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Sara Rodrigues Duarte Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária Relatório de Estágio realizado no âmbito do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, orientado pelo Dr.ª Joana Martins de Carvalho e apresentado à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra Setembro 2015

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Sara Rodrigues Duarte

Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária

Relatório de Estágio realizado no âmbito do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, orientado peloDr.ª Joana Martins de Carvalho e apresentado à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra

Setembro 2015

Sara Rodrigues Duarte

Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária

Relatório de Estágio realizado no âmbito do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, orientado pelo

Dr.ª Joana Martins de Carvalho e apresentado à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra

Setembro 2015  

 

 

 

 

Eu, Sara Rodrigues Duarte, estudante do Mestrado Integrado em Ciências

Farmacêuticas, com o nº 2010125471, declaro assumir toda a responsabilidade pelo

conteúdo do relatório de estágio apresentado à Faculdade de Farmácia da

Universidade de Coimbra, no âmbito da unidade de estágio Curricular.

Mais declaro que este é um trabalho original e que toda e qualquer afirmação

ou expressão, por mim utilizada, está referenciada na Bibliografia deste relatório de

estágio, segundo os critérios bibliográficos legalmente estabelecidos, salvaguardando

sempre os direitos de autor, à exceção das minhas opiniões pessoais.

Coimbra, 10 de Setembro de 2015.

(Sara Rodrigues Duarte)

Agradecimentos

Agradeço à Dra Joana Carvalho, que foi a pessoa mais próxima de mim durante

o meu percurso na farmácia Rodrigues da Silva, e que para além de me receber

calorosamente, sempre se mostrou disponível para a resolução de problemas que

surgissem no decurso das minhas atividades, conseguindo conciliar as tarefas que lhe

eram exigidas enquanto Diretora Técnica com a orientação do meu estágio.

Ao Dr. Pedro, que enquanto farmacêutico e gestor, responsável pela farmácia,

me permitiu ter acesso a algumas atividades e noções básicas que a gestão de uma

farmácia implica.

À restante equipa, Rui Lopes e Ana Luísa Silva, que sempre se mostraram

dispostos a ajudar-me e me permitiram uma boa integração durante o meu estágio.

À minha família e amigos que sempre estiveram do meu lado e me apoiaram

numa nova fase, na adaptação ao mercado do trabalho.

A Coimbra, que como cidade universitária me proporcionou dos melhores

momentos da minha vida e me formou não só a nível profissional, como pessoal.

 

Índice

Abreviaturas ................................................................................................................................................. 2

Introdução .................................................................................................................................................... 3

Análise SWOT ............................................................................................................................................. 4

Pontos fortes .................................................................................................................................. 4

Pontos fracos .................................................................................................................................. 7

Oportunidades ................................................................................................................................ 8

Ameaças ........................................................................................................................................... 9

Casos práticos ........................................................................................................................................... 12

Conclusão ................................................................................................................................................... 14

Referências Bibliográficas ........................................................................................................................ 15

2 | A n á l i s e S W O T

Abreviaturas

ANF – Associação Nacional de Farmácias

ACSS – Administração Central do Sistema de Saúde

BPF – Boas Práticas Farmacêuticas

IMC – Índice de Massa Corporal

MICF – Mestrado Integrado Ciências Farmacêuticas

MNSRM – Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica

MSRM – Medicamentos Sujeitos a Receita Médica

OTC – Over-the-counter

SGQ – Sistema de Gestão de Qualidade

SNS – Sistema Nacional de Saúde

SWOT – Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats

3 | A n á l i s e S W O T

Introdução

“O farmacêutico é um agente de saúde, cumprindo-lhe executar todas as tarefas que ao

medicamento concernem, (…) contribuir para a salvaguarda da saúde pública e todas as acções de

educação dirigidas à comunidade no âmbito da promoção da saúde”[1].

