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REALISMO - NATURALISMO O Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houve de mau na nossa sociedade” (Eça de Queiroz)

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REALISMO - NATURALISMO

“O Romantismo era a apoteose do sentimento;

o Realismo é a anatomia do caráter.

É a crítica do homem.

É arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos

conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos,

para condenar o que houve de mau na nossa sociedade”

(Eça de Queiroz)

GUSTAVE COUBERT EXPOSIÇÃO REALISTA - FRANÇA

GUSTAVE COUBERT - French, 1819–1877

Sleep, 1866

Homem desesperado - auto-retrato - 1844-45 .

Obras de Gustave Courbet.

“Courbet, um pintor socialista e adepto de atitudes fracturantes“. Sua obra causou efeito pela sua pintura, que foi chocante para a sociedade da época.

Thérèse Raquin foi recebida como um escândalo no momento de sua publicação em 1867.

“Thérèse Raquin é o resíduo de todos esses horrores publicados precedentemente. Nele, escorrem todo o sangue e todas as infâmias…” (Ferragus).

Émile Zola não chegou a ser processado como Gustave Flaubert Madame Bovary ou condenado

como Charles Baudelaire As flores do mal.

CRÍTICA À ESCOLA REALISTA

“Estabeleceu-se há alguns anos uma escola monstruosa de romancistas, que pretende substituir a eloquência da carnagem pela eloquência da carne, que apela para as curiosidades mais cirúrgicas, que reúne pestíferos para nos fazer admirar as veias saltadas, que se inspira diretamente do cólera, seu mestre, e que faz sair pus da consciência. (…)” (Ferragus)

Prefácio da 2ª. Ed.francesa, 2001, p.9 – 15 de abril de 1868 – Émile Zola

A crítica acolheu este livro de uma maneira brutal e indignada.

Algumas pessoas virtuosas, em jornais não menos virtuosos, fizeram uma careta de asco, pegando-o na pontinha dos dedos para lançá-lo ao fogo.

Mesmo as pequenas gazetas literárias, essas gazetas que a cada tarde trazem a crônica das alcovas e dos gabinetes privados, taparam o nariz falando de lixo e de podridão.

Eu absolutamente não me queixo dessa acolhida;

ao contrário, encanta-me constatar que os meus

colegas têm nervos sensíveis de mocinhas.

É bastante evidente que a minha obra pertence

aos meus juízes, e que podem considerá-la

nauseabunda sem que eu tenha o direito de

protestar.

Se eu protesto é porque, a meu ver, nenhum dos

pudicos jornalistas que coraram ao ler Thérèse

Raquin parece ter compreendido o romance.

CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL:

• Segunda Revolução Industrial;

• Consolidação e fortalecimento da burguesia;

• Apogeu do capital industrial;

• Avanço científico e tecnológico;

• Período de transformações na vida, na arte e no

pensamento;

• Lutas proletárias;

• Crescimento urbano, progresso: eletricidade,

telégrafo sem fios, locomotiva a vapor;

• Ciência, progresso, razão.

CORRENTES FILOSÓFICAS E CIENTÍFICAS

• Capitalismo e Socialismo científico (Marx e Engels),

• Determinismo (Hippolyte Taine),

• Positivismo (Auguste Comte),

• Experimentalismo (Claude Bernard),

• Evolucionismo (Charles Darwin);

CARACTERÍSTICAS

Objetividade

Impassibilidade

Contemporaneidade

A sociedade: ataque ao clero, à burguesia e à monarquia.

O homem: análise psicológica

O amor: aspecto físico, carnal, sexualização do amor, adultério.

Lentidão, detalhes na caracterização das personagens;

Predomínio da linguagem denotativa;

Textos estruturados com clareza, equilíbrio, harmonia.

Correção gramatical.

REALISMO NATURALISMO

1. ORIGEM

França - Madame Bovary (1857) -(Gustave Flaubert)

França - Thérèse Raquin (Émile Zola)

2. ROMANCE

Documental, observação, análise, “Fotografia” da realidade.

Experimental, tese científica. Leva a conclusões para justificar os fatos.

3.TEMAS Aspiração estética, valorização do belo.

Elementos degradantes, amoralismo, sedução, adultério, incesto, homossexualismo, taras e vícios.

4. O HOMEM

Sondagem psicológica, centralização no indivíduo.

Aspectos biológicos, patologia, análise social, coletividade.

5. CRÍTICA Social à classe dominante, à burguesia nos centros urbanos

Foca o proletariado, os marginais, as camadas populares.

6. ESTILO Método indutivo. Leva o leitor às circunstâncias, cabe a ele aceitá-las ou não.

BEM-AVENTURADOS OS QUE NÃO DESCEM

“O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma. O melhor que há, quando se não resolve um enigma, é sacudi-lo pela janela; foi o que eu fiz; lancei mão da toalha e enxotei essa outra borboleta preta, que me adejava no cérebro. Fiquei aliviado e fui dormir. Mas o sonho, que é uma fresta do espírito, deixou novamente entrar o bichinho, e aí fiquei eu a noite toda a cavar o mistério, sem explicá-lo.”

(Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis)

O Cortiço – Aluísio de Azevedo

“Jerônimo levantou-se, quase que maquinalmente e, seguido por

Piedade, aproximou-se da grande roda que se formara em torno dos dois mulatos.

Aí, de queixo grudado às costas das mãos contra uma cerca de jardim, permaneceu, sem tugir nem mugir, entregue de corpo e alma àquela cantiga sedutora e voluptuosa que o enleava e tolhia, como à robusta gameleira brava o cipó flexível, carinhoso e traiçoeiro.

E viu a Rita Baiana, que fora trocar o vestido por uma saia, surgir de ombros e braços nus, para dançar.

A lua destoldara-se nesse momento, envolvendo-a com sua coma de prata, a cujo refulgir os meneios da mestiça melhor se acentuavam, cheios de uma graça irresistível, simples, primitiva, feita toda de pecado, toda de paraíso, com muito de serpente e muito de mulher.”