rbfarma volume 95 número 3 - edição completa

184
VOLUME 95 NÚMERO 3 JULHO—AGOSTO—SETEMBRO 2014 REVISTA BRASILEIRA DE FARMÁCIA Brazilian Journal of Pharmacy PUBLICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FARMACÊUTICOS WWW.RBFARMA.COM.BR ISSN (online) 2176-0667

Upload: dohanh

Post on 21-Dec-2016

302 views

Category:

Documents


28 download

TRANSCRIPT

Page 1: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

VOLUME 95 NÚMERO 3 JULHO—AGOSTO—SETEMBRO 2014

REVISTA BRASILEIRA DE FARMÁCIA

Brazilian Journal of Pharmacy

PUBLICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FARMACÊUTICOS

WWW.RBFARMA.COM.BR ISSN (online) 2176-0667

Page 2: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

Revista Brasileira de Farmácia – ISSN 2176 – 0667 (on line)

Volume 95 Número 3 Julho - Agosto - Setembro / 2014

SUMÁRIO

PESQUISA / RESEARCH

DEVELOPMENT AND CHARACTERIZATION OF AN ORAL DOSAGE FORM CONTAINING ENTACAPONE, CARBIDOPA, AND L-DOPA Luciana Ferreira Fonseca Rodovalho-Mitan, Raphael Caixeta Serpa, Erika Crispim Resende, Eliana Martins Lima, Giulliano Gardenghi

796

PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS RAIZEIROS DE MERCADOS PÚBLICOS DE JOÃO PESSOA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O PROCESSO SAÚDE DOENÇA DA POPULAÇÃO Rodrigo de Oliveira Formiga, Raphaela Francelino do Nascimento & Leônia Maria Batista

814

AVALIAÇÃO DOS INDICADORES DE PRESCRIÇÃO E DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS NO MUNICÍPIO DE FELIZ/RS Caroline Mortari, Ruth Liane Henn & Vera Maria Vieira Paniz

833

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL DE FOLHAS DE CHENOPODIUM AMBROSIOIDES L. CULTIVADAS EM RECIFE-PE, BRASIL Rafaela Damasceno Sá, Marcos Aurélio Moraes Galvão, Magda Rhayanny Assunção Ferreira, Luiz Alberto Lira Soares & Karina Perrelli Randau

855

ESTOQUE DOMICILIAR E CONSUMO DE MEDICAMENTOS ENTRE RESIDENTES NO BAIRRO DE APARECIDA, MANAUS-AMAZONAS Household medicines stock and use of medicines among Aparecida neighborhood in Manaus-AM residents Ana Cyra dos Santos Lucas, Herbert Theury Souza da Costa, Rosana Cristina Pereira Parente & Bruna Monteiro Rodrigues

867

PROGRAMAS DE FITOTERAPIA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: EXISTEM EXPERIÊNCIAS EXITOSAS? Laiane Alzira Denski da Silva & Adriana Lenita Meyer Albiero

889

PREVALÊNCIA DE POTENCIAIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE MANAUS- AM Paula Chagas de Farias Rocha, Priscila da Silva Mota & Cinthya Iamille Frithz Brandão de Oliveira

909

QUALITY CONTROL AND COMPARATIVE DISSOLUTION PROFILE OF IBUPROFEN ORAL SUSPENSION Controle de qualidade e perfil de dissolução comparativo de ibuprofeno em suspensão oral Jaqueline Bandeira Rubenick, Alexandre Machado Rubim, Marcos Roberto dos Santos, Tatieli Sampaio dos Santos & Luciane Varini Laporta

924

MELHORANDO O ATENDIMENTO FARMACÊUTICO AOS USUÁRIOS EM UM CENTRO DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. Vera Lucia Luiza; Luiz Villarinho Pereira Mendes; Thiago Botelho Azeredo; Mariza Villarinho da Silva; Delanuze de Oliveira Barros & Yrlene Veloso Cherques.

940

AUTOMEDICAÇÃO ENTRE ESTUDANTES DE CURSOS DA ÁREA DE SAÚDE Luciana Amaral de Faria Silva & Andrea Macedo de Souza Rodrigues

961

ASSUNTOS GERAIS

Expediente

Page 3: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Development and characterization of an oral dosage form containing

Entacapone, Carbidopa, and L-dopa

Luciana Ferreira Fonseca Rodovalho-Mitani1, Raphael Caixeta Serpa2, Erika Crispim

Resende1, Eliana Martins Lima3, Giulliano Gardenghi4*

1 Health Sciences Graduate Program, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brazil 2 Laboratório Teuto Brasileiro S/A, Anápolis, GO, Brazil 3 School of Pharmacy, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brazil 4 Hospital ENCORE, Aparecida de Goiânia, GO, Brazil; Hospital e Maternidade São Cristóvão, São Paulo, SP, Brazil.

*Correspondence: Giulliano Gardenghi. Rua 05, número 432, apartamento 602 Setor Oeste,

Goiânia, GO, Brasil. Tel: +55(62) 3212-6047, e-mail: [email protected]

Page 4: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

797

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

Resumo

Entacapone é um inibidor da catecol-o-metiltransferase (COMT) usado em associação com

carbidopa e L-dopa para o tratamento da doença de Parkinson. Os comprimidos contendo

entacapone associado a carbidopa e L-dopa devem também conter elementos para promover a

sua biodisponibilidade, pois o entacapone é fármaco de baixa solubilidade e baixa

permeabilidade. Este trabalho teve como objetivos o desenvolvimento e a caracterização físico-

química de comprimidos contendo a associação de entacapone, carbidopa e L-dopa utilizando

Stalevo® como medicamento referência. Para tanto, diferentes lotes de comprimidos foram

produzidos contendo tensoativos como o dodecil sulfato de sódio e os poloxamers 118 e 407

utilizando o método de granulação por via úmida em misturador de alto cisalhamento. Os

núcleos dos comprimidos obtidos foram aprovados quanto às seguintes características físico-

químicas: friabilidade, dureza, peso médio, desintegração e teor do componente ativo. Os

comprimidos revestidos contendo poloxamer 407 apresentaram perfil de dissolução

semelhante ao do medicamento referência.

Palavras chave: Levodopa, Carbidopa, Entacapone, Poloxamer, Tecnologia farmacêutica,

Doença de Parkinson.

Page 5: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

798

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

Abstract

Entacapone is a catechol-o-methyltransferase (COMT) inhibitor used in association with

carbidopa and L-dopa in the treatment of Parkinson’s disease. The tablets containing

entacapone associated with carbidopa and L-dopa should also contain elements to promote its

bioavailability, since entacapone presents low solubility and low permeability. The objectives

of this study were the development and physicochemical characterization of tablets containing

an association of entacapone, carbidopa, and L-dopa using Stalevo® as a reference medication.

To achieve these goals, different batches of tablets were produced containing surfactants such

as sodium dodecyl sulfate and poloxamers 118 and 407 using the wet granulation method in a

high shear mixer. The tablet cores obtained were approved regarding the following

physicochemical properties: friability, hardness, disintegration, content of active ingredient,

and dissolution. The coated tablets containing poloxamer 407 presented dissolution profile

similar to the reference medication.

Keywords: Levodopa, Carbidopa, Entacapone, Poloxamer, Pharmaceutical Technology,

Parkinson Disease.

Page 6: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

799

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

INTRODUCTION

Entacapone ((E)-2-cyano-N,N-diethyl-3-(3,4-dihydroxy-5-nitrophenyl) propenamide)

(Bäckström et al., 1989) is a selective catechol-o-methyltransferase (COMT) inhibitor (Figure

1) that improves the activity of L-dopa in the treatment of Parkinson’s disease (PD) (Bäckström

et al., 1989; Katajamäki et al., 1998).

FIGURE 1 – Chemical structure of entacapone (C14H15N3O5), molecular weight 305.29

(Merck Index XIV Ed). Source: The Merck Index (2006).

The administration of entacapone associated with carbidopa and L-dopa in tablets

increases the bioavailability of the latter, prolongs its elimination time (Kaakkola, Gordin,

Männistö, 1994), and improves the management of this compound end-of-dose motor

fluctuations (Stocchi et al., 2004). More continuous movement behavior in PD patients and

improved quality of life can be provided by the association of these three substances in one

oral dosage form compared to L-dopa/carbidopa treatment (Müller et al., 2007; Fung,

Herawati, Wan, 2009). According to the Biopharmaceutics Classification System (BCS),

entacapone is considered a drug substance class IV, since it presents low solubility, low

permeability, and low bioavailability (Kalantri, 2010).

Granulation is a process used in the pharmaceutical industry to obtain tablets in which

particles are agglomerated in the presence of a liquid or solid binder. This procedure improves

the flow and compressibility characteristics of particles and increases the homogeneity of the

final product (Reynolds et al., 2005). High shear mixer granulation converts fine cohesive

powders into granules in a multiphase process in a shorter time (Giry et al., 2009). The

concomitant use of the mixer, the chopper, and the heating jacket in the high shear mixer can

form dense and agglomerated granules to be consequentially compressed to obtain tablets in

the pharmaceutical industry (Chitu, Oulahna, Hemati, 2011).

Several studies have been conducted to improve the solubility of compounds that

present low solubility in water aiming to increase the bioavailability of orally administered

medications. The low solubility of certain compounds may be improved using nanotechnology

(Diniz et al., 2008), production of drug-cyclodextrin inclusion compounds (Freitas et al.,

Page 7: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

800

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

2012), surfactants (Kallakunta et al., 2012), and polymers (Marinich, Ferrero, Jiménez-

Castellanos, 2011). Poloxamers are anphiphilic surfactants formed by different amounts of

propylene and ethylene oxides added during manufacture, which form nonionic

polyoxyethylene-polyoxypropylene copolymers (Rowe, Sheskey, Quinn, 2009). Therefore,

poloxamers have been used to improve the dissolution rate of poorly water soluble compounds

(Yong et al., 2001; Kolašinac et al., 2012).

The present investigation concerns the development of oral dosage forms containing an

association of entacapone, carbidopa, and L-dopa, using a laboratory scale high shear mixer,

aiming to obtain a drug similar to Stalevo®. Nowadays in the pharmaceutical market there is

only one drug containing the association of this three substances, Stalevo®(Novartis™). This

research aims to innovate the pharmaceutical market proposing as association of entacapone,

carbidopa and L-dopa in a single tablet, considering the generic pharmacy market in Brazil.

The association of the three drugs is still under patent protection. One second patent was

published in 2011, describing some modifications in the formula aiming to achieve a better

equivalence (Talwar et al, 2011). This fact may explain the poor literature available concerning

the development of this pharmacotechnical mixture. The physicochemical evaluations of the

oral dosage forms developed (friability, hardness, disintegration, content of active ingredient,

and dissolution) establish the quality of the formulated tablets.

MATERIALS AND METHODS

Materials

Entacapone, carbidopa, and L-dopa were purchased from Ra Chem Pharma Ltd,

Sochinaz SA, and Guangxi Baise Tianxing Plant Science Co., Ltd., respectively. The following

excipients were used: mannitol (Getec Guanabara Química Industrial S/A); sodium dodecyl

sulfate and titanium dioxide (JT Baker); poloxamers 407 and 188 (BASF);

polivinylpyrrolidone (PVP) K90®, pregelatinized starch, and Opadry® YS1 7006 (Colorcon®);

croscarmellose sodium (Blanver); Aerosil® (Evonik Degussa Brasil Ltda.); magnesium

stearate (Faci Spa); and red iron oxide (Eskisa S.A.). All substances were of pharmaceutical

grade. The reference drug product used was Stalevo® (Novartis) batch 1270413. Given that a

confidentiality agreement was signed, the detailed formulation of the tablets is not given here.

Page 8: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

801

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

Therefore, the ranges of excipients used in the development of the core tablets is described in

Table I for all batches.

TABLE I – Formulas of batches developed with a quantitative description expressed as

percent by weight (%) used to obtain core tablets of 770 mg

Stage 1 – granulation 1 Batch 1 (%) Batch 2 (%) Batch 3 (%)

Entacapone 25.0 25.0 25.0

Mannitol 15–40 15–40 15–40

Poloxamer 407 – – 0.5 - 10

Poloxamer 188 0.5–10 – –

Polivinylpyrrolidone (PVP) K90® – 0.5–10 –

Sodium dodecyl sulfate – 0.5–10 –

Stage 2 – granulation 2 Batch 1 (%) Batch 2 (%) Batch 3 (%)

L-dopa 18.8 18.8 18.8

Carbidopa 5.0 5.0 5.0

Polivinylpyrrolidone (PVP) K90® 0.5–10 0.5–10 0.5–10

Pregelatinized starch 1–20 1–20 1–20

Croscarmellose sodium 1–20 1–20 1–20

Stage 3 – final mixture Batch 1 (%) Batch 2 (%) Batch 3 (%)

Aerosil® 0.1–5 0.1–5 0.1–5

Magnesium stearate 0.1–5 0.1–5 0.1–5

Aiming to obtain 800-mg coated tablets with 3% weight gain, the following excipients

were used for coating tablet cores of batches 1 and 3, and their quantities are expressed as

percent by weight: 70–90% Opadry® YS 1 7006; 10–30% titanium dioxide; and 1–10% red

iron oxide. Alcohol 90% (v/v) was used as solvent.

Methods

Content assay

The samples were analyzed using high-performance liquid chromatography (HPLC) in

a Varian® chromatograph containing a vacuum degasser and a quaternary pump (ProStar 240),

a thermostated column compartment (MetaTherm®), an autosampler (ProStar 210), and a

diode-array detector (DAD) (ProStar-335), with DELL® hardware and Galaxie® software

version 1.9. Chromatographic separations were performed in OmniSpher Varian® RP-18A

column (250 mm × 4.6 d.i., particle of 5 μm), at 25°C (± 1°C), with a mobile phase consisting

Page 9: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

802

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

of methanol-sodium phosphate buffer (pH 3.0 adjusted with phosphoric acid 10% v/v), at a

flow rate of 1.0 mL/min, detection with DAD at 282 nm, and injection volume of 20 μL. The

mobile phase was under linearly programmed gradient mobile-phase conditions and during the

initial 6 min, it was gradually modified, from the proportion of 90:10 (0.2 M sodium phosphate

pH 5.0: methanol pH 3.0) to the proportion of 30:70, which was maintained until the end of the

chromatographic run (12 min). The HPLC method was validated according to the criteria

established by ICH (2005).

A sample of 20 tablets collected at random was ground and an amount of the powder

equivalent to one tablet was weighed, transferred to a 100-mL volumetric flask, and the volume

was completed with a specific solvent for each active ingredient analyzed, namely potassium

phosphate buffer pH 5.5 for entacapone and 0.1 N hydrochloric acid (HCl) for carbidopa and

L-dopa. The solution was sonicated for 10 min and filtered through 0.45-μm Millex® filter.

Further dilutions were carried out to obtain the final concentrations of the solutions of

entacapone (200 μg/mL), carbidopa (37.5 μg/mL), and L-dopa (150 μg/mL). Two different

solvents were used to complete the volume of the tablets samples due to the differences of

solubility and permeability. According to the Biopharmaceutics Classification System (BCS),

entacapone is considered a drug substance class IV, since it presents low solubility, low

permeability, and low bioavailability (Kalantri, 2010).

Dissolution

Dissolution studies were performed in a Vankel VK 7000 dissolution apparatus using a

single tablet per dissolution vessel. The process was carried out in: a) 900 mL of potassium

phosphate buffer medium, adjusting to pH 5.5 with phosphoric acid as needed, in apparatus II

(paddle), with the basket rotating at 120 rpm for entacapone; b) in 750 mL of 0.1 N

hydrochloric acid, in apparatus I (basket), with the basket rotating at 50 rpm for carbidopa and

L-dopa. Both experiments were performed at 37°C and the samples were collected at 10, 20,

30, 45, and 60 min without replacing the dissolution media, initially filtered through 1-mm

membrane filter and posteriorly through 0.45-μm Millex® filter, and analyzed using HPLC.

The final concentrations of the solutions were: entacapone – 222 μg/mL, carbidopa – 50 μg/mL,

and L-dopa – 200 μg/mL. The method was validated according to the guidelines established

by FDA (2000) and ICH (2005).

Page 10: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

803

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

Statistical calculations were performed between the curves of the batches and the model

drug, as recommended by Brasil (2004), using the difference factor (f1) and the similarity factor

(f2) to establish a correlation index between the dissolution profiles with the following

equations:

where:

n = number of points of time of collection

Rt = value of dissolution of the batch of the reference medication at a time t

Tt = value of dissolution of the test product at a time t

In general, the optimal result is achieved when f1 is lower than 15 (0–15) and f2 is

higher than 50 (50–100), showing the similarity between the dissolution profiles (Costa, 2002).

Granule manufacture

The granules were produced in a horizontal laboratory scale high shear mixer (P/VAC

10-60, Diosna Dierks & Sohne GmbH, Germany) equipped with a heating jacket. The

conditions of the experiment are described in Table II. Drying was carried out in situ using the

heating jacket, the vacuum system, and the gas-stripping nozzles, and the granules were sifted

through a 20-mesh sieve after removal from the pan of the high shear mixer.

TABLE II – High shear mixer features

Parameter Mixture Granulation Drying

Impeller speed (rpm) 200 200 20

Chopper speed (rpm) 1.500 1.500 –

Massing time (s) 600 120 3.000

Filter cleaning time (s) 5 5 3

Pump speed (rpm) – 50 –

Heating jacket temperature (°C) – – 60

Product temperature (°C) – – 37.5

Density, Hausner index, flow, and moisture

Page 11: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

804

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

The powder density of active ingredients and granules was determined using an

automated compactor (SVM 203, Erweka GmbH, Germany), by placing 40 g of each sample

in graduated test tubes which underwent 500 and 750 total strokes, respectively, according to

USP 30/NF 25 (2007).

The Hausner index was calculated based on powder density results to elucidate the

compressibility index of the tested compounds (USP 30/NF 25, 2007).

The granulate flow time was evaluated using a Granulate and Powder Flow Tester (GTB

Flowmeter, Erweka GmbH, Germany). A 40-g aliquot of each granulate batch was placed in a

funnel with an orifice of 10 mm, and the product was allowed to flow exclusively under the

force of gravity. The instrument automatically evaluated the granulate flow time and the

average of three determinations was calculated.

The granule moisture was analyzed in a drying system that combines a semi-analytical

scale with a ceramic infrared dryer (IV 2500 Infrared Moisture Analyzer, Gehaka, Brazil). The

heat function was set at a drying range of 0.5%/min and maximum temperature of 90°C.

Hardware RS-232 serial with an USB output printer provided the final moisture measurement

of the sample when the value was stabilized.

Tablet preparation

After the granulate preparation, Aerosil® and magnesium stearate were added

consecutively in a final step, using a “V” mixer (Lawes, Brazil), with agitation at 20 rpm for

15 min and 5 min, respectively. The final granulates were fed manually into the die of an

instrumented rotary tableting machine (model 2000 – R&D Line, Lawes, Brazil) using oval-

faced punches and dies. The choice of punches (type and diameter) was made aiming to obtain

tablets similar to the model drug, which measures 14.50 mm × 9.45 mm. Punch height

adjustment was made manually, the granulate was placed into the hopper, and the compression

started. The core tablets weighed 770 mg (± 1%).

Coating was performed in a GS 600 coating machine (IMA Pharmaceutics, Italy)

equipped with four spray guns and a 140-L solution preparation tank. The coating conditions

applied were: distance between the core and the guns – 22 cm; atomization pressure – 2 bar;

pump flow rate – 200 mL/min; inlet air temperature – 60°C; bowl speed – 6 rpm. The guns

were equipped with 1.8-mm nozzles, 0.6-mm needles, and 2-mm cover. The air flow entering

the coating machine for heating the cores was 1650 m³/h. The temperature in the tablet cores

was maintained at 38°C (± 3°C) during the process. The coated tablets weighed 800 mg (±

1%).

Page 12: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

805

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

Determination of physicochemical properties

The friability of 20 tablets from each batch was determined using a friabilator (model

Ta-UZ, Erweka, Germany) rotating at 20 rpm for 5 min. The crushing strength was measured

with a hardness tester (model TBH 30, Erweka, Germany), analyzing 10 tablets from each

batch. The disintegration time was tested in six tablets from each batch using the disintegration

test apparatus (model ZT 3, Erweka, Germany), analyzing six tablets from each batch, using

water at 37°C as medium and the basket raised and lowered at a constant frequency of 30

cycles/min (USP 30/NF 25, 2007).

RESULTS AND DISCUSSION

The content assay method using HPLC was validated and it accomplished the criteria

established by ICH (2005): system suitability, specificity, linearity, precision, reproducibility,

accuracy, and robustness. The data from this study show that the reproducibility precision

among analysts was of 0.28% relative standard deviations (RSD) to the peak mean areas, and

so, fulfills the evaluation criteria. The values from the recuperation tests varied from 95.57%

to 104.63%, for all three studied substances. The evaluated recuperation indicated the precision

of the chosen method. The quantification limits values to entacapone, carbidopa and L-dopa

were 2.8 μg/mL, 0.649 μg/mL e 2.52 μg/mL respectively. The results from detection limits to

entacapone, carbidopa and L-dopa were 0.84 μg/mL, 0.19 μg/mL e 0.75 μg/mL respectively.

Brief variations in some experimental parameters did not show any effect over the

chromatographic behavior of the actives evaluated in this research.

Due to the solubility properties of entacapone, the dissolution studies were performed

in two separate phases, according to the method recommended by FDA (2007). The dissolution

method was validated according to the guidelines established by FDA (2000) and ICH (2005):

specificity, linearity, precision, and accuracy. The method was proved to be linear as the

correlation coefficients of the obtained derivates were of 0,995 at minimum (table III). The

validated method is selective and specific presenting retention times demonstrating the

complete separation among peaks of entacapone (10 min), carbidopa (4.9 min), L-dopa (3.5

min) and placebo. Concerning the precision and accuracy, the reproducibility results of the

method obtained relative standard deviations (RSD) below 5% to the concentration ranges

Page 13: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

806

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

presented. The results for intermediate range of precision of both days of analysis also evidence

RSD below 5% for the presented concentration intervals. The method presented itself as

robust, once the alterations in some analytic parameters did not impact the calibration curves.

TABLE III – Linearity of the proposed dissolution method

Active

ingredient

Linearity range

(μg/mL)

Slope Intercept Regression

coefficient (r²)

Entacapone 124–212 30.763 564.18 0.995

Carbidopa 28–47 9.4289 6.9446 0.9958

L-dopa 118–198 12.314 92.915 0.999

The thin aspect of entacapone observed experimentally, its low density, and the

cohesion force of the particles could affect its flow properties, as mentioned by Staniforth

(2005). It is well-known that wet granulation is used to improve the flow properties of

pharmaceutical formulations (Cantor, Kothari, Koo, 2009). Therefore, according to the total

amount of the active ingredients present in the formulations (48.8%), the amount of entacapone

in the formulations (25%), its density (0.459 g/mL), and the low compressibility results

obtained by the Hausner index for the three active ingredients (entacapone – 1.92; carbidopa –

1.29; L-dopa – 1.46), the wet granulation method was chosen for obtaining the tablets so that

the characteristics of mixing, flow, and compression of the pre-planned formulations could be

improved.

The granulation process was performed in two separate steps, as suggested by Talwar

et al. (2011), because of the very adverse physicochemical characteristics of entacapone,

carbidopa, and L-dopa, especially solubility and permeability. First, carbidopa and L-dopa

were granulated separately only with water. After that, entacapone was granulated with the

binder solution (water-alcohol) containing the binder and/or the surfactant. Therefore, the

release of entacapone in the dosage form, its maintenance in the dissolved state throughout the

gastrointestinal track, and its permeation could be improved at the same time that carbidopa

and L-dopa suffered no influence of the modified formulation.

The high shear mixer allowed the usage of a multiphase process in a single equipment

to obtain agglomerated granules posteriorly compressed to produce tablets. This reduced

Page 14: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

807

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

transferences during the wet granulation process and ensured the uniformity of the mixture due

to the use of a closed system to homogenize the ingredients, the continuous passage of the

granulation solution, the reduction of agglomerates formed during the wet granulation process,

and the drying phase in the heating jacket. The characterization of the granules obtained in the

present study (Table IV) confirms the parameters of the high shear mixer for this purpose

according to USP 30/NF 25 (2007).

TABLE IV – Technological characterization of the granules after preparation in the high shear

mixer

Technological

property

Batch 1 Batch 2 Batch 3

Moisture (%) 2.8 2.6 2.6

Tap density (g/mL) 0.645 0.687 0.675

Flow (s) 10.4 11.3 10.7

Additionally, the physical properties of the core tablets obtained (Table V) as well as

the results of the content assays performed in all batches certify the method in the high shear

mixer proposed and used in the present study. The results of the performed tests aiming to

establish the uniformity of the contents were satisfactory to all the studied lots.

TABLE V – Physical properties of the core tablets obtained by granule compression

Physical property Batch 1 Batch 2 Batch 3

Friability (%) <1.0 <1.0 <1.0

Crushing strength (kgf) 17.2 18.8 18.3

Tablet weight (g) 0.772 0.769 0.778

Disintegration time (min) 4:23 3:45 4:17

Entacapone assay (%) 99.20 99.42 99.93

Carbidopa assay (%) 100.53 99.25 100.32

L-dopa assay (%) 99.84 100.14 99.78

Analyzing the dissolution profile of entacapone in each batch of core tablets, it was

possible to observe that the presence of PVP K90®, used to promote powder aggregation due

to the low density of entacapone, associated with sodium dodecyl sulfate, caused the

Page 15: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

808

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

dissolution curves of batch 1 to be closer to the dissolution curves of the reference medication

(Figure 2). The optimization of the drug release profiles, in order to be similar to the reference

medication, was achieved by changing the surfactant used in the formulation. The dissolution

profile of core tablets in batch 3, containing poloxamer 407, was closer to that of the reference

medication than the dissolution profile of core tablets in batch 2, containing poloxamer 118,

for entacapone, carbidopa, and L-dopa. The same was observed for carbidopa and L-dopa.

The improvement on the dissolution profile of core tablets in batch 3 compared to core

tablets in batch 2 can probably be attributed to the enhanced solubility of entacapone due to the

presence of poloxamer 407 in the former. The long chain of polyoxypropylene, which is

hydrophobic, is presumed to interact with entacapone, and simultaneously, the long chain of

polyoxyethylene, which is hydrophilic, makes it more soluble than when associated with

poloxamer 188. Therefore, due to its surfactant properties already mentioned, poloxamer 407

proved to be the most suitable solubilizer for formulations containing entacapone (BCS class

IV).

Page 16: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

809

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

FIGURE 2 – Mean cumulative percent release profiles of entacapone (A), carbidopa (B), and L-dopa

(C) in core tablets according to time. Stalevo® (); batch 1 (); batch 2 (); batch 3 (–).

Based on the statistical analyses of the difference factor (f1) and the similarity factor

(f2) (Table VI), it was possible to confirm that the less different (f1) and more similar (f2)

dissolution profiles of the core tablets in relation to the reference medication were batches 1

and 3, for entacapone, carbidopa, and L-dopa. Consequently, only batches 1 and 3 underwent

the coating process. The statistical analyses of f1 and f2 of the coated batches, named 1C and

3C, confirmed the observation and the analyses of the dissolution curves (Table VI), since f1

calculated for batch 3C was lower than that for batch 1C, and f2 was higher for batch 3C than

for batch 1C.

Therefore, batch 3C proved to be more similar to the reference medication than batch

1C and closer to the reference parameters established for f1 and f2, consequently presenting a

pharmacotechnical behavior similar to the reference medication, even though the difference

factor (f1) for L-dopa was out of the specified limit (0-15). All the batches had their dissolution

profiles analyzed (Figure 3) and the dissolution curves of both coated batches were closer to

the dissolution curves of the reference medication for all active ingredients. Thus, the coating

employed (3% weight gain) influenced the dissolution profile of the tablets probably as a result

of the formation of a hydroxypropilmethyl cellulose (hypromellose) and macrogol film on their

surface due to the use of Opadry® YS 1 7006.

TABLE VI – Calculation of the difference factor (f1) and similarity factor (f2) of the dissolution

profiles of the core tablets in batches 1, 2, and 3 as well as of the coated tablets in batches 1C

and 3C

Batch Entacapone Carbidopa L-dopa

f1 f2 f1 f2 f1 f2

1 23.67 35.80 41.02 28.39 40.80 28.52

Page 17: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

810

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

2 36.40 25.32 87.31 12.52 89.12 12.40

3 27.08 32.21 38.42 32.85 37.70 32.88

1C 16.56 43.89 18.33 49.17 18.42 49.01

3C 12.99 52.16 9.16 59.33 17.50 51.44

Reference values: 0 > f1 < 15; 50 > f2 < 100 (Costa, 2002).

Page 18: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

811

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

FIGURE 3 – Mean cumulative percent release profiles of entacapone (A), carbidopa (B) and

L-dopa (C) in coated tablets according to time. Stalevo® (); batch 1C (); batch 3C (–).

CONCLUSION

The use of poloxamer 407 proved to be a good option for the development of tablets

containing the association of entacapone, carbidopa, and L-dopa, as long as the wet granulation

method is employed and that entacapone is granulated in an exclusive phase, separated from

carbidopa and L-dopa, and associated with a surfactant. The coating showed to have influence

on the dissolution profile of tablets with 3% weight gain.

ACKNOWLEDGEMENTS

The authors are thankful to CAPES, CNPq, and FINEP for the financial support, as well

as to Laboratório Teuto Brasileiro S/A.

REFERENCES

Bäckström R, Honkanen E, Pippuri A, Kairisalo P, Pystynen J, Heinola K, Nissinen E,

Linden IB, Männistö PT, Kaakkola S, Pohto P. Synthesis of some novel potent and

selective catechol-O-methyltransferase inhibitors. J. Med. Chem. 32(4): 841-846, 1989.

Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução-RE

nº 310, de 1. de setembro de 2004. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 Sept. 2004.

Available at:

<http://www.interfarma.org.br/site2/images/Site%20Interfarma/Informacoesdosetor/R

E/Registro/2004/RE%20setembro%20310-04%20SIMILAR.pdf>. Access: Jun. 13,

2012.

Cantor SL, Kothari S, Koo OMY. Evaluation of the physical and mechanical properties

of high drug load formulations: wet granulation vs. novel foam granulation. Powder

Technol. 195: 15-24, 2009.

Chitu TM, Oulahna D, Hemati M. Wet granulation in laboratory scale high shear

mixers: Effect of binder properties. Powder Technol. 206(1): 25-33, 2011.

Page 19: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

812

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

Costa PJC. Avaliação in vitro da bioequivalência de formulações farmacêuticas. Braz.

J. Pharm. Sci. 38(2): 141-153, 2002.

Diniz DGA, Alves CPI, Castro NC, Rodovalho LFF, Benfica PL, Valadares MC, Lima

EM. Isotretinoin-containing liposomes: obtention, characterization and in vitro

cytotoxicity on leukemia cells. Appl. Cancer Res. 28(3): 106-112, 2008.

FDA. U.S. Food and Drug Administration. Dissolution methods,

carbidopa/entacapone/levodopa. Silver Spring, 2007. Available at:

<http://www.accessdata.fda.gov/scripts/cder/dissolution/dsp_SearchResults_Dissoluti

ons.cfm>. Access: Jun. 25, 2012.

FDA. U.S. Food and Drug Administration. Guidance for industry. Analytical

procedures and methods validation: chemistry, manufacturing, and controls

documentation. Rockville, 2000.

Freitas MR, Rolim LA, Soares MFR, Rolim-Neto PJ, Albuquerque MM, Soares-

Sobrinho JL. Inclusion complex of methyl-β-cyclodextrin and olanzapine as potential

drug delivery system for schizophrenia. Carbohydr. Polymers. 89(4): 1095-1100, 2012.

Fung VSC, Herawati L, Wan Y. Quality of life in early Parkinson’s disease treated with

L-dopa/carbidopa/entacapone. Mov. Disord. 24(1): 25-31, 2009.

Giry K, Viana M, Genty M, Wüthrich P, Chulia D. Switch from single pot to multiphase

high shear wet granulation process, influence of the volume of granulation liquid in a

pilot scale study. Chem. Eng. Process. Process Intens. 48(8): 1293-1301, 2009.

ICH. International Conference on Harmonisation of Technical Requirements for

Registration of Pharmaceuticals for Human Use. ICH Harmonised Tripartite Guideline:

validation of analytical procedures: text and methodology Q2(R1). Geneva, 2005.

Available at:

<http://www.ich.org/fileadmin/Public_Web_Site/ICH_Products/Guidelines/Quality/Q

2_R1/Step4/Q2_R1__Guideline.pdf>. Access: Jun. 25, 2012.

Kaakkola S, Gordin A, Männistö PT. General properties and clinical possibilities of

new selective inhibitors of catechol-O-methyltransferase. Gen. Pharmacol. 25(5): 813-

824, 1994.

Kalantri MR. Pharmaceutical compositions of entacapone. US Patent 20100104634. 29

Apr. 2010.

Page 20: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

813

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

Kallakunta VR, Bandari S, Jukanti R, Veerareddy PR. Oral self emulsifying powder of

lercanidipine hydrochloride: formulation and evaluation. Powder Technol. 221: 375-

382, 2012.

Katajamäki J, Honkanen A, Piepponen TP, Lindén IB, Zharkovsky A, Ahtee L.

Conditioned place preference induced by a combination of L-dopa and a COMT

inhibitor, entacapone, in rats. Pharmacol. Biochem. Behav. 60(1): 23-26, 1998.

Kolašinac N, Kachrimanis K, Homšek I, Grujić B, Durić Z, Ibrić S. Solubility

enhancement of desloratadine by solid dispersion in poloxamers. Int. J. Pharm. 436(1):

161-170, 2012.

Marinich JA, Ferrero C, Jiménez-Castellanos MR. Graft copolymers of ethyl

methacrylate on waxy maize starch derivatives as novel excipients for matrix tablets:

drug release and fronts movement kinetics. Eur. J. Pharm. Biopharm. 80(3): 674-681,

2012.

Müller T, Erdmann C, Muhlack S, Bremen D, Przuntek H, Woitalla D. Entacapone

improves complex movement performance in patients with Parkinson’s disease. J. Clin.

Neurosci. 14(5): 424-428, 2007.

Reynolds GK, Fu JS, Cheong YS, Hounslow MJ, Salman AD. Breakage in granulation:

a review. Chem. Eng. Sci. 60(14): 3969-3992, 2005.

Rowe RC, Sheskey PJ, Quinn ME. Handbook of pharmaceutical excipients. 6. ed.

London: Pharmaceutical Press; Washington, DC: American Pharmacists Association,

2009.

Staniforth J. Fluxo de pós. In: Aulton ME. (Ed.). Delineamento de formas

farmacêuticas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 208-221.

Stocchi F, Barbato L, Nordera G, Bolner A, Caraceni T. Entacapone improves the

pharmacokinetic and therapeutic response of controlled release levodopa/carbidopa in

Parkinson’s patients. J. Neural Transm. 111(2): 173-180, 2004.

Talwar M, Kapoor R, Mashalkar M, Jain GK. Pharmaceutical compositions of

entacapone, levodopa and carbidopa with improved bioavailability. US Patent

20110091558. 21 Apr. 2011.

THE MERCK index: an encyclopedia of chemicals, drugs, and biologicals. 14 ed.

Whitehouse Station: Merck Research Laboratories, 2006.

USP 30/NF 25. United States Pharmacopeia & National Formulary. Rockville: United

States Pharmacopeial Convention, 2007.

Page 21: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

814

Rodovalho-Mitani, L. F. F. et all Rev. Bras. Farm. 95 (3): 796 – 813, 2014

Yong CS, Choi JS, Quan QZ, Rhee JD, Kim CK, Lim SJ, Kim KM, Oh PS, Choi HG.

Effect of sodium chloride on the gelation temperature, gel strength and bioadhesive

force of poloxamer gels containing diclofenac sodium. Int. J. Pharm. 226(1): 195-205,

2001.

Page 22: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS RAIZEIROS DE MERCADOS

PÚBLICOS DE JOÃO PESSOA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O

PROCESSO SAÚDE DOENÇA DA POPULAÇÃO

Rodrigo de Oliveira Formiga1, Raphaela Francelino do Nascimento1 & Leônia Maria

Batista1*

1-Departamento de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal da Paraíba, Cidade

Universitária, CEP: 58051-900, João Pessoa, Paraíba, Brasil

_________________________________________

*Autor para correspondência: Leônia Maria Batista, Universidade Federal da Paraíba, CEP:

58051-900, João Pessoa, PB, Brasil, E-mail: [email protected]

Page 23: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

815

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

RESUMO

Os raizeiros exercem papel fundamental no processo saúde doença da população por meio da

difusão de práticas populares, que envolve o uso das plantas medicinais. O presente estudo teve

como objetivo avaliar o perfil socioeconômico dos raizeiros, as plantas medicinais mais

comercializadas por estes profissionais e possíveis interações entre estas e os medicamentos

sintéticos. É uma pesquisa de caráter transversal desenvolvida entre abril de 2012 e abril de

2013 em mercados públicos de João Pessoa, constituindo uma amostra de 22 entrevistados cujo

instrumento foi um questionário semiestruturado. Dentre os entrevistados doze deles eram do

sexo feminino (54%), acima de 45 anos (68%), se intitularam analfabetos (46%), católicos

(59%), que reconheciam (100%) e indicavam as plantas (95%), e cujo conhecimento foi

adquirido a partir da família (48%). As espécies vegetais barbatimão, babosa, camomila,

macela, romã, aroeira, cajueiro roxo e alecrim são as mais indicadas pelos raizeiros para

inflamação e problemas digestórios, bem como antisséptico e como cicatrizante. Muitas dessas

plantas são tomadas em associação com medicamentos sintéticos o que pode resultar em

interação farmacológica. Assim, os raizeiros apresentam importante papel na saúde da

população, por atuarem na manutenção, transmissão e divulgação do conhecimento sobre as

plantas e seus usos.

Palavras chave: Plantas medicinais, Raizeiros, Mercados públicos, Etnofarmacologia,

Interação medicamentosa.

Page 24: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

816

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

ABSTRACT

The raizeiros play a fundamental role in the health condition of the population from the spread

of popular practices, which involve the use of medicinal plants. This study aimed to evaluate

the socioeconomic profile of the raizeiros, the medicinal plants most marketed for these folk

professionals and the possible interactions between these plants and synthetic drugs. It is a

survey of cross-sectional nature developed between April 2012 and April 2013 on public

markets from João Pessoa city, comprising a sample of 22 respondents whose instrument of

research was a semi-structured questionnaire. Among the respondents twelve of them were

female (54%), over 45 years (68%), that called themselves illiterate (46%), Catholics (59%),

which recognized (100%) and indicated (95%) the marked plants, and whose knowledge was

acquired from the family (48%). The plant species barbatimão, chamomile, aloe vera, macela,

pomegranate, mastic, purple cashew and rosemary were the most recommended by them to

inflammation and digestive problems, as well as an antiseptic and for healing. Many of these

plants are taken together with synthetic drugs which can result in drug interactions. Thus,

healers play an important role in population health, by acting in the maintenance, transmission

and dissemination of knowledge about plants and their uses.

Keywords: Medicinal Plants, Markets, Raizeiros, Ethnopharmacology, Drug interactions.

Page 25: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

817

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

INTRODUÇÃO

A sociedade mundial em pleno século XXI, ainda recorre às plantas medicinais nas suas

práticas de cura das mais variadas doenças. Isso se deve ao contexto cultural as quais as plantas

medicinais encontram-se inseridas, sendo resultado de um acúmulo secular de conhecimentos

repassados por meio da tradição oral por gerações e diferentes etnias. Mesmo sendo um

fenômeno mundial, no Brasil, ele tem características próprias devido à riqueza de nossa flora,

a extensão de nosso território e a tradição do uso de plantas medicinais (Batista & Valença,

2012).

Muitos estudos de cunho científico têm sido realizados na perspectiva de validação do

conhecimento de populações tradicionais sobre o uso de plantas medicinais e isso resulta na

comprovação da eficácia das espécies vegetais, na segurança do seu uso e consequentemente

melhoria da saúde da população (BRASIL, 2010).

Na prática diária, existe uma crescente insatisfação da população com os medicamentos

sintéticos, apesar de estes serem ainda parte da terapia hegemônica, devido aos efeitos adversos

e colaterais provocados, seu alto custo e devido à dificuldade no acesso da população aos

serviços de saúde. Dessa forma, há uma busca por produtos de origem natural como alternativa

terapêutica, em especial as plantas medicinais, que são amplamente encontrados na rica flora

do Brasil (Batista & Valença, 2012).

Como difusor das práticas populares, em especial as que envolvem plantas medicinais,

surge à figura do raizeiro, um ator social de grande importância no processo saúde-doença

(Miura, Lowe & Schinestsck, 2007), também conhecidos como herbolarios, herbários,

curandeiros (França et al., 2007), ervateiros (Miura, Lowe & Schinestsck, 2007) ou erveiros

(Alves, Silva & Alves 2008). Esses profissionais em sua maioria são conhecedores dos

processos que envolvem as plantas desde o seu cultivo até a utilização colocando-se muitas

vezes como intermediário no alívio das enfermidades que acometem a população (Tresvenzol

et al., 2006).

Consagrados pela cultura popular, os raizeiros se apresentam em sua maioria com pouca

escolaridade (Dantas & Guimarães, 2006) de forma que os conhecimentos adquiridos sobre

plantas medicinais fazem parte do senso comum. Estes profissionais atuam em feiras livres,

mercados públicos e calçadões, porém, necessitam de informações científicas acerca do uso,

formas de preparação, dose segura, via de administração, que podem ser de suma importância

Page 26: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

818

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

para uma terapia segura (Agra & Dantas, 2007). Além disso, eles desempenham um importante

papel sócio econômico nas cidades, pois a utilização de espécies medicinais para o tratamento

das mais diferentes afecções apresenta um baixo custo e representa pouco impacto na renda

doméstica (Alves, Silva & Alves, 2008).

A população faz uso de forma indiscriminada de plantas e medicamentos fitoterápicos

por acreditarem que “se bem não faz, mal também não faz”. Entretanto, essa afirmação não é

desmistificada pela ciência, uma vez que as informações contidas nos estudos que comprovam

os efeitos tóxicos das plantas não são acessíveis à população em geral (Firenzuoli & Gori,

2007). Existe ainda outro fator, pois grande parte da população devido ao processo de

adoecimento faz uso de plantas medicinais associado a medicamentos sintéticos o que pode

ocasionar o aumento ou a diminuição do efeito, ou resultar na intoxicação do indivíduo

(Colalto, 2010; Dias & Salgueiro, 2009).

Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o perfil dos raizeiros que

trabalham nos mercados públicos e feiras livres da cidade de João Pessoa na perspectiva de

entender a sua representação social no processo saúde doença da população, bem como avaliar

as plantas medicinais mais comercializadas por estes profissionais, além das possíveis

interações entre estas e as mais diferentes classes de medicamentos sintéticos.