Quando entramos na faculdade o nosso pensamento remete para horas de estudo,

trabalhos a realizar, obstáculos a ultrapassar durante a aprendizagem que decorre em quatro

anos e meio, e todos os receios comuns ao início de uma nova etapa. Chegado o fim desta

fase, é-nos pedido a passagem dessa zona de conforto, teórica, para uma vertente mais

prática, intimidante, até aqui desconhecida e que nos indica verdadeiramente o que é a

profissão que escolhemos exercer – o estágio curricular.

É agora a altura de pôr em prática os conhecimentos teóricos obtidos durante o

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas e desenvolver da melhor forma possível as

capacidades requisitadas para ser farmacêutico, que como agente de saúde pública muito

próximo da população, representa muitas vezes, o primeiro e último contacto desta com os

serviços de saúde.

No decorrer desta análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats)

irei descrever todo o meu estágio curricular na farmácia Rodrigues da Silva, situada na baixa

de Coimbra, na qual adquiri conhecimentos necessários ao exercício da profissão, sempre

com o maior profissionalismo e rigor possível, nomeando, os respetivos pontos fracos e

fortes inerentes ao meu desempenho e fatores externos que o influenciaram, ameaças e

oportunidades, que foram notórias nestes 4 meses.

4 | A n á l i s e S W O T

Análise SWOT

Pontos fortes

1. Localização e horário de funcionamento – A Farmácia Rodrigues da Silva situa-

se na Baixa de Coimbra, mais precisamente na Rua Ferreira Borges. O facto de estar

numa zona privilegiada, pela abundância de serviços que a rodeiam e transportes que

abundam, proporciona-lhe um vasto leque de utentes. Assim, conseguem-se aplicar

conhecimentos de várias áreas dentro do setor do medicamento e cosmética. É

também um ex libris da cidade de Coimbra, sendo um local muito procurado por

turistas, representando uma quota significativa de clientes. Além do horário de

funcionamento nos dias úteis (das 8h30m às 19h30m), este estabelecimento

encontra-se também em atividade aos sábados das 9h às 19h, o que se revela um

ponto forte dado que há poucas que o façam, levando a uma maior afluência nestes

dias.

2. Elevado número de clientes fidelizado – Há um grande número de utentes que

confiam no trabalho prestado nesta farmácia e como tal frequentam este local

sempre que necessário. É por isto muito gratificante estagiar numa farmácia que para

além de garantir a continuação destes utentes habituais trabalha para atrair novos,

com técnicas de aconselhamento e venda, permitindo para além da satisfação do

cliente um aumento da sua rentabilidade.

3. Serviços prestados – A farmácia Rodrigues da Silva proporciona aos seus utentes

a realização de testes check up dos níveis de glicémia, colesterol e triglicerídeos,

permitindo-lhes um maior controlo destes parâmetros. Além disto, é facilitada a

medição da tensão arterial já que a farmácia não exige qualquer remuneração pelo

serviço prestado. É também disponibilizada uma balança que permite não só medir a

altura e o peso, como também o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) e

percentagem de massa gorda/magra. Foi então possível não só realizar todos estes

serviços como aconselhar o utente consoante os resultados evidenciados. Melhorar

o estilo de vida com uma dieta saudável, prática de exercício, abstenção de álcool e

tabaco, foram alguns dos conselhos que fiz questão de transmitir ao utente que

apresentava valores mais afastados dos considerados normais, segundo a

Organização Mundial de Saúde. Por fim, são também administradas vacinas e

5 | A n á l i s e S W O T

injetáveis, sendo esta tarefa apenas realizada por colaboradores devidamente

especializados para o efeito.

