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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO- SENSU TERAPIA DE FAMÍLIA A SEPARAÇÃO CONJUGAL E A CRIANÇA AUTORA ROSANE CAMPOS ORIENTADORA: MARIA ESTHER DE ARAÚJO OLIVEIRA Rio de Janeiro, julho, 2002.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU TERAPIA DE FAMÍLIA

A SEPARAÇÃO CONJUGAL E A CRIANÇA

AUTORA ROSANE CAMPOS

ORIENTADORA: MARIA ESTHER DE ARAÚJO OLIVEIRA

Rio de Janeiro, julho, 2002.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO LATO SENSU TERAPIA DE FAMÍLIA

A SEPARAÇÃO CONJUGAL E A CRIANÇA

ROSANE CAMPOS

Monografia apresentada no curso de Pós-Graduação em Terapia de Família, como requisito parcial para a obtenção do grau de Especialista, sob orientação da professora Maria Esther de Araújo Oliveira.

Rio de Janeiro, julho, 2002.

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“É na infância, no berço, que as crianças recebem dos pais os

ensinamentos emocionais que levarão para suas vidas.” Daniel Goleman PhD.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que caminhou comigo em toda essa jornada protegendo-me,

À minha família tão amada que esteve sempre presente e confiante,

À Mestre Maria Esther, que carinhosamente orientou-me na monografia.

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RESUMO

A questão central do estudo versa sobre o relacionamento entre pais e filhos, após a separação e/ou divórcio. O que permea esta questão é a demonstração de amor dos pais separados em relação à criança, no tocante à presença e qualidade no futuro relacionamento, que pode resultar no empobrecimento ou na riqueza dessa relação. A autora mostra, através da parte teórica e de relatórios de estudos de casos clínicos vivenciados, que a existência de vínculos entre mãe-filho e pai- filho constituem-se duradouros, transcendendo além da morte. A separação e/ou divórcio são rompimentos nos vínculos apenas do casal, cabendo aos pais administrarem essa fase com equilíbrio emocional, para que a criança compreenda o processo e se conscientize também dos ganhos que pode ter, e a certeza do afeto dos pais em sua vida.

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SUMÁRIO

RESUMO INTRODUÇÃO ............................................................................................07 CAPÍTULOS 1 - SEPARAÇÃO CONJUGAL .................................................................08 1.1 - Término do Casamento .........................................................................08 1.2 - A Criança Diante da Separação ............................................................13 2 - ASPECTOS COMPORTAMENTAIS NO RELACIONAMENTO FAMILIAR ...................................................................................................16 2.1- Comportamento Positivo entre os Ex-cônjuges e o Relacionamento com a Criança ..............................................................................................16 2.2- Comportamento Negativo entre os Ex-cônjuges e o Relacionamento com a Criança................................................................................................23 3- FUTUROS CAMINHOS DA FAMÍLIA SEPARADA .........................30 3.1-O Amor a Si Mesmo, à Criança e a Busca de Novos Objetivos de Vida ..............................................................................................................30 CONCLUSÃO..............................................................................................34 ANEXOS BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta como tema central a Separação Conjugal e a Criança.

Muito se tem discutido que o filho é produto do casal e que, após o nascimento,

floresce os laços afetivos entre os pais e a criança e, portanto, a mesma tem o direito de

continuar com o sentimento de pertencimento à família, recebendo os afetos e atenção de

ambos os progenitores de forma constante, assim como qualidade no nível das relações

familiares tão fundamentais para a sua formação infantil. Desse modo, hoje em dia, muito se

debate que o grande drama da vida não é a separação conjugal em si, mas sim os

comportamentos que os pais manifestam em relação aos filhos e o fato de muitos pais

separarem-se destes, face a esse possível evento da vida.

Em virtude do crescente número de separações conjugais e conseqüências destes na

vida infantil, estudiosos do tema, tanto psicólogos e demais profissionais da área de saúde, de

direito da família vêm realizando pesquisas, que evidenciam que a sensibilidade da criança é

notável, capaz de absorver as reações dos pais e reagir sintomaticamente aos conflitos, sendo a

via que conduz à busca do tratamento psicoterapêutico. A criança demonstra de forma

explícita ou implícita, através das sessões lúdicas, os sintomas e sentimentos angustiantes

decorrentes do conflito familiar. Com o tempo, com algumas consultas com os pais, estes

acabam descobrindo que o problema reflete a situação familiar, sendo a criança o porta-voz

dos pais. Essas crianças atendidas com situações de crise familiar, iniciando o processo da

separação e/ou divórcio, tendem a apresentar pais desnorteados com a sua própria vida e com

dificuldades de lidar com a temática com a criança . Uma vez que os pais encontram-se

despreparados emocionalmente, a separação conjugal tão presente em nossa sociedade,

denota os separantes necessitados também de apoio profissional para encontrarem forças

para lidar melhor com a separação e para viabilizar o processo relacional com os filhos, por

apresentarem-se confusos nessa etapa vital. A separação é o dispositivo que explicita a

dinâmica familiar conflitiva, impõe a reflexão e a ação, gerando mudanças na vida da família.

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O propósito dessa pesquisa monográfica e descritiva, fundamentada na parte teórica e

vivencial de psicologia clínica, abrangerá referenciais teóricos e relatórios de estudos de casos,

a partir de uma prévia experiência empírica, realizada no ano de 2000, em uma instituição

filantrópica do Rio de Janeiro. O objetivo do referido trabalho é estudar como se estabelece o

relacionamento entre os pais e a criança após a separação, enfatizando a importância da

presença dos pais separados na vida infantil, assim como a qualidade do relacionamento entre

eles e a sua influência benéfica ou prejudicial no comportamento dos filhos.

Esse estudo tem como a intenção maior, ressaltar que a criança necessita de ambos os

pais equilibrados, perseverantes frente aos obstáculos do fracasso do casamento, com

capacidade de demonstrar amor, principalmente quando separados, para contribuir com o

crescimento emocional saudável de seus filhos.

A questão a princípio que pretende ser investigada é a de que, quanto maior a

dificuldade de relacionamento e sentimentos hostis entre os ex-cônjuges na separação e/ou

divórcio, maiores serão as influências sofridas e refletidas em seu comportamento infantil.

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1 - A SEPARAÇÃO CONJUGAL

A Separação provém da rescisão de um contrato civil, especificamente para o

casamento, ou rescisão de um contrato de fato, união estável, regulamentada por lei. Esses

contratos envolvem sentimentos pessoais, que sofrem interferências e reflexos de terceiros,

especialmente os filhos. A separação tem início justamente quando há a impossibilidade do

casal viver juntos, no momento em que um ou ambos os cônjuges partem para a comunicação

e/ou ação que clarifica a insatisfação e demonstra a alternativa buscada para desfazer a

relação. Essa separação conjugal é um processo longo que compreende o término do

casamento e suas repercussões na vida dos membros familiares. A finalização do matrimônio

inclui a separação que é a época de maior turbulência emocional e a fase posterior, a pós-

separação (divórcio propriamente dito), quando a relação marital é oficialmente inexistente.

Em todo o processo da separação, os membros familiares costumam estar

emocionalmente abalados, principalmente à criança devido a sua imaturidade para

compreender a complexidade desse evento. Abordar o término do casamento e as reações

infantis é o que se propõe esse primeiro capítulo.

