re-significação da identidade em homens e mulheres após separação conjugal
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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
JOSIANE FERREIRA DA SILVA
[...] EU SOU OUTRA PESSOA[...]: A RE-SIGNIFICAO DA IDENTIDADE EM
HOMENS E MULHERES APS A SEPARAO CONJUGAL
PALHOA (SC)
2008
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JOSIANE FERREIRA DA SILVA
[...] EU SOU OUTRA PESSOA[...]: A RE-SIGNIFICAO DA IDENTIDADE EM
HOMENS E MULHERES APS A SEPARAO CONJUGAL
Trabalho de Concluso de Curso apresentado aoCurso de Psicologia da Universidade do Sul de
Santa Catarina como requisito parcial obtenodo ttulo de Psicloga.
Orientadora: Prof. Deise Maria do Nascimento,Msc.
PALHOA
2008
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Um carinho exclusivo ao meu pai e aminha me, pelo apoio que sempre mederam, e em especial a minha me quesofreu e sorriu junto comigo durante aconcretizao deste trabalho.Ao meu noivo, que a partir do momentoque comeou a fazer parte de minha vida,me tornei uma pessoa mais feliz.
Amo vocs!
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AGRADECIMENTOS
A Deus, que atravs da fora do teu esprito, fez eu superar as
dificuldades encontradas no caminho. E consegui mais uma conquista ao concluir
este trabalho, acrescentando, assim, ainda mais a minha paixo por viver.
Para que a concretizao deste estudo se efetivasse: agradeo s
inmeras pessoas que foram incentivadoras neste processo e seus ensinamentos
sero a partir de agora essenciais em minha caminhada pessoal e profissional.
Ento, por estes extraordinrios exemplos, expresso meus reais agradecimentos.
Ao Prof. Paulo Sandrini, que com sua capacidade e empenho decoordenar o Curso de Psicologia, sempre esteve disposto a melhor atender, me
proporcionou chegar at aqui.
Prof. Deise Nascimento, pela sua delicadeza, pacincia e inteligncia,
que soube orientar e valorizar esta pesquisa.
Aos professores mestres e doutores que a mim repassaram seus
conhecimentos, fazendo que meu desenvolvimento fosse o melhor possvel.
Aos voluntrios que foram fundamentais para a realizao destapesquisa.
Aos meus colegas de curso e disciplinas que compartilharam comigo seus
conhecimentos.
A todos aqueles que de alguma forma contriburam ou torceram pela
concretizao desta pesquisa.
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[...] no pergunte o que realmente sou; qual o meu verdadeiroeu; o que de essencial existe em mim. Pergunte, como possoredescrever-me, de maneira a viver uma vida melhor ou maisbela. (RORTY, apudCOSTA, 1994, p. 21).
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RESUMO
Esta pesquisa apresenta como tema central o estudo da identidade dos casais que
esto em processo de separao conjugal e tem como objetivo geral a
caracterizao do processo de re-significao da identidade em homens e mulheres
aps a separao. Quanto metodologia, trata-se de uma pesquisa exploratria,
com pesquisa de campo, de natureza qualitativa. A coleta de dados foi realizada por
meio de uma entrevista semi-estruturada, que de forma acidentalforam escolhidos 3
(trs) homens e 3 (trs) mulheres que estavam com a separao de corpos
efetivada, que no formavam um casal entre si, e que utilizaram o servio deatendimento de mediao familiar no Frum do municpio da grande Florianpolis-
SC. No referencial terico foram abordados os seguintes temas: Gnero e
Identidade e uma Possibilidade de Re-significao; Casamento e Separao
Conjugal. A anlise de dados foi realizada atravs de anlise de contedo, nos quais
os resultados preliminares apontam para a mudana na vida social, tanto para
homens quanto para as mulheres. O diferencial relacionado ao gnero foi a
constatao que houve uma melhora da auto-estima nas mulheres. Esse resultadofoi unnime para todas as entrevistadas. O sofrimento foi um sentimento presente,
independente do gnero, ficando assim, evidente algumas justificativas quanto
superao desses sentimentos, por parte dos participantes do sexo masculino. A
possibilidade de uma nova conjugalidade foi considerada importante para a
retomada da vida, com algumas ponderaes, por dois dos participantes, no que se
referiu a no conviver sob o mesmo teto. Essa ltima considerao foi apontada por
um participante do sexo masculino e uma do sexo feminino. Com esses dados, sepercebeu a existncia da re-significao nas identidades de homens e mulheres de
acordo com as atitudes expressas.
Palavras Chaves Identidade. Separao Conjugal. Re-significao. Gnero.
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SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................. 08
2 PROBLEMTICA ........................................................................................ 09
3 OBJETIVOS................................................................................................. 11
3.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................11
3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ........................................................................11
4 JUSTIFICATIVA........................................................................................... 12
5 REFERENCIAL TERICO........................................................................... 16
5.1 UMA QUESTO DE GNERO ....................................................................16
5.2 IDENTIDADE E UMA POSSIBILIDADE DE RESSIGNIFICAO ...............19
5.3 CASAMENTO E SEPARAO CONJUGAL................................................ 24
6 MTODO...................................................................................................... 32
6.1 TIPO DE PESQUISA.................................................................................... 32
6.2 PARTICIPANTES OU FONTES DE INFORMAO.................................... 33
6.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS.................................................................33
6.4 SITUAO DO AMBIENTE .........................................................................33
6.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ..................................................34
6.6 PROCEDIMENTOS......................................................................................34
6.6.1 Da seleo dos Participantes ou Fontes de Informao ........................ 34
6.6.2 Do Contato com os Participantes ............................................................. 34
6.6.3 Da Coleta e Registro dos Dados ............................................................... 35
6.6.4 Da Organizao, Tratamento e Anlise de Dados ...................................36
7 ANLISE DOS DADOS ............................................................................... 38
7.1 IDENTIFICAR E COMPARAR OS SENTIMENTOS DE HOMENS E
MULHERES APS A SEPARAO CONJUGAL .......................................38
7.1.1 Sentimentos que Produzem Sofrimentos ................................................ 38
7.1.2 Sentimentos Contraditrios ...................................................................... 40
7.1.3 Sentimentos de Bem-Estar........................................................................ 41
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7.2 IDENTIFICAR QUE CATEGORIAS HOMENS E MULHERES ADOTAM
PARA ESPECIFICAR UMA POSSVEL IDENTIDADE, QUE SE
CONSTITUI APS O PROCESSO DE SEPARAO CONJUGAL ............ 42
7.2.1 Nada Mudou................................................................................................ 42
7.2.2 Mudana no Lazer...................................................................................... 44
7.2.3 Liberdade e Autonomia.............................................................................. 45
7.2.4 Retomando a Auto-estima (Cuidado de Si).............................................. 47
7.3 INVESTIGAR AS PERSPECTIVAS QUANTO UMA POSSVEL
CONJUGALIDADE DE HOMENS E MULHERES APS O PROCESSO
DE SEPARAO CONJUGAL.....................................................................49
7.3.1 Retomada da Vida ...................................................................................... 497.3.2 Manuteno da Liberdade ......................................................................... 50
8 CONSIDERAES FINAIS ......................................................................... 52
REFERNCIAS............................................................................................ 55
Apndice A Questionrio........................................................................ 57
Apndice B Carta Convite ...................................................................... 59
Apndice C Termo de Consentimento................................................... 61Apndice D Categorizao ..................................................................... 62
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1 INTRODUO
O tema do presente trabalho : A Re-significao da Identidade em
Homens e Mulheres aps a Separao Conjugal. A palavra re-significao
abordada nessa pesquisa com um sentido de reorganizao interna e externa, a
partir da experincia de separao.
O gnero foi desenvolvido nesta pesquisa, com o intuito de verificar as
diferenas das pessoas que sofrem a separao conjugal e como se re-significam a
partir dessa experincia.
Os conceitos que foram desenvolvidos nesta pesquisa dizem respeito identidade, separao, ao gnero, ao casamento e possibilidade de as pessoas
que sofrem a separao conjugal se re-significarem a partir dessa experincia.
O tempo que os participantes se encontram separados se constitui em
importante varivel com o intuito de averiguar se h uma variao significativa
quanto percepo de mudana ao longo do tempo.
Buscou-se, tambm, identificar sentimentos existentes aps a separao
conjugal. E nas anlises, foi verificado como homens e mulheres se reconhecem ese vem aps a separao, bem como as expectativas que possuem em relao a
uma nova conjugalidade.
No desenvolvimento terico, sero abordadas temas como: Gnero,
Identidade e a possibilidade de Re-significao, Casamento e Separao, a fim, de
ponderar as narrativas encontradas nas entrevistas.
Quanto metodologia, trata-se de uma pesquisa exploratria de natureza
qualitativa. A coleta de dados foi realizada atravs de entrevista semi-estruturadaque foram realizadas em usurios do servio de mediao no Frum do municpio
da grande Florianpolis - SC.
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2 PROBLEMTICA
H um aumento significativo de separaes conjugais na populao em
geral, essa afirmativa feita por Carneiro (2003) em pesquisa sobre o processo de
separao. Na respectiva pesquisa, constatado que na dissoluo da
conjugalidade no houve diferenas relevantes entre os grupos etrios. No entanto,
a autora destaca que houve diferenas relevantes entre as vivncias masculinas e
as femininas em relao aos diferentes sentimentos: desejo de separao; deciso
de separao; processo de separao e a construo de uma nova identidade.
A relevncia do gnero possibilita verificar que sentimentos e atitudes emhomens e mulheres divergem e exercem um significado importante para o processo
de separao conjugal, bem como influenciam nas diferentes formas de re-signifcar
a identidade, ou seja, homens constroem sua nova identidade a partir de
sentimentos vivenciados, que conforme a autora so diferentes dos vivenciados
pelas mulheres. Assim, as diferenas em relao separao so mais pautadas,
nas diferenas de gnero do que nas de faixa etria. (CARNEIRO, 2003)
Em pesquisa realizada por Trevisan (2007), foram identificadas asrepresentaes sociais da separao conjugal em homens e mulheres na meia-
idade, com o objetivo de comparar as respostas com relao ao gnero dos
entrevistados; descrever os motivos que levaram separao; identificar os
sentimentos mais presentes em relao separao conjugal; e investigar as
perspectivas de futuro dos entrevistados.
