relações internacionais e globalização · (transições nas formas de produzir dentro de um...

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Relações Internacionais e Globalização DAESHR014- 13SB (4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI [email protected] UFABC – 2018.I (Ano 3 do Golpe) Aula 3 3ª-feira, 27 de fevereiro

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Relações Internacionais e GlobalizaçãoDAESHR014- 13SB

(4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI

[email protected]

UFABC – 2018.I

(Ano 3 do Golpe)

Aula 3

3ª-feira, 27 de fevereiro

Blog da disciplina:

https://rigufabc.wordpress.com/

No blog você encontrará todos os materiais do curso:

• Programa

• Textos obrigatórios e complementares

• ppt das aulas

• Links para sites, blogs, vídeos, podcasts, artigos e outros materiais de interesse

Horários de atendimento extra-classe:

• São Bernardo, sala D-322, Bloco Delta, 3as-feiras e5as-feiras, das 13-14h (é só chegar)

• Atendimentos fora desses horários, combinar poremail com o professor:[email protected]

A Quinta

Revolução Industrial/Tecnológica

e a globalização produtiva e financeira

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Módulo I: Origens de nosso tempo

Aula 3 (3ª-feira, 27 de fevereiro): A Quinta Revolução Industrial/Tecnológica e a globalização produtiva e financeira

Texto base I:

PÉREZ, Carlota (2009) “Technological revolutions and techno-economic paradigms”, p. 3-22, http://technologygovernance.eu/files/main/2009070708552121.pdf

Texto base II:

HARVEY, David (2014) “Introdução”, p. 11-14, “Capítulo 1: Liberdade é apenas mais uma palavra...”, p. 15-47.

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Globalização: origens – neoliberalismo equinta revolução industrial

• Para entender a globalização contemporânea é precisocompreender o modo como a ascensão de uma teoriapolítica e econômica – o neoliberalismo – e uma profundatransformação do paradigma tecno-econômico vigente – aquinta revolução industrial, das tecnologias de informaçãoe comunicação – combinaram-se para gerar grandestransformações no mundo contemporâneo.

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Globalização: antecedentes

• O quarto de século entre o final da II GM e o começo dadécada de 1970 foi marcado pela redução da distânciaentre os níveis de renda e de qualidade de vida dos paísesperiféricos em relação aos do capitalismo central.

• Em relação ao contexto internacional do pós-II GM, aGuerra Fria contrapôs dois modelos de organização social,econômica e política. Os blocos capitalista e socialistacompetiam pela hegemonia mundial e disputavam o apoiode outros países a suas causas.

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Globalização: antecedentes

• No capitalismo central, a reconstrução das economiasdestruídas pela II GM e a “ameaça comunista” criou ascondições para um grande compromisso de classe que ficouconhecido como Estado de bem-estar social (welfare State).

• No capitalismo periférico, a Guerra Fria abriu oportunidadesde independência, descolonização e desenvolvimentoindustrial tardio alinhados aos EUA ou à URSS. Até mesmo onão-alinhamento foi possível (Bandung, Tricontinental,Terceiro Mundo, Movimento dos Países Não-Alinhados).

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Estado de bem-estar social

• Estado de bem-estar social (Welfare State):

– Compromisso de classe entre capital e trabalho nospaíses de capitalismo central.

– Políticas econômicas voltadas ao pleno emprego e aodesenvolvimento econômico e social.

– Instituições de concertação social que juntavam, nointerior do Estado, burguesia e trabalhadores(representados por seus sindicatos).

– Acelerado desenvolvimento econômico e social comredução da pobreza e da desigualdade.

– Capitalismo com componentes socialistas.

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Estado de bem-estar social

• Estado de bem-estar social (Welfare State):

– A principal motivação do Estado de bem-estar social erabarrar o avanço do comunismo no interior dos paísescentrais por meio do atendimento da pautas dostrabalhadores.

– O conflito social no interior desses países foi filtrado pelasinstituições do Estado de bem-estar social.

– Estados de bem-estar social variavam muito em grau deimplementação de políticas de bem-estar, indo, em umextremo, de modelos de capitalismo de mercado (EUA eJapão) a, no outro, modelos quase socialistas (paísesescandinavos), com situações intermediárias entre essesdois polos (França, Reino Unido, Itália).

