racismo no brasil. os trabalhadores da saúde

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ARTIGO Racismo no Brasil: os trabalhadores d a saúde Sérgio Koifman* Este idéias o racismo, d e um ponto de vista histórico, e discute como ele se apresenta atualmente n o pensamento d o s profissionais d a saúde. * Escola Nacional de Saúde Pública -FIOCRUZ -RJ. Recebido para publicação em 01.09.86 APRESENTAÇÃO Este trabalho, a o analisar algumas concepções sobre o preconceito racial vigentes entre o s trabalhadores d e saúde, apresentou, desde o seu início, u m problema metodológico d e relevância, qual seja, como compreender e situar para fins d e discussão a questão d o racismo. Assim, a construção de nosso objetivo de estudo procu- r o u obedecer inicialmente à necessidade d e entender este fenôm eno através de uma perspectiva metodológica e cien- tificamente coerente com os propósitos deste trabalho. Segundo Lowe 4 , "toda ciência implica u m a escolha e nas ciências históricas esta escolha não é produto d o acaso, m as está intimamente relacionada a uma perspectiva global de ter- minada. As visões d o mundo sobre a s classes sociais condi- cionam, então, não somente a última etapa da investigação científica social, a interpretação d o s fatos, a formulação d e teorias, m a s também a escolha mesmo d o objeto d e estudo, a definição do que é essencial e do que é acessório, a s per- guntas que se colocam à realidade; e m poucas palvaras , con- dicionam a problemática d a investigação. Desta maneira, será através d a s contradições geradas n o plano da produção das riquezas e bens materiais, com seus reflexos intercambiáveis a nível supra-estrutural q u e procu- raremos entender a historicidade d o fenômeno d o racismo n o mundo, para então situá-lo n u m estudo d e caso n o Brasil d e hoje. RACISMO E IDEOLOGIA Embora a s referências às desigualdades étnicas remontem à Antiguidade, onde assumiam caráter d e desigualdades entre formações sociais caracterizadas pelo modo d e produção escravagista, o racismo como conjunto d e categorias teori-

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ARTIGORacismo no Brasil:os trabalhadores da saúde

Sérgio Koifman*

Este trabalho analisaidéiasgerais sobreo racismo,deum ponto de vistahistórico, e discute como ele se apresentaatualmente nopensamento dosprofissionaisda saúde.

*Escola Nacional de Saúde Pública-FIOCRUZ -RJ.

Recebido p ara publicaçãoem 01.09.86

APRESENTAÇÃO

Este trabalho,ao analisar algumas concepções sobreopreconceito racial vigentes entreos trabalhadoresde saúde,apresentou, desdeo seuinício,umproblema metodológicode relevância,qualseja,como compreendere situar parafinsde discussãoa questãodo racismo.

Assim, a construção de nosso objetivo de estudo procu-rou obedecer inicialmenteà necessidadede entender estefenôm eno através de uma perspectiva m etodológica e cien-t if icamentecoerentecom ospropósitosdeste trabalho.

SegundoLowe4

, "toda ciência implicaum aescolhae nasciênciashistóricas esta escolhanão é produtodo acaso,m asestá int imam ente relacionadaa umaperspectiva global de ter-minada .Asvisõesdo mundo sobreas classes sociais condi-cionam, então,não som ente a últ im a etapa da investigaçãocientíf icasocial,a interpretaçãodos fatos ,a formulaçãodeteorias,m astambéma escolhamesmodo objetode estudo,a definiçãodo que éessenciale do que éacessório,asper-guntasque secolocamà real idade;empoucas palvaras , con-dicionama problemáticadainvestigação.

Destam ane ira , seráatravésdascontradições geradasno

plano da produ ção das riquezas e bens m ateriais, com seusreflexosin te rcambiáveisa nívelsupra-estruturalqueprocu-raremos enten derahistoricidadedofenômenodoracismonomundo, para então situá-lonum estudode casono Brasilde hoje.

RACISMOE IDEOLOGIA

Emboraasreferênciasàsdesigualdades étnicas remontemà Antiguidade,onde assumiam caráterdedesigualdadesentreformações sociais caracterizadas pelomodo de produçãoescravagista,o racismocomo conjuntode categorias teori-

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*GOBINEAU,JA . UngleichheitdesMenschenrassen.Berlin,1935.Apud:Lukdcs 5p,550.

*GOBINEAU,Id . ibid.,p. 547.

camente organizadas e auto-explicativas, portanto ideolo-gizantes, é um fenômeno relativamente recente.

É com Gobineau (1816-1882) que se conceitualiza, pelaprimeira vez, com seu "Ensaio sobre as Desigualdades Ra-

ciais", um corpo teórico estruturado sobre o racismo. Apartir de concepções arbitrárias - as diferentes raças descen-deriamdos filhos de Noé (Sem, Cam e Jafet), - constróium edifício teórico sobre superioridade da raça brancapara com as demais: "Nos llama la atención, sobre todo,el que la raza blanca no se nos muestre nunca en aquellosestadios primitivos en que vemos a las otras dos. La vemosya desde el primer día (!) relativamente cultivada y dotadade lo s elementos originarios m ásimportantes para llegar adesarrollarun estado de superioridad, que mástarde sedesarrolla enalgunas de susramas, creando lasdiferentesformasde la civiización." * . . .

