relatório de bolsista - capes de cassia... · autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e...

127
RITA DE CÁSSIA CÉLIO PASQUARELLI A INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL DO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE ESTATÍSTICA MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA SÃO PAULO 2015

Upload: vuongdien

Post on 08-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

RITA DE CÁSSIA CÉLIO PASQUARELLI

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL DO 9º ANO DO

ENSINO FUNDAMENTAL NO PROCESSO DE ENSINO E

APRENDIZAGEM DE ESTATÍSTICA

MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

SÃO PAULO

2015

Page 2: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

RITA DE CÁSSIA CÉLIO PASQUARELLI

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL DO 9º ANO

DO ENSINO FUNDAMENTAL NO PROCESSO DE ENSINO E

APRENDIZAGEM DE ESTATÍSTICA

Dissertação de Mestrado Acadêmico em Educação

Matemática, apresentado à Banca Examinadora do

Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação

Matemática, da Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo (PUC/SP), para obtenção de título de

MESTRE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob

orientação da Professora Doutora Ana Lúcia

Manrique.

São Paulo

2015

Page 3: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

BANCA EXAMINADORA

----------------------------------------------------------------------

----------------------------------------------------------------------

----------------------------------------------------------------------

----------------------------------------------------------------------

----------------------------------------------------------------------

----------------------------------------------------------------------

Page 4: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial

desta Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos, desde que citada a fonte.

Assinatura: _______________________ São Paulo,--- de ----------------------------------de 2015.

Page 5: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

AGRADECIMENTOS

Os que esperam no senhor, renovarão as suas forças, subirão com asas como águias,

correrão e não se cansarão, caminharão e não se fatigarão.

Isaías 40:31

Dedico o primeiro parágrafo em agradecimento ao meu Deus, meu amigo verdadeiro,

bem presente em todos os momentos desta pesquisa.

Agradeço à minha orientadora, preciosa, Profª Dra. Ana Lúcia Manrique, pelo

incentivo, a princípio, concedendo oportunidade de bolsa de estudo cedida por este Projeto de

Pesquisa, aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira (INEP), sem a qual não conseguiria ingressar no curso. Não somente isto,

tenho gratidão por proporcionar a continuidade do trabalho com o simulador de gráficos

estatísticos desenvolvido no subprojeto de Ciências Exatas do Programa Institucional de

Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID), ainda na graduação.

Agradeço em especial à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) – transferência de bolsa no decorrer do curso - que otimizou a dedicação integral

à pesquisa.

Não poderia deixar de agradecer à Profª Dra. Cileda de Queiroz e Silva Coutinho, na

qual fiz questão que participasse da Banca Examinadora, pois fez parte de minha história

Page 6: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

acadêmica desde a graduação com orientação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e

Iniciação Científica (IC). Sendo este último reconhecido como melhor trabalho do

Departamento da Matemática em 2012, pela PUC-SP.

Sem esquecer a Profª Dra. Denise Filomena Bagne Marquesin, cujo primeiro contato

ocorrera na qualificação, com suas contribuições para o bom andamento desta pesquisa.

Agradeço ao Profº Wladimir Pasquarelli – marido e amigo, especialista em Educação

Matemática, coadjuvante no dia da aplicação desta pesquisa no Instituto, com o auxílio

nas instalações, filmagens e fotos; à minha filha Priscila Pasquarelli pelo trabalho no

AutoCad e ao Profº Sergio Benjamim Rocha, especialista em História, por revisar o

contexto histórico deste trabalho.

Tenho o privilégio de fazer ao menos um amigo por onde passo e não poderia deixar de

citar agradecimentos à minha amiga Sofia Seixas Takinaga, companheira de curso,

reuniões, palestras e encontros acadêmicos.

Page 7: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

O aluno com deficiência visual não, necessariamente, possui deficiência intelectual ou

cognitiva. Neste caso, ele necessita de adaptações em materiais pedagógicos e explicações

orais para criar imagens mentais.

Ana Lúcia Manrique

Page 8: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

RESUMO

Esta pesquisa teve por objetivo promover o diálogo entre a inclusão de alunos com deficiência

visual e o ensino e a aprendizagem de Estatística, baseado na variabilidade dos dados, de maneira

introdutória e intuitiva. Assim, nos orientamos pela seguinte questão: Como proporcionar a

inclusão de alunos com deficiência visual nas aulas de Estatística e iniciar a construção de

significados dos conteúdos de média, moda e mediana, com vistas à variabilidade intuitiva?

Assumindo que os conteúdos que envolvem esta disciplina demandam considerável tempo,

apresentamos os conceitos como processo elementar prevendo seu fortalecimento e expansão no

decorrer da Escola Básica. Considerando esses aspectos, fizemos uso da Tecnologia Assistiva com

o desenvolvimento do material denominado “simulador de gráficos dot-plot e box-plot”.

Adotamos como nosso referencial duas filosofias, a Inclusão e Análise Exploratória de Dados e

como metodologia a pesquisa qualitativa. Verificamos que estratégias de ensino são cruciais para

fomentar as aprendizagens de conceitos estatísticos para os alunos com deficiência visual. Assim,

priorizamos as modalidades multissensoriais, audição e tato, com atividades cooperativas, noções

matemáticas elementares, sem ênfase em fórmulas e definições. Desenvolvemos nosso trabalho

com uma turma do 9º ano em uma Instituição na cidade de São Paulo, com oito alunos, dentre

eles, quatro cegos, um com baixa visão e três videntes. Podemos afirmar que proporcionamos

resultados expressivos quanto à inclusão dos alunos com deficiência visual envolvidos nesta

pesquisa com implicações que apontam caminhos para o ensino e a aprendizagem de Estatística

para esses alunos, com indícios de construção de significados sobre a variabilidade na distribuição

dos dados. Não obstante a isto, podemos afirmar que proporcionamos quatro acessibilidades:

instrumental, metodológica, programática e atitudinal. Acrescentamos que, ao contrário do que

alguns autores afirmam, o fator tempo não prejudicou a inclusão dos alunos com deficiência

visual, pois, trabalhamos com esses alunos simultaneamente aos videntes. Quanto aos conceitos

estatísticos envolvidos, como prevíamos, o tempo foi insuficiente para que os alunos alcançassem

a construção significativa, o que justifica a escolha de atividades introdutórias, com caráter

intuitivo.

PALAVRAS-CHAVE: Inclusão; Estatística; Aluno com deficiência visual; Acessibilidade.

Page 9: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

ABSTRACT

This study aimed to promote the dialogue between the inclusion of students with visual

impairment and the teaching and learning of Statistics, based on the variability of data, in an

introductory and intuitive way. Thereby, we are guided by the following question: How to further

the inclusion of students with visual impairment in Statistics classes and induct the construction of

meaning of the following contents: media, median and mode, aiming at intuitive variability?

Assuming that the content surrounding this discipline requires considerable time, we present the

concepts as elementary process, predicting its strengthening and expansion during the Basic

School. With that in mind, we made use of Assistive Technology with the development of

materials called "dot-plot and box-plot graphs simulator”. We adopt as our benchmark two

philosophies, Inclusion and Exploratory Data Analysis, and as our methodology, qualitative

research. We've found that 'teaching strategies' are crucial to foster the learning of statistical

concepts for students with visual impairments. Thus, we prioritize the multisensory modalities,

hearing and touch, with cooperative activities, elementary mathematical notions, without emphasis

on formulas and definitions. We develop our work with a group of 9th graders in an institution in

the city of São Paulo: the group goes as follows: four blind, one with low vision and three seers.

We can state that we provided significant results on the inclusion of the students with visual

impairment involved in this research, with implications in the ways of teaching and learning

Statistics for these students; it also indicates the construction of meanings about the variability in

the distribution of data. Notwithstanding this, we can state that provide four accessibilities:

instrumental, methodological, programmatic and attitudinal. We add that, contrary to some

authors, the time factor has not hurt the inclusion of students with visual impairments, as we work

with these students and the seers at the same time. Of the statistical concepts involved, as we

predicted, the time was inadequate to ensure that students reached the significant building, which

justifies the choice of introductory activities, with intuitive character.

KEYWORDS: Inclusion; Statistics; Student with visual impairment; Accessibility.

Page 10: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Layout simulador ............................................................................................................ 19

Figura 2. Aluno construindo gráfico de setor. ................................................................................. 42

Figura 3. Aluno construindo um gráfico de barras .......................................................................... 43

Figura 4. Layout do simulador com peças usadas na pesquisa. ...................................................... 69

Figura 5. Soroban ............................................................................................................................ 77

Figura 6. Cubarítmo ......................................................................................................................... 77

Figura 7. Alunos nos últimos sorteios de notas ............................................................................... 90

Figura 8. Gráficos construídos por meio do sorteio aleatório seguido de estudos da moda de notas.

......................................................................................................................................................... 91

Figura 9. Estudo das notas medianas dos grupos. ........................................................................... 96

Figura 10. Protocolo do G1 - cálculo da média feito pelo aluno G1bx. .......................................... 99

Figura 11. Protocolo do G2 - cálculo da média feito pelo aluno G2v. .......................................... 100

Figura 12. Protocolo do G3 - cálculo da média feito pelo aluno G3v. .......................................... 101

Figura 13. Protocolo do G4 - cálculo da média feito pelo aluno G4v. .......................................... 102

Page 11: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Descrição das acessibilidades...................................................................................28

Quadro 2: Instruções orais com a descrição do simulador de gráficos.....................................70

Quadro 3: Explicação oral sobre a contextualização do tema..................................................71

Quadro 4: Proposta de atividade.................................................................................................72

Quadro 5: Roteiro de perguntas da primeira etapa....................................................................73

Quadro 6: Roteiro de perguntas da segunda etapa....................................................................78

Quadro 7: Roteiro de perguntas da terceira etapa.....................................................................80

Page 12: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 14

TRAJETÓRIA DA PESQUISADORA .................................................................................................... 14

CONTEXTUALIZAÇÃO ......................................................................................................................... 20

A eugenia e suposta superação .............................................................................................................. 20

O papel do professor e a inclusão de alunos com deficiência visual ..................................................... 26

A Educação Estatística e o aluno com deficiência visual ...................................................................... 29

OBJETIVO DO ESTUDO ........................................................................................................................ 32

I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................................ 35

1.1. Busca nos bancos de teses e periódicos da CAPES ...................................................................... 35

1.2. Trabalhos no âmbito do Projeto e indicações de leituras .............................................................. 44

II – REFERENCIAL ..................................................................................................................................... 50

2.1. Filosofia da Inclusão .......................................................................................................................... 50

2.2. Filosofia Análise Exploratória de Dados............................................................................................ 55

III – METODOLOGIA ................................................................................................................................. 60

3.1. Pesquisa qualitativa ............................................................................................................................ 60

3.2. Procedimentos metodológicos ........................................................................................................... 63

IV- ANÁLISES ............................................................................................................................................ 66

4.1. Análise a priori ................................................................................................................................. 66

4.2. Análise a posteriori ............................................................................................................................ 81

Page 13: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

CONSIDERAÇÕES .................................................................................................................................... 110

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................... 116

APÊNDICES ............................................................................................................................................... 120

Page 14: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

14

INTRODUÇÃO

Tudo o que a sua mão encontrar

para fazer, faça-o com todo o seu

coração.

Jesus de Nazaré

TRAJETÓRIA DA PESQUISADORA1

Considero que este trabalho passou por um processo de construção, com início no segundo

semestre de 2010, ainda na graduação em Licenciatura em Matemática na Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo.

Em meados de outubro de 2010, ao saber da aprovação do Projeto de Iniciação Científica,

orientada pela Professora Dra. Cileda de Queiroz e Silva Coutinho, iniciei as primeiras leituras de

pesquisas na área de Educação Estatística.

O trabalho de Iniciação Científica, sob o título “Levantamento e categorização de resultados

das pesquisas realizadas no âmbito do Projeto PEA-ESTAT”, vinculado ao Projeto “Processo de

Ensino e Aprendizagem Envolvendo Raciocínio Estatístico e Probabilístico” (PEA-ESTAT), foi

desenvolvido pelo grupo de pesquisa Processo de Ensino e Aprendizagem em Matemática (PEA-

MAT).

Além de proporcionar o contato com pesquisas relativas ao período de 2010 e 2011,

referentes às produções do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da

PUC-SP, os trabalhos relativos ao período anterior a 2010 vieram culminar a proposta do Projeto

1 Utilizamos a primeira pessoa do singular, pois se refere ao relato da trajetória acadêmica da pesquisadora.

Page 15: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

15

PEA-ESTAT. Dessa maneira, foram acrescentadas às leituras duas monografias, ambas com a

metodologia Estado da Arte, e uma delas fazia menção ao fichamento de pesquisas desde 1994.

Este fato ocorreu com a intenção de proporcionar a familiarização com a linha de pesquisa

desenvolvida.

Coube a esse trabalho levantar e categorizar elementos necessários para a elaboração de nova

pesquisa a ser desenvolvida pelo grupo PEA-MAT, com a síntese de resultados desses vários

trabalhos, tornando tal síntese operacional para trabalhos futuros, tais como validação quantitativa

dos resultados.

Saliento que o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), nesse período, encontrava-se no

início, sob o título “Elaboração e validação de uma sequência didática para o ensino de conteúdos

estatístico”, também orientado pela Professora Dra. Cileda de Queiroz e Silva Coutinho. O estudo

permeava um trabalho com foco na Educação Estatística, de caráter exploratório.

É interessante observar que nesse trabalho abordamos a ideia de variabilidade a partir da

análise das medidas separatrizes com a utilização do software Geogebra 3.2, o qual facilitou a

percepção de erro e sua causa em uma das alunas no confronto com as construções dos gráficos

feitos com papel e lápis com os mesmos gráficos construídos no software.

Além desses dois trabalhos, precisamente em agosto de 2010 ingressei no subprojeto

Ciências Exatas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID), coordenado

pela Professora Dra. Ana Lúcia Manrique. O subprojeto possuía três metas a serem cumpridas em

uma escola municipal na cidade de São Paulo, especificamente na zona leste, composto de

licenciandos em Matemática e Física.

Em particular, a Meta I correspondia ao levantamento da realidade escolar com a análise de

aspectos ligados à identificação da escola, sua dimensão histórica, física e pedagógica, sua

organização, estrutura, funcionamento e interações educativas.

Page 16: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

16

Quanto à Meta II, que ocorreu no primeiro semestre de 2011, propunha um projeto de

intervenção em sala de aula ou na escola, com elaboração de propostas pedagógicas inovadoras,

reflexão crítica sobre as atividades realizadas e discussão sobre a relação entre ensinar e aprender.

Para o cumprimento dessa Meta, em reunião, definimos que trabalharíamos com alunos do 6º

ano2 e, a princípio, aplicaríamos uma avaliação diagnóstica para verificarmos as dificuldades dos

alunos envolvidos, com questões adaptadas dos anos anteriores da Avaliação das Olimpíadas

Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Após este momento, elaboramos

sequências didáticas permeando tais dificuldades.

Quanto ao interesse pela educação inclusiva, precisamente, iniciou nesse período, pois em

uma das turmas do 6º ano estava matriculada uma aluna com deficiência visual3 - cega.

Concomitante a esse período, na graduação eu também cursava uma disciplina que abordava o

tema sobre educação inclusiva; logo, fiquei sensibilizada em adaptar todas as sequências

didáticas, referentes à Meta II, para a aluna com deficiência visual utilizando barbante e

carretilha.

Ao término desse momento, já em 2012, o grupo decidiu realizar uma feira na escola para o

cumprimento da Meta III, denominada “I Feira de Ciências Exatas: Matemática e Física no

Cotidiano”. Com o objetivo de apresentarmos alternativas de aprendizagem, uma vez que

consideramos que a parceria da escola com a universidade potencializa ações favoráveis ao

desenvolvimento de estratégias eficazes na busca de um ensino de qualidade, tivemos por

intenção provocar nos alunos o desejo de aprender conteúdos relacionados às disciplinas de

Ciências Exatas.

2 Ensino Fundamental de nove anos, conforme Lei número 11.274/06.

3 Neste trabalho, ao nos referirmos aos alunos com deficiência visual, consideramos dois grupos: cegos, os alunos que

necessitam de instrução em Braille, e baixa visão, se lêem tipos impressos ampliados ou com auxílio de potentes

recursos ópticos, segundo o Instituto Benjamim Constant <http://www.ibs.gov.br/?itemid=94.

Page 17: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

17

Por esse evento envolver alunos do 2º ao 9º ano, cada licenciando ficou responsável por um

ano e um conteúdo de Matemática ou de Física. Nessa ocasião, interessei-me em trabalhar com as

medidas de tendência central – média, moda e mediana no gráfico dot-plot, somente, devido ao

pouco tempo disponível para a execução das tarefas com essa turma.

Nesse momento, emergiu o interesse em inserir a percepção e construção de significados no

ambiente escolar, especificamente na feira de Ciências Exatas, baseada nos supostos resultados do

Trabalho de Conclusão do Curso, em andamento naquele momento, pois verifiquei que o

ambiente computacional proporcionou a construção de significados para conteúdos estatísticos.

Entretanto, apesar da utilização do laboratório de informática fazer-se presente na rotina da

escola, as atividades elaboradas para o ensino de Estatística na feira teriam que acontecer fora

dele, uma vez que seria aberta ao público.

A partir desse momento iniciei um estudo para o desenvolvimento de um material que

simulasse a construção de gráficos4. Nomeado como “simulador de gráficos dot-plot e box-plot”,

além de solucionar a limitação do laboratório de informática, para o caso da feira de Ciências

Exatas, teve como alvo principal ampliar as ferramentas para um trabalho além do ambiente

tradicional de sala de aula, lousa, papel e lápis.

Pensando em atividades futuras no simulador, fora da feira, o desenvolvimento do simulador

consistiu em abranger também os conceitos de quartil e construção do gráfico box-plot, também

conhecido como gráfico de caixa.

Tal abrangência sucedeu devido considerar importante algumas ideias avultadas por Miguel e

Coutinho (2007, p. 4-5), as quais relatam a preocupação quanto à falta de material didático para o

4 Lembrando que o aparelho visa a simulação de gráficos, propriamente dita, não ficarei cativa à explicitação do

termo” simulador” e seus derivados quanto às citações dos gráficos, suas construções e análises.

Page 18: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

18

ensino de quartil e acrescentam que tal conceito pode ser “acessível à compreensão dos estudantes

desde as séries iniciais, independente do uso de materiais didáticos tais como calculadoras e

planilhas eletrônicas”, bastando apenas saber contar e dividir por quatro.

Quanto ao uso do gráfico box-plot, Miguel e Coutinho (2007) descrevem que:

pode auxiliar na atribuição de significados para as medidas separatrizes determinadas e

na elaboração de uma análise fundamentada a respeito da variável em estudo, além de ser

mais um elemento que pode auxiliar no estudo sobre a variabilidade de um conjunto de

dados. (MIGUEL; COUTINHO, 2007, p.10)

Passado o evento da feira, pensando na utilização do simulador por alunos com deficiência

visual nas aulas de Estatística, considerei interessante adaptá-lo para proporcionar a construção de

significados estatísticos para esses alunos, por meio do tato, sempre acompanhado de uma

atividade com coleta e Análise Exploratória de Dados5.

Como segue, apresento o layout do simulador e descrições das peças (Figura 1). Embora não

aborde o estudo de quartil no gráfico box-plot – peças descritas nos itens 2, 3 e 6 - neste trabalho,

há a necessidade de apresentá-lo por completo, uma vez que esta pesquisa fez emergir o estudo

das medidas separatrizes em trabalhos futuros. A exceção neste trabalho faz-se em razão do pouco

tempo para discussão e pouco contato com os sujeitos pesquisados – apenas duas aulas para coleta

de dados.

5 Abordarei com profundidade mais a frente, neste trabalho.

Page 19: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

19

Figura 1. Layout simulador

Fonte: autora

Nesse cenário de sensibilização quanto à inclusão de alunos com deficiência visual nas aulas

de Estatística, consequentemente a construção de significados dos conteúdos que envolvem esta

disciplina e conscientização da importância da Educação Estatística, aconteceu um despertar para

importância da educação continuada.

Em continuidade a esse processo, ingressei no Mestrado Acadêmico em Educação

Matemática. No entanto, desta vez, com a intenção de proporcionar a inclusão de alunos com

deficiência visual nas aulas de Estatística com a manipulação do simulador de gráficos.

Assim, ingressei no Projeto “Desafios para a Educação Inclusiva: Pensando a formação de

professores sobre os processos de domínio da matemática nas séries iniciais da Educação Básica”,

Page 20: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

20

aprovado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no edital de número

38/2010, ora coordenado pela Professora Dra. Ana Lúcia Manrique.

Neste Projeto, embora proposto para os anos iniciais, alguns trabalhos fizeram despontar a

necessidade de avançar para os anos finais do Ensino Fundamental II. Este tem como alvo

investigar o desenvolvimento e possibilidades de aprendizagem do aluno com deficiência, no

sentido amplo do termo, mediante o trabalho pedagógico adotado pelo professor. Além disso, tem

por intenção proporcionar aos professores maneiras de praticar, desenvolver materiais e utilizar

técnicas - com intuito de facilitar o ensino e a aprendizagem - e tecnologias adequadas que podem

auxiliar o professor que ensina matemática para alunos com deficiência.

CONTEXTUALIZAÇÃO

Para contextualizarmos nossa pesquisa, fizemos um estudo a partir da eugenia, sua

conseqüência e suposta superação, uma breve apresentação do cenário brasileiro e em seguida

destacamos a Declaração de Salamanca como um progresso social em direção à inclusão.

Apresentamos considerações a respeito da inclusão de alunos com deficiência visual com

intuito de refletirmos e averiguarmos possíveis dificuldades sobre este assunto, inclusive aspectos

importantes que se inserem no tocante ao ensino e à aprendizagem da Estatística para esses alunos.

A eugenia e suposta superação

Para descrição de acontecimentos em torno de alguns pontos na trajetória histórica ao

adentrarmos para descrevermos ocorridos de maneira sucinta, daremos saltos na história, pois nos

ateremos somente aos períodos que mais interessam à nossa pesquisa.

Page 21: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

21

Apesar de o termo eugenia ter surgido em 1869, na obra de Francis Galton, alguns autores o

usam quando se referem a períodos anteriores na história. Isto se explica devido à interpretação e

comparação quanto às práticas de “culto à perfeição física”, aos preconceitos e às discriminações

existentes anteriormente. Vale lembrar que também o consideraremos – termo eugenia – no

discurso de períodos anteriores nesta pesquisa.

Para melhor compreensão do leitor, achamos por bem iniciarmos com um breve relato sobre

Francis Galton. Inglês, geógrafo, estatístico, primo e adepto de Charles Darwin, que procurou

apresentar a eugenia – expressão grega – como Ciência que forneceria as bases teóricas para não

só compreender os mecanismos da transmissão dos caracteres entre as gerações, mas também

melhorar as características do conjunto populacional. Tinha como principal determinação

hereditária não só a dos traços físicos, mas também a capacidade mental, com estudos estatísticos

e genealógicos para intervenção na evolução humana em torno do controle social.

Galton tinha por intenção aperfeiçoar a espécie por intermédio da seleção dos cruzamentos,

sob um protótipo de família – influência da sociedade eurocêntrica, visando à melhoria das

características individuais e raciais das futuras gerações, sejam elas físicas ou mentais, com estudo

e controle social que poderiam melhorar ou empobrecer as qualidades raciais.

Assim, iniciamos nosso estudo com o povo espartano. Com Esparta fundada em IX (a. C.)

pelos Dórios, segundo James (2011), o estado regulava minuciosamente a vida familiar, desde o

nascimento, momento em que os meninos eram examinados para saber se possuíam alguma

deformidade física. Neste trabalho, James (2011) usa o termo eugenia para descrever o "culto à

perfeição física".

O autor descreve ainda que, na regulação familiar, se o menino apresentasse alguma

deformidade física que o impossibilitasse, futuramente, de compor o exército, ocorria o

infanticídio - uma característica dos aspectos culturais de Esparta. As crianças eram lançadas do

Monte Taigeto para morrerem.

Page 22: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

22

Feitosa (2010, p. 26) descreve outro período e relata que, de acordo com Sexto Empírico, o

legislador Sólon (640-560 a.C), considerado um dos sete sábios da Grécia, teria legalizado o

infanticídio em Atenas. E expõe também sobre Roma, a respeito da Lei das Doze Tábuas (540

a.C.), a qual descrevia que “uma criança horrivelmente deformada deve ser rapidamente morta,

como ordenam as Doze Tábuas (de legibus, 3.8.19)”. O mesmo autor relata que na civilização

greco-romana também ocorria o infanticídio, pois

havia uma generalização consentida do infanticídio, chegando inclusive a ser justificado

por Platão na sua obra A República [...] e recomendado por Aristóteles na Política [...]. O

primeiro, alegando questões de ordem econômica – impossibilidade dos pais sustentarem

a criança – e o segundo, por considerar inviável a sobrevivência dos neonatos portadores

de deficiência física. (FEITOSA, 2010, p.26)

Segundo Lobo (n.d.)6, a partir de 1880 a eugenia se transforma em movimento social e

científico com fundação de muitas sociedades em países como a Alemanha, Inglaterra e Estados

Unidos, com a realização de vários congressos nacionais. Nesse sentido, nos deparamos com o

abuso da discriminação, com a apresentação de resultados de uma categorização de quem é apto

ou não para a reprodução humana.

Na Alemanha, Hitler – à época, Chanceler do Reich – em 1933 assinou a Lei que previa a

esterilização dos portadores de doenças hereditárias e enunciava: debilidade mental congênita,

esquizofrenia, loucura circular – maníaco-depressiva, epilepsia, cegueira, surdez, todas

classificadas como hereditárias e grave deformidade corporal, também hereditária.

A Lei institui um Tribunal de Eugenia que dirigia a requisição pela própria pessoa, pelo tutor,

no caso de menor, ou pelo médico oficial público e, no caso de doentes internados, pelo diretor do

estabelecimento hospitalar. A Lei instituiu também um Supremo Tribunal Eugênico, a quem cabia

decidir sobre os recursos a ele encaminhados.