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Desenvolvimento periférico

• A periferia do sistema capitalista pôde colher algunsbenefícios (em meio a muitos prejuízos, claro) da GuerraFria:

– EUA e URSS incentivaram a independência de paísesafricanos e asiáticos de suas colônias europeias paraevitar o avanço do comunismo no continente.

– Na América Latina, o desenvolvimento industrialbeneficiou-se de investimentos externos diretos dosEUA, Alemanha Ocidental, França e Japão, cujasmultinacionais foram parte importante dos processo demudança estrutural dessas economias.

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Globalização com convergência(?)

• Segundo Dowrick e DeLong (2003), o período que vai de1945 a 1980 foi único no que diz respeito à convergênciados níveis de renda, de produtividade e de qualidade devida entre países do capitalismo central e periférico. Nemna primeira globalização (1870-1913), nem na atualglobalização (iniciada em 1979) verificou-se fenômenosemelhante: suas marcas foram e são a divergência entre ocentro e a periferia.

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Globalização contemporânea: origens

• A atual globalização representou um ponto de inflexãoradical na história contemporânea. Segundo David Harvey(2014), “os futuros historiadores poderão coerentementever os anos 1978-80 como um ponto de rupturarevolucionário na história social e econômica do mundo.(...) Por que meios e percursos a nova configuraçãoeconômica – frequentemente designada pelo termoglobalization – foi arrancada das entranhas da antiga”?(Harvey, 2014: 11)

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Globalização contemporânea: origens

• Fim do Sistema Bretton Woods (em 1971, EUA acabam coma convertibilidade ouro-dólar); segue-se processo dedesregulação e financeirização da economia mundial.

• Desmonte do Estado de bem-estar social.

• Choques do petróleo (1973 e 1979), gerando inflação erecessão na economia mundial e o fim da era dourada decrescimento e convergência pós II GM; abundância depetrodólares na economia mundial; endividamento da AL.

• Eleições de Margaret Thatcher (1979-1990) e Ronald Reagan(1981-1989), que implementam plataformas neoliberais.

• Choque de juros do FED em 1979 (comandado por PaulVolcker), resultando na crise da dívida da América Latina.

• Quinta Revolução Industrial/Tecnológica - TIC. 14

Globalização: origens – neoliberalismo

• “O neoliberalismo é em primeiro lugar uma teoria daspráticas político-econômicas que propõe que o bem-estarhumano pode ser mais bem promovido liberando-se asliberdades e capacidades empreendedoras individuais noâmbito de uma estrutura institucional caracterizada porsólidos direitos a propriedade privada, livres mercados elivre comércio. O papel do Estado é criar e preservar umaestrutura institucional apropriada a essas práticas.” (Harvey2014: 12).

• “O pressuposto de que as liberdades individuais sãogarantidas pela liberdade de mercado e de comércio é umelemento vital do pensamento neoliberal (...).” (Harvey2014:17).

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Globalização: origens – neoliberalismo

• “O processo de neoliberalização, no entanto, envolveumuita ‘destruição criativa’, não somente dos antigospoderes e estruturas institucionais (chegando mesmo aabalar as formas tradicionais de soberania do Estado), mastambém das divisões do trabalho, das relações sociais, dapromoção do bem-estar social, das combinações detecnologias, dos modos de vida e de pensamento, dasatividades reprodutivas, das formas de ligação à terra e doshábitos do coração.” (Harvey 2014: 13).

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Globalização: origens – neoliberalismo

• “A primeira experiência de neoliberalização ocorreu noChile depois do golpe de Pinochet no ‘pequeno 11 desetembro” (...)”. (Harvey 2014: 17).

• “Tudo isso [a pioneira experiência chilena] ofereceu úteisdados para suportar a subsequente adoção doneoliberalismo na Grã-Bretanha (sob Thatcher) e nosEstados Unidos (sob Reagan) nos anos 1980. Não pelaprimeira vez, uma experiência brutal realizada na periferiatransformou-se em modelo para a formulação de políticasno centro (...).” (Harvey 2014: 18-19).

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Globalização: origens – neoliberalismo

• “O mundo capitalista mergulhou na neoliberalização como aresposta por meio de uma série de idas e vindas e deexperimentos caóticos que na verdade só convergiramcomo uma nova ortodoxia com a articulação, nos anos1990, do que veio a ser conhecido como o ‘Consenso deWashington’. (...) A crise de acumulação do capital nadécada de 1970 afetou a todos por meio da combinação dedesemprego em ascensão e inflação acelerada [estagflação=estagnação+inflação]” (Harvey 2014: 23).