"En el mundo oriental —dice Gobineau —sólo se libróuna lucha continua de lasfuerzasraciales entre el elementoario, de una parte, y de otra, el principio negro y amarillo.Y nohace falta decir queallí donde la srazas negras selimi-tan acombatirse unas a otras, donde la s razas amarillas semuevendentro de su propia órbita o donde luchan entresí las mezclas raciales negras y amarillas, no hay historiaposible. Estas luchas fueron esencialmente infecundas ,como las fuerzasmotrices étnicas que lasprovocaron. Nocrearonnada ni dejaron el menor recuerdo . . . La historiasólo surgeen el contacto muto entre las razas blancas".

"También dentro de esta rama de pueblos vemos que elfuegoy elbrillo de laépica sólo se desarrollan plenamenteen las naciones que no permanecen exentas de la cotamina-ción con los negros".* "El negro posse . . . en grado muyalto aquellas dotes sensuales sin las que el arte sería incon-cebible. Pero, de otra parte, la cerencia de dotes espiritualeslo incapacita para el refinamiento de las artes . . Para queaquellos talentos puedan dar f ru tos ,necesita mezclarse conuna razadotada de otro modo"

Assim,ignorando os avanços artísticos, científicos e acontribuição em vários ramos do conhecimento aportadospelascivilizações egípcia, chinesa, hindu, japonesa, árabe ,asteca, maia e inca, para citar apenas alguns exemplos, olivro de Gobineau constiui, segundo Lukács 5, "a primeiratentat ivaambiciosa de reconstruir toda a História Universalpor meio da teoria racista,reduzindo a simples problemasraciaistodas as crisesda história, todos os conflitos e asdiferençassociais".

Contudo, mesmo tomando em consideração o simplismoe a falsa cientificidadedestas conclusões, como entender o

relativoêxito da difusãodasidéias deGobineau?Estas ,assim como as dosoutros pensadores dasteorias

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racistas, a serem abordados posteriormente, devem ser ana-lisadasà luz dos interesses que representavam na cena histó-rica onde foram geradas.

Para tal, parece-nos importante analisar algumas catego-

rias desenvolvidaspor Gramsci ao discutir o papel dos inte-lectuais na difusão de um pensamento com finshegemôni-cos e organizadores de uma determinada sociedade. SegundoGramsci, esta tarefa converte-se em uma das mais importan-tes na consolidação da Sociedade Civil,capaz de manter oconsenso dos grupos subalternos graças ao domínio, no planoideológico, pela classe dominante; em todas as situaçõesem que se rompe esta ação organizativa pela qual os mes-m osgrupos subalternos deixam de visualizar os interessesda classe dominante como seus próprios, ocorre a necessi-dade dautilização de elementos coercitivos e repressores

paraa manutenção da situação de dominação.Para esta tarefa de consolidação da hegemonia, "cadagrupo social, ao nascer, no terreno originário da produçãoeconômica, cria conjunta e organicamente um ou mais estra-tos de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciên-cia da própria função, não somente no campo econômico,mas também no social e no político" 1. A estes intelectuaisorgânicos, agentes da supra-estruturade umanova era dasforçassociais emergentes, contrapõem-se os chamados inte-lectuais tradicionais," resíduos conservadores e fossilizadosdo grupo social superado historicamente (o que equivale adizer que a nova situação histórica não alcançou ainda ograude desenvolvimento necessário para ter acapacidadede criar novas supra-estruturas, e queviveainda na envol-tura carcomida da velha história" 2.

Segundo Lukács 5, "o início do Século XIX pauta-se, ape-sar da Revolução Francesa, por lutas contínuas na nobrezapara tentar fazerprevalecer seus interesses, uma vez que àperdado poder político segue-seum largo período de insta-bilidade caracterizado pelo confronto entre a burguesia eproletariado nascente. Gobineau, enquanto intelectual tra-

dicional, representante dos interesses da velha ordem feudalaspirando um retrocesso na História, deixa várias evidênciasem seu discurso sobre os verdadeiros interesses da classe querepresentava:"4ya hemos visto cómo todo orden social sebasaen tres clases originarias, cada una de lascuales repre-senta una variedad racial: la nobleza, imagen más o menosfiel de laraza vencedora; la burguesía, formada porbastar-dos, cercanos a la raza principal;y el pueblo, que vive escla-vizado o, por lo menos, en situación muy humillada, inte-grado por una raza inferior, producida en el Sur por lamezcla con los negros y en el Norte con los finlandeses"*.

Maisainda, os ideais democráticos de 1789 são envolvidosem suas afirmações racistas, tornando-se alvos a serem com-

*Id.,ibid,p.543.

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*Id.,ibid,p. 543.

