(re)habitar lisboa: um direito e um...
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1Ricardo Veludo
(Re)habitar Lisboa:
um direito e um mercado
Ricardo Veludo
Conferência, CML, 6 de Março 2009
2Ricardo Veludo
Solo
ícone morfológico da relação
entre o direito e o mercado de
habitação
3Ricardo Veludo
Solo� A sua orografia e características geo-morfológicas condicionam a forma da cidade e
podem estar associados a riscos específicos (aluimentos, sismos,…)
� O solo como elemento do ecossistema: sua importância no ciclo da água, Azoto e outros
nutrientes
A destruição de Lisboa devido ao sismo em 1 de Novembro de 1755. Os acontecimentos de muitas horas foram registados nesta gravura: edifícios a caírem, vagas ao assalto da cidade, incêndios, provocaram mais de 60.000 mortos. (Wood, R. M., sismos e Vulcões)
4Ricardo Veludo
Solo
� Suporte territorial para as
coisas, pessoas e
actividades
� A disputa do solo como bem
económico, pedra basilar da
economia urbana e para a
definição da forma e das
actividades
5Ricardo Veludo
Solo� A disputa do solo público, os conflitos:
circulação de peões e veículos,
estacionamento, espaços de estadia…
6Ricardo Veludo
Elementos da evolução da Cidade,
dos direitos e das forças do
mercado
7Ricardo Veludo
Segurança e vivência comunitária sedentária
■ Plano da aldeia de Montagnola em Filicudi, uma das ilhas Eólias (cerca de 1500 a.C.)
■ Aldeia índia na Flórida. Gravura de Teodoro de Bry (cerca de 1500 d.C.)
8Ricardo Veludo
Racionalização e estética grega, emergência da
democracia urbana, preocupações de equidade
(equipamentos de utilização colectiva,…)Termas romanas
porto
Santuário de Apolo (Delfinion)
Termas de Cápito (I d.C.)
Ginásio
Igreja Cristã (V d.C.)
Ágora Meridional
Termas de Faustina
Santuário do culto imperial (?) e templo
de Aclépios
Ágora Setentrional
Pequeno mercado
Sinagoga
9Ricardo Veludo
A muralha da cidade medieval e a emergência
das contribuições municipais para financiar a
muralha e quem não pagava….
10Ricardo Veludo
A urgência da salubridade depois
da revolução industrial
A partir de meados do séc. XVIII
11Ricardo Veludo
Bairros pobres de Londres sob os viadutos ferroviários
(1872)
12Ricardo VeludoRua de um bairro pobre de Londres, Dudley st. (1872)
13Ricardo Veludo
Choça operária inglesa para 9
pessoas, vista em Glasgow em 1948
Os pobres de Londres (1859)
14Ricardo Veludo
15Ricardo Veludo
A cidade pós-liberal e a cidade moderna
� Do conflito de classes (1848, Marx e Engels) emerge um modelo de cidade
em que a burguesia vitoriosa estabelece a coordenação dos interesses dos
vários grupos dominantes (empresários e proprietários)
� A construção das cidades organiza-se com base na liberdade completa da
iniciativa privada concedida pela administração pública
� A administração pública estabelece os regulamentos e lança as obras
públicas
� Este modelo vai reorganizar as principais cidades europeias, a fundação
de novas cidades coloniais, influenciando a actual organização das
cidades onde habitamos
16Ricardo Veludo
17Ricardo Veludo
A necessidade das políticas de solos e
de habitação para gerir as forças
centrípetas e centrifugas:
entre os Direitos Humanos e Sociais e o Mercado
18Ricardo Veludo
o mercado
A procura determina, de forma interactiva com
a oferta, quais as actividades
economicamente viáveis e o mercado faz a
alocação dos recursos necessários a essas
actividades e a consequente distribuição da
riqueza.
(Samuelson, 1976)
19Ricardo Veludo
o mercado
Distância ao centro
Valo
r do s
olo
Solo em
aglomerado
urbano
Solo rústico
CBD Periferia
Chicago, EUA
Chicago, EUA
A necessidade das
políticas de solos e
da gestão fundiária
municipal
Alguns princípios
essenciais da teoria
da economia urbana
20Ricardo Veludo
o Estado
� Num contexto de economia mista, cabe em simultâneo aos
agentes do sector público e privado exercerem controlo económico
das actividades, combinando o alcance dos objectivos de eficiência
(económica) com objectivos (sociais e éticos) de equidade.
