química no quilombo: uso de plantas medicinais da região...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS NATURAIS Química no quilombo: uso de plantas medicinais da Região do Sapê do Norte - ES Wilma Cairu Josefa Monografia de Conclusão de Curso São Mateus - ES 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS NATURAIS

Química no quilombo: uso de plantas medicinais da Região do Sapê do

Norte - ES

Wilma Cairu Josefa

Monografia de Conclusão de Curso

São Mateus - ES

2017

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Wilma Cairu Josefa

Química no quilombo: Uso de plantas medicinais da região do Sapê do

Norte - ES

Monografia apresentada ao

Departamento de Ciências

Naturais – DCN - CEUNES,

Universidade Federal do Espírito

Santo, como parte dos requisitos

para obtenção do título de

Licenciado em Química.

Orientadora: Profª Drª Christiane

Mapheu Nogueira

São Mateus-ES

2017

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Wilma Cairu Josefa

Química no quilombo: uso de plantas medicinais da região do Sapê do

Norte - ES

Monografia apresentada ao

Departamento de Ciências Naturais

– DCN - CEUNES, Universidade

Federal do Espírito Santo, como

parte dos requisitos para obtenção

do título de Licenciado em

Química.

São Mateus – 14 de dezembro de

2017.

BANCA EXAMINADORA

____________________________

Prof (a). Dr (a). Christiane Mapheu Nogueira

____________________________

Prof (a). Dr (a). Márcia Helena Rodrigues Velloso

____________________________

Mestranda Cristiane Pitol Chagas Ferreira

São Mateus-ES

2017

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Dedico esta monografia a minha família, em especial à

minha filha Lara Josefa Barbosa que soube esperar o

pouco tempo que a ela dediquei, aos amigos que

estiveram do meu lado em todos os momentos que

precisei, aos meus irmãos pela força e companheirismo e

a todos que de uma maneira ou de outra me ajudaram a

não desistir desse árduo e prazeroso fardo que carreguei

por esses longos anos.

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Agradecimentos

A Deus pela saúde e força que me mantiveram de pé por todos esses anos. Por não me

abandonar, mesmo quando eu pensei que tudo estava acabado. Obrigada Senhor!

À minha querida, maravilhosa e espetacular filha, Lara. Que me alegrou, com seus risos

e seus cantos, quando eu estava tão amarga que mal a ouvia perguntar, “mamãe, o que

você trouxe pra mim?”. Obrigada a você criança guerreira, que cresceu entre as idas e

voltas da universidade e que mesmo com tamanho cansaço se divertia e se sentia muito

feliz. Você me deixa feliz.

Aos meus pais, por terem me dado a vida, e mesmo que não estejam mais presentes,

sinto que me apoiam como sempre fizeram. Obrigada por me encorajar.

À minha amiga Delzuity, que sempre me apoiou, me incentivou, se alegrou com minhas

vitórias e me encorajou nas minhas derrotas.

À Vilmara, Iracy e Kinkas, que me fizeram companhia nos momentos de diversão e

também nos momentos de dor e perda.

Aos grandes amigos que conquistei ao longo desses anos: Caio, Cristiane, Jhonatan e

Welber, com os quais pude contar em todos os momentos de necessidade e me

atenderam sem hesitar.

À Eliane Gonçalves, por ter me auxiliado, me ouvido e me apoiado.

À minha orientadora, por aceitar meu pedido, por tornar possível esse trabalho, por ser

profissional e atenciosa com seus alunos. Muito obrigada Christiane Mapheu Nogueira.

A todos meus amigos e familiares, irmãos, sobrinhos, tios, obrigada por acreditarem

que seria possível. A todos que não acreditaram que seria possível, usei todas as falas de

descrédito para reforçar meus pilares e construir mais um degrau rumo ao sucesso

chamado “vida”.

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“Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas,

ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus

filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é

duro, difícil e necessário, mas que permitidos que esses profissionais continuem sendo

desvalorizados. Ainda assim, nós professores devemos educar as pessoas para serem

águias e não apenas galinhas. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade,

sem ela, tampouco, a sociedade muda.”

Paulo Freire

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 17

1.1. Revisão Bibliográfica ..................................................................................... 18

1.1.1. A utilização de plantas medicinais ........................................................... 18

1.1.2. Comunidades Quilombolas do Norte do Espírito Santo ........................... 19

1.1.3. Quilombolas e plantas medicinais ............................................................ 20

1.1.4. Extratos Vegetais ...................................................................................... 22

1.1.5. Estudos Fitoquímicos ............................................................................... 22

1.1.5.1. Terpenoides ........................................................................................... 23

1.1.5.2. Flavonoides ........................................................................................... 24

1.1.5.3. Taninos .................................................................................................. 25

1.1.5.4. Saponinas .............................................................................................. 26

1.1.5.5. Alcaloides ............................................................................................. 26

1.1.5.6. Cumarinas ............................................................................................. 27

1.1.6. Capim cidreira ............................................................................................... 28

1.1.7. Jambu ............................................................................................................ 29

1.1.8. Alecrim .......................................................................................................... 30

2. Objetivos ................................................................................................................ 33

2.1. Geral ................................................................................................................ 33

2.2. Específicos ....................................................................................................... 33

3. METODOLOGIA .................................................................................................... 34

3.1. Características da Pesquisa ........................................................................... 34

3.2. Local da pesquisa ........................................................................................... 34

3.2.1. Comunidade quilombola Angelim I ......................................................... 34

3.3. Sujeitos da pesquisa ....................................................................................... 37

3.4. Procedimentos de coleta de dados ................................................................ 37

3.6. Obtenção dos Extratos ................................................................................... 38

3.7. Análise Fitoquímica ....................................................................................... 39

3.7.1. Determinação de alcaloides ........................................................................... 39

3.7.2. Determinação de cumarinas .......................................................................... 40

3.7.3. Determinação de fenóis e taninos.................................................................. 40

3.7.4. Determinação de esteroides e triterpenos ...................................................... 40

3.7.5. Determinação de saponinas ........................................................................... 40

3.7.6.1. Reação de Cianidina ............................................................................... 41

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3.7.6.2. Reação de AlCl3 ..................................................................................... 41

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 42

4.1. Resultado das entrevistas .............................................................................. 42

4.2. Resultado das análises fitoquímica ............................................................... 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 56

APÊNDICE 01 .............................................................................................................. 59

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Núcleo fundamental dos flavonoides e sua manipulação.........................25

FIGURA 2 – Monômero básico de tanino condensado (a); tanino hidrolisável(b).......25

FIGURA 3 – Núcleo mais comum de saponinas triterpênicas.......................................26

FIGURA 4 – Boldina, alcaloide presente no boldo, utilizado para trato hepático.........27

