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CARACTERIZAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS COSTEIROS DOS ESTADOS DO RIO GRANDE DO NORTE, CEARÁ E PIAUÍ Natal – RN, agosto de 1999

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  • CARACTERIZAO DOS ECOSSISTEMAS COSTEIROS DOS ESTADOS DO RIO GRANDE DO NORTE, CEAR E PIAU

    Natal RN, agosto de 1999

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    Ficha Tcnica

    Coordenadora do Estudo Ana Maria Teixeira Marcelino Sistematizador Jorge Eduardo Lins Oliveira Coordenadores Regionais Jorge Eduardo Lins Oliveira Rio Grande do Norte Paulo de Tarso de Castro - Cear Hamilton Gondim de Alencar Araripe --Piau Bolsistas Tatiana Silva leite Bernadete de Lourdes Queiroga de Souza Equipe de Redao Litoral do Rio Grande do Norte Jorge Eduardo Lins Oliveira Tatiana Silva Leite

    Litoral do Cear Paulo de Tarso de Castro Superintendncia Estadual do Meio Ambiente do Cear Fundao Instituto de Planejamento do Cear Jorge Eduardo Lins Oliveira

    Litoral do Piau Hamilton Gondim de Alencar Araripe Tatiana Silva Leite Jorge Eduardo Lins Oliveira

    Resultados e Recomendaes Jorge Eduardo Lins Oliveira Tatiana Silva Leite

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    SUMRIO 1 Ecossistemas Costeiros 04 2 A Zona Costeira do Rio Grande do Norte 06 2.1 Indicadores scio-econmicos 07 2.2 Atividades econmicas do Estado 08 2.3 Os recursos econmicos 09 2.4 Aspectos ambientais do Estado 12 2.5 Ecossistemas principais 16 2.6 Condicionantes biolgicos dos ecossistema aquticos 18 2.7 Impactos ambientais na regio costeira 20 3 A Zona Costeira do Cear 20 3.1 Recursos hdricos 21 3.2 A pesca 22 3.3 A agricultura 23 3.4 A Costa Oeste 25 3.5 A Costa Leste 30 4 A Zona Costeira do Piau 35 4.1 Configurao geoambiental 35 4.2 O clima 37 4.3 Hidrologia e hidrogeologia 37 4.4 Os solos 38 4.5 Vegetao e unidades fisiologicas 39 4.6 O Delta do Parnaba 42 4.7 Tendncias scio-econmicas 44 4.8 Setor primrio 46 4.9 A atividade pesqueira 50 5 Resultados e Recomendaes 55 5.1 Resultados 55 5.1.1 Consideraes sobre os principais ecossistemas 57 5.1.2 Principais impactos ambientais na regio costeira 58 5.2 Recomendaes 73 6 Bibliografia 74

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    1 - OS ECOSSISTEMAS COSTEIROS

    O Brasil tem uma rea de aproximadamente 8.500.000km2, dos quais a faixa continental da zona costeira ocupa cerca de 442.000km2, isto 5,2% das terras emersas do territrio nacional. So 7.408 km de extenso de linha de costa, sem levar em conta os recortes litorneos (baas, reentrncias, golfes, etc.), que muito ampliam a mencionada extenso, elevando-a para mais de 8,5 mil km voltados para o Oceano Atlntico (Comisso Nacional Independente sobre os Oceanos, 1998).

    A zona costeira do Nordeste se estende desde a Baa de So Marcos at a

    Baa de Todos dos Santos. Segundo Silveira (1964) apud MMA (1997). Esta zona esta subdividida em dois grandes compartimentos : a Costa Semi-rida, que se situa noroeste do Cabo Calcanhar, e a Costa Nordeste Oriental, que vai do Cabo Calcanhar at a Baa de Todos os Santos.

    A Costa Semi-rida que se estende desde a Ponta de Itapag (leste do Rio Acara) no Estado do Cear, at o Cabo Calcanhar, no Estado do Rio Grande do Norte, apresenta direo noroeste-sudeste at as proximidades de Macau (RN). Neste ponto toma a direo oesteleste at o Cabo Calcanhar, quando finalmente inflete para nor-nordeste su-sudeste (Silveira, 1964 apud MMA, 1997). Nesta regio as plancies costeiras so quase inexistentes, em funo sobretudo da presena de tabuleiros e arenitos de praia naturais. Observa-se ainda nesta regio grandes campos de dunas mveis e fixas.

    J a Costa Nordeste Oriental, que vai desde o Cabo Calcanhar (RN) at o Porto das Pedras (AL), abrange parte do litoral do Estado do Rio Grande do Norte, Paraba, Pernambuco e Alagoas. O clima predominante nesta zona costeira mais mido que na Costa Semi-rida. Segundo Perrin (1982) apud MMA (1997), para a costa norte as precipitaes em perodos de seca so da ordem de 500 a 700 mm, enquanto que para o litoral sul, as precipitaes so em torno de 1.400 e 1.600 mm.

    Ao longo da histria, as zonas costeiras ofereceram vantagens aos viajantes

    e colonizadores. Cerca de quarenta por cento da populao mundial vive num raio de 100km das linhas da costa. Associada ocupao desses terrenos, encontra-se uma crescente necessidade de infra-estrutura industrial e de facilidade recreacionais. O efeito cumulativo do crescimento em nome do desenvolvimento tem acarretado aos espaos de convivncia humana uma taxa cada vez maior de comprometimento e degradao ambiental.

    Nas ltimas dcada, nota-se claramente o progressivo interesse global pelo

    manejo de reas costeiras. Em praticamente todas as regies do mundo existem exemplos de naes desenvolvidas ou emergentes que avaliaram ou que esto

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    avaliando, em estudos de viabilidade, a implantao de programas de manejo costeiro. Esse interesse se deve, muito provavelmente, a uma tomada de conscincia de que os sistemas costeiros, so mais bem dotados em recursos naturais renovveis, em comparao com o ecossistema terrestres (Comisso Nacional Independente sobre os Oceanos, 1998).

    Tal regio litornea, como faixa de contato entre a terra e o mar, abriga

    atividades humanas caractersticas de sua situao privilegiada: as prticas de pesca comercial e recreativa, a maricultura, o transporte martimo, os esportes aquticos, o uso dos terminais porturios, as indstrias de pesca e turismo, entre muitas outras. Por tudo isso, a zona costeira se caracteriza pela complexidade das atividades que abriga e pela sensibilidade dos seus ecossistemas.

    Para os ecossistemas costeiros dificil definir seus limites e reas de

    influncia, uma vez que estes ecossistemas incluem tanto os organismos quanto o ambiente abitico. Dessa forma, assim como os sistemas terrestres adjacentes so afetados pela ao do mar, o ambiente marinho recebe a influncia terrestre. A magnitude dessas interaes varivel, de acordo com a maior ou menor extenso das bacias hidrogrficas, coletoras de sedimentos e de resduos poluentes de vasta reas interiores, e com as condies oceanogrficas e climatolgicas, que regulam a influncia dos oceanos sobre a massa continental.

    possvel, portanto, incluir na definio de zona costeira, por um lado, todas

    as reas contidas nas bacias hidrogrficas que a afetam e, por outro, a extenso marinha at a quebra da plataforma continental ou at o limite da ZEE (Comisso Nacional Independente sobre os Oceanos, 1998).

    Devido a sua riqueza biolgica, os ecossistemas costeiros so os grandes

    berrios naturais, tanto das espcies caractersticas desses ambientes, como das pelgicas, bem como de outros animais que migram para as reas costeiras durante a fase reprodutiva.

    Fauna e flora associadas a esses ecossistemas constituem significativa

    fonte de alimentos para as populaes humanas. Os estoques de peixes, moluscos, crustceos e aves aquticas formam expressiva biomassa. Os recursos pesqueiros alcanam altos preos no mercado internacional, caracterizando-se como importante fonte de divisas para muitos pases.

    Alm da pesca, o Brasil possui outros interesses econmicos na sua zona

    costeira, entre os quais incluem-se: a explorao do petrleo, uma vez que o petrleo, ou leo mineral, corresponde a 40% da energia utilizada pelo homem e tende a crescer nas prximas dcadas, os recursos minerais, onde pode-se afirmar que todos os elementos qumicos naturais conhecidos apresentam-se na gua do mar e grande parte dos depsitos minerais hoje em explotao nos continentes teve sua origem ligada aos oceanos direta ou indiretamente e a aqicultura, ainda no explorada em todos o seu potencial pelo pas, que possui cerca de 15% da gua potvel do planeta e grandes extenses de terras subaproveitadas.

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    Em relao aos ambientes da zona costeira, lagunas, esturios e baas, esto entre os ecossistemas mais produtivos da biosfera. A zona costeira, em particular os esturios, pode ser definida como rea de planejamento ou rea problema, no s as suas caractersticas ecolgicas e ao uso intensivo que dela se faz, como tambm pela potencialidades para um rpido desenvolvimento de atividades humanas (Comisso Nacional Independente sobre os Oceanos, 1998)

    A zona costeira brasileira abriga um mosaico de ecossistemas de alta

    relevncia ambiental. Ao longo do litoral alternam-se mangues, restingas, campos de dunas e falsias, baas e esturios, recifes e corais, praias e costes, plancies intermars e outros ambientes importantes do ponto de vista ecolgico. Em tal zona se localizam as maiores manchas residuais da Mata Atlntica e manguezais de expressiva ocorrncia na zona costeira essenciais na reproduo bitica marinha e no equilbrio das interaes da terra com o mar. Enfim, os espaos litorneos possuem uma significativa riqueza em termos de recursos naturais e ambientais, que vem sendo colocada em risco, em decorrncia da intensidade do processo de ocupao desordenada.

    2 - A ZONA COSTEIRA DO RIO GRANDE DO NORTE

    O Estado do Rio Grande do Norte possui uma superfcie de 53.306 km2, tem uma populao de 2.634 milhes de habitantes, dos quais aproximadamente 70% vivem em reas urbanas. A densidade populacional de 45,41 habitantes por km2, distribudos em 162 municpios (SEPLAN, 1997 ; IDEC, 1997). J a regio litornea, possui uma superfcie de 11.888 km2, e uma extenso de 410 km. A populao nesta regio de 1.283,903 habitantes (IBGE, 1997), com uma densidade demogrfica de 108 habitantes por km2.

    A significativa diminuio da fecundidade que vem sendo observada no

    Estado, tem provocado mudanas significativas em seu perfil demogrfico. O nmero mdio de filhos por mulher que em 1970 era de 8,5, sofreu uma diminuio de 30%, passando para 5,7 em 1980, e de 2,9 filhos por mulher em 1993 (SEPLAN, 1997). Este fenmeno vem provocando mudanas bastantes significativas no padro demogrfico do Estado, influenciando diretamente a estrutura etria da populao. Uma das principais conseqncias deste fenmeno o aumento da idade mdia, ou seja, o envelhecimento da populao. Este fato pode ser constatado pelo aumento da idade mdia no Estado, que em 1980 era de 17,6 anos, passando a 21,0 anos em 1991.

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    Evoluo da populao no Estado do Rio Grande do Norte

    Por outro lado, embora tenha-se observado nos ltimos anos um processo

    de transio demogrfica acentuado, o contigente populacional, a exemplo do que vem ocorrendo no Brasil, aumenta com taxas superiores mdia da regio Nordeste. A taxa de crescimento que era de 2,05% para o perodo 1970/80, passou para 2,21% na dcada seguinte (1980/91).

