relatório analítico - sistema de informações...

79
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) Instituição Proponente UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA (UFSM) UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (UFPEL) Instituições Colaboradoras RELATÓRIO ANALÍTICO CÉLULA DE ACOMPANHAMENTO E INFORMAÇÃO - CAI - ZONA SUL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Projeto de Pesquisa e Extensão Tecnológica Pesquisa e Ação para o Desenvolvimento de Dispositivos de Gestão e Governança do Território Rural da Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul: construindo interfaces entre atores, redes e instituições. Edital MDA/SDT/CNPq – Gestão de Territórios Rurais Nº. 05/2009 Sergio Schneider - Professor Coordenador - PGDR/UFRGS Marcelo Antonio Conterato - Professor Colaborador – PGDR/UFRGS Anelise Graciele Rambo – Professora Colaboradora - UFFS Paulo Waquil – Professor Colaborador – PGDR/UFRGS Roni Blume - Professor Colaborador - UFSM Suzimary Specht - Professora Colaboradora – UFSM Carlos Douglas de Oliveira – Doutorando PGDR Lillian Bastian -Técnica da Célula - PGDR/UFRGS Carla Aldrigui – Mestranda do PGDR Mégui Del Ré – Mestranda no PGDR Evander Eloi Krone – Aluno Bolsista – UFPEL Guilherme Silva de Farias – Aluno Bolsista - UFRGS Porto Alegre, maio de 2012

Upload: nguyenduong

Post on 01-Feb-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS)Instituição Proponente

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA (UFSM)UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (UFPEL)

Instituições Colaboradoras

RELATÓRIO ANALÍTICO CÉLULA DE ACOMPANHAMENTO E INFORMAÇÃO - CAI - ZONA SUL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO

SUL

Projeto de Pesquisa e Extensão TecnológicaPesquisa e Ação para o Desenvolvimento de Dispositivos de Gestão e Governança do Território Rural da Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul: construindo interfaces

entre atores, redes e instituições.

Edital MDA/SDT/CNPq – Gestão de Territórios Rurais Nº. 05/2009

Sergio Schneider - Professor Coordenador - PGDR/UFRGSMarcelo Antonio Conterato - Professor Colaborador – PGDR/UFRGS

Anelise Graciele Rambo – Professora Colaboradora - UFFSPaulo Waquil – Professor Colaborador – PGDR/UFRGS

Roni Blume - Professor Colaborador - UFSMSuzimary Specht - Professora Colaboradora – UFSM

Carlos Douglas de Oliveira – Doutorando PGDRLillian Bastian -Técnica da Célula - PGDR/UFRGS

Carla Aldrigui – Mestranda do PGDRMégui Del Ré – Mestranda no PGDR

Evander Eloi Krone – Aluno Bolsista – UFPELGuilherme Silva de Farias – Aluno Bolsista - UFRGS

Porto Alegre, maio de 2012

Page 2: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

2Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Sumário

Sumário ........................................................................................................................................... 3

Lista de Figuras ............................................................................................................................... 4

Lista de Gráficos .............................................................................................................................. 6

Lista de Tabelas ............................................................................................................................... 7

Lista de siglas .................................................................................................................................. 8

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 11

SUMÁRIO EXECUTIVO ................................................................................................................... 13

1. CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................................................. 17

2. IDENTIDADE .............................................................................................................................. 27

3. CAPACIDADES INSTITUCIONAIS ................................................................................................. 29

4. GESTÃO DO COLEGIADO ........................................................................................................... 31

5. AVALIAÇÃO DE PROJETOS ......................................................................................................... 41

5.1 Breves considerações acerca de cada projeto concluído ........................................................ 48

6. ÍNDICE DE CONDIÇÕES DE VIDA (ICV) ....................................................................................... 60

6.1 ICV e IDS: possibilidade de comparações? .............................................................................. 66

7. ANÁLISE INTEGRADORA DE INDICADORES E CONTEXTO .......................................................... 69

8. PROPOSTAS E AÇÕES PARA O TERRITÓRIO ............................................................................... 73

ANEXO: Validação de instrumentos e procedimentos .................................................................. 75

GLOSSÁRIO .................................................................................................................................... 78

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 80

Page 3: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

3Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulLista de Figuras

Figura 1 – Municípios que compoem o território Zona Sul…………………………….……………..14

Figura 2 - Identidade Territorial – Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul…………….….24

Figura 3 – Índice de Capacidades Institucionais……………………………………………………….…..26

Figura 4 – Estrutura do Colegiado Territorial Zona Sul do Estado do RS……………………....29

Figura 5 – Avaliação dos projetos de investimento concluídos da Zona Sul………………....41

Figura 6 – Avaliação da Fase de Planejamento dos Projetos da Zona Sul………………….....42

Figura 7 – Avaliação da fase de execução do projeto………………………………………………......43

Figura 8 – Indícios de impacto dos projetos da Zona Sul………………………………………….…..44

Figura 9 – Indicadores gerais de gestão dos projetos da Zona Sul………………………..…..….45

Figura 10 – Caminhão e dependências da Unaic – Canguçu/2011…………………………….....46

Figura 11 – Caminhão recebido pela Cooperativa Terra Nova – Canguçu/2011……..…….47

Figura 12- Caminhão e sede da Asscooseti/Canguçu-2011……………...……………………...…..48

Figura 13 – Prédio da Secretaria da Agricultura de Capão do Leão no qual seria

instalado um Centro de Comercialização – 2011 .......…………………………………….49

Figura 14 – Caminhão e Sede da Cooperal/Hulha Negra-2011……….…………………....……...50

Figura 15 – Máquina ensiladeira/Pedras Altas-2011……………………..…………………….…….…52

Figura 16 – Centro de Comercialização e agroindústria de panifícios……..……………..…….52

Figura 17 – Tanques resfriadores e assentamento da Coopava/Piratini-2011……..……....53

Figura 18 – Caminhão frigorífico e sede Apeva/Santa Vitória do Palmar-20114……...…..54

Figura 19 – Dependências da Coafan e caminhão adquirido…………………………..…….…..…55

Figura 20 – Laticínio Pomerano Alimentos e sede da Coopar –

São Lourenço do Sul/2011………………………………………………………………….…………. 56

Figura 21 – Casa da Agricultura Familiar junto a seus móveis e utensílios………..…….…….57

Figura 22 – Biograma representativo do ICV do território rural Zona Sul

do Estado do RS……………………………………………………...……………………………………..58

Figura 23- Fatores do Desenvolvimento do Território Rural Zona Sul do Estado do RS...60

Figura 24 – Características do Desenvolvimento do Território Rural Zona Sul do RS…....61

Figura 25 – Efeitos do Desenvolvimento do Território Rural Zona Sul

do Estado do RS………………………………………………………………………………………………62

Figura 26 – Biograma representativo do Território Rural Zona Sul

do Estado do RS/Brasil………………………………………....……………………………………….64

Page 4: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

4Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulFigura 27 – Comparativo dos elementos ambientais entre ICV e IDS……………………………65

Page 5: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

5Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulLista de Gráficos

Gráfico 1 – População urbana e rural do território Zona Sul/2000………………………..…..…15

Gráfico 2 – População urbana e rural do território Zona Sul/2010…………………………....…15

Gráfico 3– Comparativo da população de Pelotas, Rio Grande e

demais municípios da Zona Sul…………………………………………………………....……..…16

Gráfico 4 – Área ocupada pela agricultura familiar na Zona Sul……………………………...…...18

Gráfico 5 – Número de estabelecimentos ocupados pela agricultura familiar

na Zona Sul…………………………………………………………………………..........………………..19

Gráfico 6 – Membros do Colegiado por sexo……………………………….……………….………...….22

Gráfico 7 – Freqüência de reuniões da Plenária do Colegiado………………………………...……30

Gráfico 8 – Freqüência de reuniões formais do Colegiado………………………………………...…31

Gráfico 9 – Freqüência de reuniões formais do Colegiado……………………………………...……31

Gráfico 10 - Temas tratados no Colegiado…………………………………………………………….....….32

Gráfico 11 – Problemas que prejudicam o Colegiado……………………………………………...……33

Gráfico 12 – Papel do Colegiado na elaboração do diagnóstico territorial………………......35

Gráfico 13 – Sobre a elaboração de um documento contendo a visão de longo prazo

do território..…………………………………………….………………………………………………..….35Gráfico 14 – Papel do Colegiado na elaboração da visão de futuro………….....………….……35

Gráfico 15 – Papel do Colegiado na elaboração do PTDRS…………………………...…………..….35

Gráfico 16 – Escolha dos membros do Colegiado…………………………………..……….……………36

Gráfico 17 – Mecanismos de tomada de decisão do Colegiado…………………………..………..37

Gráfico 18 – Mecanismos de informação de ações e decisões à comunidade………...……..37

Gráfico 19 – Assessor técnico que acompanha o Colegiado……………………………………......38

Gráfico 20 – Projetos territoriais: veículos, caminhões, prédios e equipamentos……...…40

Gráfico 21 – Montante de emendas parlamentares e projetos territoriais

na Zona Sul……………………………………………………………………………………………........40

Gráfico 22 – Montante de recursos destinados a emendas/máquinas e

projetos territoriais........………………………………………………………………………………41

Page 6: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

6Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulLista de Tabelas

Tabela 1 – Comunidades Quilombolas no território Zona Sul……………………….....…………..16

Tabela 2 – Assentamentos da Reforma Agrária no território da Zona Sul…………....………18

Tabela 3 - Proponentes e finalidades dos projetos territoriais da Zona Sul……………….....39

Tabela 4 – ICV e suas instâncias…………………………………………………………………………….....….58

Tabela 5 – Efeitos do desenvolvimento por segmento da população na Zona Sul….....…63

Page 7: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

7Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulLista de siglas

AFUBRA – Associação dos Fumicultores do Brasil

APEVA – Associação de Pescadores Vila Anselmi

ARPA/Sul – Associação Regional dos Produtores Agroecologistas da Região Sul

ASSAF – Associação dos Sindicatos da Agricultura Familiar

ATLA - Associação de Trabalhadores da Lavoura de Arroz

AZONASUL - Associação dos Municípios da Zona Sul

CAI – Célula de Acompanhamento e Informação

CAPA – Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor

CIAT – Comissão de Implantação de Ações Territoriais

CODETER – Colegiado de Desenvolvimento Territorial

COOMIRIM – Conselho Consultivo para Ações na Lagoa Mirim

COONATERRA – Cooperativa Nacional Terra e Vida

CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOPAL – Cooperativa de Pequenos Agricultores Produtores de Leite da Região Sul Ltda.

COOPAR – Cooperativa Mista dos Pequenos Agricultores da Região Sul Ltda.

COOPAVA – Cooperativa de Produção Agropecuária Vista Alegre

COOPERAL – Cooperativa Regional dos Agricultores Assentados

COOPESCA – Cooperativa dos Pescadores Profissionais e Artesanais Pérola da Lagoa

COOPESI – Cooperativa de Pescadores de Santa Izabel

COOPTIL – Cooperativa de Produção, Trabalho e Integração

CREHNOR – Sistema de Cooperativas de Crédito Rural

CRESOL – Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FEE - Fundação de Economia e Estatística

Page 8: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

8Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulFETAG/RS – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul

FETRAF/Sul – Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICV - Índice de Condições de Vida

IDESE - Índice de Desenvolvimento Socioeconômico

IDS – Índice de Desenvolvimento Sustentável

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário

MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores

PAA - Programa de Aquisição de Alimentos

PAM - Produção Agrícola Municipal

PIB - Produto Interno Bruto

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNCF - Programa Nacional de Crédito Fundiário

PROINF - Programa Nacional de Apoio a Projetos de Infra-estrutura e Serviços em Territórios Rurais

PRONAF - O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PTDRS – Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável

Q1 – Questionário de Capacidades Institucionais

Q2 - Questionário de Identidade Territorial

Q3 – Questionário de Gestão dos Colegiados Territoriais

Q4 – Questionário do Índice de Condições de Vida (ICV)

Q5 – Questionário de avaliação de Projetos

SDT – Secretaria de Desenvolvimento Territorial

SGE - Sistema de Gestão Estratégica

SICREDI – Sistema de Crédito Cooperativo

SIM - Sistema de Inspeção Municipal

Page 9: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

9Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulSIT – Sistema de Informações Territoriais

UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UNAIC – União das Associações Comunitárias do Interior de Canguçu

Page 10: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

10Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulINTRODUÇÃO

O texto que segue visa atender ao relatório analítico demandado pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) no âmbito do Edital MDA/SDT/CNPq – Gestão de Territórios Rurais Nº. 05/2009. Tem como principal objetivo traçar um panorama geral e inicial dos resultados e observações da Célula de Acompanhamento e Informação (CAI) concernentes às atividades de pesquisa e extensão realizadas no território Zona Sul de setembro de 2010 a setembro de 2011. O mesmo está organizado conforme um roteiro sugerido pela SDT.

As considerações presentes neste relatório têm como base a análise dos dados obtidos através da aplicação de cinco diferentes questionários, elaborados pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) a fim de apreender a configuração das diversas dimensões do desenvolvimento no território. São estes: o questionário de Capacidades Institucionais (Q1), o de Identidade Territorial (Q2), o de Gestão dos Colegiados Territoriais (Q3), o Índice de Condições de Vida (Q4) e o questionário de Avaliação de Projetos (Q5).

Os dados referentes às Capacidades Institucionais (Q1) dizem respeito à base de recursos disponível para as organizações do território, sejam estas da sociedade civil ou Estado, para a gestão social das políticas públicas e para que sejam capazes de administrar os projetos territoriais. Este questionário foi aplicado a membros do poder público dos municípios do território Zona Sul. Quanto à Identidade Territorial (Q2), esta compreende o conjunto de formas com que os diferentes grupos reagem, social e coletivamente, uns aos outros. A identidade é construída a partir de uma série de fatores: históricos, biológicos, geográficos, etc., que configuram a forma como as coletividades processam e organizam seus significados. O objetivo da SDT em compreender as diferentes identidades dos territórios é desenvolver formas mais apropriadas de ação na busca ao desenvolvimento rural sustentável.

O questionário de Gestão dos Colegiados Territoriais (Q3), que, juntamente com o de Identidade Territorial (Q2), foi aplicado a todos os membros do Colegiado, busca, de forma geral, apreender a situação das articulações e recursos que possibilitam a gestão do território pelo Colegiado, segundo seus participantes. Já o instrumento utilizado para a Avaliação de Projetos (Q5) visa, prioritariamente, obter informações a respeito das fases de planejamento, execução, implementação e gerenciamento dos projetos territoriais, assim como sobre os impactos destes nas condições de vida das populações diretamente beneficiadas e no território de forma mais ampla. Este último instrumento foi aplicado com um membro do Colegiado Territorial, um membro da entidade executora e com um beneficiário de cada projeto.

Quanto ao Índice de Condições de Vida (ICV) seu principal objetivo é apreender os efeitos das ações territoriais nas condições de vida a partir das percepções do público

Page 11: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

11Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulalvo da SDT. Além de permitir análises comparativas, o ICV é construído a partir de dados primários. Os questionários foram aplicados no território Zona Sul entre os meses de outubro e dezembro de 2010. Do total de 25 municípios, as entrevistas foram realizadas com famílias em 10 setores censitários de 09 municípios. Tanto os municípios quanto os setores censitários e as famílias entrevistadas foram selecionadas por amostra aleatória, sorteada pela própria SDT, permitindo a representatividade territorial.

Além das informações obtidas através destes instrumentos, outras considerações presentes neste relatório foram desenvolvidas pelos membros da CAI a partir da observação e interação direta com os atores territoriais. Estes aspectos levantados buscaram complementar as lacunas que os questionários não puderam apreender.

Na primeira seção do texto a seguir apresenta-se uma breve contextualização do Território Zona Sul, embasada tanto no Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) do território, quanto em outros documentos e na observação empírica. Segue-se com as considerações sobre a Identidade Territorial, as Capacidades Institucionais e a Gestão dos Colegiados.

Posteriormente desenvolve-se a seção de Avaliação dos Projetos, com uma breve descrição de cada um dos 13 empreendimentos territoriais concluídos encontrados no território. Seguem-se as análises a respeito do ICV do território assim como uma tentativa, ainda embrionária, de comparação entre este e o IDS – Índice de Desenvolvimento Sustentável, outro indicador utilizado pela SDT, elaborado com base em dados secundários.

Por fim desenvolve-se uma análise integradora dos indicadores com o contexto local assim como se propõe novas pesquisas no sentido de ampliar o escopo de análise e compreensão das complexas dinâmicas de desenvolvimento territorial.

Page 12: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

12Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

SUMÁRIO EXECUTIVO

A presente seção busca, resumidamente, apresentar alguns elementos característicos do território Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul que se destacaram ao longo das atividades realizadas pela CAI no referido território. Estes elementos colocam-se pertinentes às análises e ações territoriais, seja por parte da academia, do governo ou mesmo dos atores territoriais.

Quanto à caracterização do território Zona Sul, pode-se destacar que, embora numerosas e diversas, em função de sua considerável extensão, merecem destaque a concentração da posse da terra e a concentração da população. Quanto a primeira, pode-se destacar que a agricultura familiar no território desenvolve-se em apenas 26% da área total, sendo que esta categoria atinge 85% dos estabelecimentos rurais (IBGE, 2006). Quanto à população, o município de Pelotas, economicamente marcado pelas atividades do setor de comércio e serviços e Rio Grande, onde se destacam as atividades industriais e ligadas ao porto, em 2010, juntos concentravam 61% da população do território. Os demais 23 municípios, juntos, somavam apenas 39% da população total (Censo, 2010). Isso configura uma substancial concentração populacional em um número reduzido de municípios, que acabam se constituindo enquanto pólos de atração populacional.

