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REDES DE COOPERAÇÃO EMPRESARIAL - ESTUDO DE CASO DE UMA REDE DE FARMÁCIAS EM GOIÁS Arineia Nogueira de Assis (PUCGO ) [email protected] CARLOS AUGUSTO DA SILVA CABRAL (IFG ) [email protected] Solange da Silva (PUCGO ) [email protected] A Rede de Cooperação Empresarial (RCE) estudada no Estado de Goiás é uma associação de farmácias, atuando principalmente na região metropolitana de Goiânia e cidades do interior, sendo criada, principalmente, para enfrentar a concorrência de grandes empresas. Para aumentar a competitividade possui marketing em conjunto e relacionamento comercial com os grandes fornecedores de medicamentos. Este estudo identificou as principais características dessa associação e constatou que a mesma possui os requisitos necessários para ser considerada uma RCE, tais como: gestão em conjunto e democrática, integração entre os associados e objetivos comuns. Os principais ganhos obtidos pelas empresas participantes tem sido o aumento de clientes, com ações de marketing e a redução de custos e ganhos em escala, obtida principalmente nas compras em conjunto. Palavras-chaves: Associação de Farmácias, Redes de Cooperação Empresarial, Ganhos em Escala, Medicamentos XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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REDES DE COOPERAÇÃO EMPRESARIAL -

ESTUDO DE CASO DE UMA REDE DE

FARMÁCIAS EM GOIÁS

Arineia Nogueira de Assis (PUCGO )

[email protected]

CARLOS AUGUSTO DA SILVA CABRAL (IFG )

[email protected]

Solange da Silva (PUCGO )

[email protected]

A Rede de Cooperação Empresarial (RCE) estudada no Estado de Goiás é uma

associação de farmácias, atuando principalmente na região metropolitana de

Goiânia e cidades do interior, sendo criada, principalmente, para enfrentar a

concorrência de grandes empresas. Para aumentar a competitividade possui

marketing em conjunto e relacionamento comercial com os grandes

fornecedores de medicamentos. Este estudo identificou as principais

características dessa associação e constatou que a mesma possui os

requisitos necessários para ser considerada uma RCE, tais como: gestão em

conjunto e democrática, integração entre os associados e objetivos comuns.

Os principais ganhos obtidos pelas empresas participantes tem sido o

aumento de clientes, com ações de marketing e a redução de custos e ganhos

em escala, obtida principalmente nas compras em conjunto.

Palavras-chaves: Associação de Farmácias, Redes de Cooperação Empresarial,

Ganhos em Escala, Medicamentos

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

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1 Introdução

A globalização fez com que as empresas deixassem de concorrer apenas com empresas

vizinhas e iniciassem a competir com empresas de diversos países, acirrando a concorrência e

aumentando a velocidade das inovações, que somada à socialização da informação, tornou os

clientes mais exigentes e fez com as empresas iniciassem a busca por algo que permitisse

competir no mercado.

Segundo Amato Neto (2008), as empresas enfrentam um novo paradigma marcado

pela produção enxuta, ágil e flexível, a emergência de novos empreendimentos,

descentralização geográfica, a exigências das decisões de investimento condicionadas ligadas

a infraestrutura adequada, proximidade de centros de pesquisa e desenvolvimento, oferta de

mão de obra qualificada, modernos meios de transporte modernos e tecnologia da informação

e comunicação, entre outros.

As pequenas e médias empresas (PMEs) tem dificuldade de atuar nestes mercados,

devido às exigências mencionadas acima, fazendo com que elas cooperem entre si, formando

as redes de cooperação empresariais, que buscam reduzir ou amenizar os efeitos destes

ambientes competitivos, além do que, concorrer com as grandes empresas.

As redes de cooperação de PMEs ocorrem por diversos fatores, e permitem aos

participantes diversos tipos de ganhos, como demonstrado por Balestrin e Verschoore (2008).

Estes autores ao relatar o desenvolvimento das redes de cooperação no estado do Rio Grande

do Sul mostram um forte apoio do Estado e de instituições de ensino e ou pesquisa.

