regionalizaÇÃo da polÍtica de saÚde mental no piauÍ

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CAMPUS MINISTRO PETRÔNIO PORTELLA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS MESTRADO EM POLÍTICAS PÚBLICAS FRANCISCA MARIA CARVALHO CARDOSO REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ: desafios na atenção psicossocial TERESINA(PI) 2016

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Page 1: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CAMPUS MINISTRO PETRÔNIO PORTELLA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS

MESTRADO EM POLÍTICAS PÚBLICAS

FRANCISCA MARIA CARVALHO CARDOSO

REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ:

desafios na atenção psicossocial

TERESINA(PI)

2016

Page 2: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

FRANCISCA MARIA CARVALHO CARDOSO

REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ:

desafios na atenção psicossocial

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Políticas Públicas, da Universidade

Federal do Piauí, como parte dos requisitos para a

obtenção do título de Mestre em Políticas Públicas.

Orientador: Prof. Dr. João Paulo Sales Macedo

UFPI

TERESINA(PI)/2016

Page 3: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ
Page 4: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ:

desafios na atenção psicossocial

FRANCISCA MARIA CARVALHO CARDOSO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Políticas Públicas, da

Universidade Federal do Piauí, como parte dos

requisitos para a obtenção do título de Mestre

em Políticas Públicas.

Aprovada em: 04 de julho de 2016.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

Professor Dr. João Paulo Sales Macedo

Orientador e Presidente - UFPI

________________________________________________

Professora Dra. Lúcia Cristina dos Santos Rosa

Interna ao Programa - UFPI

_______________________________________________

Professora Dra. Lucíola Galvão Gondim Corrêa Feitosa

Externa ao Programa - UNINOVAFAPI

Page 5: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

A Deus, Senhor da minha trajetória, que me presenteia

todos os dias com as surpresas da maravilha que é existir.

Aos meus pais, Sebastião e Liduína, pelo incentivo e por

acreditarem incondicionalmente em mim.

Aos meus sobrinhos, Luís Fernando e Mariana, por

compartilharem comigo o melhor sabor da existência nas

coisas mais simples da vida.

Às minhas irmãs, por dividirmos nossas angústias e

alegrias, embarcando sempre juntas em novos desafios.

Page 6: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

AGRADECIMENTOS

Quando minha família saiu do interior para a cidade, eu ainda não tinha nascido, mas

meus pais, sem muito estudo, não imaginavam que suas filhas teriam um diploma e que sua

caçula chegaria ao mestrado. Assim como para milhões de brasileiros, a vida no campo

também não foi fácil para meu pai. Por isso, percorrer os municípios do interior da região

norte do Piauí, e na zona rural de um deles guardar sua história, que também é a história de

toda uma geração, foi como percorrer seu passado, suas dificuldades, presenciar a história

contada, narrar a história das lutas diárias e do caminho que ainda percorremos em busca de

dias melhores.

O agradecimento maior pela história da minha família, pelas lutas, por toda a trajetória

percorrida, pelas vitórias e por mais esta sendo concluída, é a Deus, refúgio e proteção. Grata

ao seu grande amor, Senhor das maravilhas da minha vida. A São Francisco, e a Santa Clara

de Assis, exemplos de simplicidade que com pequenez busco seguir.

Ao fim de mais uma etapa, não poderia esquecer daqueles que estiveram comigo neste

percurso de luta e vitórias. Que mudaram de vida por suas filhas, sonham nossos sonhos e

embarcam conosco em qualquer viagem ou mudança. Eis o momento de agradecer aos meus

pais, Sebastião e Liduína, meus exemplos de vida, amor e honestidade, que com muito

esforço fizeram e fazem de tudo por nós, suas filhas, agradeço pelo amor mais puro e

verdadeiro, pela história de vida, luta e coragem que muito me orgulho. Obrigada por cada

palavra, pela dedicação e confiança. Se cheguei até aqui, e se consigo ir além, a estrutura e a

força de vocês me levam a seguir. A vocês, meu amor e gratidão eternos.

Às minhas irmãs Eliana e Eliene, que não medem esforços para contribuírem comigo,

emocionam-se e se encantam com o que me faz bem e motiva, obrigada por serem sempre

acolhedoras, parceiras, confidentes, leais, fiéis e minhas melhores amigas. Uma vida de união.

Assim permanecemos e permaneceremos, amo as duas imensamente.

Aos meus cunhados, pela atenção e apoio.

Ao meu amado sobrinho Luís Fernando, que veio ao mundo para me mostrar o que é

ser feliz de verdade, depois de tantas distâncias, hoje desfrutamos com mais intensidade

nossos momentos juntos, teremos mais tempo, a partir de agora, para brincar e estudar inglês.

À pequena e amada Mariana, a mais nova sobrinha, pela alegria e presente de Deus em

nossas vidas, chegou e trouxe muitas alegrias, que sua luz irradie pelo mundo.

Page 7: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

A minha vozinha Perpétua, pelas orações constantes, principalmente quando morava

na capital.

Ao meu avô Francisco (in memoriam), onde quer que esteja, sinto que está muito feliz

e orgulhoso com mais esta conquista em minha vida.

Ao tio Manoel e família, pela acolhida diversas vezes em sua casa em Teresina,

agradeço imensamente pelo carinho.

À Manu, prima querida, pelos almoços no Restaurante Universitário, por me mostrar o

Encontro de Jovens com Cristo (EJC), pelas missas aos domingos, as idas ao protocolo, por

me ligar quando adoeci, pela ajuda na mudança do apartamento ou, simplesmente, por me

chamar para ir ao cinema ou tomar um sorvete, cada simples detalhe fez a diferença. Enfim,

agradeço por me mostrar diversos caminhos e possibilidades em Teresina.

À tia Remédio e à prima Juliana, pela força e carinho sempre.

A todos das famílias Carvalho e Cardoso.

Ao Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, pela possibilidade de desbravar

outros caminhos do conhecimento.

À CAPES, pelos onze meses de bolsa.

Ao meu orientador, professor Dr. João Paulo Macedo, é uma honra ter sido sua

orientanda, agradeço pela parceria neste percurso, por sua paciência, dedicação, compromisso

e cuidado. Sou eternamente grata pelos ensinamentos e por toda a atenção dedicada durante

esta caminhada.

À professora Dra. Lúcia Rosa, por suas valiosas contribuições desde a disciplina de

Tópicos de Política de Saúde, bem como nas duas qualificações. Obrigada por aceitar

participar da banca de defesa e por gentilmente contribuir neste processo.

À professora Dra. Lucíola Galvão por ter aceito o convite em participar da banca de

defesa, foi um prazer conhecê-la neste percurso do Mestrado, agradeço por sua

disponibilidade e gentileza.

À Secretaria de Educação de Parnaíba-PI, pela redução da carga horária de trabalho

para dedicação à pesquisa.

A todos os profissionais que deram voz e vez a este trabalho, que ele possa contribuir

no caminhar de cada um e nos caminhos da Saúde Mental no Piauí.

“Apenas olho minha Teresina, como quem delira na beira do cais”, à minha bela

Chapada do Corisco, que com certeza me acolheu com todo seu calor, agradeço cada

Page 8: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

momento que vivi na “cidade sob o fogo”. Foram momentos de muito aprendizado, além de

intensos e inspiradores, como: a bela vista da Ponte Wall Ferraz, a agitada e poética Frei

Serafim e seu lindo luar. Aprendi a amar cada detalhe da Teresina de Torquato Neto. Em

especial, agradeço a todos os amigos que fiz na querida cidade verde.

À UFPI, minha casa, desde Parnaíba, onde fiz minha graduação em Psicologia, e agora

na Pós-Graduação, no Campus Ministro Petrônio Portella, onde continuei sendo bem

recebida. Sempre me sentirei parte dessa casa, assim como sempre serei ufipiana com

orgulho.

Às professoras e professores do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas

(PPGPP), por acrescentarem conhecimentos instigantes e impulsionadores da prática

profissional.

À Laiany, secretária do PPGPP, que tanto me ajudou em diversos momentos.

Aos colegas do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, especialmente aos

companheiros da 14ª turma do Mestrado e do Doutorado, agradeço principalmente pelos

momentos de aprendizado e companheirismo em sala de aula, bem como pela acolhida

generosa.

Às minhas queridas, as amigas do trio inseparável, amadas da linha de Cultura e

Identidade. Meninas, depois dessa disciplina, não nos separamos mais, e agradeço a Deus por

ter encontrado vocês, meus anjos em Teresina. Sâmia e Catarina, obrigada pela parceria e

amizade.

Vivi muitas coisas boas na capital, na UFPI, e com o curso Inglês Sem Fronteiras

(ISF) não foi diferente, agradeço ao grupo que se mantém firme e forte, meus caros da turma

do: When we go partying? Enfim respondo à famigerada pergunta: é agora o momento de

comemorar. Obrigada a todos pela força.

Ao curso de teatro da Casa da Cultura de Teresina, não concluído, mas repleto de boas

lembranças, em especial aos colegas, que me enchem de saudade.

Ao amigo Pedro, presente do EJC; e ao Luiz, pela alegria no teatro e na UFPI.

A Parnaíba, minha cidade de origem e que pude retornar, meu porto, minha casa,

abrigo seguro, uma cidade revestida em poesia, amor sem fim, história que encanta, meu

lugar.

Page 9: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

À Lilyam e à dona Maria, desde o início desta jornada, pela presença e incentivo em

minha vida, obrigada pelas orações, em especial a de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,

presente que nunca esquecerei e que me ajudou em muitos momentos.

À minha fiel escudeira, Déborah, amiga desde o curso de Psicologia, e se Deus quiser,

levo para a vida toda, mesmo distantes fisicamente, nada nos impediu de nos encontrarmos

em verdade e em sintonia. E hoje a frase é minha: obrigada por tudo e por sempre!

À minha amiga Dra. Joanice Conceição, grande antropóloga, com ela dividi (mesmo

que por pouco tempo), não só o apartamento em Teresina, mas muitas angústias, dúvidas,

alegrias, vitórias, muitas, mas muitas risadas e cantorias.

Aos amigos da “negrada”, dispersos ou não, estamos juntos, agradeço pela amizade de

muitos anos, pelas risadas e por tantas sextas de roda de viola, conversas e parcerias.

À Valéria, pela amizade presente, e por sua valiosa contribuição em consertar o

computador, no momento crucial que ele me deixou na mão no decorrer deste percurso.

Ao André, por sempre nos encontrarmos em fases diferentes das nossas vidas e, em

cada momento, a autenticidade do encontro marca presença, proporcionando-me sempre a

qualidade de pensar diferente.

Ao Márcio, agradeço a Deus por minha escolha e a possibilidade de ter um amigo-

padrinho na vida.

À Karine, afilhada que Deus me deu, grata pelo carinho, confiança, compreensão com

a minha ausência e acolhimento em todos os momentos.

À Rádio FM Universitária 96.7, que com sua música “para todo bom gosto”, embalou

diversas noites de estudo.

Aos amigos próximos, que sabem do amor que lhes tenho; e aos distantes, que também

sabem do que sinto, acreditem, posso não ter citado todos aqui, mas sintam que fazem parte

desta história, a todos o meu sincero agradecimento.

Aos sentimentos, lugares, ao que não vivi, ao que vivi, a cada momento que passei,

desde a seleção do mestrado até o dia da defesa, agradeço infinitamente, porque cada

momento e cada coisa vivida me fez melhor, crescer, aprender e confirmar que estou, como

diz o poeta, “nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”. Por

isso, estar em contato com tantos sentires, sabores, dissabores, fez-me sentir melhor a

intensidade de existir, assim, a vida nestes dois anos me fez uma pessoa renascida, nessa (des)

construção/reinvenção, encontro-me pronta para seguir caminhando. Agradecida e realizada!

Page 10: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas

usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os

nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos

lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-

la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

Page 11: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

RESUMO

O estudo buscou investigar o processo da regionalização da Política de Saúde Mental no

Piauí. Focalizou-se no processo de implementação da Política de Saúde Mental, tendo como

elemento analisador a implantação regionalizada da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)

nos municípios que compõem a Planície Litorânea-PI. A RAPS surge com a Portaria nº

3.088/2011, objetivando ampliar o acesso à saúde e ao cuidado para as pessoas em sofrimento

ou transtorno mental e necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Para

tanto, a pesquisa apresentou um desenho qualitativo, no qual foram analisados documentos

sobre o processo de implantação da RAPS no Piauí, assim como se fez uso de entrevista

semiestruturada com os atores institucionais envolvidos nesse percurso (gestores e/ou

representantes da gestão em saúde da Planície Litorânea e do estado do Piauí), e rodas de

conversas com profissionais atuantes nos serviços de saúde (ESF, NASF e CAPS) dos

municípios da Planície Litorânea (Buriti dos Lopes, Cocal, Luís Correia e Parnaíba). Os

resultados indicam diversos impasses e desafios a serem superados, especialmente quanto à

condução dos processos de gestão, notadamente centralizadores e pouco participativos,

resultando no parecer desfavorável do Ministério da Saúde, quanto à regionalização e à

descentralização da RAPS no Piauí. Foram encontradas, também, dificuldades na estrutura da

rede nos municípios, onde os serviços ainda estão baseados na lógica de encaminhamentos,

déficit de contratação de pessoal, precarização dos serviços e falta de retaguarda de demais

níveis de atenção; além disso, há impasses na organização e atenção da rede, no tocante às

questões de matriciamento, ações de educação permanente e intersetorialidade. Desse modo,

em meio às dificuldades e desafios expostos, existem possibilidades que podem fazer frente

aos problemas encontrados, por isso, aposta-se na articulação entre atenção básica e atenção

psicossocial, por meio de maior investimento nas ações de matriciamento e educação

permanente.

Palavras-chave: Política de Saúde Mental. Rede de Atenção Psicossocial. Regionalização.

Page 12: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

ABSTRACT

The objective of this study was to seek the regionalization of the Public Health Policy process

in Piauí. It was focused on the implementation process of the Mental Health Policy having as

an e analyzer element the regionalized implantation of the Psychosocial Care Network in the

municipal areas which cover the Coast Plain in Piaui. This (PCN) emerges with the statutory

order Nº 3088/2011, with the objective of an expanded access to health and to the care of

people in pain or mental disorders, and needs caused by the use of crack, alcohol and other

drugs. So, this research showed a qualitative design, where documents were analyzed about

the PCN process of implantation in Piaui, a semi-structured interview was used with the

people involved in this project (managers and /or health representatives of health management

of the Coast Plain in Piaui) and having small talks with professionals working in some health

services such as ESF, NASF, and CAPS in the following municipalities of the Coast Plain:

Buriti dos Lopes, Cocal, Luis Correia and Parnaiba. The results indicated several impasses

and challenges to be overcome, especially due the running of cases management notably

centralized and less participatory, resulting an unfavorable opinion of the Ministry of Health

in relation to regionalization and decentralization of PCN in Piaui. Particular difficulties were

found in the structure of the network in the municipal areas, where these services are still

based on this implementation approach, lack of staff, precarious service and lack of back-

office of other levels of attention, furthermore, there are impasses in the organization and

network attention regarding the matricial matters, permanent and inter-sectorial education

actions. Therefore, among all the difficulties and exposure challenges, there are possibilities

which can tackle the faced problems, this way, it is bet in the articulation between basic

psychosocial care through major investment in matricial and permanent educational actions.

Keywords: Health Mental Policy. Psychosocial Network Care. Regionalization.

Page 13: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Território de desenvolvimento do Piauí................................................ 18

Figura 2 - Municípios da planície litorânea........................................................... 66

Figura 3 - Recursos federais para Saúde Mental em Serviços Hospitalares e de

Atenção Comunitária Territorial...........................................................

116

Page 14: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Componentes da Rede de Atenção Psicossocial............................. 21

Quadro 2 - Planície litorânea, estabelecimentos de saúde e pontos da RAPS.. 69

Quadro 3 - Região, municípios e quantidade de CAPS I pactuados................. 88

Quadro 4 - Região, municípios e quantidade de CAPS II pactuados................ 89

Quadro 5 - Região, municípios e quantidade de CAPS III pactuados.............. 90

Quadro 6 - Região, municípios e quantidade de CAPS Ad pactuados............. 90

Quadro 7 - Região, municípios e quantidade de CAPS Ad III pactuados........ 92

Quadro 8 - Região, municípios e quantidade de CAPS i pactuados................. 93

Quadro 9 - Região, municípios e quantidade de CAPS i ad III pactuados....... 94

Quadro 10 - Região, municípios e quantidade de Leitos integrais em Saúde

Mental em hospitais gerais pactuados.............................................

94

Quadro 11 - Região, municípios e quantidade de Serviços Residenciais

Terapêuticos pactuados...................................................................

97

Quadro 12 - Região, municípios e quantidade de Unidades de Acolhimento

(UA) adulta pactuados....................................................................

98

Quadro 13 - Região, municípios e quantidade de Unidades de Acolhimento

(UA) infanto-juvenil pactuados......................................................

99

Quadro 14 - Região, municípios e quantidade de Centros de Convivência e

Cultura Pactuados...........................................................................

101

Quadro 15 - Região, municípios e quantidade de Urgência Psicossocial

pactuados...................................................................................

102

Quadro 16 - Região, municípios e quantidade de Comunidades Terapêuticas

pactuados...............................................................................

102

Quadro 17 - Região, municípios e quantidade de Cooperativas Sociais

pactuados................................................................................

102

Quadro 18 - Síntese dos serviços pactuados em cada ponto de atenção da

RAPS no Piauí................................................................................

103

Quadro 19 - População do Censo 2010, estimativa até 2015 das Regionais de

Saúde do Piauí e demonstrativo populacional do Plano da

RAPS...............................................................................................

104

Quadro 20 - Comparativo entre os leitos previstos pela Portaria 148/2012 e no

Plano de Ação do Piauí...................................................................

106

Page 15: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Macrorregiões e territórios de desenvolvimento do

Piauí..................................................................................................

60

Tabela 2 - Território de desenvolvimento da Planície Litorânea em termos

populacionais.......................................................................................

67

Page 16: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABS Atenção Básica em Saúde

AIS Ações Integradas em Saúde

APA Área de Proteção Ambiental

APS Atenção Primária em Saúde

CAPS Centros de Atenção Psicossocial

CEO Conselho Especializado em Odontologia

CF Constituição Federal

CGR Colegiados de Gestão Regional

CIB Comissão Intergestores Bipartite

CIR Comissão Intergestores Regional

CIT Comissão Intergestores Tripartite

CNRS Comissão Nacional da Reforma Sanitária

CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde

CNS Conselho Nacional de Saúde

CRIS Comissões Regionais Interinstitucionais de Saúde

EMAD Equipes Multiprofissionais de Atenção Domiciliar

EMAP Equipe Multiprofissional de Apoio

ESF Estratégia de Saúde da Família

GPSE Gestão Plena do Sistema Estadual

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

LRPD Laboratório de Prótese Dentária

MPE-PI Ministério Público do Estado do Piauí

MNLA Movimento Nacional da Luta Antimanicomial

MOPS Movimento Popular de Saúde

MS Ministério da Saúde

MTSM Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental

NAPS Núcleo de Atenção Psicossocial

NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família

Page 17: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

NOAS Norma Operacional de Assistência à Saúde

NOB Norma Operacional Básica

OMS Organização Mundial da Saúde

PDI Psiquiatria Democrática Italiana

PDR Planos Diretores de Regionalização

PIASS Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento

PMC Projeto Montes Claros

PNH Política Nacional de Humanização

PPI Programação Pactuada Integrada

PROVAB Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica

PSM Política de Saúde Mental

PSMC Programa de Saúde Mental Comunitária

PTS Projeto Terapêutico Singular

RAPS Rede de Atenção Psicossocial

RAS Redes de Atenção à Saúde

RSB Reforma Sanitária Brasileira

SES Secretarias de Estado de Saúde

SESAPI Secretaria de Saúde do Piauí

SHR-AD Serviço Hospitalar de Referência em Álcool e outras Drogas

SNDM Serviço Nacional de Doenças Mentais

SRT Serviços Residenciais Terapêuticos

SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

UBS Unidade Básica de Saúde

UFPI Universidade Federal do Piauí

USAID Agência Norte‐Americana para o Desenvolvimento Internacional

USF Unidade de Saúde da Família

Page 18: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 18

2 POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL: experiências internacionais e

brasileira.............................................................................................................

28

2.1 Modelos internacionais de reforma psiquiátrica e a organização das primeiras

experiências em Políticas de Saúde Mental.........................................................

28

2.2 Política de Saúde Mental no Brasil...................................................................... 33

2.3 O debate atual sobre o SUS e a proposta de regionalização do cuidado: novos

desafios para a Política Nacional de Saúde Mental..............................................

40

3 POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ: da centralidade à

regionalização.....................................................................................................

52

3.1 Breve histórico da saúde no Piauí........................................................................ 52

3.2 Regionalização da saúde: cenário nacional e local.............................................. 55

3.3 Saúde mental no Piauí e suas propostas de descentralização............................... 60

4 PERCURSO METODOLÓGICO.................................................................... 64

4.1 Pesquisa qualitativa.............................................................................................. 64

4.2 Do local de pesquisa, participantes, instrumentos e análise................................. 66

4.2.1 Local de pesquisa................................................................................................ 66

4.2.2 Participantes....................................................................................................... 70

4.2.3 Instrumentos da pesquisa.................................................................................. 70

4.2.4 Procedimento de coleta de dados...................................................................... 73

4.2.5 Análise de dados................................................................................................. 74

4.2.6 Aspectos éticos.................................................................................................... 75

5 PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA RAPS NA PLANÍCIE

LITORÂNEA: identificação dos atores e percursos.......................................

76

5.1 Identificação dos documentos e atores................................................................. 76

5.2 Articulações iniciais para a implantação da RAPS no Piauí................................ 78

5.2.1 Atenção Básica do Estado do Piauí................................................................... 81

5.2.2 Atenção Psicossocial Especializada................................................................... 83

5.2.3 Atenção de urgência e emergência.................................................................... 84

5.2.4 Atenção hospitalar.............................................................................................. 85

5.2.5 Estratégias de desinstitucionalização............................................................... 86

5.3 A devolutiva do Ministério da Saúde sobre o plano da RAPS do

Piauí......................................................................................................................

110

5.4 Momento atual de redesenho e repactuação da RAPS no Piauí........................... 118

Page 19: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

6 OS RUMOS DA REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE

MENTAL NO NORTE DO PIAUÍ: desafios e possibilidades.......................

124

6.1 Perfil dos participantes das rodas de conversa..................................................... 124

6.2 Momento preparatório para realização das rodas................................................. 125

6.3 Conversas que circularam nas rodas.................................................................... 126

6.3.1 Principais demandas da saúde mental nos municípios................................... 127

6.3.2 Quanto à estrutura da RAPS nos municípios.................................................. 128

6.3.3 Quanto à organização do trabalho nos serviços e na rede de atenção.......... 129

6.3.4 Demais temas que circularam nas rodas de conversa..................................... 142

CONCLUSÃO.................................................................................................... 148

REFERÊNCIAS................................................................................................. 150

APÊNDICE......................................................................................................... 165

ANEXO............................................................................................................... 170

Page 20: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

18

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como objeto de investigação o processo em curso da

regionalização da Política de Saúde Mental no Piauí. O objetivo é investigar o processo de

implantação regionalizada da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), para que se articulem

serviços e ações em Saúde Mental, junto aos diversos pontos da Rede de Saúde, no âmbito do

Sistema Único de Saúde (SUS). Para tanto, diferentemente da maioria dos estudos, que

centram seus interesses de pesquisa nas capitais e grandes centros urbanos, delimitamos o

interesse de investigação na análise do processo de implantação da RAPS nos municípios do

interior, mais precisamente no território da 1ª Regional de Saúde, localizada no extremo norte

do estado, conhecida como Planície Litorânea.

Figura 1 - Território de desenvolvimento do Piauí

Fonte: Fundação CEPRO (2007).

Page 21: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

19

O debate sobre a regionalização da assistência em Saúde Mental no Brasil é recente.

Deriva das discussões no âmbito do SUS, que desde o texto constitucional, em seu Artigo

198, estabelece que a Saúde deve ser composta por uma rede regionalizada, hierarquizada e

integrada de ações e serviços (BRASIL, 1988).

Depois de anos de debates e tentativas para dar seguimento e aprofundar o processo de

consolidação das diretrizes organizativas do SUS em todo o território nacional, foi publicada

a Portaria nº 4.279/2010, que trata sobre as diretrizes para organização das Redes de Atenção

à Saúde (RAS) do SUS (BRASIL, 2010a).

Em 2011, após pactuação tripartite1, foram priorizadas as seguintes redes temáticas,

por serem pontos prioritários na Saúde do país: Rede Cegonha, que tem um recorte de atenção

à gestante e de atenção à criança até 24 meses; Rede de Atenção às Doenças e Condições

Crônicas: iniciando-se pelo câncer (a partir da intensificação da prevenção e controle do

câncer de mama e colo do útero); Rede de Cuidado à Pessoa com Deficiência; a Rede de

Atenção às Urgências e Emergências; e Rede de Atenção Psicossocial (com prioridade para o

Enfrentamento do álcool, do crack, entre outras drogas). Para a efetivação dessas propostas é

necessária a garantia das seguintes ações: qualificação e educação; informação; regulação;

promoção e vigilância à saúde (BRASIL, 2011a).

O propósito das Redes de Atenção é superar a fragmentação histórica da atenção e da

gestão do SUS, aperfeiçoando seu funcionamento político-institucional, com vistas a

assegurar ao usuário atenção integral, além de um conjunto de ações e serviços, de modo a

respeitar a diversidade dos contextos regionais, suas diferenças socioeconômicas e

necessidades de saúde da população (BRASIL, 2010a).

Em seguida, com a publicação do Decreto nº 7.508/2011, que regulamenta a lei nº

8.080/90 (BRASIL, 1990), no tocante ao planejamento, à assistência e à articulação

interfederativa, ficou estabelecida a Região de Saúde como um espaço geográfico contínuo,

constituído por agrupamentos de municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades

culturais, econômicas, sociais, de redes de comunicação e infraestrutura de transportes

1 As decisões no SUS são colegiadas, a partir da Comissão Intergestores Tripartites (CIT), instância de

articulação e pactuação na esfera federal que atua na direção nacional do SUS, integrada por gestores do SUS

das três esferas de governo: União, Estados, Distrito Federal e Municípios; e pela Comissão Intergestores

Bipartites (CIB), espaços estaduais de articulação e pactuação política que objetivam orientar, regulamentar e

avaliar os aspectos operacionais do processo de descentralização das ações de saúde. E em nível de municípios,

existe a instância colegiada e implantada pelo Pacto da Saúde para promover a regionalização do SUS, antes

denominada de Colegiados de Gestão Regional (CGR) e, atualmente, chamada de Comissão Intergestora

Regional – CIR (BRASIL, 2009).

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20

compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de

ações e serviços de saúde. Nesse caso, cada Região de Saúde concentra uma gama de

serviços, programas, ações de saúde e logística, pactuados em rede para garantir assistência à

população de um determinado território, organizado de forma regionalizada. O decreto ainda

estabelece, no Artigo 5º, que para ser instituída a Região de Saúde, deve conter, no mínimo,

ações e serviços de atenção primária, urgência e emergência, atenção psicossocial, atenção

ambulatorial especializada e hospitalar, e vigilância em saúde (BRASIL, 2011a).

Entende-se, portanto, o Decreto nº 7.508/2011 como um importante dispositivo

indutor para que a Saúde Mental passasse a integrar de forma mais efetiva a rede SUS em

toda sua complexidade político-organizativa; e não apenas no nível especializado de atenção,

como antes estabelecido, a partir dos hospitais psiquiátricos ou com os Centros de Atenção

Psicossocial – CAPS (BRASIL, 1992).

Tanto foi que no mesmo ano o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 3.088/2011,

que instituiu a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), cuja finalidade foi a criação, a

ampliação e a articulação de pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou

transtorno mental, e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no

âmbito do SUS (BRASIL, 2011b).

A RAPS se fundamenta nos princípios da autonomia, do respeito aos direitos humanos

e do exercício da cidadania; busca promover a equidade e reconhecer os determinantes sociais

dos processos saúde-doença-sofrimento-cuidado; desfazer estigmas e preconceitos; garantir o

acesso aos cuidados integrais com qualidade; desenvolver ações com ênfase em serviços de

base territorial e comunitária; organizar os serviços em rede com o estabelecimento de ações

intersetoriais, com continuidade do cuidado; desenvolver ações de educação permanente;

ancorar-se no paradigma do cuidado e da atenção psicossocial; além de monitorar e avaliar a

efetividade dos serviços (BRASIL, 2011b).

Em termos organizativos, a RAPS é constituída por serviços que integram pelo menos

sete pontos da rede SUS, podendo ainda participar outras redes de apoio social e territorial,

ampliando assim a oferta de cuidado em torno das pessoas com sofrimento ou transtorno

mental e uso de álcool e outras drogas, assim constituída:

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Quadro 1 - Componentes da Rede de Atenção Psicossocial

Componentes da rede Pontos de atenção

Atenção Primária em Saúde

Unidade de Saúde da Família (USF) Unidade Básica de Saúde (UBS)

Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) Consultório de Rua

Centro de Convivência

Atenção Psicossocial

Especializada

Ambulatórios de Saúde Mental CAPS I CAPS II CAPS III

CAPS Ad e Ad III CAPS i

Atenção à Urgência e à

Emergência Unidade de Pronto Atendimento e SAMU

Atenção residencial de

caráter transitório Unidade de Acolhimento Adulto

Unidade de Acolhimento Infanto-Juvenil Atenção Hospitalar Leitos em Hospital Geral

Enfermaria Especializada Estratégia de

Desinstitucionalização Serviço Residencial Terapêutico

Programa de Volta para Casa Reabilitação Psicossocial Cooperativas e demais ações voltadas para inserção no trabalho,

escolarização e inserção social

Fonte: BRASIL (2011b).

Embora a RAPS venha com uma proposta de articular os serviços, prezando pela

atenção e o cuidado à pessoa com transtorno mental, ainda é observada a presença do termo

Atenção Psicossocial Especializada, para se referir ao CAPS, reforçando, ainda, o lugar desse

como lócus central das ações de saúde mental, tornando o modelo “capscêntrico”. Se os

CAPSs se centram neles mesmos, acabam afastando a comunicação e a interação com outros

serviços e setores da sociedade, o que dificulta também o olhar para o sujeito em sua

integralidade, com o foco das ações voltadas para o território, inclusive de forma intersetorial.

Frente a esta nova proposta organizativa para a Política Nacional de Saúde Mental,

buscamos situar, a partir deste estudo, como o Piauí tem acompanhado tal debate e organizado

a RAPS em seu território, garantindo assim a regionalização da atenção em saúde mental no

estado.

Dessa forma, pretendemos conhecer o processo de implantação da RAPS no estado,

tendo como recorte a experiência da regionalização da Saúde Mental na Planície Litorânea.

Interessa-nos, portanto, responder as seguintes questões: como o processo de regionalização

da Saúde Mental tem sido pensado, desenvolvido e implementado em território piauiense? O

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que tem sido proposto? Quais atores têm participado? Quais avanços e desafios estão em

curso?

Para melhor compreender de que lugar tais questionamentos e preocupações de

pesquisa surgiram, é preciso percorrer algumas trajetórias e implicações acadêmicas com as

quais estive envolvida ao longo do percurso da minha formação. Neste momento, passo a me

posicionar em primeira pessoa do singular, motivo pelo qual explanarei minhas implicações e

afetações com o tema, e logo após justificada, em termos acadêmico e pessoal, a escolha e a

delimitação do mesmo, retomarei a escrita textual em terceira pessoa do plural, mantendo-me

na discussão juntamente com outros atores envolvidos no processo de construção deste

trabalho de pesquisa.

Foi a partir de algumas leituras e disciplinas da graduação em Psicologia que conheci a

nova lógica que permeia a Saúde Mental no Brasil. Refiro-me à Reforma Psiquiátrica

enquanto projeto ético e político de transformação do lugar da loucura e da assistência às

pessoas com transtorno mental na sociedade (AMARANTE, 2009). Antes, assim como para a

maioria das pessoas que desconhecem o tema, Saúde Mental, para mim, era sinônimo de

internação hospitalar, manicômio, exclusão. Após entrar em contato com o universo das

discussões e práticas militantes da Reforma, fui me apropriando do debate em torno do

conceito de desinstitucionalização, das novas práticas e posturas profissionais, e dos serviços

no âmbito da Atenção Psicossocial.

Por desinstitucionalização, Amarante (1996) entende que três tendências se

apresentam sobre o conceito. Assim, observa: desinstitucionalização como desospitalização,

como desassistência, e como desconstrução. No primeiro, a desinstitucionalização é entendida

com objetivos administrativos, que visam à diminuição de custos com a assistência,

especialmente a internação, ampliando as ações psiquiátricas para a comunidade, em termos

preventivos para evitá-la. Embora nascida da crítica ao modelo psiquiátrico nos EUA, nesta

concepção, com ambulatorização da assistência, acabou-se por alargar o conceito de doença,

ocasionando uma psiquiatrização dos problemas sociais da população, transformando-os em

desvio, desajustamento ou anormalidade.

A desinstitucionalização como desassistência aponta para o fato de as políticas de

desinstitucionalização não significarem a substituição do modelo hospitalar por outras

modalidades de assistência, acarretando em prejuízos e abandonos dos cuidados à população-

usuária. Por fim, a desinstitucionalização como desconstrução é apresentada como um

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processo prático, porém, fundamentado ético-politicamente, de construção de uma nova

realidade em torno da loucura e assistência psiquiátrica, apontando a possibilidade de que se a

realidade é essencialmente construída, também pode ser substancialmente modificada.

Neste sentido, Amarante (1996) compreende a Reforma Psiquiátrica a partir de um

movimento permanente de construção/desconstrução, do qual se avançaria na proposição de

um novo projeto de atenção e cuidado, que teria como principal desafio superar o tradicional

modelo doença-cura, desconstruindo saberes e práticas, a fim de tornar novas as produções e

relações entre a loucura e a sociedade. Para tanto, o autor apresenta quatro dimensões para

entender o projeto e o movimento que se pretende com a Reforma Psiquiátrica:

epistemológica, técnico-assistencial, político-jurídica e sociocultural.

Ao me debruçar sobre a dimensão epistemológica, por exemplo, pude traçar um novo

olhar sobre as questões que se situam no campo teórico-conceitual dentro da Reforma, e que

fazem a crítica aos conceitos fundantes da Psiquiatria, como: doença mental, alienação,

isolamento, terapêutica, cura, normalidade/anormalidade. Tal debate propõe a

reconstrução/invenção de um novo marco teórico e de novos operadores conceituais para

acolher e ressituar a loucura na sociedade (AMARANTE, 2009).

No âmbito da dimensão técnico-assistencial, que leva em conta um constante

movimento entre a prática e a teoria, ou seja, no movimento de uma práxis, propõe-se a

construção de uma nova organização dos serviços, articulando uma nova rede de espaços de

sociabilidade, de produção de subjetividades, de apoio social, moradia, geração de renda,

enfim, de produção de vida (YASUI, 2006).

Para Bezerra Júnior (2007), o novo se trata de novas formas de cuidar e intervir,

diferente do proposto anteriormente, com a lógica do ambiente hospitalar e ambulatorial

isolado, que resultava em ações excludentes. Isso quer dizer que a ação/intervenção agora não

é mais voltada para a doença, mas, sim, para o indivíduo em sofrimento, e que com ações

integrais, a partir de uma rede de dispositivos assistenciais-terapêuticos e comunitários

orientados por diversos saberes e práticas com foco na produção de autonomia e da vida, são

os aspectos básicos dessa dimensão de cuidado.

A dimensão jurídico-política nos convoca a refletir sobre as relações sociais e civis,

em termos de cidadania e dos direitos humanos e sociais. Tal debate me fez perceber os

desafios que é transformar o lugar social da loucura, do diferente e/ou do excluído na

sociedade, com mudanças no aparato legal (leis e resoluções) para afirmar o caráter protetivo

Page 26: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

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de direitos e indutor de mudanças. Trata-se, nesse caso, de uma luta política para uma

transformação social (AMARANTE, 2009).

Por fim, registra-se a dimensão sociocultural, que trata sobre a mudança do imaginário

social da loucura, historicamente construído pela ordem do que a desqualifica “(“coisa de

louco!”), que a exclui (“lugar de louco é no hospício!”), que a teme (“louco é perigoso e

agressivo!”), que a infantiliza (“que bonitinho, nem parece feito por louco!”)” (YASUI, 2006,

p. 98). Assim, é necessário, além dos avanços e ampliação de serviços assistenciais, maior

investimento de ações culturais na transformação deste imaginário.

Por meio do interesse pela Reforma Psiquiátrica pude perceber alguns desafios que a

ela são lançados, a exemplo do próprio desafio de lidar com a dimensão sociocultural, além de

perceber as novas formas com que se passou a ver e se relacionar com indivíduos com

sofrimento ou transtorno mental, bem como a necessidade de mudança das práticas, modos de

trabalho e abertura de novos serviços.

O Projeto de Reforma Psiquiátrica avançou no Brasil a partir da década de 1990,

principalmente por meio da implantação dos Núcleos de Atenção Psicossocial –

NAPSs/CAPSs, por meio da Portaria GM 224/92 (BRASIL, 1992), os quais foram definidos

como unidades de saúde locais/regionalizadas, em geral, contam com uma população adscrita

definida pelo nível local, oferecem atendimento a cuidados intermediários com o regime

ambulatorial, e internação hospitalar com a atuação de equipe multiprofissional (BRASIL,

2004a).

Os CAPSs, assim como os NAPSs, os Centros de Referência em Saúde Mental –

CERSAMs, e outros serviços substitutivos que têm surgido no Brasil, a partir da Portaria nº

336/GM, de 19 de fevereiro de 2002 (BRASIL, 2002), integram a rede do Sistema Único de

Saúde, o SUS (BRASIL, 2004a).

Visam acolher as pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, buscando

reinseri-las na família e na comunidade. Agem como articuladores com outras redes de

serviços, por exemplo, “como o Programa de Saúde da Família, Núcleos de Apoio à Saúde da

Família, ambulatórios, Residências Terapêuticas, abertura de leitos em saúde mental/atenção

psicossocial em hospitais gerais, entre outros” (SILVA; ROSA, 2014, p. 254).

Conhecido como o principal dispositivo de desinstitucionalização da Reforma, ao

longo dos anos 1990 e 2000, os CAPSs atuam de forma estratégica, podendo evitar

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internações frequentes em hospitais psiquiátricos, por meio de trabalhos que incidam na

autonomia, na reabilitação e na reinserção psicossocial dos usuários (BICHAFF, 2006).

Porém, outros dispositivos foram importantes, nos anos 2000, como, por exemplo, o

Programa de Volta para Casa, instituído pela Lei Federal 10.708/2013, que dispõe sobre a

regulamentação do auxílio-reabilitação psicossocial a pessoas com transtornos mentais

oriundas de longas internações psiquiátricas (BRASIL, 2013). O Programa de Redução de

Leitos Hospitalares de longa permanência; e os Serviços Residenciais Terapêuticos,

instituídos pela Portaria/GM nº 106/2000. Esses têm figurado como os pilares da

desinstitucionalização no Brasil (BRASIL, 2000).

Ao longo da graduação pude conhecer melhor o funcionamento do CAPS II de

Parnaíba, em função das ações de observação, aprendizagem, trocas e intervenções realizadas

nos estágios do curso de Psicologia. Mas, foi precisamente com o trabalho de conclusão de

curso que pude entrar em contato, em profundidade, com as práticas, as experiências e os

desafios dos profissionais e usuários do serviço, a partir dos seus pontos de vista. A pesquisa,

na época, versava sobre os significados que os profissionais atribuíam ao trabalho

desenvolvido no CAPS. Os resultados fizeram refletir sobre como os profissionais

desenvolviam as práticas de cuidado no serviço. O que sabiam sobre o cuidar na saúde

mental? Qual a compreensão sobre o processo de Reforma Psiquiátrica? Qual entendimento

sobre a Política de Saúde Mental? Que princípios orientavam as ações desenvolvidas?

Essas inquietações me motivaram à realização do Mestrado, tendo, inicialmente,

proposto como tema de investigação: o estudo sobre o cuidado e a organização dos processos

de trabalho da equipe do CAPS II de Parnaíba. Foi quando comecei a perceber, por meio dos

encontros de orientação, das disciplinas cursadas no Mestrado, e a participação em

congressos, eventos e encontros de formação política de usuários e familiares, a necessidade

de desfocar de um único serviço, devido aos vários estudos que tratam sobre esse tema em

âmbito nacional e regional, para ampliar o objeto de investigação para a Rede de Atenção

Psicossocial (RAPS). Assim, passei a pensar sobre o processo de implantação e

funcionamento da RAPS, a partir do debate atual da descentralização e regionalização da

Saúde, focando no processo de constituição das Redes de Atenção entre os municípios que

compõem o território da Planície Litorânea.

Foi em meio ao processo de amadurecimento e desconstrução do objeto inicial da

pesquisa que percebi os limites de ação dos CAPSs como centrais na organização dos modos

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de vida dos usuários, e também da responsabilidade que esses serviços ganharam como “mola

mestra” para a efetivação da Reforma Psiquiátrica, e desmontagem dos manicômios em nossa

sociedade (DIMENSTEIN; LIBERATO, 2009).

Com as leituras, compreendi que reduzir a Reforma à centralidade das ações do/no

CAPS era um entendimento que se fazia presente não apenas na concepção incipiente que

tinha sobre a Saúde Mental, mas também no cotidiano dos muitos serviços existentes no país;

no entanto, com algumas leituras mais críticas, pude ampliar a visão sobre a Saúde Mental,

inclusive reconhecendo outros pontos da rede de serviços para se avançar na Reforma, para

além dos CAPSs.

Tal compreensão é fruto do próprio processo de implantação da Reforma Psiquiátrica

no Brasil, com a centralização de todos os esforços na abertura de serviços, tendo o

funcionamento do CAPS como principal dispositivo de desinstitucionalização das concepções

e práticas em Saúde Mental, mas é exatamente nesse ponto que se sobressaem os aspectos

limitantes dos serviços, consequentemente, do nosso processo reformista, devido às questões

que envolvem a formação profissional, as condições de trabalho, a gestão dos processos de

trabalho, a regulação de fluxos de atendimento entre os serviços, as ações dissociadas do

território, o que acaba por reproduzir práticas engessadas, sem dúvida nenhuma, diferentes

das realizadas nos hospitais psiquiátricos, mas limitadas em termos de garantir a autonomia e

a reabilitação/reinserção psicossocial dos usuários e suas famílias (SARACENO, 1999).

