realidades e perspectivas das juventudes … e... · 1.2 identidade religiosa: ... de fato, pode-se...

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL THAISLANY TELES DA ROCHA REALIDADES E PERSPECTIVAS DAS JUVENTUDES INSERIDAS NA COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM DA CIDADE DE FORTALEZA FORTALEZA CEARÁ 2014

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

THAISLANY TELES DA ROCHA

REALIDADES E PERSPECTIVAS DAS JUVENTUDES INSERIDAS NA

COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM DA CIDADE DE FORTALEZA

FORTALEZA – CEARÁ

2014

THAISLANY TELES DA ROCHA

REALIDADES E PERSPECTIVAS DAS JUVENTUDES INSERIDAS NA

COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM DA CIDADE DE FORTALEZA

Monografia submetida à aprovação da

Coordenação do Curso de Serviço Social

da Faculdade Cearense como requisito

para obtenção de titulo de Bacharel em

Serviço Social.

Orientador: Prof º. Ms. Jefferson Falcão Sales

FORTALEZA – CEARÁ

2014

Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

R672r Rocha, Thaislany Teles da

Realidades e perspectivas das juventudes inseridas na

Comunidade Católica Shalom da cidade de Fortaleza / Thaislany

Teles da Rocha. Fortaleza – 2014.

87f. Orientador: Profº. Ms. Jefferson Falcão Sales.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.

1. Juventudes. 2. Identidade religiosa. 3. Comunidade

Shalom. I. Sales, Jefferson Falcão. II. Título

CDU 364(813.1)

THAISLANY TELES DA ROCHA

REALIDADES E PERSPECTIVAS DAS JUVENTUDES INSERIDAS NA

COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM DA CIDADE DE FORTALEZA

Monografia como pré-requisito para

obtenção do título de Bacharelado em

Serviço Social, outorgado pela Faculdade

Cearense – FaC, tendo sido aprovada

pela banca examinadora composta pelos

professores.

Data da Aprovação: _____/______/______

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Prof º. Ms. Jefferson Falcão Sales – FaC

Orientador

___________________________________________________________________

Prof ª. Ms. Niedja de Oliveira Pereira

___________________________________________________________________

Prof ª. Ms. Lisieux D' Jesus Luzia de Araújo Rocha

Ao maior amor de minha vida:

JESUS CRISTO

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, desejo de todo meu ser agradecer ao maior amor de minha vida,

Jesus Cristo, meu Pai querido que me concedeu a Graça da vida e de hoje estar

concluindo mais um de seus sonhos para mim assim como em favor da

humanidade, que tanto necessita de pessoas, profissionais, dispostos a lutar pela

justiça, pelos direitos e dignidade que concerne a todo ser humano.

Agradeço aos meus fiéis intercessores do céu em especial minha Mãe Maria,

exemplo de fé, coragem e obediência ao Senhor, que me inspira a dizer meu SIM

diariamente à Santa Vontade Divina e aos intercessores da terra, em especial aos

meus irmãos de grupo de oração, célula e ministério que em todo meu caminhar se

dispõem a me oferecer o belíssimo e fortificante presente que é a oração.

Aos meus amigos, a toda minha família, meus pais Eraldo e Terezinha, meus irmãos

Marcelo e Fernando também agradeço pelo apoio e dedicação às minhas

necessidades.

A minha querida amiga, irmã, afilhada Sheyla Deylanne, que em todos os momentos

se encontra ao meu lado me auxiliando e sendo amparo quando mais preciso, como

sou feliz por tê-la em minha vida e saber que nossa amizade está firmada naquilo

que não passa, pois vem do alto.

A todos os docentes da Faculdade Cearense, por terem partilhado conosco seus

conhecimentos e ao meu orientador Jefferson Sales, por ter aceito trilhar comigo

este processo de construção do presente trabalho.

A banca examinadora Ms. Niedja e Ms. Lisieux que de prontidão se dispuseram a se

fazer presentes e abrilhantar este momento único e inesquecível, são enviadas do

céu e serei por toda minha vida grata às duas.

E por fim, agradeço a Comunidade Católica Shalom, que é o meu chamado nesta

terra e também instrumento deste trabalho monográfico, o qual no início para muitos

parecia “loucura”, mas a certeza de cumprir esse pedido feito a mim por Deus e

iluminado pelo seu Santo Espírito não me deixaram desanimar e hoje posso

contemplar aquilo que aos olhos do homem parecia impossível, com a certeza de

proclamar a frase de minha vida “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua

justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mateus 6,33). Deus

não falha sua fidelidade é concreta do início ao fim.

A todos minha eterna Gratidão!

“Ninguém te despreze por seres jovem. Ao contrário, torna-te modelo para os fiéis,

no modo de falar e de viver, na caridade, na fé, na castidade”.

I Timóteo 4, 12

RESUMO

O trabalho monográfico, aqui circunscrito se funda na articulação das temáticas

juventudes e identidade religiosa, delineando como objeto principal, estudar as

realidades e perspectivas das juventudes inseridas na Comunidade Católica Shalom

da cidade de Fortaleza. Para tanto, foi abordado como recorte de investigação, uma

análise dos modos de viver e conviver peculiares dos jovens participantes da

Comunidade supracitada. O estudo da identidade religiosa configurou-se em uma

breve análise do catolicismo no âmbito do fenômeno da Renovação Carismática, na

qual se verificou seu processo histórico, sua atuação dentro da Igreja Católica e

suas tendências. Foi a partir deste movimento que surgiram também as Novas

Comunidades Católicas, como por exemplo, a Comunidade estudada na presente

pesquisa. O percurso metodológico compreendeu pesquisa bibliográfica, pesquisa

documental e pesquisa de campo. Na pesquisa bibliográfica, foram trabalhadas

questões das Juventudes e da Identidade Religiosa nas teorizações

contemporâneas, buscando demarcar vias analíticas para pensar o objeto de

estudo. Na pesquisa documental foram analisados materiais que dizem respeito a

Comunidade Católica Shalom. Na pesquisa de campo, foram utilizadas estratégias

investigativas como a realização de entrevistas semiestruturadas com os jovens

participantes da Comunidade Católica Shalom. Como resultado, verificou-se que a

religião tem grande influência na vida dos jovens analisados de modo que tem tido

um caráter modificador em suas ações cotidianas.

Palavras-Chave: Juventudes. Identidade Religiosa. Comunidade Shalom.

RESUMEN

La monografía, circunscrita aquí se basa en la articulación de la temática de los

jóvenes y la identidad religiosa, destacando el objeto principal, el estudio de las

realidades y perspectivas de los jóvenes insertados en la Comunidad Católica

Shalom la Cidad Fortaleza. Por lo tanto, se plantea como la investigación, un

análisis de los modos de vivir y convivir peculiares de los jóvenes participantes de la

Comunidad arriba. El estudio de la identidad religiosa configurado en un breve

análisis de la religión católica en el fenómeno de la Renovación Carismática, que fue

encontrado en su proceso histórico, su rendimiento dentro de la Iglesia Católica y

sus tendencias. Fue a partir de este movimiento que surgió también las

Comunidades Nuevas Católicas, como la Comunidad estudiada en esta

investigación. El enfoque metodológico consistió en la literatura de investigación,

trabajo de documentación e investigación de campo. En la literatura, se trabajaron

temas de Juventud e Identidad Religiosa en las teorías contemporáneas, buscando

maneras para demarcar el pensamiento analítico del objeto de estudio. En los

materiales de investigación documental que se relacionan con la Comunidad

Católica Shalom se analizó. En la investigación de campo, estrategias de

investigación se utilizaron como la realización de entrevistas semi estructuradas con

participantes jóvenes de la Comunidad Católica Shalom. Como resultado, se

encontró que la religión tiene una fuerte influencia en los jóvenes analizados por lo

que ha tenido un carácter modificador en sus acciones cotidianas.

Palabras clave: Jóvenes. Identidad Religiosa. Comunidad Shalom.

LISTA DE SIGLAS

CEB's – Comunidades de Base

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

MRCC – Movimento da Renovação Carismática Católica

NC – Novas Comunidades

NME – Novos Movimentos Eclesiais

ONU – Organização das Nações Unidas

PJJ – Projeto Juventude pra Jesus

RCC – Renovação Carismática Católica

SVES – Seminário de Vida no Espírito Santo

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ….................................................................................................12

1 JUVENTUDES EM MOVIMENTO: DIVERSIDADE DE MODOS DE VIDA …...15

1.1 Juventudes na atualidade …............................................................................15

1.2 Identidade Religiosa: Numa perspectiva do cenário do catolicismo …............21

1.3 Juventudes e a dimensão religiosa …..............................................................30

2. RESGATE DE UMA VIVÊNCIA DE FÉ NO ÂMBITO DA RENOVAÇÃO

CARISMÁTICA CATÓLICA: COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM

…............................................................................................................34

2.1 O Movimento da Renovação Carismática e as Novas Comunidades …..........34

2.2 Comunidade Católica Shalom …......................................................................39

2.3 Juventudes de Fortaleza X Juventudes na Comunidade Shalom …................43

3 DISCORRENDO SOBRE O PERCURSO METODOLÓGICO DO CAMPO DE

PESQUISA …..........................................................................................................47

3.1. Percurso metodológico ….................................................................................47

3.2Jovens inseridos na Comunidade Católica Shalom: Realidades e Perspectivas

…........................................................................................................51

CONSIDERAÇÕES FINAIS….................................................................................72

REFERÊNCIAS…....................................................................................................76

ANEXOS…...............................................................................................................80

APÊNDICES….........................................................................................................82

12

INTRODUÇÃO

A PESQUISADORA E SUA TEMÁTICA

Em várias leituras anteriores a esta pesquisa, constatou-se que o tema

“juventudes” tem sido na atualidade bastante discutido e investigado, em especial

pelas suas vastas e polêmicas realidades. O fator da identidade religiosa também

tem sido alvo de estudos e na presente pesquisa o catolicismo toma grande

proporção, assim como as vertentes que o abrangem na contemporaneidade, a

Renovação Carismática Católica e as Novas Comunidades, onde utilizarei como

instrumento de estudo uma Nova Comunidade Católica de grande repercussão e

que já toma grandes proporções no mundo todo, sendo esta a Comunidade Católica

Shalom.

De fato, pode-se afirmar que a Renovação Carismática Católica (RCC) surgiu

nos anos 60 nos Estados Unidos, onde esta resultou num caráter de atualização no

interior da Igreja Católica, gerando por assim dizer transformações em longo prazo,

gerando novos frutos no decorrer do tempo que se passara desde então, como por

exemplo, impactos no meio social, no meio acadêmico, devido ao universo de suas

atuações e novas propostas de vivências espirituais, morais e sociais na realidade

atual, especialmente nos processos de atuação com as “juventudes”, que são os

principais alvos deste estudo.

Ao entrelaçar os assuntos juventudes e a questão religiosa, mobilizou-me

como pesquisadora e estudante de Serviço Social, cujo resolvi acolher e por assim

dizer exercer essa profissão que visa em seu perfil, um profissional dotado de

formação intelectual, científica e cultural generalista crítica, capaz de inserir-se no

conjunto das relações sociais, assim também como no mercado de trabalho,

atuando e intervindo nas diversas expressões da questão social. Nesta pesquisa se

buscará compreender as transformações sociais recorrentes no âmbito das

“juventudes”, as diversidades nos modos de vida, e as realidades destas que se

encontram inseridas na Comunidade Católica Shalom da cidade de Fortaleza. A

referida Comunidade, é uma realidade próxima a mim a qual faço parte como

membro atuante, então olhando por este ângulo este acaba por se tornar um dos

maiores desafios como pesquisadora, pois meu olhar crítico deve estar atento em

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todas as circunstâncias. Porém desde o início de minha estada na comunidade em

2006, o fato de entender o que levou e leva tantos jovens a optarem por viver uma

vida que se adéqua a sua opção religiosa, esteve sempre presente pelo fato de que

o meu motivo para se encontrar ali se refere totalmente à questão espiritual, porém

no decorrer do tempo fui percebendo que para muitos jovens os motivos eram

bastante diferenciados do meu e bem diversificados, assim fui me sentindo cada vez

mais atraída por tal assunto, de modo que fui percebendo em minha vivência na

comunidade quão grandes transformações muitos jovens passam no que diz

respeito aos aspectos de suas vidas, pessoal, social, profissional.

Os jovens ainda me despertaram um maior interesse para a realização de

minha pesquisa, pelo fator de que ao lançar meu olhar sobre estes na atualidade,

pude perceber uma juventude pragmática, influenciada pela busca exacerbada pelo

prazer, pelas drogas, pelo consumismo, envolvida nas múltiplas expressões da

questão social que marcam nossa sociedade. É bastante comum ver entre os

jovens, e em especial os das classes populares, uma grande instabilidade e

insegurança, gerando em tantos a falta de perspectivas e de construção de novos

projetos quanto a sua vida no mundo, como também desejam viver intensamente e

responder suas questões surgidas externamente e interiormente, assim nos fala

João Paulo II (1980) atual santo da Igreja Católica no que diz respeito às

juventudes, "A juventude de nosso tempo sente fortemente a atração pelas alturas,

pelas coisas desafiadoras, pelos grandes ideais".

Desta feita, os objetivos elencados para a presente pesquisa foram: o

objetivo geral, estudar as realidades e perspectivas das juventudes inseridas na

Comunidade Católica Shalom da cidade de Fortaleza. Nos objetivos específicos,

buscou-se: Analisar teorizações sobre Juventudes e os aspectos que as abrangem

assim como também a Identidade Religiosa numa perspectiva do catolicismo;

Configurar a estrutura e a dinâmica da Comunidade Católica Shalom, como

integrante do Movimento da Renovação Carismática Católica que trabalha com

jovens; Refletir e discutir numa primeira aproximação, as vivências das juventudes

que integram a Comunidade Católica Shalom.

Para analisar o tema da pesquisa, o respectivo trabalho de conclusão de

curso foi dividido em três capítulos incluindo a Introdução e as Considerações

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Finais, como segue.

No que se refere à parte introdutória, esta comporta a trajetória pessoal,

justificativa, problemática e os objetivos desta pesquisa.

O primeiro capítulo é formado pela parte teórica da pesquisa, retrata os

aspectos gerais sobre o tema “juventudes”, trazendo em seus subtópicos as

discussões sobre juventudes na atualidade, destacando seus aspectos principais,

estes que geram tantas polêmicas em meio à sociedade; também faz uma

abordagem sobre a Identidade Religiosa no âmbito do catolicismo e por fim o

capítulo faz menção a relação dos jovens com a dimensão religiosa.

O segundo capítulo é feito um estudo sobre o Movimento da Renovação

Carismática Católica e as Novas Comunidades, contextualizando historicamente e

mencionando suas atuações tão diversas. Posteriormente destaca-se uma análise

sobre uma Nova Comunidade de grande trajetória e cuja escolhi como campo para

realização da presente pesquisa, a Comunidade Católica Shalom relacionando-a

com as “juventudes” nela inseridas.

O terceiro capítulo se refere ao discurso e percurso metodológico utilizado

para a concretização deste estudo, ou seja, os passos utilizados para que isto

aconteça, mostrando também relatos do público pesquisado em atividades dentro e

fora da comunidade, ou seja, suas realidades. Apresentam-se também os dados

finais da pesquisa analisando as entrevistas sistematizadas, cujas estas foram

realizadas com os jovens participantes da Comunidade Católica Shalom.

Diante das observações e leituras encaradas, acredita-se que a temática a

ser estudada venha oferecer indiscutivelmente uma compreensão no que se refere

às novas formas de atuação social entre os jovens dos dias de hoje, especialmente

dos jovens que optam por viver suas vidas e se relacionar a luz de uma vivência de

Fé.

15

1. JUVENTUDES EM MOVIMENTO: DIVERSIDADE DE MODOS DE VIDA

O presente capítulo contextualiza sobre o tema “juventudes”, primeiramente

destaca suas definições conforme o estatuto da juventude e alguns autores que

dialogam sobre este assunto, após cita os fatores principais que abrangem os

jovens na atualidade, se referindo ao que estes buscam para obter sua

autorrealização, fazendo menção exclusiva a dimensão religiosa numa perspectiva

do catolicismo, onde muitos se encontram inseridos por diversos motivos que serão

explicitados no decorrer desta pesquisa.

1.1 Juventudes na atualidade

O termo “juventudes” é uma construção social, pode ser caracterizado como

um segmento da sociedade, cujo se denomina o intermediário entre a fase infantil e

a fase adulta, compondo membros com faixa etária de quinze à vinte nove anos,

diferenciando-se assim da adolescência, conforme nos afirma o Estatuto da

Juventude (Lei Nº 12.852, de 5 de Agosto de 2013):

§ 1o Para os efeitos desta Lei, são consideradas jovens as pessoas com

idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade.

§ 2

o Aos adolescentes com idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos

aplica-se a Lei no

8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, e, excepcionalmente, este Estatuto, quando não conflitar com as normas de proteção integral do adolescente

Tendo em vista que os jovens estão inseridos em diversos tipos de contexto

social pode-se afirmar que o melhor termo e mais adequado para se utilizar seria

“juventudes” como já citado anteriormente e não juventude, considerando assim que

existe uma diversidade de grupos, cujos estes são marcados por diferenças sociais,

formação escolar, formas e estilos de vida, religiosidade, cultura, enfim, universos

sociais diversos e com suas especificidades que praticamente não tem nada em

comum. Conforme destaca Abramo (2004 p.43-44):

Se há tempos atrás todos começavam seus textos a respeito do tema da juventude citando Bourdieu, alertando para o fato de que “juventude” podia esconder uma situação de classe, hoje o alerta inicial é o de que precisamos falar de juventudes no plural, e não de juventude, no singular, para não esquecer as diferenças e desigualdades que atravessam esta condição. Esta mudança de alerta revela uma transformação importante na própria noção social: a juventude,

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mesmo não explicitamente, é reconhecida como condição válida, que faz sentido para todos os grupos sociais, embora apoiada sobre situações e significações diferentes. Agora a pergunta é menos sobre a possibilidade ou impossibilidade de viver a juventude, e mais sobre os diferentes modos como tal condição é ou pode ser vivida.

É de extrema importância analisar a questão das “juventudes” não somente

no que diz repeito ao campo biológico, mas principalmente no que diz respeito a

aspectos sociais, culturais e políticos, pois se encontram em constante movimento,

de acordo com cada período. Conforme Corrêa (2013, p. 31):

Vale dizer que foi apenas a partir do final do século XVIII que a juventude foi vista mais claramente como uma fase distinta na vida humana. Como um grupo social com presença significativa na sociedade. A juventude sempre existiu, mas agora se tornou visível e fez com que sua presença fosse sentida.

