recuperaÇÃo de construÇÕes em terra crua · curso de especialização em produção e gestão...

102
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Escola de Engenharia Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído Paula Rodrigues Barroso RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA Belo Horizonte 2016

Upload: hoangxuyen

Post on 18-Jan-2019

223 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Escola de Engenharia

Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente

Construído

Paula Rodrigues Barroso

RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA

Belo Horizonte 2016

Page 2: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

PAULA RODRIGUES BARROSO

RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído do departamento de Engenharia de Materiais e Construção, da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista. Orientadora: Profª. Paula Bamberg

Belo Horizonte 2016

Page 3: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos professores integrantes do corpo docente do Curso de

Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído, em especial à

minha orientadora, professora Paula Bamberg.

Page 4: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

RESUMO

O Brasil possui um amplo e significativo patrimônio edificado em terra, entretanto poucas pesquisas foram feitas no sentido de dar maior suporte científico à conservação e intervenção nessas construções. O objetivo principal do presente estudo é desenvolver material técnico que possa servir de apoio para futuras recuperações de construções feitas em terra crua, sejam elas pertencentes a algum grau de proteção patrimonial ou não. Para isso, foi feito um apanhado histórico geral de utilização da terra crua como material de construção, perpassando pelas principais técnicas de construções, salientando as características físico-químicas do material e as principais patologias que podem ser encontradas nas edificações. A metodologia empregada foi a revisão bibliográfica. Como resultado desse trabalho reuniu-se em um capítulo as principais diretrizes de intervenção para a recuperação de edificações em terra crua. Deseja-se que os estudos realizados sirvam de orientação para elaboração de um protocolo metodológico capaz de direcionar futuros trabalhos de recuperação. Por fim, conclui-se que as diretrizes de intervenção sugeridas são essenciais para a efetividade da recuperação das edificações de terra crua e que deve-se excluir os métodos genéricos de recuperação utilizados em edificações construídas com outro tipo de matéria prima, sendo cada material detentor de peculiaridades que devem ser bem compreendidas e respeitadas.

Palavras-chave: Recuperação de edificação em terra crua. Restauração em

arquitetura de terra. Edificações em terra. Arquitetura de terra.

Page 5: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................. 07

Capítulo 1: Construções em terra ao longo da história ....................... 10

Capítulo 2: Principais técnicas de construção com terra crua ........... 19

2.1 Terra escavada .................................................................................... 21

2.2 Blocos cortados .................................................................................... 22

2.3 Adobe ................................................................................................... 23

2.4 Taipa .................................................................................................... 25

2.5 Terra empilhada – Cob ........................................................................ 27

2.6 Tramas com barro plástico – Pau a pique ........................................... 29

2.7 Terra ensacada – Superadobe/ Hiperadobe ........................................ 31

2.8 Painéis pré-fabricados de terra ............................................................ 32

2.9 Rebocos de barro ................................................................................. 33

2.9.1 Regras para aplicação de rebocos de barro ............................ 35

2.10 Pinturas .............................................................................................. 36

2.11 Elementos construtivos especiais ...................................................... 37

2.11.1 Pisos ...................................................................................... 37

2.11.2 Coberturas ............................................................................. 37

Capítulo 3: Características físico-químicas da terra ............................ 40

3.1 Generalidades ...................................................................................... 40

3.1.1 Argila ........................................................................................ 41

3.1.2 Silte .......................................................................................... 42

3.1.3 Areia ......................................................................................... 42

3.2 Propriedades da terra como material de construção ........................... 43

3.3 Ensaios para análise da composição da terra ..................................... 47

3.3.1 Ensaio táctil-visual ................................................................... 48

3.3.2 Ensaio de odor ......................................................................... 50

3.3.3 Ensaio de lavagem das mãos .................................................. 50

3.3.4 Ensaio de sedimentação .......................................................... 50

Page 6: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

3.3.5 Ensaio com ácido clorídrico ..................................................... 51

3.3.6 Ensaio para verificação de retração linear – teste da caixa ..... 52

3.3.7 Ensaio da caída da bola ........................................................... 52

3.3.8 Ensaio de consistência – ensaio do rolo .................................. 53

3.3.9 Ensaio de coesão – ensaio da cinta ........................................ 54

3.3.10 Ensaio de resistência seca .................................................... 55

3.3.11 Ensaio para determinação de conteúdo de água da amostra de terra ..............................................................................................

56

3.3.12 Ensaio de peneiramento e sedimentação .............................. 56

3.3.13 Ensaio de determinação do limite de liquidez ........................ 57

3.3.14 Ensaio de determinação do limite de plasticidade ................. 58

3.3.15 Ensaio de simulação de erosão por chuva e congelamento .. 59

3.3.16 Ensaio de abrasão ................................................................. 60

3.4 Alteração das características da terra através de aditivos e tratamentos especiais ................................................................................

61

3.5 Vantagens da terra crua ....................................................................... 64

3.6 Desvantagens da terra crua ................................................................. 65

Capítulo 4: Patologias encontradas em edificações de terra crua ..... 68

4.1 Principais patologias ............................................................................ 70

4.1.1 Patologias do sistema estrutural .............................................. 70

4.1.2 Putrefação da estrutura ............................................................ 71

4.1.3 Deterioração por erosão .......................................................... 72

4.1.4 Deterioração por contato com a água ...................................... 72

4.1.5 Deterioração por altas temperaturas ........................................ 73

4.1.6 Deterioração por agentes biológicos ........................................ 73

4.1.7 Deterioração por vibrações ...................................................... 73

4.1.8 Deterioração das paredes ........................................................ 74

4.1.9 Deterioração das quinas .......................................................... 75

4.2 Ensaios para identificação e avaliação de patologias na construção edificada .....................................................................................................

78

Capítulo 5: Diretrizes de intervenção para a recuperação de edificações em terra crua ........................................................................

81

Page 7: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

5.1 Diretrizes de intervenção ..................................................................... 83

5.2 Diretrizes para reparação de elementos .............................................. 89

Considerações finais ............................................................................... 91

Referências ............................................................................................... 93

Anexos ...................................................................................................... 100

Page 8: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

7

INTRODUÇÃO

O presente trabalho debruça-se sobre a temática da recuperação de

construções feitas de terra crua. De acordo com levantamento feito pela Rede

PROTERRA – Rede Ibero-Americana de Arquitetura e Construção com Terra, hoje

em dia, sabe-se que um terço da humanidade vive em edificações de terra crua.

Ao contrário do que se espera, o número de construções feitas de terra crua

no Brasil é bastante expressivo, principalmente em cidades interioranas. Há muitas

obras significativas como grandes igrejas históricas, prédios públicos tombados pelo

Patrimônio, casarões de fazendas, casas de campo ou simplesmente moradias

comuns, como podem ser vistas na cidade de Ouro Preto - MG. Muitas construções

feitas em terra crua estão em péssimo estado de conservação, algumas quase

ruindo, o que leva esse tipo de construção a ser associada à precariedade e

pobreza.

Em Minas Gerais há muitas edificações feitas em terra que são patrimoniadas

e com grau de tombamento, fora as outras inúmeras edificações de alto valor

histórico e afetivo para a população. Muitas destas construções apresentam

pronunciada degradação estrutural, e em alguns casos encontram-se mesmo

prestes a ruir-se, devido sobretudo à falta de manutenção e conservação destas

construções e a intervenções inadequadas ao material original. Da falta de

sensibilidade no passado para a preservação destes patrimônios e da falta de

conhecimento relativo ao comportamento destes materiais, resultou o estado atual

das construções.

Apesar de ser expressivo o número de edificações em terra, pouco se tem de

produção científica acerca das peculiaridades do material. Há muitas pesquisas

relativas às principais técnicas de execução e essas pesquisas publicadas

representam quase manuais de construção, incluindo normas internacionais e

experiências de campo.

Toda a pesquisa aqui desenvolvida teve como metodologia a revisão

bibliográfica. Através das referências da Rede PROTERRA, reuniu-se estudos de

vários países, como Argentina, Alemanha, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba,

Portugal, Espanha, França, Marrocos, dentre outros. As referências nacionais são

Page 9: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

8

escassas e baseiam-se principalmente em artigos provenientes de participações em

Seminários. Sendo assim, a maior parte da pesquisa teve como base a literatura

estrangeira. Entre os diversos trabalhos salientam-se dois especiais que serviram de

alicerces a esta pesquisa: o manual escrito por Hugo Houben e Hubert Guillaud dos

laboratórios CRATerre (Centre International de la Construction em terre – Centro

Internacional de Construção em Terra) e o manual do engenheiro Gernot Mink do

laboratório FEB (Forschungslabor fur experimentelles Bauen – Laboratório de

Investigação para Construções Experimentais).

Acredita-se que com o surgimento do concreto e de outros materiais

estandardizados perdeu-se o interesse nas técnicas vernaculares. Devido a isso,

poucas pessoas tem o interesse de produzir pesquisas voltadas a materiais como o

barro, por exemplo. Fato é que há muita construção feita em barro e é necessário

intervir nessas edificações de tempos em tempos a fim de conservá-las ou até

mesmo restaurá-las. Para isso é necessário conhecer a fundo as peculiaridades dos

materiais, assim como as técnicas utilizadas.

Para a atuação na recuperação dessas edificações toma-se como prioritário o

conhecimento das características do material aliado ao resgate de antigas técnicas

construtivas e treinamento de mão de obra. Considera-se também a necessidade de

execução de perícia em todas as edificações a serem recuperadas.

Como consequência espera-se que a produção de material técnico específico

para recuperação de construções em terra crua possa ajudar a popularizar as

corretas técnicas, desmistificando a ideia de precariedade associada a esse tipo de

construção.

Com esse trabalho objetiva-se produzir um material que possa servir de base

metodológica para futuras recuperações de construções feitas em terra, visando

formas mais adequadas de conservação e intervenção neste tipo de construção.

A monografia estrutura-se em cinco capítulos, cada um deles orientado para

um assunto específico, permitindo uma aproximação mais lenta e detalhada ao

tema. No primeiro capítulo é feito um apanhado histórico geral sobre a utilização de

terra em construções. O segundo capítulo dedica-se às diversas técnicas

construtivas existentes que possuem o barro como matéria prima. O capítulo três

foca na caracterização físico-química do material. O quatro aborda o assunto das

patologias encontradas nesse tipo de construção. E por fim, no capítulo cinco, são

Page 10: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

9

lançadas as diretrizes de intervenção para a recuperação de edificações feitas de

terra crua.

Page 11: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

10

CAPÍTULO 1:

CONSTRUÇÕES EM TERRA AO LONGO DA HISTÓRIA

As técnicas de construção com barro datam de mais de 10 mil anos. É no

Oriente Médio que nascem as primeiras civilizações arquitetônicas erguidas com o

próprio solo local, espalhando-se posteriormente para outras regiões. Existem

evidências arqueológicas com aproximadamente 10 mil anos de cidades inteiras

construídas em terra, algumas delas existentes até os dias de hoje, como por

exemplo a cidade de Jericó, na Cisjordânia, com cerca de 8 mil anos. No Turquistão

foram descobertas casas de terra do período de 8 mil – 6 mil a.C. (TORGAL; EIRES;

JALILI, 2009, p.10). Na cidade de Arg-e Bam, Irã, ainda existem construções de

mais de 2500 anos e durante quase toda a sua existência Arg-e Bam viveu em

guerra e mesmo assim algumas construções ficaram intactas.

Figura 1: Cidade de Arg-e Bam em maio de 2003.

Fonte: Site de viagem Sundaycook.1

1 Disponível em: <https://sundaycooks.com/2013/03/04/arg-e-bam-ira/>. Acesso em: 07 de dezembro de 2016.

Page 12: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

11

Figura 2: Palácio de Arg-e Bam, maio de 2003.

Fonte: Site de viagem Sundaycook.2

De acordo com Sérgio Couto (2008), jornalista e pesquisador da história da

China, a Grande Muralha da China, construída a mais de 4000 anos, inicialmente

era toda de terra apiloada (taipa) e tijolos de adobe, executada durante as dinastias

Quin, Han e Ming e posteriormente foi revestida em alguns trechos com pedra

natural.

Figura 3: Muralha da China. Fonte: PONTE, 2012, p.12.

2 Disponível em: <https://sundaycooks.com/2013/03/04/arg-e-bam-ira/>. Acesso em: 07 de dezembro de 2016.

Page 13: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

12

Na África quase todas as mesquitas foram construídas em terra e até hoje

boa parte das construção são de terra. Em Mali está a maior obra arquitetônica de

barro do mundo, a grande Mesquita de Djenné. A mesquita se impõe, não só por

sua monumentalidade mas também pela força de sua expressão plástica.

Figura 4: Mesquita de Djenné.

Fonte: Site de dicas de viagens “Alma de viajante”.3

Na França a técnica da taipa é chamada de “terre pisé” e foi muito utilizada do

século XV ao XIX. Na cidade de Lyon ainda existem muitas edificações habitadas de

mais de 300 anos. (MINKE, 2005, p. 15)

Na Alemanha a casa mais antiga feita de terra data de 1795 e é habitada até

hoje (Fig. 5). Segundo Minke (2005), o edifício residencial mais alto, construído de

barro também fica na Alemanha, em Weilburg (Fig. 6). O edifício de 6 andares foi

terminado em 1828 e está habitado até hoje. Seus muros possuem 75 cm na base e

40 cm na parte mais alta.

3 Disponível em: <http://www.almadeviajante.com>. Acesso em 07 de dezembro de 2016.

Page 14: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

13

Figura 5: Casa de taipa. Meldorf, Alemanha, 1795.

Fonte: MINK, 2005, p. 18.

Figura 6: Edifício feito de taipa. Weinburg, Alemanha, 1828.

Fonte: MINK, 2005, p. 18.

A construção com terra faz parte da cultura construtiva tradicional em todos

os continentes. Apesar ser difícil aferir quantas habitações em terra estejam em uso,

diversos autores estimam que cerca de um terço da população mundial viva em

casas de terra crua. Koch, Kunze e Seidl (2005) falam em 1,5 bilhão de pessoas.

Minke (2005) corrobora esta informação e afirma ainda que, em países em

desenvolvimento, as pessoas vivendo em casas de terra chegavam a representar

50% da população, em 2001.

Em 2012, o Inventário de Arquitetura em Terra do Programa Mundial de

Patrimônio de Arquitetura em Terra da UNESCO mapeou inúmeras construções em

terra distribuídas pelo globo, sendo que 150 delas encontram-se inscritas na lista do

Patrimônio Arquitetônico Mundial (GANDREAU; DELBOY. 2012). A Figura 7 mostra

essa distribuição e a Figura 8 traz imagens de construções do acervo mundial.

Page 15: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

14

Figura 7: Distribuição da arquitetura de terra crua no mundo (hachura marrom) e 150 construções em terra inscritas na lista do patrimônio mundial (pontos brancos).

Fonte: CRATerre, 2012. (Earthen architecture in today’s world).

Figura 8: Painel do Inventário de Arquitetura em Terra, Programa Mundial de Patrimônio de Arquitetura em Terra, UNESCO.

Fonte: GANDREAU; DELBOY, 2012, p. 04.

Page 16: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

15

No Brasil, o uso da terra foi mais difundido nos primeiros séculos da

colonização. Foi o método utilizado desde os muros de taipa grossa de defesa, como

os exigidos na fundação da cidade de Salvador, e a casa forte de taipa de pilão

construída por Caramuru na Bahia, em 1540, que é apontada como a primeira

arquitetura mais duradoura levada a efeito no Brasil, até as grandes igrejas matrizes

do interior de Minas Gerais. (VASCONCELOS, 1977, p. 21)

As regiões de São Paulo e Goiás são as que mais se utilizaram da terra crua

como material de construção. Em Minas Gerais, especificamente, temos muitas

cidades históricas ricas em construções de terra advindas do período colonial. Em

Ouro Preto verificamos a existência de imóveis que ainda mantêm o pau a pique

como sistema construtivo em parte ou em quase totalidade de sua constituição. Há

uma concentração de edificações nesta situação localizadas no centro da cidade,

provavelmente devido ao incentivo à preservação neste local, visto que é mais

frequentado pelos turistas e moradores (ANEXO A). Em Mariana o adobe é a técnica

mais popular, mas também é possível encontrar algumas edificações de pau-a-pique

(ANEXO B).

Figura 9: Casa de Câmara e Cadeia – Mariana, MG. Construção de pedra e taipa.

Fonte: Site de dicas de viagem para Minas Gerais

“Viagem para Minas Gerais”.4

Figura 10: Fazenda de café do período do Império, século XIX. São Paulo.

Em taipa de pilão.

Fonte: Blog Rota Mogiana. 5

4 Disponível em: <http://viagemparaminasgerais.blogspot.com.br/2010/09/terceiro-dia-mariana.html>. Acesso em: 07 de dezembro de 2016. 5 Disponível em: <http://www.rotamogiana.com/2012/01/taipa-de-pilao.html>. Acesso em: 07 de dezembro de 2016.

Page 17: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

16

Figura 11: Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Pirenópolis, Goiás. Toda em taipa de pilão.

Fonte: Site do município de Pirinópolis.6

Figura 12: Sobrados feitos de terra crua. Ouro Preto, MG.

Fonte: Site de viagens “Bolsa de Viagem”.7

Figura 13: Igreja de Nossa Senhora das Mercês. Sabará, MG. Construção em taipa e adobe.

Fonte: Site de fotos “Panoramio”.8

Figura 14: Igreja açoriana em terra. Florianópolis, SC.

Fonte: SANTOS, 2015, p. 81.

Entretanto, as construções em terra crua também são muito evidentes em

regiões de pobreza elevada, comprometendo profundamente a imagem da terra

como material de construção devido a associação com a ideia de precariedade e

baixa resistência.

