redescobrindo o culto nago do principe culstodio rudinei borba 04.06.2013

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    REDESCOBRINDO O CULTO NG DO PRNCIPE CUSTDIO

    NO BATUQUE AFRO-SUL

    Rudinei O. Borba

    Maro / 2012

    RESUMO

    O propsito deste texto reestudar a origem do Prncipe Negro do Rio Grande

    do Sul (Custdio Joaquim de Almeida) e tambm discutir qual o tipo de culto Africano

    o mesmo praticava dentro do Batuque Afro-Sul.

    Para que possamos demonstrar nossa linha de raciocnio e uma anlise mais

    ampla, teremos que abordar dois tipos distintos de assuntos:

    1. Quem so osNg no Batuque Afro-Sul?2. Qual Origem do Prncipe Custdio Joaquim de Almeida? Teria ele introduzido

    o culto Vodn dos Fon da Rep. Pop. do Benin (ex-Dahomey) ou teria ele

    introduzido todo cultoNg no Batuque Afro-Sul?

    PALAVRAS CHAVES: Prncipe, Custdio Joaquim de Almeida, Yorb,Ng,Benin,

    Fon, Batuque.

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    Redescobrindo o CultoNg no Prncipe Custdio no Batuque Afro-Sul - Rudinei Borba

    INTRODUO

    Na primeira parte do nosso estudo, tentaremos mostrar que o conceito de religio

    tradicional e cultura Ng so mal compreendidos, tanto no Brasil, quanto dentro do

    Batuque, onde se entende que Ng so todos grupos iorubs que falam o mesmo

    idioma. Ao longo do nosso ensaio tornaremos acessveis diversos materiais para que

    esse ponto de vista possa realmente ser estudado e entendido dentro da nossa cultura

    religiosa.

    Na segunda parte, abordaremos o vasto contedo referente ao Prncipe Negro

    em Porto Alegre (Custdio Joaquim de Almeida), apresentando materiais escritos por

    outros autores, onde tentaremos entender um pouco mais a origem deste personagem to

    importante para o crescimento do nosso Batuque.

    Teria realmente ele sido prncipe filho de Oba Ovonramwen Nogbaisi (1888 -

    1914) o imperador do Reino dos Edo localizado na Nigria e ter ele introduzido o culto

    Vodn dos Fon do lado da Rep. Pop. do Benin no Batuque?

    Tentaremos analisar uma possvel hiptese de Custdio ter introduzido o culto

    Ng no Sul do Pas (o Batuque), ao contrrio do que muitos acreditam ter ele

    introduzido o culto Vodn dos Fon do Dahomey (atual Rep. Pop. do Benin) no nosso

    Estado. Daremos incio ao nosso estudo, abordando o tema Ng para que assim

    possamos analisar se Custdio foiNg, Fon ou Edo.

    Quem so osNg?

    Para que possamos entender o que Nao iorub Ng, temos primeiro que

    estar seguros do entendimento das Naes iorub na frica. So iorubs todos os povos

    Owo, Ekiti, Ijes, Igbomina, y, Egba, Ijebu, Egbado, Ibarapa, Awori, Ife, Ondo,

    Ketu, Sabe, Ng, Ohori. Por falarem o mesmo idioma so chamados de iorub.

    Analisando o mapa abaixo podemos notar que indepedente de regio e ou cidadeesses nomes citados foram colocados em letra maiscula e no formato negrito para

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    classificar Naes iorub dentro de cada regio, com suas culturas e rituais distintos,

    que estendem-se da Nigria at a Rep. Pop. Do Benin. Devemos informar que esses

    nomes destacados no so localidades e sim servem apenas para dizer que existem

    grupos iorubs nestas regies. O mapa tambm demonstrar que apesar de pessoas

    iorubs estarem situados em pases diferentes, possuem o mesmo dialeto ou derivados

    dele. Tambm percebemos que no esto situados apenas na Nigria e sim sendo, se

    estendem at o Pas Rep. Pop. Do Benin, onde o culto Vodn tem sua predominncia.

    Com propsito do nosso trabalho, focaremos apenas no estudo iorub Ng,

    conforme destacado de vermelho no mapa, pois estes, independente de estarem dentro

    da Rep. Pop. Do Benin so iorubs por falarem o mesmo idioma. preciso evidenciar

    que osNg possuem sua maneira de cultuar os rs com algumas divindades dos Fon

    dentro do mesmo templo, pois se analisar no mapa fica claro que se trata de um grupo

    de pessoas iorubs que ficam na fronteira entre os dois Pases e mais precisamente esto

    situados dentro do territrio onde a predominncia do culto as divindades da cultura

    Fon, por esse motivo acabam tendo influncias em seus rituais. Fato este j

    documentado pelo escritor Bb Osvaldo Omotobtl (2008, p. 07) onde o mesmoclassifica as Naes iorubs de acordo com o pas em que esto situados, como segue:

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    nossa).

    A ler a parte fornecida pelo autor em seu livro, fomos busca de outros

    materiais para tornar esse entendimento mais claro, OsNg so as pessoas, ou melhor,

    grupos de pessoas iorubs que migraram para o Sul do Dahomey (atual Rep. Pop. do

    Benin) onde permanecem at os dias atuais, vivendo na fronteira entre os dois pases

    Africanos, como tivemos acesso no mapa anterior e dividindo ambas as culturas.

    Segundo Vivaldo da Costa Lima (1974, p. 10) Ng o nome que os Fon do

    Dahomey (atual Benin) deram aos iorubs que migraram para seu territrio, muito antes

    da escravido e que teria o significado de Lixo ou Piolhentos, pois quando

    chegaram de Egbabo, fugindo de suas guerras inter-tribais, "vinham esfarrapados,

    cheios de piolhos, famintos e doentes". Estes iorubs que migraram para o reino do

    Dahomey tiveram que adaptar-se a cultura do pas, criando um sincretismo de suas

    divindades rs com alguns Vodn, como j foi documentado por Abmbl

    1

    (1997 p.88), onde o mesmo relata que os povos vizinhos dividiam suas divindades, como segue:

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    Ao ler o relato, temos o entendimento que os povos antes da escravido j

    cultuavam divindades de seus vizinhos e que no foi misturado aqui no Brasil.