6 No artigo de Lobo (n. d.) não consta ano de publicação, porém descreve em seu corpo que partes do texto, ora

expostos, foram extraídas da sua tese de doutorado “Os infames da história: a instituição das deficiências no Brasil”,

defendida na PUC-Rio, em agosto de 1997.

Page 23: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

23

No entanto, esse seria apenas o começo de um processo que culminaria, a partir de 1939, no

extermínio em massa de defeituosos físicos e mentais que, segundo Lobo (n. d.):

conforme memorando secreto de Adolf Hitler autorizando os médicos a matarem os

internos de hospitais psiquiátricos alemães, segundo resenha no Jornal do Brasil de dois

livros recém-publicados nos Estados Unidos [...]. Calcula-se que até a derrota alemã em

1945, duzentas mil pessoas entre adultos e crianças deficientes, tenham sido assassinadas.

(LOBO, n.d., p. 5)

Aqui no Brasil, a partir do ano de 2005, o debate em torno do chamado “infanticídio

indígena” passou a ocupar alguns espaços da sociedade brasileira. Segundo Feitosa (2010),

registros etnográficos indicam haver entre alguns povos indígenas culturas que se aproximam

desta prática e salienta que a morte toma contornos diferentes do costume ocidental, pois para

alguns povos indígenas:

Faz sentido viver se a vida for boa e tranquila, sem dor excessiva para o indivíduo e para

a comunidade. Assim se uma criança nasce com graves defeitos físicos ou sem um pai

que a proteja, poderá não haver motivo para viver, porque a vida será demasiado pesada

para ela, para a sua família e para o seu povo, em função das condições de vida no meio

da selva. (FEITOSA, 2010, p. 14)

Tendo conhecimento do processo histórico, verificamos que, em primeiro momento, vários

povos compartilharam de uma mesma situação de segregação quanto ao conceito de normalidade.

No Brasil, apesar de haver relatos de infanticídios em algumas tribos nos dias de hoje, durante o

século XIX houve indícios de manifestações contrárias a esses comportamentos. Em Brasil,

(2010)7 consta que:

tiveram início as primeiras ações para atender as pessoas com deficiência, quando o País

dava seus primeiros passos após a independência, forjava sua condição de Nação e

esboçava as linhas de sua identidade cultural. O contexto do Império (1822-1889),

marcado pela sociedade aristocrática, elitista, rural, escravocrata e com limitada

participação política, era pouco propício à assimilação das diferenças, principalmente as

das pessoas com deficiência. O Decreto n° 82, de 18 de julho de 1841, determinou a

fundação do primeiro hospital “destinado privativamente para o tratamento de alienados”,

o Hospício Dom Pedro II, vinculado á [sic] Santa Casa de Misericórdia, instalado no Rio

7 Secretaria de Direitos Humanos.

Page 24: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

24

de janeiro. O estabelecimento começou a funcionar efetivamente em 9 de dezembro de

1852. Em 1854, foi fundado o Imperial Instituto dos Meninos Cegos e, em 1856, o

Imperial Instituto dos Surdos-Mudos. Durante o século XIX, apenas os cegos e os surdos

eram contemplados com ações para a educação [...]. Com o advento da República, o

Hospício Dom Pedro II foi desanexado da Santa Casa de Misericórdia e passou a ser

chamado de Hospício Nacional de Alienados. Somente em 1904, foi instalado o primeiro

espaço destinado apenas a crianças com deficiência – o Pavilhão-Escola Bourneville.

(BRASIL, 2010, p.22)

Como confirmado, as únicas deficiências atendidas no Brasil do século XIX, como passíveis

de superar as dificuldades que causavam, especificamente na educação e no trabalho, eram a

cegueira e a surdez. Para tanto, alunos com estas deficiências eram internados em instituições –

internatos – com objetivo de inclui-los na sociedade brasileira ao fornecer-lhes o ensino de Letras,

das Ciências, da religião e de alguns ofícios manuais.

Com um olhar geral para alunos com deficiência visual, apesar da criação do sistema braille

em 1829 pelo francês Louis Braille, promover uma verdadeira revolução no processo de ensino e

aprendizagem, os impulsos como a forma mais efetiva de escrita e leitura não garantiram a

inclusão desses indivíduos. Em Brasil (2010, p. 30), consta que “a progressiva proliferação das

instituições especializadas em educação de cegos em todo o mundo, por si só, não lhes garantiu

integração na sociedade, acesso a direitos, nem fim do preconceito e do estigma associado à

cegueira”.

Quanto ao Imperial Instituto dos Meninos Cegos, criado em 1854 pelo Imperador D. Pedro II,

após a queda do regime monárquico, em 1889, a instituição recebeu o nome de Instituto dos

Meninos Cegos, alterado, em 1890, para Instituto Nacional dos Cegos e, em 1891, para Instituto

Benjamin Constant (IBC).

A ação, no território brasileiro, em relação às pessoas com deficiência mudou muito pouco

com o advento da República. Detalhando esse período com menção às pessoas com deficiência

visual, em Brasil (2010) consta que:

Os Institutos permaneceram como tímidas iniciativas – mesmo com o surgimento

de congêneres em outras regiões do Brasil –, tanto porque atendiam parcela

diminuta da população de pessoas com deficiência em face da demanda nacional

[...]. Por exemplo, em 1926, foi fundado o Instituto São Rafael, em Belo

Page 25: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

25

Horizonte; em 1929, o Instituto de Cegos Padre Chico, em São Paulo [...], todos

ainda em funcionamento. (BRASIL, 2010, p. 25)

Segundo Brasil (2010), a década de 1950 foi marcada pelo ingresso de estudantes cegos na

faculdade de Filosofia, ora autorizado pelo Conselho Nacional de Educação. Novas organizações

surgiram, pois questionavam a prática de internamento de cegos em instituições, considerando

fator de exclusão e de reforço à discriminação. Além de questões econômicas, lutavam por

educação, profissionalização, cultura e lazer.

Segundo Brasil (2010), a primeira entidade nacional foi o Conselho Brasileiro para o Bem-

Estar dos Cegos (CBEC), fundado no Rio de Janeiro, em 1954. O Conselho foi criado por

iniciativa de Dorina Nowill e do diretor Doutor Rogério Vieira. O Conselho era filiado ao

Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, o qual se transformou na União Mundial dos

Cegos (World Blind Union), que é atualmente a principal organização de cegos no mundo. A

União Mundial dos Cegos foi criada em 1984, quando o Conselho Mundial e a Federação

Internacional dos Cegos se fundiram no novo órgão.

Um marco no cenário mundial da educação ocorreu com a Declaração de Salamanca,

aprovada em 10 de junho de 1994, na cidade de Salamanca, Espanha – podemos classificar como

um progresso social em direção à inclusão, uma vez que, conforme UNESCO (1994, p. 60), “por

muito tempo os problemas das pessoas com deficiência foram agravados por uma sociedade

despreparada que focavam nas suas deficiências, em vez do potencial”.

Esse documento foi criado para apontar à comunidade mundial a necessidade de políticas

públicas e educacionais para atender a todas as pessoas de modo igualitário, com qualidade, com

convívio mútuo, sem discriminação e com respeito às diferenças individuais.

Assim, pudemos observar na história um panorama em que os indivíduos, antes segregados e

discriminados, passaram a ser reconhecidos como pessoas que necessitam de respeito e – em

particular, pessoas com deficiência visual e surdez – de educação inclusiva.

Page 26: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

26

O papel do professor e a inclusão de alunos com deficiência visual

Considerando esses aspectos em nossa pesquisa, fazemos um convite aos educadores para

pensarem na inclusão do aluno com deficiência visual na escola como sujeitos ativos capazes de

construir o seu próprio conhecimento.

Convite apropriado para que o docente analise as características próprias e as necessidades do

aluno com deficiência visual, uma vez que não tem comprometimento cognitivo, e as considere

em sua prática pedagógica com adaptações, se necessárias.

A proposta implica na percepção do aluno com deficiência visual enquanto sujeito capaz de

construir seu próprio conhecimento, visando ao afastamento de barreiras para o seu

desenvolvimento, sobretudo no que tange à participação em situações dinâmicas e de experiência

de aprendizagem, com participação ativa, interagindo e posicionando-se reflexiva e criticamente.

Sabemos que o professor necessita de apoio pedagógico8 quando atende a diversas demandas

em uma mesma sala de aula – em nosso trabalho, alunos com deficiência visual e videntes.

Entretanto, apesar da necessidade de apoio, este fator não o isenta de um olhar atento às

especificidades da turma.

Em especial, devem considerar as necessidades do aluno com deficiência visual e suas

relações entre a linguagem e a comunicação, uma vez que a audição é um dos sentidos utilizados

para discriminarem e assimilarem o conteúdo trabalhado na sala.

Sobre as atividades com linguagem oral, segundo Coimbra (2003), do Departamento de

Educação com ênfase em deficiência visual pela Universidade Federal da Bahia, contribuem

também para o desenvolvimento da linguagem escrita. A autora alerta e confere que, geralmente,

esta prática está ausente nas salas de aula:

8 Consideramos o termo pedagógico como a prática do professor.

Page 27: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

27

Portanto, o desenvolvimento da oralidade e da linguagem não-verbal dos alunos com

deficiência visual, condição para o desenvolvimento da linguagem escrita, da

comunicação e interação sociais, da autonomia e independência, do auto-reconhecimento

e auto-imagem, foram objetivos ausentes dos propósitos pedagógicos da escola, que está

centrada quase que exclusivamente nas situações tradicionais que envolvem a linguagem

escrita: leitura e, principalmente, exercícios escritos. (COIMBRA 2003, p. 141)

Coimbra (2003) não deixa de enfatizar que as atividades mais dinâmicas, sem o uso do livro,

criadas pelo professor, envolvendo a leitura e escrita, com disposição de material transcrito para

que executem as tarefas em tempo hábil, sem exercícios de caráter visual, também são de grande

importância e considera que é nesse momento que ocorre o desenvolvimento cognitivo.

A este respeito podemos classificar que uma aula com caráter lúdico9, dirigido com ênfase na

aprendizagem dinâmica e competitiva, desenvolve atitudes de respeito às regras para garantir a

liberdade de participação de cada aluno, favorece a expressão, inclusive oral, manifestação

espontânea, autonomia e independência, contrária à passividade em sala de aula.

Em relação a este fato, a prática docente deve visar à promoção e à apropriação do

conhecimento por parte dos alunos. Nesse aspecto, Coimbra (2003) afirma que:

a ação do docente é o principal alicerce que sustenta o processo de apropriação do

conhecimento, enquanto veículo de organização do ambiente educacional, de orientação

das ações dos educandos e de observação da evolução destes últimos. Portanto, são a

qualidade e a adequação dessa mediação que devem ser levadas em consideração, vez

que todo tipo de intervenção promove o desenvolvimento. (COIMBRA, 2003, p. 18)

Nesse movimento de promoção e apropriação do conhecimento aliado à atuação do professor

em relação aos alunos com deficiência, nos deparamos com o conceito de inclusão social com

significado subjacente à autonomia, à independência e à equiparação em relação à execução das

atividades escolares.

9 Aprendizagem atraente e com entendimento.

Page 28: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

28

Especificamente nos referindo aos alunos com deficiência visual, este fator é notório devido à

falta de material para equiparar tanto o tempo como o acompanhamento das aulas para esses

alunos. E o que também dificulta a inclusão desses alunos é classificar o cumprimento do

planejamento como sinônimo de eficiência do padrão escolar, uma vez que o docente fica preso

ao tempo previsto para o cumprimento do processo pedagógico anual.

Supostamente, não priorizamos o cumprimento da palavra acessibilidade na sala de aula e

acrescentarmos que, quando promovida, esse acesso lança fora muitas barreiras para o aluno.

Podemos dizer que, a partir da conscientização e sensibilização, a acessibilidade ficará mais

próxima dos que a necessitam. E, hipoteticamente, amenizará o déficit tanto no tempo como no

acompanhamento dos conteúdos trabalhados em sala.

Não podemos deixar de considerar que é primordial convivermos com as diferenças, porém,

sem deixar de proporcionar situações mais acessíveis, para gerar autonomia, independência e

habilidades.

Para priorizarmos a acessibilidade em sala de aula e consequentemente a construção de

significados estatísticos por alunos com deficiência visual, nos debruçamos à análise das

acessibilidades necessárias. Sassaki (2010) descreve seis tipos de acessibilidades para indivíduos

que apresentem qualquer deficiência, como segue no Quadro 1.

Quadro 1: Descrição das acessibilidades.

Acessibilidades Descrição

Arquitetônica inexistência de barreiras ambientais físicas, equipamentos, meios de

transporte, tanto individual como coletivo.

Comunicacional inexistência de barreiras na comunicação interpessoal, escrita e virtual

(comunicação virtual).

Metodológica inexistência de barreiras nos métodos e técnicas de estudos e trabalho

(estudos: aulas baseadas nas inteligências múltiplas, uso de todos os estilos

de aprendizagem, participação do todo de cada aluno, novo conceito de

Page 29: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

29

logística didática, entre outros).

Programática inexistência de barreiras invisíveis integradas em políticas públicas (leis,

decretos, portarias).

Atitudinal inexistência de preconceitos e discriminações.

Intrumental inexistência de barreiras nos instrumentos, utensílios e ferramentas de

estudo, de trabalho e de lazer.

Assim, é conveniente ao docente considerar as implicações relatadas para oferecer o máximo

de acessibilidade em sala de aula.

A Educação Estatística e o aluno com deficiência visual

Em meados da década de 1990, começaram a intensificar investigações relacionadas com o

ensino e a aprendizagem de Estatística, dando início assim a uma nova área de atuação pedagógica

denominada Educação Estatística.

Para Campos; Wodewotzki; Jacobini (2011, p. 12), a Educação Estatística que concebemos

valoriza as práticas de Estatística aplicada às problemáticas do cotidiano do aluno que, com a

ajuda do professor, toma consciência de aspectos sociais, muitas vezes despercebidos, valorizando

atitudes voltadas à práxis social, transformando reflexões em ação.

Não somente isto, Batanero (2001, p. 29) relata que a Análise Exploratória de Dados10

contribui para o ensino de conteúdos estatísticos, pois “não necessita de uma teoria matemática

10 Abordaremos com maior profundidade no capítulo Referencial.

Page 30: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

30

complexa”, já que as atividades propostas para esse tipo de estudo necessitam apenas de “noções

matemáticas muito elementares e procedimentos gráficos fáceis de realizar”, além do que tem o

propósito de extrair dos dados o maior número possível de informações para gerar novas

hipóteses.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), consta a importância de construir

procedimentos para coletar, organizar, comunicar dados, utilizando tabelas, gráficos e

representações presentes frequentemente no dia a dia do aluno.

Olhando para a prática docente nas aulas de Estatística, Gal (2002) defende que os cálculos

não devem ser o centro de atenção na sala de aula, mas sim sua compreensão ou o porquê utilizá-

los, não deixando de considerar as etapas envolvidas no processo de resolução, em vez de simples

exercício de memorização. Esse autor afirma que é preciso que se tenha consciência de que fazer

Estatística não é equivalente a compreender a Estatística, todavia são procedimentos

complementares.

Turik (2010) revela que alunos apresentam dificuldades mesmo nos conceitos mais simples da

Estatística e alega que alguns autores atribuem o problema ao fato de os conceitos envolverem

muitas fórmulas e outros acreditam que tais dificuldades estão atreladas à visão matemática

determinista que os alunos trazem para as aulas de Estatística, causando certa aversão à disciplina.

Com vistas ao ensino e à aprendizagem de Estatística, com o uso de diferentes tecnologias,

com percepção no que tange à construção de significados, nos Parâmetros Curriculares Nacionais

(BRASIL, 2000), consta que:

A formação do aluno dever ter como alvo principal e aquisição de conhecimentos

básicos, [...] utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação, [...]

capacidade de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de

aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização. (BRASIL,

2000, p.5)

Considerando esses aspectos, aliados à inserção de alunos com deficiência na construção de

significados estatísticos, podemos ampliar, ou ainda substituir os termos “diferentes tecnologias”

Page 31: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

31

por Tecnologia Assistiva (TA), uma vez que substituiremos o ambiente computacional pelo

simulador de gráficos em nossa pesquisa. Além dessas considerações, o professor precisa

conhecer a Análise Exploratória de Dados visando extrair e gerar hipóteses novas, participação de

cada aluno com expressão oral na coleta, o que também favorece o aluno com deficiência visual,

utilizar de noções matemáticas sem ênfase nos cálculos ou fórmulas.

Além disso, é importante considerar também a inserção do ambiente computacional – em

nosso caso, a TA – nas aulas de Estatística e refletir sobre quais acessibilidades proporcionará

para esses alunos, com vistas na minimização de barreiras, ou ainda empecilhos para o seu

desenvolvimento cognitivo nessa disciplina.

Também é importante destacar que a construção de significados em conteúdos estatísticos

demanda tempo em virtude da complexidade dos conceitos que envolvem a disciplina. Nesse

sentido, Moreno (2010) e Lemos (2011) relataram em suas pesquisas que o fator tempo fora

meramente insuficiente para a construção de significados em alguns conteúdos estatísticos.

Quanto ao pensamento estatístico, Novaes (2011) cita o relatório GAISE, quando afirma que:

[...] o desenvolvimento do pensamento estatisticamente correto demanda considerável

tempo e a maneira mais segura de ajudar os estudantes a atingir o nível de habilidade

necessária é iniciar com um processo de ensino elementar em Estatística e manter um

fortalecimento e expansão das habilidades [...] em toda a Educação Básica. (NOVAES,

2011, p. 186-187)

Incorporando ao que abordamos até aqui, a visão é um dos sentidos mais usados em sala de

aula, o que reforça a importância da diversificação das atividades escolares para o aluno com

deficiência visual. Dessa maneira, incentivamos a utilização de outros canais sensoriais para suprir

a falta desse, em nosso caso, o tato e a audição nas aulas de Estatística.

Consideramos também que o acesso à disponibilidade de informações com equidade e no

tempo adequado para o deficiente visual junto a seus colegas de classe, a fim de que sejam

tomadas de decisões e realização de tarefas, é de extrema importância.

Em especial, o tato no simulador de gráficos possibilita a “visualização” das características do

objeto, exploração, manipulação e oportunidade de reflexão sobre os gráficos construídos, mesmo

Page 32: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

32

que esse canal ofereça uma percepção menos imediata, menos ampliada e mais fragmentada do

que a propiciada pelo sentido visual.

Quanto à aprendizagem ativa, que envolve a exploração material de objetos – no caso, o tato –

Coimbra (2003) exemplifica que:

[...] a mão do cego é a extensão da sua visão, daí o tato ter um sentido especial na sua

autonomia e independência [...]. Nesse caso a escola estimulará esse sentido tátil, criando

um ambiente que possa desenvolver a noção espacial [...] (COIMBRA, 2003, p. 223).

Considerando que a audição também é um sentido que lhe é disponível, nossa proposta para a

utilização do simulador de gráficos faz-se por meio da Análise Exploratória de Dados, o que

estabelece uma dinâmica em grupo com diálogos, tão fundamental para o aluno com deficiência

visual, afastando-os da rotina de trabalhos em sala de aula que predomina a escrita.

OBJETIVO DO ESTUDO

Especificamente, o objetivo deste estudo é promover o diálogo entre a inclusão de alunos

com deficiência visual com o ensino e a aprendizagem de Estatística nos conteúdos de média,

moda e mediana, articulando-os, com vistas à variabilidade dos dados de maneira introdutória e

intuitiva11

.

Diante da relevância de pesquisas, tendo como cerne o binômio Inclusão e Estatística,

delimitamos o campo da investigação para nortear e atingir nosso objetivo de pesquisa. Para

tanto, nos orientamos pela seguinte questão:

Como proporcionar a inclusão de alunos com deficiência visual nas aulas de Estatística e

11 Termo utilizado nos trabalhos de Silva (2007) e Garcia (2008, p. 21 e 44), sendo este último quando tem por

intenção iniciar o estudo de variabilidade para ser aprofundado posteriormente, por meio das medidas separatrizes e

gráfico box-plot.

Page 33: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

33

iniciar a construção de significados dos conteúdos de média, moda e mediana, com vistas à

variabilidade intuitiva?

Para responder à questão desse trabalho, organizamos nossos estudos com a Introdução, na

qual constam a trajetória da pesquisadora, contextualização e nosso objetivo de pesquisa, que nos

direcionaram para um estudo aprofundado quanto à inclusão de alunos com deficiência visual,

visando à construção de significados estatísticos por meio da variabilidade intuitiva para esses

alunos.

No primeiro capítulo construímos a Revisão Bibliográfica para verificarmos pesquisas e seus

resultados, visando compartilhar, comparar e contrastar implicações de trabalhos similares, com o

propósito de nos guiar e proporcionar uma lente geral sobre as pesquisas na área de Inclusão e

Estatística. Para tanto, fizemos buscas nos bancos de teses e periódicos da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em trabalhos executados no âmbito do

Projeto que esta pesquisa está inserida e incluímos também algumas indicações de leituras.

Em seguida, no segundo capítulo, apresentamos nosso Referencial com abordagem e reflexão

sobre as filosofias da Inclusão e da Análise Exploratória com vistas na variabilidade intuitiva

envolvendo as medidas de tendência central. Tivemos por intenção colher elementos para nortear

nosso objetivo de pesquisa, ora explicitado anteriormente.

No terceiro capítulo, apresentamos a Metodologia de pesquisa, que tem caráter

predominantemente qualitativo, considerando nuances das análises a priori e a posteriori da

engenharia didática. Apresentamos também os procedimentos metodológicos com alguns

princípios importantes para dar início à Educação Estatística com um ensino inclusivo.

Já no quarto capítulo apresentamos nossas análises a priori e a posteriori. Subdivididas em

momentos, a primeira segue com descrição de cada escolha local, com a intenção de prever os

possíveis comportamentos dos alunos durante a coleta de dados em sala de aula para a construção

de protocolos de pesquisa. A segunda seguiu com observações e análises comparativas dos dados,

objetivando a avaliação dos supostos êxitos ou limitações desta pesquisa.

Page 34: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

34

Por fim, finalizamos com nossas considerações e nossas aspirações quanto a este trabalho.

Lembrando que responder à nossa questão significa contribuir e proporcionar a inclusão, a

socialização e acessibilidade aos alunos com deficiência visual, assim como iniciar a construção

de significados estatísticos.

Page 35: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

35

I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Posso admitir que o deficiente seja vítima do destino!

Porém não posso admitir que seja vítima da indiferença!

John Kennedy

Para identificarmos pesquisas e seus resultados, fizemos uma revisão bibliográfica para

compartilhar, comparar e contrastar implicações de trabalhos similares. Para tanto, nos

preocupamos em encontrar subsídios para cultivar um diálogo contínuo entre os trabalhos

levantados com vistas na inclusão de alunos com deficiência visual e no ensino e na aprendizagem

de Estatística para alunos com deficiência visual.

1.1. Busca nos bancos de teses e periódicos da CAPES

Realizamos um levantamento de pesquisas nos bancos de teses e periódicos da CAPES. Os

critérios utilizados para a seleção dos trabalhos foram: mais recentes (últimos cinco anos), se

discutem ou envolvem temas sobre inclusão e/ou Estatística e, por último, se apresentam

similaridades com a temática abordada em nossa dissertação.

Iniciamos esse levantamento com buscas por palavras-chave, como: deficiência visual,

Matemática, Probabilidade e Estatística. Em seguida, combinamos palavras diretamente

relacionadas com o assunto de interesse: deficiência e Matemática, deficiência visual e Estatística,

ou, ainda, deficiência visual e Probabilidade.

Nessa busca, foram encontrados nove trabalhos, dos quais escolhemos apenas três para um

estudo mais aprofundado. Os outros não os escolhemos para análise, pois, apesar de envolverem

assuntos sobre o tema inclusão, seguiam por uma linha mais geral, a exemplo da educação

especial, currículo, surdez e políticas públicas.

Page 36: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

36

Quanto aos três trabalhos escolhidos, um é a dissertação de Ferreira (2012), que estuda a

atitude de professores em relação à inclusão de alunos com deficiência visual na escola e na sala

de aula, defendido na Universidade Técnica de Lisboa – Faculdade de Motricidade Humana,

Portugal.

O segundo faz menção ao artigo de Fernandes e Healy (2010), que aborda sobre a inclusão de

alunos cegos nas aulas de Matemática explorando medida de área, perímetro e volume por meio

do tato. Já o terceiro refere-se à tese de Vita (2012), defendida na Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo (PUC/SP), a qual teve por objetivo identificar a potencialidade de um material

didático, do tipo maquete tátil para a aprendizagem de conceitos básicos de Probabilidade por

alunos cegos.

Vale salientar que, nessa busca, não encontramos trabalho relacionado, especificamente, com

as palavras-chave inclusão e Estatística ou deficiência visual e Estatística, ou, ainda, que

envolvessem assuntos relacionados com medidas de tendência central com foco ao ensino e a

aprendizagem para alunos com deficiência visual. Porém, nas citações do trabalho de Vita (2012),

chamou-nos a atenção a pesquisa de Tanti (2006), que abordaremos mais à frente.

No primeiro trabalho, Ferreira (2012) analisou as atitudes dos professores relativamente à

inclusão de alunos com deficiência visual na sala de aula. Ele relata que nos últimos anos cresceu

a ideia de escola inclusiva, não só em Portugal, mas um pouco por todo o mundo. O autor embasa

seu trabalho na revisão de literatura com um olhar para outros países. Especificamente, em nosso

trabalho detalharemos os que se debruçaram sobre a inclusão de alunos com deficiência visual.

A exemplo da Indonésia, Ferreira (2012) descreve alguns resultados do trabalho de Wungu e

Seonghee (2011), que evidenciaram que, apesar dos professores terem na sua maioria atitudes

negativas em relação à inclusão de alunos com deficiência visual na sala de aula, do ponto de vista

social eram da opinião que o aceite desses alunos no seio das turmas regulares permite o aumento

do círculo de amizade para criança. Não somente isto, consideraram que os alunos com visão se

sentem bem ao conviver com alunos com essa deficiência, valorizando-os.