*Ratzenhofer,G, Diesoziologis-che Erkenntnis, 189%, Apud.Lukács*p. 556.

batidos: "Tan pronto como circula sangre mezcladaporlas venasde lamayoría de losciudadanosde unEstado,éstos se sienten movidospor lafuerzadelnúmero a procla-m arcomo unaverdad vigente paratodos lo quesólo esver-dad para ellos,a saber:que todos los hombres son iguales".*

Emboraas limitações deste trabalhonãopermitamummaior aprofundamentoe questionamento da apologéticaaqui exposta,mas simconhecê-las para compreenderasraízes históricasdopreconceito racialnaatualidade,parece-nos adequado mencionar pensamentode Lukács5, o qual,referindo-sea Gobineau, menciona:"Ao fincarpé nadesi-gualdade substancialdoshom ens, rechaça-se necessariam entea concepção mesmade humanidade,e com ela desapareceuma dasmais altas conquistasdaciêncianostempos moder-nos:a idéiado desenvolvimentodoshomenscomo um auni-dadee atravésde umprocesso sujeitoa leis".O debate oriundo desta contradição,de umlado,o con-juntode idéias igualitáriose democratizantesda RevoluçãoFranc esa, de ou tro, o d iscurso elitista e m arginalizad or Go bineau , irátravar-seno palcodaplenaafirmação dasclas-ses dominantes européias, da contenção parcial do movmento operáriona Revoluçãode 1848 e, poster iormente,atravésda avassaladora conquista colonialna Áfricae naÁsia.Os antigos impérios coloniais (Portug al, H oland a Espanha) cedem lugaràsnovas potências im perialistas, em er-

gindoneste processoo Império Inglês,a ÁfricaOcidentalFrancesa e seus territórios de ultramar, as colônias alemna Nam íbia, oCongoBelga,entre outros.

Emborao conteúdo t ransformadorde 1789 encontreeco nofor ta lecimento paulat inodo movimento operár io(fundaçãodo primeiro Partido Operárioem 1880,o Socia-lita Francês, da Associação Internacionalde Trabalhadores,etc), a derro ta da Com una de Paris, em1882,vem del imitarum certo ref luxododebate ideológico.

No campo das classes dominantes européias, ocorreráum fenômenodeparticu lar interesse parao estabelecimento

de uma ideologia conservadora quejust if iquea conquistacolonial. Trata-sedo seguimentode umacorrentedopensa-m ento idealista, conhecidacomo o darwinismosocial.

A partir das conclusões obtidas por Darwin no campdas ciênciasbiológicas, particularmente aquelasreferentesà luta pelasobrevivênciae aseleção naturaldasespécies m aisaptas e resistentes, mas também através dos avanços na qmica e na física, estes pensadores passam a aplicá-los formamecânicaà compreensãodosfatos sociais contempo-râneos:"La mayoro menor af inidad mutuade lose lemen-tos o surepugnanciaa ciertas combinacionessonfenómenoscausalmente idénticos,y no simplemente parecidos, a laspasionesen lavida social,al amory alodio"*. Assim,na

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*Gumplowicz, L. Die soziologis-cheStaatsidee, Graaz, 1902.ApudLukács 5, p, 559.

*Id.,ibid.,p. 560.

de los pueblos; el gritoqueaquí se escuchaes esteotro:Aquílosarios, aquilossemitas,aquí losmongoles,aquíloseuropeos,aquí lo sasiáticos,aquí lo sblancos,aquí la gentede color,aquí loscristinaos,aquí losmusulmanes,aquí losgermanos,aquí loslatinos,aquí lo seslavos!y asísucesiva-mente,en milvariaciones distintas. Bajoestosgritosdebatallase hacela historia,se derrama a torrentes la sangrede los hombres,para que se cumpla unaley naturalhistó-rico-universalque todavía estamos muy lejos de haberllegadoa conocer".*

Desta maneira, o darwinismo social, trazendo consigrespeitabilidadede sua metodologia pseudocientífíca (bastarecordara teoria de Lombroso sobre a caracterização antrpológicadacriminalidade), analisandoosfatos sociais como"coisas" na melhor tradição positivista, gera em seu bojoluta pela existência entreas raças, respaldandoa expansãocoloniale a própria desigualdade entreos grupos sociais,particularmenteo proletariado:O Estado,"como la orde-nación de la desigualdad" es "la única organización posentreloshombres".*

Embora existam outros teóricosdo racismodeimportân-cia,parece-nosque, paraos efeitos deste trabalho, caracte-rizam-seosaspectos fun dam entais deste fe nôm eno, segundLukács, quaissejam:

a) o racismo é um fenôm eno historicamente determnad o, e, enq uanto tal, a serviço das posições das clasdominantes,em distintos mom entos.

b) esta"postura de classe"advémda suarupturacom oconceitodehum anidade, concebida comooprogressoadvindodosesforçosde váriasgerações,ao longodotempo,emdiferentesform ações sociais.

c) maisque umconjuntodeconclusões obtidas median teum ametodologiade investigação,eleapresentaváriaspremonições elitistasa priorisobreasdesigualdadesentre oshomens,valendo-se,para isto,de conceitospseudocientíficos,ou não.

Uma vezexplicadas estas considerações, torna-se manfestoque a análise do discurso sobre a temática do racisna atualidade, objeto final deste trabalho,nãoserá conside-radacomo um a exposição autôno m a e fo rtuita de alguindivíduos. Pelo contrário,procurar-se-áestabelecerosnexosquea relacionamcomtodaumapostura ideológica estrutu-rada, cujas raízes históricas f oram m encion adas.

