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Particularidades humanas e internet (Dois caminhos da “realidade”) De uma forma geral, estamos habituados a considerar realidade toda a exterioridade que nos cerca: a sociedade, as instituições, as pessoas com seus costumes e tradições, etc. Mas, se colocarmos esse entendimento convencional sob a luz de uma reflexão incomum, porém não menos sustentável, compreenderemos que a diversidade humana explica a diversidade comportamental, fragilizando a idéia de realidade (tornando-a convenção). Uma pessoa com deficiência visual não interage com o mundo da mesma forma que eu, ela desenvolve habilidades que visam, de alguma maneira, a suprir a carência oriunda de sua particularidade; logo, não posso afirmar que “ela vive exatamente a mesma realidade que vivo”. O avanço tecnológico pôde promover uma segunda forma de descaracterização e polivalência interpretativa do termo “realidade”. Na internet e suas salas de bate-papo, não sou uma pessoa, mas uma imagem construída com base em ideais (que objetivamente não se concretizariam, mas que, em função da virtualidade – na qual me separo dos demais por “um castelo de areia” – passam a existir). O lado negativo dessa intervenção tecnológica em nossas vidas é a implementação de uma segunda subjetividade. Se a princípio o mundo nos é dado de acordo com nossa receptividade sensória (e o deficiente visual nos serve de exemplo), com a internet nós elegemos uma descrição idealizada do que somos para os outros, surgindo, assim, o nosso imaginário como elemento “deformador” de nossa existência efetiva .Enfim, na internet, nós recebemos o virtual e, em resposta, virtualizamos o real, pois sua linguagem não ultrapassa esse patamar. Autor: Carlos Alberto Leite de Moura (adaptado do original)

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exemplo redação 2

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  • Particularidades humanas e internet (Dois caminhos da realidade)

    De uma forma geral, estamos habituados a considerar realidade toda a exterioridade

    que nos cerca: a sociedade, as instituies, as pessoas com seus costumes e tradies, etc.

    Mas, se colocarmos esse entendimento convencional sob a luz de uma reflexo incomum,

    porm no menos sustentvel, compreenderemos que a diversidade humana explica a

    diversidade comportamental, fragilizando a idia de realidade (tornando-a conveno).

    Uma pessoa com deficincia visual no interage com o mundo da mesma forma que eu,

    ela desenvolve habilidades que visam, de alguma maneira, a suprir a carncia oriunda de sua

    particularidade; logo, no posso afirmar que ela vive exatamente a mesma realidade que vivo.

    O avano tecnolgico pde promover uma segunda forma de descaracterizao e

    polivalncia interpretativa do termo realidade. Na internet e suas salas de bate-papo, no sou

    uma pessoa, mas uma imagem construda com base em ideais (que objetivamente no se

    concretizariam, mas que, em funo da virtualidade na qual me separo dos demais por um

    castelo de areia passam a existir).

    O lado negativo dessa interveno tecnolgica em nossas vidas a implementao de

    uma segunda subjetividade. Se a princpio o mundo nos dado de acordo com nossa

    receptividade sensria (e o deficiente visual nos serve de exemplo), com a internet ns

    elegemos uma descrio idealizada do que somos para os outros, surgindo, assim, o nosso

    imaginrio como elemento deformador de nossa existncia efetiva .Enfim, na internet, ns

    recebemos o virtual e, em resposta, virtualizamos o real, pois sua linguagem no ultrapassa

    esse patamar.

    Autor: Carlos Alberto Leite de Moura (adaptado do original)