ferrado

aqui mas empresta dinheiro pra lá (...) O presidente fala:

nós é chique né, nos tá emprestando dinheiro” (Homem,

37 anos, segundo grau completo, classe C1).

Também foram feitas relativizações, considerando as diferenças

de posicionamento da mídia tendo em vista o assunto abordado. Os meios de

comunicação são contrários em algumas situações quando discordam da

posição assumida pelo governo, como nos casos da crise e da forte presença

do Brasil no mundo.

“Quando o Lula disse que a crise era uma marolinha a

mídia televisiva foi pra cima criticando, mas eles não

conseguiram dimensionar esse lado que estou

dimensionando agora. (...) Associo o Lula como aquele

que colocou a mochila nas costas e saiu por aí oferecendo

o Brasil, isso ninguém vai tirar dele porque é o Presidente

que mais vendeu o Brasil lá fora. Nós entramos até na

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Arábia Saudita aquele monte de ouro rolando em cima da

areia e o Brasil está lá. Na África o Brasil está vendendo

projetos tipo o Mobral, está vendendo alimentos básicos,

está oferecendo condições de intercâmbio, e a África é a

nossa pátria praticamente, quantos africanos têm no Brasil

e não tínhamos essa cultura de olhar os africanos como

gente. A gente está no Haiti, com força militar, mas

estamos no Haiti, são feridas da humanidade que o Lula

não teve medo de encarar” (Mulher, 36 anos, nível

superior completo, classe B2).

5.2.2. Juventude

A grande maioria dos jovens não acompanha notícias sobre

governo e política. Contudo, alguns sabem mencionar ações e programas

sociais do governo. Os mais lembrados são Bolsa Família, Minha Casa Minha

Vida, Fome Zero, Enem e Pró-Uni.

As avaliações dos programas sociais são positivas quando os

jovens percebem que estes programas beneficiam a população. Aqueles que

são beneficiados pelos programas também os avaliam positivamente,

indicando a relevância do programa para suas vidas. Este é o caso da jovem

que é beneficiada pelo Bolsa Família, assim como sua mãe também é. Sua

avaliação do atual governo é positiva, acredita que este governo é melhor do

que seus antecessores e que o Brasil, hoje, encontra-se melhor do que

outros países, pois conseguiu enfrentar a crise.

“Acompanho, mas não muito (as notícias sobre governo e

política). (...) Bolsa família, muita gente diz que é pouco,

mas a realidade é que já ajuda, estão se beneficiando

daquilo ali e não enxergam, R$ 120,00 é R$ 120,00

compra um gás. São 5 agora que dependem disso (na

família dela). Não só criança se é adulto mas não recebe

salário nenhum daí recebe também. A minha prima

recebia, mas como a filhinha dela é deficiente, ela

conseguiu aposentar ela, então ela já perdeu o bolsa

família agora, mas recebe um salário mínimo mensal, daí

não pode ter dois benefícios na mesma família (...) Agora

ele ta melhor, esse governo ta melhor que os outros. Tá

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fazendo mais e falando menos, antigamente falavam muito

e não faziam nem a metade. (...) Antigamente ficava

parado e não saia do lugar agora a gente ta indo pra

frente no estudo, educação melhorou ta sendo mais

valorizada agora, em relação às famílias com esse

programa do bolsa família. (...) O Brasil antigamente nesse

negócio da crise seria o primeiro a ficar pior e não, o Brasil

ficou estável, ficou melhor que os EUA que é um país de

potência, grande e ta difícil lá com a crise e pra gente ta

melhor, a administração do Lula, dizem que o Lula tem um

avião particular, mas ele precisa tem que ir pra lá e pra cá

a todo momento, mas não é um benefício só pra ele,

porque ele vai em busca de um benefício que não é só pra

ele, é pro Brasil todo, ta atrás de melhoras pro Brasil”

(Mulher, 17 anos, Ensino Fundamental Completo, Classe

D/E).

Há também alguns jovens que, apesar de não acompanharem

as notícias sobre política e governo, mencionam alguns programas e os

avaliam positivamente. Isto ocorre porque estes jovens possuírem uma visão

positiva em relação ao atual Governo Federal. Como os jovens citados

abaixo, que apesar de não acompanharem as notícias, lembram de

programas que avaliam positivamente, assim como o faz com o atual

governo.

“Fome zero, bolsa escola. (...) (Conheceu) Pelas pessoas.

(...) O Fome Zero ajuda a dar alimentos às pessoas

necessitadas. Ajuda as pessoas a sair da miséria. O Bolsa

Escola incentiva o aluno a ir para escola, se não for não

recebe, ajuda as despesas de casa, é um dinheiro a mais.

Eu acho ótimo ajudar as pessoas nas despesas de casa, a

comprar alimentos. (...) (Opinião sobre o Governo Federal)

Ótimo. Influencia na melhoria das pessoas. Ajuda a

melhorar, tipo faz a coisa certa, não errada. Ajuda as

pessoas a ter dinheiro extra, melhorar dentro de casa e

nos estudos” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto,

Classe C1).

“Não tenho acompanhado nada no momento sobre o

governo federal (...) não lembro de nada no momento (...)

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Eu conheço o Bolsa Família, o Fome Zero, o Enem, pois já

acompanhei varias matérias falando sobre o assunto na

televisão. (...) O Bolsa Família, por exemplo, eu acho

muito importante, pois foi a partir deste programa que

muitas famílias deixaram a pobreza total. Já o Fome Zero,

da mesma forma, promoveu a diminuição da mortalidade

infantil, o Enem facilitou a entrada de alunos de escolas

públicas nas faculdades do estado, comprovando também

a qualidade do ensino das escolas públicas do estado. (...)

(Propagandas) do PAC eu não me recordo muito, mas do

Minha Vida Minha Casa eu lembro sim, eu gostei bastante,

principalmente porque o programa Minha Casa Minha Vida

vai dar oportunidade para muitas pessoas comprarem a

sua casa própria. (...) Eu gostei bastante (da propaganda

do Minha Casa). (Opinião sobre o Governo) Não entendo

muito, mas acho que temos uns dos melhores Governos

dos últimos dez anos. (...) Sempre que vejo uma matéria

sobre as pesquisas do governo Lula, fico cada vez mais

convencido que seu governo e seus programas sociais

são as respostas para a melhoria da vida do povo mais

necessitado do Brasil” (Homem, 18 anos, Ensino Médio

Completo, Classe C2).

Aqueles que possuem uma visão política e experiências

negativas relacionadas aos programas sociais os avaliam negativamente,

como no caso do jovem que tem a irmã beneficiada pelo auxílio salário escola

e que o considera muito baixo para suprir as necessidades com o material

escolar. Sobre o Bolsa Família afirma que é regular. Já os programas

habitacionais avalia negativamente, pois acredita que as residências são

muito pequenas para os padrões familiares encontrados. Na visão do

entrevistado, deveriam aumentar o valor dos benefícios e não do salário dos

políticos. Apesar de avaliar negativamente os resultados dos programas, o

entrevistado pondera, afirmando “pelo menos isso eles estão fazendo, se eles

não fizessem, pelo amor de Deus, quê que iria ser desse país”. Na mídia,

considera que as notícias são mais negativas em relação ao atual governo e

a política.

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“O Bolsa Família é regular. O Salário Escola é ruim porque

não dá pra ajudar nem pela metade na compra dos

materiais escolares (...) é um valor simbólico pra dizer que

o governo está se importando. E sem falar naquelas

casinhas que eles distribuem de um cômodo pra uma

família de doze, ou dois cômodos quer dizer, que se não

me engano pra um pai de família que tem seis, sete filhos,

dorme tudo na sala. (...) O salário escola é o „miséria pra

todos‟, porque aquilo não dá pra sustentar, não dá pra

comprar materiais escolares com aquele tanto, enquanto

tá aumentando o salário dos políticos ai tudo, ao invés de

aumentar o Bolsa Família, o Salário Escola. (...) Minha

irmã é beneficiária e reclama muito porque não dá nem

pra metade dos materiais escolares. (...) É um

investimento que eles fizeram, uma base, mas essa base

não dá pra quase ninguém. (...) Fome zero vírgula zero,

zero um, é assim, uma fome que eles não dão conta de

superar ela, não tem como, tem como tentar ajudar, o que

pelo menos isso eles estão fazendo, se eles não fizessem

pelo amor de deus quê que iria ser desse país, dessa

cidade, dessa região, tudo. Mas assim pelo o que eles

estão fazendo, conseguiu tirar muitas famílias da miséria

mesmo né, conseguiu fazer muitas coisas em relação a

isso, a miséria, uma coisa que, foi uma coisa, uma

campanha que paralisou todo mundo, paralisou mesmo.

As emissoras de televisão, qualquer propaganda, parava

assim qualquer intervalo de alguma coisa, falava da

importância, Eu acho que esse Fome Zero foi um dos mais

importantes que eu posso considerar” (Homem, 16 anos,

Ensino Médio Incompleto, Classe C1).

Os jovens que afirmam não acompanhar as notícias sobre

governo e política e também desconhecem as ações e programas do governo

federal o avaliam de forma negativa. Estes jovens também apresentam baixa

apropriação política e desinteresse por estes assuntos. Este é o caso da

jovem que não acompanha as notícias, desconhece os programas e ações

governamentais, possuindo uma visão negativa da política, de modo geral, e

do atual governo.

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“Eu acho que eles teriam que fazer mais e falar menos,

muitos a gente só vê falando, que não sei o que, que vai

fazer isso, vai fazer aquilo, e muitas das vezes você não

vê nada, eu não vejo, mas também eu não me interesso

por política. Primeiro que eu nem entendo nada disso, pra

mim, eles falando eu não entendo nada de política”

(Mulher, 22 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1).

É o mesmo caso da jovem que não se informa sobre política e

governo, não gosta de política e possui uma visão negativa do atual governo

e de seus programas sociais.

“Não costumo acompanhar. Não lembro de notícia

nenhuma. (...) Não to lembrada... acho que é o Bolsa

Família, soube pela televisão. Eu acho que esse programa

termina dando margem para o povo fazer mais filho, tem

gente que nem trabalha mais, só pegando essa Bolsa

Família, e penso que é errado. (...) Eu particularmente não

sou muito a favor (do atual governo)” (Mulher, 20 anos,

Ensino Superior Incompleto, Classe B1).

De modo geral, como é baixa a informação sobre política e

governo neste segmento houve certa indiferença em relação à avaliação do

comportamento da mídia ao abordar notícias sobre o governo. Entre aqueles

que se posicionaram, a percepção sobre o modo como a mídia noticia o

governo pareceu estar associada a sua avaliação do governo. Jovens que

avaliam positivamente o atual governo tendem a crer que a mídia veicula

mais notícias favoráveis ao governo “(Notícias sobre o governo) quando vejo,

na maioria das vezes são favoráveis” (Homem, 18 anos, Ensino Médio

Completo, Classe C2).

Do mesmo modo os jovens que avaliam negativamente o

governo tendem a crer que as notícias veiculadas na mídia são

desfavoráveis.

“(Notícias sobre o governo são) Mais desfavoráveis,

porque o que se vê são coisas negativas que acontece

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com o governo e a política. Às vezes até os jornalistas

tentam dar uma sacudida na população falando dos

salários dos políticos e dos impostos que pagamos. 70%

das vezes as informações são negativas, tentam fazer a

população reivindicar seus direitos” (Homem, 16 anos,

Ensino Médio Incompleto, Classe C1).

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6. Formação da opinião

6.1. Permeabilidade às notícias

Para avaliar a permeabilidade às informações contrárias ao ponto de

vista do entrevistado foram apresentadas notícias hipotéticas que

contrariavam os posicionamentos fornecidos, informando que se tratava de

uma simulação e solicitando uma apreciação.

Confrontados com notícias hipotéticas contrárias ao seu

posicionamento, os entrevistados reagiram diferentemente: alguns não

aceitaram a notícia, discordando do seu conteúdo, desqualificando o veículo

de comunicação mencionado, ou relativizando a sua veracidade e

aplicabilidade, como se o fato referido fosse uma exceção à regra ou produto

de alguma circunstância específica, enquanto outros aceitaram o conteúdo

hipotético apresentado. Enquanto alguns aceitaram de forma mais

abrangente as notícias hipotéticas apresentadas e incorporaram o conteúdo

da mesma ao seu quadro perceptivo, outros se mostraram mais resistentes,

mantendo o seu ponto de vista.

6.1.1. Classe média

Neste segmento foram observados três tipos principais de

comportamento: aqueles que rejeitaram, em maior medida, as notícias

apresentadas (perfil posicionado à esquerda, politicamente definido, que

conhece mais os assuntos políticos); aqueles que aceitaram em maior

medida o conteúdo das notícias apresentadas (por valorizar os meios de

comunicação referidos, por não ter segurança em relação ao seu ponto de

vista); e aqueles que se situaram em um nível intermediário de

permeabilidade às notícias hipotéticas apresentadas.

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Ilustra o primeiro caso o entrevistado posicionado à esquerda,

partidariamente definido, que demonstrou alto nível de conhecimento dos

assuntos da agenda política atual. As notícias se referiam a um hipotético

manifesto pró pena de morte proposto por “justiceiros” de São Paulo, fazendo

contraposição à posição informada na entrevista contrária à pena de morte. A

segunda notícia informava sobre um hipotético Programa Desemprego Zero

direcionado ao funcionalismo público que implicava em aumento de vagas e

aumento salarial. O entrevistado negou, enfaticamente, o conteúdo das

notícias e fez apreciações críticas sobre as supostas alterações na linha

editorial das emissoras, o que seria mais um indício de descrédito.

“Ficaria estagnado porque uma notícia dessas seria uma

irresponsabilidade ser veiculada em canais com audiência

massiva (justiceiros propõem pena de morte). Não

acreditaria, por mais que a Globo seja tendenciosa, ela é

contra ferir direitos humanos. Não acreditaria, consideraria

que o padrão jornalístico (Record News) estaria caindo.

Não acreditaria, não daria para acreditar mesmo”.

(Homem, 47anos, nível superior incompleto, classe B2).

“Não acreditaria (programa desemprego zero). Primeiro

iria me informar quais as categorias que seriam

beneficiadas com tal programa. A Globo criticaria o

governo, se a notícia realmente fosse a favor do

funcionalismo público, o tom da mensagem seria diferente,

seria mais ameno na Record News. Não acreditaria.

Precisaria esperar mais tempo para averiguar se isso

realmente poderia ser real e mesmo assim acharia que um

grupo específico estaria sendo privilegiado” (Homem,

47anos, nível superior incompleto, classe B2).

Alguns entrevistados que entenderam perfeitamente o conteúdo

da notícia, ponderaram sobre os argumentos, mas mantiveram o seu ponto

de vista por apresentarem uma posição cristalizada sobre o assunto. É o

caso de um entrevistado com baixa apropriação política, nível de informação

mediano, que se manifestou a favor da pena de morte e ao ser confrontado

com o argumento contrario reafirmou sua posição.

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“Sou a favor da pena de morte porque as pessoas se

baseiam „vou para a cadeia, vou comer, dormir, tô numa

boa‟, a família fica amparada porque acho que o governo

dá uma parte de sustento porque tem filhos. Muita gente

se reabilita na cadeia, mas é a grande minoria. Para mim

poderia jogar uma bomba em cada cadeia e matar todo

mundo. Sendo que muitos são inocentes (entrevistas

iniciais)”.

“Está querendo dizer (notícia oposta), pelo que entendi,

que a pena de morte está para começar a ser colocada

em votação no país e que como o exemplo dos EUA a

pena de morte não reduz a criminalidade. Até deu

exemplo ali que 4 pessoas foram inocentadas na última

hora e diz ali que não é eficiente, não está adiantando o

que está adiantando é a reabilitação, as ONGs tentando

ajudar. Acho que tem bem menos criminalidade nos

países que tem a pena de morte as pessoas já pensam

duas vezes antes de fazer as coisas erradas. Se fosse um

caso de votação para que tivesse a pena de morte eu iria

votar para ter. Até acho que a pena de morte mata mais

que muita doença, se chegar na data da pessoa ser

executada ela será, vai matar quase que diariamente uma

pessoa, mas serviria de exemplo para as outras não

fazerem as coisas erradas. Muito inocente morre

injustamente com uma bala perdida de um vagabundo

atirando, um policial atirando, qualquer outra pessoa

atirando ou por que o cara estava bêbado no trânsito, tem

muita pessoa inocente que morre por nada, para mim não

faria diferença qualquer uma pessoa morrer” (Homem, 30

anos, segundo grau completo, classe C1).