Para compreender e analisar as mudanças ocorridas no perfil da juventude

nos últimos anos é indispensável o entendimento sobre as mudanças da própria

sociedade brasileira, principalmente no que diz respeito à questão política,

trabalhista e educacional. Sofiati (2004, p. 4), ainda complementa que:

Parte-se do pressuposto que os espaços privilegiados pela juventude para participação na sociedade foram mudando conforme o desenvolvimento histórico, sendo que nos anos 1960 e 1970 havia o predomínio do sindicato e movimento estudantil, nos anos 1980 nos movimentos sociais e nos anos 1990 os jovens atuam de forma diluída e fragmentada nos movimentos culturais e lúdicos. Os jovens dos anos 2000 são socializados principalmente nos movimentos religiosos, principalmente os carismáticos e pentecostais, em sua manifestação mais recente chamada de “terceira onda”.

Nos nossos dias se percebe “juventudes” que se encontram sob a dominação

imposta pela civilização do capital, cujo este se encontra como sistema econômico

em nossa sociedade. Apesar da imposição do referido sistema, os jovens são

marcados e reconhecidos por sua busca incessante de superação, independente de

suas dúvidas, inseguranças, ou até mesmo do meio em que se encontrem dentro da

sociedade. Assim nos complementa sobre isso, Mariz (2009):

Abraçar um sistema ideológico pouco flexível, radical, fundamentalista sempre foi uma opção juvenil para fugir das dúvidas específicas dessa etapa da vida. Para os jovens, relativizar, tolerar e flexibilizar um sistema valorativo, moral ou mesmo cognitivo, é uma fraqueza dos mais velhos, e defende que abole radicalmente todo sistema moral ou o adota sem contemporização. Essa atitude não seria específica dos jovens, mas de todos que vivem em estado de vulnerabilidade. Observa-se também que aqueles que vivem em situação de risco, seja por falta de recursos, seja por viver em regiões de conflitos, tendem a abraçar modelos fundamentalistas ou abrir mão de valores e moralidades, ou seja, é tudo ou nada. Ser jovem é viver uma experiência de insegurança existencial por ser, por definição,

17

uma experiência de liminaridade, por não ser mais crianças e ainda não ser adulto. Ser jovem em uma sociedade que gera insegurança em todas as faixas etárias é uma experiência ainda de maior vulnerabilidade.

(http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php? secao=307>)

As “juventudes” em sua amplitude podem ser atribuídas de mais de um

significado, principalmente pela sua trajetória tão repleta de conquistas e desafios,

em especial no que diz respeito aos diversos movimentos organizados pela mesma.

Estas (juventudes) podem ser percebidas no contexto geral, em alguns aspectos

como um “perigo” ou “ameaça”, porém, a expressão negativa dos jovens como

problema, gerou nos mesmos uma grande força de busca pela afirmação de sua

real identidade também como sujeito de direitos. No que se refere aos referidos

direitos das “juventudes” e as políticas públicas voltadas a estas, eis o que nos diz o

Estatuto da Juventude (Lei Nº 12.852, de 5 de Agosto de 2013):

Art. 2o

O disposto nesta Lei e as políticas públicas de juventude são regidos pelos seguintes princípios: I - promoção da autonomia e emancipação dos jovens;

II - valorização e promoção da participação social e política, de forma direta e por meio de suas representações;

III - promoção da criatividade e da participação no desenvolvimento do País;

IV - reconhecimento do jovem como sujeito de direitos universais, geracionais e singulares;

V - promoção do bem-estar, da experimentação e do desenvolvimento integral do jovem;

VI - respeito à identidade e à diversidade individual e coletiva da juventude;

VII - promoção da vida segura, da cultura da paz, da solidariedade e da não discriminação; e

VIII - valorização do diálogo e convívio do jovem com as demais gerações.

E assim também é possível afirmar novamente que as “juventudes” se

encontram em construção social no que se referem a sua amplitude que reverencia

inúmeras possibilidades dentro da sociedade, assim nos complementa Esteves e

Abramovay (2008, p. 4):

É uma construção social, ou seja, a produção de uma determinada sociedade originada a partir das múltiplas formas como ela vê os jovens, produção esta na qual se conjugam, entre outros fatores, estereótipos, momentos históricos, referências múltiplas, além de diferentes e diversificadas situações de classe, gênero, etnia, grupo etc. Por essa linha, torna-se cada vez mais corriqueiro o emprego do termo “juventudes”, no plural, no sentido não de se dar conta de todas as especificidades, mas sim de apontar a enorme gama de possibilidades presente nessa categoria.

Conforme Aguiar (2013, p. 20), a apresentação dessa realidade leva a

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compreensão de como é rico o universo juvenil de atuação e sua diversidade.

Especialmente quando eles são convidados a participar de movimentos que

estimulam o protagonismo juvenil e valorização de seus pensamentos. Os jovens

em especial, buscam autonomia, liberdade. Segundo Libanio (2011, p.26) “a

modernidade e a pós-modernidade trouxeram a riqueza da descoberta da

subjetividade, da valorização da liberdade, da afirmação da autonomia já desde bem

cedo”.

Libanio (2011, p. 18) ainda nos complementa que:

A pós-modernidade desloca o acento para o presente, o jovens buscam experimentar o momento. Sugam o mel do favo diante dos olhos.Correm o risco de parar na fase das experiências sem tomar decisões, sem compromisso com a vida a vir. O presente torna-se-lhes uma sequência de tensões, de emoções fortes, cuja responsabilidade se dá na simples descarga emocional […] A cultura pós-moderna acentua ainda mais a centralização do sujeito em si mesmo […]

Conforme Aguiar (2013, p.17), “em verdade, parece que a sociedade está

diante de uma “juventude” pragmática, imersa na insegurança e na instabilidade,

gerando em muitos jovens falta de perspectivas e de projetos quanto a sua vida no

mundo”. E assim, ainda segundo Aguiar (2013, p. 22), “no geral verifica-se o quanto

é vasto e rico o universo das “juventudes”. Jovens participantes de uma sociedade

consumista e globalizada, sendo desafiados todos os dias a construir novas formas

de ver e viver a vida”.

Ao analisar e se aprofundar na realidade das juventudes no século XXI, é

possível perceber os aspectos gerais que marcam o “ser jovem” na afabilidade do

capital, cujo este elenca um sistema arraigado pelo individualismo consumismo,

hedonismo, e indiscutivelmente a busca pelo prazer máximo sem o assumir de

compromissos, entre outros aspectos referentes a este sistema.

As “juventudes” nas ultimas décadas, tem passado por intensas

transformações, pode-se afirmar que algumas delas são acarretadas devido o

avanço da tecnologia, gestando meios de comunicação, cada dia mais práticos,

modernos e acessíveis. Em pleno processo de transição para a fase adulta, os

jovens se veem afetados constantemente pelas transformações sociais, pelo

exacerbado consumismo, pela falta de expectativas prósperas de emprego, pela

desintegração dos modelos familiares tradicionais, pelas relações efêmeras, tudo

isto gera dúvidas e inseguranças.

19

Conforme Libanio (2011, p.33), “não interessa aos jovens mudar o mundo,

nem se preocupam com o futuro, mas buscam viver bem, ter muito prazer dentro do

capitalismo, respeitando a família e a propriedade”. O mundo das “juventudes” é

marcado intensamente pela busca do prazer seja ele momentâneo ou duradouro o

que importa é a satisfação dos desejos internos e externos necessários para a

sobrevivência dos jovens. Segundo Libanio (2011, p. 36) “na idade jovem, os

desejos manifestam-se mais fortes. Frequentemente não se sabe o que fazer com

eles”.

No que diz respeito às buscas constantes pelos desejos, pelo prazer, algumas

delas podem ser citados, até porque são alvos também de muitas polêmicas na

atualidade. A respeito disto eis o que nos afirma mais uma vez o autor Libanio (2011

p. 62-63):

O tema do prazer ocupa hoje o cenário juvenil, nele se acentuam as diferenças entre as gerações. A formação tradicional equilibrava prazer e disciplina. Os momentos prazerosos se seguiam às horas de estudo, de trabalho. Em certos ambientes religiosos, o prazer se unia ao descanso, à pausa, a fim de dispor as pessoas melhor para os momentos de empenho acadêmico ou profissional.

A diante pode-se citar uma das buscas mais frequentes pelos jovens

desejosos de prazer e satisfação momentânea na atualidade, cujo é um assunto que

gera muitas polêmicas na sociedade: às drogas. Segundo Corrêa (2013, p. 41),

“entre as questões desafiantes estão também, de forma acentuada, as drogas.

Apesar de que este não é um assunto novo, ele vem se alastrando desde muito

tempo”. Assim destaca Libanio (2011, p. 63-64):

Em relação à droga, a resistência se fazia total. Pairava o medo. A cultura predominante rejeitava-a, ao ligá-la ao mundo do desvio, do crime, da transgressão. Dificultava-se o acesso dos usuários a ela. Circulava somente em grupos restritos, quase associais, ou em festas suspeitas. Por não receber a legitimidade social, o seu uso passava a sensação de algo proscrito, de experiência estranha, fora da lei e da normalidade. Difundiu-se até mesmo, terrorismo verbal na família, na escola, na Igreja.

Afunilando um pouco mais essa questão das drogas na atualidade e o acesso

dos jovens a elas, Libanio (2011, p. 68), faz um breve resumo a seguir:

Em resumo somam-se para a difusão da droga no meio juvenil vários fatores, entre outros:

1. A sua abundante comercialização com consequente facilidade de obtê-la;

2. A ousadia dos traficantes e comercializadores na porta de escolas;

3. O uso de crianças como pombos-correio;

4. Associação dela com a corrupção policial;

5. A sedução da experiência;

20

6. A perda do medo de experiências-limites no campo da droga;

7. A entrada de drogas pesadas;

8. O vazio existencial de muitos jovens que buscam nela compensação;

9. A prática de usá-la em grupo;

10. A sua função de ingrediente animador de certas festas juvenis e raves.

Nota-se nitidamente uma série de questões envoltas neste assunto, este que

é muito amplo e remete discussões em longo prazo devido a sua complexidade.

Não se pode deixar de citar também os receios frequentes dos jovens e

também outros dilemas, a respeito disto, nos diz Corrêa (2013, p. 41):

Em relação aos medos e preocupações das juventudes aparece o de sobrar, o de morrer e ficar desconectado. Têm medo de sobrar no mercado de trabalho, pois o desemprego e o futuro profissional estão entre seus grandes dilemas. É o segundo assunto que mais interessa às juventudes, perdendo para a educação. Com a falta de espaço e a concorrência no mercado de trabalho, muitos permanecem sustentados pelos pais. Outro medo é de morrer precocemente. Daí que a violência é uma das principais preocupações dos jovens […]

Tantas características envolvem o mundo das “juventudes”, tantas mudanças

no decorrer das gerações, cujas permanecem a cada novo dia, assim nos

complementa Libanio (2011, p. 247):

O processo de transformação da juventude não parou. Continua. Ela representa, no momento, realidade e mito. A realidade dos jovens não engana. Estão aí diante dos olhos com qualidades e defeitos, potencialidades e limites. A sociedade moderna e, sobretudo, pós-moderna, faz deles um mito. Crianças precoces comportam-se como jovens com comportamentos sexuais artificialmente provocados. Adultos retardatários imitam-nos grotescamente. E eles mesmos prolongam a juventude para além da faixa etária correspondente.

Conforme o que foi avaliado até aqui, Libanio (2011, p. 248) ainda nos afirma que:

Os jovens tendem a adquirir feição pós-moderna. Em resumo, indicamos alguns dos seus principais traços em rápida tipologia.

1) A maioria dos jovens prefere viver voltados para o presente, procurando usufruir os prazeres e os gozos que ele oferece, sem ocupar-se do passado nem preocupar-se com o futuro, prezando muito a própria autonomia.

2) Os jovens satisfeitos, em geral de classes aquinhoadas de bens materiais e de escolaridade, celebram as vitórias da modernidade, mas com medo de perdê-las por causa da crise cultural.

3) Outros, fragmentados, sofrem diante da sociedade e cultura atual crescente decepção com certa dose céptica.

4) Não faltam os que embarcam na atmosfera religiosa, fixando-se em alguma das inúmeras ofertas das Igrejas e religiões, ou peregrinando por várias ou até mesmo construindo seu próprio santuário privado.

5) Enorme multidão de jovens mergulha no mundo virtual, frequentando as infinitas possibilidades de programas de informação e comunicação.

6) Algumas causas importantes, levadas por movimentos sociais, como a ecologia, a consciência negra, o feminismo, o antibelicismo mobilizam

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jovens idealistas e ainda dispostos a compromissos maiores. Sonham alto e lutam na base.

7) O crime, a droga, a violência, os esportes radicais atraem os desejos de viver experiências arriscadas.

8) A pós-modernidade acena com regalias a que alguns jovens não tem acesso e então dão duro no trabalho com desejos de progredir socialmente, não sem penar.

Após tantos destaques na presente pesquisa, ainda se faz necessário e

indispensável salientar o processo de avanço tecnológico e da cultura da

descartabilidade tão presente neste universo dos jovens contemporâneos.

Manifesta-se outro fenômeno o qual marca o tempo atual: a realidade de

“juventudes” que tem se voltado para a vivência da espiritualidade por meio de

vivências de fé, no amplo universo das religiões, detalhando posteriormente o

contexto das “juventudes” ligadas a Igreja Católica, no recorte da Renovação

Carismática Católica, afunilando para as Novas Comunidades Católicas.

1.2 Identidade Religiosa: Numa perspectiva do cenário do catolicismo

Ao falar de identidade é indispensável afirmar que esta, está ligada e é

construída a partir de um contexto social, cultural, religioso, dentre outros, sob o

qual o ser humano se encontra inserido e nele interage. Observando a transição das

histórias do ocidente, nota-se que a identidade do sujeito foi sendo construída ao

longo destas referidas transições. Segundo Hall (2005, p.38), “assim, a identidade é

realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e

não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento”.

“Por isso se pode elencar como ponto de apoio, a racionalidade do período

iluminista da qual adveio uma forma de identidade codificada que se firmou em toda

modernidade, a saber, o sujeito individualizado” (Jesus 2012, p.95).

Conforme destaca Hall (2006, p.10-11):

O sujeito do iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo – contínuo ou “idêntico” a ele – ao longo da existência do indivíduo.

O centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa.

Já no tempo chamado pós-moderno, cujo sujeito tem sua identidade

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diferenciada do período anterior, conforme afirma Hall (2005, p.12-13), “a identidade

torna-se uma celebração móvel: formada e transformada continuamente; em relação

às formas pelas quais somos representados e interpelados nos sistemas culturais

que nos rodeiam”.

Assim também a pós-modernidade gera transitoriedades, influências no que

diz respeito ao sagrado, assim destaca Queiroz (1996, p. 16-17):

O caráter permanentemente migratório da Pós-Modernidade penetra no âmbito do sagrado e provoca um fenômeno que se caracteriza como nomadismo místico. Mesmo permanecendo nominalmente vinculado a alguma forma tradicional de culto, que em geral herdou do berço materno, a tendência religiosa do homem pós-moderno é um trânsito constante pela constelação religiosa, compondo, nessas inúmeras viagens, um sentido para a existência.

Segundo Hall (2005, p. 07), “[...] as velhas identidades, que por tanto tempo

estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e

fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado”.

Conforme Jesus (2012, p.96)

Desabrocham e/ou surgem situações de apatia no convívio social e também religioso que não se percebe sem um olhar crítico acentuado. É preciso muito discernimento. O esvaziamento de formas e métodos religiosos antigos acabou gestando uma forte elaboração de identidade, só que no campo privado.

Tudo se intensifica após tantos desafios históricos, como por exemplo, a

secularização, onde aqueles que pertencem a grupos religiosos, se encontram

numa aparente busca de identidade e segurança, e assim o fazem quando se

apropriam do ingresso em novos movimentos religiosos, associações religiosas ou

grupos filosóficos, como, por exemplo, a Renovação Carismática Católica (RCC),

sendo este um movimento iniciado por jovens universitários de principio na intenção

de atrair outros jovens para uma experiência espiritual profunda com o Sagrado.

Conforme Jesus (2012, p.96):

A proposta da RCC, dentro desse quadro de perdas e desafios é oferecer proposta/caminho de vida espiritual que faça o fiel encontrar sua identidade católica e nela fixar sua vida. Por isso, no caminho traçado pela Igreja Católica, durante o século XX, essa busca de identidade foi marcante e deveras intensa.

Tudo isto resulta do enfraquecimento e transformações no interior de

instituições religiosas mais antigas, pois como diz Aguilar (2006 p. 16), “o constante

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crescimento das igrejas pentecostais, bem como de algumas dominações afro-

brasileiras, causou mudanças dentro da Igreja Católica Brasileira trazendo também

consequências para a identidade religiosa brasileira”.

Diante de todos estes pontos aqui esclarecidos, pode-se afirmar que houve

uma ruptura com relação à dominação da vida dos fiéis, desencadeando assim uma

retomada de conversões, onde os mesmos optaram por buscar suas experiências

pessoais. Segundo Jesus (2012, p. 96), “a figura do convertido no século XX surge

na discussão, por ela ser importante na elaboração de práticas e conceitos que

redundam na identificação ou também na reafiliação”. Ainda conforme Jesus (2012,

p. 117), “o reafiliado é um convertido que redescobre um segmento religioso, o qual

devolve a garantia de viver “intensamente” sua experiência de fé”.

Com relação à RCC Jesus (2012, p. 97) ainda afirma que:

A RCC sabe que a identidade se dá com clareza na conversão e por isso a coloca como tema central de suas atividades. O convertido tem identidade a qual se consolida na postura do fiel convertido e não abre mão de sua experiência com Deus.

Houve um denso esforço por parte da Igreja Católica em compreender tudo

que se manifestava no que se refere às novas ideias trazidas pela modernidade.

Tudo isto se deu no período pós Concílio Vaticano II, cujo este foi um marco extenso

de cunho sócio eclesial, porém, antes deste, alguns aspectos e formas de diálogos

para com a sociedade moderna, podem ser observados nos documentos do Papa

Pio XII, cujo, suas encíclicas abordam diversos temas religiosos marcantes para a

Igreja, apesar disto, finda por deixar as bases para o Concílio. A Igreja encara sua

crise de forma a não perder seu ponto forte, sendo este o caráter sagrado, tendo em

mente que este caráter desde o princípio deveria estar fixo em algo eterno,

sobrevivente à oscilações históricas. Benedetti (2009, p.22) complementa que:

O Vaticano II efetivamente rompeu com essa circularidade discursiva. A expressão “sinais dos tempos” como indicativa do lugar onde buscar a revelação de Deus mostrava uma mudança de rumos que necessariamente implicaria uma nova forma e presença no mundo. Suporia manter fidelidade à tradição, descobrindo-a nas tradições, que ao invés de revelá-la ocultavam, ao tornarem eterno e imutável o que era apenas histórico (se bem que necessário, quando situado no tempo e no espaço).

Desencadeia-se uma época fadada às inquietações e angústias por parte dos

sujeitos que não se contentam mais com respostas sem fundamento que não

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respondam suas angústias, formando assim uma nova estrutura política, social e

religiosa e transformações também no âmbito econômico e profissional. Pode-se

afirmar ainda que os seres humanos no que se refere à prática e vivência religiosa,

entram em profunda crise consigo mesmo e com os outros, devido suas convicções

construídas no passado.