4. Planeamento do estágio – Todo o meu percurso durante o estágio curricular na

Farmácia Rodrigues da Silva foi devidamente organizado, desde o primeiro ao último

dia, levando a um conhecimento crescente e gradual.

a. Iniciou-se com a receção de medicamentos, organização na respetiva ordem,

verificação de prazos de validade e realização de contagens físicas. Estas tarefas

foram muito úteis posteriormente na agilização do atendimento,

nomeadamente na associação dos nomes comerciais ao respetivo princípio

ativo, conhecimento de margens e mesmo quanto ao local onde se

encontravam os medicamentos.

b. A execução de devoluções de produtos para o respetivo armazenista,

indicando sempre o motivo da devolução (embalagem danificada, perto do fim

de prazo, pedido por engano, entre outros) e a identificação do número de

fatura. Neste processo eram enviadas juntamente com o produto, a nota de

devolução original e duplicado e o triplicado ficava guardado na farmácia para

regularização da nota de crédito.

c. A realização dos testes de parâmetros bioquímicos, já abordada anteriormente.

d. O atendimento propriamente dito foi a tarefa mais desafiante. Graças às

atividades iniciais e à ajuda prestada pela equipa técnica da farmácia, todo este

processo foi facilitado pelos conhecimentos já adquiridos anteriormente. Tanto

na venda de OTC’s (over-the-counter) como no processamento de receitas, era

importante fornecer ao cliente informação respeitante à posologia, conselhos

de utilização e remeter sempre para o uso racional dos medicamentos quando

assim era necessário.

À medida que o tempo passava eram mais as competências apreendidas e

maior era a exigência no desempenho das tarefas a realizar. Assim, todo o meu

conhecimento na área da farmácia comunitária foi progredindo gradualmente.

O que fazia no início e me ocupava algum tempo era depois feito mais

agilmente e compilado com outras tarefas.

5. O trabalho não é segmentado – Excetuando algumas tarefas que são de única e

exclusiva responsabilidade da direção técnica, o trabalho na farmácia Rodrigues da

6 | A n á l i s e S W O T

Silva não é segmentado, ou seja, todas as tarefas são realizadas por todos os

membros da equipa, permitindo uma grande variedade de funções exercidas ao

longo do expediente. Isto foi um grande desafio para mim enquanto recente

estagiária e representou uma mais-valia enquanto aprendiz, uma vez que tive desde

cedo que me habituar a um ritmo que me permitisse dar resposta a todas as tarefas

solicitadas.

6. Recursos humanos – A equipa técnica da farmácia Rodrigues da Silva é constituída

por três farmacêuticos (uma diretora técnica, um gestor e uma outra farmacêutica) e

dois técnicos de farmácia. É uma equipa mista, jovem, dinâmica, unida, sendo que

todos os membros apresentam grau académico superior. Nesta farmácia vive-se um

ambiente familiar, com um bom espírito de cooperação entre os membros. É

sempre agradável e tranquilizante, enquanto estagiária, ser recebida por uma equipa

como esta, que desde o início se mostrou disponível para qualquer dúvida ou receio,

desde as tarefas do back office até ao atendimento.

7. Relação com o utente – Tal como mencionado anteriormente, esta farmácia tem

um grande número de utentes, que são tratados com distinção e que lhes é

implementada uma dedicação extrema por parte dos seus funcionários. Utentes

fidelizados, os quais já se conhecem a história clínica, medicação habitual ou outras

complicações são abordados com uma entrega tal, que levam a estes recorrerem

com frequência à farmácia. Durante o estágio, foi possível também criar laços com

estes e ganhar proximidade, facilitando a comunicação e consequentemente ganhar

alguma confiança durante o atendimento prestado.

8. Sistema informático – Antes de realizar o estágio curricular nunca me tinha

apercebido da importância do sistema informático. A farmácia Rodrigues da Silva

possui um sistema criado pela Glintt® - o Sifarma 2000®. Na minha opinião é um

instrumento fulcral em todo o desempenho da atividade farmacêutica,

nomeadamente, na receção e realização de encomendas, gestão de stocks, gestão de

utentes e durante o atendimento, consultando muitas vezes a informação científica

ou mesmo a informação que diga respeito a dosagens e posologias. Este sistema

permite que todos os computadores existentes na farmácia estejam ligados a um

servidor comum e que toda a informação relativa a stocks, produtos existentes na

7 | A n á l i s e S W O T

farmácia e fichas de clientes, seja comum a todos. No início foi mais difícil

desempenhar com alguma destreza atividades neste sistema, contudo, depois de

alguma prática, mostrou-se um programa bastante intuitivo e de fácil utilização.