FIGURA 5 – (a) cumarinas simples; (b) cumarina dimérica – dicumarol.....................27

FIGURA 6 – Fórmula do componente majoritário do capim cidreira – citral...............29

FIGURA 7 – Estrutura química do espilantol (N-isobutilamida)...................................30

FIGURA 8 – Cornasol – diterpeno, um dos componentes do alecrim...........................31

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LISTA DE FOTOGRAFIA

FOTOGRAFIA 1 – Capim cidreira coletado.................................................................28

FOTOGRAFIA 2 – Jambu, planta de dor de dente coletada.........................................29

FOTOGRAFIA 3 – Alecrim coletado ..........................................................................31

FOTOGRAFIA 4 – Comunidade quilombola Angelim I, Conceição da Barra – ES....34

FOTOGRAFIA 5 – Mapa de referências espaciais da comunidade Angelim I.............34

FOTOGRAFIA 6 – Mapa das referências espaciais da comunidade São Jorge............35

FOTOGRAFIA 7 – Método de obtenção dos extratos……………...………………...37

FOTOGRAFIA 8 – Testes para determinação de alcaloides.........................................48

FOTOGRAFIA 9 – Testes para a determinação de cumarinas.....................................48

FOTOGRAFIA 10 – Testes para a determinação de esteroides e terpenos...................49

FOTOGRAFIA 11 – Testes para determinação de fenóis e taninos..............................49

FOTOGRAFIA 12 – Testes para flavonoides (reação de cianidina).............................50

FOTOGRAFIA 13 – Testes para flavonoides (reação de AlCl3)..................................50

FOTOGRAFIA 14 – Testes para determinação de saponinas.......................................51

FOTOGRAFIA 15 – Etapas da fabricação da pomada de jambu..................................58

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Condensação de unidades de isopreno na formação de terpenoides........24

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Lista de plantas medicinais citadas pelos quilombolas entrevistados, nome

científico, popular, indicação terapêutica, partes utilizadas, preparo e modo de uso ....42

Quadro 2 – Forma de manejo das plantas, parte utilizadas, modo de preparo, formas de

uso e porcentagem das mais utilizadas ...........................................................................45

Quadro 3 – Utilização das plantas medicinais para os uso dos entrevistados................48

Quadro 4 - Resultados das análises fitoquímicas, identificação dos componentes e

plantas selecionadas.........................................................................................................48

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Lista de Gráficos

Gráfico 01 – Utilização das plantas medicinais nos dias atuais.....................................42

Gráfico 02 – Indicação terapêutica das plantas mencionadas........................................47

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

AlCl3 – Cloreto de Alumínio

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

FeCl3 – Cloreto de Ferro III

HCl – Ácido Clorídrico

H2SO4 – Ácido Sulfúrico

KOH – Hidróxido de Potássio

Na2CO3 – Carbonato de Sódio

OMS – Organização Mundial de Saúde

PNPMF – Plano Nacional de Plantas Medicinal e Fitoterápico

SAMES – São Mateus Espírito Santo

SUS – Sistema Único de Saúde

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RESUMO

As comunidades quilombolas são grupos étnicos, predominantemente constituídos pela

população negra rural ou urbana, que se autodefinem a partir das relações específicas

com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais

próprias. Quilombolas são descendentes de africanos escravizados que mantêm

tradições culturais de subsistência e religiosas ao longo dos séculos. Uma dessas

tradições é o uso das plantas medicinais, que existe a milhões de anos. O homem

sempre procurou retirar da natureza recursos para melhorar sua qualidade de vida.

Devido ao poder alucinógeno de algumas plantas, estas chegaram a ser tratadas como

divinas, pois quem as utilizava, acreditava no ápice da alucinação que poderia ter

contato direto com Deus. Atualmente, no Brasil e no mundo, as inovadoras ideias de

desenvolvimento sustentável e as novas tendências globais, deram uma maior

importância ao estudo das plantas medicinais, que acometeram a um interesse geral na

fitoterapia. Pesquisadores de diversas áreas, como: biologia, bioquímica, biomedicina,

química dentre outros, empregam modernas técnicas nos trabalhos com plantas

medicinais com propósitos de tornar o uso da fitoterapia mais acessível e seguro.

Motivada a interpretar, registrar e disseminar o saber cultural quilombola acerca da

etnobotânica de uso medicinal e utilizando a ciência química, na obtenção dos extratos

etanólicos e a partir deles caracterizou-se os princípios ativos das plantas mais utilizadas

nas comunidades quilombolas Angelim I, São Jorge, localizadas no norte do Espírito

Santo, entre os municípios de São Mateus e Conceição da Barra, realizou-se entrevistas

com perguntas abertas relacionadas à diversidade das plantas utilizadas de forma

terapêutica. Constatou-se que a decocção, infusão e a maceração são as formas de uso

mais comuns, as plantas mais utilizadas são: alecrim, capim cidreira e jambu, o

consumo mais citado foi o chá. Com a análise fitoquímica, detectou-se a presença de

alcaloides, flavonoides, terpenoides, fenóis, esteroides, taninos e saponinas.

Palavras-chave: Comunidades Quilombolas, plantas medicinais, análise fitoquímica.

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Abstract

The quilombola communities are ethnic groups predominantly constituted by the rural

or urban black population, who define themselves from the specific relationships with

their own land, kinship, territory, ancestry, traditions and cultural practices.

Quilombolas are descendants of enslaved Africans who maintain cultural, subsistence

and religious traditions throughout the centuries. One such tradition is the use of

medicinal plants, which has been around for millions of years. Man has always sought

to remove resources to improve his quality of life. Due to the hallucinogenic power of

some plants, they came to be treated as divine, because those who used them believed in

the apex of the hallucination that could have direct contact with God. Nowadays in

Brazil and in the world, the innovative ideas of sustainable development and the new

global trends, have given greater importance to the study of medicinal plants, which

have taken on a general interest in herbal medicine. Researchers from diverse fields,

such as: biology, biochemistry, biomedicine, chemistry, among others, employ modern

techniques in the works with medicinal plants for the purpose of making the use of

herbal medicine more accessible and safe. Motivated to interpret, record and

disseminate quilombola cultural knowledge about the ethnobotany of medicinal use and

using the use of chemical science to extract the essential oil and through it characterize

the active principles of the plants most used in the communities, the present work was

carried out with visits to the Angelim I e São Jorge communities, located in the north of

Espírito Santo, between the cities of São Mateus and Conceição da Barra, adopting

interviews and applying a questionnaire with questions regarding the diversity of plants

used in a therapeutic care. It was observed that effusion, decoction and maceration are

the most used forms for consumption and the plants most used are: rosemary, lemon

grass and watercress.

Keywords: Quilombola communities, medicinal plants, phytotherapy, chemistry.

