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UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ UNOCHAPECÓ ÁREA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM COMPONENTE CURRICULAR: NÚCLEO 3 - CICLO DA VIDA NO CONTEXTO PROFISSIONAL PROFESSORAS: DEBORAH CRISTINA AMORIM, LUCINEIA FERRAZ, MAIRA TELLECHEA DA SILVA, MARCIA DE SOUZA, TERESINHA RITA BOUFLEUER, ACADÊMICAS: HELLEN CAROLINA BARELLA, JUCÉLIA LONDERO CARON, MAIARA LUSSANI, MARIANA MENDES, THAYLINE CARDOSO. RELATÓRIO DA VISITA A SANTO ANGELO E SÃO MIGUEL DAS MISSÕES Introdução No dia 13 de setembro de 2013, a turma da Segunda Fase de Enfermagem da Universidade Comunitária da Região de Chapecó UNOCHAPECÓ, se encontrou em frente a universidade aproximadamente as 00h00min, saindo do local por volta das 00h30min em direção à Santo Ângelo, chegando lá as 5h30min, acompanhados da professora Maira Tellechêa da Silva, a fim de conhecer a realidade dos povos indígenas no periodo das reduções e a partir disso: Desenvolver ações de cuidado à saúde de indivíduos, famílias e grupos sociais nos níveis de promoção, manutenção e recuperação da saúde, considerando as especificidades regionais de saúde, dos diferentes grupos sociais e dos distintos processos de vida, saúde, trabalho e adoecimento. (PLANO DE ENSINO DO CURSO DE ENFERMAGEM, 2013) Santo Ângelo Chegando na cidade de Santo Ângelo, tomamos café e ficamos aguardando em um posto de gasolina, até as 8h00min para encontrarmos com a guia turística e pedagoga Marisa Salete da Costa, na Praça Pinheiro Machado de Santo Ângelo, que nos acompanhou durante o primeiro dia de visitação. A praça é localizada no centro da cidade, com grandes áreas verdes e podiam ser observadas esculturas feitas pelos indígenas. Logo na entrada da praça havia um portal

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Page 1: Relatório das Acadêmicas da Segunda Fase de Enfermagem sobre a Visita a São Miguel das Missões - RS e Santo Ângelo - RS

UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ – UNOCHAPECÓ

ÁREA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE ENFERMAGEM

COMPONENTE CURRICULAR: NÚCLEO 3 - CICLO DA VIDA NO CONTEXTO

PROFISSIONAL

PROFESSORAS: DEBORAH CRISTINA AMORIM, LUCINEIA FERRAZ, MAIRA

TELLECHEA DA SILVA, MARCIA DE SOUZA, TERESINHA RITA BOUFLEUER,

ACADÊMICAS: HELLEN CAROLINA BARELLA, JUCÉLIA LONDERO CARON,

MAIARA LUSSANI, MARIANA MENDES, THAYLINE CARDOSO.

RELATÓRIO DA VISITA A SANTO ANGELO E SÃO MIGUEL DAS

MISSÕES

Introdução

No dia 13 de setembro de 2013, a turma da Segunda Fase de Enfermagem da

Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ, se encontrou em

frente a universidade aproximadamente as 00h00min, saindo do local por volta das

00h30min em direção à Santo Ângelo, chegando lá as 5h30min, acompanhados da

professora Maira Tellechêa da Silva, a fim de conhecer a realidade dos povos indígenas

no periodo das reduções e a partir disso:

Desenvolver ações de cuidado à saúde de indivíduos, famílias e grupos

sociais nos níveis de promoção, manutenção e recuperação da saúde,

considerando as especificidades regionais de saúde, dos diferentes grupos

sociais e dos distintos processos de vida, saúde, trabalho e adoecimento.

(PLANO DE ENSINO DO CURSO DE ENFERMAGEM, 2013)

Santo Ângelo

Chegando na cidade de Santo Ângelo, tomamos café e ficamos aguardando em

um posto de gasolina, até as 8h00min para encontrarmos com a guia turística e

pedagoga Marisa Salete da Costa, na Praça Pinheiro Machado de Santo Ângelo, que nos

acompanhou durante o primeiro dia de visitação.

A praça é localizada no centro da cidade, com grandes áreas verdes e podiam ser

observadas esculturas feitas pelos indígenas. Logo na entrada da praça havia um portal

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com o nome das 30 reduções que deram certo, entre elas a de Santo Angelo e São

Miguel das Missões.

Marisa contou que Santo Ângelo “nasceu” em 1706 e foi fundada por Diogo

Hase, e hoje têm aproximadamente 76.000 habitantes, sendo que 90% da população é

urbana, mesmo sendo pouco industrializada. A cidade é localizada em uma região

agrícola, o que reflete na economia que é baseada na prestação de serviços e comércio

(rede bancária, quartéis, universidades, rede hospitalar e serviços públicos). Segundo a

guia, "Santo Ângelo é uma cidade de velhos, pois os jovens que aqui se formam tem

que sair da cidade para procurar emprego".

As origens históricas da cidade baseiam-se no projeto de ocupação desse

território que segundo o Tratado de Tordesilhas era da Espanha, idealizado pela

Companhia de Jesus e pela Coroa Espanhola, que quando se deparou com tanta terra

ocupada por tanta gente, fez várias tentativas de tomar posse que não deram resultado.

