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N” 19 ! Maro de 2004 Av. Brasil 4.036/515, Manguinhos Rio de Janeiro, RJ ! 21040-361 www.ensp.fiocruz.br/publi/radis Atendimento diferenciado AIDS | REFORMA PSIQUI`TRICA | FOME ZERO 12“ CNS condena porta dupla nos hospitais pœblicos em nome da eqüidade na saœde

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Page 1: radis 19 PDF · Amarelo, por alunos, mªes e profes-soras do Stella Maris. Em 11/12, a se-cretaria voltou a movimentar a cida-de, com o 2” SeminÆrio de Avaliaçªo da EstratØgia

N º 1 9 ! Março d e 2 0 0 4

Av. Brasil 4.036/515, ManguinhosRio de Janeiro, RJ ! 21040-361

www.ensp.fiocruz.br/publi/radis

Atendimento diferenciado

AIDS |REFORMA PSIQUIÁTRICA | FOME ZERO

12ª CNS condena porta dupla nos hospitaispúblicos em nome da eqüidade na saúde

Page 2: radis 19 PDF · Amarelo, por alunos, mªes e profes-soras do Stella Maris. Em 11/12, a se-cretaria voltou a movimentar a cida-de, com o 2” SeminÆrio de Avaliaçªo da EstratØgia

Na peça Tuberculose tem cura: Heloísa (à esquerda), Adélia, Dego,Rosilda, Elizabethe, Neusa e Elizete

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ASecretaria Municipalde Saúde de Laguna,

Santa Catarina, compre-endeu direitinho um dosobjetivos deste espaço,e enviou o relato de suasexperiências de Comuni-cação em Saúde. A se-cretária interina, ReginaRamos dos Santos, infor-ma que a terra natal daheroína Anita Garibalditem 48.400 habitantes,gestão plena do SistemaMunicipal de Saúde des-de 1998 e 12 equipes doPrograma Saúde da Família, que já co-brem 85,5% da população.

No Dia Nacional de Mobilizaçãocontra a Dengue, em novembro, a se-cretaria promoveu uma série de even-tos, em parceria com o hospital local,o Sesc, a Rede Feminina de Combateao Câncer e o Colégio Stella Maris.Foram apresentadas três peças: Tuber-culose tem cura, por profissionais desaúde; a leitura dramática da carta de

uma portadora de câncer de mama; eA dengue ataca o Sítio do Pica-PauAmarelo, por alunos, mães e profes-soras do Stella Maris. Em 11/12, a se-cretaria voltou a movimentar a cida-de, com o 2º Seminário de Avaliaçãoda Estratégia de Saúde da Família.

Laguna recorre muito à músicapara passar o recado da promoção àsaúde: uma equipe do PSF compôs,por exemplo, Saúde da Família na Re-

gião Ribeirinha, cujaletra, de Fátima DuarteCarvalho, contém a es-tratégia do programa.Um trecho: �O cresci-mento do pequeno/apesagem, a vacina/oseu desenvolvimento/deixa a agente bem ati-va/se por acaso/baixopeso apresentar/lá vaia multimistura/probebê recuperar.�

Outra música, Tu-berculose tem cura, le-tra da enfermeira Heloí-

sa Fernandes: �E o que causa essadoença/é um bichinho muito esperto/um bacilo resistente/mas o tratamentoé certo/Doença danada/só vai se insta-lar/se o tratamento não continuar...�Contato com a SMSLAv. Colombo M. Salles, 145, Shop.Tordesilhas, 3º pisoCentro, Laguna-SC � CEP 88790-000Fone: (48) 646-0533 / r. 230E-mail: [email protected]

Festa da saúde em Laguna

Nova convocação dos craques olímpicos

Atenção, atletas-estudantes, prepa-rem a criatividade: a 2ª Olimpíada

Brasileira de Saúde e Meio Ambientevai abrir inscrições em 3 de maio de2004. Alunos do Ensino Médio e da 7ªe 8ª série do Ensino Fundamental, deescolas públicas ou particulares, es-tão convidados a inscrever seus tra-balhos � vale abusar da imaginaçãopara divulgar o conceito de promo-ção à saúde e sua interrelação como meio ambiente.

Quem não se lembra da primeiraOlimpíada? Foi um sucesso! Iniciadano segundo semestre de 2002 e en-cerrada em junho de 2003, a ediçãoinaugural recebeu 742 trabalhos, dos

quais 66% vieram do interior do Brasil� um resultado inédito entre as ini-ciativas de olimpíadas educacionais.

A competição é promovida pelaCasa Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) epela Associação Brasileira de Pós-Gra-

duação em Saúde Coletiva (Abrasco).Para mais detalhes acesse o site ouentre em contato.Site www.olimpiada.fiocruz.brE-mail [email protected] (21) 2598-4343

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Nº 19 � Março de 2004

editorialeditorialeditorialeditorialeditorial

Apresentada a cobertura dos bas-tidores e das deliberações da 12a

Conferência Nacional de Saúde, naedição anterior, a Revista RADIS ini-cia, neste número, uma série de re-portagens e entrevistas com o selo�Ecos da 12�, em que pretendemosaprofundar temas relevantes presentesna conferência e acompanhar o enca-minhamento do que foi aprovado.

Os delegados da Doze foram ca-tegóricos em condenar o atendimen-to diferenciado a beneficiários deplanos de saúde e particulares emunidades do Sistema Único de Saúdee hospitais universitários.

Dirigentes dos HUs argumentamque o que se pratica é uma �duplaporta�, em que a única diferença é ahotelaria oferecida ao paciente.Quem representa os usuários no Con-selho Nacional de Saúde contestadizendo que a �fila dupla� cria cida-dãos de primeira e segunda linha noshospitais públicos. Por força da in-terpretação que se faz da autonomiauniversitária, o Ministério da Saúdenão vê como proibir a prática noshospitais universitários. E o exemplodo Instituto do Coração, em SãoPaulo, reforça a defesa das vanta-gens de uma receita extra para oshospitais. Mas o sucesso da expe-riência do Complexo HospitalarConceição, de Porto Alegre, mos-

Igualdade na cidadania

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tra que é possível acabar com oatendimento diferenciado.

Este é o �estado da arte� de umdebate aberto para a sociedade e osgestores da saúde: como transformarem diretriz de saúde a clara sinaliza-ção dos participantes da conferên-cia de que as dificuldades de financi-amento dos hospitais públicos nãopodem ser resolvidas em detrimentoda eqüidade no atendimento aos ci-dadãos, um dos princípios sagradosda criação do SUS pela Constituiçãoe pela Lei Orgânica da Saúde.

Seguindo nossa linha editorialde esmiuçar fatos e opiniões sobresaúde que aparecem na mídia e nãodeixar sem continuidade o que abor-damos na revista, três importantesassuntos estão de volta. Trazemosnovos comentários e avaliaçõesmetodológicas acerca da pesquisa daBBC inglesa sobre a visão dos brasilei-ros sobre a Aids. O governo fala dosnovos passos da política antimanicomialque está sendo implementada no SUS.Com a ajuda de Chico Menezes, daorganização não-governamental Ibasee nosso especialista de plantão emFome Zero, apresentamos um balan-ço do primeiro ano do programa soci-al prioritário do governo Lula.

Rogério Lannes RochaCoordenador do Radis

Comunicação em Saúde

! Nova convocação dos craquesolímpicos 2

! Festa da saúde em Laguna 2

Editorial

! Igualdade na cidadania 3

Cartum 3

Cartas 4

Súmula da Imprensa 5

Toques da Redação 7

Dupla porta nos hospitais públicos

! Diferença de hotelaria ou decidadania? 8

! A CPI que talvez não acabeem pizza 12

Tratamento de Aids

! Otimismo ajuda na prevenção? 13

Reforma Psiquiátrica

! Reestruturação da assistênciabeneficia hospitais menores 14

Segurança Alimentar

! Fome Zero, Ano I 16

Entrevista: João Motta

! �É viável sobreviver semos convênios privados� 17

Serviços 18

Pós-Tudo

! Monteiro Lobato e a gênesedo Jeca Tatu 19

Capa e ilustrações: Aristides Dutra

Agradecimentos a Gustavo Alves eà Confeitaria Colombo

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RADIS 19 ! MAR/2004

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expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpediente

USO DA INFORMAÇÃO � O conteúdo da revista Radispode ser livremente utilizado e reproduzido em qual-quer meio de comunicação impresso, radiofônico,televisivo e eletrônico, desde que acompanhado doscréditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon-

sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aosveículos que reproduzirem ou citarem conteúdo denossas publicações que enviem para o Radis um exem-plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-rências da reprodução ou a URL da Web.

RADIS é uma publicação impressa e onlineda Fundação Oswaldo Cruz, editada peloPrograma Radis (Reunião, Análise e Difusãode Informação sobre Saúde), da Escola Na-cional de Saúde Pública (Ensp).

Periodicidade MensalTiragem 42 mil exemplaresAssinatura GrátisPresidente da Fiocruz Paulo BussDiretor da Ensp Jorge Bermudez

PROGRAMA RADISCoordenação Rogério Lannes RochaEdição Marinilda Carvalho

Reportagem Cláudio Cordovil(subeditor), Jesuan Xavier e KatiaMachado

Arte Aristides Dutra (subeditor) eHélio Nogueira

Estudos e Projetos Justa Helena Franco(gerência de projetos), JorgeRicardo Pereira e Laïs Tavares

Secretaria de Administração e Infra-Estrutura Onésimo Gouvêa,Márcia Pena, Cícero Carneiro,Cleonice Vieira, Osvaldo JoséFilho (informática) e Ita Goes(estágio supervisionado)

EndereçoAv. Brasil, 4.036, sala 515 � ManguinhosRio de Janeiro / RJ � CEP 21040-361Telefone (21) 3882-9118Fax (21) 3882-9119

E-Mail [email protected] www.ensp.fiocruz.br/publi/radisImpressão e FotolitoEdiouro Gráfica e Editora SA

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de das matérias, a diagramação, a aná-lise crítico-reflexiva dos textos, a di-versidade, bem como a oportunidadepara participação dos leitores.