A pesquisa citada verificou, ainda, que os entrevistados acreditam que a
sociedade no entende por qual motivo as pessoas resolvem se separar depois detanto tempo casadas e, ainda mais, na idade em que se encontram, ou seja, a
sociedade percebe a separao na meia-idade como algo negativo, pejorativo.
Todos os participantes do sexo masculino demonstraram acreditar que a
separao conjugal vivenciada igualmente em todas as idades, quer dizer, para
eles tanto faz se separar na meia-idade ou em qualquer outro momento da vida.
Este estudo comprovou que mesmo a separao sendo vista como algo cotidiano,
no deixa de ser parte de um processo doloroso, implicando, assim em sofrimento
psicolgico para todos os envolvidos. A mesma pesquisa divulga que as mulheres
pontuam alguns motivos considerados relevantes para haver separao conjugal,
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so eles: violncia psicolgica; ausncia de carinho; baixa tolerncia em relao ao
comportamento do parceiro e ausncia de relao sexual. Com esse resultado,
pde-se perceber, ento, a exigncia da mulher quanto ao funcionamento da relao
amorosa. J na fala masculina apareceu a culpabilizao da mulher, na qual
homens atriburam, exclusivamente, mulher a responsabilidade da separao
conjugal.
Esse estudo possibilita que haja continuao na explorao de mais
dados relacionados aos gneros, para melhor entender de que maneira a separao
conjugal interfere na re-significao da identidade de homens e mulheres aps a
separao.
Segundo o autor (SILVA T., 2000), possvel relacionar identidade ediferena:
Aquilo que e aquilo que no , por exemplo: A afirmao sou brasileirona verdade, parte de uma extensa cadeia de negaes, de expressesnegativas de identidade, de diferenas [...] Por trs da afirmao soubrasileiro, deve-se ler: no sou argentino, no sou chins [...].
Percebe-se atravs da concepo do autor (SILVA T., 2000), a
compreenso que ele faz entre identidade e diferena, ora se sou brasileiro, logono sou argentino. Ento, cabe, assim, fazer uma relao de interdependncia
com a idia do autor, ora se sou casado no sou separado, onde se pode, ento,
diante desse panorama terico, tornar relevante e refletir sobre o processo de
transformao da identidade de sujeitos em separao conjugal. Analisando o
fenmeno da re-significao da identidade aps esse processo, cabe assim a
seguinte problemtica: Que categorias homens e mulheres adotam para explicar
essa nova identidade, aps o processo de separao conjugal?
Diante desse questionamento, o presente estudo tem como objetivo
responder a problemtica citada acima, pois pode ser verificado em estudos
pesquisados, como importante o tema proposto desta pesquisa. Atravs da anlise
de dados relacionados aos sentimentos e significados que homens e mulheres do a
si prprios aps o processo de separao, poder-se- investigar como homens e
mulheres re-significam suas identidades. O resultado desse estudo vai possibilitar,
atravs dos depoimentos averiguados, conhecimento sobre sentimentos e
significados que devem ser compreendidos e estudados por pesquisadores com o
intuito de colaborar com a comunidade social e cientfica.
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3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Investigar o processo de re-significao da identidade em homens e
mulheres aps separao conjugal.
3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
Identificar e comparar os sentimentos de homens e mulheres aps a
separao conjugal;
Identificar, quais categorias os homens e as mulheres adotam para
especificar uma possvel identidade, que se constitui aps o processo
de separao conjugal; Caracterizar as perspectivas quanto uma possvel conjugalidade de
homens e mulheres aps o processo de separao conjugal.
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4 JUSTIFICATIVA
importante enfatizar que existem inmeros trabalhos que tratam sobre
separao conjugal, e que vem crescendo o nmero de separaes conjugais, como
infere Carneiro (apud SCHABBEL, 2005, p. 2-6) em sua pesquisa: Relaes
familiares na separao conjugal: contribuies da mediao. A pesquisa teve
como objetivo apresentar o papel da mediao na renegociao das relaes dos
pais que se separaram, valorizando e encorajando a cooperao.
Schabbel (2005) verifica que o divrcio provoca pesar, mudanas na
famlia e necessidade de novos papis familiares. Concluiu-se, a partir dessesestudos que h uma vasta bibliografia sobre os prejuzos emocionais que podem ser
causados por uma crise de separao e que esses estudos tm auxiliado no
desenvolvimento e aprimoramento das tcnicas e treinamento de mediadores de
divrcio, e ressalta, ainda, a relevncia dos aspectos psicolgicos, como por
exemplo: o pesar pela perda, a qual possibilita discusso sobre as possveis novas
identidades, bem como o rompimento dos padres de intimidade que esto
presentes no casamento, possibilitando, assim, uma redefinio dos novos papis.A pesquisa de Carneiro (2003) sobre separao tem como objetivo
investigar como homens e mulheres das camadas mdias da populao brasileira
vivenciam o processo de rompimento do casamento, buscando reconstruir suas
identidades individuais aps a separao. Ela realizou essa pesquisa com 16
mulheres e 16 homens das camadas mdias da populao carioca, com idades
entre 25 a 35 anos e 45 a 55 anos, separados legalmente ou no, do primeiro
casamento e que ainda no haviam se casado novamente.Sua pesquisa levou em considerao: o desejo de separao; deciso da
separao; processo de separao e a reconstruo da identidade. Levando em
considerao esses quesitos, foram observados que os sentimentos e atitudes
vivenciados por homens e mulheres divergiram. Ainda, considerando os mesmos
quesitos, foi constatada a relevncia do gnero como fator diferencial na vivncia da
separao conjugal. Embora homens e mulheres compartilhem o sentimento da dor,
eles manifestaram de formas diferentes seus sentimentos relacionados separao.
Carneiro (2003), A desconstruo da conjugalidade, aps a separao,
tem como conseqncia a construo de uma nova identidade individual. Com isso,
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percebe-se a necessidade de investigar como o processo de separao pode
auxiliar na busca de respostas quanto ao processo de re-significao da identidade
aps a separao, possibilitando dessa maneira novas formas de compreender uma
possvel identidade, que se constitui aps esse processo de rompimento.
Em estudos realizados por Cruz (2006), sobre os sentimentos
predominantes aps o trmino de um relacionamento amoroso, considerando as
diferenas de identidade quanto ao gnero, iniciativa de trmino e durao do
relacionamento. Afirmam sobre os sentimentos que foram estudados, que esto os
negativos, relacionados infelicidade e ao mal-estar, e os sentimentos positivos
ligados ao bem-estar e melhoria no estado geral das pessoas.
O sofrimento causado pelo trmino da relao conjugal no estassociado ao tempo de durao da mesma. Ele averiguou que existe predominncia
de atitudes negativas tanto nas mulheres quanto nos homens, porm em
intensidades divergentes. Atingindo assim, nvel maior de atitudes negativas s
mulheres quando comparadas s atitudes dos homens, no entanto ao realizar a
comparao das atitudes positivas nas mesmas situaes, apresentou resultado
semelhante para homens e mulheres. (IDID, 2006)
Dessa forma, os autores constataram a relevncia do gnero, bem comopossibilidades de significados diferentes para homens e mulheres no que se refere
aos sentimentos ligados separao. Alm disso, deve considerar o contexto
sociocultural no qual, as pessoas esto inseridas, pois foi ensinado culturalmente ao
homem omitir seus sentimentos quanto aos relacionamentos amorosos.
Cruz (2006) considera importante que os fenmenos com relao ao
amor e a paixo se tornarem, tambm, temas cientficos e sociais, e no apenas
pertencentes aos poetas, uma vez que tm implicado em sofrimento para aspessoas. Considerando que os temas relacionados aos sentimentos como: amor,
dor, atrao, paixo, separao, fazem parte do cotidiano das pessoas, logo esses
temas podem ser considerados como relevantes para estudos cientficos e sociais,
uma vez que vm ao encontro do estudo proposto, a fim de verificar como as
pessoas, aps um processo de separao, do sentido a si mesmo.
Para Giddens (2005), identidade social est atrelada as caractersticas
que so atribudas a um indivduo por outras pessoas. O autor a cita como marcador
que sinaliza quem essa pessoa . Essas marcas posicionam essas pessoas com
relao aos outros indivduos que compartilham dos mesmos atributos. Como
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exemplo, o autor utiliza de algumas identidades sociais como: o estudante, a me, o
advogado, o catlico, o sem-teto, o asitico, o casado e assim por diante. Ora, se o
autor fala da identidade de casado como exemplo de identidade social, pode-se
apontar a relevncia da identidade de casado e de separado perante a sociedade, e
como isso pode contribuir com conhecimentos cientficos sobre os comportamentos
dessas pessoas; e como elas se vem e como os outros as percebem nessa
identidade de casado, e posteriormente como as percebem na identidade de
separado. As pessoas podem ter identidades sociais com mais de um atributo, ou
seja, uma pessoa poderia ser simultaneamente: me separada, engenheira,
brasileira e vereadora. Com isso, conclui-se que mltiplas identidades sociais vo
refletir as muitas dimenses das vidas dessas pessoas.Diante dessa realidade e, frente ao fenmeno da re-significao da
identidade em pessoas aps a separao, existe uma necessidade de explorao
acerca da caracterizao dessas pessoas em relao identidade de no mais
como casadas, mas, sim, como separadas, divorciadas ou solteiras. Pode-se
perceber que as identidades das pessoas so construdas no s individualmente,
mas tambm coletivamente, e justamente neste ponto que essa pesquisa pretende
contribuir com novos conhecimentos acadmicos e cientficos. Abordando questes,tais como, a concepo que elas tm de si mesmas aps o processo de re-
significao da identidade. Atravs desse estudo, produzir possibilidades de
intervenes em programas de mediaes, bem como dados importantes para a
produo de conhecimento em psicologia.