No objetivo de superar tais dificuldades e impasses, questões que não apenas

envolvem a Saúde Mental, mas todos os setores, programas e ações do SUS, vimos ressurgir,

nos últimos anos, o debate em torno das Redes de Atenção como caminho possível para

aprofundar e ampliar as ações de cuidado, integrando os diversos e longínquos pontos da rede

de serviços dos inúmeros territórios de saúde existentes no país. Tal direção visa diminuir as

iniquidades das várias Regiões de Saúde que sofrem com a falta de equipamentos,

profissionais e ações programáticas. Desse modo, a regionalização e a descentralização do

SUS figuram como um debate que aprofunda as Políticas de Saúde nos munícipios mais

periféricos e de menor densidade populacional do país (SILVA, 2014).

Entrar em contato com todas essas discussões me fez ampliar o entendimento da

Saúde Mental integrada com a rede SUS, conforme aponta a Portaria nº 3.088/2011, que

legitima a RAPS, apresentada anteriormente. Atuar na perspectiva da RAPS, ou seja, do

trabalho em rede, integrando as ações entre os serviços de um mesmo município, mas,

Page 29: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

27

também, entre os municípios de uma mesma Região de Saúde, torna o trabalho na Saúde

Mental ainda mais complexo.

No Piauí, registraram-se 54 CAPSs, sendo 39 CAPSs I, 7 CAPSs II, 1 CAPS III, 1

CAPS i, 4 CAPSs AD e 2 CAPSs Ad III, com uma cobertura de CAPS de 1.13, considerada

muito boa (BRASIL, 2015b). Em dados mais recentes, aponta-se que o Piauí possui 62

Centros de Atenção Psicossocial (PIAUÍ, 2015e).

Na Planície Litorânea, Região de Saúde escolhida para realização do presente estudo,

dos 11 municípios que fazem parte do território da regional, apenas quatro contam com

serviços que integram pelo menos três pontos da RAPS na rede SUS, são eles: Parnaíba – 01

CAPS II, 01 CAPS Ad III, 04 equipes NASFs, 38 ESFs, 10 leitos psiquiátricos na Santa Casa

de Misericórdia e SAMU; Luís Correia – 01 CAPS, 02 NASFs e 15 ESFs; Buriti dos Lopes –

01 CAPS, 01 NASF e 09 ESFs; e Cocal – 01 CAPS, 01 NASF e 08 ESFs (PIAUÍ, 2014a).

A partir deste quadro, nos perguntamos: como tais serviços estão organizados em rede

nos territórios de saúde da Regional? Como se dão seus pontos de integração e articulação das

ações em rede?

A escolha do tema e as perguntas aqui propostas são fruto, portanto, das inquietações

do meu encontro com esse campo complexo, plural, heterogêneo e de muitos desafios, que é a

Saúde Mental, especialmente por se encontrar em meio ao processo de implantação da RAPS

em todo o país e, particularmente, no Piauí.

Deste modo, o objetivo geral da pesquisa foi analisar o processo de implantação da

RAPS no território da Planície Litorânea. Como objetivos específicos, temos: conhecer o

desenho da Rede Psicossocial do estado e, especificamente, na Planície Litorânea;

compreender a participação dos atores institucionais no processo de implantação da RAPS na

Planície Litorânea; refletir sobre as condições de implantação e os desafios colocados para a

efetivação da regionalização e da interiorização da Política de Saúde Mental no Piauí.

Page 30: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

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2 POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL: experiências internacionais e brasileira

Neste capítulo, recuperaremos rapidamente as experiências internacionais e brasileira,

de estruturação das Políticas de Saúde Mental, a fim de levantar alguns parâmetros sobre o

processo de Reforma Psiquiátrica em curso, e os atuais debates do SUS sobre as Redes de

Atenção à Saúde, incluindo a RAPS e a organização do trabalho em rede, como forma de

ampliar o acesso e a capacidade de respostas às ações de cuidado da população usuária.

2.1 Modelos internacionais de reforma psiquiátrica e a organização das primeiras experiências

em Políticas de Saúde Mental

Desde o seu início, ainda no surgimento dos Estados Nacionais, nos séculos XVI e

XVII, o internamento em instituições asilares foi uma das respostas dadas à loucura, como

também àqueles que representavam o fenômeno do pauperismo, devido aos efeitos da

Revolução Industrial e do Capitalismo, enquanto modo de produção e o estabelecimento de

uma nova ordem social. Com a Grande Internação, os considerados marginalizados pela

sociedade tinham agora os espaços dos hospitais-gerais, criados sem finalidade médica,

apenas com a intenção de isolar os que causavam prejuízo à sociedade (FOUCAULT, 1978).

Deste modo, a institucionalização da loucura, a partir da sua internação, trouxe como

reflexo para o dito “louco” o seu sequestro social. Já que um corpo disciplinado era fruto de

um gesto eficiente que punia e controlava o sujeito. Disciplinando os corpos, haveria um

controle maior sobre o dito “louco”, os espaços de internação tinham, então, o controle desse

corpo desviante, que reagia de maneira diferente ao modelo de sociedade moderna e normal,

orientada por regras de “normalidade” (FOUCAULT, 1999).

Mais adiante, no século XVIII, com o surgimento da Psiquiatria, enquanto campo de

saber e intervenção social frente aos quadros de loucura e adoecimento psíquico, os hospitais

psiquiátricos passaram a ser locais por excelência para assistir os considerados

“incivilizáveis”, enfim, os doentes da alma, consequentemente, do comportamento, a partir do

tratamento moral proposto por Philippe Pinel, considerado o pai da Psiquiatria, primeira

especialidade médica. Porém, com a superlotação desses espaços, devido à alta demanda por

ajustamento de condutas e busca de cura desse mal, e das más condições de tratamento

oferecidas, repercutiam inúmeras críticas que ganharam força maior após a Segunda Guerra

Mundial, com a emergência de processos reformistas em saúde mental.

Page 31: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

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Países como Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália, dentre outros, propuseram

experiências e saídas para o problema dos manicômios, e o tipo de assistência ofertada. A

assistência à saúde mental nos países mencionados, em um contexto pós-crise de 1929, em

meio ao cenário do pós-guerra, era, então, uma difícil situação, e dependeria de como os

sistemas de saúde seriam organizados em cada localidade, para ampliar o acesso, propor um

tratamento qualificado e humanizado, com foco na reinserção social.

Nesse aspecto, apresentaremos rapidamente os movimentos ocorridos nesses distintos

países, que impulsionaram os movimentos da Reforma Psiquiátrica no mundo, a fim de

destacarmos as políticas de saúde que deram sustentação a cada movimento. Porém, é

importante ressaltar, conforme explicita Desviat (1999), que a diferença entre os modelos que

faremos referência em cada país foi devido às particularidades de cada sistema sanitário, que

com sua forma de organização, características sociopolíticas, grau de cobertura dos serviços e

concepções a respeito da função do hospital psiquiátrico, demarcará singularmente a

experiência reformista de cada um dos contextos aqui debatidos.

A busca de alternativas ao hospital pôde gerar distintas experiências de Reforma

Psiquiátrica, a exemplo dos EUA e da Itália, que pretendiam seu fechamento, como condição

para seu processo reformista; já na França e Inglaterra, que conduziram suas ações com a

manutenção do hospital, porém, transformando-o em instituição terapêutica, ou seja,

humanizando-o.

Nos Estados Unidos, a superlotação, os maus-tratos e o questionamento da sociedade

americana frente à efetividade do tratamento nos hospitais psiquiátricos, fez com que fosse

reconhecida a falência desse modelo, considerado caro e produtor de exclusão social. Para

tanto, adotou-se a Política de Saúde Mental Comunitária, no intuito de substituir os hospitais

psiquiátricos por Centros de Saúde Mental Comunitária, com foco na prevenção da doença

mental e no trabalho de reabilitação. As bases organizativas deste modelo eram a

acessibilidade, a boa localização e a descentralização dos serviços, além da gratuidade e da

universalidade de acesso. No entanto, a grande dificuldade para efetivá-lo no território norte-

americano foi a fragilidade do sistema de saúde, por não ter cobertura universal e apresentar

hegemonicamente caráter privado. Isso resultou no pluralismo e pragmatismo das ações, com

ênfase nos objetivos em curto prazo e com foco na diminuição dos custos.

Nesse aspecto, o processo de desinstitucionalização, no modelo norte-americano,

figurou muito mais como um conjunto de medidas de desospitalização, devido ao fechamento

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30

de vários hospitais psiquiátricos, pórem, não acompanhado da abertura do montante de

unidades de Centros de Saúde Mental Comunitário necessária para a oferta das ações

previstas. Por outro lado, o trabalho desses Centros ficou voltado apenas para ações

ambulatoriais e preventivistas, muitas vezes reforçando o entendimento sobre doença mental

como desvio, desajustamento ou anormalidade, psiquiatrizando problemas sociais das

comunidades (HEIDRICH, 2007).

Na experiência da França, por meio da Psiquiatria de Setor, houve a tentativa de

constituir uma nova forma de organização dos serviços psiquiátricos. O objetivo era estruturar

os serviços, de modo a romper com a centralização dos hospitais e a valorização dos mesmos,

enquanto ação de saúde pública. Assim, a hospitalização se constituía como uma das etapas

do tratamento para os casos mais graves, com necessidade de internação. Tinham como foco a

construção de projetos terapêuticos individuais, enquanto ação continuada executada por um

conjunto de profissionais e serviços, dentro de uma mesma área de abrangência territorial,

conhecido como setor (DESVIAT, 1999).

O acesso universal a diversas formas de atendimento, trazendo uma dimensão pública

e coletiva da saúde, possibilitou realizar uma nova maneira de fazer psiquiatria, seja

percebendo não apenas o hospital e sua teia institucional como doentes, portanto, sendo

necessário mudar para retomar sua função terapêutica, seja integrando-o com serviços de

outros níveis de atenção, territorializando as ações com foco na continuidade do cuidado e

aproximação das pessoas com transtorno mental da sua própria comunidade de origem. No

entanto, segundo Heidrich (2007), prevaleceu a centralização das ações, ainda na figura do

hospital, por três motivos básicos: a) não havia, no modelo francês, a ideia de extinção do

hospital psiquiátrico; b) pelo contrário, era destinado a ele, o financiamento exclusivo; c)

ademais, a manutenção do lugar do hospital e a prevalência da cultura manicomial, onde os

muros dos manicômios se expressavam nas práticas e no cotidiano dos profissionais, tornou

ainda mais difícil romper com a hegemonia do hospital e lógica asilar, apesar da implantação

de políticas públicas de saúde mental naquele país, que de certa forma melhorou a assistência,

mas não superou o símbolo da exclusão.

O modelo inglês ficou conhecido como Comunidade Terapêutica. Tal estratégia surgiu

em meio à sombra dos tempos de guerra, com o objetivo de organizar as atividades dos

serviços, cujos efeitos mostraram que a responsabilidade pelo tratamento não é apenas

médica, mas de todos os membros da equipe, e também dos usuários. Nesse aspecto, outros

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atores, inclusive os usuários dos serviços, passaram a ter lugar no processo terapêutico. A

ideia era transformar o ambiente do hospital em terapêutico, de forma a democratizá-lo,

fortalecendo relações e opiniões em todos os níveis, priorizando a presença de atividades

coletivas e análise da dinâmica individual e interpessoal dos usuários, bem como das equipes,

promovendo autonomia e participação. Quanto ao sistema de saúde da Inglaterra, por ser

público e universal, tornou-se referência, demonstrando vantagens na eficácia e eficiência

como uma política sanitária planejada, permitindo desenvolver o atendimento primário e a

integração entre saúde mental e saúde em geral, nos vários pontos e níveis de atenção dos

serviços. Porém, apesar dos avanços e de alcançar o lugar de referência na humanização da

assistência psiquiátrica, o modelo britânico não conseguiu avançar frente à cultura

manicomial presente na sociedade inglesa em geral (DESVIAT, 1999).

Na Itália, assim como nos EUA, o foco também era o fim do manicômio. Porém, com

uma brutal diferença: não se tratava de um mero arranjo administrativo que acabou gerando

desospitalização e desassistência, mas pela revisão do estatuto jurídico do doente mental,

revogando o entendimento legal que marca o louco como sujeito perigoso; pelo

questionamento do mandato social da Psiquiatria; pela produção de um novo imaginário para

a loucura, na sociedade, e pela garantia de uma gama de serviços e ações, de modo a

responder a complexidade das necessidades sociais e de saúde dos usuários, a partir de um

sistema público de saúde e de acesso universal, com a busca de ampliação e integração de

uma rede com novos serviços, com vista a atender o conjunto amplo de necessidades dos

usuários e suas famílias. Esse movimento ficou conhecido como Psiquiatria Democrática

Italiana – PDI (HEIDRICH, 2007), sustentado paralelamente pelas ações de mudança

sanitária no país.

O modelo italiano passou para a tentativa de integrar novamente a pessoa com

transtorno mental à sociedade, desarticulando a instituição do manicômio, reconhecendo o

asilo como instituição total e de violência, portanto, anuladora da condição de escolhas e de

ação dos sujeitos. Desse modo, o movimento se alia a outros movimentos (estudantil e

sindical), transformando-se em movimento político, propondo, assim, uma Reforma em

termos administrativos, político e cultural.

No âmbito da política pública de saúde na Itália, que deu sustentação à experiência de

desinstitucionalização psiquiátrica, foi aprovada a lei 180/1978, que coloca o fato da

impossibilidade de novas internações, proibindo a construção de novos hospitais; propondo a

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32

abertura de serviços comunitários e territoriais, garantindo o atendimento contínuo. Ademais,

aboliu-se o estatuto da periculosidade social, como dito anteriormente, e em casos de

internação compulsória, o indivíduo seria assistido pela via jurídica e por uma equipe, para

avaliar a necessidade de tal dispositivo, bem como periodicamente haveria a reavaliação do

caso, para indicar ou não a necessidade de permanência. No que tange à

desinstitucionalização no modelo italiano, houve a possibilidade não apenas do fechamento

dos manicômios, mas a desconstrução de concepções e práticas, sinalizando um trabalho a

partir dos direitos das pessoas com transtorno mental, já que pensar na lógica manicomial,

seria negar os direitos humanos (RAMMINGER, 2005).

Desviat (1999), ao apresentar um balanço dos países que efetivaram movimentos de

desinstitucionalização, indica entre os principais pontos a serem considerados para o avanço

da Reforma Psiquiátrica, o fato de as ações da Saúde Mental dependerem da suficiência de

recursos econômicos no desenvolvimento dos programas comunitários, da ampliação da rede

de serviços e relações, para maior integração do sujeito à vida comunitária.

Além disso, a sociedade não costuma estar preparada para receber os pacientes

desinstitucionalizados. Sendo que quase todos os esforços se voltam para a modificação de

comportamento dos mesmos, adaptando-os muitas vezes. Poucos são os casos que compõem

as ações da política pública para a modificação das crenças, comportamentos sociais e

preconceitos da sociedade, incluindo os próprios profissionais, frente aos egressos de

internações e demais sujeitos em tratamentos extramuros, portanto, na comunidade, a

exemplo do modelo italiano. Ademais, ainda há o engessamento da organização da política

pública, que carece de uma gestão unificada dos recursos públicos, além da falta de serviços

sociais, de espaços flexíveis e inventivos de novas formas de subjetivação para a loucura na

sociedade, bem como quanto à formação e à educação permanente dos profissionais.

Por outro lado, é preciso ter claro, nas palavras de Antunes (2015), que os processos

de Reforma Psiquiátrica no mundo têm relação direta com a estruturação das políticas sociais

e econômicas. Em tempos de crise dos sistemas econômicos e financeiros, os efeitos são tanto

para as políticas sociais, com impacto nos serviços de atenção à saúde, quanto para os níveis

de saúde das comunidades. As crises econômicas podem agravar a saúde física e mental das

populações, devido ao aumento do desemprego, da exclusão social e da pobreza, assim como

a diminuição do investimento em serviços públicos de saúde e de proteção social, que

retroalimentam fatores de risco de adoecimento e/ou transtorno mental.

Page 35: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

33

Tal debate é pertinente no momento atual, devido às últimas crises nos EUA e nos

países da Europa, que têm desmontado, especialmente nesses últimos, os sistemas de saúde e

proteção social universais, a exemplo do que aconteceu de forma mais acentuada na Espanha,

em Portugal, dentre outros (SILVA et al., 2015). A seguir, trataremos da Política de Saúde

Mental no Brasil, retomando alguns aspectos das experiências internacionais que

influenciaram o processo reformista em nosso país e a situação atual.

2.2 Política de Saúde Mental no Brasil

As primeiras ações no âmbito da assistência aos loucos, no Brasil, remontam às Santas

Casas de Misericórdia, que surgem para resolver o problema dos indesejáveis socialmente, e

passam a incluir tais pessoas, entre seus hóspedes, que ficavam nos porões e entregues aos

carcereiros e à própria sorte. É a partir de então, que derivam as primeiras instituições

psiquiátricas do país, a exemplo do Hospício Nacional, criado em 1852.

Sobre os ditos indesejáveis em território brasileiro, a “questão social” também

contribui para entender esse processo, pois Chalhoub (2001) parte da análise da passagem do

século XIX para o XX, em que há uma diferenciação dessa questão em determinados

momentos da história nacional. Segundo o autor, além da construção de uma nova ideologia

do trabalho, foram materializados mecanismos de vigilância e repressão, exercidos pelo

Estado, por meio das autoridades policiais e judiciárias, que moldavam a força de trabalho às

necessidades do capital. Assim, a ideologia do trabalho em nosso país ganha uma valoração

positiva, articulando-se, então, com conceitos como os de “ordem” e “progresso”, para

impulsionar o país no sentido do “novo”, da “civilização”, para a constituição de uma ordem

social burguesa.

Destaca-se que o firmamento desses valores para fazer avançar a nova ordem social

brasileira também fixava o seu contraponto, como parâmetro negativo: ao invés de

trabalhador, racional e civilizado, tinha-se o desempregado, desocupado, vagabundo, o louco,

e todos os outros desviantes, que eram tidos como incapazes para o trabalho, despossuídos de

razão, portanto, inábeis para a vida social. Nesse sentido, a “questão social” passa a ser caso

de polícia, cabendo ao Estado resolver tal problema (CHALHOUB, 2001).

Assim, Cerqueira Filho (1982) expõe que a “questão social” não era uma questão

legal, por conta da sua ilegitimidade política. Dessa forma, deveria ser tratada no interior dos

Page 36: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

34

aparelhos repressivos do Estado, enquanto caso de polícia, colocada ou no campo da

criminalidade ou da desordem.

Quanto aos loucos, se antes permaneciam integrados à rotina social, devido à vida no

campo, com o crescimento e modernização das cidades, tais tipos sociais (e outros desviantes)

passaram a ser uma ameaça à ordem burguesa. Vagando pelas ruas, a presença do louco se faz

notar na cidade, por seu comportamento inconveniente e, por vezes, pelas provocações aos

passantes (TUNDIS; COSTA, 2007). Nesse caso, “chama-se a polícia!” (YASUI; COSTA-

ROSA, 2008).

Tal período coincide com aquilo que Cerqueira Filho (1982) e Ianni (1991) indicaram

quando, a partir de 1930, a “questão social” deixou de ser “caso de polícia” para se tornar

“caso de política”, onde passa a ser encarada como legítima, legal e de direito, mas é tutelada,

ou seja, reconhece-se a classe operária, mas o discurso que predomina insere a “questão

social” na visão da integração e do paternalismo, camuflando a luta de classes e combinando

autoritarismo com favor (ROSA, 2011).

O paternalismo e o mandonismo arraigados na sociedade brasileira, desde os

primórdios marcaram as respostas para a “questão social” no país, a partir do âmbito da

“cidadania regulada”, isto é, cidadania concedida apenas aos trabalhadores com carteira

profissional assinada, com profissão legalmente reconhecida e pertencentes a um sindicato

(SANTOS, 1979). Esses eram os pré-requisitos necessários para a contribuição compulsória

da Previdência Social. Para aqueles que não tinham como marca o trabalho e a contribuição

social, restavam as filas da indigência e da filantropia.

Na assistência psiquiátrica, as estruturas hospitalocêntricas permanecem centrais e

hegemônicas, na década de 1930, com um novo reordenamento normativo e institucional,

reforçando a tendência centralizadora da União. A assistência psiquiátrica é federalizada em

1944 (Decreto nº 7.055, de 18 de novembro de 1944), após a criação do Serviço Nacional de

Doenças Mentais (SNDM), fato que se deu pelo Decreto nº 3.171, de 2 de abril de 1941.

Cresce o número de instituições asilares, especialmente as privadas, financiadas pelo Estado

(ROSA, 2011).

Nos anos posteriores, o país enfrenta uma ditadura civil-militar (1964-1985), tendo, no

primeiro momento, conhecido como período do milagre econômico, um avanço em vários

setores econômicos e sociais; no âmbito da saúde, os investimentos foram no setor hospitalar

privado, com a medicina voltada para a doença, os procedimentos, e para o mercado. Na

Page 37: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

35

Psiquiatria, continuou a abertura de manicômios privados, com alta rentabilidade, além da

força da indústria farmacêutica, ou seja, os avanços foram apenas com o intuito da

mercantilização da saúde em geral. O tratamento da loucura passou a ser um negócio

(TUNDIS; COSTA, 2007).

Assim, o Estado incrementa um duplo padrão: de um lado estão as pessoas

desvinculadas da previdência, resignadas à precariedade dos hospitais da rede pública ou

casas de caridade; do outro, os trabalhadores previdenciários vinculados à rede privada de

assistência, inclusive com contratação de leitos integrais em Saúde Mental. No segundo

período, a partir de meados de 1970, marcado, por um lado, pela crise e pela recessão

econômica, o arroxo salarial, o desemprego e o agravamento das condições sociais da

população e, por outro, pela suspensão dos direitos políticos e pela violência do Estado,

encontramos a falência dos serviços de saúde prestados pela previdência social. Como efeito,

as condições de tratamento pioram, com práticas cada vez mais desumanizantes; por outro

lado, a demanda por serviços também aumenta, devido às condições difíceis e precárias em

que vivia a população, com desemprego, falta de acesso a serviços etc.

É nesse período que a sociedade civil se reorganiza, lutando por direitos civis e

políticos. Os movimentos sociais, com suas bandeiras de luta, ganham notoriedade, a partir de

reivindicações diversas, com destaque para a saúde. A partir desse período, os sindicatos

lutam por atendimentos de saúde no próprio interior das empresas, ou pela negociação do

estabelecimento de planos de saúde, em virtude do sucateamento do serviço público (ROSA,

2011).

Nesse contexto, emerge o Movimento da Reforma Sanitária, que surge no meio

acadêmico articulado com outros setores da sociedade, com vista a lutar contra o precário

atendimento médico, as filas enormes nos atendimentos, a falta de acesso a medicamentos, e a

insatisfação com o modelo assistencial naquele período. Na tentativa de fazer frente ao

modelo, surgiram as experiências das Secretarias de Saúde, da Igreja Católica, das entidades

de classe, entre outras (COSTA, 2007).

Assim, temos, durante o período dos anos 1970, ações que impulsionam a luta por

melhores condições de atendimento na saúde do país, como a proposta de cuidados primários,

Page 38: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

36

com a ideia de expandir o atendimento de baixo custo para a população excluída do modelo

assistencial privatista, aprovada, nesse período, pela Conferência de Alma-Ata2.

Ainda durante o período, três projetos de âmbito nacional ou regional dão concretude

aos ideais da Reforma Sanitária e passam a ser experiências nas instituições federais gestoras

dos serviços de saúde, são:

O Plano de Localização de Serviços de Saúde (Plus): criado para planejar a

expansão física dos serviços de saúde da previdência social, experimentou uma

metodologia de programação de serviços, algo pouco comum nas instituições de

serviços. Considerava, na programação, a população total e o total de serviços,

aplicando o princípio da universalização dos serviços. Seus resultados teóricos

evidenciaram que existia uma forma mais racional e justa de distribuição dos

serviços de saúde já existentes. Também demonstravam o excesso de leitos

hospitalares em algumas regiões metropolitanas e sugeriam o descredenciamento de

leitos privados e a realização de convênios com secretarias estaduais e municipais e

outras instituições públicas. Foi um palco de luta no interior do INPS, em que o

grupo de saúde pública foi rapidamente derrotado pelos interesses mercantilistas

hegemônicos. O Projeto Montes Claros (PMC): em sua primeira fase, entre 1971 e

1974, foi financiado pela Agência Norte‐Americana para o Desenvolvimento

Internacional (USAID), que buscava um modelo assistencial de extensão de

cobertura de serviços de saúde a baixo custo. No seu decorrer, permitiu

experimentar a aplicação dos princípios de regionalização, hierarquização,

administração democrática e eficiente, integralidade da assistência à saúde,

atendimento por auxiliares de saúde e participação popular. O Piass: criado em

1975‐1976, para implantar uma estrutura básica de saúde pública em comunidades

de até vinte mil habitantes no Nordeste. Unindo a abordagem médico‐social ao

pensamento sanitarista desenvolvimentista, em sua última fase, em 1981, passou a

integrar o Programa Nacional de Serviços Básicos (ESCOREL, 2008, p. 5).

Contemporânea à Reforma Sanitária, também se registrou em nosso país a Reforma

Psiquiátrica, inicialmente constituída, enquanto movimento dos trabalhadores de saúde

mental, na denúncia das condições de tratamento em hospitais e violação de direitos e,

posteriormente, aglutinada em movimento social e política na mudança de modelo

assistencial. Para melhor entendermos, retomaremos alguns marcadores históricos desse

importante movimento no âmbito da saúde brasileira, que resultou na Política Nacional de

Saúde Mental.

Na segunda metade da década de 1970, no contexto combativo do Estado autoritário

brasileiro, precisamente em 1978, é realizado o V Congresso Brasileiro de Psiquiatria,

momento de surgimento do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM),

combinando as reivindicações trabalhistas e o discurso de denúncia das condições de

2 Conferência ocorrida, em sua primeira edição, em 1978, em Alma-Ata, capital do Kazaquistão. Foi assistida

por mais de 700 pessoas e tratou dos direitos das pessoas com transtornos mentais, resultando na adoção da

Declaração que aponta o direito à saúde como um direito humano fundamental e uma meta social importante, em

nível mundial (MENDES, 2004).

Page 39: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

37

tratamento. O MTSM alcançou grande repercussão e, nos anos seguintes, liderou os

acontecimentos que fizeram avançar a luta até seu caráter definidamente antimanicomial,

incorporando a participação dos usuários e familiares, configurando em um importante

movimento social, no final dos anos 1980, conhecido como Movimento Nacional de Luta

Antimanicomial – MNLA (ROSA, 2011).

A década de 1980 assistiu ainda ao surgimento de experiências institucionais bem-

sucedidas na arquitetura de um novo tipo de cuidado em saúde mental. Pelo menos duas delas

são consideradas marcos inaugurais e paradigmáticos de uma nova prática de cuidados no

Brasil: o Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira, em São Paulo; e

a intervenção na Casa de Saúde Anchieta, realizada pela administração municipal de Santos

(SP), iniciando o processo que se constituiria no complexo e exemplar Programa de Saúde

Mental daquela cidade (TENÓRIO, 2002).

Segundo Vasconcelos (2010), desde a década de 1990, a agenda da saúde mental tem

mantido a prioridade no desmonte do parque hospitalar e asilar. A atenção prioritária foi para

o grupo de usuários adultos com transtornos mentais maiores. Apesar da conjuntura

neoliberal, das limitações políticas e econômicas, foi significativo o papel da estratégia de

desativação dos leitos e reinserção dos usuários de longas internações à vida social. No

entanto, alguns grupos ficaram de fora, pois, no Brasil, a escolha para a atenção em

determinado grupo girou em torno da urgência política, e não epidemiológica.

Com a agenda da saúde mental em foco, pensando a desativação de leitos, o

Movimento de Luta Antimanicomial passou a ganhar força, a partir da proposição do

Deputado Paulo Delgado (PT-MG), do projeto de lei que tinha como objetivo a extinção

progressiva dos manicômios e, no lugar desses, a abertura de espaços assistenciais de base

comunitária. A lei foi aprovada somente em 2001, sob o nº 10.216 (BRASIL, 2001b), por

conta da mobilização popular, mas, principalmente, pelos consensos e negociações em torno

da manutenção dos hospitais psiquiátricos (GARCIA; JORGE, 2006).

Analisando a conjuntura da Reforma Psiquiátrica em contextos periféricos, desde os

regimes militares que abalaram a América Latina e o Brasil, até os dias de hoje, entendemos a

dificuldade da universalização das políticas sociais como um dos principais problemas a

serem enfrentados nesses países. Tal dificuldade se insere em meio à crise das políticas de

bem-estar social no âmbito mundial, e que advém das políticas neoliberais, gerando

desemprego, desestrutura das políticas sociais públicas, entre outros. Apesar de nos últimos

Page 40: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

38

anos surgirem alguns avanços setoriais quanto à diminuição da pobreza, o aumento do salário

mínimo e o poder de consumo das classes populares no Brasil. Ainda se convive com o baixo

patamar de financiamento das políticas sociais, burocratização e precarização das condições

de trabalho, como impasses dentro desse processo.

Vasconcelos (1989), já no final da década de 1980, alertava para esses problemas,

devido ao fato de na América Latina o processo de efetivação do capitalismo ter ocorrido de

forma tardia. Logo, as expressões da questão social, como pobreza, miséria, desemprego,

violência, desigualdades, exclusões, passaram a ser objeto de intervenção do Estado, porém,

não a partir da implantação da seguridade social, como em alguns exemplos que tivemos nos

países da Europa, efetivando políticas sociais, mas as implementando setorialmente, de forma

fragmentada e focalizada nos grupos sociais de importância econômica e política. Os poucos

recursos e os interesses políticos eram direcionados à população dos setores, de preferência,

do governo que, em geral, eram foco dos investimentos sociais a serem feitos.

Este instrumento, que foi comum na América Latina, principalmente em governos

populistas, que geralmente tinham seus setores de preferência para fazer os investimentos nas

políticas sociais e ganharem notoriedade com tais ações, a exemplo do período varguista, no

Brasil, ou nos períodos de autoritarismo dos regimes militares ocorridos em alguns países

latino-americanos. No caso do período varguista, foi inaugurada uma visão sobre cidadania,

relacionada não com um código de valores políticos, mas com um sistema de estratificação

ocupacional: são cidadãos todos os que se encontram em ocupações reconhecidas por lei.

Logo, a “cidadania regulada”, como citada anteriormente por Santos (1979), e seu trabalho, os

definem como cidadãos, e não os valores políticos. Tais aspectos, ajudam-nos a entender a

dificuldade dessas políticas sociais se efetivarem em contextos periféricos meio ao contexto

de autorismo, regulação e controle social da população.

Tais aspectos, ao longo das décadas que se seguiram, aprofundadas depois no período

de aplicação das políticas neoliberais nos anos 1990 no Brasil, impactaram decisivamente na

implementação de ações para a estruturação das políticas de saúde mental no país, com a

dificuldade ou morosidade quanto à abertura de serviços extra-hospitalares, redirecionamento

do financiamento dos serviços de base comunitária, contratação de pessoal, manutenção das

ações, etc. Por outro lado, é preciso reconhecer algumas conquistas, particularmente quanto

ao fortalecimento do Movimento de Luta Antimanicomial, com participação mais ativa da

sociedade civil, que culminou na aprovação da Lei da Saúde Mental, anteriormente referida.

Page 41: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

39

Posteriormente, no governo “Lula”, apesar dos avanços na implantação da rede CAPS,

temos o agravante do acesso inadequado aos serviços básicos para os usuários da saúde

mental, além do problema estrutural de financiamento do SUS, com impactos para a saúde

mental e que se prolongaram com os mandatos de Dilma Rousseff (VASCONCELOS, 2010).

Nessa perspectiva, há uma continuidade das medidas do governo, nos últimos anos, que

afetam os agregados econômicos, como a economia, a inflação, as taxas de desemprego, a

distribuição de renda, entres outras, que afetaram as condições de vida e saúde mental da

população. Ademais, observamos que a política econômica do país, se encontra:

Caracterizada pelo superávit fiscal primário, pelo câmbio flutuante e pelas metas de

inflação, que se constitui no chamado “tripé macroeconômico” que materializa a

hegemonia neoliberal, sob o domínio do capital financeiro internacional e da

burguesia brasileira, na sociedade brasileira, no Estado e no segundo Governo Dilma

Rousseff. Esse “tripé macroeconômico” é a própria materialização da reiteração

expansiva, via política econômica, do sistema de dívida pública brasileira [...]. As

primeiras medidas anunciadas e/ou tomadas pelo segundo Governo Dilma Rousseff

não apenas se caracterizaram pela reiteração da política macroeconômica vigente,

mas também pelo seu aprofundamento. Teve curso a elevação da taxa básica de

juros, a liberação de preços administrados (gasolina, IPTU, taxas de água e esgoto,

tarifas de telefonia, pedágio, transporte público, etc.) e a sinalização (com iniciativas

em curso) de cortes de gastos públicos da ordem de R$ 66,3 bilhões (ou 1,2% do

PIB, que é o superávit fiscal primário prometido para 2015). Medidas que

evidenciam a aplicação de uma orientação neoliberal voltada para a reversão do

ciclo de semiestagnação e a ampliação da influência da fração burguesa vinculada ao

capital financeiro sobre o Governo, inclusive em detrimento da fração burguesa

vinculada ao capital industrial (não financeirizado) brasileiro, também foram

anunciadas e/ou implementadas, como o aumento de tributos sobre determinados

produtos industriais, a elevação das taxas de juros do BNDES e a abertura do capital

da Caixa Econômica Federal em favor do capital financeiro (BARBOSA, 2015, p.

26).

Nesse sentido, o impacto das políticas neoliberais nas últimas décadas vem

apresentando quadros difíceis de condições de vida e implicações sociais e psicossociais para

os mais pauperizados socialmente, em países periféricos, incluindo o Brasil. Mas é preciso

entender esse momento como representativo da crise no cenário mundial, devido aos tempos

de incertezas em que vivemos. Especificamente na saúde mental, os desafios estão presentes,

muitos dos quais, comuns às demais políticas sociais.

Atualmente, apesar dos avanços no processo de desinstitucionalização, a partir da

estruturação de uma rede de atenção psicossocial em nosso país, são necessários

investimentos sólidos do Estado, para de fato isso ocorrer, pois dependem de investimentos

públicos para a abertura de serviços, ampliação do acesso e, principalmente, dispositivos de

gestão que consolidem a organização e o trabalho em rede. Em meio ao momento em que

Page 42: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

40

vivemos, no qual os direitos e as conquistas alcançadas vêm sendo sistematicamente

ameaçados, e até mesmo desrespeitados ou suprimidos, faz-se necessário retomar o potencial

de movimentação e resistência dos movimentos sociais aos retrocessos e ao processo de

precarização e privatização em curso (GOMES, 2015).

Tais atravessamentos acabam por provocar a precarização e a fragilidade da

estrutura e do funcionamento da rede psicossocial de atenção, seja no sentido de

tornar mais morosa a ampliação dos serviços e a criação de outros dispositivos

assistenciais; seja no sentido de fazer com que a rede de serviços continue

fragmentada e desarticulada, sem qualquer ação intersetorial, voltada apenas para o

consumo de procedimentos e ações isoladas em saúde mental (MACEDO;

DIMENSTEIN, 2012b, p. 140).

Para Vasconcelos (2010), as alternativas que temos para lidar com os desafios

apontados, ainda se referem à expansão dos programas e estratégias voltadas para a saúde

mental na atenção básica. No próximo tópico, retomaremos esse debate, no qual discutiremos

a proposta de regionalização como possibilidade de ampliação da atenção em saúde mental.

2.3 O debate atual sobre o SUS e a proposta de regionalização do cuidado: novos desafios

para a Política Nacional de Saúde Mental

Ao longo dos 25 anos de implantação do SUS, registraram-se inúmeros avanços na

oferta e organização dos serviços de saúde no Brasil. Apesar da esteira da ordem neoliberal,

que marcou a condução política e econômica do país no início dos anos 1990 até os dias

atuais, avançou-se na infraestrutura dos serviços, na gestão, na prestação de serviços, na

organização e no financiamento, mesmo esse último figurando como dos maiores entraves

para o andamento do sistema (MENDES, 2010; PAIM, 2010).

Ademais, Paim (2010) ainda argumenta que um dos maiores avanços no SUS se deu

na obra de gestão descentralizada para estados e municípios. Para o autor, falar em

descentralização, em um país de dimensões continentais, com mais de 5.500 municípios e

inúmeras desigualdades regionais e sociais, somente isso já pode ser considerado um avanço.

No entanto, os desafios a serem superados são muitos, pois apesar dos avanços, ainda

persistem dificuldades: no acesso e na continuidade da atenção; problemas relacionados à

organização dos serviços e a ausência de uma rede regionalizada e hierarquizada na oferta de

cuidados; prestação de serviços com 95% dos estabelecimentos de apoio diagnóstico e

tratamento sendo privados, e desses, somente 35% prestam serviços ao SUS; ainda a falta de

financiamento; de infraestrutura; problemas com os recursos humanos; além da formação

Page 43: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

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pouco adequada para o trabalho no sistema; organização deficiente da atenção básica,

resultando na baixa resolubilidade do sistema e descrédito; planejamento de ações sem

considerar os determinantes sociais do processo saúde-doença; além de impasses da gerência

e gestão (MENDES, 2010; PAIM, 2010).

Como é sabido, o SUS apresenta princípios doutrinários (universalidade, integralidade

e equidade) e diretrizes organizativas (descentralização, regionalização e hierarquização) que

conferem racionalidade ao sistema, como importante medida garantidora de direitos para toda

a população brasileira (VASCONCELOS; PASCHE, 2006).

Nesse sentido, apontamos a descentralização como um dos principais instrumentos, na

atualidade, para garantir um SUS para todos, com atendimento integral às diversas

necessidades de saúde da população. Para tanto, Lima et al. (2012, p. 1904) compreendem

que a descentralização enquanto diretriz organizativa:

Redefine responsabilidades entre os entes governamentais e reforça a importância

dos executivos subnacionais na condução da política de saúde. Ela envolve a

transferência de poder decisório, da gestão de prestadores e de recursos financeiros,

antes concentrados na esfera federal para estados e, principalmente, para os

municípios. Informado por matrizes ideológicas e experiências diversas, o

fortalecimento desses governos se justifica como forma de promover a

democratização, melhorar a eficiência e os mecanismos de accountability nas

políticas públicas, respeitando o desenho federativo e atendendo aos interesses

territoriais da nação.

Desse modo, “a necessidade de regionalizar os serviços de Saúde Pública, sobretudo

em países ou estados de grande extensão territorial, é hoje reconhecida internacionalmente”

(ARAÚJO; FERREIRA; NERY, 1973, p. 3).

Neste caso, foi preciso avançar bem mais do que descentralizar as ações para a esfera

administrativa dos estados e municípios, de modo a superar a fragmentação histórica da

atenção e da gestão dos serviços, para assegurar o amplo acesso do usuário ao conjunto de

ações e serviços, respeitando, assim, a diversidade dos contextos regionais, suas diferenças

socioeconômicas e necessidades de saúde da população (BRASIL, 2010a).

Surge, então, o conceito de Redes de Atenção, já apresentado anteriormente, como

principal dispositivo para assegurar a descentralização e a regionalização das ações em Saúde.

É importante destacar que as ideias concernentes à regionalização da saúde estavam presentes

na política de saúde brasileira, antes mesmo das iniciativas que antecederam a criação do

SUS. Podemos, por exemplo, identificar a regionalização entre as diretrizes de algumas

políticas, como nas Comissões Regionais Interinstitucionais de Saúde (CRIS) do Programa

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42

das Ações Integradas de Saúde (AIS) ou, ainda, na organização de municípios em distritos

sanitários no Sistema Único e Descentralizado de Saúde (SUDS), mas é somente com a

Constituição de 1988 que a regionalização, articulada com a descentralização, torna-se

princípio estratégico para organização político-territorial do Sistema de Saúde (SILVA,

2014).

Mesmo assegurada na CF/88 e na própria Lei Orgânica da Saúde, é somente nos anos

2000 que se deu maior ênfase na estratégia de regionalização no Brasil. O principal objetivo,

como destacamos anteriormente, era superar os impasses advindos das desigualdades na

oferta de serviços nas áreas mais interioranas ou mesmo periféricas do país. Em 2001, a

regionalização retorna à agenda governamental, por meio da Norma Operacional de

Assistência à Saúde – NOAS (BRASIL, 2001a), iniciando um processo mais efetivo de

construção de instrumentos propícios à criação de regiões de saúde e de pactos

intergovernamentais, visando ao estabelecimento de relações mais cooperativas e solidárias

para responder às demandas crescentes dos cidadãos por serviços de saúde mais resolutivos e

de melhor qualidade (SILVA, 2014).

Na prática, a NOAS (BRASIL, 2001a) tentou reeditar o federalismo sanitário

brasileiro, colocando os níveis regionais (módulos assistenciais, regiões, macrorregiões) entre

os estados e municípios, mas operando sobre a organização político-administrativa instituída

(DOURADO; ELIAS, 2011).

Assim, Silva e Gomes (2014) explicam que regionalizar o SUS é garantir aos seus

usuários o acesso a serviços de qualidade. Esta lógica de sistema recompõe uma escala

adequada à organização dos serviços de saúde e, principalmente, agrega, em um sistema

cooperativo, um conjunto de municípios que, sozinhos, são incapazes de garantir uma

melhoria na eficiência e na qualidade da atenção. Por isso, a regionalização deve impactar

positivamente na equidade, ao desconsiderar recursos exclusivamente articulados em poucos

polos estaduais, desconcentrando serviços e ações, ampliando o acesso, consequentemente, o

aumento na satisfação dos usuários. A regionalização reduz também os custos sociais

impostos pelos deslocamentos dos usuários do SUS para fora de suas regiões.

Há outras razões pelas quais o objetivo da regionalização do SUS deve ser

alcançado, tais como: (a) definir uma base regional permanente para as negociações

entre CGR e PPI; (b) ajustar, mediante ação cooperativa, a oferta de serviços à

demanda; (c) superar a fragmentação dos serviços; (d) despertar a consciência de

pertencimento regional e endogenia; (e) substituir a atitude de competição

intermunicipal pela cooperação intermunicipal, alterando a atitude de “cada um por

Page 45: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

43

si” por “de todos por todos”; (f) e, por fim, melhorar a qualidade do controle público

sobre o sistema de serviços de saúde. O processo de regionalização do SUS também

envolve estabelecimento de critérios: (a) os municípios que compõem a região

devem ser contíguos; (b) deve-se levar em consideração a escala adequada para a

rede de serviços – na experiência internacional, essa escala é de 100-500 mil

habitantes; (c) a herança e a identidade cultural da região não podem ser ignoradas;

(d) a endogenia deve surgir de dentro para fora, e de baixo para cima; (e) a

existência de recursos para organizar a rede; (f) a política de cooperação; (g) os

estudos dos fluxos assistenciais; (h) os fluxos viários; (i) e, por fim, as redes, nós e

os fluxos dominantes na hierarquia da rede Regionalizar o sistema de saúde é

constituir regiões de saúde como recortes territoriais em espaços geográficos

contínuos. Identificá-los é responsabilidade dos gestores municipais e estaduais,

tendo como base a existência de identidades culturais, econômicas e sociais, assim

como de redes nas áreas de comunicação, infraestrutura, transportes e saúde. Nessas

regiões, as ações e serviços devem ser organizados com o objetivo de atender às

demandas das populações dos municípios a elas vinculados, garantindo o acesso, a

equidade e a integralidade do cuidado com a saúde local. Para tanto, deve estar

garantindo o desenvolvimento da atenção básica na assistência e parte da média

complexidade, do mesmo modo com as ações de vigilância em saúde (SILVA;

GOMES, 2014, p. 1385).

