re-significação da identidade em homens e mulheres após separação conjugal

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  • 7/23/2019 Re-significao Da Identidade Em Homens e Mulheres Aps Separao Conjugal

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    UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

    JOSIANE FERREIRA DA SILVA

    [...] EU SOU OUTRA PESSOA[...]: A RE-SIGNIFICAO DA IDENTIDADE EM

    HOMENS E MULHERES APS A SEPARAO CONJUGAL

    PALHOA (SC)

    2008

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    JOSIANE FERREIRA DA SILVA

    [...] EU SOU OUTRA PESSOA[...]: A RE-SIGNIFICAO DA IDENTIDADE EM

    HOMENS E MULHERES APS A SEPARAO CONJUGAL

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado aoCurso de Psicologia da Universidade do Sul de

    Santa Catarina como requisito parcial obtenodo ttulo de Psicloga.

    Orientadora: Prof. Deise Maria do Nascimento,Msc.

    PALHOA

    2008

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    Um carinho exclusivo ao meu pai e aminha me, pelo apoio que sempre mederam, e em especial a minha me quesofreu e sorriu junto comigo durante aconcretizao deste trabalho.Ao meu noivo, que a partir do momentoque comeou a fazer parte de minha vida,me tornei uma pessoa mais feliz.

    Amo vocs!

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus, que atravs da fora do teu esprito, fez eu superar as

    dificuldades encontradas no caminho. E consegui mais uma conquista ao concluir

    este trabalho, acrescentando, assim, ainda mais a minha paixo por viver.

    Para que a concretizao deste estudo se efetivasse: agradeo s

    inmeras pessoas que foram incentivadoras neste processo e seus ensinamentos

    sero a partir de agora essenciais em minha caminhada pessoal e profissional.

    Ento, por estes extraordinrios exemplos, expresso meus reais agradecimentos.

    Ao Prof. Paulo Sandrini, que com sua capacidade e empenho decoordenar o Curso de Psicologia, sempre esteve disposto a melhor atender, me

    proporcionou chegar at aqui.

    Prof. Deise Nascimento, pela sua delicadeza, pacincia e inteligncia,

    que soube orientar e valorizar esta pesquisa.

    Aos professores mestres e doutores que a mim repassaram seus

    conhecimentos, fazendo que meu desenvolvimento fosse o melhor possvel.

    Aos voluntrios que foram fundamentais para a realizao destapesquisa.

    Aos meus colegas de curso e disciplinas que compartilharam comigo seus

    conhecimentos.

    A todos aqueles que de alguma forma contriburam ou torceram pela

    concretizao desta pesquisa.

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    [...] no pergunte o que realmente sou; qual o meu verdadeiroeu; o que de essencial existe em mim. Pergunte, como possoredescrever-me, de maneira a viver uma vida melhor ou maisbela. (RORTY, apudCOSTA, 1994, p. 21).

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    RESUMO

    Esta pesquisa apresenta como tema central o estudo da identidade dos casais que

    esto em processo de separao conjugal e tem como objetivo geral a

    caracterizao do processo de re-significao da identidade em homens e mulheres

    aps a separao. Quanto metodologia, trata-se de uma pesquisa exploratria,

    com pesquisa de campo, de natureza qualitativa. A coleta de dados foi realizada por

    meio de uma entrevista semi-estruturada, que de forma acidentalforam escolhidos 3

    (trs) homens e 3 (trs) mulheres que estavam com a separao de corpos

    efetivada, que no formavam um casal entre si, e que utilizaram o servio deatendimento de mediao familiar no Frum do municpio da grande Florianpolis-

    SC. No referencial terico foram abordados os seguintes temas: Gnero e

    Identidade e uma Possibilidade de Re-significao; Casamento e Separao

    Conjugal. A anlise de dados foi realizada atravs de anlise de contedo, nos quais

    os resultados preliminares apontam para a mudana na vida social, tanto para

    homens quanto para as mulheres. O diferencial relacionado ao gnero foi a

    constatao que houve uma melhora da auto-estima nas mulheres. Esse resultadofoi unnime para todas as entrevistadas. O sofrimento foi um sentimento presente,

    independente do gnero, ficando assim, evidente algumas justificativas quanto

    superao desses sentimentos, por parte dos participantes do sexo masculino. A

    possibilidade de uma nova conjugalidade foi considerada importante para a

    retomada da vida, com algumas ponderaes, por dois dos participantes, no que se

    referiu a no conviver sob o mesmo teto. Essa ltima considerao foi apontada por

    um participante do sexo masculino e uma do sexo feminino. Com esses dados, sepercebeu a existncia da re-significao nas identidades de homens e mulheres de

    acordo com as atitudes expressas.

    Palavras Chaves Identidade. Separao Conjugal. Re-significao. Gnero.

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................. 08

    2 PROBLEMTICA ........................................................................................ 09

    3 OBJETIVOS................................................................................................. 11

    3.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................11

    3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ........................................................................11

    4 JUSTIFICATIVA........................................................................................... 12

    5 REFERENCIAL TERICO........................................................................... 16

    5.1 UMA QUESTO DE GNERO ....................................................................16

    5.2 IDENTIDADE E UMA POSSIBILIDADE DE RESSIGNIFICAO ...............19

    5.3 CASAMENTO E SEPARAO CONJUGAL................................................ 24

    6 MTODO...................................................................................................... 32

    6.1 TIPO DE PESQUISA.................................................................................... 32

    6.2 PARTICIPANTES OU FONTES DE INFORMAO.................................... 33

    6.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS.................................................................33

    6.4 SITUAO DO AMBIENTE .........................................................................33

    6.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ..................................................34

    6.6 PROCEDIMENTOS......................................................................................34

    6.6.1 Da seleo dos Participantes ou Fontes de Informao ........................ 34

    6.6.2 Do Contato com os Participantes ............................................................. 34

    6.6.3 Da Coleta e Registro dos Dados ............................................................... 35

    6.6.4 Da Organizao, Tratamento e Anlise de Dados ...................................36

    7 ANLISE DOS DADOS ............................................................................... 38

    7.1 IDENTIFICAR E COMPARAR OS SENTIMENTOS DE HOMENS E

    MULHERES APS A SEPARAO CONJUGAL .......................................38

    7.1.1 Sentimentos que Produzem Sofrimentos ................................................ 38

    7.1.2 Sentimentos Contraditrios ...................................................................... 40

    7.1.3 Sentimentos de Bem-Estar........................................................................ 41

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    7.2 IDENTIFICAR QUE CATEGORIAS HOMENS E MULHERES ADOTAM

    PARA ESPECIFICAR UMA POSSVEL IDENTIDADE, QUE SE

    CONSTITUI APS O PROCESSO DE SEPARAO CONJUGAL ............ 42

    7.2.1 Nada Mudou................................................................................................ 42

    7.2.2 Mudana no Lazer...................................................................................... 44

    7.2.3 Liberdade e Autonomia.............................................................................. 45

    7.2.4 Retomando a Auto-estima (Cuidado de Si).............................................. 47

    7.3 INVESTIGAR AS PERSPECTIVAS QUANTO UMA POSSVEL

    CONJUGALIDADE DE HOMENS E MULHERES APS O PROCESSO

    DE SEPARAO CONJUGAL.....................................................................49

    7.3.1 Retomada da Vida ...................................................................................... 497.3.2 Manuteno da Liberdade ......................................................................... 50

    8 CONSIDERAES FINAIS ......................................................................... 52

    REFERNCIAS............................................................................................ 55

    Apndice A Questionrio........................................................................ 57

    Apndice B Carta Convite ...................................................................... 59

    Apndice C Termo de Consentimento................................................... 61Apndice D Categorizao ..................................................................... 62

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    1 INTRODUO

    O tema do presente trabalho : A Re-significao da Identidade em

    Homens e Mulheres aps a Separao Conjugal. A palavra re-significao

    abordada nessa pesquisa com um sentido de reorganizao interna e externa, a

    partir da experincia de separao.

    O gnero foi desenvolvido nesta pesquisa, com o intuito de verificar as

    diferenas das pessoas que sofrem a separao conjugal e como se re-significam a

    partir dessa experincia.

    Os conceitos que foram desenvolvidos nesta pesquisa dizem respeito identidade, separao, ao gnero, ao casamento e possibilidade de as pessoas

    que sofrem a separao conjugal se re-significarem a partir dessa experincia.

    O tempo que os participantes se encontram separados se constitui em

    importante varivel com o intuito de averiguar se h uma variao significativa

    quanto percepo de mudana ao longo do tempo.

    Buscou-se, tambm, identificar sentimentos existentes aps a separao

    conjugal. E nas anlises, foi verificado como homens e mulheres se reconhecem ese vem aps a separao, bem como as expectativas que possuem em relao a

    uma nova conjugalidade.

    No desenvolvimento terico, sero abordadas temas como: Gnero,

    Identidade e a possibilidade de Re-significao, Casamento e Separao, a fim, de

    ponderar as narrativas encontradas nas entrevistas.

    Quanto metodologia, trata-se de uma pesquisa exploratria de natureza

    qualitativa. A coleta de dados foi realizada atravs de entrevista semi-estruturadaque foram realizadas em usurios do servio de mediao no Frum do municpio

    da grande Florianpolis - SC.

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    2 PROBLEMTICA

    H um aumento significativo de separaes conjugais na populao em

    geral, essa afirmativa feita por Carneiro (2003) em pesquisa sobre o processo de

    separao. Na respectiva pesquisa, constatado que na dissoluo da

    conjugalidade no houve diferenas relevantes entre os grupos etrios. No entanto,

    a autora destaca que houve diferenas relevantes entre as vivncias masculinas e

    as femininas em relao aos diferentes sentimentos: desejo de separao; deciso

    de separao; processo de separao e a construo de uma nova identidade.

    A relevncia do gnero possibilita verificar que sentimentos e atitudes emhomens e mulheres divergem e exercem um significado importante para o processo

    de separao conjugal, bem como influenciam nas diferentes formas de re-signifcar

    a identidade, ou seja, homens constroem sua nova identidade a partir de

    sentimentos vivenciados, que conforme a autora so diferentes dos vivenciados

    pelas mulheres. Assim, as diferenas em relao separao so mais pautadas,

    nas diferenas de gnero do que nas de faixa etria. (CARNEIRO, 2003)

    Em pesquisa realizada por Trevisan (2007), foram identificadas asrepresentaes sociais da separao conjugal em homens e mulheres na meia-

    idade, com o objetivo de comparar as respostas com relao ao gnero dos

    entrevistados; descrever os motivos que levaram separao; identificar os

    sentimentos mais presentes em relao separao conjugal; e investigar as

    perspectivas de futuro dos entrevistados.

