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Negociação coletiva de trabalho no setor público: questões doutrinárias e experiência brasileira após a Constituição de 1988
Silvana Beatriz Klein1
Professor orientador:
Carlos Henrique Horn
Introdução
As relações de trabalho assalariado com o Estado regem-se por um conjunto de
regras e princípios que as diferenciam das relações de emprego no âmbito privado. Tais
diferenças decorrem das especificidades próprias do trabalho realizado, em última
instância, em prol da sociedade, e serviram, ao longo da história, para justificar a
inexistência de autonomia coletiva a esse segmento.
O tema dos direitos coletivos e da autonomia coletiva dos servidores públicos
começou a ser enfrentado pela doutrina e pelos governos do mundo ocidental em meados
do século XX. Os primeiros direitos a serem reconhecidos foram os de sindicalização e
greve. Paradoxalmente, a negociação coletiva, que tem o caráter instrumental de
autocomposição dos conflitos, foi o último direito a ser inscrito nas constituições e
legislações ordinárias em diversos países. Atualmente, trata-se de instrumento largamente
utilizado em grande parte dos países ocidentais.
No Brasil, iniciamos o século XXI com perspectivas de que, finalmente, seja
reconhecido formalmente o direito de negociação coletiva aos servidores públicos. O
presente trabalho tem o objetivo de demonstrar que a realidade social já superou o
ordenamento jurídico-formal restritivo, e, por outro lado, a partir das diversas experiências
apresentadas, que não são poucos os desafios colocados para o estabelecimento de novos
padrões de relações de trabalho no Estado.
11 Servidora do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Bacharel em direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e aluna do Curso de Especialização em Relações de Trabalho do Programa de Pós-Graduação em Economia da Faculdade de Economia da UFRGS.
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Desde os primórdios do Estado Liberal Ocidental, no qual os funcionários tinham
como funções o atendimento das necessidades do soberano e a garantia da ordem e da
segurança, até os dias de hoje, quando se busca a consolidação do Estado Democrático de
Direito, não foram poucas as mudanças na Administração e nos Serviços Públicos.
Remanesceram, porém, as marcas do autoritarismo originário do Estado Liberal Clássico.
Nesse contexto, a negociação coletiva, para além das mudanças no ordenamento jurídico,
rompe paradigmas, exigindo dos envolvidos a disposição para a transformação de valores.
Buscamos apresentar a evolução de parte do pensamento doutrinário, em
contraposição às teses conservadoras acolhidas pelo governo e pelo judiciário brasileiro.
Demonstramos também que, a par dos entendimentos restritivos, a negociação tem sido
utilizada por diversos governos municipais e estaduais, bem como pelo Governo Federal.
Eliane Cruz (2001) revela-nos que as primeiras experiências no Brasil remontam ao período
de democratização do País. Tais práticas, embora não tenham tido continuidade, nos
oferecem, em conjunto com as que estão sendo implementadas na atualidade, elementos
importantes para a configuração legal de um modelo que tem sido denominado ora de
sistema democrático de relações de trabalho, ora de sistema de negociação permanente.
Apresentamos, por fim, a trajetória de duas categorias de servidores públicos federais e
seus embates com as administrações dos órgãos públicos aos quais estão vinculados, na
tentativa de construir processos negociados para a elaboração dos seus planos de cargos e
salários e/ou de carreira.
1 Teses em oposição
A negociação coletiva tem sido negada aos trabalhadores do serviço público, mesmo
àqueles contratados sob o regime da CLT, com base, especialmente, nos princípios da
legalidade, da hierarquia, da supremacia e da indisponibilidade do interesse público. Tais
princípios conformam, para o direito administrativo clássico, uma relação na qual uma das
partes, o Estado, estabelece unilateralmente as condições de trabalho e de salário, não lhe
sendo possível transigir, em face do interesse público do qual é portador, cabendo ao
trabalhador, após tomar posse, a elas aderir. Ao discorrer sobre os direitos e vantagens dos
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servidores públicos, em obra publicada imediatamente após promulgação da Carta
Constitucional, assim posicionou-se Hely Lopes Meirelles:
Desde que o Estado não firma contrato com seus servidores, mas para eles estabelece unilateralmente um regime de trabalho e de retribuição por via estatutária, lícito lhe é, a todo tempo, alterar as condições de serviço e de pagamento, uma vez que o faça por lei, sem discriminações pessoais, visando às conveniências da Administração (MEIRELLES, 1989, p. 396, grifamos).
Para outro administrativista brasileiro, Celso Ribeiro Bastos, os direitos adquiridos
pelo servidor, decorrentes de uma relação contratual, não podem constituir-se em
obstáculos ao interesse coletivo2 e às finalidades públicas. Afirma que o agente estatal deve
ser flexível ao submeter-se às alterações legais decorrentes das específicas funções do
Estado e também das mutações que ocorrem nas formas assumidas pelo interesse público.
Para tanto, ele possui prerrogativas não acessíveis ao empregado submetido ao direito
comum do trabalho, sendo que tal realidade não teria sido alterada pela Constituição. Nesse
contexto, afirma não ver como “possa um sindicato de funcionários atuar nos moldes de um
sindicato normal. Não existe em contraposição ao sindicato dos servidores o patronal, que
seria aquele com quem o diálogo se travaria” (BASTOS, 1999, p. 292).
Luiz de Pinho Pedreira da Silva afirma que a relação de força desigual entre os
servidores e o Estado, somada às restrições orçamentárias, à natureza hierárquica e
autoritária dos regulamentos de pessoal, e, ainda, à compreensão de que os servidores
vivem uma situação relativamente mais favorável em contraposição aos empregados em
empresas privadas, são fatores que servem para dificultar as relações baseadas em
negociação. Segundo ele, ainda, as restrições à autonomia coletiva dos servidores
justificam-se em virtude da “doutrina do privilégio”, segundo a qual “o emprego público
não é um direito mas um privilégio que se concede à discrição do governo, que pode impor
aos seus empregados as restrições que considere necessárias para proteger sua autoridade”
(SILVA, 1998, p. 251).
22 Interesse coletivo aqui é usado como sinônimo para interesse público. Quanto à referência à relação contratual, embora pareça que o autor esteja se referindo à empregados públicos (celetistas), entende-se que ele está se referindo a servidores no sentido amplo, pois está tratando dos direitos de sindicalização e greve previstos no artigo 37 da Constituição Federal.
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De fato, no Brasil, mesmo aos empregados públicos3, quando vinculados à
administração direta4, é negada a negociação coletiva, em face do argumento de que o
Estado não pode dispor do interesse público. De outra parte, muitos autores negam a
própria possibilidade de conflito na relação de trabalho, com base na compreensão de que o
Estado e os seus servidores comungam do mesmo objetivo, qual seja, a satisfação do
interesse público.
Para Remédios Roqueta Buj, o princípio da legalidade também significa que a
administração deve respeitar os direitos sindicais dos servidores. Além disso, diz ela que,
ao se defender a negociação, pressupõe-se que o processo deverá ser regulamentado em lei,
estabelecendo-se seus limites e critérios. Argumenta, ainda, que, em estreita relação com o
princípio da legalidade, a exigência de que a administração atue de forma imparcial busca
impedir o uso do aparato público com fins políticos ou de partido e não pode traduzir-se em
negar a negociação coletiva. Nesse contexto, pode-se dizer que a negociação coletiva é uma
das formas de garantia de imparcialidade, na medida em que se negociam condições
objetivas para toda uma categoria ou, no mínimo, para segmentos de uma mesma categoria.
Nessa mesma linha, ressalte-se também a contribuição que o processo de negociação
coletiva traz para ampliar a transparência na utilização dos recursos públicos.
Por fim, não são poucos os autores que sustentam a relativização do conceito de
supremacia do interesse público ou mesmo questionam a sua elevação ao patamar de
princípio.
Para Humberto Bergmann Ávila, o chamado princípio da supremacia do interesse
público, tal como vem sendo descrito pela doutrina, não se identifica com o bem comum,
na medida em que este é “a própria composição harmônica do bem de cada um com o de
todos; não o direcionamento dessa composição em favor do ‘interesse público’”(1999, p.
101). Sustenta, ainda, que se trata de um “dogma até hoje descrito sem qualquer
33 Empregados públicos são aqueles contratados sob o regime da CLT.44 O artigo 39 da Constituição da República, na sua redação originária estabelecia o regime jurídico único para os servidores da administração pública direta, autarquias e fundações públicas. O texto constitucional não estabelecia qual a natureza do regime, se celetista ou estatutário. Assim, embora a União tenha, na Lei nº 8.112/90, optado pelo regime estatutário, em muitos municípios, por exemplo, foi adotado o regime celetista. Em 04/06/1998 foi promulgada a Emenda Constitucional 19, que suprimiu do texto constitucional o regime jurídico único, possibilitando, portanto, novamente, a convivência de dois regimes de trabalho na administração pública direta. Essa emenda, todavia, foi declarada, em 02/08/2007, inconstitucional pelo STF, em medida cautelar (sem julgamento de mérito ainda), no julgamento da ADIN 2135/2000, restabelecendo o texto originário. Assim, a partir de agosto de 2007, a administração pública direta, autárquica e fundacional só pode contratar servidores via regime estatutário.
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referibilidade à Constituição vigente” (1999, p. 119), considerando a importância que ela
atribui aos direitos fundamentais Assim, no conflito entre diversos interesses deve haver
uma ponderação, não somente dos interesses reciprocamente considerados, mas dos
interesses públicos entre si.
