recursos hídricos no brasil e no mundo
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Documentos 33
Jorge Enoch Furquim Werneck Lima
Recursos Hdricos no Brasile no Mundo
Planaltina, DF2001
ISSN 1517-5111
Dezembro, 2001Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaCentro de Pesquisa Agropecuria dos CerradosMinistrio da Agricultura Pecuria e Abastecimento
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Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:
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Comit de Publicaes
Presidente: Ronaldo Pereira de AndradeSecretria-Executiva: Nilda Maria da Cunha SetteMembros: Maria Alice Bianchi, Leide Rovnia Miranda de Andrade,Carlos Roberto Spehar, Jos Luiz Fernandes Zoby
Superviso editorial: Nilda Maria da Cunha SetteReviso de texto: Maria Helena Gonalves Teixeira /
Jaime Arbus CarneiroNormalizao bibliogrfica: Maria Alice BianchiCapa: Chaile Cherne Soares EvangelistaEditorao eletrnica: Jussara Flores de Oliveira
1a edio1a impresso (2001): tiragem 300 exemplares
Todos os direitos reservados.A reproduo no-autorizada desta publicao, no todo ou emparte, constitui violao dos direitos autorais (Lei no 9.610).
Lima, Jorge Enoch Furquim WerneckRecursos hdricos no Brasil e no mundo / Jorge Enoch Furquim
Werneck Lima. Planaltina : Embrapa Cerrados, 2001.
46 p. (Documentos / Embrapa Cerrados, ISSN 1517-5111;n.33)
1. Recursos hdricos. I. Lima, Jorge Enoch Furquim Werneck.II. Ttulo. III. Srie.
333.91 - CDD 21
L732r
Embrapa 2001
CIP-Brasil. Catalogao-na-publicao.Embrapa Cerrados.
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Autores
Jorge Enoch Furquim Werneck LimaEng. Agrc., M.Sc. Irrigao e Agroambientes,Embrapa [email protected]
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Apresentao
Este trabalho resultado da compilao de extensa reviso bibliogrfica realizadapelo autor durante a confeco de sua dissertao de mestrado e de adaptaesposteriores. Alm de compor a introduo da referida dissertao, parte destetexto foi inserido, pelo autor, no livro Introduo ao gerenciamento de recursoshdricos, do qual co-autor, publicado pela Agncia Nacional de EnergiaEltrica ANEEL e pela Agncia Nacional de guas ANA, em 2001.
As atualizaes e revises do texto que deram origem a este trabalho, embasa-ram-se em dados, conceitos e informaes, apresentadas de forma clara eobjetiva, buscando atingir a maior diversidade de pessoas, com os maisdiferenciados nveis de compreenso sobre o tema.
Essa publicao apresenta uma valiosa contribuio para informar a sociedadesobre a situao geral dos recursos hdricos no Brasil e no mundo. Sendoassim, a Embrapa Cerrados, em conformidade com suas atribuies epreocupada com a gesto e com a preservao do meio ambiente e, emespecial, da gua, vem disponibilizar este material que julga de suma importn-cia para o desenvolvimento do setor agropecurio brasileiro.
Carlos Magno Campos da RochaChefe-Geral
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Sumrio
Introduo..................................................................... 9
Recursos hdricos no mundo .......................................... 11
Recursos hdricos no Brasil ............................................. 26
guas subterrneas no Brasil .................................................. 41
Consideraes Finais ...................................................... 43
Referncias Bibliogrficas ............................................... 43
Abstract ........................................................................ 46
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Doc. - Embrapa Cerrados, Planaltina, n. 33, p.1-46, dezembro 2001
Recursos hdricos no Brasile no mundo
Jorge Enoch Furquim Werneck Lima
Introduo
A importncia da gua para a existncia de vida na Terra indiscutvel. Almdisso, esse recurso natural fundamental para o desenvolvimento de diversasatividades antrpicas, tais como a produo de alimentos, de energia, de bensde consumo, de transporte e de lazer, assim como para a manuteno e oequilbrio ambiental dos ecossistemas terrestres.
A disponibilidade hdrica mundial estimada em cerca de 40.000 km/ano(Shiklomanov, 1998). Desses, avalia-se que apenas cerca de 4000 km/ano,10% do total, so derivados dos rios para o uso humano. Da gua captada,estima-se que apenas 2000 km/ano so efetivamente consumidos, resultandono retorno dos outros 2000 km/ano aos cursos dgua, porm, com qualidadeinferior que foram captados.
Como apenas 10% da gua doce disponvel no mundo captada e seuconsumo estimado em 50% desse valor, entre pessoas menos informadaspodem surgir questionamentos acerca da veracidade dos problemas anunciadosrelativos sua escassez. O fato que nem todo o recurso hdrico disponvelnos rios, lagos e outros passvel de utilizao. Os nmeros apresentadospodem dar a impresso de que se utiliza apenas uma pequena frao do volumedisponvel e que podemos aumentar esse consumo facilmente, o que no verdade.
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A m distribuio temporal e espacial das chuvas e vazes, aliada, muitas vezes, concentrao das demandas por gua em determinadas regies, configura umdos principais fatores que levam ocorrncia de problemas relacionados arecursos hdricos. Segundo Hofwegen & Svendsen (1999), em muitas regiesdo mundo mais de da precipitao anual ocorre durante menos de seis meses.Assim, em busca de maior equilbrio da disponibilidade hdrica ao longo do ano,estima-se que mais de 45.000 grandes reservatrios foram construdos nomundo para o armazenamento da gua dos perodos midos para que possa serutilizada nos mais secos. Alm disso, os dados apresentados no consideram asrestries quanto qualidade da gua disponvel. Outro fator importante a serressaltado que a gua no utilizada pelo homem no vai para os oceanos semuso, pois desse fluxo dependem diversos ecossistemas terrestres e aquticos(florestas, matas, lagos, vrzeas e outros).
H dcadas discute-se sobre formas de gesto dos recursos hdricos passveis deevitar ou minimizar problemas de desabastecimento de gua no mundo. Entretan-to, muitos j so os pases e regies que sofrem com essas situaes.
Hofwegen & Svendsen (1999), enfocam trs princpios como fundamentais paradirecionar a gesto das guas. O primeiro deles afirma que todas as pessoasdevem ter acesso gua, em quantidade e qualidade suficientes para satisfazersuas necessidades bsicas de consumo, saneamento e alimentao, o que nosignifica dizer que elas no devam pagar ou trabalhar para isso, mas que asociedade deve ser organizada de forma que gua e alimentao sejam acessveisa todos. O segundo trata da obrigao moral da gerao atual em no superex-plorar ou degradar os recursos naturais existentes, dos quais dependero asgeraes futuras. O terceiro princpio relata a importncia da participao dapopulao nos processos de tomada de deciso relativos gesto dos recursoshdricos. Isso implica transparncia ao longo desses processos, por meio dadisponibilizao e discusso das informaespertinentes populao envolvida. As decises tomadas devem serembasadas nas leis vigentes e representar os anseios da maioria.
Portanto, como forma de ampliar o conhecimento da sociedade para que elapossa exercer de forma profcua seu papel na gesto das guas, este trabalhovem apresentar informaes gerais sobre a situao atual dos recursos hdricosno Brasil e no mundo.
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Recursos hdricos no mundo*
Segundo Population Reference Bureau (citado por Demanboro & Marioton,1999), mais de 1 bilho de pessoas j vive sem suficiente disponibilidade degua para consumo domstico e se estima que, em 30 anos, haver 5,5 bilhesde pessoas vivendo em reas com moderada ou sria falta dgua.
Atualmente, estima-se que a populao mundial seja de aproximadamente 6bilhes de habitantes e que, por volta do ano 2050, alcance de 10 a 12 bilhes(Organizacin Meteorolgica Mundial, 1997). Isso resulta na necessidade de,com a mesma quantidade de recursos naturais disponveis, atender s demandasde mais 5 bilhes de pessoas por gua, alimento, moradia, emprego e outras.
Considera-se, atualmente, que a quantidade total de gua na Terra, de 1386milhes de km, tenha permanecido de modo aproximadamente constante duranteos ltimos 500 milhes de anos. Vale ressaltar, todavia, que as quantidadesestocadas, nos diferentes reservatrios de gua, variaram substancialmente aolongo desse perodo (Shiklomanov, 1998).
A distribuio dos volumes estocados nesses reservatrios demonstrada naTabela 1 e nas Figuras 1 e 2, nas quais se verifica que 97,5% do volume totalde gua da Terra de gua salgada, formando os oceanos e, somente, 2,5% de gua doce. Ressalta-se que a maior parte dessa gua doce (68,7%) estarmazenada nas calotas polares e geleiras. A gua, contida em lagos e riosconfigura a forma de armazenamento em que os recursos hdricos esto maisacessveis ao uso humano, correspondendo a apenas 0,27% do volume degua doce da Terra e cerca de 0,007% do volume total.