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1. INTRODUÇÃO

O uso das plantas medicinais é uma cultura milenar praticada por povos de todo

o mundo. Mesmo com a expansão das práticas farmacêuticas, atrelada ao grande

desenvolvimento da medicina moderna a utilização de recursos oriundos da natureza

persiste até os dias atuais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 80% da

população de países em desenvolvimento fazem uso de plantas nos cuidados básicos

com a saúde (BRASIL, 2007).

As plantas são importantes fontes de produtos naturais biologicamente ativos.

Muitos princípios ativos das plantas são utilizados na síntese de um grande número de

fármacos. Alguns dos constituintes isolados de várias partes das plantas

(flavonoides, taninos, alcaloides, cumarinas e terpenos) são os principais responsáveis

pelas ações analgésicas, anti-inflamatórias, antivirais, hipoglicemiantes,

antiespasmódicas e antialérgicas das plantas (BANDONI, 2008).

O Brasil é conhecido mundialmente por sua biodiversidade. No território do país

encontra-se cerca de 20% de todas as espécies de plantas do planeta (BRASIL, 2010).

Porém, mesmo com essa vasta riqueza, a medicina tradicional recebe pouco

investimento em pesquisas e incentivos à população de fazer usos desses recursos

naturais.

Dentre os povos que fazem parte da sociobiodiversidade brasileira, encontram-se

os quilombolas, que assim como em outras culturas, os povos das comunidades

quilombolas do norte do Espírito Santo, utilizam as plantas como fins medicinais e

também em rituais religiosos. De acordo com a Fundação Cultural Palmares, existem

hoje, apenas, cerca de 100 comunidades quilombolas em todo o estado. Na década de 70

apenas no norte do Espírito Santo existiam pelo menos 12 mil famílias habitando em

comunidades quilombolas. Com a grande expansão da exploração territorial por

empresas de eucalipto e cana-de-açúcar, muitas famílias venderam suas terras a preço

baixo e foram viver aglomeradas nas cidades, principalmente em São Mateus e

Conceição da Barra. Mesmo não morando na roça, a maioria desses remanescentes

quilombolas não se afastaram de sua cultura, levando para a cidade seus conhecimentos

e práticas culturais, principalmente acerca da medicina tradicional. As poucas 1200

famílias que ainda vivem nas 32 comunidades do norte do Espírito Santo, guardam

consigo sua ancestralidade, sua relação territorial, sua prática de manejo da terra, e uma

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extraordinária história de resistência em meio a um imenso “deserto verde” e pastagens

de animais, pertencentes a grandes latifundiários (BRASIL, 2009).

Diante da importância da relação entre as comunidades quilombolas com a

medicina tradicional através do uso das plantas medicinais, este trabalho teve por

objetivo realizar um levantamento visando catalogar as espécies mais utilizadas nas

práticas terapêuticas dessas comunidades, contribuindo como registro de informações

para gerações futuras, resgate e preservação do conhecimento e empoderamento desses

povos com as plantas, bem como, utilizar a ciência química na obtenção dos extratos e

análise fitoquímica dos constituintes das espécies selecionadas.

1.1. Revisão Bibliográfica

1.1.1. A utilização de plantas medicinais

A fitoterapia é uma “terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em

suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas,

ainda que de origem vegetal” (BRASIL, 2006).

A utilização de plantas com fins medicinais para tratamento, cura e prevenção de

doenças, é uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade. Desde

muito tempo, o homem enriqueceu sua memória com sabores e odores que determinam

seu habitat, seus costumes, seus prazeres, formando um conjunto peculiar que culminou

na formação de sua cultura (BANDONI, 2008). Essa tradição evoluiu para a

agroindústria de plantas medicinais, e hoje tem sua utilização respaldada no Decreto

Presidencial de Nº 5.813, onde o Governo Federal aprovou em 22 de junho de 2006 a

Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), proposta pelo

Ministério da Saúde. O Decreto tem como objetivos principais: Inserir plantas

medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados à fitoterapia no Sistema Único de

Saúde (SUS), criar instrumentos de fomento à pesquisa, desenvolvimento de

tecnologias e inovações em plantas medicinais e fitoterápicas nas diversas fases da

cadeia produtiva, promover e reconhecer as práticas populares e tradicionais, integrando

a reprodução sociocultural e econômica de povos e comunidades com implantação de

ações capazes de promover melhorias na qualidade de vida da população brasileira

(BRASIL, 2007).

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No início dos anos 90, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou que

80% da população dos países em desenvolvimento dependiam das plantas medicinais

como única forma de acesso aos cuidados básicos de saúde (BRASIL, 2006). Nesse

sentido, é fundamental promover o resgate, o reconhecimento e a valorização das

práticas tradicionais e populares de uso de plantas medicinais, fitoterápicos e remédios

caseiros, como elementos de promoção à saúde, conforme recomenda a Organização

Mundial de Saúde.

1.1.2. Comunidades Quilombolas do Norte do Espírito Santo

No norte do Espírito Santo, entre as cidades de São Mateus e Conceição da

Barra, ao longo dos vales dos rios Cricaré e Itaúnas, situa-se uma região conhecida

como Sapê do Norte – denominação atribuída por comunidades negras e camponesas

(FERREIRA, 2010). Antes do aumento excessivo do desmatamento florestal e em

tempos de abundância de água, essa região como todo o norte do estado, era coberta por

uma densa vegetação da Mata Atlântica de difícil acesso e rodeada por vários córregos,

nascentes e rios (NARDOTO, 1999). As características do bioma regional contribuíram

significativamente para a formação das primeiras comunidades quilombolas da região

do Sapê do Norte, que aconteceram tanto devido às fugas da escravidão, quanto pela

herança deixada das fazendas escravocratas que perderam sua importância econômica

com a expansão agroexportadora de café (FERREIRA, 2011).

Os escravos que desembarcavam no porto da Vila de São Mateus eram

destinados a trabalhar nas grandes fazendas produtoras, principalmente, de farinha de

mandioca (AGUIAR, 2001). Na tentativa de fugir da escravidão, os negros se

adentravam nas matas densas do sapê, rodeadas de grandes rios e lagos, o que conferia

uma região propícia para viver livre e sobreviver do que a natureza lhes oferecia. Com a

abolição da escravatura e a fragmentação econômica das grandes fazendas

escravocratas, o número de habitantes do “Sapê do Norte” foi aumentando e as

comunidades quilombolas começaram a se formar (FERREIRA, 2010).

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1.1.3. Quilombolas e plantas medicinais

O uso de plantas medicinais nos quilombos é uma prática tradicional da cultura

africana repassada oralmente de geração em geração pelos seus ancestrais. Infelizmente,

em sua maioria sem deixar documentos escritos, podendo acarretar no desuso dessa

prática.