Outra característica marcante é a diversidade de grupos sociais que configuram este território rural. Além da presença da agricultura não familiar ou do agronegócio, que se dedica principalmente a produção de arroz irrigado e gado de corte, o território conta com agricultores e pecuaristas familiares, agricultores assentados da reforma agrária, comunidades quilombolas e pescadores artesanais.

Esta diversidade que caracteriza o território também se expressa em sua identidade. Embora a agricultura familiar tenha sido a única categoria a se enquadrar no nível máximo do Índice de Identidade Territorial, as demais (ambiente, economia, pobreza, etnia, colonização, político) classificaram-se como médio-altos. Sendo assim, as dimensões identitárias aparecem dispersas já que a diversidade étnica, econômica, social, política e também a ambiental constituem-se em fator determinante da caracterização do território, a qual não pode ser atribuída a nenhum elemento isoladamente. Ao se considerar que na perspectiva dos territórios rurais está subjacente a idéia de territórios de identidade, ou seja, um território enquanto espaço físico construído historicamente e, por conseguinte, portador de uma identidade, baseada em alguma especificidade, seja cultural, econômica ou ambiental (ECHEVERRI, 2010), tem-se que o grande desafio do território da Zona Sul é construir habilidades que reúnam

Page 13: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

13Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulesta diversidade de características e identidades em torno de uma visão comum e consensuada de território e desenvolvimento territorial.

Em relação às Capacidades Institucionais e à Gestão do Colegiado no Território Zona Sul o que se destaca de forma visível é a disposição das organizações civis em levar à frente iniciativas de desenvolvimento rural. De modo geral, observou-se a participação dos beneficiários ao longo do desenvolvimento dos projetos territoriais, bem como a mobilização da população na realização de protestos e manifestações. Esta conjuntura denota a capacidade da população de reagir a determinadas situações.

Um ator que se destaca na trajetória de organização e reação no território é o Centro de Aperfeiçoamento do Pequeno Agricultor (Capa). Esta organização que atua na região desde 1982 (inicialmente no município de São Lourenço do Sul, transferindo sua sede para Pelotas em 2001) realizando diferentes ações nos municípios do território, atendendo agricultores familiares, pescadores artesanais e quilombolas1.

O Capa, junto a outros atores territoriais, participa de forma ativa na organização do Fórum da Agricultura Familiar desde 1994. Este representa um espaço de debate e proposição de ações voltadas ao desenvolvimento sustentável da Zona Sul, formado por diversas entidades e organizações da sociedade civil e dos poderes públicos municipal, estadual e federal representativas da agricultura familiar, comunidades quilombolas, assentamentos de reforma agrária, pesca artesanal e movimentos sociais deste território (PTDRS, 2009). O Fórum desde 2005 incorporou o Colegiado Territorial, e deste então os encontros do Colegiado acontecem concomitante às reuniões do Fórum. Sendo o Capa a entidade parceira da SDT para as ações territoriais.

O Capa foi uma das principais entidades a organizar e produzir o PTDRS do território rural Zona Sul. Os anos de atuação também lhe renderam conhecimento das diversidades que perpetuam no rural do território.

Outra organização pública de respaldo para o território é a Embrapa Clima Temperado. Ela está presente no território desde o século XIX quando juntamente com a Universidade Federal de Pelotas fundaram uma estação agroclimatológica no município de Capão do Leão. Nesta estação, o primeiro registro data do ano de 1888. Desde então, desenvolve pesquisas em inúmeras áreas técnicas e contribui para o desenvolvimento do território fornecendo tecnologias e conhecimentos (PTDRS, 2009).

Segundo os entrevistados, os representantes do governo federal, dos agricultores e dos movimentos sociais, respectivamente, são os que têm maior capacidade de decisão nas reuniões do Colegiado Territorial. Já os representantes do governo estadual, municipal e das universidades são os com menor capacidade de

1 Mais informações a este respeito ver: <http://www.capa.org.br/site/content/nucleos/index.php? nucleo_id=2>.

Page 14: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

14Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Suldecisão. Esta capacidade mostra relação com o grau de participação destas entidades, uma vez que as com menor participação são aquelas que menos decisões tomam.

Por outro lado, um dos problemas do Colegiado, segundo os entrevistados, diz respeito a pouca participação dos gestores públicos. Esta pouca participação pode ser observada nas reuniões do Fórum, uma vez que a minoria dos municípios possui representantes fixos. Ademais, quando da aplicação do questionário de Identidade (Q2), em geral, houve dificuldades em encontrar os representantes do poder público municipal, havendo relativa rotatividade dos membros deste segmento.

Por sua vez, outra questão que merece destaque quanto à gestão do Colegiado e atenção por parte dos atores territoriais diz respeito à relação entre o Fórum da Agricultura Familiar e o Colegiado de Desenvolvimento Territorial (Codeter). Embora no Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) conste que o Fórum é a instância representativa do Codeter no território, isso não se mostra claro a todos os membros do Fórum e/ou Colegiado.

Ademais, reflexos das capacidades de mobilização da sociedade civil são observados nos projetos territoriais concluídos. Grande parte destes projetos é proposta para atender a demandas específicas de cooperativas e/ou associações. Isso denota um aspecto positivo uma vez que representa uma demanda social legitimada e organizada.

Por sua vez, pode-se observar também que a maioria dos projetos busca a aquisição de veículos (de passeio ou utilitários) e caminhões. Dos projetos territoriais, 61% correspondem a veículos e caminhões (17% e 44% respectivamente); 17% correspondem a prédios – destinados a capacitação/treinamento ou comercialização de produtos – e outros 22% a equipamentos. Outra questão que chama atenção é o montante de emendas parlamentares destinadas ao território. Dos projetos concluídos, as emendas representam 61% do total.

Embora não se tenha pesquisado esta questão, inicialmente, isso pode ser conseqüência de dois fatos: um deles diz respeito ao pequeno montante de recursos destinado ao território. No ano de 2011, por exemplo, o montante de projetos territoriais ultrapassou consideravelmente um milhão de reais. Já o orçamento disponibilizado ao território somou apenas R$ 500.000,00. Assim, as emendas parecem tornar-se uma forma de os atores territoriais viabilizarem a implementação de seus projetos. Por outro lado, quando determinado projeto não é considerado prioritário pelo Colegiado/Fórum, as emendas também se apresentam como uma alternativa.

Quanto ao Índice de Condições de Vida do Território Zona Sul do Estado/RS, este localiza-se na escala média, alcançando índice 0,585. Observou-se que os efeitos – embora esta seja a instância com maiores desigualdades entre as dimensões que a formam – mostram-se com um índice melhor (0,644) em relação aos fatores (0,544) e às características (0,576). Já os fatores – instância com pior índice – é a que apresenta

Page 15: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

15Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulmaior equilíbrio entre suas dimensões. Sendo assim, ao analisar o ICV decorrente da primeira aplicação do instrumento, observou-se que os resultados indicam que não há uma correspondência direta entre fatores, características e efeitos do desenvolvimento. Isso pode decorrer da existência de ativos e capitais aliados às liberdades individuais que se expressam de formas distintas a partir da percepção dos indivíduos. Inicialmente, parece que as famílias se valem de seus intitulamentos e lançam mão de uma diversidade de meios para alcançar determinadas realizações.

O que se pode concluir, na tentativa de realizar uma análise integradora dos indicadores e do contexto, é que um dos maiores desafios enfrentados pelo Colegiado na implantação dos projetos de desenvolvimento territorial, segundo os entrevistados, diz respeito a pouca participação dos gestores públicos. Isto demonstra que os atores que levam à frente as discussões e decisões são os da sociedade civil organizada (representantes de assentamentos, movimentos sociais, cooperativas, associações, redes, ONGs, etc.). A baixa participação da esfera pública parece acarretar o segundo maior problema do Colegiado, conforme apontado pelos entrevistados, que se refere ao fato de o Colegiado não ser escutado em outras instâncias.

Frente a esta situação e ao acúmulo de experiências vivenciadas em campo, algumas questões merecem ser destacadas visto que não foram contempladas pelos questionários. Lideranças da agricultura familiar apontaram freqüentemente para o fato de que o Fórum/Colegiado Territorial se constitui em espaço rico de discussão, no entanto, com poucos impactos efetivos na vida das populações rurais. Um dos fatores causais apontados seria a insuficiência dos recursos destinados aos projetos. A quantidade de atores e organizações que defendem projetos é bastante numerosa se comparada com o montante de recursos. Esta situação acaba por desgastar os participantes do Colegiado, já que poucos projetos são contemplados e estes abarcam, sobretudo, problemas pontuais das comunidades, mostrando-se insuficientes para uma transformação mais ampla nos processos de exclusão social vigentes no território.

Da mesma forma, a necessidade de um monitoramento mais efetivo dos projetos também se configurou como demanda significativa dos atores sociais, principalmente ao que diz respeito às contrapartidas de recursos das Prefeituras dos municípios. Ações que busquem compreender as relações e aproximar poder público municipal e Colegiado parecem pertinentes para o melhor andamento da concertação entre atores e implementação mais efetiva da proposta territorial.

A seguir, pretende-se apresentar, de forma mais detalhada, os primeiros resultados das atividades realizadas pela CAI.

Page 16: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

16Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul1. CONTEXTUALIZAÇÃO

Uma das características mais importantes do território Zona Sul é sua diversidade. Esta diversidade se expressa em várias dimensões, tais como a social, a econômica, a cultural, a ambiental, a política e a institucional. Em seu conjunto, as expressões desta diversidade tornam o Território Zona Sul do Rio Grande do Sul um espaço por excelência construído pelo enraizamento de suas instituições, grupos e categorias sociais. Espacialmente é formado por 25 municípios, como apresenta o mapa a seguir, e ocupa em torno de 13% da área total do estado do Rio Grande do Sul (PTDRS, 2009).

Figura 1 – Municípios que compoem o território Zona SulFonte: PTDRS, 2009.

O território conta com uma população de 864.343 habitantes (IBGE, 2010). Deste total, 82% (712.605) encontram-se na área urbana e 18% (151.532) na área rural. Em comparação com o Estado do Rio Grande do Sul, observa-se uma dinâmica semelhante, já que em nível estadual a população urbana, segundo o Censo de 2010, representa 85,1% e a rural 14,9%. No entanto, internamente os municípios apresentam taxas de urbanização significativamente distintas. A título de exemplo, enquanto no município de Pelotas a população urbana representa 93,2% da população total e a rural apenas 6,8%, no município de Canguçu a população urbana representa apenas 37% e a rural 63%.

Em face da população se concentrar basicamente em apenas dois dos 25 municípios (Pelotas e Rio Grande) e estes em termos demográficos serem

Page 17: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

17Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulessencialmente urbanos, em seu conjunto o território apresenta maior percentual residente no espaço urbano, conforme Figuras 2 e 3 abaixo. Houve um aumento da população total entre 2000 e 2010, passando de 841.722 para 864.343 habitantes. Já a participação da população rural na composição da população total diminuiu, passando de 18,10% para 17,56%.

Outra situação representativa da diversidade do território se refere à distribuição da população por municípios, conforme esboçamos acima. Pelotas, município atualmente economicamente marcado pelas atividades do setor de comércio e do setor de serviços e Rio Grande, onde se destacam as atividades industriais e ligadas ao porto, em 2010, juntos concentravam 61% da população do território. Os demais municípios, juntos, somavam apenas 39% da população total. Isso configura uma substancial concentração populacional em um número reduzido de municípios, que acabam se constituindo enquanto pólos de atração populacional.

A título de complementação e breve caracterização da estrutura econômica, de acordo com dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE) para o ano de 2008 as atividades ligadas à agricultura representam apenas 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Por sua vez, as atividades ligadas ao setor serviços representam 77,8% e aquelas ligadas à indústria 18% do PIB. No município de Rio Grande o setor industrial apresenta destaque, contribuindo com 43,4% do PIB, enquanto o setor serviços contribui com 52,9% e o setor agropecuário com apenas 3,2%. Nos demais municípios o setor agropecuário apresenta importância econômica maior, com redução substancial do peso do setor industrial. Como exemplos pode-se citar os municípios de Canguçu, onde o setor agropecuário contribui com 28,6% do PIB e o setor industrial apenas 7,2% e o município de onde a agropecuária contribui com 31% e a indústria 7,8% do PIB.

Gráfico 1 – População urbana e rural do território Zona Sul/2000Fonte: Elaborado com base em dados do IBGE - Censo 2000

Gráfico 2 – População urbana e rural do território Zona Sul/2010Fonte: Elaborado com base em dados do IBGE - Censo 2010

Page 18: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

18Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Gráfico 3– Comparativo da população de Pelotas, Rio Grande e demais municípios da Zona SulFonte: elaborado com base em dados do Censo 2010.

Quanto aos processos de colonização e ocupação do Território Zona Sul, que remontam a meados do Século XVIII, estes foram de acentuada relevância para a configuração atual da estrutura fundiária da região. Como em grande parte do território brasileiro, o sul do RS era habitado apenas por povos indígenas no período anterior à chegada dos portugueses. Com o estabelecimento destes, inicia-se um longo processo de povoamento. Os primeiros imigrantes a fixar residência na região foram os açorianos, incumbidos das tarefas de produzir alimentos e ocupar o território.

Consolidado o domínio português, inicia-se o processo de distribuição das sesmarias, porções de terra de aproximadamente 13.000 hectares concedidas aos militares da Coroa Portuguesa. A partir disto implantam-se as estâncias, o que propicia o desenvolvimento da pecuária e das charqueadas, com a exploração da mão de obra do negro escravo.

Tabela 1 – Comunidades Quilombolas no território Zona SulFonte: PTDRS, 2009

Page 19: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

19Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulEste cenário acaba por configurar um sistema mercantil/industrial na esfera

econômica do território. Em conseqüência do modo de produção do charque, grande parte da população de Pelotas, durante o século XIX, era negra. Os quilombos surgiram deste contexto. Fugidos das estâncias e charqueadas, os negros reagrupavam-se em áreas específicas, pouco povoadas e com matas abundantes. Hoje, o território possui 43 comunidades quilombolas (conforme figura 5), das quais 7 possuem Certidão de Reconhecimento da Fundação Cultural Palmares, 25 se auto reconhecem como comunidades quilombolas e remeteram os documentos para emissão das certidões e as demais estão em processo de auto reconhecimento (PTDRS, 2009). É importante destacar que os dados do Sistema de Informações Territoriais (SIT) apontam que no território haveria apenas duas comunidades quilombolas, nos municípios de Piratini e Canguçu.

Com o fim da doação de terras pelo Governo Imperial Brasileiro, em 1850, iniciam-se as iniciativas de colonização através da venda de lotes. A vinda de imigrantes alemães, através, principalmente, de iniciativas de colonização privada, caracteriza este momento histórico. Estes imigrantes recebiam porções de terra de aproximadamente 24 hectares e nelas produziam principalmente alimentos. Famílias italianas e francesas também marcaram presença nos processos de povoamento do território (PTDRS, 2009).

Atualmente, a configuração da população rural local caracteriza-se basicamente pela existência de quatro grupos distintos: os agricultores familiares, os assentados de reforma agrária, os pescadores artesanais e as comunidades quilombolas. Na categoria dos agricultores familiares podemos fazer uma subdivisão entre aqueles que se dedicam às lavouras e os que trabalham com a pecuária. Estes últimos compõem a importante categoria social dos pecuaristas familiares. Além destes, há os que não se enquadram no conceito de produtor agrícola familiar, os agricultores não familiares, representados especialmente pelos “estancieiros”.

Os agricultores familiares descendem dos imigrantes alemães, açorianos, italianos, franceses entre outros. A partir de 1980, processos de reforma agrária passaram a implantar assentamentos na região, constituídos, principalmente, por agricultores oriundos de outras partes do estado, como Alto Uruguai e Noroeste Colonial. Atualmente, contabilizam-se 117 assentamentos no território em 13 municípios (PTDRS, 2009).

Page 20: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

20Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Tabela 2 – Assentamentos da Reforma Agrária no território da Zona SulFonte: PTDRS, 2009

A inserção dos assentados na localidade atuou de forma relevante na quebra do sistema tradicional de relação patrão/empregado da atividade pastoril. Isto, principalmente, através de novas formas de organização, que agregam populações antes marginalizadas, como associações e cooperativas (PTDRS, 2009). Cabe destacar que a concentração da posse da terra é característica marcante do território. A agricultura familiar desenvolve-se em apenas 26% da área total (IBGE, 2006) como pode ser observado no gráfico a seguir:

Gráfico 4 – Área ocupada pela agricultura familiar na Zona SulFonte: IBGE. Censo Agropecuário, 2006.

Apesar da pequena porcentagem de área, o número de propriedades pertencentes à categoria da agricultura familiar atinge 85% do total, como ilustrado a seguir:

Page 21: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

21Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Gráfico 5 – Número de estabelecimentos ocupados pela agricultura familiar na Zona SulFonte: IBGE. Censo Agropecuário, 2006.

Estes dados evidenciam a concentração da posse da terra, o que representa um desafio ao desenvolvimento do território.