9. Acompanhamento do processo de faturação – Durante o meu período de

estágio acompanhei sempre de perto o momento da faturação. Esta é uma tarefa

cujo diretor técnico ou farmacêutico são os únicos encarregues de a realizar e por

isso há um grande rigor desde a revisão do receituário, ao seu envio e correção para

a ACSS - Administração Central do Sistema de Saúde. Considero que foi uma mais-

valia perceber a organização e responsabilidade que esta atividade implica, já que

poderá vir a ser uma função do meu encargo.

10. Sistema de gestão de qualidade (SGQ) – A Farmácia Rodrigues da Silva rege-se

pela NP ISO 9001:2001 e pelas Boas Práticas Farmacêuticas (BPF) 2001. Assim,

preza por obedecer a um conjunto de critérios que garante a qualidade dos serviços

prestados nas suas instalações. A farmácia assenta numa estrutura organizada cuja

política de qualidade tem como objetivos a satisfação das necessidades e

expectativas dos utentes e a prática de uma gestão de recursos que permitam a sua

sustentabilidade. O SGQ é revisto periodicamente com o intuito de estabelecer

ações corretivas e preventivas, articuladas com a melhoria contínua da eficácia e

qualidade dos serviços prestados.

Pontos fracos

1. Vender poucos produtos ortopédicos – O facto de se venderem reduzidas

quantidades de produtos deste grupo terapêutico faz com que esteja mais alheia a

este assunto. Como tal, sinto que me falta algum conhecimento nesta área, não só

em marcas e produtos como também no aconselhamento ao utente durante o

processo de venda propriamente dito.

2. Não realização de manipulados – Na farmácia Rodrigues da Silva não são

realizadas manipulações de medicamentos, o que se mostrou um ponto fraco, uma

vez que não pude contactar com essa experiência.

3. Reduzido tempo de estágio – Ao escolher realizar o estágio curricular em duas

áreas distintas, foram dedicados apenas 4 meses no âmbito da farmácia comunitária,

8 | A n á l i s e S W O T

o que na minha opinião é insuficiente para consolidar todos os conhecimentos que fui

adquirindo gradualmente. Somaram-se várias as competências que fui conseguindo

num curto espaço de tempo, e que poderão ter ficado menos consolidadas.

4. Não trabalhar com o novo cartão saúda – Com o término do estágio no final

de Abril, não pude acompanhar a implementação do novo cartão das farmácias pela

Associação Nacional das Farmácias (ANF) – o cartão saúda. Considero isto um

ponto fraco, uma vez que apesar de ter estado em contacto com o antigo cartão das

farmácias portuguesas, esta novidade apresenta novas funcionalidades às quais não

estou familiarizada [2].

5. Receitas eletrónicas – Apesar de ter realizado alguns atendimentos recorrendo à

receita eletrónica, utilizando apenas a guia de tratamento da receita, não acompanhei

o processo de total integração das receitas eletrónicas, em que o formato em papel

deixa de existir, e o atendimento com receitas é feito com a utilização do cartão de

cidadão do utente. É então um aspeto que terei de aprofundar e praticar no futuro

enquanto farmacêutica na área de farmácia comunitária [3].

Oportunidades

1. Grande diversidade de clientes – Tal como já referido, a farmácia Rodrigues da

Silva é visitada por uma enorme variedade de clientes, o que se traduziu numa grande

vantagem para o meu estágio curricular, não só por apreender conhecimentos de

variadas áreas do saber científico como também adequar o meu discurso com o

público-alvo, tendo em conta fatores como idade, percurso profissional ou estado de

saúde.

2. Implementação das receitas eletrónicas – O facto da farmácia onde estagiei ter

aderido desde início à realização de receitas eletrónicas, fez com que estivesse a par

deste novo procedimento desde sempre, preparando-me futuramente para este

recente método. Além disto, a receita eletrónica também se mostrou ser uma grande

ajuda, numa fase inicial como esta, dado que permite minimizar muitos erros durante

o atendimento e facilitar abruptamente o processo de faturação [3].