Marçal Justen Filho considera que o princípio da supremacia do interesse público
oferece um refúgio aos exercentes do poder político, com o fim de evitar o controle ou
desfazimento de atos defeituosos, violadores de garantias constitucionais. Ademais, a teoria
do interesse público pressupõe um “interesse público único, o que significa a desnaturação
da realidade social e jurídica” (2005, p. 42), na medida em que na sociedade existe uma
pluralidade de sujeitos, com interesses contrapostos e distintos, sendo comuns situações em
que há diferentes interesses públicos em conflito. Assim, o interesse público deve ser um
pressuposto norteador, um resultado a ser buscado, com ponderação de outros valores
jurídicos (JUSTEN FILHO, 2005, p. 35/47).
Rafael Maffini, no mesmo sentido, afirma que não se pode desconsiderar que a
vagueza e a imprecisão do termo permitam sua manipulação fácil, levando a que não
poucas arbitrariedades tenham sido e são cometidas em nome do interesse público. Entende
o interesse público como finalidade conceitual do Direito Administrativo, que, devidamente
mediatizado por regras legais de atribuição de competência, culmina por outorgar posições
de superioridade em favor da Administração Pública. Todavia, diz ele que colocar a
administração, sem qualquer limite, sempre em condição de supremacia, “não é
consentânea com a ordem constitucional vigente, que coloca o indivíduo (ou cidadão) em
destacada condição de proteção constitucional” (MAFFINI, 2006, p. 37).
Assim, tem-se que, para a moderna teoria do direito administrativo, o interesse
público deve ser visto como uma finalidade a ser buscada, com ponderação dos valores
eventualmente em conflito, e não como um princípio absoluto.
No Brasil, durante boa parte da história, a administração pública foi avessa ao
controle de suas ações, dada a longa tradição de patrimonialismo, no qual os interesses
defendidos, na verdade, são os interesses particulares dos detentores do poder. Na história
recente da sindicalização dos servidores públicos, há muitos exemplos nos quais os
verdadeiros defensores do interesse público – aqui entendido como interesse da
coletividade quanto à atuação impessoal, ética e transparente dos agentes públicos, assim
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como quanto à existência de controle sobre os atos dos administradores – foram os
sindicatos, em sua luta contra os desmandos e o nepotismo na administração5.5.
2 Direitos coletivos dos servidores públicos brasileiros na constituição de 1988 e a visão hegemônica nos governos, na doutrina administrativista e no judiciário, em especial no STF
A Constituição de 1988, ao implementar no Brasil o Estado Democrático de Direito
(artigo 1º), assegurou aos servidores públicos civis os direitos à livre associação sindical e à
greve, este a ser exercido nos termos e limites definidos em lei específica (art. 37, VI e
VII). Tratou-se, então, de reconhecer uma realidade pré-existente, na medida em que os
servidores públicos, através de suas associações, vinham realizando mobilizações e
paralisações desde 1979, destacando-se os professores e os servidores das universidades
públicas e da previdência social (SANTOS, 1997). A greve, como apontado, teve sua
regulamentação remetida para lei complementar, o que foi alterado para lei específica com
a EC 19/98. A Constituição deixou, entretanto, uma importante lacuna, ao não prever
expressamente o direito à negociação coletiva.
De acordo com Paulo Emilio Ribeiro de Vilhena, os institutos da sindicalização, da
greve e da convenção coletiva (leia-se negociação coletiva) “interligam-se de tal maneira
que uns explicam os outros” (2002, p. 205). Já para Manuel Alonso Olea, a negociação
coletiva é “processo de exteriorização do poder sindical” (1969, p. 199) e instrumento de
busca da composição do conflito. Para esse autor, “a finalidade principal do sindicato, isto
é, a sua razão de ser, é o exercício do poder de regulamentação das condições de trabalho
dos associados” (p. 199). Esse poder de regulamentação é limitado pela lei, mesmo no
direito do trabalho, na medida em que deve ser respeitado o patamar mínimo constitucional
5.5 A Federação dos Trabalhadores do Judiciário Federal (FENAJUFE) tem registrados diversos casos de perseguição a dirigentes sindicais por denúncias de irregularidades nos Tribunais. Há casos emblemáticos como o do servidor Paulo Rios, que foi demitido, quando era presidente do Sintrajufe/MA, por ter denunciado a existência de nepotismo no TRT, na década de 1990. Paulo Rios enfrentou um verdadeiro périplo de recursos judiciais até conseguir em última instância a anulação do processo de demissão, sendo reintegrado ao Judiciário, em 2006. Houve também o caso de Moysés Szmer Pereira, que era da direção do Sisejufe/RJ, quando teve sua aposentadoria cassada por ter encaminhado denúncias de irregularidades quanto ao pagamento de diárias no TRT. Há muitos outros casos, em que dirigentes sindicais sofreram represália por terem denunciado irregularidades nas administrações de Tribunais em todo país, registrados na FENAJUFE.
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e legal. Assim, o necessário respeito ao princípio da legalidade, no caso do serviço público,
não pode simplesmente afastá-lo.
O direito espanhol, a que se refere Olea, entende a negociação coletiva como
compreendida no direito de liberdade sindical. Este, todavia, não foi o entendimento
predominante nos governos e na doutrina administrativista no Brasil. Ao interpretarem o
artigo 37, fixou-se o posicionamento hegemônico de que o servidor está submetido à
vontade unilateral da administração, que, por sua vez, atua somente em conformidade com
o interesse público e a legalidade.
O Supremo Tribunal Federal, guardião máximo da Constituição em nosso País, ao
julgar a ADIN-492, considerou inconstitucionais as alíneas “d” e “e” do artigo 240 da Lei nº
8.112/90, que trata do regime jurídico único dos servidores públicos civis da União, das
autarquias e das fundações públicas federais. Tais dispositivos previam o direito à
negociação coletiva e a competência da Justiça do Trabalho para julgar os conflitos entre
servidores e o Estado. Da mesma forma que o artigo 37 da Constituição, esses dispositivos
foram introduzidos na Lei nº 8.112/90, por força de pressão e mobilização dos servidores
públicos federais. Os fundamentos da decisão do STF são os princípios da supremacia do
interesse público e da legalidade e um entendimento reducionista da negociação coletiva,
pois tomou seu escopo como restrito basicamente à questão remuneratória.
A ADIN-492 foi proposta pelo Procurador-Geral da República, sob o principal
argumento de que o direito à negociação coletiva seria incompatível com a sistemática
adotada pela Constituição Federal, em especial os artigos 37 e 41, já que qualquer vantagem
ao servidor deve ser conferida por lei. O Ministro Carlos Veloso, como relator, concordou
integralmente com a tese sustentada pela Procuradoria-Geral da República, que, por sua vez,
estava a defender os interesses do Governo Federal.
A propósito da interpretação da Constituição, Morais (2002), ao considerá-la um
documento jurídico-histórico-cultural, põe em evidência o problema da realização do projeto
nela inserido e da atribuição de sentido ao seu texto, o que implica em:
(...) uma revisão das relações entre as funções estatais clássicas em um ambiente de – aparente – escassez de meios e de mudanças paradigmáticas nas/das fórmulas político-jurídicas modernas, como já apontado, apropriando à jurisdição uma tarefa que ultrapassa em muito a simples aplicação das normas jurídicas e verificação da adequação hierárquica dos textos legislados que, aliás, ela nunca teve, apesar das negativas doutrinárias (MORAIS, 2002, p 27).
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Assim, à jurisdição se abre a possibilidade de promover atribuições de sentido aos
textos constitucionais por intermédio de sua intervenção jurisprudencial, emergindo como
atuação peculiar à concertação própria ao Estado Democrático de Direito, cujo caráter
transformador incorpora um deslocamento no sentido da função jurisdicional do Estado
como instância de realização do projeto de Estado presente no pacto constitucional
(MORAIS, 2002, p. 28).
Ou seja, seria preciso uma mudança de paradigma dos intérpretes da Constituição.
Isso, porém, somente ocorreria se eles não fossem por demais comprometidos com a
manutenção de uma ordem político-jurídica contrária aos interesses populares. A respeito
dos julgamentos do STF, Carlos Alberto Colombo sustenta que “nas questões centrais da
dominação política e econômica, as decisões do STF têm colidido com a racionalidade
formal da Lei Maior e assumido a racionalidade material de interesses, valores e ideias não
legitimados pela Constituição” (COLOMBO, 2001, p.119). Colombo analisou diversas
decisões da Corte Constitucional no período de dez anos imediatamente após a promulgação
da Constituição de 1988, concluindo, em síntese, que elas favoreceram substancialmente as
reformas econômicas e políticas implementadas nos anos 1990.
Análise semelhante foi feita por Maria Cristina Cardoso Pereira (2008), porém
circunstanciada aos direitos dos servidores públicos federais. No que refere ao governo
Collor, ela diz que, além de ignorar a Constituição, foi vitorioso no Judiciário. Com base
em pesquisa de Rogério Bastos Arantes, a autora demonstra como a atuação de vários
Ministros do STF, foi sistematicamente favorável ao Executivo Federal, destacando-se o
caso das Ações Diretas de Inconstitucionalidade às medidas do Plano Collor. Em comum,
encontra-se o fato dos Ministros terem sido escolhidos por governos militares e sua
prodigalidade no indeferimento das ações por causas processuais (sem examinar-lhes o
mérito). Tal postura manteve-se ao longo do governo de Fernando Henrique Cardoso. A
autora analisou o impacto das reformas propostas nesse governo sobre os direitos dos
servidores públicos e o consequente aumento da judicialização dos conflitos. Impedidas de
negociar e com restrições ao direito de greve, não cabia outra alternativa às organizações
sindicais senão o acionamento do Judiciário, na esperança de que este cumprisse com seu
papel constitucional. Da mesma forma, os servidores individualmente não tinham outra
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saída, já que suas entidades representativas legalmente nada podiam fazer a não ser
protestos e mobilizações.
