ana - gerenciamento de recursos hídricos no nordeste brasileiro

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    MDULO IGerenciamento Integrado de Recursos Hdricos Conceitos

    Neste mdulo voc conhecer os conceitos que envolvem o gerenciamento integrado derecursos hdricos, compreendendo a sua importncia e quais aspectos devem abranger

    essa integrao.

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    Sumrio1.1INTRODUO ................................................................................................................................ 3

    1.2CONCEITUAO BSICA DO GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RECURSOS HDRICOS NOBRASIL ................................................................................................................................................. 5

    1.3 ...........ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E INSTRUMENTOS DO GERENCIAMENTO INTEGRADO DERECURSOS HDRICOS NO BRASIL....................................................................................................... 7

    GLOSSRIO ...................................................................................................................................12

    REFERNCIASBIBLIOGRFICASE INDICAESDELEITURA ...................................14

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    1.1INTRODUO

    Afinal, integrar o qu?

    A Poltica Nacional de Recursos Hdricos, instituda pela Lei n 9.433/97, tambm conhecida comoLei das guas, introduziu novos conceitos no gerenciamento de recursos hdricos, tais como adescentralizao e a participao de novos atores na gesto das guas. O prprio termo recursohdrico j traz consigo uma conotao sutilmente diversa do termo gua, pois recurso estintimamente ligado a noo de pecnia, de valor econmico. A indicao da bacia hidrogrficacomo unidade territorial preferencial para implementao da Poltica outro conceito expressonos fundamentos da Lei, os quais so base para a estruturao do Sistema Nacional deGerenciamento de Recursos HdricosSINGREH.

    As diretrizes gerais de ao expressas na Lei das guas corroboram essa nova forma de gerir osusos da gua no Brasil, pois estabelecem que a gesto dos recursos hdricos deve abranger asquestes relacionadas qualidade, s diversidades regionais, deve integrar as questes

    ambientais e dos sistemas estuarinos e zonas costeiras e se articular com as polticas de uso dosolo e dos setores usurios de recursos hdricos.

    Outra condio importante na estruturao da atual forma de gesto das guas no Brasil aquesto dominial: como a Constituio Federal definiu a gua como bem de domnio pblico e orepartiu entre a Unio e os Estados 1(Figura 1), a gesto por bacia hidrogrfica, que, na maioriados casos, no segue divises polticas, exige uma articulao entre entes para que haja umagesto efetiva dos recursos hdricos.

    1 A Constituio de 1988 extingue o domnio das guas pelos municpios e por particulares, presentes no Cdigo deguas de 1934.

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    Figura 1: Domnio dos rios brasileiros

    Esses so apenas alguns aspectos que demonstram a importncia da integrao para o sucessoda nova Poltica de Recursos Hdricos brasileira. E isso que iremos estudar nesse mdulo: o queintegrar, por que e como.

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    1.2 CONCEITUAO BSICA DO GERENCIAMENTO INTEGRADO DERECURSOS HDRICOS NO BRASIL

    Segundo Aurlio Buarque de Holanda, gerirsignifica administrar, dirigir, reger. Enquanto integrartem o significado de tornar inteiro, completar, juntar, incorporar. Entende-se por participarter outomar parte de algo. E como so entendidos esses conceitos no mbito da gesto de recursoshdricos?

    As caractersticas intrnsecas da gua a tornam indispensvel sobrevivncia de qualquer servivo. Sua importncia para a humanidade vem se tornando cada vez maior, tendo em vista oaumento de sua escassez relativa e os diversos bens e servios produzidos a partir delaenergiaeltrica, alimentos, transporte, turismo, etc. Essa diversidade de usos faz com que a poltica derecursos hdricos, por sua transversalidade, acabe naturalmente se relacionando com vriasoutras polticas. No entanto, nem sempre essa articulao se d de forma sistematizada eplanejada.

    E quanto ao aspecto qualitativo da gua? Para alimentar uma turbina para gerao de energiaeltrica pouco importa se a salinidade ou a carga orgnica seja alta; no entanto essascaractersticas podem inviabilizar outros usos dessa gua, tais como saneamento, irrigao eindstria, por exemplo.

    Na gesto integrada dos recursos hdricos (GIRH), faz-se necessria ampla articulao comdiversos setores (Figura 2).

    Figura 2:Relaes da gesto de guas com as demais polticas

    Outro ponto que merece reflexo a questo do domnio das guas. Segundo a ConstituioFederal de 1988, a gua um bem de domnio pblico, compartilhado entre a Unio, os Estados eo Distrito Federal, cabendo Unio o domnio sobre as guas martimas, de lagos e quaisquercorrentes de gua em terrenos a ela pertencentes, bem como as guas superficiais de corposdgua fronteirios ou que cortem mais de um Estado. Por outro lado, os demais corpos dguasuperficiais e as guas subterrneasso de domnio estadual/distrital. E como dissociar a gestodas guas subterrneas das superficiais, visto que nos perodos secos a vazodos rios devidaquase que unicamente ao fluxo das guas subterrneas? E ainda, se o domnio das guas foirepartido entre Unio e Estados, como fazer se a utilizao da gua realizada efetivamente nointerior dos mais de 5.000 municpios do pas? Esse compartilhamento de domnios relativo s

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    polticas de recursos hdricos e de uso e ocupao do solo se constitui num grande desafio para amaterializao da gesto integrada de recursos hdricos, exigindo grande esforo de articulaoentre os entes que fazem parte do sistema de gesto de guas. Em resumo: possvel fazergesto de guas sem estabelecer um pacto federativo?

    Com o objetivo de fazer frente a toda essa complexidade, foi estruturado o Sistema Nacional deGerenciamento de Recursos Hdricos (SINGREH). No entanto, o federalismo brasileiro pode levar

    a uma interpretao distorcida do SINGREH, favorecendo a criao de Sistemas Estaduais deGerenciamento de Recursos Hdricos (SEGREHs) descolados uns dos outros (Figura 3), sem umaviso global da gesto por bacias. O grande desafio tornar o SINGREH um nico Sistema, queenglobe as vises peculiares de cada Estado (Figura 4)

    Figura 3:Interpretao distorcida do SINGREH

    Figura 4: Interpretao integrada do SINGREH

    E como garantir a participao dos interessados na gesto da gua no processo decisrio? E osinteresses difusos das populaes, como podem ser defendidos? Para tanto, o SINGREH foiestruturado prevendo a instituio dos conselhos de recursos hdricos e dos comits de bacia, de

    modo a permitir a participao dos poderes pblicos (inclusive os municipais), dos usurios degua e da sociedade civil organizada na gesto dos recursos hdricos.

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    esse o conceito de gesto integrada e participativa dos recursos hdricos: gerir esses recursospor meio da articulao de seu planejamento com o dos setores usurios, dos estados e da Unio,sem dissociar os aspectos de quantidade e qualidade e integrando-se poltica ambiental,englobando a participao, na gesto, de atores relevantes envolvidos com a questo dosrecursos hdricos, para assegurar atual e futuras geraes gua em quantidade e qualidadeadequadas aos seus mltiplos usos.

    1.3 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E INSTRUMENTOS DOGERENCIAMENTO INTEGRADO DE RECURSOS HDRICOS NO BRASIL

    A Lei das guas estabeleceu os instrumentos da Poltica Nacional de Recursos Hdricos: osplanos de recursos hdricos; o enquadramento dos corpos de gua em classes, segundo osusos preponderantes da gua; a outorga dos direitos de uso de recursos hdricos; a cobranapelo uso de recursos hdricos; e o Sistema de Informaes sobre Recursos Hdricos. A Leidetalhou tambm os entes integrantes da estrutura organizacional para a gesto dos recursos

    hdricos e as suas competncias, com destaque para a inovao na criao de conselhos derecursos hdricos, os comits de bacia hidrogrfica e as agncias de gua. Foram tambmdefinidas fontes de recursos para viabilizar a implementao do SINGREH, tais como acompensao financeira do setor eltrico e a cobrana pelo uso de recursos hdricos. As Figuras 5e 6 apresentam, respectivamente, a matriz institucional do SINGREH e os instrumentos de gesto,enquanto que o Quadro 1 apresenta, de forma resumida, as competncias dos entes doSINGREH relacionadas aos instrumentos previstos na Lei das guas.

    Figura 5:Matriz institucional do SINGREH

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    Figura 6: Instrumentos de gesto de recursos hdricos

    Os planos de recursos hdricos so importantes instrumentos na consolidao de uma visointegrada da poltica de recursos hdricos com as demais polticas correlatas, com a definio dasprioridades de uso e a estruturao de programas na busca da garantia dos usos mltiplos dosrecursos hdricos. Exemplo recente e exitoso deste instrumento o Plano Integrado de RecursosHdricos da Bacia do Rio Doce (PIRH-Doce, 2010), o qual foi elaborado com a participao dos 10comits existentes na bacia e foi estruturado de forma que contemplasse 9 Planos de AesEstratgicas para as 9 sub-bacias e o prprio Plano Integrado, com uma viso mais abrangente

    da bacia como um todo.

    O enquadramento, como instrumento de planejamento tal qual o plano, embora tenha suaclassificao dividida por trechos de rios, tambm deve ter uma viso integrada da bacia como umtodo, de forma a assegurar s guas qualidade compatvel com os usos mais exigentes a queforem destinadas, bem como diminuir os custos de combate poluio, mediante aespreventivas permanentes.

    A outorga um instrumento de maior complexidade quando o assunto integrao deprocedimentos, uma vez que envolve questes relacionadas ao domnio das guas. Em algunscasos, a soluo encontrada tem sido a delegaoda outorga para os Estados. Os casos doCear e das bacias Piracicaba, Capivari e Jundia em So Paulo so exemplos onde a ANA,

    responsvel pela outorga de direito de uso da gua em corpos hdricos de domnio da Unio,

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    delegou aos rgos outorgantes estaduais (SRH e DAEE respectivamente2) a competncia deemitir as autorizaes para o uso da gua nestas regies.

    A cobrana outro instrumento que desafia a integrao na gesto das guas por motivossemelhantes aos da outorga, ou seja, a questo do duplo domnio (federal e estadual) tambm sefaz presente na implementao deste instrumento. Como exemplo dessa complexidade, podemoscitar a Bacia Hidrogrfica do rio Paraba do Sul (Figura 7), que foi a pioneira no Brasil na

    implantao da cobrana pelo uso da gua nos termos estabelecidos pela Poltica Nacional deRecursos Hdricos. Nessa bacia a cobrana se iniciou em 2003 em rios de domnio da Unio, em2004 em rios de domnio fluminense, em 2007 em rios paulistas e, at final de 2013, no tinhasido implementada nos corpos dgua do estado de Minas Gerais.Essa assimetria na cobranaentre usurios de uma mesma bacia pode trazer consequncias danosas ao processo de gestointegrada.

