raquel paiva_artigo comunidade do afeto

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  • 7/28/2019 Raquel Paiva_Artigo Comunidade Do Afeto

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    * Pss Esl C Uvs Fl R J - UFRJ.C Lbt Ests CCt (LECC).Psqs 1 A CNPq.E-l: pvql@htl.

    R

    O tg tg s xs t stt t, s

    social e as possibilidades de comunicao. A preocupao reetir sobre as novas

    ormas de contato no momento em que grandes (antigas e novssimas) incertezas

    assombram a era atual. Preocupaes que vo desde o fm dos recursos naturais

    l ls ts t t ts. Dt x-

    rimento dos recursos humanos e do auge do desenvolvimento tecnolgico, percebe-se sgt vs gs ss p sgs q

    lg p-s lttv vvl, q t

    spt ppl lg vltv.

    Palavras-chave:comunicao comunitria, comunicao alternativa, dialogismo, cidadania

    AbtRAct

    T pst tl pss s qs bt ty, ts sl s

    and its possibilities o communication. Our main concern is pondering over new ways

    o making social contact when the present time seems haunted by (mighty new and old)

    sts, sh s th v gwg plt tl ss th llps

    o media and communication patterns hitherto in orce. In ront o the process o

    exhausting human resources and at the highest pitch o technological development we

    can discern dialogical shaped moulds in new emerging social orms and new patterns

    ssg pt wth glbl bkg wh ftt sstv

    bs pp s th h pw hs.

    Keywords: communitary communication, alternative communication, dialogism,

    tzshp

    Novas formas de omuniarismo no enrio

    da visiilidade oal: a omunidade do afeoNew forms of communitarism in the scenarioof total visibility: the affection community

    R A Q U E L P A I VA *

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    64 matrizes Ao 6 n 1 jul ./dez .2012 - So Paulo - Brasil RAQUEL PAIVA p. 63-75

    Novas formas de comunitarismo no cenrio da visibilidade total:

    a comunidade do afeto

    APRNtA cNtxt

    Seria a comunidade st?O t q, t tl bt p stss s-de pelo cotidiano nas grandes cidades e a incerteza com os prximos

    tps, pbs q s ts vtl tvt lgs dependentes uns dos outros, como nunca deixamos de ser e como talvez nuncagostaramos de ter sido. No esoro de tentar visualizar e defnir este sentimen-t/bt, ts qlq t, v-s t ptt tl TGlt(1791-1824), Le Radeau de la Mduse, sb sg 1816, px Sgl. N lt vq: b Glt t spt t s pss,

    tsts s pts ss.Assim como uma obra literria pode se constituir num painel de sua poca(Blz, p xpl), g q pz x tsp, metora do acontecimento, a crise visceral de uma sociedade. Com Le Radeaude la Mduse p s s t. E xps pt sl 77 Ms Lv, Ps, t ss q sspssts (491716 tts) s pt s t q Glt, t pl t g, slv st s lts ssobreviventes. O acidente e a obra tm produzido inmeros discursos e reexes,a comear pelas causas do naurgio: a impercia e a inexperincia de um capito

    g q, ptt, vl Ancien Rgime. Ettt, ss sb p ts s pstls ts s vg g bs sbvv, l s s gs lt bls s hts. Flt, t s pp ls b, spl l chiaro-scuro st t vl pst s ps s, t s Radeau podium s bs sss t.

    Eleger, num texto analtico, um exemplo dessa ordem tentar acompanhara lio ormista de Georg Simmel, para quem a intuio e a imaginao desem-ph pps ts bsv slg. Nss ppst lvta hiptese de que, nessa ase do capitalismo fnanceiro, talvez estejamos viven- stt tt t pst g Mduse.Algt, sts st t q s ls vgts j contam e os uturos podem ser decididos e planejados. Na alta de compreensoda crise, h a perspectiva de nos conrontarmos com situaes em que as opes slh s zs.

    Apesar de partirmos do pressuposto de que as questes implicadas nasemiose do Radeau de la Mduse ou seja, os ndices de desaparecimento

    . A jg Ms, ts

    s, z b pvs

    pls tplts

    Ms, gt sq g h

    Sgl. O q Glt tt

    g, l-t psss

    hsq, p sbvv,

    hg bls sssst

    s s ts.

