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1 Redes interinstitucionais e a democratização dos serviços na intervenção social com idosos Alda.M.Gonçalves ISS, I.P. (Instituto da Segurança Social, I.P.), Lisbon, Portugal Isabella Paoletti, CLUNL, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal. Octubro 2014

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    Redes interinstitucionais e a

    democratizao dos servios na

    interveno social com idosos

    Alda.M.Gonalves

    ISS, I.P. (Instituto da Segurana Social, I.P.), Lisbon, Portugal

    Isabella Paoletti,

    CLUNL, Universidade Nova de Lisboa,

    Lisboa, Portugal.

    Octubro 2014

    https://apseclunl.wordpress.com/mailto:[email protected]

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    ndex

    Introduo: Paoletti I & Mota, P Interveno inter-institucional

    e pessoas idosas

    Capitulo 1: Paoletti, I. A participao de cidados sniores

    promovida pela interveno inter-institucional

    Capitulo 2: Paoletti I. Um modelo de intervenao em parceria:

    planeamento, formao, criao conjunta de servios e

    avaliao

    Capitulo 3: Gonalves, A. Rede Social: Institucionalizao e

    consolidao de uma medida poltica

    Concluso: Gonalves, A. & Paoletti, I., A democratizao dos

    servios

  • 3

    Introduo: A interveno social com pessoas idosas. Uma perspectiva Integrada

    Isabella Paoletti I & Paulo Mota

    De forma a combater desigualdades, promover a coeso social e a

    sustentabilidade em relao populao idosa, necessrio observar no apenas at que

    ponto os servios so prestados, mas tambm como que so prestados para

    corresponderem s suas necessidades especficas, e em particular se, e como, servios

    sociais e de sade adequados promovem um papel activo das pessoas idosas e uma

    participao por inteiro na vida social. Isto importante no s para assegurar a

    qualidade de vida da populao idosa, mas tambm para prevenir o inevitvel custo

    social da sua excluso, em termos de dependncia crescente. Cuidados de qualidade

    podem assegurar uma vida melhor s pessoas idosas, mas tambm podem ter

    contrapartidas em termos de reduo da despesa em cuidados mdicos e sociais. Uma

    interveno dirigida compensao da reduzida capacitade das pessoas idosas no ser,

    provavelmente, sustentvel para as sociedades europeias a longo prazo. Esforos de

    preveno e reabilitao so necessarios para contrariar o processo de reduo das

    capacidades entre as pessoas idosas (Verbrugge & Jette 1994). A marginalizao e

    excluso social podem ser combatidas atravs da explorao e compreenso das

    circunstncias efectivas em que so produzidas interactivamente. A interveno

    institucional pode ter efeitos mobilizadores e positivos, promovendo o envelhecimento

    activo e a participao na vida social; mas pode tambm ter efeitos limitatativos e

    negativos, os quais podem ter consequncias dramticas para as pessoas idosas:

    deteriorao fsica e mental, e um aumento da dependncia.

  • 4

    O projecto APSE1: Envelhecimento, pobreza e excluso social: um estudo

    interdisciplinar sobre servios inovadores de interveno social (Paoletti 2014a; 2014b;

    2014c; Paoletti & Carvalho, 2012; Carvalho, Paoletti, Rego 2011) teve como objectivo

    produzir recomendaes que possam contribuir para a definio de polticas para as

    pessoas idosas, baseadas numa investigao que permita uma compreenso detalhada,

    em mltiplos nveis, de como o sistema de proteco social local pode contribuir para

    combater as desigualdades e a excluso social, e contribuir tambm para os objectivos

    da Unio Europeia (EU 2007) no que respeita coeso social e qualidade de vida

    numa Europa em envelhecimento. Pretende-se conhecer os esforos realizados ao nvel

    das medidas de poltica e descrever boas prticas na prestao de servios, de forma a

    combater as desigualdades e a excluso social, em relao s pessoas idosas. O estudo

    procura realar boas prticas na prestao de cuidados, ou seja, cuidados que assegurem

    no apenas a mera sobrevivncia, mas tambm a qualidade de vida e participao das

    pessoas idosas na vida social. O propsito central do projecto mostrar boas prticas na

    prestaao de cuidados, em relao as pessoas idosas em risco de excluso.

    E importante sublinhar a relevncia de uma perspectiva interactiva do

    envelhecimento. Ser idoso pode significar vrias coisas diferentes. De facto, a idea

    central do projecto que ser idoso no tanto uma caracteristica do sujeito, mas algo

    construdo socialmente na interaco do dia-a-dia (Paoletti 2008a; 2008b). Estudos em

    sociolinguistica examinaram o uso conversacional de categorias relacionadas com idade

    avanada (Coupland e Coupland 1989; 1993; 1994; 1998; 1999; Coupland, Coupland e

    Giles 1989;1991; Coupland, Coupland e Grainger 1991) e diferentes implicaes no

    trabalho de construo da identidade (Antaki & Widdicombe, 1998). Distanciando-se da

    categoria ou negao do envelhecimento (eu no sou velho) (Bultena e Powers 1978;

    Coupland e Coupland, 1989; Coupland, Coupland e Giles 1989) os entrevistados

    projectam para eles prprios uma identidade pessoal positiva. A associao com as

    caracteristicas prejudiciais da categoria muitas vezes utilizada para justificar

    limitaoes (eu sou velho ja no posso fazer isto) (Coupland & Nussbaum 1995; Taylor

    1992), com differentes implicaoes para a projeco da identidade. O envelhecimento

    activo muitas vezes associado distanciao em relao a categorizaoes de idade

    avanada, enquanto a associao com tais categorias est relacionada com auto-imagens

    de fragilidade e dependncia.

    1 This study was carried out with the financial support of the FCT.

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    A utilizao de categorias da idade em actividades prticas est longe de ser

    mecnico; esta utilizao est, pelo contrrio, entrelaado numa rede de objectivos,

    motivaoes, relevancia moral e prticas sociais e institucionais (Sacks, 1992; Hester e

    Eglin 1997). no curso de ocasies concretas e rotineiras que as pessoas ou ficam

    presas em construoes estereotipicas que as limitam e restringem as sua esfera de aco,

    ou so capazes de jogar habilmente com categorias, produzindo um espao para auto-

    imagens positivas, anunciando novas e excitantes perspectivas de vida (Paoletti, 1998a).

    Tais construes no so produzidas na cabea das pessoas, estando antes ligadas a

    contextos sociais e institucionais especificos, assim como a circustancias concretas

    enquanto produto de um trabalho interpretativo dos membros em relao a actividades

    especifcas. atravs da variabilidade do uso de categorias que tanto a marginalizao

    ou, por outro lado, a integrao so produzidos conversacionalmente (Paoletti, 1998a;

    2004). Asim tambm as mesmas prticas de cuidados podem contribuir para a

    independncia e incluso social das pessoas idosas, ou podem, pelo contrrio, reforar

    imagens de dependncia, fragilidade e excluso. til sublinhar a importncia da

    colaborao de diferentes profissionais na prestao dos cuidados na intervensao de

    suporte a pessoas idosas. Examinamos alguns casos concretos de pessoas idosas que

    necessitam de apoio, de modo a ter uma ideia do tipo de problemas complexos com os

    quais se confrontam diariamente os profissionais.

    Case 1: Abuso financeiro

    Relatrio Social O utente, Eduardo, com 87 anos, estado civil Vivo, residente em L. O senhor Eduardo utente da A A. Frequenta o Centro de Dia do L. desde Setembro de 2012, depois de uma outra instituio ter encerrado o seu Centro de Dia. Apesar de aparentar alguma autonomia, so j patentes algumas fragilidades em certas actividades bsicas do quotidiano, sobretudo no que sua higiene diz respeito. O utente tem um filho com 60 anos, que se encontra institucionalizado num Lar h vrios anos. acompanhado na Unidade de Sade Familiar de S A, onde integra um vasto rol de utentes sem Mdico. Porm podemos afirmar, que no apresenta graves problemas de sade, sendo apenas um pouco surdo. Este senhor reside em habitao camarria, que partilha com uma famlia composta por um casal com um filho menor. No entanto, esta famlia pouco ou quase nada o apoia, pois acaba por trat-lo como um inquilino. Convm informar que o idoso foi durante alguns meses alvo de extorso da sua Penso (mais ou menos 300), por parte de um indivduo que se fazia passar por seu amigo. Esta situao teve o seu fim quando o senhor Ernesto, apresentou queixa s autoridades. Desde ento, acompanhado por agentes da PSP e por um funcionrio da A. A., Caixa Geral de Depsitos, a fim de levantar a sua Penso. O senhor E, realiza as suas refeies na A. A., procede sua higiene pessoal nas instalaes do Centro de Dia, bem como beneficia dos servios de transporte e de diligncias. Este caso foi e continua a ser trabalhado em articulao com a Associao de S. D. L. Resumidamente, pode-se considerar este um caso de sucesso, pois h vrias instituies nele envolvidas e que tm conseguido solucionar os problemas do utente.

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    O utente que designamos convencionalmente Eduardo foi vtima de abuso financeiro. A

    cooperao com a polcia local (Programa de Policiamento de Proximidade) permitiu

    acabar com o abuso. A situao familiar de Eduardo problemtica, o prprio filho

    necessita de cuidados e no pode cuidar do pai. Eduardo divide o seu apartamento com

    uma famlia, sem receber qualquer tipo de ajuda. a frequncia do Centro de Dia e do

    Servio de Apoio Domicilirio que lhe permite receber o suporte necessrio.

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    Caso 2: Famlia alargada que no presta cuidados

    Rosa uma simptica idosa com 87 anos que pertence a uma famlia alargada, na qual

    ningum est disponvel para lhe prestar cuidados. Aps uma queda, ela esteve

    internada no hospital durante alguns meses um caso de abandono familiar que

    originou um processo judicial.

