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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Arlete Aparecida Taboada Radioweb: Outra rádio, diferentes processos de produção, roteirização e edição MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação e Semiótica, na Área de Signo e Significação nas Mídias sob a orientação da Prof. Doutora Jerusa Pires Ferreira SÃO PAULO 2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP

Arlete Aparecida Taboada

Radioweb: Outra rádio, diferentes processos

de produção, roteirização e edição

MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência

parcial para obtenção do título de Mestre

em Comunicação e Semiótica, na Área de

Signo e Significação nas Mídias sob a

orientação da Prof. Doutora Jerusa Pires

Ferreira

SÃO PAULO

2012

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Banca examinadora

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Agradecimentos

À professora Jerusa Pires Ferreira,

pelo pacto de orientação que me proporcionou esta chegada;

À parceira desta e de outras caminhadas, Carmen Lúcia José,

com quem tenho o privilégio de continuar aprendendo e me orientando;

Ao companheiro Everaldo Gouveia,

pela paciência e estímulo sempre presentes;

A todos os alunos e ex-alunos e aos demais parceiros que contribuem e contribuíram

com a realização da Radioweb São Judas.

A Vanderlei Carvalho (in memoriam):

“Tenho muito orgulho de você, Téta.”

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Resumo

Esta pesquisa teve o objetivo de verificar a composição estrutural dos sistemas de

linguagem do rádio hertziano e da radioweb e, a partir da natureza distinta de ambos,

identificar diferenças e semelhanças entre eles para apontar os deslocamentos ocorridos,

em termos de linguagem sonora, e as possíveis transformações decorrentes nos

processos de produção, roteirização e edição de programas radiofônicos, quando da

relação de fronteira entre o rádio e a radioweb.

Há experiências variadas na Internet, desde o transporte do modelo sistêmico do rádio

para a web até experiências sonoras acompanhadas de legendas em verbal-escrito e de

imagens visuais estáticas. No entanto, pouco se pensou até agora em como ocorrem os

deslocamentos da linguagem radiofônica de um sistema para outro e quais

transformações ocorrem nos processos de produção de programas radiofônicos.

Partimos das seguintes hipóteses:

1. A radioweb é obrigada a apresentar uma programação que pode ser ouvida em

diferentes momentos: a) repetidamente e no tempo planejado e decidido pelo ouvinte-

internauta, quando acessa a internet; b) após arquivar o programa para escuta posterior;

c) como no rádio, o programa também pode ser ouvido no tempo presente – “ao vivo” –

da emissora, desde que o horário da transmissão seja previamente estabelecido e o

ouvinte-internauta avisado com antecedência.

2. Muda o fluxo temporal na produção, roteirização e edição da programação. Se no

rádio hertziano é ele quem planeja a transmissão dos seus programas, preenchendo

sequencialmente as 24 horas, na web, o fluxo temporal da programação não é

seqüencial, pois os programas estão disponíveis permanentemente para atender aos

diferentes momentos de escuta, citados no item anterior. A programação “está no ar”

sempre que o ouvinte-internauta entrar no ar.

A metodologia deste estudo é a comparação qualitativa dos dois sistemas de linguagem

dos meios radio e radioweb, tendo por corpus uma emissora web constituída, a

educativa Radioweb São Judas, para analisar os deslocamentos ocorridos na linguagem

sonora e as transformações nos processos de produção, roteirização e edição dos

programas radiofônicos que passaram a considerar esse novo fluxo temporal, o tempo

presente do ouvinte-internauta, receptor e emissor ao mesmo tempo, e não mais o tempo

presente do emissor.

Esta pesquisa teve a fundamentação teórica nos estudos sobre semiosfera e fronteira, de

Iuri Lotman, sobre meios de comunicação, de Marshall Mcluhan, sobre rádio, de

Armand Balsebre, Carmen Lúcia José e Marcello Medeiros; e sobre hipermídia, de

Lúcia Santaella.

Palavras-chave: radio, radioweb, fluxo temporal, produção, programa

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Abstract This research had the objective of verifying the structural composition of the language

systems of the Hertzian radio and web radio, parting from the distinguished nature of

both, identify the differences and likenesses between them to point out the movements

occurred in terms of sound language, and the possible transformations resulting of the

production, writing, and editing processes of radio programs in the relation of the

boundary line between radio and web radio.

There are various experiences on the internet, since the transportation of the systemic

model of radio to the web, until sound experiences with subtitles and static pictures.

However, little have been thought on how radio language changes from one system to

another and which transformations occurs on the processes of radio programs

production.

We part from the following hypothesis:

1. Web radio is obligated to present a programming that can be listened to in different

moments: a) repeatedly and in a time that was decided and planned by the web listeners,

when accessing the internet; b) filing the programs for posterior listening; c) as much as

the radio the program can also be listened at the present time – “live” – as long as the

time have been previously established and the web listener have also been previously

informed.

2. In the production, writing and editing of the programming the time flux changes. If in

the traditional broadcasting stations it is the programming that defines the time of

transmission filling in sequence the whole of the 24 hours, on the web, the time flux has

no sequence, because the programs are permanently available regarding the different

listening moments summoned on the previous item. The programming is “live” every

time the web listener is online.

The methodology of this study is the qualitative comparison of language systems, both

radio and web radio, having as information a constituted wed broadcasting station, the

educational Radiowed São Judas, to analyze the movements occurred in sound language

and the transformations on the production, writing and editing processes of radio

programs that started to consider this new time flux, the present time of the web listener,

receiver and emitter at the same time, and no longer the present time of the emitter.

This research had its theoretic foundation on studies about semiosphere and boundaries,

from Iuri Lotman, about means of communication, from Marshal Mcluhan, about radio,

from Armand BALSEBRE, Carmen Lúcia José and Marcelo MEDEIROS; and about

hypermedia, from Lúcia SANTAELLA.

Keywords: radio, web radio, time flux, production, program

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Sumário Introdução .................................................................................................. 9

Capítulo 1 – Rádio e radioweb: linguagem .............................................. 13

1.1. Rádio ................................................................................................. 13

1.2. Constituintes da linguagem radiofônica ............................................. 15

1.2.1. Palavra falada .................................................................................... 15

1.2.2. Trilha musical .................................................................................... 17

1.2.3. Efeito sonoro ..................................................................................... 18

1.3. Especificidades radiofônicas ...................... ...................................... 19

1.4. Radioweb .......................................................................................... 23

1.5. Especificidades da radioweb ............................................................ 26

1.6. Síntese das especificidades dos dois espaços semióticos .............. 29

Capítulo 2 – Rádios em fronteira ............................................................... 30

2.1. Tradução das estruturas radiofônicas .............................................. 32

2.1.1. Audição e visualização .................................................................... 33

2.1.2. Trânsito e permanência das mensagens .......................................... 36

2.1.3. Intensificação da interatividade ......................................................... 37

2.2. Síntese das traduções em fronteira dos dois espaços semióticos .. 39

Capítulo 3 – Temporalidade dos espaços ................................................ 41

3.1. Relógio radiofônico ........................................................................... 41

3.2. Linearidade e alinearidade ............................................................... 45

3.3. Duração temporal flexibilizada ......................................................... 47

3.4. Instantaneidade e interatividade ...................................................... 49

3.5. Difusão e expressão ....................................................................... . 52

3.6. Síntese das traduções temporais dos dois espaços semióticos ..... 54

Capítulo 4 – Radioweb São Judas ............................................................. 56

4.1. Apresentação do objeto ..................................................................... 56

4.2. Análise do corpus ............................................................................... 59

4.2.1. Da visualidade .................................................................................... 59

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4.2.2. Da sonoridade .................................................................................... 62

4.2.3. Programação Musical ......................................................................... 64

4.2.4. Programa Lado B ................................................................................ 68

4.2.5. Em Pauta – programas jornalísticos ................................................... 72

4.2.6. Programa Língua Portuguesa ............................................................ 74

4.2.7. Programa Navitrola ............................................................................ 79

Considerações finais ................................................................................... 86

Bibliografia ................................................................................................... 90

Anexos .......................................................................................................... 95

Anexo A – Programação da Radioweb São Judas ........................................ 95

Anexo B – Face da Radioweb ........................................................................ 97

Anexo C – Seleção do Programa ................................................................... 98

Anexo D – Escuta do Programa ..................................................................... 99

Anexo E – Programação Musical .................................................................. 100

Anexo F– Lado B .......................................................................................... 101

Anexo G – Lado B ......................................................................................... 102

Anexo H – Em Pauta .................................................................................... 103

Anexo I – Língua Portuguesa .................................................................... 104

Anexo J – Língua Portuguesa ...................................................................... 105

Anexo K – Navitrola ..................................................................................... 106

Anexo L – Navitrola ...................................................................................... 107

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Introdução

Depois de muitos anos atuando em diversas funções no rádio e recentemente em

uma emissora web, a Radioweb São Judas, da Universidade São Judas Tadeu, à medida

que desenvolvia as atividades de produção, roteirização e edição dos programas que

seriam veiculados, tornavam-se cada vez mais visíveis as diferenças e semelhanças no

sistema de linguagem sonora das duas mídias. Ao transformar esta experiência em uma

pesquisa de mestrado, não poderia deixar de lembrar o que a professora Jerusa Pires

Ferreira dissera em um dia de abril de 2011, durante uma de suas aulas no curso de pós-

graduação da PUC-SP, quando explanava sobre os semióticos russos e mencionava o

processo de aprendizagem de V.V. Ivanov, no qual também se espelhava: “teoria e

vivência”. Assim, percebi que, intuitivamente, havia saído em busca da teoria que

permitisse fundamentar minha vivência, neste caso, profissional.

Esta pesquisa teve o objetivo de verificar a composição estrutural dos sistemas

de linguagem do rádio hertziano e da radioweb e, a partir da natureza distinta de ambos,

analisar diferenças e semelhanças dos dois modelos sistêmicos de rádio, atualmente em

fronteira, para apontar quais os elementos constitutivos da linguagem sonora do rádio

são traduzidos quando deslocados para o radioweb e quais mudanças são operadas nos

processos de roteirização, produção e edição de programas radiofônicos.

Algumas hipóteses configuraram-se em pontos de partida para esta pesquisa:

primeira, a de que a radioweb é obrigada a apresentar uma programação que pode ser

ouvida em diferentes momentos: a) repetidamente e no tempo planejado e decidido pelo

internauta, quando acessa a internet; b) após arquivar o programa para escuta posterior;

c) como no rádio, também no tempo presente – “nas transmissões ao vivo” – da

emissora, desde que o horário da transmissão seja previamente estabelecido e o

ouvinte/internauta avisado com antecedência.

A segunda hipótese sugere a mudança de fluxo temporal na produção,

roteirização e edição dos programas para atender a esses diferentes momentos de escuta

citados anteriormente, considerando que, se no rádio hertziano é a própria emissora que

planeja a transmissão da programação, preenchendo sequencialmente as 24 horas em

que ficar no ar, na web, o fluxo temporal da programação não é seqüencial, pois os

programas permanecem disponíveis permanentemente para atender aos diferentes

momentos de escuta decididos e planejados pelo ouvinte-internauta.

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Fundamentamos o presente trabalho em pensamentos consagrados de teóricos

sobre texto cultural, comunicação, rádio, programação radiofônica e hipermídia. De Iuri

Lotman, adotamos os conceitos sobre semiosfera e fronteira, localizando, nesta

pesquisa, os processos de produção, roteirização e edição de programas radiofônicos

como os mecanismos bilíngües existentes na fronteira, necessários à tradução que

resulta no deslocamento de constituintes do sistema de linguagem do radio para a rádio

transmitida pela internet, a radioweb.

De Marshall Mcluhan, nos baseamos no desenvolvimento da consolidada

proposição de que o meio é a mensagem representada por estudos que levam em conta o

próprio meio e a matriz cultural em que atua; de Armand Balsebre, recorremos ao seu

estudo sobre linguagem radiofônica, apresentada como o conjunto de elementos

expressivos, tais como a palavra, a música ou trilha musical, os efeitos sonoros e o

silêncio que, em suas combinações, resultam em textos de comunicação com diferentes

sentidos.

Os distintivos da palavra oral mediatizada traçados por Paul Zumthor em sua

pesquisa sobre poesia oral também foram base deste trabalho, bem como as definições

sobre matrizes da linguagem e hipermídia, de Lúcia Santaella, e sobre estruturas do

sistema de linguagem radiofônico de Carmen Lúcia José, Eduardo Meditsch e Marcelo

Medeiros. Por fim, buscamos outro semioticista, Aaron Gurevitch, para fundamentar as

questões referentes à temporalidade.

O método utilizado nesta pesquisa foi o comparativo qualitativo, com a

formulação de um problema, inserção de quadro teórico de referência, observação e

análise dos dados, teste das hipóteses e generalização das conclusões. Antes, porém, foi

feita revisão bibliográfica sobre rádio, comunicação e sistemas de linguagem, para obter

o que Juremir Machado da Silva define por “inventariar o que já foi dito sobre o

assunto” (2001: 64).

Segundo tipificação do autor, a observação dos dados da pesquisa foi atuante à

medida que a autora teve participação prática na execução dos processos de produção,

roteirização e edição de programas radiofônicos nos dois espaços de radiofonia, em

emissoras cuja programação é transmitida pelo sistema eletromagnético e na de

transmissão digital pelo computador. Assim, essa observação contribuiu com a

elaboração do que Silva chama de hipóteses de confirmação, “em geral, partem dos

fatos, do „real‟, do concreto, do vivido” (2003:33).

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Um esclarecimento, nos parece, se faz necessário: o ouvinte de rádio ou o

ouvinte-internauta de radioweb não são protagonistas nesta pesquisa. O que se buscou

foi mostrar os deslocamentos ocorridos na linguagem sonora e as transformações na

produção, roteiro e edição de programas quando em fronteira do rádio com o novo

espaço semiótico radiofônico. Em outras palavras, buscou-se mostrar que os produtores,

roteiristas e editores de áudio devem atender as especificidades das estruturas dessa

nova mídia para a construção das modelizações radiofônicas e seus significados,

confirmando Mcluhan (o meio é a mensagem) e Lotman (um espaço não semiótico,

quando em fronteira, pode resultar em ouro espaço semiótico).

Este relatório tem a seguinte apresentação: o primeiro capítulo traz informações

e dados sobre o surgimento do rádio e da radioweb e explicita sobre a constituição do

sistema de linguagem radiofônica, para, em seguida, iluminar as especificidades das

duas mídias. Ainda neste capítulo são estudadas as modelizações radiofônicas e

elencadas as diferenças e semelhanças entre os dois espaços semióticos radiofônicos

também estão presentes neste capítulo.

No capítulo dois foi defendida a primeira hipótese deste trabalho. No encontro

em fronteira dos dois espaços semióticos, a estrutura da programação disponibilizada ao

receptor e, no caso da radioweb, ao receptor e também emissor é traduzida: no rádio a

grade de programação tem o desenho de uma lista de programas sequencialmente

transmitidos sob planejamento da emissora; na radioweb muda o desenho da

programação - ela passa a ser visualizada e não apenas audibilizada.

Em Temporalidade nos dois espaços semióticos radiofônicos, título do terceiro

capítulo, está a hipótese de que a produção, roteiro e edição de programas passa a

atender ao novo fluxo temporal da programação disponível permanentemente e sempre

no tempo presente do ouvinte-internauta da radioweb e não mais no tempo presente da

emissora que trasnsmite sequencialmente seus programas.

Para ilustrar a defesa das hipóteses apresentadas, o objeto selecionado para

análise foi a Radioweb São Judas, no ar desde maio de 2009, emissora com fim

educativo, implementada pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade São Judas

Tadeu, cuja grade de programação alia conteúdo artístico e acadêmico com programas

produzidos, roteirizados e apresentados por estagiários, alunos do curso de

Comunicação Social.

Compuseram o corpus de análise trecho de uma Programação Musical

denominada Chico Buarque e seus intérpretes, além de quatro programas denominados:

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Lado B, Navitrola, Língua Portuguesa e Em Pauta, todos apresentando as matrizes

visual e sonora, com predominância da segunda. Esses programas, bem como a própria

Radioweb São Judas, podem ser ouvidos no endereço eletrônico

www.usjt.br/radio_web. Uma outra alternativa de escuta para os programas

selecionados é a utilização do CD, na extensão mp3, que está afixado na contracapa

deste trabalho.

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Capítulo 1 – Radio e Radioweb: linguagem

1.1. Rádio

Meio quente, surgido no século passado, com transmissão analógica, o rádio

configura-se como mídia em que comunicadores, produtores, redatores e técnicos, de

um lado, interagem com ouvintes, e de outro, ouvintes interagem com a mídia por meio

de cartas e telefonemas para sugestões, críticas ou elogios sobre os programas

transmitidos pelas ondas hertzianas.

Implantado no Brasil em 1.922 como meio de comunicação para a elite

(ORTRIWANO, 1985: 14), com sistema de radiodifusão pluralista em que convivem

emissoras estatais e privadas ou comerciais, seu caráter de entretenimento reforçou-se

na década de 30, ao transformar-se em meio de comunicação de massa, transmitindo

programas de auditórios, shows e radionovelas. Após a era do ouro, com o advento da

televisão e a fuga dos anunciantes, o rádio buscou sua sobrevivência na veiculação de

música, notícias e prestação de serviços.

Transmitido em ondas eletromagnéticas primeiramente em AM (Amplitude

Modulada) e a partir da década de 60, em FM (Freqüência Modulada), o rádio tem seu

mapa estendido com a formação das redes transmitidas via satélite nos anos 80. Na

década de 90, nova expansão, com o surgimento das rádios comunitárias. Entre

emissoras comerciais, educativas e comunitárias, o Ministério das Comunicações

registrava em junho de 2011 cerca de 9.300 emissoras no país.

Programas, vinhetas, chamadas, blocos comerciais e blocos jornalísticos são

veiculados em tempo real. Som, produz apenas som e esta é a natureza da linguagem

radiofônica. Basta virar ou apertar o botão para procurar uma emissora que comungue

sua direção artística com o interesse do ouvinte, no que está programado e disponível

para ouvir, obrigatoriamente respeitando-se a distribuição de horário e programas das

respectivas grades.

Segundo Armand Balsebre:

“Existe lenguaje cuando hay un conjunto sistemático de signos que

permite un cierto tipo de comunicación. Que un lenguaje se caracterice

por una agrupación de signos es lo que lo define como sistema semiótico.

La función comunicativa del lenguaje encierra un doble aspecto: El

código o repertório de posibilidades para producir unos enunciados

significantes; El mensaje o variaciones particulares sobre la base del

código.” (2004:18)

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A linguagem radiofônica é o conjunto de elementos expressivos, tais como a

palavra, trilha musical, efeitos sonoro e o silêncio que, em suas inúmeras

modelizações1, resultam em textos de comunicação com os mais diferentes enunciados e

sentidos: “[...] perdem sua unidade conceitual ao fundir-se no sistema de transmissão

que é a linguagem radiofônica” (PRADO, 1989: 36).

Para Balsebre, a tecnologia também pertence à linguagem radiofônica,

destacando a presença de microfones, dos sistemas de propagação eletromagnética,

filtros, reverberadores, recursos de gravação e reprodução, além da audição do ouvinte

ou a situação de escuta desse ouvinte, por considerá-la parte da cadeia significante que

confecciona significado à mensagem sonora. (2004: 27)

A análise da ocorrência de trânsito da estruturalidade do rádio para a

estruturalidade da radioweb proposta nesta pesquisa se assenta nos constituintes palavra

falada, trilha musical, música, efeito sonoro e silêncio, bem como nas modelizações

resultantes da interação existente entre suas estruturalidades como programas, vinhetas,

grade de programação, direção artística e chamadas, considerando os estudos de

Marshall Mcluhan de que “as mais recentes abordagens ao estudo dos meios levam em

conta não apenas o „conteúdo‟, mas o próprio meio e a matriz cultural em que um meio

ou veículo específico atua” (1964:25); de Balsebre (2004), que defende a tecnologia e

seus recursos de gravação e propagação como integrante deste sistema de linguagem; e

os de Paul Zumthor2 (2010), que em sua pesquisa sobre poesia oral tipificou alguns

tipos de oralidade, colocando a do rádio como oralidade mediatizada.

