reforma protestante e contrareforma

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Reforma Protestante Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. As 95 Teses de Lutero , Disputatio pro declaratione virtutis indulgentiarum, 1522 A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão culminado no início do século XVI por Martinho Lutero , quando através da publicação de suas 95 teses , em 31 de outubro de 1517 1 2 na porta da Igreja do Castelo deWittenberg , protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas . 3 Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada naAlemanha , estendendo-se pela Suíça , França , Países Baixos , Reino Unido , Escandinávia e algumas partes do Leste europeu , principalmente os Países Bálticos e a Hungria . A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento . O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e osreformados ou protestantes, originando o Protestantismo e o início de massacres e perseguições por parte da Igreja Católica Romana como por exemplo a noite de Massacre da noite de São Bartolomeu . Índice [esconder ] 1 Pré-Reforma o 1.1 Razões políticas na Reforma 2 Reforma o 2.1 Na Alemanha, Suíça e França o 2.2 No Reino Unido

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Page 1: Reforma Protestante e Contrareforma

Reforma ProtestanteOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

As 95 Teses de Lutero, Disputatio pro declaratione virtutis indulgentiarum, 1522

A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão culminado no início do século XVI por Martinho Lutero, quando através da publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517 1 2 na porta da Igreja do Castelo deWittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas.3

Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada naAlemanha, estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento.

O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e osreformados ou protestantes, originando o Protestantismo e o início de massacres e perseguições por parte da Igreja Católica Romana como por exemplo a noite de Massacre da noite de São Bartolomeu.

Índice

  [esconder] 

1 Pré-Reforma

o 1.1 Razões políticas na Reforma

2 Reforma

o 2.1 Na Alemanha, Suíça e França

o 2.2 No Reino Unido

o 2.3 Nos Países Baixos e na Escandinávia

o 2.4 Em outras partes da Europa

3 Consequências

o 3.1 Contrarreforma

o 3.2 Protestantismo

4 Ver também

5 Referências

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6 Ligações externas

Pré-Reforma[editar | editar código-fonte]

A Pré-Reforma foi o período anterior à Reforma Protestante no qual se iniciaram as bases ideológicas que posteriormente resultaram na reforma iniciada porMartinho Lutero.

A Pré-Reforma tem suas origens em uma denominação cristã do século XII conhecida como Valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon que se converteu ao Cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, considerando ser a fonte de toda autoridade eclesiástica. Eles reuniam-se em casas de famílias ou mesmo em grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica Romana, já que negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que consideravam como sendo idolatria.4

John Wycliffe.

No seguimento do colapso de instituições monásticas e da escolástica nos finais da Idade Média na Europa, acentuado pelo Cativeiro Babilônico da igreja no papado de Avinhão, o Grande Cisma e o fracasso da conciliação, se viu no século XVI o fermentar de um enorme debate sobre a reforma da religião e dos posteriores valores religiosos fundamentais.

No século XIV, o inglês John Wycliffe,5 considerado como precursor da Reforma Protestante, levantou diversas questões sobre controvérsias que envolviam o Cristianismo, mais precisamente a Igreja Católica Romana. Entre outras idéias, Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas, algo que, na sua visão, era incompatível com o poder político do papa e dos cardeais, e que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais, sendo o poder político exercido pelo Estado, representado pelo rei. Contrário à rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos. Estes padres foram conhecidos como "lolardos". Mais tarde, surgiu outra figura importante deste período: Jan Huss. Este pensador tcheco iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. Seus seguidores ficaram conhecidos como Hussitas.6

Razões políticas na Reforma[editar | editar código-fonte]

A Reforma protestante foi iniciada por Martinho Lutero, embora tenha sido motivada primeiramente por razões religiosas,7 também foi impulsionada por razões políticas e sociais7 8 9

os conflitos políticos entre autoridades da Igreja Romana e governantes das

monarquias européias, tais governantes desejavam para si o poder espiritual e

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ideológico da Igreja e do Papa,10 11 muitas vezes para assegurar o direito divino dos

reis;

Práticas como a usura eram condenadas pela ética católica romana, assim

a burguesia capitalista que desejava altos lucros econômicos sentiria-se mais

"confortável" se pudesse seguir uma nova ética religiosa, adequada ao espírito

capitalista, necessidade que foi atendida pela ética protestante e conceito de Lutero de

que a fé sem as obras justifica (Sola fide);11 10 12 13 14 15

Algumas causas econômicas para a aceitação da Reforma foram o desejo da nobreza

e dos príncipes de se apossar das riquezas da igreja romana e de ver-se livre da

tributação papal que, apesar de defender a simplicidade, era a instituição mais rica do

mundo.16 Também na Alemanha, a pequena nobreza estava ameaçada de extinção

em vista do colapso da economia senhorial. Muitos desses pequenos nobres

desejavam as terras da igreja. Somente com a Reforma, estas classes puderam

expropriar as terras;17 18 19

Durante a Reforma na Alemanha, autoridades de várias regiões do Sacro Império

Romano-Germânico pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e

mesmo assassinavam sacerdotes católicos das igrejas,20 substituindo-os por religiosos

com formação luterana;21

Lutero era radicalmente contra a revolta camponesa iniciada em 1524 pelos

anabatistas liderados por Thomas Münzer,21 que provocou a Guerra dos Camponeses.

Münzer comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma

sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sempropriedade privada,21 Lutero por

sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade divina,21 motivo

pelo qual eles romperam.16 Lutero escreveu posteriormente: "Contras as hordas de

camponeses (...), quem puder que bata, mate ou fira, secreta ou abertamente,

relembrando que não há nada mais peçonhento, prejudicial e demoníaco que um

rebelde".21

Reforma[editar | editar código-fonte]

Na Alemanha, Suíça e França[editar | editar código-fonte]

No início do século XVI, o monge alemão Martinho Lutero, abraçando as idéias dos pré-reformadores, proferiu três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Em 31 de outubro de 1517 foram pregadas as 95 Teses na porta da Catedral de Wittenberg, com um convite aberto a uma disputa escolástica sobre elas.22 Esse fato é considerado como o início da Reforma Protestante.23

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Martinho Lutero, aos 46 anos de idade.

Essas teses condenavam a "avareza e o paganismo" na Igreja, e pediam um debate teológico sobre o que as indulgências significavam. As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Após um mês se haviam espalhado por toda aEuropa.24

Após diversos acontecimentos, em junho de 1518 foi aberto um processo por parte da Igreja Romana contra Lutero, a partir da publicação das suas 95 Teses. Alegava-se, com o exame do processo, que ele incorria em heresia. Depois disso, em agosto de 1518, o processo foi alterado para heresia notória.25 Finalmente, em junho de 1520 reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e, em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero. Devido a esses acontecimentos, Lutero foi exilado noCastelo de Wartburg, em Eisenach, onde permaneceu por cerca de um ano. Durante esse período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, da qual foi impresso o Novo Testamento, em setembro de 1522.26

Extensão da Reforma Protestante na Europa.

Enquanto isso, em meio ao clero saxônio, aconteceram renúncias ao voto de castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos monásticos. Entre outras coisas, muitos realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as missas, assim como a eliminação das imagens nas igrejas e a ab-rogação do celibato. Ao mesmo tempo em que Lutero escrevia "a todos os cristãos para que se resguardem da insurreição e rebelião". Seu casamento com a ex-freira cisterciense Catarina von Bora incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Com estes e outros atos consumou-se o rompimento definitivo com a Igreja Romana.27 Em janeiro de 1521 foi realizada a Dieta de Worms, que teve um papel importante na Reforma, pois nela Lutero foi convocado para desmentir as suas teses, no entanto ele defendeu-as e pediu a reforma.28 Autoridades de várias regiões do Sacro Império Romano-Germânicopressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e mesmo assassinavam sacerdotes católicos das igrejas,20substituindo-os por religiosos com formação luterana.21

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Toda essa rebelião ideológica resultou também em rebeliões armadas, com destaque para a Guerra dos camponeses (1524-1525). Esta guerra foi, de muitas maneiras, uma resposta aos discursos de Lutero e de outros reformadores. Revoltas de camponeses já tinham existido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na França (1358), na Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas do século XV, e muitas outras até o século XVIII. A revolta foi incitada principalmente pelo seguidor de Lutero, Thomas Münzer,21 que comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada,21 Lutero por sua vez defendia que a existência de"senhores e servos" era vontade divina,21 motivo pelo qual eles romperam,29 sendo que Lutero condenou Münzer e essa revolta.30

O Muro dos Reformadores. Da esquerda à direita, estátuas de Guilherme Farel,João Calvino, Teodoro de

Bezae John Knox.