    A pesquisa citada verificou, ainda, que os entrevistados acreditam que a

    sociedade no entende por qual motivo as pessoas resolvem se separar depois detanto tempo casadas e, ainda mais, na idade em que se encontram, ou seja, a

    sociedade percebe a separao na meia-idade como algo negativo, pejorativo.

    Todos os participantes do sexo masculino demonstraram acreditar que a

    separao conjugal vivenciada igualmente em todas as idades, quer dizer, para

    eles tanto faz se separar na meia-idade ou em qualquer outro momento da vida.

    Este estudo comprovou que mesmo a separao sendo vista como algo cotidiano,

    no deixa de ser parte de um processo doloroso, implicando, assim em sofrimento

    psicolgico para todos os envolvidos. A mesma pesquisa divulga que as mulheres

    pontuam alguns motivos considerados relevantes para haver separao conjugal,

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    so eles: violncia psicolgica; ausncia de carinho; baixa tolerncia em relao ao

    comportamento do parceiro e ausncia de relao sexual. Com esse resultado,

    pde-se perceber, ento, a exigncia da mulher quanto ao funcionamento da relao

    amorosa. J na fala masculina apareceu a culpabilizao da mulher, na qual

    homens atriburam, exclusivamente, mulher a responsabilidade da separao

    conjugal.

    Esse estudo possibilita que haja continuao na explorao de mais

    dados relacionados aos gneros, para melhor entender de que maneira a separao

    conjugal interfere na re-significao da identidade de homens e mulheres aps a

    separao.

    Segundo o autor (SILVA T., 2000), possvel relacionar identidade ediferena:

    Aquilo que e aquilo que no , por exemplo: A afirmao sou brasileirona verdade, parte de uma extensa cadeia de negaes, de expressesnegativas de identidade, de diferenas [...] Por trs da afirmao soubrasileiro, deve-se ler: no sou argentino, no sou chins [...].

    Percebe-se atravs da concepo do autor (SILVA T., 2000), a

    compreenso que ele faz entre identidade e diferena, ora se sou brasileiro, logono sou argentino. Ento, cabe, assim, fazer uma relao de interdependncia

    com a idia do autor, ora se sou casado no sou separado, onde se pode, ento,

    diante desse panorama terico, tornar relevante e refletir sobre o processo de

    transformao da identidade de sujeitos em separao conjugal. Analisando o

    fenmeno da re-significao da identidade aps esse processo, cabe assim a

    seguinte problemtica: Que categorias homens e mulheres adotam para explicar

    essa nova identidade, aps o processo de separao conjugal?

    Diante desse questionamento, o presente estudo tem como objetivo

    responder a problemtica citada acima, pois pode ser verificado em estudos

    pesquisados, como importante o tema proposto desta pesquisa. Atravs da anlise

    de dados relacionados aos sentimentos e significados que homens e mulheres do a

    si prprios aps o processo de separao, poder-se- investigar como homens e

    mulheres re-significam suas identidades. O resultado desse estudo vai possibilitar,

    atravs dos depoimentos averiguados, conhecimento sobre sentimentos e

    significados que devem ser compreendidos e estudados por pesquisadores com o

    intuito de colaborar com a comunidade social e cientfica.

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    3 OBJETIVOS

    3.1 OBJETIVO GERAL

    Investigar o processo de re-significao da identidade em homens e

    mulheres aps separao conjugal.

    3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Identificar e comparar os sentimentos de homens e mulheres aps a

    separao conjugal;

    Identificar, quais categorias os homens e as mulheres adotam para

    especificar uma possvel identidade, que se constitui aps o processo

    de separao conjugal; Caracterizar as perspectivas quanto uma possvel conjugalidade de

    homens e mulheres aps o processo de separao conjugal.

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    4 JUSTIFICATIVA

    importante enfatizar que existem inmeros trabalhos que tratam sobre

    separao conjugal, e que vem crescendo o nmero de separaes conjugais, como

    infere Carneiro (apud SCHABBEL, 2005, p. 2-6) em sua pesquisa: Relaes

    familiares na separao conjugal: contribuies da mediao. A pesquisa teve

    como objetivo apresentar o papel da mediao na renegociao das relaes dos

    pais que se separaram, valorizando e encorajando a cooperao.

    Schabbel (2005) verifica que o divrcio provoca pesar, mudanas na

    famlia e necessidade de novos papis familiares. Concluiu-se, a partir dessesestudos que h uma vasta bibliografia sobre os prejuzos emocionais que podem ser

    causados por uma crise de separao e que esses estudos tm auxiliado no

    desenvolvimento e aprimoramento das tcnicas e treinamento de mediadores de

    divrcio, e ressalta, ainda, a relevncia dos aspectos psicolgicos, como por

    exemplo: o pesar pela perda, a qual possibilita discusso sobre as possveis novas

    identidades, bem como o rompimento dos padres de intimidade que esto

    presentes no casamento, possibilitando, assim, uma redefinio dos novos papis.A pesquisa de Carneiro (2003) sobre separao tem como objetivo

    investigar como homens e mulheres das camadas mdias da populao brasileira

    vivenciam o processo de rompimento do casamento, buscando reconstruir suas

    identidades individuais aps a separao. Ela realizou essa pesquisa com 16

    mulheres e 16 homens das camadas mdias da populao carioca, com idades

    entre 25 a 35 anos e 45 a 55 anos, separados legalmente ou no, do primeiro

    casamento e que ainda no haviam se casado novamente.Sua pesquisa levou em considerao: o desejo de separao; deciso da

    separao; processo de separao e a reconstruo da identidade. Levando em

    considerao esses quesitos, foram observados que os sentimentos e atitudes

    vivenciados por homens e mulheres divergiram. Ainda, considerando os mesmos

    quesitos, foi constatada a relevncia do gnero como fator diferencial na vivncia da

    separao conjugal. Embora homens e mulheres compartilhem o sentimento da dor,

    eles manifestaram de formas diferentes seus sentimentos relacionados separao.

    Carneiro (2003), A desconstruo da conjugalidade, aps a separao,

    tem como conseqncia a construo de uma nova identidade individual. Com isso,

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    percebe-se a necessidade de investigar como o processo de separao pode

    auxiliar na busca de respostas quanto ao processo de re-significao da identidade

    aps a separao, possibilitando dessa maneira novas formas de compreender uma

    possvel identidade, que se constitui aps esse processo de rompimento.

    Em estudos realizados por Cruz (2006), sobre os sentimentos

    predominantes aps o trmino de um relacionamento amoroso, considerando as

    diferenas de identidade quanto ao gnero, iniciativa de trmino e durao do

    relacionamento. Afirmam sobre os sentimentos que foram estudados, que esto os

    negativos, relacionados infelicidade e ao mal-estar, e os sentimentos positivos

    ligados ao bem-estar e melhoria no estado geral das pessoas.

    O sofrimento causado pelo trmino da relao conjugal no estassociado ao tempo de durao da mesma. Ele averiguou que existe predominncia

    de atitudes negativas tanto nas mulheres quanto nos homens, porm em

    intensidades divergentes. Atingindo assim, nvel maior de atitudes negativas s

    mulheres quando comparadas s atitudes dos homens, no entanto ao realizar a

    comparao das atitudes positivas nas mesmas situaes, apresentou resultado

    semelhante para homens e mulheres. (IDID, 2006)

    Dessa forma, os autores constataram a relevncia do gnero, bem comopossibilidades de significados diferentes para homens e mulheres no que se refere

    aos sentimentos ligados separao. Alm disso, deve considerar o contexto

    sociocultural no qual, as pessoas esto inseridas, pois foi ensinado culturalmente ao

    homem omitir seus sentimentos quanto aos relacionamentos amorosos.

    Cruz (2006) considera importante que os fenmenos com relao ao

    amor e a paixo se tornarem, tambm, temas cientficos e sociais, e no apenas

    pertencentes aos poetas, uma vez que tm implicado em sofrimento para aspessoas. Considerando que os temas relacionados aos sentimentos como: amor,

    dor, atrao, paixo, separao, fazem parte do cotidiano das pessoas, logo esses

    temas podem ser considerados como relevantes para estudos cientficos e sociais,

    uma vez que vm ao encontro do estudo proposto, a fim de verificar como as

    pessoas, aps um processo de separao, do sentido a si mesmo.

    Para Giddens (2005), identidade social est atrelada as caractersticas

    que so atribudas a um indivduo por outras pessoas. O autor a cita como marcador

    que sinaliza quem essa pessoa . Essas marcas posicionam essas pessoas com

    relao aos outros indivduos que compartilham dos mesmos atributos. Como

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    exemplo, o autor utiliza de algumas identidades sociais como: o estudante, a me, o

    advogado, o catlico, o sem-teto, o asitico, o casado e assim por diante. Ora, se o

    autor fala da identidade de casado como exemplo de identidade social, pode-se

    apontar a relevncia da identidade de casado e de separado perante a sociedade, e

    como isso pode contribuir com conhecimentos cientficos sobre os comportamentos

    dessas pessoas; e como elas se vem e como os outros as percebem nessa

    identidade de casado, e posteriormente como as percebem na identidade de

    separado. As pessoas podem ter identidades sociais com mais de um atributo, ou

    seja, uma pessoa poderia ser simultaneamente: me separada, engenheira,

    brasileira e vereadora. Com isso, conclui-se que mltiplas identidades sociais vo

    refletir as muitas dimenses das vidas dessas pessoas.Diante dessa realidade e, frente ao fenmeno da re-significao da

    identidade em pessoas aps a separao, existe uma necessidade de explorao

    acerca da caracterizao dessas pessoas em relao identidade de no mais

    como casadas, mas, sim, como separadas, divorciadas ou solteiras. Pode-se

    perceber que as identidades das pessoas so construdas no s individualmente,

    mas tambm coletivamente, e justamente neste ponto que essa pesquisa pretende

    contribuir com novos conhecimentos acadmicos e cientficos. Abordando questes,tais como, a concepo que elas tm de si mesmas aps o processo de re-

    significao da identidade. Atravs desse estudo, produzir possibilidades de

    intervenes em programas de mediaes, bem como dados importantes para a

    produo de conhecimento em psicologia.