1 O Grupo Oktiabr, em Semiosfera: exploração conceitual nos estudos semióticos da cultura, publicado

em Semiótica da Cultura e Semiosfera, organizado por Irene Machado, esclarece que há sistemas

modelizantes do tipo primário, como o da linguagem verbal que é dotada de estrutura, e sistemas

secundários, os que constroem uma estruturalidade ou outras possibilidades de combinação de signos,

apesar de manterem, na linguagem verbal, uma estrutura referencial. (...) a palavra modelização deve ser

entendida como um „programa para a análise e constituição de arranjos‟ e não simples „reprodução de um

modelo‟”. (2007:29) 2 Paul Zumthor (2010) define três situações de oralidade: a primária ou pura, sem contato com a escrita;

a que coexiste com a escrita, funcionando de dois modos, como mista, cuja influência permanece externa,

ou como segunda, “que se recompõe a partir da escrita”, de uma cultura letrada “na qual toda expressão é

marcada pela presença da escrita”; a terceira situação diz respeito à oralidade mecanicamente

mediatizada, realizada por meios auditivos e audiovisuais. (2010:36)

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1.2. Constituintes da linguagem radiofônica

1.2.1. Palavra falada

Definida acusticamente pelo timbre (ligado à constituição física) e pelos níveis

variados de tom ou altura (alta ou baixa, agudo ou grave) e de intensidade e sonoridade

(forte ou suave, alta ou baixa), a palavra falada, no rádio, baseia a locução radiofônica,

dirigida a públicos de diversas faixas sócio-econômico-culturais, de gênero, idade e

hábitos de escuta diferenciados. Desenvolve-se em seus diversos tipos - locutor

anunciador ou comercial, para textos comerciais ou chamadas institucionais, locutor

apresentador e apresentador animador, para programas de diversos gêneros,

comentarista, narrador, noticiarista e entrevistador – com performances3 diferenciadas

para atendimento dos respectivos públicos.

A configuração, com exceções, foi estabelecida pelo rádio e sua própria história

mostra: a voz jovem, com tom alto, é dirigida ao público jovem; a voz mais contida,

tom mais grave, para o público adulto; se a locução é feita com ritmo veloz e forte

intensidade, portanto com alta estimulação, é adequada para o dia; com ritmo lento e

intensidade suave, de baixa estimulação, é apropriada para a noite.

Dentre as características da locução radiofônica estão a articulação ou

vocalização, que permite a projeção da palavra para o exterior do aparelho fonador; a

harmonia, ligada à maneira como são pronunciadas as palavras, se simultaneamente, ou

de forma suave ou tensa, e suas variadas combinações de sons justapostos ou

sobrepostos; a entonação ou melodia da palavra que, segundo Balsebre, definem a

expressão musical da palavra e sua significação lingüística:

La expresión musical de la palabra radiofônica y su significación

lingüística se definen conjuntamente por la melodia o entonación. La

curva melódica que la voz produce en la pronunciación de las palabras y

frases expresa la actitud psicológica del sujeto hablante [...] (2004:57)

O ritmo também é característica da locução radiofônica, traçado pela alternância

de velocidade com que são proferidas as unidades melódicas ou sonoras “porção

3 No Introdução à poesia oral, Zumthor discorre sobre as regras da performance vocal: “o ouvinte „faz

parte‟ da performance. O papel que ele ocupa, na sua constituição, é tão importante quanto o do

intérprete” ,distinguindo a ele dois papéis, “o de receptor e o de coautor. (2010: 257)

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mínima de discurso com uma forma musical determinada” (2004: 59), separadas por

pausas que são incorporadas ao texto sonoro com a função rítmica.

Para delimitar a pausa não basta obedecer a pontuação estabelecida pelas regras

gramaticais do texto escrito, pois além de permitir a respiração do locutor, a pausa

atende a outra característica da palavra falada: a naturalidade. Na oralidade mediatizada

e mista em que a oralidade coexiste com a palavra escrita, mesmo quando o texto é

escrito deve ser falado com a naturalidade do texto oral, seja quando o locutor estiver

lendo ou improvisando.

Assim, as regras estabelecidas para a redação do texto radiofônico, entre elas,

frases curtas, concisas, busca da precisão e objetividade, não cortar palavras ao mudar

de linha, não cortar frases ao mudar de página, escrever por extenso siglas, abreviações

e números (FERRARETTO, 2001: 204-228; PORCHAT, 1993: 79-80;) vem ao

encontro das características do texto sonoro, ou seja, não é mais a palavra escrita, mas a

palavra escrita para ser falada.

Essa combinação de características do texto escrito com as do texto sonoro é o

que leva Balsebre a denominar

[...] palavra radiofônica e não voz radiofônica, como “al sistema

expresivo del lenguaje radiofônico producido por la voz humana. [...] El

concepto „palavra radiofônica‟ connota la acción enunciativa del sonido

verbal de una función comunicativa”. (2004: 42)

Ou seja, a palavra radiofônica é mais que som, é ação enunciativa com

significado. Se para Balsebre é palavra radiofônica, para Zumthor é vocalidade no lugar

de oralidade: “[...] a voz ultrapassa a palavra. [...] A voz não traz a linguagem: a

linguagem nela transita, sem deixar traço” (2010: 11). E ele estabelece as regras da

performance

[...] a ação complexa pela qual uma mensagem poética é

simultaneamente, aqui e agora, transmitida e percebida. Locutor,

destinatário, circunstâncias se encontram concretamente confrontados,

indiscutíveis. Na performance se redefinem os dois eixos da comunicação

social: o que junta o locutor ao autor; e aquele em que se unem a situação

e a tradição. (2010: 31)

Também na locução radiofônica a performance vocal constrói sentidos.

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1.2.2. Trilha musical

A trilha musical, recorte ou fragmento ressignificado da música, é outro

constituinte da linguagem radiofônica. Ao inserir-se em um contexto de comunicação e

agregar-se a outros sistemas expressivos como o da palavra e o dos efeitos sonoros para

compor a linguagem radiofônica, os distintivos da música – harmonia, melodia e ritmo

– passam a ser avaliados na seleção da trilha adequada à construção de sentido de

determinada mensagem. Ou seja, a música, transformada em trilha, expande-se nas suas

singularidades de ser tocada, cantada, dançada ou ouvida em sua totalidade, e adquire

funções diversas para construir novos significados resultantes da combinação com os

demais constituintes da linguagem radiofônica. Essa pseudo-fragmentação da música

quando transformada em trilha, ao combinar-se com os outros constituintes sonoros

passa a conformar outra unidade, esta, chamada mensagem radiofônica.

Balsebre dá à trilha o nome de música radiofônica: “La música en la radio es la

música radiofónica, valor de uso comunicativo y expresivo especificamente

radiofônico” (2004:90). Em suas combinações com os outros constituintes da linguagem

radiofônica, resultados diversos vão sendo construídos de acordo com o propósito das

mensagens e assim, a trilha musical passa a cumprir função diferenciada da música.

Carmen Lúcia José e Marcos Júlio Sergl (2006) elencam possíveis situações e

funções de uso da trilha musical no rádio, entre elas: quando associada à locução

radiofônica, a personagens, produtos comerciais e programas; para denotar mudança de

temas ou assuntos; quando é o próprio assunto, portanto reconhecida como parte de uma

composição integral; para dar ritmo à locução; e quando é elemento de contato para

atrair audiência para o que vai ser falado.4

Os autores também destacam que no rádio, a trilha e os efeitos sonoros

constituíram a sonoplastia, composição de recursos sonoros para referencializar

ambientes para a locução do texto verbal oral. Ao ampliar-se em seus constituintes,

apropriando-se de outras estéticas sonoras, a sonoplastia é renomeada como Paisagem

Sonora. “A sonoplastia pode ser entendida como o conjunto de elementos sonoros

disponíveis para a composição da Paisagem Sonora5.

4 JOSÉ, Carmen Lúcua e SERGL, Marcos Júlio.Paisagem sonora. Intercom, 2006. Disponível em

www.galaxy.intercom.org.br 5 Ibidem

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18

Vale lembrar, e os próprios autores mencionam, que Paisagem Sonora é uma

expressão originária da música. Murray Schafer, em O Ouvido Pensante, já a havia

utilizado quando tomou a definição de “música de John Cage „sons à nossa volta, não

importa se estamos dentro ou fora das salas de concerto‟” (1991:187) para analisar a

possibilidade de uso dos vários sons do mundo na composição musical.

1.2.3. Efeito sonoro

Produzidos com o registro de sons ambientes naturais ou criados

tecnologicamente, os efeitos podem descrever determinada cena, conotar atmosferas

psicológicas, ilustrar assuntos ou fazer parte da narrativa das peças radiofônicas,

interagindo com a percepção e reconhecimento do ouvinte a respeito do que está

ouvindo.

Balsebre apresenta funções básicas na combinação dos aspectos denotativos e

conotativos dos efeitos, com resultados diferenciados. São elas: a) Função ambiental ou

descritiva, quando, pela denotação semântica, o efeito sonoro restitui a realidade; b)

função narrativa, quando podem se articular pela justaposição e sobreposição de

distintos segmentos sonoros da mesma realidade, do mesmo espaço temporal ou de

distintas seqüências radiofônicas, entre programas, temas ou seqüências radiofônicas; c)

função expressiva, em que predomina o uso da metáfora para expressar algo, cuja

analogia entre a fonte sonora e a idéia que representa vem determinada por convenções

culturais, mitos ou simples semelhanças rítmicas; d) função ornamental ou ilustrativa,

que não apresenta denotação semântica como o descritivo. (2004:125-132)

Além dos constituintes palavra, trilha e efeito e também das duas noções

consideradas por Balsebre como constituintes da linguagem radiofônica - tecnologia,

conjugando a presença de microfones, sistemas de propagação eletromagnética, filtros,

reverberadores, recursos de gravação e reprodução e audição do ouvinte ou a situação

em que ocorre a escuta considerando seu sistema sensorial que ressignifica uma

mensagem - o silêncio é o quarto elemento constituinte que pode inserir-se de variadas

formas na produção de uma peça radiofônica.

Considera-se, no entanto, que o silêncio somente faz parte da linguagem

radiofônica quando é apresentado, além de como fator essencial à respiração do locutor,

de forma propositada para construção de significado.

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19

1.3. Especificidades radiofônicas

O conjunto dos programas ou peças radiofônicas, diferenciados em suas

inúmeras modelizações construídas pela combinação dos constituintes da linguagem

radiofônica, forma a grade de programação de uma emissora, sequencialmente

transmitida ao longo das 24 horas em que fica no ar.

Desse conjunto fazem parte: chamadas comerciais ou spots publicitários,

apresentados em forma de texto locutado ou cantado, denominado jingle, utilizados para

venda de produtos dos anunciantes da emissora; chamadas institucionais que fazem a

propaganda, em meio às 24 horas, de programas constantes da grade da emissora;

programas de vários formatos, durações e gêneros6; programetes

7; programação

musical, que se constitui no horário específico para veiculação de músicas selecionadas

do play-list da emissora, ou seja, do conjunto de músicas que são tocadas porque

atendem à direção artística da emissora; e vinhetas, que, em suas combinações

diferenciadas da palavra com a trilha e efeito sonoro, vão carimbando o nome e a

identidade artística das emissoras, dos programas, dos comunicadores, ou fazendo

passagem entre músicas nas programações musicais, abrindo e fechando programas, ou

ainda, a cada hora cheia, situando o ouvinte sobre a emissora que está ouvindo ao

divulgar seu nome, dial e potência de transmissão.

Atualmente a grade de programação pode ser construída de forma segmentada,

dirigida a públicos heterogêneos na faixa etária, classe social, gênero e nível de

escolaridade, considerando as preferências e hábitos de escuta respectivos. Pode-se

dizer que a primeira segmentação do rádio ocorreu com a implantação da FM e a

conseqüente melhoria na qualidade técnica de transmissão de sons. A predominância na

grade dessas emissoras consolidou-se na programação musical dirigida ao público

6 Pesquisadores defendem tipificação diferenciada quando se trata de gêneros radiofônicos. André

Barbosa Filho, em seu livro Gêneros Radiofônicos: os formatos e os programas em áudio, classifica os

gêneros segundo a função da mensagem radiofônica: Jornalístico, Educativo-cultural, de Entretenimento,

Publicitário, Propagandístico, de Serviço e Especial. Luiz Artur Ferraretto, na obra Rádio: o veículo, a

história e a técnica, divide os programas pelos seus objetivos, separando-os em dois grupos: no primeiro

grupo, denominado Informativos, estão inseridos o Noticiário, o Programa de entrevista, o Programa de

opinião, a Mesa-redonda e o Documentário. O segundo grupo, o De Entretenimento, é composto pelo

Programa humorístico, Dramatização, Programa de auditório e Programa musical. Ao mesclar

componentes dos dois grupos, Ferraretto afirma surgir o que chama de Radiorrevista ou Programa de

variedades. A co-existência de gêneros diferentes em um mesmo programa é bastante comum no rádio.

Por exemplo, em um programa musical, portanto, do Entretenimento, a informação também pode estar

presente. O mesmo ocorre em um debate esportivo: gêneros Entretenimento e Informativo juntos. 7 O programete é uma peça radiofônica de curta duração, geralmente temático, de diferentes formatações

ou gêneros, com vinheta de abertura e de encerramento também de curta duração, atemporal. Pode ser

inserido na grade de programação de uma emissora ou em programas específicos.

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jovem. A segmentação difunde-se após meados de 80 quando as rádios passam a

vincular seus produtos a públicos cada vez mais perfilados. Até a década de 60, no

entanto, a programação das rádios atingia públicos mais amplos.

É a direção artística que garante a combinação das modelizações estruturantes da

emissora para caracterização do perfil editorial-artístico que orienta, considerando o

conjunto das peças radiofônicas, a segmentação de público-alvo, performance vocal de

locução e conteúdo artístico, sejam essas emissoras comunitárias, educativas, populares,

jornalísticas, esportivas, musicais, religiosas, com transmissão em AM ou FM. A

direção artística, portanto, também é da estruturalidade do rádio.

Por exemplo, na emissora segmentada esportiva, no programa esportivo – cuja

modelização é predominante nesse tipo de emissora - destaca-se a performance vocal

que tem ritmos diferenciados e podem ser observados na mudança de locução: do

narrador, como se acompanhasse o ritmo da bola de futebol em campo; do comentarista,

como se desse uma pausa para o pensamento do torcedor; e do repórter que privilegia a

informação jornalística sobre o que acontece no campo durante e em paralelo ao jogo.

Na combinação da palavra falada com os efeitos sonoros, pontua-se a marcação

do gol, a interrupção de jogo ou o término e abertura de partida. No campo de futebol,

com o radinho de pilha ao pé da orelha, o ouvinte indica ao locutor a reação que deve

ser comentada transformando-se, nesse momento, em emissor – recebe e emite – para o

locutor que transforma-se, cor um momento, também em recedptor – ele emite, mas

recebe para reemitir.

Nas rádios populares com programação voltada ao entretenimento, as

combinações modelizantes colocam a palavra e a trilha, mais a palavra do que a trilha,

como elementos principais na construção de sentido, pois o locutor apresentador é a

espinha dorsal na transmissão da mensagem radiofônica ao ouvinte. Apesar de já ser

possível observar certo deslocamento para as rádios FM, é nas AM que predomina o

modelo do comunicador popular que em sua performance vocal fideliza e se faz

companheiro do ouvinte, despertando a curiosidade em torno de quem está falando:

“logo ao ouvir a voz do locutor o ouvinte tente visualizar o que ouve, criando na mente

a figura do dono da voz”. (MCLEISH, 2001:15)

Geralmente se comunicando ao vivo, informando a hora, as condições do tempo,

do trânsito ou destacando assuntos específicos a seu público-ouvinte, esse comunicador

popular responde cartas ou conversa por telefone com ouvintes que participam da

mensagem. Necessário dizer que essa participação que pode levar à transformação do

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receptor em emissor ocorre no contexto de conteúdo determinado pela emissora. Esse

recém-emissor somente interferirá no conteúdo dos programas se tal interferência vier

ao encontro do interesse dos comunicadores ou donos de emissoras. Ou seja, apesar da

participação e interatividade com o comunicador, quem determina conteúdos da

programação é a emissora.

As rádios comunitárias surgidas no final da década de 90 foram boa tentativa em

aumentar a participação do ouvinte na transmissão da mensagem. A legislação que

delimita área de alcance da emissora a, no máximo, um km a partir de sua antena

transmissora e define que o objetivo deve ser o de proporcionar informação, cultura,

entretenimento e lazer a pequenas comunidades, para contribuir com seu

desenvolvimento, propiciava que os próprios integrantes dessas comunidades fossem

receptores-emissores de mensagens de interesse das respectivas comunidades. Isso

poderia ocorrer se, de forma geral, com exceções, as rádios comunitárias não

reproduzissem o modelo tradicional do rádio comercial.

Já em uma emissora jornalística, segmentada em textos jornalísticos, apesar do

predomínio também da palavra falada, também há a trilha e os efeitos sonoros, porém

como figurantes de segundo plano para dar ritmo à notícia veiculada e pontuar mudança

de assuntos e de programas, pois o conteúdo noticioso é o mais importante nas

modelizações ou programas desse tipo de emissora. Transmitidos ao vivo, disseminam

notícias, repercutidas ao longo do dia não só pelos ouvintes, mas também pelos

chamados formadores de opinião de outras mídias de massa, como jornais, revistas e

TVs e, mais atualmente, pela própria internet. Na cobertura jornalística radiofônica,

repórteres e entrevistados levam o som ambiente das ruas para as mensagens emitidas.

Combinados com trilhas, às vezes associadas a personagens, às vezes dando

ritmo à palavra falada, criando cenários ou expressando emoções, os efeitos tiveram

predominância no gênero dramático privilegiado no rádio nos anos 40, chamados de

Era do ouro do rádio, através das radionovelas. Na combinação com a palavra falada,

levavam o ouvinte a imaginar cenários e acompanhar narrativas em que mocinhos e

mocinhas se beijavam ao som da chuva e desviavam-se de trovões e relâmpagos, heróis

andavam à cavalo, policiais e bandidos trocavam tiros, mãe e filho se reencontravam

após anos de sofrimento.

De certa forma, a radionovela foi substituída na recepção do ouvinte pela

telenovela da TV, mas os efeitos sonoros estão ainda hoje nos spots comerciais que

continuam a usar os recursos da dramaturgia para a construção de sentidos apelativos à

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venda de produtos e marcas. Com durações curtas, mas variadas, os spots são

distribuídos em blocos dividindo programas ou, ao longo da programação, passam a

integrar a grade de programação de uma emissora.

Também peças curtas são as vinhetas que, em modelizações variadas pela

combinação da palavra, trilha e efeitos, apontam identidade da rádio, denotam direções

editoriais e artísticas, indicam, abrem e fecham programas ou harmonizam a

programação ao servirem de ponte ou passagem entre músicas.