Observa-se que, mesmo tendo a Terra um volume total de gua da ordem de1386 milhes de km, a parcela efetivamente disponvel ao uso humano muito pequena, apenas 0,007%.
As guas da Terra encontram-se em permanente movimento, constituindo ociclo hidrolgico. Desde os primrdios dos tempos geolgicos, a gua, lquidaou slida, transformada em vapor pela energia solar que atinge a superfcie daTerra (oceanos, mares, continentes e ilhas) e, pela transpirao dos organismosvivos, sobe para a atmosfera onde esfria progressivamente, dando origem snuvens. Essas massas de gua voltam para a Terra sob a ao da gravidade,principalmente, nas formas de chuva, neblina e neve.
* Adaptado de Lima, 2000. In: Setti et al., 2001.
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Outros1,2%
gua no subsolo
30,1%
gua congelada
68,7%
gua doce2,5%
gua salgada
97,5%
Tabela1. Distribuio da gua na Terra
Reservatrio Volume % do volume % do volume(10 km) total de gua doce
Oceanos 1.338.000,0 96,5379 -
Subsolo: 23.400,0 1,6883 -gua doce 10.530,0 0,7597 30,0607gua salgada 12.870,0 0,9286 -
Umidade do solo 16,5 0,0012 0,0471
reas congeladas: 24.064,1 1,7362 68,6971Antrtida 21.600,0 1,5585 61,6629Groenlndia 2.340,0 0,1688 6,6802rtico 83,5 0,0060 0,2384Montanhas 40,6 0,0029 0,1159
Solos congelados 300,0 0,0216 0,8564
Lagos: 176,4 0,0128 -gua doce 91,0 0,0066 0,2598gua salgada 85,4 0,0062 -
Pntanos 11,5 0,0008 0,0328
Rios 2,1 0,0002 0,0061
Biomassa 1,1 0,0001 0,0032
Vapor dgua na atmosfera 12,9 0,0009 0,0368
Armazenamento total de gua salgada 1.350.955,4 97,4726 -
Armazenamento total de gua doce 35.029,2 2,5274 100,0
Armazenamento total de gua 1.385.984,6 100,0 -
Fonte: Shiklomanov, 1997.
Figura 1. Total de gua da Terra. Figura 2. Distribuio da gua doce na Terra.
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O ciclo hidrolgico responsvel pelo movimento de enormes quantidades degua ao redor do mundo. Parte desse movimento rpido, pois, em mdia, umagota de gua permanece aproximadamente 16 dias em um rio e cerca de oitodias na atmosfera (Tabela 2). Entretanto, esse tempo pode estender-se pormilhares de anos para a gua que atravessa lentamente um aqfero profundo.Assim, as gotas de gua reciclam-se continuamente (Organizacin MeteorolgicaMundial, 1997).
O acesso ao volume total de gua estocada nos diferentes reservatriosexistentes na Terra no uma tarefa elementar, pois, como se verifica naTabela 2, o ciclo hidrolgico ocorre de forma muito varivel e dinmica.
Para satisfazer demanda de gua, a humanidade tem modificado o ciclohidrolgico desde o incio de sua histria, mediante construo de poos, debarragens, de audes, de aquedutos, de sistemas de abastecimento, de siste-mas de drenagem, de projetos de irrigao e de outras estruturas. Os governose entidades pblicas investem vultosos recursos para implementar e manteressas instalaes. No entanto, apesar dessas iniciativas, em 1995, aproximada-mente 20% dos 5,7 bilhes de habitantes da Terra sofriam com a falta de umsistema de abastecimento confivel de gua e, alm disso, mais de 50% dapopulao no dispunha de um sistema adequado de instalaes sanitrias(Organizacin Meteorolgica Mundial, 1997).
Tabela 2. Perodo de renovao da gua em diferentes reservatrios na Terra.
Reservatrios Perodo mdio de renovao
Oceanos 2500 anos
gua subterrnea 1400 anos
Umidade do solo 1 ano
reas permanentemente congeladas 9700 anos
Geleiras em montanhas 1600 anos
Solos congelados 10.000 anos
Lagos 17 anos
Pntanos 5 anos
Rios 16 dias
Biomassa algumas horas
Vapor dgua na atmosfera 8 dias
Fonte: Shiklomanov, 1997
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As formas mais importantes de armazenamento de gua doce para o uso dahumanidade e dos ecossistemas, por serem de mais fcil acesso, so rios,reservatrios e lagos que representam apenas 0,27% do volume total de guadoce da Terra, 93.100 km (Tabela 1). Entretanto, a contribuio de um nicocomponente do ciclo hidrolgico para a circulao global de gua no dependeapenas do volume estocado, mas, em grande parte, do seu perodo de renova-o. Com base nos dados da Tabela 2, verifica-se que o perodo para a renova-o da gua, em determinados meios, varia consideravelmente e, como a guados rios tem um tempo de permanncia muito curto em relao aos outrosreservatrios, ela favorece substancialmente a elevao da taxa de renovaoda gua atravs do ciclo hidrolgico.
O mesmo ocorre com o armazenamento da gua na atmosfera que de aproxi-madamente oito dias, isto , no prazo de uma a duas semanas, a gua que sobe atmosfera retorna superfcie da Terra, podendo reabastecer o fluxo dos rios, aumidade do solo, as reservas de gua subterrnea ou cair, diretamente, noslagos, oceanos e outros reservatrios, renovando suas reservas e melhorandosua qualidade medida que possibilita a diluio de seus constituintes.
Portanto, observa-se na Figura 3 que, anualmente, cerca de 119.000 km degua so precipitados sobre os continentes dos quais, aproximadamente,74.200 km3 evapotranspiram, retornando atmosfera em forma de vapor,42.600 km formam o escoamento superficial e 2200 km formam o escoa-mento subterrneo. Assim, esses 42.600 km constituem, em mdia, o limitemximo de renovao dos recursos hdricos em um ano.
Efetuando-se o balano das informaes contidas na Figura 3, nota-se que ociclo hidrolgico realmente um sistema fechado. Dos 119.000 km/anoprecipitados sobre os continentes, 74.200 km/ano (62%) retornam atmosferae 44.800 km/ano (38%) escoam at os oceanos. Por sua vez, nos oceanos,o volume precipitado de 458.000 km/ano, e a evaporao de502.800 km/ano, o que gera um excedente de vapor dgua na atmosfera de44.800 km/ano. Portanto, o volume de gua que escoa dos continentes paraos oceanos igual ao valor que retorna dos oceanos para os continentes emforma de vapor dgua, fechando o ciclo.
Com rios renovando-se to rapidamente, a humanidade tem acesso no somentea cerca de 2100 km de gua estocadas nas suas calhas (Tabela 1), mastambm aos valores correspondentes s suas descargas lquidas globais delongo perodo.
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Figura 3. Ciclo hidrolgico mdio anual da Terra.
Fonte: Adaptado de Shiklomanov, 1998.
Onde:PC = precipitao nos continentes;EvtC = evapotranspirao nos continentes;ESS = escoamento superficial;ESB = escoamento bsico ou subterrneo;Po = precipitao nos oceanos;Eo = evaporao nos oceanos.
Para o gerenciamento adequado dos recursos hdricos, fundamental a determi-
nao da quantidade de gua disponvel em uma dada regio. Por isso, a
medio regular dos principais elementos que controlam o ciclo hidrolgico,
quais sejam, a precipitao, a evapotranspirao, o escoamento e o armazena-
mento da gua no solo, nos aqferos, nas represas e nas geleiras, configura a
principal base para a gesto das guas. Outro dado importante a ser considerado
a qualidade da gua, pois, em funo desse parmetro, seu aproveitamento
limitado para algumas atividades. A Tabela 3 apresenta uma estimativa da
quantidade total de instrumentos da rede mundial de monitoramento hidrolgico.
P = 119.000 km
EVT = 74.200 km
ES = 42.600 km
P = 458.000 km
E = 502.800 km
ES = 2.200 km
s
3
o
o
3
3c
c
3
3
3
B
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Tabela 3. Rede hidromtrica mundial.
Parmetro Hidrolgico Instrumentos N de estaes
Precipitao Pluvigrafos e pluvimetros 194.000Evaporao Tanques e mtodos indiretos 14.000Escoamento Limngrafos e limnmetros 64.000Fluxo de sedimento - 16.000Qualidade da gua - 44.000gua subterrnea Poos de observao 146.000
Fonte: Organizacin Meteorolgica Mundial, 1997.