6 Disponível em: <http://www.pirenopolis.go.gov.br/igreja-nossa-senhora-do-rosario/. Acesso em: 07 de dezembro de 2016. 7 Disponível em: <http://www.bolsadeviagem.com.br/ouro-preto-parte-2-estrada-real/>. Acesso em: 07 de dezembro de 2016. 8 Disponível em: <http://www.panoramio.com/user/2463054?with_photo_id=38924377>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016.

Page 18: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

17

Figura 15: Arquitetura praieira no nordeste brasileiro. Fonte: SANTOS, 2015, p. 81.

Figura 16: Construção de terra precária.

Fonte: Site de fotos Flickr.9

“O barro como material de construção perdeu a sua credibilidade devido ao

desconhecimento de suas amplas possibilidades” (MINKE, 2005, p. 16), e o

desconhecimento leva ao emprego inadequado desse material. Segundo dados do

Ministério da Saúde (2015), quase metade das casas de taipa registradas no Brasil

não são revestidas com reboco ou emboço, propiciando o aparecimento de insetos

nas paredes e a consequente proliferação de doenças. Este é outro fator que

desprestigia o material.

Como podemos perceber pelos dados apresentados no decorrer do capítulo,

a terra é um material de grande durabilidade e qualidade, entretanto é necessário

que as técnicas construtivas sejam corretamente empregadas e executadas. Cada

local possui uma terra diferente, ou seja, o material não é padronizado, e cada

situação exige técnicas construtivas diferentes.

Aqui no Brasil, a falta de normas ou critérios estandardizados que regulem os

projetos e performance do material cria dificuldades na aceitação pelos profissionais

da construção civil e pela própria população.

No entanto, existem alguns poucos países, como Alemanha, França, Nova

Zelândia, Peru, Austrália, EUA, Espanha, Marrocos e Zimbábue que possuem

regulamentação para a terra enquanto material de construção. Salienta-se que a

Alemanha e a França foram os países com maior produção científica disponível para

essa pesquisa.

9 Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/jurandir_lima/6340446898>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016.

Page 19: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

18

No próximo capítulo serão apresentadas as principais técnicas construtivas

em terra crua e suas peculiaridades.

Page 20: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

19

CAPÍTULO 2:

PRINCIPAIS TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO COM TERRA CRUA

São muitas as técnicas de construção com terra desenvolvidas mundo afora.

Para cada tipo de terra, pode-se estimar as técnicas construtivas mais adequadas

em função dos resultados de testes feitos no próprio local ou, com maior exatidão,

feitos em laboratórios.

Para avaliar as características da terra disponível e a possibilidade de seu uso na construção de vivendas, os ‘mestres de construção’ procuraram, de alguma forma, desenvolver seus métodos e transmitir sua experiência para as gerações seguintes. Geralmente dirigidos a uma técnica construtiva específica, cada um contava, seguramente, com a perspicácia e a habilidade desenvolvidas durante anos de trabalho na prática da construção. O adobeiro e o taipeiro, por exemplo, sabiam muito bem como encontrar a terra própria para fabricar o adobe e a taipa. (NEVES et al, 2005, p.28).

Os mestres, no instante que necessitaram difundir as técnicas de construção

com terra de uma região para outra, sentiram-se obrigados a compreender as

receitas passadas de pai para filho, de mestre para aprendiz, e transformá-las em

palavras e desenhos que representassem os procedimentos desenvolvidos por estes

construtores.

De alguma forma, alguns testes foram mais apreciados que outros,

provavelmente porque eram facilmente assimilados e transmitidos. Assim, estes

aparecem na maioria dos livros e manuais que tratam dos procedimentos para

escolha da terra para construção.

Segundo a CRATerre (1979), existem dezoito técnicas que se subdividem em

três famílias principais – monolítica e portante, alvenaria portante (aqui entendida

como a construção com unidades inicialmente manufaturadas) e enchimento ou

proteção de estrutura de suporte.

Page 21: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

20

Figura 17: Sistemas de construção com terra crua. Fonte: HOUBEN; GUILLAUD, 1989, p.15.

FAMÍLIA A – TERRA SOB FORMA MONOLÍTICA PORTANTE

1 – terra escavada;

2 – terra plástica;

3 – terra empilhada;

4 – terra modelada;

5 – terra prensada (taipa).

FAMÍLIA B – TERRA SOB FORMA DE ALVENARIA PORTANTE

6 – blocos apiloados;

7 – blocos prensados;

8 – blocos cortados;

9 – torrões de terra;

10 – terra extrudida;

11 – adobe mecânico;

12 – adobe manual;

13 – adobe moldado;

FAMÍLIA C – TERRA COMO ENCHIMENTO DE UMA ESTRUTURA DE

SUPORTE

Page 22: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

21

14 – terra de recobrimento;

15 – terra sobre engrado;

16 – terra palha;

17 – terra de enchimento;

18 – terra de cobertura.

Neste trabalho não será adotada a divisão de técnicas proposta pelo grupo

CRATerre por questões didáticas, pois entende-se que algumas dessas técnicas são

extremamente similares e que portanto poderiam enquadrar-se em um único tópico.

2.1 TERRA ESCAVADA

De acordo com Fernandes (2006), professora doutora do curso de Arquitetura

da Universidade de Coimbra, a técnica da terra escavada consiste, tal como o nome

indica, em escavar no terreno e moldar no seu interior construções. É uma técnica

construtiva em negativo, onde se retira material do terreno e se constrói ao mesmo

tempo espaços no seu interior. Esse tipo de execução é mais otimizada quando

localizada em colinas e planaltos de climas quentes e secos. Encontram-se

exemplares desse tipo de construção na China, Tunísia, Colômbia e em geral por

todo o Mediterrâneo.

Figura 18: Casas escavadas no solo. Matmata, Tunísia

Fonte: Site de pesquisa Wikipedia.10

Figura 19: Casas yadong, na província de Shanxi. China

Fonte: Site Jurídico Hight Tech.11

10 Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Matmata>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016. 11 Disponível em: <http://www.juridicohightech.com.br/2012/05/30-milhoes-de-chineses-vivem-em.html>. Acesso em 08 de dezembro de 2016.

Page 23: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

22

2.2 BLOCOS CORTADOS

Essa técnica diz respeito ao corte de blocos feito diretamente no solo.

Erroneamente, esses blocos são chamados de pedra, dada a dureza que o material

adquire ao longo do tempo, causada pela oxidação do mesmo, e que se aproxima

do material pétreo. Os mais conhecidos são os blocos de laterite provenientes de

solos de desagregação avançada e grande concentração de hidróxidos metálicos.

Os solos superficiais de características minerais que apresentem boa coesão

podem ser utilizados com essa finalidade. Para isso, é necessário que a extração

seja feita por uma pedreira, pois o material não é de fácil manuseio. Podemos

encontrar construções feitas a partir desse material nas regiões tropicais e

subtropicais húmidas, mais especificamente na Índia e na África.

Figura 20: Entrada da Basílica Bom Jesus, construída em laterite. Goa, Índia.

Fonte: Site Earth Auroville.12

Figura 21: Basílica Bom Jesus, construída em laterite. Goa, Índia.

Fonte: Site Earth Auroville.13

12 Disponível em: <http://www.earth-auroville.com/cut_blocks_en.php>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016. 13 Disponível em: <http://www.earth-auroville.com/cut_blocks_en.php>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016.

Page 24: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

23

Figura 22: Vista geral de um local de extração de blocos. Kari, Burkina Faso.

Fonte: Site Earth Auroville.14

Figura 23: Abertura de roço para extração de blocos e ajuste do corte. Kari, Burkina Faso.

Fonte: Site Earth Auroville.15

2.3 ADOBE

Essa é uma das técnicas mais utilizadas nos dias atuais. O seu uso é comum

em todos os continentes adaptando-se as suas formas ortogonais às zonas

sísmicas, variando de cubos a paralelepípedos de seção quadrada a retangular. Sua

utilização é propícia em terrenos arenosos, argilosos e principalmente em terrenos

de aluviões próximo de água, em vales, nas margens de rios, na costa ou junto a

linhas de água, devido a disponibilidade de matéria prima.

Trata-se da confecção de pequenos blocos de terra no estado plástico,

comprimidos em formas ou prensados (manualmente ou em prensas mecânicas).

Estes blocos são posteriormente secos ao sol por duas semanas e devem ser

armazenados em lugar seco e protegido da umidade. (ALMEIDA, 2009, p. 33).

A técnica manual de elaboração do adobe consiste em mergulhar o molde,

geralmente de madeira, em um barro de consistência pastosa e depois lançar sobre

o molde o barro menos pastoso. Usualmente é adicionada palha cortada ao barro. A

mistura é lançada com força ao molde. Quanto mais forte se lança o barro no molde

maior será a compactação e resistência da peça. Para uniformizar a superfície

utiliza-se a própria mão ou um pedaço de madeira. Através da técnica manual uma

14 Disponível em: <http://www.earth-auroville.com/cut_blocks_en.php>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016. 15 Disponível em: <http://www.earth-auroville.com/cut_blocks_en.php>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016.

Page 25: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

24

pessoa pode elaborar, aproximadamente, 300 adobes ao dia, incluindo toda a

preparação do material. (MINKE, 2005, p. 73.)

Os adobes também podem ser feitos com o auxílio de prensas mecânicas. A

primeira prensa Cinva-Ram foi desenvolvida na América Latina, mais propriamente

na Colômbia, em meados dos anos cinquenta do século XX (Fig. 24). Esta máquina

permitiu a rápida produção de blocos para programas de construção habitacional.

Pela facilidade de produção e vantagens em termos de secagem rápida e resistência

mecânica, os BTC (blocos de terra comprimida) são, nos dias de hoje, uma das

técnicas de construção em terra de maior sucesso e muito utilizada aqui no Brasil.

Figura 24: CINVA-RAM. Primeira máquina de comprimir blocos de terra. Colômbia, 1950.

Fonte: Site Earth Auroville.16

Figura 25: Fábrica e produção de BTC. Carrapateira, Aljezur, Portugal. Fonte: MESTRE, 2005, p.55.

Figura 26: Manufaturas de blocos apiloados. Ambo, Tibete.

Fonte: ALMEIDA, 2015, p. 32.

Figura 27: Moldagem do adobe. Fonte: ALMEIDA, 2015, p. 32.

16 Disponível em: <http://www.earth-auroville.com/cut_blocks_en.php>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016.

Page 26: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

25

Figura 28: Secagem de adobes. Prados. Minas Gerais. Brasil.

Fonte: Blog Nitro.17

Figura 29: Extrusão de plaquetas de terra. França.

Fonte: Site Earth Auroville.18

Uma outra técnica utilizada para a produção de adobes deriva da adaptação

da indústria cerâmica de tijolos, sem os custos adicionais do forno pois os blocos

são apenas secos ao ar livre. Diz respeito a um sistema moderno e mecânico que

permite a produção de blocos a partir da extrusão em máquinas. Tem sido utilizada

nos programas de construção habitacional em larga escala na Alemanha e na

França, permitindo a produção de material padronizado em grandes quantidades.

Esta produção permite para além de um rendimento elevado uma diversidade de

formas nos produtos finais.

2.4 TAIPA

Aqui no Brasil, também conhecida como taipa de pilão. Nos países anglo

saxônicos o termo é rammed earth, nos germânicos stampflehmbau, na França é

conhecido como pisé de terre e na Espanha, tapial.

Este sistema tradicional e histórico consiste em prensar camadas de terra

dentro de uma forma, os taipais. De acordo com Minki (2005), a terra deverá ser

colocada na forma em camadas de 50 a 80 cm, para ser em seguida apiloada. A

17 Disponível em: <http://nitroimagens.photoshelter.com/image/I0000M2QAJxPJQKs>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016. 18 Disponível em: <http://www.earth-auroville.com/cut_blocks_en.php>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016.

Page 27: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

26

medida que a compactação é feita as formas são desmontadas e montadas em uma

camada superior.

A terra utilizada para essa técnica não necessita de muita humidade. Devido a

isso, a taipa apresenta um índice de retração muito baixo e, consequentemente,

maior resistência. Outra vantagem se deve ao fato de ser uma construção monolítica

e por isso ser mais durável devido à ausência de juntas.

Utilizando pistões elétricos ou pneumáticos é possível reduzir os custos com

mão de obra e agilizar todo o processo. Entretanto, esses equipamentos pesam em

torno de 20 kg, dificultando o manuseio. Mink (2005) pondera que as ferramentas

que dão efeito apenas vibratório são apropriadas para solos arenosos, porém não

são apropriadas para solos argilosos.

De acordo com experimentos dirigidos por Minke (2005), desenvolvidos na

Universidade de Kassel, Alemanha, a mão de obra utilizada nas técnicas tradicionais

de taipa, ou seja, fazendo a compactação manual, incluindo a preparação, o

transporte e a execução do muro, corresponde a uma média de 20 a 30 h/m³. Com a

utilização de compactadores elétricos ou pneumáticos a mão de obra diminui para

10 h/m³. Em alguns países utiliza-se técnicas altamente mecanizadas para a

execução de taipas, desde o transporte do material até a compactação. Nesses

casos a mão de obra pode diminuir para 2 h/m³.

Normalmente não é necessário rebocar um muro de taipa, pois se obtém uma

superfície lisa sem grandes esforços, bastando utilizar formas de qualidade. Sendo

assim, a pintura pode ser aplicada diretamente. Para superfícies externas é preciso

verificar se estão devidamente protegidas da chuva.

Page 28: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

27

Figura 30: Execução de taipa.

Fonte: Site EcoCentro IPEC.19 Figura 31: Diferentes tipos de compactadores

manuais para taipa.

Fonte: Site ecoeficientes.20

2.5 TERRA EMPILHADA – Cob

Terra empilhada, também conhecida como bauge na França e cob no Reino

Unido. A técnica consiste em empilhar bolas de terra ou molhes de lama e palha à

fiada, sem o auxílio de formas ou moldes. Nessa técnica o conteúdo e a consistência

da massa de terra desempenham um papel importante. Considerando que as

características de cada solo variam de local para local, é preciso verificar as

proporções de argila e areia antes de começar. De acordo com Santos, Librelotto e

Jacintho (2014) o solo pode ter proporção volumétrica de até oitenta e cinco por

cento (85%) de areia e quinze por cento (15%) de argila.

As paredes são feitas deixando-se cair punhados de massa terra ao longo da parede. Quando eles batem na parede, devem-se enfiar os dedos, fazendo buracos, para que a próxima camada possa preencher os buracos e se aderir ao

19 Disponível em: < http://www.ecocentro.org/o-ipec/tecnologias/habitacao/taipa-de-pilao/>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016. 20 Figura 31: Diferentes tipos de compactadores manuais para taipa. Fonte: Site ecoeficientes.

Page 29: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

28

anterior. Essa técnica escultórica, possibilita diversas formas orgânicas (SANTOS, 2015, p. 91).

Para ser maleável, a mistura deve estar úmida e deve-se esperar a secagem

de uma fiada antes de aplicar a próxima.

Edifícios feitos em cob ainda sobrevivem e continuam a ser ocupados em

muitos países europeus, incluindo França, Itália, Alemanha, Bélgica, República

Checa e Inglaterra, onde seu uso é centenário. (WATSON; MCCABE, 2011).

Figura 32 - Construção com cob.

Fonte: Site Sirovenbird.21

21 Disponível em: <https://sirovenbird.wordpress.com/page/2/>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016.

Page 30: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

29

2.6 TRAMAS COM BARRO PLÁSTICO – PAU A PIQUE

Técnica conhecida na França como torchis, em Portugal como taipa de

fasquio e aqui no Brasil como pau a pique, taipa de mão, taipa de sopapo ou

tabique.

Consiste numa trama de madeira do tipo grade onde o barro é arremessado por ambos os lados. Para que essa trama fique estruturada é necessário um enquadramento de peças de madeira (ou outros materiais de origem vegetal como o bambu) com seções de maior dimensão (seção quadrada com lado aproximado de 25 cm): a peça inferior do enquadramento, próxima ao solo, é o baldrame; a superior, o frechal. As peças verticais, esteios, são cravadas no solo – pois o sistema de pau-a-pique dispensa fundações em vala corrida – e a parte da estrutura que é cravada, denomina-se nabo. Na trama reticulada, onde a terra, muito argilosa e abundantemente misturada com palha, ou outras fibras vegetais, vai ser arremessada, as peças verticais, de maior dimensão, são chamadas de pau-a-pique e são fixadas no frechal e no baldrame através de encaixes furados nos mesmos (entaladas); as peças horizontais, de menor dimensão, chamadas de varas, são amarradas nos paus-a-pique com cordas ou tiras de couro, ou então pregadas. (GUILLAUD, 1993, p.40)

A rigor, o pau a pique não é um sistema estrutural e sim um sistema de

vedação dos vãos de um enquadramento – uma estrutura de madeira de “pilares” e

“vigas”. A espessura final de uma parede de pau a pique costuma variar entre 10 e

15 cm.

A arquitetura contemporânea tem explorado muito esse grupo, utilizando

ainda outros materiais inorgânicos na construção de estruturas de suporte. A técnica

do pau a pique permite, portanto, a construção das mais diversas formas, na medida

em que a estrutura de madeira molda e integra a forma escolhida, cabendo ao barro

o papel de fechamento das aberturas entre as varas da estrutura ou de

revestimento.

Muitas vezes o barro é misturado com palha picada e com algum outro tipo de

fibra. O barro é lançado à malha de tal maneira que todos os elementos fiquem

cobertos com, pelo menos, 2 cm de camada, menos espesso do que isso a parede

pode se deteriorar rapidamente.

Segundo Minke (2005, p.102), essa técnica não é indicada para edificações

localizadas em locais frios, pois não se consegue um satisfatório isolamento térmico

devido à pouca espessura das paredes.