Em 1530 foi apresentada na Dieta imperial convocada pelo Imperador Carlos V, realizada em abril desse ano, a Confissão de Augsburgo, escrita por Felipe Melanchton 31 com o apoio da Liga de Esmalcalda. Os representantes católicos na Dieta resolveram preparar uma refutação ao documento luterano em agosto, a Confutatio Pontificia (Confutação), que foi lida na Dieta. O Imperador exigiu que os luteranos admitissem que sua Confissão havia sido refutada. A reação luterana surgiu na forma da Apologia da Confissão de Augsburgo, que estava pronta para ser apresentada em setembro do mesmo ano, mas foi rejeitada pelo Imperador. AApologia foi publicada por Felipe Melanchton no fim de maio de 1531, tornando-se confissão de fé oficial quando foi assinada, juntamente com a Confissão de Augsburgo, em Esmalcalda, em 1537.32

Ao mesmo tempo em que ocorria uma reforma em um sentido determinado, alguns grupos protestantes realizaram a chamadaReforma Radical. Queriam uma reforma mais profunda. Foram parte importante dessa reforma radical os Anabatistas, cujas principais características eram a defesa da total separação entre igreja e estado e o "novo batismo" 33 (que em grego éanabaptizo).34

João Calvino.

Enquanto na Alemanha a reforma era liderada por Lutero, Na França e na Suíça a Reforma teve como líderes João Calvino e Ulrico Zuínglio.35

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João Calvino foi inicialmente um humanista. Foi integrante do clero, todavia não chegou a ser ordenado sacerdote romano. Depois do seu afastamento da Igreja romana, este intelectual começou a ser visto como um representante importante do movimento protestante.36 Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1533 37 onde faleceu em 1564. Genebratornou-se um centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece desde então como uma figura central da história da cidade e da Suíça. Calvino publicou as Institutas da Religião Cristã,38 que são uma importante referência para o sistema de doutrinas adotado pelas Igrejas Reformadas.39

Os problemas com os huguenotes somente concluíram quando o Rei Henry IV, um ex-huguenote, emitiu o Édito de Nantes, declarando tolerância religiosa e prometendo um reconhecimento oficial da minoria protestante, mas sob condições muito restritas. O catolicismo romano se manteve como religião oficial estatal e as fortunas dos protestantes franceses diminuíram gradualmente ao longo do próximo século, culminando na Louis XIV do Édito de Fontainebleau, que revogou o Édito de Nantes e fez de Roma a única Igreja legal na França. Em resposta ao Édito de Fontainebleau, Frederick William de Brandemburgo declarou o Édito de Potsdam, dando passagem livre para franceses huguenotes refugiados e status de isenção de impostos a eles durante 10 anos.

Ulrico Zuínglio foi o líder da reforma suíça e fundador das igrejas reformadas suíças. Zuínglio não deixou igrejas organizadas, mas as suas doutrinas influenciaram as confissões calvinistas. A reforma de Zuínglio foi apoiada pelo magistrado e pela população de Zurique, levando a mudanças significativas na vida civil e em assuntos de estado em Zurique.40

No Reino Unido[editar | editar código-fonte]

O curso da Reforma foi diferente na Inglaterra. Desde muito tempo atrás havia uma forte corrente anticlerical, tendo a Inglaterra já visto o movimento Lollardo, que inspirou os Hussitas na Boémia. No entanto, ao redor de 1520 os lollardos já não eram uma força ativa, ou pelo menos um movimento de massas.

Henrique VIII.

Embora Henrique VIII tivesse defendido a Igreja Romana com o livro Assertio Septem Sacramentorum (Defesa dos Sete Sacramentos), que contrapunha as 95 Teses de Martinho Lutero, Henrique promoveu a Reforma Inglesa para satisfazer as suas necessidades políticas. Sendo este casado com Catarina de Aragão, que não lhe havia dado filho homem, Henrique solicitou ao Papa Clemente VII a anulação do casamento.41 Perante a recusa do Papado, Henrique fez-se proclamar, em 1531, protetor da Igreja inglesa. O Ato de Supremacia, votado no Parlamento em novembro de 1534, colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da igreja, nascendo assim o Anglicanismo. Os súditos deveriam submeter-se ou então seriam excomungados,

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perseguidos 42 e executados, tribunais religiosos foram instaurados e católicos foram obrigados à assistir cultos protestantes,43 muitos importantes opositores foram mortos, tais como Thomas More, o Bispo John Fischer e alguns sacerdotes, frades franciscanos e monges cartuxos. Quando Henrique foi sucedido pelo seu filho Eduardo VI em 1547, os protestantes viram-se em ascensão no governo. Uma reforma mais radical foi imposta diferenciando o anglicanismo ainda mais do catolicismo romano.44

Seguiu-se uma breve reação romana durante o reinado de Maria I (1553-1558). De início moderada na sua política religiosa, Maria procura a reconciliação com Roma, consagrada em 1554, quando o Parlamento votou o regresso à obediência ao Papa.41 Um consenso começou a surgir durante o reinado de Elizabeth I. Em 1559, Elizabeth I retornou ao anglicanismo com o restabelecimento doAto de Supremacia e do Livro de Orações de Eduardo VI. Através da Confissão dos Trinta e Nove Artigos (1563), Elizabeth alcançou um compromisso entre oprotestantismo e o catolicismo romano: embora o dogma se aproximasse do calvinismo, só admitindo como sacramentos o Batismo e a Eucaristia, foi mantida a hierarquia episcopal e o fausto das cerimônias religiosas.

John Knox.

A Reforma na Inglaterra procurou preservar o máximo da Tradição Romana (episcopado, liturgia e sacramentos). A Igreja da Inglaterra sempre se viu como a ecclesia anglicanae, ou seja, A Igreja cristã na Inglaterra e não como uma derivação da Igreja de Roma ou do movimento reformista do século XVI. A Reforma Anglicana buscou ser a "via média" entre Roma e o protestantismo.45

Em 1561 apareceu uma confissão de fé com uma Exortação à Reforma da Igreja modificando seu sistema de liderança, pelo qual nenhuma igreja deveria exercer qualquer autoridade ou governo sobre outras, e ninguém deveria exercer autoridade na Igreja se isso não lhe fosse conferido por meio de eleição. Esse sistema, considerado "separatista" pela Igreja Anglicana, ficou conhecido como Congregacionalismo.46Richard Fytz é considerado o primeiro pastor de uma igreja congregacional, entre os anos de 1567 e 1568, na cidade de Londres. Por volta de 1570 ele publicou um manifesto intitulado As Verdadeiras Marcas da Igreja de Cristo.47 Em 1580 Robert Browne, um clérigo anglicano que se tornou separatista, junto com o leigo Robert Harrison, organizou em Norwich uma congregação cujo sistema era congregacionalista,48sendo um claro exemplo de igreja desse sistema.

Na Escócia, John Knox (1505-1572), que tinha estudado com João Calvino em Genebra, levou o Parlamento da Escócia a abraçar a Reforma Protestante em 1560, sendo estabelecido o Presbiterianismo. A primeira Igreja Presbiteriana, a Church of Scotland (ou Kirk), foi fundada como resultado disso.49

Nos Países Baixos e na Escandinávia[editar | editar código-fonte]

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Erasmo de Roterdão.

