relatorio cepndfci2007 finalficheiros.parlamento.pt/dilp/dossiers_informacao... · 2018-04-24 ·...

242
COMISSÃO EVENTUAL de ACOMPANHAMENTO e AVALIAÇÃO da POLITICA NACIONAL de DEFESA da FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS Relatório Março de 2008

Upload: others

Post on 23-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

COMISSÃO EVENTUAL de ACOMPANHAMENTO e AVALIAÇÃO

da POLITICA NACIONAL de DEFESA da FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS

Relatório

Março de 2008

Page 2: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 2

INDICE

NOTA DO RELATOR ................................................................................................................................................................................5 1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................................................6

1.1. OS ANTECEDENTES DA COMISSÃO.................................................................................................................................. 6 1.2. AS RESOLUÇÕES DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA ............................................................................................................ 8 1.3. ENQUADRAMENTO DA ACTIVIDADE DA COMISSÃO ACTUAL ................................................................................................ 8

2. A COMISSÃO EVENTUAL DE ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA DA FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS .................................................................................................................................................................................10

2.1. OBJECTIVOS ............................................................................................................................................................... 10 2.2. COMPOSIÇÃO.............................................................................................................................................................. 10 2.3. A ACTIVIDADE DA COMISSÃO ........................................................................................................................................ 11

2.3.1. Visitas Parlamentares............................................................................................................................................................................ 12 2.3.2. Audições Parlamentares de Balanço................................................................................................................................................... 14

3 – AVALIAÇÃO DA POLITICA NACIONAL DE DEFESA DA FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS ........................................................19 3.1. ACTIVIDADE LEGISLATIVA ............................................................................................................................................. 19

3.1.1. Reforma da Administração Pública Central do Estado.................................................................................................................... 19 3.1.2. A regulamentação do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho ................................................................................................... 21 3.1.3. Outras medidas legais ........................................................................................................................................................................... 24 3.1.4. A revisão do Código Penal ................................................................................................................................................................... 25 3.1.5. Reforma legislativa da Política de Protecção Civil........................................................................................................................... 28

3.2. MEIOS FINANCEIROS ................................................................................................................................................... 33 3.2.1. Regulamento de apoios do Fundo Florestal Permanente (2007/2008).......................................................................................... 36

3.3. O SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DA FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS ............................................................................ 39 3.3.1. Prevenção Estrutural (DGRF)............................................................................................................................................................. 44 3.3.2. Operação “Floresta Segura” (GNR).................................................................................................................................................. 60 3.3.3. A investigação das causas dos incêndios florestais........................................................................................................................... 63 3.3.4. Dispositivo integrado de combate ao incêndios florestais (ANPC)................................................................................................. 65 3.3.5. Meios aéreos........................................................................................................................................................................................... 79 3.3.6. Resultados operacionais do combate .................................................................................................................................................. 88

3.4. AFOCELCA............................................................................................................................................................... 90 3.5. O MOVIMENTO ECO - EMPRESAS CONTRA OS FOGOS.................................................................................................... 92 3.6. O PROGRAMA DE VOLUNTARIADO JOVEM PARA AS FLORESTAS...................................................................................... 95 3.7. O PAPEL DAS AUTARQUIAS........................................................................................................................................... 98

3.7.1. Protocolo de colaboração LBP/ANMP/ANPC................................................................................................................................105 3.7.2. Programa para aquisição de meios de primeira intervenção (DGAL/ANAFRE) ......................................................................106

3.8. BALANÇO FINAL DA AVALIAÇÃO DA POLÍTICA DO GOVERNO........................................................................................... 108 4. BALANÇO DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS DE 2007.........................................................................................................................115

4.1. AS CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS DE RISCO DE INCÊNDIO NO PERÍODO CRÍTICO ........................................................... 116 4.2. OS PRINCIPAIS NÚMEROS DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS DE 2007................................................................................... 118 4.3. OS INCÊNDIOS DE OUTONO........................................................................................................................................ 123 4.4. OS INCÊNDIOS FLORESTAIS NAS ÁREAS PROTEGIDAS .................................................................................................. 128 4.5. OS GRANDES INCÊNDIOS FLORESTAIS......................................................................................................................... 136

4.5.1. A avaliação do desempenho do ataque ampliado a incêndios florestais......................................................................................137

6. CONCLUSÕES ......................................................................................................................................................................................141 7. RECOMENDAÇÕES..............................................................................................................................................................................144

ANEXOS.....................................................................................................................................................................................................149

Page 3: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 3

INDICE de tabelas Tabela 1: Balanço analítico do SNDFCI 2007 - AFOCELCA .....................................................................................................................18

Tabela 2: Regulamentação do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho – Ponto de situação................................................................22

Tabela 3: Código Penal – Crime de incêndio florestal (art.º 274.º da Lei n.º 59/2007, de 4 de Setembro). ...............................................27

Tabela 4: Reforma da Protecção Civil – legislação principal. .....................................................................................................................29

Tabela 5: FFP - Apoios a conceder na Área I / Prevenção e protecção da floresta contra incêndios (FFP 2007/2008)............................38

Tabela 6: FFP – Protocolos DFCI/2007.......................................................................................................................................................38

Tabela 7: Síntese do desempenho do PNDFCI – 2006 ..............................................................................................................................43

Tabela 8: ZIF constituídas – Dez. 2007.......................................................................................................................................................53

Tabela 9: Evolução do Programa de Sapadores Florestais 1999/2007 ......................................................................................................56

Tabela 10: Entidades detentoras das equipas de Sapadores Florestais ....................................................................................................56

Tabela 11: Resumo das acções de vigilância - Operação Floresta Segura 2007......................................................................................61

Tabela 12: Resumo dos alertas - Operação Floresta Segura 2007 ...........................................................................................................61

Tabela 13: Exercícios PROCIV - Principais pontos fortes e pontos fracos .................................................................................................66

Tabela 14: Medidas a adoptar no nível de alerta amarelo ..........................................................................................................................70

Tabela 15: Quadro-resumo dos meios terrestres - fase Charlie .................................................................................................................71

Tabela 16: Quadro síntese – meios vigilância, detecção e combate/fases DON 2007 ..............................................................................71

Tabela 17: Intervenções de equipas GAUF - Fase Charlie ........................................................................................................................76

Tabela 18: Quadro-resumo da distribuição faseada dos meios aéreos – 2007..........................................................................................80

Tabela 19: Acção dos meios aéreos no combate aos incêndios florestais .................................................................................................88

Tabela 20: Programa Voluntariado jovem para as florestas 2007 – projectos e voluntários ......................................................................97

Tabela 21: Ponto de situação dos PMDFCI – Dezembro 2007.................................................................................................................100

Tabela 22: Evolução da actividade de planeamento municipal – 2006/2007............................................................................................104

Tabela 23: Dias de alerta (amarelo e laranja) durante o período crítico 2007 ..........................................................................................117

Tabela 24: Quadro comparativo do numero de ocorrências e área ardida 2002 – 2007 (01/01 a 30/9) ..................................................118

Tabela 25: Numero de ocorrências e área ardida nas Áreas Protegidas..................................................................................................129

Tabela 26: Meios humanos de vigilância e primeira intervenção 2007 - ICNB.........................................................................................135

Tabela 27: Recomendações para a melhoria do desempenho do ataque ampliado - UTAD. ..................................................................139

Page 4: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 4

INDICE de figuras

Figura 1: Carta de perigosidade estrutural ..................................................................................................................................................40 Figura 2: Slogan “Portugal sem fogos depende de todos.”.........................................................................................................................45 Figura 3: Os três comportamentos de risco a evitar ...................................................................................................................................46 Figura 4: A exposição “Tree Parade’07” em Lisboa....................................................................................................................................47 Figura 5: Portal Internet DFCI/DGRF. .........................................................................................................................................................48 Figura 6: Expressão territorial dos 21 Planos Regionais de Ordenamento Florestal .................................................................................49 Figura 7: Distribuição das 205 equipas de sapadores florestais – 2007.....................................................................................................57 Figura 8: Operação Floresta Segura - Vigilância ........................................................................................................................................60 Figura 9: Principais tipos de infracções praticadas em 2007............................................................................................................................62 Figura 10: Resultados da investigação das causas dos incêndios florestais .............................................................................................64 Figura 11: Distribuição das forças helitransportadas - 2007 .......................................................................................................................67 Figura 12: Símbolo do Dispositivo Integrado de Defesa da Floresta Contra Incêndios 2007 ....................................................................70 Figura 13: Organização global da resposta – Directiva Operacional Nacional n.º 02/2007 .......................................................................72 Figura 14: Apresentação do GAUF no COTF – Lousã ...............................................................................................................................74 Figura 15: Intervenção de especialista do GAUF com recurso à utilização de contra-fogo - Vila Verde, Braga........................................76 Figura 16: Intervenção de brigada helitransportada, complementada com o meio aéreo ..........................................................................90 Figura 17: Símbolo do Movimento ECO – empresas contra os fogos ........................................................................................................92 Figura 18: Campanha de sensibilização (1.ª vaga) – Cartaz ......................................................................................................................93 Figura 19: Campanha de sensibilização (2.ª vaga) – Pacote de açúcar ....................................................................................................94 Figura 20: Cartografia dos Municípios com Gabinete Técnico Florestal – Dezembro 2007.......................................................................99 Figura 21: Cartografia dos Municípios com PMDFCI – Dezembro 2007 ..................................................................................................101 Figura 22: Dispositivo Operacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios – Lousã.............................................................................102 Figura 23: Cartografia dos Municípios com POM – Dezembro 2007........................................................................................................103 Figura 24: Evolução diária do índice de risco meteorológico de incêndio – fases Bravo e Charlie 2007 ................................................116 Figura 25: Relação entre o índice de severidade diária (DSR) e a área ardida .......................................................................................117 Figura 26: Evolução diária do número de ocorrências – 2002/2007.........................................................................................................119 Figura 27: Evolução diária da área ardida – 2002/2007 ...........................................................................................................................119 Figura 28: Evolução mensal do número de ocorrências e área ardida em 2007......................................................................................120 Figura 29: Evolução do índice de severidade diário (DSR) acumulado – 2002/2007...............................................................................121 Figura 30: Cartografia da distribuição distrital das ocorrências e áreas ardidas – Setembro 2007..........................................................122 Figura 31: Evolução diária do índice de risco meteorológico de incêndio – 1/9 a 30/11/2007 .................................................................123 Figura 32: Evolução do número de ocorrências e área ardida entre 30/9 e 20/11/2007 ..........................................................................123 Figura 33: Cartografia da distribuição “hot spots” (NASA/ MODIS) entre 2 e 20 de Novembro ...............................................................124 Figura 34: Variação % da precipitação no mês de Novembro ..................................................................................................................124 Figura 35: Zona de inicio do incêndio da Aldeia de Fernandes – Mértola ................................................................................................130 Figura 36: Técnicos do ICNB participam em acção de formação de fogo controlado no Parque Natural da Serra de S. Mamede ........134

Page 5: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 5

NOTA DO RELATOR

O Relatório que vos apresento tem como finalidade expor o trabalho desenvolvido pela Comissão Eventual

de Acompanhamento e Avaliação da Política Nacional da Defesa da Floresta Contra Incêndios, o qual,

determinado pelo período da vigência desta Comissão Parlamentar, teve uma grande incidência sobre o

período crítico dos incêndios florestais, a fase CHARLIE da Directiva Operacional Nacional da Protecção

Civil.

Este Relatório vem, também, na sequência de outros já aprovados em Julho de 2006 e Janeiro de 2007,

produzir uma reflexão sobre a forma como a política do Governo neste domínio tem evoluído. A avaliação

positiva que mereceram de todos os Partidos são a prova evidente do trabalho que esta Comissão tem

realizado à luz desse desígnio nacional que é mitigar o flagelo dos incêndios florestais, e que os seus

relatores, os Deputados Miguel Freitas e Carlos Lopes, souberam explanar.

Em 15 de Setembro de 2005, em resultado do enorme sentido de Estado que o Partidos souberam

demonstrar para o flagelo dos incêndios florestais em Portugal, foi aprovada, por unanimidade, a Resolução

da Assembleia da República nº 56/2005 que determinou a criação da Comissão Eventual de Fogos Florestais,

com o objectivo de criar as bases para uma reflexão e análise sobre as razões e os factores que explicam os

fogos florestais e a avaliação das medidas adoptadas pelo Governo.

Em 26 de Abril de 2007, novamente, por unanimidade, foi aprovada em sessão plenária a Resolução da

Assembleia da República nº 18/2007, que visava a criação de uma Comissão Eventual de Acompanhamento e

Avaliação da Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, com o objecto de acompanhar e

avaliar as medidas tomadas pelo Governo nos domínios legislativo, financeiro e operacional.

Incumbido de elaborar o relatório procurei apresentar, de forma factual, uma visão acrítica sobre o

conjunto de medidas tomadas pelo Governo e, bem assim, dar a opinião dos parceiros e às preocupações dos

Grupos Parlamentares, no seguimento, aliás, dos anteriores relatórios. Em resultado do empenhamento

construtivo de todos os Deputados desta Comissão, que durante todo o Verão foram incansáveis a percorrer

o país e souberam trazer contributos valiosos para a discussão nas várias audições parlamentares realizadas,

julgo que este é um relatório que de uma forma isenta e equidistante traduz o trabalho que foi

desenvolvido ao longo do mandato desta Comissão Eventual da Assembleia da República.

Gostaria também de deixar um agradecimento especial a todos quantos fizeram, uma vez mais, prova do

seu empenhamento na colaboração prestimosas que nunca regatearam, nomeadamente à Dra. Noémia

Fonseca e ao Dr. José Vasconcelos, da Divisão de Apoio às Comissões da Assembleia da República, pela

forma interessada com que apoiaram os trabalhos desta Comissão e que permitiu criar, em todos, o

ambiente propício para se atingirem os objectivos a que nos propusemos e ainda ao Eng. Miguel Galante,

Assessor do Grupo Parlamentar, pelo apoio técnico prestado à redacção deste relatório.

Uma palavra final para a excelência da condução dos trabalhos nos presidentes de ambas Comissões

Eventuais, os deputados Rui Vieira e Abel Baptista, dois exímios orientadores e que muito contribuíram

para a concretização dos objectivos estabelecidos à partida.

O RELATOR Horácio Antunes

Page 6: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 6

1. INTRODUÇÃO

A Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios foi constituída por uma deliberação unânime do Plenário da Assembleia da República. A Política de Defesa da Floresta Contra Incêndios tem como instrumentos orientadores o Plano Nacional e o Sistema Nacional da Defesa da Floresta contra Incêndios, ambos adoptados em 2006. A actual política de protecção da floresta contra incêndios visa a promoção da gestão activa da floresta, a implementação da gestão de combustíveis, o reforço das estruturas de combate e defesa da floresta contra incêndios, a dinamização da educação e sensibilização da população e a adopção de estratégias de reabilitação das áreas ardidas, bem como o reforço da vigilância, fiscalização e aplicação do regime contra-ordenacional instituído.

Os Deputados que integram esta Comissão Parlamentar Eventual reconhecem a floresta portuguesa como um recurso natural que suporta uma importante actividade económica, susceptível de criar riqueza e de criar emprego. Nessa perspectiva, a Estratégia Nacional para as Florestas1, aprovada em Conselho de Ministros em 17 de Agosto de 2006, reconhece as florestas como uma prioridade nacional e assume o sector florestal como estratégico para o desenvolvimento do país. Este instrumento orientador da política florestal nacional, tem por objecto apoiar a tomada de decisões de índole estratégica para o sector e igualmente enquadrar a utilização dos recursos do Fundo Florestal Permanente e das medidas de apoio à floresta no âmbito do próximo Período de Programação (2007/2013).

A Estratégia Nacional para as Florestas define como principal prioridade, no curto prazo, a minimização do risco dos incêndios florestais. É com esse propósito que esta Comissão Eventual desenvolveu a sua actividade, com uma abrangência que combina a preocupação da eficácia do sistema de protecção civil, particularmente ao nível do combate, com a prevenção dos riscos.

Em síntese, nas palavras do deputado Abel Baptista, que presidiu aos destinos desta Comissão parlamentar, “é obrigação do órgão de soberania, Assembleia da Republica, de se envolver nesta questão, que é um problema nacional – a da defesa da floresta contra incêndios”. Um debate no qual os Partidos Políticos se empenharam e que teve sempre presente que a destruição das florestas em consequência dos incêndios “criou em nós uma verdadeira preocupação que fez com que, em termos partidários, todos nos anulássemos um pouco e déssemos relevo a um desígnio nacional e comum, que é a defesa da floresta contra os incêndios e dos bens em geral dos portugueses e, no fundo, da protecção civil”, conforme é aqui expresso nas palavras da deputada Maria Ofélia Moleiro (PSD). Foi este desígnio que esteve presente nos trabalhos da Comissão e que procurámos verter neste relatório.

1.1. Os antecedentes da Comissão

No seguimento do Verão de 2005, marcado por uma grande vaga de incêndios e, ainda, pela morte de 20 pessoas, a Assembleia da República deliberou a criação de uma Comissão Eventual para os Fogos Florestais, por forma a poder dar o seu contributo para a reflexão sobre a floresta e os fogos florestais e, ao mesmo tempo exercer o acompanhamento da implementação das medidas assumidas pelo Governo. 1 Resolução do Conselho de Ministros n.º 114/2006, Diário da República I – A Série, nº 179/2006 de 15 de Setembro

Page 7: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 7

Esta Comissão Eventual foi constituída pela Resolução da Assembleia da República nº 56/2005, publicada no Diário da República I – A Série, nº 193/2005 de 7 de Outubro, que definiu a sua composição e duração (1 ano, renovável por iguais períodos). A Comissão apresentou dois relatórios, o primeiro em Julho de 2006 e o segundo em Janeiro de 2007, ambos aprovados por unanimidade.

No primeiro relatório da Comissão Eventual para os Fogos Florestais, o seu relator - o Deputado socialista Miguel Freitas - apresentou conclusões de natureza global e de natureza operacional, com destaque para a recomendação da necessidade de “um comando político único para coordenação da prevenção e combate dos fogos florestais, a partir do sistema tripartido expresso no Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios”.

No segundo relatório, que incidiu sobre os acontecimentos decorridos durante o período crítico de incêndios florestais, o seu relator – o Deputado socialista Carlos Lopes – reitera as conclusões do primeiro e tece um conjunto de recomendações que passamos a transcrever:

Manter a estabilidade do processo legislativo, das políticas estruturais e do dispositivo integrado de defesa da floresta contra incêndios;

Reforçar o Sistema de Protecção Civil em Portugal, aumentando o nível de profissionalização de todos os agentes do sistema;

Sensibilizar os cidadãos, com campanhas que contrariem os comportamentos de risco durante o período crítico;

Dotar as áreas protegidas de melhores acessos e reforçar o número das equipas de sapadores florestais, da criação de mais postos de vigia e do fornecimento de equipamentos necessários ao combate de fogos florestais;

Apostar numa política de gestão dos combustíveis com recurso à técnica do fogo controlado, numa perspectiva de maior cooperação quer com as equipas de sapadores florestais, quer como autarquias;

Investir no dispositivo SEPNA/GNR, privilegiando a formação dos agentes envolvidos na validação e investigação das causas dos incêndios florestais;

Assegurar e aperfeiçoar a cooperação institucional com o SNBPC, a DGRF, o ICN, a PJ e a ANMP; Reforçar os meios de coordenação da vigilância e detecção da GNR, designadamente, na melhoria da Rede Nacional de Postos de Vigia e ao desenvolvimento de soluções baseadas em meios de vigilância electrónica;

Prosseguir a estratégia de profissionalização do sistema de protecção civil com o reforço do GIPS da GNR; Assumir a necessidade de instaurar o comando único a nível municipal; Concluir a reforma legislativa do voluntariado; Concluir a regulamentação do Decreto-Lei nº 124/2006, de 28 de Junho; Sensibilizar os autarcas para a promoção da gestão e ordenamento do espaço rural, designadamente ao nível da interface urbano-florestal;

Dinamizar a criação das Comissões Municipais da Defesa da Floresta Contra Incêndios enquanto espaços privilegiados para a concertação, à escala municipal, da intervenção nos espaços florestais;

Promover, concluir e aprovar os Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios; Promover a elaboração dos Planos Operacionais Municipais, com vista a uma optimização dos meios disponíveis; para a vigilância, detecção e combate aos incêndios florestais;

Promover o ordenamento florestal e alargar a prática da gestão activa da floresta.

Page 8: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 8

1.2. As resoluções da Assembleia da República

Os incêndios florestais têm constituído, nestes últimos anos, um motivo de preocupação do Parlamento. Neste século, registam-se a aprovação de quatro resoluções pela Assembleia da República neste domínio: a Resolução n.º 25/2003, aprovada em 13 de Março, que versa sobre “as políticas de prevenção e combate aos fogos florestais”, a Resolução n.º 54/2005, de 3 de Outubro, que recomenda ao Governo medidas relativas à floresta e aos incêndios de 2005, a Resolução n.º 55/2005, de 7 de Outubro sobre a adopção de medidas urgentes no sentido de melhorar a eficácia da coordenação das operações de socorro e dos Corpos de Bombeiros e a Resolução n.º 57/2005, de 7 de Outubro, que recomenda ao Governo que proceda a medidas urgentes no sentido de aumentar as brigadas de vigilantes florestais nas matas e florestas públicas.

1.3. Enquadramento da actividade da Comissão actual

Ao terminar o mandato da Comissão Eventual para os Fogos Florestais, os Deputados que a constituíram consideravam que, apesar dos aspectos positivos identificados, a luta contra os fogos florestais estava longe de ser ganha pelo que era preciso fazer mais propondo, por isso, o prolongamento do mandato. A Comissão justificava então, que a sua actividade durante o período das férias parlamentares “foi decisiva para um conhecimento mais concreto da evolução dos fogos” e que era necessário dar continuidade ao trabalho desenvolvido dado que o ano de 2007 se afigurava “como um ano decisivo para a Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios”.

Os deputados que compunham a anterior Comissão Eventual preparam o Projecto de Resolução n.º 195/X/2, um projecto subscrito por 19 Deputados de todos os Grupos Parlamentares, para a constituição de uma Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação das Políticas de Defesa da Floresta Contra Incêndios, conscientes, de que ainda existia “um longo caminho a percorrer, sobretudo quando os cenários das alterações climáticas indicam um agravamento das condições de risco de incêndio no Sudoeste Europeu”.

De facto, 2007 viria a revelar-se mais um ano dramático de incêndios florestais na Europa. Mais de um milhão de hectares foram percorridos por incêndios florestais durante o Verão, sobretudo no Mediterrâneo Oriental e no Leste Europeu. Os acontecimentos trágicos vividos na Grécia em Julho e Agosto, em que foram contabilizados mais de 270.000ha de área ardida, espelharam, uma vez mais, os impactos dos incêndios florestais ao nível económico, social e ambiental. Portugal associou-se ao auxilio europeu prestado durante os incêndios na Grécia, tendo enviado, por duas ocasiões, um avião anfíbio pesado de combate aos incêndios florestais.

A Comissão Europeia, ciente da dimensão que os incêndios florestais têm vindo a assumir na Europa, reforçou a capacidade de intervenção por via da criação de um instrumento financeiro autónomo para as matérias de Protecção Civil e também por via do reforço da capacidade de intervenção do Mecanismo Comunitário de Protecção Civil (MIC), o sistema europeu que permite aos países afectados por catástrofes naturais e de outra natureza pedir recursos de protecção civil a outros Estados-membros, tendo como objectivo fornecer uma resposta coordenada e rápida a qualquer pedido de socorro. Refira-se que em 2005, em consequência dos

Page 9: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 9

grandes incêndios florestais ocorridos no nosso país, a Protecção Civil portuguesa recorreu a esse mecanismo europeu de auxílio, o que na altura resultou na mobilização de vários aviões e helicópteros dos Estados-Membros para apoiar o combate aos incêndios florestais em território português.

No contexto europeu, importa também fazer uma referência para a Resolução sobre as Catástrofes Naturais na Europa2 que o Parlamento Europeu (PE) adoptou, por ampla maioria, na sessão plenária de 4 de Setembro último (Anexo 1). No texto desta resolução merece destaque a solicitação que os eurodeputados fazem à Comissão para introduzir medidas extraordinárias de ajuda comunitária para apoio à reabilitação das áreas ardidas, por via da flexibilização do acesso ao Fundo de Solidariedade da União Europeia. Nessa perspectiva, o PE instou firmemente o Conselho a tomar, sem mais delongas, uma decisão sobre a proposta de regulamento relativo ao Fundo de Solidariedade da UE, considerando que o novo regulamento, que - entre outras medidas - reduz os limiares para a mobilização do Fundo de Solidariedade da UE, tornará possível abordar os prejuízos de uma maneira mais eficaz, flexível e atempada. Refira-se a este propósito que a anterior Comissão Eventual para os Fogos Florestais preparou um projecto de Resolução sobre a proposta de novo Regulamento do FSUE, o qual viria a ser aprovado por unanimidade em plenário3 e em que era recomendando ao Parlamento Europeu que fosse considerada “a inclusão da seca no quadro dos mecanismos de apoio do Fundo de Solidariedade da União Europeia, a manutenção da possibilidade de apoio a crises de carácter regional, como sucede com os incêndios florestais e a criação de um Observatório Europeu da Seca e Desertificação”.

A Resolução do Parlamento Europeu solicita, também, a criação de uma Força Europeia susceptível de reagir com rapidez a emergências (conforme proposta do relatório do ex-Comissário Europeu Michel Barnier, de 9 de Maio de 2006, intitulado "Para uma Força Europeia de Protecção Civil: Europe aid") e insta os Estados-Membros a assegurar que todas as áreas florestais ardidas mantenham esse uso do solo e sejam abrangidas por programas de reflorestação, "que incluam condições vinculativas", solicitando-lhes que reforcem as sanções penais para os crimes contra o ambiente e, em particular, para aqueles que causam incêndios florestais.

Ainda no contexto europeu, merece destaque a comunicação4 adoptada pela Comissão Europeia em 5 de Março sobre o reforço da capacidade de resposta da União às catástrofes, abrangendo tanto as catástrofes naturais como as de origem humana que ocorram dentro da União Europeia ou no seu exterior. A comunicação propõe que a União Europeia reforce as suas capacidades de intervenção nos domínios da protecção civil e da ajuda humanitária, estabelecendo para esse efeito um plano de acção que se traduz em medidas específicas a aplicar até ao final de 2008, de que se destaca o reforço do mecanismo de protecção civil da Comunidade (Centro de Vigilância e Informação) num verdadeiro centro operacional e o aumento da cooperação interinstitucional, com a disponibilização, se for adequado, de equipas de planeamento e operacionais conjuntas, para lidar com catástrofes específicas que envolvam diversos instrumentos. Como exemplo concreto, a comunicação inclui uma análise específica acerca do modo de melhorar a resposta da União aos incêndios florestais. 2 http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//TEXT+TA+P6-TA-2007-0362+0+DOC+XML+V0//PT&language=PT 3 Resolução da Assembleia da Republica n.º 21/2006, publicada no Diário da República I – A Série, n.º 55/2006, de 17 de Março. 4 http://ec.europa.eu/commission_barroso/president/index_en.htm

Page 10: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 10

2. A COMISSÃO EVENTUAL DE ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA DA FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS

A Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, foi constituída pela Resolução da Assembleia da República, nº 18/2007, aprovada em Plenário a 26 de Abril por unanimidade e publicada no Diário da República I Série, nº 93/2007, de 15 de Maio. Esta Comissão parlamentar foi instalada por S. Ex.ª o Presidente da Assembleia da Republica, Dr. Jaime Gama, no dia 23 de Maio de 2007.

2.1. Objectivos

A Comissão tem por objecto produzir a reflexão e análise sobre as razões e os factores que explicam os fogos florestais, o acompanhamento e avaliação das medidas adoptadas para minorar os respectivos efeitos e elaboração de propostas para prevenir e evitar situações semelhantes (art. 1º, objecto);

2.2. Composição

A Comissão é composta por 23 Deputados5, com a seguinte distribuição pelos Grupos Parlamentares: PS - 12 Deputados; PSD - 5 Deputados; PCP - 2 Deputados; CDS-PP - 2 Deputados; BE - 1 Deputado e PEV - 1 Deputado.

A Comissão Parlamentar foi constituída pelos seguintes Deputados:

Abel Baptista – Presidente (CDS-PP) Horácio Antunes – Vice-Presidente (PS) Paulo Pereira Coelho – Secretário (PSD) José Soeiro – Secretário (PCP) Carlos Lopes (PS) Ofélia Moleiro (PSD) Fernando Cabral (PS) Miguel Almeida (PSD) Fernando Jesus (PS) Luís Carloto Marques (PSD) Helena Terra (PS) Fernando Santos Pereira (PSD) Isabel Coutinho (PS) Agostinho Lopes (PCP) Jorge Almeida (PS) Hélder Amaral (CDS-PP) Luís Vaz (PS) Alda Macedo (BE) Maria de Lurdes Ruivo (PS) Álvaro Saraiva (PEV) Miguel Ginestal (PS) Nuno Antão (PS) Vítor Pereira (PS)

5 Os Deputados são designados ou substituídos livremente pelos respectivos Grupos Parlamentares. Nesses termos, podem ser indicados suplentes a todo o tempo e, na sua falta ou impedimento, os membros da Comissão podem fazer-se substituir ocasionalmente por outros deputados do mesmo Grupo Parlamentar.

Page 11: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 11

2.3. A actividade da Comissão

A Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, para a prossecução do seu objecto, aprovou, por unanimidade, o seu plano de actividades em reunião de 6 de Junho de 2007.

No quadro da sua actividade, esta Comissão Parlamentar procedeu a um conjunto de audições com os membros do Governo com competências em matéria da defesa e protecção da floresta contra incêndios, antes e depois do período crítico de incêndios florestais, cuja síntese se anexa (anexo 2):

• Ministro da Administração Interna e Secretário de Estado da Protecção Civil (20.6.2007 e 23.10.2007). Refira-se que o titular da Pasta da Administração Interna foi ainda ouvido nesta Comissão Parlamentar no dia 28.8.2007, em resposta a um requerimento do CDS-PP sobre a política de meios aéreos. A este propósito refira-se que o CDS-PP apresentou ainda mais dois requerimentos para a audição do Ministro da Administração Interna. O primeiro requerimento (20.11.2007) foi inviabilizado com os votos contra do GPPS por se entender que o acidente com o helicóptero da EMA estava a ser investigado pelo INAC e relativamente ao desempenho do dispositivo de combate nos incêndios de Outono, seria a Autoridade Nacional de Protecção Civil a entidade a ouvir nessa matéria. Relativamente ao 2.º requerimento (13.02.2008), foi inviabilizado pelo GPPS com o entendimento que os esclarecimentos prestados pelo MAI na 1.ª Comissão eram suficientes para as questões apresentadas no requerimento.

• Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas (10.7.2007 e 17.10.2007).

• Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional e Secretário de Estado do Ambiente (11.7.2007 e 16.10.2007).

A Comissão realizou ainda um conjunto de visitas parlamentares durante o período crítico de incêndios florestais, cujo roteiro incluiu a participação em duas reuniões operacionais no Comando Nacional de Operações de Socorro da Autoridade Nacional de Protecção Civil e a deslocação a autarquias com um trabalho exemplar no domínio da DFCI, Áreas Protegidas e outras situações relevantes para a compreensão dos resultados da aplicação das medidas do Governo no terreno, cuja síntese se incluiu no anexo 3.

No âmbito da actividade desta Comissão foram também realizadas um conjunto de audições parlamentares, de balanço, com organizações representativas do sector após o período crítico de incêndios florestais:

• Ass. Nacional de Freguesias (25.9.2007) e Associação Nacional de Municípios Portugueses (3.10.2007) • Liga de Bombeiros Portugueses (25.9.2007) • Grupo de Análise e Uso do Fogo - GAUF/DGRF (3.10.2007) • BALADI – Federação Nacional de Baldios (30.10.2007), FENAFLORESTA - Federação Nacional das Cooperativas de Produtores Florestais (30.10.2007), FORESTIS – Associação Florestal de Portugal (30.10.2007), FPFP - Federação de Produtores Florestais de Portugal (16.1.2008) e UNAC – União da Floresta Mediterrânica (16.1.2008) • Movimento ECO – Empresas contra o Fogo (9.1.2008) • AFOCELCA – Agrupamento Complementar de Empresas para a Protecção contra Incêndios (16.1.2008)

Page 12: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 12

2.3.1. Visitas Parlamentares

A Comissão realizou um conjunto de visitas parlamentares durante o período critico de incêndios florestais, com o objectivo de averiguar a aplicação da política de defesa da floresta contra incêndios no terreno. Nessas visitas foi possível contactar com o dispositivo de combate aos incêndios florestais e averiguar as políticas implementadas no terreno, as fragilidades encontradas em cada um dos locais visitados e também os bons exemplos que merecem destaque. No contexto desta actividade parlamentar da Comissão deve ser sublinhado o empenho que o Secretário de Estado da Protecção Civil, Ascenso Simões, colocou no acompanhamento dos Deputados.

Foram realizadas as seguintes visitas parlamentares: - Instituto Meteorologia – 23.07.2007 - Distrito de Viseu/Mortágua - 30.07.2007 - Distrito da Guarda/Manteigas – 31.07.2007 - Distrito de Vila Real/Baldio de Fafião (Montalegre) e UTAD – 07.08.2007 - Distrito de Setúbal/Serra da Arrábida – 14.08.2007 - Distrito de Beja/Herdade da Contenda e Parque Natural do Vale do Guadiana – 20 e 21.08.2007 - Distrito de Évora/Serra d`Ossa – 27.08.2007 - Distrito de Portalegre/Parque Natural da Serra de S. Mamede – 28.08.2007 - Distrito de Coimbra/Lousã e Figueira da Foz – 03 e 04.09.2007 Balanço das visitas parlamentares

Em síntese, as principais notas recolhidas ao longo das visitas parlamentares foram as seguintes:

1) O empenhamento dos Governadores Civis na concertação de estratégias ao nível distrital, quer nos domínios da sensibilização e da prevenção operacional (vigilância), quer no acompanhamento da evolução dos incêndios florestais nos briefings operacionais semanais com os Comandos Operacionais Distritais da Protecção Civil.

2) O dispositivo integrado de combate aos incêndios florestais melhor preparado e uma maior articulação entre as várias entidades que operam no terreno.

3) A importância do conhecimento científico no apoio à formulação das políticas de prevenção e combate aos incêndios florestais. O protocolo celebrado entre a ANPC e a UTAD para a avaliação dos grandes incêndios e projecto de investigação europeu FIRE PARADOX são bons exemplos do envolvimento da comunidade científica nacional no domínio da defesa da floresta contra incêndios.

4) A necessidade de dinamizar a gestão florestal dos Baldios, com base numa lógica de gestão sustentável de uso múltiplo, onde o emergente mercado dos Títulos de Carbono tem um enorme potencial, como se observou no Baldio de Fafião.

Page 13: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 13

5) A importância do fomento das boas práticas de gestão florestal na prevenção dos incêndios florestais. A criação de uma rede nacional de “matas-modelo” para fins de demonstração, tal como a Herdade da Contenda (Moura), afigura-se importante no contexto da implementação dos PROF.

6) A importância das ZIF e dos Sapadores Florestais enquanto alavancas do movimento associativo florestal, numa perspectiva da gestão activa da floresta privada.

7) A necessidade do Governo avaliar as politicas de florestação do passado e promover a adequação das espécies florestais aos objectivos dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal, tendo em atenção as especificidades do combate à desertificação no Sul do País. Nessa perspectiva, é igualmente importante compatibilizar as políticas de arborização e de ordenamento florestal com os objectivos de conservação da natureza nas áreas protegidas.

8) A importância do planeamento do risco de incêndio nas Áreas Protegidas face aos valores prioritários de conservação dos habitats classificados da Rede Natura 2000 e a necessidade urgente de uma maior integração dos meios de detecção, vigilância e primeira intervenção na protecção desses valores ambientais.

9) A importância do envolvimento das autarquias e outros agentes locais no planeamento da recuperação das áreas ardidas, na preparação de paisagens florestais mais resilientes aos incêndios florestais. Os projectos de restauração em curso na Serra d’Ossa, na Serra da Boa Viagem e na Serra da Estrela constituem disso bons exemplos.

10) A importância da intervenção das autarquias locais na gestão de risco de incêndio, quer através do planeamento (PMDFCI e POM) quer por via das intervenções no terreno (Medida AGRIS). A partilha de responsabilidades entre a administração pública e privados é fundamental para a concretização das políticas no terreno.

Igualmente, em nossa opinião, merece referência o conjunto de ideias que o Secretário de Estado da Protecção Civil, Ascenso Simões, apresentou nas duas reuniões realizadas no Comando Nacional de Operações de Socorro da ANPC, no contexto dos briefings operacionais semanais aí realizados:

(1) Portugal continua com um numero elevado de ignições apesar da Campanha de Sensibilização Nacional, com o slogan “Portugal sem fogos depende de todos” já estar no seu segundo ano de execução. Importa, pois, prosseguir, por um lado, o trabalho de responsabilização dos cidadãos para a prevenção dos comportamentos de risco e, por outro, a repressão da acção criminosa por parte da Guarda Nacional Republicana e da Polícia Judiciária.

(2) Equacionar o envio de uma equipa multidisciplinar à Grécia para avaliar a situação ocorrida nos incêndios florestais catastróficos deste ano, face à realidade portuguesa.

(3) A Protecção Civil é um assunto com importância crescente no contexto europeu, onde deverá ser enquadrada no contexto da Nova Segurança Europeia, assumindo-se como uma prioridade europeia.

Page 14: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 14

(4) A importância da coordenação tripartida do Sistema de Defesa da Floresta Contra Incêndios – DGRF, GNR e ANPC na melhoria da actuação do dispositivo. Importa destacar o papel que acomete à Direcção-Geral dos Recursos Florestais na definição das politicas sustentadas de DFCI.

(5) A importância do enquadramento técnico e legal das práticas ancestrais das populações no uso do fogo, para evitar a proliferação das ignições nocturnas.

(6) A necessidade da informação estatística dos incêndios florestais definir uma separação mais clara entre incêndios em áreas florestais e nos incultos.

(7) A necessidade de introduzir o conceito de incêndio peri-urbano e de o tipificar para efeitos da avaliação da dimensão do fenómeno.

(8) A importância de introduzir maior tecnicidade na gestão dos incêndios florestais, com a definição técnica das circunstâncias em que um incêndio florestal pode ser considerado útil para a gestão dos combustíveis.

(9) A necessidade de um maior envolvimento das autarquias locais nos teatros de operações, designadamente por via dos Serviços Municipais de Protecção Civil

(10) A importância de integrar a vídeo-vigilância no sistema nacional de detecção de incêndios florestais. 2.3.2. Audições Parlamentares de Balanço

A Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios realizou um conjunto vasto de audições parlamentares com o objecto da avaliação da aplicação das medidas do Governo em 2007 e da indicação dos aspectos a melhorar no futuro.

De uma forma geral, as entidades auditadas reconheceram o empenho do Governo na sensibilização dos cidadãos para os comportamentos de risco, no reforço do Programa de Sapadores Florestais e na melhoria do combate aos incêndios florestais em Portugal, designadamente ao nível do comando único, da gestão dos meios e da rapidez da 1.ª intervenção. As questões relacionadas com a gestão florestal constituíram as principais preocupações daquelas entidades, nomeadamente as dificuldades na tramitação burocrática das ZIF e da definição das áreas mínimas para a sua constituição, a regularização do cadastro florestal e os apoios financeiros para o sector florestal e para o associativismo florestal, designadamente no contexto do PRODER.

Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE)

Pontos positivos Preocupações

- Colaboração das Juntas de Freguesia no esforço nacional de DFCI – 1.ª intervenção; - Programa para aquisição de meios de primeira intervenção (DGAL/ANAFRE); - Criação de Zonas de Intervenção Florestal.

- Disponibilização de meios de transporte para os kits de 1.ª intervenção; - Participação efectiva das Juntas de Freguesia nas campanhas de sensibilização; - Necessidade de reestruturação fundiária e de regularização do cadastro florestal; - Definição das normas de integração das áreas baldias nas ZIF.

Page 15: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 15

Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP)

Pontos positivos Preocupações

- Criação das Comissões Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios; - Criação dos Gabinetes Técnicos Florestais; - Elaboração dos Planos Municipais de DFCI e dos Planos Operacionais Municipais; - Sinalização das zonas críticas; - Protocolo LBP/ANMP/ANPC para a criação de equipas de intervenção permanentes nas AHBV; - Reorganização dos Serviços Municipais de Protecção Civil (legislação); - Criação das ZIF (emparcelamento/associativismo)

- Instalação dos Comandantes Operacionais Municipais; - Demoras nos pagamentos pelo IFAP, IP; - Necessidade de regularização do cadastro florestal; - Necessidade de maior flexibilização nos critérios de dimensão mínima das ZIF (critérios regionais); - Acção intermunicipal DFCI (projectos conjuntos); - Actuação dos GIPS/GNR em vigilância e fiscalização da aplicação do DL 124/2006; - Ausência da carreira de Protecção Civil na Administração Local; - Programa para aquisição de meios de primeira intervenção (DGAL/ANAFRE); - Regulamentação do DL 124/2006 (condicionamento da edificação no espaço rural).

UNAC – União da Floresta Mediterrânica

Pontos positivos Preocupações

- Reforço da cooperação institucional; - Reforço da capacidade de 1.ª intervenção; - Campanha de sensibilização dirigida para o meio rural (coordenação DGRF); - Gestão dos meios aéreos. - ZIF, enquanto prioridade para a aplicação da gestão florestal no Norte e Centro; - Programa de Sapadores Florestais; - Pré-posicionamento de meios em dias de risco de incêndio florestal elevado.

- Apoio às organizações de produtores florestais no âmbito do PRODER. - Necessidade de maior flexibilização nos critérios de dimensão mínima das ZIF (critérios regionais); - Comunicação nos TO (única rede de comunicações de DFCI); - Necessidade de regularização do cadastro florestal; - Medidas de apoio à recuperação das áreas ardidas, designadamente à extracção da cortiça queimada.

FENAFLORESTA

Pontos positivos Preocupações

- Campanha de sensibilização dirigida para o meio rural (coordenação DGRF); - ZIF, enquanto prioridade para a aplicação da gestão florestal; - Programa de Sapadores Florestais.

- Financiamento das equipas de sapadores florestais pelo Estado; - Demoras na tramitação burocrática da constituição das ZIF; - Necessidade de maior flexibilização nos critérios de dimensão mínima das ZIF (critérios regionais); - Necessidade de regularização do cadastro florestal; - Fiscalidade florestal (incentivos fiscais à gestão florestal em sede de IRS – “protecção florestal”); - Financiamento do Estado para a execução das medidas previstas no DL 124/2006.

Page 16: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 16

FORESTIS – Associação Florestal de Portugal

Pontos positivos Preocupações

- Comando único; - Formação profissional (técnicos e sapadores florestais) no fogo controlado; - ZIF, enquanto prioridade para a aplicação da gestão florestal; - Programa de Sapadores Florestais; - Utilização do Fogo Controlado na gestão da Rede Primária de DFCI; - Integração da componente meteorológica no sistema de informação do dispositivo nacional de combate aos incêndios florestais; - Redução das taxa e emolumentos para a regularização da situação jurídica dos prédios rústicos florestais.

- Consolidação da programação das campanhas de sensibilização coordenadas pela DGRF; - Necessidade de campanhas de sensibilização dirigidas para as escolas primárias e secundárias; - Reduzida verba disponível para o apoio à gestão florestal no Fundo Florestal Permanente (23%); - Demoras na tramitação burocrática da constituição das ZIF; - Definição das normas de integração das áreas baldias nas ZIF; - Fiscalidade florestal (incentivos fiscais à gestão florestal em sede de IRC e IRS); - Lei de cortes e certificação florestal; - Apoio às organizações de produtores florestais no âmbito do PRODER.

FPFP – Federação dos Produtores Florestais de Portugal

Pontos positivos Preocupações

- Campanha de sensibilização dirigida para o meio rural (coordenação DGRF); - ZIF, enquanto prioridade para a aplicação da gestão florestal; - Projectos AGRIS de gestão de combustíveis; - Reforço do Programa de Sapadores Florestais; - Reforço da 1.ª intervenção, apoiada pelas brigadas helitransportadas; - Criação dos Gabinetes Técnicos Florestais; - Criação do Fundo Florestal Permanente.

- Manutenção dos apoios comunitários no PRODER às acções de silvicultura preventiva (prioridade para a manutenção de projectos anteriores); - Manutenção da prioridade das Organizações de Produtores Florestais na constituição de equipas de sapadores florestais; - Critérios de prestação de serviço público pelas equipas de sapadores florestais; - Demoras na tramitação burocrática da constituição das ZIF; - Necessidade de maior flexibilização nos critérios de dimensão das ZIF (integração das áreas baldias); - Regularização do cadastro florestal - Regulamento de apoios a conceder pelo FFP 2007/2008.

BALADI – Federação Nacional de Baldios

Pontos positivos Preocupações

- Campanha de sensibilização dirigida para o meio rural (coordenação DGRF); - ZIF, enquanto prioridade para a aplicação da gestão florestal; - Reforço do Programa de Sapadores Florestais; - Elaboração dos Planos de Utilização dos Baldios; - Criação das ZIF; - Redução da taxa de IVA para as operações de silvicultura.

- Financiamento das equipas de sapadores florestais dos Conselhos Directivos de Baldios em regime de co-gestão com Estado (prestação do serviço público); - Demoras na tramitação burocrática da constituição das ZIF; - Necessidade de maior flexibilização nos critérios de dimensão das ZIF e de integração das áreas baldias; - Financiamento do Estado para a execução das medidas previstas no DL 124/2006; - Actuação da GNR na fiscalização do DL 124/2006; - Atrasos no pagamento das verbas do QCAIII.

Page 17: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 17

Liga dos Bombeiros Portugueses

Pontos positivos Preocupações

- Dialogo construtivo com o Governo (MAI/SEPC); - Protocolo LBP/ANMP/ANPC para a criação de equipas de intervenção permanentes nas AHBV; - Criação do Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF); - Melhoria significativa no patrulhamento preventivo; - Melhoria substancial da qualidade da 1.ª intervenção; - Melhoria na gestão de meios no ataque ampliado (CNOS); - Realização sistemática de briefings operacionais diários e semanais, de balanço, no CNOS/ANPC. - Investimento na formação, designadamente aos elementos de comando nos Teatros de Operações; - Evolução progressiva dos índices de profissionalização do combate aos incêndios florestais (ex. Companhia Especial de Bombeiros – Canarinhos); - Estabilidade dos recursos humanos envolvidos no dispositivo de combate aos incêndios florestais;

- Regulamentação da legislação de base da Protecção Civil; - Definição do perfil funcional do comandante operacional distrital e municipal; - Aprofundar a multidisciplinaridade na composição do Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF); - Financiamento dos Corpos de Bombeiros; - Valorização social e económica da fileira florestal, designadamente ao nível da pequena propriedade florestal; - Gestão de combustíveis em torno das habitações; - Utilização dos Kits de 1.ª intervenção pelas Juntas de Freguesia, sem a respectiva formação profissional: - Valorização e o reforço da interacção intermunicipal; - Implementação das políticas de Ordenamento Florestal; - Mudança de comportamento cívica dos cidadãos face ao risco de incêndio.

Ainda neste contexto de balanço, julgamos que a apreciação tecida na Comissão Eventual pelo Presidente do Conselho de Administração da AFOCELCA, Eng. Pedro Moura, fruto da sua vasta experiência no domínio dos incêndios florestais, sintetiza de uma forma clara e objectiva uma visão analítica do sistema nos seus pontos fortes, pontos fracos, oportunidade de desenvolvimento e ameaças, tendo sido unanimemente reconhecida pelos Deputados como um balanço correcto de 2007 (tabela 1). Na sua perspectiva, as medidas tomadas no âmbito da Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios estão no bom caminho. “Os resultados são encorajadores”, disse naquela audição parlamentar.

Page 18: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 18

Tabela 1: Balanço analítico do SNDFCI - 2007 (fonte: AFOCELCA, 2007)

•Motivação das estruturas envolvidas•Alto compromisso das estruturas autárquicas•Reforço da rede de colaboração internacional

•Reforço das campanhas de sensibilização, orientadas para cada segmento identificado•Intensificação da fiscalização•Compreensão / Cooperação no uso do fogo com comunidades locais•Intensificação da vigilância•Optimizar o pré-posicionamento e a rapidez e eficácia da 1ª intervenção

Ameaças

1.Situações climatéricas extremas2.Relaxamento das Estruturas (auto-convencimento)3.Ausência de prevenção estrutural4.Nº exagerado de ignições / Ignições nocturnas5.Detecção / Alerta tardios6.Não aplicação da legislação <> PNDFCI7.Recuperação das áreas ardidas / Áreas abandonadas

•Segmentação territorial das principais causas•Prioridade à detecção (rapidez e taxa de cobertura)•Automatização dos sistemas de alerta•Programa de formação plurianual (em sala e no local de trabalho) para os diferentes agentes•Plano de financiamento plurianual garantindo a coerência com os objectivos do PNDFCI

•Garantir programa de gestão de combustíveis <> Uso do fogo controlado e outras técnicas•Garantir coerência na aplicação de políticas e da legislação

Oportunidades

1.Ordenamento do território (PROF’s; PDM’s) =>PMDFCI <> GTF’s (escala intermunicipal)2.ZIF’s e outras formas de organização da produção3.Aplicação da legislação / Coercibilidade4.Meios tecnológicos (conhecimento; tecnologias de informação e comunicação)5.Conhecimento das causas / Grupos de risco6.7º Quadro Comunitário de Apoio / FFPermanente

Pontos Fracos

1.Desconhecimento de % elevada das causas2.Capacitação estratégica incipiente3.Capacitação especializada não generalizada (Dispositivo, SF, GTF’s)4.Interacção frágil com o poder autárquico5.Deficiente articulação dos SF <> 1ª intervenção <> Rescaldo <> apoio ao combate <> GAUF’s6.Falta de visibilidade de um sistema integrado de informação de seguimento e avaliação do PNDFCI7.Financiamento não garantido das acções do PNDFCI

Pontos Fortes

1.Comando único2.Rapidez na 1ª intervenção3.Filosofia intervenção dos meios aéreos4.Profissionalização / Especialização (GIP’s, Canarinhos, GAUF’s)5.Campanhas de sensibilização6.Capacidade de fiscalização7.Generalização do uso dos equipamentos de segurança

•Motivação das estruturas envolvidas•Alto compromisso das estruturas autárquicas•Reforço da rede de colaboração internacional

•Reforço das campanhas de sensibilização, orientadas para cada segmento identificado•Intensificação da fiscalização•Compreensão / Cooperação no uso do fogo com comunidades locais•Intensificação da vigilância•Optimizar o pré-posicionamento e a rapidez e eficácia da 1ª intervenção

Ameaças

1.Situações climatéricas extremas2.Relaxamento das Estruturas (auto-convencimento)3.Ausência de prevenção estrutural4.Nº exagerado de ignições / Ignições nocturnas5.Detecção / Alerta tardios6.Não aplicação da legislação <> PNDFCI7.Recuperação das áreas ardidas / Áreas abandonadas

•Segmentação territorial das principais causas•Prioridade à detecção (rapidez e taxa de cobertura)•Automatização dos sistemas de alerta•Programa de formação plurianual (em sala e no local de trabalho) para os diferentes agentes•Plano de financiamento plurianual garantindo a coerência com os objectivos do PNDFCI

•Garantir programa de gestão de combustíveis <> Uso do fogo controlado e outras técnicas•Garantir coerência na aplicação de políticas e da legislação

Oportunidades

1.Ordenamento do território (PROF’s; PDM’s) =>PMDFCI <> GTF’s (escala intermunicipal)2.ZIF’s e outras formas de organização da produção3.Aplicação da legislação / Coercibilidade4.Meios tecnológicos (conhecimento; tecnologias de informação e comunicação)5.Conhecimento das causas / Grupos de risco6.7º Quadro Comunitário de Apoio / FFPermanente

Pontos Fracos

1.Desconhecimento de % elevada das causas2.Capacitação estratégica incipiente3.Capacitação especializada não generalizada (Dispositivo, SF, GTF’s)4.Interacção frágil com o poder autárquico5.Deficiente articulação dos SF <> 1ª intervenção <> Rescaldo <> apoio ao combate <> GAUF’s6.Falta de visibilidade de um sistema integrado de informação de seguimento e avaliação do PNDFCI7.Financiamento não garantido das acções do PNDFCI

Pontos Fortes

1.Comando único2.Rapidez na 1ª intervenção3.Filosofia intervenção dos meios aéreos4.Profissionalização / Especialização (GIP’s, Canarinhos, GAUF’s)5.Campanhas de sensibilização6.Capacidade de fiscalização7.Generalização do uso dos equipamentos de segurança

Page 19: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 19

3 – AVALIAÇÃO DA POLITICA NACIONAL DE DEFESA DA FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS

3.1. Actividade legislativa

A actividade legislativa no domínio dos incêndios desenvolvida durante o ano de 2007 pode ser caracterizada segundo duas vertentes principais: (1) Reforma da Administração Central do Estado, ao abrigo do PRACE, (2) Código Penal e (3) Reforma da Protecção Civil. Como expressou o Ministro da Administração Interna, aquando da audição parlamentar de 23 de Outubro, “têm sido aprovadas leis que são absolutamente indispensáveis para fazer frente ao fenómeno dos incêndios florestais e para proteger a floresta.”

3.1.1. Reforma da Administração Pública Central do Estado

O Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE), foi aprovado pelo Governo através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 124/2005, de 4 de Agosto, cujo enquadramento estratégico e reestruturação organizacional da macroestrutura de todos os ministérios viria a ser adoptado na Resolução do Conselho de Ministros n.º 39/2006, de 21 de Abril.

Decorrente da micro-avaliação dos organismos dos Estado, foram aprovadas as novas leis orgânicas das entidades com maiores responsabilidades no domínio da Defesa da Floresta Contra Incêndios, nomeadamente a Autoridade Nacional de Protecção Civil, a Direcção-Geral dos Recursos Florestais, a Guarda Nacional Republicana e o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade.

Organismo Lei Orgânica

Autoridade Nacional de Protecção Civil Decreto-Lei n.º 75/2007, de 29 de Março

Direcção-Geral dos Recursos Florestais Decreto Regulamentar n.º 10/2007, de 27 de Fevereiro

Inst. Conservação da Natureza e da Biodiversidade

Decreto-Lei n.º 136/2007, de 27 de Abril

Guarda Nacional Republicana Lei n.º 63/2007, de 6 de Novembro

Autoridade Nacional de Protecção Civil

A entrada em vigor, em 2006, da Lei de Bases de Protecção Civil (Lei n.º 27/2006, de 3 de Julho) e do Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro (SIOPS), com a publicação do Decreto-Lei n.º 134/2006, de 25 de Julho, estabeleceram as condições de partida para a redefinição do Sistema de Protecção Civil, assumindo a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) um papel fundamental nesse contexto.

A nova Lei Orgânica do Ministério da Administração Interna, motivou a reestruturação do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, enquanto serviço central de natureza operacional, tendo passado a designar-se

Page 20: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 20

Autoridade Nacional de Protecção Civil, assumindo as funções de autoridade nacional e integrando competências do Conselho Nacional do Planeamento Civil de Emergência nos domínios da protecção civil. Nesse quadro, a ANPC tem como missão planear, coordenar e executar a política de protecção civil, designadamente na prevenção e reacção a acidentes graves e catástrofes, de protecção e socorro de populações e de superintendência da actividade dos bombeiros, integrando a estrutura de comando do SIOPS.

Direcção-Geral dos Recursos Florestais

A Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF) foi objecto de reestruturação, mantendo-se como serviço central da administração directa do Estado, investida das funções de autoridade florestal nacional nos termos do n.º 1 do artigo 12.º da Lei n.º 33/96, de 17 de Agosto (Lei de Bases da Política Florestal).

O Decreto Regulamentar n.º 10/2007, de 27 de Fevereiro, que aprova a nova orgânica da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, enquadra as alterações realizadas na organização interna deste organismo no reforço da sua missão e respectivas competências no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios e por forma a assegurar a adequada operacionalização da Estratégia Nacional para as Florestas, aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 114/2006. A reforma do Ministério da Agricultura, que “é politicamente muito importante, tem muita sensibilidade”, motivou a decisão do Titular dessa Pasta “assumir o risco de tudo isso e, portanto, centralizei no Ministro, numa fase transitória, entre outras, a Direcção-Geral das Florestas e toda a política florestal”.

No contexto especifico da Defesa da Floresta Contra Incêndios, é atribuída a esta Direcção-Geral a missão de promover a prevenção estrutural, nas vertentes da sensibilização, planeamento, organização do território florestal, silvicultura, infra-estruturação, reabilitação e recuperação, no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, desenvolvendo acções e programas com vista à adequada protecção da floresta contra incêndios florestais, contribuindo para a minimização da área ardida e do número de ocorrências, através, nomeadamente, da operacionalização de sistemas de prevenção. Para a sua concretização é nomeado um Subdirector-Geral com competências específicas para esta área e uma Direcção de Serviços de Defesa da Floresta Contra Incêndios.

O Conselho de Representantes de Defesa da Floresta Contra Incêndios (CRDFCI) passa a ser consagrado como o órgão da DGRF, ao qual compete, emitir parecer sobre o Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios e sobre os programas anuais ou plurianuais de actividades no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, entre outras.

Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade

Nos termos da Lei Orgânica do MAOTDR, foi decidida a manutenção e reestruturação do Instituto da Conservação da Natureza (ICN), refundado com a componente da biodiversidade e redenominado Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), na qualidade de instituto público na esfera da administração indirecta do Estado.

Page 21: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 21

Com a reestruturação operada, consagrada no Decreto-Lei n.º 136/2007, de 27 de Abril, o Governo visou assegurar o enquadramento jurídico na lei quadro dos institutos públicos, o que não fora feito para o ICN, e também adequar o ICNB aos novos desafios que se colocam a esta entidade com funções de autoridade nacional para a conservação da natureza e da biodiversidade, promovendo, simultaneamente, ganhos de eficiência pela simplificação de procedimentos e de racionalização de meios, designadamente aqueles afectos às áreas protegidas. Na perspectiva do Ministro do Ambiente, Francisco Nunes Correia, esta reestruturação permitiu “agrupar essas áreas em clusters, em grupos, e ter uma capacidade de intervenção, de partilha de recursos, de mobilidade de recursos que permita dar uma resposta mais eficaz a esse conjunto de áreas classificadas”.

Guarda Nacional Republicana

A Assembleia da República aprovou a Lei Orgânica da GNR através da Lei n.º 63/2007, de 6 de Novembro. Perante esta nova lei orgânica constituem atribuições da GNR: 1) assegurar o cumprimento das disposições legais e regulamentares referentes à protecção e conservação da natureza e do ambiente, bem como prevenir e investigar os respectivos ilícitos e 2) Executar acções de prevenção e de intervenção de primeira linha, em todo o território nacional, em situação de emergência de protecção e socorro, designadamente nas ocorrências de incêndios florestais ou de matérias perigosas, catástrofes e acidentes graves. 3.1.2. A regulamentação do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho

O Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Julho, estabelece as medidas e acções a desenvolver no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, tendo revogado o Decreto-Lei n.º 156/2004, de 30 de Junho. O Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, nos termos definidos no art.º 2 daquele diploma, prevê o conjunto de medidas e acções estruturais e operacionais relativas à prevenção e protecção das florestas contra incêndios, nas vertentes de sensibilização, planeamento, conservação e ordenamento do território florestal, silvicultura, infra-estruturação, vigilância, detecção, combate, rescaldo, vigilância pós-incêndio e fiscalização, a levar a cabo pelas entidades públicas com competências na defesa da floresta contra incêndios e entidades privadas com intervenção no sector florestal.

No quadro da regulamentação deste diploma, em 2007 foram publicadas duas Portarias, e estando a aguardar aprovação ou em finalização mais cinco Portarias. A prevenção estrutural assume um papel predominante neste sistema, assente na actuação de forma concertada de planeamento e na procura de estratégias conjuntas, conferindo maior coerência regional e nacional à defesa da floresta contra incêndios. Nessa óptica foi publicada a Portaria n.º 133/2007, de 26 de Janeiro, que define as normas técnicas e funcionais relativas à classificação, cadastro e construção dos pontos de água, integrantes das redes regionais de defesa da floresta contra incêndios (RDFCI). Neste momento ainda faltam publicar algumas das portarias que regulamentam o Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, designadamente aquelas que actualizam as Portarias que haviam sido publicadas aquando da regulamentação do Decreto-Lei n.º 156/2004, de 30 de

Page 22: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 22

Junho. A tabela 2 apresenta o ponto de situação do processo de regulamentação do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho.