MATERIAL E MÉTODOS

O projeto foi desenvolvido em vários mercados públicos de João Pessoa, localizado nos

bairros de Mangabeira, Centro, Bairro dos Estados, Cruz das Armas, Grotão, Alto do Mateus,

Jaguaribe e Funcionários I no período de abril de 2012 a abril de 2013. É uma pesquisa de

caráter transversal cujo sujeito foram os raizeiros, que comercializam seus produtos em

diferentes localidades da cidade, constituindo uma amostra de 22 (vinte e duas) pessoas. Esta

pesquisa teve como critério de inclusão raizeiros maiores de dezoito anos e que estão nesta

atividade a mais de três anos.

Foi utilizado como instrumento de abordagem, um questionário semiestruturado com

perguntas objetivas e subjetivas (ANEXO A), de caráter quantitativo, mediante a assinatura do

termo de consentimento livre esclarecido conforme preconiza a Resolução 466/12/CNS/MS

que regulamenta os estudos que envolvem os seres humanos. Esta pesquisa foi aprovada pelo

Page 27: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

819

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

Comitê de Ética em Pesquisa, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da

Paraíba com protocolo número 0546/13.

O questionário foi aplicado de maneira informal, durante o atendimento ao público,

com o intuito no primeiro momento de delinear o perfil do raizeiro. Para isso foram elaboradas

questões sobre idade, sexo, grau de escolaridade, religião, tempo de trabalho na área, como

aprendeu sobre as plantas medicinais, local onde adquire as plantas, e se reconhece as plantas

que comercializam. No segundo momento se investigou quem mais procura as plantas

medicinais, quais as mais comercializadas, indicação, formas de uso e possíveis efeitos tóxicos

inerentes à utilização de espécies vegetais para determinado fim. No terceiro momento foram

levantadas as possíveis interações entre as plantas mais citadas e medicamentos sintéticos de

várias classes terapêuticas.

Os dados foram analisados e expressos em valores percentuais e dispostos na forma de

gráficos e tabelas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistados 22 raizeiros, distribuídos entre os mercados públicos da cidade de

João Pessoa, localizados no centro (14%), nos bairros de Mangabeira (18%), Bairro dos

Estados (18%), Cruz das armas (14%), Grotão (14%), Jaguaribe (9%), Oitizeiro (9%) e Alto

do Mateus (4%) (como demonstrado no Gráfico 1). Dentre os entrevistados, 12 raizeiros são

do sexo feminino e 10 do sexo masculino. Resultado semelhante foi encontrado por França et

al., (2007), o qual relatou que 57% dos raizeiros de Campina Grande (Paraíba) são do sexo

feminino e 43% do sexo masculino. Já outros estudos, como o de Freitas et al. (2012),

demonstraram uma situação contrária no município de São Miguel (Rio Grande do Norte), ou

seja, maior prevalência do sexo masculino (71%). Essa diferença pode está relacionada com

aspectos culturais já que em alguns grupos sociais, principalmente na zona rural, as mulheres

desempenham mais atividades domésticas, enquanto que na zona urbana, geralmente elas

precisam trabalhar para complementar a renda familiar ou mesmo garantir todo o sustento da

família (Freitas et al., 2012).

Page 28: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

820

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

Gráfico 1 – Distribuição percentual dos raizeiros quanto ao local de atuação em João Pessoa-

PB

Quando questionados quanto à religião que praticavam, 59% dos raizeiros se

intitularam católicos e 36% protestantes. Os demais afirmaram não seguir nenhuma prática

religiosa. Isso se deve ao fato da grande parte da população brasileira se consideram católicos,

incluindo a maioria dos antigos “mateiros” detentores do conhecimento das plantas no Brasil,

os descendentes de povos indígenas e de escravos de origem africana (Araújo et al., 2009).

A faixa etária dos raizeiros concentra-se acima de 45 anos (68%), demonstrando um

resultado já esperado, pois as pessoas mais velhas tendem apresentar um maior conhecimento

sobre as propriedades terapêuticas das plantas e dos animais (Alves, Silva & Alves, 2008), no

entanto, tem ocorrido uma falta de interesse das gerações mais novas o que pode acarretar a

perda de informações valiosas a cerca do conhecimento tradicional das práticas curativas

(Araújo et al., 2009).

14%

9%

14%

9%14%

4%

18%

18%

Mercado central Mercado de Jaguaribe

Mercado do Grotão Mercado do Oitizeiro

Mercado de Cruz das armas Mercado do Alto do Mateus

Mercado de Mangabeira Mercado Bairro dos Estados

Page 29: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

821

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

Quando avaliados quanto às atividades que desenvolvem 82% dos entrevistados

afirmaram trabalhar apenas como raizeiros enquanto que 18% desenvolvem outros tipos de

atividades. Quando abordados em relação ao tempo que exercem a profissão de raizeiros, 27%

afirmaram trabalhar a aproximadamente 10 anos e 23% a mais de 30 anos, o que indica a

importância da atividade como geradora de emprego e renda, revelando sua importância

econômica (Alves, Silva & Alves, 2008).

A análise quanto ao grau de escolaridade, mostrou que a maioria dos raizeiros cursou o

ensino fundamental I, em sua grande maioria, incompleto (32%), enquanto 46% se declararam

analfabetos, 13% cursaram o fundamental II também incompleto e 9% o ensino médio. Assim,

o baixo grau de escolaridade entre os comerciantes de plantas medicinais evidencia a

importância dessa atividade econômica, visto que esta constitui sua principal fonte de renda,

não dependendo do conhecimento acadêmico, mas sim do conhecimento popular sobre os

recursos medicinais que comercializam (Alves, Silva & Alves, 2008).

Quando questionados quanto à forma de obtenção do conhecimento sobre as plantas

medicinais e produtos que comercializam destacou-se a família, representada pela figura dos

pais (31%) e dos avós (17%) na transmissão de conhecimentos, que as utilizavam para uso

próprio ou para curar outras pessoas, sugerindo a existência de uma relação afetiva e de

confiança que permitem a troca de saberes. Alguns entrevistados afirmaram obter esse

conhecimento no dia-dia com outros raizeiros (11%), com os fornecedores dos produtos (6%)

e, sozinhos com a prática cotidiana das vendas de plantas nos locais de trabalho (29%) (Freitas,

Coelho & Azevedo, 2012).

Em relação à procedência das plantas e produtos medicinais comercializados, 41%

afirmam adquirir de outros raizeiros, 25% de fornecedores do interior do estado (Guarabira,

Itabaiana e Ingá) e 25% de outros estados e 9% dos raizeiros compram seus produtos em

armazéns de João Pessoa (nos bairros do Grotão e Cristo, e na CEASA). Nenhum dos

entrevistados faz cultivo de plantas ou as coletam na mata para a comercialização. Isso se

justifica pelo fato de todos os raizeiros estarem localizados na zona urbana de João Pessoa.

Todos os raizeiros entrevistados afirmaram reconhecer as plantas que comercializam.

Fato esse considerado bastante importante, pois na medicina popular os raizeiros tem um papel

fundamental para o uso das plantas medicinais, além disso, 95% desses afirmaram fazer

Page 30: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

822

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

indicação de plantas medicinais para seus clientes. Esse resultado se assemelha ao estudo

desenvolvido por Freitas, Coelho & Azevedo (2012), pois afirmam que os raizeiros atuam

como um “sujeito” dentro da medicina popular indicando as plantas para atender as

necessidades das pessoas que o procuram, sua forma de preparação a quantidade necessária a

ser utilizada no preparo e a maneira como deve ser utilizada.

Ao analisar as plantas mais comercializadas pelos raizeiros, constatou-se as espécies

Stryphnodendron barbatiman M. (Barbatimão) - 18 citações, Aloe vera L. (Babosa) - 15

citações, Anacardium occidentale L. (Cajueiro roxo) - 13 citações, Egletes viscosa C. (Macela)

- 13 citações, Chamomilla recutia L. (Camomila) - 12 citações, Eucalyptus globulus L.

(Eucalipto) - 12 citações, Sideroxylon obtusifolium R. (Quixabá) - 12 citações, Pterodon

emarginatus V. (Sucupira) - 12 citações, foram as mais citadas, conforme apresentada na tabela

1.

Tabela 1 – Distribuição percentual das plantas medicinais mais citadas pelos raizeiros, sua

indicação, parte utilizada e forma de preparação

Nome da planta Frequência Indicação Parte utilizada Forma de

preparação

Alecrim

(Rosmarinus

officinalis L.)

7 Anti-hipertensivo Folha Infuso

Aroeira - (Schinus

terebinthifolius R.)

11 Inflamação Casca Decocto

Barbatimão -

(Stryphnodendron

barbatiman M.)

18 Inflamação Casca Decocto

Barbosa - (Aloe

vera L.)

15 Inflamação,

queimadura

Folha Infusão

Boldo - (Peumus

boldus M.)

10 Problemas

intestinais, fígado

Folha Infuso

Cajueiro roxo -

(Anacardium

occidentale L.)

13 Inflamação Casca Decocto

Camomila -

(Chamomilla

recutita L.)

12 Calmante,

problemas

digestivos,

cicatrizantes

Flor ou folhas

secas

Infusão, decocção,

pomada

Carqueja -

Baccharis trimera

L.)

5 Gastrite,

cicatrizante

Folha Infusão, decocção

Page 31: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

823

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

Chachambá -

(Justicia pectoralis

L.)

9 Expectorante Folha Lambedor

Cumaru –

(Amburana

cearensis A.)

7 Expectorante Casca Lambedor

Erva-doce –

(Pimpinella

anisiun L.)

7 Calmante, cólica Folha Infusão

Erva cidreira –

(Lippia alba M.)

6 Calmante Folhas Infusão

Espinheira santa

(Maytenus

ilicifolia R.)

7 Gastrite Folha Infuso

Eucalipto –

(Eucalyptus

globulus L.)

12 Febre, sinosite Folha Infusão

Gengibre –

(Zingiber

officinale R.)

6 Inflamação na

garganta,

estimulante sexual

Folha Infusão

Ipê roxo –

(Tabebuia

avellanedae L.)

6 Gripe Casca Decocto

Jatobá –

(Hymenaea

courbaril L.)

8 Expectorante Vargem Lambedor

Marcela – (Egletes

viscosa C.)

13 Problemas no TGI Semente Decocto

Quixaba –

(Sideroxylon

obtusifolium R.)

12 Inflamação,

diabetes

Casca Decocto

Romã – (Punica

granatum L.)

8 Inflamação Fruto Decocto

Sabugueiro –

Sambucus

australis C.)

5 Gripe Folhas Infusão

Sena – (Senna

occidentalis L.)

8 Prisão de ventre Folha Infusão

Sucupira –

(Pterodon

emarginatus V.)

12 Inflamação,

diabetes

Semente Decocção

Urtiga branca –

(Urtiga dioica L.)

9 Inflamação, cólicas Casca, flores Decocto, infusão

Ao serem abordados quanto ao conhecimento sobre plantas tóxicas os raizeiros citaram

algumas espécies, como demonstrado na Tabela 2. Dentre elas, as mais apontadas foram à

Page 32: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

824

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

cabacinha (Luffa operculata L.) com um percentual de 30% e a quebra pedra (Phylanthus niruri

L.) 28%, espécies estas citadas também citadas como medicinais.

Tabela 2– Distribuição percentual das plantas tóxicas mais citadas pelos raizeiros

Plantas Nome científico Frequência Percentual

Quebra-pedra Phyllanthus niruri L. 13 28%

Cabacinha Luffa operculata L. 14 30%

Quina-quina Coutarea hexandra J. 3 7%

Mulungu Erythrina mulungu M. 6 13%

Comigo ninguém pode Dieffenbachia picta S. 3 7%

Urtiga Urtica dioica L. 3 7%

Aveloz Euphorbia tirucalli L. 2 4%

Boldo Peumus boldus M. 2 4%

Total 46 100%

Existem espécies vegetais que são potencialmente tóxicas, como a Dieffenbachia picta

S., Euphorbia tirucalli L. e Luffa operculata L. que não podem ser utilizadas na terapêutica

(Yu et al. 2011; Silva & Temakura, 2006; Barilli, Santos & Montani, 2005). Dieffenbachia

picta S. apresenta múltiplos mecanismos de toxicidade, por contato oral, ocular e/ou dermal,

com sintomas que variam desde edema, irritação da mucosa até mesmo asfixia e morte (Silva

& Temakura, 2006). Porém, existem muitos casos em que as plantas mesmo com propriedades

medicinais a exemplo do alecrim (Rosmarinus officinales L.) e do eucalipto (Eucaliptus

globulus L.), podem possuir ações danosas, como possíveis estímulos a contração uterina,

desencadeando processos abortivos, fazendo-se necessário o seu uso dentro de um esquema

terapêutico racional, pois a sua utilização de forma inadequada acarreta transtornos para o

indivíduo (apud Rodrigues et al., 2011).

Além da comercialização das plantas in natura, 59% dos raizeiros vendem garrafadas,

as quais consistem em uma combinação de diferentes espécies imersas em bebidas alcoólicas

(vinho branco, cachaça) ou álcool de cereais, essas são utilizadas principalmente para

inflamações (Dantas et al., 2008). Entre as plantas citadas pelos raizeiros na preparação das

garrafadas encontram-se, aroeira (19%), cajueiro roxo (19%), quixaba (15%), barbatimão

Page 33: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

825

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

(12%), urtiga branca (12%), jatobá (8%), ipê roxo (8%) e romã (7%), conforme demonstrado

no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Distribuição percentual das plantas mais usadas no preparo de garrafadas pelos

raizeiros.

Foi realizada uma busca na literatura por possíveis interações entre as plantas

medicinais mais comercializadas pelos raizeiros e algumas classes de medicamentos sintéticos.

Dessa forma foi observado que o boldo possui dois alcaloides denominados boldina e

secoboldina, os quais apresentam efeito anticoagulante, pois causa inibição da agregação

plaquetária devido a não formação do Tromboxano A2, tanto em modelos animais como em

amostras de sangue humano, assim pacientes que estão sob a terapia de anticoagulantes

(varfarina) não devem fazer uso do boldo, devido a sua função antiplaquetária aditiva aos

anticoagulantes (Teng et al., 1997; Ruiz et al., 2008).

A camomila apresenta interações com medicamentos de diversas classes, como:

anticoncepcionais (o uso de doses elevadas do fitoterápico pode interferir na ação do fármaco,

por competição pelos receptores de estrogênio); anti-inflamatórios não esteroidais (aumenta o

risco de sangramento); benzodiazepínicos, depressores do Sistema Nervoso Central (SNC)

(teoricamente, o uso potencializa os efeitos adversos do fármaco); na absorção do ferro (o

Jatobá8%

Cajueiro roxo19%

Ipê roxo8%

Barmatimão12%

Aroeira19%

Urtiga branca12%

Romã7%

Quixaba15%

Page 34: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

826

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

tanino presente no vegetal pode interagir com o ferro, reduzindo a absorção do metal) (Salvi &

Heuser, 2008).

O eucalipto também pode interferir no metabolismo de fármacos, diminuindo a ação

desses por indução de enzimas hepáticas. Relatos clínicos associam a administração oral do

óleo de eucalipto com dificuldade de raciocínio e alterações no sistema nervoso; estes sintomas

podem ser intensificados quando esta droga é administrada conjuntamente com medicamentos

que atuam no sistema nervoso central (benzodiazepínicos, barbitúricos, narcóticos, alguns

antidepressivos e álcool). Estudos em animais demonstraram que o eucalipto diminui os níveis

de açúcar no sangue, logo deve ser utilizado com cautela em pacientes diabéticos (Nicoletti et

al., 2010).

A erva-doce possui ação sedativa discreta quando usada na forma de chás, pois possuem

monoterpenos capazes de inibir a acetilcolinesterase, portanto ao ser administrada com drogas

hipnóticas pode ter seus efeitos prolongados por estas últimas (Passos et al., 2010).

Há evidências de que o gengibre apresenta várias interações com medicamentos, dentre

eles: interações com anti-inflamatórios não-esteroidais, o que pode levar ao risco de

sangramento, pois o gengibre reduz a agregação plaquetária por inibir a síntese do tromboxano

A2 e, por outro lado estimula, a síntese de prostaciclina; interações com os bloqueadores de

canais de cálcio, por efeito aditivo na via de bloqueio desses canais, podendo levar a

hipotensão; interações com o ferro, por reduzir a absorção desse medicamento; e interações

com os hipoglicemiantes, pelo risco de exacerbação da hipoglicemia (Salvi & Heuser, 2008).

A sena promove uma diminuição do tempo do trânsito intestinal, devido à presença de

antraquinonas, reduzindo a absorção de fármacos administrados por via oral (Clarke, Rates &

Bridi, 2007) e aumentar a perda de potássio que pode potencializar os efeitos de glicosídeos

cardiotônicos. Por sua vez, a hipocalemia, poderá desencadear a intensificação da ação de

fármacos antiarrítmicos, como a quinidina, que afeta os canais de potássio. O uso simultâneo

com outras drogas que induzem hipocalemia, como diuréticos tiazídicos,

adrenocorticosteróides pode exacerbar o desequilíbrio de eletrólitos (Nicoletti et al. 2010).

Já a macela, o barbatimão e o alecrim ao serem utilizados de maneira concomitante a

anti-hipertensivos potencializam esse efeito hipotensor (Teixeira, 2011).

Page 35: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

827

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

CONCLUSÃO

A partir do presente estudo foi verificado, que a maioria dos raizeiros participantes da

pesquisa na cidade de João Pessoa é do sexo feminino, acima de 45 anos, analfabetos, católicos,

conhecedores das plantas medicinais que trabalham e fazem indicações para o uso, esse

conhecimento foi adquirido a partir da transmissão oral entre gerações familiares.

Os raizeiros exercem um papel essencial na transmissão do saber sobre plantas

medicinais e no processo saúde doença da população, à medida que comercializam uma grande

variedade de espécies medicinais para doenças que acometem o homem. Destaca-se nesse

estudo aquelas com propriedades cicatrizantes, anti-inflamatórias e digestivas.

Faz-se necessário a prevenção do uso concomitante entre plantas e medicamentos

sintéticos visando à diminuição dos riscos relacionados às interações, levando em

consideração, que a utilização de forma indiscriminada de plantas medicinais, a qual se

encontra inserido dentro do contexto da automedicação, tem levado a sérios problemas de

saúde pública.

REFERÊNCIAS

Agra CA & Dantas IC. Identificação das plantas medicinais indicadas pelos raizeiros e

utilizadas pelas mulheres no combate a enfermidades do aparelho geniturinário na cidade de

Campina Grande, PB. Rev. Biol. Farm. (1)1: 1 – 13, 2007.

Alves RRN, Silva CC & Alves HN. Aspectos socioeconômicos do comercio de plantas e

animais medicinais em áreas metropolitanas do Norte e Nordeste do Brasil. Rev. Biol. Ciênc.

Ter. 8(1): 181 – 189, 2008.

Araújo AC, Silva JP, Cunha JLXL, Araújo JL O. Caracterização sócio-econômico-cultural de

raizeiros e procedimentos pós-colheita de plantas medicinais em Maceió, AL. Rev. Bras.

Plantas Med. 11(1): 84 – 91, 2009.

Barilli SLS, Santos ST & Montanari T. Efeito do decocto dos frutos de buchinha-do-norte

(Luffa operculata Cogn.) sobre a reprodução feminina e o desenvolvimento embrionário e fetal.

XVII Salão de iniciação científica da UFRGS, Porto Alegre, Brasil, 2005.

Page 36: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

828

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

Batista LM & Valença AMG. A fitoterapia no âmbito da atenção básica no SUS: realidades e

perspectivas. Pesq. Bras. Odontoped. Clín. Int. 12(2): 293 – 296, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nota técnica do

comitê nacional de plantas medicinais e fitoterápicos a respeito do que foi veiculado sobre

plantas medicinais e fitoterápicos na impressa televisiva e escrita no último mês. 21 de outubro

de 2010.

Clarke JHR, Rates SMK & Bridi R. Um alerta sobre o uso de produtos de origem vegetal na

gravidez. Infarm. 19(2): 41 – 48, 2007.

Colalto C. Herbal interactions on absorption of drugs: Mechanisms of action and clinical risk

assessment. Pharmacol. Res. 62(3): 207 – 227, 2010.

Dantas IC & Guimaraes FR. Perfil dos raizeiros que comercializam plantas medicinais no

município de Campina Grande, PB. Rev. Biol. Ciênc. Ter. 6(1): 39 – 44, 2006.

Dantas VS, Dantas IC, Chaves TP, Felismino DC, Silva H, Dantas GDS. Análise das garrafadas

indicadas pelos raizeiros na cidade de Campina Grande-PB. Biofar. 3(1): 7 – 13, 2008.

Dias MG & Salgueiro L. Interações entre preparações á base de plantas medicinais e

medicamentos. Rev. Fitoter. 9(1): 5 – 22, 2009.

Firenzuoli F & Gori L. Herbal Medicine Today: Clinical and Research Issues. Evid. Based.

Complement. Alternat. Méd. 4, 37 – 40, 2007.

França ISX, Souza JA, Baptista RS, Britto VRS. Medicina popular: benefícios e malefícios das

plantas medicinais. Rev. Bras. Enferm. 61(2): 201 – 208, 2007.

Freitas AVL, Coelho MFB, Azevedo RAB, Maia SSS. Os raizeiros e a comercialização de

plantas em São Miguel, Rio Grande do Norte, Brasil. R. Bras. Bioci. 10(2): 147 – 156, 2012.

Miura AK, Lowe, TR, Schinestsck CF. Comércio de plantas medicinais, condimentares e

aromáticas por ervateiros da área central de Pelotas - RS: estudo etnobotânico preliminar. Rev.

Bras. Agroeco. 2(1): 1025 – 1028, 2007.

Page 37: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

829

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

Nicoletti MA, Carvalho KC, Oliveira JMA, Bertasso CC, Caporossi PY, Tavares APL. Uso

popular de medicamentos contendo drogas de origem vegetal e/ou plantas medicinais:

principais interações decorrentes. Rev. Saúd. 4(1): 25 – 39, 2010.

Passos CS, Arbo MD, Rates SMK, Poser GLV. Terpenóides com atividade sobre o Sistema

Nervoso Central (SNC). Rev. Bras. Farmacogn. 19(1): 140 – 149, 2010.

Rodrigues HG, Meireles CG, Lima JTS, Toledo GP, Cardoso JL, Gomes SL. Efeito

embriotóxico, teratogênico e abortivo de plantas medicinais. Rev. Bras. Plantas Med. 13(3):

359 – 366, 2011.

Ruiz ALTG, Taffarello D, Souza VHS, Carvalho JS. Farmacologia e toxicologia de Peumus

boldus e Baccharis genistelloides. Rev. Bras. Farmacogn. 18(2): 295 – 300, 2008.

Salvi RM & Heuser ED. Interações: medicamentos x fitoterápicos, em busca de uma prescrição

racional. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. 114 p.

Silva IGR & Takemura OS. Aspectos de intoxicação por Dieffenbachia spp (comigo-ninguém-

pode) – Araceae. Rev. Ciênc. Méd. Biol. 5(2): 151 – 159, 2006.

Teixeira K. Plantas medicinais que podem causar alteração na pressão arterial e interação

com anti-hipertensivos. 2011. Criciúma. 28 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de

Farmácia), Universidade do Extremo Sul Catarinense. Criciúma.

Teng CM, Hsueh CM, Chang YL, Ko FN, Lee SS, Liu KC. Antiplatelet effects of some

aporphine and phenanthrene alkaloids in rabbits and man. J. Pharm. Pharmacol. 49(7): 706 –

711, 1997.

Tresvenzol LM, Paula JR, Ricardo AF, Ferreira, HD, Atta, DT. Estudo sobre o comércio

informal de plantas medicinais em Goiânia e cidades vizinhas. Rev. Elet. Farm. 3(1): 23 – 28,

2006.

Yu L, Jiang BP, Luo D, Shen XC, Guo S, Duan JA, Tang YP. Bioactive componentes in the

fruits of Ziziphus jujuba Mill, against the inflammatory irritant action of Euphorbia plants.

Phytomed. 19(3): 239 – 244, 2012.

Page 38: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

830

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

ANEXO A

Universidade Federal da Paraíba

Centro de Ciências da Saúde

Departamento de Ciências Farmacêuticas

Questionário – Avaliação do Perfil dos Raizeiros de João Pessoa/PB

Dados do Entrevistado:

Nome:_______________________________________________________ Idade:__________

Local onde mora:___________________________Cidade:_____________________________

Nível de escolaridade: _________________

Exerce alguma outra profissão? ( ) Sim ( ) Não

Qual?_______________________________________________________________________

Tem alguma religião? ( ) Sim ( ) Não Qual?_________________________________

1- Há quanto tempo trabalha com plantas medicinais?

__________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2- Com quem obteve o conhecimento sobre plantas?

__________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3-Onde adquire as plantas?

__________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4- O senhor (a) reconhece o tipo de planta que comercializa?

__________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 39: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

831

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

5- O senhor (a) faz indicação de plantas? ( ) Sim ( ) Não

Quais?____________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

________________________________________________________________

6- Quais as principais plantas que o senhor (a) comercializa?

Nome das Plantas Indicação Parte Utilizada Forma de

Preparação

7- Quem mais procura as plantas? (Faixa etária)

Homens ( ) Faixa etária:______________

Mulheres ( ) Faixa etária:______________

8- O senhor (a) conhece alguma planta tóxica?

( ) Sim ( ) Não

Quais?____________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

____________

Page 40: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

832

Formiga, R. O. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 814 – 832, 2014

9- O senhor (a) comercializa alguma planta tóxica?

( ) Sim ( ) Não

Nome das Plantas Indicação Parte Utilizada Forma de

Preparação

10- Você vende garrafadas?

( ) Sim ( ) Não

Quais?

Nome das Plantas Indicação Parte Utilizada Forma de

Preparação

Page 41: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Avaliação dos indicadores de prescrição e dispensação de medicamentos no

município de Feliz/RS

Evaluation of medicines prescribing and dispensing indicators in the

municipality of Feliz/RS

Caroline Mortari1, Ruth Liane Henn1 & *Vera Maria Vieira Paniz1 1Universidade do Vale do Rio dos Sinos

*Autor Correspondente: Vera Maria Vieira Paniz, e-mail: [email protected]. Programa de

Pós Graduação em Saúde Coletiva da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Av.

Unisinos, 950, Cristo Rei, CEP: 93022-000, São Leopoldo, RS, Brasil. Telefone: (51) 35908752

Ramal: 1285 Fax: (51) 35908479.

Page 42: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

834 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

RESUMO

Avaliou-se a Assistência Farmacêutica no município de Feliz-RS, por meio de indicadores de

prescrição e assistência ao paciente da Organização Mundial de Saúde e dos critérios para a

Boa Prescrição Médica, segundo origem da prescrição (público/privado). Nas 2.744

prescrições atendidas na farmácia municipal, durante 30 dias, verificou-se média de 2,04

medicamentos/prescrição. Dos medicamentos prescritos, 77,3% foram com nome genérico;

89,8% pertenciam à Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) e 79,5%

foram dispensados. Antibióticos e injetáveis foram prescritos em 4,7% e 2,9% das

prescrições, respectivamente. Informações incompletas foram observadas nas prescrições de

ambas as fontes. Nome do medicamento e dose foram menos frequentes nas do setor público

(64,3% vs. 78,2%), enquanto a forma farmacêutica e quantidade total (32,1% vs.71,8%) e

informações para o rótulo (20,6% vs. 47,5%) foram menos frequentes nas prescrições de

origem privada. Avaliaram-se como satisfatórios o número de medicamentos, antibióticos e

injetáveis/prescrição, e a presença na REMUME. Foram insatisfatórios os indicadores

denominação genérica e medicamentos dispensados, sugerindo falhas na Assistência

Farmacêutica. A ausência de informações essenciais para utilização correta e segura dos

medicamentos apontam lacunas importantes no ato de prescrever. Conclui-se serem

necessárias ações que ampliem a Assistência Farmacêutica e garantam qualidade às

prescrições e segurança aos usuários.

Palavras-chave: Prescrições de Medicamentos, Assistência Farmacêutica,

Farmacoepidemiologia.

Page 43: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

835 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

ABSTRACT

This study evaluated the Pharmaceutical Assistance in the municipality of Feliz-RS, using

World Health Organization’ prescribing and patient care indicators and the criteria for Good

Prescribing, according to origin of the prescription (public/private sector). A total of 2,744

prescriptions were attended in the municipal pharmacy, during 30 days. The average number

of drugs per prescription was 2.04; 77.3% of them were prescribed by generic name; 89.8%

were part of Municipal Essential Medicines List (REMUME) and 79.5% were dispensed.

Antibiotics and injectable were prescribed in 4.7% and 2.9% of prescriptions, respectively.

Both sources had prescriptions with incomplete information. Drug name and dose were less

common in the public sector (64.3% vs. 78.2%), while the pharmaceutical form and total

quantity (32.1 vs.71%, 8%) and information for the label (20.6% vs. 47.5%) were less

frequent in prescriptions from private sources. It was assessed as satisfactory the number of

drugs, antibiotics and injections/prescription, and the presence in REMUME. The dispensed

medicines and generic denomination indicators were unsatisfactory, suggesting problems in

the Pharmaceutical Assistance. The absence of essential information for proper and safe use

of medicines indicate important gaps in the prescription. In conclusion, actions are needed to

enhance the Pharmaceutical Assistance and to ensure quality of prescriptions and safety for

users.

Keywords: Drug Prescriptions, Pharmaceutical Services, Pharmacoepidemiology.

Page 44: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

836 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

INTRODUÇÃO

O acesso universal e gratuito a serviços públicos e a medicamentos essenciais

padronizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tem garantia constitucional (Brasil, 2005).

Nesse sentido, a Política Nacional de Medicamentos (PNM) é um importante componente da

Política Nacional de Saúde, constituindo um dos elementos essenciais para a implementação

de ações capazes de promover a melhoria das condições da assistência à saúde da população

(Brasil, 2001). Foi regulamentada pela Portaria no3196, de 30 de outubro de 1998, e está

baseada nos princípios e diretrizes do SUS, tendo entre seus propósitos principais a promoção

do uso racional de medicamentos e a garantia do acesso àqueles considerados essenciais.

(Brasil, 1998).

A PNM é fundamentada na descentralização da gestão e na otimização e eficácia do

gerenciamento da Assistência Farmacêutica (Brasil, 2005). Já a Política Nacional de

Assistência Farmacêutica (PNAF), regulamentada em 2004 pelo Conselho Nacional de

Saúde, Resolução CNS nº 338 (Brasil, 2004), está vinculada com a ideia de política pública

norteadora para a formulação de políticas setoriais. Seus princípios envolvem ações voltadas

à promoção, proteção e recuperação da saúde, mediante o acesso e uso racional dos

medicamentos. Para a efetiva implementação dessa política é fundamental ter como princípio

orientador o Ciclo da Assistência Farmacêutica, constituído pelas etapas de seleção,

programação, aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação.

Os medicamentos essenciais são aqueles básicos e indispensáveis para atender a

maioria dos problemas de saúde da população, devendo estar disponíveis continuamente aos

que deles necessitem nas formas farmacêuticas apropriadas (Brasil, 1998). Porém, o seu

acesso deve vir acompanhado de um serviço de qualidade, capaz de sanar possíveis dúvidas

referentes à prescrição (Girotto & Silva, 2006). Sendo assim, a prescrição de qualidade deve

conter o mínimo de medicamentos possível, oferecendo menos risco, ação rápida, forma

farmacêutica adequada, posologia simples e utilização por um curto espaço de tempo

(Organização Mundial as Saúde, 1998).

A Organização Mundial da Saúde (OMS), no intuito de melhorar as práticas

farmacêuticas na atenção básica, desenvolveu indicadores que permitem avaliar estas

práticas, além de estimular o uso racional dos medicamentos (World Health Organization,

Page 45: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

837 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

1993). Somando-se a isso, a Organização Mundial da Saúde (1998) estabeleceu critérios

baseados em informações fundamentais que, se respeitados, qualificam a prescrição de

medicamentos e oferecem maior segurança ao paciente.

Em vista disso, o presente utilizou a metodologia proposta pela OMS para caracterizar

o perfil das prescrições de medicamentos dos usuários da farmácia municipal de Feliz, RS e

avaliar a sua qualidade a partir da origem, setor público ou privado. A identificação dos

aspectos do Ciclo da Assistência Farmacêutica que merecem maior atenção pode contribuir

para uma maior efetividade dessa assistência no município.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido no município de Feliz, região do Vale do Caí, distante

cerca de 80 km de Porto Alegre, RS, e que possui uma população de 12.359 habitantes,

segundo dados do último censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística - IBGE, 2010). O município possui um IDH de 0,839 (Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento - PNUD), com expectativa de vida de 75,54 anos (Fundação

de Economia e Estatística. Rio Grande do Sul), já tendo sido considerado pela Organização

das Nações Unidas (ONU) o município brasileiro com melhor qualidade de vida e o 62º lugar

no ranking mundial (Prefeitura Municipal de Feliz). Atualmente o município conta com

100% de cobertura da Estratégia de Saúde da Família (ESF), totalizando quatro equipes. As

equipes estão todas alocadas na mesma estrutura da Unidade Básica de Saúde (UBS), como

também algumas especialidades de apoio, Secretaria Municipal da Saúde e farmácia

municipal. Este estudo foi realizado na farmácia municipal, responsável pelo fornecimento

gratuito de medicamentos à população em geral.

Trata-se de um estudo descritivo, das prescrições de medicamentos que chegaram à

farmácia no período de 23 de novembro a 22 de dezembro de 2010. Este período foi

escolhido considerando-se a população adscrita de cada ESF e a média das consultas médicas

das ESFs do segundo semestre e do último trimestre de 2009. Verificou-se que houve pouca

variação no número de consultas médicas nesses três últimos meses, permanecendo o valor

dentro da média do semestre. Segundo a OMS, mesmo podendo haver influência de doenças

sazonais no padrão de prescrição, a amostra obtida em um determinado período de tempo

refletirá, basicamente, os mesmos resultados que outra amostra coletada em um período mais

amplo (World Health Organization, 1993).

Page 46: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

838 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

Os dados foram coletados diariamente pela pesquisadora e por duas auxiliares de

pesquisa treinadas para esse fim. Todas as prescrições que chegaram à farmácia, no período

estudado, foram fotocopiadas e suas informações posteriormente transcritas para uma

planilha que armazenava os dados a serem digitados.

As prescrições foram avaliadas quanto aos indicadores de prescrição recomendados

pela OMS, baseados no manual How to Investigate Drug Use em Health Facilities (World

Health Organization, 1993), calculados de acordo com a descrição a seguir:

- Número médio de medicamentos por prescrição - mede o grau de polimedicação - calculado

pelo total de medicamentos prescritos divididos pelo número total de receitas do período.

- Porcentagem de medicamentos prescritos pelo nome genérico - mede a tendência do

prescritor para optar pelo nome genérico - calculado pelo número de medicamentos prescritos

pelo nome genérico dividido pelo número total de medicamentos prescritos e multiplicado

por 100.

- Porcentagem de antibióticos prescritos - verifica o uso de antibióticos nos esquemas

terapêutico (geralmente uso abusivo e maior custo) - calculado dividindo-se o número de

receitas em que foi prescrito pelo menos um antibiótico pelo total de receitas e multiplicando-

se por 100.

- Porcentagem de injetáveis prescritos - verifica o uso de medicamentos injetáveis

(comumente uso abusivo e maior custo) - calculado dividindo-se o número de receitas em que

foi prescrito pelo menos um injetável pelo total de receitas e multiplicando-se por 100.

- Porcentagem de medicamentos prescritos pertencentes à Relação Municipal de

Medicamentos Essenciais (REMUME) - determina a adequação do serviço à Política

Nacional de Medicamentos - calculado dividindo-se o total de medicamentos que constam na

REMUME pelo total de medicamentos prescritos e multiplicando-se por 100.

Avaliou-se, também, o indicador de assistência ao paciente, conforme descrito abaixo:

- Porcentagem de medicamentos dispensados - avalia a capacidade que o serviço de saúde

tem de fornecer os medicamentos essenciais - calculado dividindo-se os medicamentos

fornecidos pelo total de medicamentos prescritos e multiplicando-se por 100.

Além disso, foram avaliados os Critérios para a Boa Prescrição Médica (Organização

Mundial da Saúde, 1998), considerados fundamentais para uma prescrição de medicamentos

de qualidade, tais como: identificação do profissional que prescreve (nome, endereço e

número do telefone); data da prescrição; nome do medicamento e dose (nome genérico e

miligramas que o medicamento deve conter); forma farmacêutica e quantidade total

Page 47: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

839 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

(abreviatura padrão e quantidade total do medicamento); informações para o rótulo

(quantidade de medicação a ser tomada e frequência, duração do tratamento e letra legível);

identificação do paciente (nome, endereço e idade) e assinatura e registro no conselho do

profissional que prescreve.

Utilizou-se a REMUME vigente na Secretaria Municipal da Saúde para o ano de

2010 a fim de se identificar os medicamentos padronizados e não-padronizados, considerando

seu princípio ativo, concentração e apresentação.

Para que o medicamento fosse considerado prescrito pela denominação genérica, foi

utilizada como referência a Denominação Comum Brasileira (DCB) e nos casos onde esta

não estava presente, utilizava-se a Denominação Comum Internacional (DCI), conforme a

legislação (Brasil, 1999).

Para avaliar a legibilidade das prescrições, utilizou-se a classificação adotada por

Rosa et al. (2009), que recomenda que as palavras sejam examinadas separadamente,

evitando interpretação ou dedução. A prescrição é considerada legível quando lida

normalmente, sem problema ou gasto de tempo além do usual para a sua compreensão, sem

deixar dúvidas sobre o entendimento das palavras, números, símbolos ou abreviaturas. As

prescrições que não se enquadravam nessa classificação, foram consideradas ilegíveis.

As prescrições foram ainda identificadas segundo sua origem: setor público (ESF,

UBS, hospital municipal, hospital de referência e consultório odontológico) e setor privado

(consultório particular, outros e não identificado).

Os usuários da farmácia municipal foram caracterizados segundo as variáveis

demográficas sexo (masculino/feminino), idade (coletada em anos completos e

posteriormente categorizadas) e cor da pele (branco e não branco). Dados sobre sexo e idade

foram coletados no prontuário de família e no sistema operacional disponível na UBS,

enquanto a variável cor da pele foi observada no momento da dispensação dos medicamentos

ao usuário. Nos casos em que outra pessoa que não o usuário retirasse os medicamentos, essa

variável foi registrada como ignorada.

Os dados foram armazenados no programa Excel e as análises foram realizadas no

pacote estatístico Stata 9.0 (STATACORP, 2003). A análise descritiva caracterizou os

usuários quanto a sexo, idade e cor da pele mediante valores absolutos e respectivas

proporções. Todas as prescrições foram descritas segundo sua origem: setor público e setor

privado. As análises dos indicadores da OMS seguiram as recomendações do manual How to

investigate drugs use in health facilities (World Health Organization, 1993). Para a avaliação

Page 48: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

840 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

da qualidade da prescrição, analisou-se a proporção de prescrições que atendiam cada um dos

critérios propostos, como também os aspectos que compunham cada critério, baseando-se no

Guia para Boa Prescrição Médica (Organização Mundial da Saúde, 1998), comparando-as

quanto à origem da prescrição.

Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade do Vale

do Rio dos Sinos - Unisinos. A realização da pesquisa foi autorizada pela Secretaria

Municipal da Saúde.

RESULTADOS

Foram avaliadas 2.744 prescrições de medicamentos, totalizando 5.607 medicamentos

prescritos. A Tabela 1 descreve as prescrições de acordo com as características demográficas

dos usuários e origem da prescrição. A média de idade foi de 50 anos (dp = 21,5), sendo que

65,6% eram do sexo feminino e 81,4% possuíam cor da pele branca. Quanto à origem da

prescrição, observou-se que 88% eram provenientes do setor público, na sua maioria da

Estratégia Saúde da Família (59,4%).

Tabela 1: Distribuição das prescrições de acordo com as características demográficas dos

usuários da farmácia municipal e origem das prescrições. Feliz, RS, Brasil, 2010.

Variáveis Total

n %

Total

2.744

100

Sexo

Masculino 944 34,4

Feminino

1.800

65,6

Faixa Etária

< 10 173 6,3

10-19 146 5,3

20 -29 217 7,9

30-39 209 7,6

40-49 408 14,9

50-59 568 20,7

60-69 508 18,5

70 ou +

515

18,8

Cor da Pele*

Branca 2.234 98,7

Não branca 29 1,3

Page 49: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

841 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

Setor Público 2.214 88,0

ESF 1.630 59,4

UBS 515 18,8

Hospital municipal 168 6,1

Hospital de referência 72 2,6

Consultório odontológico 29 1,0

Setor Privado 330 12,0

Consultório particular 161 5,9

Outros 15 0,5

Não identificado 154 5,6

*A variável cor da pele apresentou 481 valores

ignorados

Os resultados referentes aos indicadores de prescrição estão descritos na Tabela 2. Em

relação aos medicamentos prescritos, a média foi de 2,04 medicamentos por prescrição.

Observou-se que 45,9% das prescrições continham apenas um medicamento, enquanto

13,4%, quatro ou mais, sendo 10 o número máximo de medicamentos por prescrição (dados

não demonstrados em tabela).

Tabela 2: Indicadores de prescrição e assistência ao paciente: Feliz, Brasil, OMS. Feliz, RS,

Brasil, 2010.

Variáveis Feliz/RS OMS* Brasil**

Nº medicamento por prescrição (média) 2,04 2,0 2,3

Medicamentos pelo nome genérico (%) 77,3 100 84,2

Antibióticos (%) 4,7 <20 40,1

Injetáveis (%) 2,9 <10 7,9

Medicamentos da REMUME (%) 89,8 ≥70 78,3

Medicamentos dispensados (%) 79,5 100 65,7

* WHO, 1993

** OPAS, 2005

A denominação genérica foi utilizada em 77,3% das prescrições. O percentual de

prescrições em que havia pelo menos um antibiótico prescrito foi de 4,7%, enquanto para os

medicamentos injetáveis, o valor encontrado foi de 2,9%. Do total de medicamentos

Page 50: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

842 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

prescritos, 89,9% faziam parte da Relação Municipal de Medicamentos Essenciais

(REMUME) e 79,5% dos medicamentos prescritos foram dispensados.

A Tabela 3 apresenta os resultados referentes aos Critérios para a Boa Prescrição

Médica conforme a origem da prescrição. Quanto ao critério identificação do profissional

verificou-se que somente 9,6% das prescrições originadas no setor público atenderam

integralmente esse critério, sendo a ausência do endereço e telefone do profissional os itens

que mais contribuíram para um percentual tão baixo. No setor privado esse aspecto foi

melhor atendido, atingindo 45,8% das prescrições. O critério data da prescrição esteve

presente em 95,1% das prescrições do setor público e em 90,0% do setor privado. Quanto à

presença do nome do medicamento e dose, observou-se que 64,3% das prescrições do setor

público apresentaram informação completa, enquanto que no setor privado o valor

encontrado foi de 78,2%.

Tabela 3: Caracterização das prescrições de acordo com os Critérios para a Boa Prescrição

Médica segundo a origem: setor público e privado. Feliz, RS, Brasil, 2010.