Quanto ao estado de Goiás, não existem artigos que retratam a existência de Redes de

Cooperação Empresarial (RCE), assim como, não há políticas claras para o desenvolvimento

das mesmas.

Assim, o objetivo principal deste trabalho foi o de verificar se a Rede de Farmácias

estudada se enquadrava no modelo produtivo que a classificaria como sendo uma RCE de

Pequenas e Médias empresas. Os objetivos secundários foram:

1. Identificar se há o apoio do estado de Goiás na organização e manutenção da

referida rede;

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2. identificar se há a participação de instituições de ensino e pesquisa;

3. apontar os requisitos para participar da rede e

4. verificar a estrutura da rede.

Este artigo está estruturado nas seguintes seções: revisão bibliográfica, metodologia,

estudo de caso, conclusão e referências bibliográficas.

2 Revisão bibliográfica

Esta seção foi dividida em três tópicos, com o intuito de abordar o ambiente dos

negócios, as redes de cooperação e algumas definições importantes.

2.1 Ambiente dos negócios

Segundo Amato Neto (2008) a produção pelo modelo Taylorista-Fordista mudaram as

características da produção das empresas e necessidades de economias, em especial

economias de escala impôs o surgimento de grandes fábricas, aumento da racionalização e

especialização do trabalho que associada à padronização de produtos e partes de componentes

destes, aliado a concepção de linha de montagem surgiu à produção em massa.

O setor de comércio e serviços sofre grande influência do modelo de produção

existente, principalmente com a inserção de grandes empresas nesse setor, com isso, surge a

necessidade de médias e pequenas empresas se adequarem a esse mercado, aumentando sua

competitividade através da economia em escala e/ ou do atendimento especializado.

Por isso, Balestrin e Verschoore (2008) demonstram que a competição de empresas no

mercado é semelhante à de espécies de organismos em competição por sustento e

sobrevivência, porém afirmam que estas podem coexistir em um mesmo ambiente,

competindo e cooperando de maneira racional.

2.2 Redes de Cooperação Empresarial

Segundo Oliveira (2001) o ato de cooperar entre pessoas, grupos, atividades, regiões

está se tornando mais comum, já que estes buscam resultados comuns e compartilhados, o que

é devido à ampliação e fortalecimento da concorrência, a estruturas organizacionais menos

hierarquizadas, a compreensão que ser grande não é sinônimo de ser melhor, do

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redimensionamento hierárquico, da qualidade total dos produtos, da redução de desperdícios,

entre outros.

A formação de RCEs foi uma experiência bem difundida na Dinamarca com o objetivo

de ampliar a competitividade das PMEs, para tentar compartilhar esforços de produção,

distribuição, marketing, desenvolvimento de produtos e transferência de conhecimentos para

o crescimento conjunto. O êxito desse projeto de promoção de redes entre as PMEs inspirou

outros países, como: Finlândia (1990), América do Norte (1991), Oceania (1994), América

Central (maior sucesso em Honduras) Balestrin e Verschoore (2008).

No artigo de Lundenberg e Andresen (2012), ao analisarem a cooperação entre

empresas, universidades e governo na Suécia, demonstram que os ganhos são importantes

para uma rede de cooperação empresarial, pois, novas oportunidades são criadas para todos,

gerando novos caminhos para o incremento da produção regional. O governo local atua como

um parceiro que gera um impacto indireto, criando meios para promover e regulamentar os

negócios. Enquanto as universidades e instituições de pesquisa atuam na promoção de

pesquisa, educação, métodos e compartilhamento da informação.

Okamuro, Kato e Honjo (2011) ao estudar os fatores fundamentais na cooperação de

empresas, no caso específico na criação de novas empresas no Japão, eles demonstram o

papel fundamental de instituições de pesquisa na geração de novas tecnologias. Na revisão

bibliográfica eles retratam que esse relacionamento entre empresas e centros de pesquisa não

trouxe resultados apenas no caso estudado, mas em diversos países a existência de redes de

cooperação associadas com tais institutos geram resultados positivos em pesquisa e

desenvolvimento para universidades e em novas práticas e ou produtos para as empresas

participantes.

