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Relatório 4 – Aditivos alimentícios

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Page 1: Relatório 4 – Aditivos alimentícios

Relatório 4 – Aditivos alimentícios

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Autoria e Edição de Bain & Company 1ª Edição Abril 2014

Bain & Company Rua Olimpíadas, 205 - 12º andar 04551-000 - São Paulo - SP - Brasil Fone: (11) 3707-1200 Site: www.bain.com

Gas Energy Av. Presidente Vargas, 534 - 7° andar 20071-000 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil Fone: (21) 3553-4370 Site: www.gasenergy.com.br

O conteúdo desta publicação é de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião do BNDES. É permitida a reprodução total ou

parcial dos artigos desta publicação, desde que citada a fonte.

Este trabalho foi realizado com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos do BNDES (FEP), no âmbito da Chamada Pública BNDES/FEP No. 03/2011. Disponível com mais detalhes em <http://www.bndes.gov.br>.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Índice

1. Escopo ............................................................................................................................................ 4

2. Segmentação ................................................................................................................................. 4

3. Condições de demanda ............................................................................................................... 5

3.1. Mercado de aditivos alimentícios para humanos ............................................................ 6

3.2. Mercado de aditivos alimentícios para animais ............................................................ 11

3.3. Sofisticação da demanda ................................................................................................... 14

3.4. Balança comercial ............................................................................................................... 15

4. Fatores de produção .................................................................................................................. 19

4.1. Matérias-primas e rotas tecnológicas .............................................................................. 19

4.2. Recursos humanos ............................................................................................................. 22

4.3. Infraestrutura ...................................................................................................................... 22

4.4. Acesso a capital para financiamento ............................................................................... 22

4.5. Ambiente regulatório ........................................................................................................ 23

5. Dinâmica da indústria ............................................................................................................... 24

5.1. Estratégia de atuação dos players ..................................................................................... 24

5.2. Situação econômica das empresas atuantes ................................................................... 29

5.3. Porte e características dos clientes ................................................................................... 30

5.4. Investimentos e escala produtiva .................................................................................... 31

5.5. Sinergias .............................................................................................................................. 31

6. Indústrias relacionadas ............................................................................................................. 32

7. Diagnóstico, oportunidades e planos de ação ........................................................................ 32

7.1. Aminoácidos ....................................................................................................................... 34

7.2. Texturizantes e proteínas especializadas ........................................................................ 38

7.3. Potenciadores de sabor ...................................................................................................... 40

7.4. Conservantes e acidulantes .............................................................................................. 42

7.5. Enzimas ............................................................................................................................... 43

7.6. Aditivos alimentícios de origem renovável ................................................................... 44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 46

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1. Escopo

Aditivo alimentício é todo e qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos com o objetivo de modificar as suas características, ao desempenhar funções como: melhorar o valor nutricional, assegurar a segurança microbiológica, aumentar a vida útil do alimento, manter a consistência, melhorar as qualidades organolépticas (como cor, sabor e textura), etc.

O escopo deste segmento engloba texturizantes, proteínas especializadas, conservantes, antioxidantes, acidulantes, aminoácidos, enzimas, adoçantes, corantes, potenciadores de sabor e outros aditivos como suplementos minerais, agentes de melhoria, prebióticos, inibidores de uréase, etc.

Os aditivos não considerados neste segmento são: vitaminas e minerais, que estão fora do escopo deste Estudo; sabores, que são abordados no segmento de “Aromas, sabores e fragrâncias”; e a carboximetilcelulose que é abordado no segmento de “Derivados de celulose”.

2. Segmentação

Devido à diversidade dos aditivos alimentícios, há diferentes formas de segmentá-los. Neste Estudo, foram utilizados 3 tipos de segmentação:

• por mercado consumidor: (i) nutrição humana e (ii) nutrição animal; • por família de produtos (Figura 1): (i) texturizantes e proteínas especializadas1, (ii)

conservantes (inclui antioxidantes) e acidulantes 2 , (iii) aminoácidos, (iv) potenciadores de sabor, (v) enzimas, (vi) adoçantes, (vii) corantes e (viii) outros (suplementos minerais, agentes de melhoria, prebióticos, inibidores de uréase, etc.);

• por matéria-prima utilizada: fontes renováveis e fontes sintéticas.

1 Texturizantes e proteínas especializadas foram agrupados em um único segmento devido à função texturizante para a qual grande parte das proteínas são utilizadas. 2 Conservantes, antioxidantes e acidulantes foram considerados um único segmento porque muitos produtos possuem efeito em mais de uma dessas categorias.

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Figura 1: Segmentação dos aditivos alimentícios por família de produtos

3. Condições de demanda

O mercado mundial de aditivos alimentícios foi de 33 bilhões de dólares em 2012, sendo 66% relativo a aditivos para alimentação humana e 34%, para ração animal. No Brasil, este mercado atingiu 1,8 bilhões de dólares e, ao contrário do cenário mundial, apresentou maior participação dos aditivos para ração animal, com 63% de participação (Figura 2).

Em 2012, o mercado local de aditivos para alimentação humana representou 3% do mercado mundial, contra 3,1% de participação do PIB brasileiro no PIB mundial3. No mercado de aditivos para animais, o mercado brasileiro representou 10% do mercado global. Essa grande representatividade do Brasil decorre do tamanho da indústria local de proteína animal: o País é o 2º maior produtor de carne bovina do mundo, o 3º maior produtor de frangos e o 5º maior produtor de carne suína4.

3 Euromonitor Internacional (2014). 4 Nações Unidas – FAO (2013).

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Figura 2: Mercado mundial e brasileiro de aditivos alimentícios

3.1. Mercado de aditivos alimentícios para humanos

Mercado mundial

O mercado mundial de aditivos alimentícios para humanos, em 2012, foi de 22 bilhões de dólares. Entre 2004 e 2012, foi registrado um crescimento de 3,8% ao ano, acima dos 3,7%5 do PIB mundial. Entre 2012 e 2018, espera-se um crescimento de 4,5% ao ano.

Os principais fatores que impulsionaram o crescimento entre 2004 e 2012 continuarão impactando a evolução de demanda até 2018. Pode-se destacar o aumento da população mundial, que significa maior demanda por alimentos, o aumento da renda per capita, que impulsiona o consumo de alimentos processados e a mudança nos hábitos de consumo, também com influência direta na demanda por produtos processados.

5 Euromonitor Internacional (2014).

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Figura 3: Histórico e projeção do mercado mundial de aditivos alimentícios para humanos

Entre as mudanças nos hábitos de consumo, destacam-se a busca por maior conveniência e a preocupação com a saúde. Para as políticas públicas, a principal questão do segmento se refere à segurança alimentar.

A busca por maior conveniência ocorre porque consumidores estão dedicando parcelas menores de tempo no preparo das refeições. Isso implica maior ingestão de produtos prontos ou com alguma preparação prévia6. O mercado de alimentos embalados/preparados cresceu 3,6% ao ano entre 2008 e 2012 e está previsto um crescimento de 4,6% entre 2012 e 2018 (Figura 4).

6 Global Industry Analysts (2012).

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Figura 4: Histórico e projeção do mercado mundial de alimentos embalados

Outra tendência importante é a maior preocupação com a saúde e com o corpo pelos consumidores (Figura 5). Isso implica a preferência por produtos mais saudáveis, por exemplo, produtos sem ou com menor quantidade de gordura trans, produtos funcionais como suplementos e produtos sem ingredientes específicos como açúcar e glúten.

Figura 5: Pesquisa sobre importância da nutrição para a saúde e bem-estar em alguns países

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Há uma crescente preocupação com segurança alimentar, o que envolve cuidados com o manuseio, o processamento e o armazenamento dos alimentos de forma a se evitar contaminações e doenças. O controle da segurança alimentar pode estar na rotulagem, na higiene e no uso de aditivos. Isso pode implicar em uma maior utilização de conservantes nos alimentos com o objetivo de preservá-los de forma mais efetiva e por um maior período de tempo.