� Cabe ao Estado garantir a prossecução de objectivos sociais,
assegurando nomeadamente a redistribuição da riqueza e a
igualdade de direitos e obrigações dos cidadãos.
Assembleia da República,
Sala de Sessões
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
21Ricardo Veludo
Questões incontornáveis
� Os direitos da procura
� O envolvimento do sector público
� Oferta de solo urbanizado
� Externalidades
� Especulação
� Desigualdades de rendimento e riqueza
� Satisfação de todos os
segmentos de procura de
habitação e de outros usos;
� Satisfação da procura de
equipamentos colectivos (cujo
uso do solo não interessa aos
promotores privados)
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
22Ricardo Veludo
� Os direitos da procura
� O envolvimento do sector público
� Oferta de solo urbanizado
� Externalidades
� Especulação
� Desigualdades de rendimento e riqueza
�A distribuição de usos do
solo apenas com base no
funcionamento do mercado
e licitação de preços não é
aplicável à satisfação de
necessidades de solo para
habitação de todos os
grupos sociais, espaços
canais, equipamentos
colectivos e outros usos de
interesse público
Questões incontornáveis
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
23Ricardo Veludo
� Os direitos da procura
� O envolvimento do sector público
� Oferta de solo urbanizado
� Externalidades
� Especulação
� Desigualdades de rendimento e riqueza
� O solo que entra no mercado está
condicionado pelo estatuto de posse,
por regulamentação quanto aos usos
actuais/potenciais, servidões,...
Assim, os processos de licitação da
procura e de fixação de preços pela
oferta estão à partida condicionados por
factores que impedem que a
determinação dos usos do solo, sua
intensidade e valores correspondentes
seja feita apenas em resultado dos
processos de mercado
Questões incontornáveis
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
24Ricardo Veludo
� Os direitos da procura
� O envolvimento do sector público
� Oferta de solo urbanizado
� Externalidades
� Especulação
� Desigualdades de rendimento e riqueza
� Muitos dos interesses e
objectivos dos particulares e
empresas são conflituantes e
facilmente poderão entrar em
colisão com a visão de
desenvolvimento dos órgãos
políticos, aos quais cabe tomar
opções sobre interesses
divergentes e salvaguardar a
herança e condições de vida
das gerações futuras
Questões incontornáveis
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
25Ricardo Veludo
� Os direitos da procura
� O envolvimento do sector público
� Oferta de solo urbanizado
� Externalidades
� Especulação
� Desigualdades de rendimento e riqueza
� Mesmo num mercado perfeito, os
agentes de decisão dos processos
de desenvolvimento geram custos
que não suportam e benefícios que
não conseguem cobrar.
� Os custos sociais e ambientais não
são internalizados na formação de
preços do solo. Apenas são
considerados os custos e benefícios
das inicíativas dos próprios agentes
envolvidos em cada transacção,
como são, p. ex., as mais-valias e as
menos-valias.
Questões incontornáveis
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
26Ricardo Veludo
� Os direitos da procura
� O envolvimento do sector público
� Oferta de solo urbanizado
� Externalidades
� Especulação
� Desigualdades de rendimento e riqueza
� Diversos factores contribuem
para comportamentos
especulativos no mercado de
solos e seus efeitos perniciosos.
Questões incontornáveis
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
27Ricardo Veludo
� Os direitos da procura
� O envolvimento do sector público
� Oferta de solo urbanizado
� Externalidades
� Especulação
� Desigualdades de rendimento e riqueza
� Os processos de mercado
baseados na distribuição do
rendimento e da riqueza e suas
desigualdades geram diferenças
de oportunidade do lado da
procura (habitação, serviços,...).
� A melhoria da governação, da
distribuição da riqueza e a
igualdade de oportunidades são
questões às quais, sem
controvérsia, o planeamento não
pode ser alheio numa economia
mista (apesar de serem temas de
debate político quanto às formas
de o fazer).