    Figura 7: Domnio dos rios na bacia hidrogrfica do rio Paraba do Sul

    Os sistemas de informaes sobre recursos hdricos visam a atender aos fundamentos, objetivose diretrizes da Poltica de guas e, assim sendo, ultrapassam os preceitos de apenas um sistemade informaes hidrolgicas ou de interesse somente setorial. um instrumento de coleta,tratamento, armazenamento e recuperao de informaes sobre recursos hdricos e fatoresintervenientes em sua gesto, o que engloba todos os setores usurios de gua, as informaesde uso e ocupao do solo, de tendncias de crescimento populacional e econmico, dentreoutras. Dessa forma, assim como os planos de recursos hdricos, os sistemas de informaes soimportantes instrumentos na consolidao de uma viso integrada na gesto da gua.

    2 SRHSecretaria de Recursos Hdricos do Estado do Cear e DAEE Departamento de guas e Energia Eltrica doestado de So Paulo.

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    Quadro 1Relao entre os entes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos e os instrumentos da Poltica NacionalINSTRUMENTO

    PLANO DE RH

    ENQUADRAMENTO

    OUTORGACOBRANA

    SISTEMA DE INFORMAES

    Ente doSINGREH

    Nacional Estadual Bacia Unio Estados Nacional Estadual Bacia

    CNRH

    Aprovar eacompanha

    r aexecuo

    Estabelecer diretrizesgerais e aprovar

    proposta dos c omits

    Estabelecercritriosgerais

    Estabelecer critrios gerais edefinir valores

    CERHs

    Aprovar eacompanha

    r aexecuo

    Estabelecer diretrizesgerais e aprovar

    proposta dos c omits

    Estabelecercritriosgerais

    Estabelecer critrios gerais edefinir valores

    Comits

    Aprovar eacompanha

    r aexecuo

    Propor ao respectivoconselho

    Estabelecerprioridades

    Varivel nosEstados

    Estabelecer diretrizes,critrios e mecanismos e

    sugerir valores

    SRHU/MMA Coordenar

    Secretarias deEstado

    Coordenar

    ANAMonitorar, controlar e

    fiscalizarOutorgar efiscalizar

    Arrecadar, implantar (comcomits) e acompanhar aaplicao dos recursos.Elaborar estudos para

    subs idiar CNRH

    Implantar egerir oSNIRH3

    rgos Gestoresde Recursos

    Hdricos Estaduais

    Monitorar, controlar efiscalizar

    Outorgar efiscalizar

    Varivel nos Estados, sendoque alguns tm a atribuio

    de arrecadar

    Implantar egerir oSEIRH4

    (complemen-tar aoSNIRH)

    Agncias de guaElaborar eexecutar

    Propor alternativas aoComit e efetivar

    Receberpedidos,analisar e

    emitirparecer*

    Propor valores ao CBH,arrecadar*, aplicar e

    administrar os recursos

    Implantar egerir

    (complemen-tar aosoutros

    3 SNIRHSistema Nacional de Informaes s obre Recursos Hdricos, que deve integrar alguns dados dos SEIRHs de forma recproca e complementar.

    4 SEIRHSistema Estadual de Informaes sobre Recursos Hdricos.

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    sistemas)

    * Mediante delegao do outorgante

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    A prpria estrutura do SINGREH aponta para uma forte articulao entre seus entes, comatuaes compartilhadas e/ou complementares, visto que, para que a gesto avance de formacorreta, necessrio que seus integrantes estejam desempenhando bem suas competncias.Caso contrrio, corre-se o risco de ter um dos trips (Figura 8) que sustentam a GIRHenfraquecido, enfraquecendo a gesto como um todo.

    Figura 8:Trip da Gesto de Recursos Hdricos

    E todo este arcabouo institucional e legal vem sendo aplicado na gesto de recursos hdricos doBrasil como um todo. Mas h de se reconhecer que, num Pas com tamanha diversidadeclimtica, scioeconmica, poltica e cultural, so necessrios, em alguns casos, ajustes naestruturao dos modelos institucionais e dos instrumentos para se ter xito na gesto derecursos hdricos, como o caso do Nordeste brasileiro. Dessa forma, nos prximos mdulosveremos o caso especfico da gesto integrada de recursos hdricos no Nordeste e casos exitososdessa gesto.

    Expandindo conhecimentos:O Programa Expresso Nacional discute alguns dos assuntos abordados nesse mdulo. Vale apena conferir em: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/EXPRESSAO-

    NACIONAL/465939-EXPRESSAO-NACIONAL-DEBATE-GESTAO-DE-RECURSOS-HIDRICOS-NO-BRASIL.html.

    GLOSSRIO

    http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/EXPRESSAO-NACIONAL/465939-EXPRESSAO-NACIONAL-DEBATE-GESTAO-DE-RECURSOS-HIDRICOS-NO-BRASIL.htmlhttp://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/EXPRESSAO-NACIONAL/465939-EXPRESSAO-NACIONAL-DEBATE-GESTAO-DE-RECURSOS-HIDRICOS-NO-BRASIL.htmlhttp://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/EXPRESSAO-NACIONAL/465939-EXPRESSAO-NACIONAL-DEBATE-GESTAO-DE-RECURSOS-HIDRICOS-NO-BRASIL.htmlhttp://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/EXPRESSAO-NACIONAL/465939-EXPRESSAO-NACIONAL-DEBATE-GESTAO-DE-RECURSOS-HIDRICOS-NO-BRASIL.htmlhttp://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/EXPRESSAO-NACIONAL/465939-EXPRESSAO-NACIONAL-DEBATE-GESTAO-DE-RECURSOS-HIDRICOS-NO-BRASIL.htmlhttp://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/EXPRESSAO-NACIONAL/465939-EXPRESSAO-NACIONAL-DEBATE-GESTAO-DE-RECURSOS-HIDRICOS-NO-BRASIL.htmlhttp://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/EXPRESSAO-NACIONAL/465939-EXPRESSAO-NACIONAL-DEBATE-GESTAO-DE-RECURSOS-HIDRICOS-NO-BRASIL.html
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    guas subterrneasSo aquelas que ocorrem natural ou artificialmente no subsolo5.

    Comit de Bacia Hidrogrfica Frum de deciso no mbito de cada bacia hidrogrficacontando com a participao dos usurios, das prefeituras, da sociedade civil organizada, dasdemais esferas de governo (estaduais e federal), e destinado a agir como o "parlamento dasguas da bacia".

    DelegaoAto de delegar, transmitir poderes.

    Enquadramento de corpos dgua em classes, segundo os usos preponderantes da gua um dos instrumentos de gesto de recursos hdricos que visa o estabelecimento do nvel dequalidade (classe) a ser alcanado e/ou mantido em um segmento de corpo dgua ao longo dotempo. Tem o objetivo de assegurar s guas qualidade compatvel com os usos mais exigentes aque forem destinadas, bem como diminuir os custos de combate poluio das guas medianteaes preventivas permanentes.

    Outorga de direito de uso da gua o ato administrativo mediante o qual o poder pblicooutorgante (Unio, Estado ou Distrito Federal) faculta ao outorgado (requerente) o direito de usode recurso hdrico, por prazo determinado, nos termos e nas condies expressas no respectivoato administrativo6.

    Vazo o volume de gua que passa por uma determinada seo de um rio ou um canal, porunidade de tempo. Usualmente dado em litros por segundo (L/s), em metros cbicos porsegundo (m3/s) ou em metros cbicos por hora (m3/h).

    5 Definio segundo a Resoluo CNRH n15 de 11 de janeiro de 2001.

    6 Site da ANA .

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS E INDICAES DELEITURA

    AGNCIA NACIONAL DE GUAS (ANA). Comit de bacia hidrogrficao que e o que faz?

    Srie Capacitao em Recursos HdricosVolume 1. Braslia, 2011.________. Plano de Recursos Hdricos e Enquadramento dos corpos de gua . SrieCapacitao em Recursos HdricosVolume 5. Braslia, 2013.

    ________. Outorga de direito de uso de recursos hdricos. Srie Capacitao em RecursosHdricosVolume 6. Braslia, 2011.

    ________. Cobrana pelo uso de recursos hdricos. Srie Capacitao em Recursos HdricosVolume 7. Braslia, no prelo.

    ________. ConjunturaRecursos hdricos no BrasilInforme 2010. Braslia, 2011.

    ________. ConjunturaRecursos hdricos no BrasilInforme 2009. Braslia, 2010.

    ________. Relatrio de encontro tcnico sobre delegao de outorga de direito de uso derecursos hdricos e aes de fiscalizao. Braslia, 2010.

    ________. Avaliao dos recursos hdricos subterrneos e proposio de modelo de gestocompartilhada para os aquferos da chapada do Apodi, entre os estados do Rio Grande doNorte e Cear. Vol. 5. Braslia, 2010.

    ________. ConjunturaRecursos hdricos no BrasilInforme 2008. Braslia, 2009.

    ________. A evoluo da gesto dos recursos hdricos no Brasil . Braslia, 2002.

    AGNCIA NACIONAL DE GUAS; CENTRO DE GESTO E ESTUDOS ESTRATGICOS. Aquesto da gua no Nordeste. Braslia, 2012.

    AGNCIA NACIONAL DE GUAS; CONSRCIO ECOPLAN/LUME. Plano Integrado deRecursos Hdricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Doce e planos de aes para as unidadesde planejamento e gesto de recursos hdricos no mbito da Bacia do Rio Doce relatrioexecutivo. Braslia, junho 2010.

    ALVES, J. A Seca nos Sculos XVII e XVIII. IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido,Fortaleza, v.1, n.4, out-dez 2004.

    ARAJO, J. C. Gesto das guas de pequenos audes na regio semi-rida. IN: Medeiros,SS. Gheyi, H.R.; Galvo, C.O.; Paz, V.P.S. Campina Grande/PB. Instituto Nacional do Semi-

    rido, 2011, 440p.

    BRAGA, R. Ensaio crtico histrico da Comisso Cientfica de Explorao. IN: RevistaConviver Nordeste Semi-rido, Fortaleza, v.1, n.4, out-dez 2004.

    CAMPOS, N. A gua e a vidatextos e contextosFortaleza: ABC Fortaleza, 1990, 142 p.

    CANNABRAVA, A. A Grande Propriedade Rural. IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido,

    Fortaleza, v.1, n.4, out-dez 2004.

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    CARDIM, F. A terra ch e sua gente honrada. IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido,Fortaleza, v.1, n.4, out-dez 2004.

    DNOCS. O pensamento de combate as secas: a criao do IOCS. IN: Revista ConviverNordeste Semi-rido, Fortaleza, v.1, n.4, out-dez 2004.

    ________. http://www.dnocs.gov.br/barragens/cedro/cedro.htm, Acesso em: 2/9/2011.

    ________. http://www.dnocs.gov.br. Acesso em 2/9/2011.

    GUERRA, O. A Batalha das secas. IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido, Fortaleza, v.1, n.4,out-dez 2004.

    MINISTRIO DO INTERIOR. DNOCS e o Novo Nordeste Uma perspectiva histrica (1909 1984), Fortaleza- DNOCS, 1985, 299p.

    PETRONE, T. S. As reas de criao de gado. IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido,Fortaleza, v.1, n.4, out-dez 2004.

