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CÂMARA MUNICIPAL DE CAXIAS DO SUL Protocolado em: OF - 125/2018 10/04/2018 17:34 Caxias do Sul, 10 de Abril de 2018. OF - 125/2018 OFÍCIO nº Ilmo. Sr. Vereador Edson da Rosa MD. Presidente da Comissão Processante Nesta 1. Do recebimento da denúncia No dia 11 de dezembro de 2017, Aládia Fortuna Peccin, Alexandro Pires de Souza, Aline Berenice Gonçalves Ferreira, Aline Fernanda Zilli, Augusto César Alves da Silva, Camila Calegari de Blanco, Eleni Rosa Semeler, Elisabeth Teresa Bernardi Borges, Elisângela da Silva Ribas, Fernando José Ferreira Weber, Flávia Angelina Cislaghi, Helenice Pereira dos Santos Mello, Janio Pereira Nunes, José Otílio Pretto, Luan Moraes da Luz, Luciano Balen, Luís Carlos Ferreira Júnior, Luiz Pizzetti, Marciano Correa da Silva, Marcos Wilson da Silva, Marinês Paternoster, Necimara de Quadros de Brito, Paloma Erthal, Rosemar da Silva Dias, Sérgio Antônio Cemin, Silvana Piccoli, Tatiana Furlan, Tatiana Trindade e Terezinha Tomazia da Silva Scheidt protocolaram, na Câmara Municipal de Caxias do Sul "denúncia para apuração de infrações político-administrativas, com pedido de impeachment, em face do senhor Prefeito Municipal Daniel Antônio Guerra". O pedido fundamenta-se em fatos que podem ser assim resumidos: a) infração nº 1: suposto descumprimento de sentença coletiva em ação civil pública, devido à disponibilização de vagas em estabelecimentos de educação infantil para turnos de apenas 4 (quatro) horas e de impedir famílias já Referente ao documento DOCUMENTO EXTERNO nº 728/2017 A1152.189.2018 "Doe Órgãos, Doe Sangue: Salve Vidas" 10/04/2018 - 18:47:24 55 Página 1 de

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CÂMARA MUNICIPAL DE CAXIAS DO SUL

Protocolado em:

OF - 125/2018 10/04/2018 17:34

Caxias do Sul, 10 de Abril de 2018.

OF - 125/2018OFÍCIO nº

Ilmo. Sr.Vereador Edson da RosaMD. Presidente da Comissão ProcessanteNesta

 1. Do recebimento da denúncia

No dia 11 de dezembro de 2017, Aládia Fortuna Peccin, Alexandro Pires deSouza, Aline Berenice Gonçalves Ferreira, Aline Fernanda Zilli, Augusto CésarAlves da Silva, Camila Calegari de Blanco, Eleni Rosa Semeler, Elisabeth TeresaBernardi Borges, Elisângela da Silva Ribas, Fernando José Ferreira Weber, FláviaAngelina Cislaghi, Helenice Pereira dos Santos Mello, Janio Pereira Nunes, JoséOtílio Pretto, Luan Moraes da Luz, Luciano Balen, Luís Carlos Ferreira Júnior,Luiz Pizzetti, Marciano Correa da Silva, Marcos Wilson da Silva, MarinêsPaternoster, Necimara de Quadros de Brito, Paloma Erthal, Rosemar da Silva Dias,Sérgio Antônio Cemin, Silvana Piccoli, Tatiana Furlan, Tatiana Trindade eTerezinha Tomazia da Silva Scheidt protocolaram, na Câmara Municipal de Caxiasdo Sul "denúncia para apuração de infrações político-administrativas, com pedidode impeachment, em face do senhor Prefeito Municipal Daniel Antônio Guerra".

O pedido fundamenta-se em fatos que podem ser assim resumidos:

a) infração nº 1: suposto descumprimento de sentença coletiva em ação civilpública, devido à disponibilização de vagas em estabelecimentos de educaçãoinfantil para turnos de apenas 4 (quatro) horas e de impedir famílias já

Referente ao documento DOCUMENTO EXTERNO nº 728/2017

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contempladas com vagas de realizar matrículas, além de promover adesestruturação do processo de contratação e remuneração dos educadores infantis,ocasionando greve da categoria.

b) infração nº 2: suposto descumprimento da Lei Municipal nº 6.967, de 30 dejulho de 2009 (Financiarte), contemplando-se apenas 18 projetos de 184cadastrados, com investimento de recursos de menos de 0,3% do total de 1% dareceita de ISSQN e IPTU; e da Lei Municipal n° 8.178, de 19 de dezembro de2016 (Sistema Municipal de Cultura de Caxias do Sul), que estabelece comoprincípio orientador do Governo Municipal a ampliação progressiva de recursosaplicados na cultura, além de ter promovido o emprego irregular de verbas ourendas públicas de recursos financeiros do Sistema Municipal de Cultura em outrasáreas.

c) infração nº 3: suposto descumprimento da Lei Municipal nº 3.871, de 22 desetembro de 1992, e da Lei n° 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade),ao promover, sem a aprovação do Conselho Municipal de Saúde e sem consulta àcomunidade, a terceirização do Posto de Pronto-Atendimento 24 horas e oprograma UBS+, bem como o descumprimento da Lei nº 8.080, de 19 de setembrode 1990, que autoriza a participação complementar de entidades privadas somentequando as disponibilidades do SUS forem comprovadamente insuficientes paragarantir a cobertura assistencial.

d) infração nº 4: suposto descumprimento da Lei Municipal nº 7.896, de 25 denovembro de 2014, que estabelece a composição do Conselho Municipal de Defesado Meio Ambiente, ao não manter a paridade obrigatória na composição doConselho, excluir o representante das Associações de Recicladores de suacomposição e dar posse a representantes de entidades que não fazem parte doconselho.

e) infração nº 5: suposto descumprimento da Lei Municipal nº 8.183, de 21 dedezembro de 2016, que institui o Plano Municipal de Gestão Integrada de ResíduosSólidos (PMGIRS) de Caxias do Sul, em razão do não atendimento das metasdefinidas nos seus eixos temáticos, e perda do prazo para elaboração do PlanoMunicipal de Saneamento Básico, que findaria em 31 de dezembro de 2017,privando o Município de ter acesso a recursos da União destinados ao setor.

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f) infração nº 6: suposta prática de atos impeditivos do regular funcionamentoda Câmara Municipal, prejudicando sua função de fiscalização, bem comodescumprimento da Lei Orgânica do Município (LOM), ao nomear, por meio deDecreto, o Vereador Chico Guerra para representar a Câmara Municipal naComissão Especial de ocupação do prédio da MAESA.

g) infração nº 7: suposta usurpação de atos privativos da Câmara Municipal,determinando ao Chefe de Gabinete que extinguisse o mandato do Vice-Prefeito, eà Procuradoria-Geral do Município para que promovesse ação judicial declaratóriade extinção do mandato do Vice-Prefeito, além da expedição de ordem de serviçodeclarando ilegais e ineficazes todos os atos do Vice-Prefeito, inclusive os atosfuturos.

Ao final, os denunciantes requereram o recebimento da denúncia, oafastamento do denunciado do cargo, a instauração de procedimento investigatórioe a cassação do mandato de Prefeito Municipal de Caxias do Sul.

A denúncia foi incluída na pauta da sessão imediata seguinte ao recebimentopelo Presidente da Câmara Municipal, na forma do disposto no art. 5º, inciso II, doDecreto-Lei nº 201/67, para ser lida e consultado o Plenário sobre seu recebimento.

Conforme os Anais da 127ª Sessão Ordinária da XVII Legislatura, a denúnciafoi recebida por maioria de 18 (dezoito) votos favoráveis e 4 (quatro) votoscontrários, passando-se, imediatamente, ao sorteio da Comissão Processante.

 2. Do sorteio da Comissão Processante

Foram sorteados os vereadores Edson Paulo Theodoro da Rosa, eleitopresidente da Comissão Processante; Edio Elói Frizzo, eleito Relator, e VelocinoUez, tudo na forma do art. 5º inciso II, do Decreto-Lei nº 201/67.

 3. Da notificação do denunciado

Entregue o processo ao Presidente da Comissão Processante, providenciou-sea notificação do denunciado, no dia 15 de dezembro de 2017.A1152.189.2018

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A notificação teve que ser repetida, contudo, por força de decisão liminarproferida no mandado de segurança nº 9008375-49.2017.8.21.0010, distribuído à2ª Vara Cível Especializada em Fazenda Pública da Comarca de Caxias do Sul,ainda não julgado.

A nova notificação foi encaminhada no dia 22 de dezembro de 2017,momento a partir do qual iniciou o prazo para a apresentação de defesa prévia (art.5º, inciso III, do Decreto-Lei nº 201/67).

Por força de decisão liminar proferida no mandado de segurança nº 9000035-82.2018.8.21.0010, também em tramitação na 2ª Vara Cível Especializada emFazenda Pública da Comarca de Caxias do Sul, e ainda não julgado, o prazo para adefesa prévia do denunciado foi postergado para ter início no dia 1º de fevereiro docorrente.

4. Da defesa prévia do denunciado

No dia 9 de fevereiro, a defesa prévia foi protocolada, alegando odenunciado, em apertada síntese, que apenas as infrações político-administrativaseram passíveis de julgamento pela Câmara Municipal, reputando que os tópicos 2,3, 4, 5 e 7 da denúncia não estariam sujeitos ao julgamento político, inexistindo,por outro lado, justa causa para o prosseguimento da denúncia.

Quanto à primeira infração (de acordo com a ordem da denúncia), odenunciado sustentou não ter descumprido sentença coletiva em Ação CivilPública, pois envidou todos os esforços possíveis para o cumprimento das decisõesjudiciais fundamentadas na sentença coletiva. Alegou que, no dia 16 de novembrode 2017, foi feita uma reunião com o Ministério Público para esclarecer as medidasem curso e que a sentença coletiva não determinou que o provimento das vagasfosse para o turno integral, havendo já decisão judicial autorizando a inclusão decrianças em vagas de turno de 4 horas. Sustenta que as decisões liminares, ou jáforam ou estão sendo cumpridas, e em alguns casos foi feito pedido de diligênciaem face de inconsistências ou ausência de informações nas execuções de sentença.

Quanto à segunda infração, sustentou que o atraso no repasse dos recursos doA1152.189.2018

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Financiarte decorreu do sequestro de rendas públicas relacionado ao "casoMagnabosco". Apontou a inconstitucionalidade do art. 4º da Lei Municipal nº6.967/09, pois vincularia receita de impostos ao financiamento de programa deapoio à Cultura, contrariamente ao disposto na Constituição Federal e naConstituição Estadual, já tendo sido deferida liminar na Ação Direta deInconstitucionalidade nº 70076178847, suspendendo os efeitos do mencionadodispositivo legal.

Quanto à terceira infração, alegou não ter havido ilegalidade na sua conduta,pois somente teria dado impulso ao chamamento púbico e à qualificação dasOrganizações Sociais para a terceirização do Posto de Pronto-Atendimento 24hcontando com a aprovação do Conselho Municipal de Saúde. Devido à nãoaprovação do Conselho, determinou a revogação do procedimento licitatório.

Quanto à quarta infração, sustentou não ter havido interferência nacomposição do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, pois competir-lhe-ia apenas nomear os indicados, não podendo exigir das entidades a realizaçãodas indicações e que todos os indicados foram nomeados. Sustentou, ainda, aexistência de rodízio entre as entidades ecológicas e dos recicladores. Já no que dizrespeito ao o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul, ele apenasmudou o nome para Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares deCaxias do Sul.

Quanto à quinta infração, o denunciado argumentou que as metas de 2016não foram cumpridas pela Administração anterior e que, no orçamento para 2017,não foram previstos recursos para algumas delas.

Quanto à sexta infração, apontou que nenhum dos fatos nele narrados tem opotencial de impedir o regular funcionamento da Câmara Municipal. Citou a LOM,que faculta o convite ao Prefeito Municipal e prevê a convocação de Secretáriospara a prestação de esclarecimentos, e que somente a recusa de resposta a pedidode informação por escrito ensejaria infração, sendo, mesmo assim, o julgamento dailicitude da recusa de competência do Poder Judiciário. Alegou que a competênciapara a criação de conselhos é privativa do Prefeito Municipal e, por isso, nomeou oVereador Chico Guerra, tendo revogado o decreto de nomeação diante da polêmicaprovocada.

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Quanto à última infração da denúncia, asseverou não ter tentado cassar omandato do Vice-Prefeito, tendo sido inclusive excluído do polo passivo dademanda proposta por este (mandado de segurança). Ademais, não teria sido elequem praticou o ato mencionado na denúncia (Ofício nº 131/2017). Atestou não terhavido ilegalidade na determinação de anular ordem de serviço do Vice-Prefeito,pois este não teria competência para a expedição de atos normativos. Segundo odenunciado, nunca teria faltado com o decoro no cargo.

Ao final, requereu o arquivamento da denúncia, com fundamento no art. 5º,inciso III, do Decreto-Lei nº 201/67, apresentado rol de testemunhas.

 5. Do parecer prévio da Comissão Processante

No dia 15 de fevereiro do corrente ano, a Comissão Processante acolheu orelatório do Vereador que o presente subscreve e proferiu parecer peloprosseguimento da denúncia, rejeitando as questões levantadas na defesapreliminar.

Considerou-se que os fatos imputados ao denunciado poderiam representar,em tese, infrações político-administrativas, haja vista haver indícios da autoria eprova da materialidade dos fatos, bem como a circunstância de que o art. 85 daConstituição Federal considera como infrações político-administrativas não apenasos fatos listados pelas leis especiais, mas quaisquer atos que "atentem contra aConstituição Federal", inclusive os atos atentatórios à existência da União, ao livreexercício dos Poderes constitucionais, ao exercício dos direitos políticos,individuais e sociais, à probidade na administração e ao cumprimento das leis e dasdecisões judiciais.

