rafael tomaz da silva induÇÃo unipolar: anÁlise

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Federal de Alfenas, Alfenas - MG Rua Gabriel Monteiro da Silva, 714 - Alfenas/MG - CEP 37130-000 Fone: (35) 3299-1000 . Fax: (35) 3299-1063 RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE CONCEITUAL E FENOMENOLÓGICA Alfenas/MG 2013

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Page 1: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOUniversidade Federal de Alfenas, Alfenas - MG

Rua Gabriel Monteiro da Silva, 714 - Alfenas/MG - CEP 37130-000Fone: (35) 3299-1000 . Fax: (35) 3299-1063

RAFAEL TOMAZ DA SILVA

INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE CONCEITUAL EFENOMENOLÓGICA

Alfenas/MG2013

Page 2: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

RAFAEL TOMAZ DA SILVA

INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE CONCEITUAL E

FENOMENOLÓGICA

Trabalho de Conclusão de Curso apre-sentado como parte dos requisitospara a conclusão do curso de Física -Licenciatura da Universidade Federalde Alfenas.Orientador: Prof. Dr. Hugo Bonettede Carvalho.

Alfenas/MG

2013

Page 3: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

RAFAEL TOMAZ DA SILVA

INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE CONCEITUAL E

FENOMENOLÓGICA

A Banca examinadora abaixo assi-nada aprova o Trabalho de Conclusãode Curso apresentado como parte dosrequisitos para a conclusão do cursode Física - Licenciatura da Universi-dade Federal de Alfenas.Orientador: Prof. Dr. Hugo Bonettede Carvalho.

Aprovada em:

Profa. Dra. Juliana Maria Abreu da SilvaMorbec

Universidade Federal de Alfenas

Prof. Dr. Pérson Pereira NevesUniversidade Federal de Alfenas

Page 4: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

Dedico este trabalho a Deus e aos meus pais,

sempre presentes na minha vida.

Page 5: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

Agradecimentos

Agradeço em especial ao Prof. Dr. Hugo Bonette de Carvalho pela pressão, pela per-

cussão e pela força centrípeta. Pressão no sentido de fazer algo bem feito, percussão com as

perguntas que me motivou e a força centrípeta no sentido de me fazer olhar sempre para o

problema central do trabalho, quando ameaçava a dispersar. Agradeço, também, pelo tempo ce-

dido sempre que precisei e pela segurança que me passou durante todo o processo de pesquisa

e aprendizado, sem a qual esse trabalho não teria sido tão prazeroso e construtivo.

A minha família, sempre presente, que me incentivou e apoiou em todos os momentos

dessa caminhada.

Aos meus amigos de graduação que compartilharam comigo bons momentos de alegria

e entreterimento. Além disso, estiveram e me apoiaram nos momentos difíceis da vida.

Ao corpo docente do Curso de Licenciatura em Física da UNIFAL-MG que implementa-

ram os conceitos básicos de física necessário para compreender partes dos assuntos envolvidos

neste projeto.

Gostaria de agradecer também à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas

Gerais pelo apoio finaceiro.

A todos vocês, manifesto meu profundo apreço.

Page 6: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

Navegar é Preciso

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

“Navegar é preciso; viver não é preciso”.

Quero para mim o espírito [d]esta frase,

transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.

Só quero torná-la grande,

ainda que para isso tenha de ser o meu corpo

e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;

ainda que para isso tenha de a perder como minha.

Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue

o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir

para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Fernando Pessoa.

Page 7: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

Resumo

Neste projeto propomos um estudo conceitual e fenomenológico da indução eletromagnética

pela translação e rotação. O estudo será realizado através de diferentes modelos físicos: a in-

dução pela variação de fluxo magnético através de um circuito fechado proposta por Faraday

e adotada por Maxwell; pela força de Lorentz atuando sobre uma carga livre e utilizando a

transformação de campos proposta por Einstein em sua teoria da relatividade restrita e, por fim,

através da eletrodinâmica de Weber. Para o estudo da indução eletromagnética na translação to-

mamos uma espira retangular condutora, localizada nas proximidades de um fio condutor reto e

infinito portando uma corrente constante I. A indução ocorre sobre a espira metálica quando há

um movimento relativo de translação entre o fio reto condutor e a espira. A configuração pra o

estudo da indução na rotação utilizará duas cascas esféricas concêntricas dielétricas, carregadas

com cargas opostas girando com velocidades angulares constantes em relação ao laboratório. A

rotação gera um campo magnético constante no interior das cascas esféricas. Um disco metá-

lico será colocado no equador das cascas, perpendicular ao campo magnético. Quando o disco

gira uma diferença de potencial é induzida entre o centro e a periferia do disco. Estas duas

configurações nos permitirá explorar as diferenças conceituais entre os três modelos teóricos e

suas consequentes implicações para a interpretação da realidade física.

Palavras-chave: Indução eletromagnética, transformação de campo, força de Weber.

