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Universidade Estadual de Goiás UnU - Goiás Revista Visão Acadêmica Revista Eletrônica Ano 2 - nº 5 Novembro de 2012 ISSN 2177 7276

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Universidade Estadual de GoisUnU - Gois

Revista Viso Acadmica

Revista Eletrnica Ano 2 - n 5 Novembro de 2012

ISSN 2177 7276

Revista Viso Acadmica; Universidade Estadual de Gois; Novembro de 2012; ISSN 21777276; Cidade de Gois; www.coracoralina.ueg.br

Dados da PublicaoRevista Viso AcadmicaAno 2 - n 5 - Novembro de 2012 Revista Eletrnica - Periodicidade Semestral ISSN 2177 7276

Contato e AcessoPrincipal: [email protected] Alternativo: [email protected] Acesso via stio http//:www.coracoralina.ueg.br

ExpedienteUniversidade Estadual de Gois ( UEG)Reitor: Haroldo Reimer

Unidade Universitria de GoisDiretor da Unidade: Flvio Antnio dos Santos Av. Deusdete Ferreira de Moura S/N Centro Cidade de Gois- GO - CEP 76.600

Conselho EditorialAuristela Afonso da Costa - UEG Gois Clovis Carvalho Britto - UEG Gois Eleone Ferraz de Assis - UEG-Gois Itelvides Jos de Morais - UEG Gois Luciano Feliciano de Lima - UNESP/SP - UEG Gois Raquel Miranda Barbosa - UEG Gois

Conselho ConsultivoAdemar Azevedo Soares Jnior (UEG - Goinia/ESEFFEGO) Carla Rosane Mendanha da Cunha (FMB - GO) Clia Sebastiana Silva (UFG - Goinia) Cristina Helou Gomide (UFG - Gois)

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Deis Elucy Siqueira (Universidade de Braslia - UnB) Ebe Maria de Lima Siqueira (UFG - Goinia /UEG) Eduardo Gonalves Rocha (UFG - Gois) Eduardo Jos Reinato (PUC - GO) Francisco Alberto Severo de Almeida (UEG - Ensino a Distncia) Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anpolis/UnUCET) Jackeline Silva Alves (UEG - Morrinhos) Marta de Paiva Macdo (UEG - Morrinhos) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogria Luzia Wolpp Gonalves (UEG - Itabera) Sheila Luciano Alves (PUC - GO) Valdeniza Maria Lopes da Barra (UFG - Goinia)

Membros do Conselho Consultivo Convidados Para a EdioRubens de Freitas Benevides (UFG - Catalo) Paula Reis de Miranda (Instituto de Educao Cincia e Tecnologia - MG) Maria Eugnia Curado (UEG - cidade de Gois) Robson Rodrigues Gomes Filho (UEG - Unidade de Morrinhos) Paula Roberta Chagas (UEG - Unidade de Morrinhos)

AdministraoAlair Di Silva Peres (UEG - cidade de Gois)

Correo Gramatical e Ortogrfica Pelos GraduandosLvia Rodrigues Barbosa (UEG - Letras - cidade de Gois) Ivani Peixoto dos Santos (UEG - Letras - cidade de Gois) Juliana de Ftima Ananias de Jesus (UEG - Letras - cidade de Gois)

Formatao e DiagramaoGuido de Oliveira Carvalho (UEG - cidade de Gois). Itelvides Jos de Morais (UEG - cidade de Gois)

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Informaes GeraisA revista especializada na publicao de artigos cientficos escritos com participao direta de graduandos. Sendo que as referncias de autoria so da poca em que o artigo foi enviado para apreciao. O contedo dos artigos no necessariamente representa os pontos de vista dos organizadores do peridico

EditorialMeio de divulgao da produo cientfica de graduandos dos diferentes ramos o principal motivo da organizao da Revista Viso Acadmica. De fato no faltam revistas cientficas dispostas a abrir algum espao para publicaes de graduandos. Porm, frente ao volume das produes este espao aqum do necessrio e nem sempre trabalhos de boa qualidade escritos por graduandos conseguem ser divulgados com rapidez. Por isso inteno da Viso Acadmica se voltar principalmente para este segmento de pesquisadores. Contribuindo para que as universidades continuem a ser local de formao e divulgao de ideias de pensadores com senso crtico. Crtico em relao s suas prprias crenas e as dos demais membros das sociedades. Cidade de Gois, Novembro de 2012, Conselho Editorial

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A Paleografia e os registros de batismo de Morrinhos Gois, de 1876 a 1881 ... 6Wesley Ribeiro Alves Gabriela Alves Toledo Maria Luza Cruvinel de Menzes

A Funo do pedaggico-moralista da literatura em o Demnio Familiar de Jos de Alencar ... 19Renato Garcia Cardoso

Educao ambiental como instrumento para preservao e proteo do meio ambiente: aspectos pedaggicos e jurdicos ... 32Willian Flgge Carvalho

A Matemtica e o currculo integrado no Curso Tcnico em Agropecuria ... 43Thais Aparecida Pacheco Josislei de Passos Vieira Paula Reis de Miranda

Prticas escolares no ensino de Lngua materna: um olhar sobre a metodologia do professor ... 55Andr Fernandes Maia de Medeiros

Incluso pela Lei: analisando as polticas pblicas Na/Para/Sobre a educao inclusiva ... 63Addan Tritty Rezende de Souza

A Msica Independente no Brasil: Constituio, Festivais e Expresses ... 86Isabella Ceclia do Nascimento

Riscos ocupacionais de uma amostra dos profissionais da beleza do municpio de GoiniaGO ... 102Karla Alade Pereira Garcia Cleonice Fernandes Bento Kleber Frana Costa

A Imigrao italiana, sculos XIX-XX, em Nova Veneza-GO: contribuies para a cultura ...116Iraci Garbim de Souza

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A Paleografia e os registros de batismo de Morrinhos Gois, de 1876 a 1881Wesley Ribeiro Alves Gabriela Alves Toledo Maria Luza Cruvinel de Menzes1

Resumo A Paleografia uma cincia que surgiu na Idade Moderna, durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), em que a Europa estava imersa numa profunda crise relativa s propriedades privadas, sendo esta ferramenta usada como forma de se comprovar a autenticidade dos documentos que comprovavam tais propriedades. No Brasil, a partir de 1950, encontramos a Paleografia sendo ministrada como disciplina do curso de Histria, na USP, evidenciando o fato de que em nosso pas, a Paleografia , basicamente, uma atividade prpria da Cincia Histrica. Este artigo discute a relao da Histria com os documentos escritos, discutindo a importncia do documento escrito e da Paleografia para as Cincias Humanas e Sociais na atualidade, apontando os desafios e as possibilidades desta linha de pesquisa. Em seguida, analisamos o Livro 01 de Batismo da Parquia Nossa Senhora do Carmo, com assentamentos de 1876 a 1881 que trazem informaes acerca da dinmica populacional de Morrinhos no final do Sculo XIX. Para tanto, descrevemos o processo de reconhecimento, escolha, digitalizao e transcrio do Livro de Batismo da Parquia NossaSenhora do Carmo, discutindo sobre as dificuldades encontradas neste processo. Palavras Chave: Paleografia. Transcrio. Morrinhos. Livro de Batismo.

Introduo Surgida na Idade Moderna, a Paleografia uma cincia que tem ajudado, de maneira especial, as Cincias Humanas e Sociais a produzirem conhecimento, sobretudo, possibilitando que estas acessem tempos mais remotos, uma vez que os documentos escritos constituem uma importante fonte de informao, ao lado das descobertas arqueolgicas e da Histria Cultural. Localizada no Sul de Gois, Morrinhos uma das mais antigas cidades da regio, sendo uma das primeiras a serem povoadas na regio e exercendo no incio do Sculo XX grande influncia na poltica e cultura do Estado de Gois. Este artigo, por sua vez, visa apontar as caractersticas dos documentos manuscritos de Morrinhos, do final do sculo XIX. Especificamente, analisa o Livro 01 de Batismo da Parquia Nossa Senhora do Carmo, que traz assentamentos de 1876 a 1881. Para tanto, digitalizamos o referido livro e o transcrevemos, com o auxlio de uma planilha eletrnica.

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Wesley Ribeiro Alves, Gabriela Alves Toledo e Maria Luza Cruvinel de Menzes so graduandos do curso de Histria da UEG na Unidade de Morrinhos. A indicao para a publicao deste artigo assim como as orientaes para sua confeco, so do professor Mestre Robson Rodrigues Gomes Filho e professora doutoranda Paula Roberta Chagas da UEG, Unidade de Morrinhos.

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O Documento escrito e a produo do conhecimento Vrios fatores influenciam o historiador na escolha dos mtodos de pesquisa que adotar, dos documentos histricos que analisar, das etapas a serem empreendidas para apreenso das fontes de pesquisa. Neste sentido, o posicionamento terico do pesquisador muito importante, bem como o prprio objeto de pesquisa e os problemas que ele suscita so pontos importantes que influenciam seu trabalho. As Cincias Sociais tambm valorizam o documento escrito na produo do conhecimento:[...] o documento escrito constitui uma fonte extremamente preciosa para todo pesquisador nas cincias sociais. Ele , evidentemente, insubstituvel em qualquer reconstituio referente a um passado relativamente distante, pois no raro que ele represente a quase totalidade dos vestgios da atividade humana em determinadas pocas. Alm disso, muito frequentemente, ele permanece como o nico testemunho de atividades particulares ocorridas num passado recente (CELLARD apud S-SILVA, et al. 2009: 02).

Assim, quanto mais antigo o objeto de pesquisa em Cincias Sociais, tanto mais importante ser o documento escrito na produo do conhecimento. E mesmo nas pesquisas com objetos mais recentes o documento escrito tem sua importncia consagrada neste ramo do saber, o que no entanto no simplifica a tarefa de classificar o trabalho com documentos escritos:No uma categoria distinta e bem reconhecida, como a pesquisa survey e a observao participante. Dificilmente pode ser considerada como considerada como constituindo um mtodo, uma vez que dizer que se utilizar documentos no dizer nada sobre como eles sero utilizados (S-SILVA, et al. 2009: 03).

Apesar da dificuldade narrada por alguns pesquisadores em nomear esta forma de lidar com os documentos escritos, o termo Pesquisa Documental parece ser o mais utilizado na definio desta forma de produo do conhecimento. Desta forma, entendemos que o documento escrito ainda tem papel forte na produo do conhecimento das Cincias Sociais, seja por seu uso quase obrigatrio para tempos mais remotos. Seja porque a cada dia uma maior quantidade de documentos fica disponvel a inmeros pesquisadores, diante do avano da internet e de outros meios de comunicao.