Ademais, o inciso X do art. 4º do Decreto-Lei nº 201/67 considera infraçõespolítico-administrativas quaisquer condutas incompatíveis com a dignidade e odecoro do cargo.

O parecer prévio apontou, ainda, que o princípio da substanciação desvinculao julgador dos fundamentos jurídicos apresentados pelas partes, ligando-o apenasaos fatos apresentados, motivo pelo qual o enquadramento legal dado pelosdenunciantes não importava razão suficiente para o arquivamento da denúncia,havendo justa causa (indícios de autoria e prova da materialidade dos fatos) para a

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instrução do processo. 6. Da instrução do processo

Em 21 de fevereiro de 2018 (OFÍCIO nº OF - 51/2018), foram designados odepoimento pessoal do denunciado e a oitiva das testemunhas arroladas peladefesa, conforme o seguinte cronograma:

a) para o dia 5 de março de 2018, às 9 horas, o depoimento do denunciado;

b) para o dia 6 de março de 2018, às 14h30, oitiva das testemunhas JúlioCésar Freitas, Chefe de Gabinete; e Luiz Eduardo Caetano, Secretário de Governo;

c) para o dia 7 de março de 2018, às 14h30: oitiva das testemunhas DarcyRibeiro; Fernando Vivan; e Deyse Piovesan;

d) para o dia 8 de março de 2018, às 14h30: oitiva das testemunhas PatríciaRasia, Secretária de Meio Ambiente; e Marina Mattielo, Secretária de Educação; e

e) para o dia 9 de março de 2018, às 9 horas: oitiva das testemunhas Joelmirda Silva Neto, Secretário de Cultura; e Leonardo da Rocha de Souza.

Na data aprazada para a oitiva do denunciado, 5 de março de 2018, este nãocompareceu, tendo seu procurador justificado a ausência em razão do ajuizamentode mandado de segurança questionando atos do processo, inclusive a ordem dasoitivas.

No dia 6 de março, foram ouvidas as testemunhas Júlio César Freitas, Chefede Gabinete; e Luiz Eduardo Caetano, Secretário de Governo.

No dia 7 de março, foi ouvida a testemunha Deyse Piovesan. A defesatambém requereu a dispensa das testemunhas Darcy Ribeiro e Fernando Vivan,A1152.189.2018

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pedido acolhido pela presidência da Comissão, com a concordância dosdemais membros.

No dia 8 de março, o Presidente da Comissão Processante foi notificado dedecisão l iminar proferida no mandado de segurança nº 9001207-59.2018.8.21.0010, oriundo da 2ª Vara Cível Especializada em Fazenda Públicadesta Comarca, que determinou "a colheita do depoimento pessoal do impetranteao final da prova oral". Foram ouvidas, nesta data, a testemunha Patrícia Rasia,Secretária de Meio Ambiente; e Raquel Boijink Baldasso, em substituição àtestemunha Marina Mattielo.

No dia 9 de março, depôs a testemunha Joelmir da Silva Neto, Secretário deCultura. A testemunha Leonardo da Rocha Souza não pode comparecer, tendo sidoseu depoimento adiado para o dia 19 de março de 2018.

Em 15 de março de 2018, considerando a necessidade de bem esclarecer osfatos, tendo em vista que os depoimentos das testemunhas arroladas pela defesamencionaram documentos não constantes dos autos do processo, o Presidente daComissão Processante determinou as seguintes diligências complementares:

a) à Assessoria Jurídica da Câmara Municipal, a juntada de cópia da açãodeclaratória de extinção do mandato do Vice-Prefeito e da ação de mandado desegurança por ele interposto contra o denunciado, além de cópia do DecretoMunicipal nº 18.713/2017;

b) à Central de Licitações do Município de Caxias do Sul-CENLIC, ofornecimento de cópia integral da Chamada Pública nº 180/2017, cujo objeto foi a"seleção de entidade privada, sem fins lucrativos, qualificada como organizaçãosocial na área da saúde, para gestão e operacionalização do Pronto Atendimento24 horas.";

c) ao Conselho Municipal de Saúde, o fornecimento de cópia das atas de suasreuniões, nas quais foi discutido o projeto de gestão compartilhada do Posto dePronto-Atendimento 24h e o programa UBS+;

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d) ao Conselho Municipal do Meio Ambiente, o fornecimento de cópia de seuRegimento Interno, com todas as alterações, e da atas de reunião do ano de 2017;

e) ao Setor de Protocolo e Arquivo da Câmara Municipal, a juntada de cópiaintegral da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária Anual referenteao ano de 2017;

f) à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, dados sobre os valoresefetivamente aplicados, no ano de 2017, dos recursos do Fundo Municipal do MeioAmbiente; e

g) e à Secretaria Municipal de Educação, informações, ano a ano, desde 2013,das vagas disponíveis e a efetiva ocupação destas, em relação à educação infantil.

As diligências foram atendidas, estando os documentos junto aos autos doprocesso.

Ainda no dia 15 de março de 2018, o procurador do denunciado informou aimpossibilidade de comparecimento da testemunha Leonardo da Rocha Souza nodia aprazado, requerendo a designação de sessão para sua oitiva para o dia 9 deabril de 2018. Diante deste pedido, a sessão do dia 19 de março foi cancelada.

No dia 22 de março de 2018, a testemunha Leonardo da Rocha Souza foidispensada de depor, conforme já havia sido requerido pela defesa, e, atendendo àdecisão proferida no mandado de segurança nº 9001207-59.2018.8.21.0010, foidesignada a data de 26 de março de 2018, às 9 horas, para a colheita dodepoimento pessoal do denunciado, que não compareceu na data aprazada,justificando seu procurador a ausência em razão do não julgamento do mérito dasquestões levantadas nos já citados mandados de segurança.

Com a última sessão de oitivas das testemunhas, foi encerrada a fase deinstrução e dada imediatamente vistas dos autos para a apresentação de razõesescritas pela defesa.

 7. Das razões escritas apresentadas pelo denunciado

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De início, o denunciado alega que não lhe teriam sido franqueados os autosdo processo, mas "somente a cópia", "sem qualquer atestado de que a referidacópia é idêntica ao original", e tal circunstância importaria em cerceamento dedefesa. Alega, também preliminarmente, o esgotamento do prazo de 90 dias para oencerramento do processo, pois não teria havido ordem judicial determinando a"suspensão do processo e sim a suspensão da eficácia" da primeira notificação,realizada em 15 de novembro de 2017.

Quanto ao mérito, sustentou o seguinte, em relação às infrações articuladas nadenúncia:

a) em relação à primeira infração, o alegado descumprimento de ordensjudiciais relacionadas ao provimento de vagas em escolas de educação infantilconfigura crime de responsabilidade previsto no art. 1º do Decreto-Lei nº 201/67 enão infração político-administrativa, tendo a testemunha Raquel Baldasso,Secretária de Educação em exercício, comprovado não ter havido odescumprimento de nenhuma decisão judicial , atr ibuindo eventualdescumprimento da sentença coletiva à administração anterior.

b) em relação à segunda infração, o alegado descumprimento da legislaçãomunicipal relacionada à cultura também configuraria crime de responsabilidadenas modalidades previstas no art. 1º do Decreto-Lei nº 201/67, e não infraçãopolítico-administrativa. Em relação a esta acusação, a testemunha Joelmir da SilvaNeto teria comprovado que o atraso no lançamento do edital para a seleção dosprojetos beneficiários decorreu do sequestro de recursos públicos por conta do"caso Magnabosco" e da edição da Lei nº 13.019/17. Destacou ainconstitucionalidade do art. 4º da Lei Municipal nº 6.967/09, e que a testemunhaatestou que "em nenhum momento recebeu ordens do denunciado para descumprirqualquer legislação vigente". Advoga que, se a medida liminar na ADI antesmencionada não tivesse sido concedida, os recursos previstos na lei municipalteriam sido repassados, tendo os denunciantes imputado irregularidades aodenunciado "até mesmo antes do tempo legal esvair-se", uma vez que aAdministração teria até o dia 31 de dezembro de 2017 para realizar os repasses.

c) em relação à terceira infração, não se pode falar em descumprimento da leiquanto "às ações de gestão municipal de saúde", pois como teria ficado

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comprovado pelo depoimento da testemunha Deysi Piovesan, SecretáriaMunicipal de Saúde, "as ações administrativas na área da saúde que dependem deaprovação do Conselho Municipal de Saúde foram precedidas de tal ato". Quantoao processo de terceirização do Posto de Pronto-Atendimento 24 horas, alega que aAdministração apenas deu impulso às "ações iniciais", levando "dados einformações concretas", com o objetivo de "firmar contratos de gestão para aárea da saúde" "contando com a anuência do Conselho Municipal de Saúde",carecendo a denúncia de "tipicidade, eis que ausentes autoria e materialidade".

d) em relação à quarta infração, defende a ausência de infração às regrassobre a composição do Conselho Municipal de Meio Ambiente, pois incumbia àsentidades participantes a indicação dos seus representantes e muitas delas não ofizeram, conforme relato da testemunha Patrícia Rasia, Secretária da pasta, e atasdo COMDEMA. Informa que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais apenas mudoude nome para Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Caxias doSul;

e) em relação à quinta infração, a respeito do Plano Municipal de ResíduosSólidos, advoga a tese de que as metas não foram cumpridas porque a lei foiaprovada a menos de 15 dias do fim do governo anterior, e que no orçamento de2017, aprovado ainda em 2016, não foram destinados recursos para o atendimentode algumas dessas metas.

f) em relação à sexta infração, todas as testemunhas, secretários municipais,negaram existir ordem para não receber ou atender os vereadores, indicando,algumas das testemunhas, vereadores que foram "recebidos em seus gabinetesquando provocados para reuniões".

Assevera que ainda que se confirmasse ordem no sentido de não se daratendimento a vereadores, não se trataria de infração político-administrativa, poisela não impediria o funcionamento normal da Câmara Municipal. De acordo com adefesa, o denunciado só responderia por crime de responsabilidade, cujojulgamento seria de competência do Poder do Judiciário, se deixasse de atenderpedido de informação por escrito no prazo legal (trinta dias).

Quanto à nomeação do Vereador Chico Guerra para compor a ComissãoEspecial de ocupação do prédio da Maesa, sustenta que a presença do líder de

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governo em Comissão criada pelo Poder Executivo não interfere naharmonia, independência e funcionamento dos poderes municipais.

g) em relação à sétima e última infração, o denunciado nunca teria tentado"cassar" o mandato do Vice-Prefeito. Não foi o denunciado o autor do Ofício nº131/2017 e ele não ordenou à Procuradoria-Geral do Município o ajuizamento daação declaratória de extinção do mandato do Vice-Prefeito. Ademais, a justiçacomum teria acolhido a ilegitimidade passiva do denunciado no mandado desegurança impetrado pelo Vice-Prefeito, entendendo não ter sido ele o autor do atotido como ilegal. Defende não ser ilegal a edição da ordem de serviço nº 03/2017,posto que o Vice-Prefeito não possuiria competência para editar a ordem deserviço por ela anulada.

Ao final, requereu o reconhecimento da consumação do prazo de decadênciaprevisto no art. 5º, inciso VII, do Decreto-Lei nº 201/67, com o arquivamento doprocesso, e, no mérito, a improcedência da denúncia.

 8. Do relatório final

Sr. Presidente, Vereador Edson da Rosa, e Vereador Velocino Uez.

A peça acusatória elenca sete infrações político-administrativas supostamentepraticadas pelo Prefeito Municipal de Caxias do Sul, a saber:

a) descumprimento de decisão judicial quanto a vagas para educação infantil;

b) descumprimento das leis municipais relacionadas à cultura (Financiarte);

c) descumprimento de leis federais e municipais relacionadas à saúde(terceirização do Posto de Atendimento 24h e Programa UBS+);

d) descumprimento de lei municipal quanto à composição do ConselhoMunicipal do Meio Ambiente;A1152.189.2018

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e) descumprimento da lei municipal sobre o plano municipal de gestão deresíduos sólidos e falta de atendimento das metas definidas;

f) impedimento do funcionamento regular da Câmara Municipal; e

g) descumprimento da lei e de decisão judicial em relação ao mandato doVice-Prefeito.

Nos termos do art. 5º do Decreto-Lei nº 201/67, quando for apresentado oparecer final pela procedência ou improcedência das acusações, e convocada peloPresidente da Câmara Municipal a sessão de julgamento, os nobres pares deverãopromover "tantas votações nominais" "quantas forem as infrações articuladas nadenúncia." (inciso VI).

Assim sendo, convém que a conclusão deste relatório, quanto às infraçõesarticuladas na denúncia, seja divida por infração, a fim de facilitar o entendimentoe organizar o futuro julgamento, o que se fará a partir deste momento.

Antes, porém, cumpre debater as preliminares levantadas pelo denunciado.

Quanto ao alegado cerceamento de defesa, dado pelo fato de seu procuradornão ter tido acesso aos autos originais, mas apenas a "cópia", que ele alega nãoconter "qualquer atestado de que a referida cópia é idêntica ao original", não háindícios de que isso tenha prejudicado o contraditório ou a ampla defesa.

Estranha-se, inclusive, a Comissão Processante não ter sido comunicada ouprovocada sobre a questão antes do esgotamento do prazo para as razões escritas,para determinar ao setor competente a entrega dos autos originais e a devolução doprazo por inteiro.

A "cópia" do processo foi retirada em carga pelo advogado do denunciado noA1152.189.2018

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dia 28 de março e somente com a entrega das razões escritas, no dia 2 deabril, a questão foi levantada pelo procurador do denunciado. Ou seja, a defesateve cinco dias para requerer ao Presidente da Comissão Processante a entrega dosautos originais e a devolução do prazo para apresentar razões finais, mas não o fez.

Ora, é sabido que as nulidades processuais somente serão decretadas quandoexistir prejuízo às partes, como expressamente dispõem os artigos 276 a 283 doCódigo de Processo Civil e o art. 563 do Código de Processo Penal.

