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RELATÓRIO DE CONJUNTURA:
ACOMPANHAMENTO CONJUNTURAL DOS IMPACTOS DA CRISE SOBRE O
SETOR ELÉTRICO
Julho de 2009
Nivalde J. de Castro Daniel Bueno
Luiza Elena Santoro Raul Ramos Timponi
Roberta de S. S. Bruno
PROJETO PROVEDOR DE INFORMAÇÕES ECONÔMICAS–FINANCEIRAS DO SETOR ELÉTRICO
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PROJETO PROVEDOR DE INFORMAÇÕES SOBRE O
SETOR ELÉTRICO
RELATÓRIO MENSAL
ACOMPANHAMENTO CONJUNTURAL dos IMPACTOS da
CRISE sobre o SETOR ELÉTRICO
JULHO de 2009
Nivalde José de Castro Daniel Bueno
Luiza Elena Santoro Raul Ramos Timponi
Roberta de S. S. Bruno
PROJETO PROVEDOR DE INFORMAÇÕES ECONÔMICAS – FINANCEIRAS DO SETOR
ELÉTRICO
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Índice INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 4 1 – CENÁRIO MACROECONÔMICO ................................................................................ 6
1.1 – IMPACTOS DA CRISE NO PIB.................................................................................. 7 1.2 – IMPACTOS DA CRISE NO SETOR INDUSTRIAL .................................................. 9 1.3 – TAXA DE JUROS E INVESTIMENTOS.................................................................. 12 1.4 – BALANÇA COMERCIAL......................................................................................... 14
2 – FINANCIAMENTO DO SETOR ELÉTRICO ............................................................. 17 3 – ANÁLISE SETORIAL .................................................................................................... 18
3.1 – SETOR METALÚRGICO, SIDERÚRGICO E MINERAÇÃO................................. 19 3.2 – SETOR DE ALUMÍNIO............................................................................................. 21 3.3 – SETOR TÊXTIL ......................................................................................................... 21 3.4 – SETOR AUTOMOTIVO ............................................................................................ 22
4 – ANÁLISE DA CARGA.................................................................................................... 23
Relatório Mensal de Acompanhamento da Conjuntural dos Impactos da Crise sobre o Setor Elétrico(1)
Nivalde J. de Castro(1)
Raul Ramos Timponi(2) Luiza Elena Santoro(3)
Daniel Bueno B. Tojeiro(4) Roberta de S. S. Bruno (5)
(1) Participaram da elaboração deste relatório como pesquisadores Roberto Brandão, Bruna de Souza Turques, Rafhael dos Santos Resende, Diogo Chauke de Souza Magalhães, Débora de Melo Cunha e Luciano Análio Ribeiro. (1) Professor do Instituto de Economia - UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (2) Pesquisador do GESEL-IE-UFRJ (3) Pesquisadora do GESEL-IE-UFRJ (4) Pesquisador do GESEL-IE-UFRJ (5) Assistente de Pesquisa do GESEL-IE-UFRJ
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INTRODUÇÃO
Este relatório tem o objetivo de acompanhar mensalmente o impacto da crise
financeira no Setor Elétrico Brasileiro. Para isso, divide-se a análise em capítulos que
progridem do plano mais macro para o mais específico, quando os impactos diretos na carga
de energia elétrica são focados. Ao final, o planejamento é tratado visto que este terá um
grande desafio no ajuste fino do balanço oferta x demanda neste período de grande
imprevisibilidade futura.
O relatório inicia-se com um breve panorama do ambiente internacional que indicará
os efeitos em curso da crise financeira e econômica em nível global. Em seguida, é feito um
apanhado completo do atual cenário macroeconômico brasileiro, que fornecerá, de certa
forma, as condições de contorno para a análise sobre o setor elétrico. Serão tratados temas
como: resultados da balança comercial, taxa básica de juros, taxa de câmbio, resultados fiscais
do governo, atividade industrial, projeções de PIB, entre outros.
Quanto aos financiamentos, tema do capítulo 2, os impactos negativos da crise
financeira mundial começam a diminuir. Internamente, os bancos estão reduzindo suas taxas
de juros e o nível de spread para os empréstimos concedidos, e a captação de recursos no
exterior volta a acontecer, em ritmo pouco acelerado. Com o acesso restrito ao crédito, o
governo mostrou esforço para suavizar a queda de investimentos. O BNDES se manteve
como o maior financiador do setor elétrico do país. Além disso, algumas empresas têm
buscado soluções financeiras no mercado de capitais. Dessa forma, serão apresentados os
últimos financiamentos para o setor elétrico.
No 3º capítulo, aproxima-se a análise ao nível setorial da indústria brasileira. Será
dado maior destaque aos consumidores livres, já que as quedas substantivas do consumo de
energia vêm ocorrendo exatamente nesse segmento. Assim, é feito aqui um levantamento de
dados relevantes dos setores mais eletro-intensivos, como: siderurgia, metalurgia, mineração,
cerâmica, automotivo, papel e celulose, entre outros quando forem o caso. Como não poderia
ser, grandes empresas como Vale, Gerdau e Usiminas terão um tratamento diferenciado.
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Seguindo o relatório, apresenta-se um capítulo mais específico, focado nos impactos
da crise na ponta do processo, isto é, na carga e no consumo de energia6. Veremos que desde
os baixos consumos de outubro do ano passado, ainda estamos ensaiando um movimento de
retomada. Há de se analisar com cautela os resultados aqui expostos, visto a dificuldade de se
isolar outras variáveis - como variações da temperatura média mensal - e ainda a existência de
um cenário futuro em grande medida incerto.
No quinto e último capítulo discute-se o planejamento da disponibilidade futura de
energia. A crise econômica mundial, apesar de impactar a demanda de energia elétrica, não
alterou muito a sua oferta, já que os grandes investimentos em hidrelétricas não foram
interrompidos e as usinas, de uma maneira geral, continuam anunciando seus projetos que
entrarão em operação nos meses seguintes.
6 Ao longo do trabalho serão apresentados dados de carga e consumo de energia elétrica que, apesar de altamente correlacionados, apresentam algumas diferenças. A carga, medida em MW médios, reúne todo o consumo de energia elétrica na rede (SIN), cuja principal fonte de informação é o sistema de faturamento das concessionárias. O consumo por sua vez, geralmente de menor monte, é medido em MWh e exclui da carga perdas na transmissão entre outras diferenças.
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1 – CENÁRIO MACROECONÔMICO
Os dados divulgados ao longo do mês de julho sobre a economia mundial não são
otimistas, mas também não são muito piores que os do mês anterior. Nesse sentido está a
revisão do FMI para baixo do crescimento mundial esperado: de -1,3% para -1,4%. Contudo,
as perspectivas da economia mundial em 2010 melhoraram, mudando a estimativa anterior de
1,9% para 2,5%. As economias avançadas devem crescer, em conjunto, 0,6%, e as emergentes
e em desenvolvimento, 4,7%.