Os escravos foram os responsáveis pela agricultura do Brasil por mais de três

séculos. Uma vez livres do trabalho escravista e estabelecidos nos quilombos, esses

povos puderam mostrar sua eminente sabedoria a respeito dos aspectos relacionados ao

uso da terra e extraíam dela seu sustento, bem como a cura do seu povo através das

plantas medicinais (CORRÊA, 2012). Os produtos das terras cultivadas nos quilombos e

as atividades rurais dos afrodescendentes tiveram uma relevante contribuição na

construção das práticas agrícolas no Brasil. Entretanto, na história da agricultura

brasileira, pouca importância tem sido dada a esses povos (FERRARI, 2016).

Nas comunidades quilombolas, a medicina tradicional está ligada profundamente

com a organização social, econômica e religiosa. Na maioria das vezes, quem necessita

de cuidados relacionados à saúde, procura por um curandeiro ou rezadeira. Na ausência

desses, um ancião da comunidade é quem vai auxiliar na busca da planta curativa. Os

curandeiros ou rezadeiras (normalmente, anciões das comunidades), são aqueles que,

carregam consigo, ensinamentos dos seus antepassados, seus serviços são gratuitos e

geralmente, as ervas utilizadas são encontradas nos terreiros de suas casas, o que facilita

o atendimento aos que necessitam de seus serviços (AGUIAR, 2007). Curandeiros e

rezadeiras são pessoas de grande responsabilidade e respeito dentro de uma

comunidade. Sendo bons ouvintes e conselheiros, orgulhosos pelos seus dons, pela sua

cultura e gratos aos que os procuram por solucionar problemas relacionados à saúde

física e espiritual (PESSOA, 2014).

Durante o período colonial no Brasil, a Medicina Tradicional, como várias

outras componentes da cultura africana, foi tratada como um “não saber". Nunca foi

vista como uma ciência (RAMOS, 2014). A igreja católica usava essa fundamentação

como uma maneira de controlar os povos, habitantes das terras colonizadas pelos países

europeus, o que acarretou uma considerável diminuição no uso da prática da medicina

tradicional e/ou ao menos com a sua clandestinidade. Ainda nos dias atuais, percebe-se

a insegurança de alguns quilombolas em falar sobre rituais e consultas curativas

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realizadas nos quilombos por rezadoras ou curandeiros, devido às perseguições sofridas

por esses povos a cerca de sua cultura desde os tempos remotos. Muitos deles foram

taxados como feiticeiros (as) e bruxos (as) e suas práticas de cura confundidas com atos

de feitiçaria. (AGOSTINHO, 2012).

É importante salientar que as práticas da medicina tradicional realizadas nos

quilombos, não são de uso restrito dos quilombolas. Uma vasta quantidade de pessoas

que habitam fora das comunidades quilombolas procuram esses serviços, ainda que sem

comprovação científica de sua eficácia. As repetidas experiências de seu uso dentre a

população permitem validar sua utilidade, pois esse conjunto de saberes e práticas tem

sua estrutura pautada na experiência empírica. Isso demonstra ser um fenômeno cultural

que sempre existiu e faz parte do cotidiano das comunidades e que dificilmente

desaparecerá. Deixar o uso da medicina tradicional cair no esquecimento, é excluir a

cultura de um povo (BARBOSA, 2004). Sobre a cultura como parte do cotidiano e da

comunidade, Amadou Hampaté Bá, mestre em tradição de línguas africanas diz:

Uma vez que se liga ao cotidiano do homem e da comunidade, a cultura

africana, não é, portanto, algo abstrato que possa ser isolado da vida. Ela

envolve uma visão particular do mundo – um mundo concebido como um

Todo, onde todas as coisas se religam e interagem. (HAMPATÉ BÁ, 1977

p.170)

A população negra afrodescendente brasileira carrega consigo traços da vida

escravizada, onde as condições sociais e econômicas são de tamanha desigualdade com

os demais povos que constituem essa nação. As marcas da marginalização continuam

implícitas, contribuindo apenas para o aumento da discriminação racial. Ainda em pleno

século XXI, “o negro é taxado pela cor de nossa pele”, a sua maioria não está nas

universidades e muito menos nos cargos mais altos das grandes empresas, mesmo

constituindo a maior parte da população do país. Muitas comunidades quilombolas

vivem em situação de vulnerabilidade, enfrentando inúmeros desafios sociais e,

sobretudo político. Em algumas comunidades, devido a localização e outras

características próprias, o uso das plantas medicinais é a única fonte de cuidados básicos

com a saúde (CALHEIROS, 2010).

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1.1.4. Extratos Vegetais

Extratos são preparações concentradas de consistência líquida, viscosa ou na

forma de pó, produzidos a partir de diversas partes das plantas secas ou frescas, por

maceração ou percolação (SCHULZ, 2001). Para a obtenção dos extratos é necessários

que as partes das plantas sejam higienizadas a fim de retirar contaminações que possam

interferir na qualidade dos extratos. A partir dos extratos é possível obter os

fitomedicamentos1 e fitofármacos

2. As análises químicas e fitoquímicas das plantas para

a detecção dos seus princípios ativos podem ser realizadas também através dos extratos

dos vegetais (SIMÕES, 2007).

Dois fatores básicos determinam a composição de um extrato: a qualidade da

matéria-prima vegetal e o processo de produção. Os constituintes das plantas medicinais

podem variar dependendo do clima, qualidade do solo e até mesmo do horário da

realização da coleta da planta (SCHULZ, 2001). Os extratos podem ser obtidos por

solventes polares e apolares, que podem ser eliminados por evaporação a baixa

temperatura e com ajuda de vácuo, o resíduo resultante pode ser um produto

semissólido, pastoso, contendo óleos, ceras, clorofila, pigmentos e outros (BANDONI,

2008). Uma vez que a natureza do solvente também interfere no produto final dos

extratos é necessário realizar uma escolha do solvente de acordo com os princípios

ativos que pretende-se determinar. Um solvente amplamente utilizado nas indústrias

farmacêutica, cosmética e alimentícia é o etanol, devido a seu caráter polar e apolar, o

que permite a extração de uma vasta diversidade de compostos (BANDONI, 2008).

1.1.5. Estudos Fitoquímicos

A fitoquímica é a área responsável pelo estudo dos princípios ativos das plantas.

Esses princípios ativos são chamados de metabólitos secundários, os quais fazem parte

do metabolismo dos vegetais que conferem proteção às plantas e que possuem atividade

biológica que oferecem benefícios à saúde humana (BANDONI, 2008).

1 Medicamentos preparados exclusivamente à base de plantas.

2 Substâncias extraídas das plantas, que apresentam atividades farmacológicas que podem ter

aplicações terapêuticas.