Infelizmente, as construções de pau a pique carregam um estigma

relacionado à doença de Chagas, transmitida pelo barbeiro que hospeda o

Page 31: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

30

protozoário (Tripanossoma cruzy) em suas fezes. Como qualquer outra construção,

quando mal executada e mal acabada podem apresentar rachaduras e fendas,

tornando-se alvo de roedores e insetos que se instalam nessas aberturas. No

entanto, quando construída de forma adequada, com base de pedra afastando-a do

solo (50 a 60 cm) e devidamente rebocada e coberta, não há o perigo da instalação

do barbeiro nas paredes ou mesmo da degradação do pau a pique.

Figura 33: Técnica do pau a pique.

Fonte: Site de imagens Pinterest.22 Figura 34: Parede de pau-a-pique utilizada em

mostra de decoração.

Fonte: CASA COR. São Paulo. 2015.23

Figura 35: Museu Casa do Colono, todo feito de pau-a-pique. Petrópolis. Rio de Janeiro. Brasil.

Fonte: Blog Arqrodrigoguedes.24

Figura 36: Habitação precária no município de Apodi. Rio Grande do Norte. Brasil.

Fonte: Site do município de Apodi.25

22 Disponível em: <https://br.pinterest.com/andrewakko/pau-a-pique-houses/>. Acesso em: 09 de dezembro de 2016. 23 Disponível em: <http://arqrodrigoguedes.blogspot.com.br/2016/02/arquitetura-sustentavel-casas-de-pau.html>. Acesso em: 09 de dezembro de 2016.

24 Disponível em: <http://arqrodrigoguedes.blogspot.com.br/2016/02/arquitetura-sustentavel-casas-de-pau.html>. Acesso em: 09 de dezembro de 2016. 25 Disponível em: <http://www.apodi.rn.gov.br/>. Acesso em 09 de dezembro de 2016.

Page 32: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

31

2.7 TERRA ENSACADA – SUPERADOBE/ HIPERADOBE

O termo terra ensacada engloba todas as técnicas construtivas que usam

sacos como fôrmas para conter a terra.

O processo construtivo é bastante simples e envolve preencher sacos com

terra – estabilizada ou não – e compactá-los onde se deseja formar um elemento

construtivo. Esses sacos preenchidos de terra podem ser moldados facilmente

possibilitando a criação de modelos escultóricos muito atrativos.

Usualmente, colocam-se de 3 a 5 sacos empilhados por dia, devido a

secagem da terra. Caso seja necessário uma maior agilidade no processo

acrescenta-se cimento para acelerar o processo de secagem.

Figuras 37 (a, b, c, d, e, e f): Processo construtivo em terra ensacada com sacos contínuos. Fonte: BRANDÃO, 2010.

Page 33: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

32

Figura 38 - Construção em terra ensacada em Gana.

Fonte: Site Inhabitat.26

2.8 PAINÉIS PRÉ-FABRICADOS DE TERRA

No manual escrito por Mink (2005), ele cita os painéis pré-fabricados de terra.

Esses painéis não são usuais aqui no Brasil, sendo mais utilizados na Alemanha e

na Áustria, entretanto, é uma técnica que pode ser adaptada para utilização aqui em

nosso país.

Há pouca informação sobre esses painéis pré-fabricados, o que sabemos é

que não são elementos portantes, servindo apenas de fechamento. Segundo Minke

(2005), devem ter uma densidade de 800 a 100 kg/m³.

26 Disponível em: <http://inhabitat.com/inhabitat-reader-builds-sustainable-homes-in-ghana/earth-bag-4/>. Acesso em: 09 de dezembro de 2016.

Page 34: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

33

Figura 39: Pré-moldados estruturados em madeira e barro.

Fonte: MINKE, 2005, p.83.

Figura 40: Parede de taipa pré-fabricada. Áustria.

Fonte: PONTE, 2012, p. 76.

2.9 REBOCOS DE BARRO

Os rebocos de barro são compostos principalmente por areia e uma quantidade adequada de argila (entre 5 a 12%) para ativar a coesividade e aderência. É difícil estabelecer quais deveriam ser as proporções ideais para um bom reboco de barro, já que não só influenciam nas propriedades, mas principalmente a granulometria dessa areia, a quantidade de água, o tipo de argila, a forma de preparação e o tipo e quantidade de aditivos. Por esse motivo é necessário fazer um reboco de prova com misturas variadas para poder determinar qual seria a mais adequada. (MINKE, 2005, p. 113, tradução nossa).

Os rebocos de barro possuem boa aderência e podem ser aplicados tanto em

superfícies de terra, em tijolos comuns, em pedra natural e em concreto. A aplicação

pode ser manual, com colher de pedreiro, pode ser lançadas bolas moldadas a mão,

que serão posteriormente alisadas, ou pode-se utilizar a tecnologia do barro

projetado (com o auxílio de uma bomba). O importante é que a superfície de

aplicação seja suficientemente rugosa, como mostrado na figura 41, onde optou-se

por fazer ranhuras em 45º para melhorar a aderência da superfície.

Page 35: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

34

Figura 41: Ranhuras feitas para a otimização da aderência do reboco de barro. Fonte: MINKE, 2005, p.113.

Figura 42: Aplicação e reboco com colher de pedreiro.

Fonte: Site Embarro.27

Figura 43: Reboco lançado Fonte: MINKE, 2005, p.116.

Figura 44: Reboco projetado Fonte: MINKE, 2005, p.115.

Para se obter um reboco de barro sem fissuras, deve-se levar em conta as

seguintes considerações:

O barro deve conter suficiente areia grossa;

Pode-se adicionar ao barro pelo de animais, fibra de coco ou sisal, palha, ou

fibras de celulose, entretanto esses aditivos reduzem a aderência do reboco

nas superfícies;

Adicionar uma quantidade adequada de água;

Como amostra prévia para comprovação das características do reboco vários

autores sugerem o mesmo ensaio de aderência. Como teste se aplica um reboco

com espessura de 2 cm sobre a superfície de um ladrilho liso. O reboco deve ficar

pregado ao ladrilho até a sua secagem total (de 2 a 4 dias). Caso desprenda por si

mesmo em uma peça só, como na primeira amostra da figura 45, quer dizer que a

27 Disponível em: <http://www.embarro.com/produtos/barro-2/>. Acesso em: 09 de dezembro de 2016.

Page 36: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

35

mistura contém muita argila e portanto deve-se acrescentar areia grossa. Caso se

desprenda em pedaços ao ser golpeado por um martelo, como se observa na

segunda amostra, quer dizer que não há coesão suficiente e deve-se acrescentar

argila. Se continua aderido ao ladrilho e possui fissuras finas, como na terceira

amostra, quer dizer que a mistura é argilosa e é necessário acrescentar um pouco

de areia grossa. Entretanto, se for utilizado 2 camadas de reboco não é necessário

alterar a composição dessa última amostra, porque as fissuras serão encobertas

após a segunda aplicação. A última amostra da figura mostra a situação ideal de

composição do reboco.

Figura 45: Ensaio de aderência para rebocos de barro. Fonte: MINKE, 2005, p.114.

Os rebocos exteriores, expostos ao tempo, devem ser resistentes às

intempéries e protegidos por pinturas.

Várias substâncias podem ser adicionadas a mistura de barro com o objetivo

de promover maior resistência a abrasão, diminuição de fissuras e impermeabilidade

a água. As adições serão tratadas em capítulo a frente.

2.9.1 Regras para a aplicação de rebocos de barro

Nessa seção será apresentada uma coletânea de recomendações acerca da

aplicação dos rebocos de barro encontradas em várias referências utilizadas nesse

trabalho, em especial o manual do autor Gernot Minke. (MINKE, 2005)

A superfície a ser rebocada deve estar suficientemente seca para que não

haja mais retração;

Todas as partículas soltas devem ser retiradas;

Page 37: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

36

A superfície precisa ser rugosa. Caso necessário deve-se umedecer e raspar

a superfície;

Antes da aplicação do reboco é necessário umedecer a superfície de

aplicação para que esta se expanda e possibilite a aderência entre as partes;

O reboco deve ser lançado com força para melhorar a coesividade;

Se a superfície requer um reboco com uma espessura maior do que 15 mm

então se aconselha fazer a aplicação em duas camadas para se evitar

fissuras;

Para reduzir fissuras aumenta-se a quantidade de areia grossa;

Ao utilizar-se rebocos com adição de alguma substância deve-se tomar em

conta as alterações de resistência e difusão de vapor do material.

2.10 PINTURAS

Como qualquer outro material, o barro também precisa de proteção contra as

intempéries e para isso utilizam-se as pinturas a base de terra. Essas pinturas

devem ser periodicamente renovadas devido ao desgaste por chuva, raios

ultravioletas, vento, etc.

Para as construções de terra as pinturas externas precisam ser repelentes a

água e precisam ser de material poroso, com o objetivo de possibilitar a troca de

vapores entre o interior e o exterior, impedindo o crescimento de fungos e o

surgimento de fissuras. Por esse motivo as misturas feitas com produtos que

contenham látex não são indicadas. Uma boa opção são as pinturas de base

betuminosa.

Geralmente as tintas são feitas a base de cal, entretanto pode-se adicionar

outros aditivos afim de melhorar algumas propriedades e conseguir colorações

diversas. Há também uma mistura que ao secar torna-se transparente com leve

brilho e tem o intuito de manter a cor natural do barro e ao mesmo tempo aumentar

significativamente a resistência da superfície. Nos banheiros e cozinhas, onde se

requer uma maior resistência a umidade e uma maior assepsia do local, adiciona-se

azeite de linhaça cozido. (MINKE, 2005, p. 117).

Page 38: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

37

2.11 ELEMENTOS CONSTRUTIVOS ESPECIAIS

Nessa seção será dada ênfase aos pisos e coberturas.

2.11.1 Pisos

Pisos em geral requerem uma alta resistência ao desgaste por abrasão e

necessitam de serem impermeáveis. Não é comum a utilização do barro para a

execução de pisos, por não ser um material de grande resistência a abrasão.

Entretanto, se executado cuidadosamente é possível utilizar um piso de barro nas

construções. Um material muito indicado para a produção de pisos e entrepisos é o

barro bombeado com adição de minerais. Os minerais são resistentes a abrasão e

ajudam na estanqueidade em relação a água.

2.11.2 Coberturas

Existem diversos tipos de coberturas feitas em barro: coberturas planas,

inclinadas, em forma de cúpula, abóbada, etc. As maneiras de execução também

são amplas, podendo-se utilizar blocos de adobes para a construção de cúpulas por

exemplo, ou até mesmo o barro plástico para moldar formas diversas.

As coberturas de barro só são viáveis em países de clima seco, onde a chuva

não é presente, como por exemplo na Turquia e na Síria. Em países onde há muita

amplitude térmica utiliza-se o barro até mesmo por cima de outros materiais de

cobertura, pois o barro funciona como um ótimo isolante. Aqui no Brasil as

coberturas de terra não são comuns, justamente por conta de nosso clima chuvoso.

Entretanto, é possível encontrar algumas obras de caráter experimental.

Uma técnica de construção de abóbadas, conhecida como “abóbadas

núbicas” é utilizada no Egito desde os séculos passados. Ainda hoje, permanecem

intactas as abóbadas do Templo de Ramses, com 3200 anos (Figura 47). A técnica

consiste em construir abóbadas sem o auxílio de formas, utilizando arcos inclinados

feitos de adobe de 15 a 25 cm de largura e apenas 5 a 6 cm de espessura. Minke

(2005, p. 148) explica que isso só é possível graças ao baixo peso dos tijolos de

Page 39: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

38

adobe por unidade de área de junta de argamassa, evitando-se assim o

deslizamento dos blocos na posição inclinada durante a construção.

Essa técnica de construção de abóbadas foi otimizada por vários

construtores. Em experimentos construtivos feitos na FEB essa técnica se otimizou

por duas vias: em vez de se utilizar formatos retangulares na base da abóbada,

utilizou-se blocos quadrados de 20 x 20 cm e 6 cm de espessura, e na parte superior

da abóbada blocos com encurtamento de mais de 1,5 cm, reduzindo assim a mão de

obra e a quantidade de argamassa requerida. Através de uma composição ótima de

argamassa, com alta coesividade, é possível utilizar adobes de maior espessura,

reduzindo assim a quantidade de argamassa e tempo de execução.

Figura 46: Casa em Harã, Turquia. Cobertura em cúpula de barro.

Fonte: MINKE, 2005, p.114.

Figura 47: Abóbadas núbicas. Templo de Ramses II. Egito.

Fonte: Site de dicas de viagem sobre o Egito.28

Figura 48: Experiência de construção de uma abóbada em adobe.

Fonte: MINKE, 2005, p.148.

Figura 49: Variação de abóbada núbica desenvolvida no FEB.

Fonte: MINKE, 2005, p.148.

28 Disponível em: <http//www.egipto.com>. Acesso em: 09 de dezembro de 2016.

Page 40: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

39

As cúpulas e abóbadas também podem ser feitas estruturadas a partir de uma

base de trama de madeira. Essa técnica demanda muito mais trabalho e mais

tempo, por isso é pouco utilizada.

A técnica do superadobe (terra ensacada) também pode ser utilizada para a

cobertura.

Figura 50: Abóbadas feitas tomando como base uma trama de madeira. Fonte: MINKE, 2005, p.153.

Figura 51: Casa de superadobe. Califórnia, EUA. Cobertura de superadobe.

Fonte: Site Recicla e Decora.29

29 Disponível em: <http://reciclaedecora.com/arquitetura/como-construir-casa-com-super-adobe/>.

Acesso em: 09 de dezembro de 2016.

Page 41: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

40

CAPÍTULO 3:

CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DA TERRA

Para recuperar qualquer estrutura é necessário entender muito além das

técnicas de construção, sendo necessário compreender também a constituição

química e o comportamento físico do material a ser recuperado.

Entende-se que a caracterização físico-química da terra é muito difícil devido

às variedades dos materiais e aos diferentes tipos de solo utilizados. Nesse capítulo,

será discutida a constituição e o comportamento desse material, em termos gerais, e

posteriormente, serão apresentadas as vantagens e desvantagens de se construir

com a terra crua.

As normas técnicas brasileiras que podem servir de auxílio para a

caracterização da terra são: NBR 6457: 2016 (Amostras de solo – Preparação para

ensaios de compactação e ensaios de caracterização); NBR 16097: 2012 (Solo –

Determinação do teor de umidade – Métodos expeditos de ensaio); NBR 7180: 2016

(Solo – Determinação do Limite de Plasticidade); NBR 7181: 2016 (Solo – Análise

granulométrica); NBR 6459: 2016 (Solo – Determinação do limite de liquidez); NBR

6502: 1995 (Rochas e solos).

As informações contidas nesse capítulo devem nortear todo o trabalho de

recuperação de uma edificação em terra crua.

3.1 GENERALIDADES

A terra, por não ser um material padronizado e estandardizado, apresenta

diferentes características dependendo de onde é a proveniência do material. Os

solos de montanha, por exemplo, apresentam muito cascalho, já os solos próximos

aos rios, geralmente apresentam mais lodo.

A terra adequada para a construção deve ter pouca alcalinidade, boa

proporção argila/silte/areia, poucos sais solúveis (< 0,2 peso) e ser livre de matéria

orgânica, ou seja, não se deve utilizar terras superficiais, sendo necessário escavar,

no mínimo, 40 cm para extrair a terra para construção. A terra superficial é rica em

produtos resultantes da decomposição de plantas e outros organismos, por isso não

deve ser utilizada.

Page 42: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

41

De acordo com a NBR 7181 (2016) as partículas que formam a terra são

classificadas como pedregulho, areia, silte e argila; sendo que a areia ainda pode

ser subdividida e qualificada como grossa, média e fina. Em engenharia dos solos

essa caracterização é feita de acordo com o diâmetro dessas partículas, sendo

denominado argila as partículas de diâmetros menores que 0,002 mm, entre 0,002 e

0,06 silte e de 0,6 a 2 mm areia. Partículas maiores são pedregulhos. Dependendo

de qual desses componentes são predominantes, podemos chamar o solo de

argiloso, siltoso ou arenoso.

3.1.1 Argila

A argila é o produto da erosão do feldspato e outros minerais. Os minerais

argilosos se encontram misturados com outros componentes químicos, como o óxido

de ferro (Fe2 O3 - H2O) e outros componentes de ferro, dando a argila uma cor

amarelo ou roxa e como o magnésio que deixa a argila mais amarronzada. Quanto

mais substâncias orgânicas mais escura é a argila.

Existem várias “famílias” de argila como a caulinita, ilita, montmorilonita, etc.

Elas diferem entre si por suas composições químicas. (Ver figura 52).

Quanto ao formato da estrutura laminar, os minerais argilosos possuem

estrutura hexagonal e cristalina. (MINKE, 2005, p. 23).

Segundo Torraca (1986), sendo a argila o elemento ligante nas construções

com terra, muitas vezes seus cristais são dispostos de uma forma coagulada e

irregular, que não é a mais plástica, mas se este mesmo material é deixado imerso

durante algum tempo, a disposição dos cristais muda e passa a uma forma dispersa

e regular, de maior plasticidade. Para se preparar o material para uso, seria

conveniente que a terra rica em argila fosse conservada sob a água durante um

certo tempo a fim de melhorar a plasticidade.

Page 43: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

42

Figura 52: Diferença entre as principais “famílias” de argila. Fonte: OLIVEIRA, 2011, p. 17.

3.1.2 Silte

O silte é a parte do solo que apresenta pouca ou nenhuma plasticidade e

baixa resistência quando seco ao ar. É formado por partículas com diâmetros

compreendidos entre 0,002 mm e 0,06 mm, provenientes de rochas. Essa partícula

muita fina pulveriza-se como talco, facilmente.