Embora o entendimento desta Comissão Processante seja o de que o processode impeachment rege-se subsidiariamente pelo Código de Processo Civil,conforme art. 15 deste Código, destaca-se o disposto no art. 566 do Código deProcesso Penal, por sua relevância no deslinde da apuração de infrações de todaespécie:

"Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído naapuração da verdade substancial ou na decisão da causa."

Se mesmo com as "cópias" do processo o denunciado conseguiu produzir suadefesa de forma satisfatória, posto inexistir qualquer alegação específica deprejuízo, só uma alegação genérica, é de se concluir que não houve dano concretoe real para o contraditório e a ampla defesa.

De qualquer modo, apesar da alegação de cerceamento de defesa, odenunciado nada demandou quanto a esta preliminar em seus pedidos, limitando-sea requerer o reconhecimento da decadência, com fulcro no art. 5º, inciso VII, doDecreto-Lei nº 201/67, e, no mérito, a improcedência da denúncia.

Assim sendo, inexistindo prova do prejuízo alegado, o que se confirma pelofato do denunciado não ter protestado antes da entrega das razões finais peloacesso aos autos originais, não ter requerido a devolução do prazo e não terdemonstrado indícios de que as cópias não correspondem ao original, a preliminardeve ser rejeitada.

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Quanto à preliminar de decadência em razão de ter transcorrido mais de 90(noventa) dias desde a notificação e o processo não ter sido concluído neste prazo,melhor sorte não socorre o denunciado.

Há precedente do nosso Tribunal de Justiça, e nem poderia ser diferente, deque não se computa no prazo previsto no art. 5º, inciso VII, do Decreto-Lei nº201/67, os dias em que o processo esteve suspenso por força de decisões judiciais:

"APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA. CASSAÇÃO DO MANDATODO PREFEITO MUNICIPAL DE SÃO LUIZ GONZAGA/RS. PERÍODO DEATUAÇÃO DA COMISSÃO PROCESSANTE. PRAZO DECADENCIAL DE 90DIAS PREVISTO NO INC. VII DO ART. 5º DO DECRETO-LEI 201/67 NÃOEXTRAPOLADO. AUSÊNCIA DE NULIDADE NO PROCEDIMENTOADMINISTRATIVO DA CASA LEGISLATIVA. CONTAGEM DO PRAZOTUMULTUADA EM FACE DAS INÚMERAS DEMANDAS JUDICIAISAFORADAS PELO APELANTE. Hipótese em que o apelante, ex-prefeitomunicipal, ingressou com diversas ações judiciais, todas com vistas a obstaculizarou declarar a nulidade do processo de cassação, as quais, por sua vez, ensejaraminúmeros recursos a este Tribunal. Em decorrência da judicialização do processode cassação, a contagem do prazo de 90 dias previsto no inc. VII do art. 5ºdo Decreto-Lei 201/67 restou tumultuada, tendo sido por diversas vezesinterrompida. Deste modo, quando declarada a cassação do mandato pelaCâmara de Vereadores, haviam transcorridos 89 dias desde o início dos trabalhosda comissão processante, inexistindo, assim, a decadência alegada pelo apelante.Cumpre destacar que, por óbvio, não se pode incluir na contagem de tal prazo osatos anulados pelas decisões judiciais. Por fim, o apelante inova no apelo aoalegar a desproporcionalidade da pena aplicada e postular sua redução, uma vezque tal pedido não é objeto da ação. Apelo desprovido. Unânime. (Apelação CívelNº 70070286737, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:Lúcia de Fátima Cerveira, Julgado em 28/09/2016)"

Alega o denunciado que nenhuma das decisões proferidas nos mandados desegurança nº 9008375-49.2017.8.21.0010 e nº 9000035-82.2018.8.21.0010determinou a suspensão do processo de cassação do seu mandato.

Tal afirmação não poderia ser menos verdadeira.

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Em primeiro lugar, a decisão proferida nos autos do processo nº 9008375-49.2017.8.21.0010 foi claríssima ao determinar a "renovação do ato de notificaçãoprevisto pelo art. 5º, III, do Decreto-lei 201/67, relativo à denúncia 728/2017", oque equivale a declarar a primeira notificação, feita em 15 de dezembro de 2017,sem efeito.

Se o ato principal é declarado sem efeito, é de lógica elementar que os atossubsequentes, que dele são dependentes, também não produzem efeitos. Assimsendo, o prazo previsto no art. 5º, inciso VII, do Decreto-Lei nº 201/67, quecomeça a contar da "data em que se efetivar a notificação do acusado", só teriainício a partir da segunda notificação, concretizada em 22 de dezembro de 2017.

Ocorre que nem mesmo nesse caso se pode considerar deflagrado o prazo de90 dias para a conclusão do processo. Isso porque é preciso um esforço hercúleo deinterpretação criativa para sustentar que a prorrogação do prazo para a defesaprévia, protelada para o dia 1º de fevereiro de 2018, por força de decisão proferidano mandado de segurança nº 9000035-82.2018.8.21.0010, não teria suspendido oprocesso político-administrativo (suspensão implícita).

Em primeiro lugar, porque é lógico que, se o prazo para a defesa foiprolatado, não correndo durante o recesso parlamentar, que vai de 15 de dezembroa 1º de fevereiro, e sendo certo que antes da apresentação da defesa prévia nenhumoutro ato poderia ser validamente praticado pela Comissão Processante, o processoestava suspenso, não podendo haver contagem de nenhum prazo.

É elementar que o prazo de 90 dias pressupõe que a defesa prévia sejaapresentada no prazo de dez dias, contados da notificação do denunciado e de queo parecer prévio da Comissão Processante seja apresentado no prazo de 5 dias"Decorrido o prazo de defesa" (art. 5º, inciso III, do Decreto-Lei nº 201/67), isto é,pressupõe-se que todos os atos sejam praticados de forma sequencial e ininterrupta.

No momento em que o Poder Judiciário, por provocação da parte denunciada,interrompe essa continuidade dos prazos, protelando o prazo para a defesa prévia,que de 10 dias passou a 41 dias, tornou impossível o cumprimento do disposto noA1152.189.2018

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art. 5º, inciso VII, do Decreto-Lei nº 201/67, por ato provocado pela própriadefesa.

De fato, considerando que decisão judicial protelou o prazo para a defesaprévia de 22 de dezembro de 2017 a 1º de fevereiro de 2018, totalizando os jámencionados 41 dias, e que isso representa praticamente a metade (45,5%) doprazo para a conclusão do processo (art. 5º, inciso VII, do Decreto-Lei nº 201/67),é impossível obter-se um resultado útil sem considerar-se suspenso o curso detodos os prazos do processo. Se àquela decisão somarmos o prazo para a defesaprévia (10 dias), o prazo para a emissão de parecer prévio (5 dias) e o prazo para asrazões (5 dias), sobrariam apenas 29 (vinte e nove) dias dos 90 dias previstos emlei para a instrução, emissão do parecer final e sessão de julgamento.

E tudo isso provocado pela própria defesa do denunciado.

Em segundo lugar, foi o próprio denunciado quem sustentou, naquelemandado de segurança, a aplicação subsidiária do Regimento Interno da CâmaraMunicipal, cujo art. 54 dispõe claramente sobre a interrupção dos prazosdurante o recesso parlamentar:

"Art. 54.  O recesso da Câmara interrompe todos os prazos previstos napresente seção."

E foi justamente com fundamento no recesso parlamentar que a decisãoliminar determinou a prorrogação do prazo para a apresentação de defesa prévia:

"(...) inexistindo notícia de que o Poder Legislativo local esteja a trabalharem período extraordinário (hipótese prevista na Lei Orgânica Municipal) conclui-se que, de fato, a nova notificação para defesa do impetrante (repetida por forçada decisão proferida no primeiro mandamus) ocorreu já na fluência do recessolegislativo, na forma do art. 41 da citada lei.

Por conseguinte, em um juízo sumário, mostra-se prejudicial ao direito deampla defesa (e sem aparente justo motivo) que a contagem do decêndio legalocorra, de forma integral, em período em que a própria comissão processante estáem recesso, ou sejam em que não verificada por ela própria a urgência em darA1152.189.2018

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seguimento ininterrupto ao trabalho já iniciado no ano de 2017."

O Código de Processo Civil, em seu art. 313, inciso VI, determinataxativamente a suspensão do processo "por motivo de força maior".

É patente que decisão judicial protelando prazos processuais em processoadministrativo é um caso de força maior. De acordo com o art. 393, parágrafoúnico, do Código Civil: "O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fatonecessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.". Nem a CâmaraMunicipal, nem a Comissão Processante poderiam evitar ou impedir ocumprimento de decisão judicial.

Por fim, cai por terra a tese do denunciante, haja vista ter ele praticado atosincompatíveis com o reconhecimento da decadência. Por exemplo, no dia 15 demarço de 2018, o procurador do denunciado peticionou requerendo a alteração dadata da oitiva da testemunha Leonardo da Rocha Souza para o dia 9 de abril de2018.

É consagrado o entendimento da vedação ao venire contra factum proprium,ou seja, vedam-se as condutas contraditórias, inclusive em matéria processual.

"APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO DE EXIBIÇÃO DEDOCUMENTOS. EXTINÇÃO DO FEITO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO, NAFORMA POSTULADA PELO AUTOR. VENIRE CONTRA FACTUMPROPRIUM. VEDAÇÃO. OBEDIÊNCIA AO PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. Ocomportamento do autor mostrou-se contraditório ao pedir a desconstituição dasentença neste grau de jurisdição, notadamente porque a ação foi extinta emrazão do seu próprio pedido de desistência, na forma do artigo 485, inciso I, doCPC/2015. GRATUIDADE JUDICIÁRIA. Ante a necessidade demonstrada, restadeferido o benefício. APELO DESPROVIDO. (Apelação Cível nº 70076956184,Décima Terceira Câmara Cível, TJRS, Relator: Elisabete Correa Hoeveler,Julgado em 29/03/2018)"

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS.CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.A1152.189.2018

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TEMPESTIVIDADE RECURSAL. Sendo o recurso de agravo de instrumentoajuizado dentro do prazo legal, deve ser rejeitada a preliminar contra-recursal deintempestividade. DESISTÊNCIA DA AÇÃO. A desistência produz efeitos apóshomologação judicial, não sendo dado a parte desistente beneficiar-se comimpugnação do ato a que ela própria deu causa, sob pena de ofensa ao princípioda vedação do comportamento contraditório (nemo potest venire contra factumproprium) - máxima da boa-fé objetiva. PRELIMINAR CONTRARRECURSALREJEITADA. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo deInstrumento Nº 70073856916, Vigésima Terceira Câmara Cível, Tribunal deJustiça do RS, Relator: Alberto Delgado Neto, Julgado em 29/08/2017)"

Por tais razões, a preliminar deve ser rejeitada. Passamos, agora, ao mérito das infrações articuladas na denúncia: 8.1. Infração nº 1: suposto descumprimento de decisão judicial em Ação

Civil Pública quanto à reserva de vagas em estabelecimentos de educaçãoinfantil: disponibilização de vagas da rede escolar por período parcial eimpedimento de matrícula por famílias já contempladas com vagas emexecução de sentença coletiva. Desestruturação do processo de contratação eremuneração dos educadores infantis e greve da categoria.

A acusação alega que o denunciado estaria descumprindo sentença proferidaem Ação Civil Pública, que determinou o oferecimento de vagas emestabelecimento de educação infantil, pois as vagas oferecidas pela atualadministração só abrangeriam turnos de 4 (quatro) horas, em contrariedade àgarantia constitucional de acesso pleno à educação infantil. Citam o disposto noart. 7º, inciso XXV, da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda nº53/06:

"Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros quevisem à melhoria de sua condição social:

XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5(cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;"

Citam, ainda, jurisprudência sobre o assunto (Agravo nº 70054572482,

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Sétima Câmara Cível, TJRS; Apelação Cível nº 70056500820; OitavaCâmara Cível, TJRS; Agravo de Instrumento nº 70055897177, Oitava CâmaraCível, TJRS), argumentando que até dezembro de 2016 as decisões judiciaisvinham sendo cumpridas, ainda que com dificuldades, mas que, ao longo de 2017,"vem se percebendo uma morosidade demasiada, suspeita e mal-intencionada porparte do Poder Público Municipal."

Acusam o denunciado de se omitir em seu dever legal e de desrespeitar o art.174, inciso VII, da Lei Orgânica do Município1. Haveria processos nos quais oórgão de representação judicial (PGM) teria tido ciência de decisões liminares, masnão as teria cumprido, apresentando "requerimentos protelatórios".

Asseveram que a secretária de educação, Sra. Marina Matiello, teria secomprometido a apresentar em 45 dias um plano de oferta de vagas, mas o plano,apresentado em 17 de abril de 2017, segundo o Ministério Público, seria uma meracarta de intenções, mantendo-se o Município em mora. Em 16 de setembro de2017, o Município teria informado a criação de 1.022 (uma mil e vinte e duas)novas vagas sem, entretanto, apresentar plano concreto e exequível.

A omissão do denunciado, na óptica da denúncia, imporia suaresponsabilização, na forma do art. 175, §2º, Lei Orgânica Municipal:

"O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Município, ou sua ofertairregular, importa em responsabilidade da autoridade competente".

Apontam os denunciantes, como causa de responsabilização político-administrativa do denunciado, ainda, a "desestruturação do processo decontratação e remuneração das educadoras infantis, ao ponto de ensejar greve dacategoria", por equivocada interpretação da Lei nº 13.019/2014, resultando nagreve de 450 (quatrocentas e cinquenta) educadoras, no fechamento de mais de 40(quarenta) escolas de educação infantil e em mais de 4.000 (quatro mil) criançassem aula no Município.

Somados a isso, o denunciado teria promovido "a diminuição drástica dosalário dos educadores municipais da educação infantil", em desconformidadeA1152.189.2018

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com o disposto no art. 174, inciso VI, da Lei Orgânica do Município, queorienta a necessidade de "valorização dos profissionais do ensino".