Variáveis

Setor

Público Setor Privado

n % n % Valor p*

Total

2.414

100

330

100

Identificação do profissional 232 9,6 151 45,8 <0,001

Nome 2.389 99,0 328 99,4

Endereço 232 9,7 153 46,4

Telefone 235 9,7 151 45,8

Data da prescrição

2.297

95,1

300

90,9

<0,001

Nome do medicamento e dose

1.554

64,3

258

78,2

<0,001

Forma farmacêutica e quantidade total 1.734 71,8 106 32,1 <0,001

Abreviatura padrão 2.299 95,2 241 73,0

Quantidade medicamento

1.794

74,2

137

41,6

Informações para o rótulo 1.146 47,5 68 20,6 <0,001

Utilização /frequência 2.346 97,2 261 79,1

Duração do tratamento 1.184 49,0 72 21,8

Letra legível

2.208

91,5

296

89,7

Identificação do paciente** 9 0,4 2 0,6 0,019

Nome 2.360 97,8 330 100

Endereço 9 0,4 2 0,6

Idade

0

0

0

0

Assinatura e registro do conselho profissional que prescreve 2.080

86,2

162

49,0

<0,001

Page 51: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

843 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

Assinatura 2.086 86,4 169 51,2

Registro 2.074 85,9 155 47,0

* Valor p do teste do qui-quadrado para heterogeneidade das proporções entre cada critério e a origem da

prescrição (setor público e setor privado).

** Este critério foi avaliado excluindo-se o aspecto idade ausente em todas as prescrições analisadas

Em relação ao critério forma farmacêutica e quantidade total do medicamento, 71,8%

das prescrições originadas na rede pública estavam de acordo com a recomendação

internacional, enquanto no setor privado esse critério foi atendido em menor proporção

(32,1%). Quanto às informações que compõem esse critério, observou-se que abreviatura

padrão esteve presente em 95,2% das prescrições do setor público e em 73,0% das

prescrições do setor privado. A quantidade total do medicamento esteve presente em menor

número de prescrições tanto no setor público (74,2%), quanto no setor privado (41,6%).

Em relação ao critério informações para o rótulo, verificou-se que 47,5% das

prescrições do setor público apresentavam a informação completa, enquanto no setor privado

o valor encontrado foi menor (20,6%). Identificou-se que as informações sobre utilização e

frequência, duração do tratamento e letra legível estiveram presente em 97,2%, 49,0% e

91,5% das prescrições de origem pública, respectivamente. Em contrapartida, os valores

encontrados para as prescrições de origem privada foram inferiores, principalmente os

relacionados à informação da duração do tratamento (21,8%).

Excluindo-se a informação sobre a idade, ausente em todas as prescrições avaliadas, o

critério referente à identificação do paciente foi atendido em menos de 1% das prescrições

devido ao baixo número de registro do endereço do usuário.

Por fim, o critério que avalia assinatura e registro no conselho do profissional que

prescreve apresentou melhor resultado no setor público (86,2%) que no setor privado

(49,0%).

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo evidenciam que a Assistência Farmacêutica do município

de Feliz se encontra em situação satisfatória com relação aos indicadores número de

medicamentos, antibióticos e fármacos injetáveis por prescrição e adesão a REMUME, mas

insatisfatória no que diz respeito à prescrição de medicamentos pelo nome genérico e número

de medicamentos dispensados. Quanto ao atendimento dos critérios de boa prática de

Page 52: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

844 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

prescrição médica, observou-se diferença entre o setor público e o privado para todos os

critérios avaliados, sendo que o setor público apresentou melhor desempenho em relação às

informações sobre os medicamentos, ainda que a maioria das prescrições de ambos os setores

possuísse informações incompletas quanto à identificação do prescritor e do paciente, e

aquelas necessárias para o rótulo.

A média de medicamentos por receita encontrada (2,04) está de acordo com a OMS,

que preconiza 2,0 medicamentos por prescrição e abaixo do encontrado em pesquisa nacional

que avaliou cinco estados brasileiros. A média nacional foi de 2,3 medicamentos por receita,

enquanto no Rio Grande do Sul foi de 2,5 medicamentos por receita (Brasil, 2005). Valores

aproximados foram encontrados em estudos que utilizaram metodologia semelhante, com

médias variando de 2,0 a 2,5 (Borges & Silva, 2010; Kauffmann et al., 2009; Girotto & Silva,

2006; Chaves et al., 2005; Naves & Silver, 2005; Cunha, Zorzatto & Castro, 2002). Já nos

estudos de Farias et al. (2007), Colombo et al.( 2004) e Bontempo et al.( 2003), as médias

foram inferiores as do presente estudo, variando de 1,5 a 1,9 medicamentos por prescrição.

Esse resultado demonstra que não há tendência à polifarmácia, indicando racionalidade dos

prescritores e maior segurança aos pacientes, o que diminui riscos de interações

medicamentosas e reações adversas a medicamentos (RAM). Este indicador torna-se ainda

mais positivo se considerarmos que a maioria dos usuários possui 50 anos ou mais de idade e,

portanto, estão mais suscetíveis às doenças crônicas, e por consequência, à utilização de um

maior número de medicamentos (Marin et al., 2008).

A denominação pelo nome genérico ocorreu para 77,3% dos medicamentos. Este

valor é considerado baixo se comparado a outros estudos nacionais (81,8% a 93,8%) (Borges

& Silva, 2010; Kauffmann et al., 2009; Marin et al., 2008; Farias et al., 2007; Colombo et al.,

2004; Bontempo et al., 2003; Cunha, Zorzatto & Castro, 2002; Brasil, 2005). A utilização da

denominação genérica em 100% das prescrições, além de ser uma recomendação

internacional (World Health Organization, 1993), é uma obrigatoriedade no SUS (Brasil,

1999). A sua utilização facilita o acesso dos usuários aos medicamentos (Organização

Mundial da Saúde, 1998), principalmente nas situações em que o mesmo não está disponível

na rede pública e há a necessidade de compra. Ë importante levar em consideração o fato de

que os prescritores podem sofrer alguma influência na prescrição pelo nome de marca do

medicamento em função da pressão exercida pela indústria farmacêutica, seja com fortes

campanhas de marketing ou na disponibilização de diversas apresentações para o mesmo

Page 53: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

845 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

princípio ativo (Marin et al., 2003). Medicamentos de referência podem ser mais caros, e

assim, inviabilizar o tratamento.

Entre as prescrições avaliadas, somente 4,7% possuíam um antibiótico prescrito.

Valor considerado bom de acordo com a recomendação internacional e semelhante ao

percentual de 4,5% encontrado por Oliveira (2009) no período do verão, em Marília/SP. A

OMS preconiza que, independente do período, os dados obtidos representarão a realidade do

local (World Health Organization, 1993). Entretanto, este indicador deve ser analisado com

cautela, considerando-se que a coleta de dados deste estudo foi realizada em um período de

temperatura mais amena no sul do país. A região Sul do Brasil possui temperaturas mais

baixas no período do inverno, propiciando o aumento de doenças, principalmente do trato

respiratório, onde os antibióticos são amplamente utilizados. Percebe-se ainda que, no

período deste estudo, o percentual de crianças representou menos de 15% das prescrições

avaliadas, faixa etária esta que tem maior probabilidade de receber prescrição desta classe

terapêutica. Tavares et al. (2008), em estudo realizado no interior do Rio Grande do Sul,

encontraram diferenças significativas na proporção de antibióticos prescritos entre os

períodos de verão e inverno, sendo a maior proporção no inverno. No estudo de Cunha et al.

(2002), realizado no Mato Grosso do Sul observou-se um acréscimo de 52% de antibióticos

prescritos no período do inverno em relação ao verão, porém, no local, não ocorrem

diferenças climáticas tão expressivas.

A OMS (Brasil, 2005) recomenda que a prescrição de injetáveis seja inferior a 10%,

dessa forma, o valor encontrado de 2,9% fica consideravelmente abaixo da orientação

internacional e se comparado a outros trabalhos realizados, está entre os mais baixos, exceto

o de Farias et al. (2007) (1,1%). Os medicamentos injetáveis são importantes na rotina de

trabalho dos serviços de saúde, principalmente no atendimento de urgência e emergência.

Entretanto, sua escolha é secundária quando estão disponíveis medicamentos em outras

formas farmacêuticas que ofereçam menos risco de complicações (Santos & Nitrini, 2004).

No caso do município de Feliz, é importante ressaltar que a farmácia municipal está

localizada em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), onde habitualmente não são realizados

atendimentos de urgência e emergência, podendo justificar o baixo percentual encontrado.

A partir da PNM e o estabelecimento das diretrizes norteadoras, fica recomendada a

adoção da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) que deve servir de

base para as relações municipais (REMUME) (Brasil, 1998). Esta por sua vez, deve conter

um elenco de medicamentos que contemple o tratamento e controle da maioria das patologias

Page 54: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

846 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

prevalentes no município. A OMS recomenda que 70% ou mais das prescrições sejam

provenientes da lista nacional de medicamentos essenciais ou de listas municipais (World

Health Organization, 1993). Ressalta-se que a adoção da relação municipal oferece inúmeras

vantagens, entre elas a melhora da gestão, da informação, da vigilância dos medicamentos e

do cumprimento do Ciclo da Assistência Farmacêutica (Marin et al., 2003). No presente

estudo, 89,8% dos medicamentos prescritos pertenciam à REMUME vigente. Este resultado é

superior ao encontrado pela maioria dos estudos nacionais (Borges & Silva, 2010;

Kauffmann et al., 2009; Oliveira et al., 2009; Menolli, Ivama & Cordoni Junior, 2009;

Arrais, Barreto & Coelho, 2007; Girotto & Silva, 2006; De Bernardi, Bieberbach & Thomé,

2006; Naves & Silver, 2005; Colombo et al., 2004; Santos & Nitrini, 2004; Bontempo et al.,

2003; Marcondes, 2002), inclusive, maior que a média nacional encontrada a partir da

avaliação de cinco estados brasileiros (ES, GO, PA, RS, SE) (Brasil, 2005). Porém, é inferior

aos estudos de Cunha et al. (2002) e Farias et al. (2007). Uma das justificativas para a alta

adesão dos profissionais à REMUME é a adequação desta a maioria das necessidades da

população local. Por outro lado, não se deve descartar a possibilidade dos prescritores

prescreverem de acordo com a REMUME para facilitar o acesso gratuito dos usuários a esses

medicamentos, sem considerar a sua adequação. Contudo, o município não conta com o

profissional farmacêutico e também não há uma comissão instituída no serviço de saúde que

trabalhe especificamente esta questão. Dal Pizzol et al. (2010) verificaram que nos

municípios com menor adesão à REMUME não havia farmácia vinculada a UBS, indicando

que a dispensação de medicamentos no próprio serviço de saúde é um facilitador para a

adesão à REMUME.

Neste estudo, o percentual de medicamentos prescritos que foram dispensados

correspondeu a 79,5%. O resultado observado ficou acima do encontrado na maioria dos

estudos nacionais que avaliaram este indicador (52,6% a 73,0%) (Kauffmann et al., 2009;

Menolli, Ivama & Cordoni Junior, 2009; Chaves et al., 2005; Cunha, Zorzatto & Castro,

2002; Brasil, 2005) porém abaixo do estudo de De Bernardi et al.( 2006), onde o percentual

de medicamentos dispensados foi de 88,0%, e de 89,6% em um dos estados (ES) avaliados na

pesquisa nacional (Brasil, 2005). A recomendação internacional é de que a dispensação seja

realizada em 100% dos casos, garantindo, assim, acesso da população aos medicamentos

considerados essenciais (World Health Organization, 1993) e apontando para a adequação da

REMUME ao perfil epidemiológico do local.

Page 55: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

847 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Brasil, 2005), uma forma de refinar

este indicador é analisar a proporção de medicamentos não dispensados pertencentes à

REMUME. Neste estudo verificou-se que metade dos medicamentos não dispensados

constava na lista municipal. Assim, ao considerarmos o indicador de adesão à REMUME de

90%, é possível concluir que tanto pode estar ocorrendo falhas nas etapas de programação ou

aquisição desses medicamentos, como também um desajuste entre a REMUME e o

comportamento prescritivo. O resultado encontrado ratifica um problema frequente de

desabastecimento de medicamentos essenciais no setor público, já observado em outros

estudos (Emmerick, Luiza VL & Pepe VLE, 2009; De Bernardi, Bieberbach & Thomé, 2006;

Costa, Macedo & Hermógenes, 1992).

De acordo com a OMS, a “prescrição é uma instrução do profissional que passa a

receita para o profissional que vai aviá-la” (Organização Mundial da Saúde, 1998). Em

função disso foram estabelecidos alguns critérios que qualificam a prescrição e devem ser

observados pelo prescritor. A falta de informações na prescrição pode interferir diretamente

na comunicação entre os profissionais, contribuindo para que ocorram erros de medicação, da

mesma forma que podem comprometer o tratamento do paciente e colocar em risco a

qualidade da assistência farmacêutica prestada (Silverio & Leite, 2010).

Neste estudo, foram avaliados critérios para boa prescrição médica conforme a sua

origem, setor público ou privado. Em relação ao critério identificação do profissional que

prescreve, somente 9,6% das prescrições do setor público estavam de acordo, enquanto no

setor privado, o valor foi de 45%. A origem das prescrições no ESF e na UBS poderia

explicar o baixo percentual encontrado no setor público, pois no serviço em questão, os

receituários não possuem endereço e telefone impressos, apenas local destinado para o

registro. Acúrcio et al. (2004), ao avaliar prescrições médicas aviadas nas farmácias das

unidades de saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte/MG, segundo a sua

origem (internas e externas), constataram que, em ambos os grupos, as informações

referentes ao prescritor e a data eram elevadas, porém insuficientes, considerando-se as

determinações da Secretaria da Saúde que proíbe a dispensação de medicamentos que não

contenham estas informações. A observação deste critério torna-se importante,

principalmente no que diz respeito ao número telefônico, pois nos casos em que o paciente

necessite de algum esclarecimento posterior, terá uma referência de contato.

A data da prescrição esteve presente na maioria das prescrições, independente da sua

origem. Esta informação torna-se importante por duas razões: 1) sendo o medicamento de uso

Page 56: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

848 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

contínuo, a data garante a validade da prescrição pelo tempo necessário; 2) nas demais

situações, a presença desta informação impede a reutilização da prescrição em situações onde

não há mais necessidade da utilização do medicamento (Galato et al., 2008).

Os critérios avaliados referentes às características do medicamento (nome do

medicamento, dose, forma farmacêutica e quantidade total do medicamento e informações

para o rótulo) são imprescindíveis para a qualidade da prescrição. Juntos, garantem segurança

ao profissional que fará a dispensação do medicamento e, em maior grau, ao paciente que irá

utilizá-lo. Prescrições incompletas são indícios de possíveis problemas de entendimento e

descumprimento de uma exigência legal (Acurcio et al., 2004). Em um estudo realizado para

avaliação do nível de conhecimento da prescrição na atenção primária, constatou-se que

somente 11,6% dos pacientes sabiam a dose a ser utilizada (Frohlich, Dal Pizzol & Mengue,

2010).

Identificou-se baixa qualidade no critério nome do medicamento e dose para

prescrições de ambas as origens, porém com pior resultado para o setor público. O critério

forma farmacêutica e quantidade total do medicamento não foi cumprido adequadamente em

quase 70% nas prescrições de origem privada, principalmente pela ausência da quantidade

total do medicamento (58,4%). A informação referente à abreviatura padrão apresentou

melhor desempenho (73,0%), porém requer atenção. Um estudo que avaliou erros na

prescrição de medicamentos potencialmente perigosos verificou que o uso frequente de

abreviaturas está entre as causas mais citadas de erros na utilização de medicação por seu

potencial de confusão e falhas de comunicação (Rosa et al., 2009).

Em relação ao critério informações para o rótulo, menos da metade das prescrições de

origem pública estavam de acordo com as recomendações, enquanto que para as de origem

privada, quase 80% apresentavam baixa qualidade. Independente da origem, a principal

ausência foi a duração do tratamento. Bontempo et al. (2003) observaram que em quase 30%

das prescrições faltava a informação que contemplava a utilização e a frequência do

medicamento e em quase 60% das prescrições estava ausente a informação referente à

duração do tratamento. Costa et al. (1992) também constataram que em 27,5% das

prescrições a duração do tratamento estava ausente. Não informar ao paciente quanto tempo

deve durar o seu tratamento pode gerar gastos desnecessários, além de aumentar o risco de

resistência antimicrobiana, tolerância ou dependência ao medicamento ou ainda reações

adversas (Bontempo et al., 2003).

Page 57: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

849 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

Nossos resultados em relação à legibilidade mostraram-se positivos, uma vez que 90%

das prescrições atenderam esse aspecto, contrariando os resultados encontrados por Silvério e

Leite ( 2010) (64,0%), Azevedo et al. ( 2011)(75,0%) e Rosa et al. ( 2009) (78,0%). Embora

esse resultado tenha sido satisfatório, 10,0% das prescrições estavam ilegíveis. A

ilegibilidade da prescrição pode dificultar, alterar ou mesmo inviabilizar o processo de

assistência ao paciente e a execução da terapêutica proposta. De nada adianta o detalhamento

da prescrição em relação a utilização dos medicamentos se ela não puder ser lida com

segurança. Uma prescrição completa e legível é, sem dúvida, o ponto de partida para

qualquer tratamento (Silverio & Leite, 2010).

O critério identificação do paciente não foi contemplado, pois nenhuma prescrição

apresentou a idade. Esta informação torna-se importante, considerando as especificidades

farmacocinéticas e farmacodinâmicas relativas à idade do usuário. Assim, no momento da

entrega do medicamento ao paciente, o profissional que dispensa poderá fazer uma última

verificação, identificando possíveis equívocos ou dúvidas em relação à utilização do

medicamento. Facilita também o cumprimento da legislação que não permite a dispensação

de medicamentos para crianças e adolescentes.

Embora o critério que inclui a assinatura e registro do profissional tenha sido

satisfatório no setor público (86,2%), no setor privado, ele foi atendido em somente metade

das prescrições. A presença da identificação completa do profissional é imprescindível

considerando-se que a prescrição médica é um documento legal, sendo ainda a única forma

de identificá-lo ou responsabilizá-lo pelo tratamento prescrito.

CONCLUSÕES

Em conclusão, evidenciaram-se resultados satisfatórios para a adesão dos prescritores

a REMUME, número de medicamentos por prescrição, bem como a proporção de antibióticos

e injetáveis, porém insatisfatórios para outros indicadores, tais como, utilização da

denominação genérica e número de medicamentos dispensados, o que sugere falhas na

implementação efetiva da Assistência Farmacêutica. Muito embora haja legislação específica

para o emprego da denominação genérica, suas recomendações ainda não foram seguidas na

íntegra pelos profissionais aptos a prescrever, indicando a necessidade de que sejam

promovidas ações de educação permanente nos serviços de saúde e o efetivo cumprimento da

legislação nacional. A não dispensação de medicamentos essenciais restringe o acesso dos

Page 58: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

850 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

usuários, descumprindo as diretrizes da Política Nacional de Medicamentos, e fere os

princípios do SUS.

Quanto à qualidade da prescrição, o estudo identificou a ausência de informações

essenciais para a utilização correta e segura dos medicamentos, independente da origem, mas

principalmente no setor privado, onde a situação é consideravelmente pior. Os resultados

mostram lacunas importantes no processo que envolve o ato de prescrever e demonstram falta

de comprometimento do prescritor com o usuário e com o serviço prestado. A não

observação desses critérios compromete a integridade física, e até mesmo a vida deste

usuário.

Assim, programas de educação continuada direcionados aos profissionais aptos a

prescrever, inclusive da rede privada, abordando os critérios de prescrição e orientando a

prescrição pela denominação genérica são ações simples que podem fazer parte das

estratégias municipais de promoção do uso racional de medicamentos. Ainda, a atualização

periódica da REMUME, somada a uma programação que garanta o abastecimento regular dos

medicamentos na farmácia municipal, pode melhorar a situação dos indicadores ora avaliados

como insatisfatórios e contribuir para a qualidade da assistência farmacêutica prestada,

garantindo assim a integralidade e a equidade das ações de saúde.

REFERÊNCIAS

Acurcio F, Perini E, Magalhães S, Vieira Terceiro L, Coutinho K, Caldeira K. Analysis of

medical prescriptions dispensed at health centers in Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil.

Cad. Saúde Públ. 20:72-9, 2004.

Arrais PSD, Barreto ML, Coelho HLL. Aspectos dos processos de prescrição e dispensação

de medicamentos na percepção do paciente: estudo de base populacional em Fortaleza, Ceará,

Brasil. Cad. Saúde Públ. 23(4):927-37, 2007.

Azevedo LS, Pereira LJ, Zangerônimo MG, Sousa RV, Murgas LDS, Marques LS, Castelo

PM, Pereira CV. Avaliação da adequação legal de receitas e notificações de receita de

medicamentos sujeitos a controle especial dos setores públicos e privados. Rev. Ci. Farm.

Básica Apl. 32(3):401-17, 2011.

Page 59: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

851 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

Bontempo VL, Coelho MC, Chaves JC, Pereira LAM, Andrade WW, Braccini CM. Análise

das prescrições geradas pelas equipes do PSF e das unidades de atendimento imediato, em

dois distritos sanitários do município de Contagem/MG. Bol. Pneumol. Sanit. 11(2):17-24,

2003.

Borges LM & Silva EV. Análise dos indicadores de prescrição médica em uma unidade de

saúde de Anápolis-GO. Rev . Tempus Actas Saúde Colet. 4:53-62, 2010.

Brasil. Ministério da Saúde. Portaria GM n° 3.916, de 30 de outubro de 1998. Aprova a

Política Nacional de Medicamentos. Brasília: Diário Oficial da União; 1998.

Brasil. Lei n° 9787, de 10 de fevereiro de 1999. Altera a Lei n° 6.360 de 23 de setembro de

1976 que dispõe sobre a vigilância sanitária estabelece o medicamento genérico, dispõe sobre

a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos e dá outras providências: Diário

Oficial da União, 1999.

Brasil. Ministério da Sáude, Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Atenção

Básica, Política Nacional de Medicamentos. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.

Brasil. Conselho Nacional de Saúde (CNS). Resolução n° 338, de 6 de maio de 2004.

Aprova a Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Brasília: CNS, 2004.

Brasil. Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde, Organização Mundial da

Saúde. Avaliação da assistência farmacêutica no Brasil: estrutura, processo e resultados.

Brasília: Ministério da Saúde, 2005. p. 260.

Chaves GC, Emmerick ICM, Pouvourville N, Saint-Denis T, Fonseca ASA, Luiza VL.

Indicadores de uso racional de medicamentos e acesso a medicamentos: um estudo de caso.

Rev. Bras. Farm. 86(3):97-103, 2005.

Colombo D, Santa Helena ET, Agostinho ACMG, Didjurgett JSMA. Padrão de Prescrição de

Medicamentos nas Unidades de Programa de Saúde da Família de Blumenau. Rev. Bras. Ci.

Farm. 40(4):549-58, 2004.

Page 60: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

852 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

Costa MCN, Macedo JN, Hermógenes JA. Prescrição, dispensação e uso de medicamentos

em dois Centros de Saúde de Salvador, Bahia. Rev. Baiana Saúde Públ. 19(14):19-28,1992.

Cunha MCN, Zorzatto JR, Castro LLC. Avaliação do uso de medicamentos na Rede Pública

Municipal de Saúde de Campo Grande/MS. Ver. Bras. Ci. Farm. 38(2):215-27, 2002.

Dal Pizzol TS, Trevisol DJ, Heineck I, Flores LM, Camargo AL, Koenig A, Torres IL, Kadri

MC, Monreal MT, Melo AM, Ferreira MB. Adesão a listas de medicamentos essenciais em

municípios de três estados brasileiros. Cad. Saúde Públ. 26(4):827-36, 2010.

De Bernardi CLB, Bieberbach EW, Thomé HI. Avaliação da Assistência Farmacêutica

Básica nos Municípios de Abrangência da 17ª Coordenadoria Regional de Saúde do Rio

Grande do Sul. Saúde Soc. 15(1):73-83, 2006.

Emmerick ICM, Luiza VL, Pepe VLE. Pharmaceutical services evaluation in Brazil:

broadening the results of a WHO methodology. Ci. Saúde Colet. 14:1297-306, 2009.

Farias AD, Cardoso MAA, Medeiros ACD, Belém LF, Simões MOS. Indicadores de

prescrição médica nas unidades básicas de Saúde da Família no município de Campina

Grande, PB. Rev. Bras. Epidemiol. 10(2):149-56, 2007.

Frohlich SE, Dal Pizzol TS, Mengue SS. Instrumento para avaliação do nível de

conhecimento da prescrição na atenção primária. Rev. Saúde Públ. 44(6):1046-54, 2010.

Fundação de Economia e Estatística. Rio Grande do Sul. Expectativa de Vida ao Nascer

(2000). Disponível em:

<http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/resumo/pg_municipios_detalhe.php?municipio=Fe

liz>. Acesso: abr. 2012.

Galato D, Alano GM, Trauhman SC, Vieira AC. A dispensação de medicamentos: uma

reflexão sobre o processo para a prevenção, identificação e resolução de problemas

relacionados à farmacoterapia. Rev. Bras Ci. Farm. 44:465-75,2008.

Page 61: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

853 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

Girotto E & Silva PV. A prescrição de medicamentos em um município do Norte do Paraná.

Rev. Bras. Epidemiol. 9(2):226-34, 2006.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Cidades@: Feliz – RS. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/perfil.php?codmun=430810&search=rio-grande-do-

sul|feliz>. Acesso em: maio 2011.

Kauffmann C, Fernandes LC, Deitos A, Laste G, Heberlé G, Castro LC, Torres ILS. Analysis

of pharmaceutical assistance in the Taquari Valley, Rio Grande do Sul: profile of service

users and access to medication. Braz. J. Pharmac. Sci. 45(4):777-86, 2009.

Marcondes NSP. A assistência farmacêutica básica e o uso de medicamentos na zona urbana

do município de Ponta Grossa, Paraná: estudo de caso. 2002. Rio de Janeiro (RJ). 150 p.

Dissertação (Mestrado em Saúde Pública), Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação

Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro.

Marin MJ, Cecilio LC, Perez AE, Santella F, Silva CB, Goncalves Filho JR, Roceti LC.

Caracterização do uso de medicamentos entre idosos de uma unidade do Programa Saúde da

Família. Cad. Saúde Públ. 24(7):1545-55, 2008.

Marin N, Luiza VL, Osorio de Castro CGS, Machado dos Santos S. Assistência Farmacêutica

para gerentes municipais. Rio de Janeiro: Opas/OMS, 2003.

Menolli PV, Ivama AM, Cordoni Junior L. Caracterización de los servicios farmacéuticos de

atención primaria del Sistema Único de Salud en Londrina, Paraná, Brasil. Rev. Panam.

Salud Públ. 25(3):254-9, 2009.

Naves JOS & Silver LD. Evaluation of pharmaceutical assistance in public primary care in

Brasília, Brazil. Rev. Saúde Púb. 39(2):223-30, 2005.

Page 62: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

854 Mortari, C. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 833 – 854, 2014

Oliveira CA, Marin MJ, Marchioli M, Pizoletto BH, Santos RV. Caracterização dos

medicamentos prescritos aos idosos na Estratégia Saúde da Família. Cad. Saúde Públ.

25(5):1007-16, 2009.

Organização Mundial da Saúde (OMS). Guia para a Boa Prescrição Médica. Porto Alegre:

Editora Artmed, 1998. p. 124.

Prefeitura Municipal de Feliz. Município. Histórico. Disponível em:

<http://www.feliz.rs.gov.br/municipio/>. Acesso: abr. 2012.

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD. Ranking decrescente do

IDH-M dos municípios do Brasil. Disponível em:

<http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/IDH_Municipios_Brasil_2000.aspx?indiceAccordion

=1&li=li_Ranking2003>. Acesso: abr. 2012.

Rosa MB, Perini E, Anacleto TA, Neiva HM, Bogutchi T. Erros na prescrição hospitalar de

medicamentos potencialmente perigosos. Rev. Saúde Públ. 43(3):490-8, 2009.

Santos V & Nitrini SM. Indicadores do uso de medicamentos prescritos e de assistência ao

paciente de serviços de saúde. Rev. Saúde Púb. 38(6):819-26, 2004.

Silverio MS & Leite IC. Qualidade das prescrições em municicípio de Minas Gerais: uma

abordagem farmacoepidemimiológicica. Rev. Assoc. Med. Bras. 56(6):675-80, 2010.

STATACORP. Stata Statistical Software: Release 9.0. College Station, TX: Stata

Corporation, 2003.

Tavares NUL, Bertoldi AD, Muccillo-Baisch AL. Prescrição de antimicrobianos em unidades

de saúde da família no Sul do Brasil. Cad. Saúde Públ. 24(8):1791-800, 2008.

World Health Organization (WHO). How to investigate drug use in health facilities- selected

drugs use indicators. Geneva: WHO, 1993.

Page 63: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Chemical composition of the essential oil from leaves of

Chenopodium ambrosioides L. grown in Recife-PE, Brazil

Composição química do óleo essencial de folhas de Chenopodium ambrosioides L. cultivadas em

Recife-PE, Brasil

Rafaela Damasceno Sá1, Marcos Aurélio Moraes Galvão2, Magda Rhayanny Assunção

Ferreira1, Luiz Alberto Lira Soares1,2 & Karina Perrelli Randau*,1,2

1 Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, CCS, UFPE 2 Programa de Pós-graduação em Inovação Terapêutica, CCB, UFPE

*Karina Perrelli Randau - Departamento de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de

Pernambuco, Av. Prof. Arthur de Sá, S/N, Cidade Universitária, 50740-521, Recife-PE, Brasil.

Fone: +55-81-3076-4774. E-mail: [email protected]/[email protected]

Page 64: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

856 Sá, R. D. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 855 – 866, 2014

RESUMO

Chenopodium ambrosioides L. é uma erva aromática amplamente distribuída ao longo da América,

África e também em países da Europa. O óleo essencial das folhas de C. ambrosioides é o compo-

nente mais usado na medicina popular. Com o objetivo de conhecer a sua composição química, o

óleo essencial das folhas da espécie, cultivada em Recife-PE, Brasil, foi extraído por hidrodestila-

ção e analisado por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas. O rendimento médio

do óleo foi de 0,7% ± 0,1%. Os componentes majoritários encontrados foram α-terpineno (42,14%),

α-terpinenil-acetato (31,57%) e timol (7,90%).

Palavras-chave: α-terpineno, Chenopodium ambrosioides L., Mastruz

Page 65: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

857 Sá, R. D. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 855 – 866, 2014

ABSTRACT

Chenopodium ambrosioides L. is an aromatic herb widely distributed throughout the Americas,

Africa and also in European countries. The essential oil from the leaves of C. ambrosioides is the

main component used in folk medicine as an anthelmintic and for the treatment of influenza. In or-

der to know the chemical composition, the essential oil from the leaves of the species cultivated in

Recife-PE, Brazil, was extracted by hydrodistillation and analyzed by gas chromatography-mass

spectrometry. The average yield of oil was 0.7% ± 0.1. The major components were α-terpinene

(42.14%), α-terpinenyl-acetate (31.57%) and thymol (7.90%).

Keywords: α-terpinene, Chenopodium ambrosioides L., wormseed

Page 66: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

858 Sá, R. D. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 855 – 866, 2014

INTRODUCTION

The genus Chenopodium, of the family Chenopodiaceae, includes several species native to

Asia, Europe and America, used as food, condiment and/or medicinal plants (Kokanova-

Nedialkova, Nedialkov & Nikolov, 2010, p. 280; Blanckaert et al., 2012, p. 559). Chenopodium

ambrosioides L. is an herb popularly known as epazote, Mexican tea, American wormseed, paico,

mastruz and erva-de-Santa-Maria (Kliks, 1985, p. 879; Albuquerque et al., 2009, p. 136). The spe-

cies is native to Central and South America, it originated, probably, from Mexico. It has spontane-

ous growth in tropical, subtropical and temperate areas and is found on all continents (Kismann,

1991, 608p.). In Brazil, its distribution is extensive, occurring in almost all the territory (Sousa et

al., 2004, 448p.; Lima et al., 2006, 82p.). Senna (2012) states that C. ambrosioides is native to Bra-

zil, but not endemic. It has been used by local people as anthelmintic and in the treatments of influ-

enza (Morais et al., 2005, p. 171; Lima et al., 2006, 82p.).

The essential oil (EO) of C. ambrosioides is also used as anthelmintic, especially against as-

cariasis (Guimaraes, Llanos & Acevedo, 2001, p. 212). Additionally, the EO presents several prop-

erties, such as antioxidant, antifungal, insecticidal and allelopathic (Hegazy & Farrag, 2007, p. 01;

Kumar et al., 2007, p. 159; Jaramillo, Duarte & Delgado, 2012, p. 54).

In many Chenopodiaceae species, the secondary metabolites that compose the EO are syn-

thesized in specialized secretory structures such as glandular trichomes (Metcalfe & Chalk, 1950, p.

1074). The biosynthesis of these metabolites can be influenced by external factors like environmen-

tal conditions, season and soil composition (Martins et al., 2006, p. 1203; Demuner et al., 2011, p.

1182). In many cases genetic variability can also result in plant of different chemotypes (Castro et

al., 2004, p. 55; Silva et al., 2007, p. 474).

Previous studies have reported the composition of the EO of the plant in other countries, like

Colombia (Jaramillo, Duarte & Delgado, 2012, p. 54) and Nigeria (Gbolade, Tira-Picos & Noguer-

ia, 2010, p. 654). However, there are few studies on the species cultivated in Brazil.

The plant is one of the 71 plant species that arouse the interest of the government for the

production of phytotherapics, and is present in the list of National Medicinal Plants of Interest to the

Unified Health System (Brasil, 2009).

Considering the importance of the EO of C. ambrosioides for the development of new natu-

ral products and their wide popular and institutional interest, the aim of this study was to analyze

the composition of the EO from leaves of C. ambrosioides by gas chromatography coupled to mass

spectrometry, from plants grown in Recife-PE, Brazil.

Page 67: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

859 Sá, R. D. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 855 – 866, 2014

MATERIALS AND METHODS

Plant Material

The plant was collected in the months of september, october and november of 2012, in the

garden of the Laboratório de Fitoterapia, of the company Pernambuco Participações e Investimentos

S/A (PERPART), located in the city of Recife, state of Pernambuco, Brazil. A voucher specimen

was deposited in the herbarium UFP-Geraldo Mariz, of the Federal University of Pernambuco, Bra-

zil, under number 69718.

Essential Oil Extraction

The EO was extracted from 30 g of fresh leaves by hydrodistillation for 2 h, in a Clevenger

apparatus. The EO was collected, dried with anhydrous sodium sulfate, the volume determined and

the yield calculated as the mean of three replications, on a fresh weight basis (Santos et al., 2004, p.

4). The EO was stored at 4°C until analyzed.

Gas Chromatography-Mass Spectrometry

Gas chromatography-mass spectrometry (GC-MS) analysis was performed using a GCMS-

QP2010S (Shimadzu) instrument and a fused-silica capillary column RTX-5 (30 m x 0.25 mm i.d.,

film thickness, 1 μm; Restek). The operating conditions were: programmed column temperature 50°

to 280°C at 4°C/min; injector port temperature, 250°C; carrier gas, 2.52 mL/min He; injection vol-

ume, 1 μL, splitless; interface temperature 260°C; electron impact ionization at 70 eV. Constituents

were identified by matching their mass spectra with those recorded in the Wiley 229 library.

RESULTS AND DISCUSSION

A yellow-colored EO was obtained by hydrodistillation procedure yielding 0.7%. Ten com-

pounds were identified (Table 1), most of them being monoterpenes and oxygenated monoterpenes.

The major components found in the EO were α-terpinene (42.14%) and α-terpinenyl-acetate

(31.57%), followed by thymol (7.90%).

Page 68: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

860 Sá, R. D. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 855 – 866, 2014

Table 1. Chemical composition of the essential oil from leaves of Chenopodium ambrosioides L.

Compound Retention time (min) Area %

α-terpinene 18.704 42.14

ρ-cymene 19.138 7.29

γ-terpinene 21.220 0.75

α-terpinenyl-acetate 32.543 31.57

Ascaridole 33.490 0.87

Thymol 35.262 7.90

Carvacrol 35.851 4.27

Isoascaridole 36.396 2.61

Limonene oxide 49.494 0.44

Phytol 55.281 2.16

The composition of the EO of C. ambrosioides has been the subject of several studies and

data from the literature shows that it has no constancy neither with respect to the compounds or

their percentage. The factors that determine the composition and yield of essential oils are numer-

ous, and in some cases, it is difficult to isolate these factors from each other. These variables may

include seasonality and plant maturity, geographical origin, genetic variation, the stages of growth,

the plant part used and the drying and post-harvest storage (Anwar et al, 2009, p. 188).

In the case of C. ambrosioides, realizes that the geographical origin of the plant has the

greatest influence. The α-terpinene is the major component in the EO of plant collected in Nigeria,

(Onocha et al., 1999, p. 220; Kasali et al., 2006, p. 13; Gbolade, Tira-Picos & Nogueria, 2010, p.

654), Rwanda (Muhayimana, Chalchat & Garry,1998, p. 690), Colombia (Jaramillo, Duarte & Del-

gado, 2012, p. 54), Cameroon (Chekem et al., 2010, 2900) and India (Gupta et al., 2002, p. 93;

Singh et al., 2008, p. 378). In contrast, in India was also found m-cymene as major portion, corre-

sponding to 43.9% of the oil (Prasad et al., 2009, p. 125). In Cameroon, Tapondjou et al. (2002, p.

398) found ρ-cymene corresponding to 50% the chemical constitution of EO.

Climatic conditions and water available in the soil can change the vegetal secondary me-

tabolism and, consequently, alter the composition of essential oils, throughout the seasons of the

Page 69: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

861 Sá, R. D. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 855 – 866, 2014

year (Silva et al., 2012, p. 195). The results of this study were obtained with plant material collected

during the spring in Pernambuco. Torres et al. (2003, p. 31) analyzed the EO composition of C.

ambrosioides collected in Argentina in three seasons: summer, autumn and spring. In summer, the

major component was α-phellandrene (40.0%), which was found in traces in autumn. In autumn

were found α-pinene (32.7%) and limonene (32.5%) in higher concentrations. In the spring, these

proportions fell to 17.4% for α-pinene and to 27.7% for limonene. The content of ascaridole showed

little variation during the three seasons, being found in summer 8.6%, 9.2% in autumn and 9.5% in

the spring.

The content of ascaridole, component for which are attributed some biological activities of

the EO (Jardim et al., 2008, p. 1213; Chu, Hu & Liu, 2011, p. 714) is also affected by the place of

origin of the plant. In Brazil, Jardim et al. (2008, p. 1213) reported a content of 80% of ascaridole in

EO of plant collected in the Southeast region of the country. Ascaridole was also found as the main

component of the EO of C. ambrosioides from Madagascar (Cavalli et al., 2004, p. 275), Togo (Ko-

ba et al., 2009, p. 435), the Eastern Mediterranean (Dembitsky, Shkrob & Hanus, p. 209) and China

(Chu, Hu & Liu, 2011, p. 714). It was reported, however, accounting for only a small percentage of

0.1% in the EO of plant in Nigeria (Onocha et al., 1999, p. 220).

In the present study, with the cultivated species in the Northeast region of Brazil, only

0.87% of ascaridole was found. The chemical composition of the EO was quite different from that

reported by Jardim et al. (2008, p. 1213). However, it is known that ascaridole is a heat-sensitive

compound which rearranges on treatment at 150°C to form isoascaridole. Moreover, it has been

noted that this isomerisation can give rise to inaccurate quantification of ascaridole (Cavalli et al.,

2004, p. 275).

Futhermore, Johnson & Croteau (1984, p. 254) showed that the biosynthesis of ascaridole

from α-terpinene was catalyzed by a soluble iodide peroxidase, which was isolated from homoge-

nates of fruit and leaves of C. ambrosioides. The enzymatic synthesis of ascaridole was confirmed

by GC-MS of the product. According Gobbo-Netto & Lopes (2007, p. 374) secondary metabolites

represent a chemical interface between plants and the environment. Thus, stimulus arising from the

environment in which the plant is located may redirect the metabolic route, leading to the biosyn-

thesis of different compounds, which may also explain the variations in the chemical composition

of the EO of C. ambrosioides.

Because it is a plant of great medicinal interest, and since the biological activities are related

to the presence of secondary metabolites, further studies are needed about the factors that affect the

composition of the EO of C. ambrosioides. The results are important for obtaining plants with

Page 70: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

862 Sá, R. D. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 855 – 866, 2014

greater accumulation of the compounds of interest and also for the optimization of harvesting tech-

niques, post-harvest and extraction, visualizing potential commercial application of the plant (Silva

et al., 2012, 195).

ACKNOWLEDGEMENTS

The authors are grateful to CNPq (132722/2011-9) for financial support in the form of

grants and fellowship awards. We also thank PERPART for supplying of plant material.

REFERENCES

Albuquerque UP, Araújo TAS, Ramos MA, Nascimento VT, Lucena RFP, Monteiro JM, Alencar

NL, Araújo EE. How ethnobotany can aid biodiversity conservation: reflections on investigations in

the semi-arid region of NE Brazil. Biodivers. Conser. 18(1): 127-150, 2009.

Anwar F, Hussain AI, Sherazi TH, Bhanger MI. Changes in composition, antioxidant and antimi-

crobial activities of essential oil of fennel (Foeniculum vulgare Mill.) fruits at different stages of

maturity. J. Herbs Spices Med. Plants. 15(2): 187-202, 2009.

Blanckaert I, Paredes-Flores M, Espinosa-García FJ, Piñero D, Lira R. Ethnobotanical, morphologi-

cal, phytochemical and molecular evidence for the incipient domestication of Epazote (Chenopodi-

um ambrosioides L.: Chenopodiaceae) in a semi-arid region of Mexico. Genet. Resouc. Crop. Evol.

59(4): 557-573, 2012.

Brasil. Plantas de interesse ao SUS. Disponível em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=30277&janela=1>.

Acesso em maio de 2012.

Castro HG, Oliveira LO, Barbosa LCA, Ferreira FA, Silva DJH, Mosquim PR, Nascimento EA.

Teor e composição do óleo essencial de cinco acessos de mentrasto. Quim. Nova. 27(1): 55-57,

2004.

Page 71: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

863 Sá, R. D. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 855 – 866, 2014

Cavalli J, Tomi F, Bernardini A, Casanova J. Combined analysis of the essential oil of Chenopodi-

um ambrosioides by GC, GC-MS and 13C-NMR spectroscopy: quantitative determina-

tion of ascaridole, a heat-sensitive compound. Phytochem. Anal. 15(5): 275-279, 2004.

Chekem MSG, Lunga PK, Tamokou JDD, Kuiate JR, Tane P, Vilarem G, Cerny M. Antifungal

properties of Chenopodium ambrosioides essential oil against Candida Species. Pharmaceuticals.

3(9): 2900-2909, 2010.

Chu SS, Hu JF, Liu ZL. Composition of essential oil of chinese Chenopodium ambrosioides and

insecticidal activity against maize weevil, Sitophilus zeamais. Pest. Manag. Sci. 67(6): 714-718,

2011.

Dembitsky V, Shkrob I, Hanus LO. Ascaridole and related peroxides from the genus Chenopodium.