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Globalização: origens – neoliberalismo

• “Podemos, portanto, interpretar a neoliberalização sejacomo um projeto utópico de realizar um plano teórico dereorganização do capitalismo internacional ou como umprojeto político de restabelecimento das condições deacumulação do capital e de restauração do poder das eliteseconômicas. Defenderei a seguir a ideia de que o segundodesses objetivos na prática predominou. A neoliberalizaçãonão foi muito eficaz na revitalização da acumulação docapital global, mas teve notável sucesso na criação dopoder de uma elite econômica.” (Harvey 2014: 27).

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Globalização: origens – neoliberalismo

• “(...) Há na posição neoliberal contradições suficientes paratornar as práticas neoliberais em desenvolvimento (...)irreconhecíveis diante da aparente pureza da doutrinaneoliberal. Por conseguinte, merece cuidadoso exame atensão entre a teoria do neoliberalismo e a pragmáticaconcreta da liberalização.” (Harvey 2014: 30).

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Globalização: origens – neoliberalismo

• “(...) Há algumas tendências gerais identificáveis. Aprimeira foi que os privilégios da propriedade e dagerência de empresas capitalistas – tradicionalmenteseparados – se fundiram quando se começou a pagar aosCEOs (gerentes) em opções de ações (títulos depropriedade) Então, o valor das ações tomou o lugar daprodução como guia da atividade econômica (...).” (Harvey2014: 40-41).

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Globalização: origens – neoliberalismo

• “A segunda tendência foi a dramática redução daseparação entre capital monetário que recebedividendos e juros, de um lado, e capital produtivo,manufatureiro ou mercantil em busca de lucros, dooutro. Essa separação produzira em vários momentosanteriores conflitos entre financistas, produtores ecomerciantes. (...) Boa parte desse conflito desapareceriaou assumiria novas formas. As grandes corporaçõesassumiram uma orientação crescentemente financeira(...).” (Harvey 2014: 41).

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Globalização: origens – neoliberalismo

• “Tudo isso se vinculava à forte expansão da atividade e dopoder no mundo financeiro. Cada vez mais liberta dasrestrições e barreiras regulatórias que até então limitavamseu campo de ação, a atividade financeira pode florescercomo nunca antes, chegando a ocupar todos os espaços. (...)Em suma, a neoliberalização significou a ‘financialização’ detudo. Isso aprofundou o domínio das finanças sobre todasas outras áreas da economia, assim como sobre o Estado(...). Criou ainda uma volatilidade sempre crescente nasrelações globais de troca; houve sem sombra de dúvida umamudança do poder da produção para o mundo dasfinanças.” (Harvey 2014: 41-42).

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Globalização: origens – neoliberalismo

• “Como poderia ter dito Polanyi, o neoliberalismoproporciona direitos e liberdades àqueles ‘que nãoprecisam de melhoria em sua renda, seu tempo livre e suasegurança’, deixando um verniz para o resto de nós. Comoentão o resto de nós aquiesceu tão facilmente a esse estadode coisas?.” (Harvey 2014: 47).

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Globalização: origens – a quinta revolução industrial/tecnológica• Em FSI e CTS, vimos que J. Schumpeter e os

neoschumpeterianos falam em sucessivas ondas deprogresso técnico, ou sucessivas revoluções industriais.

• A literatura sobre história econômica tradicional (marxista eliberal) adota uma periodização que coloca a mais recenterevolução industrial/tecnológica (a das tecnologias deinformação e comunicação – TICs) como a terceira (com aprimeira situada em fins do século XVIII e começo do XIX e asegunda em fins do século XIX e começo do XX).

• Schumpeter e seus seguidores adotam uma periodizaçãodiferente, dividindo a primeira e a segunda revoluçãoindustrial em dois períodos cada, o que faz da mais recenterevolução industrial/tecnológica a quinta. Adotaremos estaperiodização. 25

Globalização: origens – a quinta revolução industrial/tecnológica

• A ideia de que alterações radicais nas formas de produzir deuma sociedade ou de uma época são eventos com profundasimplicações não só econômicas como políticas e sociais estápresente de um ou outro modo em praticamente todas asescolas históricas, sociológicas e políticas.

• As sucessivas revoluções industriais ou tecnológicas(transições nas formas de produzir dentro de um mesmomodo de produção, o capitalismo) têm impacto profundosobre a sociedade.