Outra peça de curta duração constituinte da grade de uma emissora é a chamada

institucional. Como o spot comercial, também traz as qualidades de determinado

produto, porém, neste caso, as qualidades de programas da própria emissora, em busca

da audiência. Ao pé da letra, pode-se dizer que no rádio comercial a chamada

institucional gera a venda indireta de produtos e marcas, pois quanto maior a audiência

de determinado programa, objetivo da chamada, maior será o número de anunciantes e a

venda dos produtos comerciais nele anunciados pelos spots comerciais.

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23

1.4. Radioweb

O verbo pode saltar do papel para a tela eletrônica;

a foto, virar digital; o cinema, se tornar soft, trans, inter;

a televisão, ser on demand, mas suas linguagens,

mesmo transformadas pelo meio, sobrevivem.

(SANTAELLA, 2007:209)

Meio frio, segundo Mcluhan (1064), a radioweb está situada na era da

fragmentação, do efêmero, enfim, da pós-modernidade8. Todos participando de um

fluxo de informações, gerando, acessando e distribuindo, protagonistas da mudança de

paradigma: da comunicação de massa existente no rádio, em que um emissor se

comunica ao mesmo tempo com um coletivo de receptores, para a web e a comunicação

um para um, todos para todos, emissor e receptor ao mesmo tempo9. Uma rede

composta por nós, sendo cada internauta um nó.

O computador surge em 1940. A internet é criada 30 anos depois pelo

Departamento de Defesa dos Estados Unidos e completada posteriormente pelo

“WWW – Word-Wide Web, recurso de informação desenvolvido por um centro

europeu de pesquisa na área de Física, capaz de transmitir documentos na forma de

hipertextos” (MOREIRA, 1999: 210).

8 Jair Ferreira dos Santos (2005) analisa o atual contexto sócio-político-econômico, considerando:

a) O indivíduo: “O indivíduo na condição pós-moderna é um sujeito blip, alguém submetido a um

bombardeio maciço e aleatório de informações parcelares, que nunca formam um todo, e com importantes

efeitos culturais, sociais e políticos” (p.27);

b) A sociedade: “A massa pós-moderna, no entanto, é consumista, classe média, flexível nas idéias e nos

costumes. Vive no conformismo em nações sem ideais e acha-se seduzida e atomizada (fragmentada)

pelos mass media, querendo o espetáculo com bens e serviços no lugar do poder. Participa, sem

envolvimento profundo, de pequenas causas inseridas no cotidiano (p.91);

c) Isolamento: “O sujeito se converte assim num terminal de informação. Mas um terminal isolado de

outros terminais, pois as mensagens não se destinam a um público reunido, mas a um público disperso

(cada um em sua casa, seu carro, seu micro). Eis porque a massa pós-moderna é atomizada

(ultrafragmentada). (p.95) ;

d) Fluxo temporal: “O sujeito pós-moderno é a glorificação do ego no instante, sem esperança alguma no

futuro”. (p.105) 9 Definindo o computador como nova mídia em contraponto às midias tradicionais, Wilson Dizard Jr

afirma que essas novas tecnologias não se adequam à antiga definição de meios de comunicação de massa

se considerado que mídia de massa “significa produtos de informação e entretenimento centralmente

(grifo nosso) produzidos e padronizados, distribuídos a grandes públicos através de canais distintos. Os

novos desafiantes eletrônicos modificam todas essas condições”. (2000:23)

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Em sua evolução, transforma-se em extensão “do nosso cérebro. Com sua

habilidade de armazenar e manipular símbolos, o computador imita a mente na sua

capacidade de funcionar como um meio de computação e um meio de representação”

(cf. JORNA, 1990:195 apud SANTAELLA, 2003: 233). Com capacidade para fornecer,

processar e comunicar dados, passou a ser chamado de mídia,

[...] palavra usada para se referir tanto aos sistemas de comunicação, tais

como revistas, jornais, rádio, televisão etc., quanto a uma peça de

propaganda que pode estar no rádio, num programa de TV, jornais etc.

(2003: 213)

Na década de 90 surgem na internet as redes sociais. O marco inicial propiciou a

interatividade em tempo real entre usuários, com o sistema monomodal de

relacionamentos MSN, passando pela monomodal múltipla, a Rede 2.0, utilizada para

entretenimento, contatos profissionais, marketing social e compartilhamento de

arquivos por meio de sites como Orkut e Myspace, chegando na multimodal Rede 3.0,

que permite o uso de aplicativos e de mídias móveis, como o Facebook e o Twitter.

As RSIs são plataformas-rebentos da web 2.0, que inaugurou a era das

redes colaborativas, tais como wikipédias, blogs, podcasts, o Youtube, o

Second Life para compartilhamento e intercâmbio de arquivos como [...]

entre elas o Orkut, My Space, Goowy, Hi5, Facebook e Twitter com sua

agilidade para microbloging . (LEMOS E SANTAELLA, 2010: 7)

Apenas para contextualizar onde está inserida a radioweb, alguns dados

estatísticos: em 2008, havia mais de 133 milhões de blogs (DELARBRE, 2009)10

, além

de webcans, youtube, ipod e twitter, entre tantas outras ferramentas que permitem a

apropriação de conteúdos. Pesquisa11

mostra que a cada dia, 500 mil pessoas entram

pela primeira vez na Internet e estima que em 2012 o número de usuários chegará a 2

bilhões.

10

Raúl Trejo DELARBRE Internet como expressão e extensão do espaço público, artigo publicado na

Revista Matrizes, da Escola de Comunicação e Artes da USP, Ano 2, n.2, primeiro semestre de 2009,

p.89 11

Dados extraídos de pesquisa feita pelo Ibope Nielsen Online, publicados em www.teleco.com.br

Acesso em 3.05.2011, às 10h47

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Ligia Trigo de Souza12

diz que há três tipos de emissoras na web. No primeiro

tipo está a transmitida pelas ondas eletromagnéticas, que a partir de 1996 começou a

funcionar também na internet. A este tipo de emissora, segundo a autora, pertencem as

que funcionam em off-line, ou seja, utilizam a rede para divulgar seu trabalho no dial

eletrônico e não disponibilizam o áudio como seu principal serviço.

Há de se considerar que a velocidade dos avanços tecnológicos e a facilidade de

acesso e de uso dos seus recursos fazem com que cada vez mais se reduza a ocorrência

desse tipo de emissora, aumentando, em conseqüência, o segundo tipo definido por

Souza: a on-line, que da mesma forma existe fora da internet, mas disponibiliza o áudio

na rede como seu produto principal. Transmite concomitantemente pelas ondas

magnéticas e pelo sistema digital. O terceiro tipo é a emissora que não existe fora da

internet, designada pela autora de NetRádio, e que será denominada nesta pesquisa

como Radioweb.

A transmissão pela internet é digital, em cujo sistema a informação é

transformada em dados, na combinação binária de 0 e 1. Existem duas possibilidades de

transmissão: ao vivo e on demand. Na transmissão ao vivo, em streaming13

, o sinal de

áudio do programa é enviado a um computador que o codifica como se fosse sub-

arquivos, em formato de pacotes de dados. Ligado a um servidor, esse computador lhe

envia os pacotes. Os usuários, conectados ao servidor, passam a receber em seus

computadores os pacotes da transmissão, tendo acesso independentemente de o arquivo

ter sido transmitido totalmente. Após a transmissão ao vivo os pacotes são apagados

imediatamente.

Na transmissão on demand, os arquivos digitais do programa ficam disponíveis

no servidor e são acionados quando o ouvinte decide escutá-los. Em ambos os casos, a

transmissão se dá via streaming, o chamado fluxo de transmissão contínua, e o arquivo

não fica armazenado no computador do usuário.

12

A análise da autora consta de sua dissertação de mestrado Rádios@Internet: o desafio do áudio na rede

na Escola de Comunicações e Artes, USP, 2003. 13

A transmissão em streaming tem a propagação contínua, sem interrupção. Também é chamado de

síncrono: em sincronia com o tempo real.

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1.5. Especificidades da radioweb

Funcionando em ambiente digital, a radioweb tem em sua estruturalidade as três

matrizes da linguagem, a sonora, a visual e a verbal, cuja presença em suas variadas

modelizações é característica da linguagem hipermidiática14

. Para ouví-la é necessário

acessar determinado endereço eletrônico no computador e, por meio de índices, ícones

e símbolos, visualizar a programação que pode ser selecionada para audição. Portanto,

além da oralidade, estão presentes a palavra escrita e a imagem.

No que diz respeito à matriz sonora, como no rádio, compõem a estruturalidade

da radioweb as combinações resultantes da palavra falada, música, a trilha musical e os

efeitos sonoros, com o intercâmbio recorrente entre eles que resulta em outras

modelizações. Assim, são consideradas estruturas nucleares os programas que se

apresentam em seus diversos gêneros15

e durações temporais, as vinhetas e as chamadas

institucionais.

Temos, portanto, em fronteira, o diálogo permanente entre os diversos textos em

que novas estruturas vão se formando na radioweb, permitindo ressaltar que cada

gênero de programa pertencente à grade de programação se transforma em outra

estrutura nuclear, a estrutura dos programas de Entretenimento, a dos programas de

Variedades ou a dos programas Informativos ou Jornalísticos, a estrutura da direção

artística, enfim, a própria estrutura do que é chamado no rádio de grade de

programação.

Necessário esclarecer como está sendo utilizada, nesta pesquisa, a nomenclatura

radioweb. Recebe esta denominação a emissora operada exclusivamente no computador

e não a que tem transmissão simultânea, pelas ondas eletromagnéticas e digital.

Considera-se, neste caso, que esse tipo de mídia tem maior proximidade com uma

homepage que oferece arquivos em diferentes sistemas de linguagem e reproduz o áudio

transmitido pelas ondas hertzianas. Ter a transmissão feita exclusivamente pelo sistema

digital é uma das características da radioweb.

14

Lúcia Santaella denomina hipermídia como “síntese inaudita das matrizes de linguagem e pensamento

sonoro, visual e verbal com todos os seus desdobramentos e misturas possíveis. [...] a hipermídia

pressupõe um desenho estrutural para a inserção interativa do leitor imersivo”. (2005: 392) 15

Adotamos nesta pesquisa a seguinte tipificação: programas do gênero Informativo ou Jornalístico para

aqueles que tem por base principal a notícia; de Entretenimento para aqueles cujo objetivo é propiciar

diversão ao ouvinte; e de Variedades ou radiorrevista, quando há a mistura dos dois gêneros anteriores.

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Outra característica considerada neste trabalho é que, diferentemente do

podcast16

, a radioweb apresenta apenas programas de áudio, enquanto o podcast pode

oferecer arquivos na linguagem audiovisual, apesar de existir a nomenclatura videocast

denominativa de para este sistema.

Mais uma diferença entre radioweb e podcast é a existência da Direção Artística

como constituinte da estruturação de uma emissora radiofônica. É por meio da Direção

Artística, espécie de coluna vertebral, que se tornam pertinentes as diferenciações de

conteúdos e de estéticas entre as emissoras, garantindo o cumprimento da proposta

editorial-artística de cada uma delas.

Sobre esta estruturalidade no rádio, José comenta:

[...] importante tratar da direção artística porque tudo decorre dela em

uma emissora de rádio: a formação da carteira de clientes, a seleção de

vozes para a locução para os diferentes horários e programas, os temas e

conteúdos a serem tratados como programa e/ou programete, a editoria

jornalística e a constituição do playlist da emissora; por playlist entenda-

se o amplo repertório sonoro-musical a ser usado nas diferentes durações

programáticas da emissora [...]17

O estabelecimento da transmissão de programas ao vivo e a periodicidade

planejada na atualização da programação radiofônica também são componentes da

proposta editorial-artística da emissora web, executada pela Direção Artística.

Ao encontro desse pensamento, o pesquisador Marcelo Medeiros18

aponta como

descaracterizadores do modelo rádio na internet, a falta de regularidade na produção de

programas, a interrupção da continuidade de transmissão, e a não-centralização da

produção.

Ao conceituar um programa de rádio, ele19

defende a presença de elementos

radiofônicos principais ou conceituais - que são a linguagem radiofônica e o discurso

radiofônico - e também a presença dos elementos estruturais da linguagem radiofônica -

16

Forma de transmissão de arquivos de áudio que podem ser atualizados mediante assinatura do

internauta e indexação de RSS, mecanismo que permite o download atualizado. A palavra une os termos

Pod – Personal On Demand com Broadcast, ligado à transmissão. 17

JOSÉ, Carmen Lúcia. Essa foi pra tocar no rádio. 6º. Encontro de Música e Midia, do Centro de

Estudos em Música e Mídia, Música de/ Para. São Paulo: Musimid, 2010 18

MEDEIROS, Marcelo. Podcasting: um antípoda radiofônico. XXIX Congresso Brasileiro de Ciências

da Comunicação, 2006. Brasília: Intercom, 2006 19

Idem. Artigo Transmissão sonora digital: Modelos radiofônicos e não radiofônicos na comunicação

contemporânea. XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Santos: Intercom, 2007

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entre eles, a presença do locutor/apresentador, da grade de programação, vinhetas,

chamadas, blocos comerciais e blocos jornalísticos.

Eduardo Meditsch ilumina outras características do rádio:

é um meio de comunicação sonora, invisível e que emite em tempo real.

Se não for feito de som não é rádio, se tiver imagem junto não é mais

rádio, se não emitir em tempo real (o tempo da vida real do ouvinte e da

sociedade em que está inserido) é fonografia, também não é radio20

.

Como ponto de partida, ao considerar as características dos meios de

comunicação citadas por José, Medeiros e Meditsch, denota-se que uma emissora de

rádio, para funcionar no computador, precisa configurar-se a partir da natureza da

internet, enquanto ocorre o diálogo metalingüístico com a estruturalidade do rádio, em

fronteira.

Assim, nesta pesquisa está sendo considerada radioweb, a rádio que: 1) funciona

exclusivamente pela internet; 2) disponibiliza apenas arquivos sonoros; 3) possui

direção artística para orientar e garantir a editoria temática e artística; 4) tem

possibilidade das duas formas de transmissão, on demand e ao vivo; 5) apresenta

periodicidade planejada para a atualização da produção de programas.

Como diz Balsebre, não é possível compreender o conceito de mensagem se não

estiver referida a um contexto comunicativo, “un mensaje es alguien interpretando un

mensaje. Sin la interacción emissor-receptor, sin la mediación de un proceso de

percepción, considero que la producción de mensajes no tiene sentido” (2004:19)

20

MEDITSCH, Eduardo. O ensino do radiojornalismo em tempos de internet. In Moreira, Sonia

Virginia.; Del Bianco, Nelia. (Org.). Desafios do Rádio no Século XXI. Rio de Janeiro: UERJ/Intercom,

2001.

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29

1.6. Síntese das especificidades dos dois espaços semióticos

Antes de saber quais mudanças são operadas pelos processos de roteirização,

produção e edição de programas radiofônicos na fronteira entre radio e radioweb, torna-

se necessário sintetizar as estruturalidades dos dois modelos sistêmicos de rádio para,

posteriormente, nos capítulos seguintes, iluminar a tradução dos elementos constitutivos

da linguagem sonora do rádio quando deslocados para a radioweb.

Assim, consta da estruturalidade do rádio, a presença de:

a) constituintes da linguagem radiofônica, a palavra falada, trilhas, efeitos e

silêncio;

b) a programação é ouvida segundo o relógio radiofônico estabelecido pela

emissora;

c) estruturas modelizantes como programas, vinhetas, chamadas e spots

comerciais que resultam em grade de programação;

d) direção artística como elo dos formantes da editoria temática e artística

(conteúdo, programação, performance vocal);

e) oralidade mediatizada.

Na radioweb:

a) soma-se à linguagem sonora os demais sistemas de linguagem, o verbal e o

visual e o encontro resultante dessas matrizes;

b) a programação é visualizada pelo ouvinte-internauta no espaço físico onde

funciona; c) transmissão é feita de duas formas: on demand e ao vivo.

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Capítulo 2 - Rádios em fronteira

Nesta pesquisa predomina o estudo da linguagem sonora presente nos meios

rádio e radioweb e as transformações nela decorrentes quando deslocada de um meio

para outro ao passar por mecanismos de tradução aqui estabelecidos como os processos

de produção, roteirização e edição dos programas radiofônicos.

Para embasar este estudo foram utilizados os conceitos de semiosfera21

e de

fronteira do semioticista Yuri Lotman (1996), pois o trânsito entre os dois sistemas se

encontram numa zona bilíngüe que traduz metalinguisticamente uma modelização

textual em outra, a partir da estruturalidade da nova mídia.

Así como en la matemática se llama frontera a un conjunto de puntos

perteneciente simultáneamente al espacio interior y al espacio exterior, la

frontera semiótica es la suma de los tradutores –filtros bilingües pasando

através de los cuales un texto se traduce a otro lenguaje (o lenguajes) que se

halla fuera de la semiosfera dada. (1996: 24)

Na fronteira, os processos de tradução vão transformando, misturando e ao

mesmo tempo distinguindo o que é modelização do rádio e o que é modelização da

radioweb, cujo diálogo entre ambas as mídias ocorre no interior da natureza de cada

uma porque, afinal, cada meio produz sua respectiva mensagem.

Ao adotar os conceitos de Lotman nesta pesquisa comparativa de linguagem

entre rádio e rádio pela internet, foi possível perceber que ao encontro de seu

pensamento vem o de outro semioticista russo, Aaron Gurevitch, para quem “[...] ao

comparar e encontrar grandes similaridades, é preciso sempre mostrar as diferenças [...]

Só é possível comparar fenômenos semelhantes, mas é o estudo das diferenças, das

especificidades, das particularidades que faz clara a percepção dos objetos [...]”22

Também foi possível entender que para traçar a fronteira entre os dois espaços

semióticos propostos seria necessário o conhecimento dos elementos componentes

respectivos, chamados por Lotman de estruturas nucleares, e, assim, apontar diferenças

e especificidades entre ambos.

21

Segundo Lotman, semiosfera é o espaço composto por estruturas nucleares e periféricas formadas por

diversos textos e linguagens que se relacionam em níveis diferentes de hierarquização em um continuum

semiótico. Apresenta as características da delimitação, traçada pela homogeneidade e individualidade dos

códigos, e da irregularidade, marcada pela diversidade de códigos, ambas determinantes da fronteira com

o espaço extrassemiótico, onde ocorrem os processos semióticos. (1996: 22-31) 22

In Artigo A visita, em que a autora, Jerusa Pires Ferreira, relata o encontro com o pesquisador, em

Moscou, em novembro de 1997.

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Temos, neste estudo, dois espaços semióticos delimitados pela fronteira

ambivalente, que une e ao mesmo tempo separa, onde estão localizados os mecanismos

tradutores “através de los cuales un texto se traduce a outro lenguaje (o lenguajes) que

se halla fuera de la semiosfera dada.” (1996:24). O autor explica que na fronteira, parte

indispensável da semiosfera, o mecanismo bilíngüe traduz as mensagens externas em

linguagens internas da semiosfera e o inverso também.

É por meio dela que a semiosfera faz o contato com os espaços não semióticos e

alossemióticos “[...] todos os mecanismos de tradução que estão a serviço dos contatos

externos pertencem à estrutura da fronteira da semiosfera” (1996: 26, tradução nossa).

Esse encontro de desiguais gera novos textos culturais, novas semiosferas, novas

fronteiras e periferias de intensos processos dinâmicos.

Com a web 2.0 como plataforma para transmissão de áudio, considerado até

então um espaço assemiótico frente à linguagem radiofônica, consolida-se um espaço de

interação em que ocorrem processos de tradução entre estruturalidades diferenciadas.

Consolida-se, portanto, a fronteira entre as distintas estruturalidades radiofônicas.