Apesar da grande quantidade de instrumentos de medio, a cobertura da redehidromtrica mundial ainda no adequada, principalmente nos pases emdesenvolvimento. Na realidade, os governos e os empresrios investem milhesem projetos sustentados por bases de dados frgeis, podendo inviabilizar seusempreendimentos. Entretanto, esses so, muitas vezes, incapazes de perceberque aplicando somas muito menores na gerao de dados bsicos confiveis,poderiam reduzir sensivelmente seus riscos.
O valor econmico das informaes hidrolgicas obtidas de uma redehidromtrica pode ser aferido por meio da reduo das perdas em fenmenoshidrolgicos extremos (cheias e secas), das perdas de oportunidades de usodevido carncia de conhecimento sobre seus reais potenciais de aproveita-mento e do aumento da segurana de projetos e obras que sero dimensiona-dos adequadamente, sem que haja super ou subdimensionamento de estruturaspor causa de fatores hidrolgicos. A relao benefcio/custo dos dados einformaes hidrolgicos significativamente superior a um, alcanando valoresentre 6,4 e 9,3, conforme estudos feitos na Austrlia e no Canad (Whycos,1999).
A Organizao Meteorolgica Mundial (OMM), em colaborao com o BancoMundial, a Unio Europia e outros organismos, administra o Sistema Mundialde Observao do Ciclo Hidrolgico (World Hydrological Cycle ObservingSystem - WHYCOS). previsto, nesse projeto, acrscimo de aproximadamentemil estaes rede hidromtrica j existente que iro proporcionar dados sobrea qualidade e quantidade da gua em todo o mundo, praticamente em temporeal (telemetria).
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Com a utilizao dos dados hidrolgicos existentes, tem-se realizado estimativasdo volume mdio anual de todos os rios do mundo, representando a soma dosrecursos hdricos superficiais da Terra. Esse volume utilizado como o limitemximo de consumo mundial da gua em um ano (Organizacin MeteorolgicaMundial, 1997).
Pode-se observar, na Figura 4, que os volumes disponveis para o uso humano edos ecossistemas, nos 65 anos analisados, oscilaram entre 39.600 km/ano e44.500 km/ano, sendo a mdia do perodo de 42.600 km/ano.
Estima-se que a demanda total de gua no mundo, no ano 2000, foi de3940 km (Tabela 4), o que representa menos de 10% do volume totaldisponvel. Portanto, em nvel global, no h escassez hdrica, porm, a mdistribuio espacial e temporal dos recursos hdricos faz com que algumasreas sofram permanentemente por falta dgua. Outro fator importante para aindicao de zonas com escassez de gua est relacionado com a distribuiopopulacional na Terra.
Alm dos dados referentes aos parmetros do ciclo hidrolgico, fundamentalo conhecimento das vazes requeridas pelos usurios e dos benefcios geradospara subsidiar a tomada de deciso dos gerenciadores dos recursos hdricos dedada localidade.
Figura 4. Variao do volume mdio escoado em todos os rios do mundo
Fonte: Shiklomanov, 1998.
39000
40000
41000
42000
43000
44000
45000
1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980
Anos
Vaz
o e
stim
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rios
da T
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m)
42600
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Setor
Tabela 4. Dinmica do uso da gua no mundo por setor (km3/ano).
Calculado Estimado
1900 1940 1950 1960 1970 1980 1990 1995 2000 2010 2025
Populao 2493 2963 3527 4313 5176 5520 5964 6842 8284
(milhes de hab.)
rea irrigada 47 76 101 142 173 200 243 254 264 288 329
(milhes de ha)
Uso agrcola 525 891 1124 1541 1850 2191 2412 2503 2595 2792 3162
*407 678 856 1183 1405 1698 1907 1952 1996 2133 2377
Uso industrial 38 127 182 334 548 683 681 715 748 863 1106
*3 10 14 25 38 62 73 80 87 111 146
Abastecimento 16 37 53 83 130 208 321 354 386 464 645
*4 9 14 20 29 42 53 57 62 68 81
Reservatrios 0.3 3.7 6.5 22.7 65.9 119 164 188 211 239 275
Total 579 1066 1365 1985 2574 3200 3580 3760 3940 4360 5187
*415 705 894 1250 1539 1921 2196 2275 2354 2550 2879
Como demonstrado nas Figuras 5 e 6, obtidas da Tabela 4, para o ano de1995, a atividade agrcola apresentada como a responsvel pela captao decerca de 70% de toda a gua utilizada no mundo. Entretanto, alm de possibili-tar a produo de alimentos em regies ou perodos secos, a irrigao aindapermite a obteno de at trs safras por ano em uma mesma rea onde s erapossvel, naturalmente, a obteno de uma, da a grande importncia dessaprtica para a produo mundial de alimentos. Um dado que comprova essaassertiva o de que as terras irrigadas, aproximadamente 16% das terrascultivadas no mundo, so responsveis pela produo de cerca de 40% dosalimentos (Iturri, 1999).
Em valores mdios, em um ciclo da cultura feijo sob irrigao, por exemplo,produz-se cerca de 2500 kg/ha de gros, com um consumo de 400 mm degua. Portanto, considerando esses dados, para produzir 1 kg de feijo, necessrio 1,6 m de gua. Na cultura de trigo irrigado, para uma produtividadede 5000 kg/ha, so utilizados cerca de 500 mm de gua, resultando em umarelao de 1 kg de trigo para cada 1 m de gua utilizado. J para a produode 1kg de arroz, certamente h maior consumo de gua que para as culturas defeijo e trigo. Segundo o International Water Management Institute IWMI(citado por Cosgrove & Rijsberman, 1999), para gros, a produtividade mdiada gua, em termos de produo por m consumido, est entre 0,2 kg/m e1,5 kg/m, podendo, para fins de estimativa, ser utilizado o valor igual a 1 kgde gro por 1 m de gua. Sendo a produo mundial de gros de aproximada-
* Volume de gua efetivamente consumido.Fonte: Shiklomanov, 1997.
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mente 1.970.331.000 t/ano (FAO, citado por World ..., 1999) e considerandoque cerca de 40% desta produo provm de reas irrigadas (adaptado de Iturri,1999), pode-se estimar em cerca de 800.000.000 t/ano a safra mundial degros irrigados. Para que isto seja vivel, segundo os dados da IWMI, sonecessrios, aproximadamente, 800 km de gua por ano, volume considerveldiante da estimativa de que, hoje, so consumidos, no mundo, cerca de4000 km de gua por ano. Cabe ressaltar, ainda, que essa estimativa tratouapenas de gros produzidos sob irrigao.
Com base nos valores apresentados na Tabela 4, nota-se que o setor agrcola o maior consumidor de gua e que, do volume total captado para esse fim,muito pouco permanece na regio, sendo, em sua grande parte, transferidopara a atmosfera por meio da evapotranspirao.
Com os dados da Tabela 4, tem-se que, em 1995, foram captados para o usoagrcola, aproximadamente, 2503 km, e, desse valor, 1952 km foramefetivamente consumidos, de forma que apenas 551 km dos 2503 kmcaptados, em mdia, retornaram aos rios, ou seja, 22%. Devido necessidadede captao de grandes volumes, 70% do total e baixa taxa de retorno dagua captada aos rios, o setor agrcola, principalmente, quanto irrigao, considerado o maior usurio de gua entre todos os setores.
Na Figura 7, pode-se notar como o volume de gua utilizado pelo homem vemcrescendo ao longo dos anos. No incio do sculo XX, esse valor era de aproxima-damente 580 km/ano e, ao final do sculo, chega a quase 4000 km/ano.Enquanto isso, no mesmo perodo, a populao apresentou aumento de aproxima-damente dois bilhes de habitantes, chegando a cerca de seis bilhes. Portanto, ovolume de gua utilizado aumentou de seis a sete vezes, enquanto a populaona Terra aumentou em aproximadamente trs vezes durante o sculo XX.
Figura 5. Distribuio do volume totalde gua captado por setor.
Figura 6. Distribuio do volume degua efetivamente consumido por setor.
Uso Industrial20,0%
Abastecimento9,9%
Uso agrcola70,1%
Uso Industrial3,8%
Abastecimento2,8%
Uso agrcola93,4%
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Figura 7. Evoluo do volume de gua utilizado por diversos setores ao longo dos anos.Fonte: Shiklomanov, 1997.
As crescentes demandas de gua acarretam problemas em muitas partes domundo. Em alguns casos, seu uso indiscriminado tem ocasionado o secamentototal de rios, audes, lagos e aqferos subterrneos. Lamentavelmente, grandeparte da gua extrada para as atividades humanas, qualquer que seja a suafonte, utilizada de maneira inadequada.