    Giddens (2005) percebe mudanas na identidade a partir do mundo

    moderno que fora as pessoas encontrem elas mesmas, pois as referncias

    tradicionais tornaram-se menos essenciais, onde o mundo social possibilita muitasescolhas acerca de quem somos, de como devemos viver e do que devemos fazer.

    Como caractersticas dos seres humanos, possuem a capacidade de,

    constantemente poderem criar e recriar as identidades. A partir do pensamento do

    autor quanto flexibilidade das mudanas comportamentais com relao ao mundo

    moderno, vem ao encontro o estudo da re-significao da identidade em pessoas

    aps a separao conjugal, pois como o autor diz, os seres humanos possuem

    capacidade de criar e transformar suas identidades. Com isso, pretende-se, ento,

    conhecer como homens e mulheres aps a separao conjugal re-significam sua

    identidade.

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    Diante da realidade do mundo atual, no qual o nmero de separaes

    conjugais cresce demasiadamente e das pesquisas anteriormente citadas sobre

    esse fenmeno da separao conjugal, encontra-se, ento a relevncia e

    necessidade em aprofundar o conhecimento sobre as vivncias de homens e

    mulheres relacionadas ao desejo de separar-se. E, ainda, considerando o mesmo

    tema, h a necessidade de caracterizar o fenmeno da re-significao da identidade

    em pessoas separadas. Logo, estudar a re-significao das identidades em homens

    e mulheres aps a separao conjugal, possibilitar a reflexo sobre como as

    pessoas do sentido e transformam sua histria. tambm proposta dessa

    pesquisa, identificar a relevncia de gnero, no processo de re-significao da

    identidade aps a separao, e contribuir acerca da diferena de gnero na esferapblica e privada.

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    5REFERENCIAL TERICO

    5.1 UMA QUESTO DE GNERO

    Foi durante o sculo XIX que o feminismo provocou mudanas e

    conquistas relevantes no que diz respeito ao trabalho assalariado, autonomia do

    indivduo civil, ao direito instruo, bem como a presena das mulheres nos

    movimentos polticos.

    Strey (2002), aponta questes de gnero pautadas nos movimentosfeministas, que modificaram, ento, o cenrio de gnero. A autora utiliza de dois

    termos: sexo e gnero que so conceituados com significados diferentes, onde sexo

    se diferencia de gnero. Sexo refere-se s caractersticas fisiolgicas que tm

    relao com a procriao.

    As diferenas sexuais so verificadas em todos os mamferos, porm os

    seres humanos so animais auto-reflexivos e criadores de cultura. Isso faz que o

    sexo para homem no seja um fator isolado que determina o desenvolvimento doscomportamentos, interesses e estilos de vida, assim como, ele no determina o

    sentimento, a conscincia, aspectos emocionais e intelectuais do indivduo. O sexo,

    em nossa cultura, faz referncia ao gnero, enquanto os fatores socialmente

    construdos so influenciados pela cultura do local.

    Fato esse, que leva Strey (2002) a verificar a necessidade de conhecer

    tanto o homem como a mulher na sua construo social, a fim de que possa

    compreender o significado de cada individuo dentro de um contexto scio-histrico-cultural, possibilitando assim, a transformao. Uma vez que nas interaes

    sociais que acontecem os resultados educativos e ocupacionais, ou seja, a autora

    coloca a importncia do gnero no que diz respeito escola, famlia, personalidade,

    identidade, sociedade, cultura e tambm aos grupos e ao trabalho.

    Strey (2002), cita consideraes de autores quanto a hierarquia de

    gnero, quando considera os papis tidos como simbolicamente masculinos, onde a

    idia de que os homens so naturalmente mais agressivos, e que essa caracterstica

    est ligada ao cromossomo Y, ou seja, reforam a hierarquia divisria que homens

    so de um jeito e mulheres so de outro.

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    Strey (JACQUES; STREY; BERNARDES, 2002), escreve da posio de

    gnero no mundo ocidental como um dos fatores mantedores do poder dos homens

    e aquele, tambm, possuidor de estratgias de fragmentao que rivalidade de

    jovens e idosos, pobres e ricos, negros e brancos, mulheres e homens. Os

    referidos estudos da autora, diz que os homens diferentemente dos animais so

    auto-reflexivos, e que sofrem transformaes ao longo do tempo. Ao considerar,

    ainda, o contexto no qual est inserido, o gnero exerce relevncia quanto

    diferena, pois os papis masculinos e femininos so influenciados por restries e

    aprovaes da sociedade. Logo este conceito importante como referncia para

    desenvolver esta pesquisa.

    Carneiro (2003) pde observar respostas relevantes quanto ao gnero,em sua pesquisa sobre a separao. Na pesquisa estudada so demonstrados que

    homens e mulheres percebem de formas diferentes os motivos da separao. E por

    isso fica evidente a questo de gnero.

    Giddens (2005) aborda, ainda, a distino entre sexo e gnero, referindo-

    se ao sexo as diferenas anatmicas e fisiolgicas que definem e diferenciam o

    corpo masculino do feminino. E quando o autor fala sobre questes de gnero, ele

    se refere s diferenas psicolgicas, sociais e culturais entre homens e mulheres, egnero est construdo de masculinidade e feminilidade e no necessariamente

    um produto direto do sexo biolgico de um indivduo.

    Ao valorizar a distino entre sexo e gnero, Giddens (2005),

    compreende que as muitas diferenas entre homens e mulheres no so apenas de

    origem biolgica. O autor, se utiliza da socializao do gnero para explicar as

    origens das diferenas; os papis de gnero com intermdio dos organismos sociais

    como a famlia e a mdia por exemplo. Essa abordagem diferencia sexo biolgico egnero social uma criana nasce com o primeiro e se desenvolve com o segundo.

    Pois, em contato com diversos organismos sociais, as crianas acabam por

    internalizar aos poucos as normas e as expectativas sociais que so percebidas,

    proporcional ao seu sexo. De acordo com essa teoria, as diferenas de gnero

    aparecem porque homens e mulheres so socializados em papis diferentes.

    Quando Giddens (2005) ao falar da teoria de socializao de gnero,

    verificado como so construdas as foras socialmente aplicadas que recompensam

    ou restringem o comportamento de meninos e meninas. Como exemplo, o autor cita,

    que um menino poderia ser aprovado ou reprovado socialmente: (que menino

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    valente voc !), ou (meninos no brincam de bonecas). Essas afirmaes,

    segundo o autor, ajudam meninos e meninas aprenderem os papis sociais mais

    adequados para eles, caso contrrio, se fugir a essa regra, a explicao dada

    como inadequada ou irregular. com esse enfoque funcionalista que as pessoas

    contribuem para manter a ordem social.

    A partir dos estudos mencionados por Giddens, relevante considerar

    que o gnero exerce um papel importante no que diz respeito diferena, pois os

    papis masculinos e femininos exercidos socialmente agregam aprovaes,

    restries e proibies que so aprendidas e perduram ao longo da vida.

    O autor (SILVA S., 2000), descreve o modelo de perfeio da anatomia

    masculina, a qual a regra flica diferenciava o prevalecer da superioridademasculina em relao feminina, considerando desse modo a mulher como um

    sujeito menos desenvolvido na escala da perfeio metafsica. Essa diferenciao

    mostra que foi na transio do sculo XVIII para o sculo XIX que ocorreu a

    mudana no sentido da concepo biolgica para a poltica, econmica e social. E a

    reproduo das desigualdades surgiu, no mais justificada pela norma natural do

    sexo, mas fundamentada na diferena de gnero, originada na diferena entre os

    sexos.O autor demonstra, que no decorrer da histria houve um cenrio que

    contribuiu para a manuteno dessa diferena. Ao verificar mais uma posio que

    confirma a desigualdade entre os gneros, que vem ancorada na histria, pode ser

    averiguado ainda que no houve significativas mudanas para a sociedade

    contempornea. A mulher apesar de adquirir seu espao na sociedade, ainda hoje

    est numa condio de inferioridade, pode-se conferir isso atravs dos seguintes

    exemplos: o pequeno nmero de mulheres no comando de grandes empresas; aprpria condio da maternidade que muitas empresas consideram como uma perda

    de produtividade em mulheres em fase de gestao; a licena maternidade que

    afasta a mulher por 4 meses do seu ambiente de trabalho; e ainda, a violncia

    domstica que quase no tm estatsticas a respeito.

    Falar sobre violncia domstica cabe dentro desse contexto, j que

    quando se trata de separao conjugal, possvel se defrontar com essa realidade.

    Segundo Soares (1999) dados estatsticos sobre violncia domstica no

    Brasil ainda so precrias. A autora refere-se violncia domstica como uma

    violncia invisvel, pois ela quase no divulgada; no h polticas pblicas eficazes

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    que favoream atendimentos a essas mulheres. Essa categoria de violncia no

    um tipo de violncia que provoque choques, exceo a alguns fatos excepcionais,

    uma vez que trata-se de discusses com cunho exclusivo de debates feministas.

    Atualmente, as mulheres tm sido encorajadas pela Lei Maria da Penha,

    recentemente criada, a denunciar em delegacias da mulher, caso venham a ser

    vtimas de violncia domstica, no entanto, muitas delas ainda omitem esse tipo de

    crime, mesmo a mdia divulgando os direitos que a referida Lei d a mulher. No

    entanto, sabe-se que essa Lei n11.340 de 7 de agosto de 2006, apesar de garantir

    os direitos das mulheres, elas ainda continuam a correr risco de vida, pois vrios

    casos de homicdios acontecem dentro dessa condio e, que no recebem a

    proteo devida.