Por sua vez, a bovinocultura extensiva desenvolve-se, predominantemente, nas propriedades acima de 100 hectares, juntamente com a produção de arroz, em sistema de lavoura empresarial. Especialmente depois da disseminação dos transgênicos, a soja também passou a configurar-se como fruto da produção das grandes fazendas e como parte do cenário da região, juntamente com a emergência dos projetos de florestamento das indústrias de celulose e papel (PTDRS, 2009).

Segundo o PTDRS (2009), cerca de 25% dos estabelecimentos do território possuem menos de 10 hectares. É justamente nestas pequenas propriedades que a cultura do tabaco apresenta-se como alternativa produtiva, já que exige pequenas extensões de terra e acarreta rendimentos elevados, se comparados a outros cultivos. De acordo com dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) via Produção Agrícola Municipal (PAM), a área plantada com tabaco na microrregião de Pelotas passou de pouco mais 10 mil hectares em 2000 para mais de 24 mil hectares em 2009.

Algumas pequenas propriedades, porém, conseguem rendimentos significativos, principalmente na produção de hortigranjeiros e frutas, como o pêssego, por exemplo. A pluriatividade também se configura como alternativa de subsistência para os membros das famílias com propriedades pequenas além das aposentarias rurais, que ganham relevância imprescindível neste contexto. De acordo com dados do Censo Agropecuário de 2006, em 20% dos estabelecimentos agropecuários o produtor declarou exercer atividades fora do estabelecimento. Deste percentual, 75% eram produtores familiares.

Quanto aos pescadores, estes vivem e organizam-se, geralmente, em Colônias e a partir de 1999 passaram a ter acesso a políticas públicas específicas como é o caso do programa RS Rural Pesca, a nível estadual e a nível federal com a criação da Secretaria

Page 22: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

22Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulEspecial de Aqüicultura e Pesca elevada à condição de Ministério em 2009. Da mesma forma como os pescadores, as comunidades quilombolas da região também sofreram as conseqüências de um reconhecimento tardio por parte das políticas públicas.

Em relação às características naturais do território, a mais relevante é a predominância do bioma Pampa, que ocupa em solo brasileiro praticamente toda a metade sul do Rio Grande do Sul, o que corresponde a 64% do território gaúcho. Destaca-se, também, o fato de que 41% da cobertura vegetal deste bioma permanece inalterada, segundo estudo desenvolvimento pela UFRGS (PTDRS, 2009). Quanto aos recursos hídricos e minerais, o território possui o maior reservatório de água doce da América Latina, a Lagoa dos Patos, assim como a maior jazida de carvão mineral do Brasil, localizada no município de Candiota.

Aspecto que merece ser destacado é o conflito entre a lavoura de arroz e a pesca artesanal. Isto tem origem no fato de que a pesca, para se tornar viável, necessita de condições para que os peixes possam se reproduzir em banhados e águas não contaminadas. “A produção orizícola retira água dos banhados e polui os mananciais hídricos” (PTDRS, 2009, p. 23).

Outra ameaça ambiental é a expansão das monoculturas de pinus e eucalipto, que avançam de forma crítica pelo território. As estiagens também têm afetado alguns municípios nos últimos dez anos. Durante estes períodos de seca, tanto a produção agropecuária como o próprio abastecimento humano de água fica comprometido. Em busca de soluções para estes problemas, os municípios mais afetados criaram o Fórum de Combate às Estiagens e Manejo das Águas. Por sua vez, a baixa fertilidade e profundidade dos solos é outra questão que preocupa os movimentos sociais e lideranças da agricultura familiar (PTDRS, 2009).

A agricultura familiar tem-se destacado quanto à organização social. Esta organização irá se refletir na identidade territorial, uma vez que o Questionário de Identidade Territorial (Q2) aponta como sendo esta a característica mais marcante do território. Essa organização, se reflete também no próprio Colegiado, uma vez que este passa a ser representado pelo Fórum da Agricultura Familiar, como será apresentado na seção seguinte.

As principais organizações atuantes na região são representativas da agricultura familiar. Dentre elas pode-se destacar:

CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura; FETAG/RS – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul; FETRAF/Sul – Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul; MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores; ASSAF – Associação dos Sindicatos da Agricultura Familiar; Sindicato Regional dos Agricultores Familiares.

Page 23: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

23Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulO associativismo e o cooperativismo também se configuram como formas de

atuação e transformação do território, mobilizando agricultores familiares, assentados e pescadores. Dentre as principais organizações encontram-se:

UNAIC – União das Associações Comunitárias do Interior de Canguçu; COOPAR – Cooperativa Mista dos Pequenos Agricultores da Região Sul Ltda.,

COOPAL – Cooperativa de Pequenos Agricultores Produtores de Leite da Região Sul Ltda;

ARPA/Sul –Associação Regional dos Produtores Agroecologistas da Região Sul, Teia Ecológica; Cooperativa Sul Ecológica de Agricultores Familiares Ltda.; COOPAVA – Cooperativa de Produção Agropecuária Vista Alegre; COOPERAL – Cooperativa Regional dos Agricultores Assentados; COOPTIL – Cooperativa de Produção, Trabalho e Integração; COONATERRA – Cooperativa Nacional Terra e Vida; Cooperativa BIONATUR; Cooperativa dos Pescadores Artesanais Lagoa Viva; COOPESCA – Cooperativa dos Pescadores Profissionais e Artesanais Pérola da

Lagoa; COOPESI – Cooperativa de Pescadores de Santa Izabel; APEVA – Associação de Pescadores Vila Anselmi; Associação dos Pescadores do Porto; Associação dos Pescadores do Hermenegildo; Associação dos Pescadores da Vila São Miguel; Associação Centro Comunitário da Várzea.

As cooperativas de crédito também merecem destaque frente ao aporte dado aos agricultores familiares, assentados e pescadores. São elas: SICREDI Zona Sul, CRESOL e CREHNOR.

Outro elemento que marca o território é a presença de redes e fóruns constituídos, os quais representam espaços que articulam temas em prol do desenvolvimento rural. Quanto aos fóruns, pode-se citar:

Fórum da Agricultura Familiar da Região Sul do Rio Grande do Sul, com 18 anos de atuação;

Fórum da Lagoa dos Patos, atuando há 13 anos; COOMIRIM – Conselho Consultivo para Ações na Lagoa Mirim; Fórum de Combate às Estiagens e Manejo das Águas.

Importante destacar que todas estas organizações e instituições encontram-se citadas no Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) que foi publicado em 2009.

Page 24: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

24Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulJá quanto às redes é possível destacar: a Rede de Cooperação e

Comercialização Solidária; a Rede Regional de Comercialização do Pescado no Sul do RS e a Rede de Referência em Pesquisa Agroecológica. Esta última rede iniciada em 2001 pela Embrapa Clima Temperado e outros parceiros é inovadora no desenvolvimento de pesquisas participativas. Nesta rede, busca-se socializar conhecimentos que podem ser observados em propriedades de referência. A Embrapa Clima Temperado atua no território pelo menos desde o século XIX quando fundou junto com a Universidade Federal de Pelotas uma estação agroclimatológica no município de Capão do Leão. Nesta estação, a primeira medição data de 1888. Atualmente, no território Zona Sul ela mantém três unidades físicas de pesquisa, todas localizadas em Pelotas. Há outra em Bagé, município vizinho ao território. Nestas unidades, realiza pesquisas sobre inúmeras áreas técnicas e contribui para o desenvolvimento do território fornecendo tecnologias e conhecimentos (PTDRS, 2009).

Merece destaque quanto a organização social da região a atuação do Capa sobretudo na mobilização e apoio aos agricultores familiares, quilombolas, pescadores artesanais e comunidades indígenas. Desde 1982 atua na região em diferentes ações, como: acompanhamento técnico e apoio no encaminhamento do processo de reconhecimento público de comunidades quilombolas do território, apoio na introdução de agricultores familiares na Festa Nacional do Doce (Fenadoce) e gestão do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Doação Simultânea, tendo responsabilidade administrativa e técnica sobre os processos relacionados a esta política (PTDRS, 2009). Dentre estas ações pode-se destacar sua participação na coordenação2 do Fórum da Agricultura Familiar, o qual foi implementado em 1994. Esta ONG foi uma das principais entidades a organizar e produzir o PTDRS do território rural Zona Sul. Os anos de atuação também lhe renderam conhecimento das diversidades que perpetuam no rural do território.

Com encontros mensais, o Fórum de Agricultura Familiar da Região Sul do Rio Grande do Sul é um espaço de discussão e implementação de ações voltadas ao desenvolvimento sustentável da Zona Sul do Rio Grande do Sul. Diversas entidades e organizações da sociedade civil e dos poderes públicos municipal, estadual e federal, representativas da agricultura familiar, assentamentos de reforma agrária, pesca artesanal e movimentos sociais deste território, compõem o Fórum. Seus objetivos consistem em buscar soluções conjuntas a partir da realidade local, para implementar o desenvolvimento sustentável; apoiar a implementação de políticas públicas estruturantes; encaminhar as propostas discutidas e aprovadas nas reuniões às instâncias competentes, constituindo-se numa representação política regional reconhecida pelo trabalho desenvolvido (EMBRAPA, 2012).

2 Compõem a coordenação do Fórum representantes do Capa pelas organizações não governamentais, a Embrapa pelas organizações governamentais, além de representantes dos agricultores familiares, assentados do MST, quilombolas e pescadores artesanais.

Page 25: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

25Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulA representatividade do Fórum redundou no fato deste se tornar a instância

representativa do Colegiado Territorial, uma vez que já se caracteriza enquanto uma institucionalidade consolidada na Zona Sul.

Um aspecto a ser destacado sobre a organização social do território é a baixa participação das mulheres nas organizações e espaços púbicos de discussão. Este quadro pode ser atribuído a vários fatores, como a exclusão mais ampla da mulher na sociedade brasileira em geral e as formas tradicionais de dominação enraizadas no latifúndio (espaço tradicional de domínio masculino) que mantém forte influencia política e econômica na região (PTDRS, 2009). A seguir, o gráfico expressa a porcentagem de homens e mulheres entre os membros do Colegiado Territorial, que também apresenta desigual distribuição.

Gráfico 6 – Membros do Colegiado por sexoFonte: elaborado com base na pesquisa de campo.

No que tange à produção da agricultura familiar, o que caracteriza o Território Zona Sul é o sistema pastoril convencional, o sistema de lavoura empresarial e o sistema de lavoura e pecuária familiar. Tratando-se exclusivamente da produção leiteira da região, o censo do IBGE de 2006 apontou que neste ano existia um universo de mais de 16.500 famílias que desenvolviam esta atividade. Deste total, cerca de 7.000 famílias comercializavam sua produção com cooperativas e empresas da região.

O IBGE também indicou que a região produzia mais de 12.000 hectares de feijão. A produção de tabaco também foi assinalada como relevante, principalmente nas pequenas propriedades. Há no território, segundo dados da Afubra (2007) 11.989 famílias produtoras de tabaco, o que representa cerca de 37,3% dos agricultores familiares do território3.

Em relação à fruticultura, o território se configura como pólo de produção de frutas e hortaliças de clima temperado, tendo no pêssego seu principal cultivo. Quanto às hortaliças, a produção de cebola “é uma atividade de grande importância para a 3 Com base em dados do Censo Agropecuário 2006.

Page 26: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

26Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulregião, principalmente para o município de São José do Norte, a qual tem na produção de 2.200 hectares a geração de renda para cerca de 1.500 agricultores” (PTDRS, 2009, p 44). Mais recentemente, a produção de alimentos orgânicos vem ganhando destaque na região, configurando-se como alternativa para agricultores familiares.

Com relação às políticas públicas destinadas à agricultura familiar e que atuam de forma significativa no território, pode-se citar: O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o programa Luz para Todos, o Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), o Programa Social de Habitação, o Seguro Defeso para os Pescadores Artesanais, o Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural, a “Arca das Letras” e o Programa Nacional de Apoio a Projetos de Infra-estrutura e Serviços em Territórios Rurais (Proinf). A política de Previdência Social Rural, implementada em 1988 merece ser destacada. As contribuições das aposentadorias na composição das rendas familiares e nos valores do PIB dos municípios vêm crescendo a cada ano e se mostram indispensáveis para a subsistência de várias famílias (PTDRS, 2009).

2. IDENTIDADE

De acordo com o observado nos Indicadores de Desenvolvimento, gerados pelo Sistema de Gestão Estratégica (SGE), podemos observar, primeiramente, que os elementos da Identidade Territorial investigados apresentam uma configuração relativamente homogênea e que esta se situa em uma classificação entre média alta e alta. Isto quer dizer que os diferentes fatores apresentaram considerável grau de importância na constituição da Identidade Territorial, como apresenta o biograma abaixo:

Figura 2 -Identidade Territorial – Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulFonte: SGE/CAI Território Zona Sul-RS

No entanto, apesar de as diferenças numéricas serem pouco expressivas, destaca-se o fato de que a agricultura familiar tenha sido o único elemento a se

Page 27: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

27Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulenquadrar na categoria máxima (0,845), enquanto os outros se classificam como médio-altos.

O elemento que concerne à colonização foi o que recebeu o menor valor (0,678). Este fato contradiz a importância dada aos processos ocupacionais encontrada no Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) da região. Segundo este, a ocupação foi responsável pela configuração da estrutura fundiária presente ainda hoje no Território. Esta configuração é apontada como desencadeadora de processos de desigualdade e exclusão social. Os dados apresentados no PTDRS, relativos à posse da terra, demonstram de forma contundente a intensa concentração e o baixíssimo percentual de área ocupada pela agricultura familiar (mesmo incluindo-se os assentamentos de reforma agrária), em relação ao total de terras cultivadas. A predominância da lavoura empresarial de arroz e da pecuária extensiva, heranças dos processos de ocupação territorial, também é indicativa da concentração da posse da terra.

Dessa forma, pôde-se observar que na percepção dos membros do Colegiado, o processo de colonização não seria uma característica marcante do território Zona Sul. Isso pode ser uma decorrência da diversidade dos processos históricos de ocupação e colonização que marcam este território, o que faz com que maior peso seja atribuído aos demais elementos.

O segundo elemento que na percepção dos membros do Colegiado representou menor importância na identidade territorial foi o ambiental (0,698). Tal constatação pode decorrer do fato de haverem três regiões geomorfológicas distintas dentro do próprio território, as quais conferem uma diversidade em termos de paisagem, tal como já atesta o PTDRS (2009). Estas são: o Escudo Sul-Rio-Grandense (predominante), a Depressão Central e a Planície Costeira. No Escudo predominam as áreas de campos sub-arbustivos e de campos mistos com ocorrência de matas-galerias e de encostas em altitudes que variam de 100 a 600 metros. A Planície Costeira é formada por várzeas propícias ao cultivo de arroz irrigado com baixa variação de altitude. A Depressão Central é caracterizada por áreas de campos limpos e pastagens. Nesta predominam zonas agrícolas de uso intensivo de verão e de culturas diversificadas (PTDRS, 2009).

O elemento que concerne à pobreza recebeu o segundo maior valor, ficando atrás apenas da agricultura familiar. Isto demonstra como este elemento é tomado como característico do território, principalmente em comparação com a média do estado do Rio Grande do Sul. Como o Plano Territorial aponta: “Na área rural de praticamente todos os municípios existem verdadeiros bolsões de pobreza, cujas famílias sobrevivem do trabalho para terceiros...” (PTDRS, 2009). Há que se destacar que todas as políticas públicas implantadas na região nos últimos anos não foram suficientes para alterar a situação de forma significativa. A aposentadoria rural, o crédito fundiário e os assentamentos de reforma agrária, entre outras iniciativas, parecem carecer de fortalecimento e ampliação para que possam atuar no sentido de mudanças

Page 28: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

28Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulsignificativas. De acordo com dados da FEE, a microrregião de Pelotas apresentou em 2008 o décimo segundo pior IDESE (Índice de Desenvolvimento Socioeconômico) (0,739) entre as 35 microrregiões do estado. Já em relação ao bloco renda deste indicador a microrregião de Pelotas apresentou o terceiro pior indicador (0,715) na comparação com as demais microrregiões, confirmando que a pobreza monetária está entre as principais mazelas regionais.

Os elementos etnia, político e economia, se aproximam em seus valores (0,729; 0,730; 0,750 respectivamente). Isto pode ser atribuído à amplitude e diversidade do território. Por exemplo, quanto a grupos étnicos ou que apresentam uma identidade comum, tem-se diferentes descendentes de imigrantes europeus, comunidades quilombolas, assentados, pescadores e ainda grandes proprietários rurais. O município de Hulha Negra representa bem esta realidade. O espaço rural deste município é ocupado por três grupos com identidades distintas: os agricultores familiares descendentes de alemães, cuja comunidade mais conhecida é denominada Trigolândia, criada a partir de programas oficiais de colonização; os assentados da reforma agrária, que somam um montante de 24 assentamentos e a agricultura patronal.

A dimensão política – e incluem-se nela os movimentos sociais (conforme o Q2) – como apresentada na seção anterior, é marcada por múltiplos interesses e organizações. Em consequência da diversidade de grupos existe também uma variedade de representações políticas.

Neste sentido, os elementos identitários do território aparecem dispersos já que a diversidade étnica, econômica, política e também a ambiental constitui-se em fator determinante da caracterização do território, a qual não pode ser atribuída a nenhum elemento isoladamente. Ao se considerar que na perspectiva dos territórios rurais está subjacente a idéia de territórios de identidade, ou seja, um território enquanto espaço físico construído historicamente e, por conseguinte, portador de uma identidade, baseada em alguma especificidade, seja cultural, econômica ou ambiental (ECHEVERRI, 2010), tem-se que o grande desafio do território da Zona Sul é construir habilidades que reúnam esta diversidade de características e identidades em torno de uma visão minimamente comum e consensuada de território e desenvolvimento territorial.