Alguns desqualificaram o veículo de comunicação. Este é o

caso de uma entrevistada que possui nível intermediário de apropriação

política e pouco conhecimento sobre políticas e ações do governo. Possui

muita confiança nos meios de comunicação que escolheu a partir de

convicções religiosas (TV Record e Rádio Nazaré), tende a dar crédito ao que

é veiculado por essas emissoras e a desconfiar das demais, especialmente

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da TV Liberal que é totalmente desqualificada por ela a ponto de negar

credibilidade à notícia de igual conteúdo, quando veiculada por essa

emissora. Quando a lógica não lhe permitiu discordar do conteúdo

argumentou que desconfiaria do sentimento do comentarista. Nas entrevistas

iniciais a entrevistada mostrara-se desfavorável à privatização das empresas

estatais e favorável à pena de morte.

“Não, não deveria ser privatizada (as estatais) porque

assim, é do povo porque rende mais dinheiro e empregos

também para o povo. (entrevistas iniciais)”.

“Se fosse pela TV Liberal, acho que seria fofoca, das

pessoas estarem inventando, não seria o certo, não iria

acreditar. Bem, seria, se fosse realmente, por motivo eu

acreditar em todos os momentos da TV que eu assisto

(Record), eu ficaria acreditando e não acreditando, mais

eu acreditaria um pouco mais, eu confiaria mais ou menos.

Se fosse também pela rádio Nazaré, que é uma rádio

religiosa eu acreditaria, eu aceitaria sim que é verdadeira.

(4ª entrevista)”

“A favor (da pena de morte) porque eu acho que o próximo

fazendo o que ele faz, não faria mais, ele vendo que o que

aconteceu com outro, serviria de exemplo” (entrevistas

iniciais).

“Não confiaria, não. Seria a opinião da TV Liberal agora

minha mesma não. Não confiaria na TV Liberal, eu

concordaria com que ele tava falando, que não resolve o

problema, não acreditaria se fosse um comentarista, eu

não acreditaria no sentimento dele, concordaria com o que

ele tava falando, mais não acreditaria no sentimento do

comentarista”.

“Bem eu acredito no que o bispo fala (TV Record), se mata

um gera muito mais, se matarem mais, nasce mais, a

criminalidade aumenta, por que quem não trabalha, não

tem dinheiro então ele procura um jeito fácil que é

bandido, assim é a droga, eu acreditaria sim, concordaria

com o bispo com certeza. Na minha opinião eu não

concordaria com a pena de morte, concordo que não é a

solução para isso, por que a marginalidade iria crescer

muito mais” (4ª entrevista) (Mulher, 36 anos, primeiro grau,

classe C2).

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Em outros casos, observou-se maior abertura às notícias

contrárias com a aceitação total ou parcial da nova informação. A posição

favorável à pena de morte, amplamente apoiada pelos entrevistados, foi

também a mais relativizada na resposta à notícia hipotética que recusava

essa hipótese. Houve, inclusive, a negação total da idéia original. Esses

entrevistados tendem a ter preferências e opções políticas pouco

fundamentadas e muitas vezes contraditórias, evidenciando a ausência de

coerência política. Uma argumentação racionalmente fundamentada, ou

ancorada em apelo moral ou afetivo, tende a ser facilmente incorporada ao

discurso do entrevistado. Esse é o caso de uma mulher de 31 anos,

cozinheira, pouco interessada em política, pouco informada sobre políticas e

ações de governo, que relativizou sua afirmação original ou negou o que

dissera, tendendo a incorporar as novas informações. O apoio à pena de

morte foi relativizado a partir da argumentação contrária embasada na

possibilidade de morte de inocentes. Da mesma forma a entrevistada

posicionou-se, originalmente, como sendo desfavorável a demissão de

funcionários públicos. Frente à nova argumentação que recorre ao argumento

de ineficiência do funcionalismo concorda plenamente.

“No meu ponto de vista seria a punição pra essas

pessoas, matou, vai ser morto. Há punição assim vai pra

cadeia e sai, muitas vezes a pessoa sai de lá com um

pensamento bom, mas muitas vezes fica pior” (entrevistas

iniciais) “mas o que ela fala aí, é certo! se existisse, muitos

inocentes seriam mortos, como em outros países”. (4ª

entrevista)

“Não concordo com a demissão de funcionários públicos,

pois tem pessoas que já trabalham há muito tempo e

sairiam sem direito a nada e ainda decepcionadas”

(entrevistas iniciais). “Concordo” (4ª entrevista) (Mulher, 31

anos, segundo grau incompleto, classe C2).

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Um caso intermediário registra uma entrevistada que possui

posições políticas definidas e grau médio de coerência política. Trata-se de

uma mulher, empregada doméstica que ao casar tornou-se manicure para

complementar a renda familiar. É pouco apropriada politicamente, possui

grau intermediário de informações sobre o governo e políticas

governamentais. Acompanha pouco o noticiário da mídia. Apóia o PT.

Manifestou-se favorável à pena de morte. Quando confrontada com as

notícias hipotéticas mudou radicalmente de posição, incorporando o conteúdo

ao seu quadro perceptivo.

“Todos lá de casa somos petistas, mais a minha família

todos lutam pelo PT, porque os petistas lutam pelos pobre,

a gente somos guerreiras, somos lutadoras, então a minha

opinião é essa. Eu sei que sou petista mesmo e pronto

nada mais do que isso não.O petista ajuda muito os

pobres. O PT é de luta e de guerra, então ele ajuda muito

os pobres, as pessoas com o Bolsa família, Bolsa jovem,

então isso está sendo oferecido pelo PT, a gente

demonstra nosso trabalho para ele, eles não tem dinheiro

para dá pra gente, ajuda o pobre, somos guerreiros com o

coração. A favor (da pena de morte) porque eu acho que o

próximo fazendo o que ele faz, não faria mais, ele vendo

que o que aconteceu com outro, serviria de exemplo”(

entrevistas iniciais).

“Eu não concordaria com a pena de morte, concordo que

não é a solução para isso, por que a marginalidade iria

crescer muito mais.” (4ª entrevista) (mulher,47 anos,1º

grau, classe C2).

6.1.2. Juventude

Confrontados com notícias hipotéticas contrárias ao seu

posicionamento, os entrevistados reagiram diferentemente: alguns não

aceitaram a notícia, discordando do seu conteúdo, desqualificando o veículo

de comunicação mencionado, ou relativizando a sua veracidade e

aplicabilidade, como se o fato referido fosse uma exceção à regra ou produto

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de alguma circunstância específica. Outros se demonstraram mais flexíveis e

abertos, aceitando o conteúdo hipotético apresentado.

Entre aqueles que rejeitaram em maior medida as notícias

apresentadas, pode-se citar o entrevistado de 19 anos, que se defini

politicamente como centro, social democrata, com preferência partidária

assumida. É coerente, informado sobre os temas políticos do momento,

apropriado politicamente. Reafirmou sua posição inicial em relação às

notícias contrárias a seus pontos de vista. A mídia não interferiu em suas

posições. A primeira discutia um hipotético estudo comparativo sobre justiça

que indicava a justiça brasileira como eficiente e igualitária, a segunda

informava sobre um hipotético plebiscito sobre a pena de morte e a terceira,

sobre um hipotético e bem sucedido programa de demissão voluntária de

funcionários públicos. Em relação à pena de morte reafirmou posição

favorável o que poderia ser considerado uma incoerência em relação a seu

ideário político fundado no humanismo e no respeito aos direitos humanos.

“Me defino como um social-democrata, de centro porque

acredito que temos de ver os dois lados da moeda. Sim eu

tenho (preferência partidária) (pelo) PT. Um partido social

democrata, lutando sempre pelos mais fracos e oprimidos

da sociedade. (...) Não (a justiça não é eficiente e

igualitária). Acho que a justiça ainda não é válida para

todos, favorecendo os ricos e menosprezando os pobres.

Independente da emissora eu não acreditaria nessa

noticia (4ª entrevista). (...) Não (existe justiça). Existe

favorecimento quando se trata de uma pessoa que tenha

um poder aquisitivo maior que pode comprar a lei no

nosso país. (entrevista anterior) (...) Acredito que sim

(favorável à pena de morte), pois discrimino muito a lei de

hoje onde muitos matam roubam estupram e ficam

impune, pois acredito que precisamos de leis mais rígidas,

como pena de morte. (4ª entrevista). A favor (da pena de

morte). Pois só assim muitos pensariam duas vezes antes

de tirar a vida de seus semelhantes. (entrevista anterior)

(...) Acho que as demissões não são solução, e sim um

passo a mais para o desemprego e a miséria. (A resposta

seria) a mesma, pois acredito que independente da

emissora a informação não mudaria o contexto. (4ª

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entrevista) Não (deveria demitir funcionários). Porque

aumentaria a miséria existente em nosso país e não

resolveria em nada, continuaria apenas ajudando alguns a

embolsar mais” (entrevista anterior) (Homem,19 anos,

Ensino Médio Completo, Classe C1).

Entre aqueles que rejeitaram algumas notícias hipotéticas e

relativizaram outras se encontra a entrevistada de 20 anos, estudante de

direito e estagiária em advocacia, filha de militar e professora. Convive com

política desde cedo, a família do pai é peemedebista e a da mãe é petista,

não se interessa por política, não acompanha as notícias sobre governo. Não

é apropriada politicamente. Define-se como politicamente neutra, de centro,

capitalista. Ao confrontar-se com as notícias hipotéticas contrárias a seu

posicionamento original tendeu a discordar da nova notícia, por vezes

relativizando sua posição a partir das novas informações. Acerca da

demissão dos funcionários públicos manteve a posição original contrária às

demissões, sobre a Bolsa família relativizou sua posição sensibilizada pela

possibilidade de diminuição da desigualdade social, mas ainda argumentando

contra o assistencialismo. A notícia hipotética que defende a pena de morte

foi negada por ela mantendo posição contrária, a justificativa é de cunho

religioso. Acerca das informações hipotéticas sobre quotas para universitários

negros relativizou sua posição, sensibilizada pelo argumento de diminuição

das diferenças sociais, porém manteve a posição original. A mídia não

interferiu em suas definições.

“Neutra (auto definição política). Me situo no centro porque

os dois extremos giram em torno daquela questão

socialista e capitalista, de um lado o social e por outro lado

o capitalismo gera mais desigualdade ainda, então eu fico

ali no meio. Acho que as posições socialismo e

capitalismo eu me defino capitalista, sou capitalista e não

nego, até porque a visão que eu tenho do socialismo é

dividir, e eu não acho justo eu trabalhar que nem uma

condenada e dividir com uma pessoa que não faz nada da

vida. Não é preferência (partidária), é simpatia, pelo

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PMDB. (...) Eu acho (sobre demissão do funcionalismo)

que ia existir mais desemprego do que já existe, eu não

concordo com a demissão de funcionários, se eles fizeram

concurso público, estudaram e passaram, eu não vejo o

porquê da demissão. (...) Assim a respeito da

confiabilidade eu confiaria sim, o SBT, já tem muitos anos

e não se queimaria assim, na verdade é muito difícil, se

queimar um trabalho de longos anos.Eu acho que se uma

noticia corre publicamente é certo. (...) Acho que eu

confiaria mais ainda porque todo mundo publicando, seria

mais confiável ainda (4ª entrevista). Não (contra a

demissão), olha, se com esse tanto de funcionário público

não fazem direito, agora, tu imagina com menos

(entrevista anterior). (...) Olha eu não sou muito a favor (da

Bolsa Família), até porque eu já tinha falado e as vezes

acho que é mais um motivo deles fazerem filho, mais eu

acho que é mais uma tentativa deles diminuir a

desigualdade para tentar nivelar as pessoas. Não é

exatamente que eu não concorde, não sou muito a favor,

como eu falei, as pessoas terminam fazendo mais filho por

causa disso (4ª entrevista). Eu acho que esse programa

(Bolsa Família) termina dando margem para o povo fazer

mais filho, tem gente que nem trabalha mais, só pegando

essa bolsa família, penso que é errado (entrevista

anterior). (...) Só Deus tem o direito de tirar a vida, não sou

a favor da pena de morte. A minha opinião continuaria a

mesma, mais com relação a confiabilidade, como é uma

noticia eu confiaria, só que totalmente, só a partir de uma

lei que é escrita lá que a pena de morte é válida no Brasil

(4ª entrevista). (...) Na verdade eu falo assim a pessoa que

mata, vamos supor, matou uma pessoa, será que essa

pessoa merece pena de morte? Mas como Deus nos

colocou aqui no mundo, só ele tem direito de tirar a vida.

Então sou contra (entrevista anterior). (...) Racismo

infelizmente ainda existe, com relação às cotas das

universidades antes eu era totalmente contra, eu ainda

acho uma maneira de privilegiá-los só que, por outro lado,

a maioria dos negros não tem condição porque são de

família humilde, então é visto como uma tentativa de tentar

igualar em relação a nível social, não sou exatamente

contra, mas eu acho que essa foi uma solução que eles

encontraram para diminuir as diferenças. (...) Se fosse

divulgada no SBT, eu continuo sendo contra, eles tentam

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com isso amenizar as diferenças sociais, mas não é por ai

(4ª entrevista). (...) Eu acho que existe discriminação em

vários grupos, tanto do negro quanto do branco, e do

branco para o negro, e por incrível que pareça até mesmo

eu sofro, porque tenho traços mestiços, sou descendente

de japonês, volta lá para o teu país, não é só do branco

para o negro, o negro também faz discriminação. Quando

foi implantado cota na universidade federal para negro, eu

entendo isso como discriminação. Ta dando a entender

que o negro não tem capacidade de passar, ta

automaticamente dizendo que o negro é burro. A cor da

pele não interfere no teu intelecto, a ciência já provou isso,

a cor da pele não interfere em nada (entrevista anterior)”

(Mulher, 20 anos, Superior Incompleto, Classe B1).

Posicionamento semelhante em relação às notícias foi

encontrado no caso do jovem, cuja opinião é a seguir descrita.

“Ah eu me defino, não sei muita coisa em política, sabe,

mas procuro tá sempre em contato com as principais

notícias, eu não gosto muito de política porque não é o

meu interesse, mas procuro tá sempre por dentro das

principais notícias. Eu sou do meio, centro, flexível, sabe,

se for com o interesse de ajudar, eu sou tanto direita

quanto esquerda. Como um liberal (se auto-define). Liberal

é ser flexível, é tu estar aberto as coisas boas, aberto a

aprender coisas, sabe. Ser liberal à união de sexo oposto,

tipo coisas assim, sendo para o ser humano ser feliz eu

sou liberal. (...) Não, não tenho preferência, eu sou PMDB

e PT. (...) Olha eu sou contra isso aí (demissão de

funcionários) porque para mim programa de demissão é

uma coisa que eu não tenho interesse nenhum, eu acho

que o governo ao invés de ficar inventando esses

programas de demissão, tem que inventar alguma coisa

para admitir, para a pessoa trabalhar e não para a pessoa

querer sair do serviço (4ª entrevista). (...) Demitir

(funcionários públicos) só causa mais transtorno, porque

vai aumentar o índice de desemprego. Tem que ter

bastante pessoas, deveriam ser mais qualificadas, tem

pessoas lá que não sabem o que estão fazendo (noticia

anterior). (...) Olha, pra mim, eu não tenho muita opinião

sobre isto, porque pra mim é um fato que racismo e

desigualdade é uma coisa que não existe, eu acho que

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tem que aumentar a punição, sabe. Os políticos tem que

ser mais severos nessa lei e pronto, pra mim eu discordo

disso aí, pra mim não existe racismo nem desigualdade.