Biomed. Pap. Med. Fac. Univ. Palacky Olomouc Czech Repub. 152(2): 209-215, 2008.

Demuner AJ, Barbosa LCA, Magalhaes CG, Silva CJ, Maltha CRA, Pinheiro AL. Seasonal varia-

tion in the chemical composition and antimicrobial activity of volatile oils of three species

of Leptospermum (Myrtaceae) grown in Brazil. Molecules. 16(2): 1181-1191, 2011.

Gbolade AA, Tira-Picos V, Nogueria JMF. Chemical constituents of Chenopodium ambrosioides L.

var anthelminticum herb essential oil from Nigeria. Chem. Nat. Comp. 46(4): 654-655, 2010.

Gobbo-Neto L & Lopes NP. Plantas medicinais: fatores de influência no conteúdo de metabólitos

secundários. Quím. Nova. 30(2): 374-381, 2007.

Guimaraes DL, Llanos RSN, Acevedo JHR. Ascaridiasis: comparison of the therapeutic efficacy

between paico and albendazole in children from Huaraz. Rev. Gastroenterol. Perú. 21(3): 212-219,

2001.

Gupta D, Charles R, Mehta VK, Garg SN, Kumar S. Chemical composition of the essential oil of

Chenopodium ambrosioides L. from the southern hills of India. J. Essent. Oil Res. 14(2): 93-94,

2002.

Page 72: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

864 Sá, R. D. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 855 – 866, 2014

Hegazy AK & Farrag HK. Allelopathic potential of Chenopodium ambrosioides on germination and

seedling growth of some cultivated and weed plants. Global J. Biotech. Biochem. 2(1): 01-09,

2007.

Jaramillo BE, Duarte E, Delgado W. Bioactividad del aceite esencial de Chenopodium ambrosioi-

des colombiano. Rev. Cubana Plant. Med. 17(1): 54-64, 2012.

Jardim CM, Jham GN, Dhingra OD, Freire MM. Composition and antifungal activity of the essen-

tial oil of the brazilian Chenopodium ambrosioides L. J. Chem. Ecol. 34(9): 1213-1218, 2008.

Johnson MA & Croteau R. Biosynthesis of ascaridole: iodide peroxidase-catalyzed synthesis of a

monoterpene endoperoxide in soluble extracts of Chenopodium ambrosioides fruit. Arch. Biochem.

Biophys. 235(1): 254-266, 1984.

Kasali AA, Ekundayo O, Paul C, König WA, Eshilokun AO, Ige B. 1,2:3,4-diepoxy-p-menthane

and 1,4-epoxy-p-menth-2-ene: rare monoterpenoids from the essential oil of Chenopodium ambro-

sioides L. var ambrosioides leaves. J. Essent. Oil Res. 18(1): 13-15, 2006.

Kismann KG. Plantas infestantes e nocivas. São Paulo: BASF Brasileira, 1991.

Kliks MM. Studies on the traditional herbal anthelmintic Chenopodium ambrosioides L.: eth-

nopharmacological evaluation and clinical field trials. Soc. Sci. Med. 21(8): 879-886, 1985.

Koba K, Catherine G, Raynaud C, Chaumont J, Sanda K, Laurence N. Chemical composition and

cytotoxic activity of Chenopodium ambrosioides L. essential oil from Togo. Bangladesh J. Sci. Ind.

Res. 44(4): 435-440, 2009.

Kokanova-Nedialkova K, Nedialkov PT, Nikolov SD. The genus Chenopodium: phytochemistry,

ethnopharmacology and pharmacology. Phcog. Rev. 3(6): 280-306, 2010.

Kumar R, Mishra AK, Dubey NK, Tripathi YB. Evaluation of Chenopodium ambrosioides oil as a

potential source of antifungal, antiaflatoxigenic and antioxidant activity. Int. J. Food Microbiol.

115(2): 159-164, 2007.

Page 73: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

865 Sá, R. D. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 855 – 866, 2014

Lima JLS et al. Plantas medicinais de uso comum no Nordeste do Brasil. Campina Grande: CE-

DAC, 2006.

Martins FT, Santos MH, Polo M, Barbosa LCA. Variação química do óleo essencial de Hyptis sua-

veolens(L.) Poit. sob condições de cultivo. Quim. Nova. 29(6): 1203-1209, 2006.

Metcalfe CR & Chalk L. Anatomy of the dicotyledons. Oxford: Clarendon Press, 1950.

Morais SM, Dantas JDP, Silva ARA, Magalhães EF. Plantas medicinais usadas pelos índios Tape-

bas do Ceará. Rev. Bras. Farmacogn. 15(2): 169-177, 2005.

Muhayimana A, Chalchat JC, Garry RP. Chemical composition of essential oils of Chenopodium

ambrosioides L. from Rwanda. J. Essent. Oil Res. 10(6): 690-692, 1998.

Onocha PA, Ekundayo O, Eramo T, Laakso I. Essential oil constituents of Chenopodium ambrosi-

oides L. leaves from Nigeria. J. Essent. Oil Res. 11(2): 220-222, 1999.

Prasad CS, Shukla R, Kumar A, Dubey NK. In vitro and in vivo antifungal activity of essential oils

of Cymbopogon martini and Chenopodium ambrosioides and their synergism against dermato-

phytes. Mycoses. 53(2): 123-129, 2009.

Santos AS, Alves SM, Figueiredo FJC, Rocha Neto OG. Descrição de Sistema e de Métodos de

Extração de Óleos Essenciais e Determinação de Umidade de Biomassa em Laboratório. Comuni-

cado Técnico-Embrapa. 99: 1-6, 2004.

Senna L. Chenopodium in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB4313>. Acesso em abril de

2014.

Silva CJ, Barbosa LCA, Maltha CRA, Pinheiro AL, Ismail FMD. Comparative study of the essen-

tial oils of seven Melaleuca (Myrtaceae) species grown in Brazil. Flavour Fragr. J. 22(6): 474-478,

2007.

Page 74: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

866 Sá, R. D. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 855 – 866, 2014

Silva CJ, Barbosa LCA, Demuner AJ, Montanari RM, Francino D, Meira RMSA, Souza AO.

Chemical composition and histochemistry of Sphagneticola trilobata essential oil. Rev. Bras. Far-

macogn. 22(3): 482-489, 2012.

Singh HP, Batish DR, Kohli RK, Mittal S, Yadav S. Chemical composition of essential oil from

leaves of Chenopodium ambrosioides from Chandigarh, India. Chem. Nat. Comp. 44(3): 378-379,

2008.

Sousa MP et al. Constituintes químicos ativos e propriedades biológicas de plantas medicinais bra-

sileiras. Fortaleza: Editora UFC, 2004.

Tapondjou LA, Adler C, Bouda H, Fontem DA. Efficacy of powder and essential oil from Cheno-

podium ambrosioides leaves as post-harvest grain protectants against six-stored product beetles. J.

Stored Prod. Res. 38(4): 395-402, 2002.

Torres MC, Ricciardi GAL, Nassiff AEA, Ricciardi AIA, Bandoni AL. Larvicidal and nematicidal

activities of the leaf essential oil of Croton regelianus. Facena. 5(12): 2724-2728, 2003.

Page 75: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Estoque domiciliar e consumo de medicamentos entre residentes no bairro

de Aparecida, Manaus-Amazonas

Household medicines stock and use of medicines among Aparecida neighborhood in Manaus-

AM residents

Ana Cyra dos Santos Lucas1*, Herbert Theury Souza da Costa1, Rosana Cristina Pereira

Parente1 & Bruna Monteiro Rodrigues1

1 Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal do Amazonas, Manaus,

Amazonas, Brasil.

*Ana Cyra dos Santos Lucas. Doutor, Docente da Faculdade de Ciências Farmacêuticas/

Universidade Federal do Amazonas. Av. Ayrão, 1033-A, Prédio Biblioteca Manuel Bastos

Lira, 4º andar – Anexo da Faculdade de Ciências Farmacêuticas/Universidade Federal do

Amazonas – Centro–Manaus–AM– Brasil. CEP: 69.025-050. Fax: (92)3305-5071. E-mail:

[email protected]

Page 76: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

868 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

RESUMO

Armazenar medicamentos em casa, formando as “farmácias caseiras”, é um hábito comum no

Brasil e no mundo. A presença de medicamentos nos domicílios tornou-se uma preocupação

em virtude de problemas como: automedicação, intoxicações, condições de armazenagem

inadequadas, exposição facilitada a crianças e presença de medicamentos vencidos. O objetivo

deste estudo foi verificar as condições de armazenamento e caracterizar o uso de medicamentos

em domicílios de um bairro tradicional de Manaus-AM. Trata-se de um estudo observacional

de corte transversal. Foram realizadas 45 entrevistas, para as quais se utilizou um questionário

padronizado, que foram distribuídas entre dos estágios de seleção: o setor censitário e o

domicílio. As visitas domiciliares ocorreram no período de agosto a dezembro de 2011. Em

91,1% dos domicílios havia farmácia caseira, formada em sua maioria por produtos para Trato

Alimentar e Metabolismo (22,7%) e Sistema Nervoso Central (16,9%). O local de

armazenamento mais frequente foi copa/cozinha (45,8%). A principal atitude que favorece o

uso inadequado de medicamentos foi automedicação (80%). Como o armazenamento

domiciliar de medicamentos é muito frequente, é necessário instruir os usuários quais

medicamentos podem ser mantidos e as condições necessárias para promover a correta

armazenagem e evitar riscos à saúde.

Palavras-Chave: Uso de medicamentos, Armazenagem de medicamentos, Estudo

observacional.

Page 77: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

869 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

ABSTRACT

Storing medicines at home, in form of “home pharmacy ", is a common habit in Brazil and

worldwide. The presence of drugs at home has become a growing concern because of the

problems such as- self-medication, poisoning, inadequate storage conditions that facilitated

exposure to children and presence of expired drugs. We performed an observational cross-

sectional study, to verify the storage conditions and characterize the use of medications in

households of a traditional Manaus, Amazonas (AM) neighborhood. We performed 45

interviews, using a standardized questionnaire, which was distributed between two stages of

selection: the census tract and domicile. Home visits were conducted between August to

December 2011. 91.1% of the households had home pharmacy, formed mostly by products for

the Alimentary Tract and Metabolism (22.7 %) and Central Nervous System (16.9 %). The

medicines were commonly stored in pantry/kitchen (45.8 %). The main attitude that favored

the inappropriate use of medication was self-medication (80%). As the home medicine storage

is very common, it is necessary to educate users about suitable storage conditions and promote

the proper storing methods, in order to avoid potential health risk.

Keywords: Drug Utilization, Drug Storage, Observational Study.

Page 78: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

870 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

INTRODUÇÃO

As práticas médicas atuais colocam os medicamentos em lugar de destaque no decurso

do tratamento, uma vez que é inegável que grandes foram os benefícios advindos do uso de

medicamentos para a sociedade, como o tratamento de doenças, aumento da expectativa de

vida, benefícios econômicos e sociais, de tal modo que é possível encontrá-los em praticamente

todas as esferas de atenção à saúde (Schenkel, Fernándes & Mengue, 2005).

As sobras de medicamentos de tratamentos anteriores e os incentivos de consumo da

mídia são alguns dos fatores responsáveis por estimular o uso rotineiro, fazendo com que

grande parte da população brasileira possua medicamentos em suas residências, acumulando-

os em um estoque domiciliar denominado “farmácia caseira” (Gasparini, Gasparini, and

Frigieri 2011; Bueno, Weber, & Oliveira, 2009).

Estudos realizados no Brasil vêm demonstrando que o acúmulo de medicamentos em

casa é uma realidade. Em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul em uma área de abrangência

da Estratégia Saúde da Família, Laste et al. (2012) verificaram medicamentos estocados em

98,7% das residências. Em Goiás, Silva, Souza & Paiva (2012) encontraram medicamentos

armazenados em 98,5% dos domicílios. Em São Paulo, Mastroianni et al. (2012) verificaram a

presença de medicamentos em 95% dos domicílios selecionados. Em Minas Gerais, Ribeiro &

Heineck (2010) verificaram a presença de medicamentos armazenados em todas as residências

pesquisadas.

Em pesquisas sobre esse tema em outros países, encontraram-se medicamentos

armazenados em todas as 219 residências selecionadas para a pesquisa na Jordânia

(Abushanab, Sweileh &Wazaify, 2013). Entre a população urbana e rural da Sérvia,

verificaram-se farmácias caseiras entre 89,8% da população urbana e 89% da população rural

(Kusturica et al., 2012). No Iraque, verificou-se que 94% dos domicílios possuíam

medicamentos estocados (Jassim, 2010), o que demonstra que o armazenamento de

medicamentos também é um hábito entre diversas culturas.

Alguns fatores têm sido associados à presença de medicamentos encontrados em

domicílios. Abushanab, Sweileh & Wazaify (2013) verificaram correlação positiva entre o

número de medicamentos em domicílios e o tamanho da família, renda e nível educacional do

pai e da mãe. Jassim (2010) verificou que entre as famílias que possuíam educação

Page 79: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

871 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

universitária ocorria maior cumprimento da dosagem, automedicação e uso de medicamentos

de venda livre, além de menor armazenamento de medicamentos vencidos.

Embora o armazenamento de medicamentos pareça uma prática inofensiva, problemas

têm sido relatados, tais como: automedicação (Bueno, Weber & Oliveira, 2009), intoxicações

(Silva et al., 2010), condições de armazenagem inadequadas (Mastroianni et al., 2011),

exposição ao alcance de crianças (Beckhauser, Valgas & Galato, 2012), presença de

medicamentos fora do prazo de validade (Silva, Souza & Paiva, 2012) e desperdício de

medicamentos (Mastroianni et al., 2012).

A automedicação e a inobservância de regras de segurança na utilização de

medicamentos desvinculados da sua realidade nosológica podem expor o paciente a reações

adversas, interações medicamentosas e intoxicações, além de mascarar sinais e sintomas de

problemas de saúde mais graves e que requeiram cuidados e/ou tratamentos específicos

(Mastroianni et al., 2012). Uma das grandes preocupações relacionadas à automedicação é o

uso indevido de medicamentos antimicrobianos, uma vez que o uso incorreto ou a não adesão

à terapia podem favorecer o surgimento de microrganismos resistentes aos medicamentos

(Jassim, 2010).

No Brasil, um grande esforço tem sido realizado para regular a venda de medicamentos

antimicrobianos e evitar o uso indiscriminado, para os quais se exige a retenção da receita para

a sua dispensação. Tal procedimento é embasado na resolução RDC n. 20/2011, cujo conteúdo

esclarece sobre as condutas necessárias para a dispensação e controle de medicamentos à base

de substâncias classificadas como antimicrobianos (BRASIL, 2011).

Ainda que os usuários não costumem associar o uso de medicamentos ao risco de

intoxicações, esses produtos foram os principais responsáveis por casos registrados de

intoxicações no Brasil. Dentre os afetados, destacam-se crianças com idade inferior a 5 anos,

que correspondem a 22,4% do total de ocorrências (SINITOX, 2013), o que demonstra a

importância de evitar o alcance de crianças aos medicamentos.

Considerando que a guarda de medicamentos em residências é inevitável, deve-se

atentar para as condições apropriadas para armazenamento, que inclui refrigeração para

produtos termolábeis, espaço, iluminação e ventilação adequados, bem como controle de

temperatura e distante do alcance de crianças (Jassim, 2010). É importante conscientizar os

usuários quanto à importância da correta armazenagem, visto que as condições de umidade e o

excesso de calor favorecem a degradação dos fármacos (Abushanab, Sweileh & Wazaify,

2013).

Page 80: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

872 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

Neste contexto, a análise do estoque doméstico de medicamentos, bem como as formas

de uso de medicamentos pela população, podem fornecer informações importantes para os

serviços de saúde e para a elaboração de políticas públicas que promovam o uso racional de

medicamentos.

Este estudo teve por objetivo avaliar as condições de uso e armazenamento dos

medicamentos nos domicílios do Bairro de Nossa Senhora de Aparecida, na cidade de

Manaus/AM, tendo sido identificados os medicamentos estocados nos domicílios, as classes

farmacológicas mais utilizadas, as condições de armazenamento, a validade dos medicamentos

estocados, as formas de obtenção e acesso aos medicamentos, a prevalência da automedicação

e atitudes que caracterizem riscos quanto à utilização de medicamentos.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de desenho observacional exploratório descritivo de corte

transversal. A pesquisa foi realizada no Bairro de Aparecida, na cidade de Manaus-Amazonas.

Manaus, capital do Estado do Amazonas, é considerada o principal centro financeiro,

corporativo e econômico da Região Norte do país, com população estimada de 1.982.177 em

2013 (IBGE, 2014).

Dentre os 64 bairros de Manaus, escolheu-se o Bairro de Aparecida, não só por ser um

dos bairros mais antigos da cidade, mas também por ser o local onde se encontra a Faculdade

de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Amazonas, cujo histórico de atividades

demonstra diversas e constantes ações de extensão sobre uso racional de medicamentos nesse

bairro.

O “domicílio”, definido como a casa de residência, habitação fixa, lugar onde alguém

reside, foi definido como unidade amostral. Foram incluídos os domicílios cujo responsável

concordasse em participar da pesquisa. Foram excluídos os domicílios visitados três vezes, nos

quais não foi possível agendar ou realizar a entrevista.

O bairro possui 1.385 domicílios segundo o Censo 2000 (IBGE, 2000) e as 50

entrevistas estabelecidas para pesquisa foram distribuídas entre os 7 setores censitários em uma

amostra por conglomerados em dois estágios de seleção: o setor censitário e o domicílio. Foram

adquiridos os mapas dos setores censitários e os domicílios foram sorteados segundo o desenho

amostral. O número de domicílios pesquisados em cada setor foi fixado dependendo o número

de setores existentes.

Page 81: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

873 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

O intervalo de seleção de domicílio em cada setor foi igual ao número total de

domicílios do mesmo dividido pelo número de domicílios por setor na amostra. O aplicador

iniciou a contagem dos domicílios a partir do último digito do número do setor, respeitando-se

o intervalo de seleção previamente estabelecido. A seleção dos domicílios foi feita de forma

sistemática o que fez com que a amostra dentro do estrato se aproxime de uma amostra aleatória

simples, sendo esse recurso estatístico utilizado a fim de garantir que todos os domicílios do

setor tivessem chances idênticas de serem sorteados.

Em síntese, o aplicador seguiu a regra do ombro direito dentro do setor - com base no

entroncamento da rua inicial, percorrendo todas as ruas que descrevem o setor, retornando ao

ponto inicial. No caso de prédios de apartamentos, cada um dos apartamentos foi equivalente

a um domicílio.

As entrevistas foram realizadas entre agosto a dezembro de 2011, pela manhã ou tarde,

sempre pelo mesmo pesquisador membro do grupo de pesquisa, e o respondente era o

responsável pelo domicílio ou alguém indicado por este desde que maior de idade, que assinava

o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE.

Para obtenção das informações foi elaborado um questionário contendo questões

abertas e fechadas sobre identificação e caracterização do domicílio, sobre o uso de medicação

por membros do domicílio, as condições de armazenamento, condições de segurança e

adequação às boas práticas de armazenamento.

Para a classificação socioeconômica utilizou-se o Critério Brasil (ABEP, 2013), que

utiliza a presença e quantidade de alguns itens domiciliares de conforto e grau de escolaridade

do chefe do domicílio para diferenciar economicamente a população em estratos: A1, A2, B1,

B2, C1, C2, D, E; sendo o “A1” o estrato com maior poder de compra e o “E” o mais baixo

estrato.

Durante a entrevista era solicitado que o respondente apresentasse o recipiente com os

medicamentos, e então, eram registradas as informações: nome do princípio ativo, prazo de

validade, quantidade, local de armazenamento, temperatura, umidade e presença de bulas.

Os medicamentos citados foram classificados de acordo com o Anatomical-

Therapeutic-Chemical Classification System – ATC (WHO, 2012), que permite classificar os

fármacos em diferentes grupos e subgrupos de acordo com o órgão ou sistema que atuam, sendo

utilizado neste trabalho a classificação até o segundo nível.

A temperatura e a umidade do local de armazenamento dos medicamentos foram

aferidas com termo-higrômetro ICEL modelo HT-208 que, ao início da entrevista, era

Page 82: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

874 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

posicionado no local indicado pelo respondente e ao final da entrevista era registrada a

temperatura. Foi considerado adequado o armazenamento entre 15 e 30ºC (Brasil, 2012) e a

umidade entre 40 e 70% (Brasil, 2006).

Os dados foram digitados em planilha do programa Excel® (Microsoft Corporation,

Estados Unidos). Em seguida foi realizada análise crítica e verificação de erros no banco, por

meio de conferência de todos os questionários. Para analise univariada, com a descrição das

variáveis mais importantes e descrição simples para as questões abertas, se utilizou o programa

R versão 2.8.0.

A pesquisa recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da

Universidade Federal do Amazonas, em 1 de junho de 2011, sob CAAE 0258.0.115.000-11, e

seguiu as diretrizes e normas regulamentares de pesquisa com seres humanos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a contagem e mapeamento de todos os domicílios presentes no bairro de

Aparecida, Manaus-AM, foi verificada a presença de 1.708 domicílios, distribuídos em sete

setores censitários. Dos 50 questionários previstos, houve perda de 5 entrevistas, sorteadas em

um condomínio fechado de cujos residentes se recusaram em participar da pesquisa.

A pesquisa evidenciou que em 91,1% dos domicílios foram encontrados medicamentos

armazenados, o que se assemelha ao encontrado por Kusturica et al. (2012), Mastroianni,

Lucchetta, Sarra et al. (2011) e Bueno, Weber, & Oliveira (2009). Dentre os entrevistados, a

maioria era do sexo feminino (60%) e faixa etária entre 18 a 59 anos (84,4%), solteiro (46,7%)

e da classe socioeconômica C1 (31,1%), conforme demonstra a Tabela 1.

Page 83: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

875 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

Tabela 1. Características socioeconômicas dos entrevistados. Bairro de Aparecida, Manaus,

Amazonas, 2011.

Variáveis Fi Fir (%)

Sexo do entrevistado

Feminino 27 60,0

Masculino 18 40,0

Faixa etária

18-59 38 84,4

60 ou mais 7 15,6

Estado civil

Solteiro 21 46,7

Casado 19 42,2

Divorciado 3 6,7

Viúvo 2 4,4

Quantidade de pessoas na família

Vive sozinho 4 8,9

2 a 5 pessoas 29 64,4

5 pessoas ou mais 12 26,7

Classificação socioeconômica*

A1 1 2,2

A2 2 4,4

B1 7 15,6

B2 11 24,4

C1 14 31,1

C2 8 17,8

D 2 4,4 Fi: Frequência observada; Fir (%): Frequência relativa.

*Classificação socioeconômica conforme Critério Brasil

(ABEP, 2013), sendo “A1” o de maior poder aquisitivo.

O predomínio de mulheres como respondentes também foi encontrado por Bueno,

Weber, & Oliveira (2009). Para Loyola Filho, Uchoa & Lima-Costa (2006) esse fato pode ser

explicado porque às mulheres são naturalmente cuidadoras, estão mais preocupadas com os

sintomas físicos, dão mais atenção aos problemas de saúde, utilizam com maior frequência os

serviços de saúde e estão mais familiarizadas com os medicamentos. Ademais, pode ter

contribuído para o achado o horário em que se realizou a coleta de dados, no qual os homens

poderiam estar trabalhando. Gomes, Nascimento & Araújo (2007) explicam que o trabalho

vem em primeiro lugar na lista de preocupações masculinas, o que faz com que a atenção em

saúde fique em segundo plano.

Foram identificados 72 usuários de medicamentos: 52,8% na faixa etária entre 18-59

anos; 23,6% possuíam 60 anos ou mais; 18,1% entre 0-5 anos e 5,6% entre 6-17 anos. Foram

identificados 295 princípios ativos, o que representou uma média de 6,5 medicamentos por

Page 84: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

876 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

domicílio, superior à média de 4,2 medicamentos encontrada por Bueno, Weber & Oliveira

(2009).

A Tabela 2 apresenta a distribuição dos medicamentos encontrados nos domicílios de

acordo com a classificação ATC. Verificou-se que a maioria dos princípios ativos (22,7%)

eram medicamentos que atuam sobre o Trato Alimentar e Metabolismo, seguido de

medicamentos que atuam sobre o Sistema Nervoso Central (16,9%).

Tabela 2. Distribuição de medicamentos encontrados por classe segundo o ATC em domicílios

no Bairro de Aparecida, Manaus, 2011.

Medicamentos ATC* F F(%) UF

Trato alimentar e

metabolismo A 67 22,7 625

Sistema nervoso N 50 16,9 280

Sistema músculo

esquelético M 33 11,2 200

Sistema respiratório R 33 11,2 92

Antiinfectivos de uso

sistêmico J 27 9,2 124

Sistema

cardiovascular C 25 8,5 365

Dermatológico D 19 6,4 34

Órgãos sensoriais S 9 3,1 9

Sangue e órgãos

formadores de

sangue

B 9 3,1 117

Antiparasitários P 6 2,0 19

Preparados

hormonais

sistêmicos

H 6 2,0 44

Sistema geniturinário G 3 1,0 21

Imunoestimulantes L03 1 0,3 1

Outros produtos

terapêuticos V03 1 0,3 20

Sem classificação 6 2,0 28

Total 295 100 1979

Fi: Frequência observada; Fir (%): Frequência relativa; UF:

unidades farmacêuticas.

*ATC – Anatomical Therapeutic Chemical Classification

System (WHO, 2012).

Page 85: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

877 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

Abushanab, Sweileh & Wazaify (2013) também verificaram que os medicamentos mais

encontrados atuam sobre Trato Alimentar e Metabolismo (20,7%) e sobre o Sistema Nervoso

central (17,2%). Todavia resultados divergentes foram encontrados por Bueno, Weber &

Oliveira (2009), que afirmam que os medicamentos mais encontrados atuam sobre o Sistema

Nervoso (27,28%), seguido de medicamentos para o Sistema Cardiovascular (16,13%).

A elevada prevalência de medicamentos que atuam sobre o Trato Alimentar e

Metabolismo pode ser explicada, em parte, em virtude de muitos desses medicamentos serem

considerados over the counter, isto é, não necessitam de prescrição médica, como por exemplo

os antiácidos e laxativos (Abushanab, Sweileh & Wazaify, 2013). Também deve-se considerar

o aumento prevalência de diabetes na população brasileira (Barros, Francisco, Zanchetta, &

César, 2011) o que também pode explicar o aumento de consumo de medicamentos dessa

classe.

Da mesma forma, a elevada prevalência de medicamentos para Sistema Nervoso

Central pode ser justificada pela presença de analgésicos nesse grupo, cujo uso sem prescrição

médica é comum entre a população brasileira, principalmente quando se trata de automedicação

(Silva, Souza & Paiva, 2012).

Ao considerar a quantidade de medicamentos encontrados por unidade (comprimidos,

ampolas, bisnagas, etc.), encontrou-se um total de 1979 unidades farmacêuticas, dos quais as

maiores quantidades encontradas foram de medicamentos para Trato Alimentar e Metabolismo

(625) e Sistema Cardiovascular (365), como já mencionado.

Dos medicamentos encontrados nos domicílios, 9,2% eram antimicrobianos, dos quais

não foi possível verificar a origem dos mesmos pois não se solicitou a receita médica para os

medicamentos encontrados, embora no período já houvesse legislação específica para

aquisição de antimicrobianos exclusivamente mediante receita médica. O uso indiscriminado

desses medicamentos é um problema de saúde pública mundial, uma vez que pode contribuir

para a propagação de resistência aos medicamentos antimicrobianos. A prevalência de

resistência a esses medicamentos está positivamente correlacionada ao uso de antimicrobianos

sem prescrição médica, uso de medicamentos remanescentes de tratamentos anteriores e

medicamentos obtidos de familiares e amigos (Jassim, 2010).

A Tabela 3 relata a caracterização do estoque domiciliar e demonstra que as

dependências mais comuns para guarda de medicamentos foram a cozinha/copa (45,8%) e o

dormitório (39,0%). A cozinha como local de preferência para armazenamento também foi

Page 86: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

878 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

verificada por Silva, Souza & Paiva (2012), Mastroianni et al. (2012) e Mastroianni et al.

(2011).

Tabela 3. Caracterização de estoque domiciliar de medicamentos. Bairro de Aparecida,

Manaus, Amazonas, 2011.

Variáveis Fi Fir(%)

Dependências da residência

onde são armazenados os

medicamentos

59 100

Cozinha/ Copa 27 45,8

Dormitório 23 39,0

Banheiro 3 5,1

Sala de refeições 5 8,5

Outros 1 1,7

Recipientes em que são

guardados os medicamentos 53 100

Caixa 18 34,0

Gaveta 11 20,8

Vasilha 14 26,4

Mala 1 1,9

Bolsa 1 1,9

Não colocados em

recipientes 8 15,1

Exposição ao calor*

Sim 31 68,9

Não 14 31,1

Exposição à umidade**

Sim 6 13,3

Não 39 86,7

Fi: Frequência observada; Fir (%): Frequência relativa;

*Exposição ao calor: Temperatura superior à 30º C;

**Exposição à umidade: inferior a 40% e superior a

70%.

Segundo Beckhauser, Valgas & Galato (2012) a cozinha é o lugar de preferência para

o armazenamento em virtude de sua acessibilidade, presença de líquidos para ingestão e

utensílios de medida para suspensões e soluções (colheres). Já para Ruppar & Russell (2009)

o hábito de associar o horário da tomada do medicamento aos horários das refeições, é o que

torna a cozinha o local de escolha para o armazenamento. Todavia, a cozinha é considerada um

local inadequado (Mastroianni et al., 2011) não só pelas condições impróprias de

armazenamento e variações de temperatura, mas também pela proximidade a alimentos

Page 87: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

879 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

(Ribeiro & Heineck, 2010), que pode favorecer o consumo por engano, principalmente por

crianças.

É preconizado que medicamentos mantidos em temperatura ambiente devem ser

armazenados entre 15 e 30ºC (Brasil, 2012). Desta forma, verificou-se que 68,9% dos

medicamentos estavam expostos a temperaturas acima de 30ºC e 13,3% dos medicamentos

estavam armazenados sob umidade inadequada, acima de 70%.

Com relação à forma de obtenção dos medicamentos, a maioria (55,6%) afirmou

consegui-los por meio da compra sem receita médica (Tabela 4). Esse resultado foi superior

aos 41,6% verificado por Ribeiro & Heineck (2010) e aos 50,2% dos medicamentos estocados

encontrados por (Schenkel, Fernándes & Mengue (2005).

Além disso, quanto aos possíveis locais de aquisição de medicamentos, o mais citado

foi a rede privada (56,6%), o que contrasta com os resultados de Mastroianni et al. (2012), no

qual 84,5% dos pacientes adquiriu a medicação total ou parcial via SUS.

Tabela 4. Características dos medicamentos estocados e hábitos de consumo em domicílios

no Bairro de Aparecida, Manaus, Amazonas, 2011.

Variáveis Fi Fir (%)

Forma de obtenção de

medicamentos 72 100

Compra sem receita 40 55,6

Compra com receita 28 38,9

Gratuitamente via SUS 4 5,6

Fonte de obtenção dos

medicamentos 76 100

Compra na rede privada 43 56,6

Farmácia Popular 13 17,1

Farmácia Gratuita 6 7,9

Ambulatório 9 11,8

Com profissionais de saúde 5 6,6

Presença de bulas junto aos

medicamentos 295 100

Medicamentos com Bula 92 31,2

Medicamentos sem Bula 203 68,8

Tem ou encontrou alguma vez

medicamentos com prazo de

validade vencido?

45 100

Sim 35 77,8

Não 10 22,2

Alguma vez ocorreu a prática

da automedicação 45 100

Sim 36 80,0

Não 9 20,0

Page 88: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

880 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

Realizou mudança de dosagem

por conta própria 45 100

Sim 17 37,8

Não 28 62,2

Costuma guardar o

medicamento em bolsa 45 100

Sim 27 60,0

Não 18 40,0 Utiliza como forma de aceitação

pela criança, frases como "que

remédio é doce ou bala"? 45 100

Sim 22 48,9

Não 23 51,1

Fi: Frequência observada; Fir (%): Frequência relativa.

Esses dados podem indicar a dificuldade de acesso desta população aos programas

governamentais e consequentemente às consultas médicas e aos medicamentos dispensados via

Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo a automedicação e o uso não racional de

medicamentos.

A presença da bula é importante, assim como a sua leitura, a fim de evitar erros quanto

o uso de medicamentos. Este estudo demonstrou que 68,8% dos medicamentos estavam sem

bula, resultado superior aos 51,78% encontrados por Silva, Souza & Paiva (2012) e aos 50,47%

verificados por Bueno, Weber & Oliveira (2009).

Para Beckhauser, Valgas & Galato (2012) a ausência de bulas é comum, e pode ser

explicada, em parte, pela aquisição de medicamentos já fracionados - comum a vários

medicamentos analgésicos e antitérmicos – ou mesmo por questões culturais. Além disso,

deve-se considerar o fato de que os medicamentos fornecidos pelo Sistema Único de Saúde

serem produzidos por laboratórios oficiais e que esses não fornecem bulas (Mastroianni et al.,

2011). A noção de que o usuário conhece a indicação dos medicamentos também pode levá-lo

a não consultar a bula: neste estudo, 73,6% dos entrevistados afirmaram já saber a indicação

dos medicamentos estocados nos domicílios.

Um dos problemas encontrados no estoque doméstico é a presença de medicamentos

vencidos, visto que que 77,8% dos entrevistados afirmaram já ter encontrado medicamentos

vencidos nos domicílios, fato que pode ser devido ao desconhecimento da população a respeito

de armazenamento e descarte correto de medicamentos (Laste et al., 2012; Mastroianni et al.,

2012; Bueno, Weber & Oliveira; 2009). No momento da entrevista, verificou-se que 14,6%

dos medicamentos estavam vencidos (173 unidades) e 6,8% não possuíam informações sobre

a validade (119 unidades).

Page 89: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

881 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

De fato, somente em um domicílio relatou-se dar o destino correto aos medicamentos,

entregando-os ao serviço de saúde onde um dos membros da família trabalhava. No restante

dos domicílios foi verificado o descarte dos medicamentos no lixo comum, prática habitual

entre os usuários de medicamentos conforme também verificado em outros estudos (Silva,

Souza & Paiva, 2012; Silva, Raposo, Martins et al., 2010; Bueno, Weber & Oliveira, 2009).

O descarte de medicamentos em lixo comum representa um risco à saúde pública,

considerando os riscos de ocorrência de graves problemas ambientais, tais como

contaminação do solo e da água (Gasparini, Gasparini & Frigieri, 2011). O principal motivo

do descarte inadequado é a falta de informação, uma vez que os medicamentos descartados

podem ser acondicionados, identificados e recolhidos pelos agentes comunitários de saúde ou

encaminhados ao estabelecimento de saúde de referência, para realização do devido descarte

(Bueno, Weber & Oliveira, 2009), embora se deva reconhecer que nem os estabelecimentos de

saúde e tampouco os agentes de saúde estejam preparados orientar ou processar os

medicamentos vencidos se trazidos pela população.

A maioria dos medicamentos encontrados nos domicílios apresentou a validade visível

(93,2%), estando 14,6% fora do prazo de validade. Este resultado foi inferior aos 18,5%

encontrados por Ribeiro & Heineck (2010) e os 42,86% verificado por Silva, Souza & Paiva

(2012), porém ainda muito maior que os 6,9% encontrados por Laste et al. (2012) em população

atendida por Agentes Comunitários de Saúde treinados para a promoção do uso correto de

medicamentos, demostrando que essa estratégia pode colaborar para o correto armazenamento

de medicamentos.

Por outro lado, chama atenção o fato de 6,8% dos medicamentos não conterem

informações sobre o prazo de validade. A falta dessa informação pode levar ao uso de

medicamentos vencidos, representando um risco à saúde do usuário em virtude da possibilidade

de ineficácia terapêutica, intoxicações e reações adversas (Mastroianni et al., 2011).

A Tabela 4 relata ainda variáveis relacionadas a comportamentos que segundo Silva et

al. (2010) podem contribuir para a ocorrência de intoxicações: automedicação, mudanças de

dosagem por conta própria, guarda de medicamentos em bolsa e frases de aceitação para

administração em crianças.

Dentre elas destaca-se a automedicação, cuja prática consiste no uso de medicamentos

sem prescrição médica na qual o próprio paciente decide qual fármaco utilizar (Vitor et al.,

2008), que foi relatada por 80% dos entrevistados, resultado bastante superior comparado aos

Page 90: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

882 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

47,7% encontrados por Mastroianni et al. (2012) e aos 24,32% de Silva, Souza & Paiva (2012),

entretanto aproximado aos 75,7% verificados por Bueno, Weber & Oliveira (2009).

Um dos fatos importantes que deve ser levado em consideração é que os estoques

domiciliares muitas vezes induzem a automedicação e que podem estar disponíveis nos

domicílios tanto medicamentos sujeitos à prescrição médica quanto medicamentos sujeitos à

controle especial (Beckhauser, Valgas & Galato, 2012; Bueno, Weber & Oliveira, 2009;

Mastroianni et al., 2011). Essa prática é preocupante porque pode ser realizada de maneira

inadequada e abusiva, e acima de tudo, porque nenhum medicamento é isento de riscos

(Dainesi et al., 2005).

A mudança, por conta própria, na dose da medicação foi relatada por 37,8% dos

entrevistados, podendo aumentar os riscos à saúde do paciente, visto que pode causar ou a

ineficácia do medicamento, no caso da diminuição da dose, ou risco de intoxicação, no caso do

aumento (Mastroianni et al., 2011).

O hábito de guardar medicamentos em bolsa foi relatado por 60% dos entrevistados,

resultado bem mais expressivo do que os 15% relatados por Silva et al. (2010), o que segundo

esses autores, pode contribuir para o aumento do risco de intoxicação infantil porque as bolsas

são deixadas em qualquer local do domicílio e que as crianças mexem em tudo ao seu redor.

Todos os entrevistados puderam se manifestar quanto ao hábito de oferecer

medicamentos a crianças informando ser doce ou bala, prática relatada por 48,9%. Apesar de

ser uma forma de facilitar a administração de medicamentos em crianças, essa é uma prática

perigosa, uma vez que pode induzir as crianças a consumir medicamentos sem medo,

considerando se tratar simplesmente de doces (Silva et al., 2010).

Quando questionados sobre as dificuldades encontradas para seguir prescrições

médicas, o relato mais frequente foi a falta de entendimento da prescrição (18%). Segundo

Gontijo et al. (2012) a falta de entendimento da prescrição médica é um dos motivos para a

não adesão ao tratamento, condição que pode ser agravada pela mudança de regime posológico,

pelo paciente optar por não seguir a terapia recomendada ou pela complexidade do tratamento.

Page 91: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

883 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

Tabela 5. Relatos das principais dificuldades em seguir prescrições médicas. Bairro de

Aparecida, Manaus, Amazonas, 2011.

Dificuldades Fi Fir(%)

Não entende/entendeu a

prescrição 25 18,0%

Preço do medicamento 24 17,0%

Aparecimento de efeitos

adversos anteriores 18 13,0%

Melhora aparente dos

sintomas 17 12,0%

Medo de usar e causar

"vício" 12 9,0%

Tratamento muito longo 13 9,0%

Polifarmácia (já usa

bastantes medicamentos) 10 7,0%

Automedicação (prefere

tomar por conta própria) 10 7,0%

Tratamento complexo 7 5,0%

Apresenta alguma

dificuldade em seguir a

prescrição médica

5 4,0%

Total 141 100

Fi: Frequência observada; Fir (%): Frequência relativa.

A segunda principal dificuldade encontrada para seguir prescrições médicas foi preço

do medicamento (17%), o que corresponde à realidade social presente em nosso país, onde nem

todos possuem renda para custear os seus tratamentos de saúde, ou mesmo o desconhecimento

por parcela da população sobre a qualidade e disponibilidade dos medicamentos fornecidos

pelo Estado. As demais dificuldades relatadas encontram-se apresentadas na Tabela 5.

Page 92: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

884 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

CONCLUSÕES

O estoque de medicamentos nos domicílios é uma realidade, não só no Brasil como

também em outros países. Os resultados encontrados neste estudo indicam que esta é uma

prática comum também na população estudada, destacando-se principalmente os estoques dos

medicamentos que atuam no Trato Alimentar e Metabolismo e no Sistema Nervoso Central.

Chama a atenção a presença, na farmácia caseira, de classes de medicamentos que não

deveriam ser estocados nas residências por terem suas prescrições controladas e estrita

indicação, como antimicrobianos e psicotrópicos, cujo uso em automedicação pode aumentar

os riscos à saúde. A alta prevalência de relatos de automedicação corrobora a preocupação com

esta população por ser uma das principais atitudes que favorecem a ocorrência de intoxicações.

Além disso, parte significativa da população estudada armazenava os seus

medicamentos de forma inadequada, seja pelo local, seja pela exposição ao calor excessivo,

sendo esta última favorecida pelas características climáticas do local de estudo,

reconhecidamente quente e úmido.

Quanto ao armazenamento de medicamentos vencidos, grande parte da população

estudada relatou, quando questionada, ter encontrado medicamentos vencidos em seus

domicílios em algum momento, situação que pode contribuir para a ocorrência de ineficácia

terapêutica, intoxicações e reações adversas, se esses fossem consumidos. Este mesmo fato,

revela ainda problemas quanto ao descarte desses medicamentos, uma vez que a maioria dos

entrevistados relatou descartá-los no lixo comum, não utilizando os procedimentos

recomendado para este descarte.

Embora falte uma política pública efetiva para o descarte de medicamentos, é necessário

que se divulgue que os medicamentos não podem ser descartados em lixo comum, nem em

vasos sanitários ou pias. Por isso, os medicamentos vencidos devem ser devolvidos para os

serviços de saúde para o adequado descarte.

A principal forma de obtenção de medicamentos se deu através de compra sem receita

médica e em estabelecimentos privados, indicando a falta de acesso aos serviços públicos de

saúde locais ou a falta de conhecimento sobre o acesso gratuito aos medicamentos. Por isso, é

importante informar ao usuário sobre as políticas públicas disponíveis que podem facilitar o

acesso tanto aos serviços de saúde quanto aos medicamentos distribuídos gratuitamente.

Por fim, é importante orientar quais medicamentos a população estudada pode manter

em suas residências de forma a não oferecer riscos à saúde, bem como informar como usuário

Page 93: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

885 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

pode realizar uso racional de medicamentos, além dos cuidados necessários para

armazenamento de medicamentos, como: escolher um local limpo e seco, no qual não haja

incidência de luz solar direta; evitar ambientes com variações constantes de temperatura, como

próximo eletrodomésticos ou ao fogão; armazenamento em geladeira, para o caso de produtos

termolábeis; evitar colocá-los próximos a produtos de limpeza ou cosméticos; periodicamente

verificar a presença de medicamentos vencidos; não armazená-los em locais de fácil acesso,

principalmente em residências com crianças.

AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal do Amazonas (UFAM) pelo apoio na realização desta pesquisa,

ao Conselho Nacional de Desenvolvimento a Pesquisa (CNPq) pelo financiamento da bolsa de

PIBIC e aos moradores do bairro de Aparecida (Manaus-AM) pela receptividade para a

aplicação dos questionários.

