relatório de olho na educação 2009

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Segundo relatório de acompanhamento das Metas do movimento Todos Pela Educação Dezembro de 2009

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Page 1: Relatório De Olho na Educação 2009

1

Segundo relatório de acompanhamento das Metas do movimento Todos Pela Educação

Dezembro de 2009

Page 2: Relatório De Olho na Educação 2009

2 • De Olho nas Metas • 2009

Movimento Todos Pela Educação

CONSELHO DE GOVERNANÇAJorge Gerdau Johannpeter – Presidente

Ana Maria dos Santos Diniz

Antônio Jacinto Matias

Beatriz Bier Johannpeter

Daniel Feff er

Danilo Santos de Miranda

Denise Aguiar Alvarez

Fábio Colletti Barbosa

Gustavo Ioschpe

José Francisco Soares

José Paulo Soares Martins

José Roberto Marinho

Luís Norberto Pascoal

Milú Egydio Villela

Maria Lucia Meirelles Reis

Ricardo Young

Viviane Senna

EQUIPE EXECUTIVAMozart Neves Ramos – Presidente

Priscila Fonseca da Cruz – Diretora

Alice Andres

Carolina Carvalho Fernandes

Diana Santana Gomes Ferreira

Elisângela Fernandes da Silva

Ernesto Martins Faria

Judi Cavalcante (Consultor)

Pedro Teixeira

Victor Terramoto

COMISSÃO TÉCNICAViviane Senna – Coordenadora

Célio da Cunha

Claudio de Moura Castro

Claudia Costin

Creso Franco

Gustavo Ioschpe

José Francisco Soares

Marcelo Neri

Maria Auxiliadora Seabra Rezende

Maria Helena Guimarães de Castro

Mariza Abreu

Nilma Fontanive

Raquel Teixeira

Reynaldo Fernandes

Ricardo Chaves Martins

Ricardo Paes de Barros

Ruben Klein

De Olho nas Metas 2009Segundo relatório de acompanhamento das Metas do movimento Todos Pela Educação.

COORDENAÇÃO GERALMozart Neves Ramos

Viviane Senna

COORDENAÇÃO TÉCNICA E ESTATÍSTICARegina Madalozzo (Coordenadora)

Ernesto Martins Faria

SUPERVISÃO EDITORIAL

Carolina Carvalho Fernendes

Elisângela Fernandes da Silva

Judi Cavalcante (Consultor)

Maria Lucia Meirelles Reis

Priscila Cruz

REVISÃOFátima Mendonça Couto

Projeto Gráfi co e editoraçãoLinea Computação Grafi ca e Editoração

Agradecimento

O movimento Todos Pela Educação

agradece às pessoas e instituições

que, com seu apoio e trabalho,

colaboraram para a elaboração

deste relatório.

Page 3: Relatório De Olho na Educação 2009

3

É com satisfação que o movimento Todos Pela Educação apresenta este segundo relatório de

acompanhamento das suas Metas. Muito mais do que um instrumento concreto de mensuração

dos indicadores da Educação pública em nosso País, o relatório simboliza o enorme esforço que

a sociedade brasileira vem fazendo no sentido de proporcionar um ensino de qualidade para as

crianças e os jovens brasileiros.

Os resultados, contudo, demonstram que ainda estamos muito distantes do patamar de Edu-

cação que almejamos como nação. Demonstram também que o nosso percurso será longo e que,

pela experiência vivida até aqui, ainda teremos muitos obstáculos a superar.

Assim, ciente da dimensão dos seus objetivos, o movimento Todos Pela Educação vem am-

pliando a sua atuação com um importante conjunto de ações de mobilização de toda a socie-

dade, fundamentadas na convicção de que, para alcançarmos a qualidade que desejamos para a

Educação, é fundamental o engajamento cada vez maior de todos os brasileiros.

De forma especial, é cada vez mais importante que os governantes – não importando a

matiz política a que pertençam ou a esfera (federal, estadual ou municipal) em que atuem – pro-

movam para a Educação, políticas de Estado e não apenas de governo, fi rmando compromissos

públicos que garantam o alcance das metas e o aprendizado dos alunos.

O De Olho na Educação é um guia para esta grande mobilização.

JORGE GERDAU JOHANNPETER,Presidente do Conselho de Governança do

movimento Todos Pela Educação

Apresentação

Page 4: Relatório De Olho na Educação 2009

4 • De Olho nas Metas • 2009

Page 5: Relatório De Olho na Educação 2009

5

ATENDIMENTO E CONCLUSÃO ESCOLAR NO BRASIL

Viviane Senna e Mozart Neves Ramos

Mobilizar um país de tamanho continental, como o Brasil, por uma Educação de qualidade, não é uma tarefa simples. Requer tempo e persistência, mas, principalmente, comprometimento dos governos nas suas três esferas. Se bem sucedido, o processo leva, em média, o tempo de uma geração. Uma permanente mobilização social é fundamental, para que os governos coloquem essa causa na agenda de prioridades. Dessa forma, o estabelecimento de metas, para aferir perio-dicamente o resultado desse processo, ocupa um espaço estratégico.

Foi com essa percepção que, há três anos, o movimento Todos Pela Educação se propôs a esse desafi o, e defi niu 5 Metas para a Educação brasileira, a serem alcançadas até 2022. Para acom-panhar a evolução dos indicadores educacionais ao longo desse período, metas intermediárias anuais foram estabelecidas para o Brasil, regiões, estados e municípios, de forma que as políticas públicas para a Educação pudessem ser assim avaliadas regularmente.

As 5 Metas do movimento são focadas nos seguintes eixos: atendimento escolar, alfabetização das crianças, aprendizagem escolar, conclusão das etapas da Educação Básica, e volume e gestão dos investimentos públicos em Educação. O primeiro relatório de monitoramento dessas metas, lançado em dezembro de 2008, já revelava claramente o tamanho do desafi o que o País tem pela frente. Os avanços conquistados são ainda tímidos, em relação ao desejável para 2022.

Agora, o Todos Pela Educação apresenta o segundo relatório de monitoramento, mais especi-fi camente os resultados das Metas 1 e 4. Como a mensuração da meta 3, relativa à aprendizagem escolar, tem por base os resultados do Prova Brasil, sua divulgação só se torna possível a cada dois anos. O Brasil, lamentavelmente, ainda não tem uma avaliação externa em larga escala para aferir o nível de alfabetização de suas crianças ao término do primeiro ciclo de alfabetização, aos oito anos de idade, para o acompanhamento da Meta 2. A ampliação e gestão dos recursos para a

Introdução

Page 6: Relatório De Olho na Educação 2009

6 • De Olho nas Metas • 2009

Educação, de que trata a Meta 5, obteve recentemente uma importante vitória, com a retirada gradativa da Educação da DRU – Desvinculação das Receitas da União. Esta exclusão, mediante a promulgação da Emenda Constitucional 59/2009, também provocará um impacto importante na Meta 1, já que foi atrelada a obrigatoriedade da oferta do ensino dos 4 aos 17 anos.

Os resultados de acompanhamento das Metas 1 e 4, apresentados neste segundo relatório, revelam que o Brasil precisa cada vez mais dar um sentimento de urgência à causa da Educação.

No que diz respeito ao atendimento escolar de crianças e jovens de 4 a 17 anos, considerando os dados do Brasil, houve um aumento de 2007 para 2008; o País passou de 90,4% para 91,4%, respectivamente. Apesar do avanço, este percentual fi cou abaixo da meta intermediária de 91,9% projetada para 2008. A meta para 2022 é de 98%.

Quando analisados os dados por estado, somente a Bahia apresentou um resultado superior à meta intermediária para 2008. Considerando o intervalo de confi ança, já que os resultados são extraídos dos dados amostrais da PNAD/2008, dezenove estados e o Distrito Federal encontram-se dentro das metas, enquanto seis estados não atingiram esse patamar e fi caram abaixo da proje-ção para 2008: Alagoas, Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

No que se refere à Meta 4, os dados relativos ao Ensino Fundamental, indicam que o Brasil cumpriu a meta para 2008. Apenas três estados - Acre, Mato Grosso e Paraíba - apresentaram taxas de conclusão, para essa etapa da Educação Básica, acima das respectivas metas projetadas para 2008. Entretanto, dois outros estados, Pernambuco e Santa Catarina, fi caram abaixo do es-perado.

Com relação ao Ensino Médio, a taxa de conclusão, aos 19 anos, foi de 47,1% em 2008, re-sultado acima da meta projetada de 43,9%. Isso não deixa de ser um bom sinal. Entretanto, é preciso reconhecer que a distância para a meta fi nal de 90% é ainda relativamente gran-de. Merecem destaque positivo os estados do Ceará, Pará, Rondônia, São Paulo e Tocantins. Estes dois últimos, já apresentavam resultados, em 2007, acima da meta e mantiveram este bom desempenho em 2008.

Em geral, os números da Educação Brasileira, retratados pelas metas de atendimento e de conclusão escolar do Todos Pela Educação, mostram que o Brasil melhorou, mas não na velocida-de desejável. Algo muito similar ao observado em 2007, o que cada vez mais confere o caráter de urgência para a Educação brasileira.

VIVIANE SENNA é Presidente do Instituto Ayrton Senna e Coordenadora da Comissão Técnica

do Todos Pela Educação.

MOZART NEVES RAMOS é Presidente-executivo do Todos Pela Educação.

Page 7: Relatório De Olho na Educação 2009

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ÍndiceO movimento Todos Pela Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Introdução ao Relatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

Dados e análises da Meta 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Análise da Meta 2 – País precisa de um indicador nacional de qualidade da alfabetização, entrevista com Ruben Klein . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

Análise da Meta 3 – O papel do regime de colaboração na melhoria da Educação, artigo de Maria Auxiliadora Seabra Resende . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

Dados e análises da Meta 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Análise da Meta 5 – O Brasil está longe de investir 5% do PIB na Educação Básica, entrevista com Ricardo Martins . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

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O Todos Pela Educação é um movimento que congrega sociedade civil organizada, iniciativa pri-vada, educadores e gestores públicos da Educação. É uma união de esforços, em que cada cidadão ou instituição é corresponsável e se mobiliza, em sua área de atuação, para que as crianças e jovens tenham acesso a uma Educação Básica de qualidade.