Page 37: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

37

Em relação às práticas do professor, constatou que mais da metade sentia dificuldades em

preparar as aulas para os alunos cegos, porque não entendiam os problemas relacionados com a

cegueira. Apontaram diferentes razões para a origem das suas atitudes negativas face à inclusão de

alunos com deficiência visual, dentre elas as adaptações como livros em braille e infraestruturas

adaptadas, que muitas vezes não existiam nas escolas. Alguns referiram à falta de formação em

educação inclusiva e também ao número significativo de alunos matriculados nas turmas de alunos

com deficiência visual, cerca de trinta a quarenta.

Ferreira (2012) também cita um estudo realizado por Wall (2002), na província de Manitoba,

Canadá, o qual analisou três grupos de professores: os quais classificou como os que já tiveram

contato, contato mínimo ou nunca tiveram contato com alunos com deficiência visual. No geral, os

professores que passaram por experiência direta ou indireta com alunos com deficiência visual

mostraram uma atitude mais positiva em relação à sua inclusão na sala de aula regular, apesar de

se mostrarem mais favoráveis à inclusão de alunos com baixa visão. Já os professores com menos

experiência em trabalhar com alunos com deficiência visual tenderam em defender ambientes

mais restritivos e mostraram menor confiança para trabalhar com esses alunos.

Quanto à Espanha, Ferreira (2012) cita o trabalho de Simón, Echeita, Sandoval e López

(2010), os quais efetuaram um estudo com cinquenta e seis participantes especializados em

educação, pertencentes às organizações de pessoas com deficiência, analisaram as barreiras e os

facilitadores para a inclusão de alunos com deficiência visual em todos os níveis de ensino não

superior. A atitude mais negativa se apresentou nos professores do Ensino Secundário. Segundo

estes autores, os professores mencionaram a falta de informação sobre as necessidades educativas

especiais dos seus alunos com deficiência visual e algumas dificuldades na inclusão desses alunos

em disciplinas como Educação Física e Educação Tecnológica.

Sobre a Irlanda do Norte descreve o trabalho de Gray (2009), o qual apresenta um quadro em

que alunos com deficiência visual são, muitas vezes, desmotivadas a estudar determinadas

disciplinas como Matemática, Desenho, Educação Física e Educação Tecnológica, geralmente por

falta de livros, materiais adequados e por razões de saúde e de segurança. A maior parte dos

Page 38: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

38

participantes nesse estudo não tinha qualquer formação para o trabalho com alunos com

deficiência visual, porém muitos consideravam importante a inclusão desses alunos na escola,

porque dessa forma eles poderiam aproveitar os aspetos sociais da vida escolar.

Após a revisão da literatura apresentada na primeira parte do seu trabalho, Ferreira (2012)

inicia explicitando sua pesquisa desenvolvida em Portugal, na qual faz um estudo exploratório

com a pretensão de analisar as atitudes dos professores que possuem em suas turmas alunos com

deficiência visual.

Ferreira (2012) aplicou um questionário a 114 professores dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico

e do secundário - segundo a organização curricular em Portugal, cujo 72 participantes lecionavam

em escolas de referência – escolas direcionadas a alunos cegos e com baixa visão - e 42 davam

aulas em escolas de não referência.

Como resultado de sua pesquisa, descreve que lecionar ou não em uma escola de referência

não influenciou as atitudes dos professores em relação à forma de inclusão mais eficaz. Verificou

que a maioria dos professores concordou que, para a execução de algumas tarefas, o aluno com

deficiência visual pode ser apoiado pelos colegas. Os docentes também eram favoráveis à

socialização do aluno com deficiência visual. E quanto ao ensino para esses alunos, classificaram

como mais adequado uma sala com menos de vinte alunos matriculados.

Ferreira (2012) salienta que os docentes concordaram que o professor do ensino regular é

responsável pelos alunos com deficiência visual na sua área disciplinar. Apesar de, na sua maioria,

mostrarem-se desfavoráveis à permanência desses alunos nas aulas e disciplinas. Informou que

grande parte dos docentes concordou que é necessário mais tempo para preparar as aulas para uma

turma que tenha aluno com deficiência visual.

Quanto ao segundo trabalho, artigo selecionado no banco da CAPES, Fernandes e Healy

(2010) focaram no estudo sobre aprendizes cegos em aulas de Matemática. As autoras trazem

algumas reflexões sobre práticas pedagógicas destinadas a favorecer o ensino e a aprendizagem

dos conceitos de medida de área, perímetro e volume com uma variedade de formas geométricas.

Page 39: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

39

Fernandes e Healy (2010) investigaram estratégias e práticas que poderiam ser associadas ao

êxito na realização das tarefas na pesquisa com elaboração de materiais que permitiam a

exploração tátil, bem como entender as particularidades dos processos de aprendizagem daqueles

sem ou com acesso limitado no campo visual.

Desta maneira, trabalharam com quatro aprendizes com cegueira congênita, os quais fizeram

o ensino fundamental em escolas especiais e ingressaram na escola pública para fazerem o ensino

médio. Os alunos desenvolveram as atividades em duplas e cada uma delas com uma

pesquisadora.

Ao final do estudo, as autoras consideraram que a utilização de ferramentas materiais em sala

de aula inclusiva favoreceu o processo de aprendizagem para todos os alunos. Classificaram as

atividades e ferramentas materiais que utilizaram como “bastante simples”, com o envolvimento

de conceitos matemáticos usualmente desenvolvidos nas escolas regulares. Classificaram também

a proposta de trabalho como benéfica, com a promoção e reestruturação da escola como forma de

oferecer uma resposta educativa de qualidade para todos.

No terceiro trabalho, Vita (2012) investigou as potencialidades e limitações de um

instrumento do tipo maquete tátil para servir como material didático. Utilizou como

fundamentação teórica a Ergonomia Cognitiva, particularmente com abordagem fundamentada na

Teoria da Instrumentação de Rabardel, conforme citado pela autora.

A autora optou pela pesquisa de natureza qualitativa e, como metodologia, a construção de

artefatos denominada Design Centrado no Usuário (DCU), levando em consideração as condições

físicas dos participantes, a cegueira. Para tanto, construíram a maquete na forma sequenciada com

um processo que envolveu a análise de cinco protótipos.

A construção da maquete foi estruturada em duas fases, sendo a primeira – estudo piloto –

para delinear as adaptações a serem feitas nos protótipos e a segunda – estudo principal –

destinada a verificar como os alunos solucionavam as tarefas por meio desse instrumento.

Page 40: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

40

Participaram da pesquisa quatro alunos cegos da Educação de Jovens e Adultos (EJA),

especificamente com cegueira adquirida, sendo um deles de São Paulo e três da Bahia. A pesquisa

desenvolveu em turnos opostos aos horários das aulas dos alunos.

Vita (2012) abordou os conceitos básicos da Probabilidade sob a ótica do modelo de

letramento probabilístico proposto por Gal na sequência de tarefas dentro da situação

denominados “Os passeios aleatórios do Jefferson”, com tarefas de exploração, considerando os

princípios da usabilidade da maquete para atender da melhor maneira as necessidades dos alunos.

A maquete apresentou potencial para ser utilizada como material didático no ambiente

educacional, na aprendizagem de conceitos básicos de Probabilidade. Ela foi considerada como

eficiente pelo fato de ser um instrumento facilmente moldável às adaptações curriculares e atender

às necessidades dos alunos cegos na resolução das tarefas.

Igualmente foi considerada eficaz pelo fato de apresentar uma configuração que permitiu que

alunos experientes ou inexperientes com maquetes desenvolvessem estratégias semelhantes na

resolução das tarefas, demonstrando competência e ritmo crescente em seus movimentos sobre o

tabuleiro.

Além disso, a maquete pareceu estar em conformidade com dimensões de forma eficiente,

eficaz e satisfatória para a aprendizagem dos conceitos básicos de Probabilidade. Entre as

limitações, o material didático não permitiu aos alunos agirem com autonomia durante o

experimento. Para minimizar tal limitação, a pesquisadora desempenhou o papel de facilitadora

entre o material didático, o aluno e os conceitos básicos de Probabilidade.

Verificamos que no trabalho de Vita (2012) consta a pesquisa de Tanti (2006), intitulada

“Ensinando Matemática a um aluno cego: um estudo de caso” e, quando discorríamos sobre a

aprendizagem de conceitos básicos de Probabilidade envolvendo alunos cegos. Esta menção

chamou-nos a atenção para uma leitura quanto aos seus resultados, como segue.

Page 41: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

41

A pesquisa de Tanti (2006) foi desenvolvida na República de Malta (arquipélago localizado

no mar Mediterrâneo, ao sul da Sicília). Para Tanti (2006), os recursos e materiais apropriados

para alunos com deficiência visual aprenderem Matemática são escassos e avalia que, apesar da

Matemática ser muito abstrata, é possível alcançar bons resultados, com instruções apropriadas

que envolvam o maior número de experiências táteis. Salienta que a cegueira traz prejuízo

sensorial, assim é preciso aprimorar o uso dos sentidos, audição e tato.

Tanti (2006, p. 35) considera que a Matemática nos primeiros anos escolares está relacionada

com atividades cotidianas dos alunos; devido a isso, a autora afirma que os alunos com deficiência

visual “são exímios na aritmética mental”; porém, com o avanço dos conceitos, ela torna-se mais

representacional e, nos cálculos demasiados longos ou complexos, poucos conseguem alcançar um

nível de conhecimento matemático mais avançado.

Sua pesquisa é de natureza qualitativa com ênfase na metodologia Estudo de Caso. Nesse

contexto, Tanti (2006) desenvolveu sequências didáticas para preparar um aluno com deficiência

visual de 34 anos para o ingresso ao nível secundário de educação.

Com dois encontros por semana, cada um deles com duração de duas horas e meia, durante

oito meses, envolveu conteúdos matemáticos das quatro áreas de estudo do currículo maltês:

Aritmética, Álgebra, Geometria e Manipulação dos Dados. Quanto ao estudo de Manipulação de

Dados, a autora cita apenas conceitos probabilísticos e estatísticos, dos quais trazemos para nossa

pesquisa.

Na Probabilidade, trabalhou com a possibilidade de um evento ocorrer e, para facilitar a

anotação dos resultados possíveis, o aluno fez a leitura tátil dos resultados, informando-os

oralmente para que a pesquisadora escrevesse, evitando a escrita dos resultados em braille,

alegando tal procedimento menos demorado.

Dentre as várias atividades desenvolvidas neste trabalho, quanto às outras áreas de estudo, a

autora apresenta duas atividades que envolvem conceitos estatísticos para o aluno cego. Salienta

que no início pensou em pular esse conteúdo e dar mais ênfase à aritmética e outros trabalhos

Page 42: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

42

mentais. No entanto, conseguiu chegar a uma estratégia de trabalho que, segundo ela, apesar de no

início apresentar algumas dificuldades nos cálculos do gráfico de setor, foi a área que o aluno mais

aprendeu. Expôs ainda que, durante a resolução das tarefas, o aluno confundia, com certa

freqüência, os termos moda, média, mediana e escala, alegando problema de terminologia.

Quanto à construção dos gráficos de setor e barras, afirmou que o aluno não apresentou

dificuldades. Para a construção dos gráficos de setor, o aluno fez uso de compassos, papel, lápis,

régua, transferidor e alfinetes. Montou um papel para a placa de cortiça e, utilizando bússola, fez

um círculo com um pino no centro para verificar o raio. Com o transferidor considerou o centro e

os ângulos, também marcados com pinos.

Figura 2. Aluno construindo gráfico de setor.

Fonte: Tanti (2006, p. 87).

Na tarefa que envolveu a construção do gráfico de barras, o participante fixou fios

perpendiculares para os eixos “x” e “y” e marcou a escala com agulhas de “cabeças” em acrílico.

Para sua construção, movia os dedos sobre o eixo x em paralelo até o eixo y e, considerando a

escala, atribuía um pino. O mesmo repetiu com as outras colunas.

Page 43: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

43

Figura 3. Aluno construindo um gráfico de barras12

Fonte: Tanti (2006, p. 89)

Quanto às dificuldades, Tanti (2006) notou que é difícil para o aluno com deficiência visual

aprender sobre volume, comprimento, ângulos, além das formas bi ou tridimensionais,

considerando que a construção geométrica exata é impossível.

A autora relata que o principal problema encontrado foi a longa lista de termos e fórmulas

matemáticas para memorização, uma vez que o tempo – oito meses – era muito restrito para

apresentar todos os conteúdos que, normalmente, um aluno aprende em cinco anos – conforme

currículo da República de Malta.

Tanti (2006) acrescentou que, assim como o vidente, o aluno com deficiência visual precisa

tomar nota durante a aula para reforçar o que aprendeu em casa, porém, nesse caso, o aluno não

tinha uma máquina de escrever em braille para tais anotações.

12 O gráfico apresentado por Tanti (2006) foi por nós caracterizado como histograma.

Page 44: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

44

1.2. Trabalhos no âmbito do Projeto e indicações de leituras

A princípio, consideramos importante verificarmos o artigo de Manrique e Ferreira (2010)

com o tema “Mediadores e mediação: A inclusão em aulas de Matemática” e a tese de Moreira

(2012), sob o título de “Representações sociais de professoras e professores que ensinam

Matemática sobre o fenômeno da deficiência”.

No artigo, Manrique e Ferreira (2010) apresentam reflexões sobre conhecimentos específicos

da Matemática que podem aparecer em situações-problema que envolvem o domínio de códigos, a

compreensão e a interpretação de gráficos no tocante ao ensino de função para alunos sem

acuidade visual no ensino médio.

Para tanto, a realização da pesquisa teve como primeiro objetivo desenvolver uma nova

ferramenta para a construção de gráficos de função de primeiro grau. Esse desenvolvimento

ocorreu com a interação entre um professor de matemática e um aluno cego, com a intenção de

favorecer o processo de ensino e aprendizagem desse aluno.

Na construção, consideraram que a ferramenta tinha que ser pequena e ao mesmo tempo leve

para o transporte. Para a confecção de um plano cartesiano, utilizaram uma placa de latão extraída

das faces de uma lata de tinta de 18 litros. Colocaram uma folha de papel milimetrado no seu

verso e, com a ajuda de um prego, gravaram-se em relevo pontos com espaçamento de 1 cm, além

de usarem tiras de uma manta imantada para a formação dos eixos “x” e “y”.

Nesta fase, a participação do aluno na melhoria da ferramenta foi substancial, principalmente

por apontar dificuldades que encontrava para representar pontos e gráficos. As principais

sugestões foram a de ampliar a distância entre os pontos em relevo para 2 cm, colocar os números

positivos e negativos em braille nos eixos, melhorar a fixação dos pontos com massa de modelar e

uma proteção na lateral da chapa de lata para impedir que se cortasse.

Os autores classificaram que a ferramenta serviu como mediadora na compreensão de

representações gráficas de funções e a caracterizaram como um instrumento de inclusão.

Afirmaram que a inclusão ocorre quando um aluno que apresenta algum tipo de deficiência tem a

Page 45: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

45

oportunidade de ser tratado como todos os outros alunos da sala, com participação em situações-

problema, as quais envolvem a manipulação de ferramentas que o deixe na mesma condição de

aprender que seus colegas.

Alegaram também que a interação entre as partes na elaboração da ferramenta permitiu ao

aluno perceber que sua participação e contribuição foi relevante e decisiva para que o professor o

ajudasse. Salientamos que este fato também foi observado no trabalho de Vita (2012).

Manrique e Ferreira (2010) afirmam que, em relação ao professor, essa interação permitiu

perceber que talvez não conseguisse elaborar uma ferramenta que pudesse atingir os objetivos de

aprendizagem pretendidos pelo fato de não ter conhecimentos suficientes para atender às

deficiências desse aluno, além das dificuldades inerentes ao conteúdo matemático, mesmo para

alunos videntes.

Quanto ao trabalho de Moreira (2012), trouxe como objetivo a identificação, análise e

apresentação das representações sociais de cinquenta e cinco professoras e dez professores, de

quatro escolas públicas de São Paulo, sobre o fenômeno da deficiência, bem como verificar seus

conhecimentos, opiniões e dúvidas sobre a temática.

O trabalho foi desenvolvido com a coleta de dados a partir de três situações cotidianas, todas

vividas em aulas de Matemática, utilizadas como temáticas, a fim de despertar no depoente a

vontade de expressar-se sobre o tema deficiência. Na primeira situação buscou compreender como

os depoentes sentiam-se frente a uma situação de amizade entre dois adolescentes, sendo que um

deles apresentava deficiência.

Na segunda, após os depoentes depararem-se a uma circunstância explícita de preconceito, o

autor busca verificar as opiniões, atitudes e comportamentos dos entrevistados. Já na terceira e

última, expôs aos declarantes uma situação que teve como objetivo identificar os conceitos que

têm sobre o fenômeno da deficiência.

Utilizou a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), tendo como referencial

teórico-metodológico a Teoria das Representações Sociais. Os resultados evidenciaram, por um

Page 46: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

46

lado, a presença de distintas representações sociais acerca da temática, com posturas ancoradas

não só no apoio e incentivo à inclusão do aluno com deficiência, mas também, por outro lado, nas

representações que se ancoraram nas manifestações de dúvidas, opiniões e atitudes contrárias à

filosofia da inclusão.

Moreira (2012, p. 29), em particular, diz que “as professoras e os professores que ensinam

Matemática devem buscar caminhos alternativos que contribuem para o desenvolvimento da

criança e do adolescente que apresentam deficiência, cuja atuação pedagógica é fundamental para

a realização desse processo”.

Este autor, referindo-se aos resultados de uma das pesquisas estudadas ao fazer menção aos

professores no período que ocorreu sua pesquisa, relatou que os conteúdos matemáticos e as

práticas atuais “nem sempre permitem uma participação ativa dos alunos que apresentam

deficiência visual” (p.71), embora apresente indícios de uma educação Matemática mais inclusiva.

Ressalta em suas considerações que pouca discussão tem ocorrido acerca do fenômeno da

deficiência e da inclusão em aulas de Matemática. Acredita que o privilegiar da formação

continuada como principal instrumento de combate a crenças e mitos que permeiam a inclusão do

aluno com deficiência, podem ser um fator que contribua para a disseminação de ideias contrárias

à filosofia da inclusão, uma vez que as “necessidades básicas de um aluno com NEE [sic]13

são as

mesmas que as de um aluno regular” (Nielson, 1999, p. 26, apud Moreira, 2012, p. 171).

Ainda, com um olhar para formação continuada do professor, no artigo de Moreira e

Manrique (2014), quando referem-se a esse trabalho, acrescentam que, pelo fato de o professor,

tanto do ensino regular ou especial, desempenhar um papel importante na comunidade escolar,

esta formação é uma maneira de fornecer conhecimento sobre o tema. Este fato torna possível

13 Necessidades Educativas Especiais (NEE).

Page 47: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

47

conhecer o perfil desses alunos, suas limitações e dificuldades, o que contribui também para o

esclarecimento, principalmente, quando há atitude de indiferença ou exclusão.

Dando sequência em nossa revisão bibliográfica, como indicação de leitura, verificamos a

dissertação de Lourenço (2014), o qual teve como objetivo a reflexão sobre a inclusão e a

Matemática escolar a partir de algumas experiências existentes em educação inclusiva para

pessoas com deficiência visual em uma escola pública do ensino básico de Santo André, no Estado

de São Paulo.

Lourenço (2014) salientou em seu trabalho que um dos pontos que mais influenciou a escolha

do grupo a ser estudado foi conhecer o ambiente escolar e os professores, uma vez que,

anteriormente a essa pesquisa, realizou outros dois trabalhos, com participação no PIBID por dois

anos e estágio supervisionado no curso de Licenciatura em Matemática.

Apresentou os conceitos que considera fundamentais para sua pesquisa, como a inclusão e a

deficiência visual, com a descrição das principais políticas de inclusão e a exposição das propostas

curriculares com as influências pedagógicas em relação às sugestões específicas à sala de aula.

Realizou um estudo de caso etnográfico por meio de observações, entrevistas

semiestruturadas e análise documental. Buscou também reconhecer a influência da

Etnomatemática dos deficientes visuais na prática dos professores. Os dados constituíram-se em

registros escritos das observações em sala de aula no período entre setembro e dezembro de 2012

e entrevistas transcritas com dois professores de Matemáticas, duas professoras da sala de recursos

e três alunos com deficiência visual que cursavam o ensino médio.

Lourenço (2014) observou que os professores de Matemática seguiam um método da

pedagogia tradicional, com a valorização dos resultados em forma de quantidade de conteúdo com

treinamento de exercícios. Suas práticas consistiam em apresentar uma explicação do conteúdo

com alguns exemplos de exercícios resolvidos. Por fim, esses exercícios eram corrigidos na lousa

pelos professores com a ajuda de algum aluno escolhido para tal tarefa.

Page 48: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

48

Apesar desta prática, em vários momentos nesse trabalho, o autor citou que os professores

davam atenção maior ao que se era dito ao explicar o conteúdo posto na lousa, potencializando a

comunicação. Os professores, geralmente, contavam com o auxílio de outros alunos ou, ainda, um

professor assistente ficava próximo e explicava o conteúdo de forma individualizada.

O autor percebeu também parceria entre os professores da sala regular e os da sala de

recursos. Nas escolas que tinham salas de recursos, alegou que enfrentavam menores dificuldades

em relação às que não tinham. Entretanto, alguns professores deixavam a responsabilidade de

explicar os conteúdos matemáticos para as professoras da sala de recursos.

Lourenço (2014) descreve de maneira geral, dentre outras dificuldades, que o aluno com

deficiência visual tem dificuldades em desenhos e imagens de representações. Embora não tenha

deixado explícito se referia-se a gráficos estatísticos, ele descreve que:

No entanto, as dificuldades principais dos alunos com cegueira estão em

geometria, trigonometria, gráficos, de maneira geral todos os conteúdos que

possuem desenhos/imagens de representações matemáticas, e por outro lado,

afirmam não encontrar dificuldades em Álgebra. Por isso, os alunos gostariam

que os métodos de apresentar desenhos e figuras matemáticos fossem

aperfeiçoados. (LOURENÇO, 2014, p. 205)

Por fim, descreveu que não há espaço para a real consideração das etnomatemáticas dos

diversos grupos socioculturais existentes na escola. Percebeu também a não trivialidade em

estabelecer os limites entre o que são ou não são atitudes normatizadoras, e concluiu com a

sugestão de algumas questões para futuros trabalhos.

Considerando a revisão bibliográfica, neste capítulo, podemos aferir no trabalho de Ferreira

(2012) que o panorama que sua pesquisa nos apresenta quanto à inclusão em Portugal e em outros

países não está distante do que acontece aqui no Brasil, a exemplo da tese de Moreira (2012) e a

dissertação de Lourenço (2014).

Assim como no trabalho de Fernandes e Healy (2010), temos por intenção chegar a

resultados satisfatórios quanto à utilização de material didático, em nosso caso a TA, e esperamos

Page 49: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

49

favorecer o processo de aprendizagem em uma sala de aula inclusiva para todos os alunos, com

deficiência visual ou não.

A pesquisa de Tanti (2006), extraída do trabalho de Vita (2012), foi de muita valia, uma vez

que não encontramos em nosso levantamento trabalhos que envolvessem alunos com deficiência

visual e conteúdos estatísticos. Não obstante a isto, um fator que observaremos para nossa

pesquisa é a afirmação da autora quanto aos alunos com esta deficiência serem peritos na

aritmética mental.

Também, o trabalho de Manrique e Ferreira (2010) nos chamou a atenção para as

contribuições na relação entre professor e aluno e, apesar de nosso trabalho não conter a

elaboração de uma ferramenta que envolvam as partes – simulador de gráfico já desenvolvido,

ficaremos atentas se o mesmo vem ao encontro das necessidades dos alunos. E, caso contrário a

isto, faremos ajustes, se necessário.

Page 50: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

50

II – REFERENCIAL

A filosofia é o pensar que tem por objeto todo o ser.

Hegel

Neste capítulo, abordaremos os principais referenciais que orientam esta pesquisa, refletindo

sobre a inclusão e a Análise Exploratória de Dados com vistas à variabilidade intuitiva e

envolvendo as medidas de tendência central.

Verificamos nessas abordagens que o termo filosofia é comum entre os autores, apesar de

fazerem menção às áreas distintas. Este termo é usado para descrever um conjunto de ideias ou

atitudes, empregada de várias maneiras, mais simples ou mais restritas.

Em suma, colhemos elementos suficientes para nortear nosso objetivo, que é promover o

diálogo entre a inclusão de alunos com deficiência visual com o ensino e a aprendizagem de

Estatística nos conteúdos de média, moda e mediana, com articulação entre elas, com vistas na

variabilidade dos dados de maneira intuitiva, uma vez que, supostamente, após o ensino elementar,

esse processo será contínuo, com sua expansão no decorrer da Educação Básica.

2.1. Filosofia da Inclusão

Segundo Correia (2013), psicólogo, com experiência na área da educação especial desde 1977

e coordenador no Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho, a filosofia da

inclusão nasceu em 1986, com Madeleine Will, secretária de Estado para a Educação Especial do

Departamento de Educação dos Estados Unidos da América, quando, no seu discurso, invocava

uma mudança no atendimento das crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE), a qual

Page 51: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

51

caberia ao ensino especial e ensino regular a responsabilidade para responder às necessidades de

tais alunos.

Para Correia (2013), a filosofia da inclusão só traz vantagens no que diz respeito às

aprendizagens de todos os alunos, tornando-se um modelo educacional eficaz para toda a

comunidade escolar, designada principalmente para os alunos com NEE.

Para uma estimativa sobre a porcentagem de alunos com NEE no sistema educativo, Correia

(2013) recorreu às porcentagens consideradas em estudos de prevalência elaborados por países

onde a inclusão é prioritária, a exemplo dos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e Austrália.

Dentre os resultados desses estudos, o autor apresenta a deficiência visual com 0,5% dentre

crianças e adolescentes com NEE.

Como estratégias de ensino e de aprendizagem, o autor destaca que as práticas de ensino

eficazes são cruciais para fomentar as aprendizagens dos alunos com NEE; porém, para que

realmente se tornem eficazes, há a possibilidade de surgir a necessidade de ajustar e adaptar

alguns elementos para otimizar os ambientes de aprendizagem, os quais conduzem ao sucesso da

inclusão.