Na visão de alguns olheiros espanhóis, as pessoas que ali viviam eram "selvagens",

"sem alma", "terríveis" e "deveriam ser enjaulados" para não prejudicar os interesses

espanhóis. Porém outra parte dos olheiros dizia que os indígenas eram apenas crianças

indefesas e seres ingênuos incapazes de fazer algum mal, que viviam em um território

espanhol, por isso deveriam ser considerados cidadãos espanhóis, sendo protegidos e

tutelados como tal.

Havia ainda os que acreditavam que os índios eram apenas filhos de Deus, e a

Rainha que era católica chegou à conclusão de que isso era o que mais convinha à

coroa, decidindo que enquanto filhos de Deus deveriam ser civilizados, ou seja,

aprender a falar espanhol e aprender a religião católica. Nos séculos XVI, XVII, XVII

foi criado então um sistema de Encomiendas (como se fossem companhias hereditárias

em tamanho menor). Nesse sistema os encomiendeiros deveriam ter os encomiendados

dentro da sua propriedade, que eram os indígenas a serem civilizados. Entretanto, nesse

sistema alguém deveria trabalhar para girar economicamente as Encomiendas, e os

indígenas acabaram por ser escravizados.

Os índios caçados na selva e levados para as encomiendas começaram a morrer,

pois tinham como essência de sua vida a liberdade, e quando privados dela não

sobreviviam por mais de 5 anos, sendo que a média de vida da população Guarani era

de aproximadamente 30 anos. A Coroa Espanhola chegou a conclusão que o sistema de

Encomiendas foi um desastre, acontecendo então uma reforma na igreja Católica, que

começou a ser atacada, dando origem ao protestantismo, entre outras ordens. Então é

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criada também a Companhia de Jesus, que é a Ordem dos Padres Jesuítas, fundada por

um fidalgo espanhol que depois foi promovido a chefe da inquisição e vários anos mais

tarde foi santificado, Inácio de Loiola. Inácio era ex-militar e fundou uma ordem

burocrática e hierárquica, constituída apenas por "pessoas de posse e inteligentes".

Quando a companhia foi fundada pensava em sobreviver de donativos, ou seja,

quando alguém se dispunha a fazer parte dela, deveria doar todos os seus bens aos

jesuítas, inclusive terras e escravos, que geravam muito dinheiro, movimentando a

companhia e a expandindo tanto que os donativos não eram mais suficientes para

sustenta-la. Criando assim, as escolas jesuítas que na época, segundo Marisa "eram tudo

o que havia de melhor, sendo que quem frequentava as escolas eram somente os filhos

dos fidalgos".

Os membros da Companhia de Jesus, que se diziam inteligentes e organizados

hierarquicamente, elaboraram um projeto e o apresentaram para a Coroa. Esse projeto

baseava-se na criação das Reduções Jesuíticas no Sul da América. Os jesuítas exigiram

um território onde o encomiendeiro não poderia interferir.

Segundo Graça (2009):

A presença dos missionários, deu início à obra de evangelização entre os

guaranis. A chegada destes missionários foi e pode ser objeto de debates

interessantes a respeito do do protagonismo dos missionários na

evangelização-cristianização do Novo Mundo.

A Espanha cedeu, dando-lhes um local que foi chamado de Província Jesuítica

do Paraguai, que hoje corresponde a uma parte do Brasil, assim como da Argentina e do

Paraguai e todo o Uruguai. Na parte do Brasil, hoje localiza-se o Rio Grande do Sul,

Santa Catarina (exceto o litoral que era de posse dos portugueses), quase todo o Paraná

e uma parte do Mato Grosso do Sul. Na Argentina hoje estão localizadas as províncias

de Corrientes e Missiones. E no Paraguai hoje a área corresponde a Ituporã (onde se

localizam as cataratas do Iguaçu).

Dentro da província do Paraguai foram fundadas mais de 60 cidades de índios

que eram chamadas de Reduções, pois eram um reduto em que os índios eram levados e

sua cultura pouco a pouco reduzida, recebendo em troca a cultura europeia, sendo que o

inesperado aconteceu: o padre aprendeu com o índio e o índio com o padre, e como

resultado dessa troca de experiências um novo “ser humano” foi criado a partir da fusão

das duas culturas, revolucionando a partir dai a história da humanidade.

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Quando os missionários vinham para a América na função de catequizar e

evangelizar os "selvagens" traziam todos os aparatos necessários para

bem exercerem seu sacerdócio e executarem seus objetivos. Seu enxoval

religioso consistia nas suas vestes e paramentos: batina, camisas clericais,

petina, estola, sobrepliz etc. e em seus objetivos litúrgicos pessoais. A

necessidade de objetos específicos para serem usados na celebrações ou

rituais da Igreja Católica foi inicialmente suprida com a "importação" de

exemplares de origem portuguesa ou espanhola. (Graça, 2009)

De acordo com a guia, as ruinas de São Miguel das Missões foram tombadas

pela UNESCO em 1983, e por serem consideradas "testemunhas" de tamanhas

mudanças são denominadas como patrimônio histórico da humanidade.