9 | A n á l i s e S W O T

3. Prática do Inglês – O facto de ser uma farmácia muito frequentada por turistas,

obrigou-me a colocar em prática alguns idiomas nomeadamente o Inglês, que como

linguagem universal, facilitava a comunicação com o público estrangeiro.

4. Participação em formações – Ter participado em diversas formações

proporcionou-me não só estar mais familiarizada com as marcas e produtos

disponíveis, como também no aconselhamento do utente. Além disto, também nos

eram dados conselhos e advertências para a realização de cross selling, que para além

de permitir uma maior satisfação do cliente, proporcionando uma maior eficácia no

efeito pretendido, é também vantajoso para a rentabilidade da farmácia.

5. Cartão Farmácias Portuguesas – Os clientes da farmácia Rodrigues da Silva

podem usufruir dos benefícios relativos à utilização do cartão das farmácias

portuguesas implementado pela ANF. Isto traz vantagens para a própria farmácia uma

vez que muitos utentes são atraídos até lá pelo facto de poderem rebater os seus

pontos acumulados em compras de MNSRM (Medicamentos Não Sujeitos a Receita

Médica). Para mim é considerada uma oportunidade uma vez que me permitiu saber

mais acerca desta modalidade.

Ameaças

1. Elevado número de farmácias na área envolvente – Todo o local da Baixa é

repleto de farmácias, o que leva a uma concorrência enorme e exige certos

procedimentos de gestão e organização que seriam diferentes se assim não fosse,

nomeadamente na execução de montras e na adesão a determinadas marcas

solicitadas pelos utentes. Além disto, muitas vezes poderá ser uma dificuldade, na

medida que enquanto profissionais não podemos dispensar o tempo com cada

utente como gostaríamos, de forma a poder satisfazer os clientes sem que estes

necessitem de recorrer a outra farmácia, evitando a perda de vendas.

2. Atualização de preços/comparticipações dos medicamentos – Os

preços/comparticipações dos medicamentos sofrem alterações trimestralmente pelo

Sistema Nacional de Saúde (SNS) o que leva muitas vezes à desconfiança dos

utentes. Enquanto farmacêuticos, somos muitas vezes questionados quanto às

alterações do preço a pagar e torna-se difícil conseguir explicar o motivo desta

modificação, causando algum constrangimento durante o atendimento [4,5]

10 | A n á l i s e S W O T

3. MSRM (Medicamentos Sujeitos a Receita Médica) sem receita – Várias

foram as situações em que foi solicitada a cedência de MSRM sem receita; ou por

serem de toma crónica e por isso já era conhecimento de todos que a sua compra

era habitual; ou porque a comparticipação não compensava o preço das taxas

moderadoras pagas no ato de consulta médica; ou até porque já sabiam como e

quando tomar, no caso de antibióticos ou benzodiazepinas. Desde início que a

equipa técnica me alertou para estes casos e que todos os MSRM só eram

dispensados caso o utente viesse acompanhado da respetiva receita. Porém, nem

sempre os utentes aceitavam esta negação de bom agrado o que gerava alguma

descompreensão por parte destes [5].

4. Situação económica do país – A situação económica que o país atravessa neste

momento tem influência não só nas margens reduzidas que hoje os medicamentos

estão sujeitos, como também na grande dificuldade em vender. Esta altura menos

próspera da economia portuguesa faz com que cada vez mais as pessoas exijam o

máximo de resultados ao mínimo custo. Hoje em dia, a população procura preços,

investiga nos media e quando se desloca ao local de compra já tem uma ideia criada,

difícil de ser alterada, por muito boa que seja a argumentação usada no processo de

venda.

5. Descredibilização por parte de alguns utentes – Muitas vezes o público

mostrou-se hesitante quando obrigado a contactar com uma nova cara, preferindo

muitas vezes recorrer aos profissionais já conhecidos ou questionando mesmo as

competências de uma estagiária.

