recursos minerais no brasil - abc.org.brabc.org.br/img/pdf/doc-7006.pdf · organizadores adolpho...

422
Recursos Minerais no Brasil problemas e desafios

Upload: hakhanh

Post on 31-Jan-2018

322 views

Category:

Documents


19 download

TRANSCRIPT

  • Recursos Minerais no Brasilproblemas e desafios

  • Recursos Minerais no Brasilproblemas e desafios

  • Membros Institucionais da Academia Brasileira de Cincias

  • Organizadores

    Adolpho Jos Melfi

    Aroldo Misi

    Diogenes de Almeida Campos

    Umberto Giuseppe Cordani

    Rio de Janeiro, 2016

    Recursos Minerais no Brasilproblemas e desafios

  • Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)

    Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios / Adolpho Jos Melfi, Aroldo Misi, Diogenes de Almeida Campos e Umberto Giuseppe Cordani (organizadores). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Cincias, 2016.

    420 p.

    ISBN: 978-85-85761-40-0

    1.Geologia econmica. 2.Recursos minerais Brasil. 3.Metalogenia Brasil. I. Melfi, Adolpho Jos. II. Misi, Aroldo. III. Campos, Diogenes de Almeida. IV. Cordani, Umberto Giuseppe. V. Academia Brasileira de Cincias. VI. Ttulo.

    CDD 553.0981

    Direitos autorais, 2016, de organizao, da Academia Brasileira de CinciasRua Anfilfio de Carvalho 29 3o Andar20030-060 Rio de Janeiro RJ BrasilTel. (55 21) 3907-8100 www.abc.org.br

    Direitos de publicao reservados por Academia Brasileira de Cincias eVale S.A.Avenida das Amricas 700 3o piso Loja 31822640-100 Rio de Janeiro RJ Brasilwww.vale.com

    Colaboradores

    Aline Drumond (Vale)Beatriz Alvernaz (Vale)Marcos Corteso Barnsley Scheuenstuhl (ABC)Vitor Vieira de Oliveira Souza (ABC)

    Reviso

    Veronica Maioli Azevedo

    Projeto grfico e diagramao

    Aline Carrer

  • ApresentAo

    A Academia Brasileira de Cincias (ABC) tem, de longa data, se preocupado com os gargalos e desafios da poltica e da pesquisa relacionadas explorao mineral no Brasil. Tal preocupao tem relao com sua prpria gnese, por ter sido fundada por um grupo de engenheiros, dentre outros cientistas, com interesses voltados para minerais e rochas de uso industrial. Ilustrativo desta relao o fato de que Eusbio Paulo de Oliveira, diretor do Servio Geolgico e Mineralgico do Brasil, veio a ser o quarto presidente da ABC, no perodo de 1931-1933.

    Compreendendo que a explorao dos recursos minerais requer a utilizao macia do conhecimento cientfico que se tem do subsolo e da gnese dos depsitos minerais, e procurando desenhar cenrios sobre a futura demanda de recur-sos minerais, inclusive os energticos, a ABC decidiu instituir, no ano de 2011, um Grupo de Estudos sobre Recursos Minerais. Este grupo tem como objetivo congregar alguns dos principais pesquisadores brasileiros, da rea das Cincias da Terra, para estabelecer a viso da ABC sobre estratgias de utilizao da cincia para a promoo do uso sustentvel dos recursos minerais em nosso pas. Tais estratgias so determinantes para que o Brasil possa explorar sua potencia-lidade mineral, de forma eficiente e sustentvel, em benefcio da sociedade brasileira e em prol de uma insero mais competitiva do pas na economia global.

    Dando incio aos trabalhos deste Grupo de Estudos, a Academia organizou, em agosto de 2013, o simpsio Recursos Minerais no Brasil: Problemas e Desafios. O evento reuniu alguns dos principais cientistas brasileiros que refletem sobre o setor mineral, representantes do governo e de algumas das principais empresas e associaes da rea, para debater temas como O Brasil no Mundo Mineral, Potencial Mineral do Brasil, Recursos Energticos de Origem Mineral e Brasil Mineral: Viso de Futuro.

    A partir dos diferentes olhares proporcionados pelo amplo elenco de atores presentes ao simpsio, uma profunda reflexo foi realizada, permitindo aos presentes um rico momento de pensar e repensar o setor mineral brasileiro, avaliando a insero do mesmo no contexto global, bem como cenrios e perspectivas estratgicas futuras para o setor, vis a vis a economia nacional e internacional. O passo seguinte do grupo, mais ousado, foi buscar consolidar em uma publicao, com um olhar mais apurado e atualizado, a viso de especialistas sobre o atual cenrio, os gargalos e os desafios ine-rentes ao setor mineral brasileiro.

    Fruto deste esforo, com muito orgulho que ora apresentamos o livro Recursos Minerais no Brasil: Problemas e De-safios. Esta publicao contou com o inestimvel apoio de especialistas de todo o pas, que, de forma desprendida e visando contribuir com o desenvolvimento e fortalecimento de nosso setor mineral, dispuseram-se a cerrar fileiras com a ABC para produzir o presente volume.

    No posso deixar de destacar, tambm, o indispensvel apoio da Vale, empresa que Membro Institucional da ABC. Desde o incio a Vale apoiou os trabalhos deste Grupo de Estudos, e a prpria edio e publicao deste livro. importante que se registre que tal suporte de forma alguma tolheu a liberdade e a livre manifestao da viso dos autores, cujos artigos refletem opinies no necessariamente endossadas pela companhia, ou mesmo pela ABC. Fica aqui o registro de nosso reconhecimento e agradecimento aos autores e Vale.

    Cabe, por fim, ressaltar o fundamental apoio que a ABC tem recebido do Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao (MCTI) e da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes). Sem estes, boa parte dos trabalhos desenvolvidos pela Academia ficaria simplesmente inviabilizado.

    Ao concluir meus agradecimentos, devo deixar consignado o reconhecimento enorme contribuio do Prof. Jacob Palis Jr, a quem tenho a honra de suceder na presidncia da ABC, para a viabilizao deste volume. Foi em seu perodo frente Academia que se instituiu o Grupo de Estudos da ABC sobre Recursos Minerais no Brasil, que ora apresenta seu mais novo produto. Se hoje tenho a satisfao de apresentar mais um volume da srie Cincia e Tecnologia para o Desenvol-vimento Nacional: Estudos Estratgicos, isso s se faz possvel graas ao esprito inovador de nosso ex-presidente, que tambm foi o idealizador desta srie.

    Esperamos, com o trabalho do Grupo de Estudos da ABC sobre Recursos Minerais e, em especial, atravs da publicao que ora lanamos, contribuir com reflexes estratgicas que ajudem a orientar governo, empresas e formuladores de polticas pblicas, e a sociedade brasileira como um todo, no importantssimo desafio de se pensar, planejar e fortalecer o setor mineral de nosso pas. Dado o peso deste em nosso PIB, polticas acertadas para o setor podem contribuir, de forma decisiva, para o resgate de uma espiral econmica ascendente, que permita a retomada do desenvolvimento e a ampliao da incluso social conquistada na ltima dcada. Com o aporte da viso da cincia e da tecnologia, almejamos contribuir com esse processo.

    Luiz DavidovichPresidente - Academia Brasileira de Cincias

  • Foto

    : Ped

    ro R

    uben

    s /

    Agn

    cia

    Vale

  • ApresentAo

    A riqueza de uma nao no decorre de seu ouro e sua prata, mas sim da capacidade de aprendizagem, na sabedoria e integridade moral de seu povo. Em traduo livre do pensamento de Kalil Gibran, a reflexo que cabe neste preambulo que o conhecimento sobre nossa bagagem geolgica, recursos minerais, e nossa capacidade de explora-los de forma responsvel so importante alicerce de nosso futuro. De fato, muito da perspectiva his-trica e de algumas das cicatrizes de nosso passado decorreu do uso inadequado e do entendimento imperfeito de nossas riquezas minerais.

    Assim, a derrama, enquanto dispositivo fiscal aplicado no sculo XVIII em Minas Gerais, decorre do desconheci-mento da exausto das jazidas de ouro e alimenta o espirito dos Inconfidentes.

    As reflexes trazidas pelos diferentes captulos deste trabalho so assim nossa grande riqueza. com esta sa-bedoria e com este conhecimento que poderemos melhor trabalhar nossos bens minerais e saber deles extrair riqueza para nossa sociedade. Nossos recursos minerais no sero transformados em bens materiais e em riqueza se no os conhecermos e trabalharmos corretamente. Noruega, Sucia, EUA, Austrlia e Canad so, ou foram, potencias minerais que souberam alicerar seu futuro nos materiais de seu subsolo. O Brasil tem potencial igual ou maior ao daquelas sociedades. Os problemas e os desafios dos recursos minerais do Brasil so muitos, mas no so maiores que a capacidade da nossa cincia e de nossa sociedade, como bem atesta este trabalho, cuja qualidade uma decorrncia natural da reconhecida competncia dos autores.

    Luiz Eugnio Mello

    Academia Brasileira de Cincias

    Instituto Tecnolgico Vale

  • Foto

    : Sal

    vian

    o M

    acha

    do /

    Ag

    ncia

    Val

    e

  • prefcio

    No momento, o setor mineral atravessa um perodo de grande dificuldade. Isso se d, principalmente, em virtude da falta de recursos para a implementao de planejamentos j definidos, da falta de recursos humanos qualificados para o de-senvolvimento do setor e, sobretudo, pela longa demora do Congresso em discutir e aprovar o novo Marco Regulatrio para o Setor Mineral, o que tem provocado desinteresse por novos investimentos por parte do setor privado. A especificidade das legislaes referentes aos monoplios dos hidrocarbonetos e dos minerais ra-dioativos, com flexibilizao no caso do petrleo e gs e absoluta rigidez no caso do urnio, tem, tambm, contribudo para esse quadro de dificuldade. Mudanas na legislao referente aos hidrocarbonetos, ocorridas em passado recente, tm sido criticadas pela indstria privada e resultaram, como no caso dos minerais no monopolizados, em uma grande diminuio do interesse no aproveitamento desses recursos, principalmente nos depsitos do assim chamado pr-sal. Muito recentemente, no entanto, o Congresso Nacional aprovou medidas no sistema de explorao que parecem vir favorecer a explorao desses depsitos. Por outro lado, a legislao monopolista do urnio impede a participao da indstria privada na explorao desses recursos. A Academia Brasileira de Cincias, sempre no sentido de discutir, sob a ptica da cincia, os grandes problemas que afetam a economia e o desenvolvimento do pas, decidiu organizar um grande simpsio sobre recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios, que, alm de evidenciar a preocupao da Academia com a grave situao apresentada pela poltica de pesquisa e explo-rao dos recursos minerais existentes em nosso pas, teve por objetivo mostrar os desafios que o setor mineral brasileiro tem que enfrentar para atingir a posio que ele deveria ocupar no cenrio mundial.

  • Os resultados obtidos pelo simpsio, com base nas palestras apresentadas por relevantes personalidades do setor mineral, originadas do mundo acadmico, go-vernamental e do setor privado, e nas ricas discusses surgidas durante os debates, motivaram a ABC a produzir uma publicao que refletisse os pensamentos, as preocupaes e as angstias quanto ao futuro do nosso setor mineral.

    O livro recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios resultado do esforo e dedicao de cerca de 70 especialistas em vrias reas do setor mineral, envolvendo desde a prospeco e a explorao mineral at o beneficiamento desses recursos.

    O livro encontra-se organizado em sete captulos, onde so discutidos os temas: Potencial Mineral do Brasil; Explorao Mineral no Brasil; Tecnologia Mineral; Matriz Energtica e Recursos Minerais; Ambiente e Sustentabilidade; Formao de Recursos Humanos para a Minerao e Consideraes Finais sobre o Setor Mineral Brasileiro e Viso de Futuro.

    O captulo I - potencial Mineral do Brasil analisa o panorama geral da geologia e da metalogenia brasileira, onde fica demonstrada, claramente, a to decantada potencialidade do nosso territrio, no tocante ocorrncia dos mais diversos tipos de depsitos minerais, no somente pela nossa grande extenso territorial, mas tam-bm grande diversidade de ambientes geolgicos presentes. Os bens atualmente de maior importncia para a economia do pas, tais como ferro, ouro, nibio, terras raras, potssio, fsforo, nquel, cobre, zinco e alumnio, so abordados em doze artigos, por diferentes especialistas em cada um desses bens minerais, tratando mais especificamente os aspectos relacionados s aplicaes industriais, produo, reservas, mercado e principais tipos de depsitos.