O movimento trabalha para que sejam garantidas as condições de acesso, alfabetização, sucesso e conclusão escolar, além de lutar por uma ampliação e boa gestão do investimento em Educação. Esses grandes objetivos foram traduzidos em 5 Metas claras, realizáveis e monitoradas a partir da coleta sistemática de dados e da análise de séries históricas dos indicadores educacionais. As Metas servem como referência e incentivo para que a sociedade acompanhe e cobre a oferta de Educação de quali-dade para todos.

São elas:

Meta 1: Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola

Meta 2: Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos

Meta 3: Todo aluno com aprendizado adequado à sua série

Meta 4: Todo jovem com o Ensino Médio concluído até os 19 anos

Meta 5: Investimento em Educação ampliado e bem gerido

Tendo por ponto de partida uma visão crítica da presente situação da qualidade do aprendizado em nosso País, o Todos Pela Educação atua de maneira construtiva, solidária e criativa, na ampliação e qualifi cação da demanda por boa Educação e na melhoria da oferta educacional, buscando mobilizar a sociedade brasileira para a causa da Educação de qualidade para todos. Possui como estratégias de ação o monitoramento e análise dos indicadores educacionais, a maior e melhor inserção do tema na mídia, o fomento ao debate e à mobilização. A força do movimento reside na articulação dos esforços da sociedade civil, da iniciativa privada e de governos para criar a sinergia necessária à superação do quadro atual da Educação no Brasil, tendo em vista o cumprimento das 5 Metas até 2022.

O que é o Todos Pela Educação

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10 • De Olho nas Metas • 2009

Nesta segunda edição do relatório De Olho nas Metas 2009 são apresentados os dados e análises de acompanhamento das Metas 1 e 4, que possuem projeções inter-mediárias anuais monitoradas a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE.

Para as Metas 2, 3 e 5, que não possuem monitoramento anual, apresentamos nesta publicação artigo e entrevistas com especialistas que são sócios fundadores e membros da Comissão Técnica do Todos Pela Educação.

A Meta 2 é analisada por Ruben Klein, doutor em Matemática, especialista em ava-liação na área da Educação e consultor da Fundação Cesgranrio. Ele explica em entrevis-ta a necessidade e a importância da avaliação externa, com abrangência nacional, para acompanhar o processo de alfabetização na idade correta dos alunos brasileiros.

O tema da Meta 3 – todo aluno com aprendizado adequado à série – é abordado em artigo de Maria Auxiliadora Seabra Rezende (professora Dorinha), mestre em Educação, ex-presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) e secretária de Educação e Cultura do Estado de Tocantins de 2000 até setembro de 2009, que fala sobre a importância do regime de colaboração para a melhoria da qualidade do ensino.

Por fi m, para comentar a Meta 5, entrevistamos o doutor em Ciência da Computa-ção e consultor parlamentar da Câmara dos Deputados, Ricardo Martins, que avalia o ritmo da ampliação do investimento destinado à Educação Básica e defende a criação de uma Lei de Responsabilidade Educacional no País.

De Olho nas Metas – 2009

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O movimento Todos Pela Educação tem por objetivo que o Brasil chegue a 2022 – ano em que se comemora o bicentenário da independência do País – com a garantia de que todas as crianças e jovens estejam na escola, sejam alfa-betizados até os 8 anos, aprendam o que é adequado à sua série e concluam cada etapa do ensino na idade correta.

Esses grandes objetivos foram traduzidos em 5 Metas claras, realizáveis, mensuráveis e monitoráveis a partir da co-

Gráfi co 1.1 – Projeções das metas de atendimento de crianças e jovens entre 4 e 17 anos por região

“Até 2022, 98% ou mais das crianças e jovens de 4 a 17 anos

deverão estar matriculadose frequentando a escola.”

Meta 1

Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola

85,0

87,0

89,0

91,0

93,0

95,0

97,0

99,0

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

leta sistemática de dados e da análise de séries históricas de indicadores correlacionados à qualidade da Educação.

A Meta 1 trata do atendimento a um direito básico do cidadão: o acesso à Educação. Até o ano de 2022, a projeção é garantir que 98% das crianças e jovens entre 4 e 17 anos estejam matriculados e frequentando a escola. Esse número representará o atendimento educacional para todo o Brasil e em cada um de seus estados.

O gráfi co 1.1 mostra as projeções das metas de atendi-mento para o Brasil e em cada uma de suas regiões1. Como cada região/estado partia de um ponto específi co em 2006 e terá a mesma meta de atendimento em 2022, o trajeto entre os dois pontos é diferente para cada um deles. Quan-to mais distante estiver o indicador atual da meta estipu-lada para 2022, mais acelerada precisa ser a evolução do atendimento escolar para que a meta seja atingida.

Com base nessas trajetórias, foram calculadas as metas intermediárias para cada estado, para cada região e para o Brasil como um todo. A avaliação do cumprimento das metas intermediárias possibilita a formulação de estratégias pelos gestores responsáveis pela Educação, para que, em 2022, todos os estados brasileiros e o Distrito Federal pro-porcionem atendimento escolar para 98% de suas crianças e jovens. Ao mesmo tempo, os pais e responsáveis por es-

1 A metodologia para o cálculo dessa trajetória está disponivel na biblioteca do site do Todos Pela Educação: www.todospelaeducacao.org.br.

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ses alunos devem estar atentos não somente à responsa-bilidade de mantê-los na escola, como também de cobrar do poder público a garantia da disponibilidade do número de vagas necessárias para que esse atendimento seja cumprido.

Tabela 1.1 – Comparação entre a taxa de atendimento de 4 a 17 anos e a meta do Todos Pela Educação para 2008, segundo região e UF

Considerando o Brasil como um todo, 90,4% das crian-ças e jovens entre 4 e 17 anos já estavam na escola em 2007. Esse número subiu para 91,4% em 2008. Apesar de positivo, o aumento não foi sufi ciente para que a meta intermediária fosse atingida (91,9%).

Fonte: Pnad – IBGE/ Tabulação Própria

A Tabela 1.1 apresenta os resultados para o Brasil, suas regiões e estados. As cores da tabela representam o está-gio atual do cumprimento da meta intermediária de cada uma dessas unidades federativas. Existem três possibilida-des de resultado com relação à meta: superar, cumprir ou fi car abaixo dela. Para melhor visualizar essa situação, três

cores foram utilizadas. Quando a meta foi superada, utili-zou-se a cor verde, para mostrar que o cumprimento do caminho esperado está sendo mais rápido do que o pre-visto. Se a meta proposta estiver dentro do intervalo de confi ança2 dos dados da região ou do estado, a cor utilizada foi o amarelo, o que indica cautela na análise do resultado3.

2 Para calcular esse intervalo, utilizamos um nível de confi ança de 95%. Isso signifi ca que o valor observado tem uma probabilidade de 95% de estar dentro do intervalo calculado.3 Como o intervalo de confi ança foi grande o sufi ciente para incluir o valor da meta, não se pode afi rmar que o indicador se encontra abaixo da meta estipulada; porém também não podemos afi rmar com certeza que a meta tenha sido atingida. A cor amarela, dessa forma, representa maior cautela na interpretação do resultado, por apontar a necessidade de um esforço adicional para que as metas estipuladas nos próximos acompanhamentos sejam efetivamente cumpridas.

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4 Nesta tabela, ao contrário da anterior e das posteriores, excluímos a zona rural da Região Norte para fi ns de acompanhamento histórico. A zona rural da Região Norte só passou a ser pesquisada pela Pnad/IBGE a partir de 2004. Entretanto, para fi ns de cumprimento das metas, ela será incluída; por isso também a incluímos nas próximas análises.

Tabela 1.2 – Taxa de atendimento de 4 a 17 anos, segundo região (1999-2008)

Fonte: Pnad – IBGE/Tabulação própria.

Tabela 1.3 – Taxa de atendimento de 4 a 6 anos, segundo região1 (1999-2008)

Isso porque, estatisticamente, não existe diferença entre a meta intermediária proposta e o resultado encontrado em 2008. Por fi m, caso a meta esteja abaixo do intervalo de confi ança, o resultado foi sinalizado em vermelho, para apontar a necessidade de dar maior atenção a esses núme-ros e corrigir as estratégias, para que seja possível atingir a meta fi nal de 98% de atendimento em 2022.

Entre os estados, somente a Bahia alcançou um resulta-do superior a sua meta intermediária. Em 2008, 92,5% das crianças e jovens em idade escolar frequentavam a escola. Esse estado já apresentava um resultado positivo – com a meta dentro de seu intervalo de confi ança – em 2007, e agora consegue um resultado importante, que o coloca entre os estados com maior percentual de crianças e jovens em idade escolar atendidos. Outros quatro estados (Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul e Rondônia) apresentaram melhoras com relação à meta. Em 2007 eles estavam abai-xo da meta proposta, como sinalizavam os dados em ver-melho. Em 2008 conseguiram indicadores dentro de seus intervalos de confi ança, portanto, passaram a ser sinaliza-dos em amarelo na Tabela 1.1. Ao todo, em 2008, dezenove estados e o Distrito Federal fi caram com as metas interme-diárias dentro dos intervalos de confi ança estatisticamente estabelecidos.

Com resultados mais preocupantes encontram-se seis estados que não conseguiram atingir suas metas intermedi-árias. São eles: Alagoas, Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em 2007. o estado de Alagoas havia cumprido sua meta intermediária, mas não manteve o ritmo em 2008. Os outros cinco estados citados já estavam descumprindo a meta em 2007 e não consegui-ram recuperar esse desvio com relação ao proposto para o ano seguinte. Esses resultados não signifi cam que a meta necessariamente será descumprida ao fi nal do período. No entanto, serve de alerta para que se faça o quanto antes um esforço adicional para garantir o cumprimento da meta de atendimento escolar de jovens e crianças de 4 a 17 anos.