Arendt (1993, p.57) com relação às crenças e dúvidas do sujeito, expressa

que:

O homem religioso moderno pertence ao mesmo mundo secular que seu oponente ateu [...] O crente moderno que não aguenta a tensão entre dúvida e crença perderá de imediato a integridade e profundidade de sua crença.

Podemos ainda sublinhar a questão do pluralismo, no que se refere ao

catolicismo, significando assim que não há um modelo único desta prática religiosa,

assim nos diz Teixeira (2010, p.17):

Não dá pra situar o catolicismo brasileiro num quadro de homogeneidade. Na verdade, existem muitos “estilos culturais de 'ser católico'”, como vem mostrando estudiosos que se debruçam sobre este fenômeno, São malhas diversificadas de um catolicismo, ou se poderia mesmo falar em catolicismos.

Sobre essa diversidade do catolicismo posta anteriormente, Aguilar (2006, p.

16) afirma que:

Desde sua colonização, e também por causa dela o Brasil é considerado um “país católico”, não só por aqueles que o olham de fora, mas por seu povo. Desta forma, todos os que aqui nascem são católicos. A concepção de um catolicismo nacional, trouxe consequências para a prática religiosa, havendo desta forma um duplo movimento onde o catolicismo se fazia presente na cultura brasileira, influenciando-a com suas crenças e princípios, mas, ao mesmo tempo, era influenciado por ela.

Ainda sobre esta diversidade segundo Silva (2012, p.22), “desta forma é

comum à referência de dois tipos de catolicismo no Brasil: O tradicional e o popular.

O primeiro diz respeito ao catolicismo mais romanizado e o segundo está ligado às

crenças e as religiosidades populares”.

De acordo com Jesus (2012, p. 100):

Por mais que se insista na capacidade religiosa das instituições sobreviver, o dado pessoal deve ser pesquisado com insistência. Agora é a experiência subjetiva que predomina na vida religiosa. Assistimos a uma quebra-de-braço no campo religioso brasileiro. As formas institucionalizadas da vida religiosa não desapareceram, mas tiveram que ceder o lugar para outra

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maneira de se viver e celebrar a religião que é o campo pessoal e fortemente subjetivado.

Conforme Polletier (2002, p. 290), “sob a crise das instituições o sentimento

religioso não cessa de trabalhar, preparando uma recomposição do campo religioso

no qual a experiência individual na crença toma o lugar da pertença institucional”.

Pode-se destacar ainda o fato da misticidade, no qual o sujeito em sua

liberdade pode optar em seguir individualmente e pessoalmente assim como

acontecia na pré-modernidade, segundo Léger (2008, p. 139-140), “a história da

mística cristã, pode ser inteiramente lida deste ponto de vista, como uma história da

construção do sujeito religioso”.

Sendo assim esse ser místico, concerne em favor da conversão e

aproximação de Deus, onde ele buscará meios para que isto ocorra como, por

exemplo, as pessoas ou ambientes propícios para isto. Assim a RCC, como já

mencionada anteriormente, pode ser considerada um destes meios, já que neste

aspecto da experiência pessoal religiosa ela tem afinidade e aborda em suas

práticas com seus adeptos, oferecendo formas de retornar e permanecer na Igreja,

sendo ela uma guia de busca ou retorno a conversão.

Conforme afirma Teixeira (2010, p. 02):

Em sintonia com esta preocupação de “readesão” ao catolicismo, atuam novos movimentos eclesiais em particular a Renovação Carismática Católica (RCC). São movimentos que agem numa linha distinta de outros núcleos eclesiais que estiveram particularmente ativos nas décadas de 70 e 80, como as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e as pastorais sociais. A RCC centra sua vida religiosa na “esfera da intimidade”, no incremento a grupos de oração centrados na emotividade. Mas também organiza e promove eventos litúrgicos massivos, visando apresentar um catolicismo que seja mais sedutor e atraente para a população. É visível o crescimento do número de católicos carismáticos no Brasil, ou das pessoas que estão envolvidas com atividades relacionadas ao movimento. Fala-se em 12,6% da população total do país.

Com relação à adesão ao referido movimento nos afirma Polletier (2002,

p.289):

Provavelmente nessa experiência trata-se do desejo de um re-encontro com Deus, ao mesmo tempo íntimo e partilhado pelo grupo, […] os carismáticos inventam uma espiritualidade de expansão individual. E completa: Trata-se de um reencantamento pelo espiritual que procura transcender o individualismo em nome da própria experiência individual. […] Inscreve-se profundamente na modernidade, ao inventar novas liturgias ou ao tomar a sério a emergência de uma sociedade de bem-estar.

26

Ouve-se atualmente falar-se muito sobre a escolha feita por fiéis no que diz

respeito à religião, assim como também conflitos que acarretam no abandono dos

mesmos a práticas religiosas que escolheram, é o fato do catolicismo que sofreu

com a perca de seus adeptos. Mariz (2006, p. 53) cita que:

Não surpreende, portanto, que nos últimos censos do Brasil venha se observando uma queda crescente no percentual da população católica com respectivo aumento da proporção de evangélicos e dos que se dizem sem religião. Desde meados do século XX a população católica vem diminuindo em termos relativos, mas essa queda tem se acentuado nas últimas décadas.

Porém pode-se afirmar também que os católicos podem estar buscando

meios de aprofundar compreensões e ensinamentos, no que diz respeito à sua

religião. Conforme Mariz (2006, p.53), “essa revisão sugere que a queda na

proporção de católicos parece estar sendo acompanhada por um relativo

reavivamento religioso, e mais ainda por uma intensificação da diversidade na

experiência de ser católico”.

Existem ainda outros movimentos que trabalham com as práticas religiosas,

cujos sujeitos os aderem buscando descobrir e afirmar sua identidade, tanto interior

como exterior, assim também como respostas para seus questionamentos, vida

espiritual mais cheia de fervor e que possa ser compartilhada com os outros, pois

como afirma Carranza e Mariz (2009, p.165), “além do conforto que encontram no

“nós” comunitário, os fiéis sentem-se seguros perante as escolhas religiosas

realizada”.

Bauman (2005, p. 35) aponta que:

O anseio por identidade vem do desejo de segurança, ele próprio um sentimento ambíguo. Embora possa parecer estimulante no curto prazo, cheio de promessas e premonições vagas de uma experiência ainda não vivenciada, flutuar sem apoio num espaço pouco definido, num lugar teimosamente, perturbadoramente, “nem-um-nem-outro”, torna-se a longo prazo uma condição enervante e produtora de ansiedade. Por outro lado, uma posição fixa dentro de uma infinidade de possibilidades também não é uma perspectiva atraente.

Numa busca incessante do ser humano por Deus, cuja esta soa como

necessidade para o enfrentamento dos problemas, e necessidade de realização, o

cristianismo pode ser uma destas vias para essa busca que faz parte também da

formação de sua identidade, já que este reproduz na vida de seus adeptos uma

aproximação mais intensa com os símbolos pertencentes ao mesmo.

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Jesus (2012, p. 104) ainda complementa que:

O bem-estar pessoal, a saciedade dos meus sonhos e desejos e a busca de uma felicidade individual tomam o lugar dos caminhos outrora concebidos como absolutos; agora se descortina uma “nova-religião”, ou seja, constrói-se uma inaudita capacidade de tudo ser individualizado.

No que se refere ao surgimento e busca de fenômenos religiosos e suas

práticas, Mondin (1980, p. 245) aponta:

E, com efeito, também na sociedade moderna, tão saturada de secularização, afloram em toda parte fenômenos de redescoberta dos sagrados: esses não compreendem só os fenômenos que tem claramente caráter religioso, mas também outros fenômenos que pretendem a recuperação das dimensões religiosas da autêntica e significativa existência humana no universo.

A religião num contexto mais amplo se refere a uma busca de satisfação

individual, interior, construindo assim uma concepção de mundo, contemplando

assim a individualidade, sabendo, contudo, que ela não se opusera a modernidade.

Conforme Fromm (1976, p.137):

A religião específica, desde que seja eficaz na motivação da conduta, não é um acervo de doutrinas e crenças; ela tem raízes na estrutura específica de caráter do indivíduo e, na medida em que religião de um grupo, também no caráter social. Assim sendo, nossa atitude religiosa pode ser considerada um aspecto de nossa estrutura de caráter, visto que somos aquilo a que nos dedicamos é o que nos motiva a nossa conduta.

Esse caráter de satisfação que o indivíduo busca, vem de outros momentos e

também outras tradições religiosas, assim nos fala Jesus (2012, p. 105):

Uma leitura minuciosa da história da humanidade e particularmente de algumas tradições religiosas com seus caminhos espirituais específicos – como islamismo, hinduísmo, cristianismo, judaísmo – mostra como elas foram capazes de mudar a história de pessoas numa determinada época e contexto, seja de adversidade e de abundância espiritual, já que toda tradição religiosa demarca seu tempo, com características bem acentuadas de acontecimentos e pessoas que influem na sua época.

Dentre outros fatores característicos que traçam o caráter religioso, destaca

Carvalho (1994, p.22):

Outra característica fundamental, penso eu, da religiosidade contemporânea, é a de que a religião não é mais herdada, mas algo da ordem da opção, da escolha, da procura, da experimentação. Pode até ser descrita pelo sujeito em termos de um chamado, de uma ação do espírito desencadeada fora do seu controle de qualquer forma, entra no espaço do individualismo, é mais um lugar desse exercício da autonomia da vontade e da capacidade de decisão.

É possível analisar a partir do que já foi descrito o quão intenso e complexo é

28

o caminho do convertido, cujo este o traça na certeza de trilhá-lo com discernimento

e aproximando-se cada vez mais do ser superior o qual creem, no caso dos

católicos carismáticos fixam seu olhar em Jesus Cristo como exemplo máximo,

acima de qualquer outro ser, assim como também sua dinâmica é construída

através da ação do Espírito Santo.

O Concílio do Vaticano II, cujo já citado anteriormente aborda em seus

objetivos, de frisar a participação do leigo mediante sua participação na Igreja,

permitindo e apoiando também a proliferação de agrupações que instigavam a

incorporação dos leigos, como cita Carranza e Mariz (2009, p.140):

Das muitas agrupações que proliferara no século passado podem ser mencionadas, grosso modo, Ação Católica, Vicentinos, Congregação Mariana, Cursilhos de Cristandade, entre outros. Com origens históricas e incidências socioeclesiais diferentes, esses movimentos se expandem com ênfase na participação do leigo. [...] Com origem em contextos sociais diversos e inspirados de forma distinta pelo Vaticano II, esses movimentos rompem com o modelo dos movimentos eclesiais acima citados na medida em que pretendem a transformação da Igreja Católica como um todo,

redefinindo seja o tipo de atuação do leigo, seja a espiritualidade.

O catolicismo estava passando nesta época (século XX), por mudanças

geradoras de atividades que propiciavam a conversão. Conforme Libânio (1996, p.

48), “passar-se-á para um cenário quase oposto. Em vez da instituição, triunfará o

carisma. Em vez da lei objetiva, a subjetividade. Em vez do clima controlado das

normas litúrgicas, a exuberância da emoção”.

Conforme tudo o que já foi descrito é possível perceber o crescimento e

intensidade que toma a RCC e o quanto ela mobiliza e atrai tantas pessoas,

utilizando para isso dinâmica em suas práticas como já dito anteriormente, assim

como também aposta em alguns desdobramentos. Tentando explicar o significado e

sentido mais amplo da RCC Carranza e Mariz (2009, p. 151) apontam que:

A RCC pode ser interpretada como um movimento religioso e social num sentido mais amplo, e não apenas como um movimento eclesial com certa burocracia e liderança, na medida em que se desdobrou em inúmeras iniciativas de caráter plural como são as comunidades novas.

Carranza (2009, p. 51) ainda destaca que:

Em termos culturais pode-se afirmar que um dos desdobramentos da RCC é o de fomentar nas Novas Comunidades o estatuto de comunidades intermediárias de sentido, capazes de oferecer refúgios emocionais a tantos jovens que procuram orientação a sua existência.

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Com tudo isto a RCC, busca salientar em especial para seus adeptos, que os

mesmos necessitam buscar a vida espiritual, necessitam indispensavelmente da

presença de Deus, pois somente assim se sentirão plenas e satisfeitas, pois o que

estas almejam realmente e são incentivada a buscarem diariamente com todos os

esforços possíveis é a conversão, salvação e santidade, utilizando como base para

que isto se concretize, a adesão às doutrinas católicas. Apesar das novas adesões e

formas adotadas para atrair fiéis, a RCC com estes posicionamentos se aproxima da

hierarquia católica, conforme destaca Carranza (2000, p.143):

Nesse duplo posicionamento sobre questões dogmáticas e doutrinárias, a RCC se localiza como sendo refúgio da valorização doutrinal do catolicismo romano. Para os bispos, segundo foi assinalado anteriormente, o fato de a RCC pregar com insistência sobre a necessidade de renovar a devoção mariana, frequentar os sacramentos e acolher incondicionalmente as normas da Igreja é um consolo pastoral.

O papel mariano dentro da RCC fortalece e dá mais segurança ao

carismático/convertido, que toma sua imagem e significado como exemplo já que ela

representa o papel da fidelidade a Jesus Cristo e a Igreja Católica, sendo também

muito bem-aceita pela mesma. Segundo Carranza (2000, p.144), “a devoção

mariana que a RCC enfatiza, é uma das razões que faz com que os bispos cada vez

mais aceitem a RCC nas suas dioceses [...]”. Através do Papel de Maria, os

católicos mais uma vez reafirmam sua identidade, assim como também é um traço

que diferencia a Igreja Católica de outras concepções religiosas, como o

pentecostalismo, afastando também seus fiéis de tais concepções. Assim nos é

exposto:

As diferenças entre carismáticos e pentecostais centram-se no culto a Maria. Para os católicos é a Santa Mãe de Jesus, da Igreja e de todos os Cristãos, digna de todos os louvores; para os protestantes, uma mulher que recebeu uma graça especial e que deve ser lembrada como um exemplo de conduta, não mais. Movidas por sua ânsia de renovação espiritual, os carismáticos fomentam o culto à Nossa Senhora colocando-se como premissa insubstituível na salvação dos homens. Com seu apego a Maria cria-se uma marca explícita de separação entre pentecostais e carismáticos. Os segundos são pentecostais, mas com Maria. (Prandi 1998, p. 125-142) (Andrade 2004, p.211).

Analisando todos estes pontos expostos, percebe-se que o sistema de crise

no século XX perpassou por todas as instituições religiosas existentes na época,

como o Concílio do Vaticano II, que gerou vários rumores de abalo na Igreja

Católica, neste tempo também o homem se tornou mais questionador e desejava

respostas concretas as suas indagações, tanto exteriores quanto interiores,

30

buscando livremente construir sua própria identidade religiosa, através de meios que

favorecessem essa busca, como por exemplo, os novos movimentos recorrentes do

referido tempo.

A modernidade favoreceu a descaracterização das forças religiosas que

regiam o passado do sujeito, priorizando assim a individualidade, onde o mesmo

não seguiria o que lhe foi imposto em ensinamentos passados, mas sim a

incessante busca por afirmar sua própria identidade a partir de suas escolhas

pessoais.

Aqui destacamos o papel da Renovação Carismática Católica neste período,

de modo a acentuar seus esforços para atrair adeptos e mantê-los na Igreja

Católica, utilizando de dinâmicas e oferecendo atributos que saciam as

necessidades espirituais daqueles que recorrem à mesma, além disto, ela também

assume a responsabilidade de nortear o carismático em seu comportamento dentro

e fora da Igreja, no que diz respeito também a moralidade, sociedade, política,

família, cultura, combatendo todo e qualquer obstáculo que possa provocar rupturas

em sua escolha, podendo ainda este caminhar para uma maior radicalidade dentro

das Novas Comunidades (desdobramentos/frutos da RCC), mantendo assim acesa

com a ajuda do Espírito Santo (como estes creem) a chama da conversão.

1.3 Juventudes e a dimensão religiosa

Pode-se afirmar que os jovens da atualidade mantêm as principais traços

característicos dos jovens da década de 90. O que há de novo se refere a crescente

adesão aos movimentos religiosos, principalmente às igrejas e correntes do

pentecostalismo católico e evangélico. A religião em especial se consolidou e se

aplica como uma das principais formas de organização grupal das juventudes nos

tempos atuais.

Ao analisar as “juventudes” sob diversos aspectos na contemporaneidade, é

possível a percepção de que os jovens estão juntos uns com os outros, por

afinidade, sendo assim, pode-se afirmar que a religião possui papel de grande

relevância, conforme Novaes (2004, p.264-265):

31

Para os jovens de hoje, multiplicam-se igrejas e grupos de várias tradições religiosas. Para eles também existem possibilidades de combinar elementos de diferentes espiritualidades em uma síntese “pessoal e intransferível”. Em síntese, nos dias atuais, surgem constantemente novas possibilidades sincréticas que ao mesmo tempo (re) produzem identidades institucionais e até novos fundamentalismos.

É necessário ainda que se percebam as influências que a religião gera na

vida dos sujeitos, nos mais diversos tipos de aspectos, em especial em suas

decisões e atos. A respeito, Novaes (2004, p.265) ainda nos diz:

É nesse cenário que se coloca o desafio de compreender o “quanto”, “como” e “quando” o pertencimento, as crenças e as identidades religiosas influenciam opiniões, percepções e praticas sociais dos jovens dessa geração. Trata-se de encontrar instrumentos de análise e caminhos de reflexão para compreender melhor os efeitos de escolhas, pertencimentos e identidades religiosas em diferentes áreas da vida social.

Tomando por base o foco desta pesquisa, a qual se busca a compreensão

das realidades das “juventudes” que se encontram inseridas no cenário do

catolicismo, cuja esta toma por título ser a religião oficial do Brasil, porém, como já

citado anteriormente a Igreja Católica perdeu grande parte de seus adeptos para

outras religiões, pois em muitos casos, os jovens tomavam por escolha o catolicismo

por influência dos pais, ou de outros membros próximos, contudo no decorrer do

tempo os jovens passaram a ter mais autonomia e ir em busca daquilo que os

satisfizesse realmente, de acordo com suas próprias percepções. A partir disso a

influência do meio evangélico (protestante) toma uma maior proporção para estes

jovens. Sobre isto eis o que nos afirma Corrêa (2013, p. 42):

Aparece claramente que, apesar de ser ainda superior, o número de jovens que se dizem católicos diminuiu. Há um ligeiro aumento dos que se declaram evangélicos. Destaque para os que se declaram m religião, apesar de crerem em Deus. Percebe-se um grande abismo entre o cristianismo institucionalizado e as diferentes experiências religiosas vividas pelas juventudes. A busca de emancipação atinge também os vínculos religiosos e as crenças familiares. Por outro lado, sem dúvida, as novas tecnologias de comunicação foram incorporadas e contribuem para a globalização do campo religioso.