1.1 - Término do Casamento

Em nossa cultura, o casamento sempre foi um projeto social estimulado, a fim de ser

realizado com a promessa para o caminho da felicidade. Os seres humanos crescem ouvindo a

célebre frase: “casaram e viveram felizes para sempre.” O casamento promete ser a forma

social encontrada para a felicidade plena, buscado como experiência que propiciará a

comunhão afetiva da qual resultará filhos. O casamento como a união civil impõe direitos e

deveres, para ambas as partes. E, a violação desses deveres ou a não observância no direito do

parceiro (a) pode culminar o rompimento dessa relação que começou com tantos sonhos e

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ilusão, portanto há de observar-se que quanto melhor relacionamento, diálogo,

esclarecimentos, e a compreensão mais preparados estarão os parceiros para enfrentar o árduo

caminho da felicidade, sob pena de trilharem caminhos diversos constituindo uma

desigualdade que impossibilitará a caminhada de mãos dadas.

O casamento que deveria ser rico em afinidades, respeito, amizade e amor tornara rico

em elementos prejudiciais ao casal , tornando-o em inimigos íntimos.

Mister se fazer clarificar que o casamento é uma relação de construção, devendo o casal

respeitar as individualidades, as opiniões, e estímulo no crescimento pessoal e profissional do

outro.

A separação sepulta todas esperanças oriundas do enlace conjugal, desde os mais

brilhantes sonhos com a lua de mel, até os projetos mais audaciosos de patrimônio e

quantidade de filhos a serem gerados. Os percalços até a separação pode ser longo , naquele

inclui-se a desilusão, o desamor, o desrespeito, os desajustes, o egoísmo, e as mais variadas

formas de desavenças, fragilizando a relação, afastando o mais belo e fundamental

ingrediente da relação : o amor. A separação causa, para alguns, os piores sentimentos sofridos

pelos seres humanos, embora talvez esses sejam inevitáveis , para outros a separação pode

trazer uma sensação de alívio e dor, e a chance de retomar seus sonhos e projetos de vida .

Muitos optam por tentar a reconciliação, buscando até ajuda através de novas atividades

a dois, mais lazer, freqüentar entidades religiosas que possuem programas de encontros de

casal e psicoterapia, e em alguns casos podem até surtir efeito. Mas, em muitos casos, quando

o casal se dá conta, não há mais saída, a reconciliação é inviável e aí surge o sentimento forte

de ambivalência e alternância entre o medo , culpa e raiva.

Com o término da relação surge as frustrações e termina com a acomodação, muito

peculiar em casamentos mais antigos, surge aí o primeiro grande problema: o medo. O medo

da solidão, da incerteza de novos relacionamentos, de novas decepções, e de como se

adaptará a nova vida sem uma companhia.

Outro sentimento bastante comum é a culpa. Essa é utilizada, inicialmente como

acusação, mas, há intimamente também uma grande culpa pelo fracasso do relacionamento.

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Os sentimentos que permeiam o casal podem ser , geralmente, por culpa daquele que

tomou a iniciativa, como o sentido de estar abandonando a família. O sentimento de culpa

pode aflorar acompanhado de remorso, por ter decidido em conflito com uma esperança.

Enquanto isso o outro cônjuge que não queria a separação ou não tomou a iniciativa, pode

sentir a rejeição e o abandono, tendendo a uma depressão ou isolamento.

Outro sentimento muito presente é a raiva. Motivada pelo excesso de frustrações, ou

pelo próprio sentimento de abandono o cônjuge descarrega parte de sua incapacidade de

contornar situações para agredir e atribuir ao outro parceiro toda a causa de seu sentimento.

Nesse sentido os conflitos são constantes e bastantes duradouros , inclui-se ainda a

chantagem, a revanche e a vingança, tudo com propósito de não mais começar de novo, mas

para fazer com o que o outro cônjuge sinta na pele exatamente o mesmo que esse.

O fracasso nas relações se justifica pelo não conhecimento de si mesmo e pela projeção

que se faz no outro tornando-o responsável pela felicidade de ambos. Quando esse fato ocorre,

o casamento não sobrevive, pois não existiu o esforço de cada um para construir uma relação

de amor, de crescimento, aprendizagens e respeito e maturidade emocional.

Existem muitos fatores que contribuem para o desconcerto conjugal na atualidade, a

insegurança, busca de realizações no outro, insatisfação em relação a si mesmo, transferência

de objetivos, não aceitação real das diferenças religiosas, da nacionalidade, de raça, de posição

social, o amor infantil constituído de ambição, posse, ciúme exagerado, ansiedade afetiva,

cobrança de carinhos e atenções, carência afetiva, depressão de um dos cônjuges, desrespeito

pela individualidade do outro, necessidades neuróticas, união como fuga da repressão dos pais,

união como “tábua de salvação”, paixão e não o verdadeiro amor, solidão, que, entre

múltiplos fatores imerge mais intensamente e naufraga o matrimônio.

Segundo Maldonato (2000), a vida dos seres humanos é repleta de situações novas que

exigem períodos de adaptação e que envolve momentos de desafios para vencer o novo e

ajustar-se da melhor forma a esta nova mudança. A separação conjugal é uma das situações

novas, marcantes, com probabilidade de ocorrer e, por esse fato, envolve mudanças repentinas

no estilo de vida, da família intacta, aflorando a tensão emocional refletidas futuramente

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no relacionamento pais- filhos. Essa separação e/ou divórcio são marcantes, porém nem

sempre catastróficas ou traumáticas.

A separação e/ou divórcio vem atender à demanda do desajuste familiar, cuja

existência de desavenças, brigas e até impossibilidades de convívio conjugal são os elementos

essenciais para o término do casamento. Separar-se envolve um certo temor em relação ao

novo mundo que enfrentará, faz surgir um turbilhão de emoções que torna a vida do cônjuge

ainda mais tensa. Essa tensão emocional presentifica a explicitação da frustração de um

projeto tão idealizado e a sensação de incompetência, e , às vezes, a culpa de não saber

administrar a vida conjugal. A presença na sociedade do seu novo papel com as circunstâncias

que lhe rodeiam ,assim como a existência de filhos costumam levar os pais a refletirem e

hesitarem, antes de tomar a decisão da separação.

Muitos casais apresentam dificuldade em separar-se “civilizadamente”, devido aos

sentimentos e ressentimentos que nutrem pelo outro nesta fase tão repleta de dores, ódios,

acusações e transformações. Na transição para o novo, se reavivam lembranças e emoções de

perdas, separações anteriores e até muito antigas. A perda do cônjuge desperta, em alguns

casos, desamparo, temor infantil e insegurança. È uma época de regressão que aviva os

conteúdos latentes.

A crise conjugal assemelha-se à crise existencial no tocante à referência egóica. O ser

não tem conhecimento de si, tem muitas dúvidas quanto ao caminho a escolher. E, apesar da

pressa em dar um passo adiante, não sabe qual a alternativa a seguir, quais os desafios a

enfrentar e o quantum de forças que terá para superar a crise. Nesse período, são muitas as

sensações sentidas. Sente-se perdido, desnorteado, repleto de incertezas, sensação de vazio,

alívio, angústia, esperança, desespero, euforia, tristeza, culpa e insegurança. Maldonato , em

sua obra ressalta a respeito da crise: “A crise, na verdade, é um purgatório, um período de

passagem que irá consolidar uma situação melhor ou pior .” (Maldonato, 2000, pág.12).

Em relação a esse momento crucial, a crise é o dispositivo determinante que levará o

ser humano à realizar suas escolhas. Cada um “escolherá” seu caminho de acordo com sua

capacidade de lidar com as frustrações.

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O indivíduo poderá optar pela estagnação, enclausurando-se em sua depressão,

cristalizado em seu rancor, ódio e perseguição na vida do ex-cônjuge ou buscar o crescimento,

sobrevivendo à experiência, de forma amadurecida, através do resgate de seus projetos

pessoais, aumentando sua auto-estima.