    Conforme Soares (1999) infere que de maneira geral, as condies das

    delegacias so precrias, pois, a falta de recursos fsicos e recursos humanos

    capacitados para tal servio ainda uma realidade no novo milnio. Existem muitos

    estigmas utilizados para esse tipo de violncia entre eles, o prprio atendimento

    prestado pelos funcionrios da delegacia que inferem mulher atitudes que

    contribuem para a situao de violncia. Como exemplo, inferem uma conivncia

    com a situao de violncia sofrida pr elas.A mulher pode ser uma vtima de diversos fatores que fazem parte da

    violncia domstica, porm cabe a elas a coragem de enfrentar o problema. Atitude,

    muito difcil, pois leva a tomada de decises que implicam em uma autonomia

    financeira muitas vezes, para dar manuteno ao lar. Bem como a coragem de

    passar pelo preconceito, pela vergonha, sem contar com a difcil deciso de

    abandonar o parceiro, visto que esse abandono muitas vezes pode lhes custar

    vida.

    5.2 IDENTIDADE E UMA POSSIBILIDADE DE RESSIGNIFICAO

    O conceito de identidade uma referncia bsica para o desenvolvimento

    desse trabalho bem como para a compreenso no processo de re-significao aps

    a separao conjugal.

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    Ao sugerir sugerir a compreenso de identidade inserida no circuito da

    cultura bem como a relao de identidade e a diferena. Para compreender

    identidade e diferena, o autor busca examinar as preocupaes contemporneas

    como a identidades em diferentes nveis. Ou seja, no cenrio global h

    preocupaes com as identidades nacionais e tnicas, j num contexto mais local,

    h a preocupao com a identidade pessoal como, as relaes pessoais. (SILVA T.,

    2000).

    O autor, refere-se a uma crise de identidade nas ltimas dcadas,

    motivadas pelas transformaes mundiais, levando um questionamento sobre as

    formas como essas identidades so estruturadas e os processos nos quais esto

    inseridos. Ao apontar o conceito de identificao, (SILVA T., 2000), leva a pensar nanecessidade que as pessoas possuem de buscar uma identificao com o outro,

    explicada pelo autor como uma ausncia de uma conscincia da diferena ou da

    separao ou como resultado de supostas semelhanas, tendo como origem esse

    conceito na psicanlise.

    Para (SILVA T., 2000), sugere o seguinte questionamento: existe uma

    crise de identidade? Giddens (2005) atribui as crises de identidade como

    caractersticas da modernidade, ao desenvolvimento urbano, industrializao e salteraes das sociedades antigas e isso vem enfraquecendo as regras e

    convenes herdadas. E na globalizao que Giddens percebe a produo de

    diferentes resultados em termos de identidade.

    A partir da percepo de (SILVA T., 2000), a globalizao produz

    desiguais resultados em termos de identidade, promovendo uma homogeneidade

    cultural que pode levar a um afastamento da identidade referente comunidade e a

    cultura local. Influenciando desse modo as resistncias que podem dar fora areafirmao de algumas identidades nacionais e locais e promover o surgimento de

    novas posies de identidade.

    (SILVA T, 2000), compreende que nesse processo de globalizao, as

    identidades podem ser moldadas. Ora, se Silva sustenta esse argumento de que o

    panorama cultural influencia no comportamento, possivelmente que as pessoas,

    so moldadas conforme o que a sociedade preparou. Ento, pode ser conferido no

    decorrer desta pesquisa, como o processo de re-significao acontece com

    identidades de homens e mulheres aps a separao, j que esto inseridos nos

    valores culturais tais como: casamento e famlia.

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    Laclau (1990, apud SILVA T, 2000, p. 40), a formao da identidade

    ocorre tambm nos nveis local e pessoal. Onde as transformaes globais na

    economia, ou seja, mudanas nos padres de produo e de consumo e o

    deslocamento do investimento das indstrias de manufaturados para o setor de

    servio provocam uma impresso local. O autor usa o conceito de Ernesto Laclau

    para explicar o deslocamento, onde as sociedades modernas no tm um princpio

    ou centro determinado que produza identidades fixas. Laclau infere que no h uma

    nica fora influenciadora mais uma pluralidade de foras agindo sobre o sujeito nos

    centros, onde a liberdade no est em uma nica classe. Verificando, essas

    implicaes como positivas, pois esse deslocamento pode produzir novas

    identidades vindas tona e permitindo que novos sujeitos possam se expressar.O autor (SILVA T., 2000), percebe que as pessoas vivem no interior de

    um grande nmero de diferentes instituies, ou seja: os grupos de colega, as

    instituies educacionais, os grupos de trabalho, entre outros. O autor compreende

    que as pessoas, enquanto participantes dessas instituies, exercem graus diversos

    de escolha e autonomia nos quais representam diversos papis em diferentes

    contextos sociais. O autor cita as diferentes identidades envolvidas em diversas

    ocasies, como por exemplo: uma entrevista de emprego, uma reunio de pais naescola, em uma festa, em um jogo de futebol, entre outros contextos. Enfatizando

    que pode um sujeito ser a mesma pessoa, porm ter atitudes dependentes dos

    contextos sociais.

    (SILVA T., 2000), infere que existe uma diversidade de posies que o

    sujeito pode ocupar ou no, argumentando que parece difcil separar essas

    identidades. E que pode haver mudanas nessa identidade ao longo do tempo. A

    maneira como as pessoas se representam perante a sociedade, como mulheres,homens, pais e pessoas trabalhadoras, tem sofrido mudanas bruscas e essenciais.

    Passando por experincias de fragmentao nas relaes pessoais e do trabalho,

    vivncias, essas, expressas no contexto de transformaes sociais e histricas, tais

    como no mercado de trabalho e nos padres de emprego. O autor compreende que

    a etnia e a raa, a sexualidade, a idade, a incapacidade fsica, a justia social, as

    preocupaes ecolgicas e o gnero criam novos meios de identificao. Em

    conseqncia disso, as relaes familiares tambm tm sofrido mudanas,

    principalmente nas estruturas do emprego, por conta de lares chefiados por pais

    solteiros e mes solteiras, bem como as altas taxas de divrcio.

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    A complexidade da vida moderna interfere nas mudanas ocorridas na

    identidade das pessoas, como o contexto social impe diferentes papis para o

    indivduo. Entendendo assim que as transformaes da identidade variam de acordo

    com os papis ora representados, podemos melhor compreender o processo de re-

    significao da identidade, onde essas identidades no so fixas e sim fludas e

    cambiantes. O autor faz uma relao entre identidade e diferena, referindo-se

    afirmao sou brasileiro como exemplo dessa afirmao porque as afirmaes

    sobre diferena se fazem compreendidas quando relacionamos com a identidade.

    Sendo a identidade ponto de partida para entender a diferena. Quando o autor se

    refere a uma viso mais radical, o mesmo diria que a identidade que procede a

    diferena, porm salienta a hiptese da diferena no ser somente resultado de umprocesso, mas compreendida como ato ou processo de diferenciao. Desse modo,

    o autor compreende a identidade e a diferena como sendo reciprocamente

    dependentes, e sendo produto do mundo cultural e social. (SILVA T., 2000).

    Identificar que a identidade e a diferena indicam as operaes de incluir

    e de excluir: ou seja, dizer o que somos significa tambm dizer o que no somos.

    Ora se sou divorciado quer dizer que no sou casado a negao vai alm do que

    sou ou no sou, uma vez que est embutida de significados, se sou casado, quecaractersticas que o indivduo tem nessa condio, que valores possui? Se sou

    divorciado, no entanto excluir-se da identidade de casado. A re-significao

    implica novos significados e significados dependem da diferena. (SILVA T., 2000)

    Ao reportar-se s identidades, o autor, refere-se a elas como

    impossibilitadas de escolhas, pois ele as v como conseqncias de um processo

    de socializao em que a diversidade de cultura, crenas e a pluralidade de

    identidades psicolgicas, sociais, de gnero e sexuais na contemporaneidade,inviabilizam a hegemonia das identidades. Logo, conclui-se, que elas no so fixas

    nem imutveis, contrariamente, so mutveis e fluidas e que cada vez mais a cultura

    molda as forma de viver e de se comportar das pessoas. (SILVA T., 2000).

    Para Grandesso (2006), o significado como a construo do

    complemento do outro, as expresses que so tidas como isoladas, quando

    compartilhadas com o outro, possibilitam a ao, como se fosse uma ao

    suplementar. A autora cita como exemplo, a pronncia da palavra: xu, ela no

    possui sentido de forma isolada, mas quando ocorre a interao com outra pessoa,

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    onde h uma resposta fala amor, houve, ento, um significado pela ao de outra

    pessoa.

    Segundo Pearce & Cronen (1980 apudGRANDESSO, 2006) argumenta

    que no momento que se cria significados, pode, ao mesmo tempo, limitar outro

    significado. possvel se utilizar dessa concepo, para ento inferir, que quando o

    indivduo est na condio de separado, limita-se essa condio, ou mesmo, se

    exclui dessa condio. A autora refere-se rede de significados que pode ser

    reconstruda atravs da linguagem e das prticas sociais. E, a fim de que haja essa

    reconstruo tem de existir uma quebra de sentido no qual falte contedo, ou seja,

    algo que surge e no esperado, no claro, desconhecido, provocando, ento, o

    surgimento de um novo sentido, possibilitando, tambm, a busca de algo familiar nodesconhecido. Ora se para criar novos significados necessrio desconstruir, ento

    re-significar uma identidade de casado, passa pela desconstruo dessa identidade,

    possibilitando uma reconstruo dentro das prticas sociais existentes.

    Grandesso (2006), ao falar dos significado considera que os indivduos

    so geradores de significados e que eles so construdos nas relaes sociais por

    meio da linguagem. Ou seja, nos discursos que nascem os significados. Ainda, a

    autora refere-se a uma reconstruo, no como resgate de algo esquecido, nemmesmo como algo recuperado, mas sim reconstruo, num sentido de mudana de

    um sentido para o outro, ou em uma re-significao. A autora afirma que nos

    significados existe uma proposta do novo, do diferente, do nico, possibilitando

    tambm a manuteno da singularidade do sujeito.

    Grandesso (2006), questiona uma viso tradicional de identidade, que a

    autora prefere chamar de self. Isso possvel identificar no que refere-se

    estabilidade, assim, a autora prope compreender a identidade como um processoem aberto, que no est pronto, sendo construdo dentro dos espaos relacionais,

    com possibilidade de constante desenvolvimento e mudana.