3.1.3 Areia

Solo não coesivo e não plástico formado por minerais ou partículas de rochas

com diâmetros compreendidos entre 0,06 mm e 2,0 mm. As areias de acordo com o

Page 44: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

43

diâmetro classificam-se em: areia fina (0,06 mm a 0,2 mm), areia média (0,2 mm a

0,6 mm) e areia grossa (0,6 mm a 2,0 mm).

Em resumo:

Quadro 1: Partículas do solo

Fonte: ABNT – NBR 7181, 2016.

3.2 PROPRIEDADES DA TERRA COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO

A terra é um material complexo, cujo comportamento é determinado por um

conjunto de fatores que formam suas características finais. A ação mecânica

exercida aliada à interação entre os diferentes elementos, em quantidades e

qualidades diversas, dão origem às propriedades essenciais do material,

determinantes para a sua qualidade final.

A seguir, são apresentados alguns fatores determinantes da característica de

uma terra.

Densidade: A densidade é a relação entre a massa seca do objeto e o seu

volume total, quanto mais compactada é a terra mais densa será a parede,

por exemplo. O aumento da densidade por compactação promove a

durabilidade e a resistência, entretanto leva a diminuição da capacidade de

retenção do calor, pela redução dos espaços vazios.

Page 45: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

44

Coesividade/ aderência: Coesividade é a resistência a tração do barro em

estado plástico. Essa coesividade não depende só da quantidade de argila,

mas também dos tipos de minerais argilosos e da quantidade de água. Os

valores de coesividade em um barro variam de 25 a 500 g/cm². A norma

alemã DIN 18952, determina que solos com coesividade abaixo de 50 g/cm²

não devem ser usados para a construção.

A coesividade pode ser incrementada adicionando-se mais argila à terra e

amassando mais a massa de terra. A preparação conta muito na coesividade.

Testes desenvolvidos na Universidade de Kassel, Alemanha, mostraram que

uma amostra, após ser misturada por 10 minutos em uma misturadora,

alcançou uma coesividade 57% mais alta do que a mesma amostra misturada

por apenas 1 minuto. (MINKI, 2005, p. 40)

Plasticidade: A plasticidade é a capacidade que o material tem de se tornar

moldável, estando intimamente relacionada com a água e a argila. Segundo

seu teor de umidade, o solo pode ser líquido, plástico ou sólido. O aspecto e a

consistência dos solos variam de maneira muito nítida conforme a quantidade

de água que contém. Atterberg (apud Caputo, 1978) desenvolveu ensaios

que consistem em medir o teor de umidade do solo nos diversos estados de

consistência.

Expansão térmica: A expansão de um material provocada pelo aumento de

temperatura é problemática se o material estiver em contato de superfície

com outro material diferente, como por exemplo um muro de blocos de terra

crua e um reboco de material diferente.

O Laboratório de Pesquisa Experimental da Construção da Universidade de

Kassel, Alemanha – FEB, mediu o coeficiente de expansão linear de um barro

com alto conteúdo de agregados grossos e encontrou o valor de 0,0043 a

0,0052 mm/mK (metro kelvin). Para blocos de barro o valor foi de 0,0062

mm/mK, para uma argamassa de barro arenoso encontrou-se 0,007 mm/mK,

para argamassa de cal 0,005 mm/mK e para argamassa com altas

quantidades de cimento de 0,010 mm/mK, o mesmo encontrado para o

concreto.

Módulo de Young ou módulo de elasticidade: O módulo de Young

ou módulo de elasticidade é um parâmetro mecânico que proporciona uma

Page 46: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

45

medida da rigidez de um material sólido. O módulo de elasticidade do barro

varia de 600 a 700 kg/ mm². (MINKE, 2005, p. 42).

Difusão de vapor: Em climas frios, onde a temperatura interior é,

geralmente, superior à exterior, se produz uma diferença de pressão de vapor

do interior ao exterior através dos muros. A resistência do material do muro a

esta ação se define pelo coeficiente de resistência a difusão de vapor m. É

importante frisar que o barro siltoso tem um valor m aproximadamente 20%

mais baixo que um barro argiloso e um barro arenoso. Mesmo assim, o barro

misturado com argila expandida que pesa 750 kg/m³ tem um valor 2,5 vezes

mais alto que um barro misturado com palha e com a mesma densidade.

Cabe lembrar que a pintura reduz a penetração de vapor pelas paredes de

terra crua.

Condensação: Em zonas climáticas temperadas e frias o vapor de água do

ar interior se difunde através dos muros para o exterior. Se o ar esfria a água

condensa nos muros e essa umidade reduz a capacidade de isolamento

térmico e pode provocar o crescimento de fungos (como o mofo). Nesse caso

é importante que a água se transporte rápido para a superfície dos muros

através da ação capilar, para que possa evaporar. A alta capilaridade do barro

é um ponto vantajoso para edificações construídas em locais de clima frio.

Para reduzir as chances de condensação nos muros a resistência a

transmissão de vapor deve ser maior no interior do que no exterior. Por outro

lado, a resistência a transferência de calor deve ser maior no exterior do que

no interior.

Resistência à compressão: A resistência à compressão dos elementos de

construção feitos de terra crua variam de 5 a 50 kg/cm², dependendo da

técnica de construção utilizada, do fator de compactação e da composição da

terra. Quanto mais compactada a terra, mais resistente à compressão é a

estrutura.

O Instituto de Tecnologia da Construção, da Universidade Técnica de Zurich,

Suíça, comprovou através de testes, que um barro levemente úmido e

compactado em uma prensa mecânica, normalmente possui uma resistência

à compressão menor que o mesmo barro misturado a mão e apertado

manualmente dentro do molde. “O segredo do barro está na estrutura laminar

Page 47: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

46

de seus minerais de argila e em sua atração elétrica interna, a mesma que se

ativa através da água e do movimento de emassamento”. (MINKE, 2005,

p.51).

Alguns autores pesquisados afirmam que a resistência à compressão é

proporcional à coesividade, entretanto, Gernot Minke (2005) se posiciona

contrário a essa afirmação após desenvolver alguns testes onde a resistência

à compressão e a coesividade não apresentaram nenhuma relação.

De acordo com a norma alemã DIN 18954, a resistência permitida para

elementos de terra crua na construção é de 3 a 5 kg/cm², sendo 7 o fator de

segurança. Mesmo os ensaios de laboratório demonstrando que é possível

construir até 10 pavimentos com elementos de terra crua, a norma DIN 18954

só permite a construção de 2 pavimentos.

Resistência à tração: As estruturas de terra não devem submeter-se a

tração. O barro não possui resistência à tração significativa. Segundo

Humberto et al (2007), a terra apresenta uma capacidade de resistência que

representa apenas 20% do valor relativo à compressão, já a CRATerre (1979)

fala em valores na ordem dos 0,5 Mpa. Apesar das variações, os valores são

muito baixos e insuficientes na presença de grandes esforços.

Resistência à flexão: A resistência à flexão de estruturas de terra depende

fundamentalmente da quantidade de argila e do tipo de mineral da argila. A

argila montmorilonita tem uma resistência à flexão muito mais alta do que a

argila caolinita. De acordo com Holfmann et al apud MINKE (2009), o valor

mais baixo, referente à argila caolita é de 1,7 kg/ cm² e o valor mais alto,

referente à argila montmorilonita, é de 223 kg/ cm².

Resistência à abrasão: As superfícies de barro são muito susceptíveis à

abrasão e para melhorar essa características utiliza-se de certos aditivos que

serão citados posteriormente. A pintura também aumenta significativamente a

resistência à abrasão, nesse caso é necessário retoca-la de tempos em

tempos.

Valor de pH: Os solos argilosos usualmente possuem pH entre 7 e 8,5. Em

meios urbanos, quanto mais superficial o barro mais ácido ele é. Um pH maior

que 7 previne o crescimento de fungos, pois o pH favorável para os fungos

varia de 6,5 a 4,5.

Page 48: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

47

Em trabalhos de recuperação sugere-se a utilização de barros com pH ± 2 do

original. (OLIVEIRA,2011, p.21).

Radioatividade: Medições de radiação de raios beta e gama mostraram que

o barro possui radioatividade similar ao concreto e ao tijolo cerâmico. (MINKE,

2005, p. 42)

3.3 ENSAIOS PARA ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO DA TERRA

Nessa seção será falado um pouco sobre alguns ensaios que são feitos em

laboratório e outros que são ensaios de campo.

Independente da qualificação do solo através de ensaios em laboratório, o conhecimento popular na arte de construir com terra pode indicar decisões, mesmo empíricas, tão eficientes quanto a quantificação resultante de ensaios normalizados, executados em laboratórios. Os testes de campo, que resultam de uma saudável combinação entre o saber popular e o conhecimento do meio técnico, são, muitas vezes, as únicas provas que se podem fazer para selecionar a terra e construir. (NEVES, et al, 2005, p. 12)

No dia a dia das obras os testes feitos in loco são mais práticos, entretanto às

vezes é necessário que se tenha um maior controle dos resultados. Para isso, os

testes de laboratórios são importantes pois encontram-se definidos pelas normas

internacionais e através destes, consegue-se obter resultados quantitativos e

qualitativos comparáveis.

Aqui no Brasil não existem normas específicas para se construir com terra

crua, portanto, os ensaios citados a seguir possuem referencias em normas

brasileiras relacionadas à outros materiais, mas que podem ser adaptadas para a

terra e nas seguintes normas alemãs: DIN 1048, DIN 1060, DIN 4108, DIN 18122,

DIN 18127, DIN18952, DIN 18954 e DIN 52617, todas elas citadas por Mink (2005)

em seu manual referenciado neste trabalho. Atualmente, existem mais de 50

normativas em diversos países sobre construções em terra. (CID; MAZARRON;

GUERRERO; 2011).

Nesse capítulo não serão abordados os ensaios relacionados à estrutura

construída. Tais ensaios serão apresentados no capítulo 4. Aqui serão tratados os

Page 49: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

48

testes mais abrangentes, que visam a caracterização do material em si, servindo de

base para a caracterização da estrutura.

3.3.1 Ensaio táctil-visual

A aparência e a textura podem revelar algumas caraterísticas da terra.

1 –Tamanho das partículas:

A terra pode ser preliminarmente classificada através do seguinte procedimento:

Espalhar a amostra de terra seca em uma fina camada sobre uma superfície

plana;

Com as mãos, separar as partículas visíveis a olho nu.

As partículas visíveis a olho nu correspondem a areia e pedregulho, o que

restar, o material fino, corresponde ao silte e argila (figura 53).

Após essa separação podemos relacionar, de acordo com as quantidades de

cada material, se a terra é argilosa, siltosa ou arenosa. No caso de terra arenosa ou

pedregosa, tomar um pequeno punhado da amostra inteira (não apenas a parte de

areia e pedregulho), umedecer, sem ensopar, e apertar formando uma bola. Deixar

secar ao sol. Se a bola se desintegrar ao secar, a terra não é apropriada para

construção, a menos que ela seja misturada com outros materiais. No caso da terra

argilosa, fazer o mesmo procedimento. Se não for possível modelar a bola devido à

grande viscosidade essa terra também não é adequada à construção, sendo

necessário acrescentar mais areia.

Figura 53: Aspectos das partículas que compõem a terra, após peneiramento. Fonte: NEVES et al, 2005, p. 14.

Page 50: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

49

2 – Caracterização por cor:

O ensaio de cor é feito com o auxílio das tabelas de Munsell e colorímetro. A

partir das amostras é feito a comparação de cor entre a terra e as cores da tabela,

afim de determinar os componentes químicos da amostra. No campo, padroniza-se

examinar a cor do solo úmido, e em local com muita luz do sol.

No solo, a matéria orgânica é responsável pela cor escura, a hematita pela

coloração vermelha, a goethita pela cor amarela, a lepidocrocita pela cor alaranjada.

Figura 54: Matizes da tabela MUNSELL.

Fonte: Site Pedologia fácil.30

3 – Caracterização por brilho:

A presença da argila pode ser avaliada através do brilho, ainda que a areia

quartzosa ou com determinado teor de mica tenha aparência brilhante também.

Então:

Tomar um pouco de material bem fino e amassar com água até formar uma

bola compacta do tamanho da mão;

Cortar pela metade e observar as superfícies.

Se:

As superfícies são brilhantes, a terra é argilosa;

As superfícies apresentam pouco brilho, a terra é siltosa;

As superfícies são opacas, a terra é arenosa.

30 Disponível em: <http://www.pedologiafacil.com.br/enquetes/enq43.php>. Acesso em: 09 de dezembro de 2016.

Page 51: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

50

4 – Tato:

Ao esfregar entre os dedos uma porção de terra seca, pode-se identificar os

tipos de partículas presentes pela sua textura da seguinte forma:

A areia arranha;

O silte cobre os dedos com partículas macias, como se fosse um talco;

Para verificar a presença de argila, umedecer uma porção de terra e moldar

uma bola. Quanto mais argila presente, mais fácil será formar a bola.

3.3.2 Ensaio de odor

Ensaio simples. O barro puro é inodoro. Se cheira a mofo é porque tem muita

matéria orgânica em decomposição.

3.3.3 Ensaio da lavagem das mãos

Manuseia-se uma amostra de barro úmido. Se as partículas são sentidas, isto

indica que o barro é arenoso. Se a amostra é pegajosa mas as mãos podem ser

limpas facilmente após serem esfregadas, significa que o barro é siltoso. Entretanto,

se a amostra for pegajosa, sendo necessário o uso de água para limpar as mãos,

quer dizer que se trata de um barro argiloso.

3.3.4 Ensaio de sedimentação

Em um frasco adiciona-se a amostra de barro mais água. Agita-se o frasco e

deixa descansar. As partículas maiores se assentam ao fundo e as partículas mais

finas ficam por cima. A partir dessa estratificação é possível estimar a quantidade de

cada componente.

Page 52: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

51

Figura 55: Ensaio de sedimentação em vidro.

Fonte: NEVES et al, 2005, p. 15.

3.3.5 Ensaio com ácido clorídrico (HCl)

Os barros que contém cal geralmente possuem uma aparência

esbranquiçada, e, dependo da quantidade de cal, torna-se inapropriado para a

construção, pois possuem baixa capacidade aglutinante. Com o objetivo de delimitar

a quantidade de cal na amostra acrescenta-se uma gota de solução de 20% de HCl.

No caso de um barro com cal se produz CO2 de acordo com a equação CaCO3 +

2HCl = CaCl2 + CO2 + H2O. A produção de CO2 é notada devido a efervescência que

aparece. Se não aparece efervescência o conteúdo de cal é menor que 1%. Se

aparece pouca efervescência o conteúdo de cal é de 1 a 2%. Se a efervescência é

significativa a porcentagem de cal é de 3 a 4% e, se a efervescência é muito forte e

permanente, o conteúdo de cal é maior que 5%. Entretanto, um barro muito escuro,

rico em matéria orgânica, também pode mostrar esse fenômeno. (VOTH, 1978, p.

57).

Page 53: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

52

3.3.6 Ensaio para verificação de retração linear – teste da caixa

A retração linear está diretamente relacionada com a retração volumétrica por

isso é possível comparar diversas amostras a partir do teste da caixa que consiste

em:

Tomar uma porção de terra e adicionar água aos poucos até que a mistura

comece a grudar na lâmina da colher de pedreiro;

Colocar a mistura na caixa, alisando a superfície com a colher de pedreiro;

Deixar a caixa protegida do sol e chuva durante sete dias;

Após este período, medir a retração linear.

Figura 56: Ensaio de retração. A caixa da figura permite o ensaio de cinco amostras simultaneamente, facilitando a comparação entre os resultados de retração.

Fonte: NEVES et al, 2005, p.25.

3.3.7 Ensaio da caída da bola

A amostra precisa ser o mais seca possível mas úmida o suficiente para se

fazer uma bolinha de, aproximadamente, 4 cm de diâmetro. Deixamos cair a bola de

uma altura de 1,5 m sobre uma superfície plana. Os diferentes resultados, como

pode ser visto na figura 57, mostram as diferentes quantidades de argila. Se a bola

se aplaina levemente e mostra poucas ou nenhuma fissura, esta amostra tem uma

alta capacidade aglutinante, ou seja, muita argila. Se a amostra se desintegra por

completo, quer dizer que há muita areia e argila insuficiente para se utilizar esse

barro na construção. Dependendo de como as amostras se comportam nesse teste

pode-se estabelecer a técnica de construção mais adequada para aquele barro ou

Page 54: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

53

mesmo modifica-lo com mais argila ou mais areia, por exemplo, buscando a

composição ótima do barro.

Figura 57: Ensaio da queda da bola: aspectos do espalhamento, em função do tipo de terra (argilosa à esquerda e arenosa à direita)

Fonte: NEVES et al, 2005, p.16.

3.3.8 Ensaio de consistência – ensaio do rolo

Segundo Neves et al. (2005), o teste do rolo consiste em tomar uma porção

de terra, umedecida e amassada, deslizar sobre uma superfície plana (de borda

arredondada), até a obtenção de um cordão com 20 cm de comprimento e diâmetro

de 25 mm. Deslizar suavemente o rolo para fora da superfície, de forma que o

mesmo fique em balanço. Quando ocorrer a ruptura do segmento em balanço,

avaliar. Se romper o cordão com:

Menos de 8 cm, não há argila suficiente;

Entre 8 cm e 12 cm, a quantidade de argila é a ideal;

Acima de 12 cm há argila em excesso.

Page 55: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

54

Figura 58 (a)

Figura 58 (b)

Figura 58 (c)

Figuras 58 (a,b e c): Teste do rolo Fonte: NEVES et al, 2005, p.24.