De acordo com Wallerstein e Kelly (1998), o processo da separação e/ou divórcio

inclui obstáculos psicológicos e sociais que envolvem os pais e a criança numa fase

considerada muito difícil para ser administrada pelos membros familiares. A fim de explicar

melhor a referida fase, as autoras relatam:

“O divórcio é uma cadeia de eventos, uma série de mudanças legais,

sociais, psicológicas, econômicas e sexuais, encadeadas e estende-se ao

longo do tempo. O divórcio é um processo que inicia com a crescente

perturbação do casamento, geralmente atinge um pico na separação e no

processo legal, e depois introduz vários anos de transição e desequilíbrio

antes que os adultos sejam capazes de obter, ou recuperar, um senso de

continuidade e confiança em seus novos papéis e relacionamentos”.

(Wallerstein e Kelly, 1998, pág.14)

Quanto ao processo da separação e/ou divórcio, Seibt apud Prado (1996) atribui que

este acaba com o casamento, com as relações maritais, mas não com a família. Desse modo, o

divórcio é a alternativa social que tem por finalidade reestruturar a mesma.

Nesse sentido, Gottman (1997) acredita que a família desestruturada, centrada num

casamento doente, repleta de conflitos conjugais torna-se prejudicial à criança. Diante deste

fato, o divórcio é a solução encontrada para reestruturar a família e, deve ser realizada com a

inteligência emocional dos separantes, a fim de favorecer uma saudável reestruturação

familiar, que permita à guarda e visita dos filhos, no tocante à qualidade de relações afetivas

destinadas à criança. Assim como, a garantia dos vínculos permanentes entre os mesmos.

Nesse sentido, é de fundamental importância os pais, separados, terem consciência de que tipo

de “modelos” emocionais materno/paterno são para seus filhos.

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1.2 - A Criança Diante da Separação

Para Prado (1996), as crianças são muito sensíveis, espertas e atentas ao ambiente

familiar.

Quanto ao clima familiar, o autor comenta que as crianças percebem o clima de

tensão ou de harmonia presente entre os seus pais. E elas, reagem simultaneamente à estrutura

familiar. As reações infantis diante da separação ou do casamento tumultuado dependem da

sua faixa etária, imaturidade, temperamento, capacidade egóica de lidar com a tensão, o

manejo e a comunicação que recebem dos seus pais. Também dependem do clima existente

antes da separação; no caso de existir violência familiar a sensação pode ser de alívio geral.

Na época da separação dos pais, a maior parte das crianças apresenta reações e

sintomas como forma de expressar sua angústia, tensão e insatisfação do estresse que

vivenciam e das mudanças repentinas que ocorrem, lhe causando grande ansiedade e

expectativa do futuro.

Maldonato (2000), destaca que as crianças mais sensíveis e com maior clima de tensão

na fase da separação, são aquelas que apresentam sintomas e também alterações de conduta e

de sono, funcionando como verdadeiras “caixas de ressonância” dos conflitos dos pais.

As crianças sentem-se inseguras, angustiadas com as discussões e brigas do casal,

assim como com o silêncio que sinaliza a tensão e o mal-estar existente entre os pais. Essas

crianças tendem a se isolar em seu quarto, ficam mais caladas, demonstram tristeza, choram

com facilidade diminui sua capacidade de concentrar e aprender, pode mostrar ao invés de

inibição e retraimento, uma agitação maior, necessidade de chamar atenção, irritabilidade,

mau-humor, agressividade, e dificuldade de relacionamento com os colegas.

Wallerstein e Kelly (1998), em seus estudos apontam que quanto mais nova for a

criança, maior será a imaturidade para compreender o evento da separação e suas

conseqüências. Em virtude da imaturidade infantil, de depressão do casal, dificuldade de

separar “civilizadamente”, de forma amigável, as crianças ficam sobrecarregadas com a tensão

dos separantes.

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As referidas autoras pretendem mostrar que tanto o casamento infeliz quanto o divórcio

impõe uma série própria de estresses às crianças e aos próprios pais envolvidos. E, as

respostas infantis frente ao estresse da separação e/ou divórcio podem ser várias e costumam

ser intensificadas com o convívio do estresse dos pais.

As reações infantis que a criança costuma apresentar são diversas: medo de serem

abandonadas e deixadas sozinhas, desnorteamento, tristeza, choro, irritabilidade, ataques de

raiva; regressão mostrada na recusa de continuar ir à escola, tentar impedir a saída da mãe

para o trabalho, voltar a brincar com brinquedos anteriormente abandonados e de buscar o seu

cobertor de segurança; fantasias para compensar a ausência de uma explicação da separação e

da falta de reasseguramento afetivo por parte dos pais; negação da fantasia para tentar reverter

o insuportável senso de rejeição dos mesmos e para ainda sentir-se a mais amada; aumento ou

inibição da agressão; carência emocional demonstrada na busca de maior contato físico para

obter maior afeto e cuidados; sentimento de rejeição e abandono pelo progenitor que partiu;

inibição diante do pai e raiva diante da mãe; sintomas somáticos, como diversos distúrbios

psicossomáticos que expressam o adoecer psíquico e alinhamento a um dos pais, como

extrema identificação com um progenitor para poder juntos “atacar” o outro progenitor.

A depressão infantil é presente na fase da separação e foi o principal achado

psicopatológico diagnosticado pelas autoras. O comportamento depressivo infantil e seus

sintomas incluem baixa auto-estima, tristeza, dificuldades escolares como desempenho abaixo

do potencial, atenção diminuída, prejuízo no relacionamento no tocante ao retraimento,

hiperatividade, intensa preocupação com o divórcio, irritabilidade e distúrbios psicossomáticos

como alopecia, enurese, encoprese, asma entre outros.

Infelizmente, poucas são as crianças que vivenciam essa fase da separação com menos

tensão, que recebem uma comunicação clara e eficaz dos pais a respeito do acontecimento e

que são reasseguradas do amor e do contínuo afeto. Essas crianças, embora tensas nesse

período, vivenciando um momento difícil, doloroso, tranqüilizam-se no momento que

percebem que o vínculo entre ela e os pais separados continuam na pós-separação e até

podem melhorar.

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Essa adaptação à separação ocorre mais facilmente quando a criança tem a exposição

clara dos acontecimentos, recebem a informação de que os vínculos afetivos prosseguem e,

apesar dos pais estarem com pouca disponibilidade em relação à criança nesse momento,

conseguem comunicar-se com ela, a escuta, esclarece suas dúvidas e lhe dar atenção. A atitude

dos pais ajudará a criança a enfrentar essa fase, diminuindo sua angústia e insegurança e

demais sintomatologias. Quanto ao sintoma, Maldonato define como: “... O sintoma é uma

linguagem que fala das reações de angústia pelas dificuldades de viver com os pais num

casamento conturbado ou no período inicial da adaptação após a separação.” (Maldonato,

2000, pág. 171).

Atualmente, observa-se que a questão central a respeito das reações infantis, dos

distúrbios psicossomáticos e da aprendizagem relacionados à separação, estão intrinsecamente

relacionados à carência afetiva da criança, à insegurança que esta fase proporciona, ao seu ego

frágil para suportar o estresse da separação e, principalmente pelos comportamentos dos pais

neste período estressante.

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2 – ASPECTOS COMPORTAMENTAIS NO RELACIONAMENTO FAMILIAR

A questão abordada neste capítulo é essencial para explicar os entraves e contribuições

no relacionamento após a dissolução do casamento, pois os pais são a base de sustentação dos

filhos.

Como já foi explicado anteriormente, a separação e/ou divórcio designa oficialmente a

falência da relação marital. Essa deve ser muito bem administrada, pois pode desestabilizar

emocionalmente os filhos.