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    Ao 6 n 1 jul. /dez. 2012 - So Paulo - Brasil RAQUEL PAIVA p. 63-75 65

    dossiNew forms of communitarism in the scenario of total visibility:the affection community

    t l s hs pbl p hzt s tl, lgs pstl/x

    th st pls ts ss Lpvtsky Sy pbl plp vz 2008, j sbttl s b t ppst: respostaa uma sociedade desorientada. Dz ss:

    Um pouco em toda parte v-se ao mesmo tempo um sentimento de desorientao

    pt ltv tl s t. (...) S v lg

    t xstt s s spls, s q s gs

    solues da era moderna perderam credibilidade. A economia administrada

    aliu, a social-democracia comea a no dar certo; quanto ao neoliberalismo, no

    ss st lt ss lts ss jsts t plt.

    por isso que, mais do que nunca, deve-se dar lugar imaginao, multiplicidade pjts s (Lpvtsky & Sy, 2011: 148).

    Este cenrio, em que se detecta a alncia dos modelos at ento existentes,t t ltpl ps ts s s h-t. H lgs s, t ptgs Bvt Sz Sts (2007:25) hg pp v slg, q Sociologia dasAusncias Sociologia das Emergncias, pjt l st sproblemas que envolvem nossa sociedade atual e consequentemente estabelecermetas e solues. As estratgias propostas so bastante detalhadas, de maneira a

    torn-las operativas. A ideia central, a partir da Sociologia das Ausncias, pro-z pt tsgssv, slg sgt p ttmostrar que o que no existe produzido ativamente como no existente, umalttv vl, vsvl l hg (Ib.: 28).

    Est pt pssblt, p , psqst lt t ls ss, ss vs s escolas, sobre a produo miditica. Inmeros so os exemplos que poderamoslg sts bjtvs, qsts ls s bls, tb sp q p p t. O sj, vstg, pbsl, lg ttt sts qsts lgs, Usina de Belo Monte, at as do entretenimento, como a edio do 11 BBB. Alis,vstg g , s v lg, s s bgs v s t sst, pt svl.

    S t pt, st t ts s q st psqs , q pss bjts ptls:ls ss s sls. A pt st sps, h--nos para o que Boaventura designa como Sociologia das Ausncias e dasEmergncias. Sg t, xtt tzt sss s

    . N.E. - O Big BrotherBrasil p tp reality show xb plR Glb lvs, j . A El tt s tsts reality. Aplst M HlJ Mlll p , lv p R$ , lh.

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    66 matrizes Ao 6 n 1 jul ./dez .2012 - So Paulo - Brasil RAQUEL PAIVA p. 63-75

    Novas formas de comunitarismo no cenrio da visibilidade total:

    a comunidade do afeto

    slgs q g ss q s p puturo. Sua proposta abandonar a ideia de um uturo infnito e distante

    e concentrar-se no uturo concreto e contrado. A concentrao no uturot, t pst, q s lj, t gde inmeras experincias, que at ento estavam invisveis, aquelas que sepst em carter emergencial.

    NhAN PbA: ANA cNAtRAcNAPara inmeras cincias, e em especial para a sociologia, o ideal da estruturacomunitria se opunha existncia concreta da estrutura societria como um

    lugar ou um momento capaz de produzir um ambiente de maior conraternizaoentre os indivduos. As ideias mais vigorosas em torno da estrutura comunitriasurgiram a partir desse conronto entre as duas ordens. Entretanto, atualmentese diagnostica o surgimento da proposta em uno principalmente da impossi-bilidade de persistncia do modelo capitalista como aplicado at ento. Esse novocenrio tem sido proposto por autores de diversas reas, mas surpreendentementetambm na rea econmica, como por Andr Lara Resende em entrevista noJornal O Globo (Tedim, 2012: 37), citando tambm outro expoente da proposta,o ambientalista ingls Paul Gilding, a partir do seu livroA Grande Ruptura.

    No so autores novos nem revolucionrios. Alis, uma questo de undo

    que este nosso texto pretende trazer pode ser enunciada sinteticamente da se-guinte orma: grande parte da reinterpretao do pensamento comunitarista dosculo passado, ou seja, a tentativa de analisar a estrutura dentro dos cenrios daatualidade, no se encontra reerenciada por novos autores. Por outro lado, boaparte das anlises realizadas no retomada pelos novos proetas e deensores do

    vis comunitarista e de toda a sua temtica. A primeira grande desculpa que aestrutura comunitria, vista pelo prisma da sociologia, atrela-se excessivamentea questes que poderiam ser computadas como dogmticas na atualidade, sejamelas a espacialidade ou, ainda, a vinculao excessiva entre os membros ou,ainda, o rol de obrigaes que os vinculados possuem com o iderio do grupo.