    POMPEU, Cid Tomanik. Direito de guas no Brasil. Editora Revista dos Tribunais- So PauloSPBrasil, 2006.

    POMPEU SOBRINHO, T. A Caminho do IOCS. IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido,Fortaleza, v.1, n.4, out-dez 2004.

    PORTO, Monica; KELMANN, Jerson. Water resources policy in Brazil. In: Rivers Studies inthe Science Environmental Policy and Law of Instream Flow, v. 7, n. 3, 2000.

    SOUZA, J. G. Os grandes rgos regionais. IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido,Fortaleza, v.1, n.4, out-dez 2004.

    TEIXEIRA, Francisco Jos Coelho. Modelos de Gerenciamento de Recursos HdricosAnlises e propostas de aperfeioamento do Sistema do Cear. Universidade Federal do CearCearBrasil2003.

    http://www.dnocs.gov.br/barragens/cedro/cedro.htmhttp://www.dnocs.gov.br/http://www.dnocs.gov.br/http://www.dnocs.gov.br/barragens/cedro/cedro.htm
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    MDULO IIGerenciamento de recursos hdricos no Nordestebrasileiro

    Neste mdulo voc conhecer um pouco da histria da gesto dos recursos hdricos noNordeste brasileiro e os principais fatos que impulsionaram a adoo de novos

    paradigmas no trato com a escassez hdrica crnica da regio.

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    Sumrio Mdulo 2

    2.1INTRODUO ................................................................................................................................ 3

    2.2 ANTECEDENTES HISTRICOS E PRIMEIRAS INICIATIVAS DE GERENCIAMENTO DE

    RECURSOS HDRICOS NO NORDESTE ............................................................................................... 6

    2.3 AIMPLEMENTAO DO GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RECURSOS HDRICOS NONORDESTE .........................................................................................................................................13

    2.3.1 A evoluo do gerenciamento integrado de recursos hdricos no Brasil .............13

    2.3.2 A implementao do gerenciamento integrado de recursos hdricos no Nordeste 17

    GLOSSRIO ...................................................................................................................................24

    REFERNCIASBIBLIOGRFICASE INDICAESDELEITURA ...................................25

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    2.1INTRODUO

    Qual a importncia da gesto

    de recursos hdricos para oNordeste brasileiro?O permetro que delimita o semirido brasileiro abrange quase todo o Nordeste (Figura 1), regiohistoricamente associada ao flagelo das secas. O mapa de distribuio de chuvas (Figura 2)demonstra essa realidade, uma vez que a regio apresenta ndices pluviomtricos anuais bemabaixo da mdia nacional (que de cerca de 1.800mm), o que exige um maior cuidado no usodos recursos hdricos. Os longos perodos secos l so recorrentes e ainda hoje assustam seus

    habitantes.

    Figura 1 Figura 2

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    No semirido brasileiro, a maior partedos rios intermitente, fato quedificulta a implantao de empreendi-mentos que exijam uma maior garan-tia de gua e, consequentemente, odesenvolvimento econmico regional.Nesse sentido, desde o final do

    sculo XIX a soluo dominante parao problema da escassez hdrica temsido a construo de audes parareservao de gua. Para se ter umaideia, dos cerca de 7.000 reserva-trios artificiais com espelhos dguaacima de 19 hectares existentes noBrasil at 2013, aproximadamente2.800 esto localizados na regioNordeste, ou seja, 40% do total. Aexistncia de grandes audespossibilitou a perenizaode algunsrios nordestinos, fundamentais para aeconomia regional, tais como o rioPiranhas-Au (PB/RN) e o rioJaguaribe (CE).

    Os reservatrios so responsveispela acumulao de gua nosperodos chuvosos para o abaste-cimento das populaes e irrigaodas culturas nos longos perodos deestiagem. Alm da enorme quantida-

    de de audes, o Nordeste possui umaextensa rede de canais e adutorascapazes de conduzir a guaarmazenada at os consumidores. Ouseja, a oferta de gua na Regio estritamente dependente de infra-estruturas hdricas, que em muitoscasos interligam diversas bacias e,portanto, influenciam decisivamentena forma de gesto do uso da gua.Dessa forma, a lgica de atuao porbacia hidrogrfica, preconizada pela

    Lei das guas, nem sempre fazsentido no caso nordestino.

    Notcia publicada na internet(http://blogdofavre.ig.com.br)

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    Notcia publicada na internet(jornal Dirio do Nordeste)

    E diante deste cenrio que se desenvolveu a gesto de recursos hdricos no Nordeste. Nessemdulo iremos conhecer um pouco mais da histria da gesto das guas dessa importante regiobrasileira.

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    2.2 ANTECEDENTES HISTRICOS E PRIMEIRAS INICIATIVAS DEGERENCIAMENTO DE RECURSOS HDRICOS NO NORDESTE

    O nordeste brasileiro foi uma regio de fundamental importncia nos tempos do Brasil Colnia,pois era onde estavam localizados os principais centros urbanos e portos para despacho dosprodutos tropicais para a Europa. A economia da regio era baseada nas grandes propriedadesque se utilizavam de mo de obra escrava, com predominncia das culturas de cana de acar,algodo e fumo.

    As atividades econmicas ocorriam sem preocupaes ambientais ou com as especificidades do

    ambiente semirido, um exemplo era a prtica da derrubada de vegetao nativa para instalaodas culturas e, aps a exausto do solo, as reas eram abandonadas, e se buscavam novasreas de plantio (CANNABRAVA, 2004).

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    Os engenhos para o processamento da cana destacavam-se entre as atividades econmicas daregio, sendo os senhores de engenho detentores de renomado prestgio poltico(CANNABRAVA, 2004).

    A pecuria desenvolvia-se como atividade secundria para fins do atendimento da populaolocal, contribuindo tambm como fora motriz para os engenhos e regies de minas. Era uma das

    poucas atividades que se desenvolvia nas reas mais ridas, mas ainda assim, no incio doperodo colonial, era mais concentrada no litoral, onde se encontravam reas mais favorveisedficae climaticamente (PETRONE, 2004).

    Diante desse cenrio, a ocupao dos sertes vinha ocorrendo de forma lenta e esparsa, tendoem vista a adversidade do ambiente e a ausncia ou o desconhecimento da existncia deriquezas cobiadas pela metrpole. Outro fator que limitava a interiorizao da colonizao era anecessidade de se enfrentar a resistncia dos indgenas que habitavam a regio, concentradosnas reas mais midas nos vales dos rios (ALVES, 2004).

    Em uma viso simplista, como a populao concentrava-se predominantemente nas regieslitorneas, pode-se afirmar que nos dois primeiros sculos do Brasil Colnia as secas ocorreramquase sem serem notadas. O primeiro registro de secas no Nordeste atribudo a Ferno Cardim,que relatou a ausncia de chuvas no ano de 1583 no estado de Pernambuco (CARDIM, 2004). Foino sculo XVIII, com o aumento da ocupao branca e o aumento dos rebanhos, que o registrodas secas passou a ter maior importncia. interessante que muitas vezes o registro no era daausncia de chuvas ou da perda dos rebanhos e das plantaes, mas, por exemplo, dos saquespromovidos por indgenas em regies mais urbanizadas (PETRONE, 2004).

    Um dos fatores que contribuiu para a interiorizao do Nordeste e ocupao das reas semiridasfoi a Carta Rgia de 1701, que proibiu a criao de gado em uma faixa de 10 lguas do litoral,para que a cultura de cana-de-acar mais vistosa aos olhos do governo no sofresseconcorrncia pelas terras mais frteis do litoral (PETRONE, 2004).

    Ainda de acordo com Nilson Campos, a ocupao do interior continuou dispersa at meados dosculo XIX quando ocorreu um perodo de 32 anos sem registro de grandes secas (de 1845 a1876). Sem maiores adversidades, a populao cresceu, mas a implantao de infraestruturashdricas no acompanhou seu crescimento. Fato que por outro lado levou a seca de 1877 a 1879a se configurar como um evento catastrfico (CAMPOS, 1990).

    Um dos fatores que contribuiu muitopara a grandeza das tragdiascausadas pelas secas foi a fragilidadeda atividade econmica pastoril. Comexceo de alguns centros de

    passagem ou feiras, a atividade erabaseada em grandes propriedadesrurais isoladas, praticamente auto-suficientes, que alm da pecuriapossuam pequenas lavouras apenaspara sua subsistncia, como, porexemplo, a cultura da mandioca. Coma chegada da seca, perdiam-se osrebanhos e as plantaes e nadarestava (PETRONE, 2004). Aalternativa para no morrer de formeera migrar, na maior parte das vezes

    para os centros urbanos no litoral, querecebiam milhares de flagelados.

    Flagelados da seca de 1877 a 1879Fonte: http://tokdehistoria.com.br

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    A seca de 1877 a 1879 constitui-se num marco no pensamento de combate as secas, que deixoude ser tratada somente de forma assistencialista e passou a ter tambm uma viso tecnicista.Presidida por Beaurepaire-Rohan foi criada pelo governo imperial uma comisso que avaliou asituao e sugeriu aes para mitigar os efeitos da seca, como: abertura de poos artesianos,construo de estradas e audes e canalizao de rios.

    O pensamento tecnicista j vinha se fazendo presente anteriormente. Em 1856, com o apoio do

    Imperador D. Pedro II, foi constituda a Comisso Cientfica de Explorao. A comisso tinha oobjetivo de explorar as provncias menos conhecidas do e instalou-se, aps longo perodo depreparao, na cidade de Fortaleza, no ano de 1859, de onde empreendeu incurses aos sertesbrasileiros, e encerrou seus trabalhos em 1861. Apesar de no ter alcanado o xito esperado eno ser focada na questo das secas, merece destaque pela iniciativa do Imprio e como prticada cincia nacional (Braga, 2004). atribuda ao chefe da seo geolgica, o Baro deCapanema, uma proposio da integrao do rio So Francisco com o rio Jaguaribe (TrechoCabrob-Jati), que recomendou: a abertura de um canal ligando o rio So Francisc o ao rioJaguaribe.

    A partir da, pode-se notar o incio de uma fase onde se destacavam as obras, em especial as deaudagem. Em 1877, uma comisso de profissionais designados pelo governo imperial recebeu atarefa de estudar meios para garantir o abastecimento de gua para as populaes e lavouras noCear e props a construo de 30 audes, alm de outras medidas. No ano de 1880, o Eng.Jules Revy recebeu a tarefa de identificar reas favorveis para a construo de audes e em1882 ele entregou o projeto do Aude Cedro. Entretanto, apesar de ter sido concebido no Imprio,o Aude Cedro s foi finalizado na Repblica no ano de 1906, pela Comisso de Audes eIrrigao (DNOCS, 2011).

    No encerramento do sculo XIX e incio dosculo XX, tendo em vista o cenrio desoladordecorrente de uma seca prolongada e osapelos do Presidente do Cear, Dr. Pedro

    Augusto Borges, a Cmara dos Deputadosaprovou a liberao de 10.000 (dez mil) contosde ris para obras de utilidade pblica,ressaltando que essas deveriam empregar osindigentes. Foi criada a comisso do AudeQuixad (Cedro), chefiada pelo Eng. PiquetCarneiro, que tinha como incumbncia afinalizao do referido aude e de outrosespalhados pelo estado do Cear (POMPEUSOBRINHO, 2004).