    Relatrio Social Trata-se de uma senhora, Rosa, com 87 anos, alentejana, natural de O., que vive sozinha e que frequenta o Centro de Dia do L., desde Dezembro de 2010. Este foi um caso que nos foi sinalizado pela Associao de Solidariedade e Desenvolvimento do L. em Maio de 2010, para uma possvel integrao no Servio de Apoio Domicilirio. Em Novembro desse ano, foi realizada uma reunio com esta instituio e com a famlia, para se apurarem mais elementos. Dessa reunio concluiu-se que a melhor resposta seria a integrao da idosa em Centro de Dia, visto que a mesma ficava bastante tempo sozinha em casa e sem qualquer tipo de socializao. Nessa mesma reunio, tambm se apurou que, apesar da famlia ser bastante numerosa, apenas um neto presta algum tipo de apoio idosa. Depois de iniciar a frequncia do Centro de Dia, verificou-se uma boa adaptao da utente instituio. Contudo, de acordo com as informaes prestadas pelas Auxiliares de Aco Directa, a residncia da idosa necessitava de alguma limpeza e arrumao, visto que a mesma j no tem capacidade para efectuar estas actividades. Quando detectadas estas situaes, o neto foi contactado para providenciar as diligncias necessrias higiene habitacional. Quanto ao quadro clnico a utente apresenta alguns sinais de senilidade, prpria da idade e algumas limitaes na mobilidade, bem patentes na utilizao de um andarilho. No incio de Dezembro de 2011, a idosa foi encontrada cada em casa, tendo sido encaminhada para o Hospital G.O., de onde teve alta no dia 9 desse mesmo ms. Porm permaneceu nesta unidade hospitalar at 5 de Julho de 2012, devido a abandono familiar, o que suscitou a abertura de um processo judicial por parte do Ministrio Pblico, entretanto arquivado. Ao longo desses sete meses foram realizadas diligncias, em conjunto com a Segurana Social, com o Servio Social do Hospital G.O. e com a Cmara Municipal de A. - Diviso de Habitao, junto da famlia com o objectivo de fazer regressar a idosa sua casa, entretanto ocupada por uma bisneta com 20 anos. Depois de alguma insistncia e conversas mantidas com o nico familiar, (neto) com capacidade e desejo de solucionar este caso, a utente regressou sua residncia, continuando a frequentar a Resposta Social de Centro de Dia da A. A. De referir que nesta altura a idosa beneficiou do alargamento de horrio desta Resposta Social nos dias teis, contando com o apoio do referido neto e das equipas de Apoio Domicilirio da mesma instituio, ao fim de semana. H que referir que a idosa encontra-se perfeitamente integrada na instituio e denota um comportamento bastante afvel e correcto para com todos os elementos que a compem. No passado dia 18 de Janeiro de 2013, a utente no conseguiu vir para o Centro de Dia, pois queixava-se de dores na perna direita, tendo beneficiado do Servio de Apoio Domicilirio da instituio. Nesse mesmo dia, e com o consentimento do neto, a idosa foi encaminhada para o Hospital G. O., onde lhe foi diagnosticado um traumatismo no joelho e do qual tem Alta, desde o dia 19 de Janeiro. Esta informao foi transmitida ao neto, o qual, para nossa surpresa, colocou alguns entraves, no sentido de a ir buscar, mas que acabou por faz-lo no dia 20. No entanto, recusou lev-la para casa, alegando que a mesma no o reconhecia e que no tem qualquer apoio familiar e institucional. Perante esta situao, parece-nos que o ideal para esta utente a sua integrao em Lar.

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    Caso 3: Recolector de lixos

    :

    Mauro encontra-se num estado inicial de demncia e no tem famlia que o suporte.

    O seu caso est sinalizado pela polcia e pelo servio social, no que respeita

    particularmente sua condio habitacional: presena de uma grande quantidade de

    lixo e parasitas.

    Relatrio Social O utente Mauro, nascido a 22 de Julho de 1926, com estado civil Divorciado, residente em L. Trata-se de um utente acompanhado no Centro de Sade do L.. O senhor Mauro ao nvel cognitivo apresenta alguns sintomas de desorientao no tempo e no espao. Idoso isolado, sem suporte familiar, a residir sem as condies mnimas de habitabilidade necessrias ao seu bem-estar. Nos primeiros dias do ano 2010, os nossos servios, conjuntamente com a PSP (solicitada ao local para se poder entrar na residncia do utente, uma vez que no era visto h 3 dias) depararam-se com a existncia de parasitas (pulgas e ratos) e grandes quantidades de lixo. Entre os dias 7 e 19 de Janeiro de 2010, o idoso esteve numa Casa de Repouso (Nossos Queridos Pais) de modo a efectuarem-se as diligncias de limpeza e remoo de lixo da sua casa. Estas procederam-se com a preciosa ajuda da Associao de S D L e da Junta de Freguesia local. O idoso beneficia dos servios prestados pelo Centro de Dia da Alma Alentejana, no Laranjeiro, nomeadamente ao nvel das refeies, transporte, higiene pessoal, diligncias e higiene habitacional. Aos domingos e feriados, dias em que o Centro de Dia se encontra encerrado, este utente acompanhado pelas equipas do Servio de Apoio Domicilirio da A. A. Entre os dias 13 e 24 de Fevereiro, esteve internado no Hospital GO, devido a uma Pneumonia. Durante este perodo, foram efectuadas diligncias no sentido de integrar o utente na Resposta Social de Lar, mas que infelizmente no foram conseguidas por falta de vagas nas Instituies contactadas. Aps este acontecimento, o utente tem melhorado o seu estado de sade, continuando no entanto desorientado no tempo e no espao. O idoso continua a beneficiar dos mesmos servios, mas que se tm manifestado insuficientes uma vez que durante o perodo de no funcionamento da instituio (domingo tarde) sai de casa sozinho e desorienta-se, sendo posteriormente encaminhado para o Hospital G. O, onde os nossos servios o vo buscar s segundas-feiras de manh. Porm e para evitar esta situao, desde o ltimo fim-de-semana de Agosto, o senhor Mauro tem beneficiado do apoio do Lar at ir em definitivo para uma instituio que o possa acompanhar permanentemente. Deve-se referir que o utente aufere uma penso no valor total de 349,05 j incluindo o Complemento Solidrio para Idosos.

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    Caso 4: Barreiras arquitetnicas

    Adriana uma idosa descendente de portugueses, mas natural de Moambique. No tem

    famlia. Ela no consegue ir ao Centro de Dia, porque anda em cadeira de rodas e vive

    num apartamento sem elevador. A sua admisso num Lar para idosos, representa a

    nica soluo considerando o seu problema de sade e a sua situao habitacional.

    Estes quatro casos do uma ideia da complexidade de situaes que os profissionais

    enfrentam diariamente. Questes de sade, habitao, finanas, legais, relacionais e

    psicolgicas esto muitas vezes interrelacionadas e sem que se encontrem solues

    fceis. Parece evidente que a estreita cooperao entre diferentes profissionais,

    trabalhadores sociais, profissionais de sade, polcia, etc., vital para dar respostas

    apropriadas s necessidades das pessoas idosas.

    Neste estudo, as experincias no mbito da Rede Social (rede interinstitucional) em

    Portugal, ser apresentada descrevendo dois casos de estudo etnogrficos: uma rede

    Relatrio Social Utente, Adriana, com 88 anos, solteira, sem filhos, a residir sozinha e com um rendimento mensal de cerca 300. Trata-se de uma idosa diabtica, hipertensa e com uma amputao de um dos membros inferiores. Beneficia do Servio de Apoio Domicilirio desde Agosto de 2010, beneficiando numa primeira fase da entrega de refeies e de apoio psicolgico. Desde o incio de 2013, a estes dois servios foi acrescido o servio de higiene pessoal em resultado de um agravamento do seu estado de sade. Quanto rede familiar, existe o registo de dois sobrinhos, ambos residentes fora do Concelho de Almada, mas tambm eles condicionados com fatores inerentes aos seus prprios quadros familiares. Oriunda de Moambique nos anos 70, na sua chegada a Portugal, esteve durante alguns anos internada numa instituio mdica de apoio a doentes de lepra. Foi nesta instituio que se registou a amputao do membro inferior. Depois de deixar esta instituio, veio viver para a casa onde actualmente reside. Nesta habitao, um primeiro andar num prdio sem elevador, viveu durante as ltimas dcadas, com uma sobrinha que era o seu suporte familiar. No entanto esta faleceu em Julho de 2010, vtima de doena oncolgica. Desde essa data que a utente, pretende integrar a Resposta Social de Lar. Porm e apesar das vrias diligncias efectuadas, at presente data ainda no existe vaga. A casa onde habita foi herdada pelo filho da sobrinha, que pretende coloc-la venda. Perante este facto, a idosa considera-se um fardo para o sobrinho, provocando-lhe uma grande ansiedade, dando assim origem a uma elevada instabilidade emocional. Esta situao aliada ao seu quadro clnico, tem resultado no j referido agravamento do seu estado de sade, bem patente em alguns internamentos no Hospital G. O., registados no primeiro trimestre do presente ano. Perante este cenrio, tem havido articulao com outros servios como a Segurana Social, o Servio Social do Hospital G. O. e o Centro de Sade da rea de residncia, com o intuito de reforar os pedidos de integrao da idosa na Resposta Social de Lar. No entanto, e apesar de todos os esforos encetados neste sentido, at presente data no se tm obtido os resultados pretendidos.

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    interinstitucional numa freguesia de Lisboa e uma rede interinstitucional informal num

    municpio suburbano, que evidenciam a importncia de compreender a cultura destas

    redes e as motivaes social e ticas que as conduzem a um sucesso duradouro. A

    discusso nas seces seguintes permite destacar os problemas inerentes a estas prticas

    de interveno social e a orientao para futuros estudos.

    Os dados analisados neste e-book fazem parte de um grande corpus e foram

    recolhidos no decurso do projecto interdisciplinar de pesquisa APSE: "O

    envelhecimento, a pobreza e a excluso social: um estudo interdisciplinar sobre servios

    de apoio inovadores." http://www.clunl.edu.pt/en/?id=1646&mid=189 (Paoletti &

    Gomes, 2014; Paoletti 2013a; 2013b; Paoletti & Carvalho, 2012; Carvalho, Paoletti,

    Rego 2011). O objectivo desta pesquisa consistiu em analisar o papel do trabalho social

    e dos servios sociais na interveno social com pessoas mais velhas, descrevendo as

    boas prticas na prestao de servios. Inicialmente foram realizadas entrevistas aos

    gestores locais (assistentes sociais na posio, gestores de servios de coordenao,

    coordenador de ONGs; presidentes, pessoas mais velhas das associaes) envolvidos na

    interveno com pessoas mais velhas. Com base nas entrevistas, foram escolhidas duas

    orientaes para a documentao etnogrfica. Foi perguntado e concedido pelos

    participantes na pesquisa, a permisso para gravar as entrevistas e outros dados

    interacionais. Os nomes dos participantes foram alterados, no sentido de preservar o

    anonimato (ver Paoletti 2013; Paoletti et al de 2013, para a complexa questo da

    anonimizao de transcries).