A proposta de organização de redes regionalizadas se tornou um referencial

fundamental do planejamento dos sistemas universais de saúde, inclusive no Brasil. Como

vimos, a primeira diretriz de regionalização do SUS, a NOAS (BRASIL, 2001a), surgiu

embasada por essa ideia. Em 2006, surge o Pacto pela Saúde, que se apresenta como um

conjunto de reformas institucionais do SUS, pactuado nas três esferas de governo, com o

objetivo de promover inovações nos processos e instrumentos de gestão, a fim de alcançar

maior eficiência e qualidade das respostas do SUS.

Tal instrumento se constitui em três componentes: a) Pacto pela Vida, que trata de um

conjunto de compromissos sanitários em torno de possibilidades e prioridades no impacto em

alguns pontos da saúde da população como: atenção ao idoso, redução da mortalidade

materna e infantil, entre outros; b) Pacto em defesa do SUS, que pretende demonstrar o

esforço em conferir visibilidade ao SUS como política de Estado, é um movimento de

repolitização, de mobilização da sociedade em torno da consolidação dessa política pública; e

o c) Pacto de Gestão, que estabelece diretrizes para a gestão do sistema como:

descentralização, regionalização, financiamento, regulação, participação, programação

pactuada e integrada, gestão do trabalho e educação em saúde (DOURADO; ELIAS, 2011).

O Pacto pela Saúde acabou por estabelecer a regionalização como um eixo

estruturante do Pacto de Gestão. Assim, foram criados os Colegiados de Gestão Regional

(CGR) como um dos mecanismos de Gestão Regional, visando à qualificação do processo de

regionalização, sendo que tal instância se caracteriza como espaço permanente de pactuação e

cogestão solidária (SILVA, 2014).

Page 46: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

44

No âmbito das regiões, os governos estaduais são responsáveis por coordenar o

processo de planejamento, do qual os municípios fazem parte como entes políticos

autônomos. Por isso, a regionalização assume dupla perspectiva no contexto das relações

interfederativas: descentralização para os estados e centralização para os municípios. A

proposta da NOAS (BRASIL, 2001a) apostou na capacidade de indução pela esfera federal,

definindo o formato das políticas e esperando pela adesão dos governos municipais e pela

colaboração dos governos estaduais. Mesmo assim, a resposta não foi satisfatória, pois o

ambiente político não foi favorável à implantação da regionalização “de cima para baixo”;

além disso, faltaram incentivos consistentes para a participação dos estados. Por outro lado, a

experiência dos consórcios intermunicipais, que vinha desde a década de 1980, mostrava que

a associação voluntária e a livre interação entre os municípios não eram suficientes para

garantir acesso universal e igualitário ao SUS, no nível regional (DOURADO; ELIAS, 2011).

Dessa forma, a proposta de regionalização do Pacto de 2006, parte do êxito do

processo de descentralização/municipalização realizado na década de 1990, e de seus efeitos

não desejados, relacionados à atomização do sistema para, assim, alcançar os resultados não

obtidos pela NOAS (BRASIL, 2001a), a partir da modificação de alguns preceitos do modelo

de gestão regional. Nesse caso, o Pacto pela Saúde representou uma transição entre o

entendimento da Norma Operacional de Assistência à Saúde e o conceito de Redes de

Atenção à Saúde, que estava sendo difundido internacionalmente pela Organização Mundial

da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).

Um dos desafios que se coloca à regionalização do SUS é exatamente o

desenvolvimento de instrumentos que fortaleçam a gestão compartilhada e as relações

intergovernamentais em nível regional, a fim de promover a consolidação dessas regiões em

termos de prestação de serviços, capacidade de gestão e de gasto (PEREIRA; BARROS;

AUGUSTO, 2011). Nesse sentido, a regionalização da saúde, associada à descentralização,

visa:

As estratégias adotadas para consolidar a regionalização da saúde, visando transferir

o foco descentralizatório da municipalização para a regionalização, foram: 1) a

elaboração do Plano Diretor de Regionalização e as diretrizes para a organização

regionalizada da assistência, visando à conformação de sistemas de atenção

funcionais e resolutivos nos diversos níveis, sob coordenação das Secretarias de

Estado de Saúde (SES); 2) o fortalecimento da capacidade de gestão do SUS, com a

qualificação do planejamento/programação, regulação, controle e avaliação,

incluindo instrumentos de consolidação de compromissos entre gestores; 3) a

atualização dos critérios e do processo de habilitação de estados e municípios,

visando superar o caráter cartorial desse processo e torná-lo coerente com o conjunto

Page 47: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

45

de mudanças propostas. A NOAS 01/2001 estabeleceu ainda que os Planos Diretores

de Regionalização (PDRs) dos Estados deveriam ser concebidos para garantir o

acesso aos cidadãos, o mais próximo possível de sua residência, a um conjunto de

ações e serviços vinculados à atenção básica e, também, as responsabilidades

mínimas de cada município, como: assistência pré-natal, parto e puerpério, dentre

outras (CHEBLI; PAIVA; STEPHAN-SOUZA, 2010, p. 86).

Para Lima et al. (2012), levando em consideração os vários partícipes, a

regionalização na saúde é um processo político condicionado pelas relações estabelecidas

entre distintos atores sociais (governos, organizações, cidadãos) no espaço geográfico. Inclui,

ainda, o desenvolvimento de estratégias e instrumentos de planejamento, integração, gestão,

regulação e financiamento de uma rede de ações e serviços no território.

Por isso que a proposta de regionalização na saúde não é algo recente, vem com o

SUS, e suas discussões também não são recentes; no entanto, tentando superar a fragmentação

do sistema e sua incapacidade de prestar uma atenção contínua à população, o debate sobre a

regionalização volta à tona com as Redes de Atenção à Saúde – RAS (MENDES, 2010).

Na literatura internacional há evidências de que as ações integradas em rede de

serviços podem melhorar a qualidade clínica, os resultados sanitários, os níveis de satisfação

dos usuários, além de reduzir os custos dos sistemas de atenção à saúde. As experiências com

resultados positivos foram na atenção às pessoas idosas, na saúde mental, no controle do

diabetes, no aumento da satisfação dos usuários, no controle de doenças cardiovasculares, no

controle de doenças respiratórias crônicas e na redução da utilização de serviços

especializados (MENDES, 2010).

No mundo globalizado, estamos configurados em uma sociedade em rede

(CASTELLS, 1999). Sendo que a rede não é um simples ajuntamento de serviços ou

organizações, requer a adoção de elementos que deem sentido ao entrelaçamento de ações e

processos.

Na organização de uma rede, conforme Silva (2008), todos devem reconhecer suas

dependências e interdependências, não havendo espaços para poderes centralizados,

imposições, desníveis de mando. Assim, todos devem, juntos, construir condições para operar

serviços, possibilitar trânsitos, fluxos. Para isso, requer um suporte à relação

interorganizacional com elementos que possam saber quem são os participantes, quais os

recursos envolvidos, as responsabilidades, a coordenação compartilhada, os objetivos

específicos e comuns.

Page 48: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

46

A partir disso, entendemos que a rede de serviços no âmbito da Saúde também

apresenta pontos semelhantes aos anteriormente levantados, como: definir porta de entrada ou

linhas de cuidado, integrar os sistemas de comunicação e informação, ordenamento do acesso

por ordem de classificação de risco, oferta de atendimento às necessidades do indivíduo,

racionalizar a oferta de serviços, evitar a repetição de exames e anamneses, permitir aos

profissionais o acesso aos prontuários e exames de modo integrado, e oferecer educação

sanitária (SILVA, 2008).

Dessa forma, as Redes de Atenção à Saúde vêm com esta nova proposta de

operacionalizar a atuação no campo da saúde, objetivando diminuir os problemas

anteriormente elencados. Assim, essas redes foram instituídas, no Brasil, a partir da Portaria

nº 4.279/2010, elas são um conjunto de ações e serviços de saúde articulados em níveis de

complexidade crescente, com a finalidade de garantir a integralidade da assistência à saúde;

com acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde (BRASIL, 2010a).

Quanto à saúde mental, há uma complexidade invertida, pois exige, no território,

maior complexidade das ações de saúde; enquanto no hospital são mais simplificadas, já que

com o estigma em relação às pessoas com transtorno mental, o lugar que a sociedade os

delega é o hospital, sendo difícil o espaço dentro das ações de saúde na comunidade, logo, as

experiências em reinserir essas pessoas no meio social são essenciais para a formação de uma

clínica que faça um investimento na vida e na subjetividade (SOUSA et al., 2011).

Logo, com o Decreto nº 7.508/2011, foram instituídas as Regiões de Atenção em

Saúde, apresentando-se como espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de

municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais, e de

redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de

integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde. Cada região

vai delimitar os limites geográficos para o acesso, bem como os usuários dos serviços, as

ações dos serviços e as responsabilidades, como critérios de acessibilidade, etc. Como, por

exemplo, para ser uma região de saúde, alguns serviços a seguir deverão constar no território:

atenção primária; urgência e emergência; atenção psicossocial; atenção ambulatorial

especializada e hospitalar; e vigilância em saúde (BRASIL, 2011a).

Tal decreto se apresenta como uma possibilidade de articulação com a Saúde Mental,

que passa a fazer parte, de forma mais efetiva, do Sistema Único de Saúde. Possibilitando,

também, com a Portaria nº 3.088/2011, que instituiu a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS),

Page 49: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

47

maiores oportunidades de acesso dos usuários à rede de serviços do SUS, principalmente

através de práticas interdisciplinares, intersetoriais e voltadas para a integralidade, onde essa

possa ser um princípio ético-político; bem como, interação complexa entre os paradigmas de

conhecimento que servem de base aos programas sociais universais, além de um princípio que

pede uma prática interdisciplinar. Integralidade, como também princípio integrador de

práticas preventivas e assistenciais de diferentes níveis de complexidade; e como forma

organizadora de processos de trabalho e de políticas públicas (VASCONCELOS, 2009).

Para avançar na articulação da RAPS à rede SUS é preciso materializar, no campo das

práticas profissionais, 1) a clínica ampliada enquanto novo horizonte de cuidado; 2) os

determinantes sociais no processo saúde-doença; e 3) a efetivação da Atenção Básica como

um meio de atenção à saúde de baixo custo, para compensar a falta de investimento da

atenção curativa mais especializada e cara.

Deste modo, a clínica ampliada, segundo Goldberg (1998), é a possibilidade de uma

construção de um projeto pessoal inscrito pelas vicissitudes da doença, mas com o interesse

de perseguir um horizonte desejado, para tanto, temos a importância do vínculo entre

profissional-usuário, que deve ser criado e mantido. Também nesse pensamento, Campos

(1997) aponta a clínica ampliada como uma forma de ampliar seu objeto de saber e de

intervenção para incluir, além da doença, o sujeito e seu contexto. Denominando-a de “clínica

do sujeito”, centrada na sua existência concreta, dialogando com sua existência. Yasui e

Costa-Rosa (2008) apontam a necessidade de trazer esse sujeito para ser o participante

principal do seu tratamento, ser ativo e se implicando frente ao seu adoecimento. Esta

construção de autonomia, na visão de Campos e Amaral (2007), só pode ser alcançada a partir

da transformação do papel do usuário, que deixa de ser despotencializado e de ficar à margem

do seu processo, passando a se corresponsabilizar.

A autonomia, também entendida como um conceito relativo, não como a ausência de

qualquer tipo de dependência, mas como uma ampliação da capacidade do usuário de lidar

com sua própria rede, o contexto social e cultural. A ampliação do grau de autonomia pode

ser avaliada pelo aumento da capacidade dos usuários compreenderem e atuarem sobre si

mesmos e sobre a vida. Ou seja, para a clínica ampliada, há a ampliação do objeto, agregando

a ele, além das doenças, a ampliação mais importante, que seria a consideração de que, em

concreto, não há problema de saúde ou doença sem que estejam encarnadas em sujeitos. A

Clínica do sujeito é a principal ampliação sugerida (CAMPOS; AMARAL, 2007).

Page 50: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

48

Outra forma de se conceber a saúde é a partir dos Determinantes Sociais em Saúde

(DSS). Por meio da compreensão do processo saúde-doença como sendo um fenômeno

histórico e multideterminado, outros fatores passam a ser implicados, como os aspectos

presentes na vida de cada ser humano: sua cultura, o lazer, a educação, o trabalho, entre

outros. Esses determinantes nos levam à discussão sobre melhoria na qualidade de vida

(PRATTA; SANTOS, 2009). Assim, para Buss e Pellegrini Filho (2007), a concepção de

saúde como ausência de doença e estritamente biológica, não se aplica na análise da

determinação social em saúde.

Os DSS estão ligados aos fatores sociais, culturais, econômicos, étnicos, raciais,

psicológicos, etc. que exercem influência direta na ocorrência de problemas de saúde e seus

fatores de risco. Nos últimos anos, tanto na literatura nacional como internacional,

observamos grande avanço no estudo das relações entre a maneira como se organiza e se

desenvolve uma determinada sociedade e a situação da saúde de sua população. Isso se deu

em virtude do avanço das desigualdades de saúde entre grupos populacionais que, além de

sistemáticas e relevantes, são também evitáveis, injustas e desnecessárias. São com esses

determinantes que as práticas de saúde devem ser atuantes (BUSS; PELLEGRINI FILHO,

2007).

Um desafio importante em termos conceituais e metodológicos se refere à distinção

entre os determinantes de saúde dos indivíduos e os de grupos e populações, pois alguns

fatores que são importantes para explicar as diferenças no estado de saúde dos indivíduos, não

explicam as diferenças entre grupos de uma sociedade ou entre sociedades diversas. Ou seja,

não basta somar os determinantes de saúde identificados em estudos com indivíduos para

conhecer os que se referem a diferentes grupos da sociedade. Por exemplo, as diferenças de

mortalidade constatadas entre classes sociais ou grupos ocupacionais, não podem ser

explicadas pelos mesmos fatores que se atribuem às diferenças entre indivíduos, pois se

controlamos estes fatores (hábito de fumar, dieta, sedentarismo etc.), as diferenças entre estes

estratos sociais permanecem praticamente inalteradas. Enquanto os fatores individuais são

importantes para identificar que indivíduos no interior de um grupo estão submetidos a maior

risco; as diferenças nos níveis de saúde entre grupos e países estão mais relacionadas com

outros fatores, principalmente o grau de equidade na distribuição de renda (BUSS;

PELLEGRINI FILHO, 2007).

Page 51: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

49

Para avançarmos no modelo biopsicossocial devemos superar o modelo biomédico e

predominantemente centrado na doença, também denominado paradigma curativista. No novo

modelo, resultado de um processo de produção social que expressa a qualidade de vida como

uma condição de existência dos homens no seu viver cotidiano, é importante observarmos as

dimensões subjetivas da produção de saúde, onde possamos relacionar as ideias e concepções

atuais para o caminho da interdisciplinaridade, com o intuito de ampliar o olhar para os

diversos aspectos do processo saúde-doença. Efetivando este novo paradigma, a partir da

produção social da saúde, os princípios desse paradigma, segundo Pereira, Barros e Augusto

(2011, p. 526) são:

1. O corpo humano é um organismo biológico, psicológico e social, ou seja, recebe

informações, organiza, armazena, gera, atribui significados e os transmite, os quais

produzem, por sua vez, maneiras de se comportar; 2. Saúde e doença são condições

que estão em equilíbrio dinâmico; estão codeterminadas por variáveis biológicas,

psicológicas e sociais, todas em constante interação; 3. O estudo, diagnóstico,

prevenção e tratamento de várias doenças devem considerar as contribuições

especiais e diferenciadas dos três conjuntos de variáveis citadas; 4. A etiologia dos

estados de doença é sempre multifatorial. Devem-se considerar os vários níveis

etiopatogênicos e que todos eles requerem uma investigação adequada; 5. A melhor

maneira de cuidar de pessoas que estão doentes se dá por ações integradas,

realizadas por uma equipe de saúde, que deve ser composta por profissionais

especializados em cada uma das três áreas; 6. Saúde não é patrimônio ou

responsabilidade exclusiva de um grupo ou especialidade profissional. A

investigação e o tratamento não podem permanecer exclusivamente nas

especialidades médicas.

O modelo biopsicossocial pressupõe ações integradas e interdisciplinares. Porém,

necessita de amadurecimento, em função da formação dos profissionais de saúde, dos

modelos de gestão, de financiamento e funcionamento do sistema de saúde como um todo.

Nessa perspectiva, em termos de políticas públicas, temos, atualmente, no Brasil, a Política

Nacional de Humanização (PNH), também chamada de HumanizaSUS (BRASIL, 2004b).

Ela se apresenta como uma estratégia para alcançar maior qualificação da atenção e da

gestão dos processos de trabalho em saúde, por meio de um projeto de corresponsabilidade,

além de qualificação dos vínculos entre os profissionais, e desses com os usuários na

produção de saúde (PEREIRA; BARROS; AUGUSTO, 2011). Para esses autores, o papel do

profissional de saúde no paradigma atual é o de cuidador, que substitui o termo tratar pelo

cuidar, no qual tratar remitia a um diagnóstico, e cuidar possibilita tornar possível uma visão

ampliada do sujeito, alvo dos cuidados, e considerando que quem se apresenta para ser

cuidado tem uma história, uma visão de mundo, uma maneira de entender, sentir. Também

nessa concepção, a subjetividade se torna alvo de investimento e transformação do cuidado.

Page 52: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

50

Dessa forma, o cuidado em saúde preconizado pelo paradigma biopsicossocial envolve

a contínua reconstrução de significados a respeito de si, do outro e do mundo, incluindo

significados sobre saúde, doença, qualidade de vida, autonomia, que torna necessária a

criação de um espaço relacional que se posicione além de um saber-fazer

científico/tecnológico (PEREIRA; BARROS; AUGUSTO, 2011).

Na Atenção Básica, como um dos pontos da rede, há que se frisar a importância de se

desinstitucionalizar práticas e saberes engendrados nos serviços, para lidar com os casos de

saúde mental. Dentre os principais pontos para entendermos esta dificuldade da Atenção

Básica em lidar com a saúde mental estão: a dificuldade dos profissionais em acolher as

demandas, ênfase no modelo tradicional de atendimento, além da ausência de educação

permanente e tecnologias de cuidado (MACEDO et al. 2015a). Para esses autores, atuar na

perspectiva da rede requer, antes de mais nada, priorizar ações continuadas e complementares

de cuidado.

Pensando em outros meios de efetivar a RP, conforme Silva Junior e Alves (2007), o

investimento nos modelos técnico-assistenciais do SUS é importante (o investimento) para

observarmos novos caminhos para a saúde mental, apostando não apenas em abertura de

serviço e financiamento de políticas, mas em um modelo de atenção diferente do modelo

tradicional do cuidado, que se consolidou a partir do raciocínio de que o ser humano é

passivo, espectador, e que o cuidado é estabelecido de modo linear, sequencial, e não

considera a capacidade que ele possui de se relacionar e interagir. Assim, ele fica à espera do

cuidado planejado, preciso, verificável, lógico e metódico pelo cuidador, resultado da

mecanização da sua forma de pensar como único caminho para desenvolver o cuidado

(TERRA et al., 2006).

Classificadas por Merhy (2007), as tecnologias de cuidado se apresentam como: na

primeira concepção, em tecnologias duras (são as máquinas, os equipamentos em geral,

usados para exames e cirurgias, etc.), na segunda, o saber técnico estruturado em tecnologias

leve-duras e, na terceira, as relações entre sujeitos, que só têm materialidade em ato:

tecnologias leves. Este debate tem se mostrado importante para que possamos compreender a

organização da assistência à saúde e de sua potência transformadora (MERHY; FRANCO;

MAGALHÃES JÚNIOR, 2005).

Diante disso, é preciso retomar a potência do trabalho em Saúde Mental, ampliando a

oferta de serviços, mas, principalmente, construir dispositivos que orientem a gestão do

Page 53: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

51

cuidado em rede, viabilizando e ampliando o acesso e o acolhimento, articulando, também,

com a rede intersetorial, prezando por uma gestão de rede compartilhada.

Entretanto, existe a dificuldade de os gestores atuarem a partir da gestão

compartilhada, bem como apresentam dificuldade em olhar para a cidade, e se o gestor local

não se apropria do processo, da política, das prerrogativas do SUS, das questões locais, e não

se inclui como sujeito nesse processo, ele não consegue pensar e atuar em seu território. Dessa

maneira, os gestores estão sendo escolhidos politicamente, e não tecnicamente, o que se

configura em grande dificuldade para a execução da política pública no país. Por isso, a

importância dos que gerenciam as políticas e programas sociais estarem inseridos e

implicados com o que gerenciam e com a política nacional.

Page 54: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

52

3 POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ: da centralidade à regionalização

O presente capítulo propõe um breve histórico sobre a estruturação da Política de

Saúde no Piauí, com a implantação da Secretaria de Saúde do Estado (SESAPI), a Comissão

Intergestores Bipartite e o Conselho de Saúde. A ideia é recuperar tais marcadores para

compreendermos o processo de regionalização da Saúde no Estado, colocando em evidência

os desafios de se pensar a descentralização das instâncias gestoras e de assistência, além de

conhecer as condições e os percursos do processo histórico da implantação do trabalho em

rede regionalizada na Política de Saúde Mental do estado do Piauí.

3.1 Breve histórico da saúde no Piauí

Para se pensar no processo histórico da saúde no Piauí, faz-se necessário dialogar com

a primeira instância de gestão consolidada no estado: a Secretaria de Saúde, que já começava

o trabalho de articular a saúde no Piauí, no entanto, a decisão de implantar esta gestão de

saúde estadual parte de uma decisão governamental, como uma espécie de estratégia política,

pautando, ainda, as ações, no chamado assistencialismo, conforme a análise de autores como:

Pedrosa (1997), Amorim (2004), Alencar Júnior (2008), que trabalham com os temas: gestão,

regionalização e descentralização da saúde no Piauí, em sua tese e dissertações,

respectivamente.

O sistema público de saúde é formado pós Constituição Federal de 1988, e por uma

rede de prestação de serviços básicos de saúde, distribuídos pelo interior do estado e na

capital, organizada sob um modelo descentralizado e hierarquizado, sendo gerenciado, em

nível estadual, pela Secretaria de Saúde do Piauí (SESAPI), Comissão Intergestores Bipartite

e Conselho Estadual de Saúde.

A implantação da SESAPI, da CIB e do Conselho de Saúde permitiu efetivar as

relações estabelecidas no poder oligárquico local, que é a marca da política no Piauí desde

seus primórdios, refletindo na máquina de funcionamento do setor público e da burocracia.

No que diz respeito ao setor de saúde enquanto política governamental, ele passa a fazer parte

do cenário de discurso político no estado, em meados da década de 1970, a partir do governo

de Alberto Silva (1972-1975), ganhando estatuto de ação de governo somente na gestão

posterior, de Dirceu Arcoverde. Dessa forma, desde sua criação, a Secretaria de Saúde do

Piauí passou por diversas reformas administrativas, dificuldades de financiamento, grande

Page 55: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

53

rotatividade de cargos, resultando na sua postura centralizadora, principalmente no que diz

respeito à centralização das decisões (PEDROSA, 1997).

Na década de 1980, o governo do estado ainda permaneceu como o sujeito

formulador, executor e avaliador das políticas sociais. É nesse período que temos o Sistema

Único de Saúde (SUS), historicamente se apresentando segundo a lei nº 8.080/90, que o rege,

e de acordo com sua organização temos a regionalização dos serviços. Assim, os estados

devem articular as redes regionalizadas dos serviços, conforme o que a lei apresenta, a partir

de sua organização estabelecida, no intuito de operacionalizar o serviço em rede, em nível de

estado.

Após a criação da Secretaria de Saúde do Piauí – SESAPI, como um marco inicial

de uma política de valorização da saúde no estado. Temos um novo cenário, em

meio a uma mobilização da sociedade, das suas entidades e movimentos,

culminando no fim do regime civil-militar, favorecendo debates e articulações que

convergiram na Assembleia Nacional Constituinte e na promulgação da

Constituição Federal de 1988. A dependência de recursos externos para seu

funcionamento, os “modelos” impostos pelos financiadores de projetos, a

necessidade de (re) direcionamento dos recursos, caracterizam a SESAPI (e

consequentemente sua dinâmica organizacional) como “algo mais” que uma

instituída arena política decisória. É um espaço de luta entre micropoderes políticos

institucionalizados na organização; micropoderes que afirmam sua existência na

estrutura da organização, mas que são reconhecidos como tais ao significarem um

poder diferente daqueles institucionalizados pela autoridade e competência, isto é,

ao propiciarem ações que são desenvolvidas como fatores, por meio da quebra de

barreiras burocráticas, da manipulação de padrões etc (PEDROSA, 1997, p. 82).

Antes mesmo dos conselhos de saúde, o Movimento Popular de Saúde inicia o

processo na execução da saúde. Assim, como aponta Saliba et al. (2009), os Conselhos de

Saúde também atuam no controle da execução da política pública de saúde, ou seja, os

representantes do Conselho de Saúde, que fazem parte do chamado controle social, têm

também participação ativa nessa instância de gestão e em suas decisões. Desse modo, eles são

os representantes da sociedade civil organizada, além desses participantes, os conselhos

também contam com a participação de profissionais e trabalhadores do setor saúde.

Além disso, as diretrizes para o funcionamento dos Conselhos de Saúde reafirmam a

posição e participação do controle social nessa instância, bem como reafirmam a importância

deles na formulação e atuação da política pública de saúde, através da Resolução nº 333/03,

na qual consta que os mesmos devem “atuar na formulação e proposição de estratégia no

controle da execução das políticas de saúde, inclusive em seus aspectos econômicos e

financeiros” (BRASIL, 2003a).

Page 56: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

54

Cabe frisar que no Brasil a democratização e a descentralização trouxeram à tona a

construção de uma cultura política participativa que evidencia os grupos sociais, geralmente

excluídos do poder decisório. Diante da possibilidade de intervenção, os conselhos lutam,

como mecanismos que possam mobilizar a sociedade nessa esfera de mudança e,

principalmente, participação (SALIBA et al., 2009).

Dessa forma, sobre o histórico do Conselho Estadual de Saúde, o apresentamos como:

Uma instância deliberativa da Política de Saúde definida pelo SUS desde 1990,

somente é institucionalizado, no Piauí, em 22 de dezembro de 1992, através da lei nº

4539, decretada pelo Poder Legislativo e sancionada pelo então Governador do

Estado do Piauí. Foi constituído por 32 membros efetivos e respectivos suplentes,

com a seguinte composição: 8 (oito) representantes de Instituições Públicas, quais

sejam: Fundação Nacional de Saúde (1), Fundação Universidade Federal do Piauí

(1), Secretaria Estadual de Saúde (2), Assembleia Legislativa (1), Secretaria de

Planejamento (1), Águas e Esgotos do Piauí S.A – AGESPISA (1), Conselho de

Secretários Municipais de Saúde – COSEMS (1); 8 (oito) representantes dos

Prestadores de Serviços de Saúde e Profissionais de Saúde, assim distribuídos:

Entidades de Profissionais de Saúde (4), Entidades Privadas (2), Entidades

Filantrópicas (2); 16 (dezesseis) representantes dos Usuários, com a seguinte

representação: representantes de Centrais Sindicais com atuação no Estado (1),

representantes de Entidades de Trabalhadores (3), representantes de Entidades

Patronais de Trabalhadores (3), representantes de Entidades de Moradores (1),

representantes de Entidades de Movimentos Populares de Saúde (2), representantes

de Entidades de Portadores de Deficiência e Entidades de Portadores de Doenças

Crônicas Degenerativas (2), representantes de Entidades Não Governamentais no

Estado, que se destinam à Proteção da Criança, especialmente em relação à saúde

(1), representantes de Entidades Não Governamentais no Estado, que se destinam à

Proteção da Mulher, especialmente em relação à saúde (1), representante de

Entidades Não Governamentais no Estado, que se destinam ao Idoso, especialmente

em relação à saúde (1), representante de Entidades Religiosas (1) (AMORIM, 2004,

p. 358).

Quanto à Comissão Intergestores Bipartite (CIB), no estado, foi instituída pela Portaria

GAB-SES/PI de nº 0677/93, de 1º de junho de 1993, caracterizada como uma instância de

gestão constituída por membros que fazem parte da gestão da saúde no Piauí (BRASIL,

1993). Desse modo, ela é composta, conforme prerrogativa da portaria, por representantes da

Secretaria Estadual de Saúde – SES/PI, além de representantes do Conselho de Secretários

Municipais de Saúde – COSEMS-PI.

Como as diretrizes do SUS estabelecem que o sistema de saúde deva ser

descentralizado e municipalizado, regionalizado e hierarquizado, é importante a integração

entre todos os gestores públicos, principalmente no que diz respeito às decisões e ações de

saúde realizadas pelo sistema em seus diferentes níveis. É proposto por lei que cada estado

conte com uma Comissão Intergestores Bipartite, cujas definições e propostas devem ser

Page 57: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

55

aprovadas pelo respectivo Conselho Estadual, submetendo-se ao seu poder deliberativo e

fiscalizador (BRASIL, 1993).

3.2 Regionalização da saúde: cenário nacional e local

Apresentaremos nesta seção, alguns pontos acerca da experiência de regionalização

nacional e da saúde no estado do Piauí, passando pela divisão de regionais de saúde no Piauí,

bem como a proposta de um trabalho em rede regionalizada.

O Ministério da Saúde (MS), por volta da década de 1990, inicia com o Sistema Único

de Saúde (SUS) a descentralização. Isto é, fornece financiamento e atribuições aos estados e

municípios da federação, e aponta que quer receber como retorno o que o SUS lança como

prerrogativas legais. Esse processo se tornou conhecido como estadualização ou

municipalização, e ganhou legitimidade com a Norma Operacional Básica (NOB) (BRASIL,

1996), pelo MS. Até o final de vigência da Norma, em 2001, mais de 99% dos municípios

estavam habilitados em alguma das condições de gestão descentralizada, e somente 12 dos 27

estados da federação estavam habilitados em alguma das condições de gestão (ALENCAR

JÚNIOR, 2008).

Desse modo, a descentralização foi responsável por inúmeras desigualdades entre

estados. Para fazer frente a esta dificuldade, a aposta foi pensar os processos a partir da

cooperação, responsabilidade solidária e negociação, estimulando o compartilhamento de

responsabilidades. A regionalização, em contrapartida, com base no Pacto pela Saúde, vem a

ser um desdobramento do Sistema Único de Saúde (SUS). Tem uma proposta baseada na

política democrática e na reestruturação política depois dos anos de chumbo. O processo de

regionalização, bem como o da descentralização, alcançou maior institucionalidade com a

promulgação do Pacto (IANNI et al., 2012). Assim, um dos maiores desafios atuais, é o de

articular o processo de descentralização e regionalização no SUS aos distintos cenários

políticos regionais, principalmente para que se faça frente ao patrimonialismo local e à

atuação autarquizada entre os níveis de governo.

Sobre a realidade de regionalização no país, apontamos, por exemplo, que na região

metropolitana da Baixada Santista, em São Paulo (um dos estudos que apontam as metrópoles

do país), algumas dificuldades são características da região e dificultam um trabalho de

regionalização local. Foram apontados problemas como a invasão e evasão dos usuários aos

Page 58: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

56

serviços da Baixada, inicialmente justificada por lá estar Santos, um município com ampla

gama de serviços, e que isso seria possível, principalmente, nos atendimentos de média e alta

complexidade, todavia, a colocação dos profissionais era de que o atendimento também estava

sendo feito em nível de atenção básica. Nesse sentido, os autores colocam que se gestores

pensassem na amplitude do processo de regionalização, como pensar para além dos limites

dos municípios, considerando a dinâmica regional e observando que a população busca os

serviços porque não os encontra na sua localidade, e por isso as sub-regiões metropolitanas

são as que mais se aproximam da possibilidade de absorver os fluxos dos usuários, e se os

gestores pensassem assim, compreenderiam que a lógica dos deslocamentos é regional, e não

municipal (IANNI et al., 2012).

Para pensarmos sobre o processo de regionalização no estado do Piauí, trouxemos a

discussão proposta por Pedrosa (1997), que nos auxilia a entender os primórdios da discussão

no Piauí, que inicialmente é marcada pela construção de postos de saúde no interior do estado,

na década de 1970, principalmente com o apoio da SESAPI. No mesmo período, a grande

dificuldade foi o fato de a maioria dos médicos estarem voltados para práticas curativas na

capital (o que não é diferente nos dias de hoje), por conta disso, os municípios do interior do

estado ficaram descobertos em serviços. Pensando nessa situação, o governo toma uma

iniciativa: compete à Universidade Federal do Piauí a proposta de uma nova formação em

medicina, com a intenção de colocar para os médicos o exercício de interiorização da

profissão, descentralizando sua atuação da capital e pensando mais nas cidades do interior.

Dessa forma, segundo Lima et al. (2012), pensar na regionalização em saúde,

voltando-se para uma saúde integral em municípios distantes da capital, é pensar em pontos

importantes como estruturas de coordenação federativa que possam ser implantadas visando a

essa regionalização, e que seja fortalecida a presença de representantes em nível regional

(Colegiados de Gestão Regional e Secretarias de Estado de Saúde) e, principalmente, a

presença de um planejamento regional.

A partir disso, a SESAPI passou a ter o Programa de Interiorização das Ações de

Saúde e Saneamento (PIASS), como norte para ações e os Planos do Governo Estadual. O

programa, até o ano de 1983, foi o modelo de organização das ações de saúde pública. Diante

da racionalidade sistêmica, as organizações que desenvolviam ações do governo passaram por

vários seminários de modernização administrativa, como o que ocorreu na SESAPI, com o

objetivo de analisar sua situação e propor soluções às atividades de atenção à saúde, optando

Page 59: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

57

pela ampliação dos Centros Regionais, que deveriam ser responsáveis pelo planejamento

regional. A regionalização era necessária por conta da extensão do território, da dispersão da

população predominantemente rural, além de outros fatores, como o crescimento econômico

do estado, a complexidade administrativa, variáveis demográficas, econômicas, sociais e

alterações climáticas (PEDROSA, 1997).

Nesse sentido, levantar a questão da regionalização é pôr em pauta o processo de

divisão da rede de saúde no Piauí, pensando as modificações advindas com o tempo, a

demografia e os fatores climáticos e até econômicos, em virtude disso, foi pensada a

regionalização do estado, a partir das regionais de saúde.

Em 1972, com o diagnóstico de saúde do Piauí, foi necessário pensar a divisão do

estado em regionais, principalmente por conta da expansão e dispersão do território, marcado

por uma extensa área rural, além de questões administrativas, sociais, econômicas, climáticas

também se levando em consideração aqui a questão da seca na região e, ainda por cima, não

esquecendo critérios como o fator político, a maior concentração populacional, a distância

entre a sede e os municípios que compõem a região, o acesso rodoviário, muitas vezes difícil

e oneroso chegar à capital para tratamentos que poderiam ser solucionados na região. Eram

regionais que apresentavam o mínimo necessário para serem executadas e administradas, ou

seja, deveria haver a presença de um diretor regional, um médico sanitarista, de preferência;

um supervisor odontológico e, finalmente, uma supervisora que fosse da área de Enfermagem

(PEDROSA, 1997).

No que diz respeito à descentralização das ações de saúde, cabe apontar que no Piauí

as estruturas regionais de saúde obedeceram, desde o início, mais à lógica de desconcentração

de recursos e atividades, do que à lógica da democratização e participação (PEDROSA,

1997). De acordo com Melo (1993), o SUS busca um sistema regionalizado, unificado e

descentralizado. Universalista em sua cobertura, hierarquizado e diversificado, com base no

perfil epidemiológico dos benefícios e, por fim, participativo, para se assegurar o controle

social da política, objetivando um destaque especial à discussão principal da reforma, que é a

descentralização, aspecto que implicava efetivamente a municipalização dos serviços de

atenção à saúde. Todos esses pontos elencados se justificavam em função de se permitir um

controle democrático dos serviços na saúde.

A concretização da descentralização no campo da saúde, enquanto princípio e prática

de planejamento e de gestão, a exemplo dos demais setores sociais implica, portanto, no

Page 60: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

58

reconhecimento das demandas oriundas da sociedade e do direito inerente a essa sociedade de

participar, juntamente com o Estado, da proposição e definição de estratégias potencialmente

capazes de atenderem às suas demandas e necessidades tornando, assim, o campo estatal

público, transparente e acessível a toda a sociedade. Ao participar efetivamente, quer

diretamente, quer através de seus organismos de representação, especialmente através dos

Conselhos de Saúde e Comissão Intergestores Bipartite, a sociedade vem atuando no

fortalecimento do processo de descentralização sem, contudo, pretender assumir ou substituir

funções que são próprias do estado (AMORIM, 2004).

Quanto à descentralização da política pública de saúde no estado do Piauí, nos anos

2000, Alencar Júnior e Passos (2010), analisam dois principais governos nesse ínterim, a

saber: governo Mão Santa e Wellington Dias. E apontam que o comparativo entre os dois

governos apresenta uma realidade econômico-financeira e política do estado, onde o mesmo

apresentou um comportamento de dependência econômico-financeira da União. Com base no

PIB, o Piauí cresceu mais entre 2002 e 2005, do que de 1997 a 2001. O que não modificou

muito, pois o estado continuou a ocupar a pior posição do Nordeste, no que se refere ao

Produto Interno Bruto. E assim, quanto ao primeiro período de 1997-2001:

Quanto à ação política do governo federal, verificou-se o seguinte: a estratégia de

indução promovida pelo MS foi inexpressiva, não incentivando o estado a se

habilitar. Nesse período, houve pouca articulação do MS com a Secretaria de

Estado, principalmente, no que diz respeito à comunhão dos mesmos ideais de

reorganização do SUS, à partilha de informações importantes para capacitação dos

técnicos da secretaria, e à construção de instrumentos de gestão necessários para a

SESAPI preencher os requisitos mínimos para a habilitação. Quanto à ação política

do Executivo estadual, percebeu-se o seguinte: a inexistência de uma orientação

política do Executivo e de um compromisso dos quadros de direção e de técnicos da

SESAPI para a habilitação do estado (ALENCAR JÚNIOR; PASSOS, 2010, p.

130).

Não houve, por parte do governador e dos secretários de saúde, preparação para a

gestão plena; nem houve, por parte dos técnicos, o compromisso de habilitação do estado.

Quanto ao segundo período de 2001-2005:

Nesse momento, houve maior articulação do MS com a SESAPI, principalmente a

partir de 2003, quando o Ministério desenvolveu uma estratégia deliberada de

induzir o estado a se habilitar em gestão plena. Para isso, estreitou relações, realizou

ações conjuntas, capacitou os diretores e técnicos na área de gestão e forneceu total

apoio técnico para a construção dos instrumentos necessários para a habilitação do

estado, monitorando-o e pressionando-o. Quanto à ação do executivo estadual,

percebeu-se uma explícita orientação política, assumida pela quase totalidade corpo

diretivo e técnico da SESAPI, principalmente a partir de 2003, para habilitar o

estado na condição de GPSE. Nos depoimentos dos sujeitos entrevistados, ficou

Page 61: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

59

claro que desde a transição do governo Hugo Napoleão para o governo Wellington

Dias, em 2002, já havia uma forte convicção do governador e do secretário eleitos,

quanto à importância de o estado se habilitar na gestão plena (ALENCAR JÚNIOR;

PASSOS, 2010, p.130).

Isso fez com que a SESAPI, em 2003, aprovasse, na Comissão Intergestores Tripartite

(CIT), a habilitação do Estado em Gestão Plena do Sistema Estadual (GPSE). O que envolveu

todo o corpo técnico no processo.

Portanto, no primeiro período, num cenário econômico-financeiro desfavorável para

a habilitação do estado, sem condições organizativas da SESAPI, sem uma

estratégia de indução do MS e sem uma decisão política de estado favorável à

descentralização, o Piauí não conseguiu preencher os requisitos para sua habilitação

na GPSE. No segundo período, por outro lado, num cenário econômico-financeiro

pouco favorável para a habilitação, já que havia praticamente as mesmas

dificuldades organizativas da SESAPI, com uma estratégia deliberada de indução

realizada pelo MS juntamente com uma ação política do Executivo estadual

favorável ao processo de descentralização da saúde, o Piauí conseguiu preencher os

requisitos mínimos para a sua habilitação (ALENCAR JÚNIOR; PASSOS, 2010, p.

131).

Segundo os autores, os fatores ligados aos condicionantes da ação política foram

determinantes nesse processo. Por isso, para fazer frente a este impasse, foi fundamental a

ação do Ministério da Saúde em incentivar os técnicos e administradores da SESAPI para

habilitar o estado em uma gestão plena e participativa.

Dessa forma, o estado do Piauí passou a ser dividido de acordo com a Política de

Território de Desenvolvimento do estado (CEPRO, 2007), que pretende constituir nova

configuração do planejamento, a partir da abordagem territorial, da identidade,

potencialidades e fragilidades entre os municípios de uma mesma região, de modo a envidar

esforços para a busca de um desenvolvimento mais equitativo. Desse modo, o estado está

dividido geograficamente em quatro macrorregiões (Litoral, Meio-Norte, Semiárido e

Cerrados), e 11 territórios de desenvolvimento.

Os territórios de desenvolvimento são unidades de planejamento da ação

governamental, visando à promoção do desenvolvimento sustentável, à redução das

desigualdades e à melhoria da qualidade de vida, por meio da democratização dos programas

e ações das políticas públicas, bem como à regionalização do orçamento.

Page 62: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

60

Tabela 1 - Macrorregiões e territórios de desenvolvimento do Piauí

Macrorregião Territórios de Desenvolvimento População 1- Litoral Planície Litorânea 265.202

2- Meio-Norte

Cocais

385.072

Carnaubais 157.071

Entre Rios 1.166.815

3- Semiárido

Vale do Sambito

104.024

Vale do Rio Guaribas 359.863

Vale do Rio Canindé 104.492

Serra da Capivara 140.738

4- Cerrados

Vale dos Rios Piauí e Itaueiras

202.961 Tabuleiros do Alto Parnaíba 44.665 Chapada das Mangabeiras 187.457

Fonte: IBGE (2010a).