Assim, após a queda de 6,4% do PIB registrada no primeiro trimestre em relação a
2008, a economia americana recuou a uma taxa com ajuste sazonal e anualizada de 1% no
segundo trimestre do ano. Essa queda menor foi fruto de uma aceleração dos gastos públicos e
uma diminuição do ritmo de queda dos investimentos, consumo das famílias e exportações.
Contudo, o setor industrial norte-americano ainda segue patinando no fundo do vale, caindo
0,4% em junho ante maio. Com esse resultado, a atividade industrial caiu 11,6% (anualizada)
no segundo trimestre, mantendo a capacidade produtiva no mesmo patamar do mês anterior,
68%.
Na Zona do Euro (principais países europeus excluindo Reino Unido e Noruega), a
produção industrial cresceu 0,5% entre abril e maio, de acordo com a Eurostat (com ajuste
sazonal). A taxa de desemprego aumentou para 9,4% em junho, após uma taxa de 9,3% em
maio, atingindo a maior taxa desde junho de 1999. Acompanhando a tendência, o PIB do
Reino Unido recuou 0,8% no segundo trimestre deste ano, ante o trimestre imediatamente
anterior. No primeiro trimestre, o PIB havia recuado 2,4%. A produção industrial e os
serviços caíram 0,7% e 0,6%, respectivamente. No Reino Unido a taxa de desemprego subiu
para 7,6% no trimestre até maio, acelerando com relação ao trimestre imediatamente anterior,
no qual a taxa foi de 6,7%.
Na Ásia as notícias foram ligeiramente melhores. A produção industrial do Japão
cresceu 2,4% em junho frente ao mês anterior e o país registrou o maior superávit comercial
desde março de 2008 com as exportações diminuíram seu ritmo de queda, mas ainda 35,7%
abaixo de seu patamar em junho de 2008. A atividade industrial japonesa teve alta de 0,7%
em maio, ante abril (com ajuste sazonal). A taxa de desemprego na economia japonesa subiu
para 5,4% em junho, após uma taxa de 5,2% em maio, atingindo o maior nível em seis anos.
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Ao largo desses resultados, está a economia chinesa que expandiu-se 7,9% no segundo
trimestre de 2009 em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Com isso, a China cresceu
7,1% no primeiro semestre do ano, em comparação ao mesmo semestre de 2008. Segundo o
governo, o maior crescimento do segundo semestre foi fruto do pacote de estímulo do
governo. A previsão do governo para o crescimento do PIB em 2009 é de 8,0%.
No plano nacional, apesar de ainda existirem sinais que apontam a presença da crise
na economia brasileira, alguns especialistas do mercado e autoridades do governo afirmam
que o Brasil já está em processo de recuperação.
É importante ressaltar que o governo brasileiro, ao se deparar com a atual crise
mundial, diferentemente de outros períodos recessivos, realizou políticas anticíclicas, na
tentativa de aliviar os efeitos perversos que naturalmente ocorrem e deprimem a economia.
Exemplos disso foi a realização de uma política fiscal expansionista, para estimular a
produção de setores de construção civil, automóveis e linha branca; redução da taxa de juros
básica e expansão da oferta de crédito, a fim de induzir um maior nível de consumo e
investimento. O governo também conseguiu controlar a inflação, mantendo o poder aquisitivo
da população e, assim, o consumo das famílias.
Neste segundo semestre as expectativas são de que a economia volte a crescer e, a
partir do próximo ano, retome níveis maiores de crescimento. Desse modo, o objetivo dos
tópicos a seguir é mostrar e discutir os principais impactos e resultados da crise na economia
brasileira.
1.1 – IMPACTOS DA CRISE NO PIB
Um dos fatores que contribuem para sinalizar a retomada do crescimento brasileiro é o
resultado do PIB no segundo trimestre de 2009, onde seu crescimento pode superar em 2%
comparado ao trimestre anterior. Este fato que pode ser considerado como um sinal de que o
pior período já passou. Os números de vendas no varejo, em maio, reforçaram a avaliação de
que o consumo das famílias avança a um ritmo razoável, impulsionado pela massa salarial,
que nos 12 meses até maio, ainda cresceu 6,6%, descontada a inflação. A possibilidade de que
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o PIB tenha uma variação ligeiramente positiva no ano aumentou embora vários analistas
ainda apostem em ligeira contração em 2009.
No início do mês de julho, Guido Mantega afirmou que o Brasil mostra sinais robustos
de retomada econômica e que a política econômica está sendo bem sucedida. No entanto,
ainda que as medidas anticíclicas adotadas pelo governo nos últimos meses (incluindo as
relacionadas aos depósitos compulsórios, à redução de impostos na cadeia produtiva, ao
aumento da oferta de crédito e as obras do PAC) tenham gerado resultados mais satisfatórios
no ritmo de expansão da economia, as análises do mercado não são tão otimistas assim. De
acordo com Mantega, a indústria vai voltar a crescer no segundo semestre e o ritmo de
expansão do PIB será de 3% a.a. no quarto trimestre. Em relação ao emprego, o Brasil deve
ter uma geração líquida de 500 mil a 700 mil novos empregos em 2009, número que pode
ultrapassar 1 milhão de postos em 2010.
Mesmo com a crise, que abalou a economia brasileira, a receita federal considera que
houve significativo crescimento real da economia de 5,1% no quarto trimestre de 2008, e
aumento da arrecadação de 8,3% nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal).
Um dos fatores destacados foi o crescimento econômico no ano passado de 5,8% na
agropecuária, 4,8% na indústria e 4,3% nos serviços. Outro fator foi o crescimento do
mercado formal de trabalho com impactos na massa salarial do setor privado (crescimento
real de 9,5%).
Outras considerações são feitas pelo FMI que, neste mês, manteve as previsões sobre o
desempenho da economia brasileira este ano, a qual deve sofrer uma contração de 1,3%.
Porém, a expectativa de crescimento para 2010 passou de 2,2% para 2,5%. Segundo o Fundo,
a recessão na América Latina será maior que a prevista inicialmente, devido, principalmente,
à queda do comércio internacional, o que fará o PIB regional sofrer uma contração de 2,6%
em 2009. Por outro lado, a região está se beneficiando de uma alta nos preços das matérias-
primas, o que fez com que o órgão elevasse em 0,7%, para 2,3%, suas previsões de
crescimento para a região em 2010.