Voltando ao objeto de nossa análise, em que pese o entendimento da Procuradoria-
Geral da República e do STF, não se vislumbra na Constituição Federal qualquer vedação à
negociação coletiva aos servidores públicos. Esta é perfeitamente possível em respeito a
todos os princípios jurídicos que envolvem a administração pública. Tanto é que a posição
do STF no julgamento da ADIN-492 não foi unânime, tendo sido registrado o contraponto
do Ministro Marco Aurélio, para quem não só é possível a negociação, como o direito de
greve poderia ser exercido sem limites, na ausência de regulamentação.
Quanto ao direito de greve dos servidores, em 2007 (19 anos após a promulgação da
Constituição), o STF decidiu pela aplicação da Lei nº 7.783/89, que regulamenta a greve no
setor privado até que lei específica seja aprovada no Congresso. Registre-se que a omissão
do STF durante os governos Collor e FHC lhes foi bastante conveniente, tendo as
organizações sindicais e os próprios servidores padecido de um sem-número de retaliações,
legitimadas pelo Judiciário. Quando da ocorrência de greves em âmbito federal, o Governo
e o próprio Judiciário (na relação com seus servidores) vêm lançando mão,
recorrentemente, do Decreto nº 1.480/95, o qual estabelece a vedação de abono,
compensação ou cômputo para qualquer fim dos dias de paralisação. Ou seja, o sindicato
não pode negociar, nem fazer greve, restando, portanto, esvaziado o seu papel
constitucional.
Aparentemente, este período da história parece estar chegando ao fim. Em outubro
de 2009, foi aprovada na Câmara Federal a proposta de ratificação da Convenção 151 da
OIT, de 1978, encaminhada pelo Governo Federal. O próximo passo é sua aprovação pelo
Senado. A proposição também ratifica o texto da Recomendação 159 da OIT. Nesses
textos, a OIT estabelece normas para a negociação coletiva e garante a liberdade sindical no
serviço público, além de reconhecer como instrumentos válidos para a solução de conflitos
a mediação, a conciliação e a arbitragem. A Convenção estende aos trabalhadores do
serviço público as mesmas garantias e condições de associação e de liberdade sindicais
asseguradas para os trabalhadores da iniciativa privada6. A ratificação da Convenção 151 é
66 A Convenção 151 assegura os seguintes direitos: proteção contra atos de discriminação que acarretem violação da liberdade sindical; independência das organizações de trabalhadores da função pública frente às autoridades públicas;proteção contra atos de ingerência das autoridades públicas na formação, funcionamento e administração das organizações sindicais; concessão de liberação aos representantes sindicais, permitindo
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uma reivindicação histórica dos servidores públicos, com a qual o governo Lula
comprometeu-se a partir dos debates realizados na Câmara Setorial do Serviço Público,
instalada em 23/06/2003, no âmbito do Fórum Nacional do Trabalho.
3 Experiências de negociação coletiva à revelia dos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais impeditivos
3.1 Experiências relatadas em “Saudações a quem tem coragem”
Eliane Cruz (2001), a partir de análise documental e de entrevistas, relata dez
processos de negociação ocorridos no Brasil entre 1982 e 2001. Selecionamos três
experiências: as negociações do funcionalismo público estadual com o governo Montoro, o
Sistema Permanente de Negociação Coletiva de Trabalho no Instituto de Assistência
Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE), e o processo de negociação coletiva
municipal em Belém do Pará.
3.1.1 As negociações do funcionalismo público estadual paulista com o governo Franco Montoro (1982-1987)
Nos anos de 1978 e 1979, em São Paulo, aconteceram greves unificadas do
funcionalismo público estadual, as quais são dirigidas por um Comando Geral Permanente
(CGP)7. Esse Comando, mesmo após o fim dos movimentos paredistas, continuou a se
reunir na sede da Associação dos Servidores do Hospital de Clínicas. No ano de 1982, com
intuito de debater problemas do funcionalismo e estratégias de mobilização, o CGP, a
Federação Paulista dos Servidores Públicos e a Associação dos Funcionários Públicos do
Estado de São Paulo constituíram a Plenária Estadual de Associações e Entidades do
Funcionalismo Público Estadual. Em 1983, após o governo Montoro informar às entidades
que não manteria negociações paralelas, a Plenária indicou 13 representantes para negociar
(cinco do CGP, quatro da Federação e quatro da Associação). Estava constituído o Grupo
dos 13. O Governo Estadual criou a Comissão de Política Salarial (CPS), composta por
cumprir suas funções durante as suas horas de trabalho ou fora delas; instauração de processos que permitam a negociação das condições de trabalho entre as autoridades públicas e as organizações sindicais; garantia dos direitos civis e políticos essenciais ao exercício normal da liberdade sindical. 77 O CGP foi criado por dirigentes oriundos das oposições às direções das associações tuteladas pelo regime militar, de caráter recreativo e assistencial.
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todo secretariado e coordenada por Almir Pazzianoto, então secretário de Relações de
Trabalho. As negociações de questões conjuntas do funcionalismo foram feitas pelo Grupo
dos 13 e pela CPS; paralelamente, houve negociações específicas entre as diversas
secretarias de Estado e as respectivas entidades representativas dos trabalhadores.
A Plenária era convocada mensalmente, por meio da imprensa e de circulares do
Grupo dos 13. Eram organizados grupos de estudo sobre temas como orçamento público,
legislação de pessoal, avaliação e estruturação de cargos. As entidades diferenciavam-se
quanto ao perfil ideológico, acirrando-se os debates quando a realização de greve entrava
em pauta. Não obstante isso, na avaliação dos dirigentes entrevistados, foi possível definir
políticas conjuntas de negociação com o governo. Assim, embora houvesse negociações e
greves específicas, no período de negociações do reajuste semestral e na data-base (1º de
janeiro), as assembléias e greves conjuntas eram prioritárias. As Assembléias Gerais do
Funcionalismo Público Estadual eram convocadas pela Plenária e por cada uma das
entidades. O tópico mais importante era a recuperação dos salários do conjunto dos
servidores, num contexto de alta inflação.
Em 1985, realizou-se o 2º Congresso Estadual do Funcionalismo, que contou com a
presença de 635 participantes de 56 entidades. Nesse Congresso, o Grupo dos 13 passou a
ser Grupo dos 19 (pois passou a representar 19 associações). Aprovaram-se diversas
reivindicações econômicas (piso, data de pagamento dos salários, política de reajuste
trimestral e reposição de perdas acumuladas) e políticas (Constituinte livre, democrática e
soberana, direito à organização sindical, de acordo com a Convenção 87 da OIT, e não-
pagamento da dívida externa).
Na avaliação dos dirigentes, durante os quatro anos de existência do Grupo dos 13,
depois Grupo dos 19, e da Comissão de Política Salarial, houve muitas conquistas. De
acordo com os relatos, quando o processo de negociação estendia-se, ocorriam paralisações,
greves e manifestações, podendo, inclusive, haver enfrentamento com a polícia. Segundo
Cruz (2001), houve avanços importantes inclusive quanto aos direitos sindicais, tendo
havido acordo quanto aos seguintes direitos, entre outros: liberdade de distribuição de
material gráfico, acesso dos dirigentes eleitos aos locais de trabalho, direito de reunião no
local de trabalho, respeito à “Lei de Afastamento” de dirigentes sindicais, manutenção do
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desconto em folha para os sindicatos e estabilidade no emprego para todos os dirigentes
eleitos das associações.
Com a eleição de Orestes Quércia, em 1987, iniciou-se a desarticulação do Grupo
dos 19. Não havia mais negociação, pois o governo passou a enviar as propostas salariais
diretamente para a Assembléia Legislativa. Esta passou a ser a arena da disputa para os
servidores estaduais como um todo, ao mesmo tempo em que as negociações setoriais
passaram a ganhar espaço.
3.1.2 O Sistema Permanente de Negociação Coletiva de Trabalho no Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual em São Paulo
Os servidores (contratados sob o regime da CLT) do Instituto de Assistência Médica
ao Servidor Público Estadual (IAMSPE) participaram ativamente da greve do
funcionalismo em 1979, quando Paulo Maluf era governador do Estado. O Hospital era
dirigido pelo Coronel Francisco de Assis Freitas, interventor indicado pelo Governador do
Estado. Havia muita repressão aos trabalhadores e às entidades representativas. Cruz (2001)
registra que, logo no início do governo Montoro, os funcionários realizaram uma eleição
para a Superintendência. Sérgio Trevisan, o novo Superintendente, deu início ao processo
de negociação entre a administração e os representantes dos funcionários. Havia
assembléias mensais, nas quais o Superintendente prestava contas de sua gestão.
Em 1987, já no governo Orestes Quércia, é feita nova eleição. O governador,
todavia, não aceitou o resultado eleitoral, indicando José Carlos Ramos, uma pessoa não
integrante do quadro de funcionários do Instituto. Na posse do novo Superintendente, os
servidores ocuparam o prédio do Instituto, e, como resultado do protesto, obtiveram o
compromisso de continuidade do processo de negociação.
No dia 08/02/1990, a Superintendência do IAMSPE solicitou o registro e
arquivamento no Ministério do Trabalho, do Sistema Permanente de Negociação Coletiva
de Trabalho e de um Acordo Coletivo de Trabalho8, assinado em 29/09/1989. Para Cruz
88 Os documentos encontram-se anexados no livro “Saudações a quem tem coragem”. Participaram da solenidade, o Superintendente do IAMSPE, José Carlos Ramos, o presidente da CUT, Jair Meneguelli; a Ministra do Trabalho, Dorotéa Werneck; o coordenador do Sistema de Negociação, Douglas Gerson Braga; representantes da CUT/SP; Célia Regina Costa, representando o Sindsaúde/SP; o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo, Eurípides Carvalho; o presidente da Associação dos Funcionários do IAMSPE, Duvanier Paiva; e a presidente da Associação dos Médicos do IAMSPE, Regina Parisi, entre outros.