    Paralelamente ao fenmeno da diminuio da fecundidade, o Estado vem sofrendo um processo acentuado de xodo rural, com o conseqente aumento das populaes urbanos nos ltimos anos. Segundo a SEPLAN (1997), durante o ano de 1970, a populao urbana do Estado era de 47,5%, passando para 69,1% em 1991 e atualmente sendo de aproximadamente 75%. Desta forma, a conseqncia imediata desta migrao rural-urbano, a reduo drstica da populao rural, que na ltima dcada apresentou taxa negativa de crescimento de 0,44%, promovendo o agravamento de problemas sociais, que vo desde o aumento das favelas nas periferias das cidades, crescente violncia urbana.

    2.1 - Indicadores scio-econmicos

    Segundo as estatsticas disponveis (SEPLAN, 1997), a economia do Rio Grande do Norte tem evidenciado para o perodo compreendido entre 1970 e 1995, um bom desempenho, apresentando um crescimento mdio superior ao do Nordeste e do Brasil. Para a dcada de 70 a economia do Estado cresceu em mdia 10,3% ao ano, para uma taxa de 8,7% para a Regio Nordeste e de 8,6% para o Brasil. J para a dcada de 80, a taxa de crescimento mdio anual do Estado (7,4%) foi superior ao do Nordeste (3,3%) e do Brasil (1,6%). Para o perodo compreendido entre 1990 e 1995, observou-se uma diminuio do PIB em relao dcada de 80, passando a 4,1%, conseguindo ainda se manter bem acima das taxas do Nordeste e do Brasil, 1,6% e 1,8% respectivamente (SEPLAN, 1997).

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    1970 1980 1990 1995

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    Evoluo do PIB estadual nas dcadas

    Considerando a evoluo do PIB (em US$ milhes) do Rio Grande do Norte, pode-se observar uma aumento considervel nas duas ltimas dcadas, passando de US$ 1.023,00 milhes em 1970 US$ 6.859,00 em 1995. Esta tendncia tem-se apresentado tambm para outros Estados do Nordeste, que apresentaram para o mesmo perodo um crescimento 3,5 vezes, alcanando em 1995 a cifra de US$ 98,95 (bilhes). J o PIB Per Capita passou de US$ 660 em 1970, para US$ 2.608 em 1995.

    O PEA (Populao Economicamente Ativa) tambm tem apresentado um crescimento bastante significativo, passando de 410 mil em 1970 1.055 milhes em 1995. Observando-se o PEA ocupada no Setor Formal que em 1995 foi de 554 mil pessoas, constata-se que aproximadamente 52% da populao economicamente ativa est ocupada no mercado formal de trabalho.

    2.2 - Atividades econmicas

    Para a regio litornea, os setores econmicos de maior representatividade no Estado so: o comrcio, a indstria e os servios. Este fato deve-se sobretudo a localizao na regio costeira da capital do Estado, onde se concentram as maiores atividades de comercio e servios (MMA, 1997 ; IDEC, 1997). Por outro lado, as principais indstrias estabelecidas nesta regio so : canavieira, de minerao, pesqueira e de produtos de alimentares. Concentra-se ainda no litoral oriental uma cultura agrcola temporria, constituda de : melo, cana-de-acar, feijo, mandioca, abacaxi. A cultura permanente formada por : cco-da-baa, castanha-de-caj, banana, manga. Ainda na regio litornea, a bovinocultura e a avicultura representa respectivamente 50% e 60% do rebanho e da produo de ovos do Estado.

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    RN Nordeste Brasil

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    Cultura temporrias e permanentes presentes na regio costeira do Rio Grande do Norte.

    2.3 - Os recursos econmicos : As atividades econmicas concentram-se principalmente no turismo, na

    pesca, na agropecuria, na indstria, na minerao e na extrao de petrleo. O turismo, que nos ltimos anos tem se desenvolvidos de forma bastante significativa, apresenta uma dos maiores potenciais econmicos para a regio.

    O sal

    Uma das principais atividades econmicas da regio litornea a extrao do sal. O parque salineiro do Estado, situado no litoral setentrional, responsvel por 90% da produo brasileira de sal marinho. O Sal comercializado com vrios Estados brasileiros e exportado principalmente para os Estados Unidos, frica e Europa. Do total da produo do Rio Grande do Norte, atualmente em torno de 4 milhes e 600 mil toneladas, cerca de 200 mil toneladas so destinadas exportao. Transformando em valores monetrios chega a US$ 2,8 milhes em sal exportado. De acordo com dados do Sindicato dos Salineiros, a produo de sal no Estado vem se mantendo estvel nos ltimos anos, sendo que as pequenas variaes ocorridas em alguns anos, foram decorrentes das irregularidades climticas.

    Atualmente, o Rio Grande do Norte possui 42 produtores de pequeno e grande porte. Esta indstria responsvel por cerca de 10 mil empregos diretos e mais de 5 mil empregos nas atividades de apoio e transporte.

    Por outro lado, a indefinio de uma poltica fiscal para proteger a indstria salineira do Estado, est agravando a crise no setor. Impostos elevados e uma alquota insignificante de importao do sal, tornam os produtores sem condies de concorrer com grande empresas internacionais que oferecem melhores preos para comercializao, como o caso do Chile. O sal Chileno chega ao Brasil (Porto de Santos e Cabo Frio), a um custo aproximado de R$ 24,00, enquanto o sal do Rio Grande do Norte tem um custo final em torno de R$ 31,00.

    Culturas Temporrias

    Melo28%

    Cana-de-Aucar

    23%

    Feijo18%

    Mandioca9%

    Abacaxi7%

    outros15%

    Cultura Permanente

    Coco da baa33%

    Castanha de caj27%

    Banana16%

    Manga9%

    outros15%

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    A pesca

    A captura de peixes e crustceos nas reas estuarinas e costeiras se caracteriza por ser uma atividade econmica principal para boa parte da populaes ribeirinhas, que exploram, de forma artesanal esses recursos naturais. Os mtodos de captura so denominados pelas espcies que se deseja capturar. Desta forma, podemos designar a pesca de rede-de-tainha ou tainheira, de jerer-do-siri, de mangote-do-camaro, entre outras.

    Nos esturios a canoa a embarcao predominante. Elas se caracterizam por serem construdas de madeira, com aproximadamente 3,5 m de comprimento por 1,5 m de largura, impulsionada geralmente por remo e ocasionalmente por pequenas velas. A construo deste tipo de canoa totalmente artesanal, sendo construdas por pescadores no prprio local de moradia, que as utilizam tanto para a pesca (peixes e camares), como para o transporte de coletores de caranguejos, que representam uma parte significativa do efetivo de pescadores.

    Os petrechos de pesca que predominam nestas regies so : a redes-de-

    emalhar, utilizadas para a captura de tainhas, bagres e pescadas, com comprimento geralmente em torno de 100 a 300 metros, altura de 2 a 4 metros e malhas de 2 a 5 cm de n-a-n. Os mangotes, que so redes-de-arrasto utilizadas principalmente para a captura de camares e pequenos peixes, tambm so bastante utilizadas. O jerer ou pu, que so usados para a captura de siris, sendo um mtodo de pesca bastante difundido, realizado geralmente por crianas, mulheres e pessoas idosas, parte integrante da renda familiar. O siri comercializado nas feiras e mercados locais, tendo grande aceitao comercial.

    De uma maneira geral, nestas regies, a pesca caracteriza-se no pelo volume da produo, mas pela variedade e qualidade das espcies, destacando-se uma fauna com alta diversidade constituda por pescadas, tainha, camurins, polvos, camares, dentre outros. Por outro lado, com a valorizao de certas espcies, como a pescada, a tainha e o camaro, vm se praticando uma pesca intensiva, principalmente em funo do indiscriminado aumento do esforo-de-pesca, com a captura de grande nmero desses animais, o que tem provocado nos ltimos anos uma drstica diminuio dos estoques.

    Outro fator que tem contribudo para a diminuio dos rendimentos na pesca a poluio provocada pelo aporte dos esgotos domsticos e os resduos de indstrias, que atingem os sistemas ecolgicos estuarinos, principalmente os manguezais. Aterros inadequados e construes irregulares contribuem tambm para a degradao de reas de manguezais e, conseqentemente, para a diminuio de recursos naturais a serem explorados, a exemplo de caranguejos e moluscos.

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    A aquicultura No litoral norte do Estado, encontra-se um dos maiores plos de produo de camares em cativeiro do Brasil. As fazendas localizam-se nas margens dos esturios e lagoas costeiras, onde se cultivam principalmente a espcie Penaeus vannamei, originria da sia, introduzida no Brasil na dcada de 80. O Estado possui atualmente em torno de 1500 hectares de viveiros, com produtividade que varia em torno de 1.000 a 1.500 kg/hectare/despesca. Por outro lado, o cultivo extensivo de espcies estuarinas em pequenos viveiros de construo rudimentares tambm uma prtica bastante difundida nas margens dos esturios, construdos, na sua maioria, na regio mais inferior do esturio, em locais que apresentam uma boa ocorrncia de pescado e constante renovao dgua.

    O mtodo de construo destes viveiros, o de levantar diques em reas

    alagadas e implantar uma comporta mvel de madeira. O material utilizado para a construo a madeira-de-mangue e a lama existente na rea. Todo o trabalho de construo dos diques manual, sendo portanto lento, j que a jornada de trabalho pequena, pois est subordinada s variaes da mar, s havendo trabalhos de manuteno na baixa-mar.

    Os viveiros existentes ao longo dos esturios, se caracterizam por apresentarem baixa produo, decorrente do fato de que no h uma seleo das espcies introduzidas, permitindo a entrada tanto de peixes carnvoros como herbvoros. As despescas se realizam uma vez por ano, geralmente no perodo da Semana Santa, ou de dois em dois anos no mesmo perodo, se caracterizando como uma atividade econmica secundria da famlia.

    O petrleo

    Iniciada na dcada de 70, a explorao de petrleo se localiza principalmente nos Municpios de Guamar, Macau e Mossor, nos vales aluvionais, nos tabuleiros, na regio de salinas e mangues e principalmente no mar, nos Campos de Pescada, Arabaiana e Ubarana, onde se localizam mais de 10 plataformas de extrao de petrleo. No continente (regio costeira, existem mais de 2 mil poos de extrao, alm de estaes coletoras, gasodutos e unidades de tratamento de gs.

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    2.4 - Aspectos ambientais no estado

    Em resposta Conferncia Mundial das Naes Unidas para o Meio

    Ambiente, realizada em 1972 em Estocolmo, o Brasil iniciou uma poltica de institucionalizao visando a preservao e qualidade do meio ambiente. Neste momento a qualidade do meio ambiente foi considerada prioridade internacional, atravs da Declarao sobre o Ambiente Humano, com a publicao dos 23 princpios bsicos, Esta poltica foi implantada a partir de 1973, atravs da criao das Secretrias do Meio Ambiente, e da implantao dos rgos Estaduais do Meio Ambiente.

    No Rio Grande do Norte, com a criao em 1983 do CMA (Coordenadoria

    do Meio Ambiente), subordinada Secretria de Planejamento do Estado, teve incio um programa de preservao e monitoramento do meio ambiente, bem como das atividades poluidoras e degradadoras. Neste perodo, as aes de preservao e monitoramento da flora e fauna eram de responsabilidade da antiga Superintendncia de Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE) e do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF).

    Posteriormente, o CMA foi incorporada pelo rgo ambiental do Estado, o

    Instituto de Desenvolvimento Econmico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEC), que tinha como funo coordenar e executar a poltica estadual de controle e preservao do meio ambiente. O antigo CMA passou a condio de unidade administrativa responsvel pela operacionalizao das atividades relacionadas questo ambiental (SEPLAN, 1997).

