raça e desigualdade entre as mulheres

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    Cad. Sade Pblica, Rio de Janeiro, 16(4):1137-1142, out-dez, 2000

    NOTA RESEARCH NOTE

    Raa e desigualdade entre as mulheres:um exemplo no sul do Brasil

    Race and inequality among women:an example in southern Brazil

    1 Centro de Cinciasda Sade, Universidadedo Vale do Rio dos Sinos.

    Av. Unisinos 950, C.P. 275,So Leopoldo, RS

    93022-000, [email protected] de Ps-Graduaoem Epidemiologia,

    Universidade Federalde Pelotas. C.P. 464,Pelotas, RS 96001-970, Brasil.3Departamento de CinciasHumanas, Universidade

    Estadual do Centro-oeste.C.P. 730, Guarapuava, PR85015-430, Brasil.

    [email protected]

    Maria Teresa Anselmo Olinto1,2

    Beatriz Anselmo Olinto3

    Abstract This study uses epidemiological data to investigate socioeconomic proportions of dis-tinctions raised by racism in Brazilian society. A population-based cross-sectional study wasconducted with a sample of 2,779 women ages 14 through 49, living in a southern Brazilian city.Black and mixed-race women had less schooling, lower family income, and worse housing con-ditions than white women. They also used contraceptive methods less frequently, had more chil-dren, and had higher spontaneous abortion and stillbirth rates than white women. Virtually allof the results show a linear relationship between such categories, i.e., the darker the womansskin color, the worse her socioeconomic and reproductive conditions. We also observed that blackwomen were either separated, divorced, or widowed, another apparent factor for black womensimpoverishment, related mainly to their limited employment opportunities. The results of thecurrent study indicate that racial relations among women are an issue that should foster a dis-cussion concerning citizenship in Brazil.Key words Race; Ethnic Groups;Womens Health

    Resumo Atravs de dados epidemiolgicos este estudo pretende evidenciar as propores scio-econmicas das distines criadas pelo racismo contemporizador da sociedade brasileira. Foirealizado um estudo transversal de base populacional com uma amostra representativa de 2.779mulheres, de 15 a 49 anos vivendo em uma cidade no sul do Brasil. As mulheres negras e pardasapresentaram menor escolaridade, renda familiar, piores condies de moradia do que as mu-lheres brancas. Ao mesmo tempo, usavam menos mtodos contraceptivos, tinham mais filhos eapresentavam maior perda fetal do que as mulheres brancas. Chama a ateno que praticamen-te todos esses resultados apresentaram tendncia linear entre as categorias, isto , medida quehavia um escurecimento da pele, piores ficavam as condies scio-econmicas das mulheres.Tambm foi observado que as mulheres negras eram mais separadas, divorciadas ou vivas, evi-denciando mais um aspecto de pauperizao das mulheres negras, principalmente pelo limita-do acesso dessas ao mercado de trabalho. Os resultados deste estudo demostram que as relaesraciais entre as mulheres so uma problemtica que deve permear a discusso sobre cidadaniano Brasil.Palavras-chave Raa; Grupos tnicos; Sade da Mulher

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    Introduo

    As desigualdades sociais entre as regies doBrasil tm sido amplamente descritas. Diver-sos trabalhos apontam para melhores indica-

    dores nas regies Sul e Sudeste comparado como restante do pas. O Sul, por exemplo, apre-

    senta a maior esperana de vida ao nascer, me-nor mortalidade infantil e uma das menores ta-xas de analfabetismo do pas. Esses dados tmsido analisados, na maioria das vezes, como

    expresso de uma suposta melhor qualidadede vida na Regio Sul.

    Mas, diferenciais tambm esto presentesquando observa-se categorias dentro de umamesma regio. No Sul embora a taxa de analfa-betismo geral seja relativamente baixa, cerca

    de 30% maior para as mulheres do que para oshomens (BEMFAM, 1997). Em relao renda,em 1991, o rendimento mdio dos chefes dedomiclios, homens moradores da zona urba-na, foi cerca de duas vezes maior do que dasmulheres, respectivamente, 4,2 e 2,4 salrios

    mnimos. Assim, mesmo que em mdia as mu-lheres do Rio Grande do Sul apresentem melho-res indicadores do que aquelas vivendo em ou-tros estados do pas, encontram-se em situa-o inferiorizada se comparadas com os ho-mens da mesma regio.

    Alm das desigualdades entre regies ougneros devem ser articuladas outras categoriasde anlise que demonstrem diferenas dentrodestas diferenas, ou seja, aquelas que existemdentro de um mesmo gnero: como classe, raa,etnia, espao/regio, etc (Scott, 1992). Este es-

    tudo, restringindo-se a uma amostra de mulhe-res residentes na cidade de Pelotas, Rio Grandedo Sul, e controlando para fatores regionais e di-ferenas entre os gneros, pretende evidenciaras distncias scio-econmicas e demogrficasconstrudas atravs da percepo de raas.