Page 8: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

Abstract

In this project we propose a conceptual and phenomenological study of electromagnetic induc-

tion due to translational and rotational relative motion. The study will be performed through

different physical models: by the Maxwell and Faraday’s law related to the rate of change in the

magnetic flux trough a closed circuit; by the Lorentz’s force acting over a free charge and the

transformation of fields proposed by Einstein in his special theory of relativity; and, finally, by

Weber’s electrodynamics. For the study of electromagnetic induction by translational motion

we will use a conductor rectangular wire loop located near an infinite straight wire carrying a

steady current I. The induction takes place over the wire loop when there is a relative trans-

lational motion between both parts. The study configuration for the case of electromagnetic

induction by rotational motion will use two dielectric concentric spherical charged shells spin-

ning with constant angular velocities. The rotation leads to a constant magnetic field inside the

shells. A metallic disk will be placed perpendicular to the magnetic field. When there is a rela-

tive rotational motional between both parts an electric potential difference is induced between

the center and the periphery of the disc. With these two configurations we will explore the

conceptual differences between the three theoretical models and their consequent implications

to the interpretation of the physical reality.

Key words: Electromagnetic induction, field transformation, Weber’s force.

Page 9: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

Lista de Figuras

Figura 3.1 Configuração dos circuitos utilizados na análise da indução por translação. . 16

Figura 3.2 Arranjo para a modelagem da indução unipolar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Figura 4.1 Configuração da análise da indução por translação no referencial O. . . . . . . . 20

Figura 4.2 Configuração da análise da indução por translação no referencial O’. . . . . . . . 21

Figura 4.3 Carga se movendo em direção a corrente I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

Page 10: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

Sumário

1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2 Revisão Bibliográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

3 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

4 Resultados e Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

4.1 A INDUÇÃO POR TRANSLAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

4.1.1 A lei do fluxo proposta por Faraday e adotada por Maxwell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

4.1.2 A força de Lorentz e a transformação relativística dos campos . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

4.1.3 A indução pela eletrodinâmica de Weber . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

4.2 A INDUÇÃO POR ROTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

4.2.1 Indução Inercial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

4.2.2 Indução Unipolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

4.2.3 Indução Weberiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

5 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Referências Bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

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Page 11: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

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1 Introdução

Um dos assuntos importantes do eletromagnetismo clássico é a indução eletromagnética. Este

fenômeno teve e tem implicações prático-tecnológicas extremamente importantes através do

desenvolvimento de geradores elétricos e sistemas de radiofrequência. A indução eletromagné-

tica pode ser associada a movimentos de translação e rotação dos circuitos elétricos e imãs que

compõem o sistema. Neste trabalho pretendemos analisar diferentes modelos teóricos para a

explicação deste fenômeno, nos concentrando inicialmente na indução por translação e, em um

segundo momento, na indução por rotação.

A indução de corrente elétrica foi descoberta por M. Faraday (1791-1867) em 1831.

Ele descobriu que podia induzir uma corrente elétrica em um circuito secundário variando a

corrente em um circuito primário. Enquanto a corrente no primário permanecesse constante

nada era induzido no circuito secundário se não houvesse movimento entre eles. Ele também

verificou que ocorria indução mantendo-se a corrente no primário constante e movendo um

circuito em relação ao outro. Mais ainda, também podia obter a corrente induzida no secundário

aproximando ou afastando um imã permanente, ou mantendo o imã em repouso em relação

à terra e aproximando ou afastando o circuito secundário, este efeito é o que denominamos

de indução por translação. Desde a descoberta de tal fenômeno surgiram muitas teorias para

explicá-lo.

A indução por rotação, é usualmente conhecida por Indução Unipolar, sendo essa tam-

bém descoberta por Faraday em 1832. Nesta experiência temos um imã permanente em forma

de um cilindro. Este imã pode girar em relação ao laboratório ao redor de seu eixo de sime-

tria. Em cima do imã encontra-se um disco metálico que também pode girar em relação ao

laboratório ao redor do mesmo eixo de simetria do imã. Faraday colocava um galvanômetro

com contatos deslizantes entre o centro e a borda do disco, tal que pudesse medir uma corrente.

Obteve que quando todos eles estão em repouso nenhuma corrente é medida no galvanômetro.

Page 12: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

11

Quando girava apenas o disco encontrava uma corrente. Quando girava o imã junto com o disco

(com as mesmas velocidades angulares) encontrava a mesma corrente. Já quando girava apenas

o imã não encontrava corrente. Essa é uma discussão em aberto a mais de 150 anos sem que

se chegue a uma conclusão definitiva. Faraday analisava suas experiências em termos de linhas

de força, porém entre 1832-1851 mudou de opinião se elas giravam ou não com o imã . Outras

explicações falam do campo magnético sem especificar as linhas de campo. Aqui a questão é

saber se quando giramos o imã simétrico ao redor de seu eixo de simetria, se ele gera ou não

um campo elétrico no espaço, e o valor deste campo elétrico. Como o problema envolve rota-

ções e não apenas translações a velocidades constantes, a situação é relativamente complicada.

Uma questão similar é sobre a explicação deste fenômeno pela lei dos fluxos (a diferença de

potencial ou força eletromotriz induzida é igual à taxa em que muda o fluxo magnético através

do circuito condutor). Feynman, por exemplo, afirma que a experiência de Indução Unipolar

é uma exceção à lei dos fluxos, ou seja, é um exemplo onde ela não pode ser aplicada [1]. Já

outros autores discordam de Feynman neste ponto [2, 3].