Mercado brasileiro

O mercado brasileiro de aditivos alimentícios para humanos foi estimado em 654 milhões de dólares em 2012, ou aproximadamente 3% do mercado mundial. O crescimento histórico e projetado do mercado brasileiro está alinhado ao do mercado mundial, 4,2% ao ano entre 2004 e 2012 e 5,5% ao ano entre 2012 e 2018.

Figura 6: Histórico e projeção do mercado brasileiro de aditivos alimentícios para humanos

O Brasil segue as mesmas tendências de hábitos de consumo observadas no mundo. A população brasileira cresceu 1% ao ano de 2004 a 2012 com projeção de 0,9% ao ano até 20187 e a renda per capita cresceu 4,7% ao ano entre 2004 e 2012 com previsão de manter esse ritmo até 20188.

As principais indústrias consumidoras de aditivos alimentícios, as de alimentos e bebidas, apresentaram, no Brasil, crescimento de 0,9% e 4,7% ao ano de 2004 a 2012, respectivamente (Figura 7). Para o período de 2012 a 2016, espera-se menor crescimento na indústria de bebidas e maior na de alimentos, com crescimento esperado de 1,8% e 1,9% ao ano,

7 Euromonitor Internacional (2014). 8 Euromonitor Internacional, valores ajustados em paridade de poder aquisitivo (2014).

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respectivamente, entre 2012 e 20169. Juntas, essas indústrias cresceram 1,4% ao ano entre 2004 e 2012 com expectativa de 1,9% ao ano entre 2012 e 2016.

Figura 7: Histórico e projeção do mercado brasileiro de alimentos e bebidas

O crescimento histórico e previsto dos aditivos alimentícios para humanos por função pode ser observado na Figura 8. As principais funções demandadas pelo mercado brasileiro, em valor, são os conservantes e acidulantes, os texturizantes e os potenciadores de sabor. As enzimas e os conservantes e acidulantes apresentam as maiores projeções de crescimento, 9% e 6% ao ano de 2012 a 2018, respectivamente. Espera-se que o crescimento neste período seja menor para os adoçantes, 4% ao ano, e para as demais funções, 5% ao ano.

9 IHS Global Insight (2013).

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Figura 8: Histórico e projeção do mercado brasileiro de aditivos alimentícios para humanos por função

3.2. Mercado de aditivos alimentícios para animais

Mercado Mundial

O mercado mundial de aditivos alimentícios para animais foi estimado em 11 bilhões de dólares em 2012. Entre 2011 e 2013, o crescimento estimado foi de 3,7% ao ano. O crescimento projetado para o período entre 2013 e 2018 é maior, 4,4% ao ano.

Os principais fatores que influenciam a demanda por aditivos para nutrição animal são o maior consumo de proteína animal e a busca por maior produtividade, maior segurança alimentar e menor impacto ao meio ambiente.

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Figura 9: Histórico e projeção do mercado mundial de aditivos alimentícios para animais

O aumento no consumo de proteína animal ocorre em função do crescimento da população e da renda, com consequente aumento do consumo de proteínas per capita.

A busca por maior produtividade está relacionada à redução do volume de ração consumida. Para isso, é necessário usar mais aditivos para melhorar a digestão, complementar a nutrição e reduzir os custos com os grãos utilizados nas rações.

A preocupação com segurança alimentar não tem efeito direto nos aditivos que estão no escopo deste segmento, mas merecem destaque. Há tendência de redução do uso de antibióticos no rebanho, tendo como reflexo um maior consumo de vitaminas e conservantes para proteger os animais de doenças.

As iniciativas de redução do impacto ao meio ambiente priorizam a redução do volume de excremento dos animais, os quais produzem gases do efeito estufa. Isso gera dois efeitos diretos no consumo de aditivos: (i) utilização de aditivos que melhorem a digestibilidade dos animais e a consequente redução do volume de resíduos; e (ii) o confinamento dos rebanhos de forma a permitir que o gás metano seja capturado. O confinamento implica maior consumo de ração e aditivos.

Mercado brasileiro

O mercado brasileiro foi estimado em 1,1 bilhões de dólares em 2012 (10% do mercado mundial). O crescimento do mercado local foi de 10,1% ao ano entre 2009 e 2012. As tendências de demanda do mercado local de aditivos para ração animal incluem as tendências globais discutidas anteriormente neste capítulo. Dentre estas, destacam-se a busca por maior produtividade e a transição da pecuária extensiva para intensiva no longo prazo.

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Figura 10: Histórico do mercado brasileiro de aditivos alimentícios para animais

A busca por maior produtividade fica evidente na relação comparativa entre o crescimento do mercado local de aditivos para nutrição animal e o da produção de carne10 no Brasil. Entre 2009 e 2012, a demanda local por aditivos para ração cresceu 10,1% ao ano enquanto a produção de carne, apenas 2% no mesmo período (Figura 11), o que implica maior utilização de aditivos por tonelada de proteína produzida.

Figura 11: Histórico e projeção da produção de carne no Brasil

10 Carne bovina, suína e de frango.

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A tendência de maior confinamento da pecuária bovina no Brasil decorre desta atividade ser predominantemente extensiva no País. Devido a essa característica, o consumo local de ração e de aditivos por tonelada de carne bovina produzida é inferior ao de países como os EUA, que já possuem o gado majoritariamente confinado.

A pressão proveniente da expansão da agricultura no País e de movimentos ambientalistas em favor da redução da emissão de gases do efeito estufa tende a impulsionar a migração da pecuária extensiva para a pecuária intensiva, com consequente aumento na demanda por ração e aditivos. No entanto, especialistas do setor acreditam que essa migração está ocorrendo lentamente e o impacto significativo ao mercado de aditivos será somente a longo prazo.

O crescimento histórico e previsto dos aditivos alimentícios para animais por função segue conforme a Figura 12. Os aminoácidos são os principais produtos do mercado brasileiro e cresceram 16% ao ano entre 2009 e 2011.

Figura 12: Histórico do mercado brasileiro de aditivos alimentícios para animais por função

3.3. Sofisticação da demanda

Aditivos para humanos

Segundo especialistas do setor, o Brasil segue as tendências no mercado de alimentos processados, porém a um ritmo mais lento. Isso ocorre tanto na sofisticação dos alimentos processados quanto na sofisticação dos aditivos utilizados para alimentação humana.

Aditivos para animais

Há diferenças na sofisticação da demanda de aditivos entre os tipos de rebanho.

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Bovinos: como a pecuária no Brasil é predominantemente extensiva, os aditivos têm menor relevância na produtividade local. Com isso, a demanda brasileira tende a ser menos sofisticada que a de países com modelo de pecuária intensiva.

Aves e suínos: especialistas afirmam que o Brasil possui um histórico de maior sofisticação na nutrição do seu rebanho em comparação à maioria dos países devido a um perfil mais receptivo e inovador da indústria local, que historicamente sempre esteve voltada para a internacionalização. A BRF, por exemplo, tem um avançado centro de pesquisa e é receptiva a testes de novos aditivos. Essa sofisticação da demanda local pode ser exemplificada no uso de uma maior variedade de aminoácidos na produção de aves para complementar a nutrição que os EUA11.

3.4. Balança comercial

A balança do setor de aditivos alimentícios (para humanos e animais) apresentou superávit de 100 milhões de dólares em 2012 (Figura 13). Esse saldo é resultado de 863 milhões de dólares em importações, com média de 3,0 dólares/kg, e 963 milhões de dólares em exportações, com média de 2,5 dólares/kg12.