No Brasil, segundo Balestrin e Verschoore (2008), constam iniciativas públicas e

privadas de apoio às redes, sendo que umas das experiências mais significativas é o Programa

de Redes de Cooperação (PRC), realizado pelo governo do Rio Grande do Sul, mediante

convênios celebrados com instituições de ensino superior.

O PRC foi iniciado em 2000 e no ano de 2006, após uma ampla pesquisa juntos às

redes desenvolvidas para avaliar o impacto de sua formação sobre as empresas associadas, os

resultados indicaram a seguinte percepção dos empresários quanto aos benefícios das redes de

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cooperação, numa amostra de 816 empresas: a) aumento médio de 23,64% no faturamento de

54,5% das empresas; b) redução média de 11,62% no custo das compras de 71,9% das

empresas; c) redução média de 2,29% nos custos operacionais de 42,2% das empresas; d)

aumento médio de 21,73 no número de novos clientes de 65% das empresas: e) aumento

médio de 26,71% no número de novos de fornecedores de 55% das empresas; f) aumento

médio de 22,95% no nível de investimento de 53,9% das empresas.

Até o início de 2010 foram contabilizadas mais de 240 redes empresariais que

envolvem 4600 empresas, respondendo por 48 mil postos de trabalho. O incremento médio no

faturamento das empresas participantes da rede está na ordem de 26,51%. O aumento médio

no numero de funcionários é de 36,73%. O incremento médio nos investimentos é da ordem

de 30,95%. A redução de custos é de 13,38%.

Um fato importante para a existência de redes de cooperação é levantado por Balestrin

e Verschoore (2008), que é a necessidade de se ter coerência (objetivos comuns),

conectividade (interatividade) e coordenação entre os membros. Estes são considerados os

três “princípios” básicos para existência de uma rede de cooperação, sendo fundamental para

desenvolver e aprimorar as atividades das empresas participantes.

Amato Neto (2008) também ressalta a importância da inovação para o

desenvolvimento econômico de uma organização, estando ligada a implantação de novos

setores produtivos, transformação na estrutura existente, mudanças de paradigma tecnológico.

Essas transformações são consideradas indispensáveis para estabelecimento de novos

paradigmas que também é influenciado pelo Estado, quanto aos aspectos políticos e

econômicos, já que estes podem estimular ou inibir a entrada de concorrentes.

A existência de parceria ou cooperação entre empresas vizinhas, pode se dar através

das redes, que é definida por Braga (2010), como sendo um grupo de organizações com

interesses comuns, que se unem para a melhoria da competitividade de um determinado setor

ou segmento e cooperam entre si. O mesmo autor acrescenta que este conceito é aplicado a

diferentes formas de relações entre empresas, como joint ventures, alianças estratégicas,

relações de terceirização e subcontratação, distritos industriais, consórcios, redes sociais,

redes de cooperação entre pequenas e médias empresas.

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A cooperação entre diferentes empresas é uma realidade, e em muitas localidades é

tomada como política pública de desenvolvimento, tendo o estado e instituições de ensino e

pesquisa como importantes parceiros.

2.3 Vantagens das Redes de Cooperação Empresariais

Os ganhos competitivos verificados em uma rede vão desde as compras com preços

mais baixos, compartilhamento de equipamentos e instalações, redução de custos e aumento,

assim, o excedente obtido. A cooperação oferece, ainda, a possibilidade de se dispor de

tecnologias e reduzir os custos de transação relativos à inovação, aumentando a eficiência

econômica e, por consequência, a competitividade.

As RCEs podem proporcionar aos membros inúmeros benefícios, como mostrado por

Oliveira (2001) que cita aumento da força competitiva, acesso rápido e intenso a recursos

(tecnológicos, financeiros, comerciais e humanos), otimização e estruturação no processo de

controle, divisão e compartilhamento dos riscos, fortalecimento do produto/serviço, acesso ao

mercado, obtenção de vantagens competitivas, capacidade tecnológica, aprendizado conjunto

e capacitação financeira e desenvolvimento e obtenção de sinergias.