Page 13: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

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2 Revisão Bibliográfica

Desde a descoberta da indução eletromagnetica surgiram muitas teorias para explicá-lo. Apre-

sentaremos algumas delas: (1) A teoria de Faraday adotada também por Maxwell (1831-1879),

sobre a variação do fluxo das linhas de campo magnético no circuito secundário. (2) A relacio-

nada com a formulação de H. A. Lorentz (1853-1928) para a força eletromagnética. Aqui surge

uma questão: em relação a qual referencial devemos associar a velocidade que nela aparece?

Dentro desta perspectiva e das consequências filosóficas relacionadas a ela, temos a formula-

ção de A. Einstein que levou à teoria da relatividade restrita. Por fim, (3) a proposta dada pela

eletrodinâmica de W. Weber (1804-1891) que depende somente das distâncias relativas, das

velocidades relativas e das acelerações relativas entre as cargas interagentes.

A explicação de Faraday para a indução de corrente elétrica quando uma fonte de campo

magnético (imã permanente) se aproxima de um circuito, ou vice-versa, é baseada na existência

real de linhas de campo que cortam o circuito elétrico (variação do de fluxo magnético através

do circuito) [4]. Para Faraday, tais linhas de campo acompanham qualquer movimento trans-

lacional do imã. Ou seja, se o imã translada em relação ao laboratório com uma velocidade

constante de 5 m/s, as linhas do campo magnético vão se mover em relação ao laboratório com

5 m/s. Maxwell tinha o mesmo ponto de vista de Faraday. No §531 de seu famoso livro “Um

Tratado sobre Eletricidade e Magnetismo”, resumiu as experiências de Faraday na seguinte

formulação [5]:

O conjunto destes fenômenos pode ser resumido em uma única lei. Quandoo número das linhas de indução magnética que atravessam um circuito secun-dário na direção positiva é alterado, uma força eletromotriz age ao redor docircuito, a qual é medida pela razão de diminuição da indução magnética atra-vés do circuito (MAXWELL, 1954, p. 166).

Maxwell também afirmou que as linhas de força magnética acompanham o movimento

translacional de sua fonte em relação à Terra. No §541 do Tratado afirmou:

A concepção que Faraday tinha da continuidade das linhas de força exclui apossibilidade delas começarem a existir repentinamente num lugar onde não

Page 14: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

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havia nenhuma antes. Se, portanto, o número de linhas que atravessam umcondutor é alterado, só pode ser devido ao movimento do circuito através daslinhas de força, ou, senão, de outro modo pelas linhas de força movendo-se através do circuito. Em qualquer caso uma corrente é gerada no circuito(MAXWELL, 1954, p. 174).

Em 1895 o físico teórico H. A. Lorentz apresentou a seguinte expressão para a força

(~FL) eletromagnética atuando sobre uma carga q:

~FL = q(~E)+q(~v×~B) . (2.1)

Nesta equação, ~E é o campo elétrico atuando sobre a carga e ~B é o campo magnético

atuando sobre ela quando se desloca com velocidade~v. Hoje em dia esta expressão é conhecida

como força de Lorentz. Provavelmente Lorentz obteve a parte magnética a partir da força de

Grassmann entre elementos de corrente. Segundo Whittaker, os primeiros a chegarem à esta

força magnética foram J. J. Thomson (1856-1940) e O. Heaviside (1850-1925) em 1881 e 1889,

respectivamente [6]. Como dito anteriormente, nesta expressão surgem ambiguidades quanto a

que referencial devemos considerar a velocidade~v. Ou seja, devemos considerar~v como sendo

a velocidade da carga q em relação a qual corpo, grandeza ou referencial? No primeiro artigo

publicado por Thomson sobre este tema afirmou o seguinte [7]:

Deve ser observado que aquilo que por conveniência chamamos de velocidadereal da partícula é, de fato, a velocidade da partícula relativa ao meio através doqual ela está se movendo, meio cuja permeabilidade magnética é µ (THOM-SON, 1881, p. 248).

Para Thomson a velocidade não é relativa ao éter nem relativa ao observador. Quanto a

Heaviside, podemos assumir que seu ponto de vista é o mesmo de Thomson. Isto pode ser visto

pelo título de seu trabalho de 1889, “Sobre os efeitos eletromagnéticos devido ao movimento da

eletrificação [cargas elétricas] através de um dielétrico”. Lorentz também não fez nenhuma

alusão à questão quando apresentou a força magnética. Como Lorentz ainda aceitava o éter

de Maxwell, é natural que para ele esta velocidade fosse em relação ao éter e não em relação

a qualquer outro referencial. Uma prova conclusiva desta afirmação se encontra no posterior

trabalho de Lorentz publicado em 1931: Lectures on the Theoretical Physics [8].

Page 15: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

14

Já em 1905, Albert Einstein publicou seu trabalho teórico da relatividade restrita [9]

tendo como motivação assimetrias encontradas a partir de diferentes referenciais adotados para

a velocidade da força magnética. Citando o próprio Einstein neste mesmo trabalho:

Como é sabido a Eletrodinâmica de Maxwell - tal como atualmente se concebe- conduz, na sua aplicação a corpos em movimento, a assimetrias que nãoparecem ser inerentes ao fenômeno (EINSTEIN, 1978, p. 47).