Entre 2008 e 2012, houve um crescimento nas importações de 10,1% ao ano, um pouco mais de 2 pontos percentuais acima do crescimento das exportações, provocando uma redução no superávit da balança nesse período.

Figura 13: Demanda brasileira de aditivos alimentícios e balança comercial por ano

11 Player da indústria. 12 Aliceweb, Receita federal, análise Bain.

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Os itens que se destacam na balança comercial são a metionina, a lisina, a gelatina e os potenciadores de sabor (Figura 14), todos com volumes transacionados acima de 180 milhões de dólares em 2012.

Figura 14: Importações e exportações de aditivos alimentícios em 2012

A metionina é um aminoácido utilizado principalmente na nutrição de frangos. O Brasil não possui produção local de metionina e, portanto, toda a metionina consumida é importada. O valor da importação, em 2012, foi de 322 milhões de dólares e cresceu 6% ao ano entre 2008 e 2012 (Figura 15). Os maiores exportadores mundiais de metionina são a Bélgica (33% das exportações mundiais), o Japão (17%), a França (16%), a Alemanha (14%) e os Estados Unidos (11%)13, enquanto a produção de carne de frango localiza-se, principalmente, nos Estados Unidos, China e Brasil com 18%, 14%, 12%, respectivamente, da produção global14. O Brasil importa a metionina principalmente dos Estados Unidos15.

A lisina também é um aminoácido utilizado na nutrição de aves, mas, nesse produto, o Brasil é um dos principais exportadores mundiais. O valor das exportações foi de 253 milhões de dólares em 2012, tendo crescido8% ao ano entre 2008 e 2012 (Figura 15). Os principais exportadores mundiais de lisina são Estados Unidos (22% das exportações mundiais), Indonésia (20%), China (17%), Brasil (12%), Holanda (12%), e Coréia do Sul (9%). Em 2011, o Brasil exportou principalmente para os Estados Unidos e União Europeia15, 31% e 23% da exportação brasileira de lisina, respectivamente.

13 Nações Unidas – Comtrade (2012). 14 Nações Unidas – FAO (2014). 15 MDIC (2012).

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A gelatina é o produto com maior volume de exportação do segmento de aditivos alimentícios. Em 2012, a soma das exportações alcançou 275 milhões de dólares e demonstrou crescimento de 21% ao ano entre 2008 e 2012 (Figura 15). O Brasil é o maior exportador mundial de gelatina (15% das exportações mundiais)16 a frente de países como China (11%), França (11%), Alemanha (10%) e Bélgica (10%). Os principais destinos das exportações brasileiras são os Estados Unidos, Turquia e Reino Unido16.

O Brasil também é um dos principais exportadores de ácido glutâmico e seus sais. Em 2012, exportou 182 milhões de dólares e figurou como 3º maior exportador mundial (16% das exportações mundiais), atrás da China (48%) e da Indonésia (22%)17.

Entre 2008 e 2012, houve um crescimento no valor total das exportações desses produtos de 3% ao ano (Figura 15). No entanto, em volume, houve redução nas exportações de 140 mil toneladas em 2008 para 100 mil em 201218.

Além dos 4 aditivos mencionados, que juntos representam 58% do volume transacionado internacionalmente pelo Brasil, outros aditivos merecem destaque pelo crescimento apresentado entre 2008 e 2012 (Figura 15). Esse é o caso dos aminoácidos treonina (nas importações, 37% ao ano), triptofano (nas importações, 42% ao ano) e isoleucina (nas exportações, 27% ao ano), das proteínas especializadas como albumina (nas importações, 39% ao ano), caseína (nas importações, 27% ao ano) e proteínas de soja (nas importações, 19% ao ano e redução de 25% ao ano nas exportações), do conservante sorbato de potássio (nas importações, 25% ao ano) e do adoçante sucralose (nas importações, 22% ao ano).

16 Nações Unidas – Comtrade (2012). 17 Nações Unidas – Comtrade (2012). 18 Aliceweb, Receita federal.

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Figura 15: Balança comercial das diferentes funções de aditivos alimentícios

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Fonte: Aliceweb, Receita federal, Sindirações (2013), análise Bain / GasEnergy

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4. Fatores de produção

4.1. Matérias-primas e rotas tecnológicas

Os aditivos alimentícios englobam uma vasta gama de produtos e possuem diversas rotas produtivas e matérias-primas. As rotas tecnológicas estão segmentadas em renováveis e sintéticas.

Renováveis

As rotas renováveis, representadas na Figura 16, estão divididas entre fermentação e tratamento físico (extração, filtração, secagem, etc.).

A fermentação é o principal processo de obtenção de aminoácidos (com exceção da metionina), acidulantes e enzimas. As principais matérias-primas para fermentação são os açúcares e os microrganismos (fungos, bactérias ou leveduras). As principais fontes de açúcares utilizadas nos processos fermentativos são a cana-de-açúcar e o milho, nas quais o Brasil é um grande exportador. As bactérias e leveduras, fundamentais ao processo, são tanto importadas quanto produzidas localmente19.

Os demais processos de fabricação de aditivos alimentícios por fontes renováveis são via tratamento físico, como na obtenção do amido com base no milho, ou outros processos químicos, como a produção da caseína a partir do soro de leite. Inúmeras matérias-primas animais e vegetais, incluindo frutas, encaixam-se nessa categoria. Produtos agrícolas como a cana-de-açúcar, o milho e a soja são utilizados como insumo na produção de diversos aditivos como amidos, dextrinas e lecitinas. Frutas são utilizadas, principalmente, como insumo para produção de pectina; peles e ossos de bovinos e suínos, como insumo principal para produção de gelatinas; e o soro de leite, na produção das caseínas e albuminas. O Brasil possui posição competitiva privilegiada na maioria dessas matérias-primas, por ser um dos maiores produtores mundiais de cana-de-açúcar, soja, milho e carnes.

19 Player da indústria.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Figura 16: Aditivos alimentícios de origem renovável – principais matérias-primas e processos produtivos

SIMPLIFICADO

1) Glicose pode ser produzida de outras matérias-primas como mandioca, beterraba entre outros2) Microrganismos podem ser fungos, bactérias e leveduras3) Diversos substratos podem ser utilizados como milho, trigo, mandioca, arroz, soro de leite, cítricos,

soja, coco e cascas de frutas4) Principal tipo de processo Fonte: Global Industry Analysts (2012), análise Bain / GasEnergy

NÃO EXAUSTIVOAditivos alimentícios de origem renovávelPrincipais matérias-primas e processos produtivos

LEGENDA

Matérias-primas Poten. de sabor

Texturizantes Conservantes

Aminoácidos Adoçantes

Outros processos químicos4

Fermentação4Proteínas espec.

Enzimas

Corantes

Milho AmidoAmidos

modificados

SojaLecitina

Proteína de soja

Animal

Pele e ossos

Leite

Gelatina

Colágeno

Albuminas

Caseinas

Cana de açúcar Glicoses1

Óleo de soja

Farelo de soja

Lactitol

Soro de leite

Lisina, treonina, triptofano, isoleucina

Ácido glutâmico

Goma xantana

Ácido cítrico,ácido láctico

Goma arábica, guar, etc.

Pectina

Corantes naturais

Extrato de frutas, sementes e vegetais

Casca de frutas cítricas

Carotenóides

EsteviosídeoPlanta Stevia

Carragenas, alginatosAlgas

Microrganismo2

Substrato3

Enzimas

Microrganismo2

Adoçantes a granel (eritritol)

Processos físicos4

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Sintéticos

Quase metade das importações do setor é de produtos oriundos de matérias-primas sintéticas. Entre os principais produtos estão os conservantes e o aminoácido metionina, este último sendo o aditivo mais importado do segmento, conforme apresentado anteriormente.