Assim a Igreja Católica toma medidas fortes e aposta em mudanças numa

tentativa de se estabilizar novamente, pois conforme Libanio (2011, p. 210):

Há diversos campos de desencontro entre os jovens e a Igreja. Eles a consideram ultrapassada, desatualizada, sobretudo no campo da moral, ao opor-se ao uso da camisinha, ao sexo antes do matrimônio. Ela parece-lhes desinteressante, impositiva, ao prescrever normas sem justificá-las suficientemente para eles. Predomina neles o sentimento de incompreensão, de distância, de indiferença.

32

Surgem também como forma de atrair os jovens que não se enquadram

dentro das práticas religiosas do catolicismo, os novos movimentos católicos como

já citados anteriormente e os quais também me aprofundarei posteriormente.

Ao analisar as referidas realidades as quais estão inseridas estes jovens,

percebe-se que os mesmos estão à procura de uma identidade que os complete em

todos os aspectos em que estão envolvidos. Pois assim como afirma Libanio (2011,

p. 210), “Nem tudo na Igreja os afasta. Veem nela espaço para momentos de paz e

introspecção em algumas celebrações e encontros. Admiram e participam de

atividades sociais. Engajam-se em corais ou servem de instrumentista nas liturgias”.

No que diz respeito a esta procura, Bauman (2005, p.35) ainda expõe que:

“Por outro lado, uma posição fixa dentro de uma infinidade de possibilidades, também não é uma perspectiva atraente”. Em nossa época líquido-moderna, em que o indivíduo livremente flutuante, desimpedido, é o herói popular, estar fixo ser identificado de modo inflexível e sem alternativa é algo cada vez mais malvisto.

Assim surgem as particularidades da construção da identidade de cada

jovem, onde trazem em si os preceitos pregados pela Igreja Católica e pelos novos

movimentos, assim tentam vivenciá-los em cada momento, onde quer que estejam,

apesar das tensões vivenciadas no cotidiano, assim como também transmiti-los em

meio às realidades em que está compreendida a sociedade. É importante ainda

compreender as diversas realidades que motivam os jovens a buscar a religião, e

considerá-la como uma segurança. Assim nos afirma Novaes (2004, p.282):

O que isso teria a ver com religião? Não me atrevo a afirmar que o medo de sobrar, a insegurança para planejar o futuro profissional e a experiência de vivenciar precocemente a morte de amigos, primos e irmãos resultem direta e necessariamente, em reforço de valores religiosos, em busca de fé ou na valorização da religião como lócus de agregação social. Contudo, quando se pretende analisar as relações entre religiões e juventude, não podemos deixar de lado as inseguranças advindas dos desenraizamentos do mundo contemporâneo e as especificas dificuldades de inserção social que vivem os jovens brasileiros de hoje. Religião nesse sentido, não pode ser pensada como volta ao passado, os jovens de hoje parecem viver uma nova página nas relações entre valores da sociedade moderna e religião.

Todas estas questões são de extrema importância, de modo que precisam ser

avaliadas tomando em consideração o sistema econômico capitalista, vigente em

nossa sociedade, para que se possa perceber se a busca pela religião está

vinculada a uma questão interior ou a algo material que não se tem acesso, devido o

caráter excludente do sistema citado anteriormente. Porém deve-se levar em conta,

33

até mesmo porque existem estudos sobre isso, que as experiências religiosas

também podem ser vistas como forma de superação das tensões existentes e

presentes na vida dos jovens. Verifica-se um relaxamento além de uma sensação de

força e poder que antes não eram encontrados na vida social. Dessa forma, pode-se

afirmar a tese da existência de uma subjetividade juvenil funcionalmente religiosa,

como relata Mariz (2005, p. 269):

A subjetividade juvenil teria assim uma afinidade eletiva com experiências coletivistas e comunitárias, entendidas por Durkheim (1985) como funcionalmente ‘religiosas’. Devido a esse tipo de afinidade, os jovens seriam os mais aptos a tomar atitudes de heroísmo extremo, a ser revolucionários ou virtuoses religiosos, ou a se engajar em violência radical, optando por vezes pelo que Durkheim chamou de ‘suicídio altruísta’ .

Conforme se pode analisar, essa subjetividade juvenil não necessariamente

religiosa possibilita às religiões se tornarem na atualidade uma das principais formas

de socialização dos jovens na sociedade. Essa tendência é favorecida pela crise

social enfrentada pela sociedade brasileira e pode ser compreendida principalmente

no que diz respeito ao aspecto trabalhista, educacional e político das “juventudes”.

34

2. RESGATE DE UMA VIVÊNCIA DE FÉ NO ÂMBITO DA RENOVAÇÃO

CARISMÁTICA CATÓLICA: COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM

No presente capítulo, dando continuidade as abordagens referentes ao

catolicismo, será dado enfoque as mudanças principais ocorridas no interior da

Igreja Católica a partir do Concílio do Vaticano II, fazendo um breve contexto de tais

mudanças que geraram por frutos, o Movimento da Renovação Carismática Católica

e por consequência as Novas Comunidades Católicas, cujos estes tiveram

indiscutivelmente participações importantes dos jovens. Por fim será dada ênfase a

uma dessas Novas Comunidades, a Comunidade Católica Shalom, que foi escolhida

como campo de pesquisa do presente trabalho.

2.1 O Movimento da Renovação Carismática e as Novas Comunidades

Breve Histórico

Por vários séculos a Igreja Católica manteve grande influência sobre a

sociedade, em aspectos culturais, sociais, políticos e morais, contudo, não foi

possível evitar uma aparente crise no século XIX, que acarretou na perca dos

adeptos à mesma, como afirma Benedetti (2009, p.17):

A Igreja Católica não consegue controlar mais seus membros e tenta desesperadamente impor sua visão de mundo, valores e normas que daí emanam à sociedade que provoca essa situação de liberdade face às instituições.

Ainda segundo Benedetti (2009, p.19):

A Igreja Católica parte do pressuposto de que os indivíduos estão “perdidos”, inseguros “, desenraizados”. Eles não tem esta percepção de si mesmos, mas sim veem uma instituição que nada tem a dizer a eles senão que estão fora do caminho. Fica evidente aqui, um diálogo de surdos. Os critérios de pertença ao grupo cristão são cada vez mais subjetivos e a doutrina oficial cada vez mais distante da experiência pessoal.

Tomando catolicismo como foco e o analisando, pode-se perceber que no

decorrer de sua história, tem reinventado também novas formas no que se refere a

ritos, práticas e aspectos emocionais, apostando em diversas escolhas e

possibilidades para afirmar a identidade de pertencer a Igreja Católica. Assim ela

apresenta aos sujeitos da modernidade tais possibilidades de modo a atraí-los e

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estreitar laços com estes. Surge então, uma possibilidade que se refere ao

consumismo, cujo este penetra nas práticas religiosas, transformando estas em

produto, que possua a finalidade de compreensão do campo religioso atual de

caráter plural e desregulado.

Conforme Guerra (2003, p. 01):

A lógica mercadológica sob a qual a esfera da religião opera produz, entre outras coisas, o aumento da importância das necessidades e desejos das pessoas na definição dos modelos de práticas e discursos religiosos a serem oferecidos no mercado. Ao mesmo tempo, demanda das organizações religiosas maior flexibilidade em termos de mudança de seus “produtos” no sentido de adequá-los da melhor maneira possível para a satisfação da demanda religiosa dos indivíduos.

Com o passar dos anos, no século XIX, é possível analisar diversas

transformações no cenário do catolicismo, motivadas pela lógica do mercado, que

se intensifica nas estruturas internas da fé, cujo se veem na obrigação e

responsabilidade de dar respostas satisfatórias aos indivíduos, possibilitando assim

escolhas para que os mesmos possam permanecer ligados as instituições

religiosas.

Conforme Della Cava (1992 apud Carranza e Mariz 2009, p 140):

Os tempos mudaram. Perante uma descristianização e a descatolização da sociedade, no século XIX, emerge o catolicismo social que sob o marco doutrinal da em cíclica Rerum Novarum (Leão XIII, 1890), previu a reorganização da base social do catolicismo. Assim reflorescem no século XX associações laicais e movimentos eclesiais, cuja novidade seria missão da tradição e na missão de evangelizar, dantes tarefa reservada ao clero.

É notório neste período que o catolicismo se viu praticamente que obrigado a

rever seu papel perante a sociedade e fazer mudanças para que não houvesse uma

crise ainda maior, principalmente no que se refere a perca de seus adeptos. Dentre

tantas transições, pode-se destacar o Concílio do Vaticano II, cujo este, tem um

caráter de atualização na história da Igreja Católica, apostando na atuação do leigo,

conforme afirma Carranza (1998, p.7 Apud Aguiar, 2013):

Dentre as propostas do Vaticano II encontravam-se: enfatizar a renovação litúrgica e bíblica, procurar novas relações entre a Igreja e a sociedade moderna e entre outras religiões, rever a função do leigo no mundo e na igreja, o que implicou na reorientação pessoal do fiel para um engajamento nas lutas sociais em nome do Evangelho e na sua participação dentro da estrutura institucional.

Segundo Aguiar (2013, p.54), “a partir do Concílio percebe-se uma maior

36

abertura por parte da Igreja ao trabalho dos leigos, o que anteriormente ficava

centrado só em religiosos como padres e freiras”.

Pode-se afirmar também que a partir do Vaticano II floresceu na Igreja uma

concepção mais servidora, que diminuiu a distância entre seus ministros e o povo de

Deus. Uma atitude mais misericordiosa em face das dores e sofrimentos do homem

moderno (Jesus 2012, p.25).

Desse modo a respeito dos “frutos” do referido Concílio, cujo representa uma

resposta da Igreja e mudanças no catolicismo tradicional, nos afirma Nicolau (2006,

pag.78):

Foi com o Concílio Ecumênico Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII, que surgiram as duas principais correntes do catolicismo brasileiro: A RCC e o Cristianismo de Libertação. Este último com as Comunidades Eclesiais de Base (CEB's) e a RCC, com as Comunidades de Vida e as Comunidades de Aliança.

Dinamizando com relação às ditas anteriormente Comunidades Eclesiais de

Base (CEB's) em seu contexto mais amplo, Prandi (1997, p.97) nos diz que:

As CEB's gestadas pela estratégia de uma hierarquia da Igreja como meio de dinamizar a vida religiosa para recuperar o espaço perdido na sociedade, significam uma mudança efetiva na prática pastoral, com inequívoca abertura para as questões sociais, gerando inclusive mecanismos de

formação de militância político-partidária.

Silva (2012, p.34) complementa que:

O auge das CEB's se deu entre as décadas de 70 e 80, período de grande articulação popular contra ditadura. Sua maior contribuição está na mobilização e envolvimento afetivo dos leigos na vida eclesial com vista a transformação social. Em contrapartida essa movimentação político/social/intramundano, contribuiu para o acolhimento do movimento de RCC que se espalhou rapidamente por todo país, mesmo sendo visto por alguns, como um movimento problemático.

Com relação ao surgimento histórico da RCC afirma Aguiar (2013, p. 55 e

56):

A Renovação Carismática Católica, ou o Pentecostalismo Católico, como foi inicialmente conhecido, teve origem com um retiro espiritual realizado nos dias 17 a 19 de fevereiro de 1967, na Universidade de Duquesne (Pittsburgh, Pensylvania, EUA) [...] No Brasil a origem do MRCC teve seu início, no ano de 1970, na cidade de Campinas-SP por meio dos padres americanos Haroldo Joseph Rahm e EduardoDougherty, dai se expandindo para o restante do país [...] No Ceará a RCC chegou à cidade de Fortaleza em 1975, através de um evento que foi conduzido pelo padre Eduardo Dougherty. A expansão do MRCC em Fortaleza aconteceu primeiramente no bairro Pirambu, atual Cristo Redentor, por Caetano Minette de Tillesse,

37

que era herdeiro do trono da Bélgica, mas decidiu-se ser padre, e ele foi o então precursor da instalação do MRCC no Ceará.

Jesus (2012, p.26), com relação ao surgimento da Renovação Carismática

destaca que:

Nesse contexto de abertura aos novos tempos, a Igreja viu-se contemplada por novos movimentos e dentre eles, a Renovação Carismática Católica que tratou de colocar seus pilares de espiritualidade centrada no Espírito Santo. Ela vislumbrou o alcance do Concílio e se colocou como proposta de vida eclesial.

Pode-se citar, a respeito da relação e influência entre o Concílio do Vaticano II

e RCC o seguinte ponto, conforme aponta Carranza (1998, p.8):

É nessa revivescência pós-conciliar que surge o movimento de Renovação Carismática Católica (RCC), como uma inflexão do catolicismo que reage diante da pós-modernidade, oferecendo uma nova subjetividade religiosa pautada nos moldes neopentecostais de emotividade e como uma agência moderna de aflição.

A RCC para alguns era considerada um problema por ser um movimento que

valoriza inestimavelmente o espiritual, o ser e sua conversão, assim como também o

midiatismo (evangelização através de meios de comunicação), e não se denota a

ser de cunho altamente social como as CEB's, isto também se fundamenta na

questão de ter sido criada por jovens, universitários e por assim dizer, também ricos.

Conforme Carranza (2009, p.46), “o embasamento teórico que sustentava a

acusação de que a RCC era um movimento alienado, que só visava o

emocionalismo e a vida espiritual intimista, encontrava eco numa leitura marxista da

realidade”.

Já sobre a serventia que presta a RCC, nos diz Rolim (1997, p.297):

O que escapa a essa perspectiva conservadora(da Igreja) é o fato de ela estar mergulhando cada vez nas águas, aparentemente sedutoras, do emocional religioso, visto como bons olhos pelo capitalismo que se serve dele com habilidade, esperteza e sucesso […] Combate-se o materialismo histórico em nome de um vago materialismo, e não se considera que a sociedade de consumo, com implicações no urbano e no rural, cria e alimenta um materialismo prático que corrói os valores da vida.

Com relação a sua estrutura, a Renovação Carismática Católica comporta

sua própria organização, conforme destaca Carranza (1998, p.36):

A RCC se organiza em torno de grupos de oração e Seminários de Vida no Espírito Santo (SVES). Há também reuniões de caráter massivo denominado Cenáculos, rebanhões, encontrões, festivais, enfim, uma variedade de nomes para designar atividades que implicam na aglutinação

38

de multidões.

No interior do contexto que abrange a RCC, pode-se frisar o papel das Novas

Comunidades, ou Comunidades de Vida ou Aliança como também podem ser

mencionadas e até Novos Movimentos Eclesiais (NME), cujos estes tiveram um

grande apoio por parte do clero, em especial no pontificado do papa João Paulo II.

Carranza (2007, p.8) vem afirmar que as Novas Comunidades:

São novas agregações religiosas católicas que reúnem homens e mulheres, casados ou solteiros, jovens, famílias em torno de experiências religiosas devocionais, sacramentais e projetos de evangelização. Elas são, historicamente, um dos desdobramentos da Renovação Carismática Católica — RCC — que, ao longo de quatro décadas, no Brasil, tem se consolidado como movimento espiritual centrado nos dons do Espírito Santo e na vivência de carismas.

Carranza e Mariz (2009, p. 158) ainda destacam que:

Nas comunidades de Aliança e Vida, o fiel encontra a espiritualidade carismática, aquilo que reavivou sua fé, optando por participar delas quando identifica nessas novas comunidades o universo simbólico que lhe concede sentido religioso – o contato direto cm o sagrado, a possibilidade de milagres cotidianos.

Diante disto afirma Ferreira (2011, p.61) complementando com relação aos

traços que caracterizam as novas comunidades:

Suas características principais são: ideias, força, espírito comum; mais do que um estatuto, os membros se reconhecem em uma doutrina e em uma práxis, que tendem a uma espiritualidade; finalidades de evangelização, promoção humana e edificação da comunidade eclesial; adesão não-formal, mas vital, sem necessidade de inscrições particulares.

As Novas Comunidades surgem então, como uma forma de resgatar aqueles

que se encontram distanciados do catolicismo, e buscam uma certa estabilidade e a

autorrealização, assim como também como respostas aos seus questionamentos

tanto interiores quanto exteriores. Conforme nos diz Berger e Luckmann (2004, p.

55):

As pequenas comunidades parecem ser o refúgio que alivia no indivíduo a necessidade de reinventar o mundo a todo momento e de ter que se encontrar nele. Assim, esses agrupamentos criam programas, currículos existenciais comprovados pela tradição, nos quais as pessoas espelham seu comportamento e aspiram à autorrealização.

Já no que diz respeito a relação entre as novas comunidades e a Renovação

Carismática Católica, eis o que nos diz Carranza e Mariz (2009, p. 145):

Apesar de terem surgido e entre membros da RCC, as novas comunidades

39

são organismos totalmente independentes. Estruturando-se com casa matriz, sedes, estatutos, regras, registro civil, coordenação casas de missão e recursos próprios, algumas comunidades revelam-se verdadeiros impérios espirituais como empreendimentos financeiros consideráveis, comportando-se como movimentos autônomos em prol da expansão de seu carisma. Ao mesmo tempo estas comunidades, nascem com raízes fortes locais, identificam-se com as necessidades de seu entorno e respondem a elas desde a compreensão do que denominam missão.

As Novas Comunidades, nos últimos tempos têm crescido exacerbadamente

e assim desenvolvendo novas formas de adaptação no meio em que se instalam e

principalmente para aqueles que aderem esta forma de expressar sua

espiritualidade, assim complementa Carranza (2007, p.10):

Acho que a agilidade da sua organização. Livre das amarras canônicas das grandes congregações, as novas comunidades se espalham com maior rapidez, ora para fundar novos grupos, realizar projetos, ora para incorporar novos membros e os deslocar de um lado para outro.

A partir do surgimento das Novas Comunidades é possível analisar as

transformações, cujas estas acarretaram para os leigos e para a Igreja Católica, no

âmbito pessoal, social, cultural, espiritual. Por fim de acordo com Silva (2012, p. 37),

“com as NC, são introduzidas mudanças na forma de se pensar, e se construir o

catolicismo brasileiro. É através delas que paradigmas estruturantes são

repensados, além disso, identidades são fortalecidas e adeptos são atraídos para a

Igreja”.

É nesta realidade que se encontra inserida a Comunidade Católica Shalom, a

qual estará explícita no estudo a seguir.

2.2 Comunidade Católica Shalom

Eis que surge um novo, uma das maiores novas comunidades católicas

existentes no País, a Comunidade Católica Shalom, que se identifica como uma

nova Comunidade com bases e espiritualidade da RCC (Renovação Carismática

Católica), esta foi fundada pelo então jovem e leigo Moysés Louro de Azevedo Filho,

e posteriormente tal obra perpassa a vida da cofundadora Maria Emmir Orquendo

Nogueira, os dois iniciaram suas caminhadas na Igreja, engajando-se na prática

católica acompanhado de outros jovens em 1976, onde tiveram a experiência do

Batismo no Espírito Santo na Renovação Carismática Católica, assim nos afirma

40

Azevedo (2012, p. 146):

Participo do meu primeiro encontro de jovens e tenho meu encontro pessoal com Jesus. Minha vida muda radicalmente e assumo um forte compromisso com a Igreja, engajado na evangelização dos jovens através do Movimento de Encontros da Arquidiocese e do Grupo de Jovens do Colégio Cearense, pertencente aos Irmãos Maristas.