Tabela 2: Regulamentação do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho – Ponto de situação. (Fonte: DGRF, 2007)

Regulamentação Decreto-Lei n.º 124/2006

Responsabilidade institucional Assunto Legislação em vigor

Alínea q) do art. 3.º MADRP Período critico Port. n.º 755/2007, de 29 de Junho

n.º 3 do art. 5.º MADRP, ouvida a ANPC

Zonagem do continente, segundo o risco espacial de incêndio

Port. n.º 1060/2004, de 19 de Agosto

n.º 2 do art.º 6.º MADRP e MAOTDR Zonas críticas Portaria n.º 1056/2004, de 19 de

Agosto (novo diploma em aprovação)

n.º 2 do art. 10.º MADRP Estrutura-tipo dos PMDFCI Port. n.º 1139/2006, de 25 de Outubro

n.º 6 do art. 13.º MADRP Especificações técnicas relativas a equipamentos florestais de recreio

Port. n.º 1140/2006, de 25 de Outubro

n.º 7 do art. 13.º MADRP Especificações técnicas de redes de faixas e dos mosaicos de parcelas de Gestão de Combustíveis

Aguarda publicação (em reformulação)

n.º 3 do art. 14.º MADRP; Min. Finanças

Indemnizações compensatórias – código de expropriações

Aguarda publicação (em reformulação)

n.º 4 do art. 14.º MADRP; Min. Finanças

Cedência de gestão a autarquias e outras entidades das infraestruturas de DFCI

Aguarda publicação (em reformulação)

Artigo 20.º MADRP

Normalização das redes regionais de DFCI (classificação, cadastro, construção, manutenção e sinalização e de vias integrantes da rede viária florestal, pontos de água e das demais infra-estruturas florestais)

Pontos de água: Port. n.º 133/2007, de 26 de Janeiro; Rede Viária Florestal e demais infra-estruturas florestais aguardam publicação (em aprovação)

n.º 2 do art. 24.º MADRP Sinalização de zonas criticas Port. n.º 1169/2006, de 2 de Novembro

n.º 1 do art. 26.º MADRP; MAI Regulamento Fogo controlado Port. n.º 1061/2004, de 21 de Agosto (novo diploma em finalização)

Nos termos do disposto na alínea q) do art.º 3.º do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, foi publicada a Portaria n.º 755/2007, de 29 de Junho, do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, que estabelece o período crítico, período durante o qual são adoptadas medidas e acções especiais de prevenção contra incêndios florestais no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, e que em 2007 vigorou entre 1 de Julho e 30 de Setembro. A respeito desta Portaria gostaria de deixar uma chamada de atenção para a publicação algo tardia em 2007 deste diploma no Diário da República, já que dadas as medidas preventivas que vigoram durante o período crítico, em nosso entender, esta informação deve ser amplamente difundida por forma a assegurar o seu conhecimento pelos cidadãos.

Ainda a propósito do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, foi identificado pela deputada socialista Rosalina Martins a necessidade de rever as imposições relativas às condições de edificação no espaço rural previstas no n.º 3 do art.º 16.º. Este diploma estabelece que “as novas edificações em espaço florestal ou rural salvaguardarem, na sua implantação no terreno, a garantia de distância à extrema da propriedade de uma

Page 23: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 23

faixa de protecção nunca inferior a 50m”. Com esse propósito, a Deputada socialista introduziu este assunto no debate político aquando da audição parlamentar com a ANMP, tendo por base a moção aprovada na Assembleia Municipal de Paredes de Coura, um município pequeno, de uma zona de minifúndio, no sentido de alterar essa disposição legal, uma vez que, como relatou, “há muitos processos que, neste momento, estão parados porque, como é evidente, numa zona de minifúndio é extremamente difícil cumprir os 50m à extrema das propriedades, conforme impõe o n.º 3 do artigo 16.º daquele diploma”. No parecer produzido pela ANMP, aquela medida legal é tida como sendo “desproporcionada, na generalidade dos casos, e impeditiva de qualquer construção”.

A Associação Nacional de Municípios Portugueses apresentou ao Ministério da Agricultura, em final de Setembro, uma proposta de alteração desse artigo que visa ajustar a redacção dos números 2 e 3 do mencionado art.º 16.º, clarificando o âmbito territorial da sua aplicação, o qual “não deverá abranger os terrenos já classificados como solo urbano no âmbito dos instrumentos de gestão territorial vinculativos para os particulares” (PDM). Sobre este assunto, Jaime Soares (ANMP), aquando da audição parlamentar pronunciou-se, considerando que “apesar de a alteração ser positiva (aquela que estamos a negociar), importa ressalvar que o território não é uniforme, porque os inúmeros municípios, face à sua morfologia e ao minifúndio, continuarão a ter sérios constrangimentos decorrentes da aplicação das restrições às construções previstas pelo artigo referido, o que se traduz na diminuição da edificação no solo rural e no aumento da desertificação”.

Em meados de Dezembro, a ANMP voltou a pronunciar-se sobre esta matéria junto do Ministério da Agricultura, propondo um conjunto de soluções que passamos a transcrever:

1) A revogação do n.º 3 do artigo 16.º, ou seja, a interdição de construção aplica-se somente na situações de elevado ou muito elevado risco, como tal delimitado no PMDFCI, deixando de se exigir quaisquer faixas de segurança, para os restantes espaços rurais e florestais;

2) O n.º 3 do artigo 16.º deveria ser de aplicação transitória, enquanto não está definido em plano municipal as zonas de risco elevado ou muito risco. Uma vez aprovado o plano municipal de defesa da floresta as limitações impostas pela disposição legal referida, deixariam de ter qualquer aplicabilidade e

3) Por fim, tem sido entendimento generalizado que a exigência dos 50m terá que ser adaptada ou a cada região do país ou a cada situação concreta, comprovando-se que o risco é mínimo.

Neste capítulo do processo de regulamentação do Decreto-Lei n.º 124/2006, importa chamar a atenção para a demora na publicação da Portaria que define as zonas criticas, um diploma conjunto dos Ministérios da Agricultura e do Ambiente, que identifica “as manchas florestais onde se reconhece ser prioritária a aplicação de medidas mais rigorosas de defesa da floresta contra incêndios face ao risco de incêndio que apresentam e em função do seu valor económico, social ou ecológico são designadas por zonas críticas, sendo estas identificadas, demarcadas e alvo de planeamento próprio nos planos regionais de ordenamento florestal”. Trata-se, pois, de um diploma fundamental para a gestão do risco de incêndio florestal, com evidentes repercussões no planeamento dos meios e na aplicação dos recursos financeiros e cuja demora foi questionada na Comissão aos Titulares das Pastas da Agricultura e do Ambiente pelos Grupos Parlamentares do PSD e do PCP.

Page 24: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 24

3.1.3. Outras medidas legais

Durante 2007 teve lugar a publicação do Decreto-Lei n.º 55/2007, de 12 de Março, que introduziu a 3.ª alteração ao Decreto-Lei n.º 327/90, de 22 de Outubro, o qual estabelece restrições à alteração do uso do solo nos terrenos com povoamentos florestais percorridos por incêndios, não classificadas nos planos municipais de ordenamento do território como solos urbanos.

Nos termos deste diploma, ficam proibidos nesses terrenos, pelo prazo de 10 anos, a realização de obras de construção de quaisquer edificação, a realização de operações de loteamento, a realização de obras de urbanização e a realização de obras de reconstrução ou de ampliação das edificações existentes. Este Decreto-Lei introduz a possibilidade de serem levantadas as proibições em certas situações de manifesto interesse público, ou quando a previsão ou a necessidade da realização da acção em causa não se compadece com o estrito prazo fixado na lei para o requerimento referido, permitindo o levantamento das proibições possa ser feito para além do primeiro ano após o incêndio, nesses casos ou de empreendimentos com relevante interesse geral reconhecidos como tal, por despacho conjunto dos Ministros do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional e da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas e do membro do Governo competente em razão da matéria.

A alteração do uso do solo após incêndio é uma matéria que tem merecido a preocupação de Estrasburgo, consubstanciado na Resolução do Parlamento Europeu adoptada em 4 de Setembro, sobre as catástrofes naturais, na qual os Estados-Membros são instados a “assegurar que todas as áreas florestais ardidas continuem a ser floresta e sejam abrangidas por programas de reflorestação, que incluam condições vinculativas, e a implementar legislação adequada no domínio da conservação e da utilização apropriada do solo, incluindo práticas sustentáveis de exploração agrícola e silvícola, gestão da água e gestão eficaz dos riscos, e a planear de imediato políticas de reconstrução alargadas para o turismo e para a economia local afectada.” A alteração do uso do solo em povoamentos florestais é igualmente objecto de monitorização em sede do Protocolo de Quioto, que avalia as actividades relativas à Florestação, Reflorestação e Desflorestação, a qual é definida para efeitos da contabilidade do balanço de Carbono como a conversão do uso do solo florestal para outros usos.

No capítulo legislativo merece também destaque a recente publicação do Decreto-Lei n.º 364/2007, de 2 de Novembro, que prorroga por mais três anos o período de vigência das medidas destinadas à regularização da situação jurídica dos prédios rústicos sitos em áreas florestais, estabelecidas pelo Decreto-Lei n.º 136/2005, de 17 de Agosto, numa iniciativa legislativa do actual Executivo e que havia cessado no passado dia 22 de Agosto.

Recorda-se, a este propósito, que o Decreto-Lei n.º 136/2005, de 17 de Agosto estabelece medidas, de carácter excepcional e transitório, destinadas à regularização da situação jurídica dos prédios rústicos sitos em áreas florestais (terrenos ocupados com arvoredos florestais com uso silvo-pastoril ou incultos de longa duração) durante um prazo de 2 anos, reduzindo os emolumentos em 80% por actos notariais e no registo público e da gratuitidade das inscrições nas respectivas matrizes prediais. Estas medidas aplicam-se aos prédios rústicos sitos em áreas florestais com áreas iguais ou inferiores a 7,50ha.

Page 25: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 25

Com a publicação do Decreto-Lei n.º 364/2007, de 2 de Novembro, é dada continuidade a uma medida da política florestal, que é unanimemente reconhecida como necessária num país onde a propriedade florestal é maioritariamente privada e de pequena dimensão. A ausência do cadastro florestal em grande parte do país e de actualização do registo predial das propriedades, no sentido de se saber exactamente quem são os proprietários da floresta, das pequenas parcelas de floresta tem sido um obstáculo à criação das ZIF, como evidenciaram os Grupos Parlamentares do Partido Socialista e do Partido Social Democrata. Nessa perspectiva, a publicação daquele diploma pelo Governo foi encarada como um bom incentivo para os proprietários florestais registarem as suas propriedades e assim podermos dar os passos seguintes, designadamente avançar mais na constituição das ZIF.

Somos, pois, da opinião que as medidas preconizadas no do Decreto-Lei n.º 364/2007, de 2 de Novembro, bem como a redução do IVA para 5% em trabalhos de silvicultura preventiva, publicada na Lei n.º 21/2006, de 23 de Junho, são medidas positivas para o incentivo à gestão dos espaços florestais privados e como tal deverão ser amplamente publicitadas e os seus impactos medidos e avaliados. 3.1.4. A revisão do Código Penal

No dia 15 de Setembro entrou em vigor a Lei n.º 59/2007, de 4 de Setembro, que procede à vigésima terceira alteração ao Código Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro, e à sua republicação.

A revisão do Código Penal esteve a cargo da Unidade de Missão para a Reforma Penal (UMRP) criada pela Resolução do Conselho de Ministros nº 138/2005, de 29 de Julho e extinta por Resolução do Conselho de Ministros, no dia 12 de Abril de 2007. Esta estrutura, na dependência directa do Ministro da Justiça, teve por objecto a concepção, apoio e desenvolvimento dos projectos de reforma da legislação penal, integrada no conjunto de reformas que o Governo encetou no sistema de justiça penal.

A Unidade de Missão para a Reforma Penal foi coordenada pelo Mestre Rui Pereira, actual titular da Pasta da Administração Interna, e por um Conselho que integrou representantes das magistraturas, dos advogados, das polícias, dos serviços prisionais e de reinserção social e de todos os organismos relevantes dependentes do Ministério da Justiça, para além de vários professores universitários de áreas científicas consideradas relevantes para efeitos da reforma penal em curso.

Do trabalho realizado pela Unidade de Missão resultou um ante-projecto de proposta de Lei de revisão do Código Penal, que foi aprovada em sede de Conselho de Ministros de 7 de Setembro de 2006 e viria a ser submetido à aprovação da Assembleia da República sob a forma da Proposta de Lei n.º 98/X. Esta proposta de Lei procede à vigésima primeira alteração ao Código Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro e visa alterar a Parte Geral e a Parte Especial do Código Penal. Entre as principais alterações propostas destaca-se, entre outras, a resposta mais eficaz a fenómenos criminais graves, como o tráfico de pessoas, o incêndio florestal, os crimes ambientais e as falsificações. O diploma final foi aprovado em sessão plenária de 12 de Julho de 2007, com os votos favoráveis do PS e PSD e a abstenção dos demais Grupos Parlamentares.

Page 26: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 26

No processo de revisão do Código Penal esteve presente o pressuposto de que o Código em vigor, de 1982/1995, é uma boa lei nos planos político-criminal e técnico-jurídico. A revisão foi imposta por vários factores: obrigações comunitárias e internacionais, resultantes de Convenções e Decisões-Quadro da União Europeia; recomendações constantes do relatório concluído em 2004 pela Comissão de Reforma do Sistema Prisional; a jurisprudência do Tribunal Constitucional, em especial quanto a crimes contra a autodeterminação sexual; algumas recomendações do Provedor da Justiça sobre a contagem dos prazos de prisão; a emergência de novos e preocupantes fenómenos criminais, designadamente em matéria de tráfico de pessoas e falsificação de documentos; e também o programa do Governo.

Esta revisão procura fortalecer a defesa dos bens jurídicos, abrangendo a alteração de 110 artigos e o aditamento de 14 artigos ao Código que estava em vigor. É nesse quadro que surge o art.º 274.º, que autonomiza o crime de incêndio florestal, punido com um a oito anos de prisão independentemente da criação de perigo para a vida, a integridade física ou bens patrimoniais alheios de valor elevado, circunstâncias que agravam a responsabilidade do agente. Esta alteração resulta da identificação de um interesse suprapessoal de natureza comunitária, como o bem jurídico protegido e, em simultâneo, da compreensão da gravidade dos fogos sazonais que ano após ano, devastam as florestas. Neste domínio, é punível a negligência e criminalizada a conduta dolosa de quem impedir ou dificultar o combate aos incêndios. Com a introdução deste último aspecto recuperou-se os crimes de impedir o combate aos incêndios (punível com prisão de um a oito anos) e dificultar a extinção de incêndios (punível com prisão de um a cinco anos) que constavam do Código Penal de 1986. Retoma-se, de igual modo, a medida de segurança de internamento intermitente de inimputáveis durante os meses de maior risco de ocorrência de fogos.

Para delimitar o âmbito dos crimes, exceptuam-se os trabalhos destinados a combater incêndios ou defender a floresta que se mostrarem indicados e forem realizados, de acordo com as regras aplicáveis, por pessoa qualificada ou devidamente autorizada, não caem no âmbito dos tipos incriminadores.

Em suma, o Código Penal actualmente em vigor além de apresentar uma nova formulação e o agravamento de penas para o crime de incêndio florestal, "recupera" algumas sanções de revisões anteriores. Inovadora é a previsão de um crime negligente de incêndio florestal, independentemente da criação de qualquer perigo, que é punível com prisão até três anos. A propósito das alterações introduzidas no Código, importa citar Rui Pereira, Ministro da Administração Interna: “Recordaria que, graças a uma lei aprovada por VV. Exas., o crime de fogo posto, que era até aqui um crime previsto como um crime contra bens pessoais e que se consumava quando fosse criado um perigo concreto doloso contra a vida, a integridade física ou bens patrimoniais de alguém, passou a ser previsto como um crime contra bens da colectividade, contra bens comunitários, contra bens ambientais, que se consuma quando houver um fogo posto, independentemente da criação desse perigo concreto contra bens individuais. Esta é a forma correcta de proteger a floresta, de conceber a floresta como um bem de todos”.

A tabela 3 da página seguinte transcreve o art.º 274.º da Lei n.º 59/2007, de 4 de Setembro.

Page 27: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 27

Tabela 3: Código Penal – Crime de incêndio florestal (art.º 274.º da Lei n.º 59/2007, de 4 de Setembro).

Artigo 274.º Incêndio florestal

1 — Quem provocar incêndio em floresta, mata, arvoredo ou seara, próprias ou alheias, é punido com pena de prisão de um a oito anos. 2 — Se, através da conduta referida no número anterior, o agente: a) Criar perigo para a vida ou para a integridade física de outrem, ou para bens patrimoniais alheios de valor elevado; b) Deixar a vítima em situação económica difícil; ou c) Actuar com intenção de obter benefício económico; é punido com pena de prisão de três a doze anos. 3 — Se o perigo previsto na alínea a) do n.º 2 for criado por negligência, o agente é punido com pena de prisão de dois a dez anos. 4 — Se a conduta prevista no n.º 1 for praticada por negligência, o agente é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa. 5 — Se a conduta prevista no número anterior for praticada por negligência grosseira ou criar perigo para a vida ou para a integridade física de outrem, ou para bens patrimoniais alheios de valor elevado, o agente é punido com pena de prisão até cinco anos. 6 — Quem impedir o combate aos incêndios referidos nos números anteriores é punido com pena de prisão de um a oito anos. 7 — Quem dificultar a extinção dos incêndios referidos nos números anteriores, designadamente destruindo ou tornando inutilizável o material destinado a combatê-los, é punido com pena de prisão de um a cinco anos. 8 — Não é abrangida pelo disposto nos n.os 1 a 5 a realização de trabalhos e outras operações que, segundo os conhecimentos e a experiência da técnica florestal, se mostrarem indicados e forem levados a cabo, de acordo com as regras aplicáveis, por pessoa qualificada ou devidamente autorizada, para combater incêndios, prevenir, debelar ou minorar a deterioração do património florestal ou garantir a sua defesa ou conservação. 9 — Quando qualquer dos crimes previstos nos números anteriores for cometido por inimputável, é aplicável a medida de segurança prevista no artigo 91.º, sob a forma de internamento intermitente e coincidente com os meses de maior risco de ocorrência de fogos.

A revisão do crime de incêndios florestal operada no Código Penal demonstrou que nesta matéria Portugal está um passo à frente da Europa, ao ter antecipado a necessidade de rever a tipificação desse crime e a respectiva moldura penal, agravando-a, num resultado convergente com a recomendação tecida na Resolução do Parlamento Europeu anteriormente citada, na qual se solicita “(…) aos Estados-Membros que reforcem as sanções penais para os crimes contra o ambiente e, em particular, para aqueles que causam incêndios florestais, e considera que uma investigação rápida e eficaz e o estabelecimento de responsabilidades, seguida de uma pena proporcional, desencorajaria comportamentos negligentes ou deliberados.”

A Unidade de Missão, aquando da revisão do Código Penal, debruçou-se com particular cuidado sobre o crime de incêndio florestal, não só pela dimensão que o flagelo dos incêndios florestais têm assumido em Portugal nos anos mais recentes, mas também na medida em que este crime põe em causa bens jurídicos individuais - como a vida, a integridade física e o património -, a par de bens jurídicos comunitários - como ambiente e a

Page 28: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 28

natureza. Embora tendo sempre presente que nem todos os incêndios tem origem criminosa, aquela equipa considerou importante introduzir modificações normativas que solucionassem os equívocos do anterior Código Penal, com uma redacção que constituísse um factor importante na prevenção e repressão do fogo posto.

Como havia referido o titular da Pasta da Justiça, Alberto Costa, aquando da abertura da acção de formação «Incêndios Florestais: Prevenir, Investigar e Julgar», para magistrados que decorreu em 30 de Junho de 2006, no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, “as punições que estavam previstas na lei anterior, no quadro dos fogos florestais, só se aplicam em poucas circunstâncias”. E nas palavras do Ministro Rui Pereira, as alterações introduzidas vão permitir ganhos importantes na investigação criminal: “o futuro nos dirá, mas esta alteração, inclusivamente, foi feita depois de ouvida a Polícia Judiciária e os restantes órgãos de polícia criminal, que a consideraram que era uma alteração muitíssimo importante para a sua actividade ser mais proficiente”, confidenciou aos Deputados desta Comissão.

3.1.5. Reforma legislativa da Política de Protecção Civil

No último relatório da extinta Comissão Eventual para os Fogos Florestais era dado conta do processo de Reforma da Protecção Civil, encetado pelo então Ministro da Administração Interna, António Costa. Estruturalmente, a reforma envolveu: em primeiro lugar, uma nova Lei de Bases da Protecção Civil; depois, um novo Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro; em terceiro lugar, a criação de uma nova Autoridade Nacional de Protecção Civil, que viu a sua Lei Orgânica aprovada em Março último.

No quadro da reforma da Protecção Civil em Portugal, conforme havia sido anunciado aquando da homenagem ao dispositivo integrado de Defesa da Floresta Contra Incêndios realizada pelo Governo em Novembro de 2006, estavam em preparação três novos ante-projectos legislativos que iriam definir o regime jurídico dos bombeiros e das associações, assim como os serviços municipais de protecção civil. Durante o ano de 2007 estes três diplomas viriam a ser amplamente discutidos na Assembleia da República e publicados em Diário da República através do Decreto-Lei n.º 241/2007, de 21 de Junho, do Decreto-Lei n.º 247/2007, de 27 de Junho e da Lei n.º 65/2007, de 12 de Novembro, aos quais acresce a Lei n.º 32/2007, de 13 de Agosto que define o regime jurídico das associações humanitárias de bombeiros. No entender do Ministro Rui Pereira estes são, pois, “diplomas estruturantes, verdadeiramente decisivos”.

Com a publicação deste conjunto de diplomas, o Governo concretiza a estrutura central do edifício legislativo que concretiza a Política para a Protecção e Socorro iniciada em 2005, colmatando importantes lacunas legislativas que existiam neste domínio. A tabela 4 sintetiza os diplomas publicados no quadro da Reforma da Protecção Civil.

Page 29: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 29

Tabela 4: Reforma da Protecção Civil – legislação principal.

Assunto Diploma

Lei de Base da Protecção Civil Lei n.º 27/2006, de 3 de Julho

SIOPS – Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro Decreto-Lei n.º 134/2006, de 25 de Julho

Autoridade Nacional de Protecção Civil Decreto-Lei n.º 75/2007, de 29 de Março

Estatuto social dos bombeiros portugueses Decreto-Lei n.º 241/2007, de 21 de Junho

Regime jurídico dos Corpos de Bombeiros Decreto-Lei n.º 247/2007, de 27 de Junho

Regime jurídico das associações humanitárias de bombeiros Lei n.º 32/2007, de 13 de Agosto

Criação das Equipas Permanentes de Intervenção Portaria n.º 1358/2007, de 15 de Outubro

Enquadramento da protecção civil no âmbito municipal Lei n.º 65/2007, de 12 de Novembro

Estatuto social dos bombeiros portugueses

O Decreto-Lei n.º 241/2007, de 21 de Junho, que define o regime jurídico aplicável aos bombeiros portugueses, visa determinar os deveres, direitos e regalias dos bombeiros portugueses e ainda as responsabilidades do Estado e das Autarquias Locais e clarifica as responsabilidades do Fundo de Protecção Social do Bombeiro. Este diploma tem ainda a virtude de pela primeira vez contemplar a justa inclusão dos bombeiros que prestaram serviço nas associações de humanitárias existentes nos territórios das antigas colónias portuguesas.

As disposições deste diploma aplicam-se quer aos bombeiros voluntários como aos bombeiros profissionais, sendo o “bombeiro” definido para este efeito como o “indivíduo que, integrado de forma profissional ou voluntária num corpo de bombeiros, tem por actividade cumprir as missões do corpo de bombeiros, nomeadamente a protecção de vidas humanas e bens em perigo, mediante a prevenção e extinção de incêndios, o socorro de feridos, doentes ou náufragos e a prestação de outros serviços previstos nos regulamentos internos e demais legislação aplicável.”

Este Decreto-Lei define também a estrutura de comando dos corpos de bombeiros voluntários ou mistos não pertencentes ao município, bem como os termos para o provimento dessa estrutura. Nesses termos, as nomeações para a estrutura de comando deverão, preferencialmente, ter enquadramento no quadro dos oficiais bombeiros, sendo que todas as nomeações desta estrutura ficam sujeitas a homologação pela Autoridade Nacional de Protecção Civil. Igualmente são definidas as carreiras de oficial bombeiro e de bombeiro, com a ressalva de que a carreira de bombeiro profissional dos corpos de bombeiros detidos por associações humanitárias fica sujeito a regulamentação própria por Portaria do Ministro da Administração Interna. Refira-se a este propósito que a criação da figura do “oficial-bombeiro”, prevista neste diploma, vem colmatar uma importante lacuna no sistema de Protecção Civil em Portugal. Com esta medida é possível a criação da carreira para incorporação de técnicos de nível superior nestas estruturas.

Page 30: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 30

Regime jurídico dos Corpos de Bombeiros

Tendo presente que em Portugal a prestação do socorro às populações assenta nos Corpos de Bombeiros, o legislador procurou com este diploma concretizar uma “profunda mudança ao nível da estruturação dos corpos de bombeiros e da sua articulação operacional”. Com a aplicação do Decreto-Lei n.º 247/2007, de 27 de Junho, que define o regime jurídico aplicável à constituição, organização, funcionamento e extinção dos corpos de bombeiros no território continental, é finalmente consagrado um sistema de avaliação e de recenseamento, da responsabilidade da Autoridade Nacional de Protecção Civil, que servirá para a atribuição dos direitos e regalias previstos no regime jurídico dos bombeiros portugueses. Refira-se que nos termos dispostos, a ANPC exerce a tutela dos Corpos de Bombeiros mistos e voluntários na definição das áreas de actuação, na coordenação e inspecção técnica e operacional, na homologação da adequação técnico-operacional de veículos e de definição das características técnicas de veículos e equipamentos e na definição dos programas de formação e instrução.

De facto, os Corpos de Bombeiros profissionais, mistos ou voluntários constituem a base da resposta de socorro ao nível local e articuladamente e sob um comando único ao nível distrital e nacional. Os Corpos de Bombeiros, nos termos do diploma em análise, são definidos como a unidade operacional, oficialmente homologada e tecnicamente organizada, preparada e equipada para o cabal exercício das suas missões, onde se incluem a prevenção e o combate a incêndios e o exercício de actividades de formação e sensibilização, com especial incidência para a prevenção do risco de incêndio e acidentes junto das populações. Ou seja, são criadas as condições legais para uma melhor organização dos Corpos de Bombeiros face às necessidades do socorro em Portugal.

Com a publicação deste Decreto-Lei são igualmente criadas as condições legais para a criação das equipas permanentes de intervenção contempladas no Programa do Governo, bem como para a criação de forças conjuntas e de forças especiais de intervenção. Estas forças especiais de intervenção são recrutadas a partir de oficiais-bombeiros e bombeiros do quadro activo dos corpos mistos ou voluntários e podem cumprir missões de cooperação internacional.

A Portaria n.º 1358/2007, de 15 de Outubro, vem concretizar o disposto no n.º 5 do artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 247/2007, de 27 de Junho, ao definir a forma de composição e funcionamento das Equipas Permanentes de Intervenção (EPI) no quadro dos corpos de bombeiros detidos por associações humanitárias de bombeiros. Com esse propósito, este diploma regulamenta as regras e os procedimentos a observar na criação destas equipas e na regulação dos apoios à sua actividade.

Enquadramento institucional e operacional da protecção civil no âmbito municipal

A Lei n.º 65/2007, de 12 de Novembro, define o enquadramento institucional e operacional da protecção civil no âmbito municipal, estabelece a organização dos serviços municipais de protecção civil e determina as competências do comandante operacional municipal, no quadro de enquadramento e regulamentação da Lei de Bases de Protecção Civil.

Page 31: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 31

Este é um diploma estrutural para a operacionalização das medidas de Protecção Civil e também de Defesa da Floresta Contra Incêndios à escala local. Nesse contexto, este diploma estabelece como objectivos fundamentais da protecção civil municipal os seguintes:

- Prevenir no território municipal os riscos colectivos e a ocorrência de acidente grave ou catástrofe deles resultante;

- Socorrer e assistir no território municipal as pessoas e outros seres vivos em perigo e proteger bens e valores culturais, ambientais e de elevado interesse público;

- Apoiar a reposição da normalidade da vida das pessoas nas áreas do município afectadas por acidente grave ou catástrofe.

A actividade de protecção civil municipal é, pois, determinada pelos objectivos elencados, sendo que no que concerne ao capítulo dos incêndios florestais o levantamento, previsão, avaliação e previsão do risco, bem como a análise permanente das vulnerabilidades perante o risco se afigura determinante para a definição da estratégia municipal de DFCI em sede do Plano Municipal específico. Ainda nesse domínio, a informação e formação das populações do município, numa perspectiva da sua sensibilização em matéria de auto-protecção e de colaboração com as autoridades se afigura como uma missão deveras importante no quadro da prevenção dos incêndios florestais, designadamente naqueles de grandes dimensões.

A estrutura dos serviços municipais de protecção civil também é objecto de redefinição neste diploma, os quais são responsáveis pela prossecução das actividades de protecção civil no âmbito do município, os quais deverão ser adaptados de acordo com as características da população e do risco existentes no município. A estes serviços compete assegurar o funcionamento de todos os organismos municipais de protecção civil, promover o planeamento no domínio de prevenção e segurança de protecção civil municipal e ainda difundir informação pública. As juntas de freguesia vêm clarificada a forma de colaborar com esses serviços, prestando toda a ajuda que lhes for solicitada que lhes for solicitada, no âmbito das suas atribuições e competências próprias e delegadas. Conforme é disposto neste diploma, as competência do serviço municipal de protecção civil no âmbito florestal podem ser exercidas pelo gabinete técnico florestal do município.

No contexto deste Decreto-Lei, o Presidente da Câmara Municipal assume o papel de autoridade municipal de protecção civil, sendo coadjuvado nessa função pela Comissão Municipal de Protecção Civil (CMPC), que substitui a anterior Comissão Municipal de Operações de Emergência da Protecção Civil (CEOEPC), extinta com a revogação da Portaria n.º 449/2001, de 5 de Maio. A CMPC desempenha um papel importante na coordenação e colaboração institucional ao nível municipal, bem como na assessoria na tomada de decisão em matérias delicadas de natureza política tais como a activação do Plano Municipal de Emergência e na difusão de comunicados e avisos às populações. Este diploma clarifica dos procedimentos de solicitação da participação das Forças Armadas, enquadrando-o no âmbito do SIOPS.

Esta legislação introduz a figura do Comandante Operacional Municipal (COM), o qual depende hierárquica e funcionalmente do presidente da câmara municipal, a quem compete a sua nomeação. Nos termos dispostos,

Page 32: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 32

são competências do COM (1) acompanhar permanentemente as operações de protecção e socorro que ocorram na área do concelho, (2) promover a elaboração dos planos prévios de intervenção com vista à articulação de meios face a cenários previsíveis, (3) promover reuniões periódicas de trabalho sobre matérias de âmbito exclusivamente operacional, com os comandantes dos Corpos de Bombeiros, (4) dar parecer sobre o material mais adequado à intervenção operacional no respectivo município, (5) comparecer no local do sinistro sempre que as circunstâncias o aconselhem e (6) assumir a coordenação das operações de socorro de âmbito municipal, nas situações previstas no plano de emergência municipal, bem como quando a dimensão do sinistro requeira o emprego de meios de mais de um Corpo de Bombeiros. O Comandante Operacional Municipal desempenha uma função importante de articulação operacional com o Comandante Operacional Distrital.

O diploma enquadra a especificidade da Defesa da Floresta Contra Incêndios na Comissão Municipal de DFCI, a qual é regulada por diploma próprio (Lei n.º 14/2004, de 8 de Maio), que nos termos das suas atribuições deve assegurar, em situação de acidente grave, catástrofe ou calamidade de incêndios florestais, o apoio técnico à Comissão Municipal de Protecção Civil. É igualmente referido que as câmaras municipais, no domínio do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios (SNDFCI), exercem as competências previstas no Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho.

Ainda sobre esta Lei, julgamos ser merecedor de reflexão mais profunda pelo Governo, a ideia apresentada pela Associação Nacional de Municípios Portugueses para a criação das “Carreiras de Protecção Civil na Administração Local”. À luz do recém-criado edifício legislativo da Protecção Civil, parece-nos ser uma recomendação pertinente para a concretização dos objectivos vertidos na Lei.

Numa análise global a este capítulo do processo legislativo, conclui-se que o ano que passou foi, de facto, um ano profícuo nesse plano, consubstanciado nas afirmações do Ministro Rui Pereira na ultima audição parlamentar, para quem em resultado de um diálogo constante “o Governo e a Assembleia da República têm adoptado as medidas legislativas necessárias e adequadas à protecção da floresta portuguesa”. Em nosso entender, importará agora ao Governo criar os mecanismos para acompanhar e avaliar os impactos das medidas legislativas aprovadas.

Page 33: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 33

3.2. Meios Financeiros

O Ministério da Agricultura tem a responsabilidade da coordenação da prevenção estrutural, a qual passa necessariamente pelo ordenamento da floresta com base nas orientações dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal e também pela definição dos instrumentos financeiros, afirmou o Ministro Jaime Silva perante os Deputados da Comissão. Sobre os novos instrumentos financeiros, o Partido Socialista manifestou a expectativa de que a definição das medidas de apoio ao sector, decorrentes do Fundo Europeu Agrícola e de Desenvolvimento Rural (FEADER) , que se desenham no âmbito do próximo período de programação entre 2007 e 2013, afiguram-se da maior importância para o fomento da competitividade da floresta portuguesa. A promoção do ordenamento florestal, promovendo a sua estabilidade, tornando a floresta mais resiliente e geradora de valor, deve ser a meta a atingir tal como é preconizado no Plano de Desenvolvimento Rural.

Nessa perspectiva parece-nos importante que o Ministério da Agricultura aposte na valorização do sector numa lógica de fileira, onde importa tomar as medidas necessárias de forma a revalorizar a floresta, a revalorizar as actividades agrícolas e incentivar as actividades económicas no espaço rural e no espaço florestal, com o objectivo de promover a gestão activa da floresta e assim evitar os fogos florestais. De facto, o incremento da competitividade do sector florestal, um sector que entendemos da maior importância, diríamos mesmo estratégico, para a economia portuguesa e para o desenvolvimento rural e é a chave para a solução, no médio e longo prazo, do problema dos fogos florestais em Portugal.

O Ministro da Agricultura destacou a questão financeira como o aspecto critico do sucesso da concretização da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, designadamente no que concerne à prevenção estrutural, no apoio à execução das politicas no terreno. A esse propósito, o Partido Comunista Português informou o Ministro da Agricultura que “permanece um atraso significativo no pagamento (dos projectos apoiados pelo FFP e Medida Agris), atrasos esses, em muito casos, superiores a um ano, com tudo o que isto significa para as estruturas associativas ou para os proprietários florestais que, convenhamos, não nadam propriamente em grandes disponibilidades financeiras”. Ainda sobre o Fundo Florestal Permanente, aquele Grupo Parlamentar considerou que existe “um claro desvio dos objectivos iniciais deste Fundo porquanto, no fundamental, é ele que está suportar sobretudo a intervenção das autarquias”, tendo nessa ocasião solicitado ao Titular da Pasta da Agricultura a disponibilização aos Deputados de um balanço suficientemente desenvolvido, transparente, da aplicação do Fundo Florestal Permanente, que possibilite o escrutínio do seu funcionamento. Esse relatório viria a dar entrada na Comissão em 5 de Setembro, e pode ser consultado no Anexo 4.

Relativamente ao Fundo Florestal Permanente, o Ministro da Agricultura começou por informar que até à aprovação do Decreto-Lei n.º 124/2006 existiam “alguns milhões de euros que eram dados a fundo perdido para limpezas”. Contudo, verificou-se que apenas 13% dos apoios concedidos às autarquias, na ordem dos 9,5 milhões de euros não reembolsáveis, foram executados. Uma taxa de execução muito baixa que tem explicação na dificuldade das autarquias em encontrar mão-de-obra para executar as acções projectadas. Daqui resultou que não tendo essas verbas sido utilizadas pelos municípios para limpeza de caminhos e

Page 34: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 34

limpeza à volta dos aglomerados urbanos, o Ministro da Agricultura decidiu “para não perdermos essa verba, transferi-la para este ano e insistir, até ao fim deste mês (Julho), nas candidaturas para a criação de equipas de sapadores florestais. Aliás, foi esta não utilização das verbas que nos permitiu também uma outra acção – a dos kits para as juntas de freguesia”.

No que concerne aos projectos de recuperação do potencial produtivo das áreas ardidas, o Ministro da Agricultura informou os Deputados que estão comprometidos 42 M€ do Programa AGRO para a aplicação em 468 projectos de iniciativa privada para a reflorestação de áreas ardidas de 2003 e de 2005. A esse propósito, o Ministro da Agricultura esclareceu também que os serviços do Ministério da Agricultura tem informado os proponentes dos prazos de execução, pois tem sido identificada alguma lentidão na implementação dos projectos que estão aprovados para os privados, uma situação que será revista no próximo quadro comunitário, com mais rigor nas próximas candidaturas, estreitando mais os prazos. Ainda sobre a recuperação das áreas ardidas, o Ministro Jaime Silva informou os deputados que o Parque Nacional da Peneda-Gerês tem um excelente plano de recuperação das áreas ardidas, que está a ser financiado pelo Ministério da Agricultura e cujo período de candidaturas foi prolongado para 2007.

Sobre o Programa AGRO, este apresenta uma taxa de execução de 70% que pode ser realizada até final de 2008. Como esclareceu o Ministro Jaime Silva, foram aceites mais candidaturas do que aquelas que o orçamento permitia, “justamente porque sabemos que há candidaturas que não se vão concretizar no terreno e nós queremos gastar a totalidade das verbas”, informou. Existe também algum atraso na execução das verbas na Acção Integrada no Pinhal Interior, pois apenas 58% estão executadas.

O Programa AGRIS, uma medida do QCA III, no que diz respeito à sua Acção 3 e à Subacção 3.4 – Prevenção de riscos provocados por agentes bióticos e abióticos, ao permitir a constituição de caminhos florestais, aceiros, estradões, sinalização das infra-estruturas de apoio ao combate e também ao apoiar programas de vigilância, nomeadamente as equipas AGRIS, a primeira intervenção e ainda a construção de parques de merendas no contexto da sensibilização, veio contribuir de sobremaneira para a concretização no terreno das medidas de prevenção estrutural dos espaços florestais. Contudo, como assumiu o Ministro da Agricultura, também neste Programa existem atrasos importantes na execução das verbas. De facto, 49% de execução é uma taxa muito baixa. Contudo, os serviços do Ministério estão a contactar as entidades que têm projectos aprovados e para os quais há dinheiro, no sentido avaliar a capacidade de execução efectiva, sendo que também nesta situação foram identificadas autarquias que não têm condições de execução, porque, “pura e simplesmente, não têm mão-de-obra para algumas das suas tarefas ou, simplesmente, não têm meios financeiros que completem a nossa ajuda para algum equipamento técnico, que é caro”, esclareceu o Ministro Jaime Silva.

De facto, trata-se de uma situação preocupante, em que um conjunto vasto de investimentos que abrange variadíssimos beneficiários, desde baldios, produtores e proprietários florestais, autarquias locais, e num momento em que o País tem pouco mais de um ano para fechar o anterior quadro comunitário, a verdade é que nesta medida ainda não temos uma execução de obra efectiva de metade das verbas que foram aprovadas e disponibilizadas. A análise dos instrumentos financeiros de apoio do anterior QCA é indispensável para preparar o próximo quadro de programa financeira.

Page 35: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 35

Na óptica da Federação Portuguesa de Produtores Florestais, os projectos executados ao abrigo da Medida AGRIS 3.4 tiveram um impacto importante no domínio da silvicultura preventiva, ao permitir a realização de faixas de protecção de 10-15m de largura em torno da rede viária, a construção e beneficiação de pontos de água e a colocação de sinalética, destacou o seu vice-presidente, Vasco Campos. Na sua perspectiva, o PRODER deveria continuar a apoiar estas medidas preventivas, sendo que o apoio à manutenção dos investimentos realizados ao abrigo do anterior QCA deveria constituir uma prioridade na atribuição dos apoios financeiros. Refira-se a esse propósito que a Estratégia Nacional para as Florestas identifica a promoção da gestão estratégica de combustíveis florestais e a infra-estruturação dos espaços florestais, na óptica da defesa da floresta contra incêndios de modo a diminuir o risco de incêndios em unidades de pelo menos 1000 ha, como uma área prioritária para os destinos dos apoios comunitários.

Neste capítulo dos meios financeiros, importa também fazer uma referência para a aprovação, pela Comissão de Mercados de Valores Mobiliários (CMVM) em Outubro de 2007, do primeiro Fundo de Investimento Imobiliário Florestal em Portugal. Trata-se do fundo “Floresta Atlântica”, um fundo fechado que nasceu da iniciativa do Estado (constituído por 46% de investimento público) e que conta com um montante a subscrever de 20 M€. Este é um instrumento há muito reivindicado para incentivar o investimento privado na floresta e que pelo seu carácter inovador importará ser acompanhado de perto, conforme foi oportunamente abordado no 1.º relatório da anterior Comissão Eventual.

Os fundos de carbono constituem uma outra iniciativa inovadora que , em nosso entender, merece ser avaliada. A Comissão Eventual efectuou uma visita parlamentar ao baldio de Fafião (concelho de Montalegre) inserido no Parque Nacional da Peneda-Gerês, onde foi possível tomar conhecimento do protocolo celebrado entre o ICNB, o Conselho Directivo do Baldio de Fafião e a empresa E-value. No âmbito desse protocolo, a gestão das áreas florestais será financiada através de um dos sistemas de compensação de emissões de dióxido carbono que existem no país, neste caso da empresa E-Value. Neste sistema, as emissões, por exemplo, de um automóvel ou de uma indústria podem ser neutralizadas pela compra de uma espécie de certificado. O dinheiro é depois investido em projectos florestais, geridos com base num plano a 30 anos e monitorizados por um auditor independente.

A titulo de curiosidade, refira-se que as emissões de gases com efeito de estufa associadas à cerimónia de assinatura do Tratado de Lisboa serão compensadas através da aquisição de créditos de sequestro de carbono provenientes da área florestal Carbono Zero® do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Em conclusão, como referia o Ministro da Agricultura Jaime Silva, ainda existem problemas estruturais por resolver, “mas os sinais que começaram no ano passado são mais evidentes este ano e são sinais que dizem, claramente, ao sector privado, que é quem detém a floresta nacional, que o Governo está apostado em reduzir o risco do investimento na floresta, em provar que a floresta pode remunerar o dinheiro investido nela e em provar que os dinheiros públicos servem para que a floresta proporcione não apenas criação de riqueza mas também, e sobretudo, riqueza ambiental para o País”, afirmou aos Deputados.

Page 36: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 36

Em nosso entender, os instrumentos financeiros e o bom aproveitamento das verbas disponíveis são um aspecto crítico para o sucesso da política florestal em Portugal e consequentemente do sucesso da política de defesa da floresta contra incêndios, na vertente da sua prevenção estrutural. Nessa perspectiva, é fundamental que o Executivo promova uma reflexão sobre o anterior Quadro Comunitário, designadamente sobre os instrumentos financeiros e respectivos modelos de financiamento (análise das candidaturas e pagamentos dos apoios), por forma a tornar o PRODER mais eficaz. 3.2.1. Regulamento de apoios do Fundo Florestal Permanente (2007/2008)

O Despacho normativo n.º 23-A/2007, de 15 de Junho do Gabinete do Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, estabelece o programa de apoios financeiros a conceder pelo Fundo Florestal Permanente (FFP) durante o biénio 2007-2008, nos termos do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 63/2004, de 22 de Março e do artigo 6.º da Portaria n.º 679/2004, de 19 de Junho. Este despacho revoga o Despacho n.º 8534/2007, publicado em 14 de Maio.

Este terceiro programa de apoios a conceder no âmbito do FFP, introduz um conjunto importante de alterações face aos programas anteriores, garantindo, por um lado, a coerência dos apoios agora previstos com a Estratégia Nacional para as Florestas, aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 114/2006, de 15 de Setembro, com o Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, estabelecido no Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, e com o Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 65/2006, de 26 de Maio, e assegurando, por outro, a não sobreposição e complementaridade com outro tipo de apoios nacionais e comunitários. Neste novo regulamento deixam de existir os apoios directos à redução de combustíveis e passa a ser possível a reafectação de verbas com o reforço dos valores provenientes de acções não executadas ou reembolsos.

Fruto da experiência adquirida com os programas anteriores são definidos os alvos prioritários para os apoios a conceder pelo Fundo Florestal Permanente, de forme a garantir uma utilização mais eficaz dos recursos financeiros, os apoios foram concentrados num menor número de áreas, reduzindo-se igualmente o leque de acções a apoiar e simplificando-se os procedimentos, em linha com as orientações do Governo e convergente com a recomendação tecida pela Comissão Eventual para os Fogos Florestais no seu primeiro relatório (Julho 2006), que considerava este fundo financeiro “um instrumento de apoio financeiro importante, sendo necessário avaliar a distribuição e aplicação das suas verbas e introduzir mecanismos para uma maior transparência e rigor”. Nesses termos, o montante de apoio financeiro a conceder pelo FFP não pode exceder o limite de 200.000€ anuais por entidade proponente quando não se trate de organismo da administração pública central e autárquica, independentemente do número de candidaturas e das áreas de apoio apresentadas e os compromissos não podem exceder 2 anos. Este tecto de apoio por entidade é contestado pela Federação dos Produtores Florestais de Portugal, que alega que deve ser o mérito dos projectos a prevalecer na atribuição das verbas. A FORESTIS – Associação Florestal de Portugal, por seu turno,

Page 37: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 37

defende como solução a celebração de contratos-programas com as organizações de produtores florestais no âmbito do Fundo Florestal Permanente, tendo exemplificado com o projecto FORGEST, um projecto com três anos de duração financiado no quadro do Fundo Florestal Permanente. No âmbito do projecto FORGEST - Acções de Defesa, Gestão e Associativismo para uma floresta de minifúndio sustentável, a FORESTIS promoveu o envolvimento das organizações de produtores florestais associadas numa campanha de sensibilização e ainda na divulgação das ZIF, tendo permitido criar as condições para a constituição da ZIF de Entre Douro e Sousa, nos concelhos de Paredes e Penafiel, a única ZIF criada a Norte do Douro, numa zona de minifúndio florestal. A proposta apresentada pela FORESTIS assenta, pois, no apoio à consolidação e profissionalização do movimento associativo florestal, numa perspectiva sócio-económica.

O Fundo Florestal Permanente é gerido pelo Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas, I.P. (IFAP) que resulta das orientações definidas pelo Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE), com a extinção do IFADAP e do INGA. No seio deste organismo foi criado o Gabinete de Gestão do Fundo Florestal Permanente (GFFP), que tem como funções coordenar as acções técnicas, financeiras e administrativas do Gabinete e apoiar a elaboração e concepção dos programas anuais e plurianuais de apoios a conceder pelo FFP, preparar os contratos relativos às candidaturas, analisar e validar os pagamentos que decorrem das candidaturas e protocolos com integração nos sistemas informáticos, assegurar a análise/decisão de parecer das candidaturas recepcionadas e apoiar a elaboração de protocolos destinados a associar entidades públicas e privadas à realização dos objectivos do FFP.

O Regulamento de apoios do FFP 2007/2008 mantém as áreas de prevenção e protecção da floresta contra incêndios e de promoção do ordenamento e gestão florestal afectas com o maior volume de recursos financeiros, 73% e 17%, respectivamente do montante global do Fundo. O apoio da promoção das funções ecológicas, sociais e culturais dos espaços florestais e a criação de outros instrumentos adicionais que contribuam para a defesa e sustentabilidade da floresta portuguesa, nomeadamente na sua protecção contra agentes bióticos, são uma novidade que visa concretizar objectivos expressos na Estratégia Nacional para as Florestas, que recebe 10% dos valores do FFP.

No capítulo da prevenção e protecção da floresta contra incêndios verifica-se um aumento das verbas a afectar a esta área (no programa de apoios anterior, correspondia a 60% do total), sendo concedidos apoios ao funcionamento dos Gabinetes Técnicos Florestais Municipais ou Intermunicipais, enquanto estruturas técnicas permanentes de apoio à implementação dos PMDFCI, ao programa de sapadores florestais, incluindo a constituição e equipamento de novas equipas bem como o reequipamento das equipas já existentes, para a Vigilância e vídeo-vigilância dos espaços florestais, para a realização da campanha nacional de sensibilização dos cidadãos para a defesa da floresta contra incêndios, para o reforço da protecção colectiva local contra incêndios (primeira intervenção) e para a sinalização de áreas prioritárias de acesso condicionado. A tabela 5 sintetiza os apoios concedidos nesta área de intervenção do FFP.

Page 38: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 38

Tabela 5: FFP - Apoios a conceder na Área I / Prevenção e protecção da floresta contra incêndios (FFP 2007/2008).

Tipologia de Acções % apoio Acção

Funcionamento dos Gabinetes Técnicos Florestais Municipais ou Intermunicipais, enquanto estruturas técnicas permanentes de apoio à implementação dos PMDFCI 28%

Programa de sapadores florestais, incluindo a constituição e equipamento de novas equipas bem como o reequipamento das equipas já existentes 23%

Vigilância e vídeo-vigilância dos espaços florestais 14%

Campanha nacional de sensibilização dos cidadãos para a defesa da floresta contra incêndios 11%

Reforço da protecção colectiva local contra incêndios – primeira intervenção 22%

Sinalização de áreas prioritárias de acesso condicionado 2%

O Ministro da Agricultura, Jaime Silva, na audição parlamentar de 17 de Julho, justificou a reorientação do FFP para um apoio mais efectivo das equipas de sapadores florestais, face aos bons resultados obtidos quer no quadro da primeira intervenção, quer no quadro do trabalho que fazem ao longo do ano no terreno em prevenção estrutural. Mais tarde, em Outubro, este governante viria a afirmar que no âmbito do Fundo Florestal Permanente, “a prioridade vai para a criação de 60 novas equipas de sapadores florestais”.

Em 2007, o Fundo Florestal Permanente financiou quatro protocolos no âmbito da Defesa da Floresta Contra Incêndios, no valor global de 18,24 M€. A tabela 6 apresenta os protocolos celebrados, período de vigência e respectivo montante orçamentado.

Tabela 6: FFP – Protocolos DFCI/2007 (fonte: GFFP)

Designação do Protocolo Vigência Montante Orçamentado

Protocolo 2007 DGAL/ANPC/IFAP/DGRF/ANAFRE - Reforço de protecção colectiva local contra incêndios - 1ª intervenção

até 31/12/2008 4.000.000,00 €

Protocolo 2007 DGRF/IFAP - Gabinetes Técnicos Florestais

até 31/12/2007 5.500.000,00 €

Protocolo 2007 DGRF/COFT/ICNB/IFAP - Sapadores Florestais Especiais + Vigilância

até 31/03/2008 5.940.000,00 €

Protocolo 2007 ANPC/DGRF/IFAP - Campanha de Sensibilização dos Cidadãos para a Defesa da Floresta contra Incêndios

até 31/12/2008 2.800.000,00 €

Page 39: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 39

3.3. O Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios

O Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, previsto no Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios e instituído pelo Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Julho, estabelece o conjunto de medidas e acções estruturais e operacionais relativas à prevenção e protecção das florestas contra incêndios, nas vertentes de sensibilização, planeamento, conservação e ordenamento do território florestal, silvicultura, infra-estruturação, vigilância, detecção, combate, rescaldo, vigilância pós-incêndio e fiscalização, a levar a cabo pelas entidades públicas com competências na defesa da floresta contra incêndios e entidades privadas com intervenção no sector florestal. Este sistema assenta em três pilares institucionais: a Direcção-Geral dos Recursos Florestais, que tem a responsabilidade ao nível do ordenamento do território, da gestão activa da floresta e da silvicultura preventiva; a Guarda Nacional Republicana com responsabilidade na redução dos incêndios, fiscalização e detecção e a Autoridade Nacional de Protecção Civil, no que diz respeito à coordenação do combate.

A Direcção-Geral dos Recursos Florestais apresentou oficialmente, em 7 de Fevereiro, os resultados do último Inventário Florestal Nacional (2005/2006). As alterações entretanto verificadas nos últimos 10 anos justificavam a urgência de um novo Inventário, que pudesse ser utilizado pelos diversos agentes do sector e pudesse constituir uma base de referência para os objectivos apontados nos Planos Regionais de Ordenamento Florestal e na Estratégia Nacional para as Florestas. Assim, foram contabilizados 3,4 Mha de floresta (38% do território de Portugal continental), aos quais acrescem 1,9 Mha de espaços ocupados maioritariamente por formações arbustivas. Embora se tenha verificado um aumento da área florestal, os resultados do Inventário Florestal Nacional denotam, em termos globais, uma diminuição da produtividade da floresta actual, para a qual, certamente, terão contribuído os incêndios florestais. O pinheiro bravo, que era principal espécie do coberto florestal nacional há 10 anos regrediu cerca de 27%, sobretudo devido aos incêndios florestais. Refira-se que esta espécie florestal junto com o eucalipto totalizam aproximadamente 46% do coberto florestal nacional.

Em nosso entender, o conhecimento desta informação é fundamental para o exercício de planeamento do risco, o qual se afigura como elemento-chave para a definição das estratégias conducentes ao correcto dimensionamento do dispositivo e definição de acções prioritárias, nas vertentes da prevenção estrutural, prevenção operacional e combate, numa perspectiva da gestão eficiente dos recursos materiais, humanos e financeiros. Os critérios para a atribuição das novas equipas de sapadores florestais, são um exemplo concreto de uma situação em que o planeamento do risco é decisivo para a boa gestão dos recursos humanos e financeiros.

Durante o ano de 2007, salientamos o trabalho desenvolvido pela DGRF no domínio do planeamento do risco, do qual destacamos a realização do “Estudo de monitorização e avaliação do Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios - 2006”, por entidade uma externa à Administração Pública conforme estava previsto no próprio Plano e a produção de estudos de base, como a cartografia de perigosidade estrutural (Figura 1 da página seguinte) e de perigosidade conjuntural para o território de Portugal continental.

Page 40: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 40

Figura 1: Carta de perigosidade estrutural (Fonte: DGRF, 2007).

Page 41: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 41

Estudo de monitorização e avaliação do Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios - 2006

O Estudo de Monitorização e Avaliação do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI), percorre as principais dimensões avaliativas das medidas e acções preconizadas neste instrumento orientador da Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndio e sistematiza um conjunto de actuações recomendáveis, na óptica do desenvolvimento futuro do Plano. Este estudo foi realizado por entidade externa à Administração Pública (IESE – Instituto de Estudos Sociais e Económicos) para a Direcção-Geral dos Recursos Florestais, conforme está previsto no Plano.

Na perspectiva daquela avaliação, o PNDFCI concebeu e organizou uma intervenção concertada de médio/longo prazo que, simultaneamente, pretende contribuir para a optimização do valor do património florestal e para a minimização das perdas sociais decorrentes dos incêndios florestais.

De acordo com este estudo, a intervenção concertada (de acções, recursos e intervenientes) do Plano, contempla acções de optimização da eficiência da prevenção, da vigilância, da detecção e da fiscalização assentes nas seguintes intervenções-tipo: gestão activa e sustentável do espaço florestal; implementação da gestão de combustíveis; reforço e gestão mais eficaz dos meios de combate; fomento da educação e sensibilização das populações; e reabilitação das áreas ardidas. Este conjunto diversificado de intervenções é convergente com a visão da Estratégia Nacional para as Florestas, que aborda os incêndios como um dos principais constrangimentos à exploração florestal sustentável. Em síntese, a forma de concepção do PNDFCI e a programação das acções confere a este instrumento de planeamento um elevado grau de oportunidade ao combinar de forma integrada e pró-activa a gestão da floresta/ prevenção estrutural com a melhoria de eficácia ao nível do combate, o que na perspectiva do estudo, resulta num “importante salto qualitativo na abordagem da defesa da floresta contra incêndios”.

A avaliação dos níveis de eficácia e eficiência do PNDFCI 2006 teve como condicionante o facto de o Plano ter iniciado a sua trajectória de implementação em plena época de incêndios florestais de 2006, a qual foi abordada com base em instrumentos estratégicos e operacionais pré-existentes à data de aprovação do Plano (Maio 2006). O estudo permitiu identificar um conjunto de dimensões-problema, do qual destacamos as seguintes:

- A necessidade de ajustamento dos instrumentos de ordenamento florestal, de planeamento regional, intermunicipal e municipal de DFCI e entre estes e as medidas de organização do território, de silvicultura e de infra-estruturação;

- A ausência de integração territorial na elaboração dos PMDFCI, numa óptica da acção concertada de intervenção em áreas contíguas de municípios confinantes;

- A necessidade de consolidação dos Gabinetes Técnicos Florestais e da sua actividade;

- A inexistência de programação financeira sistemática das acções do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios e de um quadro de financiamento de carácter anual e plurianual.

- A complexa tramitação burocrática dos processos de análise/aprovação/homologação dos projectos.

Page 42: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 42

Estes são aspectos de natureza estrutural que poderão condicionar, de forma significativa, a execução das medidas e consequentemente o alcance das metas previstas no PNDFCI. Igualmente, a clarificação dos domínios de intervenção, bem como das unidades de coordenação a nível central, distrital e municipal, afigura-se crítica para a melhoria da eficácia das medidas e articulação entre entidades intervenientes.

A avaliação realizada pelo IESE - Instituto de Estudos Sociais e Económicos, considerou que em termos globais, o “desempenho do PNDFCI (2006) beneficiou de forma clara dos ganhos de articulação, entretanto alcançados, entre as entidades responsáveis pelo ataque e gestão dos incêndios florestais (3.º Eixo Estratégico do Plano)”. Nesse domínio, foram registadas melhorias significativas na coordenação dos meios, designadamente das equipas heli-transportadas de ataque inicial, na redução dos tempos associados à 1.ª intervenção, na melhor organização dos meios que integram a FOCON nos teatros de operações e nas melhorias dos níveis de profissionalização, embora ainda existam necessidade de certificação de competências aos níveis dos bombeiros e dos sapadores florestais.

O estudo identifica, contudo, que a prevenção estrutural revela maiores dificuldades de concretização das acções previstas, designadamente ao nível dos PMDFCI e da constituição e operacionalização das ZIF. Igualmente são identificadas algumas dificuldades ao nível do planeamento e execução da sensibilização, designadamente na divulgação da informação do risco de incêndio. A ausência de resultados objectivos referente aos impactes das acções junto dos público-alvo (indispensáveis para aferir com rigor uma relação de eficácia de recursos afectos/resultados atingidos) e a falta de envolvimento das autarquias locais nestas campanhas de sensibilização são as principais lacunas identificadas no Eixo 2 - Redução da incidência dos incêndios.

O Eixo 4 – Recuperação das áreas ardidas, também apresenta níveis de concretização limitados, sobretudo devido à escassa operacionalização dos planos de recuperação e as dificuldades de tramitação burocrático-administrativa e de financiamento. O estudo considera que a reflorestação das áreas ardidas constitui um investimento relevante na perspectiva da introdução de critérios de ordenamento, de organização das propriedades florestais (ex. ZIF) e ainda uma oportunidade para a regularização do cadastro dessas propriedades.

A tabela 7 da página seguinte sistematiza um conjunto de elementos de síntese do desempenho dos diferentes Eixos do PNDFCI apresentados no estudo de avaliação de 2006, evidenciando realizações e resultados alcançados (que devem ser potenciados) e intervenções em que são desejáveis melhorias, na óptica dos objectivos operacionais do Plano, ainda que alguma dessas intervenções se encontrem em curso de execução.

A concluir, uma nota para a necessidade do Plano contemplar de forma mais vincada o domínio da formação de competências, que é uma pedra basilar no processo de especialização/profissionalização do sistema. Igualmente é importante a recomendação da criação de uma unidade de gestão, que assegure uma função estratégica, de supervisão das acções e uma função técnica de gestão administrativa e financeira e do sistema de informação, um aspecto indispensável para a monitorização do PNDFCI.

Page 43: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 43

Tabela 7: Síntese do desempenho do PNDFCI – 2006. (fonte: IESE, 2006)

Eixos Aspectos positivos (a potenciar) Aspectos a melhorar Eixo 1 – Aumento da resiliência do território aos incêndios florestais

- Constituição de CMDFCI em cerca de 93% dos municípios do Continente - Elaboração de PMDFCI e funcionamento de Gabinetes Técnicos Florestais com incidência inter-municipal - Acções de formação e experiências de aplicação de técnicas de fogo controlado e de gestão de materiais combustíveis

- Racionalização espacial das intervenções - Constituição de ZIF abrangendo mais de 75 mil ha, em mais de 4 dezenas de processos, em fases distintas do ciclo de aprovação - Acompanhamento técnico da actividade dos GTF, designadamente na elaboração dos PMDFCI - Criação de redes de gestão de combustível - Capacitação das Equipas de Sapadores Florestais para o uso do fogo controlado - Ampliação da Rede de Centrais de Biomassa

Eixo 2 – Redução da incidência dos incêndios

- Projectos de sensibilização e educação escolar para promover a educação florestal e ambiental (RespirAr, FlorestArte e Prosepe); - Programa de Voluntariado Jovem para as Florestas; - “Operação Floresta Segura”, de âmbito nacional operacionalizada pela GNR

- Formação especializada em investigação das causas dos incêndios para os efectivos dos SEPNA/GNR

Eixo 3 – Melhoria da eficácia do ataque e da gestão dos incêndios

- Coordenação nacional do conjunto de acções de prevenção, vigilância e detecção de incêndios florestais (GNR); - Criação do GIPS da GNR; - Reforço das equipas heli-transportadas - Níveis de eficácia na mobilização de recursos após a ocorrência do incêndio (tempo médio para a 1ª intervenção de 12 minutos, em 2006) - Regime de apoios e definição de missão dos sapadores florestais; - Distribuição dos diversos meios de combate no terreno atendendo ao risco de incêndio, com recurso, quando necessário, a destacamentos temporários.