Para o Bird, em termos globais, a economia brasileira também deve apresentar
resultados acima da média mundial, mas inferiores ao desempenho previsto para outros países
emergentes. Para a América Latina, a previsão é de queda de 2,2% neste ano e alta de 2% no
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próximo. O Brasil deve apresentar retração de 1,1% na economia em 2009 e expansão de
2,5% em 2010.
Finalizando este mês, as estimativas dos analistas do mercado financeiro para o
aumento do PIB no próximo ano caíram para 3,5%, segundo o BC. Para este ano, a previsão
de queda do PIB foi mantida em 0,34%. Em 2010 a expectativa é de recuperação, com
crescimento de 4,5%, contra 4,25% estimados anteriormente. O Ipea também lançou sua
estimativa e corrigiu a previsão anterior de crescimento de 2% para a economia neste ano, e
agora estima evolução entre 0,2% e 1,2% para o PIB. De acordo com o Ipea, era considerado
que após um primeiro trimestre de estagnação, a economia cresceria a taxas mais expressivas
a partir do segundo trimestre, mas o desempenho da atividade econômica ficou abaixo das
expectativas com retração no primeiro trimestre e desempenho ainda fraco de abril a junho.
No entanto, a economia já reagiu e a recuperação será mais forte no segundo semestre deste
ano, evidenciando a correção do Ipea.
1.2 – IMPACTOS DA CRISE NO SETOR INDUSTRIAL
Avaliando a atividade do setor industrial brasileiro as perspectivas para a evolução da
atividade econômica continuam melhorando. Na avaliação do Copom essa melhora é
observada principalmente no que se refere ao consumo, ainda que os dados sobre a indústria
continuem a refletir a acomodação da demanda externa e do investimento. O comitê destaca
que os sinais de recuperação do crédito se acumulam principalmente para as pessoas físicas. A
melhora também é observada na confiança de consumidores e empresários. Nas atuais
circunstâncias, o ritmo da retomada da atividade depende, de forma importante, da evolução
da massa de rendimentos reais e dos efeitos dos aumentos das transferências governamentais
que ocorrerão neste ano.
No fim deste primeiro semestre, a recuperação da atividade econômica, antes
concentrada em segmentos beneficiados por medidas fiscais, se espalhou mais e beneficiou
um conjunto maior de setores industriais. Em maio, 77,8% dos setores apresentaram
crescimento em relação ao mês anterior, maior percentual desde junho do ano passado,
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segundo dados do IBGE. Segmentos industriais que não foram beneficiados pela demanda da
cadeia automotiva esperam agora vendas maiores que as dos primeiros seis meses. No
entanto, a Pesquisa Industrial Mensal, divulgada IBGE, mostrou que, apesar de mais
espalhada, a recuperação continua lenta. A produção de maio foi 1,3% maior que a de abril na
série com ajuste sazonal. Desde dezembro, a produção industrial acumula resultado positivo
de 7,8%, revertendo parte da expressiva queda de 20% registrada entre o começo da crise
internacional (setembro) e dezembro do ano passado.
Os sinais da recuperação industrial começam a aparecer, visto a recuperação de maio,
mas ainda vive num cenário de incertezas devido ao mercado externo. Duas pesquisas
divulgadas pela Fiesp e pela FGV, mostram melhora em dados reais - como uso da
capacidade instalada e vendas - e indicam que o baixo nível das exportações segue limitando a
recuperação do setor. Destacando o estado de São Paulo, a atividade da indústria paulista teve
alta de 0,9% em maio ante abril, já com o ajuste sazonal. Na comparação com maio do ano
passado, porém, ainda há queda, de 9,3% e no acumulado em 12 meses o cenário é o mesmo
(-12,5%). Há portanto, uma clara mudança de patamar. Houve uma forte queda desde o fim
do ano passado, e agora ocorre um crescimento, embora modesto em comparação ao que já
caiu.
Na avaliação do IEDI, o comportamento da produção em maio confirma que a
indústria reage positivamente de forma firme e mais generalizada, apoiada na demanda
interna. Há sinais mais consistentes de que a indústria se ajustou, o que deve abrir caminho
para uma recuperação em ritmo que poderá ser mais forte no segundo semestre deste ano se as
condições da economia internacional permitirem. As medidas anticíclicas recém anunciadas
pelo devem favorecer essa reação da indústria.
Apesar das considerações de recuperação do setor industrial, a CNI aponta que essa
recuperação é desigual entre os setores. O uso das máquinas do parque industrial brasileiro
subiu pelo quarto mês consecutivo, chegando a 79,8% em maio deste ano. Na média, os
índices estão abaixo de 2008, mas alguns setores têm desempenho diferenciado. O aumento
da utilização da capacidade instalada - que mede o quanto das máquinas e equipamentos está
em operação -, na média, aponta para um aquecimento da demanda. Essa recuperação, no
entanto, ainda não permitiu que o indicador retornasse aos níveis do ano passado (83,1%). O
levantamento mostra também que a utilização da capacidade é maior em setores mais voltados
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ao mercado doméstico, enquanto o mesmo não ocorre com aqueles setores que produzem
bens para a exportação. O uso de máquinas em maio de 2009 nos setores de vestuário
(83,1%), equipamentos de transporte (90,8%) e refino de álcool (89,6%) superou, inclusive, a
atividade de maio de 2008 (respectivamente 81,6%, 84,6% e 89,1%), quando a economia
brasileira ainda crescia a todo o vapor. No sentido inverso, o setor madeireiro teve o menor
nível de utilização da capacidade na comparação com maio de 2008 (63,1% ante 76,7%),
seguido por metalurgia básica (70,8% ante 93,3%), setores com tradição exportadora, cuja
demanda foi mais profundamente afetada pela crise financeira global.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, de janeiro a junho deste
ano, o setor de transformação ficou com saldo negativo de US$ 6,07 bilhões, maior que o
déficit de US$ 5,13 bilhões no primeiro semestre de 2008, quando a balança da indústria de
transformação passou a apresentar um movimento de reversão, depois de seis anos seguidos
de superávits. O resultado foi o inverso da balança comercial geral, que fechou o primeiro
semestre com saldo 23,8% superior ao do mesmo período de 2008. O déficit aumentou em
razão da forte queda nas exportações, principalmente de produtos manufaturados.
Os valores dos embarques da indústria de transformação sofreram redução de 27% de
janeiro a junho em relação ao primeiro semestre de 2008, enquanto a retração das importações
foi um pouco menor, de 23%. A queda dos desembarques foi acentuada nas matérias-primas,
mas a importação de bens de consumo teve redução menor. Houve também compra em
função de um maior assédio ao mercado brasileiro, resultado da baixa demanda por bens de
capital no mercado internacional.