Atualmente, sou docente no cur-so de graduação em Enfermagem numafaculdade particular em Curitiba, aFaculdade Evangélica do Paraná. Que-ro registrar minha admiração e orgu-lho pela qualidade da revista, que temme auxiliado a divulgar entre meus alu-nos, amigos e parentes um pouco doque se produz na Fiocruz.! Carolina Bocchi MaiaCuritiba, PR

RADIS INCONSTANTE

Écom imenso prazer que, sempreque conseguimos receber a revis-

ta Radis, lemos de �cabo a rabo�, eisto nos tem dado muita informaçãopara discussão dos temas abordados,até então desconhecidos. Portanto,estamos mandando endereço atuali-zado, para que possamos receber comfreqüência certa e em dia. Para nósvai ser de grande importância.! Erondi Souza de Almeida, 3ª Delega-cia Regional de SaúdeVilhena, RO

O CENTRO DE ESTUDOS AGRADECE

Parabéns pelo maravilhoso trabalho.É muito bem feito e útil. Trabalho

como médica numa unidade básica desaúde em Niterói e, após ler as revis-tas, farei doações ao centro de es-tudo da unidade.! Rosângela Ribeiro da SilvaNiterói, RJ

FELICIDADE PELO CORREIO

Olá, pessoal, gostaria de agrade-cer pela felicidade que vocês me

proporcionaram ao receber a revistaRadis. Estarei terminando minha gra-duação em Enfermagem neste ano de2004, e podem ter certeza de quecada leitura que faço da revista meestimula e me incentiva a participarativamente na construção do SUS e adinamizar a promoção da saúdehumanisticamente. Atenciosamente,! Daiane Martins

A revista Radis solicita que a corres-pondência dos leitores para publica-ção (carta, e-mail ou fax) contenhaidentificação completa do remeten-te: nome, endereço e telefone.

NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA

SAÚDE E SANEAMENTO

Curso Geografia na UniversidadeEstadual da Paraíba. Já sou assi-

nante da Radis há um ano e meio, sem-pre leio as revistas, e posso dizer queelas têm me ajudado muito, inclusivenos trabalhos da universidade.

Tenho estudado a expansão dasgrandes, médias e pequenas cidadesbrasileiras, assunto que me deixouentusiasmado, e acho que esse vai sero tema de minha monografia de con-clusão de curso. Tive a idéia de pedira vocês que façam artigo ou reporta-gem sobre os problemas de saúde pú-blica advindos da expansão urbana (sa-neamento básico, falta de estruturadas habitações). Ficarei muito honra-do se vocês aceitarem minha idéia.! William Cananéia PereiraEsperança, PB

CONSTRUTORES DO CONHECIMENTO

Olá, tenho 14 anos e em 2004 voucursar o ensino médio. No colé-

gio em que estudo o professor Lean-dro Scarparo desenvolveu um projetochamado Construtores do Conheci-mento Científico. Só participam alu-nos de 8ª sério e 1º ano. Alguns foramcortados, outros pularam fora quan-do viram que se tratava de algo sério.

Eu desenvolvi um projeto sobreastronomia, uma maquete de como

seria uma cidade lunar (...) Para 2004já apresentei meu tema, e será so-bre saúde, com histórico das gran-des pessoas que fizeram e fazem par-te da história da saúde no Brasil e nomundo, pois o objetivo do projeto élevar até as pessoas mais informaçõesna área da saúde.! Luiz Gabriel Antão BarbozaNova Olímpia, PR

SEDUZIDA PELA RADIS

Há muito tempo me sinto devedoracom vocês. Afinal, são diversos

anos que recebo em minha residên-cia as publicações produzidas por estaconceituada instituição. Confesso que,em meio a tantos referenciais dispo-níveis aos interessados em temas rela-cionados à saúde, a Radis é para mimuma leitura obrigatória. E são várias asrazões que me seduzem: a objetivida-

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SÚMULASÚMULASÚMULASÚMULASÚMULA

O FIM DA PÓLIO NO MUNDO ESTÁPRÓXIMO

A maior campanha de saúde públi-ca da história, a Iniciativa Global

de Erradicação da Pólio, está pertode cumprir seu objetivo, anuncia aAgência de Informação Solidária(www.infosolidaria.org), grupo de jor-nalistas espanhóis independentes quedivulga textos sobre temas que agrande imprensa não tem interesseem publicar.

Após 15 anos de esforços, maisde US$ 3 bilhões de investimento etrabalho conjunto de mais de 200países, 2005 será, se houver um pe-queno esforço extra, o ano daerradicação da poliomielite (inflama-ção da substância cinzenta da me-dula espinhal) no planeta Terra. Apólio continua uma doença endêmicaem apenas seis países: Nigéria, Índia,Paquistão, Níger, Afeganistão e Egi-to). Em 15 de janeiro seus governosassinaram, na sede da OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS), em Gene-bra (Suíça), o compromisso de aca-bar com a transmissão do vírus dapólio até fins de 2004.

Desde que teve início, em 1988,a campanha maciça de vacinaçãomundial, que constitui o coração daIniciativa, o número de casos decla-rados de pólio diminuiu de 350 milem 1988 para cerca de 1.200 em2003. Mesmo nos países endêmicos,os casos registrados caíram de 125para 7. Vacinar as crianças abaixo de5 anos será a ação-chave para o êxi-to desta operação, depois do alertadas epidemias da Índia, em 2002, eda Nigéria, em 2003.

A pólio é uma doença infecciosaaltamente contagiosa causada pelopoliovírus, que afeta principalmentecrianças menores de 3 anos (50% dosnovos casos). O vírus produz parali-sia, quase sempre permanente,provocada pela destruição dosneurônios (células nervosas) motores,que ativam os músculos.

Nos anos 1930 e 40, a pólio foi oproblema principal de saúde públicanos países industrializados, que pro-moveram campanhas extensivas devacinação em fins dos anos 50,erradicando a doença. O pesquisa-dor Albert Sabin, descobridor da va-cina moderna, de vírus vivos atenua-

dos, doou a fórmula das gotinhas mi-lagrosas à OMS, para possibilitar seuacesso universal. Seu sonho, portan-to, está a ponto de cumprir-se. Estefinal (quase) feliz demonstra que umaaliança entre governos, agências in-ternacionais e setor privado para aca-bar com uma enfermidade grave con-segue os efeitos esperados, comentaa autora do artigo, Arancha Desojo,farmacêutica e especialista em coo-peração sanitária.

No Brasil, houve referências acasos esporádicos de poliomielite nasúltimas décadas do século 19, mas aprimeira descrição de um surto foifeita por Fernandes Figueira em 1911.A maior epidemia registrada no paísocorreu no Rio de Janeiro, em 1953.A partir da descoberta da vacina Salke, mais tarde, da Sabin, programas decontrole da doença foram adotados,sendo iniciativa da OPAS/OMS a polí-tica de erradicação do poliovírus sel-vagem nas Américas. �Assim, o Brasilrecebeu o certificado de erradicaçãoda poliomielite em outubro de 1994�,informa a pesquisadora DileneRaimundo do Nascimento, que coor-denou o projeto coletivo História dapoliomielite e de sua erradicação noBrasil, da Casa de Oswaldo Cruz.

LIPOASPIRAÇÃO COM MAIS RIGOR

OBrasil realiza 400 mil lipoaspira-ções por ano, mas agora há re-

gras mais rígidas para o procedimen-to, informou O Estado de S.Paulo em15/1/2004. Isso porque o ConselhoFederal de Medicina (CFM) determi-nou novos parâmetros de segurançapara a cirurgia.

Por exemplo, os médicos nãopodem mais oferecer a lipoaspiração

como solução para o paciente ema-grecer. A indicação deve ser precisa:apenas para correção do contornocorporal, ou seja, retirada de peque-nas quantidades de gordura localizada.

Para conter os exageros, o CFMestipulou limites de gordura que po-dem ser retirados do paciente numalipo: 7% do peso corporal quando forusada a técnica infiltrativa (que pro-duz menos sangramento) e 5% para anão-infiltrativa. E seja qual for a téc-nica, a lipo não pode ser feita em maisde 40% da área do corpo. �Dentrodesses limites, o benefício do proce-dimento é maior do que o risco�, dis-se Antônio Pinheiro, coordenador daCâmara Técnica de Cirurgia Plásticado CFM. �Acima deles, a lipo se tornamuito arriscada.�

Agora vigoram também regras cla-ras sobre as instalações em que alipoaspiração pode ser feita e sobrea presença de um anestesista duran-te a cirurgia, que tem de participarde lipoaspirações quando o pacienteé sedado, recebe anestesia geral oude bloqueio, como a peridural. Oanestesista só é dispensável nos ca-sos de cirurgias de pequeno porte,realizadas com anestesia local.

O objetivo do CFM foi criarparâmetros de segurança para paci-entes e médicos. O trabalho levou umano e meio para ser concluído e con-tou com a participação da Sociedade

Brasileira de Cirurgia Plástica(SBCP). �As regras valorizam o tra-balho do cirurgião plástico e suaformação�, disse ao Estadão o pre-sidente da SBCP, Sérgio Carreirão.

A iniciativa do CFM foi bem re-cebida pela Associação das Vítimasde Erros Médicos. �É tudo o quesempre quisemos para que o atendi-

mento melhore�, afirmou AntonietaKulaif, presidente da entidade. �Seas normas forem cumpridas, os paci-entes terão mais segurança.� Em tor-no de 9% dos 500 casos registradosna associação são problemas com ci-rurgias plásticas � alguns com mor-tes, outros com seqüelas irreversíveis.

ENSP AVALIA PROGRAMA SAÚDEDA FAMÍLIA EM 10 CIDADES

ARevista de Manguinhos, da Fiocruz,publicou artigo que apresenta

os principais resultados de uma

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RADIS 19 ! MAR/2004

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pesquisa sobre a implantação doPrograma de Saúde da Família em 10cidades brasileiras: Aracaju, Brasília,Camaragibe (PE), Campinas (SP),Goiânia, Manaus, Palmas, São Gon-çalo (RJ), Vitória e Vitória da Con-quista (BA).

Os pesquisadores do Núcleo deEstudos Político-Sociais em Saúde, doDepartamento de Administração e Pla-nejamento em Saúde da Escola Naci-onal de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz),fizeram mais de quatro mil entrevis-tas com gestores, conselheiros, in-tegrantes do PSF, auxiliares de enfer-magem, agentes comunitários desaúde e famílias

Os resultados foram repassadosao Ministério da Saúde. �Analisamosquais aspectos facilitaram ou dificul-taram a implementação do PSF nes-sas cidades, quais experiências fo-ram bem sucedidas, quais não e porque�, disse a coordenadora-geral dapesquisa, Sarah Escorel. �Esses da-dos servirão de subsídio para as de-cisões do ministério.�

A pesquisa custou R$ 385 mil, do-ados pelo governo japonês. O estu-do concluiu que a forma de financia-mento do PSF ainda é um obstáculoimportante para o sucesso do pro-grama. O incentivo financeiro que oMinistério da Saúde repassa aos mu-nicípios para o PSF é relacionado àcobertura que a cidade alcança.�Para ter o incentivo máximo, é pre-ciso chegar a 70% de população aten-dida�, disse Sarah.

Das cidades pesquisadas, Camara-gibe, Campinas e Vitória da Conquis-ta foram consideradas bem-sucedidasno maior número de aspectos. Embo-ra alvo de estudo parcial (não houveavaliação das equipes e das famílias),Campinas é exemplo de �boas práti-cas� no que se refere a dois aspec-tos: o processo de implementação emmunicípio com uma rede estruturadade atenção básica pré-existente e aestratégia de obtenção de apoio dapopulação e dos profissionais numasituação em que existiam muitas re-sistências por experiências malconduzidas anteriormente.