3. CAPACIDADES INSTITUCIONAIS

O índice de capacidades institucionais no território Zona Sul é médio e corresponde a 0,497. Seu pior indicador, médio baixo, refere-se aos mecanismos de resolução de conflitos (0,340). Observou-se, por exemplo, que se recorre muito pouco às delegacias do MDA. Muitos entrevistados desconheciam o próprio termo “delegacia do MDA”. Invariavelmente se recorre a membros das comunidades, de conselhos e autoridades municipais para resolver os conflitos territoriais que se configuram.

Page 29: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

29Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulO biograma abaixo representa o Índice de Capacidades Institucionais. Observa-

se, já de antemão, que a figura é relativamente irregular entre os indicadores, denotando desequilíbrio entre as dimensões das capacidades institucionais, algo a ser melhor detalhado na seqüência.

Figura 3 – Índice de Capacidades InstitucionaisFonte: SGE/CAI Território Zona Sul-RS

O segundo pior indicador, também médio baixo, refere-se a serviços institucionais disponíveis (0,383) que remete a questões quais sejam, quem e como se divulgam as informações comerciais e de mercado nos municípios. Notou-se que em geral, os órgãos de assistência técnica e prefeituras fazem o acompanhamento de informações comerciais e de mercado. Porém, na maioria das vezes, não há um trabalho sistemático e específico sobre esta questão. Em geral, estas informações são divulgadas em programas de rádio.

Segue o indicador de participação (0,429), que passa para a escala média. Este é formado por questões como o número de protestos e manifestações que ocorrem nos municípios, se há e, em que fase ocorre a participação dos beneficiários nos projetos, em quais etapas da elaboração dos projetos há a participação dos beneficiários; quem define os critérios para identificação dos mesmos; e se estes acompanham a implementação dos projetos e; parcerias firmadas para a implantação dos projetos. De modo geral, observou-se a participação dos beneficiários ao longo do desenvolvimento dos projetos, bem como a mobilização da população na realização de protestos e manifestações. Esta mobilização é entendida como algo positivo, pois denota a capacidade da população de reagir a determinadas situações.

Ainda numa escala média, está a gestão do Colegiado (0,549). Sugere-se que este índice pode refletir o fato de não haver clareza acerca da distinção entre Colegiado e Fórum. Como será apresentado abaixo, o Fórum é a instância representativa do Colegiado no território. Porém, nem todos os membros têm a clareza disso. Com base nisso pode-se inferir que a gestão pudesse ter recebido maior pontuação se houvesse tal consenso.

Page 30: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

30Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulNa mesma escala ainda, encontram-se as iniciativas comunitárias (0,564),

indicador formado por variáveis como projetos de iniciativa comunitária ou de produtores desenvolvidos nos municípios sem apoio de governos e finalidades das parcerias entre organizações de produtores e prefeituras municipais. Em muitos municípios há iniciativas que não contam com o apoio de governos e as parcerias entre organizações de produtores e prefeituras são variadas.

Segue com os instrumentos de gestão municipal (0,590) na mesma escala média. Este indicador é formado por questões como: se as prefeituras possuem cadastro de imóveis rurais; normas de conservação dos recursos naturais expedidas; mapas de áreas degradadas e funções desempenhadas pelas secretarias de desenvolvimento rural. Todas as prefeituras apresentaram pelo menos um dos instrumentos acima. Pode-se observar também que as secretarias atuam em uma multiplicidade de áreas.

Numa escala médio-alta, está o indicador de capacidades organizacionais (0,612) composto pela variável segmentos sociais que realizam ações de apoio às áreas rurais do município; se os investimentos municipais de estímulo ao desenvolvimento são orientados por cadeias produtivas; se ocorrem acordos de venda da produção entre os produtores do município e organizações para comercialização e o número de instituições de prestação de serviços tecnológicos existentes no município. O índice parece refletir bem a capacidade de organização do território o que pode ser evidenciado pela caracterização acima apresentada, sobretudo quanto às organizações da sociedade civil.

Por fim, num nível médio-alto está a infra estrutura institucional (0,773) que considera o número de estruturas para atividades culturais nos municípios; se há secretarias de desenvolvimento rural; se estas possuem quadro técnico permanente e se os municípios contam com secretarias de planejamento. Todos os municípios do território possuem secretarias de desenvolvimento rural e a grande maioria, secretaria de planejamento. Quanto ao quadro técnico permanente, a maioria das secretarias também o possuem, no entanto, não em quantidade considerada adequada.

4. GESTÃO DO COLEGIADO

Quanto à gestão do Colegiado o território da Zona Sul apresenta uma peculiaridade importante a ser destacada. A região, desde 1994, conta com o Fórum da Agricultura Familiar da região Sul do Rio Grande do Sul.

O Fórum, que se reúne mensalmente, “constitui-se como espaço de debate e proposição de ações voltadas ao desenvolvimento sustentável do território rural Zona Sul do RS” (PTDRS, 2009, p. 36). É formado por entidades e organizações da sociedade civil representativas da agricultura familiar, comunidades quilombolas, assentamentos

Page 31: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

31Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulde reforma agrária, pesca artesanal e movimentos sociais, bem como representantes dos poderes públicos municipal, estadual e federal deste território.

Em função da trajetória e do enraizamento do Fórum com as questões relativas ao desenvolvimento rural, este passa a encabeçar os esforços quanto à implementação das políticas territoriais no território a partir de 2004. Conforme o PTDRS (2009), a partir de 2005 o Fórum passa a atuar como Colegiado de Desenvolvimento Territorial.

A justificativa para que o Fórum represente o Colegiado é pautada, como acima referido, em sua trajetória histórica quanto à representatividade dos atores que o constituem, representatividade esta que redunda inclusive em sistemáticos encontros mensais. Além disso, pelo Fórum, a participação dos agricultores familiares, assentados, quilombolas e pescadores é subsidiada, o que lhes facilita a participação.

Nesse sentido, é possível afirmar que, ao mesmo tempo em que a política territorial, na Zona Sul está ancorada em uma institucionalidade já existente na escala local, aquela está promovendo o fortalecimento das redes sociais de cooperação e da gestão social dos territórios.

Por sua vez, ao mesmo tempo em que o Fórum representa o Colegiado, o mesmo é representativo de um dos 11 fóruns setoriais, como pode ser observado na figura 12:

Page 32: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

32Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Figura 4 – Representação do Colegiado Territorial Zona Sul do Estado do RSFonte: elaborado com base em dados do PTDRS (2009)

Segundo o PTDRS (2009), para a constituição das Setoriais partiu-se de estruturas pré-existentes no âmbito das políticas públicas diversas e de instâncias com acúmulo e representatividade, bem como estruturação de novos espaços, contemplando segmentos da sociedade historicamente excluídos dos processos de desenvolvimento e implementação dessas políticas. As setoriais têm dinâmicas próprias de reuniões: algumas se reúnem com periodicidade mensal, outras a partir da demanda de seus integrantes.

Assim, se tem-se por um lado o Fórum da Agricultura Familiar que possui uma história consolidada e sistemática de reuniões e ações, por outro lado, as demais setoriais não apresentam a mesma dinâmica. Assim, parece pertinente estimular e revitalizar as demais setoriais de modo que organizem as demandas de seus representados aproximando-as das discussões territoriais.

Ademais, observou-se que não está claro, entre os membros do Codeter, que o Fórum da Agricultura Familiar representa o Colegiado. Isso pode ser expresso, por exemplo, por meio de comentários tais como: o Fórum da Agricultura Familiar, o qual reúne-se mensalmente antecede a existência do Colegiado Territorial e é autônomo em relação a este. O Colegiado foi criado a partir do programa territórios do Governo Federal, reuniu-se esporadicamente e apenas para a divulgação deste programa. Não pode ser confundido com o acúmulo político e organizativo que o Fórum representa.

Colegiado

Fórum da Agricultura Familiar

Núcleo Dirigente

Núcleo técnico

Agricultura familiar

Mulheres

Quilombolas

Assentados

Pescadores

Água

Prefeitos

Assistência social e segurança alimentar

Educação e cultura

Infraestrutura

Jovens

Saúde e saneamento

Page 33: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

33Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulParece pertinente, portanto, que as demais representatividades sejam

estimuladas a se organizar tal como o Fórum, permitindo que estas participem mais efetivamente da dinâmica territorial da Zona Sul.

A falta de esclarecimento quanto a esta situação é percebida nas questões do Q3 referentes às reuniões e plenárias do Colegiado: 40% dos membros do Colegiado entendiam o Fórum como Colegiado, apontando que a plenária se reúne mensalmente. Por outro lado, 32,86% dos entrevistados relataram que a Plenária se reúne a cada 3 ou 4 meses ou a cada 5 ou 6 meses. Uma porção significativa (21,43%) dos membros apontou não ter conhecimento desta freqüência, como pode ser visualizado abaixo:

Gráfico 7- Frequência de reuniões da Plenária do ColegiadoFonte: SGE/CAI Zona Sul

A mesma realidade se expressa quanto às reuniões do Colegiado: 38,57% não soube dizer quantas reuniões formais haviam sido realizadas. Já 42,86% afirmaram que houve entre 11 e 20 ou mais de 20 reuniões.

Page 34: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

34Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Gráfico 8- Frequência de reuniões formais do ColegiadoFonte: SGE/CAI Zona Sul

Outra questão interessante de ser observada se refere à capacidade de decisão dos membros do Codeter. Segundo os entrevistados, os representantes do governo federal, dos agricultores e dos movimentos sociais, respectivamente, são os que têm maior capacidade de decisão. Já os representantes do governo estadual, municipal e das universidades são os com menor capacidade de decisão. Esta capacidade mostra relação com o grau de participação destas entidades, uma vez que as com menor participação são aquelas que menos decisões tomam.

Gráfico 9- Frequência de reuniões formais do ColegiadoFonte: SGE/CAI Zona Sul

Isso também se reflete nos temas mais abordados nas reuniões do Fórum e/ou Colegiado uma vez que os mais tratados estão relacionados às entidades que mais

Page 35: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

35Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulparticipam e que, conseqüentemente, tem maior capacidade de decisão. Estes temas se referem à cidadania e inclusão social, desenvolvimento agropecuário e projetos.

Os menos tratados dizem respeito à justiça, segurança, lazer e cultura. A priori, estes temas parecem não fazer parte do rol de prioridades do território, até porque não são o foco de ação das entidades com maior capacidade de decisão.

Gráfico 10 - Temas tratados no ColegiadoFonte: SGE/CAI Zona Sul

Uma questão que merece considerações e análises se refere ao tema educação. Quando da aplicação do instrumento do ICV, verificou-se uma considerável presença de aposentados e poucos jovens nos domicílios rurais. Pelos relatos das famílias entrevistadas, muitos destes jovens deixam o espaço rural para buscar qualificação (educação) e, em geral não retornam às propriedades. Assim, este parece ser um tema que deva merecer maior espaço nas discussões territoriais.

Por outro lado, um dos maiores problemas do Colegiado, segundo os entrevistados, diz respeito a pouca participação dos gestores públicos, como pode ser visualizado no gráfico a seguir. Esta pouca participação pode ser observada nas reuniões do Fórum, uma vez que a minoria dos municípios possui representantes fixos. Ademais, quando da aplicação do questionário de Identidade (Q2), em geral, houve dificuldades em encontrar os representantes dos poder público municipal, havendo relativa rotatividade dos membros deste segmento.

O segundo problema mais significativo, para os entrevistados, e que parece estar vinculado ao primeiro, se refere ao fato do Colegiado não ser escutado em outras instâncias. Entrevistados relatam, por exemplo, que o Colegiado realizou um diagnóstico do território e construiu uma visão de futuro que nem sempre é levada em consideração fora do âmbito das políticas territoriais federais.

Page 36: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

36Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Gráfico 11 – Problemas que prejudicam o ColegiadoFonte: SGE/CAI Zona Sul

A baixa participação dos produtores e baixa capacidade técnica para avaliação de projetos estão entre os quatro problemas que mais prejudicam o Colegiado. Quanto a participação dos produtores, é de se ressaltar que estes encontram-se representados por lideranças das organizações de agricultores familiares, quilombolas, pescadores, assentados, lideranças de cooperativas e sindicatos. No entanto, os produtores em si participam pouco.

Quanto à avaliação de projetos, os entrevistados consideraram, em geral, a falta de técnicos para a avaliação e, sobretudo, para a elaboração de projetos e não propriamente a falta de capacidade destes técnicos. Por outro lado, ressaltou-se que muitas vezes, pela carência de recursos, são realizados acordos quanto à distribuição dos recursos financeiros nas reuniões do Fórum de modo a beneficiar mais entidades e municípios. Ou seja, um critério utilizado é: quem recebeu recursos em determinado momento, não receberá no momento posterior.

Por sua vez, observou-se entre os próprios membros do Colegiado que não há muita clareza quanto à atuação do Codeter na elaboração do diagnóstico, da visão de futuro e do próprio PTDRS. Quanto ao diagnóstico, 18,57% dos entrevistados não soube opinar. Quanto à elaboração de um documento contendo a visão de futuro, 40% não soube responder e, quanto a participação do Colegiado na elaboração da visão de futuro este percentual alcançou 31,43%. No que concerne a elaboração do PTDRS, não houve consenso sobre em quais etapas ocorreu à participação do Codeter, embora este tenha participado de todas as etapas e tenha construído um Plano consistente no que concerne a caracterização, diagnóstico e visão de futuro. Os gráficos a seguir evidenciam o acima mencionado.

Page 37: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

37Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Gráfico 12 – Papel do Colegiado na elaboração do diagnóstico territorial

Fonte: SGE/CAI Zona Sul

Gráfico 13 – Sobre a elaboração de um documento contendo a visão de longo prazo do território

Fonte: SGE/CAI Zona Sul

Gráfico 14 – Papel do Colegiado na elaboração da visão de futuroFonte: SGE/CAI Zona Sul

Gráfico 15 – Papel do Colegiado na elaboração do PTDRSFonte: SGE/CAI Zona Sul

Page 38: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

38Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulA pouca clareza em relação a estas questões, em parte, decorre do fato dos

membros não estarem habituados com os termos – diagnóstico, visão de futuro, PTDRS. Por vezes, quando era explicado do que se tratava, os entrevistados já demonstravam maior conhecimento. Além disso, vários membros não participavam do Codeter quando da elaboração destes documentos o que também implica em um menor conhecimento acerca destes elementos.

Quanto à eleição dos membros do Colegiado, 17,14% apontaram que não sabem como esta é realizada. No mais, há três principais mecanismos de escolha dos membros do Colegiado, sendo estas, convocatória aberta para eleição de representantes, seguida de convite direto a organizações selecionais e convite pessoal, representando respectivamente 34,29%; 31,43% e 14,29% das opções dos entrevistados, como consta no gráfico que segue:

Gráfico 16- Escolha dos membros do ColegiadoFonte: SGE/CAI Zona Sul

Além de haver diferentes formas de escolha dos membros do Colegiado, há também uma diversidade de mecanismos para a tomada de decisão. Os mecanismos mais apontados referem-se à votação por maioria (60%), seguida de acordos por consenso (51,43%). Observa-se que em geral, busca-se a tomada de decisões por meio do consenso, seja por meio de acordos ou votação. Por outro lado, a articulação entre grupos (blocos) de interesse, com 44,29% dos apontamentos e a defesa dos projetos e iniciativas próprias, com 25,71% também se fazem presentes na dinâmica do Colegiado. Por fim, o mecanismo “o colegiado avalia, opina, mas não decide” (11,43%) pode ser conseqüência tanto da distinção que alguns entrevistados fazem entre Colegiado e Fórum, entendendo que as discussões e decisões ocorrem no Fórum e não no Colegiado quanto pelo fato das decisões tomadas no Colegiado estarem limitadas, em parte, aos

Page 39: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

39Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulrecursos disponibilizados pela SDT/MDA. Por fim, 10% dos entrevistados não souberam indicar os mecanismos de tomada de decisão utilizados, conforme gráfico que segue:

Gráfico 17- Mecanismos de tomada de decisão do ColegiadoFonte: SGE/CAI Zona Sul

Já quanto aos mecanismos de comunicação das ações e decisões à comunidade, a internet é a mais utilizada, recebendo 75,71% dos apontamentos, seguidos de reuniões comunitárias e parceiros do governo (ambos com 34,29%); além da comunicação pessoal e parceiros da sociedade civil (ambos com 30%).

Gráfico 18 – Mecanismos de informação de ações e decisões à comunidadeFonte: SGE/CAI Zona Sul

Por fim, quanto à gestão do Codeter, uma das questões de maior consenso refere-se à existência de um assessor técnico: 90% dos entrevistados apontam que há

Page 40: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

40Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulum assessor, conforme atesta o gráfico a seguir. Considera-se que os 10% que apontaram a opção não sabem, não existe assessor e não se aplica correspondem àqueles membros que participaram apenas do início do processo de constituição do Colegiado e por diferentes motivos, não permanecem acompanhando as atividades do Codeter. O fato de, desde a constituição do Codeter, o mesmo assessor ter acompanhado toda a trajetória do Colegiado – tendo mudado apenas recentemente, uma vez que a assessora assumiu a função de articuladora estadual embora continue acompanhando as atividades territoriais – contribui para que os membros identifiquem o assessor. Nem sempre os entrevistados identificavam a função (assessor), mas, relacionavam a questão do apoio permanente a pessoa que vinha acompanhando as atividades do Colegiado.