O rompimento do vínculo é de marido e mulher e não o de pai e mãe. O processo de

desvinculação inicia nas etapas finais do casamento e perdura por algum tempo após a

separação, ocorrendo a partir do momento que o progenitor “desliga-se” do ex-cônjuge, em

busca da construção de um novo vínculo.

A qualidade e a quantidade no relacionamento com os filhos é fundamental a partir

desse período.

O presente capítulo contém o embasamento teórico e estudos de casos realizados em

uma instituição filantrópica de reabilitação infantil do Rio de Janeiro, no ano de 2000.

2.1 – Comportamento Positivo entre os Ex-Cônjuges e o Relacionamento com a Criança.

Dolto (1989) concebe o divórcio como um mal menor que visa cessar o clima

insuportável existente entre o casal. Nesse sentido, enfatiza a importância dos pais

humanizarem a separação, através de atitudes responsáveis que venha explicitar o término do

casamento, com clareza na comunicação com os filhos e no dever absoluto dos mesmos em

desempenhar o seu papel materno/paterno na vida da criança, fazendo-se presente durante e

após a separação conjugal.

A humanização dos pais de forma responsável e amadurecida diante do divórcio, vem

ajudar a preservar na criança sua afeição, tanto pelo pai quanto pela mãe.

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Afirma Maldonato (2000), que a atitude dos pais de preparar a criança para a

separação através de uma comunicação sincera, clara e objetiva do acontecimento e das

possíveis conseqüências, ajudam à criança a reagir melhor a esse evento.

Os cuidados realizados com atenção e carinho na preparação da época da separação,

valoriza a criança, a faz sentir-se amada, tranqüila, confiante e protegida.

A existência dos bons aspectos do vínculo entre os pais diminuem o impacto da

separação nos filhos, por compartilhar a educação e o desenvolvimento infantil.

Wallerstein e Kelly (1998) em seus estudos, abordam a questão da importância da

continuidade do vínculo entre os pais e a criança, após a separação. Os pais que valorizam a

continuidade de seus relacionamentos com os filhos, são os que exercem a função paterna

como uma das prioridades em sua vida. São pais visitadores, que levam a criança para sua casa

nos finais de semana, onde a mesma tem um lugar reservado e telefonam quase sempre para

saber como o filho está passando. Exercem esforços constantes para conquistar e manter um

lugar respeitado na vida dos filhos.

As referidas autoras explicam que um relacionamento com qualidade é aquele no qual

a criança recebe dos progenitores, atenção, apoio, proteção, amor e estímulo para crescer

emocionalmente saudável.

Os comportamentos dos progenitores que incluem qualidade, dizem respeito ao bom

relacionamento entre pais e filhos e a ausência de vingança e ódio entre os ex-cônjuges. A

quantidade refere-se à regularidade e flexibilidade das freqüências das visitas, nelas incluídas

as datas comemorativas tais como: aniversário, dia das mães, dia dos pais, dia da criança e

natal.

Em relação à qualidade emocional nos relacionamentos, Gottman (1997), enfatiza em

sua obra, a importante necessidade dos pais em permanecerem emocionalmente presentes na

vida dos filhos em época de tumulto familiar.

De acordo com esse autor, a inteligência emocional dos filhos aflora, quando os pais

conseguem manter um relacionamento sadio.

Verifica-se que os comportamentos dos pais, quando positivos, refletem um

crescimento emocional saudável na formação da vida da criança.

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Observa-se no caso 01, que apesar da dor inicial na separação, os pais da criança

conseguem manter o respeito em relação ao outro, não agredindo-se permanentemente, tendo

um equilíbrio emocional a respeito da situação. A tolerância, o relacionamento amistoso e a

flexibilidade entre os pais para dar continuidade ao vínculo entre pais e filhos encontram-se

presentes. Através do caso, pode-se notar outros comportamentos positivos.

CASO 01

ENTREVISTA REALIZADA COM A MÃE DA CRIANÇA

QUEIXA / MOTIVO DA CONSULTA:

A mãe compareceu com a criança, trazendo um encaminhamento médico, no qual o

dermatologista solicitava o atendimento psicológico infantil devido a criança apresentar o

quadro sintomatológico de alopecia areata evoluindo para alopecia totalis.

A criança encontrava-se com grandes áreas das peladas na cabeça, sendo notável a

grande perda do cabelo. Usava uma peruca para disfarçar. A criança tirou a peruca para

mostrar e em seguida, colocou-a dizendo que tem vergonha de estar ficando careca. Após a

saída da criança, foi realizada a entrevista e anamnese.

Paciente : K.M.G

Sexo: Feminino

Idade: 7 anos

Escolaridade: 1ª série

Pai: F.G., 42 anos, Professor de Educação Física

Mãe: C.M.S.G., 34 anos, professora primária(1º segmento )

Religião da família: espírita kardecista

Gestação: normal

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Parto: cesariana

Filha única

Alimentação: quando bebê mamou no peito até um ano. Não teve problemas para passar do

líquido para o alimento sólido. Atualmente, se alimenta bem, mas prefere as “besteiras” como

lanches.

Des.Psicomotor: Normal

Sono: Normal, um pouco de agitação quando o casal discute .

Medo: de escuro e dos pais brigarem

HISTÓRIA FAMILIAR:

Os pais da criança casaram e, dois meses após o matrimônio surgiu a gravidez. Embora

não tivesse sido planejada para tão recente, foi uma alegria para os mesmos.

Viveram bem até a criança completar seis anos. Desse tempo para cá, havia muitos

desentendimentos entre o casal, discutiam por tudo e cada vez mais, um não tinha paciência

com o outro. Ele chegava tarde do trabalho e ela queria voltar no tempo, estudar, passear com

as amigas. Os interesses de um diversificavam do outro. Em virtude disso, a criança assistia as

discussões e percebia o clima de tensão e tristeza no lar. A mãe constantemente chorava.

Nesse período, K. estava na primeira série e muitas vezes pedia para não ir à escola para poder

ficar em casa com a mãe. Sempre foi muito agarrada com o pai e ficava triste e nervosa

quando ele saía e demorava a voltar. Tinha medo que ele fosse embora de casa.

O pai era atencioso com ela, brincava, mas tinha pouco tempo para ficar junto de K.

Em casa, sempre sua esposa arranjava algo para ele fazer.

A separação ocorreu quando a criança tinha seis anos e meio. O pai após mais uma

discussão com a mãe saiu para trabalhar e não mais voltou. À noite, telefonou e comunicou

que não aguentava mais viver o “inferno” daquele casamento. A mãe embora não vivesse bem

com o marido comentou que “foi pega de surpresa” e não esperava que ele tomasse aquela

atitude.

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O pai só conversou com a filha pelo telefone três dias depois, pois não se sentia com

coragem de dizer à filha que não iam mais morar juntos. A mãe por “não sentir-se preparada”

pediu que o pai ao aparecer para ver a filha ficasse no portão, pois não queria vê- lo naquele

momento. Também que a levasse para passear, mas que esperasse um pouco antes de passar os

finais de semana inteiro com ela. Como ambos sentiram-se fragilizados com a separação e

para não brigar novamente, somente um mês depois, o pai passou a levá- la para permanecer

com ele os finais de semana alternados. Conseguiu então,explicar a criança que estava

morando na casa dos avós e, que assim que fosse possível a levaria para conhecer uma nova

casa e que ele continuaria a gostar dela mesmo estando um pouco distante.

K. desde a época das discussões dos pais demonstrava ficar nervosa, chorava com

facilidade e abraçava o pai e pedia para eles não brigarem. Quando o pai saiu de casa, K.

piorou, passou a chorar mais e ficar impaciente com tudo. A mãe fez de tudo para que ela

pudesse suprir a falta do pai, numa tentativa de ser mãe e pai, mas a criança chorava, não

entendia o motivo pelo qual ele não a levou junto. Depois de dois meses, o cabelo de K.

começou a cair, a mãe passou a trocar de shampoo, mas não resolvia.