Assim, Correia (2013) esclarece que, quando os professores têm alunos com NEE em sua

sala, estes devem considerar alguns fatores:

localização do aluno na sala de aula (a colocação dos alunos com NEE nas filas da

frente pode ajudá-los a entender melhor as questões e a minimizar os problemas de

comportamento que eventualmente possam eliciar);

ter um cuidado extremo na apresentação de nova informação, tendo em conta seis

factores essenciais: estrutura, clarificação, redundância, entusiasmo, ritmo

apropriado e envolvimento máximo;

utilizar experiência multissensoriais, uma vez que este tipo de actividades tem um

grande impacto na aprendizagem;

fazer adaptações nas tarefas de leitura, quando necessário;

programar a aula de forma a haver mais intervalos;

organizar as tarefas de modo a utilizar diversos métodos de ensino;

Page 52: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

52

providenciar um maior número de explicações para os alunos com NEE, realçando

os pontos mais importantes;

utilizar tecnologias de apoio, tal como o computador, os gravadores áudio e os

vídeos. O uso destas e de outras tecnologias de apoio [sic]14

contribui

significativamente para o progresso acadêmico dos alunos com NEE. No entanto, é

essencial que os professores conheçam estes dispositivos técnicos, como é que

funcionam, como tirar o maior partido deles e como é que os alunos podem ser

avaliados quando os utilizam (MASTROPIERI E SCRUGGS, 1994, apud

CORREIA, 2013, p. 125).

O autor destaca que há o desafio, atualmente, no uso de estratégias e métodos de ensino para

os alunos com NEE, no sentido de lhes facilitar a aprendizagem, certificando-se de que ele tenha

apoio adequado baseado no uso de estratégias amparadas pela investigação, para proporcionar um

ensino de qualidade, dinâmico, com condições que permitam maximizar o potencial individual dos

alunos.

E, para isso, Correia (2013) afirma que os professores devem recorrer a um conjunto de

técnicas que permitam tornar as intervenções eficazes, e pontua considerações que alguns autores

têm sobre a escuta ativa, o desenvolver competências na recolha de informações, orientações para

finalizar tarefas, gestão do tempo das atividades, organização da sala de aula, colocação dos

alunos, arranjo dos materiais15

.

Quanto à escuta ativa, o processo de aprendizagem exige do aluno uma atenção muito

especial traduzida em uma escuta cuidadosa, com tarefas orais, de forma que os alunos sejam

ativamente envolvidos nos conteúdos ensinados. Os aspectos relevantes dos conteúdos devem ser

colocados por meio de ênfase na fala e repetições, as quais devem ser acompanhadas de apoio

visual.

14 Terminologia “tecnologia de apoio” é sinônimo de Tecnologia Assistiva (TA).

15 O termo “arranjo dos materiais” tem o sentido de disposição dos materiais.

Page 53: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

53

Sobre a informação, deve ser organizada, gradativa e apresentar significado para o aluno, com

promoção do ensino direto. Enfatizar a aprendizagem em cooperação, utilizar ajudas verbais, para

que os alunos com NEE possam compreender as informações relevantes.

Não somente isto, é importante envolver os alunos com NEE em um conjunto de atividades

que lhes permitam adquirir competências necessárias ao contexto fora da escola, isto se emprega

também para os outros alunos. Acrescenta ainda que os professores podem ensinar os conceitos

iniciando por exemplos concretos, antes de ensinar os abstratos e relacionar os conteúdos com as

experiências dos alunos.

Quanto ao desenvolver competências na recolha de informações, a aprendizagem feita por

meio da apresentação dos conteúdos é um fator importante que deve levar em conta e o professor

deve utilizar palavras-chave e frases com a intenção de simplificar, pois informação em demasia

pode confundir o aluno, dificultando a memorização.

O professor deve encorajar os alunos a relembrar os materiais mostrados visualmente,

exatamente como foram apresentados, e a deixar espaço entre a informação dada, para poderem

formular questões. Lançar mão de questões divertidas e com humor para ilustrar pontos

importantes. Utilizar a modelagem16

para facilitar o processo de aquisição de competências, por

exemplo, com a ajuda do retroprojetor.

Por questões temporais, de atenção, de compreensão do que lhe é pedido nas orientações

para finalizar tarefas, muitos alunos com NEE experimentam grandes problemas, colocando em

risco sua aprendizagem. Para tanto, há a necessidade de prender a atenção dos alunos antes de

iniciarem explicações sobre a tarefa, repetir ao aluno as explicações individualmente, checando a

compreensão ao pedir-lhe que repita as instruções, além de acompanhar a execução das tarefas

16 O termo “modelagem”, uma vez que foi extraído de um livro em português de Portugal, pode não corresponder ao

mesmo sentido usado no Brasil.

Page 54: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

54

frequentemente. Considerar também o término de cada fase nas tarefas, antes de iniciar outra. É

ideal também escolher para o aluno um “amigo de estudo”.

O autor afirma que o tempo é um elemento crítico, podendo tornar-se um entrave para os

alunos com NEE. Para tanto, a gestão do tempo das atividades é crucial para o sucesso desses

alunos na realização das tarefas que lhes são solicitadas. Assim, é importante elaborar os horários

com rotinas estabelecidas, aumentar o tempo para a execução das atividades, ensinar o aluno a

gerir melhor esse tempo e estabelecer um contrato que determine o tempo razoável permitido para

a realização da tarefa.

Quanto à organização da sala de aula, condições de circulação, acesso a materiais,

visibilidade entre os pares, professor e aluno, Correia (2013) afirma que tem muita influência nos

resultados da aprendizagem.

O ponto de partida para a colocação dos alunos com NEE deverá ocorrer a partir do local

onde o professor ficará mais tempo a ensinar, para que ambos estejam próximos para melhor

acesso, seja em filas, em “U”, em grupos ou áreas, consoante às necessidades pedagógicas17

.

Correia (2013) cita arranjo dos materiais quando se refere à localização desses, pois alega

que sua disposição, em locais acessíveis, facilita o desenrolar das atividades, contribuindo para

uma melhor gestão pedagógica.

Pensando em uma aprendizagem em conjunto entre alunos que frequentam uma classe

heterogênea, Correia (2013) afirma que a formação de grupos de cooperação contribui para

promoção da inclusão de alunos com NEE. Salienta que os alunos com NEE devem ser

17 Correia (2013) cita o termo “pedagógicas” referendo-se às práticas do professor.

Page 55: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

55

distribuídos pelos diferentes grupos e acrescenta que o sucesso da aprendizagem em cooperação

está na percepção que os alunos têm sobre o valor e o respeito das contribuições de cada um.

2.2. Filosofia Análise Exploratória de Dados

Para Batanero; Estepa; Godino (1991), a Análise Exploratória de Dados é uma filosofia na

aplicação dos métodos de análise dos dados. Diz ainda que a filosofia consiste

[...] no estudo dos dados a partir de todas as perspectivas e com todas as ferramentas

possíveis, incluindo as já existentes. O propósito é extrair toda a informação possível,

gerar novas hipóteses no sentido de construir conjecturas sobre as observações que

dispomos. (BATANERO; ESTEPA; GODINO, 1991, p. 2)

Esses autores apresentam características para aplicação desta filosofia para um estudo

apropriado de Estatística na escola básica:

Possibilitar a geração de situações de aprendizagem contextualizadas com temas de interesse

para o aluno: esses conjuntos de dados podem ser obtidos pelos próprios alunos com realização

de pesquisas, ou ainda com variáveis estatísticas obtidas em publicações.

Forte apoio para as representações gráficas: A ideia fundamental da Análise Exploratória de

Dados é a utilização de várias representações de dados, o qual se torna um meio de desenvolver

novos conhecimentos e perspectivas. Isto pode facilitar a comparação e percepção da variabilidade

no conjunto de dados.

Preferencialmente, empregar as estatísticas de ordem: são sensíveis a dados e com eles o efeito

de outliers é reduzida – maior facilidade na atribuição de significado pelo aluno da Escola Básica.

Não precisa de ferramentas matemática complexa: os cálculos não são na Análise Exploratória

de Dados um fim, mas um meio para descobrir as informações ocultas.

Page 56: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

56

Utilizar diferentes escalas: categorização das variáveis para o estudo dos dados observados, às

vezes transformando os valores da variável original para uma nova escala, a fim de que os valores

fiquem gerenciáveis.

Novaes; Coutinho (2009) consideram que na Análise Exploratória os Dados são constituídos

de regularidades ou tendências e desvios ou variabilidade, acrescentam ainda que:

[...] a proposta é que se estude grande parte das perspectivas com o olhar de um detetive,

com o propósito de extrair quanta informação for possível e gerar novas hipóteses. O uso

desse tipo de associação, mas principalmente o uso simultâneo de mais de uma medida-

resumo e de mais de uma representação está no cerne da Análise Exploratória de Dados.

(NOVAES; COUTINHO, 2009, p. 103)

Coutinho; Miguel (2007) afirmam que, nessa filosofa (Análise Exploratória de Dados), é

necessário que o aluno perceba a problematizarão envolvida na coleta das informações. “Este e o

cerne da atribuição de significado para os resultados obtidos nos cálculos estatísticos visando à

análise, pois, somente dessa forma, o aluno poderá conceber o correto significado aos valores

encontrados” (p. 2).

Conforme citamos anteriormente, o ensino e a aprendizagem de Estatística não deve

centralizar em fórmulas e técnicas de resoluções, mas sim na Análise Exploratória de Dados, que,

segundo Batanero (2001, p. 29), não necessita de uma teoria matemática complexa, já que as

atividades propostas para esse tipo de estudo necessitam apenas de “noções matemáticas muito

elementares e procedimentos gráficos fáceis de realizar”.

Gal (2002) defende que os cálculos não devem ser o centro de atenção na sala de aula, e sim a

compreensão do porquê utilizá-los e quais etapas são envolvidas no processo de resolução.

Acrescenta que “fazer” Estatística e compreendê-la não são paralelos, todavia uma complementa a

outra.

Garfield (1998) expõe ainda que a maior parte dos instrumentos avaliativos, em vez de

concentrar no raciocínio e compreensão, centraliza em habilidades computacionais ou resolução

de problemas estatísticos, os quais muitas vezes se apresentam com questões tradicionais de testes,

Page 57: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

57

sem contexto que permite identificar a problematização que gera a necessidade dos dados, com

tendências na precisão dos cálculos e correta aplicação de fórmulas ou, ainda, exatidão na

construção de gráficos e tabelas, ou seja, demasias em cálculos e fórmulas.

Quanto a este fato, Rumsey (2002) relata que existe um esforço por parte dos pesquisadores

para acabar com esses equívocos no ensino da Educação Estatística e reforça que priorizar

cálculos e fórmulas não demonstra compreensão de ideias estatísticas e sim enfatiza a matemática,

propriamente dita.

Batanero (2001) apresenta algumas considerações quanto à importância da Educação

Estatística e seu papel na formação dos alunos, os quais diariamente têm contato com dados

estatísticos relacionados ao meio em que vivem, a exemplo do esporte, moda ou jogos, o que

favorece a realização de investigações e estudos de natureza estatística que pode ser útil para os

estudantes envolvidos.

Rumsey (2002) observa que, para o desenvolvimento do bom cidadão estatístico, os alunos

precisam de um certo nível de compreensão, ideias básicas, termos e linguagem estatísticas e

acrescenta que precisa ser capaz de explicar, decidir , julgar, avaliar e tomar decisões sobre

informações que o cerca.

Verificamos que o cumprimento desta afirmação vem ao encontro de Garfield (1998, p. 1)

quando afirma que “o principal objetivo da Educação Estatística é capacitar os alunos a produzir

descrições, julgamentos, inferências e opiniões sobre os dados com argumentos fundamentados”.

Ressaltamos a importância da consciência dos dados, pois, segundo Rumsey (2002), os dados

mal utilizados podem acarretar desinformação. Nesse sentido, a autora acredita que esta

consciência fornece uma motivação para que os alunos queiram aprender Estatística. Também

acrescenta que os alunos parecem dar mais credibilidade a exemplos recolhidos a partir do mundo

real, sendo estes elencados por eles.

Page 58: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

58

Para Rumsey (2002), quando os alunos tem a oportunidade de produzir os seus próprios dados

e encontram resultados estatísticos básicos, isto os ajuda a ganhar posse de suas próprias

aprendizagens, promove habilidades para tratar com problemas envolvendo dados e, além disso,

parecem desenvolver uma melhor compreensão em como interpretar os resultados.

DelMas (2002) destaca que, dentro do contexto de Estatística, um termo ou definição não

deveria ser ensinados de forma isolada, pois, se o objetivo é desenvolver a compreensão dos

estudantes, atividades instrucionais podem ser introduzidas para ajudar os alunos a verificarem

contrastes, como é o caso das medidas de tendência central ou, ainda, quando e onde não usá-las.

Acrescenta ainda que é importante pedirmos aos alunos para explicarem por que ou como os

resultados foram produzidos, por exemplo, explicar o processo que produz a distribuição amostral,

o porquê a mediana é resistente a outliers, ou ainda, por que a média é um ponto de equilíbrio.

Para Garcia (2008), não faz sentido trabalhar com as medidas de tendência central sem

relacioná-la com a variabilidade em torno das mesmas, pois:

A variabilidade deve ser abordada pelos professores ainda que de forma intuitiva, e a falta

dessa abordagem pode prejudicar a construção e o desenvolvimento do raciocínio no

aprendizado do aluno, pois quanto antes iniciarmos o estudo da variabilidade, os

educandos poderão melhor compreendê-la, não só com a Estatística aprendida na escola,

mas também e principalmente com a Estatística presente em seu cotidiano (GARCIA,

2008, p. 21).

Quanto a esse fato, Garfield e Ben-Zvi (2005, apud SILVA, 2007, p. 175) nos apresentam um

quadro com síntese do modelo epistemológico, o qual, dentre outros, explicita do desenvolvimento

de ideias intuitivas de variabilidade. Eles classificam como ideias chave o reconhecimento de que

a variabilidade está em todo lugar, que há existência de variação entre medidas repetidas da

mesma variável, assim como nas observações de variáveis coletadas de diferentes indivíduos.

Consideramos também importante para nossa pesquisa o que Rumsey (2002) descreve sobre o

trabalho em grupo: salienta que, ao proporcionar situações que envolvam equipes de estudantes

para trabalharem juntos dentro de um contexto comum, considera que o ajuda a simular um

Page 59: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

59

ambiente de trabalho colaborativo, além de oferecer oportunidade de escolhas individuais com

pontos de vista diferentes, caracterizando como fator saudável para os alunos.

Chance (2002) afirma que elaborações de projetos, com maior freqüência, são inseridos e

utilizados no curso de Estatística e classifica como melhor maneira de introduzir nos alunos o

processo de investigação estatística. Afirma que nessa ocasião alunos têm a responsabilidade de

formular o plano de coleta de dados, analisando-os e interpretando-os.

Page 60: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

60

III – METODOLOGIA

Se os meus olhos não me deixam obter informações

sobre homens e eventos, sobre ideias e doutrinas,

terei de encontrar uma outra forma.

Louis Braille

Com intuito de responder nossa questão de pesquisa, adotamos como metodologia a pesquisa

qualitativa, na qual vem culminar a elaboração de uma atividade para coleta de dados em uma sala

de aula. Para tanto, discorremos sobre alguns princípios que consideramos importante para a

introdução da Educação Estatística com ensino inclusivo.

Desta maneira, pelo fato de tratar-se de uma pesquisa que envolve seres humanos e,

consequentemente, exige cuidados, ainda que não ofereça riscos físicos, este trabalho está

submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa, sob o número 228.327.13.1.0000.5482, em

conformidade com a Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de

Saúde.

3.1. Pesquisa qualitativa

Nossa pesquisa desenvolveu-se com abordagem e caráter predominantemente qualitativa,

porquanto queremos proporcionar a inclusão de alunos com deficiência visual e consequentemente

a construção de significados de alguns conceitos Estatísticos nesses alunos.

O interesse pela pesquisa qualitativa sobreveio devido à obtenção de dados mediante o

contato direto e interativo do pesquisador com a situação estudada, nas condições naturais em que

os fatos acontecem, com investigação intensiva com os participantes e emprego de múltiplos

métodos de coleta de dados para entendimento e interpretação dos fenômenos estudados.

Page 61: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

61

A pesquisa qualitativa, segundo Creswell (2010), traz uma característica indutiva, uma vez

que envolve a colaboração interativa com os participantes, de modo a terem uma oportunidade de

dar forma aos temas ou abstrações que emergem no processo.

Visamos compreender e explicar diversos aspectos com a coleta de informações acerca da

pesquisa, supostamente, descobrir novos fenômenos e suas relações, pois, segundo Creswell

(2010), o processo de análise dos dados envolve extrair sentido e preparação para essa análise,

conduzindo para diferentes e profundas compreensões dos dados.

Para tanto, Manning (1979, p. 668 apud NEVES, 1996, p. 1) pontua que o desenvolvimento

de um estudo de pesquisa qualitativa supõe um corte temporal-espacial de determinado fenômeno

por parte do pesquisador, pois define o campo e a dimensão em que o trabalho desenvolve e o

território a ser mapeado.

Este fator vem ao encontro de nosso trabalho, pois devido ao pouco tempo, fizemos um

recorte no processo de ensino e aprendizagem da Estatística nos conceitos de medidas de

tendência central, as quais tiveram um caráter introdutório, com o estudo de variabilidade de modo

intuitivo e exploratório.

Nesta pesquisa, apreciamos também os pressupostos da metodologia engenharia didática.

Porém, salientamos que não temos pretensão de assim intitular, dada a natureza de um trabalho

minucioso em detalhes que este tipo de metodologia exige.

Comparada ao trabalho de um engenheiro, segundo Almouloud (2007), esta metodologia

emergiu na didática da matemática – enfoque da didática francesa - no início dos anos 1980. Pode

ser utilizada em pesquisas que estudam os processos de ensino e aprendizagem de um dado objeto

matemático. O autor pontua que, segundo Artigue (1998):

[...] é uma forma de trabalho didático comparável ao trabalho do engenheiro que, para

realizar um projeto, se apóia em conhecimentos científicos da área, aceita se submeter a

um controle de tipo científico, mas, ao mesmo tempo, é obrigado a trabalhar objetos mais

complexos que os objetos depurados da ciência (ARTIGUE, 1988, p. 283 apud

ALMOULOUD, 2007, p.171).

Page 62: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

62

As ações que espera de um engenheiro resumem-se em planejar, projetar, construir e avaliar e

fazendo alusão à metodologia de pesquisa, Almouloud (2007) descreve que:

A engenharia didática, vista como metodologia de pesquisa, é caracterizada, em primeiro

lugar, por um esquema experimental com base em “realizações didáticas” em sala de aula,

isto é, na construção, realização, observação e análise de sessões de ensino. Caracteriza-se

também como pesquisa experimental pelo registro em que se situa e pelos modos de

validação que lhe são associados: a comparação entre análise a priori e análise a

posteriori. Tal tipo de validação é uma das singularidades dessa metodologia, por ser feita

internamente, sem a necessidade de aplicação de um pré-teste ou de um pós-teste

(ALMOULOUD, 2007, p.171).

Dividida em fases, a engenharia didática envolve as análises prévias, construção e análise a

priori das situações didáticas, experimentação, análise a posteriori e validação. Nas análises

prévias, podemos delinear de modo fundamentado o levantamento amplo do objeto em estudo

para embasar, organizar e relatar os principais resultados em estudo, com vistas ao objetivo

específico da pesquisa.

A construção das situações e análise a priori ocorre com a finalidade de responder a questão

da pesquisa; para tanto, o pesquisador deve elaborar e analisar uma sequência de situações-

problema – atividades, descrevendo cada escolha local que permitam prever os possíveis

comportamentos dos alunos durante o experimento. As atividades devem ser concebidas levando

em consideração os resultados dos estudos prévios.

A experimentação é a fase da realização da engenharia, ou seja, o momento de colocar em

funcionamento todo o dispositivo construído. Em nosso caso, aplicação de atividades em uma sala

de aula que possui alunos com deficiência visual, para recolha de dados, visando o ensino e a

aprendizagem de Estatística a esses alunos nos conteúdos de média, moda e mediana, com

articulação entre essas medidas, com vistas na variabilidade dos dados.

A análise a posteriori e validação é composta por todos os dados recolhidos durante a

experimentação, com os quais permitirão a construção de protocolos de pesquisa, suas análises

profundas para o confronto com a análise a priori. Explicitar os resultados, conclusões e avaliação

de possíveis êxitos e/ou limitações da pesquisa.

Page 63: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

63

Sintetizando, a engenharia didática é uma metodologia de pesquisa com características e

esquemas com base nas construções didáticas em ambiente de sala de aula, com realização,

observação e análise comparativa dos dados a priori e a posteriori para sua validação. Vale

lembrar que, em nosso trabalho, apenas consideramos nuances desta metodologia em nossas

análises a priori e posteriori.

3.2. Procedimentos metodológicos

Desenvolvemos algumas atividades para serem executadas com a manipulação do simulador

de gráficos, usando como disparador da temática uma das medidas de tendência central, a média,

para os alunos com deficiência visual – cegos e baixa visão – e, consequentemente, os videntes.

No decorrer desse processo serão introduzidas outras medidas – moda e mediana – para o

desenvolvimento e construção de significados estatísticos, com o estudo da variabilidade de modo

intuitivo – Garcia (2008) e Silva (2007) – para o devido aprofundamento e aprimoramento em

futuros estudos de tais medidas, sob os moldes da Análise Exploratória de Dados.

Para o bom andamento nas aplicações das atividades, preparamos três roteiros – Apêndices A,

B e C – para cada etapa da pesquisa, com perguntas que nos guiarão e que, supostamente,

facilitarão as análises a posteriori para avaliarmos se conseguimos, ou não, inserir os conceitos

das medidas de tendência central e introdução da variabilidade sobre essas medidas.

Nesse contexto, nosso trabalho desenvolveu-se em uma turma do 9º ano18

, em uma Instituição

para cegos na cidade de São Paulo, especificamente na Zona Sul. Esta Instituição é uma Escola de

18 Lembramos que tais procedimentos de ensino se aplicam também nos anos anteriores do fundamental, a exemplo

da construção e leitura de gráficos.

Page 64: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

64

Ensino Fundamental I e II, privada, sem fins lucrativos, de natureza associativa, que predomina

alunos cegos.

O primeiro contato com o Instituto ocorreu no final do mês de julho de 2014 para um breve

diálogo com a professora da turma que leciona a disciplina “Orientação Profissional”. Este contato

fora direcionado para essa professora, pois as aulas disponibilizadas para a aplicação da pesquisa

aconteceriam em sua disciplina. Neste dia tivemos a oportunidade de conhecer esta turma – 9º

ano. Ao nos apresentarmos aproveitamos para perguntar se já tinham aprendido os conceitos de

média, moda e mediana. Nesse primeiro contato disseram que não.

As atividades construídas foram aplicadas em um único dia no mês de agosto de 2014, após o

retorno das férias, com ocupação de duas aulas de cinquenta minutos cada, na aula de Orientação

Profissional, ou seja, fora dos horários das aulas de Matemática. Nessa turma estão matriculados

dez alunos, dos quais, quatro alunos cegos, dois com baixa visão e quatro videntes. Para assegurar

o rigor das análises dos dados, registramos gravações em vídeo e áudio com intenção de

captarmos informações relevantes.

Vale lembrar que o tema e as atividades que impulsionaram as investigações pelos alunos no

dia da aplicação da pesquisa foram elencadas pela pesquisadora com antecedência, uma vez que

todo o processo para a coleta de dados foi elaborado e pensado a priori. Este fato ocorreu também

devido ao pouco tempo em contato com os mesmos. Para tanto, utilizamos de descrição de cada

escolha local, as quais nos permitiram prever os possíveis comportamentos desses alunos durante

o experimento.

Embora o tema levantado não seja elencado pelos alunos, utilizamos de situações que façam

sentido para eles, com abordagem investigativa e interpretativa. Assim, pensamos em um assunto

atual – Brasil sede da Copa do Mundo em 2014 – com amarração do tema para a preparação e

sede das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016.

Diante das muitas modalidades que envolvem o evento Olimpíadas, as quais cada uma tem

regras distintas para as marcas mínimas de classificação, idealizamos um atleta sem nos

Page 65: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

65

apegarmos às regras e modalidades para classificação oficial. Sabendo que, no geral, estabelecem

índices como medidas para classificação e vaga assegurada mediante competições; logo, o tema

proposto para as atividades permeia o alcance da média de 8,5 entre as notas desse atleta.

Acreditamos que tal disposição e abordagem facilitem a concepção dos conceitos e sua

memorização, com promoção da compreensão e da busca pela solução para resposta ao problema

proposto nas atividades. Temos por intenção motivar a descoberta de diferenças sugeridas na

distribuição dos dados, aplicação estatística de maneira intuitiva, sem fórmulas e sem definições.

Por meio da coleta de dados almejamos atingir nosso objetivo, que é promover o diálogo entre

a inclusão de alunos com deficiência visual com o ensino e a aprendizagem de Estatística, com

construção de significados e articulação das medidas de tendência central, proporcionando

oportunidades de observar, reconhecer, lidar intuitivamente e descrever a variabilidade dentro e

entre as distribuições dos dados.

Não somente isto, pretendemos responder nossa questão de pesquisa que é “Como

proporcionar a inclusão de alunos com deficiência visual nas aulas de Estatística e iniciar a

construção de significados dos conteúdos de média, moda e mediana, com vistas à variabilidade

intuitiva?”.

Page 66: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

66

IV- ANÁLISES

O aluno com deficiência visual não, necessariamente, possui deficiência intelectual ou

cognitiva. Neste caso, ele necessita de adaptações em materiais pedagógicos e explicações orais

para criar imagens mentais.

Ana Lúcia Manrique

Com o propósito de responder a questão da pesquisa, elaboramos atividades levando em

consideração a contextualização, revisão bibliográfica e referencial. Primeiramente, descrevemos

cada escolha local com a intenção de prever os métodos e estratégias de resolução de cada

situação, as possíveis dificuldades e comportamentos dos alunos durante a coleta de dados em sala

de aula. Posteriormente, colocamos em funcionamento todo o dispositivo construído com apoio no

conjunto de dados recolhidos durante a experimentação e construção de protocolos de pesquisa,

para observações e análises comparativas dos dados. Assim, organizamos e nomeamos nossas

análises como a priori e a posteriori, com vistas à avaliação dos supostos êxitos ou limitações

desta pesquisa.