Nela, estão os processos de produção, roteirização e edição de programas

radiofônicos como mecanismos de tradução das estruturas nucleares do rádio em

estruturas periféricas dessa outra estruturalidade, da radioweb, para, por fim,

conduzirem-se ao núcleo do novo espaço semiótico.

La frontera tiene tambiém otra función en la semiosfera: es un dominio

de procesos semióticos acelerados que siempre transcurrem más

activamente en la periferia de la oikumena cultural, para de ahí dirigir-se

a las estructuras nucleares y desalojarlas. (1996:28)

Se, como diz Lotman, da posição do observador depende por onde passa a

fronteira de uma cultura dada, no caso do ponto de vista do observador interno do rádio,

alguns elementos encontram-se no espaço extrassemiótico ou alossemiótico; no entanto,

do ponto de vista do observador externo dessa estruturalidade radiofônica, tais

elementos podem apresentar-se como pertencentes à sua periferia semiótica.

Na posição do observador interno, os elementos que se encontram em fronteira,

ao serem traduzidos, passam a integrar outro espaço semiótico, transformamdo-se em

estruturas nucleares dessa nova semiosfera.. “El espacio no-semiótico, de hecho, puede

resultar el espacio de otra semiótica”. (1996: 29) Ou seja, a estruturalidade do rádio, por

conta dos processos semióticos acelerados em fronteira, transforma-se em periferia de

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outro espaço semiótico e, posteriormente, ruma ao centro dele. Essas estruturas

semióticas, ao serem transportadas para o centro, transformam-se em estruturas

dominantes nesse novo espaço semiótico – o da radioweb.

2.1. Tradução das estruturas radiofônicas

Uma das hipóteses apresentada por este trabalho é que, diferentemente do rádio,

a radioweb é obrigada a apresentar uma programação que pode ser ouvida em diferentes

momentos: repetidamente, no tempo decidido pelo ouvinte-internauta quando acessa a

internet ou após o arquivamento do programa; e, ainda, como no rádio, também no

tempo presente da emissora, o chamado ao vivo, desde que o horário da transmissão seja

previamente estabelecido e o ouvinte-internauta avisado com antecedência por alguma

modelização possível nessa outra semiosfera.

A possibilidade desta nova programação que pode ser ouvida em diferentes

momentos está fundamentada no encontro em fronteira dos dois espaços semióticos da

radiofonia com suas respectivas estruturalidades: a radioweb, com transmissão

exclusivamente digital, e o rádio, com transmissão pelas ondas eletromagnéticas.

Apesar de não ser proposta desta pesquisa, é importante mencionar que o rádio

hertziano também vai assimilando em sua estruturalidade constituintes de outro espaço

semiótico, o da internet. Por exemplo, a veiculação de sua programação no dial

eletrônico reproduzida concomitantemente no endereço da internet. Outro exemplo é a

interatividade com o ouvinte de rádio. Ela aumenta com o uso dos estruturantes da

internet: antes do sistema digital, o contato entre emissor e receptor, no rádio, restringia-

se ao telefone ou correio; atualmente, somam-se a esses recursos os canais digitais,

como twitter, facebook, e-mail e demais tipos de mensagens transmitidas digitalmente.

Aumentam não só as formas de contato com os produtores da rádio, mas também a

velocidade com que ocorrem.

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33

2.1.1. Audição e visualidade

A garota voltava para o escritório e ligava seu radinho de pilha após almoçar

rapidamente para não perder seu programa de rádio preferido. Todo dia debruçava-se

na mesa e lá ficava, ouvindo, encantada pela voz e palavras do apresentador do

programa. Foram anos e anos a fio seguindo-o com os ouvidos, até perderem-se no

cotidiano diferenciado que a vida obriga. Muito tempo se passa e ela, já adulta,

jornalista formada trabalhando em rádio, recebe a notícia de que o ídolo de anos atrás

participaria ao vivo no jornal falado da mesma emissora. No dia seguinte, ao chegar

cedo na rádio, percebe a roda de profissionais em animada conversa, no corredor em

frente a porta do estúdio. Presente na roda, ela reconhece a voz que por tantos tempo

admirara a imaginar seu rosto. E mediante a oportunidade de finalmente conhecer o

rosto da voz, percorre rapidamente o corredor até chegar ao final e fecha a porta sem

olhar para trás. Preferiu ficar com a imaginação.

Estruturado pelas combinações dos elementos da matriz sonora - a palavra

falada, trilhas, efeitos e silêncio - o rádio apresenta modelizações diversas como

programas, programetes, vinhetas, spots publicitários e chamadas institucionais,

interligados em uma grade de programação pela direção editorial-artística, e que podem

ser ouvidos durante as 24 horas em que a emissora fica no ar. Nesse relógio radiofônico,

a transmissão das peças ocorre sequencialmente ou com a linearidade estabelecida pela

emissora, ou seja, o ouvinte pode escolher o programa que quer ouvir, porém, deve se

sujeitar ao horário de transmissão determinado pela emissora.

Tanto o rádio como a radioweb apresentam oralidade mediatizada, mas na

estruturalidade da radioweb somam-se, aos constituintes da linguagem sonora, os

constituintes das matrizes de linguagem verbal e visual, resultando na visualidade de

suas modelizações no espaço físico em que funciona a emissora digital. O conceito de

visualidade vem de Lucrécia Ferrara, ao comparar com visibilidade. Se este

“corresponde à elaboração perceptiva e reflexiva das marcas visuais”, o de visualidade é

“para designar a imagem que frouxamente se insinua na constatação receptiva do visual

físico e concreto [...]” (2002: 120).

Essas modelizações radiofônicas libertam-se do que no rádio é chamado “grade

de programação”, a listagem de programas em ordem temporal transmitidos

sequencialmente para ocupar as 24 horas em que a emissora fica no ar. Um exemplo de

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grade de programação, com transmissão sequencial temporal dos programas é a da

Rádio Clube.

ade de

Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo

05:00 - 06:30 A Hora do Trabalhador Lucas Siqueira

06:30 - 08:00 Bom Dia Cidade

Alexandre Pereira, Kátia Regina e Cristiano

Silva

08:00 - 11:30 Show da Manhã Rose Leite

11:30 - 12:30 A Hora do Povo

Kátia Regina, Napoleão Bernardes e Edélcio

Vieira

12:30 - 13:30 Assembléia de Deus Igreja Assembléia de Deus

13:30 - 16:00 Show da Tarde Farley Jota Santos

16:00 - 17:50 BlumenauFest Elza Aparecida

17:50 - 18:00 Palavras Amigas Pastor Marcos Giústi

18:00 - 19:00 Sucessos da Clube Locutores

19:00 - 20:00 A Voz do Brasil

20:00 - 22:00 Clube da Noite Cristiano Nunes

PATROCINADORES

Em uma radioweb, os programas passam a compor uma “programação” também

vinculada por determinada direção editorial-artística, mas não precisa ser mais uma

grade de progamação na forma de uma listagem.

[...] estão simultaneamente expostos e disponíveis, sem pontuações fixas

para entrar no ar, porque a qualquer tempo, o ouvinte-internauta pode

clicar e ouvir qualquer um deles. (JOSÉ, 2010)23

23

Cf. NR 17, p. 27

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35

Ou seja, o desenho da programação pode ser traçado pelos próprios programas

visualizados na tela do computador, cuja disponibilidade temporal permanente

extinguiu a obrigatoriedade de preencher as 24 horas de transmissão existente no rádio.

Há de se registrar, no entanto, que ainda é comum na internet a repetição visual de uma

grade na forma de lista de programas, repetindo o modelo do rádio eletromagnético.

Mas, como dito, há outra possibilidade de desenho de programação. Segue um exemplo,

o da Rádio Uol:

A transmissão da radioweb é feita de duas formas: on demand, quando os

arquivos dos programas ficam na tela permanentemente postados e arquivados no

endereço eletrônico da radioweb, à disposição do ouvinte-internauta, e ao vivo,

modelização também presente na estruturalidade do rádio. Nele, mesmo quando os

programas são gravados, a transmissão é feita em tempo real com o do ouvinte que

sintoniza a emissora.

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Na tradução em fronteiras, uma das estruturas do rádio, a reprise de programas,

ou o momento em que se ouve pela segunda vez um programa após a emissora

informar a nova data de transmissão - o que geralmente acontece aos finais de semana –

é modelização transformada. De estrutura nuclear do rádio que antes estabelecia o

horário de retransmissão de determinado programa, na radioweb a reprise deixa de

ocorrer, pois é o ouvinte quem decide o quê e quando acessar as peças radiofônicas. Na

estruturalidade da radioweb, é ele quem passa a decidir se haverá a retransmissão, qual

o programa a ser retransmitido e quando quer ouví-lo.

No encontro em fronteira da radioweb com o rádio, há tradução de outra

estrutura nuclear do rádio, a chamada institucional. Nele, além de ser usada para

informar sobre reprises de programas, a função principal da chamada institucional é a de

convidar o ouvinte a sintonizar a emissora para audição específica de um programa em

determinado dia e horário, trazendo para isso, em diferentes combinações, os atributos

qualitativos do programa ao qual se refere. Ou, em outras palavras, no rádio, a

programação ou programas específicos, somente serão conhecidos com antecedência

pelo ouvinte se houver divulgação por meio de chamadas institucionais24

.

Na radioweb a chamada também pode ocorrer, porém, mantida em um espaço

específico, visível na espacialização da programação ou na modelização do programa

Ao vivo. Se no rádio a chamada informa data temporal em que o programa será

transmitido, na radioweb ela informa sobre a disponibilidade do programa na tela do

computador, portanto, o espaço a ser acessado.

2.1.2. Trânsito e permanência das mensagens

Os programas radiofônicos também são traduzidos na fronteira entre as duas

semiosferas e novas modelizações podem surgir na radioweb. Tendo por característica a

natureza transitória e um ouvinte que, no geral, desenvolve outras atividades enquanto o

rádio está ligado ou que não pode pedir para o locutor repetir o que acabou de dizer, o

rádio é obrigado a abordar temas e assuntos de forma simples, rápida e objetiva, na

busca da audição e compreensão de sua mensagem pelo ouvinte. “Trata-se, de fato, de

um meio de comunicação efêmero, e se o ouvinte não estiver ali para ouvir o noticiário

este já terá sido transmitido e ele terá de esperar pelo próximo”. (MCLEISH, 2001:17).

24

Com a internet, tornou-se possível às rádios com transmissão em ondas eletromagnéticas

disponibilizarem em seus respectivos sites, entre outras informações, a programação e a equipe de

locutores, além de reproduzirem o áudio concomitantemente.

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Na radioweb, ouvida, mas também vista em sua espacialização, é possível o

aprofundamento de temas e assuntos divididos em vários programas que permanecerão

disponíveis, todos ao mesmo tempo, e por tempo indeterminado, à disposição do

ouvinte-internauta, em uma mesma programação que poderá acessá-los para ouvir

quantas vezes quiser.

Nessa espacialização da radioweb, a programação musical também se

desvencilha dos períodos fixos da grade linear do rádio e pode adquirir nova proposta

com agrupamentos variados de músicas, seja com intérpretes diferenciados, de épocas

variadas, de canções temáticas etc25

, transformando cada agrupamento em uma

programação musical. No rádio, a programação musical atende à direção artística da

emissora não só na escolha de músicas adequadas ao seu público-alvo, mas também na

seleção que mistura, em um mesmo período de transmissão, músicas com estimulações

rítmicas diferentes, músicas interpretadas por bandas com as interpretadas por solistas,

cantoras com cantores etc.

2.1.3. Intensificação da interatividade

O programa Ao vivo está modelizado conforme arranjo pertencente à estrutura

nuclear dos dois espaços semióticos. Original do rádio, na fronteira com a radioweb é

traduzido e transforma-se em estrutura nuclear desse novo espaço trazendo os mesmos

constituintes: palavra falada, trilhas, efeito e silêncio, estruturantes de vinhetas de

abertura, encerramento e passagem, e de blocos de conteúdo temático dos diversos

gêneros radiofônicos.

A participação do ouvinte, ou a comunicação em tempo real com locutores e

produtores do programa que está no ar, também é do núcleo do Ao vivo e é este texto

que, traduzido na fronteira com a semiosfera da radioweb, tem um de seus elementos

transformados: o canal por onde ocorre essa participação. Antes, no rádio, o ouvinte

conversava com os profissionais do rádio por telefone ou por carta enviada pelo

correio; com a radioweb, além do telefone, somam-se os canais digitais como twitter,

facebook, e-mail e demais tipos de mensagens possibilitadas pela transmissão digital.

Aumenta a velocidade da interatividade com o ouvinte, não só pelo maior

número dos recursos de participação advindos com o sistema digital, mas por ser

25

No artigo Essa foi pra tocar no rádio apresentado por Carmen Lúcia José no 6º. Encontro de Música e

Mídia, em 2010, a autora cita vários exemplos possíveis de composição de programação musical

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característica da internet, onde está situada a radioweb, a “inserção interativa do leitor

imersivo”26

.

26

Conforme NR 14, p. 26.

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39

2.2. Síntese das traduções em fronteira dos dois espaços semióticos

Sintetizam-se aqui as traduções ocorridas em fronteira entre as duas semiosferas

radiofônicas, na defesa da hipótese de que, diferentemente do rádio que transmite sua

programação em tempo real pelo relógio radiofônico de 24 horas em que fica no ar, a

radioweb deve apresentar uma programação que pode ser ouvida em diferentes

momentos: repetidamente, no tempo presente do ouvinte-internauta quando a acessa, ou

posteriormente ao arquivo do programa em seu computador. É o ouvinte-internauta

quem passa a decidir o quê e quando ouvir.

a) de meio sonoro, ao ser traduzido para a radioweb, o radio recebe elementos das

matrizes de linguagem verbal e visual. Os programas libertam-se da “grade de

programação” que antes era apenas ouvida e passam a compor uma programação

espacializada e visualizada;

b) no rádio, a distribuição seqüencial da programação pelo relógio de 24 horas é

determinada pela emissora; com a espacialização e visualização na radioweb, a

seqüencialidade de escuta é feita pelo ouvinte-internauta pois é ele quem escolhe

o quê e quando ouvir;

c) na radioweb o acesso à programação pode ser feito em duas modalidades: on

demand, quando os arquivos ficam à disposição do ouvinte internauta, e ao vivo;

no rádio, mesmo quando o programa é gravado, ainda assim, para o ouvinte, a

transmissão será ao vivo;

d) a reprise, estrutura nuclear do rádio, na estruturalidade da radioweb é eliminada,

pois é o ouvinte-internauta quem passa a decidir se haverá a retransmissão, qual

o programa a ser retransmitido e quando ouví-lo;

e) as chamadas institucionais que no rádio são veiculadas em meio à programação,

na radioweb são galgadas a espaço específico para visualização ou, também

como no rádio, na modelização do Ao vivo. No rádio, a chamada informa a data

temporal em que o programa será transmitido; na radioweb, informa sobre sua

disponibilidade no espaço físico da emissora;

f) novas modelizações estruturantes se formam no encontro do rádio, de natureza

transitória e efêmera, com a radioweb, que mantém a programação por tempo

indeterminado: temas e assuntos podem ser aprofundados em uma mesma

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programação, o que no rádio está limitado à programação que preenche o

espaço-tempo de 24 horas;

g) o rádio registra a interatividade do ouvinte por carta e telefone; na radioweb

intensifica-se a velocidade da interatividade, não só pelo maior número de

recursos de participação advindos do sistema digital, mas por estar inserida em

um meio que tem em sua estruturalidade a “inserção interativa” do usuário.

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Capítulo 3 - Temporalidade nos espaços semióticos radiofônicos

Ainda assim acredito

Ser possível reunirmo-nos

Tempo tempo tempo tempo

Num outro nível de vínculo

Caetano Veloso27

No filme Meia noite em Paris, escrito e dirigido por Woody Allen, o

protagonista, um roteirista frustrado com seu trabalho, contemporâneo deste milênio,

em hipotética viagem pelo tempo é transportado para o ano 1930 e lá conhece uma

garota por quem se apaixona. Juntos, transportam-se novamente pelo tempo até o final

do século XIX. Deslumbrada com a noite parisiense da Belle Époque, a garota nega-se a

regressar ao futuro alegando que em sua época -1930 - todos vivem correndo, sem

tempo para apreciar as belas coisas da vida.

Esse filme pode ilustrar o pensamento do semioticista Aaron Gurevitch, pois ele

considera o sentimento do tempo como parâmetro essencial da personalidade e avalia

que “não é possível compreender um tipo historicamente particular de estrutura da

personalidade humana sem ter estudado os modos de percepção e de apercepção do

tempo inerentes à cultura correspondente”. (1975:263). Ele também ensina que o

indivíduo compreendeu o significado do tempo quando tomou consciência de si situado

numa perspectiva temporal, “desenvolvendo suas capacidades durante o período

limitado que lhe era concedido nesta vida”. (1975: 282)

A mudança de fluxo temporal na produção, roteirização e edição de programas e

a transformação do relógio radiofônico no diálogo entre os dois sistemas estruturais, do

rádio para a radioweb, é hipótese desta pesquisa.

3.1. Relógio radiofônico

No rádio, os programas que compõem a grade de programação são transmitidos

pelas ondas eletromagnéticas e preenchem seqüencialmente as 24 horas em que ela fica

no ar. Essa distribuição sequencial dos programas, com transmissão linear decidida pela

27

Música Oração ao Tempo, composta por Caetano Veloso

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própria emissora, desenha o relógio radiofônico temporal. Na radioweb, como a

programação está espacializada, os processos de produção devem gerar a apresentação

de uma programação que possa ser acessada alinearmente pelo ouvinte-internauta, pois

nesse novo espaço semiótico é ele quem decide o quê e quando ouvir, conforme

demonstrado no capítulo anterior. A não sequencialidade da programação da radioweb

realizada pelos processos tradutórios elimina o desenho convencionalizado do relógio

radiofônico, pois nela há outro fluxo temporal, construído pelo ouvinte-internauta.

Hipotética e simplesmente, se fossem transpostos os conceitos lingüísticos de

sincronia28

e diacronia às programações apresentadas pelas emissoras, portanto, vistos

pelos olhos do produtor, roteirista e editor, e não pelos do ouvinte ou do ouvinte-

internauta, seria possível afirmar que no rádio predomina a diacronia; na radioweb, a

sincronia.

Ainda de acordo com a simples transposição dos conceitos lingüísticos de

Saussure, no rádio predomina o sintagma; na emissora web, o paradigma. Os dois

sistemas semióticos radiofônicos exigem processos de produção, roteirização e edição

de programas que devem privilegiar fluxos temporais diferentes: a linearidade do rádio,

realizada pela transmissão em ondas eletromagnéticas, e a alinearidade da radioweb,

pela disponibilização dos programas expostos espacialmente no endereço digital.

A alinearidade temporal da escuta é realizada por esse indivíduo participante do

atual nível evolutivo das Redes Sociais, a 3.0, que permite o uso de aplicativos móveis

para navegação permanente na internet e que apresenta a velocidade como forte

característica temporal: “a conexão é tão contínua a ponto de se perder o interesse pelo

que aconteceu dois minutos atrás. Apenas o movimento do agora interessa.”

(SANTAELLA & LEMOS, 2010:62)

A não linearidade de navegação proporcionada pela internet já havia sido

discutida anteriormente pela autora, quando a colocou como característica típica da

hipermídia, extensão do hipertexto,

28

Para Ferdinand Saussure, a sincronia descreve o estado estrutural da língua em um dado momento; a

diacronia descreve a evolução história da língua, que leva em conta os diferentes estágios sincrônicos. Na

sincronia está o eixo das simultaneidades, no qual devem ser estudadas as relações entre os fatos

existentes ao mesmo tempo num determinado momento do sistema linguístico, que pode ser tanto no

presente quanto no passado. Na diacronia está o eixo das sucessividades, que estuda a relação entre um

determinado fato e os que lhe precederam ou lhe sucederam.