    Emerge outra questo, de undo psicolgico, porque, diante de um cenrio th tz, t s qt pssbl sbvv espcie humana, parece imprescindvel que se busquem pensamentos e teoriasque nunca oram pensados. A hiptese que inserir ordens atualssimas, como qst tlg, xs j s sg sv status quo pl s pssbls sls.

    Dst , q st tg pt t ps conceito de comunidade, inevitvel mencionar os pensadores que realizaram

    . Glg, Pl. Thegreat disruption why

    the climate crisis. NY: St.

    Mts Pss, .

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    Ao 6 n 1 jul. /dez. 2012 - So Paulo - Brasil RAQUEL PAIVA p. 63-75 67

    dossiNew forms of communitarism in the scenario of total visibility:the affection community

    ss ps, s s sl pt slg s Dkh. A vstg pst pt p h q s

    sst pss hpts q, hzt, tps semiose da jangada daMduse, desenha-se uma comunidade estabelecida porls s tv. Sp-s q stt t v-s ss p armao pst tl.

    Faz sentido, assim, retomar algumas das propostas deendidas pelo comu-tst s Chls yl 1990. U spls s ps bl , s s pss s gz xlsvt gs (1994: 117) x ts-parecer as preocupaes daqueles que, naquele momento, discutiam a excessiva

    t q l h razo instrumental, sj, st-t s qsts bsls p v sbv s vs, p xpl, lg. yl j pv q s pqs gpsno sculo passado na luta contra as ameaas s espcies e reservas naturaisv-s xst conscincia coletiva.

    A qst tz p yl ts tsts stv pp xst, p l ss s bs s slts pts tlgs. D t , sss xs s txt tl st s spsbl pbl p qst.N v, pst s gj q pvst p Chstph

    Lash em meados dos anos 1980, para o que nomeou como uma retrica da crise,promovida pela mdia a partir de flmes, revistas, livros, msicas e noticirio que pzs s xtt t pp tv blz. A xssv t tt, pt ss 1960 s Ests Us, pplt, svg s deixa-nos indierentes a apelos undamentados na assero de que algum tipo deemergncia exige nossa ateno (Lash, 1987: 54). A soluo, dizia Lash, que osassuntos energticos, armamentistas e ambientalistas deveriam sair do escopos qsts ts, pls s gts s, v s tts plt, ptv t, sj, pl g .

    , assim, estratgica, a ideia de cidadania. Vale relembrar que esse conceito,conorme o conhecemos, surge num contexto histrico marcado pelas transor-maes do poder tradicional, ou seja, na mudana da sociedade medieval para a , t q s st s s q stta nova ordem social destinada a substituir o trabalho servil pelo trabalho livre.P Hbs (1998: 144), bgs b spsvl pl ts- s sts s. Est t ptt pq ts sdireitos que constituem a cidadania passam por proundas mudanas, visando

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    68 matrizes Ao 6 n 1 jul ./dez .2012 - So Paulo - Brasil RAQUEL PAIVA p. 63-75

    Novas formas de comunitarismo no cenrio da visibilidade total:

    a comunidade do afeto

    sempre transormao da insero do indivduo na estrutura social. A concei-tuao de Marshall (1997) bastante direta porque entende a cidadania como um

    status universal, enriquecida pelos direitos e regulada pelos contratos. Para ele,o status dierencial, associado com classe, uno e amlia, oi substitudo pelo status , q t glsb ql stt sgl (Ib.: 79-80).

    A ideia do contrato social muito cara implementao da cidadania. Ist pq s sb q s ts s hs s vtl, v s ls ss plts q s hs stbl s, j q s gs, lvs. Os ts s hs s stt hst, st sl plt

    realizada a partir de alteraes estruturais nas sociedades e quase sempre ruto lts bts ss ts vg s s s.Ettt, stt t, p s bgt q sj, ps-

    s vs pl stt sl gt ps tv s. ps tz pplt pq s xt s ts q ts ts tst tl t t pt-s, s tsts MhlWlz (1998) Chls yl (1993), ps vstg lg ppl Est t s ss, s q Est t vs spsvl tb pl p boa vida.