    Com alguma expectativa de chuva no ano de

    1901, o ritmo das obras diminuiu e, em algunscasos, cessou, o que demonstrou, ainda, opouco comprometimento do governo com assolues definitivas. Em 1904, ainda sob ocomando do Eng. Piquet Carneiro, a Comissodo Aude Quixad foi reorganizada edenominada Comisso de Audes e Irrigao.Foram criadas ainda, a Comisso de Estudos eObras contra os Efeitos das Secas e aComisso de Perfurao de Poos (POMPEUSOBRINHO, 2004).

    De 1900 a 1909, diante de arranjos e rearranjos institucionais, a Comisso de Audes e Irrigaolevou a cabo as obras dos seguintes audes: Quixad (Cedro), Acara-Mirim, Papara e Jordo.Essas obras, entre outras no conclusas, despertaram a necessidade de estudos tcnicos

    Jornal natalense A Repblica, edio de6 de Agosto de 1915.

    Fonte: http://tokdehistoria.com.br

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    preliminares mais aprofundados, ocorrendo casos em que as obras foram iniciadas em locaisinadequados para a instalao de barramentos.

    O arranjo institucional e a distribuio de verbas para o combate s secas foram alteradosdiversas vezes, culminando, em 1909, com a criao da Inspetoria de Obras Contra as Secas(IOCS), uma diviso do Ministrio da Viao e Obras Pblicas, tendo como Inspetor o Eng. Miguel

    Arrojado Lisboa que tinha a viso da complexidade do fenmeno das secas. A IOCS tinha como

    linha de atuao os trabalhos tcnicos de campo, envolvendo aspectos geolgicos eclimatolgicos, que iam ao encontro de aes h muito preconizadas por estudiosos e realizadas,na medida do possvel, por particulares (GUERRA, 2004), a saber:

    Estudo sistematizado das condies meteorolgicas, geolgicas, topogrficas ehidrolgicas das zonas semi-ridas;

    Observaes dos fenmenos meteorolgicos, especialmente pluviomtricos e mediesdiretas nos cursos dgua;

    Conservao e reconstituio de florestas; Estradas de rodagem e de ferro, facilitando os transportes e as comunicaes;

    Perfurao de poos tubulares;

    Estudo de pequenos audes particulares, devendo a Unio concorrer para a suamultiplicao, com prmio sobre a metade da importncia do custo total;

    Estudo e construo direta pela Unio de audes pblicos; Barragens submersas;

    Drenagem de vales alagadios; Outros trabalhos como piscicultura e hortos florestais.

    A Inspetoria encontrou muitas dificuldades para o desenvolvimento de suas atribuies devido precria infraestrutura de que dispunha. Em relatrio, o Eng. Ayres de Souza descreve adiversidade de ambientes encontrados, o que demandava diferentes solues, e uma lista dasdificuldades enfrentadas, dentre elas: a pouca mo de obra especializada, a quebra de

    equipamentos e mquinas e at a ausncia de meios para o pagamento do pessoal contratado.

    Apesar disso, os resultados colhidos com os estudos do IOCS e o critrio com que foramconduzidos so um exemplo at os dias atuais. Por exemplo, o ano de 1911 destaca-se pelainstalao de postos pluviomtricos (DNOCS, 2011) e o ano de 1915, pela nfase em estudoscartogrficos, tendo sido produzidos mapas de diversos estados (GUERRA, 2004).

    Mesmo com a viso tecnicista do IOCS, que preconizava a necessidade de estudos preliminarespara a definio das alternativas de combate s secas e da melhor localizao para a construode audes, houve nos anos 20 uma nsia para a construo de audes. Essa nsia decorreu daseca de 1915 e da ascenso, em 1919, do paraibano Epitcio Pessoa presidncia da Repblica.

    Ainda dentro das alteraes do arranjo institucional, em 1920 o IOCS passou a receber adenominao de IFOCS Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, uma denominao queperdurou por algum tempo. Porm, independentemente da denominao, o direcionamento dasaes do rgo foi constantemente modificado, tal como a disponibilidade de verbas para arealizao das obras e estudos, sempre na esteira da discusso poltica.

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    Em 1931, a IFOCS passou por umareforma nas suas atribuies, retirando aconstruo de ferrovias e rodovias, entreoutras mudanas. Merece destaque adistino de quatro bacias no Nordeste: Sistema Acara, no Cear; Sistema Jaguaribe, no Cear;

    Sistema do Alto Piranhas, na Paraba; Sistema Baixo Assu ou Baixo

    Piranhas, no Rio Grande do Norte.

    Em momentos posteriores foramincludos: o Sistema Apodi, no RioGrande do Norte e o Sistema SoFrancisco. Pode-se inferir que se buscouuma maneira de delimitar a rea deatuao da IFOCS (Polgono das Secas)(GUERRA, 2004).

    Posteriormente a IFOCS recebeu a denominao de Departamento passando a se constituir noatual DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, que, por muitos anos, foiresponsvel por todas as atividades de desenvolvimento da regio semirida e at hoje tem papelimportante na gesto de audes da regio.

    Em DNOCS e o Novo Nordeste o papel das obras contra as secas nos diferentes momentos dahistria discriminado conforme a instituio que estava sua frente (MINISTRIO DAINTERIOR, 1985):

    IOCS estudos em que predominavam os levantamentos e reconhecimento da rea, de suaspotencialidades e recursos naturais.

    IFOCS implantao de infraestrutura, caracterizada pela construo de estradas, portos,eletrificao, campos de pouso, audes, poos e canais.

    DNOCS aproveitamento hdrico, com nfase especial na construo de audes paraabastecimento, piscicultura e irrigao (...)

    O programa de combate s secas do Governo Federal preconizava no s a construo degrandes audes, como tambm de pequenos audes em propriedades privadas, dentro de umaviso de que o governo seria o responsvel pela construo do aude e a gua seriadisponibilizada para toda a populao da rea. Com isso, o governo no arcaria com o custo daterra. Porm, o acesso a gua ficou limitado aos donos das terras. Ciente dos benefcios daconstruo de audes, a populao cobrava das autoridades a construo de audes em locais de

    livre acesso, transformando as construes em atos de barganha poltica. Essa uma fasedenominada soluo hdrica, que caracterizada pela construo desordenada de pequenosaudes, o que alterou significativamente o perfil hidrolgico do semi-rido, a disponibilidadehdricae a gesto das guas (ARAJO, 2011).

    Na esteira da construo de audes e da disponibilidade hdrica, o desenvolvimento da agriculturairrigada foi uma das formas de combater os males da seca, que em um primeiro momento ocorreuem aes pulverizadas e desarticuladas no governo, sem o devido foco no apoio da atividadeprodutiva.

    No mesmo ano de institucionalizao do DNOCS, 1945, criada a Companhia Hidreltrica do SoFrancisco e a Comisso do Vale do So Francisco, com uma viso do aproveitamento da gua

    para a gerao de energia (eletrificao do Nordeste), e o desenvolvimento das regies onde agua estava presente, ou seja, no rio So Francisco (SOUZA, 2004).

    Antiga caixa dgua construda pela IFOCSFonte: http://lahistoriauneb2010.blogspot.com.br/

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    Trabalhadores da Chesf em frente Usina de Paulo Afonso/BA.Fonte: http://www.folhasertaneja.com.br/

    Alm disso, a criao do BNB Banco do Nordeste do Brasil (1952) e da SUDENE Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste (1958) representam uma nova maneira depensar do governo da poca. A nfase deixa de ser a seca e passa ao desenvolvimentoeconmico e social, que at ento era precrio e sem planejamento da regio (SOUZA, 2004).

    At a criao da SUDENE, o DNOCS era a nica instituio responsvel pelo atendimento spopulaes que sofriam com as secas, propondo desde a construo de estradas e audes at apromoo de atendimento emergencial. Com a criao de novas instituies, as atribuies doDNOCS foram se concentrando na disponibilidade hdrica e no uso da gua (irrigao, pesca,

    piscicultura...) associadas s polticas e incentivos praticados em outros rgos.

    Destacam-se nas iniciativas de governo, a criao de instituio diferenciada paradesenvolvimento de regies onde haviam rios perenizados, tais como a Comisso do Vale do SoFrancisco CVSF, sucedida pela Superintendncia do Vale do So Francisco SUVALE, hojeCompanhia de Desenvolvimento dos Vales do So Francisco e do Parnaba Codevasf, que temcomo objetivo promover o desenvolvimento da regio utilizando os recursos hdricos com nfasena irrigao (CODEVASF, 2011).

    Apoiada por esses rgos, fundamentada em polticas de governo e com apoio de programasespeciais, foi que a irrigao se desenvolveu no semirido e se constituiu no s em uma formade convivncia com a seca, mas como um caminho para o desenvolvimento econmico e social.

    No que se refere ao arcabouo legal para o gerenciamento de recursos hdricos, o governo sveio a se preocupar com a elaborao de normas sobre utilizao de recursos naturais, comofloresta e gua, a partir de 1906. No caso dos recursos hdricos, o Projeto do Cdigo de guas foielaborado no ano seguinte pelo jurista Alfredo Vallado, a pedido do Ministro da Indstria, Viaoe Obras Pblicas, e encaminhado Cmara dos Deputados pelo presidente Affonso Penna paraapreciao, no tendo sido promulgado. A edio do Cdigo de guas s veio a ocorrer quasetrs dcadas depois, devido a sua inadequabilidade tanto aos dispositivos da Constituio Federalvigente, quanto aos problemas relacionados s secas peridicas que ocorriam no semiridonordestino1 (ASSUNO, 2001).

    1 Assuno (2001) registra que o Cdigo de guas foi elaborado com base em legislaes vigentes na Europa,principalmente Frana e Itlia, que so pases de clima mido.

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    Cabe destacar que o Cdigo das guas (Decreto n 24.643, de 1934), apesar do carter inovadore moderno, que atual at os dias de hoje, no contribuiu para equacionar o problema daescassez hdrica do semirido. O foco do aproveitamento do potencial hidrulico era dominante eseus artigos necessitavam de regulamentao, o que ocorreu prioritariamente para a rea dehidroeletricidade. No mbito da propriedade das guas o Cdigo especifica: guas pblicas,guas comuns e guas particulares. As guas situadas nas zonas periodicamente assoladaspelas secas foram destacadas como pblicas e de uso comum.

    E foi nesse contexto, poltico, legal, social e institucional, apoiada por diferentes programasgovernamentais que se desenvolveu a regio semirida at as ltimas dcadas do sculo XX,quando as questes ambientais e de uso da gua passaram a receber destaque dentro daspolticas de governo. No Quadro 1 apresentado um balano dos perodos histricos e osprincipais fatos, concernentes aos recursos hdricos, a eles relacionados.