3.3 Saúde mental no Piauí e suas propostas de descentralização

Neste tópico, traçaremos um breve percurso do processo de Reforma Psiquiátrica no

Piauí e sua consolidação na Rede de Atenção Psicossocial, para explorarmos algumas

questões pertinentes sobre a Saúde Mental no estado.

O Piauí, enquanto um dos nove estados do Nordeste, conta com 224 municípios e

apresenta população de 3.118.360 hab. (IBGE, 2010c). Historicamente, a Saúde Mental no

estado acompanha o cenário nacional, resguardada as devidas proporções e temporalidades,

com as ações concentradas na capital (ROSA, 2011). Ao longo de todos esses anos, desde

1907, com a criação do Asilo dos Alienados, até meados dos anos 1980, a Saúde Mental do

Piauí se concentrou na capital, com o fortalecimento dos dois hospitais psiquiátricos, na

época, um público, o Hospital Areolino de Abreu; outro privado, o Sanatório Meduna

(ROSA, 2005).

Somente com a implantação do Programa de Saúde Mental Comunitária proposto pela

Associação de Saúde Mental Comunitária, hegemonicamente constituída pelo poder

psiquiátrico piauiense da época, é que inspirada no modelo norte-americano de Psiquiatria

Comunitária passa a ampliar os pontos de assistência, anteriormente centrados no hospital,

para serviços ambulatoriais distribuídos pelos bairros da capital e em quatro municípios pelo

interior do estado: Campo Maior, Picos, Floriano e Parnaíba. Apesar de todo o debate do

MTSM no Sudeste do país, que se expandia por todo o território nacional, e depois culminou

Page 63: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

61

no debate crítico-político e de luta “por uma sociedade sem manicômios”, o referido

programa sequer colocou em questão o lugar dos hospitais psiquiátricos piauienses, muito

menos o mandato social da Psiquiatria. Pelo contrário, as ações dos psiquiatras resultaram no

fortalecimento da estrutura e do parque manicomial do Estado, com a psiquiatrização da vida

da população que procurava os ambulatórios para curar seus males sociais e dificuldades da

existência (MACEDO; DIMENSTEIN, 2012a).

Na década de 1990, os debates locais e a força dos psiquiatras acabaram por arrefecer

qualquer tentativa de acompanhar o cenário nacional na abertura de serviços substitutivos ao

hospital. A falta de avanços reais fez com que o Ministério da Saúde pressionasse pela

redução dos leitos, sem qualquer contrapartida do estado e/ou dos municípios na abertura de

serviços psicossociais. As primeiras respostas foram dadas em 1997, quando são criados os

hospitais-dia de Picos e de Parnaíba, segundo momento de descentralização de serviços,

apesar de completamente tímido, frente à extensão e à heterogênea realidade do território

piauiense.

Data, a partir de então, a intensificação de debates legislativos sobre a Saúde Mental,

com a proposição das Leis de Saúde Mental no âmbito estadual e municipal de Teresina

(ROSA, 2005). Sendo que somente a partir dos anos 2000, reconhece-se a força

antimanicomial em âmbito local, com a entrada em cena do debate da Luta Antimanicomial

nos principais espaços de discussão da Saúde Mental no Piauí. Tal acontecimento acirrou os

embates entre os atores sociais envolvidos, mesmo com as dificuldades para a abertura de

novos serviços no Estado (MACEDO, 2011).

Deste modo, observa-se um processo extremamente moroso, devido às resistências do

poder psiquiátrico no estado, resultando em um processo reformista lento e pouco sintonizado

com a proposta de atenção psicossocial. Para Macedo e Dimenstein (2012b), a Reforma

Psiquiátrica no Piauí pode ser dividida em dois momentos: antes e depois de 2001. Antes,

seria reconhecido como “Movimento de Reforma da Assistência Psiquiátrica”, momento que

iniciou nos anos de 1940, até a aprovação da lei 10.216, em 2001 (BRASIL, 2001b). Nesse

período, a reforma piauiense apresentou como principal objetivo aperfeiçoar a estrutura asilar

do estado, centralizando as ações nos dois hospitais localizados na capital, e pouquíssimas

ações nas cidades do interior, com ações ambulatoriais.

Somente em 2004, com a entrada em cena do Ministério Público Estadual como

dispositivo indutor, de fato, da Reforma Psiquiátrica no Piauí, é que se percebem os primeiros

Page 64: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

62

sinais de estruturação da Rede Psicossocial do estado, alinhada aos princípios da Reforma

Psiquiátrica Brasileira. Tal fato sinaliza a difícil correlação de forças no âmbito da Saúde

Mental no estado, em termos de fazer avançar o processo local, já que demoramos 17 anos,

depois de implantado o primeiro CAPS do Brasil, para implantar no Piauí (ROSA, 2006).

Embora com o atraso, depois de 2004, alguns avanços auxiliaram na ampliação e na

interiorização dos serviços no Piauí, onde alcançou rapidamente boa cobertura,

principalmente através de negociações entre a Gerência Estadual de Saúde Mental e os

gestores municipais, processo que também ocorreu por intermédio do Ministério Público

Estadual (MACEDO; DIMENSTEIN, 2012b).

Para melhor compreender os processos indutores deste extraordinário avanço na

implantação de novos serviços de saúde mental em todo o estado, inclusive a partir do

interior, e não da capital, registramos alguns motivos apontados por Macedo e Dimenstein

(2012b, p. 154):

a) O histórico de desassistência em saúde mental no interior, devido à centralidade

de serviços na capital, facilitou o diálogo com os municípios para a estruturação da

rede psicossocial do Estado. A única política visando uma rede de cobertura

regionalizada foi o Programa de Saúde Mental Comunitária, nos anos 1980. No

entanto, a base do trabalho dos núcleos criados pelo referido programa era

basicamente ambulatorial, ficando as situações de crise e urgência psiquiátrica sob a

tradicional prática da “ambulancioterapia” e seus deslocamentos para a capital.

Evidente que tal situação ficou ainda mais precária com a desativação do PSMC. E

mesmo com o funcionamento dos dois hospitais-dia (Picos e Parnaíba), em meados

de 1990, o poder de resposta destes serviços ficou restrito à demanda reprimida de

suas localidades, ficando os demais municípios desassistidos. b) O fato da

implantação dos CAPS significar para os gestores a entrada de mais recursos

financeiros para o município, além da visibilidade política que eles passariam a ter

com a conquista de mais um serviço para a população de sua localidade; esses foram

argumentos fortes para sensibilizar os municípios para a abertura dos serviços. c) O

trabalho de pactuação entre a Gerência Estadual e 12 municípios, intermediado pelo

Ministério Público, possibilitou a expansão da rede de serviços extra-hospitalares. O

pacto também visava sensibilizar os gestores para o desafio da resolutividade dos

serviços para evitar o envio de pacientes em ambulâncias para longas internações na

capital. d) A saída dos primeiros egressos dos cursos de psicologia localizados na

capital para o mercado profissional foi outro fator que contribuiu para a implantação

dos serviços. Tais profissionais visualizaram a abertura dos CAPS no interior do

Estado como uma oportunidade de emprego, sendo que muitos psicólogos foram,

inclusive, os autores dos projetos que originaram os respectivos serviços. Por meio

dessas ações, o processo de reforma local iniciou pelo interior e, atualmente, conta

com 44 CAPS em todo o Estado. Conforme informações da Gerência Estadual,

existem mais 10 serviços para serem abertos, que estão em fase final de

implantação, e outros cinco em fase de elaboração dos projetos para o envio para o

Ministério da Saúde.

Segundo Feitosa e Silva (2014), a rede prioritária da atenção psicossocial deu uma

possibilidade maior de investimento financeiro, o que representou, em 2012, o valor em torno

Page 65: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

63

de 200 milhões a mais para o custeio da rede. Porém, mais do que implantar serviços, é

preciso avançar na construção da rede integrada dos mesmos, a partir da lógica dos territórios

e regiões de saúde, para que se diminuam as iniquidades da distribuição de serviços,

desarticulação e descontinuidade das ações no âmbito do cuidado em saúde mental.

Atualmente, a RAPS vem como proposta de responder as necessidades dos usuários,

ampliando o acesso do usuário e sua família a uma rede ampliada de serviços, com diversos

pontos de atenção, inclusive com articulação intersetorial. Dessa forma:

São objetivos gerais da Rede de Atenção Psicossocial: ampliar o acesso à atenção

psicossocial da população em geral; promover o acesso das pessoas com transtornos

mentais e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras

drogas e suas famílias aos pontos de atenção; e garantir a articulação e integração

dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando o cuidado por

meio do acolhimento, do acompanhamento contínuo e da atenção às urgências. São

objetivos específicos da Rede de Atenção Psicossocial: promover cuidados em saúde

especialmente para grupos mais vulneráveis (criança, adolescente, jovens, pessoas

em situação de rua e populações indígenas); prevenir o consumo e a dependência de

crack, álcool e outras drogas; reduzir danos provocados pelo consumo de crack,

álcool e outras drogas; promover a reabilitação e a reinserção das pessoas com

transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras

drogas na sociedade, por meio do acesso ao trabalho, renda e moradia solidária;

promover mecanismos de formação permanente aos profissionais de saúde;

desenvolver ações intersetoriais de prevenção e redução de danos, em parceria com

organizações governamentais e da sociedade civil; produzir e ofertar informações

sobre direitos das pessoas, medidas de prevenção e cuidado e os serviços disponíveis

na rede; regular e organizar as demandas e os fluxos assistenciais da Rede de

Atenção Psicossocial; e monitorar e avaliar a qualidade dos serviços por meio de

indicadores de efetividade e resolutividade da atenção (BRASIL, 2011b).

De acordo com o cenário histórico de como tem sido construída a regionalização da

Saúde e da Saúde Mental no Piauí, passamos para os capítulos seguintes, com a descrição do

método e a sessão de resultados, para compreendermos o processo de implantação da RAPS

na Planície Litorânea.

Page 66: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

64

4 PERCURSO METODOLÓGICO

4.1 Pesquisa qualitativa

Para a realização deste estudo, ancoramo-nos no método qualitativo, em virtude do

vínculo da pesquisa aos aspectos que permeiam e constituem uma pesquisa qualitativa, que

segundo Minayo (2006) são: o estudo das relações, das representações, da história,

percepções, crenças, opiniões, produtos das interpretações pelas quais os seres humanos

fazem de si mesmos, sentem e pensam. Desse modo, Minayo (2006) aponta a subjetividade e

o simbólico como partes integrantes da realidade social. Assim, o presente método nos

auxilia, na medida em que esse se melhor se adéqua à análise de documentos, em

investigações de grupo e segmentos focalizados e delimitados.

Para nos auxiliar na compreensão do método qualitativo, González Rey (1999) aponta

que a epistemologia qualitativa se apoia em três princípios. No primeiro, o papel do

investigador é aquele que pensa e produz conhecimento no confronto das suas ideias com o

momento empírico onde a teoria não está pronta, no entanto, constrói-se em tensão com o

momento empírico. Logo, a interpretação não se organiza tendo como base categorias

universais que dão conta dos processos que aparecem no decorrer da investigação. A

interpretação, quem constrói, é o pesquisador, e a teoria é um instrumento do investigador no

percurso interpretativo, atua como “marco de referência que mediatiza o curso das

construções teóricas do investigador sobre o objeto” (GONZÁLEZ REY, 1999, p. 38). A

pesquisa, nesse modelo, não esgota o problema, mas, sim, começa a gerar novas zonas de

sentido, possibilitando a construção teórica com relação ao problema abordado, e temos,

então, a passagem de lógica da resposta para lógica da construção.

A produção de conhecimento tem caráter interativo, no segundo princípio, onde a

pesquisa é um processo de comunicação e, essencialmente, um processo dialógico

(GONZÁLEZ REY, 2005). A conversação com o sujeito de pesquisa não é enquadrada em

limites fechados e prontos, neste segundo princípio, faz-se importante o envolvimento em um

sistema conversacional que possibilite a expressão do pesquisador com o sujeito da pesquisa.

Por exemplo, o entrevistado se envolve em um processo de diálogo, por se sentir implicado

no processo da pesquisa, através da produção de diferentes sentidos subjetivos que se

constituíram na relação com o pesquisador e seu tema. A comunicação, desse modo, é a via de

Page 67: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

65

construção de conhecimento, ou seja, através dela a pessoa se expressa, sente-se parte e se

compromete no decorrer do processo da pesquisa, possibilitando o aparecimento de diferentes

processos de sentido subjetivo que caracterizam a expressão desse sujeito. Assim, não se

pretende afirmar que conheceremos diretamente os sentidos subjetivos implicados na

produção da pessoa, mas eles irão emergir durante o processo dialógico, na medida em que a

subjetividade é um sistema vivo, e intervém na qualidade da expressão narrativa,

precisamente pela emocionalidade produzida pelo sujeito, mediante a relação que estabelece

com o mundo, produzindo outras maneiras de subjetivação, que não estão presentes apenas no

discurso.

Por fim, no terceiro princípio, o conhecimento não se legitima pela quantidade de

sujeitos pesquisados, mas pela qualidade de sua expressão, sobre a qual é desenvolvido o

modelo teórico acerca do qual descansam os significados produzidos no curso da pesquisa.

Utilizar a epistemologia qualitativa faz com que se privilegie a significação do

singular para a produção de conhecimento (GONZÁLEZ REY, 2007). Nessa perspectiva, não

se buscam processos padronizados, mas a participação dos sujeitos, através do processo

dialógico em que esses se motivam, por meio da comunicação pesquisador-sujeito. É esta

qualidade da interação que possibilita o espaço relacional se constituir como cenário de

pesquisa, a partir das necessidades das pessoas envolvidas nele.

Assim, corroborando com González Rey (1999), Flick (2004) também aponta que

compreender determinada realidade, por meio da abordagem qualitativa, é percebê-la a partir

da subjetividade e das pessoas envolvidas no processo investigativo.

Logo, na qualidade de parte integrante da pesquisa, com a finalidade de melhor

adequar os instrumentos à realidade, fizemos uso da pesquisa do tipo exploratória

(PIOVESAN; TEMPORINI, 1995). Como ressalta Gil (1999), o objetivo de uma pesquisa

exploratória é se familiarizar com um assunto ainda pouco conhecido, pouco explorado,

devido à novidade do tema e/ou à falta de estudos a respeito.

Para Minayo (2006), a fase da pesquisa exploratória tem como alicerce muitos

esforços, entre eles, o principal: a pesquisa bibliográfica aprofundada, disciplinada, ampla e

crítica. Ampla porque devemos situar o estado em que se encontra o conhecimento atual sobre

o problema; e crítica, porque devemos também estabelecer um diálogo crítico, reflexivo, entre

a teoria e o objeto de investigação.

Page 68: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

66

Além disso, foi realizada pesquisa de campo que vem a ser um termo utilizado entre

antropólogos e sociólogos, que utilizaram o termo na tentativa de diferenciar os estudos

conduzidos em "campo", ou seja, no ambiente “natural” dos sujeitos, dos que eram

desenvolvidos em situações de laboratório ou ambientes controlados pelo investigador

(GODOY, 1995).

4.2 Do local de pesquisa, participantes, instrumentos e análise

4.2.1 Local de pesquisa

Conforme referido na introdução deste projeto, o Território da Planície Litorânea,

localizado na macrorregião Litoral, é o território que iremos nos referir no presente estudo. É

composto por 11 municípios, subdivididos em dois aglomerados: Ilha Grande, Parnaíba, Luís

Correia e Cajueiro da Praia, que compõem o aglomerado 1: Bom Princípio do Piauí, Buriti

dos Lopes, Caraúbas do Piauí, Caxingó, Cocal, Cocal dos Alves e Murici dos Portelas, que

fazem parte do aglomerado 2.

Figura 2 - Munícipios da Planície Litorânea

Fonte: CEPRO (2007).

Page 69: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

67

Ao Leste, a Planície Litorânea faz fronteira com o estado do Maranhão,

especificamente com os municípios de Araioses, Água Doce do Maranhão e Tutoia; e a Oeste,

com o Ceará, município de Granja. Com extensão de 6.193,7 km², para uma população de

265.202 hab., o que corresponde a 9% da população piauiense no último censo (IBGE,

2010c), a região representa importante polo de desenvolvimento regional, considerando as

potencialidades no setor turístico, devido a comportar Área de Proteção Ambiental (APA) do

Delta do Parnaíba, com seus biomas de manguezais, dunas e restingas, além das praias e

lagoas; bem como o crescente número de estabelecimentos e oferta de serviços no âmbito da

saúde e da educação, com destaque para o ensino superior, notadamente concentrado no

principal município da região, que é a cidade de Parnaíba.

Especificamente sobre Parnaíba, em termos populacionais, representa 55% do total de

habitantes dos municípios do território. Sendo o único município do interior do estado que

apresenta população acima de cem mil habitantes (IBGE, 2010a). Ademais, conforme o

quadro a seguir, os outros municípios mais populosos da região são: Luís Correia, Cocal e

Buriti dos Lopes.

Tabela 2 - Território de desenvolvimento da Planície Litorânea em termos populacionais

Nº ORD. PLANÍCIE LITORÂNEA POPULAÇÃO

1. Bom Princípio do Piauí 5.304

2. Buriti dos Lopes 19.074

3. Cajueiro da Praia 7.163

4. Caraúbas do Piauí 5.525

5. Caxingó 5.039

6. Cocal 26.036

7. Cocal dos Alves 5.572

8. Ilha Grande 8.914

9. Luís Correia 28.406

10. Murici dos Portelas 8.464

11. Parnaíba 145.705

TOTAL GERAL 265.202

Fonte: IBGE (2010a)

O município de Parnaíba apresenta como destaque, em suas atividades, o turismo.

Além de ser a principal desembocadura do primeiro braço do Delta do rio Parnaíba, é o

município com a maior abrangência de serviços da RAPS, na região da Planície Litorânea.

Apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,687

(IBGE, 2010a). No aspecto econômico, apresenta destaque para a pecuária bovina, com 8.469

Page 70: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

68

cabeças de gado, e para a agricultura, com o cultivo de banana, seguido da castanha de caju,

manga (IBGE, 2013d).

Luís Correia também está localizado na região litorânea, sendo um município marcado

pelo atrativo turístico, sendo o segundo munícipio da Planície com o maior número de

serviços da RAPS ofertados em seu território. Conta com um IDHM de 0,541 (IBGE, 2010a).

Apresenta destaque na sua produção agrícola municipal, com o coco da Bahia e a castanha de

caju, e a produção de camarão (aquicultura), com 1.688.000 kg, com o valor de produção

anual de R$ 18.568,00 (IBGE, 2013c).

O município que segue é a terceira oferta em termos de serviços da rede. Trata-se de

Cocal. É importante ressaltar que tal município, em seus primórdios, fazia parte da zona rural

de Parnaíba. Apresenta IDHM de 0,497 (IBGE, 2010a) e é caracterizado pela sua pecuária de

rebanho bovino de 7.077 cabeças de gado e 13.172 de rebanho caprino (IBGE, 2013b).

Por fim, o município de Buriti dos Lopes, o quarto município em maior abrangência

em serviços da rede na região, com IDHM de 0,574 (IBGE, 2010a). Apresenta sua produção

econômica baseada na agropecuária, com maior destaque para a criação do rebanho bovino,

tendo efetivo rebanho de 8.592 cabeças de gado. E na agricultura, destaca-se na produção de

arroz em casca, 10.366 toneladas por ano, seguida da produção de feijão e milho (IBGE,

2013a).

Tais municípios se caracterizam quanto ao aspecto econômico da região, com algumas

atividades em expansão, eles têm grande potencial econômico, contrastando com a

inexistência de saneamento ambiental para provimento de condições de salubridade do meio

físico à saúde e ao bem-estar da população, tais como: abastecimento e qualidade de água

para consumo humano, esgotamento sanitário, drenagem urbana, coleta, uso e ocupação dos

solos e eficiência na gestão dos serviços de educação e saúde (CODEVASF, 2006).

No âmbito da Saúde, de acordo com os dados do Cadastro Nacional de

Estabelecimentos de Saúde (BRASIL, 2015a), registram-se os seguintes serviços vinculados à

RAPS do território da Planície Litorânea.

Page 71: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

69

Quadro 2 - Planície Litorânea, estabelecimentos de saúde e pontos da RAPS

Município Estabelecimentos

Públicos de Saúde

Pontos da RAPS

Bom Princípio 4 APSs 3 ESFs

1 NASF

Caxingó 4 APSs 2 ESFs

Cocal dos Alves 4 APSs 2 ESFs

Cajueiro da Praia 5 APSs 3 ESFs

Caraúbas 6 APSs 2 ESFs

Murici dos Portelas 6 APSs 3 ESFs

Ilha Grande 8 APSs 5 ESFs

Buriti dos Lopes 13 APSs 9 ESFs

1 NASF

Atenção

psicossocial

especializada

1 CAPS I

Atenção à

urgência e

emergência

1 Hospital municipal

1 SAMU

Cocal 19 APSs 8 ESFs

2 NASFs

Atenção

psicossocial

especializada

1 CAPS I

Atenção à

urgência e

emergência

1 Hospital municipal

1 SAMU

Luís Correia 22 APSs

15 ESFs

2 NASFs

Atenção

psicossocial

especializada

1 CAPS I

Atenção à

urgência e

emergência

1 Hospital municipal

1 SAMU

Parnaíba 41 APSs 37 ESFs

4 NASFs

Atenção

psicossocial

especializada

1 CAPS II

1 CAPS Ad III 24h

Atenção à

urgência e

emergência

1 Hospital Regional

10 Leitos Psiquiátricos

1 SAMU

Fonte: BRASIL (2015a).

Desse modo, apenas 4 municípios da Planície Litorânea (Parnaíba, Luís Correia, Buriti

dos Lopes e Cocal) apresentam dispositivos em comum, em pelo menos três pontos da RAPS,

Page 72: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

70

no âmbito do SUS (APS, Atenção psicossocial especializada e Atenção à urgência e

emergência). Tomando como referência os respectivos serviços vinculados à RAPS do

território da Planície Litorânea, foram esses, portanto, os locais nos quais realizamos nossa

investigação.

4.2.2 Participantes

Os participantes da pesquisa foram gestores, representantes da gestão, passada e atual,

da Saúde Mental do Piauí (n=2), representante do controle social (n=1), da 1ª Regional de

Saúde de Parnaíba (n=1), da Superintendência de Saúde Mental de Parnaíba (n=1) e gestores

ou representantes da Secretaria de Saúde dos quatro municípios indicados anteriormente:

Parnaíba, Luís Correia, Buriti dos Lopes e Cocal, componentes da Planície Litorânea e que

apresentam pontos em comum da RAPS (n=4). Totalizando 9 entrevistas com os primeiros

participantes do processo.

Em outro momento, das rodas de conversa, tivemos a participação de profissionais de

saúde dos quatro municípios citados. As rodas e os participantes foram assim distribuídos:

uma roda de conversa no município de Buriti dos Lopes (n=4), uma roda em Cocal (n=2),

uma roda em Luís Correia (n=3), e uma roda em Parnaíba (n=4), totalizando 13 participantes.

Nesse sentido, a amostra se caracterizou como não probabilística, do tipo intencional

ou de seleção racional, constituída por sujeitos-tipo, onde os elementos são selecionados com

base em critérios que buscam reproduzir as principais características do universo de

profissionais atuantes dentro da RAPS dos munícipios envolvidos na pesquisa.

4.2.3 Instrumentos da pesquisa

Quanto aos instrumentos selecionados, é importante relacionar que cada um

corresponde à intenção de responder a cada objetivo específico proposto neste estudo. Os

instrumentos escolhidos foram: levantamento documental, entrevista semiestruturada e diário

de campo.

A seguir, temos as etapas, para visualizarmos os procedimentos da pesquisa:

Page 73: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

71

1ª Etapa – Análise Documental – destinada à identificação do universo de investigação, a

partir do levantamento de informações que tratam sobre a implantação da RAPS na Planície

Litorânea.

Para Gil (1999), a utilização dessa estratégia metodológica consiste da leitura analítica

de Atas e documentos oficiais – Ofícios, Portarias e demais documentos institucionais

constantes nos arquivos da Gerência de Saúde Mental do Estado do Piauí, localizada na

cidade de Teresina, e na 1ª Regional de Saúde de Parnaíba, para que possamos tomar

conhecimento acerca do processo de implantação da RAPS na Planície Litorânea.

2ª Etapa – Entrevista semiestruturada – destinada a aprofundarmos nossa compreensão

sobre a implantação, os desafios e avanços na regionalização da Política de Saúde Mental, a

partir do olhar e do processo vivido dos gestores (Gerência Estadual de Saúde Mental e

Secretarias Municipais de Saúde) representantes das secretarias de saúde dos quatro

municípios que compõem a maior quantidade de serviços ligados à RAPS na Planície

Litorânea, além de representantes da 1ª Regional de Saúde de Parnaíba, da Superintendência

de Saúde Mental de Parnaíba e representantes do controle social.

Para Fraser e Gondim (2004), a entrevista, na pesquisa qualitativa, privilegia a fala dos

atores sociais, possibilita um nível de compreensão da realidade humana que se apresenta

acessível, através de discursos. Por isso, a entrevista é apropriada em investigações em que o

objetivo é conhecer como as pessoas percebem o mundo. Enfim, a forma precisa de entrevista

que se estabeleceu na pesquisa foi o fato de se poder acessar, de maneira direta ou indireta, as

opiniões, os valores, as crenças e os significados que as pessoas atribuem a si, aos outros e ao

mundo a sua volta, bem como os lugares que frequentam, seu trabalho e relações

estabelecidas. Desse modo, a entrevista semiestruturada, segundo Flick (2004), é uma

entrevista na qual o entrevistador está mais livre para movimentar as perguntas e ir além das

respostas. As pessoas ficam mais livres para usar seus próprios termos. Corroborando com

essa visão, Fraser e Gondim (2004) também acrescentam que na entrevista semiestruturada é

importante dar voz ao interlocutor, para que ele fale do que está acessível à sua mente no

instante do seu contato com o entrevistador, em um processo compartilhado pelos dois atores:

pesquisador e participante.

Nesse sentido, a entrevista semiestruturada apresentou composições: dimensões que

dizem sobre o norte das perguntas e as principais dimensões das perguntas da entrevista

foram: sobre o processo de implantação da RAPS no Estado e na Planície Litorânea;

Page 74: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

72

perguntas acerca dos atores institucionais presentes no processo; e para refletir sobre os

desafios e possibilidades para a efetivação da regionalização da Política de Saúde Mental no

território.

3ª Etapa – Rodas de Conversa – destinadas a identificarmos, a partir do olhar e da

experiência vivida dos profissionais, as ações e a organização do trabalho em rede na atenção

aos casos de saúde mental assistidos pelos serviços que integram a RAPS nos quatro

municípios, anteriormente escolhidos, da Planície Litorânea, bem como aprofundarmos

também o nosso olhar sobre os desafios e dificuldades da regionalização da Política de Saúde

Mental e das dificuldades, também, de se trabalhar em rede.

As rodas de conversa se caracterizam por serem grupos abertos, de tema livre ou

delimitado pelo pesquisador, onde os atores do processo possam falar das suas percepções,

compreensões, entendimentos, críticas, mas, também, dos sentimentos, das angústias, dos

êxitos ou das frustrações sobre determinado tema. Costumam ser realizadas em espaços

abertos, a fim de que se possa elaborar vivências e lidar com emoções, e até alguns

comportamentos defensivos (RIOS, 2007).

As rodas possibilitam a abertura de espaços de encontro, de escuta e de troca, de

aprendizagem, dificuldades e desafios do trabalho realizado. Acreditamos, corroborando com

Coelho (2011), que esse método é um potente meio de acesso aos trabalhadores, pois com as

rodas exploramos a constituição dos sujeitos e dos coletivos (equipes de trabalho), bem como

conhecemos sobre a organização dos estabelecimentos de saúde que estão vinculados, sua

gestão, pois através destes espaços de diálogos propostos pela roda, os trabalhadores puderam

se expressar e, além disso, ouvir uns aos outros, estimulando a autonomia de cada um, a troca

de experiências, de angústias, a troca de informações e de reflexão para a ação.

Nesse sentido, Campos (2003) propõe o Método da Roda ou Paideia, na produção de

saúde com as pessoas e não sobre elas e, por isso, pensa na roda como uma ferramenta eficaz

para se promover reflexões que contribuam para a promoção de sujeitos ativos, e não mais

tomados pela passividade, principalmente no espaço de trabalho.

Com as rodas de conversa há a possibilidade de construções coletivas do processo de

trabalho com as trocas de experiências dos profissionais, com a efetividade dos diversos

olhares sobre a prática profissional, a abertura para o incentivo à criatividade, além da busca

de questionamentos, principalmente sobre suas práticas. E assim, a roda busca avançar nesses

aspectos (TORRES et al., 2012).

Page 75: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

73

Por fim, foram utilizados diários de campo, que auxiliaram no registro de percepções,

impressões, reflexões a respeito da experiência vivenciada no trabalho de campo ao longo das

rodas de conversas descritas anteriormenente, e de reuniões frequentadas com o grupo

condutor da RAPS no estado e na CIB da Planície Litorânea. Acerca da função do diário de

campo, Triviños (2009, p. 155) assim considera:

[...] descrição por escrito de todas as manifestações (verbais, ações, atitudes, etc.)

que o pesquisador observa no sujeito; as circunstâncias físicas que se considerem

necessárias e que rodeiam a este, etc. Também as anotações de campo devem

registrar “as reflexões” do investigador que surjam em face da observação dos

fenômenos. Elas representam ou podem representar as primeiras buscas espontâneas

de significados, as primeiras expressões de explicações.

4.2.4 Procedimentos de coleta de dados

Acerca do percurso metodológico, inicialmente entramos em contato com a Gerência

Estadual de Saúde Mental, onde solicitamos a seguinte documentação: documentos da

Gerência que datavam da implantação da RAPS, a partir de 2011, ano da portaria da RAPS, nº

3.088, de 23 de dezembro de 2011. Ou seja, documentos de 2011 até 2015 (data da realização

da pesquisa), são eles: programações de encontros, congressos, formações, cursos, fóruns,

reuniões sobre a implantação da RAPS no Piauí, ou sobre saúde mental, controle social, de

2011 a 2015. Atas de reuniões, de 2011 a 2015, sobre a implantação da RAPS no Piauí e na

Planície, documentos oficializando as pactuações da RAPS no Piauí e na Planície Litorânea,

documentos que oficializaram o grupo condutor da RAPS no estado e na Planície, relatórios

da gestão passada, documentos de reuniões da CIR, específicos da Planície, documentos

sobre os serviços implantados, os pactuados e repactuados, para o território estadual e para a

Planície Litorânea, documentos sobre o desenho da rede estadual e da rede na Planície,

documento sobre o Plano de Ação Regional, documentos que sinalizaram algum fórum de

discussão sobre a implantação da rede estadual e na Planície, documentos que evidenciaram

os atores que participaram e participam do processo de implantação da RAPS – estadual e na

Planície.

Alguns documentos foram disponibilizados, outros não tivemos acesso, por exemplo,

por motivos de não feitura de algumas atas. Dessa forma, os documentos disponibilizados

serão detalhados no capítulo 4, e detalhadamente analisados. Quanto ao aspecto ético, tivemos

a devida autorização institucional para o acesso de todos os documentos solicitados.

Page 76: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

74

No que diz respeito às entrevistas, tivemos acesso às instâncias gestoras de cada

secretaria de saúde dos municípios selecionados: Buriti dos Lopes, Cocal, Luís Correia e

Parnaíba, onde falamos com os representantes de cada órgão, bem como da Comissão

Intergestores Regional da Planície Litorânea, da 1ª Regional de Saúde de Parnaíba e da

Gerência de Saúde Mental do estado, desse modo, nos apresentamos com o projeto da

pesquisa, os objetivos e ofício de apresentação; em seguida, apresentamos o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido, sendo iniciadas as entrevistas, gravadas em áudio. As

entrevistas foram realizadas, em sua grande maioria, no ambiente de trabalho, em sala

reservada, com autorização para tal. Cada entrevista teve, em média, a duração de uma hora, e

não foram ainda mais estendidas por conta da disponibilidade dos participantes, em geral, no

momento de trabalho. O mesmo se aplica às rodas de conversa, em geral, também em

ambiente de trabalho, com autorização dos gestores, foram também realizadas em média de

uma hora de duração.

Quanto aos diários de campo, resultaram em um total de 8 diários, sendo 4 referentes

às rodas nos municípios citados, ocorridas em 28/07/2015, em Buriti dos Lopes; em

12/08/2015, Luís Correia; e em 20/08/2015, uma pela manhã, em Cocal, e outra à tarde, em

Parnaíba. Registramos, ainda, duas reuniões do grupo condutor da RAPS do estado, a

primeira em 12/05/2015, e outra em 22/10/2015; e duas reuniões na CIB da Planície

Litorânea, ocorridas em 17/03/2015 e 16/06/2015. Cabe destacar que os diários serão

identificados pelas datas aqui citadas.

4.2.5 Análise de dados

Segundo Minayo (2006), na Análise de Conteúdo, teoria e metodologia caminham

lado a lado e aliadas às técnicas e experiências do pesquisador. Busca-se, assim, uma

aproximação dos conhecimentos com a realidade conhecida para produção significativa de um

saber ainda desconhecido sobre essa.

Portanto, a análise de dados não se constitui momento isolado na pesquisa, apesar de

trazer consigo algumas especificidades. Do ponto de vista metodológico: a análise de

conteúdo, parte inicialmente da leitura do primeiro plano das falas (dos entrevistados, dos

documentos que analisa); quando analisa tais documentos passados ou atuais deve ter atenção

Page 77: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

75

com a postura de respeito pelo que dizem; não se deve buscar nos textos uma verdade

essencialista, mas o sentido que quis expressar quem os emitiu.

A Análise de Conteúdo apresenta várias modalidades, e entre elas, foi escolhida a

Análise Temática de Conteúdo, em virtude do tema a ser escolhido, sobre assunto já

determinado. Dessa forma, seguem-se as etapas:

1. Também chamada de pré-análise, essa é realizada a partir da primeira leitura, chamada

de leitura flutuante. Tal procedimento requer o contato direto do pesquisador com o material

colhido em campo, para posterior constituição do corpus da pesquisa, levando em

consideração a exaustividade e a totalidade da leitura do texto;

2. Etapa de classificação e agregação dos dados para definir as categorias de análise a

partir dos temas surgidos ao longo do material produzido na pesquisa;

3. Etapa da interpretação. O pesquisador pode propor inferências e realizar interpretações,

relacionando-as com o referencial teórico exposto, inicialmente, ou possibilitando outras

pistas para a abertura de novas dimensões teóricas e interpretativas, que com a leitura dos

dados colhidos podem emergir (MINAYO, 2006).

4.2.6 Aspectos éticos

Quanto às questões éticas, seguimos os protocolos éticos da pesquisa com seres

humanos, a partir da Resolução nº466 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012b).

Encaminhamos autorização institucional a cada localidade e serviço, onde obtivemos

aprovação das instâncias gestoras municipais de saúde; em seguida, cada participante ficou

com uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A), e assinou

outra cópia, mantida sob a responsabilidade dos pesquisadores. No termo constam o sigilo, as

dúvidas, o cancelamento de participação da pesquisa por parte dos participantes, os contatos

dos pesquisadores e do Comitê de Ética da Universidade Federal do Piauí. Além disso, o

projeto foi aprovado pelo CEP-UFPI, e consta com o CAAE de número

48767815.8.0000.5214.

Page 78: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

76

5 O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA RAPS NA PLANÍCIE LITORÂNEA:

identificação dos atores e percursos

Procuramos organizar os capítulos que seguem, a partir de cada objetivo específico da

pesquisa, que nos auxiliaram na construção dos eixos de discussão. Propomos, portanto, dois

eixos, a saber: 1) percursos para a implantação da Rede de Atenção Psicossocial no Estado,

bem como identificação dos atores envolvidos; e 2) os desafios e possibilidades da RAPS no

Piauí.

Nesse sentido, buscamos, com o presente capítulo, alcançar o objetivo de conhecer o

desenho da Rede de Atenção Psicossocial do estado e, especificamente, da Planície Litorânea,

apresentando seus atores e o percurso trilhado.

Nesta primeira etapa, participaram da pesquisa, gestores ou representantes da gestão

de saúde dos municípios de Buriti dos Lopes, Cocal, Luís Correia e Parnaíba, além de

representantes da Gerência Estadual de Saúde Mental, da CIR da Planície Litorânea, da

Superintendência de Saúde Mental de Parnaíba e do controle social, totalizando 09

participantes, sendo, a maioria, do sexo feminino (n=7) e na faixa etária entre 30 a 39 anos

(n=5). Quanto à formação acadêmica, tivemos, em maioria, a Enfermagem (n=2) como

formação dos entrevistados, seguida de Psicologia, Pedagogia, Serviço Social, Administração,

Medicina Veterinária, e outra (n=6). No que concerne ao tempo de formado, o período entre 5

a 9 anos (n=5) obteve maior número. Nas três últimas perguntas, apenas o entrevistado

representante do controle social não respondeu, em virtude de não se encontrar em cargo de

gestão dentro de alguma instância de governo.

Entre os entrevistados, é importante frisar que contamos com membros que

participaram da composição do primeiro grupo condutor estadual da RAPS, formado em

2012, na gestão passada da Gerência de Saúde Mental (2011-2014) período que corresponde à

criação da portaria que instituiu a RAPS nº 3.088/2011, bem como membros que participam

da atual composição do grupo condutor estadual, formado em 2015 e, ainda, alguns que

estiveram na composição do grupo passado e continuam fazendo parte do grupo atual.

5.1 Identificação dos documentos e atores

Trataremos aqui de toda a documentação disponibilizada pela Gerência de Saúde

Mental do Piauí, a respeito do processo de implantação da RAPS no estado. A documentação

Page 79: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

77

nos auxilia a compreender o processo do desenho da rede realizado em nível estadual, onde

encontraremos também a Planície Litorânea.

Cabe frisar que a documentação disponibilizada pela Gerência de Saúde Mental do

estado foram os documentos que seguem, excetuando o documento 8, fornecido pela 1ª

Regional de Saúde da Planície Litorânea:

1) Plano de Ação da Rede de Atenção Psicossocial do estado do Piauí (2013-2015),

que apresenta um panorama da saúde e saúde mental no Piauí, no período que foi

produzido de 2012, com suas primeiras iniciativas, até 2014; além disso, apresenta

os serviços existentes e os pactuados para cada território de desenvolvimento do

estado, tendo sido produzido com o auxílio de gestores e profissionais de saúde do

Piauí (PIAUÍ, 2014a);

2) Portaria estadual nº 000362/2012, de 29 de agosto de 2012, que instituiu o

primeiro grupo condutor da RAPS no estado (PIAUÍ, 2012);

3) Resolução CIB-PI nº 095/2013, que resolve a aprovação da inclusão de

dispositivos para a RAPS na Planície (PIAUÍ, 2013);

4) Programação completa do I Encontro Regional da Rede de Atenção Psicossocial

do Piauí, realizada em 11 de dezembro de 2013, que reuniu profissionais, gestores

e usuários para discutir os rumos da RAPS no estado;

5) Programação do II Simpósio Álcool e outras Drogas na Contemporaneidade,

realizado pela Secretaria de Estado da Saúde (SESAPI);

6) Resolução CIB-PI nº 033/2014, sobre a aprovação da Unidade de Acolhimento

Adulto Masculino, com gestão estadual, no município de Parnaíba (PIAUÍ, 2014

b);

7) Portaria GAB nº 826/2015, de 09 de abril de 2015, que instituiu o segundo grupo

condutor da RAPS no Piauí (PIAUÍ, 2015b);

8) Resolução da CIR da Planície Litorânea nº 001/2015, que rege a repactuação da

rede para a Região;

9) Documento do Ministério da Saúde (INFORME nº 01/2015), aprovado em

Resolução da CIB-PI nº 37/2015, de 22 de maio de 2015, redefine a composição

da macrorregião Norte (PIAUÍ, 2015c).

Page 80: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

78

Desse modo, vimos que alguns atores participaram mais ativamente da proposta do

Plano de Ação Regional da Rede de Atenção Psicossocial (PIAUÍ, 2014a), foram eles:

● Gestores da Gerência Regional de Saúde Mental e da SESAPI;

● Representantes do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde

(CONASEMS-PI);

● Coordenadores de CIR;

● Representantes das regionais de saúde;

● Secretários municipais de saúde;

● Coordenadores da Atenção Básica dos municípios;

● Representantes de Hospitais Regionais;

● Profissionais de CAPS.

Partindo dos dados encontrados nos documentos supracitados e entrevistas realizadas

com os representantes da Gestão Estadual, da CIR da Planície Litorânea e das Secretarias de

Saúde dos Municípios que compõem a Planície Litorânea, percebemos três momentos

importantes para situarmos o processo de implantação da Rede de Atenção Psicossocial no

estado do Piauí e na Planície Litorânea: 1) As articulações iniciais para o processo de

implantação da RAPS no estado, em 2012; 2) O parecer com a devolutiva do Ministério da

Saúde sobre o Plano da RAPS no estado, em 2014; 3) Momento atual de redesenho e

repactuação da RAPS no estado.

5.2 Articulações iniciais para a implantação da RAPS no Piauí

A portaria que instituiu a RAPS tem como data o fim do ano de 2011. No ano

seguinte, foram iniciadas as discussões sobre o documento, para ser definido o processo de

implantação da Rede de Atenção Psicossocial no estado (FEITOSA; SILVA, 2014). Ainda no

transcorrer do primeiro semestre de 2012, a portaria da RAPS foi discutida com

representantes da gestão dos municípios, por meio de reuniões com os secretários,

coordenadores de CAPS e, principalmente, com diretores de hospitais, assim como foram

feitas visitas em municípios estratégicos, a exemplo de Parnaíba, Picos, Floriano e Piripiri,

inicialmente, por serem sedes de Regionais de Saúde. Participaram desse momento os

apoiadores do Ministério, para explicar sobre a importância da RAPS nos referidos territórios.

Page 81: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

79

Logo, começava a ser estruturada a primeira fase do desenho da Rede e da elaboração do

Plano de Ação Regional da RAPS no Piauí, conforme estabelecia a Portaria 3.088, de 23 de

dezembro de 2011 (PIAUÍ, 2014a).

Ao longo da discussão para elaboração do Plano de Ação Regional, conforme

documentos disponibilizados pela Gerência Estadual, foram realizadas reuniões entre os anos

2012-2013, com adesões dos gestores que demonstraram interesse pela implantação da RAPS.

A partir disso, foram realizadas visitas aos municípios interessados, a fim de serem pactuados

serviços e, paulatinamente, seguir na construção do desenho da Rede, por meio das reuniões

da Comissão Intergestores Regional (CIR), anteriormente denominada de Colegiado de

Gestão Regional (CGR)3.