    Gonalves (2006 apud GRANDESSO, 2006, p. 227) refere-se

    identidade com a possibilidade de reformulaes, assim como a continuidade das

    histrias sobre ns mesmos, como um constante fazer e desfazer, onde as palavras

    influenciam a forma de olhar e agir. Para a autora, sustentar uma identidade requer

    um constante desafio porque o sujeito no se apresenta como um projeto pronto e

    sim como inacabado, pois ele est inserido numa cultura em movimento. Ela

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    ressalta a importncia das diferenas que a cultura impe, uma vez que seria difcil

    suportar uma teoria que tentasse dar preferncia singularidade do indivduo.

    Gilligan (1993 apudGRANDESSO, 2006, p. 227) refere-se as diferenas

    de discursos ligados questo do gnero, os quais se referem aos diferentes

    valores do que vem a ser uma boa pessoa, para homens e mulheres. As mulheres

    devem ser definidas pela sua preocupao em manter as relaes amorosas; em ter

    sensibilidade para lidar com as necessidades do outro; serem companheiras e

    cuidadosas. Enquanto os homens so valorizados por suas realizaes individuais,

    as preocupaes com relacionamentos so vistas como fraqueza.

    Verifica-se que narrativas diferentes so utilizadas por homens e

    mulheres, nas quais as identidades so marcadas pelas diferenas impostas pelacultura e pelas significaes do gnero. Grandesso (2006) ressalta a influncia das

    diferenas na construo da identidade com a sociedade, surgindo da construo

    conjunta dos significados.

    Referi-se a identidade, remete-se a pensar a construo de algo que no

    pode ser considerado como acabado, pronto. Ao dialogar com os autores, no que diz

    respeito identidade devem considerar que a palavra chave remete-se a um

    significado em constante movimento, movimento que sofre influncia do meio social.Foi verificado nas referncias de vrios autores que identidade vem carregada da

    histria, e conseqentemente vem atrelada mudanas, conforme as

    transformaes sociais.

    5.3 CASAMENTO E SEPARAO CONJUGAL

    Segundo Arajo (apudCARNEIRO, 1998, p. 1), o amor e o casamento tal

    qual se conhece hoje, teve incio a partir do sculo XVIII, quando a sensualidade e a

    seduo passam a fazer parte do casamento. Da antiguidade idade mdia eram os

    pais quem se preocupavam com o casamento dos filhos, uma vez que essa prtica

    era visto como um negcio.

    Carneiro (1998), afirma que o casamento dos ocidentais por um longo

    perodo sofreu influncias da igreja. No entanto, at o sculo V no existia essa

    influncia. O casamento era um ato privado, que ocorria entre os nobres, tendo

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    como principais funes: as transferncias de herana; a constituio de alianas

    polticas. Logo, a escolha e a paixo no existiam e o uso dele para ter prazer era

    inexistente porque a procriao era o objetivo fundamental do casamento, bem

    como a fidelidade da mulher. E o adultrio tinha como conseqncia o abandono ou

    a morte da mulher.

    A igreja instituiu o casamento como sagrado por volta do sculo XII, e no

    sculo XIII se instalou a moral crist, tornando, ento, o casamento como

    monogmico e indissolvel. E foi s a partir da revoluo burguesa que ocorre a

    dessacralizao do poder da igreja, em conseqncia da entrada do povo no novo

    cenrio, da tica protestante e do esprito do capitalismo, sendo a partir daquele

    momento a vida das pessoas regidas pelo novo cenrio social, Weber (apudARAJO, 2002, p. 2).

    Segundo ries (apud ARAJO, 2002, p. 3), as transformaes do

    casamento comeam a partir da modernidade, onde o novo ideal de casamento a

    busca de expectativas em relao ao amor e a felicidade, porm essas expectativas

    trouxeram idealizao e conseqentes conflitos e desiluses por no

    corresponderem s expectativas esperadas.

    A partir do sculo XVIII, o amor romntico se torna o ideal do casamento,mas a durabilidade do casamento no corresponde, pois ao amor-paixo. E de

    modo geral o amor no dura, surge com isso o divrcio como resposta do

    casamento dos casais modernos.

    Segundo Carneiro (1998) tem crescido o nmero de dissolues

    conjugais na sociedade contempornea, e atravs de informaes obtidas pelo

    IBGE em 1996, com dados correspondentes ao ano de 1994 indicam

    aproximadamente um divrcio para cada quatro casamentos. A causa do divrcio devido mais a importncia dada ao casamento, uma vez que quando os cnjuges

    no correspondem expectativa, essa relao no mais aceita, e

    conseqentemente os envolvidos buscam novas relaes.

    Como apontado por Carneiro (1998) a separao da conjugalidade leva

    toda famlia a remodelar os padres de relacionamentos atuais, pois h a

    necessidade de um perodo de transio a fim de que a famlia se reorganize. A

    autora compreende que as conseqncias do divrcio aparecem rapidamente, e

    aumentam no primeiro ano e vo desaparecendo aos poucos nos anos seguintes;

    enfatizando que em alguns estudos foram verificados que o desequilbrio do sistema

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    familiar tende a iniciar um ano antes do divrcio, sendo dois anos para a maioria dos

    casais, e at no mximo seis anos para todas as famlias voltarem a restabelecer

    uma funo satisfatria para seus membros.

    Carneiro (2003) acredita que no processo de separao, a identidade

    conjugal vai aos poucos se desconstruindo, levando os cnjuges a uma re-

    significao de suas identidades individuais. E que desconstruir a conjugalidade

    aps a separao, desencadeia o movimento de re-signifcar a identidade individual.

    Sendo esse processo demorado e vivenciado de forma difcil pelos ex-cnjuges. A

    vivncia com mais liberdade acaba por trazer sofrimento e solido, e momentos

    difceis para os homens e as mulheres. As mulheres mais estimuladas a expressar

    sentimentos e conversar sobre relacionamentos parecem ter mais facilidade emdescrever o gratificante, mas tambm penoso processo de reconstruir a identidade

    individual.

    Schabbel (2005), considera que o indivduo formaliza uma situao de

    discrdia entre o casal, levando uma liberao do clima de disputa e nascem novas

    estruturas domsticas de convivncia entre pais e filhos. A autora percebe nos filhos

    angstias e incertezas que ameaam a estabilidade pessoal, causando mudana na

    dinmica familiar. A mesma autora enfatiza os sentimentos vivenciados pelos filhosde pais separados. Essas crianas enfrentam o medo e as conseqncias negativas

    de um lar desfeito, como por exemplo: a guarda e as visitas semanais ou at mesmo

    mensais. H, tambm, o aprender a lidar com a perda de certos costumes e

    tradies familiares, bem como os sentimentos de desamor, abandono e rejeio

    que implica na necessidade de novos costumes.

    Para Carneiro, em pesquisa efetuada em 1998, com o ttulo: Casamento

    Contemporneo: o difcil convvio da individualidade com a conjugalidade. Nestapesquisa, a autora refere-se dificuldade dos casais em encerrar as suas

    individualidades e uma conjugalidade. Ela argumenta que existem dois desejos;

    duas histrias de vidas; duas percepes de mundo; dois projetos de vida; duas

    identidades individuais que, na relao a dois, convivem com uma conjugalidade ao

    qual composta de desejos conjuntos, histrias de vida conjugal, projeto de vida

    conjugal e uma identidade conjugal. Carneiro sugere que so dois seres em um?

    Como ser um sendo dois? Como ser dois sendo um? A autora denomina essa

    juno como identidade conjugal.

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    Berger e Keller (apud CARNEIRO, 1998, p. 2) ao debaterem a

    importncia institucional do casamento, destacam que, desde Durkheim, o

    casamento serve como proteo contra a maioria dos indivduos. Tendo como

    funo social estabelecer uma determinada ordem para o indivduo, permitindo dar

    sentido vida. O casamento visto como um ato dramtico, nas quais duas

    pessoas estranhas, com passados individuais divergentes se encontram e se

    redefinem. O casal constri a realidade presente e, reconstri a realidade passada,

    fazendo, assim, uma memria comum, que integra os dois passados individuais.

    A manuteno do casamento contemporneo influenciado, pelos

    valores individuais, no qual os ideais da contemporaneidade da conjugalidade

    valorizam mais a autonomia e a satisfao de cada cnjuge do que a relaoconjugal. A autora diz que formar um casal demanda a criao de uma zona comum

    de interao de uma identidade conjugal. O casal contemporneo experimenta nas

    relaes conjugais, ideais individuais ora estimulando autonomia, ora ao

    desenvolvimento de cada um pelo outro, onde dado nfase a conjugalidade.

    (CARNEIRO, 1998)

    Singly (apud CARNEIRO, 1998, p. 4), enfatiza as caractersticas

    individuais da famlia e do casal contemporneo, prevalecendo importncia dosmesmos e, as relaes mantidas entre seus membros. A relao amorosa se

    mantm enquanto tiver fins importantes para os cnjuges. Enfatizando a sociedade

    que valoriza o indivduo, a famlia torna-se importante no momento em que o auxilia

    na constituio da independncia do indivduo, ou seja, a famlia exerce uma funo

    contraditria que ao mesmo tempo fortalece os laos de dependncias e esses laos

    so negados.

    Anton (2000),compreende o casamento como o desejo de companhia, deaconchego, bem como a necessidade primeira, que o homem tem de viver em

    grupos. Percebendo, a busca de um parceiro como uma referncia organizadora

    porque as experincias de individualidade e de solido so de grande valor

    emocional para algumas pessoas, para outras so extremamente negativas, uma

    vez que so seguidas de sentimentos de excluso, abandono e menos-valia. O estar

    acompanhado no significa para alguns indivduos estar cercado de pessoas, pois

    na intimidade no tm quem os oua. A autora refere-se ao outro como referncia

    imprescindvel para a conservao da percepo lgica e organizadora de si

    mesmo, produzindo a descoberta e o desenvolvimento da individualidade.