Também é importante ressaltar que quanto mais pró-ximo da projeção se encontre o estado ou região, mais concentrado precisará ser o esforço para garantir o cum-primento da meta. Isso porque as crianças e os jovens que estão fora da escola provavelmente são os que têm maior difi culdade de inserção, seja por condições fi nanceiras da família ou por motivos mais específi cos, que exigem uma ação ainda mais efetiva dos governos – como é o caso de crianças e jovens que vivem nas zonas rurais do Brasil.

A Tabela 1.2 apresenta a evolução histórica do atendi-mento escolar no Brasil e em suas regiões desde 19994 para a faixa etária de 4 a 17 anos.

1 Fonte: Pnad – IBGE/ Tabulação própriaOs números relativos à Região Norte, a partir de 2004, incluem a zona rural que estava fora da pesquisa nos anos anteriores.

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14 • De Olho nas Metas • 2009

A ampliação do acesso à Educação Infantil ainda re-presenta um grande desafi o para o País. Sabe-se que existe uma carência de vagas na pré-escola na maior parte dos estados brasileiros, sendo este possivelmente um dos mo-tivos para o baixo atendimento de crianças em idade pré-escolar5 . A Tabela 1.3 mostra que, apesar de uma tendência positiva ao longo do tempo, somente 83,3% das crianças dessa faixa etária estavam matriculadas em 2008. Conside-rando as regiões brasileiras, o atendimento com relação à pré-escola é maior no Nordeste, com 88%, e menor no Sul, onde somente 73,7% das crianças entre 4 e 6 anos frequen-tam a escola.

A perspectiva que se tem para os próximos anos é de melhora do índice, especialmente pela promulgação da Emenda Constitucional 59/2009. Essa emenda representa uma grande vitória para a Educação brasileira, pois deter-mina o fi m gradativo da Desvinculação das Receitas da

União (DRU) com relação aos recursos do setor. Além dis-so, a medida também amplia a obrigatoriedade do ensino para crianças e jovens entre 4 e 17 anos até 2016. O cumpri-mento dessa nova determinação constitucional signifi cará uma inclusão maior desde a idade pré-escolar até a idade prevista para a conclusão do Ensino Médio.

Estudos diversos que utilizam dados do Brasil e também de outros países mostram que crianças que frequentaram a pré-escola não somente têm maior chance de concluir os estudos nas etapas seguintes da vida escolar6 como tam-bém apresentam rendimento escolar superior ao daquelas que não o fi zeram7. Mesmo que essa etapa da vida escolar não tenha como propósito a alfabetização das crianças, a convivência delas com materiais de apoio e com pessoas qualifi cadas para desenvolver as suas habilidades cognitivas aumenta as chances de sucesso escolar no futuro.

Tabela 1.4 – Taxa de atendimento de 7 a 14 anos, segundo região1 (1999-2008)

1 Fonte: Pnad – IBGE/ Tabulação própriaOs números para a Região Norte, a partir de 2004, incluem a zona rural que estava fora da pesquisa nos anos anteriores.

5 A Lei no 11.274, de 2006, ampliou o Ensino Fundamental de 8 para 9 anos. Com essa medida, estados e municípios têm até 2010 para fazer a mudança. Assim, a partir do próximo ano, o Ensino Fundamental será de 9 anos, com a entrada das crianças aos 6 anos no 1º ano. Dessa forma, neste relatório, utilizamos a nomenclatura “idade pré-escolar” para nos referirmos à faixa etária dos 6 4 aos 6 anos de idade com o intuito de manter a comparabilidade com os anos anteriores. Entretanto, a partir do próximo ano, a faixa etária do ensino pré-escolar será até os 5 anos. Ver, por exemplo: A. Curi, A. et al., “Os efeitos da pré-escola sobre os salários, a escolaridade e a profi ciência escolar”, em Anais do XXXIV Encontro Nacional de Economia, Salvador, 2006.7 Ver M. Nicolau, “Um estudo das potencialidades e habilidades no nível da pré-escolaridade e sua possível interferência na concepção que a criança constrói sobre a escrita”, em Revista da Faculdade de Educação, 23(1-2), São Paulo, 1997, e F. Felicio & L. Vasconcellos, “O efeito da Educação infantil sobre o desempenho escolar medido em exames padronizados”, em Anais do XXXV Encontro Nacional de Economia, Recife, 2007.

Tabela 1.5 – Taxa de atendimento de 15 a 17 anos, segundo região1 (1999-2008)

1 Fonte: Pnad – IBGE/ Tabulação PrópriaOs números para a Região Norte, a partir de 2004, incluem a zona rural que estava fora da pesquisa nos anos anteriores.

Já o atendimento para crianças entre 7 e 14 anos – que pode ser verifi cado na Tabela 1.4 – está muito próximo da meta fi nal do Todos Pela Educação para o Brasil: 97,8% das pessoas nessa faixa etária estão na escola. Esse dado é co-mumente citado como a efetiva universalização da Educa-ção para nosso País. Entretanto, a universalização do ensino engloba não somente a entrada na escola como também a conclusão dos devidos níveis de ensino, assunto tratado na

Meta 4. Além disso, o índice de 97,8% de atendimento para essa faixa etária é uma média que, infelizmente, não se veri-fi ca em todos os estados, não aponta a carência já citada de vagas na pré-escola e a baixa frequência da continuidade da Educação para jovens entre 15 e 17 anos. A Tabela 1.5 mos-tra que somente 81,3% dos jovens nessa faixa etária estão na escola. Entre as regiões, o melhor resultado é da Região Sudeste, com inclusão de 83,6% dos jovens na escola. A Re-

Page 15: Relatório De Olho na Educação 2009

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gião Sul, onde somente 79,0% dos jovens estão estudando, aparece novamente com o resultado mais preocupante.

Qual a diferença entre quem está e quem não está na escola?

Embora a meta de chegarmos a 2022 com 98% de crian-ças e jovens entre 4 e 17 anos com atendimento escolar considere a população brasileira como um todo, existem características próprias dos indivíduos que são diferentes entre os que estão frequentando a escola e os que não es-tão. Em vista disso, efetuamos alguns recortes demográfi -cos para analisar a evolução das taxas de atendimento e conhecer melhor a população que precisa ser atendida. As características usadas nessas análises foram: gênero, cor8 , situação de moradia rural ou urbana e categorias de renda familiar per capita9 .

Do ponto de vista de evolução da inclusão, observa-se na última década uma alteração bastante signifi cativa

8 Para tornar a análise mais clara, usaremos somente “branco” ou “não branco”.9 Utilizamos as categorias disponíveis na PNAD: sem rendimento, com rendimento até ¼ do salário mínimo, rendimento entre ¼ e ½ salário mínimo, rendimento entre ½ e 1 salário mínimo, rendimento entre 1 e 2 salários mínimos, rendimento entre 2 e 3 salários mínimos, rendimento entre 3 e 5 salários mínimos e rendimento superior a 5 salários mínimos.

Gráfi co 1.2 – Evolução da taxa de atendimento de 4 a 17 anos por sexo (%)

em relação ao aumento da frequência à escola em todo o quadro demográfi co geral da população. Na maioria das vezes, o aumento verifi cado é mais expressivo justamente nos grupos demográfi cos que estavam mais à margem da inclusão escolar.

O Gráfi co 1.2 mostra que, em 1999, 85% dos potenciais alunos em idade escolar de ambos os sexos estavam na es-cola. Já em 2008, 91% deles e 92% delas estavam matricu-lados. Quando essa participação é analisada nas diferentes faixas etárias, ou seja, entre 4 e 6 anos, entre 7 e 14 anos e entre 15 e 17 anos, o resultado é consistente: sempre há uma participação maior das meninas no atendimento es-colar do que dos meninos. A única exceção é verifi cada no ano de 2008, quando a taxa de atendimento de meninos entre 4 e 6 anos (83,9%) é ligeiramente maior do que a de meninas da mesma idade (83,1%). Esse resultado pode in-dicar maior igualdade de matrícula entre os gêneros a partir dessa coorte para as etapas seguintes da Educação Básica.

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

Gráfi co 1.3 – Evolução da taxa de atendimento de 4 a 17 anos por cor (%)

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

Page 16: Relatório De Olho na Educação 2009

16 • De Olho nas Metas • 2009

Gráfi co 1.4 – Evolução da taxa de atendimento de 4 a 17 anos nas zonas rural e urbana (%)

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

Uma característica importante a ser analisada é a renda familiar e sua implicação na frequência à escola, conforme pode ser observado na Tabela 1.6. Sabe-se que pessoas com Educação formal maior recebem os salários mais elevados10. Reconhecidamente, uma forma de diminuir as diferenças sociais – bastante signifi cativas no Brasil – é por meio de um aumento do nível educacional, principalmente das classes de renda mais baixa. Analisando a participação das crianças e jovens na escola no período de 2004 a 2008 de acordo com as diferentes faixas de renda, percebe-se que quanto maior a faixa de renda per capita da família, maior a inclusão escolar. No que concerne a famílias com renda per capita acima de três salários mínimos, a meta de 98% está praticamente cumprida desde 200411 , com pequenas variações nos anos seguintes. Entretanto, no que tange às as crianças e jovens de famílias com renda per capita de até ¼ do salário mínimo, a situação é bastante diferente, sendo o acesso de apenas 89%. Vale ressaltar que, no Brasil, 73% das crianças e jovens em idade escolar são de famílias

com rendimento per capita abaixo de 1 salário mínimo. É justamente para essa parcela da população que se deve dar maior atenção.