Procuro evitar qualquer tipo de comentários sobre isto, até

porque tem pessoas muito importantes na minha família

que são negras (4ª entrevista). (...) Na minha opinião não

(se recusa a falar sobre o assunto), eu tenho pavor disto

(entrevista anterior). (...) Sei que é uma notícia séria

porque eu sei que tem esses problemas aí de violência e

criminalidade, só que, eu acho, (...) que a desigualdade e

a má distribuição de renda são os principais culpados (4ª

entrevista). Existe (criminalidade) em todos os lugares, o

Brasil tem bastante. A criminalidade está estável porque

diariamente eu vejo que a polícia tem dado bastante conta

em termos de município, tem diminuído muito. Agora, em

termos de Brasil em geral tá estável (entrevista anterior).

(...) Olha, a minha opinião é quem matou tem que ser

morto. Eu sou a favor da pena de morte. Na Globo, ou em

toda a mídia, eu só tenho uma opinião (4ª entrevista). Eu

sou a favor (da pena de morte), matou, tirou uma vida tem

que ser punido. Porque do mesmo jeito que a pessoa tirou

a vida de alguém, não é só da pessoa que tirou, eu acho

que afeta toda a família, tirou a vida de várias outras

pessoas além daquela que foi morta. Primeiro eu sou a

favor da reabilitação, caso não houver reabilitação tem

que pagar com a vida (noticia anterior)” (Homem, 24 anos,

Ensino Médio Completo, Classe C1).

Entre os que aceitaram em maior medida o conteúdo das

noticias apresentadas, mostrando uma maior abertura à mídia, está o

entrevistado de 23 anos, desinformado, não apropriado políticamente,

mostrando-se aberto às novas informações, tendeu a incorporá-las a seu

quadro perceptivo. Auto define-se como de centro, conservador, sem

preferência partidária. Frente aos novos argumentos que buscavam

desconstituir a pena de morte como punição, sensibilizou-se e incorporou a

informação, o mesmo acontecendo em relação à criminalidade e a noção de

política.

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“Olha, na minha casa, na minha política, sou uma pessoa

normal, sossegada, só eu e minha esposa, então sou uma

pessoa na minha, tranqüila. (...) (Posição política) Centro,

nem na esquerda, nem na direita, eu fico no meio, porque

eu sou muito desligado em termos de política. Eu preferiria

o lado que não tivesse (uma postura política), pra me

afastar de tudo, debate, política. (...) Essa mesma notícia

(pena de morte) se fosse bem clara igual tá aqui, eu

mudaria de idéia com certeza, porque ele tá contando uma

história que mexe com a gente, você vê que realmente

aconteceu e realmente acontece na vida do ser humano.

Eu preferia ver ela no jornal, mas no meu modo de pensar

o que fez a gente racionar foi pelo modo que foi escrito e o

que realmente acontece na vida do ser humano, então

isso que me fez mudar de idéia e de acreditar, como que

fosse num jornal, todo especificado „certim‟ como que

aconteceu, como que sobrevive uma pessoa, como ela

reage sobre isso, isso que me fez mudar de idéia, tanto se

fosse no Jornal Nacional, na TV fechada, aberta, internet,

depende do jeito que ela foi escrita. E também é uma

estória que você vê que realmente acontece (4ª

entrevista). (...) Eu seria a favor, porque se a pessoa fez

coisa errada já era eliminado já, que ai já evitava isso no

Brasil. Esse lance de roubar, matar já pensava duas vezes

antes de fazer. Ai sim o Brasil ia ser um país verdadeiro (

entrevista anterior). (...) Acho que é impossível acabar

com a criminalidade, porque a maioria do pessoal estão

envolvidas na criminalidade. Políticos dão força pro tráfico,

incentivam as drogas, cada dia estão aumentando o

dinheiro deles. Realmente deixa mesmo (presos pior que

entraram), eles vão preso, lá não falta droga, não falta

celular, não falta comida. Tem um incentivo, o policial já tá

tudo ali aliado a eles, então hoje em dia as prisões nas

cidades maiores funcionam dessa forma. Inclusive tem

muitas cadeias, hoje em dia, que tem o centro de

formação, que ensina às pessoas artesanato, há várias,

tudo quanto é tipo de serviço. É muito produtivo, se

realmente tiver forças pra acontecer isso em todos os

lugares inclusive nas piores cadeias que tem muita

criminalidade. Se eu escutasse num rádio teria que ser

muito bem explicado, igual foi explicado aqui, eu preferiria

ter visto ela na revista, pra eu raciocinar tudo aquilo, que é

um modo de pensar, aí não iria estar essa confusão, seria

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melhor. Estar incentivando as pessoas, igual fala ai, não

destruindo forças, construindo forças, fala pra que tudo

acabe de forma produtiva, seria bom. Eu acho que deveria

ser dessa forma que tá acontecendo, dessa forma que a

gente tá vendo aí. Teria que acontecer assim, assim

resolveria, eu creio que sim (4ª entrevista). (...) Ah porque

falta segurança pública. Tem que investir em segurança

pública, pegando dinheiro e investindo naquilo e acho que

tem que ter mais policiamento nas ruas, ai vai ter mais

segurança pública (entrevista anterior) (...) Bom, o que eu

entendi ai da política, que tudo se forma política, igual eu

tenho meu serviço, tenho meu gerente, tenho o

proprietário, sempre tem que ter um acima da gente pra

dar, igual eu falei ai, pra dar serviço de rua, tem que ter o

prefeito pra tá, secretário de obras, então sempre tem que

ter uma pessoa nomeada pra tomar as atitudes pra, igual

na, na família, tem o pai de família, ele é o político da

família, ele que dá as ordens na família. Então eu penso

assim, em geral, tem que ter a política mesmo na

sociedade. Tem que ter o governante, sem um

governante, fica tudo bagunçado, a pessoa faz o que quer

e não funcionaria com certeza (4ª entrevista). (...)

(Definição de política) Uns querendo ser melhor que os

outros, uns querendo ganhar na conversa, querendo falar,

sei lá, não sei nem explicar (entrevista anterior)” (Homem,

23 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C2).

Aqueles que rejeitaram as notícias hipotéticas indicaram

ausência de lógica ou confusão, baixa apropriação política, indefinição

quando a sua localização no jogo político, tendendo a pouca receptividade às

novas notícias. É o caso da jovem de 22 anos que desgosta profundamente

de política, tem baixo grau de coerência política, afirma não entender nada de

política e não tem nenhum interesse pelo assunto. Ao confrontar-se com as

notícias hipotéticas contrapostas às posições defendidas, reafirmou suas

posições, desqualificando o meio. A primeira notícia hipotética discutia uma

noção de política abrangente, não identificada apenas com a ação dos

políticos, noção esta recusada pela entrevistada. A segunda notícia abordava

os efeitos das privatizações. Desconhecendo o conteúdo da questão, a

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entrevistada focou-se na discussão emprego/desemprego, reafirmando sua

confusa posição inicial contrária ao desemprego, a terceira notícia interrogava

sobre a possibilidade de mudança de classe social, sua posição foi, nos dois

momentos, afirmativa quanto a essa possibilidade, a quarta notícia hipotética

considerava a justiça brasileira eficiente e igualitária, a entrevistada reafirmou

sua posição contrária, a quinta anunciava um hipotético plebiscito sobre a

pena de morte, após uma digressão errática onde tende a concordar e logo

discorda, conclui por discordar reafirmando sua posição inicial.

“Eu não acho (que política seja isso), não tem nada a ver

com essa coisa de família, nem de jogar lixo na rua (4ª

entrevista). Uma m... (a política). Eu não gosto de política,

não gosto nada mesmo, eu não me interesso em nada de

política, ponto. Uma droga, vai começar tudo de novo, no

dia a gente vai ter que votar. Política é um monte de

homens ou mulheres ganhando à toa, pra fingir que vai

fazer as coisas pras pessoas e não faz nada (entrevista

anterior). (...) Não sei (definir-se), eu não entendo nada de

política. Não me interessa, não entendo (situar-se), eu só

voto mesmo porque tenho que votar. (...) Não lembro não

(preferência partidária), mas as pessoas que eu já votei

são desse partido (PDT) (entrevista anterior). (...) Eu acho

que realmente isso ocorreu, ficou muita gente

desempregada, sem saber o que fazer. Eu acho que

realmente se não tivesse ocorrido muita gente não teria

perdido o emprego (4ª entrevista). (...) Eu acho que

deveria ser sim (privatizadas, as estatais), pra dar novos

empregos. Eu acho que tem (que privatizar), porque são

empresas que já têm funcionários, que vai dar vários

outros empregos. E tinha que fazer outras, abrir outras

(empresas privadas) (entrevista anterior).

(...) Eu discordo (da dificuldade em mudar de classe),

porque se você não correr atrás, como é que você vai

conseguir? Você vai ficar parada e não vai fazer nada,

isso que eu acho (4ª entrevista). (...) Não tem como você

mudar de uma classe para outra se você não fizer esforço.

Depende, tem que lutar muito, no meu modo de vista, tem

que trabalhar, como é que você vai conseguir as coisas se

você não trabalhar pra conseguir seus objetivos; como é

que você vai comprar um carro, se você não trabalhar pra

comprar? Acho que tem que lutar, trabalhar muito

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(entrevista anterior). (...) (Sobre justiça) Porque, vamos

supor, quem tem dinheiro, acontece alguma coisa lá. A

pessoa vai, só de chegar lá e conversar, ou se for

conhecido, já logo muda totalmente o que eles fazem com

ele. E o pobre não, o pobre não querem nem saber o que

aconteceu, se ele é realmente culpado ou inocente (4ª

entrevista). (...) Não (há justiça). Porque tem muita gente

inocente que paga pelos pecadores. Muita gente que

realmente é culpado e cai em cima de uma pessoa que

não tem culpa, a pessoa leva a culpa de uma coisa que

não fez (entrevista anterior). (...) (Pena de morte)

Realmente, não é tendo pena de morte que a pessoa vai

pagar pelo que fez, mas se no Brasil tivesse, eu acho que

as pessoas respeitariam mais e que teriam medo. Eu acho

que não é isso que a gente quer pro nosso país, de ter

pena de morte, mas eu acho que isso resolveria, diminuiria

a violência, esse negócio de muito bandido, eu acho que

iam respeitar mais, ficar com medo, qualquer coisa ia ser

ou prisão perpétua ou pena de morte. Porque eu acho

que no caso os bandidos teriam medo, tipo no Brasil você

mata uma pessoa, você vai lá, se responder a um

processo, se for lá na cadeia registrar alguma coisa, tem

caso que nem é registrado nada. Morreu, enterrou e

pronto. Lá fora não, é mais rígido, prende, às vezes nem é

prisão perpétua nem nada, mas tem aquele tempo de

cadeia; eu acho que a lei lá pra fora é mais rígida que no

Brasil. Eu só concordo mesmo que tinha que ter no Brasil,

eu concordo que tinha que ter, não mudaria minha opinião

(4ª entrevista). (...) A favor (da pena de morte), porque eu

acho que quando tem pena de morte, as pessoas já ficam

com mais medo de fazer as coisas, por causa da punição.

Porque lá nos EUA, por exemplo, lá uma pessoa se

roubar, assaltar, não sei o que, tentar estupro, aquela

pessoa vai presa e já vai ser julgada por isso, pena de

morte ou prisão perpétua. Aqui no Brasil não, por isso é

que acontece essas coisas, porque não tem. Uma pessoa

mata outra hoje, amanhã vai a julgamento e já vai estar

solto (entrevista anterior)” (Mulher, 22 anos, Ensino Médio

Incompleto, Classe C1).

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6.2. Relevância dos meios e outras referências

6.2.1. Classe Média

O veículo de comunicação foi considerado relevante para a

aceitabilidade do conteúdo da notícia. Em alguns casos a notícia foi aceita

totalmente e incorporada ao esquema receptivo do entrevistado, em outras foi

aceita parcialmente até posterior confirmação através de outros meios, o que

reafirma a relevância do meio para a credibilidade da notícia e sua aceitação.

É o caso do entrevistado que frente a uma notícia que lhe causa impacto

negativo e se opõe a sua posição original tende a crer na veracidade da

notícia devido a confiança que deposita no veículo que a divulga e nos meios

de comunicação em geral.

“Eu ficava pasmo com a notícia (justiceiros propõem pena

de morte). Ficaria pensativo, olhando bem se é verdade

mesmo, aquilo mesmo, que essa notícia está proliferando,

e acreditando na pessoa do jornalismo, né? Afinal, porque

a rede Record tem uma parte de jornalismo que é de

credibilidade mesmo. Ficaria assim porque eu confio na

Rede Record, na pessoa do jornalismo. A gente fica

assim, pasmado, Oxe, mas isso ta acontecendo

realmente? aí a gente vai pra outros jornais pra conferir

mesmo. Se passar em outros, a gente vê que é verdade

realmente Eu acreditaria. Eu acreditaria na informação,

agora, sou contra no que está escrito, da pena de morte. E

todos os canais televisivos ta mostrando. Aí dá pra

perceber que não tem camuflagem, não tem engodo. A

notícia não ta sendo forjada. (...) Eu acreditaria (quotas

para negros na universidade). Acreditaria porque, em

parte, a TVE ainda fala um pouquinho sobre a

discriminação racial. Eu já vi negro trabalhando lá, negro

trabalhando no noticiário. Aí poderia até dizer que daria

100% de crédito pra essa notícia na TVE. Porque, como

eu falei, ela mostra um pouquinho da realidade sobre o

negro, afro-descendente. Interpretaria da seguinte forma:

que existe racismo mesmo na universidade, onde os

brancos preenchem todas as cadeiras e não quer que o

negro preencha essas cadeiras. Realmente, é uma

verdade. Eu acreditaria. Eu acreditaria na notícia, porque

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aí já ta sendo um fato verdadeiro. Eu veria que realmente

isso está acontecendo, veria que o racismo no Brasil

realmente está crescendo, onde os brancos querem

realmente ter mais poder. Querem realmente ocupar as

cadeiras que acham que cabe só a eles” (Homem, 40

anos, fundamental incompleto,classe C2).

Em outros casos os entrevistados mostraram-se indiferentes

quando ao meio que veiculou a notícia, voltando-se mais ao exame do

conteúdo da informação para emitir seu juízo a respeito do assunto. Esse é o

caso da entrevistada que se posicionou a respeito da criminalidade pautando-

se apenas pelo conteúdo da notícia e afirmando que os meios de

comunicação não interferem em suas opiniões.

“(Se fosse divulgada pela Rede Globo) eu também me

manteria com a mesma opinião, porque foi o que eu falei,

notícia só vai mudar de canal, mudar de emissora, a

notícia é a mesma, eu acho que o problema vai continuar

sendo o mesmo. Na Globo eu também me manteria com a

mesma opinião. Independente dela estar na Record, acho

que eu pensaria desse jeito, continuaria pensando desse

jeito. Porque eu acho que falando da criminalidade, de

bandido, eu acho que não é porque passa numa emissora,

que nas outras o bandido vai ser visto de outra maneira.

Acho que bandido e criminalidade é visto do mesmo jeito

em qualquer emissora, em qualquer jornal. Eu continuaria

pensando desse jeito, porque não é porque a notícia está

em todas as emissoras, no alto falante, no rádio, no jornal,

que ia mudar alguma coisa, a notícia é a mesma. Essa

notícia aí da justiça, eu acho que na Record, no SBT e até

na Globo, essa é a minha opinião” (Mulher,33 anos, nível

superior completo, classe B2).

A rastreabilidade das informações e fontes utilizadas mostrou

ser a mídia a principal referência e, em segundo lugar, as conversações com

pessoas próximas. As conversações com familiares, amigos e pessoas do

círculo de relações pessoais, mostraram-se relevantes nos casos em que as

pessoas são escassamente informadas, pouco apropriadas da política. Para

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estas pessoas o círculo de relações pessoais inspira mais confiança. São os

casos daqueles entrevistados que assistem TV e levam em consideração as

informações recebidas, mas as consideram insuficientes para sedimentar sua

opinião.