    O Estado do Rio Grande do Norte possui duas grandes zonas ambientais

    distintas : a terrestre e a martima, que se caracterizam por apresentarem zonas homogneas em relao aos recursos naturais. Como parte do ecossistema terrestre e ocupando apenas 20%, destaca-se a regio litornea, a Mata Atlntica e seus ecossistemas associados : Manguezal, formao vegetal, tabuleiro litorneo e mata ciliar (MMA, 1996 ; SEPLAN, 1997).

    2.5 - Ecossistemas principais

    Na regio litornea do estado, encontram-se campos de dunas mveis e fixas, de origem marinha e/ou continental, formadas e remodeladas pela ao dos ventos. Nesta regio diversos rios importantes, como : Apodi-Mossor, o Potengi, o Cunha, dentre outros, desenvolvem ao longo de seus cursos, plancies fluviais e marinhas inundveis, sendo que nestas ltimas, existe vegetao de mangues, formando as regies estuarinas (MMA, 1998).

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    Funo dos ecossistemas

    Esturios produtividade primria elevada

    Dunas com restinga fixao de vegetao costeira e proteo da regio litornea

    Vegetao costeira proteo da regio litornea

    Vegetao de mangues reteno e exportao de nutrientes

    Os esturios

    Historicamente, no Nordeste, os esturios tm sido os locais preferidos para o estabelecimento da ocupao humana. Isto se deve ao fato de serem locais abrigados e de oferecerem uma ampla variedade de recursos. Desta forma, as grandes cidades situam-se geralmente nas suas margens.

    Os esturios do Nordeste podem ser considerados como um sistema hidrogrfico costeiro semi - fechado, que em funo do ciclo das mars, so abastecidos por guas ocenicas e fluviais. Esta mistura de guas de diferentes salinidades gera um ambiente que apresenta condies especiais, nos aspectos fsicos, qumicos e biolgicos, transformando-o numa rea de grande fertilidade.

    Alm disso, os mangues e esturios produzem grande quantidade de matria orgnica que o elo para a cadeia alimentar, promovendo a manuteno dos processos ecolgicos fundamentais, propiciando desta forma alimentao e abrigo para um grande nmero de invertebrados e vertebrados atravs de uma complexa cadeia de detritos em decomposio. Como uma floresta entre-mars, oferecem proteo tanto contra a ao dos ventos, como da eroso provocada por correntes costeiras, j que permitem que os sedimentos (matria orgnica e inorgnica) em suspenso se estabilizem no sedimento.

    Normalmente, estes complexos se caracterizam por terem uma salinidade

    elevada no perodo de seca (vero), homogeneizadas por fortes correntes de mars, que nas grandes mars (sizgeas e quadraturas), podem alcanar velocidade superiores a 2 ns, como tambm por variaes acentuadas durante o perodo de chuvas (inverno), quando o aporte fluvial muito importante. A temperatura mdia anual de 26,0 C, com um mximo de 27,0 C e um mnimo de 24,0 C. Os ventos apresentam uma constncia no quadrante Nordeste com valores bastante elevados durante todo o ano, principalmente durante os meses de julho a setembro.

    Normalmente, as regies superior e inferior dos esturios se caracterizam por apresentarem uma elevada salinidade, fortes correntes de mar e alta concentrao de material em suspenso. Devido proximidade da regio costeira, estas regies se caracterizam por apresentarem um pequeno gradiente

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    de salinidade, devido a forte influncia de guas ocenicas. Por outro lado, a regio mais inferior dos esturios se caraterizam por apresentarem uma influncia nitidamente fluvial, com grandes variaes de salinidade (em funo do ciclo de mars), e menor velocidade das correntes de mar.

    Geralmente, na regio inferior desses esturios, as margens apresentam

    uma boa cobertura de mangues. Em algumas regies nas suas margens pode-se observar reas residenciais, como tambm atividade de cultivo de seres aquticos (peixes e crustceos) bastante representativa, desenvolvida em antigas reas de salinas. Nestas reas a maior parte da vegetao de manguezais foi destruda, restando pequenas reas arborizadas situadas normalmente nas margens dos esturios.

    Estes complexos estuarinos se caracterizam pela pequena extenso, em

    mdia aproximadamente 19 km, e serem abastecidos normalmente por pequenos rios. Estas regies so representada pela plancie litornea, de formao recente (perodo quaternrio), originria de depsitos fluvio-marinhos, onde so encontrados solos distrficos de areia quartzosas, solos halomrficos e solos hidromrficos. A altitude mdia de aproximadamente dois metros.

    Para a maior parte das populaes ribeirinhas dos esturios, a pesca, que pelas sus caractersticas artesanais pode ser considerada como de subsistncia. Normalmente, estas populaes utilizam o esturio como fonte de obteno de alimentos, predominando a captura de peixes, da qual grande parte comercializada. A captura de crustceos (camares e caranguejos), tambm uma atividade bastante desenvolvida, seguida da extrao de moluscos (ostras).

    As dunas Os depsitos elicos (dunas de areias quartzosas) no litoral oriental do Rio

    Grande do Norte so classificadas basicamente em paleodunas e dunas mveis. As paleodunas so sedimentos elicos quaternrios, atualmente fixados pela vegetao. De dunas mveis tm sido chamadas as dunas que se formam atualmente e as areias inconsolidadas de praia.

    Morfologicamente as paleodunas, no litoral oriental do Rio Grande do Norte,

    formam extensos cordes com direo NW/SE, que se estendem por mais de 10 km continente adentro. Mais ao continente estas dunas se apresentam arrasadas, podendo estar a cotas semelhantes a dos tabuleiros. As paleodunas so constitudas predominantemente por quartzo em forma de areias quartzosas, bem selecionadas e com gros arredondados. (RADAN BRASIL 1981)

    A vegetao costeira A vegetao presente na regio costeira se apresenta bastante

    descaracterizada em conformidade com o ambiente, em razo da perda da cobertura florestal natural, o que mostra maiores dimenses aos problemas da prpria comunidade. Em muitas reas, a cobertura florestal primitiva foi reduzida a

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    espaos remanescentes, sendo que grande parte da rea encontra-se bastante perturbada pela retirada seletiva de madeiras para construo e queimadas. Os remanescentes encontrados esto representados pelos estratos herbceos e arbustivos. O estrato herbceo, que representado por indivduos que ficam fora do alcance do mar, localiza-se nas dunas interiores.

    Os estratos arbustivos so representantes que vm lutando contra a ao predatria do homem para sobreviver, como o caso do arrebenta-boi (Rauwolfia termifolia) que um arbusto com aproximadamente 3 m de altura, tpico do tabuleiro litorneo associado com outros indivduos como angelim (Andira sp), que uma Leguminosae de grande resistncia s queimadas. Considerando ainda a proximidade com o mar, pode ser encontrada na rea prxima praia da Redinha a formao ps-praia. Nesta regio, a diversidade de espcies e formas biolgicas difere em relao aos outros habitats, sendo composta por plantas de porte com at 4 m de altura como as espcies Solanum lycocarpum, que uma planta perene, ramificada, caule tortuoso e armado de acleos. Solanum paniculatum, pertencente tambm famlia Solanaceae, chega at 3 m de altura, conhecida vulgarmente por jurubeba-branca. uma planta daninha bastante freqente, infestando principalmente pastagens, lavouras, beiras de estrada e terrenos baldios. A Calotropis procera conhecida por flor-de-cera, apresenta folhas concentradas no pice dos ramos, cobertas por pelos lanuginosos de colorao branca quando jovens (ECOPLAN, 1999).

    A vegetao antrpica est representada por plantas exticas e nativas

    cultivadas e plantas ornamentais. As espcies mais comuns so: coqueiro-da-baa (Cocos nucifera), mangueira (Mangifera indica), jaqueira (Artocarpus integrifolia), fruta-po (Artocarpus communis), cirigoela (Spondias purpurea), pitombeira (Talisia esculenta), sapotizeiro (Achras sapota), tendo tambm algumas espcies nativas sendo bem representadas como o cajueiro (Anacardium occidentale), cajarana (Simaba cuneata), pau-darco-roxo (Tabebuia serratifolia), coit (Crescentia cujete), tamarineira (Tamarindus indica), azeitona-do-mato (Syzygium jambolana), jatob (Hymenea courbaril), jenipapo, e tambm plantas cultivadas como a macaxeira (Manihot dulcis), batata-doce (Ipomoea batata), jerimum (Cucurbita pepo) A vegetao de mangues

    As regies estuarinas apresentam uma vegetao predominantemente de manguezais (Rhizophora), que predomina em suas margens, podendo ainda ser observada em alguns esturios a presena pouco significativa de mangue branco (Laguncularia) nas reas mais arenosas.

    O ecossistema manguezal do Rio Grande do Norte se caracteriza por

    possuir um grupo florstico de rvores e arbustos que representam a vegetao entre-mar. Os manguezais so compostos principalmente por 2 espcies de rvores: Avicenia laguncularia e Rhizophora mangle. Em funo da forma de suas razes areas, as rvores de mangue que predominam na regio so utilizadas

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    por diversas espcies de peixes e crustceos, que nas fases larvais e juvenis de peixes e crustceos, como rea de alimentao e principalmente de proteo contra a predao de indivduos adultos, o que caracteriza esta regio como um verdadeiro berrio. 2.6 - Condicionantes biolgicos dos ecossistemas aquticos A comunidade planctnica

    O fitoplncton definido como o plncton de natureza vegetal, ou seja, o

    plncton capaz de sintetizar sua prpria substncia pelo processo de fotossntese, a partir da gua, do gs carbnico e da energia luminosa. constitudo por algas microscpicas, clulas isoladas ou clulas reunidas em colnias, medindo de algumas micra a centenas de micra.

    No meio estuarino, a temperatura e a salinidade, so os fatores que mais

    influenciam o crescimento tanto do zooplncton como do fitoplncton. Por outro lado, podemos considerar que com relao a temperatura, o crescimento do fitoplncton se realiza com a mesma eficcia tanto para as espcies de altas latitudes e guas frias, como para os trpicos, onde a temperatura das guas se caracterizam por serem altas. - O fitoplncton

    Em anlises realizadas na regio costeira (Petrobrs, 1997), foram

    observadas grandes diversidade, onde predominaram diatomceas, cianofceas, dinoflagelados e crisofceas. Com relao aos grupos, a composio do fitoplncton est representada pelos seguintes grupos: Diatomceas; Cianofceas; Dinoflagelados e Clorofceas: - O zooplncton

    O zooplncton se caracteriza por apresentar uma grande biomassa e uma pequena diversidade de organismos, onde o grupo dos Copepodas o mais significativo, chegando a alcanar 80% ou mais do nmero total de indivduos (ECOPLAN, 1990).

    interessante notar a freqncia de ocorrncia e abundncia de

    Appendicularia, possivelmente do gnero Oikopleura. Os Chaetognatha, representados por algumas espcies de Sagitta, tambm so bastantes freqentes. Sendo organismos carnvoros, sua ocorrncia e abundncia em um local est mais ligada qualidade e quantidade de presas do que s condies hidrolgicas.