6. No parking, no business – A falta de estacionamento mostra ser um aspeto

limitante nos dias de hoje. Em toda a área onde se insere a farmácia Rodrigues da

Silva, este é escasso, o que leva muitas vezes a população a procurar outras

farmácias com melhor acessibilidade.

7. Incapacidade de reconhecimento da relação marca/princípio ativo –

Durante os anos de estudo na faculdade, todos os conhecimentos relativos a

farmacologia eram direcionados para o nome dos princípios ativos, o que na prática,

11 | A n á l i s e S W O T

se demonstra um pouco irresoluto, na medida em que a maioria dos utentes e

mesmo o corpo docente tratam a medicação geralmente pelo nome comercial dos

medicamentos que ainda não possuem o respetivo genérico ou quando este é

bastante recente no mercado.

8. Escassos conhecimentos em dermocosmética – Durante o estágio foram

vários os pedidos de aconselhamento na área de dermocosmética, que a meu ver é

muito pouco estudada e abordada quando comparado ao conhecimento que nos é

exigido na prática profissional, já que existem variadas marcas e gamas de produtos

cosméticos e surgem com frequência inovações destes artigos.

9. Pouco conhecimento na área de gestão farmacêutica – Uma das coisas que

mais me surpreendeu durante toda esta aprendizagem foi a gestão que a farmácia

comunitária implica. É um processo complexo e muito exigente e do qual vai

depender todo o seu funcionamento. Penso que durante estes 5 anos de ensino, não

houve abordagem suficiente deste assunto relativamente ao relevo desta matéria na

área da farmácia de oficina, sendo para mim necessário um maior aprofundamento

dos conhecimentos na área de gestão farmacêutica.

12 | A n á l i s e S W O T

Casos práticos

1. Tendo em conta que o estágio em farmácia de oficina ocorreu fundamentalmente na

época de Inverno, vários foram os pedidos para medicamentos direcionados para a área

de gripes e constipações, como antigripais, descongestionantes nasais e xaropes para a

tosse. Neste caso há todo um leque de questões importantes a fazer ao utente:

a. No caso dos pedidos de antigripais, perguntava se o utente em causa sofria de

hipertensão arterial, já que alguns medicamentos, como é o caso do Antigrippine®,

têm na sua constituição cafeína que poderá agravar este problema.

b. Quando me eram solicitados descongestionantes nasais alertava sempre os utentes

para uma utilização não superior a 4/5 dias, prevenindo o efeito rebound, caraterístico

do uso excessivo destes medicamentos. Além disto, aconselhava também água do mar

para reforçar a limpeza das vias aéreas superiores.

c. No caso dos xaropes, preocupava-me em saber se o doente era diabético ou não, e

caso fosse, recomendava sempre um xarope sem sacarose na sua constituição, por

exemplo o Bisolvon®.

Além disto, é importante saber o tipo de tosse (seca ou com expetoração) e de

acordo com esta informação, optava pelo que me parecia mais adequado. No caso de

tosse seca tinha em especial atenção que os xaropes antitússicos, como o Levotuss®

são contra indicados em asmáticos e crianças com menos de 2 anos. Para uma tosse

mais produtiva aconselhava um expetorante que facilita a produção e libertação das

secreções, como o Mucosolvan®, ou mucolíticos que diminuem a viscosidade do

muco facilitando a sua remoção, como o Mucoral®.

A idade também era um fator a ter em conta, dado que as diferentes marcas adequam

a dosagem/posologia do xarope, dependendo se é dirigido a um adulto ou criança.

Ainda no âmbito de cedência de produtos dirigidos ao tratamento de estados gripais,

recomendava um reforço da imunidade, com suplementos vitamínicos, como por exemplo

Vitamina C ou Centrum®. Também tinha sempre o cuidado de alertar os utentes para

medidas não farmacológicas como hidratação e evitar variações de temperatura.