Pessoa, Arruda e Faria (2009) mostram o caso de uma rede que obteve os seguintes

benefícios: despertou a atenção de compradores, de fornecedores e do próprio Governo, maior

competitividade junto ao mercado, soluções tecnológicas, gestão e organização do negócio,

capacitação para a produção, obtenção de apoio do Governo, obtenção de economia de escala,

melhores condições e preços na compra de seus insumos, valorização dos produtos, formação

de barreiras à entrada de novos concorrentes no setor, diferenciação dos produtos

comercializados pelo grupo causa impactos na concorrência, incremento comercial (com

aumento da renda).

O caso explorado por Thomaz e Salazar (2010) mostra que as empresas da rede

aumentaram a interação com as empresas concorrentes e fornecedores, divisão de custos,

compartilhamento de informações, capacidade de enfrentar os grandes concorrentes, aumento

da competitividade.

O ganho competitivo mais obtido com as redes de cooperação empresarial são os

ganhos em escala que esta ligada à economia de escala, a qual é definida por Balestrin e

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Verschoore (2008) como a redução do custo unitário com a produção ou compra em grande

quantidade, pois dilui os custos unitários de acordo com o aumento do número de unidades.

A obtenção deste ganho esta relacionado à quantidade que é compra, ou seja, para

obter é necessário que as compras da rede sejam realizadas conjuntamente, a fim de aumentar

a quantidade pedida. De um modo geral, este ganho proporciona outras vantagens, que são o

aumento do poder de barganha das empresas, melhores prazos e condições de pagamento,

aproximação e reconhecimento para com os fornecedores, entre outros.

2.4 Definições importantes

Durante a realização deste trabalhou verificou-se a necessidade de definir alguns

termos, como: redes de cooperação, cooperativismo, associativismo. Sendo o conceito que

rede de cooperação já foi definido na subseção 2.2.

Segundo Alves et al. (2009) o associativismo é um tipo particular de aliança

estratégica, podendo ocorrer entre diferentes empresas e de diversas formas: entre grandes

empresas, em alianças horizontais e com alianças verticais. O associativismo pode ser

considerado um tipo particular de aliança estratégica em rede, a diferença está no fato de ser

uma estratégia adotada principalmente por pequenas e médias empresas e de caracterizar-se

por ser uma aliança horizontal entre concorrentes.

Para Ritossa (2012) as cooperativas devem ser entendidas como organizações que

priorizam pessoas e não o capital são as únicas empresas comerciais que colocam diretamente

nas mãos do usuário três interesses básicos: a propriedade, o controle e os benefícios

(diferenciando-as das empresas tradicionais), ou seja, a propriedade e o controle são exercidos

de forma democrática pelos cooperados e as decisões buscam moderar a necessidade de

rentabilidade, as necessidades dos seus membros e os interesses mais amplos da comunidade.

Além disso, o cooperativismo busca integrar comunidade local, e os princípios e valores que

norteiam o segmento (valores éticos de honestidade, transparência, democracia, igualdade,

solidariedade e responsabilidade social são colocados em prática através dos princípios de:

adesão livre e voluntária, gestão democrática, participação econômica, autonomia e

independência, educação, formação e informação, intercooperação e compromisso com a

comunidade).

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A cooperação interorganizacional decorre do desenvolvimento deliberado de relações

entre organizações autônomas para a consecução de objetivos gerais e específicos

(Schermerhorn,1975).

Segundo a Lei n° 5764/1971 as cooperativas são compostas de pessoas, com forma e

natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar

serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades por apresentar as

características de: adesão voluntária (número ilimitado de associados); variabilidade do

capital social representado por quotas-partes; limitação do número de quotas-partes do capital

para cada associado; inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à

sociedade; singularidade de voto (podendo as cooperativas centrais, federações e

confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo

critério da proporcionalidade), quorum para o funcionamento e deliberação da assembleia

geral baseado no número de associados e não no capital; retorno das sobras líquidas do

exercício; proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em

contrário da assembleia geral; indivisibilidade dos fundos de reserva e de assistência técnica

educacional e social; neutralidade política, religiosa, racial e social; prestação de assistência

aos associados (quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa); área de

admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação

de serviços.