A Reforma nos Países Baixos, ao contrário de alguns outros países, não foi iniciado pelos governantes das Dezessete Províncias, mas sim por vários movimentos populares que, por sua vez, foram reforçados com a chegada dos protestantes refugiados de outras partes do continente. Enquanto o movimento Anabatista gozava de popularidade na região nas primeiras décadas da Reforma, o calvinismo, através da Igreja Reformada Holandesa, tornou a fé protestante dominante no país desde a década de 1560 em diante. No início de agosto de 1566, uma multidão de protestantes invadiu a Igreja de Hondschoote na Flandres (atualmente Norte da França) com a finalidade de destruir as imagens católicas,50 51 52 esse incidente provocou outros semelhantes nas províncias do norte e sul, até Beeldenstorm, em que calvinistas invadiram igrejas e outros edifícios católicos para destruir estátuas e imagens de santos em toda aHolanda, pois de acordo com os calvinistas, estas estátuas representavam culto de ídolos. Duras perseguições aos protestantes pelo governo espanhol de Felipe II contribuíram para um desejo de independência nas províncias, o que levou à Guerra dos Oitenta Anos e eventualmente, a separação da zona protestante (atual Holanda, ao norte) da zona católica (atual Bélgica, ao sul).49

Teve grande importância durante a Reforma um teólogo holandês: Erasmo de Roterdã. No auge de sua fama literária, foi inevitavelmente chamado a tomar partido nas discussões sobre a Reforma. Inicialmente, Erasmo se simpatizou com os principais pontos da crítica de Lutero, descrevendo-o como "uma poderosa trombeta da verdade do evangelho" e admitindo que, "É claro que muitas das reformas que Lutero pede são urgentemente necessárias.".53 Lutero e Erasmo demonstraram admiração mútua, porém Erasmo hesitou em apoiar Lutero devido a seu medo de mudanças na doutrina. Em seu Catecismo (intitulado Explicação do Credo Apostólico, de 1533), Erasmo tomou uma posição contrária a Lutero por aceitar o ensinamento da "Sagrada Tradição" não escrita como válida fonte de inspiração além da Bíblia, por aceitar no cânon bíblico os livros deuterocanônicos e por reconhecer os sete sacramentos.54 Estas e outras discordâncias, como por exemplo, o tema do Livre arbítrio fizeram com que Lutero e Erasmo se tornassem opositores.

Catedral luterana emHelsinque, Finlândia.

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Na Dinamarca, a difusão das idéias de Lutero deveu-se a Hans Tausen. Em 1536 55 na Dieta de Copenhaga, o rei Cristiano III aboliu a autoridade dos bispos católicos, tendo sido confiscados os bens das igrejas e dos mosteiros. O rei atribuiu a Johann Bugenhagen, discípulo de Lutero, a responsabilidade de organizar uma Igreja Luterana nacional.56 A Reforma na Noruega e naIslândia foi uma conseqüência da dominação da Dinamarca sobre estes territórios; assim, logo em 1537 ela foi introduzida naNoruega e entre 1541 e 1550 55 na Islândia, tendo assumido neste último território características violentas.

Na Suécia, o movimento reformista foi liderado pelos irmãos Olaus Petri e Laurentius Petri. Teve o apoio do rei Gustavo I Vasa,57que rompeu com Roma em 1525, na Dieta de Vasteras. O luteranismo, então, penetrou neste país estabelecendo-se em 1527.55Em 1593, a Igreja sueca adotou a Confissão de Augsburgo. Na Finlândia, as igrejas faziam parte da Igreja sueca até o início do século XIX, quando foi formada uma igreja nacional independente, a Igreja Evangélica Luterana da Finlândia.

Em outras partes da Europa[editar | editar código-fonte]

Na Hungria, a disseminação do protestantismo foi auxiliada pela minoria étnica alemã, que podia traduzir os escritos de Lutero. Enquanto o Luteranismo ganhou uma posição entre a população de língua alemã, o Calvinismo se tornou amplamente popular entre a etnia húngara.58 Provavelmente, os protestantes chegaram a ser maioria na Hungria até o final do século XVI, mas os esforços da Contra-Reforma no século XVII levaram uma maioria do reino de volta ao catolicismo romano.59

Fortemente perseguida, a Reforma praticamente não penetrou em Portugal e Espanha. Ainda assim, uma missão francesa enviada por João Calvino se estabeleceu em 1557 numa das ilhas da Baía de Guanabara, localizada no Brasil, então colônia de Portugal. Ainda que tenha durado pouco tempo, deixou como herança a Confissão de Fé da Guanabara.60 Por volta de 1630, durante o domínio holandês em Pernambuco, a Igreja Cristã Reformada (Igreja Protestante na Holanda) instalou-se no Brasil. Tinha ao conde Maurício de Nassau como seu membro mais ilustre. Esse período se encerrou com a guerra de Restauração portuguesa .61 Na Espanha, as ideias reformadas influíram em dois monges católicos: Casiodoro de Reina, que fez a primeira tradução da Bíblia para o idioma espanhol, e Cipriano de Valera, que fez sua revisão,62 originando a conhecida como Biblia Reina-Valera.63

Consequências[editar | editar código-fonte]

Contrarreforma[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Contrarreforma

Massacre de São Bartolomeu.

Uma vez que a Reforma Protestante desconsiderou e combateu diversas doutrinas e dogmas católicos, e provocou as maiores divisões no cristianismo,64 65 a Igreja Católica Romana convocou o Concílio de Trento (1545-1563),66 que resultou no início daContrarreforma ou Reforma Católica,67 na qual os Jesuítas tiveram um papel importante.68 A Inquisição e a censura exercida pela Igreja Romana foram igualmente determinantes para evitar que as ideias reformadoras

Page 10: Reforma Protestante e Contrareforma

encontrassem divulgação emPortugal, Espanha ou Itália, países católicos.69 As igrejas protestantes por sua vez, ao mesmo tempo em que propagavam a bíblia e suas idéias graças a invenção da máquina tipográfica de Johannes Gutenberg,10 também tornaram proibidos uma série de livros católicos e outros que contrariavam suas doutrinas.70 Edward Macnall Burns observou que "do câncer maligno da intolerância", "não escaparam católicos nem protestantes".71

O biógrafo de João Calvino, o francês Bernard Cottret, escreveu: "Com o Concílio de Trento (1545-1563)… trata-se da racionalização e reforma da vida do clero. A Reforma Protestante é para ser entendida num sentido mais extenso: ela denomina a exortação ao regresso aos valores cristãos de cada "indivíduo"". Segundo Bernard Cottret, "A reforma cristã, em toda a sua diversidade, aparece centrada na teologia da salvação. A salvação, no Cristianismo, é forçosamente algo de individual, diz mais respeito ao indivíduo do que à comunidade",72 diferente da pregação romana que defende a salvação na igreja.73

Seguiram-se uma série de importantes acontecimentos e conflitos entre as duas religiões, como o Massacre da noite de São Bartolomeu, ocorrido como parte das Guerras Francesas, organizada pela casa real francesa contra os calvinistas franceses (huguenotes), em 24 de Agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas. Números precisos para as vítimas nunca foram compilados,74 e até mesmo nos escritos dos historiadores modernos há uma escala considerável de diferença,75 que têm variado de 2.000 vítimas, até a afirmação de 70.000, pelo contemporâneo e apologista huguenote duque de Sully, que escapou por pouco da morte.76 77

Nos países protestantes por sua vez, foi feita a expulsão e o massacre de sacerdotes católicos,78 bem como a matança em massa de aproximadamente 30.000 anabatistas, desde o seu surgimento em 1535, até os próximos dez anos.7 Na Inglaterra por sua vez, católicos foram executados em massa, tribunais religiosos foram instaurados e muitos foram obrigados à assistir cultos protestantes,79 forçando assim sua conversão ao protestantismo mediante o terror.79

Protestantismo[editar | editar código-fonte]Ver artigo principal: Protestantismo

Um dos pontos de destaque da reforma é o fato de ela ter possibilitado um maior acesso à Bíblia, graças às traduções feitas por vários reformadores (entre eles o próprio Lutero) a partir do latim para as línguas nacionais.80 Tal liberdade fez com que fossem criados diversos grupos independentes, conhecidos comodenominações. Nas primeiras décadas após a Reforma Protestante, surgiram diversos grupos, destacando o Luteranismo, que foi o grupo originador do movimento de Reforma da Igreja Católica e as Igrejas Reformadas ou calvinistas (Presbiterianismo e Congregacionalismo). Nos séculos seguintes, surgiram outras denominações com destaque para os Batistas e os Metodistas.

A seguir, uma tabela ilustrando o surgimento das diferentes correntes ou ramos do Protestantismo através dos séculos.

Page 11: Reforma Protestante e Contrareforma

Ramos do Protestantismo.

ContrarreformaOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A Vulgata, tradução da Bíblia para o latim por São Jerônimo, foi adotada como texto oficial da Igreja

Católica pelo Concílio de Trento em 1546.

Contrarreforma, também conhecida por Reforma Católica é o nome dado ao movimento que surgiu no seio da Igreja Católica e que, segundo alguns autores, teria sido uma

Page 12: Reforma Protestante e Contrareforma

resposta à Reforma Protestante iniciada com Lutero, a partir de 1517.1 Em 1545, a Igreja Católica Romana convocou o Concílio de Trento estabelecendo entre outras medidas, a retomada do Tribunal do Santo Ofício (inquisição), a criação do Index Librorum Prohibitorum, com uma relação de livros proibidos pela Igreja e o incentivo à catequese dos povos do Novo Mundo, com a criação de novas ordens religiosas, dentre elas aCompanhia de Jesus 2  . Outras medidas incluíram a reafirmação da autoridade papal, a manutenção do celibato eclesiástico, a reforma das ordens religiosas, a edição do catecismo tridentino, reformas e instituições de seminários e universidades, a supressão de abusos envolvendo indulgências 3  e a adoção da Vulgata como tradução oficial da Bíblia.