    Outros organismos tambm podem ser observados no zooplncton (larvas

    de Gastropoda, larvas de Polychaeta, larvas de Brachyura, ovos e larvas de peixes e de crustceos), apresentando valores significativos. A presena significativa de ovos e larvas de peixes e crustceos no zooplncton, confirma a

  • 17

    importncia das reas estuarinas como rea de desenvolvimento larval de espcies, tanto estuarinas como marinhas. A fauna carcinolgica

    Considerando-se principalmente s espcies de valor comercial, os caranguejos-ua (Ucides cordatum), Guiamum (Cardisoma guanhumi), Sir-azul (Callinectes sp.) e os camares (Penaeus sp.) destacam-se como os mais intensamente exploradas pelas populaes ribeirinhas. Estes ltimos que representam o recursos mais importante economicamente, so capturados nos esturios ainda na fase juvenil. Os indivduos adultos so explorados na regio costeira por uma frota que utiliza redes-de-arrasto.

    importante ressaltar que os camares so habitantes temporrios do

    esturio, onde passam parte de seu ciclo de vida (fases ps-larval juvenil). Deste modo o papel do esturio no ciclo de vida de camares extremamente importante, sendo sua conservao uma condio indispensvel para a manuteno dos estoques costeiros, explorados comercialmente por uma frota artesanal direcionada a este recurso. A fauna malacolgica

    Nos complexos estuarinos e regio costeira, podem ser identificadas trs espcies de moluscos de interesse econmico: Sururu (Mytela falcata), Sarnambi ou Unha-de-velho (Anomalocardia brasiliana) e a ostra-de-mangue (Crassostrea rhizophora), sendo esta ltima a espcie mais importante, tanto no aspecto comercial como no volume de coleta.

    A extrao de ostras (Crassostrea) praticada principalmente em bancos-

    de-ostras existentes nas margens mdia e superior do esturio pelas populaes ribeirinhas, que comercializam o produto nos mercados locais, sendo pois considerada mais como uma atividade complementar da renda familiar. A fauna ictiolgica

    Podem ser identificados e catalogados 32 espcies de peixes, sendo 13 (treze) as espcies mais exploradas comercialmente, representadas principalmente pelas tainhas, carapebas, serras, camurins, meros, bagres, pescadas (Tabela 4), sendo as tainhas (Mugil curema e M. brasiliensis) as que apresentaram maior abundncia.

    Embora no existam estatsticas de desembarques oficiais para as

    capturas realizadas nas rea estuarinas, observa-se que as espcies que mais se destacam nas capturas so por ordem crescente de importncia : a tainha, a carapeba a pescada com 12%, o peixe-serra com 10% e outras espcies de pequenas dimenses, com 5%. A fauna costeira

    Muito embora possa-se ainda encontrar vestgios da fauna silvestre original, as reas estuarinas do Rio Grande do Norte, no mais ostentam a diversidade e abundncia do passado. Algumas espcies de mamferos e

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    principalmente aves desapareceram completamente, enquanto outras esto ameaadas.

    J na regio costeira, em conseqncia sobretudo dos constantes desmatamentos para construo de empreendimentos urbanos e caa ilegal, atualmente os animais de mdio e grande porte so bastante raros. Os mamferos mais abundantes so os guaxinis, os gatos-do-mato, as jaguatiricas, as raposas e as pres (ECOPLAN, 1999).

    J na regio costeira, onde predominam as paisagens abertas, sejam elas

    antrpicas ou naturais modificadas, propicia o aparecimento preponderante de espcies tpicas desse tipo de ambiente. Desta forma, principalmente nas reas estuarinas, de salinas e regio de praias, pode-se observar a presena ainda bastante significativa de aves limcolas migratrias pertencentes a vrias espcies de maaricos, garas, gaivotas dentre outras.

    2.7 - Impactos ambientais na regio costeira

    Os principais impactos ambientais identificados na regio costeira do Rio Grande do Norte, esto relacionados as atividades econmicas desenvolvidas na regio. Desta forma, a explorao petrolfera, a indstria do sal, a expanso turstica, a extrao de madeira, a degradao de lagoas costeiras, etc, tem ao longo dos ltimos anos, afetado o meio ambiente de maneira bastante marcante. Dentre os principais efeitos impactantes, podemos observar :

    a destruio de grandes reas de manguezais tanto para expanso do parque

    salineiro, como das fazendas para cultivos de peixes e crustceos. A prtica comum da construo de barragens nas gamboas, tem levado destruio de grandes reas de vegetao nativa. Esta pratica, tem causado grandes desequilbrios ao ecossistema estuarino, ocasionando mortandades de peixes, crustceos e moluscos, afetando diretamente tanto o equilbrio ecolgico, como econmico e social das populaes que subsistem desses recursos ;

    A explorao petrolfera, com a implantao de estaes de bombeamento na

    regio litornea, e de plataformas de petrleo no mar, cujo derramamento de leo tem afetado reas de manguezais e o mar (MMA, 1997). Os campos petrolferos existente no mar, tambm tem afetado de maneira significativa as populaes pesqueiras que praticam sua atividade em reas prximas s plataformas de petrleo. Em funo da proibio para a pesca em reas prximas aos campos implantados, a frota artesanal obrigada a se deslocar para reas mais distantes de suas origens, causando prejuzos ao setor ;

    A expanso turstica tem se desenvolvido de maneira marcante nos ltimos

    anos, com a construo de parques recreativos e como tambm a construo de residncias de veraneio nas orla martima, em reas de dunas (fixas e

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    mveis). A introduo de passeios de bugres (carros de praia) pela orla e reas de dunas, tem causado destruio do meio ambiente ;

    A extrao de madeira de remanescentes da Mata Atlntica, causando a

    perda da biodiversidade nestas reas ; A degradao das lagoas costeiras, tanto pela demanda crescente por novas

    reas para turismo, como tambm para a construo de residncias de veraneio nas suas margens. Estas atividades realizadas de maneira desordenada, tem causado grande impacto nestas reas, quer seja pela devastao de sua vegetao nativa, quer pela poluio (orgnica e inorgnica) desses corpos dgua ;

    Conflitos de uso Os principais conflitos de usos identificados na regio costeira, esto relacionados as atividades extrativistas (agricultura, pesca, sal e petrleo), e atividades de turismo. Conflitos entre pescadores artesanais e as companhias de explorao petrolfera, entre pescadores e a indstria salineira, entre a especulao imobiliria ligadas ao turismo e as comunidades pesqueiras costeiras, os aquacultores e as comunidades pesqueiras. NNNVVVEEELLL DDDEEE CCCRRRIIITTTIIICCCIIIDDDAAADDDEEE DDDOOOSSS PPPRRRIIINNNCCCIIIPPPAAAIIISSS EEECCCOOOSSSSSSIIISSSTTTEEEMMMAAASSS CCCOOOSSSTTTEEEIIIRRROOOSSS

    O MMA (1998), indica para a regio costeira do Estado, o nvel de criticidade dos seguintes ecossistemas :

    Campos de dunas : muito frgil, sedimentos inconsolidados, remanejamento

    de sedimentos; Plancies de mangues : muito frgil, rea de preservao permanente ; Tabuleiros de caatinga : pouco frgil, favorvel ocupao Plancies costeiras : muito frgil, sujeitas inundao ; Plancies fluviais : muito frgil, sujeitas a inundao.

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    3 - A ZONA COSTEIRA DO CEAR

    O Estado do Cear possui 578 km de rea costeira, apresentado uma grande diversidade de ecossistemas costeiros, onde predominam praias arenosas, extensos cordes de dunas secionadas por plancies flvio-marinhas revestidas por manguezais (SEMAGE, 1997).

    Segundos dados publicados pelo IBGE (1997), provenientes dos censos demogrficos de 1991 e da contagem populacional de 1996, o Estado do Cear conta com uma populao de 6.809.794 habitantes, o que representa 15% da relao a populao do Nordeste, e 4,3% da populao do Brasil (IPLANCE, 1997). Atualmente o Estado do Cear, coloca-se em relao Regio Nordeste como o terceiro Estado mais populoso . Populao do Cear Nordeste Brasil, para os anos de 1980-1996 Discriminao 1980 1991 1996 Cear 5.288.253 6.366.647 6.809.794 Nordeste 34.812.356 42.497.540 44.768.201 Brasil 119.002.702 146.825.475 157.079.573 CE/NE (%) 15,2 15,0 15,2 CE/BR (%) 4,4 4,3 4,3 Fonte : IPLANCE (1997)

    Analisando-se a evoluo do crescimento da populao do Estado para o perodo de 1970 a 1996, observa-se uma desacelerao na taxa de crescimento, que reflete diretamente sobre a taxa de crescimento demogrfico. Para a dcada de 1970-89, a taxa de crescimento foi de 1,9% ao ano, passando para 1,7% na dcada seguinte, alcanando finalmente 1,3% ao ano durante os anos de 1991 1996. Segundo o IPLANCE (1997), esta queda na taxa de crescimento, se deve principalmente queda da fecundidade da populao observada no mesmo perodo.

    Por outro lado, a populao nas reas urbanas apresentou um aumento de 3,6% ao ano durante a dcada de 1980/90. Para os anos de 1991 a 1996, o crescimento apresentou ligeira diminuio, passando a 2,5% ao ano, podendo ainda ser considerado bastante significativo. J a populao rural, apresentou para os mesmos perodos (de 1970 1996) taxas de crescimento negativas. Este fenmeno pode ser causado a intensa migrao rural-urbana, devido sobretudo aos longos perodos de secas que tem ocorrido no Estado nas ltimas dcadas. Os municpios que apresentam as maiores concentraes so : Juazeiro do Norte (2,8%), Sobral (2,0%), Crato (1,4%), Itapipoca (1,2%), Iguatu (1,1%), Crates (1,0%), Canind (1,0%) e Quixad (0,9%).

    Quanto distribuio espacial da populao, observa-se que a mesma se distribui uniformemente pelo territrio cearense. Os municpios que apresentam a maiores densidades so : Fortaleza (6.263,6 hab/km2), Maracana (1.623,4 hab/km2), Eusbio (348,8 hab/km2) e Pacatuba (315,9 hab/km2). Enquanto os municpios de Aiuaba (5,6 hab/km2), Independncia (7,4hab/km2), Arneiroz (7,6

  • 21

    hab/km2), Santa Quitria (9,2 hab/km2) e Jaguaretama (9,2 hab/km2), so os que apresentam as menores densidades populacionais.

    Por outro lado, a distribuio populacional segundo a situao do domiclio, observa-se ao longo das ltimas dcadas, uma taxa crescente, tanto em relao ao Estado, como para o Nordeste e o Brasil. Em 1980 a populao que se concentrava nas reas urbana, passou de 53,1% 69,2% em 1996. Ao longo deste perodo, o ndice de urbanizao vem se mantendo superior ao do Nordeste, apesar de ser ainda inferior ao ndice nacional. Densidade demogrfica e taxa de urbanizao

    Densidade demogrfica (hab/km2)

    Taxa de urbanizao (%)

    Discriminao

    1980 1991 1996 1980 1991 1996

    Cear 36,0 43,5 46,5 53,1 65,4 69,2 Nordeste 22,3 27,2 28,7 50,5 60,6 65,2 Brasil 13,9 17,2 18,4 67,6 75,6 78,4 Fonte : IPLANCE, 1997

    Segundo o IPLANCE (1997), o Estado do Cear tem se caracterizado pela grande mobilidade de sua populao, decorrente em parte pelo declnio da participao do setor primrio, em funo da crise no setor algodoeiro, como tambm pelos constantes perodos de estiagens, o que tem contribudo para o aumento da taxa de urbanizao observado nas ltimas dcadas. Os municpios de Fortaleza (100%), Eusbio (100%), Maracana (99,6%), Juazeiro do Norte (95,2%), Pacatuba (92,1%), Caucaia (90,2%), Aquiraz (88,3%), Itaitinga (87,9%), Sobral (83,6%), Cascavel (85,1%), Crato (81,5%), Varjota (78,4%), Pacajus (76,0%), Maranguape (74,6%) e Iguatu (70,0%), foram os que apresentaram as maiores taxas de urbanizao no Estado (IPLANCE, 1997).