Em sua defesa, o denunciado alegou que o descumprimento de ordensjudiciais relacionadas ao provimento de vagas em escolas de educação infantilconfiguraria crime comum, de responsabilidade, previsto no art. 1º do Decreto-Leinº 201/67 e não infração político-administrativa, e que nenhuma decisão judicialestaria sendo descumprida pela atual administração.

Juntou cópia das decisões no processo 010/5.12.0001010-7, de 2012 a 2017,atas de reunião de servidores do Poder Executivo com o Ministério Público e termode compromisso com a Defensoria Pública, na tentativa de comprovar que aquestão do cumprimento ou descumprimento de decisões judiciais antecede a atualadministração.

Ouvida a Secretária interina da pasta, Sra. Raquel Boijink Baldasso, estapontuou que "historicamente, sempre houve solicitação de vagas da educaçãoinfantil" e que "todos os governos não mediram esforços para poder atender isso."

Relativamente à sentença coletiva na Ação Civil Pública, disse que oMunicípio deveria "cumprir com o que foi estabelecido entre os anos de 2013 até2016", não havendo "que se falar em descumprimento dessa ordem, porque ela foi,completamente, na realidade, atendida, inclusive dentro daquele prazo". Afirmouque o então Secretário Agenor Basso "fez um levantamento, e a gente enviou isso,em 2016, para o juiz, fazendo toda a prova de que já tínhamos atendido o quehavia sido solicitado lá em 2012", mas o Poder Judiciário determinou a revisão dasituação com "o novo secretário, a partir de 2017".

Sustenta que existe um fluxo muito grande de pessoas vindo para Caxias doSul, obrigando a constante criação de vagas na educação infantil, notando atémesmo uma diminuição da judicialização devido à mudança de critérios, voltando-se os olhos para "a questão da vulnerabilidade, para situação de risco".

Quanto às ações judiciais mencionadas na denúncia, a testemunha afirmouque "elas já foram respondidas e foram encerradas", e que "nenhuma dessas açõesa gente descumpriu". Informou que o Ministério Público requisitou, em reunião

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ocorrida em janeiro deste ano, a apresentação de um novo plano até o final domês de abril de 2018.

Mencionou um levantamento de que em 2017 foram atendidas 11.613crianças entre zero e cinco anos, havendo, entre elas, "crianças atendidas em turnoparcial; crianças atendidas em turno integral; crianças atendidas por compra devagas; e também educação infantil, faixa etária de quatro e cinco anos, que agente atende junto às escolas de ensino fundamental, nas turmas de educaçãoinfantil".

Ao ser indagada pelo procurador do denunciado se teria havido aumento nonúmero de vagas, a testemunha não respondeu nem negativamente nempositivamente, informando tratar-se de "uma demanda que não cessa nunca",apesar de existirem "dados de que vem diminuindo o número de crianças nasfamílias."

Indagada sobre a questão da disponibilização de vagas em período parcial, atestemunha informou ter "essa possibilidade legal de atender em meio turno" emrazão de que o atendimento em turno parcial faz com que o atendimento sejadobrado, ou seja, aumenta o número de crianças atendidas. Sustentou ter havido apriorização do turno integral para as crianças de zero a três anos, "porém, osdemais, essas cento e trinta e duas turmas que eu citei anteriormente, as criançasficam ou atendidas no turno da manhã ou no turno da tarde."

Os documentos juntados pela defesa e o relato da Secretária em exercício dapasta da educação apenas sugerem existir indícios que possam levar à conclusão deque o Município não vem conseguindo cumprir a decisão proferida em Ação CivilPública desde antes de a atual administração assumir o governo.

No caso do fornecimento de vagas em turno parcial (4 horas), de fato, hácomprovação por atas de reuniões com o Ministério Público (por exemplo, ata de 3de maio de 2016) e termos de audiência (por exemplo, de 24 de abril de 2016) denão ter havido descumprimento de ordem ou decisão judicial.

Todavia, o objeto da denúncia é mais amplo, especialmente quando aponta aA1152.189.2018

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não apresentação de um plano "concreto e exequível", acordado na audiênciade 1º de março de 2017, bem como a "desestruturação do processo de contrataçãoe remuneração das educadoras infantis, ao ponto de ensejar greve da categoria".

Tanto os documentos juntados quanto o depoimento da testemunha RaquelBoijink Baldasso não esclareceram suficientemente estas questões.

Após o termo de audiência do dia 1º de março de 2017, só foram juntadaspela defesa documentos referentes às manifestações do Município de Caxias doSul, por meio de sua Procuradoria (PGM), não constando as manifestações doMinistério Público e do Poder Judiciário, não havendo nenhum documento quecomprove a apresentação de um plano exequível e de que a alegadadesestruturação do processo de contratação e remuneração das educadoras infantisnão é causa do agravamento da situação.

Não obstante, é necessário concordar com o denunciado, de que essasquestões deverão ser apreciadas pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário,a fim de averiguar possíveis atos de improbidade administrativa e/ou crime deresponsabilidade (crime comum), com eventual descumprimento de ordemjudicial, razão pela qual conclui-se pela improcedência da denúncia, nos termosdo enquadramento legal proposto, quanto a esta infração, e a necessidade deenvio de cópia dos autos do processo ao Ministério Público para instauração deInquérito Civil, Procedimento Investigatório Criminal e/ou ajuizamento dacorrespondente Ação Penal, se assim o órgão ministerial entender cabível.

 8.2. Infração nº 2: suposto descumprimento da Lei Municipal nº 6.967, de

30 de julho de 2009 (Financiarte). Somente 18 projetos de 184 cadastradosforam contemplados, com investimento de recursos de menos de 0,3% (R$600.000,00) do total de 1% da receita do ISSQN e do IPTU previsto em lei(art. 4º), considerando que a lei orçamentária destinou para o exercício de2017 R$ 2.468.798,55. Descumprimento do disposto no inciso XII do artigo 30da Lei Municipal n° 8.178, de 19 de dezembro de 2016 (Sistema Municipal deCultura de Caxias do Sul), que estabelece como princípio orientador doGoverno Municipal a ampliação progressiva de recursos aplicados naCultura. Emprego irregular de verbas ou rendas públicas de recursos

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financeiros do Sistema Municipal de Cultura

A acusação sustenta que, passado o período para as inscrições dos projetos,184 propostas foram cadastradas para análise resultando em apenas 18 projetoscontemplados, representando em torno de 10% do total de inscritos, cominvestimento de recursos de R$ 600 mil, o menor desde 2005.

Esses valores representaram apenas 0,3% do total de 1% da receitaproveniente do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) e doImposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), considerandoque até setembro de 2017, haviam sido arrecadados R$ 181.104.194,03 em IPTU eISSQN, o que deveria significar, pelo menos, investimentos de R$ 1,8 milhão emprojetos do Financiarte.

Diante disso, estaria evidenciada "a flagrante manobra do Prefeito Danielpara aplicações indevidas de verbas públicas, de destinação vinculada, previstaem lei, em desacordo com planos e programas, caracterizando grave desrespeitoaos artigos 1º, III, IV, V e XIV, e 4º, VII e VIII , ambos do Decreto-Lei nº201/1967".

Acusam o denunciado, ainda, de ignorar o disposto no art. 30, inciso XII, daLei Municipal nº 8.178, de 19 de dezembro de 2016, que tem por princípioorientador a "ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentospúblicos para a cultura."

Invocam o disposto no art. 73 da Lei Municipal nº 8.178/2016, que tipificacomo crime o emprego irregular de verbas ou rendas públicas de recursosfinanceiros do Sistema Municipal de Cultura.

Em sua defesa, o denunciado também alegou que o descumprimento dalegislação municipal relacionada à cultura configuraria crime de responsabilidade,nas modalidades previstas no art. 1º do Decreto-Lei nº 201/67, e não infraçãopolítico-administrativa. Por outro lado, o atraso no lançamento do edital para aseleção dos projetos beneficiários decorreu do sequestro de recursos públicos porconta do "caso Magnabosco" e da edição da Lei nº 13.019/17, e que não estariaA1152.189.2018

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obrigado a aplicar os recursos no montante previsto no art. 4º da LeiMunicipal nº 6.967/09 porque ela seria inconstitucional, tendo, inclusive, sidodeferida medida cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade.

Ouvido o Secretário Joelmir da Silva Neto, este relatou não ter sido cogitadapela nova administração a possibilidade de não se cumprir a lei do Financiarte.Informou, todavia, ter havido solicitações para a Procuradoria-Geral do Municípioprovidenciar estudos para a revisão e atualização da legislação relacionada àcultura.

Reforçou o deferimento de liminar em Ação Direta de Inconstitucionalidade,justificando que, se não fosse ela, o Município "não mediria esforços para concluiro cumprimento do artigo conforme o disposto", citando que "apenas não seefetivou devido a essa liminar favorável ao Município, que desobriga a vinculaçãoao percentual mínimo da receita de tais impostos". Indicou existir um processo derevisão do art. 4º da lei do Financiarte a ser levado "em breve ao ConselhoMunicipal de Política Cultural" e, depois, à Câmara Municipal, não tendo havidonenhuma "determinação ou pedido do senhor prefeito municipal, nem mesmointenção da própria gestão da então secretária Adriana" "de se reduzir, de seretroceder em investimentos na área cultural."

Afirma não existir "na lei uma data prevista exata para a saída do edital"convocando os interessados para apresentarem projetos, e de que "na iminência dolançamento do edital, encontramos o bloqueio das contas, do caso, o famoso casoMagnabosco", provocando o contingenciamento de despesas em todas as pastas,inclusive da Cultura.

Indagado se não havia uma contradição entre as informações apresentadas,uma vez que de 184 projetos apresentados foram selecionados 69, mas apenas 18foram contemplados, e quanto isso representaria em termos de valores, atestemunha informou que o valor do investimento seria em torno de R$2.000.000,00.

Neste caso, mais uma vez é preciso concordar com os termos da defesa dodenunciado. Os fatos narrados na denúncia podem levar à responsabilização por

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improbidade administrativa ou até mesmo por crime de responsabilidade;portanto, passíveis de serem julgados pela justiça comum.

É fato que houve decisão liminar deferindo tutela de urgência em Ação Diretade Inconstitucionalidade suspendendo a execução do art. 4º da Lei Municipal nº6.967/09, em 15 de dezembro de 2017, decisão da qual o Município foi intimadoem 19 de dezembro de 2017.

Também é fato que, em princípio, suspensa a execução do referidodispositivo, ele perde sua eficácia até o julgamento definitivo da questão peloÓrgão Especial do Tribunal de Justiça e não pode mais ser aplicado a partir domomento em que sua eficácia foi suspensa.

Ocorre que a questão que realmente importa aqui não é a eventualinconstitucionalidade do art. 4º da Lei Municipal nº 6.967/09, mas odescumprimento de lei, enquanto era eficaz, e da lei orçamentária anual, por nãoterem sido investidos os valores previstos e reservados à cultura/financiarte.

Destarte, conforme se verifica do movimento processual do site do TJRS, aAção Direta de Inconstitucionalidade nº 70076178847 foi protocolada somente nodia 7 de dezembro de 2017, ou seja, quase um ano após o denunciado ter assumidoo mandato como prefeito municipal e poucos dias antes do protocolo da denúnciapor infrações político-administrativas nesta Casa Legislativa, quando já haviarumores de que o pedido de impeachment seria apresentado.

Ora, não é lícito a um governo escolher quais leis irá cumprir e quais leis nãoirá cumprir, ainda que as entenda inconstitucionais e essa inconstitucionalidadevenha a ser declarada pelo Poder Judiciário, antes de obter uma decisão judicialsuspendendo a eficácia da lei tida por inconstitucional.

As leis regularmente aprovadas presumem-se válidas e eficazes enquanto nãodeclarada sua inconstitucionalidade pelos órgãos competentes.

Por outro lado, conforme consta do anexo das receitas e despesas da LeiOrçamentária Anual para o exercício de 2017 (Lei Municipal n° 8.165, de 14 dedezembro de 2016), foram reservadas para a cultura, isto é, para cumprimento doart. 4º da Lei Municipal nº 6.967/09, os montantes de R$ 384.615,00, relativos ao

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IPTU ("1.1.1.2.02.00.05.00.00 0001.00001 IPTU - INCENTIVOS FISCAISCULTURA 384 .615 ,00" ) e R$ 780 .000 ,00 , r e l a t ivos ao ISSQN("1.1.1.3.05.01.04.00.00 0001.00001 ISS - INCENTIVOS FISCAIS CULTURA780.000,00"), totalizando R$ 1.164,615,00, dos quais, de acordo com a denúncia,foram investidos menos de R$ 600.000,00.

Não consta que o denunciado tenha promovido Ação Direta deInconstitucionalidade quanto à lei orçamentária, na parte em que destina recursospara a cultura em razão da norma do art. 4º da Lei Municipal nº 6.967/09, e nemmesmo que tenha requerido a inconstitucionalidade por arrastamento da leiorçamentária anual, ou de que a medida liminar a tenha determinado.

Assim sendo, até 16 de dezembro de 2017, o denunciado tinha a obrigaçãolegal de cumprir o art. 4º da Lei Municipal nº 6.967/09, e, especialmente, a LeiMunicipal nº 8.165/16 (lei orçamentária), uma vez que esta última não foi objetoda Ação Direta de Inconstitucionalidade.

Em outras palavras, independentemente da eventual inconstitucionalidade doart. 4º da Lei Municipal nº 6.967/09, o orçamento aprovado para o ano de 2017previa o investimento de recursos no montante de R$ 1.164,615,00 para a cultura edeveria obrigatoriamente ter sido cumprido pelo denunciado.

De toda a forma, também a respeito das infrações imputadas neste pontoda denúncia, tem razão o denunciado.

O descumprimento de lei, a aplicação indevida de rendas ou verbaspúblicas e o emprego de recursos em desacordo com os planos ou programas,em suma, o desrespeito às leis orçamentárias representa, se não crimes deresponsabilidade, atos de improbidade administrativa a serem apuradas ejulgadas pelo Poder Judiciário.