De acordo com Mariz e Aguilar (2006) na RCC, Moysés e Maria Emmir

Nogueira organizavam grupos de oração voltados para jovens.

Relatando assim Azevedo (2012, p.146):

Animados pelo Espírito, fomos crescendo em uma saudável criatividade para anunciar O Evangelho. Por esse tempo começavam a florescer os Seminários de Vida no Espírito Santo para jovens e, em comunhão com Emmir Nogueira, que conhecemos dentro da RCC, todo um trabalho de Renovação Carismática, especificamente voltado para os jovens, começou a se desenvolver.

Segundo Mariz e Aguilar (2006) na visita de João Paulo II ao Brasil, em 1980,

Moysés é escolhido para representar os jovens do Ceará, fato que se configura um

marco na sua vida e na história da Shalom, já que durante o encontro ele promete a

Deus dedicar sua vida à evangelização dos jovens: dois anos depois, fundará a

Shalom.

Como afirma o fundador e autor Azevedo (2012, p.147):

[...] Pela misericórdia de Deus, eu era um destes jovens. Discernimos que devíamos apresentar ao Papa um presente em nome de todos os jovens da Arquidiocese. O presente escolhido era cuidar da evangelização dos jovens abandonados. Foi um momento inesquecível, o Papa nos olhava com muito amor e carinho, enquanto pronunciávamos o nosso compromisso, Ele nos abençoou e nos abraçou [...]

Inspirados na ideia do “Café de Cristo” que existiu no Canadá, Moysés e seus

companheiros idealizam uma lanchonete que fosse um local de evangelização de

jovens afastados da Igreja Católica. Eram doze os jovens que estavam à frente da

lanchonete segundo (Mariz e Aguilar 2006).

Embora os membros fossem desprovidos de experiência no campo

profissional, assim como também da situação financeira, viram como única solução

a oração e a coragem como afirmam os mesmos e atribuíram o sucesso do

resultado a estas e ainda mais, a um milagre. Azevedo (2012) complementa que

com a generosidade de várias pessoas os donativos necessários para a casa foram

conseguidos e tudo isto o autor e fundador da Comunidade remete a Deus.

41

Posteriormente, toda esta busca resultou na concretização da abertura da tão

esperada lanchonete, conforme relata Azevedo (2012, p.141):

No dia 09 de julho de 1982 com a presença e a benção de Dom Aloísio Lorscheider, (Cardeal Arcebispo de Fortaleza na época) era inaugurado o Centro Católico de Evangelização Shalom: uma lanchonete e uma livraria que tinham por missão evangelizar os jovens que para ali se dirigissem para lanchar, buscar aconselhamento, ajuda ou consolo.

Azevedo (2012) nos diz que em 1983, surgiam as primeiras experiências de

vida comunitária, os jovens evangelizados tornam-se parte de grupos de oração que

se formam. Muitos serviam mais intensamente, ofertando seu tempo em favor da

transformação dos meios seculares em favor de suas práticas religiosas e princípios

próprios da comunidade, assim se formava o primeiro grupo de engajados, semente

da Comunidade de Aliança.

Segundo Aguilar (2006, p.29)

Ainda em 1983, três jovens fizeram a primeira experiência de vida comunitária, morando durante as férias da faculdade, em julho, no Centro de Evangelização, onde se dedicaram exclusivamente às atividades da comunidade. No final deste período, os jovens pretendiam voltar pra casa fato que não aconteceu, criando um tipo de vínculo, denominado de Comunidade de Vida, que exige dos membros dedicação exclusiva, levando-os a viver em casas comunitárias, com total dependência da comunidade.

No ano de 1984, segundo Azevedo (2012, p.168), o escrito sobre o espírito

da obra se perdeu e alguns começaram a questionar tudo. Foi um tempo de grande

desafio [...]. O fundador Moysés nesta mesma época reproduz as primeiras regras

da comunidade, assim então os que se rendessem a elas permaneceriam e aqueles

que não se identificassem tomariam o papel somente de colaboradores. (Azevedo

2012)

Aguilar (2006, p.29) nos expõe que:

Nos anos de 1985 e 86 ouve às primeiras consagrações da comunidade, e a partir dali, as consagrações a comunidade cresceram de tal modo que hoje ela pode contar com centenas de pessoas consagradas espalhadas em todo país. Em 1986 Maria Emmir Nogueira, hoje considerada a cofundadora da comunidade, se consagrou.

Em 1986 conforme Azevedo (2012, p.179), […] entram novos irmãos na

Comunidade e estes dão novo vigor a ela. Surge uma Comunidade de Aliança junto

a Comunidade de Vida [...].

Ao passar dos anos tudo no que diz respeito à Comunidade foi se ampliando,

como por exemplo, os grupos de oração, trabalhos e formas de evangelização,

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formação para os membros e obras de promoção humana se intensificam (obras

sociais), vocações surgem frequentemente. Aguilar (2006, p. 29) ainda nos destaca

o seguinte ponto:

As missões fora de Fortaleza começaram a acontecer no ano de 1988. De início eram apenas atividades de final de semana em outras cidades do nordeste brasileiro. Nestas situações, os membros da comunidade visitaram as cidades para realizar atividades de evangelização e participar de eventos. A primeira casa comunitária fora de Fortaleza foi fundada em 1988 em Pacajus, a 50 km da capital cearense. Este local tinha como objetivo ser utilizado para o ano de formação dos membros da Comunidade de Vida o que até hoje acontece, ampliando-se o trabalho para outra casa na cidade de Quixadá, igualmente próxima a Fortaleza. Nos anos seguintes, outras casas de missão foram fundadas, primeiramente no Nordeste e depois em todo país e por fim no exterior, em especial na Europa.

Segundo Júnior (2011, p. 69):

[...] O ano de 89 é um tempo forte de renovação do apostolado entre os jovens: nasce o “Projeto Juventude para Jesus”, se realiza o primeiro acampamento e o primeiro congresso de jovens. Após o acampamento a comunidade começa a acompanhar mais de perto alguns jovens adictos a droga, semente do atual projeto “Volta”, que introduziu a dimensão da promoção humana no interior da Comunidade Shalom.

Descrevendo a respeito da dimensão da Comunidade, cujo está relacionada

com os jovens, eis o que relembra o fundador da Comunidade Azevedo (2007, p.

15):

Eram os anos que antecederam a fundação da comunidade (78, 79, 80) e nós começamos a nos envolver muito com a evangelização dos pobres no Cristo Redentor, ali, junto com o Pe Caetano Minette de Tilesse. Ao nos confrontarmos com esses problemas, tivemos que enfrentar também a questão das gangues, dos jovens vítimas das drogas e da miséria. Foi um momento muito intenso a partir do qual surgiu uma sensibilidade muito grande nesse campo. Certamente devido a isso, quando na comunidade começamos a trabalhar com os jovens, o primeiro veio de promoção humana que surgiu foi destinado a enfrentar evangelicamente o flagelo da droga. [...] A partir dai o projeto Volta começou a existir e tenho certeza que foi como um veio que foi abrindo toda a dimensão da promoção humana.

Em 1995, os Estatutos da Comunidade começam a ser preparados.

Conforme Nogueira (2012, p.171):

Os estatutos refletem o que experimentamos e vivenciamos nos primeiros quinze anos de nossa fundação. Não falam de algo imaginário, mas da realidade vivida. São, assim, bem concretos, vivenciados a partir da experiência a qual procuram refletir, aprofundar e direcionar para a autêntica vivência do carisma Shalom.

O site da Comunidade Católica Shalom nos completa este resumo histórico

afirmando os seguintes pontos:

Em 17 de fevereiro ainda, a elaboração é interrompida devido à morte

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repentina do missionário da Comunidade de Vida Ronaldo Pereira, aos 24 anos, em acidente de trânsito. No ano seguinte, a tarefa é retomada. Em 1998, o arcebispo de Fortaleza, Dom Cláudio Hummes, assina o decreto de reconhecimento canônico do Shalom, em nível diocesano. O Reconhecimento Pontifício é decretado em 2007, pelo Pontifício Conselho para os Leigos, órgão ligado à Santa Sé, que aprova, ainda, os Estatutos em caráter experimental. Em 22 de fevereiro de 2012, com o fim do período ad experimentum, a Santa Sé confirma o reconhecimento da Comunidade Católica Shalom como associação privada internacional de fiéis e aprova definitivamente seus Estatutos. A Comunidade está presente em dioceses em vários países e cresce, cumprindo a missão de evangelizar e formar filhos de Deus.

(http://www.comshalom.org)

2.3 Juventudes de Fortaleza X Juventudes na Comunidade Shalom

O campo de investigação do presente trabalho está focado nas “juventudes”

participantes da Comunidade Shalom da Cidade de Fortaleza capital do Estado

Ceará, assim é possível dizer que a Cidade de Fortaleza possui diversas

características, porém nesta pesquisa é abordado o tema das “juventudes” e estas

possuem diversas concepções desde muitos anos atrás no que diz respeito ao

ambiente que habitam, eis o que nos diz Barreira (1999, p. 30):

A cidade de Fortaleza é apreendida por seus jovens habitantes de várias maneiras. Essa diversidade explicita-se no fato dela aparecer para alguns como grande, complexa e misteriosa, para outros, pequena e limitada. Tais percepções decorrem de experiências construídas conforme o local de origem. Por um lado, jovens oriundos de cidades pequenas do Estado do Ceará e com experiências limitadas ao universo familiar e escolar percebem Fortaleza como uma cidade grande, tendo como marca o desconhecido, o incontrolável. Por outro, jovens egressos da Região Sul do país e com outras experiências fora do mundo familiar e escolar veem Fortaleza como uma cidade provinciana. Nessa visão, a cidade aparece sem surpresas.

Assim como os jovens da Cidade de Fortaleza possuem suas peculiaridades,

também tem o seu próprio perfil, assim como aponta uma pesquisa feita pelo IPECE

(2013):

Tal perfil oferece um conjunto de informações pertinentes que podem oferecer subsídios à discussão e ao planejamento de ações de políticas voltadas para a população nesse grupo etário que incorpora indivíduos com idade entre 15 e 29 anos. […] os jovens correspondem a 29,3% da população fortalezense e estão distribuídos de forma relativamente homogênea entre as regiões de Fortaleza, embora seja possível identificar bairros em que a concentração de jovens seja maior.

Os jovens são possuidores de uma infinitude de características e envolvidos

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em diversos aspectos, vendo por este lado, é certo que aqueles que habitam a

cidade de Fortaleza não são diferentes neste ponto, mesmo assim sobre

características presentes nos mesmos ainda nos complementam Furlani e Bonfim

(2010, p. 57-58) em um estudo realizado pela UNESCO com os jovens da cidade de

Fortaleza:

O jovem, que comumente é um ser questionador, traz em si um grande potencial para ser o grande autor de sua vida. No entanto, as dificuldades pelas quais passa, sejam elas de cunho individual (crises existenciais, alterações de humor, modificações hormonais etc.) ou de cunho social (situação socioeconômica, desigualdades sociais, crise de valores etc.), podem influenciar na atuação consciente e planejada desse jovem em sua própria vida [...]. A desigualdade econômica que impera atualmente em nossa sociedade leva à exclusão social, que é experimentada pelos jovens como ameaça que fragiliza seus projetos de vida. Tanto os jovens do ambiente rural quanto os do ambiente urbano pertencem a classes sociais economicamente mais desfavorecidas [...]. Faz-se plenamente comum entre os jovens uma queixa em relação à violência urbana, à qual estão cada vez mais expostos, gerando sentimentos de contraste em relação ao lugar que habitam. ao mesmo tempo em que gostam do lugar, devido a suas características atrativas (praias, clima quente, hospitalidade das pessoas etc.), sentem-se mal com assaltos, crimes e violência. A violência urbana que amedronta não só aos jovens provoca um sentimento de desconforto, medo, insegurança, que leva a uma certa imobilização das pessoas em geral.

Referindo-se a questão da violência citada anteriormente e tão frisada, é

possível citar a partir de pesquisas atuais que a cidade de Fortaleza é considerada

umas das mais violentas do mundo, assim diz o jornal O POVO falando sobre um

estudo apresentado pelas Organizações das Nações Unidas (ONU) (2014):

O estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) confirma o que apontou, em janeiro deste ano, o Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, Organização Não-Governamental (ONG) sediada no México. Segundo o relatório divulgado à época, Fortaleza é a sétima cidade mais violenta do mundo e a segunda do Brasil. O levantamento também considera a taxa de homicídios por grupo de 100 mil habitantes. Onze das 30 cidades mais violentas do mundo são brasileiras, segundo a ONU.

Ao perceber e analisar fatos também atuais vistos em jornais, revistas, enfim,

é nítido também que a grande parcela da população envolvida na questão da

violência e criminalidade é indiscutivelmente de jovens.

Partindo desta análise geral sobre os jovens de Fortaleza e agora retomando

o foco das discussões no âmbito da Comunidade Shalom, pode-se afirmar que esta

Comunidade foi criada na cidade de Fortaleza no meio de jovens e para os jovens,

assim como é afirmado no preâmbulo de seus estatutos (2007) “Nascida entre os

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jovens, a comunidade dirija a eles amor e dedicação especiais. Sem menosprezar

as outras dimensões do apostolado, dediquem especial atenção ao acolhimento e

ao apostolado da Juventude”.

Visto que a Comunidade no decorrer dos anos começou a se expandir,

sentiu-se a necessidade de um espaço voltado somente para os jovens, surgiu

assim o Projeto Juventude para Jesus em 17 de maio de 1989, conforme nos fala

Ronaldo Pereira (membro da Comunidade de Vida Shalom, morto aos 24 anos em

um acidente automobilístico), este que nos primeiros anos foi responsável por este

setor da juventude da Comunidade:

O Projeto Juventude surgiu no momento em que a Obra Shalom começou a ter uma maior expansão e a receber um grande número de casais e adultos de forma geral. E os jovens, que haviam iniciado a obra, […] passaram a ser minoria [...]. Surgiu então a necessidade de se ter uma estrutura para evangelizar mais jovens, com os jovens que nós tínhamos, e acolhê-los melhor, através de um acompanhamento mais direcionado. (R. PEREIRA, entrevista de Micheline L, Feitosa, In RevSh 28 (1993), p. 42.)

A respeito do que se refere este Projeto, seus significados e missão, nos

complementa o site da Comunidade Shalom:

“O Projeto Juventude para Jesus é uma organização pastoral da Comunidade Shalom orientada [...]. Sua missão é evangelizar os jovens com ousadia e criatividade, à luz do Carisma Shalom, através da realização de eventos formativos e querigmáticos, grupos de oração e lazeres. Os jovens assumem, assim, o protagonismo da Nova Evangelização […] O Projeto foi lançado oficialmente em Fortaleza, em 17 de maio de 1989, sete anos depois do marco de fundação da Comunidade Católica Shalom: a inauguração de uma lanchonete cuja missão era evangelizar os jovens que estavam distantes de Deus, na Arquidiocese da capital cearense. [...] O lançamento aconteceu no Ginásio Aécio de Borba, durante uma tarde de louvor intitulada “Juventude para Jesus”, onde puderam participar aproximadamente cinco mil jovens da Renovação Carismática, de outros movimentos e também jovens não evangelizados. Foi uma tarde de festa e de bênçãos. Esteve presente neste dia o cardeal arcebispo de Fortaleza, D. Aloísio Lorscheider, que motivou-nos com sua palavra e sua bênção. Além de louvor, oração e pregações, foram apresentados dois grupos de danças cristãs, ressaltando a importância da arte como meio de evangelização. O dia foi encerrado com uma grande Celebração Eucarística. Naquele momento o Projeto Juventude para Jesus foi a nossa resposta às palavras do Papa Paulo VI: “A esperança da Igreja reside na juventude”.

Assim, ainda nos afirma o site da Comunidade Shalom, no que diz respeito

ao Projeto Juventude para Jesus:

Neste mesmo ano, iniciaram-se os trabalhos de organização estrutural e material, através de uma campanha para a montagem de uma casa onde funcionaria o Projeto, e também onde se organizariam os trabalhos de ação pastoral como I Congresso de Jovens Shalom (23 e 24 de setembro de 1989) e o I Acampamento de Jovens Shalom (23 a 29 de julho de 1990) […]

46

e pouco tempo depois, o Projeto Volta Israel, com o intuito inicial de apoiar e acompanhar os jovens envolvidos com álcool e drogas evangelizados no I Acampamento de Jovens do Projeto Juventude.

É possível perceber que a Comunidade Shalom dá uma atenção especial ao

publico juvenil, basta olhar o percurso de sua história, desde o início como foi citado

anteriormente, até pelo fato dela ter sido criada e ter se desenvolvido no meio de

jovens, assim também, a Comunidade oferece respostas a estes jovens que buscam

fazer parte deste universo, oferecendo grandes eventos, atividades artísticas e

esportivas, projetos de combate e prevenção das drogas, como é o caso do projeto

Volta Israel já citado, o projeto Jesus meu abrigo que acolhe em um albergue

homens que habitavam as ruas de Fortaleza, estando dentre eles também muitos

jovens, também podemos citar a campanha vida quero mais que consiste em ações

de conscientização acerca dos malefícios causados pela dependência química, e no

oferecimento de auxílio social aos adictos, através da espiritualidade e da difusão de

meios sadios de convivência, dentre eles o esporte, conforme afirma o site da

Comunidade Católica Shalom.

47

3. DISCORRENDO SOBRE O PERCURSO METODOLÓGICO DO CAMPO DE

PESQUISA.

Neste capítulo será apresentado o percurso metodológico a ser utilizado na

presente pesquisa de modo a especificar cada caminho necessário até a obtenção

de todos os dados para a compreensão dos resultados finais, sendo estes as

realidades e perspectivas das “Juventudes” inseridas na Comunidade Católica

Shalom.

3.1. Percurso metodológico

A finalidade do evento denominado pesquisa é buscar conhecer e explicar os

fenômenos nas suas diferentes manifestações e a forma como os seus aspectos

funcionais e estruturais se processam no contexto em que se encontram inseridos.

Para nortear a presente pesquisa se faz necessário salientar que o conteúdo aqui

exposto tem por objetivo comunicar aos leitores, o que se pretende fazer, e orientar

a preparação da investigação a ser feita. Tornando-se fundamental, pois assim, será

possível alcançar os objetivos propostos do trabalho.

É necessário direcionar aos leitores do presente estudo, alguns passos que

deverão seguir o pesquisador para assim então concretizar a pesquisa, tais como:

“(...) o que será feito; por que e a partir de que se pretende fazê-lo; como e onde

será realizada a pesquisa; quando será feita (...)”. (Gondim, 1999, p.17). Tais passos

são denominados metodologia, isto quer dizer, como será o “passo a passo” da

pesquisa apresentada. De acordo com Minayo (2000, p.16) “a metodologia é o

caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade” ocupando

sempre um lugar central no interior das teorias e sempre a elas se referem. Assim

também Pedro Demo (1995), afirma ser a metodologia uma disciplina que

instrumentaliza quanto aos procedimentos a serem tomados no decorrer do

processo.