“A televisão vai mostrar ali a imagem, o perfil lá do político,

acho que é isso; apesar de eu não me ligar, mas se eu

tiver que ter uma opinião, eu vou assistir ali, depois se eu

tiver que pesquisar, pra mim, é a televisão e depois a

Internet. Através de conversas (firma posições). Pessoas

que eu confio, que já viveram essa situação, acho que a

conversação ia formar mais, ia ajudar mais a formar minha

opinião” (Mulher, 33 anos, nível superior incompleto,

classe B2).

“No meu caso, eu não me interesso muito por esse

assunto (política), o pouco que eu vejo e ouço geralmente

é a televisão. Para mim é mais importante a conversação

com as pessoas. E não com muita freqüência, geralmente

com meu pai eu tenho esse tipo de conversa. Eu só

conversei sobre o governo federal, foi com meu pai e

assisti televisão, e a partir daí comecei a formar alguma

opinião e a televisão não passou credibilidade, eu não

tenho interesse na política, e por isso não sei, mais eu

assisti alguns debates e não me passou credibilidade, eu

ouvi algumas coisa, mais foi só” (Mulher, 16 anos,

segundo grau incompleto, classe C1).

Foi atribuída grande relevância e credibilidade aos

comentaristas, colunistas, apresentadores, repórteres e blogueiros que

emitem opiniões sobre os assuntos políticos e governamentais. Aqueles que

não dominam os termos especializados da política e são relativamente pouco

apropriados, particularmente, são os que mais se valem destas referências

como mecanismo para formação de opinião. Alguns jornalistas são

considerados confiáveis porque não costumam se posicionar, passando a

imagem de isenção. Outros são apreciados pelo oposto, porque expõem

suas opiniões com contundência. Alguns comentaristas construíram uma

trajetória de credibilidade possuindo hoje um público cativo como é o caso de

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Boris Casoy. Quando a notícia é apresentada pelo comentarista em que o

entrevistado confia, a credibilidade é total. Quando se soma credibilidade do

apresentador à ampla aceitação da emissora e do programa, a aceitabilidade

é ainda maior. É o exemplo do Jornal Nacional da Rede Globo, conduzido por

William Bonner e Fátima Bernardes.

“Um repórter que fala bastante sobre política é o Lasier

Martins da RBS de Porto Alegre. Gosto dele porque ele

fala, bota a cara ali na TV e fala, não está nem aí”

(Homem, 30 anos, segundo grau completo, classe C1).

“Jô Soares porque ele é um profissional que pega desde a

fofoca até a notícia mais séria e ele não tem medo, ele

leva para a mídia a verdade mesmo. Marília Gabriela e

Arnaldo Jabbor” (Mulher,43 anos,superior completo,C2).

“Arnaldo Jabor, Boris Casoy, Alexandre Garcia, Mainard,

Caio Bindler, Mônica Waldvogel. Todas do Saia Justa, a

Maitê Proença. Como o programa é deles e eles vendem

para a Globo eles tem independência. Os que mais

influenciam na formação da minha opinião são o

Alexandre Garcia, Arnaldo Jabor e o Boris Casoy, que

pelo fato de estar na TV aberta eu não olho muito, mas

gosto muito dos comentários deles. O programa da Marília

Gabriela é muito bom, gostava do Jô (Homem, 44 anos,

nível superior completo, classe B2).

“Eu acreditaria mais, porque no caso quem tá dando a

notícia é Boris Casoy, né? Um jornalista de renome no

país, e a gente acredita nas notícias e nas opiniões que

ele dá. Já criou credibilidade com o povo brasileiro. Eu

concordo com a opinião dele, em gênero, número e grau”

(Homem, 40 anos, fundamental incompleto,classe C2).

“Boris Casoy acho que influencia muita gente, o Mauricio

do GNT que fala de bolsa, a do Jornal do Brasil de manhã

economia e política, a Miriam Leitão” (homem, 32 anos, 2º

grau completo, B2).

“Em jornalismo, Boechat, Joelmir Betting, Márcia Peltier,

Leda Nagle, o jornalista do programa Roda Viva e os

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políticos Marina Silva, o Ministro da Saúde, Gabeira,

Heloísa Helena. Cada um a seu modo, quando vem a

público pra expor suas idéias, eles as colocam de forma

que aquilo ali me chama atenção e dentro do que eu

penso, vem de encontro às minhas idéias e forma também

a minha opinião pra determinados assuntos” (Mulher, 36

anos, nível superior completo, classe B2).

“Eu gosto muito do Boris Casoy e na Fátima Bernardes

(concorda) mais com o Boris Casoy. São pessoas idôneas

que estão passando informações não só para mim ou para

minha região, mais para todo o mundo” (Homem, 27 anos,

segundo grau incompleto, classe C1).

“Eu sempre gosto de escutar a opinião do Ronaldo Porto

(político local que apresenta um jornal bem popular),

porque ele passa uma segurança” (Mulher, 31 anos,

segundo grau incompleto, classe C2).

“Roberto Cabrini, Caco Barcellos, Eduardo Suplicy, Aloísio

Mercadante, Heloisa Helena, Aécio Neves, Luciano Huck.

Costuma concordar com as opiniões de Fernando Mitre,

porque ele é muito coeso muito critico, ele sempre procura

colocar assim: ta aqui oh! você população, você acha que

isso é certo? Tem sensatez e imparcialidade” (Homem, 37

anos, segundo grau completo, classe C1).

“Arnaldo Jabbor. Ele realmente tem uma forma de colocar

as palavras, que faz a gente pensar de maneira mais

ampla. Concordo com Arnaldo Jabbor” (Homem, 26 anos,

nível superior incompleto, classe B2).

“Com analistas (concorda) porque eles não vão inventar a

notícia. Boris Casoy parece que é um cara bem entendido

Na rádio Márcio Dotti. Concordo mais com Alexandre

Garcia e Boris Casoy. Acredito mais no Alexandre Garcia

por ele ter trabalhado em rádio, televisão, por ser

reconhecido dentro e fora do país. Porque a gente vê eles

falando doa a quem doer. Coloca o dedo na ferida. São

pessoas estudadas, certo? e por isso as pessoas acabam

confiando mais” (Homem, 21 anos, segundo grau

completo, classe C2).

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“Não é muito de guardar nome, mas confia no pessoal da

CBN, no Heródoto Barbeiro. Eles são esclarecidos e

imparciais com relação à política. Como ele confia, ele

acaba concordando com as opiniões deles” (Homem, 47

anos, nível superior completo, classe B2).

“Eu gosto do Carlinhos do Esporte que todos os dias ele tá

na rádio Terra e ele têm momentos que ele vai atrás, a

gente liga né, mostra o problema pra ele, depois ele

mostra no olha o problema tal, a gente tá cobrando da

prefeitura. Tem outro repórter (Adolfo Campos) mas não

lembro o nome dele, é da rádio Difusora, porque o que

tiver que falar ele fala, independente de ser uma pessoa

influente ou não, pode ter feito horrores no passado, mas

se hoje ele tiver fazendo alguma coisa boa ele fala. Eu

acho que de uma maneira direta mesmo, principalmente

do Adolfo Campos, às vezes eu tô na dúvida, mas aí

aquele assunto tá, o ano que vem mesmo já vai começar,

ele fala assim olha fulano faltou tantas vezes nas sessões

da Câmara, toma cuidado com tal fulano, aquele que

desviou verba, aquele que votou num projeto que vai

prejudicar o trabalhador. Então eu acho que ele tem uma

importância grande na minha opinião” (Mulher, 35 anos,

segundo grau completo, classe C2).

“Raimundo Varela, tem Boris Casoy, aquele também da

Record Marcos Hummel. Prefiro mais o Raimundo Varela,

as opiniões dele é que valem. Tem aquele menino que faz

o Jornal das sete, Jeferson Beltrão. Concordo com a

opinião de Raimundo Varela sobre política e governo”

(Homem, 40 anos, ensino fundamental incompleto, classe

C2).

“William Bonner e Fátima Bernardes, por eles trabalharem

a muito tempo com isso, passando informações corretas.

E porque o Jornal Nacional é o programa mais importante

da televisão, de uma forma geral. Varela, eu acho que ele

quer a justiça, eu acho que ele quer mostrar sempre o que

está errado. Ele fala brigando. (concorda) Com William

Bonner e Fátima Bernardes, porque eles têm que passar

pra gente as informações certas e justas. Eles tão ali pra

gente se espelhar neles, entendeu? A opinião deles têm

que ser o mais correto possível porque é tipo uma forma

de a gente se espelhar neles. Como eu não gosto de

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política, eu acho que eles me incentivam a aceitar a

opinião deles sobre política e governo. Eles me

influenciam a gostar daquilo que eles gostam” (mulher, 21

anos, nível superior incompleto, classe B2).

“Dr. Drauzio Varela, as coisas que ele passa, transmite, eu

acho que você pode confiar, porque eu acho que são

reportagens muito boas, que aproveita. No jornal da

manhã da Globo, (concorda com) um outro jornalista que

faz comentários junto com Renato Machado.O jeito que

eles se colocam, se posicionam pra falar, pra explicar, eles

falam de um jeito que você possa entender, porque tem

gente que tenta falar com palavras bonitas, mas você não

entende nada” (Mulher, 33 anos, nível superior

incompleto, classe B2).

6.2.2. Juventude

A mídia apresentou-se como a principal fonte de informação

para a formação da opinião da maioria dos jovens entrevistados. A opinião de

pessoas do seu círculo de relações pessoais, como familiares e amigos,

também constituem referências importantes. O mesmo pode ser dito em

relação aos comentaristas, colunistas, repórteres, apresentadores.

A relevância da mídia é tão expressiva que alguns entrevistados

mudam de opinião quando as notícias são comunicadas por meios que lhes

transmitem credibilidade. É o caso do entrevistado que, frente a uma notícia

contrária a sua opinião questiona seu conteúdo em função da referência de

que a mesma havia sido veiculada em um jornal considerado de baixa

credibilidade. Porém, quando mencionado que a notícia fora veiculada por um

meio confiável, o jovem reconsiderou a possibilidade de a notícia ser

verdadeira e, posteriormente, incorporou informações da notícia em sua

argumentação, reforçando a mudança de opinião: “Aí eu poderia acreditar

porque é um jornal mais sério” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto,

Classe C1).

Para alguns entrevistados, repórteres, comentaristas ou

colunistas são importantes para a formação de suas opiniões. Os mais

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lembrados foram os apresentadores do Jornal Nacional. A credibilidade do

meio de comunicação respeitado se transfere em confiança depositada às

personalidades que apresentam as notícias e expõem opiniões ao público.

É o caso do jovem que forma a sua opinião a partir de veículo

de comunicação considerado confiável e dos jornalistas conceituados que

trabalham neste meio. Passou a gostar destes apresentadores em função da

familiaridade pelo acompanhamento do Jornal Nacional com o pai desde a

infância.

“Assistindo televisão, rádio e jornal, você já tem a sua

conclusão formada junto ao que você viu e leu, não

precisa debater na rua com ninguém. (...) Willian Bonner e

Fátima Bernardes, no Jornal Nacional, eles transmitem,

pelo menos para mim, uma confiança muito grande. Eu

vejo eles desde pequeno, porque meu pai era viciado no

Jornal Nacional (...) Jornal é coisa séria, ninguém está ali

pra brincar e as pessoas que estão ali, as notícias que

eles passam ali, são notícias verdadeiras, que você pode

depois tentar averiguar em qualquer outro lugar, que vai

ver que é verdade” (Homem, 18 anos, Ensino Médio

Completo, Classe C2).

Este também é o caso da jovem, que afirma confiar no mesmo

jornal e em seus apresentadores por possuir o hábito de assisti-lo com a

família.

“Eu acredito bastante porque eu fui criada assim, (...) em

ta assistindo o jornal da Globo, então eu acredito muito no

que passa no jornal das 8 na Globo, fui acostumada assim

desse jeito (...) é o jornal que a minha família me ensinou

a ter confiança, não sei se é porque tudo mundo aqui

assisti, se é pela confiança na emissora ou naquele jornal.

(...) Eu não procuro saber se ela é verdadeira ou falsa,

mas se ela passa simultaneamente em cada jornal, em

cada emissora eu me baseio assim de que seja

verdadeira, se a emissora ta passando: ela é verdadeira

(...) Eu diria que em quem confiou bastante (...) no Willian

Bonner e Fátima Bernades do Jornal Nacional, pelo tempo

deles estarem nesse ramo e as pessoas acharem legal o

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que eles fazem” (Mulher, 16 anos, Ensino Médio

Incompleto, Classe B2).

Outros jovens consideram que a opinião de pessoas próximas,

como colegas de trabalho, amigos e parentes são mais confiáveis do que as

informações transmitidas pela mídia. No entanto, isto não reduz a importância

que estas pessoas atribuem aos meios de comunicação.

“Eu acho que com as pessoas com quem trabalho ou

meus familiares, a credibilidade da informação pesa

sessenta por cento a mais do que em relação à mídia”

(Homem, 19 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C2).

Em geral, os entrevistados manifestaram que tanto a mídia

quanto a opinião de outras pessoas são importantes para a formação de suas

opiniões. O principal observado é que as informações devem coincidir com os

elementos do esquema perceptivo da pessoa que recebe a informação.

“Considero um pouco de cada porque tem parte dos

assuntos que eu acredito mais no que diz na TV e tem

partes que o que as pessoas falam parece ser mais real, é

uma mistura dos dois então. (...) Nessa história da gripe

agora na TV falam muito que está parando, mas não sei

se acredito muito, acho que acredito mais nas pessoas

que falam que está cada vez tendo mais casos de gripe,

há pessoas que dizem conhecer alguém que está com a

gripe. (...) Considero mais as notícias da Rede Globo, mas

nada que seja muito relevante para eu me posicionar a

favor ou contra” (Mulher, 19 anos, Ensino Superior

Incompleto, Classe B1).

Assemelha-se também o caso do jovem que indica que, apesar

de consultar diferentes fontes de informação e todas surtirem efeitos sobre

sua opinião, é a partir de seus próprios critérios que irá selecionar o que lhe

parece verdadeiro.

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“Ah eu acho que tudo influencia num pouco. Porque você

escutando na mídia você vai se comunicar com as outras

pessoas, às vezes, ai vai tudo aquilo lá influenciar. O que

você ta escutando, põe em prática conversando. (...) A

mídia é o principal porque eu escutei de lá primeiro. (...)

(Formadores de opinião) William Bonner, Fátima

Bernades, eu acho eles muito profissionais. (...) Eu não

vejo do começo ao final, mas eu acredito nos dois no que

eles estão falando lá, no que está acontecendo no mundo.

(...) A gente sempre tem uma noção do que eles estão

falando, lógico que você sabe que aquilo ali pode ser

verdade, como pode ser mentira. Depende, varia de cada

caso que acontece. Uma decisão de mim, depende de

cada conversa, você tem uma certeza, que se aquilo ali é

verdade, é de você mesmo, você sabe se é verdade ou se

não é. De acordo com o que conversa, com que ouviu

falar, é um critério de você mesmo” (Homem, 23 anos,

Ensino Médio Incompleto, Classe C2).

Jovens com posicionamentos mais críticos em relação à mídia

atribuem-lhe menor relevância na formação de suas opiniões. Em geral,

buscam argumentar contrariamente às informações que lhes são

transmitidas. É o caso do jovem posicionado à esquerda no espectro político,

que possui baixo grau de confiabilidade nos meios de comunicação e atribuí

precariedade às informações veiculadas. Afirma que chegou as suas opiniões

através de conhecimentos que adquiriu na escola e nos livros de história,

relacionando-os com as notícias veiculadas pela mídia. Para ele as

conversas e vivências são mais importantes, pois “é a realidade”.