Gráfico 19 – Assessor técnico que acompanha o ColegiadoFonte: SGE/CAI Zona Sul

5. AVALIAÇÃO DE PROJETOS

Ao se observar os projetos do Proinf concluídos no território Zona Sul, de modo geral, percebe-se efeitos positivos no dia a dia e mesmo sobre a qualidade de vida dos beneficiários. Em geral, os projetos territoriais vão ao encontro de estrangulamentos das cadeias produtivas levantadas pelos próprios beneficiários (agricultores, assentados, pescadores, quilombolas) ou suas organizações.

Grande parte dos projetos territoriais são propostos para atender a demandas específicas de cooperativas e/ou associações. Isso denota um aspecto positivo uma vez que representa uma demanda social legitimada e organizada. No entanto, representa também o atendimento de demandas pontuais do território.

A tabela a seguir, apresenta as entidades proponentes junto a finalidade dos projetos e respectivos municípios nos quais foram implementados. Pode-se observar

Page 41: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

41Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulque 8 projetos estão vinculados a cooperativas e associações, os quais atendem mais diretamente os seus associados.

Proponente Finalidade do projeto MunicípioUnaic Caminhão com carroceria de madeira Canguçu

Cooperativa Terra Nova

Caminhão tanque (leite) Canguçu

Asscooseti Caminhão com carroceria de madeira CanguçuAzonasul Edificação (casa de comercialização) Capão do Leão

Associação do Butiá/Cresol

Veículo utilitário e veículo de passeio Cristal

Cooperal Caminhão tanque (leite) Hulha NegraPoder Público

MunicipalVeículo utilitário e máquina

ensiladeiraPedras Altas

Poder Público Municipal

Edificação (casa de comercialização) Pinheiro Machado

Coopava Caminhão tanque (leite) e resfriadores PiratiniApeva/Atla Caminhão com carroceria de madeira

e caminhão com baú refrigeradoSanta Vitória do

PalmarCoafan Caminhão com carroceria de madeira

e equipamentos para entreposto de pesca

São José do Norte

Coopar Equipamento (processamento de leite)

São Lourenço do Sul

Poder Público Municipal

Casa de treinamento/capacitação São Lourenço do Sul

Tabela 3 - Proponentes e finalidades dos projetos territoriais da Zona SulFonte: pesquisa de campo, CAI Zona Sul, 2011

Pode-se observar também que a maioria dos projetos busca a aquisição de veículos (de passeio ou utilitários) e caminhões, o que está melhor ilustrado no gráfico a seguir. Dos projetos territoriais, 61% correspondem a veículos e caminhões (17% e 44% respectivamente); 17% correspondem a prédios – destinados a capacitação/treinamento ou comercialização de produtos – e outros 22% a equipamentos

Page 42: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

42Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Gráfico 20 – Projetos territoriais: veículos, caminhões, prédios e equipamentosFonte: pesquisa de campo, CAI Zona Sul, 2011

Outra questão que chama atenção é o montante de emendas parlamentares destinadas ao território. Dos projetos concluídos, as emendas representam 61% como é destacado a seguir.

Gráfico 21 – Montante de emendas parlamentares e projetos territoriais na Zona SulFonte: pesquisa de campo, CAI Zona Sul, 2011

Embora não se tenha pesquisado esta questão, inicialmente, isso pode ser consequência de dois fatos: um deles diz respeito ao pequeno montante de recursos destinado ao território. No ano de 2011, por exemplo, o montante de projetos territoriais ultrapassou consideravelmente 1 milhão de reais. Já o orçamento disponibilizado ao território somou apenas R$ 500.000,00. Assim, as emendas tornar-se-iam uma forma de os atores territoriais viabilizarem a implementação de seus projetos. Por outro lado, quando determinado projeto não é considerado prioridade pelo Colegiado/Fórum, as emendas também se apresentam como uma alternativa.

O gráfico a seguir, apresenta os recursos financeiros mobilizados pelas emendas e/ou máquinas pesadas4 e projetos territoriais. Evidencia-se ainda mais o peso

4 Estas máquinas se referem, por exemplo, a patrolas, retroescavadeiras, roçadeiras que são demandas das prefeituras municipais.

Page 43: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

43Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Suldos primeiros em relação aos segundos, uma vez que as emendas/máquinas correspondem a 68% dos recursos investidos no território.

Gráfico 22 – Montante de recursos destinados a emendas/máquinas e projetos territoriais na Zona SulFonte: pesquisa de campo, CAI Zona Sul, 2011

Quanto ao instrumento de avaliação de projetos de investimento, o mesmo apresentou variações entre as dimensões avaliadas. A dimensão com melhor índice refere-se à avaliação da fase de execução dos projetos (0,648) considerado bom. Segue-se com o índice regular dos indicadores gerais de gestão dos projetos (0,438). Com uma avaliação ruim, estão as dimensões indícios de impacto (0,386) e avaliação da fase de planejamento dos projetos (0,373), como aponta o biograma abaixo:

Figura 5 – Avaliação dos projetos de investimento concluídos da Zona SulFonte: CAI Zona Sul, 2011

Page 44: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

44Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulA primeira dimensão proposta no Q5 refere-se à fase de planejamento dos

projetos (0,373) e engloba a definição da área de intervenção, diagnóstico e formulação de propostas, como se pode observar a seguir:

Figura 6 – Avaliação da Fase de Planejamento dos Projetos da Zona SulFonte: CAI Zona Sul, 2011.

O biograma acima aponta a participação dos beneficiários na fase de planejamento do projeto como indicador com melhor índice (0,553), considerada regular. Segue-se com a capacidade de planejamento do projeto (0,432) e com o papel das organizações locais no planejamento do projeto (0,404), todos classificados na escala regular.

Quanto à participação dos beneficiários, em geral, os projetos eram propostos pelos beneficiários, a partir de suas demandas. Vale ressaltar que, via de regra, quando o projeto é indicado pelo PTDRS, já parte da demanda dos beneficiários. Sobre a capacidade de planejamento, pode-se afirmar que em grande parte dos casos, os entrevistados relataram que se realizava algum tipo de estudo sobre mercado, viabilidade. No que diz respeito ao papel das organizações locais, relatou-se que o Colegiado principalmente é consultado, avalia e autoriza (nas reuniões do Fórum). As organizações públicas co-financiam (pela contra-partida obrigatória das prefeituras) além de apoiar tecnicamente.

Já os indicadores organizações locais apoiadas pelo planejamento do projeto (0,241) e atividades sócio-econômicas atendidas pelo projeto (0,234) encontram-se numa escala ruim. Quanto às organizações apoiadas, estas geralmente eram cooperativas e/ou associações e no que se refere às atividades as mais atendidas em geral, referiam-se às produtivas e a infra-estrutura produtiva. Não se encontrou por exemplo, projetos sócio-culturais.

Quanto à fase de execução, esta procura identificar as ações para garantir uma boa gestão do projeto.

Page 45: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

45Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Figura 7 – Avaliação da fase de execução do projetoFonte: CAI Zona Sul, 2011.

Observa-se que os indicadores desta dimensão apresentam os níveis de regular a bom e estão distribuídas de forma mais equilibrada em relação à anteriormente analisada. A variável funcionamento do projeto (0, 777) é a que apresenta maior índice entre todos os indicadores. Este remete a inexistência de capacidade ociosa. Importante mencionar que, de maneira geral, os beneficiários avaliaram a contribuição destes projetos como muito importantes para a melhoria das condições de vida, ressaltando ainda que os mesmos estão operando em sua capacidade total, necessitando de ampliação ou novos investimentos para dar continuidade às atividades realizadas.

A dimensão participação dos beneficiários na fase de execução do projeto (0,615) também se mostra em um nível bom. Em geral, os beneficiários se consideram bem informados sobre os projetos, acompanharam sua implementação, são os responsáveis pelo monitoramento e são os principais envolvidos na gestão.

Já a dimensão capacidade de execução do projeto (0,553) apresenta nível regular. Na maioria dos projetos, o acompanhamento financeiro se dá por meio de controle social, a gestão dos bens foi realizada. Quanto aos indicadores de acompanhamento, nem sempre havia clareza sobre a questão. No que diz respeito ao monitoramento e controle social do projeto, este, na maioria das vezes, ocorre por meio de reuniões de avaliação. Quanto ao que auxilia na sustentabilidade do projeto, vários apontamentos foram feitos, podendo-se destacar o acesso ao crédito e participação dos beneficiários.

Por sua vez, os indícios de impacto estão voltados a identificar a abrangência dos resultados, atividades promovidas, nível de funcionamento do projeto, gerenciamento do empreendimento e comparação entre os resultados previstos e alcançados por eles.

Page 46: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

46Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Figura 8 – Indícios de impacto dos projetos da Zona SulFonte: CAI Zona Sul, 2011.

Nesta dimensão, o melhor indicador refere-se aos impactos positivos na qualidade de vida dos beneficiários (0,593), embora classificada na escala regular, esta quase atinge o nível bom. As ações desenvolvidas pelos projetos fortaleceram as atividades produtivas, por conseguinte, melhoraram a qualidade de vida e também a renda, sendo que muitas vezes era destacado pelos beneficiários, a melhoria na auto-estima. Ademais, apenas duas metas dos projetos concluídos estavam inoperantes.

Os demais indicadores referem-se a impactos positivos nas condições sócio-política-econômicas 5 (0,361); tamanho do mercado coberto (0,314) e públicos atendidos pelos projetos (0,278) todos classificados como ruins. Referente aos públicos, em geral, os projetos atendiam àqueles inicialmente indicados no projeto, além de, na maioria das vezes, atender a demandas de cooperativas/associações. Quanto ao mercado, em geral, era atendido o próprio mercado municipal e por vezes, outros municípios do território. No que diz respeito aos impactos sócio-político- econômicas houve uma variedade de apontamentos sobre as mudanças ocorridas no território.

Por fim, quanto aos indicadores gerais – formados por indicadores de diferentes dimensões anteriormente apresentadas – observa -se que o melhor remete ao índice de participação dos beneficiários na gestão do projeto (0,584). Este indicador é composto pelas variáveis como a participação dos beneficiários na fase de planejamento do projeto e participação dos beneficiários na fase de execução do projeto. Como acima mencionado, os beneficiários tendem a considerar que tem conhecimentos e participam das diferentes fases dos projetos.

O segundo melhor indicador remete ao índice de capacidade de gestão do projeto (0,493) formado pela capacidade de planejamento do projeto e capacidade de execução do projeto. Como já mencionado, exceto um, todos os demais projetos estão

5 Importante destacar que a questão referente ao percentual de aumento de renda decorrente do projeto está compondo o indicador impactos positivos na qualidade de vida e não o de impactos positivos nas condições sócio-políticas-econômicas. Este último é composto pelas perguntas sobre mudanças no território atribuídas ao projeto e ganhos institucionais (alianças) atribuídas ao projeto.

Page 47: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

47Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulem funcionamento, sendo que vários relatos apontaram para a necessidade de ampliação ou novos investimentos para dar conta das demandas locais. Ambos os indicadores são considerados regulares.

Outros dois indicadores foram considerados ruins. Impactos positivos para o desenvolvimento territorial (0,396) que é formado por atividades sócio-econômicas atendidas pelo projeto; impactos positivos na qualidade de vida dos beneficiários e impactos positivos nas condições sócio-político-econômicas territoriais. Pode-se observar que os impactos foram menos significativos sobre a economia do que sobre a qualidade de vida.

Por fim, o índice de variação do perfil do público apoiado e atendido pelo projeto, formado pelas variáveis organizações locais apoiadas pelo projeto; públicos atendidos pelos projetos e tamanho do mercado coberto pelo projeto, (0,278). Este resultado pode decorrer do fato de os projetos estarem atendendo a demandas básicas dos atores territoriais. Por isso, atendem a públicos específicos e recortes localizados, não tendo ainda uma abrangência territorial. O biograma abaixo aponta os indicadores gerais de gestão:

Figura 9 – Indicadores gerais de gestão dos projetos da Zona SulFonte: CAI Zona Sul, 2011.

5.1 Breves considerações acerca de cada projeto concluído

A seguir são apresentadas considerações sobre os 13 projetos pesquisados, de forma individual e que não puderam ser feitas ao longo dos Q5. Estas considerações serão feitas com base na observação e nos relatos dos entrevistados.

CANGUÇU

Page 48: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

48Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul1. Construção de Agroindústria (0178830–85/2005)

Inicialmente o projeto apresentava como metas a aquisição de um caminhão (R$ 170.000,00) para transporte de produtos da agricultura familiar e a construção de agroindústria para agricultores.

No que se refere ao caminhão - destinado a União das Associações Comunitárias do Interior de Canguçu (Unaic), mencionou-se que está em plena atividade, pois além do transporte dos produtos da agricultura familiar para comercialização, é utilizado também para deslocamento de insumos.

Figura 10 – Caminhão e dependências da Unaic – Canguçu/2011

Fonte: CAI, 2011

Os entrevistados sugeriram que seria importante haver maior acompanhamento das atividades dos projetos pós implantação por parte do MDA. Como ponto negativo, mencionou-se a dificuldade operacional da Caixa Econômica Federal, na demora em avaliar e aprovar as demandas. Isso estaria acarretando problemas nos próprios orçamentos dos projetos, em razão do aumento do valor dos bens a ser adquiridos. Foi relatado ainda a falta de conhecimento sobre as realidades locais dos técnicos que analisam as propostas dos projetos.

O entrevistado mencionou também que seria importante um acompanhamento mais próximo, pelo MDA, às entidades proponentes, pois percebe-se que há carência no controle das contrapartidas acordadas com as prefeituras, bem como a demora do repasse dos bens edificados e/ou adquiridos. Além do mais, dificuldades de articulação com o poder público municipal, acabam impactando de forma negativa a consolidação dos projetos.

Quanto a outra meta do projeto, esta refere-se à construção de uma agroindústria (R$ 95.000,00) para os agricultores familiares. Entretanto, foi informado que o recurso que viera para a constituição desta foi devolvido ao Ministério do Desenvolvimento Agrário no ano de 2010. Este fato se deu pelo desinteresse dos membros da Coopal (Cooperativa dos Pequenos Produtores de Leite da Região Sul), os quais argumentaram que a verba destinada, não cobriria os gastos com a aquisição de

Page 49: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

49Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulequipamentos necessários a implantação da agroindústria que beneficiaria frutas, doces e iogurte.

2. Apoio ao Escoamento da Produção Leiteira (0239345 – 02/2007)

Neste projeto foi destinado um caminhão (R$ 101.940,33) a Cooperativa Terra Nova na Comunidade de Pantanoso no 2º distrito de Canguçu, favorecendo o transporte de leite dos agricultores do Assentamento Renascer.

Figura 11 – Caminhão recebido pela Cooperativa Terra Nova – Canguçu/2011Fonte: CAI Zona Sul, 2011

A produção leiteira é uma das principais fontes de renda do assentamento. O leite produzido é transportado pelo caminhão até o município de Pelotas onde é processado. Os assentados pretendem fomentar a produção leiteira, uma vez que já possuem um tanque de resfriamento estacionário. Porém, para viabilizar a instalação deste tanque, é necessário aumentar a produção e construir uma estrutura adequada.

3. Apoio a Comercialização de Produtos Agroecológicos (0266875 – 99/2008)

A Associação de Cooperação Agrícola Sepé Tiarajú foi beneficiada com um caminhão (R$ 101.940,33) destinado ao transporte de produtos agroecológicos. No entanto, esta produção ainda está por ser organizada. Assim sendo, o caminhão transporta diferentes produtos para os associados, seja dentro do assentamento, seja para a comercialização. Os associados organizaram uma planilha na qual tomam nota dos transportes realizados. É ainda cobrada uma taxa que visa a manutenção do caminhão.

Page 50: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

50Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Figura 12- Caminhão e sede da Asscooseti/Canguçu-2011

Fonte: CAI Zona Sul, 2011

CAPÃO DO LEÃO

4. Construção de Casa de Comercialização de Produtos Agrícolas (0163418 - 60/2004)

Sobre este projeto é importante mencionar que foi proposto quando o Codeter ainda não estava instituído, sendo que, naquele momento, a Ciat recém estava sendo implementada. Em função disso, não houve discussão envolvendo os agricultores familiares. O projeto foi portanto, proposto pela Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul).

Foi construída uma estrutura (R$ 240.288,44) que inicialmente fomentaria os produtos da agricultura familiar, abrigando, por sua vez, um centro de comercialização de produtos locais e de municípios vizinhos. No entanto, isso não chegou a ser implementado. Segundo entrevistados, não há demanda social para este projeto, uma vez que no município de Capão do Leão não haveria produção suficiente e organizada para viabilizar um centro de comercialização.

Figura 13 – Prédio da Secretaria da Agricultura de Capão do Leão no qual seria instalado um Centro de Comercialização – 2011

Fonte: CAI Zona Sul, 2011

Page 51: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

51Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulAssim, num segundo momento, a intenção foi a própria Zona Sul utilizar esta

estrutura do prédio para subsidiar atividades dos municípios que compõem esta associação. Em outro momento foi proposto que o prédio abrigaria um centro de treinamento da Polícia Militar, o que também não ocorreu, por não haver acordo com representantes das instituições envolvidas.