- Consolidação da Directiva Operacional, em 2007 - Definição e implementação da vigilância fixa e da vigilância móvel (terrestre e aérea), em função do risco de incêndio conjuntural; - Elaboração de POM integrando a actuação operacional de todos os agentes presentes no terreno (CB, ESF, GNR, …); - Criação e formação de Equipas de Sapadores Florestais (ESF); - Intervenção das ESF na fase de rescaldo; - Elaboração de diagnósticos de necessidades de formação, nas diversas vertentes de actuação; - Formação de todos os agentes nas vertentes de actuação que integrem o dispositivo operacional, privilegiando os quadros de Comando e Chefia; - Manutenção da capacidade de apoio logístico às operações em curso, nomeadamente em situações em que a capacidade da estrutura logística do socorro não for suficiente para o garantir; - Criação de uma adequada estrutura logística de suporte às acções de supressão

Eixo 4 – Recuperar e reabilitar os ecossistemas

- Acordo para a utilização de material lenhoso proveniente das áreas florestais ardidas em 2005 (DGRF, OPF, OB’s, ANEFA, Indústria e Bancos) - Acções de minimização de impactes dos incêndios e de recuperação do coberto vegetal

- Elaboração de planos de recuperação de áreas atingidas pelos incêndios de 2006; - Reflorestação de áreas ardidas, segundo princípios de ordenamento e gestão da floresta

Eixo 5 – Adaptação de uma estrutura orgânica e funcional eficaz

- Criação de uma estrutura de comando único; - Criação de uma estrutura interna na DGRF centrada no apoio à concepção e à execução da política de DFCI; - Relevância reconhecida à Directiva Operacional Nacional na estruturação da intervenção das diferentes entidades constitutivas da Força Operacional Conjunta (FOC); - Organização operacional assente nos Comandos de Operações de Socorro, assegurando a coordenação de toda a actividade operacional, estruturada aos níveis nacional, distrital e municipal.

- Realização de encontros regulares entre entidades no âmbito do funcionamento do CDOS (estabelecimento de relações informais, com utilidade para ultrapassar constrangimentos); - Elaboração de POM, em compatibilização com conteúdos previstos nos PMDFCI; - Estímulo à articulação entre as funções de prevenção e as funções de protecção e socorro; - Lançamento do concurso para a gestão, acompanhamento e informação, no âmbito da estruturação do SGIF.

Page 44: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 44

3.3.1. Prevenção Estrutural (DGRF)

A actividade da DGRF em 2007 teve presente as orientações estratégicas de defesa da floresta contra incêndios (DFCI) inerentes ao Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios e a missão atribuída decorrente da reorganização interna dos serviços técnicos na Subdirecção-Geral para a Defesa da Floresta Contra Incêndios. Nesses termos, constituem atribuições da DGRF em prevenção estrutural as seguintes:

Enquadrar as acções de educação e sensibilização desenvolvidas pelas entidades públicas ou privadas, numa estratégia de comunicação integrada dirigida para o grande público e para grupos específicos da população, bem como promover, em articulação com a ANPC e a GNR, campanhas de informação e sensibilização pública dirigida a públicos alvo pré-definidos, tendo em vista a situação actual e previsível;

Promover a reorganização do Programa de Sapadores Florestais, designadamente ao nível dos procedimentos, formação profissional e reequipamento das equipas de sapadores;

Protocolar com o EMGFA/Exército as acções de Engenharia Militar e a formação de 20 Equipas de Sapadores do Exército, num total de 240 elementos, para actuarem nas acções de vigilância, detecção, ataque inicial a incêndios florestais, bem como nas acções de rescaldo e de vigilância activa pós-rescaldo, na sua dependência técnica em áreas públicas;

Assegurar, através de um elemento de ligação da DGRF, apoio técnico especializado ao CNOS, CODIS e CDOS;

Elaborar e divulgar relatórios sobre a estatística dos incêndios florestais;

Apoiar tecnicamente o planeamento operacional regional e municipal, designadamente em matéria de infraestruturação do território e ainda a cartografia de risco, mormente mapas de perigosidade de incêndio florestal;

Trata-se de um conjunto de atribuições que são consentâneas com os três vectores fundamentais para o combate aos incêndios: a sensibilização e a escola, no sentido de educar os mais pequenos e de os sensibilizar para o problema dos fogos florestais, as políticas de prevenção e as de ordenamento. Políticas cuja execução é da competência do Ministério da Agricultura e que na óptica do deputado do Partido Ecologista “Os Verdes” são determinantes para que se concretize o lema: «Portugal sem fogos depende de todos».

Neste capítulo tem lugar a análise da actividade desenvolvida em 2007 pelo Ministério da Agricultura no domínio da sensibilização e informação pública, da gestão das áreas públicas, das Zonas de Intervenção Florestal e do Programa Sapadores Florestais. É igualmente feita uma referência ao ordenamento florestal, com destaque para o projecto de planeamento das rede regionais de DFCI na região Centro, aprovado pelo Espaço Económico Europeu (EEA-Grants).

Page 45: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 45

Sensibilização

A sensibilização, numa óptica da participação e responsabilização dos cidadãos para a minimização dos problemas dos incêndios, é uma das vertentes mais importantes da prevenção estrutural. Disso tem dado conta a Assembleia da República nos seus relatórios, tendo recomendado ao Governo no sentido de “sensibilizar os cidadãos para a importância do seu envolvimento através da comunicação imediata dos alertas, utilizando para o efeito os números de emergência. Além disso, também é essencial prosseguir na promoção de campanhas que contrariem os comportamentos de risco durante o período crítico, designadamente o lançamento de foguetes e a queima de sobrantes da actividade agrícola e florestal”.

Em 2007, há finalmente a registar a realização de uma campanha conjunta entre o Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas e o Ministério da Administração Interna. Esta campanha de sensibilização teve por lema a mensagem: “Portugal sem fogos depende de todos.”. Na visão do Ministro da Administração Interna, Rui Pereira, tratou-se de uma mensagem “verdadeiramente brilhante. É brilhante porque é simples, como qualquer publicitário dirá, mas é brilhante porque é profundamente verdadeiro, pois apela ao sentido de responsabilidade da comunidade, é uma forma muito simples de dizer, em matéria de protecção da floresta, que todos somos agentes de protecção civil.” Como explicava o Ministro da Agricultura, em Julho, a campanha de sensibilização realizada teve por objecto “combater” a negligência, pois “o comportamento dos cidadãos surge como o grande factor da maioria das ignições, que ocorreram até hoje”.

A campanha de sensibilização em 2007 pautou-se pela veiculação de um slogan e uma imagem única e contou também pela primeira vez com a participação efectiva de um movimento organizado da sociedade civil, o Movimento ECO – empresas contra os fogos, o qual é abordado no capítulo 3.5 deste relatório. A figura 2 ilustra o slogan utilizada nesta campanha de sensibilização.

Figura 2: Slogan “Portugal sem fogos depende de todos.”

Esta campanha única de sensibilização realizou-se sob a égide da partilha de responsabilidades, em que o Ministério da Administração Interna desenvolveu uma campanha de sensibilização para o grande público e o Ministério da Agricultura desenvolveu a campanha mais focalizado em públicos-alvo mais específicos, desde pastores, a municípios a escolas. O financiamento desta campanha de sensibilização foi assegurado pelo Fundo Florestal Permanente, no montante até 2,8 M€, através de um protocolo celebrado entre a DGRF e ANPC em Fevereiro, que vigora até 31 de Dezembro de 2008.

Conforme reporta o relatório da DGRF, a sensibilização da população foi dirigida segundo três eixos operacionais: (1) Público generalista, (2) Grupos específicos da população rural e (3) População escolar.

Page 46: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 46

Assim, no capítulo da sensibilização ao publico em geral foi privilegiado o uso dos meios de comunicação social de massas como a televisão, os spots de rádio, a imprensa nacional e regional e os outdoors, com o foco em três comportamentos de risco (figura 3): não faça fogueiras, não lance foguetes e não atire cigarros para o chão, informando também dos números de emergência 112 e 117, gratuitos, para comunicação dos alertas. O movimento ECO – empresas contra os fogos associou-se a esta campanha, tendo disponibilizado os meios de comunicação das empresas aderentes para este fim, no quadro da responsabilidade social das empresas.

Figura 3: Os três comportamentos de risco a evitar (Fonte: Movimento ECO – Empresas Contra os Fogos).

No capítulo da sensibilização dirigida a grupos específicos, coordenada pela DGRF, à semelhança do que havia sucedido no ano transacto, esta foi desenvolvida no quadro de um protocolo de colaboração celebrado para o efeito com as cinco federações representativas do sector florestal: Associação Florestal de Portugal (FORESTIS), Federação Nacional de Baldios (BALADI), Federação Nacional das Cooperativas de Produtores Florestais (FENAFLORESTA), Federação dos Produtores Florestais de Portugal (FPFP) e a União da Floresta Mediterrânica (UNAC). Como disse, Jaime Silva, Ministro da Agricultura, “dentro destas campanhas orientadas para grupos específicos, não posso deixar de realçar o trabalho, que consideramos fundamental, das associações de produtores florestais. Temos protocolos com as associações de produtores florestais e vamos continuar a ter no futuro”. No âmbito deste protocolo, até 30 de Setembro tinham sido realizadas 315 sessões de esclarecimento a agricultores, proprietários florestais e compartes de baldios. Estas sessões de sensibilização, que tinham por objecto informar das medidas preventivas previstas no Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, decorreram em 139 municípios, sobretudo do Norte e Centro do país.

Ao todo, nestas sessões de sensibilização, foram contactados cerca de 6.300 agricultores e proprietários florestais. Ainda neste âmbito, realizaram-se encontros com pastores em 54 concelhos, tendo envolvido 200 pastores. Comparativamente a 2006, regista-se um aumento no numero de sessões de sensibilização para agricultores e proprietários florestais (2006: 205 sessões; incremento de 53%), mas uma diminuição no numero de contactos com pastores (2006: 258 encontros, diminuição em 33%).

A DGRF, no cumprimento das medidas e acções preconizadas no 2.º eixo estratégico do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, deu inicio ao Programa “Aldeias Seguras”, o qual tem por objectivo criar nas comunidades rurais um sentimento de responsabilização comum, criando condições de protecção das populações e incentivando a auto-protecção das comunidades e ainda o fortalecimento das relações entre as

Page 47: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 47

populações e os agentes locais de Protecção Civil. No arranque desta iniciativa, foram consideradas três aldeias nos distritos de Viseu (Pindelo dos Milagres, S. Pedro do Sul), Guarda (Castanheira, Guarda) e Faro (Barranco do Velho, Loulé). A apreciação do Ministro da Agricultura a esta iniciativa foi positiva e continuará a ser desenvolvida “porque a experiência foi gratificante desse ponto de vista”, adiantou aos Deputados.

Em matéria de sensibilização dirigida para a população escolar, a DGRF protocolou com o programa PROSEPE (Univ. Coimbra) um conjunto de actividades que decorreram em 178 escolas do ensino secundário durante o ano lectivo 2006/2007 e promoveu em conjunto com a Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular a elaboração dos conteúdos do “Guião de Educação Ambiental”, com uma tiragem de 1.000 exemplares (actualmente esgotado). Ainda nesse âmbito, a DGRF, em parceria com a Autoridade Nacional de Protecção Civil e Corpo Nacional de Escutas apoiou institucionalmente a edição do livro “O dia em que a mata ardeu”. Um livro destinado às crianças.

Numa iniciativa inovadora, a DGRF organizou e promoveu o concurso “Tree Parade’07”, dirigido à população escolar e que teve como objectivo despertar a sensibilidade nas crianças e nos jovens para a importância da floresta e para a problemática dos incêndios florestais. A exposição dos trabalhos esteve patente ao público em Lisboa, no Porto e em Castelo de Vide, de 19 Maio a 10 de Setembro. Ao todo, participaram 77 escolas de todo o país neste concurso, cujas exposições foram vistas por mais de 400.000 pessoas. Na figura 4, a exposição que esteve patente em Lisboa, no Terreiro do Paço.

Figura 4: A exposição “Tree Parade’07” em Lisboa. (Autor: Miguel Galante)

A responsabilização dos cidadãos para com os comportamentos de risco deve constituir uma prioridade das politicas de prevenção e gestão de riscos. Nessa perspectiva é importante analisar os impactos da sensibilização. Como concluiu o Ministro da Agricultura, “em termos de sensibilização, pensamos que se há algo que aconteceu durante este último ano e que as estatísticas revelam é que houve um menor número de ignições. Comparando períodos de dias e de semanas de risco elevado com iguais períodos dos anos anteriores, temos menor número de ignições. Ora, isso prende-se, quanto a nós, a dois factores: por um lado, a sensibilização – e verifica-se uma mudança do comportamento cívico dos portugueses – e, por outro, o reforço da vigilância com a concentração na GNR desse papel, que musculou essa vigilância e foi também um elemento dissuasor, com resultados óbvios.”. São palavras de optimismo, mas que ficam ensombradas quando em 2007 há a lamentar a morte de quatro pessoas em consequência de queimas da agricultura, que se

Page 48: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 48

descontrolaram, apesar de se sentir uma “consciencialização crescente da população para os períodos crescentes de proibição de queimadas”, como identificou o Presidente da Associação Nacional de Freguesias.

Em nosso entender, a sensibilização é uma actividade onde as autarquias e sobretudo as freguesias, pela proximidade que têm junto dos cidadãos, podem desempenhar um papel insubstituível, quer por via de sessões de esclarecimento e debates, quer pela promoção de acções de demonstração de boas práticas e de exercícios de protecção civil. A anterior Comissão Eventual de Fogos Florestais já havia recomendado que tal desígnio fosse considerado, dada a disponibilidade que a Associação Nacional de Freguesias demonstrou para participar nessa nobre missão pois têm uma rede nacional, que é única no País, de 4.259 postos nacionais, que são a representação de cada uma destas freguesias. Esta disponibilidade para a colaboração na sensibilização foi novamente reiterada pela ANAFRE na audição parlamentar realizada na Comissão ao afirmar de forma peremptória: “estamos sempre disponíveis e temos carregado para as freguesias as informações, os modelos de divulgação e as acções de sensibilização produzidos pela Direcção-Geral dos Recursos Florestais, perspectivando sensibilizar os cidadãos através de cada uma das juntas de freguesia, nomeadamente das que têm floresta”. Informação pública No capítulo da informação pública, a Direcção-Geral dos Recursos Florestais entre 1 de Julho e 15 de Outubro produziu 8 relatórios quinzenais, com informação estatística e cartográfica provisória sobre incêndios florestais. Esses relatórios foram distribuídos pelas entidades integrantes do dispositivo DFCI e disponibilizados para consulta no portal de DFCI da DGRF (www.dgrf.min-agricultura.pt/dfci). Neste portal (figura 5) é possível encontrar informação de actualidade sobre iniciativas e acções relacionadas com a Defesa da Floresta Contra Incêndios, aconselhamento técnico e informação sobre os vários programas da DGRF e sobre a previsão de risco de incêndio, produzido pelo IM.

Figura 5: Portal Internet DFCI/DGRF.

A DGRF produziu ainda dois documentários, em parceria científica com o projecto de investigação “Fire Paradox”, sobre o “fogo contra o fogo” e o “fogo controlado”, este último foi seleccionado para o concurso do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente – CINE’ECO 07 (Seia).

Page 49: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 49

Ordenamento Florestal

O ano que passou constitui um importante marco no ordenamento da floresta portuguesa. Mais de uma década depois da sua idealização na Lei de Bases da Politica Florestal6, estão agora publicados todos os Decretos Regulamentares que instituem os 21 Planos Regionais de Ordenamento Florestal. A figura 6 apresenta a expressão territorial dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal.

A Estratégia Nacional para as Florestas, estabelece a especialização do território continental português, com base no conceito de função dominante, o qual tem tradução a outra escala nas funcionalidades das sub-regiões homogéneas que têm vindo a ser desenvolvidas no âmbito dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF).

Figura 6: Expressão territorial dos 21 PROF (Fonte: DGRF, 2007).

Os Planos Regionais de Ordenamento Florestal são instrumentos de ordenamento e planeamento florestal, que, definindo directrizes relativas à ocupação e ao uso dos espaços florestais e de forma articulada com os restantes instrumentos de gestão territorial, promoverão, em ampla cooperação entre o Estado e os proprietários florestais privados, a gestão sustentável dos espaços florestais. Para o Ministro da Agricultura, a publicação dos PROF criou as condições para “poderemos impor um ordenamento florestal, um novo mosaico

6 Lei de Bases da Politica Florestal – Lei n.º 33/96, de 17 de Agosto, aprovada por unanimidade na Assembleia da República.

Page 50: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 50

florestal, que levará alguns anos a ver-se na prática, mas, digamos que, daqui para a frente enquadra todos os incentivos financeiros à florestação e reflorestação de terras agrícolas”. O Titular da Agricultura referiu ainda que os PROF implicam um conjunto de obrigações para todos os proprietários, desde as entidades públicas, o Ministério da Agricultura, o Ministério do Ambiente, às entidades privadas apresentarem planos de gestão florestal, para os quais a legislação prevê um período de dois anos para a sua elaboração.

O projecto financiando pelo mecanismo financeiro do Espaço Económico Europeu (Noruega, Lichenstein e Islândia) EEA – Grants para a concepção, o planeamento e a execução das redes regionais de defesa da floresta contra incêndios, com uma intervenção numa área de cerca de 800 000 hectares, em 34 municípios da Região Centro, e num valor de investimento orçado em 1,2 milhões de euros, constitui um aspecto inovador na política de prevenção estrutural. Como salientou o Partido Socialista, este projecto constitui ”um ponto de viragem, na forma de pensar as áreas públicas numa perspectiva de escala regional. É, de facto, um avanço que registamos e que pode constituir uma mudança de página naquilo que importa e que diz respeito ao ordenamento florestal”. Para o Ministro da Agricultura, o projecto que se destina a intervir na zona litoral (Serra da Boa Viagem) e na cordilheira central, irá permitir ter um plano de gestão e ordenamento estrutural desta área central, para concluir até 2009. “É, digamos, uma área-piloto, que cruza com os outros apoios todos, mas é uma área-piloto onde temos cooperação internacional, onde pensamos, em dois anos e meio, estruturar uma área de 800 000 hectares, dos quais 116 000 hectares são de regime florestal. Vamos planear as redes, a formação profissional e o melhoramento técnico e tecnológico”, acrescentou o Ministro Jaime Silva.

Esta questão do planeamento e da intervenção à escala intermunicipal é identificado pelo presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Dr. Duarte Caldeira, como algo em que “é preciso continuar a insistir e a investir, exactamente porque se trata de um problema de escala ao nível do território, é a valorização e o reforço da interacção intermunicipal”, porque, como exemplificou “os territórios dos municípios não têm fronteiras, nomeadamente quando falamos de incêndios florestais, porque as serras são contínuas e perpassam vários territórios municipais”.

Gestão das áreas comunitárias

As áreas florestais sob gestão do Ministério da Agricultura correspondem a cerca de 13% da área florestal nacional (cerca de 500.000ha). Dentro destas áreas destacam-se os perímetros florestais, mais conhecidos como “Baldios”, grande parte dos quais co-geridos pelo Estado em parceira com os órgãos eleitos de administração (Conselho Directivo). Sobre este assunto, o ministro da Agricultura apresentou novidades importantes aos deputados: “uma nova dinâmica, que está a ser apoiada financeiramente”, na preparação de planos de gestão florestal para os baldios – os Planos de Utilização dos Baldios. Estes planos visam assegurar a gestão sustentada dos baldios. “A sustentabilidade dos baldios tem que ser encontrada dentro dos baldios”, afirmou o Titular da Pasta da Agricultura. A boa gestão dos dinheiros das madeiras e das pastagens tem que se traduzir em investimento no próprio baldio e, como referiu o Ministro da Agricultura, “o próprio Estado na percentagem com que fica nos

Page 51: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 51

baldios tipo B, está disposto a rever essa percentagem se vir da parte da outra percentagem que fica nos

baldios uma importante percentagem a ser aplicada na estruturação da floresta e na reflorestação ordenada no

próprio baldio”. A esse propósito, importa avaliar a proposta formulada pela FORESTIS, da criação de uma conta poupança-gestão, no caso das áreas comunitárias. Ou seja, a obrigatoriedade do proprietário, quando realiza um corte de madeira, por exemplo, colocar uma reserva para obrigações de gestão futuras. Como referiu na ocasião Rosário Alves (FORESTIS), “essa poupança tem regimes fiscais muito favoráveis em

termos, nomeadamente, de taxas de juros e em termos de dedução nos impostos, quer seja no IRC, quer seja

no IRS. Isto é uma medida que tenho visto transversalmente nos países especializados em floresta e que

promovem a gestão florestal”.

A Lei n.º 68/93, de 4 de Setembro - Lei dos Baldios -, determina nos seus artigos 6º, 7º e 8º que a elaboração dos planos-tipo de utilização dos baldios (PUB) é da responsabilidade dos serviços competentes da Administração Pública, ou seja, da Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF). O Decreto-Lei nº 205/99, de 9 de Junho – relativo às normas para a elaboração e execução dos Planos de Gestão Florestal -, regulamenta a Lei dos Baldios no que respeita aos PUB. A Direcção-Geral dos Recursos Florestais, em cumprimento com a Estratégia Nacional para as Florestas celebrou protocolos com três organismos federativos - BALADI, FORESTIS e FPFP -, as quais congregam associações que se dispõem a participar na elaboração dos PUB.

Como referiu Armando Carvalho, em representação da BALADI – Federação Nacional de Baldios, “em 30 anos o Estado não fez um plano de utilização dos baldios, mas sete meses após o início do protocolo, a BALADI, não contando com outras federações, entregou já à Direcção-Geral dos Recursos Florestais qualquer coisa como 150 planos de utilização dos baldios, que corresponde a uma área de cerca de 100.000ha. Ora, isto prova que, de facto, quando há vontade, quando há decisão política acertada e uma maior transparência em todo esta processo, é possível fazer mais e melhor, com recursos financeiros muito parcos, porque é exactamente isso que estamos a fazer”. Refira-se a este propósito que a Estratégia Nacional para as Florestas e o Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios prevêem que as matas nacionais tenham completos os seus planos de gestão florestal em 2008 e que pelo menos 50% das áreas comunitárias também o tenham, ou seja que, mesmo o regime de co-gestão, tenha 50% dos planos de gestão florestal concebidos e preparados para operacionalizar.

Igualmente merece reflexão as conclusões extraídas do Seminário “Gestão Florestal Sustentável dos Baldios”, realizado pela ADEFM em Novembro último em Vieira do Minho, que contou com a participação do Presidente desta Comissão Parlamentar, e que passamos a transcrever:

1.Os baldios constituem um potencial importante para o desenvolvimento rural sustentável do nosso País. A estes espaços comunitários está reservado um papel de extrema importância na subsistência das camadas mais pobres das populações locais, já que a par das utilizações tradicionais que continuam a ser usadas pelos compartes, como seja a exploração florestal e a pastorícia, os seus recursos podem ser explorados de

Page 52: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 52

novas formas e em múltiplas áreas, tais como a pesca e caça, a apicultura, a exploração de pedra, o turismo e lazer, bem como o aproveitamento de energia eólica e de biomassa.

2.A gestão das áreas baldias estará sempre condicionada pelas vontades de actuação dos seus órgãos de gestão. O reconhecimento e pleno funcionamento dos órgãos gestores, o Conselho Directivo e a Assembleia de Compartes, assumem especial importância, pois uma organização com capacidade técnica, financeira e jurídica é um instrumento decisivo para a gestão e desenvolvimento do baldio.

3.Reconhecendo que o movimento associativo comunitário é um instrumento decisivo para a defesa e desenvolvimento sustentável e integrado dos baldios, será necessário apoiar e consolidar as associações do sector na dinamização de novas formas de gestão e defesa florestal.

De facto, em nosso entender os baldios devem procurar a gestão conjunta, numa lógica de economia de escala, tendo sempre presente os objectivos de gestão sustentável definidos nos Planos de Utilização dos Baldios. O Baldio de Fafião (Montalegre), que os Deputados da Comissão tiveram oportunidade de visitar, constitui um bom exemplo do trabalho que pode ser feito nas áreas públicas, com a interligação entre a pastorícia, a floresta e o turismo de natureza. O ordenamento florestal e a participação activa das populações locais na concretização nos Planos de Utilização dos Baldios, com o envolvimento dinâmico dos Conselhos Directivos dos Baldios, são aspectos decisivos para a sustentabilidade da gestão das áreas comunitárias.

Zonas de Intervenção Florestal (ZIF)

As Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) são áreas territoriais contínuas e delimitadas constituídas maioritariamente por espaços florestais, submetidas a um plano de gestão florestal e a um plano de defesa da floresta contra incêndios e geridas por uma única entidade, que visam fundamentalmente a valorização do património florestal e a minimização de riscos ligados aos incêndios florestais, através da gestão e intervenção a uma escala mais eficiente. O Decreto-Lei n.º 127/2005, de 5 de Agosto, ao estabelecer o regime de criação de zonas de intervenção florestal (ZIF), bem como os princípios reguladores do seu funcionamento e extinção, foi o primeiro passo para a concretização de uma possível solução para o problema da gestão da pequena propriedade privada florestal. A primeira ZIF foi formalmente constituída em finais de Novembro de 2006, em Oliveira do Hospital: a ZIF de Alva e Alvoco, promovida pela CAULE – Associação Florestal da Beira Serra, que reúne mais de 4.700ha na zona da Serra da Estrela.

Na perspectiva dos Deputados da Comissão e também das cinco federações representativas do sector florestal: Associação Florestal de Portugal (FORESTIS), Federação Nacional de Baldios (BALADI), Federação Nacional das Cooperativas de Produtores Florestais (FENAFLORESTA), Federação dos Produtores Florestais de Portugal (FPFP) e a União da Floresta Mediterrânica (UNAC), as ZIF são tidas como uma boa ideia: “Os condomínios de gestão sustentada de grandes áreas geográficas”, como ilustra o Ministro Jaime Silva. De facto, as ZIF criam a possibilidade de, em áreas com escala e em áreas com capacidade de gestão, termos a floresta sustentável economicamente e termos a floresta com capacidade de produzir riqueza.

Page 53: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 53

O Ministro da Agricultura informou os Deputados, em 11 de Julho, que estavam a decorrer na DGRF 102 processos para meio milhão de hectares. “Aprovámos 4, temos 27 em audiência final, 17 em consulta pública, 30 em consulta prévia e há 16 que não puderam ser aprovadas por falta de preenchimento dos requisitos. É que tem que haver um mínimo de requisitos, porque, se não, cria-se uma ZIF, aprova-se a ZIF e, quando vai começar a funcionar, temos os membros da ZIF a dizer que não deram nenhum mandato juridicamente válido que permita à ZIF funcionar”, frisou o Ministro Jaime Silva, tendo reconhecido que existe um problema de morosidade nestes processo. Na sua opinião o que “demora mais é ir atrás de cada um dos pequenos proprietários, descobrir quem são, convencê-los de que não vão perder a sua propriedade e convencê-los a actualizar o registo da propriedade”.

Acerca da complexidade da constituição das ZIF, se atendermos aos requisitos, às consultas prévias de 60 dias, às consultas públicas de 70 dias, à audiência final, ao requerimento e à publicação num prazo de 130 dias, conclui-se que é uma tramitação processual morosa, que leva centenas de dias até constituir uma ZIF. Ou seja, existe um trabalho de pormenor processual e até legislativo a aperfeiçoar. Apesar desse constrangimento, em final de 2007 estavam formalmente constituídas 11 ZIF, que totalizam 47.243ha (tabela 8) e são a prova inequívoca de que é possível construir as ZIF, desde que exista a vontade na procura das soluções para os vários desafios. De facto, existe ainda a intenção para constituição das ZIF em 650.000ha, pelo que apesar de todos os constrangimentos os resultados apresentados são optimistas, face ao potencial de adesão que existe nas ZIF, como estrutura de condomínios de gestão sustentada da floresta a prazo.

Porém, mais de dois anos após a publicação da legislação afigura-se necessária uma reflexão sobre a sua aplicação e numa revisão desse diploma, encontrar mecanismos que flexibilizem e acelerem os processos, uma ideia que é unanimemente reconhecida pelos Partidos Políticos com assento na Comissão.

Tabela 8: ZIF constituídas – Dez. 2007 (fonte: DGRF).

ZIF Portaria Área (ha) Concelho

Alva e Alvoco Port. n.º 1357/2006, de 30/11 4.741 Oliveira do Hospital

Cadaval, Rio Maior e Azambuja Port. n.º 134/2007, de 26/1 8.216 Cadaval, Rio Maior e Azambuja

Entre Douro e Sousa Port. n.º 787, de 20/7 7.223 Paredes e Penafiel

Serra do Caldeirão/Loulé Port. n.º 794-C/2007, de 23/7 2.459 Loulé

Penaverde Port. n.º 1225/2007, de 21/9 2.061 Aguiar da Beira

Arade Port. n.º 1380/2007, de 23/10 10.540 Silves e Monchique

Alfátima Port. n.º 1381/2007, de 23/10 2.582 Gouveia e Seia

Castelo Port. n.º 1549/2007, de 7/12 1.496 Mação

Romãs Port. n.º 1551/2007, de 7/12 2.740 Sátão

Aldeia de Eiras Port. n.º 1579/2007, de 12/12 1.047 Mação

Dornelas Port. n.º 1592/2007, de 14/12 1.808 Aguiar da Beira

Alcofra Port. n.º 1625/2007, de 27/12 2.327 Vouzela

Page 54: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 54

O Ministro da Agricultura, Jaime Silva, reconheceu que existe um problema nos procedimentos de constituição das ZIF, designadamente ao nível da sua aprovação, “um problema jurídico complicado de se flexibilizar, porque elas têm que estar, juridicamente, bem fundamentadas para poderem operacionalizar a gestão de dinheiro, a gestão de propriedade, que não é pública, que não é das ZIF, pois continua a ser de cada um dos membros da ZIF, mas já dissemos às organizações de produtores florestais que iremos simplificar, até ao máximo possível, para que, de facto, as ZIF e, mesmo naquilo que é despesas de constituição e de financiamento, simplificamos já, no quadro do Fundo Florestal Permanente, porque são verbas nacionais, a agilização do apoio à constituição das ZIF”.

O regulamento de aplicação do Fundo Florestal Permanente para o biénio 2007/2008, aprovado em Junho, redefeniu os apoios a conceder à organização e funcionamento das zonas de intervenção florestal (ZIF) face ao regulamento anterior, no contexto da promoção do ordenamento e gestão florestal, onde também são contempladas as áreas agrupadas. Nos termos do Despacho n.º 23-A/2007, de 15 de Junho, passam a existir critérios para conceder os apoios à constituição das ZIF e áreas agrupadas até ao montante de 4€ por hectare e de funcionamento, elaboração do Plano de Gestão Florestal e do plano de defesa até ao montante máximo de 10€ por hectare. Refira-se que o anterior Regulamento do FFP apoiou a constituição das ZIF em 1,5 M€.

A dimensão mínima de 1.000ha para a constituição das ZIF imposta pelo Decreto-Lei n.º 127/2005, de 5 de Agosto, tem sido recorrentemente apontado como um outro obstáculo à constituição das ZIF em algumas zonas do país. A Federação Portuguesa dos Produtores Florestais considera que o constrangimento da dimensão mínima prende-se com a dificuldade da gestão de ZIF com muitos proprietários: “gerir uma ZIF com 1.000 proprietários é muito complicado”, exemplificou, tendo apontado o valor mínimo de 100ha a Norte do Tejo, como uma possível referência. Aliás, como esclareceu Luis Freitas (BALADI), “de acordo com a legislação em vigor, uma ZIF exige, no mínimo, 100 proprietários e 1000ha – isto para todo o território nacional. Ora, nós sabemos que o território nacional não é igual nem geograficamente nem em termos de posse de terra”. A FENAFLORESTA, exemplificou de uma forma clara esse problema, ao afirmar que existem concelhos rurais que “apesar de terem muito mais do que 1000ha de floresta, não os têm de uma forma contínua. Isso acontece muito na zona do Minho, porque acaba por estar muito fragmentada quer com alguma indústria quer com zonas agrícolas e zonas urbanas”.

Em nosso entender, a publicação dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal, que identificam as zonas prioritárias para a constituição das ZIF poderá encerrar a solução para essa questão da dimensão mínima, por via de uma indexação à dimensão definida em cada PROF para a elaboração dos Planos de Gestão Florestal que vinculam os privados. A definição de modelos de gestão para as ZIF é um outro aspecto desta medida que, na perspectiva da FORESTIS, deve ser igualmente prioritário. “As zonas de intervenção florestal (ZIF) são, de facto, a prioridade para a aplicação da gestão florestal. Para nós, o investimento tem de ser feito, de facto, na gestão florestal, porque além de se criar uma floresta mais resistente aos fogos, este é um investimento produtivo”, afirmou aquela federação de produtores florestais.

Em resposta à questão colocada pelo Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, sobre a possibilidade de “associação dessas pequenas manchas florestais privadas à gestão baldia ou ao plano de utilização dos baldios” na perspectiva da criação das ZIF, a BALADI respondeu que em relação a áreas comunitárias isoladas que fossem a continuidade de uma área privada integrada numa ZIF não vê problemas

Page 55: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 55

nisso, “no entanto, desde cedo, colocámos fortemente a questão de que tinha de haver aqui uma dicotomia: por um lado, a ZIF, que é essencialmente uma organização virada para as questões da esfera privada, e, por outro, os baldios. Até pela complexidade dos problemas que isto iria trazer em termos de um possível regulamento de funcionamento da entidade gestora dos baldios”, afirmou Armando Carvalho.

Em Outubro, o Ministro da Agricultura informou os Deputados que o seu Ministério está a diligenciar para estudar com as associações florestais “a forma de agilizar os mecanismos legislativos que facilitassem a constituição das ZIF, não pondo em causa a propriedade individual e o direito de cada um dos proprietários”. “Sendo a criação das ZIF um elemento que é reputado como essencial para termos uma gestão activa da floresta nacional, evidentemente que nos preocupa este atraso, ainda que seja positivo o número de 136 ZIF que abrangem uma área de 650 000 ha. Todavia, a sua efectivação, na prática, tem os tais problemas jurídicos que se prendem com o cadastro, sendo que para o cadastro estão orçamentadas verbas para o próximo ano e, então, aí, sim, vai iniciar-se esse processo em zonas exemplares, em zonas que serão modelo, dada a importância que o Ministério da Agricultura, o Ministério do Ambiente e o Governo atribuem às florestas”, adiantou aos Deputados.

A FENAFLORESTA apresentou uma outra questão importante neste domínio e que se prende com os atrasos na operacionalização dos benefícios que os proprietários têm por pertencerem a uma ZIF. Segundo aquela organização informou “estavam previstos alguns benefícios fiscais, em sede de IRS, porque a maior parte das vezes as pessoas não têm contabilidade organizada na parte agrícola ou no sector agrário”. Uma situação que importa considerar num quadro de avaliação das ZIF.

Em resumo, as ZIF são unanimemente reconhecidas como um primeiro passo para a gestão sustentável do minifundo florestal e importa reconhecer o grande esforço que os privados, e em particular as organizações de produtores florestais, estão a desenvolver nesse sentido. Em nosso entender as ZIF devem ser uma prioridade nas políticas de prevenção estrutural do Ministério da Agricultura. Contudo, daquilo que foi exposto pelas organizações do sector e das preocupações do Deputados, afigurasse-nos recomendável que o Governo proceda a uma análise da aplicação da legislação em vigor e aos seus constrangimentos, designadamente no que concerne à morosidade da tramitação processual, à dimensão mínima das ZIF e ao enquadramento das áreas comunitárias, por forma a encontrar os mecanismos legais que flexibilizem estes processos.

Programa Sapadores Florestais

Entre o final de 2006 e o primeiro semestre de 2007 foram constituídas 40 novas equipas de sapadores florestais (eSF), donde resultou um incremento de 25% face às 166 equipas operacionais reportadas no ultimo relatório da Comissão Eventual para os Fogos Florestais. Em consequência da extinção de uma equipa em 2007, actualmente, encontram-se operacionais 205 eSF (85% do total de eSF constituídas), um número ainda insuficiente para as necessidades do país, no entender da Federação Portuguesa dos Produtores Florestais, apesar de reconhecer o empenho do Governo no reforço do Programa de Sapadores Florestais. A tabela 9 sintetiza a evolução deste Programa, desde o seu inicio em 1999.

Page 56: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 56

Tabela 9: Evolução do Programa de Sapadores Florestais 1999/2007 (fonte: DGRF, 2007).

Das 40 novas equipas de Sapadores Florestais, 24 (60%) foram constituídas em Organizações de Produtores Florestais (OPF), 3 (7,5%) em Conselhos Directivos de Baldios (CDB) e 13 (32,5%) em Autarquias (AUT). A tabela 10 resume a nova distribuição das equipas de Sapadores Florestais (eSF) em função da natureza das entidades detentoras dessas equipas, onde se evidencia o grande incremento verificado na constituição de equipas de sapadores florestais nas autarquias. Os distritos de Vila Real, Viseu, Guarda e Castelo Branco concentram 49% das equipas de sapadores florestais operacionais.

Tabela 10 Entidades detentoras das equipas de Sapadores Florestais (fonte: DGRF, 2007).

Junho 2006 Junho 2007 OPF 124 75% 148 72% CDB 38 23% 40 20% AUT 4 2% 17 8% Total 166 205

A DGRF coordenou, durante o período crítico, a actividade de 205 equipas de Sapadores Florestais, às quais acrescem 60 equipas constituídas por funcionários da DGRF e pessoal contratado no âmbito da Medida AGRIS 3.4. Estas equipas exerceram, primordialmente, funções de gestão estratégica de combustíveis florestais, manutenção de infra-estruturas, vigilância, dissuasão, primeira intervenção e rescaldo.

A figura 7 da página seguinte apresenta a localização das 205 equipas de Sapadores Florestais que estiveram operacionais em 2007, as quais integraram a Força Operacional Conjunta da Directiva Operacional Nacional de DCFI. Nos 19 dias de alerta amarelo determinado pelo CNOS/ANPC em 2007, estas equipas estiveram à disponibilidade às ordens dos Comandantes Distritais de Operações de Socorro, em acções de vigilância, detecção, primeira intervenção, apoio ao combate e rescaldo, no âmbito da prestação do “serviço público” definido nos termos do Decreto-Lei n.º 38/2006, de 20 de Fevereiro.

Page 57: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 57

Figura 7: Distribuição das 205 equipas de sapadores florestais – 2007 (Fonte: DGRF, 2007).

Entre 1 de Junho e 30 de Setembro de 2007, foram realizadas pelas equipas de Sapadores Florestais 315 serviços de 1ª intervenção (35,5% da actividade operacional), 228 serviços de apoio ao combate (25,7%), 340 serviços de rescaldo (38,3%) e apenas quatro serviços de vigilância pós-rescaldo. De acordo com a informação do relatório da DGRF, os distritos de Castelo Branco, Guarda e Santarém registaram metade da actividade operacional desenvolvida.

O relatório da DGRF também apresenta os resultados da actividade de prevenção estrutural realizada pelas equipas de sapadores florestais. Foram contabilizados 3.361ha de silvicultura preventiva, beneficiação de 142 pontos de água e 1.284km de manutenção e beneficiação de caminhos florestais. A esta actividade acrescem os trabalhos realizados ao abrigo da prestação do “serviço público” correspondentes a 656ha de silvicultura preventiva, beneficiação de 18 pontos de água e 164km de trabalhos em caminhos florestais.

Page 58: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 58

Os valores apresentados evidenciam a importância do trabalho dos sapadores florestais. Fruto desse reconhecimento, o Ministro da Agricultura anunciou aos Deputados que em 2008 irão ser criadas entre 50 a 60 novas equipas, “sendo esse um dos instrumentos que iremos privilegiar no quadro do financiamento do Fundo Florestal Permanente.” Refira-se que o Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios preconizava a constituição anual de 20 equipas de sapadores florestais, pelo que este anuncio é um claro sinal político do relevo que o Programa de Sapadores Florestais assume nas politicas de prevenção estrutural do Ministério.

Para o Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, ainda existe um problema de financiamento do programa por resolver, pois na sua óptica o actual regime de financiamento não assegura a sustentabilidade de uma parte significativa dessas equipas. Na sua perspectiva, “uma associação, que está, fundamentalmente, em zonas de protecção, não consegue obter as mesmas receitas da matéria lenhosa que uma associação que está, fundamentalmente, numa zona de produção” para assegurar a comparticipação do auto-financiamento do funcionamento das equipas. De igual modo, as equipas de sapadores ligadas a baldios da modalidade B, os quais têm a gestão partilhada com o Estado apresentam problemas de sustentabilidade, relacionado com “o problema dos atrasos na autorização dos cortes em muitos baldios. E esta questão liga-se, depois, com a existência ou não de meios financeiros de alguns baldios para responderem às necessidades das equipas de sapadores”. Para o deputado comunista “dado que o Estado vai buscar a estes baldios 40% das receitas, é justo, julgo eu, e houve sinais nesse sentido, que o Estado suporte, para lá das verbas que dá e dá-as a todas as equipas de sapadores, possa dar os 40% também da parte que cabe ao conselho directivo do baldio”, uma preocupação que também foi apresentada aos Deputados da Comissão pela BALADI – Federação Nacional de Baldios que partilha a opinião da necessidade da diferenciação da forma de co-financiamento e do conceito de prestação do serviço público entre os Baldios e as outras entidades detentoras de equipas de sapadores florestais.

O Ministro da Agricultura pronunciou-se sobre esse assunto, tendo afirmado que ”o regime dos sapadores florestais tem que ser um regime acessível a toda agente, aos privados, aos baldios, a todos eles, com um sistema de financiamento transparente em que todos são colocados em pé de igualdade”. Concretamente sobre o financiamento das equipas dos Baldios, na sua opinião “o plano de gestão é que vem identificar a necessidade de apoios adicionais. Não podemos, agora, de repente, dizer que para o baldio X vamos pagar a 100% e para os outros não pagamos”.

Os apoios ao funcionamento das equipas assumem a forma de subsídio a fundo perdido por períodos de cinco anos. O apoio anual a atribuir pelo Estado ao funcionamento das equipas de sapadores é correspondente aos trabalhos de serviço público de prevenção, vigilância, primeira intervenção, apoio ao combate e rescaldo e vigilância pós-incêndio que forem acordados em protocolo, referentes a seis meses de funcionamento ao serviço do Estado, num montante anual não superior a 35.000€. Na óptica da Federação dos Produtores Florestais de Portugal, a prestação do serviço público não deve ser realizada fora da área de intervenção da equipa. A prestação do “serviço público” na opinião da BALADI deveria ser objecto de um “normativo para regulamentar a prestação das equipas de sapadores florestais no serviços público, designadamente nas operações de apoio ao combate”. Estes são aspectos importantes para a evolução qualitativa do Programa de Sapadores Florestais, o qual na perspectiva da FORESTIS deverá reforçar a componente da formação profissional, numa perspectiva conducente à certificação da profissão de sapador florestal.

Page 59: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 59

A importância do Programa de Sapadores Florestais do Ministério da Agricultura mereceu um reconhecimento unânime por todos Partidos, quer pelo trabalho que as equipas desenvolvem, durante todo o ano, nos espaços florestais (Figura *), quer pela dimensão social do Programa ao permitir a criação de postos de trabalho qualificado em zonas deprimidas do interior do País, onde se faz sentir o avanço da desertificação.

Num momento em que o Programa conta com mais de 200 equipas de sapadores florestais e com um grande empenho do Ministério da Agricultura no reforço significativo deste Programa parece-nos importante que se proceda a uma avaliação daquela que foi uma iniciativa pioneira no quadro das parcerias publico-privadas. Em nosso entender, seria importante que a DGRF procedesse à realização de um estudo prospectivo para a evolução do Programa que avalie aspectos tais como:

- os custos anuais na formação, no equipamento e no apoio ao serviço publico;

- as principais vantagens e principais obstáculos da sua implementação,

- a existência de diferenças regionais de implantação do programa e em função da natureza da entidade patronal

- o envolvimento do programa com as áreas protegidas e as autarquias

- a integração das equipas de Sapadores Florestais na Força Operacional Conjunto do dispositivo de combate aos incêndios florestais.

Page 60: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 60

3.3.2. Operação “Floresta Segura” (GNR)

Os resultados da Operação “Floresta Segura” foram apresentados no passado dia 16 de Outubro pelo Major-General Mário Cabrita, 2.º Comandante-Geral da Guarda Nacional Republicana. O Decreto-Lei n.º 22/2006, 2 de Fevereiro, institucionalizou o SEPNA, reforçado com a integração dos Guardas Florestais da DGRF e criou o Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS), no âmbito da GNR. A articulação operacional entre o SEPNA/GNR com o Ministério da Agricultura e com o Ministério do Ambiente, em matéria de Defesa da Floresta Contra Incêndios, é regido pela Portaria n.º 798/2006, de 11 de Agosto. O Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente (GNR/SEPNA) é responsável pela coordenação da prevenção operacional no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios.

Assim, nos termos da legislação em vigor, a GNR assegurou, durante a operação “Floresta Segura”, a coordenação das actividades de prevenção, vigilância, detecção, investigação das causas dos incêndios e validação da informação relativa às áreas ardidas, conforme é expresso na Directiva Operacional Nacional n.º 2/2007 da ANPC. Com a realização desta operação, a GNR visou a intensificação das medidas de prevenção e de acções de patrulhamento, o reforço da vigilância das zonas florestais, a detecção precoce da eclosão de fogos nascentes, a minimização das actividades ilícitas contra a floresta, a investigação das causas dos incêndios florestais e a validação das áreas ardidas para efeitos da estatística dos incêndios florestais.

A operação “Floresta Segura” decorreu entre 15 de Maio e 30 de Setembro, tendo sido mobilizados no SEPNA/GNR para esta operação 461 militares das Equipas de Protecção da Natureza (EPNA) e 466 elementos das Equipas de Protecção Florestal (EPF).

Vigilância

A vigilância, que constitui uma das áreas criticas da actuação da GNR no sistema nacional de defesa da floresta contra incêndios, mereceu lugar de destaque no balanço da operação “Floresta Segura”. A GNR coordenou a realização de 127.950 patrulhas, correspondentes a perto de 750.000 horas de patrulhamento, e cuja distribuição pelas várias entidades se apresenta na figura 8.

Bombeiros Voluntários

7%

GNR46%

Militares do Exercito

1%

Outros15%

Sapadores Florestais

10%

Voluntariado Jovem14%

AGRIS7%

Figura 8: Operação Floresta Segura - Vigilância (Fonte: GNR, 2007).

Page 61: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 61

Os valores apurados expressam o reforço da vigilância das zonas florestais, conforme se apresenta na tabela 11 Este incremento é, em larga medida, resultante da consolidação da integração da GNR no sistema e visou por um lado o aumento da capacidade de fiscalização da aplicação da Lei (46% das patrulhas realizadas foram da responsabilidade da GNR) e por outro uma maior dissuasão dos comportamentos de risco e criminosos e, também, uma maior rapidez na detecção e comunicação do alerta, na prossecução dos objectivos operacionais da Directiva Operacional Nacional da ANPC.

Tabela 11 Resumo das acções de vigilância - Operação Floresta Segura 2007 (fonte: GNR, 2007).

VIGILÂNCIA N.º patrulhas N.º horas de patrulha

Totais 2006 124.475 737.797

Totais 2007 127.952 749.238

Diferença + 1.477 (1,2%) + 13.441 (1,8%)

Detecção

A detecção é um outro domínio da DFCI sob a alçada da GNR, que em 2007 assumiu em pleno a gestão da Rede Nacional de Postos de Vigia. Nesse âmbito, em Fevereiro foi protocolado com a DGRF e o IFAP, I.P. a modernização da rede primária de postos de vigia, no âmbito do qual estava prevista a substituição dos postos de vigia de estrutura metálica. Este protocolo, com vigência até 31 de Dezembro de 2008, tem um orçamento previsto de 2,5 M€, financiado pelo Fundo Florestal Permanente. Ainda em relação a essa componente da detecção, o Ministro Rui Pereira esclareceu que a GNR assegurou o guarnecimento do operadores dos postos de vigia com a “celebração de contratos de trabalho a prazo para garantir que existe uma subordinação a quem tem responsabilidades de comando na prevenção e combate aos incêndios”. Relativamente à eficácia deste sistema de detecção, este governante manifestou a necessidade de aumentar a eficácia deste sistema, designadamente por via da “sua localização e é isso que faremos para o ano que vem”.

O balanço apresentado contabiliza mais de ¾ dos alertas com origem nos telefonemas de populares (quer para os Corpos de Bombeiros, quer para os números de emergência: 112 ou 117). A tabela 12 apresenta a distribuição dos 18.200 alertas recebidos entre desde o inicio do ano até 30 de Setembro.

Tabela 12: Resumo dos alertas - Operação Floresta Segura 2007 (fonte: GNR, 2007).

Fontes de Alerta (01 Jan – 30 Set 07) N.º de Alertas

Sapadores Florestais 49 (0,3%) Postos de Vigia 608 (3,3%)

Populares 14.135 (77,7%) 117 2.091 (11,5%)

Outros 1.314 (7,2%) TOTAL 18.197

Page 62: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 62

Fiscalização

A fiscalização da aplicação das medidas preventivas previstas no Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, constitui um outro domínio importante da actividade da Guarda Nacional Republicana. A acção realizada durante a operação “Floresta Segura” na fiscalização da aplicação da Lei resultou no levantamento de 5.176 autos de contra-ordenação, correspondentes a um incremento de 55% face a 2006 (3.343 autos). Em termos monetários, os autos levantados somam 724.640€ de coimas, valor que é superior em 114% aquele registado em 2006 (339.160€). Contundo, como frisou o 2.º Comandante-Geral da GNR na cerimónia de apresentação, muitos desses autos não tiveram consequência e as coimas não forma cobradas por falta de execução das mesmas pelas autarquias, entidades responsáveis pela instrução dos processos.

Para a Associação Nacional de Municípios Portugueses, a legislação está a ser cumprida: “Claro que os fazemos cumprir, mas há uma coisa: ou tem de ser criado um código de conduta ou um manual de funcionamento com a própria GNR”, para a aplicação dessa legislação, designadamente em matéria de actuação perante a realização de queimas durante o período critico em dias de baixo risco meteorológico de incêndio. Complementou o raciocínio com a exemplificação da adopção, em certas circunstâncias, da admoestação dos autuados, pois “a admoestação é uma prerrogativa da lei que, como juiz daquela situação, podemos aplicar”, disse. A esse propósito, o Ministro da Administração Interna, Rui Pereira, explicou o seu ponto de vista na Comissão: “Claro que, no julgamento destas contra-ordenações, há uma certa latitude. As câmaras não têm de aplicar, logo à primeira vez e perante condutas menos relevantes, coimas, podem ficar-se pelas admoestações, que são sanções também previstas neste regime sancionatório. O problema é que mesmo as admoestações não são aplicadas. Isto é, na esmagadora maioria dos casos não são aplicadas sanções. E esse é um problema que vamos tratar numa reunião, que vou pedir à Associação Nacional dos Municípios, para fazer um balanço”.

A falta de gestão dos combustíveis junto a edificações em espaço florestal (2.269 autos) e a queima ilegal de amontoados e sobrantes da exploração agrícola e florestal (2.078 autos) foram os principais tipos de infracção identificados nos autos levantados e que correspondem a incrementos significativos daquelas infracções comparativamente a 2006 (+44% e +40%, respectivamente).

A figura 9 ilustra os principais tipos de infracções praticados em 2007.

Figura 9: Principais tipos de infracções praticadas em 2007 (Fonte: GNR, 2007).

Gestão Combustiveis - aglomerados populacionais

4%

Gestão Combustiveis - edificações espaço

florestal43%

Gestão Combustiveis - distribuição energia

(média tensão)1%

Gestão Combustiveis - rede viária

3%

Gestão de Combustíveis

51%

Outras infracções4%

Falta de extintores em máquinas, tractores e veículos de transporte

2%

Queimadas ilegais3%

Queimas ilegais40%

Page 63: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 63

Em nosso entender, a aprovação dos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios criou as condições necessárias para a aplicação da legislação, designadamente em matéria da fiscalização do cumprimento das medidas preventivas de gestão dos combustíveis. Importará, nessa óptica, identificar as zonas onde essa situação tem contornos mais críticos e aí promover acções de sensibilização, em complementaridade com a pressão dissuasória da fiscalização da aplicação da Lei. A propósito da sensibilização dos cidadãos, refira-se que em 2007 a GNR contactou com mais de 47.200 pessoas em 571 acções de sensibilização, que se traduzem num incremento de 29% e 37%, respectivamente, face a 2006.

Face ao exposto, em 2007 assistiu-se a um processo de consolidação do SEPNA no seio da GNR depois da mudança institucional operada em 2006. Igualmente, somos da opinião que se verificou verificou-se uma melhor integração da GNR no Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios na coordenação da prevenção operacional, materializado na vigilância dos espaços florestais, na detecção precoce dos incêndios florestais e na fiscalização da aplicação da Lei, designadamente as medidas preventivas previstas no Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho.

Em conclusão, citando as palavras do Ministro Rui Pereira, “a avaliação que fazemos da Guarda Nacional Republicana, do SEPNA, dos GIPS, é muito positiva e creio que um dos pontos cruciais, que permitiu aumentar a capacidade de resposta do dispositivo, foi o envolvimento da Guarda Nacional Republicana”. Sobre essa matéria afirmou, perante os Deputados da Comissão: “Srs. Deputados, não tenham dúvidas disto: o envolvimento da Guarda Nacional Republicana pela cobertura territorial que esta força de segurança tem é, realmente, um ganho em matéria de prevenção e combate aos incêndios muito significativo”. Esta foi uma avaliação partilhada pelo Dr. Duarte Caldeira, Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, que realçou a “melhoria significativa no patrulhamento preventivo das áreas de risco, com o controlo territorial de proximidade mais activo e visível nas áreas de risco florestal”, que também constituíram um elemento dissuasor nos comportamentos de risco. 3.3.3. A investigação das causas dos incêndios florestais

A investigação das causas dos incêndios florestais constitui um aspecto basilar para a intervenção nos domínios preventivo, legislativo e criminal. Em 2007, o balanço apresentado pelo GNR regista a investigação de 80% dos incêndios com área superior a dez hectares e 95% dos incêndios com área superior a 100 hectares. As principais causas identificadas têm a ver com o incendiarismo (vandalismo), com a renovação de pastagens e com a falta de limpeza do solo florestal.

Os registos apurados até final de Setembro, de acordo com a Direcção-Geral dos Recursos Florestais, contabilizam 3.652 ocorrências investigadas pelo SEPNA/GNR, correspondente a 35,5% das 10.286 ocorrências registadas nesse período. Deste conjunto de investigações realizadas, 1.550 (42,2%) carecem de confirmação final da causa específica. Considerando essa premissa e tendo presente os valores provisórios totais, verifica-se que foi determinada a causa em 1.749 investigações, donde resulta uma taxa de determinação de 47,9%.

Page 64: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 64

O gráfico seguinte (figura 10) apresenta os resultados da investigação das causas dos incêndios florestais, onde se evidencia a grande expressão das investigações com causa indeterminada e o equilíbrio entre os incêndios com origem intencional e aqueles com origem em atitudes negligentes de uso do fogo.

Indeterminadas52%

Intencional22%

Negligência20%

Natural2%

Acidental4%

Figura 10: Resultados da investigação das causas dos incêndios florestais (Fonte: DGRF, 2007).

Em 2007 há a registar um reforço na cooperação institucional entre a GNR, Policia Judiciária, Direcção-Geral dos Recursos Florestais e Instituto da Conservação Natureza e da Biodiversidade com a assinatura de um protocolo com o objecto de aprofundar a colaboração técnica ao nível da formação profissional, do planeamento da actividade, do acompanhamento e análise dos resultados estatísticos e da partilha e divulgação de informação. À luz deste protocolo, foram formados 120 militares do GNR/SPENA na investigação das causas dos incêndios, num curso organizado pela DGRF com o apoio da Polícia Judiciária, cuja cerimonia de encerramento, em 8 de Junho, foi presidida pelo Secretário de Estado da Protecção Civil e na qual participou o deputado Luis Vaz (PS) em representação desta Comissão Eventual. Fruto desta formação, o SEPNA viu reforçado em 38% a sua capacidade de investigação das causas dos incêndios florestais. Estas, são duas medidas concordantes com as recomendações tecidas pelos Deputados da anterior Comissão Eventual para os Fogos Florestais e com as quais se espera colmatar as lacunas existentes na sistematização e tratamento da informação das causas dos incêndios florestais.

A propósito do estudo das causas dos incêndios florestais importa referir os dois estudos apoiados pela Direcção-Geral dos Recursos Florestais com a finalidade da melhoria do conhecimento das causas dos incêndios florestais, com financiamentos comunitário do Regulamento “Forest Focus”. Estes estudos forma realizados pela Policia Judiciária (“Perfil sócio-psicológico do incendiário florestal”) e pelo NUMENA – Centro de Estudos e Investigação Sociológica (“As causas humanas de ignição dos incêndios florestais”), num estudo que decorreu em nove municípios (Vila Nova de Gaia, Silves, Mafra, Pombal, Mondim de Basto, Viana do Castelo, S. Pedro do Sul, Mértola e Bragança).

O ministro Rui Pereira, a quando da cerimónia de homenagem ao dispositivo, destacou a necessidade de ser realizado um novo curso para oficiais, sargentos e praças do GNR/SEPNA, destinado à investigação das causas dos incêndios florestais, tendo em consideração a recente alteração ao Código Penal e o novo enfoque que é dado aos incêndios florestais. Em nosso entender, importa além da formação assegurar o equipamento necessário para o bom desempenho das funções técnicas que estão acometidas ao Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente da GNR, aspectos identificados no relatório da GNR (sobretudo ao nível de viaturas e de meios para a investigação das causas dos incêndios florestai e de equipamento para validação das áreas ardidas).

Page 65: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 65

3.3.4. Dispositivo integrado de combate ao incêndios florestais (ANPC)

O dispositivo de combate aos incêndios florestais previsto para 2007 foi apresentado aos Deputados pelo Comandante Operacional Nacional de Operações de Socorro, Comandante Gil Martins, à luz da Directiva Operacional Nacional n.º 02/2007. Esta apresentação teve lugar na audição parlamentar realizada a 20 de Junho com o recém-empossado Ministro da Administração Interna, Dr. Rui Pereira, naquela que a primeira audição parlamentar desta Comissão com os Membros do Governo.

A Directiva Operacional Nacional n.º 2/2007 foi, pela primeira vez, aprovada na Comissão Nacional de Protecção Civil, com posterior homologação pela Tutela, regendo-se pela legislação em vigor e de acordo com as Normas Operacionais Permanentes (NOP) emitidas pelo Comando Nacional de Operações de Socorro (CNOS). Esta Directiva foi apresentada publicamente em 11 de Abril de 2007, naquele que foi o primeiro acto oficial da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC).

Como referiu o Comandante Gil Martins (CNOS/ANPC), a Directiva foi preparada com a perspectiva integrada dos seus intervenientes, resumida com três palavras-chave: “cooperação, coordenação e gestão de informação”. Este documento orientador tem definida uma cadeia de direcção política no âmbito do Sistema Nacional de Protecção Civil, desde o presidente da câmara, autoridade política de protecção civil local, até ao Ministro da Administração Interna, autoridade política nacional de protecção civil; uma cadeia de comando operacional também muito bem definida no âmbito do Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro, desde o nível local ao das operações, através do posto de comando operacional, terminando no Comando Nacional de Operações de Socorro e uma cadeia de comando nas operações muito bem definida, desde logo a primeira equipa no teatro de operações, quer seja helitransportada quer seja terrestre, assume a responsabilidade da organização desse teatro de operações e que, depois, vai evoluindo à medida que a ocorrência se for desenvolvendo, explicou o Comandante Gil Martins.

Exercícios PROCIV

A realização em Março dos exercícios nacionais “PROCIV 2007” em ambiente de formação, em que foi testada a organização dos bombeiros e da estrutura operacional do SNBPC, e do exercício nacional “PROCIV II 2007”, que teve por missão testar a integração e articulação dos dispositivos dos vários Agentes de Protecção Civil, foi um outro aspecto inovador da acção da Autoridade Nacional de Protecção Civil em 2007 e que permitiu extrair um conjunto de importantes indicadores para a melhoria do desempenho do sistema.

Estes exercícios de preparação, cuja realização havia sido uma recomendação da anterior Comissão Parlamentar, dada a importância operacional de que se revestem apresentam-se na tabela 13 os resultados principais da análise estratégica realizada pela Autoridade Nacional de Protecção Civil para os exercícios Nacionais PROCIV I e II de 2007, consubstanciados nos pontos fortes e pontos fracos internos identificados no domínio operacional.

Page 66: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 66

Tabela 13: Exercícios PROCIV - Principais pontos fortes e pontos fracos (fonte: ANPC, 2007).