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“texto digitalizado, fluido, reconfigurável à vontade, que se organiza de modo

não linear [...] Nas redes, aliás, não há senão arquitetura hiper, visto que a

informação estocada é sempre recuperada por cada usuário por caminhos

alineares, cada um fazendo um percurso próprio dentro de um vasto labirinto de

possibilidade.” (2005: 24)

Em fronteira entre os dois espaços semióticos, o tempo social permanece sendo

marcado por durações respectivas. O semioticista Aaron Gurevitch, ao discorrer sobre o

tempo social diferente entre culturas e sociedades em função das estruturas internas que

possuem, diz que

Se nas épocas anteriores as diferenças entre os tempos passado, presente e

futuro eram relativas [...] com o triunfo do tempo linear, essas diferenças se

tornaram muito precisas, e o tempo presente ficou comprimido e chegou a ser

apenas um ponto continuamente fugidio sobre a linha que vai do passado ao

futuro e que transforma o futuro em passado. O tempo presente se tornou

efêmero, irreversível e inapreensível. Pela primeira vez o homem verificou que

o tempo, cujo fluir ele descobria apenas através dos eventos, não pára, mesmo

quando não há eventos. (1975:282)

Tempo linear do relógio que substitui o tempo cíclico da sociedade arcaica cujo

movimento social era regido pelos fenômenos naturais, mitos e alternância das estações

e dos ciclos de produção. O sociólogo Norbert Elias já indicou que “os relógios exercem

na sociedade a mesma função que os fenômenos naturais – a de meios de orientação

para homens inseridos numa sucessão de processos sociais e físicos” (1998: 8). E

continua:

[...] o tempo não se reduz a uma idéia que surja do nada, por assim dizer, na

cabeça dos indivíduos. Ele é também uma instituição cujo caráter varia

conforme o estágio de desenvolvimento atingido pelas sociedades. (1998:15)

Gurevitch lembra que “a percepção e a apercepção do tempo são relativas à

própria essência da vida cultural. O conceito se liga intimamente à idéia de evolução.”

(1975:283) Ele ensina que o valor da velocidade cresceu incomensuravelmente e

transformou o ritmo da própria vida. E diz que “O tempo social não só difere entre as

diversas culturas e sociedades, mas também se diferencia em cada sistema sócio-cultural

em função de sua estrutura interna” (1975: 277)

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Complementando com a conceituação já citada de Mcluhan desenvolvida em Os

meios de comunicação como extensão do homem, é possível avaliar que o ouvinte-

internauta, por ser usuário de uma mídia que lhe proporcionou não só a velocidade no

acesso, mas também no processo de informações e dados, adquiriu um ritmo

diferenciado do que tem o ouvinte do rádio eletromagnético, o que faz retornar a outras

palavras de Gurevitch:

Jamais em sua história a humanidade teve um sentimento do tempo como o que

domina hoje nos países desenvolvidos. A percepção atual do tempo tem muito

pouca relação com a das outras épocas. (1975:265)

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3.2. Linearidade e alinearidade

No rádio que preenche as 24 horas, com transmissão seqüencial e linear

decididas pela própria emissora, estão convencionalizados temporalmente no relógio

radiofônico a identificação ao ouvinte do nome e endereço da emissora durante as horas

cheias, isto é, a veiculação de uma vinheta identificadora a cada 60 minutos

completados; a transmissão obrigatória por lei, às 19 horas, do programa governamental

“A voz do Brasil”; a interrupção planejada de programas, em média a cada 15 minutos,

para transmissão de blocos comerciais compostos por peças publicitárias de 15

segundos, 30 e até mesmo um minuto, além dos teasers, com menos de 10 segundos de

duração, que são a assinatura do patrocinador comercial/anunciante do programa; a

interrupção de programas para a veiculação da notícia, dados a instantaneidade e

imediatismo caracterizadores desse meio de comunicação, bem como para a veiculação

das chamadas institucionais sobre a programação da emissora. E durante a

programação, o locutor informa periodicamente as horas, ao vivo ou gravada – neste

caso, colocada no ar pelo operador em atividade.

A estrutura temporal oferecida ao ouvinte de rádio de forma linear é traduzida

pelos filtros existentes na fronteira com o espaço digital e transforma-se em estrutura

temporal alinear, passando a compor e dominar o espaço semiótico da emissora web,

tal qual a estrutura linear do rádio nele é dominante: “Las partes no entran em el todo

como detalles mecânicos, sino como órganos em um organismo.”(LOTMAN,1996: 31).

Neste outro espaço semiótico com fluxo temporal diferente, que permite ao

ouvinte-internauta construir seqüências diferenciadas de escuta dos programas,

escolhendo ouvir aquilo que gosta, em seu tempo presente, acomodam-se modelizações

transformadas pelas traduções em fronteira ou que também podem ser eliminadas, que

os processos de produção, roteirização e edição devem contemplar.

As vinhetas veiculadas nas horas cheias, a cada uma hora, identificadoras de

endereço e potência de transmissão, são eliminadas, permanecendo apenas as

identificadoras de programas, de direção artística ou que fazem a ponte ou passagem

entre programas ou músicas; deixa de existir a obrigatoriedade de transmissão da Voz do

Brasil, já que a radioweb não é regida pela legislação da radiodifusão; o locutor que

informa periodicamente as horas permanece apenas em uma modelização de programa

radiofônico, no Ao vivo; os spots comerciais não estão mais reunidos em blocos para

dividir os programas ou programação.

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Com a estrutura nuclear do tempo traduzida, em que o ouvinte-internauta acessa

e escolhe o quê ouvir, os filtros bilíngües de Lotman, aqui constituídos pelos processos

de produção, roteirização e edição, obrigatoriamente passam a considerar não mais o

aqui, agora, do enunciador/emissor do rádio, mas sim o do

enunciatário/receptor/emissor da radioweb, eliminando nos enunciados, com exceção

dos programas ao vivo, todos os deícticos temporais, por exemplo, hoje, agora, ontem,

amanhã etc ou expressões que marcam datas do calendário ou o tempo do relógio.

Em O inumano, Jean-François Lyotard analisa o tempo afirmando que:

Enquanto ocorrência, cada frase é um „agora‟. Apresenta agora um sentido, um

referente, um destinador e um destinatário. Em relação à apresentação, devemos

imaginar o tempo de uma ocorrência como, e apenas como, presente. Este

presente não se pode apreender enquanto tal,é absoluto (1997: 65).

Na radioweb, a programação espacialmente visualizada e à disposição por

tempo indeterminado, ao ser acessada, sempre estará no tempo presente de quem a

acessa, mas esse presente não pode ser apreendido pelos deícticos temporais nos

respectivos enunciados da programação.

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47

3.3. Duração temporal flexibilizada

Antes limitadas pelo tempo diacrônico estabelecido pela emissora e cercadas

pelos anúncios publicitários, as peças, no espaço físico em que compõe a programação

visualizada e não sequencial da radioweb, libertam-se e passam a apresentar conteúdos

com outras durações.

“[...] mais que isso, tornaram-se abertas, isto é, não dependem da

regulamentação e se abrem para a conformidade de múltiplos critérios (por

exemplo: diversidade na apresentação de conteúdos e temas, singularidade das

mercadorias culturais, elasticidades variadas dos materiais sonoros, níveis

diferenciados de desdobramentos nas coletas de sonoras) e totalmente

independente da audiência [...]29

(JOSÉ, 2010)

Ou seja, os programas não mais precisam cumprir a obrigatoriedade das

durações convencionalizadas pelo rádio eletromagnético. A duração temporal das peças

radiofônicas da grade de programação da radioweb é flexibilizada. E nesta

flexibilização, os programetes, como já dito peças radiofônicas de curta duração,

consolidam a nova predominância da programação da semiosfera da radioweb,

originada pelo fluxo temporal de uma mídia que tem por uma de suas características a

velocidade na ação de processar informações, dados etc.

Se no rádio a inserção do programete interrompe determinado programa ou da

grade de programação, várias vezes ao dia, quando transportado para a radioweb perde a

característica da interrupção, pois transforma-se em modelização de predominância da

programação desse outro espaço semiótico radiofônico.

Lotman diz que “El intercambio dialógico de textos no es um fenómeno

facultativo del proceso semiótico” (1996: 35), comprovando que o programete não só

se transforma em constituinte específico do novo espaço semiótico, mas, pela

predominância necessária, transforma-se em um dos elementos principais da estrutura

nuclear da programação da radioweb.

Ao transportar-se da estrutura nuclear do rádio, passa primeiramente para a

periferia da radioweb e depois conquista posto central desse novo espaço semiótico. E

29 Conforme NR 17, p.27

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na “zona de bilingüismo que garante os contatos semióticos entre dois mundos”

(1996:27, tradução nossa) o que era da periferia conquista o núcleo central de outra

semiosfera.

Nessa tradução em que as durações temporais das peças – programa, programete

e programação - se transformam quando deslocadas para o outro espaço semiótico, é

possível supor que a nomenclatura “programete” seja substituída, na radioweb, por

“programa”.

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3.4. Instantaneidade e interatividade

Balsebre já afirmou que “No contexto comparativo da função jornalística dos

distintos meios, o rádio se ergue como o que transmite notícias com maior rapidez”.

(2004:15, tradução nossa) Na sua opinião, isto contribui com uma concepção

exclusivamente funcionalista que impede o reconhecimento de sua tripla função, a de

meio de difusão, comunicação e expressão. Com o rádio brasileiro isso também ocorre.

Na maior parte de sua existência predomina o caráter disseminador de informações

garantido pela instantaneidade da transmissão da notícia.

Gisela Ortriwano registrou que “o imediatismo na transmissão é fundamental

para atender os objetivos do rádio” (1985: 95) e como bem lembra a autora, o rádio foi o

“[...] primeiro dos meios de comunicação de massa que deu imediatismo à notícia,

graças à possibilidade de divulgar os fatos no exato momento em que eles ocorrem”.

(1985:84)

Ao conceituar a notícia, Manuel Carlos Chaparro traz algumas definições de

outros autores, entre elas:

“Notícia é um fato ou uma idéia precisos que interessa a um amplo número de

leitores. Entre duas notícias, a melhor é a que interessa a um maior número de

pessoas.” [...] “Os periódicos publicam um variado tipo de informação segundo

os diferentes núcleos de interesse em seus leitores.” (SHEERHAN, 1972;

SPENCER, 1917, apud CHAPARRO, 1994: 118, grifo dos autores)

Ele conclui que “só é notícia o relato que projeta interesses, desperta interesses

ou responde a interesses”, (1994: 119) e destacou que esse atributo de definição tem sua

intensidade alcançada dependendo da existência de “atributos de relevância no

conteúdo”, denominados por Carl N. Warren de “elementos da notícia”. Ele propõe que

sejam oito: “atualidade, proximidade, proeminência, curiosidade, conflito, suspense,

emoção e conseqüências” (WARREN, 1975, apud CHAPARRO, 1994: 119)

No rádio, a notícia adquire mais distintivos, segundo Faus Belau. O autor afirma

que é possível ela se configurar com cinco níveis de informação. No primeiro nível, a

informação é emitida assim que se tenha conhecimento da ocorrência do fato:

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É composto exclusivamente por notícias relevantes ou de grande interesse

público. Trata-se de uma emissão sem periodicidade fixa, ocasional, que

começa e termina em si mesma, não fazendo parte de nenhum programa,

podendo estar presente em todos eles. Interessa, nesse caso, dar a conhecer a

notícia com a máxima rapidez possível. (FAUS BELAU, 1972, apud

ORTRIWANO, 1985: 94)

No segundo nível, há a aparição ocasional de grandes notícias com enfoque

histórico “ou recompondo os acontecimentos e avaliando seu significado. São os

especiais [...]”. Para ele, no terceiro nível está o conjunto de notícias selecionadas que

“não participa de outro gênero jornalístico que não seja o informativo”. No quarto nível

a informação é tratada com mais profundidade, o comentário pode estar presente e sua

periodicidade é fixa: “São os nossos jornais „falados‟”. E no último nível ocorre a

informação integrada “com outros assuntos não propriamente jornalísticos [...] adequada

ao contexto do campo de interesse do programa de variedades”. (1985: 94-95)

No rádio, quando há interrupção de programas ou programação com transmissão

instantânea sobre o que ocorre naquele momento, a notícia aparece com o primeiro nível

de informação de Faus Belau. Após a tradução em fronteira, na radioweb pode mudar o

tratamento dado à notícia.

O primeiro nível de informação “dar a conhecer a notícia com a máxima rapidez

possível” ocorrerá apenas na transmissão Ao Vivo, quando a notícia, como no rádio,

poderá interromper a programação, ou apresentar-se no formato de jornal falado.

Assim, na radioweb, a notícia com o primeiro nível de informação, definido por Faus

Belau, perde a predominância.

Estrutura nuclear do rádio, a notícia, presente em variadas modelizações,

também rumará para o núcleo central do espaço semiótico da radioweb, porém, só

depois da tradução em fronteira que coloca sua instantaneidade hierarquicamente

subordinada à interatividade entre usuários, receptores e emissores ao mesmo tempo,

pois é o ouvinte-internauta que ao acionar o computador decidirá onde e quando buscá-

la.

Fora da modelização Ao Vivo, a notícia, assim como a publicidade, pode

transformar-se em estrutura de espaços específicos30

, confirmando o que foi dito no

Capítulo 2 desta pesquisa, que a programação visualizada da radioweb permite o

30

Não só na radioweb, na internet de forma geral há espaços diferenciados específicos à notícia, como,

por exemplo, os sites jornalísticos. O mesmo ocorre com a publicidade, como estrutura nuclear estática

nos respectivos espaços ou em movimento, na forma de span.

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aprofundamento de assuntos e temas divididos em vários programas, o mesmo

acontecendo com o de notícias.

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3.5. Difusão e expressão

Depois da chegada da TV no Brasil, programas e profissionais migraram para a

nova mídia da época, o rádio. Modelizações radiofônicas que exigiam atores, cantores,

instrumentistas e roteiristas, como radionovelas, programas de auditório, de humor etc

foram aos poucos sendo reduzidas. O rádio teve de se adequar a essa realidade e o

resultado foi a predominância, a partir daí, da notícia, da prestação de serviços e da

música para preencher sua programação distribuída sequencialmente pelo relógio

radiofônico de 24 horas em que fica no ar.

Convertida la radio en un altavoz de noticias, que se suceden ininterruptamente

a través del discurso de la palabra de los periodistas; o convertida también en un

instrumento de las compañías discográficas que utilizan la radio como altavoz

de sus novedades musicales, no es extraño que algunos piensen que la razón de

la existência de la radio está em su función técnica de canal transmisor de la

palabra-notícia o del disco-música. (BALSEBRE, 2004:15)

Em sua análise, o autor chama a atenção para o fato de programações

radiofônicas do mundo inteiro terem suprimido, de maneira geral, o gênero dramático

“aquel gênero que más contribuyó a la estructuración de um genuíno código de

expresión” (2004: 12). Para ele, a mensagem radiofônica necessita do equilíbrio entre

informação semântica, que denota e designa signos para nomear objetos, e estética,

portadora do segundo nível de significação, que conota valores afetivos, emocionais e

sensoriais, ou equilíbrio entre conteúdo e forma.

La conjunción de los factores semántico y estético en el uso del lenguaje

radiofónico es esencial si se quiere comprender la dimensión artística de la

creación radiofônica. (2004: 13)

No rádio que difunde, as modelizações de gêneros e programas com

predominância da notícia, da música e da prestação de serviços tornam-se repetitivas.

No rádio que expressa, é possível a busca do equilíbrio das funções semântica e estética

variando mais nas possíveis combinações entre os elementos constituintes da linguagem

radiofônica que resultem em modelizações diferenciadas das repetidas do rádio de

difusão.

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Se na radioweb, espaço semiótico em fronteira com o rádio, como já afirmado

anteriormente, pode apresentar em sua estruturalidade programas de durações temporais

flexibilizadas com predominância dos mais curtos, dada a velocidade da interatividade

com o ouvinte-internauta, e também a notícia modelizada a nem sempre interromper a

programação, pois sua instantaneidade é submetida à escolha de audição do ouvinte-

internauta, então é possível afirmar que há espaço para a produção de modelizadores

que explorem mais a combinação dos constituintes da linguagem radiofônica com

conseqüente equilíbrio entre o semântico e o estético, aumentando a função de

expressão na comparação com a função de difusão.

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3.6. Síntese das traduções temporais dos dois espaços semióticos

Antes de ilustrar, com a análise do corpus recortado para esta pesquisa, segue a

síntese das traduções em fronteira que fundamentam a hipótese de que na produção,

roteirização e edição de programas ocorre a mudança de fluxo temporal e que o desenho

do relógio radiofônico é suspenso quando traduzido em fronteira entre os dois sistemas

semióticos, o rádio e a radioweb.

a) no rádio, os programas são apresentados ao ouvinte de forma linear no

preenchimento das 24 horas em que a emissora fica no ar; na radioweb, com a

programação espacializada, os processos de produção devem gerar a

apresentação de uma programação que possa ser ouvida alinearmente;

b) no rádio a produção é diacrônica e sintagmática e na radioweb, sincrônica e

paradigmática. A não sequencialidade da programação oferecida pelos processos

de produção, roteirização e edição na radioweb elimina o desenho

convencionalizado do relógio radiofônico, pois traz outro fluxo temporal,

construído pelo ouvinte-internauta.

c) a vinheta que transmite a cada uma hora, a identidade, endereço e potência de

transmissão da emissora, na radioweb espacializada é eliminada, permanecendo

apenas as identificadoras de programas, de direção artística ou que fazem a

ponte ou passagem entre programas ou músicas;

d) na radioweb é eliminada a obrigatoriedade de transmissão da Voz do Brasil,

programa governamental veiculado no rádio hertziano de segunda à sexta-feira,

às 19 horas, de Brasília;

e) se no rádio o locutor informa periodicamente as horas, mesmo que esta voz esteja

gravada e seja colocada no ar pelo operador de áudio, na radioweb a informação

periódica do tempo permanece apenas em uma modelização de programa

radiofônico: no Ao vivo;

f) os spots comerciais não estão mais reunidos em blocos para dividir os programas

ou programação, tal qual acontece no rádio; na radioweb acomodam-se em

espaços específicos à publicidade;

g) nos enunciados produzidos, roteirizados e editados na radioweb, os deícticos

temporais que referem datas do calendário ou o tempo do relógio são

eliminados, com exceção dos usados em programas ao vivo;

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h) se no rádio a duração temporal era uma das características que distinguia

programa, programação musical e programete, na radioweb, com programação

espacializada, a duração temporal das peças se flexibiliza e todas podem passar

a ser chamadas de “programas”, sendo possível supor que a nomenclatura

“programete” seja substituída por “programa”.

i) na radioweb a notícia só interrompe a programação na transmissão Ao vivo. A

característica da instantaneidade, típica dessa estrutura, ao ser traduzida,

submete-se à interatividade presente na radioweb. Fora da modelização Ao Vivo,

a notícia, assim como a publicidade, pode inserir-se em estruturas de espaços

específicos a ela.

j) com programas de durações temporais mais curtas para atender à velocidade da

interatividade com o ouvinte-internauta e com a instantaneidade da notícia

legada a segundo plano, aumenta o espaço para produção de programas que

explorem a combinação entre o expressivo e o estético. Na tradução entre

semiosferas radiofônicas, a função de difusão do rádio se enfraquece ao mesmo

tempo em que se fortalece na radioweb a função de expressão.