Tal assimetria citada por Einstein na verdade não existe na eletrodinâmica de Maxwell,

como vimos anteriormente. Ela só aparece como uma interpretação específica do significado

da velocidade que aparece na força de Lorentz. Para Einstein, fenômenos físicos deveriam ser

invariantes mediante a mudança de um referencial inercial para outro, o que não se constatava

a partir das transformações galileanas para as coordenadas espaciais e para o tempo aplicadas

na força de Lorentz. Einstein, em face às frustradas tentativas de se identificar o movimento da

Terra relativo ao éter, após obter as transformações de Lorentz para as coordenadas espaciais

e para o tempo, as aplicou para a componente magnética de força de Lorentz. Passa então a

interpretar~v como sendo a velocidade em relação a um referencial inercial ou a um observador.

A diferença entre a antiga visão do eletromagnetismo e a visão baseada na teoria da relatividade

é que em um referencial onde uma carga se move com~v na presença de um campo magnético,

atua sobre essa carga uma força magnética (~FL = q~v×~B), já em um outro referencial inercial

que se desloca com a mesma velocidade da carga, isto é, em um referencial onde a velocidade da

carga é zero (~v′ = 0), a força que atua nesta carga será de natureza elétrica (~F′L = q~E ′). Einstein

está introduzindo forças que dependem do sistema de referência, isto é, forças que dependem

do estado de movimento entre o observador e o corpo teste.

A eletrodinâmica de Weber é contemporânea aos trabalhos de Maxwell. Weber e Maxwell

mostraram que é possível derivar o conjunto das equações fundamentais do eletromagnetismo

(lei de Gauss, lei circuital magnética, lei da ausência de monopólos magnéticos e lei de indu-

ção de Faraday) a partir da força de Weber, sendo, portanto, completamente compatível com

o eletromagnetismo de Maxwell. Fundamentalmente a eletrodinâmica de Weber se distingue

da eletrodinâmica de Maxwell em dois pontos: primeiro com relação à força que atua sobre as

cargas e, em segundo lugar, com relação ao conceito de campo. A força de Weber entre cargas

Page 16: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

15

elétricas leva em consideração não só as distâncias relativas entre as cargas como na força de

Coulomb, mas também as velocidades relativas e as acelerações relativas entre elas. Para Weber

não existem campos e todos os fenômenos eletromagnéticos são sempre deduzidos a partir das

forças de interação entre cargas diferentes do sistema [10].

Page 17: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

16

3 Metodologia

Para implementarmos o estudo da indução elétrica por translação tomamos uma espira retan-

gular condutora de dimensões a e b, localizada nas proximidades e no mesmo plano de um fio

condutor reto e infinito portando uma corrente constante I, Figura 3.1.

Figura 3.1: Configuração dos circuitos utilizados na análise da indução por translação.

Colocamos os dois circuitos em um plano xy, tendo ambos a liberdade para se movi-

mentarem apenas na direção y. A principio admitamos um referencial (O) onde o fio condutor

esteja parado e a espira esteja em movimento de aproximação do fio com velocidade−v j. Num

segundo momento admitimos um novo referencial (O’) onde a espira esteja parada e o fio se

aproximando com velocidade +v j da espira. Nesta configuração a indução eletromagnética é

comumente denominada de indução por translação. Nas duas situações descritas anteriormente,

calculamos a força eletromotriz induzida (fem) na espira retangular vista no sentido anti-horário,

através dos três modelos propostos para o estudo.

No estudo da indução por rotação, para modelar teoricamente os casos em que o imã gira

utilizamos duas cascas esféricas dielétricas de raio R+ dR e R concêntricas e carregadas com

cargas Q+ = Q e Q− = −Q respectivamente. Colocamos cada qual girando com velocidades

angulares ~Ω+ = Ω+z e ~Ω− = Ω−z em relação ao laboratório. No interior das casacas teremos

Page 18: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

17

um campo magnético uniforme na direção do eixo z de acordo com a física clássica dado por

[11]:

~B =µ0Q(Ω+−Ω−)

6πRz (3.1)

Podemos relacionar ~Ω+ com a velocidade angular de rotação do imã e ~Ω+−~Ω− com a

velocidade angular de deriva dos elétrons responsáveis pela corrente que gera o campo magné-

tico.

Colocaremos um disco metálico de raio r no equador das cascas, perpendicular ao campo

magnético e girando com velocidade angular ~ω = ω z. A figura 3.2 ilustra o arranjo. Utilizare-

mos a força de Lorentz e a força de Weber para calcular a diferença de potencial induzida entre

a borda e o centro do disco. As forças em questão forçam as cargas livres no disco, elétrons, a

se concentrarem na periferia ou na borda do disco. Tal distribuição de cargas gera um campo

elétrico. No equilíbrio as forças de indução e elétrica se cancelam mutuamente. A força que

age em uma carga q na presença de um campo elétrico é ~F = q~E = −∇φ , onde φ é o poten-

cial elétrico onde a carga é colocada. Perfazendo a integral de linha sobre ~E entre dois pontos

obtemos a diferença de potencial induzida:

∆φ = φb−φa =∫ b

a~E ·d~s . (3.2)

Figura 3.2: Arranjo para a modelagem da indução unipolar.