Na indústria mecânica houve um déficit de US$ 6,38 bilhões no primeiro semestre,
enquanto no mesmo período do ano passado, o saldo negativo foi de US$ 5,73 bilhões. Já o
setor de material de transporte, por exemplo, obteve superávit de US$ 7 milhões no primeiro
semestre, saldo muito maior que o superávit de US$ 2,8 bilhões do ano passado. Alguns
segmentos da indústria de bens de consumo também apresentaram superávit, porém, menores,
como é o caso do setor de vestuário e calçados, que ficou no semestre com US$ 183 milhões
de saldo positivo, diante de um resultado de US$ 692 milhões de janeiro a junho de 2008.
Nas projeções realizadas pelo Ipea, o Indicador de Produção Industrial Mensal de
junho prevê crescimento de 0,3% da produção industrial em relação a maio, com destaque
para a fabricação de veículos. No geral, a indústria já acumula um avanço de 7,8% sobre seu
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pior momento na recente crise - ocorrido em dezembro de 2008 -, com cinco altas
consecutivas. Nos cinco primeiros meses de 2009, porém, a produção industrial foi 13,9%
menor que no mesmo intervalo de 2008, resultado da crise internacional e do ciclo de
estoques. Na comparação apenas entre junho de 2009 e de 2008, observa-se um recuo de
11,8%.
Focando a análise para o Estado de São Paulo, no fim do mês de julho, a Fiesp prevê
recuo na produção industrial, de 7% a 8%, ante os dados de 2008, resultado considerado
razoável, dado o baque sofrido com a crise no primeiro semestre do ano. No acumulado dos
seis primeiros meses de 2009, o INA marcou um recuo de 14,1% na comparação com o
mesmo período do ano passado, o pior resultado da série histórica. As perspectivas, por outro
lado, apontam para uma melhora da atividade industrial para o segundo semestre.
1.3 – TAXA DE JUROS E INVESTIMENTOS
O Setor Elétrico brasileiro recebeu aplicações da ordem de US$ 185,5 milhões em
investimentos estrangeiros brutos durante o primeiro semestre do ano, o que representou 1,5%
dos US$ 12,6 bilhões injetados na economia brasileira no período citado. Este resultado foi
45,9% inferior aos US$ 343 milhões em investimentos externos injetados no setor durante o
período homólogo do ano anterior. O investimento aplicado no setor elétrico representou,
aproximadamente, 11% dos investimentos do exterior no segmento em infra-estrutura, que
recebeu US$ 1,71 bilhão. O resultado no segmento de infra-estrutura entre janeiro e junho de
2009 também registrou redução em relação ao volume injetado de US$ 2,021 bilhões nos
primeiros seis meses de 2008.
O Grupo Eletrobrás realizou investimentos de R$ 1,928 bilhão nos primeiros seis
meses do ano, o equivalente a 26,6% da dotação anual de R$ 7,2 bilhões prevista para 2009.
Durante o terceiro bimestre do ano, o grupo investiu R$ 756,2 milhões. Furnas foi a
subsidiária que realizou maior investimento no período, totalizando R$ 613,0 milhões, o
equivalente a 31,8% do total investido pelo Grupo Eletrobrás.
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O BNDES e os agentes financeiros da instituição estão na expectativa de forte
demanda pela linha de financiamento à exportação de bens de capital, disponibilizada pelo
banco de fomento até o final do atual ano e que prevê R$ 7,6 bilhões em financiamento para
apoiar a linha de pré-embarque. Durante o primeiro semestre deste ano, os desembolsos na
linha de pré-embarque tiveram redução de 50%. A recuperação esperada nesta modalidade de
financiamento é resultado das resoluções aprovadas pelo Comitê Monetário Nacional,
referente à redução da taxa de juros aplicada pelo BNDES em suas linhas de financiamento.
No caso das linhas de pré-embarque, a resolução estabeleceu aplicação de juros fixos de 4,5%
ao ano.
Com relação à taxa de juros de curto prazo, o Banco Central decidiu, em reunião do
Copom realizada em julho, pela redução de 0,50 ponto percentual da taxa Selic, passando de
9,25% para 8,75%. A decisão do BC representou um novo piso histórico para a taxa de juros
básica na economia brasileira e levou o país da 3ª para a 5ª posição no ranking mundial dos
juros.
A ata da reunião do Copom deu sinais claros de que o ciclo de redução da taxa de
juros básica da economia brasileira chegou ao fim. O Banco Central deu como concluídos os
esforços para retirar a economia da recessão. O BC sinalizou que o novo nível estabelecido é
capaz de controlar a inflação e estimular a retomada do crescimento da economia em um
horizonte relevante.
Outra explicação dada pelo BC, que explicaria a freada na redução da taxa de juros
básica, é o fato dos efeitos gerados pela redução da Selic estarem demorando até um ano para
serem sentidos na economia. Desta forma, a redução vigorosa de 5 pontos percentuais na taxa
Selic, desde o mês de janeiro, só deverá ser sentida na economia nacional a partir de 2010.
Além do corte da taxa básica da economia, instituições financeiras monetárias também
anunciaram cortes na taxa de juros em suas linhas de crédito para pessoas físicas e empresas.
A Caixa Econômica Federal e a Nossa Caixa reduziram suas taxas antes mesmo do anúncio
do corte realizado pelo BC. A Caixa Econômica realizou seu sétimo corte em 2009 e reduziu
as taxas de 13 linhas de crédito para pessoas físicas e empresas. A Nossa Caixa anunciou que
as novas taxas estão 1,45 ponto menores. Banco do Brasil, Bradesco e HSBC anunciaram
quedas médias de 0,04 ponto percentual em suas linhas.
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1.4 – BALANÇA COMERCIAL
O saldo da balança comercial brasileira no mês de julho registrou superávit de US$
2,928 bilhões, referentes a uma média diária de US$ 127,3 milhões. O resultado mensal,
relativo ao valor médio diário negociado, representou decréscimo de 12% na comparação com
o resultado do mesmo mês de 2008, quando o valor médio foi de US$ 144,7 milhões. A queda
no saldo comercial se deve principalmente à forte retração no nível de exportação, conforma
assinalado pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), que
destaca a retração na demanda dos principais parceiros comerciais do Brasil.
Já na comparação com o mês anterior, quando o valor médio diário foi de US$ 220,2
milhões em virtude da forte queda no volume de importações causadas pela retração da
atividade econômica no país, houve um decréscimo de 42,2%.
A corrente de comércio total (somando exportação e importação) registrada no mês de
julho alcançou US$ 25,3 bilhões, ou US$ 1,1 bilhão em valor médio diário. Houve, portanto,
redução de 4,8% na corrente de comércio do país em julho na comparação com o mês
anterior. Na comparação com o mesmo mês de 2008, quando o valor médio diário foi de US$
1,6 bilhão, a retração foi de 32,5%. Observa-se que o cenário no mês de julho do ano passado
ainda era de prosperidade econômica, sem os efeitos da crise econômica e financeira mundial
conforme ocorre atualmente.