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    O medo da intimidade implica na dificuldade das pessoas em

    harmonizarem os desejos diferentes, que so: o desejo da liberdade como

    comprometimento e o da individualidade como vnculo. As pessoas preferem, ento,

    romper o vnculo, deslocando suas energias afetivas para grupos e tarefas do que

    para algum especial. (ANTON, 2000)

    Anton (2000), refere-se s literaturas estudadas sobre divrcio que

    revelam diferentes modelos de pensamentos e atitudes. Esses, de acordo com cada

    cultura vm sofrendo variaes ao longo do tempo e sob fortes influncias dos

    meios de comunicao. A autora aponta influncia de estmulos provenientes de

    crenas conscientes e inconscientes, de significado e de valores atribudos s

    experincias vividas que esto estreitamente ligadas ao sistema em que osindivduos se desenvolvem.

    Segundo Seibt, in Hharway (apudANTON, 2000, p. 273), muitas pessoas

    casam com a expectativa de que a vida ir ficar melhor e mais feliz, porm quando

    essas expectativas no so correspondidas, o divrcio surge como uma alternativa

    mais certeira. Muitos vivenciam o fim da conjugalidade com pesar, enquanto que

    para outros, essa deciso pode vir como alvio. No entanto, o impacto emocional

    maior quando um dos cnjuges quer o divrcio e o outro no.Anton (2000) compreende que casamentos desfeitos nem sempre

    resultam em alianas quebradas, pois alguns casais jamais quebram seus elos, e

    isso gera dificuldades para seguir suas vidas com autonomia. Pode-se perceber a

    partir da compreenso da autora como difcil o processo de dissoluo da

    conjugalidade, sendo esse um dos fenmenos a ser investigado nessa pesquisa.

    Em pesquisas americanas citada por Grunspun (2000), a iniciativa do

    divrcio se d duas vezes mais em mulheres do que em homens. O autor diz,tambm, que as mulheres passam por menos estresse do que os homens. J a

    iniciativa por novos casamentos se d tambm em maior parte pelos homens, os

    quais se separam em maior nmero nesses novos casamentos do que as mulheres.

    O autor ainda considera que os homens enfrentam os problemas emocionais da

    separao semajuda de profissionais, contrariamente as mulheres, que mesmo com

    menos problemas emocionais que os homens procuram em maior nmero a ajuda

    de profissionais frente aos problemas emocionais vivenciados.

    Grunspun (2000), a partir da observao de nmeros significativos de

    separaes, percebeu que muitos indivduos sofrem traumas devido a essas

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    rupturas. Pois, h sentimentos prprios de quem toma iniciativa da separao, bem

    como de quem no toma essa iniciativa. Muitas vezes vem acometido de medo,

    alvio, impacincia, ressentimentos, dvidas e culpas. Ora uma relao por mais que

    no haja mais amor, acaba por ser um processo que demanda um empenho

    emocional para resolver as situaes que permeiam a desunio.

    Grunspun (2000) prope fases no processo de desunio. A primeira fase

    pode ocorrer de 1 at 2 anos antes mesmo de ser verbalizado. Essa fase

    constituda de sentimentos vagos de descontentamento, distanciamento,

    ressentimentos e desconfiana. Muitas vezes os problemas fazem parte de uma

    realidade que no vista. E tambm, surgem sentimentos, como: medo,

    insegurana, culpa, amor, dio, ansiedade, depresso alternada e um referido lutopelas perdas que ainda no aconteceram.

    Na segunda fase, existe uma manifestao de insatisfaes, o autor

    (GRUNSPUN, 2000) diz que um perodo que ocorre de 8 at 12 meses. Nessa

    fase ocorrem muitas queixas, cobranas com seguidos pedidos de desculpas;

    possibilidade de uma reconquista; busca de terapias. Sentimentos de tenso,

    angstia, alvio e dvidas, tambm, fazem parte dessa fase.

    Na terceira fase, geralmente realizada a opo pelo divrcio. Esta fasecompreende de 6 a 12 meses antes da oficializao. Nesse perodo, ocorre um

    afastamento, uma distncia emocional. Em funo desse afastamento existe,

    geralmente, a retomada a primeira fase.

    O pedido legal da separao, o autor (GRUNSPUN, 2000) configura como

    a quarta fase, tornando-se assim pblica a deciso. Logo, existe uma busca de

    cumplicidade nos familiares e amigos comuns. Os sentimentos dessa fase so de:

    vergonha, culpa e pnico para chamar a ateno dos mais prximos.Na quinta fase e ltima, que o autor (GRUNSPUN, 2000) chama de

    aceitao crescente, que muitas vezes varia do tempo em que ocorre essa

    aceitao, podendo ser no decorrer do processo ou aps a separao. Comeam

    neste momento a aparecer os ajustes fsicos e emocionais. Existe neste momento a

    percepo de que era melhor acabar, pois j no mais existe felicidade. E ao findo

    desta fase que o casal comea a recuperar assim gradativamente o controle, com

    possibilidade de planos para o futuro, com uma nova identidade, descobrindo novos

    recursos de enfrentamento.

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    Cerveny (2005), tambm apresenta uma compreenso sobre o processo

    relacional que escreve sobre o trmino do casamento, refere-se a fase aguda que

    seria composta por momentos de insatisfaes de um ou de ambos os parceiros.

    Verifica-se nessa fase aguda, alternncia de medo, culpa, raiva. Medo da solido,

    culpa pela deciso, raiva pelo parceiro no conseguir fazer o outro feliz. Ento,

    nesse momento, percebe-se um pr-aviso de que h uma insatisfao, provocando

    uma instabilidade na vida conjugal. Apresenta-se, nessa fase, dificuldades

    financeiras, emocionais e desorganizao social.

    A fase transitria segundo a autora Cerveny (2005), seria a prxima fase,

    que se d no momento em que ocorre a separao. Neste momento especfico, o

    sentimento de raiva cedido pelo sentimento de perda, seguido de um sentimentode tristeza profunda que pode levar a depresso. Os sentimentos so diferentes,

    quem pede a separao acometido por um sentimento de abandono da famlia,

    conseqentemente, gerando uma culpa em si mesmo. J aquele cnjuge que no

    quer a separao, acometido por um sentimento de abandono e rejeio,

    sentimentos esses que tambm podem levar a um quadro de depresso.

    Quando o casal tem filhos, essa uma fase em que eles sentem-se

    perdidos, pensando na possibilidade de reconciliao dos pais. Este momentoprovoca nas crianas insegurana e incertezas quanto ao destino de suas vidas.

    A fase final seria a que a autora Cerveny (2005), chama de fase do ajuste,

    pois nesse momento especfico aos poucos os sentimentos de aceitao vo

    surgindo no casal, uma vez que se verifica a inviabilidade de um retorno relao.

    Os envolvidos percebem que no h mais um cnjuge, mas sim um ex-cnjuge.

    Ento, ele nessa fase, consegue ver uma possibilidade de um novo comeo. Assim

    como a possibilidade de uma nova conjugalidade.Como verificamos, os autores falam desse processo como sendo longo e

    cheio de emoes. importante ressaltar que essas fases ajudam a compreender o

    quanto difcil e complicado um processo de separao. Ao verificar a fala das

    autoras sobre esse processo, conclui-se a importncia da nfase nestes estudos.

    Os mesmos autores inferem que no se trata de percurso linear, mais sim

    cheio de pr-condies para que ocorram numa linearidade ou no. Ento,

    imprescindvel no tomar essas fases como absolutas, pois as diferenas entre as

    pessoas impossibilitam a idia de um processo idntico para todos. Cerveny (2005)

    traz uma considerao importante sobre isso, ela ressalta a necessidade de

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    conviver, aprender e apreciar as diferenas, pois cada um possui suas

    particularidades, e cada qual inserida em contexto social, podendo ver o divrcio

    como uma transformao.

    Nas diferenas de comportamentos entre os homens e as mulheres frente

    s pesquisas j efetuadas, fica visvel a influncia do gnero, onde homens e

    mulheres, em situaes envoltas de sentimentos, refletem suas aes de forma bem

    diferenciada. Ora, novamente frente problemtica dessa pesquisa: Como homens

    e mulheres re-significam suas identidades aps a separao conjugal? Ou seja, h

    uma diferena, no enfrentamento dessa nova situao de vida? De que forma o

    gnero influencia nas decises e atitudes desses sujeitos, sugerindo uma

    possibilidade de re-significar suas identidades?

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    6 MTODO

    Os objetivos dessa pesquisa foram atendidos, utilizando-se de um

    conjunto de procedimentos abaixo descritos.

    6.1 TIPO DE PESQUISA

    Esta pesquisa de carter exploratrio e teve como objetivoproporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torn-lo mais

    explicito ou a constituir hipteses (GIL, 2002, p. 41). Segundo Gil (2002, p. 41) este

    tipo de pesquisa tem como finalidade o aprimoramento de idias ou a descoberta

    de intuies. Seu planejamento bastante flexvel, de modo que possibilite a

    considerao dos mais variados aspectos ao fato estudado, ou seja, no caso deste

    projeto, caracterizar o processo de re-significao da identidade em homens e

    mulheres aps a separao conjugal.A anlise qualitativa foi a escolha por investigar uma realidade que no

    pode ser quantificada. Esse tipo de anlise trabalha com o universo de significados,

    valores, crenas e atitudes, correspondendo a um espao mais profundo das

    relaes, dos processos e dos fenmenos aos quais no podem ser reduzidos

    operacionalizao variveis. MINAYO (2001).

    Em relao ao delineamento da pesquisa, ela foi classificada como

    estudo de campo. Neste sentido, Gil (2002, p. 129) relata que no h como definir apriori as etapas a serem seguidas em todas as pesquisas dessa natureza. Isso

    porque, a especificidade de cada estudo, acaba por ditar seus prprios

    levantamentos. Gil (2002) afirma que esse de delineamento muito mais amplo do

    que os levantamentos. Para o autor, o estudo de campo inicia-se com um plano

    bem geral, visto que este tipo de delineamento, leva em considerao,

    principalmente, os objetivos da pesquisa. A seleo dos informantes e as

    estratgias para a coleta de dados costumam ser definidas somente aps

    explorao preliminar da situao (GIL, 2002, p. 129).

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    6.2 PARTICIPANTES OU FONTES DE INFORMAO

    Os sujeitos que participaram dessa pesquisa foram pessoas que

    utilizaram o servio de mediao familiar no Frum de So Jos, em 2008. Os

    participantes foram 3 (trs) homens e 3 (trs) mulheres que atendiam ao critrio de

    estarem com separao de corpos efetivada.