REFERÊNCIAS

ABEP. Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa 2013. Critério de Classificação

Econômica Brasil. 5 p. Disponível em:

<http://www.abep.org/novo/Content.aspx?ContentID=835>. Acesso em agosto de 2013.

Abushanab AS, Sweileh WM & Wazaify M. Storage and wastage of drug products in Jordanian

Households: a cross-sectional survey. Int. J. Pharm. Pract. 21(3): 185–191, 2013.

Barros MBA, Francisco PMSB, Zanchetta LM , César CLG. Tendências das desigualdades

sociais e demográficas na prevalência de doenças crônicas no Brasil, PNAD : 2003- 2008. Ci.

Saúde Colet. 16(9): 3755–3768, 2011.

Beckhauser GC, Valgas C, Galato D. Perfil do estoque domiciliar de medicamentos em

residências com crianças. Rev. Ci.Farm. Básica Apli. 33(4): 583–89, 2012.

BRASIL. Ministério de Saúde. Agência Nacional de Vigilância. Resolução da Diretoria

Colegiada (RDC) nº 20, de 5 de maio de 2011.

Page 94: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

886 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos.

Assistência Farmacêutica na Atenção Básica: Instruções Técnicas para sua Organização.

2006. 100p. Disponível em: <http://www.ensp.fiocruz.br/portal-

ensp/judicializacao/pdfs/283.pdf>. Acesso em> ago. de 2013.

Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário Nacional

Da Farmacopéia Brasileira. 2012. Disponível

em:<http://www.anvisa.gov.br/hotsite/farmacopeiabras ileira/arquivos/2012/FNFB

Revisao_2_COFAR_setembro_2012_atual.pdf> Acesso em: out. de 2013.

Bueno CS, Weber, Oliveira KR. Farmácia caseira e descarte de medicamentos no bairro Luiz

Fogliatto do município de Ijuí – RS. Rev. Ci. Farm. Básica e Aplic. 30(2): 75–82, 2009.

Dainesi SM. Pharmacovigilance: more than ever, an overall responsibility. Clinics. 60(4):267-

270, 2005.

Gasparini JC, Gasparini AR, Frigieri MC. Estudo do descarte de medicamentos e consciência

ambiental no município de Cataduva-SP. Ci. Tecnol.FATEC-JB. 2(1): 38–51, 2011.

Gomes R, Nascimento EF, Araújo FC. Por que os homens buscam menos os serviços de

saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com

ensino superior. Cad. Saúde Públ. 23(3): 565–574, 2007.

Gontijo MF, Ribeiro AQ, Klein CH, Rozenfeld S, Acurcio FA. Uso de anti-hipertensivos e

antidiabéticos por idosos: inquérito em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Públ.

28(7): 1337–46, 2012.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Disponível em:

<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=130260&search=||infograficos:-

inform acoes-completas>. Acesso em: maio de 2014.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/default_prim_resultados.sht

m>. Acesso em: abr. de 2011.

Page 95: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

887 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

Jassim AM. In-home drug storage and self-medication with antimicrobial drugs in Basrah, Iraq.

Oman Med. J. 25(2): 79–87, 2010.

Kusturica MP, Sabo A, Tomic C, Horvat O, Solak Z. Storage and disposal of unused

medications: knowledge, behavior, and attitudes among serbian people. Int. J Clin. Pharm.

34(4): 604–10, 2012.

Laste G, Deitos A, Kauffmann C, Castro LC, Torres ILS, Fernandes LC. Papel do agente

comunitário de saúde no controle do estoque domiciliar de medicamentos em comunidades

atendidas pela Estratégia de Saúde da Família. Ci. Saúde Col. 17(5): 1305–12, 2012.

Loyola Filho AI, Uchoa E, Lima-Costa MF. Estudo epidemiológico de base populacional sobre

uso de medicamentos entre idosos na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais,

Brasil. Cad. Saúde Públ. 22(12): 2657–67, 2006.

Mastroianni PC, Andrade RV, Galduroz JCF & Filho AF. Acesso, segurança e uso de

medicamentos por usuários. Rev. Ci. Extens. 8(2): 6–24, 2012.

Mastroianni PC, Lucchetta RC, Sarra JR, Galduróz JCF. Estoque doméstico e uso de

medicamentos em uma população cadastrada na Estratégia Saúde da Família no Brasil. Rev.

Panam. Salud Publ. 29(5): 358–64, 2011.

Ribeiro MA & Heineck I. Estoque domiciliar de medicamentos na comunidade ibiaense

acompanhada pelo Programa Saúde da Família, em Ibiá-MG, Brasil. Saúde e Soc. 19(3): 653–

63, 2010.

Ruppar TM & Russell CL. Medication adherence in successful kidney transplant recipients.

Prog. Transplant. 19(2): 167–72, 2009.

Schenkel EP, Fernándes LC & Mengue SS. Como são armazenados os medicamentos nos

domicílios?. Acta Farm. Bonaer. 24(2): 266–70, 2005.

Silva JR, Souza M, Paiva AS. Avaliação do uso racional de medicamentos e estoque

domiciliar. Ensaios e Ci. 16(1): 109–24, 2012.

Silva LR, Raposo NRB, Martins FJ, Vieira RCPA. Medicamento como risco no ambiente

doméstico. Cad. Saúde Col. 18(2): 209–16, 2010.

Page 96: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

888 Lucas, A. C. S. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 867 – 888, 2014

SINITOX. Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas. Disponível em:

<http://www. fiocruz.br/sinitox_novo/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=home>. Acesso em: set.

de 2013.

Vitor RS, Lopes CP, Menezes HS, Kerkhoff CE. Padrão de consumo de medicamentos sem

prescrição médica na cidade de Porto Alegre, RS. Ci. Saúde Col. 13(sup):737–43, 2008.

WHO. World Health Organization. Anatomical Therapeutic Chemical (ATC) Classification

Index with Defined Daily Doses (DDD’s) 2012. Disponível em:

<http://www.whocc.no/atc_ddd_index/>. Acesso em: ago. de 2013.

Page 97: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Programas de fitoterapia na atenção primária à saúde: existem experiências

exitosas?

Laiane Alzira Denski da Silva1 & Adriana Lenita Meyer Albiero2*

1Discente do Curso de Graduação em Farmácia da Universidade Estadual de Maringá 2 Docente do Departamento de Farmácia, da Universidade Estadual de Maringá

*Adriana Lenita Meyer Albiero, Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Farmácia,

Avenida Colombo, 5790- Maringá – PR - Brasil, CEP-87020900. Fone 44-30114166, e-mail:

[email protected]

Page 98: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

890 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

RESUMO

O acesso aos medicamentos é um componente essencial de inclusão social, busca da equidade

e fortalecimento do SUS, sendo a fitoterapia amplamente utilizada pela população e recomendada

como forma de apoio à implantação de políticas farmacêuticas públicas de baixo custo e eficácia

garantida. A instituição da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares representou

a legitimação da Fitoterapia na rede pública de saúde. O objetivo principal deste trabalho foi realizar

uma revisão bibliográfica sistemática sobre experiências referentes à introdução de programas de

fitoterapia na atenção primária. As bases de dados consultadas foram Scielo e BVS, sendo

encontradas doze publicações. A maioria dos programas descritos é organizada por equipe

multiprofissional, estrutura-se com hortas e farmácias de manipulação e realiza capacitação dos

profissionais de saúde. Os programas apresentaram resultados positivos, como o uso racional, a

viabilidade econômica e a valorização do saber popular. No entanto, a falta de incentivo dos gestores

municipais e a resistência de alguns profissionais, principalmente por desconhecimento sobre o

assunto, foram citadas como os maiores entraves à consolidação destes programas. Espera-se que

reflexão sobre as experiências relatadas sirvam de incentivo aos gestores e profissionais de saúde

para novas iniciativas que visem à implantação da fitoterapia em seus municípios.

Palavras-chave: Saúde Pública, Práticas Integrativas e Complementares, Plantas Medicinais,

Farmácia viva.

Page 99: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

891 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

ABSTRACT

The medicines are an essential component of social inclusion. The successful of the Health

System depend of this. The phytotherapy is widely used and recommended by the population as a

way to support the implementation of public pharmaceutical policies of low cost and efficiency

guaranteed. The creation of the National Policy on Integrative and Complementary Practices

represented the legitimization of phytotherapy at public health. This study realized systematic

literature review on experiences of the introduction of herbal medicine programs in primary health

care. The databases SciELO and BVS were consulted, and twelve publications were found. Most

programs described were organized by multidisciplinary team, there are the structure with gardens

and pharmacies and the health professionals are trained. The positive results were showed, as rational

use, economic viability and appreciation of folk knowledge. However, the lack of incentive for

managers and the resistance of some professionals, mainly due to ignorance on the theme, as major

barriers to the consolidation of these programs were cited. The expected on the experiences reported

serve to reflect and to encourage managers and health professionals to new initiatives in the

implementation of phytotherapy in their cities.

Keywords: Public Health, Integrative and Complementary Practices, Medicinal Plants

Page 100: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

892 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

1 INTRODUÇÃO

As plantas medicinais foram os primeiros recursos terapêuticos utilizados pelo homem e

fazem parte de sua evolução (Dorta, 1998). Devido a diversidade cultural do Brasil, o conhecimento

sobre o uso de plantas para o tratamento de doenças apresenta influências das culturas indígena,

africana e européia (Martins et al., 2003), sendo esta prática uma tradição transmitida ao longo de

gerações.

Como relataram Eisenberg et al. (1998) os produtos naturais não perderam seu lugar na

terapêutica, o que foi confirmado por Yunes, Pedrosa & Cechinel Filho (2001) que apontaram,

inclusive, para um atual aumento na utilização da fitoterapia. Este aumento é uma decorrência de

vários fatores, dentre eles os avanços ocorridos na área científica que permitiram o desenvolvimento

de medicamentos fitoterápicos reconhecidamente seguros e eficazes, como também uma forte

tendência de busca por terapias menos agressivas destinadas ao atendimento primário a saúde. Mesmo

com o advento da industrialização, da urbanização e o avanço da tecnologia no que diz respeito à

elaboração de fármacos sintéticos, houve aumento por parte da população na utilização destes

medicamentos (Lorenzi & Matos, 2002).

Para Simões et al. (1988) o crescente interesse ao uso de plantas medicinais está relacionado

ao alto custo dos medicamentos industrializados e a falta de acesso de grande parte da população à

assistência médica e farmacêutica. Lorenzi & Matos (2002) citaram a preocupação com a

biodiversidade e as idéias de desenvolvimento sustentável como responsáveis por despertar um novo

interesse pelo uso de produtos de origem natural.

Embora o Brasil possua a maior biodiversidade do mundo (Prance, 1977) com cerca de 55 mil

espécies de plantas, há relatos de investigação de compostos bioativos em apenas 0,4% da flora

(Gurib-Fakim, 2006), possivelmente por problemas econômicos, inexistência de estudos organizados

e integrados, havendo muitas pesquisas fragmentadas e desvinculadas umas das outras (Toledo,

2003), aliados a ausência de uma política governamental específica de incentivo (Brasil, 2006b).

Schenkel et al. (2003) ressaltaram que apesar de pouco exploradas, as potencialidades de uso

das plantas medicinais no Brasil encontram-se longe de estar esgotadas. David et al. (2004) afirmaram

que para o desenvolvimento de novos produtos a partir de espécies nativas é necessário a firmação

de compromissos institucionais entre universidades e empresas, com a aplicação de recursos e a

atuação da variedade de especialistas requerida.

O acesso aos medicamentos é um componente essencial de inclusão social, de busca da

equidade e de fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), que desde a sua criação em 1988,

busca fornecer o acesso universal e a integralidade da atenção a saúde, atuando de acordo com a

Page 101: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

893 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

necessidade de cada indivíduo, de modo a se alcançar a igualdade de oportunidades de sobrevivência

e de desenvolvimento pessoal e social da população (Teixeira, 2011).

A utilização de práticas medicinais alternativas, como acupuntura, homeopatia, fitoterapia,

entre outras, estão previstas na Portaria GM/MS n. 971, de 03 de maio de 2006, que aprova a Política

Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS. A partir da incorporação e

implementação dessas práticas, especialmente na atenção básica, a referida portaria objetiva otimizar

a prevenção de agravos, promoção e recuperação da saúde; contribuir ao aumento da resolubilidade

do sistema e promover a racionalização das ações de saúde, estimulando alternativas inovadoras e

que contribuam ao desenvolvimento sustentável de comunidades (Brasil, 2006a).

Diante desta abordagem, o objetivo principal deste trabalho foi realizar um levantamento

bibliográfico sobre experiências referentes à introdução de Programas de Fitoterapia em Unidades

Básicas de Saúde do SUS. As principais motivações, ações, resultados e desafios encontrados por

alguns desses programas, em suas diferentes vivências, estão descritos com o intuito de incentivar,

bem como nortear planos de ações de profissionais e gestores de unidades de saúde que pretendam

inserir a fitoterapia na atenção primária à saúde dos seus municípios.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Uma revisão sistemática da literatura foi realizada, de acordo com as seguintes etapas, propostas

por Sampaio & Mancini (2007) para a elaboração de tal metodologia: definição da pergunta; busca

das evidências (definição dos descritores e das bases de dados); revisão e seleção dos estudos; análise

da qualidade metodológica dos estudos e apresentação dos resultados.

O levantamento bibliográfico foi realizado por meio das bases de dados SciELO (Scientific

Eletronic Library Online) e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), pesquisando artigos publicados nos

últimos 15 anos, que discorrem sobre a implantação de programas de fitoterapia na rede pública de

saúde, utilizando o cruzamento dos seguintes termos: implantação, programa de fitoterapia, atenção

primária. A revisão foi ampliada através da busca em outras fontes, tais como documentos

governamentais, por meio de materiais impressos ou on-line.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A fitoterapia vem sendo a prática integrativa que mais cresce (Santos et al., 2011),

especialmente, devido ao avanço científico, com o desenvolvimento de novas tecnologias que

permitem a elucidação de complexas estruturas moleculares de constituintes naturais e também

Page 102: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

894 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

diversos estudos farmacológicos, visando obter novos compostos com propriedades terapêuticas

(Cechinel-Filho & Yunes, 1998).

A OMS acredita que a prática do uso de plantas medicinais é tida como a principal opção

terapêutica de aproximadamente 80% da população mundial (Alves & Silva, 2002), especialmente

nos países em desenvolvimento (Akerele, 1990). Dados da Associação Brasileira da Indústria de

Fitoterápicos (ABIFITO) estimaram que, em 2004, os produtos a base de ervas eram utilizados por

aproximadamente 82% da população brasileira.

Países como a França e a Alemanha incluíram os fitoterápicos na lista de produtos a serem

reembolsados por seus sistemas de saúde (ABIFITO, 2004 apud Mato Grosso, 2005), sendo que na

Alemanha, a fitoterapia é a terapia de escolha predominante (Soler, 2000).

No Brasil, a experiência mais antiga que influenciou a criação de programas de fitoterapia foi

o programa Farmácia Viva, criado em 1983, pelo farmacêutico e professor da Universidade Federal

do Ceará, Francisco José de Abreu Matos. Esta iniciativa tratava-se de um programa de assistência

farmacêutica e social baseado no emprego de plantas medicinais, tendo por objetivo validar plantas

de amplo uso popular na região e na produção de medicamentos fitoterápicos acessíveis à população

carente (Matos, 1998) tornando-se referência para todo o Nordeste brasileiro e posteriormente

inspirando diversas iniciativas por todo o país (Malta et. al., 1999).

Em 1988, com a publicação da Resolução CIPLAN nº 08/88, foi regulamentada a prática da

fitoterapia no serviço público brasileiro (Rodrigues, Santos & De Simoni, 2011). Desde então, o

Ministério da Saúde tem desenvolvido diversas ações junto a outros órgãos governamentais e não-

governamentais para elaboração de políticas públicas voltadas à inserção de plantas medicinais e da

fitoterapia no SUS e ao desenvolvimento do setor (Brasil, 2006c), na perspectiva de aumentar a

resolutividade, melhorando a qualidade dos serviços ofertados (Batista & Valença, 2012).

O financiamento para aquisição e implantação de medicamentos fitoterápicos na rede pública,

pelo Ministério da Saúde, passou a ocorrer em 2007. Até o ano de 2010, dois fitoterápicos estavam

presentes na RENAME e a partir de então, mais seis foram incluídos. Em sua revisão mais recente,

publicada pelo Ministério da Saúde em março de 2012 por meio da Portaria MS/GM nº 533/12, doze

medicamentos fitoterápicos são contemplados (Brasil, 2013).

Com a descentralização do poder público, o município atinge a gestão plena, com autonomia

para desenvolver programas de assistência à saúde, quando necessários (Vianna et al., 2002). Vários

estados e municípios brasileiros vêm realizando a implantação de Programas de Fitoterapia na atenção

primária à saúde, com o intuito de suprir as carências medicamentosas de suas comunidades (Ogava

et al., 2003; Michiles, 2004).

Page 103: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

895 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

Um levantamento realizado em 2008 pelo Ministério da Saúde mostrou que a fitoterapia está

presente em 350 municípios brasileiros (Brasil, 2012). Silva et al. (2006) notaram que muitos

programas de fitoterapia desenvolvidos no sistema público de saúde estão vinculados ao Programa

Saúde da Família (PSF), o que consideraram esperado, uma vez que grande parte da cobertura da

atenção primária no Brasil é realizada pelas Unidades Básicas de Saúde, por intermédio do PSF.

Presente levantamento mostrou treze publicações sobre programas de fitoterapia no SUS, cada

um explorando, ao seu modo, suas experiências em unidades de saúde de diferentes Estados e

municípios do Brasil, pertencentes aos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e

Mato Grosso e aos municípios de Maringá (PR), Betim (MG), Ribeirão Preto (SP), Maracanaú (CE),

Alagoa Grande (PB), Cascavel (PR), Itajaí (SC), Foz do Iguaçu (PR) e Londrina (PR). Estes

programas estão descritos a seguir.

Ogava et al. (2003) relataram a implantação do programa de fitoterapia “Verde Vida” no

município de Maringá, no ano de 2000. O programa foi orientado por uma comissão técnica e

estruturou-se seguindo o formato de farmácia de manipulação. A padronização de fitoterápicos

ocorreu a partir de avaliação da literatura existente, das necessidades em termos de perfil

epidemiológico, das necessidades específicas da Secretaria de Saúde e das plantas disponíveis no

mercado nacional. Iniciativas foram adotadas para estimular produtores rurais da região a

desenvolverem esse tipo de cultivo. O programa contou com o apoio do Departamento de Farmácia

da Universidade Estadual de Maringá para realização do controle de qualidade das matérias-primas

adquiridas. Visando a capacitação de médicos e enfermeiros da rede básica, foram ministrados cursos

sobre o tema em geral e sobre os fitoterápicos padronizados e também foi montado e entregue para

esses profissionais um Guia Fitoterápico para consulta cotidiana, contendo indicações, restrições,

doses, efeitos colaterais e fotos das plantas (Ogava et al. , 2003).

Os autores verificaram uma maior adesão à terapêutica com fitoterápicos pela enfermagem

em geral, bem como pelos médicos ligados ao PSF, e justificaram tal ocorrência no fato de que estes

profissionais possuem um campo de atuação mais amplo do que aqueles que atuam em especialidades,

estando por este motivo mais abertos a novas terapias. Observaram que não há aceitação por parte de

alguns médicos da rede, que apesar das capacitações, relutam em prescrever, mesmo sem alternativas

sintéticas na lista de medicamentos do município.

Rosa et al. (2011) enfatizaram a importância da colaboração do profissional médico, alegando

que para grande parte da população, as ações e os conceitos praticados por esse profissional são

regularmente interpretados como legítimos e adquirem caráter de “verdade”. Em uma pesquisa

realizada por esses autores, os médicos alegaram falta de estudos clínicos comprovando eficácia,

indicações, validade de uso, dosagem e contra-indicações dos medicamentos fitoterápicos.

Page 104: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

896 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

Outra dificuldade apresentada refere-se à questão da baixa qualidade da matéria-prima

oferecida pelos fornecedores, mesmo aqueles mais conceituados. Os autores ressaltaram que amostras

são solicitadas para uma avaliação, e as que são consideradas inadequadas são devolvidas

imediatamente, e os fornecedores sem qualificação são descartados para que se consiga manter um

bom padrão de qualidade (Ogava et al. , 2003).

Barros (2003) reafirmou esta preocupação e apontou para a necessidade de boas práticas

agrícolas em todo processo produtivo, de tal forma que possa ser garantida a presença de substancias

ativas em quantidade e com qualidade, tornando possível a segurança e eficácia nas ações

terapêuticas.

O Programa Fitoterápico “Farmácia Viva” de Betim, descrito por Guimarães et al. (2006) foi

incorporado ao sistema de saúde pública visando a promoção do uso racional das plantas medicinais

na atenção primária à saúde, resgatando o conhecimento popular, embasado nos conhecimentos

científicos, e contou com o apoio da administração pública, de profissionais da saúde e da comunidade

local. Em consonância com outros autores, Guimarães et al. (2006) citaram alto custo dos

medicamentos alopáticos e a ocorrência de inúmeros efeitos colaterais por eles provocados, bem

como a eficácia comprovada das plantas medicinais e o crescente interesse da comunidade pelo uso

desta terapia como vantagens para a adoção da prática da fitoterapia, além de necessidades detectadas

pelos profissionais de saúde do município, tais como o uso indiscriminado e incorreto das plantas

medicinais que muitas vezes ocasiona até mesmo a troca do tratamento convencional pela fitoterapia,

sem nenhuma orientação ou conhecimento dos riscos.

No município de Betim (MG), pequenos produtores locais foram incentivados a aderir ao

projeto das hortas medicinais, servindo ainda, conforme exposto por Sacramento (2004) como uma

fonte de emprego e renda para a população. Os fitoterápicos são produzidos em uma farmácia de

manipulação, estruturada de acordo com as normas da ANVISA e Vigilância Sanitária.

Porém, como apontado por Leite (2000) apesar de todos os benefícios, o interesse por parte

dos gestores municipais na implantação de programas de uso de fitoterápicos na atenção primária à

saúde, parece associado apenas à concepção de que esta seria uma opção para suprir a falta de

medicamentos.

A responsabilidade da implantação e desenvolvimento do Serviço de Fitoterapia em Betim

(MG) ficou a cargo da coordenação central composta por três Farmacêuticas, com o apoio de uma

equipe multidisciplinar composta por Agrônomo, Técnico agrícola, Farmacêuticos, Médicos,

Enfermeiros, Assistentes sociais, Odontólogos, Fisioterapeutas, Agentes Comunitários de Saúde e

demais profissionais graduados de saúde (Guimarães et al., 2006)

Page 105: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

897 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

Estes profissionais foram treinados, tendo em vista que grande parte deles não tinha formação

acadêmica nesta área e também se pretendia promover cursos de capacitação e de educação

continuada em fitoterapia, além da confecção e fornecimento de material técnico-científico aos

médicos para orientação na prescrição ao usuário. A população também foi contemplada, a partir da

realização de palestras com o objetivo de orientar quanto ao uso correto das plantas medicinais.

No período de realização do referido trabalho, a manipulação do Programa Farmácia Viva,

implantada a partir de outubro de 2005, contava com uma relação de cerca de 40 medicamentos

fitoterápicos. Segundo relatos dos médicos, enfermeiros e dentistas, que prescrevem os medicamentos

fitoterápicos, os resultados são surpreendentes, além do baixo custo, da redução de efeitos colaterais

e da maior adesão dos pacientes ao tratamento.

Em outro estudo, Michiles (2004) realizou um diagnóstico situacional dos serviços de

fitoterapia do Estado do Rio de Janeiro, e os resultados obtidos levantaram algumas questões que são

comuns à maioria dos municípios do país. A autora salientou a insuficiência de suporte político e

concluiu que há necessidade de maior comprometimento dos gestores da área de saúde,

principalmente tendo em vista a necessidade de assegurar qualidade, segurança e eficácia, preceitos

estabelecidos a todos os recursos terapêuticos do SUS. Nos municípios do Rio de Janeiro, o Serviço

de Fitoterapia está basicamente organizado de acordo com a Resolução Estadual 1590 (SES/RJ,

2001), que estabelece que seu funcionamento deva se constituir em unidade de promoção à saúde,

compreendendo em sua estrutura: atendimento clínico, oficina farmacêutica de fitoterápicos

(farmácia de manipulação) e opcionalmente, área de cultivo.

De acordo com Michiles (2004), dos 93 municípios para os quais foram enviados

questionários, 47,3% responderam, destes, 31% possuíam atividade na área de plantas medicinais e

59,5% manifestaram interesse em implantar o Serviço de Fitoterapia. Os dados demonstraram que a

grande maioria dos profissionais do PSF não se apresentava capacitada para atuar na área de plantas

medicinais, demonstrando a importância de se oferecer treinamento adequado a esses profissionais.

Além da falta de apoio dos gestores municipais, outros problemas apontados como limitantes

do pleno cumprimento da Resolução 1590 (SES/RJ, 2001) foram: a falta de recursos orçamentários

específicos, a falta de capacitação técnica, o descrédito por parte dos profissionais médicos, e

principalmente, a insegurança quanto à qualidade dos medicamentos fitoterápicos e a falta de

subsídios científicos que comprovem a eficácia terapêutica destes produtos.

A falta de incentivo por parte dos governos municipais também foi citada por Oliveira, Simões

& Sassi (2006) como o principal motivo que levou a desativação da fitoterapia em alguns municípios

do Estado de São Paulo.

Page 106: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

898 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

Os autores relataram que 12 municípios continuam utilizando a fitoterapia na rede pública de

saúde, bem como em outros 13, há profissionais da área com projetos de fitoterapia para serem

oferecidos aos seus gestores. De acordo com o estudo, os médicos da rede púbica de saúde, mesmo

sem incentivo do governo municipal, continuam prescrevendo fitoterápicos, devido a esta terapêutica

fazer parte de sua prática médica e ser bem aceita e acessível à população (Oliveira, Simões & Sassi,

2006)

Akiyama (2004) reafirmou que há, sim, uma crescente aceitação e interesse por parte dos

profissionais de saúde, inclusive médicos, pelo uso dessa terapia, e associa este fato, dentre outros

aspectos, à comprovação científica das propriedades terapêuticas de diversas plantas medicinais no

tratamento de determinadas patologias.

Um dos municípios paulistas que continua utilizando a fitoterapia nas unidades básicas de

saúde é Ribeirão Preto, e essa experiência é descrita por Pires & Borella (2004). Segundo os autores,

o Programa de Fitoterapia e Homeopatia foi implantado em 1992, sendo pioneiro no interior do estado

de São Paulo, e teve apoio de uma série de atores comunitários e políticos. Conta com uma equipe

de profissionais especializados, além de dispor de horto florestal para o cultivo de plantas medicinais

e laboratório de manipulação e controle de qualidade. Também são desenvolvidas atividades como

atendimento ambulatorial e implantação de “Farmácia Viva” em escolas, creches, universidades e

entidades comunitárias.

O programa também prioriza ações que buscam promover a conscientização da infância e

juventude na preservação das riquezas naturais, bem como integrar o conhecimento popular à

pesquisa científica desenvolvida pelas universidades, o que está de acordo com o exposto por

Brasileiro et al. (2008). Segundo estes autores pode-se planejar a pesquisa, a partir de conhecimento

empírico já existente, muitas vezes consagrado pelo uso contínuo, que deverá ser testado em bases

científicas, com grande economia de tempo e dinheiro.

Pires & Borella (2004) relataram ainda que, ao longo dos anos, foi possível constatar a

viabilidade dessa proposta, que oferece a população métodos alternativos de prevenção de doenças e

promoção da saúde, com menor dispêndio financeiro. Devido a ações terapêuticas positivas na

terapia, a demanda por parte da população é crescente, tornando insuficientes os recursos

disponibilizados pela prefeitura, sendo necessária a ampliação da infraestrutura e da capacitação de

equipe multiprofissional para atendimento adequado.

Outras necessidades apontadas são o apoio à pesquisa científica assegurando a eficácia e

qualidade das plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos e a inclusão de práticas alternativas

de saúde nos currículos universitários para formação de profissionais capacitados (Pires & Borella,

2004).

Page 107: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

899 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

Outro estudo, desenvolvido em Maracanaú (CE), procurou conhecer o perfil de utilização e

prescrição dos fitoterápicos desenvolvidos no município. Silva et al. (2002) esclareceram que o

município de Maracanaú foi o primeiro a implantar o Programa Farmácias Vivas no sistema público

de saúde. O programa encontra-se vinculado à Secretaria Municipal de Saúde, como também acontece

na maioria dos Programas e tem se destacado pela sua organização, abrangência e funcionalidade.

Sua estrutura básica é composta por 01 horto para o cultivo das plantas medicinais, e 01 laboratório

de manipulação, para a produção dos medicamentos fitoterápicos. A dispensação dos produtos à

comunidade ocorre nas Unidades Básicas de Atenção à Saúde da Família do PSF, mediante prescrição

medicamentosa do profissional de saúde (Silva et al., 2002)

A prevalência de fitoterápicos nas prescrições de pacientes atendidos nas Unidades de Saúde

da Família (USF) foi de 20,6%, o que sugere um cenário favorável ao Programa Farmácias Vivas

daquela cidade. No entanto, estudos posteriores são necessários para a garantia do controle de

qualidade, da eficácia e segurança dos fitoterápicos desenvolvidos, conforme exigências da legislação

vigente no país (Silva et al., 2006). Os autores sugerem que tais estudos poderiam ser realizados por

meio de parcerias entre a rede pública de saúde e as universidades públicas locais, de modo a otimizar

de uma vez por todas a produção e utilização dos fitoterápicos no sistema municipal de saúde de

Maracanaú.

Silva et al. (2006) ressaltaram a importância de se desenvolver alternativas terapêuticas

especialmente no nordeste brasileiro, onde a população carente apresenta dificuldades para obter

medicamentos essenciais, bem como adoece muito mais, o que é reforçado por Albuquerque & Rêgo

(2012) que destacaram a viabilidade econômica da utilização de fitoterápicos no sistema público de

saúde, salientando a incapacidade da política de assistência farmacêutica nacional em suprir as

demandas de medicamentos da população.

Em seu estudo, Albuquerque & Rêgo (2012) tinham como objetivo traçar um perfil de

utilização de medicamentos fitoterápicos, bem como verificar a aceitabilidade da implantação de um

programa de fitoterapia, seguindo os moldes do “Programa Farmácias Vivas”, na USF do município

de Alagoa Grande (PB), os autores encontraram um cenário favorável, com o apoio de usuários,

gestores e profissionais da saúde.

Estes autores constataram que a fitoterapia é largamente utilizada, por conta própria, por toda

população, que se encontra, portanto, exposta aos riscos do uso indevido. Desta maneira, realçam

outras vantagens da inserção de um programa de fitoterapia na rede básica de saúde do município,

como a promoção do seu uso racional e também o desenvolvimento da economia local, a partir do

incentivo a comunidades carentes a se dedicarem ao cultivo de plantas medicinais (Albuquerque &

Rêgo, 2012).

Page 108: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

900 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

O estudo de Tomazzoni (2004) teve como objetivo ampliar o conhecimento sobre a relação

da comunidade de Cascavel (PR) com o uso de plantas medicinais, visando gerar subsídios para o

planejamento e introdução do uso de fitoterápicos na Rede Básica de Saúde deste Município. Em

relação às famílias entrevistadas, 96% relataram o uso de fitoterápicos cuja informação foi geralmente

transmitida pelos seus ancestrais, e 100% responderam que deles fariam uso para tratamento de

problemas de saúde.

A manifestação favorável quanto ao uso foi respondida com várias justificativas, como por

exemplo: acreditam que as plantas têm poder de cura; preferem utilizar produtos naturais; já utilizam

plantas cultivadas por eles mesmos ou fornecidas pela Pastoral da Saúde; confiam mais nestes

medicamentos, referindo que desconhecem quais as composições dos medicamentos industrializados;

as plantas medicinais têm menos efeitos colaterais que os medicamentos alopáticos; a resposta

terapêutica é mais lenta quando comparada a resposta dos medicamentos alopáticos, no entanto, é

mais eficaz; porque estes medicamentos estariam mais disponíveis e, ainda, que, se estes

medicamentos fossem prescritos na USF, seria seguro utilizá-los (Tomazzoni, 2004).

A quase totalidade da equipe de profissionais de saúde vinculados a USF manifestou-se

favorável à implantação de um programa de fitoterápicos, e apenas uma pequena parcela dos

entrevistados explicitou não orientar os usuários da USF sobre o uso de plantas no tratamento de

doenças (Tomazzoni, 2004).

Na maioria das vezes, essas orientações não estão embasadas em conhecimentos comprovados

cientificamente, o que poderia ser melhorado com a capacitação desses profissionais. Os autores

atentam ao fato de que o uso sem orientação apropriada é um fator de preocupação que deve ser

considerado pelos atores sociais do setor de saúde bem como por aqueles envolvidos na educação

comunitária, dada a incidência de espécies com registro de toxicidade e contra-indicações de uso. A

observância às dosagens prescritas e o cuidado na identificação precisa do material utilizado pode

evitar uma série de acidentes (Tomazzoni, 2004).

Os profissionais de saúde da USF acreditam que, para a efetividade da implantação do referido

programa, deve haver primeiramente aceitação do profissional médico, por ser este o profissional de

saúde que tem como uma de suas funções a prescrição de medicamentos, bem como, o programa

disponibilizar fitoterápicos com resposta terapêutica comprovada, recursos humanos capacitados

(treinamento) e recursos financeiros garantidos por parte do gestor local de saúde para que o programa

não sofra descontinuidade (Tomazzoni, 2004).

Com isso, os autores demonstram que a implantação de um programa de produção, cultivo,

elaboração e distribuição de plantas medicinais na atenção básica à saúde, pode garantir à população

o acesso a medicamentos bem como o seu uso seguro, diminuindo custos e valorizando o saber

Page 109: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

901 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

popular. Sugerem que a implantação do programa siga o exemplo de outros já implantados, partindo

a formação de uma equipe multidisciplinar para atuar no desenvolvimento do programa; implantação

de horto para a produção de mudas a serem utilizadas nas hortas medicinais comunitárias, garantindo

sua certificação, e que também serve como uma base para o desenvolvimento de pesquisas sobre as

plantas; instalação de Unidade Comunitária de Beneficiamento, de laboratório farmacêutico e de

oficina destinados à preparação dos produtos fitoterápicos com base na matéria-prima produzida;

organização dos meios de distribuição das plantas medicinais para a população e, junto a isso,

sensibilização dos profissionais de saúde para que utilizem e recomendem os fitoterápicos, por meio

de capacitações programadas e também divulgação aos usuários quanto ao uso correto e advertências

quanto ao uso incorreto de plantas medicinais (Tomazzoni, 2004).

Os autores acreditam que o incentivo a fitoterapia valoriza o saber popular, favorecendo a

formação do vínculo entre profissionais de saúde e paciente, influenciando diretamente na qualidade

da assistência prestada (Tomazzoni, 2004).

Nesse mesmo sentido, e considerando o amplo uso da fitoterapia pela população da região em

que desenvolveu seu estudo, Araújo (2000) valoriza o respeito a concepções e práticas de cura

próprias da população como facilitadores no processo de recuperação da saúde, podendo levar até

mesmo a aproximação entre médico e usuário, uma vez que este não costuma relatar que faz uso de

plantas medicinais, a não ser que percebam que há aceitação desta prática por parte do médico.

O referido estudo discute a tentativa de implantação da fitoterapia na Rede Municipal de

Saúde de Londrina, visando implementar formas mais humanizadas de cuidado a saúde. No entanto,

o programa de fitoterapia não chegou a ser implantado na época por receber menor destaque no

quadro de prioridades do órgão gestor da saúde (Araújo, 2000).

Também reforçando a viabilidade econômica e cultural das plantas medicinais, quando usadas

com base em princípios científicos, Sena et al. (2007) comentaram a Política de Plantas Medicinais

do Estado do Rio Grande do Sul, que surgiu a partir de uma reivindicação antiga dos movimentos

populares, das instituições universitárias e de pesquisa e de órgãos governamentais, sendo explicitada

em encontros e reuniões em todo Estado.

Desde o início do seu processo de implantação, uma série de ações vem sendo realizadas pelos

diferentes órgãos, inclusive em parceria com empresas e outras instituições representativas da

sociedade buscando a implementação da fitoterapia como prática terapêutica nos serviços do SUS e

a qualificação da cadeia produtiva de plantas medicinais como alternativa de desenvolvimento

econômico e social (Sena et al., 2007).

Leite & Schor (2005) afirmaram que a fitoterapia no serviço público de saúde apresenta

significados diferentes para pacientes e profissionais de saúde. Os referidos autores analisaram estes

Page 110: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

902 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

significados por meio da valoração atribuída por profissionais e pacientes de uma Unidade de Saúde

localizada em Itajaí (SC), que possui um horto de plantas medicinais e ações de incentivo ao uso

popular de fitoterapia. Os resultados obtidos demonstraram que para os usuários da Unidade, a

fitoterapia remete a valores de tradição familiar, de disponibilização de recursos terapêuticos e de

propiciar o poder de cuidar do próprio corpo. Para os médicos, enfermeiros e dentistas, o principal

valor da fitoterapia é econômico, como substituto quando não há medicamentos convencionais. Para

os profissionais auxiliares (auxiliares de enfermagem) os valores são próximos daqueles referidos

pelos usuários.

Diante disso, os autores entenderam que o fato de haver na Unidade de Saúde um horto de

plantas medicinais, com incentivo ao uso das mesmas e participação da comunidade, promove a

interação entre comunidade e instituição, e é uma forma de romper barreiras culturais para a atuação

de uma equipe de saúde, ainda que não esteja sendo plenamente utilizado pelos profissionais de saúde.

O Programa Estadual de Fitoterápicos, Plantas Medicinais e Aromáticas (FITOPLAMA),

desenvolvido pelo Governo do Estado de Mato Grosso, visa o acesso aos fitoterápicos e plantas

medicinais e a inclusão social. Em documento elaborado pela Secretaria de Saúde daquele estado, são

expostas as vantagens propiciadas pela regularização da cadeia produtiva farmacêutica de

fitoterápicos e plantas medicinais, dentre elas o respeito ao direito do cidadão de optar por um tipo

de terapia; o custo mais acessível na produção de medicamentos; o incentivo à pesquisa da

biodiversidade brasileira e o fortalecimento de arranjos produtivos locais para produção de matérias-

primas de origem natural, visando o desenvolvimento sustentável e estimulando a agricultura

familiar. A resistência de alguns profissionais da saúde ao uso de fitoterápicos e plantas medicinais

foi relatada como um ponto fundamental a ser trabalhado, sendo necessário investimento na

qualificação destes profissionais, para que possam incorporar a fitoterapia nas suas práticas de saúde

(Mato Grosso, 2005).

Coleto et al. (2010) descreveram o projeto “Plantas Medicinais” nativas dos remanescentes

florestais do oeste do Paraná, que está inserido no programa “Cultivando Água Boa”, desenvolvido

pela empresa Itaipu Binacional e que visa recuperação e preservação ambiental, além de educação e

sustentabilidade social e regional. Segundo os autores, o projeto iniciou-se a partir de um

levantamento realizado na região sobre o uso popular de plantas medicinais e identificação de

instituições voltadas ao tema. Em seguida foi criado o Horto de Plantas Medicinais no Refúgio

Biológico Bela Vista e apoiou-se a criação de hortos nos municípios da Bacia Hidrográfica Paraná

III (Coleto et al., 2010).

O programa foi consolidado com a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e

atua em todas as áreas da cadeia produtiva de plantas medicinais dentro das recomendações das

Page 111: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

903 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

normas de boas práticas: cultivo orgânico, coleta, estufa de secagem, armazenagem, embalagem e

unidade de processamento de extrato seco, bem como viabiliza cursos de capacitação tanto para a

população quanto para os profissionais de saúde (Coleto et al., 2010).

4 CONCLUSÕES

Existem ainda muitos desafios a serem superados para o pleno funcionamento dos programas

de fitoterapia na rede pública de saúde. Dificuldades como falta de incentivo dos gestores municipais,

baixa qualidade da matéria-prima, resistência por parte de alguns profissionais relacionados,

especialmente médicos, bem como escassez de conhecimento dos profissionais de saúde sobre o tema

e a necessidade de estudos para a garantia de qualidade, eficácia e segurança dos fitoterápicos

desenvolvidos foram citadas pelos autores revisados.

No entanto, muitas ações vem sendo tomadas visando a contornar essas dificuldades, como a

instalação de hortos para o cultivo de espécies validadas, garantindo a produção de matéria-prima de

qualidade e a capacitação dos profissionais da área da saúde para o trabalho com fitoterapia, conforme

preconizado pela PNPIC. Além disso, embora ainda seja encontrada resistência por parte de alguns

profissionais, segundo alguns autores isso vem sendo gradualmente revertido, representando outro

fator fundamental e motivador para as iniciativas de incluir a fitoterapia no âmbito do SUS.

Apesar das dificuldades apresentadas, o potencial benéfico demonstrado pela fitoterapia no

atendimento primário a saúde é inquestionável, sobretudo por favorecer seu uso racional. A

orientação correta ao usuário se mostra especialmente importante diante da evidência apresentada por

vários dos trabalhos revisados, de que grande parte da população atendida nas UBS faz uso de plantas

medicinais sem qualquer orientação, desconhecendo na maioria das vezes a possível existência de

toxicidade ou mesmo sua comprovada ação terapêutica, a forma correta de cultivo, preparo,

indicações e contra-indicações.

Diversos autores ressaltaram também que a fitoterapia se trata de uma alternativa

medicamentosa segura e eficaz, além ser economicamente viável e valorizar o saber popular, o que

influencia na qualidade da assistência prestada bem como auxilia na aproximação entre usuários e

profissionais, favorecendo o processo de recuperação da saúde.

A reflexão sobre as experiências relatadas, especialmente sobre os efeitos positivos dos

programas de fitoterapia podem servir de incentivo aos gestores e profissionais de saúde para

superarem os obstáculos e tomarem iniciativas que visem à implantação da fitoterapia no sistema

local de saúde.

Page 112: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

904 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

5 REFERÊNCIAS

ABIFITO. Disponível em: <http://www2.visywork.com.br/Empresas/abifito/abifito.nsf>. Acesso

em: 11 out. 2004. Apud Mato Grosso. Secretaria de Estado de Saúde. Secretaria de Estado de

Trabalho, Emprego e Cidadania. O Acesso aos Fitoterápicos e Plantas Medicinais e a Inclusão Social

– Diagnóstico Situacional da Cadeia Produtiva Farmacêutica no Estado de Mato Grosso. Março,

2005.

Akerele O. Plantas medicinales y atención primaria de salud: um calendario para la acción. Bol.

Medicam. Essenc. 10: 1990.

Albuquerque VLM & Rêgo HO. A Utilização de fitoterápicos nas unidades de saúde da família do

município de Alagoa Grande-PB. 2012. João Pessoa. 22 p. Trabalho de Conclusão de Curso

(Especialização em Gestão Publica Municipal – modalidade à distância), Universidade Federal da

Paraíba.