    Identificamos tambm uma forte evidncia de que os grupos iorubs Ng que

    estavam dentro do territrio de seus vizinhos, levaram o culto rs e adaptaram algunsVoduns a seu culto, por estarem situados dentro de um territrio onde realmente se

    praticava outra cultura, mas nem por isso deixavam de ser iorubs. Ao ler o material de

    Abmbl podemos entender tambm porque o idioma falado pelos Ng dentro do

    Dahomey um idioma derivado do iorub dito puro, que provm do imprio de y e

    que recebe o nome de Ede-Ng, conforme departamento de linguagens Africanas2,

    onde claramente aparece o idioma derivado do iorubcujo nome Ede-Ng e como

    segue no item 19 do mapa, conforme legenda na imagem abaixo:

    2. INTERNET, Disponvel em:

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    Ao ver o mapa percebe-se que ao Sul do Benin (item 19) existem iorubs Ngque falam um idioma derivado do mesmo. Se analisarmos esse fato, muito claro, pois

    usamos como exemplo o nosso Brasil, que mesmo sendo um pas de colonizao

    Portuguesa, no fala o idioma de Portugal, pois sofreu influncia de outros idiomas.

    Vivaldo da Costa (1974, p. 06) j havia indicado esse acontecimento aqui

    mesmo no Brasil, onde acreditamos que muitos no tiveram acesso, como segue:

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    No Brasil, percebemos muitas dvidas sobre como o culto de cada rs na

    frica, acreditando que cada um cultuado apenas em suas localidades, fazendo que se

    pensasse que vieram para o Brasil um culto de cada divindade, localizada em cada

    regio, mas devemos pensar que um rs passa de divindade local, para divindade

    global, assim como ocorreu com Sng, Obtl, etc3. Nos dias atuais presenciamos

    festivais espalhados ao longo de territrios iorubs com diversos iniciados em diversos

    rs.

    Analisamos que no perodo em que os escravos Ng foram trazidos para o

    Brasil, o culto j veio mesclado, pois j se fazia iniciaes em determinados rs e os

    mesmos no vieram, por exemplo, um rs sun deIjes, um rs Sng de y eassim sucessivamente at serem misturados nas senzalas Brasileiras.

    Um iorub Ng situado dentro da Rep. Pop. do Benin no faz culto semelhante

    a um iorub localizado emIbarapa na Nigria, nem mesmo igual a um iorub Ktu. O

    fato dos Ng terem vindo para o Brasil, no quer dizer que ela seja exatamente pura,

    pois eles migraram da Nigria para o Dahomey (atual Rep. Pop. do Benin) pouco antes

    da escravido e pelo que percebemos, eles nem eram to bem vindos pelos povos Fon.

    Outro fato analisar que os Ng foram nomeados assim pelos Fon e que tambmintroduziram sua crena em territrio dos Vodn, mas com a ressalva de que eles

    poderiam ter sido mesclados muito antes de chagarem a regio da fronteira entre os dois

    pases, pois j chegaram nesse local com suas divindades mescladas, podendo tambm

    ter tido mistura de divindades com outros iorubs vizinhos.

    3. Para saber mais ver: A concepo ioruba da personalidade humana, Paris, 1981, traduo, nota ecomentrios de Luiz L. Marins, in, Internet, Revista Olorun, n. 03, Abril de 2011,

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    Percebemos tambm que existem duas denominaes para o termo Ng, o

    primeiro ele como grupo de pessoas na frica antes da Escravido, e o segundo seu

    aspecto j dentro do Brasil como base de culto religioso e ganhando a qualidade de

    nome a todos os grupos iorubs no Brasil.

    Segundo Elbein dos Santos (1993, p. 26-30) o nome Ng foi dado pelos

    ingleses a todos os povos que falavam o idioma iorub, indiferentemente de estarem em

    quaisquer territrios e tambm para diferenciar dos demais grupos tnicos que viam

    para o Brasil, como exemplo os Bant que pertenciam outra cultura, bem como

    tambm dos Fon doDahomey.Ao analisar esses fatores, percebemos que causam muita confuso ao longo dos

    tempos e que Vivaldo da Costa j havia destacado estas diferenas j no ano de (1974).

    Para entendermos mais sobre os Ng tivemos que pesquisar sua vinda para o

    Brasil, bem como sua cultura, religio e crena, como veremos a seguir.

    O Trfico de EscravosNg para o Brasil

    Segundo site4 muito rico de informao no que se refere ao nosso tema

    abordado, informando minuciosamente o trfico de EscravosNg para o Brasil, onde

    podemos analisar e estudar como tudo isso ocorreu:

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    4. INTERNET, disponvel em:

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    Ao analisar a parte apresentada pelo site destinado a Histria, fica evidente que

    assim como y estava em guerra com Dahomey, atual (Rep. Pop. do Benin), acabou

    havendo um lucro com a escravido. O trfico de escravos destinado para as colnias do

    novo mundo, incluindo o nordeste do Brasil, tinha sido praticado por pases europeus

    desde o sculo XVI. Brasil, quando ainda uma colnia Portuguesa, lanou-se o

    comrcio de escravos em 1721, e abriu seu primeiro armazm de escravos na cidade de

    Ajud (Ouidah).