Por tal razão, conclui-se pela improcedência da denúncia noenquadramento legal proposto, quanto a esta infração, e o envio de cópia dosautos do processo ao Ministério Público para instauração de Inquérito Civile/ou ajuizamento da correspondente Ação Penal, se assim o órgão ministerialcompetente entender cabível.

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 8.3. Infração nº 3: suposto descumprimento da Lei Municipal nº 3.871, de

22 de setembro de 1992, que trata do Conselho Municipal de Saúde, em razãode dar andamento ao programa de Terceirização do Posto de Atendimento 24horas e do Programa UBS+ antes da aprovação pelo Conselho.Descumprimento do art. 224 da Lei Orgânica do Município de Caxias do Sul,que prevê que o Conselho Municipal de Saúde será responsável pelaformulação da política de saúde e saneamento básico do Município, comparticipação direta das entidades representativas de usuários, e do art. 225,inciso IV, que reforça a necessidade de gestão democrática das políticaspúblicas de saúde. Descumprimento do disposto no art. 45 da Lei n° 10.257, de10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade), por não ter havido consulta dapopulação e de associações representativas dos vários segmentos dacomunidade antes do lançamento dos programas acima mencionados.Descumprimento do art. 24 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, queautoriza a participação complementar de entidades privadas somente quandoas disponibilidades do SUS forem comprovadamente insuficientes.

De acordo com os denunciantes, a Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001,conhecido como Estatuto da Cidade, estabelece as diretrizes da política urbana aser executada pelos municípios impondo a participação popular na gestãomunicipal, de forma que os conselhos equiparar-se-iam a órgãos públicos,reduzindo a capacidade decisória da administração central.

O Conselho Municipal de Saúde seria um desses conselhos com poderdeliberativo, com competência para implantar programas e políticas públicas naárea da Saúde, sendo necessária a aprovação da maioria dos conselheiros para levá-las a cabo.

De acordo com o art. 3º, incisos VII e VIII, da Lei Municipal nº 3.871, de 22de setembro de 1992, que instituiu o Conselho Municipal de Saúde, é competênciadeste "VII - definir critérios para a celebração de contratos ou convênios entre osetor público e as entidades privadas de saúde, no que tange à prestação deserviços de saúde;", "VIII - apreciar devidamente e AUTORIZAR os contratos econvênios referidos no inciso anterior;" e "IX estabelecer diretrizes quanto àlocalização e o tipo de unidades prestadoras de serviços de saúde públicos eprivados, no âmbito do SUS".

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A Lei Orgânica do Município, por sua vez, estabeleceria, no art. 224, que aoConselho Municipal da saúde incumbiria a prerrogativa de formular a política desaúde e saneamento básico do Município, e o art. 225, inciso IV, estabeleceria anecessidade de gestão democrática, por meio da participação popular, realçando opapel do Conselho Municipal de Saúde na formulação e gestão das políticas desaúde.

De acordo com os acusadores, em afronta aos citados dispositivos legais, odenunciado teria lançado o Programa UBS+ e anunciado a terceirização dosserviços do Posto de Pronto-Atendimento 24h, com custo previsto de R$30.000.000,00 anuais, a serem prestados por organização da sociedade civil semfins lucrativos, por meio de contrato de gestão, tendo o chamamento público sidorealizado ainda em setembro de 2017. Além disso, decidiu-se que cerca de 265servidores públicos lotados no Posto de Pronto-Atendimento 24h seriamrealocados para as Unidades Básicas de Saúde (UBS), sem a necessáriafundamentação e justificativa.

Todas essas medidas teriam sido tomadas, conforme os denunciantes, semconsulta e aprovação do Conselho Municipal de Saúde, que delas só teria tomadoconhecimento apenas pela imprensa.

Alegam, ainda, que o art. 2º, §3º, da Portaria nº 1.034, de 05 de maio de 2010,do Ministério da Saúde, exige a aprovação pelo Conselho de Saúde para aautorização de "participação de forma complementar das instituições privadascom ou sem fins lucrativos de assistência à saúde no âmbito do Sistema Único deSaúde SUS", limitada essa participação apenas quando "as disponibilidadesforem insuficientes para garantir a cobertura assistencial à população de umadeterminada área", e de forma meramente complementar.

Segundo eles, o denunciado jamais poderia ter lançado o programa UBS+ epublicado o edital para chamar os interessados para realizar a gestão dos serviçosdo Posto de Pronto-Atendimento 24h antes da aprovação pelo Conselho Municipalde Saúde.

Sustentam que os contratos com Organizações Sociais para a gestão deserviços de saúde são inconstitucionais, eis que as entidades privadas podemparticipar do SUS (Sistema Único de Saúde) apenas de forma complementar,

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inclusive com menção a decisões do Tribunal de Contas da União, que viriaapontando irregularidades em contratos de terceirização da Saúde em diversosEstados. De acordo com matéria divulgada pelo próprio TCU, em 29 de fevereirode 2016, as auditorias foram motivadas pelo fato de o tribunal ter observado quealguns gestores públicos têm adotado modelos diferenciados de contratação,recorrendo à terceirização dos serviços em vez de realizar o provimento dos cargosdo setor de saúde mediante concursos públicos, inclusive no Rio Grande do Sul,tendo sido encontrados diversos indícios de irregularidade quanto ao planejamentoda terceirização, nos instrumentos jurídicos utilizados e na fiscalização daexecução dos contratos ou convênios, além da não comprovação da aplicação dosrecursos na execução do objeto.

Em sua defesa, o denunciado lançou a tese de que não se poderia falar emdescumprimento da lei quanto "às ações de gestão municipal de saúde", pois aadministração central teria apenas dado impulso às "ações iniciais" para acontratação de organizações sociais para gestão compartilhada dos serviços doPosto de Pronto-Atendimento 24h, levantando "dados e informações concretas",para bem instruir a decisão do Conselho Municipal de Saúde.

Toda a tese de defesa circunda ao redor da afirmação de que só teria havidoirregularidade se tivesse sido assinado o contrato com a empresa escolhida nochamamento público.

Neste sentido, ouvida a Secretária da pasta da Saúde, Sra. Deysi Piovesan,esta afirmou nunca ter havido determinação do denunciado para terceirizar osserviços do Posto de Pronto-Atendimento 24h

De acordo com a testemunha, a proposta de gestão compartilhada viria aoencontro de "um programa maior de fortalecimento da atenção básica em Caxiasdo Sul", "com qualidade suficiente para dar conta das demandas" e a gestãocompartilhada entraria como "uma das estratégias de otimização do recursofinanceiro". Para tanto, teriam sido feitos "vários orçamentos", cuidando-se paraque se tivesse "toda a especificação de quais os serviços que deveriam sersubstituídos", "levantamentos de preços". Somente após isso, o governo teriagarantia "de que nós teríamos um valor a ser discutido com a comunidade,principalmente através do Conselho Municipal de Saúde e principalmente com aavaliação técnica".

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Disse a testemunha que os atos até então praticados (até a denúncia) foram"parte da etapa do processo que nós adiantávamos" e que o governo levou aoConselho Municipal de Saúde um pedido para apresentar o projeto pretendendo"incluir na pauta da ordinária subsequente" a deliberação, mas teria sidosurpreendido pela "posição da plenária, que acatou a posição de alguns dosconselheiros, que se colocasse, imediatamente, em votação o projeto". O Projetoterminou sendo desmembrado aprovando-se a UBS+, desaprovando-se aterceirização do serviço do Posto de Pronto-Atendimento 24h. Com a decisão doconselho, o processo licitatório para contratação de organização social para gerir oserviço foi suspenso, não tendo havido nenhuma contratação. No entender datestemunha, a lei obriga apenas que não se assine nenhum contrato sem aprovaçãodo Conselho.

Questionada se a testemunha entendia que o encaminhamento dos trâmitespara a criação do programa UBS+, a seleção da organização social, e o anúncio davencedora do processo seletivo antes da oitiva a aprovação do Conselho Municipalde Saúde eram regulares, ela respondeu positivamente, mencionando ser "claroque havia uma intenção" e "também uma expectativa muito forte de que fosseaprovado", ressalvando que "em nenhum momento nós tomaríamos ouassinaríamos qualquer contrato ou seguiríamos nesse processo se não houvesseaprovação".

Indagada, ainda, sobre se a iniciativa de encaminhar esses procedimentos, deanunciar o programa UBS+ e a terceirização do Posto de Pronto-Atendimento 24hforam tomadas conjuntamente com o denunciado, a testemunha respondeu: "Semdúvida". E se o denunciado tinha conhecimento de que a implementação desseserviço, obrigatoriamente, necessitava da aprovação do Conselho Municipal deSaúde, a reposta também foi positiva.

Questionada se as disponibilidades do SUS são insuficientes em Caxias doSul, a testemunha tergiversou com informações não referentes à pergunta, emboratenha dito que havia insuficiência "na rede básica", pois os recursos atenderiam"centralizadamente a população" e que "o projeto visava levar o atendimento parao lugar certo", afirmando que a questão da complementaridade "é uma questão,daí, de juízo que cada um vai fazer de interpretação".

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De acordo com a testemunha, não está prevista na legislação o momentoespecífico de consulta ao Conselho Municipal de Saúde; o que não se poderia seria"assinar os contratos" antes da deliberação: "Podemos fazer toda e qualquernegociação, fazer... Discutir preço, discutir qualidade, visitar o local. Enormalmente é assim que é feito".

Cópia dos autos do procedimento licitatório (Procedimento seletivosimplicado nº 180/2017) vieram aos autos do processo.

Compulsando os documentos do procedimento licitatório, observa-se que, aocontrário do quanto afirmado pela defesa e pela secretária da pasta de saúde, nãoconsta nenhuma advertência aos participantes ou cláusula condicional que alertassepara o fato de que a contratação dependeria de anuência do Conselho Municipal deSaúde.

O item 7 do edital, que trata das condições e do prazo para assinatura docontrato, refere apenas que "esgotados todos os prazos recursais, o Municípioconvocará a entidade vencedora para assinar o contrato".

Ainda que se possa alegar se tratar de minuta-padrão, é de se estranhar a nãoinclusão no edital da ressalva de que a contratação dependeria da aprovação doConselho Municipal da Saúde, como efusivamente defendido pelo denunciado epela Secretária Municipal da pasta da Saúde.

Além do mais, verifica-se ser inconsistente tanto a defesa quanto a alegaçãoda Secretária Deysi Piovesan, de que a administração desejava apenas levar umaproposta bem instruída para deliberação do Conselho Municipal de Saúde.

Em primeiro lugar, porque, para se levar uma proposta de convênio a umconselho com caráter deliberativo, como é o Conselho Municipal de Saúde, não énecessário já ter uma Organização Social escolhida. Propostas, em regra, sãoapresentados com base em projetos básicos, estudos, orçamentos e projeções.

Em segundo lugar, como muito bem apontado na denúncia, é competência doConselho Municipal de Saúde não apenas autorizar os convênios com entidadesprivadas, mas, também, definir os critérios para a celebração dos contratos ouconvênios entre o setor público e as entidades privadas de saúde e estabelecer asA1152.189.2018

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diretrizes quanto à localização e tipos de unidades prestadoras de serviços desaúde no âmbito do SUS (art. 3º, incisos VII e IX, da Lei Municipal nº 3.871/92).

Ou seja, a própria formulação da terceirização do Posto de Pronto-Atendimento 24h deveria, obrigatoriamente, ser antecedida de deliberação peloConselho Municipal de Saúde, principalmente porque compete a ele definir oscritérios para a celebração de convênios e estabelecer as diretrizes quanto àlocalização e tipos de unidades prestadoras de serviços de saúde no âmbito doSUS.

O papel do Conselho Municipal de Saúde não se resume, portanto, e aocontrário do quanto afirma a defesa, de meramente selar a escolha feita pelodenunciado e sua Secretária, mas a de participar ativamente, de forma livre einformada, das políticas públicas relacionadas ao SUS, participando de suaformulação e estabelecendo diretrizes a serem observadas pela Administração.

Não foi o que se observou, entretanto.

Na ata da reunião do dia 23 de novembro de 2017, já se verifica apreocupação dos Conselheiros com a proposta de terceirização do Posto deAtendimento 24h. Da mesma forma, na ata da reunião do dia 12 de dezembro, jáconstava a designação de uma reunião extraordinária, marcada para o dia 20 dedezembro, para discutir a proposta.

Não obstante já ser de conhecimento da Secretária Municipal de Saúde areunião extraordinária do Conselho Municipal de Saúde marcada para o dia20 de dezembro do, desde o dia 12 de dezembro, é de se destacar que foimantida a data para o julgamento das propostas para o dia 18 de dezembro,conforme ata do procedimento seletivo simplificado nº 180/2017 juntada aoprocesso, indicando a intenção de levar adiante o procedimentoindependentemente da decisão do Conselho Municipal de Saúde, posto nãoexistir justificativa para não se suspender o processo, pelo menos até a decisãodo Conselho, considerando as circunstâncias do caso.

Também é importante notar que a decisão de revogar o procedimentoseletivo só foi tomada após votada a admissibilidade do processo de

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impeachment.

De toda sorte, a contratação não chegou a se consumar, não porprevidência da administração, mas por força tanto do repúdio do ConselhoMunicipal de Saúde quanto da continuidade do presente processo, podendo-semesmo dizer que a postura do denunciado orbitou a esfera da tentativa, quenada mais é do que uma causa de diminuição de pena, não afastando, todavia,a existência da infração.

Para efeitos de impedimento, diante das circunstâncias e das provasapresentadas até este momento, a cassação do mandato do denunciado revelar-se-ia uma medida desproporcional, mesmo diante do reconhecimento dasinfrações cometidas, pois é necessário ir mais a fundo na questão, face aconstatação da gravidade dos problemas de saúde na cidade, pois há maisquestões a serem investigadas e que não foram a princípio objeto da presentedenúncia.