Na irrigao, por exemplo, cerca de 60% da gua captada perde-se em decorrn-cia da inadequao dos sistemas de distribuio e de aplicao. Ademais, a guaperdida por infiltrao pode elevar o nvel do lenol fretico, promovendo oencharcamento e a salinizao de aproximadamente 20% das terras irrigadas nomundo, o que reduz consideravelmente o rendimento dos cultivos. Outraconseqncia da gesto deficiente dos recursos hdricos e do solo a erosoque ocasiona perdas na produo e degrada os recursos hdricos ao introduzirgrandes volumes de sedimentos nos cursos dgua. O desperdcio de gua,contudo, no exclusividade da irrigao. A indstria e os sistemas de abaste-cimento tambm apresentam considervel ineficincia quanto efetiva utiliza-o da gua (Organizacin Meteorolgica Mundial, 1997).
Exemplos de problemas como os que vm ocorrendo no Mar de Aral transmitemuma clara mensagem sobre o uso excessivo dos recursos hdricos. Alimentadopelos Rios Amu Daria e Syrdania, com aproximadamente 50 km/ano, deveriaser uma das principais massas de guas interiores do mundo. Desde 1960,grande parte da vazo desses rios passou a ser derivada para a irrigao dealgodo, de arroz e de outros cultivos. A situao chegou a ponto tal desuperexplorao que o espelho dgua do Mar de Aral j foi reduzido emaproximadamente 50% e seu nvel j desceu cerca de 15 m. O resultado
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catastrfico para os habitantes dessa bacia. A indstria pesqueira desapareceu, aconcentrao de sais muito elevada, tornando a gua txica para o consumohumano e nociva para os cultivos, e a irrigao ineficaz tem causado o enchar-camento e a salinizao dos solos. Esses e outros problemas, como acontaminao da gua pelos dejetos domsticos e industriais, acabam porcaracterizar um panorama de ecossistema totalmente destrudo (OrganizacinMeteorolgica Mundial, 1997).
Existem muitos outros exemplos de locais onde a falta de manejo adequado dosrecursos hdricos tem causado problemas. No Norte da China, o nvel das guassubterrneas tem reduzido, em mdia, cerca de 1,5 m/ano. Os poos dessaregio esto secando e obrigando os agricultores irrigantes a aprofund-los ou aabandonar a agricultura irrigada para voltar a praticar a de sequeiro. Na ndiacuja populao superou 1 bilho de habitantes em 1999, o bombeamento dagua subterrnea tem sido to intenso que especialistas estimam que aproduo de gros naquele pas dever ser reduzida em mais de 25%, comoresultado do rebaixamento dos nveis de seus aqferos. Nas plancies doSudeste dos Estados Unidos, a depleo do aqfero de Ogallala tem afetado aagricultura irrigada. Oklahoma, Kansas e Colorado vem reduzindo suas reasirrigadas h duas dcadas e o Texas, por exemplo, em aproximadamente 1% aoano, desde 1980, devido escassez de gua. O Rio Amarelo (Yellow River),bero da civilizao chinesa, secou pela primeira vez em 1972. Desde 1985,ele seca durante determinado perodo do ano. Em 1997 ele permaneceu secodurante sete meses (Brown & Halweil, 2000).
Alm dos prejuzos para as prticas agrcolas, estima-se que mais de 5 milhesde pessoas morrem anualmente de doenas, vinculadas ao consumo de guacontaminada, servios sanitrios inadequados e falta de higiene (OrganizacinMeteorolgica Mundial, 1997). Conflitos blicos por causa da escassez de guaso constantes em determinadas regies do mundo. Atualmente, o mais grave vivenciado por israelenses e palestinos cujos mananciais disponveis depen-dem de acordos entre Jordnia, Sria, Lbano, Egito e Arbia Saudita. O territ-rio Palestino, sob controle de Israel desde 1967, corresponde s reas derecarga dos aqferos dessa regio to escassa em recursos hdricos.
Como possvel observar na Tabela 5, a distribuio espacial dos recursoshdricos no mundo muito irregular, assim como a distribuio demogrfica. Odado de volume total de gua de cada pas no de grande importncia, poisest diretamente relacionado com a sua rea geogrfica. Entretanto, nota-seque a variabilidade entre os valores mximos e mnimos de recursos hdricosdisponveis muito alta, podendo contribuir para a gerao de problemassazonais de escassez.
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Tabela 5. Situao hdrica em alguns pases do mundo.
Produo Hdrica (km/ano) Produo Hdrica
Pas rea Populao mdio mximo mnimo por rea per capita
(10 km) (10 hab) (m/km.ano) (m/hab.ano)
Austrlia 7680 17.900 352 701 228 45.833,3 19.664,80Albnia 30 3410 18,6 42,9 13,1 620.000,0 5454,55Arglia 2380 27.300 13,9 5840,3 509,16Argentina 2.780 34.200 270 610 150 97.122,3 7894,74Bolvia 1100 7240 361 487 279 328.181,8 49.861,88Brasil* 8512* 157.070* 5745* 7640 5200 674.918,9* 36.575,46*Burkina Faso 270 10.000 14,7 54.444,4 1470,00Canad 9980 29.100 3290 3760 2910 329.659,3 113.058,42Chile 760 14.000 354 465.789,5 25.285,71China 9600 1.209.000 2700 3930 1970 281.250,0 2233,25Colmbia 1140 34.300 1200 1.052.631,6 34.985,42Congo 2340 42.600 987 1328 786 421.794,9 23.169,01Cuba 110 11.000 84,5 768.181,8 7681,82Equador 280 11.200 265 946.428,6 23.660,71Espanha 510 39.600 108 253 27,2 211.764,7 2727,27Estados Unidos 9360 261.000 2810 3680 1960 300.213,7 10.766,28Frana 550 57.800 168 263 90,3 305.454,5 2906,57Gambia 10 1080 3,2 320.000,0 2962,96Guatemala 110 10.300 116 1.054.545,5 11.262,14
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Tabela 5. Continuao..
Produo Hdrica (km/ano) Produo Hdrica
Pas rea Populao mdio mximo mnimo por rea per capita
(10 km) (10 hab) (m/km.ano) (m/hab.ano)
Honduras 110 5490 102 927.272,7 18.579,23ndia 3270 919.000 1456 1794 1065 445.259,9 1584,33Itlia 300 57.200 185 616.666,7 3234,27Jordnia 100 5200 0,96 9600,0 184,62Jamaica 10 2430 8,3 830.000,0 3415,64Kasaquisto 2720 17.000 70,2 111 39,3 25.808,8 4129,41Lbano 10 3060 2,8 280.000,0 915,03Lbia 1760 5220 5,29 3005,7 1013,41Madagascar 590 14.300 395 669.491,5 27.622,38Mali 1240 10.500 50 40.322,6 4761,90Mauritnia 1030 2220 0,4 388,3 180,18Mxico 1970 91.900 347 645 229 176.142,1 3775,84Marrocos 447 26.500 30 67.114,1 1132,08Nicargua 130 4270 175 1.346.153,8 40.983,61Nigria 920 109.000 274 437 148 297826,1 2513,76Nova Zelndia 270 3500 313 405 246 1.159.259,3 89.428,57Paquisto 810 137.000 85 140 48 104.938,3 620,44Panam 80 2580 144 1.800.000,0 55.813,95Peru 1280 23.300 1100 859.375,0 47.210,30
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Tabela 5. Continuao..
Produo Hdrica (km/ano) Produo Hdrica
Pas rea Populao mdio mximo mnimo por rea per capita
(10 km) (10 hab) (m/km.ano) (m/hab.ano)
Polnia 310 38.300 49,5 159.677,4 1292,43Portugal 90 9830 18,5 157 15,2 205.555,6 1881,99Rssia 17.080 148.000 4059 4541 3533 237.646,4 27.425,68Senegal 200 8100 17,4 87.000,0 2148,15Sudo 2510 27.400 22 8764,9 802,92Suriname 160 420 230 1.437.500,0 547.619,05Sucia 450 8740 164 364.444,4 18.764,30Tailndia 510 58.200 199 390.196,1 3419,24Tunsia 160 8730 3,52 22.000,0 403,21Uruguai 180 3170 68 377.777,8 21.451,10Uzbequisto 450 20.300 9,52 19,7 4,98 21.155,6 468,97
* Fonte: Freitas (ed.), 1999.Fonte: Adaptado de Shiklomanov, 1998 (exceto dados referentes ao Brasil).