Giddens (2005) percebe mudanas na identidade a partir do mundo
moderno que fora as pessoas encontrem elas mesmas, pois as referncias
tradicionais tornaram-se menos essenciais, onde o mundo social possibilita muitasescolhas acerca de quem somos, de como devemos viver e do que devemos fazer.
Como caractersticas dos seres humanos, possuem a capacidade de,
constantemente poderem criar e recriar as identidades. A partir do pensamento do
autor quanto flexibilidade das mudanas comportamentais com relao ao mundo
moderno, vem ao encontro o estudo da re-significao da identidade em pessoas
aps a separao conjugal, pois como o autor diz, os seres humanos possuem
capacidade de criar e transformar suas identidades. Com isso, pretende-se, ento,
conhecer como homens e mulheres aps a separao conjugal re-significam sua
identidade.
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Diante da realidade do mundo atual, no qual o nmero de separaes
conjugais cresce demasiadamente e das pesquisas anteriormente citadas sobre
esse fenmeno da separao conjugal, encontra-se, ento a relevncia e
necessidade em aprofundar o conhecimento sobre as vivncias de homens e
mulheres relacionadas ao desejo de separar-se. E, ainda, considerando o mesmo
tema, h a necessidade de caracterizar o fenmeno da re-significao da identidade
em pessoas separadas. Logo, estudar a re-significao das identidades em homens
e mulheres aps a separao conjugal, possibilitar a reflexo sobre como as
pessoas do sentido e transformam sua histria. tambm proposta dessa
pesquisa, identificar a relevncia de gnero, no processo de re-significao da
identidade aps a separao, e contribuir acerca da diferena de gnero na esferapblica e privada.
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5REFERENCIAL TERICO
5.1 UMA QUESTO DE GNERO
Foi durante o sculo XIX que o feminismo provocou mudanas e
conquistas relevantes no que diz respeito ao trabalho assalariado, autonomia do
indivduo civil, ao direito instruo, bem como a presena das mulheres nos
movimentos polticos.
Strey (2002), aponta questes de gnero pautadas nos movimentosfeministas, que modificaram, ento, o cenrio de gnero. A autora utiliza de dois
termos: sexo e gnero que so conceituados com significados diferentes, onde sexo
se diferencia de gnero. Sexo refere-se s caractersticas fisiolgicas que tm
relao com a procriao.
As diferenas sexuais so verificadas em todos os mamferos, porm os
seres humanos so animais auto-reflexivos e criadores de cultura. Isso faz que o
sexo para homem no seja um fator isolado que determina o desenvolvimento doscomportamentos, interesses e estilos de vida, assim como, ele no determina o
sentimento, a conscincia, aspectos emocionais e intelectuais do indivduo. O sexo,
em nossa cultura, faz referncia ao gnero, enquanto os fatores socialmente
construdos so influenciados pela cultura do local.
Fato esse, que leva Strey (2002) a verificar a necessidade de conhecer
tanto o homem como a mulher na sua construo social, a fim de que possa
compreender o significado de cada individuo dentro de um contexto scio-histrico-cultural, possibilitando assim, a transformao. Uma vez que nas interaes
sociais que acontecem os resultados educativos e ocupacionais, ou seja, a autora
coloca a importncia do gnero no que diz respeito escola, famlia, personalidade,
identidade, sociedade, cultura e tambm aos grupos e ao trabalho.
Strey (2002), cita consideraes de autores quanto a hierarquia de
gnero, quando considera os papis tidos como simbolicamente masculinos, onde a
idia de que os homens so naturalmente mais agressivos, e que essa caracterstica
est ligada ao cromossomo Y, ou seja, reforam a hierarquia divisria que homens
so de um jeito e mulheres so de outro.
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Strey (JACQUES; STREY; BERNARDES, 2002), escreve da posio de
gnero no mundo ocidental como um dos fatores mantedores do poder dos homens
e aquele, tambm, possuidor de estratgias de fragmentao que rivalidade de
jovens e idosos, pobres e ricos, negros e brancos, mulheres e homens. Os
referidos estudos da autora, diz que os homens diferentemente dos animais so
auto-reflexivos, e que sofrem transformaes ao longo do tempo. Ao considerar,
ainda, o contexto no qual est inserido, o gnero exerce relevncia quanto
diferena, pois os papis masculinos e femininos so influenciados por restries e
aprovaes da sociedade. Logo este conceito importante como referncia para
desenvolver esta pesquisa.
Carneiro (2003) pde observar respostas relevantes quanto ao gnero,em sua pesquisa sobre a separao. Na pesquisa estudada so demonstrados que
homens e mulheres percebem de formas diferentes os motivos da separao. E por
isso fica evidente a questo de gnero.
Giddens (2005) aborda, ainda, a distino entre sexo e gnero, referindo-
se ao sexo as diferenas anatmicas e fisiolgicas que definem e diferenciam o
corpo masculino do feminino. E quando o autor fala sobre questes de gnero, ele
se refere s diferenas psicolgicas, sociais e culturais entre homens e mulheres, egnero est construdo de masculinidade e feminilidade e no necessariamente
um produto direto do sexo biolgico de um indivduo.
Ao valorizar a distino entre sexo e gnero, Giddens (2005),
compreende que as muitas diferenas entre homens e mulheres no so apenas de
origem biolgica. O autor, se utiliza da socializao do gnero para explicar as
origens das diferenas; os papis de gnero com intermdio dos organismos sociais
como a famlia e a mdia por exemplo. Essa abordagem diferencia sexo biolgico egnero social uma criana nasce com o primeiro e se desenvolve com o segundo.
Pois, em contato com diversos organismos sociais, as crianas acabam por
internalizar aos poucos as normas e as expectativas sociais que so percebidas,
proporcional ao seu sexo. De acordo com essa teoria, as diferenas de gnero
aparecem porque homens e mulheres so socializados em papis diferentes.
Quando Giddens (2005) ao falar da teoria de socializao de gnero,
verificado como so construdas as foras socialmente aplicadas que recompensam
ou restringem o comportamento de meninos e meninas. Como exemplo, o autor cita,
que um menino poderia ser aprovado ou reprovado socialmente: (que menino
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valente voc !), ou (meninos no brincam de bonecas). Essas afirmaes,
segundo o autor, ajudam meninos e meninas aprenderem os papis sociais mais
adequados para eles, caso contrrio, se fugir a essa regra, a explicao dada
como inadequada ou irregular. com esse enfoque funcionalista que as pessoas
contribuem para manter a ordem social.
A partir dos estudos mencionados por Giddens, relevante considerar
que o gnero exerce um papel importante no que diz respeito diferena, pois os
papis masculinos e femininos exercidos socialmente agregam aprovaes,
restries e proibies que so aprendidas e perduram ao longo da vida.
O autor (SILVA S., 2000), descreve o modelo de perfeio da anatomia
masculina, a qual a regra flica diferenciava o prevalecer da superioridademasculina em relao feminina, considerando desse modo a mulher como um
sujeito menos desenvolvido na escala da perfeio metafsica. Essa diferenciao
mostra que foi na transio do sculo XVIII para o sculo XIX que ocorreu a
mudana no sentido da concepo biolgica para a poltica, econmica e social. E a
reproduo das desigualdades surgiu, no mais justificada pela norma natural do
sexo, mas fundamentada na diferena de gnero, originada na diferena entre os
sexos.O autor demonstra, que no decorrer da histria houve um cenrio que
contribuiu para a manuteno dessa diferena. Ao verificar mais uma posio que
confirma a desigualdade entre os gneros, que vem ancorada na histria, pode ser
averiguado ainda que no houve significativas mudanas para a sociedade
contempornea. A mulher apesar de adquirir seu espao na sociedade, ainda hoje
est numa condio de inferioridade, pode-se conferir isso atravs dos seguintes
exemplos: o pequeno nmero de mulheres no comando de grandes empresas; aprpria condio da maternidade que muitas empresas consideram como uma perda
de produtividade em mulheres em fase de gestao; a licena maternidade que
afasta a mulher por 4 meses do seu ambiente de trabalho; e ainda, a violncia
domstica que quase no tm estatsticas a respeito.
Falar sobre violncia domstica cabe dentro desse contexto, j que
quando se trata de separao conjugal, possvel se defrontar com essa realidade.
Segundo Soares (1999) dados estatsticos sobre violncia domstica no
Brasil ainda so precrias. A autora refere-se violncia domstica como uma
violncia invisvel, pois ela quase no divulgada; no h polticas pblicas eficazes
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que favoream atendimentos a essas mulheres. Essa categoria de violncia no
um tipo de violncia que provoque choques, exceo a alguns fatos excepcionais,
uma vez que trata-se de discusses com cunho exclusivo de debates feministas.
Atualmente, as mulheres tm sido encorajadas pela Lei Maria da Penha,
recentemente criada, a denunciar em delegacias da mulher, caso venham a ser
vtimas de violncia domstica, no entanto, muitas delas ainda omitem esse tipo de
crime, mesmo a mdia divulgando os direitos que a referida Lei d a mulher. No
entanto, sabe-se que essa Lei n11.340 de 7 de agosto de 2006, apesar de garantir
os direitos das mulheres, elas ainda continuam a correr risco de vida, pois vrios
casos de homicdios acontecem dentro dessa condio e, que no recebem a
proteo devida.