Levou-a a dois dermatologistas e, embora prescrevessem remédios (imipramina) e

loções (desonol, shampoo jaborandi entre outros) não obteve o resultado esperado. Ambos

disseram que a alopecia era de fundo emocional, iam tratar com medicamentos, mas deram o

encaminhamento para o tratamento psicológico. Os pais por acreditarem que seria de causa

orgânica não buscaram o serviço de psicologia. Somente depois, quando perceberam que a

criança não tivera resultados, a mãe resolveu buscar a psicoterapia infantil.

TRATAMENTO:

Foram realizadas vinte e nove sessões lúdicas com a criança, num período de sete

meses de tratamento, com trinta minutos de duração. E, orientações aos pais de K.

separadamente.

Desde o início, a criança gostou do atendimento lúdico. Houve a aliança terapêutica e

transferência positiva.

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A criança em todas as sessões solicitava a participação da psicóloga nas brincadeiras.

Gostava de brincar de casinha, demonstrando o conflito familiar, de massa de modelar,

teatrinho e joguinhos de competição. Quando perdia insistia até ver se conseguia ganhar. Não

gostava de perder nos jogos demonstrando a dificuldade de aceitar outras perdas, como a

ausência do pai de sua casa, perdendo o contato diário. Verbalizava bastante, tinha um

comportamento agitado. Não ficava sentada muito tempo, queria fazer muitas brincadeiras no

consultório. Parecia ansiosa ao brincar com a família de bonecos. Não gostava de se olhar no

espelho e nem de desenhar. Às vezes desenhava e rasgava jogando no lixo. Dizia que não

gostava de desenhar e que ficava feio os desenhos.

Através da avaliação psicodiagnóstica, percebe-se que a criança tinha um perfil de

dócil, obediente, tímida, imatura, insegura, ansiosa, temerosa, com baixo limiar à frustração.

A criança demonstrava uma agressividade reprimida, necessitada de maior afeto.

Sentia a necessidade de chamar atenção no que estava fazendo, desejando ter a certeza que é

amada pelas pessoas. Revela ser criativa, dinâmica e com senso prático. Apresentou depressão

nos testes. Apresentava insegurança afetiva e carência, não confiando em si mesma. Baixa

auto-estima. Percebia o clima familiar conflituoso e a depressão dos pais. Sua mãe era uma

pessoa que tinha ambição, mas com tendência à depressão. Mostrava-se gratificante nas

situações cotidianas.

Quanto à mãe, parece possuir uma personalidade dominadora, exigente,

perfeccionista, controladora e preocupada com a doença da filha.

Em relação ao pai, sente-o como passivo, triste, amigo, mas agora, pouco atencioso

com ela. Sente sua falta.

K. somatizava sua ansiedade por não conseguir entender o que estava ocorrendo e por

temer que seu pai pudesse deixar de gostar dela, uma vez que não a levou consigo.

Demonstrando a fase em que sentiu seu pai longe dela ao sair de casa, tendo sua mãe

ao seu lado, época que não entendia ainda a separação, devido a não comunicação do ocorrido,

K. revela a família separada em seu desenho (anexo 1).

O cabelo de K. logo nas duas primeiras semanas acabou por cair, como já era esperado,

pelo quadro que apresentava e, já havia sido alertada pelo médico a esse respeito da queda.

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Dois meses depois, seu cabelo começou a crescer, devagar, quando pôde expressar sua

insegurança, externalizar sua agressividade, ansiedade e fantasias nas brincadeiras lúdicas.

Nessa época do crescimento do cabelo, a mãe já havia iniciado uma psicoterapia. O pai já

havia comparecido às entrevistas de orientações aos pais, mostrava-se empenhado em fazer

todo o possível para ajudar a filha, conseguia explicar a separação à criança e dava a certeza

de que ela teria o seu afeto, levava a criança para passar os finais de semana alternados para a

casa nova dele e lá tinha um quarto montado especialmente para a filha. O pai e a mãe aos

poucos foram conversando melhor e tratavam dos assuntos pertinentes à filha. Cada um já

planejava seu caminho e buscava sua realização pessoal.

K. estava mais feliz com os pais, sentindo-os mais presentes em sua vida e expressa

sua alegria no desenho em que quer dar dois corações, um para o pai e outro para a mãe.

Ainda está se adaptando à separação e já compreende que esta não envolve só perdas, mas

também ganhos.

Posteriormente, o pai arrumou uma namorada e foi cautelosamente as aproximando.

Tendo a certeza do afeto do pai, e a simpatia da nova “esposa” que lidava com ela com

carinho, sentiu-se mais segura. O pai passou a telefonar para a filha no meio da semana e em

concordância com a mãe da criança a pegava para passear mesmo em dias fora das visitas,

tornando-se mais presente ainda. Quanto à mãe da menina, já tinha namorado e não se

incomodava com a relação da filha com o pai e a nova esposa, uma vez que percebia que a

criança era bem tratada.

O cabelo de K. cresceu, não precisando mais de peruca. Quando teve alta, o cabelo

estava curto, mas K. demonstrava alegria, segurança, estava vaidosa, se olhava no espelho, já

gostava de si mesmo, aumentado sua auto-estima. Não sentia carência dos pais, sentia-se

amada por eles. Não necessitava do sintoma para expressar sua angústia e incertezas.

A menina K. no final do tratamento lúdico, estava feliz consigo, achava-se bonita.

Tinha a certeza do amor dos pais e do lugar dela na vida deles. Tinha duas casas, duas festas

de aniversário e, até mais atenção de ambos os pais. O desenho agora, já possui cor e demostra

a satisfação com ambos os pais ( Ver anexo 3).

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A intervenção inicial destinada a criança veio a beneficiar os pais que puderam buscar

refletir sobre a doença da mesma e seus novos rumos.

DIAGNÓSTICO: Transtorno (distúrbio) Psicossomático do Sistema Dermatológico: Alopecia

Totalis.

2.2 – Comportamento Negativo entre os Ex-Cônjuges e o Relacionamento com a Criança

Dolto (1989) em sua obra, comenta que um dos comportamentos errados dos pais, é

tentar esconder por um bom tempo os desentendimentos e a decisão da separação para os

filhos, pois esses são sensíveis e capazes de perceber a desestruturação existente no lar.

No seu ponto de vista, os sofrimentos inconscientes da criança estão articulados com o

não-dito ou com a mentira dita pelos pais para o “bem” da criança. Essa atitude de escamotear

o conflito familiar é mais traumatizante do que revelar a verdade cautelosamente.

De acordo com Maldonato (2000), as atitudes dos pais de mentir e omitir os

acontecimentos no processo de separação são prejudiciais à criança, por torná- la mais confusa,

sem confiança nos pais e por aumentar suas dúvidas e tensão sobre o momento que vivencia.

Muitos pais cometem o erro de não conseguir conversar com a criança nada a respeito

da separação e/ou divórcio, das visitas, guarda do filho, devido a sua fragilidade emocional.

Essa atitude promove uma grande insegurança na criança.

Outro aspecto negativo no comportamento dos pais é quando eles se mantêm numa

gangorra de separa-não separa ou que separam-se várias vezes e em seguida reconciliam-se,

alternando a separação e a união conjugal provocam um estado de angústia, ansiedade e

incertezas na vida infantil.

A autora ainda relata, que os sentimentos de raiva, insegurança, mágoa ou vingança

dos pais circulam no processo de separação tornando-o um fator negativo por envolver a

criança nos sentimentos que pertencem somente aos adultos. Outro modo de envolver a

criança, é utilizá- la como mensageira, escudo e arma de ataque, manipulando-a para extorquir

mais dinheiro e benefícios para o outro ex-cônjuge.