Page 19: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

18

4 Resultados e Discussão

4.1 A INDUÇÃO POR TRANSLAÇÃO

4.1.1 A lei do fluxo proposta por Faraday e adotada por Maxwell

Faraday sintetizou os resultados de suas experiências em uma lei, a chamada lei de Faraday

da indução. Esta lei diz que o valor da fem induzida em uma espira é igual a menos a taxa de

variação temporal do fluxo magnético (ΦB) através da área delimitada pela espira. Assim

f emF =−dΦB

dt=−

∮∂~B∂ t·d~s . (4.1)

O vetor campo magnético ~B criado pelo fio portando corrente constante a uma distância

y = y1− y2 sobre a espira é dado por

~B =µ0I

2π|y|k . (4.2)

Aqui µ0 = 4π×10−7 Wb/Am é a permeabilidade do espaço livre e k é o vetor de módulo

unitário apontando na direção positiva do eixo z. O fator 1/y indica que o campo normal ao plano

da espira varia ao longo da direção do eixo y. Definindo o elemento de área infinitesimal d~a

paralelo ao campo magnético ~B (Fig. 3.1), o fluxo magnético será

ΦB =∫~B ·d~a =

µ0I2π|y|

ln[

2|y|+a2|y|−a

]. (4.3)

Portanto, de acordo com a equação (4.1), a fem induzida na espira é

f emF =−dΦB

dt=

2µ0Iba(v1− v2)

π(4|y|2−a2), (4.4)

onde v1 = dy1/dt e v2 = dy2/dt são as velocidades da espira e do fio, respectivamente,

em relação a um referencial inercial.

Page 20: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

19

No referencial O (Fig. 4.1) temos o fio parado, ~v2 = 0, e a espira se movendo com

velocidade~v1 =−v j. Neste referencial obtemos a fem da seguinte forma:

f emF =− 2µ0Ibavπ(4|y|2−a2)

. (4.5)

Já para o referencial O’ (Fig. 4.2) a espira se encontra parada,~v1 = 0, e o fio se aproxima

da espira com velocidade~v2 = v j. Temos então:

f emF =− 2µ0Ibavπ(4|y|2−a2)

. (4.6)

Observamos que os dois referenciais prevêem a mesma f emF . Isto nos leva a concluir

que a teoria de variação de fluxos de Faraday/Maxwell não depende do referencial de observa-

ção. Estes resultados estão em acordo com o que intuitivamente esperaríamos, pois a f emF não

pode depender do ponto de vista do observador e assim, ao contrário da afirmação de Einstein,

concluímos que não existem assimetrias no eletromagnetismo de Maxwell.

4.1.2 A força de Lorentz e a transformação relativística dos campos

Para o cálculo da fem utilizando a força de Lorentz devemos partir da definição fundamental de

fem, que é o trabalho por unidade de carga feito sobre uma partícula carregada. Assim,

f emL =∮ dW

q=∮ ~FL

q·d~s . (4.7)

Aqui dW é o elemento de trabalho realizado pela força de Lorentz (FL). Isto implica

que, para haver uma força atuando sobre a partícula carregada em movimento, deve haver no

espaço onde ela se encontra um campo elétrico ou um campo magnético.

Inicialmente consideramos um referencial inercial que se encontra sobre o fio portando

corrente, referencial O. Aqui o fio está parado, ~v2 = 0, e a espira se move com velocidade

~v1 =−v j, (Fig. 4.1).

Page 21: RAFAEL TOMAZ DA SILVA INDUÇÃO UNIPOLAR: ANÁLISE

20

Figura 4.1: Configuração da análise da indução por translação no referencial O.

Nesta configuração, as cargas livres da espira percebem apenas um campo magnético

gerado pela corrente no fio condutor dado pela equação (4.2). Assim a força de Lorentz se

reduz a ~FL = q(~v×~B). A f emL induzida na espira será dada, nestas condições, por

f emL =∮ ~FL

q·d~s =

∮ [− vµ0I

2π|y|i]·d~s . (4.8)

Sendo d~s = dxi+dy j reescrevemos a integral anterior como

f emL =∫ (2)

(1)

[− vµ0I

2π|y|i]·dxi+

∫ (3)

(4)

[− vµ0I

2π|y|i]·dxi . (4.9)

De onde obtemos

f emL =− 2µ0Ibavπ(4|y|2−a2)

. (4.10)

Valor igual ao obtido pela lei de indução de Faraday/Maxwell.

Vamos agora para o referencial O’. Aqui a espira se encontra parada, ~v1 = 0, e o fio se

move com velocidade~v2 =−v j. No referencial O’ que acompanha a carga na espira (Fig. 4.2),

a carga terá uma velocidade nula. O campo eletrostático continua sendo nulo. Portanto, deste

ponto de vista, a força de Lorentz é nula. Consequentemente, a fem induzida na espira também

será nula. Existe aqui um problema. No referencial O temos uma fem induzida na espira dada

pela equação (4.10). Já no referencial O’ não há nenhuma fem. A fem não pode depender do

sistema de referências adotado para observação.

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21

Figura 4.2: Configuração da análise da indução por translação no referencial O’.

Para resolver esse problema, Einstein propôs que os campos têm que ser relativos. Ele

se apropria das transformações de Lorentz e as usa para os campos ~E e ~B. Estas transformações

são dadas por [1]:

~E′‖ = ~E‖ , ~B

′‖ = ~B‖ , (4.11)

~E′⊥ = γ(~E +~v×~B) , ~B

′⊥ = γ

(~B−~v×~E

c2

). (4.12)

Aqui γ = 1/√

1− v2/c2 é o denominado fator de Lorentz, com c = 3×108 m/s sendo o valor

da velocidade da luz no vácuo.