Índice

  [esconder] 

1 A Reforma

2 Contexto

3 Primórdios da Reforma católica

o 3.1 As Ordens e Congregações Religiosas no século XVI

o 3.2 As ordens e congregações italianas

4 Apogeu da Reforma Católica

o 4.1 Consilium de emendanda Ecclesia

5 O Concílio de Trento

o 5.1 Primeira etapa

o 5.2 Segunda etapa

o 5.3 Terceira etapa

6 O Pós-concílio

7 Pontífices reformadores

o 7.1 São Pio V

o 7.2 Gregório XIII

o 7.3 Sisto V

o 7.4 Paulo V

o 7.5 Gregório XV

8 Estudos teológicos do período reformista

o 8.1 Exegese

o 8.2 Dogmática

o 8.3 Teologia Moral

o 8.4 Mística

o 8.5 História Eclesiástica

o 8.6 Direito Canônico

o 8.7 Oratória Sacra

9 Arte Cristã e vida religiosa

Page 13: Reforma Protestante e Contrareforma

10 Referências

11 Bibliografia

12 Ver também

13 Ligações externas

A Reforma[editar | editar código-fonte]

De acordo com Edward McNall Burns a Renascença foi acompanhada de um outro movimento - A Reforma: "Este movimento compreendeu duas fases principais: a "Revolução Protestante", que irrompeu em 1517 e levou a maior parte da Europa setentrional a separar-se da igreja romana, e a "Reforma Católica", que alcançou o auge em 1560. Embora a última não seja qualificada de revolução, na verdade o foi em quase todos os sentidos do termo, pois pareceu que efetuou uma alteração profunda em alguns dos característicos mais notáveis do catolicismo da Idade Média."4 Acontecimentos reformistas foram o Quinto Concílio de Latrão, os sermões reformistas de John Colet, a publicação do Consilium de Emendanda Ecclesia de Gasparo Contarini e a fundação do Oratório do Amor Divino.

Filipe Néri contribuiu para a renovação da vida cristã através da sua obra de direção espiritual

Para McNall Burns, professor de História da Rutgers University, a Contrarreforma não seria propriamente um movimento da Igreja Católica de reação à contestação iniciada por Martinho Lutero 5  . Segundo Burns, a Revolução Protestante foi apenas uma das fases do grande movimento denominado como "Reforma", a outra fase foi a "Reforma Católica". Para Burns, estudos recentes mostram que os primórdios do movimento reformista católico foram em tudo independentes da Revolução Protestante" 5 .

Daniel-Rops, da Academia Francesa, nega a existência de relações de causa e efeito entre a reforma católica e a reforma protestante: "Nem na ordem cronológica nem na ordem lógica temos o direito de falar de "contrarreforma" para caracterizar esse salto gigantesco, esse admirável esforço de rejuvenescimento e ao mesmo tempo de reorganização que, em cerca de trinta anos, deu à Igreja um rosto novo"..."Se, cronologicamente, a Reforma Católica não é uma "contrarreforma", também não é no processo do seu desenvolvimento." 6 Daniel-Rops afirma que "o capitão Iñigo, ferido em Pamplona, não escreveu nenhum tratado sobre a estratégia anti-herética, mas os "Exercícios Espirituais"; e nem foi o ódio contra a tese luterana, mas o amor de Deus, que iluminou o rosto doSão Caetano diante do presépio em Santa Maria Maggiore na noite de Natal 1517.7

G. Battelli no Dizionario di Storiografia online, afirma que a maioria dos historiógrafos católicos e protestantes, hoje distinguem claramente a "Reforma católica" da

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"Contrarreforma", o primeiro deles, no final do século XIX, foi o protestante Maurenbrecher.8

Contexto[editar | editar código-fonte]

Em decorrência da Reforma Protestante, o mundo cristianizado ocidental, até então hegemonicamente católico, viu-se dividido entre cristãos católicos e cristãos protestantes, estes não mais alinhados com as diretrizes da Santa Sé 9  . Em 1517 o Papa Leão X ofereceu indulgências para aqueles que dessem esmolas para reconstruir a Basílica de São Pedro em Roma.10 Abusos na sua concessão na Saxônia, principalmente envolvendo a propaganda agressiva de Johann Tetzel, teria provocado Martinho Lutero a escrever suas 95 Teses (Tetzel seria inclusive punido por Leão X por seus sermões, que ia muito além ensinamentos reais sobre as indulgências).

O Cardeal Cisneros foi precursor da Reforma católica na Espanha

Embora Lutero não negasse o direito do Papa ou da Igreja de conceder perdões e penitências,11 ele não acreditava que dar esmolas seria uma boa ação, mas um ato semelhante à compra das indulgências e o perdão das penas temporais.12

Posteriormente as críticas de Lutero se direcionaram para um campo teológico mais amplo, tais como os sacramentos, liturgia, pecado original e outros temas. Em 1519 Lutero foi acusado de heresias, pelo que tinha publicado, e as autoridades eclesiásticas exigiram que ele se retratasse. Em 1520 o Papa condenou alguns dos principais pontos da nova doutrina por meio da bula Exsurge Domine e exigiu que Lutero se retratasse em um prazo de 70 dias a partir da sua publicação, no prazo final foi o dia em que Lutero queimou a sua cópia da bula juntamente com o Código de Direito Canônico. Todas as regiões que estavam insatisfeitas com a tradição católica no Ocidente passaram a ser designadas de igrejas protestantes, pois na Dieta de Worms os príncipes alemães protestaram para que o ImperadorCarlos V, do Sacro Império Romano-Germânico, permitisse que eles professassem as suas fés.

O movimento luterano recebeu grande apoio especialmente de príncipes e da pequena nobreza, que expropriaram as terras e as demais riquezas da Igreja Católica.13 14 15 16

Primórdios da Reforma católica[editar | editar código-fonte]

Segundo Daniel-Rops, "Já na segunda metade do século XV, tudo o que havia de mais representativo entre os católicos, todos os que tinham verdadeiramente consciência da situação, reclamavam a reforma, por vezes num tom de violência feroz, e mais frequentemente como um ato de fé nos destinos eternos da 'Ecclesia Mater'.".6

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Teresa de Ávila, reformadora das Carmelitas

Na Alemanha destacava-se Nicolau de Cusa, mas a Espanha foi que sobressaiu-se como vanguarda da Reforma Católica em fins doséculo XV. Os reis católicos consideraram a reforma eclesiástica como uma parte essencial da restauração do Estado, o que norteou a sua política. O Cardeal Cisneros, com a aprovação da monarquia, reformou os franciscanos com São Pedro de Alcântarae a vida monástica, em especial a dos beneditinos naquele país.17

A Universidade de Alcalá, fundada pelo Cardeal Francisco de Cisneros, foi um grande centro de estudos teológicos e humanísticos e fez publicar a célebre Bíblia Poliglota Complutense, em seis volumes em 1517 editada em hebraico, latim e grego. A Igreja espanhola, nas primeiras décadas do século XVI era, sem dúvida, a de maior nível espiritual e científico do continente.17 A obra de renovação espiritual do clero e do povo levada a efeito por São João de Ávila constitui um capítulo à parte na história religiosa do século XVI. Santa Teresa de Ávila reformou a Ordem do Carmelo 18 e São João da Cruz estendeu a reforma aos frades Carmelitas.