    O captulo II - explorao Mineral no Brasil discorre sobre os mtodos e modelos utilizados na descoberta de depsitos minerais. Apresentados em cinco artigos, cada um refletindo os pontos de vista de cada autor na utilizao dos principais mtodos utilizados nos trabalhos de prospeco mineral, tais como: Sensoriamento Remoto, Prospeco Geofsica e Prospeco Geoqumica. A integrao dos dados obtidos pela aplicao destas tcnicas com a geologia tem por objetivo gerar mapas de prospec-tividade mineral e a anlise do conjunto dos dados e de sua integrao permitir a construo de modelos de depsitos minerais e de sistemas minerais que, por sua vez, levaro identificao de reas propicias a aplicao dos mtodos exploratrios.

    O captulo III - tecnologia Mineral apresenta uma sntese dos principais avanos e dos desafios e perspectivas da tecnologia mineral brasileira. Sete artigos compem este captulo, sendo o primeiro voltado para a apresentao do panorama geral de investimentos em PD&I no setor. Trs outros tratam das reas clssicas em que se divide a minerao: lavra mineral, beneficiamento de minrios e metalurgia extra-tiva. Os demais apresentam tpicos considerados atualmente muito importantes para a minerao brasileira: minerais estratgicos, gua e energia na minerao e tecnologias para a sustentabilidade ambiental.

  • O captulo IV - Matriz energtica e recursos Minerais, com seus seis artigos, nos fornece, inicialmente, uma viso geral da matriz energtica do pas, enfatizando a sua principal caracterstica, que permite sua distino das matrizes energticas dos pases industrializados, no tocante elevada participao de fontes renovveis. Quatro artigos abordam os aspectos geolgicos dos campos produtores de petrleo, os problemas ambientais e econmicos envolvidos na prospeco e explorao do gs no convencional, considerado uma alternativa energtica potencialmente vlida para o pas, bem como o pequeno papel do carvo na nossa matriz energtica atual e a perspectiva futura deste bem mineral por meio da valorizao do carvo nacional, sabidamente de baixa qualidade, por meio da modernizao das usinas de gerao de energia e de sua utilizao como carvo siderrgico. Um tpico consagrado formao de recursos humanos na rea de extrao e uso de carvo para fins energ-ticos e industriais. O urnio, combustvel nuclear, mereceu uma abordagem histrica no tocante evoluo da prospeco e das pesquisas em territrio nacional, o que levou ao descobrimento de vrias jazidas e quantificao de importantes reservas que sobrepujam a demanda atual. Se no momento a participao do urnio na ma-triz energtica do pas insignificante, no futuro ela dever sofrer um crescimento importante, pois no Plano Nacional de Energia PNE 2013, encontra-se assinalada a construo entre quatro a oito novas usinas nucleares, ampliando sua importn-cia na matriz energtica brasileira. Finalmente, neste captulo feita uma reflexo sobre as condies e processos que conduziram hegemonia do petrleo face s demais alternativas energticas bem como suas repercusses no campo ambiental, geopoltico e econmico.

    O captulo V - Ambiente e sustentabilidade resume os desafios socioecon-micos e ambientais da minerao no Brasil e sua interao com o meio ambiente. So apresentadas as legislaes normativas em vigor no pas, s quais a indstria extrativa mineral encontra-se submetida, como o EIA, RIMA, Licenas Ambientais (Prvia - LP, de Instalao - LI, de Operao - LO), etc. So discutidos os problemas relativos necessidade de aprovao do novo Marco Regulatrio da Minerao, que se encontra no Congresso Nacional, para ser votado, desde 2013 (Projeto de Lei 5.807/13) Por meio de vrios exemplos, so mostradas que existem atividades de minerao que provocam danos ambientais, por vezes irreparveis, como o caso recente da barragem do Fundo (Minerao Samarco), cujo rompimento provocou a devastao de uma grande rea ao longo do vale do Rio Doce, mas existem exemplos em que a minerao conduzida de forma sustentvel, provocando pouco impacto no ambiente original, como no caso de Trombetas, minerao de bauxita (alumnio), na regio Norte do pas. Os exemplos mostram que a indstria de extrao mineral no Brasil pode e deve caminhar no sentido de incorporar critrios de sustentabilidade em suas atividades, o que totalmente possvel. A minerao na Amaznia recebeu um artigo parte, no somente pelas suas ricas provncias minerais comparveis s

  • das principais regies produtoras do mundo, mas tambm pelo fato de apresentar a coexistncia de trs estgios tecnolgicos de utilizao dos recursos minerais: coleta mineral (povos indgenas), extrativismo mineral (garimpos) e minerao organizada (grandes empresas). Por outro lado, se conduzida com responsabilidade e em bases tcnicas adequadas, a minerao certamente poder se configurar uma alternativa vivel para o desenvolvimento sustentvel de uma grande poro da Amaznia, propiciando a gerao de benefcios amplos e duradouros.

    O captulo VI - formao de recursos Humanos para a Minerao aborda um ponto de alta relevncia para a minerao. Aps uma breve reflexo sobre a impor-tncia da formao de recursos humanos para vencer os desafios colocados pelos problemas estruturais de economia, da educao, do mercado e da sociedade brasileira, os autores apresentam e discutem os dados relativos evoluo dos cursos, vagas e concluintes em Geologia e Engenharia de Minas, que sofreu um impacto positivo com a criao dos cursos de Geologia no pas, na dcada de 1960. A formao de recursos humanos apresentada como fundamental para o desenvolvimento do setor, em todas suas fases: prospeco mineral, extrao mineral e tratamento e aproveita-mento do bem mineral. Apesar do crescimento do nmero desses profissionais ter sido grande, ele pode ser considerado ainda baixo, face a importncia da rea para o desenvolvimento econmico do Brasil. Entretanto, a demanda de Engenheiros e Gelogos, tendo em vista o cenrio econmico do pas, segundo dados do IPEA para o perodo at 2020, tender a cair, de modo que no haver falta de profissionais para o setor da minerao. Apesar disso, h necessidade de uma gesto estratgica para o futuro para evitar o xodo desses profissionais, como aquele ocorrido nas dcadas de 1980 e 1990, para diferentes setores (financeiro, pblico e acadmico) por causa da retrao do mercado de trabalho na rea industrial.

    O captulo VII - consideraes finais sobre o setor Mineral Brasileiro e Viso de futuro traz uma perspectiva histrica do setor mineral, analisando em seguida diversos aspectos abordados nos captulos anteriores e ressaltando os pontos mais importantes e estratgicos para o pas. No resta dvida sobre a importncia do setor mineral para a economia de nosso pas e, apesar do momento de dificuldade que estamos atravessando, no podemos deixar de investir na valorizao do enor-me potencial disponvel. Foram apresentadas seis sugestes de medidas gerais que poderiam ser tomadas pelos rgos governamentais e pelas empresas de minerao no sentido de estimular a explorao mineral do nosso territrio e fazer funcionar a to necessria parceria entre os mundos acadmico-empresarial. Como ltima, porem no menos importante, sugere aes polticas da comunidade para que o Setor Mineral seja includo na relao dos itens de Tecnologias Crticas ou Estrat-gicas do documento Estratgia Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao (ENCTI 2016-2019), da mesma forma como ocorreu com o Setor Agropecurio.

  • Agradecimentos

    Os organizadores do livro agradecem Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) pelo apoio financeiro, sem o qual este livro no teria sido publicado. Igualmente, nossos agradecimentos so endereados aos 66 autores, provenientes dos setores acadmico, governamental e privado, responsveis pelos textos apresentados, que deram vida a esse livro. Agradecem, ainda, continuada atividade desenvolvida por Marcos Corteso Barnsley Scheuenstuhl, na qualidade de Secretrio-Executivo do Grupo de Estudos de Recursos Minerais, com o apoio de sua equipe na Academia, espe-cialmente, o de Vitor Vieira de Oliveira Souza, tanto na organizao do Simpsio, como na preparao do livro. A eles deve-se, sem dvida, o processo de editorao dos manuscritos neste volume que agora se tem em mos.

    Adolpho Jos Melfi

    Aroldo Misi

    Diogenes de Almeida Campos

    Umberto Giuseppe Cordani

  • I

    Potencial Mineral do Brasil

    Potencial Mineral do Brasil 18

    Onildo Joo Marini

    Formaes ferrferas e minrio de alto teor associadoO minrio de ferro no Brasil geologia, metalognese e economia 32

    Carlos Alberto Rosire / Vassily Khoury Rolim

    Ouro no Brasil: principais depsitos, produo e perspectivas 46

    Lydia Maria Lobato / Marco Aurlio da Costa / Steffen G. Hagemann / Rodrigo Martins

    Nibio desenvolvimento tecnolgico e liderana 60

    Tadeu Carneiro

    Os elementos terras raras e sua importncia para o setor mineral do Brasil 68

    Milton Luiz Laquintinie Formoso / Vitor Paulo Pereira / Egydio Menegotto / Lauro Valentin Stoll Nardi / Artur Cezar Bastos Neto / Maria do Carmo Lima e Cunha

    Potssio no Brasil 84

    Yara Kulaif / Ana Maria Ges

    Fosfato no Brasil 96

    Maisa Bastos Abram

    Minrio de nquel sulfetado no Brasil 116

    Joo Batista Guimares Teixeira

    O nquel no Brasil e seus depsitos laterticos 124

    Marcondes Lima da Costa

    Potencial mineral: cobre 134

    Caetano Juliani / Lena V. S. Monteiro / Carlos Marcello Dias Fernandes

    Zinco no Brasil: tipos de depsitos, reservas e produo 156

    Aroldo Misi

    Alumnio e bauxita no Brasil 166

    Marcondes Lima da Costa

    II

    Explorao Mineral no Brasil

    Explorao mineral no Brasil: uso de modelos de depsitos minerais e sistemas minerais 176

    Jorge Silva Bettencourt / Caetano Juliani / Lena Virgnia Soares Monteiro

    Sensoriamento remoto em explorao mineral no Brasil 190

    Alvaro Penteado Crsta / Teodoro Isnard Ribeiro de Almeida /Waldir Renato Paradella / Sebastio Milton Pinheiro da Silva /Paulo Roberto Meneses

    Prospeco geofsica no Brasil 208

    Renato Cordani

    Prospeco geoqumica no Brasil 214

    Otavio Augusto Boni Licht / Rmulo Simes Anglica

    Integrao de dados & explorao mineral 232

    Carlos Roberto de Souza Filho / Adalene Moreira Silva

    III

    Tecnologia Mineral

    Tecnologia mineral: pesquisa, desenvolvimento e inovaoPanorama na minerao brasileira 244

    Fernando A. Freitas Lins

    A lavra e a indstria mineral no Brasil tendncias tecnolgicas e desafios de inovao 248

    Jair Carlos Koppe

    Beneficiamento de minrios 256

    Claudio L. Schneider / Elves Matiolo / Reiner Neumann / Otvio F. M. Gomes

  • Metalurgia extrativa 264

    Ronaldo L. Santos / Marisa Nascimento / Andrea C. Rizzo / Claudia Duarte Cunha

    Minerais estratgicos: terras raras e ltio 272

    Marisa Nascimento / Ronaldo L. Santos / Paulo F. A. Braga / Slvia C. A. Frana

    gua e energia na minerao 278

    Fernando A. Freitas Lins

    Tecnologias para a sustentabilidade ambiental 282

    Fernando A. Freitas Lins / Andrea C. Rizzo / Claudia Duarte Cunha / Francisco Mariano Lima

    IV

    Matriz Energtica e Recursos Minerais

    Matriz energtica brasileira e recursos minerais 290

    Jos Goldemberg

    O petrleo no Brasil 302

    Claudio Riccomini / Lucy Gomes SantAnna / Colombo Celso Gaeta Tassinari / Fbio Taioli

    O pr-sal e a geopoltica e hegemonia do petrleo face s mudanas climticas e transio energtica 316

    Ildo Lus Sauer

    Gs no convencional: uma alternativa energtica possvel para o Brasil 332

    Colombo Celso Gaeta Tassinari /Claudio Riccomini / Fbio Taioli

    Elemento combstivel nuclear: urnio 340

    Evando Carele de Matos

    Distribuio, reservas e caractersticas dos depsitos de carvo no Brasil implicaes para a contribuio na matriz energtica, meio ambiente, sustentabilidade e recursos humanos 350

    Wolfgang Kalkreuth / Priscila Lourenzi / Eduardo Osrio

    VI

    Recursos Humanos

    Formao de recursos humanos para a minerao 396

    Miguel Antnio Cedraz Nery / Marina P. P. Oliveira

    VII

    Consideraes Finais

    Consideraes finais sobre o setor mineral brasileiro e viso de futuro 406

    John Forman / Adolpho Jos Melfi / Aroldo Misi / Diogenes de Almeida Campos / Umberto Giuseppe Cordani