Atualmente o prédio permanece inativo, com planos futuros de sediar a Secretária da Agricultura do Município. A atual gestão menciona que um dos problemas para a utilização do prédio é a sua localização: distante do centro da cidade e das outras repartições da prefeitura, além de não haver acesso direto da BR 293 ao prédio. Além disso, esta estrutura demanda reformas, já tendo sido inclusive alvo de depredação. São necessários, portanto, investimentos e adequações do prédio, recursos que a Secretaria não possui, segundo os entrevistados.

Após a finalização da obra o Colegiado foi procurado para que aportasse mais recursos. Mas em vista de não haver demanda real do uso do prédio por parte dos Agricultores Familiares para comercialização de seus produtos, o Colegiado optou por não apoiar o aporte de mais recursos por se tratar de um projeto sem sustentabilidade e sem base social.

Em razão desta situação, foram aplicados questionários (Q5) apenas a um membro do Colegiado e do poder público municipal, uma vez que não há beneficiários neste projeto.

CRISTAL

5. Apoio a projetos de diversificação econômica e agregação (0193691 – 13/2006)

No município de Cristal havia 4 projetos concluídos, dos quais 3 eram emendas e 1 projeto territorial. Houve grande dificuldade em identificar o que era emenda e o que era projeto territorial, uma vez que os representantes do poder público municipal relataram que os projetos eram de épocas anteriores, sendo que os mesmos não teriam participado da elaboração. Confirmou-se que apenas um dos projetos era territorial com o secretário de agricultura da época. Não foram, portanto, consultados documentos que comprovem esta afirmação.

O projeto territorial refere-se à aquisição de dois veículos: um veículo de passeio (R$ 25.300,00) destinado a Cresol e um veículo utilitário (R$ 29.500,00) destinado a Associação dos Produtores Rurais do Butiá para o fomento da piscicultura. Neste caso, enquanto beneficiário, foi entrevistado um agricultor da Associação do Butiá.

Page 52: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

52Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulO veículo utilitário, quando da realização das entrevistas, ainda não havia sido

repassado à Associação. Inicialmente, a prefeitura usufruiu do veículo para possibilitar o deslocamento do técnico contratado para trabalhar com os piscicultores. No entanto, mesmo após o término do contrato do técnico, o carro ainda não havia sido repassado. Ademais, segundo os associados, o carro apresenta avarias as quais exigem que sejam reparadas pelo poder público antes do repasse.

Ademais, além de meio de transporte para o técnico, o carro é utilizado para o transporte de alevinos e peixes. Ademais, não foi feito registro fotográfico do veículo, uma vez que o mesmo não se encontrava na prefeitura quando a equipe estava no município.

HULHA NEGRA

6. Infra-Estrutura e Serviços (0168178 – 77/2004)

Este projeto destinou um caminhão (R$ 124.400,00) para a Cooperativa Regional dos Agricultores Assentados (Cooperal) destinado ao recolhimento de leite nos assentamentos.

Figura 14 – Caminhão e Sede da Cooperal/Hulha Negra-2011

Fonte: CAI Zona Sul, 2011

Os entrevistados relataram que uma das grandes dificuldades na produção leiteira são as condições das estradas por onde circula o caminhão. Problemas mecânicos decorrentes desta situação seriam freqüentes, o que traz prejuízos aos produtores de leite, pois, se o caminhão ficar inoperante, não há como efetuar o recolhimento da produção leiteira, a qual é de difícil armazenagem nas propriedades.

Por outro lado, ressaltam os entrevistados que, os caminhões destinados ao espaço rural deveriam ter menos elementos tecnológicos frente às condições das estradas rurais de modo geral. Mencionam que peças eletrônicas, apresentam problemas freqüentes devido às condições inerentes das estradas de chão batido. Problemas que se agravam quando estas apresentam péssimas condições de

Page 53: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

53Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulconservação. Tais peças, quando demandam substituição, apresentam um custo muito elevado para a Cooperativa.

Pedras Altas

7. Infra-Estrutura e Serviços (0168182 – 36/2004)

Este projeto contou com a aquisição de um veículo utilitário (R$ 35.000,00) e uma máquina ensiladeira (R$ 12.000,00) que beneficia as famílias assentadas do município. Em gestões anteriores, estes bens não haviam sido repassados aos beneficiários.

A gestão atual, discutiu esta questão com os assentados os quais consideraram que seria mais viável que estes bens permanecessem com o poder público municipal, uma vez que os assentados não teriam condições de manter o veículo e a máquina ensiladeira, em função do estado de conservação dos mesmos, uma vez que estão em uso desde 2004/2005.

As famílias assentadas se valem do veículo, principalmente para o transporte de produtos das propriedades até a cidade onde são comercializados na feira municipal. Relatam as famílias que uma das maiores dificuldades é a distância dos assentamentos da sede do município. Além do escoamento da produção, há dificuldades inclusive das pessoas se deslocarem até a cidade, já que as linhas de ônibus praticamente inexistem. O registro fotográfico do veículo não foi possível pois o mesmo não se encontrava na sede do município quando a equipe realizou as entrevistas.

Quanto à ensiladeira, os entrevistados relataram que esta máquina é menos utilizada pelos agricultores, uma vez que a produção de silagem não é, ainda, um hábito comum no município. Esta não era uma demanda prioritária dos agricultores e, segundo relatos, a máquina por vezes, beneficiava outros públicos. Contudo, considerando que Pedras Altas é um município frequentemente atingido pelas estiagens, esta prática vem sendo discutida e incentivada entre os agricultores assentados6.

6 A entrevista com o membro do Colegiado acerca deste projeto ainda será aplicada pela Célula.

Page 54: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

54Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Figura 15 – máquina ensiladeira/Pedras Altas-2011Fonte: CAI Zona Sul

Pinheiro Machado

8. Construção de Central de Comercialização (0157751 – 94/2003)

Recentemente reativado (a cerca de 1 ano), este projeto implementou uma central de comercialização (R$ 144.084,85). Abriga hoje uma agroindústria de panifícios, a qual destina seus produtos principalmente para a alimentação escolar. A produção que não é destinada às escolas tem um diferencial, qual seja, a banha de ovelha utilizada nos salgados, servindo como um diferencial do produto.

Figura 16 – Centro de Comercialização e agroindústria de panifíciosFonte: CAI Zona Sul, 2011

Igualmente como no projeto do município de Capão do Leão, os beneficiários não participaram da construção deste, sendo assim encontrou dificuldades de adequação, visto que o objetivo inicial era de proporcionar um local de comercialização onde os agricultores familiares pudessem expor seus produtos à população. Esta tentativa não teria obtido êxito, devido ao fato desta central não estar bem localizada

Page 55: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

55Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulpara atender ao público (consumidores) do município. O centro está localizado junto ao trevo de acesso ao município, distante do centro da cidade.

Mencionou-se ainda que o grupo de mulheres que trabalha com lã de ovelha, utilizava o espaço para a produção e comercialização dos artesanatos. Entretanto, este grupo retornou para o centro da cidade, em outro local cedido pela prefeitura, pelo falta de fluxo de consumidores.

Ademais, neste projeto também não foi possível comprovar, por meio da verificação de documentos, se tratava-se de um projeto territorial ou emenda. Os representantes do poder público afirmaram que não se trataria de uma emenda. Porém, por outro lado, o Colegiado também não tem conhecimentos do projeto (vale lembrar que este data de 2003) razão pela qual não se entrevistou nenhum membro do Codeter.

Foi destacado ainda que outros projetos foram elaborados e encaminhados com a finalidade de dar aporte a instalação de um grupo de ovinocaprinocultores na central de comercialização a fim de fomentar este setor e melhor utilizar a central.

PIRATINI

9. Apoio a estruturação da bacia leiteira e viabilização do recolhimento do leite dos assentamentos (0229088 – 81/2007)

Neste projeto foi destinado um caminhão para o recolhimento do leite (R$ 145.000,00) e 5 resfriadores (R$ 35.000,00) a famílias assentadas. Os resfriadores estão com associados da Cooperativa de Produção Agropecuária Vista Alegre (Coopava). O caminhão faz o recolhimento do leite em diferentes assentamentos, levando a produção a Pelotas.

Figura 17 – tanques resfriadores e assentamento da Coopava/Piratini-2011Fonte: CAI Zona Sul, 2011

Page 56: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

56Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulOs beneficiários relatam que uma das dificuldades da produção leiteira é

mantê-la durante o ano todo, em função da carência de alimentação para a o gado. Ações nesse sentido parecem fundamentais para fortalecer a cadeia leiteira.

SANTA VITORIA DO PALMAR

10. Apoio a estruturação e comercialização do pescado e a projetos de diversificação econômica e agregação de valor (0193689 - 72/2006)

Este projeto destinou dois caminhões, um com baú frigorífico (R$ 125.000,00) e outro com carroceria de madeira (R$ 104.300,00), a duas associações do município de Santa Vitória do Palmar. São elas: a Associação de Trabalhadores da Lavoura de Arroz (Atla) e Associação dos Pescadores da Vila Anelmi (Apeva). Quando da aplicação do Q5 naquele município, foi recomendado pelos entrevistados não ir até a Atla, em função da chuva ocorrida e das condições das estradas. Assim, enquanto beneficiário foi entrevistado um pescador associado da Apeva.

Esta associação possui uma estrutura para filetagem de peixes e uma fábrica de gelo usada para o transporte da produção. A aquisição do caminhão supriu um estrangulamento do transporte da produção pesqueira, pelo fato de possuir um baú com refrigeração. O caminhão também contribui para a possibilidade da Apeva passar a fornecer file de peixe para a alimentação escolar. Agora a Associação está em processo de obtenção do Sistema de Inspeção Municipal (SIM).

Figura 18 – Caminhão frigorífico e sede Apeva/Santa Vitória do Palmar-20114Fonte: CAI Zona Sul, 2011

Page 57: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

57Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulSÃO JOSE DO NORTE

11. Apoio a estruturação e comercialização do Pescado (0193690 – 09/2006)

Este projeto está composto por duas metas: a aquisição de equipamentos para estruturação de entreposto de pescado (R$ 24.135,00) e a aquisição de caminhão para transporte de produtos (R$ 107.750,00).

O caminhão destinou-se a Cooperativa dos Agricultores Familiares de São José do Norte, a qual realiza suas atividades, sendo uma das principais a produção, seleção e comercialização da cebola, em uma estrutura disponibilizada pelo poder público municipal. Esta estrutura é uma antiga indústria que decretou falência sendo que, em função de débitos com a municipalidade, a prefeitura recebeu esta planta. No mesmo local, está a garagem de máquinas e ônibus de prefeitura além de haver espaços para cursos e reuniões.

Figura 19 – Dependências da Coafan e caminhão adquiridoFonte: CAI Zona Sul, 2011.

Já os equipamentos para estruturação de entreposto de pescado ainda não estão instalados e não foram repassados aos pescadores em razão de ter havido problemas de organização do grupo beneficiário. Foi relatado que esta reorganização está sendo fomentada para em seguida, realizar o repasse dos equipamentos ao grupo.

SÃO LOURENÇO DO SUL

12. Infra-Estrutura e Serviços (0178819 – 31/2005)

Este projeto fomentou a produção leiteira pela estruturação e melhoramento de um posto de resfriamento de leite, por meio da instalação de um resfriador a placas na Cooperativa Mista dos Pequenos Agricultores da Região Sul (Coopar). Este equipamento faz parte de um projeto maior, qual seja, a indústria de laticínios Pomerano a qual tem capacidade para beneficiar até 60 mil litros de leite por dia,

Page 58: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

58Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulbeneficiando 500 produtores da região (dos municípios de São Lourenço do Sul, Turuçu, Cristal e Canguçu).

Figura 20 – Laticínio Pomerano Alimentos e sede da Coopar – São Lourenço do Sul/2011

Fonte: CAI Zona Sul, 2011.

Este projeto assume relevância em função de diminuir a dependência dos agricultores familiares aos grandes laticínios da região, localizados, sobretudo, no município de Pelotas.

13. Apoio a Infra Estrutura Comunitária (0198845 – 79/2006)

Este projeto contou com três ações: Construção de Casa da Agricultura Familiar (R$ 80.000,00) e aquisição de móveis e utensílios para equipá-la (R$ 9.450,00) e um veículo utilitário (R$ 40.000,00) para dar suporte às ações deste centro de capacitação/treinamento.

Quando da pesquisa deste projeto, o centro ainda não havia sido inaugurado, mas segundo relatos, isso estava por ocorrer, havendo previsões de cursos de capacitação. Ademais, segundo os beneficiários, por meio de outro projeto, estaria sendo destinado à Casa um conjunto de computadores com acesso à internet a serem disponibilizados à comunidade.

O prédio conta com dormitórios (feminino e masculino), banheiros, cozinha, espaço para reuniões e cursos. Mesmo não tendo sido inaugurado, o espaço não está ocioso, uma vez que os moradores da comunidade de Pinheiros têm utilizado o espaço para reuniões e atividades recreativas. Também é um espaço utilizado pelo poder público para entrega de sementes aos agricultores, prestação de serviços, tais como, a atualização dos blocos de produtor rural, o que faz com que os agricultores não tenham que se deslocar até a cidade.

Page 59: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

59Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Figura 21 – Casa da Agricultura Familiar junto a seus móveis e utensíliosFonte: CAI Zona Sul, 2011

Quanto ao veículo, este dá suporte às ações vinculadas ao centro. O mesmo fica guardado na garagem da prefeitura uma vez que não há local apropriado no centro.

A atual gestão relatou que o objetivo principal deste projeto é aproximar a administração municipal dos produtores rurais de São Lourenço do Sul, além de ser um ambiente para debates e discussões sobre a realidade local, e espaço de capacitação aos agricultores, espaço este que ainda não existia no município.

6. ÍNDICE DE CONDIÇÕES DE VIDA (ICV)

Os questionários referentes ao ICV foram aplicados no território Zona Sul entre os meses de outubro e dezembro de 2010. Do total de 25 municípios, as entrevistas foram realizadas com famílias em 10 setores censitários7 de 09 municípios. Foram eles: Aceguá, Canguçu, Cerrito, Hulha Negra, Pedro Osório, Pinheiro Machado, Piratini, Santa Vitória do Palmar e São Lourenço do Sul. Tanto os municípios quanto os setores censitários e as famílias entrevistadas foram selecionadas através de amostra aleatória, permitindo a representatividade territorial.

A seguir é possível observar a ilustração gráfica (biograma) representativa do ICV do território rural Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul/Brasil:

7 Os setores censitários são unidades territoriais definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) obedecendo a critérios de operacionalização da coleta de dados. É a área de trabalho dos recenseadores.

Page 60: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

60Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Figura 22 – Biograma representativo do ICV do território rural Zona Sul do Estado do RSFonte: SGE/CAI Território Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Como se pode observar, o ICV com índice de 0,5858, corresponde a um nível médio de condições de vida, uma vez que, de uma escala de 0 (pior índice) a 1 (melhor índice) está localizado entre 0,40 e 0,60.

Além do índice em si, é importante ressaltar que quanto maior a área do biograma e maior o equilíbrio entre as instâncias, maior tende a ser a qualidade de vida. É interessante observar que houve uma variação entre os índices de cada instância, tal como consta de forma mais detalhada na tabela abaixo:

Tabela 4 – ICV e suas instânciasFonte: SGE/CAI Território Zona Sul do Estado do RS

A percepção dos entrevistados acerca dos efeitos – ou dos funcionamentos e capacitações – são melhores (0,644) em relação tanto às características – ou elementos de conversão – (0,576) quanto aos fatores – intitulamentos (0,544). Isso indica, a priori, que não há uma correspondência direta entre fatores, características e efeitos do desenvolvimento no sentido de que a existência de ativos e capitais aliados às liberdades individuais se traduz em mudanças significativas na percepção das condições de vida, embora esta percepção seja algo que varia substancialmente entre os indivíduos ou famílias.

8 Importante destacar que o biograma tem como limite superior o maior valor encontrado, não necessariamente a escala 1

Page 61: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

61Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulNo sentido de esclarecer estas afirmações, é importante trazer à luz os

conceitos de intitulamentos (entitlements) e funcionamentos (functionings). Segundo as teorizações de Amartya Sen, os intitulamentos representam o conjunto de combinações de bens ou mercadorias que cada pessoa pode ou está apta a possuir. Os alimentos, por exemplo, seriam os mais básicos. Os intitulamentos referem-se aos meios para atingir determinados fins, as condições para a realização de escolhas, sendo estabelecidos por ordenamentos legais, políticos e econômicos (KAGEYAMA, 2008; WAQUIL, et.al., 2007). Os funcionamentos “refletem as várias coisas que uma pessoa pode considerar valioso ter ou fazer” (SEN, 2001, p.52). Remetem às realizações, às reais oportunidades de escolha acerca de possíveis estilos de vida. Os funcionamentos podem variar dos elementares, como ser adequadamente nutrido e livre de doenças evitáveis, a atividades ou estados pessoais muito complexos, como poder participar da vida da comunidade. Kageyama (2008) reforça que, apesar de serem aspectos importantes da existência humana, a opulência e a utilidade não conseguem representar adequadamente o bem-estar humano. Ou seja, o indivíduo necessita ter a capacidade de realizar um funcionamento (capability to function). A capacidade representa, portanto, a combinação de funcionamentos que um indivíduo pode realizar, refletindo a liberdade da pessoa para levar determinado tipo de vida ou outro (SEN, 2001).