Por tais razões, conclui-se pela improcedência da denúncia, quanto a estainfração.

 8.4. Infração nº 4: suposto descumprimento da Lei Municipal nº 7.896, de

25 de novembro de 2014, que estabelece a composição do Conselho Municipalde Defesa do Meio Ambiente, em razão da não manutenção da paridadeobrigatória na composição do Conselho, entre entidades governamentais eentidade da sociedade civil organizada e por representantes de entidades quenão fazem parte do conselho tomaram posse como membros

Acusam os denunciantes o descumprimento, pelo denunciado, de formar oConselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, que possui competênciadeliberativa e consultiva e de julgamento de recursos administrativos, emdesacordo com a Lei Municipal nº 5.401, de 08 de maio de 2000, alterado pela LeiMunicipal nº 7.896, de 25 de novembro de 2014, suprimindo a participação dorepresentante da Associação de Recicladores, e apenas 08 (oito) entidades previstasem lei teriam tomado posse no COMDEMA, aquebrantando a necessária paridadeobrigatória entre as entidades governamentais (13 representantes) e a sociedadecivil organizada (8 representantes).

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O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul (STR) também teriasido alijado da participação no COMDEMA, e o Sindicato Rural Patronal estariarepresentado por um servidor público do Município de Caxias do Sul. Umaentidade teria tomado posse sem que o assento esteja previsto em lei: o Sindicatodos Trabalhadores Agricultores Familiares de Caxias do Sul (STAF).

Acreditam os denunciantes que tais fatos conduziriam à nulidade de todas asdecisões do Conselho, principalmente multas, lançamentos de débitos em dívidaativa, e decisões relacionadas ao Fundo Municipal de Defesa do Meio Ambiente(FUMDEMA).

Em sua defesa, o denunciado protesta pela ausência de infração às regrassobre a composição do Conselho Municipal de Meio Ambiente, pois incumbiria àsentidades participantes a indicação dos seus representantes e muitas delas não ofizeram. Quanto ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, ele apenas mudou denome para Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Caxias do Sul(STAF).

Como prova, foi ouvida a testemunha Patrícia Rasia, Secretária Municipal doMeio Ambiente, que afirmou ter sido respeitado o Regimento Interno doCONDEMA, pois a indicação dos representantes é feita pelas próprias entidadesque compõem o Conselho. Esclareceu a testemunha que algumas entidades nãoindicaram seus membros, tais como as instituições de ensino superior.

A respeito da Associação dos Recicladores, a testemunha informou que elavinha sendo representada pela Associação de Reciclagem Serrano, na pessoa daSra. Neura Almeida Braz, presidente da associação, a quem foi dirigida aconvocação. Já em relação às entidades ecológicas, elas vinham sendorepresentadas pelo IMA, pelo Instituto Seres e pelo IPPA. O Ippa (InstitutoPampeano de Proteção Ambiental) já tinha sido reconduzido pela segunda vez,tempo máximo de participação no conselho, enquanto que o Instituto Seres e oIMA indicavam titular e suplente, sendo obrigatório, contudo, que titular e suplentesejam da mesma entidade. A questão foi levada ao plenário do Conselho ficandodefinida a forma de participação, com a desistência do IPPA. O IMA e o InstitutoSeres não manifestaram interesse. Após várias discussões e deliberações, oCOMDEMA definiu o Instituto Orbis e a Eco Caxias como ocupantes daquelas

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vagas.

Com relação ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, a testemunha esclareceuque esse sindicato trocou de nome, passando a se denominar Sindicato dosTrabalhadores Agricultores Familiares (STAF).

Em relação ao Sr. Jorge Cassina, foi o Sindicato Rural Patronal quem oindicou.

Afirmou que não houve ordem do denunciado para alijar do conselhonenhuma entidade.

Indagada se a falta de paridade poderia prejudicar a aplicação das verbas doFundo Municipal do Meio Ambiente, a testemunha também tergiversou,apresentando diversos dados, mas sem responder à indagação. Ainda sobre osefeitos da composição do COMDEMA, foi indagado se os recursos de multasadministrativas julgadas pelo Conselho seriam passíveis de anulação pelo PoderJudiciário e se todos os lançamentos de débitos em dívida ativa poderiam serquestionados, bem como todas as decisões relacionadas ao Fundo Municipal deDefesa do Meio Ambiente. A testemunha respondeu que essas possibilidades eram"uma faculdade da parte", "independente de haver paridade ou não", assegurandoque "uma questão é a paridade, a questão das 13 entidades governamentais e 13não governamentais" e que ela não diz respeito à ausência de membros dasentidades não governamentais, mencionando existir uma "resolução na qual temespecificamente as rubricas onde podem ser aplicados os valores", não se tratandode algo "que possa ser modificada pelos conselheiros", razão pela qual a questãoda paridade não seria importante.

Compulsando os autos da denúncia, bem como os documentos juntadospela defesa e os esclarecimentos prestados pela Secretária Patrícia Rasia, não háoutra conclusão a se chegar senão a da improcedência da denúncia, quanto aesta infração.

Ficou demonstrado que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais apenas trocoude nome, passando a se denominar Sindicato dos Trabalhadores AgricultoresFamiliares (STAF), não havendo, portanto, a participação de entidade não prevista

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em lei. Além do mais, de fato, compete às entidades a indicação dos seusrepresentantes, não havendo provas de que o denunciado tenha obstado alguma dasentidades de apresentar seus nomes, ou de que existam entidades não previstas emlei participando do Conselho.

Por tais razões, conclui-se pela improcedência da denúncia, quanto a estainfração.

 8.5. Infração nº 5: suposto descumprimento da Lei Municipal nº 8.183, de

21 de dezembro de 2016, que institui o Plano Municipal de Gestão Integradade Resíduos Sólidos (PMGIRS) de Caxias do Sul, em razão do nãoatendimento das metas definidas nos seus eixos temáticos e do prazo paraelaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico (31 de dezembro de2017), data a partir da qual o Município não teria mais acesso a recursos daUnião, destinados ao setor.

A denúncia sustenta que as ações estratégicas previstas na Lei Municipal nº8.183, de 21 de dezembro de 2016, que instituiu o Plano Municipal de GestãoIntegrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS), divididas em metas organizadas em 16Eixos Temáticos, estão sendo descumpridas pelo denunciado.

Nenhuma das metas previstas para o ano de 2017 teria sido cumprida,afirmando que apenas a meta 11.1 foi atendida, ainda pela Administração passada,em 2016.

Sustentam que o prazo para os gestores municipais elaborarem o PlanoMunicipal de Saneamento Básico terminava em 31 de dezembro de 2017 e que, apartir desta data, o Município que não tivesse o plano instituído não teria acesso arecursos orçamentários da União destinados ao setor.

O denunciado argumentou, por sua vez, que as metas de 2016 não foramcumpridas pela Administração anterior, e que a lei foi aprovada a menos de 15 diasdo fim daquele governo, além do que, no orçamento para 2017, não foramprevistos recursos para algumas delas.

A testemunha Patrícia Rasia, da pasta do Meio Ambiente, afirmou que a lei

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que institui o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos foipublicada em 21 de dezembro de 2016 e que ela possui apenas sete artigos. Asmetas, estratégias e diretrizes não estavam previstas na lei. Fez referência a umadas metas, qual seja, "realizar o Licenciamento Ambiental das entidades detriagem de resíduos, parceiras do município, e estabelecer termo de referênciapara Licenciamento Ambiental Simplificado para as associações de triagemconveniadas com o município", informando que apenas duas associações possuíamlicença de operação, mas não conseguem cumprir as condições previstas para aoperação, tendo sido elaborado um termo de compromisso ambiental, mediante oqual elas se comprometeram a obter a licença ambiental no prazo de três anos.

Menciona também uma das metas: "elaborar um Inventário Municipal deArborização Urbana". Esse inventário já teria sido providenciado, propondo-se aadministração a executá-lo.

Afirma que a única meta prevista em 2016 era: eleger uma equipe oucontratar empresa especializada para avalição de fontes de captação de recursos eprojeção de planilhas orçamentárias de despesas operacionais, administrativas etributárias de encargos e investimentos, meta não cumprida pelo governo anterior epara a qual não foi prevista dotação orçamentária para o atual governo.

Segundo ela, as metas de 2017 foram cumpridas mesmo sem a dotaçãoorçamentária prevista, e o Plano Municipal de Saneamento Básico já foiencaminhado à Câmara Municipal, em 2017.

Também quanto ao presente ponto da denúncia, a única conclusão a que sepode chegar é de sua improcedência.

Sem a necessidade de maiores delongas, não há provas ou indícios dodescumprimento do Plano Municipal de Gestão Integrada de ResíduosSólidos. Eventual demora no cumprimento de metas ou eventuaisinconformidades entre as diretrizes e os objetivos previstos na lei e o plano deações do governo não são relevantes o suficiente para a cassação do mandatodo denunciado.

Por tais razões, conclui-se pela improcedência da denúncia, quanto a esta

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infração.

 8.6. Infração nº 6: suposta prática de atos que importam no impedimento

do regular funcionamento da Câmara Municipal, prejudicando sua função defiscalização, e descumprimento da Lei Orgânica do Município ao nomear, pormeio de Decreto, vereador para representar a Câmara Municipal naComissão Especial de Ocupação da Maesa.

A denúncia afirma que "de diversas maneiras o atual Prefeito Daniel Guerravem impedindo o funcionamento regular da Câmara, como noticiadorecorrentemente pela imprensa, e bradado pelos Vereadores em suasmanifestações na tribuna", dando como exemplos a "falta de diálogo", "falta deatendimento" e "falta de respostas por parte do Secretariado do Governo Guerra",e que "por determinação do Sr. Prefeito, nenhum Secretário Municipal estáautorizado a atender ou receber diretamente um Vereador", sendo "o único canalde comunicação entre os dois Poderes" o "Secretário de Governo Municipal, Sr.Luiz Caetano".

Além disso, sustentam que o denunciado tem afastado os Vereadores daparticipação de eventos realizados pelo Poder Executivo, convidando apenas oVereador Chico Guerra, seu irmão, "esquecendo-se" de que o representante legalda Câmara Municipal é o Presidente, a quem compete designar as representaçõesda casa legislativa. O auge do desrespeito teria ocorrido quando o denunciadonomeou, por meio de Decreto, o Vereador Chico Guerra para representar a Câmarade Vereadores na Comissão Especial de ocupação da Maesa, descumprindo a LeiOrgânica Municipal e a Constituição Federal, que estabelecem a harmonia e aindependência entre os poderes.

Para esclarecer esses fatos, foi ouvida a testemunha Luiz Eduardo Caetano,Secretário de Governo, que afirmou ter havido a adoção de procedimentos para aefetividade do atendimento das demandas não tendo havido "qualquer tipo dedeterminação, de sugestão ou alguma ordem para que se dificultasse o trabalhodesta Casa Legislativa", tanto é que "o senhor prefeito me designou,especificamente, para que atendesse os vereadores nas demandas que me fossemtrazidas, para que fizesse a interlocução, quando houvesse, nessas demandas, uma

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inter-relação entre setores da Prefeitura, que não fosse especificamente umaúnica secretaria que pudesse resolver a demanda."

A testemunha desmentiu a alegação de que, por determinação do denunciado,nenhum secretário municipal estaria autorizado a atender ou receber diretamenteum vereador, tendo ele designado a testemunha para "atender os vereadores damelhor forma possível e com a maior brevidade possível". Disse que "ossecretários municipais estão, sim, credenciados e liberados a falar, não só comvereadores, como com qualquer outra pessoa".

Sobre a nomeação do Vereador Chico Guerra para representar a CâmaraMunicipal na Comissão Especial de Ocupação da Maesa, a testemunha defendetratar-se de "uma prerrogativa do prefeito" "para que, apenas, ele pudesse, embenefício dos demais vereadores, clarear sempre as questões referentes àqueleprazo, àquele momento do processo de ocupação" e de que "a intenção e o porquêde colocar o líder do governo na comissão foi pensado, à época, para prestigiar oParlamento, que ele ficasse sempre a par, por meio do líder do governo, o qual éuma prerrogativa do chefe do Executivo", decisão esta que foi revista quandocogitou-se a edição de um Decreto-Legislativo para sustar o referido DecretoMunicipal, nesta parte.

Indagado se o denunciado havia determinado aos secretários municipais quetodas as demandas dos Vereadores deveriam obrigatoriamente passar pelaSecretaria de Governo ou pela liderança do governo na Câmara Municipal, atestemunha disse desconhecer tal orientação.

Disse ainda que em momento nenhum se ignorou a formação de comissões naCâmara Municipal para se tratar do assunto da Maesa, reconhecendo que amotivação para a designação do vereador Chico Guerra foi "a indicação do líderdo governo", mas "pensando em prestigiar os parlamentares".

Em relação à acusação de impedimento do funcionamento normal da CâmaraMunicipal pelos denunciantes em razão das queixas feitas publicamente porvereadores da dificuldade de serem atendidos por Secretários Municipais paratratar de assuntos de interesse da comunidade, assiste razão ao denunciado, nãoquando afirma não se tratar de infração político-administrativa, pois sua condutamuito bem poderia ser enquadrada como falta de decoro e comportamento

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incondizente com a dignidade do cargo, pois do Prefeito Municipal exige-serespeito e urbanidade no trato com os representantes do Poder Legislativo, masapenas quanto ao fato de que tais condutas, embora impróprias, não justificariamedida tão extrema que devesse levar à cassação do mandato.

Apesar de ser pública e notória a dificuldade encontrada pelos pares destaCasa em obter respostas às indicações feitas ao Poder Executivo, bem como a faltade atenção dos secretários aos vereadores da oposição, concentrando todas asdemandas advindas do Legislativo no Secretário de Governo, o que só pode advirde ordem do denunciado, essa conduta apenas revela o desconhecimento, talvez atéum certo desprezo do denunciado das funções institucionais de um dos poderes doMunicípio, que não é inferior, nem menos importante do que o Executivo.