“O jornal tenta te convencer que tu que tá errado, que tu

que tem que se qualificar e não põe a culpa no sistema

econômico (...) é o sistema na verdade que é injusto, e

não dá oportunidades para todos e só visa o dinheiro e a

televisão não fala que é isso, sempre põe a culpa na

própria população. (...) (Mais importante para a formação

da sua opinião) Com certeza, a conversação, pois é a

realidade. (...) Por exemplo, o governo vai informar dados

de que a pobreza está caindo, mas o que a gente nota é

que a saúde, educação ta piorando, a realidade é

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diferente” (Homem, 21 anos, Ensino Médio Completo,

Classe C1).

6.3. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos

A rastreabilidade das informações obtidas e a simulação da

reação às notícias hipotéticas apresentadas possibilitaram delinear as

principais lógicas utilizadas para a interpretação dos acontecimentos

políticos. A experiência política anterior e a percepção geral do mundo

político também se mostraram relevantes para o delineamento das lógicas

utilizadas.

6.3.1. Classe Média

De modo geral, o conteúdo de uma notícia é aceito quando se

enquadra razoavelmente nos esquemas perceptivos dos entrevistados. Eles

consideram verdadeira a notícia que apresenta elementos compatíveis com

os blocos pré-estruturados de idéias que explicam as características do

mundo político. Por isto, são amplamente aceitas, as notícias de escândalos

políticos costumeiramente divulgados pela mídia. A política e os políticos são

vistos como desonestos e corruptos. A notícia de um novo escândalo moral

no cenário político é facilmente incorporada, pois se ajusta perfeitamente ao

esquema perceptivo pré-existente.

A lógica utilizada para atribuir veracidade a uma informação

divulgada se encontra, em grande parte, associada ao modo de perceber a

política. A percepção da política é afetiva quando o posicionamento favorável

ou contrário a um conteúdo é definido em função de critérios afetivos, seja

em relação aos agentes envolvidos na disputa ou à pessoa de referência

(familiar, comentarista) que se posicionou sobre o assunto. No primeiro caso,

trata-se de uma posição própria em função de critério afetivo. No segundo

caso trata-se de uma atitude seguidista. É o caso da entrevistada que não

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gosta de política, não se envolve, não participa, é de família petista, se

considera de esquerda e segue a orientação materna no que se refere à

política. Trata-se de uma lógica afetiva com tendência seguidista. Não possui

claros determinantes de ordem política, antes se caracteriza pela ausência

deles.

“Minha família sempre foi PT, porque eles olham muito os

de baixo, sabe? Os pobres, o desemprego, Fome Zero.

Então eles sempre foram PT. Minha família toda. Por

conta que o PT falava muito em ajudar aquele lado mais

pobre, aquele lado de falta de emprego, ajudar os Estados

que estão mais em decadência. Lula era visto como um

bom político, que se preocupava com essas questões.

Antonio Carlos Magalhães era visto como um mau político.

Foi em Lula (o primeiro voto), foi quando ele se elegeu.

Votei nele mais por causa de minha família, ouvi a opinião

de minha família e achei que Lula era a melhor opção.

Como eu não gosto de política, nenhum voto foi com

vontade. Mas esse foi o que eu dei com mais certeza,

porque todo mundo falava, que ele precisava ser eleito.

Como ele vinha de baixo, ele ia fazer muito pra população

em geral. Minha mãe pergunta em quem eu vou votar, e

me incentiva a votar em quem ela vai votar. Eu sou do

lado esquerdo, do 1, né?” (Mulher ,21 anos, nível superior

incompleto, classe B2).

Outro caso de lógica afetiva seguidista pode ser observado no

entrevistado de família malufista. Desde a infância o pai incentivava os filhos

à política e a adesão ativa aos seus candidatos. Percebe-se certa confusão

na fala do entrevistado, que pode ser entendida como incoerência política,

que pode estar correspondendo à relativo distanciamento e a possível

autonomia em relação à família ou ainda ao desgaste deste político.

“Minha família é malufista (...) Meu pai era viciado, ele

dizia: vai ter debate! E comprava até pipoca.Votei pra

governador, no Maluf. (...) Talvez por causa do lance do

Maluf eu nunca fui do partido da oposição que é PT,

aqueles partidos que saíram meio do comunismo, PT, o

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PTB né da esquerda. Entendo que da esquerda são mais

aqueles partidos que nasceram mais do comunismo, PT,

PC do B, não me identifico com eles. (...) Os da direita são

mais ligados ao capitalismo, mas também acho que é de

criação do meu pai, ele teve influência, Maluf. Acho que

me sinto mais agradável, tem mais a minha cara, o outro

acho que é muita oposição, ligado a comunismo, que nem

os Sem Terra ligado a revolução, meio classe pobre, mas

não é por causa de classe não é isso, mas comunismo

nesse sentido ah a gente vai revolucionar, tirar aquele

partido da classe A que sempre foi do Maluf, do Covas,

considerados partidos da classe A, da classe B e C são

esses ai PT, do povo, eles denominam assim. Já votei no

Lula. (...) No do Maluf, o que o Maluf tivesse, gosto muito

do Maluf. Não importa o partido que o Maluf tiver, é pela

pessoa não tanto pelo partido, mas a gente votou no Pitta

porque ele era do Maluf”. (Homem, 32 anos, nível superior

incompleto, classe B2).

A percepção da política é moral quando os julgamentos dos

agentes políticos e das propostas em disputa são feitos a partir de critérios

morais. Isto implica em escolher um candidato em função da sua conduta

moral, em defender uma proposta em função de uma avaliação moral do

problema ou pelo fato da mesma estar sendo sustentada por agentes

políticos considerados moralmente inatacáveis. O depoimento a seguir

descrito exemplifica o caso de uma defesa de posições a partir de

pressupostos morais.

“Está desempregado quem quer, pois trabalho existe em

todos os níveis, eu já tinha falado que a Bolsa Escola e a

Bolsa Família acomodou as pessoas na forma de viver

com a miséria à medida que a Bolsa Escola e Bolsa

Família não exigiram cursos de qualificação. A maioria das

pessoas não procura emprego enquanto não vence a

última parcela do seguro desemprego.Essas doações me

irritam na medida em que as pessoas se tornam

preguiçosas. Vejo que emprego formal tem, toda semana

no Sine sai uma folha de jornal de vagas. A maioria dos

jovens hoje está nas drogas porque quando vai para o

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colégio sabe que vai se formar e não vai ter emprego na

região dele então é uma bola de neve. Antes as famílias

eram mais cobradoras com seus filhos, os pais tinham

mais compromisso com a família e de repente liberou

geral e a liberdade virou libertinagem e a criminalidade foi

gerada dentro das casas, foi facilitado ao encontrar uma

polícia corrupta. Se você ver o magistério, que é um setor

que eu particularmente queria abraçar, os professores são

muito folgados, eles têm direitos, mas não têm obrigações

compatíveis com seus direitos porque um professor a

qualquer momento mete um atestado de 30 dias e se

afasta da escola e nem sempre por doença, às vezes são

casos tipo morreu a mãe, quando meu pai faleceu eu fui

no velório e no outro dia estava trabalhando. O funcionário

acha que está com depressão, acha que entrou num

esgotamento e aquele atestado vem e não querem saber

se vai ter alguém para substituir e eles têm o amparo legal

para fazer isso” (Mulher, 43 anos, nível superior completo,

classe C2).

A percepção da política é política quando as leituras dos

acontecimentos e as posições sobre os agentes e as propostas em disputa

são decorrentes de critérios políticos e racionais. Isto é, quando uma pessoa

defende uma proposta em função desta estar de acordo com o seu

posicionamento político ou dos seus interesses individuais ou grupais. A

interpretação da veracidade de um conteúdo é política quando a notícia é

julgada através de um raciocínio lógico e coerente. É o caso de entrevistado

coerente com sua filiação partidária, que apresenta raciocínio compatível com

as idéias que defende sobre acontecimentos relevantes para o país, como

opinião sobre notícias ouvidas sobre a crise econômica e posição sobre a

pena de morte.

“Eu acho que (centro esquerda) por que eu não me

considero tão radical nas minhas ideais sobre política. Eu

acho que me consideraria um social-democrata. (...) O que

ouvi nos telejornais foi que agora os países atingidos pela

crise financeira já estão começando a reagir e que graças

as atitudes que o governo Lula tomou durante a crise para

estimular as compras e reduzir as taxas de juros surtiram

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efeitos para diminuir o impacto no comercio e na indústria

brasileira e com isso evitar mais problemas, como o

desemprego. Sou contra (a pena de morte) por que aqui

no Brasil nos não vamos saber lidar com esta punição pois

não temos um justiça rápida nem imparcial, como deveria

ser (entrevistas iniciais) Eu realmente iria me preocupar

com o assunto iria começar a buscar mais informações

sobre o assunto, pois como já disse anteriormente a pena

de morte aqui no Brasil , teria que ser pensada e

repensada por muitos estudiosos, juristas e pessoas

ligadas diretamente a ONGs de defesa do ser humano,

para que pudesse ver os dois lados da moeda ,ou seja os

prós e os contras” (4ª entrevista) (Homem, 27 anos,

segundo grau incompleto, classe C1).

A percepção da política é clientelística quando o raciocínio

utilizado é orientado fundamentalmente pela percepção dos benefícios

imediatos tangíveis que o entrevistado poderá obter através da posição

assumida. A defesa de um agente político ou de uma proposta, nestes casos,

está orientada pela lógica do benefício individual imediato que pode ser

resultante da ação. Assim, a lógica clientelística também é motivada por

interesses. Contudo, diferencia-se substancialmente da lógica política, uma

vez que o atendimento de interesses imediatos pode levar a mudanças de

posição não explicáveis, indicando incoerência do ponto de vista da lógica

política. É o caso do entrevistado apoiador de candidato que promove ampla

assistência a seus adeptos antes e depois de eleito. A força deste vínculo,

entretanto, não foi suficiente retê-lo no campo político do candidato.

“Um político em quem votei com gosto, votei na pessoa

porque era uma pessoa que ajudava os outros foi esse

deputado que depois tentou para prefeito “Josep

Fernando” porque ele a gente via que falava na rádio, não

lembro o partido, ele tinha uma rádio comunitária e sempre

ajudava as pessoas. Ele pegava o próprio carro para levar

as pessoas a hospitais, depois a gente ouvia elas

agradecendo na rádio, ele fez um restaurante comunitário

e pedia doações na rádio, mas a secretaria da saúde

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cortou o restaurante dele e muita gente matava a fome ali.

Foi uma das únicas pessoas que votei com gosto, a gente

via ajudando mesmo depois de eleito. O maior desgosto

foi que eu simpatizava bastante com o Marroni votei nele e

ele perdeu para o Fetter. Uma pessoa que está dando

muito certo aparentemente é o Lula porque na crise que o

Brasil estava, devedor e ele conseguiu amenizar. Ele

prometeu que aumentaria o salário e fez. É uma pessoa

que admiro, gosto bastante do Lula” (Homem, 30 anos,

segundo grau completo,classe C1).

Houve também os casos de ausência de lógica ou da utilização

de critérios confusos, precários, aparentemente erráticos, pouco

compreensíveis ao interlocutor. É o que ocorre quando os blocos

estruturados de idéias do esquema perceptivo do entrevistado são

internamente contraditórios ou quando critérios de natureza diferente são

utilizados alternadamente ou de forma estranhamente combinada para a

interpretação das notícias e acontecimentos do mundo político. Nestes casos

não se pode se referir propriamente à lógica. Uma definição mais precisa

corresponde ao termo confusão. É o caso de entrevistado cujas lógicas,

afetiva, moral e clientelística se confundem construindo um discurso

desorganizado e por vezes caótico do ponto de vista político.

“Foi só dar uma força, porque meu pai vivia nesse meio, conhecia muita gente, oh Severino você conhece muita gente me dá uma força pra mim. Ai ah um votinho aqui outro ali, eu vou te ajudar. Eles eram amigos, ele ajudava o pai dele. Ah to precisando de uns materiais pra construir minha casa, ai ele ia lá e arrumava, dá uma força pra mim. Justamente, por isso, é como é que eu falo, eu desanimei, não vale a pena não. Não vale a pena porque o que você faz, você pensa que talvez você vai ser ajudado, não que você ta cobrando. Agora se você promete você tem que cumprir, promessa é divida. Agora eu não posso te cobrar. Você que tem que cair em si que você prometeu, ah então vou ali cumprir isso porque eu prometi pra fulano” “

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“Eu sou a favor da reforma política. Eu sou mas é complicado, porque quem entra na política é complicado, você entra na política e não quer ser uma pessoa corrupta, então você entra na política com esse pensamento, a partir do momento que você chega na política você é obrigado a mudar, por que, porque as pessoas que estão lá a mais tempo vai te falar ou você faz isso ou então, você... Entendeu. Ou você não serve pra política, ou como se diz, você está fora. Não adianta chegar com essa idéia de mudar, teria que ser um todo. Um todo seria trocar tudo. Trocar tudo, todos os políticos e você sabe que isso não é possível, porque quem permanece na política é quem tem mais tempo de política. Quem é jovem tem que começar engatinhando. Quando ele chegar a ser alguém na política, ai se torna uma pessoa corrupta, ignorante.Tinha que mudar o pensamento deles, mas as regras quem fazem são eles. Centro(considera-se) e agora por quê? Agora você me apertou. Uai porque o centro significa uma pessoa centrada, atento aos fatos entendeu e eu sou atento aos fatos eu gosto de, eu gosto, gosto de, perai deixa ver se eu consigo. Eu gosto de me centralizar nos acontecimentos, nos fatos, você entendeu, gosto de pensar bem, refletir, analisar, conversar, então eu acho que isso é bom, então por isso que eu sou o centro. Não é muito bem isso não mas tá bom. Ah eu me considero como um conservador entendeu, a gente também não pode ser liberal assim não, hum, tem que ser um pouco mais conservado. É liberal seria aquele cara que não importa com nada praticamente uai, pensa de uma forma, mas age de outra. Agora eu seria o conservador, porque tem momentos que você tem que se conversar, por exemplo, tem momento que realmente você tem que parar pra pensar, antes de fazer, pra não fazer nenhuma bobeira. Então eu acho que seria conservador.”(Homem, 30 anos, ensino médio incompleto, classe C1)

Portanto uma tipologia das lógicas utilizadas possibilita discernir

em cinco modelos principais (utilizados de forma exclusiva ou combinada

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pelos entrevistados) que correspondem às lógicas: política, moral, afetiva,

clientelística ou confusa.

6.3.2. Juventude

As lógicas presentes na interpretação dos acontecimentos entre

os jovens se apresentaram de forma pouco clara. Em relação do segmento

de classe média, observou-se, entre os jovens, idéias e posições mais

confusas. Por vezes, a mesma pessoa utilizou lógicas distintas para

interpretar os fatos. Poucos são os jovens que apresentaram raciocínio

coerente.

No caso do jovem a seguir mencionado, estão presentes em

seu raciocínio as lógicas afetiva e moral. As motivações de sua posição

política se explicam a partir da lógica afetiva. Este jovem segue padrões

familiares nas suas escolhas políticas. Já na percepção do mundo político,

está presente a lógica moral. Ele avalia os políticos como ladrões que

pensam apenas em si.

“Minha mãe tem preferência pelo PT, daí eu também,

devido ao PT oferecer melhores propostas, não se voltar

só para as pessoas mais ricas e sim voltado para ações

sociais, para os pobres. (...) Porque não adianta fazer

nada. (...) Acredito que o poder corrompe as pessoas, com

dinheiro, quase todo político rouba. Querendo ou não,

alguns roubam mais outros menos. (...) Deveriam colocar

homens mais sérios, honestos, que não pensassem nos

seus bolsos, que olhasse para a população de forma

igualitária” (Homem, 19 anos, Ensino Médio Completo,

Classe C1).

A lógica moral também está presente na percepção política

negativa da jovem de 20 anos, que acredita que, independente das pessoas

que ingressam na política, estas agem de forma corrupta, desviando verbas e

fazendo promessas que não cumprem. Apesar de muito bem informada sobre

assuntos em geral e com uma posição de mundo crítica, a jovem não se

envolve com política por discordar da forma como os políticos agem.