    No primeiro captulo, a experincia da rede social na Freguesia de Santos-o-

    Velho, em Lisboa apresentada e descrita em detalhes que incluem a cultura e o

    contexto que permite uma incluso efetiva dos idosos na vida social e cultural desta

    cidade, alm disso, as principais caractersticas da interveno coordenada com idosos

    em situao de risco so apontadas. No segundo captulo, so descritas as caractersticas

    organizacionais da rede interinstitucional num Municipio suburbano, havendo uma

    nfase no seu modelo de planeamento conjunto, na implementao e avaliao da

    intervenes sociais com idosos que foram desenvolvidas ao longo de trinta anos.

    Portanto, a legislao da rede social e seus desenvolvimentos so apresentados no

    terceiro captulo, sendo que as duas experincias podem ser relacionadas e discutidas

    em relao a documentos polticos relevantes. Na concluso, algumas das caractersticas

    mais salientes do estudo so enfatizadas e apontam para a recomendao especfica no

    nvel poltico em relao interveno interinstitucional com uma populao idosa.

    http://www.clunl.edu.pt/en/?id=1646&mid=189

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    Uma nota acerca de como este texto deve ser lido. A considerao etnogrfica,

    que descreve as experincias de duas redes interinstitucionais, produzida utilizando

    transcries de entrevistas com profissionais. O principal contedo das transcries

    sempre resumido em um comentrio. De fato, as transcries so, frequentemente,

    difceis de ler. Elas so usadas aqui como informao documental que sustenta a

    argumentao apresentada nos estudos, mas, tambm, para realar a riqueza de detalhes

    que caracteriza uma considerao etnogrfica. A compreenso dos principais aspectos

    destas experincias possvel, simplesmente, atravs da leitura dos comentrios, mas

    ns encorajamos os leitores a fazerem um esforo para ler as transcries, porque elas

    transmitem melhor os peculiares recursos culturais desses lugares sociais.

    Ns gostaramos de agradecer a todos os profissionais e idosos que participaram

    nesse processo de pesquisa por compartilharem connosco suas experincias e por suas

    afabilidades e simpatias.

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    Taylor, B. (1992). Elderly identity in conversation. Producing fraility. Communication

    Research, 19(4), 493-515.

    World Health Organization (2002). Active ageing. A policy framework. Geneve: World

    Health Organization

    Zimmermann, H. P.& Grebe, H. (2014). Senior coolness: Living well as an attitude in

    later life, Journal of Aging Studies 28(1), 2234.

  • 14

    Capitulo 1:

    A participao de cidados seniors

    promovida pela interveno inter-institucional

    Isabella Paoletti

    Reforar a participao dos cidados mais idosos um objetivo importante por

    si s, num pas democrtico, mas tambm constitui um meio eficaz de promoo do

    envelhecimento ativo.O atual envolvimento das pessoas idosas na vida social, cultural e

    poltica das suas comunidades representa uma forma de envelhecer saudvel e positiva.

    Este estudo refere-se a um projeto de investigao em curso sobre interveno social de

    combate pobreza e excluso social da populao idosa, projeto APSE 2

    Envelhecimento. Pobreza e excluso social: redes institucionais e interveno social e

    de sade integrada com pessoas idosas. https://apseclunl.wordpress.com/

    Os dados recolhidos incluem a observao e a gravao de reunies inter-institucionais,

    atividades envolvendo pessoas idosas entrevistadas (88 horas de gravao audio/video).

    Atravs de um relato etnogrfico (Atkinson et al., 2001 Smith, 2005), so

    descritas as principais estratgias de interveno com a populao idosa no distrito de

    Lisboa, tornando visvel o seu contributo. Estas atividades so baseadas principalmente

    nas memrias, experincias e perspetivas das pessoas idosas. Algumas destas atividades

    so apresentadas, em particular no museu ao Bairro, atividade de memria, frum

    senior.

    Reportando as vozes das pessoas idosas a partir das gravaes de atividades, o estudo

    descreve, em termos de interao, como que essas atividades promovem uma

    integrao efetiva das mesmas nas suas comunidades contribuindo assim para um

    envelhecimento saudvel

    Introduo

    Em Portugal, em 1997 a resoluo de (Resoluo do Conselho de Ministros n

    197,1997) aprovou o programa "Rede Social", designado por Redes Sociais inter-

    institucionais. Esta resoluo teve como objetivo apoiar a rede existente entre as

    diferentes instituies pblicas e privadas de solidariedade social no pas.

    Neste documento pode-se ler: a rede social o conjunto das diferentes formas de

    entreajuda, bem como das entidades particulares sem fins lucrativos e dos organismos

    https://apseclunl.wordpress.com/

  • 15

    pblicos que trabalham no domnio da ao social e articulam entre si e com o Governo

    a respetiva atuao, com vista erradicao ou atenuao da pobreza e excluso social e

    promoo do desenvolvimento social (Resoluo do Conselho de Ministros n.

    197,1997). No mbito dos objetivos da Rede est a erradicao ou atenuao da pobreza

    e a promoo do desenvolvimento comunitrio.

    Este estudo etnogrfico descreve as atividades desenvolvidas por uma rede inter-

    institucional, numa freguesia em Lisboa, sobre a interveno social com pessoas idosas,

    promovendo a sua participao na vida social, cultural e poltica dessa comunidade. Os

    significados dessa experincia em relao ao paradigma do "envelhecimento ativo" e

    das polticas relacionadas so enfatizados.

    Na literatura existe um consenso relativamente importncia atribuda ao conceito de

    "envelhecimento ativo" (ver Boudiny de 2013 para uma reviso atualizada) e dos

    conceitos relacionados como o "envelhecimento saudvel", "envelhecimento

    produtivo", "envelhecimento bem sucedido" (Veja Ouwehand. et al 2007, para uma

    viso geral), com um amplo reconhecimento ao nvel poltico(WHO2002; ONU; EC,

    2007) H tambm algum consenso sobre a falta de clareza na definio de tais

    conceitos (Boudiny 2013). Boudiny (2013,1077) aponta:

    "Embora o conceito de envelhecimento ativo seja muito utilizado durante a ltima

    dcada na poltica, investigao, bem como nas prticas, ainda caraterizado por uma

    falta de clareza quanto sua interpretao (Clarke e Warren 2007; Ranzijn 2010). Na

    nossa perspetiva dois problemas esto subjacentes a esta obscuridade. Primeiro, existe

    uma falta de consenso sobre o significado em torno do envelhecimento ativo (...) Em

    segundo lugar, o envelhecimento ativo muitas vezes usado como sinnimo de noes

    subtilmente divergentes como so o envelhecimento saudvel e o envelhecimento

    produtivo (Ranzijn 2010), que, por sua vez, so definidos de forma diferente pelos

    vrios autores. "

    As crticas de interpretao do envelhecimento ativo num quadro predominantemente

    econmico tm surgido baseados na definio da OMS (Boudiny, 2013; Ranzijn, 2010).

    Mas na Gerontologia Crtica (Critical Gerontology), alguns autores (Laliberte Rudman,

    2006; Liang & Luo, 2012; McHugh, 2003; Phillipson & Biggs1998; Razanova 2010)

    tm criticado os prprios conceitos de envelhecimento ativo e bem-sucedido.

    Os interesses econmicos subjacentes ao conceito de envelhecimento ativo e

    envelhecimento bem-sucedido tm sido enfatizados. Os princpios neo-liberais de

    reduo das despesas com os cuidados com os idosos so concebidos como as bases da

  • 16

    estrutura conceptual do envelhecimento ativo (Laliberte Rudman, 2006; Razanova

    2010).

    Alm disso, as pessoas idosas so reenquadradas como uma nova oportunidade

    comercial (McHugh, 2003), constituindo um novo mercado para a indstria e para o

    comrcio. "Como soluo para as desvantagens associadas idade avanada como a

    dependncia, o declnio e, finalmente, a morte, a indstria anti-envelhecimento oferece

    uma infinidade de produtos e passatempos que apagam os sinais e as manifestaes da

    idade avanada, mantendo a aparncia da pessoa jovem, ativa, e virtualmente produtiva

    indefinidamente. "(Razanova 2010, 215).

    Na gerontologia crtica os aspetos relativos ao agismo e ao etnocentrismo do

    conceito "envelhecimento bem-sucedido" (Liang & Luo, 2012) so enfatizados. As

    pessoas idosas que so frgeis e no esto a envelhecer bem, so discriminadas no

    quadro conceptual do envelhecimento bem-sucedido. Alm disso, a importncia das

    aes e da participao social certamente um valor central nas culturas ocidentais, mas

    no noutras. "O modelo de envelhecimento bem-sucedido ignora as diferenas de

    gnero, da identidade racial / tnica e falha na captao da diversidade factual das

    populaes mais idosas" (Liang & Luo, 2012, 328).

    Phillipson & Biggs (1998) descreve como a tendncia para a mercantilizao da

    prestao de cuidados implica o surgimento de uma "zona de no-cuidado" e

    consequentemente, uma "zona de no-identidade" para a populao idosa: "a vida

    moderna enfraquece a construo de uma identidade vivel para a vida na velhice.

    "(Phillipson & Biggs, 1998, 21). A incerteza e a ausncia de significado na vida das

    pessoas idosas, a falta de segurana no mundo parecem caracterizar a velhice.