Como não há campo elétrico no referencial (O) e o campo magnético é perpendicular

à velocidade, então as componentes paralelas da equação (4.11) são nulas. Somente as com-

ponentes perpendiculares são diferentes de zero. Como as velocidades envolvidas no problema

são muito menores que c, tomamos γ ∼= 1. Utilizando o campo magnético dado pela equação

(4.2) obtemos

~E′⊥ =~v×~B =− vµ0I

2π|y|i , (4.13)

~B′⊥ = ~B⊥ =− µ0I

2π|y|k . (4.14)

Visto que a velocidade das cargas livres é zero neste referencial (O’), a força de Lorentz

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somente terá uma componente elétrica. Assim

~F′L = q~E ′ =−qvµ0I

2π|y|i . (4.15)

Usando a definição de fem dada pela equação (4.8), porém agora no referencial O’,

temos

f emL =∮ ~F

′L

q·d~s =

∮ [− vµ0I

2π|y|i]·d~s . (4.16)

De onde finalmente obtemos

f emL =− 2µ0Ibavπ(4|y|2−a2)

. (4.17)

Mesmo resultado obtido para o referencial O (eq. 4.10), ou seja, outra vez obtém-se que

a fem é independente do referencial de observação. A femL possui ainda o mesmo valor obtido

pela variação de fluxo de Faraday/Maxwell. É importante observar que aqui foi necessário

adotar a ideia de campos dependentes dos referenciais.

4.1.3 A indução pela eletrodinâmica de Weber

Aqui não precisamos dos conceitos de campo elétrico e magnético, o fundamental é a força de

interação entre as cargas. A força de Weber ~F21 exercida pela carga q2 sobre a carga q1 é dada

por [10]:

~F21 =q1q2

4πε0

r12

r212

(1−

r212

2c2 +r12r12

c2

). (4.18)

Aqui r12 = |~r12| = |~r1−~r2| é a distância entre as cargas q1 e q2, r12 = dr12/dt é a

velocidade relativa entre elas, r12 = d2r12/dt2 é a aceleração relativa entre elas, r12 = (~r1−

~r2)/r12 é o vetor unitário apontando de q2 para q1, c é a velocidade da luz e ε0 = 8,85×

10−12 C2N−1m−2 é a permissividade do espaço livre.

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A única quantidade importante é a velocidade relativa entre o que chamamos tradici-

onalmente de fonte do campo magnético (ou circuito primário) e o circuito elétrico onde está

sendo induzida a fem. Assim, a indução é sempre interpretada da mesma maneira, sem nenhuma

distinção entre cada caso estudado.

Figura 4.3: Carga se movendo em direção a corrente I.

A força de um fio condutor eletricamente neutro carregando uma corrente constante (I)

que se move em um sistema de eixos cartesianos com velocidade constante~v2, sobre uma carga

q1 também se movendo em relação ao mesmo sistema com velocidade constante~v1 (Fig. 4.3),

é dada por [10]

~FW = q1~EM +q1(~v12×~B2) , (4.19)

na qual:

~v12 =~v1−~v2, ~B2 =µ0I

2πρ1φ1 e ~EM =−µ0I|VD|

4πρ1ρ1 . (4.20)

Nas equações acima, escritas em coordenadas cilíndricas, temos que~r1 = ρ1ρ1, φ1 é o

ângulo azimutal e ρ1 é a distância de q1 ao fio. A velocidade VD é definida como velocidade

de migração ou drifting dos elétrons. O termo associado com a grandeza ~B2 corresponde à

componente magnética obtida classicamente através da força de Lorentz (eq. 2.1). Observamos

então que a diferença básica entre Weber e Lorentz se resume a uma força adicional radial so-

bre q1 dada por q1~EM. Esta força não carrega dependência com a velocidade de q1, de forma

que podemos interpretar ~EM como um campo elétrico. ~EM difere conceitualmente do campo

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eletrostático, uma vez que admitimos inicialmente ser o fio eletricamente neutro. Este campo

tem sua origem nas diferenças de velocidades entre os portadores de carga elétrica no fio (elé-

trons negativamente carregados em movimento e íons positivos em repouso) e, portanto, não

tem análogo no eletromagnetismo clássico.

Calculamos a fem nos dois sistemas de referência descritos anteriormente, O (Fig. 4.1) e

O’ (Fig. 4.2). Observamos que a troca de um referencial por outro em nossas análises não

altera os campos ~EM e ~B2 da equação 4.20. Atenção especial deve ser dada a velocidade

~v12. No referencial O a espira encontra-se parada (~v1 = 0) e o fio condutor em movimento

de aproximação da espira com velocidade ~v2 = v j. Temos aqui que a velocidade relativa será

~v12 =~v1−~v2 =−v j. Já para o referencial O’ temos o fio parado (~v1 = 0) e a espira se movendo

com velocidade ~v1 = −v j. Isto nos leva à mesma velocidade relativa obtida para o referencial

O, ~v12 =~v1−~v2 = −v j. Dessa forma podemos concluir que a fem calculada para a força de

Weber será a mesma em ambos os referenciais. Outra vez a fem é independente do referencial

de observação. Assim a fem definida em (4.7) para a força de Weber integrada sobre todo o

circuito é dada por

f emW =∮ [−µ0IVD

4π|y|k− µ0Iv

2π|y|i]· [dxi+dy j] . (4.21)

De onde obtemos

f emW =− 2µ0Ibavπ(4|y|2−a2)

. (4.22)

O cálculo de femW tem como resultado um valor idêntico ao obtido através dos dois

modelos anteriores. A força eletromotriz femW é calculada a partir da força de Weber entre as

cargas elétricas em movimento tanto no fio quanto na espira e depende apenas das grandezas

físicas relativas: posição, velocidade e aceleração entre as cargas. Isto significa que a femW tem

o mesmo valor para todos os observadores, mesmo quando os observadores não forem inerciais.