A rede básica não foi desestru-turada, mas integrada ao novo sis-tema. As equipes que já estavam nas

unidades básicas (pediatras, gine-cologistas, dermatologistas) passa-ram a dar apoio às novas equipesdo PSF, coordenadas por médicosgeneralistas, na tarefa de fazer atriagem e o acompanhamento dospacientes.

�A cidade também montou umsistema de premiação interessante�,contou Sarah. �Quanto pior o índicede desenvolvimento humano do local,maior é a porcentagem acrescenta-da ao salário dos profissionais queparticipam do programa� (que tem onome local de Paidéia)�, disse a pes-quisadora da Ensp. Assim, os profissi-onais que enfrentam maiores dificul-dades recebem mais.Endereços na internetRevista de Manguinhoswww. f i o c r u z . b r / c c s / r e v i s t a /revista03.htmÍntegra da matériawww. f i o c r u z . b r / c c s / r e v i s t a /n3_nov03/retrato_familia.htm

O SUOR E O MOSQUITO DA MALÁRIA

O mosquito anófele, principal trans-missor da malária, é atraído por

um componente do suor humano, se-gundo pesquisa da Universidade deYale, nos Estados Unidos, publicadana edição de 15/1/2004 da revista ci-entífica britânica Nature. A fêmea domosquito Anopheles gambiae tem umaproteína receptora chamada AgOr1,para captar o odor, o que poderiaexplicar por que o corpo humanoatrai o inseto, segundo a pesquisa co-ordenada por John Carlson, informounotícia da France Presse reproduzidana Folha Online.

A descoberta pode permitir aelaboração de um meio para bloque-ar ou ativar essa proteína, o que abreperspectivas para a criação tanto deinseticidas como de repelentes maiseficazes. Na pesquisa, os cientistasutilizaram moscas drosófilas genetica-mente modificadas para que tivessemum receptor de odores AgOr1 pró-prio da fêmea do anófele.

GRIPE DO FRANGO PREOCUPA OMS

A chamada gripe do frango se es-palhou pela Ásia, com vários casos fa-

tais confirmados, especialmente no Vietnã.A Organização Mundial de Saú-

de (OMS) alertou que a gripe dofrango pode representar uma crisesanitária maior para a Ásia do que aSíndrome Respiratória Aguda Seve-ra (Sars), e tem sintomas parecidoscom os da pneumonia atípica � quevoltou a fazer vítimas na China. �Seo vírus H5N1 (da gripe do frango) seincorporar ao vírus da gripe comumem humanos e se for transmitidoefetivamente, ele tem o potencialde causar muitos danos�, dissePeter Cordingley, porta-voz da OMSasiática, sediada em Manila, capitaldas Filipinas. �O vírus da gripe hu-mana tem um poder de contágiomuito maior do que o da Sars, por-que se propaga pelo ar, e não pelassecreções, como o da Sars.�

Coréia do Sul e Japão ordena-ram um abate seletivo de milhares defrangos e patos para conter a propa-gação do vírus. Mas a situação maispreocupante é mesmo a do Vietnã,único país onde se comprovou a trans-missão do vírus entre pessoas e ondeo governo mandou destruir milhõesde aves contaminadas.

No Brasil, produtores de aves e au-toridades sanitárias e agrícolas vêm to-mando uma série de medidas para evitara entrada da doença no país. Foi deter-minada quarentena de 72 horas para pes-soas vindas da Ásia, que consiste na proi-bição de que visitem granjas, abatedourosou incubadoras nesse período.

No dia 6 de fevereiro, a OMS noti-ficou o resultado do seqüenciamentogenético do vírus H5N1 de duas irmãsnum grupo familiar no Vietnã, segun-do boletim da Anvisa (www.anvisa.gov.br).Os dois vírus eram inteiramente deorigem aviária, sem genes humanos,indicando que o H5N1 não teriamutado para se tornar facilmentetransmissível de um humano a outro.

A boa notícia não impediu, en-tretanto, que até meados de feve-reiro a gripe do frango tenha afeta-do 23 pessoas, com 18 óbitos.

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL DE CARA NOVA

Não foi em Porto Alegre, mas fezum baita sucesso. De 16 a 21 de

janeiro, a quarta edição do Fórum So-cial Mundial (FSM), em Mumbai, naÍndia, reuniu 75 mil pessoas de maisde 100 países, e, claro, reservou du-

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SÚMULA é produzida a partir do acom-panhamento crítico do que é divulgadona mídia impressa e eletrônica.

O GRANDE DILEMA DO MILITANTE NOPODER � Nosso denodado repórterFontes Fidedignas, que acompanha delonga data a Reforma Psiquiátrica bra-sileira, resolveu fazer uma perguntasingela ao coordenador de SaúdeMental do Ministério da Saúde, PedroGabriel Delgado: �Como é estar sen-tado nesta cadeira?� Pedro militou ati-vamente por mais de 30 anos em mo-vimentos sociais de psiquiatriademocrática. Que lições tiraria de suaatual experiência de gestor?

� Primeiro, aprendi que é mui-to importante manter firme no ar autopia. Ficar preso no pragmatismo,em realidade, é uma forma de ce-gueira. Depois, como nos lembraBachelard, é muito importantetransitar bem entre o pensamen-to, a ação e o sonho. O que seaprende quando se chega a umcargo destes é que no campo damilitância fazemos análises que nãolevam em conta diversas variáveiscom que nos defrontamos comogestores. É preciso ter humildadediante do real.

UM DUPLO CHOQUE DE REALIDADE� Por falar em �humildade diante doreal�, o mês de janeiro foi pleno dearmadilhas para os que se descuida-ram. A ex-ministra Emília Fernandes, daSecretaria de Políticas para as Mulhe-res, e depois o ex-ministro da Educa-ção Cristovam Buarque defenderamnos jornais o atrelamento dos benefí-cios do programa Bolsa-Família à acei-tação de informações sobre planeja-mento familiar. Para quê! Um debateacalorado pela imprensa adentrou fe-vereiro, opondo defensores e críti-cos da tese de que o alto índice defertilidade dos pobres é a causa pri-meira da violência. A discussão seestendeu ao aborto, ao controle danatalidade e polêmicas afins. Militan-tes dos direitos reprodutivos bota-ram os pingos nos is: violência, po-breza e taxa de fecundidade não sãorelações causais. Depois dessa �friturapública�, coincidência ou não, na re-forma ministerial os dois ministros per-deram o cargo. Ao assumir, o novo

ministro do Desenvolvimento Sociale Combate à Fome, Patrus Ananias,clareou a posição do governo: �Vi-vemos num Estado laico, democráti-co. Portanto, as famílias devem teracesso às informações e aos méto-dos contraceptivos legais. (...) Maso problema central não é esse, e simo desenvolvimento e a distribuiçãode renda.� As feministas suspiraramde alívio.

RECADO AO GESTOR � É impressio-nante a necessidade do cidadãode se fazer ouvir, de ter um canalde voz que o represente � coisaque a grande mídia em geral lhenega. Ao primeiro flash do bravorepórter fotográfico da Radis, du-rante apuração de matéria numhospital do Rio de Janeiro, usuári-os que aguardavam em fila a mar-cação de exames não economiza-ram nas reclamações. �Vocêsprecisam fotografar os banheiros,estão cheios de infiltrações�, bra-dava uma senhora. �Queremos ca-deira pra sentar�, queixava-se umsenhor. Esse vácuo social poderiaser preenchido com ouvidorias ouconselhos de usuários que funcio-nem efetivamente. Anotou, gestor?

AROUCA (SEMPRE) NA MEMÓRIA �Completados seis meses da morte dosanitarista Sergio Arouca, não cus-ta lembrar algumas (e justas!) ho-menagens que lhe têm sido feitas:a mais prosaica, embora não menossincera, foi do bloco carnavalescoDiscípulos de Oswaldo, que reúneservidores da Fiocruz e moradoresdas comunidades da região deManguinhos, no Rio. O enredo: �DeuArouca no Carnaval 2004�. Antes, aEscola Nacional de Saúde Públicaacrescentou Sergio Arouca a seunome, como também a pequena Poli-clínica Comunitária de Santa Rosa,em Niterói (RJ). A Doze virou Confe-rência Sergio Arouca (ver a cobertu-ra da Fiocruz em www.fiocruz.br/ccs/xiiconferencia/xiiconferencia.htm), e aúltima edição da Revista de Manguinhos(www.f ioc ruz .br/ccs/rev i s ta/revista03.htm) lhe dedicou a capa,além de reportagem de 20 páginassobre a trajetória do sanitarista e aúltima entrevista concedida antes desua morte, em agosto.

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ras críticas às políticas internacionale econômica dos Estados Unidos. Nacerimônia de abertura, de que parti-ciparam nove palestrantes, a políticainternacional americana foi respon-sabilizada pela perda de milhares devidas no Afeganistão, no Iraque e naPalestina. Entre as temáticas do en-contro destacaram-se as discussõessobre "terra, água e segurança alimen-tar", "militarismo, guerra e paz" e "ex-clusão e opressão religiosa, étnica elingüística". O FSM é importante es-paço para o debate do modelo no qualcrescimento econômico e igualdadesocial caminhem juntos.

Pela primeira vez o evento nãoteve lugar em Porto Alegre, onde sur-giu há três anos. Para Sérgio Hadad,diretor da Associação Brasileira deOngs (Abong), o deslocamento do FSMpara a Índia literalmente deu uma "novacara" ao fórum, concentrando a di-versidade cultural asiática em Mumbai."Se nas edições anteriores o fórumfalava português, inglês, espanhol efrancês, este ano 13 foram os idiomasoficiais � hindi, marathi, tamil, telugu,bengali, malayalam, espanhol, inglês,francês, coreano, bahasa, indonésio,tailandês e japonês", ressaltou.

Segundo Hadad, esse fórum veioconfirmar a sensação de que o even-to se faz muito mais nos pequenospainéis, nas oficinas, na troca de ex-periências entre os participantes,nos debates nos corredores, com o"povo de Seattle" sentado no chão(os ativistas anticapitalismo são cha-mados assim desde que, em novem-bro de 1999, pela primeira vez impe-diram reunião da OrganizaçãoMundial do Comércio naquela cida-de americana).

"Em Mumbai, mais do que emPorto Alegre, as grandes conferênci-as, protagonizadas por intelectuais elideranças internacionalmente reco-nhecidas, foram pouco participativas,embora algumas tivessem estimuladodebates interessantes", disse o dire-tor da Abong.

Vale lembrar que o FSM estaráde volta a Porto Alegre em 2005. Etalvez se transforme em eventobienal. "Depois de Mumbai, Porto Ale-gre não poderá refazer o mesmo",disse. "Temos de avançar em novaspropostas, que superem os antigoslimites e que incorporem as novida-des do FSM indiano."