Primeira página da Bíblia Poliglota Complutense do Cardeal Cisneros, Sec.XVI

Foram reformadas nessa época antigas ordens religiosas como a dos Beneditinos por Didier de la Cour e a Congregação de São Mauro na França; os Cistercienses por João Batista de la Barrière Abade de Notre-Dame de Feuillans; os Trapistas, por Rancé, Abade de Trappe; os Agostinianos foram reformados por Pedro Fourier; os Premonstratenses, por Lacruels (Lairvelz).19

As Ordens e Congregações Religiosas no século XVI[editar | editar código-fonte]

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Além do Concílio de Trento, o segundo fator da verdadeira Reforma Católica, foram as Ordens e Congregações religiosas. O período quinhentista viu surgir uma florescência de congregações religiosas que muito cooperaram para o sucesso da Reforma.19

A mais importante fundação religiosa, no entanto, neste século foi a da Companhia de Jesus por Santo Inácio de Loyola; os seus membros não viveriam uma vida monástica e não rezariam as "Horas" juntos no Coro (algo que escandalizou alguns membros daCúria Romana). Aos três votos clássicos de pobreza, castidade e obediência acrescentariam o de estar sempre à disposição do Papa. A ordem foi aprovada pelo Papa Paulo III em 25 de setembro de 1540 pela Bula Regimini Militantis Ecclesiae.20 Quando o seu fundador morreu esta ordem contava com mais de mil membros e meio século depois com 13 000. Os jesuítas prestaram o mais relevante serviço ao Pontificado no trabalho da Reforma Católica com as suas missões, a formação do clero, os Exercícios Espirituais e a educação da juventude, na propagação da fé católica e no ensino da sua doutrina.21

Francisco Xavier, jesuíta, em poucos anos esteve na Índia, Malaia e Japão e converteu dezenas de milhares de pagãos, à sua passagem surgiam novas comunidades cristãs. Segundo Burns, deveu-se em grande parte ao trabalho da Companhia de Jesus "o fato de a Igreja Católica ter recuperado muito de sua força a despeito da secessão protestante." 22 A Igreja nos séculos XVI e XVIII muito ficou a dever à Companhia de Jesus, especialmente na Renânia, Vestefália, Baviera eÁustria. Os jesuítas ali alcançaram grande prestígio nas universidades, a mais famosa delas a Universidade de Ingolstadt, dirigiram diversas outras e escolas superiores, cuja frequência diminuiu durante a Guerra dos Trinta Anos.23

Ver artigo principal: Companhia de Jesus

Ver artigo principal: Missões jesuíticas na América

A Companhia de Jesusfundada por Inácio de Loyola foi de grande importância na obra da Reforma

Católica

As ordens e congregações italianas[editar | editar código-fonte]

Também na Itália davam-se inquietações por uma renovação cristã, desde o início do século XVI, um grupo de clérigos fervorosos vinha trabalhando para tornar os sacerdotes da sua igreja mais dignos da missão que lhes cabia." 24 Ali surgiram a Ordem dos Teatinos (1524), austeros e ascéticos, fundados pelos Cardeais Caetano de Thiene e Carafa, dentre os desta ordem se destacaria também Santo André Avelino que pelo seu zelo receberia encargos reformardores, dentre eles o de reformar os costumes do mosteiro feminino de Sant'Arcangelo a Baiano.25

Também são desta época a Ordem dos Barnabitas (do claustro de São Barnabé (1534), fundada por Antônio Maria Zaccaria, auxiliado por Bartolomeu Ferreira e Morigia com o

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escopo de educar a juventude e pregar missões; os Somascos (a primeira casa foi em Somasca), fundados por S. Jerônimo Emiliano, fidalgo veneziano, com alguns padres lombardos, com a finalidade de cuidar dos órfãos, dos pobres e doentes; os Oratorianos, de São Filipe Néri e do Cardeal Bérulle; os Oblatos de Santo Ambrósio idealizados porCarlos Borromeu 26  para atender à cura d'almas e auxiliar o Arcebispo de Milão; os Capuchinhos como um novo tronco dosFranciscanos, alcançando grande popularidade pela austeridade de vida, dedicação ao ensino, aos pobres e doentes, as Ursulinasde Angela Merici, em Bréscia e a Congregação de Nossa Senhora, para formar educadoras de moças, segundo as normas de Pedro Fourier, dentre outras organizações religiosas, foram manifestação da renovação da vida espiritual e do ânimo reformista na Igreja Católica neste período.27

Apogeu da Reforma Católica[editar | editar código-fonte]

O apogeu da Reforma católica, no entanto, se deu com os papas reformistas. O primeiro deles foi Adriano VI, que procurou moralizar os costumes da Cúria Romanae combater os desperdícios. Convocou a Dieta de Nuremberga na qual o seu legado reconheceu as culpas da Igreja e procurou estabelecer a união de França e Espanha.28 Sucedeu-lhe o Papa Clemente VII com um governo de onze anos, inábil politicamente, aliou-se a Francisco I que foi derrotado por Carlos V e por isto teve de suportar o Saque de Roma pelos Lansquenetes.

O Cardeal e mártir John Fisher, por Hans Holbein, o Jovem

Os papas Paulo III, Paulo IV, Pio V e Sixto V cobriram um período que vai de 1534 a 1590, foram os mais zelosos reformistas que presidiram a Santa Sé desde Gregório VII 29 As finanças da Igreja foram reorganizadas e os cargos foram ocupados por padres e religiosos de reconhecida fama de disciplina e austeridade e foram rigorosos com os clérigos que persistiam no vício e no ócio. A ação dos papas reformistas foi completada com a convocação do Concílio ecuménico que se reuniu na cidade de Trento. Foi sob a ação destes papas que a Reforma Católica alcançou o seu auge.30

Quando da sua eleição, o Papa Paulo III (Cardeal Alexandre Farnese) tinha 66 anos e parecia fraco e doente, mas pôs mãos à obra com grande energia. Era um reconhecido diplomata e estadista e decidiu convocar um Concílio. Começou a reforma da Igreja a partir da própria Cúria.28 Reformou o Colégio Cardinalício nomeando homens como John Fisher, Giacomo Simonetta, Gasparo Contarini,Reginaldo Pole, João Pedro Carafa, Fregoso, Tomás Badia, Gregório Cortese e Giovanni Gerolamo Morone. John Fisher, comoThomas Morus, morreria mártir pelas mãos de Henrique VIII, outros viriam a ser canonizados como John Houghton, mártir também. Após reformar o colégio de cardeais, Paulo III empreendeu a reforma do clero e das ordens religiosas, especialmente os agostinhos, osdominicanos e os franciscanos.31 .

Consilium de emendanda Ecclesia[editar | editar código-fonte]

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Paulo III nomeou uma comissão preparatória dos trabalhos do concílio composta de nove membros. Dentre eles contavam João Mateus Gilberti, bispo de Veronaque já havia reformado a sua própria diocese, e o beneditino Gregório Cortese, reformador da sua abadia em Veneza. Estes foram auxiliados por Jacopo Sadoleto, bispo de Carpentras, pelo teatino João Pedro Carafa, futuro Paulo IV, bem como por Reginaldo Pole, na época ainda leigo, ajudaram os primeiros a redigir o célebre Concilium de emendanda Ecclesia, no qual ficaram listadas as reformas mais urgentes e importantes que se deviam fazer. Participaram também deste trabalho Frederico Fregoso, bispo de Gubbio, Jerônimo Aleandro, bispo de Bríndisi e o dominicano Tomás Badia, então mestre do Sacro Palácio.32

Dentre as reformas mais urgentes que constaram do documento estavam: Breviário, cura de almas, digna promoção às ordens sacras, vigilância sobre escolas e livros, reforma dos religiosos, especiais provimentos sobre o culto divino e a tutela da moralidade em Roma.32

O Concílio de Trento[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Concílio de Trento

Primeira etapa[editar | editar código-fonte]

Carlos de Habsburgo, V Imperador do Sacro Império Romano-Germânico e I da Espanha, interferiu nos

trabalhos do Concílio.