    Quadro 1Perodos histricos e os principais fatos relacionados aos recursos hdricos noNordeste

    Perodo Caracter sticas do perodo Fatos relevantes relacionados aos recursos hdricos

    1500 a1700

    Atividades econmicas se

    concentravam na regiolitornea, mais mida

    Regis tro da primeira seca no Nordeste, relatada por Ferno Cardim, em1583.

    1701 a1850

    Aumento da ocupao peloseuropeus e aumento dosrebanhos; visoass istencialista da questodas secas

    Carta Rgia que proibia a criao de gado em uma faixa de 10 lguasdo litoral (1701).

    Regis tro das secas passou a ter maior importncia. Muitas vezes noera registrada a aus ncia de chuvas, mas os s aques promovidos porindgenas.

    1851 a1900

    Viso tecnicista sobre assecas e incio daimplementao de obras deinfraestrutura hdrica,principalmente a audagem

    Primeira proposio de integrao do rio So Francisco com o rioJaguaribe.

    Proposio, por uma comisso tcnica, da construo de 30 audes noCear (1877).

    Projeto do Aude CedroQuixad (1882).

    1901 a1930

    Viso ainda tecnicis ta,influenciada pelasdiscusses polticas sobreas obras de infraestruturahdrica e estudos tcnicos

    Criao das seguintes comisses: de Audes e Irrigao; de Estudos eObras contra os Efeitos das Secas ; e de Perfurao de Poos (1904).

    Criao da Inspetoria de Obras Contra as Secas IOCS (1909). Instalao de postos pluviomtricos (1911). Desenvolvimento de estudos cartogrficos com produo de mapas de

    diversos estados (1915). Criao da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas IFOCS

    (1920).

    1931 a

    1960

    Incio da viso de ges to porbacia e por s istemas

    hdricos e visodesenvolvimentista

    Reforma do IFOCS, com distino de quatro bacias hidrogrficasnordestinasAcara e Jaguaribe, no Cear; Alto Piranhas, na Paraba;e Baixo Ass u, no Rio Grande do Norte (1931).

    Edio do Cdigo de guas (1934). Transformao da IFOCS em Departamento Nacional de Obras Contra

    as SecasDNOCS (1945). Criao da Companhia Hidreltrica do Vale do So Francisco CHESF

    (1945). Criao do Banco do Nordeste do BrasilBNB (1952). Criao da Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste

    SUDENE (1958).

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    2.3 A IMPLEMENTAO DO GERENCIAMENTO INTEGRADO DERECURSOS HDRICOS NO NORDESTE

    Antes de vermos a evoluo da gesto dos recursos hdricos do Nordeste, veremos em quecontexto histrico essa nova forma de gerir os usos da gua se consagrou no Brasil e seu

    rebatimento para a regio Nordeste.

    2.3.1 A evoluo do gerenci am ento int egrado de recu rsos hdr ico s no Br asil

    A partir da dcada de 1970, observou-se uma crescente preocupao com asquestes relacionadas ao meioambiente. O contexto internacional jvinha apontando a necessidade deadoo de uma nova concepo emrelao ao ambiente por parte dos

    governos e da sociedade. O Clube deRoma, composto por cientistas,industriais e polticos, lanou em 1972o relatrio Os Limites do Crescimentoo qual apontava a necessidade decongelar o crescimento populacional,bem como o capital industrial. Orelatrio teve repercusso internacionale foi extensamente debatido durante aConferncia de Estocolmo sobre Meio

    Ambiente, realizada tambm em 1972,e que iniciou um processo mais intenso

    de incorporao da conscinciaecolgica e princpios norteadores deproteo ambiental na agenda polticadas naes.

    Em 1983, foi criada comisso daOrganizao das Naes Unidas(ONU) para levantar os principaisproblemas ambientais do planeta esugerir estratgias para a preservaodo meio ambiente. Como resultado, foielaborado o Relatrio Brundtland que

    apontou para um desenvolvimentoeconmico que no se d emdetrimento da justia social e dapreservao do planeta. Essa forma dedesenvolvimento desejada deveriaser sustentvel. Tambm em 1983, foi realizado em Braslia, o Seminrio Internacional deGesto de Recursos Hdricos, representando o incio dos debates nacionais relativos a essatemtica. A partir da, foram realizados vrios encontros nacionais de rgos gestores de recursoshdricos.

    Em 1986, o Ministrio de Minas e Energia criou um Grupo de Trabalho cujo relatrio recomendoua criao e a instituio do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos(SINGREH), a busca de subsdios para instituir a Poltica Nacional de Recursos Hdricos, atransio do Comit Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrogrficas (CEEIBH) e dosrespectivos comits executivos de bacias hidrogrficas para um novo sistema e a instituio dos

    Reportagem sobre a Conferncia de EstocolmoFonte: Jornal do Brasil em

    http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=26966

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    sistemas estaduais de gerenciamento de recursos hdricos. O resultado de todo esse processolevou a incluso, na Constituio Federal de 1988, de competncia da Unio para legislar sobregua e sobre ainstituio do SINGREH.

    A Conferncia de Dublin, realizada em 1992, apontou a existncia de srios problemasrelacionados disponibilidade hdrica e estabeleceu princpios para a gesto sustentvel da gua.

    Ainda em 1992, foi realizada a Conferncia das Naes Unidas para o Ambiente e

    Desenvolvimento (CNUMAD), tambm conhecida como Rio 92 ou Eco 92. Nesse evento,representantes de 170 naes referendaram os Princpios de Dublin e aprovaram uma agendamnima de preservao e recuperao do meio ambientea Agenda 21.

    Capa da Agenda 21 brasileiraFonte: http://www.meioambiente.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=27

    Em movimento paralelo, durante os anos 80 e 90, com a retomada do regime democrtico noBrasil, algumas inovaes institucionais foram se efetivando na gesto das polticas pblicas,

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    sobretudo por presso de movimentos sociais, que demandavam uma maior participao dasociedade na elaborao de polticas pblicas. Soma-se a isso o rpido crescimento populacional,a acelerada urbanizao, a grande extenso geogrfica do pas com grandes diferenaseconmico-sociais entre suas regies, as dificuldades econmicas e a competio crescente pelouso da gua para mltiplas finalidades, exigindo uma reforma global no sistema de gesto derecursos hdricos. E assim foram formuladas estruturas de gerenciamento com a participao deentidades da sociedade civil e usurios de gua.

    neste contexto que estados brasileiros passam a discutir efundamentar suas leis para a gesto de recursos hdricos,tendo como base alguns princpios:

    gesto descentralizada, integrada e participativa dagua

    a bacia hidrogrfica como unidade territorial deplanejamento e gesto

    a gua como um bem pblico e com valor econmico

    instrumentos de planejamento e regulao por bacia

    instrumentos econmicos para a gesto da guacomo a cobrana pelo uso

    luz dessas experincias foi promulgada a Lei n 9.433/1997, que instituiu a Poltica Nacional deRecursos Hdricos e criou o SINGREH. Aps 3 anos de promulgada a Lei das guas, que instituiua Poltica Nacional de Recursos Hdricos, a Lei n 9.984/2000, criou a ANA Agncia Nacional de

    guas, entidade federal com a finalidade de implementar a Poltica. O Quadro 2 resume osprincipais perodos, a partir de 1960 at 2000, da evoluo da gesto de recursos hdricos noBrasil e fatos relevantes a ela relacionados.

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    Quadro 2Estgios evolutivos da gesto de recursos hdricos

    PerodoCaracters-

    ticas doperodo

    Fatos relevantes relacionados aos recursos hdricos

    1960 a1970

    Incio da

    pressoambiental

    Incio da construo de grandes empreendimentos hidreltricos.

    Deteriorao da qualidade da gua de rios e lagos prximo s a centros urbanos.

    Plano Nacional de SaneamentoPLANASA (1967).

    Criao do Minis trio das Minas e Energia (1960) incorporando o CNAEE e a Diviso deguas .

    Criao das Centrais Eltricas Brasileiras ELETROBRS (1961).

    Transformao da Diviso de guas em Departamento de guas e Energia EltricaDNAEE (1965).

    1970 a

    1980

    Incio decontrole

    ambiental

    nfase em hidreltricas e abastecimento de gua.

    Incio da presso ambiental.

    Deteriorao da qualidade da gua dos rios devido ao aumento da produo industrial econcentrao urbana.

    1980 a

    1990

    Interaesdo ambiente

    global

    Reduo do investimento em hidreltricas devido crise fiscal e econmica.

    Piora das condies urbanas: enchentes, qualidade da gua.

    Fortes impactos das secas do Nordeste. Aumento de investimento em irrigao.

    Legislao ambiental.

    Incremento de reas irrigadas na Regio Nordeste com a criao do Programa Nacionalde Aproveitamento Racional de Vrzeas Irrigveis PROVRZEAS e do Program a deFinanciamento e Equipamentos de IrrigaoPROFIR, em 1981 (SANTO, 2011).

    Incorporao de uma viso mais abrangente das necessidades para o desenvolvimentoda irrigao e implementao de polticas de financiamento pblico para irrigao com acriao do Programa de Irrigao do NordestePROINE, em 1986 (HEINZE, 2002).

    1990 a1997

    Desenvolvi-mento

    sustentvel

    Legislao de recursos hdricos (pioneirism o de So Paulo, com a Lei n 7.663, de1991).

    Investimento no controle sanitrio das grandes cidades.

    Aumento do impacto das grandes enchentes urbanas. Programas de conservao dos biomas nacionais: Amaznia, Pantanal, Cerrado e

    Costeiro.

    Incio da privatizao dos servios de energia e saneamento.

    Instituio da Poltica Nacional de Recursos Hdricos e Criao do SINGREH (Lein 9.433/97 ou Lei das guas)

    1997 a

    2000

    nfase na

    gua

    Avano do desenvolvimento dos aspectos institucionais da gua.

    Privatizao do setor energtico.

    Diversi ficao da matriz energtica.

    Desenvolvimento de planos de drenagem urbana para as cidades.

    Criao da Agncia Nacional de guas (Lei n 9.984)

    Fonte: Adaptado e ampliado de TUCCI (2001).

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    2.3.2 A im plem entao do gerenciam ento integrado de recurso s hdr icos no Nor deste

    O Cear foi o primeiro estado do Nordeste e o segundo do Pas a aprovar a sua lei de recursoshdricos, em 1992, antes da Lei n 9.433, de 1997 que instituiu a Poltica Nacional de RecursosHdricos. Poucos anos depois, e ainda antes de 1997, mais trs estados nordestinos aprovaramsuas leis de recursos hdricos: Bahia, Paraba e Rio Grande do Norte.

    Nos anos seguintes os demais estados aprovaram suas leis de recursos hdricos de forma quehoje todos os estados do nordeste instituram suas Polticas Estaduais de Recursos Hdricos. Deforma geral, essas polticas seguem os mesmos objetivos, fundamentos e estrutura organizacionale possuem os mesmos instrumentos da Poltica Nacional de Recursos Hdricos.

    O Cear tambm foi pioneiro em termos de estrutura organizacional para o gerenciamento derecursos hdricos, quando criou em 1993 a Companhia de Gesto de Recursos Hdricos COGERH, uma entidade voltada especificamente para o gerenciamento de recursos hdricos noestado.