Marisa conta também que, segundo o plano elaborado pela coroa, todas as

cidades deveriam ter uma praça ao centro, onde aconteceriam todos os eventos, e em

torno dela a cidade ia crescendo e se adaptando as necessidades. Em Santo Angelo, hoje

essa praça é chamada de "Praça Municipal Pinheiro Machado".

Segundo Marisa, o centro histórico foi reformado e foram feitas escavações,

levando a desapropriação e demolição de algumas casas existentes na cidade, onde

foram encontrados materiais utilizados nas reduções, como pedras e colunas que estão

em exposição na praça, museus e universidades. E a partir dessas escavações foram

descobertas as localizações exatas da estrutura das reduções.

De acordo com Marisa, na primeira tentativa de fundar uma redução pelos

jesuítas, em 1626 que foi chamado de Primeiro Ciclo Missioneiro, foram fundadas em

território gaúcho 18 reduções, sendo que nenhuma delas prosperou, pois foram

destruidas principalmente pelos bandeirantes paulistas que além de buscar riquezas,

tinham o objetivo de aumentar o território português atacando as reduções por meio de

incendios e matanças de índios, sendo que os mais fortes eram levados para o Rio de

Janeiro e São Paulo para serem vendidos como escravos. Tentando de se defender o

padre Montoya reuniu mais de 1200 aborígenes catequizados e atravessou o rio

Uruguai, migrando para o outro lado do rio e abandodando todo o espaço pertencente ao

Brasil e todo o gado reunido ao longo das reduções, que começou a ser levado pelos

paulistas.

O gado foi um dos principais fatores que estimularam os jesuítas a retornar ao

seu território 40 anos depois, no chamado Segundo Ciclo Missioneiro, afinal, o

território havia sido cedido à Província do Paraguai. Os jesuítas retornaram então

somente ao Rio Grande do Sul, fundando sete aldeamentos compostos pelas reduções de

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São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São

João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio.

Atravessando o portal localizado na praça visualizamos os nomes dos 30

povoados que deram certo, (San Ignácio Guazu - 1609; Loreto - 1610; San Ignácio Mini

- 1611; Nuestra Senora de la Encarnacion de Itapué - 1615; Concepcion - 1619; Corpus

- 1622; Santa Maria la Mayor - 1626; Candelária - 1627; Yapeyu - 1627; La Cruz -

1628; San Javier - 1629; San Carlos - 1631; Santo Tomé - 1632; San Cosmey Damian -

1632; Aposteles - 1633; Sant'Ana - 1633; San José - 1633; Santos Martires - 1639;

Santa Maria de La Fé - 1647; Santiago - 1651; San Francisco de Borja - 1682; Jesus -

1685; San Nicolas - 1687; San Luiz Gonzaga - 1687; San Miguel Arcanjo - 1687; San

Lorenzo Mártir - 1690; San Juan Bautista - 1697; Santa Rosa de Lima - 1698; Trinidad

- 1706; San Anjo Custódio - 1706)

Durante a passagem pelo portal a guia explicou que o primeiro povoado fundado

foi São Nicolau ou San Nicolas, localizado entre São Luiz Gonzaga e São Borja, em

1626 no primeiro ciclo missioneiro que foi destruido pelos bandeiranes, e em 1687 os

jesuítas retornaram ao local, por isso esta é a data registrada no portal. No local, assim

como em São Miguel das Missões ou São Miguel Arcanjo, São João Batista ou San

Juan Bautista, e San Lorenzo Mártir existem ruínas.

Marisa conta que existe um "produto turístico" na região, semeado no caminho

de compostela, ou caminho das missões, onde os peregrínos percorrem apé as trilhas

dos jesuítas, "criando uma parte mística na praça para receber os peregrinos e os

visitantes.Os peregrinos entram por um túnel, passam pela roda dos ventos, onde

acontece a primeira etapa da purifiação". Depois, se dirige a uma estrutura vermelha, e

queima todos os pensamentos ruins. Logo após, vai para uma outra estrutura em roxo,

onde canaliza os pensamentos bons."

De acordo com Marisa, Valentin Von Adamovitch foi o responsável por

reformar a Igreja Católica de Santo Ângelo construida pelos jesuítas. Segundo ela, o

artista se espelhou nas ruinas de São Miguel Arcanjo. Depois de conhecer e observar a

praça Pinheiro Machado, fomos até um museu que foi criado na casa mais antiga da

cidade.

Chegando lá, a guia explica com o auxilio de uma maquete, como era organizada

a distruibuição do território dentro das reduções que eram formadas por

aproximadamente quatro a seis mil índios. De acordo com Marisa, "as casas tinham

varandas ao redor para facilitar a circulação das pessoas, além de protege-las da chuva e

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do sol. A varanda da casa era também o local que os indios usavam para cozinhar, assim

como para sentar e conversar, tomando mate." Na entrada principal, a direita era

localizada uma "capelinha" que era utilizada para orações.

A coroa espanhola definia critérios para emancipação política das reduções

como por exemplo, um número minimo de habitantes homens que não tivessem

profissão indigna para a época (trabalhar como ambulante por exemplo), área de terra

mínima, número mínimo de cabeças de animais (gado, porco e ovelha principalmente).