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DupDupDupDupDupllllla poa poa poa poa porrrrrttttta na na na na noS HoS HoS HoS HoS HOSOSOSOSOSPPPPPITITITITITAIAIAIAIAIS PÚBS PÚBS PÚBS PÚBS PÚBLILILILILICCCCCOSOSOSOSOS

Diferença de hotelariaou de cidadania?

Jesuan Xavier

H ospital Universitário Clementino Fraga, Ilha doFundão, Rio de Janeiro. Os usuários do SistemaÚnico de Saúde (SUS) entram pela lateral do pré-dio, e fazem fila, de pé, para encaminhar pedido

de exames ou marcar consulta. Usuários de planos de saúdesão recebidos na porta principal e aguardam em sala climatizadacom cadeiras confortáveis.

O hospital, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, segueao pé da letra a chamada �dupla porta� de recepção de pacien-tes em hospitais públicos, especialmente universitários, que mui-tos chamam de �duplo atendimento�.

A Plenária Final da 12ª Conferência Nacional de Saúde,realizada em dezembro, aprovou a proibição do �atendimentodiferenciado� a beneficiários de planos de saúde e particula-res nas unidades do SUS e hospitais universitários.

Será simples assim extinguir a chamada dupla fila �outro nome para o procedimento, acusado pelos críticosde dividir os brasileiros em duas categorias de cidadãos, osque têm e os que não têm plano de saúde? Os hospitaisuniversitários, por exemplo, gozam de ampla autonomia ad-ministrativa, garantida pela Constituição Federal.

�Ninguém fura a fila�, rechaça o diretor do ClementinoFraga, Amâncio Paulino de Carvalho, que também preside a Asso-ciação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino (Abrahue).

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Amâncio, que dirigeo Hospital Universitárioda UFRJ, admite a duplaporta mas rechaçao fura-fila

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�Embora as entradas sejam diferentes,as pessoas são cadastradas no sistemaao mesmo tempo�, garante. �O pro-blema é que a demanda de quem nãotem plano de saúde é muito grande,ocasionando uma fila maior�.

Amâncio faz questão de dizerque os hospitais universitários nãorealizam atendimento diferenciado, erejeita a expressão duplo atendimen-to. �Temos aqui a dupla porta, e aúnica diferença que se faz é em rela-ção à hotelaria�.

O assunto desperta polêmica pelomenos desde o início da década de 90,porque mexe diretamente com doisdos mais críticos problemas dos hospi-tais públicos: recursos e atenção aopaciente. Apesar das divergências deopinião quanto ao princípio ético deatendimento diferenciado em hospitaispúblicos � entre quem tem ou não di-nheiro para pagar �, é consenso queos repasses financeiros do governo, so-zinhos, não têm sido suficientes paragarantir o bom atendimento a todos.

Na falta de recursos oficiais, oshospitais universitários buscam alter-nativas de financiamento. �A questãoé delicada, porque estamos lidandocom um tema delicado, que é a saúdeda população�, diz Mário Scheffer, re-presentante dos usuários no Conse-

lho Nacional de Saú-de (CNS).

Para ele, a filadupla é uma das fa-ces mais cruéis dosetor público de saú-de: �Estamos criandocidadãos de primeira e segunda linhanos hospitais públicos. Isso é inadmis-sível�. Scheffer acredita que a socie-dade precisa discutir esse problemasem hipocrisia. �Criou-se uma noçãoerrada de que existem dois sistemasde saúde, que não se relacionam, eisso tem que ser proibido�.

O representante dos usuários vaialém. �A fila dupla é uma prática co-mum, que cresce a cada dia, sob ofalso pretexto de que a arrecadaçãocomplementar do hospital reverte ematendimento aos usuários sem planos.Na prática isso não acontece�.

Ele é veementemente rebati-do pelo presidente da Abrahue. �Oatendimento aos usuários dos pla-nos gera recursos adicionais queservem para melhorar o atendimen-to como um todo�, destaca Amân-cio, para quem um convênio chegaa pagar de três a quatro vezes maisdo que o SUS. �Essa verba já estáintegrada ao orçamento de algunshospitais universitários. É a lógicada complementação de um dinhei-ro que não é suficiente�.

Amâncio não parece preocupa-do com a decisão da conferência:�A universidade goza de autonomiagarantida pela Lei Orgânica da Saúde,pode fechar contrato com a empre-sa que quiser�. Segundo ele, o hospi-tal pode estabelecer parcerias quesejam de interesse público e pode fa-zer atendimento por convênios quegerem benefícios à sociedade.

O secretário de Atenção à Saúdedo Ministério da Saúde, Jorge Solla,confirma: �Quem faz a programação deum hospital universitário é o própriohospital. É um hospital diferenciado.�

Expressão utilizada para definir osprocedimentos de acomodação

do paciente nos hospitais. Os usu-ários de planos de saúde geralmen-te garantem quartos individuaiscom ar-condicionado e direito aacompanhante.

OArtigo 207 da Constituição Fe-deral estabelece: As universi-

dades federais [das quais são parteintegrante os hospitais universitá-rios] gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de ges-tão financeira e patrimonial, eobedecem ao princípio de indisso-ciabilidade entre ensino, pesquisae extensão.

O Artigo 45 da Lei 8.080/90 dizque os serviços de saúde dos

hospitais universitários integram-se ao SUS, mediante convênio, pre-servada sua autonomia administra-tiva, em relação a patrimônio,recursos humanos e financeiros,ensino, pesquisa e extensão noslimites conferidos pelas institui-ções a que estejam vinculados.

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Usuários do SUS aguardam na fila do guichê...

DÍVIDA ULTRAPASSAR$ 300 MILHÕES

Amâncio cita a dívida dos hospi-tais universitários federais como exem-plo da carência financeira do setor.�Segundo dados do próprio Ministé-rio da Educação, a dívida dos 41 hos-pitais universitários federais que es-tão cadastrados no SUS gira em tornode R$ 317 milhões�. Mas ele lembraque isso é até pouco, perto dos hos-pitais filantrópicos de ensino (cercade 2.600), cuja dívida já chega a R$1,3 bilhão. �A Santa Casa de São Pau-lo, sozinha, acumula dívidas de R$ 150milhões�, enfatiza.

Amâncio salienta que tal criseacaba acarretando desabastecimentoe sucateamento dos hospitais univer-sitários. �As empresas credoras nãoentregam os pedidos, e muitos hos-pitais cortam despesa na manutençãodos equipamentos. Isso gera gravesproblemas lá na frente�.

Scheffer aposta em que, no mo-mento, nenhum parlamentar terá co-ragem de ir à frente com o Projetode Lei 449/99, do ex-senador e atualgovernador do Ceará, Lúcio Alcântara(PSDB), que garantiria o direito aoduplo atendimento, permitindo aos

hospitais universitários captação derecursos com internação de até 25%dos leitos. O projeto altera o Artigo43 da Lei 8.080/90 (Lei Orgânica daSaúde). �De imediato, a decisão daConferência servirá para barrar atramitação desse projeto, que já ti-nha sido aprovado em plenário peloSenado�. Só não foi adiante porque asenadora Heloísa Helena (Sem parti-do-AL), contrária ao projeto, apresen-tou recurso para que fosse ouvida aComissão de Economia, da qual fazparte, e é hoje relatora da matéria.

O presidente da Associação Bra-sileira de Medicina de Grupo(Abramge), Arlindo de Almeida, diz quena verdade se está fazendo muita con-fusão entre dupla porta e duplo aten-dimento. �Duplo atendimento nãoexiste�, garante. �Na emergência,então, não há nem dupla porta, seriaomissão de socorro, um absurdo; nãohá como apoiar�. Para ele, entretan-to, o hospital não pode fazer convê-nio com planos de saúde sem ofere-cer certas condições aos usuários.

INCOR É MODELO�Para os planos de saúde, o im-

pacto seria zero�, diz Almeida sobre

a decisão da 12ª Conferência Nacio-nal de Saúde. Líder de uma associa-ção que reúne cerca de 300 empre-sas, ele acha que se a proposta foracatada será pior para os hospitaispúblicos. �É claro, os planos de saú-de poderiam sofrer alguma perda dequalidade sem um hospital de exce-lência como o Incor, por exemplo, masrecorreriam a outros hospitais.�

Arlindo entende que prejuízomaior teriam os próprios hospitaisuniversitários. O Incor (Instituto doCoração do Hospital das Clínicas da

OS NÚMEROS DA POLÊMICA

R$ 317 milhões é a dívida dos 41hospitais universitários federais

R$ 1,3 bilhão é a dívida dos2.600 hospitais filantrópicos

R$ 150 milhões é a dívidada Santa Casa de São Paulo

62% do faturamento do Incorvêm dos planos de saúde

82% do faturamento do Hospital doCâncer-SP vêm dos planos de saúde

...enquanto os dos planos têm sala climatizada

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Citado como modelo pelos de-fensores da não-diferenciação

no atendimento público de saúde,o Grupo Hospitalar Conceição (GHC)de Porto Alegre deixou de receberpacientes com convênios privadosdesde setembro do ano passado.De imediato, a medida disponibilizoumais 32 leitos aos pacientes do SUS,segundo o diretor-superintendentedo GHC, João Motta (ver entrevistana página 17).

Vinculado ao Ministério daSaúde, o Grupo constituiu uma so-ciedade anônima em 1975, quandoa União interveio e desapropriouos hospitais privados Nossa Senho-ra da Conceição, Hospital CriançaConceição, Hospital Cristo Reden-tor e Hospital Fêmina.

O GHC, que teve orçamentode R$ 350 milhões em 2003, formaum terço dos especialistas em Me-dicina no Rio Grande do Sul, e ain-da propicia estágio para alunos de

24 faculdades da área de saúde.�É um exemplo de que é possívelsobreviver seguindo as diretrizesdo SUS�, diz Mário Scheffer, re-presentante dos usuários no Con-selho Nacional de Saúde.

O GHC contabiliza hoje 1.800leitos, incluindo UTIs e emergên-cia, que apresentam internaçãomédia de 5.300 pessoas por mês, 5mil consultas/dia, 900 partos e maisde 3 mil cirurgias por mês. Quantoà população atendida, 50% provêmda cidade de Porto Alegre, 40% daRegião Metropolitana e 10% de ou-tros municípios do estado e do Bra-sil. E 100% dos serviços prestadossão aos usuários do SUS.

Atualmente, o diretor do GHCtrabalha na implantação de um pro-jeto do Ministério da Saúde para operíodo pós-hospitalar. �É um aten-dimento domiciliar pelo qual os pa-cientes serão monitorados após dei-xarem o hospital�.

Em Porto Alegre, 100% SUSFaculdade de Medicina da Universi-dade de São Paulo) perderia 62% deseu faturamento, e o Hospital doCâncer de São Paulo, mais ainda,82%, afirma.