    V

    Ambiente e Sustentabilidade

    Desafios sociais e ambientais da minerao no Brasil e a sustentabilidade 364

    Clio Bermann

    Minerao presente e futuro da Amaznia 376

    Elmer Prata Salomo / Antonio Tadeu Corra Veiga

  • Foto

    : Mr

    cio

    Dant

    as /

    Ag

    ncia

    Val

    e

  • I

    Potencial Mineral do Brasil

  • Potencial Mineral do Brasil

    Onildo Joo MariniDiretor Executivo, Agncia para o Desenvolvimento Tecnolgico da Indstria Mineral Brasileira (ADIMB)

    RESUMO

    O Brasil tem elevado potencial para descobertas de novos depsitos minerais por contar com territrio continental, geologia diversificada e mal conhecida, mltiplos ambientes metalogenticos do Arqueano ao Recente e baixos investimentos em explorao mineral. O pas exportador de commodities minerais: player mundial em Fe, Nb, Al, Mn, Grafita e Amianto; exportador de Sn, Au, Ni, Ta, Caulim e Magnesita. O minrio de Fe representa 82% das exportaes minerais do pas. Os Estados de Minas Gerais, Par, Bahia e Gois concentram mais de 80% da produo nacional de commodities minerais. O Brasil grande importador de K, P, Carvo metalrgico, Zn e Cu. Dentre os ambientes metalogenticos do pas destacam-se: greenstone belts arqueanos e paleoproterozoicos (Au, Ni, Mn, Fe, Cr e Magnesita); sequncias vulcano-sedimentares com BIFs neoarqueanas (Fe, Mn, Au, Pt, Pd, Cu); sequncias sedi-mentares paleoproterozoicas e neoproterozoicas com BIFs (Fe, Mn, Au), macios bsicos-ultrabsicos proterozoicos (Ni, Cu, Cr, Zn, V, Ti, P, Amianto, EGP); plataformas clsticas proterozoicas (Au, Di); com-plexos vulcano-plutnicos flsicos proterozoicos (Sn, Au, Ag, Cu, Zr, U, Zn, Ta, Li, Be, W, ETR); faixas orogenticas proterozoicas e coberturas neoproterozoicas (Au, Zn, Pb, Ta, P, Mn); bacias sedimentares paleo-mesozoica e mesozoicas (Carvo, K, U, P, Zn, Gipsita); chamins alcalinas carbonatticas cre-tceas (Nb, P, U, Al, Fe, Barita, ETR, Flogopita/Vermiculita); mantos de intemperismo ps-cretcicos (Fe, Ni, Al, Au, Mn, ETR); aluvies quaternrias (Au, Sn, Ta, Ti, U/Th, Zr, Caulim). Com s 155 minas de commodities minerais de mdio e grande portes, o Brasil foi mal prospectado na sua metade leste e incipientemente na Amaznia.

    Palavras-chave Brasil. Geologia. Mineral. Commodities. Ambientes metalogenticos. Potencial.

  • 19

    limitada, baixa populao, conhecimento geolgico/metalogentico muito bsico, poucas minas de porte significativo, garimpos ativos ou em extino, potencial para depsitos superficiais ou em subsolo.

    Brasil Atlntico: 40% do territrio nacional, vegeta-o de cerrado, caatinga, resduos da mata atlntica e campos sulinos; densamente povoado, infraestrutura viria e energtica razovel, maior conhecimento ge-olgico/metalogentico, oportunidade para reaber-tura de minas abandonadas e para descobertas em subsuperfcie.

    A geologia do Brasil, com amplos escudos antigos (Figura 1), similar de pases tambm com reas con-tinentais, como a Austrlia e o Canad. Esses, porm, realizaram seus potenciais em metais preciosos (Ouro--Au, Prata-Ag) e metais base (Cobre-Cu, Zinco-Zn, Chumbo-Pb e Niquel-Ni), que constituem as principais commodities minerais, o que no ocorreu com o Brasil. O Brasil, at o momento, realizou, essencialmente, seu potencial em Ferro-Fe, Mangans-Mn, Alumnio-Al, Estanho-Sn e Nibio-Nb.

    A produo mineral nacional de commodities e outros elementos metlicos (Tabela 1) mostra haver no pas predominncia de depsitos minerais de ele-mentos siderfilos (Ferro-Fe, Nquel-Ni, Cromo-Cr, Cobalto-Co) e de elementos litfilos (Alumnio-Al, Mangans-Mn); sendo poucas as jazidas de elementos calcfilos (Cobre-Cu, Chumbo-Pb, Zinco-Zn, Cdmio--Cd, Mercrio-Hg) existentes no pas.

    Os ambientes metalogenticos brasileiros tm revelado raros depsitos de sulfetos, o que tem sido interpretado como resultante da baixa concentrao de Enxofre nos magmas. Pode ser que se deva sim-plesmente falta de conhecimento adequado dos ambientes metalogenticos brasileiros.

    PANORAMA GERAL DA GEOLOGIA E DA METALOGENIA BRASILEIRA

    O registro geolgico do Brasil evidencia ambientes frteis em todo o tempo geolgico, do Arqueano ao Holoceno, contendo importantes acumulaes de bens minerais, algumas das quais j transformadas em minas. Face vasta rea do territrio brasileiro e diversificada metalogenia, a presente sntese ofe-rece uma rpida viso panormica sobre os aspectos essenciais do potencial mineral do Brasil. Maiores detalhes sero apresentados nos captulos especficos das distintas regies ou provncias minerais.

    Sumariamente, em termos geotectnicos, pode-se dividir o Brasil em duas partes: o Amaznico (Oeste) e o Atlntico (Leste), tendo como elemento divisor a faixa de dobramentos Paraguai-Araguaia. Dentre vrias outras, duas caractersticas geotectnicas maiores diferenciam os dois blocos.

    O Brasil do Leste, englobando as regies Centro--Oeste, Sul, Sudeste e Nordeste, diferencia-se do Brasil Amaznico (Oeste) por conter cintures orogenticos de idade neoproterozoica (brasilianos) circundando o Crton do So Francisco e ncleos menores, bem como a borda leste do Crton Amaznico.

    O Brasil Amaznico, que contm o Crton Ama-znico e est dividido nos escudos do Brasil Central e o das Guianas, diferencia-se por ter ficado inerte orogenia brasiliana e por ter sido palco do extenso vulcanismo-plutonismo cido Iriri/Uatum, de idade paleoproterozoica.

    Pode-se resumir as caractersticas geogrficas e de conhecimento geolgico/exploratrio desses dois tratos do territrio nacional da seguinte forma:

    Brasil Amaznico: 60% do territrio nacional, flo-resta tropical, infraestrutura viria e energtica muito

  • 20 Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios

    Moeda (MG), embora sejam comparados com aqueles do Witwatersrand (Rand) na frica do Sul, produzem uma frao mnima de Au comparativamente ao Rand.

    Duas principais provncias metalogenticas brasi-leiras e quatro conjuntos de distritos mineiros, dentre as centenas existentes no pas, so responsveis pela maior parte das minas e depsitos minerais de porte significativo: Provncia Mineral Ferro-Aurfera do Qua-driltero Ferrfero (MG), Provncia Mineral Polimetlica de Carajs (PA), distritos de greenstones belts aurferos de Gois, Bahia e Minas Gerais, e distritos de macios bsico-ultrabsicos de Gois, Bahia e Par. So estas provncias e distritos minerais que fazem com que os estados de Minas Gerais, Par, Gois e Bahia (Figura 1) sejam responsveis pela produo de 80%, em valor, das commodities minerais brasileiras.

    Teixeira et al. (2014), resumiu os potenciais de trs importantes ambientes metalogenticos do Brasil: os greenstone belts, tanto do arqueano como do paleo-proterozoico, mostram limitado vulcanismo clcio--alcalino e, com raras excees, ausncia de depsitos de Cu e Zn, bem como raros depsitos de Ni, embora seus Komatiitos tenham qumicas similares quelas de greenstones belts com muitos depsitos de Ni do Canad e da Austrlia. O plutono-vulcanismo cido paleoproterozoico da Provncia Mineral dos Tapajs, com inmeros depsitos de pequeno/mdio porte de Au, exibe rochas porfirticas, processos High Sulphi-dation-HS e Low Sulphidation-LS, bem como dep-sitos atribudos ao tipo prfiro, porm, com presena muito limitada de sulfetos. Os depsitos de Au em conglomerados paleoproterozoicos de Jacobina (BA) e

    Figura 1 Esboo das principais provncias e distritos mineiros do Brasil (Fonte: Elaborada pelo autor).

  • 21Captulo I Potencial Mineral do Brasil

    Barcarena e Ipixuma (PA), Grafita de Tijuco Preto, da Paca e Z Crioulo (MG), e de Imdia (BA); Magnesita de Brumado (BA); Carvo de Candiota (RS); Au de Paracatu (MG); Fe/Mn de Urucum (MS); Mn de Azul (PA), Sn de Pitinga, Bom Futuro e Massangana (RO); Cu de Salobo (PA).

    Dentre as substncias minerais comercializadas pelo Brasil, aquelas com maiores saldos superavit-rios na balana comercial so Ferro, Caulim e Bau-xita (Al

    2O

    5) que representam, em valor, mais de 90%

    das exportaes de commodities minerais (s o Fe representa 82%). Os maiores saldos deficitrios so devidos ao Potssio, Carvo, Fosfato, Zinco e Enxofre, que representam, em valor, cerca de 90% do total de minrios importados.

    A Tabela 1, baseada em informaes do DNPM e do IBRAM, sintetiza a situao das reservas, da pro-duo e do mercado internacional, bem como elenca as principais minas de commodities do Brasil.

    Em 2012, antes do agravamento da crise que pa-ralisou grande parte dos prospectos brasileiros de depsitos minerais, a Agncia para o Desenvolvimento Tecnolgico da Indstria Mineral Brasileira - ADIMB (MELLO, 2014) identificou 321 projetos de prospeco mineral em fase de sondagem: 53 projetos de ferrosos (Fe e Mn) nos estados de MG, PA, BA, RN, SE, MT, PI, AP, sendo 5 deles de classe internacional; 97 projetos de metais base e outros (Cu, Ni, Al, Zn, W, Ti, Vandio--V, Al (Bauxita), Elementos do Grupo da Platina-EGP, W, Molibdnio (Mo), Cromo (Cr) e Terras Raras (TR), sendo alguns de grande porte e muito promissores; 127 projetos de metais preciosos (Au), poucos deles de porte significativo; e 40 projetos de explorao mineral para commodities no metlicas (K, P

    2O

    5, Diamante

    e Caulim).Face aos seus vultos e diversidades, as campanhas

    de prospeco em andamento naquele ano bem de-monstram a confiana e o interesse que empresas e investidores tinham no potencial mineral investigado.

    PRODUO MINERAL BRASILEIRA

    Segundo o DNPM (comunicao pessoal de Walter Lins Arcoverde, Diretor do Departamento Nacional da Produo Mineral), esto cadastradas no rgo 10.841 minas, incluindo toda e qualquer substncia mineral e de qualquer porte. Dessas, 98,1% representam pro-dutos para a construo civil (britas, areias, cascalhos, argilas), alm de gua mineral. Apenas 1,4% das 10.841 minas representam minas de commodities minerais de grande e mdio porte, ou seja, minas verdadeiras e significativas na concepo internacional.

    O DNPM elenca as minas de acordo com a sua produo bruta (run-of-mine) em trs categorias de porte: grande porte, acima de 1 milho t/ano; mdio porte, entre 1 milho t/ano e 100 mil t/ano; e pequeno porte, entre 100 mil t/ano e 10 mil t/ano. Nesta sntese sero consideradas apenas as minas com mais de 100 mil t/ano (grande e mdio porte).

    Com base nos critrios acima, so apenas 155 minas brasileiras de commodities minerais de grande e mdio porte: 57 de metais ferrosos (Fe e Mn), 21 de metais preciosos (Au), 39 de metais base e outros (Ni, Al, Cu, Zn, Cr, Nb, Sn, Titnio-Ti e Wolfrmio-W) e 23 de no metlicos (Fosfato-P

    2O

    5, Caulim, Amianto, Potssio-K,

    Grafita, e Magnesita), alm de uma de Urnio-U. As minas nacionais de Carvo, embora algumas sejam de grande e mdio porte, no fazem parte do comr-cio internacional de minrios. So minas de carvo de baixo poder calorfico, utilizado essencialmente em termoeltricas no pas. O Brasil dependente do mercado externo para carvo metalrgico.