    A Fortaleza de So Joo Batista de Ajud (Ouidah) foi o primeiro armazm de

    escravos gerenciados por Brasileiros em frica a partir de 1721, assegurando ao Brasilum grau de independncia em relao aos traficantes de escravos africanos que

    operavam no Pas Benin, e a partir de ento, o Brasil exerceu maior o controle do

    trfico. A instalao de um entreposto Brasileiro na Costa dos Escravos foi um negcio

    altamente lucrativo para o Brasil naquela poca.

    Fica fcil perceber onde foi estabelecido o forte So Joo Batista, bem no

    territrio onde estava o grupo de pessoas iorubsNg.

    Omotobtl (2008, p. 08) fornece minuciosamente os locais onde foram

    estabelecidos os postos de envio de escravos, como segue:

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    traduo nossa).

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    Ao ler trecho do livro publicado pelo autor, bem como, as fotos fornecidas emseu livro, fica evidente que os escravos eram agrupados para depois serem enviados nas

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    embarcaes, partindo de Ouidah, portanto fica evidente que no tem como a Religio

    do Batuque ter sido estruturada em senzalas j situadas no Brasil. Pensar que o culto foi

    estruturado aqui o mesmo que achar que no havia religio e cultura na frica e

    tambm acreditar que no havia organizao de culturas no continente Africano, sendo

    os povos todos misturados.

    O Batuque a Cultura religiosa trazida pelos escravos iorubs Ng da Rep.

    Pop. do Benin, mas que sofreu mescla antes da escravido. Temos que ter o

    entendimento que apesar de terem sido enviados escravosBant para o Brasil, o culto

    oNg, pois os grupos tnicosBant no tiveram uma expanso religiosa to grande nonosso pas em comparao aos Ng que vieram da Rep. Popular do Benin (Ex-

    Dahomey). A partir dos dados abordados e estudados sobre a cultura Ng, poderemos

    agora analisar a vinda de Custdio para o Brasil, estudando fatores apresentados j por

    outros autores e que no so to claras para o nosso entendimento. Alguns autores

    dizem ele ter sido filho de um rei que teve seu imprio num local totalmente oposto a

    cultura Vodn dos Fon. J em outros relatos sua origem de Ajud (Ouidah), que para

    nosso entendimento seria mais coerente, como veremos. Analisaremos a origem de

    Custdio de duas formas:

    1. Ele vindo do Reino Edo no Benin (Nigria), sendo filho do Imperador ObaOvonramwen NOgbaisi e herdado o ttulo de prncipe.

    2. Ele ter vindo deAjud (Ouidah) de onde partiram todos Yorb Ng para o Brasil,sem ganhar ttulo algum de rei e sim como personagem importante no Batuque,

    vindo como portador de um ttulo importante para os Yorb, como veremos.

    1. PRNCIPE CUSTDIO VINDO DO REINO DO BENIN (NIGRIA)

    Muito se tem escrito sobre a vida do Prncipe Custdio de Almeida nos materiais

    apresentados no Rio Grande do Sul, mas alguns com poucas informaes confiveis e

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    que no provam a veracidade do mesmo ter ttulo real. Primeiramente apresentamos a

    hiptese dele sendo originrio do Reino do Benin (Nigria).

    Para analisarmos a possibilidade dele sendo filho do Imperador Edo e ganho

    ttulo real de Prncipe, elegemos um material de infinita riqueza de contedo e relatos

    orais, que o trabalho feito por Maria Helena Nunes5, intitulado Custdio Joaquim

    Almeida: Um prncipe africano no Sul do Brasil publicado no livro Imaginrio,

    cotidiano e poder - memria afro-brasileira, So Paulo, 2007, onde abordaremos

    trechos importantes do seu livro para podermos entender um pouco mais a vida do

    Prncipe, j que esse um dos poucos escritos a respeito e com relatos do prprio filhode Custdio. Com esse material, tentarmos entender algumas possveis evidncias dele

    ser um descendenteNg, ao contrrio da maioria dos materiais publicados, informando

    ele ser originrio dos Fon6 do (Dahomey) ou at mesmo Edo7 do Benin (Estado da

    Nigria), originando o ladoDjdjno Batuque.

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    5. SILVA, Maria Helena Nunes da, O "Prncipe" Custdio e a "Religio" Afro-Gacha. Recife,dissertao de mestrado em Antropologia, UFPE, (1999). A autora Mestre em Antropologia pelaUniversidade Federal de Pernambuco e diretora do Museu Antropolgico do Rio Grande do Sul /Sedac.

    6. Idioma falado principalmente no Benin por 1,7 milhes de pessoas, sendo denominado Fongbe

    7.Segundo fonte Wikipdia, a enciclopdia livre: O Imprio do Benim ou Imprio Edo (1440-1897) foium grande estado africano pr-colonial da moderna Nigria. No deve ser confundido com o pas dosnossos dias chamado Rep. Pop. do Benim (antigo Dahomey).

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    Ao ler a parte apresentada pela autora, fica evidente que ocorreu uma distoro

    de fatos empregados atravs dos tempos, pois a mesma relata que o prncipe nasceu no

    Reino do Benin na Nigria, em fins do sculo XIX e morreu no Brasil em 1935.

    Como poderia um Prncipe considerado O Rei dos Djdjno Batuque nascer

    no Reino do Benin (Edo) localizado na Nigria?

    Outro fato a analisar sua relao com ObaOvonramwen NOgbaisi, sendo seu

    pai e que no confere as informaes, que veremos na sequencia deste nosso estudo.

    Para saber mais sobre onde est situado o Reino do Benin, verificar o mapa de onde

    supe que teria vindo o prncipe, da Nigria:

    Com a inteno de demonstrar que o Prncipe veio do Reino de Benin (Estado da

    Nigria) e reino Edo, outros escritores seguiram escrevendo que o mesmo era filho de

    Oba Ovonramwen NOgbaisi (1888-1914) sem procurar a origem e a prova, na qual

    nenhum conseguiu demonstrar e que tambm no o interesso do nosso estudo.