O deputado Rafael Guerra (PSDB-MG), presidente da Frente Parlamen-tar de Saúde, que congrega 240 con-gressistas de vários partidos, tambémsó aceita a dupla porta na chamadahotelaria do hospital. �Ou seja, opaciente que tem plano de saúdepaga pelo apartamento particular,pelo acompanhante, mas pega suaguia de internação na Central de Va-gas, como todo mundo, nada alémdisso�, defende. �O atendimento nãopode ser discriminatório, já que o SUSnão é universal para a enfermaria, éuniversal para todos. A eqüidade éfundamental.�

Guerra atribui toda essa polêmi-ca à proibição da internação de paci-entes do SUS em apartamentos, noinício dos anos 1990. �Antes dela, ape-nas 10% da população tinham plano desaúde; agora já são 25%�, diz. O depu-tado federal Henrique Fontana (PT-RS), que apresentou à Câmara o re-querimento de instalação da CPI dosPlanos de Saúde e presidiu seus tra-balhos, apóia a decisão da Plenária daconferência, mas ainda não vê a uni-versalidade e a integralidade no hori-zonte de um país como o nosso. �Comoa saúde não é uma mercadoria, é pre-ciso ter uma regulamentação rígida,que coíba o privilegiamento: por exem-plo, a reserva de um andar inteiro dehospital para os planos de saúde�.

Amâncio, presidente da Abrahue,também cita o Incor como exemplode eficiência no modelo que atendesimultaneamente usuários do SUS ede planos de saúde. �O Incor hoje éum hospital público que cumpre suafunção social melhor do que qualqueroutro: faz 10 cirurgias cardíacas pordia, enquanto o segundo hospitalpúblico do país [o Hospital São Paulo,da Universidade Federal de São Pau-lo] faz apenas quatro�.

De acordo com dados do próprioIncor, o hospital divide seu atendimen-to entre pacientes do SUS (82%),

beneficiários de convênios e segurosmédicos (15%) e pacientes particula-res (3%). �Apesar de o atendimento anão-usuários do SUS girar em tornode 20%, a receita gerada por eles éde 60% do total arrecado pelo hospi-tal�, enfatiza Amâncio.

Mesmo os críticos mais ferrenhosdo modelo de duplo atendimento elo-giam o Incor. �O Incor é realmente ogrande paradigma dessa história toda.Ganha xis dos planos de saúde, mui-to mais do que é repassado pelo SUS.É uma exceção�, ressalta Scheffer.

SOBREVIVÊNCIA POSSÍVEL De outro lado, lembra ele, no

Rio Grande do Sul há hospitais públi-cos que trabalham perfeitamente semos planos de saúde. Jorge Solla, doMinistério da Saúde, identifica umdeles: o Grupo Hospital Conceição dePorto Alegre, que atende exclusiva-

mente usuários do SUS (ver box).Mesmo ciente de que será difí-

cil proibir na prática o �atendimentodiferenciado� em hospitais universi-tários, o representante dos usuáriosno CNS, Mário Scheffer, acredita quea decisão da conferência embasarámuitas ações na Justiça.

Segundo ele, as pessoas que sesentirem prejudicadas no atendimen-to de um hospital público, em relaçãoa beneficiários de planos de saúde,devem tomar as devidas providênciasjurídicas. �Os princípios do SUS (eqüi-dade, universalidade, gratuidade eintegralidade) devem ser seguidos erespeitados por todos�, defende.�Uma deliberação como essa da con-ferência, que reflete o desejo da so-ciedade brasileira, ajudará o Judiciá-rio a tomar decisões contra oshospitais que insistem em fazer aten-dimento diferenciado�.

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A CPI que talvez não acabe em pizza

Marinilda Carvalho

Dizem que CPI sempre acaba empizza, mas o presidente da Comis-

são Parlamentar de Inquérito dosPlanos de Saúde, Henrique Fontana(PT-RS), avisa que esta já resultou,pelo menos, em três proposiçõeslegislativas, protocoladas na secre-taria da Câmara dos Deputados em 4de fevereiro: a Indicação 1.703/2004,o Projeto de Lei 2.934/04 e a Pro-posta de Legislação Complementar128/2004. Por trás desses nomes semgraça há iniciativas que ampliam oualteram a Lei dos Planos de Saúde(nº 9.656/1998).

Entre elas, porém, não está aproibição da chamada �fila dupla�nos hospitais públicos: a maioriarejeitou a inclusão do item no re-latório final. Fontana compreende.�Não se pode fazer uma discussãomuito maniqueísta sobre o assun-to, diante das dificuldades dos hos-pitais públicos, especialmente osuniversitários�, aconselha. �É umafonte de financiamento parcial im-portante�. O que o deputado nãocompreende é o ressarcimento �ir-risório� dos planos de saúde ao SUS.�Um mercado que movimentou em2003 R$ 29 bilhões não poderia terpago apenas R$ 45 milhões�. O re-latório da CPI lembra que a União,para cuidar da saúde dos usuáriosdo SUS � um número quatro vezesmaior � teve os mesmos R$ 29 bi-lhões em 2003. Dos R$ 225 milhõesdevidos pelas operadoras, o SUS sórecebeu R$ 45 milhões.

Arlindo de Almeida, presiden-te da Abramge, defende as empre-sas que lidera. �Há uma série deproblemas com o ressarcimento:cobranças inconstitucionais ouindevidas, fraude � como parto dehomem �, cobertura inexistente,

casos de homônimos�, enumera. Ascobranças são sujeitas a recurso,e as empresas recorrem. �Tivemosque criar verdadeiros departamen-tos jurídicos, só para recursos�.Para simplificar essa imensa teiajurídica, ele defende a identifica-ção do paciente à entrada do hos-pital, enquanto a CPI sugeria a cri-ação de uma Taxa de Ressarcimentoao SUS, a ser paga pelas operado-ras à Agência Nacional de Saúde Su-plementar (ANS), com destinaçãofinal ao Fundo Nacional de Saúde.

Atualmente, o ressarcimento aoSUS se restringe a casos de internaçãoe atendimento de urgência e emer-gência, mas somente em procedimen-tos com cobertura prevista nos con-tratos. Atendimento ambulatorial,inclusive os de alto custo e alta com-plexidade e internações eletivas, nãosão ressarcidos.

UM SETOR PODEROSOMas a tabela da ANS é �bem su-

perior� à do SUS, reclama Arlindo. �Sea saúde é um direito de todos�, ironiza,�não deveria haver tal diferença�. Osetor dos planos de saúde reúne 2.304operadoras registradas na ANS, com 37milhões de usuários. As 50 maiores em-presas de planos de saúde concentram51% dos beneficiários e 77% do totalfaturado.

A CPI foi instalada em 10/6/2003,para investigar denúncias de irregu-laridades. Concluiu os trabalhos em25/12, com a aprovação do relatóriofinal, entregue ao Ministério da Saú-de em dezembro. A próxima etapa éo encaminhamento a exame e vota-ção das três proposições, que inclu-em a proibição do cheque-caução,a criminalização dos falsos planos, aobrigatoriedade de contratos entreoperadoras e prestadores, a redu-ção da carência de 24 para 18 mesesem doenças preexistentes, o direito

a trocar de plano sem carência, as-sistência farmacêutica e atendimen-to domiciliar, regulamentação dos ins-titutos de assistência a servidores.

Além da proibição da �fila du-pla�, ficou de fora do relatório oprincipal ponto de divergência na CPI,o reajuste por faixa etária, que pre-via diferença de no máximo 100% en-tre a primeira e a última faixa etáriados planos. Hoje, a variação é de até500%. �Tivemos falhas na CPI, masacho que precisamos amadurecermais a questão da saúde suplemen-tar�, pondera o deputado RafaelGuerra (PSDB-MG), da Frente Parla-mentar de Saúde. �Ela não pode que-brar o galho do SUS, o governo é quetem que bancar o SUS�.

Mais informaçõesSíntese do Relatório Final da CPI dosPlanos de Saúde na internet:http://conselho.saude.gov.br/CNS-URGENTE/CPI_PLANOS_SAUDE_CAMARA_DEPUTADOS.doc

OS NÚMEROS DA CPI

2.304 planos de saúde sãoregistrados na ANS

R$ 29 bilhões foi o faturamentodos planos de saúde em 2003

37 milhões foi o número deusuários de planos de saúde

R$ 29 bilhões foi o orçamentoda saúde em 2003

140 milhões é o número deusuários do SUS

R$ 225 milhões era o valor doressarcimento devido ao SUS em2003

R$ 45 milhões foi o repasseefetivo em 2003

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TRTRTRTRTRAAAAATTTTTAMENTAMENTAMENTAMENTAMENTO DO DO DO DO DE AIDE AIDE AIDE AIDE AIDSSSSS

Otimismo ajuda na prevenção?

Cláudio Cordovil

ABBC, um dos mais importantesconglomerados públicos decomunicação do mundo, divul-gou, em dezembro do ano pas-

sado, pesquisa que deu o que falar nosjornais brasileiros. Nela havia a infor-mação de que 61% dos entrevistadosdesconheciam que a Aids mata. Paranão perder o punch da notícia, muitosjornais anunciaram em títulos sensaci-onalistas que �61% dos brasileiros� nãoacreditam que Aids mate. O ProgramaNacional de DST-Aids, na ocasião, di-vulgou nota dizendo que �o dado apre-sentado na pesquisa� era �resultadodo sucesso da política de tratamentoiniciada pelo governo em 1996, com adistribuição de medicamentos anti-retrovirais para pacientes com Aids�.Mas alguns analistas temem que o oti-mismo manifestado pelo controle da in-fecção com coquetéis anti-retroviraispossa levar a uma queda substancial nasatitudes de prevenção da doença. Estefenômeno já se observa por exemploentre grupos de homossexuais na Aus-trália e na Grã-Bretanha, como ates-tam estudos de Van de Ven e Elford,respectivamente.

A pesquisa �global� da BBC, vi-sando �avaliar o conhecimento e asatitudes com relação ao HIV/Aids�,foi aplicada em 15 países. No resumoda pesquisa, disponibilizado na web(http://news.bbc.co.uk/1/shared/s p l / h i / h e a l t h / 0 3 / a i d s / p d f /survey_report.pdf), uma importantenota sobre a interpretação dos da-dos. Ali diz-se que em países como oBrasil a amostra não é nacionalmen-te representativa.E que ela somenteé representativanos Estados Unidos,na Grã-Bretanha,na Ucrânia e naRússia. No Brasil,foram ouvidas portelefone 1.007 pes-soas, distribuídasentre as cidadesde São Paulo, Riode Janeiro, BeloHorizonte e PortoAlegre.

�Um assunto desta magnitude emsaúde pública deveria ter sidopesquisado com amostras representa-tivas, o que não seria difícil, porque sepoderiam utilizar amostrasjá trabalhadas pelo Ibope,por exemplo�, ressalvaFrancisco Inácio Bastos,pesquisador da Fiocruz. Nocaso foi empregada a cha-mada �amostra de conve-niência�, uma amostra sempreocupação metodológicamais séria.