    A maior parte das minas brasileiras opera a cu aberto, cabendo destacar aquelas de classe interna-cional: Nb de Arax (MG); Fe do Quadriltero Ferrfero (MG); Fe de Carajs (PA); Fosfato de Salitre, de Tapira, de Arax (MG) e de Catalo (GO); Ni de Niquelndia (GO) e de Barro Alto (GO), Santa Rita (BA), Ona-Puma (PA); Bauxita-Al

    2O

    5 de Oriximin, Juriti, Trombetas, e

    Paragominas (PA), e So Loureno (MG); Caulim de

    Tabela 1 Reservas, produo e situao no mercado das commodities minerais e principais minas brasileiras, em 2012/2013.

    Minrio Reserva(em 1000t)

    Produo(t/ano)

    % global Situao Principais minas

    Amianto 10.515 304.321 15,2 Grande exportador(Player mundial, 4)

    Cana Brava (GO)

    Bauxita(Al2O5)

    590.000 33.260.000 12,7 Grande exportador(Player mundial, 2)

    So Loureno (MG), Juriti (PA), Oriximin (PA), Paragominas (PA),Itamarati de Minas(MG).

    Carvo 2.154.000 6.630.000 0,1 Grande importador Cricima (SC), Candiota e outras 20 minas no RS.

  • 22 Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios

    Minrio Reserva(em 1000t)

    Produo(t/ano)

    % global Situao Principais minas

    Cobre 11.419 223.100 1,3 Importador* Chapada (GO), Sossego (PA), Salobo (PA), Caraba (BA).

    Estanho 341.033 13.667.000 5,94 Exportador Bom Futuro (RO), Massangana (RO), So Loureno (RO)

    Ferro 19.948.000 400.822.000 13,4 Grande exportador (Player mundial, 2)

    33 no Quadriltero Ferrfero (MG), N4 , N5 e S11 (PA)**

    Fosfato(P

    2O5)270.000 6.740.000 3,2 Grande importador MCT (MG), Lagamar (MG), Irec (BA,

    Catalo(GO),Ouvidor (GO), Cajati (SP).

    Grafita 39.805 88.000 8 Grande exportador(Player mundial, 3)

    Tijuco Preto (MG), Imidia (BA), da Paca (MG), Z Crioulo (MG)

    Magnesita 239.342 479.000 7,4 Exportador Brumado (BA).

    Mangans 53.500 1.118.000 6,6 Exportador (Player mundial, 2)

    Azul (PA), Lucas (MG), Urucum (MS),Comin (MS), Buritirama (PA), Morro da Mina (MG).

    Nibio 10.565 82.214 93,52 Grande exportador(Player mundial, 1)

    Barreiro (MG), Boa Vista (GO).

    Nquel 8.658 139.531 6,2 Exportador Santa Rita (BA), Buriti (GO), Barro Alto (GO), Niquelndia (GO),Ona-Puma (PA).

    Ouro 2,6 67 2,5 Exportador Fazenda Nova (GO), Aurizona (MA), Jacobina (BA), Morro do Ouro (GO), Pedra Branca do Amapari (AP), Crixs (GO), So Vicente (MT), So Francisco (MT), Santa Brbara (MG),Sabar (MG), Cocais (MG), Caet (MG).

    Potssio(KCl)

    14.925 346.000 1 Grande importador Taquari/Vassouras (SE).

    Tntalo 35 118 16,8 Grande exportador (Player mundial, 2)

    Garimpos

    Zinco 2.079 164 1,2 Importador Vazante (MG), Morro Agudo (MG).

    *S11 est prevista para entrar em produo em 2016. **Com a entrada em produo da segunda etapa da mina de Salobo (PA) o Brasil tornar-se- autossuficiente em Cu. (Fonte: LIMA, T.M.; NEVES, C.A., 2013; IBRAM, 2012).

    PRINCIPAIS AMBIENTES, POCAS E PROVNCIAS METALOGENTICAS BRASILEIRAS

    Com base nos dados apresentados por Bizzi et al. (2003), Dardenne e Schobbenhaus (2001), Leite e Saes (2000), Misi et al. (2012), Schobbenhaus e Co-elho (1988), Schobbenhaus et al. (1994), e Silva et al. (2014), sobre as provncias, distritos mineiros e de-psitos minerais do Brasil, apresentada a sntese selecionada da Figura 1. Nela se destacam os seguintes e principais ambientes e pocas que caracterizam a metalognese do territrio brasileiro, com as seguintes caractersticas: 1 - Greenstone belts arqueanos e paleo-

    proterozoicos e sequncias vulcano-sedimentares arqueanas; 2 - Formaes ferrferas bandadas (BIF) proterozoicas e neoarqueanas; 3 - Macios bsico--ultrabsicos arqueanos e proterozoicos; 4 - Complexos vulcano-plutnicos flsicos proterozoicos; 5 - Platafor-mas clsticas diamantferas e aurferas proterozoicas; 6 - Faixas orogenticas e coberturas neoproterozoicas; 7 Bacias Sedimentares paleomesozoicas; 8 - Chami-ns alcalinas carbonatticas cretcicas; 9 - Mantos de intemperismo e aluvies ps-cretcicos; 10 - Outros ambientes metalogenticos e distritos mineiros de menor significado. Marini e Queirz (1991) apresen-taram e discutiram os referidos ambientes.

  • 23Captulo I Potencial Mineral do Brasil

    e de dezenas de outros depsitos de Fe ainda inexplo-rados, de minas e depsitos de Mn (Azul e Buritirama), e de minas do tipo Cobre/Ouro/xido de Ferro- IOCG (Sossego, 118, Salobo). Dezenas de depsitos deste tipo e similares acham-se em prospeco na regio (Cristalino, Alemo/Igarap Bahia, Pojuca, Cinzento, Gameleira, Serra Verde, Breves, Estrela e outros). Vizi-nhas Serra de Carajs ocorrem a mina de Ni latertico Ona-Puma e depsitos similares (Vermelho, Jacar), alm da jazida de Cr (Ni, EGP) de Luanga, associada a macio bsico-ultrabsico intrusivo. Na Serra Pelada, em sedimentos da Formao guas Claras, no topo da sequncia Carajs, formou-se o mais fantstico depsito de Ouro (Paldio-Pd e Platina-Pt) garimpado no Brasil no ltimo sculo.

    A Provncia de Carajs tem grande potencial para gerar dezenas de novas minas de Fe, Cu, Mn, Au e Ni. A Provncia Vila Nova, similar a Carajs, forneceu ao pas seu maior depsito de Mn (Serra do Navio), intensa-mente minerado desde a Segunda Guerra Mundial, hoje com minrio oxidado j esgotado. Ocorrem tambm na provncia depsitos de Cr (Bacuri, Igarap do Breu), Fe (Bacabal), e Au (Amapari). A maior parte da Provncia Serra do Navio encontra-se na Reserva Nacional do Co-bre - RENCA, interditada para explorao mineral para a iniciativa privada, o que vem impedindo a explorao de uma das provncias nacionais com potencial para vrios tipos de depsitos.

    Embora os principais depsitos brasileiros secun-drios de xidos/hidrxidos de Mn j tenham sido esgotados ou encontrem-se em estgio avanado de minerao, seus protominrios (queluzitos, gonditos e similares) constituem-se em importantes reservas de Mn a serem exploradas no futuro, como j ocorre em Conselheiro Lafayete (MG).

    Formaes de Ferrferas Bandadas (BIF) Proterozoicas e Neoarqueanas No neoarqueano (Carajs-PA) e no palaeoproterozoico (Quadriltero Ferrfero-MG), em ambientes de plata-forma continental, formaram-se os mega depsitos de Fe brasileiros, e no neoproterozoico, em ambiente glacial, os depsitos de Fe e Mn de Urucum (MS) e Porteirinha (MG).

    As Formaes Ferrferas Bandadas de Carajs e do Quadriltero Ferrfero, originalmente com teores de pouco mais de 30% de Fe, sofreram importantes enriquecimentos em ambiente latertico ps-cretcico elevando seus teores a at 68% de Fe (os mais altos exis-tentes no planeta). Delas so extrados os minrios de Fe que constituem a maior riqueza mineral brasileira. Os depsitos de Fe do Quadriltero Ferrfero ocorrem

    Greenstone belts arqueanos e paleoproterozoicos e sequncias vulcano-sedimentares arqueanasAs sequncias vulcano-sedimentares greenstone belts e similares, arqueanas e paleoproterozoicas, constituem--se nos mais antigos ambientes metalogenticos do Brasil, ricos em Au e Mn e, secundariamente, em Ni, Cr e Magnesita. Suas provncias e distritos mineiros mais significativos ocorrem no Quadriltero Ferrfero (Rio das Velhas), em Conselheiro Lafayete, em Serro e em Fortaleza de Minas-Piumhi (MG), na Provncia Rio Maria no sudeste do Par (PA) (Inaj, Gradaus, Seringa, Andorinhas, Identidade, Sapucaia, Maria Preta e Rio Novo), no norte (Mundo Novo, Rio Salitre), no centro-sul (Paramirin, Contenda-Mirante) e no centro--leste (Rio Itapecuru) da Bahia, na regio central de Gois (Gois Velho, Crixs, Guarinos, Pilar de Gois e Hidrolina), na regio de Gurupi no norte do Maranho (Distrito de Aurizona), em Carajs (PA) e na Serra do Navio (AP/AM). Os depsitos de Au associados a este ambiente metalogentico so, em geral, de mdio a pequeno portes, tipo veio ou estratiformes. Lobato et al. (2001), detalham as caractersticas dos depsitos de Au de vrios dos greenstone belts nacionais.

    Entre os greenstone belts brasileiros, o mais frtil em Au, com mineralizaes tipo gold only orogentico, o Rio das Velhas (LOBATO et al., 2001), que possui dezenas de minas em operao, grande parte sub-terrneas, dentre elas Morro Velho (extinta), Cuiab, Lamego, Crrego do Stio, Turmalina e Pacincia. Alm de Au, o greenstone belt Rio das Velhas (MG) contm minas de Esmeralda e Topzio Imperial. O greenstone belt de Santa Terezinha de Gois (GO) contm minas de Esmeralda, e o de Contendas-Mirante (BA), minas de Magnesita.

    Quase a totalidade da fantstica produo de Au do Brasil durante o Ciclo do Ouro foi proveniente de aluvies e coluvies associadas aos greenstone belts dos Estados de Minas Gerais e Gois.

    Os ambientes de greenstone belts brasileiros, con-trariamente ao que ocorre nos seus congneres do Canad e da Austrlia, tm se mostrado pouco frteis em sulfetos de metais base (Ni, Cu, Zn), sendo que pequenos depsitos destes metais foram detectados apenas em Fortaleza de Minas (MG) e Crixs (GO); ocorrncias em vrios outros locais.

    Duas sequncias vulcano-sedimentares arquea-nas, similares a greenstone belts, merecem destaque especial por suas elevadssimas fertilidades em metais, as provncias polimetlicas de Carajs (PA) e de Vila Nova (PA-AP). Carajs constitui-se na maior provncia mineral do Brasil (uma das maiores do planeta), sendo portadora, alm das minas gigantes de Fe (N4, N5, S11)

  • 24 Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios

    Complexos Vulcano-Plutnicos Flsicos Proterozoicos Na poro central do Crton Amaznico ocorreu, no paleoproterozoico, o vulcano-plutonismo cido Uatu-m/Iriri, o maior conhecido na Terra, distribuindo-se ao sul da Bacia do Amazonas por toda a regio sul do Par, extremo norte do Mato Grosso e extremo sudes-te do Amazonas. Neste ambiente formaram-se duas importantes provncias metalogenticas aurferas de grande dimenso: Provncias do Tapajs e Provncia Alta Floresta. Essas provncias so muito similares em geologia e metalogenia, estando separadas pelos sedimentos clsticos do Grupo Beneficiente (Serra do Cachimbo). Seus depsitos, essencialmente de Au (com teores modestos de Cu, Mo, Ag), tem sido atri-budos aos tipos veio, prfiro, epitermal e relacionado a granitos (JULIANI et al., 2005; COUTINHO, 2008; LEITE; SAES, 2000).