    Ari Oro (2002, p. s/n) documentou trechos apresentados tambm pela escritora

    mencionada, onde relata o que ele chamou de nome tribal do Prncipe:

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    Redescobrindo o CultoNg no Prncipe Custdio no Batuque Afro-Sul - Rudinei Borba

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    &5345)+5!3434$G+1C63;1C!&-@!5*4!3@5

    V^^^A7

    Fica evidente que existe confuso nesse relato, pois demonstra que o prncipe

    Custdio descendia do Reino do Benin (Nigria), no podendo ser o introdutor dos

    Djdjno Batuque.

    impossvel ele vir do Reino do Benin (Estado da Nigria) da cultura dos Edo e

    seu culto provir dos Djdjdo Dahomey, como afirma a fonte da informao coletada

    pelo escritor.

    Outro fato que devemos analisar a idade do filho do Oba na poca do seu

    reinado, onde consta apenas como terceiro filho e no primognito como afirmam ao

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    longo de diversos trabalhos apresentados, sendo seu nome Osuanlele, como veremos a

    diante.

    Usuanlele, sendo filho do rei Ovonramwen que morreu no Benin em 1921, no

    teria como ser Custdio, uma vez que morre no Brasil em 1935.

    No existem relatos da presena do prncipe Custdio sendo exilado para o

    Brasil na histria do Reino do Benin (Nigria), pois seria mais coerente ele ter vindo de

    Ajud (Ouidah), onde Leandro Balejos Pereira (2010, p. 52, fig. 05), publica uma figura

    que descreveremos exatamente como segue no seu trabalho. Um postal dos

    supermercados Zaffari em comemorao ao centenrio da Abolio da Escravatura noBrasil na poca:

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    9&3447/5)37

    Se o Prncipe veio da Rep. Pop. do Benin (So Joo Batista de Ajud), fica

    evidente que ele poderia ser um iorub Ng e no Edo vindo da Nigria, pois veio de

    uma regio onde estava e est situados as pessoas iorubs dentro da Rep. Pop. do Benin,como vimos anteriormente.

    Olhando pelo fato dele ter sido exilado em Ajud, mesmo assim no fechariam

    as datas de nascimento, tanto suas quanto de seu Pai, o imperador, onde Custdio teria

    quase sua idade.

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    Redescobrindo o CultoNg no Prncipe Custdio no Batuque Afro-Sul - Rudinei Borba

    2. PRNCIPE CUSTDIO VINDO DE AJUD (OUIDAH) DA REP. POP. DOBENIN

    Acreditamos que seria mais evidente que Custdio veio da Rep. Pop. do Benin,

    do territrio onde se encontram pessoas iorubs Ng que ficam em Ouidah e arredores.

    Segundo o material da Antroploga Maria Helena Nunes da Silva que sem

    dvida um grande material com relatos orais. A escritora no peca em nenhum

    momento, pois afirma que focalizaria apenas na parte do Prncipe como personagem

    importante dentro do Estado do Rio Grande do Sul, mas que sinalizou muito bem que o

    Prncipe continuar sendo uma figura incgnita e polmica na histria rio-grandense.

    Aproveitamos para lembrar que no era o objetivo do trabalho da escritora, dar a

    verdade da origem de Custdio.

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    Ao nos depararmos com relato da escritora, percebemos que havia um grupo de

    pessoas ligadas ao Prncipe e que no decorrer do nosso trabalho iremos abordar que tipo

    de grupo esse mencionado pela autora.

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    Redescobrindo o CultoNg no Prncipe Custdio no Batuque Afro-Sul - Rudinei Borba

    Nesta parte apresentada, nos deixa margem para dvidas, pois se o Prncipe foi

    enviado paraAjud (Ouidah) por problemas familiares, fica um tanto estranho ele partir

    de um Porto onde embarcaram todos demais escravos Ng para o Brasil, no

    existindo relatos comprovando ele ter sido exilado para So Joo Batista deAjud como

    personagem da realeza e filho do Oba Ovonramwen, onde o mesmo foi enviado

    juntamente com toda sua famlia, como veremos.

    A escritora informa na pgina seguinte que no ficou bem evidente a verdade

    dos fatos apresentados por seus entrevistados, referente existncia ou no do reino de

    Custdio e que iria deter-se apenas na memria do mesmo dentro do Estado Gacho.Segundo material de nome The Sword of Oba Ovonramwen (A espada de

    Ovonramwen), feito pelo professor S. Okwunodu Ogbechieem Novembro 2007, sendoesse descendente do Oba Ovonramwen, ou melhor, Bisneto do mesmo, traz resumo do

    livro Benin 1897 Art and the Restution Question da autora Peju Layiwola8, onde

    consta parte da queda do imprio do suposto pai de Custdio, o ObaOvonramwen:

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    55355-)4+)1&4&5-)155=55(54V^VTA7(a traduo nossa).

    8. INTERNET, disponvel em:

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    Redescobrindo o CultoNg no Prncipe Custdio no Batuque Afro-Sul - Rudinei Borba

    Ao analisar material fornecido, percebemos que a informao de que o Prncipe

    Custdio teria fortes ligaes de Porto Alegre com governo britnico, bem como, um

    bom relacionamento com os mesmos so duvidosos, pois a queda do governo de Oba

    Ovonramwen no foi to amigvel assim, sendo seu povo escravizado, bem como,

    sendo ele mesmo exilado com toda sua famlia. Se caso ele fosse realmente filho do

    mesmo, sendo prncipe, claro.

    Outro fato a analisar que caso ele fosse descendente realmente do Imperador, o

    professor S. Okwunodu seria seu descendente vivo, e se necessrio, poderamos ter

    acesso a uma investigao mais ampla dos fatos, o que acreditamos no ser necessriono momento, pois as datas apresentadas j podem demonstrar os fatos.