As matérias-primas para rotas sintéticas são obtidas com base em petroquímicos, carvão mineral e outros minerais. A rota sintética da metionina utiliza o propeno para produção da acroleína, principal intermediário da metionina. O tolueno é a principal matéria-prima para o ácido benzoico, conservante, e para a sacarina, adoçante. Há produtos que possuem como fonte o benzeno, como o ácido málico, ácido fumárico, BHA e TBHQ20 (os dois últimos podem ser produzidos por C4). O metanol é matéria-prima para produção de ácido sórbico e seus sais. A partir da quinolina, composto obtido do carvão mineral, se produz conservantes como o halquinol. Nos minerais, o fosfato é um composto utilizado na fabricação de aditivos como o ácido fosfórico e sais derivados (Figura 17).

Figura 17: Aditivos alimentícios de origem sintética – principais matérias-primas e processos produtivos

20 BHA - butylated hydroxyanisole; TBHQ - tert-butylhydroquinone.

Notas 1) Butylated hydroxytoluene 2) Butylated hydroxyanisole 3) Tert-butylhydroquinoneFonte: Global Industry Analysts (2012), análise Bain / GasEnergy

Propeno Acroleína Metionina

Ácido benzoico, BHT1

Sacarina

Derivados da quinolina (ex.

halquinol)Quinolina

Fenol

C4 BHA2, TBHQ3

Ácido sórbico / sorb. de potássio

Ácido malônicoMetanol

BenzenoÁcido málico,

Ácido fumáricoÁcido maleico

Fosfato Ácido fosfórico

Ácido acético

Sais de ácido fosfórico

(ex. trifostato de potássio)

Tolueno

SIMPLIFICADO

NÃO EXAUSTIVOAditivos alimentícios de origem sintéticaPrincipais matérias-primas e processos produtivos

LEGENDA

ConservantesAminoácidos

Adoçantes Processo sintético

Petroquímicos e carvão mineral

Minerais

Matérias-primas

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Rotas em desenvolvimento

Dentre as rotas em desenvolvimento, destacam-se duas rotas alternativas para obtenção da metionina, a fermentativa e a rota com base na glicerina. A rota fermentativa de produção possui desenvolvimento tecnológico em estágio mais avançado e já existe uma fábrica em construção pela empresa coreana CJ. A produção via glicerina, matéria-prima com disponibilidade a baixo custo no País, ainda está em fase de pesquisa acadêmica.

4.2. Recursos humanos

Mão de obra é um fator que pode afetar algumas empresas do setor. Apesar de haver disponibilidade de mão de obra, algumas empresas mencionam a necessidade de reforçar a formação dos empregados contratados com treinamento interno. Um player da indústria relata que a falta de técnicos bem qualificados leva à contratação de um maior número de engenheiros.

4.3. Infraestrutura

Como a produção está espalhada no País, plantas do setor tendem a se localizar próximas às matérias-primas (por exemplo, usinas de açúcar) para reduzir os custos logísticos elevados. Players da indústria mencionam a infraestrutura logística como um dos principais desafios. A situação pode se agravar com a expansão das fronteiras agrícolas em regiões mais afastadas dos principais centros econômicos e dos portos, exigindo investimentos ainda maiores em infraestrutura.

4.4. Acesso a capital para financiamento

Segundo empresas do setor, o acesso ao capital não é um entrave. O BNDES oferece linhas de crédito que podem ser usadas para comprar máquinas, construir novas plantas, etc.

Em 2013 o BNDES e FINEP iniciaram o Plano de Apoio Conjunto Inova Agro que estabelece ações de fomento às cadeias de insumos para agropecuária, de processamento de alimentos e aditivos e de maquinário para as duas cadeias anteriores21. O primeiro Edital do Plano que está em andamento irá disponibilizar 1 bilhão de reais em recursos de um total de 3 bilhões de reais previsto para o Plano22.

Apesar de haver crédito disponível, algumas empresas optam por utilizar somente capital próprio ou linhas de crédito internacionais competitivas.

21 Website do BNDES. 22 Website do FINEP.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

4.5. Ambiente regulatório

A regulamentação deste segmento é naturalmente mais exigente por se tratar de produtos alimentícios com impacto direto ou indireto à saúde humana. Foram identificados entraves processuais e regulatórios que tornam a obtenção da autorização para produção e comercialização de alguns produtos um processo lento e com elevado grau de incerteza. Esses entraves têm origem nas duas principais entidades responsáveis por este controle: ANVISA 23 , responsável pela concessão do registro para a produção de aditivos em alimentos para humanos e MAPA24, responsável pela concessão do registro para produção de aditivos para ração animal25. O MAPA também é responsável pelo controle e fiscalização de alguns alimentos para consumo humano e, portanto, participa do processo de aprovação de aditivos para utilização nestes produtos, como é o caso de alimentos de origem animal.

ANVISA – O escopo de aditivos alimentícios para consumo humano deste Relatório engloba os aditivos alimentícios como definidos pela ANVISA, assim como parte dos coadjuvantes de tecnologia como, por exemplo, as enzimas e parte dos ingredientes, como o colágeno. A regulamentação e processo de registro para aditivos e coadjuvantes de tecnologia são equivalentes, mas diferem da legislação e do processo de registro para os ingredientes.

Para aditivos alimentícios e coadjuvantes de tecnologia há uma lista positiva que determina os aditivos que não necessitam de registro desde que respeitando as regras de utilização determinadas. Empresas do setor indicaram que esta lista está desatualizada para muitas categorias de produtos como, por exemplo, a categoria de produtos cárneos, que teve sua última atualização em 2001. Além disso, foi citado que o processo de atualização é moroso, principalmente nas categorias de produto que possuem lista harmonizada com o Mercosul. Isto ocorre pela necessidade de acordo entre os países membros, que também devem avaliar a inclusão dos produtos.

No caso dos ingredientes, existe uma lista positiva e outra lista de “Novos Produtos e Novos Ingredientes”. Na lista de Novos Produtos e Novos Ingredientes, o produtor necessita de um registro prévio, mas há uma regulamentação específica que torna o processo de aprovação objetivo. Apesar do tempo de registro para os produtos desta lista não ter sido apontado com um problema pela indústria, especialistas citaram a atualização desta lista com a inclusão de parte destes produtos à lista positiva como um ponto de melhoria.

Para produtos fora da lista positiva e da lista de “Novos Produtos e Novos Ingredientes” o processo de validação é mais lento por se tratar de produtos que necessitam de testes para validar sua utilidade e segurança.

MAPA – No caso dos aditivos para alimentação animal existe uma lista positiva, mas esta lista se restringe a ingredientes e aditivos utilizados na alimentação humana e susceptíveis a aplicação na alimentação animal listados na Instrução Normativa 42/2010. Para os demais aditivos, o registro é necessário.

23 Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 24 Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 25 O MAPA também é responsável pelo controle e fiscalização de alguns alimentos para consumo humano e, portanto, participa do processo de aprovação de aditivos para utilização nestes produtos, como é o caso de alimentos de origem animal.

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Especialistas do setor não apontaram o registro como um entrave para o segmento nos casos de processos de concessão centralizados em Brasília. Este é o caso para 4 categorias de aditivos: aditivos tecnológicos, sensoriais, melhoradores de desempenho e anticoccidianos. Para a quinta categoria, aditivos nutricionais, onde o processo de registro é descentralizado e realizado pelas superintendências do MAPA em cada estado, foram identificados 2 problemas principais: (i) tempo de registro em alguns estados é de 6 a 726 meses e (ii) falta de isonomia na concessão do registro entre os diferentes estados devido às diferentes interpretações da regulamentação.

Enquanto o tempo de registro está relacionado à disponibilidade de recursos nas superintendências, a falta de isonomia ocorre devido a regulações pouco objetivas e à descentralização do processo.