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“(...) a cada novo representante nosso, sempre acontece

as mesmas coisas, a corrupção não diminui, o desvio de

verbas, isso nunca deixou de existir, é as promessas, é „eu

prometo, eu prometo‟, fica só na promessa né, porque

não é cumprido..a decepção é essa que toda vez se

repete a mesma estória” (Mulher, 20 anos, Ensino

Superior Incompleto, Classe B1).

Da mesma forma, o jovem de 18 anos, que possui desgosto por

política, interpreta a política moralmente, por acreditar que nas eleições os

políticos mentem para conquistar votos. Apesar de possuir moderada

apropriação política, é incoerente do ponto de vista político, pois não

entende, não sabe se definir politicamente e troca os termos nas suas

indicações.

“Quando penso em política eu penso em eleições e penso

em pessoas mentindo para o povo para disputar um cargo

público. (...) (Auto-definição) Liberal, é assim pode fazer o

que quiser, como quiser... (...) De esquerda (...) Sou

normal. Na época da eleição vou lá, dou uma olhadinha no

candidato mais interessante, me informo mais ou menos

sobre o que ele está fazendo, qual é sua proposta de

governo... (...) (Preferência partidária) PV, Porque é o

partido que tem em meta cuidar do meio ambiente”.

(Homem, 18 anos, Ensino Médio Completo, Classe C2).

A lógica confusa verificada na interpretação dos acontecimentos

do jovem a seguir descrita perpassa as lógicas afetiva, clientelista e moral. As

suas motivações políticas, os fatores explicativos para seu posicionamento

político, são afetivos e clientelistas, já a sua percepção do mundo político é

moral.

“(Preferência partidária) PT, porque minha família tá

sempre falando dele, minha mãe, meu padrasto que está

sem conversar comigo, não sei nem por que, sempre tá

conversando. (...) Pra pensar por um lado, (simpatizo com)

todos (os partidos) melhor dizendo, porque todos tem um

candidato certo, sempre tem um candidato, porque se eu

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falar só um, não dá, porque sempre tem outros partidos

dentro da política (...) Os políticos prometem uma coisa e

não fazem, isso é muito errado até hoje, porque muitos

prometem e não faz (...) tem muita sinceridade na política

hoje em dia. De dez políticos eu acho que um é sincero.

(...) Já (participou) ajudando uma vereadora a se

candidatar, ela era, ela trabalhava no, (...) no mercado

novo, ela trabalhava lá. Direto eu ia lá visitar ela, ela

sempre me encaminhava pra algum lugar pra estudar,

alguma coisa assim, ai ela se candidatou, ela me pediu

pra ajudar ela, entregar santinhos, essas coisas, ela me

pediu pra ajudar ela a se candidatar. Ai foi nesse período

que eu entrei na política e aprendi muita coisa” (Homem,

20 anos, Ensino Médio Completo, Classe B2).

A utilização da lógica política para interpretar os acontecimentos

foi escassamente observada entre os jovens entrevistados. É o caso da

jovem de 24 anos, que apresenta apropriação politicamente e é bastante

informada sobre os assuntos políticos.

“Muito pouco eu me lembro de ouvir falar de política

quando criança, mas agora jovem eu vejo muito, gosto

muito de jornal, estou sempre olhando os programas do

governo para saber se de repente eu não posso me

enquadrar (em algum programa social). (...) (Percepção da

política) Hoje o que vejo é muita bagunça, a gente vê na

TV os caras até se agredindo dentro do Plenário, acho

isso uma pouca vergonha. (...) Política é nós no poder,

eles fazem por nós, é a nossa voz lá, mas acho que ela

ainda não é passada de forma correta pra lá. Através dos

nossos prefeitos que levam até o estado e devem levar

até o presidente, só que até chegar lá as coisas já não

ficam da forma que a gente quer, acho que a política no

Brasil ainda é bem fraca. Não digo que é fraca pelo

governo porque o governo sozinho não faz nada, ele

precisa da ajuda dos outros governantes, dos prefeitos,

vereadores, deputados, todos eles são o governo, eles

têm que levar lá porque como é que o Lula dizer „vou fazer

isso aqui lá em Pelotas‟, é tanta cidadezinha no Brasil,

como é que ele vai saber que lá em Pelotas estão

precisando de remédio nessas farmácias municipais

gratuitas, se o prefeito não passa para o governador e o

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governador não passa pra ele então não vai ter nada

nunca. Tem que haver uma comunhão deles e está

faltando muito isso, mas pode melhorar, um dia vai... (...)

Eu sou consciente de tudo o que acontece, sou consciente

do que acontece na política e me acho super por dentro

perto de outras pessoas que não estão nem aí para

política; me acho bem interessada no assunto porque

querendo ou não a política influi totalmente na nossa vida,

ela está na nossa vida a todo o instante, através da

política existem decisões que vão nos afetar de certa

forma”. (Mulher, 24 anos, Ensino Superior Incompleto,

Casse B1).

Outro jovem que utiliza a lógica política para interpretar os

acontecimentos possui apropriação política e um posicionamento mais crítico.

É o caso do jovem posicionado à esquerda, coerente politicamente e que

busca se informar através da mídia. Ele possui um posicionamento crítico e

baixo grau de confiabilidade nos meios de comunicação, pois acredita que as

informações transmitidas são precárias e pouco confiáveis. Formula suas

opiniões através de conhecimentos que adquiriu na escola relacionando-os

com as notícias veiculadas.

“(Percepção da política) Quando se trata de debater

assuntos que visem o bem comum, sim, gosto (de

política). (...) (Sou) um cara que gosta da maioria, eu

simpatizo com a causa da reforma agrária, da reforma

urbana, com aquela galera que pede do governo federal o

cumprimento da Constituição (...) o pessoal que quer

maior qualidade de vida (para a população). (...) é que

eles (a mídia) só contam um lado da história, o lado dos

empresários (...) quando há um conflito entre a elite e a

galera explorada sempre contam que o lado empresarial é

que é certo, como por exemplo, a invasão de terras (...) a

Band é totalmente a favor dos grandes fazendeiros e

proprietários de terra (...) sempre é parcial. (...) Eu viso

assim ... quase todas as informações são filtradas, eu

vejo, assim, mais para observar a intenção do jornal (...)

mas eu sei que é tudo balela, contam só um lado da

história. (...) Por exemplo, eles estavam dizendo assim, é

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um luxo o governo, antigamente era o Brasil que

emprestava dinheiro do FMI, hoje é o Brasil que ta

esnobando o FMI. Eu acho isso um absurdo! E no final o

apresentado não comentou nada. Porque a gente sabe

que tem uma população de miseráveis e enquanto essa

população ta aí, sem nada, o governo tá dando dinheiro

para o FMI, mas isso ninguém comentou, isso é visto na

mídia como algo favorável, algo bom. (...) (Política é) Briga

de interesse. Na política é difícil ver uma pessoa brigar

pelo interesse coletivo, apenas pelo interesse próprio. (...)

Deveria ser que todos buscassem o bem coletivo, a

diminuição da pobreza, o maior numero de pessoas tem

que estar bem... e como é que as pessoas ficam bem,

com terra, com dinheiro, com a sua casa” (Homem, 21

anos, Ensino Médio Completo, Classe C1).

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7. Subsídios para o questionário da fase quantitativa

7.1. Sugestões de perguntas para o questionário da fase quantitativa

1. Características sócio-demográficas

1.1. Sexo

1.2. Idade

1.3. Estado civil.

1.4. Escolaridade

1.5. Renda mensal individual

1.6. Renda mensal familiar

1.7. Ocupação

2. Trajetória social

2.1. Sua remuneração atual é maior ou menor do que aquele que você

recebia no ano passado?

1. Maior 2. Igual

3. Menor 4. NR

2.2. E, em relação aos anos anteriores?

1. Maior 2. Igual

3. Menor 4. NR

2.3. Hoje você se considera mais rico ou mais pobre que em períodos

anteriores?

1. Mais rico 2. Igual

3. Mais pobre 4. NS/NR

2.4. Em relação a sua remuneração atual, você se considera....

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1. Satisfeito 2. Mais ou menos satisfeito

3. Insatisfeito 4. Não sabe

3. Formação e leitura

3.1. Como era (ou é) o seu desempenho escolar? Costumava tirar

notas/conceitos altos, médios ou baixos?

1. Altos 2. Médios 3.Baixos 4.Não lembra/NR

3.2. Você gosta de ler?

1. Sim 2. Mais ou menos 3. Não 4. NS/NR

3.3. Você gosta de ler notícias sobre programas e benefícios do governo à

população?

1. Sim 2. Mais ou menos 3. Não 4. NS/NR

3.4. Você gosta de ler notícias sobre assuntos políticos?

1. Sim 2. Mais ou menos 3. Não 4. NS/NR

4. Características atitudinais

4.1. Considerando o conjunto dos aspectos da sua vida, você, atualmente, se

encontra mais satisfeito ou mais insatisfeito? Por quê?

1.Mais Satisfeito 2. Nem satisfeito, nem insatisfeito

3. Mais insatisfeito 3. NS/NR

4.2. Você tem conseguido atingir os objetivos que estabelece na vida?

1. Sim 2. Mais ou menos 3. Não 4. NS/NR

4.3. No seu entender, querer é poder?

1. Sim 2. Pode ser, depende 3.Não 4.NS/NR

5. Meios de Informação utilizados em geral

5.1. Você costuma assistir TV aberta?

1. Sim 2. Não

5.2. (Se sim na 5.1.) Qual quantidade média de horas por dia?

1. Menos de 1 hora 2. De 1 a 2 horas 3. Mais de 2 até 4 horas

4. Mais de 4 até 6 horas 5. Mais de 6 horas 6. NSA

5.3. (Se sim na 5.1.) Qual é o canal preferido?

1. SBT 2. Record 4. Globo 5. Band 6. Outro__________

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5.4. (Se sim na 5.1.) Costuma acompanhar notícias sobre política e governo

na TV aberta?

1. Sim 2. Não

5.5. (Se sim na 5.1.) Lembra de propagandas sobre programas do Governo

Federal na TV aberta?

1. Sim Qual?______________ 2.Não

5.6. Você costuma assistir TV por assinatura (a cabo ou satélite)?

1. Sim 2.Não

5.7. (Se sim na 5.6.) Qual quantidade média de horas por dia?

1. Menos de 1 hora 2. De 1 a 2 horas 3. Mais de 2 até 4 horas

4. Mais de 4 até 6 horas 5. Mais de 6 horas 6. NSA

5.8. (Se sim na 5.6.) Costuma acompanhar notícias sobre política e governo

na TV por assinatura?

1. Sim 2. Não

5.9. Em sua casa o sinal da TV é captado por meio de....

1. Antena parabólica 2. Antena convencional

3. Antena de TV por assinatura via satélite 4. Antena de TV a cabo

5. Não precisa antena 6. Outra_______________

5.10. Você costuma ouvir rádio?

1. Sim 2. Não

5.11. (Se sim na 5.10.) Qual quantidade média de horas por dia?

1. Menos de 1 hora 2. De 1 a 2 horas 3. Mais de 2 até 4 horas

4. Mais de 4 até 6 horas 5. Mais de 6 horas 6. NSA

5.12. (Se sim na 5.6.) Costuma acompanhar notícias sobre política e governo

na TV por assinatura?

1. Sim 2. Não

5.13. Você costuma ler jornal?

1. Sim 2. Não

5.14. (Se sim na 5.13.) Quantas vezes por semana em média?

1. 1 vez 2. 2 vezes 3. 3 vezes 4. 4 vezes

5. 5 vezes 6. 6 vezes 7. 7 vezes 8. NSA

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124

5.15. (Se sim na 5.13.) Costuma acompanhar notícias sobre política e

governo no jornal?

1. Sim 2. Não

5. 16. Você costuma ler revistas?

1. Sim 2. Não

5.17. (Se sim na 5.16) Qual(is)?

1. Veja 2. Isto É 3. Carta Capital 4. Época 5. Piauí

6. Caras 7. Contigo 8. Nova 9. Outra____________

5.18. (Se sim na 5.16.) Costuma acompanhar notícias sobre política e

governo no jornal?

1. Sim 2. Não

5.18. Você usa a Internet?

1. Sim 2. Não

5.19. (Se sim na 5.18) Você costuma usar em...

1. Casa 2. Casa de amigos/parentes 3. Trabalho

4.Lanhouse 5. Outro_______________ 6. NSA

5.20. (Se sim na 5.18) Qual é a freqüência semanal de utilização da Internet?

1. 1 vez 2. 2 vezes 3. 3 vezes 4. 4 vezes

5. 5 vezes 6. 6 vezes 7. 7 vezes 8. NSA

5.21. (Se sim na 5.18) Em média quantas horas por dia você usa a Internet?

1. Até 1 2. Mais de 1 a 2 3. Mais de 2 a 4

4. Mais de 4 a 6 5. Mais de 6 6. NSA

5.22. (Se sim na 5.18) Para qual finalidade você usa a Internet na maior parte

do tempo?

1. Estudo 2. Trabalho 3. Lazer

4. Relacionamento 5. Informações 6. NSA

5.23. (Se sim na 5.19) Você usa na Internet ....

1. Orkut 2. MSN 3. Google

4. Skype 5. Twyter 6. NSA

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5.24. (Se sim na 5.18) Você costuma ler jornais, blogs ou notícias pela

Internet?

1. Sim 2. Não 3. NSA

5.25. (Se sim na 5.18) Você acompanha as notícias sobre governo, políticas

públicas e política na Internet?

1. Sim 2. Não 3. NSA

5.26. Você costuma conversar sobre política ou governo com pessoas

conhecidas?

1. Sim 2. Não 3. NSA

5.27. (Se sim na 5.25) Com quem?

1. Colegas da escola 2. Familiares 3. Colegas de trabalho

4. Amigos 5. Namorado(a) 6. NSA

5.28. (Se sim na 5.25) Com que freqüência?

1. Todos os dias 2. 2 a 6 dias por semana 3. 1 dia por semana

4. 1 vez na quinzena 5. 1 vez por mês 6. NSA

5.29. Os meios de comunicação são isentos e imparciais ou parciais?

1. Sim 2. Não 3. NSA

5.30. Os meios de comunicação manipulam a opinião pública?

1. Sim 2. Não 3. NSA

5.31. Você acredita no que é dito pelos meios de comunicação?

1. Sim 2. Não 3. NSA

5.32. Quais são os meios mais confiáveis? 1. TV aberta 2. TV por assinatura 3. Rádio 4. Revista 5. Internet 6. Jornal impresso 7. Outro____ 8. Nenhum

5.33. Em que repórter, comentarista, colunista, apresentador ou blogeiro que você confia, acredita nas informações transmitidas por ele e costuma concordar com suas opiniões? 1. Willian Boner 2. Boris Casoy 3. Fátima Bernardes 4. Arnaldo Jabbor 5. Jô Soares 6. Marília Gabriela 7. Alexandre Garcia 8. Diogo Mainard 9. Mônica Waldvogel 10. Maitê Proença 11. Joelmir Betting 12. Márcia Peltier 13. Boechat 14. Miriam Leitão 15. Outro____ 16. Nenhum

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5.34. Para você formar sua opinião sobre a política e o governo são mais importantes as informações obtidas através.... 1. Comentarista/repórter/colunista 2. Jornais da televisão 3. Conversas com amigos/parentes 4. Posição de político de referência 5. Internet 6. Jornais impressos 7. Revistas 8. Rádio 9. Outro____________________ 10. Nenhum

6. Informação sobre o Governo e Políticas Públicas

6.1. Costuma acompanhar notícias sobre o Governo Federal?

1. Sim 2. Não 3. NR

6.2. Quais programas do Governo Federal você conhece?

6.3. As notícias veiculadas pela mídia sobre o Governo Federal geralmente

são favoráveis ou desfavoráveis?