    Nos anos seguintes, os demais estados tambm criaram suas estruturas organizacionaisresponsveis pelo gerenciamento de recursos hdricos, compostos basicamente por umasecretaria de estado, que na maioria dos casos tambm responsvel pela gesto do meioambiente, e por um rgo gestor de recursos hdricos. A maioria dos estados criou uma entidadeespecifica como rgo gestor de Recursos Hdricos, mas poucos possuem quadro tcnico efetivocompatvel com as suas atribuies.

    Todos os estados possuem ConselhosEstaduais de Recursos Hdricos edividiram seus territrios em unidadesde planejamento de recursos hdricos,ressaltando-se que cada unidade podecoincidir com a rea da bacia

    hidrogrfica, ou representar somenteuma parte de uma bacia, ou aindaincluir vrias bacias. De um total de156 unidades de planejamento derecursos hdricos, at 2013, 32%possuam Comits de BaciaHidrogrfica e nenhuma delaspossua agncia de gua, comexceo do Cear, onde a COGERHdesempenha esse papel.

    Com relao aos instrumentos de

    gesto, todos os estados possuemsistemas de informao e sistemas deoutorga, podendo haver diferentesestgios de implantao, como ocaso do Maranho, que est em fasebastante incipiente. Todos os estadospossuem Plano Estadual de RecursosHdricos. No entanto, nenhum delesimplantou o instrumento doenquadramento dos corpos de guaem classes, segundo os usospreponderantes de gua. Sergipe

    possui um estudo de classes de enquadramento, mas no foram desenvolvidos os planos e asaes necessrias para implementar o instrumento.

    Comits criados no Nordeste at dezembro de 2013

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    Merece destaque a implementao da cobrana no estado do Cear, em dezembro de 1996. Acobrana cearense se assemelha conceitualmente a uma tarifa pela prestao do servio deaduode gua bruta. Os valores so definidos por decreto do governador e a arrecadao realizada pelo rgo gestor estadual COGERH que aplica os recursos na operao emanuteno das infraestruturas hdricas que garantem o abastecimento de gua no estado. Osrecursos tambm so aplicados em aes de recuperao das bacias e gesto, porm essasmodalidades correspondem a uma parcela relativamente pequena da arrecadao total.

    No Cear, o conselho estadual e os comits de bacia tm uma participao muito limitada naimplementao da cobrana, sendo as principais decises tomadas no mbito do poder pblicoestadual.

    A Bahia tambm implementou uma cobrana nos mesmos moldes do Cear, a partir de 2005,visando a cobrir os custos de operao e manuteno de alguns reservatrios que atendem aoabastecimento humano.

    Outro estado do Nordeste que j avanou em termos de implementao da cobrana foi aParaba, onde o Conselho Estadual de Recursos Hdricos aprovou em 2010 os mecanismos evalores da Cobrana estadual. Porm, at dezembro de 2013 o instrumento no havia ainda sidoimplementado.

    Deve-se registrar que at o incio daoperao do Projeto de Integrao doRio So Francisco com as bacias doNordeste Setentrional PISF, deverser implementada a cobrana peloservio de aduo de gua bruta nosestados do Cear, Pernambuco,Paraba e Rio Grande do Norte, comvalores que cubram os custos de

    operao e manuteno dasinfraestruturas hdricas do PISF, bemcomo daquelas localizadas nosestados que recebero guas doPISF.

    Visando a garantir a sustentabilidadefinanceira dos sistemas estaduais degerenciamento de recursos hdricos,todos os estados criaram fundosestaduais de recursos hdricos. Porm,entre as diversas fontes de recursos

    possveis, somente os estados daBahia e Sergipe prevem a alocaoobrigatria a esses fundos, de umpercentual da compensao financeira que recebem dos aproveitamentos hidreltricos instaladosno seu territrio. Os estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte tambm aplicam recursosdessa compensao nos fundos, embora a Lei Estadual no fixe um percentual obrigatrio. Oestado do Cear no recebe esta compensao por no dispor no seu territrio deaproveitamentos hidreltricos que lhe propiciem esse direito.

    As tabelas a seguir apresentam um quadro ilustrando a situao da implantao do arcabouolegal, dos rgos e sistemas de gesto de recursos hdricos.

    O PISF, seus eixos Norte e Leste e demais obrasexistentes e previstas

    Fonte: Ministrio da Integrao Nacional

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    Quadro 3Implantao da gesto de recursos hdricos na regio Nordesteleis e sistemas de gesto

    Estado Alagoas Bahia Cear Maranho

    Lei de Recursos Hdricos 5.965/1997 6.855/1995 e 11.612/2009 11.996/1992 e 14.844/2010 8.149/2004

    CoordenaoSecretaria de Estado do Meio

    Ambiente e dos RecursosHdricosSEMARH

    Secretaria de Estado do MeioAmbienteSEMA

    Secretaria dos Recursos HdricosSRH

    Secretaria de Estado do MeioAmbiente e Recurs os Naturais SEMA

    rgo GestorSuperintendncia de Recursos

    HdricosInstituto do Meio Ambiente eRecursos HdricosINEMA

    Companhia de Gesto dosRecursos HdricosCOGERH -

    Conselho Estadual deRecursos Hdricos

    Sim Sim Sim Sim

    Nmero de Unidades dePlanejamento (1*)

    22 24 12 7

    UPs com Comitscriados (2*)

    5 13 12 2

    Agncia de guas No No Sim (3*) No

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    IMPLANTA O DA GEST O DE RECURSOS H DRICOS NA REGI O NORDESTE LEIS E SISTEMAS DE GEST O (cont.)

    Estado Para ba Pernambuco Piau Rio Grande do Norte Sergipe

    Lei de Recursos Hdricos 6.308/199611.426/1997 e12.984/2005

    5.165/2000 6.908/1996 3.870/1997

    Coordenao

    Secretaria de Es tado dosRecursos Hdricos, doMeio Ambiente, e daCincia e Tecnologia

    SERHMACT

    Secretaria de RecursosHdricos e Energticos

    Secretaria de Estado doMeio Ambiente eRecursos Hdricos

    SEMAR

    Secretaria de Estado doMeio Ambiente e dosRecursos Hdricos

    SEMARH

    Secretaria de Estado doMeio Ambiente e dosRecursos Hidricos

    SEMARH

    rgo Gestor

    Agncia Executiva deGesto das guas doEstado da Paraba

    AESA

    Agncia Pernambucanade guas e ClimaAPAC -

    Instituto de Gesto dasguas do Estado do RioGrande do NorteIGARN

    Superintendncia deRecursos HdricosSRH

    Conselho Estadual deRecursos Hdricos

    Sim Sim Sim Sim Sim

    Nmero de Unidades dePlanejamento (1*)

    9 33 14 28 8

    UPs com Comitscriados (2*)

    4** 6 1 4** 3

    Agncia de guas No No No No No

    (1*) TOTAL = 156 (2*) TOTAL= 50 (32%) (3*) A COGERH funciona como Agncia de gua do Sistema Estadual de Recurs os Hdricos

    ** Incluindo o CBH Pianc-Piranhas-Au que abrange 1 UP na PB e 1 UP no RN.

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    De forma geral, a implementao do gerenciamento integrado de recursos hdricos nos estados doNordeste avanou bastante na criao do arcabouo legal e das instncias em nvel estadual conselhos de recursos hdricos, secretarias de estado e rgos gestores. Entretanto, ainda necessrio fortalecer as secretarias e rgos gestores estaduais de recursos hdricos,principalmente no que se refere estruturao do quadro tcnico, bem como minimizar os efeitosque as mudanas de governo podem causar na continuidade de aes, programas e projetos.

    Por outro lado, a implementao das instncias em nvel de bacia hidrogrfica, notadamenteComits e Agncias de Bacia, ainda incipiente. Menos de um tero das bacias possuem comit eapenas o Cear conta com uma estrutura semelhante s das Agncias de gua para apoio aofuncionamento de comits.

    Entretanto, foram criadas diversas Comisses Gestoras que administram sistemas hdricosisolados, como audes, formadas por usurios de gua, por representantes da sociedade civilorganizada e do poder pblico. As comisses gestoras promovem a alocao negociada dasguasdos reservatrios e agregam novos atores no gerenciamento integrado de recursos hdricos,sem retirar a autoridade do ente competente para decidir sobre os recursos hdricos, ou seja, ocomit de bacia.

    Reunio da Comisso Gestora do aude Aracoiaba, no Cear, em 2012Fonte: http://www.hidro.ce.gov.br/cogerh/reuniao-da-comissao-gestora-do-acude-aracoiab a

    Com relao aos instrumentos de gesto, houve avano na implementao da Outorga e dosPlanos Estaduais de Recursos Hdricos. Todavia, os sistemas de outorga em alguns estados aindaesto em fase inicial de implantao.

    Em que pese existirem normas legais de outorga na maioria dos estados, no h nenhum complano de bacias elaborado em um estgio que permita fornecer orientaes para as outorgas.Embora a maioria dos estados possua banco de dados de usurios outorgados, h casos em queos dados no esto atualizados e casos em que no h cadastros automatizados, havendo umproblema de qualidade dos dados de cadastro.

    No h tambm nenhum estado e nem mesmo bacias de rios federais que estejam com todos osusurios regularizados. Embora a maioria dos estados possua critrios definidos de outorga, huma necessidade de esforo para sua compatibilizao. O grau de sistematizao e deautomatizao dos procedimentos de outorga difere muito. Uma grande parte dos estados noconta com sistemas de apoio deciso. A maioria desenvolveu estudos de regionalizao de

    vazo, alguns deles disponveis apenas para parte do estado.

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    As equipes de outorga variam muito, sendo que na grande parte dos casos no h uma equipecompleta composta de funcionrios de carreira. Em geral, as equipes so pequenas e integradasna sua maioria por servidores temporrios e estagirios.

    H uma diversidade muito grande de critrios de vazo mxima outorgvel, individual e coletiva, enos critrios de vazes de pouca expresso e mnimas remanescentes. No h tambm normas ecritrios unificados sobre a eficincia dos usos da gua.

    Em relao fiscalizao, face escassez de pessoal e de equipamentos, trabalha-se pordenncias ou priorizando-se reas de conflito. No h tambm uniformidade sobre procedimentosde fiscalizao.

    Os sistemas de informao esto presentes em todos os estados, porm com diferentes estgiosde implantao entre si. De forma geral, esto aqum do ideal para quantificao da disponibilidade(monitoramento hidrolgico), sendo precrios em termos de dados qualitativos e de quantificaodas demandas (cadastro de usurios de recursos hdricos).

    Estaes de monitoramento da quantidade e da qualidade das guas em operao em 2013no Nordeste

    A implementao da cobrana, do enquadramento e dos planos de recursos hdricos em nvel debacias hidrogrficas, ainda bastante incipiente. Com exceo do Cear e parte da Bahia, nenhumoutro estado do Nordeste implementou o instrumento dacobrana. Alm disso, como foi dito, acobrana implementada se assemelha conceitualmente a uma tarifa pela prestao de servio deaduo de gua bruta, sendo as principais decises tomadas no mbito do poder pblico estadualcom participao muito limitada dos comits de bacia.