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METODOLOGIA

EmexamedeseleçãoaCursodePós-Graduação emSaúdePública,foi apresentadocomo questão de dissertaçãoumtexto escolhidodaimprensa

3a respeitodasituação atualdam ortalidade infantil nos países escandinavos. Nesta publica-

ção, aquelas taxassão comparadascom as deoutros países,sendo abordados possíveis fatores explicativos para os redu-zidos índices encontradosno Norteda Europa.

Como parâmetrosde interpretação, foram apresentadasas seguintes p erguntas:

1) Qual (is) o (s) p rinc ipa l (is) f ato r (es) associado (s) àdiminuiçãoda taxademortalidade infantil(TMI) nospaíses nórdicos?

2) Qual a importância dos gastos em saúde para diminuira TMI?

3) Qualé a suaopinião sobrea situaçãono Brasil?

4) De quemanei raosaspectos raciais parecem influenciara TMI?

Participaram desta avaliação 185 profissionais de nívelsuperior(tabela1), correspondendo este trabalho á análisedas respostas apresentadasà pergunta número q uatro- "Dequemaneiraosaspectos raciais pareceminfluenciara TMI?"

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RESULTADOSE COMENTÁRIOSDos185 candidatosqueprestaramo examede seleção,

apenas 22 (12%) negaram enfaticamente qualquer influêentre fa tores raciaise asvariaçõesdam ortalidade inf antil.

Em relaçãoaosaspectosraciaisisolados, nada indicaqueelespossaminfluirpositivaou negativamentenas TMI.Se existem fatoresque influenciama TMI,sãofalta deverbasdo governo, faltade educação sanitária,precarie-dadede recursos,mas não osaspectosraciais.Osaspectosraciaisnãoinfluenciamas taxas, Paísesque

hojeapresentama TMIbaixativeramépocasnopassadoem queseusíndiceseramiguaisou quase iguaisaospaí-sesquehojetêm esta taxa alta.

Não importa se araça é branca, negra ou amarela, o queimportaé opadrãodevidade umpovo.Não meparecequehajaum elo deligaçaona TMI, entreas diferentesraças,mas sim um problemasócio-econô-mico-cultural.Acredito que, qualquerquesejamoscomponentes gené-ticos que determinam a coloração depele, a textura doscabelosde determinados grupos,umacoisa estes gruposditos "raciais"possuememcomum: são daraça humana.E como ta lestão todosda mesm a forma condicionadosa políticas econômicas, culturais e sociais de suas etniaSejade queraçafor constituído umpaís,se osseushabi-tantes tiveremumasituaçãosócio-econômicaboa,seelestiveremuma boaalimentação,boahabitaçãoe educação,higiene, assistência médica eficiente,automaticamente aTMIserábaixa.Ascrianças nórdicasnãovivem maispor serem nórdicase sim porque seu país é desenvolvido socialmente.Se levarmos em conta os aspectospuramente sociais, nãohá nenhuma ligação.Não vejo como os aspectosraciaispossam influenciaraTMI.Os aspectosraciaisme parecem falsos problemas, poiscomo já vimos,osfatoresqueinfluemna TMIestãoliga-dosàscondiçõesbásicasde vidadosseres humanose nãoàs raças.Àsvezes, este rechaço veio acom panhado de uma sól

argumentaçãode caráterhistórico sobreos determinantespolítico-econômicosdasdiferenças enco ntradas.

À primeira vista, pela matéria apresentada, parece corretaa teoriada raçaarianasuperiore daexistênciadas sub-

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raçasmestiçae negra.Porém,a validade desta tesejá foihá muito derrubada. . .O foco de análisefo i deslocadoparao níveldedesenvolvimento econômico-sociale polí-tico que, na realidade é o fator queinfluencia,pratica-

mente, determinando aTMI.A teoria racista era, e aindaé, na verdade,uma artimanha ideológicadas grandespotências para legitimar sua dominação e assim tentar,também pelavia ideológica, manterindefinidamente asituaçãode subdesenvolvimento da Am érica Latina,África e parteda Ásia.Concretamente,a raça não vaiinfluenciarna m orte ou não de um a criança, mas sim asituaçãosócio-econômica e política da qualessacriançafaz parte.

Um dadode constante presençaé aquele referenteaos

sujeitosdo racismo; emborao texto mencionasseospaísesescandinavos,a grande maioria dos candidatos orientouespontaneamente suas respostas paraum grupo determi-nado,a população negradoBrasil.