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Por sua vez, Samara e Tupy (2007) se dedicam a analisar o uso do documento escrito na Cincia Histrica. Segundo elas, durante a primeira metade do sculo XX o conhecimento histrico era dependente do documento escrito, a ponto de alguns historiadores afirmarem:A Histria se faz com documentos. Documentos so os traos que deixaram os pensamentos e os atos dos homens do passado. Entre os pensamentos e os atos dos homens, poucos h que deixam traos visveis... [...] Por falta de documentos, a Histria de enormes perodos do passado da humanidade ficar sempre desconhecida. Porque nada supre os documentos: onde no h documentos no h Histria (LANGLOIS; SEIGNOBOS apud SAMARA; TUPY, 2007: 17).

Assim, durante anos a produo do conhecimento histrico esteve atrelada aos documentos escritos, sendo estes condio indispensvel para o conhecimento das sociedades antigas. Samara e Tupy (2007) entendem que tal perspectiva comeou a mudar a partir do momento no qual se percebeu que no apenas a Histria busca a explicao dos fatos sociais, o que levou os historiadores a valorizarem a interdisciplinaridade, os mtodos e tcnicas de outras reas, como forma de apreenso do passado. Assim, a noo de documento histrico foi transformada, incluindo outras fontes como as arqueolgicas, objetos e materiais, e mais recentemente, a prpria memria dos indivduos (atravs de linhas de pesquisa, como a Histria Oral) tem sido passvel de anlise histrica. No entanto, o documento escrito sempre teve um papel importante na Histria:Independentemente de seu propsito original, do sentido essencial de sua elaborao, os documentos impressos e/ou manuscritos vinham sendo considerados, por excelncia, as fontes principais de estudos e de pesquisas histricas. Sujeitos identificao e anlise de diferentes olhares, sob diversas abordagens, em temporalidades distintas, permitiam aos historiadores uma ininterrupta reinveno do passado, o constante refazer da busca de sentido para o mundo em que viviam. Como origem fundamental da narrativa histrica, os documentos deviam ser apreendidos como resultado de um trabalho humano que, ao registrar mensagens emitidas por quem o criava, podia traduzir, embora de modo fragmentado, uma aproximao parcial os vestgios de um fato, de um acontecimento, de uma experincia vivida, de objetos ou, at mesmo, de impresses e de sensaes (SAMARA; TUPY, 2007: 18).

Desta forma, os documentos escritos (como toda forma de documento histrico) so registros do passado, no entanto, por si s no traz muitas informaes sobre o passado, a menos que o historiador saiba fazer as perguntas corretas e utilizar os mtodos apropriados no desenvolvimento de sua pesquisa. Neste sentido, a Paleografia e a Diplomtica se revelam ferramentas importantes para o desenvolvimento do conhecimento histrico:

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Uma nfase maior foi dada Paleografia e Diplomtica cujas metodologias e tcnicas cientficas garantiram a busca, a coleta e a recuperao de registros manuscritos, pois a leitura, a decifrao de seu contedo e a autenticidade dos documentos constituiria, a primeira tarefa do historiador. [...] A primeira delas a Paleografia pode ser associada leitura, transcrio e interpretao de formas grficas antigas; e a segunda a Diplomtica detm-se, por sua vez, na veracidade e na autenticidade de um manuscrito, analisando onde o mesmo foi produzido, quais os indivduos que o redigiram e em que momento isso ocorreu (SAMARA, TUPY, 2007: 25).

Assim, a Histria pode se valer dos mtodos da Paleografia e da Diplomtica para transcrever, garantir a autenticidade dos documentos analisados, e assim produzir o conhecimento histrico. Portanto, o documento escrito tem um papel inestimvel na Histria, sendo uma das principais fontes de informaes do passado. A Edio de manuscritos no Brasil Segundo Cambraia (apud TONIAZZO et al. 2009), h diversas formas de tornar acessvel ao pblico um texto, sendo importante, para tanto, a escolha do tipo adequado de edio a ser utilizado, pois cada um tem caractersticas prprias, desde a edio fac-similar, em que o grau de interveno do editor nulo, at a interpretativa, marcada por forte interveno deste. Editando um manuscrito de 1885 e outro de 1895, do Arquivo Pblico Municipal de Cceres-MT, Toniazzo et al. (2009) optam pelo mtodo fac-similar e pelo mtodo

semidiplomtica. A edio fac-similar ou foto-mecnica entendida como a fotografia do texto, reproduzindo com fidelidade as caractersticas do texto original, uma vez que a semidiplomtica representa uma tentativa de melhoramento do texto, com a diviso das palavras, o desdobramento das abreviaturas, buscando eliminar as dificuldades de natureza paleogrfica suscitadas pela escritura. Toniazzo et al. (2009) aponta algumas orientaes para a edio semidiplomtica de documentos: manter-se a ortografia, a acentuao, as maisculas e as minsculas devem ser mantidas conforme grafados no original, as abreviaturas devem ser desdobradas e as letras omitidas marcadas em itlico. Eles ainda afirmam que a anlise paleogrfica, minuciosa por natureza, requer dedicao e muitas horas de trabalho, por parte do pesquisador, exigindo um olhar atento para cada palavra do texto.

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A tarefa da paleografia se inicia com a coleta de documento, tarefa que requer pacincia, uma vez que devem ser consultados bibliotecas, mosteiros, parquias, observando cada caracterstica das letras e da forma de escrita. Historicamente, Toniazzo et al. (2009) situam a consolidao da Paleografia como fruto da necessidade criada pela Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), durante a qual comeou a surgir uma srie de dvidas acerca da propriedade de terras e castelos. Os juzes para se livrarem dos documentos falsos, passaram a analisar minuciosamente os documentos de propriedade. Assim, a Paleografia surge com o objetivo de determinar o auto, o tempo e o lugar em que dado documento foi escrito, fornecendo ao perito as ferramentas indispensveis para se distinguir os documentos verdadeiros e autnticos, dos falsos, deturpados, apcrifos. Como ctedra, a Paleografia surge primeiro na Alemanha, nas escolas de Filosofia e Letras. No Brasil, os estudos paleogrficos surgiram no final do sculo XIX e incio do XX, os estudos paleogrficos desenvolveram-se inicialmente graas iniciativa particular dos historiadores. Apenas em 1952, na Universidade de So Paulo USP, a Paleografia surge como disciplina do curso de Histria. Segundo Blanco (apud TONIAZZO, 2009), so finalidades da Paleografia:Ensinar a ler corretamente e sem erros todo tipo de documento, tanto antigo, quanto moderno; Dar a conhecer a evoluo da escrita atravs dos tempos, das naes e dos indivduos; Determinar o autor, o tempo e o lugar em que o documento foi escrito; Fornecer ao perito os conhecimentos indispensveis para saber distinguir os documentos verdadeiros e autnticos dos falsos, deturpados, adulterados, etc.; Descrever as letras (forma, traado, ngulo, mdulo, peso); Descrever os sinais braquigrficos (abreviaturas) atribuindo-lhes significado exato e completo; Descrever os sinais etigmolgicos (pontuao).

Atualmente, o Arquivo Pblico de So Paulo um dos principais divulgadores da paleografia, bem como uma das instituies que mais busca coletar e organizar documentos escritos no Brasil. Em geral, a maior parte dos locais que possuem documentos passveis de anlise paleogrfica tem ligao com Igrejas ou aos rgos da Justia, como fruns. A maior parte destes lugares no oferece condies mnimas de conservao dos documentos histricos, alm de carecerem de maior sistematizao e organizao.

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A Questo das Abreviaturas na Paleografia Brasileira Uma das maiores preocupaes dos palegrafos diz respeito questo das abreviaturas. Flexor (2010), afirma que em sua experincia de contato com manuscritos dos sculos XVI a XIX, as abreviaturas se mostraram uma grande dificuldade para quem se dispe a ler e extrair dados para suas pesquisas. Neste sentido, a pesquisadora, empreendeu, em parceria com outros pesquisadores, um trabalho com vistas a elaborar uma lista das abreviaturas mais comumente usadas nos documentos histricos do Brasil, num projeto iniciado em 1963. Em 1990, esta lista j contava com cerca de 20 mil abreviaturas simples, alm de um grande nmero de expresses abreviadas, como aquelas constantes nos protocolos de saudaes nomes de instituies, expresses jurdicas, cargos pblicos, civis, militares ou eclesisticos. Em 2004, uma terceira edio da lista de abreviaturas contava com 25 mil abreviaturas, sem contar as expresses de endereamento, subscrio, topnimos, entre outros. Tanto a segunda como a terceira edio so frutos de consultas aos arquivos pblicos do Arquivo do Estado de So Paulo, Arquivo da Prefeitura Municipal de So Paulo, Arquivo Pblico do Estado da Bahia, Diviso de Arquivo da Prefeitura Municipal do Salvador (Fundao Gregrio de Mattos), Arquivo da cidade de Cachoeira/Bahia e Instituto Histrico e Geogrfico de Sergipe, Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, Biblioteca e Arquivo Nacional, do Rio de Janeiro, Arquivo da Santa Casa da Misericrdia, Instituto Geogrfico e Histrico da Bahia, Arquivo Pblico do Estado e Casa da Memria de Curitiba, do Paran, documentao manuscrita de propriedade da Universidade Catlica de Gois, Instituto de Estudos Brasileiros, da USP, diversos arquivos de instituies religiosas de Salvador, etc., segundo Flexor (2010). Basicamente, existem trs tipos de abreviaturas, segundo Flexor (2010): as siglas simples (quando indicadas apenas por letras como, por exemplo, ONU Organizao das Naes Unidas, CNBB Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil), siglas reduplicadas ( nas quais a letra repetida para significar o plural das palavras representadas, ou quando, na palavra, a letra encontrada pelo menos duas vezes como em SS santssimo, RR reverendssimo), alm de siglas compostas (quando so formadas pelas duas ou trs

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primeiras letras da palavra, por palavras dominantes do vocbulo ou expresso, como exemplo MOBRAL Movimento Brasileiro de Alfabetizao e PETROBRAS Petrleo do Brasil, cujo uso mais recente). O Livro de Batismo da Parquia Nossa Senhora do Carmo de Morrinhos Srgio Nadalin (2004) entende que a Igreja Catlica Romana, seguida posteriormente pelas denominaes protestantes, anunciou precocemente uma das caractersticas da modernidade. Desde o Conclio de Trento (1545-1563) instituiu formas de controle da sua populao, definindo normas para padronizar os registros dos principais sacramentos que marcam os momentos da vida dos catlicos.Dessa maneira, os padres foram ensinados como registrar os Batismos (e mais tarde a Crisma), os Matrimnios e os Sepultamentos. Tais normas foram completadas no sculo XVIII, por ocasio da instituio do Rituale Romanum que, alm de definir como fazer tais assentamentos, ensinava a fazer contagens peridicas dos paroquianos (NADALIN, 2004: 40).