    Como a cobrana, o enquadramento e o plano de bacia so instrumentos cuja implementaodepende de proposio do comit de bacia, pode-se inferir que o nvel incipiente de suaimplementao est relacionado pequena quantidade de comits criados no nordeste at o

    momento e a falta de apoio ao funcionamento destes.

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    Verifica-se, portanto, que de forma geral, as instncias e instrumentos cuja implementao dependemais de iniciativa do poder pblico tiveram avano maior do que aqueles que necessitam departicipao dos usurios e da sociedade civil.

    No obstante, existem casos especficos em algumas bacias hidrogrficas onde se pode verificarum avano mais significativo na implementao do gerenciamento integrado de recursos hdricos,como ser apresentado mais adiante.

    Alm disso, foram executadas muitas obras de infraestrutura hdrica visando ao aumento dagarantia da oferta hdrica para o semirido. Entretanto, deve-se avanar na otimizao do uso dosrecursos hdricos disponibilizados nestas infraestruturas por meio de um processo degerenciamento integrado mais eficiente.

    Diante deste quadro geral, deve-se ponderar se no seria pertinente reavaliar a forma deimplementao do gerenciamento integrado de recursos hdricos frente sua realidade especficada Regio Nordeste.

    Nesta reavaliao, um dos principais aspectos a ser considerado e que diferencia a regio dorestante do pas, a escassez hdrica. Na maioria das bacias nordestinas, a disponibilidade degua garantida por meio de infraestruturas hdricas, como adutoras e canais, que interligamdiversas bacias hidrogrficas. Nestas bacias, os usos de recursos hdricos realizados por umindivduo dependem e podem impactar os usos de outros indivduos que estejam localizados embacias vizinhas.

    Nesse contexto, pode-se reavaliar o conceito de bacia hidrogrfica como unidade territorial deimplementao da poltica de recursos hdricos e considerar a possibilidade de adoo de umanova unidade territorial que extrapole os limites hidrolgicos da bacia hidrogrfica e reflita novoslimites impostos pelas interligaes entre bacias.

    A escassez hdrica tambm tem impacto sobre a sustentabilidade financeira dos sistemas de

    gerenciamento de recursos hdricos da regio. A gesto de guas nas bacias nordestinas possuium nus adicional em relao s demais bacias do pas, em virtude da necessidade de construo,operao e manuteno de infraestruturas hdricas que garantam a disponibilidade de gua.

    Para cobrir esse custo adicional e os demais custos relacionados gesto de recursos hdricos, amaioria dos estados conta apenas com recursos oramentrios prprios, j que a implementaoda cobrana ainda incipiente.

    Diante disso, considerando os valores de cobrana praticados hoje no Pas, verifica-se que noexiste viabilidade financeira para a criao de agncias de bacia por unidade de planejamento derecursos hdricos e financiamento de aes estruturais e de gesto visando proteo erecuperao das bacias hidrogrficas, bem como ao atendimento das demandas futuras.

    Uma alternativa a seria a agregao de unidades de planejamento de recursos hdricos e a atuaodo prprio rgo gestor estadual como agncia de gua destas unidades.

    Ainda assim, faz-se necessria a busca por mecanismos alternativos para garantir asustentabilidade financeira dos sistemas de gerenciamento de recursos hdricos do nordeste.

    Esses so apenas alguns pontos destacados para discusso sobre a implementao dogerenciamento de recursos hdricos no Nordeste, uma vez que trata-se de um tema bastantecomplexo e desafiador. No prximo mdulo veremos alguns exemplos prticos que ajudaram noprocesso de implementao da GIRH na regio.

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    GLOSSRIOAudeLago ou reservatrio formado pelo barramento de um curso de gua.

    AduoOperao de trazer a gua, nos sistemas de abastecimento, desde o ponto de captaoat rede de distribuio.2

    gua bruta a gua retirada do rio, lago ou lenol subterrneo, possuindo determinadascaractersticas para o consumo.

    Alocao negociada o processo de diviso de gua entre usos e usurios, pactuado de formacoletiva, com a participao dos interessados.

    Comit de Bacia HidrogrficaFrum de deciso no mbito de cada bacia hidrogrfica contandocom a participao dos usurios, das prefeituras, da sociedade civil organizada, das demais esferasde governo (estaduais e federal), e destinado a agir como o "parlamento das guas da bacia"7.

    Desenvolvimento sustentvelDesenvolvimento capaz de suprir as necessidades da gerao

    atual, sem comprometer a capacidade de atendimento s geraes futuras.

    Disponibilidade hdrica a quantidade de gua disponvel para determinado uso, na qualidadenecessria, em um trecho de corpo hdrico, durante um determinado tempo.

    EdficoPertencente ou relativo ao solo.

    Enquadramento de corpos dgua em classes, segundo os usos preponderantes da gua um dos instrumentos de gesto de recursos hdricos que visa o estabelecimento do nvel dequalidade (classe) a ser alcanado e/ou mantido em um segmento de corpo dgua ao longo dotempo. Tem o objetivo de assegurar s guas qualidade compatvel com os usos mais exigentes aque forem destinadas, bem como diminuir os custos de combate poluio das guas medianteaes preventivas permanentes.

    Outorga de direito de uso da gua o ato administrativo mediante o qual o poder pblicooutorgante (Unio, Estado ou Distrito Federal) faculta ao outorgado (requerente) o direito de uso derecurso hdrico, por prazo determinado, nos termos e nas condies expressas no respectivo atoadministrativo3.

    PereneQue dura muitos anos, incessante, ininterrupto; rio que no seca naturalmente.

    PerenizaoTornar perene, ou seja, fazer durar muitos anos, de forma incessante, ininterrupta.

    PisciculturaCriao de peixes.Posto fluviomtrico Local de coleta de informaes relativas a medio de nveis dgua,velocidades e vazes nos rios.

    Regionalizao de vazoMtodo que utiliza informaes existentes de uma determinada regiopara estimar vazes em locais sem dados ou com dados insuficientes.

    Vazo o volume de gua que passa por uma determinada seo de um rio ou um canal, porunidade de tempo. Usualmente dado em litros por segundo (L/s), em metros cbicos por segundo(m3/s) ou em metros cbicos por hora (m3/h)

    2 Dicionrio Aurlio Buarque de Holanda.

    3 Site da ANA .

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS EINDICAES DELEITURA

    AGNCIA NACIONAL DE GUAS (ANA). Comit de bacia hidrogrficao que e o que faz?Srie Capacitao em Recursos HdricosVolume 1. Braslia, 2011.

    ________.Plano de Recursos Hdricos e Enquadramento dos corpos de gua

    . SrieCapacitao em Recursos HdricosVolume 5. Braslia, 2013.

    ________. Outorga de direito de uso de recursos hdricos . Srie Capacitao em RecursosHdricosVolume 6. Braslia, 2011.

    ________. Cobrana pelo uso de recursos hdricos. Srie Capacitao em Recursos HdricosVolume 7. Braslia, no prelo.

    ________. ConjunturaRecursos hdricos no BrasilInforme 2010. Braslia, 2011.

    ________. ConjunturaRecursos hdricos no BrasilInforme 2009. Braslia, 2010.

    ________. Relatrio de encontro tcnico sobre delegao de outorga de direito de uso derecursos hdricos e aes de fiscalizao. Braslia, 2010.

    ________. Avaliao dos recursos hdricos subterrneos e proposio de modelo de gestocompartilhada para os aquferos da chapada do Apodi, entre os estados do Rio Grande doNorte e Cear. Vol. 5. Braslia, 2010.

    ________. ConjunturaRecursos hdricos no BrasilInforme 2008. Braslia, 2009.

    ________. A evoluo da gesto dos recursos hdricos no Brasil. Braslia, 2002.

    AGNCIA NACIONAL DE GUAS; CENTRO DE GESTO E ESTUDOS ESTRATGICOS. Aquesto da gua no Nordeste. Braslia, 2012.

    AGNCIA NACIONAL DE GUAS (ANA); CONSRCIO ECOPLAN/LUME. Plano Integrado deRecursos Hdricos da Bacia Hidrogrfica do Rio Doce e planos de aes para as unidades deplanejamento e gesto de recursos hdricos no mbito da Bacia do Rio Doce relatrioexecutivo. Braslia, junho 2010.

    ALVES, J. A Seca nos Sculos XVII e XVIII. IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido, Fortaleza,v.1, n.4, out-dez 2004.

    ARAJO, J. C. Gesto das guas de pequenos audes na regio semi-rida. IN: Medeiros, SS.Gheyi, H.R.; Galvo, C.O.; Paz, V.P.S. Campina Grande/PB. Instituto Nacional do Semi-rido,2011, 440p.

    BRAGA, R. Ensaio crtico histrico da Comisso Cientfica de Explorao. IN: Revista ConviverNordeste Semi-rido, Fortaleza, v.1, n.4, out-dez 2004.

    CAMPOS, N. A gua e a vidatextos e contextosFortaleza: ABC Fortaleza, 1990, 142 p.

    CANNABRAVA, A. A Grande Propriedade Rural. IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido,Fortaleza, v.1, n.4, out-dez 2004.

    CARDIM, F. A terra ch e sua gente honrada . IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido,Fortaleza, v.1, n.4, out-dez 2004.

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    GUERRA, O. A Batalha das secas. IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido, Fortaleza, v.1, n.4,out-dez 2004.

    MINISTRIO DO INTERIOR. DNOCS e o Novo NordesteUma perspectiva histrica (1909 1984), Fortaleza- DNOCS, 1985, 299p.

    PETRONE, T. S. As reas de criao de gado. IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido,Fortaleza, v.1, n.4, out-dez 2004.

    POMPEU, Cid Tomanik. Direito de guas no Brasil. Editora Revista dos Tribunais- So PauloSPBrasil, 2006.

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    PORTO, Monica; KELMANN, Jerson. Water resources policy in Brazil. In: Rivers Studies inthe Science Environmental Policy and Law of Instream Flow, v. 7, n. 3, 2000.

    SOUZA, J. G. Os grandes rgos regionais. IN: Revista Conviver Nordeste Semi-rido, Fortaleza,v.1, n.4, out-dez 2004.

    TEIXEIRA, Francisco Jos Coelho. Modelos de Gerenciamento de Recursos HdricosAnlisese propostas de aperfeioamento do Sistema do Cear. Universidade Federal do Cear Cear

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    MDULO IIIEstudos de caso

    Neste mdulo sero apresentadas experincias exitosas de gesto integrada de recursoshdricos no Nordeste.