• A globalização contemporânea foi, ela também, marcada poruma revolução industrial/tecnológica: a quinta (ou terceira)revolução industrial/tecnológica.

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Globalização: origens – a quinta revolução industrial/tecnológica

• A primeira era da globalização (meados do século XIX aprincípios do século XX, cf. Dowrick e DeLong, 2003) foiviabilizada pelo advento de uma série de inovaçõestecnológicas e institucionais que “reduziram” as distânciasdo globo:

– Transporte ferroviário e marítimo a vapor;

– Telégrafo e cabos marítimos;

– Telefone;

– Disseminação dos correios;

– Sistema financeiro internacional;

– Imperialismo e neocolonialismo.

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Globalização: origens – a quinta revolução industrial/tecnológica

• A globalização contemporânea está profundamente relacionada àstransformações causadas pela quinta revoluçãoindustrial/tecnológica que, assim como no caso da primeira era daglobalização, viabilizou, por uma série de inovações tecnológicase institucionais, a “redução” das distâncias do globo:

– Microprocessadores;

– Computadores pessoais;

– Internet;

– Celulares e smartphones;

– Mercados financeiros globais operados 24 horas por dia dequalquer lugar do mundo;

– Satélites de comunicação;

– Expansão das viagens aéreas;

– Etc.28

Globalização: origens – a quinta revolução industrial/tecnológica

• Carlota Perez cunhou os conceitos de revolução tecnológicae paradigma tecno-econômico para analisar as transiçõesentre revoluções industriais/tecnológicas e seus impactosmais amplos na sociedade.

• “(...) A technological revolution (TR) can be defined as a setof interrelated radical breakthroughs, forming a majorconstellation of interdependent technologies; a cluster ofclusters or a system of systems.” (Perez, 2009: 8)

• Paradigma tecno-econômico: “the set of the most successfuland profitable practices in terms of choice of inputs,methods and technologies and in terms of organisationalstructures, business models and strategies.” (Perez, 2009:14)

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Globalização: origens – a quinta revolução industrial/tecnológica

• “The current information technology revolution, forexample, opened a first technology system aroundmicroprocessors (and other integrated semi-conductors),their specialized suppliers and their initial uses incalculators, games, civil and military miniaturizing anddigitalizing of control instruments and others. After thatthere was an overlapping sequence of minicomputers andpersonal computers, software, telecoms and Internetthat have each opened new systems trajectories, whilebeing strongly inter-related and inter-dependent. As theyappeared, these systems interconnected and continuedexpanding together with intense feedback loops in bothtechnologies and markets.” (Perez, 2009: 8)

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Globalização: origens – a quinta revolução industrial/tecnológica

• “Five such meta-systems can be identified since the initial“Industrial Revolution” in England. Each can be seen asinaugurated by an important technological breakthrough actingas the big-bang that opens a new universe of opportunity forprofitable innovation. Such was the case of the Intelmicroprocessor, or computer on a chip, initiating the informationrevolution.” (Perez, 2009: 8)

• “What distinguishes a TR from a random collection of technologysystems and justifies conceptualizing it as a revolution are twobasic features.

1. The strong interconnectedness and interdependence of theparticipating systems in their technologies and markets.

2. The capacity to transform profoundly the rest of theeconomy (and eventually society).

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Globalização: origens – a quinta revolução industrial/tecnológica

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Globalização: origens – a quinta revolução industrial/tecnológica

A quinta revolução tecnológica e seus principais setores e infraestruturas

Perez 2009

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Globalização: origens – a quinta revolução industrial/tecnológica

A quinta revolução tecnológica e seu paradigma tecno-econômico

Perez 2009

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Globalização: origens – a quinta revolução industrial/tecnológica

• “A techno-economic paradigm is then the result of acomplex collective learning process articulated in adynamic mental model of the best economic, technologicaland organisational practice for the period in which aspecific technological revolution is being adopted andassimilated by the economic and social system. Each TEPcombines shared perceptions, shared practices and shareddirections of change. Its adoption facilitates theachievement of the maximum efficiency and profitability andits diffusion provides a common understanding among thedifferent agents that participate in the economy, fromproducers to consumers.” (Perez 2009: 18)

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Globalização: origens – a quinta revolução industrial/tecnológica

• “Neither suburbanization nor globalization would havebeen possible without mass production and the switch tothe automobile as means of transport in the former orwithout transoceanic fibre optics, satellites and internet inthe latter.” (Perez 2009: 18)

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