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A primeira etapa da análise fitoquímica é a coleta do material vegetal. É

essencial realizar uma Exsicata3, seguida de preparação do material, secagem se for a

opção, moagem e a obtenção do extrato (SIMÕES, 2007).

Os objetivos dos estudos fitoquímicos são extração, isolamento, purificação e

determinação da estrutura química dos constituintes presentes em extratos de plantas

com atividade biológica (SCHULZ, 2001). Para algumas substâncias, em certos

vegetais, podem-se realizar reações de caracterização diretamente sobre os tecidos do

material vegetal, que resultam no desenvolvimento de coloração e/ou formação de

precipitado característico. Em algumas reações utiliza-se diretamente o extrato, em

outras é necessário eliminar todo o solvente e realizar a análise do extrato seco da planta

diluído em reagentes específicos (BARBOSA, 2001). Entre as classes de princípios

ativos vegetais pode-se citar: terpenoides, flavonoides, taninos, saponinas, alcaloides,

cumarinas, que serão identificados nesse trabalho, mas existem outros compostos que

podem ser evidenciados em análises fitoquímicas como: Ligninas, quinonas,

metilxantinas, etc... (SIMÕES, 2007).

1.1.5.1. Terpenoides

Os terpenoides são compostos que pertencem a classe dos terpenos e que

possuem oxigênio em sua composição, podendo apresentar funções químicas distintas,

entre elas: ácidos, aldeídos, cetonas, fenóis, álcoois, éteres e epóxidos terpenos.

Constituem uma grande variedade de substâncias vegetais, esse termo é empregado para

designar todas as substâncias cuja origem biossintética deriva de unidades do isopreno

em cadeias abertas ou fechadas (SIMÕES, 2007). Os terpenos possuem átomos de

carbono em um número múltiplo de 5, e são classificados de acordo com a quantidade

de carbonos que contêm. Possuem fórmula mínima (C5H8).

Químicamente, os terpenos podem ser classificados como “alcenos naturais”, ou

seja, apresentam dupla ligação entre carbonos, caracterizando-o como hidrocarboneto

insaturado. Os monoterpenos e os sesquiterpenos são responsáveis pelos aromas e

sabores encontrados nas plantas (BRUICE, 2006). A Tabela 1, demonstra a

3 Identificação botânica da planta.

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classificação dos terpenoides de acordo com o número de unidades de isopreno e

quantidade de carbono na molécula.

Tabela 1: condensação de unidades de isopreno na formação de terpenoides

Nº de unid. Número de átomos de carbono Nome ou classe

1 5 Isopreno

2 10 Monoterpenoides

3 15 Sesquiterpenoides

4 20 Diterpenoides

5 25 Sesterpenoides

6 30 Triterpenoides

N N Polisoprenoides

Fonte: Simões 2007

1.1.5.2. Flavonoides

Os flavonoides constituem uma importante e diversificada classe dos polifenois.

Uma substância fenólica ou polifenólica é aquela que possui um ou mais núcleos

aromáticos contendo substituinte hidroxilados e/ou seus derivados funcionais (ésteres,

éteres, glicosídeos e outros). Os flavonoides estão presentes abundantemente nos

produtos de origem natural. Diferem-se entre si pela sua estrutura química e

características próprias (SIMÕES, 2007).

A maioria dos flavonoides possui um grande potencial antioxidante, anti-

inflamatório e efeitos protetores aos sistemas renal, hepático e cardiovascular

(SCHULZ, 2001). Os flavonoides são os responsáveis pelos pigmentos dos vegetais,

proteção contra insetos, fungos, vírus, bactérias, proteção contra incidência dos raios

ultravioleta, visível. Podem ser encontrados em diversas formas estruturais, mas a

maioria deles possuem 15 átomos de carbono, constituída de duas fenilas ligadas por

uma cadeia de três átomos de carbono entre elas (SIMÕES, 2007). A estrutura básica

dos flavonoides está representada na Figura 01.

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Fonte: acervo próprio.

Fonte: acervo próprio.

Figura 01 - Núcleo fundamental dos flavonoides e sua numeração.

O

O

105

6

2

3

7

89

2'

3'

4'

5'

6'

A B

C

1.1.5.3. Taninos

Os taninos são substâncias fenólicas solúveis em água, encontram-se em uma

grande variedade de vegetais, em suas folhas, flores, cascas, frutos e sementes. Possuem

uma capacidade muito grande de combinarem com macromoléculas, podendo precipitar

celulose, proteínas e pectinas (BATTESTIN, 2004).

Os taninos são tradicionalmente classificados segundo sua estrutura química em

dois grupos: hidrolisáveis e condensados. Plantas ricas em taninos são utilizadas na

medicina tradicional no tratamento de diarreias, hipertensão arterial, feridas,

queimaduras, problemas estomacais, renais, urinários, e inflamatórios em geral. Os

taninos condensados são oligômeros e polímeros, também conhecidos como

protoancianidina, os taninos são caracterizados por um poliol central, geralmente β-

1,2,3,4,6- pentagaloil-D-glicose (SIMÕES, 2007). A Figura 02 apresenta exemplos de

taninos dos dois grupos de classificação.

Figura 02 - Monômero básico de tanino condensado (a) e tanino hidrolisável β-1,2,3,4,6-pentagaliol-D-

glicose (b).

(a)

OOH

OH

R1

OH

R2

R3

R4

(b)

O

O

O

O

O

OH OH

OOH

O

O

O

OO

OH

OH

OH

OH

OH

OH

OOH

OH

OH

OH

OH

OH

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Fonte: acervo próprio.

1.1.5.4. Saponinas

Saponinas são glicosídeos de esteroides ou de terpenos policíclicos. Possui uma

parte com característica lipofílica (triterpenos ou esteroides) e outra parte hidrofílica

(açúcares), que determina a propriedade de redução da tensão superficial da água e suas

ações detergentes e emulsificantes (SIMÕES, 2007).

As saponinas em soluções aquosas formam espuma persistente e abundante. A

espuma formada é estável à ação de ácidos minerais diluídos, diferenciando-as dos

sabões comuns. As saponinas são componentes importantes para a ação de muitas

drogas vegetais, destacando-se aquelas tradicionalmente utilizadas como expectorantes

e diuréticas (SCHULZ, 2001). A Figura 03 mostra um exemplo de núcleo fundamental

das saponinas triterpênicas, são as mais frequentes encontradas na natureza, possuem

geralmente trinta átomos de carbono e núcleo triterpênico.

Figura 03 - Núcleo mais comum de saponinas triterpênicas.