    Em relao ligao sangunea do Prncipe Custdio com o Rei, temos a

    seguinte informao, apresentada numa foto publicada por Anne Walthall em (2008, p.

    124), onde o mesmo aparece com esposa e filhos exilado em Calabar num perodo em

    que Prncipe Custdio j estaria no Brasil com idade avanada e mesmo assim

    aparece um filho do Imperador na foto junto a sua famlia, e esse filho teria o mesmo

    nome que sugere o principado de Custdio, como segue:

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    Redescobrindo o CultoNg no Prncipe Custdio no Batuque Afro-Sul - Rudinei Borba

    Ao analisar a foto apresentada, entendemos que existe uma confuso de fatos,

    pois o Prncipe Custdio apareceria jovem na foto em pleno ano de 1914, onde no

    fecharia as datas apresentadas da vida de Custdio, que nasce em 1830 e teria 84 anos j

    nessa poca. Com a presena dos dados apresentados, poderemos refletir um pouco

    mais nesse assunto to contraditrio, pois surge uma grande possibilidade de Custdio

    saber da informao do exlio da famlia do Imperador na poca e pode ter usado essa

    informao para ter um tipo de privilgio na comunidade que vivia em Porto Alegre e

    acabou se passando pelo mesmo da foto.

    Com a presena dos fatos, h fortes evidncias que Custdio era um iorub Ng

    e no Edo da Nigria, devido aos rituais que praticou dentro do Estado do Rio Grande

    do Sul, onde veremos no decorrer deste trabalho e que ser minuciosamente pesquisado.

    H fortes evidncias que o mesmo realmente veio de Ouidah, mas de onde partiu

    milhares de escravos Ng para o Brasil, podendo ser um dos difusores do nosso

    Batuque Sulino, mas no como fundador de rituais Djdjcomo segue sendo afirmado

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    Redescobrindo o CultoNg no Prncipe Custdio no Batuque Afro-Sul - Rudinei Borba

    dentro do Batuque do nosso estado e sim como um possvel introdutor de toda estrutura

    e religioNg.

    Conforme ainda no trabalho da Antroploga Maria Helena Nunes da Silva, nos

    fornece relatos preciosos da parte religiosa exercida por Custdio, como segue:

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    4-+=5>?!;54-44+)?)A7V^Wb

    Ao verificar a informao, temos o entendimento que Custdio poderia ser um

    Oly (Portador de um ttulo) na comunidade daquela poca, e que teria vindo j da

    frica com esse ttulo, onde se autodenominava Prncipe. Segundo informaes orais

    de Bb Osvaldo Omotobtl9 nos ajuda a entender um pouco mais dessa terminologia,

    uma vez que afirma seu sacerdote possuir este cargo semelhante na frica. Segue

    (informao pessoal):

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    9. Efetuou pesquisas mais em territrios da Rep. Pop. do Benin, explicando o culto YobNg emdiversos livros editados pela editora Lulu. O mesmo tem atualmente seu sacerdote localizado na Rep.Pop. do Benin.

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    Redescobrindo o CultoNg no Prncipe Custdio no Batuque Afro-Sul - Rudinei Borba

    NN 6=5!- )5=4-&4 + 3, F+4 514!5) -4 5) =4O!5)A7 (a

    traduo nossa).

    Com a informao apresentada pelo escritor, surge uma curiosidade que nos faz

    pensar na possibilidade de Custdio ser um lder religioso da poca, auxiliando os

    sacerdotes do Batuque naqueles tempos. Tendo ele um grupo de sacerdotes que

    praticavam rituaisNg no estado, isso poderia ter ajudado no incio da nossa religio,

    o Batuque.

    Segue mais informaes de Maria Helena Nunes da Silva:

    34 !? &!;5 63;) -4 )5!& 5F+ ! 5)3 = 4H=4>? -4 )4+

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    6=5A7V\5V^^U

    Ao ler parte do relato do filho consanguneo de Custdio escritora, entendemos

    que o prncipe j veio com algum ttulo de So Joo Batista (Ouidah) e que j veio com

    escravos que auxiliava ele nos rituais e nas festas dadas na sua moradia. Faz nos refletir

    tambm o fato de que aps a morte de Custdio, eles se mudaram para interior do nosso

    estado, onde surgiram grandes outros cones do nosso Batuque, pois poderia ser esses

    conselheiros que iniciaram os pais de santo que tiveram mais prestgio e

    reconhecimento naquela poca.

    Citamos a exemplo os consagrados sacerdotes do Batuque naquela poca, sendo

    eles Valdemar do Kamuka (lado Kanbina) e tambm Cujoba de Xang (lado Ijex),

    entre outros. Poderia ser os conselheiros de Custdio que ajudaram a estruturar nosso

    Batuque e pensamentos esses que nos faz escrever este ensaio. Dando sequncia no

    trabalho apresentado pela escritora:

    97VRU

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    5V^Wb

    Ao ler a parte riqussima de informao, surgem evidncias mais fortes que o

    culto praticado por Custdio realmente era o ritualNg trazido da Rep. Pop. do Benin,

    pois o mesmo j fazia rituais dos rsBara seguindo at sl, como mencionado

    na entrevista. Sendo ele o introdutor do culto Vodn, teria que praticar rituais e cultura

    dos Fon, caso tivesse realmente trazido o ladoDjdjpara o Rio Grande do Sul.

    Outra (informao pessoal) importante que Omotobtl fornece que o nome

    religioso de Custdio Osuanlele Okisi Erupe tem um forte indcio de ser um idioma

    Ede-Ng, como segue:

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    +)5 51535@5N)+53434N = 5143-- !47!4 + 5143- $) !?

    =!;4> &53@4G )4'5 &5( +5 54@5>? + 5143-7 +14 ( &5( +5

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    Fon, muito menos Edo do estado da Nigria, onde o culto e o idioma so

    totalmente diferentes do culto iorub Ng.