    Esta perspectiva importante, principalmente em sociedades como a bra-sl xssv t qzs svs ss tmarcantes. Dentro desse contexto, a insero social passa a ser consideradacomo um ponto de partida bsico, muito aqum da estrutura dos contratossociais e dos ditames legais de toda jurisprudncia dos direitos coletivos. Oentendimento aqui do papel ulcral do Estado para com as coletividadesql q s dever gt s s xstg ts s vs.

    Esta uma discusso que ainda se encontra em aberto diante das enormeszs xls xstts pss t , Bsl. Ott q stt p s b lt xpss pssg lv Rpp Fl. El svlv s cidada-nia de exceo: S t t lb, v, pp, igualdade, ter direitos polticos, enfm ter direitos civis. (....) Cidadania no Brasil pp ! (Fl, 2011: 69). E sg, Fl pss sv s sts t vl , st ps/s Est l ss bs bss, tratamento de esgoto ou mesmo simples entrega de correspondncias. O

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    Ao 6 n 1 jul. /dez. 2012 - So Paulo - Brasil RAQUEL PAIVA p. 63-75 69

    dossiNew forms of communitarism in the scenario of total visibility:the affection community

    Rpp pz t, tt h. Ag s -contra migrada para a internet, gratuita no Morro Santa Marta, Rio de Janeiro,

    onde vive. O lan no o mesmo, visto que muitos moradores, apesar de terempts s, sh q l g.

    Est xpl vl qt l tblh hj Bsl tt q vlv , , pq questo legal, a legislao, os uxos do mercado e suas idiossincrasias mesclam--s tt t s vs, z-s v-

    v ttt s q tvt v spt stg hst tl vlz. Ms h ssterreno ambguo de existncia, o sentimento da cidadania ativa, entretanto,

    ss v ts psptvs, p l ss sbvv.N s p p vst q j pzv Asttls pps

    desenvolvida longamente pelo comunitarista Alasdair MacIntyre (1993) apropsito da cidadania grega, que o importante mesmo o acesso boa vida, ousj, ql q s hs st s lb sb tda excelncia moral, desrutam da participao poltica, compartilham os benss sb ss ss. Est s stg pst spt s sss s sbvv.

    alvez seja precisamente esta caracterstica a da insero integral na vida

    pbl q t lg . A jg cidadania, comunicao comunidade p compreenso do processo comunicativo uma atuao para alm do seu ormatomiditico, resgata a sua concepo etimolgica da busca pela ao comum, car-t q stt t sg Rbt Espst, gg dever para com o outro. Juntas, comunicao, cidadania e comunidade partem bs lz s t st: bs b .

    AtAA P RA cNtRAE s tblhA tradio sociolgica, Nsbt z ql Gg Sl o Freud da sociedade:

    Do mesmo modo que Freud se dedica aos estados e processos que, no inconsciente

    v, st sbjts pst st t, Sl

    s s ls sts sl, s s, ts ts

    elementos eternos que so constitutivos do lao social e que, como o inconsciente

    v, t t p sb stt vl s ss-

    s ss s pls (Nsbt, 1984: 128).

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    70 matrizes Ao 6 n 1 jul ./dez .2012 - So Paulo - Brasil RAQUEL PAIVA p. 63-75

    Novas formas de comunitarismo no cenrio da visibilidade total:

    a comunidade do afeto

    Essa analogia de Simmel com Freud possvel pela noo de comunidade,que aparece com grande destaque na microssociologia simmeliana. Diz Nisbet:

    S st gps t, ls ss

    amizade, a obedincia ou a lealdade, deveria ser encarado como uma pesquisa dos

    lts lls stttvs s, st , s s s

    q ls s stts s sss pss tz lz (Ib.: 127).

    S sss ss spts ts vsts processos impercep-tveis q Mz S llz t

    uma abordagem comunicacional do discurso social (em que comunicao

    sj t st tlgt pl, bs s gls

    lgsts p st s spts t sbjtv tv(psvs p jzs xvs, p vl) q, s

    casos, antecedem ao discurso e ao sentido. A estesia ou esttica, centrada na ideia

    kt senso comum (2006: 92),

    constitui, para ele, o ponto de partida para a legitimao tanto do conhecimentotvl qt v b jst (t) .