A Portaria da RAPS ainda previa a instituição de um grupo condutor com atores

institucionais que participassem do processo de estabelecimento da regionalização da atenção

psicossocial. Assim, faziam-se necessários, ao menos, representantes da Secretaria Estadual

de Saúde (SES), do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) e

o apoio institucional do Ministério da Saúde, para formalização do grupo condutor, tendo

como atribuições:

Mobilizar os dirigentes políticos do SUS em cada fase; apoiar a organização dos

processos de trabalho voltados a implantação/implementação da rede; identificar e

apoiar a solução de possíveis pontos críticos em cada fase; monitorar e avaliar o

processo de implantação/implementação da rede (BRASIL, 2011b).

Assim, os primeiros atores a participarem do processo de implantação da RAPS no

Piauí foram os que estiveram à frente do primeiro Grupo Condutor Estadual da Rede de

Atenção Psicossocial, instituído pela Portaria Estadual nº 00036/12, de 29 de agosto de 2012

(PIAUÍ, 2012). O grupo condutor foi formado com base no que estabelecia a Portaria 3.088,

de 23 de dezembro de 2011, configurando-se por dois representantes da Secretaria de Saúde

do Piauí (SESAPI); dois representantes do CONASEMS-PI; dois representantes do Ministério

da Saúde (apoio institucional); um representante das 11 Regiões de Saúde do Piauí; por fim,

com um representante da Fundação Municipal de Teresina.

3 O Colegiado de Gestão Regional (CGR) foi a denominação anterior do que, atualmente, chama-se de Comissão

Intergestores Regional (CIR), caracteriza-se por ser uma estrutura criada pelo Pacto pela Saúde, objetivando

qualificar a regionalização no SUS, de modo que garanta o exercício da ação cooperativa entre os gestores nas

regiões de saúde, formando um espaço de governança em âmbito regional (BRASIL, 2006).

Page 82: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

80

Nessa perspectiva, o Plano de Ação de implantação da RAPS no Piauí foi composto

considerando os itens estabelecidos pela Portaria 3.088, de 23 de dezembro de 2011: a)

caracterização do estado, em termos de distribuição de serviços da RAPS nos territórios; b)

desenho da rede; c) processo de implantação da rede; d) ampliação do acesso aos

componentes da rede; e) encaminhamento do plano ao MS.

Quanto à primeira etapa sobre a caracterização do estado, definiu-se que os 11

territórios de desenvolvimento deveriam contar com uma Rede composta por serviços e

equipamentos variados, tais como: Centros de Atenção Psicossocial (CAPSs); Serviços

Residenciais Terapêuticos (SRTs); Centros de Convivência e Cultura, Unidade de

Acolhimento (UAs), e leitos integrais em Saúde Mental de atenção integral em saúde mental

(em Hospitais Gerais). Porém, nem todos os territórios apresentavam a cobertura total de

serviços da rede. Pelo contrário, o que caracterizava os territórios do Piauí, no início de 2012,

eram basicamente dois tipos de dispositivos localizados nos seguintes pontos de atenção: a)

atenção básica: equipes da Estratégia de Saúde da Família (presente em todos os municípios)

e equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (presente somente em alguns municípios);

b) atenção psicossocial especializada: 43 Centros de Atenção Psicossocial (30 CAPSs I, 7

CAPSs II, 1 CAPS III, 1 CAPS i, 4 CAPSs Ad); c) os demais equipamentos, como serviços

residenciais terapêuticos, unidades de acolhimento, leitos integrais em Saúde Mental em

hospitais gerais e hospitais psiquiátricos estavam localizados basicamente na capital, com

exceção da SRT da cidade de União.

Embora, em 2012, o Piauí apresentasse bons índices de cobertura de CAPS (0,91), de

acordo com Brasil (2012a), outros componentes da Rede eram inexistentes no estado como

um todo, ou em determinadas regiões que compunham os territórios de saúde (Centros de

Convivência, Consultório na Rua, CAPS Ad III, dentre outros), ou quando muito, conforme

dito anteriormente, estavam concentrados em Teresina. Sabe-se que cada dispositivo, para ser

implantado, depende do porte populacional da localidade em si, ou da Região de Saúde. Por

isso a dificuldade da maioria das localidades do interior do Piauí em contar com determinados

serviços.

Quanto à segunda etapa, que se refere ao desenho da rede, a proposta partiu da matriz

diagnóstica dos municípios, onde cada documento sinalizou o quantitativo populacional de

cada território de desenvolvimento do estado, e os novos serviços a serem implantados. Sendo

assim, a matriz de cada município foi feita pela gestão local, que serviu como suporte para a

Page 83: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

81

preparação do Plano de Ação Regional. Vale destacar que a elaboração da matriz diagnóstica

contou principalmente com a ajuda do grupo condutor estadual, que incentivou o surgimento

de grupos temáticos com diversos profissionais, para a formulação do Plano de Ação

Estadual, a partir do plano de cada município, conforme apontam os entrevistados.

A Gerência Estadual, que também integra o grupo condutor, começou a realizar visitas

aos territórios, convidando os coordenadores das CIRs, os secretários de saúde, profissionais

de saúde (e saúde mental) para participarem das reuniões e do processo de construção da

matriz diagnóstica. Nessa matriz, era necessário que fossem indicados os serviços existentes

em cada Região de Saúde e nos municípios que compunham cada território, bem como a

necessidade de implantação de novos serviços, quer sob o horizonte do que era possível fazê-

lo inicialmente, quer sob o horizonte do que seria ideal para um determinado município ou

para a Região como um todo.

No município de Parnaíba havia necessidade de um CAPS ad III, por atender Luís

Correia, Buriti dos Lopes e Cocal, e por ele estar ali naquela área e por Parnaíba ser

um município de maior população da Planície Litorânea. Então, o diagnóstico

mostrou que havia um índice grande de usuários de drogas e de pessoas com

transtornos mentais (Gestor 3).

No que se refere à distribuição dos serviços existentes em 2012, o Plano de Ação

(2013- 2015) apresenta o seguinte quadro:

5.2.1 Atenção Básica do Estado do Piauí

A atenção básica contava, na época da elaboração do Plano (2013-2015), com 153

Academias da Saúde, 75 Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs) tipo I e 94

credenciados, 56 NASFs tipo II implantados e 58 credenciados, 85 NASFs tipo III

implantados e 96 credenciados, 943 Equipes de Saúde da Família, 91 Equipes de ESFs do

Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (PROVAB), 176 Equipes ESFs

do Programa Mais Médicos, 1.010 Equipes de Saúde Bucal Modalidade I, 55 Equipes de

Saúde Bucal Modalidade II, 7.166 Agentes comunitários, 01 Consultório de Rua Modalidade

II, 03 Equipes de Atenção Domiciliar (1 EMAD tipo I, 2 EMADs tipo II, 03 Equipes de

Apoio Multiprofissional (EMAP), 31 Centros Especializados em Odontologia (CEOs), 127

Laboratórios de Prótese Dentária (LRPDs).

Page 84: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

82

Apesar dos números apresentados em relação à atenção básica sinalizarem uma

razoável cobertura, ressalta-se que o Piauí conta com uma extensão territorial significativa,

refletindo num estado de grandes distâncias geográficas, fator que acaba por gerar a

concentração ou dispersão dos estabelecimentos de saúde em determinadas localidades. Com

exceção da Região de Saúde Entre Rios, as demais apresentam baixa oferta de serviços, o que

demanda complicadores ao acesso à saúde pela população dessas áreas4.

Segundo apresenta o Plano de Ação Regional, as ações da saúde mental na Atenção

Básica em Saúde (ABS) no estado do Piauí são ainda um desafio a ser superado para que se

possa alcançar uma efetiva integração e efetivação da RAPS no estado. O Plano de Ação é

claro ao apontar que a Gerência Estadual de Saúde Mental vem orientando e monitorando o

desenvolvimento de ações integradas à Atenção Básica junto aos CAPSs como: supervisão

em parceria com as Coordenações e Equipes de Atenção à Saúde da Família, constatando-se

dificuldade no acompanhamento e no cuidado da população que demande atenção

psicossocial; algumas equipes ainda trabalham com a lógica do encaminhamento para o

CAPS, onde muitas vezes as demandas poderiam ser acompanhadas pela Atenção Básica

(PIAUÍ, 2014a).

Apesar de o Plano (PIAUÍ, 2014a), tratar sobre a necessidade de aprofundar as ações

de saúde mental na atenção básica, observa-se a inexistência de registros de ações periódicas e

concretas em todo o Piauí, no sentido de fazer avançar esse desafio. Muitos são os estudos

que reivindicam, nos serviços de atenção básica, maior ênfase no uso de tecnologias

relacionais e de escuta, de maneira a acolher o conjunto de necessidades sociais e de saúde da

população usuária, que tem na ESF a porta de entrada para o SUS, inclusive para a saúde

mental.

A inclusão das questões de saúde mental na política de implantação do PSF mostra-

se como uma efetiva forma de inibir a fragmentação, a parcialização do cuidado,

pois há uma proposta de atuação baseada na integralidade das ações, concebendo o

indivíduo de forma sistêmica e elegendo a família como locus privilegiado da

intervenção (DIMENSTEIN et al., 2005, p. 25).

O desafio quanto à fragmentação dos níveis de assistência na saúde, inclusive

envolvendo a atenção básica e a saúde, não é um problema apenas do Brasil, mas também no

cenário internacional, pois grande parte dos países ainda apresenta (grande parte) sistemas de

saúde fragmentados, principalmente pela falta de um sistema articulado em redes de atenção

4 Ver http://www.resbr.net.br/indicadores/view/index.php?uf=22&indicador=grupo_socio

Page 85: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

83

(MENDES, 2010). Assim, temos, com o fortalecimento das ações de saúde mental na atenção

básica, por meio tanto das equipes da ESF quanto do NASF, um importante vetor de

descentralização da atenção psicossocial, proporcionando maior qualidade no acesso da

população e acolhida das necessidades e indicadores de saúde, estratégia que é fundamental

na superação do modelo medicalizante e excludente em saúde mental. É nesse sentido que

Duarte et al. (2015, p. 476) afirmam:

Os progressos alcançados no sentido de se efetivar a descentralização da política de

saúde são, reconhecidamente, responsáveis pela ampliação do acesso da população

aos serviços, principalmente da Atenção Básica, e pelas melhoras consideráveis nos

indicadores de saúde nacionais.

Entretanto, existem alguns empecilhos que precisam ser observados pelas equipes e

gestores no trabalho de articulação entre saúde mental e atenção básica. O principal deles,

talvez, seja a incorporação de novas tecnologias de trabalho, o que reflete na mudança de

modelos tecnoasssitenciais em saúde, a exemplo do apoio matricial (FEUERWERKER,

2005). Nesse sentido, Dimenstein, Lima e Macedo (2013) entendem o apoio matricial como

uma importante ferramenta que possibilita suporte técnico com orientação e atendimentos em

conjunto, qualificando uma equipe menos experiente a manejar ações em saúde mental, sob a

lógica da clínica ampliada e atenção psicossocial. Tais ações ocorrem sob o princípio do

compartilhamento de saberes e responsabilidades, articulado com ações, e a metodologia da

educação permanente em saúde.

5.2.2 Atenção Psicossocial Especializada

Sobre esse ponto de atenção, o Plano de Ação (2013-2015) relata que nos últimos anos

o aumento do número de CAPS demonstra um maior cuidado e atenção por parte dos gestores

às questões da saúde mental, e isso tem contribuído para que se amplie o acesso a esses

dispositivos, que demandam também melhorias qualitativas no que tange às ações de saúde

mental desenvolvidas nos centros para a sua consolidação em seus territórios de abrangência.

Na realidade de Teresina, por exemplo, esse aumento não tem sido demonstrativo de cuidado

e atenção por parte dos gestores, pois continuam em espaços precarizados.

Cabe frisar que a lógica da rede também não se centra na implantação de serviços, que

é onde a maioria dos gestores acredita (a maioria) que a rede deve acontecer. A luta da saúde

mental vai além da abertura de serviços, e a efetivação da rede deve acontecer, também, por

Page 86: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

84

meiro das práticas, do acolhimento, do cuidado, do vínculo, dentre outros processos incluídos

na denominada clínica ampliada, demonstrando que o transtorno mental não é apenas caso de

CAPS, por isso a dificuldade dos gestores entenderem a lógica desse campo de atuação.

Antes da efetivação da Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011, o Piauí contava

com 39 CAPSs. Após o estabelecimento da RAPS e sua (pretensa) regionalização, o estado

passou a contar com 43 CAPSs em 2012, com a perspectiva de aumentar esse número, devido

às pactuações realizadas. Entretanto, há uma série de fragilidades a serem superadas,

principalmente as que estão relacionadas à organização dos processos de trabalho, na

perspectiva de fazer avançar, no cotidiano dos serviços, o modelo de atenção psicossocial, por

meio da clínica ampliada, da reabilitação psicossocial, e a desinstitucionalização psiquiátrica,

com foco voltado para o cuidado territorial em saúde mental. É nesse sentido que Lancetti

(2008) realiza a discussão sobre a necessidade de se turbinar os CAPSs, na perspectiva de que

possam recuperar o caráter inventivo, participativo e aberto ao território e à rede intersetorial,

em detrimento de sua marca burocrática e cronificadora.

5.2.3 Atenção de urgência e emergência

Com relação a esse ponto da rede de atenção, o contexto em que nos ambientamos,

historicamente nos mostra que são encaminhadas muitas pessoas com histórico ou em

situações de urgência e emergência psiquiátrica, com bastante frequência, para o Hospital

Areolino de Abreu, atualmente o único hospital psiquiátrico do estado, com 160 leitos

integrais em Saúde Mental para internação (FEITOSA, 2015).

O Plano de Ação indica que essa realidade vem sendo transformada, por conta do

acolhimento de Hospitais Gerais municipais em todo o estado, ao disponibilizarem leitos

tanto para situações de crises em decorrência de transtornos mentais quanto para situações de

álcool e outras drogas. Destaca-se que o Plano (PIAUÍ, 2014a) apresenta claramente a ação do

Hospital do Mocambinho como unidade de referência em AD, na perspectiva da redução de

danos, possuindo capacidade para 20 leitos, porém, é sabido que não se trabalha com a

redução de danos.

Apesar de o Plano sinalizar este avanço, não se percebe na prática, sendo que os

serviços nesse nível de atenção, encontram-se com dificuldades de atenção na capital e no

Page 87: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

85

interior, apresentando dificuldade para intervir frente aos casos de urgência e emergência

psiquiátrica.

5.2.4 Atenção hospitalar

Os leitos integrais em Saúde Mental constituem equipamentos de retaguarda hospitalar

para os casos em que a internação se faz necessária, após esgotadas todas as possibilidades de

atendimento em unidades extra-hospitalares e de urgência. A Portaria nº 336/2002, estabelece

que o número de leitos integrais em Saúde Mental não deve ultrapassar 10% da capacidade

hospitalar, chegando ao máximo de 30 leitos por serviço. Além dos leitos, os espaços devem

incluir salas para trabalhos grupais e utilização de áreas externas para realização da atenção e

o cuidado nesse nível de atenção (FERIGATO; CAMPOS; BALLARIN, 2007).

Com relação à ampliação e o aumento de leitos integrais em saúde mental em hospitais

gerais no Piauí, são muitas as dificuldades. O Plano faz referência que 04 hospitais estaduais

(apesar de não discriminar quais e onde) receberam incentivo financeiro do Programa “Crack

é possível vencer” para a implantação de leitos integrais em saúde mental. O Plano ainda

indica que a grande maioria dos hospitais que pactuou (a grande maioria) leitos ainda não

recebeu incentivos, o que, em sua concepção, pode vir a gerar morosidade quanto ao processo

de implantação dos leitos para atender efetivamente às demandas que justifiquem esse

dispositivo (PIAUÍ, 2014a).

Apesar de poucas e vagas as informações do Plano em relação à atenção hospitalar, é

urgente a regionalização deste dispositivo para as demais localidades do estado. A maioria

dos leitos, nessa modalidade de atenção, está (a maioria) concentrada em Teresina. Além

disso, o acesso aos leitos do Hospital Areolino de Abreu tem sido uma queixa recorrente,

especialmente dos municípios do interior, devido à lotação e à falta de regulação. Por não

contarem com leitos integrais em saúde mental regionalizados, a saída desses municípios é a

velha estratégia e prática da “ambulancioterapia”, com o envio dos casos agudos e crônicos,

em situação de crise, para Teresina, como alternativa de forçar a internação. Outra dificuldade

é o financiamento, pois os serviços “teriam que reestruturar a área física do hospital, investir

na capacitação dos profissionais já vinculados à empresa, bem como a contratação de novos

profissionais, que ainda não fazem parte da equipe, como assistente social, psicólogo e

terapeuta ocupacional” (MION; SCHNEIDER, 2003, p. 41).

Page 88: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

86

No entanto, cabe pontuarmos que não somente a implantação de serviços é necessária

nesse processo, tendo em vista que os processos de trabalho dentro das equipes, e por toda a

rede, também são essenciais dentro deste espaço de promoção de saúde, o que de fato não se

encontra no exposto pelo Plano (PIAUÍ, 2014a).

É imprescindível para o tratamento do sujeito, a criação de uma rede de suporte

também extra CAPS. Esta rede pode ser constituída tanto no aspecto ainda

tradicional da saúde como a articulação da assistência ao paciente com os Centros de

Saúde (quando fora da crise), Prontos-Socorros e SAMU, quando necessário; como

também no aspecto intersetorial, com a criação e manutenção da articulação de

diferentes secretarias: saúde, esportes, Cultura, Assistência Social, etc... e ainda o

fortalecimento de seus laços afetivos e sociais, incluindo a família, amigos,

comunidade e com seu próprio território, pois nos momentos, dentro ou fora da

crise, estes laços não podem ser interrompidos, a não ser em casos pontuais de

extrema gravidade e necessidade (FERIGATO; CAMPOS; BALLARIN, 2007, p.

40-41).

5.2.5 Estratégias de desinstitucionalização

O Plano indica que a Gerência Estadual tem implantado Serviços Residenciais

Terapêuticos mediante a proposta de desinstitucionalização para usuários com históricos de

internação de longa permanência em Hospital Psiquiátrico no estado. Refere que foi

implantada, além das já existentes, 01 SRT de gestão do município de Teresina e 01 SRT do

município de União, com 19 beneficiários do Programa de Volta para Casa (PVC).

Totalizando, atualmente, 05 Serviços Residenciais Terapêuticos no Piauí.

De fato, tanto o SRT quanto o PVC são importantes dispositivos de

desinstitucionalização. O Serviço Residencial Terapêutico foi instituído em 11 de fevereiro de

2000, por meio de Portaria nº 106, apresentando algumas configurações:

Os SRTs, ou simplesmente RTs, são moradias ou casas inseridas na comunidade e

destinadas a cuidar dos pacientes egressos de internações psiquiátricas de longa

permanência e que não possuem suporte social e laços familiares. Devem constituir

características físico-funcionais e cada moradia abrigar, no máximo, oito usuários,

acomodados na proporção de até três por dormitório e ser equipada com todos os

móveis e eletrodomésticos básicos de uma moradia comum. Cada residência deve

ter, pelo menos, um profissional de nível superior da área da saúde mental e dois

profissionais de nível médio, com experiência ou capacitação específica em

reabilitação psicossocial. Ao profissional de nível superior cabe a função de ser a

referência técnica da casa, supervisionando diariamente as atividades e o processo

de reabilitação dos moradores. Por sua vez, os profissionais de nível médio atuam

como cuidadores e auxiliares diretos na reinserção social. As abordagens conhecidas

como reabilitação psicossocial são um importante componente da proposta de

atendimento comunitário em saúde mental. Surgiram em virtude da observação de

que os modelos existentes nos anos 1970 eram insuficientes para auxiliar o

tratamento de pacientes que, em razão da própria doença e dos longos períodos de

Page 89: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

87

internação, perderam as habilidades necessárias para a vida na comunidade (VIDAL;

BANDEIRA; GONTIJO, 2008, p. 75).

Para Saraceno (2001), a reabilitação psicossocial se constitui em modelo teórico-

prático com o intuito de possibilitar aos usuários que são crônicos o desenvolvimento de sua

autonomia, retomando suas contratualidades, por exemplo, nas diversas situações do seu

cotidiano.

A reabilitação seria um conjunto de estratégias orientadas a aumentar as

oportunidades de troca e de recursos de afetos; é somente no interior de tal dinâmica

das trocas que se cria um efeito “habilitador”. Assim sendo, a reabilitação é um

processo que implica a abertura de espaços de negociação para o paciente, para sua

família, para a comunidade circundante e para os serviços que se ocupam do

paciente: a dinâmica da negociação é continua e não pode ser codificada de uma vez

por todas, já que os atores (e os poderes) em jogo são muito e reciprocamente

multiplicantes (SARACENO, 2001, p. 112).

Desse modo, quando se fala nos Serviços Residenciais Terapêuticos, deve-se observar,

e há que se ter o cuidado, tanto em nível de Piauí como em todo o país, para não ser um

serviço com base na tutela e nem na lógica manicomial; é preciso agir contra o preconceito,

que pode surgir dos próprios vizinhos ou da comunidade; bem como a articulação do serviço

com a rede de saúde e intersetorial. Esses são aspectos que sequer são referidos no Plano, de

modo que os moradores das residências possam participar das atividades da comunidade em

que estão inseridos, possam estar em contato com a atenção básica e incluídos em espaços de

convivência e fortalecimento de vínculos, participando inclusive de projetos e atividades

desenvolvidas pelo Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e outros, por

exemplo.

Uma vez estabelecido o diagnóstico, em termos dos serviços existentes, foi planejada a

pactuação dos seguintes serviços para o fortalecimento da RAPS em cada território de saúde

do Piauí. Cabe destacar, que a portaria da RAPS nº 3.088/2011, apresenta outros números

(quanto à quantidade de habitantes para implantação dos serviços), no entanto, existe um

anexo da mesma mais recente, datado de 2013, com novos números (de habitantes) para

implantação dos serviços. Logo, a quantidade de habitantes para implantação dos serviços nos

municípios ou regiões está atualizada (a quantidade) conforme o anexo da portaria nº

3.088/2011, o documento é oficial, DOU nº 96, de 21 de maio de 2013:

Page 90: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

88

Quadro 3 - Região, municípios e quantidade de CAPS I pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES* SERVIÇOS

Carnaubais Cocal de Telha (4.525 hab.)

[pactuado com os municípios

Nossa Senhora de Nazaré

(4.556 hab.) e Boa Hora (6.296

hab.)]

15.377 hab.

1 CAPS I

São João da Serra (6.157 hab.)

[pactuado com os municípios

Buriti dos Montes (7.974 hab.)

e Novo Santo Antônio (3.260

hab.)]

17.391 hab.

1 CAPS I

Sigefredo Pacheco (9.619 hab.)

[pactuado com os municípios

Jatobá do Piauí (4.656 hab.) e

Juazeiro do Piauí (4.757 hab.)]

19.032 hab. 1 CAPS I

Chapada das Mangabeiras Avelino Lopes (11.067 hab.)

[pactuado com os municípios

Curimatá (10. 761 hab.) e

Morro Cabeça no Tempo (4.068

hab.)]

25.896 hab.

1 CAPS I

Cristino Castro (9.981 hab.)

[pactuado com os municípios

Palmeira do Piauí (4.993hab.),

Santa Luz (5.513hab.) e

Alvorada do Gurgueia (5.050

hab.)]

25.537 hab. 1 CAPS I

Cocais Capitão de Campos (10.953

hab.) [pactuado com Boqueirão

(6.193 hab.)]

17.146 hab. 1 CAPS I

Entre Rios Barro Duro (6.607 hab.)

[pactuado com Passagem

Franca (4.546 hab.),

Agricolândia (5.098 hab.), Olho

d’água (2.626 hab.) e Lagoinha

(2.656 hab.)]

21.533 hab.

1 CAPS I

Beneditinos (9.911 hab.)

[pactuado com Alto Longá

(13.646 hab.), Pau D’arco

(3.757 hab.) e Coivaras (3.811

hab.)]

31.125 hab.

1 CAPS I

Monsenhor Gil (10.333 hab.),

[pactuado com Lagoa do Piauí

(3.863 hab.), Curralinhos (4.183

hab.) e Miguel Leão (1.253

hab.)]

19.632 hab.

1 CAPS I

Page 91: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

89

Palmeirais (13.745 hab.)

[pactuado com Nazária (8.068

hab.)]

21.813 hab.

1 CAPS I

Planície Litorânea Caraúbas do Piauí (5.525 hab.)

[pactuado com Caxingó (5.039

hab.) e Murici dos Portelas

(8.464 hab.)]

19.028 hab. 1 CAPS I

Território do Vale do Rio

Guaribas Alegrete do Piauí (5.153 hab.)

[pactuado com Belém do Piauí

(3.284 hab.), Padre Marcos

(6.657 hab.) e Francisco

Macedo (2.879 hab.)]

17.973 hab.

1 CAPS I

Fronteiras (11.117 hab.)

[pactuado com todos os

municípios do território

(348.746 hab.)]

359.863 hab.

1 CAPS I

Simões (14.180 hab.) [pactuado

com Marcolândia (7.812 hab.) e

Curral Novo (4.869 hab.)]

26.861 hab. 1 CAPS I

Total 14 CAPSs I

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, municípios ou regiões com

população acima de 15 mil habitantes.

Quadro 4 - Região, municípios e quantidade de CAPS II pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Carnaubais Campo Maior (45.177

hab.) [pactuado com

os demais municípios

do território (111.894

hab.)]

157.071 hab.

1 CAPS II

(Qualificação de

CAPS I para II)

Cocais Barras (44.850 hab.)

[pactuado com todos

os demais municípios

do território

(340.222hab.)]

385.072 hab.

1 CAPS II

(Qualificação de

CAPS I para II)

Pedro II (37.496 hab.)

37.496 hab.

1 CAPS II

(Qualificação de

CAPS I para II)

Entre Rios União (42.654 hab.)

[pactuado com Miguel

Alves (32. 289 hab.),

Lagoa Alegre (8.008

hab.) e José de Freitas

(37.085)]

120.036 hab.

1 CAPS II

(Qualificação de

CAPS I para II)

Território do Vale do

Canindé Simplício Mendes

(12.077 hab.)

[pactuado com todos

104. 492 hab. 1 CAPS II

Page 92: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

90

os demais municípios

do território (92.415

hab.)]

Território do Vale do

Rio Guaribas Paulistana (19.785

hab.) [pactuado com

todos os demais

municípios do

território (340.078

hab.)].

359. 863 hab.

1 CAPS II

Picos (73.414 hab.)

[pactuado com todos

os demais municípios

do território (286.449

hab.)]

359.863 hab. 1 CAPS II

Território do Vale do

Sambito Valença do Piauí

(20.326 hab.)

[pactuado com todos

os demais municípios

do território (83.698

hab.)]

104. 024 hab. 1 CAPS II

Total 8 CAPSs II

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, municípios ou regiões com

população acima de 70 mil habitantes.

Quadro 5 - Região, municípios e quantidade de CAPS III pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Território do Vale dos Rios Piauí

e Itaueiras

Floriano (57.690 hab.)

[pactuado com todos

os demais municípios

do Território do Vale

dos Rios Piauí e

Itaueiras (145.271

hab.) e do

Território Tabuleiro

do Alto Parnaíba

(44.665 hab.)]

247. 626 hab.

CAPS III

(Qualificação

de CAPS II

para CAPS III)

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, municípios ou regiões com

população acima de 150 mil habitantes.

Quadro 6 - Região, municípios e quantidade de CAPS Ad pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Chapada das

Mangabeiras

Bom Jesus (22.629 hab.)

[pactuado com todos os

demais municípios do

território (134.442 hab.)]

157.071 hab. 1 CAPS Ad

Page 93: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

91

Cocais

Esperantina (37.767 hab.)

[pactuado com Batalha

(25.774 hab.), Joaquim Pires

(13.817 hab.), Morro do

Chapéu do Piauí (6.499

hab.), São João do Arraial

(7.336 hab.) e Nossa

Senhora dos Remédios

(8.206 hab.)]

99.399 hab.

1 CAPS Ad

Luzilândia (24.721 hab.)

[pactuado com Matias

Olímpio (10.473 hab.),

Madeiro (7.816 hab.), Joca

Marques (5.100 hab.),

Joaquim Pires (13.817 hab.),

Campo Largo (6.803 hab.) e

Porto (11.897 hab.)]

80. 627 hab. 1 CAPS Ad

Entre Rios

Água Branca (16.451 hab.)

[pactuado com os

municípios que compõem a

microrregião do Médio

Parnaíba (114.338 hab.)]

130.789 hab.

1 CAPS Ad

Demerval Lobão (13.278

hab.) [pactuado com Lagoa

(3.863 hab.), Barro Duro

(6.607 hab.), Monsenhor Gil

(10.333 hab.), Miguel Leão

(1.253 hab.), Curralinhos

(4.183 hab.), Agricolândia

(5.098 hab.) e Passagem

Franca (4.546 hab.)]

49.161 hab.

1 CAPS Ad

União (42.654 hab.)

[pactuado com Miguel

Alves (32.289 hab.), Lagoa

Alegre (8.008 hab.) e José

de Freitas (37.085 hab.)]

120.036 hab.

1 CAPS Ad

Serra da Capivara São Raimundo Nonato

(32.327 hab.) [pactuado com

todos os demais municípios

do território (108.411 hab.)]

140.738 hab. 1 CAPS Ad

Tabuleiro do Alto

Parnaíba

Uruçuí (20.149 hab.)

[pactuado com todos os

demais municípios do

Território do Vale dos Rios

Piauí e Itaueiras (182.812

hab.) e do

247. 626 hab. 1 CAPS Ad

Page 94: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

92

Território Tabuleiro do Alto

Parnaíba (44.665 hab.)]

Território do Vale

do Canindé Oeiras (35.640 hab.) 35. 640 hab. 1 CAPS Ad

Território do Vale

do Rio Guaribas

Paulistana (19.785 hab.)

[pactuado com todos os

demais municípios do

território (340.078 hab.)]

359.863 hab. 1 CAPS Ad

Território do Vale

do Sambito

Valença do Piauí (20.326

hab.) [pactuado com todos

os demais municípios do

território (83.698 hab.)]

104.024 hab. 1 CAPS Ad

Total 11 CAPSs

Ad

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, municípios ou regiões com

população acima de 70 mil habitantes.

Quadro 7 - Região, municípios e quantidade de CAPS ad III pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Carnaubais Campo Maior

(45.177 hab.)

[pactuado com todos

os demais

municípios do

território (111.894

hab.)]

157.071 hab.

1 CAPS Ad III

Cocais Barras (44.850 hab.)

[pactuado com

Batalha (25.774

hab.), Esperantina

(37.767 hab.),

Joaquim Pires

(13.817 hab.),

Luzilândia (24.721

hab.), Joca Marques

(5.100hab.), Morro

do Chapéu (6.499

hab.), São João do

Arraial (7.336 hab.),

Campo Largo do

Piauí (6.803 hab.),

Madeiro (7.816

hab.), Nossa Senhora

dos Remédios (8.206

hab.) e Porto (11.897

hab.)].

200.586 hab.

1 CAPS Ad III

Piripiri (61.834 hab.)

[pactuado com todo

o território (323.238

hab.)]

385.072 hab. 1 CAPS Ad III

(Qualificação de

CAPS Ad para

CAPS Ad III)

Entre Rios Teresina (814.230

hab.) [pactuado com

todos os demais

municípios do

território (352.585

1.166.815 hab.

2 CAPSs Ad III

Page 95: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

93

hab.)]

Território do Vale do

Rio Guaribas Picos (73.414 hab.)

[pactuado com todos

os demais

municípios do

território (286.449

hab.)]

359.863hab.

1 CAPS Ad III

(Qualificação de

CAPS Ad para

CAPS Ad III)

Total 6 CAPSs Ad III

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, municípios ou regiões com

população acima de 150 mil habitantes.

Quadro 8 - Região, municípios e quantidade de CAPS i pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Carnaubais Campo Maior (45.177

hab.) [pactuado com

todos os demais

municípios do Território

(111.894 hab.)]

157.071 hab. 1 CAPS i

Entre Rios Demerval Lobão

(13.278 hab.) [pactuado

com Lagoa (3.863 hab.),

Barro Duro (6.607 hab.),

Monsenhor Gil (10.333

hab.), Miguel Leão

(1.253 hab.),

Curralinhos (4.183hab.),

Agricolândia (5.098

hab.) e Passagem Franca

(4.546 hab.)]

49.161 hab.

1 CAPS i

Miguel Alves (32. 289

hab.) [pactuado com

Lagoa Alegre (8.008

hab.) e União (42.654

hab.)]

82.881 hab.

1 CAPS i

Regeneração (17.556

hab.) [pactuado com a

microrregião do Médio

Parnaíba (113.233 hab.)]

130.789 hab. 1 CAPS i

Teresina (814. 230 hab.)

[pactuado com o

território (352.585 hab.)]

1.166.815 hab. 1 CAPS i

Planície Litorânea Parnaíba (145. 705 hab.)

[pactuado com todo o

território (119.497 hab.)]

265. 202 hab. 1 CAPS i

Território do Vale dos

Rios Piauí e Itaueiras

Floriano (57.690 hab.)

[pactuado com todos os

demais municípios do

Território do Vale dos

Rios Piauí e Itaueiras

(145.271 hab.) e do

Território Tabuleiro do

Alto Parnaíba (44.665

hab.)]

247.626 hab.

1 CAPS i

Page 96: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

94

Território do Vale do

Guaribas Paulistana (19.785 hab.)

[pactuado com todos os

demais municípios do

Território (340.078

hab.)]

359.863 hab.

1 CAPS i

Picos (73.414 hab.)

[pactuado com todos os

demais municípios do

Território (286.449

hab.)]

1 CAPS i

Território do Vale do

Sambito Elesbão Veloso (14.512

hab.) [pactuado com

Barra do Alcântara

(3.852 hab.), Várzea

Grande (4.336 hab.) e

Francinópolis (5.235

hab.)]

27.935 hab.

1 CAPS i

Pimenteiras (11.733

hab.) [pactuado com

Assunção do Piauí

(7.503 hab.)]

19.236 hab. 1 CAPS i

Total 11 CAPSs i

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, municípios ou regiões com

população acima de 70 mil habitantes.

Quadro 9 - Região, municípios e quantidade de CAPS i ad III pactuados

REGIÃO

MUNICÍPIOS PACTUADOS

HABITANTES SERVIÇOS

Entre Rios Teresina (814. 230 hab.) [pactuado

com o território (352.585 hab.)]

1.166.815 hab. 1 CAPS

intantil Ad

III

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme Portaria 3.088/2011, municípios ou regiões com população 150 mil habitantes.

Quadro 10 - Região, municípios e quantidade de Leitos integrais em Saúde Mental em

hospitais gerais pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Carnaubais

Campo Maior (45.177

hab.) [pactuado com

todos os demais

municípios do

Território (111.894

hab.)]

157.071 hab.

10 leitos

Page 97: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

95

Castelo do Piauí

(18.336 hab.)

[pactuado com todos

os demais municípios

do Território (138.735

hab.)]

05 leitos

Chapada das

Mangabeiras

Bom Jesus (22. 629

hab.) [pactuado com

todos os demais

municípios do

Território (164.828

hab.)]

187.457 hab. 06 leitos

Cocais

Barras (44. 850 hab.)

[pactuado com todos

os demais municípios

do Território (340.222

hab.)]

385.072 hab.

07 leitos

Batalha (25. 774 hab.)

[(pactuado com todo o

território)]

04 leitos

Luzilândia (24. 721

hab.) [(pactuado com

todos os demais

municípios do

território (360.351

hab.)]

06 leitos

Esperantina (37.767

hab.)

37.767 hab.

06 leitos

Piracuruca (27.553

hab.) 27.553 hab. 06 leitos

Piripiri (61. 834 hab.) 61.834 hab. 11 leitos

Entre Rios

Água Branca (16.451

hab.)

16.451 hab.

04 leitos

Page 98: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

96

Teresina (814. 230

hab.) [pactuado com

todo o território

(352.585 hab.)]

1.166.815 hab.

10 leitos no HUT,

10 Leitos no Hosp.

Promorar,

04 leitos na

Unidade de Saúde

do Dirceu,

04 leitos na

Unidade de Saúde

do Satélite,

04 leitos na

Unidade de Saúde

do Buenos Aires

União (42.654 hab.) 42.654 hab. 04 leitos

Planície Litorânea

Cocal (26.036 hab.)

[pactuado com

Caxingó (5.039 hab.),

Cocal dos Alves

(5.572 hab.) e

Caraúbas (5.525 hab.)]

42. 172 hab.

04 leitos

Luís Correia (28. 406

hab.) [pactuado com

todo o território

(236.796 hab.)]

265.202 hab.

04 leitos

Parnaíba (145. 705

hab.) [pactuado com

todo o território

(119.497 hab.)]

10 leitos

Serra da Capivara

São João do Piauí (19.

548 hab.) [pactuado

com todo o território

(121.190 hab.)]

140.738 hab.

06 leitos

São Raimundo Nonato

(32. 327 hab.)

[pactuado com todo o

território (108.411

hab.)]

08 leitos no Hosp.

Regional

21 leitos na

Casa da Saúde de

São José

(Conveniado SUS)

Território do Vale

dos Rios Piauí e

Itaueiras

Floriano (57. 690 hab.)

[pactuado com todos

os municípios do

território do Vale dos

Rios Piauí e Itaueiras

(145.271 hab.) e do

247.626 hab.

12 leitos

Page 99: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

97

Alto Parnaíba (44.665

hab.)]

Guadalupe (10. 268

hab.) [pactuado com

todos os municípios

do território do Vale

dos Rios Piauí e

Itaueiras (192.693

hab.) e do Alto

Parnaíba (44.665

hab.)]

04 leitos

Território

Tabuleiro do Alto

Parnaíba

Uruçuí (20. 149 hab.)

[pactuado com todos

os municípios do

território do Vale dos

Rios Piauí e Itaueiras

(182.812 hab.) e do

Alto Parnaíba (44.665

hab.)]

04 leitos

Território do Vale

do Canindé

Oeiras (35.640 hab.)

35. 640 hab. 06 leitos

Território do Vale

do Rio Guaribas

Jaicós (18.035 hab.)

18.035 hab. 4 leitos

Paulistana (19. 785

hab.) [pactuado com

todo o território

(340.078 hab.)]

359.863 hab.

04 leitos

Picos (73. 414 hab.)

[pactuado com todo o

território (286.449

hab.)]

10 leitos

Território do Vale

do Sambito

Valença do Piauí (20.

326 hab.) [pactuado

com todo o território

(83.698 hab.)]

104.024 hab. 04 leitos

Total 202 leitos

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, 1 leito para cada 23 mil habitantes.

Quadro 11 - Região, municípios e quantidade de Serviços Residenciais Terapêuticos pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Cocais Piripiri (61. 834hab.)

[pactuado com todo o

território (323.238

hab.)]

385.072 hab. 1 SRT

Entre Rios Teresina (814. 230

hab.) [pactuado com

1.166.815 hab. 2 SRTs do tipo

I

Page 100: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

98

todo o território

(352.585 hab.)]

Planície Litorânea Parnaíba (145.705 hab.)

[pactuado com todo o

território (119.497

hab.)]

265.202 hab.

1 SRT

Território do Vale do

Guaribas Picos (73. 414 hab.)

[pactuado com todo o

território (286.449

hab.)]

359.863 hab.

1 SRT

Território do Vale do

Sambito Valença do Piauí

(20.326 hab.)

[pactuado com todo o

território (83.698

hab.)]

104.024 hab.

1 SRT

Total 6 SRTs

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, a depender do número de munícipes

que recebam alta após pelo menos dois anos de internação ininterrupta em hospital psiquiátrico ou hospital de

custódia.

Quadro 12 - Região, municípios e quantidade de Unidades de Acolhimento (UA) Adulta pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Chapada das

Mangabeiras

Bom Jesus (22.629 hab.)

[pactuado com todo o

território (164.828

hab.)]

187. 457 hab. 1 UAA

Cocais Barras (44.850 hab.)

[pactuado com todo o

território (340.222

hab.)]

385.072 hab. 1 UAA

Entre Rios Água Branca (16.451

hab.) [pactuado com a

microrregião do Médio

Parnaíba (114.338 hab.)]

130. 789 hab.

1 UAA

Amarante (17.135 hab.)

[pactuado com a

microrregião Médio do

Parnaíba (113. 654

hab.)]

1 UAA

Monsenhor Gil (10.333)

[pactuado com Lagoa do

Piauí (3.863 hab.),

Curralinhos (4.183 hab.)

e Miguel Leão (1.253

hab.)]

19.632 hab.

1 UAA

Teresina (814.230 hab.)

[pactuado com todo o

território (352. 585

hab.)]

1.166.815 hab. 2 UAAs

Page 101: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

99

União (42.654 hab.)

[pactuado com Miguel

Alves (32. 289 hab.),

Lagoa Alegre (8.008

hab.) e José de Freitas

(37.085)]

120.036 hab.

1 UAA

Planície Litorânea Parnaíba (145.705 hab.)

[pactuado com todo o

território (119.497

hab.)] 265. 202 hab.

.

1 UAA

municipal

1 UAA

estadual

Luís Correia (28.406

hab.) [pactuado com

todo o território

(236.796 hab.)]

1 UAA

Vale dos Rios Piauí e

Itaueiras

Floriano (57. 690 hab.)

[pactuado com todos os

municípios do território

do Vale dos Rios Piauí e

Itaueiras (145.271 hab.)

e do Alto Parnaíba

(44.665 hab.)]

247.626 hab. 1 UAA

Território Tabuleiro do

Alto Parnaíba

Uruçuí (20.149 hab.) 20.149 hab. 1 UAA

Território do Vale do

Rio Guaribas

Picos (73.414 hab.)

[pactuado com todo o

território (286.449

hab.)]

359.863 hab. 1 UAA

Total 14 UAAs

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, devem ser seguidas orientações

conforme a Portaria 121, de 25 de janeiro de 2012, para municípios ou regiões com população igual ou superior

de 200.000 habitantes.

Quadro 13 - Região, municípios e quantidade de UA infanto-juvenil pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Carnaubais Campo Maior (45. 177

hab.) [pactuado com

todo o território

(111.894 hab.)]

157.071hab

1 UAI

Castelo do Piauí

(18.336 hab.)

[pactuado com todo o

território (138.735

hab.)]

1 UAI

Chapada das

Mangabeiras Bom Jesus (22.629

hab.) [pactuado com

todo o território

(164.828 hab.)]

187.457 hab. 1 UAI

Cocais Piripiri (61.834 hab.)

[pactuado com todo o

território (323. 258

hab.)]

385.092 hab.

1 UAI

Page 102: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

100

Entre Rios Miguel Alves (32. 289

hab.) [pactuado com

Lagoa Alegre (8.008

hab.) e União (42.654

hab.)]

82.951 hab.

1 UAI

Teresina (814.230

hab.) [pactuado com

todo o território (352.

585 hab.)]