Se as reduções atingissem esses objetivos eram definidos vinte homens para formar o

cabildo que era um conselho responsável pela organização das reduções. Como as

reduções eram formadas somente por padres e índios e o número de índios era muito

superior ao de padres (segundo a guia, eram dois ou três padres para até seis mil índios),

o cabildo era formado por padres e índios. Esse cabildo tinha um reponsável que atuava

como se fosse um prefeito, que ditava as regras de acordo com o que a coroa espanhola

autorizava, e era dividido em "pastas e secretarias" como é hoje nas prefeituras.

Marisa conta que dentro da redução havia também o potiguaçu, "que era como

se fosse uma associação de mulheres viuvas que não tinham parentes com quem morar,

que se uniam em uma única casa com seus filhos." O potiguaçu foi uma solicitação feita

por elas próprias, afinal, depois que os maridos morriam elas ficavam abandonadas e

geralmente sobreviviam por pouco tempo.

Dentro da redução obviamente havia uma Igreja, que era o maior e mais bonito,

que merecia destaque para lembrar da presença de Deus. De um lado da Igreja havia o

cemitério índigena, em que somente os índios eram sepultados, e os padres eram

sepultados dentro da Igreja. O cemitério era dividido em quatro partes por mudas de

árvores, e os mortos separados por sexo e idade. Do lado oposto da Igreja havia o

claustro, um local destinado ao isolamento dos padres, em que o silêncio permitia a

meditação e o contato com Deus.

Junto a Igreja também havia a escola dos meninos que a partir dos sete anos

passavam o dia todo no local, aos quatroze iam para o serviço militar da redução e aos

dezesseis se casavam. As meninas aprendiam as artes domésticas em casa e casavam-se

aos quatorze anos, geralmente em festas coletivas no primeiro dia do ano.

De acordo com Marisa, também existiam nas reduções salas que serviam como

depósitos de comidas, ferramentas e armas. As cadeias geralmente eram próximas a

Igreja. Além disso existiam os refeitórios, cozinhas e antecozinhas. Do lado oposto a

Igreja, haviam as oficinas de trabalho, onde trabalhavam sapateiros, carpinteiros,

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marcineiros, enfim, todos os oficios, com excessão dos matadouros que matavam cerca

de trinta cabeças de gado diárias para a alimentação da população. E também das olarias

que situavam-se próximas aos pontos de coleta da materia-prima.

E atrás, isolado de toda a população existe a quinta dos padres, que era uma

horta e um pomar, mas também um laboratório onde os padres testavam e adaptavam as

mudas de plantas que vinham da Europa.

As tribos guaranis eram formadas por parentes, por isso em geral tinham três ou

quatro casas grandes, sendo que em cada casa viviam aproximadamente 30 pessoas.

Essas casas eram divididas em quartos e em cada quarto viviam todos os integrantes de

uma mesma familia (pai, mãe e filhos). Os guaranis casavam-se entre parentes fazendo

com que houvesse um problema de sangue, nascendo muitas crianças que não

sobreviviam. Marisa conta ainda que as eleições para cacique eram diretas, ou seja, eles

eram eleitos democraticamente. Os caciques poderiam ter várias mulheres, e

consequentemente vários filhos, e isso era bom. Afinal, se o cacique tivesse cinco

mulheres, poderia ter até cinco filhos em um ano, e se desses cinco morressem quatro

ainda sobrava um. Então quanto mais mulheres e filhos o candidato a cacique tivesse,

maior era a chance dele se eleger.

Marisa conta que esse hábito da poligamia foi um dos mais dificeis para a Igreja

Católica conseguir mudar, pois segundo suas crenças a traição é um pecado mortal. Os

padres obrigavam o índio a escolher uma única mulher para se casar, porém, segundo

historiadores os aborígenes mantinham casos escondidos com outras mulheres.

Marisa conta que naquela época não havia moeda, a troca das mercadorias era

feita através do escambo (troca de mercadorias e serviços) entre as reduções. Ela conta

também que a partir do século XVIII o Rei da Espanha começa a cobrar impostos que

eram pagos com os produtos mais valiosos da época que eram o couro e o chifre do

gado, algodão e principalmente erva-mate que além de ser usada para o chimarrão (um

dos hábitos que os espanhóis adquiriram dos indígenas) tem poderes medicinais que

variam de acordo com o modo de preparo, por exemplo: se ingerida morna pode atuar

como laxante, se ingerida quente demais pode prender o intestino, e podia também ser

usada como emplasto em feridas.

A guia nos explica sobre a organização e divisão do museu, que tem as paredes

construidas com pedras das antigas casas dos índios, como a pedra itacuru (pedra

enrugada) e também possui acervos de materiais que nos indicam o modo de viver do

guarani antes da chegada do "homem branco", urnas que guardavam os restos dos indios

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mortos, quadros que indicavam suas crenças sobre a erva-mate e o milho, armas usadas

pelos índios nas caçadas e em lutas, até vestígios que indicam o modo de vida dentro

das reduções. O museu conta também com uma sala que fala sobre a ocupação

portuguesa depois da Guerra Guarani, no século XIX. No local há também uma sala que

fala sobre a cultura gaúcha e suas crenças, como a lenda do negrinho do pastoreio,

armas, vestimentas, e etc. Além disso existe a "Sala de Curiosidades" que contém

objetos variados (máquinas registradoras, batedeiras, ferros antigos, entre outros) e a

"Sala da Saúde" que continha objetos doados por um hospital da região.