Desta forma, a Igreja tinha a preocupao de garantir que os registros da vida de seus fiis seguissem um mesmo padro. No Brasil - colnia, a Arquidiocese de Salvador da Bahia exercia a jurisdio sobre toda a Igreja da Amrica portuguesa, definindo as regras a serem adotadas nos assentamentos paroquiais. O sacramento do batismo esteve ligado sade do corpo e da alma dos fiis, por isso, a preocupao de se batizar o mais rpido possvel as crianas, de preferncia at o oitavo dia. O batismo devia ser ministrado na igreja, ainda que o batismo em casa fosse permitido, em caso de necessidade segundo Nadalin (2004). Passado o risco de morte da criana, a mesma deveria ser levada para a igreja, a fim de receber os Santos leos. Assim, o batismo uma etapa importante da vida dos indivduos catlicos e durante o Brasil - colnia e o Brasil Imprio, a Igreja Catlica era a religio oficial e a nica instituio a realizar os registros de nascimento, matrimnio e falecimento dos brasileiros. Localizada na cidade de Morrinhos, na regio Sul de Gois, a Parquia Nossa Senhora do Carmo foi fundada em 30 de julho de 1845, sendo este o ano em que se comemora a fundao da cidade de Morrinhos (no entanto, celebra-se a data em 16 de julho, dia da Padroeira da cidade, Nossa Senhora do Carmo).

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No Arquivo Paroquial, encontram-se documentos de casamento mais antigos a partir de 1836, e de Batismo a partir de 1876. O livro Tombo mais antigo da Parquia traz informaes a partir de 1916. Escolhemos analisar o Livro 1 de Batismo, com documentos de 1876 a 1881, por este ser o livro mais antigo que encontramos no arquivo paroquial. Optamos por fotografar as pginas do referido livro e por transcrever as informaes nele contidas com o auxlio de um software de planilha eletrnica, uma vez que se trata de uma documentao seriada com diversas informaes, como o nome da pessoa que foi batizada, nome dos pais e padrinhos, data da celebrao, o padre que ministrou este sacramento, em alguns casos, a igreja, a data e local de nascimento do batizando, bem como o nome dos avs. O livro traz assentamentos de batismo realizados por dois padres, Pe. Antonio Francisco do Nascimento, nos registros que vo de 1876 a 25 de agosto de 1878, e do Cnego Jos Olyntho da Silva, a partir de 15 de fevereiro de 1880. Ao todo, foram transcritos os 396 assentamentos de batismo contidos nas 71 folhas do Livro de Batismo analisado. Caractersticas dos Assentamentos do Pe. Antonio Francisco do Nascimento Para exemplificar, transcrevemos o assentamento de batismo de Pedro, realizado em 20 de agosto de 1876:Aos vinte dias do mez de Agosto de mil e oitocentos e setenta e seis, Baptizei solemnemente e puz os santos olios ao inocente Pedro, filho legitimo de Alexandre Antonio de Oliveira e Francisca Maria de Menezes, neto pela parte paterna de Francisco Antonio de Olveira e Maria Perpetua de Santa Ritta, e pela parte materna de Luis Antonio de Castilho, Maria Luiza de Menezes, foram padrinhos, Francisco Luis de Castilho e Anna Maria da Conceio. Doque para constar mandei fazer este assento. o O Vig Col. P. Antonio Francisco do Nascimento (F007-V).

Normalmente, o padre Antonio Francisco do Nascimento, descreve o nome dos pais, dos padrinhos, e em alguns casos informa o nome dos avs dos catecmenos. Os assentamentos informam se o catecmeno filho de pais casados, se filho apenas da me (filiao maternal) ou se filho de casais que no contraram matrimnio (filiao natural). Enquanto os assentamentos so grafados com tinta escura, a assinatura do Pe. Antonio Francisco do Nascimento feita com tinta mais clara e as letras maisculas so menos desenhadas que as usadas no corpo do assentamento.

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Durante o processo de transcrio, apenas trs nomes de batizados foram marcados como ilegveis, porque uma vez que a grafia utilizada pelo padre estava com alguns borres, ao passo que em dez nomes ficamos com dvidas acerca da grafia correta dos nomes. Caractersticas dos assentados do Congo Jos Olyntho da Silva Segue a transcrio de um dos assentamentos de Batismo do Congo Jos O. Silva:Aos vinte e nove dias do mez dAgosto, do anno do Senhor de mil oitocentos e oitenta, baptizei e ps os Santos Olios a inocente Francisca, filha legitima de Lazaro Gonsalves da Roza e de sua mulher Delfina Roza de So Jos, nascida nove de julho deste anno, na fazenda da Santa Roza, desta Freguesia de Morrinhos, foram padrinhos Ja Luiz de Souza e Roza Anna Silveira da Conceio e para constar fiz este assento. Conego Jos Olyntho da Silva (F059-F).

Ao contrrio do Pe. Antnio Francisco do Nascimento, o Cnego Jos Olyntho da Silva preocupa-se com dados mais detalhados do catecmeno, como o local e a data de nascimento. No entanto, apenas nos primeiros registros do ano de 1881 que o cnego Jos Olyntho deixa explcito no Livro que os batizados ocorreram na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, ficando a maior parte dos registros sem tal informao (ao contrrio dos registros do Pe. Antnio Francisco, em que esta informao est presente na maior parte dos registros). Alm disso, o cnego Jos Olyntho no faz menes a nomes dos avs dos catecmenos, prtica comum (apesar de no estar presente em todos os registros) nos documentos do Pe. Antnio Francisco. A mesma tinta usada na escrita do assentamento usada na assinatura, bem como a mesma inclinao e traados das letras, o que nos leva a imaginar que, enquanto Pe. Antnio Francisco escrevia todos os termos e s ento os assinava, o Cnego Jos Olyntho pareceu escrever cada termo e assin-los logo em seguida. A Transcrio do Livro de Batismo da Parquia Nossa Senhora do Carmo No dia 15 de agosto de 2012 visitamos a Parquia Nossa Senhora do Carmo a fim de conhecermos o arquivo paroquial. Na oportunidade, foi-nos apresentado o mesmo e nos deram livre acesso documentao. O arquivo paroquial fica no andar superior do Escritrio

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Paroquial, num armrio de ao. A documentao a partir de 1900 est bem organizada e conservada, todos organizados em seus respectivos livros, ao passo que a documentao mais antiga ainda carece de organizao mais sistmica, e muitos documentos apresentam sinais de corroso e da ao do tempo, tornando sua anlise extremamente complicada. Nesta primeira visita tomamos conhecimento do Livro que est sendo analisado e traamos a partir dali nosso plano de trabalho. Uma semana depois, no dia 22 de agosto de 2012, munidos de uma cmera digital de 14 megapixels, de mscaras e luvas cirrgicas para a proteo dos documentos e dos pesquisadores, retornamos aos arquivos paroquiais, onde fotografamos as pginas do Livro 1 de Batismo. Em seguida, como dito, com o auxlio de um software de edio de planilhas eletrnicas, transcrevemos os dados dos assentamentos de batismo, perfazendo um total de 396 linhas e 21 colunas. medida que nos acostumamos com a grafia dos padres, a transcrio foi se tornando mais fcil, motivo pelo qual aps uma primeira transcrio, realizamos uma reviso geral na planilha, a fim de identificarmos palavras que no primeiro momento foram consideradas dbias ou de grafia ilegvel. As primeiras pginas do livro encontram-se muito corrodas, ao passo que a capa do livro uma pasta de adio bem posterior redao dos assentamentos, no sendo, no entanto, possvel determinar em que ano ela foi anexada s pginas do livro. Nesta capa improvisada, encontra-se coladas, na parte interna, folhas do jornal da arquidiocese de Gois, do ano de 1940, o que talvez indique a pasta que serve como capa deste livro tenha sido afixada aps este ano. A primeira pgina manuscrita (que fala do encerramento do livro), no entanto traz uma informao contraditria em relao natureza do livro:Autorizado pelo Exmo. e Revmo. Snr. Bispo Diocesano, encerro este livro que servira para o registro dos casamentos desta frequezia de Nossa Senhora das Dores de Caldas Novas. Contem 200 folhas por mim numeradas e rubricadas com o sobre nome que uso P. Calzada. Caldas Novas 6 de Maio de 1907 O Vigario P. Julio Calzada (F001-F)

Assim, o livro que analisamos traz uma parte que pertence a um livro de casamento da Parquia Nossa Senhora das Dores, do municpio vizinho a Morrinhos, Caldas Novas e que

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fizera at o ano de 1911, parte do municpio de Morrinhos. Uma posterior pesquisa nos demais livros e folhas do arquivo pode nos ajudar a entender o motivo desta pgina intrigante estar neste livro de batismo. Outra pgina, esta sim, escrita pelo Padre Antnio Francisco do Nascimento parece ser a primeira pgina do livro de Batismos:Livro de Assentamentos de Batizados Parochia de N. Sra do Carmo de 1876-1880 (F003-F).

Esta inscrio, por sua vez, nos leva a crer que o livro de batismo, da maneira como chegou s nossas mos , como j nos sugere a capa, uma montagem feita, ao menos, sessenta anos depois dos assentamentos. Dificuldades na Transcrio do Livro de Batismos A primeira dificuldade que notamos no processo de transcrio do livro de Batismo foi nos adaptar ortografia da poca em que o documento foi escrito, uma vez que h em ns uma tendncia natural a grafarmos os nomes e expresses de acordo com as normas gramaticais atualmente vigentes. Neste sentido, incorramos no risco de transcrevermos Ana, tal qual escrevemos hoje, e no Anna, como era grafada no final do sculo XIX no Brasil. Neste mesmo sentido, palavras que atualmente tm acento grfico e que antigamente no o tinham tambm mereceram especial cuidado, como o nome Antnio, que nos vem grafado Antonio. Ambos os padres no usam muitas abreviaes, o que facilitou nossa tarefa de transcrever o Livro de Batismos. Alm das abreviaes para vigrio (Vig), padre (P.), a abreviatura para dona (D.) tambm foi usada nos assentamentos de batismo. Quanto transcrio de nomes, no houve grandes dificuldades, uma vez que a maioria dos nomes de uso recorrente ainda hoje. O nome que mais nos chamou a ateno, no entanto, foi Messias, que aparece em registros de 01 de abril de 1877 (F017-F), 02 de outubro de 1877 (F031-F) e em 06 de janeiro de 1881 (F065-F) em ambos os casos usados como nome feminino. O nome Messias ainda aparece num assentamento de 16 de maio de 1878 (F040-F), no entanto como nome masculino. A existncia deste nome nos mostrou que Messias um nome feminino de uso comum na regio de Gois, neste perodo.