Corroborando a análise anterior, durante o mês de julho as importações do país
registraram redução de 34,5% em relação à julho de 2008, pela média diária. O volume
importado em julho do ano corrente foi de US$ 11,2 bilhões, o que representou um valor
médio diário de US$ 487,6 milhões. Na comparação com o mês de junho do ano corrente,
também em valores médios diários, as importações foram 4,0% superiores. Foram mais
intensas as quedas na importação de bens de capital, bens de consumo e combustíveis. A
queda sobre o trimestre anterior, de 16,8%, é recorde. E a diminuição de 16%, em relação ao
mesmo período do ano passado, é a pior desde o primeiro trimestre de 2002, quando a
redução foi de 17,7%.
As exportações também registraram expressiva redução na comparação com o período
homônimo do ano anterior, assinalando uma queda de 30,8% em termos de valor médio
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diário. O volume exportado em julho do ano corrente totalizou US$ 14,143 bilhões, o que
corresponde a um valor médio diário de US$ 614,9 milhões. Este valor foi 10,8% inferior ao
registrado durante o mês de junho deste ano, o que ajuda a explicar a queda no saldo médio
diário da balança comercial brasileiro ocorrida entre junho e julho de 2009.
Segundo o Mdic, as exportações de produtos industrializados durante o mês de julho
apresentaram redução de 7,8% em relação ao mês anterior, sendo que os produtos
manufaturados e os semimanufaturados caíram 8,6% e 5,1%, respectivamente. Nessa
perspectiva, esses números refletem a retração de demanda nos principais parceiros
comerciais do Brasil. Na comparação com o mesmo mês de 2008, as três categorias
registraram forte retração no volume exportado, em valores médios diários. Os
semimanufaturados tiveram redução de 41,5%, já a exportação de manufaturados caiu 33,6%,
enquanto que a de básicos foi 23,1%.
No acumulado dos primeiros sete meses de 2009, as exportações totalizam US$
84,095 bilhões, o que representa em valor médio diário (US$ 580,0 milhões) uma retração de
23,8% em relação ao alcançado no mesmo período de 2008 (US$ 760,9 milhões). As três
categorias – manufaturados (-31,1%); semimanufaturados (-29,8%) e básicos (-10,6%) –
registraram forte retração no período e contribuíram para o resultado negativo nas exportações
totais no período descrito. Os principais destinos das exportações entre janeiro e julho do ano
foram: China (US$ 12,4 bilhões), EUA (US$ 8,6 bilhões), Argentina (US$ 6 bilhões), Países
Baixos (US$ 4,6 bilhões) e Alemanha (US$ 3,2 bilhões).
Já as importações somaram US$ 67,182 bilhões, um resultado 29,9% inferior, também
em média diária (US$ 463,3 milhões), ao volume importado entre janeiro e julho de 2008,
quando a média diária foi de US$ 660,7 milhões. Houve queda nas compras de combustíveis
e lubrificantes (-51,7%), matérias-primas e intermediários (-32,4%), bens de capital (-17%) e
bens de consumo (-8,8%). As importações vieram, principalmente, dos EUA (US$ 11,5
bilhões), China (US$ 8,1 bilhões), Argentina (US$ 6 bilhões), Alemanha (US$ 5,2 bilhões) e
Japão (US$ 3,1 bilhões).
O superávit na balança comercial no acumulado entre janeiro e julho de 2009 totalizou
US$ 16,913 bilhões, valor 15,6% superior ao registrado em período homônimo de 2008,
quando o saldo foi de US$ 14,630 bilhões. A corrente de comércio acumulada totaliza US$
16
151,277 bilhões, o que representa redução de 27,1% no volume acumulado de comércio entre
janeiro e julho de 2008, com US$ 207,560 bilhões.
É importante destacar que todos os mercados fornecedores registraram retração
durante o mês de julho de 2009 em comparação com o mesmo mês do ano anterior. A Europa
Oridental foi o bloco econômico que registrou a maior queda (-67,3%). Os EUA registraram
decréscimo de 32,1%, enquanto que a União Europeia registrou queda de 31,2%. Já a Ásia
registrou retração de 33,5%, sendo que as importações da China tiveram redução de 33,9%.
Os mercados compradores também tiveram retração em todos os grupos. Os EUA
reduziram em 58,0% suas compras junto ao Brasil em julho. O Mercosul também teve
redução de 39,1%, enquanto que a União Européia decresceu suas compras no país em 35,9%.
Embora a China tenha reduzido suas importações do Brasil em 21,7¨%, a Ásia registrou
redução de 13,4%.
17
2 – FINANCIAMENTO DO SETOR ELÉTRICO
Em virtude da crise econômica e financeira, o BNDES passou a ter importância ainda
maior como principal financiador dos grandes projetos de infraestrutura do país, em especial
dos projetos relativos ao setor elétrico nacional, como é o caso da construção das usinas de
Jirau e Santo Antônio, que fazem parte do Complexo do Rio Madeira. O banco também se
prepara para ser a principal fonte de financiamento de outro projeto estruturante do segmento
de energia elétrica: o projeto da hidrelétrica de Belo Monte, cujo leilão está previsto para
outubro deste ano.
O BNDES registrou, durante o primeiro semestre de 2009, desembolsos de R$ 42,9
bilhões, um aumento de 11% em relação ao mesmo período do ano anterior. As aprovações
subiram 50%, alcançando R$ 77,2 bilhões no mesmo período. Os desembolsos do banco para
o segmento de infraestrutura alcançaram R$ 16,2 bilhões, o que representou crescimento de
39% em comparação com o mesmo período de 2008. O setor elétrico brasileiro foi
responsável por R$ 10,9 bilhões em aprovações entre janeiro e junho do ano corrente, o que
representou aumento de 192% em relação ao total aprovado durante o mesmo semestre de
2008 para o setor, quando o volume registrado foi de R$ 3,7 bilhões. As aprovações do setor
de infraestrutura totalizaram R$ 23,7 bilhões no primeiro semestre de 2009 e significaram
crescimento de 33% em relação ao período homônimo do ano anterior.
O expressivo aumento no volume de aprovações de linhas de financiamento do
BNDES para o setor elétrico durante o primeiro semestre se deve, principalmente, à
aprovação do projeto de financiamento, no valor de R$ 7,2 bilhões, para a construção da
hidrelétrica de Jirau, uma das duas usinas que farão parte do Complexo do Rio Madeira. O
contrato acertado durante o mês de julho entre BNDES e Energia Sustentável do Brasil
(Enersus) - consórcio responsável pela construção de Jirau - é na modalidade project finance e
possui prazo de amortização máximo de 20 anos, com período de carência total de 25 anos.