Em resumo, na indução por translação os resultados obtidos pelos três modelos teóricos

estudados são idênticos, de modo que não podemos determinar a velocidade, do ponto de vista

conceitual, de cada um dos modelos propostos.

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4.2 A INDUÇÃO POR ROTAÇÃO

Nesta parte de nosso trabalho apresentaremos o cálculo das diferenças de potencial induzidas no

disco metálico devido ao movimento de rotação. Inicialmente consideramos os efeitos inerciais,

depois faremos as contas respectivas utilizando apenas a força de Lorentz e a força de Weber.

Considerando que não há variações de fluxo magnético a partir dos quais poderíamos aplicar

a lei de indução de Faraday, como sugere Feynman [1], e nem deslocamentos relativos que

permitem aplicar as regras de transformações de campos defenidas na relatividade restrita de

Einstein. Em todos os casos supomos que a força elétrica devido à indução equilibra a força

mecânica que coloca as cargas em movimento de rotação.

4.2.1 Indução Inercial

Independente de termos forças externas agindo sobre as cargas do disco, o disco se torna po-

larizado devido a efeitos inerciais quando em movimento de rotação. Os elétrons passam a se

concentrar na periferia do disco deixando cargas positivas fixas no centro. A este efeito chama-

mos de Indução Inercial. Consequentemente podemos medir uma diferença de potencial entre

o centro e a borda do disco mesmo quando não há campo magnético externo ao disco.

Em coordenadas cilíndricas. Consideremos um elétron livre numa posição ρ a partir do

centro do disco em movimento circular com aceleração centrípeta dada por ~ac = −ω2ρρ . A

distribuição de cargas gerada pela inércia cria um campo elétrico ~EI . No equilíbrio, quando a

distribuição de cargas não muda mais com o tempo, temos q~EI = ~Fc = m~ac. A diferença de

potencial gerada entre a borda e o centro do disco será:

∆φI = φr−φ0 =−∫ r

0~EI · ~dρ =

mω2r2

2e. (4.23)

Podemos estimar a ordem de grandeza desta indução: tomemos um disco de r = 0.1 m

que rode com velocidade angular ω = 3000 rpm ∼= 314 rad/s. Lembrando que para um elétron

q =−e =−1,6×10−19 C e m = 9,1×10−31 kg. Encontramos uma diferença de potencial da

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ordem de ∆φI ≈ −3 nV, que é perfeitamente mensurável para os equipamentos que dispomos

atualmente.

4.2.2 Indução Unipolar

Como colocado anteriormente, no interior das cascas teremos um campo magnético uniforme

na direção do eixo z, que de acordo com a física clássica é dado pela eq. (3.1). Admitamos que

Ω+ =Ωi e Ω−=Ωi+Ω f . Portanto, dessa maneira consideramos o imã girando com velocidade

angular Ωi, uma vez que as cargas positivas permanecem imóveis em relação a rede atômica do

imã. Por sua vez, o campo magnético do imã é função diretamente apenas de Ω f , que pode ser

considerada a velocidade angular de deriva dos elétrons responsáveis pela corrente que gera o

campo magnético ~B. Nesses termos reescrevemos

~B =µ0QΩ f

6πRz . (4.24)

Para calcular a diferença de potencial induzida no disco utilizamos a força de Lorentz,

considerando apenas a força magnética:

~FM = q~v×~B . (4.25)

Uma carga q no disco está em movimento circular com velocidade~v = ωρφ . Assim

~FM =qµ0ωρQΩ f

6πRρ . (4.26)

No equilíbrio as forças de indução e elétrica são tais que ~Fe = −~FM, q~EM = −q~v×~B

(lembrando que m~ac, a força centrípeta, já foi balanceada por q~Ei). A partir da equação 3.2

chegamos a diferença de potencial induzida

∆φM =−∫ r

0

~FM

q· ~dρ =

µ0ωr2Q+

12πRΩ f =

ωr2

2B . (4.27)

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Podemos estimar a ordem de magnitude deste efeito supondo um campo magnético de

100 G= 10−2 T. Com r = 0,1 m e ω = 314 rads/s, como no caso da Indução Inercial, obtemos

∆φM = 15.7 mV, tal que ∆φM/∆φI = 5×106. O que significa que na prática podemos desprezar

a Indução Inercial.

Observamos ainda que a diferença de potencial induzida no disco ∆φM, a Indução Uni-

polar, não depende da rotação do imã (Ωi). Portanto, se mantemos o disco parado (ω = 0) não

teremos indução, independente se o imã esteja parado ou se movimentando com velocidade

angular igual ou mesmo diferente da do disco.