4.1. Análise a priori 19

Para esta investigação, elaboramos e analisamos uma situação-problema, explicitando cada

escolha e saberes envolvidos de forma dinâmica, com abordagem investigativa, lúdica dirigida,

objetivando uma aprendizagem atraente e com entendimento (CORREIA, 2013).

19 Construímos este subcapítulo consideramos o tempo verbal no futuro, uma vez que enunciamos, ou ainda,

apresentamos as atividades com explicitação das escolhas e variáveis didáticas.

Page 67: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

67

4.1.1. Primeira etapa

1º momento: organização da sala

Antes de receber os alunos, nos programamos a estudar o espaço e sua organização – sala de

aula. Consideramos Correia (2013), já que se tratava de turma pequena – dez alunos: quatro cegos,

dois com baixa visão e quatro videntes – acreditamos que teremos facilidade na organização da

sala, de maneira que favoreça a proximidade e visibilidade entre os pares – pesquisador/alunos e

alunos/alunos – fator positivo para a aprendizagem.

Na sala que ocorrerá a pesquisa são disponibilizadas mesas com medidas acima dos padrões,

com média de 70 centímetros de comprimento cada uma, esperamos que esse fator facilite a

utilização de uma mesa por cada grupo, o que facilitará também na organização, pois serão

dispostas lado a lado, em formato de “U”, visando à facilidade de comunicação entre os grupos

(C0RREIA, 2013).

Para capturarmos comportamentos, gestos e diálogos instalaremos uma câmera de vídeo logo

à frente da turma, assim como gravadores entre cada mesa.

2º momento: recepção, divisão da sala em equipes.

Receberemos os alunos e, antes da primeira proposta de atividade, dividiremos a turma em

grupos distintos, para atender à proposta de Correia (2013), quando destaca que é ideal a escolha

de um “amigo de estudo” e que a aprendizagem em conjunto contribui para a inclusão dos alunos

com NEE. Pensando na Educação Estatística, Rumsey (2002) afirma que este fato é saudável para

os alunos, além de oferecer oportunidades de escolhas individuais com pontos de vista diferentes.

Cada grupo, necessariamente, incluirá um aluno com deficiência visual, pois esperamos o

engajamento dos alunos nas atividades com cooperação, pois Correia (2013) também afirma que a

distribuição pelos diferentes grupos contribui para a aprendizagem, uma vez que os alunos

valorizam e respeitam as contribuições de cada colega.

Page 68: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

68

Esperamos alcançar a acessibilidade atitudinal, pois, independente de limitações – em nosso

caso a visão – temos por intenção proporcionar a interação e colaboração entre os pares, sem

preconceitos e discriminações, assim como também possibilitar a construção de significados ao

aluno com deficiência visual em tempo simultâneo aos videntes, por meio de diálogos, fator tão

importante para o aluno com deficiência visual.

Atendendo a essas particularidades, pelo fato de possuirmos quatro simuladores, dividiremos

a turma em quatro grupos, porém por estarem matriculados dez alunos nesta turma, constarão dois

grupos formados por duplas – um cego e um vidente – e dois grupos compostos por um trio de

alunos – um cego, um com baixa visão e um vidente –, totalizando os dez alunos distribuídos

nesses quatro grupos.

Neste momento, em conformidade com a turma, denominaremos os nomes para os grupos,

dos quais serão representados por um atleta e supostos treinadores. Almejamos proporcionar a

acessibilidade metodológica utilizando de métodos e técnicas de estudos baseados na participação

de cada aluno e logística didática.

3º momento: apresentação do simulador e seu funcionamento

Em seguida, colocaremos um simulador em cada mesa, com a finalidade de apresentá-lo e

descrevê-lo quanto ao seu funcionamento, com a exploração pelos alunos com deficiência visual,

para familiarização com o aparelho. Ao mesmo tempo, pediremos para tatearem o aparelho,

deixando-os à vontade para expressarem qualquer dúvida quanto ao seu funcionamento.

Neste momento priorizamos a busca por caminhos alternativos – em nosso caso, a

substituição do computador pela Tecnologia Assistiva, com o manuseio do simulador de gráficos

dot-plot, fato que vem ao encontro de Moreira (2012) e Coimbra (2003) quando afirmam que a

ação pedagógica é fundamental e primordial em todo tipo de intervenção, sendo que este último

acrescenta que é o alicerce que promove o desenvolvimento da criança e do adolescente com

deficiência visual.

Page 69: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

69

Desta maneira, esperamos proporcionar a esses alunos imagens mentais, pois avaliamos que o

indivíduo com deficiência visual dispõe da possibilidade de perceber o mundo utilizando as

modalidades sensoriais e neste momento apreciamos o tato no manuseio do simulador de gráficos.

Espera-se também que nesse momento alcancemos as observações de Tanti (2006) e Coimbra

(2003) quanto ao incentivo de experiências táteis, pois estas criam um ambiente favorável para o

desenvolvimento da noção espacial, estímulo dos canais sensoriais – no caso o tato, pois a mão do

cego é a extensão de sua visão. Esperamos, ainda, que o tatear o simulador possibilite a

visualização de suas características, familiarização para exploração, manipulação, oportunizando a

reflexão sobre os gráficos que serão construídos.

Com a manipulação do simulador, almejamos alcançar a acessibilidade instrumental, que visa

a inexistência de barreiras – em nosso caso, o utilizaremos como ferramenta de estudo para o

ensino e aprendizagem de alguns conceitos estatísticos para a compreensão de conteúdos de

maneira autônoma, sem ter que recorrer a terceiros.

Figura 4. Layout do simulador com peças usadas na pesquisa.

Fonte: autora

Page 70: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

70

Não somente isto, nesse momento, por meio da apresentação oral, também consideramos as

necessidades do aluno com deficiência visual que, segundo Coimbra (2003), as atividades que

envolvem oralidade contribuem para o desenvolvimento da escrita, da comunicação e interação

social, autonomia e independência. Lembrando que a audição é um dos sentidos disponível ao

aluno com deficiência visual, que a utiliza para discriminar e/ou assimilar o conteúdo trabalhado

em sala. Assim, seguiremos com instruções, como segue:

Quadro 2: Instruções orais com a descrição do simulador de gráficos.

Instrução e descrição das peças do simulador de gráficos

Este é um simulador de gráficos. Verifiquem que possui uma caixa de madeira revestida por

fórmica. Em cima possuem várias hastes em metal. Possui também uma tampa que, movida para a

esquerda, se abrirá. Após aberta verificarão que existem quatro compartimentos com bolinhas.

Neles constam 120 bolinhas perfuradas para fixação nas hastes que estão divididas e assinaladas

igualmente com quatro tipos de marcações, logo, cada tipo de marcação possui 30 unidades.

Essas marcações, exceto as bolinhas do primeiro compartimento da esquerda para a direita,

que são lisas, foram feitas com cola plástica amarela atóxica relevo, as quais se apresentam a partir

do segundo compartimento com um ponto, próximo, com dois pontos e, no último, três pontos.

Essas marcações os auxiliarão a distinguir cada uma das bolinhas conforme seus valores –

estipulados como convém em nossa atividade.

Na última divisória da direita para a esquerda encontrarão um EVA (Etileno Acetato de

Vinila) com corte na lateral. Este EVA foi desenvolvido para sua fixação na haste para marcar

uma das medidas que aprenderemos daqui a pouco.

4º momento: Proposta de um tema, atividade e suas regras.

Seguiremos com a explicação das regras da atividade desenvolvida para aplicação em sala de

aula, pois, segundo Coimbra (2003), essas atividades, sem o uso do livro, criadas pelo professor

para que os alunos executem as tarefas em tempo hábil e sem exercícios de caráter visual, é o

momento que ocorre o desenvolvimento cognitivo.

Page 71: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

71

Visando à aprendizagem dinâmica e competitiva, consideramos o que Coimbra (2003)

enfatiza quanto ao desenvolvimento e atitudes de respeito às regras para garantir a liberdade de

participação de cada aluno, pois favorece a expressão, inclusive oral, manifestação espontânea,

autonomia e independência, contrária à passividade em sala de aula.

Para tanto, lançaremos mão do tema “Brasil sede da Copa do Mundo em 2014 e das

Olimpíadas em 2016”, com a intenção de possibilitar a geração de aprendizagem com temas de

interesse para os alunos, em acordo com Batanero, Estepa e Godino (1991). Almejamos que essa

situação, supostamente, faça sentido para eles, uma vez que nos últimos meses gerou certa

polêmica na mídia, com destaque a muitos debates televisivos e manifestações populares devido

aos altos investimentos que eventos desse porte exigem (CORREIA, 2013; BATANERO, 2001).

Quadro 3: Explicação oral sobre a contextualização do tema.

Tema: Brasil sede da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas 2016

Brasil foi sede da Copa do Mundo deste ano - 2014 - e o será também em 2016, mas dessa

vez das Olimpíadas no Rio de Janeiro. Para esse evento foram construídos vários estádios,

inclusive as obras para a Olimpíada em 2016 ainda estão em andamento. Nas Olimpíadas, existem

várias modalidades, dentre elas, ginástica, natação, etc. Estas modalidades têm regras e índices

distintos para classificação dos atletas; assim, muitos já estão se preparando para as competições

classificatórias, de modo que somente os melhores representarão o país. Aproveitamos esses

critérios e criamos uma situação para trabalharmos alguns conceitos estatísticos. Assim, temos

quatro atletas que praticam a mesma modalidade e estão competindo entre si para representar o

Brasil nas Olimpíadas em 2016. Só classificarão os que atingirem a média de 8,5 entre suas notas.

Em continuidade, apresentaremos uma situação-problema – Quadro 4 – disparador que gerará

a coleta de notas aleatórias desses grupos para a construção gradativa do gráfico dot-plot, para

que o aluno perceba a problematização envolvida na coleta, com intuito de gerar significado aos

valores encontrados nos cálculos (COUTINHO; MIGUEL, 2007).

Page 72: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

72

Quadro 4: Proposta de atividade.

ATIVIDADE - A simulação de classificação de um atleta para as “Olimpíadas Brasil 2016”:

Quatro atletas pretendem se classificar para as Olimpíadas. Porém para que o sonho se realize,

precisam, dentre o total de 20 competições em todo torneiro classificatório, alcançar a média de

8,5 entre suas notas. Esses atletas costumam tirar notas entre 7 e 10. Após a coleta de notas e

montagem dos gráficos de pontos (dot-plot), responda: Qual ou quais atletas se classificaram

para as Olimpíadas?

Até aqui, apoiaremo-nos na utilização de experiências multissensoriais (audição e tato), pois,

segundo as afirmações de Correia (2013, p. 125), tais conexões proporcionam “grande impacto”

na aprendizagem.

Com a turma dividida em quatro grupos distintos, explicaremos as regras da dinâmica e

determinaremos as notas para cada marcação de bolinha; desse modo, a nota 7 corresponderá à

bolinha sem marcação; nota 8, uma marcação; e assim sucessivamente.

Para cada equipe, simularemos as vinte competições classificatórias para as Olimpíadas e

cada grupo fará uso de um simulador de gráficos, simulando desde a primeira competição até a

vigésima e última (RUMSEY, 2002), visando à consciência dos dados. Primeiramente

simularemos a atribuição de notas para a primeira competição dos quatro atletas, simulando o

desempenho para cada atleta com suas notas mediante sorteio aleatório com repetição, que variam

entre 7, 8, 9 e 10.

Para idealizarmos nosso trabalho, pediremos para considerarem, na parte superior do

simulador, onde ficam as hastes, uma reta numérica e, em seguida, pediremos para que imaginem

um “recorte” nessa reta, considerando-a a partir da primeira haste da direita para esquerda, com

“início” a partir do sete com escala de 0,5, ou seja, 7,0 – 7,5 – 8,0 – 8,5 – 9,0 – 9,5 – 10. Assim, a

consideraremos prevendo possíveis resultados com decimais no cálculo da mediana. Logo, como

utilizaremos quatro notas, usaremos a primeira haste para a nota 7, a segunda deixaremos vazia, a

terceira haste para a nota oito, e assim sucessivamente.

Page 73: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

73

5º momento: Iniciar o sorteio de notas

Para acompanhamento e controle da coleta de notas, disponibilizaremos um quadro (Apêndice

D) para marcação das notas pelos alunos videntes. Quanto aos alunos com deficiência visual,

também acompanharão mediante os sinalizadores das bolinhas – marcações – no simulador.

Após apresentação do funcionamento do simulador, com as regras estabelecidas e claras,

gradativamente montaremos o simulador de gráficos; entretanto, no decorrer da atividade

levantaremos perguntas e, enquanto o banco de notas estiver baixo, pediremos para que calculem a

média, a exemplo do cálculo das duas primeiras notas, e assim consecutivamente, durante os

primeiros sorteios. O faremos com a intenção de suscitar o cálculo da média aritmética simples,

pois temos a intenção de prepará-los para, ao final, calcularem a média ponderada, sem

intervenções, definições ou fórmulas.

Resumidamente, esta primeira etapa acontecerá com perguntas para que os alunos explicitem

suas dúvidas, questionamentos, interações com a intenção de averiguarmos se conseguiremos

atingir nossos objetivos, que é inserir os conceitos das medidas de tendência central e introdução

da variabilidade sobre essas medidas.

Quadro 5- Roteiro de perguntas da primeira etapa.

ROTEIRO DE PERGUNTAS

OBJETIVOS ESPECÍFICOS QUESTÕES

Apresentar o funcionamento do simulador para

os alunos, inclusive com deficiência visual para

que se familiarizem com o aparelho por meio

do tato.

Deixar clara a dinâmica que ocorrerá com

sorteio de notas de cada equipe, simulando

cada competição, até a vigésima e última.

1) Alguma dúvida sobre o funcionamento do

aparelho?

2) Alguma dúvida sobre as regras de nossa

dinâmica?

3) Têm dúvidas sobre as notas de 7 a 10 e suas

respectivas marcações?

Page 74: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

74

Estimular o cálculo de média simples com a

intenção de prepará-los para, ao final, terem

contato com a média ponderada de maneira

intuitiva, sem introdução de fórmula (o faremos

somente nos primeiros sorteios).

4) Se fossem duas competições, somente, nosso

atleta se classificaria? Vamos verificar! Como

nosso atleta precisa da média 8,5 para se

classificar, qual é a média dessas duas

competições?

Estimular a avaliação do processo para

classificação, interpretação e tradução dos

dados.

5) Com três competições a média diminuiu ou

aumentou?

6) E na quarta competição, seu atleta

apresentou desempenho na nota para aumentar

a média ?

Desenvolver e estimular a compreensão das

ideias de aleatoriedade – incerteza.

7) Por quê?

8) Por enquanto seu atleta tem chance de

classificação? Tem que melhorar as notas?

4.1.2. Segunda etapa

1º momento: Introdução dos conceitos de moda, mediana e média ponderada

Este momento ocorrerá ao término do sorteio aleatório de notas e construção dos quatro

gráficos dot-plot. Daremos ênfase nas medidas de tendência central e lançaremos mão de

perguntas, articulando este momento com indagações, com a intenção de trabalharmos os

conceitos de moda, mediana e média ponderada, sem esquecermos de estimular a percepção da

variabilidade entre essas medidas.

Page 75: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

75

É proposital que a mesma atividade proporcione a construção de quatro gráficos distintos e

simultâneos, os quais materializam e potencializam a exploração e análise de vários gráficos ao

mesmo tempo, o que vem ao encontro do trabalho de Silva (2007) quanto à paráfrase do modelo

epistemológico desenvolvido por Garfield e Ben-Zvi (2005). Este fato também vem ao encontro

da Análise Exploratória de Dados, pois é fundamental a utilização de várias representações de

dados, o que, segundo Batanero, Estepa e Godino (1991), facilita a comparação e percepção da

variabilidade no conjunto de dados.

Almejamos introduzir tais percepções na construção dos gráficos e cálculos das medidas de

maneira simples, sem a utilização de fórmulas e matemática complexa, com noções matemáticas

muito elementares com procedimentos gráficos fáceis de realizar, pois, segundo Batanero (2001),

Garfield (1998) e Rumsey (2002), devemos desconsiderar as demasias em cálculos e fórmulas,

pois estes não demonstram compreensão de ideias estatísticas.

Além de quatro gráficos distintos com a mesma atividade, teremos também quatro médias

ponderadas, quatro modas e quatro medianas, produzindo a ideia de variabilidade, e intensificando

a incerteza dos dados, fato que vem ao encontro do trabalho de Silva (2007) quanto à variação das

medidas repetidas da mesma variável. Além disso, quanto às medidas estatísticas, no caso da

moda e mediana, também favorecerá no estudo para estabelecer a mais apropriada em cada caso e

como elas representam nesse conjunto de dados.

Para tanto, na elaboração das atividades, não priorizamos ou centralizamos a atenção para

fórmulas e cálculos, mas nas etapas e processos de resolução que as envolvem. A priori, julgamos

que despertará nos alunos a compreensão do por que utilizá-los. Segundo Gal (2002), é preciso

que se tenha consciência de que fazer Estatística não é equivalente a compreender a Estatística,

todavia são procedimentos complementares.

Após a coleta de notas e montagem dos gráficos dot-plot, também conhecido como gráfico de

pontos, introduziremos os conceitos de moda, mediana e, somente depois, média ponderada no

momento em que verificaremos quais equipes se classificaram. Apreciamos esta ordem, pois,

supostamente, os conceitos de moda e mediana são os mais simples de serem assimilados com o

Page 76: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

76

uso do simulador. Vale lembrar que trabalharemos com a média aritmética simples logo na

primeira etapa dos procedimentos.

O termo moda, pelo fato de ser usual entre os alunos, consideramos sua associação como

facilitador para verificarmos os valores que mais se repetem na distribuição de notas. Esperamos

que na coleta de notas e construção dos gráficos possam emergir gráficos bimodal e/ou trimodal.

Esta medida poderá ser verificada sem cálculos, somente com a observação pelos videntes, e o

aluno com deficiência visual mediante o tato.

Quanto à primeira abordagem da mediana, preferimos trabalhar com um banco de dados par,

com resto zero na divisão. Justificamos que tal procedimento é de baixo custo cognitivo para o

aluno e exige apenas os conhecimentos sobre ordenação e sobre divisão no conjunto dos números

inteiros.

Vale lembrar que no simulador também podemos utilizar um conjunto de dados ímpar,

embora não trabalhado nesta pesquisa. Por exemplo, se tivéssemos vinte e uma competições

sinalizaríamos a mediana com dois EVA, um entre a 10ª e 11ª bolinha e outro entre 11ª e 12ª

bolinha, isolando a 11ª bolinha.

O simulador favorece seu ensino e aprendizagem, pois na construção do gráfico as notas são

ordenadas em série do rol. Neste caso, basta apenas a divisão dos dados ordenados em dois

conjuntos com exatamente o mesmo número de elementos, ou seja, pelo fato de trabalharmos com

um conjunto de poucos dados – vinte notas – e sem a utilização de uma tabela de distribuição de

freqüência, exigirá do aluno apenas a ordenação dos dados quantitativos discretos.

Os alunos deverão mobilizar conhecimentos matemáticos simples, como a contagem e a

divisão com exatamente o mesmo número de elementos. Após a divisão do banco de dados em

dois, utilizaremos o EVA para marcarmos a nota correspondente. Pode suceder, nesse momento,

um resultado da mediana com casas decimais, daí a estratégia da utilização da escala de 0,5.

Page 77: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

77

Vale lembrar que as construções dos gráficos no simulador e anotações no quadro de notas

(Apêndice D) acontecerão simultaneamente, e para os cálculos das médias de cada equipe os

alunos poderão fazê-lo com papel e lápis para os videntes, os alunos com deficiência visual

poderão fazer uso do soroban (Figura 5) ou cubarítmo (Figura 6), sendo este último com

marcadores em braille. Salientamos que desta maneira a média não será visualizada no simulador.

Neste momento, a priori, utilizarão a média simples. Almejamos que, com as discussões,

cheguem na média ponderada, uma vez que parte da simples. Para o cálculo das médias

ponderadas, os alunos terão que mobilizar cálculos matemáticos simples, como contagem,

multiplicação e divisão.

Figura 5. Soroban

Fonte: re-visoes.blogspot.com

Figura 6. Cubarítmo

Fonte: www.iecc.com.br

Page 78: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

78

Com o intuito de dar sentido aos conhecimentos adquiridos, uma vez que possibilita a

interação dos alunos com a problemática instaurada, os conceitos estatísticos serão introduzidos de

maneira lúdica e concreta por meio de Análise Exploratória de Dados.

Para essa segunda etapa utilizamos o roteiro de perguntas como instrumento que nos

proporcionará dados para a análise das etapas envolvidas no decorrer da dinâmica, como segue:

Quadro 6: Roteiro de perguntas da segunda etapa.

ROTEIRO DE PERGUNTAS

OBJETIVOS ESPECÍFICOS QUESTÕES

Verificar a leitura, identificação e interpretação

do gráfico.

1) O que é moda para vocês?

2) Olhando para os gráficos, podem informar

qual é a moda de notas do atleta?

Apresentar a introdução dos princípios para

calcular a mediana.

3) Podemos verificar que, apesar do sorteio de

notas acontecer aleatoriamente, ao

montarmos o gráfico, elas ficaram em

ordem crescente. Para esta ordem, damos o

nome de série de rol. Para calcularmos a

mediana, teremos que dividir o conjunto de

dados em dois, com exatamente o mesmo

número de elementos para marcarmos com

o EVA vermelho. Qual o valor que

encontraram? Logo, o valor encontrado é a

mediana.

4) Qual é a nota mediana de seu atleta?

Observar o tipo de cálculo resolvido da média

simples ou da média ponderada, uma vez que

esta última facilitará o cálculo por envolver

vinte notas.

5) Calculem a média.

6) Seu atleta se classificou. Como explicam

esse ocorrido?

7) Como vocês calcularam a média?

8) (Para os que não calcularem a ponderada).

Page 79: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

79

Pretende-se que o aluno explique o processo

que utilizou para chegar ao resultado.

Tem outra maneira de calcular esta média?

Tem uma forma mais simples e rápida?

9) Vocês não acham mais rápido e fácil se

multiplicarmos as notas por suas

quantidades – exemplificar, ao invés de

somar uma a uma?

Verificar se o aluno iniciou o desenvolvimento

da variabilidade entre as medidas e suas

diferenças.

10) Quais as etapas envolvidas para

chegarmos nestes gráficos? – ora

construídos com o sorteio aleatório de

notas.

11) Qual a diferença entre as medidas centrais

moda e média?

12) E a diferença entre moda e mediana.

13) Vocês acham que poderíamos considerar

este critério de avaliação, no caso a média,

ou seria interessante a moda? Por quê?

Verificar se os alunos percebem a variabilidade

existente, associando as notas com a ordem de

classificação.

14) Como vocês avaliam as notas dos atletas de

cada equipe, tanto os que se classificaram,

como os que não?

15) Qual atleta teve a maior média? Podemos

considerar que esse atleta tem maiores

chances de medalhas? Justifique.

16) (se houver algum que não se classificou)

Por que não se classificou? – verificar a

distribuição das notas.

Page 80: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

80

4.1.3. Terceira etapa

1º momento: Análises dos gráficos.

Neste momento, esperamos que todos os alunos analisem seus gráficos. Retomaremos o

processo de construção para obtermos dados quanto à avaliação das atividades, quanto ao

desenvolvimento de conceitos estatísticos e variabilidade destes nos alunos. Para tanto,

retomaremos todos os procedimentos desde seu início até o término com panorama geral dos

processos desenvolvidos com os alunos, por meio de perguntas, como segue:

Quadro 7: Roteiro de perguntas da terceira etapa.

ROTEIRO DE PERGUNTAS

OBJETIVOS ESPECÍFICOS QUESTÕES

Explicar todo o processo desde o início até

chegar na análise dos gráficos e o porquê.

1) Descreva os gráficos e como foram

construídos. A sua construção nos

permite verificar se o atleta se

classificou ou não? Por quê?

Incutir a percepção de incerteza (saber que nem

todos os resultados são igualmente prováveis

ou previsíveis), que os levarão a explicação e

deduções acerca do resultado.

2) Vocês perceberam que os quatro

gráficos ficaram diferentes. Sabem

explicar o porquê deste ocorrido?

Avaliar os resultados e dar sugestão de outro

método que favoreça a classificação, que não a

média.

3) Criticam o método pelo qual o atleta foi

avaliado para sua classificação?

4) Sugerem outro método que favoreceria

a classificação de seu atleta? Por quê?

Supostamente, a questão 2 deste roteiro de perguntas favorece incutir no aluno o conceito de

aleatório e que um problema estatístico não necessariamente tem uma resposta única. Com a

Page 81: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

81

análise de dados das quatro equipes, poderemos proporcionar a habilidade de compreender o

processo de maneira global, perceber as diferenças entre os gráficos com investigações dos

resultados, avaliar e criticar o porquê o atleta se classificou ou não para as Olimpíadas. Dessa

maneira, esperamos estabelecer uma condição básica para um trabalho significativo, que é a

contextualização dos dados.

Apesar do déficit na visão, esperamos que a participação espontânea e manifestação do aluno

com deficiência visual com diálogos, construção dos gráficos e suas análises por meio do tato,

favoreçam a construção de significados estatísticos para esses alunos.

Assim, acreditamos que responderemos à nossa questão de pesquisa: “Como proporcionar a

inclusão de alunos com deficiência visual nas aulas de Estatística e iniciar a construção de

significados dos conteúdos de média, moda e mediana, com vistas à variabilidade intuitiva?”

4.2. Análise a posteriori

Aqui faremos um liame das análises a priori com a posteriori, com comparações dos

momentos subdivididos nas etapas.

Vale lembrar que as acessibilidades que foram alcançadas não necessariamente ocorreram no

mesmo momento e etapas descritos em nossa análise a priori; sendo assim, algumas delas foram

explicitadas em outros momentos ou etapas.

Lembramos também que algo parecido ocorreu com os quadros que continham os roteiros de

perguntas. Embora respeitemos a ordem dos quadros dentro de cada etapa, algumas perguntas

foram feitas dentro de outros momentos ou, ainda, não foram feitas, explicitados os motivos mais

à frente.