A possibilidade de captação de recursos no mercado externo parece retornar como
possibilidade atraente para os agentes do setor elétrico brasileiro. A Eletrobrás, por exemplo,
finalizou captação de US$ 1 bilhão no mercado externo por meio do lançamento de bônus. Os
papéis vencem em 2019 e o montante captado será utilizado para financiar parte do plano de
investimento da estatal até 2012, quando estão previstos investimentos de R$ 30,2 bilhões. A
18
maior parcela, de R$ 14,7 bilhões, será destinada ao segmento de geração. Para transmissão
estão previstos R$ 6,3 bilhões e R$ 5,8 bilhões para distribuição.
No mercado de capitais, as empresas voltaram a buscar a captação de recursos através
de emissão de notas promissórias, debêntures e ações.
Durante o mês de julho, foram concluídas as captações através de lançamento de notas
promissórias pela Rede Energia e pela Cteep, que captaram um volume total de R$ 520
milhões.
A Elektro e a Light finalizaram suas respectivas operações de lançamento de
debêntures, totalizando R$ 600 milhões em captações. Por outro lado, a Coelce e a Triunfo
enviaram comunicados ao mercado anunciando a emissão de seus debêntures no mercado.
Assim como três empresas que compõem o grupo CPFL Energia – CPFL Energia, CPFL
Paulista e RGE – que também anunciaram a distribuição de debêntures no mercado.
A CEEE-D realizou, também no mês de julho, a distribuição pública de quotas
sêniores da primeira série do seu fundo de investimentos em direitos creditórios (FIDC). A
operação captou R$ 136,8 milhões.
Em termos de oferta de ações, a Light finalizou a oferta de R$ 707,3 milhões de ações
do BNDESpar e da EDF no mercado. Com a oferta, a EDF vendeu a participação de 6,6%
que detinha no capital da distribuidora fluminense.
3 – ANÁLISE SETORIAL
A fim de acompanhar os impactos da crise financeira no consumo de energia elétrica,
inevitavelmente deve-se focar no desempenho dos consumidores industriais. De acordo com a
Resenha de Mercado da EPE de julho, “a indústria é o segmento responsável pela retração do
consumo de energia elétrica no país, [...] afetado pela crise financeira internacional.” Isso fica
19
mais claro nas regiões Sudeste e Nordeste onde o consumo de energia elétrica foi
intensamente afetado na cadeia da metalurgia básica desde a extração do minério de ferro até
a produção de ferros-gusa e liga, passando ainda pela siderurgia.
Assim, primeiramente é feita uma análise dos setores mais relevantes sob a ótica de
eletro-intensidade, explicitando dados que indiquem o desempenho das firmas pertencentes a
tais setores. Pretende-se, dessa forma, esclarecer como cada setor está respondendo às novas
condições econômicas impostas pela crise financeira, para no capítulo seguinte verificarmos
isso em termos de consumo de energia.
De forma geral, a indústria está otimista quanto ao aumento da demanda no mercado
doméstico e apesar da previsão de queda em relação às exportações, empresários têm a
expectativa de que esta seja bem menor que as previsões passadas. Esses são resultados da
Sondagem Industrial divulgada pela CNI que ainda aponta que as grandes empresas
interromperam a tendência de queda na produção no segundo trimestre de 2009, devendo
ajudar na retomada da atividade industrial das pequenas e médias empresas no segundo
semestre. Contudo, o nível de utilização da capacidade instalada continua abaixo dos
patamares dos últimos anos e os estoques estão acima do planejado, sinalizando que a
retomada ocorrerá, mas de forma gradual.
3.1 – SETOR METALÚRGICO, SIDERÚRGICO E MINERAÇÃO
A produção de minério de ferro da Vale caiu 26,1% no segundo trimestre de 2009 ante
o mesmo período de 2008, com a demanda afetada pela crise internacional. Entretanto, em
relação ao primeiro trimestre deste ano, houve uma alta de 23,1% na produção de minério de
ferro. A produção de níquel também caiu: 15,5% em relação ao 2º trimestre de 2008 e 9,5%
em relação aos 3 primeiros meses de 2009.
No setor de ferro-gusa do país, em grande parte dependente de vendas ao exterior, a
crise de demanda é profunda. No principal pólo, Minas Gerais, que responde por 60%, o
índice de ocupação dos fornos está em torno de 20%. No pólo paraense, liderado por Marabá,
20
das 11 empresas oito estão paradas, duas operando a meia carga e apenas uma em situação
quase normal. Dos nove mil empregados no início da crise, seis mil foram demitidos. O pior é
que a demanda externa, hoje em torno de 80% do que era em 2008, deverá atingir em 2009 o
patamar de 40%, pois os compradores ainda estão usando seus estoques acumulados. Um
exemplo disso é que os estoques de aços planos entre distribuidores do país recuaram 6,3% de
maio para junho.
A produção brasileira de aço bruto no mês passado cresceu 2,5% em relação a maio,
para 1,9 milhão de toneladas. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, houve recuo
de 33,9%, segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia. De acordo com a entidade, as vendas
internas seguiram a tendência de "gradativa recuperação" e subiram 0,8% no mês passado em
relação a maio.
Seguindo essa expectativa, a Gerdau anunciou que desistiu de parar a produção em um
de seus alto-fornos, o da unidade Açominas, em Ouro Branco (MG). Com capacidade de 1,5
milhão de tonelada, ele ficou parado por seis meses e voltou a funcionar no início de julho.
mês, com retomada gradual da produção. A siderúrgica também anunciou que, até o fim de
agosto, retomará a produção em dois de seus altos-fornos, passando a usar 85% de sua
capacidade.
A Usiminas, depois de passar um semestre com 3 de seus 5 altos-fornos parados,
anunciou o religamento de dois destes: um em Ipatinga e outro em Cubatão. Na visão da
empresa, a decisão baseia-se em essência na melhoria da demanda do mercado externo. No
Brasil, a avaliação é de que a expansão do mercado ainda está mais lenta do que o esperado,
principalmente no setor de bens de capital. Assim, garante que certamente o terceiro alto-
forno de Ipatinga (20% da capacidade desta usina) continuará parado ainda por bastante
tempo, não sendo religado até o fim do ano.