A falta de objetividade também é apontada como um problema na regulamentação do uso de ingredientes na produção de alimentos de origem animal. Neste caso, o motivo é uma legislação antiga, datada de 1952, que não abrange grande parte dos ingredientes em uso atualmente. Desta forma, cada novo pedido de registro precisa ser avaliado sem diretrizes claras e, portanto, tende a demorar e é suscetível a diferentes intepretações dentro do MAPA.

5. Dinâmica da indústria

5.1. Estratégia de atuação dos players

Ao avaliar o mercado de aditivos de forma agregada, observa-se um elevado número de players e uma grande diversidade de empresas em termos de porte e escopo de atuação, como pode ser observado na Figura 18.

26 Especialista da indústria.

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Figura 18: Portfólio de aditivos alimentícios das empresas do setor

Essa diversidade de empresas é decorrente das diferenças significativas no foco de negócios deste segmento. Há, por exemplo, empresas com diferentes focos como (i) o processamento de commodities agrícolas, (ii) o processamento de derivados de gás natural e nafta, (iii) e a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de ponta em determinadas rotas tecnológicas. Em grande parte das empresas, a divisão de aditivos alimentícios é uma adjacência. Essa expansão pode se dar de três formas: integração vertical com a matéria-prima, integração vertical com o mercado de alimentos e integração horizontal para novos mercados baseados na sinergia de rotas tecnológicas.

Com base em seu foco principal, as empresas foram agrupadas em 3 blocos (Figura 19): (i) empresas químicas diversificadas com sinergias com as matérias-primas sintéticas, (ii) empresas de especialidades com sinergias tecnológicas e (iii) empresas do agronegócio com sinergias de matérias-primas renováveis.

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Figura 19: Tipos de empresas do setor de aditivos alimentícios

Empresas químicas diversificadas – são de grande porte com portfólio diversificado de produtos, como BASF, DuPont, Evonik, Sumitomo e Bluestar. A maioria produz aditivos alimentícios commodities, como aminoácidos e conservantes, partindo principalmente de fontes petroquímicas ou minerais.

Nesse grupo de empresas, observa-se um movimento de contínua diversificação dentro do segmento de aditivos alimentícios. Essa diversificação inclui a expansão para aditivos baseados em matérias-primas renováveis, como pode ser observado na aquisição da Cognis pela BASF em 2010 e da Danisco pela DuPont em 2011 (Figura 20).

Empresas de especialidades – focam em determinado tipo de tecnologia com aplicação exclusiva, ou não, ao mercado de aditivos alimentícios. É o caso de empresas como a Novozymes, que detém o conhecimento e tecnologia para desenvolvimento de enzimas para diversas indústrias, inclusive a de alimentos. Fabricam, principalmente, enzimas, texturizantes, adoçantes, conservantes naturais e antioxidantes naturais. São exemplos de empresas com esse perfil a Ajinomoto, a Novozymes, a DSM, a Ingredion, a Tate & Lyle, a Gelita e a CHR Hansen.

A DSM demonstrou, com suas últimas aquisições, o objetivo de fortalecer seu foco no desenvolvimento e produção de aditivos para nutrição, e a expansão do mercado em torno desse negócio. Em 2012, adquiriu a Verenium (enzimas) e a brasileira Tortuga (nutrição animal), conforme pode ser observado na Figura 20.

Empresas de agronegócios - produzem, principalmente, aditivos baseados na fermentação ou no processamento de produtos agrícolas, como texturizantes, aminoácidos e potenciadores de sabor. Algumas das principais empresas nessa categoria são a Cargill e a ADM.

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Observa-se o movimento de integração a jusante por parte das empresas de agronegócio. Exemplo dessa tendência é a aquisição da Liquid Feed (ração) pela ADM e da Provimi (nutrição animal) pela Cargill.

Figura 20: Algumas aquisições recentes de empresas de aditivos alimentícios e nutrição

Empresas brasileiras

Algumas empresas nacionais de médio porte entraram no mercado de aditivos especializados e de alto valor agregado.

Biorigin - sua matriz, a Zilor, é uma empresa de grande porte de produção, processamento e comercialização de cana-de-açúcar. Ao identificar uma oportunidade no excesso de levedura proveniente do processo de transformação do açúcar em álcool, que, anteriormente, era subutilizada como fertilizante, a Zilor criou a Biorigin para aproveitar a levedura como matéria-prima em produtos de nutrição humana, como potenciadores de sabor, e de nutrição animal, como conservantes naturais.

JBS – uma das maiores empresas brasileiras do setor de carnes e alimentos, a JBS possui uma unidade de negócio dedicada à produção de colágeno.

Duas Rodas - empresa nacional produtora de aromas, alimentos (sorvetes e chocolates), sabores, texturizantes e conservantes naturais. Mais informações sobre Duas Rodas encontram-se no Relatório de Aromas, sabores e fragrâncias deste Estudo.

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Market share mundial

Aditivos alimentícios para humanos

Devido à grande diversidade de players, o mercado de aditivos alimentícios para humanos apresenta grande fragmentação (Figura 21). No entanto, observa-se maior concentração ao se avaliar as participações por produto. Em gelatinas, os líderes do mercado são a Rousselot, a Gelita e PB Gelatins que, juntas, representaram quase 70% do mercado em 2012. O glutamato monosódico (MSG) é o principal derivado do ácido glutâmico, e seu mercado é liderado pela Fufeng e Ajinomoto, empresas que somavam 50% da capacidade instalada em 2012. O mercado de enzimas27 é dominado pela Novozymes, que possui mais de 40% do mercado em 2012, e a DuPont, com cerca de 20%.

Figura 21: Market share mundial de aditivos alimentícios para humanos

Aditivos alimentícios para animais

Assim como nos aditivos alimentícios para humanos, o mercado de aditivos para ração animal também apresenta concentração de players nos principais produtos (Figura 22). Em lisina, os 6 maiores players globais, Changchun Dacheng, Ajinomoto, ADM, CJ, Degussa e Ningxia Eppen representam cerca de 70% da capacidade instalada em 2012. A metionina é ainda mais concentrada, e os 4 principais produtores, Evonik, Adisseo, Novus e Sumitomo, somaram mais de 95% da capacidade instalada em 2012. Mais de 50% do mercado de treonina, 3º aminoácido mais consumido, foi dominado pela Ajinomoto, CJ, Evonik e ADM em 2011. Também em forte crescimento, o triptofano foi liderado em 2011 pelos mesmos players da treonina, a Ajinomoto, a CJ e a Evonik.

27 Mercado inclui enzimas para humanos e animais, assim como para produtos de limpeza, biocombustíveis, biotecnologia e pesquisa e outras aplicações.

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Figura 22: Market share mundial de aminoácidos

5.2. Situação econômica das empresas atuantes

A situação econômica do setor varia conforme o tipo de empresa (Figura 23).

Empresas químicas diversificadas – esse perfil de empresa possui um grande volume de faturamento com margens EBIT próximas a 14% em 2012, com exceção da Sumitomo, que apresentou 2%. Devido à definição das divisões e à penetração de cada empresa no mercado de aditivos alimentícios, as divisões apresentaram margens EBIT variadas, desde 8% na Dupont até 22% na Evonik.

Empresas de especialidades – devido à sua natureza essas empresas possuem um menor volume de faturamento e margens variadas. No entanto, margens podem chegar a níveis muito elevados como o EBIT de 59% apresentado pela Novozymes, em 2012.

Empresas de agronegócios– com grande parte do faturamento dedicado à comercialização de insumos agrícolas, a Cargill e ADM apresentam um volume muito elevado de faturamento e margens EBIT menores.

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Figura 23: Situação econômica das empresas do setor

5.3. Porte e características dos clientes

Em todos os segmentos, o conhecimento das necessidades dos clientes (em termos de usos e atributos de seus produtos), as questões de regulação (que afetam as dimensões de segurança alimentar, toxicologia e qualidade), são centrais.