R1O

COOR 2

1.1.5.5. Alcaloides

Uma definição para essa classe de substâncias apresenta dificuldades devido à

ausência de uma separação precisa entre alcaloides propriamente ditos e aminas

complexas de ocorrência natural. Basicamente, um alcaloide seria uma substância

orgânica, de origem natural, cíclica, constituído de carbono, hidrogênio e um nitrogênio

em um estado de oxidação negativo (função amina), com origem biossintética a partir

de aminoácidos. Quando oxigenados tem forma de cristais normalmente incolores e

inodoros, não oxigenados, apresentam-se líquidos, odoríferos e voláteis, em forma de

sais sólidos e fixos (SCHULZ, 2001).

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Fonte: Acervo próprio.

Fonte: Acervo próprio.

Diversos alcaloides são utilizados na medicina atualmente, puros ou associados a

outros princípios ativos e na forma de derivados. Outros alcaloides são utilizados como

matéria-prima para a síntese de fármacos, essa vasta variedade de aplicação de atividade

biológica se dá devido a sua grande variedade estrutural (SIMÕES, 2007). Um exemplo

de um alcaloide encontra-se demonstrado na Figura 04.

Figura 04 - Boldina, alcaloide presente no boldo, utilizado para trato hepático.

N OH

O

O

1.1.5.6. Cumarinas

As cumarinas são amplamente distribuídas nos vegetais, mas também podem ser

encontradas em fungos e bactérias. Estruturalmente, são lactonas do ácido o-hidróxi-

cinâmico, a cumarinas (1,2-benzopirona), é a mais simples de sua representação. São

várias as propriedades farmacológicas das cumarinas, dentre elas pode-se citar:

relaxante muscular, atividade antiespasmódica, vasodilatadora. Cumarinas

vasodilatadoras podem ser utilizadas no tratamento de impotência masculina (SIMÕES,

2007). As principais classes de cumarinas são: simples, furano cumarinas, pirano

cumarinas, cumarinas diméricas e cromona. Na Figura 05, são apresentados exemplos

de cumarinas simples e diméricas.

Figura 05 - (a) cumarina simples, (b) cumarina dimérica – dicumarol

O

R1

R2

R3

O

O OO O

OH OH

(a) (b)

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Fonte: acervo próprio.

1.1.6. Capim cidreira

Classificação botânica: cymbopogon citratus

Nome popular: Capim cidró, capim santo, capim cheiroso, erva príncipe, capim cidreira

entre outros.

Local de ocorrência: Ocorre em clima tropical e sub-tropical, desenvolve-se bem em

todo território brasileiro, tolera geadas e curtos períodos de estiagem. Em regiões

litorâneas há pouca concentração de seus óleos essenciais, prejudicando o aroma

(BANDONI, 2008).

É uma espécie de planta que se propaga por divisão de touceiras, com excessiva

multiplicação, possui folhas verdes, aromáticas e cumpridas, atinge em média sessenta

centímetros de altura. A planta capim cidreira encontra-se representada na Fotografia

01.

Fotografia 01 - Capim cidreira coletado.

Possui princípios ativos como: citronela, terpenos, flavonoides, saponinas, vários

aldeídos, álcoois como geraniol e nerol, seu constituinte majoritário é o citral, sua

estrutura química está representada na Figura 06. O citral pertence ao grupo dos

terpenoides, com 75 a 85% de toda composição (SCHULZ, 2001).

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Fonte: acervo próprio.

Fonte: Acervo próprio.

Figura 06 - Fórmula química do componente químico majoritário no capim cidreira (citral)

É utilizado na fabricação de inseticidas, aromatizantes e desinfetantes. Dentre as

propriedades farmacológicas, o capim cidreira determina uma diminuição da atividade

motora, aumentando o tempo de sono. O citral possui efeito antipasmódico, tanto no

tecido uterino como no intestinal. A atividade bactericida também está associada ao

citral (SIMÕES, 2007). Na medicina tradicional, o capim cidreira é utilizado como

alívio de cefaleias de origem tensional, ansiedade, nervosismo, insônia, gases

intestinais, relaxante muscular dentre outros (BANDONI, 2008).

1.1.7. Jambu

Classificação botânica: Spilanthes acmeola Murr. Var. uliginosa (Asteraceae).

Nome popular: agrião do mato, agrião-bravo, planta de dor de dente, jambu pequeno.

Local de ocorrência: Ocorre naturalmente em locais úmidos e sombreados em toda

região tropical.

Erva suberecta, anual, quase rasteira, aromática. As flores são muito pequenas,

amareladas (Fotografia 02). Podem ser cultivadas a partir de sementes ou mudas em

condições semelhantes ao seu habitat natural (BORGES, 2009).

Fotografia 02: jambu, planta de dor de dente coletada.

O

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30

Fonte: acervo próprio.

Contém um princípio ativo de ação antioxidante, anti-inflamatória e anestésica

local, o espilantol (alcaloide). A planta é utilizada como larvicida e inseticida devido à

presença do espilantol (Figura 07), que é também responsável pela atividade anestésica

local da planta. As flores quando mastigadas provocam sensação de formigamento nos

lábios e na língua que permanece entre 5 – 10 minutos (BANDONI, 2008).

Figura 07 - Estrutura química do espilantol (N – isobutilamida)

NH

O

Folhas e flores são utilizadas largamente em culinárias, principalmente no Norte

do Brasil, sendo que na região local do presente trabalho e no Nordeste do país, o seu

uso popular é como anestésico local em tinturas de 10 a 20%, aplicados em dores de

dente e afecções na garganta. Embora encontrada poucas literaturas que apresentassem

pesquisas na área farmacológica e cosmética, o jambu pode ter várias aplicações nessas

áreas e seu fácil cultivo e a presença do espilantol contribuem para isso (BANDONI,

2008).

1.1.8. Alecrim

Classificação botânica: Rosmarinus officinalis L.

Nome popular: Alecrim, alecrim de horta, alecrim de cheiro, alecrim de jardim, erva da

graça, dentre outros.

Local de ocorrência: Ocorre em diversos tipos de solo em regiões de até 2700 metros de

altitude, é intolerante a geada.

Arbusto aromático e perene, da família das Labiadas (Fotografia 03). Atinge até

um metro de altura, tem caule lenhoso, folhas simples e opostas, flores pequenas,

azuladas e agrupadas, que aparecem no final da primavera e no verão (SCHULZ, 2001).

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Fonte: acervo próprio.

Fonte: acervo próprio.

Fotografia 03 - Alecrim coletado.

O alecrim é uma das plantas medicinais mais conhecidas desde a antiguidade,

devido as suas propriedades medicinais, comestíveis e aromatizantes. Possui aplicações

diversas em áreas distintas como: culinária, cosmética, aromática, perfumaria, higiene e

fitoterápica (BANDONI, 2008).

As principais utilizações terapêuticas são: antibiótico, anti-inflamatório,

digestivo, antiespasmódico, antioxidante, redutor de permeabilidade capilar, diurético e

expectorante. Todas essas atribuições terapêuticas da espécie se dão devido a uma

enorme quantidade de princípios ativos que contém. São eles: canfeno, mirceno,

limoneno, cineol, alcanfor, linalol, verbinol, terpenoides (carnosol, ácido carnosílico),

flavonoides (apigenina, diosmetina, diosmina), taninos, entre outros (SIMÕES, 2007).