    Dando sequncia no material de Maria Helena Nunes da Silva, onde o Dionsio (filho de

    Custdio) relata:

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    )&41-443))-4K+)&- 4)&4!-50)4 =4&54!&45)4)

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    5)=5!>5)55@5+&7345'+-5@5+&5)=5!>5)75)41555)+3;44)@43;5)-5F+4343+57

    @O;O454-=!)43;-4=;464)-1D!=14K+)&-4154=4!?

    &4!;=4&4G5F+4455)@43;-434)4+&4)14&5-1)+5)54-5

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    ;4))&4)=!)-45-+&)155)4+1@-4=7\U

    5V^W^

    44))4)=;464)&5(X!D)&4@5)345!>5)B

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    -41515734)451-4))4&4-)1+&54!&47e+5!-434)F+45

    =;5553+(45)355)46))4;4+=5&4)46))4+3;4+5

    =55@4)&-5=5)+15)-4)5!&-5&5314))5F+4)4F+45=;557X&

    464&41+=&415&5314))5 4)&5@55&4!- !5 1&5-4F+4;5@5

    =;55-A7

    Mais uma vez fica evidente que Custdio tinha um conselho que efetuava rituais

    religiosos no estado. Deixa margem para nosso entendimento que houve grande

    concentraes de seus seguidores no Bairro MontSerrat, local esse de onde surgem

    grandes cones do nosso Batuque naquela poca e onde provm o lado religioso que

    chamam no nossos Estado de Jeje. Este lado religioso ganhou grande expanso

    atravs do saudoso sacerdoteBblrs Joozinho de Bara Ijel (Ex B) que provm

    do lado religioso de Custdio.

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    Apresentamos um relato oral da Senhora Iara Pontes10, uma descendente

    religiosa da Saudosa Me Moa11 de sun, como segue:

    !)))&5-[?G!;-5455!-45-4L?4>54

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    (1=5A7(Viamo, Janeiro, 2011)

    Certamente este apenas uma parte do relato de grandes conversas que tivemos

    com Me Iara de Adague, o que nos ajudou muito a vir realizar outros trabalhos em

    outras oportunidades. Fica evidente com relato dessa grande sacerdotisa que o povoBatuqueiro era muito unido naquela poca e ajudavam uns aos outros, trocando

    conhecimentos que poderia fortalecer o culto.

    10. ylrs com 70 anos de iniciada no culto, sendo ela do rsBar Adague e herdeira religiosa dacasa da Saudosa Laudelina Pontes de Bara Ijel, ambas do lado religioso do y no Batuque, edescendentes de Me Moa da sun. Atualmente Dona Iara mora em Viamo RS.

    11. Foi uma grande sacerdotisa da poca que ajudou a expandir seu culto religioso de raz y noBatuque.

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    Por outro lado no trabalho apresentado pela escritora, fala de V Nh, afinal,

    quem era esse sacerdote que nunca tivemos conhecimento de suas feituras dentro do

    nosso Batuque? Ser que ele ajudou a expandir o culto no nosso Estado, junto com seus

    membros do conselho de Custdio? Deixamos esses questionamentos nvel de

    reflexo a todos ns.

    Seguindo o material com depoimento do filho de Custdio a escritora, relata:

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    Aproveitamos e apresentamos tambm em seguida outra pgina do material,

    para que seja complementado nosso pensamento:

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    4+!- 553H 364- I445 4)-4!&4 !5

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    Conceito de Nao dentro do Batuque Afro-Sul

    No podamos deixar de falar em conceitos de Nao dentro do Batuque, pois

    nosso trabalho ficaria incompleto se no analisssemos esta parte. Agora que j temos

    entendimento do conceito de Naes iorubs como vimos anteriormente e podemos ter

    analisado que:

    So iorubs da Nigria: y (Yorb), gbmin (gbnn), kt, js, Owu,

    gb (gbd um sub-grupo gb), Awori, (Woli), jeb, barapa, Ondo, If, Owo.

    So iorubs Na Rep. Pop. Do Benin (ExDahomey):Ng (Ang ouLukumi em

    Cuba), Sab (Popo), Ktu, Ohori. Tambm se encontram em menor concentrao

    vivendo no Pas alguns grupos gb-Egbado.

    Podemos entender com nosso estudo que sendo o Batuque seu culto iorub

    Ng, no quer dizer que mesmo assim no tenha vindo pessoas da regio de Ijes para

    esse local de onde partiram os escravos, bem como, outros grupos tnicos como

    exemplo y que levaram seus rituais de suas regies para dentro da cultura Ng e

    ocorrendo a mistura de rituais apenas, no mistura de Naes.

    Usaremos um exemplo comum dentro do nosso Batuque que o caso da

    denominao NaoIjes que entendemos no ser correta essa expresso, pois o fatode um iorub Ng efetuar rituais de sun dentro do seu culto, no os torna Ijes.

    Apenas denomina a raiz do culto de onde provm esta divindade, bem como, toda sua

    estrutura religiosa. O Ritual pode serIjes, mas o culto Ng e assim poderemos ter

    um entendimento melhor que um iorub de Ketu, possui seus rituais diferentes, mesmo

    cultuando sun.

    Assim podemos explicar a diferena do culto praticado pelo Candombl que o

    mais influente, os de iorub Ketu, transparecendo ao povo do Batuque que o culto foi

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    misturado aqui aps a escravido. Apesar do Batuque e o Candombl efetuarem rituais

    diferentes, no faz que ambos deixem de ser iorub, pois mudam as Naes de ambos.

    J dentro do conceito de Naes dentro do Batuque, este tema mal

    empregado, pois sendo a NaoNg, os demais seriam os lados, ou razes religiosas. O

    lado religioso no Batuque que chamam de Nao Ijes pratica rituais com mais

    predominnciaIjes, mas mesmo assim sua Nao no deixa de ser a iorub Ng, e

    assim sucessivamente com os demais lados do Batuque Afro-Sul.