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(2001), este foi o primeiro acordo coletivo de trabalho estabelecido nos serviços públicos.
Em dez anos de funcionamento da Mesa de Negociação houve a democratização da CIPA,
o estabelecimento de procedimentos mais democráticos para apuração de faltas dos
trabalhadores e várias outras conquistas que representaram melhorias nas condições de
trabalho: redução da jornada de sete para seis horas; tíquete-refeição; cesta básica;
protocolo para pagamento dos salários dos servidores em licença médica até a liberação do
benefício junto ao INSS (mediante o ressarcimento posterior dos valores ao Instituto);
permissão de acompanhante para os pacientes internados e em observação no Pronto
Socorro.
Nos depoimentos colhidos por Cruz, os dirigentes que participaram do processo
avaliam que os protocolos assinados nas mesas ajudaram a superar muitas dificuldades,
pois os trabalhadores conheciam e confiavam no processo de negociação. Além disso, havia
reconhecimento dos problemas e transparência no instrumento de sua resolução. Davi
Braga, ex-diretor do IAMSPE, que, juntamente com o Superintendente José Carlos Ramos,
conduziu o processo de implantação das negociações coletivas, diz que, apesar de ter sido
formalizado em 1990, quando a legislação complementar do SUS (Leis nºs 8.080 e 8142)
ainda não existia, já incluía em sua pauta questões relacionadas à definição de clientela, de
controle social, de direito de usuários versus obrigações dos funcionários, papel e
responsabilidade da administração, do governo e dos sindicatos e de representação de
usuários. O Sistema de Negociação já lidava com inevitáveis conflitos decorrentes da
transição para a democracia representativa e participativa, na forma da Constituição de
1988. Para Braga, o Sistema de Negociação foi fundamental para a construção de conceitos
políticos e para a orientação do comportamento dos administradores públicos no processo
de negociação, tratando-se, ainda, de ferramenta de gestão eficiente e politicamente correta
para lidar com os conflitos decorrentes da implantação da incipiente democracia
participativa preconizada pela Constituição.
O Sistema Permanente de Negociação Coletiva foi desenvolvido especialmente para
o IAMSPE por Douglas Braga9, indicado como coordenador do Sistema por ambas as
partes. Braga, ao ser entrevistado por Cruz, disse que o Sistema fixa a ideia de data-base,
99 Douglas Braga também participou da formulação e implementação de sistemas de negociação da Prefeitura de São Paulo (1990); do INSS de São Paulo (1994); do Sistema de Negociação Permanente (SiNP) da Prefeitura de São Paulo (2001); da Mesa Nacional de Negociação Permanente (MNNP) do Governo Federal (2003) e da Mesa Nacional de Negociação Permanente-Sistema Único de Saúde (MNNP-SUS).
13
mas evita a armadilha do setor privado de só negociar uma vez por ano, introduzindo de
forma inovadora o conceito de negociação permanente, materializado na celebração dos
“Protocolos da Mesa de Negociação – Termos de Adesão de Direitos e Obrigações a
Contratos Individuais de Trabalho”. Os protocolos são uma espécie de micro-acordos
coletivos de trabalho, celebrados a qualquer tempo, que geram direitos e obrigações para
ambas as partes, os quais podem ser exigidos de forma individual ou coletiva. Uma vez por
ano, em uma negociação mais geral, os conteúdos desses Protocolos constituirão o Acordo
Coletivo de Trabalho, juntamente com novas cláusulas que venham a ser negociadas. Na
sua entrevista, Braga ressalvou que, para que se obtenham resultados eficazes de um
processo de negociação, é preciso que a administração comungue de princípios
democráticos de gestão pública e que tenha vontade política de alcançar resultados por
meio da negociação, o que também vale para os sindicatos. Nessa linha, o processo de
negociação pode se mostrar ora eficiente, ora inócuo, dependendo da concepção política de
quem administra.
3.1.3 As negociações do funcionalismo público municipal com os governos Edmilson Rodrigues (1997-2001) em Belém do Pará
Segundo Cruz, ao iniciar o governo Edmilson Rodrigues, os servidores municipais
de Belém (PA) não conheciam outra maneira de chegar à negociação que não fosse através
de ações de enfrentamento, com greves e ocupações de prédios públicos. Além disso, a
situação financeira da Prefeitura era preocupante, pois os servidores não haviam recebido o
salário referente a dezembro de 1996, nem o total do 13º. Em abril de 1997, o Governo, que
já havia recebido as pautas de reivindicações dos diversos sindicatos e associações, propôs
dar início a um processo de negociação coletiva permanente.
Na falta de parâmetros nacionais, a administração buscou constituir um marco para
as negociações, tomando o dia 1º de maio como data-base dos servidores. Foram instaladas
uma Mesa de Negociação Coletiva Municipal, de âmbito geral, e Mesas Setoriais. A Mesa
Municipal tinha por objetivo negociar o Acordo Coletivo de Trabalho anual. De parte do
governo, participaram a Secretaria de Administração, a Chefia de Gabinete do Prefeito, a
Secretaria de Finanças e a Secretaria de Assuntos Jurídicos. Os trabalhadores foram
representados pelos diversos sindicatos e associações, e, ainda, pela CUT. Estabeleceu-se
14
uma metodologia de trabalho, segundo a qual na primeira reunião da Mesa seriam
selecionadas as reivindicações gerais e específicas (das pautas encaminhadas até 15 dias
antes da data-base), sendo estas encaminhadas para as Mesas Setoriais. Embora as
entidades não mantivessem um fórum permanente, construíam-se pautas unitárias no
próprio processo de negociação. Não havia periodicidade para as reuniões durante o
processo de negociação. Após o fechamento do acordo, se houvesse necessidade de ajustes
ou revisões, qualquer das partes poderia solicitar reunião da Mesa Municipal. Nas Mesas
Setoriais, participaram a Secretaria de Administração, a Chefia de Gabinete do Prefeito, a
Secretaria de Planejamento, a Secretaria específica conforme o tema da Mesa, e, se
necessário, outras como a de Finanças e a de Assuntos Jurídicos, e, pelos trabalhadores, os
sindicatos específicos e a CUT. As Mesas foram instaladas a partir de Portaria do Prefeito
e os resultados eram traduzidos no Acordo Coletivo de Trabalho, assinado por todos os
membros da Mesa, arquivado na Secretaria de Administração e publicado no Diário Oficial
do Município.
Cruz (2001) relata uma avaliação do dirigente da CUT, Fernando Moraes, que
acompanhou o processo, para quem um fator de dificuldade estava nas diferenças entre as
entidades, inclusive quanto ao conhecimento dos temas, experiência, visão mais abrangente
do conjunto ou limitada aos setores que representavam. Já em depoimento para o presente
trabalho, Moraes destaca que a participação da CUT no processo aconteceu por imposição
dos sindicatos, em face do seu conhecimento e prática acumulada de negociação coletiva.
Inicialmente houvera resistência por parte do Governo Municipal, com questionamentos à
legitimidade e legalidade da intervenção da Central. O sistema de negociação
implementado vigorou até 2004, quando Duciomar Costa (PTB) assumiu a Prefeitura.
3.2 A Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS
A primeira Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS (MNNP-SUS) foi
instituída pelo Conselho Nacional de Saúde, por meio da Resolução nº 52, de 06/05/93. A
proposta de criação da Mesa foi apresentada por entidades sindicais integrantes do
Conselho – Federações e o Departamento Nacional dos Trabalhadores em Saúde,
Previdência e Assistência Social da CUT (atual Confederação Nacional dos Trabalhadores
15
em Seguridade Social), a partir de resolução sobre negociação coletiva permanente
aprovada na 9ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), realizada em 19921010.
A instalação da Mesa, porém, aconteceu somente em 28/09/94, por meio da Portaria
nº 1.713, com os seguintes integrantes: 11 representantes dos empregadores públicos (três
representantes do Ministério da Saúde; três representantes do Conselho Nacional dos
Secretários Estaduais de Saúde; três representantes dos Secretários Municipais de Saúde;
um membro da Secretaria de Administração Federal; e um membro do Ministério da
Educação e do Desporto); e 11 representantes das entidades sindicais dos trabalhadores do
setor (Federação Nacional dos Psicólogos - FENAPSI; Federação Nacional dos Sindicatos
de Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social - FENASPS; Federação das
Associações dos Servidores das Universidades Brasileiras - FASUBRA-SINDICAL;
Federação Interestadual dos Odontólogos - FIO; Federação Nacional dos Médicos -
FENAM; Federação Nacional dos Enfermeiros - FNE; e cinco representantes do
Departamento Nacional dos Trabalhadores em Saúde, Previdência e Assistência Social da
Central Única dos Trabalhadores - DNTSPAS/CUT).
A Mesa funcionou regularmente até final de 1994, sendo desarticulada no início de
1995, com a mudança do Governo Federal, e reinstalada, por iniciativa do Conselho
Nacional de Saúde, em 1997, através da Resolução nº 229 (CRUZ, 2001).