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Ela também pode ser transformada em espiã para vigiar e informar a vida do outro ex-

cônjuge. Trata-se de um desrespeito à criança, forçando-a a ter comportamentos que lhe

desagrada e lhe deixa insegura.

Ainda segundo a autora, a parte negativa do processo de desvinculação é quando existe

o sentimento de posse, necessidade de controle, explosões de raiva, ódio, perseguição, desejo

de vingança, ressentimentos revelados por ameaças e críticas, cobranças de pensões, visitas

que dificultam a resolução efetiva da separação, numa tentativa de aprisionar o outro. Essa

dificuldade de desvincular-se objetiva a destruição do outro e a tentativa de impedir que este

encontre a sua felicidade.

A respeito do aspecto negativo pós-separação Wallerstein e Kelly (1998), enfatizam

que a descontinuidade dos vínculos entre pais e filhos são prejudiciais para a formação da

criança. E, esse distanciamento é tão sofrido como a morte dos pais em que a criança vivencia

o luto.

De acordo com as autoras, os relacionamentos entre os ex-cônjuges constituídos de

constantes atritos, pautados em um comportamento egocêntrico, de disputa, na

irresponsabilidade e imaturidade dos pais promovem uma insatisfação afetiva na criança. A

conseqüência desse fato, é a tristeza, depressão, sensação de rejeição, baixa auto-estima e

tensão emocional.

Outro ponto de comportamento prejudicial são as visitas infreqüentes ou irregulares e a

ausência, que causam desapontamento nas crianças.

Ressaltam ainda as autoras que, a instabilidade psicológica e doença psiquiátrica dos

pais afetam a criança piorando a qualidade no relacionamento entre eles.

Para Gottman (1997), tanto no casamento quanto no divórcio, a intensa hostilidade,

desprezo e falta ou obscuridade na comunicação, contribuem diretamente para o sofrimento da

criança.

Prado (1996), aponta que as separações mal-elaboradas pelos progenitores, assim como

as famílias em dissolução costumam constituir-se de crianças com problemas de conduta,

distúrbios psicossomáticos, depressão, ansiedade e problemas de aprendizagem.

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Verifica-se no caso 02, que entre os demais comportamentos negativos dos pais estão

as dificuldades de administrar as suas emoções, de lidar com suas frustrações, de preservar a

criança longe de suas rivalidades e de manter o vínculo com o filho continuamente sem

interrupções.

CASO 02

ENTREVISTA REALIZADA COM A MÃE DA CRIANÇA

QUEIXA / MOTIVO DA CONSULTA:

A mãe compareceu com a criança e tinha um encaminhamento do pediatra. Solicitava

atendimento psicológico infantil, para o quadro de encoprese. A criança já havia sido tratada

com medicamentos pelo pediatra e também pelo gastroenterologista.

Com os tratamentos médicos, a criança havia tomado antidepressivo como imipramina

e passiflora entre outros medicamentos homeopáticos, mas sem os resultados esperados.

Quando D. ficava tenso, sujava a cueca com um pouquinho de fezes, sentia-se mal por

estar sujo e fedido. Morria de vergonha, porque as pessoas sentiam o mal cheiro. A mãe

comentou que não se conformava em ver o filho se sujar e passar vergonha. Tinha dito ao filho

para ele ir ao banheiro e não sujar a cueca, mas não adiantava. Era muito desagradável ter de

lavar a cueca suja. O menino via o pai bater na mãe, esta revidava e o xingava, ele ficava

nervoso e corria para a casa da avó nos fundos para pedir ajuda. A avó intercedia. Passava um

tempo eles ficavam de bem, depois surgia novas brigas. Ele estava com oito anos.

Paciente: D. A. C. J.

Sexo: Masculino

Idade: 09 anos

Escolaridade: 3ª série

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Pai: D. A. C., 40 anos, mini comerciante

Mãe: V. C. S.C., 35 anos, recepcionista

Religião: católica

Gestação: normal

Parto: normal

Filho único

Alimentação: Alimenta-se pouco com medo de depois se sujar, principalmente antes de sair ou

de ir à escola. Gosta mais de lanches .

Des. Psicomotor: normal

Sono: agitado, tem medo de dormir sozinho. Fico com ele até conseguir dormir.

Medo: de escuro, de pessoas brigando, falando alto. Fica tenso .

HISTÓRIA FAMILIAR:

Os pais casaram no civil, porque a mãe havia engravidado. Ele se pudesse só seria

namorado dela. Viveram juntos até a criança completar oito anos. Foi tempo demais esperando

ele melhorar, disse a mãe. O pai gosta de beber e é muito ciumento. Toda vez que dizia que o

casamento estava péssimo e queria separar, ele ficava com raiva e depois prometia que ia se

modificar.

Foram muitas brigas, agressões, até que ela resolveu separar-se. Ele ficou com tanta

raiva que expulsou a mãe de casa . A mãe foi morar distante dele com o filho, na casa da

irmã.

Depois de três meses ele começou a pedir para sair com o filho, mas o menino vinha

ansioso. Ele perguntava muitas coisas à criança a respeito da mãe. Conseguiu o número do

telefone e pedia para voltar. Às vezes, pegava a criança no sábado para levar para soltar pipa,

lanchar, entretanto muitas vezes deixava o menino esperando e não telefonava. A criança fez

aniversário e o pai nem telefonou para dar parabéns. Ele ficou muito triste apesar da festinha

simples que a mãe organizou. O pai duas semanas depois, ligou para o filho e disse que

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esqueceu do aniversário, mas que iria levar um presente no sábado. No dia, o menino se

arrumou, esperou o pai com o presente, mas ele nem apareceu.

A mãe da criança não queria nem ver o ex-marido, porque ele discutia, falava alto.

Teve de entrar na justiça para o pai pagar a pensão para o filho. Desde a época que os pais

brigavam muito, a criança chorava, era triste e medroso. Quando a mãe separou do marido,

saindo de casa em busca de outra moradia, ele passou a sujar a cueca mais vezes no mês.

Como a mãe também estava tensa, achou que depois passava. Um tempo depois, buscou o

pediatra e o especialista.

TRATAMENTO:

D. chegou a consulta com uma sacola, colocou no canto. Perguntando se podia deixar

ali. Sua mãe já havia dito que ele leva sempre uma sacola com cueca limpa, papel higiênico,

saco plástico entre outros produtos, caso venha a se sujar possa ir ao banheiro, limpar-se e

trocar a cueca, mas não comenta o assunto, morre de vergonha.

D. mostava-se muito tímido, cauteloso, observador e logo desde o início gostou da sala

de atendimento. Houve logo a empatia com a psicóloga, a transferência e insigts com o

decorrer do tratamento.

D. solicitava a participação da psicóloga para jogar com ele. Gostava de jogos como

ludo, dama, da memória, resta um, entre outros de competir. Dizia que era bom de jogo, mas

quando perdia, pedia para trocar de jogo, que não estava com sorte naquele dia. Gostava de

fazer dobraduras (origami), fazer inúmeras formas na massa de modelar, construía com o lego

e pinos de montar muitas coisas, gostava de fazer pinturas com cola colorida. Era obediente,

reservado e ruborizava facilmente.

A criança comentou que seus pais não vivem juntos. Eles brigavam muito em casa. Ele

ficava nervoso, não sabe porque eles brigam tanto. Só na casa deles, os pais gritam e batem.

Ele não gostava disso. D. ao comentar sobre a dinâmica familiar antes da separação, resolveu

fazer o desenho do anexo 2.