    Temos o exemplo do relato anterior, onde Me Moa da sun pertencendo ao

    lado y no tinha rs Olde e pediu a Joozinho do Bar Ajel para que assimfizesse o assentamento desta divindade que ele tinha conhecimento dos rituais e por ser

    homem, uma vez que mulheres no cuidavam desta divindade. Isso sim mistura de

    rituais dentro do Batuque, mas ambos no deixam de serem iorubs Ng. Acreditamos

    que foram os rituais que se misturaram no Batuque, por alguns terem maior

    predominncia de sua raiz religiosa e no a Nao propriamente dita.

    Com o mau entendimento dos fatos apresentados, fez que as pessoas pensassem

    que todo culto do Batuque foi misturado e criado nas senzalas, no perodo da escravido

    e colonizao do nosso pas.

    O Culto Bant no Rio Grande do Sul (Kanbina)

    Analisando os fatos do Batuque sendo oriundo dos iorubs Ng, como pode

    cultuar toda uma cultura e religio totalmente diferente como a dosBant13?

    Muitos adeptos do Batuque acreditam que a vertente religiosa denominada

    Kabinda provm da regio Angolana de Kabinda14. Acreditamos que para isso ser

    13. Os bantos (grafados ainda bantu) constituem um grupo etnolingustico localizado principalmente nafrica subsariana que engloba cerca de 400 subgrupos tnicos diferentes. A unidade deste grupo,contudo, aparece de maneira mais clara no mbito lingustico, uma vez que essas centenas desubgrupos tm como lngua materna uma lngua da famlia banta.

    14. Kabinda uma cidade da Repblica Democrtica do Congo. a capital da provncia de Lomami.Tem 126.723 habitantes. A cidade possui um aeroporto, chamado Aeroporto Tunto. Esta tambm uma provncia de Angola.

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    possvel teria que todo Batuque ter introduzido toda cultura Bant nos rituais, pois

    ambos possuem divindades, tabus, plantas, diferentes, assim como idioma e tudo que

    envolve uma cultura religiosa. Pensamos que uma no entra na outra!

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    =!&5&145!4!&4=)+5)&45)-447c777d7Elbein dos Santos (2002, p.

    31).

    Ao verificar o trecho apresentado por Elbein dos Santos ficam evidente que ospovos de origemBant foram os primeiros trazidos para o Brasil, onde participaram de

    toda agricultura, plantaes de caf no perodo pr-colonial do Brasil e estes sim

    viveram em senzalas como escravos e tiveram grande participao na estrutura do

    Brasil, tanto em idioma, quando em cultura Brasileira como exemplo o Samba.

    Lembramos que quem d o nome sempre so os vizinhos, por isso os Bant

    chamavam os ritmos e toques de tambor dos Ng de Batuque no Estado. O que pra

    eles j era um tanto estranho, toques de tambor, pois os mesmos j haviam sido

    escravizados e digamos cristianizados. Estes sim mantiveram o sincretismo catlico

    dentro das senzalas. Originando a Macumba Carioca e a Umbanda, onde

    analisamos que essas modalidades de culto possuem mais influncia do sincretismo,

    afinal, de onde provm o culto dos Pretos Velhos na Umbanda? Geralmente vemos

    Pretos Velhos do Congo, de Minas, da Guin, de Angola, etc. a maneira de manter

    viva a ancestralidade destes que tanto ajudaram no Brasil e que sendo assim, seu culto

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    est associado aps escravido. So espritos de Velhos, e no espritos deles jovens

    antes de serem trazidos para o Brasil.

    fcil perceber que osNg vieram bem depois, quando o Brasil j estava mais

    estruturado, fazendo com que os mesmos tivessem mais contato com povo urbano,

    trabalhando nas casas, como domsticos, criadores, cuida-dores de cavalos, numa poca

    em que o Brasil, bem como, em Porto Alegre j estavam em franco desenvolvimento.

    Falar de escravos que adentraram no nosso Estado atravs de Charqueadas no diz que

    os mesmos foram os que introduziram o culto YorbNg no Rio Grande do Sul, pois

    isso se deu muito tempo antes da vinda dos Sudaneses para c. O fato de terdescendentes Bant dentro do Rio Grande do Sul, no quer dizer que tenha sua religio

    sido introduzida e praticada.

    CONSIDERAES FINAIS

    Tivemos a grande satisfao em estudar todos esses materiais de cunhohistrico, sem nenhuma inteno acadmica, afinal, o autor um pesquisador autodidata

    que no tem o interesse de afirmar nada e sim trazer essas questes a serem analisadas,

    deixando entendimento a critrio do leitor.

    No tivemos a inteno de desprestigiar a figura lendria do Prncipe Negro de

    Porto Alegre, muito ao contrrio, acreditamos que esse ttulo mesmo que no real, um

    ttulo de Prncipe do Batuque Afro-Sul, onde acreditamos que sua contribuio foi

    fundamental para estrutura do mesmo.

    Lembramos tambm que se Custdio no tivesse influncia poltica e religiosa

    com personalidades importantes da poca, ficaria difcil a estrutura do nosso Batuque no

    Rio Grande do Sul, pois seria difcil a polcia da poca interferir nas festas dos rs

    que Custdio fazia, tendo a presena de pessoas ilustres e influentes, como a esposa de

    Borges de Medeiros15 e outras pessoas importantes do meio poltico na poca. Custdio

    15. Antnio Augusto Borges de Medeiros (Caapava do Sul, 19 de novembro de 1863 - Porto Alegre, 25de abril de 1961) foi um advogado e poltico brasileiro, tendo sido presidente do estado do RioGrande do Sul por 25 anos, durante o perodo conhecido como Repblica Velha.