Principais Pontos Fortes:

- Motivação e entusiasmo com que os CB e os agentes de protecção Civil acolheram os exercícios;

- Execução das operações de manobra, que decorreram na maioria dos casos de forma positiva;

- Cooperação e coordenação de todos os Agentes, com boa integração dos vários dispositivos;

- Transferência de Comando das Operações entre os diversos Agentes;

Principais pontos fracos

- Dificuldade no estabelecimento do Posto de Comando na fase inicial das ocorrências, especialmente enquanto as primeiras intervenções se desenrolam apenas com presença dos chefes de equipa, sendo necessário definir um check-list de procedimentos de estabelecimento de Posto de Comando, estrutura que deve ser evolutiva e adaptável aos diversos momentos da ocorrência;

- Falta de rotina na função de COS o que tem consequências, quer na passagem de comando, quer na passagem de informação do TO para a estrutura de comando;

- Dificuldades na utilização do sistema de comunicações via rádio, que em grande medida relacionam-se com frequentes dificuldades na organização e estruturação da rede rádio num TO;

- Instabilidade na aplicação informática de gestão de ocorrências;

- Inexistência de uma aplicação de gestão de T.O. integrada na aplicação de Protecção Civil;

- Sentiram-se dificuldades na operação de um grande volume de informação no Sistema Informático da Protecção Civil Digital;

- Existem dificuldades com o programa SMS (textcom) instalado nas salas de operações distritais, designadamente no envio de mensagens;

- Existem problemas num grande número de SALOP no que diz respeito a geradores eléctricos. Em consequência desta fragilidade, a sua autonomia é sempre posta em causa desde que haja uma interrupção no abastecimento de energia eléctrica;

- Existem dificuldades nas comunicações via satélite pelo motivo de não existirem antenas exteriores o que inviabiliza a utilização deste equipamento nos Comando Distrital de Operações de Socorro;

- A irregularidade de calendário deste tipo de exercícios mais uma vez chamou a atenção para a necessidade do estabelecimento de um programa nacional anual de exercícios PROCIV;

- Debriefings finais apenas realizados ao nível da estrutura de comando, perdendo-se assim oportunidades de formação e correcção de procedimentos com os outros elementos.

Page 67: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 67

Directiva Operacional Nacional – Defesa da Floresta Contra Incêndios

A Directiva Operacional Nacional define o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) e a estrutura de Direcção, Comando e Controlo e regula a coordenação institucional, a articulação e a intervenção das organizações do Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro, tendo em vista o cumprimento dos Objectivos Estratégicos definidos pelo Governo e que constam do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios. Em síntese, como caracterizou o Comandante Operacional Nacional, Comandante Gil Martins (ANPC), “trata-se de uma directiva que define a estrutura de direcção, comando e controlo e os meios e recursos que têm a ver com a detecção, vigilância e combate aos incêndios florestais, mas que também consolida a coordenação institucional que já vinha da directiva de 2006 e a articulação e a intervenção das várias organizações que têm a ver com esta problemática.”

A Directiva aprovada em 2007 introduz várias alterações face a 2006, que decorrem por um lado da análise realizada ao desempenho da Directiva anterior e por outro lado do reconhecimento da importância do envolvimento das autoridades políticas de nível nacional, distrital e municipal nos termos definidos na Lei de Bases de Protecção Civil e de acordo com o Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro (SIOPS).

A estratégia definida pela Autoridade Nacional de Protecção Civil para 2007, teve no reforço dos meios, designadamente do dispositivo humano de vigilância, detecção e combate, um dos pilares da estratégia desenhada, consubstanciada na definição de níveis diferenciados de prontidão dos sistemas de resposta, com base em parâmetros de evolução do risco e das vulnerabilidades do território. Além desse reforço de meios, a Directiva concretizou ainda uma nova projecção de forças no território, para a qual contribuiu o alargamento do dispositivo de Ataque Inicial Helitransportado do GIPS/GNR para os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto e Aveiro, com a criação de mais duas companhias. A criação destas duas novas companhias teve por objecto dar resposta a um deficit de equipas terrestres identificado em 2006 naqueles distritos. Na figura 11 apresenta-se a distribuição em 2007 das forças helitransportadas no terreno.

Figura 11: Distribuição das forças helitransportadas - 2007 (Fonte: ANPC, 2007).

Legenda: GNR/GIPS; FEB-C; AHBV

Page 68: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 68

Decorrente da avaliação realizada em 2006 pela Protecção Civil, esta Directiva Operacional contemplava um conjunto de medidas destinadas especificamente à actuação nos grandes incêndios. Com esse propósito, era preconizada a criação de Equipas de Reconhecimento e Avaliação de Situação (ERAS), dependentes do Comando Nacional de Operações de Socorro (CNOS) destinadas a assegurar a análise de incidentes complexos para apoio operacional ao Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) e ao Posto de Comando Operacional (PCO) e ainda a criação de Equipas de Analistas de Incêndios e de Equipas de Fogos Tácticos de Supressão, em cooperação com a Direcção-Geral dos Recursos Florestais para apoio ao PCO. Estas equipas viriam a ser concretizadas através da criação do Grupo de Analise e Uso do Fogo (GAUF), uma inovação que mereceu um acompanhamento cuidado por parte desta Comissão Parlamentar. Como referiu o Comandante Gil Martins a esse propósito: “foram formados este ano 25 elementos quer dos serviços florestais quer dos bombeiros para análise e uso do fogo. Estas equipas fazem a recolha de informações, nomeadamente em relação ao comportamento dos incêndios, às previsões meteorológicas, à identificação, nos perímetros de incêndio, dos pontos mais fracos onde se pode fazer uma intervenção mais positiva das técnicas, das tácticas e dos meios necessários para essa execução.”

Igualmente, importa destacar na DON 2007 a criação no distrito do Porto da segunda Coluna Nacional de Incêndios Florestais (CNIF), com vista a apoiar o combate aos incêndios florestais no norte e centro do país, reforçando a capacidade de resposta a incidentes complexos que estava a cargo apenas da Coluna sedeada em Lisboa.

Em termos dos meios disponíveis para 2007, merece ser realçado o aumento do número de helicópteros destinados para ataque inicial nas fases Bravo (15 de Maio a 30 de Junho) e Delta (1 a 15 de Outubro), sitiados nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto e Aveiro em apoio às novas equipas helitransportadas dos GIPS/GNR. A Directiva Operacional Nacional de DFCI de 2007 apresenta também um novo sistema de informações, desenvolvido em plataforma web no âmbito do sistema de Protecção Civil Digital, com informação detalhada e diferenciada aos meios de comunicação social e ao demais público e um sistema central e distrital de indicadores para a avaliação permanente da resposta do dispositivo integrado. Como referiu o Ministro Rui Pereira

Objectivos operacionais

A Directiva Operacional Nacional é coordenada pela ANPC através dos seus Comandos Nacional e Distritais, no quadro da estrutura de comando único definida pelo Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro (SIOPS)7. Esta coordenação visa assegurar a articulação institucional das organizações nas operações de defesa da floresta contra incêndios, bem como a recolha e articulação da informação.

7 O SIOPS, nos termos do Decreto-Lei n.º 134/2006 de 25 de Julho, é definido como o conjunto de estruturas, normas e procedimentos que asseguram que todos os agentes de protecção civil actuam, no plano operacional, articuladamente sob um comando único, sem prejuízo da respectiva dependência hierárquica e funcional, designadamente em situações de iminência ou de ocorrência de acidente grave ou catástrofe.

Page 69: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 69

Tendo presente o objectivo estratégico de redução da área ardida para valores equiparáveis à média dos países da bacia mediterrânea inscrito no PNDFCI, constituem objectivos operacionais a concretizar até 2012 os seguintes:

- Diminuição, de forma significativa, do número de incêndios com áreas superiores a um hectare; - Eliminação de incêndios com áreas superiores a 1.000 hectares; - Redução do tempo do ataque inicial para menos de vinte minutos em 90% das ocorrências; - Eliminação de tempos de ataque inicial superiores a 60 minutos; - Redução do número de reacendimentos para menos de 1% das ocorrências totais; - Redução, para menos de 150, o número de incêndios activos com duração superior a 24 horas; - Redução da área ardida para menos de 100 mil hectares/ano em 2012.

A formação de competências inerente a uma melhoria do desempenho face aos objectivos operacionais foi uma das áreas estratégicas da ANPC. Assim, em cooperação com a Escola Nacional de Bombeiros, foi ministrada formação específica para Comandos de Bombeiros na organização de Postos de Comandos, “um factor absolutamente determinante na gestão estratégica dos teatros de operações” como avaliou o Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. A Escola Nacional de Bombeiros ministrou ainda formação de equipas helitransportadas para ataque inicial e de responsáveis de gestão de operações aéreas e formação em sistemas de SIG e em técnicas de Estado-Maior para todos os Comandos Operacionais da ANPC. Como sublinhou o Ministro Rui Pereira “foi dada formação a, pelo menos, 1115 homens, entre GIPS e «Canarinhos», formação de comandantes, chefes de grupo de combate e de equipa, ou seja, houve formação de mais de 1000 pessoas, uma formação altamente especializada que mostra bem o esforço que se faz neste domínio”.

O ataque inicial mantém-se, pois, como a aposta forte do dispositivo e da Directiva, seja com meios terrestres seja com meios aéreos. Nesse contexto, o despacho de meios de ataque inicial, especialmente aéreos, afigura-se como um factor crítico de sucesso. Assim, o ataque inicial tem parâmetros muito apertados em termos de decisão: desde que o alerta chega ao comando distrital até serem despachados meios de primeira intervenção decorrem 2 minutos, de modo a que os meios estejam em cima de qualquer incêndio no território nacional até 20 minutos depois do despacho. “É necessário que cada incêndio que ocorra seja combatido e dominado tão rapidamente quanto possível”, concluiu o Comandante Gil Martins.

Fases de aviso e alerta

A Directiva Operacional de 2007, dando cumprimento ao SIOPS, define medidas a adoptar por outras organizações/instituições para além da ANPC aquando da activação do estado de alerta especial. Esta medida visa a intensificação das acções preparatórias para as tarefas de supressão ou minoração das ocorrências, através da colocação de meios humanos e materiais de prevenção em relação ao período de tempo e à área geográfica em que se preveja especial incidência de condições de risco ou emergência. Refira-se que o planeamento da predisposição dos meios havia sido reconhecida como uma das medidas com impacto positivo em 2006.

A Directiva Operacional Nacional n.º 2/2007 vigora todo o ano, de acordo com o faseamento e os períodos de Perigo de Incêndio Florestal considerados. No quadro da Directiva são determinados quatro níveis de estado

Page 70: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 70

de alerta (azul a vermelho), na sequência do sistema de alerta especial, também aprovado pela Comissão Nacional de Protecção Civil. Os procedimentos destes sistemas de alerta especial foram previamente combinados e articulados com cada uma das entidades que cooperam nas questões dos incêndios florestais e cujo accionamento é da responsabilidade do Comandante Operacional Nacional.

O Sistema de Alerta para as organizações integrantes do SIOPS constitui inequivocamente um factor determinante para a qualidade da resposta do dispositivo. Na tabela 14, a título exemplificativo, apresentam-se o conjunto de medidas a adoptar no nível de alerta amarelo, que foi atingido em 19 de dias durante a fase Charlie.

Tabela 14: Medidas a adoptar no nível de alerta amarelo (fonte: ANPC, 2007).

Dispositivo Integrado de Meios

A Força Operacional Conjunta (FOCON), que concretiza o Dispositivo Especial de Combate aos Incêndios Florestais (DECIF) no contexto da Directiva, é constituída por meios humanos e materiais (terrestres e aéreos) pertencentes aos Corpos de Bombeiros (CB), à Direcção-Geral de Recursos Florestais (DGRF), ao Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), e a outras entidades públicas ou privadas que colaborem nesta matéria (designadamente a AFOCELCA), e integra forças das Forças Armadas (FA), da Guarda Nacional Republicana (GNR) e da Polícia de Segurança Pública (PSP). A figura 12 apresenta o símbolo adoptado em 2007 para o Dispositivo Integrado de Combate a Incêndios Florestais

Figura 12: Símbolo do Dispositivo Integrado de Defesa da Floresta Contra Incêndios 2007.

A fase Charlie, compreendida entre 1 de Julho e 30 de Setembro, corresponde ao período mais crítico de incêndios florestais. Nesta fase, a Protecção Civil contou com um dispositivo composto por 8.931 elementos e

Page 71: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 71

1.902 veículos, que se traduziram num aumento de 14% e 8%, respectivamente, face a 2006. A tabela 15 apresenta de forma sucinta os meios terrestres previstos para esta fase operacional.

Tabela 15: Quadro-resumo dos meios terrestres - fase Charlie (Fonte: ANPC, 2007).

FOCON – Fase CHARLIE Elementos Viaturas Bombeiros: Equipas de Combate a Incêndios Florestais 3755 751 Equipas Logísticas de Apoio ao Combate 568 284 Grupos de Reforço (3 – Não constituído a partir das ECIN) 96 27 Equipas Helitransportadas (16) 170 - Pessoal de Apoio Meios Aéreos 180 - Comandantes de Permanência às Operações 111 111 GNR: SEPNA 827 177 GIPS 470 83 Forças Armadas: Equipas de Sapadores Exército (20 - Protocolo com DGRF) 240 20 PSP: Brigadas de Protecção Ambiental (16) 180 16 DGRF: Equipas Sapadores Florestais (206) 1030 206 Brigadas da Medida AGRIS 3.4 (86) 344 86 ICNB: Equipas Vigilância 53 27 Equipas Vigilância e 1.ª intervenção 153 42 AFOCELCA: Equipas Sapadores Florestais (56) 234 56 Equipas Helitransportadas (3) 15 - Postos de Vigia (234 - RNPV) 234 TOTAL Meios de vigilância 1294 220 TOTAL Meios de vigilância e ataque inicial 2001 410 TOTAL Meios de combate e ataque inicial 5541 1256 TOTAL GLOBAL 8836 1886

Como se depreende da leitura da tabela 16 verifica-se um reforço substancial nos meios disponíveis, designadamente nas fases Bravo e Delta da Directiva, onde se regista um incremento na ordem dos 35%.

Tabela 16: Quadro síntese – meios vigilância, detecção e combate/fases DON 2007 (fonte: ANPC, 2007).

Elementos Veículos Fase de alerta Período Número Var. 2006 Número Var. 2006 BRAVO 15/5 a 30/6 6.065 + 40,8 % 1.271 + 31,8 % CHARLIE 1/7 a 30/9 8.836 + 13,8 % 1.886 + 8,2 % DELTA 1/10 a 15/10 5.279 + 34,5 % 1.115 + 27,7 %

Page 72: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 72

Conceito de operação

O conceito de operação adoptado nesta Directiva assenta em quatro princípios: (1) Estrutura de Comando Único, (2) Capacidade de Antecipação, (3) Resposta Integrada do Dispositivo e (4) Segurança Permanente. Estes princípios constituíram os pilares da actuação face aos objectivos definidos: Vigilância Dissuasiva, Detecção Oportuna, Despacho Imediato, Ataque Inicial Agressivo, Unidade de Comando e Sustentação da Operação. A cadeia de comando nas situações de ataque inicial, ataque ampliado e operações de rescaldo é igualmente definida nesta Directiva, bem como o sistema de gestão de operações.

Como referiu o Comandante Gil Martins, existe “uma cadeia de comando nas operações muito bem definida, desde logo a primeira equipa no teatro de operações, quer seja helitransportada quer seja terrestre, assume a responsabilidade da organização desse teatro de operações e que, depois, vai evoluindo à medida que a ocorrência se for desenvolvendo. A evolução deste sistema de gestão das operações faz-se a partir do primeiro veículo que chega ao teatro de operações e evolui para um conjunto de meios humanos e organizativos volumosos que têm a ver com um comandante de operações de socorro, com um Estado-Maior de Emergência de apoio à decisão do comandante das operações de socorro, com a sectorização do teatro de operações e a atribuição de responsabilidades a níveis inferiores da hierarquia instituída em cada um deles.”

Importa salientar na aplicação do conceito de operação a importância da antecipação da acção, por via da consolidação das estratégias e planeamento de movimentação e pré-posicionamento de equipas de vigilância e ataque inicial, de equipas de combate a incêndios e equipas de reforço e das equipas técnicas especiais (GAUF). Igualmente oportuno foi o emprego dos Aerotanques em missões de monitorização aérea armada (MAAR), desde que disponíveis, planeadas pelos CDOS e activadas por decisão do CNOS tendo em conta a previsão do risco de incêndio florestal, e com incidência nos locais do país mais susceptíveis à ocorrência dos incêndios florestais.

O esquema que de seguida se reproduz ilustra a organização global da resposta contemplada na Directiva Operacional n.º 02/2007 (Figura 13).

Figura 13: Organização global da resposta – Directiva Operacional Nacional n.º 02/2007 (Fonte: ANPC, 2007).

Page 73: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 73

A introdução do conceito de Posto de Comando Conjunto com a agregação em incêndios com mais de 2 horas de técnicos ou oficiais de ligação dos vários Agentes envolvidos, no Posto de Comando Operacional constituiu um outro importante aspecto inovador, resultante da avaliação dos acontecimentos de 2006, designadamente dos incêndios ocorridos nas Áreas Protegidas. Com esta medida, procurou-se assegurar uma maior articulação entre os meios de combate aos fogos das diferentes entidades. Ou seja, se existir um incêndio numa área protegida o posto de comando terá obrigatoriamente um representante do Instituto de Conservação da Natureza e do mesmo modo, no caso de um incêndio que ocorra numa Mata Nacional, cuja responsabilidade de gestão está a cargo da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, é obrigatório a presença de um técnico dessa entidade no local do incêndio.

A Directiva adoptada em 2007 vem assim consolidar os conceitos da Directiva anterior, tal como havia recomendado a Comissão parlamentar Eventual dos Fogos Florestais no seu segundo relatório. Esta Directiva Operacional Nacional regula a articulação institucional e define a estrutura única de Direcção, Comando e Controlo e o dispositivo especial de combate a incêndios florestais (DECIF) no quadro do SIOPS.

As forças que integraram a Força Operacional Conjunta foram homenageadas pelo Governo numa cerimónia presidida pelo Sr. Primeiro-Ministro, José Sócrates, que se realizou em Lisboa no passado dia 3 de Novembro. Nesta cerimónia foi prestada homenagem ao piloto do aerotanque ligeiro (Dromader) que faleceu no acidente que ocorreu durante o combate a um incêndio florestal em Torres Novas no dia 3 de Agosto, cujo inquérito está a decorrer no Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC).

Na intervenção proferida pelo Ministro da Administração Interna, anunciou que em 2008 ano todos os distritos do Continente ficarão com cobertura de equipas helitransportadas de combate a incêndios, com base numa força totalmente profissionalizada e ainda a adopção de uma Directiva Operacional Plurianual aplicável a todas as fases de esforço do dispositivo. Além dessas informações, o titular da Pasta da Administração Interna apresentou as outras apostas do Ministério para o ano 2008. Assim, no próximo ano estarão ao serviço 53 meios aéreos durante a fase Charlie - mais um do que em 2007 - e para consolidar os grandes teatros de operações vão ser adquiridos 11 Veículos de Gestão Estratégica Operacional, antecipando em um ano a cobertura de todo o país com estas unidades. Igualmente foi apresentada a intenção de formar até Junho, 50 das 60 Equipas de Intervenção Permanente nos Corpos de Bombeiros previstas para a primeira fase, abrindo-se a negociação para novas 70 com as autarquias. Neste quadro do apoio aos Corpos de Bombeiros Voluntários, o Ministro Rui Pereira informou que serão financiados 95 novos veículos operacionais em 2008 e que nos primeiros quatro meses de 2008, irão ser formados 60 novos Grupos Especiais de Combate a Incêndios Florestais, os quais iniciarão a sua actividade em Junho.

Page 74: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 74

Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF)

O Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF) reúne as competências das equipas de analistas de incêndios (ANI) e das equipas de fogo táctico de supressão (EFTS), definidas na Directiva Operacional Nacional Nº 2/2007 da Autoridade Nacional de Protecção Civil, com divulgação e enquadramento previsto pela NOP nº 2103 da ANPC. O GAUF viria a ser concretizado através de um protocolo de colaboração celebrado entre a DGRF e a ANPC.

Os Deputados desta Comissão tiveram oportunidade de contactar directamente com os especialistas do GAUF no Centro de Operações e Técnicas Florestais (COTF) durante a visita parlamentar realizada à Lousã em 3 de Setembro (Figura 14). Posteriormente, em 3 de Outubro foi realizada uma audição parlamentar para conhecer com mais profundidade esta nova perspectiva de encarar o fogo florestal, na qual estiveram presentes Paulo Mateus (Subdirector-Geral dos Recursos Florestais para a DFCI) e os técnicos António Salgueiro e Manuel Rainha (coordenadores GAUF). Nesta ocasião foi apresentado aos Deputados os resultados da sua actividade e as perspectivas de evolução do conceito.

Figura 14: Apresentação do GAUF no COTF – Lousã. (Autor: Miguel Galante)

No decurso da audição parlamentar foram apresentados pelos técnicos António Salgueiro e Manuel Rainha quatro das intervenções realizadas pelo GAUF em 2007: Casal Vieira – 22 de Agosto (Batalha - Leiria); Serra de Sicó – 6 de Setembro (Pombal - Leiria), Valdosende – 7 de Setembro (Terras de Bouro - Braga) e Sardoal – 20 e 22 de Agosto (Sardoal, Abrantes e Mação - Santarém).

Durante a explicação das intervenções, foi possível observar a importância da monitorização aérea da evolução do incêndio, testada este ano pela primeira vez em Portugal em resultado de um protocolo entre a

Page 75: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 75

DGRF, a Federação Portuguesa de Aeronáutica (FPA) e o projecto de investigação comunitário FIRE PARADOX, e que segundo António Salgueiro (DGRF/GAUF), a avioneta utilizada para esse efeito está “dotada de um equipamento de posicionamento que transmite automaticamente para um site na Internet e, portanto, na web é possível ver, em directo, imagens fotográficas (ainda não temos capacidade para transmitir imagens de filme, é uma questão de sistema, mas esperamos vir a consegui-lo, porque esse seria um trunfo excelente), o que permite ir marcando o perímetro do incêndio e acompanhá-lo em tempo real”.

O GAUF tem como objectivos principais o apoio ao PCO na análise dos incêndios florestais e na identificação de oportunidades para a intervenção com recurso à utilização de fogos tácticos de supressão e apoio à sua execução, portanto, toda a sua actuação decorre em coordenação com o comando operacional das operações.

A activação das equipas GAUF, nos termos definidos na NOP, é feita directamente pelo CNOS para os coordenadores do grupo. A intervenção destes especialistas no teatro de operações acontece naqueles incêndios que apresentam maior potencial de risco, quer pela sua perigosidade, estatuto do local (áreas protegidas ou perímetros florestais) quer pela sua duração.

O grupo de análise e uso do fogo, constituído durante o período critico de 2007, foi composto por 11 técnicos florestais portugueses credenciados no uso da técnica do fogo controlado (quadros da DGRF ou por esta contratados), com formação e experiência nos domínios da análise de incêndios e na utilização do fogo de supressão, contando ainda com a colaboração de 8 especialistas estrangeiros8.

O grupo é constituído por equipas autónomas de 3 elementos, com 1 chefe e 2 especialistas, que se deslocam com veículos dotados de equipamento informático para apoio à decisão (recepção de informações relativas à meteorologia e ao estado dos combustíveis, identificação de melhores percursos, registo de manobras e contactos, etc.), sistemas de comunicações (rádios) e demais equipamento para intervenção (Equipamento de Protecção Individual, pinga-lume e ferramentas sapador).

No teatro de operações as propostas de intervenção são comunicadas ao comandante operacional, privilegiando-se as intervenções conjuntas com as outras forças operacionais presentes no local, nomeadamente com as equipas de sapadores florestais, equipas das Áreas Protegidas do ICNB, Corpos de Bombeiros, equipas da AFOCELCA, etc.

As intervenções foram efectuadas, prioritariamente, nas zonas activas do incêndio que constituam ou possam vir a constituir um maior potencial de progressão. Durante o período crítico de 2007 as equipas do GAUF receberam um total de 43 activações, tendo intervido em 29 incêndios florestais, com maior incidência nos distritos de Viseu, Guarda e Beja. Os especialistas do GAUF também prestaram apoio ao Posto de Comando Operacional, apoio na utilização do fogo de supressão e nas técnicas de combate indirecto. Na tabela 17 da página seguinte apresenta-se um quadro resumo da actividade desenvolvida pelo GAUF durante a Fase Charlie.

8 Técnicos estrangeiros: 1 França (Fire Paradox), 3 Espanha (Terradebosc SL - Catalunha) e 4 Argentina (Plano Nacional de Manejo del Fuego).

Page 76: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 76

Tabela 17: Intervenções de equipas GAUF - Fase Charlie (Fonte: DGRF, 2007).

Número de Intervenções Orientação

Distrito Nº de

activações Nº total de

Intervenções Apoio ao Comando

Fogo de Supressão

Ferramentas Manuais

Máquinas de rasto

Manobras com água

Viana do Castelo 2 2 2 0 0 0 1 Braga 2 2 2 1 1 0 1 Porto 1 1 1 0 0 0 0

Vila Real 1 1 1 0 1 0 1 Bragança 2 2 2 2 2 1 2

Aveiro 3 3 2 2 2 0 1 Viseu 7 4 4 2 2 0 3

Guarda 5 2 2 2 1 0 1 Coimbra 4 1 1 0 0 0 1

Leiria 3 2 2 2 1 0 1 Castelo Branco 0 0 0 0 0 0 0

Santarém 2 2 2 1 1 1 1 Lisboa 1 1 0 1 0 0 1

Portalegre 1 1 1 1 1 0 0 Setúbal 1 1 1 1 1 0 0 Évora 2 1 1 1 1 1 1 Beja 5 3 3 3 2 1 1 Faro 1 0 0 0 0 0 0 Total 43 29 27 19 16 4 16

Numa apreciação qualitativa ao desempenho do GAUF em 2007, identificam-se de uma forma global bons resultados, nomeadamente decorrentes do trabalho realizado durante a noite, evitando que os incêndios passassem para o dia seguinte, diminuindo, assim, de forma importante a área ardida naquele que para o Subdirector-geral dos Recursos Florestais, Paulo Mateus, “foi o grande ponto forte deste trabalho durante o Verão” (Figura 15).

Figura 15: Intervenção de especialista do GAUF com recurso à utilização de contra-fogo - Vila Verde, Braga. (Autor: Pedro Palheiro)

Page 77: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 77

A constituição deste grupo de especialistas foi pioneira no contexto da União Europeia, ao nível deste conhecimento de gestão não só de fogo como também de gestão de combustíveis através de fogo controlado9 e que segundo Paulo Mateus é “uma peça muito interessante a ter em conta no âmbito da necessária actuação da Europa para fazer face a problemas de incêndios florestais”. Na sua opinião, seria importante que a Europa contasse de futuro com este tipo de especialistas no combate aos grandes incêndios florestais e “Portugal, por ser pioneiro nesta actuação, está muitíssimo bem posicionado para poder contribuir com uma força para actuar no âmbito do MIC (Monitoring and Information Center), o mecanismo comunitário de protecção civil”.

Concluímos citando as palavras do Eng. Paulo Mateus, que caracterizou o GAUF como “um grupo constituído no seio da Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF) e que é visto como charneira, como motor de conhecimento do que é o trabalho de defesa da floresta contra incêndios, fundamentalmente ao nível do comportamento do fogo”, cuja perspectiva de evolução aponta para a criação de, pelo menos, uma equipa por distrito, nas zonas de maior risco de incêndio, o que é concordante com a opinião expressa pelo Titular da Agricultura, Jaime Silva: “vamos reforçar essas equipas (..) pois esta foi uma experiência que deu resultados e vamos continuar”, disse.

Porém, importa ter presente que a formação dos técnicos para este grupo de especialistas é um processo demorando e muito exigente, pelo que se estima serem “necessários três a cinco anos para a formação de um bom elemento GAUF, com muita experiência”, como alertava o Subdirector-Geral dos Recursos Florestais. Este aspecto constitui o principal constrangimento à evolução deste grupo no nosso país, mas que importa ser contemplado no quadro da preparação da actividade no próximo período critico de incêndios florestais, para o qual se prevê uma redefinir as orientações quanto à utilização destes especialistas para o uso de fogos tácticos de supressão, sempre em articulação com os Postos de Comando.

Participação das Forças Armadas

As Forças Armadas têm desenvolvido um esforço profícuo nesta matéria, de acordo com um novo conceito estratégico de defesa nacional, que as concebe como uma entidade subsidiária, em matéria de protecção civil.

Em 2007, no âmbito do Plano Vulcano, concretizado ao abrigo de um protocolo celebrado entre a DGRF e o Centro Operacional das Forças Terrestres do Exército (COFT), estiveram no terreno 20 equipas de sapadores especiais do Exército (240 militares) uma força que duplicou os seus efectivos face a 2006. Esta força foi formada e apetrechada para a vigilância e o ataque inicial em florestas públicas sob gestão do Estado, tendo realizado 40 primeiras intervenções e 65 acções de apoio ao combate ampliado.

Em relação ao Plano LIRA, que é o plano que as Forças Armadas têm articulado com a Autoridade Nacional de Protecção Civil, foram utilizados 24 pelotões do exército para acções de rescaldo e vigilância pós-rescaldo. Foram, também, utilizadas três máquinas de engenharia militar e várias bases aéreas, nomeadamente a Base Aérea de Monte Real e o Quartel da Carregueira, onde ficaram estacionados meios aéreos da ANPC.

9 Refira-se que durante o Inverno, elementos deste grupo contribuíram para execução de 1.400ha de fogo controlado onde, mais uma vez, foi feito o treino para o trabalho de Verão.

Page 78: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 78

Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS)

O Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS) foi formalmente criado na GNR em 2006, com o objecto de dotar o país de um corpo profissional para acções de protecção civil, decorrente da publicação do Decreto-Lei n.º 22/2006, de 2 de Fevereiro. Como se deu conta no 2.º relatório da Comissão Eventual para os Fogos Florestais, este corpo especial da GNR constituiu uma das inovações mais significativas do Dispositivo Integrado de Defesa da Floresta Contra Incêndios de 2006, tendo por missão o ataque inicial aos incêndios florestais. O GIPS em 2006 abrangia os distritos de Vila Real, Viseu, Coimbra, Leiria e Faro e na perspectiva do actual Titular da Pasta da Administração Interna, “a criação dos GIPS foi essencial para um envolvimento maior das forças de segurança, no combate aos incêndios florestais”.

Em 2007 foram criadas duas novas companhias no GIPS, com mais 200 elementos, que fruto do reforço em pessoal e equipamentos, passou a intervir nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto e Aveiro, conforme havia sido programado em 2006 pelo então Ministro de Estado e da Administração Interna, António Costa. Assim, o GIPS contou em 2007 com um efectivo de 576 elementos, localizados em 18 Centros de Meios Aéreos de 9 distritos, tendo esta força helitransportada realizado 1329 intervenções de ataque inicial.

As equipas terrestres dos GIPS também tiveram uma intervenção substantiva, no patrulhamento e nas intervenções em ataque inicial. Refira-se que o GIPS realizou perto de 2.000 patrulhas, num total de 13.000 horas e mais de 300.000km percorridos. Como referiu o Comandante Gil Martins (CNOS/ANPC), comparativamente a 2006, regista-se um aumento de 6% do número de operações de patrulhas realizadas e de 25% das horas de patrulhamento e uma diminuição de 9% das distâncias percorridas, “o que dá uma perspectiva também do esforço que foi feito, em termos de sensibilização e de acompanhamento das populações locais”, disse.

Força Especial de Bombeiros “Canarinhos” (FEB - C)

A 1ª Companhia Especial de Bombeiros “Canarinhos” foi apresentada pela Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) no dia 2 de Junho, que vem consolidar um processo iniciado em 2004. Com esta nova unidade, foi possível colocar uma força de 140 bombeiros profissionais, formados e equipados para o combate aos incêndios florestais, directamente dependente da ANPC, em quatro distritos problemáticos: Guarda, Castelo Branco, Santarém e Portalegre.

Os elementos da Força Especial de Bombeiros “Canarinhos” receberam formação para a primeira intervenção em incêndios florestais na Escola Nacional de Bombeiros (Lousã), com incidência na segurança, combate, equipamento, técnicas e heli-transporte. Os meios estiveram sitiadas em 10 Centros de Meios Aéreos, tendo realizado 541 intervenções em ataque inicial em 2007. A componente terrestre desta força realizou 321 patrulhas, 215 intervenções em ataque inicial e 29 intervenções em ataque ampliado.

O Ministro Rui Pereira informou que está previsto em 2008 criar uma 2.ª companhia e assim alargar a sua intervenção a mais três distritos (Beja, Évora e Setúbal) e desta forma assegurar a completa profissionalização do ataque inicial helitransportado, uma evolução muito importante na perspectiva da Liga dos Bombeiros Portugueses.

Page 79: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 79

3.3.5. Meios aéreos

O Governo manteve em 2007 a estratégia encetada no ano anterior de capacitação do dispositivo de combate de meios aéreos, designadamente para ataque inicial. Um aspecto que foi enfatizado pelo Ministro da Administração Interna na audição parlamentar de 20 de Junho: “eu recordaria que os meios aéreos, cuja necessidade é tão sublinhada, estão devidamente garantidos. Isto é, durante a «Fase Charlie», disporemos garantidamente de 52 meios aéreos, número superior aos 48 que eram apontados como necessários num estudo científico independente. Esses meios, na sua maioria, foram garantidos através de contratos plurianuais, que vêm desde 2005, isto é, ultrapassou-se aquela fase em que, ano a ano, de «Credo na boca», andávamos a procurar à pressa garantir meios aéreos - mesmo na «Fase Bravo», contamos já, nesta altura, com 24 meios aéreos”. Refira-se que em 2007 assistiu-se a uma nova gestão dos meios na fase Bravo, que definiu a entrada faseada desses 24 meios aéreos.

Ao todo estiveram disponíveis 52 meios aéreos no dispositivo do MAI, na fase Charlie (Julho a Setembro), com o aumento de 3 para 4 do número de Aero-tanques Pesados Anfíbios em 2007, com o aluguer de um segundo aerotanque pesado BERIEV, a que acrescem 34 helicópteros de ataque inicial e 14 aerotanques, quer ligeiros quer médios, também de ataque inicial. Na acepção do Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, o numero de aeronaves disponível foi suficiente para o nosso País.

Como explicou o Comandante Nacional Gil Martins, “o ataque inicial é, mais uma vez este ano, a forte aposta do dispositivo e da directiva, havendo uma pressão muito grande neste, seja com meios terrestres seja com meios aéreos. É necessário que cada incêndio que ocorra seja combatido e dominado tão rapidamente quanto possível”. Nessa lógica “o despacho de meios de ataque inicial, especialmente aéreos, é fundamental, mas sempre com a perspectiva de que se deve garantir permanentemente a recuperação dessa capacidade de ataque inicial do dispositivo”, complementou.

A tabela 18 da página seguinte apresenta a distribuição distrital dos meios aéreos durante as várias fases da Directiva, aos quais acrescem 3 helicópteros (brigadas helitransportadas) da AFOCELCA durante a fase Charlie, por via do protocolo celebrado com a ANPC.

Neste capítulo dos meios aéreos importa fazer uma referência ao papel que a Direcção-Geral da Autoridade Marítima desempenhou nas acções de segurança nos locais sobre a responsabilidade da autoridade marítima, onde os aviões anfíbios têm que fazer os abastecimentos de água, com 55 acções de segurança aos scoopings. Tratou-se de uma acção fundamental para a segurança dessas operações.

Em 2007 deve ser feita uma referência para o inicio da constituição da frota de meios aéreos do Estado Português para missões de Protecção Civil, designadamente para o combate aos incêndios florestais. Essa frota é composta por 4 helicópteros ligeiros franceses ECUREIL e 6 helicópteros pesados russos KAMOV. Também em 2007, foi criada a Empresa de Meios Aéreos (EMA, S.A.), através do Decreto-Lei n.º 109/2007, de 13 de Abril, sob a forma de sociedade anónima com capitais exclusivamente públicos. Esta empresa tem como objecto social a gestão integrada do dispositivo permanente de meios aéreos para as missões públicas atribuídas ao Ministério da Administração Interna.

Page 80: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 80

Uma nota final para os dois acidentes ocorridos com aeronaves que vitimaram os pilotos de um aerotanque ligeiro (dromader) e de um helicóptero ligeiro de combate aos incêndios florestais (ECUREIL) do Estado. Ambos os acidentes foram objecto de inquérito pelo INAC.

Tabela 18: Quadro-resumo da distribuição faseada dos meios aéreos – 2007 (Fonte: ANPC, 2007).

Distrito Nome Tipo Pista HE HE AE AET AE HE HE AE AE AE HE HE AE AE AE HE HE AE AE AEVale de Cambra Heliporto 1 1Águeda Pista 1

Beja Ourique Heliporto 1Fafe Heliporto 1 1 1Braga Pista 1Nogueira Heliporto 1 1Bornes Heliporto 1Castelo Branco (CB) Heliporto 1Proença-a-Nova Pista 1 2 1 2 2Covilhã Pista 2 1 2Cernache Pista 1 1Pampilhosa Pista 1Coja Pista 1 1Lousã Pista 1 1 1 1 2

Évora Alandroal Heliporto 1Cachoupo Heliporto 1Monchique Heliporto 1Loulé Heliporto 1 1 1 1Aguiar da Beira Heliporto 1Guarda Junto Hosp Heliporto 1Seia Pista 1 2 1 2 2Figueiró do Vinhos Heliporto 1Pombal Heliporto 1 1Monte Real Pista 2

Lisboa Carregueira Heliporto 1Portalegre Heliporto 1 1Ponte de Sôr Pista 1 1

Porto Baltar (CB) Heliporto 1 1Fátima (Giesteira) Pista 2 2Sardoal Heliporto 1Pernes (CB) Heliporto 1Ferreira do Zêzere Pista 1 1

SetúbalAlcácer do Sal (CB) Heliporto 1

Viana do Castelo

Arcos de Valdevez Heliporto 1 1 1Vidago Heliporto 1 1Ribeira de Pena Heliporto 1Vila Real Pista 2 2Viseu Pista 1 2Armamar Heliporto 1Santa Comba Dão Heliporto 1 1 1 1

HEBL

HEBM

AETL

AETM

AETP

HEBL

HEBM

AETL

AETM

AETP

HEBL

HEBM

AETL

AETM

AETP

HEBL

HEBM

AETL

AETM

AETP

Total por Categorias 0 2 0 0 6 8 8 0 2 21 13 8 6 4 0 4 8 0 2Total de Meios Aéreos

Leiria

Centros de Meios Aéreos Fase BRAVO Fase CHARLIE

Guarda

Faro

Fase DELTAFase ALFA

Coimbra

Aveiro

Braga

Bragança

Castelo Branco

Fase ALFA Fase BRAVO Fase CHARLIE Fase DELTA

Portalegre

Santarém

Vila Real

Viseu

AETL - Aerotanques Ligeiros

AETP - Aerotanques Pesados

2 24

HEBL - Helis Bombardeiros LigeirosHEBM - Helis Bombardeiros Médios

52 14

Mais de 4000 litros

Legenda

AETM - Aerotanques Médios

cidades de transporte de

Até 1000 litrosEntre 1000 e 2500 litrosEntre 1800 e 2800 litrosEntre 2800 e 4000 litros

Page 81: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 81

Pelo interesse de que se reveste este dossier, de seguida apresentamos uma síntese da audição parlamentar que foi realizada com o Ministro da Administração Interna em 28 de Agosto, em resposta a um requerimento apresentado pelo CDS-PP sobre a “política de meios aéreos”.

Refira-se que o assunto dos meios aéreos para combate aos incêndios florestais já havia sido tratado com bastante profundidade durante os trabalhos da anterior Comissão Eventual para os Fogos Florestais, designadamente os processos de aluguer dos meios aéreos. O Ministro António Costa, anterior Titular da Pasta da Administração Interna, explicou então aos Deputados que “a comissão técnica, em Outubro, deu a indicação do dispositivo de meios aéreos a contratar; em finais de Novembro, abrimos os sete concursos públicos, dois concursos para a aquisição de meios aéreos permanentes e cinco concursos para meios aéreos sazonais, sendo dois deles para alugueres só para este ano, e três deles para meios aéreos sazonais com contratos plurianuais. Fizemos um esforço grande no sentido de estimular a concorrência e para antecipar a abertura dos concursos”, sendo que nos primeiros dois concursos era prevista uma redução de cerca de um milhão de euros relativamente à despesa que o Estado teve com idênticos meios aéreos, no ano anterior (2005). O Ministro enfatizou na altura que “os sete concursos relativos aos meios aéreos foram concluídos e com um bom resultado”.

No que concerne à necessidade de aquisição de meios aéreos permanentes do Estado, o Subsecretário de Estado da Administração Interna, Rocha Andrade, nessa Comissão justificou “a razão de haver meios permanentes pelas necessidades que ultrapassam a época de maior risco e que não são só necessidades de incêndios florestais na medida em que, sobretudo os helicópteros, são meios susceptíveis de desempenhar mais missões e, no caso particular dos aviões pesados de combate a incêndios, a, pura e simples, indisponibilidade do mercado de aluguer para fornecer meios com qualidade ao Estado e, portanto, a necessidade de o Estado se dotar destes meios a título permanente.”

O Tribunal de Contas realizou uma auditoria sobre a contratação dos meios aéreos para combate a incêndios florestais em 2005 e 2006, que teve como objecto examinar a legalidade e regularidade das despesas efectuadas com essas contratações no valor de 26 M€. O relatório, aprovado em 14 de Dezembro de 2007, identifica que o sistema de controla das horas de voo que suporta os pagamentos revelou algumas insuficiências que têm vindo a ser ultrapassadas, desde 2006. O Tribunal recomenda que “a ANPC, na medida das suas responsabilidades, providencie pela plena implementação do sistema de controlo de horas de voo e pela atempada preparação e constituição do dispositivo de meios aéreos para o combate aos incêndios florestais”. Pelo interesse de que se reveste este relatório, este consta do anexo 5.

Até 2005, o Estado recorria sistematicamente ao aluguer de meios aéreos de forma a constituir o respectivo dispositivo de combate. Tratava-se de contratos anuais e cuja aplicação se limitava ao período de maior incidência dos incêndios florestais. A situação retratada caracterizava-se, assim, pela necessidade de, ano após ano, celebrar novos concursos e contratos, pela dependência total do Estado face ao mercado e por um crescendo dos encargos financeiros suportados. Uma situação única no contexto dos países do sul da Europa, os quais, nesta matéria, partilham com Portugal o mesmo nível de preocupações. Na verdade, esses países

Page 82: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 82

(Espanha, França. Itália e Grécia) desde há muito que dispõem de frotas próprias adstritas ao combate aos incêndios florestais, sem prejuízo da sua utilização noutras missões sempre que tal se afigure possível.

Assim, tendo presente a importância que os meios aéreos desempenham no combate aos incêndios florestais, o Ministério da Administração Interna constituiu em 2005 uma "Comissão Especial para o Estudo dos Meios Aéreos", com recurso a um painel de especialistas independentes, com o propósito de apresentar um relatório/proposta relativo a 1) aquisição de meios próprios, 2) contratação plurianual de meios e 3) contratação anual de meios. Os três pilares estratégicos nos quais assenta a política que o Governo definiu relativamente ao uso dos meios aéreos no combate aos incêndios florestais.

O estudo realizado por aquela comissão deixou bem patente que a escolha do tipo e da quantidade de meios aéreos não deve constituir um acto isolado, devendo, antes, concatenar-se com a definição da estratégia global de combate aos incêndios florestais e, consequentemente, com a definição do respectivo dispositivo global de intervenção, onde devem ser encarados como um complemento da actuação do dispositivo terrestre.

A comissão que realizou o estudo encomendado pelo Ministério da Administração Interna em 2005, concluiu que a aquisição de meios aéreos próprios pelo Estado Português se justificava, entre outras, pelas seguintes razões:

• A realidade tem vindo a demonstrar que as necessidades existem para além dos três meses de duração normal dos contratos sazonais que têm sido utilizados;

• A detenção de meios próprios permite a sua utilização para missões diferentes do combate aos incêndios florestais, satisfazendo outras importantes necessidades, tais como vigilância costeira, busca e salvamento, segurança rodoviária e outras missões de apoio às Forças e Serviços de Segurança;

• Os custos com aluguer têm vindo a subir anualmente, tornando economicamente irracional, por contraponto à aquisição, a sua manutenção;

• A inexistência de meios próprios torna o Estado totalmente dependente de terceiros, das contingências do mercado e do jogo dos concorrentes;

• Em alguns casos, há modelos financeiros que revelam que o custo de aquisição e operação é menor do que o custo de aluguer;

• A propriedade de meios potencia a “vigilância armada”, uma vez que, o respectivo custo de operação é marginalmente inferior neste caso; a vigilância armada ,é decisiva numa estratégia de combate aos incêndios florestais.

• Dificuldade com o aluguer de determinadas aeronaves devido à sua não existência em número suficiente no mercado,

A proposta apresentada por esta comissão concluía que o dispositivo de meios aéreos para combate aos incêndios florestais deveria ser composta por 48 aeronaves (30 helicópteros e 18 aviões, 4 dos quais aviões pesados). Relativamente aos helicópteros, a comissão propunha no seu relatório que a utilização destes meios seja assegurada maioritariamente pelo recurso ao aluguer plurianual, sem prejuízo, todavia, de se garantir a disponibilização, em permanência, de um lote dessas aeronaves, não superior a 1/3 da componente do sistema de forças proposta. Ou seja, era proposta a aquisição pelo Estado de 10 helicópteros para integrar este dispositivo aéreo.

Page 83: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 83

Assim, na sequência das conclusões apresentadas por essa comissão o Governo, através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 182/2005, de 22 de Novembro, determinou que fossem iniciados procedimentos de concurso público internacional no sentido de dotar o Estado Português de um dispositivo permanente com a missão primária de prevenção e combate a incêndios florestais.

Requerimento CDS-PP – Política de meios aéreos

A Comissão Eventual reuniu no dia 27 de Agosto para apreciação e votação de um Requerimento apresentado pelo CDS-PP para ouvir, com carácter de urgência, em audição parlamentar o Ministro da Administração Interna. O deputado Hélder Amaral, que subscreveu esse requerimento, justificou o pedido de audição com o seguinte argumento: “No momento em que discutem as medidas de prevenção e combate aos fogos florestais, o Grupo Parlamentar do CDS-PP considera fundamental que a Comissão tenha um profundo conhecimento sobre as “políticas” de meios aéreos para o combate aos fogos florestais adoptadas pelo governo, para tal o Grupo Parlamentar do CDS-PP, vem por este meio requerer através do Senhor Presidente da Comissão a vinda do Senhor Ministro da Administração Interna, no sentido de esclarecer as Senhoras e os Senhores Deputados”. Este requerimento foi aprovado por unanimidade, tendo o deputado Carlos Lopes (PS) adiantado que “o Partido Socialista viabilizou esta audição parlamentar, com muito gosto, e fê-lo com um único intuito, o de que nada ficasse por esclarecer. É esta a nossa preocupação”.

Na audição parlamentar no dia 28 de Agosto, o Ministro da Administração Interna fez-se acompanhar do Secretário de Estado da Protecção Civil, do Subsecretário de Estado da Administração Interna, do Presidente da EMA, S.A. e do Presidente da ANPC. O deputado Hélder Amaral (CDS-PP), na qualidade de subscritor do requerimento, começou a apresentação do seu objecto, afirmando que “nós sempre entendemos e defendemos que o Estado devia ter meios próprios para a Protecção Civil, mas gostávamos que esses meios fossem de qualidade e capazes de garantir aquilo que o Estado se propõe fazer”. De seguida, expôs o assunto que motivou o requerimento e o agendamento, com carácter de urgência, desta audição parlamentar: “Queremos apenas e só discutir os meios aéreos e a sua aquisição, nomeadamente os Kamov”, disse. Contextualizou o assunto, com uma breve explicação do processo que esteve na génese da decisão da aquisição dos meios aéreos pelo Estado, os quais foram decididos em 2005 e adquiridos em 2006, no quadro de uma frota de 48 meios aéreos para combate aos incêndios composta por 30 helicópteros e 18 aviões. Recordou a esse propósito que o contrato de fornecimento de helicópteros médios foi assinado em 22 de Maio de 2006.

Relativamente à compra dos helicópteros KAMOV, o deputado centrista contestou a adjudicação da compra desses helicópteros à empresa Heliportugal, quando “de todas as empresas que concorreram, a única que não apresentou um aparelho foi exactamente a Heliportugal. Mas prometeu que iria fazer as adequações necessárias. Pedia-se no concurso que os concorrentes apresentassem o modelo, catálogo e o tipo de

Page 84: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 84

modelos e de equipamentos existentes no mercado”. Nessa exposição, apresentou as condições de certificação e operacionalidade definidas nas cláusulas de missão, tendo elencado as empresas e aeronaves apresentados ao concurso: a Heliportugal com os Kamov 32A11BC; a Helibravo com os Dauphin M3; a Helisul, com os Bell 412 e a PZL com os Sokol W3. Sobre os compromissos assumidos na adjudicação dos KAMOV, questionou se as alterações que irão ser feitas à aeronave afectam a capacidade, a segurança e a sua operacionalidade e se perante a falta de certificação da Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) “não seria normal que este concurso fosse anulado?”, indagou.

O deputado Hélder Amaral (CDSP-PP) questionou ainda a demora na criação da Empresa de Meios Aéreos (EMA, S.A.) e os atrasos na entrega dos meios e no processo de contratação e formação dos pilotos por aquela empresa “Senhor Ministro, é ou não verdade que estão seis pilotos e quatro supervisores parados, porque não têm possibilidade de fazer a sua formação. Não têm uma única hora de voo. É ou não verdade que a EMA, decidida em Março, ainda não está a funcionar? É ou não verdade que temos helicópteros franceses, ECUREIL, estes sim, certificados, que estão parados porque não há empresa, nem piloto contratados para poderem voar com esses aparelhos? È ou não verdade que esses aparelhos estão parados?”, foram as questões colocadas ao Titular da Pasta da Administração Interna.

O Ministro da Administração Interna, de seguida, esclareceu os deputados sobre os fundamentos que determinaram a aquisição daqueles meios aéreos pelo Estado português e a criação de uma empresa para a gestão dessa frota: “Este Governo teve a iniciativa, em finais de 2005, de decidir adquirir meios aéreos próprios, não apenas para combater incêndios florestais, mas para desenvolver missões de protecção civil e de segurança interna. Depois, já em 2006, surgiu a ideia de constituir uma empresa de meios aéreos para gerir, de forma competente, não arbitrária, não atrabiliária, esses meios aéreos”, informou. O Ministro Rui Pereira reconheceu que estas são duas “boas ideias”, concretizadas pelo seu antecessor na Pasta, e de grande alcance “porque poucos países no mundo dispõem de uma frota própria para missões de protecção civil e de segurança interna”, concluiu.

Sobre a compra dos helicópteros KAMOV, o Ministro esclareceu que estes helicópteros foram comprados através de “um procedimento de concurso cristalino, com júri e com respeito por regras”. Foi aberto um concurso público ao qual concorreram várias empresas e uma ganhou, sendo que o júri do concurso foi nomeado dentro da legalidade e nesse júri de concurso havia pessoas especialistas em aeronáutica e em aviões. “O que é que tem de fazer o poder político? Respeitar. E os tribunais têm de fiscalizar. É assim em democracia. É esta a regra do Estado de direito”, afirmou o Ministro Rui Pereira. Esclareceu ainda que o concurso exigia apenas o certificado de autoridade aeronáutica de origem, o concorrente que ganhou tinha-o, sendo que o Estado assegurou-se, no acto de entrega, de que as modificações exigidas foram feitas. E que “perante o tribunal foram apresentadas impugnações, recursos, e o tribunal deu razão ao júri de concurso”, concluiu. A esse propósito, o deputado Carlos Lopes (PS) recordou os deputados que esta decisão de adquirir 6 helicópteros KAMOV foi publicada no Diário da República em 15 Maio de 2006, na Resolução do Conselho de Ministros n.º 61/2006.

Page 85: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 85

Relativamente ao alegado atraso na entrega dos meios aéreos adquiridos pelo Estado, o Ministro Rui Pereira esclareceu que desde o início estava previsto que a maioria desses meios aéreos só seria entregue em Setembro. A esse propósito, afirmou que “quando se desenhou o dispositivo, contava-se com 52 helicópteros, mas não garantidamente com helicópteros que só têm de ser entregues a 15 de Setembro”. O dispositivo este ano “tem mais meios aéreos do que aqueles 48 que foram recomendados por uma comissão científica idónea e independente; tem mais meios aéreos do que aqueles que foram indicados para a fase Charlie e estão todos em pleno funcionamento”, recordou o Ministro da Administração Interna, que esclareceu que os meios entregues com atraso “foram substituídos por conta e risco da empresa vendedora que, para além de dar meios de substituição, ainda está sujeita a cláusulas penais, isto é, a pagar a multas. Portanto, não houve nenhum prejuízo para o Estado”, ou seja, a empresa vencedora, a Heliportugal, nos termos do concurso está a proporcionar gratuitamente seis meios de substituição.

Quanto às questões colocadas sobre a criação da EMA - empresa de meios aéreos, S.A., o Ministro da Administração Interna explicou que a ideia para a constituição de uma empresa de meios aéreos, de uma empresa que assume a forma de sociedade anónima com capitais exclusivamente públicos, teve lugar em Março de 2006. Seguiram-se os estudos de viabilidade económica e os estudos jurídicos para a constituição da empresa, que decorreram entre Março e Dezembro de 2006. A empresa foi formalmente constituída em Abril de 2007, tendo sido nomeado em 24 de Maio o seu Conselho de Administração. Em 10 de Julho foi nomeado um revisor oficial de contas e em 24 de Julho foram atribuídos 41 M€ à empresa pelo Estado, “que é a contribuição em espécie para o capital social”, informou.

A EMA - empresa de meios aéreos, S.A., dadas as características da sua natureza jurídica, foi formalmente constituída com a publicação do Decreto-Lei n.º 109/2007, de 13 de Abril. Nos termos desse diploma, a empresa tem como objecto social a gestão integrada do dispositivo permanente de meios aéreos para as missões públicas atribuídas ao Ministério da Administração Interna. Essa actividade inclui a prestação de transporte aéreo e trabalho aéreo, nos termos da lei, podendo ainda explorar actividades e efectuar operações comerciais relacionadas directamente com o seu objecto social ou que sejam susceptíveis de facilitar ou favorecer a sua realização

O Ministro Rui Pereira, na sua intervenção, informou ainda os deputados sobre o faseamento com que decorreu a entrega dos meios aéreos. Assim, “em 3 de Agosto, foram aceites os primeiros Ecureuil, com

alguns reparos de pormenor técnicos; em 8 de Agosto, iniciou-se o processo de aceitação dos Kamov; em 13

de Agosto, desenvolveu-se o processo de seguros; em 22 de Agosto, foi pedida a certificação da EMA”, adiantou o Ministro da Administração Interna. A propósito da certificação, uma das questões colocadas pelo deputado Hélder Amaral (CDS-PP), o Ministro Rui Pereira explicou que esta não é necessária para que os aparelhos adquiridos possam operar missões de combate aos incêndios florestais, segurança interna e busca e salvamento, na medida em que o estatuto de “aeronaves do Estado” dispensa essa certificação. Refira-se a este propósito que em 24 de Outubro foi publicado o despacho que declara os quatros helicópteros ligeiros ECUREIL como aeronaves do Estado (despacho n.º 24413/2007), habilitando-os a desempenhar missões de

Page 86: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 86

combate a incêndios florestais. Os primeiros três helicópteros KAMOV foram declarados como aeronaves do Estado em 28 de Dezembro através do despacho n.º 30124/2007 dos Ministérios da Administração Interna e das Obras Publicas, Transportes e Comunicações. O pedido de certificação da EMA como operador de trabalho aéreo junto do INAC só era possível depois da existência legal da empresa, como o Ministro Rui Pereira esclareceu: “a empresa foi constituída por decreto-lei,

teve que se registar como pessoa colectiva, teve de cumprir uma série de formalidades até por fim pedir a

certificação”, certificação essa que tem por fim exclusivo possibilitar a empresa a prestar serviços a particulares no mercado, se quiser rentabilizar-se financeiramente.

No que concerne à contratação dos pilotos, o Ministro da Administração Interna informou os deputados que foram contratados pela EMA em 24 de Agosto sete pilotos e quatro técnicos, os quais “nos termos contratuais, estiveram, justamente, a fazer a sua formação. Os helicópteros Ecureuil, antes de começarem a actuar, têm de fazer testes em terra, que estão a ser feitos. Tudo está a ser feito com muito rigor, porque em matéria de meios aéreos, não se pode brincar, não se pode arriscar e o Governo não arrisca e eu não arriscarei, nesta matéria”, afirmou o Governante.

O deputado Paulo Pereira Coelho (PSD) contestou o procedimento de aluguer das duas aeronaves anfíbias pesadas BERIEV que teve lugar em 2007 e a opção da escolha destes aparelhos, bem como a inexistência do certificado europeu para os helicópteros KAMOV. “Aquilo que o Sr. Deputado Paulo Pereira Coelho questiona é o seguinte: como Portugal já tinha duas naves com capacidade para cerca de 5000 l resolveu abrir um concurso de aluguer para duas com capacidade superior a 10 000 l. É errado? Não acho”, começou por responder o Ministro Rui Pereira, que de seguida esclareceu que o concurso público para o aluguer dos BERIEV foi anulado porque uma das empresas concorrentes não cumpria todos os requisitos administrativos e a outra não possuía os aparelhos. Perante essa situação, o Ministro da Administração Interna deu instruções para se proceder ao aluguer daqueles meios aéreos, por ajuste directo, com a única empresa que tinha os aviões constantes do concurso “se, e só se, o preço fosse mais barato”, afirmou. Fruto dessa decisão, o preço de aluguer foi mais barato em 300.000 euros do que resultaria do concurso e foi possível dotar o dispositivo de mais dois aviões pesados para combater incêndios . Aliás, na perspectiva do Ministro Rui Pereira “é bom que Portugal experimente naves Canadair e naves Beriev, justamente para tomar uma decisão ponderada e correcta”, pois o Estado vai adquirir meios aéreos pesados, provavelmente dois, segundo aquele governante, num concurso da responsabilidade da EMA, com “normas suficientemente abstractas que permitam às principais empresas concorrerem, com um júri isento, objectivo e justo a decidir e com os tribunais a vigiar, como sempre acontece no Estado de direito democrático que tanto prezamos todos”, esclareceu.

Relativamente à questão da certificação atribuída pela EASA aos KAMOV, começou por esclarecer o deputado social-democrata que essa não era uma condição do concurso por causa dos fins a que os meios aéreos se destinavam. Acresce que os Kamov podem actuar independentemente de certificação europeia para as finalidades para que foram adquiridos – protecção civil e segurança interna. “A certificação europeia valerá só para os rentabilizar alugando-os a particulares, se for essa a política do Estado e, portanto, não serve de crítica para uma política de protecção civil e segurança interna”, concluiu.

Page 87: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 87

O deputado Hélder Amaral (CDS-PP) pediu ainda ao Ministro da Administração Interna que o esclarecesse sobre a capacidade dos aviões Beriev “carregarem” no Norte do País, dadas as grandes dimensões desta aeronave. “Em relação ao carregar e ao não carregar, gostava de dizer o seguinte: estes aviões Beriev vão acabar no fim do Verão a sua actuação e vão ajudar a combater incêndios e o júri do concurso vai ter à sua disposição esta experiência”, respondeu o Ministro Rui Pereira, que sempre esclareceu que o avião pode realizar o scooping no mar e em sete locais a norte: a Aguieira, o Alto do Rabagão, a Ria de Aveiro, a Barragem de Vilar, o Douro e, em Espanha, a Barragem de Almendra e de Cernadilla, informou.

O deputado João Oliveira (PCP), por seu turno, reconheceu a importância para o País de dispor de meios aéreos próprios para o combate aos incêndios florestais, mas manifestou discordância quanto à criação da EMA, sendo que na opinião do Grupo Parlamentar do PCP a Força Aérea Portuguesa seria a solução mais vantajosa para gerir esses meios aéreos do Estado, inclusivamente do ponto de vista financeiro. Sobre esta proposta, o Ministro Rui Pereira esclareceu que tal não era possível, pois “apesar de as Forças Armadas serem um agente de protecção civil, de acordo com o novo conceito estratégico de defesa nacional, a Constituição da República Portuguesa continua a distinguir como funções autónomas, ainda que complementares, a segurança interna e a defesa nacional”. Igualmente, tal solução seria impeditiva da participação portuguesa num corpo conjunto, à escala da União, para combater incêndios florestais, uma proposta que se encontra em discussão nas instâncias comunitárias.

Em suma, o Estado português em 2008 vai passar a dispor de uma frota própria, destinada a missões de protecção civil e de segurança, com uma empresa para gerir esses meios e com pilotos especificamente formados para o efeito. Aliás, como oportunamente lembrou o deputado Carlos Lopes (PS), a criação de uma frota de meios aéreos próprios destinada ao combate a incêndios florestais foi uma recomendação ao Governo da anterior Comissão Eventual para os Fogos Florestais e que mereceu a concordância dos Partidos Políticos.

Page 88: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 88

3.3.6. Resultados operacionais do combate

Como explicou o Comandante Operacional Nacional, Gil Martins, a actuação da Autoridade Nacional de Protecção Civil, pautou-se por três conceitos fundamentais: “cooperação institucional, coordenação das forças e gestão da informação da emergência, quer em termos de partilha de informação entre as organizações mas também, naquilo que é a gestão da informação, em relação aos cidadãos e em relação à comunicação social”.