O acontecimento central da Reforma Católica foi a convocação do Concílio de Trento. O imperador Carlos V desejava a reunião do Concílio na esperança de que ele trouxesse de volta a unidade religiosa do seu Império. Entretanto, outro grande monarca católico,Francisco I, da França em guerra quase permanente com o imperador temia que o concílio viesse fortalecer o seu adversário e não via com bons olhos a sua convocação. Chegou-se a uma solução de compromisso e escolheu-se Trento, no norte da Itália, para a sede do concílio.33 Por fim o Papa Paulo III reuniu os representantes máximos da Igreja no Concílio de Trento. A inauguração se deu em 19 de novembro de 1545. Paulo III nomeou presidentes do concílio os cardeais Reginaldo Pole, João Maria del Monte eMarcelo Cervini, futuro Marcelo II. Na sessão de abertura estavam presentes os legados pontifícios, 4 arcebispos, 22 bispos, e gerais de Ordens religiosas. Excluiu-se o voto por nação e estabeleceu-se o voto pessoal, concedido também aos abades e superiores gerais dos religiosos. Os protestantes reunidos em Worms nesse mesmo ano de 1545 decidiram por não se apresentar ao concílio sob a alegação que este deixava de ser livre por ser apadrinhado pelo Papa, o que impossibilitou-lhes desde logo uma conciliação com a Igreja.34

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Na IV sessão, declarou-se a autenticidade da Vulgata Latina e se reconheceu como fonte da verdade revelada a Tradição Apostólica. Determinou-se também o modo de imprimir a Bíblia e de a interpretar. Na V sessão, tratou-se do pecado original: sua existência, a perda da graça santificante, sua comunicação e consequência para toda a humanidade e a libertação dele pelobatismo, apesar de permanecer a concupiscência.34 Na VI sessão, esclareceu-se a doutrina da justificação, foram examinadas com cuidado a essência, as causas, os efeitos da justificação e o que foram considerados os erros opostos, e se firmou com exatidão adoutrina católica.34

A doutrina dos sacramentos em geral e em especial o do batismo e a confirmação foi tratada na VII sessão34 , a VIII sessão estava marcada para 21 de abril de 1547, mas em 11 de março de 1547 os legados papais, alegando uma epidemia, decidiram a mudança do concílio para Bolonha - no fundo queriam subtrair a assembleia da influência de Carlos V que em janeiro de 1548 apresentou um protesto solene o que provocou a interrupção dos trabalhos em setembro de 1549 - ali se realizaram duas sessões sem proclamações solenes.35

S. Carlos Borromeu destacou-se como zeloso reformador católico

Segunda etapa[editar | editar código-fonte]

Os trabalhos do concílio foram retomados no dia 1 de maio de 1551, agora sob o pontificado do Papa Júlio III sucessor de Paulo III, falecido em 1549. Cuidando de ter relações amigáveis com Carlos V e com o rei da França o novo Papa conseguiu reabrir o concílio e retomá-lo do ponto em que havia sido suspenso. Nestas fase, na XIII sessão, promulgaran-se os decretos sobre a Sagrada Eucaristia, o sacramento da Penitência e a Extrema Unção (XIV sessão, em novembro de 1551) e tomaram-se medidas para a reforma do clero.36

Nova suspensão do concílio.

Carlos V conseguiu que alguns príncipes e representantes de cidades protestantes comparecessem a Trento. A presença dos reformados pôs de manifesto a grande dificuldade da restauração da unidade cristã, passados mais de trinta anos de cisão religiosa. Não obstante isto a traição ao imperador por parte do eleitor Maurício, da Saxônia, que marchou com as suas tropas sobre Trento, obrigou a nova suspensão do concílio em 28 de abril de 1552 - Maurício pretendia um concílio independente do Papa.36 Desta vez a interrupção durou dez anos, dentre os quais se contam todos os anos do pontificado do Papa Paulo IV- (1555 - 1559) que foi um zeloso reformador mas por vias não conciliares.37

A Júlio III sucedera o Papa Marcelo II com um breve pontificado de 22 dias, e a este seguiu-se o Papa Paulo IV, o napolitano Cardeal Gian Pietro Carafa, co-fundador dos teatinos, homem enérgico,28 severo e austero, tinha 79 anos. Aliou-se politicamente com Henrique II de França contra Filipe II da Espanha o que lhe trouxe problemas políticos graves. As suas inimizades com a Casa de Áustria provocaram uma investida do Duque

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de Alba contra a Itália.36 Qualificou de heresia o pecado de simonia e monges e frades que haviam assumidos cargos e funções eclesiásticas foram obrigados a regressar às suas ordens e mosteiros. Acabou-se com a mentalidade mundana dos eclesiásticos.38

Terceira etapa[editar | editar código-fonte]

Pio IV (1559 - 1565), tio de São Carlos Borromeu, sucedeu a Paulo IV, condenou a simonia e a venda das indulgências, e adiantou a reforma da Igreja,28 membro da família dos Médicis, procurou agir de forma mais diplomática, os soberanos católicos reconciliaram-se, e o concílio pode reiniciar os trabalhos. Enviou os Cardeais Ercole Gonzaga, o bispo Ósio e mais três para retomar os trabalhos, o que se fez em janeiro de 1562.39 Um decreto da XVIII sessão visava a censura dos livros e uma exortação conclamava os protestantes à reconciliação. Na XXI sessão tratou-se da comunhão sob ambas as espécies, declarando-a não ser de direito divino senão para o celebrante da missa e na sessão seguinte deixou-se este tema ao alvitre do Papa.39

O Papa Pio IV, concluiu o concílio de Trento

A presença do Cardeal de Lorena (Carlos de Guise) e dos bispos franceses acentuou as divergências com os espanhóis ao mesmo tempo que o embaixador imperial fazia sucessivas intervenções em nome de Fernando I. Em março de 1563 faleceu o presidente do concílio Cardeal Gonzaga, foi substituído pelo Cardeal Giovanni Morone que logo se entendeu pessoalmente comFernando I de Habsburgo o que permitiu a continuidade dos trabalhos. A XXIII sessão dedicou-se ao sacerdócio cristão e aoSacramento da Ordem. A XXIV sessão promulgou o Decretum de reformatione Matrimonii e ainda cânones disciplinares sobre o clero em geral, concílios provinciais, sínodos diocesanos, visitas pastorais e pregações.39

Na XXV e última sessão se publicaram as definições dogmáticas sobre o purgatório, a legitimidade da invocação dos santos, das honras às relíquias, do Culto às imagens, e cânones disciplinares sobre as ordens religiosas e reformas.39 O Concílio deixou ao encargo do Papa a publicação do Catecismo, do missal e do breviário. Esta fase durou dois anos e serviu para concluir com feliz termo o grande empreendimento reformador da Igreja. No dia 4 de dezembro de 1563 foi encerrado o concílio de Trento. Contra o parecer de alguns cardeais e a pedido de São Carlos Borromeu o Papa Pio IV confirmou todos os seus decretos através da Bula pontifícia Benedictus Deus, no dia 26 de janeiro de 1564 e os fez publicar.39

Não foi possível que Trento fosse um concílio unionista; entretanto foi grande o concílio da Reforma católica. No campo doutrinal declarou que a Revelação divina se transmitiu pela Sagrada Escritura - interpretada pelo Magistério da Igreja - e pela Tradição Apostólica. 40 Abordou ainda o tema chave da "justificação" e, contra as teologias luterana e calvinista, ensinou e declarou que a graça divina e a cooperação livre e meritória da vontade humana operam em conjunto a justificação do homem. 41 A doutrina sobre o Pecado Original, o Batismo, a Confirmação e os restantes Sacramentos e as notas

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próprias de cada um deles ficou definida em decretos dogmáticos e reafirmou-se que as "boas obras" são tão necessárias para a salvação quanto a "fé".42

Index Librorum Prohibitorum - Livro com a "Lista dos Livros Proibidos".

O Concílio confirmou também, como elementos essenciais da religião católica, como verdades absolutas (dogmas) a transubstanciação, a sucessão apostólica, a crença no purgatório, a comunhão dos santos e reafirmou o primado e a autoridade do Papa como sucessor de São Pedro.43 Ficou estabelecido que a Vulgata Latina, a tradução latina da Bíblia feita por São Jerônimo, seria a oficial da Igreja.44

No campo disciplinar procurou-se com empenho por fim nos abusos existentes no clero, confirmou o celibato clerical e religioso, melhorou-se substancialmente a sua formação intelectual e cultural. Um episcopado plenamente dedicado ao serviço das almas, um clero bem formado e de elevada moralidade, foram metas da legislação do concílio.45

A formação do clero se faria nos seminários - que deveria existir em cada diocese - tanto cultural como espiritual e obrigou-se aos párocos a ensinar a catequese às crianças e a dar doutrina e instrução religiosa aos fiéis. Foi criado o "Index Librorum Prohibitorum" ( Índice de Livros Proibidos ) para evitar a propagação de ideias contrárias à fé da Igreja Católica. Segundo o historiador Eward Macnall Burns A maioria dos livros condenados é composta de tratados teológicos e não parece ter sido grande o efeito no sentido de retardar o progresso do conhecimento. Nem por isso a instituição do Índex deixou de ser um sintoma do câncer maligno da intolerância, a que não escaparam católicos nem protestantes. 46

O Pós-concílio[editar | editar código-fonte]

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O texto da bula Quo Primum Tempore de Pio V, que reformou a liturgia da Igreja, em um Missal Romano,

o decreto era publicado nos Missais até 1969.