Quanto aos investimentos futuros percebemos a postergação de alguns planos de
investimentos e confirmação de outros, apesar de no geral terem encolhido fortemente com a
crise econômica e consequente retração da demanda por aço em todo o mundo. O primeiro
grande projeto afetado pela crise foi o da CSV, uma parceria entre a chinesa Baosteel e a
Vale, que pevia produzir 5 milhões de toneladas de placas de aço na região industrial de Ubu
(ES). A CSN também adiou sem data os planos de construção de duas usinas, investimentos
21
em cada uma estimados em R$ 12 bilhões e capacidade total em torno de 10 milhões de
toneladas em cada projeto.
O caso da Gerdau e Usiminas é bastante semelhante. O primeiro grupo que trabalhava
com a perspectiva de instalação de outro alto-forno em Ouro Branco (MG), adiou tal decisão
de investimento. Já a empresa mineira, pouco mais de um ano após apresentar um ousado
plano de investimentos, que previa o desembolso de US$ 14,1 bilhões até 2012, recuou.
Diante de uma expectativa mais modesta para o consumo de aço no Brasil nos próximos anos,
a companhia só garante hoje um aporte próximo a US$ 4,5 bilhões no mesmo período,
subtraindo US$ 3,5 bilhões referentes a projetos de mineração de ferro, em relação às
intenções de investimento de 2008.
Tratando da indústria de mineração brasileira como um todo, espera-se crescimento
em sua produção e vendas no último trimestre deste ano, mas segundo projeções do Instituto
Brasileiro de Mineração (Ibram) a retomada real do setor deve ocorrer apenas em 2010. Uma
das expectativas é quanto à melhora do consumo no mercado interno, que por enquanto
apresenta forte queda em relação ao ano passado. O único mercado em ascensão é o chinês,
que atualmente compra mais de 50% da produção brasileira.
3.2 – SETOR DE ALUMÍNIO
Segundo a Associação Brasileira do Alumínio (Abal), a produção nacional de
alumínio primário registrou queda de 6,2% no primeiro semestre de 2009 na comparação com
o mesmo período do ano passado. Analisando apenas o resultado de junho, o volume
produzido foi de 126,1 mil toneladas, 9,3% inferior ao mesmo mês em 2008.
3.3 – SETOR TÊXTIL
Durante este mês de julho, foi aprovado um importante projeto de lei que cria uma
tarifa especial de energia elétrica para indústrias têxteis, que dispõe sobre um desconto de
90% na energia elétrica consumida entre as 21h30m até as 6h00 da manhã seguinte para essas
indústrias. Essa medida visa socorrer a indústria têxtil especialmente em razão da valorização
22
do real e da concorrência de países que mantêm suas moedas desvalorizadas e concedem
subsídios a seus produtores.
3.4 – SETOR AUTOMOTIVO
A exemplo do mês anterior, apesar do avanço das vendas de veículos no mercado
interno, a queda nas exportações manteve a produção da indústria automotiva de junho em
nível inferior ao de 2008, caindo 8,2%, puxada pela queda de 46,9% nas vendas externas de
veículos leves na mesma comparação, de acordo com dados da Anfavea. Já o mercado interno
cresceu 5,6%, impulsionado pela redução do IPI e pela retomada do crédito. A expectativa
quanto ao resultado do ano melhorou, pelo menos para a Anfavea. A previsão anterior dava
conta, considerando que a redução do IPI fosse extinta em junho, que o mercado local teria
queda de cerca de 4%. A nova estimativa, que leva em conta a comercialização de 3 milhões
de veículos, indica crescimento de 6,4% sobre 2008 (2,82 milhões de veículos licenciados)
entre nacionais e importados.
Logo, duas empresas anunciaram intenções futuras de ampliação dos investimentos no
país. A GM confirmou planos de investir R$ 2 bilhões até 2012 para desenvolver uma nova
família de veículos voltada ao mercado sul-americano, um mercado considerado prioritário
para a montadora. A maior parte dos recursos deve ser na triplicação da capacidade da fábrica
de Gravataí (RS). O investimento, que totaliza R$ 2 bilhões, é parte de um plano de gastos de
US$ 2,5 bilhões entre 2007 e 2012 na região do MERCOSUL. O grupo Renault/Nissan
também pretende ampliar seus investimentos no Brasil, motivado pelo enorme potencial de
consumo de veículos. Enquanto nos EUA existe uma relação de 800 veículos para cada mil
habitantes, no Brasil esta é de apenas 150 e a expectativa é que continue crescendo nos
próximos anos.
23
4 – ANÁLISE DA CARGA
A idéia deste capítulo é acompanhar os impactos da crise financeira na carga de
energia do setor elétrico brasileiro, seguindo as principais divulgações de dados ocorridas ao
longo do mês. De forma geral, os impactos relevantes se restringem, pelo menos por
enquanto, ao setor industrial. Neste setor, que atualmente representa 44% do consumo em
todo o país, a queda no 1º semestre de 2009 foi de 11,4% em contraste com o consumo nas
residências e no setor de comércio e serviços que apresenta alta no semestre de 5,5% e 6%,
respectivamente. Em relação a junho do ano passado a queda foi semelhante no consumo
industrial, de 10,5%.
A queda da carga é mais visível nas regiões Sudeste e Nordeste e em alguns setores da
economia. Foi intensamente afetado, por exemplo, o consumo na cadeia da metalurgia básica
desde a extração do minério de ferro até a produção de ferros-gusa e ligas e, ainda, a
siderurgia, como se vê a seguir.
O Sudeste verificou a retração mais profunda do consumo industrial de energia,
principalmente em Minas Gerais e no Espírito Santo, onde há importantes consumidores nos
setores metalúrgico e siderúrgico. O consumo semestral de 42,9 TWh na região é comparável
ao registrado em 2004. Já no Nordeste, além da metalurgia, as indústrias mais afetadas são do
ramo químico. Com forte concentração dessas indústrias, Bahia e Alagoas são os estados da
região com redução mais acentuada do consumo de energia no semestre: 18% e 10%,
respectivamente. O consumo regional no semestre, de 13,1 TWh, está no mesmo nível do
verificado em 2006.
Focando no estado de São Paulo, o consumo de energia caiu 1,4% em junho deste ano
ante igual mês de 2008, somando 9.532 GW/h, segundo a Secretaria de Saneamento e Energia
do estado. A demanda industrial, que representa 43,4% do consumo, recuou 7,7%. No
segmento residencial, o consumo cresceu 3,9%. Na classe comercial, expansão de 4,5%. Em
relação ao mês anterior, em junho foi mantida a tendência da taxa de crescimento acumulada
de 12 meses (gráfico nº. 1), indicando a progressiva contaminação da taxa por meses de 2009
com baixa carga do setor industrial.
24
Gráfico nº. 1
Taxa de crescimento acumulada de 12 meses findos a cada mês
Fonte: Secretaria de Saneamento e Energia – SP, Boletim Informativo Junho/2009.