�Não se pode afirmar categori-camente que 61% dos brasileirosacham que a Aids não mata�, enten-de Américo Martins, diretor da BBCBrasil. Para ele, o que é possível édizer que 61% dos entrevistadosacham que a Aids não é fatal. E issojustamente porque a pesquisa foi fei-ta em poucos municípios, não ofere-cendo um panorama representativode toda a população do país. �Mes-mo assim, o dado é muito significati-vo e importante�, diz. �Vale ressaltarque as entrevistas foram feitas emgrandes regiões metropolitanas �que hoje representam a maioria dapopulação brasileira � e que, teori-camente, estão mais expostas às cam-panhas de Aids e aos meios de comu-nicação em geral.�

Mas, dada a reação otimista dogoverno aos resultados da pesquisa,limitada ou não, uma questão se co-loca. Se as pessoas deixam de acre-ditar que a doença mata, não podemdescuidar das medidas de prevenção?Esta pergunta representa um dilemae nos leva de volta ao início da epi-demia. �Para que as pessoas tivessem

mais adesão ao tratamento foi funda-mental desconectar Aids de morte�,lembra Cristina Pimenta, coordenado-ra-geral da Associação Brasileira

Interdisciplinar de Aids, doRio de Janeiro. �Há 15anos vimos fazendo cam-panhas com este enfoque,mas o dado suscitado pelapesquisa não deixa de serpreocupante�.

Para Teresinha CristinaReis Pinto, vice-presidenteda Associação de Preven-

ção e Tratamento da Aids, de SãoPaulo, �este dado precisaria seraprofundado�. �O Brasil até hoje nãoavaliou seu Programa Nacional deAids�. Cristina Pimenta acredita queseria preciso desenvolver campanhasque mostrassem a realidade do trata-mento com o coquetel de anti-retrovirais, com cerca de 20 compri-midos por dia. �Não é uma coisa fácil,são muitos efeitos colaterais�.

�Fazemos pesquisas periódicasem diferentes segmentos sobre se aspessoas conhecem as vias de infec-ção e se sabem como prevenir a do-ença. Ficou claro que nossa escolhade comunicação tem sido bem-suce-dida�, afirma Denise Doneda, respon-sável pela prevenção no ProgramaNacional DST-Aids.

Pesquisadores que trabalhamcom o otimismo terapêutico suscita-do pelos novos tratamentos de Aidsjá manifestam preocupação com oque se observa em certos grupos dehomossexuais no tratamento com co-quetel. É comum descuidarem-se depráticas de prevenção por se acha-rem �curados�.

Campanhas de prevenção gradualmente afastaram a doença da morte, para garantir adesão ao tratamento

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Cláudio Cordovil

OPrograma de Reestrutura-ção da Assistência Psiquiá-trica Hospitalar no SUS, doMinistério da Saúde, que

começou a vigorar em 1º de fevereiro,revela uma certa correção de rumo naspolíticas de redução de leitos psiquiá-tricos e ampliação da rede extra-hospi-talar. Agora, unidades hospitalares de me-nor porte serão as maiores beneficiadas.Cada vez que um hospital reduzir 40 lei-tos ganhará um aumento no valor da di-ária paga pelo SUS. A reestruturaçãopassará por um período inicial de avalia-ção de um ano, no qual o governo dis-cutirá com gestores municipais e esta-duais o andamento das medidas.

A redução de leitos hospitalarestransformou-se em política de gover-

Reestruturação da assistênciabeneficia hospitais menores

no em 1991, porquese entende que lei-tos não promovem areabil itação totaldo paciente. Estãosendo gradualmentesubstituídos por Caps(Centros de AtençãoPsicossocial), que sãoserviços de atençãodiária, inseridos nacomunidade. ExistemCaps voltados paraadultos com transtor-nos mentais e para cri-anças e adolescentes(Capsi). Dependentesde álcool e drogaspodem ser tratadosnos Caps AD. Outromodo de substitui-ção de leitos é a cri-ação de lares tera-pêuticos, residênciasalugadas com recur-sos públicos, onde ospacientes dividemuma moradia ou vivemsob a tutela das famí-lias. Atualmente há200 residências tera-pêuticas em funciona-

mento, espalhadas por cidades comoRio de Janeiro, Belo Horizonte,Barbacena (MG), Sobral (CE), Recifee Curitiba.

Hospitais de maiorporte (acima de 600 lei-tos) podem receberacréscimos de 3,77% nadiária. Já os menores(com até 160 leitos) se ha-bilitam a aumentos de24,62%. Tais reajustes vi-sam cobrir defasagens nopreço das diárias e sinalizam a priori-dade que o governo dá às instituiçõesde menor porte, por sua facilidade emse integrar à rede de atendimento ex-tra-hospitalar.

O programa De Volta para Casatambém é instrumental na promoçãoda diminuição do número de leitoshospitalares. Em vigor desde novem-

bro de 2003, ele é mais um aliado nadesospitalização gradual dos pacien-tes. Em tese, os recursos que eramaplicados na internação do pacien-te no SUS migrariam com ele parafinanciar as novas modalidades deassistência. Com este programa, opaciente recebe do governo fede-ral bolsa de R$ 240, denominadaAuxílio-Reabilitação Psicossocial, du-rante um ano, renovável.

Mas o fato é que a reforma nãocaminha no tempo almejado. Espera-va-se que até dezembro de 2003 o pro-grama beneficiasse 650 pessoas. Noentanto, somente 226 pacientes fo-ram beneficiados no período. O anode 2004 deveria terminar com 3.600beneficiados. O governo, numa con-ta mais pragmática, já fala em até2.600 pacientes cadastrados no fimdeste ano.

Na 12a Conferência Nacional deSaúde, Douglas Parra, presidente daAssociação de Familiares de DoentesMentais (AFDM) de Sorocaba e Re-gião e delegado-usuário de São Pau-lo, perguntou publicamente ao se-cretário Jorge Solla para onde estavaindo o dinheiro do fechamento dosleitos psiquiátricos, sem receberresposta. A AFDM historicamentesempre se posicionou contra a re-forma psiquiátrica por entender queo fechamento dos hospitais traria

sobrecarga às famílias.Realmente, a máxima �o

dinheiro deve acompanhar opaciente�, que preconizaque o recurso do leito fecha-do siga o usuário, não estásendo cumprida à risca.Quem admite é o próprio go-verno. �Pelo meu gosto, te-ríamos uma pactuação que

garantisse que o recurso do fechamen-to de um leito fosse integralmente em-pregado como recurso extra-hospita-lar�, diz Pedro Gabriel Delgado,coordenador de saúde mental do Mi-nistério da Saúde. Segundo ele, istonão está totalmente garantido ainda.�Existe um modo de funcionamentodo SUS por pactuações sucessivas

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que tem que ser respeitado. O Mi-nistério da Saúde não pode fazer issopor Portaria, como quer o MinistérioPúblico�, justifica.

Visando �ampliar a racionalidade�do sistema de saúde mental, o Minis-tério da Saúde, através de sua Coor-denação de Saúde Mental, agendouuma reunião para o dia 9 de marçocom secretários municipais de saú-de de 82 municípios que têm hospi-tais psiquiátricos e que reduzirãoseus leitos em 2004. Ele prevê quedeste compromisso saiam recursosque serão integralmente aplicados àassistência extra-hospitalar. �Vamosfechar algo entre 2 mil e 3 mil leitose manter o recurso no teto munici-pal ou estadual�, adianta Pedro. NoBrasil, 139 municípios mantêm hospi-tais psiquiátricos.

Sem querer discutir os núme-ros apresentados pela AFDM, PedroGabriel afirma que �esta preocupa-ção com a desospitalização irrespon-sável é exatamente a preocupaçãodo Ministério da Saúde�. E acres-centa: �Eu não estou de acordo comos números que eles apresentam,mas de fato precisamos aperfeiçoarprocedimentos que garantam que orecurso hospitalar seja integralmen-te aplicado a dispositivos extra-hospitalares�.

Pedro Gabriel atribui a morosida-de no ritmo da reforma às dificuldadesespecíficas da desinstitucionalização.�O ritmo tem sido lento, há uma difi-culdade admitida pelo Ministério da

Saúde de os municípios fazerem rein-tegração psicossocial�, diz, pois hádesafios específicos quando se rein-tegra pacientes com 15 anos deinternação. �Existe resistência emalguns lugares, principalmente na-queles cujo imaginário social é do-minado pela figura do hospital psi-quiátrico�.

Pedro Gabriel analisa que a Re-forma Psiquiátrica está colocada parao Brasil, mas não está completa. E fes-teja a redução de 2 mil leitos psiqui-átricos em 2003 e a mudança do mo-delo de saúde mental no país. �Apesardas dificuldades, construímos um ca-minho e o estamos trilhando.�

SOBRAM VAGASNO RIO DE JANEIRO

O Rio de Janeiro reduziu leitospsiquiátricos e ainda sobram vagas.Este foi um dos benefícios da im-plantação do Sisreg-Web, umsoftware que o Departamento deInformática do SUS (Datasus) desen-volveu e que já é utilizado por al-guns municípios, como Teresópolis(RJ), para o controle de tomografiase casos de dengue, e para coloca-ção de marcapasso, no Rio.

Empregado em psiquiatria desdemaio de 2003, o Sisreg-Web permiteque o médico que está em busca deuma vaga obtenha autorização e in-formações sobre o local para onde opaciente pode ser encaminhado emtempo real, fornecidas pela Centralde Vagas. �Isto nos permite contro-

lar os leitos em todos os hospitais psi-quiátricos da cidade, sejam eles pú-blicos, privados, universitários ou fi-lantrópicos. Eu não interno no setorprivado se eu tenho leito público dis-ponível�, informa Hugo Fagundes, co-ordenador de saúde mental do Rio.

Hugo recorda o que eram asinternações antes do Sisreg. Até1982, qualquer unidade de saúdepodia solicitar internação. Em 1982,o Inamps e a Secretaria Estadual deSaúde instituíram cinco pólos deemergência. �De um dia para o ou-tro houve uma redução de 40% dosleitos na cidade: os hospitais eramloteados pelos pólos�, lembra. �Osleitos disponíveis já estavam lotados.Acabava a cota de internação e elesnão tinham o que fazer�.

O Rio também tem seu progra-ma de incentivo à desospitalização.Trata-se da Bolsa-Incentivo, para finsde �assistência, acompanhamento eintegração, fora da unidade hospi-talar, de paciente portador de trans-torno mental com história de longapermanência institucional�, com pe-ríodo de internação maior ou igual atrês anos. A Bolsa-Incentivo é no va-lor de R$ 480, desde que o pacientevá morar com a família ou em laresnão financiados pelo setor público,como os �lares abrigados�. Nestescasos, a Bolsa cai para R$ 240. NoRio de Janeiro, 19 pessoas são be-neficiadas pelo programa federal DeVolta para Casa. Já o Bolsa-Incentivoatende 25 pessoas.