A estrutura química de um dos princípios ativos do alecrim (cornasol – diterpeno),

encontra-se na Figura 08.

Figura 08 - Cornasol-diterpeno, um dos princípios ativos existentes no alecrim

OH OH

O

O

.

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32

O alecrim possui um potencial de cura enorme, mas grande parte do consumo

dessa planta pela população brasileira é na culinária, pois apresenta efeito marcante em

carnes, aves e peixes (PORTE, 2001).

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2. Objetivos

2.1. Geral

Identificar as plantas medicinais mais utilizadas com fins terapêuticos nas comunidades

quilombolas. Obter os extratos de três dessas plantas, realizar análises e identificação

dos compostos, que seu potencial de cura.

2.2. Específicos

Realizar uma pesquisa nas comunidades quilombolas Angelim I e São Jorge;

Identificar as plantas mais utilizadas através de entrevistas, as partes das

mesmas, forma de manuseio, via de administração e a finalidade terapêutica;

Obter os extratos das três plantas mais utilizadas;

Realizar análises fitoquímicas para identificação dos compostos.

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3. METODOLOGIA

3.1. Características da Pesquisa

A realização de uma pesquisa decorre do desejo de conhecer com visibilidade o

objeto de estudo, com intuito de efetivar um trabalho de maneira eficiente e eficaz

(GIL, 2008).

No presente trabalho foi realizada uma pesquisa descritiva com abordagem

qualitativa em duas comunidades quilombolas, com intuito de identificar as plantas

medicinais mais utilizadas por essas comunidades. Diante do resultado, três plantas

foram selecionadas e delas obteve-se os extratos que foram submetidos à análise

fitoquímica para identificação dos compostos que conferem a essas plantas o potencial

de cura.

Segundo Gil (2008), a pesquisa descritiva tem como objetivo primordial, estudar

as características de determinada população ou fenômeno, estabelecendo relações entre

variáveis, envolvendo o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados (questionário e

observação sistemática) e assumindo em geral, a forma de levantamento.

3.2. Local da pesquisa

A pesquisa foi realizada em duas comunidades quilombola, situadas no Sapê do

Norte - região entre as cidades de São Mateus e Conceição da Barra, norte do Espírito

Santo. A sucessão das pesquisas se deram nos meses de janeiro, fevereiro, março e maio

de 2017.

3.2.1. Comunidade quilombola Angelim I

A comunidade quilombola Angelim I também conhecida como Santa Clara

localiza-se a cerca de 3 km da vila de Itaúnas, no município de Conceição da Barra – ES

(Fotografia 04). É a mais antiga do Sapê do Norte, reúne cerca de 45 famílias que vivem

da agricultura tradicional, produção de farinha, beiju e carvão. Atualmente, a

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Fonte: acervo próprio.

Fonte: Google Earth Pro, satélite landsat 8, com alterações.

comunidade é castigada com solos degradados e escassez de água, o que dificulta o

meio de subsistência (FERREIRA, 2010).

Fotografia 04 – Comunidade quilombola Angelim I, Conceição da Barra – ES.

A comunidade encontra-se imprensada em meio a grandes plantios de eucalipto

(Fotografia 05). A pesca no córrego Angelim, tornou-se inviável devido a poluição e

diminuição do volume de água, houve redução da terra disponível para plantio, a caça e

extração de madeira foram proibidas, a vida na roça tornou-se quase impossível, ainda

assim com a força de seus ancestrais, a comunidade se reinventa, se recria, resiste e

produz novas formas de existência.

Fotografia 05- Mapa das referências espaciais da comunidade Angelim I.

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Fonte: Google Earth Pro, satélite landsat 8, com alterações.

3.2.2. Comunidade Quilombola São Jorge

A comunidade quilombola São Jorge localiza-se às margens da rodovia que liga

os municípios de São Mateus e Boa Esperança. A comunidade mantém a cultura

tradicional por meio de ladainhas, reis de boi, cavalgada, entre outras manifestações

culturais. Todos os anos no dia 23 de abril comemora-se a festa do padroeiro da

comunidade, de onde esta recebera o nome de São Jorge. A festa é organizada pelos

próprios moradores com muita alegria e devoção. Há momentos de confraternização na

recepção dos visitantes com café da manhã, seguido por celebração da missa, almoço,

roda de conversa e para finalizar o tradicional torneio de futebol realizado no campo da

comunidade. O georeferenciamento por imagens de satélite com marcação de alguns

pontos da comunidade São Jorge e coordenadas geográficas se encontra na Fotografia 6.

Fotografia 06- Mapa das referências espaciais da comunidade São Jorge.

A comunidade é composta por aproximadamente 40 famílias que possuem como

principal fonte de renda o trabalho para latifundiários, empresas situadas fora da

comunidade e aposentadorias. O córrego roda D’água, único da comunidade pede

socorro, seu nível de água é cada vez menor. Os corpos hídricos que ainda não foram

completamente assoreados devido ao plantio de eucalipto possuem utilização

inadequada decorrente da contaminação causada por agrotóxicos.

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3.3. Sujeitos da pesquisa

Atualmente, no norte do Espírito Santo existem 32 comunidades quilombolas,

com um total de aproximadamente 1,2 mil famílias (BRASIL, 2009). Essa pesquisa,

devido a sua natureza qualitativa, tem a amostra caracterizada como não probabilística

constituída por 9 moradores das duas comunidades visitadas, sendo 7 mulheres e 2

homens. Desses 9 moradores, 5 são da comunidade São Jorge e 4 da comunidade

Angelim I, composto de 2 são rezadores provenientes de cada comunidade. A escolha

dos participantes foi realizada de acordo com a idade, com objetivo de abranger os

anciões, uma vez que esses são conhecedores e tem manejo da prática com as plantas

medicinais. Todos com mais de 60 anos.

3.4. Procedimentos de coleta de dados

O principal instrumento utilizado para a coleta de dados foi a entrevista com

visita domiciliar. A escolha das comunidades foi devido ao conhecimento prévio e

convívio com alguns moradores.