    Estas abordagens sugerem o confronto com a "realidade" do envelhecimento:

    "um processo de dependncia biolgica que, embora no seja uma doena em si,

    envolve a perda funcional e a susceptibilidade face doena e morte" (Liang & Luo,

    2012). Sem negar a "realidade" do envelhecimento, importante reconhecer a

    plasticidade do funcionamento dentro dos limites biolgicos (Fernandez-Ballesteros et

    al. 2009) do processo de envelhecimento, que o declnio que pode ser retardado e as

    capacidades podem ser recuperadas, mesmo quando se perderam consequncia de um

    trauma ou de uma doena. A "realidade" do envelhecimento muito diversa. Por que

    que no nos esforamos por envelhecer com boa sade e envolvidos em atividades

    profundamente significativas, sejam elas quais forem? importante reconhecer o direito

    das pessoas idosas frgeis serem apoiadas e cuidadas, mas tambm importante realar

  • 17

    o valor de criar novas possibilidades para um tempo de vida que pouco explorado.

    Uma grande parte da populao vai chegar velhice, constituindo uma nova realidade,

    em termos individuais e sociais, e necessrio criar novos significados para a vida

    nestes ltimos anos.

    Uma crtica pertinente ao paradigma do "envelhecimento ativo e bem-sucedido",

    que no tem sido suficientemente desenvolvida a sua dimenso individualista. Para

    ilustrar este aspecto, til referir um documento recente da ONU (Tesch-Roemer, 2012,

    3), onde se pode ler:"O envelhecimento activo tem sido desenvolvido como uma

    estratgia para promover o potencial dos indivduos para melhorar a conscincia do que

    cada um de ns pode fazer para se manter em forma e saudvel durante o maior tempo

    possvel. A atividade fsica, o envelhecimento saudvel, a aprendizagem ao longo da

    vida e a integrao na vida profissional, como trabalhador remunerado ou como

    voluntrio - todos estes so elementos para um estilo de vida ativo que deve caracterizar

    todo o ciclo de vida"

    A responsabilidade de ser ativo e envolvido dada inteiramente ao indivduo.

    Existe uma responsabilidade da comunidade para dar espao s pessoas idosas? a

    comunidade prestadora de servios de qualidade que possam ajudar o indivduo a

    manter-se saudvel e a recuperar perdas?

    A matriz individualista do paradigma do envelhecimento ativo remete para o

    valor de pertencer a uma comunidade mas no sublinha suficientemente o seu valor. A

    realizao de algumas atividades em conjunto com outras pessoas no tem o mesmo

    valor e significado que pertencer a uma comunidade. Pertencer a uma comunidade

    significa ter um papel nesta, atribuindo significado e valores a algumas atividades. O

    paradigma do "envelhecimento activo" surge incompleto una vez que destaca apenas as

    responsabilidades individuais no processo de envelhecimento esquecendo-se de dar

    orientaes em relao s responsabilidades das comunidades para incluir os membros

    mais velhos.

    O objetivo deste estudo , assim, apresentar um exemplo de uma comunidade

    que abre espao aos seus membros mais velhos. O estudo mostra como a rede inter-

    institucional num bairro de Lisboa promove a incluso social das pessoas mais idosas na

    comunidade, descrevendo as principais caractersticas da interveno com a mesma e

    relata alguns exemplos de atividades que so particularmente eficazes de forma a torn-

    los protagonistas da vida cultural da sua cidade. Em particular, o estudo tem como

    objetivo sublinhar os aspectos da qualidade da interveno na promoo da participao

  • 18

    dos cidados seniores e dos seus significados relativamente ao paradigma do

    envelhecimento ativo.

    O estudoOs dados apresentados neste estudo referem-se a um projeto de investigao

    APSEI II: "As redes institucionais e de interveno integrada do servio social e da

    sade a pessoas idosas". O estudo pretende documentar boas prticas de interveno

    inter-institucional com pessoas idosas em risco de pobreza e isolamento social. Foi

    realizada uma etnografia em uma Freguesia no Municpio de Lisboa, com uma rede

    inter-institucional de cinquenta e seis parceiros, documentando as iniciativas sociais

    com populao idosa e o trabalho de interveno com pessoas idosas em risco de

    pobreza e excluso social.

    Os dados compreenderam: gravao audio das reunies inter-institucionais da rede,

    vdeo / gravaes udio das atividades especficas de interveno, gravao udio das

    reunies entre os profissionais, encontros entre pessoas idosas e profissionais, reunies

    com o grupo de interveno com a populao idosa, entrevistas com assistentes sociais

    e outros profissionais envolvidos na gesto dos casos.

    Todos os dados foram anonimizados, a fim de preservar a confidencialidade dos

    informantes (CF. Paoletti et al (prximo 2013; Paoletti 2013, para a complexa questo

    da anonimizao das transcries). Atravs de um relato etnogrfico detalhado

    (Atkinson et al. 2001), o estudo descreve as actividades organizadas em relao

    interveno com a populao idosa do concelho de Lisboa, destacando como que a

    incluso ativa das pessoas idosas construda, atravs das iniciativas promovidas pela

    rede inter-institucional. As iniciativas do voz s pessoas idosas e as suas histrias

    tornam-se parte da histria e da cultura da sua cidade. Um profissional do bairro, numa

    entrevista referiu;

    os idosos so muito falados mas falam pouco e ns tentamos essa situao que seja em vez de ser o objeto de ser o sujeito. (Inteview C 24) 1. A interveno no apoio s pessoas idosas no concelho de Lisboa

    A nossa freguesia muito envelhecida e portanto recebemos muitos idosos que vm pelos mais diversos motivos uns que j tm uma vm s para conversar alguns verbalizam ah vim c s visit-la e eu e vm claro que muitas vezes este vim visit-la tem alguma coisa por trs passou-se alguma coisa aconteceu alguma coisa est mais triste com alguma situao e portanto vm ou vm para tratar de coisas muito concretas que se prendem com os direitos e com as prestaes sociais

  • 19

    desde complementos por dependncia, complemento solidrio para idosos, subsdios.(Inteview M7) s vezes eu fico a pensar isto ridculo mas parece que lhes d algum prestigio terem esta relao connosco pronto ns achamos gostamos imenso d-nos imenso prazer estar com eles mas de facto ns temos pessoas e isto acontece se estiverem a a observar e a professora () que vm que passam s de manh por exemplo s vezes entram na junta pedem ali ah podia ligar eu venho c abaixo digo bom dia dou dois beijinhos e pronto (Inteview M9)

    Quando entramos neste contexto institucional alguns aspectos so particularmente

    visiveis: h um excelente relacionamento entre os profissionais e as pessoas idosas.

    Tambm perceptvel um excelente nvel de cooperao e de amizade entre os

    profissionais.

    Sempre que visito o bairro para uma reunio, uma entrevista, etc, vejo pessoas idosas

    sentadas na sala de estar entrada e, como referiu um tcnico na entrevista, vm por

    vrias razes, mas s vezes s para ver os profissionais, para cumpriment-los ou ter

    com quem conversar. A mesma simpatia e informalidade carateriza a relao entre os

    profissionais.

    Temos uma relao tambm de grande proximidade e parceria tanto com a equipa de cuidados continuados como com o servio social do Centro de Sade fazemos visitas conjuntas vemos vrias questes com a prpria Santa Casa da Misericrdia. (Interview M 225) com a polcia temos um ptimo relacionamento a professora assistiu com a polcia a polcia num programa de policiamento de proximidade eles so impecveis eles tambm nos sinalizam pessoas porque eles vo visitar vrias pessoas e ns as vezes tambm lhes telefonamos porque j no vemos a pessoa h muito tempo para eles passarem assim eles passam telefonam portanto so impecveis. (Interview M 232)

    Juntamente com as instituies parceiras, os tcnicos criam eventos na comunidade em

    que o contributo das pessoas idosas significativamente valorizado. Isso feito

    incrivelmente com poucos recursos, alm da inteligncia, percia, cuidado e criatividade

    das pessoas envolvidas. O coordenador da interveno social no bairro, ao descrever a

    populao idosa no municpio, refere:

    Ns temos idosos muito idosos mas curiosamente tambm temos ai um grupo de idosos muito idosos muito activos que fazem a vida deles que vo hidroginstica e que mesmo a nvel mental esto muito bem muitssimo bem pessoas estou a falar de pessoas quase com 90 anos como o caso aqui portanto que ainda que ainda esto muito bem e depois temos um grupo que alguns ainda

  • 20

    nem tm os 65 mas esto ali mas que esto muito desorganizados portanto pessoas que esto com penso de invalidez por motivos psiquitricos porque que fazem a sua vida mas que de uma forma muito desorganizados muito conflituosos com muitas dificuldades depois temos a um grupo considervel de idosos que eu acho fantstico que muito saudvel que andaro a a nvel de faixa etria nos setentas e muitos 75 se calhar entre os 75 e os 80 so pessoas autnomas bem dispostas muito participativas alis eu acho que isso uma caracterstica aqui que me surpreende que as pessoas aderem muito s actividades vm participam falam no tem dificuldade em dizer aquilo que pensam alis se no as deixam dizer aquilo que pensam que o problema mas que depois ns vamos ver que espantoso so pessoas que vivem com dificuldades financeiras portanto tm reformas pequeninas mas que conseguem ter uma organizao e uma gesto que no so o utente tpico portanto no vm aos servios pedir apoio disto e daquilo e daqueloutro portanto conseguem e ns temos a exemplos muito interessantes de pessoas com 300 euros portanto tinham a penso mais o complemento solidrio para idosos ficaram com 300 e poucos e conseguem manter a sua as suas contas todas em dia pagar a sua renda de casa tm uma capacidade de poupana extraordinria (Inteview M 71)

    A Junta de Freguesia coordena uma srie de servios para a populao idosa, desde as

    aulas de ginstica, aos servios de Apoio Domicilirio e a um Centro de Dia para

    deficientes. Alm disso, atravs da rede inter-institucional, as atividades sociais e

    culturais so organizadas envolvendo as pessoas idosas. Um modelo participativo

    caracteriza a relao entre os profissionais e o conselho consultivo, como o coordenador

    da interveno social afirmou numa das entrevistas:

    contrariamente ao que acontece noutras juntas que eu sei que acontece portanto que deriva do executivo e que o executivo que define tudo e os tcnicos simplesmente operacionalizam e executam aqui o processo no esse portanto muito discutido muito partilhado muito participado e no fundo podemos dizer que at hoje temos bastante flexibilidade para poder apresentar discutir e que as coisas vo seguindo um bocadinho o rumo que ns definimos no nesse aspecto o executivo facilitador e possibilitador da aco portanto no se ns entendermos que devemos ir por este eixo ou por aquele e obviamente que justificado no como normalmente aprovado no temos assim (Inteview M 71)

    A importncia do dilogo e do trabalho em rede caracterizam a gesto interna da Junta

    de Freguesia, bem como a interveno inter-institucional. A descrio da estrutura

    organizacional da interveno com pessoas idosas ir ilustrar como que estas

    instituies operam em conjunto.