    Metodologia

    A partir de uma amostra de 2.779 mulheres de

    15 a 49 anos, residentes na zona urbana da ci-dade de Pelotas, foram estudados os diferen-ciais scio-econmicos, demogrficos e repro-dutivos segundo a raa.

    O delineamento utilizado foi de um estudotransversal de base populacional. O clculo do

    tamanho de amostra foi obtido para atingir doisobjetivos, sendo um deles a descrio das ca-ractersticas scio-econmicas e demogrficasde uma amostra representativa de mulheresem idade reprodutiva na referida cidade. Emoutra publicao da autora foram apresenta-

    dos o clculo e o processo amostral detalhada-mente (Olinto & Galvo, 1999).

    O tamanho total da amostra inicial foi de3.002 mulheres excluindo 5% entre recusas eperdas. Dessas, devido a uma falha na impres-

    so dos questionrios, para 223 mulheres noforam coletadas as informaes sobre a raa.

    Esse erro no foi sistemtico, conseqentemen-te no afetando a distribuio desta varivel.Clculos posteriores mostraram que o nmerode mulheres estudadas (n = 2.779) foi suficien-

    te para atingir os objetivos do estudo.A equipe de trabalho de campo incluiu 14

    entrevistadoras, sendo todas do sexo femininoe cursando alguma faculdade na rea de sade.Foi utilizado como instrumento de pesquisa umquestionrio estruturado, pr-codificado con-

    tendo 95% das questes fechadas, que aborda-vam caractersticas scio-econmicas, demo-grficas e reprodutivas das mulheres.

    A varivel raa foi avaliada conforme refe-rncia das entrevistadoras classificando-se em:branca, parda e negra. Essa classificao fo i

    construda a partir da percepo de caractersti-cas fentipas, como o tom de pele e caracters-ticas do cabelo, de forma racializada. Cabe sa-lientar que durante as revisitas do controle dequalidade no foi observado nenhum desacor-do com a classificao racial estabelecida na

    primeira entrevista.Quanto s raas consideradas amarela ou

    indgena, no estado do Rio Grande do Sul o por-centual apresentado pela Fundao InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) deapenas 0,5 % (IBGE, 1991). Por ser um nmero

    pequeno, no presente estudo essas foram in-cludas como pardas. Anlises estatsticas pa-ralelas mostraram que a excluso destas mu-lheres da categoria pardas no teriam altera-do as tendncias apontadas nos resultados.

    O controle de qualidade dos dados foi ga-

    rantido atravs de cinco mecanismos, que in-cluram desde a reviso precoce dos questio-nrios, superviso de codificao, 5% de revisi-tas, criao de banco de dados com checagemda consistncia das informaes e dupla entra-da de dados. A anlise dos dados restringiu-se

    a descrio das caractersticas das mulheressegundo as trs categorias propostas de raa,atravs de freqncias simples e comparaoentre mdias ou propores.

    Resultados

    Foram estudadas 2.779 mulheres, sendo destas2.350 (84,6%) brancas, 215 (7,7%) pardas e 214(7,7%) negras. A Tabela 1 apresenta algumas

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    caractersticas scio-econmicas e demogrfi-cas segundo a raa. Como seria esperado devi-do ao processo amostral, no houve diferenasignificativa entre a idade mdia de cada grupo

    de raa. Em relao escolaridade e renda fa-miliar constatou-se diferenas estatisticamentesignificativas e com tendncia linear. As mulhe-res brancas apresentaram em mdia 8,8 anos deescolaridade, valor superior tanto para as mu-lheres pardas (6,9), como para as negras (6,6).

    A renda familiar evidenciou mais esses diferen-ciais, as mulheres brancas apresentavam rendafamiliar cerca de 1,5 vezes maior do que as par-das e 2,5 maior do que as negras. Ainda pos-svel observar que, embora em Pelotas 95% dosdomiclios disponham de gua dentro de casa,

    para as mulheres negras esse ndice caiu para82%. O porcentual de domiclios apresentandosanitrio com descarga, foi de 95,7%, 85,9% e80,4%, respectivamente, para aqueles nos quaisresidiam mulheres brancas, pardas e negras.

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    Quanto ao estado civil, podemos observarque as mulheres pardas e principalmente asnegras apresentaram mais unies no for-mais do que as mulheres brancas ( Tabela 1).