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Na anlise dos dados de produo hdrica por unidade de rea de cada pas,so facilmente perceptveis as grandes diferenas existentes na distribuiogeogrfica dos recursos hdricos. Tais valores, nos dados apresentados,variaram de 388,3 m/km.ano na Mauritnia a 1.800.000 m/km.ano noPanam. O mesmo ocorre com a disponibilidade de recursos hdricos porhabitante em cada regio. Tanto a m distribuio espacial dos recursoshdricos quanto a da populao sobre a Terra acabam gerando os maisdiferentes cenrios. H situaes em que a escassez hdrica decorre dabaixa disponibilidade de gua na regio em dado momento e, em outros,mesmo havendo alta disponibilidade, a escassez decorrente da excessivademanda de utilizao desses recursos.
O conceito de estresse hdrico est baseado nas necessidades mnimas degua per capita para manter uma qualidade de vida adequada em regiesmoderadamente desenvolvidas situadas em zonas ridas. A definiobaseia-se no pressuposto de que 100 litros dirios (36,5 m/ano)representam o requisito mnimo para suprir as necessidades domsticas emanuteno de um nvel adequado de sade (Beekman, 1999).
Segundo Beekman (1999), a experincia tem demonstrado que pases emdesenvolvimento e relativamente eficientes no uso da gua requerem entre5 a 20 vezes o valor de 36,5 m/hab.ano para satisfazer tambm snecessidades da agricultura, indstria, gerao de energia e outros usos.Baseado nessas determinaes, foram definidos patamares especficos deestresse hdrico (Tabela 6).
Com base nos valores das Tabelas 5 e 6, pode-se observar que muitospases j apresentam patamares de disponibilidade hdrica por habitantecorrespondentes a um quadro de escassez. Os pases que se encontramcom os piores ndices so a Mauritnia, a Jordnia, a Tunsia e oUzbequisto, com volumes abaixo de 500 m/hab.ano e a Arglia, oPaquisto e o Lbano, com disponibilidade hdrica entre 500 e1000 m/hab.ano.
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Tabela 6. Patamares especficos de estresse hdrico.
Volume disponvel per capita Situao m/hab.ano
> 1700 - Apenas ocasionalmente tender a sofrer problemas de falta dgua.
1000 - 1700 - O estresse hdrico peridico e regular. 500 - 1000 - A regio est sob o regime de crnica escassez
de gua;- Nesses nveis, a limitao na disponibilidade comea a afetar o desenvolvimento econmico, o bem-estar e a sade.
< 500 - Considera-se que a situao corresponde escassez absoluta.
Fonte: Beekman, 1999.
Recursos hdricos no Brasil*
Com uma rea de 8.512.000 km e cerca de 157 milhes de habitantes, o Brasil hoje o quinto pas do mundo em extenso territorial e em populao. Comdimenses continentais, os contrastes existentes quanto ao clima, distribuiopopulacional, ao desenvolvimento econmico e social, entre outros fatores, somuito grandes, fazendo com que o pas apresente os mais variados cenrios.
Como se pode observar, o Brasil tem uma posio privilegiada perante a maioriados pases quanto ao seu volume de recursos hdricos (Tabela 5). Porm, comose observa na Tabela 7, mais de 73% da gua doce produzida no Pas encontra-se na bacia Amaznica que habitada por menos de 5% da populao. Portan-to, apenas 27% dos recursos hdricos brasileiros esto disponveis para 95% dapopulao.
Fato importante a ser esclarecido a diferena entre a produo hdrica brasileirae a sua disponibilidade hdrica. Como se observa na Tabela 7, a produo hdricada Bacia Amaznica, de 133.380 m/s, refere-se apenas ao incremento de vazogerado em territrio brasileiro. Visto que essa bacia tem suas nascentes em
* Adaptado de Lima, 2000. In: Setti et al., 2001.
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outros pases, a disponibilidade hdrica no territrio brasileiro igual soma dagua que vem desses pases para o Brasil, mais sua produo. A vazo mdia daBacia Amaznica estimada em 209.000 m/s em sua foz (Molinier et al.,1994). Portanto, a disponibilidade hdrica total da Bacia Amaznica brasileira de 209.000 m/s (6591 km/ano), enquanto sua produo hdrica de133.380 m/s (4206 km/ano). Nas outras bacias transfronteirias, no neces-srio fazer esse tipo de correo, pois suas nascentes ficam em territrio brasilei-ro. Sendo assim a disponibilidade hdrica brasileira de 257.790 m/s (8130km/ano), 19% dos recursos hdricos disponveis no mundo (42.600 km/ano).
A idia de abundncia serviu durante muito tempo como suporte cultura dodesperdcio da gua disponvel, no-realizao dos investimentos necessriospara seu uso e proteo mais eficientes e sua pequena valorizao econmica.
Os problemas de escassez hdrica no Brasil decorrem, fundamentalmente, dacombinao do crescimento exagerado das demandas localizadas e da degrada-o da qualidade das guas. Esse quadro conseqncia do aumento desorde-nado dos processos de urbanizao, industrializao e expanso agrcola,verificado a partir da dcada de 1950.
O crescimento demogrfico brasileiro associado s transformaes por quepassou o perfil da economia do Pas refletiu-se de maneira notvel sobre o usode seus recursos hdricos na segunda metade do sculo.
A migrao da populao do campo para a cidade e a industrializao, alm deexercerem significativo aumento na demanda por guas dos mananciais,tambm exigiram o crescimento do parque gerador de energia eltrica que, porsua vez, implicou a necessidade de construo aprecivel de aproveitamentoshidreltricos. Adicionalmente, o aumento da populao demandou por maiorproduo de alimentos, o que veio a encontrar na agricultura irrigada o canalapropriado para satisfazer essa demanda.
Ao longo da dcada de 70, e de forma ainda mais intensa na de 80, a sociedadecomeou a despertar para as ameaas a que estaria sujeita se no mudasse decomportamento quanto ao uso de seus recursos hdricos. Nesse perodo, vriascomisses interministeriais foram institudas para encontrar solues para agesto das guas no Brasil.
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Tabela 7. Informaes bsicas sobre as bacias hidrogrficas brasileiras.
rea Densidade Vazo Produo DisponibilidadeN Bacia Hidrogrfica 10 km % Populao* hab/km m/s hdrica per capita
Habitante % km/ano % m/hab.ano
1 Amaznica** 3900 45,8 6.687.893 4,3 1,7 133.380 4206 73,2 628.938,242 Tocantins 757 8,9 3.503.365 2,2 4,6 11.800 372 6,5 106.219,253a Atlntico Norte/ 1029 12,1 31.253.068 19,9 30,4 9.050 285 5,0 9.131,93
Nordeste4 So Francisco 634 7,4 11.734.966 7,5 18,5 2.850 90 1,6 7.658,965 Atlntico Leste 545 6,4 35.880.413 22,8 65,8 4.350 137 2,4 3.823,306a Paraguai** 368 4,3 1.820.569 1,2 4,9 1.290 41 0,7 22.345,456b Paran 877 10,3 49.924.540 31,8 56,9 11.000 347 6,0 6.948,417 Uruguai** 178 2,1 3.837.972 2,4 21,6 4.150 131 2,3 34.099,888 Atlntico 224 2,6 12.427.377 7,9 55,5 4.300 136 2,4 10.911,78
SudesteBrasil 8512 100 157.070.163 100 18,5 182.170 5745 100 36.575,46
* Anurio..., 1996.** Produo hdrica apenas em territrio brasileiro.Fonte: Informaes..., 1999.
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Apesar de a legislao sobre o direito das guas vigorar desde 1934, o Cdigo
de guas, no foi capaz de incorporar meios para combater o desconforto
hdrico, a contaminao das guas e os conflitos de uso, tampouco de promover
uma gesto descentralizada e participativa, exigncias atuais. Foi exatamente
para preencher essa lacuna que foi promulgada a Lei n 9.433 de janeiro de
1997 cujo projeto foi exaustivamente debatido durante os anos 80 e 90.
No que concerne aos princpios bsicos da Lei n 9.433/1997, destaca-se
(Brasil, 1999):
a) A adoo da bacia hidrogrfica como unidade de planejamento, pois,
tendo-se os seus limites como base para definir o permetro da rea a ser
planejada, fica mais fcil fazer o confronto entre as disponibilidades e as
demandas, essencial para o estabelecimento do balano hdrico;
b) O princpio dos usos mltiplos da gua que coloca todas as categorias
usurias em igualdade de condies ao acesso a esse recurso natural. No
Brasil, tradicionalmente, o setor eltrico atuava como nico agente do proces-
so de gesto dos recursos hdricos superficiais, ilustrando a clara assimetria de
tratamento conferida pelo poder central, durante a primeira metade do sculo
XX, favorecendo esse setor em detrimento das demais categorias usurias da
gua. O rpido crescimento da demanda por outros usos da gua fez com que
a necessidade de implementao deste princpio fosse ressaltada;
c) O reconhecimento da gua como bem finito e vulnervel serve de alerta para
a necessidade de se adotar medidas para sua conservao e preservao;
d) O reconhecimento do valor econmico da gua serve de base para a
instituio da cobrana pela utilizao dos recursos hdricos, configurando
importante indutor de seu uso racional; e,
e) A gesto descentralizada e participativa enseja aos usurios, sociedade
civil organizada, s ONGs e a outros agentes interessados a possibilidade de
influenciar no processo de tomada de deciso sobre recursos hdricos.