  • 21

    1.1 A estrutura organizacional da interveno

    A Freguesia de Lisboa, descrita neste estudo, tem uma longa tradio de trabalho em

    rede interinstitucional no mbito da interveno social. Antes da institucionalizao da

    "Rede Social", em Lisboa, em Junho de 2005, esta cidade convidou as instituies do

    concelho a constituir uma rede informal: Frum Social, a fim de promover a interveno

    social integrada no municpio.

    Dois anos mais tarde, a "Comissao Social de Freguesia" (comit social do

    municpio) foi oficialmente criada, de acordo com os requisitos legais, como parte da

    "Rede Social", em Lisboa. Tem agora cinquenta e seis membros, entre eles:

    representantes do centro de sade, servios de segurana social, polcia, museus,

    bombeiros, universidades, associaes de pessoas idosas, vrias associaes de

    cidados, ONGs, cidados interessados. A maioria das instituies participantes esto

    localizadas na proximidade, mas a rede est-se a estender cada vez mais para alm dos

    limites territoriais do municpio.

    O objetivo principal do comit , como se l no ato constitucional: "o

    planeamento estratgico da interveno social local, na perspectiva de promover a

    incluso social como um compromisso coletivo" (art. 2, de 2007, Regulamento Interno).

    Os participantes da rede renem-se a cada dois meses para definir objetivos e avaliar

    atividades conjuntas, a fim de responder s necessidades da comunidade.

    Os objetivos identificados nas reunies da rede so, ento, operacionalizados e

    implementados pelo "Ncleo Executivo" (Comisso Executiva), atravs da constituio

    de grupos de trabalho. Estes grupos de trabalho so responsveis pela criao,

    implementao e avaliao das aes acordadas durante as reunies da rede. Em cada

    grupo de trabalho um membro da comisso executiva est presente com a tarefa de

    coordenar o grupo e relatar as actividade do grupo de trabalho para o comit executivo.

    No h grupos de trabalho permanentes, a composio dos grupos muda de acordo com

    o planeamento das atividades, ou seja, os primeiros objetivos especficos so

    estabelecidos em seguida, os grupos so organizados para os realizar. Num relatrio de

    uma reunio da CSF pode-se ler:

    No Plano de Aco consta apenas aquilo que os parceiros, organizados em Grupos de

    Trabalho, se comprometem a fazer. O Plano definido em funo das necessidades da

    comunidade e no em funo dos interesses ou necessidades casusticas de cada uma

    das diferentes instituies. Primeiramente definem-se as aces e s depois se

    constituem os Grupos de Trabalho.(Documento f the Ncleo Executivo da CSFSOV)

  • 22

    A interveno social com pessoas idosas, neste bairro de Lisboa articulada em duas

    reas principais:

    1) a interveno em relao a casos especficos de idosos frgeis, coordenado pelo

    NAIS-Ncleo de Apoio e Interveno a Seniores (interveno e grupo de apoio aos

    cidados seniores). Os profissionais que esto diretamente envolvidos no apoio a idosos

    frgeis participam nas reunies NAIS.

    2) a organizao de atividades sociais e culturais que envolvem os idosos, coordenada

    pela CSF-Comissao Social de Freguesia (rede inter-institucional). O planeamento e a

    avaliao da interveno so realizados atravs de reunies da rede inter-institucional.

    2. NAIS - Ncleo de Apoio e Interveno a Seniores

    O NAIS (interveno e grupo de apoio aos cidados seniores) inclui profissionais de

    todas as instituies envolvidas na prestao de ajuda direta populao mais idosa. Os

    profissionais presentes nas reunies so geralmente: um profissional coordenador, uma

    assistente social da St. Casa da Misericrdia, o principal prestador de assistncia social

    em Lisboa, o gestor do centro de dia do centro paroquial, uma ONG organizada pela

    Igreja local que gere o centro de dia e presta servios de apoio domicilirio (refeies,

    higiene pessoal, trabalhos domsticos, etc), uma enfermeira do centro de sade local

    (centro de Sade da L.), agentes da unidade policial local (PSP Policia de proximidade),

    um profissional do regime de bombeiros sapadores voluntrios/ NISAC (Ncleo de

    Interveno Social de Apoio ao Cidado).

    Visita conjunta Interveno conjunta

  • 23

    Este grupo de profissionais criou uma base de dados com uma lista de nomes e moradas

    de todos os idosos em situao de fragilidade no municpio. A organizao pela rua foi

    sugerida pelos polcias e pela assistente social foi considerado como uma forma muito

    eficaz de mapeamento das necessidades de cuidados. A polcia (PSP) do Distrito tem a

    tarefa de inserir na base de dados as informaes que os parceiros institucionais

    proporcionam. No momento os procedimentos legais e tcnicos para partilhar a

    informao entre os parceiros institucionais esto a ser estudados. Uma reunio com o

    Centro Nacional de Proteco de Dados foi organizada. Os profissionais esto a planear

    a implementao de um nico formulrio de avaliao conjunta.

    A interveno dirigida a idosos frgeis activada por solicitao direta dos interessados:

    a junta tem tambm um atendimento social especfico semanal feito por mim e pela colega de servio social portanto eu sou antroploga de formao mas tenho essa funo tambm de fazer o atendimento(Inteview M5) Casos de pessoas idosas que necessitam de ajuda tambm podem ser sinalizados por

    vizinhos ou instituies relevantes:

    atendimento individual e acontece s vezes ser a prpria pessoa que procura vem marca atendimento e vem ou s vezes as vizinhas telefonam dizem ah doutora est aqui a D. Alice no sei qu e ela est mesmo a precisar pronto a eu telefono ou telefonamos porque temos uma listagem com todos os idosos as moradas os contactos ou ento vou l a casa e converso e s vezes fao os primeiros atendimentos em casa da pessoa porque a pessoa no se desloca por algum motivo ou porque no quer vir junta (Interview M 197-201) pode ser j aconteceu o centro de sade ligar-nos ah na Rua das ( ) existe uma senhora assim assim est a fazer o penso e ela est muito sozinha est muito no sei qu pronto ns vamos l ver pronto agora acontece h muito pedido portanto as pessoas marcam muito atendimento e vm facilmente pedir ajuda (Interview M 203)

    Nas sesses semanais, as pessoas idosas podem conversar com os profissionais do

    bairro sobre os seus problemas e necessidades. O acesso aos servios e aos vrios tipos

    de benefcios mediado nestes encontros, mas muitas vezes tm tambm um valor

    teraputico, como apontou um dos profissionais:

    temos um grupo significativo de pessoas que como eu costumo dizer que esto constantemente deprimidas que vivem neste registo devido sua histria de vida devido e que recusam o acompanhamento psicolgico e portanto substituem que

  • 24

    no o atendimento no o acompanhamento psicolgico mas preferem vir aqui semanalmente ou quinzenalmente conversar so capazes de estar aqui uma hora uma hora e um quarto uma hora e meia s vezes pronto e depois regressam a casa mas realmente temos idosos que tiveram um percurso de vida muito complicado muitas vezes com episdios mesmo dolorosos e que realmente nesta fase aquilo que eu sinto que depois na velhice tudo vem ao de cima e portanto e vem de uma forma s vezes muito difcil de a gerir(Inteview M7)

    As reunies com os profissionais fazen parte integrante das intervenes. A interveno

    com as pessoas idosas concebida como um processo que tem como base o respeito e a

    valorizao da pessoa idosa como um indivduo com experincia e conhecimento:

    mas com os idosos eu acho que tem que haver muito esta sensibilidade de valorizao porque o que acontece muitas vezes nos idosos pelo menos eu sinto isso que h muito tambm uma infantilizao pronto so idosos coitadinho e tal pronto e no samos disso vamos l ver e ajudar e coitadinho e aquela pessoa que est ali tem uma historia de vida tem uma riqueza teve uma profisso teve no sei que e ns temos que agarrar nisso e valorizar e a pessoa partida a no ser casos muito difceis h pessoas que realmente esto num estado muito complicado e que preciso e que no aceitam nada j tive situaes sei l mas muito difceis que a pessoa no aceita estar com mais ningum no aceita participar em actividade nenhuma no aceita ento vamos l ento o que que aceita pronto no tambm no necessrio ao ritmo da pessoa pronto e logo se v e depois h evolues ns temos ns fazemos a praia todos os anos e h idosos que ns j conhecemos h no sei quantos anos e que por exemplo nunca foram praia nunca quiseram ir porque ou como muita gente ou no se sentem vontade para ir praia ou no se sentem no sei qu portanto vo outros aos poucos tm comeado a ir depois ficam encantados no querem outra coisas pronto acho que a chave para isto tudo acho que mesmo a relao se a pessoa se existir ali uma sintonia no e se sentirem acolhidos e

    valorizados (interview M 258-260)

    Os profissionais na entrevista sublinham a importncia de se conhecer pessoalmente as

    pessoas mais idosas e descobrir quais so os seus interesses, as suas prioridades e

    comea a partir da um processo de incluso em vrias atividades na comunidade.

    entretanto o que eu acho mais importante assim nos idosos quando ns os recebemos eu pelo menos tenho esta perspectiva a minha preocupao se calhar tambm por no ser de servio social e estar menos formatada para um antroplogo o prazer por si de estar com a pessoa e de conhecer a pessoa portanto no tenho outras preocupaes no e tentar perceber realmente a dinmica e como que a pessoa est no seu bairro est na sua vida est e portanto o que eu tento perceber est bem que a pessoa tem problemas e temos que mas ver o que que esta pessoa tem onde que podemos agarrar que potencialidades que esta pessoa tem o que que a pessoa gostava eu as vezes agarro muito na questo dos sonhos ah eu gostava h no sei quantos anos que no vou a Ftima e no sei o qu portanto proporcionar a uma pessoa que no vai h 20 anos a Ftima tem 80 anos e o sonho dela ir a Ftima a interveno tem que ser essa tem que ser uma viagem a Ftima porque no h nada que se possa fazer que v ter tanto impacto como isso portanto e depois podem-nos criticar dizer h mas isso no tem oh digam o que disserem mas o que certo que a experincia mostra que realmente as pessoas ficam com uma depois de participarem numa praia de fazerem as pessoas ficam com outra