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Capítulo 4 - Radioweb São Judas

Nos capítulos anteriores foi defendido que: a) a radioweb é obrigada a

disponibilizar uma programação que pode ser ouvida em diferentes momentos no tempo

planejado e decidido pelo internauta; b) muda o fluxo temporal para produção e

veiculação dos programas ao desvencilhar-se de uma programação transmitida

sequencialmente para preencher o relógio de 24 horas, como ocorre no rádio, pois os

programas ficam permanentemente disponíveis ao ouvinte-internauta.

Neste capítulo ilustraremos as hipóteses mostrando na programação da

Radioweb São Judas, objeto desta pesquisa, como os processos de produção,

roteirização e edição passam a contemplar esse novo fluxo temporal. Vale lembrar que

tais processos estão aqui colocados como mecanismos de tradução situados na fronteira

entre os espaços semióticos radiofônicos, o rádio e a radioweb, segundo conceituação de

Lotman:

[...] todos los mecanismos de traducción que están al servicio de los contactos

externos pertenecen a la estructura de la frontera de la semiosfera. La fronteira

general de la semiosfera se interseca con las fronteras de los espacios culturales

particulares (1996:26)

4.1. Apresentação do objeto

Considerou-se importante, antes da análise do corpus, apresentar o objeto frente

ao pensamento desenvolvido por alguns teóricos a respeito do meio de comunicação:

primeiro, o de Mcluhan em sua consolidada proposição “o meio é a mensagem”

(1964:21), que também embasou a direção artística da Radioweb São Judas; o de

Santaella:

[...] o meio através do qual uma linguagem é veiculada tem importância

soberana para se compreender a maneira como suas mensagens são produzidas,

transmitidas e recebidas.” (2005: 27)

e, ainda, o de Balsebre, porque o autor se refere às “chaves de produção” das

mensagens, nem sempre conhecidas, apesar da familiaridade que o ouvinte tem com os

signos que as constituem, surgida na rotina da audição.

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Através da reiteração do hábito rotineiro de consumir filmes ou programas, as

audiências aprendem a ler a mensagem, se familiarizam com as chaves do

repertório de signos que constrói a mensagem e fazem possível sua

decodificação, mas ignoram as chaves de sua produção: aprender a falar as

linguagens modernas supõe um processo muito mais complexo, especialmente

pela incorporação ao repertório de elementos da noção tecnologia. (2004:18-

19, grifos do autor, tradução nossa)

A Radioweb São Judas nasce em 28 de maio de 2009, sob a direção artística

traçada pelos pensamentos de Mcluhan, conforme já posto, e de Lotman. No primeiro,

a constatação de que uma mídia nova se define a partir das mídias que lhe antecederam

e, no segundo, de que a cultura se dinamiza na fronteira onde estão os diferentes textos.

Emissora com fim educativo vinculada à Pró-Reitoria de Extensão da

Universidade São Judas Tadeu, teve origem em um projeto que propunha a instalação

de uma rádio que funcionasse internamente na universidade, apresentado em 2004 na

disciplina Projeto Experimental em Rádio como conclusão do curso de Radialismo

pelas alunas Mara Beatriz Dionísio e Tatiana Martins.

Repensado, o projeto foi readequado para se transformar em um espaço

radiofônico com transmissão pelo computador e que traduzisse o encontro dos textos,

do rádio com a radioweb, o que já pode ser visto em sua face na tela do computador,

criada em parceria com o Setor Web da Universidade, nas várias associações sígnicas:

ícones representativos das válvulas pertencentes ao rádio tradicional mesclam-se aos

dos programas, às fotografias da equipe de produtores, aos símbolos verbais ou aos

denotativos das possíveis relações de interatividade com o ouvinte-internauta, como o

do facebook e o do twitter.

Vê-se ícones, índices e símbolos, constituídos pela relação triádica entre

fundamento do signo, seu objeto e o interpretante (SANTAELLA, 2005), misturarem-se

na tela da Radioweb São Judas predominando ora a primeiridade ou a relação de

semelhança ou de qualidade com o objeto do quali-signo ou ícone; ora a secundidade ou

a relação indicial do sin-signo ou índice; ora a terceiridade ou a relação

convencionalizada do legi-signo ou símbolo.

Ao traduzir Charles Sanders Peirce, Santaella alerta:

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As três categorias, que presidem as divisões triádicas, são onipresentes, de

modo que tudo e qualquer coisa pode ser um primeiro, tudo e qualquer coisa é

um segundo e tudo e qualquer coisa deve ser um terceiro. Assim, o modo de ser

de um signo depende do modo como esse signo é apreendido, isto é, depende do

ponto de referência de quem o apreende. (1995: 126)

O que faz o ouvinte-internauta “ligar” a rádio em questão é o click do mouse do

computador em seu endereço eletrônico www.usjt.br/radio_web. Colocá-la no ar

depende da triangulação operacional entre estúdio de áudio, setor web e provedor da

internet. Feita a triangulação, percursos de múltiplas escolhas podem surgir com novos

cliques nos ícones indicativos dos programas sonoros que trazem os mesmos

constituintes da linguagem radiofônica: palavra falada, trilha musical, efeitos e silêncio,

em variadas combinações de formatos e durações, com conteúdo artístico e acadêmico.

A programação da Radioweb São Judas (Anexo A) é composta por

modelizações que podem ser visualizadas por signos específicos. São programas com

conteúdos distintos e gêneros diversos que contemplam: produções experimentais

realizadas pelos alunos de 4º ano de Radialismo, jornalísticos, musicais, especiais de

homenagem a personalidades ou comemorativos que no rádio são chamados de tributo

ou sazonal e entrevistas temáticas.

São produzidos, roteirizados, dirigidos e apresentados por estagiários, estudantes

do curso de Radialismo e Jornalismo, e postados no endereço eletrônico de duas

diferentes formas: em arquivo On-Demand, semanalmente, e também Ao vivo,

quinzenalmente, em horário pré-determinado.

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4.2. Análise do corpus

Um clik com o mouse no endereço eletrônico da Radioweb São Judas na tela do

computador e programas com vinhetas, locutores e formatações, gêneros e durações já

pertencentes como modelização nuclear do rádio são visualizados e,

metalinguisticamente, vão conduzindo o ouvinte-internauta a uma viagem sonora em

que é possível ouvir, por exemplo, Jakson do Pandeiro e Luiz Gonzaga junto com os

contemporâneos Lenine e Zeca Baleiro ou jovens vozes de personagens em programas

ficcionais que remetem à radionovela não mais presente no rádio. Enfim, uma viagem

sonora à composição de textos culturais que resultam dessa experiência na radioweb, a

partir da dinamização das estruturas modelares já nucleadas no rádio.

4.2.1. Da visualidade

Na face da radioweb visualizada no computador mesclam-se signos de tempos

culturais diferentes. Do lado esquerdo, dentro de uma ilustração gráfica que remete a

um desenho do rádio utilizado nas décadas de 40, 50 e 60 – feito de madeira, com

grandes botões redondos na frente ou ao lado para mudar de estação ou regular o

volume – os símbolos verbais intitulando os programas (Anexo B).

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À medida que um deles é clicado nova página digital é aberta, repetindo o ícone

do rádio antigo à esquerda, hospedando o ícone representativo do programa clicado e,

abaixo, seta indicativa para audição da sinopse do programa, também representada em

seu título pelo símbolo verbal. No lado direito dessa mesma página, a listagem dos

títulos referentes ao programa escolhido, mantendo-se acima, junto com o ícone de um

alto-falante, o mais recente programa postado. Abaixo, seta indicativa para retorno à

página anterior (Anexo C).

Outro clic, novo ícone do rádio antigo em tamanho menor se sobrepõe e inicia-

se a audição do programa selecionado (Anexo D).

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Na parte de cima da face da radioweb, abaixo de seu título, outro ícone remete

ao equipamento de rádio antigo: a imagem de quatro válvulas – peças que fizeram o

rádio funcionar em décadas passadas (Anexo B).

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Com os títulos escritos Expediente, Especial, Programação Musical e Em

Pauta, hospedam conteúdos específicos que, à medida que vão sendo clicadas, outra

página digital surge apresentando uma lista de programas respectivos a cada uma delas.

Na válvula Especial estão os sazonais, programas de homenagem ou

comemorativos a personalidades, datas ou eventos. Nas válvulas denominadas

Programação Musical e Em Pauta são acondicionadas modelizações musicais e

jornalísticas, respectivamente. Na do Expediente, informações sobre a Direção Artística,

a identificação e o pensamento de seus realizadores e executores, pertencentes a Pro-

Reitoria, Diretoria de Extensão, Diretoria de Marketing, Coordenação, Direção

Artística, Coordenação, Setor Web e Estúdio de Áudio, sobre a radioweb.

Na parte central da face da radioweb permanecem os ícones indicativos dos

programas que vão se revezando na atualização da programação feita às quintas-feiras,

que compõem a chamada sonora institucional .

4.2.2. Da sonoridade

Com palavra escrita, imagens estáticas e áudio, a matriz sonora predomina na

Radioweb São Judas. Os programas podem ser ouvidos cada um em sua totalidade ou

interrompidos de acordo com a escolha do ouvinte-internauta, mas não há link ou

qualquer elo semântico que possibilite a interação entre eles, ou seja, a interatividade,

característica da linguagem hipermidiática do computador, está restrita à seleção de

escuta alinear feita pelo ouvinte-internauta ou às modelizações transmistidas ao vivo,

por meio da utilização dos recursos digitais twitter e facebook quando ele contata os

produtores para algum tipo de participação ou interferência nos conteúdos da

transmissão ao vivo.

Ao abrir a página da radioweb com o clik inicial, o ouvinte-internauta conectado

inicia o percurso da audição por uma vinheta que identifica o título da emissora,

chamada vinheta carimbo e, em seguida, ouve a chamada institucional que informa qual

a programação da semana, seguida de uma programação musical que gira em torno de

uma hora, com músicas agregadas por temas variados, anunciadas por locutor ou

locutora e entremeadas por vinhetas que nominam a radioweb e informam a direção

artística por meio de slogans ou intertítulos, como, por exemplo: Radioweb São Judas –

Na fronteira das culturas.

Essa chamada institucional que informa a programação semanal, no rádio é

transmitida ao longo da programação de 24 horas, conforme demonstrado no Capítulo 2

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deste trabalho. Feita a tradução, a chamada institucional passa a ocorrer na Radioweb

São Judas em apenas dois momentos específicos: ao iniciar o percurso de navegação-

audição da radioweb, como já afirmado, e durante os programas Ao vivo realizados

quinzenalmente.

A vinheta que faz a ponte ou a passagem entre as músicas da programação

musical ouvida no primeiro acesso à radioweb é da estrutura do rádio e transformou-se

também em estrutura da radioweb. No entanto, na tradução de uma mídia para a outra,

outra vinheta, a que é veiculada no rádio a cada uma hora para identificação da

emissora, foi eliminada. No deslocamento, foi substituída na Radioweb São Judas por

outra estrutura, a Válvula Expediente.

No encontro entre textos culturais, pode-se perceber que a válvula Expediente é

resultante de dois diálogos: com o rádio, que a cada uma hora veiculava uma vinheta

para identificação, localização no dial eletrônico e potência de transmissão da emissora,

descrita no Capítulo três deste trabalho, em cuja tradução foi eliminada; e com o jornal e

revista impressos, que elegem um espaço variável para identificar nomes dos

responsáveis pelos departamentos, endereços, formas de contato e até a tiragem do

veículo.

Na parte de baixo da face da Radioweb São Judas a fotografia dos integrantes da

equipe de estagiários. No clic individual surge a palavra falada sobreposta a uma trilha

escolhida por cada um deles, em que se identificam ao ouvinte-internauta, desejando-

lhe boa audição. A performance vocal dos locutores da Radioweb São Judas, de modo

geral, tem os seguintes distintivos: ritmo e altura de média estimulação e intensidade

suave.

Com a imagem dos produtores e locutores na face da radioweb, elemento da

matriz visual presente nesse meio, a curiosidade que o rádio proporcionava no ouvinte

em conhecer “o dono da voz” ou a possibilidade de criar “um rosto para a voz” não

ocorre necessariamente na radioweb. A fotografia do rosto ou do dono da voz faz parte

da estruturalidade da radioweb e está disponível para conhecimento do ouvinte-

internauta.

A duração temporal dos programas foi flexibilizada e apresentam formatos com

dois, seis ou trinta minutos, com exceção dos programas transmitidos Ao vivo,

planejados em sua execução para ocupar uma, às vezes duas horas a cada quinze dias.

O enunciado textual na programação da Radioweb São Judas, no encontro entre

textos, também sofre modificações. Visualmente exposta por data temporal

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indeterminada e que por isso pode ser ouvida em diferentes momentos sob decisão e

escolha do ouvinte-internauta - repetidamente ou após arquivamento do programa – o

enunciado textual de seus programas contempla esse novo fluxo temporal para a

produção de programas, considerando ainda que cada vez que o ouvinte-internauta

acessa a radioweb é em seu tempo presente.

Ou seja, não é mais o aqui ou agora, deícticos do tempo presente do produtor,

roteirista e editor que determinam o enunciado textual dos programas, mas, sim, o aqui

e agora do ouvinte-internauta nas variadas possibilidades temporais de escuta que a

programação exposta lhe apresenta. O aqui ou agora do programa deve conjugar

tempos diferentes, o da produção com o da escuta, sendo determinante o tempo da

escuta do ouvinte-internauta que o fará, conforme dito, no seu aqui ou agora, no seu

tempo presente.

No início dos programas transmitidos on demand, gravados e postados, ao

cumprimentar o ouvinte-internauta as expressões Bom dia, Boa tarde e Boa noite

deixam de existir e passam a ser substituídas, em geral, por Olá. Da mesma forma são

evitados os advérbios de tempo hoje, ontem, cedo etc e grupos preposicionais em cinco

minutos, de tarde etc pela produção, roteiro e edição dos programas em cuja

modelização predomina a informação jornalística com instantaneidade da notícia

submetida ao tempo presente da navegação-audição do ouvinte-internauta. Também

neste caso, a exceção é o programa transmitido Ao vivo.

Para continuar a análise da programação da Radioweb São Judas e dos

deslocamentos ocorridos no encontro em fronteira entre os dois espaços radiofônicos,

foram selecionados trecho da Programação Musical Chico e seus intérpretes e os

programas Lado B, Em Pauta, Língua Portuguesa e Navitrola

4.2.3. Programação Musical

Na Radioweb São Judas há duas modelizações do Ao vivo realizadas também

em revezamento a cada quinze dias: Radiorrevista31

e Programação Musical. Das duas,

pode-se dizer que a Programação Musical foi traduzida quando deslocada de uma mídia

para outra. Ela está hospedada na Válvula Programação Musical (Anexo B).

31

Conforme definição de Luiz Artur Ferraretto, visto no Capítulo 1

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Clicando-a, nova página surge trazendo a listagem com os títulos dos distintos

programas, tendo ao lado esquerdo de cada um deles a imagem de um alto falante, signo

icônico que indicia a ação de ouvir o programa escolhido. Do lado direito da listagem

dos títulos, setas indiciam a escolha do programa pela rolagem da lista para cima e para

baixo quando manuseadas pelo mouse (Anexo E).

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Novo clic e o ícone do rádio antigo se sobrepõe para início da escuta do

programa selecionado. A programação musical da radioweb manteve da modelização do

rádio a aglutinação de músicas que são tocadas sequencialmente durante determinado

período do dia ou da noite, de acordo com a direção artística da emissora, com locutor

ou locutora anunciando e desanunciando canções entremeadas por vinhetas que fazem a

ponte entre elas. Mas, na tradução, outras combinações musicais passaram a ser feitas

na radioweb, além das realizadas pelo rádio (bandas com solistas, cantores com

cantores, estimulações rítmicas, conforme explicado em capítulo anterior).

Além disso, à produção da programação musical na radioweb, conforme

defendido no capítulo três deste trabalho, é possível privilegiar o novo fluxo temporal

que disponibiliza os programas no espaço digital, ou seja, desvencilhar-se da linearidade

ou do eixo sintagmático da transmissão do rádio, oferecendo ao ouvinte-internauta, para

audição de acordo com sua preferência, músicas aglutinadas por temas, cantores de

época, ritmos, gêneros musicais ou reinterpretações da mesma canção, enfim, tendo um

traço comum e de aproximação que justifique tal aglutinação, transformando-se em

paradigmas musicais.

Por vezes transmitidas primeiramente ao vivo, em seguida são postadas na

Válvula Programação Musical, transformando-se, a partir daí, em programas distintos.

Como assinala José:

Na radioweb, cada opção de programação musical aparece como peça única,

mesmo que alguma delas seja estendida em várias edições; elas podem ou não

estar divididas em blocos e, necessariamente, a divisão/duração dos blocos não

está mais determinada pelas pontuações da barra comercial, que deve ocupar

outro lugar [...] cada programação musical passa a ser um texto cultural único e

singular, impossibilitado de se repetir a não ser em outra versão.32

No programa parcialmente transcrito abaixo, veiculado na Programação

Musical intitulada Chico Buarque e seus intérpretes, o traço que aproxima as canções é

a variada reinterpretação dada por múltiplas vozes às músicas compostas por um único

artista.

32

In Essa foi pra tocar no rádio, c.f. NR 17, p.27. Nesse texto, a autora registra as exigências acrescidas

ao perfil do programador musical para atender a nova modelização de programação Musical.

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TEC VINHETA ABERTURA

LOC OLÁ, OUVINTE INTERNAUTA

EU SOU JULIANE ISTCHUK E VOU APRESENTAR A

PROGRAMAÇÃO MUSICAL, CHICO E SEUS INTÉRPRETES.

CHICO BUARQUE DE HOLANDA É UM DOS COMPOSITORES

DA MPB MAIS GRAVADOS NACIONAL E

INTERNACIONALMENTE.

ALGUNS DE SEUS INTÉRPRETES DESFILAM PELA

PROGRAMAÇÃO MUSICAL DA RADIOWEB SÃO JUDAS.

COMEÇAMOS COM A CANÇÃO INTITULADA SENTIMENTAL,

NA VOZ DE RENATO BRAZ.

A SEGUNDA É A CANÇÃO MORENA DOS OLHOS D’ÁGUA,

INTERPRETADA POR GAL COSTA.

E MAIS UMA: HOMENAGEM AO MALANDRO, NA

PERFORMANCE INCONFUNDÍVEL DE JOÃO BOSCO.

TEC ARQ.1 - SENTIMENTAL, RENATO BRAZ (2’02”)

ARQ. 2 - MORENA DOS OLHOS D’ÁGUA, GAL (3’22”)

ARQ. 3 – HOMENAGEM AO MALANDRO ((4’02)

VINHETA PASSAGEM RADIOWEB SÃO JUDAS

ARQ. 4 – PARTIDO ALTO, MONICA SALMASO (4’50)

ARQ. 5 – QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ, BENO LOBO (2’38”)

LOC CHICO BUARQUE É O COMPOSITOR DE QUEM TE VIU, QUEM

TE VÊ, APRESENTADA POR BENO LOBO.

ANTES, MONICA SALMASO ACOMPANHADA PELA BANDA

PAU B RASIL APRESENTOU A CANÇÃO PARTIDO ALTO.

TEC VINHETA PASSAGEM RADIOWEB SÃO JUDAS

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LOC A RADIOWEB SÃO JUDAS ESTÁ APRESENTANDO

COMPOSIÇÕES DE CHICO BUARQUE DE HOLANDA, NAS

MÚLTIPLAS VOZES DE SEUS IN[ÉRPRETES.

DESTA VEZ, A CANÇÃO É A VOZ DO DONO E O DONO DA

VOZ, NA VOZ DE CIDA MOREIRA.