Depois de encerrada a visita ao museu, fomos à Igreja Católica construida em

frente a praça. A guia explica que no topo da Igreja o artista responsável pela reforma

colocou os padroeiros da cidade que são São Lorenzo Marques, São Luiz Gonzaga, São

Miguel Arcanjo, São João Batista, São Francisco de Borja, São Nicolau e Santo Ângelo.

Entramos na Igreja e a guia nos relatou aspectos sobre a arquitetura interna, que pode

ser classificada em três fases, sendo que as mais importantes são a primeira que foi

chamada de Igreja Provisória, que tinha todas as suas colunas de madeira e paredes

formadas por pedras e a terceira fase em que as Igrejas possuiam todos os arcos

construidos com pedras. A guia conta ainda que as pinturas foram feitas pelo padre

Lasallis de Canoas - RS e representam cenas de catequeze. Na Igreja além das pinturas

existia uma imagem de Cristo crucificado morto.

Após visitarmos a Igreja fomos ao Museu Memorial Coluna Prestes, que é a

antiga estação ferroviária da cidade, também tombada pela UNESCO que possui um

grande acervo de objetos e fotografias. A Coluna Prestes foi um dos maiores

movimentos revolucionários da América Latina, organizado dentro das forças armadas

brasileiras como consequência do movimento tenentista que lutava por mudanças dentro

das forças armadas, a fim de possibilitar que todos tivessem a oportunidade de alcançar

cargos de poder, e não somente os filhos de militares importantes ou famílias ricas.

Quando o presidente Arthur Bernardes assume seu cargo, tenta mudar a ideologia dos

tenentes, que resolvem então pegar em armas e são massacrados. A Coluna Prestes teve

por objetivo incentivar e "ensinar" os cidadãos brasileiros a lutar pelos seus direitos.

Quando as tropas lideradas por Luiz Carlos Prestes chegaram em Foz do Iguaçu,

ainda eram perseguidas pelas forças armadas federais. As tropas eram compostas por

jovens com sede de mudanças e também por aproximadamente cinquenta mulheres, que

além de cozinhar e pegar em armas, faziam o papel de enfermeiras, cuidando dos

doentes e feridos, a guia conta que quando não havia mais remédios para os feridos eles

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eram tratados com um medicamento chamado "Saúde da Mulher" que é um composto

de ervas com o objetivo de reduzir os efeitos da TPM. Se necessário fosse faziam até

mesmo amputações quando não houvessem mais recursos, e queimavam o local com

ferro em brasa para conter o sangramento. Segundo relatos, somente dez mulheres

chegaram vivas ao fim da batalha. A guia conta que as mulheres vestiam-se como

homens, e lutavam de igual para igual com eles, sendo que a melhor pontaria de toda a

Coluna era de uma mulher chamada Alzira.

Ao sair do museu circulamos pela cidade, e paramos em um monumento que o

povo de Santo Ângelo construiu em homenagem aos indios guaranis que são os

verdadeiros donos da terra, que chegaram ao local aproximadamente 2000 a.C. Depois

de conhecer a cidade, almoçamos em um restaurante e posteriormente nos dirigimos a

cidade de São Miguel das Missões para a segunda etapa de visitas.

São Miguel das Missões

Chegando na cidade de São Migue das Missões, visitamos uma fonte de água

construida pelos indios guaranis. Um dos pré-requisistos para a fundação de uma

redução era que houvesse bastante água nas proximidades, e como em São Miguel das

Missões isso não acontece a água foi canalizada de uma vertente e conduzida a um

reservatório. Segundo a guia possivelmente nas proximidades dessa vertente, havia um

dos maiores rebanhos de gado da história das reduções. As indígenas que eram

excelente cêramistas, capitavam a água em jarros e levavam para as reduções.

A fonte foi construida com pedras e possui esculturas feitas pelos índios

utilizando ferramentas como o formão e machadinhas, também usavam o atrito da água

com a pedra no trabalho que foi feito em forma de decantação, ou seja, uma parte da

fonte enche e a água escoada vai enchendo as outras também.

Marisa conta que o padre Roque Gonzales de Santa Cruz, filho de

encomiendeiros paraguaios que cresceu com as crianças índias, foi um dos nomes mais

importantes na criação das reduções, por conhecer a língua e a cultura indígena. Então

quando a Companhia de Jesus chegou, ele traduzia o que os ensinamentos para a língua

guarani.

Depois disso, fomos até o parque onde estão localizadas as ruínas da Igreja de

São Miguel Arcanjo, onde assistimos um vídeo falando sobre os Sete Povos e mostrar

como eles estão agora (onde há ruinas ou não).

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Após assistirmos o vídeo fomos até as Ruinas, onde a guia nos repassou dados

sobre a redução que foi criada pelo padre Cristovão de Mendonça, que foi o mesmo que

trouxe o gado para o Rio Grande do Sul, próximo a cidade de Santa Maria, durante o

primeiro ciclo missioneiro. Em 1687 voltaram e se estabeleceram no local atual,

organizando sua cidade.