A Directiva Operacional Nacional n.º 2/2007 definiu quatro objectivos operacionais: diminuir o número de baixas, em relação a 2006, diminuir a área ardida, diminuir o número de reacendimentos e diminuir os tempos de resposta. Nessa perspectiva, a segurança e rapidez na 1.ª intervenção foram aspectos reforçados em 2007, com o objecto de minorar as consequências e dimensões dos incêndios florestais.

Os resultados apurados em relação aos meios aéreos permitem aferir uma percentagem de sucesso de ataque inicial superior a 95% nos helicópteros e aviões, ou seja, de um conjunto de 3.166 intervenções realizadas apenas 130 ocorrências permaneceram activas após o ataque inicial. O sucesso obtido com o ataque inicial resultou da conjugação de esforços entre os meios aéreos e os meios terrestres, numa estratégia de intervenção integrada. A actuação das equipas helitransportadas de bombeiros voluntários, dos Canarinhos e dos GIPS/GNR já se havia pautado por uma grande eficácia em 2006, tendo em 2007 evidenciado um aumento dessa eficácia de actuação em cerca de 4 pontos percentuais para 98%, em termos globais.

Sobre os meios aéreos, continuou a verificar-se um aumento do número de missões, que já vinha a decorrer desde 2005, e uma diminuição das horas de voo, quer em relação aos meios de ataque inicial, quer em relação aos aviões de ataque ampliado (tabela 19), o que na análise do Comandante Gil Martins, “permite concluir da maior eficiência destes meios”. Em termos médios, a duração de cada missão cifrou-se em 31 minutos com os helicópteros e 22 minutos para os aviões, com um tempo médio de chegada ao teatro de operações, para os helicópteros, de 7 minutos e, para os aviões, 9 minutos, e um tempo de descarga dos baldes dos helicópteros, de cerca de 5 minutos.

Tabela 19: Acção dos meios aéreos no combate aos incêndios florestais (fonte: ANPC, 2007).

2006 2007 Missões Horas Voo Missões Horas Voo

MEIOS ATAQUE INICIAL 4.816 3.017 5.450 (+ 14 %)

2.559 (- 15 %)

AVIÕES ATAQUE AMPLIADO 118 386 151 (+ 27 %)

310 (- 20 %)

Em 2007 há também a registar uma diminuição significativa dos tempos de resposta, ao nível do despacho de meios, que se cifraram em menos de um minuto, assim como a chegada mais rápida ao teatro de operações, inferior a 10 minutos. A duração da ocorrência também foi mais diminuta – 37 minutos até estar dominada – e a uma duração total da ocorrência, em termos médios, de 125 minutos. De acordo com o Comandante Operacional Nacional, a implementação do sistema de avaliação de desempenho do ataque inicial, “que nos permite, diariamente, hora a hora, semanalmente, fazermos a avaliação dos procedimentos e dos tempos de

Page 89: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 89

resposta do dispositivo e corrigir aquilo que houver que corrigir” e também o novo sistema de comando e controlo das operações aéreas, instituído este ano permitiu ao Comando Nacional de Operações de Socorro, e que permitiu acompanhar as operações aéreas desde o despachado do meio aéreo até que este CMA constituíram dois aspectos-chave para a melhoria registada do desempenho do dispositivo no combate aos incêndios florestais.

A informação disponibilizada pelo Instituto de Meteorologia, ao nível dos índices de risco (índice de risco combinado e o índice de risco meteorológico distrital e municipal) e as previsões para os períodos de 24 e 48 horas, as imagens de satélite, os modelos de ventos, temperaturas e humidade do ar, as observações meteorológicas, globais ou específicas para determinado ponto do território, e também os modelos de previsão do tempo, a curto e médio prazo, constituíram um outro aspecto importante para a melhoria da tomada de decisão, com reflexos nos resultados operacionais obtidos. Como concluiu Gil Martins (CNOS/ANPC), “os resultados de 2007, a par dos resultados de 2006, devem servir de incentivo para continuarmos a investir na organização e nos objectivos do Plano de Defesa da Floresta contra Incêndios”. Nesse contexto de balanço, “a existência de um comando único, inquestionável, com capacidade de acção e capaz de promover uma efectiva coordenação entre todos os agentes envolvidos e uma boa cooperação entre todos os organismos com responsabilidades na prevenção e no combate aos incêndios”, foi um dos principais pontos fortes de 2007 adiantou Rui Pereira.

O esforço que tem sido desenvolvido pelo Ministério da Administração Interna ao nível das medidas de política de combate aos incêndios florestais foi reconhecido pelos Partidos Políticos. De facto, os meios de ataque foram muito reforçados, a organização do ataque foi bem coordenada e foi tudo reorganizado e reestruturado, pelo que podemos ver que no ataque a reestruturação teve resultados positivos. De facto, como referiu o Ministro Rui Pereira, “seria muito injusto, sobretudo para as mulheres e homens que abnegadamente combateram os incêndios, reduzir o seu sucesso às condições exteriores de clima. Houve um esforço, muito efectivo e muito eficaz, na prevenção e no combate aos incêndios, e foi também desse esforço que dependeu um resultado muito melhor do que aquele que se verificou na média dos últimos anos”.

O reforço do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS/GNR) e a criação da 1.ª Companhia Especial de Bombeiros “Canarinhos” afiguraram-se particularmente importantes para os resultados obtidos, um sinal da importância do processo de organização e profissionalização da protecção civil em Portugal. O flagelo dos incêndios florestais é, porventura, a questão mais premente e mais importante no âmbito da Protecção Civil.

Page 90: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 90

3.4. AFOCELCA

A AFOCELCA é um Agrupamento Complementar de Empresas, que resultou, em 2002, da união de esforços entre a Aliança Florestal (Grupo Portucel Soporcel), a Celbi (Stora Enso) e a Silvicaima (Caima), com o objecto de minimizar os prejuízos resultantes dos incêndios florestais, através da criação de uma estrutura própria mais eficiente e dotada de maior flexibilidade na vigilância, alerta e apoio no combate. Se atentarmos a que as empresas de celulose são detentoras de cerca de 200.000ha de floresta, valor aproximado daquele que é gerido pelo Estado Português, faz todo o sentido que detivessem os seus meios de intervenção devidamente organizados na prevenção e combate aos incêndios florestais, designadamente em matéria de primeira intervenção.

A Comissão Eventual procedeu à audição parlamentar desta entidade em 16 de Janeiro, tendo para o efeito contado com a presença do Eng. Pedro Moura, Presidente do Conselho de Administração. Nesta audição ficaram claros para os Deputados, os objectivos e a estratégia que norteia a actividade da AFOCELCA, a qual privilegia o controlo dos tempos máximos de resposta, o estabelecimento de áreas seguras de intervenção, a profissionalização do Sistema de Protecção e o uso de brigadas helitransportadas de ataque inicial (Figura 16).

A AFOCELCA baseia a sua actuação no modelo chileno, o qual privilegia a rapidez do ataque inicial e os métodos de combate indirecto aos incêndios florestais, com base em técnicas do contra-fogo e de trabalho manual, de sapador florestal.

Figura 16: Intervenção de brigada helitransportada, complementada com o meio aéreo. (Autor: AFOCELCA)

A estrutura da AFOCELCA em 2007, dispôs de 1 Comando único com ligação à rede nacional de alerta, 3 Helicópteros ligeiros com kit para combate com agua com Brigadas helitransportadas (5 elementos), 41 Brigadas ligeiras de primeira intervenção (equipas de quatro sapadores) com Kit de 600 litros, 13 Brigadas com semipesados Unimog (equipas de 5 sapadores) com 3500 litros para apoio às brigadas de primeira intervenção e ainda 2 Brigadas com autotanques com 8.000 litros. Esta estrutura dispôs ainda de 2 postos de vigia integrados na Rede Nacional de Postos de Vigia. Este ano foram colocados 16 oficiais de ligação aos CDOS naqueles distritos onde as propriedades das empresas de celulose têm maior expressão. A todo este dispositivo há que juntar cerca de 90 colaboradores internos das empresas com kits de 500 litros de água, o que perfez cerca de 400 indivíduos. O investimento da AFOCELCA em 2007 cifrou-se em 2,4M€, ao qual acresce um investimento de 3M€ das empresas na prevenção estrutural das suas propriedades.

Em Junho de 2007 foi celebrado um protocolo entre a AFOCELCA e a ANPC com o objectivo definir a forma de colaboração entre ambas as entidades, no âmbito da informação dos Alertas e Ocorrências de incêndios florestais e das condições básicas para a utilização dos helicópteros da AFOCELCA aquando da solicitação por parte da ANPC. Tratou-se, sem dúvida, de mais um passo importante para a consolidação da integração

Page 91: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 91

da AFOCELCA e da participação dos meios desta estrutura na Força Operacional Conjunta da Directiva Operacional Nacional da ANPC para os incêndios florestais. Uma participação que o Eng. Pedro Moura considerou positiva, tendo qualificado a Directiva Operacional Nacional da ANPC como um instrumento operacional fundamental para a coordenação dos meios no terreno e que contribuiu de forma decisiva para aumentar “o nível de prontidão do dispositivo nacional e a rapidez e eficácia da 1ª intervenção”, destacou. Na sua opinião, apenas recomenda uma maior flexibilidade no faseamento dos meios no Dispositivo, para melhor responder a situações anómalas como aquelas que se registaram em Outubro e Novembro de 2007. Igualmente, considerou como prioritária a formação e especialização dos agentes envolvidos no combate, pois trata-se de “qualificar uma actividade de grande risco, para a qual as pessoas devem estar bem preparadas”. “A segurança é fundamental para quem está no combate”, afirmou.

O Eng. Pedro Moura informou ainda os Deputados que este ano 77% das intervenções dos meios da AFOCELCA teve lugar fora das áreas de património das empresas, o que lhe dá um grande sentido de serviço público. Em 75% das ocorrências no interior das propriedades das empresas não resultaram prejuízos para o património florestal das mesmas, o que analisou como sendo resultado das intervenções em prevenção estrutural das empresas, complementadas com a rapidez do ataque inicial do dispositivo de combate da ANPC e da AFOCELCA.

A detecção precoce dos fogos nascentes é um factor crítico para o sucesso do ataque inicial. Nessa perspectiva, informou os Deputados que em média os meios da AFOCELCA fazem a detecção em 64% das intervenções. Este ano essa taxa baixou ligeiramente o que constitui um indicador das melhorias do Sistema Nacional de Vigilância e Detecção. Contudo, evidenciou que este sistema ainda denota fragilidades que necessitam de ser melhoradas, tendo sugerido a esse propósito o desenvolvimento de processo de automatização dos alertas, algo que na sua perspectiva a tecnologia actual pode resolver.

A interacção das autarquias no sistema nacional de DFCI, designadamente na componente da prevenção estrutural é um outro factor critico identificado e que na sua óptica é “determinante para a sustentabilidade do resultados da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios”. Esse é um aspecto que deve ser enquadrado numa perspectiva mais ampla do ordenamento do território, tendo presente a segmentação dos territórios em função das suas características de risco de incêndios e uma escala de intervenção intermunicipal.

Os deputados foram unânimes a reconhecer a oportunidade desta audição parlamentar, tendo concordado com a análise do sistema que foi apresentada. Contudo, o CDS-PP, na sua apreciação, considerou os meios aéreos como o “ponto fraco do dispositivo”, tendo para tal invocado que a empresa que vai gerir os meios aéreos não está certificada e também mostrando discordância quanto às opções tomadas dos meios adquiridos pelo Estado, designadamente os 6 helicópteros pesados russos KAMOV, “os quais não têm licença para voar”, disse. O Eng. Pedro Moura refutou essa questão, tendo considerado que os meios adquiridos “tecnicamente, são os adequados”. Referindo-se especificamente aos helicópteros KAMOV, considerou estes aparelhos de uma “capacidade fantástica. Um aparelho com as características adequadas para o combate aos incêndios florestais no nosso país”, uma ideia que foi reforçada com o facto de em Espanha o número de helicópteros KAMOV no dispositivo de meios aéreos ter vindo a crescer.

Page 92: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 92

3.5. O Movimento ECO - empresas contra os fogos

O Movimento ECO – empresas contra o fogo, representado pelo seu presidente, Dr. Francisco Murteira Nabo, o Bastonário da Ordem dos Economistas e actual presidente da GALP Energia, foi ouvido na Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios no passado dia 9 de Janeiro. Refira-se que o Dr. Francisco Murteira Nabo havia presidido a COTEC Portugal - Associação Empresarial para a Inovação, durante o período em que decorreu a iniciativa “Incêndios Florestais”, naquela que foi a primeira iniciativa concertada do movimento empresarial no domínio da Defesa da Floresta Contra Incêndios. Aquele estudo viria a contribuir de forma decisiva para a definição do sistema de combate aos incêndios florestais que foi implementado pelo Ministro de Estado e da Administração Interna, António Costa, conforme se deu nota no 1.º relatório da anterior Comissão Eventual para os Fogos Florestais. O Dr. Henrique Ribeiro, assessor do Secretário de Estado da Protecção Civil, também esteve presente no quadro da parceria institucional que prevaleceu desde o inicio na actividade daquele movimento da sociedade civil.

Em Dezembro de 2006 dá-se o primeiro passo para o lançamento do Movimento ECO, com o desafio colocado ao Dr. Murteira Nabo para a criação de um movimento na sociedade civil com o objecto de congregar vontades políticas, empresariais e sociais na prevenção e combate aos incêndios florestais, que todos os anos atingem o nosso país. Nesse desafio esteve patente o facto 97% dos incêndios florestais em Portugal terem origem humana e, destes, uma grande maioria se deverem a actos negligentes dos cidadãos. Perante isso, “era importante desenvolver acções ao nível da cidadania que informassem os cidadãos da importância dos seus actos para a protecção da floresta face aos incêndios florestais”, referiu Murteira Nabo.

A consciencialização crescente da sociedade portuguesa para os problemas da floresta nacional, sobretudo após os trágicos incêndios florestais de 2003, tem motivado a mobilização solidária dos cidadãos e das empresas para ajudar na resolução do flagelo dos incêndios florestais. Contudo, sentia-se que era fundamental organizar a contribuição das empresas, garantindo o justo retorno, o reconhecimento da comunidade desses actos de responsabilidade social das empresas. Como afirmou Murteira Nabo, “nas empresas portuguesas, os gestores têm uma grande responsabilidade para com a sociedade civil. Estes devem contribuir coma responsabilidade social das empresas na resolução de problemas da sociedade”.

Foi com base nestes dois princípios que no dia 26 de Fevereiro de 2007 foi formalmente constituído o Movimento ECO – empresas contra o fogo, numa cerimónia de apresentação pública que contou com a presença do Ministro de Estado e da Administração Interna, António Costa, e do Ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Jaime Silva. A figura 17 ilustra o símbolo adoptado do Movimento ECO – empresas contra os fogos.

Figura 17: Símbolo do Movimento ECO – empresas contra os fogos

Page 93: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 93

Em 22 de Março teve lugar a assinatura dos primeiros protocolos com sete empresas: Galp Energia, Modelo/Continente, CP, Soares da Costa, Mitsubishi Portugal, CTT e BPI. Conforme foi transmitido na audição parlamentar pelo seu Presidente, actualmente o movimento Eco – empresas contra os fogos conta com 26 empresas, existindo uma grande vontade de adesão de novas empresas ao projecto.

No dia seguinte (23 de Março) teve lugar o inicio da primeira vaga nos meios de comunicação social e nos meios disponibilizados pelos parceiros, em parceria com a campanha nacional de sensibilização promovida pelo Governo, com o subtema “ainda se lembra?”, que recordava a tragédia ocorrida em Julho do ano passado em Famalicão da Serra (Guarda), num incêndio com origem num acto negligente e em consequência do qual viriam a falecer 6 bombeiros. A figura 18 ilustra o cartaz de sensibilização produzido nessa campanha, que incentivava à limpeza atempada da vegetação em torno das habitações.

Figura 18: Campanha de sensibilização (1.ª vaga) – Cartaz (Fonte: Movimento ECO).

Em apenas cinco meses, o Movimento ECO, reuniu 22 empresas, mobilizou meios empresariais próprios avaliados em 7 M€, que possibilitaram mais de 60 milhões de contactos com cidadãos, ou seja, cada cidadão foi (em termos médios) seis vezes contactado com uma mensagem, no sentido de evitar os comportamentos de risco, tais como deitar cigarros para o chão, fazer fogueiras ou lançar foguetes e ainda os números gratuitos de alerta de incêndios 112 e 117, através de vários suportes de comunicação: TV, rádio, imprensa, outdoors,

Page 94: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 94

Multibanco, sacos de supermercado10, pacotes de açúcar, folhetos, Internet, etc. Na figura 19 exemplifica-se a estratégia de comunicação para a sensibilização adoptada com uma das mensagens de sensibilização distribuídas durante a segunda vaga da campanha de sensibilização.

Figura 19: Campanha de sensibilização (2.ª vaga) – Pacote de açúcar (Fonte: Movimento ECO).

A acção de sensibilização desenvolvida pelo Movimento ECO – Empresas Contra os Fogos permitiu 60 milhões de contactos com as mensagens veiculadas, os quais, de acordo com a avaliação independente realizada para perceber os impactos da iniciativa, concluiu que 80,5% dos portugueses recorda a campanha de prevenção de incêndios florestais, tendo compreendido as mensagens de prevenção dos incêndios, que é uma responsabilidade partilhada entre o Governo e os cidadãos, os quais após a campanha consideram que devem ter um papel mais activo na prevenção (97% das entrevistas). Igualmente 79% dos inquiridos considera que a campanha implementada influencia a mudança de comportamentos, no que concerne à limpeza das matas, à utilização de lugares permitidos para os piqueniques e a uma maior atenção ao comportamento com o cigarro durante as viagens. Este estudo também concluiu que importa reforçar ao máximo a segurança do lançamento de foguetes e só quando é permitido (58%) ou mesmo anular o seu lançamento (38%).

Em resumo, o Movimento ECO – Empresas contra os fogos é uma iniciativa baseada na sociedade civil, que congrega os apoios das empresas na óptica da prevenção e combate aos incêndios florestais, decorrente dos compromissos da responsabilidade social das empresas para com a resolução de problemas da sociedade portuguesa e cuja informação está disponível na Internet no endereço http://www.movimentoeco.com/home.php. Os Deputados desta Comissão manifestaram uma concordância unânime na importância da acção que este movimento organizado do sector empresarial está a desenvolver, na capitalização da responsabilidade social das empresas de forma estruturada e em complementaridade com a politica do Governo em matéria de DFCI, designadamente ao nível da comunicação com os cidadãos.

Nas palavras do seu presidente, Dr. Murteira Nabo, em 2007 o Movimento ECO – Empresas contra os fogos prestou um apoio que ultrapassa os 7 M€. Existe uma forte expectativa do movimento crescer em 2008, sendo o seu objectivo a duplicação do numero de empresas aderentes (50 empresas), com a criação de uma estrutura mais profissional na coordenação e gestão das iniciativas e das contribuições da empresas e assim possibilitar dar “um passo em frente” na parceria com o Governo, proporcionado além da sensibilização dos cidadãos, também a doação de bens. A parceria política e institucional com o Governo é considerado, neste

10 Esta iniciativa motivou a utilização pela primeira vez em Portugal de sacos 100% biodegradáveis, tendo sido distribuídos 1.500.000 de sacos no Modelo e Continente.

Page 95: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 95

contexto, como um aspecto crucial para o cumprimento dos objectivos do Movimento ECO – Empresas contra os fogos.

A concluir este capítulo, gostaria de enfatizar a sugestão apresentada pelo Grupo Parlamentar do Partido Socialista, no sentido o Movimento ECO – Empresas contra os fogos apoiar o Programa de voluntariado jovem para as florestas, da responsabilidade do Instituto Português da Juventude. 3.6. O Programa de Voluntariado Jovem para as Florestas

Fruto da experiência adquirida e dos excelentes resultados alcançados nos anos transactos (2005 e 2006), o Instituto Português da Juventude (IPJ) decidiu continuar e consolidar o programa “Voluntariado Jovem para as Florestas”. A execução financeira do Programa em 2007 cifrou-se em 1,74 M€, dos quais 1,33 M€ (76%) para suportar as despesas com as bolsas dos voluntários (12€/dia/voluntário).

O IPJ em 2007 continuou a sua colaboração com a Federação dos Produtores Florestais de Portugal (FPFP) e ainda com associações ambientalistas, serviços de Protecção Civil distritais e municipais, e todas as entidades públicas e privadas que se identificaram localmente com os objectivos definidos pelo Programa. De salientar, também a participação da Associação Empresarial de Portugal, participação que teve como contrapartida a promoção e divulgação da “Campanha Compro o que é nosso” em todo o material produzido pelo IPJ no âmbito deste Programa.

Contrariamente ao ocorrido em 2005 e 2006, no Programa de 2007 não foi estabelecida uma parceria de cooperação entre o IPJ e a Direcção Geral dos Recursos Florestais, por vontade expressa desta. A parceria anteriormente estabelecida com a DGRF foi assente no apoio técnico e no financiamento do Programa com verbas do Fundo Floresta Permanente (750.000€ em 2005 e 1,5M€ em 2006). Questionado na Comissão Eventual sobre esse aspecto pelo Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata, o Titular da Pasta da Agricultura esclareceu a opção tomada relativamente ao Programa Voluntariado Jovem para as Florestas nos seguintes termos: “Como sabem, a parte da vigilância foi transferida para a GNR. Este é o primeiro aspecto importante. Depois, o Ministério da Agricultura e o Ministério da Administração Interna decidiram, depois de analisar o que é que deu o Programa Jovem, que era mais um programa de apoio à ocupação dos jovens do que propriamente os resultados da vigilância e do controlo, e, de facto, do risco para os jovens fazerem esse tipo de funções. Lembro até o problema da autoridade dos próprios guardas florestais, que era questionada, quanto mais a de um jovem adolescente numa bicicleta. E decidimos que, de facto, não devíamos ser nós, com verbas da floresta, que iríamos continuar a apoiar os Programas Jovens cujo interesse – e há um interesse na ocupação dos nossos jovens – não era eminentemente florestal nem sequer em 5% da ocupação desses jovens. Portanto, o Ministério da Agricultura decidiu privilegiar, no Fundo Permanente Florestal, outros apoios a outras actividades em que fosse mais evidente a capitalização do lado da floresta. E, aí, dissemos aos nossos colegas que se ocupam dos jovens, que não víamos grande utilidade para floresta nos resultados

Page 96: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 96

dessa ocupação dos jovens. E, portanto, claramente, houve uma escolha a fazer e preferimos os kits para as juntas de freguesia e preferimos o apoio financeiro para recuperar os novos postos de vigia”.

Actividade dos voluntários

As actividades previstas neste Programa foram desenvolvidas no território continental nacional, tendo as Áreas Protegidas constituído as áreas prioritárias para este efeito, em conformidade com a Resolução do Conselho de Ministros n.º 63/2005, de 14 de Março. As actividades dos voluntários centraram-se principalmente na vigilância e na sensibilização para os comportamentos de risco.

Conforme consta do relatório final do “Programa de Voluntariado Jovem para as Florestas 2007”, foram mobilizados 7.457 voluntários em 317 projectos que decorreram entre 1 de Julho e 30 de Setembro. O número de voluntários por distrito para 2007 teve como referência os números de 2005 e 2006, que representam uma consolidação de numero de voluntários. Apesar da não atribuição de verbas por parte da DGRF, foi entendimento do IPJ o aumento da vigilância das áreas de maior densidade florestal que têm à partida, maiores possibilidades de deflagração de incêndios.

Tal como aconteceu nos dois últimos anos, as áreas cobertas por cada um dos projectos foram decididas pelas autoridades locais com responsabilidade pela floresta e pela sua prevenção de modo a adequar os meios disponibilizados pelo programa às necessidades de cada local e em articulação com os outros mecanismos de prevenção existentes. Em complementaridade com as tarefas de vigilância e sensibilização, os voluntários também realizaram tarefas de (1) inventariação, sinalização e manutenção de caminhos florestais e acessos a pontos de água, (2) limpeza e manutenção de parques de merendas e (3) apoio logístico aos CDOS e na distribuição de águas e alimentos em situações de ataque ampliado.

A formação geral dos voluntários foi assegurada pelos técnicos das Delegações Regionais do IPJ, que tiveram o papel de explicitar as características desejadas ao estatuto dos voluntários. Já a formação específica, foi assegurada quer pelos técnicos dos serviços camarários de protecção da floresta, quer pelos bombeiros, quer pelos sapadores florestais ou ainda pelas próprias entidades promotoras em função da sua natureza e competências. Os voluntários envolvidos nas acções de vigilância receberam formação por parte das autoridades locais, no sentido de, após a detecção de possível incêndio, comunicarem às autoridades e saberem identificar o local através de mapas ou de referências existentes no terreno e reconhecidas por todos. A comunicação destas situações foi feita de acordo com as instruções das autoridades locais para o efeito.

Apesar da diminuição do número da voluntários, relativamente a anos anteriores (8.150 em 2005 e 10.560 em 2006), aumentou o número de projectos e consequentemente a área abrangida pelo Programa. Este aumento em 26% do número de projectos deveu-se fundamentalmente à aplicação mais rigorosa de regras que visaram a melhor utilização dos recursos humanos/voluntários disponíveis, que possibilitaram a aceitação de mais candidaturas de entidades promotoras, de acordo com o número de voluntários disponíveis. A tabela 20 apresenta o número de projectos e voluntários que estiveram envolvidos no Programa.

Page 97: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 97

Tabela 20: Programa Voluntariado jovem para as florestas 2007 – projectos e voluntários (fonte: IPJ, 2007).

Distrito Entidades Projectos Voluntários Aveiro 15 15 550 Beja 16 16 461 Braga 19 19 436 Bragança 52 58 623 Castelo Branco 37 37 477 Coimbra 18 18 485 Évora 14 14 188 Faro 3 3 91 Guarda 35 37 91 Leiria 10 10 462 Lisboa 5 8 209 Portalegre 10 10 309 Porto 12 12 536 Santarém 18 17 382 Setúbal 4 4 89 Viana do Castelo 11 11 234 Vila Real 9 9 640 Viseu 33 28 698 Total 312 317 7457

O IPJ, no seu relatório de balanço, faz uma apreciação positiva do programa “Voluntariado Jovem para a Floresta”, tendo concretizado as metas para o ano de 2007 e tal como no biénio anterior, ajudou a garantir um menor numero de incêndios florestais, através de uma maior presença de jovens no terreno a proteger a floresta e um maior esclarecimento da população em geral acerca da problemática dos incêndios e da preservação da floresta. Refira-se que de acordo com os dados apurados pela GNR, este Programa foi responsável por 14% do total de acções de vigilância.

O “Programa de Voluntariado Jovem para as Florestas” nasceu de uma Resolução da Assembleia da República em 2004, a Resolução da Assembleia da República n.º 27/2004, que recomendava ao Governo que definisse um programa especial de voluntariado «Jovens e a floresta». Em 2006, a Comissão Eventual para os Fogos Florestais pronunciou-se sobre esta iniciativa, tendo recomendado a integração deste programa de voluntariado jovem numa estratégia global e territorial de prevenção aos fogos florestais, fruto da enorme adesão de voluntários.

Causa-nos, pois, alguma estranheza o afastamento da Direcção-Geral dos Recursos Florestais do Programa. Julgamos que esta é uma situação que deverá ser revista na preparação do Programa para 2008, o qual também deverá procurar envolver mais o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, organismo responsável pela gestão das Áreas Protegidas. Julgamos, igualmente, que o estabelecimento de uma parceria com o Programa com o movimento ECO – Empresas contra os Fogos poderia constituir um importante factor de consolidação do Programa, designadamente pelos apoios que este todos os anos necessita.

Page 98: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 98

3.7. O papel das Autarquias

As autarquias desempenham um papel importantíssimo na concretização local das medidas da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, como os Deputados puderam constatar aquando das visitas parlamentares, designadamente nos concelhos de Mortágua, Lousã e Figueira da Foz. Ciente desse papel, a Assembleia da República aprovou a Lei n.º 65/2007, de 12 de Novembro, que procede à definição do enquadramento institucional e operacional da protecção civil no âmbito municipal, estabelece a organização dos serviços municipais de protecção civil e determina as competências do comandante operacional municipal.

Ainda ao nível autárquico importa destacar o empenho do Governo no reforço da capacidade de intervenção das Comissão Municipais de DFCI e do planeamento à escala municipal por via reforço do apoio financeiro aos Gabinetes Técnicos Florestais no Fundo Florestal Permanente, apoio esse que, conforme foi referido pelo Ministro da Agricultura na Assembleia da Republica em 18 de Outubro, cifrou-se em 5,5 M€.

Os termos dos apoios financeiros a conceder ao funcionamento dos gabinetes técnicos florestais pelo FFP durante o biénio 2007/2008, foi objecto de concertação prévia com a Associação Nacional de Municípios Portugueses. Assim, passam a ser concedidos apoios aos Gabinetes técnicos municipais, num montante de 2000€/mês e aos Gabinetes técnicos intermunicipais, constituídos por até 4 municípios, inclusive, no montante de 80% da soma do valor individual referido anteriormente, ou por 5 ou mais municípios, no montante de 75% da soma desse valor individual. Até final de 2007 foram celebrados 207 acordos de colaboração entre a DGRF e os municípios, envolvendo 239 Câmaras Municipais. A DGRF presta aconselhamento e apoio técnico a esses Gabinetes, designadamente na elaboração e/ou reformulação dos PMDFCI e POM, e ainda a elaboração de normativos e a realização de sessões e seminários técnicos.

Os Gabinetes Técnicos Florestais são estruturas técnicas permanentes de apoio à implementação dos Planos Municipais ou Intermunicipais de Defesa da Floresta contra Incêndios, cujo trabalho desenvolvido é hoje fundamental para a acção municipal de DFCI. A criação destes Gabinetes é reconhecido como um passo importantíssimo nas palavras proferidas por Jaime Marta Soares, Vice-Presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, que no seu entender foi o impulso que “deu azo à criação dos planos municipais de defesa da floresta contra incêndios”.

Os 204 Gabinetes Técnicos Florestais em funcionamento têm como missão principal prestar o apoio técnico e administrativo ao funcionamento das Comissões Municipais de DFCI e assegurar o apoio técnico à elaboração dos planos municipais de defesa da floresta contra incêndios (PMDFCI) e dos planos operacionais municipais (POM) e a construção de bases de planeamento DFCI regional. Estas estruturas técnicas desempenham ainda funções no apoio técnico à elaboração/execução dos PROF (componente DFCI) e a outras áreas funcionais da DGRF, na regulamentação do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, com elaboração de propostas de desenvolvimento e especificamente no apoio à aplicação da legislação especial DFCI e na elaboração e acompanhamento de projectos de infraestruturação de DFCI. Refira-se ainda que estão constituídos 15 Gabinetes Técnicos de âmbito intermunicipal, envolvendo no seu conjunto 42 municípios. A figura 20 apresenta expressão territorial da distribuição dos GTF constituídos (Dezembro de 2007).

Page 99: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 99

Figura 20: Cartografia dos Municípios com Gabinete Técnico Florestal – Dezembro 2007 (fonte: DGRF, 2007).

De acordo com informação da Direcção-Geral dos Recursos Florestais estão actualmente constituídas 273 Comissões Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, as quais assume a missão de coordenação e de acompanhamento da execução da política municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, conforme é previsto no art.º 20.º da Lei n.º 65/2007, de 12 de Novembro.

Page 100: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 100

Dos 278 municípios do território de Portugal continental11, em final de 2007, apenas falta constituir a respectiva CMDFCI em 4 municípios12. Um dossier cuja gestão conta com o empenhamento pessoal do Ministro da Agricultura, Jaime Silva, conforme ficou patente na audição parlamentar de 11 de Julho.

As autarquias desempenham hoje um papel inegável no planeamento e gestão dos riscos. Nessa perspectiva os planos municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, cuja estrutura-tipo foi definida pela Portaria n.º 1139/2006, de 25 de Outubro, afiguram-se cruciais para a concretização dos objectivos de carácter executivo e de programação operacional. Nos termos do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, os planos municipais de defesa da floresta contra incêndios (PMDFCI), de âmbito municipal ou intermunicipal, contêm as acções necessárias à defesa da floresta contra incêndios e, para além das acções de prevenção, incluem a previsão e a programação integrada das intervenções das diferentes entidades envolvidas perante a eventual ocorrência de incêndios. O Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios preconiza que as CMDFCI se reúnam 4 vezes por ano, acompanhando a operacionalização e execução dos respectivos PMDFCI.

Neste momento, a DGRF está a proceder à avaliação dos planos municipais reformulados, conforme está previsto na legislação em vigor. Deste modo, contabilizam-se 247 PMDFCI entregues, dos quais 134 são reformulados (54%). Contam-se 30 municípios que ainda não apresentaram o seu plano municipal de DFCI, localizados sobretudo em zonas onde a floresta não ocupa uma grande extensão. De todo o modo, esta situação confere grande optimismo face às metas do PNDFCI: em 2009, 216 municípios disponham de PMDFCI em fase de implementação e em 2012 o sistema esteja em funcionamento pleno. A tabela 21 sintetiza o ponto de situação no final de 2007.

Tabela 21: Ponto de situação dos PMDFCI – Dezembro 2007 (fonte: DGRF, 2007).

Distrito PMDFCI entregues PMDFCI reformulado Sem PMDFCI Aveiro 15 8 4 Beja 10 10 4 Braga 14 10 0 Bragança 12 9 0 Castelo Branco 11 11 0 Coimbra 17 11 0 Évora 7 0 7 Faro 15 4 1 Guarda 14 4 0 Leiria 16 5 0 Lisboa 14 6 2 Portalegre 15 6 0 Porto 16 2 1 Santarém 21 7 0 Setúbal 2 2 11 Viana do Castelo 10 8 0 Vila Real 14 11 0 Viseu 24 20 0 Total 247 134 30

11 O concelho do Porto não necessita de constituir a Comissão Municipais de DFCI, na medida em que os espaços rurais são residuais no seu território. 12 Os municípios de Reguengos de Monsaraz, Oeiras, Amadora e de Matosinhos não tinham a CMDFCI formalmente constituída em final de 2007.

Page 101: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 101

A figura 21 apresenta a expressão territorial do processo de elaboração e aprovação dos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios.

Figura 21: Cartografia dos Municípios com PMDFCI – Dezembro 2007 (fonte: DGRF, 2007).

Neste capítulo particular, importa sublinhar o papel dos PMDFCI no contexto da actual legislação de protecção da floresta contra incêndios. As medidas preventivas, definidas no Decreto-Lei n.º 124/2006, estão dependentes da existência daquele instrumento de planeamento as intervenções na rede viária, na rede ferroviária, nas linhas de transporte de energia de muito alta tensão, alta tensão e média tensão e nos aglomerados populacionais inseridos ou confinantes com espaços florestais, bem como nas edificações em zonas de elevado risco no espaço florestal.

Page 102: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 102

Em 2006, a grande novidade no domínio da acção autárquica em matéria de DFCI prendeu-se com a elaboração dos Planos Operacionais Municipais (POM), conforme se deu nota no anterior relatório da Comissão Eventual de Fogos Florestais. Nessa altura (Novembro 2006) tinha sido assegurada a cobertura da quase totalidade dos distritos do Norte e Centro, coincidente com a maior área florestal do País.

A escala do município constitui, de longe, a escala ideal para um melhor diagnóstico do risco de incêndio e das zonas que potenciam exponencialmente a sua ocorrência e onde a existência de um dispositivo de prevenção e protecção, integrado e articulado, terá maior eficácia na resposta. Os Deputados desta Comissão puderam constatar desse facto aquando da visita parlamentar ao município da Lousã durante a apresentação que foi realizada pelo técnico do GTF (Eng. Ricardo Fernandes). Refira-se que a Câmara Municipal da Lousã foi pioneira nesse tipo de planeamento de organização/coordenação dos meios à escala municipal, em termos nacionais.

A figura 22 apresenta o esquema de funcionamento do Dispositivo Operacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios que vigorou na Lousã em 2007, onde são claramente identificadas as zonas de intervenção de cada equipa e respectivos os locais estratégicos de estacionamento, na perspectiva do pré-posicionamento dos meios e “vigilância armada” nos dias de alerta de risco de incêndio.

Figura 22: Dispositivo Operacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios – Lousã (fonte: POM Lousã, 2007).

Decorrentes do Plano Nacional de DFCI, os Planos Operacionais Municipais, de actualização anual, visam operacionalizar as acções de vigilância, detecção, fiscalização, 1.ª intervenção e combate à escala municipal. Em 2007, a preocupação da DGRF centrou-se no acompanhamento técnico dos GTF no processo de actualização dos POM 2006 e ainda na elaboração dos POM 2007 dos demais municípios. Fruto dessa acção e do empenho das CMDFCI e dos GTF, foram entregues 228 POM em 2007 (mais de 80% das CMDFCI constituídas à data), 159 (70%) dos quais correspondentes a actualizações do POM 2006. Assim, neste momento apenas 49 municípios (18% do total nacional) não têm POM 2007 elaborado.

Page 103: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 103

Em termos nacionais, verifica-se que os distritos de Braga, Bragança, Castelo Branco, Guarda, Portalegre, Vila Real e Viseu estiveram integralmente cobertos por POM em 2007, conforme se apresenta na figura 23. essa cobertura integral do distrito com os POM em conjunto com a cartografia produzida pelos serviços técnicos da DGRF permitiu o desenvolvimento de ferramentas fundamentais no apoio à decisão à escala distrital, em sede do CDOS, no pré-posicionamento e despacho dos meios de primeira intervenção e que certamente terão contribuído para uma gestão mais eficiente dos meios disponíveis.

Figura 23: Cartografia dos Municípios com POM – Dezembro 2007 (fonte: DGRF, 2007).

Page 104: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 104

A tabela 22 sintetiza a variação registada entre os números reportados relativos a Novembro de 2006 no 2.º relatório da Comissão Eventual para os Florestais e os valores registados um ano depois.

Tabela 22: Evolução da actividade de planeamento municipal – 2006/2007 (fonte: DGRF, 2007).

2006 2007 Variação CMDFCI 254 273 7% GTF 194 204 5% PMDFCI 0 247 --- POM 161 228 42%

Somos, pois, da opinião que apesar das dificuldades e constrangimentos que ainda subsistem, verificamos, com agrado, que as autarquias têm vindo a assumir de forma responsável e progressiva o seu papel no Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, designadamente em matéria de planeamento. Como concluía o Ministro da Agricultura na audição parlamentar de 18 de Outubro: “apesar do arranque tardio, em termos de planos municipais de defesa da floresta contra incêndios, o essencial está feito.

Gostaríamos de ver em 2008 serem dados passos firmes na consolidação das estruturas técnicas e consultivas dos municípios em matéria de Protecção Civil e de Protecção da Floresta, e nesse prisma a adequação dos técnicos ao perfis das funções é um aspecto que, nas palavras do Presidente da Comissão Eventual, o deputado Abel Baptista, deverá ser devidamente acautelado, tal como o reforço do envolvimento das freguesias no quadro do processo de reorganização da Protecção Civil dos municípios. Para nós, esse são passos determinantes para a evolução do planeamento municipal, assente em processos de melhoria contínua e com a participação e envolvimento dos cidadãos e que permitam vir a consubstanciar projectos de escala intermunicipal. Como referia, e bem, o vice-presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses “Tem de haver um projecto conjunto. Os próprios planos municipais não se podem cingir ao espaço geográfico de um município, têm de estender-se, em termos conjunturais, em planos de ordenamento de um conjunto de municípios, porque o fogo não escolhe fronteiras”.

Contudo, existem ainda condicionantes importantes para uma intervenção mais plena das autarquias na gestão do território, designadamente em matéria de prevenção estrutural. Importa, pois, dotar as autarquias e em particular as freguesias, designadamente aquelas situadas nas áreas protegidas, de capacidade financeira e das competências necessárias para a intervenção no território. As freguesias têm um papel fundamental, útil e até insubstituível, nomeadamente no ordenamento da floresta, que decorre do conhecimento do terreno e das pessoas.

Em nosso entender, as freguesias, particularmente as mais rurais, com grande área de espaço rural e florestal, são, na sua grande maioria, caracterizadas por um perímetro urbano em relação ao qual têm a obrigação de assegurar a limpeza para protecção dos núcleos urbanos perante o fogo, numa actividade cuja programação, planeamento e execução deve ser da responsabilidade da autarquia.

Page 105: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 105

3.7.1. Protocolo de colaboração LBP/ANMP/ANPC

O protocolo de colaboração celebrado a 23 de Abril entre a Associação Nacional de Municípios Portugueses, a Liga dos Bombeiros Portugueses e Autoridade Nacional de Protecção Civil, no cumprimento do Programa do Governo, visa a criação de equipas intervenção permanente no quadro dos Corpos de Bombeiros. Tal como afirmou o Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses na audição parlamentar, o diálogo construtivo foi a chave do sucesso “que resultou num importante protocolo tripartido que assinámos para a viabilização das equipas de intervenção permanente — uma velha aspiração nossa —, que é uma medida estrutural à qual reconhecemos uma grande importância”.

O financiamento destas equipas é repartido entre os municípios e a ANPC. A esse propósito, importa citar Jaime Soares (ANMP): “As equipas de primeira intervenção, penso que são importantes, houve uma proposta que se baseava no pagamento por parte dos Municípios de 44%, do Governo 51% e dos Corpos de Bombeiros 4%. Depois da discussão apareceu uma nova proposta para 5 elementos e para os Municípios pagarem 50% e o Governo 50%”. O Secretário de Estado da Protecção Civil, Ascenso Simões, havia explicado anteriormente aos Deputados a forma de financiamento adoptada para estas equipas, a qual resulta do “esforço conjunto da administração central e local para resolver um problema de segurança das populações, sendo que a administração central tem um esforço acrescido, porque há um conjunto de instrumentos de formação e de acompanhamento que vai ser da responsabilidade da administração central”.

Nesse contexto, durante 2007, foi publicada a legislação enquadradora para a criação destas equipas, tendo sido previsto em sede das Grandes Opções do Plano para 2008 a criação de 100 equipas de intervenção permanente em parceria com as Associações Humanitárias de Bombeiros e com os Municípios e ainda a criação de 30 Comandantes Operacionais Municipais. Como referiu o titular da Pasta da Administração Interna, Rui Pereira, “estas equipas são essenciais para, ao nível de municípios, criar uma força altamente especializada de combate aos incêndios. Temos prevista a criação de 200 equipas até 2009, em todo o País”.

Como havia sido oportunamente recomendado pela anterior Comissão Eventual para os Fogos Florestais, importa enquadrar profissionalmente o voluntariado no quadro das próprias corporações de bombeiros voluntários e é este o espírito do protocolo, como evidenciou o Ministro Rui Pereira na Comissão Eventual ao afirmar que “a criação destas equipas profissionalizadas não substitui nem põe de lado a ideia de voluntariado. A ideia generosa de voluntariado dos bombeiros, que, por esse País fora, se dedicam a este combate, é uma ideia imprescindível para o combate ser travado com sucesso. A solução aqui está em saber dosear a existência de equipas profissionalizadas com os voluntários, cujo papel continua a ser decisivo”.

Os distritos de Braga, Viseu, Guarda, Viana do Castelo e Coimbra foram identificados como prioritários numa primeira fase, para os quais estava prevista a constituição de 60 equipas, cujo processo de assinatura dos protocolos pelas autarquias está em fase de conclusão. Estas equipas são constituídas por cinco elementos, em regime de permanência, vinculados às Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários por um contrato de trabalho por 3 anos.

Page 106: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 106

3.7.2. Programa para aquisição de meios de primeira intervenção (DGAL/ANAFRE)

Em 2007, o Governo criou um mecanismo de apoio financeiro para a aquisição de “kits” para a primeira intervenção pelas Juntas de Freguesia, em dando corpo à ideia que a Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) havia defendido junto do Ministério da Administração Interna ideia de “as freguesias das zonas onde a floresta está mais presente fosse dada a possibilidade de se candidatarem a um equipamento para a primeira intervenção em fogos nascentes”.

Refira-se que o relatório produzido pela Autoridade Nacional para os Incêndios Florestais (ANIF, 2005), já identificava a necessidade do incentivo à distribuição às Juntas de Freguesia de mecanismos de protecção colectiva (Kits para combate a Incêndios Florestais) e de rotinar procedimentos e atitudes com simulacros e outros tipos de exercícios, para que, desta forma, as populações se sintam parte integrante das soluções deste problema nacional que a todos afecta. Igualmente, como se deu conta no 1.º Relatório da Comissão Eventual para os Fogos Florestais, aprovado em Julho de 2006, a ANAFRE expressou, em audição parlamentar, que “as Freguesias poderiam ser preciosas na chamada intervenção primária”, esperando que em 2007, “a problemática dos “kits de intervenção primária” possa ser analisada”.

É, pois, nesse quadro que em 19 de Junho foi celebrado um protocolo entre a Direcção-Geral das Autarquias Locais, a Autoridade Nacional de Protecção Civil, o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas, a Direcção-Geral dos Recursos Florestais e a Associação Nacional de Freguesias, que visou promover o reforço da protecção colectiva local – 1ª intervenção, no combate a incêndios florestais, dotando as Juntas de Freguesia de equipamento adequado e eficaz para esse efeito. A assinatura deste protocolo foi presidida pelos Ministros da Administração Interna e da Agricultura.

Sobre este programa, importa recordar as palavras tecidas pelo Ministro da Agricultura na audição parlamentar de 11 de Julho, quando informava os Deputados da decisão tomada para o apoio a esta iniciativa com verbas remanescentes do programa 2005-2006 do Fundo Florestal Permanente, decorrente da baixa taxa de execução dos apoios para a intervenção das autarquias (13%). Nessa perspectiva e num quadro de elegibilidade, considerou-se que “para localidades, freguesias longe das sedes do concelho, longe de centros bem servidos com bombeiros mas com importantes áreas florestais, se calhar, era bom dar-lhes a possibilidade de terem também aquilo que têm as equipas de sapadores florestais, ou seja, dar-lhes os tais kits de primeira intervenção”. Daí, encetou-se o diálogo com o Ministério da Administração Interna e com a Associação Nacional de Freguesias para avaliar da exequibilidade desta iniciativa para, assim, “abrir os concursos, para saber se as juntas de freguesia iriam aderir, mesmo sabendo que muitas delas não têm equipamentos de transporte, e a resposta das juntas de freguesia foi no sentido de concordarem logo imediatamente e, depois, no ano seguinte ver-se-ia se haveria possibilidade de algum financiamento para transportes”.

O compromisso da formação aos operadores que vão utilizar esses equipamentos é um dos requisitos para a atribuição dos equipamentos, a qual está prevista ser ministrada pelos Gabinetes Técnicos Florestais das Câmaras Municipais ou pelas Corporações de Bombeiros.

Page 107: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 107

Assim, foi publicado o Despacho n.º 14254-A/2007, de 4 de Julho, que estabelece o Regulamento do Programa para Aquisição de Meios de Primeira Intervenção no Combate a Incêndios Florestais, no âmbito do qual é definido o regime de candidaturas, gestão, acompanhamento, controlo e avaliação do programa de protocolos a celebrar entre a Direcção-Geral das Autarquias Locais (DGAL), o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), a Autoridade Nacional de Protecção Civil e as freguesias para a aquisição de meios de primeira intervenção no combate a incêndios florestais e cujas candidaturas decorreram até 13 de Julho. Nos termos deste regulamento, o montante máximo de comparticipação, para o conjunto do equipamento13, era de 8.000€ (IVA incluído).

O Programa estava previsto para 1000 candidaturas, fruto teve uma grande aceitação pelas freguesias, tendo sido admitidas1928 candidaturas, um número bastante significativo que quase duplica as previsões. Feitas as apreciações das candidaturas, o Governo aprovou 1091 candidaturas, de 186 municípios de Portugal Continental, sendo previsto a assinatura dos protocolos e a conclusão da aquisição dos “Kits” até ao final de 2007. As candidaturas aprovadas ascendem a 7,8 milhões de euros, conforme listagens publicadas no Diário da República14. O financiamento deste Programa é assegurado em partes iguais pelo Fundo Florestal Permanente e pela DGAL.

A ANAFRE deixou um apelo aos Deputados da Comissão, um apelo “para que nos ajudem a sensibilizar o Governo para a necessidade de adquirir os tais meios de transporte para as freguesias que são da região centro, da região do pinhal, como dizemos na gíria, para que elas, na próxima época de fogos florestais, já possam dispor desse meio de transporte”, disse Armando Vieira, Presidente da ANAFRE. A falta dos meios de transporte para os Kits de 1.ª intervenção foi uma preocupação colocada pelos vários Partidos Políticos.

Do debate parlamentar foi clara a demonstração que as freguesias deram da grande preocupação têm em relação a uma primeira intervenção no combate aos fogos florestais e a importância que atribuem a essa intervenção. Porém, o programa poderá evoluir, com a concessão de apoios para a aquisição do meio de transporte dos kits de 1.ª intervenção. Uma ideia advogada pelos Partidos Políticos, que manifestaram a continuação deste programa de modo a cobrir mais freguesias no país, mas numa lógica integrada com o planeamento municipal do risco de incêndio florestal e com a necessária formação aos utilizadores desses kits de 1.ª intervenção.

Em jeito de conclusão, neste capítulo, importa tecer uma palavra para a acção preponderante na coordenação da actividade à escala distrital que os Governadores Civis realizaram, enquanto autoridades políticas distritais de protecção civil, como os deputados tiveram oportunidade de verificar nos briefings operacionais a que assistiram durante as visitas parlamentares.

13 O equipamento a adquirir pelas Juntas de Freguesia constitui os chamados “kits de primeira intervenção”, semelhantes aos utilizados pelas equipas de sapadores florestais, e é constituído por material de extinção (depósito de água, aditivos químicos, motobomba, mangueira, agulhetas, mochila extintora, batedores) e material para feitura das faixas de contenção (motorroçadora, motosserra, pá, ancinho, foição). 14 Despachos de aprovação publicados nos Diários da República, 2.ª série: n.º 177, Parte B, de 13/09/2007; n.º 187, Parte C, de 27/09/2007; n.º 186, Parte C, de 26/10/2007 e 211, Parte C de 2/11/2007.

Page 108: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 108

3.8. Balanço final da avaliação da Política do Governo

Neste balanço final, destacamos a consolidação da política de Defesa da Floresta Contra Incêndios encetada após os incêndios florestais de 2005. O conceito de comando único ganhou força em 2007, tendo sido patente a acção integrada do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, com base em três princípios de actuação: primeiro, prevenir comportamentos de risco; segundo, vigiar, detectar e alertar e terceiro, maior rapidez e mais segurança no combate aos incêndios.

Em 2007, assistimos à consolidação das medidas que haviam sido apresentadas no ano transacto, designadamente a Directiva Operacional Nacional de combate aos incêndios florestais, o Programa de Sapadores Florestais do Ministério da Agricultura, a coordenação da GNR da detecção e vigilância, o papel das autarquias na gestão do risco, a profissionalização da Protecção Civil, e progressiva especialização decorrente do reforço do GIPS e da criação da 1.ª companhia especial de bombeiros – Canarinhos. Nesta matéria da profissionalização da Protecção Civil, destaca-se o protocolo tripartido celebrado para a criação de 200 equipas de primeira intervenção nos Corpos de Bombeiros.

Em 2007, a Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios apresentou também medidas inovadoras importantes. No plano administrativo com o PRACE, no plano legislativo com a conclusão do edifico legal da Reforma da Protecção Civil e no plano preventivo com a campanha de sensibilização conjunta MADRP/MAI “Portugal sem fogos depende de todos” e a participação da sociedade civil através do movimento ECO – empresas contra os fogos. No plano financeiro, destacou-se o novo regulamento do Fundo Florestal Permanente (2007/2008) e no plano operacional, a realização dos Exercícios PROCIV e a criação do Grupo de Análise e Uso do Fogo, para apoio ao combate aos grandes incêndios florestais.

O trabalho desenvolvido em sede da Comissão Eventual também permitiu identificar pontos fortes e pontos críticos da política do Governo nesta matéria, dos quais destacamos os seguintes:

Pontos fortes: Reforço da coordenação dos vários agentes de protecção civil, patrulhamento preventivo das áreas de risco pelas forças de segurança, a nova configuração do crime de incêndio florestal, a programação atempada dos meios de prevenção operacional e combate, a realização dos exercícios PROCIV, a profissionalização e especialização do dispositivo de combate a incêndios florestais, o reforço da capacidade de ataque inicial, a estratégia de emprego dos meios aéreos no combate aos incêndios, a campanha de sensibilização conjunta e a publicação dos PROF.

Pontos críticos: Gestão activa da floresta, demora na regulamentação do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, complexidade dos processos de constituição das ZIF, deficiências do sistema nacional de detecção de incêndios (incluindo a detecção automática) e de comunicações nos teatros de operações mais complexos, necessidades formativas nos agentes de protecção civil, os atrasos no planeamento municipal e intermunicipal de DFCI, a baixa taxa de investigação das causas dos incêndios florestais, os atrasos no cadastro florestal, ordenamento das áreas protegidas, as demoras na concretização dos instrumentos financeiros de apoio à Defesa da Floresta Contra Incêndios e o atraso na certificação da EMA – empresa de meios aéreos, SA como operador de trabalho aéreo pelo INAC.

Page 109: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 109

Mais concretamente, atendendo aos vários aspectos analisados neste capítulo, numa apreciação qualitativa da avaliação da Politica Nacional de DFCI, tecemos as seguintes considerações:

No plano legislativo:

Durante 2007 concretizou-se a reforma administrativa da Administração Central do Estado, concretizando o PRACE. A Direcção-Geral dos Recursos Florestais, o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade e a Autoridade Nacional de Protecção Civil viram aprovadas as suas novas leis orgânicas, assim como a Guarda Nacional Republicana, em Novembro. Se o cumprimento das metas estabelecidas no PRACE merece uma nota positiva, existe ainda alguma incerteza quanto às repercussões destas medidas no funcionamento dos organismos, um aspecto que em nosso entender deverá ser objecto de acompanhamento pelas Tutelas respectivas.

Igualmente, em 2007, teve lugar a publicação do Decreto-Lei n.º 55/2007, de 12 de Março, relativo às restrições à alteração do uso do solo nos terrenos com povoamentos florestais percorridos por incêndios, o qual define as condições em que é permitido o levantamento dessa proibição. Refira-se que a legislação portuguesa está no espírito das recomendações tecidas na resolução aprovada pelo Parlamento Europeu, o que é positivo. Merece também uma nota positiva a prorrogação por mais três anos das medidas destinadas à regularização da situação jurídica dos prédios rústicos em áreas florestais, nos termos dispostos no Decreto-Lei n.º 364/2007, de 2 de Novembro. Num país em que a floresta é maioritariamente privada e com as lacunas existentes no cadastro florestal, esta é uma medida que merece o nosso aplauso. Parece-nos contudo, que falta proceder a uma publicitação mais eficaz e a uma monitorização dos impactos dessas medidas pelo Governo. Igualmente, parece-nos que tem sido insuficientemente publicitada a redução da taxa do IVA para a execução dos trabalhos de silvicultura, cujos impactos na promoção da gestão activa da floresta também deveriam ser medidos.

A conclusão do edifício legislativo que concretiza a reforma da Protecção Civil em Portugal, encetada em 2006 com a publicação de uma nova Lei de Bases é um aspecto que, em nosso entender, merece ser salientado. A Protecção Civil é um domínio que tem crescido de importância no contexto europeu, como ficou bem patente na recente comunicação adoptada pela Comissão Europeia. Com o conjunto de diplomas publicados em 2007, baseadas num diálogo construtivo com as organizações do sector, o Governo concretizou um conjunto de reivindicações antigas do sector, designadamente em matéria do regime jurídico das associações humanitárias de bombeiros e do estatuto social dos bombeiros portugueses.

Por fim, a revisão do Código Penal merece, nesse contexto, um destaque particular, ao configurar o crime de incêndio florestal como um crime contra bens da colectividade, contra bens ambientais, independentemente da criação de perigo concreto contra bens individuais. Desta forma é concretizada uma importante evolução no enquadramento legal e penal dos incêndios florestais.

As demoras na regulamentação do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, constituem uma falta importante, com repercussões na concretização das medidas de prevenção estrutural, designadamente ao nível das redes de infra-estruturação do território. Igualmente, parece-nos que foi insuficiente o tempo que mediou entre a publicação da portaria que estabelece o período crítico e a entrada em vigor das medidas

Page 110: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 110

preventivas que lhe estão associadas. Em falta está ainda a introdução da alteração proposta pela ANMP ao artigo 16.º, relativo às condicionantes à edificação no espaço rural.

No plano financeiro:

Foi transmitido aos Deputados da Comissão Parlamente pelo Ministro da Agricultura um registo preocupante nas taxas de execução financeira registadas no Fundo Florestal Permanente (designadamente o uso dos recursos financeiros disponíveis pela autarquias para as intervenções na Defesa da Floresta Contra Incêndios, cifrada em 13%) e também nos apoios comunitários do anterior QCA, nomeadamente no programa AGRIS – medida 3.4, que embora tendo sido uma medida de reconhecido interesse pelos agentes do sector florestal, registava em 2007 uma execução financeira de apenas 49%. Registam-se também demoras significativas na avaliação e aprovação das candidaturas e nos pagamentos dos reembolsos.

O novo regulamento dos apoios a conceder pelo Fundo Florestal Permanente em 2007 e 2008, reforça o montante de verbas a afectar na área da prevenção e protecção da floresta contra incêndios, que passa de 60% no regulamento anterior para 73% das verbas do FFP. Pese embora se trate de um reforço significativo, somos da opinião que importa assegurar as formas mais eficazes de estabelecer as parceiras puiblico-privadas para a execução dos objectivos deste instrumento financeiro de apoio da política florestal.

A criação do primeiro Fundo de Investimento Imobiliário Florestal, ainda que com um importante apoio do Estado, é um aspecto positivo neste plano, que deve ser acompanhado de futuro.

Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios

Em 2007 foi visível a consolidação do comando único nos três pilares que compõe o Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios preconizado no Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios e concretizado no Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho. Refira-se que esta nova forma de partilha de responsabilidades foi uma das principais apostas da Politica do Governo neste domínio.

Na prevenção estrutural (DGRF):

Sensibilização:

Constitui um aspecto positivo a consolidação da estratégia conjunta do Ministério da Administração Interna e do Ministério da Agricultura para a realização de uma campanha nacional de sensibilização, com o objecto principal da divulgação dos números de alerta e dos comportamentos de risco, com base em três eixos: 1) publico generalista, 2) população rural e 3) população escolar. Neste aspecto, o protocolo de colaboração celebrado entre DGRF e ANPC para o financiamento da campanha pelo Fundo Florestal Permanente (2007/2008) parece-nos ser um passo decisivo nesse desígnio, bem como o protocolo celebrado entre a DGRF e as organizações federativas do sector florestal. O envolvimento da sociedade civil na campanha nacional de sensibilização através do Movimento ECO – Empresas contra o fogo

Page 111: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 111

(constituído em Fevereiro de 2007), que canaliza a responsabilidade social das empresas aderentes, foi um aspecto inovador e que constitui um importante avanço face a 2006.

Nesta matéria, pareceu-nos que houve uma articulação insuficiente com as autarquias locais (ANMP e ANAFRE), com o Programa “Voluntariado Jovem para as Florestas” do IPJ, com o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade e com as Forças de Segurança directamente envolvidas na DFCI (PSP e GNR). Em falta, consideramos o envolvimento das organizações da sociedade civil, designadamente o Corpo Nacional de Escutas e as organizações ambientalistas. Igualmente consideramos estar em falta uma avaliação profunda dos impactos das campanhas de sensibilização realizadas nos vários eixos de actuação.

Informação pública:

Em matéria de informação constitui um aspecto positivo a criação de um portal específico para a Defesa da Floresta Contra Incêndios na Internet, em ligação à página da DGRF. Nesta matéria, contudo, pareceu-nos que falta uma maior divulgação pública do risco meteorológico de incêndio florestal, com vista ao cumprimento mais eficaz das medidas preventivas previstas no Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho.

Ordenamento Florestal:

A conclusão da publicação em Diário da República de todos os decretos regulamentares que instituem os 21 Planos Regionais de Ordenamento Florestal constitui um factor decisivo para a concretização da política florestal em Portugal. Contudo, parece-nos ainda insuficiente a transposição das suas orientações para os planos de ordenamento do território (PROT e PDM). A aprovação do projecto EEA – Grants para a concepção, planeamento e execução das redes regionais de defesa da floresta contra incêndios em 34 municípios da região centro, foi um aspecto positivo em 2007 e constitui um desafio importante para a evolução do planeamento regional de DFCI. Este projecto poderá ser a alavanca necessária para o avanço do planeamento dos riscos à escala intermunicipal, que é um dos aspectos em falta no planeamento em curso, promovido pelos Gabinetes Técnicos Florestais.

Autarquias. Consolidação do processo das CMDFCI e constituição dos GTF. Avanços no planeamento municipal de DFCI, por via da revisão dos PMDFCI e da elaboração dos POM, muitos dos quais em processo de actualização face a 2006.