DEPOIS É .....

Na apresentação variada dos intérpretes, a cada duas ou três músicas anunciadas

e desanunciadas pela locutora é veiculada uma vinheta que carimba o nome da radioweb

e faz a passagem ou a ponte entre as músicas, mantendo a estruturalidade do rádio na

radioweb.

4.2.4. Programa Lado B

É um programa que audibiliza uma tradução ocorrida no encontro das mídias.

Antes, sobre o título: o nome é referencializado por um dos lados do disco compacto de

vinil que apresentava no lado A a música selecionada pelos representantes da indústria

fonográfica, em conjunto com os da radiodifusão - programadores, diretores ou

proprietários de emissoras radiofônicas - para integrar a grade de programação das

emissoras e veiculá-la inúmeras vezes33

, e, no lado B, outra música para completar o

disco. Ressignificado, lado B passou a representar na década de 70 a música que não

tocava no rádio independentemente de apresentar qualidade artística e cultural, ou, em

outras palavras, que não havia sido escolhida para fazer parte da grade de programação.

O signo icônico do programa Lado B da Radioweb São Judas constitui-se dos

símbolos da linguagem verbal “Lado B”, com a letra “o” iconizada e transformada em

um disco de vinil e dentro desse disco, a letra “B”. (Anexo F ).

33

O procedimento foi gerador da expressão Jabá, conhecida no meio radiofônico pelo pagamento não

oficializado nem divulgado publicamente que a indústria do disco fazia para que a rádio tocasse

determinada música várias vezes ao dia e, consequentemente, alavancasse a venda do disco.

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O acesso aos programas dá-se da mesma forma. Na página em que aparece a

listagem dos programas, seleciona-se um deles para audição e o ícone do rádio antigo se

sobrepõe para dar início a essa escuta (Anexo G).

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De seu conteúdo fazem parte entrevistas com produtores, críticos e artistas,

mescladas com trilhas musicais. O critério de seleção do entrevistado é a atuação

profissional que tem na área musical que lhe permita, de alguma maneira, resgatar pela

memória músicas que não fizeram parte das programações das emissoras de rádio

quando o sistema de reprodução fonográfica era o disco de vinil, antes do CD, do MD,

do download em computador, enfim, antes das invenções tecnológicas ocorridas após os

anos 80.

A estrutura do programa é composta pelo depoimento gravado em que o

entrevistado aponta uma música que considera, metafóricamente, ter sido Lado B no

rádio comercial, ou seja, aquela que apesar de apresentar boa qualidade técnica e

musical, não tocou ou foi pouco tocada pelas mídias comerciais. As sonoras do

entrevistado, recortes ou fragmentos selecionados da entrevista, são mescladas com

trechos de músicas de sucesso do intérprete ou compositor da música citada para buscar

o reconhecimento pelo ouvinte-internauta do artista comentado e, na parte final do

programa, toca-se, na íntegra, a música considerada Lado B pelo entrevistado.

Para ilustrar, está transcrito abaixo o roteiro do Lado B intitulado Jornalista

Zuza Homem de Mello / Elis Regina.

TEC VINHETA ABERTURA (7”)

SONORA 1 CRÍTICO MUSICAL E JORNALISTA (T 24”)

DI - MEU NOME É ZUZA HOMEM DE MELO, SOU ....

DF – ... E CONTINUO ESCREVENDO

TEC TRILHA ELIS REGINA – 6” – BG

SONORA ZUZA 2 - (T 13”)

DI – A ELIS REGINA QUANDO GRAVOU...

DF – É O DISCO QUE TEM ROMARIA

TEC SOBE TRILHA NO REFRÃO – 15” - BG

(SOU CAIPIRA, PIRAPORA, NOSSA SENHORA DE

APARECIDA...)

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SONORA ZUZA 3 – (T: 2”)

DI – CAXANGÁ...

TEC TRILHA CAXANGÁ – 8” – BG

SONORA ZUZA 4 – (T: 31”)

DI – A MÚSICA QUE EU IMAGINAVA...

DF - ...DE LANÇAMENTO DO DISCO DE ESTÚDIO.

TEC MUSICA COLAGEM (T: 3’40”)

LOCUTOR PRODUÇÃO ADRIANO ABNER E ALINE CAMPANA.

ÁUDIO: MARCELO FERNANDES

TEC SOBE MÚSICA ATÉ O FINAL

MIXA COM

VINHETA ENCERRAMENTO (T: 8”)

VINHETA IDENTIFICAÇÃO RADIOWEB SÃO JUDAS

A palavra falada está presente na voz do entrevistado (Zuza Homem de Mello) e,

só ao final do programa, na voz do locutor para informar a ficha técnica. As sonoras e as

trilhas musicais vão sendo roteirizadas de acordo com a proposta do programa:

primeiramente o entrevistado se identifica profissionalmente (Meu nome é Zuza....), em

seguida apresenta o artista (A Elis Regina quando....), depois cita músicas de sucesso

(Romaria...Caxangá...) para reconhecimento do ouvinte-internauta e, por fim, toca-se a

música considerada por ele como Lado B (A música que eu imaginava... Colagem).

O programa Lado B da radioweb é uma estrutura em que a música que não fez

sucesso, depois de deslocada da estrutura do rádio, passou a predominar no novo espaço

radiofônico. Em síntese: na estruturalidade da Radioweb São Judas a música que não

fez sucesso ocupou a lugar da música que fez sucesso no rádio e, tal qual esta, passou a

ser tocada integralmente, atendendo à Direção Artística da emissora web que, como

educativa, não restringe a veiculação aos sucessos musicais que tocam nas emissoras

comerciais.

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72

4.2.5. Em Pauta – programas jornalísticos

Em capítulo anterior foi analisada a notícia no rádio que, no encontro em

fronteira, é traduzida e pode perder um dos atributos denominado por Faus Belau como

primeiro nível de informação que é o de “conhecer a notícia com a máxima rapidez

possível”, transmitida instantaneamente no momento do acontecimento.

Na Radioweb São Judas ocorre o que foi explicitado no capítulo três deste

trabalho. Dentre os cinco níveis de informação que a notícia pode apresentar, definidos

pelo autor, relacionados aos formatos de programas ou formas de veiculação da notícia,

ela está presente em três: no segundo nível, com os programas especiais que recompõem

os acontecimentos; no terceiro nível, composto por notícias selecionadas que participam

apenas de programas do gênero jornalístico; e no quinto nível, nos programas de

variedades. Isto significa que no objeto analisado, a notícia não apresenta o primeiro

nível de informação – transmissão instantânea no momento do acontecimento – nem o

quarto, estabelecido por Faus Belau como o nível de informação oferecido pelos jornais

falados do rádio.

A estrutura da notícia na Radioweb São Judas é traduzida quando a

instantaneidade, característica do primeiro e do quarto nível de informação, já que um

jornal falado também deve transmitir os acontecimentos no momento em que ocorrem,

passa a ocorrer apenas na modelização do Ao Vivo, a cada quinze dias.

Sem o imediatismo da veiculação, a notícia se faz presente fisicamente na

estruturalidade da Radioweb em dois locais: na Válvula Em Pauta, estrutura nuclear que

reúne programas nos quais a informação jornalística é conteúdo predominante e cujas

modelizações são na forma de boletim informativo34

, de entrevistas temáticas ou

grandes reportagens que são visualizadas após o clicar na Válvula; e nos programas

Dicionário das Ruas e Palavra de Especialista, modelizações temáticas que também

mantém a predominância da informação jornalística, seja na voz do locutor-repórter ou

do especialista-entrevistado. São atualizados e disponibilizados ao ouvinte-internauta a

cada quinze dias, mas todos permanecem à disposição do ouvinte-internauta por tempo

indeterminado no endereço eletrônico da Radioweb.

O nome do programa Em Pauta é resultante de vários diálogos em fronteira.

Primeiro, entre a estruturalidade do jornal e revista impressos com outros significados

34

Noticiário que não aprofunda sobre o acontecimento informado, de curta duração.

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explicitados pelo dicionário de língua portuguesa35

, entre eles, o de “expediente

predeterminado dos trabalhos de cada dia” e ainda “conjunto de linhas horizontais

produzidas por papel”.

Adotado pelos veículos de comunicação de massa, em princípio, pelas revistas,

generalizou-se nos jornais brasileiros na década de 1950. Nilson Lage resgata que antes

da instituição da pauta,

[...] o noticiário do dia-a-dia dependia da produção dos repórteres que cobriam

setores. Estes se obrigavam a trazer diariamente sua cota de textos, o que

significava, na prática, ter uma programação de notícias frias ou reportagens

adiáveis (grifo do autor) para os dias de menor atividade. (2001: 29-33)

Na estruturalidade do jornalismo é usada em três situações: a) para planejamento

e organização da cobertura dos acontecimentos que deverão ser transformados em

notícia, geralmente traçados em reunião realizada entre editores e repórteres, quando

também se define a forma como será feita essa cobertura jornalística como, por

exemplo, “eventuais indicações logísticas e técnicas: ângulo de interesse, dimensão

pretendida da matéria, recursos disponíveis para o trabalho, sugestões de fontes etc”

(LAGE, 2001: 34); b) como lista de perguntas a serem feitas pelos jornalistas aos

possíveis entrevistados, fontes de informação para a confecção do texto jornalístico; c)

como instrumento de trabalho do pauteiro que, após participar da elaboração da pauta,

distribui os assuntos aos repórteres para produção das matérias jornalísticas.

Na Radioweb São Judas a palavra pauta tem o mesmo significado interpretado

pelo jornalismo que a usa para planejamento da produção. Reuniões de pauta são

realizadas com as equipes de produção em dois momentos: para planejar os conteúdos

dos programas e após as transmissões ao vivo para avaliação do produto que acabou de

ir ao ar.

O signo icônico do Em Pauta, um desenho de uma folha com linhas horizontais

e uma caneta sobreposta, com o título do programa sobrescrito à mão, resulta em uma

metáfora que remete ao que está agendado e por isso não pode sair da pauta (Anexo H).

35

Cf. Dicionário Aurélio, pauta pode ser a) conjunto de linhas horizontais produzidas por papel ou

máquina apropriada; b) cada uma delas; c) sistema de uma a cinco linhas sobre as quais se escrevem as

notas musicais; d)lista, rol; e) expediente predeterminado dos trabalhos de cada dia.

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74

A metáfora, lembra Santaella sobre Peirce, é uma das faces do signo icônico,

junto com a imagem e o diagrama:

As metáforas fazem um paralelo entre o caráter representativo do signo com o

caráter representativo de um possível objeto. (...) elas representam o caráter

representativo de um signo e traçam um paralelismo com algo diverso. Caráter

representativo refere-se àquilo que dá ao signo poder para representar algo

diverso dele.” (1995: 157)

4.2.6. Programa Lingua Portuguesa

No Língua Portuguesa peças de ficção são produzidas para orientar o ouvinte-

internauta sobre a utilização em seu dia-a-dia de termos e expressões da língua

portuguesa. Alunos de comunicação interpretam personagens que contextualizam, em

determinada cena do cotidiano, o termo selecionado para o conteúdo do programa,

seguida da participação de um professor de língua portuguesa vinculado a Universidade

São Judas para explicar o significado do termo e se foi inserido corretamente pelos

personagens do programa.

O signo icônico do Língua Portuguesa, visualizado após o clic do internauta na

primeira página da Radioweb São Judas, é composto pelo título escrito em letras

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maiúsculas com as cores verde e amarela, convencionalizadas na bandeira brasileira,

quali-signos para representar a floresta e o ouro brasileiros. (Anexo I )

Para contextualizar a análise desse programa, vale a pena a transcrição mais

longa sobre o que Balsebre considerou como seu objeto de estudo, pois vem ao encontro

da proposta desta modelização na busca da exploração das combinações de todos os

contituintes da linguagem radiofônica para a construção de significados.

(...) el lenguaje radiofônico es el instrumento que hace posible la difusión de

noticias con mayor rapidez, la comunicación entre públicos masivos y

heterogêneos, pero al mismo tiempo permite la creación artística. Si la

información estética en el lenguaje se genera a través de uma excitación

sentimental em el proceso comunicativo, y esta guarda una gran conexión con

lo simbólico y lo connotativo, el lenguaje radiofônico necesita integrar en su

sistema semiótico aquellos elementos expresivos que codifican el sentido

simbólico. La utilización de la música y los efectos sonoros en la producción de

enunciados significantes, como signos sustituvos de uma determinada idea

expresiva o narrativa, pueden superar muchas veces el própio sentido simbólico

y connotativo de la palabra. (2004: 29)

No Lingua Portuguesa a trilha musical e o efeito sonoro são utilizados para a

composição de paisagens sonoras descritivas dos cenários onde as situações ficionais

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76

ocorrem. Na combinação da paisagem sonora com performances vocais configurativas

dos personagens, interpretados vocalmente pelos alunos, é ressaltado o poder de

expressão que o rádio pode apresentar. Na Radioweb São Judas percebe-se a

intensificação da função de expressão, conforme possibilidade aventada no capítulo três.

E isso é notável principalmente se for considerado que a notícia, na emissora, não

apresenta o primeiro nível de informação, contribuindo com a redução da função de

difusão que no rádio predomina.

A expressão que se concretiza na integração da informação semântica ou

conteúdo com a informação estética ou forma, defendida por Balsebre para o

enriquecimento da criação artística radiofônica, explanado no capítulo anterior, está

presente na Radioweb São Judas e, para demonstrá-lo, foi selecionado o programa

Língua Portuguesa - Hipérbole (Anexo J):

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TEC VINHETA (T: 7”)

MIXA TRILHA CHICO CESAR – 10” – BG

LOC 1 AI, QUE DEMAIS ESSE SHOW. QUANDO TERMINAR EU VOU LÁ

PEDIR UM AUTÓGRAFO PRA ELE.

LOC 2 E VOCÊ ACHA QUE O CHICO CESAR É DE DAR AUTÓGRAFO

ASSIM, É?

LOC 1 SE ELE É, EU NÃO SEI. SÓ SEI QUE VOU ATÉ LÁ.

LOC 2 ENTÃO FINGE QUE VOCÊ NEM ME CONHECE.

LOC 1 LARGA DE SER BOBO...

LOC BOBO NÃO, VOCÊ MAI ME MATAR DE VERGONHA

TEC CORTA TRILHA

EFEITO DE PASSAGEM (T: 2”)

PROFESSOR – EXPLICAÇÃO SOBRE SIGNIFICADO HIPÉRBOLE

LOCUTOR FICHA TÉCNICA

TEC VINHETA DE ENCERRAMENTO (T: 7”)

VINHETA IDENTIFICAÇÃO RADIOWEB SÃO JUDAS

O programa se inicia com uma trilha musical em que o cantor Chico Cesar está

em primeiro plano. Ao passar para a situação de background, a voz do primeiro

personagem é sobreposta à canção, trazendo um enunciado que, combinado com a

palavra cantada em BG, constrói o significado de que ele está em um show de Chico

César. Ou seja, conforme abordado no primeiro capítulo, a trilha musical passou a

cumprir uma outra função que não a da música tocada para cantar, dançar etc. Neste

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programa, ela está compondo a paisagem sonora – o cenário onde ocorre o diálogo dos

personagens é o show de quem está cantando.

TEC VINHETA (T: 7”)

MIXA TRILHA CHICO CESAR – 10” – BG

LOC 1 AI, QUE DEMAIS ESSE SHOW. QUANDO TERMINAR EU VOU LÁ

PEDIR UM AUTÓGRAFO PRA ELE.

.

A combinação dos constituintes trilha com palavra falada resulta na informação

estética de que o diálogo se desenvolve durante a realização do show de Chico César,

sem que os personagens, em nenhum momento, dissessem que estavam em um show,

que era do Chico Cesar ou o que é um show. Após o diálogo, um efeito sonoro de dois

segundos expressa o término do esquete ficcional para a entrada do professor concluir a

proposta do programa, com a explicação sobre o que é hipérbole, conteúdo escolhido

dessa peça.

LOC BOBO NÃO, VOCÊ MAI ME MATAR DE VERGONHA

TEC CORTA TRILHA

EFEITO DE PASSAGEM (T: 2”)

PROFESSOR – EXPLICAÇÃO SOBRE SIGNIFICADO HIPÉRBOLE

O efeito pontua e expressa a mudança de “cena”: o ouvinte-internauta sai do

show de Chico César com os dois personagens e vai para um outro espaço para receber

a informação semântica do professor.

Ao realizar modelizações que exigem performances vocais diferenciadas,

desenvolvidas pelos próprios alunos na representação de personagens e a criação de

paisagens sonoras específicas para os diversos programas Língua Portuguesa, a

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Radioweb São Judas indica certa predominância na função expressiva que o rádio pode

oferecer.

4.2.7. Programa Navitrola

Outro programa em que é possível perceber o encontro de textos culturais é o

Navitrola (Anexo K).

Representado pelas imagens de uma vitrola antiga dentro do rádio antigo,

surgem após o clic na listagem de programas da face da radioweb. Ao lado direito de

seu ícone representativo, também são indiciados para escuta por meio do diminuto alto-

falante ao lado esquerdo de cada título verbal-escrito. Acima, separado da listagem, o

programa mais recentemente postado, na atualização da programação feita

semanalmente. Clicado, a página do programa selecionado aparece na tela do

computador (Anexo L).

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80

O Navitrola resgata a história de compositores do século passado na voz do

locutor focando em determinada canção que, ao final, é veiculada com três

interpretações: a primeira, original; a segunda reinterpretação feita em período após e

diferente do da original; e a terceira, por um cantor da contemporaneidade.

A proposta do Navitrola é realizar o encontro de artistas de datas temporais

diferentes para que o ouvinte-internauta possa reconhecer no novo o antigo ou vice-

versa, a tradição que recebe novos elementos e se mantém presente na

contemporaneidade. Fazem parte do roteiro e edição do programa as vinhetas de

abertura e encerramento, seguido pela de identificação da Radioweb; a narração é feita

com trilhas em BG, encerrando-se sempre com a justaposição das três unidades

musicais. O Navitrola escolhido para análise foi o Jackson do Pandeiro – Lenine, com

roteiro transcrito a seguir:

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TEC VINHETA DE ABERTURA (T 5”)

MIXA COM

TRILHA LENINE – JACK SOUL BRASILEIRO – 10” - BG

LOC PARAIBANO, ELE JÁ FOI ZÉ JACK, ZÉ DO PANDEIRO PARA,

FINALMENTE, VIRAR JACKSON DO PANDEIRO.

TEC TRILHA JACKSON – CHICLETE COM BANANA – 5” – BG

LOC CARREGOU O NOME DO INSTRUMENTO QUE IMORTALIZARIA

SUA TRAJETÓRIA.

NAS SUAS COMPOSIÇÕES É POSSÍVEL PERCEBER UMA

CONSTRUÇÃO VOCAL DIFERENTE E VÁRIOS RITMOS EM UMA

MESMA MÚSICA.

TAMBÉM FOI ELE QUE TROUXE PARA O RÁDIO E A TV AS

MARCAS DOS CANTADORES DE FEIRA LIVRE DO NORDESTE.

CASOU-SE E FEZ DUPLA COM ALMIRA CASTILHO, QUE TINHA

UM JEITO PECULIAR DE DANÇAR.

JACKSON DO PANDEIRO FOI REGRAVADO INÚMERAS VEZES.

SUA PRIMEIRA GRAVAÇÃO JÁ PASSOU DE MEIO SÉCULO....

TEC TRILHA JACKSON SEBASTINA - BG

LOC FOI EM 1.951, O XAXADO SEBASTIANA, DE ROSIL

CAVALCANTI.