Após a delimitação do meu objeto de pesquisa, iniciei a coleta dos dados,

sendo que o primeiro contato com estes se concretizou no plano teórico, a partir das

leituras realizadas sobre a temática, dos diálogos estabelecidos com os autores.

Assim então para me aproximar do objeto cujo havia delimitado para pesquisar,

48

busquei uma maior aproximação do fenômeno estudado por meio de levantamento

de informações através de pesquisas bibliográficas que “[...] tem por finalidade

conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre

determinado assunto ou fenômeno” (Oliveira, 2004, p.119), ou seja, é necessária

uma fundamentação teórica antes de se inserir no campo de pesquisa. No que diz

respeito a esta pesquisa Gil (2002, p. 44-45) ainda nos afirma que “[...] A maior

vantagem da pesquisa bibliográfica encontra-se no fato de permitir no investigador o

espaço de uma série de fenômenos e procedimentos amplos do que aquela que

poderia pesquisar diretamente”, na presente pesquisa a utilizarei como fonte de

conhecimento do tema em questão, apontando a visão de distintos autores e

realizando um diálogo entre eles.

Por conseguinte também utilizarei a pesquisa documental que tem “[...] como

fonte documento de sentido amplo, ou seja, não só de documentos impressos, mas,

sobretudo de outros tipos de documentos, tais como jornais, fotos, filmes,

gravações, documentos legais [...]”. (Severino, 2007, p.122-123), no caso, utilizarei

todos os documentos que a comunidade disponibiliza, para seu aprofundamento.

Utilizarei também como instrumento para a realização do trabalho, a pesquisa

qualitativa, cujo seu objetivo é conseguir uma compreensão mais profunda e, se

necessário, subjetiva do objeto de estudo, sem se preocupar com medidas

numéricas e análises estatísticas, conforme Goldenberg (1997, p. 34), “Não se

preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da

compreensão de um grupo social, de uma organização”. Assim nos afirma também

André (1995, p. 17) sobre a pesquisa qualitativa:

Contrapõe-se ao esquema quantitativista de pesquisa (que divide a realidade em unidades passíveis de mensuração, estudando-as isoladamente), defendendo uma visão holística dos fenômenos, isto é, que leve em conta todos os componentes de uma situação em suas interações e influências recíprocas.

Ainda no que se refere a esta pesquisa, Minayo (2006, p. 21) ainda nos

afirma que:

[a] pesquisa qualitativa responde as questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha universo de significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes.

Tendo em vista que, a qualidade é composta de aspectos sensíveis de

elementos que a percepção pode apreender, tornando-se indispensável para

49

qualquer pesquisa, portanto, o seu ponto de partida. Nesse projeto nos apropriamos

da abordagem qualitativa, tendo em vista que conforme nos diz Oliveira (2004,

p.117):

Possui a facilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudanças, criação ou formação de opiniões de determinado grupo e permitir, em maior grau de profundidade, a interpretação das particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos.

Após as teorizações, apontando para pesquisa de campo, pode-se afirmar

que é um processo indispensável na construção da pesquisa, pois permite a

aproximação do pesquisador com a realidade sobre a qual se propõe pesquisar,

permitindo também uma interação com os autores. Severino (2007, p. 123) afirma

que “[...] o objeto/fonte é abordado em seu meio próprio”. Então assim, para

realizarmos a coleta de dados às condições devem ser naturais, no momento em

que ocorre o fenômeno, sem a intervenção do pesquisador na realidade em que se

encontra inserido para então realizá-la.

Para realizarmos a pesquisa de campo, é de extrema importância que nos

apropriemos das posteriores técnicas: observação sensível, observação

participante, e entrevista semiestruturada, utilizando-se de um roteiro que serão

indispensáveis para apreender e analisarmos a percepção dos sujeitos envolvidos

na pesquisa, os jovens inseridos na Instituição em questão. Nesse sentido e de

acordo com a sua classificação no contexto em que a pesquisadora se encontra

inserida, utilizando a então citada anteriormente, entrevista semiestruturada.

Segundo Triviños (1987, p. 146):

Entrevista semiestruturada é aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, junto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que recebem as respostas do informante. Desta maneira o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa.

Ainda conforme Minayo (2010, p. 64) esta é o tipo de pesquisa “[...] que

combina perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistador tem a possibilidade

de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada”

facilitando esse processo de aproximação, diálogo e a interação entre pesquisador e

50

pesquisado, obtendo assim, um resultado satisfatório na coleta de dados.

Assim já tendo realizado uma considerável parte da pesquisa em todos os

aspectos, foi necessário que para o alcance dos mesmos fosse delimitado um

caminho para concretizar a pesquisa de campo.

Ao me dirigir à Comunidade Católica Shalom no Centro Shalom da Paz no

bairro Aldeota, cujo centro escolhi como o local para realização da pesquisa, e

estando neste pela primeira vez enquanto pesquisadora para buscar informações de

como seriam os trâmites para a autorização da pesquisa em abril de 2014, não

consegui encontrar o coordenador responsável pelo setor da juventude na

comunidade, o chamado Projeto Juventude para Jesus, porém, na segunda

tentativa o encontrei e este autorizou a pesquisa na instituição sem maiores

resistências, de prontidão já iniciei a pesquisa de campo. No decorrer do processo,

busquei entrevistar o mesmo coordenador para um melhor aprofundamento da

Comunidade Católica Shalom no que diz respeito aos jovens inseridos na mesma,

porém devido compromissos que ele teria, não pode disponibilizar tempo para que a

entrevista fosse realizada, apesar de minha insistência. Também não foi possível à

disponibilização da quantidade de jovens participantes deste centro, pois no início

do primeiro semestre deste ano de 2014 a Comunidade estar a realizar um novo

levantamento para constatar os números de jovens inseridos na mesma.

Posteriormente me dirigi ao público principal para a realização das

entrevistas, os jovens que participam ativamente da comunidade, sendo assim estas

(entrevistas), ocorreram nos meses de maio e junho do ano de 2014 na própria

instituição. Foram escolhidos pela pesquisadora 10 entrevistados, onde estes estão

inseridos na comunidade e possuem diversas realidades, ex-usuários de drogas,

estudantes, profissionais, jovens que exercem papel de liderança no interior da

comunidade. O intuito era conhecer às realidades e perspectivas desses jovens

dentro e fora da comunidade, muitas destas até então desconhecidas pela

pesquisadora. A escolha pelos entrevistados ocorreu através dos seguintes critérios:

jovens que sejam participantes e atuantes na Comunidade Católica Shalom de

modo que assim possam ter maior autonomia sobre o assunto abordado, cujos

também sejam e estejam conscientes no ato da entrevista, verbalizando, de livre e

espontânea vontade e que desejassem contribuir para a pesquisa, sendo orientados

51

quanto aos trâmites necessários para este processo, solicitando o seu

consentimento livre e esclarecido através de um termo assinado pelo pesquisado e

pesquisadora, cujo este se encontra anexo a este trabalho. Ao expormos sobre a

observação participante, fazemos referência a Minayo (2010, p.70) que define como

sendo “[...] um processo pelo qual o pesquisador se coloca como observador de

uma situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica [...]”.

Assim, tornou-se fundamental e indispensável à pesquisadora inserir-se no campo

para participar da vida dos sujeitos envolvidos, gerando um olhar mais aproximado,

visando apreender os fenômenos que estão relacionados com os jovens na

Comunidade Católica Shalom. Todo material levantado foi devidamente

sistematizado e escrito como forma de atingir os objetivos desta pesquisa.

3.2 Jovens inseridos na Comunidade Católica Shalom: Realidades e

Perspectivas

O perfil dos sujeitos que participaram desse processo de pesquisa

contribuindo diretamente para a sua construção, tratam-se de 10 jovens

entrevistados, porém ao analisar e sistematizá-las, somente 8 entrevistados

atenderam as expectativas da pesquisadora no presente estudo.

Em alguns itens são apresentados especificamente os dados do perfil desses

jovens, em outros foram inseridas falas das entrevistas, como forma de explicitar

posicionamentos dos sujeitos da pesquisa, ressaltando que as identidades dos

mesmos serão preservadas e serão utilizados nomes fictícios. Sendo assim, a

seguir serão apresentados os resultados finais da pesquisa, iniciando de forma

breve pelo perfil de cada jovem entrevistado:

S. D. M. S: sexo feminino, 22 anos, possui o ensino médio completo, trabalha

com venda de roupas, solteira, possui renda familiar de 3 salários-mínimos, mora

com mãe e irmãos somando o total de 5 pessoas em casa própria, onde tem acesso

a televisão, geladeira, som e também a celular no qual já possuiu 5, não utiliza

internet. Nas horas livres gosta de frequentar Igrejas/grupos religiosos e

shoppings/praças de lazer. Está na Comunidade Católica Shalom a cerca de 5

52

anos. Esta depoente atenderá pelo nome de Ana.

P. C. M: sexo feminino, 28 anos, possui o ensino fundamental completo, é

dona de casa, solteira, possui renda familiar de 2 salários-mínimos, mora com filhos,

somando o total de 4 pessoas em casa alugada, onde tem acesso a televisão,

geladeira, som e também celular no qual já possuiu 6, utiliza internet para conversar

com amigos. Nas horas livres gosta de assistir TV, ir a Igreja/grupos religiosos e lan

house. Está na Comunidade Católica Shalom a cerca de 4 anos. Esta depoente

atenderá pelo nome de Rute.

D. B: sexo masculino, 20 anos, possui ensino superior incompleto, é

estudante, solteiro, possui renda familiar acima de 4 salários-mínimos, mora com

pai/mãe e irmãos somando o total de 5 pessoas em casa própria, onde tem acesso

a televisão, geladeira, computador, DVD, micro-ondas, som e celular no qual já

possuiu cerca de 4, utiliza internet para pesquisas e entretenimento. Nas horas

livres gosta de frequentar Igreja/grupos religiosos e ler livros e revistas. Está na

Comunidade Católica Shalom a cerca de 5 anos.Este depoente atenderá pelo nome

de Paulo.

M. S. S: sexo masculino, 22 anos, possui ensino superior incompleto, é

bolsista, solteiro, possui renda familiar de 3 salários-mínimos, mora com pai/mãe e

irmãos somando o total de 4 pessoas em casa própria, onde tem acesso a televisão,

geladeira, computador, DVD, som e celular no qual já possuiu cerca de 7, utiliza

internet para estudar, evangelizar, e se manter informado. Nas horas livres gosta de

frequentar Igrejas/grupos religiosos. Está na Comunidade Católica Shalom a cerca

de 7 anos. Este depoente atenderá pelo nome de Lucas.

J. S. C: sexo feminino, 16 anos, possui ensino médio incompleto, é

estudante, solteira, possui renda familiar de 3 salários-mínimos, mora com pai/mãe

e irmãos somando o total de 4 pessoas em casa alugada, onde tem acesso a

televisão, geladeira, computador, DVD, micro-ondas, som e celular no qual já

possuiu cerca de 7, utiliza internet para conversar com a galera e se manter

53

informada. Nas horas livres gosta de frequentar Igrejas/grupos religiosos e

shoppings/praças de lazer. Está na Comunidade Católica Shalom a cerca de 3 anos.

Esta depoente atenderá pelo nome de Lia.

J. B. S: sexo masculino, 28 anos, possui ensino superior completo, é

funcionário público, solteiro, possui renda familiar acima de 4 salários-mínimos,

mora com pai/mãe e irmãos somando o total de 5 pessoas em casa própria, onde

tem acesso a televisão, geladeira, computador, DVD, micro-ondas, ar-condicionado,

som e celular no qual já possuiu mais de 10 aparelhos, utiliza internet para questões

profissionais e para conversar com amigos. Nas horas livres gosta de fazer

esportes, frequentar Igrejas/grupos religiosos e ler livros e revistas. Está na

Comunidade Católica Shalom a cerca de 4 anos. Este depoente atenderá pelo nome

de João.

I. B. U: sexo feminino, 17 anos, possui ensino médio completo, é estudante,

solteira, possui renda familiar de 3 salários-mínimos, mora com pai/mãe e irmãos

somando o total de 5 pessoas em casa própria, onde tem acesso a televisão,

geladeira, computador, DVD e celular no qual já possuiu cerca de 5 aparelhos,

utiliza internet para pesquisas, jogar e se comunicar com as pessoas. Nas horas

livres gosta de assistir TV, ir ao cinema, a Igrejas/grupos religiosos, ir a

shoppings/praças de lazer, assim como também ler livros e revistas. Está na

Comunidade Católica Shalom a cerca de 5 anos. Esta depoente atenderá pelo nome

de Sara.

M. S. S: sexo feminino, 16 anos, possui ensino médio incompleto, é

estudante, solteira, possui renda familiar de 2 salários-mínimos, mora com mãe e

irmãos somando o total de 5 pessoas em casa própria, onde tem acesso a televisão,

geladeira, computador, som e celular no qual já possuiu cerca de 5 aparelhos, utiliza

internet para ver atualidades do mundo e estudar. Nas horas livres gosta de assistir

TV, ir ao cinema, ir a shoppings/praças de lazer, assim como também ler livros e

revistas. Está na Comunidade Católica Shalom a cerca de 3 anos. Esta depoente

atenderá pelo nome de Isabel.

54

Ao realizar uma breve análise no que se refere ao perfil dos jovens

entrevistados, é possível destacar que se trata de jovens com de realidades

diversificadas, contudo, favoráveis ao que estes buscam no tempo presente. Pode-

se constatar que a maioria dos entrevistados somente estuda, o que significa ser

uma comunidade que abrange jovens em fase de construção com relação a seus

futuros, e que também tem certa condição financeira, cujo não se faz necessário a

busca de emprego para sustentar suas necessidades enquanto seres humanos.

Percebe-se ainda que a maioria dos entrevistados mora com pai, mãe e

irmãos, o que podemos considerar como famílias tradicionais. É possível também se

perceber com esta análise do perfil dos entrevistados indiscutivelmente, a

constatação do consumismo, fator extremamente percebido no universo juvenil na

atualidade e assim também percebido nos relatos acima, conforme afirma Libanio

(2011, p. 74) “a criança e os jovens entraram, para o bem e para o mal, nos

interesses primordiais do comércio, quer produzindo produtos para eles, quer

usando-os como força de persuasão para o consumismo”.

Observa-se o grande avanço da internet a viabilizar o espaço virtual e da

telefonia celular, que tem estado no dia a dia das juventudes, sendo objetos quase

indispensáveis para a sobrevivência dos jovens na atualidade. Utilizam estes para

comunicação com conhecidos, o que torna conforme Libanio (2011) a linguagem

oral muito menos utilizada, abrindo espaço e dando de certa forma maior

importância para o mundo virtual.

Discorrendo sobre os questionamentos que seguiu um roteiro de entrevistas

semiestruturadas, o qual segue em anexo como já citado anteriormente, eis o que

os jovens informaram:

Ao questioná-los sobre o que acham da escola/universidade e o que

esta representa em sua vida, os entrevistados responderam:

– Ana, “Oportunidade de estudar e melhorar de vida”.

– Rute, “Boa, Porque lá posso retomar meus sonhos de ser uma pessoa melhor. Lá

é um lugar para estudar e aprender”.

55

– Paulo, “Ótima, boa infraestrutura, boa biblioteca, bons laboratórios, salas e

professores. Nada falta.

– Lucas, “Boa, porque lá tenho meus amigos e também estou buscando ser um

profissional melhor”.

– Lia, “Regular, porque precisa mudar muita coisa por lá”.

– João, “Lá é um lugar para se formar como profissional, é um lugar para encontrar

a galera e fazer novas amizades”.

– Sara, “Acho que meu cursinho é bom, mas devido algumas greves e alguns dias

sem aula, o rendimento caiu um pouco”.

– Isabel, “Lá é ótimo, é um lugar para estudar e conviver com os amigos.

Ao perceber as respostas anteriormente mencionadas é possível afirmar por

parte da pesquisadora que os jovens no momento da entrevista pareciam estar

confiantes daquilo que pensavam e expressaram a respeito do ambiente em que

estão ou já estiveram situados enquanto estudantes.

Percebe-se também certa preocupação no que se refere à importância que

exerce a formação acadêmica na vida de cada um, de modo que se torna um

preceito comum para os jovens de hoje, ser profissionais aceitos pelo mercado e

qualificados para isto, este fato se torna uma preocupação constante no universo

juvenil, assim como afirma Neto (2013) no primeiro capítulo desta pesquisa. Sabe-

se por fim que nem todos os jovens participam dos mesmos direitos ou “privilégios,

assim como afirma Libanio (2011, p. 83), […] Alguns vão adquirir qualidades

suficientes para gerir tais conhecimentos como competência, e uns poucos

pretenderão chegar ao topo da produção de conhecimentos. Há os excluídos que

sofrem dura pobreza”. E assim compõe-se a pirâmide na qual estão colocados os

jovens nesta sociedade. Porém assim como afirma uma pesquisa feita pelo IPECE

(2013):

Na perspectiva dos jovens como “atores do desenvolvimento”, a educação

56

assume um papel fundamental. Já reconhecida como fator preponderante para o desenvolvimento a acumulação de capital humano por parte dos jovens possui o potencial de elevar a produtividade das novas gerações de trabalhadores garantindo o crescimento da renda no futuro e o aumento de bem-estar.

Verificando assim a preocupação contínua dos jovens com aquilo que os

satisfaz ou poderá satisfazê-los.

Tratando sobre as atividades que os entrevistados realizam em seu

cotidiano, referiram que:

– Ana, “Saio de casa para o curso, do curso volto para casa, assisto TV, faço

atividades, mando mensagens para o celular da minha amiga, faço a oração diária,

leio a bíblia e durmo”.

– Rute, “Acordo cedo pra levar meu filho pra escola volto pra casa, arrumo tudo,

vejo um pouco de TV, vou pegar meu filho e deixar as duas meninas no outro

colégio, almoço, arrumo a casa e vou pro colégio à noite”.

– Paulo, “Estudo publicidade as manhãs. À tarde estudo e rezo. Vou à missa

diariamente. Faço trabalhos de design gráfico para a comunidade e sirvo e tenho

grupo de oração 3 ou 4 vezes por semana”.

– Lucas, “Na semana vou para a faculdade pela manhã, à tarde tenho estágio, de lá

vou para a comunidade, retorno para casa fico no computador e vou dormir”.

– Lia, “Acordo às dez horas, ajudo minha mãe com a casa, vou para a escola, na

quarta e sábado vou para o Shalom, fico parte da noite no computador, tiro uma

hora de oração e volto para o computador e durmo”.

– João, “De manhã trabalho, à tarde vou para a Igreja. Segunda, quarta, quinta, e

sexta estou na comunidade a noite”.