De 2004 a 2008, é possível verifi car a evolução da taxa de atendimento escolar de quase todas as faixas de ren-dimento, exceto dos classifi cados pelo IBGE como “sem rendimento”, isto é, famílias em que nenhum responsável tem trabalho remunerado ou mesmo auxílio social regular. Essas famílias sobrevivem à custa de doações esporádicas e rendimentos de trabalhos esparsos durante o ano. Em 2004, 80% das crianças e jovens nesse nível de pobreza absoluta frequentavam a escola. O quadro parecia melhorar até o ano de 2007, quando atingiu uma inclusão escolar de 85%. Entretanto, em 2008, novamente a participação escolar di-minuiu para 81%, o que signifi ca que há 79 mil crianças fora da escola somente nessa faixa de renda. Essa diminuição do atendimento escolar afetou todas as faixas de idade, porém mais signifi cativamente crianças entre 4 e 612 anos e jovens entre 15 e 1713 anos .

10 F. Barbosa-Filho & S. Pessôa, O retorno da educação no Brasil, em Pesquisa e Planejamento Econômico, 38(1), Rio de Janeiro, 2008.11 Nesta comparação, utilizamos somente os dados de 2004 e seguintes para compatibilizar com a alteração da amostra colhida pela Pnad do IBGE, que foi alterada neste ano para inclusão da zona rural da Região Norte.12 De 77,3% em 2007 para 71,0% em 2008.13 De 66,2% em 2007 para 60,8% em 2008.

Outro aumento importante na participação escolar está relacionado à cor (ver Gráfi co 1.3). Em 1999, 87% dos indi-víduos brancos e 84% dos indivíduos não brancos entre 4 e 17 anos estavam na escola. Em quase dez anos, o aumento foi de 7% na inclusão escolar para os brancos e de 8% para os não brancos. Apesar desse avanço, a desigualdade entre brancos e não brancos permanece, chegando em 2008 a 93% e 91%, respectivamente.

Com relação à situação de moradia (ver Gráfi co 1.4), também se verifi cou um aumento de 5 pontos percentuais na presença escolar nas áreas urbanas (de 87% para 92%) e de 9 pontos percentuais na área rural (de 79% para 88%). Apesar de ter havido um crescimento do acesso nas zonas rural e urbana, a desigualdade entre ambas ainda é alta.

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Tabela 1.6 – Evolução da taxa de atendimento de 4 a 17 anos por faixas de rendimento familiar per capita (%)

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

Observando o número de pessoas em idade escolar nas famílias sem rendimento nesses dois anos, constata-se que 594 mil crianças e jovens estavam nessa situação em 2007, e que o número diminuiu para 415 mil em 2008. Essa queda de participação escolar (de 85% para 81%) pode ser em grande parte explicada pela diferença de composição da população que se encontrava sem renda nos dois últimos anos.

O crescimento econômico verifi cado no Brasil entre 2007 e 2008, adicionado aos programas sociais do governo, fez com que parte das famílias sem rendimento migrasse de categoria. Entretanto, as famílias que permaneceram sem renda no segundo período são as que têm a maior difi cul-dade de colocar os fi lhos na escola, seja pela distância que separa seu local de moradia das escolas disponíveis, seja por características familiares únicas de excessiva mobilidade ou até mesmo pelo menor interesse e informação a respeito da importância da Educação para seus fi lhos. A inclusão dessas crianças e jovens na escola, embora difícil, é viável e é um direito a ser atendido. Embora esses números ilustrem

uma vez mais a importância das características da família e de sua condição econômica e social para o efetivo cumpri-mento da meta de atendimento escolar, a condição social em que vivem esses alunos não deve servir de impedimen-to para que eles usufruam do seu direito e do seu poten-cial de aprendizado. Nisso reside a importância da atenção dos gestores públicos para a inclusão de diferentes grupos demográfi cos nas políticas de geração e manutenção da renda.

Utilizando essas informações que remetem às caracte-rísticas das pessoas, foi elaborado um modelo estatístico que aponta as diferentes chances de uma pessoa estar ou não na escola, dependendo de suas características indivi-duais14 . Esse tipo de análise é importante para a defi nição de estratégias de inclusão escolar, pois é possível conhecer mais detalhadamente o perfi l das crianças e dos jovens que estão frequentando a escola e compará-lo com o dos que estão excluídos do sistema, mensurando o impacto de suas características individuais no atendimento escolar. O Gráfi -co 1.5 mostra o resultado dessas estimativas.

14 Esse modelo é chamado de Probit , sendo reportados, neste relatório, os efeitos marginais de cada uma das características abordadas.

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18 • De Olho nas Metas • 2009

Seguindo os resultados apresentados quanto às catego-rias de gênero, cor, região de moradia e rendimento familiar per capita, observa-se que as categorias com maior taxa de atendimento escolar em 2008 tiveram impacto positivo mais forte na inclusão escolar. Alguns dados do Gráfi co 1.5 chamam maior atenção. O fato de a família residir em uma zona urbana aumenta em 3% a probabilidade de seus fi lhos estarem matriculados na escola. Isso demonstra a necessi-dade de se dedicar maior atenção às taxas de matrícula nas zonas rurais e aos incentivos e informações dados aos pais e responsáveis para que essa determinação constitucional – inclusão escolar obrigatória de crianças e jovens entre 4 e 17 anos – seja efetivamente cumprida.

O fato de o pai estar empregado aponta para um acrés-cimo de 5,4% na probabilidade de os fi lhos frequentarem a escola – e quanto maior a faixa de renda, maior a proba-bilidade de atendimento escolar. O ambiente econômico e a situação social da família têm grande interferência no resultado de inclusão escolar das crianças e jovens. Em fa-mílias nas quais os pais estão desempregados, muitas vezes os jovens deixam de frequentar a escola para contribuírem fi nanceiramente com a família, tanto pela diminuição de despesas como pelo seu próprio trabalho e remuneração.

Quais as perspectivas para os próximos anos?

Considerando o progresso da inclusão escolar verifi ca-do nos últimos cinco anos, é possível projetar como estarão os indicadores em 2013. A Tabela 1.7 apresenta os resulta-dos dessas projeções. Como no período de 2004 a 2008, o crescimento do atendimento escolar de crianças e jovens entre 4 e 17 anos foi de 3,45% no Brasil. Se esta taxa se man-tiver estável nos próximos 5 anos, não será possível atingir a meta intermediária do movimento Todos Pela Educação de 95,2% em 2013. O mesmo ocorrerá em quase todas as regiões brasileiras, exceto nas regiões Nordeste e Sudeste. A Região Nordeste teve um crescimento de 4,7% nos últimos 5 anos, e, se mantiver esse ritmo nos próximos 5 anos, che-gará a 96,24% de crianças e jovens em idade escolar matri-culados, cumprindo a meta estipulada para 2013. Igual é a tendência para a Região Sudeste, que teve um crescimento de 3,4% da inclusão escolar e atingiria a meta intermediária de 95,7%.

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

Gráfi co 1.5 – Efeito percentual de variáveis escolhidas no atendimento escolar de crianças e jovens entre 4 e 17 anos (%)

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Tabela 1.7 – Projeções de taxa de atendimento de 4 a 17 anos para 2013 com a manutenção das taxas de crescimento observadas entre 2004 e 2008 inclusive

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

Para que o ritmo adequado de inclusão seja atingido em todas as regiões, uma atenção especial deve ser dada aos incentivos para que jovens entre 15 e 17 anos permane-çam matriculados e frequentando a escola. Também é ne-cessário que os pais das crianças entre 4 e 6 anos reconhe-çam a importância da pré-escola para o futuro dos fi lhos.

Se as mudanças necessárias rumo à inclusão escolar forem colocadas em prática nesse período, aumentarão as chan-ces de serem atendidas as metas intermediárias seguintes e a meta fi nal de 2022: teremos 98% do atendimento escolar de crianças e jovens brasileiros entre 4 e 17 anos.

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20 • De Olho nas Metas • 2009

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21

Meta 2

Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos

“Até 2010, 80% ou mais, e até 2022, 100% das crianças deverão apresentar as habilidades

básicas de leitura e escrita até o fi nal da 2ª série/3º ano do Ensino Fundamental.”

País precisa ter indicador nacional de qualidade da alfabetização

Garantir o direito da alfabetização na idade correta a todas as crianças é um grande passo para o sucesso esco-lar. Para verifi car e acompanhar esse direito, são necessários dois indicadores: o primeiro para verifi car se a conclusão da 2ª série/3º ano está ocorrendo na idade correta; e o segun-do para medir a qualidade dessa alfabetização. O primeiro pode ser obtido a partir das PNADs – mas, para o segun-do , ainda não há um indicador nacional para mensurar a qualidade da alfabetização. Para falar sobre esse importante tema, o movimento Todos Pela Educação entrevista Ruben Klein, especialista em avaliação e consultor da Cesgranrio. Para ele, o Brasil perdeu este ano uma grande chance de in-corporar ao Saeb/Prova Brasil uma avaliação da alfabetiza-ção dos alunos da 2ª série/3º ano do Ensino Fundamental.

Durante a entrevista, Klein explica como seria a cons-trução de um indicador para o acompanhamento da Meta 2 e por que a Provinha Brasil não pode ser considerada uma avaliação externa. O Ensino Fundamental de 9 anos e o atraso escolar nas séries iniciais estão entre os assuntos analisados pelo especialista, que também é sócio-fundador e membro da Comissão Técnica do movimento Todos Pela Educação.

Todos Pela Educação - Qual é a importância da Meta 2 do movimento Todos Pela Educação?

Ruben Klein - O cumprimento da Meta 2 é fundamental para o cumprimento da Meta 4 – todo jovem de 19 anos com Ensino Médio concluído –, isso porque atrasos nes-sa fase inicial do aprendizado são difíceis de recuperar. Da mesma maneira, se a parte de qualidade da Meta 2 não ti-ver sido cumprida, difi cilmente a Meta 3 – todo aluno com aprendizado adequado à sua série – será alcançada.

A Meta 2 requer um fl uxo escolar correto: toda criança entrando na escola na idade correta (6 anos no 1º ano do Ensino Fundamental) ou adiantada e um ensino de quali-

dade que permita que os alunos passem de ano e garanta que toda criança saiba ler, escrever e entender textos sim-ples. Em nossa opinião, toda criança deve ter também do-mínio de algumas habilidades matemáticas. Observamos que essa meta requer que não haja retenções de alunos nas séries iniciais.