Page 82: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

82

4.2.1 Primeira etapa

1º momento: organização da sala

Antes de recebermos os alunos, estudamos o espaço e organizamos a sala de aula com a

disposição das mesas lado a lado, em formato de “U” e, como possuíamos quatro simuladores,

separamos quatro mesas para agruparmos as equipes, como previsto em nossa análise a priori.

Instalamos a filmadora logo à frente para capturar todos os comportamentos, diálogos e gestos

dos alunos de maneira mais ampla. Pelo fato de utilizarmos quatro mesas, entre cada uma delas

instalamos um gravador, ou seja, três gravadores para capturarmos os diálogos individuais de cada

equipe – grupo – com fidelidade.

Salientamos que não prevemos nas análises a priori falhas nas gravações e, ao término da

coleta de dados na pesquisa, verificamos que o gravador instalado, entre duas das mesas, falhou,

impossibilitando o acesso a falas individuais e diálogos de dois grupos20

– Grupo 1 (G1) e Grupo

2 (G2).

Porém, este ocorrido não invalidou a coleta desses dois grupos, uma vez que conseguimos

capturar as falas por meio da filmagem que, em sua maioria, referem-se às interações que

envolviam todos os grupos, nos quais os alunos aumentavam o volume da voz para dialogarem. E

para superar tal limitação, verificamos o áudio do gravador mais próximo a eles, com intenção de

resgatar maiores detalhes desses grupos. Assim, observamos minuciosamente os comportamentos

e gestos em vídeo, agregando-os e comparando-os com associações entre as gravações em áudio.

20 Nomeados mais a frente.

Page 83: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

83

2º momento: recepção, divisão da sala em grupos.

Dos alunos matriculados nesta turma de 9º ano, faltaram dois deles, um com baixa visão e um

vidente. Logo, estavam presentes oito alunos, dos quais quatro são cegos, um com baixa visão e

três videntes.

Passamos a verificar o comportamento da turma quanto à acomodação nas carteiras. Ao

entrarem na sala, supostamente, acomodaram-se em acordo com seus vínculos de amizade.

Especificamente, ficou mais explícito entre dois alunos videntes, porém pedimos que,

necessariamente, tivesse em cada carteira um aluno com deficiência visual, pensando na inclusão

dos alunos (CORREIA, 2013) e na Educação Estatística como oportunidade de escolhas

individuais e pontos de vista diferentes (RUMSEY, 2002).

Percebemos que ambos não se opuseram a tal determinação. E vale salientar que, no caso dos

dois alunos sentarem-se juntos, não evidencia, necessariamente, rejeição aos alunos com

deficiência visual, mas laços de amizade que possam existir entre os pares.

O fator vínculo de amizade não estava previsto em nossa análise a priori. Este fator emergiu

diante das mesas estarem dispostas de maneira a formarem grupos. Percebemos outros dois

alunos, um vidente e outro com baixa visão, naturalmente sentarem com os outros dois alunos

cegos, antes mesmo que pedíssemos para sentarem com um colega cego. Este comportamento veio

ao encontro do trabalho de Ferreira (2012), quando descreve o estudo aplicado na Indonésia,

quanto ao aceite dos alunos com deficiência visual no círculo de amizade e no seio da turma.

Em continuidade, ficaram divididos em quatro grupos nomeados por eles como G1, G2, G3 e

G4. E, para acompanhamento de nossa análise a posteriori, também nomeamos os diálogos

registrados com siglas, como segue:

P: Pesquisadora.

T: Todos os alunos.

Grupo G1: um cego (G1c) e um aluno com baixa visão (G1bx).

Page 84: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

84

Grupo G2: um cego (G2c) e um aluno vidente (G2v).

Grupo G3: um cego (G3c) e um aluno vidente (G3v).

Grupo G4: um cego (G4c) e um aluno vidente (G4v).

Salientamos que, para discrição e conservação da identidade dos alunos, não consideramos a

ordem das carteiras na nomeação dos grupos, seja da direita para a esquerda como o contrário.

3º momento: apresentação do simulador e seu funcionamento

Pensando em promover a inclusão dos alunos com deficiência visual, utilizamos de duas

modalidades sensoriais, a audição e o tato. Para tanto, colocamos um simulador de gráficos dot-

plot em cada mesa, explicamos que também é conhecido como gráfico de pontos. Descrevemos

cada peça e seu funcionamento com a finalidade de familiarização do aparelho (Quadro 2, p. 70).

Nesse momento, presenciamos a interação entre os pares. Verificamos que, apesar de os

alunos cegos apresentarem autonomia ao tatearem, quando ficavam procurando algo no simulador

similar aos dados descritos pela pesquisadora, os alunos videntes direcionavam as mãos dos

alunos cegos.

Percebemos, assim, que atingimos o engajamento dos alunos nas atividades com cooperação

(CORREIA, 2013), naturalmente, sem preconceito e sem discriminação. Esse fato foi notório em

relação ao aluno G2v, que, sentando ao lado do grupo G1 (colega cego e baixa visão), durante

alguns momentos da aplicação da pesquisa cooperava em ambos os grupos, no seu e no G1. Não

somente isto, pela primeira vez ficou evidente o alcance da acessibilidade atitudinal, pois não

identificamos a existência de preconceitos e discriminações, e sim colaboração entre os pares.

Para finalizar, seguimos com a pergunta 1 do Quadro 5 (p. 73) para checarmos se ficaram

com dúvidas e todos responderam que não.

Page 85: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

85

4º momento: Propusemos o tema, a atividade e as regras.

Lançamos mão do tema “Brasil sede da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas em 2016”

(Quadro3, p. 71), uma vez que é um assunto atual e, supostamente, de interesse do aluno, para

estarmos em acordo com Batanero, Estepa e Godino (1991), quanto à Análise Exploratória de

Dados. Não registramos na filmagem, nem nos áudios expressões ou gestos de objeção ao tema.

Pelo contrário, verificamos que apesar do tema não ser levantado por eles, ficaram atentos quando

o mesmo foi introduzido (CORREIA, 2013; BATANERO, 2001).

Em continuidade apresentamos a situação problema (Quadro 4, p. 72) para iniciarmos o

sorteio e a coleta de notas aleatórias para a construção gradativa do gráfico dot-plot.

Denominamos os valores para cada bolinha, pedimos para considerarem a escala de meio a partir

da primeira haste, considerada como nota 7.

Nesse momento, pela primeira vez registramos, por meio de diálogo, o que nos evidencia a

visão por meio do tato na dupla G3 (TANTI, 2006; COIMBRA, 2003), quando descrevíamos um

valor para cada marcação de bolinhas, como segue:

G3v: Olha,...”tá” vendo? – para checar se o colega percebeu, por meio do tato, que a peça

correspondente à nota 7era lisa, sem marcação.

G3c: “Tô” vendo!

É interessante observar que ambos usaram termos com a raiz da palavra ver, o que nos

evidencia que o aluno G3c formou imagens mentais por meio do tato. Podemos afirmar que, além

de proporcionarmos essas imagens, classificamos que também atingimos a acessibilidade

instrumental, uma vez que o aparelho proporcionou a inexistência de barreiras na ferramenta de

estudo, pois a falta da visão poderia ser um fator de empecilho. Não somente isto, não

apresentaram dificuldades no entendimento da dinâmica instaurada e deram sentido aos sorteios

de notas, em relação ao tema, à atividade proposta e às regras que estavam em jogo.

Page 86: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

86

Finalizamos esse momento com as perguntas 2 e 3 do Quadro 5, para darmos sequência às

atividades.

5º momento: Iniciamos o sorteio de notas

Pensando em facilitar os cálculos posteriores, iniciamos os sorteios das notas para cada equipe

e disponibilizamos um quadro (Apêndice D) para que os videntes as anotassem. Verificamos que,

mesmo com a visão limitada, o aluno com baixa visão apresentava condições para utilizá-lo, pois

o quadro continha letras grandes e palavras em caixa alta, o que supostamente facilita sua leitura.

Então entregamos um quadro para ele também, porém ficou à vontade para usá-lo ou não.

Nesse momento, cada grupo ficou responsável em colocar as bolinhas nas hastes

correspondentes às notas sorteadas para seu grupo, para acompanharem o sorteio e a construção

gradativa do seu gráfico.

Seguimos com o sorteio de notas simultaneamente para cada equipe, desde a primeira

competição, segunda, até a vigésima. No início dos sorteios perguntamos se já haviam estudado o

conceito de média, sem especificar se simples ou ponderada e, a princípio, disseram que não;

porém, um dos colegas, o aluno com deficiência visual do G4, disse que sim, e a partir de então

todos concordaram.

Este fator não estava previsto em nossa análise a priori, uma vez que no primeiro contato com

a turma, em julho, disseram que não haviam estudado o conceito de média, moda e mediana.

Talvez a negação do fato se explica devido a citação dos três termos das medidas de tendência

central, pois, no dia da aplicação das atividades, utilizamos, especificamente, o termo “média”,

somente.

Ou, ainda, supostamente, tiveram contato com o conteúdo no período de aula, entre os meses

de julho e agosto, ou, ainda, não associaram os termos usados para as medidas de tendência central

com os conteúdos estudados. A partir de então, passamos a observar seus comportamentos diante

Page 87: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

87

dos cálculos, se estudaram somente média simples, ou se ponderada também, ou, ainda, os

conceitos de moda e mediana.

Em continuidade, com a intenção de suscitar o cálculo da média aritmética simples sem

fórmula, dissemos que iniciaríamos calculando a média das duas primeiras notas, somente, só para

verificarmos se fossem consideradas apenas duas competições para classificação, quais equipes se

classificariam, ou não.

Nesta etapa, intercalamos o sorteio com a pergunta 4 do Quadro 5 (p. 73), com a intenção de

prepará-los para, ao final, terem contato com a média ponderada de maneira intuitiva –

supostamente não estudada. Verificamos que calcularam mentalmente, uma vez que trabalhamos

com duas notas somente, como seguem os diálogos:

P: O G3 tirou, nas duas primeiras competições, as notas 10 e 7. Qual é a média?

G4c: 8,5 – aluno fez cálculo mental.

G3v: Estamos arrasando! – percebeu que já iniciaram as competições com o índice suficiente para

classificação.

P: O G3 se classificaria se fossem somente duas notas?

T: Sim.

P: O G2 obteve as notas 7 e 8. Classificaria ou não?

G2v: Não.

P: Por quê?

G2v: A média é 7,5 – referindo-se que estava abaixo da média estipulada para classificação.

P: E o G1 tirou notas 7 e 9.

O G4c antecipou-se a responder:

G4c: dezesseis dividido por dois, média 8. Não se classificaria.

P: Por quê?

G4v: faltou o meio ponto.

A questão fez emergir a inserção dos conceitos de média, atribuindo indícios de variabilidade

sobre ela, por meio das respostas e interações captadas pelo vídeo. Verificamos que os alunos, em

geral, perceberam que a classificação dependia das notas recebidas, as quais poderiam sofrer

variação em decorrência do sorteio (RUMSEY, 2002; GARFIELD, 1998).

Nesse momento, percebemos que o tempo era pouco para terminarmos todas as atividades;

logo, decidimos por calcular somente as duas primeiras notas, dando sequência aos sorteios, sem

Page 88: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

88

parar para calcular as médias das terceiras e quartas primeiras notas. O que também contribuiu

para esta decisão foi verificar que eles já estudaram a média simples.

O fator tempo e a decisão quanto ao cálculo somente das duas primeiras notas não estavam

previstos na análise a priori; logo, as questões 5, 6, 7 e 8 do Quadro 5 (p.73) não foram

exploradas. Ressaltamos que, apesar da justificativa, verificamos precipitação ao excluir a questão

8, na qual somente na análise a posteriori pudemos perceber que perdemos a oportunidade de

estimular a compreensão das ideias de aleatoriedade e variabilidade, até então inserida de maneira

bem superficial na questão 4, com o cálculo da média aritmética simples das duas primeiras notas.

Dando sequência, em vários momentos dos sorteios, registramos a fala do aluno com

deficiência visual do G3, conferindo como estavam suas notas, média aritmética simples, uma vez

que somava constantemente para encontrar o total das notas.

G3c: sete, quatorze, vinte e um, vinte e oito.

Depois, o mesmo aluno seguiu checando suas notas 10.

G3c: dez, vinte, trinta, quarenta.

Enquanto este aluno somava as notas 10, a pesquisadora sorteou sua próxima nota, que foi a

nota 7. Nesse momento, verificamos sua expressão de decepção.

A pesquisadora passou para o sorteio da nota do G4, a qual foi 10 e, nesse momento, o aluno

G3c disse:

G3c: Assim não vale! - coçou a cabeça. Supostamente, estava preocupado.

Verificamos na atitude desse aluno que percebeu a presença da variabilidade intuitiva dos

dados (GARCIA, 2008). Supostamente, conferia o total que correspondia à nota 7, pois, além de

ser a nota mais baixa, muitas delas poderiam dificultar sua classificação.

Page 89: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

89

Percebemos que não só estava controlando suas notas, mas também da equipe ao lado. Além

de verificar se cada sorteio alterava o desempenho de suas notas, estava competindo com os

colegas. Sempre utilizando cálculos mentais fáceis de realizar, vindo ao encontro de Batanero

(2001) quanto à Análise Exploratória de Dados.

Classificamos a postura desse aluno positiva, uma vez que vem ao encontro de Rumsey

(2002) quando ressalta a importância da consciência dos dados, a qual promove habilidades para

tratar com o problema. Além disso, parece desenvolver uma melhor compreensão de como

interpretar os resultados.

Não somente isto, supostamente, verificamos em sua atitude de preocupação indícios de

compreensão das ideias de aleatoriedade, percepção da incerteza quanto aos dados obtidos e,

ainda, que nem todos os resultados são igualmente prováveis ou previsíveis e que, segundo

Coutinho e Miguel (2007), a problematização envolvida na coleta atribui significado para os

resultados obtidos.

Verificamos que todos os alunos, cegos, baixa visão e videntes, sem exceção, estavam

acompanhando e participando da dinâmica simultaneamente, em pé de igualdade, assim podemos

classificar que atingimos a acessibilidade programática, uma vez que ficou visível o cumprimento

do programa da Declaração de Salamanca quando aponta à comunidade o atendimento a todas as

pessoas de modo igualitário, com qualidade, convívio mútuo, sem discriminação e com respeito às

diferenças individuais. Lembramos que o alcance dessa acessibilidade não estava prevista em

nossas análises a priori.

Verificamos também que cada sorteio de notas era motivo de vibração, decepção ou

questionamento – Figura 7, sendo esses dois últimos, presentes quando a maior nota era sorteada

para outra equipe. Classificamos que o tema e a dinâmica geraram certa competição entre eles.

Acreditamos que alcançamos a proposta de Batanero, Estepa e Godino (1991) quanto à

aprendizagem contextualizada com assunto de interesse do aluno.

Page 90: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

90

Figura 7. Alunos nos últimos sorteios de notas

Este fato também vem ao encontro das afirmações de Coimbra (2003) quanto à aprendizagem

dinâmica e competitiva, que desenvolve a participação de cada aluno e favorece a expressão

espontânea, inclusive oral, a autonomia e a independência, contrária à passividade em sala de aula.

Com a intenção de facilitar a comparação e percepção da variabilidade no conjunto de dados

com a utilização de várias representações de dados, uma das propostas de Batanero, Estepa e

Godino (1991), quanto à Análise Exploratória de Dados, finalizamos a primeira etapa com a

construção simultânea de quatro gráficos dot-plot distintos com a mesma variável (SILVA, 2007).

4.2.1 Segunda etapa

1º momento: Introdução dos conceitos de moda, mediana e média ponderada

Nesse momento, iniciamos a introdução dos conceitos de moda, mediana e por último média

ponderada. Vale lembrar que, em razão das quatro representações gráficas construídas,

trabalhamos com quatro valores para a moda, e assim sucessivamente para cada medida de

tendência central. Essas comparações fazem-se oportunas para o trabalho com variabilidade dos

dados, vindo ao encontro das afirmações de Novaes e Coutinho (2009), uma vez que afirmam que

está no cerne da Análise Exploratória de Dados o uso de mais de uma representação.

Page 91: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

91

A proposta dessa pesquisa trouxe à tona a oportunidade de desenvolver ideias intuitivas de

variabilidade, em acordo com o modelo epistemológico desenvolvido por Garfield e Ben-Zvi

(2005), citado por Silva (2007), pois proporcionou a existência de variação entre medidas

repetidas da mesma variável e observações de variáveis coletadas de diferentes indivíduos.

Em continuidade às atividades e introdução dos conceitos, pedimos para que os videntes e o

aluno com baixa visão verificassem as anotações do quadro de notas (Apêndice D), porém

constatamos que não as fizeram. Eles consideraram os sorteios igualmente aos alunos cegos

mediante o acompanhamento do sorteio de notas no simulador, pois além do aparelho possibilitar

a visualização individual de cada nota recebida, suas marcações sinalizam os seus valores. Talvez

a não utilização do quadro para anotações das notas também se explique devido o priorizar da

comunicação em sala de aula, ao invés da aula tradicional – lousa, papel e lápis (COIMBRA,

2003).

Em sequência pedimos para analisarem os gráficos construídos por seus grupos

individualmente, depois pedimos para analisarem o gráfico do G1 e mais a frente, iniciamos a

análise dos gráficos com exploração do conceito de moda.

Figura 8. Gráficos construídos por meio do sorteio aleatório seguido de estudos da moda de notas.

Fonte: autor

Page 92: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

92

Com isso, pensando na ação pedagógica como forma de intervenção, priorizamos a busca por

caminhos alternativos - substituição do computador -, para a observação dos gráficos dot-plot .

Fato que vem ao encontro de Moreira (2012) e Coimbra (2003) quando afirmam que tal ação é

alicerce que promove o desenvolvimento da criança e do adolescente com deficiência visual.

Considerando a inclusão do aluno com deficiência visual na construção de significados

estatísticos, tivemos por intenção utilizar a tecnologia, em nosso caso, por meio da Tecnologia

Assistiva que, segundo Correia (2013), proporciona a capacidade de busca de informações.

Com o propósito de proporcionar a observação, criação de suas próprias investigações, busca

de informações e comparação dos gráficos, escolhemos o construído pelo G1, para ser analisado

por todos os grupos comparando-o com o seu próprio. No momento em que o aluno com

deficiência visual do G3 começou a comparação, iniciou com a contagem das notas:

P: Este é o gráfico do grupo1.

G3c: Deixa eu “vê”..., “ó”!

G3c: Quatro 7.

G3c: Um, dois, três, quatro, cinco notas 8.

G3c: “Eitá”!!- riu - exclamou e riu quando tocou na primeira bolinha, de cima para baixo, que

correspondia à haste das notas 9.

Pudemos verificar por meio da filmagem que, supostamente, exclamou ao perceber que o G1

tinha recebido muitas notas 9. Talvez, também a admiração ocorreu em comparação ao seu

gráfico, pois o seu grupo (G3), tirou somente duas notas 9. Em sequência, terminou a análise

contando as quantidades de notas 10.

P: O que acha do gráfico deles? Foram bem.

G3c: Foi nada, só tiraram quatro 10 - comparando ao seu gráfico, pois seu grupo recebeu dez

notas 10.

Verificamos que as atividades orais (COIMBRA, 2003) contribuíram para a interação com a

atividade proposta, a autonomia e a independência para análise. Não somente isto, proporcionou a

“visão”, de maneira a não depender de terceiros para chegar a uma conclusão quanto à

comparação das notas do G1 com as suas.

Page 93: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

93

Mais uma vez constatamos a acessibilidade instrumental, pois presenciamos a compreensão e

a comparação entre as notas do G1 e G3, de maneira autônoma, sem ter que recorrer a terceiros.

Não somente isto, podemos afirmar que novamente proporcionamos a visão por meio do tato –

Tanti (2006) e Coimbra (2003), ou ainda, proporcionamos imagens mentais, mediante as

expressões usadas pelo aluno.

Demos sequência às atividades com as perguntas do Quadro 6 (p. 78). Nesse momento

verificamos que, apesar de autonomia no manuseio do simulador, os alunos G1c e G2c, pouco

participaram nos diálogos e interações que envolviam a sala. Eles pouco falavam, percebemos

que, supostamente, eram tímidos. Assim, seguimos com as perguntas:

P: O que é moda para vocês?

G4c: É celular.

G3c: Atualidade. – percebemos que usou este termo para expressar o que usam nos dias atuais.

P: Na Estatística não é muito diferente... – o aluno do G4v, levantou a mão.

P: Pode falar...

G4v: A moda é o que mais a gente usa.

Seguimos com a explicação do conceito da moda e, nesse momento, focamos nossa atenção

no gráfico do G1, uma vez que todos os grupos tiveram acesso a ele. Assim, fizemos a pergunta 2

do Quadro 6 de maneira geral para verificarmos se os alunos com deficiência visual tinham criado

imagens mentais deste.

Classificamos esse momento como importante para averiguarmos se conseguimos sanar uma

das dificuldades apresentada no trabalho de Lourenço (2014), quando descreve que, de maneira

geral, o aluno com deficiência visual tem dificuldade em desenhos e imagens de representações.

Salientamos que esta oportunidade não estava prevista em nossa análise a priori.

P: Qual é a moda do G1?

G3c: A moda é 9. Respondeu rapidamente.

Podemos afirmar que o aluno com deficiência visual do G3 formou imagens mentais, uma vez

que respondeu correta e prontamente à pergunta, dando-nos sinais de que memorizou – imagens

mentais - o gráfico do outro grupo, em acordo com os diálogos anteriores.

Page 94: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

94

Como os outros gráficos dot-plot não foram analisados por todas as equipes, pedimos para

que cada grupo falasse em voz alta qual era a moda de seu grupo. Além de aproveitarmos o

sentido da audição para promover imagens mentais de cada gráfico citado, tivemos por intenção

averiguar se cada grupo, individualmente, tinha atribuído significado para o conceito em

comparação ao resultado da moda (CORREIA, 2013), como segue:

P: Agora cada um vai falar qual foi a moda do seu grupo. E a sua moda G2, qual é?

G2: Nota 9.

P: E o G3?

G3: Nota 10.

P: E o G4?

G4: Nota 10.

Por esta medida proporcionar somente a observação, sem cálculos, os alunos não

apresentaram dificuldades em entendê-la. Verificamos que na construção dos gráficos dot-plot não

emergiu gráficos bimodal ou trimodal, previsto em nossa análise a priori, entretanto não deixamos

de abordá-los, deixando claro aos alunos que isso pode ocorrer. Acrescentamos que todos

verificaram que, se a classificação fosse estipulada conforme a moda, todos teriam classificado

para as Olimpíadas.

Passamos a explorar o conceito de mediana – Quadro 6: questão 3. Explicamos que o

simulador de gráficos dot-plot, é um facilitador para o cálculo da mediana, pois apesar do sorteio

acontecer aleatoriamente, ao montarmos o gráfico dot-plot, as notas ficaram acondicionadas em

ordem crescente. Informamos também que, para essa ordem, damos o nome de série de rol.

Seguimos com a explicação de como podemos visualizar a mediana no gráfico construído.

É importante destacar que no instante que ocorria essas explicações, verificamos em nossa

análise a posteriori, - no áudio do gravador do G4, informações importantes que nos passaram

despercebidas por os alunos terem falado baixo, somente entre eles. Enquanto a pesquisadora

segue falando para a turma toda sobre a mediana, eles conversam entre eles, como segue:

P: E a mediana...

G4c: É a do meio.

G4v: Como você sabe?

Page 95: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

95

G4c: Porque é.

Por essa informação surgir somente em nossas análises a posteriori, após a coleta de dados

para nossa pesquisa, não tivemos a oportunidade de averiguar com a turma quanto ao estudo sobre

mediana ou não. Verificamos que, no diálogo, o aluno G4v desconhecia o conceito de mediana.

Por outro lado, por a mediana representar o centro, ou ainda, o meio da distribuição dos dados,

consideramos que o aluno G4c, supostamente, já teve contato com esse conceito.

Este fator não estava previsto em nossa análise a priori, entendemos que, ou a turma teve

contato com o conteúdo no período de aula entre julho e agosto, após nosso primeiro contato,

como o suposto caso da média, ou o aluno G4c pesquisou por conta própria, uma vez que os

conteúdos que seriam trabalhados na pesquisa estavam explícitos em nosso Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) – Apêndice E, que foi disponibilizado para coleta de

assinatura dos responsáveis pelos alunos. Estas inquirições emergiram, pois necessitamos de

resultados mais próximos da veracidade dos fatos para nossas análises e resultados. Como esse

detalhe passou-nos despercebido no momento da aplicação, demos continuidade às atividades.

Verificamos que o simulador favoreceu o ensino e a aprendizagem desta primeira abordagem

para a mediana, previsto em nossa análise a priori, pois na construção do gráfico as notas ficaram

ordenadas em série do rol. Verificamos também que, por trabalharmos com um conjunto de

poucos dados – vinte notas, dados quantitativos discretos - com resto zero e organizadas de

maneira a facilitar o agrupamento em duas categorias com mesmo número de elementos, bastou

apenas a divisão da distribuição em duas partes com exatamente o mesmo número de elementos.

Para tanto, pedimos para contarem da direita para a esquerda e de baixo para cima,

respeitando a série de rol. Assim, pedimos para marcarem com o EVA o elemento entre a décima

nota e a décima primeira - a média aritmética entre esses dois valores, como segue:

Page 96: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

96

Figura 9. Estudo das notas medianas dos grupos.

Fonte: autor

Ressaltamos que calculamos a mediana sem a utilização de uma tabela de distribuição de

freqüência, com a exigência apenas da ordenação das notas. Os alunos mobilizaram

conhecimentos matemáticos simples, como a contagem e a divisão em duas partes com

exatamente o mesmo número de elementos.

Vale lembrar que, como se trata de uma primeira abordagem para a mediana, o uso da tabela

de distribuição de freqüência poderá ser incluída em estudo futuro como generalização de

estratégia construída, não explorada nessa pesquisa.