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Sempre que saía da sessão lúdica abraçava a mãe carinhosamente. Ele observava o

ambiente antes de brincar escolhia com calma a sua brincadeira. Chorava ao verbalizar sua

tristeza por esperar o pai e ele não aparecer, sentia –se pouco amado e frustrado.

No anexo 1, desenha-se chorando, gostaria que o seu pai fosse seu amigo, estivesse

junto dele e não brigasse com a mãe.

Gostava da sua mãe, querendo a proteger de uma possível briga com o pai, mas era

pequeno, incapaz de dar proteção. Às vezes seus desenhos mostravam a desorganização

familiar e a competição entre os pais para impedir o filho de ficar com o outro.

Na avaliação psicodiagnóstica, D. revelou-se imaturo, inteligente, criativo, com baixo

limiar à frustração e ansiedade elevada. Demonstrou depressão nas avaliações. Sente

dificuldades nos relacionamentos com os colegas, se assusta com facilidade, sua agressividade

está reprimida. Tem bom caráter e revela-se prestativo. Sentia-se só, sua mãe trabalhava fora e

às vezes saía à noite. Antes tinha um quarto dele com seus brinquedos, agora dividia o quarto

com a mãe e uma tia. Tinha sentimentos ambivalentes de amor e ódio em relação ao pai e à

mãe. Sentia os pais depressivos e inseguros.

Os pais brigavam pela sua guarda na justiça. A criança era como um boneco, cada um

queria que o outro o perdesse. D. ficava confuso com tanta insistência deles para saber com

quem ele preferia ficar e, para dizer ao juiz sua preferência. Os pais de D. mostravam-se

egocêntricos e imaturos .

No desenho do anexo 3, D. expressa a sensação de estar perdido no meio da guerra

familiar. Sente-se no labirinto sem saber para onde ir, já não vê sua família definida. Não sabe

a quem pertence.

O pai é visto como figura forte, poderoso, temeroso, ausente e insuficiente afetivo.

Sonhava em ter um pai e uma mãe mais amigos e presentes. As decepções que tinha quando o

pai não lhe procurava, fazia-o se sentir menos amado, com sentimento de menos valia e baixa

auto-estima.

A mãe é sentida como fraca, deprimida e sofrida. Carinhosa com o filho, mas sem

poder dar mais conforto a ele. Perfeccionista e exigente, muito preocupada com a eliminação

fecal do filho. Não gostava quando o pai da criança aparecia querendo-o levar para sair.

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D. visualizava o clima familiar conflituoso, com mudanças inesperadas, somatizava

sua angústia, agressividade reprimida e insegurança através da regressão emocional, tendo o

quadro de encoprese.

No desenho 4, mostra-se ainda no labirinto, confuso em relação ao amor dos pais.

Deseja estar com o pai, mas a atitude dele de pressioná- lo para saber informações da mãe e as

discussões, o modo de falar alto do pai, são “impedimentos” como as pedras do desenho para

ele estar distante deste. Demonstra graficamente o seu desejo de encontrar uma forma de

aproximar do pai, mas não sabe como chegar até ele. Em função da mãe exigir dinheiro para

a pensão alimentícia de D. na justiça, o pai está mais distante deste. Ao mesmo tempo, a forma

agressiva do pai o assusta. (Ver anexo 4).

No anexo 5, D. demonstra a tentativa do pai querer cortar o vínculo afetivo entre mãe e

filho, expresso através dos desenhos das pipas. Aqui, verifica-se a dificuldade do ex-cônjuge

entender e aceitar que essa conduta atinge o filho abalando-o profundamente. E, não tem

sentido de existir, porque a figura materna, assim como a paterna são para os filhos seus pais

para o resto da vida, independente dos sentimentos, e ressentimentos que possa fazer parte

nesses relacionamentos.

O pai nunca compareceu ao setor de psicologia da instituição, nem quando chamado.

A mãe foi encaminhada para fazer psicoterapia, mas não fez sua inscrição, embora na

instituição tivesse profissional que pudesse atendê- la.

O tratamento foi realizado durante três meses, com aproximadamente treze sessões

lúdicas.

D. começava a melhorar, quando sua mãe comunicou que teria de interromper a

terapia, por falta de tempo para levá-lo à instituição. Não houve alta.

DIAGNÓSTICO: Transtorno (distúrbio) Psicossomático do Sistema Digestivo: Encoprese

secundária não retentiva

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3 - FUTUROS CAMINHOS DA FAMÍLIA SEPARADA

Após a separação e/ou divórcio, quando a realidade já não contém tantos

ressentimentos “vivos”, encontrando-se no pós luto da separação, caminhos serão iniciados.

Pelo menos, por parte de um ex-cônjuge haverá a formação de uma nova família a partir da

inserção de um novo membro ( o marido da mãe ou a nova esposa do pai), nessa nova

construção familiar tornando-se necessário conhecer o relacionamento que prosseguirá

existindo entre pais e filhos e os novos amores dos pais.

3.1 - O Amor a Si Mesmo, à Criança e a Busca de Novos Objetivos de Vida

Maldonato (2000), enfatiza que após a separação, os ex-cônjuges vivenciam uma

espécie de nascimento doloroso, que expõe a ambos à realidade, obrigando-os a uma

confrontação com novas tarefas e responsabilidades, de reconstruir a vida. De acordo com as

experiências do aqui e agora dos ex-cônjuges há uma revisão de metas e valores. É a época de

questionamento e novas atitudes.

A separação conjugal tem o seu lado positivo ao oferecer uma oportunidade na vida

dos separados de descobrir a si mesmo, de crescer e buscar novas realizações ou resgatar

projetos antes sonhados que foram deixados de lado. O autodescobrimento, a valorização

pessoal, a capacidade de vencer a si e as situações da vida exigem auto-estima elevada, amor a

si mesmo, persistência, maturidade e força egóica para caminhar superando as dificuldades e

objetivando o encontro das realizações desejadas.

De acordo com esse ponto de vista, Prado (1996), ressalta que é preciso saber olhar as

mudanças, enfatizando a esperança de com elas construir um mundo mais harmônico. É

preciso superar o medo de arriscar, lançar-se em novos caminhos, pois as mudanças embora

temerosas, trazem novas e criativas possibilidades de encontrar a satisfação pessoal e à

felicidade.

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Por outro lado, Maldonato (2000), diz que existem outros separados com dificuldades

de lidar com suas frustrações e de enfrentar o novo, cristalizam-se num comportamento

regressivo, fixados na situação anterior e ao invés de irradiarem vida, demonstram depressão,

o tédio, o desânimo, podendo apresentar comportamento de perseguição. Sentem que a vida

lhe ofereceu o fracasso do casamento e generalizam esse fracasso para toda a vida. Essas

pessoas podem sentir a culpa-punição por sofrer pressões/cobranças dos outros,

principalmente dos familiares e até de si mesma, com a sensação de fracasso. A pessoa

envolvida nesse circuito de culpa-punição, tende a ficar feia, maltratada, a diminuir sua

produtividade no trabalho, a isolar-se socialmente, a se autocensurar e a perder a alegria de

viver, considerando-se sem direito de ser feliz.

Ainda acrescenta essa autora, que muitas pessoas após a separação passam a viver

sozinhas. Essa fase pode ser uma oportunidade de desenvolver autonomia, sentir que é

possível tomar conta de si mesmo, sendo responsável pelos seus atos. Já alguns, estendem a

vida solitária por muitos anos e até para sempre. Representam o medo de ligar-se de novo a

outrem e sofrer nova decepção. Tenta convencer-se e convencer aos outros que não vale a

pena criar novo vínculo afetivo estável, embora até o deseje. Enquanto outras pessoas, por

temer tanto a angústia da solidão, buscam logo um novo relacionamento. Ter alguém ao seu

lado é uma fuga ao medo da solidão ou necessidade de sobrevivência quando precisa que

alguém que lhe sustente ou lhe ajude a dirigir sua vida.