  • 25

    motivao e a seguir possvel depois ir trabalhando algumas coisas (interview M 256-258) Os profissionais esto atentos se a pessoa idosa recebe os benefcios a que tem direito e

    tambm ajud-los no trabalho administrativo, alm disso consideram que muito

    importante ouvir os seus sonhos e a partir da comea um trabalho de ajudar a pessoa a

    obter uma vida mais saudvel e melhor. A interveno em casos especficos discutida

    entre os vrios profissionais de acordo com as diferentes tarefas envolvidas, durante as

    reunies NAIS (Paoletti, 2013b), mas tambm por telefone ou numa reunio informal

    entre os profissionais, por exemplo, durante o almoo; ou uma linha de interveno

    definida de acordo com as necessidades especficas da pessoa:

    depois dependente da situao pode ser um caso que tem que se discutir em equipa no sentido de ah para esta senhora estava mesmo a precisar e ela gostava ou j tem acontecido esta senhora tinha o sonho nunca foi a uma revista gostava de ir a uma revista ou gostava de ir assim s vezes coisas que so muito pequenas ento vemos aqui do lado com o Carlos pesquisa o que que possvel se e organiza-se qualquer coisa para essa senhora ou ento vemos aqui numa discusso mais restrita entre mim e a Marta o que que se a senhora tem os direitos todos assegurados se a senhora tem por exemplo se ela recebe o apoio domicilirio ento porque que ainda no tem o complemento por dependncia ou se pode requerer o complemento solidrio para idosos e ainda no requereu e ento trata-se do complemento portanto v-se qual a situao tenta-se conhecer e ver qual a situao (Interview M 203)

    A interveno com pessoas idosas frgeis no apenas para prestar os servios

    essenciais, mas tambm para inclu-los, tanto quanto possvel, em atividades

    comunitrias:

    onde h mais cuidado cuidado no sentido de os idosos que no podem sair de casa a apostamos nas visitas domicilirias e tentamos s vezes nem que seja poucas vezes no ano mas tira-los de casa por algum motivo conciliar ali com a assistncia ou com os bombeiros de pod-los ou trazer aqui ou leva-los a alguma actividade para que pelo menos eles tenham uma oportunidade de sair e portanto a feito outro tipo de trabalho de articulao com a equipa de cuidados continuados do centro de sade da Lapa ali com a assistncia paroquial que faz o apoio domicilirio portanto para esse tipo de idosos depois os restantes idosos tudo muito livre portanto existem as actividades as pessoas inscrevem-se ns divulgamos convidamos as pessoas a participar e participa quem quer (Interview M 174)

    A interveno em casos especficos e a organizao de iniciativas de carcter social e

    cultural, atravs da rede inter-institucional, envolvendo pessoas idosas, so atividades

    fortemente inter-relacionadas. Para responder s necessidades e desejos reais das

    pessoas mais idosas constri-se uma relao de confiana entre as pessoas idosas e os

  • 26

    profissionais. Esta ligao, consequentemente, fomenta a participao ativa dos idosos

    nas atividades da comunidade. A importncia do contato direto com as pessoas idosas

    apontada pelos profissionais, o telefone o meio de comunicao preferencial:

    depois incentivamos as pessoas a participar nas actividades dizemos olhe mas porque que no vem aula disto ou porque que no se inscreve ou porque que no vai experimentar no vem praia no vm e s vezes telefonamos mesmo fazemos s vezes o Carlos ento a nossa central telefnica mas ns funcionamos muito com o telefone de telefonar s pessoas seja para convidar para vir actividade seja para saber se esto bem ento como que tem passado ento j no a vemos h 15 dias como que portanto e somos ns que entre ns fazemos dividimos e vamos mais o Carlos faz mais este porque est mais liberto de outras coisas faz mais este trabalho mas ns tambm fazemos e os estagirios tambm j fazem isso quando h algum atelier temos os cartazes mas se as pessoas no lem os cartazes no portanto o que que funciona o modo tradicional que fazer uns flyers ir padaria ir ao caf ir farmcia no sei qu pronto est divulgado no depois sabemos que h um conjunto de pessoas que ainda assim sai poucas vezes ento temos que telefonar ns olhe dona como aquela senhora Dona MJ muito engraada D. J olhe na quinta-feira vai haver aqui na junta se a senhora quiser est convidada aparea e ela fica toda contente s de receber o convite isto j uma coisa algum me ligou a convidar no sei qu pronto e portanto h esta eles tambm nos telefonam imensas vezes e s vezes quando no podemos atender complicado ento precisava de alguma coisa? ah nao liguei so pra ouvir a sua voz pronto nem sempre tambm temos este tambm difcil gerir esta mas (Interview M 203)

    O contacto telefnico do profissional tem o significado de um convite pessoal. Os

    contactos telefnicos a convidar as pessoas idosas a participar em iniciativas

    comunitrias no apenas um meio de divulgao dos eventos e das atividades, mas

    fazem parte da interveno com as pessoas idosas, no sentido de que possui um efeito

    positivo e faz com que se sintam bem-vindos; alm disso o contacto telefnico a

    convidar tambm uma forma de manter o acompanhamento personalizado.

    Na seo seguinte, iremos presentar a rede inter-institucional (CFS) e as suas

    principais caractersticas organizacionais, destacando em particular os princpios

    inspiradores relativos incluso social das pessoas idosas. Em seguida iremos descrever

    algumas das principais iniciativas que envolvem as pessoas idosas, sublinhando o seu

    significado em relao ao envelhecimento ativo.

    3. A organizao de atividades sociais e culturais que envolvem pessoas idosas

    coordenadas pela rede inter-institucional CSF (Comisso Social de Freguesia)

    Quando se fala na pobreza e excluso a nossa ideia com certeza que a pobreza e excluso est directamente relacionada com a privao material e econmica claro que sim mas no se esgota a ou seja estas formas de participao as pessoas

  • 27

    no esto s excludas de ter o dinheiro que lhes permita melhorar a vida s vezes esto excludas e um bocadinho sufocadas abafadas ou desvalorizadas de privao palavra ao poder no ? ao poder de decidir de influenciar o espao onde moro onde trabalho onde trabalhei de espera a mas quem quer construir aqui o que quer que seja no importante ouvir? (Inteview C 46) O nosso entendimento da incluso uma forma mais abrangente porque quando ns por exemplo fazemos uma visita a um museu e possibilitamos que idosos que nunca entraram num museu se possam deslocar a um museu estamos a trabalhar a incluso no tambm e portanto eu acredito que ns j tivemos relatos de algumas pessoas que nos disseram eu nunca na vida tinha eu nunca me tinha sentido to bem eu nunca tinha ido a um stio destes eu nunca tinha por exemplo ns temos pessoas em restaurantes que nos oferecem almoos e jantares no Natal em stios tipo aqui o Cais o Sr. Vinho que so restaurantes que as pessoas no vo porque de difcil acesso muito caros por exemplo o Sr. Vinho carssimo no e que proporcionar aos idosos poderem no de uma forma porque ns tentamos que isso no acontea de serem grupos e de estigmatizar as pessoas no tentamos que seja o mais abrangente possvel e ns acompanhamos sempre e vamos tambm de proporcionar este tipo de este acesso a este tipo de recursos que de outra forma as pessoas no tm (Interview M 255)

    O significado da incluso por estes profissionais tambm a acessibilidade: garantir o

    acesso no s ao meios bsicos de subsistncia, mas inclui a participao em eventos

    culturais, atividades de tempos livres e iniciativas polticas. Muitas vezes, a abordagem

    prinicipal pobreza garantir simplesmente a sobrevivncia: principalmente, estes

    profissionais procuram buscar modos de gratificar e valorizar cada pessoa e o seu

    contributo para a comunidade. O primeiro passo para erradicar a pobreza dar valor

    pessoa aqui e agora, isto a mensagem principal destas prticas de interveno social.

    A participao na atividade da comunidade construda gradualmente. A possibilidade

    de responder s necessidades concretas e desejos da pessoa idosa contribui para a

    construo de uma relao de respeito e confiana, depois a participao nas iniciativas

    comunitrias acaba por ser uma consequncia natural desta relao. Os profissionais da

    Junta de Freguesia acreditam na transformao pessoal e no efeito que a participao

    nas atividades sociais e culturais pode ter ao nvel pessoal dos idosos.

    ns sentimos mudanas nas pessoas na forma at como se apresentam como depois esto mais motivadas para aderir a outras coisas e nos relatos que fazem de ns por exemplo estou-me a lembrar de uma senhora que um caso que tinha penso nem tinha penso social quando eu a conheci ela no tinha reforma porque achava que no tinha direito a reforma no tinha feito descontos e portanto no tinha direito a reforma uma senhora at que participa nas visitas do museu ao bairro e ento extraordinrio que ela agora tem a penso social e tem o complemento solidrio para idosos at vive a numa casinha uma pessoa muito engraada no sabe ler nem escrever mas tem um conhecimento e uma capacidade de expresso extraordinria e portanto ela no dia das visitas do museu ao bairro todos os dias que ns fazemos a visita o ultimo Sbado de cada ms e ela antes de ir para a visita ela vai sempre ao cabeleireiro arranjar o cabelo e pintar as unhas e ela chega ela chegou-me a fazer a visita assim ( ) e eu a primeira vez fiquei assim

  • 28

    completamente mas ela s me dava vontade de rir mas foi quando pensei caramba eu estou tantas vezes com esta senhora e eu no gabinete eu no a consigo p-la desta maneira eu no consigo trabalhar a auto-estima dela ao ponto de ela sair do atendimento e se ir produzir por mais simptica que eu seja no consigo ter este poder e aquilo que ns sentimos que estas actividades tm um poder extraordinrio nas pessoas muda mesmo as pessoas ficam ali com um (Interview M 255) As iniciativas criadas em cooperao com os parceiros da rede inter-institucional so

    frequentemente iniciativas culturais de alta qualidade, nas quais as pessoas so

    diretamente envolvidas, constituindo um bom exemplo o ltimo evento em que

    participei, a pea de teatro O Lavadouro, encenado por Helder Costa da companhia

    A Barraca. A pea de teatro foi apresentada no antigo lavadouro do bairro, onde

    algumas mulheres idosas ainda vo lavar. O Lavadouro uma pea de avant-garde

    que conta a histria recente de Portugal a criao da Repblica, a ditadura de Salazar,

    e a revoluo de 25 de Abril atravs do olhar das lavadeiras. A conversa entre as

    mulheres que trabalham no lavadouro usada para narrar estes eventos, enfatizando o

    significado que os mesmos tiveram na vida destas mulheres. As mulheres idosas do

    bairro, em particular estas que ainda trabalham como lavadeiras foram envolvidas na

    fase inicial de documentao para a criao do enredo, contando a histria da vida no

    lavadouro; depois elas foram participar tambm no coro, cantando canes tradicionais.