    Quanto a estrutura populacional em relao ao sexo e idade, observa-se que a estrutura etria da populao, em funo da queda da fecundidade e da perspectiva do expectativa do aumento da longevidade, tem aumentado significativamente ao longo das ltimas dcadas. Apesar dos indcios de diminuio da taxa de fecundidade da populao, a populao jovem (idade entre 0 e 19 anos) ainda bem representativa (56,6%). Por outro lado, considerando-se a pirmide etria da populao do Estado, constata-se um estreitamento na sua base, e um alargamento no seu topo.

    3.1 - RECURSOS HDRICOS O Estado do Cear se caracteriza por apresentar um regime hdrico,

    influenciado diretamente pelo ndice pluviomtrico, que por sua vez, se caracteriza pela regime irregular das precipitaes. As condies geolgicas,

  • 22

    onde se situam as diversas bacias hidrogrficas, tambm so um fator condicionante (IPLANCE, 1997).

    De uma maneira geral, os rios presentes na regio, no apresentam diferenas marcantes entre si, a no ser pelas particularidades provocadas pelas condies pluviomtricas, pela rede hidrogrfica e pela vegetao presente (IPLANCE, 1997). Desta forma os rios se caracterizam pelo regime temporrio, onde durante os perodos de chuvas, observa-se um volume de guas considervel. Devido sobretudo baixa porosidade do terreno, durante as intensas precipitaes pluviomtricas, ocorre com freqncia transbordamento de seus leitos, ocasionando grandes alagamentos das reas ribeirinhas. Segundo o IPLANCE (1997), os recursos hdricos do Estado esto comprometidos, principalmente devido escassez e irregularidades observadas nas precipitaes pluviomtricas, aliado ao fato de que a geologia cearense formada em sua totalidade por rochas cristalinas, sendo apenas uma pequena parte de sedimentos. Isto faz com que todo o sistema hidrogrfico esteja dependente de terrenos de baixa porosidade, no permitindo portanto o armazenamento hdrico para os perodos de mnima precipitao pluviomtrica, quando a totalidade dos recursos hdricos do estado esta comprometida. 3.2 - A pesca

    Existem atualmente 26 Colnias de pesca no Estado, onde esto registrados aproximadamente 56.100 pescadores, dos quais 6.100 se dedicam pesca continental e 50.000 pesca martima. Dos municpios costeiros, os que apresentam maior representatividade so : Fortaleza (8.000 pescadores), Aracati (6.000 pescadores), Camocim (5.000 pescadores) e Arat (4.500 pescadores), que representam 42% do total de pescadores registrados no Estado (IPLANCE, 1997).

    A exemplo do Estado do Rio Grande do Norte, o principal produto

    pesqueiro a lagosta, seguida do camaro e do pargo. Existem atualmente no Estado cerca de 30 empresas pesqueiras, dedicadas a explorao e ao beneficiamento, sendo seus produtos direcionados geralmente exportao.

  • 23

    Captura de lagostas por Estado, para o ano de 1996. Fonte : IBAMA, 1997 A exemplo de outros Estados do Nordeste, a pesca no Cear se

    caracteriza pelo seu carter predominantemente artesanal. Esta atividade praticada na regio mais costeira, por pequenas embarcaes vela ou motor, com a captura de espcies de menor valor comercial, destinadas sobretudo ao mercado interno. A jangada--vela, a embarcao tpica da regio, conduzida geralmente por dois ou trs pescadores.

    Existe ainda uma reduzida frota industrial, que opera tanto na zona da

    plataforma, como em reas mais ocenicas, direcionada principalmente para a captura de lagostas, camares, pargos e atuns, destinada em sua maioria ao mercado internacional. O tipo de embarcao predominante, o barco--motor com casco em ao e instalaes frigorficas, utilizando com apetrecho de pesca, a rede-de-arrasto, o covo e a pargueiras. Embora a lagosta e o camaro sejam os principais produtos pesqueiros em razo de seu alto valor comercial, em volume de desembarque observa-se uma predominncia de peixes. A ocorrncia de moluscos espordica.

    Produo pesqueira do Cear para o ano de 1996 Fonte : IBAMA, 1997

    0500

    10001500200025003000350040004500

    Cea

    r RN

    Bah

    ia

    Mar

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    aiba

    02000

    40006000

    80001000012000

    14000

    capt

    ura

    (ton)

    Peixes Crustceos Moluscos

    0

    20

    40

    60

    80

    parti

    cipa

    o

    (%)

    Lagosta Camaro Caranguejo

  • 24

    3.3 - A agricultura

    Segundo IPLANCE (1997), o Estado do Cear a agricultura ocupa espaos geogrficos diferenciados de clima e solo, onde se distingue a zona litornea, onde ocorrem precipitaes mdias anuais em torno de 1.000 a 1.500 ml, onde predominam culturas de : milho, feijo, mandioca, caju, cana-de-acar e banana. E a zona mais interior (serto), com baixos ndices pluviomtricos (entre 550 e 1.000 ml) onde predominam as culturas de milho, feijo e algodo. Observa-se ainda na zona litornea, reas de irrigao, para o cultivo de arroz, feijo, capim e cana-de-acar. Em funo de sua maior rentabilidade, a cultura do melo e do tomate, devem ser incrementadas nestas reas irrigadas.

    Ainda segundo o IPLANCE (1997), excetuando-se as culturas de algodo,

    cana-de-acar e melo, que vm declinado nos ltimos anos em funo dos preos competitivos do mercado internacional, os demais produtos agrcolas, como o arroz, a banana, o caju, o melo e o tomate, vm apresentando tendncias de incremento na sua produo.

    Embora a cultura do algodo desde o incio do sculo, tenha se apresentado

    como um dos principais produtos agrcolas do Estado, o aumento do consumo do algodo em pluma, incentivado pela poltica de promoo industrial do Governo do Estado, passou de 35.000 t em 1986 a 165.000 t em 1996, apresentando um aumento de 371%. Este fato faz com que a crescente dependncia das importaes de algodo em pluma de outros pases e Estados, com o objetivo de suprir a demanda existente, tenha aumentado a vulnerabilidade do Cear, tanto no suprimento de algodo, como em leo combustvel e torta, destinada rao animal. Desta forma, a produo de algodo tem diminudo de maneira bastante significativa de 1990 a 1997, quando a produo passou de 36.000 t a 21.000 t.

    Principais produtos agrcolas do Estado do Cear (em 1.000 t) Produtos 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997

    Algodo 36 53 43 11 72 37 24 21 Arroz 125 166 126 103 194 198 224 168 Banana 209 219 218 144 204 204 233 230 Caf 7 8 7 3 6 6 6 6 Castanha de caju

    52 76 45 22 69 81 87 88

    Cana-de-acar

    2.723 2.899 2.792 1.595 1.923

    2.030 1.989 2.229

    Coco-da-baa 87 91 104 78 90 93 96 95 Feijo 76 207 103 40 29 209 253 193 Mandioca 1.011 1.185 974 423 735 1.012 1.120 896 Fonte : IPLANCE, 1997

  • 25

    3.4 - A Costa Oeste

    A Costa Oeste do Estado do Cear com uma extenso de aproximadamente 108km comporta os geossistemas Plancie Litornea, Plancies Lacustres e Flvio-Lacustres, Plancies Fluviais, Glacis de Acumulao, Depresso Sertaneja e Macios Residuais.

    A plancie litornea extremo Oeste do Estado do Cear, apresenta condies e caractersticas excepcionais explorao turstica pela presena de um potencial representado pelas unidades ambientais: plancie litornea (faixa praial, campos de dunas, plancies flvio-marinhas), tabuleiros litorneos e depresso sertaneja.

    Nesta rea, esto inseridos os espaos territoriais dos municpios de Acara (45.505 habitantes), Amontada (25.161 habitantes), Barroquinha (12.929 habitantes), Camocim (51.035 habitantes), Chaval (10.560 habitantes), Cruz (20.098 habitantes), Granja (41.501 habitantes), Itarema (25.548 habitantes) e Jijoca de Jericoacoara (total de habitantes includos no municpio de origem).

    Esta plancie apresenta elevado estoque de depsitos sedimentares arenosos modelados por processos elicos que geram feies paisagsticas de campo de dunas mveis e fixas, faixas praiais, ocupa um faixa de terras com largura varivel, desde a linha de costa at o contato com os tabuleiros litorneos. Ela constituda por sedimentos Quaternrios que repousam de modo discordante sobre Formao Barreiras, ocupa uma faixa de terras com largura varivel desde a linha de costa at o contato interior com os Tabuleiros Pr-Litorneos. Estreita-se em determinados trechos, como nas praias de Lagoinha, Paracuru e Taba onde se formam altos topogrficos postos ao alcance da abraso marinha. Expande-se com maior freqncia por todo o litoral atingindo largura de at 3 a 4 km nos municpios de So Gonalo do Amarante, Paraipaba, Paracuru e Trair. Esses valores so mais expressivos quando ela penetra para o interior atravs de plancies estuarinas como as que so formados pelos rios Curu e Munda.

    Engloba em sua rea territorial a faixa praial, o campo de dunas (dunas mveis, semi-fixas, fixas e paleodunas) e as plancies flvio-marinhas.

    A faixa praial, propriamente dita, composta essencialmente, pelos sedimentos elicos litorneos. As feies morfolgicas que a integram encerram ocorrncias de praia em si, da alta praia, das plataformas de abraso e rochas de praia, alm das falsias.

    A praia (estirncio, foreshore) assume largura considervel ao longo de todo o litoral em estudo, exceto nas reas de falsias vivas. Ela fica situada no trecho que sujeito s influncias das amplitudes de mars, ou seja, entre os nveis de preamar e de baixa mar, onde h o fluxo e refluxo das ondas marinhas. Os sedimentos arenosos que recobrem toda a superfcie so quotidianamente levados, o que conduz compactao do material e inviabiliza sua mobilizao pelos processos elicos. A praia fica posicionada de modo transacional entre a ante-praia (offshore) e a ps-praia (berma, backshore).

  • 26

    A ante-praia, normalmente submersa. O seu contato com a praia tem os seus setores com menos profundidade correspondente aos locais em que ocorrem as arrebentaes das ondas.

    A ps-praia ou berma, com um pouco mais de 1,0m acima da praia propriamente dita se esboa atravs de um contorno pouco sinuoso, formando uma espcie de terrao na zona superior. Esta zona fica, normalmente, colocada ao abrigo das guas do mar. Excepcionalmente, ela pode ser inundada, pelo menos de modo parcial, por altas mars e por ressacas.

    Comumente, a faixa praial tem largura varivel entre 0,4 - 1,0km. Alarga-se quando se estende at o campo de dunas a exemplo do que se verifica no litoral dos municpios de Itapipoca, Trair e So Gonalo do Amarante, principalmente. Estreita-se com a ocorrncia dos altos topogrficos das falsias como nas praias de Lagoinha, Paracuru e Taba.

    Em praias como a da Taba, Pecm e Flecheiras, o manto arenoso fica parcialmente recoberto por um material silicificado que constitui as chamadas rochas de praia (beach rocks). Nos locais de recuo das linhas de falsias, a faixa praial recoberta por outro tipo de material e formam-se plataformas de abraso.