O período que se seguiu ao Concílio de Trento foi marcado por uma grande renovação da vida católica. A Igreja recobrou novo vigor. A reforma fundada nos decretos e nas constituições tridentinas foi levada a efeito pelos papas que se sucederam. Publicou-se um Catecismo Romano, bem como por meio da bula Quo Primum tempore, um Missal e um Breviário, por ordem deSão Pio V (1566 - 1572), com o auxílio de Frei Bartolomeu dos Mártires e de Frei Luís de Granada.47 48 S. Pio V deu completa execução aos decretos do Concílio e continuou o saneamento dos costumes da Igreja e fomentou a criação de seminários para dotar os padres de uma cultura mais ampla.

A revisão da Vulgata Latina exigiu muitos estudos e grandes esforços e só foi aprovada no pontificado de Clemente VIII.47 O espírito tridentino deu oportunidade ao surgimento de bispos exemplares como São Carlos Borromeu, zeloso reformador daCúria Romana romana enquanto Secretário de Estado e que, mais tarde, estendeu a reforma ao norte da Itália como arcebispo de Milão. São Filipe de Néri contribuiu para a renovação do espírito cristão fundando a Congregação do Oratório, dedicando-se à educação cristã da juventude e do povo e a obras de caridade. São José de Calassanz fundou as Escolas Pias e desenvolveu abnegada atividade de formação da juventude entre as classes populares e São Francisco de Sales difundiu a piedade pessoal - a vida devota - entre os leigos que viviam no meio do mundo.49

S. Pedro de Alcântara levou a Reforma Católica a Portugal e muito a auxiliou São Tomás de Vilanova. Na Alemanha as reformas decretadas pelo concílo não tiveram o beneplácito do imperador Fernando I, mas seu sucessor Maximiliano II da Germânia foi dando publicação aos poucos em todo o império, ali se distinguiram na aplicação das leis eclesiásticas Daniel Breidel, Jacob d'Elz, Ernesto da Baviera e Teodósio de Fürstenberg, dentre outros. Filipe II de Espanha as publicou com reserva da cláusula salvo os direitos da coroa. A França aceitou com reservas as determinações do concílio apesar dos esforços dos bispos franceses.47

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Francisco Xavier levou o evangelho ao Japão e à China

Pela ação de missionários como São Francisco de Sales e de pregadores como São Pedro Canísio obteve-se a reconquista religiosa de uma porção importante dos povos do centro europeu, e ainda da Suiça, da Áustria, na Baviera, na Polônia, na Boécia e na Ucrânia. Portugal e Espanha levaram a fé católica para além-mar. Francisco Xavier e Matteo Ricci levaram o catolicismo ao Japãoe à China. A obra da promoção cultural avançou paralelamente com a evangelizadora, enquanto se reunia o concílio já haviam sido fundadas nas Américas tres universidades: a de São Domingos em 1538, as de Lima em 1551 e a do México em 1553.50

Também são fruto e consequëncia da Reforma Católica levada a efeito pelo concílio a renovação da arte sacra cristã, com o surgimento do Barroco que é o estilo artístico da Reforma católica, arquitetura, escultura, pintura e a literatura foram impregnados pelo catolicismo barroco.17

A cisão cristã definitiva, entretanto, entre católicos e protestantes se deu com o final da Guerra dos Trinta Anos e com a Paz de Vestfália (1648), com ela o avanço da reconquista católica na Alemanha ficou bloqueado, ali estabeleceu-se o princípio cuius regio eius religio, cada um siga a religião de seu príncipe, o que consagrou a fragmentação religiosa germânica num povo dividido em mais de trezentos principados e cidades.17

Pontífices reformadores[editar | editar código-fonte]

O Papa Paulo III (1534 - 1549) foi o organizador do Concílio de Trento e Júlio III (1550 - 1555) deu-lhe continuidade, Paulo IV (1555 - 1559) prosseguiu nas reformas da Igreja independente do Concílio e Pio IV (1560 - 1565) levou a bom termo a última fase do Concílio e teve a oportunidade de aprovar os seus decretos e de os por em execução.51

São Pio V[editar | editar código-fonte]

O Pio V (1566 - 1572) sucedeu a Pio IV. Era dominicano, conservou o hábito branco da sua Ordem, e era homem de vida simples, ascética e piedosa. Durante o seu pontificado São Tomás de Aquino foi declarado Doutor da Igreja, combateu o nepotismo e contribuiu para o bem e o prestígio da Igreja com suas qualidades morais 52 "Fez do seu palácio um mosteiro e ele ´próprio foi um modelo de penitência, ascese e oração." Inspirou tudo à sua volta com os seus próprios pontos de vista elevados e uma nova vida e força logo foram vistos em todas as partes da administração papal. Pio V aplicou as leis com uma regularidade inabalável ao rico e ao nobre, bem como para o média e o pobre.

Seu rigor e vigor foram por vezes excessivos, sem dúvida, mas isto não teria parecido muito repreensível naqueles dias. No seu período a estima para com o papado cresceu, os núncios papais e os legados enfrentaram com firmeza os soberanos perante os quais foram enviados, e lutou com dignidade para a correção dos abusos. As reformas foram melhor aceitas pelos subalternos quando os superiores já as haviam abraçado. Mesmo os

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protestantes mencionavam este papa com respeito. Bacon falou deste "excelente Papa Pio V, de quem eu me pergunto que seus sucessores não o tenham declarado santo" ("De uma Guerra Santa", em suas obras, ed. de 1838, I, 523).53

Lepanto

D. João de Áustria, vencedor deLepanto

Em 1570 os turcos haviam conquistado a ilha de Chipre, a última cidadela cristã no Mediterrâneo oriental. Na esteira da dinâmica tridentina, por iniciativa de Pio V organizou-se a "Santa Liga" que levou a cabo uma autêntica Cruzada contra os turcos otomanos na famosa batalha de Lepanto.54 A Santa Liga, formada pela República de Veneza, República de Gênova,Espanha e pelos Estados Pontifícios reuniu poderosa frota, comandada por D. João de Áustria, meio-irmão de Filipe II da Espanha, e que só teria então 23 anos. Às suas ordens estavam os almirantes príncipe Colonna, Andrea Doria, Sebastião Venerrio e o Marquês de Santa Cruz. Em Lepanto a frota turca foi esmagada na maior batalha naval da história em 7 de outubro de 1571. A esquadra cristã era formada por 300 navios e 130 000 homens. Segundo Louis de Wohl: Cheio de alegria pelo triunfo - que lhe tinha sido anunciado por uma visão em pleno dia - o Papa Pio V instituiu a Festa de Nossa Senhora do Santíssimo Rosário, que se continua a celebrar no dia 7 de outubro. 54

Gregório XIII[editar | editar código-fonte]

O Papa Gregório XIII (pontificado 1572-1585), sucedeu a Pio V. Conhecedor de direito civil e eclesiástico, adiantou o projeto de reforma de seus antecessores, reformou o calendário e introduziu o chamado Calendário Gregoriano 55  utilizado hoje na maior parte do mundo e incentivou e protegeu as ordens religiosas e os estudos eclesiásticos.52 Fundou diversos estabelecimentos de ensino, o Colégio Romano, idealizado por Inácio de Loiola, tanto desenvolveu-se com a proteção pontifícia que se transformou na Universidade Gregoriana, no seu pontificado foi publicada a terceira edição do Martirológio Romano.52 56

Sisto V[editar | editar código-fonte]

O Papa Sisto V (pontificado 1585-1590), talentoso, firme na doutrina e ativo, deu continuidade à Reforma Católica, reorganizou a Cúria, pôs fim ao banditismo nosEstados Pontifícios, sendo grande mecenas e bom economista.52 Fez construir um hospital e transportou para a praça de São Pedro um obelisco egípcio, construiu vários edifícios entre os quais o da Biblioteca Vaticana e concluiu a obra do Palácio do Quirinal.52 56

Paulo V[editar | editar código-fonte]

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O Papa Paulo V (pontificado 1605-1621) conseguiu reunir os católicos da Alemanha em torno de Fernando II de Habsburgo consolidando o catolicismo na Europa Central, proclamou beatos a Filipe Neri e Inácio de Loiola e canonizou Carlos Borromeu e Francisca Romana.