– Sara, “Pela manhã eu assisto TV, à tarde eu dou aulas de reforço, após voltar eu

57

estudo e vou para o cursinho. À noite eu estudo. Nos finais de semana dedico a

Deus indo para o grupo de oração e para meu serviço na Comunidade”.

– Isabel, “Eu assisto TV, tenho o meu momento de oração, estudo e convivo com

minha família e amigos”.

Todo ser humano possui um cotidiano, ou seja, vive sua vida dia a dia de

acordo com suas necessidades e tudo é organizado conforme as escolhas que o ser

humano opta, conforme afirma Patto (1993, p. 124):

A vida cotidiana é a vida de todo homem, pois não há quem esteja fora dela, e do homem todo, na medida em que, nela, são postos em funcionamento todos os seus sentidos, as capacidades intelectuais e manipulativas, sentimentos e paixões, ideias e ideologias.

Assim é possível perceber que os jovens que responderam este

questionamento fizeram uma menção de seu relacionamento com a comunidade a

qual resolveram participar e assim se pode afirmar que eles não excluem nenhum

de seus afazeres, mas sim os adéquam conforme sua vivência religiosa.

Ao abordar sobre quais valores consideram importantes, apontaram

que:

– Ana, “Agir com amor ao próximo, respeito às diferenças, culto a Deus, igualdade

de oportunidades, adquirir bens e viver com conforto, viver bem em família”.

– Rute, “Agir com amor ao próximo, respeito às diferenças, adquirir bens e viver

com conforto, viver bem em família”.

– Paulo, “Estudar e ter um bom emprego, agir com amor ao próximo, respeitar as

diferenças, consumir o que deseja, culto a Deus, adquirir bens e viver com conforto,

viver bem em família”.

– Lucas, “Estudar e ter um bom emprego, agir com amor ao próximo, culto a Deus,

adquirir bens e viver com conforto, viver bem em família”.

58

– Lia, “Ter dinheiro, estudar e ter um bom emprego, subir na vida e ser reconhecido

como importante, culto a Deus”.

– João, “Subir na vida e ser reconhecido como importante, Consumir o que deseja,

culto a Deus, adquirir bens e viver com conforto”.

– Sara, “Estudar e ter um bom emprego, agir com amor ao próximo, respeitar as

diferenças, culto a Deus, viver bem em família”.

– Isabel, “Estudar e ter um bom emprego, subir na vida e ser reconhecido como

importante, agir com amor ao próximo.

Ao analisar as respostas aqui apontadas pelos entrevistados, observa-se a

centralidade dos jovens naquilo que os fazem bem individualmente, traços estes

refletidos no âmbito da pós-modernidade como afirma Libanio (2011, p. 18):

A cultura pós-moderna acentua ainda mais a centralidade do sujeito em si mesmo, certo traço narcisista. Não raro, cresce o clima conflituoso interno e gera-se um superego sádico que se manifesta na vontade de sempre vencer, de anular o tempo pela vivência intensa do presente.

Deve-se salientar aqui que não se trata da questão do egoísmo, o fato de

pensar em si, mas são diversas questões em que se encontram os jovens, são

consequências do tempo o qual estes fazem parte.

Com relação aos seguintes questionamentos, O que pensa sobre

drogas? Você já usou drogas? Em caso positivo, por quanto tempo usou? E

que Tipo de droga que você consumiu? Os entrevistados relataram que:

– Ana, “Sou contra. Não”.

– Rute, “Sou contra. Sim, usei cerca de cinco anos. Usei a maconha”.

– Paulo, “Sou contra. Sim, bebida alcoólica e cigarro dois anos, experimentei

59

também maconha algumas vezes”.

– Lucas, “Sou contra. Não”.

– Lia, “Sou contra. Não”.

– João, “Sou contra. Já usei maconha e cocaína e ainda tenho recaídas”.

– Sara, “Sou contra. Não”.

– Isabel, “Sou contra. Não”.

Complementando os questionamentos anteriores, também foi

perguntado aos entrevistados que afirmaram ter tido contato com drogas, se

já deixaram de usar ou desejam deixar? Se deixaram, como conseguiram?

Eles responderam que:

– Ana, Não há resposta.

– Rute, “Sim. Foi através da ajuda do grupo de oração e da comunidade que me

acolheu e me levou para uma casa onde fui recuperando minha vida aos poucos”.

– Paulo, “Já deixei. Parei de frequentar ambientes propícios, como bares”.

– Lucas, Não há resposta.

– Lia, Não há resposta.

– João, “Ainda tenho recaídas, mas desejo deixar de usar”.

– Sara, Não há resposta.

60

– Isabel, Não há resposta.

Ao apontar esta questão com os entrevistados no momento da entrevista, foi

possível a pesquisadora detectar certa tensão ao tratar o assunto, apesar da maioria

já ter tido contato com drogas e esta não ser uma realidade tão distante da

comunidade em questão. As drogas estão centradas no tema do prazer que faz

parte do universo juvenil, assim como afirma Libanio (2011, p. 67):

Os jovens prosseguem no impulso desbravador, mas não dão conta. Refugiam-se na droga. Buscam o prazer imediato sem a mediação das palavras nem da relação com as pessoas. Experimentam sensação de plenitude, de satisfação pessoal, de sentimento de poder tudo.

Os jovens se inserem no mundo das drogas por diversos motivos,

sexualidade, problemas financeiros, familiares, enfim, uma infinidade de desculpas

que geram discussões muito delicadas e que necessitam de uma atenção especial

para que seja tratado de forma adequada, e possa se oferecer aos jovens a energia

necessária para que possam enfrentar a sociedade do prazer que tanto os seduz.

Assim também é possível afirmar que a espiritualidade exerce grande

importância no que se refere a este assunto, pois trabalha a questão interior do

sujeito, isso pode ser constado nos relatos dos entrevistados. Hoje em dia é

possível detectar também a existência de vários centros de apoio a dependentes

químicos que pertencem a instituições religiosas, no caso da Comunidade Católica

Shalom pode-se citar o projeto Volta Israel que trabalha com a realidade da

dependência química e cujo já foi mencionado anteriormente.

Com relação à vivência de fé dos jovens entrevistados, foram abordados

os seguintes pontos:

Como conheceram a Comunidade Católica Shalom e que motivo maior

os atraiu a fazerem parte da comunidade, eles afirmaram que:

– Ana, “Conheci através de amigos. A voz do Senhor a me chamar”.

– Rute, “Fui convidada por uma pessoa da comunidade. Ser curada do uso das

drogas”.

61

– Paulo, “Conheci através de amigos. Ser feliz como o amigo que me convidou era.

Cura de um estado depressivo”.

– Lucas, “Através de um familiar. A forma de vida que as pessoas tinham e o poder

conhecer a vontade de Deus para minha vida”.

– Lia, “Através das minhas amigas. A mudança delas me chamou atenção”.

– João, “Fui convidado por uma pessoa da comunidade. O que mais me chamou

atenção foi à maneira como fui tratado por ela que disse que eu poderia mudar de

vida”.

– Sara, “Através de um familiar. Após a minha primeira experiência com Deus, aos 8

anos, eu senti um enorme desejo de preencher o vazio existente em mim, vazio que

só o amor de Deus pode preencher, então tentei me engajar no grupo. E também,

devido a minha identificação com o carisma Shalom, com as coisas da

comunidade”.

– Isabel, “Conheci através de um familiar. O maior motivo que me atraiu pra

comunidade foi a fé e o Amor de Deus. Também porque fui muito bem acolhida”.

Os entrevistados em sua maioria apontam que a Comunidade surgiu em suas

vidas, em momentos de certa repercussão sejam estes bons ou não e resolveram

se decidir pela mesma buscando a satisfação interior e o bem que desejavam. Neto

(2013, p. 26), complementa que:

A experiência mística de hoje parece exigir uma espécie de terapêutica social. Um deus-oásis, que tira as preocupações momentâneas, em especial nos momentos de crise. A vivência religiosa seria comparada a um tipo de aspirina que se consome quando se sente necessitado. Sem se preocupar com os direitos e a promoção integral da pessoa humana, a experiência religiosa corre o risco de transformar-se num grande fetiche. Além disso, deixa de representar um espaço da relação com Deus e passa a ser caminho da ascensão social ou promessa de felicidade plena, além, é claro, do perigo da mercantilização da fé.

Aqui se busca salientar como se explicitou nas teorizações dos capítulos

anteriores, que os jovens buscam preencher um vazio que possuem, buscam

62

explicações para as suas questões mais íntimas, assim então a comunidade e tudo

que ela oferece aos mesmos, se torna o aporte que estes tanto almejavam para se

apoiar, ou seja, resumidamente a espiritualidade e a aproximação do sagrado geram

segurança.

Ao indagá-los sobre suas atuações/serviços dentro da Comunidade,

comentaram que:

– Ana, “Sou do ministério de Crisma, meu grupo é domingo com jovens de 15 a 17

anos, apesar de que eu não sei como Deus me escolheu, sendo eu tão pobre e

fraca”.

– Rute, “Sou do grupo de oração de sábado, e sou muito feliz de fazer parte dessa

família”.

– Paulo, “Evangelização, acolhimento das novas pessoas que chegam. Eu e mais

outras pessoas organizamos seminários para que outras pessoas tenham uma

experiência com Deus”.

– Lucas, “Sou do ministério de intercessão e aconselhamento, por pura graça de

Deus”.

– Lia, “Sou do ministério de Artes. Mesmo fora da comunidade eu não sendo nada,

aqui eu sirvo e tenho importância”

– João, “Sou do ministério de Liturgia, cuidar das coisas de Deus é um grande

prazer”.

– Sara, “Participo do ministério Crisma e sou muito feliz no meu serviço. No começo

achei um pouco difícil, talvez pela minha falta de experiência, mas graças a Deus

que me capacitou, hoje estou firme e forte no serviço”.

63

– Isabel, “Meu serviço é no acolhimento, partilhar o amor de Deus”.

A partir das falas dos entrevistados, pode-se constatar a valorização que

estes dão a suas ocupações dentro da comunidade, independente de sua situação

sócio- econômica, a posição que se é exercida na comunidade gera um bem-estar

interno, Nicolau (2006, p. 81) ainda nos afirma que, “[…] Independente da situação

socioeconômica, a pessoa pode ocupar um lugar socialmente valorizado, quando

assume uma atividade de destaque na hierarquia da comunidade[...]”.

Este fato é de grande importância ainda pelo fato de resgatar o valor, a

dignidade que cada ser humano seja jovem ou não deve ter e ainda influencia na

construção da identidade destes. Conforme ainda Nicolau (2006, p. 81), “O Shalom

oferece essa possibilidade, não fazendo, pelo menos explicitamente, distinção entre

ricos e pobres, letratos e iletrados, cultos e incultos”.

Ao questioná-los como se sentem dentro da comunidade, os jovens

disseram que:

– Ana, “Me sinto respeitada, até porque é bem complicado viver este chamado sem

uma maior unidade com os irmãos”.

– Rute, “Me sinto amada, os irmãos me acolhem, mas tem outros que me olham

com indiferença”.

– Paulo, “Me sinto amado. Aqui encontrei a minha verdadeira felicidade, aquilo que

sempre quis. Aqui também aprendo sobre a vida, e tudo é refletido fora daqui em

qualquer lugar onde vou”.

– Lucas, “Me sinto muito acolhido. A comunidade para mim é minha segunda

família”.

– Lia, “Me sinto feliz, é show ser da Comunidade Shalom, porque você aprende a

ser um jovem santo”.

64

– João, “Me sinto acolhido e feliz. A Shalom é instrumento de salvação na minha

vida”.

– Sara, “Me sinto feliz, mesmo que algumas vezes não me sinta respeitada, pois

dentro da Comunidade existem pessoas que não nos respeitam por não ter

condições financeiras, por exemplo”.

– Isabel, “Me sinto amada, sou muito feliz”.

Mas uma vez pode-se apontar a questão do reconhecimento que os jovens

buscam, a satisfação interior que os atrai. A comunidade exerce esse papel de

atração mesmo com aqueles que não têm participação atuante, como se pôde

analisar em algumas entrevistas realizadas, porém não estão sistematizadas neste

espaço, pois, não atendiam aos critérios almejados pela pesquisadora.

No que diz respeito a esta função da comunidade, Nicolau (2006, p. 81) diz

que “A forte valorização simbólica do Shalom [...] se estende a comunidade católica

em geral, pois muitos católicos, carismáticos ou não participam dos eventos dizendo

sentirem ali um acolhimento especial”.

Os jovens foram questionados se em algum momento de suas vidas, já

foram alvos de preconceito devido suas escolhas religiosas, estes nos

afirmaram que:

– Ana, “Sim. Quando retornei para a Igreja Católica meu tio me falou que eu iria

para o inferno por ter saído do protestantismo”.

– Rute, “Não”.

– Paulo, “Sim. Acham que por eu ser católico, sou alienado e homofóbico”.

– Lucas, “Sim. As pessoas tendem a julgar-me. Chamam-me de “santinho virgem”.

65

Eles zombam por não entenderem que só Deus tem o melhor pra nós”.

– Lia, “Não”.

– João, “Não”.

– Sara, “Sim, Algumas pessoas criticam, pelo fato de passar tanto tempo no

Shalom, dizem que vou ficar alienada, o que acho ridículo, pois se servir e amar a

Deus for ser chamada de louca, então que eu seja”.

– Isabel, “Não”.

Dentre tantos fatores abordados com esta relação entre juventudes e

identidade religiosa, dentre eles, eis há uma crescente discussão pela questão da

tolerância religiosa, embora muito já se tenha discutido nesse sentido,

especialmente no meio político e educacional. A legislação brasileira já na

Constituição Brasileira de 1988 legitima:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

E ainda o Código Penal Brasileiro, Decreto Lei 2848/40 institui:

Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sempre juízo da correspondente à violência.

No momento da entrevista pode-se perceber a insegurança e incômodo dos

entrevistados ao falar do assunto, este que envolve preconceito, porém, o que os

jovens também fizeram questão de demonstrar é que apesar de qualquer situação

indesejável, a vivência de fé que eles têm supera as barreiras que se encontrarem

no caminho.

66

Os jovens foram indagados sobre o que teriam que a dizer sobre sua

religião, eles disseram que:

– Ana, “Hoje reconheço que ser católica é muito mais que uma simples escolha, a

Igreja Católica é a esposa de Jesus, é a verdadeira religião”.

– Rute, “Conheci a religião católica há pouco tempo, ela me ajudou a ter vida nova,

a ser uma pessoa melhor”.

– Paulo, “Sempre fui católico. A Igreja é linda e só se sabe isso conhecendo-a,

vivendo a fé católica”

– Lucas, “Ser católico é a verdadeira religião, a única e eterna”.

– Lia, “Conheci a religião católica há pouco tempo, é legal, estou me identificando

com esta realidade de ser cristã”.

– João, “Conheço a Igreja Católica há pouco tempo e tô me identificando com

Jesus”.

– Sara, “Sempre fui católica e amo minha religião, acolho e me sinto muito bem”.

– Isabel, “Sou muito feliz, pois minha vida toda fui e sou católica”.

A relação juventude e religião hoje, tem se mostrado de uma forma mais

abrangente que a juventude de outras décadas. A respeito disso relata Novaes

(2004, p.264-265):

Para os jovens de hoje, multiplicam-se igrejas e grupos de várias tradições religiosas. Para eles também existem possibilidades de combinar elementos de diferentes espiritualidades em uma síntese “pessoal e intransferível”. Em síntese, nos dias atuais, surgem constantemente novas possibilidades sincréticas que ao mesmo tempo (re) produzem identidades institucionais e até novos fundamentalismos.

67

Se tratando dos jovens entrevistados serem católicos atuantes dentro

de uma Comunidade Católica, foram perguntados se este fator muda alguma

coisa em suas vidas, afirmaram que:

– Ana, “Sim. A forma de ser. Sei que tudo posso, mas nem tudo engrandece”.

– Rute, “Sim, a gente muda porque conhece a Cristo”.

– Paulo, “Sim, a forma como vejo o mundo, as pessoas, a forma de me relacionar

com elas, as minhas escolhas, vejo tudo de uma forma mais feliz e cheia de

sentido”.

– Lucas, “Toda minha forma de ser e ver o mundo, hoje compreendo bem melhor o

mundo que estou inserido”.

– Lia, “Sim, sem dúvida, se hoje paro para analisar minha vida, vejo que não sou

mais aquela garota do mundo”.

– João, “Sim, porque não consigo fazer muita coisa que antes eu fazia e era

errado”.

– Sara, “Sim, o fato de poder transbordar as graças que o Senhor derrama na minha

vida e em outras pessoas. Poder ser testemunho para tantos jovens”.

– Isabel, “Sim, pois hoje sou uma pessoa melhor”.

A maioria das respostas dadas pelos entrevistados foram positivas de modo

que também em suas expressões, pode-se perceber quão intenso e inovador se

torna a adesão a Comunidade, pois gera um novo olhar em todos os aspectos de

suas vidas, dessa forma, Nicolau (2006, p. 37) expõe muito bem este fator quando

aponta que:

O engajamento no Shalom implica um processo de mudanças, de reconstrução de identidade e de fortalecimento psicológico, propiciando

68

uma nova forma de significar e ordenar o mundo. O “católico especial”, que emerge desse processo, tem uma autoconfiança que se exterioriza através da alegria, da amabilidade, da afetividade e da solidariedade para com os irmãos. Esse “resultado” vai se desenhando a partir da vivência em comunidade, na relação que se estabelece entre os indivíduos e na maneira particular pela qual eles se ligam a sociedade [...].

Nessa perspectiva é interessante destacar a percepção de que a vivência de

fé gera no jovem um olhar diferenciado no cotidiano, pode-se ver nas respostas

acima que jovens dizem ter modificado suas vidas por essa vivência. No olhar critico

de pesquisador, percebe-se a religião como um fenômeno cheio de significados, e

por meio desse recorte feito na Comunidade Católica Shalom, percebe-se que os

mesmos dão validade à espiritualidade, afirmando terem uma nova visão diante do

cotidiano.

Os jovens foram questionados a respeito da missão de um jovem

carismático no mundo que vivemos hoje, assim responderam:

– Ana, “Ser jovem para o mundo sendo de Deus. Abrir seu coração ao chamado de

vida que Deus tem para cada um de nós”.

– Rute, “Ser a imagem e semelhança de Deus”.

– Paulo, “Mostrar com sua vida que ser católico é a verdadeira liberdade e a

verdadeira felicidade em todos os ambientes”.

– Lucas, “Levar a palavra de Deus ao mundo coberto pelo pecado”.

– Lia, “Mostrar ao mundo que a santidade é para todos”.

– João, “Pregar evangelho a toda criatura”.

– Sara, “Evangelizar e anunciar Cristo, ser testemunha de uma vida em Deus e se

for pra ser diferente que seja!”.

– Isabel, “Falar do Amor de Deus”.

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A partir das falas dos entrevistados pecebe-se grande influência da vivência

religiosa que estes têm, onde esta se relaciona e é exercitada em todos os aspectos

e afazeres da vida cotidiana de cada um, a respeito, Nicolau (2006, p. 37) diz que:

Os membros do Shalom se auto-intitulam anunciadores da paz que Jesus fala no evangelho e dizem ter a missão de levar, com seu exemplo de vida, com sua palavra e seu testemunho, o Shalom de Deus aos corações. Assim, se dizem instrumentos de reconciliação do mundo com Deus.