    As falsias constituem pores terminais dos tabuleiros pr-litorneos quando esses atingem a linha da costa. Quando vivas, tm suas bases solapadas pela abraso marinha durante a preamar.

    As pontas representam outro tipo de feio morfolgica do litoral em anlise. Elas se projetam para o mar, rompendo a retilinidade da linha de costa. As pontas de Munda, Paracuru e Pecm so as mais proeminentes e derivam do trabalho diferencial da eroso marinha.

    A faixa praial e o campo de dunas se completam em termos paisagstico e de beleza cnica. Na plancie litornea a maior expresso espacial reservada ao campo de dunas que expe o comportamento migratrio de sedimentos arenosos que so postos em trnsito pela ao elica dos ventos do quadrante oriental.

    Esse tipo implica uma forte instabilidade ambiental do campo de dunas, especialmente quando se considera as dunas de recente formao e que no foram, ainda submetidas aos processos de edafizao ou de colonizao por parte da vegetao.

    As dunas tm disposio praticamente contnua conforme as orientaes apresentadas pela linha de costa. Elas se esboam a partir da poro terminal da ps-praia (berma). Conforme o critrio da feio morfolgica, observa-se em todo litoral enfocado, a ocorrncia de dunas longitudinais (seif) e de dunas transversais (barkanas).

    As longitudinais so comuns nas pores marginais dos campos de dunas mveis. Possuem alturas considerveis e que ocorrem em sries mais ou menos contnuas dispondo-se em espiges paralelos e alinhados conforme as direes

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    preferenciais dos ventos. As dunas transversais tm forma em crescente e so, ordinariamente assimtricas.

    Conforme o grau de estabilidade podem ser identificadas as dunas mveis e as dunas fixas. Um tipo intermedirio, semi-eixo, parcialmente coberta por vegetao, tambm pode ser constatado.

    As dunas mveis no tm qualquer cobertura vegetal, exceto alguns tipos isolados. A mobilizao das reas contnua e se processa de modo quase ininterrupto, especialmente durante a estiagem que se prolonga por sete a oito meses durante o ano.

    As dunas semi-fixas tm cobertura esparsa e em tufos, prevalecendo a distribuio de um tapete herbceo descontnuo, composto de gramneas resistentes s condies ambientais adversas, tais como: ausncia de solos, alta salinidade, ventos intensos e elevada radiao solar. Parte expressiva da superfcie arenosa fica exposta e favorece o trabalho de deflao.

    As dunas fixas, j submetidas interferncia dos processos edficos foram colonizadas por espcies de porte arbustivo e/ou arbreo. A alta densidade das plantas impede o trabalho de mobilizao elica. Quando desmatadas para as implantaes antrpicas, as aes erosivas podem ser rapidamente retomadas, tornando-as mveis. H ento rupturas no frgil equilbrio ecolgico. Elas tm maior expresso no litoral de So Gonalo do Amarante.

    As paleodunas ocorrem em pores restritas das reas de dunas fixas. Por serem de geraes mais antigas se expem em terrenos mais rebaixados e as feies morfolgicas originais j foram dissipadas. Possuem solos e um recobrimento vegetal mais denso.

    As plancies flvio-marinhas desenvolvidas ao longo das desembocaduras fluviais constituem os principais tipos de feies que tm sua gnese ligada deposio mista. Em esturios dos rios como o Munda, Cruxat e Guaribas ntida a penetrao das guas do mar nos baixos vales fluviais.

    O manguezal o principal elemento fluvial da identificao do ambiente das plancies flvio-marinhas. Ele tpico em terrenos em que a declividade praticamente nula e onde as correntes fluviais no tm capacidade de entalhe. Os solos dos mangues so lodosos, de cores escuras e tm boa profundidade. So muito mal drenados e possuem teores elevados de salinidade e enxofre. Praticamente, no tm uso agrcola em funo das limitaes impostas pelo excesso de sais e pela susceptibilidade s inundaes. A vegetao densa e intricada e as espcies so compostas de rvores e arbustos de portes variados.

    Por serem ambientes ecologicamente frgeis, os mangues apresentam, contudo, elevada produtividade biolgica influindo na fertilidade marinha. Tem, alm disso, importante significado como reas de reproduo de espcies animais. Por tais razes e at por imposies legais, os mangues so considerados como rea de preservao compulsria e permanente. Mesmo os

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    mangues devastados para fins de explorao salineira ou outras atividades, devem ser passveis de uma poltica conservacionista de recuperao.

    Tratando-se de rea essencialmente instvel sob o aspecto da dinmica ambiental, a plancie litornea no possui solos desenvolvidos que viabilize alguma atividade agrcola. As excees so verificadas apenas nos setores de paleodunas e dunas fixas onde os processos pedogenticos j se fizeram refletir por tempo mais prolongado.

    Sob o aspecto fitoecolgico a plancie litornea coberta pelo chamado complexo vegetacional da zona litornea que engloba tipologias diferenciadas tais como: o manguezal, a vegetao pioneira psamfila (recobrindo a faixa praial e as dunas mveis) e vegetao subpereniflia de dunas (recobrindo as dunas fixas e paleodunas).

    Com relao ao uso e ocupao, esta unidade geossistmica apresenta elevado potencial para as atividades de turismo, lazer e pesca; como principais limitaes pode-se citar as restries legais ocupao, a irregularidade pluviomtrica, eroso, assoreamento, dentre outras.

    As Plancies Lacustres e Flvio-Lacustres ocorrem dispersas por todo o litoral em anlise e possuem dimenso variada. As maiores ocorrem nas reas dos tabuleiros pr-litorneos. Outras, de pequenas dimenses, se verificam at mesmo no campo de dunas e as lagoas que as forram tem origem fretica.

    Estas plancies so mais comuns em posies retaguarda dos campos de dunas. As dunas representam uma maneira natural no fluxo hdrico dos pequenos e mdios cursos dgua que tem dificuldades para transpor o obstculo e so barrados. Nesses casos, as lagoas tm uma disposio longitudinal perpendicular linha de costa e so, geralmente, muito restritas.

    De modo genrico as plancies flvio-lacustres suportam uma vegetao de porte predominantemente herbceo composta principalmente por gramneas. Nas plancies de maiores dimenses como a do Pecm e Gerera em So Gonalo do Amarante, So Pedro e Grande Paracuru, das Almecegas em Paraipaba, do Lagamar de Rua, do Livramento, do Carrapicho e Torta em Trair, uma vegetao de maior porte tende a vicejar nas reas de plancie propriamente dita.

    As lagoas tem usos variados, servindo para abastecimento humano e de animais, para a prtica de esportes nuticos, para o lazer como banhos e pesca. So tambm importantes pontos de pouso e de alimentao de aves migratrias.

    As Plancies Fluviais so resultantes do processo de deposio proporcionado pela rede fluvial que, nos seus baixos custos drenam a rea litornea em anlise. Elas ficam embutidas entres os nveis tabuleiros pr-litorneos e no h grande amplitude altimtrica entre os fundos de vales e os nveis dos interflvios tabulares.

    A largura das plancies dependente da capacidade do transporte e da deposio de sedimentos por parte das correntes fluviais. Elas so mais

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    expressivas quando formadas pelos rios Curu e Munda. Os demais formam plancies de dimenses reduzidas.

    Os solos dessas plancies so do tipo aluvial e se associam com solos alomrficos e planossolos e soldicos. So revestidos por matas ciliares que bordejam longitudinalmente os cursos dgua. A carnaba (Copermcia prunfera) constitui a espcie de maior freqncia nas reas das plancies fluviais.

    So ambientes de transio com vulnerabilidade moderada, tendo como principais limitaes as inundaes peridicas, salinizao, deficincia de drenagem, irregularidade do regime pluviomtrico e as restries legais ocupao. Apresentam um bom potencial para a agricultura irrigada, agroextrativismo e lavouras de vazante.

    Os Tabuleiros Pr-Litorneos constituem retalhos dos glacis de acumulao que se inclinam suavemente do interior na direo da linha de costa, ficando posicionados retaguarda dos campos de dunas.

    A mudana significativa das condies do recobrimento vegetal dessa unidade geossistmica, deriva da diversidade das condies agro-extrativas que tem ali se expandido.

    Os espaos agro-extrativos representam o resultado das combinaes produtivas rurais com os componentes naturais e humanos que lhe servem de suporte. So esses espaos que, atravs das atividades agrcolas tradicionais, no tem contribudo historicamente para transformar as caractersticas das paisagens botnicas originais. As lavouras de subsistncia ao lado da cajucultura tem preponderncia, principalmente nas reas de areias quartzosas.

    Apresentam-se como ambientes estveis com vulnerabilidade baixa, sendo propcios agropecuria, agroextrativismo, expanso urbana, implantao viria, loteamentos, turismo. Como limitaes pode-se citar: a irregularidade do regime pluviomtrico, a baixa fertilidade natural dos solos, problemas de eroso e deficincia hdrica.

    A Depresso Sertaneja abrange principalmente as reas centro e sul e municpio de Itapipoca, alm de menores parcelas dos municpios de So Gonalo do Amarante, Trair e Paracuru.

    Posicionam-se em nveis altimtricos inferiores a 200m. Apresenta topografias planas ou ligeiramente dissecadas em colinas rasas, desenvolvidas em rochas cristalinas pr-cambrianas.

    Com relao dinmica ambiental a Depresso Sertaneja um ambiente de transio com vulnerabilidade moderada. submetida a maior parte do ano s deficincias hdricas do clima semi-rido responsvel pela disperso das caatingas sobre os solos rasos e pedregosos de regio. potencialmente favorvel agropecuria; agroextrativismo, loteamentos, expanso urbana, lavouras xerfilas e implantao viria.

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    Os Macios Residuais compreendem principalmente as vertentes setentrionais do macio de Uruburetama no sul do municpio de Itapipoca.

    As condies de relevo mais elevadas propiciam melhoria das condies pluviomtricas, ensejando a ocorrncia de enclaves midos, submidos e cobertura vegetal de mata plvio-nebular recobrindo solos da classe de podzlicos vermelho-amarelos. Esta vegetao est fortemente descaracterizada em funo de desmatamentos executados margem de qualquer tcnica conservacionista. So ambientes de transio com tendncia instabilidade e vulnerabilidade alta, sendo propcios agricultura (de ciclo longo), fruticultura, cafeicultura, tendo como limitaes o elevado grau de acidentamento do relevo e restries legais ocupao.

    No que se refere aos aspectos scio-econmicos e Tursticos os municpios localizados na Costa Oeste do Estado do Cear, possuem um grande potencial de recursos naturais e uma grande riqueza com relao aos aspectos scio-culturais, constituindo o que se convencionou chamar de oferta turstico.

    3.5 - A Costa Leste

    Segundo o SEMACE (1997), duas grandes unidades ambientais podem ser definidas para essa parcela do territrio cearense, diferenciadas entre si pelas funes que cada uma desempenha no conjunto integrado da paisagem e pelas formas de utilizao dos recursos existentes.

    Unidade Ambiental I

    Faixa Costeira Turstico/Urbana

    As caractersticas geoambientais dos municpios do litoral leste guardam muitas similaridades: A faixa praial, que abrange parte dos municpios de Icapu, Aracati, Fortim, Beberibe, Cascavel apresenta-se como uma estreita faixa de terra com uma largura mdia de 2,0km. Apresenta elevado estoque de sedimentos arenosos modelados por processos marinhos, flvio-marinhos e elicos que geram as praias, os campos de dunas, as plancies flvio-marinhas, lacustres e flvio-lacustres, sendo estes ambientes vulnerveis aos processos degradacionais em funo da fragilidade do equilbrio ecolgico.