2. Outro pedido bastante frequente foi a cedência de antidiarreicos. Neste caso, perguntava

se o doente apresentava febre para saber se se trataria de uma infeção. Caso não se

tratasse de uma infeção e no caso de uma diarreia aguda em que o doente se queixasse

também de alguma flatulência, aconselhava o Imodium Plus®, que para além da

13 | A n á l i s e S W O T

loperamida apresenta simeticone na sua constituição, sendo que não só é antidiarreico

como antiflatulente. Na venda deste produto alertava para um uso limitado uma vez que

a toma prolongada deste poderá causar obstipação.

Além disto, era importante também intervir na reposição das perdas

hidroeletrolíticas, com o aconselhamento de medicamentos como Dyoralite® ou

Redrate® e no restabelecimento da flora intestinal e na melhoria da sua absorção com

UL250®.

Por fim, é sempre útil aconselhar o utente para que este tome medidas não

farmacológicas de forma a aumentar a eficácia terapêutica. Nestes caso concreto,

alertava para alguns cuidados alimentares, como uma dieta saudável e equilibrada,

evitando comidas condimentadas e ingestão de álcool.

14 | A n á l i s e S W O T

Conclusão

Acabados os 4 meses de estágio curricular, posso afirmar peremtoriamente que superei

todas as minhas expectativas quanto à área da farmácia comunitária. Como primeiro

contacto com esta realidade, algumas ideias pré concebidas que tinha formado, de que esta

era uma atividade rotineira e monótona, foram logo contrariadas quando fui agradavelmente

surpreendida com todas as tarefas que eram necessárias executar para garantir um bom

funcionamento da farmácia. Não só são exigidos conhecimentos científicos e farmacológicos,

como também, dentro da ética profissional, incutida durante o MICF, técnicas de marketing

e comunicação com o utente são preponderantes no desempenho da atividade farmacêutica.

Devo toda esta agradável experiência, que me fez crescer profissionalmente enquanto

estagiária, não só à atividade em si que, para mim, se revelou bastante aliciante, como

também pelo ambiente simpático e familiar que se vive na Farmácia Rodrigues da Silva. Este é

um estabelecimento que não se limita a vender e aviar receitas, mostrando preocupação

com os utentes, prestando cuidados e dando conselhos para um uso correto e racional do

medicamento. Posso afirmar que foi extremamente importante o local onde estagiei para a

minha evolução enquanto profissional de saúde, competente e responsável, que espero vir a

ser.

15 | A n á l i s e S W O T

Referências Bibliográficas

[1] CÓDIGO DEONTOLÓGICO DA ORDEM DOS FARMACÊUTICOS - [Em

linha] [Consult. 2 mai. 2015]. Disponível em

WWW:<URL:http://www.ceic.pt/portal/page/portal/CEIC/UTILIDADES_INFORMACAO/N

ORMATIVO/NACIONAL/CodigoDeontologico_OF.pdf>.

[2] Cartão Saúda | farmaciasportuguesas - [Em linha] [Consult. 11 jun. 2015].

Disponível em WWW:<URL:https://www.farmaciasportuguesas.pt/SAUDA>.

[3] Normas relativas à prescrição de medicamentos e produtos de saúde - [Em linha] [Consult. 11 abr. 2015]. Disponível em

WWW:<URL:http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_US

O_HUMANO/PRESCRICAO_DISPENSA_E_UTILIZACAO/Normas_prescricao.pdf>.

[4] Sistema de preços de referência - Actualização - [Em linha] [Consult. 11 jun.

2015]. Disponível em

WWW:<URL:http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_US

O_HUMANO/AVALIACAO_ECONOMICA_E_COMPARTICIPACAO/MEDICAMENTOS_

USO_AMBULATORIO/SISTEMA_DE_PRECOS_DE_REFERENCIA/SPR_ACTUALIZACAO

>

[5] Decreto-Lei n.o 176/2006, de 30 de Agosto Estatuto do Medicamento - [Em

linha] [Consult. 7 mai. 2015]. Disponível em

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ACAO_FARMACEUTICA_COMPILADA/TITULO_III/TITULO_III_CAPITULO_I/035-

E_DL_176_2006_9ALT.pdf>.