O mesmo se pode dizer em relação à nomeação do Vereador Chico Guerracomo representante da Câmara Municipal na Comissão para a ocupação do prédioda Maesa. O ato é de desrespeito ao Poder Legislativo, e tanto o sabe o denunciadoque diante da ameaça de edição de um Decreto-Legislativo sustando o ato, revogouaquele Decreto, porém não se tratou de um ato que impediu o regularfuncionamento da Câmara Municipal.

A lei Orgânica do Município é cristalina ao afirmar que competeprivativamente ao Presidente da Câmara representá-la "em juízo ou fora dele" e,portanto, não pode o Chefe do Poder Executivo indicar nenhum vereador, paraqualquer finalidade institucional, sem observar essa regra.

Vale ainda o registro de que, diferentemente do quanto afirmado peloSecretário de Governo, que é porta-voz do denunciado e nada mais faz do quereproduzir o pensamento deste, a indicação do líder de governo não é uma"prerrogativa" conferida ao Prefeito Municipal, no sentido de uma competêncialegal, mas uma mera deferência que o Poder Legislativo concede ao PoderExecutivo para indicar alguém para falar em defesa de seus projetos. Nada mais doque isso.

Os fatos, contudo, em que pese representarem atitude descortês, nãocaracterizam propriamente atos impeditivos do funcionamento da Câmara.

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Por tais razões, conclui-se pela improcedência da denúncia, quanto a estainfração.

 8.7. Infração nº 7: suposta usurpação da competência da Câmara

Municipal para declarar a extinção do mandato do Vice-Prefeito, por meio doOfício nº 131/2017, de 31 de março de 2017, do Chefe do Gabinete do PrefeitoMunicipal e a promoção, pelo Procurador-Geral do Município, de açãojudicial declaratória de extinção do mandato do Vice-Prefeito. Expedição deordem de serviço declarando ilegais e ineficazes todos os atos do Vice-Prefeito,inclusive os atos futuros. Descumprimento de decisões judiciais garantindo olivre exercício do mandato do Vice-Prefeito.

Narra a denúncia que, no dia 6 de março de 2017, o atual Vice-Prefeito, Sr.Ricardo Fabris de Abreu, manifestou à Câmara Municipal sua intenção derenunciar ao mandato, retratando-se no dia 21 de março, tendo sido aceita aretratação. O denunciado, todavia, teria reagido "de maneira inapropriada" eordenado ao Chefe de Gabinete comunicar a extinção do mandato do Vice-Prefeito, por meio do Ofício nº 131/2017, de 31 de março de 2017, e, também,"mandado" o Procurador-Geral do Município promover ação declaratória deextinção do mandato do Vice-Prefeito, atos estes que atentariam contra asprerrogativas do Poder Legislativo, "a quem compete, privativamente, apreciar osrequerimentos dessa natureza", bem como contra o "livre exercício do mandatopolítico do Vice-Prefeito, segunda maior autoridade do Poder Executivo local".

O pedido de tutela de urgência foi negado pela 2ª Vara Cível Especializadaem Fazenda Pública da Comarca de Caxias do Sul, em 07 de abril de 2017, e em22 de julho de 2017, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul exarouparecer opinando pela improcedência da ação ajuizada. Na visão dos denunciantes,com o ofício expedido pelo Chefe de Gabinete e com e o ajuizamento da açãodeclaratória de extinção do mandato, o denunciado intrometeu-se no "livrefuncionamento da Câmara de Vereadores".

Além disso, o denunciado teria também reagido "de maneira inapropriada",de acordo com os denunciantes, ao anular ordem de serviço do Vice-Prefeito,determinando a "Todas as secretarias, fundações e autarquias" que expedissem"uma ordem de serviço interna para seus servidores e/ou CCs com os seguintesdizeres: A Ordem de Serviço nº 01/2017 de 11 de abril de 2017, expedida pelo Sr.A1152.189.2018

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Ricardo Fabris de Abreu é nula, tornando-se sem efeito quaisquer de seusatos. Da mesma forma, todo e qualquer expediente emitido pelo Sr. Fabris não temeficácia e valor legal, devendo ser desconsiderado, tendo por fundamento o art. 31do Decreto nº 18.713 de 22 de março de 2017.", impedindo o Vice-Prefeito deexercer livremente seu mandato, constituindo-se em mera extensão do Ofício nº131/2017, de 31 de março de 2017, do Chefe de Gabinete, cassado judicialmente.

Sustentam, ainda, ter sido "indecoroso e indigno" ter ordenado ao Chefe deGabinete que comunicasse o Vice-Prefeito para "desocupar seu Gabinete, pormeio do Ofício nº 133/2017, de 03 de abril de 2017", reduzindo, por meio doDecreto nº 18.713/2017, a função do Vice-Prefeito a representá-lo, quandodesignado, em solenidades.

Em seu testemunho, o Chefe de Gabinete, Sr. Júlio César Freitas sustentouque o denunciado não lhe determinou que expedisse o Ofício nº 131/2017,argumentando que todos os secretários "têm autonomia sobre as questõesadministrativas dentro da sua área", e que expediu aquele ofício por uma questãode "readequação do espaço funcional interno". Igualmente afirmou não ter sidoiniciativa do denunciado o ajuizamento da ação judicial declaratória de extinção domandato do Vice-Prefeito, tendo sido, na verdade, uma orientação da PGM para"segurança dos atos jurídicos praticados".

De acordo com a testemunha, o denunciado nunca orientou a Administraçãopara que não se cumprisse uma determinação judicial. Sustenta que as alteraçõesrealizadas dentro do prédio administrativo, buscaram acomodar, da melhor maneirapossível, todas as secretarias, que, em nenhum momento foi feita alteração comoforma de represália ao Vice-Prefeito e que, quando o Poder Judiciário determinou adevolução do espaço do gabinete do Vice-Prefeito nas condições originais, esta foiimediatamente cumprida.

Indagado se tanto a ordem de serviço expedida pela testemunha quanto oajuizamento da ação declaratória de extinção do mandato do Vice-Prefeito tinhamsido feitas com o conhecimento do denunciado, com relação à ação proposta peloMunicípio, a testemunha confirmou que ela foi ajuizada com a anuência dodenunciado. Já com relação ao ofício, após tergiversar, a resposta foi negativa.

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Quanto à alteração das atribuições do Vice-Prefeito, indagado sobre de quemteria sido a iniciativa, a testemunha igualmente não respondeu.

O denunciado defendeu-se das acusações dizendo nunca ter tentado "cassar"o mandato do Vice-Prefeito, pois não foi ele o autor do Ofício nº 131/2017 e nãoordenou à Procuradoria-Geral do Município o ajuizamento da ação declaratória deextinção do mandato do Vice-Prefeito.

Assevera que a justiça comum teria lhe dado razão ao acolher suailegitimidade passiva no mandado de segurança impetrado pelo Vice-Prefeito,entendendo não ter sido ele o autor do ato tido como ilegal. Defende não ser ilegala edição da ordem de serviço nº 03/2017, posto que o Vice-Prefeito não possuiriacompetência para editar a ordem de serviço por ela anulada.

O entendimento deste relator é de que a denúncia é inteiramente procedentequanto ao cometimento de infração político-administrativa pelo denunciado, poissua conduta está enquadrada no artigo 4º, inciso X, do Decreto-Lei nº 201/76,combinado com os artigos 99, inciso I, II, III e V, da Lei Orgânica do Município, ecom o art. 85, incisos II, V e VII, da Constituição Federal, por extensão.

As provas carreadas aos autos permitem inferir que o denunciado, movido porinteresse pessoal e utilizando-se de interpostas pessoas, tentou usurpar acompetência privativa da Câmara Municipal para extinguir o mandato do Vice-Prefeito Municipal, comprometendo o decoro e a dignidade do cargo.

Destarte, o Decreto-Lei nº 201/67, ao tratar da extinção do mandato do Vice-Prefeito2, deixa claro competir privativamente ao Presidente da Câmara Municipalaquela declaração, incumbindo a ele, e somente a ele, reconhecer a ocorrência deuma das seguintes situações: falecimento, renúncia por escrito, cassação dosdireitos políticos ou condenação por crime funcional ou eleitoral.

Assim, quando um agente político do Poder Executivo expede um ofícioconsiderando extinto o mandato do Vice-Prefeito e determina a desocupação dogabinete, declarando que ele estaria impedido de exercer suas funções, este agenteflagrantemente usurpa uma função privativa da Câmara Municipal, atentandocontra "o livre exercício dos Poderes constituídos" (art. 99, inciso I, da LOM); "aA1152.189.2018

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probidade na administração" (art. 99, inciso III), eis que probidade ésinônimo de fiel cumprimento dos princípios administrativos, dentre os quais o dalegalidade, o da impessoalidade e o da moralidade; e ao "cumprimento das leis"(art. 99, inciso V, primeira parte, da LOM).

É bem verdade que a sentença proferida no mandado de segurança impetradopelo Vice-Prefeito Municipal, que garantiu o exercício do mandato, reconheceu ailegitimidade passiva do denunciado, e a testemunha Júlio César Freitas assumiu aresponsabilidade pessoal pela expedição do Ofício nº 131/2017.

Ocorre que o conjunto da prova dos autos apresenta indícios suficientes parase concluir tratar de caso de autoria mediata, isto é, que o referido documento foiexpedido por ordem do denunciado, tendo se valido do Chefe de Gabinete comomero instrumento para a prática do ato.

Ocorre autoria mediata quando o verdadeiro autor da infração, isto é, aqueleque tem o dolo de praticá-la, domina a vontade alheia e se serve de outra pessoapara a prática dos atos materiais, atuando esta última (o autor imediato) como meroinstrumento da vontade do primeiro.

Uma das situações consagradas da autoria mediata, conforme mencionaNucci (Código Penal Comentado, 14ª ed., Forense, 2014, p. 299), se dá justamentenos casos de "obediência hierárquica".

A relação de hierarquia entre o denunciado e o Chefe de Gabinete é patente.

Conforme estabelece a Lei Complementar Municipal nº 312, de 22 dedezembro de 2008, a estrutura organizacional básica do Poder Executivocompreende a Coordenação Política e Governança exercida pelo Prefeito doMunicípio e pelo Gabinete do Prefeito (art. 7º, inciso I).

Ao gabinete do Prefeito incumbe a "gestão de relacionamento com asinstituições públicas e privadas, para a implementação de políticas públicas" (art.22), competindo-lhe: "II - a assistência ao Prefeito nas relações políticas,públicas e oficiais do governo;" e o "IX - relacionamento com a CâmaraMunicipal;".

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No art. 75 da referida lei, constam as competências específicas do Chefe deGabinete (inciso II), dentre as quais: "promover a assistência direta ao Prefeito nodesempenho de suas atividades"; "despachar diretamente com o Prefeito,transmitindo suas determinações; representar o Prefeito quando designado";"apresentar ao Prefeito Municipal relatórios das atividades do Gabinete"; e"praticar os atos necessários ao cumprimento das atribuições do Gabinete eaqueles para os quais receber delegação de competência do Prefeito.".

Como se vê, o Chefe de Gabinete, ao contrário do alegado pelo titular dapasta em seu depoimento, não detém plena autonomia para tomar decisões,fazendo-o normalmente em conjunto com o Prefeito (alínea c) ou por delegação(alínea k), devendo, nos demais casos, apresentar "relatórios das atividades"(alínea h).

É fato que somente a existência da relação de hierarquia é insuficiente para seconcluir pela existência de autoria mediata, mormente porque inexistente, no caso,confissão.

A prova direta não é a única admitida, contudo. Também podem levar àconclusão da autoria a prova indiciária, conforme estabelece o art. 239 do Códigode Processo Penal:

"Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendorelação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ououtras circunstâncias."

Veja-se que o art. 239 do Código de Processo Penal encontra-se no CapítuloX do Título VIII do Código de Processo Penal que trata "da prova". Logo, indíciostambém são meio de prova, ao lado das provas diretas.

Da mesma forma, o Código de Processo Civil prescreve, no art. 369, seremlícitos todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que nãoespecificados no Código, para provar a verdade dos fatos.

E os indícios da autoria, em relação a esta infração, são muitos econtundentes.A1152.189.2018

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Em primeiro lugar, o próprio Chefe de Gabinete, quando indagado sobre a"questão da verticalização do poder: prefeito, Gabinete, secretários e assim pordiante", isto é, se era o denunciado quem determinava o encaminhamento dasquestões de governo ou se elas passavam por ele, respondeu:

"Obviamente o responsável final pelas decisões deste governo Elas são doprefeito municipal. (...) A decisão final dos atos que são tomados é após muitasdiscussões, muitas reuniões com todos os envolvidos nas áreas e, principalmente,sempre com o acompanhamento da Procuradoria-Geral do Município."

E que:

"(...) seria uma ingenuidade da minha parte achar, como o Sr. RicardoFabris de Abreu gosta de dizer, que um subalterno como eu, através de um ofício,teria o poder de extinguir o mandato do senhor vice-prefeito."

Segundo a testemunha, portanto, o denunciado é sempre o responsável final"pelas decisões deste governo" e que, por ser um "mero subalterno", reconhece ser"ingenuidade" acreditar que por meio de um ofício ... ele "teria o poder deextinguir o mandato do senhor vice-prefeito".

É muito pouco crível, diante do que a própria testemunha afirmou, imaginarque uma decisão de tamanha envergadura e importância, qual seja, desafiar decisãoda Câmara Municipal e declarar extinto o mandato do Vice-Prefeito, tenha sidoarquitetada e executada de forma independente pelo Chefe de Gabinete, sem oconhecimento e anuência do denunciado, que é, nas próprias palavras datestemunha, "o responsável final pelas decisões deste governo".

