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Relatório AsasTRANSCRIPT
Relatório
Espetáculo teatral ASAS – Cia. Teatro Ecoa
Nome: Wesley Anchieta Carneiro
Turma: 2º período – Tarde
Professor: Gabriel Barros
Período: 2012/2
“Essa vontade de um ser o outro
para uma unificação inteira
é um dos sentimentos mais urgentes
que se tem na vida”
Marcelus Cezar
Sábado, dia 18/08, tive o prazer e o privilégio de assistir à estreia do espetáculo
“Asas”, em sua temporada no teatro Princesa Isabel. Posso, sem o menor receio de
parecer piegas, dizer que poucas foram as vezes em que chorei tanto por conta de uma
peça. Sequer sei listar de maneira consciente e lógica os motivos que me levaram a ter
um ataque de prantos e chorar copiosamente. No entanto, esse será o norte que guiará a
linha de raciocínio do meu texto: Tentar destrinchar e organizar os elementos que tanto
mexeram comigo.
Um anjo da guarda, cuja função é proteger uma criança, cujo destino já foi
traçado e nos leva a um triste fim. Fórmula essa talvez já utilizada antes. Mas o que faz
com “Asas” seja tão impactante? Há nossa forte identificação com o ambiente familiar e
a relação mãe e filha. A amizade reencontrada, construindo um novo lar para Sofia,
Helena e Tomás, dá uma esperança de nova vida a esses personagens. Esperança essa
que é destruída com a inesperada notícia da previamente anunciada morte do elemento
mais fraco dessa tríade: a criança. Inesperada e anunciada: parece dicotômico, mas não
é. A humanização do anjo da guarda em sua linda relação de amizade, a princípio
aconselhada a ser evitada, faz nossos olhos brilharem ao perceber que para o amor
(fraterno, maternal, angelical, etc.) não há barreiras, sejam elas físicas ou espirituais. A
impotência de todos, no campo celestial e no mundo humano, perante o trágico fim da
personagem tão cativante e de sorriso tão singelo. E aí está uma dramaturgia com seus
movimentos trágicos expostos ao mundo e jogados ao vento, arrebatando cada um que
perpassa essa peça.
O sentimento que mais me saltou aos olhos – literalmente – e ao coração foi
aquele de perda. Ao longo de todo o espetáculo, nada conseguia fazer além de pensar
em todas as pessoas que a vida já levou, as que a morte já tirou de mim, e as que eu
ainda tenho por perto, mas tenho um medo absurdo de perder. E o interessante é,
lembrando uma das aulas que tivemos ao longo desse semestre – a primeira delas, para
ser mais específico, na qual Gabriel diz que compreenderíamos de forma fria e criteriosa
os elementos que fazem com que uma tragédia alcance a plateia – ser capaz de
identificar os elementos que foram colocados no texto/montagem para despertar cada
sentimento em mim. Ou seja, reconhecer que os elementos dos movimentos trágicos –
que tinham sido recentemente estudados e, por isso, estavam bem frescos na memória –
foram deliberadamente manipulados, de modo a causar essa ou aquela emoção, e nem
por isso se sentir menos atingidos por tal manipulação. O impacto que o filme teve
sobre mim foi tamanho que, após chegar em casa com dores de cabeça de proporções
homéricas e dormir embebendo o travesseiro em lágrimas, a primeira coisa que fiz foi
procurar na internet pelo filme que deu origem à concepção dramatúrgica da peça:
“Asas do desejo”, de Win Wenders. O desejo incontrolável, do personagem do filme, de
humanizar-se e finalmente conseguir personificar e concretizar sua relação mundana, a
despeito de todas as consequências que acompanham tal decisão é uma das
características do filme que eu identifiquei como mais latente na peça (e vice-versa).
Toda a proposta do espetáculo era de uma simplicidade peculiar. Dessas cuja
genialidade reside exatamente na transformação do simples em grandioso. Como o
movimento de se jogar uma pedrinha num lago e ver as ondas se formando, uma a uma,
tomando conta de todo o lago e, a soma de cada singela onda causando um efeito
estético de proporções gigantescas. A começar pelo cenário, simples, cascatas
cristalinas no fundo do palco que remetem a todo e qualquer ambiente de luz, seja ela
física ou espiritual. O figurino, criativo e inusitado, conseguia fugir do estereótipo que
possuímos sobre anjos, sem abrir mão da leveza inerente a concepção que temos desses
seres, proporcionando e delineando com o elenco movimentos que desenhavam o palco.
Ah! O elenco! A proposta de encenação, e a execução dela pelos atores, foi, a meu ver,
um show a parte. Os pés no chão proporcionavam um elo forte com o mundo e,
consequentemente, conosco na plateia. Pudemos perceber detalhes minúsculos que
tinham proporções gigantescas. Como por exemplo, os dedos contraídos do Vinicius
Andrade, corroborando com a construção corporal do anjo sapeca, Zaniel, ainda em
formação. Ou a ponta de pés da atriz Ethienne Peixoto, ao encarnar o anjo Rafael. Ou
ainda o deslizar de pés de Higor Nery, quando Gabriel. Esses detalhes contribuíam
lindamente para a distinção mundo X Céu. Acho que um trabalho de voz faria útil para
o elenco, pois por inúmeras vezes era difícil de se ouvir os que era dito no palco,
principalmente nas cenas com a presença da atriz Vanessa Meyer, que encarnou a
personagem Cassiel. A maquiagem, que distinguia o mundo humano do mundo
celestial, trazia um colorido lindo ao palco, e era ainda valorizada pelo desenho de luz.
Tudo isso sem perder a já mencionada principal característica, aos meus olhos: A
simplicidade.
A musicalidade da peça foi um elemento que me deixou incerto quanto à
escolha correta. Sei que boa parte dessa minha incerteza vem da baixa qualidade do som
do teatro, o que causava um incômodo aos meus ouvidos cada vez que a música era
executada. As vozes no coral pareciam nem sempre estar precisamente encontradas.
Mas a magia violino + violão foi inegável. Elevando a encenação a outro patamar.
A palavra que mais resumiria toda a montagem, para mim, é singeleza. Dessas
que nos derrubam exatamente por não termos como lutarmos contra ela, tão frágil e tão
arrebatadora. Singeleza essa que nos faz ter certeza de que – independente de qual seja a
espiritualidade – “...nesses momentos o céu se fez presente entre nós”. (Umile Romano)
Lição de vida:
“Nossas ‘Asas’ estão em nossos desejos, em nossos sonhos... ai daqueles que pararem
com sua capacidade de sonhar”
(Equipe de arte – Espetáculo ASAS)