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Algumas pginas do Livro de Batismo encontravam-se com a tinta mais fraca, como o caso das pginas F041-F, F041-V, F044-F, o que tambm dificultou nosso trabalho de transcrio. O uso da letra y em palavras como Olyntho, tambm exigiu de ns uma maior ateno no processo de transcrio. Em paralelo, a existncia de alguns sobrenomes de uso muito difundido em Morrinhos, como os sobrenomes do Carmo, de Jesus, das Dores, Ritta, facilitou no somente o processo de transcrio, como tambm a identificao de outras letras e palavras similares. Concluso Atravs da experincia da transcrio do Livro de Batismos da Parquia Nossa Senhora do Carmo, referente aos anos de 1876 a 1881 ns percebemos que a paleografia uma arte de difcil e exigente, que no entanto, nos oferece preciosas informaes acerca da sociedade e da cultura em que o documento foi produzido. Se por um lado, o advento da datilografia e, mais recentemente, da informtica diminuram a importncia dos documentos manuscritos, por outro lado, estes so uma importante ferramenta que tem ajudado os pesquisadores a melhor sistematizar e compartilhar informaes e arquivos de diferentes perodos e regies, assim como j o faz o Arquivo Pblico de So Paulo. Nossa experincia com os documentos de batismo da Parquia de Nossa Senhora do Carmo nos fez evidenciar a importncia do estabelecimento, com urgncia, de um Centro de Documentao que trate os documentos desta que uma das mais antigas e importantes cidades do Sul do Estado de Gois. Garantindo cincia histrica a possibilidade de analisar documentos nunca antes analisados, preservando o patrimnio histrico-cultural de Morrinhos, bem como contribuindo para a preservao da memria morrinhense. Referncias FLEXOR, M. Abreviaturas de Manuscritos dos Sculo XVI ao XIX. Vitria: IV Congresso Nacional de Arquivologia, 2010. NADALIN, S. Histria e Demografia Elementos para um Dilogo. Campinas: Associao Brasileira de Estudos Populacionais ABEP, 2004.

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S-SILVA, J; ALMEIDA, C; GUINDANI, J. Pesquisa documental: pistas tericas e metodolgicas. Revista Brasileira de Histria & Cincias Sociais. Ano I, Nmero I Julho de 2009. SAMARA, E; TUPY, I. Histria & Documento e metodologia de pesquisa. Belo Horizonte: Autntica, 2007. TONIAZZO, C; ANDRADE, E; KRAUSE, M. Edio de Manuscritos: Caractersticas Paleogrficas. Cuiab: Polifonia, N 19, 2009, p. 43-58.

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A Funo do pedaggico-moralista da literatura em o Demnio Familiar de Jos de AlencarRenato Garcia Cardoso2

Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revoluo.Machado de Assis

Resumo No sentido de que: Silva (1973) aponta literatura diversas funcionalidades, como a pedaggico-moralista, que tem o intuito de moldar o carter do leitor e defende ainda que o drama seja uma arte de comunicao; o Romantismo manifesta um ideal de reforma social e tem como grande representante Jos de Alencar; analisamos sua pea teatral O demnio familiar, por meio de pesquisa bibliogrfica e aplicao na obra, investigando a presena da funo pedaggico-moralista da literatura na mesma. E uma vez que fica evidente a inteno tica do escritor ao redigir a comdia, pudemos verificar que essa funo se faz autntica na narrativa.Palavras-chave: Jos de Alencar. Pedaggico-moralista.

Literatura conceito polmico A tarefa de definir literatura complexa, vrias tm sido as tentativas por diversos estudiosos, sem chegar ao consenso. Portanto, o presente trabalho, apresenta um breve esboo sobre o estudo da definio da Literatura, e sobre as funes literrias, com foco na funo pedaggico-moralista. Eagleton (2006) salienta que muitas so as tentativas em definir literatura, cita a possibilidade de defini-la como escrita imaginativa, no sentido de fico, porm se refletirmos acerca de toda literatura, veremos que tal definio no procede. A distino entre fato e fico, portanto, no muito suficiente. Os romances e as notcias no eram claramente factuais, nem claramente fictcios, a distino feita a elas no se aplica. Lembra o Gnese obra lida como fato por alguns e como fico por outros, que a literatura inclui muito da leitura fatual, e as histrias em quadrinhos e os romances so obras fictcias, porm nem sempre consideradas como literrias. De acordo com Eagleton (2006), podemos pensar na literatura menos como uma qualidade inerente, ou como um conjunto de qualidades evidenciadas por certos tipos de escritos. No existe uma essncia da literatura. Qualquer fragmento de escrita pode ser lido no - pragmaticamente.2

Renato Garcia Cardoso acadmico do Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Estadual de Gois, Unidade de Gois. Professora indicadora do artigo Doutora Maria Eugnia Curado, do curso de Letras da UEG, UnU cidade de Gois.

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Eagleton (2006) defende que se no possvel ver a literatura como uma categoria objetiva, descritiva, tambm no possvel dizer que a literatura apenas aquilo que, caprichosamente, queremos chamar de literatura. Isso porque no h nada de caprichoso nesses tipos de juzos de valor: eles tm suas razes em estrutura mais profundas de crenas, to evidentes e inabalveis quanto o edifcio do Empire State. Portanto, o que descobrimos at agora no apenas que a literatura no existe da mesma maneira que os insetos, e que os juzos de valor que a constituem so historicamente variveis, mas que esses juzos tm, eles prprios, uma estreita relao com as ideologias sociais. Souza (2007) salienta que se a pergunta: o que literatura? for feita a uma pessoa que, mesmo que seja interessada por livros e no seja da rea de Letras, causar embarao ao destinatrio da pergunta. A resposta ser no sentido de que a literatura uma obra escrita, um romance, livros de poesias, livros de contos e outros. A mesma pergunta, se feita aos que se ocupam profissionalmente com a literatura, tambm seria embaraosa. No por ser impertinente ou sem sentido, nem porque sua resposta seja bvia; ao contrrio, a perturbao do interrogado derivar de sua familiaridade com o carter complexo da questo proposta. As Funes da Literatura: funo Pedaggico-Moralista Silva (1973) confere literatura funo poltico-social, a literatura com a funo pedaggico-moralista, aquela que molda quem l. Seriam por exemplo, as fbulas. C ritica a literatura entendida segundo critrios de valor de Sartre. Destaca a Literatura Comprometida, em defesa de determinados valores morais, polticos e sociais, nasce de uma deciso livre do escritor; a Literatura Planificada ou Dirigida, os valores a defender so impostos; Plato, em seu moralismo esttico busca em Scrates suas reflexes. Scrates reduz o conceito de beleza utilidade. As coisas belas se identificam com as coisas de boa utilidade. Neste sentido, a literatura se direciona em algo pedaggico. O estudioso defende que o problema das relaes da literatura com a moral insere-se logicamente no quadro mais amplo das relaes da literatura com a utilidade, conclui pela impossibilidade de associar os valores literrios a valores morais. Gautier, citado por Silva (1973) observa que este af moralizante no possui qualquer dimenso universalista.

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Os romnticos tinham oposto, s exigncias moralizantes de recorte tradicionalista, uma moral baseada na intensidade da paixo e dos sentimentos e nos direitos e deveres da decorrentes: os defensores da arte pela arte adotam antes uma atitude de cabal amoralismo. No movimento literrio que na segunda metade do sculo XVI se desenvolveu em torno da Potica, encontramos duas representaes da catarse: uma interpretao moralista e uma interpretao mitridtica. Gneros Literrios: drama e romantismo Silva (1973) salienta que a lrica, com efeito, no representa o mundo exterior o objetivo, nem a interao do homem e deste mesmo mundo, assim se distinguindo fundamentalmente da narrativa e do drama. A poesia lrica no nasce do anseio ou da necessidade de descrever o real que se estende perante o eu, nem do desejo de criar sujeitos independentes do eu do poeta lrico. A lrica enraza-se na revelao e no aprofundamento do prprio eu, na imposio do ritmo, da tonalidade, das dimenses, enfim, desse mesmo eu, a toda a realidade. Tanto o romance como o drama apresentam personagens situadas num determinado contexto, em certo lugar e em certa poca, mantendo entre si mtuas relaes de harmonia, de conflito, etc. Estas personagens revelam-se atravs de uma srie de acontecimentos, podendo contar-se a histria de um romance ou de um drama, mas nunca de um poema lrico. O drama, por sua vez, procura representar tambm a totalidade da vida, mas atravs de aes humanas que se opem, de forma que o fulcro daquela totalidade reside na coliso dramtica. A verdadeira unidade de sentido dramtica no pode derivar seno do movimento total, o que significa que o conflito deve encontrar a sua explicao exaustiva nas circunstncias em que se produz. Deste modo, a profuso de figuras, de incidentes e de coisas que caracterizam o romance, no existe no drama, onde tudo se subordina s exigncias da dinmica do conflito, a atmosfera do drama rarefeita, as figuras suprfluas so eliminadas, os episdios laterais abolidos, defrontando-se as personagens necessrias e desenvolvendo-se entre elas

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uma ao que conduz sem desvios ao conflito. O gnero dramtico que se manifesta atravs do trgico e do cmico, representa o conflito do homem em seu mundo. Segundo Aristteles citado por Moura (2009), a comdia a imitao de maus costumes, no, contudo de toda sorte de vcios, mas s daquela parte do ignominioso que o ridculo. O riso a sua energia e deve ser combinado com a intriga ou com a observao moral. Romantismo O Romantismo se originou na Alemanha e Inglaterra em fins do sculo XVIII e se desenvolveu no Brasil no sculo XIX, constituindo o verdadeiro perodo de nossa literatura, a poesia enriqueceu-se admiravelmente, criaram-se o romance e o teatro nacionais e formouse pela primeira vez, um razovel pblico leitor. A marca principal da poesia romntica a expresso plena dos sentimentos pessoais, com autores voltados para seu mundo interior e fazendo da literatura um meio de desabafo e confisso. Essa nsia de libertao, que nasce no interior do poeta, em determinado momento alcana tambm o nvel social, com o artista romntico colocando-se como portavoz dos oprimidos e usando seu talento para protestar contra as injustias sociais, ao mesmo tempo em que valoriza a ptria. De acordo com Abdala Jnior (1986), o projeto nacional do Romantismo inclua a criao de um teatro brasileiro. O autor destaca as principais peas do teatro romntico: Antnio Jos ou o poeta e a Inquisio, primeira tragdia de assunto nacional, de Gonalves de Magalhes; O juiz de paz da roa, O Judas em sbado de Aleluia, O Novio, de Martins Pena; Cames e o jau, de Casimiro de Abreu; Leonor de Mendona, de Gonalves Dias, escrita na juventude do escritor; e O demnio familiar, de Jos de Alencar. Jos de Alencar Jos Martiniano de Alencar nasce a 1 de maro de 1829, em Mecejana, Cear. Filho de Jos Martiniano de Alencar (ex-padre) e Ana Josefina. O pai, por amor de sua me, abandonou o sacerdcio quando conheceu sua prima para se casarem.