Todos Pela Educação - A Provinha Brasil não pode ser considerada uma avaliação externa e um instrumento de controle social do processo de alfabetização no país, como são o Saeb e a Prova Brasil?

Ruben Klein - Na Provinha Brasil, o INEP/MEC disponibili-za, no início e no fi nal do ano, um teste de múltipla escolha em leitura para que cada escola ou secretaria estadual/mu-nicipal aplique, voluntariamente, aos alunos da 1ª série/2º ano do Ensino Fundamental. Embora avalie a capacidade de ler e escrever, o teste não mede a escrita, pois não tem questões dissertativas ou espaço dedicado à redação. A Provinha Brasil pode ser útil para as redes e os professores avaliarem seus alunos como um instrumento pedagógico, mas não é uma avaliação externa, pois não é aplicada e cor-rigida externamente com a garantia de critérios de padroni-zação de aplicação e de correção.

Para ser viável, uma meta precisa ser defi nida através de indicadores que possam ser acompanhados ao longo dos anos e comparados com o objetivo fi nal. O uso da PNAD para o indicador de conclusão na idade correta satisfaz esse critério. Para avaliar a qualidade, é necessário ampliar o Saeb/Prova Brasil com testes de Língua Portuguesa e Ma-temática aplicados universalmente ou em amostras na 2ª série/3º ano e cujos resultados sejam apresentados na esca-la do Saeb. Isso é muito desejável para poder comparar os resultados com os das outras séries. Os resultados da Pro-vinha Brasil não estão na escala do Saeb: sua aplicação não é universal, nem amostral. Por isso, não é possível, a partir da Provinha Brasil, defi nir indicadores para acompanhar a evolução da Meta 2 no País.

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22 • De Olho nas Metas • 2009

Todos Pela Educação – Então, em sua análise, como de-veria ser uma avaliação nacional que permitisse à so-ciedade acompanhar se o processo de alfabetização das crianças está sendo realizado na idade correta?

Ruben Klein - Para medir a parte da qualidade da Meta 2, é preciso expandir as escalas de Língua Portuguesa (Leitura) e de Matemática do Saeb/Prova Brasil para a 2ª série/3º ano do Ensino Fundamental. Isso pode ser feito sem problemas, e já ocorre em algumas avaliações estaduais e municipais. É uma pena que o INEP/MEC tenha perdido a chance de introduzir essa série/ano na realização do Saeb/Prova Bra-sil no ano de 2009. Isso poderia ter sido feito, inicialmente, somente em uma amostra, como no Saeb. De qualquer maneira, fi ca a demanda para que esses acréscimos sejam incluídos no Saeb/Prova Brasil de 2011. Quanto à parte do fl uxo escolar, idade correta, pode-se medir o percentual de conclusão da 2ª série/3º ano na idade correta de 9 anos.

Elaborei uma avaliação que exibe os percentuais do Brasil e das regiões relativos a essa questão. Observa-se que em 2008 somente 62% das crianças de 9 anos já concluíram a 2ª série/3º ano. As taxas estimadas sofreram uma queda em 2007, pois somente nesse ano a PNAD começou a dis-tinguir os Ensinos Fundamentais de 8 e 9 anos.

Tabela 1 – Percentual das crianças de 9 anos* (e e.p - erro padrão) que já concluíram a 2ª série/3º ano, segundo as PNADs.

Fonte: Estimativas feitas por Ruben Klein a partir dos microdados das PNADs.* Idade escolar defi nida por 9 anos completos em 30 de junho.

Todos Pela Educação - Como seria essa avaliação?

Ruben Klein - É importante ressaltar que na aplicação desse teste para a 2ª série/3º ano, os mesmos critérios de aplicação da 4ª série/5º ano, sem nenhuma leitura por par-te do aplicador, devem ser mantidos. Feita a ampliação da interpretação das escalas do Saeb, únicas por disciplina, po-deriam ser defi nidas metas de qualidade, como ocorre na Meta 3 para Língua Portuguesa/Leitura e para Matemática.

Na alfabetização, é importante medir também a parte de escrita. Para isso, é necessário incluir uma parte de ques-tões com respostas construídas, que talvez possa ser incor-porada à escala de Língua Portuguesa ou que exija a criação de uma escala separada de escrita, além de uma redação. Isso também poderia ter sido introduzido no Saeb/Prova Brasil desse ano.

Todos Pela Educação - Como o senhor avalia a amplia-ção do Ensino Fundamental para 9 anos?

Ruben Klein - No ano passado lembramos que existia o perigo de a introdução do Ensino Fundamental de 9 anos acarretar aumento do atraso escolar, pois a nova série po-deria reter alunos e também atrair alunos novos de 7 anos para o 1º ano. Isso aconteceu com a introdução da Classe de Alfabetização (CA) em algumas redes estaduais a partir de 1985, como, por exemplo, nas redes de ensino do Rio de Janeiro. Agora temos evidência de que isso está, de fato, ocorrendo.

Uma análise de fl uxo, a partir dos dados divulgados pelo INEP/MEC*, mostra uma queda considerável no número de alunos novos na 1ª série/2º ano. Esse número deveria ser da ordem de 3,4 milhões, número aproximado de crianças de 7 anos. No entanto, em 2008, esse número caiu para cer-ca de 2,85 milhões. Pela experiência anterior sobre as CAs, sabe-se que esse número retorna ao normal lentamente, mas que inclui muitos alunos com atraso escolar. Esse fato pode acarretar uma queda maior ainda nas taxas de con-clusão da 2ª série/3º ano na idade correta.

Todos Pela Educação - Qual é o atraso escolar nessa faixa etária?

Ruben Klein - O atraso escolar na 1ª série/2º ano já é gran-de. Segundo as PNADs de 2007 e 2008, o percentual de crianças de 7 anos matriculadas na escola, mas que não atingiram a 1ª série/2º ano, esta em torno de 25%. Há ainda cerca de 2% de crianças de 7 anos fora da escola. É preciso ressaltar que a Meta 4 admite um ano de atraso para con-clusão do Ensino Fundamental e/ou do Ensino Médio. A Meta 2, não.

Segundo o INEP/MEC*, na maioria dos estados das regi-ões Norte e Nordeste e nos estados de São Paulo e do Espí-rito Santo, ainda falta muito para acabar a implantação do Ensino Fundamental de 9 anos. Logo, é razoável supor que, sem nenhuma ação externa, o atraso escolar vai aumentar, e as taxas de conclusão cairão mais ainda.

Todos Pela Educação - O que pode ser feito para solucio-nar esse problema?

Ruben Klein – É necessário haver ações imediatas por par-te dos governos e da sociedade para reverter essa situação. É preciso garantir que toda criança de 6 anos esteja matri-culada no 1º ano do Ensino Fundamental de 9 anos, que deve estar plenamente implementado em 2010. Retenções ou repetências nessas séries iniciais só devem ocorrer em casos extremos.

* Sinopses Estatísticas da Educação Básica de 2007 e 2008 – INEP/MEC

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23

Meta 3

Todo aluno com aprendizado adequado à sua série

“Até 2022, 70% ou mais dos alunos terão aprendido o que é essencial

para a sua série.” Ficou defi nido então que 70% dos alunos do 4º/ano e

8ª séries ou 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio do conjunto de alunos das

redes pública e privada deverão ter desempenhos superiores a respectivamente

200, 275 e 300 pontos na escala de Português do Saeb, e superiores a 225,

300 e 350 pontos na escala de Matemática.

O papel do regime de colaboração na melhoria da EducaçãoPor Maria Auxiliadora Seabra Resende (prof. Dorinha)*

O movimento Todos Pela Educação faz um chamamen-to para um pacto entre a sociedade, os gestores públicos e privados e, de uma forma especial, para que eu e você rea-lizemos um esforço de nação republicana: fazer com que a Educação seja assumida como urgência – portanto, muito mais do que uma prioridade –, sem a qual nosso País não terá futuro.

Dentre as 5 Metas do Todos Pela Educação, que foram estabelecidas coletiva e democraticamente, destacamos a relevância e o enorme desafi o apresentado pela Meta 3

– todo aluno com aprendizado adequado à sua série. Ela abriga o direito social à Educação de qualidade – e não es-tamos falando somente de criação de vagas, mas de acesso, permanência e sucesso escolar. O cumprimento pleno de nossa responsabilidade implica que toda criança – e não apenas algumas – tenha acesso à escola e conclua o apren-dizado em idade correta.

São inadmissíveis os índices de distorção idade-série que revelam uma escola excludente, que reprova e cujo acesso e permanência ainda são limitados. Os dados nos provocam, evidenciando o atraso já nos primeiros anos de escolariza-ção, alcançando no Ensino Médio índices superiores a 50%. É preciso que crianças e jovens continuem aprendendo. O direito que deve ser assegurado não é somente o de acesso à vaga, mas, sobretudo, o direito de ‘aprender.

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007.

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24 • De Olho nas Metas • 2009

Não estamos dizendo que não nos causa indignação o fato de milhares de crianças e jovens ainda estarem fora da escola ou chegando a ela tardiamente, em especial nas áreas mais pobres e de difícil acesso, como na região amazônica, no Nordeste, em áreas indígenas e no campo. A desigualda-de ainda é muito presente na realidade educacional brasi-leira, os recursos ainda se concentram em algumas regiões. E, embora o Fundeb represente um avanço ao atender a toda a Educação Básica, os valores disponíveis aos estados e municípios são ainda muito desiguais.