1. Favoráveis 2. Desfavoráveis 3. NS

6.4. Você lembra das propagandas do Governo Federal veiculadas pela

mídia? 1. Sim. Quais? ____________ 2. Não

6.5. Você assistiu as propagandas sobre o PAC?

1. Sim 2. Não 3. NS

6.6. Você assistiu as propagandas sobre o Programa Minha casa minha vida?

1. Sim 2. Não 3. NS

6.7. Você assistiu as propagandas sobre as políticas sociais do governo?

1. Sim 2. Não 3. NS

7. Posicionamento sobre temas políticos 7.1. Qual é a sua opinião sobre a Reforma política? 1. Não sabe/não tem opinião sobre o assunto 2. Opinião_____________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________

(análise posterior irá qualificar a opinião) 7.2. Qual é a sua opinião sobre os partidos políticos? (não ler as alternativas, enquadrar) 1. Favorável 2. Desfavorável 3. Outra____________ 4.NS/NR

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7.3. Você é favorável ou contrário à privatização as empresas estatais? 1. Favorável 2. Desfavorável 3. Outra____________ 4.NS/NR

7.4. (Se respondeu favorável na 7.3.) Se a notícia a seguir fosse publicada na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar) Em palestra realizada ontem na sede da Associação Comercial, Dr. Salles Costa afirmou que os governos não devem se meter em coisas que o setor privado pode fazer. Enfatizou que a privatização é essencial à modernização do estado, para que este possa cumprir suas funções básicas na área social. Apresentou como exemplo de privatização bem sucedida o serviço de telefonia. Até pouco tempo eram necessários um a dois anos de espera na fila para se obter um telefone pelo qual se pagava mais de dois mil reais. Hoje, um telefone custa muito pouco. Não há quem não possa comprar um, disse ele. 1. Aceitou a notícia e mudou a opinião 2. Discordou da notícia e manteve a opinião 3. Relativizou 4. Outra_____________ 5. NS/NR

7.5. (Se respondeu contrário na 7.3.) Se a notícia a seguir fosse publicada na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar) Apesar dos protestos de grupos nacionalistas e da redução da escala em que vinham sendo feitas, as privatizações das empresas estatais continuam a ocorrer no país. A justificativa para isso era o pagamento da dívida com a diminuição do déficit do saldo comercial. De 1995 a 1999 foram vendidas a Vale do Rio Doce, teles e elétricas. O saldo foi a perda do patrimônio e a redução de investimentos do Estado nos serviços públicos básicos com o repasse das atividades para a esfera privada. Isso resultou em perda de empregos e da qualidade de vida para a população. 1. Aceitou a notícia e mudou a opinião 2. Discordou da notícia e manteve a opinião 3. Relativizou 4. Outra_____________ 5. NS/NR

7.6. Você é a favor ou contra a pena de morte? 1. Favorável 2. Desfavorável 3. Outra____________ 4.NS/NR

7.7. (Se respondeu favorável na 7.6.) Se a notícia a seguir fosse publicada na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar) Está sendo debatido no Congresso o plebiscito sobre a pena de morte. Nos países onde a pena de morte é utilizada muitos inocentes são mortos. É exemplo disso os quatro prisioneiros que estavam no corredor da morte nos Estados Unidos no mês de julho, e que foram considerados inocentes na véspera de sua execução. As estatísticas comprovam que a pena de morte não reduz os índices de criminalidade. São mais eficientes os programas de regeneração de presos. O brasileiro costuma dizer: bandido bom é bandido morto, mas será que é isso que queremos para nosso país?

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1. Aceitou a notícia e mudou a opinião 2. Discordou da notícia e manteve a opinião 3. Relativizou 4. Outra_____________ 5. NS/NR

7.8. (Se respondeu contrário na 7.6.) Se a notícia a seguir fosse publicada na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar) Foi lançado em São Paulo manifesto pró pena de morte no país. Segundo PJ, uma das lideranças “a pena de morte é a única forma de controlar criminosos violentos reconhecidamente irrecuperáveis”. A pena de morte é considerada eficaz na prevenção de futuros crimes pois o criminoso terá mais medo e não irá querer se arriscar. Hoje, em pouco tempo consegue se livrar das grades. A pena de morte irá retirar do convívio social seres desprezíveis que nem mesmo o melhor sistema prisional seria capaz de recuperar. Na lista do corredor da morte: tráfico de drogas, estupro, seqüestro com morte, tráfico de órgãos, pedofilia e assassinato premeditado. 1. Aceitou a notícia e mudou a opinião 2. Discordou da notícia e manteve a opinião 3. Relativizou 4. Outra_____________ 5. NS/NR

7.9. Você é a favor ou contra o movimento sem terra? 1. Favorável 2. Desfavorável 3. Outra____________ 4.NS/NR

7.10. (Se respondeu favorável na 7.9.) Se a notícia a seguir fosse publicada na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar) Grupos armados que se auto-denominam “sem-terra” preparam e anunciam ocupações para os próximos dias. Devemos ser o único país do mundo em que movimentos anunciam que vão cometer um crime, e todos ficam esperando que o crime seja cometido. Ocupações significam invasões de propriedades que violam direitos individuais garantidos pela Constituição e pelos Códigos Civil e Penal. Entre os participantes deste movimento, existem pessoas das cidades que não possuem qualquer experiência no campo. Ao invadirem propriedades os manifestantes se apropriam de bens, danificam as instalações e sujam os locais, não sendo, posteriormente, punidos por estes crimes.

1. Aceitou a notícia e mudou a opinião 2. Discordou da notícia e manteve a opinião 3. Relativizou 4. Outra_____________ 5. NS/NR

7.11. (Se respondeu contrário na 7.9.) Se a notícia a seguir fosse publicada na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar) Após mais uma manifestação pública o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), volta para casa com as mãos abanando. O Governo Estadual não quis receber os representantes do MST. Como costuma acontecer, integrantes do movimento foram agredidos por policiais. Um dos líderes do MST disse: “estamos

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cansados de sermos agredidos pela política e pela mídia. No acusam de receber terra e logo depois vendê-la. Esses casos não chegam a 1%”. Depois desabafou: “invadimos propriedades sim, porque é o único meio de sermos vistos e ouvidos. Hoje mesmo, a Governadora não quis sentar e conversar com a gente. Não somos bandidos, estamos buscando nossos direitos enquanto cidadãos”. 1. Aceitou a notícia e mudou a opinião 2. Discordou da notícia e manteve a opinião 3. Relativizou 4. Outra_____________ 5. NS/NR

7.12. Você gosta de debater assuntos em geral, pois acredita que através do debate as suas idéias ficam mais claras, ou você acha o debate inútil, pois cada um tem as suas posições e ficar discutindo não leva a lugar nenhum? 1. Gosta de debater 2. Considera o debate inútil 3. NS/NR

7.13. Você costuma mudar, através de uma conversa ou debate, a sua opinião ou dificilmente muda o seu ponto de vista? 1. Costuma mudar 2. Dificilmente muda 3.NS/NR

7.14. Em uma discussão com alguém que possui maior conhecimento sobre o assunto, você prefere concordar com as opiniões desta pessoa ou manter os seus próprios pontos de vista? 1. Prefere concordar 2. Mantém o ponto de vista 3.NS/NR

7.15. Você gosta de contar com a opinião de uma pessoa mais informada e experiente (comentarista, colunista) para definir o seu posicionamento sobre um assunto?

1. Sim 2. Não 3.NS/NR

8. Comportamento político

8.1. Em algum momento você participou de algum modo de associações,

grêmio estudantil, sindicatos, movimentos sociais ou organizações políticas?

1. Sim 2. Alguma participação 3. Não 4.NS/NR

8.2. Você é procurado por pessoas que querem saber a sua opinião sobre

assuntos políticos?

1. Sim, muito 2. Sim, pouco 3. Não 4.NR

8.3. Você costuma geralmente nas eleições contribuir com a campanha de

algum candidato/partido (participar de reuniões, colocar cartazes, plásticos,

distribuir propaganda, trabalhar na campanha, dar dinheiro para campanha)?

1. Sim, muito 2. Sim, pouco 3. Não 4.NR

8.4. Suas preferências políticas são parecidas com as dos seus familiares?

1. Sim 2. Não 3. NS/NR

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8.5. Você costuma votar como os seus familiares?

1. Sim 2. Não 3. NS/NR

8.6. Você acha que a sua ação pode exercer influência sobre o que o governo faz?

1. Sim 2. Não 3.NS/NR

8.7. Você gosta de política?

1. Sim 2. Não 3.NS/NR

8.8. (Se não) Porque você não gosta de política?

1. Não tenho interesse 2. Os políticos são corruptos 3. É chato

3. Desilusão 4. Outra_________________ 4. NS

8.9. Você está desiludido com a política?

1. Sim 2. Não 3.NS/NR

8.10. Como você se define politicamente em uma escala de 1 a 5, sendo 1 a posição mais à esquerda e 5 a posição mais à direita? 1. Esquerda 2. Centro-esquerda 3. Centro 4. Centro-direita 5. Direita 6. NS

8.11. Você se define politicamente como ... 1. Liberal 2. Conservador 3. Socialista 4. Social-democrata 5. Outra_________________ 6. NS

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8. Considerações finais

A seguir serão apresentadas as considerações finais desta pesquisa

qualitativa, que reúne os principais resultados.

1) Esta pesquisa qualitativa investigou em profundidade as percepções,

atitudes e ações de pessoas dos segmentos de classe média e de

jovens. Os vários fatores contextuais da experiência de vida dos

entrevistados examinados foram relacionados aos posicionamentos

por eles assumidos e aos seus comportamentos em relação à mídia,

buscando identificar os elementos explicativos mais relevantes. Nos

pontos a seguir serão indicados os resultados relativos à relação entre

os fatores estudados e o comportamento dos entrevistados.

Trajetória social

2) O nível escolar e profissional, o poder aquisitivo, a inserção na

hierarquia social e a ascensão ou descenso social influenciam a

conformação de posicionamentos políticos e de comportamentos em

relação à mídia. No caso de segmento de classe média foi observada

a relação entre trajetória social descendente e percepção negativa dos

políticos e da política, a desilusão com o mundo político e a rejeição

ao acompanhamento dos noticiários sobre política e governo. A

relação inversa também se confirmou: ascensão social e situação

econômica relativamente melhor indicaram um comportamento mais

receptivo ao mundo político e às notícias veiculadas pela mídia,

posição favorável ao estabelecido. Mesmo quando o nível econômico

é relativamente mais baixo, a ascensão social desempenhou um papel

importante como elemento motivador de posicionamentos favoráveis

ao atual governo.

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3) No caso do segmento jovem foi observado maior desinteresse em se

informar sobre governo e política. Apesar de a maioria dos jovens

manifestar predisposição positiva a se informar sobre assuntos

diversos, esta tendência não foi verificada nos temas políticos. De

modo geral, independentemente da trajetória social, houve

predisposição negativa a se informar sobre estes temas em função de

uma percepção muito negativa do mundo político. Esta tendência,

também observada no segmento de classe média, mostrou-se mais

acentuada na juventude. Os fatores explicativos podem estar

relacionados ao curto período que compõe a trajetória destes

indivíduos, implicando em experiência com a política marcada por

período de ampla divulgação de escândalos morais através da

imprensa, ou às características do momento geracional vivido.

4) Tendência semelhante a do segmento de classe média foi percebida

no comportamento dos jovens: maior predisposição positiva em se

informar sobre vários assuntos, abrangendo política e governo, foi

associada, em alguns casos, à trajetória social ascendente. Menor

predisposição a se informar e percepção mais negativa ao mundo

político foram encontrados em casos de descenso social.

Experiência política

5) A experiência sobre política mostrou-se relevante para a conformação

de posicionamento político. As posições predominantes no ambiente

familiar formam, pela via afetiva, predisposições favoráveis à

aceitação de determinado partido, candidato ou corrente política. Em

ambos os segmentos estudados foram observados casos de

entrevistados que passaram a defender uma posição política em

função do ambiente familiar.

6) Maior experiência política positiva está associada ao maior interesse

em acompanhar notícias sobre assuntos políticos, entre os quais os

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governamentais. Pessoas pouco interessadas em política tendem a

acompanhar menos os acontecimentos do mundo político, tendo

menor base de informações para formar juízos sobre o significado dos

mesmos. Entre os entrevistados do segmento de classe média foram

encontradas pessoas com maior experiência política positiva, que

conhecem mais os termos especializados da política, as

características do mundo político e costumam se informar mais sobre

este assunto. No segmento jovem predominou a ausência de

experiência política e uma percepção muito negativa dos políticos e da

política. Esta percepção decorre de desinformação e falta de

identificação geracional com o tema, percebido como “assunto de

velho”.

Características atitudinais

7) As características atitudinais mostraram-se mais influentes no

segmento de classe média. Observou-se a associação entre

predisposição positiva e satisfação com a atual situação de vida, de

um lado, e percepção mais favorável ao estabelecido, abrangendo o

mundo político governamental e à mídia, de outro. Entrevistados que

se encontram satisfeitos tendem a querer manter as condições que

possibilitarem esta satisfação em todos os terrenos. Atitudes mais

críticas, muitas vezes, estão associadas à posição crítica na estrutura

social ou a grande insatisfação com a situação vivida. Foi observado o

caso típico do jovem crítico que assumia posições à esquerda na

juventude e que se tornou conversador após os 30 anos.

8) Experiências de vida negativas que engendram características

atitudinais também negativas se refletem nas percepções da política e

no comportamento em relação à mídia. Perdas, desavenças, abalos

emocionais reforçam o sentimento de impotência política e a crença

sobre a inutilidade de se informar sobre tais assuntos. Insatisfação e

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desencanto com a vida se manifestaram em percepção negativa da

política e em desinteresse em acompanhar noticiário sobre o assunto.

9) As características atitudinais mostraram-se menos influentes no

segmento jovem. A trajetória de vida ainda iniciante, e o maior

distanciamento dos assuntos políticos são fatores relevantes para a

explicação desta tendência. Observou-se a associação entre a

satisfação do entrevistado com sua realidade atual e a percepção

favorável ao acompanhamento da política. Os jovens que

apresentaram características atitudinais proativas e que se encontram

satisfeitos com a sua situação atual mostraram predisposição a se

informar e interesse em buscar mais informações.

Apropriação política

10) A apropriação política corresponde ao conhecimento do mundo

político, à capacidade de utilizar adequadamente os termos políticos,

de entender quais são os agentes mais influentes no cenário político,

quais interesses estão em jogo e qual é a lógica subjacente a

conformação dos posicionamentos assumidos pelos diferentes

agentes. Os mais apropriados são aqueles que gostam de política, se

interessam pelos assuntos relativos ao tema, se informam sobre os

acontecimentos neste terreno, conhecem os principais motivos das

disputas, e entendem a sua posição na estrutura da sociedade e no

tabuleiro político, assumindo posicionamentos em conformidade com

os seus interesses. As pessoas politicamente apropriadas costumam

acompanhar as notícias sobre política e governo e tem

posicionamentos sobre os temas mais relevantes da atualidade.

11) Poucos entrevistados mostraram-se politicamente apropriados.

Alguns casos foram observados no segmento de classe média e um

número ainda mais reduzido no segmento jovem. De modo geral, os

níveis de apropriação política dos entrevistados se encontram em

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patamares muito baixos. A percepção negativa da política e dos

políticos, muito recorrente, se mostrou associada ao desinteresse no

acompanhamento dos noticiários sobre temas políticos e de governo.

Pessoas que não gostam de política, se encontram desiludidas com o

mundo político ou se sentem impotentes quanto à possibilidade de

interferência neste terreno, entendem ser inútil se informar sobre estes

assuntos.

12) Os níveis de apropriação política foram ainda mais baixos no

segmento jovem. A maioria dos jovens pesquisados não procura se

informar sobre política, não conhece os termos especializados da área

e o cenário político brasileiro, não gosta e demonstra desinteresse

pelo assunto. Os jovens acreditam que o mundo político não faz parte

de sua realidade. Manifestam desinteresse sobre as informações

veiculadas nos meios de comunicação. A baixa apropriação política

está associada a não identificação com o tema, considerado assunto

para outros segmentos etários (“nenhum jovem gosta de política”;

“jovem não pensa em política”).