Verificamos que todos os alunos não tiveram dificuldades nessa instrução, entretanto

percebemos que não associaram os procedimentos no simulador com os resultados obtidos para a

medida em cada gráfico. Logo, sentimos a necessidade de iniciarmos todo o processo novamente,

associando os procedimentos com os cálculos das médias aritméticas dos dois termos, ou seja, a

soma do décimo e do décimo primeiro, dividindo-os por dois.

Com a associação dos procedimentos no simulador com os cálculos matemáticos percebemos

que proporcionamos indícios de significados aos resultados obtidos. Este fato veio ao encontro das

Page 97: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

97

afirmações de Gal (2002), quando alega que as etapas envolvidas no processo de resolução e a

compreensão do porquê utilizar os cálculos se complementam, como segue:

G4c: Já entendi... tem que colocar no meio. – mesmo aluno que definiu a mediana como o meio

da distribuição, ou seja, o valor central dessas notas.

Podemos aferir que esse aluno G4c deu indícios de significado para o conceito de mediana,

perante os procedimentos no simulador e cálculo matemático simples de realizar (BATANERO,

ESTEPA E GODINO, 1991; BATANERO, 2001).

Verificamos também que, com a explicação, no diálogo abaixo entre o aluno G4v e o grupo

G3, pudemos constatar o local onde gerou tais dúvidas.

G4v: É que confundi... – em diálogo com o G3 - ...você acha que é aqui e é aqui, né!? – apontando

para as notas 9 e 10 do G3, pois com tal procedimento o aluno ficou na dúvida onde deixar o

EVA, em cima da nota 9, ou embaixo da nota 10.

Ao observarmos os gráficos, os grupos G1, G2 e G4 tiveram as medianas 9, porém somente o

G3 obteve a mediana 9,5. Como o décimo termo correspondeu à nota 9 e o décimo primeiro à nota

10, a soma das duas notas, dividas por dois, resultou em um número racional. Tal resultado estava

previsto em nossa análise a priori, quanto à importância da escala de 0,5.

Como este grupo teve um resultado diferenciado, sentimos a necessidade de mostrá-lo para

todos os grupos. Deste modo, passamos o simulador com o gráfico construído em todos os grupos,

explicando-o como chegamos a tal resultado.

Todos os alunos cegos tatearam o gráfico, percorrendo todo o processo, da direita para a

esquerda e de cima para baixo, por meio de contagem, marcação do centro da distribuição com o

EVA e, após, conferindo o procedimento com cálculo do décimo termo mais o décimo primeiro,

dividido por dois, verificando o porquê do resultado com casas decimais.

G1c: Nossa!! – ao verificar a quantidade de notas 10 que o G3 recebeu.

Tivemos também por intenção, além de proporcionar o acesso ao gráfico do G3 para todos os

grupos, reforçar e atribuir sentido aos resultados, aliando os cálculos ao manuseio do simulador.

Page 98: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

98

Não somente isto, quisemos também que comparassem a mediana do G3 com suas medidas.

Acrescentamos que todos verificaram que, se a classificação fosse estipulada de acordo com a

mediana, todos se classificariam para as Olimpíadas.

Antes de iniciarmos os cálculos das médias dos grupos, registramos um dos diálogos gravados

entre o aluno vidente e o cego do G3:

G3v: Por enquanto estamos na frente. – referindo-se à moda 10 e a mediana 9,5, somente.

Salientamos que o termo “por enquanto”, usado pelo aluno, nos dá margem para pensarmos

na incerteza quanto à classificação, uma vez que ainda não tinham calculado a média – medida

determinada para classificação e, talvez, tal incerteza, deu-se pois, além de verificar que mesmo

com 50% da distribuição em notas 10, seu grupo tinha uma considerável quantidade de notas 7.

Demos sequência com o estudo da média e, partindo da definição de que é o ponto de

equilíbrio da distribuição, pedimos para organizarem suas notas e depois calcularem a média de

seus grupos. A partir de então, passamos a observar como eles iriam proceder nos cálculos.

Prevíamos em nossa análise a priori que utilizariam o soroban ou cubarítmo, porém isso não

ocorreu. Todos os grupos fizeram os cálculos manualmente, sendo que os alunos cegos utilizaram

cálculos mentais e os videntes e com baixa visão utilizaram papel e lápis, como seguem os

protocolos.

No momento em que pedimos para organizarem suas notas, tivemos por intenção verificar se

iniciariam os cálculos somando todas as notas ou se as agrupariam com indício da média

ponderada. Em acordo com os protocolos, podemos aferir que calcularam a média ponderada.

Verificamos que o aluno com baixa visão do G1iniciou a organização das notas (Figura 10),

porém utilizou de sinais de igualdade, entre o número quatro e sete, e assim sucessivamente, ao

invés do sinal de multiplicação. Supostamente, esse registro ocorreu devido ao termo usado

“organização das notas” pela pesquisadora.

Page 99: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

99

Enquanto o G1bx calculava, seu colega (G1c) pediu para ir ao banheiro, com isto iniciou os

cálculos sozinho. Logo depois, conversou com o G2v, que passou a ajudá-lo nos cálculos.

Salientamos que não conseguimos verificar exatamente o que conversaram, pois o gravador entre

esta dupla foi o que deu problema.

Figura 10. Protocolo do G1 - cálculo da média feito pelo aluno G1bx.

Quanto ao grupo G2, com os cálculos em andamento, enquanto o G2v ajudava o grupo ao

lado, o aluno G2c, apesar do soroban e cubarítmo proporcionarem independência no cálculo da

média, preferiu aguardar seu colega (G2v) – conforme verificado por meio da filmagem.

Supostamente, o G2c não fez cálculos mentais, aguardando o cálculo junto ao colega. Podemos

verificar que este grupo calculou a média ponderada corretamente.

Page 100: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

100

Figura 11. Protocolo do G2 - cálculo da média feito pelo aluno G2v.

Quanto ao G3 organizaram as notas (Figura 12) como segue. Verificamos, por meio da

gravação, que o G3c somava as notas – média simples, enquanto que o aluno vidente multiplicava

– média ponderada, como segue no diálogo:

G3c: Quatorze mais sete, vinte e um...

G3v: Sete vezes dois, quatorze.

G3v: Oito vezes dois...

G3c: Dezoito...não...

G3v: Oito mais oito é igual a dezesseis – simplificou para o colega.

Quanto à divisão pelo total das notas, ficaram na dúvida em como proceder. Lançamos

perguntas com o intuito de facilitar os cálculos.

P: Se lembram que no início fizemos o cálculo da média simples das duas primeiras notas? Como

nós fizemos? – responderam que dividiram por duas notas - E nesse cálculo aqui, como farão?

G3c: Divide por vinte.

Page 101: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

101

Figura 12. Protocolo do G3 - cálculo da média feito pelo aluno G3v.

Verificamos anteriormente que o aluno G3v usou o termo “por enquanto”, dando a nós

margem para entendermos como suposta incerteza quanto à classificação. Devido a isto, por o

grupo G3 receber 50% da distribuição em notas 10, esperávamos questionamentos quanto à média

de 8,80. Nesse caso, a média não ficou prejudicada significativamente quanto à sua representação,

mas a nota 7 tendeu a média para baixo, fato que discutiremos na próxima etapa com maior

profundidade.

Lembramos que este questionamento não veio à tona, e caso ocorresse dar-nos-ia a

oportunidade de explicarmos que, quando há valores muito altos ou muito baixos, estes

prejudicam a representação da média – outlier – e nesse caso é ideal o cálculo da mediana.

Quanto ao G4, o aluno com deficiência visual calculou mentalmente, enquanto o aluno

vidente seguiu com papel e lápis.

G4v: quatro vezes oito é vinte e oito?

G4c: Não. É trinta e dois.

G4v: Pode usar a calculadora? – perguntou para a pesquisadora.

P: Qual é sua dúvida? – verificando que estava com dificuldades no cálculo de divisão.

P: Qual o número que multiplicado por vinte está mais próximo de cento e setenta e cinco?

G4c: 8,75. Com certeza. – referindo-se ao cálculo mental que fez.

G4v: Mas tem que dar exato. – associando às notas como número inteiro.

P: Não necessariamente.

Verificamos que, apesar de utilizarmos uma escala com números racionais (0,5), por todas as

notas representarem números inteiros – na suposta reta numérica, o aluno G4v associou que o

Page 102: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

102

cálculo da média teria que apresentar resultado exato, assim como nas operações matemáticas de

adição, subtração e multiplicação. Apesar de não utilizarmos diferentes escalas de acordo a

Análise Exploratória de Dados, verificamos que esta atividade fez suscitar que, necessariamente, o

mesmo não ocorre na divisão.

Constatamos que, apesar de calcularem a média ponderada, o G4v apresentou dificuldades no

cálculo de multiplicação e divisão. Após o colega – G4c - apresentar o resultado, colocou-o no

quociente e, supostamente por ficar na dúvida, preferiu calcular a prova real. Podemos verificar no

protocolo (Figura 13) que apenas iniciou os cálculos – erroneamente - e, possivelmente, por sentir

dificuldades, preferir riscar, sem continuar o cálculo para conferir o resultado.

Figura 13. Protocolo do G4 - cálculo da média feito pelo aluno G4v.

Quanto ao cálculo mental rápido e exato do aluno G4c, supostamente, afirmamos que

acontece devido ao conjunto de dados baixo. Isto vem ao encontro das afirmações de Tanti (2006),

quando alega que são exímios na aritmética mental.

Após todos os cálculos das médias, verificamos que todas as equipes se classificaram para as

Olimpíadas. E para que todos acompanhassem os resultados, pedimos que falassem para os

colegas suas médias.

G1: Oito vírgula cinquenta e cinco (8,55)

G2: Oito vírgula seis (8,6)

G3: Oito vírgula oito (8,8)

Page 103: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

103

G4: Oito e setenta e cinco (8,75)

G4v: Nós ganhamos!! – referindo-se como melhor classificação entre as equipes.

G3c: Não. Nós ganhamos!

G4v: É sim... oito e setenta e cinco...de todas as médias a minha foi a maior.

P: Não!

G3c: Foi oito vírgula oito (8,8).

G4v: Então, nós ganhamos.

G2v: Então, é oito vírgula oitenta.

P: Diferença de cinco centésimos.

G3c: Já era, já era!!

G4v: Ah é!!

Na última fala da pesquisadora, houve um desequilíbrio entre os papéis de formadora e

pesquisadora, uma vez que interferiu no andamento da discussão diante da pronúncia do G4v. Em

seguida, ao verificarmos que na concepção do aluno 8,8 é menor que 8,75 e que 8,8 não é o

mesmo que 8,80, sentimos a necessidade de ordenarmos a classificação dos grupos:

P: Podemos verificar que o G3 ficou em primeiro lugar com 8,80, em segundo o G4 com 8,75, em

terceiro o G2 com 8,60 e em quarto lugar o G1 com 8,55.

Assim demos continuidade com perguntas do Quadro 6:

P: Por que as equipes se classificaram?

T: Porque ficou acima da média.

P: Como vocês calcularam a média? – todos descreveram os cálculos de acordo com a média

ponderada.

G4v: Multiplicamos tudo, somamos e depois dividimos...apesar que eu acho mais fácil a outra. –

referindo-se à média aritmética simples, vindo ao encontro das dificuldades apresentadas em

relação à multiplicação e divisão.

P: Você acha mais fácil somar uma a uma? Não é mais fácil multiplicar quatro vezes o sete, que é

igual a vinte e oito, do que sete, mais sete, mais sete, mais sete?

G4v: Ah, isso é!

Percebemos que o G4v, apesar de apresentar dificuldades nos cálculos de divisão e

multiplicação (Figura 13), pronunciou corretamente todo o processo para o cálculo da média

ponderada, apesar de preferir a média simples. Talvez essa preferência se explique devido à

dificuldade na multiplicação.

Seguimos com a pergunta 10 do Quadro 6 e o aluno G2v explicou todas as etapas envolvidas

até chegamos aos gráficos construídos. Enfatizamos a importância de entenderem todo o processo

Page 104: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

104

que envolve a coleta de dados até a construção dos gráficos, visando cidadãos não manipuláveis,

uma vez que encontram vários dados estatísticos na mídia.

Seguimos pedindo para que explicassem a diferença entre as medidas de tendência centrais

moda e média e em seguida entre a moda e mediana:

G4v: A moda é a que você mais recebeu. – referindo-se às notas.

O aluno G2v interferiu explicando o processo que fez para o cálculo da média e depois

finalizou dizendo:

G2v: A média é o ponto de equilíbrio.

Verificamos que ao se referirem à moda descreveram como a que mais receberam – referindo-

se às notas, similar à definição, que é a que mais se repete na distribuição. Quanto à média

também, definiram-na como sendo o ponto de equilíbrio da distribuição. Quanto à mediana

seguiram dizendo:

G4c: É o meio.

G4v: É a metade.

Os alunos do G3 acrescentaram com explicações dos esquemas e cálculos da mediana, tanto

no simulador, como da média aritmética para a divisão em duas partes com o mesmo número de

elementos da distribuição.

G3c: Contei até dez... – referindo-se à contagem das bolinhas no simulador quando calculou a

mediana.

P: Por que você contou até dez?

G3v: Porque tinham vinte competições.

P: Isso! E se fossem vinte e quatro competições?

G3c: Contaria doze. - referindo-se à divisão da distribuição em dois conjuntos com o mesmo

número de elementos.

Podemos afirmar que os alunos, além de calcularem a média, moda e mediana, souberam

formalizar e reproduzir verbalmente o que calcularam. Logo, mediante as definições atribuíram

Page 105: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

105

sentido aos cálculos, como é o caso do entendimento correto da média como ponto de equilíbrio

entre as notas e não como a maioria delas.

P: Que critério vocês acham mais vantajoso para classificação? A média ou a moda? E por quê?

G3c: A moda.

G4c: Dez. – referindo-se à moda como a nota mais alta do seu grupo.

P: Como vocês avaliam as notas de cada equipe?

G3v: Os primeiros foram os últimos. – referindo-se ao G1 que dentre os quatro grupos tirou a

menor nota.

Percebemos que o G3v percebeu a variabilidade das notas, associando-as com a ordem de

classificação, pois a média do G1 foi a menor delas.

G4v: O que importa é o espírito de...

G3c: Não, não.

G4v: O que importa é passar.

G2v: É agora você fala isso! – referindo-se à expressão do G4v depois que entendeu que havia

ficado em segundo lugar.

Os alunos ficaram cientes de que as médias dos grupos ficaram bem próximas após

colocarmos em ordem de classificação, respondendo à questão 15. Como todas as equipes se

classificaram não fizemos a pergunta 16.

4.2.1 Terceira etapa

1º momento: Análises dos gráficos.

Neste momento, analisamos as representações gráficas construídas com a intenção de validar

e fixar a compreensão sobre a variabilidade envolvida, cujo, em resposta à questão 1 do Quadro 7

(p. 80), verificamos que os alunos formalizaram os conceitos de média simples, ponderada, moda

e mediana, a partir dos gráficos construídos no simulador atribuindo significados aos cálculos. Em

sequência (Quadro 7: questão 2):

P: Vocês perceberam que os quatro gráficos ficaram diferentes?

T: Sim

Page 106: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

106

P: Sabem explicar o porquê deste ocorrido.

G3v: O rendimento de cada um foi diferente.

P: Alguém tem outra explicação? – todos consentiram a resposta do colega.

Pudemos verificar que perceberam a variabilidade entre as medidas. Aproveitamos para

reforçar que todos os grupos dependiam de um bom desempenho nas notas para a garantia de

classificação para as Olimpíadas, e que na Estatística sempre vai existir a incerteza e a

variabilidade nos dados, uma vez que estão relacionadas. E que a análise dos dados pode ser feita

somente após o término da coleta de dados para a leitura correta dos dados.

Não somente isto, com a mesma situação proposta, mesma competição em que se

encontraram, além das notas diferentes que cada equipe recebeu devido ao sorteio aleatório e

simultâneo das vinte competições, os quatro gráficos dot-plot ficaram diferentes.

P: Vocês criticam o método pelo qual o atleta foi avaliado para a classificação, em nosso caso a

média? – referindo-se à média como medida para classificação (Quadro 7: questão 3).

T: Não.

G2v: Se tirou nota baixa tem que se contentar.

Podemos inferir passividade em todos os grupos, mais explícito no aluno G2v diante dos

resultados. Esperávamos que essa pergunta suscitasse questionamentos quanto à média do G3 em

comparação às outras medidas desse mesmo grupo.

Com a intenção de fomentar a turma, a pergunta seguinte (questão 4) também atribuiria

possibilidades de respostas favoráveis à nossa pesquisa quanto aos significados para as medidas de

tendência central, uma vez que o gráfico construído pelo G3 favoreceu tal estudo. Esperávamos

que ao menos o G3 questionasse sua média de 8, 80 diante de 50% das notas 10 que receberam.

P: Sugerem outro método que favoreça a classificação de seu atleta e por quê? – pergunta feita

para a sala toda. – referindo-se à questão 4.

G4v: A moda é a que mais favoreceria o atleta.

G4c: É melhor a média mesmo, porque... – não concluiu devido a todos falarem ao mesmo tempo.

Exatamente nesta última fala, vale a pena fazer uma observação, pois diante da omissão na

fala do G4c, supostamente, dar-nos-ia uma resposta importante para a nossa pesquisa. Assim,

Page 107: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

107

verificamos que, agregados às gravações em vídeo e áudio, faltaram questionários individuais para

todos os alunos, e para alunos com deficiência visual poderiam usar a máquina de datilografia em

braille21

, possibilitando mais uma recurso para a análise a posteriori, quanto ao que assimilaram.

Verificamos que apesar de apresentarmos o gráfico construído pelo G3 para toda a turma

analisar, não conseguimos atribuir possibilidades de respostas que viriam ao encontro de nossas

expectativas implícitas nas questões 3 e 4 do Quadro 7.

Aferimos que nenhum dos grupos, inclusive o próprio, questionou os resultados que a

situação problema fez emergir. Neste caso, a média calculada ficou sutilmente discrepante em

relação aos 50% de notas 10 que receberam e esperávamos que observassem e questionassem o

porquê que a cada medida seu resultado foi diminuindo, pois este grupo apresentou como moda

nota 10, mediana nota 9,5 e média 8,80.

Supostamente, tal dificuldade poderia ser evitada com a visualização da média no simulador,

pois apenas a calculamos para a apreensão do seu resultado para comparação com as outras duas

medidas - moda e mediana, pois somente estas foram sinalizadas no simulador.

Para também sinalizarmos a média no simulador estudamos a possibilidade de aprimorar o

aparelho com marcações em relevo22

simulando uma régua graduada na superfície plana de

madeira, onde ficam as hastes (Figura 1). Em posse do resultado do cálculo da média os alunos

videntes e deficientes visuais fariam uso da placa em metal (item 3 da Figura 1) para marcarem a

medida com a fixação do imã (item 6). Fato este que vem ao encontro do trabalho de Manrique e

21 Máquina especial de datilografia com sete teclas. O toque de uma ou mais teclas simultaneamente produz a

combinação dos pontos em relevo que corresponde ao símbolo desejado, segundo Sociedade de Assistência aos Cegos

(SAC) <http://www.sac.org.br/APR_BR2.htm>.

22 Relevo está relacionado à técnica de produção de saliência em uma superfície plana que irá projetar a forma

delineada.

Page 108: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

108

Ferreira (2010), uma vez que a relação entre os pares possibilitou emergir a necessidade de

aprimoramento do aparelho.

Verificamos também que se tivéssemos mais tempo com a turma poderíamos trabalhar com

os conceitos das medidas separatrizes disponíveis para estudo no simulador de gráficos (item 2, 3,

5 e 6 da Figura 1) com o uso do gráfico box-plot , uma vez que este último tem um forte apelo

visório. E em nosso caso, a discrepância na média ficaria notória para os alunos, pois teriam

acesso à concentração e dispersão dos dados na distribuição, como explicitado no trabalho de

Garcia (2008) com a exploração do box-plot.

Vale salientar que o fator tempo gerou fortes implicações para que não trabalhássemos com

tais conceitos. E para amenizar possíveis lacunas, priorizamos o desenvolvimento de ideias

intuitivas de variabilidade (SILVA, 2007), nas quais priorizamos o bom planejamento de

atividades introdutórias com a existência de variação entre medidas repetidas da mesma variável e

com observações das variáveis coletadas de diferentes indivíduos, já previsto em nossa análise a

priori.

Devido a isto não invalidamos nossa pesquisa, pois verificamos que os alunos apresentaram

em vários momentos da pesquisa a primeira ideia de variabilidade, ou seja, viemos ao encontro do

trabalho de Silva (2007), uma vez que trabalhamos com quatro gráficos com a mesma variável,

que proporcionam o estudo da moda, média e mediana em cada um deles, assim como a

observação das variáveis coletadas dos diferentes grupos.

Por fim, no encerramento das atividades registramos diálogos entre os alunos, como seguem:

G1bx: No começo pensei que ia ser difícil!

G4c: Eu também!

G3v: É bem simples e divertido. “Né”? – reportando ao colega ao lado.

G4v: “Dá hora”!

Nestes diálogos verificamos que alcançamos as indicações de alguns autores quanto ao

ensino de conteúdos estatísticos com noções matemáticas muito elementares, sem ênfase em

fórmulas, afastando qualquer aversão à disciplina (BATANERO, 2001; GAL, 2002; TURIK,

Page 109: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

109

2010).

Verificamos também que o aluno G3v considerou as atividades divertidas, vindo ao encontro

de nosso trabalho quanto ao caráter lúdico dirigido, pois tivemos por intenção proporcionar uma

aprendizagem atraente e com entendimento.

Aferimos que atingimos a Acessibilidade metodológica, pois a inserção do simulador nas

atividades proporcionou a inexistência de barreiras no ensino e na aprendizagem de Estatística,

previstos neste trabalho com envolvimento de todos os alunos nas atividades.

Page 110: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

110

CONSIDERAÇÕES

Se queres ser cego, sê-lo-ás...se podes olhar, vê; se podes ver, repara.

José Saramago

(Ensaio sobre a cegueira)

A sensibilização quanto à inclusão de alunos com deficiência visual nas aulas de Estatística e a

construção de significados dos conteúdos que envolvem esta disciplina foi a alavanca para dar

início a este trabalho.

Podemos afirmar que proporcionamos resultados expressivos quanto à inclusão dos alunos

com deficiência visual envolvidos nesta pesquisa com implicação que apontam caminhos para o

ensino e a aprendizagem de Estatística para esses alunos.

Apresentamos a inclusão desses alunos com indícios de construção de significados para

variabilidade na distribuição dos dados. A palavra indícios procede devido ao pouco tempo com

os alunos, pois, devido a isto, priorizamos o planejamento de atividades introdutórias com a

existência de variação entre medidas repetidas da mesma variável e com observações das

variáveis coletadas de diferentes indivíduos.

Para tanto, como prevíamos, o tempo foi insuficiente para que os alunos alcançassem a

construção significativa dos conceitos envolvidos na pesquisa, fato que justifica a escolha da

variabilidade intuitiva em torno das medidas com atividades introdutórias. Verificamos que,

talvez, o mais adequado, devido o pouco tempo com a turma, seria trabalharmos apenas com a

mediana ou a média, sempre no gráfico de pontos.

Verificamos que, ao contrário da citação de alguns autores quanto ao tempo ser elemento

crítico e entrave para alunos com necessidades especiais, este fator, tempo, não prejudicou nossa

pesquisa na inclusão de alunos com deficiência visual, pois trabalhamos com esses alunos em

Page 111: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

111

tempo simultâneo aos videntes.

Assim consideramos que respondemos nossa questão de pesquisa que é “Como proporcionar

a inclusão de alunos com deficiência visual nas aulas de Estatística e iniciar a construção de

significados dos conteúdos de média, moda e mediana, com vistas à variabilidade intuitiva?”.

E como consequência afirmarmos que alcançamos nosso objetivo, pois ao longo da pesquisa

proporcionamos o diálogo entre a inclusão de alunos com deficiência visual com o ensino e

aprendizagem de Estatística com vistas na variabilidade dos dados de maneira introdutória e

intuitiva. Assim, apresentamos os resultados e implicações de nossa pesquisa.

Resultados e implicações

Percebemos que otimizamos o desenvolvimento das atividades frente à organização da sala

de aula, uma vez que favorecemos a proximidade e visibilidade entre os pares, e por

consequência, fatores importantes para a aprendizagem e inclusão dos alunos com deficiência

visual, evidenciados em nossa pesquisa.

Oportunizamos também a interação entre os alunos com atividades cooperativas, sem

preconceito e discriminação, com o aceite desses alunos no seio da turma, mediante as atividades

envolvendo o uso da Tecnologia Assistiva – simulador de gráficos.

Verificamos que a cooperação favorece a execução simultânea das atividades, tanto pelos

videntes como pelos alunos com deficiência visual, pois apesar da autonomia dos alunos cegos ao

tatearem o simulador, logo no início, na apresentação do simulador quando ficavam procurando

algo semelhante descrito pela pesquisadora no simulador, os videntes direcionavam as mãos dos

cegos para encontrar as peças descritas.

Com o priorizar das modalidades multissensoriais, audição e tato, em diálogo, em vários

momentos, verificamos que proporcionamos a visão para os alunos com deficiência visual por

meio do tato ao verbalizarem que estavam vendo, ou seja, proporcionamos imagens mentais,

Page 112: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

112

verbalizadas em dois alunos cegos – G3c e G4c. Quanto aos outros alunos não tivemos acesso aos

diálogos individuais, devido ao problema com o gravador, o que dificultou tal afirmação para

esses alunos- G1c e G2c.

Verificamos que os alunos cegos não apresentaram dificuldades nas atividades que

envolveram imagens de representação, uma vez que formaram imagens mentais dos gráficos por

meio do simulador ao responderem às perguntas pertinentes. Fato evidenciado na resposta do

aluno G3c, quanto à moda do G1, dando sinais de que memorizou o gráfico do outro grupo.

No que tange às seis acessibilidades, podemos afirmar que atingimos quatro delas, das quais

oferecem ao aluno o acesso e realização das tarefas concomitante ao vidente, favorecendo o

desenvolvimento da autonomia em suas tomadas de decisões e independência, como segue.

Assim, classificamos que atingimos a Acessibilidade atitudinal, pois proporcionamos a

inexistência de preconceito e discriminação, com colaboração entre os pares independente de

limitações, no nosso caso a visão.