3.3.9 Ensaio de coesão – ensaio da cinta

A amostra deve ser umedecida apenas o necessário para se formar um rolo

de 3 mm de diâmetro (espessura de um cigarro) sem que se parta. Com esse rolo se

forma uma cinta, como se pode ver na figura 59 (a).

Figura 59 (a)

Figura 59 (b)

Figura 59 (c)

Figura 59: Teste da fita: (a) formação do “cigarro” e da fita, (c)com uma terra argilosa (esquerda) e (b) com uma terra arenosa (direita). Fonte: NEVES et al, 2005, p.19.

Page 56: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

55

3.3.10 Ensaio de resistência seca

O teste identifica o tipo de terra em função da sua resistência e, como

mostrado nas figuras a seguir, consiste em:

Moldar duas ou três pastilhas de terra bem úmida, com cerca de 1 cm de

espessura e 2 a 3 cm de diâmetro;

Deixar as pastilhas secarem ao sol por dois ou mais dias;

Tentar esmagar cada pastilha entre o indicador e o polegar.

Figura 60: Abertura e corte da massa. Fonte: NEVES et al, 2005, p.21.

Figura 61: Pastilhas recém cortadas. Fonte: NEVES et al, 2005, p.21.

Figura 62: Tentativa de quebra das pastilhas entre os dedos.

Fonte: NEVES et al, 2005, p.21.

Figura 63: Pastilhas secas (observando-se a diferença de retração entre terra argilosa e

arenosa). Fonte: NEVES et al, 2005, p.21.

O comportamento das pastilhas é classificado de acordo com a tabela 1.

Page 57: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

56

Tabela 1: Classificação do solo segundo o teste da pastilha.

Fonte: Adaptado de NEVES et al, 2005.

3.3.11 Ensaio para determinação de conteúdo de água da amostra de

terra

A quantidade de água em uma amostra de terra pode ser determinada

pesando-a inicialmente e posteriormente após ser prensada e aquecida a uma

temperatura de 105 ºC. A diferença entre os pesos nos dá a quantidade de água que

não se aglutina quimicamente.

3.3.12 Ensaio de peneiramento e sedimentação

Esse ensaio visa a determinação da composição granulométrica da terra. O

peneiramento serve para as partículas maiores – pedregulho e areia – e para as

partículas mais finas – silte e argila – a análise é feita por sedimentação.

No ensaio de peneiramento, determina-se a quantidade percentual das

partículas que passam ou que são retidas em peneiras de aberturas normalizadas

(NBR NM ISO 3310-1:2010 – Peneiras de ensaio – Requisitos técnicos e verificação

Parte 1: Peneiras de ensaio com tela de tecido metálico); no ensaio de

sedimentação, mede-se a velocidade de decantação das partículas dispersas em

água, em função da variação de densidade da solução, calculando-se as suas

proporções na amostra.

Page 58: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

57

Figuras 64 (a e b): Ensaio de peneiramento. Série de peneiras padronizadas e aparelho

elétrico de peneiramento. Fonte: NEVES et al, 2005, p.5.

Figuras 65 (a e b): Ensaio de sedimentação. Solo disperso na proveta e homogeneização da

temperatura do densímetro. Fonte: NEVES et al, 2005, p.21.

Os limites das faixas de dimensões das partículas são definidos em normas

técnicas e apresentam pequenas variações entre os diversos países. Como

exemplo, a tabela 2 apresenta o sistema de classificação granulométrica adotado no

Brasil, estabelecido na NBR 6502:1995 e as principais características de cada grupo.

Tabela 2 – Classificação granulométrica dos constituintes do solo.

Fonte: Adaptado de NBR 6502:1995.

3.3.13 Ensaio de determinação do limite de liquidez

O limite de liquidez (LL) é o teor de umidade determinado pelo aparelho de

Casagrande. Ele é constituído por uma concha metálica unida a uma manivela que a

move, fazendo-a cair sobre uma base sólida um certo número de vezes, até o

fechamento de 1 cm da ranhura padrão, feita previamente na amostra colocado na

Page 59: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

58

concha. O limite de liquidez corresponde ao teor de umidade em que a ranhura se

fecha com 25 golpes.

Figura 66 (a)

Figura 66 (b)

Figura 66 (c)

Figura 66 (d)

Figura 66 (e)

Figuras 66 (a, b, c, d e e): Ensaio de determinação do Limite de Liquidez (LL), observando-se o aparelho de Casagrande. Fonte: NEVES et al, 2005, p.7.

3.3.14 Ensaio de determinação do limite de plasticidade

O limite de plasticidade (LP) é o teor de umidade necessário e suficiente para

rolar uma porção do solo umedecido sobre uma placa de vidro até formar um

pequeno cordão com 3 mm de diâmetro e 12 cm a 15 cm de comprimento. A

diferença entre o limite de liquidez e de plasticidade determina o índice de

plasticidade (IP = LL – LP).

Figura 67 (a)

Figura 67 (b)

Figuras 67 (a e b): Ensaio de determinação do Limite de Plasticidade (LP) Fonte: NEVES et al, 2005, p.7.

Page 60: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

59

3.3.15 Ensaio de simulação de erosão por chuva e congelamento

Na figura 68 podemos ver duas amostras que foram submetidas a um ensaio

de simulação correspondente a três anos de exposição ao tempo. A amostra de terra

da direita possui em sua constituição 40% de argila e a da esquerda 16%. Logo ao

secar apareceram grandes gretas de retração na amostra contendo mais argila e

uma greta mais fina na amostra mais arenosa.

A figura 69 representa o resultado do teste que demonstra como as peças

estariam ao longo de uma exposição ao tempo por três anos. O ensaio nos mostra

que o solo argiloso apresentou um “afundamento” devido ao congelamento. Esse

fenômeno é produto das fissuras iniciais que apareceram durante a secagem através

das quais se infiltra a água de chuva por ação capilar. Quando essa água congela o

volume aumenta, provocando rachaduras. Em áreas onde não apareceram fissuras

isso não ocorreu.

Já a amostra da esquerda não apresentou esse problema. Nessa amostra se

observou que um pouco do barro superficial foi lavado, mas em contrapartida, essas

partículas lavadas acabaram por fechar a fissura existente. Essa amostra não

apresentou erosão por congelamento, só erosão por chuva, isso porque não haviam

fissuras e devido aos grandes poros presentes no barro arenoso. Os poros permitem

que a água congelada possa se expandir.

A partir desse teste constata-se que:

Um barro arenoso tem pouca resistência a ação da chuva, mas é

praticamente resistente ao congelamento, quando não tem fissuras;

Um barro com alto conteúdo de argila tende a desenvolver fissuras ao secar-

se e por isso é propenso à erosão por congelamento, mas se não tem fissuras

é praticamente resistente a ação da chuva.

Page 61: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

60

Figura 68: Amostras de barro antes de serem expostas às intempéries por simulação de 3 anos. Fonte: MINKE, 2005, p.34.

Figura 69: Amostras de barro depois de serem expostas às intempéries por simulação de 3 anos. Fonte: MINKE, 2005, p.34.

3.3.16 Ensaio de abrasão

O teste de abrasão é feito em laboratório. A amostra de barro é acoplada a

um equipamento que possui uma escova rotatória que irá desgastar a superfície a

uma pressão de 2 kg aplicada contra a peça. Após vinte giros pesa-se o material que

se desprendeu da peça.

Figura 70: Equipamento para teste de abrasão. Fonte: MINKE, 2005, p.42.

Page 62: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

61

3.4 ALTERAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DA TERRA ATRAVÉS DE ADITIVOS

E TRATAMENTOS ESPECIAIS

A modificação da terra para adequá-la ao uso que se pretende não é um

procedimento recente. Como se conhece, a adição de betume ou palha na produção

de adobes, para diminuir a permeabilidade ou reduzir a retração, é uma prática

milenar.

Não é sempre que é necessário modificar as características da terra e vale

lembrar que aditivos podem melhorar uma determinada característica e piorar outra.

Por exemplo, adicionando-se à terra amido e celulose a resistência à compressão e

tração podem ser melhoradas, entretanto reduz a coesão e aumenta a retração, o

que deixa de ser vantajoso.

A seguir, são citadass algumas adições que podem ser feitas:

Adição de areia e agregados maiores

Geralmente é acrescentada à terra mais areia ou agregados maiores quando

se busca uma redução na retração do material ao secar.

Adição de outros agregados minerais

Os agregados minerais porosos, como a argila expandida e a pedra pomes,

são muito utilizados para incrementar o isolamento térmico. As densidades

alcançadas variam de 500 a 1200 kg/m³, dependo do mineral adicionado. Quanto

maior a densidade do mineral maior o isolamento térmico conseguido.

Adição de cal

A cal resulta da decomposição térmica da pedra calcária e, dependendo do

tipo de tratamento e da qualidade da rocha, pode dar origem a dois tipos de

produtos – a cal aérea (950º) e a cal hidráulica (1200º).

A cal aérea é um dos produtos mais utilizados na estabilização da terra compactada, principalmente em solos de fração mais fina e argilosa, sendo particularmente bem adaptada à estabilização mecânica posterior. A sua ação principal é de interagir com os minerais de argila, diminuindo a interposição da água entre os diversos estratos. Assim, dependendo da ação que se pretende, esta deve ser aplicada em quantidades entre 6 e 12% para tornar o sistema mais impermeável, ou apenas 2 a 3%, melhorando a trabalhabilidade.

Page 63: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

62

A grande vantagem da cal em relação a outros materiais industriais, é o fato dela permitir a respiração natural da terra, sendo assim bastante compatível. (HOUBEN, GUILLAUD, 1989, p. 95)

A cal endurece mesmo em contato com a água e é praticamente insolúvel,

logo capaz de tornar o sistema estável hidraulicamente e mais duradouro.

A cal gera ligações por covalência, através da troca com a hidroxila das argilas, promovendo ligações cerâmicas, eliminando a água. Como o barro retém ionicamente a água, com a cal a água não é mais retida. Pode-se usar a cal em solos com até 50% de argila. O volume de cal a ser utilizado na estabilização pode ser determinado por meio da medição do pH do solo, onde o pH 12 é o objetivo (SILVEIRA, 2015, apud SANTOS, 2015, p. 71).

Adição de cimento

Quando adicionado à terra, o cimento liga-se às partículas de argila, tal como

a cal, e também à fração arenosa da terra. Após a adição de cimento a cura da

mistura passa a ser de 7 a 28 dias. Ao contrário da cal este não é permeável ao

vapor.

Adição de estabilizantes sintéticos

Resinas sintéticas, parafinas, ceras e látex sintéticos também podem ser

utilizados para estabilizar a terra. Os silicones e os acrilatos são produtos que

repelem a água. Os custos desses materiais são mais elevados e os raios

ultravioletas são mais agressivos para esses produtos.

Adição de fibras

Quando se adiciona fibras, como pelo animal ou humano, fibras de coco,

sisal, agave, bambu, palha ou qualquer outra fibra, consegue-se uma redução na

retração. Isso acontece porque parte da água é absorvida pelas fibras. Também se

reduz as fissuras devido ao aumento da coesividade.

As fibras também incrementam o isolamento térmico.

No caso da palha, em climas temperados e úmidos, em poucos dias se

desenvolve mofo na parede recém executada, emitindo um odor característico muito

forte. Esse mofo cessa em poucos dias se o local tiver boa iluminação e após secar-

se totalmente não há mais o crescimento de esporos. Esse crescimento de mofo

pode ser evitado adicionando-se cal à essa terra. Entretanto a terra com adição de

palha e cal perde resistência à compressão.

Page 64: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

63

Adição de produtos vegetais

Plantas azeitosas e que contém látex, como o sisal, a agave e a banana, são

utilizadas juntamente com a cal para fazer pinturas. Essa mistura aumenta a

resistência às intempéries, entretanto diminui a difusão de vapor.

Adição de produtos animais

Produtos animais, como o sangue, a urina, o esterco e a gordura, foram muito

utilizados nos séculos passados para se estabilizar o barro. Na Alemanha antiga, por

exemplo, misturava-se sangue de boi para a terra de piso, pois otimiza a resistência

à abrasão e facilita na limpeza. Hoje em dia, o esterco é o mais utilizado para

incrementar a resistência à erosão e à flexão.

Aumento da resistência à água através de adições

O cimento e o betume são indicados como estabilizantes para barros com

pouca argila e a cal é indicada para barros argilosos. Quanto ao cimento, Minke

(2005) afirma que a substância interrompe as forças aglutinantes da argila fazendo

com que a resistência à compressão de uma terra estabilizada com cimento seja

menor do que de uma terra sem cimento. Quanto ao betume, o efeito de

impermeabilização é otimizado se houver a compactação da terra, entretanto um dos

inconvenientes do uso deste material é a perda de plasticidade, apesar de se ganhar

em coesão, o que requer a utilização de maior quantidade de água para o

amassamento e limita as técnicas construtivas a serem utilizadas. Já na cal, os íons

de cálcio se misturam aos íons metálicos da argila e formam aglomerações de

partículas finas que impedem a penetração da água.

É importante frisar que, quando se adiciona cimento à terra, essa mistura

deve ser utilizada imediatamente devido a que a pega do cimento começa logo em

seguida. Se o material fica repousando por várias horas antes de ser compactado, a

resistência à compressão pode reduzir-se em 50%. Entretanto se adiciona-se cal à

terra essa mistura pode ficar sem ser utilizada por horas que não há a redução na

resistência do material. Os blocos produzidos com terra acrescida de cimento não

podem ficar expostos ao tempo, pois a sua secagem deve ser lenta, caso contrário a

resistência pode se reduzir para 20% comparada aos blocos secos em lugar

protegido do sol e do vento.

A impermeabilidade também pode ser incrementada modificando a

quantidade de silte e areia.

Page 65: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

64

3.5 VANTAGENS DA TERRA CRUA

As vantagens encontradas são muitas e todas elas caminham em direção à

sustentabilidade:

O barro armazena calor

Por ser um material denso o barro consegue armazenar calor, isso faz com que o

clima interior das construções de barro seja sempre balanceado e agradável,

principalmente em locais de grande amplitude térmica.

Balanceia a umidade do ar

Por ser um material poroso, a terra tem a capacidade de absorver umidade e

liberar para o exterior quando necessário. A umidade do ar no interior das

edificações exerce uma influência significativa no bem estar dos habitantes e a

terra tem a capacidade de balancear a umidade do ar como nenhum outro

material de construção.

A umidade relativa do ar tem que estar entre 50 a 70% para ser saudável e

promover conforto ao ser-humano.

Economia de energia e diminuição da contaminação ambiental

O barro praticamente não produz contaminação ambiental. Para preparar,

transportar, e trabalhar o barro no local necessita-se apenas de 1% da energia

requerida para a preparação, transporte e elaboração do concreto ou dos tijolos

cerâmicos. (MINKE, 2005, p. 17)

É um material reutilizável

O barro pode ser reutilizado ilimitadamente, só é preciso triturá-lo e umedecê-lo

com água novamente. Nunca existirá resíduos contaminantes de construções de

barro.

Baixo custo

Geralmente, o barro escavado no próprio local pode ser utilizado na construção.

Talvez seja necessário modificar as características do barro, alterando a

quantidade de argila, de areia ou de qualquer outro constituinte, mas mesmo

assim, o material ainda continua muito econômico.

É o material mais adequado para autoconstrução

O material não exige ferramentas elaboradas e as técnicas são facilmente

aprendidas.

Page 66: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

65

3.6 DESVANTAGENS DA TERRA CRUA

As desvantagens acerca da terra são contraditórias, pois na maioria das

vezes estão relacionadas com a falta de conhecimento sobre a técnica utilizada e as

características específicas do material colhido em loco. Podemos dizer que as

principais desvantagens da construção em terra crua giram em torno de quatro

características do material. Essas quatro características podem ser consideradas os

elementos-chave para a origem de muitas patologias existentes nas construções.

O barro não é um material de construção estandardizado

Sua composição depende do local de onde foi extraído, podendo conter

diferentes quantidades de argila, areia e agregados. Além da composição, o

modo de preparo da mistura influencia diretamente nas características do

material.

O barro contrai ao secar-se

Através da evaporação da água da mistura, necessária para se ativar a

capacidade aglomerante da argila e melhorar a trabalhabilidade, podem aparecer

fissuras. “A retração linear durante a secagem pode variar de 3 a 12 % em

técnicas de terra úmida e entre 0,4 e 2 % em técnicas com terra seca.” (MINKE,

2005, p.16).

É possível diminuir essa retração reduzindo a quantidade de água e argila e

otimizando a mistura por meio de emprego de aditivos.

Outro ponto negativo que as pessoas costumam associar a construções de terra,

mas que não procede, é a proliferação de insetos. A informação de que os

insetos se proliferam nas edificações de terra é infundada. Os insetos se alojam

em buracos e gretas e os buracos e as gretas não devem existir nas edificações

de barro, como não devem existir em qualquer outra edificação, sendo

considerados patologias.

As construções de pau a pique, por exemplo, quando mal executadas e mal

acabadas, pode se degradar em pouco tempo, apresentando rachaduras e

fendas, servindo de alojamento de insetos

Durante muitos anos, o pau a pique foi associado ao barbeiro hospedeiro do

parasita transmissor da doença de Chagas. No entanto, quando construída de

Page 67: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

66

forma adequada, devidamente rebocada e coberta, não há o perigo da instalação

do barbeiro nas paredes e nem mesmo da degradação do pau a pique.

A terra crua não é impermeável

A terra deve ser protegido da chuva, especialmente em estado úmido. A água é

um dos agentes mais nocivos às estruturas de terra crua. Ao entrar em contato

com muita água a terra se expande, causando uma série de problemas

estruturais. A absorção de umidade do ar não é suficiente para causar a

expansão.

A figura 71 é a reprodução de um gráfico desenvolvido por Minke (2005) sobre o

comportamento de diferentes amostras de barro em relação a absorção de água.