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    Sumrio3.1INTRODUO ..................................................................................................................................... 3

    3.2 MARCO REGULATRIO DO PIRANHAS-AU (SISTEMA CUREMA-AU) .................................................. 3

    3.3 MARCO REGULATRIO DOS RIOS POTI E LONG/PIRACURUCA............................................................ 5

    3.4 PROJETO GUAS DO VALERE-ALOCAO NEGOCIADA DE GUA....................................................... 7

    3.5 AQUFEROS DA CHAPADA DO APODI ................................................................................................ 8

    3.6 PACTO DAS GUAS DO ESTADO DO CEAR ...................................................................................... 10

    3.7 PROGUASEMI-RIDO ............................................................................................................. 14

    GLOSSRIO ........................................................................................................................................ 17

    REFERNCIASBIBLIOGRFICASEINDICAESDE LEITURA ........................................................... 18

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    3

    3.1 INTRODUO

    Neste mdulo so apresentados alguns casos de implementao do gerenciamento integrado de

    recursos hdricos no Nordeste que merecem ser destacados pelo pioneirismo, pelos resultadosalcanados ou pela experincia adquirida.

    3.2 MARCO REGULATRIO DO PIRANHAS-AU (SISTEMA CUREMA-AU)

    O Sistema Curema-Au integra a bacia do rio Piranhas-Au que est localizada em territrios dosestados da Paraba e do Rio Grande do Norte, com nascentes na Paraba e foz na cidade deMacau/RN (Figura 1). Foram construdos trs importantes reservatrios: Curema e Me Dgua,no rio Pianc (PB) de propriedade do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas DNOCS, com 1.360 hm3de capacidade e que regularizam, de forma conjunta, 160 km de rio at

    encontrar o reservatrio EngArmando Ribeiro Gonalves, tambm de propriedade do DNOCS,com 2.400 hm3de capacidade e que regulariza cerca de 100 km do rio Au at a sua foz.

    Nos ltimos anos, a demanda pelo uso da gua na regio tem aumentando significativamente,com destaque para a irrigao difusa (pequenos proprietrios), irrigao em permetros pblicos eprivados e carcinicultura, indstrias e termoeltricas.

    Em decorrncia do grande aumento de pedidos de outorgapara carcinicultura prximo foz dorio, a Agncia Nacional de guas ANA iniciou, em junho de 2003, uma articulao institucionalcom os estados da Paraba, do Rio Grande do Norte e com o DNOCS. O processo de articulaoresultou na assinatura de um Convnio de Integrao, em 18/02/2004, pelos representantes decada entidade, com o objetivo de articular aes visando gesto integrada na Bacia Hidrogrficado Rio Piranhas-Au, de forma a possibilitar a harmonizao de critrios, normas e procedimentosrelativos ao cadastramento, outorga e fiscalizao de usos de recursos hdricos, bem como amobilizao e a articulao de usurios para o processo de gesto participativa e, em especial, do

    Canal da barragem Pedra do Cavalo, construdo no mbito do Progua Semirido

    Amlia Rodri ues/BA

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    estabelecimento de um plano de regularizao e ordenamento de usos para o Sistema Curema-Au.

    Figura 1: Bacia do rio Piranhas-Au

    As aes do Plano de Regularizao e Ordenamento dos Usos dos Recursos Hdricos da Baciado Rio Piranhas-Au foram as seguintes:

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    Elaborao do Marco Regulatrio do Uso da gua, em 2004; Promoo da Gesto Integrada de Recursos Hdricos; Harmonizao de critrios, normas e procedimentos relativos ao cadastro e outorga de

    direito de uso de recursos hdricos; Mobilizao e articulao de usurios para o processo de gesto participativa e

    descentralizada;

    Regularizao dos usurios por meio da emisso de outorgas de direito de uso das guase de certificados de usos insignificantes; Fiscalizao dos usos de recursos hdricos; e Aperfeioamento do sistema de monitoramento de vazes.

    Um dos principais desafios foi o estabelecimento do Marco Regulatrio do Uso da gua doSistema Curema-Au, com a definio de quantitativos passveis de captao, individualizadospor finalidade de uso e por trecho (foram definidos 6 trechos, conforme Figura 1). Alm disso, erafundamental a definio de um compromisso de entrega de vazomnima na divisa dos estadosda Paraba e do Rio Grande do Norte, com vistas ao atendimento dos usos existentes no trechoque vai da divisa do estado at o audeArmando Ribeiro Gonalves.

    Aps diversas reunies, estudos e negociaes entre os dois estados e a Unio, foi possvel aedio da Resoluo ANA n 687/2004, que estabeleceu os quantitativos do Marco Regulatriopor 10 anos, da seguinte maneira:

    vazo mnima de entrega de 1,5 m/s do estado da Paraba para o Rio Grande do Norte;vazo de 0,5 L/s como limite superior para uma captao ser considerada insignificante e,

    por isso, isenta de outorga; econdies gerais de operao dos principais reservatrios da bacia de modo a atender s

    demandas negociadas.

    Alm do Marco Regulatrio, foram assinados dois convnios com os respectivos estados parainstalao de escritrios tcnicos para apoio s atividades complementares de regularizao dosusurios, bem como o monitoramento, por parte da ANA, das vazes nas sees dos trechosestabelecidos pelo Marco Regulatrio.

    As discusses do Marco Regulatrio foram o incio do processo de mobilizao e capacitao dosatores da bacia que culminou com a criao do Comit da Bacia do rio Piranhas-Au, em30/11/2006, por Decreto Presidencial. Destaca-se que o Comit tinha no Marco Regulatrio umexcelente ponto de partida para os seus debates e para a elaborao do respectivo Plano deRecursos Hdricos.

    Em 2009 o CBH Piranhas-Au foi reconhecido, pelos Conselhos de Recursos Hdricos dosestados envolvidos, como colegiado competente para deliberar, tambm, sobre as guas dedomnios estaduais. Dessa forma, o atual CBH Pianc-Piranhas-Au se constituiu como Comit

    nico para toda a bacia, com poder de deciso no s sobre a calha do rio Piranhas-Au, mastambm sobre todos os seus afluentes, concretizando a Gesto Integrada em todos os corposdgua da bacia.

    3.3 MARCO REGULATRIO DOS RIOS POTI E LONG/PIRACURUCA

    As bacias dos rios Poti, Long e Piracuruca pertencem bacia do rio Parnaba. Suas reasencontram-se nos Estados do Cear e Piau. A maior parte dos rios destas duas bacias dedomnio dos estados, com exceo dos rios Poti e Piracuruca (afluentes do rio Parnaba), que sode domnio da Unio.

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    Figura 2: Bacias dos rios Poti e Long

    Grande parte das duas bacias localiza-se em regio semirida, com seus rios apresentandotrechos naturalmente intermitentes. Constata-se uma infraestrutura hdrica implantada, quegarante disponibilidade hdrica para a regio. Ao mesmo tempo, tm sido desenvolvidosprojetos de novos reservatrios que alteraro as condies de atendimento aos usos jimplantados. Alm do impacto nas condies atuais de atendimento aos usos da gua, asintervenes previstas no foram originalmente projetadas considerando os outros reservatriosexistentes e aqueles em fase de projeto, cujas interferncias entre si causaro alteraesdrsticas nas premissas de cada projeto. Por exemplo, no estado do Cear esto previstos trsnovos audes na bacia, e no Piau est prevista a construo de dois audes. Dos cinco audes,quatro causam ou sofrem interferncias entre si.

    Diante desse quadro, foi identificada a necessidade de se definir um Marco Regulatrio queestabelecesse critrios para implantao de novos reservatrios nas bacias dos rios Poti ePiracuruca, alm da definio da partio entre os estados da disponibilidade hdrica

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    proporcionada pelos audes, notadamente nas regies de divisa entre eles. Buscava-se, emespecial, a compatibilizao dos novos projetos entre si e com a infraestrutura atual, de modo agarantir atendimento adequado aos usos de recursos hdricos atuais e previstos, garantindo,tambm, a sustentabilidade hdrica dos reservatrios, de modo que fossem dimensionados deforma compatvel com as vazes naturais disponveis nas bacias.

    O Marco Regulatrio foi definido com base em estudos tcnicos desenvolvidos pela ANA, pelos

    rgos gestores dos estados 1, pelo DNOCS e pela Companhia de Desenvolvimento das baciasdos rios So Francisco e ParnabaCODEVASF.

    Inicialmente, foram desenvolvidos estudos hidrolgicos estimando a disponibilidade hdrica dasbacias, identificados os usos de recursos hdricos existentes e realizadas projees de aumentode demandas. Foram montados cenrios visando otimizao da infraestrutura hdrica projetada,de forma compatvel com a infraestrutura existente e os usos da gua atuais e projetados para asbacias, hierarquizando prioridades para as demandas identificadas, da seguinte maneira:

    Prioridade 1: consumo humano e dessedentao animal; Prioridade 2: Indstria e irrigao existentes; e Prioridade 3: Permetros de irrigao previstos e manchas de solo potenciais.

    As simulaes indicaram que o potencial hdrico natural proporcionado pelas bacias nocomportava a construo dos novos audes nos volumes originalmente projetados, os quaisacabariam por competir entre si pela acumulao de gua. Assim, a proposta tcnica resultanteapontou pela reduo dos volumes de projeto dos novos audes. Dessa forma, recomendou-se areduo de 43% dos volumes desses audes (de 3.800 hm para 2.160 hm), o que resultou nareduo de 12% na vazo regularizada (de 19,3 m/s para 16,9 m/s).

    Tudo foi formalizado na Resoluo Conjunta ANA/SRH-CE/SEMAR-PI n 547/2006, onde tambmforam definidas regras operativas para os novos audes, bem como vazes mnimas de entregaentre estados. As restries definidas no Marco Regulatrio esto balizando o planejamento dosestados quanto ao uso racional da gua e as interferncias hidrulicas, e esto sendo respeitadas

    nos projetos de novos reservatrios.

    3.4 PROJETO GUAS DO VALE RE-ALOCAO NEGOCIADA DE GUA

    No ano de 2001, aps a persistncia de uma seca que reduziu para 10% o armazenamento degua dos reservatrios de trs bacias contguas do Mdio e Baixo Jaguaribe e do Banabui,estado do Cear, diferentes rgos federais e estaduais se articularam num projeto inditodestinado economia de gua. Com a designao oficial de Plano de Uso Racional da guapara Irrigao nos Vales do Jaguaribe e Banabui, esse projeto ficou mais conhecido comoguas do Vale; ao mesmo tempo uma experincia controversa e interessante.

    Alm de abastecer a populao de Fortaleza, a gua dessas bacias era destinada, em sua grandeparte, agricultura irrigada, notadamente rizicultura (59% do consumo agrcola de gua) e hortifruticultura. Alm de apresentar menor valor agregado, ser menos eficiente no uso da gua ecriar menos postos de trabalho, as reas de rizicultura eram normalmente encontradas amontantedas reas de hortifruticultura. Diante dessa constatao, era inevitvel impor restries rizicultura, afinal, o valor econmico criado com uma unidade de gua na rizicultura erasensivelmente menor do que na hortifruticultura.

    A estratgia adotada consistiu em:

    1 Secretaria de Estado de Recursos Hdricos do Cear SRH, Companhia de Gesto de Recursos Hdricosdo Estado do Cear COGERH, Secretaria de Esta