Aditivos alimentícios para humanos

A indústria de alimentos é a principal demandante de aditivos alimentícios para humanos. O porte dessas empresas varia: de companhias de grande porte como a Brasil Foods e a AB Inbev até negócios pequenos como panificadoras, estas atendidas por canais indiretos de distribuição. Há também os aditivos voltados para o varejo, por exemplo, os adoçantes. Mesmo nesses casos, a venda para a indústria alimentícia é relevante, como é o caso da venda de adoçantes para a indústria de bebidas.

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Aditivos alimentícios para animais

Os aditivos podem ser vendidos para os produtores de pré-misturas28, que, por sua vez, vendem para cooperativas ou criadores. Outra possiblidade é a venda direta dos aditivos para produtores que elaboram a própria ração. Neste último caso, encaixam-se empresas como a BRF, que fornece a ração para seus produtores afiliados.

5.4. Investimentos e escala produtiva

Investimentos em alguns produtos, como a metionina, a lisina e o ácido glutâmico, exigem plantas de larga escala tipicamente acima de 100 mil toneladas por ano. Plantas recentes de metionina da CJ (rota fermentativa), na Malásia, e da Evonik (rota sintética), em Singapura, por exemplo, possuem capacidade de 80 mil e 150 mil toneladas ano, respectivamente. O valor do investimento na planta da CJ foi de 450 milhões dólares29 enquanto que o da Evonik foi de mais de 500 milhões de dólares30. No Brasil, a Evonik está construindo uma fábrica de 100 mil toneladas ano de lisina com investimento superior a 100 milhões de dólares31.

Entretanto, a maior parte dos produtos do segmento requerem escalas produtivas menores, geralmente entre 2 e 20 mil toneladas ano, como é o caso de produtos de maior valor agregado como enzimas, gelatina e adoçantes. As 3 plantas de gelatina da Gelita no Brasil, por exemplo, somam 20 mil toneladas ano de capacidade32, enquanto a nova fábrica da PB Gelatins no Brasil, que representou um investimento de 85 milhões de reais33 , possui capacidade de 3 mil toneladas ano. Em adoçantes, a fábrica de sucralose da JK Sucralose, na China, possui 1,5 mil toneladas ano de capacidade.

5.5. Sinergias

As maiores sinergias podem ser obtidas através da proximidade da planta de aditivos e das matérias-primas, ou seja, a proximidade de curtumes na produção de gelatina, polos petroquímicos na produção de metionina, plantas de processamento de milho na produção de amidos e fontes de açúcar para produtos de origem fermentativa.

28 Pré-mistura é a mistura pronta e balanceada com aditivos, minerais e vitaminas a ser adicionada aos farelos de milho e soja para compor a ração animal. Empresas de pré-misturas realizam o fracionamento dos aditivos e composição da mistura. 29 Investimento em conjunto com planta de 50 mil toneladas ano de tio compostos. Fonte: website da Arkema, parceira da CJ no projeto. 30 Website da empresa. 31 Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (2014). 32 Player da indústria. 33 Website do Governo do Mato Grosso.

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6. Indústrias relacionadas

Não foram identificados obstáculos associados a indústrias relacionadas pelo Consórcio para esse segmento.

7. Diagnóstico, oportunidades e planos de ação

O mercado de aditivos alimentícios no Brasil foi estimado em mais de 1,8 bilhão de dólares em 2012. Este mercado é composto por 653 milhões de dólares em aditivos alimentícios para humanos, ou equivalente a 3% do mercado mundial, e 1,1 bilhão de dólares em aditivos alimentícios para animais, o que representa 10% do mercado global.

O volume financeiro transacionado em importação e exportação pelo segmento de aditivos alimentícios é o segundo maior entre os segmentos priorizados no Estudo. Além disto, este é um dos poucos segmentos que apresenta superávit na balança comercial de 2012. O superávit do segmento de aditivos alimentícios foi de 100 milhões de dólares em 2012 (863 milhões de dólares em importações e 963 milhões de dólares em exportações). A exportação brasileira do setor é composta, principalmente, por gelatina, lisina e ácido glutâmico. Nestes mercados, o Brasil é o 1º, 4º e 3º maior exportador mundial, respectivamente34. A relevância da produção local no mercado global destes produtos ocorre devido, entre outros fatores, à disponibilidade e competitividade de matéria prima local. Os três produtos são de origem renovável animal ou vegetal.

A competitividade brasileira em grande parte das matérias-primas renováveis utilizadas na produção de aditivos alimentícios e a disponibilidade local destas matérias-primas são fatores que podem alavancar ainda mais a produção brasileira neste segmento e fortalecer a balança comercial. Conforme pode ser observado na Figura 24, a maior parte dos produtos exportados pelo Brasil é de origem renovável. Grande parte dos aditivos importados também é de origem renovável, indicando oportunidades potenciais de substituição de importação.

34 Nações Unidas – Comtrade (2012).

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Figura 24: Importações e exportações de aditivos alimentícios em 2012 por origem (renovável ou sintética)

Para avaliar em maior detalhe as oportunidades potenciais, os subsegmentos foram priorizados com base no tamanho e crescimento do mercado local e no volume transacionado em importação e exportação. Nesta priorização o Consórcio selecionou 5 subsegmentos: Aminoácidos, Texturizantes e proteínas especializadas, Potenciadores de sabor, Conservantes e acidulantes e Enzimas.

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Figura 25: Priorização das oportunidades do segmento de aditivos alimentícios

7.1. Aminoácidos

Com base no histórico de importação e exportação (Figura 26), foram selecionadas para análise as oportunidades de substituição da importação de metionina e do aumento das exportações de lisina.

Além destes, devido à similaridade de processo produtivo e matéria prima entre a lisina e os aminoácidos treonina e triptofano e ao acelerado crescimento da importação destes produtos, também foi avaliada e possibilidade de substituir a importação dos mesmos por produção local.

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Figura 26: Balança comercial dos aminoácidos

Metionina

A metionina é o produto com maior valor de importações deste segmento, 322 milhões de dólares em 2012, o equivalente a 102 mil toneladas. Essa demanda representou cerca de 10% do mercado mundial35. Estima-se que a demanda por metionina no Brasil superará 200 mil toneladas ano em 203036. Apesar do tamanho do mercado e potencial de crescimento, não há produção local devido, em parte, à falta de competitividade do País na matéria-prima da rota produtiva preponderante, o propeno.

Além da falta de competitividade, a produção local pela rota sintética a partir do propeno poderia enfrentar problemas de disponibilidade local deste insumo. Para suprir o mercado local de 2012 de metionina, de 102 mil toneladas, seriam necessárias 31 mil toneladas de propeno 37 . Além disso, investimentos recentes demonstram um interesse das grandes empresas em investir na Ásia. A Evonik, por exemplo, está investindo em uma planta de escala mundial em Singapura, com capacidade de 150 mil toneladas por ano.

35 Deutsche Bank (2013). 36 Aliceweb, LCA (2014), análise Bain. 37 Relação estequiométrica do propeno para a DL-metionina é de 1 quilograma de propeno para 3,28 quilogramas DL-metionina; fonte: Klaus Weissermel (1997).

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Apesar das barreiras apresentadas, o investimento local também apresenta fatores capazes de atrair as grandes multinacionais do setor. Uma planta local representaria vantagens ao produtor no acesso ao mercado brasileiro. Outro ponto positivo é a existência de infraestrutura para importação de propeno, que minimizaria os custos desta operação. Para suprir a demanda do mercado interno de metionina em 2030 por esta rota, seria necessário investimento de aproximadamente 700 milhões de dólares em 2 plantas de 100 mil toneladas ano de capacidade. O impacto na balança comercial de 2030 seria de aproximadamente 600 milhões de dólares38.