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Em 1832, o pai eleito senador, e, dois anos depois, em 1834, torna-se presidente da provncia do Cear, cargo que deixa em 1837, dirigindo-se no ano seguinte, em 1838, ao Rio de Janeiro. Alencar viaja com o pai. Em 1840, Alencar completa sua instruo primria, e em 1844, aos 15 anos, inscrevese nos cursos preparatrios Faculdade de Direito de So Paulo. Datam de seus anos de faculdade as primeiras publicaes de Alencar. Com outros primeiranistas da faculdade funda uma revista semanal Ensaios Literrios. Em 1848, aos 18 anos, transfere-se para a Faculdade de Direito de Olinda. Nessa poca comea a redigir dois romances histricos: A Alma de Lzaro e O Ermito da Glria. Em fins deste mesmo ano, manifestam-se os primeiros sinais de tuberculose que acabariam por mat-lo. obrigado a voltar a So Paulo, onde se forma em 1850. Em 1851, aos 22 anos, Alencar inicia-se na profisso de advogado, que exercer at o fim da vida, com raras interrupes. Instalado no Rio de Janeiro, Alencar convidado por seu ex-colega de faculdade, Francisco Otaviano, a colaborar no jornal Correio Mercantil. Alencar estria como jornalista aos 25 anos, em 1854, e faz muito sucesso. Tanto, que no ano seguinte, gerente e redator-chefe de outro jornal, O Dirio do Rio de Janeiro, onde publica folhetins sobre fatos variados e uma srie de crticas ao poema sob o pseudnimo de Ig. Vrias. Em 1857, o sucesso de O Guarani leva Alencar a tentar o mesmo sucesso no teatro. Escreve uma opereta, Noite de So Joo e duas comdias, Verso e Reverso e O demnio familiar. Em 1860, estria o drama Me. A seguir, Alencar viaja para o Cear, candidata-se a deputado pelo Partido Conservador e eleito. Comea ento a carreira poltica. Em 1861, estreia na tribuna parlamentar. Em 1862, escreve Lucola e o primeiro volume de As Minas de Prata. Em 1864, casa-se com Ana Cochrane, filha de um mdico homeopata ingls, da mesma famlia do Almirante Cochrane, heri da luta pela Independncia. Em 1868, aos 39 anos, Alencar torna-se Ministro da Justia. No ano seguinte, candidata-se ao Senado e obtm o primeiro lugar. Deixa o Ministrio e volta Cmara em oposio ao Imperador, que veta seu nome ao Senado. O veto do Imperador encerra sua carreira poltica e desencantado, se volta para a literatura.

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Em 1877, Alencar viaja Europa em tratamento de sade, mas no consegue se recuperar. Volta ao Rio, onde morre a 12 de setembro do mesmo ano, aos 48 anos. Relembrando Alencar, escreve Machado de Assis: Tinha-lhe afeto, conhecia-o desde o tempo em que ele ria, no me podia acostumar ideia de que a trivialidade da morte houvesse desfeito esse artista fadado para distribuir a vida. Beraldo (1980) destaca a literatura e sua funo social, os escritores daquele tempo sentiam-se no dever de exaltar a terra e conscientizar os leitores da realidade em que viviam. Ora, Alencar, como nenhum outro, tinha conscincia desse papel da literatura. Alencar idealizou a realidade, embora em menor grau. As personagens principais dos romances histricos, indianistas e regionalistas, tm um porte herico: so personagens inteirias, sem vacilao ou hesitao, possuem todas as caractersticas dos heris; encarnam todas as virtudes fsicas e morais; o mal no os atinge. Abdala Jnior (1986) destaca Jos de Alencar como maior ficcionista romntico brasileiro, que pretendia formar uma literatura autenticamente brasileira, e de certa forma, conseguiu realizar seu objetivo, uma vez que seu conjunto de obras de fico constitui o panorama histrico do Brasil. Ressalta que o escritor destacou-se entre os intelectuais de seu tempo, acreditou na funo literria como criadora de uma conscincia. No s teve muito presente essa funo, como trabalhou no sentido de revel-la. Abdala Jnior (1986) cita que sua vasta obra, composta de 21 romances e mais 8 peas teatrais, alguns ensaios crtico-literrios e escritos polticos, atesta um escritor

esforado em retratar o pas, ou ainda compreend-lo em sua diversidade. Como romntico, Alencar no poderia deixar de visitar a Histria e dela haurir temas para sua obra. Segundo Tufano (1983), Jos de Alencar o mais importante prosador do Romantismo, tendo inclusive lutado pela criao de uma lngua literria mais prxima do falar brasileiro. Salienta que sua obra romanesca vasta, abrangendo todas as tendncias desenvolvidas na poca. Em seu conjunto de obras, merecem destaque os romances sociais, em que o autor faz uma representao bastante crtica das relaes humanas na sociedade carioca da poca.

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E apesar dos ingredientes sentimentais e dos arranjos para que tudo termine com um final feliz, Alencar pe a nu a hipocrisia e a corrupo das classes altas, que se mostram preocupadas apenas com a ostentao do luxo e a manuteno de seus privilgios. O Demnio familiar O demnio familiar uma pea teatral do escritor brasileiro Jos de Alencar escrita em 1857, uma comdia em quatro atos, um drama de costumes leve. O moleque escravo domstico Pedro tece uma srie de armaes sem medir consequncias, a fim de casar seus patres com pessoas abastadas e realizar seu sonho de ser cocheiro de um rico senhor. Segundo Bosi (1994) caberia a Jos de Alencar insistir na dose de brasilidade que esse drama de costumes deveria conter. Para tanto, comps Verso e Reverso, pea ligeira de ambientao carioca, e O demnio familiar, comdia em que os vaivens da intriga so obra de um escravo, moleque enredador e ambicioso. Embora o mau carter de Pedro, o demnio familiar, seja o piv dos embaraos de uma famlia de bem, no se pode, na anlise desta comdia, forar a nota do preconceito, ao menos enquanto consciente. No ltimo ato, o moleque alforriado para que, fora da irresponsabilidade em que vivera como escravo possa escolher honradamente seu caminho:Toma: a tua carta de liberdade, ela ser a tua punio de hoje em diante, porque as tuas faltas recairo unicamente sobre ti; porque a moral e a lei te pediro uma conta severa de tuas aes. Livre, sentirs a necessidade do trabalho honesto e apreciars os nobres sentimentos que hoje no compreendes. (PEDRO beija-lhe a mo.). (ALENCAR, 2003, p. 90-91)

Para Bosi (1994), essa, naturalmente, a inteno tica de Alencar ao redigir a comdia. O que ficou, porm, foi a figura do moleque irrecupervel: Pedro apenas mudar de senhor, realizando seu sonho dourado ser cocheiro de um rico major, funo que permitir zombar com desprezo os cocheiros de aluguel. Ficou o esteretipo, vivo na cultura escravocrata brasileira, do negrinho maroto, astuto, no fundo cnico por incapacidade de coerncia moral: imagem que deixa entrever um preconceito mais tenaz, porque latente. De acordo com Beraldo (1980) nos romances urbanos que Alencar consegue criar os seus melhores personagens, extremamente complexas, em que o bem e o mal se entrelaam. E destaca a pea O demnio familiar, o demnio Pedro, moleque escravo

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que provoca os acontecimentos da histria, enreda os brancos. Ao final, Pedro alforriado, e a pea termina com o antigo senhor de Pedro falando em liberdade e responsabilidade. Moura (2009) cita que era costume que as famlias mantivessem em seu seio familiar um moleque escravo com entrada e sada franqueada em casa. Este moleque geralmente participava da intimidade familiar, transitava pela casa, alimentava-se das refeies dos senhores, partilhava das brincadeiras das crianas da casa. No caso da pea de Alencar, este moleque Pedro, ambicioso e estrategista. Esta incapacidade de coerncia moral transforma Pedro num ser inconsequente que s pensa em seu projeto: ser cocheiro de um rico senhor:PEDRO - Oh! Trata muito bem, mas Pedro queria que senhor tivesse muito dinheiro e comprasse carro bem bonito para... EDUARDO - Para... Dize! PEDRO - Para Pedro ser cocheiro de senhor! EDUARDO - Ento a razo nica de tudo isto o desejo que tens de ser cocheiro? PEDRO - Sim, senhor! EDUARDO (rindo-se) - Muito bem! Assim, pouco te importava que eu ficasse mal com uma pessoa que estimava; que me casasse com uma velha ridcula, contanto que governasses dois cavalos em um carro! Tens razo!... E eu ainda devo dar-me por muito feliz, que fosse esse o motivo que te obrigasse a trair a minha confiana. (ALENCAR, 2003, p. 35-36)

Para atingir seu objetivo, Pedro promove uma srie de mal-entendidos: enreda uns contra os outros; troca os versos destinados a Henriqueta com os da viva e viceversa; tenta aproximar Eduardo e a viva; induz Carlotinha a mandar uma flor a Alfredo; mente a Azevedo a respeito de Henriqueta; entre outras. Para Moura (2009), o autor leva o receptor a refletir sobre valores morais e humanos daquela sociedade. Com esta inteno, at certo ponto moralizadora, faz Eduardo dar a carta de Alforria a Pedro:EDUARDO - Por que, minha irm? Todos devemos perdoar-nos mutuamente; todos somos culpados por havermos acreditado ou consentido no fato primeiro, que a causa de tudo isto. O nico inocente aquele que no tem imputao, e que fez apenas uma travessura de criana, levado pelo instinto da amizade. Eu o corrijo, fazendo do autmato um homem; restituo-o sociedade, porm expulso-o do seio de minha famlia e fecho-lhe para sempre a porta de minha casa. (A PEDRO) Toma: a tua carta de liberdade, ela ser a tua punio de hoje em diante, porque as tuas faltas recairo unicamente sobre ti; porque a moral e a lei te pediro uma conta severa de tuas aes. Livre, sentirs a necessidade do trabalho honesto e apreciars os nobres sentimentos que hoje no compreendes. (PEDRO beija-lhe a mo.) (ALENCAR, 2003, p. 90-91)

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De acordo Moura (2009) se observarmos mais atentamente a pea O demnio familiar, poderemos verificar que alguns detalhes se encaixam nas caractersticas do teatro romntico moderno. Um importante aspecto a ser observado so os valores sociais e humanos que norteiam a sociedade, em especial uma famlia de bem. Estas mensagens vm atravs das palavras de Eduardo nas vrias situaes criadas. Por exemplo, quando fala sua irm sobre o papel do irmo no seio familiar, deixa implcita a condio da mulher frgil que necessita da proteo do homem numa sociedade patriarcal:EDUARDO - Mais um motivo. Um irmo, Carlotinha, para sua irm menos do que uma me, porm mais do que um pai; tem menos ternura do que uma, e inspira menos respeito do que o outro. Quando Deus o colocou na famlia a par dessas almas puras e inocentes como a tua, deu-lhe uma misso bem delicada; ordenoulhe que moderasse para sua irm a excessiva austeridade de seu pai e a ternura muitas vezes exagerada de sua me; ele homem e moo,conhece o mundo, porm tambm compreende o corao de uma menina, que sempre um mito para os velhos j esquecidos de sua mocidade. Portanto, a quem melhor podes contar um segredo do que a mim? CARLOTINHA - verdade, suas palavras me decidem. Voc meu irmo, e o chefe da nossa famlia, desde que perdemos nosso pai. Devo dizer-lhe tudo; tem o direito de repreender-me! (ALENCAR, 2003, p. 38-39)