Assim, pode-se entender rede de cooperação como uma parceria entre empresas, as

quais devem possuir objetivos comuns, coordenação e interação.

3 Procedimentos metodológicos

A metodologia adotada para o desenvolvimento é classificado por Jung (2010) quanto

à natureza como pesquisa básica, pois visa observar e descrever os fenômenos da rede em

estudo. E quanto aos objetivos como descritiva já que busca identificar e análise das

características, fatores ou variáveis que se relacionam com o fenômeno ou processo.

Yin (2005) defende que um estudo o estudo de caso único é valido quando ele é raro

ou único, como no estado de Goiás não existem estudos abordando a formação de RCEs,

torna-se necessário identificar se existem tais modelos produtivos, e assim, enquadrando

como válido.

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A abordagem utilizada neste trabalho é a qualitativas, pois segundo Miguel (2011) a

forma de obter as informações para pesquisas qualitativas é por meio de questionário com

questões semiestruturadas e não estruturadas.

Para Jung (2010) o estudo de caso é um estudo que busca explicar ou descrever um

sistema no âmbito particular ou coletivo, sendo uma importante ferramenta que tem por

finalidade entender “como” e “por que” do funcionamento dos processos. Este trabalho visa

investigar a relação entre os cooperados de uma rede e os benefícios obtidos pelos membros.

Turrioni e Mello (2012) ainda dividem o estudo de caso em três tipos, sendo que para

este trabalho o estudo de caso é do tipo exploratório que é uma espécie de estudo piloto que

pode ser feito para testar as perguntas de um projeto, hipóteses, e principalmente os

instrumentos e procedimentos, podendo ser necessárias alterações no questionário após a

finalização do estudo para mostrar o que funcionou ou deixou de funcionar.

4 Estudo de caso

A Rede de farmácias estudada é uma associação de farmácias em Goiás, atuando

principalmente na região metropolitana de Goiânia. Este estudo buscou identificar as

principais características dessa associação e se a mesma se enquadra como sendo uma RCE,

assim como, identificar os ganhos em escala obtidos pela mesma. Por questão de

confidencialidade o nome da RCE pesquisada será omitida.

4.1 Histórico da RCE Goiana

A rede de empresa em estudo é uma rede de perfil associativista de farmácias atuante

no Estado de Goiás, mais especificamente em cidades próximas de Goiânia, a qual foi

fundada em 1997, na época contando com 64 farmácias. Atualmente, conta com 66 farmácias.

As farmácias foram motivadas, na época por uma empresa especialista em redes de

empresas, a qual afirmou aos empresários goianos, durante reunião, que uma grande rede

farmacêutica chilena se instalaria em Goiânia (que até o presente momento não se instalou).

Os empresários, com receio da concorrência, iniciaram a cooperação de farmácias.

Desde então, iniciaram a parceria através de uma um contrato formal, instauração de

conselho e assembleias, estatuto, e a rede passou a ter uma administração própria, como é

defendido por Balestrin e Verschoore (2008).

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A eleição para presidente da rede é realizada a cada dois anos, sendo a prestação de

contas ocorre uma vez ao ano em uma assembleia, na qual ocorre também a prestação de

contas do exercício e um “orçamento” do que está prevista para ser gasto no durante o ano

seguinte. A composição estrutural da associação é definida a seguir: Diretoria, Conselho

administrativo, Conselho fiscal e Conselho de ética.

4.2 Requisitos para participar da rede

O principal critério para fazer parte da RCE estudada consiste em não ter outra

farmácia associada na Rede em um raio de 700 metros. As empresas associadas devem utilizar

a marca da rede (as empresas usam as duas identidades, a da rede e própria; estar com a

“avaliação técnica atualizada”, que consiste em se ter atualizado os alvarás de funcionamento

expedidos pelas vigilâncias sanitárias (estadual e municipal) e a Anvisa; estar atendendo aos

padrões para farmácias e cadastro atualizado de fornecedores.