Questões incontornáveis
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
28Ricardo Veludo
Hierarquização de objectivos em políticas de solos
Minimização dos
problemas
relacionados com o
solo (disponiblidade:
tempos, custos,
condições), no
contexto do
desenvolvimento
urbano visando um
ambiente saudável e
o alcance de um
melhor nível de vida
Influenciar o sistema de preços e os
lucros sobre o mercado fundiário
Apoiar o planeamento urbano e
sua implementação
Apoiar a procura de uma maior equidade
no quadro do desenvolvimento urbano
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
29Ricardo Veludo
Classificação de políticas de
solos
� Controlo directo sobre o desenvolvimento urbano
� Controlo fiscal do desenvolvimento urbano
� Influência geral sobre o desenvolvimento urbano
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
30Ricardo Veludo
Classificação de políticas de solos
� Controlo directo sobre o desenvolvimento urbano
1. não envolvendo a posse do solo pela administração pública:
Planos Municipais de Ordenamento do Território;
2. envolvendo a posse do solo, ainda que transitória, pela
administração pública: cedência de terrenos pelos privados para
equipamentos de util. colectiva, espaços verdes, etc.
3. participação directa da administração pública, nomeadamente
em iniciativas mistas entre os sectores público e privado
(contratos de desenvolvimento urbano, sociedades de economia
mista, etc); promoção pública de habitação,…
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
31Ricardo Veludo
Classificação de políticas de solos
� Controlo fiscal do desenvolvimento urbano
4. Em geral: através de instrumentos de taxação;
5. Em sentido específico (dos sítios, dos usos, etc.) através de
instrumentos de taxação, por exemplo incentivos fiscais à
reabilitação ou agravamento fiscal, por exemplo para edifícios
devolutos;
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
32Ricardo Veludo
Classificação de políticas de solos
� Influência geral sobre o desenvolvimento urbano
6. Influência geral sobre o mercado dos terrenos, através da
divulgação de informação, de orientações, de formas
organizadas de participação e atendimento, como por exemplo
esta conferência, onde se partilha informação e reflexão sobre .
Adaptado a partir de Paulo V. D. Correia
33Ricardo Veludo
Alguns contributos finais…
34Ricardo Veludo
(Re)habitar Lisboa:
� Necessidade de visão sistémica e estratégica:
articulando com coerência e em tempo útil políticas,
medidas e projectos, conjugando sinergicamente a
acção dos vários níveis da Administração Pública e o
envolvimento do sector privado e dos cidadãos, com
intervenções ao nível do planeamento, fiscalidade,
instrumentos de financiamento, sector imobiliário,
eficácia e transparência na governação.
� Reforma institucional do sistema de crédito para
habitação com partilha de risco para situações de
eventual imparidade do activo (co-responsabilização
entre o cliente e o banco)
35Ricardo Veludo
(Re)habitar Lisboa:
� Intervir ao nível da recuperação das mais valias criadas pela
aprovação de planos municipais (reclassificação de usos
do solo, alteração de índices,…) e investimentos públicos e
canalizar esses recursos para garantir níveis de oferta
habitacional acessíveis e adequados aos grupos com
menor capacidade aquisitiva.
� Tornar a cidade muito mais acessível em termos de
mobilidade interna e promover uma oferta equilibrada de
todas as funções urbanas complementares e relevantes
para viver bem numa cidade (equipamentos, espaços
verdes, serviços, emprego,…)
36Ricardo Veludo
(Re)habitar Lisboa:
� Reduzir risco de incumprimento no mercado do
arrendamento: por exemplo com seguro de renda,
enquanto não se consegue maior eficácia e celeridade
da justiça…
� Desbloquear mecanismos de actualização de rendas,
salvaguardando apoio a famílias mais carenciadas
� Melhorar sistema de informação pública sobre
licenciamento e imobiliário: contribui para uma
Administração e mercado mais profissional, transparente
e regulado
37Ricardo Veludo
(Re)habitar Lisboa:
� Preparar rapidamente respostas para a crise social
emergente (desemprego, execuções hipotecárias,…) com
formas criativas de utilizar os recursos e disponíveis para
promover oferta de habitação “low cost” .
�Podemos transformar os fogos devolutos municipais em Alojamento
Local, uma espécie de “hotel social”?
�Podemos encorajar a partilha de habitação? Os idosos que se
sentem isolados podem alojar estudantes ou desempregados em
troca de apoio domiciliário em tarefas domésticas e alguma
companhia? (no Reino Unido já existem programas destes há mais de 5 anos)
�Podemos encorajar a troca de casa para permitir mobilidade
demográfica entre bairros ou cidades?
…
38Ricardo Veludo
(Re)habitar Lisboa:
um direito e um mercado
Ricardo Veludo
Conferência, CML, 6 de Março 2009