Analisando os entrevistados, estes como jovens, foram indagados se

suas vivências de fé influenciam em seus planos para o futuro. Eles afirmaram

que:

– Ana, “Meu futuro está nas mãos de Deus. Tem sim muita influência pois agora sei

que Deus me criou para ser feliz vivendo sua vontade”.

– Rute, “Quero poder terminar os estudos e dar uma vida mais voltada para Deus

para meus filhos”.

– Paulo, “Sempre estudar e ter uma profissão digna e condizente com minha fé, e

se possível, levar minha fé embutida no meu trabalho. Quero ser um fotógrafo antes

de me engajar. A minha fé só mudou minha temática”.

– Lucas, “Espero ser feliz e ser fiel ao chamado de Deus para mim. Tem sim, pois a

partir da comunidade pude tomar minhas decisões conforme a vontade do Senhor”.

– Lia, “Que eu possa ser bem mais aberta à vontade e ao chamado de Deus para

mim”.

– João, “Quero viver bem e permanecer na comunidade”.

– Sara, “O meu futuro espero conseguir passar na faculdade pública, conseguir me

formar, ter uma família. Minha vivência de fé tem total influência, tudo está nas mãos

de Deus e tudo será conforme sua vontade”.

70

– Isabel, “Eu penso em mudar de vida, porém do futuro só Deus sabe”.

A partir das indagações anteriores e suas respostas é nítido que todas as

atitudes tomadas pelos entrevistados a cerca do futuro estão vinculadas a sua

vivência de fé, de modo que estes afirmam a influência que ela exerce sobre suas

vidas, enfim, estes colocam o peso de suas decisões e as consequências destas na

“vontade de Deus”, por mais que os seus desejos estejam intimamente ligados

também às necessidades materiais, estas que podem oferecer condições sociais

melhores, ou seja, esta satisfação interior e exterior não se exclui da vida dos

entrevistados. Nicolau (2006, p. 37) complementa que “Segundo os carismáticos, as

comunidades devem ser vistas de dois ângulos: o da aspiração a uma sociedade

melhor, mais humanizada, e como um dispositivo para favorecer a elevação

espiritual”.

Os jovens foram motivados a Deixar uma mensagem para os jovens de

hoje, assim disseram:

– Ana, “A juventude do corpo passa, mas uma alma jovem jamais morre se

encontrou a Jesus por seu Salvador”.

– Rute, “O tempo não para e os nossos erros machucam quem amamos. Mas Deus

é o caminho, a verdade e a vida”.

– Paulo, “Não se fechem ao conhecimento de Deus e da Igreja, a santidade não é

uma prisão, é uma liberdade. Só uma experiência com Deus pode preencher o vazio

que existe em nosso coração”.

– Lucas, “Só encontra felicidade quem buscou a Jesus”.

– Lia, “Seja santo sem deixar de ser jovem e não seja careta”.

– João, “Só Deus é capaz de mudar o homem”.

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– Sara, “Não tenham medo de entregar sua juventude a Deus, ele faz milagres.

Preencha o vazio de seu coração, com aquele que te trará a felicidade que não

passa. E principalmente, não tenha vergonha da sua fé”.

– Isabel, “Vivam intensamente o Amor de Deus, pois ser santo não é deixar de ser

jovem”.

Nas mensagens apresentadas pelos jovens participantes das entrevistas,

podem-se observar palavras de encorajamento, uma presença muito intensa da

vivência de fé. Sendo assim exercendo um olhar critico de pesquisadora, vê-se a

influência exercida pelas práticas religiosas na vida dos mesmos.

72

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta de estudo dessa monografia, focalizou “juventudes” e identidade

religiosa. Buscou-se incidir o olhar na realidade dos jovens participantes do

movimento RCC da Igreja Católica, mais especificamente, na Comunidade Católica

Shalom da cidade de Fortaleza no Centro Shalom da Paz no bairro Aldeota. O

propósito da pesquisa foi estudar as realidades e perspectivas das “juventudes”

inseridas na Comunidade em questão, procurando compreender os sentidos da

vivência e práticas religiosas em suas vidas no cotidiano, com base na experiência

da Comunidade Católica Shalom.

Essa pesquisa foi feita numa linha de abordagem qualitativa, ou seja, que

busca o aprofundamento e a compreensão de um grupo social, não dando

demasiada importância a números, mas sim a qualidade da pesquisa. Ao longo dos

capítulos foi feito um aprofundamento da mesma.

Durante a presente pesquisa, buscou-se, numa primeira etapa, obter o

conhecimento oriundo da teoria almejando ampliar a visão para estudar mais a

fundo esse fenômeno. Orientada pelas inspirações teóricas, foi desenvolvido

trabalho de campo na busca de levantar informações, depoimentos, reflexões para

compreender o fenômeno em estudo. O caminho percorrido se deu de primeiro

momento pela pesquisa bibliográfica que retratou sobre o fator das “juventudes” na

atualidade, dando ênfase a aspectos cujo estão envolvidas, levando em

consideração suas particularidades e significados, assim como também destacando

algumas das múltiplas expressões da questão social que os atingem na sociedade

de consumo a qual nos encontramos, sendo esta dirigida pelo sistema capitalista.

Segue-se com o estudo sobre a identidade religiosa e a relação entre as

“juventudes” e a dimensão religiosa, pois este atualmente é considerado um fator de

grande relevância e que gera grande influência na vida dos jovens. No estudo sobre

o campo religioso brasileiro, especificamente nas últimas décadas, tem apresentado

um terreno abundante e multíplice, pelo surgimento de novos movimentos cujo às

“juventudes” exercem importante e relevante papel. Em seguida vale destacar a

respeito da Igreja Católica com suas transformações ao longo da história, dentre

73

essas se destaca o surgimento do movimento da Renovação Carismática Católica a

qual foi o recorte da pesquisa na realidade da Comunidade Católica Shalom, que

segue a linha da espiritualidade do movimento da RCC, cujo este pode ser

considerado um movimento repleto de significados, que instiga à pesquisadora a

observação e estudo de mais especifico de campo, na Comunidade Católica

Shalom, onde foram entrevistados jovens de diferentes realidades da comunidade,

no intuito de extrair os significados da vivência de fé em suas vidas. No lócus da

investigação, foi feita uma pesquisa sobre a Comunidade Católica Shalom,

apresentando sua história tomando por referência as pesquisas bibliográficas.

A conclusão que se chegou foi que a Comunidade desde seu inicio teve uma

motivação para os jovens, já que foi fundada por estes. A presença dos jovens foi

muito frequente em muitas atividades, a qual se pode realizar uma observação, e

pode-se perceber o quanto a espiritualidade influenciava em suas ações e motivava

a outros jovens a também participarem, por meios de eventos, formações, enfim,

atividades voltadas especificamente para este público. Posteriormente foi feita uma

análise mais aprofundada dos jovens da Comunidade Católica Shalom, fazendo um

paralelo com a teoria, aplicando assim também entrevistas com os jovens de

diversas realidades e atuantes na Comunidade em questão. Concluindo as etapas

da pesquisa foi feita a análise dos dados e logo após a escrita, sistematizando e

analisando todas as indagações e respostas dos entrevistados.

O caminho percorrido na tessitura dessa pesquisa foi repleto de descobertas,

desafios e superações. O primeiro grande desafio foi à escolha do objeto a ser

pesquisado, diante de muitas possibilidades, instigada a investigar sobre as

juventudes e religião, na realidade da Comunidade Católica Shalom onde a

pesquisadora participa há 8 anos. Um grande desafio que se levantava e que

cercava a mesmo em todo instante, era a questão de como poderia fazer um estudo

de algo em que se está inserido há tanto tempo, como fazer o estranhamento desse

objeto, como fazer com que o olhar de pesquisadora conseguisse realizar essa

pesquisa. Apesar das diversas dificuldades enfrentadas e encontradas ao longo do

caminho, tais questionamentos serviram de motivação avaliando a primeira instância

onde parecia algo de difícil possibilidade, tornou-se algo possível a partir da

ampliação da visão por causa da teoria trabalhada anteriormente. Com isso gerou

74

na pesquisadora um olhar diferenciado para com o objeto, fazendo perceber nos

dados colhidos nas entrevistas realizadas e nas observações participantes,

particularidades que somente pelo olhar de pesquisadora é possível ter acesso.

Algo que convém destacar ao final dessa análise seria a respeito do

fenômeno religioso ser visto como um local também de tensões, onde se verifica

pessoas que adquirem o conforto, como também aqueles que passam por

desconforto após sua escolha religiosa, de modo que para esta vivência se podem

detectar vários motivos, expressos no decorrer do presente estudo.

A realização desse trabalho trouxe um grande despertar para o ofício de

pesquisadora e gerou significados, que moveu de uma situação de estagnação para

o de estar em movimento, gerando a disposição de continuar esse ofício.

Concluindo essa pesquisa, é possível sentir-se mais preparada enquanto futura

profissional para o enfrentamento de novos desafios, na perspectiva de um maior

aprofundamento, o resultado final motiva a dar passos mais a frente, em vista de

novos trabalhos.

A conclusão dessa monografia gerou significados imprescindíveis no que diz

respeito à vida acadêmica da pesquisadora. Como estudante de Serviço Social esse

trabalho faz exercer o ofício de pesquisadora, na medida em que através de

observações junto aos sujeitos podem-se desenvolver resultados que anteriormente

não se tinha percepção. O olhar investigativo gerou um resultado muito relevante

para o foco da pesquisa.

No geral percebeu-se que a religião tem estado muito presente na vida das

“juventudes” na contemporaneidade e que exerce grande influência na vida destes

sujeitos. Apesar do que afirma Libanio (2011, p. 25) “Os jovens decidem, de maneira

autonoma, o próprio destino. Ninguém decide por eles: nem família, nem escola,

nem partido político, nem Igreja. No entanto, assumem que, para alcançá-lo, certas

dependências se fazem pragmaticamente interessantes”. Contudo, não se exclui o

fato da necessidade dos esforços coletivos que devem exercer a escola e

principalmente a família, que se devem ocupar para que os jovens se desenvolvam

e se tornem adultos socialmente ajustados. A própria Comunidade Católica Shalom,

foco deste estudo, que desde o início assumiu o papel de compromisso com os

75

jovens, deve buscar meios eficazes e constantes de auxiliá-los, visando sempre às

realidades atuais que estes vivem, onde a cidade de Fortaleza é considerada uma

das mais violentas do Brasil, como apontam diversos estudos, e nestes índices de

criminalidade os maiores envolvidos são justamente os jovens. Enfim, toda a

sociedade tem o dever de voltar-se aos jovens, acolhê-los mesmo com todas as

suas diversidades e tratar cada um com suas particularidades próprias, também

deve cumprir seu papel de modo que sejam cobradas para benefícios dos mesmos

uma atenção especial, como por exemplo, que sejam elaboradas e executadas, de

fato, políticas públicas que possibilitem uma preparação adequada para suas vidas

independentemente do credo que professam.

76

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TEIXEIRA, Faustino; Menezes, Renata. Muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre: o catolicismo plural. Disponível em: http://www..ihu.unisinos.br/entrevistas/28849%60%muita-reza-e-pouca-missa-muito-santo-e-pouco-padre%60%60-o-catolicismo-plural-entrevista-especial-com-faustino-teixeira-e-renata-menezes. Acesso em 12/05/2014. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

http://www.comshalom.org/- Ultimo acesso em 30/06/2014

http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/ipeceinforme/Ipece_Informe_57_22_abril_2013.pdf. Acesso em 30/06/2014. http://www.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2014/04/11/noticiasjornalcotidiano,3234699/pesquisa-reafirma-fortaleza-como-7-cidade-mais-violenta-do-mundo.shtml Acesso em 30/06/2014

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12852.htm

Acesso em 12/04/2014

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ANEXOS

81

82

APÊNDICES

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Apêndice I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da Pesquisa: As realidades e perspectivas das juventudes inseridas na

Comunidade Católica Shalom da cidade de Fortaleza.

Pesquisador: Thaislany Teles da Rocha

Orientador: Prof. Ms. Jefferson Falcão Sales

O Sr. (Sra.) está sendo convidado(a) a participar da pesquisa : As realidades

das juventudes inseridas na Comunidade Católica Shalom da cidade de Fortaleza.

Tal pesquisa é requisito para a conclusão do curso de Bacharelado em Serviço

Social pela Faculdade Cearense.

Ao participar deste estudo, o/a Sr. (a) permitirá que o pesquisador utilize suas

informações para a realização desta pesquisa e fins acadêmicos. Entretanto, os

dados obtidos serão mantidos em sigilo, somente o pesquisador e seu orientador

terão conhecimento dos dados. O participante tem a liberdade de desistir a qualquer

momento do estudo caso julgue necessário, sem qualquer prejuízo. A qualquer

momento poderá pedir maiores esclarecimentos sobre a pesquisa através do

telefone do pesquisador: Thaislany Teles da Rocha, fone (85) 8902-1057. O maior

benefício para o participante será a sua contribuição pessoal para o

desenvolvimento de um estudo científico de grande importância, onde o pesquisador

se compromete a divulgar os resultados obtidos. O/A Sr. (a) não terá nenhum tipo de

despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua

participação.

Após estes esclarecimentos, solicito o seu consentimento de forma livre para

participar desta pesquisa.

Consentimento Pós–Informação

Tendo em vista os esclarecimentos apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,

manifesto meu consentimento em participar da pesquisa.

________________________________________ Data___/____/ ____

Assinatura do Participante

__________________________________________

Assinatura do Pesquisador Responsável

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Apêndice II

Roteiro de entrevista com os jovens participantes da Comunidade Católica

Shalom.

IDENTICAÇÃO DO PERFIL

1-SEXO: ( ) masculino ( ) feminino

2-IDADE:

3-NÍVEL DE FORMAÇÃO:

( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino fundamental completo

( ) ensino médio incompleto ( ) ensino médio completo

( ) ensino superior incompleto ( ) ensino superior incompleto

4- QUAL A SUA OCUPAÇÃO:

5- ESTADO CIVIL:

6-RENDA FAMILIAR:

( ) menos de 1 salário mínimo ( ) 1 salário mínimo ( ) 2 salários mínimos

( ) 3 salários mínimos ( ) acima de 4 salários mínimos

7-VOCÊ MORA COM:

( ) cônjuge ( ) cônjuge e filhos ( ) filhos ( ) mãe e irmãos ( ) pai/mãe e irmãos

( ) pai e irmãos ( ) irmãos ( ) avós ( ) tios e primos ( ) amigos ( ) sozinho(a)

8-QUANTIDADE DE PESSOAS QUE MORAM NA SUA CASA:

( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( ) acima de 5 pessoas

9-A CASA ONDE MORA É:

( ) própria ( ) alugada ( ) cedida (emprestada)

10-ELETRODOMÉSTICOS E APARELHOS QUE EXISTEM EM SUA CASA:

( ) televisão ( ) geladeira ( ) computador ( ) dvd

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( ) micro-ondas ( ) ar condicionado ( ) som

11-POSSUI CELULAR? ( )sim ( )não

Quantos aparelhos de celular você já teve em sua vida?

12-VOCÊ USA INTERNET: ( ) sim ( ) não

EM CASO POSITIVO, POR QUAL MOTIVO A USA?

13-PREFERÊNCIAS DE ATIVIDADES NO TEMPO LIVRE:

( ) esportes ( ) assistir tv ( ) cinema ( ) teatro ( ) Igreja/grupos religiosos ( ) lan

house

( ) shoppings/ praças de lazer ( ) ler livros e revistas

QUESTÕES NORTEADORAS

14 - SE ESTUDA O QUE VOCÊ ACHA DA ESCOLA/UNIVERSIDADE? POR QUÊ?

15 - O QUE REPRESENTA A ESCOLA /UNIVERSIDADE EM SUA VIDA?

( ) lugar para estudar e aprender ( ) oportunidade de estudar e

melhorar de vida

( ) lugar para se formar como profissional ( ) um lugar sem sentido, que vou por

obrigação

( ) um lugar para ocupar o tempo ( ) um lugar para encontrar a galera e fazer

novas amizades

16- FAÇA UM BREVE RELATO DAS ATIVIDADES QUE VOCÊ REALIZA EM SEU

COTIDIANO.

17- EM SUA VIDA QUAIS VALORES VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES:

( ) ter dinheiro ( ) subir na vida e ser reconhecido como importante ( ) estudar e ter

um bom emprego ( ) culto a Deus ( ) agir com amor ao próximo ( ) respeito

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às diferenças ( ) consumir o que deseja ( ) igualdade de

oportunidades ( ) viver bem em família ( ) adquirir bens e viver com conforto

18- O QUE PENSA SOBRE DROGAS:

( ) sou a favor do uso ( ) sou contra

19- VOCÊ JÁ USOU DROGAS: ( ) sim ( ) não

-EM CASO POSITIVO:

-POR QUANTO TEMPO USOU?

-TIPO DE DROGAS QUE VOCÊ CONSUMIU?

- JÁ DEIXOU DE USAR OU DESEJA DEIXAR?

- SE DEIXOU COMO CONSEGUIU?

20 – COM RELAÇÃO A SUA VIVÊNCIA DE FÉ, RESPONDA:

A) COMO CONHECEU A COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM?

B) QUE MOTIVO MAIOR LHE ATRAIU A FAZER PARTE DA COMUNIDADE?

C) QUAL A SUA ATUAÇÃO/SERVIÇO DENTRO DA COMUNIDADE? COMENTE

D) COMO SE SENTE DENTRO DA COMUNIDADE? GOSTARIA DE COMENTAR

ALGO COM RELAÇÃO A ISSO?

E) EM ALGUM MOMENTO DE SUA VIDA VOCÊ JÁ FOI ALVO DE PRECONCEITO

DEVIDO SUA ESCOLHA RELIGIOSA?

( ) sim ( ) não

SE POSITIVO, COMENTE:

F) COM RELAÇÃO Á RELIGIÃO:

O QUE VOCÊ TEM A DIZER SOBRE SUA RELIGIÃO?

G) O FATO DE SER UM CATÓLICO ATUANTE DENTRO DE UMA COMUNIDADE

CATÓLICA MUDA ALGUMA COISA EM SUA VIDA?

( ) sim ( ) não

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SE POSITIVO, O QUÊ?

H) EM SUA OPINIÃO, QUAL A MISSÃO DE UM JOVEM CARISMÁTICO NO

MUNDO QUE VIVEMOS HOJE?

I) O QUE VOCÊ COMO JOVEM PENSA PARA SEU FUTURO? SUA VIVÊNCIA DE

FÉ TEVE OU TEM ALGUMA INFLUÊNCIA NESSES PLANOS?

J) DEIXE UMA MENSAGEM PARA OS JOVENS DE HOJE.

OBRIGADA PELA COLABORAÇÃO!