Quanto aos indicadores referentes aos fatores, 5 deles estavam abaixo do ICV e outros 5 acima. O indicador que atingiu melhor índice diz respeito às condições de moradia (0,638), seguida da escolaridade (0,618). Quanto à segunda, é importante destacar que os indivíduos, de modo geral, justificavam sua resposta com afirmações do tipo: “para o que fazemos aqui, o que estudamos, está bom”. Ou seja, mesmo que o grau de escolaridade de grande parte dos indivíduos seja o ensino fundamental incompleto (que atualmente corresponde a menos de 9 anos de escolaridade), estes o consideram suficiente para o trabalho rural. Paradoxalmente, as famílias incentivam seus filhos a concluir a educação básica e inclusive o ensino superior, não raro, visando o mercado de trabalho urbano. A priori, o resultado das condições de moradia pode ser atribuído a programas habitacionais rurais e a programas de expansão da energia elétrica.

Já os indicadores com piores resultados referem-se às condições de acesso a programas de governo (0,422) – sendo este o pior índice de todos os indicadores que compõem o ICV –; seguido das condições de acesso à crédito (0,439) e acesso à assistência técnica (0,461). Torna-se pertinente destacar que as críticas dos entrevistados não necessariamente são às políticas, ao crédito e a assistência em si, mas, sobretudo, as dificuldades em acessá-las. A seguir, é possível observar o biograma referente aos fatores do desenvolvimento:

Page 62: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

62Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Figura 23- Fatores do Desenvolvimento do Território Rural Zona Sul do Estado do RSFonte: SGE/CAI Território Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Quanto as características – ou elementos de conversão – das 10 dimensões, 3 estão acima da média do ICV e 5 abaixo. A dimensão mais elevada nesta instância refere-se à preservação da vegetação nativa (0,734). Neste caso, observa-se uma realidade paradoxal. Enquanto os indivíduos percebem a preservação num nível médio alto, a paisagem observada, em geral, destoa desta percepção. Por exemplo, raramente visualiza-se mata ciliar adequada aos parâmetros do Código Florestal Brasileiro9 ou mesmo áreas de preservação permanente ou reservas legais averbadas. Neste sentido, cabe a pergunta: porque a percepção dos entrevistados destoa dos parâmetros legais estabelecidos pelo Código Florestal? Análises acerca desta questão podem orientar, por exemplo, tanto a formulação de políticas ambientais quanto possíveis adequações do Código Florestal a especificidades locais.

Ao indicador acima apresentado segue a conservação das fontes de água (0,662) e a conservação do solo (0,612). Já o pior indicador refere-se à diversificação das fontes de renda (0,453) atingindo um índice médio. Vale a pena ressaltar que a diversificação da produção, mesmo que também situada no extrato médio, chega a 0,502. Abaixo visualiza-se o biograma relativo as características do desenvolvimento:

9 A esse respeito ver Lei n. 4.771, de 15 de setembro de 1965. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4771.htm>. Acesso em 08 set. 2011.

Page 63: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

63Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Figura 24 – Características do Desenvolvimento do Território Rural Zona Sul do RSFonte: SGE/CAI Território Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Por fim, quanto aos efeitos, embora tenha sido a instância com maior média, também foi a que apresentou maior desequilíbrio entre as dimensões. A dimensão com melhor índice diz respeito à permanência dos familiares no domicílio (0,876), sendo a mais alta que compõe o ICV. O que se pôde observar a campo, foi uma presença significativa de aposentados rurais, uma presença considerável de rendas não agrícolas10, bem como a ausência e saída de jovens do campo. Os entrevistados, em certa medida, parecem conceber a saída dos filhos em função do estudo, em função do casamento ou mesmo de um emprego nos centros urbanos como algo naturalizado, não percebendo essas práticas enquanto manifestações da necessidade de saída de integrantes das famílias na busca de qualificação (estudo) ou inserção no mercado de trabalho urbano. Nestes casos, mesmo que boa parte dos integrantes da família tenha migrado, por alguma razão, isso não é percebido enquanto abandono da família ou mesmo do meio rural.

O segundo índice mais elevado refere-se às condições de alimentação e nutrição (0,748) que, tal como o anterior, pode ser classificado como médio alto. Já o índice mais baixo desta instância é representado pela participação em atividades culturais (0,492). Este somente não foi mais baixo porque alguns entrevistados não percebem como um problema o fato de não terem acesso a estas atividades, conforme aponta o biograma a seguir:

10 Estas características por vezes, impossibilitavam o enquadramento das famílias enquanto agricultores familiares frente aos critérios da Lei N. 11.326 que estabelece as diretrizes para a Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. A esse respeito ver: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11326.htm>.

Page 64: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

64Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Figura 25 – Efeitos do Desenvolvimento do Território Rural Zona Sul do Estado do RSFonte: SGE/CAI Território Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Por sua vez, é interessante comparar os domicílios com e sem produção e os correspondentes a agricultura familiar. Os efeitos do desenvolvimento para os agricultores familiares correspondem a um índice de 0,653. Já os domicílios com produção correspondem a um índice de 0,652, enquanto que os efeitos nos domicílios sem produção reduzem para 0,598.

Comparando-se os domicílios com e sem produção verifica-se que apenas um indicador dos domicílios sem produção mostra-se superior àqueles com produção, qual seja, a situação econômica, que corresponde a 0,631 e 0,596 respectivamente.

Embora sejam necessários mais estudos sobre o que leva a estas diferenças nos índices, pode-se sugerir que os domicílios sem produção, em grande parte, representam aquelas famílias formadas por aposentados rurais, que pouco investem nas propriedades, cujos filhos já deixaram as mesmas e aonde a renda é segura, uma vez que é oriunda da aposentadoria. Uma dinâmica próxima a esta pode permear aquelas famílias que moram nas propriedades, mas trabalham ou prestam serviço em outras, o que também mostrou certa frequência.

Por sua vez, comparando domicílios com produção com domicílios da agricultura familiar, esta última apresenta índices melhores quanto a condições de alimentação e nutrição, condições de saída, permanência dos familiares no domicílio e situação econômica. Os índices são menores em relação à primeira nos indicadores situação ambiental; participação em organizações comunitárias; participação política e participação em atividades culturais.

Page 65: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

65Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Tabela 5 – Efeitos do desenvolvimento por segmento da população na Zona SulFonte: SGE/CAI Território Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Ao analisar apenas o ICV decorrente da primeira aplicação do instrumento, observou-se, como já apontado, que os resultados indicam que não há uma correspondência direta entre fatores, características e efeitos do desenvolvimento. Isso pode decorrer da existência de ativos e capitais aliados às liberdades individuais que se expressam de formas distintas a partir da percepção dos indivíduos. Inicialmente, parece que as famílias se valem de seus intitulamentos e lançam mão de uma diversidade de meios para alcançar determinadas realizações. Ademais, a diversidade social, econômica, ambiental e cultural que marca o território Zona Sul também parece contribuir para as diferentes percepções das famílias acerca de suas condições de vida.

Verificou-se ainda a importância cada vez maior das rendas não agrícolas presentes na agricultura familiar do território rural Zona Sul, sejam oriundas do trabalho ou de aposentadorias e pensões. Este é outro indicativo da diversidade e da pluriatividade que marca a agricultura familiar brasileira em geral e do território Zona Sul em especial. Embora esta seja uma realidade reconhecida, novos estudos neste sentido tornam-se pertinentes, sobretudo para orientar políticas de desenvolvimento rural.

Enfim, os resultados da primeira aplicação do instrumento do ICV demonstram que esta metodologia possibilita captar a diversidade de situações em determinado momento as quais podem ser comparadas com um momento posterior, a partir do qual torna-se possível buscar explicações para a complexidade e diversidade das realidades territoriais. Considera-se que, frente a um contexto de retomada organizacional e política dos movimentos sociais e outras organizações da sociedade civil, frente ao reconhecimento político e institucional desta dinâmica, frente a um relativo consenso de que questões econômicas e técnico-produtivas são meios e não fins do desenvolvimento e, ao ICV apreender a escala humana do desenvolvimento – ou seja, as condições de vida a partir da percepção dos indivíduos ou famílias – este é capaz de contribuir para a compreensão da dinâmica territorial do desenvolvimento.

6.1 ICV e IDS: possibilidade de comparações?

Esforços iniciais têm sido realizados no sentido de relacionar os resultados do ICV e do Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS). Quando se procura comparar os

Page 66: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

66Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulresultados do ICV com indicadores objetivos do desenvolvimento, por meio do IDS, considerações importantes podem ser expostas.

Neste sentido, o IDS pode auxiliar na apreensão das diferenças entre as percepções dos indivíduos e os resultados estruturados através do método científico. Calculado com base em dados secundários, o IDS leva em consideração as seguintes dimensões do desenvolvimento: a social, demográfica, político-institucional, econômica, ambiental e cultural. A seguir, biograma representativo do IDS do território Zona Sul do Estado do RS:

Figura 26 – Biograma representativo do Território Rural Zona Sul do Estado do RS/BrasilFonte: SGE/Território Zona Sul

A distância entre índices calculados com base em dados secundários e a percepção dos indivíduos fica clara nas comparações entre o ICV e o IDS. Apesar de não dizerem respeito exatamente às mesmas dimensões, diversas considerações podem ser retiradas desta comparação.

As percepções dos atores territoriais, na maioria das dimensões, apresentam-se como positivas, principalmente em comparação aos dados resultantes do IDS. O biograma do ICV apresenta as dimensões do desenvolvimento de forma mais homogênea e equilibrada. Isto significa que, na percepção dos agricultores familiares, os diversos componentes do desenvolvimento vêm sendo contemplados praticamente da mesma forma e em nível médio. Já o IDS demonstra um desequilíbrio entre as várias esferas e o índice é considerado instável.

Algumas dimensões merecem destaque, como, por exemplo, a ambiental. A discrepância entre o que os atores concebem e o que os dados secundários apontam é evidente. A figura abaixo apresenta as instâncias do ICV – características e efeitos – com destaque às dimensões voltadas à questão ambiental e os indicadores ambientais levantados pelo IDS:

Page 67: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

67Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul

Figura 27 – Comparativo dos elementos ambientais entre ICV e IDSFonte: SGE Território Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul/Brasil

Quanto às características no ICV, a preservação da vegetação nativa atinge 0,734, a conservação da área de produção – solo, 0,612 e a conservação das fontes de água 0,662. Quanto aos efeitos, a situação ambiental percebida alcança 0,584. Já o IDS aponta as áreas de matas e florestas com um índice de 0,077, a área de unidades de conservação 0,014 e área utilizada 0,909. Evidencia-se, portanto, uma considerável discrepância entre o ICV e o IDS.

A principal contribuição desta comparação reside na constatação da diferença entre o que se denomina senso comum, construído na interação entre indivíduos, nas experiências coletivas, e dados científicos (MOSCOVICI, 2003). Neste sentido, podemos sugerir que o IDS e o ICV, isoladamente, apreendem apenas parte das dimensões do desenvolvimento. Torna-se pertinente, então, investigações que congreguem tanto as representações dos indivíduos quanto dados ou informações que pertençam ao âmbito científico.

ICV - Características

IDS – Indicadores ambientais

ICV - Efeitos

Page 68: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

68Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulA diferença entre os índices indica o quanto a questão do fomento do

desenvolvimento, na perspectiva de Amartya Sen, multidimensional e com ampla participação dos atores e seus valores e representações, configura-se como um processo complexo e ao mesmo tempo necessário.

7. ANÁLISE INTEGRADORA DE INDICADORES E CONTEXTO

A partir das considerações presentes neste relatório, surgidas tanto da análise de dados quanto da observação empírica, bem como da análise integrada dos indicadores, pode-se definir a amplitude e a diversidade como as características centrais do Território Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul. Estas duas dimensões influenciam de forma direta todos os indicadores do desenvolvimento.

Referente à identidade, os elementos pesquisados denotam que não há uma, mas, diversas identidades no território. Os elementos constantes no Q2 variam de médio a alto e mesmo que a agricultura familiar se destaque, não se pode afirmar que esta é a marca do território, uma vez que todos os demais elementos apresentam índices consideráveis. Apesar de alguns elementos se destacarem não se pode afirmar que um indicador, isoladamente, é capaz de sintetizar a identidade do território. Neste sentido, seria mais coerente falarmos em identidades, já que distintos elementos apresentam o mesmo grau de importância na constituição da região.

Apesar de a Agricultura Familiar ter apresentado o maior valor relativamente a outras dimensões, cabe destacar que este conceito também é marcado pela heterogeneidade. No território, encontramos diferentes configurações de agricultores familiares: os que possuem grande parte da renda vinda de uma produção diversificada, os que se dedicam ao monocultivo do fumo, os que possuem a maior parte de seus rendimentos oriundos de trabalhos para terceiros (mas que se consideram agricultores familiares), as famílias que dependem fortemente das aposentadorias rurais para se manter, mesmo que se dediquem à produção, entre outros. Talvez o alto grau de importância que a agricultura familiar assume se encontre no fato de que os indivíduos se reconhecem como agricultores familiares mesmo sem estarem enquadrados exatamente no conceito que a Lei 11.326 abrange. Ou seja, a agricultura familiar, para estes indivíduos, é um conceito que engloba mais dimensões do que somente a produtiva. Grande parte dos repertórios sociais e culturais das famílias do meio rural se encontram vinculadas ao que concebem como agricultura familiar. Talvez este fato explique um tanto de sua força e reconhecimento no território.

Apesar deste elemento em comum, pode-se observar que os entrevistados parecem não compartilhar uma história no território. Este fato se reflete na pouca importância dada às dinâmicas de ocupação e colonização na constituição da identidade territorial. Os dados objetivos, e mesmo uma observação rápida, são suficientes para

Page 69: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

69Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Suldemonstrar que a estrutura fundiária do território é herdeira dos processos de povoamento. Apesar de vários entrevistados vivenciarem diretamente esta situação, possuindo propriedades de tamanho insuficiente para a própria subsistência e, por isso, sendo obrigados a vender sua mão de obra para outros proprietários rurais, a maioria não estabelece relação entre a distribuição da posse da terra atual com os processos que a configuraram. Uma das explicações para esta situação pode se encontrar na diversidade dos processos históricos de ocupação e colonização que marcam este território, o que faz com que maior peso seja atribuído aos demais elementos.

No entanto, através das falas dos entrevistados, é possível estabelecer uma diferença entre grupos específicos nesta questão. É o caso dos assentados da reforma agrária. Este grupo, por sua inserção e história particulares no território, apresenta maior conscientização da relação entre os processos de colonização e a estrutura fundiária atual. Da mesma forma, demonstram maior conhecimento sobre as políticas públicas destinadas à agricultura familiar e sobre os espaços de participação política. Isto se reflete nos elevados valores atribuídos à capacidade de decisão dos representantes de agricultores e movimentos sociais (geralmente ligados aos assentamentos de reforma agrária) no Colegiado Territorial. Esta situação acaba tendo eco nos temas mais abordados nas reuniões do Fórum e/ou Colegiado uma vez que os mais tratados estão relacionados às entidades que mais participam e que, conseqüentemente, tem maior capacidade de decisão. Estes temas se referem à cidadania e inclusão social, desenvolvimento agropecuário e projetos.

Este contexto pode se configurar como um dos elementos constitutivos do acúmulo político e organizativo que o Fórum da Agricultura Familiar da Região Sul do Rio Grande do Sul representa desde 1994. Este acúmulo é tão significativo que o Fórum hoje encabeça o Colegiado Territorial e a implementação das políticas territoriais de desenvolvimento rural, desde 2005. Além disso, a indicação de que um dos maiores problemas do Colegiado, segundo os entrevistados, diz respeito a pouca participação dos gestores públicos, demonstra que os atores que levam à frente as discussões e decisões são os da sociedade civil organizada (representantes de assentamentos, movimentos sociais, cooperativas, associações, redes, etc.). A baixa participação da esfera pública acarreta o segundo maior problema do Colegiado apontado pelos entrevistados e que se refere ao fato do Colegiado não ser escutado em outras instâncias.

Esta falta de articulação entre as entidades representativas da sociedade civil e as do poder público se reflete também nos elementos que estruturam as capacidades institucionais. Os indicadores que se referem às instâncias governamentais estão, em média, abaixo daqueles que dizem respeito às organizações e iniciativas civis.

Frente a esta situação e ao acúmulo de experiências vivenciadas em campo, algumas questões merecem ser destacadas como dignas de estudo mais amplo, visto

Page 70: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

70Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulque não foram contempladas pelos questionários. Lideranças da agricultura familiar apontaram freqüentemente para o fato de que o Fórum/Colegiado Territorial se constitui em espaço rico de discussão, no entanto, com poucos impactos efetivos na vida das populações rurais. Um dos fatores causais apontados seria a insuficiência dos recursos destinados aos projetos. A quantidade de atores e organizações que defendem projetos é bastante numerosa se comparada com o montante de recursos. Esta situação acaba por desgastar os participantes do Colegiado, já que poucos projetos são contemplados e estes abarcam apenas problemas pontuais das comunidades, mostrando-se insuficientes para uma transformação mais ampla nos processos de exclusão social vigentes no território.

Da mesma forma, a necessidade de um monitoramento mais efetivo dos projetos também se configurou como demanda significativa dos atores sociais, principalmente ao que diz respeito às contrapartidas de recursos das Prefeituras dos municípios. Esta questão acaba por ser tema de conflitos na região. Investigações que busquem compreender as relações das prefeituras com o colegiado, os projetos e as organizações de agricultores parecem pertinentes para o melhor andamento das negociações do território.