    Tambm chama ateno o maior porcentual demulheres vivas tanto para as mulheres pardascomo, principalmente, para as negras. A mes-ma tendncia ocorre em relao ao nmero demulheres separadas e divorciadas. Assim, ob-serva-se as mulheres negras vivendo mais sozi-

    nhas do que as pardas e brancas, 13,6%, 7,9% e8,6%, respectivamente.

    Os diferenciais por raa persistem quandoobserva-se as caractersticas reprodutivas. Afim de possibilitar a comparao com outrosestudos, a Tabela 2 apresenta todas as variveis

    com dois tipos de denominador: (a) conside-rando todas as mulheres e (b) apenas as mu-lheres que haviam iniciado sua vida sexual. Omenor nmero de filhos observado nas mu-lheres brancas, justamente aquelas com maior

    Tabela 1

    Mdias e percentuais das principais caractersticas scio-econmicas e demogrficas segundo a raa

    das 2.779 mulheres de 15 a 49 anos1.

    Caractersticas Brancas Mulatas Negras p-valor

    Idade mdia (em anos) 30,9 (2.350) 31,2 (215) 31,3 (214) 0,70

    Escolaridade mdia (anos completados) 8,8 (2.350) 6,9 (215) 6,6 (214) < 0,001

    < 0,0012

    Renda familiar (em salrios mnimos) 10,4 (2.331) 6,7 (212) 4,1 (212) < 0,001

    < 0,0012

    Estado civil (2.350) (215) (214)

    Casada 48,7% 43,7% 29,4% < 0,001

    Em unio 82,% 11,2% 13,6% < 0,0012

    Solteira 34,5% 37,2% 43,5 5

    Viva 1,7% 2,3% 4,7%

    Separada/divorciada 6,9% 5,6% 8,9%

    Atividade (2.350) (215) (214)

    Estuda 18,4% 10,7% 10,7% < 0,001

    Trabalha 4,3% 46,0% 55,0% 0,492

    Estuda e trabalha 5,7% 11,2% 7,5%

    Dona de casa 32,3% 31,6% 25,7%

    gua encanada dentro de casa 96,9% (2.341) 92,0% (213) 82,0% (209) < 0,001

    < 0,0012

    Sanitrio com descarga 95,7% (2.341) 85,9% (213) 80,4% (209) < 0,001

    < 0,0012

    1 Os nmeros entre parnteses representam os nmeros absolutos de mulheres

    que foram includas em cada categoria;2 Teste para tendncia linear.

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    escolaridade, melhor renda e melhores condi-es vida. Entre todas as mulheres negras, cer-ca de 40% no usavam nenhum mtodo contra-ceptivo. No houve diferena do porcentual demulheres esterilizadas entre as raas. Conside-rando apenas as mulheres negras que tinhamvida sexual ativa, um tero delas relataram per-

    da fetal, resultado muito similar ao apresenta-do pelas mulheres pardas (31,8%), e superioraquele referente s mulheres brancas (24,2%).

    Discusso

    A opo pela anlise de desigualdades e tam -bm pelo vis das relaes raciais vem lanarum olhar sobre uma questo respondida pormuito tempo pelos mitos de democracia ra-

    cial o silncio imposto sobre o preconceito

    racial no pas (Munanga, 1996). No preten-deu-se aqui analisar o referido mito, nem co-mo um instrumento ideolgico e nem buscaras suas re-significaes cotidianas, mas sim,demonstrar atravs de dados epidemiolgicos,quais as propores scio-econmicas das dis-

    tines criadas pelo racismo contemporizadorda sociedade brasileira (Pereira, 1996).

    Tem-se conscincia que os resultados desteestudo so apenas uma pequena parte do abis-mo social e econmico existente entre raasno Brasil. Embora com as limitaes da vari-

    vel raa utilizada neste estudo foi possvelmostrar alguns diferenciais importantes quepermeiam a sociedade pesquisada.

    Como um pas que recebeu imigrantes dasmais variadas regies do mundo, a populao

    Tabela 2

    Mdias e percentuais das principais caractersticas reprodutivas segundo a raa das 2.779 mulheres de 15 a 49 anos1.