4.2.3 Indução Weberiana

Na eletrodinâmica de Weber uma casca esférica girante carregada exerce uma força sobre uma

carga elétrica, interna à casca, que tem uma velocidade~v e uma aceleração, devido a uma força

externa,~a dada por [14]:

~FW =µ0qQ12πR

[~a+~Ω× (~Ω×~r)+2~v×~Ω+~r× d~Ωdt

] . (4.28)

Em nosso sistema as velocidades angulares das cascas são constantes e as cargas livres

em questão estão contidas no disco metálico, de modo que a aceleração, a velocidade e a posição

de uma carga interna do disco são respectivamente ~ac = −ω2ρρ , ~v = ωρφ e~r = ρρ . Nestas

condições a força das cascas sobre uma carga q é

~FW =−µ0qρ

12πR[Q+(ω−Ω+)

2 +Q−(ω−Ω−)2]ρ . (4.29)

Aqui os elétrons livres do disco metálico serão acelerados para o centro ou para a borda

do disco dependendo do valor dos parâmetros a serem considerados. A nova distribuição de

cargas gera novamente um campo elétrico, cuja força equilibra a força de Weber ~FE = −~FW .

Perfazendo a integral da equação 3.2 novamente obtemos:

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∆φW =− µ0r2

24πR[Q+(ω−Ω+)

2 +Q−(ω−Ω−)2] . (4.30)

Lembrando que Q+ = Q, Q− = −Q e admitindo mais uma vez Ω+ = Ωi, imã girando

com velocidade Ωi, e Ω− = Ωi +Ω f , campo magnético função apenas de Ω f , a diferença de

potencial induzida por Weber fica:

∆φW ==ωr2B

2− Ωir2B

2+

Ω f r2B4

. (4.31)

Como Ω f está relacionada à velocidade angular de deriva dos elétrons no imã ela é

de ordem pequena. Lembrando que B é função direta de Ω f (equação 4.24), então o último

termo da equação anterior é proporcional a Ω2f , podendo ser desprezado. Assim a diferença de

potencial induzida por Weber no disco pode ser aproximada por

∆φW ∼=(ω−Ωi)r2B

2. (4.32)

Observamos aqui que ∆φW depende das velocidades angulares relativas. Se mantemos

o imã parado (Ωi = 0) e rodamos o disco (ω = ω0) obtemos o mesmo valor para a diferença de

potencial induzida obtido pela força de Lorentz. Entretanto, diferente do ponto de vista clássico,

se mantivermos o disco parado (ω = 0) e rodarmos o imã com velocidade igual ao caso anterior,

porém, no sentido contrário (Ωi =−ω0) resgatamos o mesmo valor para a diferença de potencial

induzida. Ainda mais, se rodamos o disco e o imã com as mesma velocidade (ω = Ωi) então

não há diferença de potencial induzida, deixando claro que na eletrodinâmica de Weber o que

realmente importa é o movimento relativo entre as partes envolvidas.

Portanto, diferentemente do caso da indução por translação, podemos prever teorica-

mente diferenças entre os resultados experimentais, de modo que poderíamos determinar a va-

lidade entre os modelos entre os modelos teóricos.

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5 Conclusão

De maneira geral, o modelo proposto por Faraday/Maxwell pela variação do fluxo magnético

é relativamente simples e parte não só da concepção da existência dos campos, mas também

do movimento destes campos junto com suas respectivas fontes. Podemos classificar o modelo

proposto por Lorentz/Einstein como o mais complexo, uma vez que introduz a ideia de cam-

pos dependentes do referencial de observação. Apesar destas novas ideias, pouco intuitivas,

a proposta de Einstein é mais consistente em face das importantes consequências que traz em

outros campos da física. É importante ressaltar aqui que, uma vez cuidadosamente analisada a

proposta de Faraday/Maxwell, podemos concluir que foi infundada a colocação de Einstein a

respeito das “assimetrias que não parecem ser inerentes ao fenômeno". As assimetrias somente

aparecem a partir de uma interpretação específica do significado da velocidade que aparece na

força de Lorentz. Já a proposta de Weber é mais fundamental. Em seu modelo os campos

não têm realidade física e sua formulação lida somente com as forças de interação entre as

cargas. Entretanto, os cálculos matemáticas a que conduz seu modelo são sobremaneira mais

elaborados.

Nossos resultados obtidos para o cálculo da força eletromotriz induzida na indução por

translação demonstram que, do ponto de vista experimental, os três modelos em si são equiva-

lentes e indistinguíveis apesar de serem conceitualmente distintos. Em face desses resultados

partimos para o estudo da indução por rotação. Na indução por rotação pelo ponto de vista

da física clássica, a Indução Unipolar, verificamos que a diferença de potencial induzida não

depende do movimento relativo entre o imã e o disco, dependendo somente da rotação do disco.

Porém pelo ponto de vista da eletrodinâmica de Weber, a Indução Weberiana, a diferença de

potencial induzida depende do movimento relativo entre o imã e o disco. Assim, pela medida

de diferença de potencial induzida pelo movimento de rotação podemos propor um experimento

através do qual podemos distinguir quais dentre os modelos teóricos analisados melhor se ade-

qua a realidade física.

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Referências Bibliográficas

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