Gestão das áreas comunitárias:

A nova dinâmica incutida pelo Ministério da Agricultura com o financiamento atribuído em sede do Fundo Florestal Permanente para a elaboração dos Planos de Utilização dos Baldios, através do protocolo celebrado para esse efeito entre a DGRF e a BALADI, FORESTIS e Federação do Produtores Florestais de Florestais, e a constituição dos agrupamentos de baldios são medidas políticas positivas conducentes a uma melhor gestão e produtividade das áreas comunitárias. Neste capítulo, importará no final de 2008 verificar os níveis de execução face às metas previstas no PNDFCI. Em falta, a existência de uma estrutura técnica dedicada na DGRF com a capacidade necessária para o acompanhamento dos processos relativos ao planeamento e gestão dos baldios, bem como a promoção do agrupamento de baldios numa perspectiva de uso múltiplo desses territórios.

Page 112: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 112

Zonas de intervenção florestal:

Relativamente às Zonas de Intervenção Florestal, em nosso entender, esta é uma medida de política que é unanimemente reconhecida como uma boa solução para a promoção da gestão profissional da floresta privada, apesar de só estarem formalmente constituídas 11 ZIF em final de 2007, que totalizam mais de 47.000ha. Refira-se que estão a decorrer processos para a constituição de ZIF em 650.000ha o que denota o interesse desta solução nos promotores privados. Contudo, existem estrangulamentos importantes para a evolução das ZIF, constrangimentos sobretudo ao nível do cadastro, mas também dos limites mínimos de 1000ha para a sua constituição impostos pela legislação em vigor. A falta de clarificação sobre as possibilidades de integração de baldios nas ZIF é uma outra insuficiência identificada, a par da morosidade da tramitação processual da sua constituição.

Programa de Sapadores Florestais:

O Programa de Sapadores Florestais foi reforçado em 2007 com a entrada em funcionamento de mais 40 equipas de sapadores florestais, que permitiu que estivessem operacionais durante o Verão para a vigilância, ataque inicial e apoio ao rescaldo um total 205 equipas de sapadores florestais. Este facto constituiu um aspecto positivo. A atribuição de financiamento para o desenvolvimento deste Programa em sede do Fundo Florestal Permanente é um outro sinal político da importância que esta medida da política florestal tem para o Ministério da Agricultura, que anunciou a intenção de constituir mais 60 equipas em 2008, o que configura um sinal positivo da consolidação deste Programa.

Em falta, encontra-se a certificação da profissão de sapador florestal. Um aspecto que, sem dúvida, irá contribuir para a dignificação desta actividade. Igualmente, parece-nos ser insuficiente o conhecimento em profundidade das alterações ao seu funcionamento introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 38/2006, de 20 de Fevereiro, designadamente em matéria da eficácia do mecanismo financeiro de apoio em vigor e da prestação do “serviço público”.

Na prevenção operacional (GNR):

Vigilância:

A operação “Floresta Segura” da GNR constituiu um ponto positivo do funcionamento do Sistema Nacional de DFCI em 2007. Foi unanimemente reconhecido o papel decisivo que o reforço do patrulhamento preventivo das áreas de risco de incêndio teve na redução do número de ignições.

Detecção:

A GNR em 2007 assumiu em pleno a coordenação da detecção dos incêndios florestais, com a gestão da Rede Nacional de Postos de Vigia (RNPV), concretizando assim um dos objectivos da partilha de responsabilidades do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios. Nesta matéria, merece uma referência especial o protocolo celebrado com a DGRF para a modernização da RNPV com verbas do Fundo Florestal Permanente.

Page 113: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 113

No capítulo da detecção, regista-se uma elevada percentagem de alertas comunicados pela população (populares + 117, correspondente a cerca de 90% do total), pelo que julgamos haver necessidade de uma avaliação profunda do sistema nacional de detecção, incluindo a detecção automática.

Fiscalização:

A fiscalização das medidas preventivas previstas no DL n.º 124/2006 registou um incremento significativo face ao ano transacto, que se cifrou no levantamento de mais 3.343 autos de noticia de contra-ordenação. Este é um sinal claro da importância que as forças de segurança e em particular a GNR colocam nesta missão. Contudo, é insuficiente o conhecimento actual sobre os resultados finais da instrução dos processos e das normas de conduta para o cumprimento dessa missão.

Investigação das causas dos incêndios florestais:

A investigação das causas dos incêndios florestais é um aspecto importante quer na acção criminal quer na acção preventiva. Em 2007 verificou-se um incremento no número de investigações realizadas face a 2006. Contudo, os resultados apurados continuam a evidenciar uma elevada taxa de incêndios com causas desconhecidas, o que deve ser merecedor de reflexão. A formação profissional ministrada a 120 militares na investigação das causas, ao abrigo do protocolo de colaboração institucional celebrado entre a DGRF, GNR, PJ e ICNB para a melhoria do conhecimento das causas dos incêndios florestais é um outro aspecto positivo. Em falta, o apetrechamento dos órgãos de policia criminal dos meios materiais necessário para a realização desse trabalho de peritagem com maior eficácia.

No combate aos incêndios florestais:

Exercícios PROCIV:

A realização de exercícios nacionais PROCIV para a organização dos bombeiros e do exercício PROCIV II destinado à avaliação da articulação do dispositivo conjunto, foi uma medida operacional positiva que permitiu identificar as fragilidades do sistema.

Directiva Operacional Nacional:

A Directiva Operacional Nacional de 2007 define o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais e a cadeia de direcção politica, a cadeia de comando operacional e a cadeia de comando nas operações. A consolidação da Directiva face aos conceitos do SIOPS foi um aspecto positivo, contribuindo de forma decisiva para o reforço da articulação entre os vários agentes de Protecção Civil e da unicidade do comando. Verificou-se igualmente um reforço da Força Operacional Conjunta, designadamente nas fases Bravo e Delta. Durante a fase Charlie, que constitui o período mais critico de combate aos incêndios florestais, estiveram disponíveis mais de 8.900 elementos. A profissionalização e especialização do dispositivo de ataque inicial (GIPS, FEB-C e Sapadores Especiais do Exército), nomeadamente ao nível das equipas helitransportadas de ataque inicial foi um outro aspecto importante para a redução significativa das áreas ardidas. Ainda como aspecto positivo, merece realce o reforço operado no conceito do Posto de Comando Operacional, com a integração plena dos organismos responsáveis pela gestão do território (DGRF e ICNB).

Page 114: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 114

Ainda no dispositivo integrado de meios de combate aos incêndios florestais merece uma nota positiva o protocolo de cooperação celebrado entre ANPC e AFOCELCA, que permitiu consolidar a participação dos meios das empresas de celulose na Força Operacional Conjunta.

Meios aéreos:

No capítulo dos meios aéreos, destaca-se o aumento da frota de meios aéreos e o reforço da capacidade de ataque inicial helitransportado. Uma medida assertiva na concretização dos objectivos do ataque inicial musculado aos fogos nascentes. A aquisição de meios permanentes do Estado para missões de Protecção Civil, foi considerado uma medida positiva, sobretudo se tomarmos em consideração os desafios futuros para a constituição de um mecanismo Europeu de Protecção Civil. A constituição da EMA – empresa de meios aéreos, SA, destinada à gestão dessa frota, foi posta em causa sendo considerado a Força Aérea Portuguesa como a solução mais vantajosa. Contudo, essa solução poria em causa a participação portuguesa num corpo conjunto à escala da UE. O atraso da certificação da EMA como operador de trabalho aéreo pelo INAC, condicionam a exploração comercial dos meios adquiridos e impossibilitam a produção de receitas.

Grandes incêndios florestais:

A constituição do Grupo de Análise e Uso do Fogo é um aspecto positivo no apoio à gestão estratégica dos grandes incêndios, que permitiu o uso de técnicas de combate indirecto, designadamente do contra-fogo. O protocolo celebrado entre a ANPC e a UTAD para a avaliação do desempenho do dispositivo em ataque ampliado é um outro aspecto que mereceu o nosso aplauso e cujos resultados poderão contribuir para melhorar a Directiva Operacional Nacional de 2008. O estudo da UTAD sobre o ataque ampliado evidenciou carências importantes ao nível da formação e nos meios de comunicação. Acresce, a falta de gestão dos meios nesses teatros de operação complexos, onde a integração de novas tecnologias, designadamente ao nível dos sistemas de planeamento e apoio à decisão se afiguram determinantes para um aumento do desempenho desses meios em ataque ampliado.

Nas Áreas Protegidas:

O ano de 2007 registou 326 ocorrências nas Áreas Protegidas, um decréscimo de 48% face a 2006 e tinha contabilizado 1.810ha de área ardida até 30 de Setembro. Os incêndios de Outono contabilizaram mais 317 ocorrências e 1.200ha de área ardida. O aumento do número de ocorrências comparativamente ao ano transacto (2006: 643 ocorrências) deve merecer reflexão por parte do ICNB na definição das estratégias de sensibilização e dissuasão a implementar em 2008. Verifica-se que apesar do esforço significativo do Ministério do Ambiente na melhoria dos equipamentos e da formação dos meios adstritos à vigilância e ao ataque inicial, as políticas de ordenamento do território nas Áreas Protegidas ainda são insuficientes, traduzindo-se em paisagens vulneráveis aos incêndios florestais.

Page 115: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 115

4. BALANÇO DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS DE 2007

O ano de 2006, como se deu conta no último relatório da anterior Comissão Eventual para os Fogos Florestais, registou uma redução da área ardida face aos registos apurados desde o início do século. O ano de 2007 viria assim a confirmar a tendência decrescente das áreas ardidas em espaços florestais com o registo de 16.600ha contabilizados até final de Setembro, resultantes de cerca de 10.400 ocorrências. O Outono, que apresentou condições meteorológicas anómalas de risco de incêndio, viria a contribuir para um aumento significativo da área ardida e do número de ocorrências, contabilizado em 46,5% e 43,4%, respectivamente. Esta situação é objecto de análise própria no capítulo 4.3 deste relatório.

Os valores provisórios apurados no final ao ano, cifrados em 31.000ha, são um registo impar, desde que se começaram a registar de forma sistemática as estatísticas dos incêndios florestais em Portugal em 1980. Apenas os anos de 1988 e 1997, com uma área ardida de 22.434ha e 30.535ha, respectivamente, apresentam um registo melhor.

Os registos estatísticos apurados pela DGRF relativos ao primeiro semestre já deixavam indícios de que este poderia ser um ano com bons resultados. Recordamos a esse propósito, as palavras tecidas pelo Ministro da Agricultura aquando da audição parlamentar de 11 de Julho: “É um relatório que dá o número das ignições deste ano, o número de hectares afectados com as correspondentes ignições, o ponto da situação, que é radicalmente diferente da dos anos anteriores, pois tivemos um ano com chuvas mais espaçadas, mais regulares. Ainda que o IM diga que não é um ano normal, que estamos abaixo da média, o que é um facto é que temos o total, até ao fim de Junho, de 1161 hectares de área ardida, onde apenas há 411 hectares de povoamento, ou seja, muito menos do que aquilo que foi a média dos últimos cinco anos, que era de 8900 hectares. A nível de ignições, os números também são francamente bons, mas a diferença não é tão grande: praticamente temos metade das ignições médias do período de 2002 a 2006, ou seja, temos 3159, quando a média dá 7909”.

Neste capítulo de balanço dos incêndios florestais de 2007 são apresentadas as condições meteorológicas de risco de incêndio que prevaleceram durante o período critico de incêndios florestais a partir da informação disponibilizada pelo Instituto de Meteorologia15, bem como uma análise sucinta da informação estatística dos incêndios florestais, com base na informação pública disponibilizada pela Direcção-Geral dos Recursos Florestais.

15 Os relatórios produzidos mensalmente pelo Instituto de Meteorologia sobre a evolução do risco de incêndio podem ser consultado na Internet no endereço: http://www.meteo.pt/pt/publicacoes/relatorios/relatorio_meteor.jsp

Portugal Continental - Incêndios florestais 2007

Incêndios Fogachos Total % Povoamento Matos Total %Até 30 Setembro 1.567 8.828 10.395 56,6% 7.583 9.022 16.605 53,5%1 de Out. a 31 Dez. 2.086 5.887 7.973 43,4% 1.827 12.630 14.457 46,5%Total 3.653 14.715 18.368 9.410 21.652 31.062

Média 97-2006 6.438 21.060 27.498 87.133 75.340 162.473

Nº de ocorrências Área ardida

Page 116: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 116

4.1. As condições meteorológicas de risco de incêndio no período crítico

O Verão de 2007 foi classificado como o menos quente e mais chuvoso deste século tendo-se, mesmo, registado as temperaturas médias do ar mais baixas dos últimos 20 anos, de acordo com o comunicado de imprensa emitido em 31 de Agosto pelo Instituto de Meteorologia. Importa salientar que no Verão de 2007 não ocorreram ondas de calor, o que não se registava desde 1997. Igualmente registou-se que o Verão de 2007 foi aquele registou maior pluviosidade dos últimos anos. Apesar de tudo, como conclui o Instituto de Meteorologia, as condições meteorológicas registadas enquadram-se perfeitamente na variabilidade climática observada em Portugal continental. Na perspectiva de Duarte Caldeira, Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, a pluviosidade superior ao normal ao permitir um período continuado de manutenção de humidade do solo foi o factor determinante para a redução dos níveis de combustibilidade e assim permitiu reduzir a força de progressão dos incêndios.

Quando analisado o índice meteorológico de risco de incêndio16 em 2007, verificou-se que este apresentou valores baixos para a época, quando comparado com período homólogo de anos anteriores (Figura 24). Assim, entre 15 Maio e 30 Setembro de 2007 (fases Bravo e Charlie) ocorreram períodos com condições meteorológicos pouco severas intercalados com situações de risco agravado, em especial a partir dos últimos dias de Julho até meados de Setembro. Durante esse período foram registados alguns dias que igualaram ou até mesmo ultrapassaram a gravidade das condições registadas localmente no passado. O risco acumulado, em termos meteorológicos, em 2007, foi muito próximo daquele que foi o risco de 2001 e de 2002, mas, apesar de tudo, nalguns períodos, mais baixo. Contudo, o risco registado em Agosto só é ultrapassado em 2005 e 2006 e, no mês de Setembro, foi mesmo o segundo ano de maior risco, só ultrapassado pelo ano de 2005.

0

10

20

30

40

50

60

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

Dias

Med

ia d

o FW

I

FWI-2003 FWI-2004 FWI-2005 FWI-2006 FWI-2007 FWI-88_05

Maio Junho Julho Agosto Setembro

Figura 24: Evolução diária do índice de risco meteorológico de incêndio – fases Bravo e Charlie 2007 (fonte: IM, 2007).

16 FWI – Índice Meteorológico de Perigo de Incêndio do Sistema Canadiano FWI (Fire Weather Index).

Page 117: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 117

Um outro indicador meteorológico importante na análise dos incêndios florestais é o índice de severidade diária17. Este índice também apresentou uma evolução diária muito inferior ao registo nos anos anteriores. Contudo, verificou-se que os valores mais elevados coincidiram com a ocorrência de grandes incêndios florestais (Figura 25), designadamente os períodos compreendidos entre 27 e 30 de Julho e entre 18 e 23 de Agosto, durante o qual o vento predominou do quadrante Norte e soprou moderado, por vezes forte e com rajadas. Este aspecto denota a relação que existe entre os grandes incêndios florestais e as condições meteorológicas potenciadoras da sua propagação dos incêndios, designadamente quando o valor deste índice se situa na ordem dos 20 pontos.

0

500

1000

1500

2000

M aio Junho Julho Agosto Setembro Outubro0

10

20

30

40

Figura 25: Relação entre o índice de severidade diária (DSR) e a área ardida (fonte: DGRF, 2007).

Em conclusão, assistiu-se em 2007 a um desagravamento generalizado do risco meteorológico de incêndio florestal face aos anos anteriores, apesar de se terem registado alguns períodos de risco elevado. O mês de Agosto registou os valores médios mais elevados deste índice meteorológico. Este desagravamento encontrou correspondência em termos operacionais ao nível do Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro, com a activação do nível alerta amarelo do dispositivo de combate aos incêndios florestais em apenas 19 dias, conforme se verifica na tabela 23. Refira-se que em 2006 o alerta amarelo foi activado em 21 dias e o alerta laranja em 18 dias.

Tabela 23: Dias de alerta (amarelo e laranja) durante o período crítico 2007 (fonte: DGRF, 2007).

Alerta/Mês Julho Agosto Setembro Totais (%) Alerta Azul 27 25 21 73 79%

Alerta Amarelo 4 6 9 19 21% Alerta Laranja 0 0 0 0 0%

Totais 31 31 30 92 Dias alerta (%) 13% 19% 30% 21%

17 DSR – Daily Severity Rating, índice integrante do sistema canadiano de aferição de risco de incêndio, que representa a severidade diária das condições meteorológicas potenciadores do risco de incêndio florestal. Este índice pretende representar a dificuldade de controlo de um incêndio florestal, estando directamente associado ao esforço necessário para suprimir um incêndio.

Page 118: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 118

4.2. Os principais números dos incêndios florestais de 2007

De acordo com os números apresentados no último relatório da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, até final do período crítico de incêndios florestais (30 de Setembro), foram contabilizados 10.397 ocorrências que resultaram num total de área ardida de 16.605ha, dos quais 7.583ha de povoamentos e 9.022ha de matos e incultos (acrescem a este valores 3.997ha de área agrícola ardida). Refira-se que o pinheiro bravo e o eucalipto foram as espécies florestais mais afectadas pelos incêndios A tabela 24, extraída do relatório técnico da DGRF, compara os valores apurados em 2007, com o período homólogo (1 de Janeiro a 30 de Setembro) no último quinquénio.

Tabela 24: Quadro comparativo do numero de ocorrências e área ardida 2002 – 2007 (01/01 a 30/9) (fonte: DGRF, 2007)

Ocorrências Área ardida (ha) Anos Incêndios

Florestais Fogachos

(Área <1ha) Total Povoamentos Matos Total

2002 6.476 19.892 26.368 65.131 59.217 124.348 2003 5.161 20.431 25.592 285.864 139.368 425.232 2004 4.380 15.167 19.547 54.695 69.407 124.102 2005 7.525 25.368 32.893 201.107 119.301 320.408 2006 3.392 15.987 19.379 36.271 39.064 75.335 2007 1.567 8.828 10.395 7.583 9.022 16.605

Média 2002-06 5.387 19.369 24.756 128.614 85.271 213.885

Da leitura da tabela da página anterior, ressalta que em 2007 os números totais registados quer para as ocorrências quer para a área ardida situam-se bastante abaixo dos valores verificados em qualquer um dos anos anteriores. Quando comparados os registos do corrente ano com os valores médios apurados no quinquénio anterior, verifica-se que houve menos 14.361 ocorrências e arderam menos 197.280ha. Os números apurados, como frisou o Ministro da Administração Interna, significam que “tivemos, em 2007, menos 43% de ocorrências do que em 2006 e menos 56% de ocorrências do que na média dos últimos cinco anos. Em contrapartida, registamos, em 2007, menos 77% de área ardida do que em 2006 e menos 92% de área ardida do que na média dos últimos cinco anos”. O Ministro do Ambiente, nessa perspectiva, enfatizou as melhorias no ataque inicial, pois “quando cerca de 80% das ignições não levam a que arda mais de 1ha estamos quase a chegar aquilo que é desejável”.

Este sentimento de mudança é também demonstrado pelo Ministro da Agricultura, que destacou a redução do número de ignições. Como analisou nesta Comissão, “comparando períodos de dias e de semanas de risco elevado com iguais períodos dos anos anteriores, temos menor número de ignições. Ora, isso prende-se, quanto a nós, a dois factores: por um lado, a sensibilização – e verifica-se uma mudança do comportamento cívico dos portugueses – e, por outro, o reforço da vigilância com a concentração na GNR desse papel, que musculou essa vigilância e foi também um elemento dissuasor, com resultados óbvios”.

As figuras 26 e 27 da página seguinte atestam a evolução diária do número de ocorrências e da área ardida, registada entre 15 de Maio e 30 de Setembro (2002/2007), onde é possível evidenciar os resultados obtidos em 2007 face ao ultimo quinquénio.

Page 119: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 119

Neste capítulo, merece ser assinalado a divulgação pela primeira vez de uma estimativa da perda de valor da floresta portuguesa por acção dos incêndios florestais e das consequentes emissões de CO2. Os valores apresentados no relatório da DGRF reportam ao valor médio perdido pela floresta portuguesa entre 2002 e 2006, estimado em 307 M€ em e emissões para a atmosfera na ordem de 1,6 milhões de toneladas de carbono por ano. Os resultados apurados até 30 de Setembro de 2007, face aos valores de referência, permitiam obviar a perda de cerca de 283 M€, e, bem assim, evitar a emissão para a atmosfera de quase um milhão e meio de toneladas de carbono.

Figura 26: Evolução diária do número de ocorrências – 2002/2007 (fonte: DGRF, 2007).

Figura 27: Evolução diária da área ardida – 2002/2007 (fonte: DGRF, 2007).

Em termos da evolução mensal dos valores de área ardida e do número de ocorrências, verifica-se que o mês de Agosto continua a ter um grande peso nessa contabilidade ao contribuir com 44% da área ardida (7.380ha) e ¼ do número de ocorrências (2.600 ocorrências). Este ano há a assinalar o elevado número de ocorrências registado em Setembro (3.420 ocorrências), um registo que ultrapassa a média deste mês no ultimo quinquénio (3.270), a que corresponderam perto de 4.800ha, sobretudo em terreno cobertos por matos e incultos (78%), conforme se ilustra na figura 28 da página seguinte.

Page 120: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 120

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

4.500

Jane

iro

Fevere

iro

Março

Abril

MaioJu

nho

Julho

Agosto

Setembro

area

ard

ida

(ha)

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

n.º

ocor

rênc

ias

PovoamentosMatosocorrências

Figura 28: Evolução mensal do número de ocorrências e área ardida em 2007 (fonte: DGRF, 2007).

Na Rede Nacional de Áreas Protegidas, até final de Setembro, arderam 1.800ha (12% do total nacional), tendo o Parque Natural do Vale do Guadiana sido a área protegida mais atingida com 1.130 hectares, resultantes de dois grandes incêndios florestais.

Os resultados contabilizados em Portugal quando reportados ao espaço europeu, ganham uma outra expressão. De acordo com a informação do Centro de Investigação Comum da Comissão Europeia (JRC) estima-se durante o Verão tenham sido percorridos por incêndios florestais cerca de 1 milhão de hectares, sobretudo nos países do Leste Europeu e Mediterrâneo Oriental, com destaque para a Grécia, onde se registou uma área ardida superior a 270.000ha e mais de 70 pessoas mortas em consequência dos incêndios florestais. A área ardida em Portugal nesse período – 16.600ha - correspondeu a cerca de 2% do computo europeu e a aproximadamente 3% da área ardida nos 5 países do Sul da Europa (Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia).

Page 121: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 121

IDEIAS-CHAVE dos incêndios florestais de 2007:

1. O verão de 2007 constituiu o melhor resultado dos últimos vinte e sete anos: o valor de 16.605ha apurado no final de Setembro constitui o valor mais baixo desde 1980, correspondendo a 9% do valor médio da área ardida registado entre 2000 e 2007. As condições meteorológicas mais amenas registadas este ano são um contributo importante, mas não explicam tudo. De acordo com o relatório da DGRF, 2007 teve os valores mais baixos de severidade meteorológica dos últimos anos, sendo comparável ao ano de 2002 (figura 29), que registou 124.350ha de área ardida em período homólogo.

Figura 29: Evolução do índice de severidade diário (DSR) acumulado – 2002/2007 (fonte: DGRF, 2007).

2. O número de ocorrências continua a ser muito elevado: apesar de se ter assistido a uma diminuição significativa do número de ocorrências face ao quinquénio (decréscimo de 11.900 ocorrências) este valor continua elevado. A diminuição do número de ocorrências face a 2006 incidiu nas áreas do litoral e de maior densidade populacional. Os distritos do Porto, Braga e Lisboa, de maior densidade populacional, registam o maior numero de ocorrências (4.299 ocorrências – 44% do total nacional, das quais 89% são ocorrências de reduzida dimensão (fogachos < 1ha)). As características “peri-urbanas” dos incêndios florestais constituem uma preocupação crescente da Protecção Civil e do Ordenamento do Território à escala europeia e mesmo à escala global, como os incêndios ocorridos na Grécia e na Califórnia bem demonstraram.

3. Houve uma tendência muito forte de um aumento do número de ocorrências nocturnas, um pouco por todo o país, mas centrada mais na zona Norte/Centro.

4. As condições meteorológicas excepcionais são determinantes para o desenrolar dos grandes incêndios: as condições meteorológicas excepcionais de severidade diária (DSR ≥ 20) determinaram a ocorrência de grandes incêndios, cujo combate foi dificultado pela acção do vento. Refira-se que mais de metade da área ardida resultou dos grandes incêndios. Contudo há que assinalar que apenas se registou um incêndio com área superior a 1.000ha, o que indicia uma melhoria progressiva do sistema de combate.

5. O computo final da área ardida em 2007 identifica os distritos de Braga (4.509 ha), Guarda (4.348ha) e Vila Real (3.207 ha) como aqueles com maior área ardida. Refira-se, porém, que no final do período crítico de incêndios florestais mais de 1/3 da área ardida estava contabilizada nos distritos da Guarda, Santarém e Beja. A figura 30 apresenta, de forma gráfica, a informação anteriormente sintetizada.

Page 122: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 122

Figura 30: Cartografia da distribuição distrital das ocorrências e áreas ardidas – Setembro 2007 (Fonte: DGRF, 2007).

Page 123: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 123

4.3. Os incêndios de Outono

O Outono de 2007 registou alguns períodos com condições meteorológicas anómalas de risco meteorológico de incêndio (FWI), muito acima da média dos últimos anos como se evidencia na figura 31.

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Setembro Outubro NovembroDias

Med

ia d

o FW

I

FW I-2003 FW I-2004 FW I-2005 FW I-2006 FW I-2007 FW I-88_06 Figura 31: Evolução diária do índice de risco meteorológico de incêndio – 1/9 a 30/11/2007 (fonte: IM, 2007).

Durante os primeiros quatro dias de Novembro registaram-se 16 vezes mais ocorrências do que durante todo o mês homólogo de 2006. De acordo com dados oficiais, nesse período foram registados 1.123 ocorrências, com um pico no Domingo, quando se contabilizaram 302 ocorrências. Em Novembro de 2006 apenas se haviam registado 68 ocorrências, que destruíram um hectare de floresta e cinco hectares de mato.

Num primeiro apuramento estatístico, contabilizaram-se 7.970 ocorrências e 14.500ha de área ardida, 87% dos quais de terrenos com matos. A figura 32 ilustra a evolução da área ardida e do n.º de ocorrências entre o final de Setembro e o dia 20 de Novembro, que correspondeu ao inicio do desagravamento das condições de risco de incêndio.

Figura 32: Evolução do número de ocorrências e área ardida entre 30/9 e 20/11/2007

(fonte: DGRF, 2007).

0

5000

10000

15000

20000

25000

30-Set 15-Out 20-Nov

area

ard

ida

(ha)

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

18000

20000

n.º o

corr

ênci

asPovoamentosMatosn.º ocorrências

Page 124: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 124

Estes incêndios ocorreram sobretudo no Norte do País, designadamente nos sistemas montanhosos da zonas Leste do Minho e na zona Oeste de Trás-os-Montes, com grande incidência no Parque Nacional da Peneda-Gerês, no sistema Alvão – Marão – Montemuro e ainda no Parque Natural de Montesinho, no distrito de Bragança, como se pode observar na figura 33, a partir dos “hot spots” identificados pelos satélites da NASA.

Figura 33: Cartografia da distribuição “hot spots” (NASA/ MODIS)

entre 2 e 20 de Novembro (Fonte: ICNB, 2007).

Naquelas regiões montanhosas, as práticas agrícolas e silvo-pastoris têm ainda uma grande relevância, sendo comum, nessas zonas, realizar queimadas como forma de renovar as pastagens para os anos seguintes. De facto, estas ocorrências tiveram lugar, na sua grande maioria, em terrenos ocupados com matos, tradicionalmente sujeitos a elevada frequência de queimas. Os resultados da investigação das causas dos incêndios florestais realizada pela GNR corroboram esta afirmação, já que a renovação de pastagens foi a causa apurada em 56% das investigações com causa determinada.

Acontece que este ano as condições atmosféricas foram anormalmente secas e quentes para aquela época do ano, o que motivou que um fogo “fácil” de controlar nas condições habituais de chuva e temperatura pudesse nas circunstâncias descritas escapar ao controlo dos pastores e agricultores que os ateiam. A informação do Instituto de Meteorologia (Figura 34) é esclarecedora quanto a essa diminuição de água no solo, designadamente no NW de Portugal.

Do ponto de vista técnico, são incêndios florestais que apresentam pouca intensidade, portanto, uma capacidade destrutiva reduzida e têm como efeito positivo a diminuição da carga combustível em zonas de risco, bem como a minimização de incêndios florestais nos períodos críticos do ano seguinte. No entanto, existe um “reverso da medalha” que é o facto de potencialmente poderem provocar incêndios de envergadura e apresentarem despesa efectiva na aplicação dos meios.

Figura 34: Variação % da precipitação no mês de Novembro (Fonte: IM, 2007).

Page 125: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 125

O Governo esteve atento à evolução destes acontecimentos, tendo o Gabinete do Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas emitido no dia 7 de Novembro um comunicado em que era produzido um ponto de situação sobre os incêndios em Novembro e deixado um alerta às populações rurais para não realizarem actividades agrícolas que impliquem o uso do fogo enquanto se mantiverem as condições de meteorológicas de risco de incêndio e cujo passamos a transcrever integralmente:

Ponto de situação dos incêndios florestais

Os últimos dados estatísticos indicam que já arderam 7.794 hectares de povoamentos e 16.084 hectares de matos o que significa um total de 23.878 hectares de 1 de Janeiro até 7 de Novembro.

Note-se que no mês de Novembro se tem registado condições meteorológicas propícias à ocorrência e propagação de incêndios, invulgares para a época. Refira-se que desde 1 de Novembro há o registo de pelo menos dois incêndios com mais de 300 hectares e que só neste últimos dias registaram se mais de 300 incêndios florestais e mais de 800 fogachos.

Todos estes dados são provisórios na medida em que neste momento, ainda lavram incêndios cuja extinção apresentam dificuldades devido às actuais condições atmosféricas.

Grande parte dos actuais incêndios tem origem em práticas agrícolas que costumam realizar-se com a chegada do Outono quando as primeiras chuvas permitem a sua realização com os níveis de segurança apropriados. Acontece que este início de Outono está a ser marcado pela ausência de precipitação e a ocorrência de ventos de Leste (secos). Tal situação leva a que os níveis de humidade dos combustíveis (material vegetal), sejam particularmente baixos e, deste modo, o risco de incêndio é superior ao habitual nesta altura do ano.

Assim, urge alertar as populações rurais para que, apesar das baixas temperaturas verificadas no período nocturno, não devem desenvolver actividades agrícolas que implicam o uso do fogo enquanto se mantiverem as condições actuais.

Acresce aliás, que de acordo com os artigos 27.º, 28.º e 29.º do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, não é permitida a queima de sobrantes, a realização de fogueiras, o lançamento de foguetes e outras formas de fogo, não só durante o período crítico, mas também sempre que o risco de incêndio seja muito elevado. No caso das queimadas a restrição aplica-se sempre que o risco seja elevado.

As classes de risco de incêndio para os concelhos do Continente são diariamente disponibilizadas através do site do Instituto de Meteorologia (http://www.meteo.pt/pt/previsao/riscoincendio/risc_class_conc.jsp).

Por último, é importante referir que os incêndios recentes não apresentam normalmente um grau de destruição tão grave como os do Verão. Tratam-se na generalidade de incêndios com menor intensidade e, muitas vezes com efeitos positivos já que reduzem a carga combustível em zonas de risco.

Page 126: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 126

O Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais foi objecto de um reajustamento para fazer face aos incêndios ocorridos neste período, que decorreu durante a Fase Delta. Assim, na sub-fase da Fase Delta de 01 a 15OUT, foram disponibilizados os seguintes meios em permanência: 1244 combatentes, 232 veículos e 14 meios aéreos. De acordo com a Directiva Operacional Nacional n.º 2/2007, na fase seguinte, a sub-fase da Fase Delta de 16OUT a 31DEZ, os meios são disponibilizados á ordem de acordo com a evolução do risco, das situações e da resposta.

Face ao agravamento da situação verificado nos primeiros dias de Novembro e com a previsão de continuidade do tempo seco, apesar das temperaturas baixas, a ANPC decidiu reforçar os meios de combate e coordenar com a DGRF, ICNB, Forças Armadas, GNR e PJ, o aumento das acções de vigilância, fiscalização e investigação no norte do país, especialmente nos Distritos de Viana do Castelo, Braga e Vila Real.

Assim, no período entre o dia 7 de Novembro e o dia 20 de Novembro, foram reforçados os meios naqueles distritos, num total de 617 elementos, 107 veículos e 4 helicópteros de combate: DGRF: 30 equipas de sapadores florestais para vigilância e 1ª intervenção; 4 equipas GAUF; ICNB: Reforço do Parque Natural Peneda - Gerês, com 4 equipas de vigilância e 1ª intervenção e 3 técnicos. PJ: Reforço das equipas de investigação das causas dos incêndios. GNR: 6 equipas dos GIPS + 4 equipas helitransportadas; Reforço da acção na sensibilização e fiscalização de

práticas não autorizadas negligentes e perigosas do uso do fogo; Forças Armadas: 11 equipas (Plano Vulcano) - Norte de Viseu. ANPC: Corpos de Bombeiros - Accionamento de 2 colunas nacionais de incêndios florestais, num total de 220

elementos e 48 veículos; Accionamento de 3 grupos de combate, 1 por distrito, num total de 75 elementos e 18 veículos; Reforço através da FEB-Canarinhos, com 6 equipas, 30 elementos e 6 veículos; Reforço de meios aéreos com localização de 2 Helicópteros ligeiros, da frota do Estado, em Fafe e a deslocação do helicóptero permanente de Loulé para junto do outro Heli permanente da ANPC, estacionado em Santa Comba Dão.

Durante este período de incêndios de Outono, há a lamentar o acidente ocorrido no dia 10 de Novembro com um helicóptero ligeiro ECUREILLE, no combate a um incêndio florestal em Melgaço, no qual faleceu o piloto. Aquele helicóptero integrava a frota da Empresa de Meios Aéreos e estava ao serviço da ANPC. Este acidente foi objecto de inquérito por parte do INAC.

Em resumo, estes incêndios de Outono, dada a especificidade das causas que estão inerentes à sua ignição – as queimadas ilegais para a renovação de pastagens de montanha, resultam numa matéria que, em nosso entender, deverá ser enquadrada numa política de intervenção nos espaços florestais com recurso à técnica do fogo controlado. Estas queimas deverão ser contextualizadas numa perspectiva de maior cooperação técnica com os pastores e inseridas nos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios e nos Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas, num horizonte temporal plurianual. Tal como havia sido recomendado ao Governo no último relatório da Comissão eventual para os Fogos Florestais, “uma particular atenção deve ser dada no acompanhamento técnico e pedagógico de pastores e agricultores para prevenir

Page 127: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 127

riscos em práticas culturais tradicionais”, sendo esta uma matéria onde o envolvimento dos técnicos que no Verão integram as equipas GAUF e as equipas de sapadores florestais, em prestação do serviço público, teriam um espaço privilegiado para actuar.

Igualmente, em nosso entender, importa rapidamente criar as condições para a aplicação da legislação vigente no licenciamento das queimadas, designadamente o art.º 27.º do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho:

1 — A realização de queimadas, definidas no artigo 3.o, deve obedecer às orientações emanadas pelas comissões municipais de defesa da floresta contra incêndios. 2— A realização de queimadas só é permitida após licenciamento na respectiva câmara municipal, ou pela junta de freguesia se a esta for concedida delegação de competências, na presença de técnico credenciado em fogo controlado ou, na sua ausência, de equipa de bombeiros ou de equipa de sapadores florestais. 3 — Sem acompanhamento técnico adequado, a queima para realização de queimadas deve ser considerada uso de fogo intencional. 4 — A realização de queimadas só é permitida fora do período crítico e desde que o índice de risco temporal de incêndio seja inferior ao nível elevado.

Page 128: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 128

4.4. Os incêndios florestais nas Áreas Protegidas

As Áreas Protegidas constituíram um dos aspectos focados no plano de visitas parlamentares realizadas pelos Deputados desta Comissão Eventual durante o Verão. Nessa ocasião, como se relatou no capitulo 2.3.3, foram visitados o Parque Nacional da Peneda-Gerês, o Parque Natural da Serra da Estrela, o Parque Natural da Arrábida, o Parque Natural do Vale do Guadiana e o Parque Natural da Serra de S. Mamede.

Na audição parlamentar realizada com o Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Francisco Nunes Correia em 16 de Outubro, foi apresentada uma análise dos incêndios florestais nas Áreas Protegidas, que de acordo com os registos do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, em 30 de Setembro, somavam 1.810ha de áreas ardidas, em resultado de 326 ocorrências. Desse conjunto de ocorrências, 267 correspondiam a incêndios com menos de 1ha; 56 a incêndios entre 1 e 100ha e apenas três a incêndios com mais 100ha. Destes três grandes incêndios, dois ocorreram no Parque Natural do Vale do Guadiana, tendo um terceiro ocorrido no Parque Natural de Sintra-Cascais, em Cabeço da Pernigem, onde arderam 256ha; estas três ocorrências corresponderam a 72% da área ardida apurada nas Áreas Protegidas até então.

O Ministro do Ambiente, Nunes Correia, na análise que fez aos números apresentados, considerou dois factores decisivos: a aleatoriedade do fenómeno e também a capacidade de ataque muito rápida. No seu entender, “o facto de em 2007, cerca de 80% das ignições, terem dado origem a fogos onde ardeu menos de 1ha, mostra, verdadeiramente, a capacidade do primeiro ataque, da primeira intervenção e que estamos no caminho certo. Aliás, creio que podemos tirar a seguinte conclusão: com a excepção do Vale do Guadiana, os fogos foram precocemente controlados e esse é o desígnio número um que nos cabe procurar alcançar”. Esse foi um aspecto que Nunes Correia enfatizou ao afirmar que “é indesmentível que os meios mobilizados, e sobretudo a articulação desses meios, a capacidade de fazer avançar os meios no momento oportuno, teve um papel que não pode ser ignorado” ao analisar os dados dos incêndios apurados no todo nacional. A esse propósito, concluiu que em 2007 foram dados “passos significativos”.

Numa análise histórica das ocorrências de 2007 nos registos do últimos quinze anos nas Áreas Protegidas, verifica-se que os valores de área ardida apurados pelo ICNB a 30 de Setembro – 1.810ha, representam o segundo valor mais baixo nos últimos 15 anos (1997, com 1.555ha de área ardida, representa o valor mais baixo desse período). Quando comparados com o ultimo quinquénio, cuja área ardida anual em média cifrou-se em 15.830ha, estamos igualmente perante um decréscimo significativo de perto de 90%. Relativamente ao número de ocorrências, o registo de 326 ocorrências corresponde a um decréscimo igualmente significativo de 48%.

Os incêndios de Outono, com grande incidência no Parque Nacional da Peneda-Gerês, designadamente nas zonas da Serra Amarela, Castro Laboreiro e Pitões das Júnias/Covelães (Montalegre), vieram adicionar ocorrências e área ardida à contabilidade apresentada. Verificou-se que estes incêndios traduziram-se num aumento de pelo menos 1.200ha e 317 ocorrências; valores significativos no cômputo de 2007, que correspondem a um aumento de 2/3 na área ardida e quase que duplicam o número de ocorrências.

Page 129: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 129

Mesmo assim, os valores globais apurados em 2007 revelam um decréscimo significativo face à área ardida de 12.555ha contabilizada no final de 2006. Já o ligeiro aumento do número de ocorrências comparativamente ao ano passado (2006: 537 ocorrências) deve merecer uma reflexão por parte do ICNB na definição das estratégias de sensibilização e dissuasão a implementar em 2008, na qual, em nosso entender, a GNR deverá assumir especial protagonismo, designadamente na mobilização das patrulhas motorizadas dos GIPS nos períodos mais críticos do risco de incêndios.

A tabela 25 resume os valores apurados nas Áreas Protegidas, com a diferenciação entre o período até 30 de Setembro e o período de Outono.

Tabela 25: Numero de ocorrências e área ardida nas Áreas Protegidas (fonte: ICNB, 2007).

01/01 a 30/09 01/10 a 31/12 TOTAL 2007 TOTAL 2006 ocorrências área ardida(ha) ocorrências área ardida(ha) ocorrências área ardida(ha) área ardida(ha) Variação

PNPeneda-Gerês 24 39 130 753 (a) 154 792 6059 -87% PN Montesinho 41 104 71 217 112 322 120 168% PN Litoral Norte 0 0 0 0 0 0 14 -100% PN Alvão 6 21 3 36 9 57 18 215% PN Douro Int. 35 131 30 38 65 169 419 -60% PNS Estrela 58 30 47 137 105 167 815 -80% PN Tejo Int. 0 0 0 0 0 0 43 -100% PNSA Candeeiros 10 12 4 6 14 18 4130 -100% PNSS Mamede 59 64 8 20 67 84 26 221% PNS Cascais 51 261 22 11 73 272 12 2167% PN Arrábida 6 21 0 0 6 21 27 -23% PNSAC Vicentina 9 2 2 8 11 10 99 -90% PNV Guadiana 11 1131 0 0 11 1131 773 46% PNR Formosa 0 0 0 0 0 0 0 --- TOTAL 326 1816 317 1226 627 3042 12.555 -76% Obs.: Os dados mencionados consideram-se provisórios em virtude de se aguardar a apresentação dos dados finais pelas AP. (a) valores provisórios.

Os incêndios no Parque Natural do Vale do Guadiana

O Parque Natural do Vale do Guadiana foi a Área Protegida mais afectada pelos incêndios florestais neste Verão, tendo registado 1.130 hectares de área ardida, os quais foram responsáveis por quase 2/3 do total contabilizado pelo ICNB até 30 de Setembro, resultantes, em grande parte, de dois grandes incêndios florestais e “porventura, onde ocorreram as consequências mais graves” do ponto de vista da conservação da natureza, disse Nunes Correia. Esta Área Protegida já havia sido percorrida pelos incêndios florestais em 2006, tendo ardido 773ha, dos quais 512ha, em consequência de três grandes incêndios, que consumiram sobretudo formações arbustivas.

O Parque Natural do Vale do Guadiana tem uma área de cerca de 70.000ha, distribuída pelos municípios de Mértola e Serpa. Inserido numa região com um clima tipicamente mediterrânico, de Verões quentes e secos e

Page 130: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 130

Invernos pouco chuvosos e frios, é aqui que se verificam as mais baixas precipitações do País e os mais elevados níveis de insolação e temperatura.

Conscientes desse conjunto de circunstâncias, os Deputados da Comissão Eventual realizaram, em 21 de Agosto, uma visita parlamentar a esta Área Protegida. Nesta visita teve lugar um briefing operacional distrital, onde os responsáveis do Parque Natural do Vale do Guadiana, da Câmara Municipal de Mértola e do Comando Distrital de Operações e Socorro de Beja informaram os Deputados das circunstâncias em que deflagraram estes grandes incêndios e das dificuldades sentidas no seu combate.

Os Deputados durante esta visita tiveram ainda a oportunidade de observar in situ a zona de inicio do primeiro grande incêndio (Figura 35) – Aldeia de Fernandes, ocorrido a 5 e 6 de Julho, de que resultaram 447ha de área ardida e ter uma melhor percepção das dificuldade no combate ao incêndio. Registou-se um segundo grande incêndio que ocorreu entre 29 e 30 de Julho, em Mesquita, onde arderam 609ha. Estes dois incêndios somam 1.056ha, tendo ambos ocorrido em zonas de risco de incêndio elevado, onde o relevo é acentuado e os acessos difíceis, que condicionaram a rapidez do ataque inicial e consequente eficácia dessas intervenções.

Figura 35: Zona de inicio do incêndio da Aldeia de Fernandes – Mértola. (Autor: Miguel Galante)

De facto, no caso do incêndio de Aldeia de Fernandes, aliado ao lapso da indicação da margem onde o fogo nascente foi detectado (fruto da orografia muito pronunciada), acresceu a demora adicional da chegada dos primeiros meios terrestres (que se deslocaram inicialmente para a margem oposta àquela onde efectivamente o incêndio tinha deflagrado, duplicando assim o tempo da primeira intervenção), acresceu uma avaliação por parte do comandante da equipa interveniente, o qual não requereu a intervenção dos meios aéreos, e finalmente, quando estes foram chamados, já não configuravam uma primeira intervenção, tanto mais que os mais próximos – Ourique e Algarve – se situavam a mais de 20 minutos de voo (num raio superior a 30 km).

Page 131: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 131

Desta visita parlamentar resultou a recomendação da Autoridade Nacional de Protecção Civil considerar, na preparação de 2008, a cobertura do Parque Natural do Vale do Guadiana com uma força ataque inicial helitransportado, dadas as características da orografia e dos acessos das zonas de elevado risco de incêndio desta área protegida, o que viria a ser confirmado pelo Ministro da Administração Interna aos Deputados aquando da audição parlamentar de 23 de Outubro.

Como referiu o Ministro do Ambiente, em ambos os caso foram afectados habitats classificados da Rede Natura, contudo, “não há situações muito dramáticas ou de recuperação muito difícil a considerar”, apesar de terem sido afectados montados de azinho no incêndio de Mesquita.

O Ministro do Ambiente explicou aos Deputados as medidas que estão a ser tomadas para evitar que esta situação se repita em 2008. Nesse sentido, foi assegurada dotação orçamental para a contratação de pessoal de apoio à vigilância, prevenção e primeira intervenção e, em conjunto com a Câmara Municipal de Mértola, está a ser preparada a mobilização do voluntariado jovem da autarquia de Mértola para ajudar à prevenção dos incêndios. A este propósito Nunes Correia enfatizou a “prática muito forte e interessante da Câmara Municipal de Mértola, que é a grande ênfase dada à mobilização de voluntariado, de participação da sociedade civil em várias tarefas da vida da comunidade”; como referiu “tive oportunidade de visitar o local e parece-me que há ali exemplos muito bons para o País todo”. Igualmente referiu que o Plano Operacional Municipal e o Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios de Mértola, (na altura em fase de conclusão) irão beneficiar a actividade de planeamento da protecção desta Área Protegida, refira-se que no seu entender a inexistência desses instrumentos de planeamento municipal condicionaram a capacidade de intervenção nesses grandes incêndios. Na sua intervenção, o Ministro do Ambiente explicou também que está “previsto pela Autoridade Nacional de Protecção Civil a cobertura de todo o território do Parque Natural do Vale do Guadiana por uma equipa helitransportada, o que não se verificou em 2007. Por outro lado, há diligências do parque e da câmara para a instalação de uma nova torre de vigia, numa zona pouco coberta, chamada zona do zurral, em S. Pedro de Sólis”.

O Ministro Nunes Correia informou ainda, como medida estrutural e de prevenção de médio e longo prazos, foi apresentada uma proposta ao MADRP para a criação de uma ITI – Intervenção Territorial Integrada, no quadro do Programa de Desenvolvimento Rural. Nesse sentido, o Ministro Nunes Correia informou que “há um grupo de trabalho já em actividade a estudar o problema, composto por técnicos do nosso Ministério e do Ministério da Agricultura, para que seja proposta a criação desta ITI, que dará seguramente um contributo de médio/longo prazo muito importante na preservação dos habitats no Vale do Guadiana”. Esta foi uma medida considerada importante no entender do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, que contudo, lamentou que estes projectos não tivessem sido colocados, logo, desde o início, em todas as áreas protegidas.

Naquele contexto, o Grupo Parlamentar do PSD alertou para o facto do Parque Natural da Serra de São Mamede também estar fora do PDR, tendo argumentado com a importância que a agricultura tem na criação de paisagens mais resilientes à progressão dos grandes incêndios naquelas regiões e para a promoção da biodiversidade. Refira-se que este assunto já havia sido abordado pelo mesmo parlamentar aquando da audição com o Ministro da Agricultura em 11 de Julho, relativamente à Serra Algarvia, tendo nessa ocasião merecido a concordância do titular da Pasta da Agricultura, com o compromisso de “à medida também que a sociedade civil tiver capacidade para ter projectos com dimensão, estruturados, com capacidade de gestão

Page 132: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 132

etc., (os planos zonais) irão avançar e eu, inclusive, já anunciei que parte das verbas da modelação serão, essencialmente, para criação de novos planos zonais”.

As ITI constituem os espaços privilegiados para a aplicação das novas medidas agro-ambientais e silvo-ambientais preconizadas no PRODER, destinadas a apoio a manutenção de sistemas agrícolas e florestais relevantes para a conservação de valores naturais e da paisagem rural. Estas medidas em 2007 aplicaram-se em nove ITI de Portugal Continental, sendo beneficiários destas medidas agricultores, produtores florestais ou proprietários de espaços florestais, de natureza privada, ou Órgãos de Gestão de Baldios. Plano de actuação do ICNB - 2007

O Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, no âmbito das suas competências nas Áreas Protegidas, que correspondem a 695.800ha, ou seja, cerca de 8% do território de Portugal continental, tem a responsabilidade da gestão preventiva desse território, designadamente na gestão da cobertura florestal, que é um elemento muito preponderante nessas Áreas Protegidas. Igualmente, nessa perspectiva, compete ao ICNB a gestão de combustíveis, a construção e beneficiação de aceiros, caminhos florestais e pontos de água para efeitos do apoio ao combate.

No quadro do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios e da Directiva Operacional Nacional, estão-lhe cometidas responsabilidades na vigilância, detecção, primeira intervenção e ainda o apoio ao rescaldo. Refira-se, a propósito deste plano, a ênfase colocada pelo ministro Nunes Correia na importância da articulação com outras entidades: “a Direcção-Geral dos Recursos Florestais, em primeiro lugar, a GNR e, especialmente, o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) e os serviços regionais e municipais de protecção civil, as autarquias locais e muitas organizações da sociedade civil que participam neste processo, desde associações de produtores florestais até às comissões dos baldios, juntas de freguesia”, esclareceu.

O plano de actuação do ICNB desenhado para 2007, como apresentou o Ministro do Ambiente, obedeceu a três linhas de orientação estratégica, “a primeira das quais tem em vista a redução do número de ignições, o que significa actuar sobre as causas. A segunda linha de orientação estratégica tem em vista a atenuação dos impactos, o que pretende obstar à propagação. A terceira linha de orientação estratégica tem em vista uma melhor monitorização e, sobretudo, o problema da recuperação depois dos incêndios”.

Em termos de gestão dos meios técnicos, foi dada particular atenção à estrutura de coordenação interna, com uma coordenação nacional ao nível do ICNB feita por três elementos particularmente preparados para esse fim, coadjuvada por sete coordenadores sub-regionais e uma equipa técnica de apoio, com quatro elementos, que dá apoio transversal, designadamente ao nível da monitorização e sistemas de informação. Neste contexto, o Ministro Nunes Correia relevou a reestruturação operada no ICNB que, no seu entender, possibilitou uma “melhor coordenação e articulação interna do ICNB”, alicerçada numa rede de interlocutores nos departamentos de gestão de áreas classificadas. Ou seja, em cada grupo de áreas classificadas há um interlocutor operacional que participa nos encontros distritais da protecção civil, no processo de mobilização de meios e que, declarado o incêndio, avalia das suas proporções. Como referiu Nunes Correia, este interlocutor “actuará sempre que for necessário passar dos

Page 133: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 133

meios de primeiro combate, assegurados pelo próprio ICNB, para meios de outra envergadura” onde tem um papel importante na condução do combate aos incêndios, de forma a procurar proteger populações e bens e valores naturais de grande importância para a conservação da natureza.

Na análise do Ministro do Ambiente, o reforço da cooperação com a Autoridade Nacional de Protecção Civil e, especialmente, com o Centro Nacional de Operações de Socorro e Centros Distritais de Operação de Socorro, foi um outro aspecto que mereceu destaque. “Os técnicos, os responsáveis do ICNB participaram em todos os briefings semanais. Nos incêndios de maior significado, para além das equipas de vigilância e de primeira intervenção, os técnicos do ICNB estiveram presentes junto do comando das operações, justamente para, com o conhecimento do terreno, poderem orientar as operações”, disse.

As telecomunicações constituíram o principal ponto fraco em 2007. O Ministro do Ambiente a esse propósito identificou que “registaram-se várias avarias no sistema do ICNB e este problema, em 2008, será ultrapassado, já que está a decorrer a aquisição de rádios de banda alta”.

Em termos dos meios operacionais, nas fases Alfa, Bravo e Delta, o ICNB contou com 20 equipas de vigilância e 25 equipas de primeira intervenção; na fase Charlie, considerada a mais crítica, estiveram no terreno 19 equipas de vigilância e 44 equipas de primeira intervenção (tabela 26 da página seguinte). Conforme informou Nunes Correia, “recentemente, foram adquiridas 16 viaturas, destinadas à primeira intervenção, que vão permitir alguns upgradings nas equipas de vigilância, de forma a que as equipas de vigilância possam também intervir na primeira intervenção”.

Em 2007, o Ministério do Ambiente, investiu também na melhoria do equipamento para as viaturas e no apetrechamento das equipas com equipamento de protecção individual, ferramentas de sapador, e material de apoio (binóculos, lanternas, medidores de bolso de condições atmosféricas, GPS, etc.). Igualmente, foi ministrada formação aos vigilantes da natureza sobre normas de segurança e técnicas de primeira intervenção. As 14 torres de vigia do ICNB, que integram a Rede Nacional de Postos de Vigia, foram transferidas para a GNR.

A introdução da técnica do fogo controlado na gestão das Áreas Protegidas foi uma outra novidade anunciada pelo Ministro do Ambiente. Com vista à prossecução deste objecto, 10 técnicos do ICNB estão a frequentar um curso de credenciação da técnica de fogo controlado (Figura 36) e três técnicos frequentaram o curso de avaliação de plano de fogo controlado. Como referiu Nunes Correia “em 2008, no Parque Natural da Serra de S. Mamede, vai haver pela primeira vez um plano de fogo controlado. Não me refiro a uma experiência, mas, sim, ao fogo controlado, assumido como uma medida essencial de prevenção de incêndios”. A propósito desta matéria importa aqui recordar que esta foi uma recomendação da anterior Comissão Eventual dos Fogos Florestais.

Page 134: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 134

Figura 36: Técnicos do ICNB participam em acção de formação de fogo controlado no Parque Natural da Serra de S. Mamede.

(Autor: Luís Grilo, 2007)

Ainda é merecedor da nossa atenção o protocolo celebrado com os Serviços Prisionais para a vigilância das matas, cujo balanço, na óptica do Ministro Nunes Correia, “foi extraordinariamente positivo”. Este protocolo decorreu no Parque Natural de Sintra-Cascais, com a possibilidade da mobilização até 75 presos, numero que não chegou a ser alcançado, decorrente das limitações impostas na selecção dos presidiários. Contudo, como Nunes Correia frisou “os presos estiveram envolvidos com motivação e com grande profissionalismo, grande sentido da tarefa que lhes coube, a colaborar na limpeza da floresta, em algum desmatamento, nomeadamente de espécies exóticas que não são desejáveis na mata, e contribuíram para uma valorização da floresta sob a superintendência do Monte da Lua como já há muitos anos não se fazia”.

Em conclusão, assistiu-se em 2007 à concretização de um conjunto de medidas ao nível do ICNB para assegurar uma melhor articulação entre os meios disponíveis nas Áreas Protegidas, os quais visam, sobretudo, a detecção e a primeira intervenção, com os meios globais da protecção civil, no quadro da Força Operacional Conjunta da Directiva Operacional Nacional.

Page 135: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 135

Tabela 26: Meios humanos de vigilância e primeira intervenção 2007 - ICNB (fonte: ICNB, 2007).

Fases Alfa, Bravo e Delta Fase Charlie

Equipas Vigilância /

N.º Elementos Equipas de Vigilância e

1.ª Intervenção / N.º Elementos Equipas Vigilância /

N.º Elementos Equipas de Vigilância e

1.ª Intervenção/N.º Elementos Paque Nacional da Peneda-Gerês 9 Equipas/18 Elementos 16 Equipas/80 Elementos

(12 eSF) 9 Equipas/18 Elementos 16 Equipas/80 Elementos (12 eSF)

PN Montesinho 2 Equipas/4 Elementos _ 2 Equipas/4 Elementos 3 Equipas/15 Elementos (1eSF)

PN Alvão 1 Equipa/3 Elementos 1 Equipa/5 Elementos 1 Equipa/2 Elementos 1 Equipa/5 Elementos

PN Serra da Estrela _ 4 Equipas/17 Elementos (3 eSF) _ 7 Equipas/ 35 Elementos

(3 eSF)

PN Serras de Aire e dos Candeeiros 1 Equipa/3 Elementos 4 Equipas/16 Elementos

(2 eSF) 1 Equipa/3 Elementos 4 Equipas /16 Elementos (2 eSF)

PN Arrábida / RN Est Sado _ 2 Equipas/4 Elementos _ 6 Equipas/12 Elementos

PN Serra de S. Mamede 2 Equipas/4 Elementos 1 Equipa/7 Elementos 1 Equipa/2 Elementos 3 Equipas/24 Elementos

PN Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina 1 Equipa/2 Elementos _ 2 Equipas/2 Elementos 2 Equipas/8 Elementos

PN Sintra-Cascais 2 Equipas/4Elementos 1 Equipa/3 Elementos 2 Equipas/4 Elementos 1 Equipa/3 Elementos

PN Ria Formosa _ 1 Equipa/4 Elementos _ 1 Equipa/4 Elementos

PN Vale do Guadiana 2 Equipas/4 Elementos 1 Equipa/2 Elementos 1 Equipa/2 Elementos 2 Equipas/4 Elementos

PN Douro Internacional 2 Equipas/4 Elementos 2 Equipas/4 Elementos _ 7 Equipas/ 29 Elementos (5 eSF)

PN Tejo Internacional _ _ 2 Equipas /3 Elementos 2 Equipas /3 Elementos

PN Litoral Norte 1 Equipa/2 Elementos _ 1 Equipa/2 Elementos _

RN Serra da Malcata 1 Equipa/2 Elementos 1 Equipa/2 Elementos 2 equipas/6 Elementos 2 Equipas /6 Elementos

RN Paul do Boquilobo _ 1 Equipa/6 Elementos 1 Equipa/6 Elementos

RN Estuário do Tejo _ 1 Equipa/2 Elementos 1 Equipa/2 Elementos 1 Equipa/2 Elementos

RN Sapal CMVR Santo António _ ** _ **

RN Dunas de S. Jacinto 1 Equipa/1 Elemento _ _ 1 Equipa/1 Elemento

RN Paul de Arzila 1 Equipa/2 Elementos 1 Equipa/2 Elementos 1 Equipa/2 Elementos 1 Equipa/2 Elementos RN Lagoas de Santo André e da Sancha _ 1 Equipa/2 Elementos _ 1 Equipa/2 Elementos

PP Serra do Açor _ 1 Equipa/3 Elementos _ 1 Equipa/5 Elementos

PPArriba Fóssil da Costa da Caparica 1 Equipa/1 Elemento * _ 1 Equipa/3 Elementos

SC Açude Agolada e SC Monte Barca 1 Equipa/2 Elementos _ _ _

M.N. Vale de Canas * * * * M.N. do Choupal * * * * MN das Dunas de VRSA _ 1 Equipa/3 Elementos _ 1 Equipa/3 Elementos M.N. dos Sete Montes 1Equipa/1Elemento _ 1Equipa/1Elemento _

ICN 29/57 24/79 27/53 42/153 Sapadores Florestais sob

coordenação do ICN _ 17/85 _ 23/115

Total 29/57 41/164 27/53 65/268

Legenda: * A equipa/elementos da RNP Arzila assegurará a vigilâcia e primeira intervenção pelas 3 áreas; ** A equipa/elementos da M.N. das Dunas de VR Santo António assegurará também a vigilância nesta área; eSF – equipa Sapadores Florestais

Page 136: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 136

4.5. Os grandes incêndios florestais

A eliminação dos incêndios com área superior a 1.000ha até 2012 constitui um dos objectivos estratégicos do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios e, simultaneamente, um objectivo operacional da Directiva Operacional Nacional de Combate aos Incêndios Florestais da ANPC.

A Directiva Operacional Nacional de 2007 introduziu um conceito inovador no domínio da gestão das operações dos grandes incêndios florestais – o posto de comando conjunto. Como explicou o Comandante Operacional Nacional, Gil Martins, com este posto de comando conjunto “pretende-se que as várias organizações com responsabilidades na área do combate possam integrar um Estado-Maior técnico de apoio ao comandante das operações de socorro no posto de comando, nomeadamente em operações de maior envergadura e, depois, quando a autoridade política chega a um teatro de operações assumirá a coordenação da mesma e também a sua articulação política com os órgãos de comunicação social”. Uma inovação que resulta da análise dos acontecimentos em anos anteriores.

O protocolo de colaboração, celebrado em 15 de Junho, entre a ANPC e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) também merece destaque. O protocolo tem por objecto a avaliação da actuação do dispositivo da ANPC e dos bombeiros nos grandes incêndios florestais durante a fase “Charlie”, com o propósito da identificação das dificuldades e debilidades que importa corrigir no ataque ampliado. Este estudo teve a coordenação científica do Prof. Doutor Hermínio Botelho, tendo a academia transmontana sido a escolhida para esta tarefa pelo reconhecimento nacional e internacional do seu trabalho científico no estudo do comportamento dos fogos, explicou o Secretário de Estado da Protecção Civil, Ascenso Simões, aquando da assinatura do protocolo.