    6.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS

    Foram utilizados para esta pesquisa, materiais, como: caneta, papel,

    computador, impressora, gravador e pilhas.

    6.4 SITUAO DO AMBIENTE

    Para a aplicao da entrevista, foi necessrio um ambiente livre de

    rudos, sem a interferncia de outrem, previamente combinado com os

    entrevistados. Para isso, foi utilizado um espao reservado do stimo andar, do

    Frum de So Jos onde fica localizado o servio de mediao, nos perodos em

    que no havia atendimentos, para no comprometer os resultados da pesquisa, bemcomo para garantir o sigilo com relao s pessoas. Essa condio importante

    para cumprir os requisitos dos princpios ticos.

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    6.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

    Foi utilizado para a coleta dos dados o instrumento da entrevista semi-

    estruturada como instrumento para a coleta dos dados. De acordo com DOliveira,

    Lima e Luna (1996).

    a entrevista guiada permite ao entrevistador utilizar um guia de temas a serexplorado durante o transcurso da entrevista [...] o pesquisador conhecepreviamente os aspectos que deseja pesquisar e, com base neles, formulaalguns pontos a tratar na entrevista. O entrevistado tem a liberdade deexpressar-se como ele quiser guiado pelo entrevistador.

    Os dados coletados, foram gravados e transcritos, com a autorizao dos

    entrevistados.

    6.6 PROCEDIMENTOS

    6.6.1 Da seleo dos Participantes ou Fontes de Informao

    A pesquisa foi realizada com homens e mulheres que atenderam ao

    critrio de estarem com separao de corpos efetivada e que procuraram o servio

    de mediao familiar do Frum da grande Florianpolis - SC. O tempo de separao

    dos envolvidos variou entre 2 meses e 10 anos. Os participantes foram 3 (trs)

    homens e 3 (trs) mulheres que no eram um casal entre si. O nmero de

    participantes foram estabelecidos de forma intensional pela pesquisadora.

    6.6.2 Do Contato com os Participantes

    Tabela 01 Tabela de Informaes

    F1 F2 F3 M1 M2 M3

    SEXO Feminino Feminino Feminino Masculino Masculino Masculino

    IDADE 34 48 39 30 45 30

    ESCOLARIDADE 2 grau 1 grau 1 grau 2 grau 1 grau 2 grau

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    F1 F2 F3 M1 M2 M3

    incompleto incompleto

    OCUPAO Tec.Eletron

    Cozinheir

    a Do lar Garom Aposentado Segurana

    TEMPO DECASADOS

    15 anos 29 anos 9 anos 10 anos 20 anos 6 anos

    TEMPO DESEPARADOS

    2 meses 3 anos 10 anos 2 anos 5 anos 2 anos

    QUEM DESEJOUSEPARAR

    Homem Homem Mulher Homem Mulher Homem

    J TEM OUTROPARCEIRO

    Sim Sim Sim Sim Sim Sim

    Fonte: Elaborao da Acadmica

    Como informado no quadro acima, foram entrevistados 3 (trs) homens e

    3 (trs) mulheres, que no eram um casal entre si.

    Esses participantes foram convidados a participar da pesquisa por meio

    de contato prvio para os agendamentos da entrevista. Primeiramente, foi solicitada

    uma autorizao do poder judicirio, para um contato com os participantes, que se

    utilizavam do servio de mediao familiar e, a partir disso, os usurios foramconvidados a contriburem com a pesquisa, atravs de entrevistas, as quais tiveram

    durao entre 20 e 60 minutos.

    6.6.3 Da Coleta e Registro dos Dados

    Os participantes da pesquisa foram informados que suas identidadesseriam mantidas em sigilo e ainda, foi solicitada a assinatura do termo de

    consentimento, para a gravao das entrevistas. A autorizao, por escrito um dos

    requisitos ticos para utilizar esse material com a finalidade de estudo. A

    pesquisadora se apresentou, informando que era estudante de 10 fase de

    psicologia da Unisul, apresentou o tema da pesquisa e, em seguida, fez o convite a

    eles, para participarem desta pesquisa, aps o atendimento da mediao. Todos

    que procuram o servio de mediao para efetivarem a separao concensual

    aceitaram o convite.

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    6.6.4 Da Organizao, Tratamento e Anlise de Dados

    Com a finalizao das entrevistas, o contedo adquirido foi transcrito.

    Aps a transcrio, os dados foram organizados em categorias para a anlise. Gil

    (2002, p. 134) explica que a categorizao consiste na organizao dos dados de

    forma que o pesquisador consiga tomar decises e tirar concluses a partir deles.

    Segundo Heerdt (2005), analisar sumariar as observaes, de modo

    que se permita responder problemtica. Com o objetivo de interpretao que a

    procura do sentido mais amplo para as respostas, fazendo uma relao com osconhecimentos anteriormente verificados.

    Minayo (1994, p. 74) acrescenta, que atualmente se destacam duas

    funes para a aplicao da tcnica. Uma refere-se verificao de hipteses e/ou

    questes, ou seja, para a autora atravs da anlise de dados que se pode

    encontrar respostas para as questes formuladas e tambm confirmar ou no as

    afirmaes estabelecidas antes do trabalho de investigao (hipteses). A outra

    funo diz respeito descoberta do que est por trs dos contedos manifestosindo alm das aparncias do que est sendo comunicado (MINAYO, 1994, p. 74). A

    anlise proporciona um olhar atento para os dados coletados. Segundo Deslandes,

    Neto e Gomes (apudMINAYO, 1994, p. 69) pode-se apontar trs finalidade para a

    etapa da anlise de dados:

    a) 1. estabelecer compreenso dos dados coletados;

    b) 2. confirmar os pressupostos da pesquisa;

    c) 3. responder s questes formuladas, ampliando o conhecimentosobre o assunto pesquisado, articulando-se ao contexto cultural do

    qual faz parte. Para a anlise dos dados no que refere-se as possveis

    mudanas encontradas, para verificar a re-significao das identidades

    dos participantes, apresentaram-se as categorias por eles utilizadas,

    aps o processo de separao conjugal.

    A apresentao das entrevistas seguem esta ordem: A primeira mulher

    que foi entrevistada foi definida por F1; a segunda, F2; e a terceira, por F3;

    respectivamente. O mesmo critrio foi utilizado com os homens. Uma mulher e dois

    homens relataram ter concludo o ensino mdio. Uma das mulheres tem o ensino

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    fundamental completo; a outra possui at a segunda srie do ensino fundamental; e

    por ltimo um homem disse ter cursado at a 7 srie do ensino fundamental.

    Os dados coletados nas entrevistas foram sintetizados e agrupados em

    categorias, com o intuito de atender aos objetivos desse trabalho.

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    7 ANLISE DOS DADOS

    7.1 IDENTIFICAR E COMPARAR OS SENTIMENTOS DE HOMENS E MULHERES

    APS A SEPARAO CONJUGAL

    7.1.1 Sentimentos que Produzem Sofrimentos

    Foi identificado, nas falas dos homens, os sentimentos sofridos aps aseparao, conforme fala de M2: [a gente sente um vazio, mas depois agente

    v que ela conseguiu um namorado e comeou a se encaminhar tudo.] Apesar

    de no haver uma ocultao dos sentimentos, pois os participantes falam de tristeza

    e vazio, pode ser verificado, que logo aps referir o sentimento de dor, veio

    acompanhado de uma justificativa, seguido por uma expresso que demonstrava

    uma aceitao. Expresses, como: tudo comeou a se encaminhar; ela no me

    amava mais; saudades da filha do casamento nada.Na fala das participantes do sexo feminino, foi possvel identificar

    sentimentos expressos de modo intenso: dio, tristeza; porm com um sentido de

    sofrimento que no expressa uma aceitao, como averiguado na fala de F1: [

    dio dele enorme, hoje esse final de semana, ele vai para uma pousada com

    ela, e o problema que ele vai com os nossos padrinhos de casamento, no

    acho justo [...].]

    Ao considerar essa diferena de significado no que se refere ao gnero,Giddens (2005) faz uma narrativa quanto aos papis sociais ensinados para

    meninos e meninas, ou seja, eles aprendem os papis mais adequados para cada

    gnero. Onde falar sobre sentimentos foi um papel ensinado s mulheres, e

    reprovados para os homens. Podemos deduzir que a aceitao seria, ento, uma

    forma de justificativa que os homens se utilizam para mascarar o quanto podem ser

    mais fortes que as mulheres. Papel este, aprendido socialmente, no qual os homens

    foram ensinados, que expressar sentimentos, os remete a uma condio de

    fraqueza. As origens de identidades masculinas ou femininas devem ser

    consideradas dentro de um contexto cultural nos quais as pessoas esto inseridas,

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    uma vez que foi ensinado ao homem esconder seus sentimentos, relacionados

    principalmente aos relacionamentos amorosos.

    Essa idia corroborada por (SILVA T., 2000). pois ele considera que as

    nossas identidades (de gnero e sexual), so vistas como processos conflituosos

    por no serem possveis de escolher, j que so frutos dos processos de

    socializao. importante, ento, reforar a idia sobre a expresso dos

    sentimentos nos homens, a qual est marcada pela cultura, onde muitas vezes

    eles mesmos reconhecem o sofrimento de uma separao, porm, os homens falam

    do sentimento, e pautam esses sentimentos seguidos de justificativas para se

    protegerem das crticas recriminadoras. Quando omitem ou justificam a aceitao,

    esto de alguma forma reforando a sua masculinidade.Enquanto isso, as mulheres ao expressarem os sentimentos de

    sofrimento como j nos explicitado, em fala recorrente para essa comparao no

    primeiro pargrafo, verifica-se a espontaneidade na fala, nos gestos e expresses

    confirmadores de emoo. Contrariamente a dos homens, essa condio de

    expressar os sentimentos favorecida s mulheres.