A Comerc verificou aumento de 6,03% no índice de consumo de energia industrial7
em junho, na comparação com o mês anterior. Em relação a junho de 2008, houve queda de
12,25% no índice. Dos 71% dos setores com resultados positivos, a maior alta foi registrada
no setor de siderurgia e metalurgia (20,9%), seguida pelos segmentos de Eletromecânica
(19,1%) e de Higiene e Limpeza (18,1%). De certa maneira parece que, a indústria já atingiu
seu vale e se prepara para uma recuperação no 2º semestre, pelo menos é essa a visão deste
Grupo de Pesquisa - GESEL. O gráfico a seguir ilustraria esse movimento.
7 Trata-se do Índice Comerc que avalia 119 grandes unidades consumidoras de energia.
25
Gráfico nº. 2
Consumo de energia elétrica industrial em junho (GWh)
Fonte: EPE, Resenha Mensal do Mercado de Energia Elétrica, julho/2009.
Os dados de julho da ONS se alinham à essa visão. Eles mostram que apesar das
baixas temperaturas verificadas no mês de julho, inferiores as ocorridas no mesmo mês do
ano passado, a carga apresenta sinais de elevação, com taxa de crescimento positiva em
relação ao mês anterior, contrária a tendência sazonal. Isso, ilustrado no gráfico nº. 3, pode
indicar uma evolução positiva com vistas à retomada do crescimento de carga de energia em
alguns setores da indústria, principalmente no sudeste.
Gráfico nº. 3
Carga de energia do subsistema SE/CO e do SIN (MWmed)
Fonte: ONS, Boletim Mensal de Carga, julho/2009.
26
5 – DISPONIBILIDADE FUTURA DE ENERGIA
A crise financeira internacional, iniciada em setembro de 2008, retraiu primeiramente
e mais fortemente as economias dos países centrais, e depois as de países em
desenvolvimento, como é o caso do Brasil. O consumo total de energia elétrica foi
comprimido, com ênfase para o setor industrial, que teve as maiores reduções de carga,
gerando relativa sobra de energia.
De acordo com os dados do último PEN 2009, referente ao primeiro quadrimestre,
antes do agravamento da crise, o ONS previa uma carga de demanda de energia da ordem de
55.504 MW médios para 2009, mas com o recuo do consumo, esse número foi revisado para
52.422MW médios - uma queda de 3.082 MW médios (quase o total que será oferecido pelas
usinas do Rio Madeira, quando prontas, que terão cerca de 4 mil MW médios). Os cálculos do
ONS são baseados na premissa de que o PIB do país crescerá 2% em 2009 e 4,1% ao ano no
período de 2010-2013.
Em seu relatório mensal, o operador do sistema afirma que os sinais de recuperação do
setor industrial ainda não foram observados no total da carga de energia. Essa informação está
de acordo com os dados da EPE, que divulgou neste mês que a sobra de energia elétrica de
cerca de 4.000 MW deve permanecer até 2013, mesmo em um dos piores cenários de
afluências, já que espera-se que as usinas do Madeira comecem a entrar em operação.
Esse fato decorre da conjunção de vários fatores, como: (i) a já comentada queda do
consumo de energia elétrica; (ii) condições favoráveis de afluências recentes; (iii) o fato de os
projetos de energia nova estarem começando a ser entregues; e (iv) a maior oferta agregada
pelos leilões de energia nova e de linhas de transmissão, que vem sendo realizados desde
2005. Ao todo, já foram nove leilões de energia nova, um de fontes alternativas e um de
reserva, além dos leilões das usinas de Santo Antônio e Jirau. Também foram importantes as
inclusões das várias pequenas usinas hidráulicas e térmicas autorizadas pela Aneel e as usinas
do Proinfa.
Observa-se, portanto, que a crise econômica desestressou rapidamente a oferta de
energia elétrica. Com isso, os investimentos vinculados aos leilões A-3 e A-5 poderão maturar
com tranqüilidade. Entretanto, apesar de o aumento do gap entre oferta e demanda de energia
27
- ocorrido devido à forte queda da carga - ter aliviado o risco de um desabastecimento, esse
alívio deve ser visto como uma oportunidade para planejar a expansão do setor elétrico.
Dessa forma, este momento mostra-se bastante propício para que o governo
impulsione setor. A contribuição do Estado já vem sendo feita, fato este observado através do
fortalecimento do Sistema Eletrobrás, tornando-o mais competitivo; políticas energéticas mais
favoráveis; melhorias das condições de financiamento (empresas do SEB são as que mais
emitem debêntures e mais recebem empréstimos do BNDES); e garantia de ocorrência dos
leilões, apesar de alguns inevitáveis adiamentos.
No entanto, vale ressaltar que os licenciamentos para a construção de novas
hidrelétricas devem continuar ocorrendo, para que o setor mantenha a consistência do
fornecimento de energia conforme a demanda futura necessária. O MMA já anunciou a
intenção de dar continuidade à redução no tempo de concessão de licença ambiental, através
do programa Agiliza II sem, com isso, perder o rigor na avaliação dos pedidos.
Nesse contexto de ampliação da provisão de energia elétrica, a previsão do PEN 2009
é de que nos próximos cinco anos seja implementados cerca de 26.000 MW em energia nova,
aumentando a potência instalada do SIN em 28%. Esses números já contam com a
incorporação das novas fronteiras do SIN na região amazônica, com o sistema Acre-
Rondônia, e com os sistemas não-interligados de Manaus e Macapá, através da interligação
Tucuruí-Manaus-Macapá, com cerca de 1,8 mil quilômetros de linhas de transmissão, prevista
para o final de 2011.
Os dados do Plano também apontam que a hidroeletricidade continuará sendo a
principal fonte de produção de energia elétrica do país, com a previsão de gerar 87.477 MW
até 2013, o que representará cerca de 70% da capacidade instalada do SIN. O crescimento
desse tipo de usinas se deve ao imenso potencial hidrelétrico do país (a exemplo das usinas do
Rio Madeira), além das vantagens deste tipo de energia ser renovável e limpa, e menos
onerosa que outras fontes de energia (térmicas), depois de construída. Em relação às PCHs, o
país deve triplicar a capacidade instalada nos próximos anos, com a liberação dos 6.500 MW
tramitando na Aneel.
Entretanto, ainda seguindo os dados do Plano, o perfil da expansão da oferta será de
predominância térmica, com cerca de 70% da energia nova, em que sua produção passará de
28
11.895 MW em 2008, para 26.664 MW no final do período. Esse tipo de energia tem custos
adicionais para o consumidor, já que ele previne os riscos de défict de energia provinda das
hidrelétricas, em decorrência de ligações extras.