Alves DL & Silva CR. Fitohormônios: abordagem natural da terapia hormonal. São Paulo: Atheneu,

2002. 231p.

Araújo MAM. Bactrins e quebra-pedras. Comunicação, Saúde, Educação. 4(7): 103-110, 2000.

Barros IBI. O desafio da obtenção da matéria-prima: cultivos e coletas. Jornada Catarinense de

Plantas Medicinais. Livro de resumos, 4, 2003, Itajaí, Brasil, 2003.

Batista LM & Valença AMG. A Fitoterapia no âmbito da atenção básica no SUS. Pesq. Bras

Odontopediatria Clin. Integr. 12(2):293-296, 2012.

Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria 971, de 4 de maio de 2006. Política

Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. Diário Oficial [da] República Federativa do

Brasil, Brasília, DF, 2006a.

_______. Decreto 5813 de 22 de junho de 2006. Política Nacional de Plantas Medicinais e

Fitoterápicos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2006b.

Page 113: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

905 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

_______. Ministério da Saúde. A Fitoterapia no SUS e o Programa de Pesquisas de Plantas

Medicinais da Central de medicamentos. Diário oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,

DF, 2006c.

_______. Ministério da Saúde. Resolução da Diretoria Colegiada nº 14 de 31 de março de 2010.

Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Diário Oficial [da] República Federativa do

Brasil, Brasília, DF, 2010.

_______. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.916, de 30 de outubro de 1998. Aprova a Política

Nacional de Medicamentos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1998.

_______. Ministério da Saúde. Portal da saúde. Disponível em:

http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/4603/162/relacao-nacional-de-medicamentos-

quase-dobra.html. Brasília: 2012. Acesso em: 16 ago. 2013.

_______. Ministério da Saúde. Práticas integrativas e complementares: plantas medicinais e

fitoterapia na Atenção Básica. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. –

Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 29 p.

Brasileiro BG, Pizziolo VR, Matos DS, Germano AM, Jamal CM. Plantas medicinais utilizadas

pela população atendida no "Programa de Saúde da Família", Governador Valadares, MG, Brasil.

Rev. Bras. Ci. Farm. 44 (4):2008.

Cechinel-Filho V & Yunes RA. Estratégias para a obtenção de compostos farmacologicamente ativos

a partir de plantas medicinais. Conceitos sobre modificação estrutural para otimização da atividade.

Quím. Nova. 21 (1): 99-105, 1998.

Coletto LMM, Pereira BMR, Cardozo Junior REL, Zardinello A, Sousa HAS, Lawich MC. Plantas

medicinais: nativas dos remanescentes florestais do Oeste do Paraná. Foz do Iguaçu: Itaipu

Binacional, p. 14-21, 2010.

David JPL, Nascimento JAP, David JM. Produtos fitoterápicos: uma perspectiva de negócio para a

indústria, um campo pouco explorado pelos farmacêuticos. Infarma. 16(9-10):71-76, 2004.

Page 114: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

906 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

Dorta EJ. Introdução. Escala rural: especial de plantas medicinais. São Paulo: Escala, 1 (4): 1-62,

1998.

Eisenberg DM, Davis RB, Ettner SL, Appel S, Wilkey S, Rompay MV, Kessler R. Trends in

alternative medicine use in United States, 1990-1997: results of a follow-up national survey. JAMA.

280: 1569- 1575, 1998.

Guimarães J, Medeiros JC, Vieira LA. Programa Fitoterápico Farmácia viva no SUS-Betim.

Prefeitura Municipal de Betim, Secretaria Municipal de Saúde, Diretoria Operacional de Saúde,

Assistência Farmacêutica do SUS/Betim. Betim, MG, 2006.

Gurib-Fakim A. Medicinal plants: traditions of yesterday and drugs of tomorrow. Mol. Aspects Med.

27 (supl. 1): 1-93, 2006.

Leite SN. Além da medicação: a contribuição da fitoterapia para a saúde pública. 2000. São Paulo.

114 p. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública), Departamento de Saúde Materno-Infantil da

Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. São Paulo.

Leite SN & Schor N. Fitoterapia no serviço de saúde: significados para clientes e profissionais de

saúde. Saúde em Debate. 29 (69): 78-85, 2005.

Lorenzi H & Matos FJA. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Instituto Plantarum. São

Paulo: Nova Odessa, 2002.

Malta Junior A, Diniz MFFM, Oliveira RAG. Das plantas medicinais aos fitoterápicos – Abordagem

multidisciplinar. João Pessoa: PET-FARMÁCIA/CAPES/UFPB, 1999.

Martins ER, Castro DM, Castellani DC, Dias JE. Plantas Medicinais. Viçosa: UFV, 2003. 220 p.

Mato Grosso. Secretaria de Estado de Saúde. Secretaria de Estado de Trabalho, Emprego e Cidadania.

O Acesso aos Fitoterápicos e Plantas Medicinais e a Inclusão Social – Diagnóstico Situacional da

Cadeia Produtiva Farmacêutica no Estado de Mato Grosso. Março, 2005.

Matos FJA. Farmácias vivas. 3 ed. Fortaleza: Editora da UFC, 1998.

Page 115: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

907 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

Michiles E. Diagnóstico situacional dos serviços de fitoterapia no Estado do Rio de Janeiro. Rev.

Bras. Farmacogn. 14 (supl. 1): 16-19, 2004.

Netto EM, Shuqair NSMSAQ, Balbino EE, Carvalho ACB. Comentários sobre o registro de

Fitoterápicos. Rev Fitos. 1 (03): 09-17, 2006.

Ogava SEM, Pinto MTC, Kikuchi T, Menegueti VAF, Martins DBC, Coelho SAD, Marques MJNJ,

Virmond JCS, Monteschio P, D'Aquino M. Implantação do programa de fitoterapia "Verde Vida"

na secretaria de saúde de Maringá (2000-2003). Rev. Bras. Farmacogn. 13 (supl.): 58-62, 2003.

Oliveira MJR, Simões MJS, Sassi CRR. Fitoterapia no Sistema de Saúde Pública (SUS) no estado

de São Paulo. Secretaria Municipal de Saúde de Dobrada – SP. Faculdade de Ciências Farmacêuticas,

São Paulo/SP, 2006.

Pires AM & Borella JC. Prática Alternativa de Saúde na Atenção básica na Rede SUS. Programa

Fitoterapia e homeopatia, Secretaria Municipal de Saúde, Ribeirão Preto, São Paulo, 2004.

Prance GT. Floristic inventary of the tropics: where do we stand. Ann. Missouri Bot. Gard. 64 (supl.

1): 559-684, 1977.

Rio de Janeiro. Resolução SES/RJ N°1590 de 12 de Fevereiro de 2001. Aprova Regulamento Técnico

para a prática da Fitoterapia e funcionamento dos Serviços de Fitoterapia no Âmbito do Estado do

Rio de Janeiro. Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, 2001.

Rodrigues AG, Santos MG, De Simoni C. Fitoterapia na Saúde da Família. In: Sociedade Brasileira

de Medicina de Família e Comunidade (Org.). Programa de Atualização em Medicina de Família e

Comunidade (PROMEF). Porto Alegre: Artmed/Panamericana, 2011. p. 131-165.

Rosa C, Câmara SG, Béria JU. Representações e intenção de uso da fitoterapia na atenção básica à

saúde. Ciências e saúde coletiva. 16 (1): 311-318, 2011.

Sampaio RF & Mancini MC. Estudos de Revisão Sistemática: Um Guia para Síntese Criteriosa da

Evidência Científica. Rev. Bras. Fisioter. 11 (1): 83-89, 2007.

Page 116: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

908 Silva, L. A. D.; Albiero, A. L. M. Rev Bras. Farm 95 (3): 889 – 908, 2014

Santos RL, Guimarães GP, Nobre MSC, Portela AS. Análise sobre a fitoterapia como prática

integrativa no Sistema Único de Saúde. Rev. Bras. Plantas Med.13 (4): 486-491, 2011.

Schenkel EP, Gosmann G, Petrovick PR. Produtos de origem vegetal e o desenvolvimento de

medicamentos. In: Simões CMO et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5 ed. Porto

Alegre/Florianópolis: Editora da UFRGS/Editora da UFSC, 2003. cap. 15, p.371-400.

Sena J, Soares MCF, Cezar-Vaz MR, Muccillo-Baisch AL. Política Intersetorial de Plantas

Medicinais do Estado do Rio Grande do Sul. Rev. Gaúcha Enferm. 28 (1): 62-69, 2007.

Silva MIG, Gondim APS, Nunes IFS, Souza FCF. Utilização de fitoterápicos nas unidades básicas

de atenção à saúde da família no município de Maracanaú (CE). Rev. Bras. Farmacogn. 16(4): 455-

462, 2006.

Simões CMO, Mentz LA, Schenkel EP, Irganf BE, Stehmann JR. Plantas da medicina popular no Rio

Grande do Sul. Porto Alegre: UFRG, 1988.173 p.

Soler O. Política de Medicamentos: aspectos sócio-econômico-culturais. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.

Teixeira C. Os princípios do sistema único de saúde. Texto de apoio elaborado para subsidiar o

debate nas Conferências Municipal e Estadual de Saúde, Salvador, Brasil, 2011.

Toledo ACO, Hirata LL, Buffon MCM, Miguel MD, Miguel OG. Fitoterápicos: uma abordagem

farmacotécnica. Lecta. 21 (1/2): 7-13, 2003.

Tomazzoni MI. Subsídios para a introdução do uso de fitoterápicos na rede básica de saúde do

município de Cascavel/PR. Dissertação (Mestrado em Enfermagem), Universidade Federal do

Paraná, Curitiba, 2004. p. 81-92.

Vianna AL, Heimann LS, Lima LD, Oliveira RG, Rodrigues SH. Significant changes in the health

system decentralization process in Brazil. Cad. Saúde Púb. 18(Supl.): 139-151, 2002.

Yunes RA, Pedrosa RC, Cechinel-Filho V. Fármacos e fitoterápicos: a necessidade do

desenvolvimento da indústria de fitoterápicos e fitofármacos no Brasil. Quí. Nova. 24: 147-152, 2001.

Page 117: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Prevalência de potenciais interações medicamentosas em uma

unidade de terapia intensiva de Manaus- AM

Paula Chagas de Farias Rocha1*, Priscila da Silva Mota1 & Cinthya Iamille

Frithz Brandão de Oliveira2

1 Getúlio Vargas University Hospital, Federal University of Amazonas, 2Laboratory of

Pharmacology, Biological Sciences Institute, Federal University of Amazonas

Autor Correspondente: Paula Chagas de Farias Rocha, Hospital Universitário Getúlio Vargas,

Avenida Apurinã no 4, Bairro Praça 14 de Janeiro, CEP 69020-170, Manaus, Amazonas,

(92)33054730/(21)992033288.

Email:[email protected], [email protected].

Page 118: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

910 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

RESUMO

A terapia medicamentosa dos pacientes internados na unidade de terapia intensiva (UTI) é

complexa e normalmente com uma grande quantidade de fármacos que usados de maneira

irracional acarretando em impactos negativos. O objetivo deste trabalho foi verificar a

prevalência das potenciais interações medicamentosas na UTI do Hospital Universitário

Getúlio Vargas e analisar a significância clínica dessas interações. Foi realizado um estudo

transversal e retrospectivo em que foram incluídos 71 pacientes internados na UTI do hospital

entre os meses de Julho e Dezembro de 2011. Os fármacos administrados em três períodos

diferentes durante a internação foram analisados para identificar potenciais interações

medicamentosas utilizando o software DRUG-REAX®. Foram identificadas 585 potenciais

interações medicamentosas com prevalência média de 67,6% nos três períodos. Observou-se

uma frequência de 355 interações classificadas como moderadas. As interações com maior

frequência apresentavam fármacos que atuam no sistema nervoso central. Ao menos uma

interação medicamentosa foi encontrada em prescrições que continham o medicamento

fenitoína. O mecanismo de ação mais frequente pelo qual as interações ocorreram envolvia a

alteração do metabolismo dos fármacos. Os resultados demonstram uma alta prevalência de

potenciais interações na UTI. Diante do exposto, a presença do farmacêutico na unidade de

terapia intensiva representa um grande avanço no tratamento dos pacientes, pois com sua

atuação há uma melhora na qualidade da terapia medicamentosa, diminuindo riscos para estes

pacientes de alta complexidade.

Palavras-chave: Interações medicamentosas, Prescrições, Medicamentos, UTI.

Page 119: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

911 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

ABSTRACT

Drug therapy of patients hospitalized in the intensive care unit (ICU) is complex and usually

with a large amount of drugs used irrationally resulting in negative impacts. The objective of

this study was to determine the prevalence of potential drug interactions in the University

Hospital Getúlio Vargas’ ICU and analyze the clinical significance of these interactions. A

cross-sectional, retrospective study was performed in 71 patients admitted to the ICU between

July and December 2011. Drugs administered in three different periods during hospitalization

were analyzed to identify potential drug interactions using DRUG-REAX® software. It was

identified 585 potential drug interactions with an average prevalence of 67.6% in the three

periods. It was observed 355 interactions classified as moderate. The most frequently presented

interactions drugs that act on the central nervous system. At least one drug interaction was

found in prescriptions containing the drug phenytoin. The most common mechanism of action

by which the interactions occurred involving the drug metabolism’s alteration. The results

show a high prevalence of potential interactions in the ICU. In this light, the pharmacist

presence in the ICU represents a major advance in the treatment of patients, because with his

performance there is an improvement in the quality of drug therapy, reducing risks for these

highly complex patients.

Key Words: Drug interactions, Prescriptions, Drug, ICU.

Page 120: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

912 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

Introdução

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um centro de atendimento do hospital que

concentra pacientes em estado crítico ou de alto risco com possibilidades de recuperação que

demandam de uma atenção especializada, requerendo com isso suporte humano qualificado e

tecnológico altamente avançado. Em virtude da complexidade do quadro clínico e

instabilidades normalmente apresentadas pelos pacientes internados na Terapia Intensiva, a

terapia medicamentosa neste setor do hospital exige combinações que demandam uma grande

quantidade de fármacos prescritos, que quando utilizadas de maneira inadequada, podem ter

um impacto negativo ao usuário, acarretando problemas tanto de ordem clínica quanto

econômica (Padilha, 2010; Tranquitelli, 2007; Rossignolli, 2006).

Dentre os problemas causados pelo uso irracional de medicamentos estão as reações

provocadas pelas interações medicamentosas. Interações que causam efeitos nocivos aos

pacientes tornaram-se um importante problema de saúde pública, agravado pelo

envelhecimento da população, a complexidade do tratamento farmacológico de algumas

doenças e o aumento da prática de polifarmácia. No hospital as interações medicamentosas

estão sempre presentes, uma vez que os pacientes são expostos a diversos medicamentos ao

longo do período de internação. Os agravos relacionados às reações adversas provocadas pelas

interações medicamentosas podem levar a elevação do tempo de internação e custos

hospitalares, causar lesões irreversíveis e óbitos (Moura, 2009; Ebbesen, 2001; Classen, 1997).

Estudos revelam que, em unidades de terapia intensiva, grande parte dos pacientes está

exposta a potenciais interações medicamentosas. Este fato deve-se ao grande número de

fármacos normalmente prescritos a pacientes críticos bem como alterações orgânicas

comumente presentes nestes pacientes. No Brasil, ainda não há um número significativo de

estudos sobre a frequência de interações medicamentosas no ambiente hospitalar (Reis, 2010;

Lima,2009; Hammes, 2008; Almeida, 2007; Rossignoli, 2006; Bustamante, 2005; Sierra,

1997).

Assim, objetivo deste trabalho foi verificar a prevalência das potenciais interações

medicamentosas da Unidade de Terapia Intensiva de um hospital universitário da cidade de

Manaus e analisar a significância clínica dessas interações.

Page 121: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

913 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

Métodos

O estudo realizado foi do tipo transversal, retrospectivo desenvolvido no Hospital

Universitário Getúlio Vargas, localizado na cidade de Manaus no estado do Amazonas. Este é

um hospital terciário com 158 leitos que atende usuários provenientes dos mais variados

municípios da região norte do Brasil. O protocolo do estudo foi submetido ao Comitê de Ética

em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Amazonas (CEP-UFAM) e

aprovado sob o número 0476.0.115.00-11.

O procedimento de coleta de dados foi adaptado dos instrumentos utilizados por Reis

(2010), Lima (2009), Hammes (2008) e Rossignoli (2006).

Foi realizado um levantamento de todos os pacientes internados no período de Julho a

Dezembro de 2011 utilizando o serviço de atendimento médico e estatístico (SAME) do

hospital. Os pacientes que seguiram os seguintes critérios foram incluídos no estudo:

permanência na UTI superior a 48 horas; com dois ou mais fármacos prescritos no período de

internação. Os critérios de exclusão utilizados foram os seguintes: pacientes com idade menor

que 18 anos, e um período de permanência na UTI menor que 48 horas.

Foram coletadas prescrições em três períodos distintos: o período 01, que representa a

primeira prescrição do paciente na UTI; o período 02 que é a prescrição que representa a metade

dos dias de internação; e o período 03 com prescrições do último dia de estada na UTI dos

pacientes inclusos no estudo.

Foi utilizado um questionário estruturado onde foram coletadas informações como:

informações demográficas (gênero, idade), tempo de internação na UTI, desfecho do paciente

(alta ou óbito).

Os fármacos contidos nas prescrições selecionadas foram classificados de acordo com

a classificação Anatomical Therapeutic Chemical (ATC) e analisadas quanto às interações

fármaco-fármaco utilizando o DRUG-REAX®. Este software possui especificidade e

sensibilidade para detectar possíveis interações medicamentosas. Este identifica as interações

e fornece informações sobre as mesmas. O software classifica nas categorias de gravidade

(contraindicado, severa, moderada, fraca e desconhecida), tempo para ocorrência (imediata e

tardia), documentação existente sobre a interação (excelente, boa, regular, pobre, improvável

e desconhecida). O mecanismo de ação será classificado em farmacocinética e

farmacodinâmica, de acordo com o descrito pelo DRUG-REAX® (Micromedex Healthcare

Series, 2012; WHO, 2003).

Page 122: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

914 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

Não foram avaliadas manifestações clínicas das interações medicamentosas, pois como

se trata de um estudo retrospectivo, não houve acompanhamento dos pacientes durante o

período de internação.

As análises estatísticas foram efetuadas utilizando os softwares BioEstat 5.0 e EpiInfo

3.5.1. Para análise descritiva foi utilizado estatística básica. Os testes qui-quadrado e de Fisher

foram utilizados para avaliar a correlação entre as varáveis categóricas. O odds ratio também

foi calculado para determinar a razão de chance entre as variáveis e a ocorrência das interações.

Um valor de p<0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

Resultados

Dos 130 pacientes internados na UTI no período do estudo 71 obedeceram aos critérios

de inclusão. Desses 37 eram homens e 34 mulheres. A média de idade foi de 44 anos (± 18;

16-87anos), a média de dias internados foi de 9,6 dias (± 10,5; 3-69 dias).

As potenciais interações medicamentosas foram mais comuns nos homens (30; 51,7%),

em pacientes com menos de 60 anos (47; 81,0%) e nos pacientes que receberam alta da unidade

(35; 60,3%) (Tabela 01). Não foi encontrada nenhuma associação entre essas variáveis e as

potenciais interações medicamentosas.

Em relação à causa de admissão, 42 pacientes eram cirúrgicos e 29 clínicos. Nos

primeiros, 33 pacientes eram pós-operatórios de neurocirurgia e 09 de cirurgia geral. Nos

Page 123: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

915 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

pacientes clínicos a distribuição decrescente foi lúpus eritematoso sistêmico (07), insuficiência

respiratória (06), sepse (05), leucemia (03), insuficiência hepática (02) e outras causas (06).

Foram avaliadas 213 prescrições, 1807 fármacos foram prescritos correspondendo a

106 fármacos diferentes. Ao todo 144 prescrições (67,6%) apresentaram potenciais interações

medicamentosas (PIM). De toda a amostra, apenas 13 pacientes não apresentaram nenhuma

interação medicamentosa potencial durante todo o período de internação na unidade de terapia

intensiva. Nas 144 prescrições foram encontradas 585 PIM. As médias de potenciais interações

medicamentosas por paciente em cada período foram: 3,69 interações no período 01, 4,59

interações no período 02 e 3,96 interações no período 03.

Segundo a classificação Anatomical Therapeutic Chemical (ATC) (WHO, 2003), as

classes de medicamentos mais prescritos em ordem crescente foram: Grupo A - Aparelho

digestivo e metabolismo (431; 23,8%), Grupo N - Sistema nervoso (278; 15,4%), Grupo J -

Anti-infecciosos gerais para uso sistémico (275; 15,2%), Grupo C - Aparelho cardiovascular

(259; 14,3%), Grupo M - Sistema musculoesquelético (211; 11,7%) e Grupo B - Sangue e

órgãos hematopoiéticos (106; 5,9 %).

Em relação a variável tempo de internação, os pacientes que permaneceram menos que

nove dias internados na unidade apresentaram o maior número de interações (38; 65,5%).

Entretanto, todos pacientes que permaneceram internados por mais de nove dias (20)

apresentaram alguma potencial interação medicamentosa. Houve significância estatística entre

o tempo internação e a presença de potenciais interações medicamentosas (p=0,014).

Quanto o número de fármacos prescritos, observou-se que no período 01 a maioria dos

pacientes que apresentaram PIMs (29; 56,9%) receberam menos que nove fármacos. Entretanto

nos outros dois períodos foi observado que pacientes com mais que nove fármacos prescritos

apresentaram um maior número de PIMs. Em todos os casos houve significância estatística na

relação número de fármacos prescritos e potenciais interações medicamentosas (Tabela 02).

Page 124: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

916 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

Quanto à gravidade das potenciais interações verificadas pode-se observar uma

frequência alta de interações classificadas como severas e moderadas. A figura 01 mostra a

distribuição das interações encontradas quanto à gravidade.

Page 125: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

917 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

Quanto ao mecanismo de ação dessas interações foi observado que as interações

farmacocinéticas são as mais frequentes. Dentre as interações farmacocinéticas destaca-se as

que agem sobre o metabolismo dos farmacos (290; 49,4%). A figura 02 mostra a distribuição

dos mecanismos de ação.

A tabela 03 expõe as cinco PIMs severas e moderadas mais frequentes, bem como as

três PIMs contraindicadas e fracas mais constantes. A interação severa fentanil e midazolam

foi a interação mais frequente durantes os três períodos. Pode-se observar que as interações

mais frequentes envolvem fármacos do grupo N sendo que a fenitoína esteve presente em 228

(38,97%) das 585 PIMs encontradas. A interação medicamentosa que mais se repetiu foi a que

envolvia os fármacos fenitoína e ranitidina (57; 9,74%). Observou-se também que em 23 das

34 interações contraindicadas o fármaco metoclopramida estava envolvida.

Page 126: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

918 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

Em relação à fenitoína, esta esteve presente em 80 das 213 prescrições analisadas. Em

todas as prescrições a fenitoína apresentou interação medicamentos com pelo menos um

fármaco. Esta associação entre a presença de fenitoína na prescrição e a ocorrência de

potenciais interações medicamentosas apresentou significância estatística (p<0,0001).

Quanto à documentação da interação e ao tempo da ocorrência desta pode-se verificar

que a maioria das interações possui uma documentação boa (343; 58,63%), as que apresentam

documentação excelente e pobre representam 13,67% (80) e 27,70% (162), respectivamente.

Já o tempo de ocorrência das interações mais frequente foi a tardia (328; 56,1%).

Discussão

O presente estudo encontrou uma prevalência média de potenciais interações

medicamentosas de 67,6%, este valor encontra-se dentro dos percentuais encontrados em

estudos semelhantes realizados no Brasil cuja taxa variou de 49,7 a 88,2% (Mazzola, 2011;

Reis, 2010; Lima, 2009; Hammes, 2008; Cruciol-Souza, 2006; Rossignolli, 2006).

Page 127: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

919 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

O presente estudo mostrou que a prevalência de PIMs está associada ao número de

fármacos prescritos. Em todos os períodos estudados a ocorrência de potenciais interações

medicamentosas foi significativa em prescrições com mais de nove medicamentos. Isto mostra

que o número de medicamentos é fator de risco para ocorrência de interações medicamentosas

(Reis, 2010; Lima, 2009; Cruciol-Souza, 2006).

Diferentemente dos estudos de Lima (2009) e Cruciol-Souza (2006), neste estudo não

houve uma associação significativa entre idade e interação medicamentosa. Este fato

possivelmente está relacionado ao baixo número de pacientes com idade igual ou superior a 60

anos. Também não houve associação entre gênero e interação medicamentosa.

Quanto ao mecanismo de ação observamos que o principal mecanismo encontrado nas

PIMs foi o farmacocinético envolvendo o metabolismo seguido pela interação

farmacodinâmica. Alterações no metabolismo dos fármacos podem levar a desfechos negativos

como falhas terapêuticas e reações adversas. Para prevenir este tipo de interação, medidas como

ajustes de doses, quando possível evitar associações de fármacos, monitoramento terapêutico

para detecção precoce de efeitos adversos, entre outros (Hansten, 2003).

Observou-se uma associação entre PIMs e fármacos pertencentes ao grupo N no período

01, principalmente a interação entre o fentanil e o midazolam, fármacos estes usados na

sedação dos pacientes em estado crítico.

A interação farmacodinâmica entre o fentanil e o midazolam é considerada severa que

tem como principal consequência a depressão respiratória. Esta interação é baseada no

sinergismo, ou seja, quando o efeito resultante da associação de dois fármacos é maior que a

soma ou adição dos efeitos de cada fármaco separado. Na unidade de terapia intensiva esta

interação é utilizada com foco terapêutico, uma vez que essa combinação é comumente

utilizada em pacientes em ventilação mecânica para produzir conforto e reduzir a ansiedade. A

correta utilização destes fármacos na sedação pode otimizar o tempo do paciente na ventilação

mecânica. Entretanto o grande desafio é garantir o nível adequado de sedação, pois uma

sedação inadequada pode resultar em agitação, delirium, prolongamento do uso do ventilador

mecânico (Micromedex Healthcare Series, 2012; Sakata, 2010; Devlin, 2008; Oga, 2002).

Outro fármaco pertencente ao grupo N que merece destaque é a fenitoína. Este

anticonvulsivante está associado a um grande número de potenciais interações medicamentosas

encontradas no estudo. Dois fatores fazem com que este fármaco tenha este alto potencial de

interagir com outros fármacos: sua forte ligação às proteínas plasmáticas e sua característica

indutora de enzimas responsáveis pelo metabolismo de diversos fármacos. Estas interações

Page 128: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

920 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

podem fazer com que a concentração plasmática da fenitoína aumente ou diminua. Essas

variações são extremamente perigosas já que este fármaco possui um índice terapêutico

estreito, tornando o risco de toxicidade muito elevado (Bruton, 2010; Katzung, 2005; Perucca,

2005).

A interação captopril+espironolactona apesar de ser considerada severa é comum no

tratamento de insuficiência cardíaca. Esta interação causa hipercalemia que ocorre

principalmente em pacientes idosos, pacientes com problemas renais e pacientes com

insuficiência cardíaca. O monitoramento desta interação se dá pela avaliação dos níveis de

potássio sérico. Níveis elevados de potássio podem levar à severa arritmia cardíaca. Em estudo

realizado em UTI no sul do Brasil identificou que a interação captopril+espironolactona estava

entre as interações medicamentosas de maior significado clínico (Hammes, 2008;

Juurlink,2004).

Cabe também destacar que a grande maioria das interações classificadas como

contraindicadas encontra-se um fármaco muito utilizada na prática clínica, a metoclopramida.

Este fármaco tem seu uso contraindicado com neurolépticos devido ao risco elevado de

ocorrência de efeitos extrapiramidais e da síndrome neuroléptica maligna (Micromedex

Healthcare Series, 2012)

A alta prevalência de PIMs alerta para a necessidade da atuação do farmacêutico em

conjunto com a equipe multidisciplinar da UTI. O farmacêutico atua alertando e monitorando

as interações e junto com a equipe avaliando os riscos e benefícios para decidir se mantem ou

altera a farmacoterapia administrada.

Por fim, é necessário lembrar que por ser um estudo retrospectivo, temos como

limitação a impossibilidade de verificar se as potenciais interações encontradas no estudo

concretizaram-se trazendo implicações clínicas. Outra limitação do estudo retrospectivo é a

possibilidade de viés devido ao não preenchimento completo dos dados dos pacientes. Também

não podemos generalizar este resultado por se tratar de um estudo em uma única UTI com um

pequeno número de leitos.

Conclusão

O presente estudo mostrou que pacientes em UTI têm alta prevalência de potenciais

interações medicamentosas. O número de fármacos prescritos, o tempo de permanência na

unidade e a presença de fenitoína nas prescrições têm associação positiva com as interações.

Page 129: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

921 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

Com isso faz-se necessário mais pesquisas a fim de ampliar o conhecimento sobre a incidência

de interações medicamentosas potenciais e reais. Também é preciso a partir deste estudo

realizar outros desta vez prospectivos, sobre as intervenções farmacêuticas no manejo clínico

dessas interações.

Neste cenário o papel do farmacêutico ganha relevância, pois este atuando como

membro da equipe multiprofissional, auxilia a tomada de decisão da equipe com informações

baseadas em evidências clínicas, além da educação continuada em saúde visando a

minimização dos riscos de iatrogenias relacionadas à terapia medicamentosa.

Referências Bibliográficas

Almeida SM, Gama CS, Akamine N. Prevalência e Classificação de interações entre

medicamentos dispensados para pacientes em terapia intensiva. Einstein 5(4): 347-351, 2007.

Bruton LL. Goodman & Gilman: manual de farmacologia e terapêutica. Porto Alegre: AMGH,

2010. 1219p.

Bustamante GDD, Cabrera C, Duran GMG, Nunez MTJ. Detección de interacciones

medicamentosas, em pacientes ingresados a la unidad de cuidados intensivos del Instituto

Autônomo Hospital Universitário de los Andes. Vitae Acad. Biom. Digit. 25(7):1-16, 2005.

Classen D C, Pestotnik SL, Evans RS, Lloyd JF, Burke JP. Adverse drug events in hospitalized

patients. Excess length of stay, extra costs, and attributable mortality. Jama 277(4): 301- 306,

1997.

Cruciol-Souza JM & Thomson JC. Prevalence of potential drug-drug interactions and its

associated factors in a Brazilian teaching hospital. J. Pharm. Pharm. Sci. 9:427-433, 2006.

Devlin JW. The pharmacology of oversedation in mechanically ventilated adults. Curr. Opin.

Crit. Care 14:403–407, 2008.

Page 130: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

922 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

Ebbesen J, Buajordet I, Erikssen J, Brørs O, Hilberg T, Svaar H, Sandvik L. Drug-related

deaths in a department of internal medicine. Arch. Intern. Med. 161(19):2317-2323, 2001.

Hammes, J A, Pfuetzenreiter, F, Silveira F, Koenig A, Westphal GA. Prevalência de

potenciais interações medicamentosas droga droga em unidades de terapia intensiva. Rev

.Bra.s Ter. Intensiva 20(4): 349-354, 2008.

Hansten PD. Drug interaction management. Pharm. World Sci .25(3):94-97, 2003.

Juurlink DN, Mamdani MM, Lee DS, Kopp A, Austin PC, Laupacis A, Redelmeier DA.

Rates of hyperkalemia after publication of the Randomized Aldactone Evaluation Study. N.

Engl. J. Med. 351:543-551, 2004.

Katzung BG. Farmacologia Básica & Clínica. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

991p.

Lima RE, Cassiani SHB. Potential drug interactions in intensive care patients at a teaching

hospital. Rev. Lat. Am. Enferm. 17:222-227, 2009.

Mazzola PG, Rodrigues AT, Cruz AA, Granja MMS, Battaglini SCM, Falcão ALE, Moriel P.

Perfil e manejo de interações medicamentosas potenciais teóricas em prescrições de UTI.

RBFHSS 2(2): 15-19,2011.

Micromedex Healthcare Series. Disponível em: https://www.thomsonhc.com/ Acesso em

março de 2012.

Moura C S, Acurcio F, Belo N. Drug-Drug Interactions Associated with Length of Stay and

Cost of Hospitalization. J .Pharm. Pharmaceut. Sci 12(3):266 – 272, 2009.

Oga S, Basile AC, Carvalho FM. Guia Zanini- Oga de interações medicamentosas. 7. ed. São

Paulo: Atheneu, 2002. 390p.

Page 131: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

923 Rocha P. C. F. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3): 909 – 923, 2014

Padilha KG, Vattimo MFF, Silva SC, Kimura M. Enfermagem em UTI: cuidando do paciente

crítico. São Paulo: Manole, 2010.1488p.

Perucca E. Clinically relevant drug interactions with antiepileptic drugs. Br. J. Clin.

Pharmacol. 61(3): 246-255, 2005.

Reis AMM & Cassiani SHB. Prevalence of potential drug interactions in patients an intensive

care unit of a university hospital in Brazil. Clinics 66(1):9-15, 2011.

Rossignolli OS, Guarido CF, Cestari IM. Ocorrência de interações medicamentosas em

unidade de terapia intensiva: avaliação de prescrições médicas. Rev. Bras. Farm.87(4): 104-

107, 2006.

Sakata RK. Analgesia e Sedação em Unidade de Terapia Intensiva. Rev .Bras. Anestesiol.

60(6): 648-658, 2010.

Sierra P, Castillo J, Gomez M, Sorribes V, Monterde J, Castaño J. Potential and real drug

interactions in critical care patients. Rev. Esp. Anestesiol. Reanim. 44:383-387, 1997.

Traquitelli AM & Padilha KG. Sistemas de classificação de pacientes como instrumento de

gestão em unidades de terapia intensiva. Rev. Esc. Enferm. USP 41(1): 141-148, 2007.

World Health Organization (WHO). Anatomic Therapeutic and Chemical Classification of

Drugs. 2003. Disponível em: http://www.who.int/classifications/atcddd/en/. Acesso em

outubro de 2011.

Page 132: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Quality control and comparative dissolution profile of Ibuprofen oral

suspension

Controle de qualidade e perfil de dissolução comparativo de ibuprofeno em suspensão oral

Jaqueline Bandeira Rubenick1*, Alexandre Machado Rubim1,2, Marcos Roberto dos Santos1,

Tatieli Sampaio dos Santos1 & Luciane Varini Laporta1,2.

1 Laboratory of Control of Drug Quality, Franciscan University Center, Santa Maria, Brazil.

2 Department of Pharmacy, Federal University of Santa Maria, Santa Maria, Brazil.

*Contact: Jaqueline Bandeira Rubenick, Laboratory of Control of Drug Quality, Franciscan University Center,

Street Andradas, 1614, building 4, room S011, Santa Maria - RS, Cep: 97010-032, Phone: (55) 3220 1226, e-

mail: [email protected]

Page 133: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

925 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

ABSTRACT

Due to large number of generic and similar medications containing ibuprofen oral suspension

available in the Brazilian market and the need to ensure the quality of these medications, tests

to verify the quality and dissolution profile in vitro were performed with samples called R

(reference), G1, G2 (generic), S1 and S2 (similar), purchased locally. All the products were

approved in drug identification, pH, dissolution and quantification assays. In the volume

control test, products R and G1 were approved, while products G2, S1 and S2 showed an

average volume lower than claimed. Products R, G2 and S1 met the drip test criteria, but

products G1 and S2 showed an average content of ibuprofen drop of 71.19% and 66.16%

respectively. After evaluation the comparative dissolution profile between products differs as

to speed and amount of dissolved drug, and may thus compromise future in vivo-in vitro

correlations for these formulations.

KEYWORDS: Anti-inflammatory, Generic drugs, Similar drugs, Pharmaceutical

equivalence.

Page 134: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

926 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

RESUMO

Devido ao grande número de medicamentos genéricos e similares contendo ibuprofeno

suspensão oral disponíveis no mercado brasileiro e a necessidade de assegurar a qualidade

desses medicamentos, testes para o controle de qualidade e o perfil de dissolução in vitro

foram realizados com amostras denominadas R (referência), G1 e G2 (genéricos), S1 e S2

(similares), adquiridas no comércio local. Todos os produtos analisados foram aprovados nos

testes de identificação, pH, dissolução e teor do fármaco. No teste de controle de volume, os

produtos R e G1 foram aprovados e os produtos G2, S1 e S2 apresentaram volume médio

inferior ao declarado. Os produtos R, G2 e S1 cumpriram os critérios do teste de gotejamento,

porém os produtos G1 e S2 apresentaram teor médio de ibuprofeno por gota de 71,19% e

66,16% respectivamente. Após a avaliação do perfil de dissolução comparativo entre os

produtos, estes apresentaram diferenças na velocidade e quantidade de fármaco dissolvido,

podendo assim comprometer futuras correlações in vivo – in vitro para estas formulações.

PALAVRAS-CHAVE: Anti-inflamatório, Medicamentos genéricos, Medicamentos

Similares, Equivalência farmacêutica.

Page 135: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

927 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

INTRODUCTION

Inflammation is characterized as an organism response to cell lesion, and it is a complex,

dynamic phenomenon promoted by different harmful agents, such as the physical (radiation,

Burns, trauma), biological (microorganism, immune reactions) or chemical (caustic

substance) type (Silva, 2010; Zaldivar et al. 2006).

Ibuprofen (Figure 1) is a non-steroidal anti-inflammatory drug (NSAID) derived from

propionic acid, with analgesic, antipyretic, anti-inflammatory, anti-arthritis and

antidysmenorrheic action (Korolkovas, 2011).

Figure 1. Chemical structure for ibuprofen (The United States Pharmacopeia, 2012).

It is indicated for the treatment of mild to moderate pains, fever, arthritis, non-rheumatic

inflammation and prophylaxis of vascular headache. It has been widely used to combat a

temperature in pediatric patients, because of its efficacy and proven safety (Farré et al. 2005;

Kellstein et al. 1999). According to Ansel (2007), the liquid pharmaceutical forms are

preferred by many patients because they are easy to swallow, the dose is flexible at the time

of administration, and it is considered appropriate for elderly patients, children and

breastfeeding women. The suspensions are liquid pharmaceutical forms which present solid

particles dispersed in an aqueous medium in which these particles are not soluble (Brazilian

Pharmacopeia, 2010). They should present appropriate characteristics such as stability, slow

sedimentation, easy dispersion after gentle shaking of the container and quick, uniform

outflow (Ansel, 2007; Lachman, Liberman & Kanig, 2001).

The interchangeability of the innovative medication with its respective generic is based on

the concept of therapeutic equivalence among them. This is verified by proving the

pharmaceutical equivalence and bioequivalence (Shargel & Yu, 1999).

Page 136: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

928 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

The study of dissolution is the most appropriate method for an in vitro evaluation of the

kinetics of the release of a drug contained in a solid pharmaceutical form and/or in a

dispersed/suspended pharmaceutical form, where the cumulative amount of drug which

passes into the solution is quantified based on time, and is thus considered an important tool

to evaluate the factors that influence bioavailability (Aulton, 2005).

For class II drugs such as ibuprofen with high permeability and low solubility, the

dissolution rate is one of the main limiting factors of oral absorption. Thus is it considered

essential to establish a strong correlation between the results observed in the in vitro

dissolution assay and the in vivo absorption rate (Dressman et al., 1998; Dressman &

Fleisher, 1986).

Due to the large number of generic and similar medications containing an oral suspension

of ibuprofen available in the Brazilian market and the need to ensure the quality of these

medications, the purpose of this study was to evaluate quality control and in vitro dissolution

profile of the reference medication, two generic medications and two similar ones.

MATERIAL AND METHODS

Samples, Chemical Reference Substance (CRS) and reagents

Ibuprofen Chemical Reference Substance (CRS) - Lote K0J008 - The United States

Pharmacopeia. Oral suspensions of ibuprofen 50 mg/ml purchased in local businesses were

used. They were classified as similar (S1 and S2), generic (G1 and G2) and reference

medication (R). The other reagents were all analytic grade.

Equipment

The development and validation of the assay was performed on a Shimadzu® LC system

(Kyoto, Japan), with an LC-10AD pump, detector with variable wave length UV/Vis model

SPD-10Avp, controller SLC-10Dvp, automatic integrator with Class VP, automatic injector

SIL-10-Avp and column oven CTO-10Asvp. Phenomenex® Luna C8 Column , 150 x 4,6

mm, the size of particle 5 µm. Dissolutor, PTWS Pharmatest®, Viscosimeter, Brookfield®,

and Ultrabasic Potentiometer, Denver®.

Page 137: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

929 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

EVALUATION OF QUALITY CONTROL

Identification

The samples were identified by thin layer chromatography (TLC) (The United States

Pharmacopeia, 2012).

Determination of the pH

The pH was determined directly in the samples, with the help of a previously calibrated

potentiometer (The United States Pharmacopeia, 2012).

Viscosity

Apparent viscosity was determined directly in the samples, at a temperature of 25 ºC,

taking 1 minute to adjust the velocity factor (Brasil, 2010a). For samples R, G2 and S1

spindle 3 was used, and for G1 and S2 spindle 2, all at a velocity of 100 rpm.

Determination of volume

Ten flasks chosen randomly were weighed individually, washed first with water and then

ethanol, dried at room temperature and weighed again. The difference between the two

weighings was the weight of the content (Brasil, 2010a).

Drip test

The drip test was evaluated using 10 units of each product at a controlled temperature of

20 °C, where the mass relative to the number of drops corresponding to 1 mL was

determined, as declared by the manufacturer, and the amount of drug per drop for each unit

tested (Brasil, 2010a).

Page 138: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

930 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

Determination of density

The density was determined using a pycnometer previously calibrated with ultra-purified

water and samples at a temperature of 20 ºC (Brasil, 2010a).

Dosing

The ibuprofen content in the suspensions was determined using the following

chromatographic conditions: column C8 (4.6 mm x 15 cm, 5 µm), mobile phase phosphoric

acid 0.01 M and acetonitrile (63:37, v/v), flow of 2 mL/minute, the injection volume was 5

µl, PDA detection at 220 nm (The United States Pharmacopeia, 2012).

Preparation of the standard curve for dosing

About 160 mg of internal standard benzophenone were weighed for a 50 mL balloon in

order to obtain a solution at 3.2 mg/mL. Then precisely 50 mg of ibuprofen CRS were

weighed for a 50 mL volumetric balloon; 30 mL of diluent solution were added, composed of

acetonitrile and water (1:1). This was taken to the ultrasound for 15 minutes and the volume

was completed with the same diluent (1000 µg/mL). The standard curve was prepared from

this solution with concentrations ranging from 400 µg/mL to 600 µg/mL. The procedure was

performed in triplicate, and the solutions obtained were submitted to analysis by HPLC using

the previously described chromatographic conditions.

Preparation of the samples for dosing

A pool was prepared with 10 flasks of each product. Using this pool the mass equivalent to

60 mg of ibuprofen was measured; 30 mL of diluent were added for a 50 mL volumetric

balloon volumetric balloon. It was placed for 15 minutes in ultrasound and the volume was

completed with diluent. A 20 mL aliquot was removed and transferred to a 50 mL volumetric

balloon, 1 mL of the internal standard benzophenone solution was added and the volume was

Page 139: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

931 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

completed with acetonitrile, homogenized and filtered into vials. The samples were prepared

in triplicate and submitted to analysis by HPLC using the previously described

chromatographic conditions.