Osaspectosraciaisinfluenciama TMIapenasno quetocaà marginalizaçãodecorrentedacondiçãosócio-econômicade determinados grupos raciais,como é ocasodonegroentre nós. Ainda marginalizado desde a sua libertação,no difícilacesso aos meios qu e favoreceriam suas m elho-res condições devida ensino, com conseqüente melhor

optidãoe especialização parao trabalho,e portanto,melhor remuneração,porexemplo). Ocupam geralmentecargosde mão-de-obra nãoespecializada, vivemde bis-cates,ou atualmente,constituem grande partedo con-tingentede desempregados. Suas condiçõesdevida, por-tanto (habitação, saneamento, alimentação, acessoaosserviçosde saúde, etc)sãoprecárias,bem como as desuasfamílias e filhos, caindo no problema anterior, afomee suasconseqüências: desnutriçãoe asdoenças deladecorrentes, com altas taxas de mortalidade infantilOs negros, trazidosda Áfricapara serem escravos,nãotinham direitoe sóforam adqu irir alguns depoisda "LeiÁurea". A partirde então, iniciaramum processodeentrosamento num a sociedade da qu al não faziam parte.Iniciaram em desvantagem, não podendo se organizarcomo cidadãos numa sociedade ainda racista,apesardamu dança ocorrida. Du rantemuito tempo, continuaramàmargemda sociedade, e ainda continuam assimcomo sevêpela grande populaçãodenegrosemestiçosnasfavelas.O aspectoracialem si não tem nenhuma influência naTMI.O fato é que a popu laçãonegrapor exem plo, é aquevivena maior miséria, sendo obviamente,por estemotivo, a mais atingida.

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No Brasilo negro aindaé influenciado pelasuasituaçãohistórica, mesmo que anossaConstituição reze a não-discriminação racialA formaçãohistóricado Brasil semprenos levoua ver onegroe o indígenacomo seres próprios para trabalhosbraçais,logo inferioresao branco.Não foidadaa estesdois gruposétnicos a oportunidadede desenvolveremsuascapacidadesintelectuais, o quesempreos levou parauma camada social inferior.Alémdo Brasil ,o país maisidentificadocom práticas

racistas pelos candidatos foramos Estados U nidos, sendoaÁfricado Sul mencionada uma únicavez.

A raçaem si não é fator de mortalidadeinfantil,mas ospreconceitos que possam existircom relaçãoa qualqueruma delas. . . Em certaspartes, como, por exemplo, aÁfrica do Sul,é conhecido o problema do negropeloapartheid.Geralmente, como acontece nos EUA,os negrossão osque possuem rendasmenores. Por isto, moram em luga-res afastadosdosgrandescentros, emsituações precáriasde saúde, educação, alimentaçãoe moradia, fazendocomque aTMIseja maior nessas áreasde concentração.O s aspectos raciais influenciamna TMI ,pois, nos EUA,onde há o racismo,os negrossão aspessoasde baixarenda, gerandocom isto faltade saneamento ou sanea-mento inadequado, habitações inadequadas, baixanopoder aquisitivo, insuficiente assistência médica.Se araça negranosEstados Unidos,por exemplo, é aque viveem maiores condiçõesde miséria, logicamenteentre eles será maior a TM I.D o con jun tode candidatos ,18 (10%)nãoresponderam

especificamentea esta pergu nta, om it indo qualquer comen-tárioa respeito.Talpercentual pode estarref le t indoas difi-culdades dadiscussãodo tem a, sendoumpossível indicad ordos obstáculosem abordara questãodo racismoem nossasociedade.

O grupo restantede 175candidatos(78%)caracteriza-sepor um denominador comum, qual seja a ausência em respostasda negação sobre qualquerinfluênciade fatoresraciais na m ortalidad e inf an til, aind a que os matizes assdos por esta postura sejam variados.

Um grupo numericamente elevadoderespostas encontrana variávelsócio-econômica o elemento explicativo primor-dialdos diferenciaisde mortalidade infantil,sem apresentar

contudo um claro posicionamento sobrea questão colocadadosfatores raciais.

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No Brasil,seformosseparara TMIpor raça,elaserábemmaiorna raça negra;o mesmo se repetenos EUA;nospaíses nórdicos, se formos fazer esta separação, talvezencontremos um número bastante significativodo grupo

de emigrantes do Su l da Eu ropa (Portu gal, Espanha eregiãoda Sicília).Portanto, ao seanalisaremas tesesde mortalidadeinfan-til, o problema é muito maiseconômico-social do quepuramente genético.O grupo restante de respostas caracteriza-se pordiferen-

te s níveisde expressãodo pensamentoracista,em aborda-gensque procu ram c onsubstanciar uma racionalidade a qualjustifiquea postura expressa.Em outras palavras, buscamtambém o bter umacientificidadepara a análise realizada.

O primeiro grupo pode ser identificado pela visão antro-pológica da questão, identificando na cultura e na educaçãoos elementos primordiaisdas diferenças encontradas;éimportante observar que, da mesma forma queGobineau,estes não tratam dediferençasculturais historicamenteconstruídasentre gruposétnicos,m as simdistinções ineren-te sao conceitodaraça.

Existem algumasraçasqueperpetuam atravésdossécu-los, costumes alimentarese religiososque muitas dasvezesé quase impossível ministrar-se noçõesde higiene,sendo difícil a instalaçãode Programas NacionaisdeEducação.Os aspectos raciais parecem influenciara TMI devidoà educaçãode cadaraça.Os aspectos raciais parecem estar ligados maisa fatoressócio-econômicos, em um país ondea própria culturafavoreceua dominaçãoda raçabranca sobre ou tras raças.Cadaraçapossui seu processo cultural.A culturade umpovo rege suasatitudes. Determinadasraçastiveram seusprocessosde aculturamento anteriora outras, por isto,se concentram em um nível social mais elevado. Este

nível social leva a maior preocupação com fatores ligadosà saúdee isto leva esta determinadaraçaa termais recur-sos para a saúde.Comatenção especial paraa infância,as TMI reduzem-secada vez mais, e esta redução é oespelho da socialização evolutiva de uma raça.Cada grupo étnico traz consigo umacultura, certospadrões de vida, certa forma de organização social. Ta ntoos fatores biológicos— ouseja, os fatoresde heredita-riedadeque carregam consigo-, como os sociais,têminfluênciana maneiracomo estesgrupos, de uma maneirageral,reagema certosestímulos. Portanto, o fator raçanãoé o principalcomponente, mas é um fatorque deveser considerado.