Conforme Soares (1999) infere que de maneira geral, as condies das
delegacias so precrias, pois, a falta de recursos fsicos e recursos humanos
capacitados para tal servio ainda uma realidade no novo milnio. Existem muitos
estigmas utilizados para esse tipo de violncia entre eles, o prprio atendimento
prestado pelos funcionrios da delegacia que inferem mulher atitudes que
contribuem para a situao de violncia. Como exemplo, inferem uma conivncia
com a situao de violncia sofrida pr elas.A mulher pode ser uma vtima de diversos fatores que fazem parte da
violncia domstica, porm cabe a elas a coragem de enfrentar o problema. Atitude,
muito difcil, pois leva a tomada de decises que implicam em uma autonomia
financeira muitas vezes, para dar manuteno ao lar. Bem como a coragem de
passar pelo preconceito, pela vergonha, sem contar com a difcil deciso de
abandonar o parceiro, visto que esse abandono muitas vezes pode lhes custar
vida.
5.2 IDENTIDADE E UMA POSSIBILIDADE DE RESSIGNIFICAO
O conceito de identidade uma referncia bsica para o desenvolvimento
desse trabalho bem como para a compreenso no processo de re-significao aps
a separao conjugal.
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Ao sugerir sugerir a compreenso de identidade inserida no circuito da
cultura bem como a relao de identidade e a diferena. Para compreender
identidade e diferena, o autor busca examinar as preocupaes contemporneas
como a identidades em diferentes nveis. Ou seja, no cenrio global h
preocupaes com as identidades nacionais e tnicas, j num contexto mais local,
h a preocupao com a identidade pessoal como, as relaes pessoais. (SILVA T.,
2000).
O autor, refere-se a uma crise de identidade nas ltimas dcadas,
motivadas pelas transformaes mundiais, levando um questionamento sobre as
formas como essas identidades so estruturadas e os processos nos quais esto
inseridos. Ao apontar o conceito de identificao, (SILVA T., 2000), leva a pensar nanecessidade que as pessoas possuem de buscar uma identificao com o outro,
explicada pelo autor como uma ausncia de uma conscincia da diferena ou da
separao ou como resultado de supostas semelhanas, tendo como origem esse
conceito na psicanlise.
Para (SILVA T., 2000), sugere o seguinte questionamento: existe uma
crise de identidade? Giddens (2005) atribui as crises de identidade como
caractersticas da modernidade, ao desenvolvimento urbano, industrializao e salteraes das sociedades antigas e isso vem enfraquecendo as regras e
convenes herdadas. E na globalizao que Giddens percebe a produo de
diferentes resultados em termos de identidade.
A partir da percepo de (SILVA T., 2000), a globalizao produz
desiguais resultados em termos de identidade, promovendo uma homogeneidade
cultural que pode levar a um afastamento da identidade referente comunidade e a
cultura local. Influenciando desse modo as resistncias que podem dar fora areafirmao de algumas identidades nacionais e locais e promover o surgimento de
novas posies de identidade.
(SILVA T, 2000), compreende que nesse processo de globalizao, as
identidades podem ser moldadas. Ora, se Silva sustenta esse argumento de que o
panorama cultural influencia no comportamento, possivelmente que as pessoas,
so moldadas conforme o que a sociedade preparou. Ento, pode ser conferido no
decorrer desta pesquisa, como o processo de re-significao acontece com
identidades de homens e mulheres aps a separao, j que esto inseridos nos
valores culturais tais como: casamento e famlia.
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Laclau (1990, apud SILVA T, 2000, p. 40), a formao da identidade
ocorre tambm nos nveis local e pessoal. Onde as transformaes globais na
economia, ou seja, mudanas nos padres de produo e de consumo e o
deslocamento do investimento das indstrias de manufaturados para o setor de
servio provocam uma impresso local. O autor usa o conceito de Ernesto Laclau
para explicar o deslocamento, onde as sociedades modernas no tm um princpio
ou centro determinado que produza identidades fixas. Laclau infere que no h uma
nica fora influenciadora mais uma pluralidade de foras agindo sobre o sujeito nos
centros, onde a liberdade no est em uma nica classe. Verificando, essas
implicaes como positivas, pois esse deslocamento pode produzir novas
identidades vindas tona e permitindo que novos sujeitos possam se expressar.O autor (SILVA T., 2000), percebe que as pessoas vivem no interior de
um grande nmero de diferentes instituies, ou seja: os grupos de colega, as
instituies educacionais, os grupos de trabalho, entre outros. O autor compreende
que as pessoas, enquanto participantes dessas instituies, exercem graus diversos
de escolha e autonomia nos quais representam diversos papis em diferentes
contextos sociais. O autor cita as diferentes identidades envolvidas em diversas
ocasies, como por exemplo: uma entrevista de emprego, uma reunio de pais naescola, em uma festa, em um jogo de futebol, entre outros contextos. Enfatizando
que pode um sujeito ser a mesma pessoa, porm ter atitudes dependentes dos
contextos sociais.
(SILVA T., 2000), infere que existe uma diversidade de posies que o
sujeito pode ocupar ou no, argumentando que parece difcil separar essas
identidades. E que pode haver mudanas nessa identidade ao longo do tempo. A
maneira como as pessoas se representam perante a sociedade, como mulheres,homens, pais e pessoas trabalhadoras, tem sofrido mudanas bruscas e essenciais.
Passando por experincias de fragmentao nas relaes pessoais e do trabalho,
vivncias, essas, expressas no contexto de transformaes sociais e histricas, tais
como no mercado de trabalho e nos padres de emprego. O autor compreende que
a etnia e a raa, a sexualidade, a idade, a incapacidade fsica, a justia social, as
preocupaes ecolgicas e o gnero criam novos meios de identificao. Em
conseqncia disso, as relaes familiares tambm tm sofrido mudanas,
principalmente nas estruturas do emprego, por conta de lares chefiados por pais
solteiros e mes solteiras, bem como as altas taxas de divrcio.
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A complexidade da vida moderna interfere nas mudanas ocorridas na
identidade das pessoas, como o contexto social impe diferentes papis para o
indivduo. Entendendo assim que as transformaes da identidade variam de acordo
com os papis ora representados, podemos melhor compreender o processo de re-
significao da identidade, onde essas identidades no so fixas e sim fludas e
cambiantes. O autor faz uma relao entre identidade e diferena, referindo-se
afirmao sou brasileiro como exemplo dessa afirmao porque as afirmaes
sobre diferena se fazem compreendidas quando relacionamos com a identidade.
Sendo a identidade ponto de partida para entender a diferena. Quando o autor se
refere a uma viso mais radical, o mesmo diria que a identidade que procede a
diferena, porm salienta a hiptese da diferena no ser somente resultado de umprocesso, mas compreendida como ato ou processo de diferenciao. Desse modo,
o autor compreende a identidade e a diferena como sendo reciprocamente
dependentes, e sendo produto do mundo cultural e social. (SILVA T., 2000).
Identificar que a identidade e a diferena indicam as operaes de incluir
e de excluir: ou seja, dizer o que somos significa tambm dizer o que no somos.
Ora se sou divorciado quer dizer que no sou casado a negao vai alm do que
sou ou no sou, uma vez que est embutida de significados, se sou casado, quecaractersticas que o indivduo tem nessa condio, que valores possui? Se sou
divorciado, no entanto excluir-se da identidade de casado. A re-significao
implica novos significados e significados dependem da diferena. (SILVA T., 2000)
Ao reportar-se s identidades, o autor, refere-se a elas como
impossibilitadas de escolhas, pois ele as v como conseqncias de um processo
de socializao em que a diversidade de cultura, crenas e a pluralidade de
identidades psicolgicas, sociais, de gnero e sexuais na contemporaneidade,inviabilizam a hegemonia das identidades. Logo, conclui-se, que elas no so fixas
nem imutveis, contrariamente, so mutveis e fluidas e que cada vez mais a cultura
molda as forma de viver e de se comportar das pessoas. (SILVA T., 2000).
Para Grandesso (2006), o significado como a construo do
complemento do outro, as expresses que so tidas como isoladas, quando
compartilhadas com o outro, possibilitam a ao, como se fosse uma ao
suplementar. A autora cita como exemplo, a pronncia da palavra: xu, ela no
possui sentido de forma isolada, mas quando ocorre a interao com outra pessoa,
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onde h uma resposta fala amor, houve, ento, um significado pela ao de outra
pessoa.
Segundo Pearce & Cronen (1980 apudGRANDESSO, 2006) argumenta
que no momento que se cria significados, pode, ao mesmo tempo, limitar outro
significado. possvel se utilizar dessa concepo, para ento inferir, que quando o
indivduo est na condio de separado, limita-se essa condio, ou mesmo, se
exclui dessa condio. A autora refere-se rede de significados que pode ser
reconstruda atravs da linguagem e das prticas sociais. E, a fim de que haja essa
reconstruo tem de existir uma quebra de sentido no qual falte contedo, ou seja,
algo que surge e no esperado, no claro, desconhecido, provocando, ento, o
surgimento de um novo sentido, possibilitando, tambm, a busca de algo familiar nodesconhecido. Ora se para criar novos significados necessrio desconstruir, ento
re-significar uma identidade de casado, passa pela desconstruo dessa identidade,
possibilitando uma reconstruo dentro das prticas sociais existentes.
Grandesso (2006), ao falar dos significado considera que os indivduos
so geradores de significados e que eles so construdos nas relaes sociais por
meio da linguagem. Ou seja, nos discursos que nascem os significados. Ainda, a
autora refere-se a uma reconstruo, no como resgate de algo esquecido, nemmesmo como algo recuperado, mas sim reconstruo, num sentido de mudana de
um sentido para o outro, ou em uma re-significao. A autora afirma que nos
significados existe uma proposta do novo, do diferente, do nico, possibilitando
tambm a manuteno da singularidade do sujeito.
Grandesso (2006), questiona uma viso tradicional de identidade, que a
autora prefere chamar de self. Isso possvel identificar no que refere-se
estabilidade, assim, a autora prope compreender a identidade como um processoem aberto, que no est pronto, sendo construdo dentro dos espaos relacionais,
com possibilidade de constante desenvolvimento e mudana.