Em 2007 registaram-se 20 grandes incêndios florestais (> 100ha), apenas na fase de maior perigosidade - Fase Charlie. Como é concluído no estudo realizado pela UTAD, os grandes incêndios coincidiram com os picos do índice meteorológico do risco de incêndio. Esse estudo também concluiu que “apesar de ser visível em 2007 uma melhoria do ataque ampliado face à média de 2000-2006 não há evidências de uma evolução positiva real, já que o desempenho de 2007 é similar àquele obtido nos melhores anos anteriores (2000 e 2006)”, uma análise que indicia a necessidade de prosseguir o acompanhamento destes incidentes em 2008. Este é um aspecto identificado também pelo presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Duarte Caldeira, que identificou uma melhoria na gestão dos meios de combate ampliado, que na sua perspectiva “decorre muito de uma evolução qualitativa de natureza organizacional ao nível do Centro Nacional de Operações de Socorro”.

De acordo com o relatório da DGRF, a área ardida que resultou dos grandes incêndios florestais - 8.486ha - correspondeu a 51,1% do total apurado até final de Setembro (16.605ha). Registaram-se cinco incêndios com área superior a 500ha nos distritos de Beja, Guarda, Leiria e Portalegre. O maior incêndio registado em 2007 teve início no concelho de Sardoal (distrito de Santarém), no dia 20 de Setembro, tendo-se propagado aos concelhos de Mação e Abrantes. O incêndio viria a ser extinto no dia 22 de Agosto, com uma área final superior a 1.800ha.

Page 137: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 137

4.5.1. A avaliação do desempenho do ataque ampliado a incêndios florestais

No âmbito do estudo da avaliação do desempenho do ataque ampliado a incêndios florestais realizado pela UTAD, foi realizada a monitorização dos incêndios, desde os meios colocados no terreno, da sua capacidade de intervenção, da logística agregada, da forma de ataque, dos recursos a técnicas de fogo controlado e de contrafogo, à incorporação de analistas de incêndios para uma avaliação técnica do teatro das operações (TO).

O estudo analisou um conjunto de 36 incêndios, ocorridos no período compreendido entre 1 de Julho e 30 de Setembro, respeitante ao desenrolar das operações e meios humanos e materiais afectos e às condições meteorológicas em que estes decorreram. O quadro de referência emanado da Directiva Operacional Nacional da ANPC constituiu a base do estudo, a qual considera que o ataque ampliado compreende a organização do combate, de acordo com o Sistema de Comando Operacional no TO, dando origem à montagem do Posto de Comando Operacional.

Em cada incêndio estudado foram avaliados os procedimentos adoptados para acompanhar e controlar o processo de intervenção, segundo duas vertentes: 1) o acompanhamento das acções de combate no TO procurando abranger o Posto de Comando Operacional (PCO), as acções no TO e na frente de fogo e a actuação das equipas de análise e uso do fogo (GAUF); 2) a recolha de informação no CNOS/ANPC, relativa à evolução das ocorrências e ao registo de informação sobre o curso das operações e sua transmissão entre os diferentes comandos -CNOS/CDOS/COS.

O estudo concluiu que a Directiva Operacional Nacional apresenta uma lacuna importante no domínio do ataque ampliado por não esclarecer as condições em que se considera a passagem de ataque inicial para a fase seguinte. Verificou-se ainda a inexistência de uma Norma Operacional Permanente relativa ao conceito e normalização de procedimentos em situação de ataque ampliado. A falta de comunicação entre o Teatro de Operações e o CNOS, em alguns casos, não permitiu uma correcta avaliação do incêndio. As condições do terreno, designadamente aquelas que caracterizam a evolução do fogo (combustível, comportamento do fogo, potencial de evolução e extensão da frente) e o tipo de combate efectuado são informações operacionais que devem ser transmitidas aos comandos distrital e nacional durante os pontos de situação a realizar durante o combate.

O estudo também reconheceu que em muitos casos existiu alguma dificuldade, no momento de montagem do PCO, em conhecer a localização/posicionamento dos meios que já se encontravam no TO. Esta situação foi apontada por alguns Comandantes de Operações de Socorro (COS) como um contratempo na organização das operações de combate ampliado ao condicionar o planeamento estratégico e táctico do combate. Esta circunstância determinou a recomendação do estabelecimento de normas de procedimento na instalação do Posto de Comando Operacional.

A ausência de critérios para a mobilização dos Grupos de Reforço distritais ou da Coluna Nacional, bem como dos meios militares foi uma outra importante fragilidade identificada no estudo.

Page 138: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 138

Da análise realizada nos vários Teatros de Operações, o estudo identificou um conjunto de pontos críticos que passamos a citar:

Até à instalação do Posto de Comando, as corporações que vão chegando ao Teatro de Operações actuam no primeiro ponto onde encontram o fogo, sem conhecimento do contexto global do incêndio;

Na fase em que se instala o Posto de Comando há uma grande dificuldade em ter informações da localização dos meios que se encontram no TO;

Verificou-se normalmente a utilização de um único canal manobra para as comunicações de todo o TO;

Desorganização de estacionamento junto do posto de comando, por vezes dificultando e impedindo a circulação;

Raramente os SITAC (Registo da Situação Actual no incêndio) estavam preenchidos, completos e expostos;

Falta de conhecimento, em tempo real, do ponto de situação actual do incêndio, por parte do Posto de Comando;

Falta de coordenação na disposição dos meios quando são enviados para o TO;

Pouca motivação para a utilização de ferramentas manuais no combate ou rescaldo;

Pouca motivação para o combate durante a noite (existe uma quebra de rendimento entre o combate diurno e noctumo);

Pouco cuidado nas operações de rescaldo ou consolidação com linha de água;

Falta de ponderação dos custos das manobras face à área potencial em risco;

Falta de utilização do conhecimento do historial dos grandes incêndios no mesmo local, para possível previsão do comportamento do fogo;

Falta de apoio cartográfico no planeamento das operações de combate (normalmente a cartografia existente era utilizada para marcar o perímetro de incêndio e a disposição dos meios).

A falta de formação foi apontado como a principal causa das falhas no combate e na coordenação dos grandes incêndios florestais, apesar de existirem os meios materiais e humanos necessários, ou seja, existe a necessidade de criar a capacidade, no comando do incidente, de avaliar no terreno e usar de forma eficiente os recursos existentes. Igualmente, importa proceder a uma melhor avaliação da necessidade de meios nas várias ocorrências, uma fragilidade de coordenação que pode ser melhorada através de um sistema de comunicações mais eficaz. O aumento da segurança dos meios que operam nos teatros de operação é um outro aspecto identificado no estudo, para o qual a formação desempenha um papel fundamental.

A integração das novas tecnologias, designadamente ao nível dos sistemas de planeamento e apoio à decisão, afigura-se determinante para a gestão eficiente dos meios nos teatros de operações e consequente aumento do desempenho desses meios em ataque ampliado. Nessa perspectiva, consideramos que o sistema de apoio à decisão integrado que tem vindo a ser implementado pelos serviços de protecção civil da CM Mação - MACFIRE®, bem como a informação da monitorização aérea são duas áreas que merecem ser estudadas pela Autoridade Nacional para a Protecção Civil.

Page 139: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 139

Na tabela 27, apresentamos de forma resumida o conjunto de recomendações propostas pela equipa que realizou o estudo para melhorar o desempenho do dispositivo em ataque ampliado, as quais se organizam segundo cinco eixos principais: 1) Pré-instalação do Posto de Comando Operacional; 2) Instalação e funcionamento do PCO; 3) Acções no Teatro das Operações; 4) Análise da Frente de Fogo e 5) Sistema de Informação

Tabela 27: Recomendações para a melhoria do desempenho do ataque ampliado - UTAD (Fonte: UTAD, 2008).

1) Pré-montagem do PCO (pré ataque ampliado) • Acompanhar as necessidades e despacho de meios em função da evolução e potencial do incêndio,

por parte dos CDOS/CNOS. • Melhorar o fluxo de informação a partir do TO. • Aumentar a operacionalidade do PCO na passagem a ataque ampliado, recebendo informação

sobre a localização dos meios no terreno e evolução das várias frentes.

2) Instalação e funcionamento do PCO • Uniformizar critérios segundo Norma Operacional Permanente. • Melhorar o funcionamento do PCO e aumentar a especialização dos elementos do comando. • Permitir uma análise da evolução do incêndio e das operações de combate, através do aumento da

quantidade e qualidade da informação disponível sobre as acções no TO. • Manter registo das comunicações efectuadas no TO. • Melhorar as condições de trabalho dos elementos do PCO. • Melhorar o conhecimento da disposição e movimentação de meios no TO, para assim melhorar a

gestão dos recursos no TO. • Elaborar o Plano Estratégico de Acção do PCO em todas as situações de ataque ampliado.

3) Acções no Teatro de Operações • Melhorar o conhecimento da disposição e movimentação de meios no TO. • Melhorar desempenho e segurança das equipas no combate ao incêndio • Aumentar disponibilidade de meios para intervenção no período nocturno, por forma a aproveitar as

janelas de oportunidade no comportamento do fogo. • Aumentar o conhecimento sobre o número de efectivos adequados a diferentes acções de combate

e regular a movimentação de meios no TO. • Garantir continuidade nas operações de combate.

4) Análise da frente de fogo • Antecipar necessidade de meios e planear as operações de combate. • Melhorar o planeamento das necessidades de meios. • Aumentar a eficiência das intervenções das equipas de uso do fogo.

5) Sistema de Informação, com base no sistema Protecção Civil Digital • Melhorar conhecimento sobre o rendimento e eficácia dos meios envolvidos no combate. • Melhorar qualidade da informação contida nos Relatórios Especiais de Incêndios Florestais.

Page 140: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 140

O Ministro da Administração Interna, Rui Pereira, na apreciação que fez deste estudo aos Deputados, em 23 de Outubro, considerou que o aspecto mais positivo a realçar resultou da boa integração dos investigadores no acompanhamento do dispositivo e dos teatros de operações, já o aspecto mais negativo prendeu-se com o número reduzido de casos investigados, tendo esclarecido que está previsto “alargar o protocolo por mais um ano para continuar este estudo científico e para melhorar o nosso nível de informação”, o que nos parece uma ser medida assertiva, sobretudo numa perspectiva de monitorização da aplicação das recomendações tecidas para a melhoria do desempenho do dispositivo em situação de ataque ampliado.

Refira-se a este propósito que a anterior Comissão Eventual da Assembleia da República para os Fogos Florestais havia recomendado ao Governo que se privilegiasse, no contexto da Directiva Operacional Nacional, “a abordagem específica da complexidade dos teatros de operações de grandes incêndios”, para a qual se revestiam de grande importância as recomendações dos relatórios de análise desses incidentes. Neste último aspecto, a falta de um registo documental do histórico do combate realizado que possibilite uma análise posterior dos aspectos positivos e negativos da forma como decorreu o combate, numa lógica pedagógica, é uma lacuna importante identificada pelo estudo e cuja a elaboração do Relatório Especial de Incêndio Florestal nos grandes incêndios deve ser uma obrigação a considerar de futuro.

O estudo realizado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro revelou-se de grande oportunidade e tece um conjunto de recomendações objectivas para melhorar o desempenho do dispositivo em situações de ataque ampliado. Em nosso entender, este estudo deve constituir a oportunidade para lançar as bases de uma nova forma de abordar tecnicamente os grandes incêndios florestais, numa perspectiva da gestão do fogo. Neste aspecto, o aumento do número e nível de formação dos elementos que integram o Grupo de Análise e Uso do Fogo, afigura-se como uma medida prioritária a implementar já em 2008, com a especialização das funções de análise do incidente, das funções de uso do fogo. Neste domínio operacional, consideramos de grande utilidade a criação de equipas especializadas, de cariz profissional e permanente, que realizem estas funções de apoio ao combate nos incêndios florestais e o apoio ao fogo controlado e formação durante o resto do ano.

Page 141: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 141

6. CONCLUSÕES

Depois do diagnóstico do problema dos fogos florestais em Portugal realizado em 2005, da tomada de medidas e decisões políticas estratégicas em 2006, o ano de 2007 foi, sobretudo, um ano de consolidação dos processos iniciados em 2006 e de construção do edifício legal - programa de Reforma da Administração Publica Central, Reforma da Protecção Civil, Revisão do Código Penal. Em nosso entender, estão finalmente criadas as condições legislativas e operacionais necessárias para a execução da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios.

O carácter recente do edifício jurídico-legal e os processos de reestruturação orgânica decorrentes da implementação do PRACE na Direcção-Geral dos Recursos Florestais e no Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade exigem um período de adaptação e consolidação, que constituem preocupações para os deputados desta Comissão Eventual. Igualmente, é fulcral a boa articulação entre a recém-criada EMA – Empresa de Meios Aéreos, S.A., com responsabilidades na gestão dos meios aéreos permanentes do Estado e a Autoridade Nacional de Protecção Civil na preparação atempada do dispositivo de meios aéreos de combate aos incêndios florestais.

Existe um reconhecimento unânime nos bons resultados obtidos no cômputo da áreas ardidas no final da Fase Charlie, com apenas 16.600ha de área ardida, cerca de 2% do total contabilizado no espaço europeu. O balanço positivo do combate aos incêndios em 2007, que se materializou numa redução significativa da área ardida comparativamente a 2006 e ao último quinquénio, foi ajudado pelas condições meteorológicas. Como é referido no estudo realizado pela UTAD, “o ambiente meteorológico de 15 de Maio a 15 de Outubro foi em 2007 mais favorável às operações de combate de incêndios que em qualquer um dos períodos homólogos em 2000-2006”.

Os resultados apurados também beneficiaram bastante da boa coordenação das forças envolvidas no combate, da boa programação de meios e da capacidade de resposta muito efectiva do dispositivo. Neste domínio, o reforço do patrulhamento preventivo das áreas de risco, a par da eficácia do ataque inicial, conjugado com o bom emprego dos meios aéreos foram reconhecidos como medidas decisivas para os bons resultados obtidos. Os meios aéreos são um aspecto importante no dispositivo de combate aos incêndios, no qual devem ser enquadrados em complemento aos meios terrestres.

Igualmente parece-nos acertada a aquisição de meios aéreos próprios pelo Estado, numa perspectiva das responsabilidades acrescidas que Portugal tem perante os parceiros europeus e de poder corresponder aos pedidos de auxilio de outros países europeus, como sucedeu com os incêndios florestais ocorridos na Grécia. Salientamos, porém, que o processo de aquisição dos aerotanques anfíbios pesados foi suspenso.

Se atendermos aos constrangimentos no sistema que haviam sido identificados por especialistas americanos em 2004 relativos à “inexistência de uma estrutura de comando e controle de incêndios florestais, de uma deficiente comunicação no teatro de operações, de estratégias e tácticas de controlo de perímetro de fogos

Page 142: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 142

deficientes e de desequilíbrios entre os esforços de prevenção, detecção e combate”, verifica-se que muito foi feito para colmatar essas deficiências.

Como referia o Comandante Nacional de Operações, Gil Martins, no balanço da Fase Charlie: “a progressiva eficácia do dispositivo integrado de vigilância, detecção e combate em 2006 e 2007, não nos pode levar a pensar que o problema dos incêndios florestais está resolvido”. Os incêndios ocorridos no Outono, designadamente durante o mês de Novembro, demonstraram que situações meteorológicas de risco de incêndio anormais, juntamente com o ordenamento ainda inexistente dos nossos espaços florestais, aumentam o risco potencial de grandes incêndios. Mesmo assim, as contas finais das áreas ardidas em 2007, cifradas em 31.000ha, constituem um registo histórico nas estatísticas.

Das audições parlamentares de balanço e das visitas realizadas ao terreno pelos Deputados da Comissão ficou patente a necessidade de incutir maior dinamismo na execução física e também financeira no domínio da prevenção estrutural, designadamente ao nível da infra-estruturação do território. Resulta também uma maior consciencialização dos cidadãos para o alerta dos incêndios florestais e para a mudança dos comportamentos de risco. Nesse aspecto, merece o nosso reconhecimento e apoio a criação do movimento ECO – empresas contra os fogos, que visa associar a responsabilidade social das empresas, de uma forma organizada, a uma causa nacional: a minimização do flagelo dos incêndios florestais.

Sobre os meios financeiros, a Comissão constatou as dificuldades na realização dos programas do anterior QCA, designadamente a Medida AGRIS 3.4. Igualmente a baixa taxa de execução evidenciada pelas autarquias (13%) no Fundo Florestal Permanente deve ser merecedora de uma reflexão conjunta por parte do Governo e da ANMP. Neste domínio importa encontrar os mecanismos financeiros que no quadro do PRODER e do novo regulamento do Fundo Florestal Permanente (2007/2008) permitam uma maior aderência às medidas e acções previstas no Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios. Ou seja, Contundo, existem ainda constrangimentos e obstáculos que devem ser aprofundados na perspectiva de serem alcançados os objectivos do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, designadamente a sustentabilidade da meta de redução da área ardida para menos de 100 mil hectares/ano em 2012.

Este relatório, tal como oportunamente adiantou o Presidente da Comissão Eventual, o deputado Abel Baptista, procurou ser o relatório dos seis Partidos Políticos que integram esta Comissão Parlamentar. É o relatório da Assembleia da República que se quis, uma vez mais, associar a esta importante ameaça ao desenvolvimento e sustentabilidade da floresta portuguesa que constituem os incêndios florestais. Ou seja, as perspectivas em relação ao futuro devem preocupar-nos e, portanto, precisamos de prevenir, de proteger, de actuar hoje para proteger o futuro, o futuro da floresta portuguesa.

Neste propósito da actividade da Comissão Eventual, é importante expressar o reconhecimento que os titulares das Pastas do Ambiente, da Agricultura e da Administração Interna fizeram ao bom trabalho da Comissão, cujas recomendações têm resultado em contributos importantes para a formulação das medidas de política do Governo e ainda para o papel pedagógico que foi desenvolvido, no sentido de os portugueses perceberem que os órgãos institucionais dão importância à floresta nacional.

Page 143: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 143

Concluído o balanço da actividade da Comissão Eventual, em que se assistiu a uma consolidação das medidas de política no âmbito da prevenção e combate aos incêndios florestais, com os seus pontos fortes e pontos crítricos, que se materializaram numa redução significativa da área ardida. A estabilidade do processo legislativo, das políticas estruturais e do dispositivo de combate aos incêndios florestais que este Governo tem assegurado afigurou-se determinante para o sucesso da concretização dos objectivos estratégicos de médio/longo prazo inscritos no Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios.

De facto, reconhece-se que a Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios está no caminho correcto. Os resultados são indiciadores de que o Governo está empenhado em reduzir o risco do investimento na floresta, numa perspectiva da valorização social e económica deste recurso. Contudo, as melhorias evidenciadas nos últimos dois anos não nos podem levar a pensar que este problema está resolvido. Importa dinamizar as medidas de gestão florestal e de infra-estruturação do território, designadamente no ordenamento das Áreas Protegidas. As necessidades ainda existentes na formação de competências dos agentes de Protecção Civil é um outro aspecto que continua a merecer a nossa preocupação.

Page 144: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 144

7. RECOMENDAÇÕES

Os Deputados desta Comissão Eventual tecem um conjunto de recomendações ao Governo, reiterando a necessidade da existência de um “comando político único” para coordenação da execução da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, promotor da interligação entre os diversos Ministérios envolvidos. Igualmente chamamos a atenção do Governo para as recomendações aprovadas nos dois relatórios da anterior Comissão Eventual para os Fogos Florestais.

Do conjunto de 30 recomendações que são apresentadas neste relatório, salientamos as seguintes:

1) A criação de uma unidade de gestão com a responsabilidade da avaliação permanente da eficiência do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, a partir de um conjunto de indicadores de execução física e financeira, integrados num sistema de informação digital.

2) A concretização da instalação da figura do comandante operacional municipal e a criação das carreiras de Protecção Civil na Administração Local.

3) A avaliação dos impactos do novo Código Penal na acção judicial e criminal.

4) A prossecução da instalação do SIRESP, com a implementação de um sistema de comunicações integrado para a gestão dos meios da Força Operacional do Bombeiros nos grandes incêndios florestais.

5) A aposta na formação de competências. Importa promover a realização de um estudo sobre os perfis dos agentes de Protecção Civil e Socorro e respectivas necessidades formativas, numa perspectiva de um maior envolvimento da Autoridade Nacional de Protecção Civil e das Universidades numa futura Escola de Formação de Protecção Civil e Socorro.

São ainda tecidas recomendações nos planos legislativo, operacional e financeiro que passamos a apresentar:

Plano legislativo:

6) A conclusão célere do processo de regulamentação do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho. A regulamentação das zonas criticas é crucial para a definição das prioridades de intervenção.

7) A publicação da Portaria que estabelece o período critico, nos termos do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, com pelo menos com um mês de antecedência face à data de entrada em vigor das medidas e acções especiais de prevenção contra incêndios florestais que são definidas no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios.

8) A revisão do Decreto-Lei n.º 127/2005, de 5 de Agosto, com base na avaliação do processo de constituição das ZIF, na perspectiva da sua agilização e adequação às especificidades do território. É igualmente necessário proceder a uma avaliação do processo de agrupamento de baldios, na perspectiva do seu desenvolvimento.

Page 145: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 145

9) A elaboração urgente do cadastro florestal, previsto no “SINERGIC”, é indispensável para a criação das ZIF e para a gestão activa da propriedade florestal. Ainda no contexto dos prédios rústicos florestais, importa proceder ao enquadramento legislativo de limitações à sua divisão ou fraccionamento indiscriminado.

Plano operacional:

10) O desenvolvimento de um plano tecnológico para a DFCI, assente no contributo dos resultados da investigação científica, designadamente do projecto de investigação comunitário “Fire Paradox”.

11) A incorporação das medidas aprovadas nos Planos Regionais de Ordenamento Florestal na revisão dos Planos Directores Municipais e a conclusão do planeamento municipal de DFCI, na perspectiva da intervenção no domínio da prevenção estrutural, onde a lógica de constituição e manutenção das redes intermunicipais de infraestruturação das áreas de maior risco de incêndio deve ser fomentada.

12) A reflexão, em profundidade, da aplicação do Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho, com base nos autos de contra-ordenação levantados durante o ano de 2007 desde o momento da sua elaboração e respectiva fundamentação até à conclusão da instrução dos processos e respectivas decisões.

13) O estudo do conceito de incêndio florestal peri-urbano, como um caso com características próprias dentro do contexto mais vasto dos incêndios florestais. O envolvimento das autarquias e da Protecção Civil é determinante para a procura de soluções no domínio do ordenamento do território.

14) A prossecução do estudo dos grandes incêndios florestais, com a continuação do seu acompanhamento científico, conforme foi realizada em 2007 no protocolo ANPC/UTAD.

15) A promoção do planeamento da recuperação das áreas ardidas dos grandes incêndios florestais com base nas normas técnicas das “Orientações Estratégicas para a Recuperação das Áreas Ardidas”, adoptadas na Resolução do Conselho de Ministros n.º 5/2006 e alocação de meios financeiros públicos. A participação activa das comunidades locais e o estabelecimento de parcerias institucionais e empresariais são fundamentais para a prossecução desses objectivos.

16) A manutenção do processo de profissionalização da Protecção Civil, designadamente na vertente da Força Especial de Bombeiros – “Canarinhos” e das equipas de intervenção permanentes das Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários, no quadro da autonomia institucional e orgânica destes. Igualmente importará estabelecer no quadro do art.º 31.º da Lei n.º 32/2007, de 13 de Agosto, de uma regulamentada e criteriosa política de apoio ao equipamento e reequipamento das corporações de bombeiros, em função do risco.

Page 146: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 146

17) A constituição de uma unidade especializada no seio do Instituto de Meteorologia para o apoio meteorológico à prevenção e combate aos incêndios florestais. Neste domínio parece-nos igualmente importante a realização de um estudo das necessidades de meios humanos e de recursos tecnológicos para o estabelecimento de um sistema de informação meteorológica do risco de incêndio.

18) A consolidação da cooperação institucional na investigação das causas dos incêndios florestais entre GNR/SEPNA, PJ, DGRF, ICN e autarquias. Neste domínio, é fundamental o reforço da capacidade técnica de investigação dos órgãos de polícia criminal com competência legal para esse efeito.

19) A avaliação da situação – natureza, missão, funções, orgânica, meios humanos e equipamento - da recém-criada EMA – Empresa de Meios Aéreos, S.A., com responsabilidades na gestão dos meios aéreos permanentes do Estado e articulação com a Autoridade Nacional de Protecção Civil na preparação atempada do dispositivo de meios aéreos de combate aos incêndios florestais. Afigura-se igualmente importante a realização de um estudo técnico de acompanhamento e avaliação do funcionamento do dispositivo de meios aéreos durante o ano de 2008.

20) A prossecução do apoio técnico às Autarquias locais no planeamento de DFCI. Importa estabelecer os mecanismos de monitorização da execução das medidas e acções previstas nos PMDFCI, bem como estabelecer os mecanismos de apoio financeiro à execução dessas medidas.

21) O reforço da campanha nacional de sensibilização para a protecção da floresta contra os incêndios florestais, promovendo uma maior participação do programa de voluntariado jovem para as florestas, promovido pelo IPJ, os movimentos organizados da sociedade civil (Organizações ambientalistas, Corpo Nacional de Escutas, Movimento ECO - Empresas contra os Fogos) e as autarquias locais, através da ANMP e ANAFRE.

22) A avaliação em profundidade do sistema nacional de detecção dos incêndios florestais. Importa compreender, de forma inequívoca, o papel e contributo de cada agente neste sistema.

23) A promoção da capacitação técnica das entidades com responsabilidades de intervenção no sistema nacional de DFCI. A formação de competências ao nível dos bombeiros, dos sapadores florestais, dos vigilantes da natureza e dos militares das Forças Armadas (Planos Vulcano e Lira) é determinante para aumentar os níveis de segurança e de eficiência nas operações de combate aos incêndios florestais.

24) A avaliação do Programa de Sapadores Florestais, designadamente ao nível da formação, equipamento e prestação do serviço público. Nessa avaliação, terá será útil proceder a uma análise do mecanismo financeiro de apoio, tendo presente as especificidades da natureza das entidades patronais, designadamente das equipas de Sapadores Florestais nos Baldios co-geridos pelo Estado.

25) O enquadramento técnico do licenciamento das queimadas para a renovação de pastagens, por via da adopção de uma estratégia concertada entre MAI, MADRP, MAOTDR (nas Áreas Protegidas) e autarquias. O recurso ao uso da técnica de fogo controlado e o apoio na sua execução das equipas de sapadores florestais em prestação de serviço público são parte dessa solução.

Page 147: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 147

Plano financeiro:

26) Adequação os mecanismos financeiros de apoio nacionais e comunitários (PRODER) às medidas e acções definidas no PNDFCI, designadamente na promoção da gestão estratégica de combustíveis florestais e a infra-estruturação dos espaços florestais; Preparar mecanismos mais céleres para avaliação e aprovação dos projectos das candidaturas e correspondentes pagamentos das verbas ao nível do Fundo Florestal Permanente e dos programas comunitários.

27) Criar as condições no Fundo Florestal Permanente para o estabelecimento de contratos-programa com as organizações de produtores florestais e com os Órgãos de Administração dos Baldios na área de promoção do ordenamento e gestão florestal

28) A criação de unidade de missão – Ministério das Finanças/Ministério da Agricultura – que concretize as medidas de política financeira e fiscal previstas na reforma estrutural do sector florestal (Fundos de Investimento Imobiliário Florestal, Seguros Florestais, etc.).

29) A concretização célere dos mecanismos financeiros de apoio ao mecenato florestal, que fruto do crescente interesse da sociedade civil, designadamente da responsabilidade social das empresas, deve encontrar resposta no plano fiscal.

30) O estabelecimento de um mercado de Títulos de Carbono, com base na florestação e sobretudo na gestão do património florestal existente.

Os Deputados desta Comissão Eventual reconhecem o papel insubstituível que os Governadores Civis, enquanto representantes do Governo, desempenham na concertação dos organismos envolvidos na prevenção e no combate aos incêndios florestais a nível distrital. Nessa perspectiva, recomendam que as Comissões Distritais de Protecção Civil dos Governos Civis promovam, de forma célere, a definição das estratégias para a actuação preventiva de sensibilização e fiscalização da aplicação das medidas preventivas previstas na Lei, designadamente em matéria da gestão de combustíveis em torno das edificações e aglomerados populacionais inseridos em espaços florestais de risco elevado.

Os Deputados da Comissão reiteram a recomendação, aprovada por unanimidade plenário da Assembleia da República, em Fevereiro de 2006, do novo Regulamento do Fundo de Solidariedade da União Europeia manter a possibilidade de apoio a crises de carácter regional, como sucede com os incêndios florestais.

Os Deputados manifestam o seu pesar pelo falecimento do Eng. Moreira da Silva, um dos mais notáveis silvicultores de Portugal, que foi o principal responsável pela reintrodução, na década de 70, do uso da técnica do fogo controlado na gestão dos combustíveis florestais.

Page 148: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008 148

Nota final:

Temos consciência plena de que o País ainda tem um longo caminho a percorrer para resolver o problema dos incêndios florestais. Os incêndios florestais são o principal problema com que o Sistema de Protecção Civil se debate anualmente e constituem a principal ameaça à sustentabilidade e ao desenvolvimento da floresta portuguesa, um recurso estratégico para a economia nacional e um eixo fundamental para o desenvolvimento rural do País, para a conservação da natureza e da biodiversidade e para o combate à desertificação e às alterações climáticas.

Somos, pois, da opinião que esta Comissão Eventual deverá prolongar o seu mandato por mais um ano, por forma a assegurar a análise transversal inerente à Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios e assim, acompanhar os impactos das medidas do Governo nas vertentes da prevenção estrutural, da prevenção operacional e do combate, num momento em que se promoveu uma remodelação governamental ao nível das Secretarias de Estado da Protecção Civil (MAI) e do Desenvolvimento Rural e das Florestas (MADRP).

Page 149: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

Anexo 1

Resolução sobre as Catástrofes Naturais na

Europa (Parlamento Europeu)

Page 150: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

Resolução do Parlamento Europeu, de 4 de Setembro de 2007, sobre as catástrofes naturais O Parlamento Europeu ,

-Tendo em conta os artigos 2º, 6º e 174º do Tratado CE,

-Tendo em conta as suas resoluções de 7 de Setembro de 2006 sobre os incêndios florestais e as inundações na Europa(1) , 5 de Setembro de 2002 sobre os desastres causados pelas cheias na Europa(2) , 14 de Abril de 2005 sobre a seca em Portugal(3) , 12 de Maio de 2005 sobre a seca em Espanha(4) , 8 de Setembro de 2005 sobre as catástrofes naturais (incêndios e inundações) na Europa(5) e 18 de Maio de 2006 sobre as catástrofes naturais (incêndios, secas e inundações) - aspectos agrícolas(6) , de desenvolvimento regional(7) e ambientais(8),

-Tendo em conta as duas audições públicas organizadas conjuntamente pela sua Comissão do Desenvolvimento Regional, pela sua Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar e pela sua Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural sobre uma "Estratégia Europeia para as Catástrofes Naturais" (20 de Março de 2006) e sobre a "Força Europeia de Protecção Civil: Europe aid" (5 de Outubro de 2006),

-Tendo em conta a Decisão do Conselho, de 23 de Outubro de 2001, que estabelece um mecanismo comunitário destinado a facilitar uma cooperação reforçada no quadro das intervenções de socorro da Protecção Civil (2001/792/CE, Euratom)(9) , a aprovação esperada da Decisão do Conselho (reformulada ) que estabelece um mecanismo comunitário no domínio da protecção civil e a posição do Parlamento de 24 de Outubro de 2006 a esse respeito(10) ,

-Tendo em conta a proposta da Comissão de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho que institui o Fundo de Solidariedade da União Europeia (COM(2005)0108) e a posição do Parlamento de 18 de Maio de 2006 a esse respeito(11),

-Tendo em conta o relatório de Michel Barnier, de 9 de Maio de 2006, intitulado "Para uma Força Europeia de Protecção Civil: Europe aid",

-Tendo em conta a sua resolução legislativa de 25 de Abril de 2007 referente à posição comum do Conselho tendo em vista a adopção da directiva do Parlamento Europeu e do Conselho relativa à avaliação e gestão das inundações(12) ,

-Tendo em conta a Decisão do Conselho, de 5 de Março de 2007, que institui um Instrumento Financeiro para a Protecção Civil (2007/162/CE, Euratom)(13) ,

-Tendo em conta as conclusões do Conselho "Justiça e Assuntos Internos", de 12 e 13 de Junho de 2007, sobre o reforço da capacidade de coordenação do Centro de Informação e Vigilância (CIV) no âmbito do mecanismo comunitário de protecção civil,

-Tendo em conta o Protocolo de Quioto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (CQNUAC), de 11 de Dezembro de 1997, e a ratificação do Protocolo de Quioto pela Comunidade em 4 de Março de 2002,

-Tendo em conta o Regulamento (CE) nº 2152/2003, de 17 de Novembro de 2003, (Regulamento "Forest Focus "),

-Tendo em conta o ponto 12 das conclusões da Presidência do Conselho Europeu de Bruxelas de 15 e 16 de Junho de 2006 no tocante à capacidade de reacção da União a emergências, crises e catástrofes,

-Tendo em conta a Comunicação da Comissão intitulada "Enfrentar o desafio da escassez de água e das secas na União Europeia" (COM(2007)0414),

-Tendo em conta nº 4 do artigo 103º do seu Regimento,

A. Considerando os incêndios devastadores e as violentas inundações que causaram morte e destruição em toda a Europa, especialmente na Grécia e no Reino Unido, durante o Verão de 2007, afectando Estados-Membros da UE e igualmente algumas das suas regiões ultraperiféricas, nomeadamente a Martinica e a Guadalupe, que foram atingidas pelo furacão Dean, países candidatos e os vizinhos próximos da UE; considerando que, só em Julho, a área ardida correspondeu à totalidade da área ardida em todo o ano passado e que, no mês de Agosto, a Grécia sofreu uma grave tragédia nacional devido a um dos incêndios mais mortíferos que ocorreram em todo o mundo desde 1871,

Page 151: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

B. Considerando que a superfície total de vegetação e de floresta afectada pelos incêndios na Europa este Verão é de mais de 700 000 hectares, incluindo Sítios de Importância Comunitária (SIC) que fazem parte da rede NATURA 2000 e outras zonas de grande valor ecológico, com conectividade ecológica a toda a região, sendo os países mais severamente afectados a Grécia, a Itália, a Bulgária, Chipre, a Croácia, a Antiga República Jugoslava da Macedónia, a Espanha (em particular, as Ilhas Canárias e a província de Castillón), a Ucrânia, a Turquia e a Albânia,

C. Considerando que os recentes e devastadores incêndios florestais na Grécia provocaram a morte de mais de 60 pessoas e ferimentos em muitas outras, a destruição de mais de 250 000 hectares, nomeadamente de milhares de hectares de floresta e de arbustos, a perda de animais, a destruição de muitas casas e propriedades e a aniquilação de aldeias,

D. Considerando que, ao mesmo tempo, outras partes da Europa, em particular o Reino Unido, sofreram graves inundações que provocaram a perda de, pelo menos, 10 vidas e prejuízos estimados em 5 mil milhões de euros em casas, escolas, infra-estruturas e na agricultura, bem como a interrupção do abastecimento de água limpa a mais de 420.000 pessoas, levando à deslocação de um grande número de pessoas e a perdas significativas para as empresas, a agricultura e a indústria do turismo; considerando que a Itália experimentou a situação crítica das inundações no centro e no norte e da seca e dos incêndios no sul; que, na Europa Oriental, em particular na Roménia, se verificou uma situação de seca extrema,

E. Considerando que o Mecanismo Comunitário de Protecção Civil foi activado doze vezes para o mesmo tipo de emergência num período de dois meses, e que sete dessas vezes foram simultâneas; considerando que o auxílio dos Estados-Membros não foi suficiente para assegurar uma resposta rápida e adequada da protecção civil em todas estas emergências,

F. Considerando que, com Verões cada vez mais quentes e secos na Europa do Sul, os incêndios florestais e outros incêndios incontroláveis se tornaram um fenómeno recorrente, variando contudo dramaticamente de ano para ano em intensidade e localização geográfica; considerando que a evolução destes acontecimentos catastróficos é igualmente influenciada pelas alterações climáticas e está ligada à ocorrência crescente de ondas de calor e de secas, tal como refere a Comunicação da Comissão acima citada; considerando que investir na luta contra as alterações climáticas é, portanto, investir na prevenção das catástrofes da seca e dos incêndios florestais; considerando que nos períodos de seca, que se estão a tornar cada vez mais longos, será cada vez mais difícil restaurar a floresta após um incêndio, com o consequente risco de desertificação,

G. Considerando os prejuízos económicos e sociais provocados por estas catástrofes naturais nas economias regionais, nas actividades produtivas e no turismo,

H. Considerando que o elevado número de incêndios na Europa do Sul em 2007, bem como as suas dimensões, é o resultado de um determinado número de factores, incluindo as alterações climáticas, uma definição e atenção insuficientes para com as florestas e uma combinação de causas naturais e de negligência humana, mas também de actividades criminosas, aliadas à implementação inadequada de leis que proíbam a construção ilegal em terras ardidas,

I. Considerando que a União Europeia deve reconhecer a natureza específica das catástrofes naturais que ocorrem no quadro das secas e incêndios no Mediterrâneo e adaptar os seus instrumentos de prevenção, investigação, gestão de riscos, protecção civil e solidariedade,

1. Exprime os seus pêsames e a sua forte solidariedade aos familiares das pessoas que perderam a vida e aos residentes nas zonas afectadas;

2. Presta homenagem aos bombeiros, profissionais e voluntários, que trabalharam infatigavelmente e arriscaram a vida para extinguir os incêndios, salvar pessoas e limitar os danos causados pelas catástrofes naturais deste Verão, assim como aos muitos particulares que lutaram para salvar os seus meios de subsistência e o seu ambiente circundante;

3. Solicita à Comissão que mobilize sem demora o actual Fundo de Solidariedade da UE (FSUE) da forma mais flexível possível e sem demora, evitando processos morosos e entraves administrativos; considera, a este respeito, que devem ser de imediato

Page 152: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

disponibilizados recursos comunitários para aliviar o sofrimento e satisfazer as necessidades das vítimas e dos seus familiares mais próximos através do FSUE, de outros instrumentos comunitários (por exemplo, os Fundos Estruturais e o FEADER) ou de quaisquer meios financeiros disponíveis, com base nas condições de aplicação dos fundos comunitários, como, por exemplo, o princípio da parceria e o desenvolvimento sustentável;

4. Exorta a Comissão a introduzir medidas extraordinárias de ajuda comunitária, especialmente de natureza financeira, a fim de apoiar à reabilitação das regiões que sofreram graves danos, restaurar o potencial produtivo das zonas afectadas, procurar relançar a criação de postos de trabalho e adoptar as medidas adequadas para compensar os custos sociais inerentes à perda de postos de trabalho e de outras fontes de rendimento;

5. Salienta a necessidade de acelerar o procedimento de acesso aos fundos comunitários para a recuperação de solo agrícola na sequência de inundações e de incêndios e para a disponibilização de uma maior ajuda financeira para o desenvolvimento de defesas contra as inundações; solicita à Comissão e aos Estados-Membros que revejam e partilhem as melhores práticas à luz da mais recente investigação sobre os riscos acrescidos das inundações e dos incêndios florestais causados pelo modo como a terra, o habitat e os sistemas de escoamento são geridos; insta os Estados-Membros a, na medida do possível, facilitarem a drenagem natural e a retenção de água no ambiente, aumentando simultaneamente a capacidade de controlo das inundações e das infra-estruturas de drenagem para limitar os danos que possam ser causados por cheias extremas;

6. Reconhece a solidariedade da União Europeia, dos seus Estados-Membros e de outros países, que prestaram auxílio às regiões afectadas durante as emergências dos incêndios florestais mediante o fornecimento de aviões, equipamento e conhecimentos especializados no combate ao fogo, assim como a ajuda louvável prestada às autoridades e aos serviços de salvamento competentes; considera que a escala e o impacto destes fenómenos ultrapassam muitas vezes os níveis e as capacidades regionais e nacionais e solicita um empenho europeu efectivo com carácter de urgência;

7. Reconhece o contributo do Centro de Informação e Vigilância ao apoiar e facilitar a mobilização e a coordenação da assistência de protecção civil durante as emergências; salienta, no entanto, que os recursos dos Estados-Membros para combater os incêndios florestais, especialmente os meios aéreos, são limitados e que nem sempre é possível aos Estados-Membros oferecerem apoio quando os recursos são necessários no seu território; observa, consequentemente, que alguns Estados-Membros receberam menos auxílio do que outros, tendo tido de recorrer a acordos bilaterais com Estados não pertencentes à UE para o receber; lamenta, por conseguinte, que, em alguns casos, a UE, como um todo, não tenha conseguido dar mostras de suficiente solidariedade;

8. Insta firmemente o Conselho a tomar sem mais delongas uma decisão sobre a proposta de regulamento relativo ao Fundo de Solidariedade da UE, atendendo a que o Parlamento aprovou a sua posição em Maio de 2006; considera que a demora do Conselho a este respeito é inaceitável; considera que o novo regulamento, que - entre outras medidas - reduz os limiares para a mobilização do Fundo de Solidariedade da UE, tornará possível abordar os prejuízos de uma maneira mais eficaz, flexível e atempada; solicita à Presidência portuguesa, bem como aos ministros das Finanças, do Ambiente, da Agricultura e do Desenvolvimento Regional da UE, que tomem imediatamente medidas rápidas e firmes; sugere, neste sentido, que seja convocada uma reunião extraordinária conjunta do Conselho em que participem os ministros responsáveis e em que o Parlamento e a Comissão estejam presentes como observadores;

9. Solicita a criação de uma Força Europeia susceptível de reagir imediatamente a emergências, tal como proposto no relatório do Comissário Barnier, e lamenta a falta de resposta e de seguimento nesta matéria; sublinha também, neste contexto, a necessidade de continuar o desenvolvimento de uma força de reacção rápida baseada nos mecanismos de protecção civil dos Estados-Membros, tal como solicitado pelo Conselho Europeu de Bruxelas de 16 e 17 de Junho de 2006; solicita à Comissão Europeia que apresente uma proposta nesta matéria; salienta o papel dos Estados-Membros e das suas autoridades locais para evitar e combater os incêndios eficazmente;

10. Insta a Comissão Europeia a exortar os Estados-Membros a apresentarem informação relativa aos programas operacionais em vigor e a solicitar as respectivas experiências com a sua aplicação em casos de catástrofes naturais e ainda a analisar a pertinência das medidas de prevenção, capacidade de reacção e resposta utilizadas, a fim de proceder ao intercâmbio de experiências e de retirar conclusões sobre medidas imediatas, coordenação de entidades administrativas e operacionais e disponibilidade dos recursos humanos e materiais necessários; convida a Comissão a explorar as potencialidades de

Page 153: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

cooperação com os países vizinhos da UE e outros países terceiros no combate aos grandes incêndios, procedendo ao intercâmbio das melhores práticas e de capacidades nos meses de Verão em que o risco é mais elevado, para que haja uma melhor preparação para o Verão de 2008;

11. Considera que a experiência dos últimos anos e outras experiências realçam a necessidade de reforçar a capacidade de reacção da protecção civil comunitária para prevenir e dar resposta aos incêndios florestais e a outros incêndios incontroláveis e insta a Comissão a tomar medidas nesse sentido;

12. Convida a Comissão a analisar a possibilidade de obter de antemão acesso a uma capacidade suplementar com vista a assegurar uma resposta rápida a emergências importantes, capacidade essa que poderá ser disponibilizada por outras fontes, designadamente pelo mercado comercial; sugere que o custo dessa força em alerta seja coberto pelo Instrumento Financeiro de Protecção Civil;

13. Congratula-se com a recente Decisão 2007/162/CE, Euratom do Conselho, de 5 de Março de 2007, que cria um Instrumento Financeiro de Protecção Civil e considera que as acções financiadas a título deste instrumento deverão assegurar a expressão visível da solidariedade europeia e representar uma mais-valia para a gestão eficaz das catástrofes naturais; teme, contudo, que o montante atribuído a este novo instrumento não seja suficiente para levar a cabo de forma eficaz as suas tarefas ambiciosas;

14. Realça a necessidade de medidas mais rigorosas tendo em vista a prevenção das catástrofes naturais; neste contexto, aguarda com expectativa a publicação em 2008 de dois estudos da Comissão relativos à aprovação de uma estratégia integrada em matéria de prevenção das catástrofes naturais; sugere, além disso, que a Comissão estude o potencial recurso à coordenação aberta com vista à prevenção de catástrofes naturais, através de uma manutenção generalizada do território que vise aumentar a capacidade de retenção das massas de água, e de uma manutenção generalizada da floresta, a fim de diminuir, na medida do possível, a carga incendiária da floresta e a propagação e velocidade dos incêndios, podendo a biomassa recuperada contribuir para a viabilidade económica das operações;

15. Convida a Comissão Europeia a levar a cabo mais investigação sobre a melhoria da prevenção dos incêndios florestais, bem como dos métodos e materiais de combate aos mesmos, e a rever as políticas de ordenamento territorial e de utilização dos solos; convida, portanto, os Estados-Membros a tomarem medidas firmes para melhorar e aplicar o seu quadro legislativo de protecção florestal e a absterem-se de actividades de comercialização, reclassificação e privatização, limitando, assim, a intrusão e a especulação; solicita que todo o saber-fazer disponível na UE, incluindo os sistemas de vigilância por satélite, seja utilizado para este fim;

16. Lamenta que tantos destes incêndios florestais sejam aparentemente provocados por fogo posto e manifesta-se particularmente apreensivo pelo facto de estes actos criminosos serem cada vez com mais frequência a causa dos incêndios florestais na Europa; solicita, consequentemente, aos Estados-Membros que reforcem as sanções penais para os crimes contra o ambiente e, em particular, para aqueles que causam incêndios florestais, e considera que uma investigação rápida e eficaz e o estabelecimento de responsabilidades, seguida de uma pena proporcional, desencorajaria comportamentos negligentes ou deliberados;

17. Manifesta apreensão com o número crescente de catástrofes causadas por condições climáticas extremas que, segundo os peritos, podem ficar a dever-se largamente às alterações climáticas decorrentes do aquecimento global; neste contexto, solicita aos Estados-Membros que tomem as medidas necessárias com vista ao cumprimento dos objectivos de Quioto e convida a Comissão a diligenciar no sentido de garantir o respeito pelos compromissos de Quioto e o seu seguimento; solicita à Comissão e a todas as autoridades públicas competentes que tenham em conta as alterações climáticas e a probabilidade crescente de catástrofes como inundações e incêndios florestais quando estabelecerem orçamentos e reservas para imprevistos para os serviços de emergência;

18. Solicita à Comissão que continue a colaborar com as autoridades nacionais, a fim de desenvolver políticas que minimizem o impacto ambiental dos incêndios; apela a uma política de reflorestação baseada no respeito das características bioclimáticas e ambientais; salienta a necessidade de recolher e registar dados relativos aos recursos naturais de cada Estado-Membro, através da criação de "Contas Verdes Nacionais" sob a forma de uma base de dados aberta a todos os cidadãos;

Page 154: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

19. Salienta que se deve prestar uma especial atenção, no caso de catástrofes naturais, às necessidades específicas das pessoas com deficiência em todas as acções empreendidas através dos Mecanismos de Protecção Civil;

20. Considera que a acção de voluntariado em matéria de protecção civil deve ser promovida e apoiada sem demora, com acções de formação básica e equipamento que possam aproveitar tecnologias avançadas, uma vez que se trata de um dos principais recursos de que os Estados-Membros dispõem para fazer face a estados de emergência provocados por catástrofes naturais; solicita à União Europeia e aos seus Estados-Membros que sensibilizem a sociedade para o valor das nossas florestas e dos seus recursos e para os benefícios da sua conservação, promovendo o envolvimento da sociedade civil através de grupos de voluntariado organizados ou de quaisquer outros métodos;

21. Considera que uma pré-condição para a protecção a longo prazo e a manutenção territorial das florestas é a programação sustentável e a implementação de um plano de desenvolvimento regional e rural que vise reduzir a desertificação rural e evitar o abandono das regiões rurais, criar um novo rendimento rural diversificado, especialmente para a geração mais nova, e estabelecer as necessárias infra-estruturas modernizadas para atrair o turismo e os serviços sustentáveis para as zonas rurais;

22. Salienta que, este ano, as catástrofes naturais e, em particular, os incêndios florestais ameaçaram consideravelmente monumentos e estações arqueológicas que se revestem de especial importância para o património cultural europeu; chama a atenção, a este respeito, para a ameaça que chegou a pairar sobre Olímpia, o local de nascimento dos Jogos Olímpicos, e, em particular, sobre o seu museu que pertence ao Património Mundial da Humanidade; solicita que sejam disponibilizados recursos caso os constantes incêndios florestais danifiquem sítios que pertençam ao património cultural europeu;

23. Insta os Estados-Membros a assegurar que todas as áreas florestais ardidas continuem a ser floresta e sejam abrangidas por programas de reflorestação, que incluam condições vinculativas, e a implementar legislação adequada no domínio da conservação e da utilização apropriada do solo, incluindo práticas sustentáveis de exploração agrícola e silvícola, gestão da água e gestão eficaz dos riscos, e a planear de imediato políticas de reconstrução alargadas para o turismo e para a economia local afectada;

24. Solicita à Comissão que controle a utilização adequada, eficaz e efectiva de todos os fundos de emergência disponibilizados para que os Estados-Membros façam face às consequências das catástrofes naturais, e solicita aos Estados-Membros que assegurem a devolução da ajuda comunitária indevidamente usada, nomeadamente no caso de não cumprimento de planos de reflorestação, e que assegurem a modernização cadastral;

25. Condena a prática da legalização da construção ilegal em zonas protegidas e geralmente não autorizadas, e insta a que se ponha termo imediato a todas as tentativas de reduzir a protecção das florestas através de alterações à Constituição grega (artigo 24º);

26. Sugere o envio de uma delegação parlamentar aos países mais afectados por recentes catástrofes naturais, a fim de manifestar a solidariedade do Parlamento à população, de controlar o nível de destruição de vidas, propriedades, redes sociais, ambiente e economia, e de retirar conclusões úteis para a melhoria da prevenção e de respostas no futuro a situações extremas semelhantes na UE;

27. Encarrega o seu Presidente de transmitir a presente resolução ao Conselho, à Comissão e aos parlamentos e governos dos Estados-Membros. (1) JO C 305 E de 14.12.2006, p. 240. (2) JO C 272 E de 13.11.2003, p. 471. (3) JO C 33 E de 9.2.2006, p. 599. (4) JO C 92 E de 20.4.2006, p. 414. (5) JO C 193 E de 17.8.2006, p. 322. (6) JO C 297 E de 7.12.2006, p. 363. (7) JO C 297 E de 7.12.2006, p. 369. (8) JO C 297 E de 7.12.2006, p. 375. (9) JO L 297 de 15.11.2001, p. 7. (10) JO C 313 E de 20.12.2006, p. 100. (11) JO C 297 E de 7.12.2006, p. 331. (12) Textos Aprovados, P6_TA(2007)0143. (13) JO L 71 de 10.3.2007, p. 9.

Page 155: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

Anexo 2

Síntese das audições parlamentares com os Membros do Governo

Page 156: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

Audições Parlamentares com Membros do Governo

MAI - 20.06.2007

MAOTDR - 10.07.2007

MADRP - 11.07.2007

MAOTDR -16.10.2007

MADRP - 17.10.2007

MAI - 23.10.2007

Ministro da Administração Interna – 20.06.2007

O Ministro da Administração Interna, Rui Pereira, empossado em 17 de Maio na sequência da saída do Ministro António Costa do elenco governativo, foi o primeiro membro do Governo a ser ouvido nesta Comissão Eventual parlamentar. O ministro Rui Pereira foi acompanhado nesta audição parlamentar pelo Secretário de Estado da Protecção Civil, Ascenso Simões, o presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil, General Arnaldo Cruz e o Comandante Operacional Nacional, Gil Martins.

O titular da Pasta da Administração Interna começou por informar os Deputados que os incêndios florestais são, a par da sinistralidade rodoviária, um dos mais graves problemas de segurança que Portugal enfrenta. “É um problema civilizacional e requer uma resposta comunitária, que identifique a floresta como um bem, não apenas económico mas ambiental”, afirmou a esse propósito. Considerou ainda que o Governo, nos últimos dois anos, tem desenvolvido uma reforma, em concordância com o seu programa, que pretende assegurar várias orientações essenciais. Em primeiro lugar, o aprofundamento da responsabilidade institucional; em segundo lugar, assegurar um comando único; em terceiro lugar, garantir o planeamento e a prevenção e o combate aos incêndios e, em quarto lugar, promover a resposta pronta e integrada do dispositivo ao problema dos incêndios florestais.

Na sua intervenção, o ministro Rui Pereira destacou a reforma em curso da Protecção Civil, a qual envolveu “em primeiro lugar, uma nova Lei de Bases da Protecção Civil; depois, um novo Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro; em terceiro lugar, a criação de uma nova Autoridade Nacional de Protecção Civil. Esta reforma está a dar frutos, com todos os agentes de protecção Civil a colaborarem estreitamente”, concluiu. Este governante destacou ainda a campanha de sensibilização em curso, “Portugal sem fogos depende de todos”, um lema “de que todos somos agentes de Protecção Civil”, afirmou. O ministro Rui Pereira abordou, de forma sucinta, a Directiva Operacional Nacional de 2007, tendo destacado que na “Fase Charlie”, correspondente ao período crítico de incêndios florestais, cerca de 8850 homens e mulheres estarão directamente envolvidos em operações de vigilância, detecção e combate aos fogos florestais. Informou ainda que durante essa fase, o dispositivo terá 52 meios aéreos, número superior às 48 aeronaves que eram propostas num estudo científico independente realizado no final de 2005.

Page 157: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

No domínio operacional, o ministro Rui Pereira frisou a criação da 1.ª Companhia Especial de Bombeiros - Canarinhos, a qual envolve 120 elementos e a criação de duas novas companhias do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro no âmbito da GNR em 2007, que acrescem às três companhias GIPS que foram constituídas em 2006 e que, nas sua óptica “têm desempenhado um papel relevantíssimo no combate aos incêndios florestais”. Referiu ainda a importância do voluntariado no quadro do combate aos incêndios florestais, tendo enfatizado a necessidade de criar estruturas profissionalizadas de Bombeiros que respondam a este fenómeno com muita proficiência.

Sublinhou também, na sua apresentação, o protocolo que envolveu os Ministérios do Ambiente e da Justiça, no qual se garante que algumas dezenas de reclusos participem, mediante remuneração na limpeza da floresta no Parque Natural de Sintra-Cascais e a celebração de um protocolo que foi celebrado com a ANAFRE, Associação Nacional de Freguesias, transferindo para as freguesias uma verba de 8 milhões de euros para a aquisição de kits de 1.ª intervenção para o combate aos incêndios florestais.

O ministro da Administração Interna também salientou a reforma do Código Penal, cuja Proposta de Lei pretende transformar o crime de incêndio florestal num novo crime, que é punível com pena de prisão de 1 a 8 anos e em que a criação do perigo de vida, integridade física ou bens patrimoniais de elevado valor surge como agravação pelo resultado, que permite elevar a pena de 3 para 12 anos. Explicou ainda os novos factos criminosos e as novas medidas cautelares previstas, tais como o internamento de inimputáveis que hajam cometido fogo posto. Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional – 10.07.2007

O titular da Pasta do Ambiente, Nunes Correia, fez-se acompanhar nesta audição parlamentar do Secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa. Na sua intervenção começou por salientar o empenho que foi colocado na preparação dos recursos humanos e dos meios materiais para a Defesa da Floresta Contra Incêndios nas Áreas Protegidas. Esclareceu, também, as responsabilidades do ICNB na gestão preventiva das Áreas Protegidas, tendo enfatizado que alguns parque naturais (Parque Nacional da Peneda-Gerês, Parque Natural da Serra da Estrela, etc.) apresentam níveis de protecção muito elevados com a vigilância, detecção e primeira intervenção, a cargo do ICNB. As equipas do ICNB também intervêm no rescaldo, na chamada vigilância pós-fogo.

O ministro Nunes Correia valorizou a articulação institucional e nesse prisma referiu a cooperação com a Direcção-Geral dos Recursos Florestais na gestão preventiva das manchas florestais, que são um elemento muito preponderante de muitas Áreas Protegidas. Nesse domínio, destacou a Direcção-Geral dos Recursos Florestais, a GNR e, especialmente o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) e os serviços regionais e municipais de protecção civil, as autarquias locais e muitas organizações da sociedade civil que participam neste processo, designadamente as associações de produtores florestais e os conselhos directivos dos baldios.

Page 158: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

O ministro Nunes Correia enfatizou ainda que em 2007, “para assegurar uma melhor coordenação entre os Parques Naturais e as intervenções da Protecção Civil, quando há um incêndio numa área protegida, está sempre presente um elemento do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) no posto de comando de combate ao incêndio”, uma inovação introduzida na Directiva Operacional Nacional de 2007 e que responde à análise dos constrangimentos identificados nos grandes incêndios florestais ocorridos nas Áreas Protegidas em 2006.

O ministro do Ambiente apresentou também aos Deputados os meios do ICNB que integram a Força Operacional Conjunta (FOCON) da Directiva Operacional Nacional, com 20 equipas de fiscalização e vigilância e 44 equipas de primeira intervenção a actuar na Fase Charlie, tendo explicado a evolução dos recursos humanos e materiais afecta à Defesa da Floresta Contra Incêndios operada naquele instituto entre 2003 e 2007 e que permitiu aumentar a sua capacidade de primeira intervenção, um aspecto que na perspectiva daquele governante “é de importância excepcional e se a situação nos Parques Naturais não tem sido pior, nos últimos anos, é porque se tem desenvolvido, sofisticado e melhor apetrechado os meios de primeira intervenção, fazendo com que a maior parte dos fogos declarados não passem de pequenos focos de incêndio rapidamente controlados”.

O ministro Nunes Correia informou ainda que as 18 torres de vigia do ICNB, a partir de 2007, passam a ser operadas pela Guarda Nacional Republicana, sendo que o ICNB dispõem de dois sistemas de vídeo-vigilância, os quais estão instalados no Parque Natural da Arrábida e no Parque Natural do Litoral Norte. Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas – 11.07.2007

O ministro da Agricultura, Jaime Silva, foi acompanhado nesta reunião pelo Subdirector-geral dos Recursos Florestais, Paulo Mateus, tendo começado por apresentar aos Deputados o balanço estatístico das áreas ardidas no 1.º semestre. De acordo com aquele relatório, “a situação é radicalmente diferente dos anos anteriores, pois tivemos um ano de chuva mais espaçados, mais regulares”, informou o ministro da Agricultura. Assim, até ao fim de Junho estavam registados 1.161 hectares de área ardida, dos quais 411ha em povoamento florestal, muito menos do que a média dos últimos cinco anos que era de 8.900ha. Ao nível das ignições também se registam, praticamente, metade da média.

O titular da Pasta da Agricultura também enfatizou a criação do Grupo de Análise e Uso do Fogo, constituído com base nos técnicos credenciados no uso do fogo controlado. Este grupo de especialistas vai actuar durante toda a época crítica, tendo o ministro Jaime Silva exemplificado a importância da sua intervenção com o fogo ocorrido em Mértola, no Parque Natural do Vale do Guadiana, onde a actuação destes especialistas permitiu controlar o fogo.

O ministro da Agricultura também informou os Deputados da evolução do processo de planeamento municipal de DFCI, que na altura contabilizava 80% das autarquias com planos municipais e 204 planos operacionais municipais, instrumentos importantes para a intervenção no território. O ministro Jaime Silva informou ainda

Page 159: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

que naquela altura havia 54 Câmaras Municipais que ainda não tinham concluído os planos, embora já estivesse em curso o seu contacto por parte da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, “insistindo no sentido de que o Ministério ajudará essas Câmaras a elaborarem o plano municipal e a elaborarem o respectivo plano operacional”, afirmou.

O ministro da Agricultura expressou o seu desalento pela baixa taxa de execução verificada no Fundo Florestal Permanente. Como referiu o titular da Pasta, ”tínhamos candidaturas para 9 milhões de euros e a taxa de execução é apenas 13%”. Não tendo essas verbas sido utilizadas, pelos municípios para limpeza de caminhos, limpeza à volta dos aglomerados urbanos, etc., o Ministro da Agricultura, decidiu “para não perder essas verbas, transferi-las para este ano” e afectar ao Programa de distribuição de kits de 1.ª intervenção às juntas de freguesia e ao Programa de Sapadores Florestais.

Sobre o Programa de Sapadores Florestais, este governante informou que vão ser criadas mais 50 a 60 equipas de sapadores florestais. Este investimento no Programa de Sapadores Florestais resulta do reconhecimento do trabalho que foi feito, “por aquilo que foi limpo, quer nas matas públicas, quer nas privadas e por aquilo que foi feito com fogo controlado – tivemos 104.000 hectares bem geridos”, afirmou o ministro Jaime Silva.