Por outro lado, o fato de 97% das crianças frequentarem o Ensino Fundamental signifi ca que a noção de direito à Educação enquanto direito à vaga está superada, e colo-ca no centro das discussões o direito de aprender, como garantia de que nossas crianças e jovens tenham conhe-cimentos e competências adequados a sua série e idade. O acompanhamento da Meta 3 do Todos Pela Educação evidencia como estamos distantes de efetivar esses direitos: o melhor resultado está na 4ª série do Ensino Fundamental, com apenas 27,3% das crianças com aprendizado adequa-do à sua serie em Língua Portuguesa. No 3º ano do Ensino Médio, em Matemática, esse percentual é ainda mais baixo – 9,8% –, revelando a falta de qualidade e a desigualdade da Educação no País.

Assumir essa responsabilidade em nosso modelo fede-rativo nos impõe a tarefa de articular os diferentes níveis, etapas e modalidades de ensino, mas principalmente de es-tabelecer o regime de colaboração entre as unidades fede-rativas. Retirar do papel a cooperação entre União, estados e municípios signifi ca discutir os limites e ações da União, falar da pertinência ou não da criação do Sistema Nacional

de Educação, da necessidade de defi nir diretrizes educacio-nais comuns, de estabelecer políticas públicas universalizá-veis, de regulamentar as responsabilidades dos estados e municípios em um cenário de desigualdades regionais, es-taduais, municipais e locais e de uma diversidade de redes nem sempre conectadas.

A sociedade, a comunidade escolar, nossos estudantes não compreendem nossos limites de atuação. Todos que-rem e têm direito a uma boa escola, não importa a qual rede de ensino pertençam. É necessária ainda a superação do papel do estado somente enquanto gestor de sua rede, para que a Educação seja oferecida de maneira democráti-ca e colaborativa por estados e municípios.

A garantia de que todos têm o direito de aprender é um desafi o para os gestores públicos das secretarias esta-duais e municipais e das escolas públicas, que precisam as-sumir coletivamente o compromisso de ensinar e aprender. Cabe ainda aos pais zelar pela frequência dos fi lhos à escola, acompanhar as tarefas de casa e entender o que isso signi-fi ca para o futuro de seus fi lhos.

Eu, você e todos nós precisamos que cada uma e todas as crianças cheguem à escola, e que essa escola faça dife-rença na vida delas. Garantir que elas aprendam – este é o direito que nos cabe assegurar.

* Foi presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) e secretária estadual de Educação do Tocantins. É sócia fundadora e membro da Comissão Técnica do Todos Pela Educação.

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007

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25

Meta 4

Todo aluno com o Ensino Médio concluído até os 19 anos

“Até 2022, 95% ou mais dos jovens brasileiros de 16 anos deverão ter completado o Ensino Fundamental e 90% ou

mais dos jovens brasileiros de 19 anos deverão ter completado o Ensino Médio.”

A Meta 4, de certa forma, é o resultado do sucesso e do cumprimento de todas as outras. Não somente as crianças e jovens devem frequentar a escola, mas ser alfabetizados na idade correta, e, ao longo do tempo, é necessário que eles aprendam o que é adequado à sua série, concluindo assim a Educação Básica na idade adequada. Para tanto, a proposta do movimento Todos Pela Educação é que, em 2022, 95% dos jovens com 16 anos tenham o Ensino Funda-mental completo e 90% dos jovens de 19 anos tenham con-cluído o Ensino Médio. Tanto a qualidade do Ensino Funda-mental, como a idade em que ele é concluído impactam os resultados de conclusão do Ensino Médio, a Meta 4 propõe diferentes taxas de conclusão para essas duas fases.

A Meta 4 também possui pontos de verifi cação inter-mediários. Nesse caso, a previsão do crescimento dos parâ-metros é mais lenta nos primeiros anos e mais acelerada ao fi nal do período. Esta adequação das metas intermediárias se faz necessária para os objetivos de conclusão de Ensino

Fundamental e Ensino Médio devido ao fato de as caracte-rísticas de acesso, qualidade do ensino e permanência dos alunos na escola já estarem de certa forma defi nidas devido à defasagem escolar que havia na época em que as metas foram estabelecidas, em 2006.

A partir de 2013, será possível cobrar de forma mais efe-tiva a conclusão do Ensino Fundamental com menor diver-gência entre idade e série. Isso porque é de se esperar que o perfi l dos alunos que estarão prontos para concluir o Ensi-no Fundamental seja diferente do dos alunos que estavam na escola anteriormente. O mesmo raciocínio vale para o Ensino Médio a partir de 2017, quando os alunos matri-culados nessa etapa terão maiores condições de concluí-la antes de completarem 19 anos.

Os gráfi cos 4.1 e 4.2 apresentam as projeções para o cumprimento da Meta 4.

Gráfi co 4.1 – Projeções das metas de conclusão do Ensino Fundamental para jovens de até 16 anos, por região, até 2021

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

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2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

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26 • De Olho nas Metas • 2009

Gráfi co 4.2 – Projeções das metas de conclusão do Ensino Médio para jovens de até 19 anos, por região, até 2021

Conclusão do Ensino Fundamental até os 16 anos

A conclusão do Ensino Fundamental na idade correta é essencial para o cumprimento da Meta 4 no que se refere ao Ensino Médio. No Brasil, a taxa de conclusão do Ensi-no Fundamental aos 16 anos é realidade para 61,5% dos jovens (Tabela 4.1). Assim como explicitado na Meta 1, a Meta 4 também possui um intervalo de confi ança. É por

Tabela 4.1 – Comparação entre as metas do Todos Pela Educação e as taxas de conclusão observadas em 2008

isso que, apesar de o percentual observado estar acima da meta proposta para 2008, de 61,3%, não é possível afi rmar se a meta foi cumprida ou não, pois a meta está dentro do intervalo de confi ança do indicador. O Norte do país, onde 50,1% dos jovens concluíram o Ensino Fundamental aos 16 anos, foi a única região brasileira que superou a meta intermediária proposta para a conclusão dessa etapa, que era de 46,2%. As outras regiões têm resultado similar ao encontrado em 2007 – a meta estipulada para cada uma

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Fonte: Pnad – IBGE/ Tabulação própria

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27

15,00

25,00

35,00

45,00

55,00

65,00

75,00

85,00

1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Gráfi co 4.3 – Evolução da série histórica das taxas de conclusão do Ensino Fundamental aos 16 anos de idade

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação Própria

A constatação da desaceleração do crescimento das ta-xas de conclusão no Ensino Fundamental representa um alerta para todos os gestores educacionais: é necessário ter nossas crianças e jovens na escola – mas, se eles não tiverem a adequada progressão escolar nas idades previstas, o impacto desse esforço para melhorar o ensino no Brasil será reduzido.

Conclusão do Ensino Médio até os 19 Anos

A taxa de conclusão do Ensino Médio aos 19 anos foi de 47,1% em 2008 (Tabela 4.1). Esse indicador encontra-se acima da meta proposta, o que é um bom sinal. Entretanto,

delas está dentro do intervalo de confi ança do parâmetro estimado. A indicação em amarelo aponta a necessidade de cautela na interpretação dos resultados, ainda mais por já ser possível verifi car uma desaceleração no crescimento dessa taxa na maior parte delas. Comparando os resultados de 2007 com os de 2006, todas as regiões tiveram um cres-cimento do indicador em torno de 2 pontos percentuais. De 2007 para 2008, a média do crescimento das regiões foi de somente 1 ponto percentual.

Considerando os estados separadamente, destaca-se o resultado positivo em três deles: Acre, Mato Grosso e Paraíba, que apresentaram índices de conclusão do Ensino Fundamental na idade adequada acima da meta interme-diária proposta. A maior parte dos estados alcançou resul-tados dentro do intervalo de confi ança estimado – então, novamente, não se pode afi rmar com certeza que a meta tenha sido atingida.

Entretanto, Pernambuco e Santa Catarina, cuja meta estava dentro de seu intervalo de confi ança em 2007,

agora apresentam resultados abaixo do esperado. Per-nambuco atingiu, em 2007, 43,1% de conclusão do Ensino Fundamental aos 16 anos. Em 2008, esse percentual caiu para 36, 9%, sendo que sua meta era de 42,5%. Além de a meta deste ano não ter sido atingida, começa-se a observar um sinal de retrocesso com relação ao parâmetro. Santa Cata-rina, como já foi mencionado, é um dos estados que tam-bém não cumpriu a sua meta para 2008, fi cando 5 pontos percentuais abaixo do esperado, que era de 79,7%. O estado tem uma taxa de conclusão de 75% para jovens até 16 anos, o que signifi ca que ele está mais próximo da meta fi nal de 95% do que outros estados. Entretanto, na medida em que se avança no cumprimento das metas, o esforço adicional para atingi-las é necessariamente mais elevado – e Santa Catarina não tem conseguido obter resultados que aten-dam satisfatoriamente a suas metas intermediárias. A evo-lução histórica desse indicador para o Brasil e suas regiões pode ser observada no Gráfi co 4.3.

é preciso observar que a distância que o separa da meta fi nal é bastante grande. Em 2022, espera-se que 90% dos jovens com 19 anos tenham completado essa etapa do ensino – em relação ao indicador atual, um aumento de 43 pontos percentuais nos próximos 14 anos. Todas as re-giões alcançaram as metas inicialmente estabelecidas para 2008, exceto a Região Sul, onde o parâmetro alcançado é de 54,8% em 2008, valor este que está dentro do intervalo de confi ança. Em termos de evolução histórica, como é pos-sível observar no Gráfi co 4.4, todas as regiões apresentam melhoras em relação aos anos precedentes.

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28 • De Olho nas Metas • 2009

Os estados que têm destaque positivo nesta meta são: Ceará, Pará, Rondônia, São Paulo e Tocantins. Estes dois úl-timos, em particular, já apresentavam resultados acima da

Gráfi co 4.4 – Evolução da série histórica das taxas de conclusão do Ensino Médio aos 19 anos de idade

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

Quem está conseguindo concluir o Ensino Fundamental e Médio em idade adequada?