    Caractersticas Brancas Mulatas Negras p-valor

    Mdia de filhos (a) 1,3 (2.341) 1,4 (212) 1,7 (214) < 0,001

    < 0,0012

    Mdia de filhos (b) 1,5 (2.026) 1,6 (181) 2,1 (179) < 0,001

    < 0,0012

    Mdia de gestaes (a) 1,6 (2.350) 1,9 (212) 2,2 (214) < 0,001

    < 0,0012

    Mdia de gestaes (b) 1,9 (2.035) 2,1 (184) 2,6 (179) < 0,001

    < 0,0012

    Mulheres no utilizando 28,4 % (2.035) 31,8 % (211) 39,8% (211) 0,07mtodos anticoncepcionais (a) 0,042

    Mulheres no utilizando 19,5 % (1.995) 22,5 % (182) 29,7 % (175) 0,06mtodos anticoncepcionais (b)3 0,042

    Mulheres esterilizadas (a) 10,3 % (2.350) 10,7 % (215) 12,1 % (214) 0,68

    0,402

    Mulheres esterilizadas (b) 11,8 % (2;305) 12,5 % (184) 14,5 % (179) 0,56

    0,302

    Perdas fetais (a) 20,9 % (2.350) 26,5 % (215) 27,6 % (214) 0,02

    0,022

    Perdas fetais (b) 24,2 % (2.035) 31,8 % (184) 33,0 % (179) < 0,01

    < 0,012

    1 Os nmeros entre parnteses representam os nmeros absolutos de mulheresque foram includas em cada categoria;2 Teste para tendncia linear;3 Foram excludas as mulheres que estavam na menopausa;(a) considerando todas as mulheres e (b) apenas as mulheres que haviam iniciado sua vida sexual.

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    brasileira vem sendo identificada como misci-genada. Dentro destas condies, os processosde identificao das diferenas entre gruposhumanos, passam pelas diferenas fentipas eculturais, sempre de maneira relacional em

    construes dinmicas de ns e outros(Poutignat, 1998). Assim a composio da cate-

    gorizao das entrevistadas em brancas, par-das e negras deve ser considerada a partir docontexto scio-cultural das entrevistadoras e

    no como categorias fechadas.Esta sensibilidade contempornea a certas

    nuances fentipas so social e historicamenteconstrudas a partir da expanso colonial eu-ropia incidindo nas identificaes de gruposhumanos e balizando relaes sociais. Desta-ca-se aqui, as concepes de cor e/ou raa

    perspassando o acesso a melhores condiessociais e econmicas, bem como ao mercadode trabalho. Desta forma, se a viabilidade dacategoria raa em sua vertente biolgica no quetange os seres humanos questionvel, a anli-se das relaes raciais nas sociedades permane-

    ce uma problemtica pertinente (Santos, 1996).O presente estudo encontrou um porcen-

    tual de mulheres negras superior ao fornecidopelo IBGE (1997) para o Rio Grande do Sul (7,7%

    versus3,1%) e menor porcentual de mulherespardas (7,7% versus11%). Essas diferenas po-dem ser consideradas como conservadoras pa-ra as comparaes apresentadas aqui. No pre-sente estudo algumas mulheres pardas podemter sido percebidas pelas entrevistadoras comonegras. Isto leva a pensar que as condies de-mogrficas, scio-econmicas e reprodutivas

    das mulheres negras podem ainda ser pioresdo que as encontradas. Por outro lado, se a iden-tificao de raa ou de cor fossem feitas pe-las prprias entrevistadas a tendncia seria deuma maior diversidade de classificao e nuan-

    ces (Maggie, 1996; Sansone, 1996; Williams,1997).

    Outro fator levantado foi o elevado nmerode mulheres negras vivendo sozinhas, conside-rando-se as vivas, separadas e divorciadas.

    Observa-se nestes dados a ampliao do espa-o da mulher como chefe de domiclio, que

    frente as limitadas possibilidades de acesso da-quelas ao mercado de trabalho, permite queseja vislumbrado mais um aspecto do processode pauperizao e excluso social deste grupo.

    Contribuindo para esta anlise, foi detecta-do o menor uso de mtodos contraceptivos pormulheres negras e pardas do que brancas. Essefator expressa muito mais a iniqidade ao aces-so de mtodos e servios existentes do que umaescolha pessoal dessas mulheres. Embora al-

    guns estudos realizados no Brasil mostrem ummaior nmero de ligaduras tubrias entre mu-lheres negras, esse resultado no foi encontra-do aqui. Estes dados so compatveis com ou-tro estudo realizado no Rio Grande do Sul (Dias-da-Costa & Olinto, 1999).

    Os resultados desta pesquisa enfatizam que,para uma apreenso da complexidade das ex-perincias sociais femininas no basta perce-ber as diferenciaes de gnero, necessrio iralm e, interpelar outros aspectos do viver so-cial, entre eles os de identificao racial. Os re-

    sultados desiguais entre brancas, pardas enegras obtidos por esta pesquisa demonstramque as relaes raciais so uma problemticaque deve permear a discusso sobre cidadaniano Brasil. A compreenso da excluso social,no pode ser limitada por generalizaes que

    trabalhem apenas com categorias regionais oude gnero que silenciam as diferenas na dife-rena. Somente um olhar que perceba as im-bricadas clivagens que permeiam estes espa-os pode construir respostas pertinentes.

    Referncias

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