O ministro da Agricultura também manifestou preocupação no processo de constituição das Zonas de Intervenção Florestal, designadamente na morosidade do processo, tendo informado nessa ocasião que, de futuro, a redução dos emolumentos para a regularização do registo das propriedades florestais apenas se aplicaria no contexto das ZIF. Concluiu a sua intervenção com a apresentação do programa de sensibilização, em parceria com os agentes do sector e com agentes económicos, “no sentido de combatermos aquilo que é a negligência, é o comportamento dos cidadãos como grande factor da maioria das ignições que ocorreram até hoje”, adiantou. Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional – 16.10.2007

O ministro do Ambiente começou por expressar satisfação pelos resultados obtidos, tendo reconhecido o contributo das condições meteorológicas, mas também os progressos significativos na disponibilização dos meios. “Jamais foram mobilizados tantos meios de uma forma articulada, tão estruturada, como neste ano e isso, seguramente, teve impacto nos bons resultados obtidos”, afirmou. Referiu também, nessa ocasião, que as medidas de prevenção tiveram efeito na redução do número de ignições.

De seguida, apresentou os resultados apurados nas Áreas Protegidas, que de acordo com os registos do ICNB, contabilizaram 1.813ha, resultante de 326 ocorrências, naquele que foi o segundo valor mais baixo dos últimos 15 anos. Referiu ainda que ocorreram três grandes incêndios (com mais de 100ha), que foram responsáveis por 72% da área ardida em 2007. Nessa perspectiva, realçou que o facto de “cerca de 80% das ignições, terem dado origem a fogos onde ardeu menos de 1ha, mostra, verdadeiramente, a capacidade do primeiro ataque, da primeira intervenção e que estamos no caminho certo”.

Page 160: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

O Parque Natural do Vale do Guadiana foi a área protegida mais afectada pelos incêndios florestais, uma situação que na óptica daquele governante, teve este ano, características excepcionais e “levou de imediato à ponderação do que fazer em 2008 para evitar que essa situação se repita”, afirmou o ministro Nunes Correia. Nessa perspectiva o ministro do Ambiente informou os Deputados que o ICNB está em conjunto com a Câmara Municipal de Mértola, a fazer a mobilização do voluntariado jovem e que o Plano Operacional Municipal e o Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios já estão em fase de conclusão. Ainda a esse propósito, o titular da Pasta do Ambiente informou os Deputados que a Autoridade Nacional de Protecção Civil previu a cobertura de todo o território do Parque Nacional do Vale do Guadiana por uma equipa helitransportada, havendo também diligências para colocar mais uma torre de vigia, na zona do Zurral.

O ministro Nunes Correia, na avaliação que fez das alterações na estrutura do ICNB, concluiu que em 2007 houve uma melhor coordenação e articulação interna no ICNB, uma melhoria nos equipamentos para as viaturas, para a protecção individual, ferramentas e muito material de apoio, binóculos, lanternas, medidores de bolso de condições atmosféricas, GPS, etc. e uma melhor capacidade de resposta decorrente da formação que foi ministrada aos vigilantes sobre normas de segurança e técnicas de primeira intervenção. Este governante informou ainda os Deputados que estão actualmente 10 técnicos do ICNB a frequentar um curso de credenciação da técnica do fogo controlado e que em 2008, vai haver pela primeira vez um plano de fogo controlado no Parque Natural na Serra de S. Mamede.

No balanço de 2007, o ministro identificou como principal ponto fraco as várias avarias registadas no sistema de comunicações e transmissões do ICNB. “Um ponto fraco que se procurará corrigir no próximo ano, já que está a decorrer a aquisição de rádios de banda alta”, afirmou o ministro Nunes Correia. Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas – 17.10.2007

O ministro da Agricultura, Jaime Silva, começou por informar que a Direcção-Geral dos Recursos Florestais já havia procedido à distribuição do relatório com as estatísticas das áreas ardidas e o balanço da actividade desenvolvida pelos Serviços Florestais durante as Fases Bravo e Charlie. De seguida, apresentou algumas das acções que foram realizadas durante este ano e adiantou algumas novidades para o curto prazo. Com esse propósito, destacou o trabalho técnico que foi desenvolvido pela DGRF junto dos mecanismos de intervenção e combate aos incêndios e também todo o trabalho legislativo que o Ministério da Agricultura concluiu, com ênfase para a aprovação de todos os PROF e para as implicações que decorrem para o ordenamento florestal, designadamente em termos dos planos de gestão florestal.

Ainda sobre esse aspecto do planeamento florestal, este governante informou o trabalho de sensibilização que está a ser realizado junto dos privados, “porque muitos dos privados ainda não se deram conta de que no caso de não integrarem uma ZIF, que ele próprio tem um plano de gestão florestal em função da dimensão e da localização definida pelos PROF”, afirmou e é na base destes planos de gestão florestal que podemos verificar no terreno qual será o resultado progressivo de uma gestão activa da floresta portuguesa.

Page 161: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

Na intervenção proferida, este governante destacou também o papel do municípios, tendo considerado que “apesar do arranque tardio, temos hoje, em termos de planos municipais de defesa da floresta contra incêndios, o essencial feito, faltando apenas cerca de 39 Câmaras que ainda os não têm prontos”. Nesse domínio, sublinhou o facto de 82% dos planos operacionais municipais estarem concluídos, em resultado de um importante esforço de colaboração dos Municípios.

Sobre as ZIF, informou que estão 136 em constituição, sensivelmente para 650.000ha, tendo reconhecido o atraso sentido na conclusão dos processos. Sendo a criação das ZIF um elemento essencial para a gestão activa da floresta nacional, a situação actual “levou-nos a discutir com as associações florestais e a anunciar que estamos dispostos a estudar com eles a forma de agilizar os mecanismos legislativos que facilitem a constituição das ZIF, não pondo em causa a propriedade individual de cada um dos proprietários”, adiantou aos Deputados. Ainda sobre as ZIF, assumiu que os atrasos também têm a ver com “os problemas jurídicos que se prendem com o cadastro, sendo que para o cadastro estão orçamentadas verbas para o próximo ano e então, vai iniciar-se esse processo em zonas exemplares, em zonas que serão modelo, dada a importância que o Ministério da Agricultura, o Ministério do Ambiente e o Governo atribuem à floresta”, afirmou nessa ocasião, tendo dado conta aos Deputados que o Ministério decidiu prolongar por mais três anos a isenção dos emolumentos para o registo da propriedade, para facilitar a criação das ZIF.

O Programa de Sapadores Florestais foi um outro aspecto da política de prevenção estrutural do Ministério que mereceu destaque. A esse propósito, o titular da Pasta da Agricultura considerou que o programa foi um instrumento que deu resultados. “Conjuntamente com os municípios e as associações florestais decidimos triplicar as equipas de sapadores florestais”, afirmou, pois considera que os sapadores florestais estão a dar uma resposta importantíssima e “a ajudar os privados a envolverem-se mais na gestão daquilo que é deles”. Ainda sobre os sapadores florestais, o ministro Jaime Silva informou os Deputados que o seu Ministério está a estudar a possibilidade de valorizar esta profissão, por via do reforço da formação profissional, designadamente ao nível do uso do fogo controlado.

Sobre a sensibilização, que é um dos aspectos mais importantes do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, o ministro da Agricultura informou que foram realizadas campanhas de sensibilização para o grande público e campanhas mais focalizadas em públicos-alvo mais específicos, desde pastores, a municípios e a escolas que chegou a 473.000 pessoas. Neste aspecto, destacou os protocolos celebrados com as associações de produtores florestais, que fazem campanhas de sensibilização nas aldeias.

O ministro da Agricultura referiu-se ainda à reorganização operada no Ministério da Administração Interna, designadamente em termos do reforço do comando único, tendo destacado nesse processo a integração, a nível distrital de técnicos florestais especializados em DFCI, conhecedores do terreno e das práticas de combate a incêndios e a nível local, de técnicos especializados no uso do fogo. Sobre estes últimos, afirmou que foi reconhecido por parte da ANPC o contributo da perícia técnica na orientação e definição das estratégias de combate, nos incêndios em que intervieram, sendo que o Grupo de Análise e Uso do Fogo está operacional e irão ser preparadas novas equipas em 2008.

Page 162: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

O ministro da Agricultura concluiu com a indicação dos atrasos na aplicação de verbas, designadamente na Medida AGRIS 3.4 (49% execução) e na Acção Integrada no Pinhal Interior (58% execução). Relativamente ao Fundo Florestal Permanente, informou os Deputados que foram gastos 5,5 milhões de euros no apoio aos gabinetes técnicos florestais, 5,89 milhões de euros na prevenção estrutural, na execução dos planos e com as equipas de sapadores florestais, 2,8 milhões de euros nas campanhas de sensibilização e 508.000 euros em vários protocolos. No plano financeiro, o ministro Jaime Silva informou ainda os deputados sobre os projectos de recuperação das áreas ardidas ao abrigo do programa AGRO, no qual existe uma taxa de execução de 70%. Ministro da Administração Interna – 23.10.2007

O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, começou a sua intervenção por enfatizar a importância da sensibilização e a oportunidade do lema adoptado “Portugal Sem Fogos Depende de Todos”, um lema responsabilizador da participação de todos como agentes de protecção civil e que na sua perspectiva foi uma mensagem que passou para as pessoas.

De seguida, abordou o processo legislativo, tendo sublinhado a profunda comunhão de esforços que existiu entre o Governo e a Assembleia da República em todo o processo de Reforma da Protecção Civil. Nesse particular, destacou a aprovação da Lei de Bases da Protecção Civil, do Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro (SIOPS) e ainda na aprovação da legislação no sentido do enquadramento da Protecção Civil no âmbito municipal. Também no plano dos bombeiros têm sido aprovados diplomas estruturantes, “verdadeiramente decisivos como o regime jurídico das Associações Humanitárias, o regime jurídico dos corpos bombeiros e o regime jurídico dos Bombeiros Portugueses”, afirmou.

Na sua intervenção, o Titular da Pasta da Administração Interna também se referiu à revisão do Código Penal, na qual houve um enfoque novo dos incêndios florestais. “O crime de fogo posto que era até aqui um crime previsto como um crime contra bens pessoais e que se consumava quando fosse criado um perigo concreto doloso contra a vida, a integridade física ou bens patrimoniais de alguém, passou a ser previsto como um crime contra bens da colectividade, contra bens comunitários, contra bens ambientais, que se consuma quando houver um fogo posto, independentemente da criação desse perigo concreto contra bens individuais”, explicou o ministro Rui Pereira.

O ministro da Administração Interna também considerou que ao nível estrutural tem havido um envolvimento de novos agentes na prevenção e no combate dos incêndios florestais. Nesse campo, destacou a criação dos GIPS na GNR e a criação da primeira Companhia Especial de Bombeiros – Canarinhos, qual irá ser alargar a mais três distritos em 2008. Igualmente destacou o processo de criação de equipas de intervenção permanente, resultantes de um protocolo entre a Autoridade Nacional de Protecção Civil, a ANMP e a Liga de Bombeiros. Estas equipas “são essenciais ao nível dos municípios para criar uma força altamente especializada de combate a incêndios”, afirmou, estando prevista a criação de 200 equipas até 2009, em todo o País. A criação destas equipas profissionalizadas nas Associação Humanitárias dos Bombeiros Voluntários,

Page 163: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

concretiza-se num quadro mais amplo da profissionalização progressiva da Protecção Civil em Portugal.

A existência do comando único no combate e na prevenção de incêndios mereceu um forte destaque positivo por parte do Ministro Rui Pereira. “Um comando único, inquestionável, com capacidade de acção, capaz de promover uma efectiva coordenação entre todos os agentes envolvidos e uma boa cooperação entre todos os organismos com responsabilidades na prevenção e no combate aos incêndios” foi um aspecto considerado como crucial para os resultados obtidos em 2007, sobretudo tendo em conta a complexidade do Sistema de Protecção Civil, porque agrupa organismos de natureza muito diferentes e com funções muito diferentes.

A rapidez da primeira intervenção, essencial para minorar as consequências das ignições, foi um outro aspecto destacado pelo Ministro Rui Pereira, que reconheceu, numa análise geral, “houve um esforço muito efectivo e muito eficaz, na prevenção e no combate e foi desse esforço que dependeu um resultado muito melhor do que aquele que se verificou na média dos últimos ano”, sem esquecer as condições favoráveis do clima. Ainda na análise ao desempenho do dispositivo operacional de combate aos incêndios florestais, que teve na Fase Charlie 2.000 viaturas, 9.000 homens e mulheres directamente envolvidos neste esforço, o ministro Rui Pereira sublinhou que “está implementada uma doutrina sobre o emprego e o recurso a meios aéreos, clara, precisa, e que todos os agentes compreendem”. A generalização dos equipamentos de segurança foi um outro aspecto positivo, que na sua óptica traduziu-se num ganho, muito substancial, no combate aos incêndios.

O ministro da Administração Interna na análise que fez dos resultados estatísticos começou por afirmar que o risco de incêndio foi idêntico aos anos 2001 ou 2002 e, no entanto, houve muito menos ocorrências e houve muito menos área ardida. “Tivemos em 2007, menos 43% de ocorrências do que em 2006 e menos 56% de ocorrências do que na média dos últimos 5 anos. Em contrapartida registamos em 2007, menos 77% da área ardida do que em 2006 e menos 92% de área ardida do que na média dos últimos 5 anos”, afirmou em jeito de balanço. Na sua análise, nestes resultados operacionais verifica-se uma progressão de diminuição da área ardida que prova que “a nossa resposta foi mais pronta, mais rápida, mais eficaz, com melhor utilização dos meios aéreos, com meios mais programados e pré-posicionados”, afirmou o governante.

Em conclusão do balanço, o titular da Pasta da Administração Interna afirmou que o facto de o número de ocorrências e da área ardida ser comparativamente menor do que em anos anteriores, “não nos permite descansar ou considerar que vencemos o combate”. Uma afirmação assertiva, sobretudo se tivermos presente que “o combate continua e no próximo ano temos de estar dispostos novamente a fazer o melhor e fazer sempre melhor do que fizemos até aqui”.

Page 164: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

Anexo 3

Síntese das visitas parlamentares

Page 165: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

Instituto de Meteorologia - 23.07.2007

A ordem de trabalhos desta visita parlamentar incluiu o acompanhamento, através de vídeo-conferência do briefing operacional com o CNOS/ANPC, a apresentação das actividades do Instituto de Meteorologia (IM) na prevenção e combate aos fogos florestais, a cargo da Directora do Departamento de Meteorologia e Clima, Dr.ª Teresa Abrantes, e ainda uma apresentação institucional sobre o papel do IM na redução dos Impactos dos desastres naturais pelo Presidente do Conselho Directivo, Dr. Adérito Serrão. Foi ainda realizada uma visita ao Centro Operacional do IM – Geofísica, Meteorologia e Informática. O Chefe de Gabinete do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Eng. Armando Trigo de Abreu, acompanhou os deputados nesta visita parlamentar.

A Directora do Departamento de Meteorologia e Clima apresentou a informação diária produzida sobre o risco de incêndio (FWI – Fire Weather Índex) e explicou as classes de risco, a nível municipal, e os produtos disponibilizados no âmbito do Índice Meteorológico de Perigo de Incêndio. Informou ainda dos novos produtos (em fase de avaliação) baseados em tecnologia de detecção remota para a detecção precoce de incêndios e monitorização de áreas ardidas e ainda do Índice Combinado de Risco de Incêndio.

Do debate realizado ressaltaram as dificuldades do processo de integração de todas as redes de observação meteorológica que existem em Portugal e algumas fragilidades importantes do IM no domínio do apoio à prevenção dos incêndios florestais, tais como a necessidade de reforço do quadro de técnicos e do reforço de infra-estruturas, designadamente de um radar no norte do país. Visita ao distrito de Viseu/Mortágua - 30.07.2007

Esta visita parlamentar, que teve o acompanhamento do Secretário de Estado da Protecção Civil, Ascenso Simões, do Governador Civil de Viseu e do Comandante distrital, teve na reunião realizada na Câmara Municipal de Mortágua o seu ponto alto, onde foi possível debater a acção realizada, naquele município, na prevenção dos incêndios.

Aqui, foi salientado a mudança verificada na mentalidade das pessoas em relação aos incêndios, tendo sido concretizadas, com o apoio dos agricultores, algumas das medidas de prevenção fundamentais, tais como a limpeza dos terrenos (que hoje é vista como uma tarefa fundamental) e a rede viária, que muitas vezes foi “desenhada” pelos agricultores, conhecedores do terreno e que se têm manifestado determinantes para o combate célere dos incêndios nascentes. Nessa perspectiva, foi enfatizado a importância do envolvimento e da cooperação das Juntas de Freguesia para o sucesso das medidas de prevenção dos incêndios florestais. Nesta ocasião, o Presidente da Câmara, Afonso Abrantes, realçou que os investimentos feitos na prevenção têm dado frutos, pois evitaram muitos incêndios tornando a floresta uma actividade lucrativa.

Em Santa Comba Dão, foram visitados os meios aéreos numa das bases permanentes da Protecção Civil, o qual constitui uma das bases das equipas helitransportadas dos GIPS/GNR. No briefing operacional que ali teve lugar foi possível aos Deputados constatar a importância da primeira intervenção na estratégia de

Page 166: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

combate aos incêndios florestais, em que a rapidez da resposta pode evitar a propagação do incêndio e que este atinja dimensões incontroláveis.

O Governador Civil de Viseu, Acácio Pinto; concluiu que a visita permitiu demonstrar a boa articulação existente entre todas as entidades que participam no plano distrital de prevenção de incêndios florestais, um aspecto que na sua opinião torna a capacidade de prevenir e agir cada vez mais eficaz. Visita ao distrito da Guarda/Manteigas – 31.07.2007

A visita parlamentar ao distrito da Guarda iniciou-se com uma reunião no Governo Civil, a qual contou com a presença do Secretário de Estado da Protecção Civil, Ascenso Simões, da Governadora Civil da Guarda, Maria do Carmo Borges e do Comandante Distrital de Operações de Socorro. Nesta reunião foi apresentado aos Deputados o dispositivo de combate aos incêndios florestais no distrito da Guarda e alguns dados estatísticos, tendo-se realçado a coordenação existente e a importância da primeira intervenção na estratégia de combate aos incêndios florestais.

Esta visita parlamentar ao distrito da Guarda teve o seu ponto alto na reunião com o ICNB em Manteigas, nas instalações do Parque Natural da Serra da Estrela. O Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, fez-se representar pelo Dr. João Alves, coordenador do grupo de trabalho de incêndios florestais, fez uma apresentação sobre os incêndios rurais em Áreas Protegidas em 2007 e sobre o plano de actuação desta entidade para a prevenção e apoio ao combate.

A URZE – Associação de Produtores Florestais da Encosta da Serra da Estrela, apresentou o projecto de constituição da ZIF do Malhão, a que se seguiu uma visita ao terreno. Foi explicado aos Deputados que em 2003 procedeu-se à divisão do concelho de Seia em unidades de gestão, tendo sido seleccionada uma unidade de gestão-piloto para efeitos de demonstração das boas práticas de gestão florestal.

O Presidente da Câmara Municipal de Seia, Eduardo Mendes de Brito, na sua intervenção, salientou a importância da proibição da realização de qualquer tipo de fogo de artifício durante o período crítico, enquanto medida preventiva dos incêndios florestais, apesar de todas as implicações que acarreta na mudança de costumes das populações. Visita ao distrito de Vila Real/Baldio de Fafião (Montalegre) – 07.08.2007

Os deputados da Comissão Eventual reuniram com o Conselho Directivo dos Baldios de Fafião (Freguesia de Cabril, Montalegre), que consideraram como um “bom exemplo”, onde se concilia a floresta com a pastorícia e o turismo, numa lógica integrada de gestão do território. O responsável do Baldio descreveu a política de reflorestação concretizada após o incêndio que consumiu 1.000ha, do total de 2.100ha daquele Baldio. Na reflorestação foram usados pinheiros bravos e silvestres, bétulas, carvalhos e sobreiros e abertos vários caminhos de forma a dar descontinuidade à floresta. Um conjunto de boas práticas de ordenamento florestal que mereceu o elogio do Governador Civil de Vila Real, António Martinho.

Page 167: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

O Presidente da Câmara Municipal de Montalegre, Fernando Rodrigues, expressou uma opinião muito positiva acerca do Conselho Directivo do Baldio de Fafião, o qual mantém uma estreita relação com a população e que, por essa via, respeita mais a floresta. Nessa ocasião, salientou as parcerias proveitosas que o Baldio estabeleceu com o Parque Nacional da Peneda-Gerês.

O Director-adjunto do Parque Nacional da Peneda-Gerês, por seu turno, apresentou os termos do protocolo tripartido que foi celebrado entre o PNPG, o Conselho Directivo do Baldio de Fafião e a empresa E-value, numa perspectiva de que o Baldio não podia ser olhado apenas como um espaço florestal, num quadro de maior abertura à iniciativa privada para investimentos, tendo-se tornado o primeiro Conselho Directivo a comercializar créditos de carbono. O protocolo celebrado no dia 9 de Julho, visou a aquisição de 4500 toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), provenientes do serviço de sequestro de carbono aprovisionado por povoamentos florestais no Parque Nacional da Peneda-Gerês. A aquisição será feita a partir de duas plantações de carvalho e pinheiro bravo, no concelho de Montalegre, e uma plantação de carvalhos, na Mata Nacional do Gerês, no concelho de Terras de Bouro, as quais passarão a integrar o portfólio de áreas florestais “CarbonoZero” daquela empresa de consultadoria. Reunião na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Vila Real) – 07.08.2007

A reunião na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) foi aberta pelo Vice-Reitor, que apresentou, de uma forma sucinta, uma panorâmica do trabalho desenvolvido na área das ciências florestais e os projectos de investigação em curso.

De seguida, o Prof. Hermínio Botelho, investigador da UTAD, apresentou o projecto de investigação internacional “FIRE PARADOX”, financiado pela Comissão Europeia, que está a ser coordenado por instituições universitárias de Portugal e França e em cuja génese esteve directamente envolvido o Prof. Francisco Castro Rego (Director-Geral dos Recursos Florestais), na qualidade de investigador e docente do Instituto Superior de Agronomia.

No quadro do projecto “FIRE PARADOX”, os Deputados visionaram um pequeno filme para mostrar o potencial de uso do fogo nos dois sentidos, na prevenção e no combate aos incêndios florestais. O Eng. Paulo Fernandes (UTAD), nesse contexto, falou da técnica do fogo táctico (contra-fogo) como uma ferramenta de combate indirecto aos incêndios florestais e nas suas vantagens, nomeadamente, a circunstância de não necessitar de rescaldo. O Eng. Moreira da Silva, por seu turno, explicou a técnica do fogo controlado como ferramenta de gestão florestal, tendo enfatizado o facto de ainda existir muita resistência em aceitar a utilização desta técnica nos povoamentos florestais.

O Prof. Hermínio Botelho também apresentou o protocolo celebrado entre a UTAD e a Autoridade Nacional para a Protecção Civil, no âmbito do qual técnicos da UTAD vão avaliar, este Verão, o combate aos grandes fogos florestais, para produzir recomendações conducentes à melhoria das estratégias de combate nesses teatros de operações complexos.

Page 168: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

A visita ficou concluída após uma breve descrição do trabalho realizado no Departamento Florestal, com a apresentação dos principais projectos de investigação e desenvolvimento em curso nos domínios do Comportamento do Fogo, da Ecologia do Fogo e da Gestão dos Combustíveis.

O projecto de investigação científica “FIRE PARADOX”, que decorre entre 2006 e 2012, visa analisar os aspectos técnicos e as questões sociais que envolvem os incêndios florestais. A actividade deste projecto centra-se nos domínios da pesquisa, avaliação do risco, desenvolvimento de tecnologias, divulgação de conhecimentos e treino vocacional, como por exemplo o fogo controlado. O projecto “FIRE PARADOX” é financiado no âmbito do 6.º Programa Quadro de I&D da União Europeia, e é co-coordenado pelo "Centro de Ecologia Ambiental Professor Baeta Neves", do Instituto Superior de Agronomia, e pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Estão envolvidos no projecto estão 35 parceiros, de 17 países, e algumas organizações não-governamentais. Em 2007, Portugal acolheu a 2.ª Base Cientifica do projecto, que esteve sitiada na Lousã durante o mês de Agosto. O projecto prevê a preparação de um livro branco, com linhas orientadoras para decisores políticos em matéria de Defesa da Floresta Contra Incêndios: “THE FIRE PARADOX

WHITEBOOK, with guidelines for policy makers”.

Visita ao distrito de Setúbal/Serra da Arrábida – 14.08.2007

A visita teve inicio no Quartel dos Bombeiros Voluntários de Palmela, onde funciona o Comando Distrital de Operações de Socorro. Esta visita teve o acompanhamento do Secretário de Estado da Protecção Civil e da Governadora Civil de Setúbal, Teresa Almeida. Foi realizado o briefing semanal, onde o comandante distrital da Protecção Civil apresentou os meios de combate no Distrito de Setúbal, tendo realçado que apesar de existirem muitos Corpos de Bombeiros, a distribuição era desigual entre a Península de Setúbal, no norte do distrito e a Costa Alentejana, a Sul. A serra da Arrábida e as serras de Grândola e do Cercal constituem as principais zonas criticas do distrito. O comandante distrital explicou a estratégia adoptada em 2007, de reforço dos patrulhamentos e da capacidade de ataque inicial, para o qual contribui de forma decisiva o pré-posicionamento de meios em locais estratégicos e a mobilização precoce de meios para ataque ampliado.

Page 169: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

O problema dos incêndios peri-urbanos e a estratégia de prevenção de incêndios florestais da Mata dos Medos e Arriba Fóssil da Costa da Caparica foram outras preocupações expressas pelos Deputados nesta reunião.

De seguida, a delegação dirigiu-se para Setúbal onde visitou a central de controlo do equipamento de vídeo-vigilância instalado no Parque Natural da Arrábida. Aqui teve lugar uma breve apresentação das principais áreas de intervenção pela Directora-adjunta desta Área Protegida, chamando especialmente a atenção para a cartografia de gestão do risco de incêndio da Serra da Arrábida. Relativamente ao sistema de vídeo-vigilância do PNArrábida, os Deputados foram informados que este sistema, cuja instalação orçou em 1 milhão de euros, desde Maio tinha as 10 câmaras inoperacionais, motivado por avarias provocadas por trovoadas.

No período da tarde realizou-se uma reunião de trabalho no Convento da Arrábida, com a participação de autarcas dos concelhos de Setúbal, Sesimbra e Palmela e ainda com a Fundação Oriente, a direcção da Área Protegida, a AFLOPS, a ARCOLSA, e a Liga da Protecção da Natureza. Nesta reunião foi amplamente discutido o perigo de um incêndio com inicio no Portinho da Arrábida ou em Alportuche poder destruir o Convento da Arrábida e a necessidade de rapidamente se encontrar uma solução para diminuir o risco de incêndio em torno daquele um importante conjunto de património edificado.

Além disso, foi abordado o atraso na constituição do gabinete florestal intermunicipal e do plano intermunicipal de defesa da floresta contra incêndios foi abordado nesta reunião, tendo as autarquias justificado esse atraso com a necessidade de desbloquear verbas e criar as devidas condições financeiras para a implementação e funcionamento dos gabinetes intermunicipais a fim de ser levado a cabo um trabalho sério na prevenção dos fogos. Refira-se a este propósito que no final de 2007, quer o gabinete técnico quer o plano intermunicipal de DFCI ainda não existiam.

A visita terminou com a apresentação do dispositivo de protecção da floresta da AFLOPS, na Herdade da Apostiça (Sesimbra). Visita ao distrito de Beja/ Herdade da Contenda (Moura) – 20.08.2007

A visita teve inicio com uma reunião na Câmara Municipal de Moura. O Presidente da autarquia, José Pós-de-Mina realçou o facto de Moura ser o município mais quente do País, com cerca de um terço do território ocupado por floresta, sendo que o Plano Municipal de DFCI já se encontra aprovado. Nesta reunião, o autarca de Moura relatou ainda a discórdia existente com a DGRF quanto ao plano de gestão da Herdade da Contenda. A esse propósito argumentou que pelo facto da propriedade estar arrendada ao Estado português pela Câmara Municipal de Moura , esta deveria ter uma maior participação na sua gestão. A Herdade da Contenda, que foi o objecto desta visita parlamentar, tem cerca de 5.250ha, situando-se numa zona ecológica detentora de uma notável diversidade vegetal e animal. Os terrenos estão submetidos ao Regime Florestal desde 1959, pelo que a arborização e exploração florestal são da responsabilidade do Estado, através dos serviços florestais. A Herdade da Contenda tem constituída uma Zona de Caça Nacional, famosa pela exploração cinegética da caça maior, designadamente o veado e integra um Sitio Classificado da Rede Natura 2000.

Page 170: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

O então Director-Geral dos Recursos Florestais, Francisco Castro Rego, apresentou o plano de ordenamento e gestão florestal da Herdade da Contenda. Os deputados puderam observar, durante a visita, o ordenamento florestal e as medidas de DFCI existentes no local (figura 1). A existência de apenas uma Corporação de Bombeiros num raio de 50 km, não dispondo de quaisquer meios aéreos é um factor de preocupação na protecção desta importante mancha florestal.

Figura 1: Herdade da Contenda - Faixas de descontinuidade dos combustíveis. (Autor: Miguel Galante)

No final da visita, os deputados da Comissão reconheceram o esforço da DGRF na implementação das boas práticas de gestão florestal na Herdade da Contenda, que consideraram como um dos bons exemplo de ordenamento florestal, onde a compartimentação da mancha florestal e uma correcta organização do espaço permitiu contrariar o processo de desertificação física do território. A visita parlamentar foi encerrada com a realização de um jantar-debate em Beja, sobre a relação entre a desertificação e os incêndios florestais, promovido pelo Governador Civil de Beja, General Manuel Soares Monge. Neste debate intervieram como oradores convidados o Eng. Victor Louro (ex-ponto focal do Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação) e o Prof. Amílcar Soares (IST/ROADS), o qual apresentou uma palestra sobre o tema em debate. Visita ao distrito de Beja / Parque Natural do Vale do Guadiana (Mértola) – 21.08.2007

O Parque Natural do Vale do Guadiana tem uma área de cerca de 70.000ha, distribuída pelos municípios de Mértola e Serpa, com um clima tipicamente mediterrânico. É aqui que se verificam as mais baixas precipitações do País e os mais elevados níveis de insolação e temperatura. A visita a esta Área Protegida teve inicio com a realização do briefing operacional semanal do Governo Civil, na sede do Parque Natural do Vale do Guadiana. Esta Área Protegida sofreu três incêndios de grandes

Page 171: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

dimensões durante o Verão de 2006, tendo ardido 512ha. Em 2007, à data da visita já havia sido percorrida por dois grandes incêndios florestais, responsáveis por 1.130ha de área ardida. Da visita efectuada ao Parque Natural resultou a necessidade da elaboração célere do Plano de Ordenamento do Perímetro Florestal de Mértola, a necessidade de promover a utilização do pinheiro manso em consociação na rearborização das áreas ardidas e do fomento da silvo-pastorícia na manutenção do montado tradicional, enquanto forma de reduzir o risco de incêndio. O deputado Carloto Marques (PSD) nessa ocasião referiu a imperiosa necessidade de se desenvolver um plano para apoiar a Serra do Caldeirão, na recuperação da extensa área ardida em 2004. O Comandante Distrital da ANPC sublinhou que o distrito de Beja é geograficamente muito grande, com uma grande dispersão de Corpos de Bombeiros, com acessos difíceis e falta de pessoal. A concluir esta visita parlamentar, o deputado Miguel Ginestal (PS), que preside à Subcomissão parlamentar de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, sublinhou junto do Chefe de Gabinete do Secretário de Estado do Ambiente, Carlos Brito de Sá, que “Portugal deve assumir os erros do passado e apoiar a plantação das espécies

florestais mais adequadas, consoante as regiões e as condições de solo e tendo em atenção as alterações

climáticas”. No contexto desta Área Protegida, na sua perspectiva, importa valorizar o montado de sobro e azinho, para contrariar o processo de desertificação dos solos, que entra em Portugal precisamente pelo Vale do Guadiana.

Visita ao distrito de Évora / Serra d`Ossa – 27.08.2007

A visita à Serra d’Ossa teve por objecto avaliar in situ os trabalhos de recuperação e reordenamento florestal daquela importante mancha florestal. Recorda-se que foi aqui que ocorreu um dos maiores incêndios florestais de 2006, com mais de 5.000ha. Após uma visita da delegação pela área ardida, acompanhada pelo Eng. Pedro Moura (Administrador do Grupo Portucel/Soporcel), seguiu-se uma reunião no Convento de S. Paulo (Aldeia da Serra/Redondo), promovida pelo Governo Civil de Évora, com a participação do Director Geral dos Recursos Florestais e os Presidentes das Câmaras Municipais de Estremoz e Borba. Nesta reunião foram apresentados pela AFLOPS os projecto de recuperação da área ardida em curso, tendo o Director-Geral dos Recursos Florestais defendido a existência de uma floresta que se proteja contra incêndios, sabendo-se que tudo começa no seu ordenamento. Este dirigente referiu a lógica da reconversão dos espaços florestais preconizada na Estratégia Nacional para as Florestas, com a implantação da floresta adequada no local adequado, e no contexto especifico da Serra d’Ossa é importante a reconversão de uma grande área de eucaliptal para montado, tornado esta importante mancha floresta menos vulnerável aos incêndios florestais. A AFLOPS apresentou o projecto de minimização do impacto ambiental da área ardida e as medidas a curto e médio prazo adoptadas, tendo em atenção a regularização do escoamento superficial e o risco de erosão. Foi ainda feita uma referência ao plano estratégico de recuperação da Serra d`Ossa, com faixas de interrupção de combustível e infra-estruturação territorial, acções que foram objecto de financiamento comunitário. O Eng. Pedro

Page 172: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

Moura referiu-se ainda ao projecto de controlo dos processos erosivos, de eliminação de material lenhoso e reconversão dos espaços florestais, defendendo que tinham sido tomadas as medidas mais adequadas.

Vista ao distrito de Portalegre/Parque Natural da Serra de S. Mamede – 28.08.2007

A visita teve inicio com a realização do briefing semanal distrital no auditório do Parque Natural da Serra de S. Mamede, o qual foi presidido pelo Governador Civil de Portalegre, Jaime Estorninho. O Ministro da Administração Interna, Rui Pereira, e o Secretário de Estado da Protecção Civil, Ascenso Simões, acompanharam os deputados nesta visita parlamentar. O representante do parque natural da Serra de S. Mamede deu conta da ocupação do solo e do risco de incêndio, tendo a esse propósito apresentado a carta de prioridade de intervenção em incêndios rurais/2007 (Figura 2), as áreas de intervenção condicionada (restrição total e restrição parcial), áreas prioritárias para a conservação e intervenção AGRIS 2004 – Junho 2007 e ao fogo controlado. A esse propósito, o deputado Carloto Marques (PSD) refefiu a importância das Áreas Protegidas terem financiamento dentro do PRODER. Uma nota especial para a participação neste briefing operacional do Director Nacional Adjunto da Policia Judiciária, Dr. Pedro do Carmo. Na sua intervenção fez uma referência à actividade de investigação criminal que a Policia Judiciária desenvolve no domínio do crime de incêndio doloso, tendo afirmado que o crime doloso de incêndio florestal não é a principal causa dos incêndios florestais em Portugal, mas sim a negligência.

Figura 2: Carta de prioridades de intervenção em incêndios rurais

PNSSM 2007. (Fonte: ICNB)

Visita ao distrito de Coimbra/Lousã – 03.09.2007

A visita teve inicio com uma reunião no edifício do Centro de Meios Aéreos da Lousã, onde também funciona o Centro de Formação da Escola Nacional de Bombeiros. Esta reunião teve a presença do Governador Civil de Coimbra e do comandante distrital de Protecção Civil, tendo sido apresentado o plano operacional distrital. O Governador Civil, Henrique Fernandes, destacou o papel da vigilância dissuasória na diminuição significativa do

Page 173: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

número de ignições. Destacou também a importância da detecção precoce das ignições para a eficácia do ataque inicial, tendo reduzido a área ardida para 1/5 daquela registada em 2006. Igualmente enfatizou os melhoramentos introduzidos no dispositivo ao nível das comunicações e dos procedimentos operacionais, em que a unidade de comando tem desempenhado um papel fundamental na coordenação dos meios. O comandante operacional distrital explicou os objectivos das operações de vigilância armada, realizado pelos aerotanques ligeiros Dromader nos dias de alerta amarelo, no quadro do conceito de operação da DON. Expressou ainda a preocupação do controlo dos reacendimentos nos grandes incêndios florestais, tendo enfatizado a esse propósito a importância do uso das maquinas de rasto na consolidação dos perímetros das áreas ardidas. O capitão Patrício, responsável do GIPS/GNR, explicou a acção das equipas do GIPS quer no contexto do ataque inicial quer na vigilância e fiscalização, tendo-se identificado como principais infracções a falta de limpeza em torno das habitações e as queimas de sobrantes da agricultura. De seguida, a delegação visitou o Centro de Meios Aéreos da Lousã. A visita prosseguiu com uma reunião com a Direcção-Geral dos Recursos Florestais no Centro de Operações e Técnicas Florestais da Lousã, onde foi apresentado aos deputados pelo Eng. Paulo Mateus, Subdirector-Geral para a DFCI, o Grupo de Análise e Uso do Fogo, as actividades desenvolvidas nos domínios da sensibilização, da formação profissional ministrada no comportamento do fogo, no uso do fogo controlado e aos técnicos dos Gabinetes Técnicos Florestais e ainda o Programa de Sapadores Florestais. Foi referido que o planeamento municipal de DFCI constituiu a grande prioridade da acção da DGRF em 2007. A visita parlamentar foi concluída com uma reunião na Câmara Municipal da Lousã, onde foi apresentado aos deputados o Plano Municipal Operacional de 2007 e das acções de silvicultura preventiva realizadas ao abrigo do projecto submetido à medida AGRIS 3.4, tendo então afirmado que iriam manter as equipas de vigilância e 1.ª intervenção, com responsabilidade de pagamento por parte da Câmara, dada a sua importância nas acções de primeira intervenção. . Nesta ocasião o Presidente da autarquia, Fernando dos Santos Carvalho, sublinhou as preocupações com o abandono da floresta e a importância do POM, num processo de melhoria contínua, na organização/coordenação dos meios à escala municipal na vigilância, detecção e 1.ª intervenção. O projecto da ZIF da Serra da Lousã também foi abordado na reunião, tendo o autarca explicado que a impossibilidade de integração dos baldios na ZIF, par com o problema da ausência de cadastro dos “casais”, motivou o abandono da iniciativa. Os deputados foram ainda informados do projecto em curso de certificação da gestão florestal da Serra da Lousã, uma iniciativa promovida pela SONAE para a obtenção de madeira de pinho certificada para a industria. Visita ao distrito de Coimbra/Serra da Boa Viagem - 04.09.2007

A visita parlamentar à Serra da Boa Viagem na Figueira da Foz, teve no plano de recuperação da área ardida em 2005 o seu ponto alto. O Eng. António Gravato, Director da Circunscrição Florestal do Centro da DGRF, começou por recordar os deputados da visita que foi efectuada pela anterior Comissão em 2006. De seguida,

Page 174: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

apresentou o projecto de recriação do parque florestal da Boa Viagem, na Mata Nacional do Prazo de Santa Marinha. Nesse âmbito, forma criadas parceiras ao nível institucional com a Câmara Municipal da Figueira da Foz e também ao nível empresarial, tendo exemplificado com a parceria estabelecida com a Portucel. Aquele dirigente apresentou ainda os trabalhos de Engenharia Militar realizados em 21,5km de rede viária nesta Mata Nacional ao abrigo do protocolo celebrado com o Exército (plano Vulcano). A visita foi concluída com a apresentação do projecto EEA-Grants, o qual vai permitir a concepção, planeamento e execução de Redes Regionais Defesa da Floresta Contra Incêndios, com intervenção numa área de cerca 800.000ha em 34 municípios da região Centro até Dezembro de 2009, num valor de investimento orçado em 1,2 milhões de euros. O projecto incide em duas zonas: as Montanhas Ocidentais, que incluem a zona de Dão-Lafões e do Centro Litoral, e a Cordilheira Central, que abrange a Beira Interior Norte e o Pinhal Interior Norte. No final da reunião, foi descerrada a placa de instalação da sede do projecto EEA Grants na Casa da Vela, onde irá ser instalada a coordenação da zona das Montanhas Ocidentais (Figura 3). Antes do final da visita, os deputados puderam observar as plantações já realizadas para a recuperação da área ardida, bem como os trabalhos de silvicultura preventiva realizados por funcionários da autarquia e sapadores florestais na Serra da Boa Viagem.

Figura 3: Placa de instalação da Casa da Vela – projecto EEA Grants. (Autor: Miguel Galante)

Page 175: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

Reuniões no CNOS/ANPC

Os Deputados da Comissão Eventual para o Acompanhamento e Avaliação da Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, realizaram duas reuniões no Comando Operacional de Operações e Socorro da Autoridade Nacional de Protecção Civil (CNOS/ANPC), ambas presididas pelo Secretário de Estado de Protecção Civil, Ascenso Simões, na presença de membros da presidência da ANPC e do Comandante Operacional Nacional, Paulo Gil Martins. A primeira reunião aconteceu no inicio do período crítico em 17.07.2007 e a segunda em 11.09.2007, próximo do final desse período. Em ambas as reuniões, os Deputados puderam assistir ao briefing diário desta estrutura de acompanhamento, tendo intervido no final para o esclarecimento de vários assuntos.

O CNOS, nos termos da Directiva Operacional Nacional n.º 2/2007, tem por missão acompanhar permanentemente a situação e o empenhamento de meios e recursos, a nível nacional, em estreita articulação com a Direcção-Geral de Recursos Florestais (DGRF), a Guarda Nacional Republicana (GNR), o Instituto de Meteorologia (IM), o Instituto de Conservação da Natureza (ICN), a Polícia de Segurança Pública (PSP), as Forças Armadas (FA), a Polícia Judiciária (PJ), a Direcção-Geral de Autoridade Marítima (DGAM), o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), o Instituto da Água (INAG), o Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC) e outras entidades públicas ou privadas que colaborem nesta matéria, como a AFOCELCA em matéria de incêndios florestais.

Nestes dois briefings operacionais foi possível apurar o ponto de situação dos incêndios activos e os meios terrestres e aéreos do Dispositivo Integrado de DFCI envolvidos, as notícias mais relevantes da comunicação social, o estado de operacionalidade da rede de rádio-comunicações, os incêndios ocorridos nas Áreas Protegidas, as condições meteorológicas observadas e a previsão do Instituto de Meteorologia para os dias seguintes, designadamente em matéria do risco meteorológico de incêndio (via vídeo-conferência) e a identificação das zonas do pais que apresentavam maior risco de incêndio florestal, através de apresentações preparadas pelos vários oficiais de ligação.

Na primeira reunião, em meados de Junho, os Deputados foram informados pelas várias entidades da estratégia adoptada e da acções realizadas de preparação para o período crítico de incêndios florestais, tendo os Deputados nesta ocasião sido convidados a realizar uma visita parlamentar às instalações do Instituto de Meteorologia pelo seu Presidente, Dr. Adérito Serrão.

Nesta reunião, o Presidente da ANPC, General Arnaldo Cruz, informou os Deputados da nova Norma Operacional Permanente (NOP) relativa à organização do Posto de Comando Operacional à luz do disposto na Directiva Operacional Nacional n.º 2/2007 e dos procedimentos adoptados este ano pelo CNOS para notificação às Câmaras Municipais de todos os incêndios com mais de duas horas de duração. Informou ainda sobre a renovação operada na página de Internet da Protecção Civil, designadamente na informação disponibilizada no CNOS on-line, acessível em www.proteccaocivil.pt, com a informação de todas as

Page 176: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

ocorrências activas com mais de 10 veículos envolvidos, em Áreas Protegidas ou com mais de duas horas de duração.

O Comandante Gil Martins, informou os Deputados, nesta reunião, que o Dispositivo Integrado de DFCI previsto para a Fase Charlie encontrava-se totalmente operacional no terreno, tendo a esse propósito explanado os principais objectivos operacionais da Directiva Operacional Nacional e que são (1) diminuir o número de incêndios com área superior a um hectare, (2) eliminar incêndios superiores a mil hectares e (3) reduzir o tempo do ataque inicial para menos de 20 minutos. De seguida, apresentou sucintamente os registos estatísticos apurados até final de Junho, os quais contabilizavam 3.810 ocorrências e 2.300ha de área ardida, valores muito inferiores face à média dos últimos anos.

Os Deputados foram também informados da nova aplicação informática desenvolvida pela ANPC para apoio à gestão da frota de meios aéreos, que em função da localização da ocorrência permite definir a distância e o rumo, proporcionando uma melhor avaliação da situação, contribuindo deste modo para uma tomada de decisão mais rápida e segura no despacho. Esta aplicação permite ainda efectuar o controlo da missão, acompanhando a sua actuação (horas de voo, cumprimento dos procedimentos, etc.) e assim melhorar o desempenho dos meios aéreos, cujos custos de operação são onerosos.

Na segunda visita, os Deputados da Comissão foram informados pelo Presidente da ANPC, General Arnaldo Cruz, que Portugal procedeu ao envio de um avião anfíbio pesado de Portugal para apoio ao combate aos incêndios florestais na Grécia, em resposta aos pedido de auxilio internacional difundidos em Julho e posteriormente renovado em Agosto pelo Mecanismo Comunitário de Protecção Civil (MIC) da UE. Ainda nesse âmbito da assistência internacional em Protecção Civil, foi referido que a cooperação entre Portugal e Espanha tem decorrido com normalidade, tendo exemplificado para o efeito com o incêndio florestal de grandes dimensões ocorrido no concelho de Mourão em 30 de Julho. Esta cooperação bilateral rege-se pelos termos estipulados no Acordo de Cooperação Técnica e Assistência Mútua em matéria de Protecção Civil, celebrado em 1992.

A propósito da cooperação bilateral ibérica refira-se que na declaração conjunta luso-espanhola sobre segurança proferida pelo Ministro da Administração Interna de Portugal, Rui Pereira e pelo Ministro do Interior de Espanha, Alfredo Pérez Rubalcaba, após a reunião de 23 de Julho de 2007, em Lisboa, foi acordada a necessidade de se fixar uma data para a assinatura da Adenda a esse Acordo que permita a cada um dos Estados aumentar de 5 para 15 km a sua possibilidade de intervenção no território do outro, concretizando o propósito já manifestado por ocasião da XXII Cimeira Luso Espanhola, que teve lugar em Badajoz, em Novembro de 2006. Nesta reunião foi igualmente acordado ampliar gradualmente esta extensão territorial a outras situações de emergência complexa na área da protecção civil nomeadamente incêndios urbanos, industriais e operações de busca e salvamento e também aprofundar a cooperação em matéria de protecção civil tanto no plano bilateral como no quadro da UE.

Page 177: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

Anexo 4

Relatório de balanço do Fundo Florestal Permanente

Page 178: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 179: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 180: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 181: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 182: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

Anexo 5

Relatório de auditoria sobre a contratação de meios aéreos

para o combate a incêndios florestais em 2005 e 2006

(Tribunal de Contas)

Page 183: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 184: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 185: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 186: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 187: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 188: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 189: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 190: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 191: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 192: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 193: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 194: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 195: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 196: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 197: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 198: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 199: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 200: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 201: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 202: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 203: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 204: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 205: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 206: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 207: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 208: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 209: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 210: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 211: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 212: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 213: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 214: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 215: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 216: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 217: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 218: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 219: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 220: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 221: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 222: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 223: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 224: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 225: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 226: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 227: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 228: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 229: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 230: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional
Page 231: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, Março 2008

Anexo 6

Estudo da avaliação do desempenho do ataque ampliado

a incêndios florestais - Sumário executivo -

(Protocolo ANPC/UTAD)

Page 232: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO

ATAQUE AMPLIADO A INCÊNDIOS

FLORESTAIS

Julho – Setembro

2007

RELATÓRIO FINAL

Vila Real – Janeiro 2008

Page 233: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

Ficha Técnica “Avaliação do Desempenho do Ataque Ampliado a Incêndios Florestais. Julho – Setembro

2007”. Protocolo ANPC/UTAD. UTAD, Vila Real, 2008.

Coordenação, Análise e Redacção

Hermínio Botelho

Carlos Loureiro

Paulo Fernandes

Monitores nas Equipas de Monitorização

Bruno Fernandes

Carla Santos

Fernando José Barros

Helena Barbosa

João Nicolau Mateus

João Tomé

Luís Sarabando

Manuel Gomes

Nelson Melo

Monitores no CNOS

Paula Lopes

Ricardo Esperança

Este trabalho foi realizado no âmbito do Protocolo entre a Autoridade Nacional de

Protecção Civil (ANPC) e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), destinado à

avaliação do ataque ampliado a incêndios florestais na fase Charlie, no ano de 2007.

Page 234: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ATAQUE AMPLIADO A INCÊNDIOS FLORESTAIS 2007

Sumário Executivo

Protocolo ANPC/UTAD Relatório final

Page 235: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ATAQUE AMPLIADO A INCÊNDIOS FLORESTAIS 2007

Meteorologia e incêndios em 2007

O ambiente meteorológico de 15 de Maio a 15 de Outubro foi em 2007 mais

favorável às operações de combate de incêndios que em qualquer um dos

períodos homólogos em 2000-2006. Apenas 35% dos dias registaram um perigo de

incêndio muito elevado ou extremo, contrastando com a média de 57% para 2000-

2006, e o índice de perigo FWI nunca atingiu os níveis realmente extremos que

marcaram 2003, 2004 e 2005.

Os grandes incêndios (superfície ardida superior a 100 ha) coincidiram com os

picos do FWI. Em 2007 a probabilidade média diária de ocorrência de fogos desta

dimensão situou-se em 0,38 face a 0,54 em 2000-2006. Seriam expectáveis 54 dias

com grandes incêndios em 2007 de acordo com a tendência de 2000-2006. O facto

de tal ter sucedido em apenas 19 dias sugere um melhor desempenho do

dispositivo operacional. Em 2007 ocorreram fogos ≥100 ha em um quarto dos dias

com perigo muito elevado e em 80% dos dias com perigo extremo, quando em

2000-2006 tal sucedeu respectivamente em mais de três quartos e em quase todos

os dias incluídos naquelas classe de perigo. Apesar de ser visível em 2007 uma

melhoria do ataque ampliado face à média de 2000-2006 não há evidências de

uma evolução positiva real, já que o desempenho de 2007 é similar àquele obtido

nos melhores anos anteriores (2000 e 2006).

Para um determinado nível de perigo meteorológico, especialmente em

condições mais severas, o número de fogos foi em 2007 substancialmente inferior,

confirmando uma tendência com início em 2004. Relativamente a 2000-2006 o

número de ocorrências ajustado para as condições meteorológicas baixou cerca

de 46%, o que terá libertado recursos para o combate ampliado.

Protocolo ANPC/UTAD Relatório final

i

Page 236: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

2007 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ATAQUE AMPLIADO A INCÊNDIOS FLORESTAIS 2007

Efectividade do combate ampliado: ilações da análise de incêndios

individuais

Em 2007 ocorreram seis incêndios cuja área individual superou 500 ha. Quatro

ficaram aquém (-25% – -54%), um praticamente igualou, e o maior (Sardoal, 2820

ha) mais que duplicou a superfície ardida relativamente aos fogos que em 2003-06

ocorreram na mesma classe de perigo meteorológico.

A análise de 36 incêndios em ataque ampliado revelou que a área queimada

por incêndio dependeu igualmente das condições meteorológicas e da duração

do fogo. A superfície ardida (em valor absoluto ou por unidade de tempo) não

apresentou qualquer relação com a quantidade de meios no TO, nem mesmo ao

exprimir por unidade de área (por ha) os veículos e guarnição.

O momento em que os incêndios foram declarados como circunscritos

coincidiu com ambientes meteorológicos moderados em três quartos dos casos. A

contenção de cerca de 58% das ocorrências deu-se ao entardecer e durante a

noite e madrugada, sendo que apenas 22% dos incêndios passaram à fase

“circunscrita” entre as 12 e as 18 horas, o período mais favorável à propagação do

fogo. Os incêndios com início à tarde foram maioritariamente (78%) circunscritos

num dos restantes períodos. As oportunidades nocturnas de controlo do fogo

ajudam a explicar a relativamente curta duração (8 horas em média, com uma

variação de 2 a 16 horas) dos 36 incêndios, apesar de apenas terem sido

confinadas na manhã ou tarde seguintes as ocorrências com início entre as 18

horas e as 6 horas por serem objecto de um menor esforço de combate.

Observações efectuadas no decurso da monitorização de incêndios

O PCO não existiu em todos os incêndios visitados e por vezes é estabelecido

tarde relativamente à evolução do incêndio, especialmente nas ocorrências

nocturnas, diferindo entre fogos com a mesma tipologia o procedimento relativo ao

momento de montagem do PCO. Não estão portanto normalizados os

Protocolo ANPC/UTAD Relatório final

ii

Page 237: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

2007 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ATAQUE AMPLIADO A INCÊNDIOS FLORESTAIS 2007

procedimentos nem claramente definidas as condições que implicam a entrada

em funcionamento do PCO, e consequentemente a passagem a ataque ampliado.

Em muitos casos houve dificuldade em conhecer a localização/posicionamento

dos meios presentes no TO no momento de montagem do PCO, e constatou-se por

vezes a ausência de planeamento do combate. O VCOC é geralmente mobilizado

por iniciativa do CODIS e nem sempre é disponibilizado com a necessária rapidez.

A estrutura do PCO variou em resposta à complexidade da ocorrência. Nem

sempre são estabelecidas (e nem sempre parecem necessárias) as posições de

adjuntos do COS e de células específicas para o Planeamento, Combate ou

Logística. A existência de TO sem PCO, mas onde a complexidade do incêndio

determina, por exemplo, a sectorização, é demonstrativa da ausência de critérios

homogéneos na condução do combate.

É variável o recurso a instrumentos de apoio à decisão e planeamento que

são essenciais para uma correcta condução das operações de combate

ampliado, caso da implementação de SITAC (sendo variável a organização de

informação), apoio SIG e meteorológico, apoio aos meios aéreos (em alguns casos

acumulado pelo COS), e criação de ZCR.

É sempre incompleto o registo do despacho de meios de combate,

provavelmente reflectindo a falta de conhecimento da movimentação de meios

na chegada ao TO. Embora o SITAC permita conhecer a quantidade e

posicionamento dos meios envolvidos no combate, o seu carácter efémero impede

uma análise a posteriori da forma como decorreu o combate, que poderia

constituir um importante instrumento pedagógico e de valorização dos recursos de

comando.

O procedimento de mobilização de meios para uma ocorrência não aparenta

estar estandardizado. No registo de envio de meios deveriam ser assinalados

aqueles que fazem parte dos grupos distritais e colunas nacionais. Os critérios que

presidem à decisão de mobilização de GRIF da CNIF, ou de GRIF distritais nem

sempre são claros, assim como a mobilização de meios militares. Na ausência de

documentação do seu posicionamento no TO foi impossível detectar os efeitos

Protocolo ANPC/UTAD Relatório final

iii

Page 238: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

2007 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ATAQUE AMPLIADO A INCÊNDIOS FLORESTAIS 2007

destes meios na evolução do incêndio. Não são ponderados os custos de mobilizar

efectivos que percorrem maiores distâncias até ao TO, em alguns casos apenas

para efectuarem operações de rescaldo.

O fluxo de informação entre o TO e CDOS/CNOS é extremamente parco em

informação que objectivamente permita perceber a evolução do incêndio e as

estratégias e tácticas de supressão utilizadas. Regra geral a informação transmitida

a partir do TO não descreve quantitativamente as condições (meteorologia,

terreno, vegetação) de evolução do fogo nem as características do mesmo. A

localização imprecisa do local da ocorrência, descontextualizada da cartografia

da área envolvente nem sempre permite uma correcta avaliação das condições

locais e potencial de desenvolvimento do fogo.

Protocolo ANPC/UTAD Relatório final

iv

Page 239: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

2007 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ATAQUE AMPLIADO A INCÊNDIOS FLORESTAIS 2007

Recomendações

Recomendações gerais relacionadas com a meteorologia e o comportamento do fogo

flexibilizar a atribuição dos níveis de prontidão à escala nacional e regional

em função dos níveis de perigo de incêndio (FWI);

aproveitar a utilidade operacional dos índices individuais do sistema FWI;

maior uso da informação meteorológica à escala local;

planear a estratégia e tácticas de supressão com base na evolução

previsível do incêndio;

adequar os meios utilizados e as tácticas de combate ao comportamento

do fogo, nomeadamente aumentando a importância relativa das manobras

de ataque indirecto;

mobilizar e render meios em função da evolução prevista do incêndio;

aumentar o rácio homem / veículo para expandir as oportunidades de

controlo perimetral, nomeadamente através do combate com ferramenta

manual;

ajustar os níveis de prontidão e da disponibilidade de meios ao ciclo

meteorológico diário, nomeadamente dando maior ênfase às manobras

nocturnas;

ajustar a alocação e gestão de meios de combate ao ciclo de vida do

incêndio;

aumentar a utilização de meios mecanizados a fim de reduzir a duração

do rescaldo e da vigilância pós-incêndio;

especializar pessoal em meteorologia do fogo no seio do CNOS e/ou IM;

especializar pessoal em análise avançada de incêndios.

Protocolo ANPC/UTAD Relatório final

v

Page 240: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

2007 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ATAQUE AMPLIADO A INCÊNDIOS FLORESTAIS 2007

Planeamento dos meios de combate: ficha “Dados de Planeamento” aumentar o número de classes de velocidade de propagação do fogo a

fim de expandir a capacidade de despacho de meios em situações

meteorológicas relativamente moderadas;

não contemplar a possibilidade de ataque directo à cabeça de incêndios

de velocidade superior a 700 m/h;

não limitar a incêndios de velocidade inferior a 700 m/h a possibilidade de

conduzir operações de fogo táctico;

derivar factores de ajustamento para determinar a velocidade de

propagação em diferentes tipos de vegetação (a regra actual é aplicável a

matos altos ou a fogo de copas em floresta e quando a humidade do

combustível é inferior a 5%).

Recomendações baseadas na monitorização dos incêndios Normalizar (criar NOP)

a avaliação da situação (pré-montagem do PCO) a fim de transmitir

informação padronizada;

os procedimentos de coordenação de meios na chegada ao TO;

as condições em que se dá a passagem a ataque ampliado;

o momento de activação do PCO e o procedimento a adoptar;

a composição do PCO, relativamente à atribuição de funções de apoio

ao comando, de acordo com a complexidade do TO;

a periodicidade das transmissões do TO para o CDOS/CNOS com ponto

de situação;

a informação a transmitir do TO para o CDOS/CNOS para conhecimento

da evolução do incêndio;

os procedimentos no registo SITAC;

a organização na área envolvente ao posto de comando e ZCR;

Protocolo ANPC/UTAD Relatório final

vi

Page 241: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

2007 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ATAQUE AMPLIADO A INCÊNDIOS FLORESTAIS 2007

os procedimentos de envio de meios para TO (despacho central,

acolhimento no TO, colocação no TO, …);

os procedimentos do Plano Estratégico de Acção do PCO;

a chegada de meios ao TO – passagem obrigatória pelo PCO ou ZCR ou

envio directo para sectores com criação de “portas de despacho”;

o preenchimento de todos os campos na Base de dados PC Digital.

Equipar

com meios de comunicação adequados todos os elementos no TO;

guarnições com lanternas individuais;

ECIN para apoiar manobras de uso do fogo no TO efectuadas pelos GAUF.

Desenvolver / Promover

a criação de Posto de Comando Simplificado;

um registo histórico de transcrição de informação relativa ao SITAC;

a informação a incluir no SITAC;

ficha de tarefa padrão para as ECIN, simples e com toda a informação

necessária;

o registo de indicadores de rendimento e adequação dos meios à

dimensão da ocorrência;

indicadores relativos ao tempo de autonomia das ECIN, necessidades de

reabastecimento, necessidades de substituição, capacidade de combate face

ao tipo de fogo;

o apoio de especialistas de análise do fogo;

o apoio de técnicos locais (DFCI e GTF);

o apoio ao PCO por parte de ERAS;

Protocolo ANPC/UTAD Relatório final

vii

Page 242: RELATORIO CEPNDFCI2007 finalficheiros.parlamento.pt/DILP/Dossiers_informacao... · 2018-04-24 · Relatório da Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Politica Nacional

2007 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ATAQUE AMPLIADO A INCÊNDIOS FLORESTAIS 2007

a recolha de informação sobre os tempos de actividade de cada equipa;

a recolha de informação relativa ao combate ao incêndio para

preenchimento da REIF;

“portas de despacho” ou diferentes ZCR no TO em incêndios extensos;

o número e nível de formação dos GAUF, separando de preferência as

funções de análise das funções de uso do fogo e nelas especializando os

elementos dos grupos.

Formar

chefes de equipa em avaliação básica de comportamento do fogo;

responsáveis pelos registos no TO;

especialistas para células de comando do Sistema de Comando

Operacional;

pessoal de apoio técnico ao PCO;

comandos na elaboração do Plano Estratégico de Acção do PCO;

guarnições no uso de ferramentas manuais;

para o combate nocturno a incêndios florestais;

os comandos de sector/comando de ECIN;

elementos de comando móvel para recolocação de meios ou reforço do

combate, a partir de uma perspectiva geral do TO;

equipas de apoio às manobras de uso do fogo pelos GAUF.

Protocolo ANPC/UTAD Relatório final

viii