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Através, por exemplo,doscostumesque sãopassadospara asfuturas gerações.Quanto mais desenvolvida umaraça,melhores as condi-ções de vida,portanto maiores as chances desobrevivên-cia infantil, menora TMI.Doisdosfatores mais impor-tantes paraa diminuiçãoda TM Isão aeducaçãoe a infor-mação.Acredito que osaspectosraciaisinfluenciemna TMIdevido à educação de base, isto é, através do conhecmento sócio-cultural.Influenciamemvários aspectoscomo porexemplo:hábi-tos culturais, religião, hábitos alimentares, sociais, etcDeacordocomcadacultura,ter-se-áumpadrãodesaúdecaracterístico.Têm umacerta importânciaos fatores raciais,mas nãotêm importância efetiva, maciça.Existe maior importân-cia nosvalores culturais, tomando-sequeporracial vemosmaiso aspectogenético.T êmalguma influência, nossopovo é miscigenaçãodeportugueses, índiose negros,e,mais tarde,outrospovos,Índiose tratavacom aservas, atravésde seuscurandeiros,os negros,com suacrendice, influenciarammuito. A téhoje,váriaspessoas deixamde ir aomédico parase trataremcentroespíritae tomar ervas, etc.Quando estão ligados à baixa condição de vida, tabucrendicese preconceitos.

Outro conjunto quantitativamente importantederespos-tas concentranasleisdeMendela solução para suaspergun-tas, reforçando a postura de"objetividadecientífica" emsuas afirmações, numa surpreendente identidade comdarwinistassociais.

Osaspectos raciaispodem influenciarna TMI,e explica-ções para este fato buscarem os inicialmentena genética,onde sabemos estão os segredos da reprodução humanvistasno seu lado físico equímico, e as gerações raciais,pelos seus próprios hábitos alimentarese capacidadedeviverem seu"nichoecológico",adquirem maioroumenor capacidadede adaptação ambiental, constitu içãoou mesmo defesasfrente aos agentes agressores do indi-víduo.Portanto, raçasdiferentes,com hábitos, alimen-tação,educação,constituições,sociabilidade diferentes,portavam-sefrente àsaúdedemodo diferente, logocomTMItambém diferenciadas,

O queaconteceé quetodososfatoresjuntos levamumpovo, ou umaraça,a melhorarseupadrãodevidae,

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destaforma,as gerações vindasde gerações "apuradas"serãomelhores.E isso acontececomtodoo reino animale vegetal.No meumodo de ver, os aspectosraciaisparecem influen-ciara TMIno sentidode que umaraçaque tematençãomédicade qualidade,umamelhor educaçãoda futuramãe,um bem-estareconômico social, tudo issoe maisalgumascoisasse transmitiriam lentamentee genetica-mente, e, após um bomtempo, seria cadavez melhor asaúdedosnascidos. Seria interessante, apenasa título deelocubração, implantaressas benfeitorias sociaisemoutros povos parase terdados mais concretose defini-tivosse realmenteé umaquestãode raça.Mesmoem umasociedade mistacomo aquelaem que

vivemos,as diferentesraças apresentam determinadasinfluências naTMI.Taisinfluênciaspodem sercausadaspela variação genéticaquepossuem.O aspectoracialenvolvehereditariedade.À medidaemque umpovo tem seupadrãodevida elevado, isto influen-ciaráa qualidadede saúdede seus descendentes.E, comrespeitoa esse aspecto,o Brasiltemimportantesmotivosparapreocupação, comreferênciaaos filhos do Nordeste.A secaque perdura há quase uma década e que provocaum nívelde vida precárioe muitas vezessubhumanonapopulação daquela região certamentetraráconseqüên-ciasnegativasaosseus descendentes.Nadeterminação do estadosaúde-doençatem-se que levarem consideraçãoosfatores internose externos. O fatorinterno compreendeo genótipoe tem u macargadevitalimportância. . O aspecto culturalde um povo, atravésda atençãode saúdea geraçõese geraçõesno seudesen-volvimento, prevenindoa perpetuação desses fatoresinternos, contribu i inevitavelmente na redução dessamortalidade.As pessoas qu e vivem num meio carente, sujeitas às doen-ças,semconscientização sobremétodos sanitários,e semchances e oportunidades de se livrarem disso, têm proba-bilidadecada vez maiorde transmitiremessascarênciashereditariamente.Acredito que, na origem, asraçaspossuem característicasdiferentes,umasaté sãomais resistentes, ou trassãomaisinteligentes, outrassãomais trabalhadoras.Osaspectosraciaisinfluenciamna TMI, talvez pelos ante-passadosde cadaraça, suas crenças, condições sócio-eco-

nômicas.Quando se procura estabelecer parâmetro entre caracte-

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rísticasraciaise TMI,é preciso, antesde qualquer con-sideração,destacaro contexto no qualseráfeita a aná-lise.Quantoaos paísesnórdicos, é preciso mencionarofato de que os mesmospossuem uma homogeneidade

racial,ligadaao processode formação histórica.Prosseguea buscade fatores explicativos que, apesardeincongruentes,são apresentados como verdades absolutasdo con hecim ento de todos, no m elhor estilo deGumplowicz:

Praticamente não há um a influência racial, há , isso simdeterminadasraças suscetíveis a certas doenças. Temoscomo exemplo: Preto-Tuberculose; Amarelo-Hanseníase;Vermelha-DoençasVenéreas.Essa questão depende d o tipo de comunidade formadaNóssabemosque araçanegraé mais susceptívela certasinfecçõesque a branca.Há fatores biológico-sociaisque influenciama T M I .Háfatores genéticose congênitosque expõemuma popula-ção a ummaior risco (suscetibilidade). Aliadoa estes,temos os fatoressócio-culturais, a etnia, as crenças, ofatalismo entre nascer/morrer,os aspectos educacionais.Frisemosque o conceito de doençaé mutávele peculiara cadaraça,a cadaclasse.Os aspectosraciaisinfluenciama TMIporque cada raçatem sua culturae seu modo típicode viver. . E, levan-

do-seem conta que certasraças são mais propensasaadquirir certas doenças,é degrande importância conhe-cermosos aspectosraciaisde umacomunidade para,apartir daí, trabalharmosnasdeficiênciase necessidades.Determinadasraças têm menos imunidadequeoutrasaalgumasdoenças, podendolevara umaumento de índicede mortalidade.Podemos aceitar,é claro,osfatores mórbidos maiscarac-terísticosa cada raça, aquelesqueincidemco mma is fre-qüência emcadauma delas.

Atendo-nos às característicasgenético-ambientais daspopulações, verificamosdiferençasnas diversasraçasquanto à suscetibilidade maiorou menor às doenças,conseqüentemente variaçõesespecíficasnos índices desobrevivênciae longevidade.Os aspectosraciaisinfluemde umamaneira biológicaonde,por exemplo, a raça negratem menos predisposi-ção para certos tipos de doenças.Atravésde fatores genéticosque podem estar associadosa este ou aqu ele tipo racial, determinando maiorou

menor capacidade dos indivíduos ou a superação decon-dições adversasdo meioambiente.

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Na mesma linhade pensamento, outros fatores causais,tais comoos geográficose "históricos" tambémsão toma-dosem consideração:

Osaspectos raciais parecem influenciarna TMIdevidoàqualidadedo climaque dificultao aparecimentode doen-ças infecto-contagiosas.Em todaa nossahistória, sempre vemosque um povo ésubmissoa outro, por issoa distiinção racial,a meuver,é um fatorde subdesenvolvimento socialOs aspectos raciais influenciama TMIatravésdas doen-ças hereditáriasligadasà raçaou aregiõesdo mundo .Os aspectosraciaisinfluenciamna TMI ,na medidaemque ospovos sãomais organizados, conscientese deter-

minadosnapolítica de saúde.Finalmente,o conjutno de respostas em que o discurso

racistasurgede formacristalina, despojadode qualquerveleidadesna suamanifestação.

A s famíliasde baixa renda são,na suamaioria, pessoasmu latas, negras, etc. Vivemem confrontocom areali-dadeeconômicado país.O s aspectos raciais parecem influenciar no setor saúdepelos seuscostumes. . Onívelsócio-econômico é dife-rentenasdiversas raças:osamarelostêm umpoder aqui-sitivo maior,a raça negrajá não o tem emseus paísese,aqui no Brasil,também é assim, araçanegra é mais mar-ginalizada, maisinculta, maissem educação,e istonão éculpa do governoou dasociedade,é culpada própriaraçaque é comodista, não menos inteligente, o que tornabaixoo seuQ.I. .Existem as raças mais favorecidasou que tiveram maisêxito. Estas não sofreramtanto o problemacomo anegra,por exemplo. Quem ocupa regiõesdo submundo,vivendoà margemdo normal?Sãoelesmesmos, aomenos

aqui no Rio de Janeiro.O fatorde importânciatambém, nestes países(nórdicos),é a ausência de misturas raciais, uma sociedade homogê-nea,semproblemasde discriminação raciale outros fato-res qu e dificultam a integração social, facilitando um aorganizaçãoda sociedadeno sentidode melhor aprovei-tamento de seus recursos.Na medidaemque, desdeosprimordios, houve umasepa-raçãonítidada populaçãoempuros (brancos)e impuros(negros, amarelos, híbridos).Às raças marginalizadas,

foram dadas menores chances de projeção social, culturale econômica; istosignificaque asraças"impuras"se tor-

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*O ópulo, o onanismoe a prosti-tuição.Teseà Faculdadede Medi-cinado Rio de Janeiro,1845 6.

**Memóriasobrea amamentaçãoe asamasde leite. Anaisda Medi-

cinaBrasileira,1889-706

.