Alcançamos a Acessibilidade instrumental, pois o simulador de gráficos como ferramenta de

estudo proporcionou a inexistência de barreiras em sua manipulação, no qual a visão poderia ser

um fator de empecilho. Os alunos não apresentaram dificuldades tanto no entendimento da

dinâmica instaurada como no manuseio do aparelho, que davam sentido aos sorteios de notas.

Não obstante a isso, verificamos que a comparação dos gráficos construídos dos grupos G1 e G3

no simulador ocorreu de maneira autônoma, sem ter que recorrer a terceiros.

Podemos classificar que também proporcionamos a Acessibilidade programática, uma vez

que cumprimos com o programa da Declaração de Salamanca quanto ao atendimento a todas as

pessoas de modo igualitário, quando todos os alunos, com deficiência visual e videntes, sem

exceção, acompanharam e participaram das atividades simultaneamente, em pé de igualdade.

Verificamos também que atingimos a Acessibilidade metodológica, pois a inserção do

simulador nas atividades proporcionou a inexistência de barreiras no ensino e na aprendizagem de

Page 113: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

113

Estatística, previstos neste trabalho com envolvimento de todos os alunos nas atividades.

Assim, como explicitado a respeito da eugenia na história, cujo, em primeiro momento,

vários povos compartilharam de uma mesma situação de segregação quanto ao conceito de

normalidade, em contra partida, podemos afirmar que atendemos aos alunos com deficiência

visual de modo igualitário, com qualidade, com convívio mútuo, sem discriminação e com

respeito às diferenças individuais.

Quanto à Análise Exploratória de Dados, segundo Batanero, Estepa e Godino (1991), o tema

proposto, despertou interesse pelos alunos, mesmo que não levantado por eles, pois verificamos

que a cada sorteio de notas, era motivo de vibração, decepção ou questionamento, suscitando uma

certa competição entre eles, vindo ao encontro de nossa proposta quanto à filosofia Análise

Exploratória de Dados.

As tarefas com ferramentas matemáticas simples como meio de descobrir as informações

ocultas também estavam presentes, pois ficou explícito no aluno G3c, o qual em todo tempo fazia

cálculos mentais para checar tanto suas notas como do G4. Não somente isto, tais cálculos

propiciaram o indícios de compreensão das ideias de aleatoriedade, percepção da incerteza

presentes na Estatística.

Salientamos que, por as atividades envolverem um conjunto de dados com número baixo de

elementos, isto propiciou cálculos matemáticos elementares. E apesar do G4v apresentar

dificuldades em relação aos cálculos de divisão, multiplicação e ordem quando envolvem

números decimais, o mesmo não ocorreu com o aluno G4c, o qual sempre verbalizava seus

cálculos mentais de maneira rápida e precisa.

Verificamos também que, apesar de não trabalharmos com diferentes escalas – utilizarmos a

mesma para todos os gráficos, aferimos que o aluno G4v confundiu a escala de meio com a de

um, uma vez que as notas envolvidas eram números inteiros e não racionais, daí surgiu a ideia de

que o cálculo da média teria que apresentar resultado com número inteiro, assim como nas

operações matemáticas de adição, subtração e multiplicação. Apesar de não utilizarmos diferentes

Page 114: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

114

escalas de acordo a Análise Exploratória de Dados, verificamos que esta atividade fez suscitar

que, necessariamente, o mesmo não ocorre na divisão.

Podemos afirmar que os alunos formalizaram e reproduziram verbalmente o que calcularam,

logo, podemos deduzir que atribuíram sentido aos cálculos.

Em acordo com a Análise Exploratória de Dados, com a mesma atividade trabalhamos com

quatro gráficos distintos ao mesmo tempo, o que facilitou a comparação e percepção da

variabilidade no conjunto de dados, mesmo que de maneira introdutória e intuitiva, uma vez que o

cerne da análise está no uso de mais de uma representação.

Não somente isto, trabalhamos também com quatro medidas para a moda, quatro para a

mediana e quatro para a média, o que trouxe à tona a existência de variação entre medidas

repetidas da mesma variável e observação de variáveis coletadas de diferentes indivíduos,

oportunizando o desenvolvimento de ideias intuitivas de variabilidade.

Constatamos que algumas questões também fizeram emergir indícios de variabilidade na

distribuição das notas desde seu início. Ficou explícita em vários momentos a incerteza quanto à

classificação ou não, pois com a variação do gráfico, mediante o sorteio de notas, os alunos

podiam traduzir os dados.

Verificamos que todos perceberam que a classificação dependeria das notas, as quais

poderiam sofrer variação em decorrência do sorteio. Este fato ficou mais explícito no aluno G3c,

pois a todo o momento conferia sua distribuição, principalmente quando recebia notas mais

baixas, como é o caso da nota 7, pois muitas delas poderia comprometer sua classificação.

Embora os resultados apresentem indícios favoráveis de percepção da variabilidade envolvida

nas medidas de tendência central, aferimos que a introdução das medidas separatrizes e gráfico

box-plot, ambos disponíveis para o estudo no simulador , suscitaria questionamentos sobre o

porquê da média sutilmente discrepante do G3, sendo este questionamento tão importante para dar

significados às medidas de tendência central.

Page 115: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

115

Possivelmente, tal percepção poderia ocorrer se a média também fosse visualizada no

simulador, assim como a moda e a mediana, pois apenas a calculamos para a apreensão do seu

resultado e comparação com as outras duas medidas. Entretanto, já estudamos a possibilidade de

aprimorar o simulador com marcações em relevo – régua graduada – na superfície onde ficam as

hastes.

No entanto, estes fatores não invalidam nossa pesquisa, uma vez que a construção de

significados em conteúdos estatísticos demanda tempo devido à complexidade dos conceitos que

envolvem a disciplina, já previsto em nosso trabalho. E devido a isto, priorizamos o

desenvolvimento de ideias intuitiva de variabilidade, com atividades introdutórias, prevendo que

após esse ensino elementar ocorra seu fortalecimento e expansão no decorrer da Educação Básica

(NOVAES, 2011).

Apesar do objetivo do nosso trabalho priorizar o diálogo entre a inclusão de alunos com

deficiência visual com o ensino e aprendizagem de Estatística com vistas na variabilidade dos

dados de maneira introdutória e intuitiva, verificamos que também colaboramos para que o mesmo

ocorresse com os videntes.

Verificamos que deveríamos agregar à pesquisa questionários individuais, nos quais os alunos

cegos usariam a máquina de datilografia em braille, dando-nos acesso ao que assimilaram, pois no

caso de tumultuo nas falas, o que impossibilita o entendimento dos diálogos, seria mais uma

recurso para registro e análise a posteriori.

Assim, frente ao fato do pouco tempo para atribuição de significados efetivos para a

variabilidade na distribuição dos dados, e a possibilidade que o simulador de gráficos permite para

o estudo das medidas separatrizes no gráfico box-plot, provoca-nos para a continuidade desta

pesquisa.

Page 116: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

116

REFERÊNCIAS

ALMOULOUD, S. A. Fundamentos da didática da Matemática. Curitiba: Ed. UFPR, 2007. 218p.

BATANERO, C. Didáctica de La Estadística. Grupo de Educación Estadística Universidad de

Granada. Espanha: Servicio de Reprografia de la Facultad de Ciencias, 2001. 210p. Disponível

em: <http://www.ugr.es/~batanero/pages/publicaciones.html>. Acesso em: out. 2013.

BATANERO, C.; ESTEPA, A.; GODINO, J. D. Análisis Exploratorio de Datos: sus Posibilidades

em la Enseñanza Secundaria. Suma, n. 9, pp. 25-31, 1991. Disponível em: <

http://centralvirtual.webclic.es/documentos_ampliar.php?id_documento=36>. Acesso em: 10

out.2013.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros

Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998. 148p.

__________. Ministério da Educação. Secretaria da Educação. Parâmetros Curriculares

Nacionais (Ensino Médio). Brasília. 2000, 109p. Disponível em:<

http://portal.mec.gov.br/seb/arquivo/pdf/blegais.pdf>. Acesso em: 13 mai. 2014.

__________. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Grafia Braille para a

Língua Portuguesa. Brasília SEESP, 2006. 106p.

__________. Secretaria de Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da

Pessoa com Deficiência. História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil.

Brasília. 2010, 443p.

CAMPOS, C. R.; WODEWOTZKI, M. L.; JACOBINI, O. R.. Educação Estatística: Teoria e

Prática em ambientes de modelagem matemática. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. 144p.

(Coleção Tendência em Educação Matemática).

CHANCE, B. L. Components of statistical thinking and implications for instruction and

assessment. Journal of Statistics Education, v. 10, n. 3, 2002. Disponível em :<

http://www.amstat.org/publications/jse/v10n3/chance.html>. Acesso em: 15 mai. 2014.

COIMBRA, I. D. A Inclusão do portador de deficiência visual na escola regular. Salvador:

EDUBRA, 2003. 240p.

CORREIA, L.M. Inclusão e Necessidades Educativas Especiais: Um guia para educadores e

professores. Colecção NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS. 2ª edição. Portugal: Porto

Editora, 2013. 192p.

Page 117: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

117

COUTINHO C. Q. S.; MIGUEL, M. I. R.. Análise Exploratória de Dados: Um Estudo

Diagnóstico sobre Concepções de Professores. GT: Educação Matemática/ n.19, 2007, 18f.

Disponível em: < www.anped.org.br>. Acesso em: 28 nov. 2011.

CRESWELL, J. W. Projeto de Pesquisa: métodos qualitativos, quantitativo e misto. 3º ed. Porto

Alegre: Artmed, 2010. 296p.

DELMAS, R. C. Statistical Literacy, Reasoning, and Learning: A Commentary. Journal of Statistics

Education, vol.10, nº3, 2002. Disponível em:<

http://www.amstat.org/publications/jse/v10n3/delmas_discussion.html>. Acesso em: 09 mai. 2014.

FEITOSA, S. F. Pluralismo Moral e Direito à Vida: Apontamentos Bioéticos sobre a prática do

infanticídio em comunidades Indígenas no Brasil. 2010. 123f. Dissertação de Mestrado em

Ciências da Saúde. Universidade de Brasília – UNB, Brasília. 2010.

FERNANDES,S. H. A. A. & HEALY, L. A Inclusão de Alunos Cegos nas Aulas de Matemática:

explorando Área, Perímetro e Volume através do Tato. Boletim de Educação Matemática-

BOLEMA, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,vol. 23, núm. 37, pp. 1111-

1135. 2010.

FERREIRA, L. M. S. A atitude dos professores em relação à inclusão de alunos com deficiência

visual na escola e na sala de aula. 2012. 78f. Dissertação de Mestrado, Universidade Técnica de

Lisboa Faculdade de Motricidade Humana, Lisboa. 2012.

GAL, I. Conocimentos básicos de estatística em adultos: significados, componentes,

responsabilidades. In International Statistical Review, 70(1), pp. 1-25, 2002.

GARCIA, F. M. A ideia de variabilidade abordada no 8º ano do ensino fundamental. 2008. 110f.

Dissertação de Mestrado Profissional em Ensino de Matemática. PUC/SP, São Paulo. 2008.

GARFIELD, J. B. "The Statistical Reasoning Assessment: Development and Validation of a

Research Tool," in: Proceedings of the Fifth International Conference on Teaching Statistics:

ICOTS5. Mendoza/ Voorburg: International Statistical Institute, 1998. pp. 781-786. Disponível

em:< http://www.stat.auckland.ac.nz/~iase/publications/2/Topic6u.pdf>. Acesso em: 15 mai 2014.

JAMES, W. A origem do Povo Espartano. Publicado em 27 de janeiro de 2011. Disponível em:

<http://turmac-historia-parfor-unifap.blogspot.com.br/2011/01/origem-do-povo-espartano.html>.

Acesso em: 02 mai. 2014.

LEMOS, M. P. F. O desenvolvimento profissional de professores de 1º ao 5º ano do Ensino

Fundamental em um processo de Formação para o ensino e a aprendizagem das Medidas de

Tendência Central, 2011. 194f. Doutorado em Educação Matemática. PUC/SP, São Paulo. 2011.

Page 118: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

118

LOBO, L. F. (n. d.). Movimento Eugênico: Tribunal de Todos os Desvios. Disponível em:

<http://www.slab.uff.br/images/Aqruivos/textos_sti/Lilia%20Lobo/texto31.pdf>. Acesso em: 02

mai. 2014.

LOURENÇO, L. R. A Inclusão do Deficiente Visual e a Matemática Escolar: um estudo de caso

etnográfico numa escola do ABC paulista. 2014. 114f. Dissertação de Mestrado. Universidade

Federal do ABC, São Paulo. 2014.

MANRIQUE, A. L. Desafios para a Educação Inclusiva: Pensando a formação de Professores

sobre os processos de domínio da Matemática nas séries iniciais da Educação Básica. Projeto de

Pesquisa: Edital 38/2010. Observatório da Educação. Brasília: INEP/CAPES.

MANRIQUE, A. L.; FERREIRA, G. L. Mediadores e mediação: A inclusão em aulas de

Matemática. Revista Contrapontos – Eletrônica. Vol. 10, n. 1, pp. 07-13/ jan-abr, 2010.

Disponível em: <http://www6.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/2110/1550>. Acesso em:

mai. 2013.

MIGUEL, M. I. R.; COUTINHO, C. Q. S. Uma Reflexão sobre o Conceito de Mediana e Quartis.

Trabalho apresentado no 16º Cole,2007, 10f, UNICAMP, São Paulo.

MOREIRA, G. E. Representações Sociais de Professoras e Professores que ensinam Matemática

sobre o fenômeno da Deficiência. 2012. 202f. Tese de Doutorado em Educação Matemática,

PUC/SP, São Paulo. 2012.

MOREIRA, G. E.; MANRIQUE, A. L. Challenges in Inclusive Mathematics Education:

Representations by Professionals Who Teach Mathematics to Students with Disabilities. Creative

Education, vol.5, pp. 470-483. 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.4236/ce.2014.57056>.

Acesso em mai.2014.

MORENO, M. M. B. Ensino e aprendizagem de Estatística com ênfase na variabilidade: um

estudo com alunos de um curso de Licenciatura em Matemática. 2010. 156f. Dissertação de

Mestrado Profissional em Ensino da Matemática. PUC, São Paulo. 2010.

NEVES, J. L. Pesquisa qualitativa: características, usos e possibilidades. Caderno de Pesquisas

em Administração, São Paulo, v. 1, nº 3, pp. 1-5, 2ºsem./1996. Disponível em

<http://www.ead.fea.usp.br/cad-pesq/arquivos/C03-art06.pdf>. Acesso em: out. 2014.

NOVAES, D. V. Concepções de professores da Educação Básica sobre variabilidade estatística,

2011, 205f. Doutorado em Educação Matemática, PUC/SP, São Paulo. 2011

NOVAES, D. V.; COUTINHO, C. Q. S. Estatística para educação profissional. São Paulo: Atlas,

2009. 200p.

Page 119: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

119

RUMSEY, D. J. Statistical Literacy as a Goal for Introductory Statistics Courses. Journal of

Statistics Education, v. 10, n. 3, 2002. Disponível em:

<http://www.amstat.org/publications/jse/v10n3/rumsey2.html>. Acesso em: 15 mai. 2014.

SASSAKI, R. K. Processos de empregabilidade de pessoas com deficiência. Revista Nacional de

Tecnologia Assistiva. Rio de Janeiro, nº 2, p.5-13, 2010.

SILVA, C. B. Pensamento Estatístico e Raciocínio sobre variação: Um estudo com professores de

Matemática. 2007. 355f. Tese de Doutorado em Educação Matemática, PUC/SP, São Paulo. 2007.

TANTI, M. Teaching mathematics to a blind student: A case study. Unpublished Master In

Education dissertation, University of Exeter, UK. 2006. Disponível em: <

http://people.exeter.ac.uk/PErnest/pome20/MariellaTantiTeachingMathematicstoaBlindStudent-

ACase%20Study.pdf>. Acesso em: out.2014.

TURIK, C. Análise de atitudes de alunos universitários em relação à Estatística por meio da

Teoria da Resposta ao Item (TRI). 2010. 81f. Dissertação de Mestrado em Educação em Ciências

e Matemática, PUC/RS, Rio Grande do Sul. 2010.

UNESCO. The Salamanca Statement. World Conference on Special Needs Education: Access and

Quality. Salamanca, Spain, 7-10 June 1994, pp. 1-111. Disponível em:

http://unesdoc.unesco.org/images/0011/001107/110753eo.pdf.. Acesso em: 15 mai. 2014.

VITA, A.C. Análise Instrumental de uma maquete tátil para a aprendizagem de Probabilidade para

alunos Cegos. 2012. 240f. Tese de Doutorado em Educação Matemática, PUC/SP, São Paulo.

2012.

Page 120: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

120

APÊNDICES

APÊNDICE A

Roteiro de perguntas da primeira etapa.

ROTEIRO DE PERGUNTAS

OBJETIVOS ESPECÍFICOS QUESTÕES

Apresentar o funcionamento do simulador para

os alunos, inclusive com deficiência visual para

que se familiarizem com o aparelho por meio

do tato.

Deixar clara a dinâmica que ocorrerá com

sorteio de notas de cada equipe, simulando

cada competição, até a vigésima e última.

1) Alguma dúvida sobre o funcionamento do

aparelho?

2) Alguma dúvida sobre as regras de nossa

dinâmica?

3) Têm dúvidas sobre as notas de 7 a 10 e suas

respectivas marcações?

Estimular o cálculo de média simples com a

intenção de prepará-los para, ao final, terem

contato com a média ponderada de maneira

intuitiva, sem introdução de fórmula (o faremos

somente nos primeiros sorteios).

4) Se fossem duas competições, somente, nosso

atleta se classificaria? Vamos verificar! Como

nosso atleta precisa da média 8,5 para se

classificar, qual é a média dessas duas

competições?

Page 121: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

121

Estimular a avaliação do processo para

classificação, interpretação e tradução dos

dados.

5) Com três competições a média diminuiu ou

aumentou?

6) E na quarta competição, seu atleta

apresentou desempenho na nota para aumentar

a média ?

Desenvolver e estimular a compreensão das

ideias de aleatoriedade – incerteza.

7) Por quê?

8) Por enquanto seu atleta tem chance de

classificação? Tem que melhorar as notas?

Page 122: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

122

APÊNDICE B

Roteiro de perguntas da segunda etapa.

ROTEIRO DE PERGUNTAS

OBJETIVOS ESPECÍFICOS QUESTÕES

Verificar a leitura, identificação e interpretação

do gráfico.

1) O que é moda para vocês?

2) Olhando para os gráficos, podem informar

qual é a moda de notas do atleta?

Apresentar a introdução dos princípios para

calcular a mediana.

3) Podemos verificar que, apesar do sorteio de

notas acontecer aleatoriamente, ao

montarmos o gráfico, elas ficaram em

ordem crescente. Para esta ordem, damos o

nome de série de rol. Para calcularmos a

mediana, teremos que dividir o conjunto de

dados em dois, com exatamente o mesmo

número de elementos para marcarmos com

o EVA vermelho. Qual o valor que

encontraram? Logo, o valor encontrado é a

mediana.

4) Qual é a nota mediana de seu atleta?

Observar o tipo de cálculo resolvido da média

simples ou da média ponderada, uma vez que

esta última facilitará o cálculo por envolver

5) Calculem a média.

6) Seu atleta se classificou. Como explicam

esse ocorrido?

Page 123: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

123

vinte notas.

Pretende-se que o aluno explique o processo

que utilizou para chegar ao resultado.

7) Como vocês calcularam a média?

8) (Para os que não calcularem a ponderada).

Tem outra maneira de calcular esta média?

Tem uma forma mais simples e rápida?

9) Vocês não acham mais rápido e fácil se

multiplicarmos as notas por suas

quantidades – exemplificar, ao invés de

somar uma a uma?

Verificar se o aluno iniciou o desenvolvimento

da variabilidade entre as medidas e suas

diferenças.

10) Quais as etapas envolvidas para

chegarmos nestes gráficos? – ora

construídos com o sorteio aleatório de

notas.

11) Qual a diferença entre as medidas centrais

moda e média?

12) E a diferença entre moda e mediana.

13) Vocês acham que poderíamos considerar

este critério de avaliação, no caso a média,

ou seria interessante a moda? Por quê?

Verificar se os alunos percebem a variabilidade

existente, associando as notas com a ordem de

classificação.

14) Como vocês avaliam as notas dos atletas de

cada equipe, tanto os que se classificaram,

como os que não?

15) Qual atleta teve a maior média? Podemos

considerar que esse atleta tem maiores

chances de medalhas? Justifique.

16) (se houver algum que não se classificou)

Por que não se classificou? – verificar a

distribuição das notas.

Page 124: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

124

APÊNDICE C

Roteiro de perguntas da terceira etapa.

ROTEIRO DE PERGUNTAS

OBJETIVOS ESPECÍFICOS QUESTÕES

Explicar todo o processo desde o início até

chegar na análise dos gráficos e o porquê.

1) Descreva os gráficos e como foram

construídos. A sua construção nos

permite verificar se o atleta se

classificou ou não? Por quê?

Incutir a percepção de incerteza (saber que nem

todos os resultados são igualmente prováveis

ou previsíveis), que os levarão a explicação e

deduções acerca do resultado.

2) Vocês perceberam que os quatro

gráficos ficaram diferentes. Sabem

explicar o porquê deste ocorrido?

Avaliar os resultados e dar sugestão de outro

método que favoreça a classificação, que não a

média.

3) Criticam o método pelo qual o atleta foi

avaliado para sua classificação?

4) Sugerem outro método que favoreceria

a classificação de seu atleta? Por quê?

Page 125: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

125

APÊNDICE D

Quadro para anotações das notas sorteadas.

NOME DA EQUIPE/ATLETA:

COMPETIÇÕES NOTA

10ª

11ª

12ª

13ª

14ª

15ª

16ª

17ª

18ª

19ª

20ª

TOTAL DE

NOTAS

MÉDIA

MODA

MEDIANA

Page 126: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

126

APÊNDICE E

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Eu, Rita de Cássia Célio Pasquarelli, RG 20.044.200-4, CPF: 116.598.108-41, declaro que sou

responsável pela pesquisa “O Ensino e Aprendizagem de Estatística para alunos do 9º ano com ou sem

deficiência visual no simulador de gráficos dot-plot e box-plot”. Esta pesquisa tem por objetivo a

construção de significados, quanto aos conceitos Estatísticos, por alunos com ou sem deficiência visual, em

sala de aula.

Para sua realização, será feito um trabalho com os conceitos de média, mediana e moda, com

alunos do 9º ano. Visando a inclusão do aluno com deficiência visual, esta pesquisa ocorrerá, juntamente

com os alunos videntes, por meio de uma sequência didática contemplando a Análise Exploratória de

Dados, a construção de gráficos e suas análises. Na sequência didática, simularemos a competição para as

Olimpíadas entre as equipes montadas durante a aula. Cada equipe, que terá um nome de um atleta, fará

uso de um simulador de gráficos. A professora irá sortear uma nota que corresponderá à avaliação do

desempenho do atleta/equipe. Após a coleta de notas será feita a montagem do gráfico Dot-plot, também

conhecido como gráfico de pontos, por meio do simulador.

Não estão previstos riscos ou desconfortos na aplicação da sequência didática, uma vez que os

conceitos Estatísticos serão introduzidos de maneira lúdica e concreta por meio de Análise Exploratória de

dados. Esperamos proporcionar a construção de significados de conteúdos Estatísticos em alunos com ou

sem deficiência visual, caracterizando tais significados como benéficos.

Durante todo o período da pesquisa o participante e seu responsável terão o direito de tirar qualquer dúvida

ou pedir qualquer outro esclarecimento, bastando para isso entrar em contato com a pesquisadora,

utilizando os telefones ou email disponibilizados, ou com o Conselho de Ética em Pesquisa da PUC/SP.

O participante e seu responsável têm o direito garantido de não aceitar participar ou de retirar sua

permissão, a qualquer momento, sem nenhum tipo de prejuízo ou reparação, pela sua decisão.

As informações desta pesquisa serão confidenciais, e serão divulgadas apenas em eventos ou

publicações científicas, não havendo identificação dos voluntários, a não ser entre os responsáveis pelo

estudo, sendo assegurado o sigilo sobre sua participação com o uso de nomes fictícios. Serão utilizadas

gravações, porém também garantimos o sigilo.

Não constam gastos para os participantes e seus responsáveis na pesquisa, caso ocorram serão

assumidos pela pesquisadora. Também fica garantida a indenização em casos de danos, comprovadamente

decorrentes da participação na pesquisa, conforme decisão judicial ou extra-judicial. Este documento está

em duas vias, sendo uma pertencente ao participante voluntário ou representante legal e a outra arquivada

com a pesquisadora.

Page 127: Relatório de Bolsista - CAPES de Cassia... · Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de

127

CONVITE

O seu filho, que você é responsável, está convidado a participar do projeto de pesquisa “O Ensino e

Aprendizagem de Estatística para alunos do 9º ano com ou sem deficiência visual no simulador de gráficos

dot-plot e box-plot”. O documento anexo, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), contém

todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos realizando. A colaboração do seu filho neste

estudo será de grande importância, mas caso desista de participar a qualquer momento poderá fazê-lo sem

qualquer prejuízo ou reparação por sua decisão.

AUTORIZAÇÃO

Eu,__________________________________________________________________, residente e

domiciliado na Rua

______________________________________________________________________________nº_____,

portador da Cédula de identidade, RG _______________, inscrito no CPF ____________________,

responsável pelo menor _______________________________________________________, concordo, de

livre e espontânea vontade, em sua participação como voluntário no estudo “O Ensino e Aprendizagem de

Estatística para alunos do 9º ano com ou sem deficiência visual no simulador de gráficos dot-plot e box-

plot”. Confirmo a leitura do documento TCLE, bem como todos os eventuais esclarecimentos quanto às

dúvidas por mim apresentadas.

São Paulo, ______ de __________________ de _______

Assinatura do responsável legal: _______________________________

Assinatura Pesquisador Responsável: ________________________________________

Contato do Pesquisador Tel.: (11) 25243529 – (11) 98041 9558 – E-mail: [email protected]