Além da rota sintética, há outras 2 rotas produtivas a partir de insumos renováveis disponíveis localmente que podem ser importantes alternativas para o Brasil. São elas a rota fermentativa e a rota via glicerina.

A rota fermentativa é uma rota recente que, em 2014, terá sua 1ª planta produtiva de grande porte. É uma planta de 80 mil toneladas ano de capacidade da CJ, na Malásia. Se, com a produção em grande escala, esta rota se provar mais competitiva que a rota tradicional, o Brasil poderia se tornar um produtor relevante como acontece com a lisina, aminoácido produzido pela rota fermentativa em que o País é um dos principais exportadores globais.

O investimento local poderia ser realizado pela própria CJ, que detém a tecnologia e teria a oportunidade de se tornar um dos principais produtores mundiais de metionina. Por ser uma rota recente, é provável que outras empresas interessadas necessitem investir em pesquisa e desenvolvimento para alcançar a viabilidade econômica através desta rota. Alternativamente, estas empresas poderiam formar parcerias com a CJ.

Alternativamente, a rota de produção de metionina a partir da glicerina ainda está em fase de pesquisa, mas possui grande potencial no Brasil devido à ampla disponibilidade de glicerina no mercado local. Segundo estudo do MDIC em 2013, esta rota se tornaria competitiva a um preço de glicerina abaixo de 300 dólares por tonelada. Em 2012 o preço FOB médio comercializado no mundo foi de 370 dólares por tonelada. Este valor médio anual39 variou de 200 a 510 dólares entre 2008 e 2012.

O investimento nessa rota deve ser concentrado em pesquisa e em produção em escala piloto para que, no médio ou longo prazo, se alcance a viabilidade econômica esperada.

38 Exclui o valor da matéria prima. 39 Preço FOB médio anual com base nas exportações dos 15 maiores países em exportação de glicerina e nas importações dos 15 maiores importadores de glicerina; fonte: Nações Unidas - Comtrade.

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Linha de ação - como linha de ação para captura de oportunidades em metionina identificou-se:

• Prorrogar incentivos fiscais em PIS/Cofins para o propeno40 e/ou desonerar outras matérias-primas;

• Integrar a demanda de propeno para uma planta potencial de metionina a um plano de investimento produtivo em derivados de nafta e gás natural;

• Incentivar investimentos em capacidade produtiva de aminoácidos com: o Benefícios fiscais temporários; o Linhas de financiamento atrativas;

• Fomentar a pesquisa para desenvolvimento e industrialização da rota de produção a partir da glicerina e/ou para melhorar o resultado econômico da rota fermentativa.

Lisina, treonina e triptofano

A lisina é o aminoácido mais consumido, em volume, nas rações animais no mundo. O Brasil é um grande consumidor e exportador do produto, alcançando produção de 220 mil toneladas em 2012 para um consumo interno de 95 mil toneladas. O excedente exportado totalizou 253 milhões de dólares em 2012 41 . A disponibilidade de açúcares a preços competitivos no País, como cana-de-açúcar e milho, e o grande mercado interno geram um ambiente atrativo à produção de aminoácidos de origem fermentativa como a lisina.

Como oportunidade, deve-se continuar expandindo a capacidade produtiva do País para suprir a crescente demanda interna e aumentar a relevância do Brasil como exportador deste aminoácido. Considerando o mercado global de lisina em 2030 de 2200 mil toneladas42 e assumindo que o Brasil mantenha sua participação na produção global deste aminoácido (19% em 2012), seriam necessários investimentos da ordem de 300 milhões de dólares para uma expansão de capacidade de aproximadamente 200 mil toneladas (2 plantas de escala global). O impacto deste investimento na balança comercial de 2030 seria de aproximadamente 350 milhões de dólares43.

Novos investimentos nesse sentido já estão em curso como o da Evonik em uma fábrica de lisina com capacidade de 100 mil toneladas ano.

A treonina e o triptofano são outros aminoácidos que seguem a mesma rota produtiva. No entanto, são importados e apresentaram elevado crescimento em suas importações entre 2008 e 2012, 37% e 42% ao ano, respectivamente. O País tem capacidade produtiva de 20 mil toneladas de treonina com a planta da Ajinomoto para um mercado de 21 mil toneladas em 2012. Uma nova planta de mesma capacidade necessitaria exportar o excedente, o que não deveria ser um entrave dada a competitividade nas exportações de lisina. O volume consumido de triptofano em 2012 de 3,4 mil toneladas44 seria suficiente

40 Lei no 12.859, de 10 de setembro de 2013. 41 Sindirações, Aliceweb, Receita federal, análise Bain. 42 Markets & Markets (2016), LCA (2014 e análises Bain. 43 Exclui o valor da matéria prima. 44 Sindirações (2013).

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para escoar a uma planta do porte da planta global do produto, como a da Ajinomoto, na França, de 4,5 mil toneladas por ano45.

É importante ressaltar que, segundo players da indústria, o processo da treonina e do triptofano são muito semelhantes ao da lisina e, com adaptações simples, seria possível produzir estes aminoácidos a partir de uma planta de lisina. Esta possibilidade reduz o valor de investimento para uma expansão da capacidade produtiva local de treonina e triptofano.

Linha de ação:

• O consórcio não enxerga necessárias medidas para estimular o investimento na produção destes produtos. As ações abaixo, no entanto, podem acelerar os investimentos, principalmente se associadas a prazos determinados:

o Benefícios fiscais temporários; o Linhas de financiamento atrativas.

7.2. Texturizantes e proteínas especializadas

Neste segmento a gelatina se destaca, com exportações de 275 milhões de dólares em 2012. Outro produto que merece destaque é a albumina, com importação de 34 milhões de dólares neste mesmo ano e crescimento de 39% ao ano entre 2008 e 2012.

Figura 27: Balança comercial dos texturizantes e proteínas especializadas

45 Website da Ajinomoto.

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Gelatina

Com base nos dados de 2012, o Brasil é o principal exportador de gelatina do mundo, com 15% do volume exportado globalmente46, totalizando 37 mil toneladas47. A expansão da capacidade local e o aumento do preço da gelatina no mercado global conduziram a um crescimento de 21% ao ano em valor entre 2008 e 201247.

A participação do Brasil como importante exportador decorre da disponibilidade e competitividade dos insumos para gelatina, que são principalmente restos de peles animais obtidos nos curtumes após a separação do couro. Essa vantagem competitiva tem fomentado investimentos no setor. O caso mais recente foi a inauguração da primeira fábrica no Brasil da terceira maior empresa do setor, a PB Gelatins. Esta nova planta está localizada no município de Acorizal, Mato Grosso, e possui capacidade anual de 3 mil toneladas.

Para que o Brasil mantenha sua participação na produção global de texturizantes, serão necessários investimentos da ordem de 700 milhões de dólares em capacidade produtiva até 2030. O impacto destes investimentos na balança comercial de 2030 seria de aproximadamente 350 milhões de dólares.

Apesar do cenário positivo para o País, players da indústria apontaram um risco futuro que pode reduzir a vantagem competitiva local. Há uma tendência de migração das exportações de couros tratados para couros não tratados e, com isso, a exportação dos restos animais utilizados na produção de gelatina.

Linha de ação:

• Aprimorar o sistema de drawback das exportações de couro tratado para evitar a desindustrialização dos curtumes locais (recomendação proveniente do Relatório do segmento de Químicos para couro deste Estudo);

• Fomentar pesquisa para aumentar a eficiência das rotas de produção de gelatina com base em outros restos animais disponíveis a baixo custo, como ossos;

• Além das ações acima, as propostas abaixo podem acelerar os investimentos, principalmente se associadas a prazos determinados:

o Benefícios fiscais temporários; o Linhas de financiamento atrativas.