Absorção de água

Tempo

Page 68: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

67

1 - Barro argiloso/ areia (1:1) 7 – Barro com palha 450 kg/m³

2 - Barro argiloso + 2% de cimento 8 – Barro com palha 850 kg/m³

3 - Barro argiloso + 4% de cimento 9 – Barro com palha 1150 kg/m³

4 - Barro argiloso + 8% de cimento 10 – Barro argiloso

5 - Barro com argila expandida 650 11 – Barro siltoso

6 - Barro com argila expandida 800 12 – Barro arenoso

Figura 71: comportamento de diferentes amostras de barro em relação a absorção de água. Fonte: MINKE, 2005, p. 32.

Resistência mecânica limitada

Outra desvantagem da construção em terra está associada a sua resistência

mecânica limitada. É um material relativamente frágil e que muitas vezes

associado ao peso elevado das construções, juntamente com a falta de

manutenção das estruturas, conduzem à anomalias a nível estrutural e não

estrutural de grande significado à sustentabilidade do próprio edifício impondo

assim um limite ao número de pisos das construções. (OLIVEIRA; VARUM;

COSTA, 2011, p. 4),

Page 69: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

68

CAPÍTULO 4:

PATOLOGIAS ENCONTRADAS EM EDIFICAÇÕES DE TERRA CRUA

Podemos dizer que patologias são os sintomas que aparecem na edificação

decorrentes de causas diversas que provocam degradação dos elementos que

compõem as construções.

De acordo com Ribeiro (2004) os causadores das patologias nos elementos

de uma edificação podem ser de ordem intrínseca ou extrínseca, ou seja,

provenientes dos materiais que constituem a edificação ou de fatores externos aos

mesmos. Como fatores intrínsecos têm-se os processos químicos resultantes dos

materiais empregados numa construção e como extrínsecos têm-se os fatores

físicos resultantes de ações externas ao elemento como problemas de vandalismos,

de catástrofes, de erosão mecânica, de ação de animais ou plantas e do meio

ambiente.

A análise de patologias das construções em terra permite distinguir um

conjunto principal de agentes de degradação, cujos efeitos e consequências são

importantes para uma melhor compreensão dos processos segundo os quais se

manifestam, e assim se pode atuar de uma forma mais eficaz para a sua prevenção.

(RODRIGUES, 2007, p. 151)

As principais patologias estão ligadas à retração do material durante a

secagem, à expansão térmica, à efeitos provocados pela água e à processos

mecânicos.

Feilden, (1982) enumera as causas de deterioração dividindo-as em causas

climáticas, biológicas e botânicas, fenômenos da natureza, ação do homem e

causas internas à edificação.

Page 70: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

69

Figura 72: Causas das deteriorações segundo Fielden. Fonte: Adaptado de Fielden (1982).

A terra, assim como qualquer outro material, apresenta vantagens e

desvantagens, cabendo ao construtor lidar com essas características de acordo com

as especificidades do local de construção e da terra a ser utilizada.

Ao recuperador de estruturas de terra cabe o entendimento das patologias, o

porquê do ocorrido, causas, origens, consequências e o como recuperar e impedir

que tal patologia seja recorrente na edificação.

Posto isto, a recuperação dessas edificações necessita de uma atenção

especial relativamente a aspetos de compatibilidade, relacionados com os materiais

e soluções tradicionais, o que infelizmente nem sempre ocorre, sendo frequentes

Page 71: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

70

intervenções de recuperação que introduzem efeitos mais nocivos do que os que se

verificavam antes da intervenção. (OLIVEIRA; VARUM; GUERREIRO, 2009, p. 5).

4.1 PRINCIPAIS PATOLOGIAS

Nesse capítulo trataremos dessas principais patologias encontradas nas

edificações de terra, salientando suas causas e sugerindo ações que possam evitar

tais ocorrências.

4.1.1 Patologias do sistema estrutural

As lesões estruturais são aquelas que comprometem a estabilidade das

edificações. Podem ser identificadas através do aparecimento de fissuras ou

rachaduras abertas nas paredes, pisos e tetos. As causas podem ser por problemas

da própria construção como deformações nas fundações, no telhado, acomodações

do terreno, desgaste dos materiais, ou causadas por problemas externos à

edificação como umidade, catástrofe, vandalismo, sobrecarga, etc. (HOUBEN;

GUILLAUD, 1995, p. 177)

De acordo com Minke (2005) as lesões podem ser passivas ou estacionadas,

quando a estrutura sofreu uma movimentação e posterior paralisação, ou podem ser

ativas ou progressivas, onde as causas que provocam os movimentos continuam

agindo e podem provocar desmoronamentos.

Em técnicas de compactação de camadas, como a taipa por exemplo, é

comum o surgimento de fissuras entre as camadas por causa das diferenças de

humidade. São consideradas lesões estacionadas. Durante o processo de execução

da edificação as camadas superiores sempre serão mais húmidas que as inferiores,

por isso, as camadas mais altas sofrem mais retração.

Caso as fissuras não sejam reparadas, a água poderá entrar por esse

caminho, provocando umedecimento com futura desintegração da estrutura. O

problema é relativamente simples de ser resolvido na fase de execução, basta

aplicar argamassa de cal sobre a compactação feita antes de se iniciar outra

camada. A cura da argamassa de cal dura várias semanas e por isso ela se mantém

plástica até que o barro pare de retrair.

Page 72: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

71

Na fase de recuperação de uma edificação já consolidada antes de reparar

qualquer fissura é preciso saber se elas são lesões estacionadas, ou seja, se não

correm o risco de aumentar devido a recalque ou outros problemas estruturais. Para

isso, fazemos o “controle de progressão” que nada mais é do que verificar se a

fissura está aumentando ou não. Há várias formas de se fazer essa verificação e

uma delas consiste em aplicar pequenos selos (testemunhas) de gesso, vidro ou

papel fino, colocados de modo transversal às fissuras, para saber se as lesões estão

estacionadas. Deve-se registrar a data de colocação das testemunhas ao lado para

se verificar a rapidez de deslocamento das lesões. Caso as fissuras não estejam

aumentando pode-se dar andamento ao processo de recuperação, caso contrário é

necessário resolver, anteriormente, a causa do problema que está desencadeando

as fissuras. As causas das fissuras precisam ser avaliadas por um profissional de

estruturas pois podem ser motivadas por recalque e rotação de parede,

deslizamento do terreno e demais problemas estruturais. Na pior das hipóteses o

problema pode estar na fundação, que precisará ser reparada.

Na recuperação dos edifícios antigos, deverá ter-se em conta a consolidação

da fundação, este é o elemento fundamental na sustentação de todo o edifício. Cada

caso deverá ser avaliado individualmente por um engenheiro de estruturas, cabendo

a esse profissional a decisão pela melhor intervenção de recuperação.

4.1.2 Putrefação da estrutura

Entende-se por putrefação a decomposição de matéria orgânica causada por

microrganismos, com produção de substâncias de odor desagradável.

A putrefação só ocorre em estruturas onde há a adição de alguma matéria

orgânica, geralmente madeiras, palha e outras fibras vegetais. Geralmente acontece

por dois motivos: exposição da matéria orgânica ao tempo e paredes muito robustas.

Quando há excesso de aditivos orgânicos na terra, esses elementos tendem a

não recobrir-se totalmente de barro, ficando expostos ao tempo e entrando em

decomposição. Todo aditivo precisa seguir traços específicos, para que as

quantidades aplicadas sejam proveitosas ao fim desejado.

Page 73: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

72

A outra situação é quando as paredes são muito grossas. O que ocorre nesse

caso é que a superfície seca normalmente mas o interior da estrutura permanece

úmido, desencadeando a decomposição dos elementos orgânicos ali presentes.

4.1.3 Deterioração por erosão

A ação da chuva, do vento com elementos em suspensão, e principalmente

dos sais solúveis higroscópicos podem provocar erosão nas paredes de terra. O

impacto da chuva, direto ou repetido, vai alterando a superfície dos elementos

exteriores dos edifícios, provocando o desgaste e erosão da parede, assim como, a

escorrência de água da chuva sobre essa superfície. (RODRIGUES, 2007, p. 151).

4.1.4 Deterioração por contato com a água

Como já sabemos, as estruturas de terra crua precisam estar protegidas do

contato direto com a água, caso isso não aconteça uma série de patologias podem

ser desencadeadas.

Se uma grande quantidade de água se condensa em um muro, o barro acaba

por se expandir, descolando o reboco e a pintura. Sem o reboco e a pintura a

estrutura de terra fica exposta e seu processo de deterioração é muito mais rápido.

As infiltrações de água pelas fissuras e gretas são mais agressivas até do que a

condensação de água. O congelamento também pode produzir os mesmos danos

de forma mais acelerada, uma vez que a água congelada se expande, desplacando

reboco e pintura de uma só vez.

A água também provoca as infiltrações em coberturas e paredes e também as

infiltrações ascendentes, provenientes do lençol freático. Ela entra em contato com a

base das alvenarias, eleva-se por capilaridade, provocando o aparecimento de sais

solúveis (cloretos, nitratos e sulfatos) e micro-organismos.

Page 74: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

73

4.1.5 Deterioração por altas temperaturas

A temperatura quando aumenta acelera os processos de corrosão. O forte

calor também afeta os elementos expostos ao sol causando um descoloramento das

fachadas e expansão dos sais contidos na terra.

4.1.6 Deterioração por agentes biológicos

A deterioração também pode ser causada por microrganismos, insetos e

animais, como pombos e roedores. Os fungos atacam as superfícies úmidas. As

plantas também podem atuar como agentes deteriorantes (raízes, plantas

trepadeiras, plantas daninhas).

4.1.7 Deterioração por vibrações

Muitas edificações antigas foram construídas em uma época onde não havia

tanto fluxo de veículos. Hoje, algumas dessas edificações estão localizadas em

locais de grande movimentação e tráfego de veículos o que as coloca susceptíveis a

cargas vibratórias antes não existentes.

A vibração afeta muito estruturas que não possuem muita coesão, como as

estruturas de terra, causando inúmeras fissuras que podem caminhar para lesões

mais agravadas.

Devido a isso, muitas cidades proibiram o tráfego de veículos maiores nos

centros históricos.

A norma alemã DIN 4150 estabelece as velocidades admissíveis para

vibração para uma frequência f = 8-80 Hz (MINKE, 2005):

Ruínas e edifícios de valor histórico = 2 mm/seg

Construções com defeitos = 5 mm/seg

Construções sem danos ou com pequenos defeitos no reboco = 10 mm/seg

Construções robustas = 10-40 mm/seg

Para pisos e forros = Máximo de 20 mm/seg

Page 75: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

74

4.1.8 Deterioração das paredes

As argamassas e pinturas da superfície externa apresentam desgaste natural

devido aos fatores do tempo como chuva, vento, congelamento e radiação

ultravioleta, por isso devem ser periodicamente renovadas, lembrando que a pintura

é uma das camadas de proteção da estrutura. Quando a deterioração da pintura

externa acontece muito rápido provavelmente o motivo é a utilização de uma

substância não hidrófuga para essa pintura.

Os revestimentos antigos são constituídos por materiais de elevada

porosidade, ou seja, permitem a entrada do vapor de água para o interior do

substrato, mas evitam a permanência prolongada deste vapor, promovendo de forma

fácil e rápida a saída para o exterior.

Conforme Arendt (1995), as argamassas de recuperação e recomposição

devem reter a água na forma líquida, assim como os sais e permitir, devido a sua

grande permeabilidade ao vapor, uma secagem eficiente do substrato. Além disso,

estes revestimentos evitam a entrada de água de chuva, por conter aditivos

hidrofugantes. Entretanto, as argamassas de recuperação não restringem a umidade

ascensional nas alvenarias, nem eliminam os sais do substrato. A alvenaria

permanecerá úmida, e os sais continuam cristalizando-se, porém não mais no

interior dos componentes da alvenaria, na interface alvenaria-revestimento ou na

superfície do revestimento, e sim no interior da argamassa. É o que chamamos de

eflorescência. Elementos que possam "respirar" e “secar” rapidamente não têm a

tendência de desenvolverem essas formações desintegradoras de estruturas.

Desta forma, o revestimento de argamassa de recuperação não é uma

solução totalmente definitiva. Estes revestimentos devem ser removidos e

reaplicados após um período de 15 a 20 anos, dependendo da porosidade dos

materiais constituintes e do ambiente em que se encontra inserido as edificações

revestidas.

Quanto às pinturas feitas em paredes de terra elas precisam ser porosas para

possibilitar a difusão dos vapores de água. O barro é um material que absorve muita

umidade e por isso, caso a pintura utilizada funcione como uma barreira, haverá a

condensação de vapor nas paredes, ocasionando a proliferação de fungos.

Page 76: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

75

A recuperação de uma parede pode ser executada com diferentes materiais,

mas a cada um corresponderão diferentes desempenhos e diferentes aparências. O

tipo de superfície, como as alvenarias de barro (taipa de pilão, adobe e pau a pique),

constitui-se em fator que exerce influência significativa na resistência de aderência

das argamassas e pinturas. Por esta razão, é imprescindível o conhecimento do

sistema construtivo das alvenarias – que podem ser feitos através da prospecção –

antes da elaboração de projetos ou especificações dos procedimentos e

recomendações para a aplicação dos revestimentos

Cabe aos recuperadores especificar o que melhor atenda às condições

pedidas, e que tenha, ao mesmo tempo, uma compatibilidade e durabilidade

suficiente com o sistema construtivo existente. Por essa razão, deve-se conhecer os

materiais que têm ao seu dispor.

4.1.9 Deterioração das quinas

O desgaste das quinas é um ponto negativo característico das construções de

terra e não, necessariamente, se trata de uma patologia. As quinas são mais

susceptíveis ao desgaste por abrasão e impacto e justamente por isso muitas

culturas desenvolveram técnicas de construções sem quinas, mais voltadas para

formas curvas. Essa característica negativa só pode ser evitada utilizando-se de

outros materiais para a proteção das quinas, como perfis de madeira por exemplo.

Figura 73: Museu Sacro de Pitangui – MG. Patologia em fachada.

Fonte: Blog daqui de Pitangui.31

Figura 74: Museu Sacro de Pitangui – MG. Patologia em parede de pau-a-pique.

Fonte: Blog daqui de Pitangui. 32

31 Disponível em: <http://daquidepitangui.blogspot.com.br/2012/06/visitacao-as-obras-do-museu.html>. Acesso em: 10 de dezembro de 2016. 32 Disponível em: <http://daquidepitangui.blogspot.com.br/2012/06/visitacao-as-obras-do-museu.html>. Acesso em: 10 de dezembro de 2016.

Page 77: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

76

Figura 75: Museu Sacro de Pitangui – MG. Degradação da pintura de suporte

Fonte: Blog Daqui de Pitangui. 33

Figura 76: Casa com fendas visíveis, em Aveiro. Portugal.

Fonte: ALMEIDA, 2015, p. 90.

Figura 77:aspecto da erosão do revestimento das paredes. Aveiro – Portugal.

Fonte: ALMEIDA, 2015, p. 90.

Figura 78:aspecto da erosão mais agravado nas paredes. Aveiro – Portugal.

Fonte: ALMEIDA, 2015, p. 92.

Figura 79: Fissura nos cantos das aberturas. Aveiro - Portugal

Fonte: ALMEIDA, 2015, p. 94.

Figura 80: Acumulação de detritos e surgimento de vegetação na cobertura, Aveiro – Portugal.

Fonte: ALMEIDA, 2015, p. 96.

33 Disponível em: <http://daquidepitangui.blogspot.com.br/2012/06/visitacao-as-obras-do-museu.html>. Acesso em: 10 de dezembro de 2016.

Page 78: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

77

Figura 81: Fissura em quinas. Fonte: Acervo do IEPHA.

Figura 82: Buraco em parede de pau a pique. Fonte: Acervo do IEPHA.

Figura 83: Detalhe eflorescência nos revestimentos. Casarão Verde. Catas Altas – MG

Fonte: Acervo do IEPHA.

Figura 84: Manchas de vesículas causadas por umidade e aplicação de materiais adulterados.

Casa Rua da Bahia – Belo Horizonte - MG Fonte: Acervo do IEPHA.

Figura 85: Manchas de bolores junto a fachada devido a umidade e infiltrações.

Igreja Nossa Senhora do Rosário – MG. Fonte: Acervo do IEPHA.

Figura 86: Descolamentos de revestimentos das

fachadas do sobradão. Minas Novas – MG Fonte: Acervo do IEPHA.

Page 79: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

78

Figura 87: Descolamento com pulverulência causado pela excessiva presença de sais

Secretaria de Educação – Praça da Liberdade. BH.

Fonte: Acervo do IEPHA.

Figura 88: Manchas de umidade provenientes de vazamentos das instalações ou umidade

acidental Fazenda Carreiras. Ouro Branco - MG

Fonte: Acervo do IEPHA.

4.2 ENSAIOS PARA IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE PATOLOGIAS NA CONSTRUÇÃO EDIFICADA

Em algumas situações é necessário a realização de ensaios (destrutivos e/ou

não-destrutivos) para melhor reconhecimento e identificação das patologias. Em se

tratando de edificações históricas, os ensaios não-destrutivos são os mais indicados,

visando a manutenção da integridade e originalidade do bem.

Os ensaios não-destrutivos realizados in situ, bem como os realizados em laboratório nas amostras recolhidas, destinam-se essencialmente à caracterização física, química e mecânica dos materiais e da edificação. Os ensaios estáticos ou dinâmicos envolvendo a construção no seu todo ou em partes, são destinados a validar o seu comportamento estrutural, quer em termos das suas cargas em serviço (exemplo: prova de carga), quer em termos de resultados comparativos para calibração do modelo estrutural. (ROQUE; LOURENÇO, 2003)

Barbosa (2009) apud Tavares (2011) menciona em sua produção científica

alguns ensaios que podem auxiliar na identificação de patologias nas edificações de

terra crua. Tais ensaios apresentam-se a seguir no quadro 2.