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SSSSSEEEEEGURGURGURGURGURANÇA ALIMENTANÇA ALIMENTANÇA ALIMENTANÇA ALIMENTANÇA ALIMENTARARARARAR

OPrograma Fome Zero completou um ano em 3 de fe-vereiro, com um saldo de1.227 municípios atendidos.

A partir deste ano, o recém-criadoMinistério de Desenvolvimento Sociale Combate à Fome, comandado porPatrus Ananias, deverá levar o progra-ma aos municípios com mais de 500 milhabitantes de todas as regiões do país.

O governo federal distribuiu oCartão-Alimentação a 1 milhão de fa-mílias, em ações de emergência. Oprograma recebeu R$ 7,5 milhões emdoações, usados na construção decisternas para captação da água dachuva no semi-árido nordestino � atéoutubro de 2003, 3.100 cisternas jáestavam prontas e outras 3.531 esta-vam em construção. A meta da Articu-lação do Semi-Árido é construir 1 mi-lhão de cisternas até 2007. Quanto àsações estruturais, o Fome Zero vemcomprando safras locais para incenti-var a agricultura familiar e a produçãoe o consumo de leite. Como resultadodas ações estruturais, os municípiosatendidos tiveram índices positivos acomemorar. Em Guaribas e MonsenhorHipólito, no Piauí, e em São Bento doNorte e Tenente Laurentino Cruz, noRio Grande do Norte, não houve ne-nhum óbito de criança menor de 1ano. A cidade potiguar Campo Redon-do e as piauienses Guaribas e VeraMendes apresentaram melhoras emtodos os indicadores nutricionais.

O Conselho Nacional de seguran-ça Alimentar (Consea), que reúne re-presentantes da sociedade e do Esta-do, estimulou a formação de conselhos

estaduais e municipais.Até outubro, já tinhamsido instalados 20 Conseasestaduais e 66 municipais.A unificação dos progra-mas sociais de transferên-cia de renda triplicou amédia dos benefícios pa-gos às famílias, que hoje éde R$ 75. Em dezembro, oprograma alcançou a mar-ca de 10 milhões de pes-soas pobres atendidas, ou3,6 milhões de famílias, em5.447 municípios. Paraeste ano, os recursos pre-vistos para o programa sãode R$ 5,3 bilhões. Emcontrapartida ao beneficiorecebido, a família devemanter em dia o cartão de vacinaçãodas crianças, não deixar que faltem àescola, promover alfabetização casohaja adulto analfabeto em casa e, emcaso de gravidez, fazer os exames reco-mendados, como o pré-natal.

�O Fome Zero no seu primeiroano fez muito mais do que a estruturado próprio ministério permitia que fos-se feito. Fez porque a sociedade civilacreditou�, disse o presidente Lula,na cerimônia de comemoração do ani-versário do Fome Zero.Lula disse queorganizar a sociedade não é fácil.

�Só pensa que é fácil quem nun-ca trabalhou com organização da soci-edade. Não teve nenhum momento nahistória do Brasil em que a sociedadeesteve tão ávida a participar do pro-grama como no Fome Zero. Houve mo-mento em que a gente não tinha es-trutura para acompanhar a demandade contribuição para que o programadesse resultado�, lembrou. Lula con-tou que os cadastros referentes aosprogramas sociais do país, herdados dagestão anterior, mostravam disparidadena distribuição de benefícios, e o go-verno tomou a decisão de unificar osprogramas. �Tinha gente que não re-cebia nenhum benefício porque ou-tros recebiam demais. Arrumar esse ca-dastro deu trabalho, mas valeu apena�, disse o presidente.

O presidente repetiu o compro-misso do Fome Zero de atender 11milhões de famílias até o fim de seumandato. �Nós vamos chegar lá. Va-mos chegar lá porque é determina-

ção do governo, porque a sociedadeestá trabalhando e porque nãoestamos sozinhos nessa luta.�

�No dia 27 de dezembro, pude-mos fechar o primeiro lote benefici-ado, 1,2 milhão de famílias saindo deum benefício de R$ 22 em média em2002 para R$ 72,50 este ano, três ve-zes mais do que recebiam. Não é pou-ca coisa para fazer em pouco tempo,mas é pouco se analisarmos o que ain-da precisa ser feito�, afirmou Lula.

�Acho que o Fome Zero des-pertou enormes expectativas que,de um lado, tornaram possível queesse tema ganhasse novamente umgrande espaço de debate na socie-dade. Mas, ao mesmo tempo, gerou-se uma grande ansiedade por resul-tados. Isto trouxe dificuldades noinício de um processo e o governonão estava organizado para honrarestas expectativas�, avalia ChicoMenezes, coordenador de proces-sos sociais de inclusão do Ibase (Ins-tituto Brasileiro de Análises Sociaise Econômicas).

Para Chico Menezes, o resulta-do ao fim de um ano �é positivo�.�Isto se compreendemos o FomeZero como um processo em perma-nente construção, no qual a partedele referente ao programa detransferência de renda, que era fei-to pelo Cartão-Alimentação, foiunificada com outros programas,gerando o Bolsa-Família, que repre-senta um avanço na concepção ori-ginal do programa�. (C.C.)

Fome Zero, Ano I

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É importante comemorar asconquistas do primeiro ano, mastambém lembrar que o FomeZero é um processo em perma-nente construção.

O RADIS ADVERTE

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João Motta

�É viável sobreviver sem os convênios privados�

Jesuan Xavier

À frente do Grupo HospitalConceição (GHC) de PortoAlegre, que agrega quatrograndes hospitais públicos

da região metropolitana, João Mottavem demonstrando que é possível so-breviver sem os planos privados desaúde. Diretor-superintendente des-se enorme complexo, o médico, deapenas 46 anos, assumiu o cargo emmarço de 2003. Em menos de um ano,conseguiu sanar as contas do GHC.�O importante é não funcionar comouma ilha�, enfatiza.

Em entrevista à Radis, ele con-ta como consegue administrar oshospitais Conceição, Criança Con-ceição, Cristo Redentor e Fêmina,além de mais 12 postos de saúdecomunitária da cidade, que juntosatendem, em média, a cerca de 5.500pessoas por dia. Com orçamentoanual de R$ 350 milhões, o GHC é arede de hospitais vinculados ao Mi-nistério da Saúde com o maior nú-mero de leitos (1.430). O diretortraça ainda os planos para o futuroe detalha a quebra com os convêni-os particulares. �Temos compromis-so apenas com as diretrizes do SUS�,enfatiza.

Na contramão do que vários direto-res de hospitais públicos pregam, oGHC acabou rompendo com os pla-nos privados. É possível trabalhar semcontar com os convênios privados?

Na nossa opinião sim. Desde se-tembro do ano passado, passamos aaceitar apenas pacientes do SUS.Para isso, foi necessária uma novarepactuação em todos os níveis dosistema. Unificamos serviços e deixa-mos de operar isolados. Desse jeito,temos tido um aproveitamento quasetotal da capacidade ociosa, que afli-ge a um conjunto enorme de hospi-tais do país.

Na prática, como funciona essarepactuação?

Vou dar como exemplo o proje-to Como é bom nascer aqui. Assumi-mos o compromisso, com o gestormunicipal, de atender, de forma re-gulada, 2 mil partos, de oito unida-des da rede do município de PortoAlegre. É evidente que, para isso, ti-vemos que reestruturar alguns seto-res do GHC. Mas será positivo paratodos os envolvidos: para nós, quegarantimos o atendimento, para apopulação, que ficará tranqüila quan-to à prestação do serviço, e para ogestor, que desafoga todo o sistema.

O GHC passa por dificuldades orça-mentárias? Qual a atual situação fi-nanceira do Grupo?

Ao assumir, em março do ano pas-sado, o Grupo trabalhava com um défi-cit mensal de R$ 1 milhão. Devemos fe-char o balanço do primeiro ano degestão com as contas equilibradas. Achoque isso é um motivo para festejar. Valelembrar que o GHC é uma sociedadeanônima, vinculada ao Ministério daSaúde, cujo acionista majoritário(93,04%) é a União Federal.

Como a população reage ao novo mo-delo de gestão empregado no GHC?

Melhor impossível. Imagine que,diante dessa penúria total da saúdepública, disponibilizamos de imediatomais 30 leitos aos usuários do SUS.Leitos esses que estavam, em princí-pio, reservados a quem tinha convê-nio particular. Lançamos agora a cam-panha institucional �GHC 100% SUS�.A idéia é informar aos usuários do SUSsobre seus direitos, em cartilhasexplicativas. Estamos distribuindo ini-cialmente 10 mil exemplares a funci-onários, pacientes e familiares noshospitais.

O GHC tem convênios com facul-dades? Participa na formação deprofissionais da área de saúde?

Com diversas (24 ao total). Atual-mente contamos com cerca de 2 milpessoas fazendo estágios em diferen-tes setores do Grupo. O número naárea de ensino é tão representativo

que somos responsáveis hoje pela for-mação de um terço dos especialistasem medicina no Rio Grande do Sul.

Quais são os planos para o futuro?Vamos lançar agora um projeto

do Ministério da Saúde que visa operíodo pós-hospitalar. A intenção éfazer um acolhimento referenciadoainda no setor de emergência e daratenção domiciliar também após opaciente ganhar alta. Queremosmonitorá-los pelo período que o mé-dico achar suficiente. Como maiorprestador de serviços à população doRio Grande do Sul e uma organizaçãopública federal, vinculada ao Minis-tério da Saúde, o GHC deve assumir opapel propositivo na agenda de orga-nização do SUS, direcionado seus ser-viços às necessidades da população,sem substituir o papel dos gestores.Do ponto de vista interno, explorarao máximo suas potencialidades, comcolaboração mútua e utilização desistemas comuns entre suas unidades.Aproveitar as vantagens qualitativas dasua dimensão e de suas áreas deexpertise.