    A ls tl G Vtt (2003) sb pressupe uma comunidade aetiva, mantida por um acordo de gostos em torno pbl ptlh ltv vzs sss. Ms q, p-

    tt pt Kt, l s vl plt hgg qssv q tv t q s lq l p

    vs t s ss (Vtt, 1971: 39), p s spt stttv bt h p . El z tb:

    Se a situao aetiva algo que encontramos sem dela podermos dar razo, a

    concluso ser que ela nos pe perante o ato de o nosso modo originrio de

    captar e compreender o mundo ser algo cujos undamentos nos escapam, sem ser,

    p t l, tst tstl z p, j q

    tv pst q s t s p, s

    vl s bt (I).

    Pressupe-se, e este o objeto central desta reexo em que nos associamosaos dois autores citados, que a vinculao aetiva parece estar assumindo a

    vetorizao da relao entre os indivduos movidos muito mais por esta determi-nante do que pelos tradicionais laos de parentesco, consanguneos, territoriais emesmo legais. Diante desse novo cenrio, o que signifca alar em comunidade?E ainda: a sua presena na sociedade atual signifca preocupao eetiva com aexistncia comum, para alm de aspectos meramente legais e agendas polticas?

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    Ao 6 n 1 jul. /dez. 2012 - So Paulo - Brasil RAQUEL PAIVA p. 63-75 71

    dossiNew forms of communitarism in the scenario of total visibility:the affection community

    P t l, pbl t s q tt p MzS, st , t qt l tz ssvl s psss

    de comunicao ou de inormao. De que a comunicao um novo tipo ptv, qs h hj s h v, vz q sltpl s hts lts q s sttgs ss ssbl tg svt p q t s t p s tv.

    E vl t q p st s x S:

    s vl p pt s tv q s

    vem chamando de passagem do sensrio-motriz (caracterizado pela interveno

    gt p tblh) ss sg, q s t

    slt p tv p gstl tpt tlsgnico (principalmente em sua orma indicial) dos dispositivos tcnicos. Em

    outras palavras, a passagem da siderurgia (aqui, metora para a produo

    t ps lz t ts sbstlsts) s-

    g (S, 2006: 72).

    alvez no possamos mais pensar em comunidade no sentido tradicional, spl ql t q pt ll, sts s pvsts p F s (1979) l pts spt. N ps x s,

    entretanto, que em alguns lugares do Pas, na atualidade, a palavra comunidadesubstituiu favela. bastante comum a autonomeao sou de comunidadep pt s s sss sps ppls, t s st ptt s ts l ttl. Est plt stt st ptt xst, turma, uma tribo, ao encontro daquilo a que se reere o socilogo rancsMhl Mfsl (1987).

    pssvl q comunidade de esprito pss vl nitidez traos do que se pretende entender como a comunidade da atualidade.Uma estrutura comunitria que dialoga com o esquema proposto por Esposito, q v t p t pss s lts lg. Ms q s t tt pssbl vl q t, spt, gl tsss ptlh stts. Et q st t sj s spss lhst stt pss bs. A h t s vstgneste sentido e esta se confgura como a prerrogativa de agora em diante:st s tsts pl q sts p comu-nidade do aeto.

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    72 matrizes Ao 6 n 1 jul ./dez .2012 - So Paulo - Brasil RAQUEL PAIVA p. 63-75

    Novas formas de comunitarismo no cenrio da visibilidade total:

    a comunidade do afeto

    RAcNh A cNA AtA p s lg s s vl s pt-

    ls vs, s vt vs ts s lbtsss (Bll, 1992: 123). A ppst Pt Bll s s ts ppss q s z psts 1990,quando j se vislumbrava que, para alm de todo o aparato do consumo,s tb vsls j tls s ts, hvpstls q vs s pzs bs jts: pssblt q l sg terreno comum q ts-s ptv vvl spt lt,

    vv vv jts.

    Neste sentido, retomar o pensamento que Roberto Esposito (1998) desenvol-ve na introduo do seu livro Communitas pode ajudar a tracejar este caminhoq pts st. Espst pt q, t hj, sainda capazes de pensar a comunidade de outra orma que a essencialista. emosps ser em comum p t; t pl ptlht pp.Nss psptv, qdefne o grupo o que ele tem em comum, a propriedade, seja essa propriedade tst s vs, sj tt, s sts.

    N tttv p ss psptv sslst, s ppstvlv pt pp lgg ls plt .

    t-s t pt pt ht xt tls. E pt pt q v tsp-l - t l t tlg plv comunidade, sj, t lt communitas, q s pt s vbls cum munus.O vbl cum, q z com. El xpl q cum ql q s ls t s ts, s l s ts q s l xp st jt. Ptt, cum ql q lg, q jt munus.