Realizada esta etapa, a empresa fica por doze meses no chamado Regime de Filiação,

período no qual ela pode optar por deixar a rede ou ser eliminada, caso não atenda aos

requisitos da mesma.

4.3 Ganhos competitivos dos membros da rede

A rede possui algumas atividades compartilhadas, como: compras, marketing, serviços

contábil e jurídico, os treinamentos interno (com exceção do recrutamento que é terceirizado

em conjunto).

As compras de 600 itens são realizadas em conjunto e são vendidos pelo mesmo preço

em qualquer farmácia da rede. Os demais itens não são, pois segundo o DECOM

(Departamento de Defesa Comercial) isso é caracterizado como formação de cartel, o que é

proibido.

A rede é a única que possui o PDS (Plano de Desenvolvimento Social) para gestão da

rede, segundo o qual só é repassado à gestão da rede, o necessário para o funcionamento e que

o restante é usado por cada empresa para melhorias internas.

O principal ganho obtido pelas empresas participantes é a redução de custos, obtida

principalmente na compra em conjunto. Ao fazer a compra em conjunto, as empresas obtém

um poder maior de negociação com os fornecedores, e com isso, podem vender a preços mais

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baixos, além de, obter um maior ganho. E a manutenção do preço único em todas as farmácias

participantes, permite ações promocionais em conjunto.

Outro ganho importante foi o aumento de clientes, com ações de marketing. O uso da

marca da RCE em todos os participantes faz com que ocorra a unidade da empresa,

demonstrando um ganho importante aos associados.

4.4 Desafios da rede

A RCE estudada possui alguns desafios, como o de adotar um nome único para as

empresas da rede, o que é dificultado pelos membros, pois temem abrir mão do nome já

conhecido. Ainda buscam os benefícios fiscais, pois não se pode ter recolhimento do tipo

simples e, para contornar tal situação, existe um projeto aguardando aprovação para criação

de uma cooperativa, que é regida pelo Banco Central e possui etapas altamente burocráticas

para se chegar ao resultado. A falta de visão de grupo é um grande problema que impede a

expansão da rede, pois muitos dos associados ainda não percebem a associação como um

organismo próprio, e ainda se prendem muito aos ganhos individuais, em detrimento ao

fortalecimento da marca.

Outro fato é que a rede não possui nenhum tipo de apoio, nem do governo, com

programas de incentivo e nem de instituições de ensino e pesquisa. O único benefício é o atual

modelo de recolhimento fiscal do estado, o qual favorece a associação, fortalecendo o

comércio local. É importante ressaltar que tal tipo de recolhimento é geral e não um

favorecimento específico às associações.

5 Conclusão

A RCE estudada é uma rede de cooperação de farmácias na região de Goiânia e

algumas cidades do interior. A mesma possui os requisitos necessários para ser considerada

uma rede de cooperação, tais como: gestão em conjunto e democrática, integração entre os

associados e objetivos comuns.

A gestão é garantida pelos seus estatutos e pelas reuniões periódicas, a integração

através da marca única, pelo marketing em conjunto e pelos preços das compras feitas pela

associação, já os objetivos em comum são conquistados principalmente pelos relacionamentos

comerciais obtidos pela associação.

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Através do processo de compras é que a rede obtém economia em escala, o que

permite competir com as grandes concorrentes da região, esse é o foco principal da rede, isso

é reforçado pela própria estrutura da rede e pela falta de apoio governamental e de instituições

de pesquisa, e em redes que buscam inovação e aprendizagem tal apoio é fundamental. Assim,

os ganhos em relações sociais, redução de custos e riscos e acesso a soluções são tratados

como consequência do objetivo principal, que são os ganhos em escala (BALESTRIN,

VERSCHOORE, 2008). O fator que limita os ganhos são as imposições legais, tais como o

limite de produtos que possuem o mesmo preço.

A falta de uma política governamental no estado de Goiás, que mesmo possuindo um

modelo de recolhimento que favorece a associação, não há uma política que favorece as

pequenas empresas comerciais que se associam.

Para trabalhos futuros sugere-se avaliar a satisfação dos membros da rede e os ganhos

competitivos obtidos pelos participantes da rede.

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