Gonalves (2006 apud GRANDESSO, 2006, p. 227) refere-se
identidade com a possibilidade de reformulaes, assim como a continuidade das
histrias sobre ns mesmos, como um constante fazer e desfazer, onde as palavras
influenciam a forma de olhar e agir. Para a autora, sustentar uma identidade requer
um constante desafio porque o sujeito no se apresenta como um projeto pronto e
sim como inacabado, pois ele est inserido numa cultura em movimento. Ela
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ressalta a importncia das diferenas que a cultura impe, uma vez que seria difcil
suportar uma teoria que tentasse dar preferncia singularidade do indivduo.
Gilligan (1993 apudGRANDESSO, 2006, p. 227) refere-se as diferenas
de discursos ligados questo do gnero, os quais se referem aos diferentes
valores do que vem a ser uma boa pessoa, para homens e mulheres. As mulheres
devem ser definidas pela sua preocupao em manter as relaes amorosas; em ter
sensibilidade para lidar com as necessidades do outro; serem companheiras e
cuidadosas. Enquanto os homens so valorizados por suas realizaes individuais,
as preocupaes com relacionamentos so vistas como fraqueza.
Verifica-se que narrativas diferentes so utilizadas por homens e
mulheres, nas quais as identidades so marcadas pelas diferenas impostas pelacultura e pelas significaes do gnero. Grandesso (2006) ressalta a influncia das
diferenas na construo da identidade com a sociedade, surgindo da construo
conjunta dos significados.
Referi-se a identidade, remete-se a pensar a construo de algo que no
pode ser considerado como acabado, pronto. Ao dialogar com os autores, no que diz
respeito identidade devem considerar que a palavra chave remete-se a um
significado em constante movimento, movimento que sofre influncia do meio social.Foi verificado nas referncias de vrios autores que identidade vem carregada da
histria, e conseqentemente vem atrelada mudanas, conforme as
transformaes sociais.
5.3 CASAMENTO E SEPARAO CONJUGAL
Segundo Arajo (apudCARNEIRO, 1998, p. 1), o amor e o casamento tal
qual se conhece hoje, teve incio a partir do sculo XVIII, quando a sensualidade e a
seduo passam a fazer parte do casamento. Da antiguidade idade mdia eram os
pais quem se preocupavam com o casamento dos filhos, uma vez que essa prtica
era visto como um negcio.
Carneiro (1998), afirma que o casamento dos ocidentais por um longo
perodo sofreu influncias da igreja. No entanto, at o sculo V no existia essa
influncia. O casamento era um ato privado, que ocorria entre os nobres, tendo
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como principais funes: as transferncias de herana; a constituio de alianas
polticas. Logo, a escolha e a paixo no existiam e o uso dele para ter prazer era
inexistente porque a procriao era o objetivo fundamental do casamento, bem
como a fidelidade da mulher. E o adultrio tinha como conseqncia o abandono ou
a morte da mulher.
A igreja instituiu o casamento como sagrado por volta do sculo XII, e no
sculo XIII se instalou a moral crist, tornando, ento, o casamento como
monogmico e indissolvel. E foi s a partir da revoluo burguesa que ocorre a
dessacralizao do poder da igreja, em conseqncia da entrada do povo no novo
cenrio, da tica protestante e do esprito do capitalismo, sendo a partir daquele
momento a vida das pessoas regidas pelo novo cenrio social, Weber (apudARAJO, 2002, p. 2).
Segundo ries (apud ARAJO, 2002, p. 3), as transformaes do
casamento comeam a partir da modernidade, onde o novo ideal de casamento a
busca de expectativas em relao ao amor e a felicidade, porm essas expectativas
trouxeram idealizao e conseqentes conflitos e desiluses por no
corresponderem s expectativas esperadas.
A partir do sculo XVIII, o amor romntico se torna o ideal do casamento,mas a durabilidade do casamento no corresponde, pois ao amor-paixo. E de
modo geral o amor no dura, surge com isso o divrcio como resposta do
casamento dos casais modernos.
Segundo Carneiro (1998) tem crescido o nmero de dissolues
conjugais na sociedade contempornea, e atravs de informaes obtidas pelo
IBGE em 1996, com dados correspondentes ao ano de 1994 indicam
aproximadamente um divrcio para cada quatro casamentos. A causa do divrcio devido mais a importncia dada ao casamento, uma vez que quando os cnjuges
no correspondem expectativa, essa relao no mais aceita, e
conseqentemente os envolvidos buscam novas relaes.
Como apontado por Carneiro (1998) a separao da conjugalidade leva
toda famlia a remodelar os padres de relacionamentos atuais, pois h a
necessidade de um perodo de transio a fim de que a famlia se reorganize. A
autora compreende que as conseqncias do divrcio aparecem rapidamente, e
aumentam no primeiro ano e vo desaparecendo aos poucos nos anos seguintes;
enfatizando que em alguns estudos foram verificados que o desequilbrio do sistema
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familiar tende a iniciar um ano antes do divrcio, sendo dois anos para a maioria dos
casais, e at no mximo seis anos para todas as famlias voltarem a restabelecer
uma funo satisfatria para seus membros.
Carneiro (2003) acredita que no processo de separao, a identidade
conjugal vai aos poucos se desconstruindo, levando os cnjuges a uma re-
significao de suas identidades individuais. E que desconstruir a conjugalidade
aps a separao, desencadeia o movimento de re-signifcar a identidade individual.
Sendo esse processo demorado e vivenciado de forma difcil pelos ex-cnjuges. A
vivncia com mais liberdade acaba por trazer sofrimento e solido, e momentos
difceis para os homens e as mulheres. As mulheres mais estimuladas a expressar
sentimentos e conversar sobre relacionamentos parecem ter mais facilidade emdescrever o gratificante, mas tambm penoso processo de reconstruir a identidade
individual.
Schabbel (2005), considera que o indivduo formaliza uma situao de
discrdia entre o casal, levando uma liberao do clima de disputa e nascem novas
estruturas domsticas de convivncia entre pais e filhos. A autora percebe nos filhos
angstias e incertezas que ameaam a estabilidade pessoal, causando mudana na
dinmica familiar. A mesma autora enfatiza os sentimentos vivenciados pelos filhosde pais separados. Essas crianas enfrentam o medo e as conseqncias negativas
de um lar desfeito, como por exemplo: a guarda e as visitas semanais ou at mesmo
mensais. H, tambm, o aprender a lidar com a perda de certos costumes e
tradies familiares, bem como os sentimentos de desamor, abandono e rejeio
que implica na necessidade de novos costumes.
Para Carneiro, em pesquisa efetuada em 1998, com o ttulo: Casamento
Contemporneo: o difcil convvio da individualidade com a conjugalidade. Nestapesquisa, a autora refere-se dificuldade dos casais em encerrar as suas
individualidades e uma conjugalidade. Ela argumenta que existem dois desejos;
duas histrias de vidas; duas percepes de mundo; dois projetos de vida; duas
identidades individuais que, na relao a dois, convivem com uma conjugalidade ao
qual composta de desejos conjuntos, histrias de vida conjugal, projeto de vida
conjugal e uma identidade conjugal. Carneiro sugere que so dois seres em um?
Como ser um sendo dois? Como ser dois sendo um? A autora denomina essa
juno como identidade conjugal.
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Berger e Keller (apud CARNEIRO, 1998, p. 2) ao debaterem a
importncia institucional do casamento, destacam que, desde Durkheim, o
casamento serve como proteo contra a maioria dos indivduos. Tendo como
funo social estabelecer uma determinada ordem para o indivduo, permitindo dar
sentido vida. O casamento visto como um ato dramtico, nas quais duas
pessoas estranhas, com passados individuais divergentes se encontram e se
redefinem. O casal constri a realidade presente e, reconstri a realidade passada,
fazendo, assim, uma memria comum, que integra os dois passados individuais.
A manuteno do casamento contemporneo influenciado, pelos
valores individuais, no qual os ideais da contemporaneidade da conjugalidade
valorizam mais a autonomia e a satisfao de cada cnjuge do que a relaoconjugal. A autora diz que formar um casal demanda a criao de uma zona comum
de interao de uma identidade conjugal. O casal contemporneo experimenta nas
relaes conjugais, ideais individuais ora estimulando autonomia, ora ao
desenvolvimento de cada um pelo outro, onde dado nfase a conjugalidade.
(CARNEIRO, 1998)
Singly (apud CARNEIRO, 1998, p. 4), enfatiza as caractersticas
individuais da famlia e do casal contemporneo, prevalecendo importncia dosmesmos e, as relaes mantidas entre seus membros. A relao amorosa se
mantm enquanto tiver fins importantes para os cnjuges. Enfatizando a sociedade
que valoriza o indivduo, a famlia torna-se importante no momento em que o auxilia
na constituio da independncia do indivduo, ou seja, a famlia exerce uma funo
contraditria que ao mesmo tempo fortalece os laos de dependncias e esses laos
so negados.
Anton (2000),compreende o casamento como o desejo de companhia, deaconchego, bem como a necessidade primeira, que o homem tem de viver em
grupos. Percebendo, a busca de um parceiro como uma referncia organizadora
porque as experincias de individualidade e de solido so de grande valor
emocional para algumas pessoas, para outras so extremamente negativas, uma
vez que so seguidas de sentimentos de excluso, abandono e menos-valia. O estar
acompanhado no significa para alguns indivduos estar cercado de pessoas, pois
na intimidade no tm quem os oua. A autora refere-se ao outro como referncia
imprescindvel para a conservao da percepo lgica e organizadora de si
mesmo, produzindo a descoberta e o desenvolvimento da individualidade.