Moura (2009) salienta que valores morais tambm so veiculados pelas palavras de Eduardo quando discute a questo do casamento com Azevedo, que se revela um sujeito mau carter:AZEVEDO - Decerto!... Uma mulher indispensvel, e uma mulher bonita!... o meio pelo qual um homem se distingue no grand monde!... Um crculo de adoradores cerca imediatamente a senhora elegante, espirituosa, que fez a sua apario nos sales de uma maneira deslumbrante! Os elogios, a admirao, a considerao social acompanharo na sua ascenso esse astro luminoso, cuja cauda uma crinolina, e cujo brilho vem da casa do Valais ou da Berat, custa de alguns contos de ris! Ora, como no matrimnio existe a comunho de corpo e de bens, os apaixonados da mulher tornam-se amigos do marido, e vice-versa; o triunfo que tem a beleza de uma, lana um reflexo sobre a posio do outro. E assim consegue-se tudo! EDUARDO - Tu gracejas, Azevedo; no possvel que um homem aceite dignamente esse papel. A mulher no , nem deve ser, um objeto de ostentao que se traga como um alfinete de brilhante ou uma jia qualquer para chamar a ateno! (ALENCAR, 2003, p. 23-24)

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Segundo Moura (2009), contata-se durante o desenrolar da trama, que atravs das palavras de Eduardo, no papel de bom moo, o autor manda seus recadinhos aos espectadores ou leitores. As falas desta personagem so geralmente longas e recheadas de lies. Estas lies versam sobre os costumes de ento, como a famlia ser vista com um templo, o templo da felicidade domstica; a manuteno dos costumes que fazem manter a famlia unida, o respeito palavra dada e escolha dos filhos em relao ao matrimnio; a confiana no poder da educao oferecida pelos pais aos filhos; a paz estabelecida no seio familiar. Eduardo o porta-voz das mensagens do autor, mas com o cuidado de no melindrar espectadores ou leitores com suas reflexes morais. Uemori (2004) cita que Jos de Alencar, abordou o tema da escravido em sua pea O demnio familiar. Tentou mostrar a relao de escravos e senhores no mbito familiar. Surpreende a presena de um escravo, no caso o menino Pedro, nessa obra, j que os negros estiveram praticamente ausentes nos outros trabalhos do autor. Quando apareciam eram personagens secundrios, de pouqussima relevncia para a trama. Compreende-se essa ausncia quando se sabe que escravos e escravido eram termos proibidos no s textos oficiais e nas obras literrias durante o Romantismo. O estudioso defende que na obra de Alencar a famlia ocupa um lugar importante, bem como os que querem desagreg-la. Em O demnio familiar o inimigo no um invasor, mas est dentro da famlia e escravo. O moleque Pedro no a personagem tpica do escravo fiel e resignado e nem o escravo vingativo e cruel, dois esteretipos da poca; nem o servial autmato cumpridor de ordens. Ele malandro, intrigueiro, alcoviteiro, egosta, interesseiro, mentiroso que manipula o seu senhor (Eduardo) e as outras personagens brancas. Eduardo, cansado das diabruras do moleque, aplica-lhe um castigo: liberta-o. Visava, mediante esse ato, estabelecer a hierarquia e expulsar o demnio familiar; portanto, no a palmatria que corrigir Pedro. A alforria tinha dois objetivos: punir e educar. A expulso salva a famlia e transforma Pedro de escravo em cidado. A mudana na ordem jurdica o obrigar a ser responsvel pelos seus atos, dando-lhe o sentido de obrigao moral. De acordo com Uemori (2004), na obra literria de Alencar existem vrios demnios ameaando a famlia e o carter nacional brasileiro. O casamento por interesse,

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a influncia estrangeira e a corrupo moral introduzida pelos escravos. Alencar queria salvar a famlia patriarcal pela alforria. O Demnio Familiar: uma anlise Pedaggico-Moralista Uma breve anlise se faz pertinente no sentido de estabelecer um dilogo entre o estudo da obra e das teorias mencionadas. Destacaremos algumas ideias importantes: Silva (1973) confere literatura funo poltico-social, a literatura com a funo pedaggica moralista, que molda quem l. Seriam por exemplo, as fbulas. Critica a literatura entendida segundo critrios de valor de Sartre. Salienta a Literatura Comprometida, em defesa de determinados valores morais, polticos e sociais, nasce de uma deciso livre do escritor; Literatura Planificada ou Dirigida, os valores a defender so impostos; Plato, em seu moralismo esttico busca em Scrates suas reflexes. Scrates reduz o conceito de beleza utilidade. As coisas belas se identificam com as coisas de boa utilidade. Romantismo, movimento que expressa um forte engajamento na reforma social e ao qual Jos de Alencar se destaca como representante. Neste sentido, Tufano (1983) salienta que sua obra romanesca vasta, abrangendo diferentes tendncias desenvolvidas na poca. Em seu conjunto de obras, merecem destaque os romances sociais, em que o autor faz uma representao bastante crtica das relaes humanas na sociedade carioca da poca. Apesar dos ingredientes sentimentais e dos arranjos para que tudo termine com um final feliz, Alencar pe a nu a hipocrisia e a corrupo das classes altas, que se mostram preocupadas apenas com a ostentao do luxo e a manuteno de seus privilgios. De acordo Moura (2009), contata-se durante o desenrolar da trama, que atravs das palavras de Eduardo, no papel de bom moo, Jos de Alencar manda seus recadinhos aos espectadores ou leitores. As falas desta personagem so geralmente longas e recheadas de lies. Uemori (2004) defende que na obra de Alencar a famlia ocupa um lugar importante, bem como os que querem desagreg-la. Em O demnio familiar o inimigo no um invasor, mas est dentro da famlia e escravo.

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Bosi (1994) destaca no ltimo ato, o momento em que o moleque alforriado para que, fora da irresponsabilidade em que vivera como escravo possa escolher honradamente seu caminho:Toma: a tua carta de liberdade, ela ser a tua punio de hoje em diante, porque as tuas faltas recairo unicamente sobre ti; porque a moral e a lei te pediro uma conta severa de tuas aes. Livre, sentirs a necessidade do trabalho honesto e apreciars os nobres sentimentos que hoje no compreendes. (PEDRO beija-lhe a mo.). (ALENCAR, 2003, p. 90-91)

Defende que essa, naturalmente, era a inteno tica de Alencar ao redigir a comdia. E Para Uemori (2004), a alforria tinha dois objetivos: punir e educar. A expulso salva a famlia e transforma Pedro de escravo em cidado. A mudana na ordem jurdica o obrigar a ser responsvel pelos seus atos, dando-lhe o sentido de obrigao moral. Concluso Na perspectiva de que o resultado deste estudo possa contribuir para ampliao e aprofundamento aos estudos literrios. Analisamos a pea teatral O demnio familiar, uma das obras do grande representante do Romantismo, Jos de Alencar. Investigando a presena de uma das funes da literatura apontadas por Silva (1973), esta, a funo pedaggico-moralista. O estudo da obra em questo foi desenvolvido de forma gradativa, a realizao desta pesquisa de carter terico, por meio de pesquisa bibliogrfica, com cotejamento da teoria e aplicao na obra em questo. Neste sentido, uma vez que, segundo Silva (1973), as coisas belas se identificam com as coisas de boa utilidade, a literatura se direciona em algo pedaggico. Confere literatura funo poltico-social, a literatura com a funo pedaggico-moralista, aquela que molda quem l. Moura (2009) defende que na trama, atravs das palavras de Eduardo, no papel de bom moo, o autor manda seus recadinhos aos espectadores ou leitores. As falas desta personagem so geralmente longas e recheadas de lies. Para Uemori (2004), a alforria tinha dois objetivos: punir e educar. A expulso salva a famlia e transforma Pedro de escravo em cidado. A mudana na ordem jurdica o obrigar a ser responsvel pelos seus atos, dando-lhe o sentido de obrigao moral.

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E Bosi (1994) destaca no ltimo ato, o momento em que o moleque alforriado para que, fora da irresponsabilidade em que vivera como escravo possa escolher honradamente seu caminho:Toma: a tua carta de liberdade, ela ser a tua punio de hoje em diante, porque as tuas faltas recairo unicamente sobre ti; porque a moral e a lei te pediro uma conta severa de tuas aes. Livre, sentirs a necessidade do trabalho honesto e apreciars os nobres sentimentos que hoje no compreendes. (PEDRO beija-lhe a mo.). (ALENCAR, 2003, p. 90-91)

Defendendo que essa, naturalmente, era a inteno tica de Jos de Alencar ao redigir a comdia. Assim, com esta pesquisa, atravs do cotejamento terico e aplicao na obra, embasados nas teorias mencionadas, podemos verificar que a funo pedaggico-moralista da literatura se faz autntica em O demnio familiar, de Jos de Alencar. Referncias ABDALA JUNIOR, B. Tempos da literatura brasileira. 2. ed. tica, 1986. ALENCAR, J. O demnio familiar. 2. ed. Campinas, SP: Pontes, Editora Kelps, 2003. BERALDO, J. Literatura comentada. So Paulo: Educao Abril, 1980. BOSI, A. Histria Concisa da Literatura Brasileira. 32. ed. So Paulo: Cultrix, 1994. CALDIN, C. A leitura como funo pedaggica: o literrio na escola. Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, v. 7, n. 1, p. 22-33, 2002. EAGLETON, T. Teoria da Literatura. Uma introduo. Trad. Waltensir Dutra. 6. ed. So Paulo: Martins Fontes, 2006. PLATO. A Repblica: [ou sobre a justia, dilogo poltico]. Traduo Anna Lia Amaral de Almeida Prado. So Paulo: Martins Fontes, 2006. SILVA, V. Teoria da Literatura. 3. ed. Coimbra: Livraria Almeida, 1973. SOUZA, R. Teoria da Literatura. 10. ed. So Paulo, tica: 2007. TUFANO, D. Estudos de literatura brasileira. 3. ed. Moderna, 1983. UEMORI, C. Escravido, nacionalidade e mestios polticos. Lutas Sociais, n. 11/12, p. 8597, 2004.