***Ensaiosobrea Higieneda Es-cravatura.Tese à FaculdadedeMedicina do Rio deJaneiro,1849 6.

naramas maispobres, e reforça,inclusive,o conceito dequerealmente a saúde andade braços dadoscom odesen-volvimento econômico.Determinadasraças sofremo preconceito, assimcomoa negra,a mais marcada, talvez. . . Então, uma vez quenão lhessãodadas oportunidadesde melhoriade vida,enão conhecem a parte profilática,por exemplo, o pré-nupciale o pré-natalque têm como objetivoa eugenia,os filhos das mulheres destaraça, em sua maioria, nas-cem desprovidosde condições para sobreviverem . D ei-xando o preconceito à parte, têm raçasque provêm dedescendentescom uma resistência física.

CONCLUSÃO

A leitura e análise sistemática do conjunto de respostaqui apresentadas, conduz à reflexão sobre algumas cotatações.

A primeira consisteem revelarque,a despeitode qual-querjuízo de v alor, um grand e núm ero de trabalhadores dsetor saúde ex pressa hoje os valores considerados cocientíficos há pelo menos um século, na sociedade em ge na atenção àsaúde,marcadamente racistas. O pensamentomédico, estando vinculadoaos setores dominantes numaformação social com tais características,era,ele mesmo,palco da elaboração e fortalecimento deste discurso:

Sórdidasescravas, devassasde organização,contamina-das pelos vícios sifilíticosbobáticos, etc, são asencarre-gadasda saúdee futuro das infelizes crianças, que,como leite, bebem peçonha que há de envenenara vida,augurando-lhesumfuturo de moléstiase dores.*Pela amamentação lácteapodem ser transmitidas certasdisposições hereditáriasque terão mais tardede manifes-ta r os seusfunestos efeitos sobrea economia dospeque-nos entes.**Não seinfira quepretendamos nem deleve sequer aboliro castigodospretos, antes os aprovamos,masaplicadoscom moderaçãoe dentro da esfera das leisda humani-dade.***

Observa-se,assim,a grande identidadedo discurso apre-sentado na atualidade e o senso comum, entendido comconjuntode "caracteres difusose dispersosde umpensa-mento genéricode certaépoca" surgindo como"amálgamade diversas ideologias tradicionaise da ideologiada classedir igente7" .

Em outras palavras,a serrepresentativaa amostrade

idéiasaqui analisadas, temos hoje no país um grupoexpres-sivode técnicosdesaúde difundindoum pensam ento racista

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anacrônico, m asprofundamente organizado.Namedidaemque este incorpore diferentes fatores descritivos para expli-car as diferenças sociais (de natureza cultural, geográfica,biológica, etc),tenta viabilizarsua aceitaçãoe, destamaneira ,

a própriamanutenção dasrelações sociais existentes.A segundaconstatação diz respeitoaos resultadosdo

sistema educacional vigentena áreade saúde,bem comosuasimplicações; ao equipararem sereshumanos a ervilhas,ou aoincluí-losenquanto meros componentes passivosdanatureza,os vários exemplos aqui citados permitem visuali-zar a falência doprocesso de formação científica daquelesque detêm papéis socialmente delegadosquanto a suaela-boração e difusão. Mais queisto, reforça o papelrepresen-tado hoje pelaUniversidade,na medidaem que esta passaa fornecerum instrumental teórico,o qual tenta reapresen-tar osensocomum atravésde nova vestimenta,a Ciência,ou o que seacreditaela represente.

Desta maneira, observa-sea organicidade con ferida pelopensamento racistana áreada saúdea umdado projetodehegemonia: atravésda utilizaçãode umaconceituação res-paldadaou não cientificam ente, tenta tornar-se com preen -sívele aceitável o processo de do m inação das classes suba l-ternas.

À guisade encer ramento ,as questões aqui apresentadasindicamque asdiscussões sobreo Direitoà Cidadan ia, apon-tado como passo fundamental para a redemocratização dopaís na VIII Conferência Nacional de Saúde, não podemcontinuar proteladas. Numa sociedadeem que adiscrimi-nação en controu form as próprias, m ascarad as e, po rtanto ,aceitáveispara sua existência,não haverá democratizaçãodo setor saúdenem dasociedade comoum todo, enquantopersistamcidadãosde segunda classe,em que osmecanis-mos ideológicos que consubstanciam o racismo prossigamprofun dam ente enraizado s, sem serem questionados.

Entreoutrosfatores,a unificaçãodo Setor Saúdee aRefo rmaSanitár ia dependem também deste d ebate , poisasbarreirasà sua execução não enc ontram -se, apenas, nos seto-res conservadorese privatizantesdo país, m as tambémencrustadasem nosso próprio meio, através da ideologiade nossos quadros técnicos. Abriro debate hoje contraoracismo élutar também pela elevaçãodequalidadedaaten-ção, a universalização do c uida do e pela igualdad e deacesso,enf im,pela Refo rm a Sani tár ia .

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Thispaper analyses generalideasconcernedabout racismin a historicalapproach,anddiscussesthe frameworkabout it atpresent onhealth personnel beliefasappointedon thetext.

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