Dissolution and dissolution profile

The parameters described in Table 1 were used to perform dissolution, and the collection

was performed within a 60 minute period (The United States Pharmacopeia, 2012). The same

conditions of the dissolution test were used to analyze the dissolution profile, with collections

of 10 mL used at 5, 10, 15, 20 and 40 minutes. The volume removed was replaced with the

same dissolution medium.

Table 1. Parameters utilized for realization of dissolution test.

Parameter Condition

Dissolution medium and

temperature Buffer solution pH 7.2/37.0 ± 0.5 ºC

Volume of dissolution médium 900 mL

Apparatus/speed of rotation Paddle/50 rpm

Volume of sample utilized 10 mL (equivalent of 500 mg of

ibuprofen)

Concentration of sample 555,55 µg/mL

Preparation of the standard curve for dissolution and dissolution profile

Precisely about 50 mg of ibuprofen CRS were weighed for a 50 mL volumetric balloon,

30 mL of diluent solution composed of acetonitrile and water (1:1) were added. The solution

was taken to the ultrasound for 15 minutes and the volume was completed with the same

solvent (1000 µg/mL). Based on this stock solution, a standard curve was prepared with

concentrations from 110 µg/mL to 650 µg/mL. The procedure was performed in triplicate and

the solutions obtained were analyzed using the same parameters for analysis described for

dosing.

Page 140: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

932 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

Preparation of the samples for dissolution and dissolution profile

A pool of 10 flasks of each product was prepared. Syringes were filled with a quantity

equivalent to 500 mg of ibuprofen (approximately 10 mL) while maintaining constant

shaking. The samples were released slowly and constantly into the vessels while the

apparatus was moving. The syringes were weighed before and after the addition of the

samples and the difference in weight was related to density in order to calculate the real

quantity added to each vessel. The amount of dissolved ibuprofen was determined by a

chromatographic method using the same conditions as for the dosing assay.

RESULTS AND DISCUSSION

Identification

The Rf values of standard and medications were similarity, as well as the intensity and

form of spot obtained with the products. The medications analyzed complied with the

identification test (Figure 2) to which they were submitted.

Figure 2. Thin layer chromatography (TLC) of samples and CRS of ibuprofen (P = CRS of

ibuprofen; R = reference medication; G1 = Generic medication 1; G2 = Generic medication

2; S1 = Similar medication 1 and S2 = Similar medication 2).

Page 141: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

933 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

Determination of the pH

The values obtained determining pH (Table 2) in the samples analyzed, are in accordance

with the product monograph which allows a variation range of 3.6 to 4.6.

Density and Viscosity

The results obtained in determining the density and apparent viscosities are shown in

Table 2.

According to resolution – RDC Nº 31 of August 11, 2010 (Brasil, 2010), the density

and viscosity assays do not represent parameters that approve or reject the product within the

scope of studies of pharmaceutical equivalence, rather they are considered informative

assays. The difference in relation to the density and viscosity values obtained for the products

are generally associated with the characteristics such as stability and flow properties of each

formulation (Aulton, 2005).

Volume determination

The volume determination test is needed for liquid products in containers for multiple

doses and liquid products in single dose containers. According to the Brasil (2010a) the mean

volume of the units analyzed should not be less than the volume declared by the manufacturer

(30 mL) and no individual volume of the units tested is less than 95.0% (28.5 mL) of the

declared volume. None of the samples analyzed presented an individual volume of less than

95% of the declared volume, but the mean volume of samples G2, S1, S2 was less than the

declared volume (Table 2) and thus these samples were rejected.

Table 2. Results obtained of determination of pH, density, viscosity and determination of

volume of ibuprofen oral suspension.

Samples pH Density

(g/mL)

Viscosity*

(cP)

Average volume

(mL)

R 4,01 1,12 176,0 31,37

G1 4,36 1,05 144,8 30,02

G2 3,86 1,09 229,0 29,39

S1 4,44 1,22 510,0 29,42

S2 4,08 1,16 80,8 29,56

*average values of two determination. cP - centipoise

Page 142: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

934 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

Drip test

All manufacturers declared that 10 drops correspond to 1 mL of the product that is being

studied. In order for the products to comply with the test requirements to determine the

number of drops and drug content per drop, the difference allowed in relation to the number

of drops per 1 milliliter of the tested medication is up to ±10% in relation to the value

declared for the reference medication and the amount of drug per drop should be between

85.0% and 115.0% (Brasil, 2010; Brasil, 2010a). The medications (G2 and S1) complied with

the criteria, medication (G1) presented 15 drops per 1 milliliter and a mean content of

ibuprofen per drop of 71.22%, while medication (S2) presented 16 drops per 1 milliliter and a

mean drug content of 66.19%. The mean results are shown in Table 3.

Table 3. Results found for drip test for samples.

Sample Number of

drop*

Quantity of drug

per drop*

(mg/drop)

Quantity

declared* (%) RSD**(%)

R 10,45 5,08 101,50 3,38

G1 14,94 3,56 71,19 2,26

G2 10,45 5,18 103,59 1,82

S1 10,68 4,95 98,90 2,40

S2 15,95 3,31 66,16 1,95 *

average values obtained with ten samples; **relative standard deviation

The drop size is influenced by several factors, such as density of the liquid, temperature,

surface tension, dropper design, diameter of the opening at the tip of the dropper, and flask

elasticity (Ferreira, 2007). If these factors are not correctly evaluated, they may interfere

directly in the dosage administered and, consequently in the treatment of the patient.

Quantitative analysis

The United States Pharmacopeia (2012) specifies that the ibuprofen suspension should

contain at least 90.0% and at most 110.0% of the declared amount of active ingredient. The

results obtained in dosing the products were interpolated in the previously constructed

analytic curve (y = 6325.7x + 71401), ensuring a linearity in the range of 400 to 600 μg/mL

(r2=0.9995), and did not present a deviation of linearity (p=0.05), when evaluated by

Page 143: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

935 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

Analysis of Variance (ANOVA). All the samples were in accordance with the values

specified, as described in Table 4.

Table 4. Results obtained of quantitative analysis of oral suspension.

Samples Individual quantities

(%)

Average of

quantitie (%) RSD* (%)

R

106,70

105,35

106,03

106,03 0,64

G1

105,55

107,89

105,70

106,38 1,23

G2

108,99

108,91

106,79

108,23 1,15

S1

107,27

104,75

104,79

105,60 1,37

S2

105,46

106,31

104,91

105,56 0,67

*relative standard deviation

Dissolution and dissolution profile in vitro

Dissolution tests are a very important tool to evaluate the different medication

production stages, making it possible to monitor the stability of formulations, as well as

possible deviations from quality (Dressman et al., 1998).

The results obtained in the dissolution tests and in the dissolution profiles were

interpolated in the previously constructed analytic curve (y = 5357.3x + 6699.8), ensuring

linearity in the 110 to 650 μg/m range (r2=0.999), and not presenting a deviation of linearity

(p=0.05) when evaluated by Analysis of Variance (ANOVA). The results of the dissolution

test are described in Table 5 and those of the dissolution profiles in Table 6 and are

represented graphically in Figure 3.

Page 144: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

936 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

Table 5. Results obtained of dissolutions tests of oral suspensions containing ibuprofen.

Samples Larger quantity

dissolved (%)

Smaller amount

dissolved (%)

Average dissolved

(%) RSD*(%)

R 91,32 85,98 88,63 2,53

G1 95,22 91,04 92,96 1,53

G2 86,69 85,58 86,13 1,92

S1 104,39 98,69 101,09 2,42

S2 104,48 99,87 102,41 1,79 *relative standard deviation; n=6

Tabela 6. Resultados médios obtidos no estudo do perfil de dissolução do medicamento

referência, dos genéricos G1 e G2 e dos similares S1 e S2.

% Dissolved

Tempo (min) R G1 G2 S1 S2

0 0 0 0 0 0

5 11,33 93,92 12,05 17,26 105,41

10 38,35 93,86 30,74 27,15 105,23

15 72,76 92,96 45,99 34,32 103,85

20 85,13 91,83 56,46 52,37 102,77

40 94,88 90,99 74,46 104,16 101,59

Figure 3. Dissolution profiles of samples containing ibuprofen.

Page 145: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

937 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

The products evaluated complied with the approval criteria for the dissolution test and this

was that no less than 80.0% (Q) of the declared quantity of ibuprofen dissolved in 60

minutes.

The dissolution profiles of medications presented were different from each other,

especially as regards velocity and percentage of the drug released. Medications G1 and S2

released more than 85.0% of the drug already during the first 5 minutes of the test, and were

classified as very quick release (Brasil, 2010). The reference medications and S1 released

94.88% and 104.16% in 40 minutes, but during this same time formulation G2 released

74.46%.

In order to compare the dissolution profiles the difference (f1) and similarity (f2) factors

were calculated between reference product R and similar product S1, since product S1

presented a type of dissolution corresponding to product R. The profiles studied are

considered similar when the comparison between them results in values of f1 between 0 and

15 and f2 between 50 and 100 (Brasil, 2010). After the test the results obtained for (f1) and

(f2) were 32.27 and 31.29 respectively, showing non similarity between the profiles.

The formulations evaluated showed a great difference when compared to the reference

product. The comparison (reference x G2) could not be performed because product G2 and

reference do not release simultaneously 85.0% of the drug at least at one point of collection,

since this is one of the criteria for the use of the factors f1 and f2 as parameters for

comparison. All profiles presented a RSD of less than 20% in the first 15 minutes and less

than 10% at the other times, complying with the determinations of RDC 31 (Brasil, 2010).

CONCLUSION

The results obtained after the quality control of the products evaluated showed that all

products complied with the identification tests and pH, showing viscosity and density values

appropriate to the characteristics of each formulation. In the volume control test products G2,

S1, S2, did not comply with the test. After the evaluation of the drip test, products R, G2 and

S1 complied with the test criteria. All the products complied with the dosing and dissolution

test but presented a great difference in relation to velocity and quantity of drug released,

compared to the reference product, and thus may compromise future tests on the comparative

dissolution profile between formulations.

Page 146: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

938 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

REFERÊNCIAS

Ansel CH, Allen LV, Popovich NG. Formas Farmacêuticas e Sistemas de Liberação de

Farmacos. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. 776 p.

Aulton ME. Delineamento de formas farmacêuticas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. 677

p.

Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RE nº 31,

de 11 de agosto de 2010. Dispõe sobre a realização dos Estudos de Equivalência

Farmacêutica e de Perfil de Dissolução Comparativo. Publicada no D.O.U. de 12 de agosto

de 2010.

Dressman JB, Amidon GL, Reppas C, Shah VP. Dissolution testing as a prognostic tool for

oral drug absorption: immediate release dosage forms. Pharm. Res. 15(1): 11-22, 1998.

Dressman JB, Fleisher D. Mixing tank model for predicting dissolution rate control of oral

absorption. J. Pharm. Sci. 75(2): 109-116, 1986.

Farré M, Rosset PN, Pascual JA, Abanades S, Menoyo E, Álvaréz Y, Baena A. Estudio de

biodisponibilidad en magnitud y velocidad de comprimidos de ibuprofeno. Reumatol. Clin.

1(3): 155-60, 2005.

Farmacopeia Brasileira. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 5.ed. Brasília: Anvisa,

2010a. V. 2, p. 61-90.

Kellstein DE, Waksman JA, Furey SA, Binstock G, Cooper SA. The safety profile of

nonprescription ibuprofen in multiple-dose use: a meta-analysis. J. Clin. Pharmacol. 39(5):

520-532, 1999.

Korolkovas, A. Dicionário Terapêutico Guanabara. 18. ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan S.A, 2011. 700 p.

Lachman L, Lieberman HA, Kanig JL. Teoria e prática na indústria farmacêutica. 2. ed.

Lisboa: 2001. 500 p.

Martin W, Koselowske G, Toberich H, Kerkmann T, Mangold B, Augustin J.

Pharmacokinetics and absolute bioavailability of ibuprofen after oral administration of

ibuprofen lysine in man, Biopharm. & Drug Dispos. 11(3): 265-278, 1990.

Shargel L & Yu ABC. Applied biopharmaceutics and pharmacokinetics. 4 ed. Stamford:

Appleton & Lange, 1999. 768 p.

Penildon S. Farmacologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. 1325 p.

Page 147: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

939 Rubenick, J. B. et al Rev.Bras. Farm.95 (3), 924 – 939, 2014.

Souza J, Freitas ZMF, Storpirtis S. Modelos in vitro para determinação da absorção de

fármacos e relação da previsão dissolução/absorção. Rev. Bras. Ci. Farm. 43(4): 1–13, 2007.

THE UNITED STATES PHARMACOPEIA. Rockville: Twinbrook Parkway, 2012. 3241 p.

Zaldivar F, Rodrigues JW, Nemet D, Schwindt C, Galassetti P, Mills PJ, Wilson LD, Cooper

DM. Constitutive pro-and anti-inflammatory cytokine and growth factor response to exercise

in leukocytes. J. Appl. Physiol. 100(4): 1124-1133, 2006.

Page 148: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Melhorando o atendimento farmacêutico aos usuários em um centro de

saúde no município do Rio de Janeiro.

Improving pharmaceutical services to the users of primary health care

center in the municipality of Rio de Janeiro

Vera Lucia Luiza1*; Luiz Villarinho Pereira Mendes1; Thiago Botelho Azeredo1; Mariza

Villarinho da Silva2; Delanuze de Oliveira Barros2 & Yrlene Veloso Cherques.2

1. Núcleo de Assistência Farmacêutica - NAF/ENSP/Fiocruz.

2. Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria - CSEGSF/ENSP/Fiocruz.

Page 149: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

941 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

RESUMO

Entre os anos de 2007 e 2008 a Farmácia do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria

(CSEGSF), localizada em Manguinhos no Rio de Janeiro, passou por intervenções com foco

na melhoria do atendimento aos usuários. O objetivo deste artigo foi identificar se essas

intervenções produziram efeitos mensuráveis no nível da satisfação dos usuários e da

responsividade. Tratou-se de estudo pré/pós intervenção, em que foram entrevistados 60

usuários da Farmácia entre julho e agosto de 2007 pré intervenção, e 100 indivíduos 4 meses

após, em dezembro de 2008. Os resultados mostraram um aumento estatisticamente

significativo na satisfação geral dos usuários com a Farmácia. Praticamente dobrou o

percentual dos que afirmaram ter recebido orientações sobre os medicamentos na Farmácia,

ao passo em que diminuiu a porcentagem dos que desejavam receber seus medicamentos em

outro local. Foi elevado o grau de importância atribuído pelos usuários aos aspectos relativos

à humanização do atendimento. Em que pesem limitações metodológicas, os dados apontam

que as modificações no serviço de Farmácia do CSEGSF tiveram efeito positivo na satisfação

dos usuários e na responsividade.

Palavras chave: Satisfação do Paciente, Assistência Farmacêutica, Qualidade dos Cuidados

de Saúde.

Page 150: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

942 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

ABSTRACT

Between 2007 and 2008 the pharmacy of a primary health care center located in Manguinhos

in Rio de Janeiro Municipality, was the target of interventions focused on improving the

quality of its services. The purpose of this article was to identify whether these interventions

produced measurable effects on the level of user satisfaction and on responsiveness. It was a

pre/post intervention study, which involved interviews with 60 users from July to August

2007, pre intervention period, and with 100 users in December 2008, four months after the

intervention was implemented. The results showed a statistically significant increase in

overall user satisfaction with the pharmacy. The percentage of those who affirmed receiving

information about medicines use at the pharmacy nearly doubled, while the percentage of

those who desired to receive their medicines elsewhere decreased. Users assigned a high

degree of importance to aspects concerning the humanization of pharmaceutical care. Data

indicate that changes in pharmacy services had a positive effect on user satisfaction and on

responsiveness.

Keywords: Patient Satisfaction, Pharmaceutical Services, Quality of Health Care

Page 151: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

943 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

INTRODUÇÃO

A avaliação da satisfação do usuário com os serviços prestados pela Farmácia é

particularmente importante em um contexto em que se busca a renovação da Assistência

Farmacêutica (AF) com ênfase na Atenção Primária em Saúde (APS). Instituições como a

Organização Panamericana de Saúde (OPAS) (2013) e o Ministério da Saúde do Brasil

(2004; 2009) têm defendido que a AF, historicamente centrada no medicamento, deve evoluir

para uma nova perspectiva que valorize os indivíduos inseridos em seus contextos familiar e

comunitário. A AF deve estar comprometida com resultados em saúde, que incluem a cura ou

controle das doenças, melhor conhecimento sobre saúde e satisfação dos usuários.

As pesquisas sobre satisfação na área da saúde tiveram início na década de 70, trazendo como

foco principal a melhoria de parâmetros clínicos por meio da adesão ao tratamento. Foi a

partir dos trabalhos de Donabedian (1984) que a satisfação se tornou um dos elementos da

avaliação da qualidade dos serviços de saúde.

O conceito de ‘responsividade’ surgiu no ano 2000 como uma alternativa ao de ‘satisfação’

(WHO, 2000). Busca valorizar aspectos não médicos do cuidado, que devem ser igualmente

garantidos pelos serviços e sistemas de saúde, como dignidade, participação nas decisões e

comunicação com os profissionais (Vaitsman & Andrade, 2005). Tem, assim, forte afinidade

com os princípios do Sistema Único de Saúde brasileiro (SUS) e com os atributos da Atenção

Primária em Saúde. As medidas de responsividade buscam explorar aspectos mais objetivos

do que as de satisfação, estas mais voltadas à percepção do usuário.

No Brasil, as pesquisas de satisfação ganharam força na segunda metade da década de 1990,

como decorrência, dentre outros fatores, da redemocratização ocorrida na década anterior. No

SUS, essas pesquisas ganharam destaque no contexto de iniciativas voltadas para o

fortalecimento dos direitos dos pacientes e da participação social, que culminaram na

aprovação da Política Nacional de Humanização (PNH). (Vaitsman & Andrade, 2005).

Mais especificamente no campo da Farmácia, as primeiras pesquisas com satisfação dos

usuários remontam aos anos 1980 (MacKeigan & Larson, 1989). Mais recentemente, alguns

instrumentos para avaliação da satisfação dos usuários com serviços farmacêuticos foram

desenvolvidos e testados também no Brasil (Azeredo et al., 2009; Correr et al., 2009; Esher

et al., 2011, 2012). No que tange à satisfação com a dispensação de medicamentos no serviço

Page 152: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

944 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

público de saúde, Azeredo et al (2009) propõem que esta é adequadamente representada pelas

seguintes dimensões: Disponibilidade (ter todos os medicamentos necessários);

Acessibilidade geográfica (facilidade de chegar à Farmácia); Relação profissional-usuário

(respeito, atenção, tempo dedicado ao atendimento); Aspectos de infra-estrutura (ambiente

acolhedor e que favoreça a privacidade no atendimento); e Características dos medicamentos

(qualidade percebida dos medicamentos e sua facilidade de uso).

A Farmácia do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF), vinculada à Escola

Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP) e localizada em Manguinhos, no

município do Rio de Janeiro, representa um caso interessante para estudo. Nos anos de 2007

e 2008 passou por um conjunto de intervenções para aumento da qualidade da Assistência

Farmacêutica com foco na melhoria do atendimento da população. O CSEGSF contava em

2008 com dezessete consultórios médicos, aproximadamente sessenta e dois mil usuários

cadastrados e atendia aproximadamente trezentas pessoas por dia. Na Farmácia do CSEGSF

trabalhavam uma farmacêutica e duas técnicas de Farmácia e nesse mesmo ano foram

atendidas em média quatro mil pessoas por mês.

Inicialmente, para definição dos problemas e planejamento das ações, foi realizada oficina

com grupo multiprofissional envolvendo farmacêuticos, técnicos de Farmácia, médicos,

enfermeiros e gestores de qualidade. Os principais problemas identificados foram: falta de

conhecimento sobre dados de orçamentação e movimentação financeira; sistema de controle

de estoque ineficiente, não oferecendo informações para programação; excesso de burocracia

e de fichas de preenchimento, tornando a dispensação demorada; conflitos relacionais entre a

equipe de saúde; falta de conhecimento do sistema de saúde pela equipe da Farmácia; e

espaço físico inadequado, prejudicando o fluxo de trabalho e o contato com os usuários.

Para superação dos problemas identificados nessa oficina, as intervenções realizadas foram:

1) Treinamento da equipe, a partir de oficina de trabalho com grupo multiprofissional para

discussão da qualidade do atendimento da Farmácia e do uso racional de medicamentos na

perspectiva do usuários e dos prescritores. Nesta oficina foram definidas as competências da

Farmácia, lacunas de conhecimento e temáticas para aprofundamento. 2) Reforma do espaço

físico da Farmácia, que incluiu a instalação de painel de senhas eletrônicas e a colocação de

cadeiras na área de espera, bem como refrigeração e isolamento acústico do ambiente de

dispensação. No primeiro caso buscou-se aumento do conforto durante a espera e no segundo

a privacidade e a oportunidade de comunicação entre usuário e atendente da Farmácia,

Page 153: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

945 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

contribuindo para a humanização. e 3) Reorganização dos procedimentos administrativos da

dispensação, que passaram a incorporar, entre outros fatores, o registro dos dados sobre a

situação de cada paciente em uma planilha, a ser atualizada a cada novo atendimento.

Assim, este artigo procurou identificar se as intervenções realizadas no serviço de Farmácia

do CSEGSF produziram efeitos mensuráveis em termos da satisfação dos usuários e da

responsividade.

MATERIAL E MÉTODOS

Tratou-se de um estudo realizado pré e pós intervenção no processo de trabalho da Farmácia

do CSEGSF. Foram entrevistados 60 indivíduos pré-intervenção, no período de 29 de julho

de 2007 a 4 de agosto de 2007, e 100 indivíduos 4 meses após a intervenção realizada na

Farmácia, no período de 14 a 19 de dezembro de 2008.

Ambas as rodadas de coleta de dados foram conduzidas ao longo de uma semana, buscando

distribuir as entrevistas em todos os dias, no período da manhã e da tarde. A primeira rodada

foi conduzida por uma entrevistadora e a segunda por dois entrevistadores, todos externos à

equipe da Farmácia e devidamente treinados para a atividade.

Foi realizada entrevista estruturada com aplicação de questionário com vinte e sete perguntas

fechadas. A abordagem aos entrevistados foi feita à saída da Farmácia, porém fora do alcance

visual e auditivo dos profissionais da dispensação. Foram critérios de inclusão ter 18 anos ou

mais e estar buscando medicamento para si próprio ou para outrem sob os cuidados diretos do

entrevistado.

As variáveis contemplaram os seguintes blocos: Características sócio-demográficas (idade,

gênero e escolaridade, classe econômica (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa,

2008), autoavaliação do estado de saúde); Acesso (meio de transporte utilizado para chegar à

Farmácia, locais de obtenção de consulta, tempo de trajeto até a Farmácia); Uso de

medicamentos (adesão ao tratamento medicamentoso, recebimento de orientações sobre os

medicamentos na Farmácia do CSEGSF, fonte de orientações sobre medicamentos, dúvidas

quanto ao uso dos medicamentos) e Satisfação e responsividade (satisfação geral com o

atendimento da Farmácia, opinião do usuário sobre o que falta na infraestrutura, se o usuário

já se sentiu tratado pior do que outras pessoas, tempo de espera para ser atendido, se o

usuário costuma conseguir todos os seus medicamentos, se o usuário gostaria de receber seus

Page 154: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

946 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

medicamentos em outro lugar, ranking de importância atribuída pelo usuário às diferentes

dimensões da satisfação). Todas as variáveis foram avaliadas pré e pós intervenção.

Os dados foram digitados no EpiData® e exportados para análise no SPSS® 11.0, que

constou de estatística descritiva univariada, e análise bivariada considerando os achados pré e

pós intervenção de cada variável, tendo sido realizado testes t de Student e Qui Quadradro,

ambos ao nível de significância de 90%.

O estudo seguiu as recomendações nacionais quanto à ética em pesquisa, em especial a

Resolução 196 (CNS, 1996), vigente à época. Todas as entrevistas foram conduzidas após

manifestação de consentimento. Os usuários não foram identificados no questionário ou

banco de dados.

RESULTADOS

Foram entrevistados 160 usuários ao longo de duas rodadas de entrevistas e os resultados da

1a e 2a rodadas serão apresentados nesta sequência.

Identificou-se perfil sociodemográfico semelhante em ambas as etapas da pesquisa. A média

de idade foi de 40,3 e 48,7 anos, respectivamente. O percentual de mulheres foi de 81,7% e

73,0%. Desses entrevistados, 93,3% e 84,0% declararam saber ler e escrever, ainda que a

maior parte tivesse o ensino fundamental incompleto (43,3% e 64,0%). Em relação à classe

econômica a maioria foi pertencente às classes C (46,7% e 52,0%) e D (40,0% e 41,0%). No

que se refere à autoavaliação do estado de saúde a maioria se considerou “bem” (66,7% e

64,0%). Apenas 1,7% e 6,0% avaliaram seu estado de saúde como muito mal. (Tabela 1).

Page 155: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

947 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

Tabela 1. Dados sócio demográficos dos entrevistados. CSEGSF, 2008.

Variável Categoria Pré intervenção Pós intervenção

N % N %

Mulheres - 49,0 81,7 73,0 73,0

Idade Média (DP) - - 40,3

(16,7)

- 48,7

(17,2)

Sabem ler e escrever - 56,0 93,3 84,0 84,0

Escolaridade

Fundamental

incompleto

26,0 43,3 64,0 64,0

Fundamental

completo

17,0 28,3 22,0 22,0

Ensino Médio

completo

12,0 20,0 14,0 14,0

Superior completo 1,0 1,70 0, 0

Classe econômica

B2 6,0 10,0 5,0 5,0

C 28,0 46,7 52,0 52,0

D 24,0 40,0 41,0 41,0

E 2,0 3,30 2,0 2,0

Autoavaliação do

estado de saúde

Muito mal 1,0 1,7 6,0 6,0

Mal 12,0 20,0 22,0 22,0

Bom 40,0 66,7 64,0 64,0

Muito bom 7,0 11,7 8,0 8,0

Em relação ao acesso, o perfil identificado em ambas as rodadas também não apresentou

diferenças importantes. A maioria (86,7% e 91,0%) afirmou dirigir-se a pé, com tempo médio

de trajeto relativamente baixo (18,6 e 18 minutos), o que sugere que a maior parte dos

usuários residia nas proximidades do CSEGSF. Quando indagados sobre onde costumavam

ir, além do CSEGSF, para obter consulta médica, a grande maioria (88,3% e 89,8%) disse

procurar outra instituição pública de saúde. A frequência de ida à Farmácia mais relatada foi

"a cada 30 dias" (40,0% e 31%) seguida por "90 dias e mais" (36,7% e 34,0%) (Tabela 2).

Page 156: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

948 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

Tabela 2. Aspectos diversos relativos ao acesso. CESGSF, 2008.

Variável Categoria Pré intervenção Pós intervenção

N % N %

Meio de transporte utilizado

para chegar à Farmácia

A pé 52,0 86,7 91,0 91,0

Ônibus 4,0 6,7 7,0 7,0

Carro 2,0 3,3 0 0

Outros 2,0 3,4 2,0 2,0

Tempo médio de trajeto até

a Farmácia Média (DP) - -

18,6

(11,4) -

18,0

(13,2)

Local onde costuma ir para

obter consulta médica além

do CSE

Outra unidade pública 53,0 88,3 88,0 89,8

Médico ou clínica

privada 5,0 8,3 10,0 10,2

Frequência de ida à

Farmácia para buscar os

medicamentos

15 dias ou menos 1,0 1,7 4,0 4,0

A cada 30 dias 24,0 40,0 31,0 31,0

A cada 60 dias 13,0 21,7 31,0 31,0

90 dias ou mais 22,0 36,7 34,0 34,0

O porcentual dos usuários que relataram já terem interrompido o tratamento antes do tempo

recomendado pelo médico reduziu de 38,3% na primeira rodada para 27,0% na segunda. Em

ambas as rodadas a dificuldade de cumprir os horários (13,3% e 5,0%) e o esquecimento

(8,3% e 5,0%) foram as principais razões mencionadas. Houve redução no percentual dos que

apontaram a “falta de medicamentos na Farmácia” como motivo para interrupção do

tratamento (6,7% e 1,0%). (Tabela 3).

Para as duas etapas da pesquisa a maioria dos usuários (90,0% e 94,0%) afirmou não ter

nenhuma dúvida sobre os medicamentos da receita, e a metade (50,0% e 49,0%) relatou não

recebimento de informações sobre os medicamentos prescritos no dia em que foi realizada a

entrevista. Entre os que receberam informação, verificou-se que a maioria as obteve junto ao

médico nas duas etapas (40,0% e 46,0%). Em que pese o baixo percentual dos que obtiveram

informações dos profissionais da Farmácia, houve expressivo aumento na segunda aferição

(6,7% e 14,0%). As principais dúvidas foram as doses e horários de tomada dos

medicamentos (43,3% e 42,0%) e/ou o modo de utilização (43,3% e 24,0%). (Tabela 3).

Page 157: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

949 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

Tabela 3. Aspectos relacionados ao uso de medicamentos. CESGSF, 2008.

Variável Categoria Pré intervenção Pós intervenção

N % N %

Usuário já interrompeu

alguma vez o seu

tratamento

medicamentoso antes do

tempo recomendado pelo

médico nos últimos

tempos

Sim 23,0 38,3 27,0 27,0

Não 37,0 61,7 73,0 73,0

Motivos para interrupção

do tratamento

Esquecimento 5,0 8,3 5,0 5,0

Falta de

medicamentos na

Farmácia

4,0 6,7 1,0 1,0

Dificuldade de

cumprir os horários 8,0 13,3 5,0 5,0

Viagem 0 0 2,0 2,0

Outros 9,0 15,0 7,0 7,0

Usuário possuía alguma

dúvida sobre os

medicamentos de sua

receita

Sim 6,0 10,0 6,0 6,0

Não 54,0 90,0 94,0 94,0

Usuário recebeu

informação sobre os

medicamentos receitados

no dia da entrevista

Sim 30,0 50,0 51,0 51,0

Não 30,0 50,0 49,0 49,0

De quem o usuário

obteve a informação

Médico(a) 24,0 40,0 46,0 46,0

Profissional da

Farmácia 4,0 6,7 14,0 14,0

Agente de Saúde 0 0 1,0 1,0

Enfermeiro(a) 4,0 6,7 1,0 1,0

Tipos de orientações de

que o usuário necessitou

As doses e horários

de tomada dos

medicamentos

26,0 43,3 42,0 42,0

Como tomar os

medicamentos 26,0 43,3 24,0 24,0

Outros 7,0 11,8 4,0 4,0

Page 158: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

950 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

Em relação à satisfação geral, o porcentual de satisfeitos aumentou de 76,7% para 95,0% e

essa diferença foi estatisticamente significativa (p=0,001). Também aumentou o porcentual

dos que referiram conseguir todos os medicamentos de que necessitavam na Farmácia

passando de 41,0% para 54% após a intervenção. Chama atenção que, de forma coerente,

quando indagados sobre o que faltava na infraestrutura da Farmácia, o percentual dos que

apontaram “Ter os medicamentos de que precisa” diminuiu de 56,7% para 31,0% e essa

diferença foi estatisticamente significativa (p=0,002). Também houve redução no percentual

dos que afirmaram que faltava "Mais atenção dos funcionários" (13,3% e 6,0%); “Falta de

cadeiras” (8,3% e 5,0%); "Conforto para esperar" (6,7% e 3,0%); e “Explicação de como usar

os medicamentos” (23,3% e 10,0%; p=0,038), esta última estatisticamente significativa.

Igualmente, houve queda no porcentual dos que relataram querer receber os medicamentos

em outro lugar (38,3% e 23,0%) (Tabela 4).

Os entrevistados também foram indagados quanto à ordem de importância dos diferentes

aspectos ligados à satisfação. Estes foram elencados de forma decrescente de 1 a 6. Assim,

menores médias representam maior importância. Os resultados foram bem parecidos para

ambas as séries de entrevistas. O aspecto considerado mais relevante pelos usuários foi "Ter

todos os medicamentos na quantidade necessária" (2,0 e 2,1) seguido por "Ser tratado com

respeito e confidencialidade pelo pessoal da Farmácia" (2,6 e 2,9); “A qualidade dos

medicamentos” (3,6 e 3,2); “O pessoal da Farmácia passar informação sobre os

medicamentos” (3,8 e 3,8); e "Conforto e limpeza da Farmácia" (4,2 e 4,3) (Tabela 5).

Page 159: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

951 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

Tabela 4. Aspectos relacionados à satisfação e à responsividade. CSEGSF, 2008.

Variável Categoria Pré intervenção Pós intervenção

N % N %

Grau de satisfação Insatisfeito 14,0 23,3 5,0 5,0

Satisfeito 46,0 76,7 95,0 95,0*

Opinião do usuário

sobre o que falta na

infraestrutura da

Farmácia do CSEGSF

Conforto para

esperar 4,0 6,7 3,0 3,0

Mais atenção dos

Funcionários 8,0 13,3 6,00 6,0

Cadeiras 5,0 8,30 5,00 5,0

Explicação de

como usar os

medicamentos

14,0 23,3 10,0 10,0**

Ter os

Medicamentos de

que precisa

34,0 56,7 31,0 31,0**

Outros 1,0 1,7 0 0

Usuário já se sentiu

tratado pior do que

outras pessoas ao ser

atendido na Farmácia

do CSEGSF

Sim 58 96,7 97 97,0

Não 2,0 3,3 3,0 3,0

Tempo de espera para

atendimento em

minutos Média (DP)

- - 5,2 (7,4) - 5,8 (6,2)

Usuário costuma

conseguir todos os

medicamentos de que

necessita na Farmácia

Sim 25,0 41,7 54,0 54,0

Não 35,0 58,3 46,0 46,0

Usuário gostaria de

receber seus

medicamentos em

outra Farmácia ou

outro lugar

Sim 23 38,3 27 23,0

Não 37 61,7 73 73,0

*p<0,001; **P<0,05 segundo teste qui quadrado.

Page 160: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

952 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

Tabela 5. Percepção dos usuários quanto à relevância de diferentes aspectos relacionados à

satisfação. CSEGSF, 2009.

Aspecto Pré intervenção Pós intervenção

Média Média

Ter todos os medicamentos na quantidade que eu

preciso na Farmácia 2,0 2,1

Ser tratado com respeito, atenção e confidencialidade

pelo pessoal da Farmácia 2,6 2,9

A qualidade dos medicamentos 3,6 3,2

O pessoal da Farmácia me passar informações sobre

os medicamentos 3,8 3,8

O conforto e a limpeza da Farmácia 4,2 4,3

Facilidade para chegar na Farmácia 4,9 4,7

DISCUSSÃO

Não houve diferenças estatisticamente significativas entre as características

sociodemográficas dos indivíduos nas duas séries de entrevistas, o que fala a favor da

homogeneidade da população. O perfil da população aqui estudada também se assemelhou

àquele identificado por outros estudos realizados em unidades básicas de saúde: a maior

parcela dos indivíduos era do sexo feminino e baixa escolaridade (Dias et al., 2011; Santiago

et al., 2013); classe econômica ‘C’ (Zils et al., 2009), e autoavaliou seu estado de saúde como

‘bom’ (Santiago et al., 2013).

A literatura mostra que a autoavaliação positiva do estado de saúde e a menor escolaridade,

características identificadas no presente estudo, estão associadas à maior satisfação com os

serviços recebidos (Atkinson & Haran, 2005; Jackson; Chamberlin & Kroenke, 2001; Sitzia

& Wood, 1997; Weiss, 1988), ainda que investigação sobre a satisfação com a dispensação

de medicamentos à pessoas com HIV e AIDS tenha encontrado relação direta com a

escolaridade (Luiza et al., 2006).

Segundo Esperidião & Trad (2006), uma das formas de se medir a satisfação é a partir da

diferença entre as expectativas dos indivíduos e aquilo que é efetivamente percebido por eles

Page 161: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

953 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

ao vivenciar a experiência com o serviço prestado. Assim, a despeito das limitações do

presente estudo, melhor discutidas adiante, tenta-se propor possíveis explicações para a

satisfação considerando a forma como os indivíduos percebem a relevância de seus diferentes

aspectos. Nas duas etapas da pesquisa, não houve diferenças na ordem de importância

atribuída aos aspectos da satisfação.

O aspecto da satisfação considerado mais relevante pelos entrevistados foi "Ter todos os

medicamentos na quantidade que eu preciso na Farmácia". Essa percepção pode ter

contribuído para o aumento identificado na satisfação após a intervenção, uma vez que

diminuiu de forma estatisticamente significativa o percentual dos que afirmaram que faltava

na infra estrutura da Farmácia "Ter os medicamentos de que precisa" e aumentou o

porcentual dos que referiram costumar conseguir todos os medicamentos na Farmácia.

Também chama a atenção que os indivíduos entrevistados na segunda rodada da entrevista

relataram maior adesão ao tratamento e, mesmo entre não aderentes, houve redução no

percentual dos que apontaram como motivo a “falta de medicamentos na Farmácia”.

O acesso aos medicamentos é condição prévia para a adesão à terapia medicamentosa,

fundamental para o sucesso do tratamento como um todo. Entre indivíduos com doenças

crônicas, principal clientela da atenção primária (MS, 2008), a baixa adesão ao tratamento

medicamentoso pode levar a complicações clínicas e psicossociais e redução da qualidade de

vida, impactando de forma negativa na satisfação (Almeida et al., 2007).

O segundo aspecto em relevância foi "ser tratado com respeito, atenção e confidencialidade

pelo pessoal da Farmácia." O porcentual dos que referiram já terem se sentido tratados pior

do que outras pessoas na Farmácia foi considerado muito baixo em ambas as rodadas, e

houve diminuição, ainda que não estatisticamente significativa, no porcentual dos que

relataram que faltava "mais atenção dos funcionários". Tamanha relevância atribuída à esse

item reforça o papel da humanização do atendimento e da incorporação de tecnologias leves

no processo de cuidado em saúde, como importantes causadores de satisfação entre os

usuários (Ferri et al., 2007).

O terceiro aspecto considerado mais relevante foi “A qualidade dos medicamentos”. Os

medicamentos dispensados na farmácia do CSEGSF em 2008 eram, em sua maioria,

fornecidos pela prefeitura do Rio de Janeiro constando, portanto, na Relação Nacional de

Medicamentos essenciais (RENAME) vigente à época (MS, 2008) e adquiridos de acordo

com as normas preconizadas pelo Ministério da Saúde (MS, 2006). De acordo com essas

Page 162: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

954 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

normas, entre os requisitos técnicos exigidos para compra, incluem-se a apresentação pelo

fabricante do Laudo de Análise de controle de qualidade e do certificado de Boas Práticas de

Fabricação e Controle (BPFC) expedido pela ANVISA. No presente estudo não foram

aferidos dados sobre a percepção dos usuários quanto à qualidade dos medicamentos

dispensados. Entretanto, Wannmacher (2010) aponta que, instigados pela propaganda de

medicamentos veiculada pela grande indústria, os usuários comumente suspeitam da

qualidade dos medicamentos ofertados no setor público de saúde. Contribui para isso, entre

outros fatores, a desinformação quanto aos tratamentos prescritos. A autora preconiza a

necessidade de realização de campanhas educativas tendo por alvo consumidores e

prescritores.

O quarto aspecto apontado como de maior importância foi "O pessoal da Farmácia me passar

informações sobre os medicamentos". Foi identificado aumento no porcentual dos que

relataram terem recebido informações sobre os medicamentos dos profissionais de Farmácia,

redução no porcentual dos que relataram ter dúvidas sobre os medicamentos na receita e

diminuição estatisticamente significativa no percentual dos que relataram faltar "explicação

de como usar os medicamentos". Apesar disso, verificou-se que, em ambas as rodadas,

apenas metade dos indivíduos relataram ter recebido informações sobre os seus

medicamentos. Entretanto, deve-se ressaltar que os indivíduos com doenças crônicas são a

principal clientela da atenção primária (MS, 2008), o que se confirma no presente estudo, em

que a maioria dos indivíduos relatou se dirigir à Farmácia a cada 30 ou 60 dias. Esses

indivíduos podem perceber menor necessidade de informações, tendo em vista a natureza

contínua de seus tratamentos (WHO, 2003).

Em seguida, o aspecto apontado como de maior importância foi "conforto e a limpeza".

Nesse sentido, é plausível que tenha havido contribuição da intervenção realizada na infra

estrutura da Farmácia que incluiu instalação de sistema de refrigeração, cadeiras acolchoadas

e painel de senha eletrônica. De fato, os dados mostram uma diminuição na parcela dos que

afirmaram faltar "conforto para esperar" e "cadeiras", ainda que a diferença não tenha sido

estatisticamente significativa. Quanto ao tempo de espera para atendimento, este se manteve

relativamente baixo (em torno de 5 minutos) em ambas as rodadas.

Estudos de Luiza et al (2006) e Azeredo et al (2009) apontam forte associação entre aspectos

de infra-estrutura, aspectos interpessoais e recepção de informação nos serviços de

dispensação avaliados. Luiza et al (2006) observaram que nas farmácias cujo ambiente era

Page 163: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

955 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

mais acolhedor e oferecia privacidade no atendimento eram maiores o tempo disponível para

a dispensação e o percentual de usuários que haviam recebido orientação sobre o tratamento.

Segundo Azeredo et al (2009), as opiniões dos entrevistados sobre o ambiente da farmácia, a

privacidade e a explicação estavam correlacionadas. É possível supor que a melhoria no

ambiente e conforto do serviço avaliado tenha, também neste caso, correlação com a melhor

relação entre profissionais e usuários, propiciando a comunicação, e com o aumento na oferta

de informações na Farmácia.

Por fim, a "Facilidade para chegar a Farmácia" foi colocada em último lugar no ranking de

importância pelos usuários. A acessibilidade em si foi percebida como item de menor

relevância, talvez pelo fato da população encontrar-se adscrita à unidade saúde, o que se

confirmou pela maioria ter se dirigido a esta à pé e com baixo tempo de deslocamento.

Starfield (2002) lembra que a acessibilidade é fundamental para a identificação do serviço de

saúde como fonte regular de cuidado, contribuindo para o estabelecimento de vínculo entre

profissionais de saúde e usuários, o que também pode impactar de forma positiva na

satisfação (Starfield, 2002).

O grau de satisfação com a Farmácia da unidade de saúde foi considerado elevado em ambas

as rodadas. Ainda assim, esta aumentou de forma estatisticamente significativa após a

intervenção realizada, bem como diminuiu a proporção dos que relataram que gostariam de

receber seus medicamentos em outra Farmácia.

Outros estudos apontam elevada satisfação da população brasileira com os serviços de saúde.

No ano de 2008, Hollanda et al (2011) identificaram que, em uma escala de 0 a 10, a

satisfação geral com os serviços de atenção à saúde na Fiocruz foi de 9,1, sendo de 8,1

especificamente para o CSEGSF. Segundo inquérito telefônico realizado pelo Ministério da

Saúde (2011), 78,9% dos respondentes avaliaram o atendimento médico realizado na atenção

básica como “bom” ou “muito bom. Segundo a PNAD (2010), entre as pessoas que

precisaram procurar por serviços de saúde (públicos ou privados) nos 12 meses anteriores à

entrevista, o atendimento foi avaliado como “muito bom ou bom” para 86,4% destas, regular

para 10,4% e “ruim ou muito ruim” para 3,1%.