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Educao ambiental como instrumento para preservao e proteo do meio ambiente: aspectos pedaggicos e jurdicosWillian Flgge Carvalho3

Resumo O presente trabalho tem por objetivo demonstrar a relevncia da educao ambiental como instrumento positivo e eficaz para a preservao e proteo do meio ambiente. Atravs de pesquisas bibliogrficas apresentam-se alguns dos principais pontos que auxiliam para o estudo e compreenso do tema, tais como: movimentos internacionais propulsores da tutela ambiental no mundo, a legislao nacional como mecanismo para se difundir e inserir a educao ambiental no mbito escolar, os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) exibindo o meio ambiente como tema transversal para a educao ptria, a interdisciplinaridade integrando diversos saberes e melhorando o entendimento sobre a problemtica das questes ambientais e, a educao ambiental como utenslio para a tutela natural. No mais, sublinha-se a essencialidade da educao voltada aos temas ecolgicos como pilar para educar e conscientizar cidados sobre a imprescindibilidade do meio ambiente. Palavras-chave: Educao Ambiental. Meio Ambiente. Tutela. Escola. Introduo Fora pela realizao de movimentos internacionais relacionados ao meio ambiente que se percebeu, face difusividade planetria que obtiveram, a necessidade de um mtodo que, antes de tudo, conscientizasse e oferecesse aos indivduos informaes sobre problemas ambientais. Haja vista estarem as atividades antrpicas em um contexto global ocasionando desde priscas eras o extermnio de recursos naturais em diversas regies do planeta. Nessa senda, elaboram-se continuamente inmeros mecanismos de tutela ao meio ecolgico visando frear o processo de degradao do meio ambiente. Dentre os instrumentos criados para preservar e proteger o referido meio, encontra-se a educao ambiental, que progressivamente tem ganhando fora e espao no Brasil com a edio de leis e outras regras governamentais ao mbito educacional. Nesse palco, a educao ambiental insere-se como tipo de educao poltica, no sentido de que ela reivindica e prepara os cidados para exigir justia social, cidadania nacional e planetria, autogesto e tica nas relaes sociais e com a natureza (REIGOTA, 1996, p. 10).

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Willian Flgge Carvalho graduando do 10 perodo do curso de Direito da Faculdade de Jussara FAJ, da cidade de Jussara, Gois. Professor indicador doutor Clovis Carvalho Britto, Universidade de Braslia UNB/UEG.

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A maioria destes trabalhos aponta primordialmente fatos externos, notadamente intergovernamentais realizados pelas Naes Unidas que cooperaram para a construo da educao em comento, derribando a ideia de uma educao ambiental nacional destituda de influncias aliengenas. No mais, enfatiza-se o avano legislativo vernculo, bem como as polticas pblicas em geral relevantes formao e insero desse tipo de educao nas escolas e no meio social. Tambm, observa-se que a educao ambiental deve ligar-se transversalidade e interdisciplinaridade, levando em conta serem diretrizes adotadas pelo sistema de ensino que a permitem disseminar e ser aplicada sociedade em geral. Salientase ainda que a efetividade da citada educao se sujeita participao de diversos atores sociais, como escola e comunidade, o que promove o roto paulatino do arcaico modelo formal de ensino. Desta feita, com o propsito de elucidar o tema educao ambiental e expor a proeminncia da questo face aos problemas ambientais vividos pelo mundo, particularmente por nosso pas, que este trabalho direciona-se ao esclarecimento da temtica, a fim de propiciar estudo e conhecimento. Educao ambiental: alguns passos para a universalidade Os movimentos ecologistas estrearam no mundo em pocas que no muito se distam dessa. Tiveram origem em um momento da histria recente em que a utopia e as energias para transformao da sociedade estavam em alta (CARVALHO, 2011, p. 46). Na Europa, especialmente em Paris Frana, e nos Estados Unidos, nos anos de 1960, clamava-se por um planeta mais azul (CASCINO, 1999, p. 31). As manifestaes ideolgicas e as reivindicaes por direitos diferenciados no continente europeu e americano cooperaram para a edificao de uma preocupao ambiental que logo se ramificaria pelo mundo. No Brasil, no muito diferente, at a segunda metade do perodo novecentista (1960), prevalecia a convico de que seriam infinitas as fontes de recursos naturais e de que o livre mercado maximizaria o bem-estar social (TACHIZAWA, 2006, p. 44). Hodiernamente, com a disseminao de pesquisas e estudos cientficos cada vez mais acessveis s pessoas de todo mundo, a mentalidade arcaica alimentada at 1960 vem sendo dirimida, e, por consequncia, instituindo-se gradativamente um novo modelo de

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conscientizao. Os movimentos internacionais realizados pela Organizao das Naes Unidas ONU em beneplcito do meio ambiente constituem mecanismos importantes que contribuem para o influxo de novos mtodos de tutela ao meio natural. Em 1972, em Estocolmo Sucia realizou-se o primeiro grande movimento internacional em prol do meio ambiente. A Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente Humano, conhecida como Conferncia de Estocolmo, contribuiu de maneira importante para gerar um novo entendimento sobre os problemas ambientais e a maneira como a sociedade prev sua subsistncia (CAMPOS; NETO; SHIGUNOV, 2009, p. 60). Destaca-se, entretanto, que durante a constncia de Estocolmo, elaborou-se o documento intitulado: Declarao de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, o qual trouxe expressamente 26 (vinte e seis) princpios. Enquanto o princpio 19 (dezenove) do citado documento fomentou a necessidade da insero da educao ambiental como instrumento a incentivar e fortalecer a proteo do meio ambiente, devendo ser exercida por todos os integrantes da sociedade. Em 1975, a United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UNESCO, rgo da ONU incumbido de promover e divulgar questes educacionais atravs de reunies e seminrios internacionais, organizou na Iugoslvia, em Belgrado, a reunio de especialistas em educao, biologia, geografia e histria, e entre outros (REIGO TA, 1996, p. 16), com o intuito de se definir pressupostos norteadores para a educao ambiental no mundo. Atravs da Carta de Belgrado (CASCINO, 1999, p. 55), fixaram-se alguns objetivos que colocaram a educao ambiental como meio de conhecimento e soluo para diversos problemas ambientais. Em 1982, a partir da avaliao dos dez anos ps-Estocolmo, orientada pelo PNUMA, foi constituda, em Nairbi, no Qunia, a Comisso Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento *...+ (MASCARENHAS, 2008, p. 25), a qual foi implementada no ano seguinte pela ONU e teve como meta estabelecer discusses e metas entre os Estados para a proteo climtica, enaltecendo a preocupao com o meio ambiente e com estudos sua tutela em todo planeta. Anote-se que em 1987, como fator categrico de sua realizao, fora criado o Relatrio Brundtland, alcunhado como Nosso Futuro Comum, publicado em 1988 para propagar o entendimento do *...+ desenvolvimento sustentvel como o que realiza as necessidades do presente sem comprometer a habilidade das futuras geraes de

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as satisfazerem, prioriza as camadas mais pobres da populao e estabelece condies bsicas para o desenvolvimento e a conservao dos ecossistemas (MASCARENHAS, 2008, p. 26). No ano de 1992, a Assembleia Geral da ONU realizou no Rio de Janeiro Brasil, a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida tambm como Rio-92, ECO-92 ou Cpula da Terra. Pelo encontro dos Estados, houve a criao de *...+ importantes documentos como a Agenda 21 *...+ (MASCARENHAS, 2008, p. 29). A Agenda 21 traou estratgias e metas globais para a criao de mecanismos de desenvolvimento sustentvel e ao estabelecimento de polticas para sua efetivao. Sobreleva mencionar, entretanto, que apesar da paulatina pulverizao de iniciativas em prol do meio ambiente ocorridas mundialmente desde a dcada de 1960, a Educao Ambiental (EA) somente ganhou prestgio e comeou a efetivamente propagar-se e se tornar mecanismo hbil proteo ecolgica no estrado interno dos Estados, com o advento da Conferncia Intergovernamental sobre Educao Ambiental em 1977, realizada em Tbilisi, Gergia (ex-URSS).[...] inicia-se um amplo processo em nvel global orientado para criar as condies que formem uma nova conscincia sobre o valor da natureza e para reorientar a produo de conhecimento baseada nos mtodos da interdisciplinaridade e nos princpios da complexidade. Esse campo educativo tem sido fertilizado transversalmente, e isso tem possibilitado a realizao de experincias concretas de educao ambiental de forma criativa e inovadora por diversos segmentos da populao e em diversos nveis de formao (JACOBI, 2003, p. 190).

De fato, as bases da educao ambiental encontram-se nos eventos internacionais produzidos pela Organizao das Naes Unidas, especialmente pelos movimentos supramencionados, os quais criaram inmeras diretrizes para a construo de um modelo social que levasse em conta o bem-estar humano, alcanando uma situao ideal de justia social, para a humanidade, na qual o desenvolvimento scio-econmico, em bases eqitativas, estaria em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra (CORDANI, 1995, p. 14). Inobstante, as normas decorrentes dos eventos serviram para a mundializao da proteo e preservao ambiental, j que muitos Estados, como o Brasil, tornaram-se pactuantes dos tratados institudos pelas aes intergovernamentais.

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Legislao brasileira e diretrizes governamentais para a insero da educao ambiental nas escolas No mbito nacional, a influncia dos movimentos externos, como os j mencionados, contriburam para a produo de polticas pblicas e eventos no governamentais sobre educao ambiental. A legislao ptria, grande modelo da insero de parmetros internacionais no ordenamento interno, vem se desenvolvendo concomitante aos novos paradigmas da educao, criando mecanismos para a implementao da educao ambiental nas escolas. Em 1981, a Lei n 6.938 Poltica Nacional do Meio Ambiente , de maneira indita, atravs de seu artigo 2, inciso X, incluiu a educao ambiental em todos os nveis de ensino, compreendendo tambm a comunidade na participao ativa para a defesa do meio ambiente. Todavia, foi com a promulgao da Lex Magna em 1988 que a educao ambiental ganhou relevncia e alicerce constitucional para se desenvolver nacionalmente. A Constituio vigente buscou trazer a conscincia ecolgica ao povo, titular do direito ao meio ambiente, permitindo a efetivao do princpio da participao na salvaguarda desse direito (FIORILLO, 2011, p. 126). Por meio do artigo 225, pargrafo 1, e inciso VI, do referido diploma, admitiu-se que a educao ambiental fosse utilizada como instrumento de tutela ao meio natural. Ademais, a nova ordem de leis superiores fundou o Estado Democrtico de Direito baseado na cidadania e dignidade da pessoa humana (artigo 1, incisos II e III, da CF), por onde a educao tornou-se meio indispensvel para resguardlas e promov-las, visto ser um direito de todos e dever do Estado e da famlia, conforme preconiza o artigo 205, da Carta da Repblica, in verbis:A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho (BRASIL, 1988).