Ainda so aspectos relevantes da Lei n 9.433/97 o estabelecimento de cinco
instrumentos de poltica para o setor (Brasil, 1999):
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28 Recursos Hdricos no Brasil e no Mundo
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a) Os Planos de Recursos Hdricos que so os documentos programticos parao setor no espao de cada bacia. Trata-se de trabalho de profundidade, nos de atualizao das informaes regionais que influenciam a tomada dedeciso na regio da bacia hidrogrfica, mas que tambm procura definir,com clareza, a repartio das vazes entre os usurios;
b) O enquadramento dos corpos dgua em classes de usos preponderantes extremamente importante para se estabelecer um sistema de vigilnciasobre os nveis de qualidade da gua dos mananciais. Esse instrumentofavorece a ligao entre a gesto da quantidade e da qualidade da gua;
c) A outorga de direito de uso dos recursos hdricos o mecanismo pelo qual ousurio recebe autorizao ou concesso para fazer uso da gua. A outorgade direito, juntamente com a cobrana pelo uso da gua, constitui relevanteelemento para o controle do uso dos recursos hdricos, contribuindo tambmpara a disciplina desse uso;
d) A cobrana pelo uso da gua, essencial para criar as condies deequilbrio entre as foras da oferta (disponibilidade da gua) e da demanda,promovendo, em conseqncia, a harmonia entre os usurios competidores,ao mesmo tempo em que tambm promove a redistribuio dos custossociais, a melhoria da qualidade dos efluentes lanados, alm de ensejar aformao de fundos financeiros para o setor;
e) O Sistema Nacional de Informaes sobre Recursos Hdricos, destinado acoletar, organizar, criticar e difundir a base de dados relativa aos recursoshdricos, seus usos, o balano hdrico de cada manancial e de cada bacia,provendo os gestores, os usurios, a sociedade civil e outros segmentosinteressados, com as condies necessrias para opinar no processodecisrio ou mesmo para tomar suas decises.
Para a implementao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos e coordenaodo Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos, criou-se, por meioda Lei N 9.984, de 17 de julho de 2000, a Agncia Nacional de guas ANA,a qual caber a implantao e aplicao da Lei N 9.433, de janeiro de 1997,segundo seus princpios, instrumentos de ao e seu arranjo institucionalprevistos (Conselho Nacional de Recursos Hdricos, comits de bacias hidrogr-ficas, agncias de gua e os rgos e entidades do servio pblico federal,estadual e municipal).
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Pode-se notar que o setor de recursos hdricos no Brasil est ganhando impor-tncia e despertando o interesse da sociedade, no apenas pelas constantesdiscusses em nvel governamental, mas pela prpria mdia, que constantementetem abordado o tema. S o fato da abertura dos problemas para a reflexo edebate por parte de tcnicos e de toda a sociedade, j um grande avano paraque o Pas, futuramente, tenha um modelo sustentvel de desenvolvimento noque diz respeito ao aproveitamento da gua.
Na atualidade brasileira, evidente o crescimento do nmero de conflitos entreos diversos usurios dos recursos hdricos. Exemplos em grande escala podemser observados na Bacia do Rio So Francisco, onde se mostra preocupante arelao entre a capacidade de suporte dos rios e as projees da demanda degua para a irrigao, para a navegao, para o projeto de transposio, para oabastecimento humano e de animais e para a manuteno dos atuais aproveita-mentos hidreltricos. No Sudeste, evidenciam-se os conflitos pela utilizao dasguas dos Rios Paraba do Sul, Piracicaba e Capivari, para citar apenas algunscasos. No Sul, a enorme demanda para a irrigao de arrozais e a degradaoda qualidade da gua, principalmente em regies de uso agropecurio intenso,so os casos mais visveis.
Conforme citado, a existncia de uma rede hidromtrica bem distribuda para aelaborao de um banco de dados consistente e confivel fundamental para agesto dos recursos hdricos.
Atualmente, a administrao da principal rede de estaes hidromtricasnacional encontra-se em processo de transferncia da Agncia Nacional deEnergia Eltrica ANEEL, para a Agncia Nacional de guas ANA. Portanto,alm da rede hidromtrica, a ANA tambm passa a ser, a partir de 2002,responsvel pelo gerenciamento do banco de dados gerado por essa rede (Tabela8).
Os dados obtidos da rede hidromtrica apresentada servem de base para estudosdos parmetros do ciclo hidrolgico e suas variaes no tempo e espao, bemcomo para projetos de engenharia e estudos ambientais. O conhecimento dasvazes requeridas pelos diferentes usurios da gua de cada regio e bacia,tambm so fundamentais para subsidiar as tomadas de deciso referentes aoaproveitamento dos recursos hdricos.
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Tabela 8. Distribuio da rede de estaes hidromtricas sob gesto da ANA.
rea Pluviometria Fluviometria Sedimentometria Qualidade da gua
Bacia (10 km) Quant. (km/Est) Quant. (km/Est) Quant. (km/Est) Quant. (km/Est)
Amaznica 3.900 352 11.080 243 16.049 57 68.421 57 68.421Tocantins 757 182 4.159 94 8.053 16 47.313 16 47.313Atlntico 1.029 234 4.397 193 5.332 40 25.725 42 24.500Norte/NordesteSo Francisco 634 237 2.675 169 3.751 32 19.813 32 19.813Atlntico Leste 545 392 1.390 317 1.719 73 7.466 71 7.676Paran/Paraguai 1.245 572 2.177 347 3.588 118 10.551 121 10.289Uruguai 178 122 1.459 84 2.119 47 3.787 47 3.787Atlntico Sudeste 224 169 1.325 109 2.055 44 5.091 44 5.091Brasil 8.512 2.260 3.766 1.556 5.470 427 19.934 430 19.795
Fonte: Informaes ..., 1999.
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1950 1954 1958 1962 1966 1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998
Anos
re
a Irrig
ada
(103 h
a)Sendo o setor de agricultura irrigada o maior usurio dos recursos hdricos emtodo o mundo e o Brasil um pas com grande potencial de seu uso para aproduo de alimentos, o acompanhamento de seu desenvolvimento, nasdiferentes regies fundamental para a prospeco da demanda e soluo deeventuais conflitos.
Segundo Christofidis (1999), no Brasil os solos aptos irrigao no Brasiltotalizam aproximadamente 29,6 milhes de hectares quando somadas as reasem terras altas (16,1 milhes de hectares) com as das vrzeas (13,5 milhesde hectares). Entretanto, atualmente, menos de 10% dessas reas vm sendoexploradas, 2,87 milhes de hectares, demonstrando seu potencial, no s deexpanso, como tambm de gerao e ampliao de conflitos pelo uso da gua.
A Figura 8 e a Tabela 8, a seguir, apresentam a evoluo da rea irrigada noBrasil desde 1950, e a demanda de gua estimada para o ano de 1998, porEstado, respectivamente.
O acompanhamento e o controle de informaes, como as expostas naTabela 9, para a prtica de irrigao e para outros usos, formam a basepara uma adequada gesto dos recursos hdricos em dada regio.
Figura 8. Evoluo das reas irrigadas no Brasil.
Fonte: Christofidis, In: Lima et al., 1999.
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Tabela 9. Demanda anual de gua para irrigao no Brasil, por regies e Estados 1998.