Embora não tenha havido aleatoriedade na seleção da amostra é importante ressaltar que as

características sóciodemográficas da população entrevistada se assemelharam àquelas

identificadas por outros estudos realizados no âmbito da atenção primária (Dias et al., 2011;

Santiago et al., 2013; Zils et al., 2009). A seleção foi realizada por conveniência e o número

Page 164: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

956 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

de entrevistados foi o que o grupo de pesquisa julgou operacionalmente viável. Assim, a

extrapolação dos dados para outros contextos deve ser feita com cautela. Outra limitação

refere-se aos pressupostos teóricos e conceituais da pesquisa de avaliação da satisfação em si.

Estes consideram de alguma forma tanto as percepções dos indivíduos quanto suas

expectativas, valores e desejos, que podem sofrer alterações de acordo com variáveis como

genero, idade, classe social, escolaridade e etc. (Azeredo et al., 2009; Esher et al., 2011;

Gouveia et al., 2005, 2009). Além disso, a diversidade de metodologias empregadas nessas

pesquisas dificulta a comparabilidade (Hollanda et al., 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados mostram um aumento estatisticamente significativo na satisfação geral dos

usuários. Praticamente dobrou o percentual dos que afirmaram ter recebido orientações sobre

uso dos medicamentos na Farmácia, ao passo em que diminuiu a porcentagem dos que

relataram faltar medicamentos, explicação de como usá-los e dos que desejavam recebê-los

em outro local. Foi elevado o grau de importância atribuído pelos usuários aos aspectos

relativos à humanização do atendimento. A despeito das limitações metodológicas, os dados

apontam que as intervenções realizadas no serviço de Farmácia do CSEGSF tiveram um

impacto positivo na satisfação dos usuários e na responsividade.

AGRADECIMENTO

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq) e ao Departamento de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Ciência, Tecnologia

e Insumos Estratégicos, vinculada ao Ministério da Saúde (DAF/SCTIE/MS) pelo

financiamento da pesquisa.

Page 165: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

957 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Almeida HO, Versiani ER, Dias AR, Novaes MRCG, Trindade EMV. Adesão a tratamentos

entre idosos. Comun. Ci. Saúde. 18 (1): 2007.

Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério de classificação econômica Brasil -

CCEB. São Paulo: ABEP, 2008.

Atkinson S, Haran D. Individual and district scale determinants of users’ satisfaction with

primary health care in developing countries. Soc Sci Med. 60 (3): 501–513, 2005.

Azeredo TB, Oliveira MA, Luiza VL, Esher A, Campos MR. User satisfaction with

pharmacy services in the Brazilian National STD/AIDS Program: validity and reliability

issues. Cad. Saúde Públ. 25 (7): 1597–1609, 2009.

Brasil. Conselho Nacional de Saúde. Resolução No 196 de 10 de outubro 1996.

Brasil. Conselho Nacional de Saúde. Resolução No 338, de 6 de maio de 2004.

Brasil. Ministério da Saúde. Relação nacional de medicamentos essenciais: Rename. Brasília:

MS, 2008.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes e recomendações para

o cuidado integral de doenças crônicas não-transmissíveis: promoção da saúde, vigilância,

prevenção e assistência. Brasília, DF: MS, 2008.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.

Departamento de Assistencia Farmaceutica e Insumos Estratégicos. Assistencia farmaceutica

na atenção básica: instruçoes técnicas para sua organização. Brasília: MS, 2006.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.

Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Diretrizes para

estruturação de farmácias no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília: MS, 2009.

Page 166: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

958 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

Correr CJ, Pontarolo R, Melchiors AC, Rossignoli P, Fernández-Llimós F. Satisfação dos

usuários com serviços da farmácia: tradução e validação do Pharmacy. Cad. Saúde Públ.

25(1): 87–96, 2009.

Dias OV, Vieira MA, Dias JP, Ramos LH. As dimensões da satisfação dos usuários do

Programa Saúde da Família: confiabilidade e empatia. Acta Paul Enferm. 24 (2): 225–31,

2011.

Donabedian, A. La calidad de la atención médica – definición y métodos de evaluación.

México: Prensa Médica Mexicana, 1984.

Esher A, Santos EM, Azeredo TB, Luiza VL, Osorio-de-Castro CGS, Oliveira MA. Logic

models from an evaluability assessment of pharmaceutical services for people living with

HIV/AIDS. Ci. Saúde Col. 16 (12): 4833–4844, 2011.

Esher A, Santos EM, Magarinos-Torres R, Azeredo TB. Construindo Critérios de Julgamento

em Avaliação: especialistas e satisfação dos usuários com a dispensação do tratamento do

HIV/Aids. Ci. Saúde Col. 17 (1): 203–214, 2012.

Esperidião MA, Trad LAB. Avaliação de satisfação de usuários: considerações teórico-

conceituais. Cad. Saúde Públ. 22(6): 1267–1276, 2006.

Ferri SMN, Pereira MJB, Mishima SM, Caccia-Bava MCG, Almeida MCP, FERRI SMN. As

tecnologias leves como geradoras de satisfação em usuários de uma unidade de saúde da

família. Interface, Comun. Saúde Educ. 11(23): 515–29, 2007.

Gouveia GC, Souza WV, Luna CF, Souza-Júnior PRB, Szwarcwald CL. Health care users’

satisfaction in Brazil, 2003. Cad. Saúde Públ. 21: 109–118, 2005.

Gouveia GC, Souza WV, Luna CF, Souza-Júnior PRB, Szwarcwald CL. Satisfação dos

usuários do sistema de saúde brasileiro: fatores associados e diferenas regionais. Ver. Bras.

Epidemiol. 12 (3): 281–96, 2009.

Hollanda E, Siqueira SAV, Andrade GRB, Molinaro A, Vaitsman J. Satisfação e

responsividade em serviços de atenção à saúde da Fundação Oswaldo Cruz. Ci. Saúde Col.

17(12): 3343-3352, 2012.

Page 167: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

959 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

Instituto Brasileiro de Geografia. PNAD: um panorama da saúde no Brasil. Rio de Janeiro:

IBGE, 2010.

Jackson JL, Chamberlin J, Kroenke K. Predictors of patient satisfaction. Soc. Sci. Med. 52

(4): 609–620, 2001.

Luiza VL, Esher A, Santos EM Dos, Avelar FG, Emmerick ICM, Oliveira MA, Campos MR,

Azeredo TB. Avaliação nacional da dispensação de medicamentos para as PVHA. Relatório

Final de Pesquisa. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde

Pública. Núcleo de Assistência Farmacêutica, 2006.

MacKeigan LD, Larson LN. Development and validation of an instrument to measure patient

satisfaction with pharmacy services. Med Care. 27(5): 522–536, 1989.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Ouvidoria do

SUS. Relatório preliminar da pesquisa de satisfação com cidadãos usuários e não usuários

quanto aos aspectos de acesso e qualdiade percebida na atenção à saúde e/ou urgência e

emergência mediante iquérito amostral. Brasilia: MS, 2011.

Organizacion Panamericana de la Salud. Organizacion Mundial de la Salud. Servicios

farmacéuticos basados en la atencion primaria de salud. Documento de posicion de la

OPS/OMS. Washington, DC: OPS, 2013.

Santiago RF, Mendes ACG, Miranda GMD, Duarte PO, Furtado BMASM, Souza WV.

Qualidade do atendimento nas Unidades de Saúde da Família no município de Recife: a

percepção do usuários. Ci. Saúde Col. 18(1):35–44, 2013.

Sitzia J, Wood N. Patient satisfaction: a review of issues and concepts. Soc. Sci. Med. 45

(12): 1829–1843, 1997.

Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia.

Brasília: UNESCO/MS, 2002.

Vaitsman J, Andrade GRB. Satisfação e responsividade: formas de medir a qualidade ea

humanização da assistência à saúde. Ci. Saúde Col. 10(3): 599–613, 2005.

Wannmacher L. Importância dos Medicamentos Essenciais em Prescrição e Gestão

Racionais. Brasília, D.F: MS, 2010.

Page 168: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

960 Luiza, V. L. et al Rev. Bras. Farm. 95 (3), 940 – 960, 2014

Weiss GL. Patient satisfaction with primary medical care. Evaluation of sociodemographic

and predispositional factors. Med Care. 26(4): 383–392, 1988.

World Health Organization. The World health report 2000 : health systems : improving

performance. Geneva: WHO Press, 2000.

World Health Organization. Adherence to long-term therapies: evidence for action. Geneva:

WHO Press, 2003.

Zils AA, Castro RCL, Oliveira MMC, Harzheim E, Duncan BB. Satisfação dos usuários da

rede de Atenção Primária de Porto Alegre. Rev. Bras. Med. Fam. Comunidade. 4(16): 270–

276, 2009.

Page 169: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Automedicação entre estudantes de cursos da área de saúde

Luciana Amaral de Faria Silva1* & Andrea Macedo de Souza Rodrigues1

1Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Departamento de Química e Exatas, Curso de

Farmácia

Endereço para correspondência: Avenida José Moreira Sobrinho, s/n, Jequiezinho – Jequié/BA

– CEP: 4500-000. Tel: (73) 3528-9739 – Email: [email protected]

Page 170: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

962 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

RESUMO

A automedicação é uma prática comum na sociedade que pode causar sérios danos a saúde do

individuo. Nesse contexto, foi realizado um estudo do tipo transversal descritivo com objetivo

de analisar a prática da automedicação entre universitários dos cursos de farmácia,

enfermagem, medicina e odontologia, matriculados em semestres iniciais, intermediários e

finais dos respectivos cursos, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de

Jequié-BA, buscando conhecer se o curso e o conhecimento adquirido durante a graduação

interferem nessa prática. Participaram da pesquisa 209 graduandos que responderam a um

questionário auto aplicado, contendo questões de múltipla escolha sobre a prática da

automedicação. Os dados foram tratados estatisticamente utilizando-se o programa SPSS 20.

Em relação à automedicação, 98,1% participantes afirmaram que já usaram medicamentos sem

orientação ou receita médica. Os medicamentos mais utilizados na forma de automedicação

foram os analgésicos e antitérmicos (19,4%). O sintoma/doença que os graduandos mais

acreditavam possuir foi dor de cabeça (20,8%). Sendo possível constatar que não houve

correlação entre o curso e a prática da automedicação e que não ocorreu aumento dessa prática

durante o avançar dos semestres/anos, concluindo-se que o curso e o conhecimento adquirido

durante a graduação não interferem nessa prática.

Palavras-chave: Automedicação, Estudantes de ciências da saúde.

Page 171: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

963 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

ABSTRACT

Self-medication is a common practice in society that can seriously damage the health of the

individual. In this context, a descriptive cross-sectional study in order to examine the practice

of self-medication among university students of pharmacy, nursing, medicine, dentistry and

enrolled in early semesters, intermediaries and end of their courses, the Universidade Estadual

do Sudoeste da Bahia was conducted seeking to know whether the course and the knowledge

acquired during students interfere with the practice. 209 students participated in the survey who

answered a questionnaire self-applied, containing multiple choice questions on self-

medication. Data were statistically analyzed using SPSS 20 Program. In relation to self-

medication, 98,1% participants said they had used drugs without guidance or prescription. The

more common form of self-medication drugs were analgesics and antipyretics (19,4%). The

symptom/disease that most students were believed to possess the headache (20,8%). It was

found that there was no correlation between the course and the practice of self-medication and

there was no increase in the practice during the advance of the semesters/years. Concluding

that the course and the knowledge gained during undergraduate studies do not interfere with

the practice.

Keywords: Self-medication, Students, Health Occupations.

Page 172: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

964 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

INTRODUÇÃO

A automedicação é caracterizada pela administração de medicamentos, sem prescrição,

com a finalidade de amenizar sintomas e tratar doenças. Essa prática é realizada quando um

indivíduo utiliza um medicamento por iniciativa própria ou recomendado por um familiar ou

amigo, inicia, prolonga, interrompe, ou altera uma terapêutica medicamentosa sem consultar

um profissional capacitado. A utilização de receitas médicas antigas, também é considerada

automedicação (Schuelter-Trevisol et al., 2011).

O elevado custo de uma consulta médica, a facilidade de se adquirir medicamentos sem

receita, o medo do agravamento dos sintomas sentidos, a restrição do poder prescritivo, a

propaganda excessiva, o acesso rápido às informações sobre medicamentos na internet e a falta

da divulgação de seus malefícios, contribuem para a automedicação (Silva et al., 2011).

Em nível nacional, a farmácia comunitária é a principal responsável pelo fornecimento

de medicamentos, uma vez que os serviços públicos de saúde não atendem a demanda da

população (Naves et al., 2010) e, por consequência, o paciente procura tratar sua doença

sozinho ou por indicação de outra pessoa, causando um agravamento em seu quadro clinico,

por não receber orientação e tratamento corretos (Naves et al., 2010). O consumo de

medicamentos sem prescrição é comum entre os brasileiros de todas as idades e

aproximadamente 20 mil pessoas morrem ao ano em consequência da automedicação (Bortolo

et al., 2008).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 1979), a

automedicação deve ser entendida como um dos elementos do autocuidado. No Brasil, a

automedicação é aconselhada quando ela é acompanhada de orientações de um profissional

farmacêutico, sobre o uso correto do medicamento, além de poder ser realizada apenas com os

medicamentos isentos de prescrição (MIP). Quando a automedicação ocorre dessa maneira, ela

passa a ser conhecida como automedicação responsável (Marques, 2008).

A automedicação responsável pode representar economia ao indivíduo e ao sistema de

saúde como um todo. Caso contrário, ao adquirir medicamentos inadequados o indivíduo pode

estar sujeito ao risco de efeitos adversos e ter gastos desnecessários (Pelicioni, 2005). Além

disso, a automedicação, feita de forma indiscriminada, pode mascarar sintomas importantes,

agravando o quadro clínico e levando a uma recomendação terapêutica equivocada. Há de se

considerar ainda que o próprio medicamento pode causar iatrogênias, piorando as condições

do paciente e ocasionando muitas vezes, transtornos mais graves que a doença inicial

Page 173: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

965 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

(Damasceno et al., 2007). De fato, Mazzilli (2008) relata que a minoria da população está

preparada para exercer uma automedicação segura e eficaz.

Diversos estudos demonstraram ser alta a taxa de automedicação entre universitários de

diferentes cursos da área de saúde (Rios et al., 2013; Silva et al., 2012; Galato, Madalena &

Pereira, 2012), que serão, futuramente, os principais responsáveis por conscientizar a

população sobre os riscos da automedicação. Existe uma intensa relação entre o uso correto

dos medicamentos e as atividades exercidas pelo farmacêutico, enfermeiro, médico e

odontólogo. Nesse sentido, o presente trabalho teve por objetivo analisar a prática da

automedicação entre os universitários dos cursos de farmácia, enfermagem, medicina e

odontologia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, localizada no município de

Jequié-BA, buscando conhecer se o curso e o conhecimento adquirido durante a graduação

interferem nessa prática.

MÉTODO

Foi realizado um estudo do tipo transversal descritivo, para analisar a prática da

automedicação entre graduandos de cursos da área da saúde da Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia – UESB, campus de Jequié.

A amostra estudada foi composta por 209 universitários regularmente matriculados nos

cursos de enfermagem, farmácia, medicina e odontologia, maiores de 18 anos, que

concordaram em participar da pesquisa e cursando o 1°, 5° e 9° semestres, para os alunos de

farmácia e odontologia, o 1°, 5° e 8° semestres, para os de enfermagem, e o 1°, 3° e 4° anos,

para os alunos de medicina. Ou seja, alunos que estavam matriculados nos semestres ou anos

iniciais, intermediários e finais dos respectivos cursos.

O número de participantes da pesquisa foi definido mediante cálculo, utilizando a

estimativa do erro amostral para a população total de 360 estudantes distribuídos entre os

cursos de enfermagem, farmácia, medicina e odontologia, tolerando-se um erro amostral de

5% (Barbetta, 2002).

Uma amostragem aleatória simples estratificada, com partilha proporcional, foi

realizada. Esse tipo de amostragem é feito quando se conhece informações sobre a população

amostrada. Os elementos da população são divididos primeiramente em grupos chamados

estratos (cada curso de saúde) e amostra-se aleatoriamente dentro de cada um, de forma que

cada elemento da população pertença a somente um estrato. Se os estratos forem representados

Page 174: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

966 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

na amostra na mesma proporção que na população, tem-se uma amostragem aleatória simples,

estratificada, com partilha proporcional, sendo representativa de cada curso.

O teste de normalidade de Jargue-Bera (JB), que serve para verificar a normalidade de

uma amostra aleatória, foi utilizado, constatando-se que a amostra obtida seguiu a distribuição

normal.

A coleta de dados foi realizada no mês de janeiro do ano de 2014, após aprovação do

presente projeto pelo Comitê de ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da

Bahia, conforme parecer número 22280513.0.0000.0055 (CAAE).

Os indivíduos incluídos na pesquisa foram informados sobre os objetivos do estudo e

convidados a participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE).

O instrumento utilizado para a coleta das informações foi um questionário semi-

estruturado auto aplicado. O período recordatório utilizado no estudo foi o espaço temporal

compreendido desde o ingresso no curso de graduação de saúde até o momento da pesquisa,

ou seja, para responderem o questionário, os entrevistados forneceram informações referentes

à prática da automedicação desde o início da graduação.

O questionário contava com 22 questões sobre dados pessoais, socioeconômicos,

acadêmicos (sexo, idade, semestre atual do curso, estado civil, com quem vive e renda familiar

mensal) e sobre a prática da automedicação ao longo da graduação. Essas questões tinham

como objetivo conhecer aspectos do consumo de medicamentos como, por exemplo, uso de

classes específicas de medicamentos, controlados ou não, sem orientação ou receita médica,

aconselhamento com farmacêuticos, balconistas de farmácias ou outras pessoas para aquisição

e uso dos medicamentos, emprego de receitas médicas antigas, compra e utilização de fármacos

controlados, hábito de leitura da bula dos medicamentos, interferência do conhecimento

adquirido ao longo do curso na prática da automedicação, e ato de indicar medicamentos

informalmente para outrem.

Após a coleta dos dados, os questionários foram organizados e, em seguida, os dados

foram tabulados e analisados, utilizando o programa SPSS 20. Para detectar se o tipo de curso

de saúde e o conhecimento adquirido durante a graduação interferiam na prática de

automedicação foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson (r). No presente trabalho, a

correlação foi considerada nos casos em que r ≥ 0,5 ou r ≤ -0,5.

Page 175: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

967 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A tabela 1 apresenta as características da amostra em relação ao sexo, faixa etária,

estado civil, moradia, renda familiar e curso. Do total de participantes, 136 (65,1%) eram do

sexo feminino. Resultado semelhante foi encontrado por Aquino, Barros & Silva (2010) em

um estudo realizado com estudantes da área de saúde, verificando que o maior número de

participantes era do sexo feminino (61,4%). Em relação à faixa etária, 106 (50,7%) tinham de

21 a 25 anos, resultado este diferente do encontrado em estudo realizado por Rios et al. (2013),

para verificar as características da automedicação dos alunos de uma escola técnica do sul de

Minas Gerais, onde 57,0% dos alunos tinham entre 20 e 22 anos.

No presente estudo, 189 participantes (90,4%) eram solteiros, 89 (42,6%) moravam em

república e 99 (47,4%) tinham renda familiar acima de 4 salários mínimos. Pode-se verificar

que esses resultados, com exceção do estado civil, não condizem com resultados de Schuelter-

Trevisol et al. (2011), em estudo realizado na Universidade do Sul de Santa Catarina, onde

observaram que 93,1% dos alunos eram solteiros, 101 (63,1%) residiam com familiares e 89

(70%) tinham uma renda familiar superior a 10 ou mais salários mínimos.

Tabela 1 – Distribuição dos graduandos em relação ao sexo, faixa etária, estado civil, moradia,

renda familiar e curso, Janeiro 2014, Jequié-BA.

Características da amostra Graduandos

n %

Sexo

Feminino 136 65,1

Masculino 73 34,9

Faixa etária

≤ 20 anos 61 29,2

21 a 25 anos 106 50,7

26 a 30 anos 25 12,0

31 a 35 anos 14 6,7

36 a 40 anos 2 1,0

≥ 40 anos 1 0,5

Estado civil

Solteiro 189 90,4

Casado 18 8,6

Divorciado 2 1,0

Com quem vive

Em república 89 42,6

Familiares 86 41,1

Sozinho 34 16,3

Page 176: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

968 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

Fonte: Pesquisa Direta. *SM = Salário Mínimo

Em relação à automedicação, 205 (98,1%) participantes afirmaram que já usaram

medicamentos sem orientação ou receita médica, desde o início do curso de graduação,

evidenciando uma alta prevalência nessa prática, assim como outros realizados com estudantes

em algumas universidades do Brasil. Em pesquisa realizada entre graduandos de diferentes

áreas da formação acadêmica da Universidade do Sul de Santa Catarina, constatou-se que 330

(96,5%) já realizaram essa prática (Galato, Madalena & Pereira, 2012). Em uma instituição

privada do sul do estado de Minas Gerais, 697 (93,11%) graduandos da área da saúde se

automedicavam (Silva et al., 2011). Entre os estudantes de medicina da Universidade de

Ribeirão Preto, 92% praticavam a automedicação (Silva et al. 2012). Na Universidade Federal

de Alfenas, 222 (90,6%) graduandos dos cursos de enfermagem, farmácia e odontologia

realizavam essa prática (Damasceno et al., 2007).

De acordo com Vilarino et al. (1998), as pessoas com mais conhecimentos, sejam

adquiridos em sala de aula ou pelas experiências da vida, sentem-se mais confiantes para se

automedicarem.

Em pesquisa realizada na Universidade Federal de Juiz de Fora, observou-se que 90,4%

dos estudantes de medicina de diferentes períodos do curso afirmaram não procurar um médico

por acreditarem não ser necessário. Segundo os autores desse estudo, essa autoconfiança é

adquirida por informações obtidas em propagandas, na internet ou mesmo em sala de aula,

além de experiências anteriores com o mesmo medicamento poderem exercer um importante

papel (Aquino, Barros & Silva, 2010).

No presente estudo, 111 (53,1%) graduandos afirmaram que já se basearam em receitas

médicas antigas, para tratar sintomas e doenças. Resultado semelhante foi encontrado em

trabalho realizado com alunos de medicina, em que 50,5% também relataram já terem utilizado

prescrições antigas (Silva et al., 2012). Foi realizado um teste para verificar se houve, ou não,

Renda familiar (SM*)

Até 1 SM 19 9,1

Até 2 SM 46 22,0

Até 3 SM 45 21,5

Acima de 4 SM 99 47,4

Curso

Farmácia 70 33,5

Medicina 51 24,4

Enfermagem 47 22,5

Odontologia 41 19,6

Page 177: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

969 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

correlação entre aqueles que se automedicavam e o ato de se basear em receitas antigas. Porém,

foi obtido um coeficiente de correlação de Pearson (r = -0,061) maior que -0,5, não havendo,

portanto, correlação entre essas variáveis.

Quanto à aquisição e indicação do medicamento usado na prática de automedicação, os

participantes responderam mais de uma alternativa. Em relação às formas de aquisição, do total

de alunos, 172 (72,9%) compraram o medicamento, 38 (16,1%) adquiriram de parentes, amigos

ou vizinhos e 26 (11%) utilizaram sobras de tratamentos anteriores.

Em relação à indicação do medicamento usado na automedicação, 38,2% dos

graduandos afirmaram ter sido feita por um familiar, 30,1% por conta própria, 12,9% por

amigos, 11,0% por balconistas, 6,1% por farmacêuticos e 1,3% por vizinhos. Conforme

pesquisa realizada com estudantes dos cursos de graduação em medicina e direito de uma

universidade do sul do Brasil, a orientação de um parente ou amigo prevaleceu como

determinante para a prática da automedicação, apresentando frequências de 41,2% (Schuelter-

Trevisol et al., 2011). Aquino, Barros & Silva (2010) constataram que 57,7% dos acadêmicos

da área de saúde se automedicavam, influenciados pela mídia, por parentes, amigos, balconistas

de farmácia, dentre outros. No estudo com alunos de uma escola técnica do sul de Minas Gerais,

houve mais casos de indicação dos medicamentos por parte dos familiares (42,5%), seguido do

uso por conta própria (23,6%) e da indicação por balconista (18,9%) (Rios et al., 2013). De

acordo com Rios et al. (2013), os familiares exercem influência significativa no cuidado com

a saúde sendo considerados a principal influência para a ocorrência dessa prática, pois a

confiança que é depositada neles, a partir do vínculo existente, facilita o processo de

automedicação.

Em relação à aquisição dos medicamentos utilizados na prática da automedicação que

necessitavam da retenção de receita, 140 (67%) graduandos responderam que não

necessitavam, 43 (20,6%) que necessitavam e 26 (12,4%) não sabiam. Resultado diferente do

encontrado por Silva et al. (2012), em que a compra de medicamentos, usados para a mesma

prática, que necessitavam da retenção da receita ocorreu entre 6,5% dos alunos. Conforme

preconiza a Portaria 344/98 é proibida a dispensação de medicamentos controlados sem a

retenção da receita médica (Brasil, 1998).

Dos participantes, 86 (43,9%) usaram o medicamento por 3 dias, 52 (26,5%) por 1 dia,

36 (18,4%) por 2 dias e os outros, por mais de 3 dias. Dentre os medicamentos mais usados por

3 dias, 2 dias e 1 dia, respectivamente, estavam os antiinflamatórios (72,3%), os

analgésicos/antitérmicos (41,5%) e os medicamentos para resfriados/gripes (45,6%). E ainda,

Page 178: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

970 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

143 (73,7%) participantes seguiram as instruções da bula do medicamento, sendo 56 (39,2%)

estudantes do curso de farmácia. Mais especificamente, dentre os estudantes do curso de

farmácia que liam a bula, a maior parte deles, proporcionalmente, encontrava-se no 5o semestre.

Esse resultado talvez possa ser explicado pelo fato de a disciplina de Farmacodinâmica I estar

presente justamente no 5o semestre do curso, como pode ser verificado na grade curricular.

Através da disciplina de Farmacodinâmica I os alunos estudam sobre a ação dos fármacos e

medicamentos no organismo, enfatizando os processos fisiopatológicos, os mecanismos de

ação, as interações medicamentosas e as reações adversas. Todo o conhecimento adquirido

através dessa disciplina poderia ter influenciado no maior interesse desses estudantes por ler a

bula. No trabalho de Neto et al. (2006), 86,52% dos entrevistados relataram que liam a bula,

que segundo esses autores é um importante instrumento para informar o usuário, mas também

pode gerar uma sensação superficial de domínio do saber médico, e mesmo com grande número

de informações contidas nas bulas, as pessoas continuam a praticar a automedicação.

A Tabela 2 apresenta os medicamentos mais utilizados na forma de automedicação

entre os estudantes dos cursos de enfermagem, odontologia, farmácia e medicina.

Tabela 2 – Medicamentos mais utilizados na forma de automedicação entre os estudantes dos

cursos de enfermagem, odontologia, farmácia e medicina, Janeiro 2014, Jequié-BA

Medicamentos utilizados Frequência

n* %

Analgésicos/Antitérmicos 185 19,4

Anti-inflamatórios 170 17,8

Medicamentos

para resfriados/Gripes 150 15,7

Medicamentos para tosse 121 12,7

Descongestionantes/

Vasoconstritores nasais 80 8,4

Antibióticos 79 8,3

Antialérgico/Anti-histamínicos 79 8,3

Gotas otológicas 30 3,1

Corticóides nasais (sprays nasais) 21 2,2

Corticóides sistêmicos (via oral) 19 2

Antiasmáticos 7 0,7

Outros 13 1,4

Total 954 100

Fonte: Pesquisa direta.

*Houve mais de uma resposta por acadêmico, n=205

Page 179: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

971 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

Observa-se que os medicamentos mais utilizados foram os analgésicos e antitérmicos.

Em estudos realizados por Loyola Filho et al. (2002), Schuelter-Trevisol et al. (2011) e Aquino

et al. (2010), esses medicamentos também foram os mais consumidos pelos pesquisados, com

as respectivas frequências, 47,6%, 44,9% e 24%. A explicação para o maior uso desses

medicamentos está relacionada com a facilidade de aquisição e pela ideia de que se trata de

substâncias que não apresentam riscos à saúde, pois muitos deles são classificados como

fármacos de venda livre (Rios et al., 2013). Entretanto, como qualquer medicamento, podem

produzir reações adversas, mascarando quadros clínicos de maior gravidade (Schuelter-

Trevisol et al., 2011).

No presente estudo, verificou-se o uso de antibióticos para automedicação por 79

(37,8%) graduandos. A utilização desses medicamentos de forma inadequada tem contribuído

para o mecanismo de resistência bacteriana, um problema de saúde pública mundial (Aquino,

Barros & Silva, 2010). De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),

antibióticos devem ser dispensados com retenção da 2° via da receita médica (Brasil, 2011).

Porém o período recordatório utilizado no presente trabalho foi a partir do início do curso de

graduação, portanto, alguns alunos ingressaram no curso antes da implementação da Resolução

e isso pode ter contribuído sobre o resultado encontrado. Mas sabe-se também que muitas

pessoas se automedicam usando medicamentos que estejam disponíveis em casa, ou seja,

“sobras” de medicamentos oriundas de tratamentos anteriores (Marques, 2008). Essa também

pode ser uma das causas que levou ao uso de antibióticos pela população estudada, visto que,

26 (11%) dos estudantes afirmaram utilizar sobras de tratamentos anteriores, quando

questionados a respeito da aquisição e indicação do medicamento usado na prática de

automedicação.

A Tabela 3 apresenta os sinais/sintomas/doenças que os graduandos dos cursos de

enfermagem, odontologia, farmácia e medicina acreditavam possuir. A dor de cabeça,

resfriado/gripe, febre e infecções/inflamações de garganta foram os mais citados em todos os

cursos e semestres/anos avaliados, exceto no 4o ano de medicina em que as alergias figuraram

como o segundo sinal/sintoma/doença mas relatado, logo após a dor de cabeça. Resultado

semelhante foi encontrado por Damasceno et al. (2007) que constataram que os principais

motivos que levaram os acadêmicos estudados à automedicação foram: dor de cabeça (35,6%);

febre (12,4%), dor de garganta (5,8%), gripe (5,5%), resfriado (4,8%) e inflamação na garganta

(4,3%).

Page 180: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

972 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

Tabela 3 - Sinais/sintomas/doenças que os graduandos dos cursos de enfermagem, odontologia,

farmácia e medicina acreditavam possuir, Janeiro 2014, Jequié-BA.

Sinais/sintomas/doenças Frequência

n* %

Dor de cabeça 182 20,8

Resfriado/Gripe 165 18,9

Febre 147 16,8

Infecções/Inflamações

de garganta 116 13,3

Alergias 78 8,9

Rinite 57 6,5

Sinusite 34 3,9

Infecções/Inflamações

de ouvido 27 3,1

Lesões de pele 26 3,0

Refluxo 15 1,7

Lesões orais 10 1,1

Doenças pulmonares 6 0,7

Outros 10 1,1

Total 873 100,0

Fonte: Pesquisa Direta.

*Houve mais de uma resposta por acadêmicos, n=205.

Do total de participantes, 166 (80,9%) afirmaram que o conhecimento interferiu na sua

prática de automedicação, e entre eles, 85 (51,2%), às vezes, usavam medicamentos sem a

orientação de um profissional legalmente capacitado, 56 (33,7%) não usavam, e 19 (11,4%)

sempre que precisavam, usavam. Entretanto, não foi verificada correlação (r= 0,001) entre a

automedicação e o conhecimento adquirido ao longo do curso (coeficiente de correlação de

Pearson menor que 0,5).

Do total dos alunos que se automedicavam, 145 (70,7%) afirmaram que não consideram

ter conhecimento suficiente para se automedicar. Diante desses resultados, fica demonstrado o

risco dessa prática nessa população, pois, como já exposto, 205 (98,1%) graduandos afirmaram

que já usaram medicamentos sem orientação ou receita médica, ou seja, a maioria deles se

automedica mesmo sem ter informações suficientes e necessárias para realizar essa prática.

Em relação ao ato de indicar medicamentos para outras pessoas, 60 (29,3%)

responderam que tinham esse costume e 145 (70,7%) não tinham. Um teste foi realizado para

Page 181: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

973 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

verificar se houve, ou não, correlação entre aqueles que julgavam ter conhecimento suficiente

para se automedicar e o ato de indicar medicamentos para outras pessoas. Entretanto, foi obtido

um coeficiente de correlação de Pearson (r=0,263) menor que 0,5, não havendo, portanto,

correlação entre essas variáveis. É necessário conscientizar a população para se consultar com

profissionais de saúde legalmente capacitados para prescrever medicamentos, pois mesmo um

medicamento utilizado de forma correta em sua indicação, se administrado em altas, doses

pode causar sérios danos à saúde de um individuo (Neto et al., 2006; Rios et al., 2013).

A Tabela 4 apresenta a distribuição da amostra em relação à prática da automedicação

entre os cursos de enfermagem, odontologia, farmácia e medicina.

Tabela 4 – Distribuição da amostra em relação à prática da automedicação entre os cursos de

enfermagem, odontologia, farmácia e medicina, Janeiro 2014, Jequié-BA.

Curso Automedicação

Sim Não Total

n % n % n %

Enfermagem 47 100,0 0 0,0 47 100,0

Odontologia 41 100,0 0 0,0 41 100,0

Farmácia 69 98,6 1 1,4 70 100,0

Medicina 48 94,1 3 5,9 51 100,0

Total 205 - 4 - 209 100

Fonte: Pesquisa direta.

Não houve correlação entre curso e a prática da automedicação (r=0,045). Em estudo

com acadêmicos da área da saúde de uma universidade privada do sul do estado de Minas

Gerais, 94,55% dos estudantes de medicina realizaram essa prática, seguidos dos graduandos

de odontologia (93,18%), farmácia (89,50%) e enfermagem (88,57%) (Silva et al., 2011). Em

pesquisa realizada na Universidade Federal de Alfenas, no curso de enfermagem, a prevalência

da automedicação foi de 91,2%, 86,9% no curso de farmácia, e 93,8% em odontologia

(Damasceno et al. 2007).

Não houve um aumento na prática da automedicação durante o avançar dos

semestres/anos. Com exceção do 1°semestre de farmácia e 1° e 3°anos de medicina, 100% dos

graduandos nos outros semestre/anos afirmaram se automedicar. No curso de medicina, o

coeficiente de correlação de Pearson (r=-0,117) entre a automedicação e o avançar dos anos do

curso (maior que -0,5), demonstra que não houve correlação entre essas variáveis. No curso de

farmácia também não foi encontrada correlação (r=-0,133), evidenciando que o conhecimento

adquirido ao longo do curso não interferiu na automedicação, pois essa prática ocorre desde o

inicio da graduação, estando relacionada a hábitos já existentes entre os ingressantes.

Page 182: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

974 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

Como demonstram os trabalhos com outras populações, a automedicação é uma prática

comum entre as pessoas, apresentando-se em frequências elevadas em vários estudos (Vilarino

et al., 2008; Mazzilli, 2008; Beckhauser et al., 2010). Diante disso, fica claro a necessidade de

intervenção na estrutura educacional, através de métodos e protocolos efetivos, com o intuito

de alertar os estudantes de cursos de saúde sobre os riscos dessa prática. Os responsáveis pela

formação acadêmica dos estudantes de cursos de saúde devem enfocar as questões éticas,

considerando que a prática da automedicação, na maioria das vezes, é contrária o uso racional

de medicamentos (Silva et al., 2012).

CONCLUSÃO

No presente estudo verificou-se que a prática da automedicação entre os graduandos

dos cursos de farmácia, enfermagem, medicina e odontologia da Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia, localizada no município de Jequié-BA, é elevada, porém, encontra-se

dentro dos parâmetros observados em outros trabalhos. Foi possível constatar que não houve

correlação entre o curso e a prática da automedicação, tampouco entre o conhecimento

adquirido durante a graduação e a automedicação.

REFERÊNCIAS

1. Schuelter-Trevisol F, Trevisol DJ, Jung GS, Jacobowski B. Automedicação em

universitários. Rev. Bras. Clin. Med. 9(6): 414-17, 2011.

2. Silva LSF, Costa AMDD, Terra FS, Zanetti HHV, Costa RD, Costa MD.

Automedicação em acadêmicos de cursos de graduação da área da saúde de uma universidade

privada do Sul do Estado de Minas Gerais. Odontol. Clín. Cient. 10(1): 57-63, 2011.

3. Naves JOS, Castro LLC, Carvalho CMS, Merchán-Hamann E. Automedicação: uma

abordagem qualitativa de suas motivações. Cien. Saude Colet. 15(1): 1751-62, 2010.

4. Bortolon PC, Medeiros EFF, Naves JOS, Karnikowski MGO, Nóbrega OT. Análise

do perfil de automedicação em mulheres idosas brasileiras. Cien. Saude Colet. 13(4): 1219-

26, 2008.

5. World Heath Organization [WHO]. Expert commitee on selection of essencial drugs.

The selection of essencial drugs: first report of the WHO Expert Committee. Genebra; 1979.

Disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/41361/1/WHO_TRS_641.pdf>.

Acesso em: jan. 2014.

6. Marques LAM. Atenção farmacêutica em distúrbios menores. 2a ed. São Paulo:

Medfarma; 2008. 296 p.

Page 183: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

975 Silva, L. A. F; Rodrigues, A.M.S. Rev. Bras. Farm. 95 (3), 961 – 975, 2014.

7. Pelicioni AF. Padrão de consumo de medicamentos em duas áreas da região

metropolitana de São Paulo, 2001-2002. 2005. São Paulo. Dissertação. Faculdade de Saúde

Pública, Universidade de São Paulo.

8. Damasceno DD, Terra FS, Zanetti HHV, D’Andréa ED, Silva HLR, Leite JA.

Automedicação entre graduados de enfermagem, farmácia e odontologia da Universidade

Federal de Alfenas. Ver. Min. Enferm. 11(1): 48-52, 2007.

9. Mazzilli LEN. Urgência odontológica e prevalência da automedicação na população

economicamente ativa de uma micro área da cidade de São Paulo. 2008. São Paulo. 146p.

Tese. Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo.

10. Melo DO, Ribeiro E, Storpitis S. A importância e a história dos estudos de utilização

de medicamentos. Rev. Bras. Ciênc. Farm. 42(4): 475-85, 2006.

11. Rios MF, Souza WA, Siqueira VMS, Podestá MHMC, Melo GGP, Zuba AG,

Machado JCFS, Ferreira EB. Perfil da automedicação dos alunos de uma escola técnica do

Sul de Minas Gerais. Rev. Unincor. 11(2): 420-1, 2013.

12. Silva RCG, Oliveira TM, Casimiro TS, Vieira KAM, Tardivo MT, Faria Jr M, Restini

CBA. Automedicação em acadêmicos do curso de medicina. Rev. Medicina. 45(1): 5-11,

2012.

13. Galato D, Madalena J, Pereira GB. Automedicação em estudantes universitários: a

influência da área de formação. Cien. Saude Colet.;17(12): 3323-30, 2012.

14. Barbetta PA. Estatística Aplicada às Ciências Sociais. 5ª ed. Florianópolis: UFSC;

2002.

15. Vilarino JF, Soares IC, Silveira CM, Rodel APP, Bortoli R, Lemos RR. Perfil da

Automedicação em Município do Sul do Brasil. Rev. Saude Publica. 32(1): 43-49, 1998.

16. Neto JAC, Sirimarco MT, Choi CMK, Barreto AU, Souza JB. Automedicação entre

Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora. HU Rev. Juiz

de Fora. 32(3): 59-64, 2006.

17. SPSS 20 – Programa licenciado

18. Aquino DS, Barros JAC, Silva MDP. A automedicação e os acadêmicos da área de

saúde. Cien. Saude Colet. 15(5): 2533-38, 2010.

19. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 344

de 12 de maio de 1998. Aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos

sujeitos a controle especial. Disponível em: <

http://www.anvisa.gov.br/hotsite/talidomida/legis/Portaria_344_98.pdf> Acesso em: abr. de

2014.

20. Loyola Filho AI, Uchôa E, Guerra HL, Firmo JOA, Costa MFL. Prevalência e fatores

associados à automedicação: resultados do projeto Bambuí. Rev. Saude Publica. 36(1): 55-

62, 2002.

21. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº

20 de 5 de maio de 2011. Dispõe sobre o controle de medicamentos à base de substâncias

classificadas como antimicrobianos, de uso sob prescrição, isoladas ou em associação.

Disponível em: < http://www.anvisa.gov.br/sngpc/Documentos2012/RDC2020202011.pdf>

Acesso em: maio de 2014.

22. Beckhauser GC, Souza JM, Valgas C, Piovezan AP, Galato D. Utilização de

medicamentos na Pediatria: a prática de automedicação em crianças por seus responsáveis.

Rev. Paul. Pediat. 28(3): 262-68, 2010.

Page 184: RBFARMA Volume 95 Número 3 - Edição Completa

Revista Brasileira de Farmácia – ISSN 2176 – 0667 (on line)

Brazilian Journal of Pharmacy

Volume 95 Número 3 Julho – Agosto – Setembro / 2014

EXPEDIENTE

Editores Eméritos Nuno Álvares Pereira (in memoriam) Levy Gomes Ferreira Salvador Alves Pereira (in memoriam)

Editora-chefe Carmelinda Monteiro Costa Afonso

Conselho Editorial Benedito Carlos Cordeiro (Universidade Federal Fluminense) Carla Valéria Vieira G. Feraz (Universidade Federal Fluminense) Débora Omena Futuro (Universidade Federal Fluminense) Denir Gomes Nogueira (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Gabriela Bittencourt G. Mosegui (Universidade Federal Fluminense) Ilidio Ferreira Afonso (Instituto Hahnemanniano do Brasil) Ivone Manzalli de Sá (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Maria Letice do Couto (Universidade Gama Filho / ABF) Maria Rita de Macedo (Escola Nacional de Saúde Pública) Sabrina Calil Elias (Universidade Federal Fluminense) Selma Rodrigues de Castilho (Universidade Federal Fluminense) Vera Lucia Luiza (Escola Nacional de Saúde Pública)

Associação Brasileira de Farmacêuticos

Rua dos Andradas, 96/10º andar - Centro Rio de Janeiro - RJ - Brasil - 20.051-000

Telefax (0xx21)2263-0791 - (0xx21)2233-3672 www.abf.org.br - [email protected]

Presidente Maria Letice Couto de Almeida

Vice-Presidente Alaíde dos Santos Rorigues

1ª Secretário Denir Gomes Nogueira

2ª Secretário Iolanda Szabo

Tesoureira Denise Hammes Torres

Museu Maria Tereza do Lago Vieira

Cursos Carmelinda Monteiro Costa Afonso

Biblioteca Rodrigo Saar da Costa

Revista Carmelinda Monteiro Costa Afonso

Eventos e Marketing Naira Villas Boas Vidal e Oliveira