Após novo período de funcionamento intermitente, a reativação da Mesa foi
aprovada por unanimidade em reunião do Conselho Nacional de Saúde realizada em junho
de 2003, sendo ratificada por meio da Resolução nº 331, de 04/11/03. Já em 16/06/03
1010 Resolução da 9ª Conferência Nacional de Saúde: “Devem também os governos federal, estaduais e municipais estabelecerem processos permanentes de negociação coletiva de trabalho com as entidades sindicais de trabalhadores de saúde, objetivando definir, entre outras, data-base, piso salarial e sistemática de reajustes.” As Conferências de Saúde foram criadas pela Lei nº 378, de 13/01/37. Em 1990, a Lei n.º 8.142, que dispõe sobre a participação das comunidades na gestão do SUS, as consagrou como instâncias colegiadas de representantes dos vários segmentos sociais, com a missão de avaliar e propor diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis municipal, estadual e nacional. Até a 8ª CNS as Conferências tinham o papel de promover a troca de informações entre a área da saúde e o governo federal, a fim de facilitar o controle e o fluxo de recursos da União para a área. A partir da 8ª CNS e, formalmente, a partir da Lei nº 8.142, as Conferências assumiram um caráter propositivo, passando a ter a responsabilidade de avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde. Também a partir da Lei n.º 8.142 a periodicidade das Conferências passou a ser de quatro anos, ficando estabelecido, ainda, que deveriam contar, necessariamente, com a participação dos movimentos sociais organizados, das entidades ligadas à área da saúde, dos gestores e dos prestadores de serviços de saúde. Convocadas pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, pelo Conselho de Saúde, as Conferências têm como objetivos principais avaliar a situação de saúde e propor diretrizes para a formulação da política de saúde nos três níveis de gestão. Isso significa dizer que as deliberações das Conferências devem servir para orientar os governos na elaboração dos planos de saúde e na definição de ações prioritárias.
16
ocorreu o Seminário Nacional sobre Experiências de Negociação do Trabalho em Saúde e
no dia seguinte a primeira reunião da Mesa, na qual foi definida uma comissão paritária de
gestores e representantes das entidades sindicais de trabalhadores para elaborar uma nova
proposta de regimento interno (SILVA, 2008, p. 233).
De acordo com as Resoluções nºs 331/03, 52/93 e 229/97, bem como de outras
deliberações do Conselho Nacional de Saúde, foram estabelecidas as seguintes prioridades
de negociação: planos de cargos e carreiras da saúde (PCCS-SUS); formação e qualificação
profissional; jornada de trabalho no SUS; saúde do trabalho; critérios de liberação de
dirigentes para exercer mandato sindical; seguridade dos servidores; precarização do
trabalho; formas de contratação e ingresso no setor público; instalação de mesas estaduais e
municipais de negociação; e reposição da força de trabalho no SUS. Elencaram-se, ainda,
outros temas sugeridos, como, por exemplo, a regulamentação da profissão de agente
comunitário de saúde (MACHADO et al. 2008, p. 226).
Em 05/08/03, aprovou-se o novo regimento interno da MNNP-SUS. A cláusula
primeira fixa que a Mesa é constituída por gestores públicos, gestores dos serviços
privados, conveniados ou contratados do SUS, e entidades nacionais representativas de
trabalhadores, garantindo-se a paridade na representação. A Mesa passou a contar com 26
integrantes: Ministério da Saúde (com cinco representantes); Ministério do Trabalho e
Emprego; Ministério da Educação; Ministério do Planejamento; Ministério da Previdência
Social; Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde; Conselho Nacional de
Secretários Municipais de Saúde; e entidades patronais do setor privado (Confederação
Nacional de Saúde e Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades
Filantrópicas). A bancada sindical foi composta pelas seguintes entidades: Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS/CUT), com dois
representantes; Confederação Nacional dos Trabalhadores em Saúde (CNTS), com dois
representantes; Federação Nacional dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e
Assistência Social (FENASPS); Federação Nacional dos Médicos/Confederação Brasileira
dos Médicos (FENAM/CBM); Federação Nacional dos Enfermeiros (FNE); Federação
Interestadual dos Odontólogos (FIO); Federação Nacional dos Psicólogos (FENAPSI);
Federação Nacional dos Farmacêuticos (FENAFAR); Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Serviço Público Municipal (CONFETAM); Federação Nacional dos
17
Trabalhadores no Serviço Público Federal (CONDSEF); Federação dos Sindicatos de
Trabalhadores das Universidades (FASUBRA-SINDICAL); e Federação Nacional dos
Assistentes Sociais (FENAS). Os critérios de representação poderiam ser revistos após um
ano da publicação do regimento, na forma do parágrafo segundo.
A MNNP-SUS apoia-se nos seguintes princípios e garantias: legalidade,
moralidade, impessoalidade, finalidade ou indisponibilidade do interesse público, qualidade
dos serviços, participação, publicidade e liberdade sindical (cláusula quarta). Foram
adotados também os seguintes preceitos democráticos, entre outros: da confiança recíproca,
da boa-fé, da honestidade de propósitos e da flexibilidade para negociar; da obrigatoriedade
das partes buscarem a negociação quando houver solicitação por qualquer delas; do direito
de acesso à informação; e do direito de afastamento de dirigentes e representantes sindicais
para o exercício de seus mandatos (cláusula quinta).
A cláusula sexta do regimento estabeleceu que a Mesa compreende uma estrutura
vertical – o Sistema Nacional de Negociação Permanente do SUS – e outra horizontal,
reunindo Grupos de Trabalho e/ou Comissões Temáticas, com a finalidade de subsidiar as
discussões da Mesa. O Sistema Nacional de Negociação Permanente do SUS (SiNNP) trata
do funcionamento articulado de uma Mesa Nacional e de Mesas Estaduais e Municipais, e
constitui-se de um Fórum Nacional, com a participação de todos os integrantes das Mesas
Nacional, Estaduais, Regionais e Municipais de Negociação Permanente do SUS na
construção de um sistema democrático de relações de trabalho no âmbito do SUS, de
caráter consultivo (Protocolo nº 003/2005, da MNNP-SUS).
As decisões devem ser tomadas mediante consenso; não sendo este possível, e desde
que haja acordo entre as partes, as proposições divergentes são encaminhadas para
apreciação e deliberação do Conselho Nacional de Saúde (cláusula 9ª). O voto se dá por
bancada, cada qual com direito a um voto. A Mesa poderá ser acompanhada por um
facilitador, com experiência específica em negociação coletiva, não lhe competindo abordar
o mérito das questões (cláusula 12ª). Em caso de impasse, pode ser nomeado, de comum
acordo, como mediador, um representante de entidade da sociedade civil ou mesmo o
próprio Conselho Nacional de Saúde, para viabilizar o processo de negociação (cláusula
12ª).
18
Desde sua implantação a MNNP-SUS aprovou os seguintes protocolos: Protocolo nº
002/03, para instalação de mesas estaduais e municipais de negociação permanente do
SUS; Protocolo nº 003/03, do Sistema Nacional de Negociação Permanente do SUS;
Protocolo nº 004/03, sobre o Processo Educativo de Negociação do Trabalho em Saúde;
Protocolo nº 005/06, sobre orientações, diretrizes e critérios para aperfeiçoar procedimentos
de cessão de pessoal no âmbito do SUS; e Protocolo nº 006/06, sobre as “Diretrizes
Nacionais para a instituição de Planos de Carreira, Cargos e Salários no âmbito do Sistema
Único de Saúde - PCCS/SUS”.
Com base na avaliação de membros da MNNP, Silva (2008) entende que a Mesa
abriu novas perspectivas de consolidação de um fórum democrático de negociação entre
gestores e trabalhadores. Assinala que o processo de planejamento e a execução das ações
da MNNP-SUS “envolveram um esforço coletivo de todos os membros e convidados,
mediante a realização de oficinas, seminários, reuniões de trabalho dos Grupos de Trabalho
(GT) ou comissões temáticas” (SILVA, 2008, p. 239).
No ano de 2006, havia 17 Mesas Estaduais e Municipais instaladas nos seguintes
Estados e Municípios: Acre, Amazonas, Amapá, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco,
Recife, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, Mato Grosso do Sul e Goiás (MACHADO et ali, 2008, p.
228)
Nelci Dias, integrante da MNNP-SUS desde 1996, inicialmente representando a
FNE e atualmente a CNTSS-CUT, em entrevista concedida em setembro de 2009 para o
presente trabalho, faz uma avaliação positiva da MNNP-SUS. Segundo ela, a diversidade
das relações de trabalho, decorrente do processo de municipalização, iniciado com a criação
do SUS em 1986, bem como as consequências das políticas de privatização, sucateamento e
terceirização, implementadas nas décadas de 1980 e 1990, impuseram que se construísse o
modelo de negociação permanente hoje consolidado na MNNP-SUS, com o objetivo não só
de melhorar as condições de trabalho e salário dos trabalhadores da saúde, mas também de
defesa da melhoria da qualidade dos serviços do SUS. Destaca que o desenvolvimento dos
trabalhos na Mesa não é fácil, mas é um processo educativo, e que seus integrantes não
devem perder de vista a importância da vontade política e do compromisso com o SUS. No
seu entendimento, há problemas quanto à participação do setor privado, que acaba se
19
restringindo aos debates mais amplos sobre o tema saúde. Em relação a esse setor
continuam ocorrendo as negociações formais entre os sindicatos patronais e profissionais
na data-base, o que esvazia a Mesa do SUS.
3.3 As experiências da Prefeitura de Várzea Paulista e do governo do Estado do Pará
Nesta subseção, apresentamos duas experiências recentes de negociação coletiva,
ambas com um grau bastante elevado de institucionalização, em especial a do município de
Várzea Paulista, em que a negociação foi assimilada ao estatuto dos servidores públicos
municipais.