    Antes de apresentar alguma das iniciativas sociais e culturais principais que envolveram

    as pessoas idosas, importante descrever a estrutura organizacional da rede inter-

    institucional e alguns dos principais princpios inspiradores.

    Comisso Social de Freguesia - a rede inter-institucional

    Os encontros da comisso social de freguesia so geralmente organizados a cada dois

    meses na sede da Junta. Os encontros so coordenados por um dos parceiros na rede,

    usualmente um coordenador muito experiente, por vezes um dos profissionais ou o

    presidente da Junta de Freguesia agem como coordenadores. Cada encontro comea

    sempre com alguma atividade cultural: leitura de poesias, canes, um vdeo, um

    power-point que apresenta a documentao de atividades passadas. Bolachas e bebidas

    esto sempre na mesa no incio do encontro. Todos se sentem bem-vindos e bem

    acolhidos.

    Os aspetos mais notveis destes encontros a inexistncia ou a reduo ao

    mnimo da hierarquia institucional, isto , os participantes esto ali para representar uma

    instituio, eles so primeiramente pessoas e depois profissionais. criado um espao

  • 29

    inter-institucional com direitos iguais entre parceiros independentemente do poder da

    instituio que esto ali a representar. um espao de liberdade para os profissionais

    exercitarem a sua especialidade, mesmo contrastando com as prticas normais das suas

    respetivas instituies. A contribuio pessoal de cada parceiro enfatizada, a

    criatividade ou a qualidade so os principais critrios para promover aes de

    interveno e no tanto a importncia da instituio que os profissionais representam.

    Os contributos pessoais so valorizados.

    Rituais especficos foram elaborados para promover a identidade social da rede

    social e o sentido de pertena na comunidade de bairro. Este bairro est situado na

    parte antiga de Lisboa perto do rio e estava ligado atividade piscatria. Nele, muitas

    das mulheres idosas eram varinas. No passado, costumavam andar ao longo das ruas de

    Lisboa com a cesta de peixe para vender. So mulheres muito destemidas e arrojadas,

    no tm problemas em falar em pblico. O peixe e a rede foram escolhidos como

    smbolos da rede social de freguesia. Na sala da Junta de Freguesia, onde se realizam

    reunies, uma rede de pesca exibida na parede. Peixes de papel com os nomes de cada

    parceiro so pendurados nesta rede. Quando um parceiro novo pede para ser includo na

    rede, levado a cabo o ritual de pendurar o peixe com o nome do parceiro no incio do

    encontro da rede inter-institucional. So dados aplausos de boas vindas ao novo

    membro.

    Criou-se um ritual de adeso, porque o simblico fundamental na construo identitria de qualquer grupo. Madragoa territrio ligado ao rio. Bairro de varinas e pescadores. Ento, haja rede! Haja peixe! Muitos Peixes! De Rio, de Mar, de Oceanos, de perto e de longe! Que venham todos! S proibida a entrada a quem no andar espantado por existir. Hoje j l nadam 58! Todos diferentes! Cada Peixe representa uma instituio que se coloca na Rede onde e como se sentir bem. Na Rede todos sabem importante rechearem a Rede. s vezes pescamos, outras vezes deixamo-nos pescar. Tudo importante! A abordagem geral interveno social planeada como forma de dar poder aos

    participantes, tornando-os agentes de produo de iniciativas culturais:

    exactamente fazer um bocadinho a sensibilizao das pessoas ou seja ns tentamos no s eu uma filosofia de trabalho da junta de freguesia que a de tentar com o apoio directo das pessoas fazer das pessoas participantes realmente activos das coisas no serem tambm existem mas passar daquele modelo de actividades que esto formatada programadas e que as pessoas so s os destinatrios finais no que as pessoas sejam parte do processo de construo das

  • 30

    coisas no acontece em todas as actividades porque quando para planear a visita quando geralmente somos ns que fazemos a pesquisa e tudo mas existem outras como esta do museu ao bairro como esta das tertlias que embora sejam organizadas por ns mas o contributo das pessoas to grande que a actividade recheada e preenchida e a substncia da actividade realmente parte dos contributos das pessoas ou seja as pessoas que vm c para falar a maior parte das vezes porque tm essa sensibilidade dos convidados esto dispostos a ouvir e ento nesse encontro entre quem vem conversar quem vem apresentar mas que as prprias pessoas a professora Isabella j assistiu tomam conta da actividade. (Inteview C 18)

    Um profissional especifica muito claramente a diferena entre ser um consumidor de

    atividades culturais ou estar envolvido na produo das mesmas:

    existe seja por produtos culturais seja por produtos at de objectos utenslios que cada vez esto a ser criados mais est a crescer o mercado direccionado para os idosos nem que seja mercado de telefone com teclas maiores para terem hiptese a caladeira para portanto h uma serie de j de economia de lojas de negcio que tem crescido e para alm deste negcio econmico que tem crescido tambm tm crescido as actividades para os idosos mas ns estamos a tentar que no s ver as pessoas nestas actividades como consumidores de produtos para elas mas sim produtores de servios no ? de produtos que sirvam a outros pblicos no caso do museu ao bairro um exemplo (Inteview C 22)

    Os profissionais acreditam na produo de iniciativas que tm uma finalidade e

    envolvem os idosos num processo de crescimento pessoal.

    contribuir colaborar com as pessoas para que elas sejam sujeitos do seu prprio desenvolvimento no ? para que haja uma emancipao de cultural social no fcil mas um trabalho em que ns acreditamos (Inteview C 40) h outras ideias e tudo que vale a pena recriar e explorar especialmente esta das pessoas poderem ser novamente actores sociais mesmo num plano concreto no ? prtico especifico (Inteview C 195) Um profissional fala de informalidade como um aspeto caracterizante da

    abordagem institucional, ou seja, a importncia do envolvimento pessoal concreto

    de pessoas que pertencem a instituies diferentes.

    h muita comunicao que eu acho que aqui uma coisa importante no nosso trabalho no s ns outros parceiros tambm e outros projectos noutras reas antes pensava-se que as coisas muito formais aquela postura dos servios que responsvel com maturidade como se a informalidade fosse uma coisa menor e cada vez vemos mais que o que aproxima e uma ferramenta de trabalho uma metodologia a informalidade porque as parcerias so parcerias entre as pessoas no interessa dizer que temos esta parceria se se ela no se activa se no activa no activa (Inteview C 152)

  • 31

    A formalidade cria distanciamento, a informalidade produz aproximao e

    envolvimento. Acima de tudo, o aspeto chave desta metodologia de interveno neste

    ambiente institucional a valorizao ou o contributo individual dos profissionais,

    assim como das pessoas idosas. No prximo ponto, sero apresentadas algumas das

    iniciativas scio culturais mais relevantes no envolvimento das pessoas idosas.

    4. Descrio de iniciativas socio culturais que envolvem idosos

    Isto uma necessidade transversal o ser humano o ser humano gosta de ser reconhecido os idosos natural que estejam na fase em que esto da vida que gostem mais ou especialmente de ser reconhecidos e portanto tem que haver e quando sentem que so envolvidos e portanto e que a opinio deles conta e que aquilo que eles tm para dizer importante e que valorizado ento esto esto a vontade e falam imenso e dizem imensas coisas(interview M 269)

    Entre as vrias iniciativas organizadas que envolveram os idosos nos ultimos trs anos

    na freguesia, os seguintes foram provavelmente os que ilustram melhor o trabalho de

    desenvolvimento comunitrio levados a cabo pelos profissionais: Museu ao Bairro,

    Comunicao lugar de gentes, gestos e memrias, Frum Snior. Estas iniciativas

    eram particularmente eficazes no envolvimento ativo das pessoas idosas e constituram

    eventos culturais com grande sucesso.

    4.1 Museu ao bairro

    O Museu ao bairro provavelmente a iniciativa mais duradoura e bem sucedida que

    envolveu pessoas idosas. Comeou em 2009 e ainda contnua. Consiste numa visita

    guiada ao bairro por um profissional de conservao do patrimnio com a participao

    das pessoas idosas. Durante uma entrevista, o profissional da freguesia responsvel pela

    iniciativa descreve-a da seguinte forma:

    no ltimo sbado de cada ms as pessoas fazem um percurso os visitantes realizam um percurso que tem incio no Museu das Comunicaes que um dos parceiros da Comisso Social de Freguesia um percurso por locais daqui da freguesia e muito do bairro da Madragoa fazem aquela visita histrica mas no s a histria dos acontecimentos histricos e dos edifcios mas a histria das vivencias da vida das pessoas e muito e geralmente as pessoas que acompanham o percurso e que tambm acabam por guiar os visitantes pelas suas zonas de origem ou de experiencia de vida so essencialmente as idosas o grupo aqui dos velhotes como ns dizemos aqui essencialmente senhoras um grupo de senhoras que umas tiveram ligadas ao peixe no descarga do peixe outras que tiveram fizeram venda pela cidade de canastra no como

  • 32

    varinas outras pessoas que no acompanham logo o percurso mas esto no prprio bairro e falavam tambm (Inteview C 14)

    O projecto Do Museu ao Bairro da Madragoa visa valorizar e divulgar os

    diferentes patrimnios do Bairro da Madragoa e promover a identidade colectiva,

    atravs de visitas guiadas ao Bairro

    O profissional descreve as caractersticas artsticas principais do bairro, enquanto as

    pessoas idosas contam as histrias da vida no bairro quando eram jovens;

    reconstremalgumas cenas da vida no bairro, e reproduzem alguns preges. A iniciativa

    muito bem-sucedida e algumas agncias de viagens propuseram inseri-las nas suas

    visitas tursticas. Recentemente foi introduzida uma cobrana para participar nas visitas

    e a receita usada para financiar iniciativas culturais para pessoa idosa.