1.166.815 hab.

1 UAI

Planície Litorânea Parnaíba (145.705

hab.) [pactuado com

todo o território

(119.497 hab.)]

265.202 hab. 1 UAI

Serra da Capivara São Raimundo Nonato

(32.327 hab.)

[pactuado com todo o

território (108.411

hab.)]

140.738 hab. 1 UAI

Território do Vale do Rio

Piauí e Itaueiras Floriano (57. 690 hab.)

[pactuado com todos

os municípios do

território do Vale dos

Rios Piauí e Itaueiras

(145.271 hab.) e do

Alto Parnaíba (44.665

hab.)]

247. 626 hab. 1 UAI

Território Tabuleiro do

Alto Parnaíba Uruçuí (20.149 hab.)

20.149 hab. 1 UAI

Território Vale do

Canindé Oeiras (35.640 hab.)

35.640 hab. 1 UAI

Total 11 UAIs

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, devem ser seguidas orientações

conforme a Portaria 121, de 25 de janeiro de 2012, para municípios ou regiões com população igual ou superior

de 200.000 habitantes.

Piripiri, que conta com 61.834 habitantes, foi pactuado com Piracuruca (27.553 hab.),

Capitão de Campos (10.953 hab.), Brasileira (7.966 hab.), Domingos Mourão (4.264 hab.),

Lagoa de São Francisco (6.422 hab.), Milton Brandão (6.769 hab.), Pedro II (37.496 hab.),

São João da Fronteira (5.608 hab.) e São José do Divino (5.148 hab.), totalizando 174.013

habitantes.

Page 103: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

101

Quadro 14 - Região, municípios e quantidade de Centros de Convivência e Cultura pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Cocais Barras (44.850 hab.)

[pactuado com Batalha

(25.774 hab.),

Esperantina (37.767

hab.), Joaquim Pires

(13.817 hab.), Morro do

Chapéu (6.499 hab.),

São João do Arraial

(7.336 hab.), Matias

Olímpio (10.473 hab.),

Campo Largo do Piauí

(6.803 hab.), Porto

(11.897 hab.), Nossa

Senhora dos Remédios

(8.206 hab.), Luzilândia

(24.721 hab.), Madeiro

(7.816 hab.) e Joca

Marques (5.100 hab.)]

211.059 hab. 1 CeCCo

Esperantina (37. 767

hab.) [pactuado com

Luzilândia (24.721

hab.), Batalha (25.774

hab.) e Barras (44.850

hab.)]

133.112 hab. 1CeCCo

Piripiri (61.834 hab.)

[pactuado com

Piracuruca (27.553

hab.), Capitão de

Campos (10.953 hab.),

Brasileira (7.966 hab.),

Domingos Mourão

(4.264 hab.), Lagoa de

São Francisco (6.422

hab.), Milton Brandão

(6.769 hab.), Pedro II

(37.496 hab.), São João

da Fronteira (5.608

hab.) e São José do

Divino (5.148 hab.)]

174.013 hab. 1CeCCo

Total 3 CeCCos

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, devem ser seguidas orientações da

Portaria específica, nº 396, de 07 de julho de 2005, para municípios ou regiões com população igual ou superior

de 200.000 habitantes.

Page 104: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

102

Quadro 15 - Região, municípios e quantidade de Urgência Psicossocial pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Entre Rios Teresina (814. 230

hab.) [pactuado com

todo o território

(352.585 hab.)]

1.166.815 hab. 1 Serviço de

Urgência

Psicossocial

no Hospital

Dirceu

Arcoverde

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, devem ser seguidas orientações da

Portaria específica, a nº 148, de 31 de janeiro de 2012, para municípios ou regiões com população igual ou

superior de 100.000 habitantes.

Quadro 16 - Região, municípios e quantidade de Comunidades Terapêuticas pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Serra da Capivara

São Raimundo Nonato

(32. 327 hab.) [pactuado

com todo o território

(108.411 hab.)]

140.738 hab. 1 CT

Vale do Canindé Oeiras (35. 640 hab.) 35. 640 hab. 1 CT

Total 2 CTs

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Quadro 17 - Região, Municípios e quantidade de Cooperativas sociais pactuados

REGIÃO MUNICÍPIOS PACTUADOS HABITANTES SERVIÇOS

Cocais Esperantina (37. 767

hab.) [pactuado com

Luzilândia (24.721

hab.), Batalha (25.774

hab.) e Barras (44.850

hab.)]

133.112 hab. 1 Cooperativa

social

Piripiri (61.834 hab.)

[pactuado com Pedro II

(37.496 hab.) e

Piracuruca (27.553

hab.)]

126.883 hab.

1 Cooperativa

social

Total

2

Cooperativas

sociais

Fonte: Elaboração própria, com base no Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Nota: Conforme anexo da Portaria 3.088/2011, DOU nº 96, de 21/05/2013, devem ser seguidas orientações da

Portaria nº 132, de 26 de janeiro de 2012.

Os Planos Regionais foram encaminhados para a SESAPI, especificamente para a

Gerência Estadual de Saúde Mental, depois que foram aprovados nas 11 Comissões

Intergestores Regionais e na CIB, de modo a dar seguimento ao processo de implantação da

RAPS no Piauí. A última etapa do processo foi encaminhar as propostas de implantação dos

Page 105: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

103

dispositivos da Rede ao Ministério da Saúde, com fins de liberação dos recursos e

implantação dos serviços previstos para 2013-15.

Conforme apresentado no Quadro 18, foram pactuados, ao todo, 293 novos serviços,

com destaque para a implantação de novos CAPSs (52 serviços) e leitos integrais em saúde

mental (202 leitos).

Quadro 18 - Síntese dos serviços pactuados em cada ponto de atenção da RAPS no Piauí

COMPONENTES DA

REDE

PONTOS DE ATENÇÃO SERVIÇOS

PACTUADOS

QUANTIDADE

Atenção Primária em Saúde

Unidade de Saúde da Família

(USF)

Unidade Básica de Saúde (UBS)

Núcleo de Apoio à Saúde da

Família (NASF)

Consultório de Rua

Centro de Convivência

Centro de

Convivência

3 CeCCos

Atenção Psicossocial

Especializada

Ambulatórios de Saúde Mental

CAPS I

CAPS II

CAPS III

CAPS Ad e AdIII

CAPS i

CAPS I

CAPS II

CAPS III

CAPS Ad e

AdIII

CAPS i

52 CAPSs

Atenção à Urgência e

Emergência

Unidade de Pronto Atendimento e

SAMU

Urgência

Psicossocial

01

Atenção residencial de

caráter transitório

Unidade de Acolhimento Adulto

Unidade de Acolhimento Infanto-

Juvenil

Comunidade Terapêutica

UAA

UA infanto-

juvenil

CT

14 UAAs

11 UAs infanto-

juvenis

2 CTs

Atenção Hospitalar Leitos em Hospital Geral

Enfermaria Especializada

Leitos em

Hospital Geral

202 leitos

Estratégia de

Desinstitucionalização

Serviço Residencial Terapêutico

Programa de Volta para Casa

SRT

6 SRTs

Reabilitação Psicossocial Cooperativas e demais ações

voltadas para inserção trabalho,

escolarização e inserção social

Cooperativa

Social

02

Total 293

Fonte: Elaboração própria, a partir das informações do Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Trata-se, portanto, de um Plano que despertou inúmeras expectativas entre

trabalhadores e, especialmente, para os gestores de todo o Piauí, com a promessa de

implantação de novos serviços, entrada de recursos e possibilidade de contratação de pessoal

para a ampliação da rede de saúde mental em todo o estado. Entretanto, ao nos debruçarmos

sobre o Plano e as pactuações de cada território, é possível levantar, de imediado, pelo menos

dois questionamentos:

Page 106: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

104

1) Não é explicitado, no documento, o porquê da implantação de cada serviço em cada

localidade, ou como chegaram a essas necessidades ou, ainda, qual seria a melhor localização

para o funcionamento de um determinado serviço em uma determinada cidade, caso esse

tenha sido implantado para atender a dois ou mais municípios. O critério parece ser apenas

populacional. O Plano não faz menção, por exemplo, em relação à rede de transporte e

comunicação, de modo a diminuir distâncias e facilitar o acesso de um município ao outro.

2) Se atentarmos para o próprio critério populacional que estabelece as portarias de cada

serviço, nos quadros anteriormente apresentados, há equívocos no documentado apresentado,

quanto ao número de habitantes de determinadas localicadades, que justifiquem a

implantação.

O primeiro equívoco é quanto ao número de habitantes de cada Região de

Saúde que está em desacordo com o Censo de 2010, ou qualquer outra

população estimada para os anos posteriores, até o Plano ser elaborado (2011,

2012, 2013, 2014, 2015).

Quadro 19 - População do Censo 2010, estimativas até 2015 das Regionais de Saúde do Piauí e demonstrativo

populacional do Plano de Ação da RAPS (PIAUÍ, 2014a).

CIR População

(Censo 2010)

População

Estimada

(2011)

População

Estimada

(2012)

População

Estimada

(2013)

População

Estimada

(2014)

População

Estimada

(2015)

População

utilizada no

Plano de Ação

(2013-2015)

Carnaubais 157.071 158.729 159.102 159.433 159.725 159.983 168.037

Chapada das

Mangabeiras 187.457 189.956 190.871 191.684 192.401 193.034 168.037

Cocais 385.072 389.594 390.921 392.099 393.139 394.056 374.139

Entre Rios 1.166.815 1.183.259 1.189.738 1.195.491 1.200.572 1.205.053 1.194.904

Planície

Litorânea 265.202 268.767 270.086 271.257 272.291 273.203 272.015

Serra da

Capivara 140.738 142.668 143.400 144.049 144.622 145.128 144.050

Tabuleiros do

Alto Parnaíba 44.665 45.435 45.808 46.140 46.433 46.692 46.140

Vale do

Canindé 104.492 105.681 106.005 106.293 106.548 106.772 108.179

Vale do Rio

Guaribas 359.863 364.277 365.687 366.939 368.045 369.020 366.939

Vale do

Sambito 104.024 104.863 104.880 104.896 104.909 104.921 105.074

Vale dos Rios

Piauí e

Itaueiras

202.961 204.771 204.958 205.124 205.270 205.399 205.124

Fonte: Elaboração própria, a partir das informações do banco de indicadores da plataforma Região e Redes

Page 107: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

105

No quadro 4, que trata sobre os CAPSs II pactuados, a Portaria nº 3.088/2011

estabelece que este serviço pode ser implantado em municípios ou regiões com

população acima de 70 mil habitantes. Entretanto, o Plano estabelece que no

caso do município de Pedro II, que conta com 37.496 hab., foi pactuada a

qualificação do CAPS I existente naquele município, para CAPS II. Tal

decisão está frontalmente em desacordo ao que estabecele a Portaria da RAPS.

No quadro 6, que trata sobre os CAPSs AD pactuados, a Portaria nº 3.088/2011

estabelece que esse serviço pode ser implantado em municípios ou regiões com

população acima de 70 mil habitantes. Entretanto, o Plano estabelece que no

caso do município de Demerval Lobão, que conta com 13.278 hab., foi

pactuada a implantação de um CAPS AD com Lagoa (3.863 hab.), Barro Duro

(6.607 hab.), Monsenhor Gil (10.333 hab.), Miguel Leão (1.253 hab.),

Curralinhos (4.183 hab.), Agricolândia (5.098 hab.) e Passagem Franca (4.546

hab.), totalizando 49.161 habitantes. Nesse caso, quantativo inferior ao que

estabelece a Portaria da RAPS. O mesmo equívoco ocorre em Oeiras, que

conta com 35.640 hab., e também foi prevista a implantação de um CAPS AD.

No quadro 8, que trata sobre os CAPSs i pactuados, a Portaria nº 3.088/2011

estabelece que esse serviço pode ser implantado em municípios ou regiões com

população acima de 70 mil habitantes. Entretanto, o Plano estabelece que no

caso do município de Demerval Lobão, que conta com 13.278 hab., foi

pactuada a implantação de um CAPS i com Lagoa (3.863 hab.), Barro Duro

(6.607 hab.), Monsenhor Gil (10.333 hab.), Miguel Leão (1.253 hab.),

Curralinhos (4.183 hab.), Agricolândia (5.098 hab.) e Passagem Franca (4.546

hab.), totalizando 49.161 habitantes, quantitativo inferior ao previsto pela

Portaria para implantação do CAPS i. O mesmo equívoco ocorre em Elesbão

Veloso, que conta com população de 14.512 hab., e foi pactuado com Barra do

Alcântara (3.852 hab.), Várzea Grande (4.336 hab.) e Francinópolis (5.235

hab.), totalizando 27.935 habitantes, quantativo também inferior ao

estabelecido pela Portaria. Por fim, o mesmo erro ocorre em Pimenteiras, que

conta com população de 11.733 hab., que foi pactuado com Assunção do Piauí

(7.503 hab.), resultando no total de 19.236 habitantes.

Page 108: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

106

No quadro 10, que trata sobre os Leitos Integrais em Saúde Mental, a Portaria

nº 3.088/2011 estabelece 1 leito para 23 mil habitantes. Entretanto, o Plano

estabelece, de forma equivocada, maior número de leitos do que cada Região

de Saúde comportaria, em determinadas situações; e em outras, ocorre o

inverso, como é o caso de Chapada das Mangabeiras. O único território em

conformidade com a Portaria 148/2012 é o Vale do Sambito, que comporta no

máximo 4 leitos e foram pactuados exatos 4 leitos para o município de Valença

do Piauí, que é referência para toda a Região de Saúde. No total, foram

pactuados 202 leitos no Plano de Ação, enquanto estariam previstos somente

130 leitos.

Quadro 20 - Comparativo entre os leitos previstos pela Portaria 148/2012 e no Plano de Ação do Piauí

CIR MUNICÍPIOS

(N)

POPULAÇÃO

(Censo 2010)

LEITOS

PREVISTOS

CONFORME

PORTARIA

LEITOS

PREVISTOS

PELO PLANO

DE AÇÃO

Carnaubais 15 157.071 6 15

Chapada das

Mangabeiras 23 187.457 8 6

Cocais 23 385.072 16 40

Entre Rios 31 1.166.815 50 40

Planície Litorânea 11 265.202 11 18

Serra da Capivara 18 140.738 6 35

Vale do Canindé 14 104.492 4 6

Vale do Rio Guaribas 42 359.863 15 18

Vale do Sambito 14 104.024 4 4

Tabuleiros do Alto

Parnaíba* 5 44.665

10 20 Vale dos Rios Piauí e

Itaueiras* 28 202.961

Total 130 202

* Pactuação entre as duas Regiões

Fonte: Elaboração própria, a partir das informações do Plano de Ação RAPS (PIAUÍ, 2014a).

Page 109: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

107

No quadro 12, que trata sobre as Unidades de Acolhimento Adulto, a Portaria nº

121/2012 estabelece que esse serviço pode ser implantado em municípios ou

regiões com população acima de 200 mil habitantes. Entretanto, o Plano

estabelece vários equívocos: 1) no caso do município de Bom Jesus, que conta

com 22.629 hab., foi pactuada (a implantação) com todo o território da Chapada

das Mangueiras (187.457 hab.) a implantação de uma UA Adulta; 2) no caso de

Água Branca, que conta com 16.451 hab., foi pactuada (a implantação) com a

microrregião do Médio Parnaíba (130.790 hab.) a implantação de uma UA

Adulta; 3) no caso de Amarante, que conta com 17.135 hab., também foi

pactuada com a microrregião do Médio Parnaíba (130.790 hab.) a implantação

de uma UA Adulta; 4) no caso de Monsenhor Gil, que conta com 10.333 hab.,

foi pactuada (a implantação) com Lagoa do Piauí (3.863 hab.), Curralinhos

(4.183 hab.) e Miguel Leão (1.253 hab.), totalizando somente 19.632 habitantes,

a implantação de uma UA Adulta; 5) no caso de União, que conta com 42.654

hab., foi pactuada (a implantação) com Miguel Alves (32. 289 hab.), Lagoa

Alegre (8.008 hab.) e José de Freitas (37.085), totalizando 120.036 habitantes, a

implantação de uma UA Adulta; e 7) no caso de Uruçuí, que conta com 20.149

habitantes, foi pactuada a implantação de uma UA Adulta. Em todas as

localidades citadas a população pactuada é inferior a 200 mil habitantes, para

implantação da UA Adulta.

No quadro 13, que trata sobre as Unidades de Acolhimento Infanto-Juvenil, a

Portaria nº 121/2012 estabelece que esse serviço pode ser implantado em

municípios ou regiões com população acima de 100 mil habitantes. Entretanto,

o Plano estabelece vários equívocos: 1) no caso do município de Miguel Alves,

que conta com 32.289 hab., foi pactuada (a implantação) com Lagoa Alegre

(8.008 hab.) e União (42.654 hab.), totalizando 82.951 hab., a implantação de

uma UA Infanto-Juvenil; 2) no caso de Uruçuí, que conta com 20.149

habitantes, foi pactuada a implantação de uma UA Infanto-Juvenil; 3) e Oeiras,

que conta com 35.640 habitantes, foi pactuada a implantação de uma UA

Infanto-Juvenil. Em todas as localidades citadas, a população pactuada é

inferior a 200 mil habitantes, para implantação da UA Infanto-Juvenil.

Page 110: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

108

No quadro 14, que trata sobre os Centros de Convivência, a Portaria nº

396/2005 estabelece que esse serviço pode ser implantado em municípios ou

regiões com população acima de 200 mil habitantes. Entretanto, o Plano

estabelece os seguintes equívocos: 1) Esperantina, que conta com 37.767 hab.,

foi pactuado com Luzilândia (24.721 hab.), Batalha (25.774 hab.) e Barras

(44.850 hab.), totalizando 133.112 habitantes; e 2) Piripiri, que conta com

61.834 hab., pactuados com Piracuruca (27.553 hab.), Capitão de Campos

(10.953 hab.), Brasileira (7.966 hab.), Domingos Mourão (4.264 hab.), Lagoa

de São Francisco (6.422 hab.), Milton Brandão (6.769 hab.), Pedro II (37.496

hab.), São João da Fronteira (5.608 hab.) e São José do Divino (5.148 hab.),

totalizando 174. 013 habitantes. Em ambos os casos, a população pactuada é

menor que 200 mil habitantes, o que impossibilita a implatanção do serviço

previsto.

Essa sequência de equívocos demonstra a não observância das Portarias em questão,

que regulamentam a abertura dos serviços. Apesar da tentativa de pactuação entre municípios

próximos e de uma mesma Região de Saúde, em diversos casos o quantitativo populacional

não foi suficiente para atender ao parâmetro das referidas Portarias. Ademais, fica explícita, a

partir do documento, a preocupação somente quanto à implantação de novos serviços. O

Plano não faz menção sobre quaisquer aspectos relacionados à regulação e estratégias para o

funcionamento dos serviços em rede, em termos quanto à cobertura frente às mais diversas

necessidades em saúde mental, desde as mais básicas, às mais complexas, inclusive sob a

perspectiva da garantia da continuidade e complementaridade do cuidado, quer seja no mesmo

território de origem ou nos municípios que contam com uma rede de serviços de maior

complexidade da mesma Região de Saúde.

Especificamente sobre o Plano de Ação da RAPS para a Planície Litorânea, objeto

deste estudo, esse foi apresentado na CIR pela Superintendência de Saúde Mental de

Parnaíba, no ano de 2013. O Plano foi aprovado naquela instância e também na CIB no

mesmo ano (nº 095/2013). Ficou assim estabelecido o desenho regionalizado da Rede para a

Planície Litorânea:

▪ 01 CAPS I em Caraúbas, pactuado com os municípios de Caxingó, Murici dos

Portelas;

▪ 01 CAPS i em Parnaíba, com abrangência de atendimento a todo o território;

Page 111: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

109

▪ 01 Unidade de Acolhimento Infanto-Juvenil em Parnaíba, para atendimento a

todos os municípios do território;

▪ 01 Unidade de Acolhimento Adulto em Parnaíba, com abrangência de

atendimento a todos os municípios do território;

▪ 01 Unidade de Acolhimento Adulto em Luís Correia;

▪ 01 Unidade de Acolhimento Infanto-Juvenil em Cocal, pactuada com municípios

de Caxingó, Cocal dos Alves e Caraúbas;

▪ 01 Serviço Residencial Terapêutico em Parnaíba, com abrangência de

atendimento a todos os municípios do território;

▪ 10 leitos integrais em Saúde Mental atenção psicossocial no Hospital Estadual

Dirceu Arcoverde, localizado em Parnaíba, com abrangência de atendimento a

todos os municípios do território;

▪ 04 leitos integrais em Saúde Mental de atenção psicossocial em Luís Correia;

▪ 04 leitos integrais em Saúde Mental de atenção psicossocial em Cocal, pactuado

com os municípios de Caxingó, Cocal dos Alves e Caraúbas.

Com exceção do quantitativo de leitos pactuados, 18, em vez de 11, conforme

previsto, de acordo com os parâmetros da Portaria respectiva, e as três UA Adulto pactuadas,

em vez de somente uma prevista, seguindo a Portaria respectiva, as demais pactuações

estavam todas em conformidade com as normativas. Novamente a preocupação voltada

apenas para a implantação de serviços, sem a prerrogativa do trabalho em rede, pensando

apenas no critério populacional para abertura dos dispositivos, impera sob a elaboração do

Plano para a Planície Litorânea.

Ainda como parte desse processo, foi realizado o I Encontro da Rede de Atenção

Psicossocial do Estado do Piauí, em 2013, na tentativa de realizar um fórum de discussão e

debates, conforme prevê a Portaria 3.088/2011, mas que na verdade teve o objetivo de dar

visibilidade à proposta de criação da RAPS e apresentar o desenho da Rede em todo o estado.

O evento contou com a presença de diversos profissionais, gestores, autoridades do estado e

do município, representantes do Ministério da Saúde, das instituições de ensino superior,

usuários, entidades da sociedade civil, etc. A programação do evento tratou dos seguintes

temas: saúde mental na atenção básica, atenção psicossocial, atenção residencial de caráter

transitório, atenção hospitalar, estratégias de desinstitucionalização, atenção de urgência e

emergência, estratégias de reabilitação psicossocial, leis, direitos dos usuários, internação

Page 112: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

110

compulsória e saúde coletiva, dentre outros. Como se pode notar, a organização da

programação do encontro, seccionada em cada ponto de atenção, com a intenção de apresentar

os serviços que os compõem, demonstra a dificuldade de se pensar a organização dos serviços

na perspectiva de uma rede integrada de serviços, para responder nas necessidades da

população.

No tópico seguinte, apresentaremos a devolutiva do Ministério da Saúde sobre o Plano

elaborado, bem como as problematizações sobre a forma como a RAPS foi estruturada no

Piauí.

5.3 A devolutiva do Ministério da Saúde sobre o plano da RAPS do Piauí

Uma vez aprovadas as pactuações do Plano de Ação da CIR e CIB, as propostas de

implantação dos dispositivos da Rede dos municípios foram encaminhadas ao Ministério da

Saúde para, após análise e manifestação, ocorrer a liberação dos recursos de implantação dos

serviços pleiteados para 2015 a 2017.

Apesar de não termos tido acesso ao documento de devolutiva, de acordo com os

entrevistados, após análise pelo Ministério da Saúde, esse constata diversas inconsistências no

desenho da rede, especialmente no que se refere à implantação de alguns dispositivos ali

pactuados, inclusive para a Planície Litorânea. Dentre as principais inconsistências apontadas,

conforme relato que colhemos, citam-se:

✓ Análise do contexto de saúde e aspectos sociodemográficos, com imprecisões;

✓ Serviços previstos para serem implantados sem seguir a prerrogativa da normativa

que pressupõe critério populacional para a abertura do serviço (já apontado na

análise que procedemos no tópico anterior);

✓ Falta de infraestrutura nos hospitais gerais das regiões para a ampliação de leitos

integrais em Saúde Mental de atenção psicossocial;

✓ Não observância das normas do Ministério da Saúde quanto à criação de novos

leitos. A autorização seria para liberação de verba de custeio somente para

reforma e ajustes, e não para a construção; dentre outros.

Observando os documentos reunidos com base na Portaria 3.088/2011, em seu Art. 13,

que versa sobre a operacionalização da implantação da Rede de Atenção Psicossocial em

Page 113: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

111

quatro fases, identificamos que o Plano de Ação do Piauí (PIAUÍ, 2014a), nas duas primeiras

fases que antecedem a aprovação na CIR e CIB, do que foi pactuado junto aos municípios

para posterior apreciação junto ao Ministério da Saúde, não seguiu o exigido pelo respectivo

documento:

Fase 1: Desenho Regional da Rede de Atenção Psicossocial – a) O Plano

apresenta dados socioespaciais, geográficos, demográficos, atividade

produtiva e econômica, além de informações sobre a renda da população e

aspectos de saúde materno-infantil, acompanhados da descrição dos serviços

nos diversos níveis de atenção, tal qual apresentado anteriormente. Por outro

lado, não aborda a situação de saúde das pessoas com sofrimento ou transtorno

mental, e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras

drogas, com dados primários e indicadores epidemiológicos. Ademais, apesar

de apresentar os serviços existentes e a necessidade de implantação, não

dimensiona a demanda assistencial com base nos indicadores de saúde mental

do estado e suas respectivas Regiões de Saúde; como também não faz

referência a qualquer análise da situação da regulação, da avaliação e do

controle, da vigilância epidemiológica, do apoio diagnóstico, do transporte e

da auditoria e do controle externo, dentre outros; b) Apesar de o Plano

apresentar as pactuações para compor o desenho da Rede de Atenção

Psicossocial, não indica as atribuições, as responsabilidades e o aporte de

recursos necessários pela União, pelo Estado, e pelos Municípios envolvidos;

c) Em relação à instituição do Fórum da Rede de Atenção Psicossocial, que

conforme a Portaria 3.088/2011, tem como finalidade a construção de espaços

coletivos plurais, heterogêneos e múltiplos para participação cidadã na

construção de um novo modelo de atenção às pessoas com sofrimento ou

transtorno mental, e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e

outras drogas, o que foi feito foi um evento, outrora citado, o I Encontro da

Rede de Atenção Psicossocial do Estado do Piauí, ocorrido em 2013, que na

verdade se tratou de uma ação pontual, sem continuidade, cuja finalidade foi

de apresentar cada ponto de atenção da RAPS sem qualquer discussão sobre a

integração dos diversos serviços que compõem a Rede nos mais diversos

territórios de saúde do Piauí;

Page 114: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

112

Fase 2: Adesão e diagnóstico – Percebe-se que nessa fase todos os itens

exigidos na Portaria foram cumpridos em termos da: apresentação da Rede

existente, apresentação e análise da matriz diagnóstica e homologação na CIR

e CIB, e instituição de Grupo Condutor Estadual. No entanto, como já referido

pelos próprios entrevistados, todo o processo foi feito sem a devida

observância da normativa que pressupõe critério populacional para a abertura

de serviços em vários pontos de atenção. Indaga-se, nesse sentido, se houve,

inclusive, acompanhamento, monitoramento e supervisão, tanto da Gerência

Estadual quanto do Grupo Condutor, nesse processo, tendo em vista que

aspectos primários não foram observados, quando da indicação de abertura de

serviços pelos municípios e respectivas Regiões de Saúde do Piauí.

Na opinião de alguns dos entrevistados acerca da devolutiva do Ministério da Saúde,

muitos secretários de saúde apenas visaram à abertura de dispositivos, sem conhecer as

normativas vigentes e as respectivas formas de custeio. Assim, cada Regional de Saúde

elaborou sua proposta, sendo que o pactuado não levou em consideração os detalhes

estabelecidos nas normativas.

Digo que foi um Plano fictício, porque eles tentaram dar uma passada maior que a

perna; por isso que os municípios não abriram (ou irão abrir) os serviços. Eles não

têm equipe, não têm recursos humanos suficientes, por exemplo. Isso ocorreu

porque realmente desconheciam a portaria. Há muitas coisas que não seguiram,

porque não levaram em conta a realidade. Em função de não terem seguido as

portarias e terem observado a questão populacional, está sendo tudo refeito (Gestor

2).

O Plano não levou em conta os aspectos da realidade, ao desconsiderar os aspectos

anteriormente citados. Com base no percurso exposto, é possível indicarmos as seguintes

linhas de discussão: a) a RAPS, no Piauí, no seu 1º Plano de Ação (2013-2015), resume-se na

mera implantação de serviços, sem considerar estratégias que são da maior urgência, no que

se refere à mudança dos processos de trabalho e organização dos serviços, bem como

estratégias de regulação e acompanhamento, para a garantia do trabalho em Rede em cada

município, e entre os municípios de uma mesma Região de Saúde; b) desconhecimento, por

parte dos gestores e trabalhadores, dos instrumentos e normativas para implantação da RAPS

no Piauí; c) efeitos de um processo verticalizado, além da normatização e impasses com o

financiamento; d) ausência de participação e controle social.

Page 115: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

113

Quanto à questão de o 1º Plano de Ação (2013-2015) ter tratado somente da

implantação de serviços, é preciso pontuar que a existência de um conjunto de serviços que

representem os diversos níveis e pontos de atenção em saúde mental, que se pretende que

estejam integrados, inclusive com a atenção básica, é condição primeira para qualquer

trabalho de estruturação de uma Rede de Atenção, conforme indica Mendes (2010).

No entanto, os próprios entrevistados indicam que a discussão em torno da construção

do desenho da Rede priorizou exclusivamente a implantação dos serviços, deixando de lado

os fatores humanos, sociais, históricos, em termos da organização dos processos de trabalho

das equipes e dos serviços nos diferentes níveis de atenção, além dos aspectos de formação e a

participação dos próprios usuários e familiares dentro desse processo, enquanto protagonistas.

Segue o comentário do entrevistado do controle social a esse respeito: “realmente, eles só

estavam pensando em abrir serviço aqui, abrir serviço ali, nem sabiam direito o que estavam

fazendo”.

Pensar para além da importância da implantação dos serviços é se voltar para as novas

formas de cuidado, em investimento nos recursos humanos, nas tecnologias de cuidado

(acolhimento, gestão do vínculo, clínica ampliada, projeto terapêutico singular, matriciamento

e coordenação do cuidado entre serviços), bem como na formação permanente dos

trabalhadores (MERHY et al., 1997), para que possam contribuir e fortalecer o campo da

saúde mental, incluindo os usuários e familiares, de modo a reconstruir vidas, projetos de

futuro e desenvolver ações protagonistas, além de ativar a potência dos serviços em interface

com o território.

Sobre o desconhecimento dos instrumentos e normativas, a reconstrução do processo

de elaboração do Plano (PIAUÍ, 2014a), a partir dos documentos e das entrevistas, fez-nos

perceber a fragilidade dos processos e instrumentos de gestão, especialmente dos municípios

pequenos, em termos não apenas do desconhecimento das normativas e acompanhamento das

mudanças das resoluções e portarias no âmbito da Saúde, por parte daqueles que estão à frente

das Secretarias Municipais de Saúde, como também, do maior interesse na implantação de

novos serviços, como forma de garantir a entrada de recursos e visibilidade política perante a

população local. Ademais, estes municípios não contam com o acompanhamento e a

orientação devida da instância estadual, por meio da sua Gerência de Saúde Mental, o que

resultou nos equívocos e imprecisões já referidas.

Page 116: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

114

Nesse sentido, observamos a necessidade de qualificar a gestão, além de pensar

aspectos relacionados à própria formação de gestores. Toma-se, portanto, como importante:

A introdução de um sistema de gestão criativa que priorize formas de tomada de

decisão e de controle coletivas, consensuadas, capazes de estimular a comunicação.

A única possibilidade de mudar cultura em longo prazo reside na capacidade de

construção legitimada de novas representações que os atores podem ter em função

de sua participação em processos comunicativos, de aprendizagem. De qualquer

maneira, a cultura terá que ser considerada como elemento de viabilidade ou de

modulação da proposta de mudança organizacional (RIVERA; ARTMAN, 1999, p.

358).

Por outro lado, também houve fragilidades no apoio e no acompanhamento de todo o

processo, por parte do próprio Ministério da Saúde, como bem expresso pelo Gestor 2.

Apesar de o esforço faltou apoio do Ministério da Saúde, porque durante este

processo tivemos 7 apoiadores no período de dois anos. E isso foi um ponto

negativo para a Gerência e Grupo condutor que foi a falta de um apoio mais

sistematizado e próximo. Como não teve esse apoio, acho que a gente podia ter

acertado mais. A troca muito grande de apoiador resultou nisso. Terminou que

ficamos soltos, e talvez isso tenha nos levado a fazer coisas que no plano não era a

mais acertada, até mesmo coisa de portaria, ou seja, da interpretação mesmo da

portaria, que a gente achava que podia fazer e depois acontecia a inconsistência.

Ao longo do ano de 2015, ao participar, enquanto pesquisadora, dos espaços das

reuniões do novo grupo condutor (que detalharemos no tópico seguinte), é importante

recuperar diversas situações em que pudemos registrar em nosso diário de campo referências

sobre as imprecisões do Plano (PIAUÍ, 2014a), aprovadas pela CIR das Regionais de Saúde.

Como exemplo:

Na terceira reunião do grupo condutor da RAPS, realizada no dia 22 de outubro de

2015, tivemos algumas pautas discutidas, como: apresentação dos resultados

parciais do Serviço de Avaliação e Monitoramento das Medidas Terapêuticas

Aplicáveis à Pessoa com Transtorno Mental em conflito com a Lei- EAP, além da

programação dos coordenadores de CAPS e o resultado dos monitoramentos dos

CAPS dos municípios de Barras, Picos, Amarante e Piripiri. Além das pautas

previstas, o Plano de Ação da RAPS (2013-2015), também foi apontado na reunião.

Na oportunidade, foi discutido que a questão do financiamento foi e é importante,

mas não foi o único motivo do Plano da RAPS não ter tido aprovação, isso ocorreu

principalmente, porque não tinha um grupo condutor atuante, existia um no papel,

mas dificilmente se reunia. Inclusive o Plano, ele não foi elaborado conjuntamente,

como tem que ser, pensando a gestão participativa que é o horizonte. Com base no

percurso da RAPS no estado, o referido Plano, apontado na reunião, não foi

aprovado na instância do MS, segundo representante do mesmo, principalmente, por

falta de reuniões e discussões do grupo condutor anterior, bem como discussões com

os representantes dos municípios (secretários de saúde e assessores), resultando

assim nas imprecisões e inconsistências anteriormente aludidas. Desse modo, como

visto em reunião: enquanto não se constituir um grupo condutor como espaço

coletivo e técnico para a elaboração de um Plano consistente, observando o cenário

Page 117: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

115

onde está funcionando de maneira desqualificada, não se pode pensar em

financiamento e pensando nisso, é necessário começar a fazer um projeto de

desinstitucionalização para dar suporte e fortalecimento para a rede dos municípios

que receberão os serviços, é importante também ser pactuado com os gestores, o

que a rede precisará (Diário de campo, 22/10/15).

Percebemos, portanto, que a fragilidade dos processos e instrumentos de gestão não foi

apenas dos municípios, mas também das instâncias colegiadas das Regionais de Saúde e da

própria Gerência Estadual de Saúde Mental, considerando que o processo participativo de

construção coletiva, pelo que se conclui, não ocorreu. O resultado disso é a ausência de

espaços efetivos de cogestão, que possibilitam mudanças de direção no modelo técnico-

assistencial das políticas de saúde (MERHY et al., 1997), cujo resultado é o verticalismo. É

preciso, nesse sentido, avançar na produção de atores que fortaleçam os processos de gestão

no âmbito do SUS, de modo a “superar os principais obstáculos à implantação do sistema

público de saúde – fragmentação do trabalho, individualismo, corporativismo, centralismo

gerencial” (PASSOS, 2013, p. 30), consequentemente, o empoderamento e o protagonismo

dos trabalhadores e gestores, especialmente dos municípios mais periféricos.

As dificuldades no âmbito da Saúde não são apenas técnico-gerenciais, mas também

de financiamento. A burocratização e o financiamento públicos para a Saúde Mental são

fatores relevantes na discussão atual. Segundo Gonçalves, Vieira e Delgado (2012), a maioria

dos países gasta menos de 1% do orçamento da saúde em saúde mental, e desse modo, o

financiamento se torna uma dificuldade para o trabalho na área. O Brasil, conforme apontam

os autores, apresentou gasto em torno de 2,5% do orçamento federal da saúde na Política de

Saúde Mental entre os anos de 2001 a 2009. Se comparado com os países europeus, cerca de

61,5% desses gastam mais do que 5% do orçamento da saúde na saúde mental. Sabemos que

um dos maiores problemas para a efetivação da RAPS é o financiamento, mas é preciso

ampliar nossa concepção a esse respeito, para não ficarmos ofuscados por esse problema, sem

perceber outros tão importantes quanto.

Ainda para Gonçalves, Vieira e Delgado (2012), a questão não está apenas relacionada

ao aumento no orçamento da Saúde Mental. Mais do que isso, é fundamental observar onde o

recurso é investido, e se o investimento é custo-efetivo. No Brasil, conforme indica os

autores, houve uma inversão de financiamento dos hospitais para os serviços comunitários,

seguindo a prerrogativa da OMS, e por gerar um baixo custo. Essa tendência tem se mantido

até o momento, conforme indicado na Figura 3, retirada do Relatório da Coordenação

Nacional de Saúde Mental do MS (2015).

Page 118: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

116

Figura 3 - Recursos federais para Saúde Mental em Serviços Hospitalares e de Atenção Comunitária Territorial

Fonte: Garcia (2011).

Para a OMS (2003 apud GARCIA, 2011, p. 9), os recursos em saúde mental devem

considerar pelo menos três importantes recomendações:

a) recursos para o desenvolvimento de serviços comunitários mediante o

encerramento parcial de hospitais; b) investimento em novos serviços, a fim de

facilitar a passagem dos hospitais para a comunidade, e; c) cobertura financeira de

um certo nível de cuidados institucionais, depois de estabelecidos os serviços de

base comunitária.

Para Garcia (2011), tais prioridades precisam ser melhor acolhidas entre os blocos de

financiamento do Pacto pela Saúde, para assegurar que a rede de CAPS e outros dispositivos

comunitários possam continuar se expandindo, sem perder o foco em relação à qualidade do

seu funcionamento. O autor ainda afirma que o Pacto pela Saúde até garante os incentivos

para a expansão da rede, porém, fica como desafio o seu custeio. É nesse ponto que são

gerados inúmeros entraves nos processos de pactuação, pois não raro os gestores locais

acabam declinando frente ao processo de implantação de novos serviços, em função de

argumentarem que não têm provimento para as despesas de custeio.

Pelo que vimos, muitos entrevistados fizeram referência à questão do financiamento

como principal entrave do Ministério da Saúde para aprovação do Plano (PIAUÍ, 2014a).

Entretanto, se ampliarmos o olhar para o modo como todo o processo de elaboração do Plano

foi conduzido, fica claro que não houve qualquer discussão entre a Gerência Estadual de

Page 119: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

117

Saúde Mental e os gestores municipais, conforme declaração da representante do MS,

resultando, portanto, em prejuízos nos processos de pactuação, pois não se tinham claras as

responsabilidades e o aporte de recursos de cada ente envolvido no processo.

Sobre a participação do controle social ao longo da elaboração do Plano (PIAUÍ,

2014a), é notória a ausência dos usuários e familiares em todo o processo; processo esse,

como pudemos perceber, claramente norteado pelo tempo e interesse da administração

pública, sem espaço para o amplo debate com seus consensos e dissensos, inclusive

reconhecendo a importância dos usuários e familiares da Saúde Mental no Piauí que,

organizados em Associações, têm contribuído na crítica e na forma como percebem os

serviços. Apesar da ausência, os usuários com o seu protagonismo participaram do I Encontro

da Rede de Atenção Psicossocial do Estado do Piauí, ocorrido em 2013, mostrando não

apenas a sua arte, mas sua voz, ao tecer duras críticas à Política de Saúde Mental no Piauí,

inclusive na questão das Comunidades Terapêuticas, que contava claramente com o apoio da

Gerência Estadual da época.

Após a devolutiva do Ministério da Saúde, com a não aprovação do Plano (PIAUÍ,

2014a), conforme relato dos entrevistados, no caso da Planície Litorânea, que estaria previsto

para haver a implantação de diversos serviços, resultou em grande decepção. Entre os serviços

previstos no Plano, pode-se dizer que somente dois foram de fato implantados: UA Adulto e

Infanto-Juvenil, porém, pela Secretaria de Assistência Social de Parnaíba, e não pela

Secretaria de Saúde, conforme previsto no documento. Quanto aos leitos integrais em saúde

mental previstos para serem implantados no Hospital Dirceu Arcoverde, no município de

Parnaíba, após a notícia de que não teria o repasse para sua implementação, mas tão somente

para adequação, os gestores locais declinaram do acordado, e a saída foi articular com

hospitais locais (privados) do município para se tentar implantar os respectivos leitos.

Somente em março de 2015, após negociações, foi possível repactuar na CIR da Planície

Litorânea e, posteriormente, na CIB, os leitos integrais em Saúde Mental, agora destinados

para o Hospital Nossa Senhora de Fátima (rede conveniada com o SUS). Do mesmo modo,

ocorreu com os CAPSs e a SRT “pactuados”. Todavia, nenhum deles foi aberto. No caso dos

demais hospitais, havia como proposta a implantação de 4 leitos em Cocal e 4 em Luís

Correia, mas não foi possível repactuar, devido ambos contarem com menos de 50 leitos, o

que foge ao preconizado, além da infraestrutura ser considerada insuficiente.

Page 120: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

118

Em suma, esse foi o processo de estruturação do 1º Plano de Ação (2013-2015), na

perspectiva de fortalecer a Saúde Mental nos territórios de saúde de todo o estado. Entretanto,

em função das inconsistências e equívocos sinalizados pela devolutiva do Ministério da Saúde

aqui debatidos, o documento não foi aprovado nessa instância, para seguir para as demais

fases de implantação, com a contratualização dos Pontos de Atenção e qualificação dos

componentes da rede. Fato que gerou, sem dúvida, entraves de diversas ordens ao processo de

regionalização da RAPS no Piauí.

5.4 Momento atual de redesenho e repactuação da RAPS no Piauí

Para tratarmos dos dados acerca do momento atual de redesenho da RAPS no estado e

na Planície Litorânea, temos que recorrer ao início dos trabalhos da nova equipe, que assumiu

a Gerência Estadual de Saúde Mental no ano de 2015, com a mudança do Governo Estadual,

governador Wellington Dias (2015-2019). É importante ressaltar que a nova Gerente Estadual

de Saúde Mental esteve à frente da Gerência ao longo do 2ª mandato do governador

Wellington Dias (2006-2010).

Com a nova gestão, foi iniciado novo processo de elaboração do 2º Plano de Ação e

repactuação dos pontos de atenção da RAPS em todos os 11 territórios de saúde do estado.