Page 80: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

79

Quadro 2: Relação dos ensaios a serem realizados in situ.

Page 81: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

80

Fonte: Adaptado de Tavares (2011).

Page 82: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

81

CAPÍTULO 5:

DIRETRIZES DE INTERVENÇÃO PARA A RECUPERAÇÃO DE

EDIFICAÇÕES EM TERRA CRUA

Antes de iniciar as discussões referentes este capítulo é necessário que se

esclareça o significado de alguns termos que podem, facilmente, serem confundidos:

recuperação, restauração, reabilitação, reparação, requalificação e

revitalização.

A literatura técnica deixa dúvidas e contradições sobre as definições exatas

dos termos, que em muitos casos são apontados como diferentes, e em outros,

como sinônimos. Nesse trabalho adotaremos os conceitos apresentados pelo

IEPHA.

Recuperação: conjunto de operações destinadas a restabelecer a unidade da

edificação, não necessariamente relativa à concepção original.

Restauração: conjunto de operações destinadas a restabelecer a unidade da

edificação, relativa à concepção original ou de intervenções significativas na

sua história. O restauro deve ser baseado em análises e levantamentos

inquestionáveis e a execução permitir a distinção entre o original e a

intervenção. A restauração constitui o tipo de recuperação que requer o maior

número de ações especializadas.

Reabilitação: conjunto de operações destinadas a tornar apto o edifício a

novos usos, diferentes ao qual foi concebido.

Reparação: conjunto de operações para corrigir danos incipientes e de

pequena repercussão. São exemplos: troca de ferragens, metais e acessórios

das instalações, reposição de elementos de coberturas, recomposições de

pequenas partes de pisos e pavimentações e outras.

Requalificação: intervenção destinada a proporcionar desempenho

adequado, em consequência de redefinição de funções, de exigências

funcionais, de utilização ou de ocupação

Revitalização: conjunto de operações desenvolvidas em áreas urbanas

degradadas ou conjuntos de edificações de valor histórico de apoio à

“reabilitação” das estruturas sociais, econômicas e culturais locais,

Page 83: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

82

procurando a consequente melhoria da qualidade geral dessas áreas ou

conjuntos urbanos.

A “restauração” é um trabalho mais especializado e muito mais complexo que

a simples “recuperação”, sendo assim, o tratamento dessa pesquisa será referente à

recuperação de edificações de terra crua, podendo ampliar as aplicações práticas

aos trabalhos de restauração.

Quando trabalhamos com recuperação (e restauração) geralmente lidamos

com edificações muito antigas e nem sempre possuímos as informações

necessárias referentes ao material e a maneira como foi feita a obra, logo não

conseguimos saber como aquele material se comporta. Para auxiliar na correta

recuperação de uma edificação sugere-se que, preliminarmente, sejam feitos

diversos estudos acerca da edificação, como levantamento histórico, afim de

compreender as técnicas construtivas mais comuns a época de construção,

realização de levantamentos dimensionais, estudo da composição dos diferentes

materiais encontrados, como blocos, argamassas de junta e reboco, testes de

laboratórios para caracterização química e comportamento mecânico do material e

da estrutura e o que mais for necessário.

Leal (1977), em seu livro “Restauração e Conservação de Monumentos

Brasileiros”, atenta para a necessidade e importância de se conhecer bem as

técnicas construtivas antigas, no processo de elaboração de estratégias de

conservação e na escolha dos procedimentos a serem utilizados nos trabalhos de

recuperação e restauro.

Os resultados obtidos com os ensaios efetuados servem de suporte à

caracterização da construção existente, à interpretação das patologias estruturais

verificadas, à calibração dos modelos numéricos para simulação do comportamento

destas construções, na avaliação da segurança estrutural e no dimensionamento de

eventuais soluções de reforço.

A seguir, serão apresentadas algumas diretrizes de intervenção com o

objetivo de nortear futuros trabalhos.

Page 84: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

83

5.1 DIRETRIZES DE INTERVENÇÃO

O princípio da compatibilidade estabelece que os materiais usados em

recuperação de edifícios antigos devem, sempre que possível, apresentar

resistência física e mecânica igual ou menor que os materiais construtivos

adjacentes à recuperação. Materiais de resistência maior colocam em risco a

conservação dos materiais antigos, por tornarem estes vulneráveis à deterioração,

por sua própria natureza e constituintes.

Após o estudo de diversos autores, fez-se uma compilação de ideias a fim de

se criar um “passo-a-passo” de intervenção para edificações de terra crua.

1º – Diagnóstico Inicial

O diagnóstico inicial, como o próprio nome indica, é o ponto de partida para

qualquer intervenção. Aqui serão reunidas todas as informações de fácil coleta,

como identificação do local, informações históricas disponíveis em acervo, plantas e

projetos (caso existam), levantamento arquitetônico e de instalações, informações

possíveis de serem coletadas em visita ao local, fotografias, conversas com

moradores locais, avaliação preliminar das reais condições estruturais do imóvel,

reconhecimento prévio de patologias com possíveis causas de degradação e demais

informações que possam ser coletadas nessa fase inicial.

O diagnóstico resultará em um documento técnico com relatório de visitas,

fotografias, laudos e todas as demais informações coletadas.

a) Pesquisa histórica:

A pesquisa histórica tem papel fundamental na definição das diretrizes de

intervenção, mas é uma das etapas mais difíceis de se realizar, face à dispersão em

que se encontram os registros históricos. A pesquisa histórica deve ser construída a

partir de diversas fontes de informação: os registros oficiais (certidões, escrituras,

decretos, plantas, etc.); bibliografia disponível, fotos antigas, desenhos, ilustrações

antigas; a história oral (o que é contado por antigos moradores, por membros da

família dos proprietários); os artigos jornalísticos, periódicos e outras fontes

possíveis.

Page 85: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

84

A pesquisa histórica requer, portanto, a interação com outras pesquisas na

busca do conhecimento pleno do edifício ao longo de sua existência. Assim, o

levantamento arquitetônico, junto com as plantas históricas que foram encontradas,

servirá de base para a interpretação da evolução do edifício ao longo do tempo,

desde a sua fundação até os tempos atuais.

b) Levantamento fotográfico:

Um dos objetivos do registro fotográfico é documentar o aspecto da edificação

anterior à intervenção de recuperação.

Deve abranger todos os espaços internos, todas as fachadas e todos os

elementos arquitetônicos, integrados e ornamentais, além de detalhes da estrutura,

da cobertura, das instalações, etc. O registro fotográfico deve mostrar, também, a

inserção do edifício no seu entorno. Deve ser organizado em forma de fichas

fotográficas, onde o elemento fotografado é identificado em planta, assim como o

ângulo da foto.

c) Levantamento arquitetônico detalhado:

A pesquisadora Cristina Coelho destaca em seu trabalho “O projeto de

Intervenção em Bens Culturais Imóveis” o que seria um levantamento arquitetônico

detalhado voltado para intervenções em edificações. Tomaremos como base os

seus destacamentos.

O levantamento arquitetônico destinado ao registro gráfico de um edifício é

realizado a partir de métodos específicos que permitem maior precisão na medição,

permitindo o registro fiel das irregularidades e imperfeições que o edifício apresenta

e, também, dos detalhes dos elementos arquitetônicos, integrados e ornamentais

presentes no edifício.

Antes do início dos trabalhos de levantamento deve-se fazer uma vistoria

preliminar para verificar quanto à segurança de acesso ao imóvel e, se necessário,

tomar as providências cabíveis de modo a permitir o acesso seguro dos técnicos da

equipe de projeto.

Para a realização do levantamento arquitetônico utiliza-se, além da trena,

prumos, mangueiras de nível, nível de bolha e outros instrumentos de leitura e

documentação que se fizerem necessário.

As medições devem ser precedidas da realização de croquis que permitam o

registro das informações a serem coletadas e oriente os trabalhos. A partir daí, deve-

Page 86: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

85

se definir os níveis de medição, dos quais serão tomadas as medidas horizontais e

verticais.

Após o trabalho de levantamento é feito os desenhos (plantas, cortes e

fachadas). É importante que também seja registrado em planta os revestimentos e

materiais identificados em loco e, caso seja possível, destacar a técnica utilizada na

construção.

d) Vistoria para conhecimento do estado de conservação e das patologias:

O estado de conservação deve ser minuciosamente verificado e relatado. O

relatório do estado de conservação deve ser organizado por grupos de elementos

construtivos e as patologias identificadas devem ser representadas por desenhos

e/ou fotos.

e) Mapeamento de danos:

O mapeamento de danos é o registro gráfico, o mais fiel possível, do estado

de conservação e das patologias identificadas no edifício. Para tanto, deve-se criar

uma simbologia para determinar cada uma das patologias encontradas, como

perdas de materiais de revestimento; fissuras e rachaduras profundas; infiltrações;

presença de fungos; irregularidades em esquadrias; problemas em telhados;

desnivelamentos; etc.

f) Diagnóstico do estado de conservação:

A edificação a ser recuperada é como um paciente que apresenta sintomas

de degradação e/ou patologias que devem ser corretamente diagnosticadas para

que se possa buscar soluções que evitem definitivamente, ou retardem, a

reincidência do problema.

O diagnóstico do estado de conservação deve ser feito com base na “vistoria

do estado de conservação e das patologias” e no “mapeamento de danos”,

buscando identificar as causas das degradações. Para tanto, a investigação deve

considerar todo o universo que envolve a edificação como os fatores climáticos; as

características do solo; as edificações do entorno; as intervenções urbanísticas; os

atos de vandalismo; as formas de utilização do bem; as características da

construção original e das intervenções que a sucederam; etc.

Page 87: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

86

2º – Coleta de amostras, prospecções e realização de ensaios

Nessa fase podem ser feitos testes e ensaios para o diagnósticos de

anomalias permitindo a localização das possíveis zonas deterioradas. Ensaios de

ultrassom são muito utilizados para essa finalidade. As prospecções tem como

objetivo subsidiar a elaboração do projeto de recuperação, complementando os

dados de caracterização da estrutura.

3º – Diagnóstico complementar

Após as prospecções e ensaios que se fizerem necessários é complementado

o diagnóstico inicial.

4º – Elaboração de projeto de intervenção

Essa fase compreende a elaboração dos projetos para intervenção, com a

definição das especificações técnicas e caderno de encargos, detalhando todos os

procedimentos e a logística necessária para a intervenção.

É nessa etapa que devem ser pensados sobre quais profissionais serão

necessários no canteiro de obras e quais equipamentos devem ser providenciados.

5º – Projeto de intervenção – obra

Antes de iniciar as obras é necessário que a equipe já possua mão de obra

especializada e treinada para atuação em construções de terra crua. A primeira

etapa de uma obra de recuperação deve ser, obviamente após a montagem do

canteiro de obras, contemplada pelos serviços de proteção das áreas de risco e

criação de acessos. Em seguida deve-se buscar executar os trabalhos de caráter

estrutural e cobertura – é fundamental que o imóvel seja imediatamente protegido

para que as intempéries não prejudiquem ainda mais a edificação de terra. A partir

daí seguem os trabalhos nas alvenarias, revisão ou introdução das instalações

prediais, recuperação das esquadrias, pisos, forros, elementos integrados, etc.

Page 88: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

87

É recomendável que se proceda ao travamento das fachadas de forma a

evitar o seu destacamento e colapso, bem como, ao escoramento de pavimentos e

coberturas se assim se justificar. Como reparação, poderá adotar-se técnicas de

reforço que passam pela utilização de tirantes de aço no travamento de paredes, ou

pelo revestimento das faces das paredes com soluções capazes de resistir a

esforços de tração, como redes de aço ou de materiais polímeros, ou por telas de

materiais compósitos.

Para tratamento das fissurações, poderá recorrer-se a uma selagem das

fissuras com argamassas de cal hidráulica, injetada sob pressão, e a reparação ou

substituição total de rebocos, tendo em atenção cuidados especiais para que os

novos materiais sejam compatíveis com os materiais e técnicas originais.

(OLIVEIRA; VARUM; COSTA, 2011, p. 6)

Antes de se iniciar os processos de recuperação das argamassas e pinturas é

necessário limpar toda a base retirando todos os resíduos de poeira, partículas

soltas, desmoldante, óleos e graxas que porventura possam existir e impedir o

perfeito contato da argamassa com a base.

Essa limpeza pode ser realizada através de diversas técnicas e produtos.

Tenta-se, no entanto, no caso do emprego de produtos químicos, o cuidado de

saturar bem com água limpa a superfície a ser lavada, evitando assim a penetração,

em profundidade, da solução de lavagem.

As falhas de base, furos e depressões, como também as saliências na

alvenaria, devem ser corrigidas antes da etapa de revestimento.

Uma peculiaridade quase sempre presente nas obras de recuperação de

edificações de terra crua é que, geralmente, são feitas novas descobertas sobre a

edificação durante a obra. Mesmo com todo o trabalho de pesquisa feita

anteriormente, não é raro depararmos com alguma situação imprevista.

Durante a fase de obras é importante que seja feito o “Relatório de

Acompanhamento de Obra” que deve conter, além do registro dos procedimentos na

obra, o registro das novas descobertas em relação ao edifício e das alterações de

projeto delas proveniente e atas das reuniões.

Este documento se traduz em documento de memória e, portanto, da história

do bem objeto da intervenção, devendo ser material de pesquisa para futuras

intervenções tanto no próprio edifício para o qual foi gerado, quanto em outros

Page 89: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

88

edifícios. O Relatório de Acompanhamento de uma determinada obra pode auxiliar

na pesquisa de outro edifício com características semelhantes, fornecendo bases

para o conhecimento dos sistemas construtivos e de outras características comuns

entre eles.

6º – Manual de conservação

O “Manual de Conservação” se destina ao usuário do imóvel e deve, portanto,

ser elaborado com linguagem acessível às pessoas que não possuem conhecimento

técnico. Deve conter informações relativas ao imóvel – características históricas,

arquitetônicas e construtivas, assim como todos os procedimentos de limpeza e de

reparos rotineiros necessários no imóvel, o que pode ser feito e o que não pode ser

feito na edificação.

Importa salientar ainda, que a conservação engloba o conjunto de ações

destinadas a prolongar o tempo de vida do edificado e que os edifícios sujeitem-se

regularmente a operações de manutenção, como processo profilático.

A manutenção é o conjunto de operações preventivas destinadas a manter,

em bom funcionamento, a edificação e as suas partes constituintes,

incluindo limpezas e pinturas, inspeções e pequenas reparações, sendo a

prevenção o melhor caminho, quer do ponto de vista da plena utilização do

edificado, quer do ponto de vista econômico. (APPLETON, 2003, p. 143).

7º – Memorial Descritivo de Intervenção

Esse memorial visa direcionar intervenções posteriores. Deve conter o

resultado de todos os testes e ensaios laboratoriais e de campo que foram feitos

durante o processo de recuperação da edificação; os critérios adotados quanto aos

procedimentos executados e justificativa das soluções técnicas; histórico fotográfico

de todas as etapas do trabalho desenvolvido; informações sobre as dificuldades

encontradas durante o processo. Deve orientar as futuras manutenções preventivas

necessárias à conservação da edificação.

Page 90: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

89

5.2 DIRETRIZES PARA REPARAÇÃO DE ELEMENTOS

O conhecimento das técnicas construtivas das edificações feitas em terra crua

é fundamental para a escolha dos procedimentos adequados a serem utilizados na

recuperação ou restauração destas edificações.

Nessa seção abordaremos algumas diretrizes para reparação das principais

patologias que podem ser encontradas nas edificações de terra crua.

Reparação de grandes superfícies

Grandes planos erosionados ou com desprendimentos devem ser reparados

retirando-se todas as partículas soltas e umedecendo-se a superfície antes de se

aplicar o barro de reparação.

Com o objetivo de reduzir a retração o barro deve ser aplicado em camadas

de, no máximo, 1,5 cm. Caso o dano tenha uma profundida maior que 2 cm de

espessura, é recomendado raspar a região até uma profundidade de 6 cm, para se

evitar que o novo barro seja aplicado em material sem resistência. Essa superfície

mais profunda pode ser preenchida com pedaços de adobes e argamassa.

Reparação de gretas e fissuras

As gretas e fissuras existentes em estruturas antigas não podem ser

reparadas somente com barro plástico, devido a que este não se adere a uma

superfície de barro seca. Aconselha-se a utilização de uma mistura de terra aditivada

com cimento, cal ou gesso para a reparação dessas fissuras. Antes do reparo é

necessário que a superfície a ser reparada esteja úmida, para que o material se

expanda e retome as suas características plásticas, e livre de partículas soltas.

Também é recomendado que as fissuras sejam encobertas com mais material do

que o necessário, para que seja feita nova compactação quando o material estiver

quase seco (porém ainda em estado plástico) e já tiver ocorrido a retração do tempo

de secagem.

Minke (2005), sugere um traço de 1 parte de barro, 0,5 a 1 de cal hidratada e

0,5 a 1 de gesso para reparação de estruturas antigas. Quanto às fissuras expostas

ao tempo, Minke (2005) assegura que não se deve utilizar gesso, entretanto se pode

adicionar cimento ao barro, cal hidratada ou uma mistura dos dois aditivos em uma

porcentagem de 8 a 20%. Pode-se adicionar também azeite de linhaça cozido, numa

Page 91: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

90

porcentagem de 4 a 7%. Todas essas misturas mantém-se plásticas por várias

semanas, impedindo a retração e, consequentemente, impedindo o surgimento de

novas fissuras.