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EVENTOS

I CONGRESSO INTERAMERICANODE SAÚDE AMBIENTAL

Oevento apresenta como temacentral �Saúde ambiental e de-

senvolvimento sustentável: perspecti-vas e conseqüências�. O congressoabordará os seguintes temas: aepidemiologia dos riscos ambientais, oambiente construído e seu efeito nasaúde, periferia urbana e reflexos nasaúde, resíduos do setor Saúde, saúdee avaliação da qualidade ambiental,produção de alimentos e reflexos nasaúde e no ambiente, crianças e ido-sos e exposição ambiental, avaliação dosimpactos do saneamento ambiental nosetor Saúde, saúde no ambiente detrabalho, proteção da saúde como res-ponsabilidade social e política nacio-nal de saúde e meio ambiente.Data: 27 a 29 de abril de 2004Local: Centro de Eventos do HotelPlaza São Rafael, Porto Alegre (RS)Mais informações: tel. (51) 3226-3111 /3220-7000 / 0800-512244, [email protected] site www.abes-rs.org.br

I CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DOBRASIL DE PESQUISA QUALITATIVA

Iniciativa de profissionais dedicadosà pesquisa qualitativa, o evento abor-

dará metodologias e técnicas comogrounded theory methodology, analyticinduction, softwares de pesquisa, pes-quisa de avaliação, fenomenologia,focus groups, etnografia, pesquisa clí-nica, entre outras. A conferência é fru-to de parceria entre o Núcleo de Es-tudos da Família e Comunidade daPUC-SP (Nufac), o Núcleo de Pesquisada Família da Universidade de Taubatée a School of Social Work da Universi-dade de Minnesota, de Twin Cities, nosEstados Unidos.Data: 24 a 27 de marçoLocal: Taubaté, SPMais Informações: www.cibrapeq.com

6º CONGRESSO PAULISTA DE DIABETESE METABOLISMO

Dirigido a grupos de pesquisa básicae clínica e a clínicos e especia-

listas interessados em apresentar e dis-

cutir temas relacionados ao diabetesmelito, o evento apresenta como temacentral a �Heterogeneidade do Diabe-tes Melito: da pesquisa para a clínica�.Data: 29 de abril a 2 de maio de 2004Local: Campos do Jordão Arts &Convention Center, Campos doJordão, SPMais informações:www.eventus.com.br/diabetes

PUBLICAÇÕES

CASA DE OSWALDO CRUZ � CENTRODE PESQUISAS RENÉ RACHOU

Inovando a Tradição:Zigman Brener e a parasi-tologia no Brasil, organi-zado por Lisabel Klein,Nara Azevedo, SimoneKropf, Wanda Hamilton, doCentro de Pesquisas René Rachou(Fiocruz em Minas Gerais), conta a vidae a trajetória científica de um dos mai-ores especialistas do mundo em do-ença de Chagas, Zigman Brener, o pri-meiro pesquisador a demonstrar queapenas o tratamento medicamentosoprolongado curaria a infecção peloTrypanosoma cruzi. No Centro de Pes-quisas René Rachou, em Belo Horizon-te, Brener teve a companhia de pes-quisadores como Amilcar Viana Martins,José Pellegrino, João Carlos Pinto Diase Naftale Katz, entre outros. O pes-quisador nasceu em São Paulo (1928)e morreu em setembro de 2002.

Casa de Oswaldo Cruz: (21) 3882-9124Centro de Pesquisas René Rachou:(31) 3295-3566

EDITORA FIOCRUZ

Poder, Hierarquia e Re-ciprocidade: saúde e har-monia entre os Baniwado Alto Rio Negro é re-sultado de ampla pes-quisa na qual a autora,Luiza Garnelo, apresenta os diversosaspectos que compõem o complexomundo baniwa, a importância que adoença tem para esse povo, suasespecificidades, sua cultura, seu modoestóico de vida, suas inter-relaçõescom outros grupos étnicos do Alto RioNegro, no Amazonas. O livro retrataos principais problemas vividos hoje

pelos povos indígenas no Brasil em di-versas áreas, revelando a distância quehá entre as necessidades desse gru-po étnico e os escassos serviços desaúde disponíveis a eles.

Um Lugar para a Ciên-cia: a formação docampus de Manguinhos,de Renato da Gama-Rosa Costa e AlexandreJosé de Souza Pessoa,coordenado por Benedito Tadeu deOliveira, é um livro que oferece im-portante contribuição à cultura e àhistoriografia da arquitetura. A pu-blicação oferece um panorama decomo se deu a formação e a ocupa-ção do campus de Manguinhos, du-rante o primeiro século de existên-cia da Fundação Oswaldo Cruz, apartir de levantamento histórico dosedifícios da Fiocruz.

Editora Fiocruz: Av. Brasil, 4.036,Manguinhos, Rio de Janeiro, RJCEP 21040-361Mais informações: tel. (21) 3882-9039site www.fiocruz.brou www2.fiocruz.br/editora_fiocruz/index.htm

REVISTA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Epidemiologia e Servi-ços de Saúde é uma pu-blicação trimestral dis-tribuída gratuitamentepela Secretaria de Vigi-lância em Saúde do Mi-nistério da Saúde. A edição nº 2, deabril a junho de 2003, apresenta ar-tigos que abordam temas como asmudanças nos padrões de morbidadeda população brasileira, o controleda filariose linfática no país, a dinâ-mica de circulação do vírus da den-gue em área metropolitana do Brasile os anos potenciais de vida perdi-dos por causas evitáveis, segundosexo, em Fortaleza.

Para receber a revista, basta es-crever para a Secretaria de Vigilânciaem Saúde do Ministério da Saúde, noendereço Esplanada dos Ministérios,Bl. G / Edifício Sede do Ministério daSaúde, 1º andar, Brasília, DF.CEP 70058-900A revista também está disponível nosite www.saude.gov.br/svs

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PÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDO

Ana Palma*

As expedições científicas do Insti-tuto Oswaldo Cruz, no início do

século 20, permitiram um maior co-nhecimento das moléstias que asso-lavam o país. O Brasil é um país doen-te, diziam os pesquisadores deManguinhos. E provavam. O retratosem retoques da miséria, da desnu-trição e das moléstias de nosso povojogava por terra o idealismo românti-co de nossos intelectuais, influenci-ando a vertente realista que surgia.Essa influência se fez sentir em maiorgrau em Monteiro Lobato. Seu contatocom os pesquisadores de Manguinhos,principalmente Belisário Pena e ArthurNeiva, levou o criador de Emília a alte-rar completamente a concepção de umde seus famosos personagens, o JecaTatu, e engajar-se numa campanha pelosaneamento do país.

�O Jeca não é assim: está assim�Jovem promotor mal remunera-

do, Monteiro Lobato improvisa-se defazendeiro ao herdar terras do avô.Em fins de 1914, uma seca terrível as-solava a região. O problema era agra-vado pelas queimadas; Lobato, indig-nado, descobre que não pode puniros incendiários, �pois eleitor da roça,em paga da fidelidade partidária, go-zava do direito de queimar o matopróprio e o alheio.� Escreve entãocarta de protesto ao jornal O Estadode S. Paulo, que a publica com des-taque sob o título �A velha praga�.

�Este funesto parasita da terra é oCABOCLO, espécie de homem baldio,semi-nômade, inadaptável à civilização...�

Lobato volta a abordar o temaem �Urupês�, publicado a 23 de de-zembro do mesmo ano, e que trans-forma o fazendeiro improvisado nopolemista de renome nacional.

Lobato ataca o �indianismobalsâmico� de José de Alencar, Gon-çalves Dias, Fagundes Varela, agoratravestido em �caboclismo�. E compa-ra o caboclo ao �sombrio urupê de paupodre a modorrar silencioso no reces-so das grotas�. Surgia o Jeca Tatu, si-nônimo de caipira, homem do interior.

Já conhecido, em 1918 reúneseus artigos num livro: Urupês, su-gestão de Arthur Neiva, a quemLobato acompanhara numa campa-

nha de combate à malária e àancilostomose em Iguape (SP).

As três primeiras edições esgo-tam-se rapidamente. Os jornais ali-mentam a polêmica. Os saudosistas seindignam: afinal, o caboclo era o �Ai-Jesus nacional�. Mas vem a supremaconsagração. Rui Barbosa, que jamaiscitara qualquer autor vivo, refere-sea Jeca Tatu, �símbolo de preguiça efatalismo, de sonolência e imprevisão,de esterilidade e tristeza, de subser-viência e embotamento� em discursono Teatro Lírico.

Lobato já revira sua concepção decaboclo. No prefácio à quarta edição deUrupês, ainda em 1918, penitencia-se:

�Eu ignorava que eras assim, meucaro Jeca, por motivo de doenças tre-mendas. Está provado que tens nosangue e nas tripas todo um jardimzoológico da pior espécie. É essabicharia cruel que te faz papudo, feio,molenga, inerte.�

�Um país com dois terços de seupovo ocupados em pôr ovos alheios�

Lança-se numa vigorosa campa-nha jornalística em favor do sanea-mento. Expõe sem pudores a reali-dade: �O Brasil é o país mais ricodo mundo, diz com entono oPangloss indígena. Em parasitoshematófogos transmissores de mo-léstias letais � conclue Manguinhos.�Apresenta as estatísticas: 17 milhõescom ancilostomose, três milhõescom Chagas, 10 milhões com malá-

ria. �O véu foi levantado. O micros-cópio falou�.

Investe contra os falsos patriotasque o criticaram por expor nossa mi-séria e associa a questão sanitária àeconomia do país. �Só a alta crescen-te do índice de saúde coletiva trará asolução do problema econômico...Não fazer isto é morrer na lenta asfi-xia da absorção estrangeira.�

Critica os bacharéis e políticos, aquem denomina com ironia de Triatomabacalaureatus, atribuindo-lhes a situaçãocaótica do Brasil. Censura o descaso denossas elites: �Legiões de criancinhasmorrem como bichos de fome everminose. Nós abrimos subscrições pararestaurar bibliotecas belgas.�

É impressionante a atualidade dealgumas de suas críticas. Ironiza asparcas verbas concedidas à saúde pú-blica: enquanto se gastam �123 milcontos no Teatro Municipal e 13 milna exposição Pena� (100 anos da Aber-tura dos Portos), oferece-se apenasmil a Belisário Pena.

�Sempre cabem 50 réis para cadaduodeno afetado. Esta quantia, redu-zida a timol, dá para matar pelo menosuma dúzia de ancilostomos dos trêsmilheiros que, em média, cada doentetraz consigo. Os 2.988 ancilostomosrestantes ficarão aguardando verba.�

E elogia Manguinhos: �Só de láque tem vindo e só de lá há de vir averdade que salva e vence...�

Lobato força o governo a daratenção ao problema sanitário. Cria-se uma campanha de saneamento emSão Paulo, sob o comando de Neiva.O código sanitário, remodelado, viralei. E o escritor reúne seus artigosno livro O problema vital.

Lobato achava necessário não sómobilizar as elites, mas alertar e educaro povo, principal vítima da falta de sa-neamento. Escreve então Jeca Tatu � aressurreição. O conto, conhecido comoJeca Tatuzinho, inspira uma história emquadrinhos popularizada no Almanaquedo Biotônico Fontoura. O Jeca pregui-çoso, bêbado e idiota descobre quesofre de amarelão. Trata-se. E se trans-forma em fazendeiro rico.

* Jornalista da Fiocruz; a íntegra dotexto está na Revista Manguinhos(www.f ioc ruz .br/ccs/rev i s ta/revista03.htm)

Monteiro Lobato e a gênese do Jeca Tatu

Page 20: radis 19 PDF · Amarelo, por alunos, mªes e profes-soras do Stella Maris. Em 11/12, a se-cretaria voltou a movimentar a cida-de, com o 2” SeminÆrio de Avaliaçªo da EstratØgia

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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