No local observamos ruinas das duas primeiras casas fundadas em São Miguel

Arcanjo, construidas com tijolos de adobe que desmoronaram com o passar do tempo e

das chuvas.

Observamos também as ruinas da escola dos meninos, do cotiguaçu, do

cemitério indígena e da rua principal. A guia conta que nunca foi feita uma escavação

no cemitério indígena, então os restos mortais dos índios enterrados na época

possivelmente ainda estão no local. O Instituto de Pesquisa Arqueológica está

replantando as árvores em forma de cruz a fim de refazer a divisão do cemitério,

buscando refazer a paisagem do tempo dos índios. Quando o local foi repovoado,

aproximadamente a partir de 1800, foram construidos túmulos e jazigos em cima do

antigo cemitério, e quando as ruinas foram tombadas, foram destruidos.

Segundo a guia a redução de São Miguel Arcanjo foi uma das maiores,

ultrapassando o povoamento máximo e chegando a aproximadamente 7.000 índigenas.

Desse total, 1.000 indígenas foram deslocados para formas São Borja. Em 1735

começou a ser construida a Igreja, de trás pra frente, por aproximadamente 100

operários índios durante 10 anos. Ao final da construção, a Igreja foi pintada de branco

com cal, e as esculturas eram coloridas com tintas extraidas da natureza.

O Museu localizado dentro da redução, segundo Marisa, foi construido no

mesmo formato da casa de um indígena, com as varandas ao redor, e com o mesmo tipo

de telha. Em 1398 o presidente Getúlio Vargas manda Hugo Machado para recuperar

peças de arte e fundar o museu.

Os indígenas foram adaptando seus rituais as crenças da Igreja Católica. Um

exemplo disso são as esculturas indígenas feitas nos troncos de cedro que era uma

árvore sagrada para os indígenas. O padre pedia para que os indíos esculpissem imagens

de Santos, e eles faziam em cedro, tornando assim o objeto sagrado a ambas as culturas.

As imagens maiores são chamadas de "Santos do Pau Oco", pois segundo a

lenda que Marisa contou, os padres entravam no local vazio dentro da escultura e

falavam como se fossem os Santos, e os índios sentiam medo e obedeciam as suas

ordens.

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Observamos também aspectos sobre a arquitetura externa das ruinas, como por

exemplo a presença de flores de maracujá que eram importantes para os guaranis, e

flores de romã que é uma fruta espanhola, e veio para o Brasil depois da colonização.

As paredes foram construidas a partir de pedras encaixadas, sem a utilização de

cimento, e a Igreja era tida como uma fortaleza, com janelas em locais estratégicos. A

guia relata que existem reduções que ainda possuem ruinas, e que apesar de São Miguel

das Missões ser a redução que possui mais paredes em pé, é uma das que menos tem

esculturas no lugar, pois quando o Brasil aceitou a independência do Uruguai exigiu que

Frutoso Riviera que era governador das missões se retirasse do local, e ele saiu levando

mais de quarenta carretas com obras de arte que além de serem patrimônio histórico

cultural, valiam muito dinheiro.

Segundo Marisa na redução de São Miguel não houve uma guerra sangrenta

como mostra o filme "Missões" que foi assistido em sala de aula como parte das

orientações para a visita.

Dentro do museu existem objetos de arte indígena como estátuas e ferramentas

usadas no trabalho, e também resenhas. Em frente ao museus haviam indios Imbiá

vendendo artesanato, na sua maioria mulheres, inclusive uma criança com

aproximadamente um mês de vida.

A guia que diz que, a principal característica dos indígenas é a honestidade, o

posto de saúde da aldeia fica aberto 24hrs e mesmo assim eles não tiram nenhum

remédo sem autorização. Outro aspecto que a impressiona é a maneira como as mães

indígenas educam seus filhos, segundo ela não há violência nem física nem verbal, e

quando os pequenos brigam, em questão de minutos a mãe já consegue desfazer a

intriga e eles voltam a brincar tranquilamente.

Marisa conta a Lenda do Boiguaçu, que segundo ela a ultima batalha dos

indigenas foi a Batalha de Caiboaté, em que os indios foram massacrados e os

sobreviventes fugiram em direção a São Miguel das Missões pois aqui havia mais gente,

contaram que tinham perdido a guerra e os soldados vinham ao encontro deles e

decidiram que tinham que fazer alguma coisa. As mulheres, idosos e crianças fugiram e

se esconderam no mato, os soldados vieram e foram embora. E as mulheres que já não

sabiam viver na selva voltaram a São Miguel e durante a noite dormiam na Igreja, que

consideravam um lugar seguro por ser a casa de Deus. Porém elas começaram a trazer

seus animais para dormir dentro da Igreja também, e uma cobra muito grande entrou e

se instalou no local. E a noite a cobra descia de onde ela estava e comia os animais, até