    J t munus, xpl, pss ts sgs pssvs, ts lsrelacionadas ideia de dever, de obrigao, de encargo, de uno. So elas onus,ofcium donum (s, ). Ass, munus s xpss relao dos homens uns com outros estabelecida pelo cum, um reconhecimentorecproco, um engajamento comum, uma espcie de comunho. Esposito consi- q ql q s bs t sjalguma coisa de positivo, como um bem ou uma propriedade, nem mesmo umptt ss. P l, q pss dever, tarea, dvida. O q s psss lt q s bga cumprir determinadas tareas. Ou seja, a dvida que todos tm para comts, ss bg, s lt, vz, s.

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    Ao 6 n 1 jul. /dez. 2012 - So Paulo - Brasil RAQUEL PAIVA p. 63-75 73

    dossiNew forms of communitarism in the scenario of total visibility:the affection community

    Para Esposito, ainda na poca moderna, surge o immunitas (ttulo de outrolv s) tps communitas. P l, immunis ql

    q t v, bg l s s hs. El ss gt q lv sjt s st v pg -. E st s tst h . Espst vgt q s vs s s immunis st spss v q s s s ts, st lbs tt q st s vl pssbls q s xph pssvl t s vzh.

    A ideia da gratido como elo de ligao entre os indivduos tambm desenvolvida por outro autor italiano, jornalista da RAI e cientista poltico,

    Mll Vz, s lv pbl lt 1999 tem 2010, Comunitari o liberal: la prossima alternativa?. Depois de um percursott s s s, l pst ptl ql

    v tt t h t gs.Veneziani argumenta que, apesar do sentido da honra ser o ncleo da tica

    t, ss gs s b s t lbl,na verdade um no exclui o outro: honra e generosidade. Ele prope um bonito

    jg pt s stts psts s s ts. P l,honra evoca responsabilidade, mrito. um sentimento aristocrtico e se ope humildade, que uma virtude crist. Humilis vem de hmus que evoca a terra,

    a horizontalidade. Ao passo que honorindica vocao vertical destacando-se dat. Ass, t sttz: h stt vtl hztcomunitrio; a generosidade um sentimento horizontal de uma existncia sbjtvt, t sjt.

    O t z bg sb q v s t t tblh qst honra q tsst, v- aparncia e orma (Veneziani, 1999: 65-66). Delineia, ainda, uma distino entre q p tica da honra, q pss l t ts deveres muito estreitos; tica da generosidade, em reerncia direta com osts hs; tica comunitria, q p l ts s ts p tb ss vs, t sb ppda responsabilidade; e, fnalmente, a tica liberal, como a que ultrapassa osts , b-s qls ss hs.

    Veneziani argumenta que os parmetros de reerncia para a socieda-de segundo a tica comunitria so a tradio e a maioria. Lamenta que natl hj pl sh sb q p h, lbq s s jt plt, l p stt plt(Ib.: 74), pss q gs p l stt plt,

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    74 matrizes Ao 6 n 1 jul ./dez .2012 - So Paulo - Brasil RAQUEL PAIVA p. 63-75

    Novas formas de comunitarismo no cenrio da visibilidade total:

    a comunidade do afeto

    q bl s lts s ts. E q gsabate o limite e nega o conito, ao passo que a poltica evoca a alteridade, o ns

    e eles, j a generosidade nasce a partir da superao desses limites. Finalmente,ps t Hh At (Ib.: 74), p q lts pser uma virtude poltica, conclui expondo como deve ser uma nova culturacomunitria, onde basicamente deveriam ser reinterpretadas as duas propostasts (h gs).

    N s p tz q s p comunidade doaeto, ps q tt p sv txt tl s tlg ltss x ,a partir de novos mecanismos de conexo. As mltiplas ormas de troca de

    sgs sp p st v t st jts q tt s Radeau de la Mduse. Esttxt v s s lg tv p ptl, ps q s s xs t s sjts, s tb s pp l-s t ltv. N g vlhsocial, tecnologia e consumo, por si ss, no ensejam o resgate dos valorese da dimenso aetiva imprescindvel vinculao humana. Na jangada daMduse, a comunidade deveria ser uma emergncia, mas resultou em ausncia.Es st pps s ss ts q s sttxt, t s t st sps:

    O individuo hipermoderno no se contenta com os prazeres consumistas: az

    qst tb t, xp-s, s p, ptp

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