Gregório XV[editar | editar código-fonte]

O Papa Gregório XV (pontificado 1621-1623) aumentou a Biblioteca Vaticana, criou a benmérita Congregação De Propaganda Fide, uma instituição a serviço dasmissões, e fixou definitivamente a forma de eleição dos papas pelos conclaves, no seu pontificado foi canonizado São Filipe Neri.28 52 56

Estudos teológicos do período reformista[editar | editar código-fonte]

Nos séculos XVI e XVII verificou-se um grande desenvolvimento dos estudos teológicos, em parte proporcionado pela invenção recente da imprensa, pelos estudos humanistas e pela necessidade de instrução do povo, mas sobretudo deram ocasião e assunto a muitas obras os decretos, atos e estudos do Concílio de Trento:57

Exegese[editar | editar código-fonte]

Foi um dos grandes da Reforma Católica que se seguiu ao Concílio de Trento.]] No campo dos estudos e bíblicos e da exegese surgem edições críticas da Bíblia e as Bíblias poliglotas: Em 1572 foi editada a Bíblia Poliglota de Antuérpia, sob a direção de Arias Montanus, custeada por Filipe II da Espanha. A Bíblia Poliglota deLondres e a Bíblia Poliglota de Paris o foram no século seguinte.

São Roberto Belarmino, cardeal, teólogo e Doutor da Igreja.

Nos trabalhos de exegese bíblica desta época sobressaem as obras dos jesuitas João Maldonado, Afonso Salmerón, Francisco de Toledo Herrera e Cornélio a Lápide. Também do bispo napolitano Angellius; a de Guilherme Estius (d'Este), do oratorianoRicardo Simon e do beneditino Agostinho Calmet.57

Dogmática[editar | editar código-fonte]

Nos estudos dogmáticos destacou-se o dominicano espanhol Melchior Cano com a sua obra "De locis theologicis"58 As obras teológicas deste período podem ser agrupadas em57 :

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1. Teologia Positiva, tendo como principais autores os jesuíta Petávio com a sua

obra "De dogmatibus theologicis" e o oratoriano Luís Thomassin , que concluiu

a obra de Petávio e ainda Tournely dentre outros.

2. Teologia Especulativa, cultivada principalmente na Itália e na Espanha,

notadamente pelo dominicano Domingos Bañez, pelo jesuíta Gabriel Vásquez,

cognominado o "Agostinho espanhol", por Francisco Suárez (doutor

exímio), Ruyz de Montoya e osSalmanticenses.

3. Teologia Apologética, que tinha por finalidade favorecer e promover a

aproximação entre católicos e protestantes, ilustrando os conhecimentos

teológicos. Estas obras tinham características populares, em parte didáticas e

mesmo eruditas. Trabalharam nesta área Pedro Canísio, Bartolomeu

Carranza, João Maier, Johann Faber de Heilbronn e Michael Helding, deste

tempo também ficaram célebres pelas suas obras os cardeais Hosius e Du

Perron. O Cardeal Belarmino S.J. foi o mais célebre pelas suas obras contra

as heresias da época, que demonstrou conhecer muito bem, o que lhe

granjeou não poucos inimigos dentre os hereges57 . Também teve de suportar

a sanha dos Bourbons, porque discorreu em seus escritos, de modo claro,

sobre a reta doutrina sobre os direitos e deveres nas relações entre a Igreja e

o Estado. JáBossuet escreveu sobre "Histoire des variations des églises

protestantes" em que faz a crítica das posições dos protestantes.57

Teologia Moral[editar | editar código-fonte]

No campo da Teologia Moral surgiram, nesta época, muitos tratados sistemáticos, destes destacam-se os dos jesuítas Luís de Molina, Francisco Suárez, Leonardo Lessius, asobras dos irmãos de Lugo, João e Francisco e dos dominicanos Domingo de Soto e Bartolomeu de Medina. Entre os casuístas figuram os jesuítasManuel de Sá, Tomás Sánchez, Paulo Laymann e Hermann Busenbaum; os franciscanos Patrício Sporer e Benjamin Elbel e os rigoristas Concina e Giovanni Vincenzo Patuzzi O. P. Sobre todos avulta a figura de Santo Afonso de Ligório, fundador dos Redentoristas, que, admitindo o probabilismo, livra-se de muitas dificuldades em que se encontravam então os teólogos e os moralistas.57

Mística[editar | editar código-fonte]

Na mística destacaram-se os incontáveis tratados de Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz, as obras de Frei Luís de Granada, de São João de Ávila 59  , deBartolomeu Fernandes, de Braga, de São Francisco de Sales e os famosos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, também, dentre outros, escreveram obras ascéticas no mesmo período Luís de Ponte S. J. e Afonso Rodrigues S. J. que escreveu O Tratado de perfeição e virtudes cristãs e o Beato Lourenço Scupoli, teatino, redigiu O Combate Espiritual.57

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Padre Antônio Vieira S. J. célebre escritor e orador sacro do Séc.XVII

História Eclesiástica[editar | editar código-fonte]

No ãmbito da história eclesiástica, arqueologia, crítica e biografias, despontaram, no período da Reforma Católica o CardealCésar Barônio, historiador, os Bolandistas, muito críticos nas Acta Santorum, os Maurinenses ou Mauristas com as suas edições dos Padres da Igreja; Na arqueologia surge Ludovico Antonio Muratori, bibliotecário em Milão e mais tarde emMódena, com o seu catálogo. Estudos especiais se fizeram então nas catacumbas de Roma.60

Direito Canônico[editar | editar código-fonte]

Muitos escritores católicos nos séculos XVI e XVII se ocuparam do direito e do direito canônico. Dentre eles ficaram conhecidos Schmalzgrueber S. J., Anacletus e Thomassin. Ferrari escreveu Prompta Bibliotheca canonica, juridica, moralis, theologica, necnon ascetica, polemica, rubricistica, historica e o dominicano Rocabertí a Biblioteca Maxima Pontificia..60 Francisco de Vitória  O. P. lançou as bases do direito internacional moderno, é conhecido como um dos pais do direito internacional,61 defendeu a doutrina de que todos os homens são igualmente livres e com base na liberdade natural sustentou que todos têm direito à vida, à cultura e à propriedade.62 Frei Bartolomé de las Casas defendeu os indígenas doNovo Mundo sugerindo que fossem "tratados com toda suavidade, de acordo com a doutrina de Cristo". Os seus argumentos "deram forças a todos aqueles que, no seu tempo e nos século seguintes, trabalharam persuadidos de que todas as pessoas do mundo são seres humanos, com as capacidades e as responsabilidades próprias dos homens".63

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Assunção da Virgem Maria, Catedral de Antuérpia, Rubens, séc. XVII

Oratória Sacra[editar | editar código-fonte]

Para além dos pregadores franceses como Bossuet, Bourdaloue e Fénelon é grande o número de oradores sacros, como Paolo Segneri S. J., Padre Antônio Vieira S. J., João Faber, Abraham a Sancta Clara, Leonard Goffiné, este premonstratense, ocapuchinho Martim de Cochem e o oratoriano Jean Lejeune dentre outros.60

Arte Cristã e vida religiosa[editar | editar código-fonte]

O Concílio de Trento traçou precrições apropriadas às celebrações do culto divino, pregações e catequeses. A música também foi objeto de deliberações do concílio. Paulo IV esteve prestes a abolir a música polifônica, não o fez diante do sucesso obtido pela "Missa do Papa Marcelo", a seis vozes, composta por Pierluigi, de Palestrina. A missa polifônica eclesiástica foi aprovada desde que digna do culto divino. Vittoria, Gregório Allegri e Orlando di Lasso sobressaíram na música religiosa.64

A literatura religiosa da época também se destacou com Lope de Vega e Calderón de la Barca, com seus autos sacramentais; na Itália, Torquato Tasso, na Gerusaleme liberata. As poesias latinas dos jesuítas Casimiro Sarbiewski e Tiago Balde em nada deixavam a desejar se comparadas com as dos clássicos. A tragédia Lúcifer, de Joost van den Vondel, convertido, inspirou Miltonno The lost Paradise.64

A arquitetura da época era de estilo gótico ou da renascença (antigo romano, com fachada imponente, arqueada, abóbada e ornamentação) ou o barroco, que era uma espécie de degeneração da renascença com mais riqueza de ornamentos, ou o rococó - mais "degenerado", mais rico em arabescos e ornatos. Na pintura e escultura predominou o realismo de Rubens, Van Dick, Murillo e Guido Reni, entre outros.64 As Festas de Preceito foram reduzidas a trinta e duas e Pio X as reduziu ainda mais. As ladainhas não reconhecidas pela Santa Sé foram proibidas nos ofícios públicos e as festas de São Josée a do Sagrado Coração de Jesus - esta combatida pelos jansenistas, bem como as devoções da Via Sacra e das "Quarenta Horas" receberam aprovação oficial.64A inquisição desapareceu dos outros países, continuando só em Roma e em forma diversa.64