Em Várzea Paulista, a negociação coletiva é realizada desde 2005. Atualmente, é
regulamentada pelo Sistema Democrático de Relações de Trabalho (SDRT) incorporado na
Lei Complementar Municipal nº 181, de 29/10/07, que estabelece o estatuto dos servidores
municipais. O SDRT é destinado à autocomposição de conflitos individuais ou coletivos
entre a administração pública, o servidor público municipal, o sindicato dos servidores
públicos municipais e os usuários dos serviços públicos municipais. O processo de
negociação ocorre na comissão de negociação permanente e nas comissões setoriais. As
partes interessadas em pautar determinada matéria devem solicitar formalmente até 15 dias
antes da data da reunião. As atas dos trabalhos das comissões, assim como os termos de
acordo firmados, são publicadas no Diário Oficial do Município. No mês de abril, por
anteceder a data-base fixada em 1º de maio, a comissão permanente deve fazer quatro
reuniões extraordinárias, para discutir as reivindicações referentes à data-base. De 2005 a
2009 foram celebrados cinco acordos coletivos, sendo que um dos principais processos de
negociação tratou da elaboração do plano de carreira dos servidores (MALDONADO,
2007)
No Estado do Pará, o governo celebrou acordo coletivo com os servidores já no
primeiro ano de mandato da Governadora Ana Júlia Carepa, em 2007. O acordo, que
beneficiou servidores representados por inúmeros sindicatos organizados para fins de
negociação num fórum denominado Intersindical, incluiu cláusulas sobre os seguintes
temas: reajuste salarial; ticket-alimentação; manutenção da mesa permanente; grupos de
trabalho para os temas de política de saúde do trabalhador, plano de cargos, carreira e
remuneração (PCCR), assédio moral e perfil sócio-econômico do servidor; incorporação de
20
abonos; empréstimo bancário; educação financeira; assistência à saúde; participação nos
conselhos; implementação de mesas específicas; permanência de temporários; realização de
concursos públicos; terceirização; e direitos sindicais, entre outros. O acordo foi firmado
em 05/06/07, com de 12 meses a contar de 1º/04/07 (SINDELP, 2007).
Em 2009, o acordo contemplou 11 categorias de servidores (PARÁ, 2009). Para o
Sindicato dos Servidores Públicos Civis do Estado do Pará (SEPUB), os avanços foram
maiores nas cláusulas sociais e sindicais, dentre estes a instalação de mesas setoriais e de
uma comissão de saúde do trabalhador, além da liberação de mandato classista oficialmente
concedida a quatro sindicalistas por sindicato signatário, sem prejuízo de outras liberações
a partir da análise dos pedidos (SEPUB, 2009).
4 A perspectiva de mudança a partir do governo Lula
Em 2003, o governo Lula iniciou um amplo processo de debate na sociedade sobre a
reforma da legislação sindical brasileira. Além de discutir a estrutura e a organização
sindicais no âmbito do setor privado da economia, o Fórum Nacional do Trabalho (FNT) 11
instituído pelo Governo, também apontou para mudanças no setor público, contemplando a
implementação da negociação coletiva. Assim, para dar seguimento às questões que
envolvem esse tema foi constituída a Câmara Setorial do Serviço Público do FNT. O
Governo Federal, por sua vez, instituiu, no seu âmbito de competência, a Mesa Nacional de
Negociação Permanente (MNNP), ao mesmo tempo em que retomou os trabalhos da Mesa
Nacional de Negociação Permanente do SUS, já analisada.
4.1 A câmara setorial do serviço público do FNT
11 De agosto de 2003 a março de 2004, representantes de trabalhadores, governo e empregadores reuniram-se no FNT, órgão tripartite e paritário composto segundo os princípios da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Mais de 500 pessoas estiveram diretamente envolvidas nas mesas de negociação, em 36 reuniões oficiais realizadas em Brasília, que se dedicaram à agenda da Reforma Sindical. Os progressivos consensos registrados ao longo desses debates partiram de resultados preliminares dos grupos temáticos sobre Organização Sindical, Negociação Coletiva e Composição de Conflitos. Os relatórios parciais elaborados por esses grupos foram consolidados por uma Comissão de Sistematização e aprovados pela Plenária do FNT, em 16/03/04. Paralelamente, nas 27 unidades da Federação, ocorreram as Conferências Estaduais do Trabalho, entre julho e setembro de 2003. Elas contaram com a participação de mais de 20 mil pessoas e envolveram seminários, oficinas, ciclos de debates, audiências públicas e plenárias. As Conferências foram coordenadas pelas Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs) e possibilitaram o debate, em todo o país, da reforma sindical e trabalhista. Seus relatórios foram encaminhados à Comissão de Sistematização
21
De acordo com o relatório final do FNT as diretrizes sindicais e trabalhistas
definidas no Fórum deveriam ser asseguradas aos servidores públicos federais, estaduais e
municipais, respeitados o princípio federativo, a natureza do regime jurídico dos servidores,
os procedimentos de negociação coletiva e as formas de composição de conflitos, conforme
regulamentação específica. Constou também desse relatório que a proposta de
regulamentação seria elaborada num prazo de 120 dias a partir do envio ao Congresso
Nacional das conclusões dos trabalhos dos grupos sobre Organização Sindical, Negociação
Coletiva e Composição de Conflitos de Trabalho, sendo garantida a participação dos
setores envolvidos nas respectivas discussões no Fórum.
Para debater e sistematizar dessas diretrizes, foi instalada, em 23/06/2004, a Câmara
Setorial do Serviço Público do Fórum Nacional do Trabalho, com representação do
Governo Federal e das seguintes centrais sindicais: CUT; Força Sindical (FS); Central
Autônoma de Trabalhadores (CAT); Social Democracia Sindical (SDS) e Central Geral dos
Trabalhadores do Brasil (CGTB). As entidades sindicais contaram ainda com a assessoria
do DIEESE e da Internacional dos Serviços Públicos (ISP)1212 . Desde a primeira reunião da
Câmara, estabeleceu-se um consenso de que o direito à negociação coletiva dos servidores
públicos deveria ser regulado através de proposta de emenda constitucional, sendo
aprovados os seguintes temas a serem debatidos: organização sindical, negociação coletiva,
solução de conflitos e direito de greve. Não obstante, os debates também resultaram em
divergências e impasses, em especial quando o Governo Federal acenou com o envio para o
Congresso de projeto de lei para regulamentar o direito de greve. A posição das centrais
sindicais, conforme constou do relatório da 5ª reunião da Câmara Setorial realizada em 16 e
17/05/05, foi de que a garantia ao direito de negociação coletiva precederia qualquer
debate sobre regulamentação de greve, e de que, inexistindo negociação coletiva, não
haveria falar em restrições ou condicionantes ao direito de greve.
Como premissas para a negociação coletiva no serviço público, a Câmara previu,
entre outras, as seguintes: observância dos princípios da boa-fé, do reconhecimento das
partes e do respeito mútuo; garantia de mecanismos e procedimentos de negociação, central
e setorial, observadas as especificidades dos órgãos e carreiras do serviço público;
1212 A ISP é a federação sindical internacional dos trabalhadores dos serviços públicos, agrupando 635 sindicatos filiados em 156 países.
22
reconhecimento de personalidade sindical às entidades sindicais; responsabilização dos
agentes públicos que, direta ou indiretamente, impeçam ou inibam a negociação coletiva e a
ação sindical. Discutiram-se, ainda, as seguintes propostas de normas e procedimentos, a
saber: participação das entidades sindicais nas instâncias de negociação de forma
proporcional ao índice de representatividade de cada entidade; obrigação das partes à
negociação, mas não de chegar a um acordo; as entidades sindicais podem propor a
negociação coletiva e celebrar acordos sujeitos à aprovação de assembléia de trabalhadores;
pauta de negociação e procedimentos de consulta aos representados, estabelecidos de
comum acordo; em caso de impasse, a assinatura de acordo não estará condicionada à
anuência de todos os envolvidos no processo de negociação; os acordos firmados deverão
atingir a todos os servidores das bases de representação das entidades sindicais envolvidas
no processo de negociação; os procedimentos, prazo e vigência da negociação deverão ser
normatizados; os entendimentos firmados no processo de negociação devem considerar os
prazos da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA).
No sítio do Ministério do Trabalho e Emprego, a última reunião registrada da
Câmara Setorial do Serviço Público ocorreu em 22/9/05 (Relatório da 7ª Reunião da
Câmara Setorial do Serviço Público), ficando marcada uma reunião para 14 de outubro do
mesmo ano, da qual não há registro.
4.2 A Mesa Nacional de Negociação Permanente
A par dos debates no FNT, o governo Lula também implantou, em 26/02/03, a Mesa
Nacional de Negociação Permanente, constando do seu protocolo de instalação, entre os
objetivos a serem alcançados:A construção de alternativas e formas para obter a melhoria das condições de trabalho, a recomposição do poder aquisitivo dos salários e o estabelecimento de uma política salarial permanente, capaz de evitar novas perdas, pautada por uma política conjugada de democratização das relações de trabalho, de valorização dos servidores públicos e de qualificação dos serviços prestados à população.
De acordo com Sérgio Mendonça (2005), Secretário de Recursos Humanos do
MPOG entre dezembro de 2003 a maio de 2007, a Mesa foi constituída com caráter
provisório, como instrumento de interlocução para o atendimento de duas necessidades
23
prioritárias: tratar das demandas sindicais mais urgentes, logo após a posse do novo
governo, e promover a construção coletiva de um Sistema de Negociação Permanente.
Seus princípios são os de legalidade, moralidade, impessoalidade, finalidade ou
indisponibilidade do interesse público, qualidade dos serviços, participação, publicidade e
liberdade sindical.