Muitos separados sentem-se “elétricos” buscando aproveitar a liberdade de forma

intensa, não parando em casa, agindo de forma impulsiva, arrumando vários “amores” com

curta duração de relacionamento. É uma pressa de arranjar alguém para não sentir-se

sozinho(a) e também por vergonha de estar só.

Na maioria dos casos, os ex-cônjuges buscam a recomposição de um novo vínculo

amoroso, constituindo um novo tipo de família com novos laços de parentesco.

A presença do ex-cônjuge na vida do outro ex-cônjuge pode ser de várias formas:

desagradável e persecutória ou amistoso e agradável ou ainda neutro, com um contato restrito

às necessidades da criança.

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Quando na pós-separação ou divórcio, há um clima amigável ou neutra em termos de

relacionamento, a reconstrução de um novo casamento ou união com uma nova pessoa, forma

um novo vínculo ampliando as redes de relações, facilitando a aceitação e integração da

criança na família recomposta .

Conforme afirma Prado (1996), a família formada com o novo casamento deve incluir

um espaço para a criança do progenitor, pois o vínculo entre pais e a criança antecede a essa

formação.

O lugar que o padrasto e a madrasta ocupam, personificam o fracasso do casamento,

concretizam a separação e é sentida pela criança como uma ameaça ao relacionamento que

possui com seu progenitor. Muitos pais poderiam reassegurar seu afeto com as crianças, de

forma cautelosa , com atitudes de diálogo a respeito de sua nova companhia, oferecendo a

certeza de seu contínuo relacionamento e planejando uma aproximação de seu novo amor.

A harmonia futura desse novo lar está relacionado não somente ao amor do casal, mas

também ao respeito entre eles e os filhos anteriores à relação, que devem ser aceitos com

carinho, conquistado de forma gradual, com a imposição de limites de ambas as partes,

principalmente do progenitor responsável pela criança.

O referido autor afirma que após a separação, o papel de mãe e pai pode se

complexificar, e ambos se tornarem pessoas com um desenvolvimento pessoal mais integral,

com capacidade de manter uma melhor relação com seus filhos.

A existência de novos meio- irmãos embora tornem os filhos do casamento anterior,

inseguros, não costumam causar maiores problemas, na medida em que são conscientes do

amor dos pais à criança, do tipo de recebimento de atenção dos mesmos e por existir o

sentimento de pertencimento àquela nova família.

Aponta Dolto (1989), que um obstáculo no relacionamento entre o pai e a criança, é

quando esse modifica sua atitude em relação ao seu filho, diminuindo seu afeto e

desassistindo-o em função de um novo filho ou dos filhos da sua nova companheira.

Maldonato (2000), enfatiza que o sofrimento infantil torna-se intenso, quando os

separados aliam-se aos seus novos parceiros de forma a hostilizar os filhos, desassistindo-os

ou deles afastando-se afetivamente.

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Com esse distanciamento, os pais irresponsáveis da função materna/paterna

contribuem para a carência dos filhos, tornando-os órfãos de pais vivos. Nesse sentido, a

falta de atenção e amor demonstrados aos filhos, constroem lacunas vazias de afetividade no

interior das crianças e, essa falta de afeto é carregada desde a infância até a vida adulta.

Wallerstein e Kelly (1998), destacam que na medida em que os adultos conseguem

integrar o passado e o presente, ter capacidade de administrar as necessidades dos filhos,

independentes das batalhas conjugais no divórcio e no recasamento, governará a extensão da

qualidade em que as crianças poderão obter os benefícios da nova constituição familiar, e dos

aspectos positivos da separação.

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CONCLUSÃO

Este trabalho procurou enfatizar a importância do relacionamento entre os pais e a

criança, após a separação.

Em virtude do que foi mencionado, no embasamento teórico e nos casos analisados,

observou-se que a separação dos pais não é comprovadamente o fator determinante do

contínuo sofrimento infantil, nem o causador principal dos distúrbios e instabilidade da

criança. A separação e/ou divórcio representam uma época estressante para a vida familiar e

encontra-se cada vez mais crescente e aceitos socialmente. Entretanto, torna-se necessário

explicitar que a maioria dos pais frente as atitudes assumidas após o evento da separação,

demonstram o quanto encontram-se despreparados, imaturos perante a capacidade de enfrentar

e resolver com eficácia esse marco de vida.

Tendo em vista os aspectos analisados, o fator principal que repercute de forma

positiva ou negativa na criança são os comportamentos assumidos dos pais, posteriores à

separação e o grau de relacionamento que estabelecem. O aspecto negativo refere-se à

interrupção dos vínculos afetivos entre os pais e a criança, assim como a má qualidade e

infreqüência dos pais nas visitas dos filhos e a dificuldade dos ex-cônjuges em não envolver a

criança em seus sentimentos hostis, agressivos e negativos em relação ao outro progenitor da

criança.

Cabe ressaltar que os distúrbios graves, os transtornos psicossomáticos, de

aprendizagem e de conduta que podem surgir na criança, são a expressão da intensa angústia,

ansiedade, depressão, insegurança e temor da nova situação por não compreender e não ter

sido preparada pelos pais a respeito do que encontra-se acontecendo no meio familiar.

A separação deveria ser mais humanizada, valorizando a criança enquanto ser humano,

preservando os bons aspectos do vínculo entre os pais e a criança, e, para tal é necessário

que os ex-cônjuges tenham respeito a si e à criança, maturidade, força pessoal para lidar com

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as situações novas e inteligência emocional para prosseguir sua vida sem prejudicar o outro

ex-cônjuge, assim como o seu próprio filho, demostrando que a afeição à criança permanece

eternamente.

O propósito deste trabalho foi mais um estudo, entre tantos outros que são produzidos,

a fim de chamar a atenção para a enorme importância da presença e qualidade que devem

existir antes, durante e, principalmente, após a separação para que a família continue com os

vínculos afetivos tão necessários para a criança, através das funções materna e paterna.

Dado o exposto, somente o amor em sua plenitude, com o desprendimento de

hostilidade ou aprisionamento, é a mola propulsora da vida que proporciona transcender as

dificuldades, resgatando a força interior e perpetuando o contínuo sentimento afetivo aos seres

humanos e a si mesmo, vitalizando a afeição, principalmente à criança. Dessa forma, torna-se

explícito que a separação/e ou divórcio é entre os pais quando já não é mais possível a

convivência no mesmo lar, mas que não significa que haverá o desfazer dos laços afetivos,

pelo contrário, poderá existir um fortalecimento ainda maior no relacionamento entre os pais e

a criança.

Conclui-se com as palavras de Humberto Maturana, no livro Famílias e Terapeutas,

1996, pág. 71: “As interações recorrentes no amor ampliam e estabilizam a convivência, as

interações recorrentes na agressão interferem e rompem a convivência”.

Por fim, este trabalho não abrange (e nem tem a pretensão de fazê- lo) a totalidade da

questão em estudo, é apenas um caminho, um disparador de reflexões, ainda a ser muito

explorado pelos demais profissionais interessados no tema.

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ANEXOS

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BIBLIOGRAFIA

DOLTO, Françoise. Quando os pais se separam. Rio de Janeiro: Zahar, 1989. GOTTMAN Ph.D., John. Inteligência Emocional e a arte de educar nossos filhos. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. MALDONATO, Maria Tereza. Casamento: término e reconstrução. São Paulo: Saraiva, 2000. PRADO, Luiz Carlos. Famílias e Terapeutas: construindo caminhos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. WALLERSTEIN, Judith S. e KELLY, Joan B. Sobrevivendo à Separação: como os filhos lidam com o divórcio. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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