    As feies morfolgicas da faixa praial encerram a ocorrncia da praia propriamente dita, da alta praia, das plataformas de abraso e rochas de praia, alm das falsias.

    A praia (estirncio, foreshore) fica situada no trecho que submetido s amplitudes de mar, ou seja, entre os nveis de preamar e de baixa-mar onde h o fluxo e refluxo das ondas marinhas.

    A ante-praia geralmente submersa e no contato com a praia tem sua poro mais rasa correspondente ao setor de arrebentao das ondas.

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    A alta-praia, berma ou ps-praia (backshore) se desenvolve atravs de um contorno pouco sinuoso de baixa altura, sendo formada por terraos desenvolvidos na zona superior, ao abrigo da influncia das guas marinhas. Excepcionalmente, ela pode ser inundada por altas mars ou ressacas.

    O ambiente de praia segundo Castro, Apud SEMACE (1995), engloba depsitos de sedimentos constitudos por areia, cascalho, concha de moluscos, etc., acumuladas por ao das ondas que, por apresentar mobilidade, se ajustam s condies hidrodinmicas. Representam, por esta razo, um importante elemento de proteo costeira, ao mesmo tempo que so amplamente utilizadas para o turismo e lazer.

    A largura das praias da rea em questo, quando em mar baixa, variam de 40 a 120m. As praias mais estreitas so aquelas associadas a promontrios rochosos ou falsias, como o caso da Praia de Canoa Quebrada, Redonda ou Barra da Sucatinga. Enquanto que as praias mais largas, limitam-se com os terraos marinhos holocnicos. As praias de Majorlndia, Ponta de Macei e Trememb, se enquadram nesta observao.

    Nas praias associadas a costa com escarpas comum a presena de plataformas de abraso na zona de estirncio, desenvolvidas em rochas com diagnese mdia da Formao Barreiras. Nestes locais o capeamento arenoso mnimo quando no est totalmente ausente. Nas praias existentes entre Redonda e Canoa Quebrada e entre Urua e Morro Branco estas plataformas de abraso esto associadas a falsias vivas da Formao Barreiras com altura mdia variando entre 10 a 15m, constitudas por materiais, que variam desde a frao de silte/argila at mataces, predominando uma diagnese fraca. Nesta faixa de praia esta formao proporciona a origem de um grande nmero de fontes, evidenciando a presena de nveis de silte/argila por onde o lenol fretico aflora.

    Nas praias da Ponta de Macei e Caponga, so encontradas na faixa de estirncio, afloramentos de rochas de praia (beach rocks), que representam antigos nveis de praia, onde a ao de carbonato de clcio, precipitando entre os gros de areia, processa a cimentao desse material. Na praia da Caponga, estas rochas esto atuando como molhes naturais, provocando a jusante da deriva litornea, atuao de processos erosivos, os quais so tambm relacionados com a ocupao antrpica desordenada.

    A faixa praial apresenta categorias de meios geodinmicos instveis, com aes morfogenticas exercidas pelo mar (no estirncio) e pelo vento na ps-praia (berma). No estirncio h uma pequena mobilidade das areias pelo vento, e a evoluo da linha de costa depende do comportamento das correntes marinhas e do fluxo e refluxo das ondas. Na ps-praia, a mobilidade das areias de moderada a forte onde h recobrimento vegetal contnuo. A estabilidade pode ser alcanada atravs de fixao das areias por vegetao herbcea adaptada de modo a permitir uma fitoestabilidade. Esta rea deve ser permanentemente monitorada em funo da expanso de loteamentos que visam atividades de turismo e de lazer.

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    No ambiente elico, correspondente s dunas, foram definidas, a nvel regional, por Morais e Meireles (1993) apud SEMACE (1996), trs geraes de dunas, as de primeira gerao, representadas pelas dunas rebaixadas ou fixas, mais interiores, as de segunda gerao, compostas por dunas semi-fixas e mveis, e as dunas de terceira gerao (bordejantes), localizadas em contato com a linha e preamar mxima.

    As dunas fixas ocorrem ao longo de toda a regio em estudo, elevam-se a mais de 50 metros de altitude e apresentam direo geralmente paralela das dunas ativas. Localmente, quando ocorrem mais prximas faixa de praia, so erodidas pelo mar e pelo vento. Em outros locais so parcialmente soterradas por dunas mveis e freqentemente ocorrem no topo da Formao Barreiras, bem como recobrindo terraos marinhos. Apresentam categorias de meios geodinmicos considerados de transio, onde o desenvolvimento de pedognese favoreceu a fixao da cobertura vegetal de porte arbustivo e/ou arbreo, que impede a ao dos processos de mobilizao elica. Quando desmatadas para as implantaes urbanas, as aes erosivas so retomadas, tornando-as mveis e provocando rupturas no frgil equilbrio ambiental. So desfavorveis para a ocupao produtiva, devendo ser considerada como rea de preservao compulsria e permanente.

    As dunas semi-fixas (de segunda gerao) esto localizadas normalmente entre as dunas de terceira e de primeira geraes (mveis e fixas, respectivamente), como tambm bordejando linha de costa. Apresentam uma configurao predominante do tipo transversal e barcana, denotando um grande volume de areia disponvel e ventos com competncia para o transporte dos gros por rolamento e trao. Tem cobertura vegetal esparsa e em tufos, prevalecendo a distribuio de um tapete herbceo descontnuo de gramneas resistentes s condies ambientais. Parte significativa da superfcie arenosa fica exposta e favorece o trabalho de deflao.

    Apresentam categorias de meios geodinmicos moderado a fortemente instvel sendo a morfognese atravs dos processos elicos atenuada pela fixao parcial de vegetao arbustiva-herbcea. A mobilidade de sedimentos arenosos moderada, sendo este ambiente desfavorvel para ocupao produtiva, exceto atravs de reflorestamento que pode viabilizar a fixao das dunas. O desmatamento das dunas parcialmente vegetadas, pode reativar os setores de dunas semi-fixas, incorporando-as ao campo de dunas mveis e ampliando o estoque de material posto disposio da ao elica.

    As dunas mveis, que so as mais recentes, representando a terceira gerao, ocorrem diretamente na zona de berma ou recobrindo falsias vivas da Formao Barreiras. No tm cobertura vegetal e a mobilidade das areias intensificada durante a estao seca quando no h compactao dos sedimentos. O trnsito das areias livre e se processa de modo quase ininterrupto. Geodinamicamente um meio fortemente instvel; a morfodinmica, atravs dos processos elicos responsveis pelo transporte e acumulao dos detritos arenosos o componente preponderante da dinmica natural. Este ambiente constitui-se um patrimnio paisagstico de grande beleza cnica, alm de hospedeiro de minerais pesados de grande valor econmico.

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    As plancies flvio-marinhas desenvolvidas nas proximidades das embocaduras fluviais constituem os principais tipos de feies que tm sua gnese associada deposio de origem mista. Nos esturios como os dos rios Jaguaribe, Pirangi e Chor ou em pequenos cursos fluviais que tm seus fluxos hdricos no prprio litoral, ntida a penetrao das guas do mar nos baixos vales. H ento a difuso de gua salgada na gua doce que, aliada a uma sedimentao de clsticos finos como hmus e vasas propiciam a criao de condies favorveis ao desenvolvimento dos mangues. Eles representam a vegetao tpica das plancies flvio-marinhas.

    So meios moderadamente instveis com tendncia para dinmica regressiva motivada por ocupao antrpica desordenada. Estas reas esto sujeitas inundao peridicas e permanentes, onde as mars exercem o papel de agente mecnico que dificulta a sedimentao mar afora e favorece a sedimentao rio adentro, a partir da embocadura; possuem biodiversidade complexa e elevada produtividade biolgica; so desfavorveis para aproveitamento de gua doce e para diversas atividades produtivas com exceo ao manejo racional dos mangues.

    As plancies lacustres e flvio-lacustres bordejam os setores marginais de lagoas que possuem alimentao fluvial ou que so oriundas do lenol fretico, estando sujeitas a inundaes peridicas e assoreamento.

    As plancies flvio-lacustres so mais comuns em posies retaguarda dos campos de dunas. Elas representam uma barreira ao fluxo hdrico dos pequenos ou mdios cursos dgua que tm limitaes para se superimpor na superfcie e so barrados. Nesses casos as lagoas tm uma disposio longitudinal perpendicular linha de costa e so geralmente muito estreitas.

    As plancies lacustres tm dimenses bem mais restritas e so oriundas da menor profundidade do lenol fretico nas bacias de deflao das depresses interdunares.

    Unidade Ambiental II

    Tabuleiros e Depresso Sertaneja com Agropecuria e Extrativismo

    Nos tabuleiros o relevo se apresenta em forma de rampas suaves com caimento pequeno para o litoral e fundos de vales. O entalhe de superfcie pela rede de drenagem impe uma dissecao incipiente que forma os tabuleiros geralmente cobertos por uma camada superficial arenosa. So ambientes instveis ou de transio com baixa vulnerabilidade.

    Os solos so agricultveis, embora dotados de baixa fertilidade natural aparente. uma rea sem maiores limitaes para a expanso urbana, atividades agro-pastoris, reflorestamento ou implantao de benfeitorias.

    A depresso sertaneja apresenta-se como superfcies embutidas entre nveis de planaltos sedimentares ou cristalinos, com altitudes abaixo de 200m e

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    com acentuada diversificao litolgica, amplamente submetidas a condies semi-ridas quentes e com forte irregularidade pluviomtrica. Comporta solos com grande variedade de associaes, sendo comum a ocorrncia de solos rasos, afloramentos rochosos e cho pedregoso, recobertos por caatingas com grande variedade de padres fisionmicos e florsticos e diferentes nveis de degradao. So ambientes instveis ou de transio com baixa vulnerabilidade.

    Com relao ao uso e ocupao so reas favorveis utilizao agro-pastoril e agroextrativa, havendo necessidade de preservar ou restaurar as faixas de proteo dos mananciais e rios.

    Esta unidade ambiental comporta 03 (trs) sub-unidades quais sejam:

    Sub-Unidade II A Tabuleiros a oeste do rio Chor, arenosos com combinaes agropecurias pr-litorneas de abastecimento da Regio Metropolitana de Fortaleza, potencialmente favorvel ao Agroextrativismo, agropecuria, expanso urbana, implantao viria e aproveitamento dos recursos hdricos.

    Sub-Unidade II B Tabuleiros Arenosos e Depresso Sertaneja do municpio de Beberibe e dos baixos vales dos rios Pirangi e Jaguaribe. So reas com combinao agropecurias pr-litorneas potencialmente favorveis s atividades da rea II A.

    Sub-Unidade II C Tabuleiros oeste do Baixo Jaguaribe e borda ocidental da bacia Potiguar. rea com combinaes agropecurias pr-litorneas potencialmente favorveis s atividades da rea II A com nfase para a explorao petrolfera em terrenos do Grupo Apodi no municpio de Icapu.

    No que se refere aos aspectos scio-ambientais e tursticos os municpios localizados no litoral leste do Estado do Cear, possuem um potencial imenso de recursos naturais e uma grande riqueza com relao aos aspectos scio-culturais, constituindo o que se convencionou chamar de oferta turstica.