Albumina

A importação de albumina triplicou entre 2008 e 2012 e alcançou 34 milhões de dólares em 201248, demonstrando forte crescimento do mercado local. A principal matéria-prima desse produto é o soro de leite, que no Brasil é frequentemente descartado ou subutilizado como adubo ou alimento animal.

46 Nações Unidas – Comtrade. 47 Aliceweb, Receita federal. 48 Aliceweb, Receita federal.

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O uso do soro de leite como matéria-prima para produtos de maior valor agregado, como albuminas, apesar de crescente, ainda tem volume insuficiente para reduzir as importações (que cresceram 39% ao ano entre 2008 e 2012). O maior desafio para aumentar a utilização do soro de leite é a escala. Segundo players da indústria, grande parte da indústria de laticínios local produz soro de leite em volume inferior ao volume necessário para a escala de produção da albumina e o custo logístico é alto para se transportar um produto de baixo valor agregado.

Têm sido observados investimentos produtivos voltados para a produção de albumina em unidades de laticínios de grande porte. Em 2012, a BRF anunciou uma joint venture com a Carbery, empresa especializada em suplementos, com o objetivo de investir 50 milhões de dólares na produção de proteínas do soro de leite49.

Linha de ação:

• Fomentar a pesquisa de alternativas operacionais e tecnológicas, como, por exemplo, a formação de cooperativas ou a concentração do soro, para viabilizar economicamente o aproveitamento do soro de leite da indústria de laticínio local;

• Incentivar investimentos em capacidade produtiva de proteínas especializadas a partir de soro de leite com:

o Benefícios fiscais temporários; o Linhas de financiamento atrativas.

7.3. Potenciadores de sabor

O ácido glutâmico também é produzido com base na fermentação de açúcares. Com isso, a produtividade do País em insumos como a cana de açúcar representa uma grande vantagem para a produção local. No Brasil, o ácido glutâmico é produzido pela Ajinomoto, 2º maior player global.

49 Website da empresa.

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Figura 28: Balança comercial dos potenciadores de sabor

O ácido glutâmico e seus derivados estão entre os principais produtos da balança de exportação. Em 2012, o Brasil foi o 3º maior exportador mundial de ácido glutâmico, mas o volume de exportação diminuiu de 132 mil para 101 mil toneladas entre 2011 e 201250. Apesar desta queda, não há indícios de redução da competitividade local.

No mesmo ano em que houve redução das exportações brasileiras, houve um aumento de 23% na capacidade produtiva global. Este aumento ocorreu, principalmente, em função de um aumento de aproximadamente 70% da capacidade produtiva da chinesa Fufeng, maior produtora global de ácido glutâmico 51. Este investimento, realizado na China, adicionou aproximadamente 400 mil toneladas à capacidade global, que em 2011 foi de 2,6 milhões de toneladas. A Fufeng aumentou suas vendas de 620 mil toneladas em 2011, para 940 mil toneladas em 201252.

Apesar do investimento da Fufeng, a capacidade ociosa global ficou em apenas 15% em 2012. Considerando um crescimento médio anual de 5% entre 2012 e 2018, em 2016 seriam necessários novos investimentos produtivos no mundo. Desta forma, a oportunidade existente neste mercado está em atrair os investimentos em expansão da capacidade produtiva global para o Brasil.

50 Aliceweb, Receita federal. 51 Daedal Research (2013). 52 Daedal Research (2013).

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Para o país manter sua participação na produção mundial em 2030, seria necessário investimento de aproximadamente 150 milhões de dólares em 180 mil toneladas de capacidade anual53. O impacto deste investimento na balança comercial de 2030 seria de aproximadamente 250 milhões de dólares54.

Linha de ação:

• Para atrair os investimentos para a expansão necessária da capacidade produtiva global, o País poderia tomar as ações descritas a seguir:

• Incentivar investimentos em capacidade com: o Benefícios fiscais temporários; o Linhas de financiamento atrativas.

7.4. Conservantes e acidulantes

Em conservantes e acidulantes destaca-se a redução do volume de comércio exterior de ácido cítrico em 2012. Este movimento é consequência de ações antidumping do Brasil contra produtores chineses. Com esta medida, o volume de importações diminuiu e, para atender o mercado interno, parte do ácido cítrico antes exportado passou a atender o mercado interno.

Figura 29: Balança comercial dos conservantes e acidulantes

53 Markets & Markets (2011), LCA (2014), análise Bain. 54 Exclui o valor da matéria prima.

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Segundo players da indústria, na produção brasileira de ácido cítrico, mão de obra e energia representam cerca de 50% dos custos enquanto a matéria-prima, cana de açúcar, representa aproximadamente 30%. A escala das plantas chinesas e a menor competitividade local em energia e mão de obra quando comparada à China, está entre os fatores que possibilitaram produtores chineses acessarem o mercado brasileiro com preços inferiores ao dos produtores locais.

A medida antidumping, vigente desde 2012, tem validade de 5 anos e protege a produção local no mercado interno. Para exportar, no entanto, produtores locais podem enfrentar dificuldade para competir com produtores chineses. Neste cenário, e considerando que 75% do mercado brasileiro já é atendido por produtores locais55, o Consórcio vê oportunidades limitadas neste mercado.

7.5. Enzimas

As enzimas possuem grande importância no segmento de aditivos alimentícios como aditivo e como insumo de processo. Como aditivo, as enzimas são utilizadas diretamente no produto final, como é o caso das rações animais, ou como coadjuvantes de tecnologia, como ocorre na panificação e na indústria de cerveja. Como insumo de processo, são utilizadas na produção de outros aditivos alimentícios, principalmente aqueles provenientes de rotas fermentativas.

Assim como na indústria de alimentos, as enzimas possuem importância em diversas outras indústrias como, por exemplo, a de limpeza e a de biocombustíveis. As enzimas têm papel fundamental na bioquímica pela importância da fermentação nesta área da química.

55 Player da indústria.

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Figura 30: Balança comercial das enzimas

Devido à importância das enzimas para a indústria química, em especial através da bioquímica, este subsegmento será abordado no relatório de novas tecnologias deste estudo.

7.6. Aditivos alimentícios de origem renovável

Conforme fica explicitado no decorrer deste relatório, as oportunidades do Brasil no segmento se concentram nos produtos de origem renovável. A rota renovável possui grande importância no segmento de aditivos alimentícios como pode ser observado na Figura 24.

A consolidação do país como importante produtor de aditivos passa por pesquisa e desenvolvimento para que o uso das matérias primas renováveis disponíveis localmente seja potencializado. Exemplo disto é a produção da metionina pela rota fermentativa ou a partir da glicerina e a produção de gelatina a partir de ossos animais. A necessidade de pesquisa e inovação também é importante nos demais aditivos alimentícios de origem renovável que não foram discutidos em detalhe como é o caso das proteínas de soja e do colágeno.

Para impulsionar a inovação neste segmento, o Consórcio acredita que o País deva (i) criar um ambiente regulatório para propício para a dinâmica de inovação do segmento e (ii) estimular pesquisa aplicada com maior integração universidade-empresa.

Linha de ação:

• Melhorar ambiente regulatório: o MAPA:

� Atualizar regulamentação sobre utilização de ingredientes em alimentos de origem animal;

� Consolidar legislação vigente em uma regulamentação objetiva com menor margem para interpretações.

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o ANVISA: � Criar critérios de priorização; � Alterar a estrutura e a organização do processo de registro; � Terceirizar algumas análises envolvidas no processo de registro -

laboratórios credenciados e/ou universidades públicas poderiam emitir pareceres sobre os processos.

• Fomentar pesquisa e desenvolvimento: Criar linhas de financiamento específicas para o segmento e estruturadas de forma a promover a integração entre pesquisadores e empresas.

• Incentivar investimentos produtivos com: o Benefícios fiscais temporários; o Linhas de financiamento atrativas.

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