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O medo da intimidade implica na dificuldade das pessoas em
harmonizarem os desejos diferentes, que so: o desejo da liberdade como
comprometimento e o da individualidade como vnculo. As pessoas preferem, ento,
romper o vnculo, deslocando suas energias afetivas para grupos e tarefas do que
para algum especial. (ANTON, 2000)
Anton (2000), refere-se s literaturas estudadas sobre divrcio que
revelam diferentes modelos de pensamentos e atitudes. Esses, de acordo com cada
cultura vm sofrendo variaes ao longo do tempo e sob fortes influncias dos
meios de comunicao. A autora aponta influncia de estmulos provenientes de
crenas conscientes e inconscientes, de significado e de valores atribudos s
experincias vividas que esto estreitamente ligadas ao sistema em que osindivduos se desenvolvem.
Segundo Seibt, in Hharway (apudANTON, 2000, p. 273), muitas pessoas
casam com a expectativa de que a vida ir ficar melhor e mais feliz, porm quando
essas expectativas no so correspondidas, o divrcio surge como uma alternativa
mais certeira. Muitos vivenciam o fim da conjugalidade com pesar, enquanto que
para outros, essa deciso pode vir como alvio. No entanto, o impacto emocional
maior quando um dos cnjuges quer o divrcio e o outro no.Anton (2000) compreende que casamentos desfeitos nem sempre
resultam em alianas quebradas, pois alguns casais jamais quebram seus elos, e
isso gera dificuldades para seguir suas vidas com autonomia. Pode-se perceber a
partir da compreenso da autora como difcil o processo de dissoluo da
conjugalidade, sendo esse um dos fenmenos a ser investigado nessa pesquisa.
Em pesquisas americanas citada por Grunspun (2000), a iniciativa do
divrcio se d duas vezes mais em mulheres do que em homens. O autor diz,tambm, que as mulheres passam por menos estresse do que os homens. J a
iniciativa por novos casamentos se d tambm em maior parte pelos homens, os
quais se separam em maior nmero nesses novos casamentos do que as mulheres.
O autor ainda considera que os homens enfrentam os problemas emocionais da
separao semajuda de profissionais, contrariamente as mulheres, que mesmo com
menos problemas emocionais que os homens procuram em maior nmero a ajuda
de profissionais frente aos problemas emocionais vivenciados.
Grunspun (2000), a partir da observao de nmeros significativos de
separaes, percebeu que muitos indivduos sofrem traumas devido a essas
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rupturas. Pois, h sentimentos prprios de quem toma iniciativa da separao, bem
como de quem no toma essa iniciativa. Muitas vezes vem acometido de medo,
alvio, impacincia, ressentimentos, dvidas e culpas. Ora uma relao por mais que
no haja mais amor, acaba por ser um processo que demanda um empenho
emocional para resolver as situaes que permeiam a desunio.
Grunspun (2000) prope fases no processo de desunio. A primeira fase
pode ocorrer de 1 at 2 anos antes mesmo de ser verbalizado. Essa fase
constituda de sentimentos vagos de descontentamento, distanciamento,
ressentimentos e desconfiana. Muitas vezes os problemas fazem parte de uma
realidade que no vista. E tambm, surgem sentimentos, como: medo,
insegurana, culpa, amor, dio, ansiedade, depresso alternada e um referido lutopelas perdas que ainda no aconteceram.
Na segunda fase, existe uma manifestao de insatisfaes, o autor
(GRUNSPUN, 2000) diz que um perodo que ocorre de 8 at 12 meses. Nessa
fase ocorrem muitas queixas, cobranas com seguidos pedidos de desculpas;
possibilidade de uma reconquista; busca de terapias. Sentimentos de tenso,
angstia, alvio e dvidas, tambm, fazem parte dessa fase.
Na terceira fase, geralmente realizada a opo pelo divrcio. Esta fasecompreende de 6 a 12 meses antes da oficializao. Nesse perodo, ocorre um
afastamento, uma distncia emocional. Em funo desse afastamento existe,
geralmente, a retomada a primeira fase.
O pedido legal da separao, o autor (GRUNSPUN, 2000) configura como
a quarta fase, tornando-se assim pblica a deciso. Logo, existe uma busca de
cumplicidade nos familiares e amigos comuns. Os sentimentos dessa fase so de:
vergonha, culpa e pnico para chamar a ateno dos mais prximos.Na quinta fase e ltima, que o autor (GRUNSPUN, 2000) chama de
aceitao crescente, que muitas vezes varia do tempo em que ocorre essa
aceitao, podendo ser no decorrer do processo ou aps a separao. Comeam
neste momento a aparecer os ajustes fsicos e emocionais. Existe neste momento a
percepo de que era melhor acabar, pois j no mais existe felicidade. E ao findo
desta fase que o casal comea a recuperar assim gradativamente o controle, com
possibilidade de planos para o futuro, com uma nova identidade, descobrindo novos
recursos de enfrentamento.
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Cerveny (2005), tambm apresenta uma compreenso sobre o processo
relacional que escreve sobre o trmino do casamento, refere-se a fase aguda que
seria composta por momentos de insatisfaes de um ou de ambos os parceiros.
Verifica-se nessa fase aguda, alternncia de medo, culpa, raiva. Medo da solido,
culpa pela deciso, raiva pelo parceiro no conseguir fazer o outro feliz. Ento,
nesse momento, percebe-se um pr-aviso de que h uma insatisfao, provocando
uma instabilidade na vida conjugal. Apresenta-se, nessa fase, dificuldades
financeiras, emocionais e desorganizao social.
A fase transitria segundo a autora Cerveny (2005), seria a prxima fase,
que se d no momento em que ocorre a separao. Neste momento especfico, o
sentimento de raiva cedido pelo sentimento de perda, seguido de um sentimentode tristeza profunda que pode levar a depresso. Os sentimentos so diferentes,
quem pede a separao acometido por um sentimento de abandono da famlia,
conseqentemente, gerando uma culpa em si mesmo. J aquele cnjuge que no
quer a separao, acometido por um sentimento de abandono e rejeio,
sentimentos esses que tambm podem levar a um quadro de depresso.
Quando o casal tem filhos, essa uma fase em que eles sentem-se
perdidos, pensando na possibilidade de reconciliao dos pais. Este momentoprovoca nas crianas insegurana e incertezas quanto ao destino de suas vidas.
A fase final seria a que a autora Cerveny (2005), chama de fase do ajuste,
pois nesse momento especfico aos poucos os sentimentos de aceitao vo
surgindo no casal, uma vez que se verifica a inviabilidade de um retorno relao.
Os envolvidos percebem que no h mais um cnjuge, mas sim um ex-cnjuge.
Ento, ele nessa fase, consegue ver uma possibilidade de um novo comeo. Assim
como a possibilidade de uma nova conjugalidade.Como verificamos, os autores falam desse processo como sendo longo e
cheio de emoes. importante ressaltar que essas fases ajudam a compreender o
quanto difcil e complicado um processo de separao. Ao verificar a fala das
autoras sobre esse processo, conclui-se a importncia da nfase nestes estudos.
Os mesmos autores inferem que no se trata de percurso linear, mais sim
cheio de pr-condies para que ocorram numa linearidade ou no. Ento,
imprescindvel no tomar essas fases como absolutas, pois as diferenas entre as
pessoas impossibilitam a idia de um processo idntico para todos. Cerveny (2005)
traz uma considerao importante sobre isso, ela ressalta a necessidade de
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conviver, aprender e apreciar as diferenas, pois cada um possui suas
particularidades, e cada qual inserida em contexto social, podendo ver o divrcio
como uma transformao.
Nas diferenas de comportamentos entre os homens e as mulheres frente
s pesquisas j efetuadas, fica visvel a influncia do gnero, onde homens e
mulheres, em situaes envoltas de sentimentos, refletem suas aes de forma bem
diferenciada. Ora, novamente frente problemtica dessa pesquisa: Como homens
e mulheres re-significam suas identidades aps a separao conjugal? Ou seja, h
uma diferena, no enfrentamento dessa nova situao de vida? De que forma o
gnero influencia nas decises e atitudes desses sujeitos, sugerindo uma
possibilidade de re-significar suas identidades?
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6 MTODO
Os objetivos dessa pesquisa foram atendidos, utilizando-se de um
conjunto de procedimentos abaixo descritos.
6.1 TIPO DE PESQUISA
Esta pesquisa de carter exploratrio e teve como objetivoproporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torn-lo mais
explicito ou a constituir hipteses (GIL, 2002, p. 41). Segundo Gil (2002, p. 41) este
tipo de pesquisa tem como finalidade o aprimoramento de idias ou a descoberta
de intuies. Seu planejamento bastante flexvel, de modo que possibilite a
considerao dos mais variados aspectos ao fato estudado, ou seja, no caso deste
projeto, caracterizar o processo de re-significao da identidade em homens e
mulheres aps a separao conjugal.A anlise qualitativa foi a escolha por investigar uma realidade que no
pode ser quantificada. Esse tipo de anlise trabalha com o universo de significados,
valores, crenas e atitudes, correspondendo a um espao mais profundo das
relaes, dos processos e dos fenmenos aos quais no podem ser reduzidos
operacionalizao variveis. MINAYO (2001).
Em relao ao delineamento da pesquisa, ela foi classificada como
estudo de campo. Neste sentido, Gil (2002, p. 129) relata que no h como definir apriori as etapas a serem seguidas em todas as pesquisas dessa natureza. Isso
porque, a especificidade de cada estudo, acaba por ditar seus prprios
levantamentos. Gil (2002) afirma que esse de delineamento muito mais amplo do
que os levantamentos. Para o autor, o estudo de campo inicia-se com um plano
bem geral, visto que este tipo de delineamento, leva em considerao,
principalmente, os objetivos da pesquisa. A seleo dos informantes e as
estratgias para a coleta de dados costumam ser definidas somente aps
explorao preliminar da situao (GIL, 2002, p. 129).
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6.2 PARTICIPANTES OU FONTES DE INFORMAO
Os sujeitos que participaram dessa pesquisa foram pessoas que
utilizaram o servio de mediao familiar no Frum de So Jos, em 2008. Os
participantes foram 3 (trs) homens e 3 (trs) mulheres que atendiam ao critrio de
estarem com separao de corpos efetivada.