As características individuais dos jovens e de suas famí-lias têm implicações importantes, como já foi mencionado,

Gráfi co 4.5A – Evolução da taxa de conclusão do Ensino Fundamental relativa aos jovens de até 16 anos segundo gênero (%)

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

meta em 2007 e continuam com bons resultados em 2008. Já os três primeiros, que estavam dentro do intervalo de confi ança no ano anterior, agora estão acima da meta.

para a conquista das metas propostas. Uma análise tem-poral dos últimos dez anos mostra que um avanço impor-tante foi observado no sentido de os jovens completarem tanto o Ensino Fundamental como o Médio, mas alguns grupos continuam tendo maior probabilidade de concluí-los do que outros.

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29

Com relação ao gênero, as mulheres jovens têm um diferencial signifi cativo em relação aos homens de mesma idade, como mostra o Gráfi co 4.5A. Em 2008, 69% das jo-vens de 16 anos haviam concluído o Ensino Fundamental, enquanto somente 55% dos jovens (homens) tinham con-seguido concluí-lo. Quando se observa a taxa de conclusão do Ensino Médio aos 19 anos, a distância entre os resulta-dos obtidos diminui, como mostra o Gráfi co 4.5B; contudo, segue o mesmo perfi l mostrado acima: 53% das mulheres concluem essa etapa do ensino em idade adequada, ao passo que somente 41% dos homens o fazem.

Historicamente, há uma grande desigualdade entre brancos e não-brancos no que se refere à conclusão das etapas escolares. Em 2008, é possível verifi car que 74% dos jovens brancos concluem o Ensino Fundamental até os 16 anos e somente 52% dos jovens não brancos conseguem fazê-lo (Gráfi co 4.6A). Quando se analisa a conclusão do Ensino Médio aos 19 anos, o quadro da desigualdade é o mesmo: concluem essa etapa 59% dos jovens brancos, con-tra apenas 36% dos jovens não brancos (Gráfi co 4.6B).

Gráfi co 4.5B – Evolução da taxa de conclusão do Ensino Médio relativa aos jovens de até 19 anos segundo gênero (%)

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

Gráfi co 4.6A – Evolução da taxa de conclusão do Ensino Fundamental relativa aos jovens de até 16 anos segundo cor (%)

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

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30 • De Olho nas Metas • 2009

Gráfi co 4.6B – Evolução da taxa de conclusão do Ensino Médio para jovens até 19 anos segundo cor (%)

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação Própria

Gráfi co 4.7A – Evolução da taxa de conclusão do Ensino Fundamental relativa aos jovens de até 16 anos de zonas rural e urbana (%)

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação Própria

Gráfi co 4.7B: Evolução da taxa de conclusão do Ensino Médio relativa aos jovens de até 19 anos de zonas rural e urbana (%)

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

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Residir fora de uma área urbana também tem grande impacto nas taxas de conclusão escolares. Somente 39% dos jovens de 15 a 17 anos que residem nas áreas rurais terminam o Ensino Fundamental aos 16 anos. No Ensino Médio, esse percentual é de apenas 22%, como é possível verifi car nos Gráfi cos 4.7A e 4.7B.

Outro ponto a ser destacado é que quanto maior a renda familiar, maiores são as chances de conclusão das etapas escolares na idade correta. No que concerne aos jovens oriundos de famílias com rendimento per capita acima de 2 salários mínimos, a taxa de conclusão do En-sino Fundamental aos 16 anos15 gira em torno de 93% (Tabela 4.2). Entretanto, os jovens que provêm de famílias

que têm maior restrição em termos fi nanceiros são os que também têm maior difi culdade em concluir os estudos. O percentual de jovens de famílias com renda per capi-ta entre ¼ e de ½ salário mínimo que concluem o Ensino Fundamental até os 16 anos é de apenas 32,15% e 46,89%, respectivamente. Entre os jovens de famílias com esses mes-mos rendimentos, a conclusão do Ensino Médio até os 19 anos é de 13,65% e 22,91%, respectivamente. Novamente é importante salientar que a conclusão das diferentes etapas escolares em idades adequadas é possível para os jovens de todas as faixas de renda. Cabe aos gestores públicos e à sociedade a discussão mais ampla sobre esse assunto para que esse direito dos jovens seja realmente satisfeito.

Tabela 4.2 – Evolução da taxa de conclusão do Ensino Fundamental aos 16 anos por faixas de rendimento familiar per capita (%)

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

15 As taxas de conclusão do Ensino Fundamental aos 16 anos são de 90,22% nos casos de renda per capita entre 2 e 3 salários mínimos; 96,1% nos de renda per capita entre 3 e 5 salários mínimos; 93,1% nos casos de famílias com renda per capita acima de 5 salários mínimos.

Tabela 4.3: Evolução da taxa de conclusão do Ensino Médio aos 19 anos por faixas de rendimento familiar per capita (%)

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

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A importância de medidas que possam atenuar ou até mesmo eliminar essas distorções, especialmente com relação à renda, está baseada no fato de que a conclusão das etapas escolares tem impacto direto na renda futura e na possibilidade de ocupação dos indivíduos. Em estimati-vas de retorno ao investimento feito para a Educação16 – cf. Barbosa Filho e Pessôa (2008), pesquisa citada anterior-mente –, verifi cou-se que existe o chamado “efeito diplo-ma”: cada ano adicional de estudo implica salário médio mais elevado. Outro estudo que utilizou dados da PNAD de 2007, coordenado pelo economista Marcelo Néri17 , mostra que o diferencial médio de salários é impactado fortemente pela Educação dos indivíduos. Por exemplo, um homem de 40 anos, morador do estado de São Paulo e que tenha completado o Ensino Fundamental, receberia mensalmen-te um salário médio de R$1.003,14. Se ele tivesse cursado somente até a 4ª série, o salário previsto seria de $785,81. A diferença de 27,7% a mais para quem concluiu o Ensino Fundamental é bastante signifi cativa. Olhando para quem concluiu o Ensino Médio (salário esperado de R$1.358,67), a diferença é ainda maior: 73% a mais de salário por oito anos adicionais de estudo. O fato de ter terminado o Ensi-no Médio implica maiores chances de ter uma ocupação: 90,16% contra 84,86% de chances para quem tem somente quatro anos de estudo.

Resumindo, as conclusões de diversas fontes apontam para a importância da Educação – e a conclusão das etapas – na melhora de renda dos indivíduos e de suas famílias. Se este panorama não for alterado – indivíduos de famí-lias de baixa renda não completarem os estudos e pesso-as de famílias com renda mais elevada estudarem um nú-mero maior de anos –, o nível de desigualdade social no País também não diminuirá. A Educação, mais uma vez, pode gerar subsídios para uma maior equidade social em termos de condições de trabalho e de rendimentos para a população18 .

Quais as perspectivas para os próximos anos?

Novamente considerando uma perspectiva de cresci-mento nos próximos cinco anos, na mesma medida que foi verifi cada nos cinco anos anteriores, percebe-se que as metas intermediárias de conclusão do Ensino Funda-mental (Meta 4) estipuladas para 2013 difi cilmente serão cumpridas. A Tabela 4.4 mostra que as regiões Sudeste e Centro-Oeste é que estão mais próximas de atingir a meta intermediária estipulada para 2013, mas mesmo nesse caso, a diferença entre os dois indicadores é de mais de 7 pontos percentuais.

16 Barbosa Filho & Pessoa (2008), pesquisa citada anteriormente.17 Disponível no site: http://www.fgv.br/cps/iv/18 Para a Pnad de 2008, conseguimos analisar a rede de ensino – pública ou privada – somente no que se refere a alunos que ainda estão matriculados na escola. Quanto aos que desistiram ou concluíram, não sabemos qual a rede frequentada. Entretanto, o IBGE divulgou que as próximas pesquisas incluirão perguntas sobre a rede de ensino frequentada no passado.

Tabela 4.4: Projeções de taxa de conclusão do Ensino Fundamental aos 16 anos previstas para 2013 com a manutenção das taxas de crescimento observadas entre 2004 e 2008 inclusive

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

Tabela 4.5: Projeções de taxa de conclusão do Ensino Médio aos 19 anos previstas para 2013 com a manutenção das taxas de crescimento obser-vadas entre 2004 e 2008 inclusive

Fonte: Pnad-IBGE/ Tabulação própria

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Como as metas parciais em relação ao Ensino Médio têm sido cumpridas regularmente por todos os estados, mesmo que dentro de um intervalo de confi ança, existem maiores chances de que algumas regiões cumpram suas metas. Mesmo assim, a Tabela 4.5 mostra que o indicador projetado para o Brasil já está abaixo do previsto para 2013. Usando essa projeção linear para os próximos cinco anos, o Brasil estaria 2 pontos percentuais abaixo da meta em 2013 – taxa prevista de 61% para uma meta intermediária de 63%. Com relação às regiões, projeta-se como mais gra-ve a situação da Região Sul, que estaria 2,4 pontos percen-tuais abaixo da meta em cinco anos. Se as regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste mantiverem o mesmo ritmo de crescimento nos próximos anos, cumprirão a meta inter-mediária em 2013.

Deve-se prestar redobrada atenção ao interpretar essas projeções: a possibilidade de não cumprimento das metas

intermediárias pela desaceleração do ritmo de conclusão do Ensino Fundamental terá impacto signifi cativo no cum-primento das metas de conclusão do Ensino Médio. O in-dicador mostra que a percentagem de conclusão do Ensino Fundamental em 2008 de somente 61,5% dos jovens de 16 anos é inferior à meta colocada para esse ano. Isso terá con-sequente impacto negativo na conclusão do Ensino Médio dentro de três anos, ou seja, em 2011. Essa interligação fun-damental deve ser observada e ressaltada nas previsões dos próximos anos. Cumprir essas duas metas de conclusão de etapas escolares em idade adequada – que é a proposta do movimento Todos Pela Educação – requer não só um esforço no sentido de incluir as crianças na escola desde os 4 anos, mas também um acompanhamento para que elas não se atrasem nem abandonem a escola.

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Meta 5

Investimento em Educação ampliado e bem gerido

“Até 2010, mantendo-se até 2022, o investimento público em Educação Básica deverá ser de 5% ou mais do PIB.”