Posicionamento político

13) Posicionamento sobre temas políticos supõe base informacional

mínima. Pessoas escassamente informadas sobre assuntos políticos e

governamentais têm grande dificuldade de assumir posições sobre os

temas políticos relevantes. Poucos entrevistados dos dois segmentos

emitiram juízos pertinentes sobre este assunto, mostrando elevado

grau de apropriação política, capacidade de dominar os termos

especializados da política e de compreender a lógica do jogo político.

14) No segmento jovem a situação mostrou-se ainda mais precária. Raros

foram os casos de posicionamento político articulado e coerente. A

falta de interesse pelo mundo político associada à baixa informação

sobre estes assuntos faz com que o jovem não possua

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posicionamentos sobre determinados temas e apresente um discurso

inconsistente quando emite sua opinião. Mesmo aqueles que

apresentam alguma apropriação política, emitem opiniões

contraditórias, que conformam um posicionamento incoerente do

ponto de vista da lógica política.

15) A ausência de posicionamento, nos dois segmentos, mostrou estar

associada à desinformação, ao desinteresse, ao desgosto por política,

à desilusão ou ao sentimento de impotência política. O indivíduo que

não gosta de política, que acredita ser a sua participação neste

terreno totalmente inócua, que não tem interesse por estes assuntos e

não acompanha o noticiário sobre eles tende a não conseguir se

posicionar sobre os temas deste mundo ou a assumir posições

politicamente contraditórias. Este tipo posicionamento indicativo de

postura negativa buscou muitas vezes a desqualificação dos agentes

políticos e da vida política de forma geral, através de uma crítica moral

generalizada e depreciativa.

Coerência política

16) A coerência política refere-se à capacidade dos indivíduos assumirem

posições logicamente inter-relacionadas, internamente coerentes, em

conformidade com as preferências e opções políticas. Algum tipo de

coerência de acordo com a lógica interna do indivíduo sempre poderá

ser encontrada, pois há para cada posição assumida alguma

motivação que faz sentido para o indivíduo. Contudo, este tipo de

análise tem caráter tautológico e fraco poder explicativo, não se

adequando ao objetivo deste estudo de distinguir aqueles que

apresentam maior e menor grau de coerência do ponto de vista da

lógica política.

17) Os dados analisados mostraram que, nos dois segmentos

investigados, a incoerência é a regra e a coerência a exceção. Foram

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recorrentes as manifestações confusas sobre as posições políticas e

os comportamentos politicamente contraditórios. Maior confusão foi

encontrada no segmento jovem, que reuniu posições mais avessas

aos políticos, à política e a informação sobre assuntos

governamentais.

18) A ausência de coerência decorre de vários fatores. As posições

políticas díspares ou contrárias convivem em um esquema perceptivo

contraditório que reúne blocos estruturados de idéias formadas de

modo independente e por motivações distintas. O mesmo entrevistado

que é favorável às privatizações em função de um exemplo positivo

como o das telecomunicações manifestou-se contrariamente ao

enxugamento do Estado por ter pena dos que poderão ser demitidos e

por ter amigos empregados em órgãos públicos. Para ele não há

incoerência, pois os motivos que o levou a posição favorável à

privatização das empresas estatais tem sentido quando avaliado

individualmente. O mesmo pode ser dito em relação ao enxugamento

da máquina estatal. A contradição existe quando as duas posições

são comparadas, tendo por base as referências da lógica política.

19) Maior coerência política foi encontrada nos raros casos de

entrevistados que têm preferência partidária, votam no mesmo partido

em todos (ou em quase todos) os processos eleitorais, e assumem

posições sobre temas políticos, em conformidade com as posições do

partido e do campo político no qual ele se encontra inserido.

Meios de comunicação

20) Na maior parte dos casos observados, nos dois segmentos, é

relativamente pequeno o acompanhamento das notícias sobre política

e governo. Mesmo nos casos em que há grande exposição à mídia, se

observou pouca atenção às notícias sobre política. Por vezes, a

notícia ouvida não é retida na memória, em função da pequena

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importância atribuída a ela, por se tratar de assunto considerado

pouco interessante. Pessoas muito expostas à mídia acompanham

eventualmente acontecimentos políticos pelo fato deste tipo de

conteúdo estar presente nos noticiários, mas por desinteresse por este

tema, muitas vezes, acompanham de forma reduzida ou superficial,

retendo poucas informações sobre o assunto.

21) O maior desinteresse pelo acompanhamento de notícias sobre o

governo e política foi observado no segmento jovem, composto por

pessoas que utilizam intensamente os meios de comunicação,

especialmente a Internet e a TV, totalizando, cerca de 8 a 10 horas

por dia, não se interessam e não absorvem notícias políticas. As

informações relacionadas com política e governo não chamam a

atenção dos jovens. Em geral, eles utilizam os meios de comunicação

para o entretenimento, relacionamento e informação sobre assuntos

de seu interesse.

22) Aqueles que acompanham mais o noticiário político são os

politicamente apropriados, que dominam os termos especializados do

mundo político e acompanham os acontecimentos nesta área. São

raros casos, mais recorrentes no segmento de classe média, de

pessoas, mais envolvidas com política que têm experiência e

demonstra gostar do assunto.

23) A percepção sobre o comportamento da mídia encerrou um

paradoxo: a elevada aceitação dos meios tradicionais mais utilizados -

como a TV aberta, a Rede Globo e o Jornal Nacional – convive

contraditoriamente com grande desconfiança sobre a parcialidade

destes meios e sua potencialidade manipuladora. Entrevistados,

especialmente do segmento de classe média, que percebem a

parcialidade dos meios, suspeitam de manipulação, mas mesmo

assim confiam na credibilidade das notícias divulgadas pelo veículo.

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Informação sobre o governo e políticas públicas

24) De modo geral, foram encontrados nos dois segmentos estudados

baixos níveis de informação sobre governo e políticas públicas. Os

níveis foram mais baixos no segmento jovem. Foi constatada, em

alguns casos, grande desinformação e desinteresse em se informar

em relação a quaisquer assuntos governamentais. Em outros casos

entrevistados que não gostam de política costumam se informar sobre

programas específicos de governo, tendo em vista os benefícios que

podem obter.

25) No segmento de classe média os entrevistados apresentaram níveis

distintos de conhecimento sobre o governo e as políticas públicas. O

maior nível de conhecimento esteve associado ao maior interesse por

política. Os principais programas do governo foram lembrados.

Embora não acompanhem notícias sobre governo e política, alguns

jovens também lembraram os programas mais conhecidos (Bolsa

Família, Minha Casa Minha Vida, Fome Zero, Enem e Pró-Uni).

Permeabilidade às notícias

26) Para avaliar a permeabilidade às informações contrárias ao ponto de

vista do entrevistado foram apresentadas notícias hipotéticas que

contrariavam os posicionamentos fornecidos, informando que se

tratava de uma simulação e solicitando uma apreciação.

27) Confrontados com notícias hipotéticas contrárias ao seu

posicionamento, os entrevistados reagiram diferentemente: alguns não

aceitaram a notícia, discordando do seu conteúdo, desqualificando o

veículo de comunicação mencionado, ou relativizando a sua

veracidade e aplicabilidade, como se o fato referido fosse uma

exceção à regra ou produto de alguma circunstância específica,

enquanto outros aceitaram o conteúdo hipotético apresentado.

Enquanto alguns aceitaram de forma mais abrangente as notícias

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hipotéticas apresentadas e incorporaram o conteúdo da mesma ao

seu quadro perceptivo, outros se mostraram mais resistentes,

mantendo o seu ponto de vista.

28) Nos dois segmentos foram observados três tipos principais de

comportamento: aqueles que rejeitaram, em maior medida, as notícias

apresentadas (perfil posicionado à esquerda, politicamente definido,

que conhece mais os assuntos políticos, mais encontrado no

segmento de classe média e perfil desinteressado em política, pouco

apropriado da política, ignorante ou indefinido quando a sua

localização no jogo político); aqueles que aceitaram em maior medida

o conteúdo das notícias apresentadas (por valorizar os meios de

comunicação referidos, por não ter segurança em relação ao seu

ponto de vista ou por tender a concordar com o estabelecido); e

aqueles que se situaram em um nível intermediário de permeabilidade

às notícias hipotéticas apresentadas.

Relevância dos meios e outras referências

29) O veículo de comunicação foi considerado, nos dois segmentos

investigados, muito relevante para a aceitabilidade do conteúdo da

notícia. Em alguns casos a notícia foi aceita totalmente e incorporada

ao esquema receptivo do entrevistado, em outras foi aceita

parcialmente até posterior confirmação através de outros meios.

30) Em outros casos, também observados nos dois segmentos

investigados, os entrevistados mostraram-se indiferentes quando ao

meio que veiculou a notícia, voltando-se mais ao exame do conteúdo

da informação para emitir seu juízo a respeito do assunto.

31) A rastreabilidade das informações e fontes utilizadas mostrou ser a

mídia a principal referência e, em segundo lugar, as conversações

com pessoas próximas. As conversações com familiares, amigos e

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pessoas do círculo de relações pessoais, mostraram-se relevantes

nos casos em que as pessoas são escassamente informadas, pouco

apropriadas da política. Para estas pessoas o círculo de relações

pessoais inspira mais confiança.

32) Foi atribuída grande relevância e credibilidade aos comentaristas,

colunistas, apresentadores, repórteres e blogueiros que emitem

opiniões sobre os assuntos políticos e governamentais. Aqueles que

não dominam os termos especializados da política e são relativamente

pouco apropriados, particularmente, são os que mais se valem destas

referências como mecanismo para formação de opinião. Alguns

jornalistas são considerados confiáveis porque não costumam se

posicionar, passando a imagem de isenção. Outros são apreciados

pelo oposto, porque expõem suas opiniões com contundência. Alguns

comentaristas construíram uma trajetória de credibilidade possuindo

hoje um público cativo como é o caso de Boris Casoy. Quando a

notícia é apresentada pelo comentarista em que o entrevistado confia,

a credibilidade é total. Quando se soma credibilidade do apresentador

à ampla aceitação da emissora e do programa, a aceitabilidade é

ainda maior. É o exemplo do Jornal Nacional da Rede Globo,

conduzido por William Bonner e Fátima Bernardes.

33) A relevância da mídia é tão expressiva que alguns entrevistados

mudam de opinião quando as notícias são comunicadas por meios

que lhes transmitem credibilidade. É o caso do entrevistado que,

frente a uma notícia contrária a sua opinião questiona seu conteúdo

em função da referência de que a mesma havia sido veiculada em um

jornal considerado de baixa credibilidade. Porém, quando mencionado

que a notícia fora veiculada por um meio confiável, o jovem

reconsiderou a possibilidade de a notícia ser verdadeira e,

posteriormente, incorporou informações da notícia em sua

argumentação, reforçando a mudança de opinião.

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34) A Maior exceção refere-se aos entrevistados do segmento de classe

média posicionados à esquerda e aos jovens com posicionamentos

mais críticos em relação à mídia que, igualmente, atribuem-lhe menor

relevância na formação de suas opiniões. Em geral, buscam

argumentar contrariamente às informações que lhes são transmitidas.

É o caso do jovem posicionado à esquerda no espectro político, que

possui baixo grau de confiabilidade nos meios de comunicação e

atribuí precariedade às informações veiculadas. Afirma que chegou as

suas opiniões através de conhecimentos que adquiriu na escola e nos

livros de história, relacionando-os com as notícias veiculadas pela

mídia.

Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos

35) A rastreabilidade das informações obtidas e a simulação da reação às

notícias hipotéticas apresentadas possibilitaram delinear as principais

lógicas utilizadas para a interpretação dos acontecimentos políticos. A

experiência política anterior e a percepção geral do mundo político

também se mostraram relevantes para o delineamento das lógicas

utilizadas.

36) Nos dois segmentos foi identificada a mesma tendência geral.

Diferiram-se em relação ao grau de incoerência e confusão,

relativamente maior no caso da juventude. De modo geral, o conteúdo

de uma notícia é aceito quando se enquadra razoavelmente nos

esquemas perceptivos dos entrevistados. Eles consideram verdadeira

a notícia que apresenta elementos compatíveis com os blocos pré-

estruturados de idéias que explicam as características do mundo

político. Por isto, são amplamente aceitas, as notícias de escândalos

políticos costumeiramente divulgados pela mídia. A política e os

políticos são vistos como desonestos e corruptos. A notícia de um

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novo escândalo moral no cenário político é facilmente incorporada,

pois se ajusta perfeitamente ao esquema perceptivo pré-existente.

37) A lógica utilizada para atribuir veracidade a uma informação divulgada

se encontra, em grande parte, associada ao modo de perceber a

política. A percepção da política é afetiva quando o posicionamento

favorável ou contrário a um conteúdo é definido em função de critérios

afetivos, seja em relação aos agentes envolvidos na disputa ou à

pessoa de referência (familiar, comentarista) que se posicionou sobre

o assunto. No primeiro caso, trata-se de uma posição própria em

função de critério afetivo. No segundo caso trata-se de uma atitude

seguidista.

38) De modo geral, o conteúdo de uma notícia é aceito quando se encaixa

razoavelmente nos esquemas perceptivos dos entrevistados. Eles

consideram verdadeira a notícia que apresenta elementos compatíveis

com os blocos pré-estruturados de idéias que explicam as

características do mundo político. Por isto, são amplamente aceitas,

as notícias de escândalos políticos costumeiramente divulgadas pela

mídia. A política e os políticos são vistos como desonestos e

corruptos. A notícia de um novo escândalo moral no cenário político é

facilmente incorporada, pois se ajusta perfeitamente ao esquema

perceptivo pré-existente.

39) A percepção da política é moral quando os julgamentos dos agentes

políticos e das propostas em disputa são feitos a partir de critérios

morais. Isto implica em escolher um candidato em função da sua

conduta moral, em defender uma proposta em função de uma

avaliação moral do problema ou pelo fato da mesma estar sendo

sustentada por agentes políticos considerados moralmente

inatacáveis.

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40) A percepção da política é política quando as leituras dos

acontecimentos e as posições sobre os agentes e as propostas em

disputa são decorrentes de critérios políticos e racionais. Isto é,

quando uma pessoa defende uma proposta em função desta estar de

acordo com o seu posicionamento político ou dos seus interesses

individuais ou grupais. A interpretação da veracidade de um conteúdo

é política quando a notícia é julgada através de um raciocínio lógico e

coerente aos interesses do agente e ao se posicionamento político.

41) A percepção da política é clientelística quando o raciocínio utilizado é

orientado fundamentalmente pela percepção dos benefícios imediatos

tangíveis que o entrevistado poderá obter através da posição

assumida. A defesa de um agente político ou de uma proposta, nestes

casos, está orientada pela lógica do benefício individual imediato que

pode ser resultante da ação. Assim, a lógica clientelística também é

motivada por interesses. Contudo, diferencia-se substancialmente da

lógica política, uma vez que o atendimento de interesses imediatos

pode levar a mudanças de posição não explicáveis, indicando

incoerência do ponto de vista da lógica política. A orientação por

critérios afetivos e morais também pode ser considerada incoerente do

ponto de vista da lógica política.

42) Houve também os casos de ausência de lógica ou da utilização de

critérios confusos, precários, aparentemente erráticos, pouco

compreensíveis ao interlocutor. É o que ocorre quando os blocos

estruturados de idéias do esquema perceptivo do entrevistado são

internamente contraditórios ou quando critérios de natureza diferente

são utilizados alternadamente ou de forma estranhamente combinada

para a interpretação das notícias e acontecimentos do mundo político.

Nestes casos não se pode se referir propriamente à lógica. Uma

definição mais precisa corresponde ao termo confusão. No segmento

jovem as lógicas presentes na interpretação dos acontecimentos

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mostraram-se mais confusas, mesclando critérios distintos. Poucos

foram os jovens que apresentaram raciocínio coerente.

43) Portanto uma tipologia das lógicas utilizadas possibilita discernir em

cinco modelos principais (utilizados de forma exclusiva ou combinada

pelos entrevistados) que correspondem às lógicas: política, moral,

afetiva, clientelística ou confusa.