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que chegou um ponto que não haviam mais animais pois o que a cobra não tinha

comido fugiram. As mulheres estavam com muito medo e cuidavam das crianças, até

que um dia aconteceu uma tempestade horrível e a cobra caiu de onde estava instalada,

e enquanto caia se enrolou na corda que badalava o grande sino da Igreja. As mulheres

sairam da Igreja e viram a cobra tocando o sino. Uma índia enlouqueceu de medo e

pegou seu filho e entregou para a cobra se alimentar. A cobra dormir três dias e três

noites, e quando acordou associou as coisas em sua cabeça e repetiu o feito. Se enrolou

na corda e tocou o sino novamente até outra mãe entregar uma criança. E esse fato

continuou a se repetir até que um dia Deus se irritou com a cobra e mandou um raio que

a atingiu e fez explodir. Por isso, as manchas pretas nas paredes das ruinas que os

cientistas dizem se tratar de fungos, segundo a lenda tratam-se da graxa da cobra. E no

alto das paredes, em cada um dos quatro lados tem um pedaço da cobra que foi

transformada em pedra por Deus como forma de punição por ela comer crianças.

Depois disso fomos para o hotel onde esperamos até o horário de nos

direcionarmos ao espetáculo "Som e Luz" que mostrava os conflitos além da história

dos povos indígenas através do uso de efeitos sonoros e de iluminação que buscava

despertar as emoções do espectador.

No dia seguinte visitamos o "Museu do Walter" que é um projeto desenvolvido

há quatorze anos e possui um acervo de aproximadamente 300 peças da história das

reduções, pois segundo Walter os moradores destruiram a maioria dos vestígios acerca

dos antigos habitantes.

Walter conta que na época das reduções o meio de comunicação utilizado era o

"Tatarandê", que eram tochas acesas com gordura animal, colocadas proximas aos

"janelões" da Igreja. De acordo com Walter, dos "janelões" de cada Igreja era possivel

visualizar a redução vizinha, por isso eram construidas em locais estratégicamente altos.

Havia um código de comunicação em que cada número de artoches acesos representava

um aviso, por exemplo, três artoches significavam a necessidade do curandeiro da tribo

deslocar-se até onde era solicitado, outro exemplo é o sinal de perigo, representado por

cinco artoches.

Walter relata que existe uma tribo indígena na região, composta por

aproximadamente 160 guaranis, cujos antepassados fizeram parte das missões. Nessa

aldeia ainda são mantidas vivas crenças sobre o fogo, um exemplo disso é quando um

índio fica doente. Eles são levados para perto do fogo na crença de que irão ser curados,

e usam tratamentos alopáticos em segundo plano, como terapia alternativa. Por isso é

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fundamental enquanto futuras enfermeiras compreendermos e respeitarmos aspectos

como este, das culturas indígenas, buscando prestar um melhor atendimento.

De acordo com Walter e como Marisa também já havia relatado, os indígenas

adoravam imagens, e faziam pedidos a elas. Se os pedidos não fossem atendidos os

indígenas colocavam as imagens em janelas de auto relevo como forma de castigo ao

Santo por não ter atendido ao pedido.

No museu há objetos utilizados na caça, como por exemplo a boleadeira.

Também, na entrada do local há uma imagem de São Miguel Arcanjo, ou Maracatu na

linguagem indigena. Walter conta que a cruz missioneira tem para os católicos a mesma

função que a fumaça para os indígenas (purificação, comunicação e cura). Ele relata

ainda que os guaranis relacionavam a cruz missioneira a astrologia.

Ao entrar no museu, Walter nos explicou sobre os rituais indígenas, dando

ênfase no Ritual de Pureza de Pitanga com Mel. Nesse ritual a pessoa pega um punhado

de erva e uma taquara, em seguida dá um "tacaço" no chão. Dava uma volta, e enquanto

isso concentrava suas energias ruins e depois despejava a erva-mate em um pequeno

recipiente metálico onde havia fogo. Repetia o processo, dando mais uma volta, mas

dessa vez, canalizando as energias boas. Após isso, se dirigia ao mestre da cerimônia,

nesse caso Walter, para receber a benção final, através do batismo.

Depois de encerrada a visita ao museu, retornamos a Chapecó, onde chegamos

aproximadamente as 16:30h do dia 14 de setembro de 2013.

A Enfermagem nas Reduções

Nas reduções quem cuidava dos enfermos eram os jesuitas, segundo Oguisso:

Não existem dados substanciais sobre como era praticada a enfermagem

nas primitivas Santas Casas, mas supõe-se que os jesuítas assumiam, eles

próprios, os trabalhos gerais de enfermagem, fazendo-se auxiliar pelos

índios e africanos escravizados, a quem ensinavam como ajudar enfermos e

outros trabalhos em torno do cuidado.

Nota-se então, que desde os primórdios a enfermagem tem um papel

fundamental na sociedade, visando sempre o cuidado não só do paciente, mas

observando aspectos como o ambiente e as formas de convívio de um povo, adaptando-

se as necessidades de cada local.

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Porém, diferentemente dos dias de hoje, naquela época não havia preocupação

com a promoção e prevenção à saude, ou seja, os cuidados eram focados na reabilitação

do paciente através do uso de receitas compostas pelos indigenas. De acordo com

Gesteira, inicialmente eram usados exclusivamente produtos americanos para o

tratamento dos enfermos, até os jesuitas obterem conhecimento geográfico sobre o

local, adaptando assim o uso de tratamentos fitoterapicos as necessidades de cada

região.