    A economia da regio est baseada na salicultura que uma atividade tradicional, sendo responsvel, ao lado da pesca e da cajucultura, por parcela pondervel da renda e de empregos gerados. A agricultura se caracteriza por apresentar condies naturais para o desenvolvimento de certas culturas, entre elas a do caju (maior quantidade), o coco da baa, vindo em seguida a mandioca, o milho e o feijo (considerados estes ltimos como produtos de subsistncia). Alm destes, como extrativismo vegetal se destaca a cera de carnaba.

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    4 - A ZONA COSTEIRA DO PIAU

    O Estado do Piau com uma dimenso territorial de 252.378,6 Km2, possui

    uma populao de 2.582.137 habitante, e uma densidade demogrfica de 10,23 hab/Km2 (CEPRO, 1996).

    A zona costeira do Piau, localiza-se no extremo norte do estado e tem

    como limites naturais, a leste, o rio Ubatuba que separa o Piau o estado do Cear; a oeste, o rio Parnaba, que separa o Piau do estado do Maranho; ao norte, o oceano Atlntico, com uma linha de costa de 66 Km; e, ao sul, os municpios de Cocal, Piracuruca, Joaquim Pires e So Jos do Divino.

    A rea se enquadra, aproximadamente, entre os paralelos 2o 30' e 3o 30'

    de latitude sul e os meridianos de 41o 00' e 42o 00' de longitude oeste. Seus pontos extremos so: a leste, a localidade de Praia Branca, com as coordenadas de 3o 01'51" de latitude sul e 41o 14'53" de longitude oeste; a oeste, a barra do rio Long, com 3o 09'20" de latitude sul e 41o 56'17"de longitude oeste; ao sul, a localidade de Lazo do Velho com 2o 42'30"de latitude sul e 41o 51'14"de longitude oeste, e, finalmente, no extremo norte a desembocadura do rio Parnaba, com coordenadas de 2o 43'58"de latitude sul e 41o 48'15"de longitude oeste.

    4.1 - CONFIGURAO GEOAMBIENTAL

    O litoral do Piau abrange os municpios de Luiz Correia, Parnaba, Bom Princpio, Buriti dos Lopes e Ilha Grande (IBGE, 1997). Possui uma linha da costa com extenso linear de 66 Km, proporcional a 0,009% da linha costeira do Brasil que de 7.637 km, e tem um estado de retificao no muito ntido, em funo da freqncia de embocaduras fluviais e de promontrios que se alternam em largas enseadas.

    A primeira (E-W), se estende da foz do rio Timonha, no limite com o

    Estado do Cear at a localidade de Coqueiro, no municpio de Luz Correia. Neste trecho, algumas pontas mantidas por promontrios se projetam para o mar e se intercalam com enseadas e plancies flvio-marinhas. Dentre as pontas, destacam-se as localizadas em Barra Grande, Soc e Itaqui.

    A Segunda, com orientao SE-NW, estende-se da localidade de

    Coqueiro at a rea deltaica do rio Parnaba, na fronteira com o Estado do Maranho. O promontrio grantico situado na praia da Pedra do Sal separa dois trechos que possuem caractersticas retilneas at a praia da Pedra do Sal. Deste ponto, at a baa das Canrias forma-se uma pequena enseada e depois a linha da costa nitidamente retilnea. Esta rea compes do delta do Parnaba (CEPRO, 1996).

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    Bases Geolgicas e geomorfologia A rea litornea engloba unidades litoestratigrficas como: o

    embasamento cristalino, as Formaes Paleo-Mesozicas da bacia sedimentar do Parnaba, a Formao Barreiras e os sedimentos Quaternrios. A geomorfologia do litoral e da rea circunjacente deriva da influncia de fatores litoestruturais, dos processos morfodinmicos atuantes- marinhos, elicos, fluviais e combinados, alm de heranas paleogrficas (CEPRO, 1996).

    As caractersticas geoformolgicas mais tipicamente litorneas se

    esboam nas reas de sedimentos inconsolidados da Formao Barreiras e dos depsitos Quarternrios, identificando-se as seguintes unidades e feies geomorfolgicas:

    1.Plancie Litornea Faixa praial Campos de dunas Plancie flvio-marinhas 2.Plancies Lacustres e Flvio-Lacustres 3.Plancies Fluviais 4.Glaciais Pr-litorneos Dissecados em Tabuleiros A rea deltica do rio Parnaba, ser tratada de modo mais especfico,

    devido a sua importncia no litoral. A plancie litornea tem uma disposio continua desde a foz do rio

    Timonha, na fronteira oriental do litoral entre Piau e Cear, at a fronteira ocidental, no delta do rio Parnaba, entre Maranho e Piau. composta essencialmente por sedimentos Quartenrios inconsolidados, sendo submetida s aes de acumulao marinha, elica, fluvial e flvio-marinha. Apresenta como principais feies a faixa praial, os campo de dunas e as plancies flvio-marinhas.

    Na plancie litornea do Piau, a maior expresso espacial reservada ao

    campo de dunas mveis, que apresenta um comportamento migratrio das areias. Os sedimentos so postos em movimento por ventos de E-NE. Isso implica forte instabilidade ambiental, especialmente quando se considera o campo de dunas de recente formao, ainda no submetido aos processos de edafizao. O comportamento migratrio tem implicaes com o assoreamento de lagoas (caso tpico da Lagoa do Portinho, municpio de Parnaba), recobrindo estradas, aterro de residncias, alm de outros fatos ecodinmicos que trazem efeitos danosos ao ambiente.

    As dunas mveis no tm qualquer cobertura vegetal. O trnsito de areia

    livre e se processa de modo quase ininterrupto. Porm as dunas fixas, j submetidas s influncias dos processos pedogenticos foram colonizadas por espcies arbreas e a alta densidade das plantas limita a manifestao da deflao elica (CEPRO, 1996).

    As plancies lacustres e flvio-lacustres ocorrem ao longo de todo o litoral

    e possuem dimenses variadas. J as plancies fluvias se desenvolvem nas pores laterais dos cursos d'gua oriundas da deposio de sedimentos

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    aluviais de texturas finas e os "Glacis" nas exposies Trcio-Quarternria da Formao Barreiras.

    4.2 - O Clima Em relao aos parmetros climticos, a exemplo da poro setentrional

    do Nordeste brasileiro, o litoral do Piau submetido aos efeitos de sistemas geradores das condies de tempo, especialmente no que se refere ao regime das chuvas.

    O principal sistema sintico, responsvel pela estabilizao da quadra

    chuvosa, a Zona de Convergncia Intertropical (ZCIT). Sua influncia se traduz em chuvas intensas e relativamente regulares, principalmente nos meses de maro-abril, onde se verificam as mximas chuvas.

    Tambm as frentes frias, tm influncia no clima da poro norte do

    Nordeste brasileiro. Essa influncia se faz sentir principalmente no desenvolvimento da nebulosidade e no processo de conveco continental.

    As condies trmicas da faixa litornea dessa poro do litoral norte do

    Nordeste brasileiro se apresentam estveis e com variabilidade mdia mensal mnima ao longo do ano. Para do municpio de Parnaba, considerando-se os valores mdios mensais de temperatura do ar (oC) referentes ao perodo de 1978 a 1987, percebe-se uma variao de 26,6oC a 27oC.

    Quanto a evapotranspirao e ao balano hdrico, as taxas so elevada

    durante todo o ano, em funo de ndices trmicos tambm muito elevados. As precipitaes mdias anuais so superiores a 1200 mm, tanto em Parnaba (1385,6 mm) como em Lus Correia. (1201,1 mm) (CEPRO, 1996).

    4.3 - Hidrologia e hidrogeologia A respeito da hidrologia de superfcie e da hidrogeologia, tm especial

    ateno as bacias do Parnaba e as bacias hidrogrficas conjugadas ao rio Ubatuba, compostas por cinco bacias menores formadas pelos rios Ubatuba, Camurupim, Timonha e pelos riachos Cajueiro e Tebocal. Outros pequenos sistemas fluviais, como os que so formados pelos rios Portinho e Sobradinho, tm seus baixos cursos barrados pelos campos de dunas.

    O sistema lacustre da plancie litornea composto por inmeras lagoas,

    que tm alimentao pluvial, fluvial ou mesmo fretica. Destacam-se dentre outras, as lagoas de Sobradinho e Portinho, Jaboti e das Mutucas.

    As dunas constituem aqferos livres, com areias de alta

    permoporosidade. Elas tm um razovel potencial hidrogeolgico. As aluvies que ocupam as reas das plancies fluviais tambm possuem um razovel potencial hidrogeolgico.

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    Tm-se ainda os sedimentos da Formao Barreiras, Formao Orozimbo, Formao Cabeas, Formao Pimenteiras, Formao Serra Grande, com potenciais hidrogeolgicos (RADAMBRASIL, 1981).

    4.4 - Os Solos Em relao aos solos do litoral piauiense, tem-se associaes de solos

    estabelecidas pelo Projeto RADAMBRASIL (1981) e conforme a definio das unidades e feies geomorfolgicas, podem ser estabelecidas as seguintes relaes:

    Sinopse das Unidades Morfo-pedolgicas

    UNIDADES GEOMORFOLGICAS

    FEIES ASSOCIAO DE SOLOS

    Plancies Litorneas

    Faixa praial e campos de dunas Plancies flvio-marinhas

    Areias quartzosas marinhas e continentais Solos indiscriminados de mangues

    Plancies Lacustres e Flvio-Lacustres

    Plancies lacustres das lagoas do Portinho, Sobradinho, So Bento, etc.

    Planossolo soldico + solonetz solodizado + solos aluviais eutrficos

    Plancies Fluviais

    Plancies dos rios Parnaba, Long, Igarau, Camurupim, Timonha e de pequenos vales litorneos.

    Planossolo soldico + solonetz solodizado + solos aluviais eutrficos.

    Glacis Pr-litorneos

    Tabuleiros

    Podzlico vermelho amarelo distrfico + latossolo amarelo distrfico + podzlico cinzentado distrfico

    Pediplano Sertanejo Nveis de pedimentos conservados e dissecados em interflvios tabulares da sinclise do Rio Parnaba Nveis de pedimentos conservados do embasamento cristalino

    Solos litlicos + solos concrecionrios com B textural distrficos + solos concrecionrios distrficos + solos concrecionrios eutrficos Solos podzlicos vermelho-amarelo + solos litlicos eutrficos + afloramentos rochosos.

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    4.5 - Vegetao e unidades fisiogrficas

    A vegetao da rea de abrangncia do complexo litorneo do Estado do Piau, est firmada na integrao dos fatores: clima, relevo e solo, revelando-se um conjunto florstico bastante diversificado, sendo encontrado os seguintes tipos de vegetao:

    a) Vegetao Pioneira Psamfila; b) Vegetao Subpereniflia de Dunas; c) Vegetao Pereniflia de Mangue; d) Vegetao de Vrzea; e) Vegetao do Delta dos Rios Parnaba/Long f) Vegetao Estacional dos Tabuleiros; g) Vegetao Estacional secundria do Cerrado.

    Vegetao Pioneira Psamfila.

    Nos ambientes de ps-praia (berma), sobre dunas de formao mais recente e em algumas depresses interdunares, desenvolve-se a Vegetao Pioneira Psamfila. Considera-se como integrante desta unidade vegetacional litornea as espcies adaptadas s condies impostas pelo ambiente arenoso da zona costeira, onde so necessrios adaptaes morfolgica e fisiolgica para desenvolve-se.

    A intensidade e a direo predominante dos ventos, alm da distribuio

    pluvial, so determinantes para o desenvolvimento da vegetao pioneira. C