Inclusive porque, em outro momento de seu depoimento, a testemunhatambém relatou que, quando o Vice-Prefeito encaminhou ao denunciado a intençãode renunciar:

"(...) o senhor prefeito ainda teve todo o cuidado de perguntar para o Sr.Ricardo Fabris se ele tinha certeza do que estava fazendo. E que isso era umadecisão muito séria, e que isso era uma decisão que impactaria no governo eimpactaria, principalmente, com a população de Caxias. A população de CaxiasA1152.189.2018

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outorgou um mandato de quatro anos ao prefeito municipal Daniel Guerra eao Sr. Ricardo Fabris de Abreu. E o prefeito sempre deixou muito claro quenenhuma diretriz do governo iria modificar com aquele fato, mas que isso era umdeboche, isso era um desrespeito, isso era um tapa na cara da população deCaxias do Sul"

É difícil acreditar que um Prefeito que diz ao seu Vice que a entrega de umacarta contendo a intenção de renunciar era "um deboche", um "desrespeito" e um"tapa na cara da população", e sendo "o responsável final pelas decisões destegoverno" não tenha tomado partido na expedição do Ofício nº 131/2017, se nãocomo mandante, ao menos como partícipe (coautoria), anuindo com ele.

Além do mais, verificando-se a cronologia dos fatos, pode-se notar que oVice-Prefeito comunicou a retratação do seu desejo de renunciar ao mandato nodia 21 de março e, imediatamente no dia seguinte, o denunciado editou o Decretonº 18.713, de 22 de março de 2017, dando nova redação ao art. 31 do RegimentoInterno do Gabinete do Prefeito, que passou a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 31. Ao Vice-Prefeito, além do previsto na Lei Orgânica do Município ena Lei Complementar nº 321, de 22 de dezembro de 2008, compete:

I - auxiliar o Prefeito no exercício de suas atribuições, quando convocado; e

II - representar o Prefeito Municipal em solenidades, quando oficialmentedesignado."

Compulsando a redação original do art. 31, dada pelo Decreto nº 16.780, de 6de dezembro de 2013, constata-se que o Vice-Prefeito possuía diversas outrasatribuições além de meramente auxiliar o Prefeito, quando convocado, ourepresentá-lo, quando designado, inclusive com certo grau de autonomia ("propormedidas destinadas ao aperfeiçoamento ou redirecionamento de programas,projetos e atividades em execução, com vistas à sua otimização"; "coordenar aelaboração e execução de programas e projetos específicos"; "fazer verificaçõesde serviços e obras municipais"; "propor a constituição de comissões ou grupos detrabalho, para a execução de atividades especiais"; "propor o estabelecimento deA1152.189.2018

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convênios, ajustes, acordos e atos similares com órgãos e entidades públicasou privadas, na área de sua competência"; "acompanhar a execução e ocumprimento de convênios, ajustes, acordos e atos similares firmados peloMunicípio"; "acompanhar projetos do Executivo em tramitação na CâmaraMunicipal").

Esse decreto antecede o Ofício nº 131/2017, que só foi ser expedido no dia 31de março de 2017, dia em que a renúncia deveria ter ocorrido, se não tivessehavido retratação.

Após isso, no dia 13 de abril de 2017, sete dias após a concessão de medidaliminar suspendendo os efeitos do Ofício nº 131/2017, esta ocorrida em 5 de abril,o denunciado também assinou, desta vez pessoalmente, uma ordem de serviço(Ordem de Serviço nº 3/2017), na qual constou expressamente que "todo equalquer expediente" expedido pelo Vice-Prefeito não teria "eficácia e valorlegal".

É importante indagar, aliás, por qual razão esta ordem de serviço não foiexpedida pelo Chefe de Gabinete, uma vez que, como ele mesmo disse, em seudepoimento, ele tem competência para esse tipo de ato.

Voltando à ordem cronológica dos fatos, tem-se, então, o seguinte:

a) no dia 6 de março de 2017, o Vice-Prefeito entrega a carta com a intençãode renunciar ao mandato, e o denunciado haveria dito a ele que isso era "umdeboche", "um desrespeito", "um tapa na cara da população de Caxias do Sul";

b) no dia 22 de março de 2017, um dia depois de o Vice-Prefeito reconsiderara decisão de renunciar ao mandato, o denunciado edita decreto limitandodrasticamente as atribuições do Vice-Prefeito a auxiliá-lo e representá-lo apenasquando convocado;

c) no dia 6 de abril de 2017, o denunciado autoriza a Procuradoria-Geral doMunicípio a ingressar com ação declaratória de extinção do mandato do Vice-Prefeito;

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d) no dia 13 de abril de 2017, sete dias depois de ser concedida medidaliminar suspendendo o Ofício nº 131/2017, o denunciado expede uma ordem deserviço declarando sem eficácia e valor legal "todo e qualquer expediente" emitidopelo Vice-Prefeito.

e) no dia 6 de março de 2018, em seu depoimento, o Chefe de Gabinetereconheceu que o responsável final pelas decisões do governo é o PrefeitoMunicipal;

f) além disso, no dia 19 de janeiro de 2018, julgada improcedente a açãodeclaratória de extinção do mandato do Prefeito, a Procuradoria-Geral doMunicípio interpõem recurso de apelação ao TJRS.

Diante de todos esses fatos, alguns deles anteriores ao Ofício nº 131/2017,outros posteriores, o denunciante pretende fazer crer que, embora todos os demaistenham sido praticados pessoalmente por ele, ou com sua anuência, apenas esseofício foi expedido por iniciativa exclusiva do seu Chefe de Gabinete.

De toda forma, há a questão relacionada ao ingresso com a ação declaratóriade extinção do mandato do Vice-Prefeito.

Mesmo que a iniciativa tenha sido da Procuradoria-Geral do Município,conforme relato da testemunha Júlio César Freitas, fato é que o órgão derepresentação jurídica do Município não pode agir sem a autorização ou a anuênciado denunciado, e a tese de que se buscou segurança jurídica com aquela ação nãoconvence, pelo menos não com o ingresso da referida ação declaratória.

O Decreto-Lei nº 201/67, em seu art. 6º, inciso I, é muito claro quando afirmaque o mandato só se extingue, pela renúncia, após a declaração pelo Presidenteda Câmara Municipal:

"Art. 6º Extingue-se o mandato de Prefeito, e, assim, deve ser declarado peloPresidente da Câmara de Vereadores, quando:

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I - Ocorrer falecimento, renúncia por escrito, cassação dos direitos políticos,ou condenação por crime funcional ou eleitoral.

Se o Presidente da Câmara não declarou extinto o mandato, não há nenhumainsegurança jurídica a ser afastada pelo Poder Judiciário.

E é evidente que inexiste interesse jurídico do Município de Caxias do Sulpara que o Poder Judiciário se manifeste sobre a questão, pois atribuindo a leifederal ao Poder Legislativo a competência para declarar a extinção do mandato doVice-Prefeito, e não se tratando de uma competência constitucional do PoderExecutivo, não se justifica que um órgão da administração direta (Chefe do PoderExecutivo) se valha, ou, pelo menos, autorize que outro órgão da administraçãodireta (Procuradoria-Geral do Município) promova uma ação judicial para"contestar" decisão de órgão constitucional também da administração direta (PoderLegislativo), que exerceu uma competência que lhe é privativa e definida por lei.

O que havia era um interesse de governo, da pessoa do denunciado.

Esse interesse ficou assentado tanto no Parecer do Ministério Público quantona Sentença proferida na referida ação declaratória (processo nº 9002062-72.2017.8.21.0010), da qual se extraem os seguintes excertos:

"A discussão encontra-se na esfera do direito administrativo e nesse âmbitoa Administração Pública não dispõe de autonomia da vontade, porque estáadstrita ao cumprimento da vontade da lei.

(...)Com efeito, considerando que o objetivo da parte requerente é a declaração

de extinção do mandato eletivo do Sr. Vice-Prefeito, Ricardo Fabris de Abreu,face sua manifestação expressa de renúncia ao mandato a contar de 31/03/2017(fls. 15), cabe simples apontamentos sobre a repartição de poderes e o ato derenúncia ao mandato eletivo.

O governo municipal divide-se em funções executivas de responsabilidade da"Prefeitura" e as legislativas de competência da Câmara de Vereadores. Essarepartição de funções executiva e legislativa visa a obstaculizar que umórgão de um Poder exerça atribuições do outro, ou seja, visa a garantir a

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independência dos Poderes.

"Assim sendo, a Prefeitura não pode legislar, como a Câmara não podeadministrar. Cada um dos órgãos tem missão própria e privativa: a Câmaraestabelece as regras para a administração; a Prefeitura as executa, convertendo omandamento legal, genérico e abstrato, em atos administrativos, individuais econcretos. O Legislativo edita normas; o Executivo pratica atos segundo asnormas. Nesta sinergia de funções é que residem a harmonia e independência dosPoderes, princípio constitucional extensivo ao governo local. Qualquer atividade,da Prefeitura ou da Câmara, realizada com usurpação de funções é nula einoperante."

Ainda, convém destacar que os titulares dos cargos de mandato eletivo doPoder Executivo (Prefeito e Vice-Prefeito) possuem atribuições políticas eadministrativas típicas e próprias dos cargos. Há atos de competência exclusivadesses titulares e os que dependem de prévia autorização legislativa ou deaprovação posterior da Câmara para sua perfeição e validade.

(...)Nesse escólio, da simples leitura das premissas supra citadas, extrai-se que a

extinção do cargo, pela renúncia expressa do titular, se opera através dedeclaração do Presidente da Câmara Municipal, ou seja, depende de ato do PoderLegislativo para a sua perfectibilização. Por conseguinte, somente se consideraefetiva depois de lida em sessão e transcrita na respectiva ata, sem o que o ato nãose aperfeiçoará antes de cumpridas as formalidades a cujo respeito é expressa alei.

(...)Portanto, recebida e acolhida a retratação pela pessoa competente a dar

validade e eficácia a esse ato, não há espaço legal para querer fazer valer oanterior, pois desprovido dessa última condição, ou seja, o ato de renúnciacontinha aparência de validade, todavia era ineficaz logo, imperfeito, pois nãodeclarado pelo Presidente da Casa Legislativa local."

(sem destaques no original)

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O argumento da segurança jurídica, portanto, não convence.

A declaração de extinção do mandato dos cargos de Prefeito e Vice-Prefeito éuma competência privativa do Presidente da Câmara Municipal, e se este nãodeclarou extinto o mandato do Vice-Prefeito, o denunciado tinha a obrigaçãoinstitucional de acatá-lo e respeitá-lo, em nome da independência e harmonia dospoderes.

O mínimo de decoro que se poderia esperar do Chefe do Poder Executivo,nesta questão, era respeitar a decisão do Poder Legislativo, abstendo-se de utilizarum órgão de estado (a PGM) para atingir fins pessoais, de governo.

Todavia, embora o entendimento dessa relatoria da existência e docometimento por parte do denunciado de infração político-administrativa grave,passível de cassação do mandato, como essa questão já foi objeto de pedidoanterior de impeachment e esta Casa houve por bem, em decisão majoritária,decidir pelo arquivamento, deve-se a princípio, respeitar aquela decisão.

O eventual ajuizamento de Ação Penal, por descumprimento de decisãojudicial, que restou comprovada na presente instrução, com a supressão edescumprimento das atribuições legais do cargo de Vice-Prefeito previstas na LeiOrgânica do Município e na Lei Complementar nº 321, de 22 de dezembro de2008, e eventual penalização por crime de responsabilidade pelo PoderJudiciário, é matéria afeta ao mesmo.

Por tais razões, conclui-se pela improcedência da denúncia, quanto a estainfração, e pelo envio de cópia dos autos do processo ao Ministério Público,para instauração de Inquérito Civil, Procedimento Investigatório Criminale/ou ajuizamento da correspondente Ação Penal, se assim o órgão ministerialcompetente entender cabível.

 9. Conclusão Final

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O art.99 da Lei Orgânica Municipal, ao repetir o art. 85 da ConstituiçãoFederal, estabelece importar em responsabilidade "os atos do Prefeito ou do Vice-Prefeito que atentarem contra as Constituições Federal, Estadual, a Lei Orgânicae: I - o livre exercício dos Poderes constituídos; II - o exercício dos direitosindividuais, políticos e sociais; III - a probidade da administração; IV - a leiorçamentária; V - o cumprimento \das leis e das decisões judiciais."

As infrações articuladas nos itens 1, 2 e 7 da denúncia, como disse o própriodenunciado, configuram condutas típicas descritas ou no art. 1º do Decreto-Lei nº201/67, tratando-se, portanto, de crime de responsabilidade (crime comum), ouatos de improbidade administrativa, previstos na Lei nº 8.429, de 2 de junho de1992, que deverão ser apurados pelo Poder Judiciário.

Quanto às infrações articuladas nos itens 4, 5 e 6 da denúncia, após ainstrução, verificou-se, ou que elas não se confirmaram, ou que não se tratam deinfrações político-administrativas, ou, ainda, que não se justificaria a cassação domandato do denunciado, devido à ausência de suficiente gravidade, embora asinfrações tenham sido efetivamente cometidas em alguns casos.

Em relação à infração articulada no item 3 da denúncia, a questão relacionadaà saúde merece maior aprofundamento, pois a questão é muito mais ampla do queaquela apresentada na denúncia, havendo questões ainda a serem esclarecidassobre outras condutas do denunciado não articuladas a princípio na acusação.

Por fim, a infração articulada no item 7, além de eventual enquadramento porcrime de responsabilidade por descumprimento de decisão judicial no âmbito doPoder Judiciário, poderia levar à cassação do mandato do denunciado, não fosse ofato de que esta Casa, em outra oportunidade recente, mandou arquivar denúnciacom idêntico conteúdo, devendo-se, portanto, respeitar a decisão soberana játomada pelo Plenário, evitando-se incorrer em bis in idem, uma vez inexistente fatonovo sobre o caso.

Em face ao exposto, conclui-se pela improcedência das denúncias,submetendo-se o presente relatório à deliberação dos demais membros daComissão Processante.

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 Vereador Edio Elói FrizzoRelator da Comissão Processante

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