Em contrapartida, uma estrutura de construção recente pode ser repara com

barro plástico desde que se umedeça toda a parte a ser reparada.

Pinturas

Para as pinturas o termo recuperação só se enquadra quando se trata de

restauro. Em geral, as pinturas não são reparadas, elas são refeitas e antes de

refazer uma pintura é necessário retirar toda a camada antiga.

Após a retirada da antiga pintura, a superfície deve ser preparada com uma

camada de cal e, caso a superfície seja arenosa, é melhor utilizar goma de cal-

caseína nesse preparo. Essa goma se prepara utilizando cal hidratada e coalhada,

nas proporções de 1:5. Essa mistura é mesclada por dois minutos intensamente e

deixada em repouso, logo é acrescentado água nas proporções de 1:5. Esta cola

deve ser utilizada em, no máximo, uma hora. (MINKE, 2005).

Considera-se os três pontos citados como os principais e mais recorrentes

nas edificações que necessitam de recuperação. Ademais, salienta-se que cada

edificação e cada patologia precisa ser considerada com exclusividade.

Page 92: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

91

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fazendo um recorte para a realidade atual do estado de Minas Gerais, vê-se

a situação de muitas edificações de terra crua que, ou são deixadas ao abandono

até o seu estado de degradação máximo, ruína, ou então são intervencionadas de

forma incorreta, muitas vezes por falta de conhecimento técnico e incompatibilidades

entre materiais, originando problemas de maior gravidade, em que as tentativas de

recuperação se transformam em soluções deteriorativas.

A relevância desse trabalho ergue-se da importância cultural, social e

patrimonial dos bens edificados em terra crua existentes em Minas Gerais,

ampliando essa importância para as demais edificações espalhadas pelo Brasil e

pelo mundo.

Face a esta problemática das más práticas de intervenção no edificado em

terra crua, chegou-se à conclusão que não possuímos produção científica suficiente

que auxiliem na difusão das boas técnicas de recuperação, surgindo assim o

interesse na produção dessa pesquisa.

Cada projeto de recuperação é único, e desta forma, não há uma metodologia

de intervenção absoluta. A metodologia proposta por essa pesquisa é subdividida

em 7 etapas, a saber: 1ª) Diagnóstico inicial; 2ª) Coleta de amostras, prospecções e

realização de ensaios; 3ª) Diagnóstico complementar; 4ª) Elaboração de projeto de

intervenção; 5ª) Projeto de intervenção – Obra; 6ª) Manual de Conservação e 7ª)

Memorial descritivo de intervenção.

Essa metodologia busca ressaltar, principalmente os aspectos técnicos-

científicos relacionados à recuperação de edificações construídas originalmente em

terra crua, uma vez que essas edificações requerem estudos específicos, devendo

contar com análises, testes e detalhamentos técnicos para a determinação dos

critérios a serem adotados na intervenção.

A metodologia sistematiza as informações que darão suporte para a

elaboração de uma proposta de recuperação consciente dividindo o processo para

conhecimento e elaboração de projeto para recuperação da edificação, partindo de

duas questões chaves: 1) como encaminhar um diálogo aprofundado identificando

as patologias, suas causas e elementos deflagradores e 2) como identificar e

analisar os materiais constituintes da edificação para indicação dos materiais mais

Page 93: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

92

adequados a serem utilizados na intervenção em função dos resultados do

diagnóstico.

De uma forma simples, procurou-se criar uma espécie de guia de boas

práticas, para o entendimento das melhores formas de intervencionar no edificado

em terra crua de forma a preservar este legado.

A partir do conhecimento produzido neste trabalho torna-se procedente

aprofundar o tema apresentado com propostas para realização de trabalhos futuros

abordando os seguintes aspectos:

A implementação real da metodologia proposta através de estudo de casos

em obras de recuperação em edificações feitas de terra crua;

A realização de um estudo mais aprofundado quanto aos testes e ensaios que

podem ser feitos para auxiliar na detecção de patologias e suas causas;

O aprofundamento do estudo afim de ampliar a contribuição das diretrizes

para reparação de elementos.

Sem a preocupação em se esgotar o assunto, que é extenso e complexo,

espera-se ter atendido ao objetivo proposto, servindo este trabalho como material

metodológico de orientação para futuros trabalhos de recuperação.

Page 94: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

93

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Vítor Manuel. Arquitetura de terra na região de Aveiro: reabilitação de construções em adobe. 2014. 157f. (Dissertação de Mestrado em Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Artes, Universidade Lusíada do Porto, Porto, 2015.

APPLETON, João. Reabilitação de Edifícios Antigos: Patologias e Tecnologias de Intervenção. 2 ed. Portugal: Editora Orion, 2003. 730p.

ARENDT, Claus. Utilização de reboco de recuperação. Métodos de tratamento de alvenarias deterioradas. Seminário sobre recuperação de obras históricas de engenharia e arquitetura. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 1995.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6457: Amostras de solo: preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro,2016.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: Solo: determinação do limite de liquidez. Rio de Janeiro, 2016.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6502: Rochas e solos. Rio de Janeiro, 1995.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7180: Solo: determinação do limite de plasticidade. Rio de Janeiro, 2016.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7181: Solo: análise granulométrica. Rio de Janeiro, 2016.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16097: Determinação do teor de umidade: métodos expeditos de ensaio. Rio de Janeiro, 2012.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM ISSO 3310-1: Peneiras de ensaio - Requisitos técnicos e verificação. Parte 1: Peneiras de ensaio com tela de tecido metálico. Rio de Janeiro, 2010.

Page 95: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

94

ASTM International. Standard Guide for Design of Earthen Wall Building Systems. ASTM E2392 / E2392M - 10e1 2010. Pennsylvania, USA.

BRANDÃO, M. G. S.; SILVA, O.J.C.; VAZQUEZ, E. G. Sustentabilidade na construção: potencialidades e possibilidades. In: III congresso internacional na recuperação, manutenção e restauração de Edifícios, 2010, Rio de Janeiro. Anais do III Congresso Internacional na Recuperação, Manutenção e Restauração de Edifícios, 2010. v. 1.

CAPUTO, Homero. Mecânica dos solos e suas aplicações. 3.ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978. V.1, 242p.

CARRIO, Juan. La patologia y los estúdios patológicos. In: Curso de Patología Conservación y Restauración de Edificios. Madrid: Comisión de Asuntos Tecnológicos, Colegio Oficial de Arquitectos de Madrid, 1995.

CID, Falceto; MAZARRON, Ruiz; GUERRERO, Cañas. Las normativas de construcción con tierra en el mundo. Informes de la construccion – Revista de informacion tecnica, v. 63, n. 523, p. 159-169, 2011.

COELHO, Cristina. O projeto de intervenção em bens culturais imóveis. In: BRAGA, Márcia (org.). Conservação e restauro: Arquitetura. Livro 03. Disponível em: <http://marciabraga.arq.br/voi/images/stories/pdf/MarciaBraga_arq_bras.pdf>. Acesso em: 10 de dezembro de 2016.

CONESCAL. Tecnología de construcción de tierra sin cocer. Revista Especializada en Espacios Educativos. N° 59-60. México,1982. 90p.

COUTO, Sergio. A extraordinária história da China. [São Paulo]: Universo dos Livros. 2008. 160p.

CRATerre – Centre Internacional de la Construction en Terre. Construire en terre. Paris: 1979. 270 p.

CUNHA, José Celso da. A história das construções: da pedra lascada às pirâmides de Dahchur. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. (284 p.)

DETHIER, Jean. Architetture di terra. Roma, Mercati di Traiano: Editoriale Electa. 1982.

DGEMN. 7a Conferência Internacional sobre Conservação de Arquitetura de Terra. Silves (Portugal): 24-29 de outubro, Anais... 1993. 659p., il.

Page 96: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

95

FEILDEN, Bernard. Conservation of historic buildings: technical studies in the arts, archaeology and architecture. England: Butterworth, 1982.

FELIX, Mônica; MELLO, Maria. O Uso de Técnicas Tradicionais em Terra Crua em Obras de Restauração. In: Terra em Seminário 2007. Lisboa: Argumentum. p. 215-219.

FERNANDES, Maria. Técnicas de Construção em Terra. In: Terra: Forma de Construir: Arquitectura-Antropologia-Arqueologia. Lisboa: Argumentum. 2006. p. 20-25.

GANDREAU, David; DELBOY, Letícia. Inventory of Earthen Architecture. UNESCO - United Nation's Educational. World Heritage Earthen Architecture Programme (WHEAP): 284 p. 2012.

GETTY CONSERVATION INSTITUT, 6th International Conference on the Conservation of Earthen Architecture – Adobe. Las Cruces, New Mexico (USA): GCI, October 14-19, Anais... 1990. 469p. Il.

GUILLAUD, Hubert; HOUBEN, Hugo. Traité de construction en terre. 2.ed. Marseille: Editions Parenthèses, 1995. 355p.

_____________. Construir em terra crua: técnicas antigas e modernas. Arquitecturas de terra: ou o futuro de uma tradição milenar. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.

Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA. Normas para apresentação de projetos de restauração do patrimônio edificado. 2014.

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Departamento de Identificação e Documentação. Inventário Nacional de Bens Imóveis – Sítios Urbanos Tombados: manual de preenchimento, versão 2001. Brasília.

JOHNSON, Sidney. Deterioro, conservación y reparación de estructuras. Madrid/Barcelona: Blume/Labor, 1973. 333p.

KOCH, G.; KUNZE, C.; SEIDL, J. Loam construction: from a niche product to an industrial building system. SB05 Tokyo: The 2005 World Sustainable Building Conference. Rotterdam (Netherlands): in-house publishing: p.1270-1275. 2005.

Page 97: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

96

LEAL, Fernando. Restauração e conservação de monumentos brasileiros. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1977.

LEMOS, Carlos. Alvenaria burguesa. ASSOCIAÇÃO CENTRO DA TERRA. Arquitectura de terra em Portugal. Lisboa: Argumentum, 2005. 299p.

MESTRE, Victor. 2005. Terra de Cobertura. In: Arquitectura de Terra em Portugal: Earth Architecture in Portugal. Lisboa, Argumentum, p. 62-67.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistema de Informação de Atenção Básica – SIAB. Brasília, 2015.

MINKE, Gernot. Building with Earth: Design and Technology of a Sustainable Architecture. 2 ed. Birkhäuser Architecture, 2009. 208p.

_____________. Manual de construccion em tierra: La tierra como material de construcción y su aplicación em la arquitectura actual. 2. Ed. Montevidéo. Fin de Siglo. 2005. 222 p.

NEVES, Célia Maria et al. Seleção de solos e métodos de controle em construção com terra – práticas de campo. In: IV Seminário Ibero-americano de Construção com Terra, 4. Ed. Seminário arquitectura de terra em Portugal, 3., 2005, Monsaraz (Portugal). Actas... Vila Nova de Cerveira (Portugal): Escola Superior Galaecia / PROTERRA-CYTED. 1 CD-ROM. p. 1-31

OLIVEIRA, Cristina; VARUM, Humberto; COSTA, Aníbal. Estilo Art Nouveau em Aveiro e a sua relação com construções de adobe. SIACOT: XI Seminario Iberoamericano de Construcción con Tierra. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10773/6856>. Acesso em: 10 de dezembro de 2016.OLIVEIRA, Cristina; VARUM, Humberto; GUERREIRO, Luís. Arte Nova em Aveiro e sua relação com o Adobe. RIPAM 3: 3rd International Meeting on Architectural Heritage of the Mediterranean, 2009.

OLIVEIRA, Mário Mendonça de. Tecnologia da conservação e da restauração - materiais e estruturas: um roteiro de estudos. 4. ed. Salvador: EDUFBA, 2011. 243p.

PEIXOTO, Maria Virgínia. Metodologia para aplicação de ensaios ultrassônicos em minipainéis de taipa de pilão. 2011. 110 f. (Dissertação de Mestrado em Arquitetura) – Escola de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.

Page 98: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

97

PERNA, Allan et al. Caracterização da radioatividade natural de materiais utilizados na construção civil da região metropolitana de Curitiba. International Nuclear Atlantic Conference – INAC 2011. Belo Horizonte,2011.

PONTE, Maria Manuel. Arquitetura de Terra: o desenho para a durabilidade das construções. 2012. 298 f. (Dissertação de Mestrado em Arquitetura) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2012.

REZENDE, Marco Antônio; RODRIGUES FILHO, Raimundo. Estudo sobre a constituição e recuperação de construções antigas em taipa de pilão. Depto. Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo. Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Belo Horizonte. Disponível em: <http://www.ahter.org/vsiacot/ponencias/comision5/Rezende,%20Marco%20Antonio/PO-Antonio%20Rezende.pdf>. Acesso em 10 de dezembro de 2016.ROCHA, Miguel. A Terra na Arquitectura. In: Terra: Forma de Construir: Arquitectura-Antropologia-Arqueologia. Lisboa: Argumentum. 2006. p. 26-31.

RIBEIRO, Rosina. Patologias nas Construções Históricas. In: Conservação e Restauro: Arquitetura. Rio de Janeiro, 2004.

RODRIGUES, Paulina Faria; HENRIQUES, Fernando. Condicionantes da conservação de construções em terra. In: Terra em Seminário. Lisboa: Argumentum. 2005. p. 121-124.

_____________. Construções em terra crua: tecnologias, potencialidades e patologias. Revista MUSA, nº2, p. 149-155, Junho 2007. Disponível em: <http://run.unl.pt/handle/10362/9949>. Acesso em: 10 de dezembro de 2016.

ROQUE, João; LOURENÇO, Paulo. Técnicas de intervenção estrutural em paredes antigas de alvenaria. Universidade do Minho, Guimarães, 2003. Disponível em: <http://docslide.com.br/documents/paredes-antigas-de-alvenaria.html>. Acesso em: 10 de dezembro de 2016.

SANTIAGO, Cybèle Celestino. O solo como material de construção. Salvador: EDUFBA, 1996. 78p. il.

SANTOS, Clarissa; LIBRELOTTO, Lisiane; JACINTHO, Claudio. Building with earth: Brazil’s most popular raw earth building techniques and the opinion of experienced builders. Key Engineering Materials, Vol. 600, p. 123-131, Março, 2014. Disponível em: <http://www.scientific.net/KEM.600.123>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016.

_____________. Construção com terra no Brasil: Panorama, normatização e prototipagem com terra ensacada. 2015. 290f. (Dissertação de Mestrado em

Page 99: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

98

Arquitetura e Urbanismo) – Escola de Arquitetura, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.

SEMINÁRIO MATO-GROSSENSE DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL, 2005, Cuiabá. Sistema construtivo com paredes estruturais de adobe, em habitação de interesse social rural: um estudo de caso no assentamento rural “fazenda Pirituba” (Itapeva-SP). Cuiabá: CEFETMT, EdUFMT, 2005, p. 669-677. Disponível em: <http://www.iau.usp.br/pesquisa/grupos/habis/biblioteca/digital/artigos/materiais_tecnicas_e_sistemas/Artigo_Semin%C3%A1rioMatogrossenseHabita%C3%A7%C3%A3o_Sistema%20Construtivo%20Adobe%20Pirituba_FARIA_SILVA_INO.pdf>. Acesso em 10 de dezembro de 2016.

SILVA, Vanessa Regina Freitas. Estariam Ouro Preto e Mariana preservadas? Remanescências da forma de construir e viver. XI Encontro nacional da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional – ANPUR. Salvador, 2005. Disponível em: <http://www.xienanpur.ufba.br/511p.pdf>. Acesso em 10 de dezembro de 2016.

TAVARES, Fabiana Mendes. Metodologia de diagnóstico para restauração de edifícios dos séculos XVIII e XIX nas primeiras zonas de mineração em Minas Gerais. 2011. 93f. (Dissertação de Mestrado em Arquitetura) – Faculdade de Engenharia, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2011.

TORGAL, Fernando; EIRES, Rute; JALILI, Said. A construção em terra. Guimarães: TecMinho, 2009. 175p.

TORRACA, Giorgio. Materiaux de construction poreux: science des matériaux pour la conservation architecturale Rome :ICCROM, 1986. 149 p.

VARUM, Humberto; et al. Caracterização e reabilitação de construções existentes em terra. I Jornadas de eco-construção: Casas saudáveis para o presente. Aveiro: 2007. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10773/6478>. Acesso em: 09 de dezembro de 2016.

VASCONCELLOS, Silvio de. Vila Rica. São Paulo, Perspectiva, 1977.

VEADO, Fernando Roberto. Resgate das técnicas construtivas e a importância dos materiais remanescentes das argamassas utilizadas nas confecções das paredes de barro e dos revestimentos das edificações históricas: uma abordagem epistêmica. 2008. 210 f. (Dissertação de Mestrado em Arquitetura) – Escola de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.

Page 100: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

99

VIÑUALES, Graciela Maria. Restauración de arquitectura de tierra. Santa Maria ded Tucumán (Argentina): Universidad Nacional de Tucumán, s/d. 66p. Il.

VOTH, Berthold. Boden, Baugrund und Baustoff: Bautechnische Eigenschaften und Kenngrssen. Berlin: Wiesbaden, 1978.

WATSON, Linda; MCCABE, Kevin. The cob building technique. Past, present and future. Informes de la construcción, v. 63, n. 523, p. 59-70, 2011.

Page 101: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

100

ANEXO A

MAPA 01 – INCIDÊNCIA DE PAU A PIQUE EM OURO PRETO

Fonte: Silva, 2005.

Page 102: RECUPERAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM TERRA CRUA · Curso de Especialização em Produção e Gestão do Ambiente Construído ... Internacional de Construção em Terra) e o manual do

101

ANEXO B

MAPA 02 – INCIDÊNCIA DE ADOBE EM MARIANA

Fonte: Silva, 2005.