    4.2 O Evento sobre a Memria:

    O evento Comunicao lugar de gentes, gestos e memrias foi organizado em

    2011, pelo Museu da Comunicao, um parceiro da rede inter-intitucional. uma

    tertlia em que o participante partilha memrias sobre os meios de comunicao (cartas,

    telefone, rdio, etc.). O coordenador do evento convidava o pblico a contar histrias

    pessoais sobre os meios de comunicao e comentava a interveno. Muitas pessoas

    intervieram narrando a prpria histria, entre eles, alguns funcionrios do museu de

    comunicao, uma professora, uma estudante, o presidente da Junta de Freguesia e um

    grupo de mulheres idosas. Aps a interveno do presidente, uma mulher idosa tomou a

    palavra, ris, uma varina, uma mulher muito vivaa, arrojada e destemida. ris contou

    a histria das cartas de amor fictcias que as mulheres do bairro costumavam escrever

    durante o carnaval, usando ttulos de filmes. Durante a sua interveno, toda a audincia

    desatou a rir vrias vezes.

    A transcrio da sua interveno apresentada de seguida:

    C= Coordinator I=Iris C P= Participant

    1 C: faz favor

    2 I: boa tarde a todos

    3 P: tinha que ser

    4 I: eu sou a Ana Rosa

    5 ((aplausos))

    6 P: tinha que ser

    7

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    9

    I: oh e eu vou aqui contar uma histria que a partilha de uma carta

    vou falar aqui para os mais novos para ver se eles conseguem fazer

    isso difcil uma carta que ns tnhamos no carnaval escrevamos

  • 33

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    13

    sobre filmes antigos de rapazes por exemplo eu tinha um rapaz que

    gostava dele mas ele no sabia ((risos)) e ento eu escrevia aquela

    carta e passava logo a carta a outra rapariga queres tu escrever agora

    para o teu escreve tal e ento

    14 ficou-me na memria

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    no tudo no o que eu vou dizer mas tudo sobre filmes antigos

    ento a carta comeava assim senhor amar-te foi a minha perdio

    era um filme ((risos)) com todo o meu corao era outro filme

    ((risos)) lhe escrevo esta amorosa carta que ao v-lo pela primeira

    vez esquina do pecado era outro filme ((risos)) a (fascinao) era

    outro filme ((risos)) que a (fascinao) dos seus olhos fez com que

    um raio de luz me levasse a este fim o raio de luz tambm era um

    filme ((risos)) ao ler ( ) ontem o vi numa noite sem estrelas era

    outro ((risos)) os seus olhos ao verem ( ) da escurido me

    fizeram apaixonar ser a idade das iluses? No mas sim a idade

    perigosa tambm era um filme ((risos)) dizem que daqui ( doido por

    saias) era outro filme ((risos)) (ou para um aventureiro) depois isto

    tinha muito mais filmes mas o fim era engraado porque a gente

    depois dizia assim caso queira responder a morada viela rua sem

    sol era um filme ((risos)) hspede do quarto 13 esta que se assina a

    indomvel

    31 ((aplausos e risos))

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    37

    I: ( engraado) porque depois ( ) tinha muito mais filmes muito

    mais ( ) e a gente pegava e a outra dizia ai isto o que que eu

    hei-de escrever ao meu e ento a carta andava de mo em mo at

    que vinha parar outra vez isto s pelo carnaval que (e depois h

    pessoas quem ser) porque aquilo levava um interesse era tudo (

    )

    38 ((aplausos))

    39

    40

    C: e j agora o resto da histria ((risos)) o resto da histria eles s vezes

    descobriam quem era ( )?

    41 I: no no aquilo era um segredo de Estado

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    43

    C: ((Risos)) e quando mandavam a carta no gostavam que eles

    soubessem que vocs gostavam deles?

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    47

    I: no no no era precisamente pois claro a que era assim ele dizia

    assim epa ela dalm e a gente fazia-se de muito (esquisita) aquilo

    depois ( ) at havia uma que era o ptio das

    cantigas havia vrios filmes muito engraados

    48 C: dava um trabalho para compilar

    49

    50

    I: ah pois dava mas eu (s) preciso da memria e eu ainda tenho

    algumas

    51 C: ainda sabe de cor?

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    54

    I: ainda sei de cor e ento ( ) e depois ser que ele (recebia)

    ficava sem saber se eles tinham recebido ou no porque aquilo a

    morada no dizia nada claro claro que sabamos o nome da pessoa

    55 C: era por baixo da porta ou assim ou na caixa do correio

    56 I: exactamente porque ningum sabia

    57 C: e era aqui na Mouraria que isso acontecia?

    58 I: na M. ((risos))

  • 34

    Depois outra mulher do bairro participou, Crmen a fadista, contou a sua experincia

    acerca da censura durante a ditadura, descrevendo como os textos das canes era

    revisto e depois comeou a ler uma poesia. A coordenadora convidou a cantar enquanto

    o pblico exclamava Canta! Canta!, aplaudindo ritmicamente. Ela comeou a cantar e

    depois outras mulheres idosas juntaram-se a cantar no refro, e, pouco depois, o pblico

    comeou a cantar tambm. Outras mulheres idosas comearam as canes do bairro

    com todo o pblico aplaudindo ritmicamente durante o refro. Elas continuaram at ao

    final do evento, alternando histrias e comentrios com as canes e com o pblico a rir

    e a aplaudir. O evento durou duas horas. No total, o grupo de mulheres idosas manteve a

    palavra durante 42 minutos. A participao do pblico atravs de risos e aplausos era

    maior durante a interveno das mulheres. possvel dizer que entre o pblico que

    interveio neste evento, este grupo de mulheres idosas deu a contribuio maior a

    entreter o pblico e fez deste evento cultural um sucesso.

    4.3 O Frum Snior

    O Frum Snior provavelmente a iniciativa mais ambiciosa no sentido de promover a

    incluso social da pessoa idosa, mas no est ainda completamente desenvolvida. A

    ideia que est na base deste projeto a promoo da participao do cidado idoso na

    vida poltica da freguesia, criando um grupo permanente de pessoas idosas que

    consultado pela Junta de Freguesia em relao gesto do bairro. Durante um encontro

    do grupo snior, o grupo inter-institucional de profissionais que organiza as iniciativas

    com pessoas idosas resume assim a discusso acerca da finalidade do Frum Snior:

    geralmente as pessoas, umas mais outras menos () aqui at aparecem, Ns temos

    essa possibilidade sempre de chamar assim as pessoas. Uma dificuldade que eu vejo que

    tambm o aliciante para ns trabalharmos que para construir estas sesses, uma das

    dificuldades ou uma das formas tambm de ter de ser bem trabalhada so as ideias de

    cada um sobre o que ser o frum do snior e essa que a dificuldade que ns estamos

    a enfrentar, porque ns, eu continuo a dizer, eu acho que no podemos, eu sei que h

    vrias ideias, temos as ideias conforme o snior poder ser isto, poder ser isto, poder

    ser, o objetivo que seja, ou um dos ou das possibilidades, que seja uma espcie de

    um rgo consultivo das pessoas, dos seniores alguns, ou e existir, transmitirem a

    outros e tudo, que possa ser, e por isso que a primeira sesso o ano passado do C. R.

    ele fez diretamente essa pergunta ao Sr. Lus, aqui antes de dinamizar a sesso ele at

    disse: Lus desculpe l e tal ns vamos fazer isto com esta inteno que sirva

    para dar dicas, sugestes, recomendaes s polticas dos seniores e no s, acarinhadas

    por uma autarquia, por isto, por aquilo, portanto o objetivo ser que as pessoas

    trabalhem e sejam consideradas, no s nestes momentos que so importantssimos, mas

    como uns pares ali de deciso. Claro que isso poder ser, se calhar, provavelmente a

  • 35

    acontecer numa primeira fase e, se calhar at poder acontecer durante muito tempo

    essa fase, somente consultivo e no deliberativo, mas uma tentativa

    A ideia de criar um processo que pode conduzir organizao de uma comisso

    consultiva com pessoas idosas de apoio Junta de Freguesia. Uma srie de tertlias

    foram organizadas nos ltimos trs anos, ou seja, encontros em que as pessoas idosas

    foram convidadas a participar ativamete, discutindo vrias questes de interesse: sade,

    segurana, tempos livres, sexualidade e emoes, habitao, isolamento, mobilidade,

    etc. Por exempolo, a polcia de proximidade e os bombeiros da localidade foram

    evolvidos em coordenar um encontro sobre o tpico da segurana. As sesses eram

    muito participadas, uma das mais bem sucedidas no sentido da participao de pessoas

    idosas foi o encontro sobre o tema do isolamento e da solido. A transcrio que se

    segue reporta a interveno de uma mulher idosa que descreve a sua experincia de ter

    mudado de casa para viver mais perto do seu filho:

    Vou-me referir aquela questo de criar amizades d muito trabalho. E combater a

    solido tambm d. Eu fui viver para Aveiras para ao p dum filho que me alugou l

    uma casa ao lado dele para eu no estar sozinha porque eu tenho parkinson. E ora,

    sofri horrores quando me vi ali sozinha sem conhecer ningum forafora da minha

    terra, fora do meu bairro, fora das minhas amizadessofri horrores. Chorei muito, gritei

    muito, o C. testemunha que quis muita vez fazer a mala e vir-me embora, mas, pronto,

    fui-me adaptando. Fui procurando stios onde eu me pudesse integrar.

    B: Portanto, foi pr