O Brasil está longe de investir 5% do PIB na Educação Básica

O movimento Todos Pela Educação propõe em sua Meta 5 que o Brasil chegue a 2010 investindo diretamen-te na Educação Básica no mínimo 5% do PIB, e que esses recursos sejam bem geridos. Atualmente não há um in-dicador que possa avaliar a gestão desse dinheiro, mas é possível acompanhar a evolução do investimento como proporção do PIB. Em 2007, o investimento público dire-to do País na Educação Básica chegou a 3,9% do PIB; em comparação com o ano anterior, houve um aumento de 0,2 pontos percentuais. Entretanto, na avaliação de Ricardo Martins, consultor legislativo da Câmara dos Deputados, o Brasil ainda está longe de cumprir a meta.

Em entrevista ao Todos Pela Educação, o consultor também analisa o impacto da crise sobre o fi nanciamen-to educacional e a promulgação da EC que prevê que se exclua gradativamente do cálculo da DRU (Desvinculação das Receitas da União) os recursos da Educação e se amplie a obrigatoriedade do ensino para crianças e jovens de 4 a 17 anos. Além disso, Ricardo Martins, que é sócio-fundador e membro da comissão técnica do movimento, defende a criação de uma lei de responsabilidade educacional, e ex-plica a sua importância para a efetivação do regime de co-laboração no Brasil.

Todos Pela Educação - Na sua avaliação, qual o impac-to da crise econômica do ano passado sobre o fi nancia-mento da Educação em 2009?

Ricardo Martins - A participação dos recursos da Educa-ção em proporção ao PIB deve se manter mais ou menos estável. Acredito que não deve haver redução, porque os programas estão sendo mantidos em 2009. Mas a expecta-tiva de um aumento maior não deve se confi rmar.

Todos Pela Educação - No ano passado, o economista Ricardo Paes de Barros afi rmou que, para o alcance da

Meta 5 do movimento Todos Pela Educação, seria neces-sário um crescimento de 0,33 ponto percentual no inves-timento direto da Educação Básica nos anos de 2007 a 2010. Entretanto, em 2007 o aumento foi de 0,2 ponto percentual, o que torna a meta ainda mais desafi ado-ra. Avaliando esse contexto, o senhor acredita ainda ser possível alcançar a Meta 5 em 2010?

Ricardo Martins - Tem havido um comportamento mais ou menos estável entre as unidades federadas nos gastos diretos com manutenção e desenvolvimento do ensino.A União tem tido um papel muito confortável em relação aos gastos diretos em Educação, sem muita variação. O es-forço e o crescimento maiores têm se verifi cado nos esta-dos e municípios, apesar de ainda bastante modestos. As-sim, a expectativa de crescimento não é muito grande, até porque a evolução tem ocorrido de forma proporcional ao crescimento do PIB, e nós ainda não sabemos como isso se dará em 2009, por conta da retração econômica. Por exem-plo, a previsão do Fundeb atualizada entre janeiro e agosto foi de R$ 8 bilhões a menos, e isso deve impactar ainda mais o atingimento da meta. Não tenho a menor dúvida de que ainda estamos longe de atingir a Meta 5 em 2010.

Todos Pela Educação - O que mudará no orçamen-to de 2010 com a aprovação da Emenda Constitucio-nal 59/2009, que exclui do cálculo da DRU os recursos destinados à Educação?

Ricardo Martins - Isso poderá signifi car um saldo positi-vo, mas não necessariamente. Não tenho o cálculo exato para este ano, mas no orçamento de 2010 será algo em torno de R$ 7,9 bilhões. Esses recursos serão aplicados necessariamente em Educação, mas é importante ressal-tar que não estão vinculados à Educação Básica. Hoje, no orçamento do MEC já existem despesas que estão com fontes de fi nanciamento de outras rubricas do Tesou-ro, por exemplo, a fonte “100” de recursos ordinários. No orçamento de 2010 já está previsto algo da ordem de R$7 bilhões, que virão dessas fontes. Esperemos que não, mas

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pode acontecer apenas uma troca de fontes, sem aumento de despesas.

Todos Pela Educação - Dessa forma, é possível que o fi m da desvinculação não impacte, por exemplo, o custo aluno/ano?

Ricardo Martins - Pode ser que não. Pode haver simples-mente uma troca da fonte de recursos. Não estou dizendo que o governo vá fazer isso, mas é possível. Por isso, é preci-so que a sociedade fi que atenta.

Todos Pela Educação - A Emenda Constitucional 59/2009 também ampliou a obrigatoriedade do ensino para crianças e jovens de 4 a 17 anos. Qual será o impacto disso no fi nanciamento?

Ricardo Martins - A ampliação da obrigatoriedade do en-sino para a faixa etária de 4 a 17 anos é positiva. Mas não há dúvida de que isso impacta o fi nanciamento. Existe um número razoável de crianças de 4 a 6 anos fora da escola, e também de jovens de 15 a 17 anos. Mas, talvez o maior pro-blema não sejam os que estão fora do Ensino Médio, mas sim os jovens que ainda estão retidos no Ensino Fundamen-tal. Se fosse possível, deveria haver um esforço grande de agregar recursos adicionais por um período de pelo menos dois ou três anos para regularizar o Ensino Fundamental. Essa é uma bandeira de todos nós, inclusive do Todos Pela Educação – que os jovens concluam o Ensino Fundamental e Médio em uma idade razoável.

Todos Pela Educação - Então o senhor considera que os recursos advindos da DRU não serão sufi cientes para garantir a ampliação dessa obrigatoriedade?

Ricardo Martins - O que afi rmo é que o fi m da DRU não garante que haverá recursos adicionais e não garante que esses recursos sejam direcionados totalmente para a Edu-cação Básica. A União tem que gastar no mínimo 18%, e tem se comportado muito bem em relação a isso, gastando muito próximo desse percentual, exceto no ano de 2006, em que houve um salto – mas nos outros anos ela tem se comportado bem. A estimativa para 2009 está em torno de 19%. É verdade, porém, que o orçamento do MEC tem crescido, assim como o gasto com a Educação Básica. Mas, do ponto de vista da proporção dos encargos, quem tem arcado com a maior parte são os estados e municípios.

Todos Pela Educação - E o quadro fi nanceiro dos estados e dos municípios – eles terão difi culdades para garan-tir a ampliação da obrigatoriedade do ensino para essa faixa etária?

Ricardo Martins - É preciso colocar as coisas com certo limite e cuidado. Quando falamos em universalizar o atendimento de crianças de 4 a 6 anos, não estamos falando em uma coisa absurda, porque esse atendimento escolar, tirando algumas carências, já vem sendo feito com bastante amplitude. Não é uma ação sobre-humana. Depois, ainda temos até 2016 para fazer isso. A mesma coisa ocorre no Ensino Médio: hoje o número de vagas disponível em relação à demanda efeti-va também não está signifi cativamente pressionado. Esta-rá depois que corrigirmos o fl uxo no Ensino Fundamental. Aí sim, haverá necessidade de criar vagas. Na verdade, será uma despesa maior, mas que deve ser realizada ao longo do tempo. Se há um aumento das obrigações, é natural que as unidades federadas peçam também a ampliação dos recursos.

Todos Pela Educação - Como o senhor avalia o processo de articulação para proposição da Lei de Responsabili-dade Educacional?

Ricardo Martins - Existem vários projetos voltados para esse tema, às vezes não exatamente com esse nome, mas dentro desse campo da responsabilidade educacional, tra-balhando com direitos e deveres, responsabilidades, meios legais de atuação do Estado e do poder público para que se cumpram os direitos constitucionais em matéria de educa-ção e de cidadania. Há projetos de diferentes partidos e de diferentes origens, embora isso ainda não tenha tramitado na Câmara. Chegou-se a fazer um seminário sobre o assun-to e há uma minuta, mas o assunto ainda não evoluiu.

Todos Pela Educação - Qual a importância de uma lei como essa?

Ricardo Martins - Entendo que é positivo ter uma espé-cie de legislação que permita à sociedade acompanhar e cobrar de forma adequada a realização das políticas públicas. O nome lembra a lei de responsabilidade fi scal, mas tra-tam de normas de natureza diferente. Inclusive o teor da legislação. A responsabilidade educacional trata de outras questões, e é preciso lembrar que não há um mandato constitucional tão claro quanto o que se refere à lei de res-ponsabilidade fi scal. Mas, de qualquer forma, me parece extremamente oportuno para a bandeira da educação que haja uma forma organizada e legal da agenda das políticas públicas – uma espécie de pauta que favoreça o controle pela sociedade.

Por outro lado, a União não pode tudo. Uma lei federal não pode contrariar os mandamentos constitucionais, por exemplo, tem que ser cuidadosa para não intervir na auto-nomia de estados e municípios, e isso tem sido discutido.

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36 • De Olho nas Metas • 2009

Todos Pela Educação - A Lei de Responsabilidade Educacional pode contribuir para efetivar o regime de colaboração?

Ricardo Martins - Sem dúvida. Um dos seus propósitos é esse mesmo. Ao se defi nirem as responsabilidades nas dife-rentes instâncias, isso é possível. A Emenda Constitucional nº 53, conhecida como a emenda do Fundeb alterou o arti-go 23 da Constituição, para dispor que leis complementares tratarão do regime de cooperação entre a União, os estados e os municípios. O objetivo era fazer uma lei complementar que tratasse do regime de colaboração dentro da área edu-

cacional. Isso pode ser um caminho para que uma lei de responsabilidade educacional venha a ter com esse status e regule o regime de colaboração. Mas essa discussão ainda não evoluiu, embora pareça uma possibilidade interessan-te. De fato, o regime de colaboração não é defi nido na le-gislação. Não estão claras quais seriam as contribuições das partes envolvidas. Toda a legislação educacional no Brasil parte de uma óptica federativa, tem as atribuições de cada unidade federativa, mas sem dúvida pode haver um deta-lhamento maior, para a forma com que os entes federados devem interagir em benefício da Educação nacional.