    Strey (2002), ao falar sobre hierarquia de gnero verifica, que, em

    consideraes de alguns autores, os papis tidos como simbolicamente masculinos,esto ligados caractersticas especficas ligadas ao cromossomo Y, como a

    questo agressividade. Ou seja, h uma naturalizao a respeito da maneira de

    ser do homem. A autora completa, que papis masculinos e femininos so

    influenciados por restries e aprovaes da sociedade. Pode ser observado no

    cotidiano, que para a mulher so atribudos comportamentos ligados fragilidade e,

    sentimentos que remetem a ser uma provedora, por isso cabendo a ela o cuidado

    com o outro. Possibilitando assim, para a mulher uma condio confortvel no quediz respeito ao expressar os sentimentos, sejam eles positivos ou negativos.

    Entretanto, como verificado neste estudo, os trs participantes

    expressaram seus sentimentos tanto quanto s mulheres, porm foi necessrio

    perceber e mostrar essas diferenas que de certa forma estavam implcitas na fala

    dos homens.

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    7.1.2 Sentimentos Contraditrios

    Na fala de duas particiapntes, a angstia foi relatada, assim como o

    medo, podemos identificar uma contradio na fala das participantes F2e F3 . F2:

    [a eu mudei, parecia que eu estava numa priso e me libertaram, apesar de

    tudo eu to livre, eu to livre de que? Da presena dele? No sei, ao mesmo

    tempo que eu to livre eu to angustiada.]

    Verificou-se como difcil para a participante esse sentimento de

    liberdade e de angstia ao mesmo tempo, ou quem sabe at mesmo de uma culpa,

    por sentir-se livre da presena dele. E ainda nesse processo, pelo qual a participanteest passando, h um sentimento de dor, uma dificuldade em definir esse

    sentimento.

    Anton (2000) discursa sobre casamentos desfeitos, que nem sempre

    resultam em quebra de alianas, pois existem casais que jamais quebram, desfazem

    os elos, criando ento, uma dificuldade, ou como no caso das participantes, uma

    justificativa para no seguir a vida com autonomia.

    Carneiro (1998) em pesquisa sobre o casamento contemporneo,confirma, tambm, o que observado na fala da participante F2, que existe a

    dificuldade de encerrar a conjugalidade. A autora pergunta, ento: como ser um

    sendo dois? Como ser dois sendo um? Referindo-se a dificuldade de quebrar essa

    identidade conjugal.

    J na fala de F3 percebida a presena de sentimentos de alegria e

    medo; a dvida, tambm aparece, agora, como uma condio de proteo, de

    manter-se na relao para no morrer? Sentimentos, esses, que tambm remetem auma contradio, porm a mesma justifica essa alegria, sentindo-se livre da

    violncia psicolgica e fsica a que era submetida. O medo, ainda, presente pela

    ameaa de morte que o ex-companheiro lhe fazia, caso o deixasse. Constata-se

    ento, a mulher na condio de fragilidade, de ameaa vida.

    O medo foi percebido atravs de expresses e gestos, como; choro, levar

    as mos ao rosto, bem como significado das palavras dadas por F3. Ela traz esse

    medo atrelado violncia domstica que estva submetida. Pode-se considerar a

    baixa auto-estima com base na sua fala como uma decorrncia da prpria condio

    da violncia. F3 traz em sua fala: [ [...] eu no cortava o cabelo, eu no pintava

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    mais o cabelo, eu era totalmente uma velha, e eu era mais nova, hoje eu sou

    mais velha e gosto mais de viver sabe.]

    Soares (1999), reflete a fala da entrevistada com atitudes atreladas

    mulher em condio de violncia domstica. Ou seja, a mulher desenvolve a baixa

    auto-estima;

    A entrevistada relata no haver se separado antes, por medo de algo

    acontecer vida dela. Ou seja, ela se submetia a estar casada com medo de pr

    sua vida em risco.

    7.1.3 Sentimentos de Bem-Estar

    Nesta categoria se inserem sentimentos de bem-estar com a separao.

    Ento, para comear a discusso, importante fazer uma referncia a fala da

    participante F3, sendo a nica entre as entrevistadas que expressou o sentimento de

    bem-estar. A partir dessa observao, possvel levantar a seguinte hiptese: a

    narrativa de bem-estar da participante, se deve ao fato de ela ter tomado a iniciativaem separar-se, motivadas pela violncia fsica e psicolgica, relatado por ela

    mesma.

    A unanimidade quanto a categoria bem-estar dos participantes homens,

    se manteve independente da condio da iniciativa da separao, sendo que dois

    deles tiveram a iniciativa de pedir a separao, enquanto apenas um, no fez essa

    opo, mas mesmo assim, relatou o sentimento de bem-estar. Este inclusive, no que

    diz respeito relao com uma nova companheira, a qual ajuda a proporcionar-lhemomentos agradveis vivenciados, os quais no eram vivenciados anteriormente.

    Considerando o exposto acima, pode-se concluir, que os homens esto

    mais dispostos a buscar uma nova relao para se sentirem melhor. Berger e Keller

    (apud CARNEIRO, 1998, p. 2) referem-se sobre a funo social do casamento,

    como uma funo de estabelecer uma determinada ordem para o indivduo,

    permitindo-lhes um novo sentido vida. Mostra, tambm uma maior necessidade de

    o casamento dar aos homens um sentido vida. Incluir os homens nessa categoria

    foi um critrio utilizado pela sensao de bem-estar que, inclusive, foi percebida no

    decorrer das entrevistas atravs de suas expresses corporais, como: risos e

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    gestos, levantar sobrancelha, e relaxamento dos braos seguidos de sorrisos.

    Comprova essa hiptese a fala de M1: [Eles falam que eu estou mais feliz, e eu

    me percebo mais feliz. At os meus filhos esto mais felizes, eles adoram a

    minha atual esposa]. relevante informar que na fala de M2 a iniciativa da

    separao no foi dele, mas mesmo assim o desenlace conjugal trouxe-lhe a

    conseqncia de estar melhor na condio atual, pois sua companheira compartilha

    com ele as atividades que lhe do prazer.

    A argumentao dos homens que encontraram a felicidade ao lado de

    outra companheira vem ao encontro do que Anton (2000) percebe sobre o

    casamento, como desejo de companhia, de aconchego, bem como, a necessidade

    que as pessoas tm de viver em grupos, percebendo a busca do parceiro como umareferncia organizadora. Essa autora descreve, que para algumas pessoas, a

    experincia da individualidade e da solido de grande valor emocional, porm para

    outras so extremamente negativas, seguidas de sentimentos como: excluso,

    abandono e menos-valia. Os dados desta pesquisa, no que se refere aos homens,

    parecem confirmar a afirmativa de que trouxe ganhos emocionais.

    7.2 IDENTIFICAR QUE CATEGORIAS HOMENS E MULHERES ADOTAM PARA

    ESPECIFICAR UMA POSSVEL IDENTIDADE, QUE SE CONSTITUI APS O

    PROCESSO DE SEPARAO CONJUGAL

    7.2.1 Nada Mudou

    Nesta categoria, trouxemos a fala de M3:[ No houve mudana,

    porque eu j tinha uma vida de solteiro enquanto casado]. Porm em outro

    momento, o referido participante apresenta um dado novo, que : quando foi

    questionado se seus amigos, parentes, entre outros, perceberam nele alguma

    mudana, ento, ele consegue ter a compreenso, durante aquele momento da

    entrevista, que as pessoas de suas relaes sociais perceberam sua mudana e

    utilizaram adjetivos do tipo: brincalho, despojado, melhorou o humor. A partir da

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    percepo dos outros, o participante M3se percebeu, ento, diferente, ou seja, uma

    melhora satisfatria, expressas pelos colegas e sentidas por ele mesmo.

    O participante M1, utilizou a expresso: nada mudou, mas se utiliza

    dessa frase quando refere-se a lazer e rotina do trabalho. Ento, a partir disso,

    possvel inferir, que o fato de nada mudar em sua vida aconteceu devido ao enlace

    com uma nova companheira, fato o qual acabou por manter a rotina de casado,

    relacionado ao lazer.

    No entanto, quando M1refere-se percepo dos outros em relao a

    ele, aps a separao, ele confirma a mudana, no que diz respeito ao estado de

    felicidade. Inclusive, o participante relata que todos perceberam como ele estava

    mais feliz, inclusive os filhos. Diferente de M3, M1 j havia percebido a mudananele mesmo, pois relatou ter notado a sua melhora no humor e a sensao de

    felicidade, quando as pessoas de suas relaes sociais comearam a perceber e lhe

    falar sobre sua mudana de atitude.

    A esse respeito, Grandesso (2006) traz a compreenso da identidade

    como um processo em aberto, sendo construda dentro dos espaos relacionais,

    com a possibilidade de constante desenvolvimento e mudana. Ou seja, nas

    relaes sociais que os dois participantes se deram conta de como estavamdiferentes aps a separao. A priori no perceberam, a mudana, mas a percepo

    das pessoas que fazem parte de suas relaes sociais foi fundamental para

    perceberem e aceitarem a re-significao de suas identidades, acontecendo aps o

    perodo de separao e posterior a uma nova unio.

    Silva (SILVA S., 2000), sustenta o argumento de que o panorama cultural

    influencia no comportamento, no qual as identidades podem ser moldadas, e

    apresenta a necessidade de que as pessoas tm de buscar uma identificao com ooutro, onde o autor explica uma ausncia da conscincia da diferena. Ora, o autor

    remete fala dos participantes, que num primeiro momento no se percebem

    diferentes, inclusive se utilizam de palavras como: rotina, no houve mudana. E

    somente a partir do olhar do outro que conseguem perceber a mudana ocorrendo.

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    7.2.2 Mudana no Lazer

    Os participantes homens relatam as mudanas de hbitos quanto aos

    lugares freqentados por eles aps o enlace. Foi percebido, com exceo do

    participante M1,que afirmou no haver alterao no lazer, pois quando se separou,

    foi conviver com outra companheira em seguida, ou seja, no houve uma retomada

    da individualidade, mas sim uma nova conjugalidade.

    O participante M3,a princpio fala que no houve mudanas, pois relatou

    ter vivido uma vida de solteiro quando estava casado. No entanto, no decorrer da

    entrevista, ele percebe, naquele momento, que apesar de possuir uma vida desolteiro, durante o casamento, aps a separao houve uma mudana sim, como

    confirma o relato: M3[Com certeza, eu me diverti mais, ela mais quieta e no

    era muito de festa, e eu mais de baguna, e as minhas amizades so, mais de

    festa, de se divert