    Dados oficiais revelam que 200 toneladas (t) de Au foram extradas da Provncia Tapajs pela garimpagem de aluvies e coluvies. Extraoficialmente estima-se em 900 t. As aluvies e coluvies destas provncias aurferas foram exauridas em quase sua totalidade. So conhecidos, no entanto, vrias centenas de alvos para Au em rocha primria, que vm sendo pesqui-sados por mais de 40 empresas juniores. Nos ltimos 10 anos foram identificadas e cubadas, somente na Provncia Aurfera do Tapajs (PA), 552 t de Au contido em apenas oito dos principais projetos de prospeco mineral em execuo na regio (Tocantinzinho, 80 t; So Jorge, 54 t; Cui-Cui, 40 t; Coringa, 28 t; Palito, 21 t; Ouro Roxo, 20 t; Boa Vista, 10 t; e Volta Grande do Xingu, 224 t.) (ELTON PEREIRA, comunicao pessoal). Dentre os principais depsitos primrios na Provncia Alta Floresta destacam-se: Luizo, Alvo X1, Serrinha, Bigode, Pombo, Edu. Ambas as provncias apresenta-ram ainda alto potencial para Au e baixo potencial, pelo conhecimento atual, para sulfetos de Cu, Zn, Mo.

    Ao norte da Bacia do Amazonas, no norte dos Es-tados do Amazonas e do Par, no mbito do vulcano--plutonismo Uatum/Mapuera, tambm de idade paleoproterozoica, ocorre a Provncia Estanfera de Pitinga, com mina de Sn e com potencial para Nb, Zircnio (Zr), Tntalo (Ta), TR e Ytrio (Y).

    O vulcano-plutonismo Sururucucus, em terras indgenas no extremo norte de Roraima, rico em Sn, Au e Ta, possuindo tambm potencial para outros metais. Por situar-se em terras indgenas inacessvel para a minerao empresarial. A garimpagem ilegal, porm, atua abertamente na regio.

    em camadas sedimentares contnuas e salientes na topografia de itabirito compacto da Formao Cau, Grupo Itabira, Supergrupo Minas (Rosire et al. 2008), sendo explorado em cerca de 30 minas de grande porte, das quais so exemplos: Serra da Moeda, Fazendo, Timbopeba, Alegria, Cau, Brucutu, Cuiab e Con-ceio. Ao norte, na regio de Conceio do Mato de Dentro, ocorre o depsito de Fe da Serra da Serpentina, que deu origem ao Projeto Minas-Rio.

    Os depsitos de Ferro de Carajs (PA), apresentados no item anterior, foram tambm facilmente identificados pelas manchas de vegetao muito pobre ou ausente em meio floresta no topo das serras. Constituem-se em reservas substanciais e de fcil minerao.

    Depsitos de Fe do tipo BIF ocorrem em vrios es-tados brasileiros: Amap, Piau, Cear, Sergipe, Bahia, Minas e Mato Grosso. A viabilidade econmica dos mesmos depender do mercado e do preo futuro do Fe, bem como de infraestrutura adequada.

    Macios Bsico-Ultrabsicos Arqueanos e Proterozoicos Estes macios plutnicos, na maior parte do meso e neoproterozoico (alguns arqueanos), foram respons-veis pelo aporte de Ni em silicatos em seus nveis ultra-bsicos, os quais, ao alterarem-se em regime latertico do Cretceo ao Recente, deram origem a importantes depsitos de Nquel latertico. As principais provncias de macios bsico-ultrabsicos ocorrem na regio centro-norte de Gois, Cana Brava (Amianto), Nique-lndia (Ni), Barro Alto (Ni e Bauxita), no sul de Gois, depsitos de Americano do Brasil (Cu) e Mangabal (Ni); no sudeste do Par, Morro do Quatipuru (Ni); no leste do Tocantins, Conceio do Araguaia e Araguana (Ni); no distrito cuprfero de Tucuruvi/Cura e Carabas (Cu), no distrito cromfero de Jacurici/Serra Itaba (Cr), no distrito polimetlico (Fe, V, Ti, Pt, P

    2O

    5) do Rio

    Jacar e Campo Alegre de Lourdes e na Fazenda Mira-bela/Itajub (Cu) na Bahia; e no Vale do Guapor (Ni) no sul de Rondnia (DARDENNE; SCHOBBENHAUS, 2001; JOST et al., 2001; SCHOBBENHAUS et al., 1984).

    Importantes cordes de macios bsico-ultrab-sicos de potencial mineral desconhecido ocorrem no norte do Par (Mapuera-Cachorro) e na regio central de Roraima (Caracarai/Serra do Parim) (SCHOBBEN-HAUS et al., 1984).

    Os macios bsico-ultrabsicos brasileiros foram muito pouco pesquisados at o momento, podendo revelar importantes depsitos de sulfetos de metais base (Ni, Cu, Zn) em profundidade.

  • 25Captulo I Potencial Mineral do Brasil

    Castelo dos Sonhos, em fase adiantada de definio das reservas. Esse ltimo depsito abre perspectivas para a identificao de depsitos similares no sul do Par.

    Faixas Orogenticas e Coberturas NeoproterozoicasAs faixas orogenticas neoproterozoicas que circun-dam os crtons do So Francisco, Amaznico, Gurupi e Rio de La Plata, bem como o complexo orogentico da Borborema, geraram poucos depsitos minerais significativos. Exceo feita Faixa Vazante, situada na borda oeste do Crton do So Francisco, que abriga as maiores minas de Au (Paracatu) e de Zn (Vazante) nacionais, alm de outros depsitos de Zn (Morro Agudo) e de Fosfato (Lagamar), discutida, entre outros, por Bettencourt et al. (2001) e Dardenne e Schobben-haus (2001).

    A Faixa Araua, a leste do Crton do So Francisco, contm depsitos de Fe no Distrito de Nova Aurora (Porteirinha) e de Au (Zagaia e Riacho dos Machados), e na sua poro mais interna a maior Provncia Peg-mattica de Minas Gerais e Bahia: distritos de Esme-ralda Feliz, Conselheiro Penna, Pedra Azul, Araua, Malacacheta, Caratinga (SILVA et al., 2014).

    A Faixa Araguaia, borda do Crton Amaznico, apresenta jazidas de Nquel latertico em seus ofioli-tos do Araguaia; enquanto a Faixa Paraguai, contm jazidas de Au em Cuiab (MT) e minas de Fe e Mn em Urucum (MS).

    No sul do pas, a Faixa Ribeira j produziu Pb, Zn e Ag (Perau e Panelas); enquanto a Faixa Dom Feli-ciano, formou depsitos de Cu, Zn e Pb na regio de Camaqu (RS).

    As coberturas neoproterozoicas do Crton do So Francisco (grupos Bambu, Bebedouros e Uma), reve-laram at o momento pequenos depsitos de Pb, Zn, Ag (Fluorita e Fosfato), com destaque para o Distrito da Bacia do Irec (MISI et al., 2005; SILVA; MISI, 1999).

    No nordeste, no Complexo da Borborema, desta-cam-se a Provncia Scheelitfera de Brejui, na Faixa Serid (W e Au), a Provncia Pegmattica do Serid (Ta, Li, Be, Turmalina Paraba) e o Distrito Fsforo--Uranfero de Itataia (U, P, ETR) no Cear.

    Bacias Sedimentares PaleomesozoicasAs grandes bacias sedimentares (sinclises) brasileiras paleomesozoicas do Amazonas, Maranho e Paran, pouco contriburam com bens minerais. Na Bacia do Amazonas, na Provncia Potssica do Mdio Amazonas, ocorre o segundo maior depsito mundial de Potssio (FANTON, 2014), sais (Silvinita-KCl e Halita-NaCl) de

    Tambm de grande importncia por sua riqueza em Sn cabe destaque ao plutonismo flsico de Rondnia e do noroeste do Mato Grosso, onde se formaram no neoproterozoico, na Provncia Estanfera de Rondnia, os maiores depsitos de Sn do Brasil, associados s fcies albitizadas de granitos anorognicos (BETTEN-COURT et al., 2001). Dentre outros, citamos as jazidas de Massangana, Ariquemes, So Carlos, So Loureno, Pedra Branca, Santa Brbara, Oriente Novo, Jacunda e Bom Futuro, cujas coluvies se encontram em fase de exausto. A provncia possui, porm, alto potencial para futuras exploraes de Cassiterita- Sn nas fcies de graisens e albititos primrios de seus granitos.

    De menor importncia, porm portadora de de-psitos de Sn e Terras Raras Pesadas- TRP associados a granitos anorognicos albitizados do mesoprote-rozoico, a Provncia Estanfera do Norte de Gois.

    Pequenos distritos mineiros aurferos isolados, de ambientes plutnicos similares de idade proterozoica, ocorrem ainda no Rio Grande do Sul, Paran, Minas Gerais, Bahia, Gois e Amap (SCHOBBENHAUS et al., 1994; SILVA et al., 2014).

    Tambm associada a intruses granticas destaca-se a Provncia Pegmattica Oriental do Brasil, no sudeste da Bahia e nordeste de Minas Gerais, com pegmatitos portadores de Li, Be, Ta. Constitui-se, juntamente com o Distrito do Alto Uruguai (RS), nas duas principais regies produtoras de pedras coradas do Brasil.

    Plataformas Clsticas Diamantferas e Aurferas ProterozoicasEm ambiente de plataforma continental formaram--se, no mesoproterozoico, conglomerados diaman-tferos na regio de Diamantina (MG), na Chapada Diamantina (BA), e no norte de Roraima. Embora esses conglomerados proterozoicos apresentem bai-xos teores de Diamante, as coluvies e aluvies deles resultantes foram intensamente explotadas durante o Ciclo do Diamante na regio do Espinhao Meridional (Diamantina, Catas-MG) e no Espinhao Setentrional, na Chapada Diamantina (Lenis, Andara, Mucug, Xique-Xique-BA). Na atualidade nenhum conglome-rado diamantfero est sendo minerado no Brasil. O baixo teor e a alta dureza da rocha no permitem o aproveitamento econmico do Diamante.

    Conglomerados aurferos de idade paleoprotero-zoica foram identificados no Quadriltero Ferrfero (MG) (Formao Moeda), na Serra da Jacobina (BA) e, recentemente, no sul do Par (Castelo dos Sonhos). O depsito de Jacobina (BA) est sendo minerado e o de

  • 26 Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios

    bacia, at 1600 metros de profundidade no centro da bacia no Estado de So Paulo. Poos artesianos que extraem gua do Aqufero Guarani abastecem impor-tantes cidades e indstrias nos Estados de So Paulo, Paran e Rio Grande do Sul.

    Chamins Alcalinas Carbonatticas CretcicasO magmatismo alcalino cretcico, embora pontual (erupo central), ocorreu amplamente no territrio nacional, principalmente ao longo do Lineamento AZ 125 (SCHOBBENHAUS et al., 1994; SILVA et al., 2014). As intruses carbonatticas geraram importantes de-psitos minerais de P

    2O

    5, Nb, U, Al, Fe, TR, Flogopita/

    Vermiculita, Barita, Bauxita e Fluorita, principalmente nos Estados de Minas Gerais (Tapira, Arax, Patrocnio, Serra Verde, Salitre, Poos de Caldas), Gois (Catalo I e II), So Paulo (Jacupiranga), Santa Catarina (Ani-tpolis/Lages), Paran (Mato de Dentro), e no sul do Mato Grosso do Sul.

    Os distritos mineiros associados s chamins alca-linas, carbonatticas ou no, so esparsos, circulares e pequenos. O maior deles, a Chamin Alcalina de Poos de Caldas, na fronteira entre Minas Gerais e So Paulo, com 35 km de dimetro, apresenta depsitos de Bauxita, Urnio (mina j exaurida) e Terras Raras. Em Arax foram delimitados e possuem possibilidade de viabilizao econmica depsitos de Terras Raras Leves, sendo que a CBMM est prestes a iniciar a produo.

    Tambm vinculadas ao Lineamento AZ 125 ocor-rem kimberlitos, com concentraes no Alto Parnaba (MG) e em Juna (MT). Embora tenham sido identifi-cados mais de 2000 mil kimberlitos no Brasil poucos revelaram-se portadores de Diamante e apenas um viabilizou a primeira mina brasileira de Diamante primrio, o de Brana, de idade mesoproterozoica, no nordeste do Estado da Bahia.

    As seis chamins alcalinas da Cabea do Cachorro no noroeste do Amazonas tm alto potencial para P

    2O

    5, Nb e TR. No entanto, por situarem-se em regio

    extremamente remota no apresentam perspectiva de serem exploradas em tempo previsvel.

    De menor potencial mineral e do proterozoico mdio so as provncias alcalinas do noroeste do Par, do sudeste do Amazonas (Tapajs) e do extremo sul do Tocantins (Peixes); do proterozoico superior, aquela do sudeste da Bahia; de idade mesozoica as alcalinas de Rondnia na fronteira com o Mato Grosso, do sudoeste de Gois e do nordeste do Paran; bem como, de idade cenozoica, a provncia alcalina do norte do Cear.