Regio/Estado rea gua derivada gua consumida gua derivada gua consumida Eficincia de irrigada dos mananciais pelos cultivos dos mananciais pelos cultivos irrigao(hectares) (mil m/ano) (mil m/ano) (m/ha.ano) (m/ha.ano) %
Norte 86.660 836.900 461.320 9.657 5.323 55,1
Rondnia 2230 20.168 11.536 9044 5173 57,2Acre 660 6137 3332 9298 5049 54,3Amazonas 1710 21.466 12.107 12.553 7080 56,4Roraima 5480 63.966 35.428 11.545 6465 56,0Par 6850 86.461 46.169 12.622 6740 53,4Amap 1840 18.799 10.922 10.217 5936 58,1Tocantins 67.890 619.903 341.826 9131 5035 55,1
Nordeste 495.370 8.114.586 5.340.146 16.380 10.780 65,8
Maranho 44.200 815.446 499.283 18.449 11.296 61,2Piau 24.300 445.929 272.257 18.351 11.204 61,1Cear 82.400 1.426.014 922.633 17.306 11.197 64,7Rio Grande do Norte 19.780 310.961 221.556 15.721 11.201 71,2Paraba 32.690 471.521 333.798 14.424 10.211 70,8Pernambuco 89.000 1.619.355 1.046.640 18.195 11.760 64,6Alagoas 8950 155.014 102.495 17.320 11.452 66,1Sergipe 25.840 427.600 293.026 16.548 11.340 68,5Bahia 168.210 2.442.746 1.648.458 14.522 9800 67,5
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Tabela 9. Continuao.
Regio/Estado rea gua derivada gua consumida gua derivada gua consumida Eficincia de irrigada dos mananciais pelos cultivos dos mananciais pelos cultivos irrigao(hectares) (mil m/ano) (mil m/ano) (m/ha.ano) (m/ha.ano) %
Sudeste 890.974 9.497.223 6.223.402 10.659 6.985 65,5
Minas Gerais 293.400 3.429.553 2.055.560 11.689 7006 59,9Esprito Santo 65.774 620.775 411.088 9438 6250 66,2Rio de Janeiro 76.800 1.121.050 639.974 14.597 8333 57,1So Paulo 445.000 4.325.845 3.116.780 9721 7004 72,1Sul 1.195.440 13.696.405 8.521.624 11.457 7128 62,2Paran 62.300 615.088 411.180 9873 6600 66,9Santa Catarina 134.340 1.660.039 934.066 12.357 6953 56,3Rio Grande do Sul 998.800 11.421.278 7.176.378 11.435 7185 62,8
Centro-Oeste 201.760 1.602.183 492.667 7941 2442 30,8
Mato Grosso do Sul 61.400 505.322 303.009 8230 4935 60,0Mato Grosso 12.180 89.620 58.647 7358 4815 65,4Gois 116.500 914.525 62.741 7850 5354 68,2Distrito Federal 11.680 92.716 68.270 7938 5845 73,6
Brasil 2.870.204 33.777.297 21.039.159 11.768 7330 62,3
Fonte: Christofidis, In: Lima et al., 1999.
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Segundo dados da Secretaria de Recursos Hdricos do Ministrio do Meio
Ambiente, dos Recursos Hdricos e da Amaznia Legal (Brasil, 1998), atualmente,
49% do esgoto sanitrio produzido no Brasil coletado e, desse percentual,
apenas 32% tratado. O nvel de abastecimento de gua dos domiclios urbanos
de aproximadamente 91% de forma que mais de 11 milhes de pessoas,
residentes nas cidades, ainda no tm acesso gua potvel. O abastecimento
de gua encanada na zona rural s atinge 9% da populao, porm, grande parte
dos habitantes dessas reas utilizam poos e nascentes para seu consumo. Diante
desse quadro, importante ressaltar que a ausncia de abastecimento de gua
potvel e de coleta de esgotos sanitrios so as principais causas das altas taxas
de doenas intestinais e outras. Segundo o Ministrio da Sade, 65% das
internaes hospitalares resultam da inadequao dos servios e das aes de
saneamento, sendo a diarria responsvel, anualmente, por aproximadamente 50
mil mortes de crianas no Brasil (Silva & Alves, 1999).
Estima-se que o desperdcio de gua no Brasil possa chegar a 45% do volume
ofertado populao, o que representa cerca de 3,78 bilhes de metros
cbicos de gua por ano. Adotando-se uma reduo de 20 pontos percentuais,
valor considerado razovel, ou seja, uma meta de 25% de perdas, aproximada-
mente 2,1 km/ano, poder-se-ia economizar cerca de R$ 1,02 bilho por ano.
Toda essa quantidade poderia estar sendo utilizada para a expanso e a
melhoria da rede atual (Adaptado de Brasil, 1998). Portanto, segundo os dados
apresentados, o volume de gua distribuda para o abastecimento no Brasil de
aproximadamente 8,4 km/ano.
No setor energtico, a gerao hidreltrica garante a produo de aproximada-
mente 91% da eletricidade consumida no Brasil (Freitas & Coimbra, 1998). O
potencial hidreltrico brasileiro de aproximadamente 260 GW dos quais encon-
tram-se em operao apenas 22% (57 GW), o que significa que o Pas ainda tem
grandes possibilidades de expanso nesse setor (ELETROBRAS, 1999).
Mesmo no implicando consumo efetivo da gua, seu uso para a gerao de
energia eltrica interfere no volume que pode ser destinado a outros fins e, como
os usos consuntivos, criam toda sorte de externalidades. A gerao de energia
eltrica requer a manuteno de uma vazo mdia estvel que permita a continui-
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dade do fornecimento de uma quantidade determinada de eletricidade ao sistemadistribuidor. Se o projeto hidreltrico levar em considerao as demais possibilida-des de utilizao da gua, poder ser genericamente benfico, justamente porregularizar a vazo. Outras fontes energticas poderiam ser aproveitadas, comono caso da termeletricidade e da energia elica no Vale do So Francisco. Nessaregio, como conseqncia das caractersticas climticas, durante o perodo maisseco do ano, a capacidade hidreltrica reduzida, e o potencial de produo deenergia elica mximo, oferecendo-se como alternativa de substituio oucomplementao, reduzindo as presses sobre os recursos hdricos.
No Brasil, por iniciativa do governo federal, algumas obras que beneficiam anavegao interior foram ou esto sendo realizadas, em consonncia com osprogramas de investimento do setor de transportes. Cabe destacar as Baciasdos Rios Tiet e Paran e as dos Rios Jacu e Taquari no Estado do Rio Grandedo Sul. Em termos de custo e de capacidade de carga, o transporte hidrovirio cerca de oito vezes mais barato que o rodovirio e trs vezes menor que oferrovirio (Godoy & Vieira, 1999).
Estudos atuais estimam que a quantidade total de gua, demandada pelo setorindustrial, de 139 m/s, o que corresponde a um volume de aproximadamente
4,4 km/ano (Brasil, 1998).
Segundo os dados supracitados, relativos aos setores que utilizam a gua de
forma consuntiva, tem-se:
Tabela 10. Situao atual das captaes de gua doce no Brasil por setor.
Volume captadoSetor (km/ano) %
Agrcola (irrigao)* 33,8 72,5Abastecimento** 8,4 18,0Industrial** 4,4 9,5
Total 46,6 100,0
* Christofidis, 1999.
** Adaptado de Brasil, 1998.Fonte: Lima, 2000.
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Figura 9. Situao estimada atual das
captaes de gua doce no Brasil por setor.
Fonte: Lima, 2000.
A Tabela 11 apresenta informaes mais detalhadas sobre a disponibilidade e a
demanda hdrica nos diferentes estados brasileiros. importante ressaltar que
quanto menor for a escala de trabalho tanto mais detalhes sero necessrios
para a gesto dos recursos hdricos disponveis. Um problema muito comum em
projetos e estudos hidrolgicos que, na ausncia de dados locais na escala
necessria, utilizam-se dados regionalizados ou at gerais, quando o ideal seria
a obteno desses in loco. A conseqncia disso que as incertezas aumentam
significativamente os riscos de insucesso dos resultados obtidos.
Analisando-se a Tabela 11 em relao aos patamares especficos de escassez
hdrica apresentados na Tabela 6, observa-se que nenhum estado brasileiro est
sob regime de crnica escassez de gua. Porm, seis deles encontram-se com
sua disponibilidade hdrica entre 1000 e 1700 m/hab.ano, o que configura
situao de risco de ocorrncia de estresse hdrico peridico ou regular. Ainda
existem quatro estados com tendncias a sofrer ocasionalmente problemas de
falta dgua.
Uso Industrial9,5%
Abastecimento18,0%Uso agrcola
72,5%
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Tabela 11. Disponibilidade hdrica e utilizao dos recursos hdricos por estado brasileiro.