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    foi um grande personagem da cultura do Batuque, mesmo que no doDahomey como se

    acredita na atualidade da crena Afro-Gacha e mesmo que no venha do Imprio Edo e

    tenha sido filho do Imperador do Benin (Nigria).

    Por outro lado tivemos a inteno de demonstrar conceitos de Nao Yorb,

    onde muito se discute que nosso culto teria sido estruturado nas senzalas do Brasil, e

    misturados, adaptados e eleito o idioma dos iorubs para os cultos. Acreditamos sim que

    foi falta de escritores, pesquisadores da poca para analisar com mais preciso nossa

    estrutura antes de um estudo mais amplo desse assunto, e que foi ao longo dos tempos

    tido como uma verdade absoluta dentro do Batuque.Entendemos tambm que a parte mais discutida dos fatos o caso Nao

    Kabinda no Estado, que alguns acreditam ser culto de Inkices16 dentro da cultura

    iorub, o que para nosso entendimento seria impossvel17.

    Tentamos demonstrar ao longo do trabalho que o fato de povos serem iorubs,

    no quer dizer que pratiquem os mesmos rituais, pois eles usando o mesmo idioma ou

    derivados dele como o Ede Ng no quer dizer que so iguais.

    Como exemplo, citamos a Espanha que uma Nao igual Venezuela, o

    Equador, a Bolvia, sendo ambos Espanhis, por falarem o mesmo idioma, porm os

    Venezuelanos, os Bolivianos, Equatorianos no so Espanhis e os Espanhis no so

    Equatorianos, nem Venezuelanos, nem to pouco Bolivianos. O Espanhol apenas o

    idioma falado, pois hoje em dia, o idioma generalizado entre todos os povos latino-americanos o Espanhol, devido que esse era o idioma do conquistador e foi

    obrigatrio. Pelo tipo de idioma que falam os povos da Amrica, so chamados

    Espanhol-falantes (que falam o Espanhol), mas no so Espanhis.

    Com os iorubs no foi diferente, pois so as pessoas que nascem em y,

    portanto estes habitantes so iorubs. Seu idioma o iorub e foram quem atravs de

    16. Inkices: Na mitologia dos povos de lngua kimbundu, originrios do Norte de Angola, O Deussupremo e Criador Nzambi ou Nzambi Mpungu; abaixo dele esto os Inkices (do kimbundu Nkisiou (plural) Minkisi ou Mikisi receptculos), divindades da mitologia Bantu. Esse deus corresponde Olorun e os Orixs da mitologia Yoruba.

    17. Para saber mais sobre o assunto, ver: WOLFF, Erick,A Entronao do Alfin e sua conservao:

    a nao Kanbina, no Batuque Ng do Rio Grande do Sul , So Paulo, 2011 in, Internet, RevistaOlorun, n. 05, Outubro de 2011,

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    um grande imprio conquistaram os demais povos que estava parenta dos pelo idioma e

    uma mesma origem (Ijes, Ng, Ktu, Ondo, Ife, etc). Hoje em dia o idioma

    generalizado entre todos esses povos o iorub devido que esse idioma era do

    Imperador e foi obrigatrio. Pelo tipo de idioma que falavam ditos povos, so tambm

    chamados iorubs ou iorubs-falantes, mas no sendo iorubsde nascimento.

    Uma pessoa nascida em Ijes aceita ser chamada iorub devido que falam um

    dialeto que provem desse idioma, mas no se considera "iorub", so Ijes e podem

    sentir-se insultados se lhes confundirem com um habitante iorub de y, j que ambos

    foram inimigos durante muitos anos, tendo cada um sua cultura, sua bandeira, seu hino.Sendo eles reinos distintos, foram agrupados pelos ingleses e os franceses baixo um

    territrio delimitado que logo se terminaria sendo chamando Nigria por um lado e

    Republica do Benin do outro.

    Do mesmo modo, una pessoa que nasceu no Brasil e fala portugus talvez possa

    ser chamado de "lusitana" porque fala em portugus, mas no so portuguesas, e sim

    Brasileiras. Como um grande amigo nos disse certa vez:

    Se a maioria das pessoas fossem iguais, at hoje seguiriam pensando que o planeta

    terra talvez fosse plano e as estrelas girassem em torno dele.

    Afinal, temos que discutir os fatos em vez de seguir repetindo conceitos mal

    empregados ao longo dos anos.

    se!

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    FONTES BIBLIOGRFICAS

    ABIMBOL, Wnd. If will mend our broken world Thoughts on Yorb Religionand Culture in Africa and the Diaspora, If, Iroko Academic Publishers, 1997.

    ABRAHAM, R. C. Dictionary of Yoruba Modern,London, 1962.

    BOWEN, Rev. T. J. Grammar and Dictionary of the Yoruba Language: With anIntroductory Description of the Country and People of Yoruba, Interior of Africa, 1879-1856.

    CORRA, Norton F., O Batuque do Rio Grande do Sul(Antropologia de uma Religio

    Afro-Rio-Grandense),Editora Cultura & Arte - 2 edio, Porto Alegre, 2006.ELBEIN DOS SANTOS, Juana. Os Nag e a Morte, Petrpolis, Vozes, 1993 [1986].

    JONHSON, Rev. Samuel. The History of the Yorubas - From the Earliest Times to theBeginning of the British Protectorate, Lagos, 1921-1960.

    OMOTOBTL, Bb Osvaldo.se Bb mi, Bayo Editores, Montevidu 2008.

    OMOTOBTL, Bb Osvaldo. Cultura y Religiosidad Djdj Ng, BayoEditores, Montevidu 2008.

    OGBECHIE, S. Okwunodu. The Sword of Oba Ovonramwen, trabalho realizado a partirdo livro, Benin 1897 Art and the Restution Question da autora Peju Layiwola,Nigria, 2010, ver in: