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Reciclagem de Placas de Circuito Impresso: Optimização da Operação de Processamento Físico Ricardo Jorge Dinis Abrantes Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia de Materiais Jurí Presidente : Prof. Rui Manuel Amaral de Almeida Orientadores: Profª Fernanda Maria Ramos da Cruz Margarido Prof. Carlos Alberto Gonçalves Nogueira Vogal: Prof. José Jorge Lopes da Cruz Fernandes Junho de 2009

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Reciclagem de Placas de Circuito Impresso: Optimização

da Operação de Processamento Físico

Ricardo Jorge Dinis Abrantes

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia de Materiais

Jurí

Presidente : Prof. Rui Manuel Amaral de Almeida

Orientadores: Profª Fernanda Maria Ramos da Cruz Margarido

Prof. Carlos Alberto Gonçalves Nogueira

Vogal: Prof. José Jorge Lopes da Cruz Fernandes

Junho de 2009

ii

AGRADECIMENTOS

Durante o último ano, este trabalho teve o apoio e contribuição de muitas pessoas aos quais gostaria

de deixar o meu agradecimento.

Gostaria de começar por expressar o meu sincero e profundo agradecimento à Professora Fernanda

Margarido, orientadora desta dissertação, pela oportunidade que me concedeu. Sem a sua

dedicação, disponibilidade, empenho e incentivo esta dissertação não teria sido uma realidade.

Gostaria também de lhe agradecer todos os ensinamentos que posso extrair das suas palavras e que

me ajudarão a enriquecer enquanto pessoa e profissional.

O meu sincero agradecimento ao Dr. Carlos Nogueira, orientador desta dissertação, pela

compreensão, interesse e ajuda prestada ao longo de todo o trabalho, bem como por todo o suporte

técnico e conhecimentos transmitidos na área estudada.

Um agradecimento aos meus colegas de laboratório, Eng. Marta Pereira, Eng. Filipa Taborda e Eng.

Sandro Vicente pelo apoio prestado desde o primeiro dia e na disponibilidade para todas as

explicações que envolveram os diferentes equipamentos utilizados.

Um obrigado ainda a todos os amigos, colegas e companheiros que me ajudam a ser quem sou.

E um último agradecimento especial aos meus pais, por todo o esforço e apoio incondicional durante

todo o meu percurso académico, assegurando-se que nada me faltava.

iii

RESUMO

O presente trabalho tem como principal objectivo estudar o comportamento das placas de circuito

impresso durante a operação de processamento físico, inserido num processo de reciclagem por via

pirometalúrgica.

Este estudo baseia-se na comparação dos resultados obtidos por separação granulométrica e na

análise química e morfológica dos materiais fragmentados por dois sistemas de corte (moinho de

lâminas e fragmentador de garras) diferentes, utilizando duas malhas de grelha de descarga (6 e 10

mm). No moinho de lâminas, todo o material é forçado a passar pela grelha de descarga do qual

resulta apenas uma fracção. Deste fragmentador resultam fragmentos de menor dimensão, o que se

traduz numa maior eficiência na redução de calibre. No fragmentador de garras, nem todo o material

passa pela grelha de descarga, resultando duas fracções (infra e supra).

Os resultados indicam que a fragmentação primária enquanto processo de separação não é eficaz,

de forma a obter um grau de separação suficientemente grande. Os resultados obtidos para o grau de

libertação e para a redução de calibre entre os dois fragmentadores não foi muito diferente.

Palavras – chave:

Placas de Circuito Impresso, Reciclagem, Processamento Físico, Sistemas de Corte

iv

ABSTRACT

The main goal of this work is the study of the behaviour of printed circuit boards during the unit

operation of physical processing, inserted in a pyromettalugical recycling process.

This study is based on the comparison of results obtained by size separation, chemical and

morphological analysis of the fragmented materials between two different cutting systems (cutting mill

and grabbed shredder) using two different meshes on the discharge grille (6 and 10 mm). In the

cutting mill, all the material is forced to pass through the discharge grille, resulting only one fraction of

material. From this shredder results the fragments of lower size, which means that the size reduction

is more efficient. In the grabbed shredder, the material is divided into different fractions, since not all

the material pass through the discharge grille, resulting two different fractions (infra and supra).

According to the results, the primary fragmentation as a separation process isn’t effective to obtain a

large enough separation degree. The obtained results for the liberation degree and size reduction

between the two shredders aren’t very different.

Keywords:

Printed Circuit Board, Recycling, Physical Processing, Cutting Systems

v

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS..............................................................................................................................ii

RESUMO................................................................................................................................................iii

ABSTRACT............................................................................................................................................iv

ÍNDICE.....................................................................................................................................................v

ÍNDICE DE TABELAS............................................................................................................................vii

ÍNDICE DE FIGURAS...........................................................................................................................viii

LISTA DE ABREVIATURAS...................................................................................................................xi

Capítulo 1- Introdução..................................................................................................................1

1.1. Considerações Gerais. .......................................................................................................1

1.2. Política de Gestão dos REEE..............................................................................................2

1.3. Legislação............................................................................................................................5

1.3.1. Sociedades Gestoras...........................................................................................7

1.4. Apresentação do Problema.................................................................................................8

Capítulo 2 – Placas de Circuito Impresso...........................................................................13

2.1. Introdução..........................................................................................................................13

2.2. Características das PCI.....................................................................................................14 2.3. Efeito Toxicológico.............................................................................................................19

Capítulo 3 – Metodologia de Trabalho..................................................................................23

3.1. Triagem..............................................................................................................................23

3.2. Processamento Físico.......................................................................................................24

3.3. Caracterização Química....................................................................................................27

3.3.1. Análise Química Elementar...............................................................................27

3.4. Caracterização Morfológica...............................................................................................29

Capítulo 4 – Resultados Experimentais e Discussão....................................................31

4.1. Material utilizado e Condições Operatórias.......................................................................31

4.2. Processamento Físico.......................................................................................................33

4.2.1. Operação Unitária de Fragmentação – Moinho de Lâminas.............................33

4.2.2. Operação Unitária de Fragmentação – Fragmentador de Garras.....................36

4.2.3. Moinho de Lâminas vs Fragmentador de Garras...............................................41

4.3. Caracterização Morfológica...............................................................................................43

4.3.1. Análise por Lupa Estereoscópica.......................................................................44

vi

4.3.2. Análise por MEV/EDS........................................................................................47

4.4. Caracterização Química....................................................................................................57

4.4.1. Análise Química Elementar................................................................................57

4.4.2. Avaliação das Recuperações.............................................................................65

4.4.3. Moinho de Lâminas vs Fragmentador de Garras...............................................70

Capítulo 5 – Conclusões Finais e Trabalho Futuro.........................................................75

5.1. Conclusões........................................................................................................................75

5.2. Proposta de Trabalho Futuro.............................................................................................76

Bibliografia.......................................................................................................................................77

Anexos...............................................................................................................................................79

Anexo I – Categorias de Equipamentos...................................................................................79

Anexo II – Composição Material de Placas de Memória de Computadores Pessoais.............82

Anexo III – Curvas de Calibração.............................................................................................84

vii

íNDICE DE TABELAS

Tabela 1.1 – Diferença no consumo de PC entre 1993 e 2000 [2]………………………………..……...........……......2

Tabela 1.2 – Definição das categorias de produtos abrangidos pela lei DL 230/2004 de 10 de Dezembro [8].........5

Tabela 1.3 – Objectivos de gestão de REEE, em Portugal [9]…………...………………..…………………….....…....6

Tabela 1.4 – Estimativa da produção nacional de REEE e quantitativos mínimos atribuídos a cada

sociedade gestora (adaptado de [9])…………………………………...……………….........………........7

Tabela 1.5 – Dados referentes à recolha, recuperação, reutilização, reciclagem e respectivas taxas por

categorias de produtos, referentes ao ano de 2006 (adaptado de [11])…………………….....……..8

Tabela 2.1 – Percentagem mássica e preços dos metais raros quando em recurso natural

(adaptada de [24])...............................................................................................................................19

Tabela 4.1 – Placas de Circuito Impresso utilizadas e respectivas condições operatórias.....................................32

Tabela 4.2 – Características das amostras 21 a 24 e respectivas condições operatórias......................................40

Tabela 4.3 – Dados relativos ao cálculo da eficiência de fragmentação..................................................................43

Tabela 4.4 – Recuperações máximas (%) e o crivo óptimo para a recuperação dos elementos químicos

estudados nas amostras 9, 10, 13, 17...............................................................................................70

Tabela A.1 - Listagem de produtos do DL 230/2004 de 10 de Dezembro [8]...........................................................79

Tabela A.2 – Elementos constituintes de uma placa com 1 Gb de memória [28]....................................................82

Tabela A.3 – Elementos constituintes de uma placa com 2 Gb de memória [28]....................................................83

viii

íNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1 – Gestão de resíduos [4]…………………………………………………………………………….…...............3 Figura 1.2 – Hierarquia das prioridades no tratamento de resíduos e produtos em fim de vida [6]……….................4 Figura 1.3 – Diagrama das operações utilizadas neste trabalho.……………………........……………...........…........10 Figura 2.1 – Percentagem dos REEE por categorias na Europa Ocidental (adaptado de [13])....……....................13 Figura 2.2 – Percentagens dos diferentes constituintes de REEE (adaptado de [13])…………….…...…................14 Figura 2.3 – Exemplo de uma PCI [17]......................................................................................................................15 Figura 2.4 – Evolução da arquitectura utilizada em PCI (adaptado de [18])……………………………..................…15 Figura 2.5 – Exemplo de PCI: a) pobre; b) rica……………………………………………………....….…..…...............16 Figura 2.6 – Composição média das PCI, adaptado de [19]………………………………………….…..…......,..........17 Figura 2.7 – Elementos químicos presentes nas PCI (adaptado de [22])…………………………….…....................18 Figura 2.8 – Valor económico contido numa PCI. Valores em cêntimos. a) PCI rica; b) PCI pobre [15].................19 Figura 3.1 – Placa cortada na guilhotina. a) placa inteira; b) depois de cortado......................................................23 Figura 3.2 – a) Fragmentador de garras; b) rotor; c) crivos utilizados......................................................................25 Figura 3.3 – a) Moinho de lâminas; b) rotor; c) crivos utilizados...............................................................................26 Figura 3.4 – Agitador electromagnético de peneiros Fritsch Analysette 3................................................................27 Figura 3.5 – Espectrómetro de fluorescência de Raios-X: a) aspecto geral; b) porta-amostras com material para

análise...................................................................................................................................................28 Figura 3.6 – Espectrómetro de absorção atómica: a) aspecto geral; b) lâmpadas de cátodo-oco...........................28 Figura 4.1 – Exemplo de amostras utilizadas: a) amostra 1; b) amostra 10; c) amostra 13; d) amostra 20.............33 Figura 4.2 - Curvas cumulativas inferiores das PCI fragmentadas no moinho de lâminas com grelha de

descarga de 6 mm.................................................................................................................................34

Figura 4.3 – Distribuição mássica das amostras fragmentadas no moinho de lâminas com grelha de descarga

de 6 mm.................................................................................................................................................34

Figura 4.4 – Curvas cumulativas inferiores das PCI fragmentadas no moinho de lâminas com grelha de descarga

de 10 mm...............................................................................................................................................35

Figura 4.5 – Distribuição mássica das amostras fragmentadas no moinho de lâminas com grelha de descarga

de 10 mm...............................................................................................................................................36

Figura 4.6 – Curvas cumulativas inferiores das PCI fragmentadas no fragmentador de garras com grelha de

descarga de 6 mm.................................................................................................................................37

ix

Figura 4.7 – Distribuição mássica das amostras fragmentadas com grelha de descarga de 6 mm no fragmentador

de garras...............................................................................................................................................38

Figura 4.8 – Curvas cumulativas inferiores das PCI fragmentadas no fragmentador de garras com grelha

de descarga de 10 mm..........................................................................................................................38

Figura 4.9 – Distribuição mássica das amostras fragmentadas com grelha de descarga de 10 mm no

fragmentador de garras.........................................................................................................................39

Figura 4.10 - Curvas cumulativas inferiores dos lotes e de amostras de PCI fragmentadas no fragmentador

de garras com grelha de descarga de 6 mm.......................................................................................40

Figura 4.11 – Curvas cumulativas inferiores dos lotes e de amostras de PCI fragmentadas no fragmentador

de garras com grelha de descarga de 10 mm....................................................................................41

Figura 4.12 - Curvas cumulativas inferiores de PCI fragmentadas no fragmentador de garras e no moinho de

lâminas com grelha de descarga de 6 mm.........................................................................................41

Figura 4.13 - Curvas cumulativas inferiores de PCI fragmentadas no fragmentador de garras e no moinho de

lâminas com grelha de descarga de 10 mm.......................................................................................42

Figura 4.14 – Imagens obtidas com a lupa estereoscópica das fracções granulométricas: a) 5,6 mm; b) 4,0 mm;

c) 2,0 mm; d) 0,71 mm; e) 0,25 mm; f) 0,18 mm; g) inferior a 0,125 mm, da amostra 4...................44

Figura 4.15 – Imagem obtida por lupa estereoscópica da amostra 17 com granulometria inferior a

0,125 mm............................................................................................................................................45

Figura 4.16 – Imagens obtidas com a lupa estereoscópica das amostras 20 e 23 (1ª réplica):

a) amostra 20 – 4,0 mm; b) amostra 20 – 2,0 mm; c) amostra 23 - 4,0 mm; d) amostra 23 – 2,0

mm......................................................................................................................................................46

Figura 4.17 – Imagem obtida por lupa esteresocópica de um processador da amostra 13 com

granulometria de 5,6 mm....................................................................................................................47

Figura 4.18 – Micrografia obtida com electrões secundários no MEV com uma ampliação de 4000x (a)) do

processador da amostra 13 com granulometria de 5,6 mm. 1- Si; 2- Ag; b) Espectro de EDS........48

Figura 4.19 – Micrografia obtida com electrões secundários no MEV com uma ampliação de 300x de um

processador da amostra 4, granulometria de 0,18 mm. 1- Si; 2- Ag..................................................48

Figura 4.20 – Imagens obtidas no MEV com ampliação de 80x de elementos de ligação das amostras 13 e 17

com granulometria de 0,71 mm: a) Amostra 13; b) Amostra 17. 3 – Au; 4 - Cu...............................49

Figura 4.21 – Imagem obtida no MEV com ampliação de 80x de um fragmento formado por Pb, Sn e Cu na

amostra 17, com granulometria de 0,71 mm......................................................................................49

Figura 4.22 – Espectro das ligas de soldadura da amostra 17 na fracção granulométrica de 0,71 mm..................50 Figura 4.23 – Imagem obtida no MEV com ampliação de 150x das fibras da matriz da amostra 17 com

granulometria 1,0 mm.........................................................................................................................50

x

Figura 4.24 – Imagens obtidas por MEV de morfologias apresentadas pelo silício na amostra 17 para uma

granulometria de 0,18 mm. a) Forma euédrica com ampliação de 600x; b) Forma lamelar com

ampliação de 3000x; c) Forma globular com ampliação de 500x......................................................51

Figura 4.25 – Imagens obtidas por MEV de morfologias apresentadas pelo paládio e bário na amostra 17:

a) Ampliação de 400x para uma granulometria de 0,35 mm; b) Ampliação de 1500x para uma

granulometria de 0,18 mm; c) Ampliação de 400x para uma granulometria de 0,18 mm.

8- Ba; 9- Pd........................................................................................................................................52

Figura 4.26 – Imagens obtidas por MEV, com ampliação de 20x, de partículas com granulometria de 0,35 mm.

a) Amostra 4; b) Amostra 13.............................................................................................................53

Figura 4.27 – Imagens obtidas por MEV dos elementos Ta, Mn e Si na amostra 13 com granulometria

de 0,18 mm. a) Fragmentos com ampliação de 300x; b) Fragmento com ampliação de

2000x..................................................................................................................................................53

Figura 4.28 – Imagem obtida por MEV com ampliação de 1500x dos elementos Ti+Nd+Cu e Ag (a))

2 – Ag; 5 – Liga Ti+Nd+Cu; b) espectro EDS...................................................................................,54

Figura 4.29 – Imagem obtida por MEV com ampliação de 5000x dos elementos Zn+Mn+K...............................,...55 Figura 4.30 – Imagem obtida no MEV com ampliação de 400x dos elementos Fe, Sn e Ni (a)). 6-Sn; 7-Fe;

b) Espectro de EDS da zona 6; c) Espectros de EDS da zona 7......................................................55

Figura 4.31 – Espectros de FRX-DE das fracções granulométricas da amostra 13.a) 2,0 mm; b) 0,71 mm;

c) 0,25 mm; d) 0,125 mm...................................................................................................................57

Figura 4.32 - Análise química dos elementos da amostra 9. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al......................60 Figura 4.33 - Análise química dos elementos da amostra 10. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al....................61 Figura 4.34 – Análise química dos elementos da amostra 13. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al...................62 Figura 4.35 – Análise química dos elementos da amostra 17. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al...................64 Figura 4.36 – Recuperação dos elementos da amostra 9. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al.........................65 Figura 4.37 – Recuperação dos elementos da amostra 10. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al.......................67 Figura 4.38 – Recuperação dos elementos da amostra 13. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al.......................68 Figura 4.39 – Recuperação dos elementos da amostra 17. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al.......................69 Figura 4.40 – Recuperação da prata no material obtido nos dois fragmentadores. a) amostras 9 e 13;

b) amostras 10 e 17...........................................................................................................................71

Figura 4.41 – Recuperação do estanho no material obtido nos dois fragmentadores. a) amostras 9 e 13;

b) amostras 10 e 17...........................................................................................................................72

Figura 4.42 – Recuperação do chumbo no material obtido nos dois fragmentadores. a) amostras 9 e 13;

b) amostras 10 e 17...........................................................................................................................73

Figura 4.43 – Recuperação do cálcio no material obtido nos dois fragmentadores. a) amostras 9 e 13;

b) amostras 10 e 17..........................................................................................................................74

xi

Figura A.1 – Rectas de Calibração............................................................................................................................84

Lista de Abreviaturas

DL – Decreto-Lei

EAA – Espectrometria de Absorção Atómica

EEE – Equipamento Eléctrico e Electrónico

EDS – Espectroscopia de Energia Dispersiva (Energy Dispersive Spectroscopy)

FRX-DE – Fluorescência de Raios-X – Dispersão de Energia

MEV – Microscópio Electrónico de Varrimento

PC – Computador Pessoal

PCI – Placa de Circuito Impresso

REEE – Resíduo de Equipamento Eléctrico e Electrónico

RoHS – Restrição de Certas Substâncias Perigosas (Restriction of Certain Hazardous Substances)

1

Capítulo 1

Introdução

1.1. Considerações Gerais

O consumismo desmesurado de bens de consumo, nomeadamente de equipamentos eléctricos e

electrónicos (EEE), que se verifica desde o último quartel do século passado, levou a um aumento

substancial da quantidade de resíduos provenientes deste tipo de equipamentos.

O aumento da população, estimando-se que passem dos 6745 milhões de habitantes actualmente

existentes para os 8300 milhões de habitantes em 2050, faz prever que no futuro haverá um aumento

significativo nos pedidos de bens de consumo, nomeadamente de computadores pessoais (PC) e

outros equipamentos eléctricos e electrónicos (EEE) [1].

Os computadores pessoais (PC) são um bom indicador do consumo da sociedade neste tipo de

equipamentos. A evolução da tecnologia permite ter um computador à medida das necessidades de

cada um, em relações tão distintas como a qualidade/preço ou a velocidade de transmissão de

dados/fiabilidade.

Esta evolução da tecnologia provoca nos consumidores finais uma necessidade de actualização dos

seus equipamentos, que rapidamente se vêem ultrapassados, contribuindo para o aumento da

produção de resíduos eléctricos e electrónicos (REEE). No entanto, existem medidas que permitem

diminuir os impactos dos EEE no ambiente. Uma dessas medidas implica a minimização da

quantidade de matérias-primas perigosas utilizadas no processamento de determinado equipamento,

o qual se poderá efectuar através do chamado eco-design.

O próprio mercado revela-se cada vez mais expansionista, em especial nos países em vias de

desenvolvimento, onde cada pessoa é convidada a ter o seu computador, não apenas devido à

capacidade tecnológica existente mas também porque os preços de venda estão a diminuir. Esta

diminuição de preços deve-se, em parte, à acção dos governantes destes países que têm feito um

esforço para a chamada inclusão digital. O aumento no consumo de computadores entre os anos de

1993 e 2000 está indicado na Tabela 1.1.

2

Tabela 1.1 – Diferença no consumo de PC entre 1993 e 2000 [2].

Ranking País Diferença consumo 1993-2000 (%)

1 China 1052

2 Índia 604

3 Rússia 580

4 Brasil 565

5 Indonésia 552

--------- ----------- ------------

28 Portugal 258

29 Israel 256

30 Itália 247

31 Espanha 245

32 Áustria 242

-------- ---------- ------------

47 França 183

48 Dinamarca 179

49 Arábia Saudita 173

50 Reino Unido 169

51 E.U.A. 96

1.2. Política de Gestão dos REEE

O consumismo de artigos tecnológicos na sociedade actual faz com que os equipamentos vejam a

sua vida útil encurtada para valores muito inferiores aos que foram considerados aquando do seu

desenvolvimento. Segundo um estudo da Greenpeace, em média, um computador tinha em 1997

uma vida útil de seis anos, enquanto que em 2005 a sua vida útil passou para dois anos [3].

Estes dados, apresentam algumas distorções, pois existe um factor que tipicamente não é

considerado mas que acaba por ter um peso determinante na contabilização dos resíduos existentes.

Normalmente, uma boa parte dos equipamentos obsoletos acaba por ser armazenado em

arrecadações por períodos que podem ir até três anos. Estima-se que o número de equipamentos

assim armazenados ascendeu em 2005 a 150 milhões de computadores [4].

No fluxograma da Figura 1.1 apresentam-se os dados relativos ao número de anos e percentagem de

computadores que, uma vez terminado o seu ciclo de vida útil, seguem as diferentes opções de

gestão de resíduos. Como se pode ver, a percentagem de computadores que são reutilizados (45%)

e os que são armazenados em arrecadações (45%) constituem a maior fracção na hierarquia de

gestão dos resíduos deste tipo de equipamentos.

3

Figura 1.1 – Gestão de resíduos [4].

A hierarquia das prioridades de gestão de resíduos deve ser correctamente seguida pois,

considerando os valores referidos na Figura 1.1 e, além disso se levar em linha de conta que cada

computador pesa, em média, 2,3 kg ocupando um volume de aproximadamente 100 dm3, um

computador portátil pesa, em média, 3,5 kg e ocupa um volume de 4 dm3, e ainda que a fracção de

vendas de PC portáteis é de 20% do total de vendas, pode-se avaliar as implicações em termos de

espaço se os PC’s fossem todos colocados em aterro sem passar pela reciclagem. O volume de

todos estes PC’s colocados em aterro daria aproximadamente 9 milhões de m3, o que seria o

equivalente a encher trinta estádios de futebol, num total de três milhões de toneladas de resíduos

com uma quantidade de chumbo, por exemplo, que ascenderia a 260 mil toneladas [4].

Estes valores dão uma ideia correcta da necessidade dos tratamentos que estão a montante do

aterro (destino final), pois para além de diminuírem ou eliminarem a perigosidade das substâncias

tóxicas, diminuem também a quantidade em volume de resíduos a enviar para aterro.

O aumento de resíduos destes equipamentos apresenta-se como um desafio à sociedade, na medida

em que é necessário geri-los segundo a política já existente, ou seja necessitam de um

encaminhamento posterior [5].

Quando o equipamento finaliza o seu período de vida útil, é necessário então decidir o tratamento a

efectuar com base na hierarquia da gestão de resíduos da Figura 1.2 [6].

4

Figura 1.2 – Hierarquia das prioridades no tratamento de resíduos e produtos em fim de vida [6].

A estratégia de primeiro plano na política de gestão de resíduos deve ser sempre prevenir/minimizar

a sua produção na fonte, ou seja a redução. Esta minimização passa, muitas vezes, por aumentar o

tempo de vida dos equipamentos. No caso dos PC’s, este aumento do tempo de vida pode passar por

uma política de venda de equipamentos que estejam muito para além do que é aceitável em termos

de desempenho para um utilizador comum.

A segunda etapa na hierarquia da gestão de resíduos consiste na reutilização dos produtos, na

função para a qual foram concebidos ou para outra função equivalente.

Quando não é possível a reutilização torna-se então necessário reciclar no sentido de minimizar a

perda dos materiais utilizados. A reciclagem apresenta-se nos nossos dias como a melhor solução

para combater o aumento da quantidade de resíduos, por permitir a diminuição do consumo de

recursos naturais e, a quantidade de materiais a enviar para aterro, ou seja, minimizar a perda

económica associada ao equipamento em fim-de-vida.

Se a reciclagem do equipamento não for viável deve-se então efectuar uma valorização energética

para recuperação da energia latente [7]. Esta opção, de incineração recuperativa é uma solução que

minimiza o impacto ambiental. Só depois destas etapas se deve optar pela deposição do resíduo em

aterro.

Esta política de prioridades no tratamento de resíduos representa a melhor opção de

desenvolvimento sustentável, uma vez que todos temos o dever de legado para com as gerações

futuras, ou seja não hipotecar as hipóteses de desenvolvimento dessas mesmas gerações devido à

nossa apetência para o consumo. [5]

5

1.3. Legislação

A legislação em vigor (DL 230/2004 de 10 de Dezembro) indica que o objectivo primário deve ser a

redução da produção deste tipo de resíduos e, subsequentemente, promover a sua reutilização,

reciclagem e outras formas de valorização, de forma a reduzir a quantidade e o carácter nocivo de

resíduos a eliminar, contribuindo para melhorar o comportamento ambiental de todos os operadores

envolvidos no ciclo de vida destes equipamentos [8].

No entanto, não é possível eliminar completamente a produção dos resíduos, sendo necessário

promover a valorização desses mesmos resíduos através de uma gestão eficiente na recolha

selectiva, armazenamento, transporte e tratamento dos resíduos.

Em Portugal, é proibido o envio dos REEE directamente para aterro sem antes passar por qualquer

tipo de tratamento, prevendo-se poder atingir, actualmente, a recuperação de pelo menos 4

Kg/habitante/ano de REEE. Os resíduos que não podem ser valorizados são então enviados para

aterro com um custo económico associado definido pelos operadores. O valor a pagar é definido por

uma relação comercial directa entre os operadores e o aterro ao qual se acresce uma taxa definida

pelo Estado, cujo valor varia entre os € 1,00 e os € 5,00 por tonelada.

Os REEE estão agrupados em dez categorias definidas na Tabela 1.2. No Anexo I apresenta-se uma

listagem exaustiva dos produtos enquadrados em cada uma das categorias [8].

Tabela 1.2 – Definição das categorias de produtos abrangidos pela lei DL 230/2004 de 10 de Dezembro [8].

Categoria Definição

1 Grandes electrodomésticos

2 Pequenos electrodomésticos

3 Equipamentos informáticos e de telecomunicações

4 Equipamentos de consumo

5 Equipamentos de iluminação

6 Ferramentas eléctricas e electrónicas (com excepção dos aparelhos de

iluminação doméstica)

7 Brinquedos e equipamento de desporto e lazer

8 Aparelhos médicos (com excepção de todos os produtos implantados e

infectados)

9 Instrumentos de monitorização e controlo

10 Distribuidores automáticos

Para além da divisão dos resíduos por categorias, a União Europeia estipulou que a recolha destes

mesmos equipamentos é da responsabilidade dos retalhistas e das empresas produtoras dos EEE.

Foram também estabelecidas metas para as diferentes etapas da hierarquia de gestão dos REEE,

6

para cada uma das categorias de produtos. As metas de valorização, reutilização e reciclagem de

componentes a alcançar, actualmente, em Portugal em cada uma das categorias de produtos, estão

definidas na Tabela 1.3 [9].

Tabela 1.3 – Objectivos de gestão de REEE, em Portugal [9].

Categorias de Produtos Taxa de Valorização

% de Reutilização e

Reciclagem de

componentes

1. Grandes Electrodomésticos

10. Distribuidores automáticos

≥ 80%

do peso médio por aparelho

≥ 75%

do peso médio por

aparelho

3. Equipamentos informáticos e de telecomunicações

4. Equipamentos de consumo

≥ 75%

do peso médio por aparelho

≥ 65%

do peso médio por

aparelho

2. Pequenos electrodomésticos

≥ 70%

do peso médio por aparelho

≥ 50%

do peso médio por

aparelho

5. Equipamentos de iluminação

6. Ferramentas eléctricas e electrónicas

7. Brinquedos e equipamento de desporto e lazer

9. Instrumentos de monitorização e controlo

8. Aparelhos médicos Em 31 de Dezembro de 2008 deveriam ter sido

propostas metas

Os valores definidos na Tabela anterior são obtidos com base na informação existente, relativamente

ao peso médio por aparelho que tenha sido recolhido e tratado no passado. As sociedades gestoras

de REEE devem adoptar as medidas que considerarem necessárias para cumprir estes objectivos,

embora isso não signifique que no futuro não possam ser definidos novos objectivos para diferentes

etapas de gestão, incluindo os objectivos para os aparelhos médicos que vierem a ser estipulados [9].

A União Europeia decidiu em Dezembro de 2008 propor uma revisão de todas as directivas

relacionadas com os REEE. Estas alterações têm por base a experiência dos primeiros anos de

implementação das directivas de REEE onde os problemas administrativos, técnicos e legais

conduziram a uma situação de baixos índices de inovação, distorção da competição entre entidades

e, falhas na recolha e tratamento dos resíduos dos quais resultaram danos ambientais não

intencionais [10].

A União Europeia aposta então no desenvolvimento de uma directiva mais simples, mais efectiva e

que seja mais ambiciosa. Esta nova directiva apresentará uma redução dos encargos administrativos

que se revelem desnecessários, um reforço da fiscalização à implementação da directiva e uma

redução dos impactos ambientais nos processos de recolha e tratamento [10].

7

Do ponto de vista prático, a nova directiva terá novos objectivos para a gestão dos REEE, incluindo o

objectivo para a categoria 8. Para esta categoria de produtos, a União Europeia prevê as mesmas

metas que na categoria 9 [10].

1.3.1. Sociedades Gestoras

Em Portugal, existem duas empresas às quais foram entregues licenças para a gestão dos resíduos,

a AMB3E e a ERP Portugal.

A AMB3E – Associação Portuguesa de Gestão de Resíduos de Equipamentos Eléctricos e

Electrónicos deve, de acordo com o Despacho Conjunto nº 354/2006 do Ministério do Ambiente, do

Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, contribuir com 31% para a recolha e

tratamento dos REEE a nível nacional. No entanto, deve garantir de forma progressiva a partir de

2007 a gestão de 80% dos REEE [9].

A ERP Portugal – Associação Gestora de REEE deve, de acordo com o Despacho Conjunto nº

353/2006 do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional,

tratar e gerir 8% dos REEE a nível nacional, aumentando para os 11% até ao final de 2011 [9].

Na Tabela 1.4 apresentam-se os dados estimados pela APA (Associação Portuguesa do Ambiente)

em 2006, referentes à produção nacional de REEE, desde 2006 até 2011, bem como as obrigações a

cumprir por cada uma das sociedades gestoras.

Tabela 1.4 – Estimativa da produção nacional de REEE e quantitativos mínimos atribuídos a cada

sociedade gestora (adaptado de [9]).

2006 2007 2008 2009 2010 2011

Produção nacional

de REEE 102 949t 109 959t 119 093t 127 949t 133 222t 133 772t

AMB3E (quantidade

recolhida)

31 723t

30,8%

34 087t

31,0%

36 919t

31,0%

39 664t

31,0%

41 299t

31,0%

41 469t

31,0%

ERP (quantidade

recolhida)

8 277t

8%

8 797t

8%

9 528t

8%

10 236t

8%

10 658t

8%

10 702t

8%

Os valores de recolha, recuperação, reutilização e reciclagem alcançados em 2006, segundo dados

do Eurostat para Portugal, encontram-se referidos na Tabela 1.5 [11].

A análise dos dados das Tabelas evidencia a diferença entre a quantidade dos resíduos que a

estimativa apontava para recolha de 40x103t, e aqueles que efectivamente foram recolhidos,

aproximadamente 4,2x103t. Esta diferença pode ser explicada, em parte, pelo facto de em 2006 não

8

haver ainda grande informação junto das populações sobre os locais de deposição deste tipo de

resíduos.

Tabela 1.5 – Dados referentes à recolha, recuperação, reutilização, reciclagem e respectivas taxas por

categorias de produtos, referentes ao ano de 2006 (adaptado de [11]).

Categoria Recolha

(t) Recuperação

(t)

Taxa de recuperação

(%)

Reutilização e

reciclagem (t)

Taxa de reutilização e reciclagem

(%)

1 2340 2160 92,3 2160 92,3

2 85 70 82,0 70 82,0

3 1176 1013 86,1 1013 86,1

4 346 271 78,1 271 78,1

5 268 256 95,4 256 95,4

6 0 0 0,0 0 0,0

7 0 0 0,0 0 0,0

8 0 0 0,0 0 0,0

9 0 0 0,0 0 0,0

10 0 0 0,0 0 0,0

Total 4215 3769 89,4 3769 89,4

A sociedade AMB3E, na divulgação dos seus resultados mais recentes, indica que no ano de 2008

relativamente a 2007 obteve um crescimento superior a 50% na recolha de REEE, indicando que o

valor real para o exercício do ano de 2007 ficou muito aquém da estimativa. A instalação de locais de

recolha destes resíduos em espaços comerciais e campanhas publicitárias devem ter sido

determinantes para o aumento dos valores de recolha. Com estes valores, a AMB3E atinge a meta

estabelecida pela União Europeia de 4 kg/habitante/ano e as taxas pretendidas pelo Governo

Português para esta sociedade gestora [12].

1.4. Apresentação do Problema

A existência de uma maior quantidade de REEE torna necessária uma dedicação especial ao estudo

do tratamento a dar a estes equipamentos em fim de vida. Nos últimos anos têm-se verificado um

aumento no interesse da reciclagem destes resíduos, tendo em conta a sua perigosidade para o

ambiente e a mais-valia económica da reciclagem dos diferentes metais que contêm, nomeadamente

metais nobres.

As placas de circuito impresso são parte integrante de quase todos os EEE e, embora em termos

mássicos sejam uma pequena parte do total, são precisamente os componentes mais interessantes

do ponto de vista económico e, ao mesmo tempo, os mais perigosos para o ambiente.

9

O maior interesse em volta das PCI reside no facto de estas terem na sua constituição grande parte

dos metais raros e valiosos que existem nos EEE. Por outro lado, alguns metais são tóxicos, o que

obriga este tipo de resíduos a um tratamento adequado.

Actualmente, os processos de reciclagem das PCI são essencialmente pirometalúrgicos, tendo sido

feito um esforço no sentido de procurar novas alternativas que tornem todo o processo mais eficiente,

não só do ponto de vista ambiental, como também energético. Esta maior eficiência resulta na maior

parte das vezes em processos hidrometalúrgicos centrados no tratamento químico.

No entanto, o processamento industrial utiliza as duas vias, via hidro e pirometalúrgica, no sentido de

obter uma maior recuperação de todos os metais. O processo inicia-se com a operação de

processamento físico, procedendo à fragmentação das placas inteiras para redução de calibre e

libertação de partículas de diferentes materiais.

A optimização desta operação é fundamental, pois reflectir-se-á na redução dos solventes/reagentes

a utilizar em todos os processos subsequentes. Em última análise, a optimização do processamento

físico levará à redução das operações unitárias e dos reagentes utilizados, permitindo efectuar a

reciclagem de PCI com menores custos ambientais e económicos.

O trabalho que aqui se apresenta têm como objectivo efectuar o estudo da optimização da operação

de fragmentação das PCI. Nesse sentido, foi efectuado o estudo da caracterização físico-quimica dos

principais constituintes das PCI, dando especial atenção aos metais. As placas foram fragmentadas

recorrendo a dois tipos de equipamento, utilizando diferentes condições operatórias, nomeadamente

a malha da grelha de descarga.

O material fragmentado foi submetido a uma operação de crivagem, de modo a obter amostras de

material, de diferentes granulometrias, ou seja, fracções constituídas possivelmente por diferentes

classes de materiais devido ao seu grau de libertação.

A eficiência da operação de fragmentação foi calculada com base na redução de calibre e grau de

libertação com especial incidência sobre os metais vs plásticos. A optimização do processamento

físico é fundamental pois este permite uma valorização das fracções produzidas através da

concentração de uma fracção rica em metais.

Na Figura 1.3 apresenta-se o diagrama de operações proposto neste trabalho.

As PCI foram triadas e seguidamente retiraram-se os componentes metálicos de fixação, após o que

seguiram para fragmentação. O material fragmentado foi submetido a uma operação de crivagem a

seco.

10

As fracções obtidas na operação de crivagem foram submetidas a estudos de caracterização físico-

quimico, recorrendo a técnicas de fluorescência de Raios-X, microscopia electrónica de varrimento

(MEV) com análise por EDS, lupa estereoscópica e espectrometria de absorção atómica.

Figura 1.3 – Diagrama das operações utilizadas neste trabalho.

Para a espectrometria de absorção atómica foi necessária uma preparação prévia das amostras por

ataque com ácidos. Dado tratar-se de uma análise destrutiva, a absorção atómica foi a última análise

a ser efectuada, devido não só a poderem-se confirmar os dados obtidos segundo as diferentes

técnicas, como também de modo a ter amostras suficientes para efectuar todas as análises.

Em síntese, no capítulo 1 desta dissertação é efectuada uma introdução sobre este tema,

apresentando-se uma ideia geral sobre a gestão dos resíduos, o seu mercado e uma

contextualização do problema estudado.

No capítulo 2 apresentam-se as características físico-químicas das placas de circuito impresso e

diferentes arquitecturas utilizadas. Indicam-se os problemas toxicológicos de alguns elementos

químicos constituintes das PCI e referem-se as quantidades existentes nos REEE produzidos.

11

No capítulo 3 apresentam-se as características dos fragmentadores utilizados neste trabalho

nomeadamente as diferentes forças mecânicas que cada equipamento utiliza durante a operação de

fragmentação. As metodologias operatórias utilizadas são também sumarizadas.

No capítulo 4 apresentam-se os resultados obtidos efectuando-se também a sua discussão.

Por último, no capítulo 5 apresentam-se as conclusões do estudo efectuado e, são formuladas

algumas propostas de trabalho futuro nesta área.

12

13

Capítulo 2

Placas de Circuito Impresso

2.1. Introdução

As placas de circuito impresso são parte integrante dos EEE, entendendo-se por EEE todos os

equipamentos que estão dependentes de correntes eléctricas ou campos electromagnéticos para

funcionar correctamente, bem como os equipamentos para geração, transferência e medição dessas

correntes e campos, e concebidos para utilização numa tensão nominal não superior a 1000 V para

corrente alterna e 1500 V para corrente contínua [8].

Estudos efectuados pela Associação Europeia de Produtores de Plásticos referem as percentagens

de consumo de EEE para cada categoria de produtos, sendo que para a Europa Ocidental

habitualmente a maior fatia pertence às categorias 1 e 3, representando as duas mais de 75% como

se verifica pela Figura 2.1 [13].

42%

5%

34%

14%

1%1%

0% 2% 0%1%

Categoria 1

Categoria 2

Categoria 3

Categoria 4

Categoria 5

Categoria 6

Categoria 7

Categoria 8

Categoria 9

Categoria 10

Figura 2.1 – Percentagem dos REEE por categorias na Europa Ocidental (adaptado de [13]).

Por exemplo, segundo uma estimativa da Royal Society for the encouragement of Arts, Manufactures

and Commerce (RSA) cada cidadão do Reino Unido consome, em média, durante a sua vida cerca

de 3,3 toneladas de EEE. De acordo com uma estimativa, as PCI valem aproximadamente 2% do

peso total de REEE recolhidos, como se mostra na Figura 2.2 [13].

14

60%15%

5%

2% 12%

2% 3% 1% Metais

Plásticos

Mistura metal/plástico

Cabos eléctricos

Monitores (CRT e LCD)

PCI

Poluentes

Outros

Figura 2.2 – Percentagens dos diferentes constituintes de REEE (adaptado de [13]).

Apesar do valor de 2% não ser um valor muito relevante quando comparado com as percentagens de

plásticos ou metais constituintes dos REEE, é nas PCI que estão os metais mais raros e puros, o que

aumenta o interesse por esta parte do resíduo. Para além deste facto, as PCI produzem resíduos

muito difíceis de gerir dada a sua toxicidade.

2.2. Características das PCI

As primeiras patentes referentes a placas de circuito impresso datam de 1903, mas as placas tal

como hoje as conhecemos surgiram apenas por volta dos anos 40 do século passado devido ao

cientista Paul Eisler, que para melhorar a transmissão de dados entre os diversos componentes

existentes substituiu a transmissão com recurso a ondas de rádio, por PCI [14].

As PCI consistem num substrato isolante, habitualmente feito num material compósito de matriz

polimérica reforçada com fibra de vidro, sobre o qual é efectuado um circuito eléctrico utilizando cobre

ou outro metal [15].

Sobre o substrato são montados os componentes, nomeadamente: chips, resistências,

condensadores, dispositivos magnéticos (indutores, transformadores, amplificadores, solenóides),

transístores, díodos (pontes, LED’s), terminais e conectores [16]. Na Figura 2.3 apresenta-se uma

imagem duma PCI.

Ao longo dos anos, as placas foram adquirindo diferentes formas. Actualmente, existem três tipos de

placas: placas cujos componentes estão apenas ligados a uma das superfícies da placa; placas com

ligações nas duas superfícies (double-sided) e, por último as placas mais avançadas, as multi-

camada que consistem na sobreposição de diversas camadas condutoras [15].

15

Figura 2.3 – Exemplo de uma PCI [17].

Estas modificações devem-se ao facto da velocidade de transmissão de dados ser cada vez maior,

conduzindo à necessidade de maior quantidade de componentes ligados entre si. Por outro lado,

verifica-se uma diminuição no tamanho e peso dos computadores, o que coloca um problema

relativamente à localização dos componentes, sendo necessário também utilizar novos materiais que

estejam à altura deste desafio.

Na Figura 2.4 apresenta-se a evolução sofrida pelas PCI verificando-se que nas PCI mais recentes,

existe já uma miniaturização dos componentes passivos e também a sua integração em módulos

únicos. Estes componentes passivos referem-se a condensadores, transistores, etc. Como se

constata pela Figura a evolução foi sempre no sentido de se obter uma maior relação

desempenho/densidade.

Figura 2.4 – Evolução da arquitectura utilizada em PCI (adaptado de [18]).

16

As placas de circuito impresso são normalmente classificadas em função dos elementos químicos

que as constituem, nomeadamente os metais nobres, sendo um deles o ouro. Assim, consideram-se

dois tipos de placas: placas ricas e placas pobres. Considera-se que uma PCI é rica se possuir mais

de 200 ppm de ouro ou pobre se a quantidade de ouro for inferior a este valor [16].

A classificação das PCI com base no teor em metais nobres é difícil de visualizar. Assim

consideraram-se como PCI’s pobres as que apresentam condensadores cilíndricos de grandes

dimensões e uma grande quantidade de plásticos em relação à sua área total. Tipicamente estas

placas distinguem-se das placas ricas devido à maior dimensão em altura e menor quantidade ou

mesmo ausência de processadores, como se pode ver no exemplo da Figura 2.5 a).

Figura 2.5 – Exemplo de PCI: a) pobre; b) rica.

As placas ricas apresentam uma quantidade assinalável de componentes, presença de maior número

de processadores, bem como um número pequeno de condensadores ou mesmo a sua total

ausência. Para além disso, a espessura dos componentes tende a ser inferior como se verifica na

Figura 2.4 b).

As placas podem apresentar diferentes cores, variando entre o amarelo e o verde. A alteração de cor

da placa base não possui qualquer ligação com a caracterização das placas em rica ou pobre. A cor

depende apenas do tipo de polímero que está na base da sua composição.

Na Figura 2.6 apresenta-se a composição média dos materiais que constituem as PCI’s. Os metais

representam cerca de 45%, sendo a fracção não metálica de aproximadamente 55% [16].

Os 14% indicados na Figura 2.6 como “Outros” referem-se à quantidade de metais raros, tais como a

prata, ouro, paládio, antimónio, bismuto, etc. Os materiais poliméricos utilizados nas PCI são o

polietileno, polipropileno, poliésteres, policarbonatos e fenolformaldeidos [19].

17

36%

19%

20%

6%

5% 14%

Compósito de material

polimérico + fibra de vidro

Cerâmicos

Cobre

Ferro

Alumínio

Outros

Figura 2.6 – Composição média das PCI, adaptado de [16].

A matriz que constitui a placa é vulgarmente um compósito de resina epoxy reforçada com fibra de

vidro e contêm um aditivo com propriedades ignífugas, retardador de chama, denominado de FR-4

(Flame Retardant 4). Das propriedades deste compósito destacam-se as baixas perdas eléctricas a

altas frequências, a baixa absorção de humidade, a elevada resistência mecânica e rigidez, e a

resistência à inflamação [16].

Até à entrada em vigor da directiva RoHS que restringe a utilização do chumbo por questões

ambientais e de saúde pública, as ligas de soldadura utilizadas eram constituídas por chumbo e

estanho. Hoje em dia, a liga de soldadura mais utilizada neste tipo de aplicação é a denominada SAC

305. Esta liga é composta por 96,5% de estanho, 3% de prata, 0,5% de cobre, antimónio e bismuto

em quantidades muito pequenas, consideradas como vestigiais [20].

A composição das PCI é muito variada obrigando ao conhecimento dos diferentes componentes

utilizados, de modo a que o processo de reciclagem seja eficiente. A análise dos diferentes

componentes existentes na PCI mostra que estão presentes, praticamente todos os elementos

químicos da tabela periódica, conforme se mostra na Figura 2.7 [21].

A composição percentual dos materiais constituintes das PCI depende da função para qual foi

concebida a placa e, da capacidade da placa. No anexo II apresentam-se as composições de duas

placas de memória de um PC, uma com 1 Gb e outra com 2 Gb de capacidade. Neste último caso

denota-se um aumento mássico dos componentes de memória, verificando-se uma diminuição do

material base (compósito de matriz polimérica).

18

Be B

Mg Al Si Cl

Ca Ti Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn As Br

Sr Mo Rh Pd Ag Cd Sn Sb Te

Ta W Pt Au Hg Pb Bi

Elementos constituintes da solda

Elementos presentes nos dieléctricos (Constituinte dos condensadores)

Elementos presentes nos retardadores de chama

Elementos presentes nos contactos das placas de circuito impresso (PCB)

Elementos usados para o isolamento e chapa

Elementos constituintes da base dos semicondutores

Figura 2.7 – Elementos químicos presentes nas PCI (adaptado de [22]).

Os metais são os constituintes das PCI que têm potencialmente mais interesse recuperar por razões

técnicas e económicas. O valor das placas é vulgarmente ponderado com base nos teores em cobre,

o elemento metálico principal, e no dos metais nobres. Contrariamente, a componente polimérica das

PCI apresenta maiores dificuldades ao nível da sua valorização, dado que possui um baixo potencial

económico. A resina utilizada é termoendurecível impossibilitando a sua reciclagem e o reforço

utilizado, tipicamente fibra de vidro, fica facilmente contaminado com a matriz o que impede a sua

utilização para qualquer outro fim [15].

Na Tabela 2.1 apresentam-se as percentagens, em massa, dos principais elementos químicos

constituintes das PCI, e o respectivo valor de mercado, retirado do London Metal Exchange à data de

30/03/2009. Note-se que o valor destes materiais corresponde apenas aos extraídos a partir de

matérias-primas primárias (recursos naturais), pois os obtidos a partir de matérias-primas secundárias

(resíduos) são diferentes.

Estes valores constituem uma das forças motrizes para o desenvolvimento de um sistema de

valorização e recuperação dos REEE, dado que o teor dos metais nobres que estão nos resíduos

pode atingir valores aproximadamente dez vezes superior ao dos minérios que o contêm [22].

19

Tabela 2.1 – Percentagem mássica e preços dos metais raros quando em recurso natural

(adaptada de [23]).

Elementos Químicos Teor Valor (€/Kg)

Ouro 0,025 22.314,89

Paládio 0,01 5.209,46

Prata 0,1 319,05

Cobre 16 2,99

Estanho 3 7,73

Chumbo 2 0,95

Níquel 1 7,19

Alumínio 5 1,05

Aço 5 0,24

Zinco 1 0,97

Na Figura 2.8 apresenta-se a distribuição do valor económico por metal, de uma placa (do tipo

mother-board com 0,5 kg de peso), rica e pobre. Como a diferença económica entre estes dois tipos

de placas é devida apenas ao teor dos metais nobres, só são visíveis alterações nos valores do ouro,

da prata, do paládio e da platina. Na placa rica, de valor total estimado em 4 €, o valor em ouro

contido será de cerca de €2,39, seguindo-se o cobre e o paládio (48 e 43 cêntimos respectivamente).

Quanto à placa pobre, cujo valor total foi estimado em 95 cêntimos, destaca-se o valor contido do

cobre (48 cêntimos), valendo o ouro cerca de 15 cêntimos, o níquel 9 cêntimos e o estanho 8

cêntimos [16].

Figura 2.8 – Valor económico contido numa PCI. Valores em cêntimos. a) PCI rica; b) PCI pobre [16].

2.3. Efeito toxicológico

Alguns elementos químicos anteriormente referidos possuem uma toxicidade elevada, pelo que a

União Europeia prevê na sua directiva 2002/95/EC, a denominada directiva RoHS, uma restrição à

utilização de diversos materiais, entre eles o chumbo, o mercúrio, o cádmio e o crómio hexavalente,

no sentido de minimizar o impacto na saúde das populações e no ambiente. No entanto, existem

20

ainda na indústria recicladora placas com este tipo de materiais, em quantidades acima do permitido,

tendo em conta o facto de a directiva ser relativamente recente [24].

Assim, apresentam-se os principais problemas provocados por alguns desses elementos no ambiente

e na saúde do Homem.

Bifenilos policlorados

Os Bifenilos policlorados foram proibidos em 1977 devido ao seu carácter altamente tóxico. No

entanto, continuam a ser utilizados em alguns condensadores dado não haver outro material

igualmente eficaz. Este composto resulta da mistura de 209 compostos policlorados que não existem

no estado natural, sendo a sua principal função a de isoladores e de retardadores de chama uma vez

que a sua ignição é relativamente difícil [25].

Relativamente à exposição a este composto, no caso de exposição a baixas concentrações é

expectável que ocorram algumas irritações cutâneas que poderão inclusivé provocar acne. Já no

caso de haver exposição continuada podem ocorrer problemas de fígado [25].

No caso da existência de grandes quantidades e exposição continuada a estes compostos no local de

trabalho, é aconselhável que os colaboradores mais expostos tomem banho com a roupa de trabalho

vestida, pois esta roupa e a própria pele podem transportar quantidades mensuráveis do composto

[25].

Chumbo

O chumbo é um metal muito utilizado na indústria electrónica, chegando mesmo a ser o quinto mais

utilizado depois do aço, alumínio, cobre e zinco. A maior quantidade deste metal, nas placas de

circuito impresso, encontra-se nas soldaduras efectuadas em placas produzidas antes da legislação

banir o seu uso. As ligas de chumbo foram substituídas por outras mais ecológicas, com base na liga

de soldadura SAC 305 (96,5% de estanho, 3% de prata e 0,5% de cobre). No caso de placas mais

actuais, ainda poderão existir algumas quantidades de chumbo devido ao seu uso em componentes

electrónicos.

Apesar do seu uso ser desaconselhado ou mesmo proibido por algumas autoridades, como a União

Europeia, a verdade é que em alguns componentes ele ainda é utilizado dado que não existem

materiais que permitam a sua substituição com o mesmo nível de desempenho e fiabilidade [25].

A exposição moderada ao chumbo provoca vómitos, convulsões, coma ou até mesmo morte. Já no

caso de exposição prolongada, como é habitual no caso das indústrias, o chumbo tende a atacar o

funcionamento dos rins e no caso das crianças pode mesmo impedir o normal funcionamento do seu

sistema nervoso [25].

21

Cobre

O cobre é um metal de cor avermelhado que existe na Natureza (rochas, solo, água, etc) e em baixos

níveis no ar, sendo a sua concentração na crosta terrestre de aproximadamente 50 ppm. Trata-se de

um elemento essencial para todos os organismos vivos conhecidos, incluindo os humanos. No

entanto a exposição a altas concentrações pode ter um efeito tóxico [25].

O corpo humano possui resistências especiais que não permitem a absorção de concentrações

elevadas de cobre através de ingestão de alimentos ou água. Já no caso de inalação não é

conhecida nenhuma defesa especial dos pulmões nem qual a concentração limite a partir do qual o

corpo inicia a rejeição [25].

Apesar do cobre se apresentar como um elemento vital para a vida humana, quando existe exposição

a concentrações muito elevadas, por muito tempo, pode chegar-se a situações de irritação das vias

aéreas, dos olhos e dor de cabeça [25].

Estanho

O estanho é utilizado nas soldaduras das placas de circuito impresso. Quando na forma de composto

orgânico, o meio ambiente é capaz de o decompor em composto inorgânico através de bactérias ou

da luz solar [25].

A exposição ao estanho apresenta menor impacto toxicológico, como seria de esperar, dado a sua

utilização em detrimento do chumbo. O estanho está presente em muitos animais, plantas e até no

corpo humano, embora não haja evidência de se tratar de um elemento essencial para os humanos.

Assim, a exposição a altas concentrações por tempos curtos, em que o estanho se apresente sobre a

forma de pó pode contribuir para a deposição do estanho sobre a pele conduzindo a uma leve

irritação. No caso da inalação, o estanho manter-se-à nos pulmões, embora não afecte a capacidade

respiratória da pessoa. Já no caso de ingestão de produtos contaminados poderá haver complicações

do trato intestinal, mesmo que a concentração seja baixa [25].

O corpo humano consegue eliminar o estanho por si só, no entanto poderão existir casos graves de

envenenamento com altas concentrações de estanho, através de comida ou água contaminada que

podem resultar na morte [25].

Prata

A exposição a baixas quantidades e durante pouco tempo leva à deposição de prata sobre a pele o

que pode causar alguma irritação cutânea. No caso de grandes quantidades e muito tempo de

exposição poderão ocorrer dificuldades respiratórias e dores de estômago [25].

22

No caso das empresas em que exista probabilidade de exposição à prata deve existir um controlo dos

colaboradores através de análises de pele e ainda análises sanguíneas [25].

A Occupational Safety and Health Administration (OSHA) nos Estados Unidos da América limita a

concentração de prata no ar, no local de trabalho, a 0,01 miligramas por metro cúbico, para

permanências diárias de oito horas. A prata revela-se ainda como um dos materiais dos REEE com

maior impacto ambiental dado que é facilmente lixiviado dos resíduos, podendo contaminar os lençóis

freáticos [25].

Zinco

O zinco é um dos elementos mais comuns da crosta terrestre, encontrando-se no ar, água e solo. O

corpo humano necessita de pequenas quantidades, que tipicamente são satisfeitas com os alimentos,

dado que a sua quantidade de zinco se situa entre os 2 e os 29 ppm. O ar junto de zonas industriais

possui maiores quantidades de zinco, em média 5 µg/m3 de ar contra os 1 µg/m3 de zonas onde não

existe manipulação do zinco no seu estado metálico [25].

A introdução do zinco no corpo humano faz-se sobretudo pela água ou comida contaminada, a partir

do trato intestinal. No entanto também pode ser efectuada por inalação, alojando-se nos pulmões e

diminuindo a capacidade respiratória. A inalação de grandes quantidades de zinco provoca a doença

da “febre do fumo metálico” que ataca os pulmões sendo geralmente reversível, embora não se

conheçam os efeitos a longo prazo. O consumo diário de zinco deve ser de 11 mg para os homens e

8 mg para mulheres. Ao ultrapassar estes valores ocorrem náuseas e vómitos. Se o excesso no

consumo se prolongar por muito tempo existe risco de anemia ou de afectar o pâncreas de forma

definitiva [25].

23

Capítulo 3

Metodologia de Trabalho

A metodologia seguida no trabalho experimental consistiu na desmontagem de computadores

pessoais para a obtenção das PCI, seguindo-se uma triagem, o processamento físico e a

caracterização química e morfológica. Os resultados obtidos foram analisados de modo a avaliar a

eficiência da operação de processamento físico (fragmentação) para se poder optar pelo tipo de

fragmentador mais adequado a um processamento industrial.

3.1 Triagem

Depois da desmontagem de computadores pessoais, foram recolhidas PCI’s, as quais foram

classificadas em função da quantidade de processadores existentes na área total da placa e pelo

peso. Após a selecção das PCI’s, sempre que possível foram retirados os suportes e as peças

metálicas de ligação externa a outro hardware.

Devido ao tamanho da câmara dos fragmentadores, as PCI’s foram cortadas com a ajuda de uma

guilhotina em pequenas amostras de 5x5 cm ou, de 2,5x2,5 cm no caso de apresentarem uma

grande quantidade de componentes metálicos de suporte/transferência de dados que não tenham

sido retirados. Este procedimento para além de ajudar na adaptação das dimensões das amostras à

boca de alimentação do fragmentador, também permite diminuir o desgaste das respectivas

garras/lâminas.

Figura 3.1 – Placa cortada na guilhotina. a) placa inteira; b) depois de cortado.

24

3.2 Processamento Físico

Na etapa de processamento físico da reciclagem das PCI’s utilizaram-se dois tipos de

fragmentadores. Existem vários tipos de fragmentadores, variando em função das forças que aplicam

durante a operação de fragmentação, bem como do seu design.

A utilização de cada um destes tipos de fragmentadores na operação de processamento físico

depende essencialmente do tipo de material a fragmentar, tendo como objectivo diminuir o tempo de

residência do material na câmara de fragmentação, aumentar o fluxo de material, diminuir o consumo

energético e o desgaste e melhorar o grau de libertação.

Neste trabalho utilizaram-se dois tipos de fragmentadores: um fragmentador de garras existente no

Laboratório de Reciclagem do Instituto Superior Técnico (IST) e um moinho de lâminas existente na

Unidade de Tecnologias de Prevenção e Reciclagem do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia

e Inovação (INETI).

O fragmentador utilizado no IST (Figura 3.2 a)) da marca Erdwich mod. EWZ 200, possui um rotor

horizontal constituído por dez discos (Figura 3.2 b)), cada um contendo três garras. Por baixo da

câmara de fragmentação existe um crivo denominado por grelha de descarga que define a

granulometria do material fragmentado. Este sistema conduz à obtenção de duas fracções de

material fragmentado, uma que fica acima da grelha de descarga e que se denomina Fracção Supra

e outra que fica abaixo denominada Fracção Infra.

Na Figura 3.2 c) apresenta-se uma imagem das grelhas de descarga utilizadas neste trabalho,

nomeadamente de malhas 6 mm e 10 mm.

Durante a operação de fragmentação, usando este tipo de fragmentador, o material é sujeito a forças

de corte e abrasão com uma velocidade de rotação moderada.

25

Figura 3.2 – a) Fragmentador de garras; b) rotor; c) crivos utilizados.

O fragmentador existente no INETI (Figura 3.3 a)), da marca Retsch SM 2000, possui um rotor

constituído por seis discos contendo cada um, três lâminas não alinhadas (Figura 3.3 b)). Tal como

no fragmentador do IST, todo o material é alimentado pelo topo do equipamento e é forçado a passar

pela grelha de descarga, obtendo-se neste caso apenas uma fracção única de material fragmentado.

As grelhas de descarga de 6 mm e de 10 mm estão representadas na Figura 3.3 c).

As forças utilizadas durante a operação de fragmentação com o moinho de lâminas são de corte e

impacto a uma velocidade de rotação elevada, entre 1390 e 1690 rpm. O moinho de lâminas possui

uma potência de 1500W. O fragmentador de garras possui uma potência de 2200W e embora não

tenha sido possível encontrar o valor da rotação do rotor, é visível que o valor é inferior ao do rotor do

moinho de lâminas [26, 27].

26

Figura 3.3 – a) Moinho de lâminas; b) rotor; c) crivos utilizados.

Após a fragmentação, as amostras foram pesadas e, quando a massa total de amostra era grande,

eram submetidas a uma operação de amostragem por esquartejamento, com o objectivo de obter

amostras mais pequenas e representativas da amostra total.

As amostras fragmentadas e amostradas foram submetidas a uma operação de crivagem utilizando

um agitador electromagnético de peneiros da marca Fritsch Analysette 3 (Figura 3.4). Utilizou-se uma

série de crivagem constituída por 12 crivos: 5,6 mm, 4,0 mm, 2,8 mm, 2,0 mm, 1,4 mm, 1,0 mm, 0,71

mm, 0,5 mm, 0,35 mm, 0,25 mm, 0,18 mm e 0,125 mm. Como não é possível utilizar 12 crivos da

mesma vez, pois tornaria a coluna instável, dividiu-se a série de crivos em 2 e utilizaram-se em

operações consecutivas.

27

Figura 3.4 – Agitador electromagnético de peneiros Fritsch Analysette 3.

Dadas as características da amostra efectuou-se uma crivagem a seco durante 10 minutos, com

agitação permanente e uma amplitude de movimento de 6 numa escala de 10.

Na crivagem das fracções obtidas no moinho de lâminas e das fracções infra do fragmentador de

garras utilizaram-se os 12 crivos, enquanto no caso da fracção supra do fragmentador de garras se

utilizaram apenas os 6 crivos compreendidos entre 5,6 mm e 1,0 mm dado ter-se verificado que não

se obtinha material de granulometria inferior a 1,0 mm.

3.3. Caracterização Química

A determinação do teor de metais contido em cada uma das fracções granulométricas, foi efectuada

recorrendo aos métodos de análise química elementar por Fluorescência de Raios-X – Dispersão de

Energia (FRX-DE) e Espectrometria de Absorção Atómica de chama (EAA).

3.3.1. Análise Química Elementar

As análises químicas iniciaram-se com a Fluorescência de Raios-X, uma técnica não destrutiva que

permite uma análise qualitativa, identificando os elementos presentes.

A fluorescência de Raios-X foi efectuada nas instalações do INETI, num espectrómetro de

fluorescência de Raios-X da marca TN Spectrace Quanx equipado com uma ampola de ródio (Figura

3.5 a)). As amostras de cada uma das fracções granulométricas foram amostradas e colocadas num

porta-amostras de polipropileno (Figura 3.5 b)), sendo bombardeadas de forma a provocar a

excitação dos electrões durante 50 segundos. Por fim, efectuou-se a leitura dos espectros

identificando os elementos presentes através de um software específico.

28

Figura 3.5 – Espectrómetro de fluorescência de Raios-X: a) aspecto geral; b) porta-amostras com

material para análise.

A análise quantitativa foi realizada por Espectrometria de Absorção Atómica de chama (EAA). As

amostras consideradas foram aquelas que obtiveram picos de fluorescência mais definidos, tendo

sido escolhidas neste caso, uma PCI pobre e outra rica de cada fragmentador utilizado.

Seguiu-se então a preparação das amostras que neste caso consistiu na pesagem de

aproximadamente 0,5 g de cada amostra, não tendo sido possível atingir esse valor nalguns casos,

dado não existir quantidade suficiente de material. As amostras foram dissolvidas em 30 ml de água

régia (mistura de HCl/HNO3), seguindo-se um ataque com HF e a adição de 50 ml de Ácido Bórico a

5% com o objectivo de neutralizar todo o HF que possa não ter reagido. Em cada um dos ataques

químicos, as amostras passaram por uma digestão de aproximadamente 10 minutos num

microondas. A solução obtida foi filtrada para um balão de 200 ml e preenchida com água

desmineralizada.

Para a leitura das soluções utilizou-se um espectrómetro de feixe duplo, da marca Thermoelemental

969AA (Figura 3.6 a)), sendo constituído por um atomizador de chama, uma lâmpada de cátodo oco

como fonte de radiação do elemento que se pretendia analisar (Figura 3.6 b)), um monocromador

para isolar um feixe estreito de comprimento de onda, um detector e um processador computorizado.

Figura 3.6 – Espectrómetro de absorção atómica: a) aspecto geral; b) lâmpadas de cátodo-oco.

29

Antes de cada análise, foi necessário efectuar calibrações com três ou mais amostras padrão, ao que

se seguiu a atomização da amostra a partir de um pequeno tubo de aspiração, até ao atomizador de

chama. As características de alguns dos elementos a detectar levaram à alteração do gás utilizado no

atomizador, habitualmente uma mistura de ar/acetileno. Em alguns casos foi necessário recorrer a um

gás com maior poder calorífico, utilizando-se uma mistura óxido nitroso/acetileno.

3.4. Caracterização Morfológica

A caracterização morfológica iniciou-se com a observação das amostras numa lupa binocular

estereoscópica da marca Nikon, com iluminador bifurcado (VOLPI), e permite ampliações até 700x.

As amostras foram também analisadas num microscópio electrónico de varrimento (MEV) da marca

Hitachi S-2400 do Laboratório de Microscopia Electrónica do ICEMS/IST, sendo também efectuada

uma identificação química através de um espectrómetro dispersivo de energias (EDS, na

nomenclatura anglo-saxónica) acoplado.

A análise incidiu apenas sobre as amostras que tinham os picos melhor definidos na Fluorescência

de Raios-X e cuja granulometria fosse inferior a 1,0 mm. Foram ainda analisados alguns pequenos

fragmentos de granulometria superior (5,6 ou 4,0 mm) e que apresentavam zonas metálicas, onde foi

efectuada a análise por EDS.

Após serem efectuadas as análises por EDS, as amostras foram revestidas com ouro de forma a

tornar toda a superfície condutora e se poderem observar melhor as diferenças morfológicas. A

metalização só foi efectuada posteriormente à análise por EDS, para não mascarar o ouro que

pudesse ser da amostra.

30

31

Capítulo 4

Resultados Experimentais e Discussão

4.1. Material Utilizado e Condições Operatórias

Utilizaram-se placas seleccionadas de acordo com a classificação rica e pobre (em termos do número

de processadores por área total) e peso. As placas foram retiradas de computadores pessoais, sem

que a função por si desempenhada fosse considerada, tendo sido utilizadas placas gráficas, de

ethernet, de som, motherboards, etc.

Foram estudadas 24 amostras, sendo as primeiras 20 amostras constituídas cada uma, por uma

única placa, à excepção da amostra 11. Esta amostra resulta da fragmentação de duas placas com a

mesma classificação, pois, a fracção supra da primeira placa tinha ficado retida no fragmentador.

Assim, misturaram-se as massas resultantes da fracção infra, formando apenas uma amostra.

Quanto às amostras 21 a 24, são constituídas por várias placas, de diferentes funções e mesma

classificação, de modo a obter uma massa de aproximadamente 3000 g.

As 24 amostras foram posteriormente fragmentadas, sendo as amostras 1 a 10 fragmentadas no

moinho de lâminas e as restantes fragmentadas no fragmentador de garras. Utilizaram-se nos

diversos ensaios, grelhas de descarga com malhas de 6 mm e 10 mm. Na Tabela 4.1 identificam-se

as amostras estudadas, bem como as grelhas de descarga utilizadas em cada caso.

32

Tabela 4.1 – Placas de Circuito Impresso utilizadas e respectivas condições operatórias.

Amostra Classificação Peso (g) Grelha de descarga

(mm)

1 Pobre 514,58 6

2 Pobre 62,25 10

3 Pobre 74,97 10

4 Pobre 107,95 10

5 Rica 80,93 6

6 Rica 73,26 10

7 Rica 109,08 6

8 Rica 639,58 10

9 Pobre 75,73 6

10 Rica 97,55 6

11 Pobre 655,18 6

12 Pobre 87,87 10

13 Pobre 81,86 6

14 Pobre 108,91 10

15 Pobre 105,24 6

16 Rica 62,58 10

17 Rica 88,23 6

18 Rica 88,83 10

19 Rica 65,61 6

20 Rica 451,89 10

21 Pobre 2907,3 6

22 Rica 2707,7 6

23 Pobre 2920,1 10

24 Rica 2556,4 10

Na Figura 4.1. apresentam-se imagens das placas referentes às amostras 1, 10, 13 e 20.

No caso das amostras pobres, 1 e 13 (Figura 4.1 a) e c), respectivamente) verifica-se pouca

quantidade de processadores relativamente à área total das placas. No caso da amostra 1,

classificada como pobre nota-se a existência de muitos plásticos de protecção dos conectores de

ligação externa e alguns condensadores cilíndricos. A amostra 13 não possui condensadores

cilíndricos nem muitos plásticos de protecção às zonas de ligação externa da placa, no entanto a sua

classificação é a mesma dado que o número e área dos processadores é bastante inferior à área total

disponível na placa.

33

Figura 4.1. – Exemplo de amostras utilizadas: a) amostra 1; b) amostra 10; c) amostra 13; d) amostra 20

A amostra 10 e 20 (Figura 4.1 b) e d), respectivamente) possuem um número significativo de

processadores que ocupam uma área substancial em relação à área total da placa. No caso da

amostra 10 verifica-se a existência de processadores em boa parte da área da placa e uma ausência

de plásticos. Comparando a amostra 10 e 13 verifica-se que apesar de terem sido projectadas para a

mesma função (placas gráficas), esta não afecta a sua classificação, daí que não tenha sido um

parâmetro levado em conta. A amostra 20 apresenta-se como uma placa muito rica, com os

componentes a ocuparem a quase totalidade da área superficial disponível.

Após fragmentação, as amostras com uma massa superior a 200 g foram submetidas a uma

operação de amostragem por esquartejamento, a fim de obter amostras mais pequenas, com massa

de aproximadamente 200 g, e representativas do todo. Posteriormente, seguiu-se a operação de

crivagem a seco num agitador electromagnético de peneiros.

4.2. Processamento Físico

4.2.1. Operação Unitária de Fragmentação – Moinho de Lâminas

A utilização do moinho de lâminas na operação de fragmentação origina apenas uma fracção de

material que passa através da grelha de descarga – fracção infra.

34

Os resultados obtidos para as amostras fragmentadas no moinho de lâminas utilizando a grelha de

descarga de 6 mm estão representados na Figura 4.2 em termos de curva cumulativa inferior.

Figura 4.2 – Curvas cumulativas inferiores das PCI fragmentadas no moinho de lâminas com grelha de

descarga de 6 mm.

Como se pode verificar, as curvas obtidas apresentam um andamento muito semelhante,

independentemente da classificação das placas e do peso, evidenciando uma grande

homogeneidade de granulometria.

A granulometria do material fragmentado é muito pequena, obtendo-se 90% do material com uma

granulometria inferior a 3,8 mm, enquanto que 50% do material apresenta uma granulometria inferior

a 2,5 mm. Na Figura 4.3 apresenta-se a distribuição mássica (em %) obtida para as diferentes

amostras.

Figura 4.3 – Distribuição mássica das amostras fragmentadas no moinho de lâminas com grelha de

descarga de 6 mm.

35

O material fragmentado concentra-se principalmente nos crivos de malhas 2,8 e 2 mm. Nas fracções

mais finas, inferiores a 0,71 mm, encontra-se apenas cerca de 10% do material fragmentado, sendo

muito homogénea a distribuição mássica das cinco amostras.

No caso do moinho de lâminas ser utilizado com grelha de descarga de 6 mm, não se observa

qualquer heterogeneidade granulométrica e a classificação atribuída às PCI não se apresenta como

parâmetro importante.

No caso da grelha de descarga escolhida ser a de 10 mm, observam-se algumas heterogeneidades

granulométricas nas amostras em estudo, como se verifica no Figura 4.4, sendo a heterogeneidade

maior para as fracções intermédias e mais grosseiras, ou seja com granulometria superior a 1,0 mm.

Figura 4.4 – Curvas cumulativas inferiores das PCI fragmentadas no moinho de lâminas com grelha de

descarga de 10 mm.

Neste caso, verifica-se que as curvas granulométricas referentes às PCI classificadas como ricas

apresentam um andamento muito semelhante, não se verificando o mesmo no caso das PCI pobres.

Tal facto poderá ser explicado pela variabilidade de plásticos existente nas placas classificadas como

pobres. Uma PCI classificada, a olho nú, como pobre possui uma quantidade maior de plásticos do

que uma PCI classificada como rica, que possui maior teor de metais. Para além da maior quantidade

de plásticos nas placas pobres, pode-se afirmar que existe também uma grande variedade de tipos

de plásticos. Esta variedade de plásticos poderá provocar uma heterogeneidade nas curvas

granulométricas, dado que teremos diferentes materiais, que respondem de maneira diferente às

forças utilizadas durante a operação de fragmentação.

90% do material fragmentado apresenta uma granulometria inferior a 4 mm, enquanto que 50% do

material apresenta uma granulometria inferior a 2,5 - 2,8 mm.

36

Ainda assim, o andamento das curvas referentes às PCI pobres apresentam diferenças entre elas, as

amostras 2 e 3 possuem andamentos diferentes da amostra 4. Estes andamentos diferentes terão por

base o facto de que quanto menos pobre fôr a placa menor será o tempo de permanência da amostra

na câmara de fragmentação, já que a tenacidade à fractura tende a ser idêntica entre os

componentes da PCI.

Assim, verifica-se um caso de um conjunto fragmentador/grelha de descarga em que a classificação

da placa em função dos elementos existentes influencia, ainda que ligeiramente, o andamento das

curvas cumulativas.

Na Figura 4.5 apresenta-se a distribuição mássica (em %) obtida para as amostras em estudo.

Figura 4.5 – Distribuição mássica das amostras fragmentadas no moinho de lâminas com grelha de

descarga de 10 mm.

Utilizando a grelha de descarga com 10 mm de abertura no moinho de lâminas, verifica-se que o

material fragmentado se concentra principalmente nas fracções de 4 e 2,8 mm. Nas fracções mais

finas, inferiores a 0,71 mm, encontra-se apenas 5% do material fragmentado.

4.2.2. Operação Unitária de Fragmentação – Fragmentador de Garras

Após fragmentação no fragmentador de garras, obtêm-se duas fracções de materiais: uma que passa

através da grelha de descarga e se designa por fracção infra e outra que permanece na câmara de

fragmentação não passando a grelha de descarga e, se designa por fracção supra.

As duas fracções, supra e infra, foram crivadas separadamente, utilizando séries de crivagem

diferentes, como indicado no Capítulo 3. Para efeitos de contabilização final, somou-se a massa de

material que ficou retida em cada crivo, tanto para a fracção infra como supra, de forma a poder

analisar todo o material fragmentado.

37

Esta soma das massas crivadas não afecta a forma das curvas dado que a fracção supra é

essencialmente constituída por granulometrias superiores a 5,6 mm, que é o valor do primeiro crivo

utilizado. Em última análise, podem levar a um maior declive da curva cumulativa para fracções mais

gorsseiras.

Na Figura 4.6 representam-se os resultados obtidos em termos de curvas cumulativas inferiores, para

as amostras fragmentadas nas condições referidas.

Figura 4.6 – Curvas cumulativas inferiores das PCI fragmentadas no fragmentador de garras com grelha de

descarga de 6 mm.

As curvas obtidas apresentam uma homogeneidade de andamento, à excepção da amostra 11 que

apresenta partículas de menor dimensão, devido possivelmente à sua maior quantidade de plásticos.

O material fragmentado apresenta uma granulometria grosseira. 90% do material apresenta uma

granulometria compreendida inferior a 3 - 4 mm, enquanto 50% do material tem uma granulometria

inferior a 2,5 - 4 mm.

A distribuição mássica (em %) para as diferentes amostras encontra-se representada na Figura 4.7.

O material fragmentado concentra-se principalmente nos crivos de malhas 5,6 mm e 4 mm. Nas

fracções mais finas, inferiores a 0,71 mm, concentra-se apenas cerca de 5% do material

fragmentado, sendo muito homogénea a distribuição mássica das cinco amostras estudadas.

38

Figura 4.7 – Distribuição mássica das amostras fragmentadas com grelha de descarga de 6 mm no

fragmentador de garras.

Assim, pode-se afirmar que no caso do material ser fragmentado com o fragmentador de garras e se

utilizar uma grelha de descarga de 6 mm, se obtêm alguma homogeneidade granulométrica, com

excepção da amostra 11. Este resultado parece indicar que a classificação das placas não é

importante para a distribuição granulométrica do material fragmentado.

No caso de se utilizar uma grelha de descarga de 10 mm neste mesmo fragmentador verifica-se uma

grande homogeneidade no andamento das curvas granulométricas, à excepção da amostra 20,

classificada como rica e que apresenta uma granulometria mais fina, como se pode verificar na Figura

4.8.

Figura 4.8 – Curvas cumulativas inferiores das PCI fragmentadas no fragmentador de garras com grelha

de descarga de 10 mm.

90% do material tem uma granulometria inferior a 5 mm, aproximadamente, enquanto que 50% do

material tem uma granulometria inferior a 3,8 - 4,5 mm. Se for excluída a amostra 20, 50% do material

possui uma granulometria inferior a 4,5 mm.

39

O resultado obtido para a amostra 20 poderá estar associado ao facto de esta ser uma placa

extremamente rica, com uma grande quantidade de microprocessadores, portanto com uma grande

quantidade de metais e uma menor espessura dos componentes (Figura 4.1 d)) o que facilita a

operação de fragmentação.

A distribuição mássica (em %), encontra-se representada na Figura 4.9. Neste caso, o material

fragmentado concentra-se nas fracções mais grosseiras, 5,6 mm e 4 mm, enquanto nas fracções

mais finas, inferiores a 1 mm, se concentra cerca de 5% do material fragmentado.

Figura 4.9 – Distribuição mássica das amostras fragmentadas com grelha de descarga de 10 mm no

fragmentador de garras.

A utilização do fragmentador de garras com a grelha de descarga de 10 mm parece não influenciar a

granulometria das placas ricas e pobres.

A análise dos resultados obtidos com o fragmentador de garras e com as duas grelhas de descarga

parece indiciar que a quantidade de material a fragmentar pode influenciar a granulometria do

material final. A granulometria do material obtido por fragmentação da amostra 11 (655,18 g) com a

grelha de descarga de 6 mm, é menor que a das restantes amostras, onde se verificam pesos

menores (65-105 g). O mesmo se passa quando se utilizou a grelha de descarga de 10 mm, em que

a amostra 20 (451,89 g) apresentou, neste caso, uma granulometria mais fina que as restantes

amostras (com pesos no intervalo 88-109 g) fragmentados nas mesmas condições operatórias.

Por outro lado, considerando que industrialmente a massa de placas a fragmentar é substancialmente

maior, ou seja, são fragmentadas muitas placas na mesma operação, optou-se por fazer amostras de

aproximadamente 3000 g, para o que se tiveram que escolher e juntar, várias placas só com a

classificação de rica ou pobre, até atingir a massa pretendida.

As amostras após a fragmentação foram devidamente homogeneizadas, obtendo-se por

esquartejamento três réplicas, cada uma com aproximdamente 280 g. A classificação das amostras,

40

as grelhas de descarga utilizada na fragmentação e as massas consideradas estao indicadas na

Tabela 4.2.

Tabela 4.2 – Características das amostras 21 a 24 e respectivas condições operatórias.

Amostra Classificação Grelha de descarga

Peso (g)

21 Pobre 6 mm 2907,3

1ª Réplica 284,3

2ª Réplica 285,7

3ª Réplica 284,1

22 Rica 6 mm 2707,7

1ª Réplica 266,6

2ª Réplica 266,1

3ª Réplica 264,7

23 Pobre 10 mm 2920,1

1ª Réplica 289,5

2ª Réplica 289,7

3ª Réplica 288,6

24 Rica 10 mm 2556,4

1ª Réplica 252,5

2ª Réplica 252,4

3ª Réplica 251,6

No caso das amostras utilizadas na fragmentação com a grelha de descarga de 6 mm verifica-se que

as curvas cumulativas inferiores têm um andamento muito semelhante à da amostra 11, obtida nas

mesmas condições operatórias, como se pode observar na Figura 4.10.

Figura 4.10 - Curvas cumulativas inferiores dos lotes e de amostras de PCI fragmentadas no

fragmentador de garras com grelha de descarga de 6 mm.

Assim, nestas condições operatórias a massa de material a fragmentar parece não influenciar o

andamento das curvas granulométricas, tendo 50% do material um valor inferior a 3 mm e 90% do

41

material um valor inferior a 4 mm. No entanto, as amostras apresentam uma maior heterogeneidade

para as fracções mais finas, inferiores a 2 mm.

Já no caso de se utilizar uma grelha de descarga com 10 mm as curvas cumulativas inferiores

apresentam um andamento que difere um pouco da apresentada pela amostra 20. Enquanto que a

curva granulométrica da amostra 20 evidencia uma gama granulométrica continua, as curvas

cumulativas das restantes amostras mostram uma ligeira descontinuidade para o crivo de 2,8 mm,

indicando a sobreposição de 2 curvas granulométricas correspondentes a dois tipos de materiais.

Figura 4.11 – Curvas cumulativas inferiores dos lotes e de amostras de PCI fragmentadas no

fragmentador de garras com grelha de descarga de 10 mm.

4.2.3. Moinho de Lâminas vs Fragmentador de Garras

Os resultados obtidos para os dois fragmentadores, utilizando a mesma grelha de descarga (6 mm)

estão representados sob a forma de curvas cumulativas inferiores na Figura 4.12.

Figura 4.12 - Curvas cumulativas inferiores de PCI fragmentadas no fragmentador de garras e no

moinho de lâminas com grelha de descarga de 6 mm.

42

A análise da Figura 4.12 indica dois grupos de curvas. O grupo de curvas mais à esquerda da Figura,

ou seja, para a zona de menores granulometrias, corresponde aos resultados obtidos com o moinho

de lâminas. O outro grupo mais à direita corresponde aos resultados de fragmentação com o

fragmentador de garras.

Pode concluir-se, que a utilização da grelha de descarga de 6 mm, tanto no fragmentador de garras

como no moinho de lâminas, permite obter resultados muito homogéneos. No entanto, o grau de

fragmentação obtido com o moinho de lâminas é superior ao obtido com o fragmentador de garras, o

que poderá permitir uma maior libertação dos diferentes materiais constituintes.

No caso de se utilizar uma grelha de descarga de 10 mm, obtem-se novamente dois conjuntos de

curvas cumulativas.

Neste caso as curvas localizadas mais à esquerda, referentes ao moinho de lâminas indicam

novamente que este equipamento efectua uma fragmentação mais eficiente, obtendo-se um material

fragmentado com granulometria menor, enquanto que com o fragmentador de garras, o material

fragmentado apresenta granulometria maior.

Figura 4.13 - Curvas cumulativas inferiores de PCI fragmentadas no fragmentador de garras e no

moinho de lâminas com grelha de descarga de 10 mm.

Calculou-se então a eficiência de fragmentação com a grelha de descarga de 6 mm, para uma placa

rica e pobre, no caso do moinho de lâminas e fragmentador de garras. Os valores referentes aos

diâmetros característicos a 10%, 50% e 90% (d10, d50 e d90) em mm, bem como a eficiência de

fragmentação estão representadas na Tabela 4.3.

Os diâmetros característicos representam os valores máximos de granulometria referentes a 10%,

50% e 90% da população.

43

Tabela 4.3 – Dados relativos ao cálculo da eficiência de fragmentação.

Fragmentador Amostra d10

(mm)

d50

(mm)

d90

(mm)

d90-d10

(mm)

Eficiência

média de

fragmentação

(%)

Moinho de lâminas 9 0,88 2,34 3,77 2,89 95,32

10 0,88 2,27 3,65 2,77 95,46

Fragmentador de Garras 13 2,15 5,60 5,92 3,77 88,16

17 2,27 5,27 5,91 3.64 89,46

Se considerarmos que todos os fragmentos resultantes da guilhotina tinham inicialmente uma

dimensão de 5x5 cm, podemos calcular a eficiência média de fragmentação para cada um dos casos

admitidos na Tabela 4.3. Para este cálculo ser possível, assume-se o valor de d50 como o valor da

dimensão final dos fragmentos após a fragmentação, daí que possamos apenas considerar uma

eficiência média de fragmentação. Assim, efectuou-se o cálculo desta eficiência média de

fragmentação, fazendo uso da equação 4.1.

10050

5050

×

=

dE f (Eq. 4.1)

Os resultados da eficiência média apresentam novamente o moinho de lâminas como o mais eficiente

para a fragmentação de placas de circuito impresso.

4.3. Caracterização Morfológica

A caracterização morfológica das diferentes fracções granulométricas obtidas por fragmentação das

amostras, foi efectuada utilizando uma lupa estereoscópica e um microscópio electrónico de

varrimento equipado com um sistema de EDS de forma a permitir uma análise química elementar

pontual das diferentes fases observadas.

44

4.3.1. Análise por Lupa Estereoscópica

A análise morfológica por lupa estereoscópica foi efectuada para todas as fracções de uma série de

amostras fragmentadas nos dois tipos de equipamentos.

As imagens obtidas para as granulometrias de 5,6 mm, 4,0 mm, 2,0 mm, 0,71 mm, 0,25 mm, 0,18

mm e inferior a 0,125 mm da amostra 4 estão representadas na Figura 4.14.

45

Figura 4.14 – Imagens obtidas com a lupa estereoscópica das fracções granulométricas: a) 5,6 mm; b) 4,0 mm;

c) 2,0 mm; d) 0,71 mm; e) 0,25 mm; f) 0,18 mm; g) inferior a 0,125 mm, da amostra 4.

A análise das imagens apresentadas permite afirmar que nas granulometrias mais grosseiras, 5,6 e

4,0 mm (Figura 4.14 a) e b), respectivamente) não existe uma libertação eficiente entre os metais e o

compósito que forma a base da placa. Nas granulometrias de 2,0 mm e 0,71 mm (Figura 4.14 c) e d),

respectivamente) verifica-se a existência de uma maior libertação entre os diversos materiais, maior

para a granulometria de 0,71 mm, com a presença de pequenos aglomerados de fibras e de

pequenos fragmentos metálicos já com uma separação mais eficiente.

Para as granulometrias ainda mais pequenas (Figuras 4.14 e), f) e g)) verifica-se a total separação

entre os diversos materiais que constituem os fragmentos. Verifica-se ainda, que nestas

granulometrias há uma maior quantidade de fibras e polímero epoxy que forma o compósito da

matriz.

Figura 4.15 – Imagem obtida por lupa estereoscópica da amostra 17 com granulometria inferior a 0,125 mm.

A comparação entre as fracções obtidas em cada uma dos fragmentadores, não permitiu identificar

qualquer alteração significativa na forma dos fragmentos. Verificou-se apenas que no caso das

granulometrias mais finas, inferiores a 0,25 mm, o material obtido através do fragmentador de garras

46

(Figura 4.15) não apresentava uma quantidade tão significativa de fibras como se havia verificado no

caso do material obtido através do moinho de lâminas (Figura 4.14 g)).

Para comprovar se efectivamente a diferença entre as curvas das amostras 21 a 24 e a amostra 20

se devia à existência de dois materiais diferentes, visualizaram-se as amostras 20 e 23 (1ª réplica) à

lupa estereoscópica. Apesar de terem sido analisadas à lupa toda as fracções, para esta discussão

apenas serão consideradas as fracções granulométricas de 4 e 2 mm, dado serem aquelas onde a

diferença entre o andamento das curvas foi maior.

Figura 4.16 – Imagens obtidas com a lupa estereoscópica das amostras 20 e 23 (1ª réplica):

a) amostra 20 – 4,0 mm; b) amostra 20 – 2,0 mm; c) amostra 23 - 4,0 mm;

d) amostra 23 – 2,0 mm.

Efectivamente, observa-se uma diferença entre os materiais apresentados nas duas amostras,

embora essa diferença não seja tão assinalável como as curvas fariam prever. Na amostra 20 com

granulometria de 4,0 mm (Figura 4.16 a)) verifica-se a ausência total de separação entre metais e

plásticos, enquanto na amostra 23 com a mesma granulometria (Figura 4.16 c)) já se verifica a

existência de alguns metais libertos.

47

Nas granulometrias de 2,0 mm (Figura 4.16 b)) verifica-se uma grande quantidade de fragmentos da

matriz da amostra 20, enquanto que a amostra 23 (Figura 4.16 d)) apresenta fragmentos metálicos,

os quais são praticamente inexistentes nesta fracção granulométrica da amostra 20.

A observação à lupa de alguns processadores, por exemplo, na fracção granulométrica de 5,6 mm da

amostra 13 verificou-se a existência de um metal brilhante no seu interior, como se verifica na Figura

4.17.

Figura 4.17 – Imagem obtida por lupa esteresocópica de um processador da amostra 13 com

granulometria de 5,6 mm.

Dado na lupa não ser possivel efectuar uma análise quimica elementar para identificação dos

elementos presentes, decidiu-se que este fragmento deveria era analisado MEV.

4.3.2. Análise por MEV/EDS

As micrografias de MEV foram obtidas com electrões secundários. A observação e análise das

amostras permitiram verificar que existem várias fases com composições qualitativas diferenciadas

das quais será feita uma descrição circunstanciada.

Na Figura 4.18 apresenta-se uma micrografia referente ao interior do processador da Figura 4.17

onde se observam duas fases, uma de silicio e outra de prata. Foi efectuado um varrimento linear ao

longo da linha A (Figura 4.18 a)), estando os espectros obtidos representados na Figura 4.18 b).

Verifica-se a existência de silício e prata e, onde aparece um destes elementos não aparece o outro.

A prata apresenta uma morfologia granular a separar os dois grãos de silício.

48

Figura 4.18 – Micrografia obtida com electrões secundários no MEV com uma ampliação de 4000x (a)) do

processador da amostra 13 com granulometria de 5,6 mm. 1- Si; 2- Ag; b) Espectro de EDS.

Através desta micrografia, parece que no interior dos processadores, o silício está colocado sobre um

substrato de prata. Na Figura 4.19 observa-se uma zona de prata, mais clara, a ladear o silício.

Figura 4.19 – Micrografia obtida com electrões secundários no MEV com uma ampliação de 300x de um

processador da amostra 4, granulometria de 0,18 mm. 1- Si; 2- Ag.

Observaram-se os pinos de ligação externa das PCI, tendo-se verificado algumas diferenças no modo

como os pinos se apresentam nas diferentes amostras em estudo. Na Figura 4.20 apresentam-se as

micrografias obtidas por MEV para as amostras 13 e 17 com granulometria de 0,71 mm, onde se

identifica a localização de ouro e cobre.

49

Figura 4.20 – Imagens obtidas no MEV com ampliação de 80x de elementos de ligação das amostras 13 e 17

com granulometria de 0,71 mm: a) Amostra 13; b) Amostra 17. 3 – Au; 4 - Cu.

Os pinos de ligação externa das PCI possuem diferenças na composição e na forma como se

apresentam. Enquanto na amostra 13 se obtêm apenas um elemento de ligação contínuo formado

por ouro, cobre, zinco e níquel, na amostra 17 estes elementos estão envolvidos por uma camada de

cobre.

Na análise às amostras fragmentadas no fragmentador de garras verificou-se que na fracção

granulométrica compreendida entre 1,0 e 0,71 mm apareciam apenas fragmentos de ouro, níquel,

cobre e zinco, utilizados nos conectores de ligação, idêntica à Figura 4.20 ou a liga de chumbo,

estanho e cobre utilizada nas soldaduras dos componentes, como se pode observar na Figura 4.21.

Figura 4.21 – Imagem obtida no MEV com ampliação de 80x de um fragmento formado por Pb, Sn e Cu na

amostra 17, com granulometria de 0,71 mm.

A fracção granulométrica de 0,71 mm, da amostra 17 apresenta uma grande quantidade de

fragmentos com o aspecto da Figura 4.21 e com a composição de uma liga de chumbo, estanho e

cobre, do qual se apresenta o respectivo espectro EDS na Figura 4.22.

50

Figura 4.22 – Espectro das ligas de soldadura da amostra 17 na fracção granulométrica de 0,71 mm.

Na Figura 4.23 pode observar-se a morfologia apresentada pela base da placa, ou seja o

entrelaçamento das fibras presentes para o reforço do material compósito.

Figura 4.23 – Imagem obtida no MEV com ampliação de 150x das fibras da matriz da amostra 17 com

granulometria 1,0 mm.

A análise por MEV permitiu verificar que o mesmo elemento químico se pode apresentar com

diversas morfologias, independentemente da fracção granulométrica ou do fragmentador

seleccionado. Para exemplificar um destes casos, apresentam-se três morfologias distintas do silício

na amostra 17 com granulometria de 0,18 mm. O silício apresenta-se com forma euédrica bem

definida (Figura 4.24 a)), na forma lamelar como na Figura 4.24 b), ou ainda na forma globular (Figura

4.24 c)).

51

Figura 4.24 – Imagens obtidas por MEV de morfologias apresentadas pelo silício na amostra 17 para uma

granulometria de 0,18 mm. a) Forma euédrica com ampliação de 600x; b) Forma lamelar com

ampliação de 3000x; c) Forma globular com ampliação de 500x.

Outros materiais com fases contendo bário e paládio apresentam também morfologias típicas. O

paládio apresenta-se segundo linhas contínuas entre o bário (Figura 4.25 a)). Normalmente, o

conjunto dos dois metais fragmenta-se ao longo de uma linha contínua, como se verifica pela Figura

4.25 c). Apenas numa única amostra, foi possível visualizar o interior da linha contínua de paládio.

(Figura 4.25 b) e c)).

52

Figura 4.25 – Imagens obtidas por MEV de morfologias apresentadas pelo paládio e bário na amostra 17:

a) Ampliação de 400x para uma granulometria de 0,35 mm; b) Ampliação de 1500x para uma

granulometria de 0,18 mm; c) Ampliação de 400x para uma granulometria de 0,18 mm.

8- Ba; 9- Pd.

Do ponto de vista da morfologia dos fragmentos, não se denotam diferenças entre as amostras

fragmentadas no moinho de lâminas e no fragmentador de garras. Este facto pode ser observado na

Figura 4.26, onde se apresentam imagens para a granulometria de 0,35 mm das amostras 4 e 13 e a

mesma ampliação, verificando-se apenas que os fragmentos apresentam-se de forma aguçada.

53

Figura 4.26 – Imagens obtidas por MEV, com ampliação de 20x, de partículas com granulometria de 0,35 mm.

a) Amostra 4; b) Amostra 13.

Na amostra 13 com a granulometria de 0,18 mm encontraram-se dois pequenos fragmentos (Figura

4.27 a)) cuja análise por EDS permitiu identificar a presença dos elementos tântalo, manganês e

silício. Estes fragmentos eram provavelmente dos dieléctricos, pois estes elementos são muito

utilizados neste tipo de produtos, como indicado na Figura 2.7.

Figura 4.27 – Imagens obtidas por MEV dos elementos Ta, Mn e Si na amostra 13 com granulometria

de 0,18 mm. a) Fragmentos com ampliação de 300x; b) Fragmento com ampliação de

2000x.

Na análise por MEV verificou-se a existência de um fragmento constituído por titânio, neodímio e

cobre com uma interface contínua e uma fronteira de grão bem definida com a prata. Este fragmento

estava presente na amostra 13, com granulometria de 0,25 mm. A zona da prata apresentava-se

muito mais clara que a zona referente aos restantes elementos, titânio, neodímio e cobre, tal como se

observa na Figura 4.28.

54

Figura 4.28 – Imagem obtida por MEV com ampliação de 1500x dos elementos Ti+Nd+Cu e Ag (a))

2 – Ag; 5 – elementos Ti+Nd+Cu; b) espectro EDS.

Outros elementos químicos encontrados por análise de MEV foram o zinco, manganês e o potássio,

apresentando-se com o aspecto de lamelas, como se pode verificar pela Figura 4.29.

55

Figura 4.29 – Imagem obtida por MEV com ampliação de 5000x dos elementos Zn+Mn+K.

A análise por MEV deste tipo de resíduos deve ser efectuada com um cuidado especial, dado que

nem sempre as alterações de composição são detectadas por variações de cor. Um destes casos é o

de um fragmento da amostra 10, com granulometria de 0,125 mm (Figura 4.30 a)) em que se

verificam variações de composição em área sem que a morfologia ou cor do fragmento o denunciem.

56

Figura 4.30 – Imagem obtida no MEV com ampliação de 400x dos elementos Fe, Sn e Ni (a)). 6-Sn; 7-Fe;

b) Espectro de EDS da zona 6; c) Espectros de EDS da zona 7.

O espectro obtido por EDS, na zona 6 apresenta muito estanho (Figura 4.30 b)), já na zona 7 (Figura

4.30 c)) a quantidade de ferro é maior.

57

4.4. Caracterização Química

4.4.1. Análise Química Elementar

A análise química elementar qualitativa foi efectuada por fluorescência de raios-X – dispersão de

energia (FRX-DE), em todas as fracções de granulometria inferior a 2,8 mm das amostras estudadas.

Os espectros de FRX-DE foram adquiridos com duas condições, para optimizar a identificação de

elementos pobres e elementos leves. Os espectros para os elementos pesados foram adquiridos com

uma diferença de potencial de 42 kV e uma intensidade de 0,50 mA durante 70 segundos, tendo-se

utilizado um filtro de cobre. Para os elementos leves foi utilizada uma diferença de potencial de 9 kV e

uma intensidade de 0,18 mA durante 70 segundos sem filtro.

Os principais elementos pesados detectados foram o ferro, cobre, zinco, chumbo, bromo, paládio,

prata, estanho, antimónio e nos elementos leves, alumínio, titânio e cálcio, como se pode verificar nos

espectros da amostra 13 representados na Figura 4.31.

58

Figura 4.31 – Espectros de FRX-DE das fracções granulométricas da amostra 13.

a) 2,0 mm; b) 0,71 mm; c) 0,25 mm; d) 0,125 mm.

Começando a análise dos espectros pelos elementos mais pesados (do lado esquerdo da Figura

4.34), verifica-se que os elementos detectados em todas as fracções granulométricas são sempre os

mesmos, à excepção do paládio que é apenas detectado para granulometrias mais finas (abaixo de

0,25 mm), a partir do qual apresenta um crescimento das contagens quando a granulometria diminui.

Os elementos que também apresentam um crescimento do número de contagens com a diminuição

da granulometria são o ferro, a prata e o bário. Pelo contrário, o antimónio diminui bastante o número

de contagens com a diminuição da granulometria.

O cobre apresenta uma diminuição do número de contagens até à granulometria de 0,25 mm, onde

inverte a sua tendência com um aumento para a granulometria de 0,125 mm, tal como no bromo onde

este comportamento é idêntico. O estanho aumenta as suas contagens para granulometrias

intermédias (0,71 mm – Figura 4.31 b)) ao que se segue uma diminuição até à granulometria de 0,25

mm e termina com um aumento para as granulometrias de 0,125 mm. O chumbo, que tipicamente é

utilizado em ligas chumbo-estanho para as soldaduras dos componentes acompanha este

comportamento do estanho ao longo dos espectros. O zinco possui contagens muito baixas em

qualquer das granulometrias consideradas, mantendo um comportamento muito constante.

Quanto aos elementos mais leves, o cálcio e o alumínio apresentam uma diminuição do número de

contagens quando a granulometria diminui. Pelo contrário, o titânio apresenta um aumento gradual

das contagens até à granulometria de 0,71 mm (Figura 4.31 b)), ao que se seguiu uma diminuição

para os fragmentos de 0,25 mm, acabando num aumento em 0,125 mm.

Identificados os elementos químicos, efectuou-se a sua quantificação, recorrendo a uma metodologia

“expedita” de análise, dado que o número de fracções granulométricas a analisar seria grande, o que

inviabilizaria a sua obtenção em tempo útil.

Assim, foi efectuada a análise por Espectrometria de Absorção Atómica (EAA) dos elementos

químicos, chumbo, cobre, zinco, prata, estanho, ferro, cálcio e alumínio nas fracções granulométricas

de 2,0 mm, 0,71 mm e 0,18 mm das amostras 9, 10, 13 e 17. Estas análises permitiram calcular o

teor exacto desses elementos nestas amostras, os quais foram relacionados com as contagens de

59

cada elemento determinadas por FRX-DE, de que resultaram as seguintes relações de calibração

obtidas para os elementos testados foram:

X (% Pb) = 8,7×10-3 C X (% Cu) = 5,0×10-3 C

X (% Zn) = 3,3×10-3 C X (% Ag) = 3,4×10-4 C

X (% Sn) = 1,0×10-3 C X (% Fe) = 1,8×10-3 C

X (% Ca) = 2,6×10-4 C X (% Al) = 1,1×10-2 C

em que X representa o teor do elemento químico e C a contagem do pico de maior intensidade desse

mesmo elemento em FRX-DE. Aplicando estas relações para todas as outras fracções

granulométricas, tornou-se assim possível efectuar medições da variação do teor de elementos em

função da fracção escolhida. As rectas de calibração para os elementos indicados constam do Anexo

III.

Na Figura 4.32 representam-se os teores calculados para todas as granulometrias analisadas

quimicamente, da amostra 9.

Na Figura 4.32 a) representam-se os valores obtidos para a prata, estanho e chumbo em cada uma

das fracções granulométricas. Os valores obtidos para a prata são inferiores a 1%, com um

andamento muito constante entre as diversas granulometrias. Os valores mais elevados são obtidos

para o estanho na fracção de 0,35 mm. O estanho concentra-se nas fracções intermédias e é nas

fracções mais grosseiras em que se obtêm menor teor deste elemento. O chumbo segue o mesmo

andamento do estanho, mas com valores mais baixos. Tal facto poderá estar relacionado com a liga

de soldadura chumbo-estanho utilizada nas soldaduras dos componentes à matriz.

Na Figura 4.32 b) representa-se os valores obtidos para o cobre e o zinco em cada uma das fracções

granulométricas. O cobre apresenta o maior teor, mais de 40%, para a fracção com granulometria de

0,71 mm, obtendo os valores mais elevados em fracções intermédias. Nas fracções mais grosseiras e

mais finas, o cobre apresenta teores com valores que variam entre os 9% e os 32%. O zinco

apresenta valores muito idênticos ao longo de todas as granulometrias, com valores inferiores a 5%.

60

Figura 4.32 - Análise química dos elementos da amostra 9. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al.

Na Figura 4.32 c) estão reproduzidos os valores referentes aos elementos ferro, cálcio e alumínio em

cada uma das fracções granulométricas. O ferro possui valores muito baixos, com os maiores valores

a ocorrerem para granulometrias intermédias e muito grosseiras dado que o maior valor ocorre para

2,8 mm. O cálcio possui o maior valor de teor para a granulometria de 0,18 mm. O cálcio possui os

maiores valores para granulometrias mais finas, enquanto os menores valores ocorrem para

granulometrias intermédias e grosseiras. O alumínio possui um andamento praticamente constante

ao longo de todas as fracções, com valores entre os 1 e os 2%. O maior valor para o alumínio ocorre

para a granulometria de 0,125 mm.

Na Figura 4.33 representam-se os teores calculados para todas as granulometrias analisadas

quimicamente, da amostra 10.

61

Figura 4.33 - Análise química dos elementos da amostra 10. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al.

Na Figura 4.33 a) representam-se os valores obtidos para a prata, estanho e chumbo em cada uma

das fracções granulométricas. A prata possui valores constantes ao longo de todas as fracções

granulométricas. Todos os valores obtidos para a prata são inferiores a 1%. O estanho possui os

valores mais elevados que ocorrem para as granulometrias finas e intermédias, com o mais elevado

de todos os valores, cerca de 14%, a surgir para a granulometria de 0,35 mm. Os valores mais baixos

de estanho ocorrem nas granulometrias mais grosseiras. O chumbo segue um andamento idêntico ao

estanho, devido em parte á utilização destes dois elementos numa mesma liga, embora o maior valor

para o chumbo ocorra para a granulometria de 0,25 mm e seja de 7%.

Na Figura 4.33 b) representam-se os valores obtidos para o cobre e o zinco em cada uma das

fracções granulométricas. O cobre apresenta uma tendência de crescimento dos teores com o

aumento da granulometria. O maior valor para o cobre ocorre para a granulometria de 2,8 mm, com

mais de 45%. O zinco apresenta o maior valor a ocorrer para uma granulometria de 0,71 mm, o que

se traduz em maiores valores nas fracções intermédias e grosseiras. No caso do zinco, nenhum dos

valores é superior a 10%.

62

Na Figura 4.33 c) apresentam-se os valores obtidos para os elementos ferro, cálcio e alumínio em

cada uma das fracções granulométricas. O ferro apresenta um andamento muito constante, com

valores inferiores a 1% em todas as granulometrias, ainda que os valores mais elevados estejam

localizados nas granulometrias mais finas. O cálcio apresenta o maior teor na granulometria de 0,125

mm, com um teor pouco acima dos 7%, e maiores teores nas granulometrias finas e intermédias. Os

teores de alumínio oscilam entre 1 e 2%, com os maiores valores a ocorrerem para as granulometrias

finas e intermédias. Nas fracções granulométricas grosseiras, o teor de alumínio tende a ser menor.

Na Figura 4.34 representam-se os teores calculados para todas as granulometrias analisadas

quimicamente, da amostra 13.

Figura 4.34 – Análise química dos elementos da amostra 13. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al.

Na Figura 4.34 a) estão representados os valores obtidos para a prata, estanho e chumbo em cada

uma das fracções granulométricas. Os valores obtidos para a prata são inferiores a 3% com os

maiores teores a ocorrerem nas fracções intermédias, sendo o seu valor máximo, cerca de 2%, a

ocorrer para a granulometria de 1,0 mm. O estanho possui os valores mais elevados de teor, que

ocorrem para as granulometrias intermédias, com o máximo, cerca de 15%, a ocorrer para a

granulometria de 0,71 mm. Nas fracções mais grosseiras, o estanho possui valores mais baixos, na

63

ordem dos 2%. O chumbo, dado a sua maior utilização na liga de chumbo-estanho para a soldadura

dos componentes, segue o mesmo andamento do estanho mas com valores mais baixos. O seu

máximo ocorre para a granulometria de 0,71 mm, com 13%.

Na Figura 4.34 b) apresentam-se os valores obtidos para o cobre e o zinco em cada uma das

fracções granulométricas. Os valores obtidos para o cobre são bastante baixos nas granulometrias

finas, apresentando um crescimento para as granulometrias intermédias e grosseiras. O valor

máximo de cobre ocorre para a granulometria de 2,8 mm, com cerca de 39%. O zinco possui um

andamento muito constante nas granulometrias finas, ocorrendo o seu valor máximo para duas

granulometrias, tanto em 1,0 mm como em 2,8 mm o teor é de 6%.

Na Figura 4.34 c) estão representados os valores obtidos para o ferro, cálcio e alumínio em cada uma

das fracções granulométricas. O ferro apresenta maiores valores para as granulometrias intermédias

com o seu valor máximo a ocorrer na granulometria de 1,4 mm, com 1,5%. O cálcio apresenta valores

muito baixos para as granulometrias finas. Nas granulometrias intermédias e grosseiras, os valores

possuem um andamento constante, entre os 2 e 3%, com o máximo a ocorrer para a granulometria

de 0,5 mm, com 3%. O alumínio possui o seu valor máximo para as granulometrias intermédias,

apresentando o seu valor máximo na granulometria de 0,5 mm, com 2%. Nas granulometrias finas e

grosseiras, o alumínio tende a apresentar valores mais baixos, próximos dos 1%.

Na Figura 4.35 representam-se os teores calculados para todas as granulometrias analisadas

quimicamente, da amostra 17.

Na Figura 4.35 a) representam-se os teores obtidos para a prata, estanho e chumbo em cada uma

das fracções granulométricas. Os valores obtidos para a prata são inferiores a 2%, com valores mais

baixos nas granulometrias mais finas. O valor máximo, pouco inferior a 2%, ocorre para a

granulometria de 1,0 mm. O estanho apresenta os maiores teores concentrados nas granulometrias

intermédias, com o valor máximo (13%) na granulometria de 0,5 mm. Nas fracções mais grosseiras, o

estanho diminui os seus teores para valores inferiores a 6%. O chumbo segue o mesmo andamento

do estanho, dada a sua utilização na mesma liga, no entanto com valores inferiores, à excepção da

granulometria de 1,0 mm. O valor máximo de chumbo ocorre para a granulometria de 0,5 mm, com

um valor pouco acima dos 10%.

64

Figura 4.35 – Análise química dos elementos da amostra 17. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al.

Na Figura 4.35 b) representa-se os valores obtidos para o cobre e zinco em cada uma das fracções

granulométricas. Os valores obtidos para o cobre são mais baixos nas granulometrias mais finas. O

valor máximo de cobre ocorre para a granulometria de 2,0 mm, com 38%. Os valores para o zinco

possuem um andamento praticamente constante, com valores inferiores a 5%.

Na Figura 4.35 c) apresentam-se os valores para os teores que foram obtidos para o ferro, cálcio e

alumínio em cada uma das fracções granulométricas. Os valores de ferro apresentam maiores

valores nas granulometrias intermédias, com o valor máximo a ocorrer para a granulometria de 1,0

mm, com cerca de 1%. O cálcio apresenta os maiores teores. Os maiores valores ocorrem em

granulometrias intermédias, com o valor máximo, cerca de 4%, na granulometria de 0,71 mm. O

alumínio apresenta valores mais baixos nas granulometrias mais grosseiras. O maior valor para o

alumínio ocorre na granulometria de 0,5 mm, com 2%.

65

4.4.2. Avaliação das Recuperações

Efectuada a determinação quantitativa dos elementos químicos nas diferentes fracções

granulométricas das amostras procedeu-se ao cálculo da recuperação de cada elemento químico

através da equação:

100%Re

×

=

total

fracção

cupM

M (Eq 4.2)

em que se utiliza a massa do elemento obtida em determinada fracção granulométrica e a massa

total desse mesmo elemento na amostra. Assim, a recuperação calculada para cada elemento

reflecte a percentagem mássica desse elemento em cada fracção relativamente à sua massa total na

amostra.

A análise das recuperações dos elementos prata, estanho, chumbo, cobre, zinco, ferro, cálcio e

alumínio foi efectuada nas mesmas amostras seleccionadas para a determinação dos teores. Na

Figura 4.36 apresentam-se as recuperações calculadas para todas as granulometrias da amostra 9

analisadas quimicamente.

Figura 4.36 – Recuperação dos elementos da amostra 9. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al.

Na Figura 4.36 a) representam-se as recuperações obtidas para a prata, estanho e chumbo em cada

uma das fracções granulométricas. As recuperações encontradas para a prata tendem a ser maiores

66

para as granulometrias grosseiras, com a maior recuperação a ocorrer para a granulometria de 2,0

mm, com uma recuperação de 22%. O estanho possui a maior recuperação para granulometrias

grosseiras com a maior recuperação, cerca de 20%, na granulometria de 1,4 mm. A maior

recuperação de chumbo ocorre para a granulometria de 2,0 mm, com uma recuperação de 23%. No

caso das granulometrias finas, todos os elementos da Figura 4.36 a) possuem valores de

recuperação baixa e no caso do chumbo e estanho, os seus andamentos são idênticos.

Na Figura 4.36 b) apresentam-se as recuperações obtidas para o cobre e zinco em cada uma das

fracções granulométricas. O cobre apresenta o maior valor de recuperação para a granulometria de

2,8 mm, com 30%. O maior valor de recuperação do zinco ocorre para a mesma granulometria, 2,8

mm com uma recuperação de 28%. O cobre e o zinco possuem andamentos idênticos ao longo de

todas as granulometrias, com valores de recuperação muito baixas para granulometrias mais finas.

As granulometrias mais grosseiras apresentam um aumento das recuperações assinaláveis, com

valores superiores a 10% de recuperação para ambos os elementos.

Na Figura 4.36 c) representam-se as recuperações obtidas para o ferro, cálcio e alumínio em cada

uma das fracções granulométricas. O ferro apresenta o maior valor de representação, com mais de

60% na granulometria de 2,8 mm. Em todas as granulometrias mais finas que este valor, a

recuperação do ferro é baixa, inferior a 10%. O cálcio possui o maior valor de recuperação para a

granulometria de 2,0 mm, com 33%. Tanto para as granulometrias superiores como inferiores a este

valor, o cálcio apresenta uma diminuição da sua recuperação. O alumínio apresenta a maior

recuperação para a granulometria de 2,8 mm, com 29%. O andamento da curva relativa ao alumínio é

idêntico ao andamento do cálcio, para todas as granulometrias consideradas.

Na Figura 4.37 apresentam-se as recuperações calculadas para todas as granulometrias analisadas

quimicamente, da amostra 10.

Na Figura 4.37 a) representam-se as recuperações obtidas para a prata, estanho e chumbo em cada

uma das fracções granulométricas. A prata possui recuperações superiores em granulometrias finas e

grosseiras. A recuperação máxima ocorre para a granulometria de 2,0 mm com 25%. O estanho

apresenta o maior valor de recuperação na granulometria de 2,0 mm, com uma recuperação de 22%,

apresentando recuperações mais elevadas para as granulometrias mais grosseiras. A maior

recuperação de chumbo, com cerca de 18%, ocorre para a granulometria de 2,0 mm. Tal como para

todos os outros elementos presentes na Figura 4.37 a), o chumbo apresenta uma maior recuperação

nas granulometrias mais grosseiras.

Na Figura 4.37 b) apresentam-se as recuperações obtidas para o cobre e o zinco em cada uma das

fracções granulométricas. O cobre apresenta um andamento crescente em função do aumento da

granulometria. O seu valor de recuperação máximo é de 33%, para a granulometria de 2,0 mm. O

zinco possui um valor máximo de recuperação, de 34% para a granulometria de 2,8 mm.

67

Figura 4.37 – Recuperação dos elementos da amostra 10. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al.

Na Figura 4.37 c) representam-se as recuperações obtidas para o ferro, cálcio e alumínio em cada

uma das fracções granulométricas. O ferro possui os maiores valores de recuperações para

granulometrias grosseiras com o valor máximo de recuperação a ocorrer para a granulometria de 2,0

mm, com 41%. O cálcio apresenta o valor máximo de recuperação na granulometria de 2,0 mm, com

cerca de 30%, apresentando um aumento da percentagem de recuperação para amostras mais

grosseiras. O alumínio apresenta os maiores valores de recuperação em granulometrias grosseiras,

obtendo um máximo para a granulometria de 2,8 mm, com cerca de 55%.

Na Figura 4.38 apresentam-se as recuperações calculadas para todas as granulometrias analisadas

quimicamente, da amostra 13.

Na Figura 4.38 a) representam-se as recuperações obtidas para a prata, estanho e chumbo em cada

uma das fracções granulométricas. A prata apresenta valores de recuperação mais elevados nas

granulometrias intermédias, com o valor máximo de recuperação, cerca de 50%, a ocorrer para a

granulometria de 1,0 mm. Nas granulometrias mais finas, os valores de recuperação da prata são

baixos, com valores de recuperação inferiores a 10%. As maiores recuperações de estanho ocorrem

para as granulometrias muito grosseiras, com o maior valor de recuperação a acontecer para a

granulometria de 2,8 mm, com 26%. Nas granulometrias intermédias, existe algum aumento de

recuperação de estanho em relação às granulometrias finas mas que ainda assim não é tão alto

68

quanto nas granulometrias mais grosseiras. O chumbo segue o andamento do estanho, dado a sua

utilização na mesma liga de soldadura. O chumbo apresenta, igualmente a sua maior recuperação

para a granulometria de 2,8 mm, com 26%.

Figura 4.38 – Recuperação dos elementos da amostra 13. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al.

Na Figura 4.38 b) apresenta-se os valores de recuperação para os elementos cobre e zinco em cada

uma das fracções granulométricas. As maiores recuperações de cobre ocorrem para as

granulometrias mais grosseiras, sendo o maior valor na granulometria de 2,8 mm, com cerca de 55%.

O zinco possui, igualmente, os maiores valores de recuperação para a granulometria de 2,8 mm, com

cerca de 60%. Ambos os elementos possuem recuperações muito próximas, com valores baixos para

as granulometrias mais finas.

Na Figura 4.38 c) representam-se os valores de recuperação para os elementos ferro, cálcio e

alumínio em cada uma das fracções granulométricas. O ferro possui recuperações com valores

baixos, inferiores a 10%, para as granulometrias mais finas, estando os maiores valores de

recuperação a ocorrerem para as granulometrias grosseiras. O valor máximo de recuperação para o

ferro é de 37%, na granulometria de 2,0 mm. O cálcio possui maiores recuperações nas

granulometrias grosseiras, com o valor máximo a acontecer para a granulometria de 2,8 mm, com

35%. O alumínio tem o seu valor máximo de recuperação na granulometria de 2,8 mm, com cerca de

40% de recuperação. Todos os elementos presentes na Figura 4.39 c) possuem valores baixos de

recuperação para as granulometrias mais finas.

69

Na Figura 4.39 apresentam-se as recuperações calculadas para todas as granulometrias analisadas

quimicamente, da amostra 17.

Figura 4.39 – Recuperação dos elementos da amostra 17. a) Ag, Sn, Pb; b) Cu, Zn; c) Fe, Ca, Al.

Na Figura 4.39 a) representam-se os valores de recuperação para os elementos prata, estanho e

chumbo em cada uma das fracções granulométricas. A prata apresenta recuperações mais elevadas

em granulometrias intermédias, ocorrendo o seu valor máximo para a granulometria de 1,0 mm, com

cerca de 39%. As maiores recuperações de estanho acontecem em granulometrias mais grosseiras,

com o valor máximo a ocorrer para a granulometria de 2,8 mm, com cerca de 25%. O chumbo

apresenta um aumento dos valores de recuperação em granulometrias intermédias em relação às

granulometrias finas mas o seu valor máximo ocorre para a granulometria de 2,8 mm, considerada

uma granulometria grosseira, com 20% de recuperação.

Na Figura 4.39 b) representam-se os valores de recuperação para os elementos cobre e zinco em

cada uma das fracções granulométricas. O cobre apresenta o maior valor de recuperação para a

granulometria de 2,8 mm, com um valor de 55%. O zinco segue exactamente o mesmo

comportamento da curva do cobre, apresentando um valor de recuperação máximo de 52% para a

granulometria de 2,8 mm. Tanto o cobre como o zinco apresentam baixos valores de recuperação

para as granulometrias mais finas.

70

Na Figura 4.39 c) apresentam-se os valores de recuperação para os elementos ferro, cálcio e

alumínio em cada uma das fracções granulométricas. O ferro possui maiores recuperações para as

granulometrias mais grosseiras, com o maior valor de recuperação a ocorrer para a granulometria de

2,8 mm, com 35%. Os maiores valores de recuperação do cálcio acontecem em granulometrias mais

grosseiras, com a maior das recuperações a ocorrer para a granulometria de 2,8 mm, com 45%. O

alumínio possui, igualmente, as maiores recuperações para as granulometrias mais grosseiras. O

valor máximo de recuperação do alumínio ocorre para a granulometria de 2,8 mm, com o valor

máximo de 46%. Todos os elementos presentes na Figura 4.39 c) apresentam valores de

recuperação inferiores a 10% para as granulometrias finas e intermédias.

4.4.3. Moinho de Lâminas vs Fragmentador de Garras

A avaliação das recuperações efectuadas para algumas amostras do moinho de lâminas e do

fragmentador de garras permite verificar qual o crivo óptimo, onde ocorre a maior recuperação de

cada elemento e respectivo valor de recuperação. Os valores referentes às amostras 9, 10, 13 e 17

são apresentados na Tabela 4.4.

Tabela 4.4 – Recuperações máximas (%) e o crivo óptimo para a recuperação dos elementos químicos

estudados nas amostras 9, 10, 13, 17.

Amostra Recup.

Ag (%)

Crivo

óptimo

Ag

(mm)

Recup.

Sn (%)

Crivo

óptimo

Sn

(mm)

Recup.

Pb (%)

Crivo

óptimo

Pb

(mm)

Recup.

Cu (%)

Crivo

óptimo

Cu

(mm)

9 22 2,0 20 1,4 23 2,0 30 2,8

10 25 2,0 22 2,0 18 2,0 33 2,0

13 53 1,0 26 2,8 26 2,8 55 2,8

17 39 1,0 23 2,8 20 2,8 55 2,8

Recup.

Zn (%)

Crivo

óptimo

Zn

(mm)

Recup.

Fe (%)

Crivo

óptimo

Fe

(mm)

Recup.

Ca (%)

Crivo

óptimo

Ca

(mm)

Recup.

Al (%)

Crivo

óptimo

Al

(mm)

9 28 2,8 63 2,8 33 2,0 29 2,8

10 34 2,8 41 2,0 27 2,0 55 2,8

13 58 2,8 37 2,0 35 2,8 41 2,8

17 52 2,8 35 2,8 45 2,8 46 2,8

71

Uma análise à Tabela 4.4 permite verificar que o crivo óptimo de separação para o material obtido em

ambos os fragmentadores, está sempre acima dos 0,71 mm, ou seja, as maiores recuperações em

ambos estão apenas localizadas em granulometrias intermédias ou grosseiras.

Em termos de elementos, verifica-se que apenas no caso da prata, estanho, chumbo e cálcio se

apresentam diferenças notórias nos crivos óptimos. Assim, serão sobre estes elementos que incidirá

maior discussão. A comparação do desempenho dos dois fragmentadores será efectuada para o

mesmo elemento químico, no caso da placa ser classificada como pobre e no caso da placa ser

classificada como rica. A grelha de descarga considerada, tal como até aqui, é sempre a mesma.

A recuperação de prata calculada para o material obtido em ambos os fragmentadores em todas as

granulometrias analisadas quimicamente está representada na Figura 4.40.

Figura 4.40 – Recuperação da prata no material obtido nos dois fragmentadores. a) amostras 9 e 13;

b) amostras 10 e 17.

Na recuperação de prata em placas pobres (Figura 4.40 a)) verifica-se que o fragmentador de garras

consegue uma redução de calibre maior dos componentes que contêm este metal, do que o moinho

de lâminas, dado o seu crivo óptimo ser inferior. Em ambos os fragmentadores, as recuperações em

granulometrias finas são inferiores a 10%. Posteriormente, a recuperação do fragmentador de garras

aumenta muito em torno de uma granulometria intermédia. Nessa mesma granulometria intermédia, o

moinho de lâminas apresenta um crescimento da recuperação de prata, embora não tão pronunciado

como no caso do fragmentador de garras.

Na Figura 4.40 b) está representada a recuperação de prata em placas ricas em que se verifica,

igualmente, uma maior recuperação a granulometrias intermédias, no caso do fragmentador de

garras. O moinho de lâminas apresenta um crescimento de recuperação a granulometrias mais

baixas, por volta dos 0,35 mm. Tal como no caso das placas pobres, parece haver uma maior

redução de calibre dos componentes que possuem prata no caso do fragmentador de garras.

Pode assim afirmar-se que a classificação da amostra não influencia o andamento da curva de

recuperação. Na comparação entre os fragmentadores, verificam-se alterações de andamento com o

72

fragmentador de garras a apresentar para os componentes ricos no elemento prata uma maior

redução de calibre do que o moinho de lâminas.

A recuperação de estanho calculada para o material obtido em ambos os fragmentadores em todas

as granulometrias analisadas quimicamente está representada na Figura 4.41.

Figura 4.41 – Recuperação do estanho no material obtido nos dois fragmentadores. a) amostras 9 e 13;

b) amostras 10 e 17.

Na Figura 4.41 a) apresentam-se as recuperações calculadas para o estanho nas amostras

consideradas como pobres. Os dois fragmentadores apresentam andamentos idênticos para

granulometrias finas, enquanto para as granulometrias intermédias iniciam ambos um aumento dos

valores de recuperação. Neste caso, verifica-se que o crivo óptimo do moinho de lâminas é inferior ao

crivo óptimo do fragmentador de garras, o que indica uma maior capacidade de redução de calibre

dos componentes com estanho no moinho de lâminas em relação ao fragmentador de garras.

Na Figura 4.41 b) apresentam-se as recuperações calculadas para o estanho nas amostras

consideradas como ricas. Para as granulometrias mais finas, ambos os fragmentadores apresentam o

mesmo tipo de comportamento, acontecendo o mesmo cenário para o aumento das recuperações

nas granulometrias intermédias. Nas granulometrias grosseiras verifica-se que o crivo óptimo do

moinho de lâminas apresenta-se para uma granulometria inferior ao fragmentador de garras

permitindo assim concluir que a sua capacidade para a redução de calibre dos componentes ricos em

estanho será maior.

Pode assim afirmar-se que a classificação da amostra não influencia o andamento da curva de

recuperação. Na comparação entre os fragmentadores, verificam-se alterações de andamento com o

moinho de lâminas a apresentar para os componentes ricos no elemento estanho uma maior redução

de calibre do que o fragmentador de garras.

A recuperação de chumbo calculada para o material obtido em ambos os fragmentadores em todas

as granulometrias analisadas quimicamente está representada na Figura 4.42.

73

Figura 4.42 – Recuperação do chumbo no material obtido nos dois fragmentadores. a) amostras 9 e 13;

b) amostras 10 e 17.

Na Figura 4.42 a) apresentam-se as recuperações calculadas para o chumbo nas amostras

consideradas como pobres. Nas granulometrias finas, ambos os fragmentadores, apresentam valores

de recuperação baixos, seguindo-se um aumento nas granulometrias intermédias. Nas

granulometrias grosseiras, verifica-se que o crivo óptimo do moinho de lâminas está localizado numa

granulometria inferior ao fragmentador de garras. Pode-se afirmar que a capacidade de redução de

calibre dos componentes ricos em chumbo, no caso das placas pobres é superior no moinho de

lâminas.

Na Figura 4.42 b) apresentam-se as recuperações calculadas para o chumbo nas amostras

consideradas como ricas. Nas granulometrias finas, ambos os fragmentadores apresentam uma

tendência de crescimento das recuperações, que é continuada nas granulometrias intermédias para o

fragmentador de garras, mas não no moinho de lâminas. Nas granulometrias grosseiras, nenhum dos

fragmentadores possui um desempenho diferenciador.

Pode assim afirmar-se que a classificação da amostra não influencia o andamento da curva de

recuperação. Na comparação entre os fragmentadores, verificam-se alterações de andamento com o

moinho de lâminas a apresentar para os componentes ricos no elemento chumbo uma maior redução

de calibre do que o fragmentador de garras. Esta situação já havia sido verificada para o estanho e

dado que ambos os elementos, estanho e chumbo, pertencem à mesma liga utilizada este resultado

não constitui nenhuma surpresa.

A recuperação de cálcio calculada para o material obtido em ambos os fragmentadores em todas as

granulometrias analisadas quimicamente está representada na Figura 4.43.

74

Figura 4.43 – Recuperação do cálcio no material obtido nos dois fragmentadores. a) amostras 9 e 13;

b) amostras 10 e 17.

Na Figura 4.43 a) apresentam-se as recuperações calculadas para o cálcio nas amostras

consideradas como pobres. Nas granulometrias finas, ambos os fragmentadores, apresentam valores

de recuperação baixos, inferiores a 5%, seguindo-se um aumento gradual nas granulometrias

intermédias. Nas granulometrias grosseiras, verifica-se que o crivo óptimo do moinho de lâminas está

localizado numa granulometria inferior ao fragmentador de garras, 2,0 mm contra 2,8 mm,

respectivamente. Pode-se afirmar que a capacidade de redução de calibre dos componentes ricos em

cálcio, no caso das placas pobres é superior no moinho de lâminas.

Na Figura 4.43 b) apresentam-se as recuperações calculadas para o cálcio nas amostras

consideradas como ricas. Nas granulometrias finas e intermédias, ambos os fragmentadores

apresentam valores de recuperação muito baixos, inferiores a 10%. Nas granulometrias grosseiras

verifica-se que o moinho de lâminas possui um crivo óptimo de recuperação com uma granulometria

inferior ao fragmentador de garras, mais uma vez 2,0 mm contra 2,8 mm, respectivamente.

Pode assim afirmar-se que a classificação da amostra não influencia o andamento da curva de

recuperação. Na comparação entre os fragmentadores, verificam-se alterações de andamento com o

moinho de lâminas a apresentar para os componentes ricos no elemento cálcio uma maior redução

de calibre do que o fragmentador de garras.

75

Capítulo 5

Conclusões Finais e Trabalho Futuro

5.1. Conclusões

O estudo da operação de processamento físico de placas de circuito impresso permite concluir que a

fragmentação realizada foi conseguida com sucesso como operação de fragmentação primária,

contudo não foi ainda por si só eficaz ao ponto de haver um grau de libertação suficientemente

grande entre os diferentes materiais.

Este trabalho foi realizado com base na comparação dos resultados obtidos na separação

granulométrica e análise química dos elementos mais utilizados na construção das PCI’s. Os

resultados obtidos para os dois fragmentadores estudados, o moinho de lâminas e o fragmentador de

garras, não foram muito diferentes.

Os sistemas de corte utilizados no presente trabalho apresentam características de funcionamento

diferentes, embora isso não resulte em diferenças assinaláveis na análise granulométrica e

morfológica. Na análise química aos elementos, não se verificaram diferenças assinaláveis.

A análise granulométrica permitiu verificar que existiram diferenças entre os dois fragmentadores

utilizados. O moinho de lâminas revelou uma maior capacidade de fragmentação que o fragmentador

de garras, patente no facto de possuir maior quantidade de material a mais baixas granulometrias.

Verificou-se ainda que a classificação atribuída à placa não provoca qualquer tipo de diferença no

andamento das curvas cumulativas. Já a utilização de uma grelha de descarga com malha mais

pequena, provoca, como seria de esperar uma maior fragmentação mas que também se traduz numa

maior homogeneização das massas entre as diferentes granulometrias.

A morfologia dos fragmentos analisados por MEV não evidencia nenhuma diferença na forma de

funcionamento e de corte dos fragmentadores. Apesar das partículas fragmentadas pelo moinho de

lâminas estarem perante uma maior velocidade do rotor que se traduz numa maior força de impacto

aplicada no material, e no caso do fragmentador de garras existirem forças de abrasão não se

verificam alterações morfológicas nos fragmentos daí resultantes.

76

A avaliação dos resultados de análise química permite verificar pelos teores dos elementos, que em

boa parte dos ensaios, o moinho de lâminas consegue atingir maiores teores em baixas

granulometrias enquanto o fragmentador de garras possui maiores teores em fracções mais

intermédias ou grosseiras. Tendo em conta que quanto menor for a granulometria resultante da

fragmentação maior será a probabilidade de obter um maior grau de libertação, então existe maior

probabilidade de os elementos que se detectam com o moinho de lâminas estarem efectivamente

libertos.

A avaliação das recuperações indica, em média, como crivo óptimo para o material obtido em ambos

os fragmentadores o intervalo de granulometrias entre 2,0 e 2,8 mm, o que indica que a fragmentação

primária apresenta granulometrias demasiado elevadas para se poder apresentar como uma solução

viável como operação de separação de determinado elemento por si só.

Conclui-se ainda assim que, embora nenhum dos fragmentadores tenha sido capaz de efectuar uma

separação eficaz dos diversos materiais, com uma redução de calibre óptima e um bom grau de

libertação associado, aquele que mais se aproximou deste resultado foi o moinho de lâminas com a

utilização de uma grelha de descarga de 6 mm.

5.2. Proposta de Trabalho Futuro

No seguimento do presente trabalho, propõem-se outros trabalhos com vista ao aumento da

eficiência da operação de fragmentação, com base na redução de calibre e grau de libertação, na

operação de processamento físico de placas de circuito impresso. Destacam-se os seguintes:

- Estudar o comportamento dos mesmos fragmentadores numa fragmentação secundária, usando

grelhas de descarga de menor diâmetro;

- Avaliar o comportamento das placas de circuito impresso em outros sistemas de corte;

- Desenvolver operações de processamento físico para uma separação eficaz entre metais e

plásticos.

77

Bibliografia

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Abril de 2009;

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[3] - Associação Greenpeace, http://www.greenpeace.org/, visualizada em Março 2009;

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[5] - Manual do bom produtor de resíduos, INOVA, Município de Cantanhede;

[6] - Lameira, A.C. e Gil, L.M. (2006). “Aplicação de resíduos da indústria de pasta de papel na

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[7] – A view of the EU Packaging waste directive. Remarks to 5th Annual Agra Europe packaging

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[8] – Diário da Républica - I Série – A, Nº 288 – 10 de Dezembro de 2004;

[9] – Dossier Temático REEE – Nivel mais avançado, Associação Portuguesa do Ambiente;

[10] – Proposal for a directive of the European parliament and of the council on waste electrical and

electronic equipment (WEEE), 2008;

[11] – Estatística do Eurostat,http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/eurostat/home,

divulgada em Março 2009;

[12] – Site AMB3E, http://www.amb3e.pt/, visualizado em Março 2009;

[13] – Rolf Widmer, Heidi Oswald-Krapf, Deepali Sinha-Khetriwal, Max Schnellmann, Heinz Boni,

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[14] – Printed Circuit Board History, http://www.trianglecircuits.com/pcb-history.html, Triangle Circuits,

visualizada em Março 2009;

[15] – Printed Wiring Board Resource Center, http://www.pwbrc.org/, visualizada em Março 2009;

78

[16] – 1º Relatório de progresso do projecto RECIMP. Reciclagem de placas de circuito impresso de

resíduos de equipamento electrónico, 2009;

[17] – Easy PCB, http://www.geocities.com/easy_pcb/, visualizada em Abril 2009;

[18] – Joseph Fjelstad, Kevin Grundy, Gary Yasumura, “3D PCB architecture for next generation high

speed interconnections”, Circuit World, páginas 25 – 33, 2005;

[19] – Wenzhi He, Guangming Li, Xingfa Ma, Hua Wang, Juwen Hang, Min Xu, Chunjie Huang,

“WEEE recovery strategies and the WEEE treatment status in China”, Journal of Hazardous

Materials, 2006;

[20] – Data Sheet SAC 305, Kester, http://www.kester.com/, visualizado em Março 2009;

[21] - “Electronics sustainability commitment”; Trans-Atlantic network for clean production, May, 1999;

[22] - Kui Huang, Jie Guo, Zhenming Xu, “ Recycling of waste printed circuit boards: A review of

current technologies and treatment status in China”, Journal of Hazardous Materials, Maio

2008;

[23] – Martin Goosey, Rod Kellner, “A scoping study end-of-life printed circuit boards”, Shipley Europe

Limited;

[24] – “The RoHS and WEEE Directives: An update on environmental requirements affecting the

electrical and electronic products sector”, Wiley Periodicals, 2007;

[25] – US Agency for Toxic Substances & Disease Registry, consultado em Abril 2009;

[26] – www.erdwich.eu, visualizado em Março 2009;

[27] - “Trituração com moinhos picadores e de facas”, catálogo Retsch, 2008.

[28] – www.quimonda.com, visualizado em Março 2009.

79

Anexo I

Categorias de equipamentos

Tabela A.1 - Listagem de produtos do DL 230/2004 de 10 de Dezembro [8].

Categoria Produtos

1

(Grandes

electrodomésticos)

Grandes aparelhos de

arrefecimento

frigoríficos, congeladores

outros aparelhos de grandes dimensões

utilizados na refrigeração, conservação e

armazenamento de alimentos

Aparelhos de aquecimento

eléctricos

radiadores eléctricos

ventoinhas eléctricas

aparelhos de ar condicionado

outros aparelhos de grandes dimensões

para aquecimento de casas, camas,

mobiliário para sentar

outros equipamentos de ventilação,

ventilação de exaustão e condicionamento

máquinas de lavar roupa, secadores de roupa, máquinas de lavar loiça

fogões, fornos eléctricos, placas de fogão eléctricas, microondas

2

(Pequenos

electrodomésticos)

aspiradores, aparelhos de limpeza de alcatifas, outros aparelhos de limpeza

aparelhos utilizados na costura, tricot, tecelagem e outras formas de

transformar os têxteis, ferros de engomar e outros aparelhos para engomar,

calandrar e tratar o vestuário

torradeiras, fritadeiras, moinhos, máquinas de café e aparelhos para abrir ou

fechar recipientes ou embalagens, facas eléctricas

80

2

(Pequenos

electrodomésticos)

aparelhos para cortar o cabelo, secadores de cabelo, escovas de dentes

eléctricas, máquinas de barbear, aparelhos de massagem e outros aparelhos

para o cuidado do corpo, relógios de sala, relógios de pulso e aparelhos para

medir, indicar ou registar o tempo, balanças

3

(Equipamentos

informáticos e de

telecomunicações)

Processamento

centralizado de

dados

macrocomputadores (mainframes), minicomputadores,

unidades de impressão

Equipamentos

informáticos

pessoais

computadores pessoais (CPU, rato, ecrã e teclado

incluídos), computadores portáteis laptop (CPU, rato,

ecrã e teclado incluídos), computadores portáteis

notebook, computadores portáteis notepad

impressoras, copiadoras, máquinas de escrever eléctricas e electrónicas,

calculadoras de bolso e de secretária, outros produtos e equipamentos para

recolher, armazenar, tratar, apresentar ou comunicar informações por via

electrónica

sistemas e terminais de utilizador, telecopiadoras, telex, telefones, postos

telefónicos públicos, telefones sem fios, telefones celulares, respondedores

automáticos, outros produtos ou equipamentos para transmitir som, imagens

ou outras informações por telecomunicação.

4

(Equipamentos de

consumo)

aparelhos de rádio, aparelhos de televisão, amplificadores áudio

câmaras de vídeo, gravadores de vídeo, gravadores de alta-fidelidade,

instrumentos musicais

outros produtos ou equipamentos para gravar ou reproduzir o som ou a

imagem, incluindo sinais ou outras tecnologias de distribuição do som e da

imagem por outra via que não a de telecomunicações.

5

(Equipamentos de

iluminação)

aparelhos de iluminação para lâmpadas fluorescentes, com excepção dos

aparelhos de iluminação doméstica

lâmpadas fluorescentes clássicas, lâmpadas fluorescentes compactas,

lâmpadas de descarga de alta intensidade, incluindo lâmpadas de sódio sob

pressão e lâmpadas de haletos metálicos

lâmpadas de sódio de baixa pressão, outros equipamentos de iluminação ou

equipamento destinado a difundir ou controlar a luz, com excepção das

lâmpadas de incandescência.

81

6

(Ferramentas

eléctricas e

electrónicas)

berbequins, serras, máquinas de costura, equipamento para tornear, fresar,

lixar, triturar, serrar, cortar, tosar, brocar, fazer furos, puncionar, dobrar,

encurvar, ou para processos similares de tratamento de madeira, metal e

outros materiais

ferramentas para rebitar, pregar ou aparafusar ou remover rebites, pregos ou

parafusos, ou para usos semelhantes, ferramentas para soldar ou usos

semelhantes,

equipamento para pulverizar, espalhar, dispersar ou para tratamento de

substâncias líquidas ou gasosas por outros meios, ferramentas para cortar

relva ou para outras actividades de jardinagem.

7

(Brinquedos e

equipamento de

desporto e lazer)

conjuntos de comboios eléctricos ou de pistas de carros de corrida, consolas

de jogos de vídeo portáteis, jogos de vídeo, computadores para ciclismo,

mergulho, corrida, remo, etc., equipamento desportivo com componentes

eléctricos ou electrónicos, caça-níqueis (slot machines).

8

(Aparelhos

médicos)

equipamentos de radioterapia, equipamentos de cardiologia, equipamentos de

diálise, ventiladores pulmonares, equipamentos de medicina nuclear,

equipamentos de laboratório para diagnóstico in vitro, analisadores,

congeladores, testes de fertilização, outros aparelhos para detectar, evitar,

controlar, tratar, aliviar doenças, lesões ou deficiências

9

(Instrumentos de

monitorização e

controlo)

detectores de fumo, reguladores de aquecimento, termóstatos, aparelhos de

medição, pesagem ou regulação para uso doméstico ou como equipamento

laboratorial, outros instrumentos de controlo e comando utilizados em

instalações industriais (por exemplo, em painéis de comando)

10

(Distribuidores

automáticos)

distribuidores automáticos de bebidas quentes, distribuidores automáticos de

garrafas ou latas quentes ou frias, distribuidores automáticos de produtos

sólidos, distribuidores automáticos de dinheiro, todos os aparelhos que

forneçam automaticamente todo o tipo de produtos

82

Anexo II

Composição Material de Placas de Memória de Computadores

Pessoais

Tabela A.2 – Elementos constituintes de uma placa com 1 Gb de memória [28].

Elemento de construção Classe de materiais

Materiais % mássica

(média) Soma

(%)

Matriz

Polímero Epoxy 26,36

86,02 Vidro Vidro 26,34

Metal Cobre 33,20

Níquel 0,12

Componentes passivos e não-memória

Cerâmico

Óxido de Alumínio 0,50

1,46

Óxido de Chumbo 0,02

Dióxido de sílica 0,13

Outros 0,65

Metal Prata 0,16

Memória IC

Polímero Epoxy 1,26

9,84

Resina fenólica 0,25

Cerâmico Silica 3,73

Vidro Fibra de vidro 0,78

Metal

Sílicio 1,78

Cobre 0,57

Estanho 1,47

Liga de soldadura Metal

Estanho

2,68 2,68 Cobre

Prata

83

Tabela A.3 – Elementos constituintes de uma placa com 2 Gb de memória [28].

Elemento de construção

Classe de materiais

Materiais % mássica

(média) Soma

(%)

Matriz

Polímero Epoxy 23,83

77,80 Vidro Vidro 23,82

Metal Cobre 30,04

Níquel 0,11

Componentes passivos e não-memória

Cerâmico

Óxido de Alumínio 0,48

1,80

Óxido de Chumbo 0,01

Cerâmicos 0,89

Sílica 0,12

Metal Prata 0,18

Níquel 0,12

Memória IC

Polímero Epoxy 2,29

17,97

Resina fenólica 0,45

Cerâmico Silica 6,89

Vidro Fibra de vidro 1,42

Metal

Silicio 3,22

Cobre 1,04

Estanho 2,66

Liga de soldadura Metal

Estanho

2,43 2,43 Cobre

Prata

84

Anexo III

Rectas de Calibração

Prata Estanho

Chumbo Cobre

85

Zinco Ferro

Cálcio Alumínio

Figura A.1 – Rectas de Calibração