O Protocolo e o Regimento Interno foram elaborados mediante consenso entre a
bancada governamental e a bancada sindical. A bancada governamental reuniu os
Ministérios do Planejamento, Orçamento e Gestão, da Fazenda, da Previdência Social, do
Trabalho e Emprego, além da Casa Civil e da Secretaria Geral da Presidência da República;
enquanto a bancada sindical compôs-se do Sindicato Nacional dos Docentes das
Instituições de Ensino Superior (ANDES/SN); do Sindicato Nacional dos Trabalhadores
em Fundações Públicas Federais de Geografia e Estatística (ASSIBGE); da Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS/CUT); da Confederação dos
Trabalhadores no Serviço Público Federal (CONDSEF); da CUT; da Federação de
Sindicatos de Trabalhadores das Universidades Brasileiras (FASUBRA-SINDICAL); da
Federação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social (FENAFISP); da
Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União
(FENAJUFE); da Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde,
Trabalho, Previdência e Assistência Social (FENASPS); do Sindicato Nacional dos
Servidores Federais da Educação Básica e Profissional (SINASEFE); do Sindicato dos
Servidores do Poder Legislativo Federal e do TCU (SINDILEGIS); e do Sindicato
Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (UNAFISCO). Em 14/04/05,
incorporaram-se à Mesa, seis novas entidades: Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do
Trabalho (SINAIT); Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (SINAL);
Sindicato Nacional dos Servidores Federais Autárquicos nos Entes de Promoção e
Fiscalização do Mercado de Valores Mobiliários (SINDCVM); Sindicato dos Servidores do
Ministério Público da União (SINDMPU); Sindicato Nacional dos Analistas Tributários da
Receita Federal (SINDIRECEITA); e União Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças
e Controles (UNACON).
A coordenação da Mesa cabe ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
(MPOG), por intermédio da Secretaria de Recursos Humanos. Paralelamente à Mesa
24
central, instalaram-se dez mesas setoriais, com a finalidade de negociar assuntos
específicos, salvo matérias econômicas. Qualquer proposta que envolva questões
econômicas deve ser levada à apreciação da Mesa central. Para realizar as discussões de
temas estratégicos, a Mesa também foi dividida em comissões temáticas: Política Salarial;
Seguridade Social; Direitos Sindicais e Negociação Coletiva e Papel do Estado,
Reestruturação do Serviço Público; e Diretrizes Gerais de Planos de Carreiras.
Segundo Mendonça (2005), como consequência da implantação da Mesa Nacional, a
negociação entre o governo e os sindicatos alcançou resultados inéditos na história da administração
pública federal. Nos anos de 2003 e 2004, foram apresentados ao Congresso Nacional mais de 26
atos normativos, sendo todos aprovados por consenso dos partidos políticos. Um total de 51
carreiras foram estruturadas ou reestruturadas; 11 grupos de cargos isolados, tratados como
carreiras foram estruturados ou reestruturados; criaram-se 05 planos especiais de cargos;
redefiniram-se 112 tabelas remuneratórias; abrangendo mais de 1,1 milhão de servidores. No
documento encaminhado pelo Governo à Conferência Nacional de Recursos Humanos, há
referência aos acordos firmados entre 2007 e 2008. Segundo o governo nesse período foram
assinados 47 termos de compromisso, beneficiando 1,15 milhão de servidores. O impacto financeiro
desses acordos foi da ordem de R$ 7,7 bilhões em 2008, R$ 20,9 bilhões em 2009 e R$ 28,9 bilhões
em 2009.
Vera Miranda, dirigente da FASUBRA no período de 2006 a 2008, entrevistada em
setembro de 2009 para este trabalho, avalia que, apesar dos avanços gerados pelo diálogo
entre os gestores e as entidades representativas dos servidores, não há falar ainda em real
processo negocial democrático e permanente. Além da instituição dos marcos legais que
venham a consolidar um sistema democrático de relações de trabalho, é necessário também
o desenvolvimento de uma cultura de negociação, o que exige mudança de todos os atores
que dela participam. Depois da suspensão dos trabalhos da MNNP em 2005, o
posicionamento dos trabalhadores contra a regulamentação da lei de greve em 2007
produziu uma forte pressão no governo, invertendo a pauta para que o debate fosse
construído a partir da ratificação da Convenção 151 da OIT e da implantação da negociação
coletiva para o setor público. Nesse contexto, ocorreu a implantação do GT de Negociação
Coletiva no MPOG, para formular os instrumentos legais que tornarão possível a
negociação coletiva enquanto política de Estado e direito dos servidores públicos. Para
Vera Miranda,
25
Não se pode negar os avanços no processo negocial que se iniciou na instauração da MNNP e vem sendo construído passo a passo, e, muitas vezes, sob pressão das categorias do setor público federal. Também não se pode omitir que os acordos firmados não necessariamente reproduziram o desejo das categorias, e, sim, a correlação de forças existente em cada uma das negociações. Se antes ocorriam greves para abrir o processo negocial, hoje as greves existem para garantirem um resultado mais favorável à categoria. Também ainda podemos ver, durante os últimos processos negociais, greves para cumprimento dos acordos. Neste sentido é inegável uma avaliação positiva dos efeitos da criação da MNNP, mas é preciso deixar estabelecido que ela teve seus limites e que não conseguiu de fato discutir e formular uma proposição de modelo de gestão pública que correspondesse às expectativas dos trabalhadores e dos usuários, e mesmo observando os processos de negociação das categorias a partir da existência da Mesa, entendemos que foi estabelecido um processo de recuperação da máquina estatal, o qual, todavia, inda está longe de ser ideal para um Estado socialmente referenciado e orientado à realização dos direitos. A suspensão da Mesa foi resultado de um processo de esvaziamento da sua pauta, seja pelas negociações setoriais, seja pela ação do MPOG de puxar para o âmbito do Ministério os temas que deveriam ser tratados pelas comissões temáticas. Além disso, houve naquele momento um tensionamento entre as entidades sindicais e o governo em torno de projetos de lei que corriam no paralelo, como o PLP 01(Projeto de Lei Complementar 01/07, que limita os gastos com despesas de pessoal até 2016), Fundações estatais e a questão da regulamentação do direito de greve no setor público.
Em relação à alegação de descumprimento de acordos, há divergência de avaliações
entre as entidades sindicais e o governo. Em entrevista concedida, em 29/01/09, ao sítio do
Servidor Público do MPOG, o atual Secretário de Recursos Humanos Duvanier Ferreira,
desafiou os sindicatos a provarem a existência de acordos não cumpridos. Afirma que há
uma preocupação no governo com o equilíbrio fiscal e com a previsibilidade de gastos; por
isso são feitos acordos de longo prazo. Ressalta, porém, que, havendo um agravamento da
crise, iniciada em 2008, novas medidas poderiam vir a ser tomadas em todos os campos, e,
havendo necessidade de revisão dos reajustes, as entidades seriam chamadas para negociar.
4.3 A posição do governo Lula apresentada na Conferência Nacional de Recursos Humanos
Em julho de 2009, o MPOG realizou a primeira Conferência Nacional de Recursos
Humanos do Governo Federal. Em caráter preparatório à Conferência Nacional, foram
realizadas Conferências Regionais em todo o País, com representantes dos órgãos públicos
federais locais, sindicatos e associações, bem como de organizações da sociedade civil.
26
No documento-base preparado para a Conferência, o MPOG afirma que a
Constituição de 1988, ao assegurar o direito à livre associação profissional ou sindical dos
servidores públicos, garantiu também a possibilidade desses servidores interferirem nas
decisões relativas às suas condições de trabalho, valendo-se dos mecanismos de pressão
pertinentes e tornando legítima sua representação no diálogo com a Administração Pública,
um dos pilares da negociação coletiva. Entende o Ministério que:
É justamente nesse contexto que se enquadra o processo de democratização e o tratamento de conflitos nas relações de trabalho entre os servidores públicos e o Estado, que pretende dar respostas adequadas e melhores soluções aos conflitos existentes nas relações de trabalho no serviço público, e, ainda, corresponder aos conceitos e exigências atribuídos à Administração Pública pela Constituição de 1988.
Conforme o Ministério, a negociação coletiva, como espaço de mediação de
conflitos, “situa-se entre a liberdade sindical e o direito de greve, possibilitando o exercício
pleno dessa liberdade e sendo alternativa ao acirramento do conflito”. Nesse caso, a greve
passa a ocupar seu lugar derradeiro no ordenamento jurídico e não mais como marco inicial
do processo de negociação.
No mesmo documento, a Secretaria de Recursos Humanos assume o compromisso
de discutir proposta de projeto de lei sobre a democratização e o tratamento de conflitos nas
relações de trabalho entre servidores e a Administração Pública, entendendo:
(...) que a negociação coletiva contribui de forma decisiva para a consolidação do Estado Democrático de Direito e que referidas negociações, já instauradas na prática no âmbito da Administração Pública, são indispensáveis na formação do tripé fundamental do equilíbrio nas relações de trabalho: liberdade sindical – negociação coletiva – direito de greve (...).
5 A mesa setorial do ministério da educação
Os servidores técnico-administrativos das Instituições Federais de Ensino Superior
(IFES) – começaram a discutir uma nova carreira já em 1991. Os debates eram realizados
em uma comissão formada pelo Ministério da Educação, da qual faziam parte
representantes do MEC, da Comissão Nacional de Dirigentes de Pessoal (CNDP), dos
dirigentes das IFES e das entidades sindicais do setor (Sindicato Nacional dos Docentes das
Instituições de Ensino Superior - ANDES/SN, Federação dos Sindicatos de Trabalhadores
27
das Universidades Brasileiras – FASUBRA-SINDICAL e Sindicato Nacional dos
Servidores da Educação Básica e Profissional - SINASEFE), tendo sido elaborada uma
proposta para os servidores técnico-administrativos e os docentes. Essa proposta foi
encaminhada para debate nas categorias, não sendo aprovada nas instâncias do
ANDES/SN. Assim, até 1994, seguiram debatendo um plano conjunto apenas a FASUBRA
e o SINASEFE. Nesse ano, o governo Fernando Henrique Cardoso implementou uma
alteração de cargos a partir do reenquadramento dos Agentes de Portaria como nível
intermediário, provocando distorções hierárquicas. A FASUBRA, então, elaborou um
projeto de “re-hierarquização”, como elemento básico para a construção do plano de
carreira, o qual chegou a ser apreciado pela equipe do MEC, mas não surtiu resultados.