Já naquela época o foco era no cuidado com o corpo e a mente, obtendo-se

resultados mais eficazes, a tal modo que em muitas vezes o socorro médico confundia-

se com o socorro espiritual. Cuidar dos indios transfomou-se em um instrumento de

conversão, e os padres jesuítas por terem um papel de "curandeiros" diante dos

indígenas passaram a exercer grande autoridade sobre eles, fazendo que uma simples

"obra de caridade" se tornasse um forte aspecto político.

José Eisenberg diz que:

os índios conferiam autoridade religiosa ao curandeiro da tribo, (...) tentaram

assumir esse papel, e, para competirem com a autoridade religiosa dos pajés,

começaram a se dedicar ao atendimento médico dos índios e adaptar os

rituais dos sacramentos cristãos aos usos locais.

Desde aquele tempo notamos a forte influência política na saúde, sendo que em

alguns momentos é ignorado o principal, que é o atendimento e o cuidado a população

em geral, favorecendo os envolvidos com políticas do mesmo partido.

Os padres jesuítas observavam o modo como os indigenas utilizavam as ervas

afim de descobrir suas propriedades medicinais. Um exemplo disso é o óleo de copaiba

que pode ser usado para o tratatamento de feridas.

Ainda hoje é forte a utilização dos produtos fitoterápicos principalmente entre as

populações de indígenas e idosos, por isso é fundamental enquanto profissionais da

enfermagem saber lidar com essas diferenças, tentando convencer o indivíduo que

apesar dos bons resultados obtidos através do uso das ervas é importante não deixar de

lado o uso dos fármacos, aliando a medicina moderna a herança dos antepassados.

As ervas são utilizadas na medicina para o tratamento através da homeopatia,

que a exemplo dos jesuítas não trata a doença, e sim o indivíduo como um todo.

Podemos citar o tratamento da sinusite, que é feito através do uso de bafos de vapor de

eucalipto ou macela, uso de buchinha do norte para a desobstrução nasal e também da

aspiração do óleo de copaiba.

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Segundo Rocha (2010):

o que determina o remédio homeopático não é o tipo de doença que o

paciente tem no momento, mas a forma particular pela qual ela manifesta seu

padecimento. Rocha (2010) fala ainda que a homeopatia examina o doente

com toda atenção aos mínimos detalhes. Antes de preocupar-se com exames

de laboratório para ver a causa do problema, é dada importância a vários

detalhes da história que o médico tradicional não foi ensinado a valorizar.

Rocha (2010) explica também que o medicamento homeopático é preparado a partir de

matéria-prima dos reinos animal, vegetal ou mineral.

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Anexos

Acadêmica Ana Paula Gava, participando do Ritual da Pitanga com Mel. Foto por Lisiane Kerbes em São Miguel das Missões no dia 14-09-13.

Anjos construidos pelos indígenas. Foto por Lisiane Kerbes em Santo Angelo no dia 13-09-2013.

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Arcos localizados na praça. São um total de 30 arcos com nome das 30 reduções que deram certo. Foto por Lisiane Kerbes em Santo Angelo no dia 13-09-2013.

Cristo morto na Igreja de Santo Angelo. Foto por Lisiane Kerbes em Santo Angelo no dia 13-09-2013.

Local onde aconteceu o Ritual da Pitanga com Mel. Foto por Lisiane Kerbes em São Miguel das Missões no dia 14-09-13.

Page 18: Relatório das Acadêmicas da Segunda Fase de Enfermagem sobre a Visita a São Miguel das Missões - RS e Santo Ângelo - RS

Locomotiva desativada. Foto por Lisiane Kerbes em Santo Angelo no dia 13-09-2013.

Momento do acendimento do artoche. Foto por Lisiane Kerbes em São Miguel das Missões no dia 14-

09-13.

Momento em que o artoche aceso era repassado. Foto por Lisiane Kerbes em São Miguel das Missões

no dia 14-09-13.

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Museu Memorial Coluna Prestes. Foto por Lisiane Kerbes em Santo Angelo no dia 13-09-2013.

Parte inferior do Museu do Walter, onde encontram-se objetos antigos e vestígios da habitação

indígena. Foto por Lisiane Kerbes em São Miguel das Missões no dia 14-09-13.

Ruinas da Igreja de São Miguel Arcanjo iluminada durante o espetáculo Som e Luz. Foto por Lisiane

Kerbes em São Miguel das Missões no dia 13-09-13.

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Ruinas de onde segundo a guia, Marisa, localizava-se o claustro. Foto por Lisiane Kerbes em São

Miguel das Missões no dia 13-09-13.

Santos fabricados pelos indígenas. Foto por Lisiane Kerbes em Santo Angelo no dia 13-09-2013.

Sino da antiga Igreja Católica. Foto por Lisiane Kerbes em São Miguel das Missões no dia 13-09-13.

Page 21: Relatório das Acadêmicas da Segunda Fase de Enfermagem sobre a Visita a São Miguel das Missões - RS e Santo Ângelo - RS

Turma da segunda fase de enfermagem, e ao fundo Ruinas da Igreja de São Miguel Arcanjo.