6.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS
Foram utilizados para esta pesquisa, materiais, como: caneta, papel,
computador, impressora, gravador e pilhas.
6.4 SITUAO DO AMBIENTE
Para a aplicao da entrevista, foi necessrio um ambiente livre de
rudos, sem a interferncia de outrem, previamente combinado com os
entrevistados. Para isso, foi utilizado um espao reservado do stimo andar, do
Frum de So Jos onde fica localizado o servio de mediao, nos perodos em
que no havia atendimentos, para no comprometer os resultados da pesquisa, bemcomo para garantir o sigilo com relao s pessoas. Essa condio importante
para cumprir os requisitos dos princpios ticos.
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6.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Foi utilizado para a coleta dos dados o instrumento da entrevista semi-
estruturada como instrumento para a coleta dos dados. De acordo com DOliveira,
Lima e Luna (1996).
a entrevista guiada permite ao entrevistador utilizar um guia de temas a serexplorado durante o transcurso da entrevista [...] o pesquisador conhecepreviamente os aspectos que deseja pesquisar e, com base neles, formulaalguns pontos a tratar na entrevista. O entrevistado tem a liberdade deexpressar-se como ele quiser guiado pelo entrevistador.
Os dados coletados, foram gravados e transcritos, com a autorizao dos
entrevistados.
6.6 PROCEDIMENTOS
6.6.1 Da seleo dos Participantes ou Fontes de Informao
A pesquisa foi realizada com homens e mulheres que atenderam ao
critrio de estarem com separao de corpos efetivada e que procuraram o servio
de mediao familiar do Frum da grande Florianpolis - SC. O tempo de separao
dos envolvidos variou entre 2 meses e 10 anos. Os participantes foram 3 (trs)
homens e 3 (trs) mulheres que no eram um casal entre si. O nmero de
participantes foram estabelecidos de forma intensional pela pesquisadora.
6.6.2 Do Contato com os Participantes
Tabela 01 Tabela de Informaes
F1 F2 F3 M1 M2 M3
SEXO Feminino Feminino Feminino Masculino Masculino Masculino
IDADE 34 48 39 30 45 30
ESCOLARIDADE 2 grau 1 grau 1 grau 2 grau 1 grau 2 grau
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F1 F2 F3 M1 M2 M3
incompleto incompleto
OCUPAO Tec.Eletron
Cozinheir
a Do lar Garom Aposentado Segurana
TEMPO DECASADOS
15 anos 29 anos 9 anos 10 anos 20 anos 6 anos
TEMPO DESEPARADOS
2 meses 3 anos 10 anos 2 anos 5 anos 2 anos
QUEM DESEJOUSEPARAR
Homem Homem Mulher Homem Mulher Homem
J TEM OUTROPARCEIRO
Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Fonte: Elaborao da Acadmica
Como informado no quadro acima, foram entrevistados 3 (trs) homens e
3 (trs) mulheres, que no eram um casal entre si.
Esses participantes foram convidados a participar da pesquisa por meio
de contato prvio para os agendamentos da entrevista. Primeiramente, foi solicitada
uma autorizao do poder judicirio, para um contato com os participantes, que se
utilizavam do servio de mediao familiar e, a partir disso, os usurios foramconvidados a contriburem com a pesquisa, atravs de entrevistas, as quais tiveram
durao entre 20 e 60 minutos.
6.6.3 Da Coleta e Registro dos Dados
Os participantes da pesquisa foram informados que suas identidadesseriam mantidas em sigilo e ainda, foi solicitada a assinatura do termo de
consentimento, para a gravao das entrevistas. A autorizao, por escrito um dos
requisitos ticos para utilizar esse material com a finalidade de estudo. A
pesquisadora se apresentou, informando que era estudante de 10 fase de
psicologia da Unisul, apresentou o tema da pesquisa e, em seguida, fez o convite a
eles, para participarem desta pesquisa, aps o atendimento da mediao. Todos
que procuram o servio de mediao para efetivarem a separao concensual
aceitaram o convite.
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6.6.4 Da Organizao, Tratamento e Anlise de Dados
Com a finalizao das entrevistas, o contedo adquirido foi transcrito.
Aps a transcrio, os dados foram organizados em categorias para a anlise. Gil
(2002, p. 134) explica que a categorizao consiste na organizao dos dados de
forma que o pesquisador consiga tomar decises e tirar concluses a partir deles.
Segundo Heerdt (2005), analisar sumariar as observaes, de modo
que se permita responder problemtica. Com o objetivo de interpretao que a
procura do sentido mais amplo para as respostas, fazendo uma relao com osconhecimentos anteriormente verificados.
Minayo (1994, p. 74) acrescenta, que atualmente se destacam duas
funes para a aplicao da tcnica. Uma refere-se verificao de hipteses e/ou
questes, ou seja, para a autora atravs da anlise de dados que se pode
encontrar respostas para as questes formuladas e tambm confirmar ou no as
afirmaes estabelecidas antes do trabalho de investigao (hipteses). A outra
funo diz respeito descoberta do que est por trs dos contedos manifestosindo alm das aparncias do que est sendo comunicado (MINAYO, 1994, p. 74). A
anlise proporciona um olhar atento para os dados coletados. Segundo Deslandes,
Neto e Gomes (apudMINAYO, 1994, p. 69) pode-se apontar trs finalidade para a
etapa da anlise de dados:
a) 1. estabelecer compreenso dos dados coletados;
b) 2. confirmar os pressupostos da pesquisa;
c) 3. responder s questes formuladas, ampliando o conhecimentosobre o assunto pesquisado, articulando-se ao contexto cultural do
qual faz parte. Para a anlise dos dados no que refere-se as possveis
mudanas encontradas, para verificar a re-significao das identidades
dos participantes, apresentaram-se as categorias por eles utilizadas,
aps o processo de separao conjugal.
A apresentao das entrevistas seguem esta ordem: A primeira mulher
que foi entrevistada foi definida por F1; a segunda, F2; e a terceira, por F3;
respectivamente. O mesmo critrio foi utilizado com os homens. Uma mulher e dois
homens relataram ter concludo o ensino mdio. Uma das mulheres tem o ensino
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fundamental completo; a outra possui at a segunda srie do ensino fundamental; e
por ltimo um homem disse ter cursado at a 7 srie do ensino fundamental.
Os dados coletados nas entrevistas foram sintetizados e agrupados em
categorias, com o intuito de atender aos objetivos desse trabalho.
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7 ANLISE DOS DADOS
7.1 IDENTIFICAR E COMPARAR OS SENTIMENTOS DE HOMENS E MULHERES
APS A SEPARAO CONJUGAL
7.1.1 Sentimentos que Produzem Sofrimentos
Foi identificado, nas falas dos homens, os sentimentos sofridos aps aseparao, conforme fala de M2: [a gente sente um vazio, mas depois agente
v que ela conseguiu um namorado e comeou a se encaminhar tudo.] Apesar
de no haver uma ocultao dos sentimentos, pois os participantes falam de tristeza
e vazio, pode ser verificado, que logo aps referir o sentimento de dor, veio
acompanhado de uma justificativa, seguido por uma expresso que demonstrava
uma aceitao. Expresses, como: tudo comeou a se encaminhar; ela no me
amava mais; saudades da filha do casamento nada.Na fala das participantes do sexo feminino, foi possvel identificar
sentimentos expressos de modo intenso: dio, tristeza; porm com um sentido de
sofrimento que no expressa uma aceitao, como averiguado na fala de F1: [
dio dele enorme, hoje esse final de semana, ele vai para uma pousada com
ela, e o problema que ele vai com os nossos padrinhos de casamento, no
acho justo [...].]
Ao considerar essa diferena de significado no que se refere ao gnero,Giddens (2005) faz uma narrativa quanto aos papis sociais ensinados para
meninos e meninas, ou seja, eles aprendem os papis mais adequados para cada
gnero. Onde falar sobre sentimentos foi um papel ensinado s mulheres, e
reprovados para os homens. Podemos deduzir que a aceitao seria, ento, uma
forma de justificativa que os homens se utilizam para mascarar o quanto podem ser
mais fortes que as mulheres. Papel este, aprendido socialmente, no qual os homens
foram ensinados, que expressar sentimentos, os remete a uma condio de
fraqueza. As origens de identidades masculinas ou femininas devem ser
consideradas dentro de um contexto cultural nos quais as pessoas esto inseridas,
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uma vez que foi ensinado ao homem esconder seus sentimentos, relacionados
principalmente aos relacionamentos amorosos.
Essa idia corroborada por (SILVA T., 2000). pois ele considera que as
nossas identidades (de gnero e sexual), so vistas como processos conflituosos
por no serem possveis de escolher, j que so frutos dos processos de
socializao. importante, ento, reforar a idia sobre a expresso dos
sentimentos nos homens, a qual est marcada pela cultura, onde muitas vezes
eles mesmos reconhecem o sofrimento de uma separao, porm, os homens falam
do sentimento, e pautam esses sentimentos seguidos de justificativas para se
protegerem das crticas recriminadoras. Quando omitem ou justificam a aceitao,
esto de alguma forma reforando a sua masculinidade.Enquanto isso, as mulheres ao expressarem os sentimentos de
sofrimento como j nos explicitado, em fala recorrente para essa comparao no
primeiro pargrafo, verifica-se a espontaneidade na fala, nos gestos e expresses
confirmadores de emoo. Contrariamente a dos homens, essa condio de
expressar os sentimentos favorecida s mulheres.