    Nos ltimos anos foram identificados e esto sen-do pesquisados para P

    2O

    5 depsitos de fosfato meta-

    morfizados e intensamente deformados, de idades

    idade permiana em camadas profundas (650 a 1300 m), at o momento inexploradas. As reservas do centro da provncia (Fazendinha-PA e outras) pertencem, h mais de 50 anos, Petrobrs, sem que tenham sido realizadas, at o momento, pesquisas no sentido de definir sua viabilidade de aproveitamento econmico.

    Nos ltimos anos, a empresa Potssio do Brasil (Gru-po Falcon Metais), aps intenso programa de explorao mineral, descobriu importantes depsitos do KCl na regio de Autazes (AM). Segundo Fanton (2014), esses depsitos apresentam bons teores, ocorrem em meno-res profundidades (680-900 m) e situam-se em posio estratgica (prximos a porto fluvial, rodovia, rede el-trica e apenas a 100-150 Km de Manaus). A Potssio do Brasil planeja a abertura de poo (shaft) para acesso camada de minrio nos prximos anos. Esses depsitos constituem-se na melhor perspectiva de elevar signifi-cativamente a produo de KCl no Brasil, essencial para a agricultura moderna.

    Na Bacia do Maranho, a mais pobre das sinclises em bens minerais, foram identificadas como de valor econmico apenas pequenas camadas de Gipsita na regio sudoeste do Estado do Maranho e na Chapada do Araripe, no Cear, alm de aquferos em camadas de arenitos.

    A Bacia do Paran apresenta quatro bens de signifi-cativa importncia econmica: carvo, pedras coradas, xisto betuminoso (folhelhos da Formao Irati) e gua subterrnea. De menor significado so os depsitos de Urnio de Figueiras (PR) e de Diamante de Tibagi (PR). Os distritos mineiros de carvo mineral ocorrem no leste do Rio Grande do Sul, entre Porto Alegre e a fronteira com o Uruguai, e no sudeste de Santa Catarina (Cricima). Em-bora as reservas em subsuperfcie sejam significativas, trata-se essencialmente, de carvo energtico. Apenas no Distrito Carbonfero de Cricima extrada, aps complexo sistema de separao, pequena quantidade de carvo metalrgico. O Carvo metalrgico o segundo bem mineral que mais pesa nas importaes nacionais. Potssio e Carvo tm provocado conjuntamente forte impacto negativo anual na balana comercial do Brasil.

    No nordeste do Rio Grande do Sul, na regio de Ame-tista do Sul e Ira (Alto Uruguai), nas camadas baslti-cas cretceas da Formao Serra Geral, ocorre o maior distrito mineiro de Ametista conhecido no planeta.

    Em toda a Bacia do Paran, do Mato Grosso do Sul e Gois ao Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina, os espessos arenitos porosos desrticos da Formao Botucatu hospedam enormes reservas de gua no Aqufero Guarani, um dos maiores conhecido. Este aqufero ocorre desde a superfcie, nas reas de aflo-ramentos da Formao Botucatu na borda leste da

  • 27Captulo I Potencial Mineral do Brasil

    supramencionados, como os distritos bauxticos de Oriximin/Porto Trombetas, Almeirim, Paragominas (todos no Par), Poos de Caldas (MG), e Amargosa, no sul da Bahia. Tambm os depsitos de P

    2O

    5, Nb e

    TR, associados a chamins alcalinas devem suas altas concentraes nesses elementos ao enriquecimento latertico, como o caso dos distritos mineiros de Poos de Caldas (MG), Arax (MG), Patrocnio (MG), Catalo (GO) e Seis Lagos (AM), entre outros.

    Se, por um lado, o intemperismo qumico resultante do clima vigente no pas no ps-cretceo, pelo pro-cesso de lateritizao, concentrou alguns elementos in sito, por outro, reteve em seus solos ou concentrou pelo transporte fsico da gua nos vales e nos cordes litorneos e aluvies, depsitos de minerais resistatos. Originaram-se assim importantes depsitos de Ouro (Au), Diamante, Cassiterita (Sn), Ilmenita (Ti), Zirco (Zr) e Monazita (U/Th). Exemplos notrios desse tipo de depsito mineral foram as j exauridas coluvies e aluvies da Provncia Aurfera de Ouro Preto (MG) e do Tapajs (PA), bem como as aluvies e coluvies das provncias diamantferas de Diamantina (MG) e da Chapada Diamantina (BA). Ainda produtivas, ou a serem exploradas, cabem nessa classe, entre outras, as Provncias Estanferas de Bom Futuro (RO), de Pitinga (AM), e de Surucucus (RR); assim como o Distrito Diamantfero do Rio Roosevelt (RO).

    Dentre os distritos mineiros de minerais pesados so relevantes aqueles de Ilmenita (TI) e Zirco (Zr) de So Jos do Norte, no cordo litorneo do Rio Grande do Sul, e de Monazita (U/Th) do Esprito Santo.

    Tambm a liberao do Al por intemperismo, a partir das rochas silicticas primrias, seu transporte e sua deposio em plancies aluvionares, originou grandes depsitos de Caulim na Provncia Caulintica do Rio Capim (AM) e do Rio Jar (PA).

    Outros Ambientes Metalogenticos e Distritos Mineiros Brasileiros de Menor SignificadoExiste adicionalmente no Brasil um grande nmero de distritos mineiros menos importantes at o momento, sendo impossvel apresentar todos nesta sntese. Pelas caracterizaes e descobertas recentes cabem, porm, ser mencionados ainda: o Arco de Ilhas Neoproterozoi-co de Gois, com seus depsitos de Cu e Au (Chapada--GO); a Bacia Cretcea do Araripe (CE), portadora de Gipsita; o Distrito Potssico de Sergipe (SE), portador de Silvinita/Carnalita (Taquari-Vassouras); o Distrito Diamantfero de Roosevelt (RO); o Distrito Polimet-lico (Zn, Pb, Cu-Au) de Aripuan (MT); o prospecto (Ni, Cu, EGP) de Limoeiro (PE); e o grande potencial nacional para Urnio.

    precambrianas ainda no definidas, no sul do Par, no norte do Mato Grosso e no Rio Grande do Sul. Por estarem localizados prximos a regio de agricultura mecanizada, os prospectos Trs Estradas, Joca Tavares e Cerro Preto apresentam potencial de se tornarem viveis economicamente. Segundo a guia Resour-ces (2012), o carbonatito Trs Estradas intrusivo no Complexo Granultico Santa Maria Chico, de idade paleoproterozoica ou arqueana. Situa-se a 325 Km a oeste de Porto Alegre, na altura do paralelo 31 Sul. Apresenta forma elptica alongada e teores e minera-logia similares aos da Mina Cajati, da Vale.

    Mantos de Intemperismo e Aluvies Ps-CretcicosFundamental para a gnese de importantes depsi-tos minerais no Brasil foi o clima tropical mido que atuou e atua em todo o territrio situado a norte do Trpico de Capricrnio (Paralelo 22 Sul), regio que esteve submetida, desde o Cretceo Superior, a intenso processo de intemperismo qumico. Esse, sob a ao da gua e do oxignio, destruiu os minerais originais das rochas silicticas primrias, lixiviando alguns de seus elementos e concentrando in loco outros. Como consequncia, formaram-se espessos mantos de in-temperismo enriquecidos em Fe (laterticos), em Al (bauxticos) e em outros elementos presentes nas ro-chas originais, tais como Ni, Mn, Au, Nb, P e TR, que originaram os mais importantes depsitos minerais do pas. Esses depsitos acham-se bem preservados nos plats laterticos de cimeira, onde a eroso fsica ps--cretcea, que modelou o relevo atual esculpido abaixo dos pediplanos cretcicos, no atuou, permitindo assim suas preservaes. Costa (1997), Kotschoubey et al. (1997), Horbe (1991) e Marini et al. (2005) detalham as caractersticas e origens desses depsitos.

    Rochas originais de idades desde arqueanas at cenozoicas condicionam os locais onde esses depsi-tos se formaram, porm, as concentraes em nveis econmicos formaram-se pelo processo de laterizao ps-cretcica. o caso dos depsitos das Provncias Ferrferas de Carajs (PA), de Vila Nova (AP), do Qua-driltero Ferrfero (MG), com formaes ferrferas originais do arqueano e do paleoproterozoico, lateriti-zadas e enriquecidas em Fe (68%) no ps-Cretceo. Da mesma origem so os inmeros depsitos de Ni late-rtico da Amaznia, Centro-Oeste e Sudeste brasileiro, associados a macios bsico-ultrabsicos arqueanos e proterozoicos. Nesses, o Ni contido originalmente em baixssimos nveis em silicatos, concentrou-se no manto latertico em teores econmicos da ordem de 2%. Similarmente, ocorreu a formao de outros importantes depsitos brasileiros dos elementos

  • 28 Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios

    criteriosa de dados de levantamentos aerogeofsicos uma metodologia importante para prospeco mineral.

    Por sua geologia favorvel e pelas descobertas j efetivadas, o pas possui elevado potencial para no-vos distritos mineiros de Urnio, alm da mina de U exaurida de Poos de Caldas (MG), da mina de Caetit (BA) e da jazida de Urnio e Fosfato de Itataia (CE). Isto porque somente 25% do territrio nacional foi prospectado para o metal at o momento.

    PERSPECTIVAS DA REALIZAO FUTURA DO POTENCIAL MINERAL BRASILEIRO

    Por paradoxal que possa parecer, so os atrasos, as deficincias e demais dificuldades que vm inibindo a explorao mineral e impedindo o pleno desenvol-vimento da minerao no Brasil at o momento, que permitem tambm afirmar ser ainda elevado o poten-cial para descobertas de novos depsitos minerais no Brasil. Dentre esses pontos negativos destacam-se: baixo conhecimento geolgico do territrio nacional e mesmo de nossas provncias minerais, pequenos investimentos realizados em pesquisa mineral no pas, projetos de explorao mineral realizados apenas em superfcie ou a pequena profundidade, carncia de infraestrutura viria, legislao mineral pouco amigvel e alto custo Brasil.

    O conhecimento atual da geologia e da metalogenia das provncias e distritos minerais nacionais ainda insuficiente para orientar devidamente a prospec-o mineral. Enquanto em pases como o Canad, a Austrlia e a frica do Sul, as provncias minerais e os distritos mineiros possuem mapas geolgicos nas escalas 1/20.000 ou 1/50.000, mesmo no leste do Brasil, raros so os distritos mineiros mapeados na escala 1/50.000 no Brasil. Na regio amaznica os mapeamentos geolgicos em execuo so apenas de reconhecimento (1/250.000) e, muito localmente, de 1/100.000. As provncias e distritos mineiros brasilei-ros so ainda muito mal conhecidos, o mesmo sendo vlido para os modelos e controles da maior parte dos depsitos minerais nelas existentes. O conhecimento sobre a metalogenia, tipologia, caractersticas e con-troles de muitos depsitos minerais do pas, funda-mentais para orientar corretamente os trabalhos de prospeco mineral, no obstante tenham sido motivo de um nmero crescente de teses e estudos por parte da comunidade acadmica, ainda muito incipiente.

    Segundo Cox (2014), as descobertas de novos dep-sitos de metais base (Cu, Ni, Zn, Pb), Au e U em todo o planeta passaram a ocorrer nas ltimas dcadas cada

    Nas proximidades do Distrito Potssico de Sergipe, na plataforma marinha rasa a sul de Aracaju e a leste de Macei, h possibilidade de serem delimitadas novas reservas de Silvinita/Carnalita. Ocorrncias desses sais foram identificadas no ps-sal em alguns furos em gua profunda da Petrobrs na Bacia de Campos.

    O Distrito Diamantfero do Rio Roosevelt (RO), desco-berto em rea da reserva indgena dos Cinta Larga, vem sendo garimpado ilegalmente, j h duas dcadas, em aluvies e coluvies. Trata-se de depsito de Diamante com grande potencial, seja pela alta qualidade das Ge-mas, seja pela possibilidade de serem encontrados Kim-berlitos com teores elevados. No entanto, a explorao empresarial legal s ser possvel quando o Congresso Nacional regulamentar a minerao em rea indgena, como prevista pela Constituio.

    Embora o Brasil tenha sido o maior produtor mun-dial de Diamante de aluvies, e tenham sido identifi-cados no pas mais de dois mil kimberlitos cretcicos, ainda no foi descoberto nenhum distrito mineiro diamantfero primrio produtivo associado ao line-amento AZ 125, o que se constitui num paradoxo inexplicvel da geologia brasileira.