Outra questão que merece ser compreendida de forma satisfatória é a relação dos representantes dos segmentos da população no Colegiado e a população em si. Entender como se articula a relação entre estes atores é fundamental para avaliar os impactos dos projetos territoriais nas condições de vida objetivas das populações. No mesmo sentido, comparações entre distintos grupos, e a forma desigual com que acessam o Colegiado e seus recursos, se configuram como importantes. Inserida neste mesmo eixo encontra-se a necessidade de estudos sobre os segmentos da população não organizada, que, por isso, não consegue acessar o colegiado e muitas vezes as políticas públicas a que tem direito e investigações com recorte de gênero.

A diversidade expressa no território coloca um desafio aos atores territoriais: esta diversidade de identidades remete a uma diversidade de meios de vida, além de uma multiplicidade de interesses e necessidades o que gera diferentes demandas. O desafio consiste em formar consensos e estabelecer prioridades uma vez que os recursos das políticas territoriais são escassos.

Como já mencionado na contextualização, a agricultura familiar é o público ou segmento do território mais organizado. Ademais, dos projetos territoriais concluídos, a maioria atendia a este público. Dos 13 projetos, apenas um se destinava aos pescadores. Em outro projeto, havia uma meta que destinava equipamentos também a pescadores, mas os quais ainda não estavam sendo utilizados. Os demais projetos destinam-se a agricultores familiares, incluindo nestes casos também os assentados.

Page 71: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

71Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulQuanto à gestão, em geral, observa-se que os públicos do espaço rural

encontram-se representados e mobilizados, em especial, pelo Fórum da Agricultura Familiar. No entanto, os segmentos representativos dos demais fóruns setoriais não apresentam a mesma organização e participação no Colegiado, como já mencionado acima

Tal realidade apresenta reflexos nos próprios projetos territoriais, uma vez que os concluídos estão todos voltados ao público do espaço rural. Não foram encontradas (pelo menos nos projetos concluídos) ações voltadas à saúde, educação e cultura, por exemplo. Por outro lado, os projetos remetem ainda a ações pontuais e públicos localizados, não apresentando abrangência territorial.

Esta situação pode ser decorrente do fato da política territorial ser recente. Ademais, como os territórios da cidadania se referem àqueles em piores condições sócio-econômicas, entende-se que inicialmente é necessário atender a demandas mais pontuais e básicas (como aquisições de caminhões e veículos), para que num segundo momento, quando atendidas estas demandas mais emergenciais, sejam elaborados projetos de âmbito territorial e estratégico. O índice médio do ICV (0,585) também pode ser decorrente do fato da política territorial ser recente e pelos próprios critérios da seleção dos territórios da cidadania.

Por sua vez, o Índice de Capacidades Institucionais (ICI), também médio (0,497), pode-se refletir nos resultados dos projetos. Se calcularmos a média das quatro dimensões que compõe o biograma da avaliação dos projetos (planejamento, execução, indícios de impacto e gestão) obteremos um índice regular (0,461). Ademais, quanto ao ICI, as dimensões com melhores pontuações remetem a capacidade organizacional e infraestrutura institucional, o que denota a capacidade de organização da sociedade – e o Fórum é um exemplo disso – e a existência da infraestrutura básica para o encaminhamento das demandas desta sociedade (existência de secretarias de desenvolvimento rural e planejamento em praticamente todos os municípios).

Considerando que os serviços institucionais e os mecanismos de solução de conflitos são as dimensões com piores índices, parece pertinente uma maior aproximação das instituições à comunidade, uma vez que conflitos, protestos e manifestações decorrem de alguma demanda. Por outro lado, o levantamento e divulgação de informações comerciais e de mercado também são fundamentais para que se passe de projetos pontuais, localizados, para a implementação de projetos de âmbito territorial, não restritos ao espaço rural.

Enfim, considerando os indicadores e o contexto, é possível afirmar que o desafio do território passa pela construção de consensos frente aos diversos públicos e identidades que caracterizam o mesmo e pela construção de um projeto, ou projetos

Page 72: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

72Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulterritoriais que abarquem não apenas as demandas no espaço rural, mas as demandas do território como um todo.

8. PROPOSTAS E AÇÕES PARA O TERRITÓRIO

Partindo da perspectiva do Desenvolvimento como Liberdade de Amartya Sen e dos primeiros resultados da comparação entre o ICV e o IDS (em pesquisas de iniciação científica), propõe-se o aprofundamento da investigação sobre a configuração das Representações Sociais (MOSCOVICI, 2003) dos agricultores familiares do Território Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul, sobre o desenvolvimento social. Para isto, sugerem-se pesquisas de cunho qualitativo que busquem aprofundar as comparações entre os índices mencionados assim como análises de discurso que busquem apreender as variáveis que estruturam a construção das representações sociais dos distintos grupos do território. A comparação entre as representações dos grupos pode auxiliar a clarificação da relação entre representações e identidade.

Desenvolver pesquisas que possam identificar em que medida evolui as ações em prol das práticas de diversificação produtiva e de agregação de valor na agricultura familiar, especialmente aquela agricultura historicamente vinculada à produção de tabaco. Neste sentido, seria de extrema importância investigar com mais profundidade de que forma as estratégias de diversificação são identificadas e postas em prática, pelo lado das instituições, e de que forma os agricultores familiares aderem a tais ações e estratégias.

Com base no conjunto de políticas públicas de construção de mercados institucionais, tais como o PAA e o PNAE, investigar como estes mercados são construídos no território e a abrangência destas ações. Isso implica reconhecer o ambiente institucional e produtivo local para atender a um conjunto específico de políticas públicas que párea além da avançar na construção de mercados institucionais permite estabelecer outras análises, tais como a melhoria na qualidade da alimentação de escolares, na melhoria dos rendimentos dos agricultores familiares entre outras dimensões possíveis.

Analisar a conformação do ambiente territorial em termos de gestão e governança territorial e como são constituídas as demandas territoriais no âmbito dos Colegiados e das instâncias competentes com o propósito de estabelecer um conhecimento mais aprofundado desta nova esfera de governança local.

Como possíveis ações/propostas para qualificação pode-se, neste estágio de desenvolvimento da pesquisa, indicar:

Page 73: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

73Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sula) Aprimoramento dos instrumentos no que diz respeito a sua efetividade na

captação da diversidade territorial em termos de dinâmicas sociais e econômicas;

b) Que a diversidade social, econômica, institucional, cultural e política esteja de fato representada nos espaços de gestão e governança territoriais;

c) Avançar na construção e consolidação de diálogos entre as organizações e instituições territoriais com organizações e instituições fisicamente exógenas ao território, permitindo assim o aprimoramento de ambos na construção de novas propostas de desenvolvimento territorial;

d) Vincular os resultados das pesquisas, discutidos entre as instituições exógenas e endógenas ao território, no âmbito do planejamento e controle social do território via consolidação do Colegiado Territorial enquanto espaço por excelência da diversidade territorial;

e) Caminhar na afirmação de um desenvolvimento de cunho territorial e não setorial, quer seja pelo viés das formas de organização produtiva quer seja pelas formas institucionalmente reconhecidas na construção de demandas territoriais;

Page 74: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

74Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulANEXO: Validação de instrumentos e procedimentos

Quanto aos instrumentos, de modo geral, eles atendem aos objetivos aos quais se propõem. Quanto a redação e ordenamento dos quesitos também mostram-se adequados. São de fácil e rápida aplicação, com exceção do Q5.

Este instrumento, embora seja formado por questões pertinentes, é muito extenso e cansativo, sobretudo para o entrevistado. Sugere-se a possibilidade de diminuir o número de questões.

Quanto à adequação conceitual, o maior problema se mostrou na definição de agricultura familiar pela Lei n. Lei 11.326. Como já apresentado em outros momentos e relatórios, considerando os quatro critérios11, muitas famílias deixavam de ser consideradas de agricultura familiar. Isso mostrou-se um problema, sobretudo quando da aplicação do instrumento do ICV, sendo necessário, em quase todos os setores censitários, percorrer todos os domicílios em busca dos agricultores familiares.

Quanto a questões mais pontuais nos instrumento sugere-se:

Q3 – Gestão dos Colegiados

Caberia uma pergunta sobre a frequência de participação dos membros do Colegiado (ou se participaram somente de sua constituição), de modo que fosse possível dissociar esta participação da resposta “não sabe”.

Q4 – ICV

A pergunta 5 parece redundante em relação a 5c; 5d e 5e;

Na pergunta 12 e 13, substituir variada por diversificada: variada remete a ideia de variação mensal no valor das entradas de dinheiro ou produção;

Nas perguntas 22 e 24 seria importante poder perceber se as famílias participam ou não de atividades culturais e organizações sociais, uma vez que alguns não participam e consideram isso ótimo, outros consideram péssimo o fato de não haver acesso a atividades culturais, por exemplo.

11 Segundo a Lei 11.326, de 24 de julho de 2006, são considerados estabelecimentos familiares aqueles que: “a área do estabelecimento ou empreendimento rural não excede quatro módulos fiscais; a mão de obra utilizada nas atividades econômicas desenvolvidas é predominantemente da própria família; a renda familiar é predominantemente originada dessas atividades; e o estabelecimento ou empreendimento é dirigido pela família

Page 75: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

75Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulQ5 – Avaliação de projetos

Na pergunta 53, muitas vezes houve confusão quanto ao termo produtores, que para os entrevistados, remetia a grandes produtores;

Na pergunta 18 poderia haver uma alternativa que remete à abrangência da área de atuação de organizações (cooperativas/associações), que foi o critério mais utilizado para a abrangência dos projetos na Zona Sul;

Na pergunta 54, na quarta alternativa há um 4 sobrando;

Sugere-se ainda que para o Q5 sejam elaborados gráficos para cada pergunta, tal como foi feito com o Q2 (Gestão do Colegiado). Estes dados em si trazem informações que podem ser analisadas além de auxiliarem a análise dos biogramas já gerados a partir do Q5.

Sobre a análise dos dados

É importante esclarecer, sobretudo para o Q1 e Q5, quais critérios foram utilizados para definir se o resultado é ruim (0) ou bom (1). Mesmo tendo conhecimento das perguntas que compõe o indicador, não é possível identificar o que realmente significa um índice baixo ou alto, bom ou ruim.

Na análise do Q5 o indicador impactos positivos nas condições sócio-político-econômicas territoriais, por suas variáveis, remete mais a condições sócio-político-institucionais;

Sobre os biogramas, sugere-se que estes apresentem a escala de 0 a 1 e não de 0 ao maior valor existente. Da forma como está, corre-se o risco de os leitores considerarem que o maior valor corresponde a 1. Além do mais, quando o gráfico está inserido dentro da escala de 0 a 1 tem-se uma melhor ideia sobre o posicionamento dos indicadores, se numa escala média, acima ou abaixo desta.

Por fim, considera-se que os instrumentos refletem a realidade do território, porém, não são um ponto de chegada, mas sim um ponto de partida no que diz respeito à compreensão das dinâmicas territoriais. Os biogramas dos instrumentos apresentam a “fotografia” de uma realidade em determinado momento. A partir desta fotografia, é possível começar a investigar o porquê desta imagem apresentar determinada configuração

É possível levantar hipóteses, inclusive junto ao Colegiado, mas é importante aprofundar estudos para a melhor compreensão das configurações locais e assim, poder

Page 76: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

76Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sulimplementar ações e políticas nas áreas que se mostram com maiores problemas e desequilíbrios. Assim sendo, quando da segunda aplicação dos instrumentos será possível verificar a eficácia e eficiência das ações implementadas sobre o território.

Page 77: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

77Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulGLOSSÁRIO

Intitulamentos: Refere-se às possibilidades e à aptidão que uma pessoa tem para possuir bens ou mercadorias em determinada sociedade. São os meios para atingir determinados fins estando relacionado com os recursos que uma pessoa possui e como pode usá-los para obter mercadorias. Esta conversão acontece permeada pelas características legais, políticas, econômicas e sociais da sociedade e depende da posição social que a pessoa ocupa. Páginas: 15, 60, 61 e 65.

Funcionamentos: Relaciona-se com as realizações e com reais oportunidades de escolha de um indivíduo. Os funcionamentos dizem respeito à capacidade do indivíduo de fazer ele mesmo as suas escolhas dentre as reais oportunidades. Páginas: 60 e 61.

Capacidades: Pode-se entender como aquilo que uma pessoa consegue acessar dentro de uma determinada sociedade. Depende do arranjo entre intitulamentos e funcionamentos. A sincronia desses fatores dão a real situação das capacidades (quero e posso, logo sou capaz, logo tenho liberdade para escolher). Obs. Não se refere ao questionário capacidades institucionais, trata-se de um conceito discutido por Amartya Sen. Página 61.

Liberdades Individuais: Esta noção provém da liberdade que o indivíduo encontra na sociedade a qual está inserido para expor e lutar pelo que acredita. Tendo capacidades e intitulamentos e dependendo dos funcionamentos, o indivíduo pode ter ou não liberdade individual. Páginas: 15, 60 e 65.

Fatores do desenvolvimento: Pode-se dizer que são o princípio do desenvolvimento, o que o desencadeia. Ex.: terra fértil, acesso a políticas públicas, recursos hídricos, entre outros. Páginas: 14, 15, 60 a 62 e 65.

Características do desenvolvimento: É a forma como os elementos do desenvolvimento são usados e conservados. Por exemplo, como se dá a conservação do solo, qual é a produtividade da terra, qual a renda e como é usada, de que maneira ocorre a distribuição da mão-de-obra, entre outras. Páginas: 14, 15, 60 a 63 e 65 a 67.

Efeitos do desenvolvimento: São os resultados dos fatores e das características. O que estas duas dimensões aglutinadas podem trazer de desenvolvimento para os atores e para o território. Por exemplo, se estas ações trazem maior qualidade de vida, maior acesso aos mercados, entre outros. Páginas: 14, 15, 60, 63 e 64 a 67.

Governança (territorial): “as iniciativas ou ações que expressam a capacidade de uma sociedade organizada territorialmente para gerir os assuntos públicos a partir do envolvimento conjunto e cooperativo dos atores sociais, econômicos e institucionais”. (Dallabrida, 2009, p. 1). Páginas: 1, 72 e 73.

Gestão social: Trata-se de gerenciar políticas públicas, administrar e cuidar dos interesses sociais de maneira a haver diálogo entre sociedade e Estado. O poder de decisão é descentralizado sobre o que pode ser feito entre a sociedade civil e o Estado. Páginas: 10 e 31.

Page 78: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

78Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulVariável/Variáveis: Variáveis são características que são medidas, controladas ou manipuladas em uma pesquisa. Diferem em muitos aspectos, principalmente no papel que a elas é dado em uma pesquisa e na forma como podem ser medidas. Páginas: 30, 45 a 47, 72 e 75.

Indicadores: Indicadores são sinais que revelam aspectos de determinada realidade e que podem qualificar algo. Por exemplo, para saber se a economia do país vai bem, usamos como indicadores a inflação e a taxa de juros. A variação dos indicadores nos possibilita constatar mudanças (a inflação mais baixa no último ano diz que a economia está melhorando). Páginas: 11, 15, 26, 28 a 30, 43 a 47, 61, 62, 64, 66, 68, 69, 71 e 75.

Índices: são indicadores de desempenho de um conjunto de ações/atividades/programas. A variação destes índices pode demonstrar a melhora ou piora de determinada situação (econômica, de saúde, entre outros). Ex: IDH. Páginas: 10 a 12, 14, 28 a 30, 43 a 47, 59 a 68, 71, 72 e 75.

Page 79: Relatório Analítico - Sistema de Informações Territoriaissit.mda.gov.br/download/ra/ra104.pdf · ... Comissão de Implantação de Ações ... apropriadas de ação na busca ao

79Relatório Analítico – CAI Zona Sul do Estado do Rio Grande do SulREFERÊNCIAS

DALLABRIDA, V. R. Governança Territorial: a densidade institucional e o capital social no

processo de gestão do desenvolvimento territorial. In: III Seminário Internacional sobre

Desenvolvimento Regional, 2006, Santa Cruz do Sul. Anais do III Seminário Internacional

sobre Desenvolvimento Regional. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, v. 1, 2006. p. 1-19.

ECHEVERRI, R. Emergência e evolução do Programa de Desenvolvimento Sustentável

dos Territórios Rurais e nos Territórios da Cidadania. In: FAVARETO et . al. Políticas de

desenvolvimento territorial rural no Brasil: avanços e desafios. Brasília: IICA, 2010.

p.81-114. (Desenvolvimento Rural Sustentável).

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Fórum de Agricultura Familiar

da Região Sul do Rio Grande do Sul. Disponível em:

<http://www.cpact.embrapa.br/forum/index2.php>. Acesso em 15/abr/2012.

MOSCOVICI, S. Representações Sociais: Investigações em psicologia social. Petrópolis:

Vozes, 2003.

PTDRS. Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável: Território da Cidadania

Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul. Pelotas: Centro de Apoio ao Pequeno

Agricultor, 2009.

SEN, A. Desigualdade reexaminada. Rio de Janeiro: Record, 2001.

WAQUIL, P. D. et al. Proposição do Índice de Condições de Vida. Porto Alegre:

PGDR/UFRGS, SDT/MDA, 2007. (Relatório de pesquisa).