EM SEBASTIANA, A HOMENAGEM DE GAL COSTA E DEPOIS,

DO TAMBÉM NORDESTINO, LENINE

TEC SOBE MÚSICA (8”) - MIXAR COM GAL COSTA (25”) - MIXAR

COM LENINE ATÉ 3’40” – BG

LOC PRODUÇÃO DE CARLOS BARRETO E DANIEL TAVARES.

ÁUDIO, MARCELO FERNANDES

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TEC SOBE MUSICA ATÉ O FINAL

MIXA VINHETA DE ENCERRAMENTO (T 5”)

MIXA VINHETA RÁDIO (T 3”)

O encontro de textos culturais de datas temporais respectivas ocorre já na

vinheta de abertura, também usada para encerramento do programa. Ela dá o nome ao

programa – Navitrola - , juntando a preposição na com o substantivo vitrola, remetendo

o ouvinte- internautaouvinte, quando ouve o início da pronúncia desse título - navi -,

por ser sonoramente semelhante ao início do verbo navegar- nave -, à ação de quem usa

a internet e onde é veiculada a peça.

Nessa palavra oral incide um efeito sonoro tecnológico de retorção da voz nas

duas últimas sílabas do termo criado - trola – transformando-se na simulação do som de

um disco de vinil sendo tocado em velocidade baixa, de 78 rpm (rotações por minuto).

A palavra começa a ser falada em ritmo natural e em tempo normal, para depois ser

retorcida, resultando em uma performance vocal produzida por mecanismo tecnológico.

Além da palavra falada com efeito tecnológico de retorção, a vinheta apresenta

mais dois efeitos constituintes. O primeiro é o que simboliza o som característico de

quem está tentando acessar a internet, antecedendo a fala das duas primeiras sílabas da

palavra navitrola; o segundo efeito constituinte da vinheta é o do som da agulha no

disco de vinil na vitrola após as duas últimas sílabas retorcidas que simulam o efeito do

disco rodado em 78 rpm.

A vinheta, portanto, com os efeitos, expressa um possível percurso do tempo

atual (som de quem acessa a internet) para o tempo passado, quando se usava a vitrola

para tocar um disco de vinil. É a função expressiva do efeito sonoro, denominada por

Balsebre e explicitada no Capítulo 1 desta pesquisa e também a junção dos constituintes

– efeito e palavra falada - para expressar significado.

Os recortes das músicas Jacksoul Brasileiro, Chiclete com Banana e Sebastiana,

transformados em trilhas, trazem marcas distintas dos tempos em que foram gravadas.

Em Jacksoul Brasileiro, a interpretação de Lenine é acompanhada por arranjo moderno

de violão e iniciada pela simulação de um vocal. Lenine transita pelo universo da

música pop e é admirado pelo público jovem e o jovem-adulto. Nessa música, faz o

trocadilho com o nome de Jackson do Pandeiro - Jack soul brasileiro e o som do

pandeiro é certeiro e tem direção - e enaltece o pandeiro, instrumento não comum na

música pop.

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Em Chiclete com Banana e em Sebastiana, que entram em seguida no programa,

um mergulho no século passado. Ambas são cantadas pelo próprio Jackson do Pandeiro.

A primeira é introduzida pelo som do pandeiro, cuja utilização marcou o trabalho

artístico do artista; na segunda, a sanfona introduz a canção. Ambas apresentam-se em

gravação original, mantendo os primeiros arranjos recebidos.

A música final do programa é Sebastiana, apresentada em três recortes e

versões, cantadas por Jackson do Pandeiro, Gal Costa e Lenine. Os recortes, justapostos

e mixados, recompõem a unidade musical de Sebastiana e, metalinguisticamente, as

trilhas (fragmentos musicais que tem funções diferenciadas na composição de uma

mensagem) voltam a ser uma música, recuperando suas singularidades de ser tocada,

cantada ou dançada, conforme visto no Capítulo primeiro.

São arranjos instrumentais e formas de cantar diferenciados que traçam um

percurso temporal do antigo para o atual. Na gravação de Jackson permanece o pandeiro

e a sanfona, instrumentos musicais tradicionais em sua música; na de Gal, a diversidade

dos instrumentos de percussão em ritmo acelerado; e na de Lenine, presentifica-se o

hip-hop, com fragmentos de música eletrônica e no ritmo de canto pontuado que se

assemelha à palavra falada, estilo amplamente divulgado nos dias de hoje.

Nos recortes abaixo do roteiro do Navitrola os exemplos mostram como a edição

dos elementos sonoros resultou em variantes de fluxo temporal ou no encontro de

tempos diferentes ou, ainda, em textos culturais diferentes:

a)Sobreposição da palavra falada à trilha cantada por Lenine:

TEC TRILHA LENINE – JACKSOU BRASILEIRO – 9” – BG

LOC PARAIBANO, ELE JÁ FOI ZÉ JACK, ZÉ DO PANDEIRO PARA,

FINALMENTE, VIRAR JACKSON DO PANDEIRO.

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b) Justaposição da palavra falada à trilha seguinte, antiga gravação do pandeiro,

antecedendo outra sobreposição – a da palavra falada quando a trilha vai para BG.

LOC (...) VIRAR JACKSON DO PANDEIRO.

TEC TRILHA JACKSON – CHICLETE COM BANANA – 5” – BG

LOC CARREGOU O NOME DO INSTRUMENTO QUE (...)

c)Justaposição de trilhas, Chiclete com Banana com Sebastiana, e, ao entrar para BG,

nova sobreposição da palavra falada à trilha.

LOC (...) SUA PRIMEIRA GRAVAÇÃO JÁ PASSOU DE MEIO SÉCULO....

TEC TRILHA JACKSON SEBASTINA - BG

LOC FOI EM 1.951, O XAXADO SEBASTIANA, DE ROSIL CAVALCANTI.

EM SEBASTIANA (...)

d) O encontro explícito de textos culturais ocorre no final do programa, quando três

trechos da mesma música de três gravações diferentes são justapostos e mixados em

continuidade, reconstruindo a unidade musical.

TEC SOBE MÚSICA (8”) - MIXAR COM GAL COSTA (25”) - MIXAR COM

LENINE ATÉ 3’40” – BG

O programa Navitrola se inicia no atual, com a vinheta e em seguida ocorre a

primeira produção de sentido, com a palavra falada sendo sobreposta às trilhas com

gravações antigas.

Retorna-se ao atual, quando Lenine, ao final do programa, interpreta no estilo

hip-hop a primeira gravação de Jackson. Desse efeito atual o ouvinte-internauta volta

para o antigo com a vinheta de encerramento – que sai da voz atual e normal para a voz

distorcida, bem como do efeito de internet para o efeito da agulha no disco de vinil.

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Consolida-se, assim, na construção de sentido, o reconhecimento da tradição na

música contemporânea, ou vice-versa, o novo no antigo, com o atual Lenine, ouvido na

vitrola, resgatando o tradicional Jackson do Pandeiro, tocado na internet.

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Considerações Finais

(...) nosso saber resulta de um longo processo de aprendizagem, que não teve um começo na

história da humanidade. Todo indivíduo, por maior que seja sua contribuição criadora,

constrói a partir de um patrimônio de saber já adquirido, o qual ele contribui para aumentar.

(Norbert Elias, 1998: 10)

Veículo de comunicação de massa e, como tal, integrante da indústria cultural, o

rádio, desde seu nascimento, foi visto com certa resistência por parte dos intelectuais.

Basta resgatar Edgar Morin: “rádio e televisão foram o refúgio dos jornalistas ou

comediantes fracassados” (1987:17). No entanto, só quem já “passou” pelo rádio,

conhece bem o significado da velha metáfora: “É uma cachaça que vicia”.

Talvez por ser da oralidade e visto como liberto das regras da cultura letrada –

diga-se, uma visão preconceituosa e equivocada porque na oralidade mediatizada em

que se situa o rádio também há a convivência com a mista que “procede da existência

de uma cultura escrita” (ZUMTHOR, 2010: 36) - seu sistema de linguagem apresenta

um histórico de pesquisa restrito, apesar de algumas enriquecedoras, como a de Armand

Balsebre, um dos teóricos que fundamentaram este trabalho.

Atualmente, esse rádio passa pela segunda grande transformação. A primeira

ocorreu após a chegada da televisão, quando para ela migraram profissionais e

patrocinadores, e o veículo se obrigou à mudança de programação que passou a

apresentar a predominância da música, da prestação de serviços e do jornalismo.

Nesta segunda grande transformação promovida pelo surgimento da internet,

plataforma que reúne todas as linguagens e dá origem à linguagem hipermidiática em

que todos acessam, processam, se encontram e se transformam em receptores e

emissores ao mesmo tempo, elementos do rádio se transportam para a web ao mesmo

tempo em que o rádio recebe constituintes estruturais da internet. Mas, isto já é tema

para outra pesquisa.

O presente trabalho foi embasado nos conceitos de semiosfera e fronteira de

Yuri Lotman e no pensamento de Marshall Mcluhan de que uma mídia resgata

constituintes de outra e, dependente de sua localização sócio-político-cultural, se

expande, e o meio torna-se mensagem comunicada de outra forma.

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Esses autores, assim como outros citados ao longo desta pesquisa – Gurevitch,

Elias, Balsebre, José, Prado, Ortriwano, Santaella, Meditsch, Medeiros, Ferraretto,

Barbosa, Del Bianco, Moreira, Lyotard, Zumthor - proporcionaram as condições

teóricas para comparar as especificidades das duas mídias, do rádio e da radioweb,

iluminar os deslocamentos ocorridos do primeiro para a segunda, tendo os processos de

produção, roteirização e edição de programas como mecanismos de tradução e, a partir

daí, analisar quais estruturas nucleares do rádio transportaram-se para a nova mídia e de

que forma se constituíram no novo espaço radiofônico. Resgatando Lotman, foi possível

analisar, na tradução em fronteira, o que se transformou em estrutura pertencente ao

novo espaço semiótico após cumprir o percurso periferia-centro ou, com base em

Mcluhan, perceber que um novo meio, sendo ele mesmo a mensagem e extensão de nós

mesmos,

introduz mudança de escala, cadência ou padrão nas coisas humanas. A estrada

de ferro não introduziu movimento, transporte, roda ou caminhos na sociedade

humana, mas acelerou e ampliou a escala das funções humanas anteriores,

criando tipos de cidades, de trabalho e de lazer totalmente novos. (MCLUHAN,

1964: 21-12)

Foram averiguadas similaridades aos dois espaços semióticos: presença dos

constituintes da linguagem sonora, da direção artística, de programação atualizada e

periódica, de estrutura de programas com locutores e vinhetas, chamada e notícia.

Também foram analisados distintivos e, em seguida, elencadas as estruturas modelares

da radioweb resultantes do encontro em fronteira com as estruturas do rádio, a saber: a

espacialização da programação do rádio na web com constituintes da linguagem verbal

e visual somadas à sonora, transmissão diferenciada, nomenclatura transformada,

espaços destinados especificamente para determinadas peças, como os spots, chamadas

e também para a notícia cuja instantaneidade foi legada a segundo plano e enunciados

temporais diferentes conseqüentes do novo fluxo temporal para a produção de

programas permanentemente disponíveis ao acesso do ouvinte-internauta.

Ao discutirmos nesta pesquisa o que distingue o rádio da radioweb, por meio da

análise de um objeto específico, a Radioweb São Judas, foi possível comprovar que

feitos os deslocamentos, as mídias apresentam distintivos que devem ser respeitados nos

processos de produção, ou do fazer. Ou seja, saber as condições da temperatura, do

trânsito, do que abre e fecha no feriado, dos últimos acontecimentos, pelo rádio, sim;

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pela internet, sim, mas pela radioweb, não necessariamente. Ouvir a mensagem e voltar

a ela quando quiser – ou ir para a frente? - para ouvir de novo, só na radioweb. Ouvir a

voz e imaginar o rosto de quem fala, só no rádio.

Deslocamento importante averiguado nesta pesquisa foi a apresentação da grade

de programação: no rádio, uma listagem por ordem temporal, cuja transmissão

seqüencial é determinada pela própria emissora para o preenchimento do relógio

radiofônico de 24 horas em que ela fica no ar; na radioweb, programas desvinculados

desse relógio temporal, espacialmente visualizados, permanentemente disponíveis para

o acesso do ouvinte-internauta que decide quando ouvir e, sempre que ouvir, estará no

seu tempo presente.

Há de se registrar que ainda é comum na internet a visualização de uma grade na

forma de lista de programas, repetindo o modelo do rádio eletromagnético que transmite

a sequencialidade das 24 horas ou o relógio radiofônico que atende o tempo de

transmissão da emissora e não a necessidade de disponibilidade de acesso que essa nova

mídia oferece como distintivo. Modelos estruturantes do rádio predominam na radioweb

desconsiderando, assim, as novas extensões por ela proporcionadas.

Quando as rádios comunitárias foram regulamentadas e oficializadas na década

de 90, com estruturação proposta para atendimento às respectivas comunidades, era

comum, como ainda é até hoje, cerca de 20 anos depois, a reprodução do modelo de

programação do rádio comercial em que predomina o entretenimento e a prestação de

serviços às grandes massas, prejudicando o objetivo a que se propõe a rádio comunitária

que é priorizar a voz da comunidade, a prestação de serviços à localidade e o estímulo

ao desenvolvimento social da respectiva comunidade. A reprodução do modelo

comercial - com exceções – impediu a aplicação da mais importante especificidade da

rádio comunitária.

O que nos parece é que a ocorrência de novas extensões proporcionadas por um

meio recente não se traduz necessariamente em sua assimilação imediata, mas o uso e

aplicação na prática ou no processo de fazer dessas extensões podem acelerar essa

assimilação.

Voltando à radioweb que reproduz o desenho de apresentação da programação

do rádio: o ouvinte-internauta até pode ligar o computador para audição de determinado

programa, mas ele decide quando ouvir esse programa independemente do horário

estabelecido pela emissora, pois não é da característica dessa mídia o mesmo hábito de

recepção do ouvinte de rádio que se utiliza do veículo como companheiro que o segue

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no carro, no campo de futebol, no trabalho etc, para ouvir tal programa no tempo

estabelecido pela emissora. No processo de fazer uma radioweb, isso, por exemplo,

deve ser considerado. Assim, se por um lado o “conteúdo de qualquer meio ou veículo é

sempre um outro meio ou veículo” (MCLUHAN, 1964: 22) também já disse o autor

que

[...] as mais recentes abordagens ao estudo dos meios levam em conta não

apenas o „conteúdo‟, mas o próprio meio e a matriz cultural em que um meio ou veículo específico atua (MCLUHAN, 1964: 25).

Ou seja, o rádio é rádio, não é radioweb; a radioweb é radioweb, não é rádio.

Pelo menos ainda.

Esta pesquisa não se esgota e acreditamos que os resultados da análise e da

comparação podem contribuir com a configuração do perfil desse novo ouvinte aqui

denominado de ouvinte-internauta, aquele que não é mais só receptor, mas também

emissor, e que adquire novos hábitos de ouvir traduzidos em impacto trazido pela nova

mídia. Quais são os constituintes desse impacto e como alteram as formas de audição ou

hábitos de recepção do ouvinte-internauta também podem transformar-se em tema para

outra pesquisa.

Por fim, se considerarmos as inúmeras análises que continuam permeando a vida

desse vovô que se materializa nas casas, nos escritórios, nos carros, bares, postos de

gasolina e tantos outros lugares, informando, entretendo, fazendo companhia e

estimulando o imaginário popular com o som que se instala nos corações e mentes, em

comparação com os estudos sobre a jovenzinha web, sem dúvida, esta proposta de

estudo é apenas um começo, mas indicativa da necessidade de se continuar a pensar o

áudio. Se este trabalho lançar prognósticos sobre um outro modo de ouvir e de escutar,

já terá valido a pena. Afinal, segundo PLAZA,

Operar sobre o passado encerra um problema de valor. Não é escolher um dado

do passado, uma referência passada; é uma referência a uma situação passada de

forma tal que seja capaz de resolver um problema presente e que tenha

afinidade com suas necessidades precisas e concretas de modo a projetar o

presente sobre o futuro. (1987: 6)

E, por último, lembrar o que Juremir Machado da Silva brilhantemente afirmou:

“O mais importante, ao final de uma pesquisa, não é saber que método foi usado, mas o

que foi des(en)coberto” (2001:93). Ou o que poderá ser.

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Anexos

Anexo A – Programação da Radioweb São Judas

Ponto Literário – Programa que veicula as produções em áudio realizadas pelos alunos

de 4º ano de Radialismo, na disciplina Adaptação Literária e Didática que tem como

foco principal a tradução e a releitura de textos literários, portanto escritos, quando

deslocados para o áudio, predominando a natureza e os traços da oralidade.

Doc.com – Programa que veicula as produções em áudio, no gênero documentário,

realizadas pelos alunos de 4º ano de Radialismo, na disciplina Projeto Experimental em

Rádio, conforme conteúdo do 1º semestre da disciplina. A peça em áudio é destinada à

Rádio Brasil AM, conforme edital público, ao Programa do Estudante.

Língua Portuguesa - Esclarecimentos sobre o uso correto da língua, quando falada no

dia a dia nos mais diferentes contextos.

Navitrola – Programa que resgata a história de compositores do século passado,

focando em canções específicas, veiculando-as com interpretação e arranjo feitos por

artistas contemporâneos.

Na Íntegra - Programa apresenta lançamentos musicais, com informações sobre o

artista, sua obra e o novo álbum.

Lado B – Entrevistas com artistas, programadores, críticos e produtores musicais em

que analisam e indicam músicas que nunca ou pouco tocaram nas mídias comerciais.

Dicionário das Ruas – Jornalístico, traz a história e origem de nomes de ruas e das

personalidades homônimas.

Palavra de especialista – professores e especialistas explicam termos e expressões

temáticas utilizados no dia-a-dia.

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Em Pauta - Programa jornalístico que traz reportagens sobre temas sociais de interesse

dos alunos e divulga atividades e eventos que compõe o calendário da universidade.

Programação musical - Constituída do que é possível chamar de paradigmas musicais,

isto é, são conjuntos de 20 músicas/canções que se aproximam por traços de

equivalência, ou seja, sempre existe um traço que aproxima as diferentes canções,

permitindo ao ouvinte-navegador a escolha dos paradigmas de preferência. Além disso,

predominantemente, as canções que já foram grandes sucessos de audiência radiofônica

reaparecem na programação da Radioweb São Judas em novas versões e interpretadas

por novos intérpretes, abrindo espaço para nomes e composições que ainda não foram

eleitos pelas emissoras tradicionais. A orientação musical da Radioweb São Judas

suspendeu a exclusividade da estimulação e da seleção musical totalmente dirigida pela

repetição de sucessos.

Especial - Constituído pelo que o rádio analógico convencionou chamar de tributos e

de sazonais. Ambas são peças radiofônicas que ainda mantém as funções de marcar e

recordar datas, não contando dia por dia do calendário na medida em que, na web, o

tempo não é cronológico, mas o é da duração. O foco principal dos sazonais é a

remontagem do ambiente comemorativo; dos tributos é reflexão sobre a importância do

nome para a área de conhecimento ou artística; além disso, rememorar nomes culturais

que ou foram totalmente esquecidos ou estão sendo relançados para atender a data

comemorativa.

Balaio – hospeda programas que tiveram suas produções limitadas a determinado

período que não são mais atualizados: Trilheiras, que destaca trilhas sonoras do

universo da televisão e do cinema, acompanhadas de comentários e informações sobre

as peças musicais, Duetos, que promove encontros vocais de artistas unidos na mesma

canção; e Diálogos Improváveis, áudio/ficção que aproxima versos que pertencem a

canções distintas, criando diálogos e personagens.