    No extremo noroeste do Estado do Mato Grosso, no contexto da Sequncia Aripuan/Granito Rio Branco, associado ao vulcano-plutonismo paleoproterozoico Uatum foi descoberto, a partir de garimpo de Au, o depsito de sulfeto polimetlico (Zn, Pb, Ag, Cu-Au) da Serra do Santo Expedito-Aripuan (RO) (LEITE et al., 2005), cuja mina entrou em produo em 2014. A identificao deste novo distrito, situado em regio remota e de geologia regional ainda pouco conhecida, abre perspectivas para novas descobertas de sulfetos de metais base na poro sudoeste da rea de ocor-rncia do vulcano-plutonismo Uatum.

    Em 2012, com base na interpretao de dados de levantamento aerogeofsico (Mag e Gama) realizado pelo Servio Geolgico do Brasil-CPRM, a Votorantim Metais identificou o depsito de sulfeto de Cu, Ni e EGP de Limoeiro, situado em terreno gnissico apenas 80 Km de Recife (PE) (JONES BELTHER, informao pessoal). O minrio est hospedado em condutos sub--horizontais de rocha ultramfica. Dezenas de peque-nas reas de afloramentos circulares desta rocha foram identificados na regio, o que abre perspectivas para novas descobertas.

    Os terrenos granito-gnissicos da Borborema, como tambm outros do mesmo tipo em todo o Brasil, tm sido considerados como de baixo potencial para dep-sitos minerais de elementos metlicos. A descoberta do depsito de Limoeiro mostra ser necessria uma revi-so deste conceito. Ressalta tambm ser a interpretao

  • 29Captulo I Potencial Mineral do Brasil

    A prospeco mineral no Brasil, para revelar todo o potencial mineral do pas, necessita passar para uma fase de mapeamentos geolgicos e geofsicos mais detalhados, modelos exploratrios mais elaborados, estudos tcnico-cientficos, sondagens mais profun-das, emprego de mtodos geofsicos avanados e de profissionais especializados. Nesse contexto cabe um papel especial academia, no s na formao de pessoal especializado, mas tambm na definio das assinaturas, caractersticas e controles dos depsitos minerais.

    No contexto internacional de raras descobertas, baixos teores dos minrios, grande profundidade das descobertas, o Brasil destoa em grande parte do qua-dro global, visto que nele as descobertas de depsitos minerais ocorreram ainda hoje em superfcie ou em pequena profundidade.

    Uma comparao com a Austrlia e o Canad (Figura 2) mostra que o Brasil tem rea territorial e caracters-ticas geolgicas similares aos dois gigantes mundiais da explorao mineral. No entanto, segundo o boletim anual do SNL/Metal Economic Group (2013), os inves-timentos globais em explorao mineral de metais preciosos, metais base e Diamante (o SNL/MEG no inclui metais ferrosos) foram, em 2012, de US$ 21,5 bilhes. Destes, foram investidos no Brasil apenas 3% (US$ 645 milhes), enquanto na Austrlia 14% (US$ 2.589 milhes) e no Canad de 17% (US$ 3.440 mi-lhes). Considerando as respectivas reas territoriais, os investimentos por km2 foram de: US$ 76 no Brasil, US$ 226 na Austrlia e US$ 287 no Canad. No mesmo ano foram investidos em explorao mineral, tanto no Chile como no Peru 5% dos investimentos globais, ou seja, da ordem de US$ 1.000 milhes em cada um deles. Da ser permitido concluir-se que, em termos de prospeco mineral, o Brasil ainda um gigante adormecido. Como consequncia, possui ainda elevado potencial mineral a ser revelado.

    vez em maiores profundidades. No caso da Austrlia, que at 1950 descobria depsitos na superfcie ou at 50 metros de profundidade, nos ltimos anos tem feito descobertas a mais de 300 metros, sendo muitas a 500 e at 1.000 metros de profundidade. As sondagens passaram a ser cada vez mais profundas, e os custos das descobertas cada vez maiores.

    No obstante os investimentos globais em explora-o mineral tenham crescido de US$ 8 bilhes em 2009 para US$ 22 bilhes em 2012, as descobertas globais caram de oito depsitos de classe internacional em 2009 para dois em 2012.

    Cox (2014) observa ainda que os teores dos minrios dos depsitos descobertos tm cado constantemente; sendo que, em 1925, as minas de Cu operavam com minrios com teor de 7%; em 2005, com teores de 1% a 2%; e hoje operam com teores da ordem de 0,7%. O preo do Cu passou de US$ 2.000,00 por tonelada, em 2001, para US$ 8.000,00, em 2012. As minas de Au tinham em 1925, teores da ordem de 15g/t e, em 2005, 2 g/t. Atualmente, a Mina de Paracatu (MG) opera com teor de 0,4 g/t.

    Por outro lado, a demanda por metais tem crescido continuamente. Segundo Heithersay (2014), para o Cu, a demanda global passou de menos de 1 Mt/ano em 1900, para 18 Mt/ano em 2012, sendo que a pre-viso atingir 38 Mt/ano em 2038. Isto significa que nos prximos 24 anos necessitam ser minerados tanto quanto o total minerado desde 1900, isto , 635 Mt de Cu metlico. No entanto, os investimentos globais no mundo ocidental em pesquisa de metais no ferrosos e fertilizantes, aps crescerem de US$ 6 bilhes em 2005 para US$ 18,8 bilhes em 2012, caram bruscamente para US$ 12,3 bilhes em 2013. No obstante, as des-cobertas significativas reportadas caram de 60 minas para 10 por ano. O sucesso na viabilizao de novas minas no acompanhou os investimentos trs vezes maiores ocorridos entre 2005 e 2013.

    Segundo Heithersay (2014) e Ferreira (2014), as descobertas globais de depsitos de metais preciosos realizados por garimpeiros decaram de 60% entre 1900 e 1904, para 30% entre 1935 e 1939, para prximo a 0% em 2012. Por outro lado, as descobertas resultantes de prospeco por mtodos geofsicos (magnetometria, gamaespectrometria, ssmica, gravimetria e eletro-magnetometria) subiram de 0%, entre 1935 e 1939, para 45%, entre 2005 e 2009.

    O DNPM estimou que, em 1994, existiam no Bra-sil cerca de 2.000 garimpos, onde atuavam cerca de 400.000 garimpeiros. Na atualidade, restam em ativi-dade apenas algumas dezenas de garimpos e alguns milhares de garimpeiros.

  • 30 Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios

    necessrio que se considere, tambm, algumas caractersticas intrnsecas do setor de pesquisa mi-neral/minerao que influenciam na realizao do potencial mineral no pas: 1) a rigidez locacional, visto que os depsitos minerais ocorrem onde a natureza os originou, em geral em reas remotas; 2) o alto custo e o longo tempo de prospeco e da implantao de uma mina; 3) a existncia de infraestruturas ener-gtica e de transporte adequadas; 4) o alto risco dos empreendimentos; 5) a exigncia de recursos finan-ceiros substanciais; 6) a estabilidade jurdica do setor e confiana no governo; 7) o alto custo pas.

    Estima-se que de cada 1.000 alvos preliminares (ocorrncias minerais), apenas 100, aps as fases ex-ploratrias de prospeco geolgica terrestre, geo-qumica e geofsica (com durao entre 2 e 4 anos), passam para a fase de sondagem exploratria. Nesta fase, com 1 a 3 anos de durao, dos 100 alvos sonda-dos, cerca de 15 so selecionados como potenciais. Na fase seguinte, com durao de cerca de 3 anos, faz-se a definio dos recursos (cubagem), seguido de estudo de viabilidade econmica, aps o qual restam como potenciais 3 a 4 jazidas dentre os 15 depsitos selecionados. Apenas uma destas jazidas, aps 2 anos das fases de definio de reservas e de implantao da mina, entra em operao.

    Devido ao fato de que, em mdia, de cada 1.000 alvos preliminares visitados somente um se transforma efetivamente em mina, isto num perodo de 10 anos de estudos, h a tradio de desejar-se sorte ao investidor em explorao mineral. Pela mesma razo, as bolsas de valores classificam de venture capital os recursos

    Brasil Canad Austrlia

    rea Continental (106 km) 8,5 9,9 7,7

    Produo Au/Km(1969-1990) t 0,9 3,4 5,7

    Investimentos em Prospeco, 2013 (106 US$) 645 3.440 2.580

    Investimentos por Km, 2013 (US$) 76 287 226

    destinados explorao mineral, pois os investimentos para viabilizar uma mina so muito elevados, de longo prazo e de alto risco.

    Devido pequena atratividade comparativa do Brasil para investimentos em explorao mineral no momento, mesmo as mais tradicionais empresas de minerao brasileiras esto migrando para fazer prospeco e minerao no Chile, Peru, Colmbia, Mxico, USA, Canad, Moambique e pases da sia e Indonsia.

    Potencial mineral o Brasil possui, e grande. No entanto, o conhecimento geolgico-metalogentico de seus distritos mineiros e depsitos minerais, a poltica mineral vigente, a confiana jurdica e a atratividade para investimentos em explorao mineral no pas deixam muito a desejar.

    Figura 2 Comparao da de Au (1969-1990) e de investimentos em prospeco mineral em 2013 entre Brasil, Canad e Austrlia (Fonte: ARANTES; MACKENZIE, 1995; SNL/MEG, 2013, modificado).

  • 31Captulo I Potencial Mineral do Brasil

    REFERNCIAS

    GUIA RESOURCES. Estudos preliminares geotcnicos, de recursos hdricos e ambientais para o projeto Fosfato Trs Estradas. Estudos Geotcnicos e Hidrogeolgicos, v. 2, 26 p. 2012.

    ARANTES, D.; MACKENZIE, B. A Posio Competitiva do Brasil na Produo Mineral de Ouro. Braslia: DNPM. Srie Estudos de Poltica Mineral, v. 7, 102 p. 1995.

    BETTENCOURT, J.S.; MONTEIRO, L.V.S.; BELLO, R.M.S.; OLIVEIRA, T.F.; JULIANI, C. Metalognese do zinco e chumbo na regio de Vazante, Paracatu, Minas Gerais. In: MARTINS NETO, M.; PINTO, C.P. (Orgs.). Bacia do So Francisco. Geologias e Recursos Minerais, 1 Ed; Belo Horizonte: SBG-MG/CPRM, Publicao Especial, v. 1, p. 161-198. 2001.

    BIZZI, L.A.; SCHOBBENHAUS, C.; VIDOTTI, R.M.; GONALVES, J.H. (Coords.). Geologia, Tectnica e Recursos Minerais do Brasil. Texto, Mapas & SIG. Braslia: CPRM - Servio Geolgico do Brasil; 692 p. 2003.

    COSTA, M.L. Laterization as a Major Process of Ore Formation in the Amazon Region. Exploration and Mining, London, v. 6, n 1, p. 27-104. 1997.

    COUTINHO, M.G.N. Provncia Mineral do Tapajs: Geologia, Metalogenia, e Mapa Previsional para Ouro em SIG. Braslia: CPRM, 375 p. 2008.

    COX, D. World and Brazilian Exploration Trends. In: Trends in Exploration Spending and Brazils Competitive Position. Ouro Preto. Brazil. 2014. Disponvel em: . Acesso em 10 de janeiro de 2015.

    DARDENNE, M. A.; SCHOBBENHAUS, C. Metalognese do Brasil; Braslia: CPRM/UnB, 392 p. 2001.

    FANTON, J. Novas Descobertas de Potssio na Bacia do Amazonas. In: Potencial e Projetos de Minerais Estratgicos e Crticos. Ouro Preto, Brasil. 2014. Disponvel em: . Acesso em 10 de janeiro de 2015.

    FERREIRA, M. Tendncias da Explorao Mineral. In: Novas Fronteiras e Tendncias em Explorao Mineral. Ouro Preto, Brasil. 2014. Disponvel em: . Acesso em 10 de janeiro de 2015.

    JOST, H., BROD, J.A.; QUEIRZ, E.T. (Coords.). Caracterizao de Depsitos Aurferos em Distritos Mineiros Brasileiros. Braslia: DNPM/ADIMB, 300 p. 2001.

    HEITHERSAY, P. Mineral Resources for Future Generations. In: New Frontiers and Tendencies in Mineral Exploration. Ouro Preto, Brasil. 2014. Disponvel em: . Acesso em 10 de janeiro de 2015.

    HORBE, A.M.C. Evoluo mineralgica dos lateritos a Sn, Zr, Nb e Y da Serra da Madeira, Pitinga AM. Dissertao de Mestrado. Centro de Geocincias, Universidade Federal do Par, Belm. 245 p. 1991.