Devido às inconsistências, imprecisões e problemas indicados, o trabalho iniciado aproveitou

muito pouco do Plano anterior. A equipe se apropriou de todo o processo realizado e

estabeleceu como prioridade iniciar o trabalho pela Região de Guaribas, com sede em Picos,

priorizando o Sul do Piauí, para depois seguir para o Norte, em função dos municípios

daquela localidade contarem com menor oferta de serviços em Saúde Mental.

Com vistas a avançar sob o novo processo de elaboração do Plano do Plano de Ação

da RAPS (PIAUÍ, 2014a), e na repactuação, seguindo os marcadores estabelecidos pela

Portaria 3.088/2015, foi proposta a instituição de um novo grupo condutor, que passou a

contar com novos participantes, mas, também, com integrantes que compuseram a primeira

formação (gestão anterior), em função da continuidade desses nos cargos.

O novo grupo condutor foi instituído pela portaria GAB nº 826, de 2015, em 09 de

abril de 2015 (PIAUÍ, 2015b), que passou a contar com representantes, além daqueles

preconizados pela Portaria 3.088/2015, com membros do controle social, neste caso,

representantes dos usuários e trabalhadores, inclusive vinculados a Associações de Saúde

Page 121: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

119

Mental do Piauí, como também das universidades. A inclusão desses membros, especialmente

como representantes do controle social, apesar de não preconizado pela Portaria Ministerial,

sinaliza, diferentemente do grupo condutor anterior, avanços no sentido de incluir o olhar e a

experiência, além de fortalecer o protagonismo dos usuários e familiares, bem como a

integração gestão-assistência-instituições formadoras.

Uma vez formado o grupo condutor, em maio de 2015, ocorre sua primeira reunião,

para o início dos trabalhos de elaboração do novo Plano de Ação e respectivas pactuações.

Recuperamos o comentário do Gestor 1, que também atuou como membro do grupo condutor

anterior, para podermos acompanhar um pouco da sua percepção em relação ao trabalho que

se iniciara:

Achei que tivemos uma boa participação, e isso já sinaliza que este grupo condutor

que está assumindo, pode ter uma condução diferente do primeiro. Com relação à

presença de todos, também tivemos diferença, porque vimos a participação boa,

permaneceram até o final, deram sugestões, contribuições. Analiso que foi uma boa

participação, e acho que vai dar certo agora, porque o grupo condutor tem um papel

importante e tem muito a contribuir, no que diz respeito ao acompanhamento da

implantação da rede.

Esta nova configuração possibilitou, na opinião dos entrevistados, maior aproximação

entre os gestores locais e a gestão estadual, bem como os demais atores envolvidos, inclusive

reforçada pela composição do grupo condutor, agora mais ampliada pelo controle social.

Acredito que vai melhorar ainda mais essa questão da RAPS, de acordo com a

realidade, porque na gestão anterior, era feito assim: meio que algo fictício, era

colocado que era para abrir mais CAPS, e que realmente muitas vezes a gente não

tinha condição de abrir esses CAPS, em função do que estava posto pela realidade.

Então, percebo que com essa nova gestão tem como nos supervisionar melhor, tem

como nos escutar. Embora falte, como eu disse, muitos dispositivos, a gente ainda

sofre muito com essa questão dos leitos em Teresina, por exemplo. Uma coisa que

eu acho muito deficiente é a regulação de leitos, porque eu já até coloquei, desde a

época da gestão passada, que deveria haver a regulação de leitos de atenção

psicossocial. Então, eu acredito que se houvesse uma central de regulação de leitos

de atenção psicossocial no estado, melhoraria (Gestor 1).

A partir da conformação deste novo grupo e da dinâmica de trabalho instaurada, os

esforços são, conforme os relatos, de seguir o estabelecido pela Portaria 3.088/2011, em

termos de avançar na: 1) fase do Desenho Regional da Rede de Atenção Psicossocial,

contemplando a análise da situação de saúde mental da população, com a presença de

indicadores e dimensionamento da demanda assistencial e oferta de serviços, infraestrutura,

além da análise da situação da regulação, entre outros; também avançar na (re)pactuação do

desenho e elaboração da proposta do Plano de Ação Regional (com as atribuições,

Page 122: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

120

responsabilidades e o aporte de recursos entre os entes envolvidos), além do estímulo à

instituição do Fórum Rede de Atenção Psicossocial, com ampla participação; 2) fase de

Adesão e Diagnóstico, com a participação direta do novo Grupo Condutor, para que uma vez

tudo aprovado, avançar, na 3) fase das contratualizações e 4) na fase da qualificação dos

componentes.

Quanto à Planície Litorânea, na reunião ocorrida em março de 2015, antes mesmo da

instituição do novo grupo condutor e da reorganização do trabalho da nova equipe da

Gerência, foi apresentado o documento da CIB, com a pactuação anterior, com as

justificativas de quais serviços deveriam permanecer, ou não, nas pactuações propostas em

2013. Além disso, depois de muitas reuniões no ano de 2015, observando as normativas, com

base na devolutiva do MS, considerando ainda o que era possível realizar, definiu-se que seria

encaminhado, para aprovação na CIR e CIB, a permanência dos seguintes dispositivos, frutos

da repactuação:

✓ Habilitação de 09 leitos de atenção psicossocial no Hospital Nossa Senhora de

Fátima, localizado em Parnaíba, como referência para todos os municípios da

Planície Litorânea, em virtude da falta de estrutura do Hospital Regional

Dirceu Arcoverde;

✓ Implantação de um Serviço Residencial Terapêutico tipo I, também como

referência para os municípios da Planície Litorânea;

✓ Implantação do Centro de Atenção Psicossocial Infantil – CAPS i, no

município de Parnaíba, esse com proposta de implantação entre 2016/2017.

Tais proposições foram oficializadas por meio da Resolução da CIR da Planície

Litorânea-PI nº 001-2015, aprovada na reunião de 17 de março de 2015, (PIAUÍ, 2015a) com

sede em Parnaíba, para posterior encaminhamento na CIB, com as demais proposições das

pactuações das outras Regionais.

Ainda constava no Plano uma Unidade de Acolhimento Adulto para o município de

Parnaíba, no entanto, também em virtude de financiamento, segundo alguns profissionais que

relataram nas entrevistas, essa proposição acabou não sendo contemplada na repactuação.

Mesmo tendo sido aprovados os serviços anteriormente referidos na repactuação, ficou de ser

realizada nova reunião, considerando a necessidade do redesenho da regionalização em todo o

estado do Piauí, com a proposta de contemplar macrorregiões de saúde. Neste caso, a ideia é

Page 123: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

121

atender um Plano da RAPS na Macrorregião, com a aglomeração do território da Planície

Litorânea e da Região dos Cocais, inclusive pensando a articulação com outras Redes de

Atenção, a exemplo da Rede Cegonha e de outras redes.

Esse novo cenário não deixou de gerar insatisfações, inclusive agravando alguns

descontentamentos.

Então, não tive uma boa perspectiva das reuniões, porque ficou de abrir CAPS para

a região de Caxingó e não tem condição, até pelo nível populacional mesmo que eu

acho que tem até menos de 5.000 hab, e é mesmo muito pequeno. E a parte de Luís

Correia, também, ficou com os leitos para o hospital e a secretária falou também que

não tinha condição, então não avançou em praticamente nada, principalmente nos

outros municípios e Parnaíba que era para ter avançado para ter aberto mais

dispositivos, não vai ser aberto, que era o CAPS infantil e a Unidade de

Acolhimento nesse ano (2015), e então ficou mesmo só a Residência Terapêutica e

os leitos, mas ainda é muito escasso, acho que poderia ter avançado mais, mas este

ano (2015), está muito complicado, o Ministério da Saúde está cortando os repasses,

o financiamento, o corte de recursos para saúde, entre outras coisas (Gestor 2).

Sobre este novo cenário, cabe apontarmos novamente a preocupação e a manutenção

da postura de somente implantar serviços, faltando o estabelecimento de ações que visem

fortalecer as costuras entre a Atenção Básica e a Atenção Psicossocial. Ponto importante a ser

destacado, porque a atenção básica figura, na grande maioria das vezes, como a primeira

forma de contato (ou a única em determinadas localidades) do usuário e da comunidade com a

RAPS.

Desse modo, Macedo et al. (2015a) apontam que é preciso avançar na articulação da

atenção básica com a saúde mental, fortalecendo as ações do cuidado em rede, aproximando

ações clínicas da gestão do cuidado, da regulação, da prevenção, da promoção, da reabilitação

psicossocial e do protagonismo dos usuários e familiares; ou seja, a clínica da política. Outro

ponto referente à conjuntura atual, baseada em cortes e em momentos de incerteza, não

apenas no Piauí, mas no Brasil e no SUS. Por isso a urgência em pensar uma reforma do

Estado, que possa “caber o SUS”. Daí a exigência de pensar espaços regionais de produção de

gestão e de cuidado. Embora esse seja um importante desafio, é uma meta ou talvez um

princípio inadiável (MENDES, 2015).

A continuidade do processo, com o Plano de Ação refeito, a partir das novas

pactuações, será o encaminhamento da nova proposta ao Ministério da Saúde, com data

prevista para dezembro de 2015. O próprio processo de reelaboração e participação dos

diversos atores envolvidos, inclusive acompanhados permanentemente pelo MS, indica boas

Page 124: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

122

expectativas, em termos da aprovação do que foi repactuado. Sobre a atual condição da RAPS

no estado, o Gestor 2, também aponta:

Tudo tem que ser acompanhado nesse movimento, porque a proposta é enviar até

dezembro (2015), ao Ministério, mas não sei se com esse movimento de acompanhar

as outras redes, se teremos tempo e perna para fazer até dezembro (2015); não sei se

isso vai acontecer e nem sei se temos meta, por exemplo, de encaminhar tudo

pactuado e todo o documento até a data prevista, por exemplo. Eu não sei se a gente

pode afirmar isso e se isso vai se cumprir porque não é uma agenda da Gerência de

Saúde Mental, não é uma proposta nossa, é uma programação estadual que a gente

está nesse meio, e é parte desse processo.

Dessa forma, observamos que ao longo das duas gestões, que abarcam o período de

2011 a 2015, percebemos as tentativas de implantação da RAPS, e as dificuldades de efetivar

a rede regionalizada, principalmente por impasses nas pactuações, no que diz respeito às

responsabilidades quanto ao financiamento; impasses com relação ao contato e apoio do

Ministério da Saúde; dificuldades e, por vezes, a não realização de reuniões do primeiro grupo

condutor e sua participação ativa no processo de implantação da RAPS; transição para um

novo processo gestor, com a renovação da equipe da Gerência Estadual e do próprio grupo

condutor; a expectativa da implantação da RAPS apenas como abertura de serviços, sem

qualquer referência para mudanças nos processos de trabalho e organizações dos próprios

serviços existentes para a articulação do cuidado em rede, em cada território e no território da

Região de Saúde como um todo; além da conjuntura do país, em meio à crise financeira, o

avanço da lógica neoliberal e as exigências quanto ao Estado minimalista.

É que a condução da RAPS no Piauí ainda deixa muito a desejar, porque avançamos

no grupo condutor, e apesar das repactuações, o que a gente vê, com a crise atual, é

que não sabemos quando serão implantados os dispositivos pactuados no governo

anterior, isso também porque quando se muda o governo, se mudam as direções, é

como se a gente tivesse que começar do zero, como, por exemplo, o que está

acontecendo com essas repactuações. Houve a pactuação no governo anterior de

diversas instituições e o governo atual barra a implantação, e diz que o que a gente

pode fazer é potencializar o que já temos. Mesmo aqueles dispositivos repactuados e

com previsão de implantação no final de 2015, ainda assim não há qualquer

garantia, pois pode não acontecer, ainda mais com a questão das crises. Hoje, o

governo não pode abrir porque não tem dinheiro em caixa. Uma coisa é ele dizer

isso, outra é a gente, enquanto sociedade civil organizada, cobrar. São serviços

essenciais para um tratamento e uma vida digna (Entrevistado do controle social).

Ratificando a opinião do entrevistado do controle social, a representante do Ministério

da Saúde, em reunião realizada junto ao grupo condutor da RAPS, em agosto de 2015,

informou que em face do contingenciamento de recursos, não haveria como implantar os

serviços repactuados para o mesmo ano. A estratégia prioritária do Ministério da Saúde,

Page 125: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

123

portanto, seria qualificar a Rede. Porém, qualquer plano ou ações nesse sentido, não foram

discutidos.

Outra dificuldade que surgiu em meio ao processo da implantação da RAPS e demais

Redes de Atenção no Piauí, como é o caso da Rede Cegonha, na Gestão Estadual, que se

iniciou em 2015, é quanto à questão da fusão de territórios de desenvolvimento, como um dos

desafios futuros na organização dessa Rede. A nova divisão das Regiões que está sendo

discutida pela SESAPI irá agrupar a Planície Litorânea, com seus 11 municípios, ao território

dos Cocais, com seus 22 municípios, resultando, assim, na Macrorregião Norte, com sede em

Parnaíba. Esse novo processo de regionalização no Piauí resultará, ao todo, em seis

macrorregiões de saúde em todo o estado, cujas sedes serão, além de Parnaíba: Teresina,

Floriano, Picos, São Raimundo Nonato e Bom Jesus.

Acerca desta nova situação, o representante do Ministério da Saúde no Piauí justificou

a necessidade da fusão, em função do fortalecimento das propostas e da necessidade de

otimização e abrangência dos serviços em cada Macrorregião. Segundo Piauí (2015d), foram

estabelecidas, no Piauí, as Macrorregiões de Saúde definidas por critérios técnicos que visam

à descentralização dos serviços de alta e média complexidade da capital para todo o interior,

no intuito de integrar e dar maior resolutividade à Rede.

Finalizamos este capítulo conhecendo os atores e o percurso trilhado para a construção

do desenho da RAPS no Piauí e seu processo de regionalização, a exemplo do ocorrido na

Planície Litorânea. Processo permeado de contradições, equívocos, retrabalho e desafios,

tanto no âmbito das gestões estadual e municipais envolvidas, quanto na organização dos

processos de trabalho das equipes e dos serviços, para a efetivação do cuidado em rede. É

sobre esse último ponto que iremos tratar no próximo capítulo.

Page 126: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

124

6 OS RUMOS DA REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO

NORTE DO PIAUÍ: desafios e possibilidades

Nesta sessão, discutiremos sobre os rumos da regionalização da Política de Saúde na

Planície Litorânea, com base no material coletado nas rodas de conversa com os profissionais

que atuam na ESF, NASF e CAPS dos municípios de Buriti dos Lopes (n=4), Cocal (n=2),

Luís Correia (n=3) e Parnaíba (n=4). Os temas discutidos nas rodas foram: as principais

demandas em saúde mental da localidade e da Região de Saúde; a estruturação e o

funcionamento da RAPS no município/Região; a organização do trabalho em saúde mental; e

a organização da atenção em rede. Antes de adentrarmos no conteúdo das rodas propriamente

dito, apresentaremos o perfil dos profissionais que participaram deste momento da pesquisa, e

o percurso trilhado para a realização desses encontros.

6.1 Perfil dos participantes das rodas de conversa

Dentre os profissionais que participaram desta etapa de pesquisa, a maioria é do sexo

feminino (n=7), com idade entre 24-29 anos (n=7), com pouco tempo de formado (média de

quatro anos) e pouco tempo de experiência profissional na saúde (média de cinco anos). Para

a maioria, este é o primeiro emprego, cinco entre os participantes têm outro emprego, sendo

que três deles exercem função paralela, como professores. Somente cinco profissionais

residem no município que trabalham. Em termos de categoria profissional, destaca-se a

enfermagem (n=4) e a psicologia (n=4), sendo os demais da administração, da fisioterapia, da

medicina, da pedagogia e do serviço social.

Conforme exposto, o predomínio foi de profissionais do sexo feminino, o que se

assemelha aos resultados encontrados em outros estudos com trabalhadores de saúde no Brasil

(SILVEIRA, 2014; HADDAD, 2010; FILIZOLA, MILIONI, e PAVARINI 2008).

Caracterizando um trabalho em saúde ainda marcado por questões de gênero, sendo a maioria

composta por profissionais mulheres e, por isso, relacionados à função do cuidado.

Quanto à idade, é expressiva a prevalência de profissionais jovens no trabalho em

saúde. Além disso, recém-formados, o que denota um curto tempo de atuação em serviços de

saúde, levando um tempo para esses profissionais se integrarem às práticas e à rotina do

serviço, tendo em vista que na maioria dos casos, é o primeiro emprego, e que geralmente têm

que sair da cidade de origem para trabalhar (SILVEIRA, 2014).

Page 127: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

125

Observamos, também, que alguns profissionais possuíam outros vínculos

empregatícios. Segundo Gonçalves (2014), a associação de dois ou mais empregos, inclusive

com o exercício de outras profissiões, de maneira paralela, reflete o contexto de busca pela

complementação salarial, em função da desvalorização salarial e/ou econômica de

determinadas profissões, insegurança quanto ao vínculo, principalmente associadas à depen-

dência político-eleitoral.

6.2 Momento preparatório para realização das rodas

Como no primeiro semestre de 2015 participamos diretamente das reuniões na sede da

Comissão Intergestores Regional (CIR) da Planície Litorânea, tivemos acesso aos secretários

de saúde de cada município, para os quais explicamos os objetivos do estudo, sendo solicitada

a autorização para a realização das rodas de conversa com os profissionais dos CAPS, NASF

e ESF. Além da autorização, os secretários repassaram os contatos telefônicos de alguns dos

profissionais que compõem tais equipes nos municípios. Posto isso, foi iniciado o trabalho de

contatar os profissionais e, assim, somente em julho do mesmo ano conseguimos agendar o

primeiro grupo, que ocorreu no município de Buriti dos Lopes, sendo que no mês de agosto

realizamos nos municípios de Luís Correia, Cocal e Parnaíba, respectivamente.

A princípio, encontrar um horário e disponibilidade de mais ou menos uma hora na

agenda dos profissionais foi um dos maiores empecilhos nesta etapa de investigação, em

função da agenda concorrida, seja do serviço com o qual estavam vinculados, seja com outros

empregos, no mesmo município ou em outros municípios. Com exceção de Parnaíba, a

maioria dos profissionais que trabalhava em Luís Correia, Cocal e Buriti dos Lopes, morava

em outros municípios. Logo, o fato de os horários e dias de trabalho muitas vezes não

coincidirem, dificultava a agenda dos nossos encontros. Apesar dessas dificuldades, tivemos

alguns aceites dos profissionais em participarem das rodas, e mesmo aqueles que sinalizaram

a falta de disponibilidade em suas agendas, indicavam o contato de outro colega.

Em média, participaram de três a quatro profissionais por roda, ao invés de seis

profissionais, como estava previsto. Quanto ao local das rodas, em Buriti dos Lopes e em

Cocal, essas ocorreram no próprio espaço do CAPS, por ser mais acessível; em Luís Correia,

aconteceu na Secretaria Municipal de Saúde; e em Parnaíba, na UFPI.

Page 128: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

126

As rodas realizadas em Buriti dos Lopes, Cocal e Luís Correia seguiram praticamente

o mesmo funcionamento. Até a sua realização, mantivemos inúmeros contatos com os

profissionais, sempre iniciado com um profissional do CAPS do respectivo município, que

por meio desse conseguíamos o acesso aos profissionais do NASF e da ESF com maior

contato com o CAPS. Nos três municípios, as rodas aconteceram no horário de almoço, por

preferência dos profissionais, que contavam em média com 45 minutos para isso, portanto, o

tempo de realização de cada roda. As conversas foram todas gravadas, com o consentimento

dos participantes.

A realização dessas rodas possibilitou perceber que muitos profissionais, já ocupados

com suas atividades, acabaram desistindo da participação e indicando outros colegas da

equipe para participarem. O fato ocorria mesmo com a anuência das Secretarias de Saúde de

cada município, resguardando a ausência do profissional do serviço para poder contribuir com

a pesquisa. Cocal foi o único município que não contou com a participação de profissionais

dos três serviços (ESF, NASF, CAPS).

A quarta roda ocorreu em Parnaíba, na verdade, no mesmo dia que ocorreu a roda de

Cocal, porém, sendo realizada no turno da tarde. Essa foi a única roda que não aconteceu em

horário de trabalho dos profissionais, e em local que não fosse serviço da saúde. Entretanto,

contou com as mesmas situações de desistência de última hora, em função de dificuldades de

agenda, apesar do contato com os coordenadores dos serviços (NASF, ESF/Atenção Básica)

para a garantia da realização da atividade. Inicialmente, tínhamos previsto a participação de

seis profissionais, contatados a partir do CAPS II e CAPS Ad III, e por meio desses,

acessamos os demais: ESF (n=2) e NASF (n=2). Ao final, compareceram os profissionais de

ambos os CAPS, e somente um da ESF e do NASF. A roda aconteceu com duração em torno

de uma hora, e a conversa tratou basicamente sobre a experiência no local de trabalho e as

dificuldades do trabalho em rede, no maior município da Planície Litorânea, e com maior

quantidade de pontos de atenção da RAPS, inclusive sendo referência para toda a região.

6.3 Conversas que circularam nas rodas

Apesar do esforço de estabelecer um momento de conversa livre, o início das rodas era

sempre permeado por certa tensão, em que os participantes ficavam, a todo momento,

preocupados com o horário, e perguntando se a conversa seria breve. Outro aspecto a ser

Page 129: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

127

sinalizado é que, embora os participantes se conhecessem, por trabalharem no mesmo

município, o encontro entre eles era raro, principalmente porque momentos como aqueles

eram difíceis de acontecer na rotina do serviço e da organização da rede. Superado o

desconforto inicial de qualquer trabalho em grupo, as conversas acabaram fluindo, com o

aprofundamento dos temas apresentados, dissipando, assim, a preocupação com o término da

atividade.

6.3.1 Principais demandas da saúde mental nos municípios

Quanto às principais demandas que foram apontadas nas rodas, destacamos:

depressão, perdas familiares, problemas emocionais e familiares resultantes da separação de

casais, crianças com dificuldade de aprendizagem, transtornos mentais desencadeados por

casos de violência sexual, casos de envolvimento com álcool e drogas, pânico, esquizofrenia,

problemas neurológicos, dor de cabeça, enxaqueca e suicídio.

A partir das demandas elencadas, podemos observar que algumas delas fazem parte do

perfil de principais demandas presentes nos serviços de saúde, como no estudo de Sousa e

Luís (2012), o qual aponta como transtornos mais frequentes na atenção básica: a depressão, a

esquizofrenia, a dependência de álcool e drogas, entre outras. Ribeiro e Inglez-Dias (2011, p.

4626) também mostram, em pesquisa sobre a atenção em saúde mental no SUS, que os

principais diagnósticos presentes em serviços da rede de saúde mental são: “transtornos

depressivos, a esquizofrenia, os resultantes do abuso de substância, a epilepsia, o retardo

mental, os transtornos da infância e adolescência, e a doença de Alzheimer”. Ainda segundo

Bezerra e Dimenstein (2008), na atenção básica as equipes presenciam inúmeras demandas de

saúde mental todos os dias, são, geralmente: maus-tratos, violência, abuso de drogas e

psicotrópicos e depressão, dentre outras queixas. Situações que na maioria das vezes as

equipes não estão preparadas para atender, fato que se intensifica em dificuldade para os

profissionais, quando surgem casos como crises psicóticas ou transtornos mentais.

Dessa forma, em consonância com os estudos apresentados, os resultados acerca das

demandas encontradas sinalizam pelo menos três demandas mencionadas nos estudos

levantados, sendo as principais: depressão, esquizofrenia, envolvimento com álcool e outras

drogas, e outras que nem se apresentam como demandas da saúde mental, em função de não

serem reconhecidas pela equipe como sintomas de transtornos mentais comuns, como fadiga,

Page 130: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

128

dores de cabeça, insônia, solidão, falta de apetite, e a própria categoria das “doenças dos

nervos”.

Quanto aos transtornos que foram apontados, entram na categoria de Transtornos

Mentais Comuns (TCM), expressão criada por Goldberg e Huxley, entram na categoria de

“sintomas depressivos e ansiosos como insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento,

dificuldade de concentração e queixas somáticas” (VIDAL et al., 2013, p. 458).

Para Braga, Carvalho e Binder (2010), no Brasil, os altos índices desses transtornos

advêm de consequências individuais e sociais. Os autores ainda alertam para a necessidade,

no país, de identificação precoce, com o objetivo de se obter intervenções individuais e

coletivas sem demora. Em geral, os fatores associados aos transtornos mentais comuns são,

principalmente, os aspectos sociais, familiares e do trabalho.

A predominância dos transtornos mentais na Atenção Básica chega a um terço da

demanda, taxas que ultrapassam os 50% são mais comuns entre “o sexo feminino, nos

indivíduos com pouca escolaridade, baixa renda, tabagistas e nas mulheres vítimas de

violência” (VIDAL et al., 2013, p. 458).

Para Oliveira e Roazzi (2007), o termo “doença dos nervos” é uma expressão do

modelo de pessoa físico-moral, das classes trabalhadoras, que seguindo uma perspectiva

holística, serve para expor sintomas de insatisfação das pessoas com características de doença,

já que “os nervos são pensados como um meio de experiências, tanto físicas quanto morais”

(DUARTE, 1993, p. 61).

Para Vieira Filho e Nóbrega (2004), doença dos nervos é um termo usado pelos para

definir uma série de distúrbios nervosos que contradizem a visão da psiquiatria tradicional. As

diferenças semânticas da palavra nervoso são analisadas se referindo ao sistema nervoso, pois,

segundo a linguagem popular, tal sistema está ligado à cabeça, não sendo levado em conta o

que a medicina preconiza.

6.3.2 Quanto à estrutura da RAPS nos municípios

Quanto à estrutura da RAPS nos municípios, com exceção da roda de Parnaíba, que

conta com uma rede mais estruturada, os próprios participantes reconheceram pelo menos três

pontos de atenção da rede em sua localidade (Atenção Básica – ESF e NASF, CAPS e

SAMU).

Page 131: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

129

No geral, os participantes relataram que se trata de uma “rede” ainda com dificuldades

de ser operacionalizada, resumindo-se a encaminhamentos, por dificuldades das mais

diversas: financiamento, a não implantação dos serviços pactuados no Plano de Ação

Regional, infraestrutura, falta de contratação de pessoal, condições de trabalho, precarização

dos serviços, falta de retaguarda de demais níveis de atenção, inclusive por parte do município

de referência da região, que é Parnaíba, além da dificuldade da própria formação profissional

para atuar na perspectiva do SUS.

Pelo menos em duas rodas, Buriti dos Lopes e Luís Correia, os profissionais

apresentaram descontentamentos quanto às condições de trabalho, sobrecarga em função da

alta demanda, inclusive da zona rural, que devido à dificuldade com o transporte, tanto por

parte da população, para procurar os serviços, quanto para os profissionais prestarem

assistência, inviabiliza as ações e a continuidade do trabalho, que acaba sendo pontual e

paliativo.

O funcionamento da rede aqui no município é o seguinte, a doutora dá o

encaminhamento, e a pessoa vai para o CAPS, alguns passam por aqui pela ESF,

mas se é saúde mental, vai para o CAPS, conversam com o profissional da

Psicologia, que vai lá também na zona rural. Digo, porque trabalho na zona rural, e

chamo o auxílio da psicóloga quando preciso. Chegando lá, ela, a psicóloga, tem a

roda de conversa com os usuários do serviço. O psiquiatra também já esteve lá

algumas vezes, e funciona assim (Profissional 10).

As dificuldades acima descritas impactam na organização e no funcionamento da

RAPS, em função não apenas dos seus aspectos estruturais, mas também micropolíticos, em

torno da organização dos processos de trabalho das equipes, dos serviços, e da própria rede

em cada município e na Planície Litorânea como um todo. Tais aspectos serão discutidos nos

tópicos seguintes.

6.3.3 Quanto à organização do trabalho nos serviços e na rede de atenção

Sobre a atuação dos serviços na atenção básica, a prática ambulatorial predomina, há a

realização de consultas e algumas visitas domiciliares por parte dos ACS, bem como por

técnicos do serviço da ESF e do NASF. De acordo com os relatos, os casos de saúde mental,

uma vez identificados, são encaminhados para consulta com especialista (psiquiatra) no

CAPS.

Page 132: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

130

As ações realizadas especificamente pelo NASF acabam se resumindo a visitas

domiciliares, trabalhos com grupos, consultas, atendimento ambulatorial, entrega de

medicamentos e visitas esporádicas às escolas. Para o Profissional 13, o “NASF não está

preparado para lidar com as questões de saúde mental, não trabalha como era para ser, apenas

realiza consultas”.

Por outro lado, o foco acaba se voltando para as demandas típicas da atenção básica,

em função dos programas executados (saúde da mulher, saúde do idoso, saúde da criança,

diabetes, hipertensão, etc.), adquirindo um caráter de invisibilidade às demandas relacionadas

à saúde mental.

É difícil, do ponto de vista da atenção básica, que já tem muitos programas para o

profissional dar conta e a gente da saúde mental, é mais um programa. Temos que

dar conta de todo um sistema. Não queremos tirar de dentro do CAPS e dar para

outro serviço e te vira, a gente quer dividir (Profissional 20).

No tocante ao trabalho em equipe, é constante a dificuldade da interação entre as

mesmas, apesar de iniciarem o matriciamento em algumas localidades, basicamente em

Parnaíba, as dificuldades ainda são muitas, uma delas é quanto às próprias equipes

conhecerem seu trabalho e a rede de serviços, há ainda a pouca interação com outras equipes,

de outros serviços, principalmente com as dos CAPSs. Percebemos, ainda, dificuldades tanto

do NASF quanto do CAPS em encontrarem as equipes da ESF para procederem nos suportes

técnico-pedagógicos necessários, no sentido de qualificarem os profissionais da atenção

básica para atenderem às demandas em saúde mental. “Deveria ser feito o acompanhamento

com as equipes, encontros entre ESF e NASF, observar as demandas, buscando fazer o

matriciamento, mas nada disso vai se concretizando” (Profissional 18).

Diferente do que foi relatado, o trabalho na perspectiva da Atenção Básica se

caracteriza por meio de um conjunto de ações voltado para a promoção, a prevenção, o

acompanhamento e o cuidado, além da reabilitação em saúde. O trabalho em equipe se dá

com base em ações e práticas gerenciais e sanitárias no acompanhamento da saúde da

população de um determinado território. Faz-se importante o contato dos usuários com os

sistemas de saúde, orientado para os princípios de universalidade, integralidade, equidade,

humanização, responsabilização, acessibilidade, vínculo, continuidade, participação social e

coordenação do cuidado. Nesse sentido, a Atenção Básica integra todos esses fatores, para a

promoção de um modo de vida saudável para o usuário, integrando-o em seu território e

observando, também, aspectos socioculturais dentro desse processo (LAVRAS, 2011).

Page 133: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

131

Dentro desses serviços, o acolhimento é essencial, principalmente na perspectiva da

integralidade do cuidado, por isso ele se propõe a inverter a lógica e o funcionamento do

serviço de saúde, a partir de três princípios:

(a) atender a todas as pessoas que buscam os serviços de saúde, garantindo a

acessibilidade universal; (b) reorganizar o processo de trabalho, deslocando seu eixo

central do médico para uma equipe multiprofissional; (c) qualificar a relação

trabalhador-usuário, a partir de parâmetros humanitários de solidariedade e de

cidadania (SOUZA et al., 2008, p. 101).

A prática do acolhimento auxilia o processo de trabalho nos serviços de saúde, busca

fazer frente ao modelo hegemônico, biologicista e reducionista, centrado também em um

processo no qual os profissionais privilegiam ações curativas, fragmentadas, mecanizadas e

médico-centradas, fortalece os laços, possibilitando o estabelecimento de um vínculo entre

usuários, trabalhadores e gestores. Com o vínculo estabelecido, há a possibilidade de

concretizar o princípio da integralidade, proporcionando a autonomia em relação à saúde do

usuário, e permite que profissional e usuário compartilhem o processo (GARUZI et al., 2014).

Dessa forma, há que se investir na qualificação dos trabalhadores “para recepcionar,

atender, escutar, dialogar, tomar decisão, amparar, orientar, negociar” (SOUZA et al., 2008,

p.102). É nesse processo que trabalhadores buscam intervir de forma acolhedora e

humanizada em uma determinada realidade, não é um trabalho fácil e nem acontece sem

propostas de trabalho estruturadas, pois exige metodologias participativas, exige negociações

dentro deste espaço de trabalho, a fim de estabelecer o método mais eficaz de participação

ativa do usuário no seu processo saúde-doença.

Assim, conforme vimos, o trabalho apontado na Atenção Básica dos municípios ainda

é baseado na perspectiva ambulatorial, o acolhimento, por exemplo, é tratado apenas como o

momento de chegada do usuário no serviço, antes da entrada no consultório médico, esse

como fim único e exclusivo, ou seja, há uma grande dificuldade dos profissionais de

visualizarem e praticarem o acolhimento, o vínculo e a continuidade do cuidado dentro dos

serviços, pois existe uma reprodução do trabalho, onde todos os dias são realizados os

mesmos procedimentos, e não há espaço para a problematização de suas práticas, em virtude

disso, o distanciamento entre usuário-profissional fica cada vez mais intenso, impossibilitando

o vínculo.

Ainda sobre o trabalho na Atenção Básica, quer seja da ESF quer seja do NASF,

vimos a presença dos profissionais dedicando maior parte do tempo e das ações a outros

Page 134: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

132

programas e projetos dentro dos serviços, deixando à margem a saúde mental, onde essa passa

a adquirir um caráter de invisibilidade, e os casos são muitas vezes considerados pelos

profissionais como “apenas demanda de CAPS”.

Desta maneira, outros estudos apresentam também a dificuldade quanto ao manejo

com os casos de saúde mental na atenção básica. De acordo com Lucchese et al. (2009), em

um estudo sobre a saúde mental no Programa Saúde da Família, em Cuiabá-MS, as Equipes

de Saúde da Família não sabiam como lidar com os casos de saúde mental, e quando se viam

diante de tais situações, recorriam ao hospital ou aos CAPSs locais. Desse modo, se fazem

necessárias novas práticas dos profissionais, assim como aponta o estudo sobre a

invisibilidade dos problemas de saúde mental na Atenção Primária em Saúde (APS).

A visibilidade das manifestações de sofrimento psíquico da clientela no PSF

depende da atitude dos profissionais em reconhecer essas manifestações como

objetos de seu trabalho na atenção primária. Possibilitar a identificação quantitativa

e qualitativa dessas pessoas pode ser o primeiro passo nesse sentido. Em nossa

experiência, reconhecemos que as pessoas com transtornos mentais podem ser

acolhidas, assistidas e ter a sua qualidade de vida melhorada por meio de ações

implementadas pelas ESF (OLIVEIRA; ATAÍDE; SILVA, 2004, p. 624).

No que se refere aos CAPSs, em Luís Correia, Buriti dos Lopes e Cocal, os serviços

fazem basicamente o trabalho de ambulatório, com entrega de medicação e realização de

consultas psiquiátricas apenas um dia na semana. Ademais, realizam algumas atividades

pontuais, como oficinas, passeios, palestras, sendo que são poucas as atividades extramuros, e

com foco na reinserção e na reabilitação psicossocial.

A estrutura ainda é falha, são locais pequenos, geralmente com estrutura de casas

adaptadas para funcionarem como serviços, onde os quartos são salas de consultório, e as

atividades coletivas realizadas nos espaços dos terraços, onde os usuários, na maioria das

vezes, ficam assistindo a TV. O serviço geralmente atua com base nas demandas espontâneas,

desde cefaleia até problemas neurológicos, que não se configuram enquanto demandas de

CAPS. Além dessas, o serviço recebe encaminhamentos da ESF, do NASF e da assistência

social, especialmente dos CRASs. “Recebemos muitos encaminhamentos de outros

municípios, como Ilha Grande (município vizinho a Parnaíba), e do CRAS, com a questão da

rede. Nós conseguimos mais aproximação da assistência do que da saúde” (Profissional 21).

Especificamente no caso de Buriti dos Lopes e Luís Correia, esses têm desenvolvido,

apesar das dificuldades, ações interessantes, no sentido de ampliar a possibilidade de acesso

ao CAPS, trata-se do “CAPS itinerante”. Apesar de pontuais, a equipe se dirige à zona rural

Page 135: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

133

do município, percorrendo as comunidades, para realizar consultas, dispensação de

medicamentos, palestras, oficinas, entre outros.

No caso dos CAPS localizados em Parnaíba (CAPS II e CAPS Ad III 24 horas),

diferente dos demais, as ações não são apenas ambulatoriais, centradas na consulta

psiquiátrica. Os demais membros da equipe desenvolvem atividades de triagem/acolhimento,

atendimento individual por categoria profissional (psicólogo, assistente social, etc.), oficinas,

atividades grupais, passeios, visitas domiciliares e “matriciamento”. O CAPS Ad III funciona

mais precariamente e com menor capacidade de realização de atividades, devido à falta de

materiais para oficinas, falta de alguns profissionais, etc. Em ambos, a prática de recebimento

de encaminhamentos da atenção básica é comum, além disso, as demandas são muitas e, por

isso, conforme comentado pelos participantes da roda, há sobrecarga de trabalho.

No CAPS Ad III, o profissional 21 relata a dificuldade do trabalho, do estigma, dos

recursos para uma melhoria física e humana, apontando a dificuldade da manutenção de um

CAPS Ad III 24 horas, para abranger a região. “Às vezes o trabalho é desmotivador,

escutamos que o CAPS não serve para nada, os usuários só vão para comer, e a gente não

consegue fazer nada, se não tem subsídio. A equipe faz milagre, porque nossa dificuldade de

estrutura é física e humana”.

Em resumo, a atuação nos CAPSs ocorre de modo que cada profissional atua de forma

isolada, com sua prática clínica, com dificuldades para um olhar multi e interdisciplinar,

apesar de tentativas de matriciamento com a atenção básica, ainda existem muitos desafios,

como o de efetivar tais ações de suporte técnico-pedagógico, e superar a centralização do

serviço em cada profissional, em virtude de estarem fechados em si mesmos. Atuam, também,

baseados na hegemonia médica, ou seja, o usuário passa primeiro pela escuta do psiquiatra

que, muitas vezes, decide sozinho pela medicação e pelas demais ações de cuidado do

usuário. “Muitas coisas não sabemos sobre o serviço e falta a educação permanente”, comenta

o profissional do CAPS de Buriti dos Lopes (Profissional 12).

Conforme relatado nas rodas, a prática nos CAPSs acaba centrada no atendimento com

psiquiatra, que acontece uma vez por semana, a frequência escassa desse profissional no

serviço é devido ao fato de não residir no município ou, no caso de Parnaíba, apesar de

residir, em alguns casos, atua nos municípios circunvizinhos, inclusive do Ceará e do

Maranhão. O reflexo disso é o trabalho ambulatorial, dificultando a participação desse

profissional nas demais atividades do serviço, visitas, matriciamento, oficinas etc, bem com a

Page 136: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

134

articulação com os outros profissionais da equipe e demais serviços da rede, além dos

impasses quanto à implicação e o conhecimento deste profissional com o território, com a

política, e as particularidades sociais de onde atua.

Segundo Machado (1997), os médicos tendem a residir mais nas capitais do país do

que nos municípios do interior, devido contarem com melhores condições de trabalho, maior

oferta de emprego e salário. Isso se dá em virtude de a economia estar concentrada nos

grandes centros urbanos, localidades mais atrativas para a implantação de serviços

especializados em saúde. Em pesquisa mais recente do Conselho Federal de Medicina

(CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2013), o Nordeste continua como uma das

regiões com maior quantidade de médicos concentrados nas capitais. Vale ressaltar que essa

dificuldade não é apenas dos médicos, mas também dos demais membros da equipe

(psicólogo, assistente social, enfermeiro, etc.), em menor grau, o que dificulta o trabalho em

equipe, em rede, e no território.

Além dos profissionais concentrarem sua carga horária no serviço, não permanecendo

no local de trabalho ou no município ao longo de toda a semana, o trabalho na atenção básica

e psicossocial enfrenta dificuldades quanto à estrutura do serviço e às condições de trabalho.

Muitos serviços funcionam em casas adaptadas, inviabilizando as ações coletivas, as oficinas,

por exemplo, são realizados (os serviços) em condições precárias, em espaços pequenos, com

material insuficiente, dificultade de contratação de oficineiros, etc, restando aos profissionais

as ações ambulatoriais e individuais, pautadas por procedimentos (RÉZIO; OLIVEIRA,

2010).

As queixas atendidas não se configuram como demandas de CAPS (transtornos

mentais severos e persistentes), mas questões de ordem clínica e neurológica que podem ser

acompanhadas pela atenção básica e ambulatórios do município. Tal fato causa estranheza,

considerando que os problemas que concernem aos CAPS estão nas mãos dos familiares, sem

qualquer suporte ou retaguarda dos serviços, o que pode gerar desassistência ou situações de

cárcere privado e violação de direitos (MACEDO et al., 2015b). Assim, vimos a dificuldade

de articulação entre as equipes da ESF, do NASF e do CAPS, para efetivar, de fato, a rede de

atenção e suporte do cuidado, enquanto estratégia da RAPS.

A partir das descrições apontadas pelos profissionais, analisamos a dificuldade de se

trabalhar em uma perspectiva de Atenção Psicossocial e da Clínica Ampliada, envolvendo o

Acolhimento, o Vínculo, a Escuta, o Projeto Terapêutico Singular (PTS), o Matriciamento, o

Page 137: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

135

Trabalho em equipe e a Continuidade do cuidado. Sendo que a prevalência ainda é de um

modelo tecnico-assistencial tradicional, baseado nos especialismos, na hegemonia ainda forte

do paradigma médico e do modelo asilar, contrário à perspectiva da integralidade do cuidado.

Tal cenário também reflete na fragilidade da RAPS na Região e em dificuldades para

articulação entre os pontos de atenção da rede nas localidades investigadas, especialmente

atenção básica (ESF, NASF) e atenção psicossocial especializada (CAPS). Diante disso, os

principais impasses para efetivar a RAPS nos municípios da Planície Litorânea, segundo

relatos dos profissionais, mostram-se a partir das dificuldades com:

a) Matriciamento;

b) Ações de educação permanente;

c) Intersetorialidade.

Para superar as dificuldades da relação difícil entre atenção básica e saúde mental, o

matriciamento começa a ser pensado, e vem como uma proposta do Ministério da Saúde

(BRASIL, 2003b), com a intenção de superar a fragmentação do trabalho em saúde mental,

articulando a interação entre serviços e a gestão compartilhada dos casos (BEZERRA;

DIMENSTEIN, 2008).