Estados Potencial Populao** Densidade Disponibilidade Utilizao Utilizao Nvel de hdrico* (habitantes) (hab/km) per Capita total*** no Estado Utilizao(km/ano) (m/hab.ano) (m/hab.ano) (km/ano) (%)
Rondnia 150,2 1.229.306 5,81 122.183 44 0,054 0,04Acre 154,0 483.593 3,02 318.450 95 0,046 0,03Amazonas 1848,3 2.389.279 1,5 773.581 80 0,191 0,01Roraima 372,3 247.131 1,21 1.506.488 92 0,023 0,01Par 1124,7 5.510.849 4,43 204.088 46 0,253 0,02Amap 196,0 379.459 2,33 516.525 69 0,026 0,01Tocantins 122,8 1.048.642 3,66 117.104Maranho 84,7 5.222.183 15,89 16.219 61 0,319 0,38Piau 24,8 2.673.085 10,92 9278 101 0,270 1,09Cear 15,5 6.809.290 46,42 2276 259 1,764 11,38R.G.do Norte 4,3 2.558.660 49,15 1681 207 0,530 12,32Paraba 4,6 3.305.616 59,58 1392 172 0,569 12,36Pernambuco 9,4 7.399.071 75,98 1270 268 1,983 21,10Alagoas 4,4 2.633.251 97,53 1671 159 0,419 9,52Sergipe 2,6 1.624.020 73,97 1601 161 0,261 10,06Bahia 35,9 12.541.675 22,6 2862 173 2,170 6,04M.Gerais 193,9 16.672.613 28,34 11.630 262 4,368 2,25E.Santo 18,8 2.802.707 61,25 6708 223 0,625 3,32R.Janeiro 29,6 13.406.308 305,35 2208 224 3,003 10,15So Paulo 91,9 34.119.110 137,38 2694 373 12,726 13,85Paran 113,4 9.003.804 43,92 12.595 189 1,702 1,50Sta.Catarina 62,0 4.875.244 51,38 12.717 366 1,784 2,88R.G.do Sul 190,0 9.634.688 34,31 19.720 1015 9,779 5,15M.G.do Sul 69,7 1.927.834 5,42 36.155 174 0,335 0,48M.Grosso 522,3 2.235.832 2,62 233.604 89 0,199 0,04
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Tabela 11. Continuao..
Estados Potencial Populao** Densidade Disponibilidade Utilizao Utilizao Nvel de hdrico* (habitantes) (hab/km) per Capita total*** no Estado Utilizao(km/ano) (m/hab.ano) (m/hab.ano) (km/ano) (%)
Gois 283,9 4.514.967 12,81 62.880 177 0,799 0,28D.Federal 2,8 1.821.946 303,85 1.537 150 0,273 9,76Brasil 5732,8 157.070.163 18,5 36.498 283.13 44,5 0,78
* DNAEE, citado por Rebouas, 1999;** Anurio Estatstico do Brasil, citado por Rebouas, 1999;*** Rebouas et al., citado por Rebouas, 1999.Fonte: Rebouas, 1999.
Tabela 12. Situao dos 10 Estados brasileiros em pior situao quanto disponibilidade de recursos hdricos porhabitante.
N Estado Disponibilidade*(per capita) (m/hab.ano) Situao**
1 Pernambuco 1270 - O estresse hdrico peridico e regular.2 Paraba 13923 D. Federal 15374 Sergipe 16015 Alagoas 16716 R.G. do Norte 1681
7 Rio de Janeiro 2208 - Apenas ocasionalmente tender a sofrer problemas de falta dgua.8 Cear 22769 So Paulo 269410 Bahia 2862
* Quadro 3.17 Rebouas et al., 1999.** Quadro 3.13 Beekman, 1999.Fonte: Lima, 2000.
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guas subterrneas no Brasil( *)No Brasil, as guas subterrneas ocupam diferentes tipos de reservatrios,desde as zonas fraturadas do embasamento cristalino at os depsitos sedi-mentares cenozicos. Dessa diversificao, resultaram sistemas aqferos que,pelo seu comportamento, podem ser reunidos em: a) sistemas porosos (rochassedimentares); b) sistemas fissurados (rochas cristalinas e cristalofilianas); c)sistemas crsticos (rochas carbonticas com fraturas e outras descontinuidadessubmetidas a processos de dissoluo crstica).
A utilizao das guas subterrneas tem crescido de forma acelerada nas ltimasdcadas, e as indicaes so de que essa tendncia deva continuar. A compro-var esse fato, temos um crescimento contnuo do nmero de empresas privadase rgos pblicos com atuao em pesquisa e na captao de recursos hdricossubterrneos.
As guas subterrneas, mais do que uma reserva, devem ser consideradas ummeio para acelerar o desenvolvimento econmico e social de determinadasregies. Essa afirmao apoiada na sua distribuio generalizada, na maiorproteo s aes antrpicas e nos reduzidos recursos financeiros, exigidospara sua explorao.
Conhecer a disponibilidade dos sistemas aqferos e a qualidade de suas guas primordial para o estabelecimento de poltica de gesto das guas subterrneas.
A explorao da gua subterrnea est condicionada a trs fatores (Leal, 1999):
a) Quantidade, intimamente ligada condutividade hidrulica e ao coeficiente dearmazenamento dos terrenos;
b) Qualidade, influenciada pela composio das rochas e condies climticas ede renovao das guas;
c) Econmico que depende da profundidade do aqfero e das condies debombeamento.
*Adaptado de Leal, 1999. In: Setti et al., 2001.
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Tabela 13. Reservas de guas subterrneas e vazo de poos no Brasil.
Domnios reas Sistemas aqferos Volumes estocados Intervalo de vazo
Aqferos (km2) principais (km3) do poo (m/h)
Substrato aflorante 600.000 Zonas fraturadas 80 < 5
Substrato alterado 4.000.000 Manto de intemperismo 10.000 5 - 10e/ou fraturas
Bacia sedimentar Amazonas 1.300.000 Depsitos clsticos 32.500 10 400
Bacia sedimentar So Lus - 50.000 So Lus e Itapecuru 250 10 - 150Barreirinhas
Bacia sedimentar do 700.000 Corda - Graja, Motuca, Poti - 17.500 10 1000Maranho (Parnaba) Piau, Cabeas e Serra Grande
Bacia Sedimentar Potiguar - 23.000 Grupo Barreiras, Jandara, 230 5 - 550Recife Au e Beberibe
Bacia sedimentar Alagoas - 10.000 Grupo Barreiras Muribeca 100 10 - 350Sergipe
Bacia Sedimentar Jatob - 56.000 Marizal, So Sebastio, 840 10 - 500Tucano-Recncavo Tacatu
Bacia sedimentar Paran 1.000.000 Bauru - Caiu, Serra Geral, Botucatu - 50.400 10 - 700(Brasil) Pirambia - Rio do Rastro, Aquidauana
Depsitos diversos 773.000 Aluvies, dunas (Q) 411 2 - 40
Total 8.512.000 112.311
Fonte: Rebouas, In: Rebouas et al.,1999.
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41Recursos Hdricos no Brasil e no Mundo
Doc. - Embrapa Cerrados, Planaltina, n. 33, p.1-46, dezembro 2001
Estima-se que existam mais de 200.000 poos para captao de guasubterrnea no Brasil e que a principal utilizao desse recurso seja para oabastecimento pblico (Leal, 1999).
Segundo Rebouas et al. (1999), no h o devido controle da utilizao dasguas subterrneas no Pas, dificultando a caracterizao de seu uso. Entretanto,dados do censo do IBGE (citado por Rebouas et al., 1999) mostraram quecerca de 61% da populao abastecida com gua subterrnea, sendo 43%por meio de poos tubulares, 12% de fontes ou nascentes e 6% de poosescavados ou cacimbes. Outros dados que demonstram a importncia dessafonte que cidades como So Lus (MA), Natal e Mossor (RN), Macei (AL) ecerca de 76% das cidades do Estado de So Paulo, 90% das cidades do Parane Rio Grande do Sul so abastecidas por poos.
Consideraes Finais
Conforme explicitado neste trabalho, o principal objetivo foi o de apresentardados e informaes gerais sobre a situao dos recursos hdricos no mundo eno Brasil. Espera-se colaborar com a difuso de conhecimentos para que apopulao brasileira passe a exercer adequadamente sua funo de agente ativodo processo de gesto de recursos hdricos, previsto na Lei N 9.433, dejaneiro de 1997, a Lei das guas do Brasil.
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Water resources in Braziland in the world
Abstract - Water is a fundamental natural resource to human survive, economicactivities and environmental maintenance. The increasing population and thehigher level of human activities, including effluent disposals to surface andgroundwater sources, have made the management of water resources a verycomplex task throughout the world. On a long-term basis, the amount offreshwater that is available to any country or watershed is nearly constant, butthe demand, generally, increases, generating conflicts among water users.Thus, it is very important to know the water availability and demand for itsadequate management. The main objective of this document is to present ageneral view about the water resources in the world and in Brazil. A legal andinstitutional background were given to present the changes that have beenmade on the last five years to improve the water resources management in thiscountry.
Index terms: water management, water demand, water flow, water conflicts.
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