Em 1995, após a tentativa infrutífera de negociação da pauta nacional da categoria,
os servidores das universidades entraram em greve, a qual foi encerrada sem qualquer
acordo. Após o encerramento da greve, o Ministro da Educação enviou ao Presidente da
Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior
(ANDIFES), o Aviso nº 518/95, tratando de quatro pontos da pauta de reivindicações:
suplementação orçamentária para as IFES; liberação de vagas para concurso; constituição
de uma comissão para discutir a carreira da categoria; e promessa de envio ao Presidente da
República, no segundo semestre, de proposta de projeto de lei referente à “re-
hierarquização” de cargos, como preparado pela Secretaria de Ensino Superior do MEC
(SESU/MEC), prevendo sua aplicação antes do próximo reajuste. Os dois últimos pontos
não foram cumpridos (FASUBRA, 2001).
Em 04/06/96, ao final de mais uma greve, a FASUBRA e o MEC celebraram acordo
prevendo a criação de uma mesa de negociação permanente e a volta ao trabalho, com
reposição dos serviços correspondentes aos dias de greve. Em 13/06/96 foi realizada a
primeira rodada de negociação entre os representantes dos servidores e o MEC; entretanto,
o debate logo foi suspenso, deixando estagnada a discussão acerca da carreira. De 1997 a
2000, os servidores das universidades realizaram duas greves nacionais, sem êxito, que
buscaram abrir canais de negociação com o governo em torno da pauta nacional da
categoria (FASUBRA, 2001).
Em 2001, a FASUBRA buscou mais uma vez estabelecer negociação com o
Ministério da Educação antes de deflagrar uma greve. Em 30 de maio daquele ano, o
28
Governo havia editado a Medida Provisória nº 2150, incluindo os técnico-administrativos
no rol das categorias com tabela própria, sem, contudo, determinar a incorporação dos
valores da gratificação de atividade executiva (GAE), como ocorreu com os demais
segmentos arrolados na MP. Os servidores das universidades reivindicaram a abertura de
negociação, a qual não ocorreu e levou à deflagração de uma greve em julho de 2001, que
durou mais de 100 dias (FASUBRA, 2001). A greve encerrou por meio de um acordo,
segundo o qual o MEC enviaria ao Congresso Nacional projeto de lei prevendo a
incorporação, a partir de 1º/01/02, da GAE ao salário-base dos servidores.
No mesmo acordo acertou-se a instalação, a partir do dia 25 de outubro, de Grupo
de Trabalho, com a finalidade de proceder a estudos visando à correção das distorções
constantes da matriz hierárquica das categorias dos técnico-administrativos e técnico-
marítimos das IFES, para subsidiar, num prazo de 180 dias, a elaboração de projeto de lei
sobre a matéria. Comprometeram-se, também, com a instalação de outro Grupo de
Trabalho, com o objetivo de realizar estudos sobre: plano de reposição de pessoal técnico-
administrativo e técnico-marítimo das IFES, com prazo de 90 dias; plano nacional de
capacitação; questões relativas aos Hospitais Universitários; financiamento das IFES; e
autonomia universitária. Este foi o primeiro acordo formalizado e publicizado, entre a
FASUBRA e o Ministério da Educação (MEC, 2001).
Em 23/07/03, já no Governo Lula, instalou-se a Mesa Setorial de Negociação
Permanente do Ministério da Educação. Em 23/06/04, os servidores das universidades
iniciaram uma greve que durou aproximadamente 90 dias, pois o Governo deixou de
cumprir o Termo de Compromisso firmado na Mesa Setorial, para encaminhar até o dia
15/06 daquele ano, o projeto de lei do plano de carreira, assim como não realizou o
pagamento de uma gratificação a título de antecipação da carreira (FASUBRA, 2004).
Como resultado, aprovou-se o Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos das
IFES, instituído pela Lei nº 11.091, de 12/01/05. Todavia, em face das dificuldades na
implementação da segunda etapa do plano de carreira, em 17/08/05, a FASUBRA deflagrou
nova greve. O MEC reagiu através do Ofício nº 599/05 da Mesa Setorial de Negociação,
em que afirma que a FASUBRA rompera unilateralmente o processo de negociação com a
deflagração da greve, que, após 104 dias, foi encerrada sem qualquer acordo (FASUBRA,
2005).
29
Em 28/05/07 nova greve foi deflagrada. Essa foi encerrada em 03/02/07, mediante
um termo de compromisso firmado entre o MEC e a FASUBRA. O conteúdo do termo
integrou a Medida Provisória nº 431, de 14/05/08, convertida na Lei nº 11.784/08, tendo
sido reajustados os salários dos militares e dos integrantes de 16 carreiras e categorias do
funcionalismo público federal, num total de quase 800 mil servidores ativos, aposentados e
pensionistas (FASUBRA, 2007).
Para Tônia Duarte, em entrevista para a autora, realizada em setembro de 2009, que
acompanhou o processo de discussão sobre a carreira período de 2001 a 2007, inicialmente
como membro do GT-Carreira da FASUBRA e depois como assessora técnica, as ocorridas
em 2005 e 2007 decorreram principalmente de divergências internas no movimento dos
servidores relacionadas às diferentes avaliações do governo Lula. Para a ex-sindicalista,
houve um recuo das entidades sindicais quanto à concepção de carreira construída por mais
de quinze anos. Embora houvesse dificuldades reais na implementação da proposta da
entidade, em face não só do impacto orçamentário, o processo de negociação com o
Governo estava aberto.
A experiência das relações entre o governo e a FASUBRA demonstram que os
mecanismos de negociação instituídos no Governo Federal, em que pesem os avanços,
ainda necessitam de aperfeiçoamento, em especial quanto à resolução dos conflitos
relativos à implementação das condições acordadas nas mesas de negociação.
8 Considerações finais
A realização deste trabalho coincide com um momento em que se abrem
possibilidades reais de construção de um sistema de negociação coletiva formal na
administração pública brasileira. A experiência acumulada de negociação coletiva,
caracterizada por graus diferentes de formalidade e institucionalização, consolidou
conhecimento acerca de dificuldades e soluções para o processo e deu origem a diferentes
metodologias. Claro está que o tema não se resume à superação dos marcos jurídico-
formais restritivos; diante da eficácia dos sistemas negociais e dos resultados obtidos em
processos de negociação até o momento, é, antes de tudo, a concepção de Estado que se
30
busca construir que deve orientar os debates. Trata-se de superar as concepções autoritárias,
com raízes no Estado absolutista e no patrimonialismo.
As Mesas de Negociação Permanente existentes no âmbito do SUS e do Governo
Federal expõem as dificuldades inerentes ao processo político na busca da conciliação de
interesses diferentes. Além disso, a construção de acordos que contemplem realidades
bastante diferenciadas exige um grande esforço de todas as partes envolvidas. De todo
modo, quando exitosas, as experiências mostram que, ao mesmo tempo em que contempla
plenamente o direito de liberdade sindical, a negociação coletiva pode ser um qualificado
instrumento de gestão, na busca da melhoria dos serviços públicos.
Neste trabalho, optamos também por focar as circunstâncias que envolveram as
mobilizações dos servidores das universidades federais em torno do plano de carreira, tendo
em vista sua predominância nos últimos 20 anos, ainda mais intensamente no período do
governo Lula em face de sua política de conceder reajustes diferenciados com vistas a
corrigir as históricas distorções existentes.
A negociação coletiva no setor público ultrapassa a arena da relação direta entre
trabalhadores e empregadores, pois está também condicionada por elementos do processo
orçamentário. A transparência necessária a essa negociação frequentemente oportuniza que
setores particulares da sociedade a utilizem para a defesa de suas ideologias e interesses,
nem sempre comprometidos com a melhora do serviço público. Por exemplo, para os
defensores do Estado Mínimo, os salários e benefícios dos servidores não passam de gastos
excessivos que pressionam a carga tributária. Tendo amplo acesso à mídia, deixam,
frequentemente, de apresentar informações completas para que os cidadãos formem
opiniões de modo consciente e livre. Também as disputas político-ideológicas entre
governo e oposição, além de interferir diretamente no processo de negociação entre
trabalhadores e administração, atuam como fator de dificuldade quando há necessidade da
aprovação legislativa de anteprojetos de lei que contemplem os resultados da negociação.
A tramitação dos projetos nas duas casas legislativas se sujeita a fatores próprios do jogo
político, como as disputas internas em torno das relatorias, das eleições para as
coordenações de comissões e das coordenações das mesas, e as divergências quanto a
outros projetos de interesse do governo federal que frequentemente implicam trancamento
dos trabalhos e falta de quorum, concorrendo para o retardo na definição.
31
Não obstante os enormes desafios colocados, a existência de um sistema formal de
negociação coletiva, de caráter democrático e permanente, deve ser vista como uma
condição do Estado Democrático de Direito. As vantagens desse instrumento não dizem
respeito tão-somente à efetivação dos direitos sindicais dos servidores públicos, mas sim à
própria consolidação da democratização do Estado, a qual não se efetiva apenas na relação
com a cidadania, mas também com aqueles que atuam no serviço público. Trata-se de
estabelecer relações mais igualitárias e participativas, além de permitir a ampliação da
transparência e profissionalização dos serviços públicos. A negociação coletiva com todas
categorias de servidores públicos deve favorecer o estabelecimento de condições
isonômicas entre as diversas categorias de servidores públicos. Tudo isso, evidentemente,
com observância das especificidades e peculiaridades do serviço público, e com vistas ao
atendimento das necessidades sociais de qualidade e eficiência na prestação de serviços.
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