Antes do matriciamento ficava muito intrigada porque o trabalho de visitas era só

meu e da assistente social, e vimos que esses usuários não eram passados para

Atenção Básica, ou o ACS conhecia e fazia de conta que não sabia quem era, e

começamos a provocar esses profissionais, vamos nos PSFs perguntar o que eles

sabem desse caso, alguns davam certo e outros não, e começamos a conscientizar

esses profissionais dizendo que o caso era deles também, que não conhecemos o

caso, e isso é uma coisa que varia de profissional, tem uns que falam logo que não

sabem lidar com esse tipo de usuário e pronto. O CAPS II (Parnaíba) começou o

matriciamento na frente, tentamos organizar em agosto, mas está acontecendo

algumas mudanças no CAPS Ad III e o que temos colocado nesses encontros é claro

que não estamos trazendo mais trabalho para vocês, na verdade queremos

responsabilizar todos juntos, por essa pessoa. E isso do matriciamento está sendo

muito bom, porque não aconteceu antes, e eu sempre falo, não custava nada vocês

procurarem, procurarem saber o que estamos fazendo, e isso acontece muito porque

tem muito profissional acomodado, que espera sempre que venham lhe chamar, que

venham até ele, até seu quadradinho, e eu tenho perdido muito tempo dessas

reuniões explicando simplesmente o que é o CAPS para os profissionais da atenção

básica (Profissional 21).

Os participantes da roda colocaram que o matriciamento pode ajudar no trabalho em

rede, de forma mais resolutiva, eficaz. Articulando os serviços, prezando pela territorialidade.

Fazendo um espaço de trocas, de possibilidades dentro dos serviços. Algo que tem acontecido

Page 138: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

136

recentemente no município de Parnaíba, e principalmente devido à participação do Programa

de Ensino Tutorial em Saúde (PET).

O PET é regulamentado pela Portaria Ministerial nº 421, de 3 de março de 2010

(BRASIL, 2010b). Tem como objetivo propor a articulação entre o ensino, o serviço e a

comunidade, a partir do aprendizado dentro dos serviços do SUS. Em Parnaíba, o PET

Saúde/Rede de Atenção, objetiva a modelagem da Rede de Atenção Psicossocial e a Rede

Cegonha. Conta com a participação dos alunos dos cursos de Psicologia e Fisioterapia da

UFPI – Campus de Parnaíba. Apresentou, inicialmente, a criação de um espaço para o

desenvolvimento de práticas pedagógicas junto com os trabalhadores e apoio da Secretaria de

Saúde do município, logo, os aspectos metodológicos propunham vivências nos serviços, com

o objetivo que os futuros profissionais tivessem contato com a realidade e o cotidiano que

permeiam o trabalho no SUS. Entre os trabalhos realizados para o início das ações de

organização da rede na saúde mental do município, foi a experiência de implantação do

matriciamento (BARROS et al., 2015).

O matriciamento existe. Aqui na UFPI, o PET e a nossa experiência em São Paulo

contribuíram para iniciar o matriciamento aqui em Parnaíba. Antes não tinha

matriciamento, e nunca saía do papel. Daí começou o matriciamento no João XXIII,

com os professores da Federal, do PET. Participo do PET-Saúde que começou a

fazer esse matriciamento das necessidades do CAPS II no território. Depois fomos

para São Paulo e vimos que o matriciamento não exige material e nem recurso, só

boa vontade, que bonito, né? Matriciamento a gente vai fazendo conforme a

necessidade. Quando voltamos de São Paulo, cada dupla que foi voltou com mais

energia. Ao todo foram 20 pessoas. São elas que estão movimentando a RAPS em

Parnaíba, depois já fomos fazer oficina nos tabuleiros e tudo isso pelo matriciamento

do CAPS e NASF e CAPS Ad e II. A gente fez um matriciamento positivo, tinha

barreira, sabe? Mas está dando certo (Profissional 20).

Apesar de iniciativas inovadoras do PET e experiências no campo das abordagens

psicossociais advindas do treinamento em São Paulo, o matriciamento ainda encontra

dificuldades de ser efetivado, em função de a ação ocorrer de forma não sistematizada e

pouco institucionalizada pelos serviços e pela gestão, ficando a cargo de um ou outro

profissional mais implicado com esta tecnologia.

Por outro lado, atuar na perspectiva do matriciamente exige não apenas ampliar o

olhar em relação ao processo saúde-doença-cuidado, mas a reorganização dos processos de

trabalho. Nesse ponto, os profissionais reconhecem suas dificuldades em atuarem sob essa

perspectiva, especialmente em termos de como se percebem diante dos processos de trabalho

que realizam. Porém, quando questionados, acabam responsabilizando a falta de estrutura e

apoio frente às dificuldades que o trabalho em equipe e em rede demandam.

Page 139: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

137

Eu sei que a partir do NASF, ESF e CAPS nós podemos estruturar a rede, mas o

principal para mim é estrutura e apoio da gestão. Falta isso, nós vamos querer todo

mundo junto, trabalhando junto pelo bem da população, com o transporte,

medicação, estrutura dos prédios, local para você se reunir, mas aqui é muito

isolado, CAPS, NASF, ESF. E cadê o suporte? Pessoas para nos orientar?

(Profissional 13).

Os profissionais acabam responsabilizando a falta de estrutura para a não realização do

trabalho em rede. E em função disso, acabam isolados em seus serviços ou salas de

atendimento, relutantes às práticas compartilhadas, impossibilitando, algumas vezes, as

atividades que pedem o contato entre equipes ou que indiquem a necessidade de encontros

entre os profissionais, para que possam planejar as atividades e avaliá-las, com vistas à

complementação e à continuidade do cuidado.

Para que as equipes da ESF, em conjunto com o NASF, tenham o envolvimento

necessário para a construção do SUS, e se responsabilizem pela saúde dos usuários, Assis et

al. (2010) apontam para a produção de novas tecnologias para o cuidado, que possam

produzir a atenção à saúde de qualidade. Buscando o trabalho de responsabilização das

equipes e gestores, até a corresponsabilização dos cidadãos, com uma prática dialógica e

flexível às demandas e às necessidades dos usuários.

Nesse sentido, alguns profissionais relataram a falta de integração da própria equipe

dentro de cada serviço, e da articulação com outras equipes e serviços do mesmo município.

Fizeram referência ao NASF, por exemplo, que é preciso uma maior articulação entre as

equipes: “está precisando funcionar melhor, temos que sentar e articular com as outras

equipes do NASF, e dos outros serviços também” (Profissional 13).

Percebemos, em alguns profissionais, o reconhecimento de que a fragmentação das

ações também é reflexo do modo como organizam seus processos de trabalho. Porém, a

constatação não é suficiente para romper com a acomodação das equipes com a rotina do

serviço, que gera um trabalho cronificado, onde todos os dias são realizadas as mesmas

atividades: “como o trabalho é muito, o cansaço está levando a um trabalho cronificado, onde

eu vejo que ninguém cuida do cuidador, porque estamos aqui com muito trabalho todos os

dias” (Profissional 12).

Outra dificuldade elencada foi a educação permanente. As dificuldades em torno da

formação graduada, que na maioria dos casos não forma profissionais para atuarem no SUS,

especialmente na atenção básica e psicossocial, aliado à hegemonia do modelo tradicional de

saúde, ainda é muito presente no cotidiano dos serviços, e a falta de ações em educação

Page 140: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

138

permanente, para qualificar o trabalho das equipes, faz com que os profissionais convivam

com situações em que eles próprios e os serviços não conheçam as funções que lhes

competem, bem como ficam impossibilitados de realizar trabalho interprofissionais e em rede.

Ademais, para alguns profissionais a Educação permanente é tomada como algo difícil

de acontecer dentro dos serviços, e como maior causa da falta de conhecimento para a

mudança no modelo técnico-assistencial da saúde e também de atuação em rede.

Temos um plano municipal de educação permanente. Teria, nesse plano, o

cronograma de atividades mensais. Esse ano, 2015, com as dificuldades,

conseguimos executar o plano até março. Mas o que estava articulado era o

matriciamento. Ano passado, 2014, tivemos uma atividade de saúde mental com o

médico. O tema foi o manejo do paciente psiquiátrico na ESF. E esse ano, 2015,

teve para outras áreas, mas para saúde mental não. Sempre propomos e estamos

trazendo temas para os ACSs, para que o mesmo, com a pouca formação de

disciplinas que têm, possam cobrir a lacuna. Então temos procurado com o NASF

trabalhar esse matriciamento (Profissional 16).

Em 2003, o Ministério da Saúde aprovou a “Política de educação e desenvolvimento

para o SUS: caminhos para a educação permanente em saúde”, com vista a qualificar a

atuação dos profissionais e equipes para o SUS, a partir de experiências no próprio serviço.

Tal perspectiva faz com que o SUS seja também responsável pela formação profissional dos

trabalhadores. A proposta da educação em serviço incita todos a ativarem o protagonismo

dentro do processo, de modo que todos tenham voz e vez nas rodas de discussão que

acontecem no próprio serviço. A roda é uma potência de ativar as capacidades em processo de

reinvenção e de descoberta. Uma política assim é de difícil efetivação, porque depende muito

mais do interesse da gestão e dos trabalhadores para sua efetivação. E pela burocracia ativa

nos serviços e da própria gestão, pouco acontece (CECCIM; FEUERWERKER, 2004).

Como exemplo, alguns participantes da roda posicionaram que falta mais investimento

em ações de educação permanente, pois são poucos esses momentos. Relataram que têm

havido poucas atividades nesse sentido, e que o serviço muitas vezes não vê como

capacitação, como investimento na qualificação, mas, sim, como algo a ser deixado para

depois, pelo fato da quantidade de atendimentos e o cumprimento de metas ser mais

importante. Daí muitas vezes a educação permanente ser reconhecida pelos trabalhadores

muito mais como capacitação, a exemplo da fala acima em relação aos ACSs, e não como

ação formativa e de reorientação dos processos de trabalho das equipes.

Page 141: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

139

Como exemplo, a própria realização das rodas para o trabalho de campo desta

pesquisa se mostrou como um analisador da dificuldade de se trabalhar com a Educação

Permanente nos serviços.

A partir dos percursos trilhados nos serviços, nas quatro cidades, a gestão, conforme

relato dos trabalhadores, mesmo sabendo da pesquisa, não viu as atividades de

realização das rodas como um momento formativo e de reflexão sobre o cotidiano

do trabalho dos profissionais nos serviços. Muitos alertaram que não poderiam ser

liberados, argumentando que teriam agenda a cumprir, atividades a realizar que não

poderiam ser feitas depois. Porém, outros apontaram que existe todo um

investimento, inclusive do Ministério da Saúde, com cursos, capacitações, de

formações, alguns presenciais, outros por plataformas virtuais, e que o profissional

poderia participar e/ou acessar, conforme sua necessidade, disponibilidade. Porém,

muitos, conforme relatado, não têm interesse. Alguns por descuido, desleixo, outros

por cansaço da rotina. E ainda há aqueles que acham que fazer um ou outro curso

não vai fazer diferença, nem mudar a prática ou a qualidade do serviço, mas que

investimento existe e muito, como foi citado. Se percebe é que muitas vezes a

educação permanente é tratada como capacitação ou curso, o que despotencializa o

seu poder de transformação das práticas dos serviços (Diário de campo 20/08/2015).

Porém, em alguns profissionais, percebemos que o encontro proporcionado com as

rodas despertou a esperança de que eles também podem experimentar o exercício de uma roda

de conversa entre eles, em seus serviços, como forma de troca, aprendizagem e educação

permanente: “Acho que pode melhorar o trabalho na rede, se a gente começar a fazer rodas de

conversa, isso pode ajudar no nosso trabalho, na equipe e a resolver os casos juntos”

(Profissional 13).

A intersetorialidade foi outro ponto debatido nas rodas, com indicativo de efetivar a

RAPS na Região de Saúde da Planície Litorânea. Por intersetorialidade, Azevedo, Pelicioni e

Westphal (2012) compreendem o resultado da articulação entre sujeitos, setores sociais,

visando o enfretamento de dificuldades e necessidades sociais e de saúde do território.

Entretanto, a intersetorialidade não figura como somente o somatório de ações

interdisciplinares sobre um mesmo objeto. As ações devem, por esse aspecto, responder às

necessidades sociais e de saúde da população, envolvendo todos os atores que são

protagonistas e participantes ativos do processo, de forma articulada e descentralizada,

participativa e integrada, com o estabelecimento de parcerias e o trabalho em conjunto, e não

apenas o estabelecimento de prazos e a hierarquia ou o poder dos especialismos.

Algumas rodas trouxeram que a participação da Assistência Social, operando a

intersetorialidade com o CAPS, por meio do CRAS, tem se tornado um meio de acesso à

saúde mental, em algumas realidades. No município de Esmeraldas-MG, Duarte e Dias (2012)

ressaltam esse tipo de articulação, entendendo a importância do CRAS como agente

Page 142: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

140

articulador de estratégias no território, a partir das ações comunitárias e acompanhamento às

famílias situadas na abrangência do território. Umas das maiores dificuldades dos CAPSs é o

trabalho com as famílias, fato que pode ser potencializado e revertido, se articulado e em

sintonia com os CRASs, por meio da intersetorialidade. Porém, tais ações não podem ser

pensadas apenas sob a lógica dos encaminhamentos, restringindo as ações intersetoriais em

encaminhar e responsabilizar o outro profissional e/ou o outro serviço por alguma ação,

atividade, atendimento, demanda, programação, etc; são ações que precisam estabeler um

plano compartilhado de ações que se complementam entre um serviço e outro.

Relatos que indicam a falta de momentos para o encontro e a partilha dos casos,

principalmente pela hegemonia médica, sem momentos para estudos de caso e conhecimento

sobre a estrutura da rede do próprio município ou da Região, expressam dificuldades em

articular o trabalho na perspectiva da integralidade e intersetorialidade das ações. Em outros

casos, apesar das articulações, essa se mostra cronificada e cronificadora do cuidado.

Aqui funciona assim, quanto à questão de compartilhar o caso: a demanda é grande

e o mais difícil vai direto para o CAPS. Assim que chega, pedimos a avaliação do

médico, que encaminha logo para o CAPS. Se apresenta queixa e vimos que é de

saúde mental, encaminhamos logo. Quando tem contrarreferência, monitoramos se o

a pessoa volta para a ESF, e se na área tem ACS. Acompanhamos se o usuário está

indo nas consultas regularmente. Mesmo sendo usuário do CAPS, ele não deixa de

ser da ESF (Profissional 14).

Como efeito, tais desafios implicam na fragilidade de estratégias e planos de

continuidade do cuidado. Para Oliveira et al. (2008), as ações de continuidade de cuidado são

de grande importância para atenção às pessoas com transtorno mental. O cuidado não pode ser

ofertado com ações pontuais e fragmentadas. E os principais problemas para a não efetivação

desse princípio são:

Falta de clareza das diretrizes operacionais, infraestrutura, sistemática de

planejamento e avaliação dos serviços quando da implementação da política de

saúde mental na rede básica, refletindo no comprometimento da continuidade dos

pacientes (OLIVEIRA et al. 2008, p. 711).

Para Ramos e Massih Pio (2010), a Atenção Básica tem em suas premissas o

estabelecimento de vínculos e corresponsabilização entre profissionais de saúde e a

população. No entanto, esta prerrogativa ainda se mostra frágil, em função das concepções

tradicionais de saúde, a partir do contínuo saúde-doença-procedimento-cura, enquanto norte

das ações dos serviços e o modo como os processos de trabalho e o modelo técnico-

Page 143: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

141

assistencial em saúde é organizado no conjunto de práticas ofertadas: ações de saúde pautadas

praticamente pelo uso de tecnologias duras (equipamentos) e leve-duras (saberes

protocolares), consequentemente, a fragmentação das ações de cuidado, em função do saber

especialista. Por outro lado, há a dificuldade dos próprios profissionais em (re)conhecerem

que as ações de saúde mental podem e devem ser desenvolvidas junto ao território. É a ação

territorial que possibilita articular o trabalho em rede, inclusive ampliando o diálogo com as

redes externas ao CAPS. Mas para isso é necessário ter clareza dos princípios das políticas de

saúde.

A rede ainda apresenta dificuldade de estrutura, no tocante aos serviços que deviam

ser implantados e não foram, o que acarretou casos em que os usuários acabam por utilizar

serviços de outro município, sem efetivação da pactuação. “Aqui, se pararmos para pensar, o

CAPS atende Buriti, Murici dos Portelas, Caraúbas, Caxingó e Cocal” (Profissional 12).

Nesse aspecto, apesar de não figurar como um CAPS regional, em Buriti dos Lopes o serviço

acaba prestando o serviço para toda a Região. Além disso, observamos também a utilização

de serviços de saúde local por usuários residentes não apenas em outros municípios do Piauí,

como também em outros estados, sem as devidas pactuações.

Com base no que foi observado, uma dificuldade que vem se prolongando na rede, não

apenas na RAPS, mas nas demais redes de saúde, é a questão dos usuários de outros

municípios, sejam eles vizinhos ou de estados vizinhos, vêm em busca do acesso aos serviços

na cidade de Parnaíba, muitas vezes são serviços que não têm em sua cidade, no caso do

Piauí; e no caso do Maranhão, em alguns casos, fica mais próximo e confortável para o

usuário se deslocar para a cidade de Parnaíba, do que para alguma cidade do próprio estado de

origem que fosse mais próxima, ou mesmo da capital.

Quanto à organização da atenção, apresenta-se dificuldade do trabalho na zona rural,

ou seja, muitos municípios da Planície Litorânea apresentam uma grande extensão territorial

de difícil cobertura, o que acarreta em entraves na articulação da rede na zona rural.

Na zona rural é o mais difícil, porque a cultura é que a pessoa com transtorno só

precisa comer e ficar ali, então não tem cuidados, é maltratado e, então, vamos

observar os fatores sociais. Muitas famílias contam com apenas um salário e

apresentam dificuldades de cuidados com poucas respostas institucionais

(Profissional 14).

Page 144: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

142

Ademais, também observamos que as famílias ainda apresentam dificuldades de

acesso à rede. Por isso, apesar do avanço da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que

mesmo diante das adversidades, apresenta seu crescimento não só no Piauí, como no país,

porém, a realidade é bem mais difícil para os moradores das zonas rurais (SILVA;

DIMENSTEIN; LEITE, 2013).

Por fim, é desafiante o CAPS figurar como ordenador da rede, se visto somente como

local para marcação de consultas e recebimento de medicamentos. Trabalhar em uma cultura

ainda marcada fortemente pelo paradigma manicomial, onde para muitos da sociedade, a

pessoa com transtorno mental deve ser internado, diz do desafio que é também

desinstitucionalizar a dimensão sociocultural em torno da loucura que ainda marca fortemente

a sociedade.

6.3.4 Demais temas que circularam nas rodas de conversa

Outros temas também circularam de forma transversal ao longo das rodas de conversa,

inclusive se repetindo em mais de uma roda, enquanto questões geradoras de entraves em

alguns momentos e, em outros, com indicativo de possibilidades para o trabalho em saúde

mental em rede, nas localidades investigadas, são eles: formação, família, pobreza e religião.

Sobre as discussões em torno da formação graduada, muitos se referiram como ainda

insuficiente para atuar na Saúde Mental, a exemplo das falas seguir:

Desafio maior quando se está com pessoas com este tipo de dificuldade é a nossa

formação na graduação que foi falha, e se quero me especializar depois tenho que

pagar para fazer (Profissional 12).

A ESF precisa se inteirar com os problemas da saúde mental, pois pode ser melhor

trabalhado pela equipe. O problema é que temos poucas disciplinas que tratam sobre

o tema, e para nós que acabamos de sair da graduação é complicado, porque a

academia não nos forma para atuar nessa área. Tanto que ninguém quer estudar isso

e tem medo de trabalhar com a saúde mental. Se é um usuário difícil e você não

souber como fazer, acaba distanciando ainda mais o usuário da ESF (Profissional

16).

Conforme apresentado nas falas, existe uma insuficiência técnico-prática dos

profissionais da ESF em trabalhar com a saúde mental. A falta de competência técnica tem

entrado em pauta, com mais frequência, nos estudos sobre o assunto, pela dificuldade dos

profissionais atuarem a partir do paradigma psicossocial, trabalhando com reabilitação,

reinserção, com a família e as articulações com o território. Ademais, diante dessa lacuna

Page 145: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

143

técnica para atuar, a dificuldade dos profissionais tem sido na compreensão das tecnologias a

serem utilizadas no trabalho em saúde, cujo investimento maior está nas tecnologias duras e

leve-duras, que acabam reduzindo o sujeito à doença. Desse modo, ao longo da formação, a

grande maioria das especialidades e profissões de saúde ainda trabalha com um referencial

sobre o processo de saúde e doença restrito, filiado à racionalidade biomédica (SEVERO;

DIMENSTEIN, 2011).

Para uma nova concepção e prática dos profissionais nesse processo, é importante que

a saúde mental tenha um novo enfoque, na formação dos profissionais e nos programas de

saúde que, em geral, colocam a saúde mental somente na prática assistencial da doença. No

entanto, além das ações de assistência, a atenção básica deve também trabalhar com a

promoção e a prevenção da saúde mental, que devem ser articuladas (MOLINER; LOPES,

2013).

Além disso, os egressos dos cursos de saúde, em geral, levam o estigma da pessoa com

transtorno mental para a relação profissional-usuário, ressentindo-se de certa periculosidade

dos casos da saúde mental que procuram os serviços, dificultando o processo de aproximação,

acolhimento, vínculo, entre outros, essenciais para a inserção da pessoa no serviço, bem como

para seu tratamento, traçando, inclusive, ações que podem ser complementadas ou

continuadas por outros serviços da rede. Apesar das dificuldades, a ESF, em sua atuação,

apresenta possibilidades de reversão desta situação, com maior articulação entre as equipes,

articuladas inclusive pelo NASF, com a adoção de cuidados mais simples (mas não

desqualificados), a partir das tecnologias leves, no contato com as famílias e a comunidade.

Porém, é necessário que os profissionais sejam qualificados para adotar esse olhar,

entendimento e postura ético-política.

Outro aspecto retomado nas rodas foi em torno do tema “família”. Os profissionais

ainda apresentam dificuldades em lidar com as famílias dos casos de saúde mental, no sentido

de não reconhê-las como demandante de cuidados, em função das sobrecargas que enfrentam

(material, física, emocional, etc). Por isso, a importância do trabalho pautado pela clínica

ampliada com foco no trabalho em equipe, na escuta qualificada e na tentativa de vincular

com as famílias, no objetivo de oferecer ações de cuidado nos serviços (FURTADO;

CARVALHO, 2015). Falas que desqualificam o papel da família nas ações de cuidado, em

função de situações de negligência ou resistência ao tratamento, no sentido de não

colaborarem com a terapêutica, com a administração dos medicamentos na hora correta, ou

Page 146: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

144

não compreenderem o papel do serviço, ou desconhecerem a estrutura da rede e os demais

pontos de atenção da RAPS, foram recorrentes. “No CAPS também, a gente não tem o apoio

da família, eles têm vergonha de trazer o parente aqui e não apoiam, nem sabem o que é

CAPS, não sabem se traz para o CAPS, ou se o NASF atende” (Profissional 11).

Desse modo, devemos apontar a importância dos profissionais e dos serviços em

ressignificar o papel dos familiares no cuidado às pessoas com transtorno mental. No Brasil,

defender unicamente o cuidado na família acarreta o reforço à desresponsabilização do

Estado, reforçando o ideário neoliberal, que retira do Estado a assistência aos portadores de

transtorno mental (ROSA, 2011).

A autora aponta algumas diretrizes para o trabalho com as famílias, a fim de superar

este modelo hegemônico na saúde mental. A primeira diz respeito à reorientação de gênero,

isto é, não delegar o cuidado da pessoa com transtorno mental apenas às mulheres, como

cuidadoras da família, das tarefas de casa, e da pessoa com transtorno mental. Outros atores

devem comparecer nesse processo. Além disso, é importante pensar na reorganização do

cuidado entre a família e o serviço, tal aspecto pode readequar a quantidade e a qualidade dos

serviços, ou seja, o cuidado pode ser compartilhado e dividido entre ambos. Também temos a

luta por melhores condições de vida das famílias; a capacitação dos trabalhadores em saúde

mental, que convoquem a família para a participação no processo; a luta pela manutenção dos

direitos, pela divisão de trabalho entre família e Estado, quanto ao cuidado; o fortalecimento e

a ampliação de novos serviços, que as famílias tenham acesso e conhecimento sobre eles;

articulação entre as políticas sociais com atenção integral, e que possam abranger as várias

dimensões da vida familiar; ampliação da cidadania do cuidador, sem deixar em segundo

plano a pessoa com transtorno mental (ROSA, 2011).

Em virtude de todos os pontos elencados, faz-se necessária (a presença), para que

possam ser efetivados, a presença de uma política cultural voltada para o cuidado

compartilhado, a reorganização da divisão de gênero, ou seja, que todo o cuidado não fique

apenas em sobrecarga para as cuidadoras, como: mães, irmãs, avós, esposas, etc. Além disso,

que se possa assegurar formas que não discriminem os cuidadores, mas que os auxiliem

(benefícios/compensações) de forma econômica, que possam ser pensados empregos aos

cuidadores que não tenham jornadas muito longas, ou que sejam apenas em um turno, bem

como, formas comunitárias de cuidado, que não reproduzam o modelo asilar (ROSA, 2011).

Page 147: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

145

Ainda conforme outro aspecto apresentado nas rodas, temos a dificuldade de atuação

do profissional, em meio aos entraves da pobreza.

A pobreza é uma grande dificuldade. Aqui mesmo eu vejo que a pobreza agravou os

casos da saúde mental. Só de suicídio, quando eu cheguei em Cocal, aqui tinha em

média 8 por ano. Comecei a identificar os usuários com ideação suicida e temos

feito um bom trabalho. E há dois anos que não tem, mas aqui é grave. E essa

pobreza que eu digo que é difícil, é dificuldade das grandes, isso é porque o Brasil

tem passado hoje por um empobrecimento da zona rural e periférico enorme. Você

vai na periferia o que tem ali é bar, gente jogando sinuca, bebendo cachaça e usando

droga (Profissional 15).

De acordo com o relato, os profissionais devem atentar para a importância do contexto

em que os usuários vivem, e suas condições de vida, pois eles compõem, juntamente com

outros fatores, as determinações do processo saúde-doença/sofrimento-cuidado da população.

São estes sujeitos que fazem parte da grande maioria da população brasileira, apresentam

situação de vulnerabilidade social e risco, em geral, recebem um pouco mais de um salário

mínimo ou menos (estando na margem da linha da pobreza), vivem em desamparo, excluídos,

marginalizados, morrem no anonimato ou muitas vezes na indigência. Eles são, na grande

maioria, os usuários dos serviços, e lutam por um espaço dentro desse sistema

(NEPOMUCENO, 2013).

Nessa perspectiva, para Nepomuceno (2013), a pobreza, a exclusão e a desigualdade

social contribuem para o agravo das condições de saúde da população. Assim, estão próximas

as relações entre vivência da pobreza (e as questões socioeconômicas e psicossociais) e o

processo saúde-doença mental. Não entraremos nessa temática, e nem colocaremos a

população pobre associada à relação com os transtornos mentais, já que para isso temos que

observar várias dimensões, e por isso, concordamos que saúde e doença devem ser

compreendidas como processo, onde o usuário deve ser valorizado em todos os âmbitos:

cultural, social, religioso, etc.

Ou seja, as ´determinantes locais` podem ser muito importantes, sobretudo em casos

de escassez extrema (ausência de espaços públicos, habitação degradada, pobreza,

etc.), não podem ser interpretadas nem de forma determinística (os fatores locais

condicionam, mas não determinam) nem de modo insular (o efeito dos fatores locais

devem ser ponderados à luz de contextos sociais, econômicos e políticos mais

amplos) (FERRÃO, 2015, p. 6).

Logo, as comunidades locais e os indivíduos que as compõem revelam graus

diferenciados de vulnerabilidade, capacidade de adaptação e resiliência, que devem ser

Page 148: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

146

observados, assim como as condições precárias de vida dos usuários também devem ser

levadas em consideração pelos profissionais da rede.

Assim, é importante retomarmos a discussão da intersetorialidade, vista anteriormente,

e que deve ser convocada, a fim de interferirmos nesses contextos, pensando em um plano de

continuidade de cuidado e de trabalho em rede que englobe vários setores, para que possam,

as populações mais abaladas com a pobreza, serem assistidas de forma integral.

Por isso, é importante o investimento em redes de apoio, como possibilidade de novos

espaços de interação da comunidade. Com a criação de grupos onde as pessoas possam

receber informações sobre vários temas, inclusive sobre saúde, os serviços ofertados na

comunidade, entre outros, e que se intensifiquem atividades entre profissionais e usuários,

resultando em envolvimento das comunidades rurais em busca de qualidade de vida e

fortalecimento conjunto para enfrentamento dos problemas (COSTA; LUDEMIR, 2005).

Por fim, foi apresentada a dificuldade quanto à atuação envolvendo a religião, no

sentido do aspecto religioso do usuário, que dificilmente é entendido pelos profissionais

dentro do processo e que, em geral, não é levado em conta pelos profissionais. Vimos que

esses casos são mais frequentes nas zonas rurais de alguns municípios. Algumas famílias se

utilizam da espiritualidade para auxiliar na resolução de dificuldades e problemas

relacionados aos transtornos mentais do seu familiar com transtorno mental, potencializando

os valores das famílias e da comunidade onde vive ou, então, enquanto estratégia de

minimizar a dor e se resignar frente ao problema vivido.

A cultura e o processo histórico pelo qual passaram também ajudam na promoção da

saúde mental, contudo, uma dificuldade preponderante no percurso é a equipe entender que

este aspecto cultural e religioso é importante no processo, na adesão ao tratamento, para se

aproximar da família, da pessoa com transtorno mental e da comunidade. Perceber e

reconhecer o aspecto religioso é tão importante quanto conhecer o usuário, porque enriquece

o processo; esse aspecto é capaz de trazer à tona a relação que o doente tem com sua doença,

com a sua saúde, com a doença e a salvação, fatores relevantes dentro das práticas de cuidado,

e que devem ser levados em consideração dentro desse processo de rede (SILVA;

DIMENSTEIN; LEITE, 2013).

Uma das maiores dificuldades relatadas é quanto à “intervenção dos pastores, porque

eles (usuários) dizem, depois da participação do momento que celebram que vão ser curados

por Deus” (Profissional 15). É uma “questão cultural, já vi que isso da religião interferir no

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147

tratamento, é dependendo do local” (Profissional 14), por isso a necessidade de compreender

a relação da espiritualidade com a saúde. Desse modo, cabe ressaltar o apoio das instituições

religiosas, como parte cultural, integrante do indivíduo, e a possibilidade de inserção do

usuário em uma rede de relações sociais, são imprescindíveis no contexto da saúde mental, já

que em muitos casos, as pessoas com transtorno mental são excluídas de espaços de

sociabilidade, logo, é importante, na vida dos usuários, a relação religião e saúde mental, pois

tanto abre como criam bloqueios nesse sentido. Cabe destacar ainda, que cada instituição deve

respeitar uma a outra, levando em conta o tratamento e as particularidades do processo, onde

o tratamento deve observar a cultura e o entorno social dos usuários, que também dizem sobre

sua forma de pensar, agir e sentir, frente aos seus processos de adoecimento (MURAKAMI;

CAMPOS, 2012).

Este capítulo tocou nos pontos discutidos nas rodas de conversas, que foram desde as

principais demandas em saúde mental dentro dos serviços, no tocante à estrutura da RAPS

nos municípios, até à organização do trabalho e à atenção em rede. Ademais, vimos também

os pontos transversais que circularam nas rodas, temas que, em geral, foram apresentados em

uma ou mais de uma roda, mas que revelam a realidade dos municípios da Planície Litorânea,

deixando explícitos seus desafios e possibilidades na rede de atenção em saúde mental.

Page 150: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

148

CONCLUSÃO

Com a pesquisa, observamos que o processo de implantação e de consolidação da

RAPS no Piauí, ainda está em processo de andamento.

Ao que se pode constar, quanto à estruturação da RAPS e sua regionalização no Piauí,

o Plano de Ação Regional (PIAUÍ, 2014a), que foi produzido e enviado ao Ministério da

Saúde, apresentou inconsistências diversas, quanto à observância do critério populacional

para abertura de serviços, além do financiamento e de impasses com os gestores dos

municípios. O resultado foi a devolução do Plano, para ajustes e adequações, devido à

condução, por parte da Gerência Estadual de Saúde Mental, não ter realizado o debate sobre a

RAPS de forma ampla e participativa com todos os setores e atores envolvidos.

A retomada dos trabalhos para implantação e regionalização da saúde mental no

estado foi realizada pela nova equipe que assumiu a Gerência, com a mudança do Governo

Estadual, em 2015, com a reestruturação do grupo condutor, incluindo a participação do

controle social, e a observância atenta aos critérios normativos de todo o processo. Ademais,

espera-se que neste 2º Plano de Ação Regional, o debate possa avançar, não apenas na

perspectiva da implantação de novos serviços para a ampliação e o fortalecimento da saúde

mental nas diversas Regiões de Saúde em todo o estado, mas, também, implementar

ferramentas clínicas e de gestão de processos de trabalho das equipes e organização dos

serviços, inclusive acompanhado de ações em educação permanente, para a realização do

trabalho em rede, inclusive intersetorial.

Ferramentas de regulação, acompanhamento, monitoramento e avaliação são

importantíssimas nesse sentido. Porém, percebe-se que o debate, mesmo nesse segundo

momento de construção de um novo Plano de Ação Regional, tem tocado pouco em

ferramentas ou dispositivos que assegurem o trabalho em rede. A discussão ainda está

assentada sobre a abertura de serviços. Sabemos que o trabalho da nova equipe da Gerência é

recente, porém, a discussão sobre ferramentas de gestão do trabalho em rede não pode ficar

para um outro momento, mas em paralelo.

Quanto às dificuldades expostas pelos profissionais nas rodas de conversas nos

municípios, elas giraram em torno das principais demandas em saúde mental, nos serviços de

saúde, da estrutura da rede, da organização e da atenção em rede. Tais conversas mostraram

que a estrutura da rede ainda se encontra diminuta, e as condições precárias de trabalho e de

infraestrutura ainda se mantêm dificultando sobremaneira as ações nos serviços. Como

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149

consequência, o trabalho acaba resultando no modelo ambulatorial, que pouco contribui para

a produção de cuidado em saúde mental no território.

Com relação à organização e à atenção no funcionamento da RAPS nos municípios,

ainda apresenta impasses, principalmente nos aspectos micropolíticos, no que concerne aos

processos de trabalho das equipes dos serviços de saúde, e vão desde dificuldades com o

matriciamento, a ações de educação permanente e intersetorialidade. Podemos pensar, assim,

no investimento em pontencialidades advindas das tecnologias relacionais dentro dos

serviços, como modo de atuação-implicação e produção de cuidado.

Desse modo, apontamos a regionalização como um importante elemento organizativo

do SUS, e é uma aposta, enquanto ferramenta de gestão, para superar a fragmentação da

atenção em saúde, propondo articulação da rede, efetivando a produção de cuidado,

garantindo a equidade e a acessibilidade da população aos serviços, principalmente,

convocando a intersetorialidade, quando necessário.

Para tanto, é fundamental olhar para além da rede psicossocial especializada (rede

CAPS), buscando organizar a atenção básica como porta de entrada e coordenadora na oferta

de cuidados em saúde mental no território, a fim de tentar superar impasses em uma das mais

perversas fragmentações no SUS, que é entre a atenção básica e a psicossocial.

Page 152: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

150

REFERÊNCIAS

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164

Page 167: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

165

APÊNDICES

165

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166

APÊNDICE A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do projeto: Regionalização da Política de Saúde Mental no Piauí: desafios para

atenção psicossocial.

Pesquisador responsável: João Paulo Sales Macedo e Francisca Maria Carvalho Cardoso

(colaboradora).

Instituição/Departamento: Universidade Federal do Piauí - Programa de Pós-Graduação em

Políticas Públicas.

Telefones para contato: (86) 3215-5808 e (86) 99922-2814 (aberto para ligações a cobrar,

por parte do participante).

Local da coleta de dados: Gerência de Saúde Mental do Estado do Piauí, Secretarias

Municipais de Saúde de Buriti dos Lopes, Cocal, Luís Correia e Parnaíba, 1ª Regional de

Saúde de Parnaíba (ligada à secretaria de saúde de Parnaíba), Superintendência de Saúde

Mental de Parnaíba.

Prezado(a) Senhor(a):Você está sendo convidado(a) a responder às perguntas deste roteiro

de entrevista, de forma totalmente voluntária. É uma pesquisa em nível de mestrado em

Políticas Públicas. E este termo será emitido em duas vias, uma que ficará com o pesquisador

e outra com o(a) participante. Antes de concordar em participar desta pesquisa, é muito

importante que você compreenda as informações e instruções contidas neste documento. Os

pesquisadores deverão responder todas as suas dúvidas, antes que você se decida a participar.

Você tem o direito de desistir de participar da pesquisa a qualquer momento, sem nenhuma

penalidade e sem perder os benefícios aos quais tenha direito.

Justificativa: Em virtude de promover as Políticas Públicas para a Saúde Mental,

trabalharemos com o processo de implantação da Rede de Atenção Psicossocial e seu desenho

no estado do Piauí e na Planície Litorânea-PI.

Objetivo de estudo: Analisar o processo de implantação da Rede de Atenção Psicossocial no

território da Planície Litorânea-PI.

Procedimentos: Sua participação nesta pesquisa consistirá através de respostas a um roteiro

de entrevista, a fim de que possamos analisar o processo de implantação da RAPS no

território da Planície Litorânea-PI, bem como refletir sobre os desafios e possibilidades para

efetivação da regionalização e da interiorização da Política de Saúde Mental no Piauí. Cabe

frisar que sua participação na pesquisa é livre e que é possível o seu acesso aos instrumentos

de coleta de dados antes mesmo da assinatura deste termo.

Benefícios: Esta pesquisa trará maior conhecimento sobre o tema, com relevância tanto para a

produção do conhecimento sobre a área quanto para a Política de Saúde Mental do Piauí, com

o intuito de beneficiar a gestão e serviços da RAPS do estado do Piauí.

Riscos: O preenchimento destes questionários a priori não representam qualquer risco de

ordem física ou psicológica para você, na medida em que prezamos pelo sigilo, porém,

caso exista algum desconforto ao compartilhar informações, ou sinta algum incômodo em

falar de algum tópico em específico, não precisa respondê-lo, reservando-se o direito de

passar à pergunta seguinte, ou mesmo desistir de participar da pesquisa.

Sigilo: As informações fornecidas por você terão sua privacidade garantida pelos

pesquisadores responsáveis. Os participantes da pesquisa não serão identificados em nenhum

momento quando os resultados desta pesquisa forem divulgados em qualquer forma. Ciente e

de acordo com o que foi anteriormente exposto, eu

166

Page 169: REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO PIAUÍ

167

_____________________________________________________________________, estou

de acordo em participar desta pesquisa, assinando este consentimento em duas vias, ficando

com a posse de uma delas. Sobre o acompanhamento e assistência ao participante quando do

encerramento ou interrompimento da pesquisa o participante poderá acessar os contatos dos

pesquisadores ou do CEP.

______________________________________

Local e data

____________________________ ______________________

Assinatura N. identidade

_________________________________________________________

Pesquisador responsável

Comitê de Ética em Pesquisa – UFPI - Campus Universitário Ministro Petrônio Portella –

Pró-Reitoria de Pesquisa. Bairro: Ininga. CEP: 64.049-550 - Teresina – PI. Tel:(86)3237-

2332.e-mail:[email protected]. web: www.ufpi.br/cep.

167

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168

APÊNDICE B

Entrevista – Representantes: da Gerência de Saúde Mental do Estado/Secretarias

Municipais de Saúde de Parnaíba, Luís Correia, Buriti dos Lopes e Cocal, Regional de saúde

de Parnaíba, Superintendência de Saúde Mental de Parnaíba e do controle social.

I. Dados de identificação:

Profissão e cargo que exerce.

Pensando nas etapas da implantação da RAPS, conforme a portaria nº 3.088, de

23/12/2011.

Entrevista para que o participante fale sobre:

Como tudo começou, até chegar ao processo de implantação da RAPS.

1- Como tem se dado o processo de regionalização da Saúde Mental no estado?

2- Como a Gerência de Saúde Mental tem se organizado para implantar a RAPS no

estado?

3- Sobre as reuniões do Colegiado de Gestão Regional. Quem tem participado? Quais

os temas debatidos?

4- Como as etapas do processo de implantação da RAPS têm sido trabalhadas na

Planície Litorânea - serviços?

5- Quais as respostas dos municípios – serviços - equipes envolvidas? Como eles têm

participado e se integrado à discussão?

6- Qual a agenda de discussão? Que aspectos têm sido pautados pelos municípios -

serviços, neste debate? Quais os entraves e pontos de discordância/ consenso nas discussões?

7- Sobre as Pactuações do desenho da rede. Como tem se dado essa discussão? Pontos

críticos? Dados diagnósticos que têm embasado a discussão?

8- Sobre a Instituição do Fórum da RAPS. Quem tem participado? Quais os temas

debatidos? Pontos Críticos?

9- Sobre a Proposta de Plano de Ação Regional. Como foi construído? Atores?

Demandas dos gestores? Trabalhadores? Usuários? Como o Estado/Município (direcionar

para o representante entrevistado) tem acompanhado esse debate? Expectativas? Desafios?

10- Que instrumentos de atenção e gestão tem sido/ serão trabalhado(s) com os

gestores locais/equipes dos serviços para se efetivar as ações em rede na RAPS?

168

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169

11- Quais atores têm participado dessa discussão? Como os atores institucionais de

cada localidade (gestão e serviços) têm se percebido nesse processo? Quais têm sido suas

pautas?

12- Organização dos processos de trabalho

13- Avaliação do processo de implantação

14- Contratualização

15- Grupo condutor

16- Cumprimento de metas e/ou dificuldades

17- Que propostas têm sido pensadas para avançar no cuidado em rede?

18- Quais os próximos passos e os desafios para a efetivação da regionalização da

Política de Saúde Mental no estado/municípios da Planície Litorânea como um todo.

Temas norteadores da roda de conversa com profissionais dos serviços de saúde

Parnaíba, Luís Correia, Buriti dos Lopes e Cocal.

Questionário:

1- Sexo

2- Idade

3- Tempo de formado

4- Tempo de experiência profissional na saúde

5- É o primeiro emprego?

6- Tem outro emprego?

7- Reside no município que trabalha?

Temas das rodas

● Principais demandas em saúde mental do município.

● Estruturação e funcionamento da RAPS no município/região.

● Organização do trabalho em saúde mental a partir da RAPS: ações

interdisciplinares, intersetorialidade, matriciamento, gestão compartilhada dos casos.

● Organização da atenção em rede: gestão do fluxo, continuidade,

complementariedade e coordenação do cuidado em outros níveis de atenção.

● Desafios para atuar nesse campo; autoanálise e análise das implicações das

equipes/serviços para o trabalho em rede.

169

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170

ANEXO

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ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

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