Strey (2002), ao falar sobre hierarquia de gnero verifica, que, em
consideraes de alguns autores, os papis tidos como simbolicamente masculinos,esto ligados caractersticas especficas ligadas ao cromossomo Y, como a
questo agressividade. Ou seja, h uma naturalizao a respeito da maneira de
ser do homem. A autora completa, que papis masculinos e femininos so
influenciados por restries e aprovaes da sociedade. Pode ser observado no
cotidiano, que para a mulher so atribudos comportamentos ligados fragilidade e,
sentimentos que remetem a ser uma provedora, por isso cabendo a ela o cuidado
com o outro. Possibilitando assim, para a mulher uma condio confortvel no quediz respeito ao expressar os sentimentos, sejam eles positivos ou negativos.
Entretanto, como verificado neste estudo, os trs participantes
expressaram seus sentimentos tanto quanto s mulheres, porm foi necessrio
perceber e mostrar essas diferenas que de certa forma estavam implcitas na fala
dos homens.
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7.1.2 Sentimentos Contraditrios
Na fala de duas particiapntes, a angstia foi relatada, assim como o
medo, podemos identificar uma contradio na fala das participantes F2e F3 . F2:
[a eu mudei, parecia que eu estava numa priso e me libertaram, apesar de
tudo eu to livre, eu to livre de que? Da presena dele? No sei, ao mesmo
tempo que eu to livre eu to angustiada.]
Verificou-se como difcil para a participante esse sentimento de
liberdade e de angstia ao mesmo tempo, ou quem sabe at mesmo de uma culpa,
por sentir-se livre da presena dele. E ainda nesse processo, pelo qual a participanteest passando, h um sentimento de dor, uma dificuldade em definir esse
sentimento.
Anton (2000) discursa sobre casamentos desfeitos, que nem sempre
resultam em quebra de alianas, pois existem casais que jamais quebram, desfazem
os elos, criando ento, uma dificuldade, ou como no caso das participantes, uma
justificativa para no seguir a vida com autonomia.
Carneiro (1998) em pesquisa sobre o casamento contemporneo,confirma, tambm, o que observado na fala da participante F2, que existe a
dificuldade de encerrar a conjugalidade. A autora pergunta, ento: como ser um
sendo dois? Como ser dois sendo um? Referindo-se a dificuldade de quebrar essa
identidade conjugal.
J na fala de F3 percebida a presena de sentimentos de alegria e
medo; a dvida, tambm aparece, agora, como uma condio de proteo, de
manter-se na relao para no morrer? Sentimentos, esses, que tambm remetem auma contradio, porm a mesma justifica essa alegria, sentindo-se livre da
violncia psicolgica e fsica a que era submetida. O medo, ainda, presente pela
ameaa de morte que o ex-companheiro lhe fazia, caso o deixasse. Constata-se
ento, a mulher na condio de fragilidade, de ameaa vida.
O medo foi percebido atravs de expresses e gestos, como; choro, levar
as mos ao rosto, bem como significado das palavras dadas por F3. Ela traz esse
medo atrelado violncia domstica que estva submetida. Pode-se considerar a
baixa auto-estima com base na sua fala como uma decorrncia da prpria condio
da violncia. F3 traz em sua fala: [ [...] eu no cortava o cabelo, eu no pintava
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mais o cabelo, eu era totalmente uma velha, e eu era mais nova, hoje eu sou
mais velha e gosto mais de viver sabe.]
Soares (1999), reflete a fala da entrevistada com atitudes atreladas
mulher em condio de violncia domstica. Ou seja, a mulher desenvolve a baixa
auto-estima;
A entrevistada relata no haver se separado antes, por medo de algo
acontecer vida dela. Ou seja, ela se submetia a estar casada com medo de pr
sua vida em risco.
7.1.3 Sentimentos de Bem-Estar
Nesta categoria se inserem sentimentos de bem-estar com a separao.
Ento, para comear a discusso, importante fazer uma referncia a fala da
participante F3, sendo a nica entre as entrevistadas que expressou o sentimento de
bem-estar. A partir dessa observao, possvel levantar a seguinte hiptese: a
narrativa de bem-estar da participante, se deve ao fato de ela ter tomado a iniciativaem separar-se, motivadas pela violncia fsica e psicolgica, relatado por ela
mesma.
A unanimidade quanto a categoria bem-estar dos participantes homens,
se manteve independente da condio da iniciativa da separao, sendo que dois
deles tiveram a iniciativa de pedir a separao, enquanto apenas um, no fez essa
opo, mas mesmo assim, relatou o sentimento de bem-estar. Este inclusive, no que
diz respeito relao com uma nova companheira, a qual ajuda a proporcionar-lhemomentos agradveis vivenciados, os quais no eram vivenciados anteriormente.
Considerando o exposto acima, pode-se concluir, que os homens esto
mais dispostos a buscar uma nova relao para se sentirem melhor. Berger e Keller
(apud CARNEIRO, 1998, p. 2) referem-se sobre a funo social do casamento,
como uma funo de estabelecer uma determinada ordem para o indivduo,
permitindo-lhes um novo sentido vida. Mostra, tambm uma maior necessidade de
o casamento dar aos homens um sentido vida. Incluir os homens nessa categoria
foi um critrio utilizado pela sensao de bem-estar que, inclusive, foi percebida no
decorrer das entrevistas atravs de suas expresses corporais, como: risos e
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gestos, levantar sobrancelha, e relaxamento dos braos seguidos de sorrisos.
Comprova essa hiptese a fala de M1: [Eles falam que eu estou mais feliz, e eu
me percebo mais feliz. At os meus filhos esto mais felizes, eles adoram a
minha atual esposa]. relevante informar que na fala de M2 a iniciativa da
separao no foi dele, mas mesmo assim o desenlace conjugal trouxe-lhe a
conseqncia de estar melhor na condio atual, pois sua companheira compartilha
com ele as atividades que lhe do prazer.
A argumentao dos homens que encontraram a felicidade ao lado de
outra companheira vem ao encontro do que Anton (2000) percebe sobre o
casamento, como desejo de companhia, de aconchego, bem como, a necessidade
que as pessoas tm de viver em grupos, percebendo a busca do parceiro como umareferncia organizadora. Essa autora descreve, que para algumas pessoas, a
experincia da individualidade e da solido de grande valor emocional, porm para
outras so extremamente negativas, seguidas de sentimentos como: excluso,
abandono e menos-valia. Os dados desta pesquisa, no que se refere aos homens,
parecem confirmar a afirmativa de que trouxe ganhos emocionais.
7.2 IDENTIFICAR QUE CATEGORIAS HOMENS E MULHERES ADOTAM PARA
ESPECIFICAR UMA POSSVEL IDENTIDADE, QUE SE CONSTITUI APS O
PROCESSO DE SEPARAO CONJUGAL
7.2.1 Nada Mudou
Nesta categoria, trouxemos a fala de M3:[ No houve mudana,
porque eu j tinha uma vida de solteiro enquanto casado]. Porm em outro
momento, o referido participante apresenta um dado novo, que : quando foi
questionado se seus amigos, parentes, entre outros, perceberam nele alguma
mudana, ento, ele consegue ter a compreenso, durante aquele momento da
entrevista, que as pessoas de suas relaes sociais perceberam sua mudana e
utilizaram adjetivos do tipo: brincalho, despojado, melhorou o humor. A partir da
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percepo dos outros, o participante M3se percebeu, ento, diferente, ou seja, uma
melhora satisfatria, expressas pelos colegas e sentidas por ele mesmo.
O participante M1, utilizou a expresso: nada mudou, mas se utiliza
dessa frase quando refere-se a lazer e rotina do trabalho. Ento, a partir disso,
possvel inferir, que o fato de nada mudar em sua vida aconteceu devido ao enlace
com uma nova companheira, fato o qual acabou por manter a rotina de casado,
relacionado ao lazer.
No entanto, quando M1refere-se percepo dos outros em relao a
ele, aps a separao, ele confirma a mudana, no que diz respeito ao estado de
felicidade. Inclusive, o participante relata que todos perceberam como ele estava
mais feliz, inclusive os filhos. Diferente de M3, M1 j havia percebido a mudananele mesmo, pois relatou ter notado a sua melhora no humor e a sensao de
felicidade, quando as pessoas de suas relaes sociais comearam a perceber e lhe
falar sobre sua mudana de atitude.
A esse respeito, Grandesso (2006) traz a compreenso da identidade
como um processo em aberto, sendo construda dentro dos espaos relacionais,
com a possibilidade de constante desenvolvimento e mudana. Ou seja, nas
relaes sociais que os dois participantes se deram conta de como estavamdiferentes aps a separao. A priori no perceberam, a mudana, mas a percepo
das pessoas que fazem parte de suas relaes sociais foi fundamental para
perceberem e aceitarem a re-significao de suas identidades, acontecendo aps o
perodo de separao e posterior a uma nova unio.
Silva (SILVA S., 2000), sustenta o argumento de que o panorama cultural
influencia no comportamento, no qual as identidades podem ser moldadas, e
apresenta a necessidade de que as pessoas tm de buscar uma identificao com ooutro, onde o autor explica uma ausncia da conscincia da diferena. Ora, o autor
remete fala dos participantes, que num primeiro momento no se percebem
diferentes, inclusive se utilizam de palavras como: rotina, no houve mudana. E
somente a partir do olhar do outro que conseguem perceber a mudana ocorrendo.
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7.2.2 Mudana no Lazer
Os participantes homens relatam as mudanas de hbitos quanto aos
lugares freqentados por eles aps o enlace. Foi percebido, com exceo do
participante M1,que afirmou no haver alterao no lazer, pois quando se separou,
foi conviver com outra companheira em seguida, ou seja, no houve uma retomada
da individualidade, mas sim uma nova conjugalidade.
O participante M3,a princpio fala que no houve mudanas, pois relatou
ter vivido uma vida de solteiro quando estava casado. No entanto, no decorrer da
entrevista, ele percebe, naquele momento, que apesar de possuir uma vida desolteiro, durante o casamento, aps a separao houve uma mudana sim, como
confirma o relato: M3[Com certeza, eu me diverti mais, ela mais quieta e no
era muito de festa, e eu mais de baguna, e as minhas amizades so, mais de
festa, de se divert