    IBRAM. Informaes e Anlise da Economia Mineral Brasileira. Braslia, 7 Ed., 68 p. 2012.

    JULIANI, C.; RYE, R.O.; NUNES, C.M.D.; SILVA, R.M.C.; MONTEIRO, L.V.S.; NEUMANN, R.; ALCOVER NETO, A.; BETTENCOURT, J.S.; SNEE, L.W. Paleoproterozoic high-sulphidation mineralization in Tapajs Gold Province, Amazon Craston, Brazil: Geology, mineralogy, alunite argon age and stable isotopes constraints. Chemical Geology, v. 215, p. 95-125. 2005.

    KOTSCHOUBEY, B.; TRUCKENBRODT, W.; HIERONYMUS, B. Bauxite deposits of Paragominas. In: CARVALHO, A.; BOULANG, B.; MELFI, A.F.; LUCAS, Y. (Eds.). Brazilian Bauxites. USP, FADESP, ORSTOM, p. 75-106. 1997.

    LEITE et al. Caracterizao do Depsito Polimetlico (Zn, PB, Ag, Cu-Au) de Aripuan, Mato Grosso. In: MARINI, O.J.; QUEIRZ, E.T.; RAMOS, W.B. (Eds.). O Projeto Caracterizao de Depsitos Minerais em Distritos Mineiros da Amaznia. Braslia: DNPM/CT-MINERAL/ADIMB. p. 597-686. 2005.

    LEITE, J.A.D.; SAES, G.S. Geology of Southern Amazon Craton, in Southwestern Mato Grosso, Brazil: a review. Revista Brasileira de Geocincias, v. 30, n. 1, p. 91-94. 2000.

    LIMA, T.M.; NEVES, C.A. (Coords.). Sumrio Mineral Brasileiro, Braslia: DNPM/MME, v. 33, 137 p. 2013.

    LOBATO, L.M.; RODRIGUES, L.C.R.; VIEIRA, F.W.V. Brazils premier gold province. Part II: Geology and genesis of gold deposits in the Archean Rio das Velhas greenstone belt. Quadriltero Ferrfero. Milenium Deposita, Alemanha, v. 36, n. 3/4, p. 249-277. 2001.

    MARINI, O.J.; QUEIRZ, E.T. Main Geologic-Metallogenetic Environments and Mineral Exploration in Brazil: Cincia e Cultura, Brasil, v. 43, n. 2, p. 154-161. 1991.

    MARINI, O.J.; QUEIRZ, E.T.; RAMOS, W.B. (Eds.). O Projeto Caracterizao de Depsitos Minerais em Distritos Mineiros da Amaznia. Braslia: DNPM/CT-MINERAL/ADIMB. 782 p. 2005.

    MISI, A.; TEIXEIRA, J. B.; S, J. H. (Orgs.). Mapa Metalogentico Digital do Estado da Bahia e Principais Provncias Minerais. 1 Ed. Salvador: CBMM/Srie Publicaes. 2012.

    MISI, A.; IYER, S.; COELHO, C.; TASSINARI, C.; FRANCAROCHA, W.; CUNHA, I.; GOMES, A.; DE OLIVEIRA, T.; TEIXEIRA, J.; FILHO, V. Sediment Hosted Lead Zinc Deposits of the Neoproterozoic Bambui Group and Correlative Sequences, So Francisco Craton, Brasil: A review and a possible metallogenic evolution model. Ore Geology Reviews, Amsterdan, v. 35, p. 35-46. 2005.

    MELLO, G. A. Panorama da Explorao Mineral no Brasil: Quem, Onde, O que. In: Panorama da Explorao Mineral no Brasil. Ouro Preto, Brasil. 2014. Disponvel em: . Acesso em 10 de janeiro de 2015.

    ROSIRE, C.A.; SPIER, C.A.; RIOS, F.J.; SUCKAN, V.E. The Itabirite from the Quadriltero Ferrfero and related high-grade ores: a review. Reviews in Economic Geology, v. 15, p. 223-243. 2008.

    SCHOBBENHAUS, C.; COELHO, C.E.S. (Coords.). Principais Depsitos Minerais do Brasil; Vol. III Metais Bsicos No Ferrosos, Ouro e Alumnio. Braslia: DNPM-CVRD. 670 p. 1988.

    SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D.A.; DERZE, G.R.; ASMUS, H.E. (Coords.). Geologia do Brasil: Texto Explicativo do Mapa Geolgico do Brasil e da rea Adjacente Incluindo Depsitos Minerais Escala 1:2 500 000. Braslia: Departamento Nacional da Produo Mi neral- DNPM. 501 p. 1994.

    SILVA, M.G.; MISI, A. (Orgs.). Base Metal Deposits of Brasil. 1 Ed. Belo Horizonte: MME/CPRM/DNPM, v. 1, 109 p. 1999.

    SILVA, M.G.; ROCHA NETO, M.T.; JOST, H.; KUYUNJIAN, R.M. (Orgs.). Metalognese das Provncias Tetnicas Brasileiras-Programa Geologia do Brasil/Recursos Minerais/Srie Metalogenia. Belo Horizonte: CPRM. 589 p. 2014.

    SNL/Metal Economic Group. Worldwide Exploration Trends. SNL/Metals Economic Group. Toronto/Canad: PDAC 2014. 6 p. 2013.

    TEIXEIRA, N. et al. Geotectnica e Metalogenia do Brasil. In: Panorama da Explorao Mineral no Brasil: Novas Perspectivas. Ouro Preto, Brasil. 2014. Disponvel em: . Acesso em 10 de janeiro de 2015.

  • Formaes ferrferas e minrio de alto teor associadoO minrio de ferro no Brasil geologia, metalognese e economia

    Carlos Alberto RosireProfessor Titular do Instituto de Geocincias, Universidade Federal de Minas Gerais.

    Vassily Khoury RolimDoutorando do Instituto de Geocincias, Universidade Federal de Minas Gerais e diretor da PRCZ Consultores Associados.

    RESUMO

    Formaes ferrferas so rochas qumicas, geralmente bandadas, com teor em ferro (Fe) varivel en-tre ca. 20 e 40%, constitudas predominantemente por chert e minerais de ferro, e que ocorrem em sucesses marinhas Pr-Cambrianas associadas a rochas pelticas e carbonticas, ou a sequncias vulcano-sedimentares. Sua presena est ligada oxigenao da atmosfera, sendo contnua no registro geolgico entre o arqueano e o mesoproterozoico, e reaparecendo somente por um curto tempo no neoproterozoico. Processos mineralizadores hipognicos e supergnicos provocaram seu enriquecimento a teores entre 60 e 68% em Fe, constituindo um minrio de elevado valor econmico e estratgico para a economia do Brasil devido ao grande nmero de depsitos em suas extensas reas cratnicas. Entre-tanto, os volumes muito altos de produo envolvidos e o baixo valor agregado por tonelada exigem que os depsitos, alm de conter grandes quantidades de minrio, tenham disponibilidade de uma logstica de transporte estruturada demandando altos investimentos em ferrovias e portos.

    Palavras-chave Formaes ferrferas bandadas. Metalognese do ferro. Distritos mineradores. Es-tratgia econmica.

  • 33

    Formaes Ferrferas Bandadas. Algumas formaes ferrferas apresentam texturas que indicam eroso e deposio de lamas qumicas ricas em ferro, tais como a presena de grnulos, associadas a um ambiente raso, recebendo, ento, a denominao de Forma-o Ferrfera Granular. Rosire et al. (2008) sugerem a utilizao do termo itabirito (ESCHWEGE, 1833) para as variedades metamrficas como aplicado por Dorr (1969) no Quadriltero Ferrfero, acompanhado da mineralogia varietal (anfiblio, clorita, carbonato etc) (Figura 1).

    Figura 1 Variedades de formaes ferrferas bandadas: (a) Formao fer-rfera de ambiente plataformal (tipo Lago Superior) da Formao Brockman, membro Dales Gorge do Supergrupo Mt. Bruce, Bacia de Hamersley, Parque Nacional do Karinjini, Austrlia Ocidental, (b) Anfiblio itabirito dobrado da Formao Cau, Supergrupo Minas, Quadriltero Ferrfero, (c) Formao ferrfera jaspiltica de sequncia do tipo greenstone belt (tipo Algoma) do Iron Ore Group, Craton de Singhbum, India (d) Jaspilito da Formao Carajs, Supergrupo Rio Itacainas, Provncia Mineral de Carajs, (e) Itabirito dolomtico da Formao Cau, Supergrupo Minas, Quadriltero Ferrfero; (f e g) Formao ferrfera (itabirito) da Formao Cau, Supergrupo Minas, Quadriltero Ferrfero (Fonte: Carlos Alberto Rosire).

    FORMAES FERRFERAS BANDADAS: O SIGNIFICADO DESSAS ROCHAS NA HISTRIA DA TERRA

    Formaes Ferrferas Bandadas (Figura 1) so rochas sedimentares qumicas, precipitadas sob condies oxidantes ou sub-oxidantes associadas atividade microbiana (KONHAUSER et al., 2002), diretamente da gua do mar fertilizada por emanaes vulcnicas submarinas ricas em Ferro (Fe). O teor em Fe varia entre ca. 20 e 40%, em SiO

    2 entre 40 e 60%, em CaO e

    MgO

  • 34 Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios

    Formaes ferrferas ocorrem em trs tipos de bacias em ambientes geotectnicos distintos (GROSS, 1983):

    Sequncias do tipo Algoma, de menor extenso e espessura, associadas a sequncias vulcano--sedimentares, proximal s fontes hidrotermais submarinas de ferro. Estas sequncias ocorrem com maior frequncia na era arqueana.

    Sequncia do tipo Lago Superior, depositadas em grandes extenses em bacias de margem passiva, ocorrendo com maior frequncia na era prote-rozoico. Nessas sequncias esto hospedados os maiores depsitos de minrio de ferro de alto teor, tais como na regio do Lago Superior (Estados Uni-dos/Canad), no distrito do Quadriltero Ferrfero (Supergrupo Minas) no Brasil e nas bacias de Ha-mersley, na Austrlia e Transvaal, na frica do Sul.

    Sequncias do tipo Rapitan, depositadas em fossas continentais, comumente associadas aos diversos ciclos de deposio de sedimentos de origem glacial no neoproterozoico, como a Formao Rapitan no Canad e nos distritos mineradores de Urucum (Mato Grosso do Sul) e Mutum (Bolvia).

    Minrios de Ferro de Alto TeorProcessos mineralizadores que envolvem a remoo, lixiviao dos minerais de ganga e oxidao de minerais ferrosos podem provocar grande enriquecimento nas formaes ferrferas de modo a atingir teores entre 60 e 68% em Fe (Figura 2). Os processos envolvidos podem ser:

    Hipognicos ou hidrotermais, quando a remoo se desenvolve em temperatura elevada pela ao de grande volume de fludos metamrficos, bacinais, magmticos ou de origem meterica infiltrados durante eventos tectnicos (e.g. BARLEY et al., 1999; HAGEMANN et al., 1999; TAYLOR et al., 2001; ROSIRE; RIOS, 2004).

    Supergnicos, que se desenvolvem pela ao do intemperismo.

    Os maiores e mais ricos corpos de minrio de ferro foram sujeitos a ambos processos de forma recorrente. Em uma primeira fase de enriquecimento, as formaes ferrferas tm sua composio original modificada sob a ao de fludos a temperaturas e profundidades relativamente elevadas, gerando corpos controlados por estruturas tectnicas. Quartzo, carbonato e ou-tros minerais de ganga so lixiviados gerando corpos porosos e substitudos por carbonatos de Ca-Fe-Mg e xidos de ferro. De forma associada, mas subordinada, ocorre remobilizao do Fe constituindo veios e cor-

    Como sedimentos qumicos, formaes ferrferas registram as transformaes ambientais e a evoluo da Terra por um longo perodo, desde o seu apareci-mento, no incio do arqueano (ca. 3.800 Ma Isua na Groenlndia), at o proterozoico mdio (1.800 Ma Grupo Itapanhoacanga na Borda Leste da Serra do Espinhao) (ROLIM; ROSIRE, 2011). Formaes ferrferas reaparecem na coluna geolgica entre 800 e 500 Ma (e.g. a Formao Rapitan, no Canad, e a Formao Santa Cruz, no Distrito Mineral de Urucum, no Mato Grosso do Sul) (TRENDALL, 2002; CLOUT; SIMONSON, 2005; KLEIN, 2005). A abundncia relativa de formaes ferrferas na coluna geolgica corres-ponde a um longo perodo de int