Desse modo, com o vigor da Carta Poltica de 1988 inmeros projetos, eventos e leis multiplicaram-se pelo pas, unindo preservao e proteo ambiental necessidade de uma educao que considerasse o meio ecolgico parte intrnseca para a formao de indivduos, ou seja, um tipo de ensino que alimentasse o ideal de sujeito ecolgico *...+, contribuindo para uma cidadania ambientalmente sustentvel (CARVALHO, 2011, p. 69 e 106).

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Em 1992, por exemplo, durante a realizao da ECO-92, surgiu com objetivos especficos o evento no governamental conhecido como Frum Global, o qual reuniu diversas Organizaes no Governamentais ONGs, e vrios movimentos sociais ligados ao meio ambiente. Como fruto significativo do evento, elaborou-se o Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis, o qual pretendeu abarcar os princpios estabelecidos em Tbilisi 1977 (CASCINO, 1999, p. 45). Em verdade, o documento causou efeitos positivos no campo educacional e pedaggico brasileiro. Sobre o assunto, Carvalho (2011) aponta o seguinte:Esse tratado est na base da formao da Rede Brasileira de Educao Ambiental, bem como das diversas redes estaduais, que formam grande articulao de entidades no governamentais, escolas, universidades, e pessoas que querem fortalecer as diferentes aes, atividades, programas e polticas em EA. Essa aposta na formao de novas atitudes e posturas ambientais como algo que deveria integrar a educao de todos os cidados passou a fazer parte do campo educacional propriamente dito e das preocupaes das polticas pblicas. Essa compreenso foi ratificada pela Poltica Nacional da Educao Ambiental [...] (CARVALHO, 2011, p. 54).

A Poltica Nacional da Educao Ambiental Lei n 9.795/99 , regulamentada pelo Decreto 4.281/02, veio reforar e estabelecer metas concretas educao ambiental no Brasil. Tal lei foi instituda como obrigatria em todos os nveis de ensino e considerada componente urgente e essencial no Ensino Fundamental (BOER; MORAES, 2006, p. 293). Definida como o conjunto de processos pelos quais o indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes contemporneas voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo (FIORILLO, 2011, p. 127). Transversalidade e interdisciplinaridade como meio de se efetivar a educao ambiental Vede que o legislador nacional, algumas entidades do terceiro setor como as ONGs, e ainda a populao civil em geral, encontram-se trabalhando para introduzir valores e atitudes lastreados pela tica, cidadania e dignidade no plano estudantil brasileiro. Entrementes, para colocar a educao ambiental de maneira efetiva e propcia para gerar resultados nas escolas, especialmente nos graus fundamentais e mdios, mais do que polticas pblicas ou eventos desprovidos de qualquer vnculo poltico devem ser obrados. Nessa direo, Boer e Moraes (2006) apontam a transversalidade e a interdisciplinaridade como mtodos primordiais para se erguer uma educao ambiental eficiente.

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A transversalidade da educao brasileira opera-se com a insero de questes sociais relevantes no plano escolar. Desde a elaborao dos Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs), pelo Governo Federal, os denominados Temas Transversais tem moldado a educao ptria. De acordo com Peres (2008), os Temas Transversais escolhidos pelo poder pblico no Brasil foram divididos em seis grupos, fazendo referncia : tic a, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Sade, Orientao Sexual, Trabalho e Consumo (PERES, 2008, p. 39). Em 1997, a Secretaria de Educao Fundamental publicou uma cartilha contendo a verso definitiva dos PCNs para as primeiras sries do ensino bsico, da 1 4 sries. Em 1998, o mesmo rgo apresentou a verso definitiva dos PCNs para a 5 e 8 sries. Do documento de 1997, acentua-se o seguinte trecho sobre o tema meio ambiente:O trabalho de Educao ambiental deve ser desenvolvido a fim de ajudar os alunos a construrem uma conscincia global das questes relativas ao meio para que possam assumir posies afinadas com os valores referentes sua proteo e melhoria. [...] Os contedos de Meio Ambiente sero integrados ao currculo atravs da transversalidade, pois sero tratados nas diversas reas do conhecimento, de modo a impregnar toda a prtica educativa e, ao mesmo tempo, criar uma viso global e abrangente da questo ambiental (SECRETARIA DE EDUCAO FUNDAMENTAL, 1997, p. 35-36).

Assim, os PCNs apresentam o meio ambiente como um dos Temas Transversais, cujos contedos devem ser trabalhados pela Educao Ambiental, de forma sistemtica, abrangente, interdisciplinar e transversal nas disciplinas (BOER; MORAES, 2006, p. 293). A interdisciplinaridade, por sua vez, nasce com a misso de relacionar diferentes reas do conhecimento complexidade das questes ambientais; carregando o objetivo de gerar um melhor entendimento sobre as realidades difceis e delicadas queles envolvidos no circuito escolar e tambm fora dele. sabido que o meio ambiente tudo que nos envolve e com o que interagimos, por isso, a educao comprometida com temas ecolgicos deve instigar novos mtodos de ensino e aprendizagem, cingindo diversos campos do conhecimento, levando em conta a grandiosidade do objeto de estudo. Frise-se que a interdisciplinaridade no busca unificar as disciplinas, mas estabelecer conexes entre elas, na construo de novos referenciais conceituais e metodolgicos consensuais, promovendo a troca entre os conhecimentos disciplinares (CARVALHO, 2011, p. 121).

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Normalmente, o mtodo interdisciplinar empregado quando professores de diferentes disciplinas realizam atividades comuns, sobre um mesmo tema (REIGOTA, 1996, p. 39). No entanto, esse modelo que se orienta por um nexo entre distintos saberes no deve limitar-se ao entrecruzamento de matrias afins. Posicionar a educao ambiental sob o molde interdisciplinar tambm construir um conhecimento dialgico, ouvir os diferentes saberes, tantos os cientficos quanto os outros saberes sociais (locais, tradicionais, das geraes, artsticos, poticos, etc.) (CARVALHO, 2011, p. 130). Os professores, nesse cenrio, conscientes de seu importante papel na formao das futuras geraes, assumem a tarefa de rever sua educao, em um rico dilogo [...] consigo prprio, no sentido de reeducar-se (CASCINO, 1999, p. 95), adaptando-se as novas prticas pedaggicas nesse volvel palco socioeducativo. Assim, claro est que a transversalidade e a interdisciplinaridade devem integrar a educao ambiental como requisitos bsicos para efetiv-la e vincul-la ao ensino educacional nacional. Contudo, deve-se aluminar que, para que a educao ambiental esteja apta a promover a proteo e preservao natural, escola e comunidade devem trabalhar em conjunto. Prticas para a efetividade da educao ambiental fora da escola A informalidade da educao ambiental, isto , as prticas educacionais exercidas fora dos muros escolares por diversas pessoas da comunidade, so to relevantes quanto as realizadas intramuros. Enquanto internalizadas, as atividades voltadas educao ambiental comumente limitam-se a um grupo de indivduos, com idades aproximadas, conhecimentos parecidos e, muitas vezes, orientados por um mesmo processo cognitivo. Se externas, incluem no s crianas e jovens, mas tambm adultos, agentes locais, moradores e lderes comunitrios (CARVALHO, 2011, p. 157). Logo, os efeitos e resultados da educao ambiental benevolncia do meio ecolgico somente podem ser concretos e positivos se, antes de tudo, este desafio for vencido, o qual sumariamente consiste em formular uma educao ambiental que seja crtica e inovadora, em dois nveis: formal e no formal (JACOBI, 2003, p. 196). Portanto,

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pode-se dizer que as instituies de ensino esto comprometidas com a educao ambiental tanto no ensino formal como no formal (FIORILLO, 2011, p. 128). Chegando aqui, foroso explicar que a educao ambiental por si s no resolver os complexos problemas ambientais planetrios (REIGOTA, 1996, p. 12), ou seja, ela jamais pode ser vista como nico meio para combater o gradativo falecimento do meio ecolgico, cujas causas ligam-se diretamente s atividades do homem na natureza em um contexto mundial. A educao ambiental deve ser usada como um utenslio para tutelar o meio ambiente, sendo, entanto, questo primordial na formao do carter e atitudes de todos os cidados. Deve estar presente em todos os graus de formao, oferecendo aos indivduos informaes sobre seus direitos e deveres, alm de lev-los conscincia dos problemas ambientais, orientando-os s prticas para combat-los e/ou minimiz-los, ou at interromp-los. Consideraes finais O mundo capitalista, envolto pelo materialismo exacerbado, requer dia a dia solues efetivas para os problemas socais e naturais que ocorrem pelo esgotamento dos recursos naturais. Nessa direo, vimos que a educao ambiental tem se tornado objeto propcio para promover a educao social quanto ao meio ecolgico. Ao atuar atravs do ensino nas escolas e por prticas individuais e coletivas, pode gerar bons resultados locais e globais. No caminho comum, se agir como formadora e reformadora de opinio, pode auxiliar na conscientizao sobre a importncia do meio finito que estamos condenados a depender ou sucumbir sem sua utilizao, leia-se: meio ambiente. Assim, observamos que a introduo de questes de sustentabilidade no mbito escolar meio direito de proteo e preservao ambiental, alm de enaltecer a cidadania e os valores ticos e humanos. Igualmente, as polticas pblicas nacionais e internacionais seguidamente realizam papel importante e de prestgio para o processo de implementao da educao ambiental no mundo inteiro. No Brasil, a legislao, por exemplo, medida necessria para a difuso da educao ambiental nas escolas e na comunidade, j que valora, protege e dissemina os temas ecolgicos nesses meios. Destarte, ante a necessidade da proteo e preservao do meio ambiente, necessrio se torna primeiramente educar e reeducar a populao em geral, utilizando-se

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diversos instrumentos, dentre eles, a educao ambiental inserida nas escolas, nas polticas governamentais e no governamentais. Referncias: BRASIL. Constituio (1988). Constituio [da] Repblica Federativa do Brasil. Braslia: Senado Federal, Subsecretaria de Edies Tcnicas, 2010. ______. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, Dispe sobre a educao ambiental, institui a Poltica Nacional de Educao Ambiental e d outras providncias. Disponvel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm Acesso em: 02 set. 2012. ______. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, Dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao, e d outras providncias. Disponvel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm Acesso em: 05 set. 2012. BOER, N; MORAES, E. Polticas educacionais, vises de mundo e a articulao em processos educativos. Cinc. educ., Bauru, v. 12, n. 3, Dec. 2006 . Disponvel em: . Acesso em: 20 set. 2012. CAMPOS, L; NETO, A; SHIGUNOV, T. Fundamentos da Gesto Ambiental. 1. ed. Rio de Janeiro: Cincia Moderna, 2009. CARVALHO, I. Educao ambiental: a formao do sujeito ecolgico. 5. ed. So Paulo: Cortez, 2011. CASCINO, F. Educao Ambiental: princpios, histria, formao de professores. So Paulo: Editora Senac So Paulo, 1