Para a realização das entrevistas, foi explicado a cada morador o objetivo da

pesquisa e a importância que a mesma pode acarretar às comunidades e foi solicitado a

permissão para a gravação da entrevista. Durante a entrevista foram realizadas

perguntas abertas sobre o uso de plantas medicinais (quais plantas medicinais, partes

utilizadas, modo de preparo e indicações terapêuticas). No decorrer da pesquisa, os

moradores mostravam ao entrevistador as plantas medicinais utilizadas, cultivadas no

terreiro das próprias casas. A coleta das plantas selecionadas nem sempre foram

realizadas durante as entrevistas, respeitando o melhor horário para a coleta. As

amostras coletadas em triplicata foram prensadas em campo e encaminhadas para o

herbário SAMES do Centro Universitário Norte do Espírito Santo, para confecção da

exsicata. As plantas foram identificadas pelo curador Luis Fernando Tavares de

Menezes, sob o número 07084 para o alecrim, 07085 para o capim cidreira e 07086 para

o jambu.

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Fonte: acervo Próprio.

3.5. Processamento e análise dos dados

As gravações das entrevistas foram transcritas manualmente para a realização

das coletas dos dados, que foram submetidos à análise de conteúdo descrita por Bardin

(1977), realizada através do método de análise por categorias temática. A análise de

conteúdo é descrita pela autora como um conjunto de técnicas que analisam as

comunicações, objetivando da descrição do conteúdo das mensagens a compreensão de

conhecimentos relativos às condições de produção e/ou recepção dessas mensagens.

A análise é temática, porque as categorias são criadas conforme os temas vão

surgindo a partir das entrevistas. Primeiro, a frequência com que uma unidade de

registro aparece é quantificada, posteriormente as categorias são elaboradas. A obtenção

das plantas medicinais, dos extratos, bem como a análise fitoquímica, foram realizadas

segundo os métodos descritos por Barbosa (2001) e Simões (2007).

3.6. Obtenção dos Extratos

As plantas selecionadas para análise fitoquímica, foram coletadas nos meses de

julho e agosto. O material passou por tratamento prévio de separação de partes

danificadas e lavagem em águas corrente, secas à temperatura ambiente e maceradas

com utilização de almofariz e pistilo (Fotografia 07).

Fotografia 07- Método de obtenção dos extratos.

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O extrato foi obtido a partir das plantas frescas. Do jambu e do alecrim foram

utilizadas as folhas, flores e caule, do capim cidreira, as partes utilizadas foram as

folhas. Das partes das plantas utilizadas foram maceradas 30 gramas e eluídas em etanol

96%, onde ficaram por três dias. Posteriormente foi efetuada uma filtração simples com

gaze e depois com papel de filtro. Alíquotas de 30 mL foram separadas para posterior

análise fitoquímica. A outra porção dos extratos foram concentradas em evaporador

rotativo sob vácuo, em temperatura de 55º C, para a eliminação do solvente. Os extratos

brutos foram congelados para aplicações futuras. Do jambu, foi confeccionada uma

pomada medicinal, indicada para dores musculares. A Fotografia e metodologia da

fabricação da pomada encontram-se apresentadas no Apêndice 01.

3.7. Análise Fitoquímica

Os extratos etanólicos obtidos das plantas, foram submetidos à análise

fitoquímica descrita por Barbosa (2001) e Simões (2007) para a detecção dos principais

compostos presentes nas espécies estudadas. As análises foram efetuadas nos meses de

julho, agosto, setembro e outubro de 2017, no laboratório de química orgânica o

CEUNES, (Centro Universitário Norte do Espírito Santo).

Para identificação dos metabólicos secundários, foram realizadas reações

específicas que caracterizam a presença destes a partir de alterações como formação de

cor, precipitado, fluorescência ou espuma. Nesse estudo, as análises realizadas

identificaram a presença de alcaloides, fenóis, esteroides, flavonoides, terpenos,

saponinas e taninos. Os testes foram realizados separadamente para os extratos das

distintas plantas.

3.7.1. Determinação de alcaloides

Em um tubo de ensaio foi colocado 1 mL do extrato etanólico diluído e

adicionado 1 mL de HCl. Posteriormente, acrescentou-se gotas de reagente Dragendorff

a fim de observar a formação de precipitado.

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40

3.7.2. Determinação de cumarinas

Em um papel de filtro foi aplicado uma gota de cada extrato etanólico, após a

secagem, o papel foi submetido à luz ultravioleta para observação de fluorescência.

Posteriormente, em cima da mancha foi disperso uma gota de KOH 10%. Após a

secagem, o papel foi novamente exposto à luz ultravioleta para observação de

fluorescência azul brilhante ou verde.

3.7.3. Determinação de fenóis e taninos

Uma alíquota de 3 mL do extrato etanólico foi diluída em 5 mL de água

destilada, à mistura foram adicionados 3 gotas de FeCl3 2%. A coloração inicial

observada varia de azul a vermelho, indicando a presença de fenóis. A formação de

precipitado azul indica a presença de taninos hidrolisáveis e verde, detecta a presença de

taninos catéquicos.

3.7.4. Determinação de esteroides e triterpenos

Em um tubo de ensaio, foi adicionado uma mistura de 1 mL do extrato etanólico

com 2 mL de clorofórmio, a essa mistura, adicionou-se 2 mL de anidrido acético. Após

agitação vagarosa dos tubos, foi adicionado cuidadosamente 3 gotas de H2SO4

concentrado para a observação de desenvolvimento de cores que variam de azul de curta

duração a estabilidade da coloração verde após o término da reação.

3.7.5. Determinação de saponinas

Uma alíquota de 2 mL do extrato etanólico foi diluído em 12 mL de água

destilada. Com o objetivo de neutralizar o meio, foi adicionado 1 mL de Na2CO3 . Com

o recipiente fechado, agitou-se rigorosamente durante 1 minuto. A positividade do teste

é confirmada com a formação de espuma que permanece por no mínimo de 30 minutos.

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41

3.7.6. Determinação de flavonoides

3.7.6.1. Reação de Cianidina

A uma alíquota de 1 mL do extrato etanólico, foi acrescentado 1 mL de HCl

concentrado e fragmentos de zinco em pó. No final da reação, a positividade do teste é

evidenciada pelo aparecimento de coloração que varia de laranja a vermelho.

3.7.6.2. Reação de AlCl3

A uma alíquota de 1 mL do extrato etanólico foi adicionada 5 gotas de AlCl3 a

2% em etanol, essa mistura foi posta em cápsulas de porcelanas que posteriormente

foram aquecidas em bico de Bunsen até completa evaporação. Para detecção da

fluorescência verde, as cápsulas foram expostas e observadas em luz ultravioleta.

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42

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Resultado das entrevistas

A maioria das plantas medicinais citadas pelos entrevistados se encontra

plantada no terreiro das casas, algumas são retiradas da pouca quantidade de Mata

Atlântica que cerca as comunidades. A forma de aquisição das plantas é de fundamental

importância para demonstrar que as comunidades quilombolas ainda preservam o bioma

e a utilização das plantas para fins terapêuticos. Dos entrevistados, 78% afirmaram que

a disponibilidade de encontrar as plantas medicinais é muito farta.

Diante do crescente aumento do número de farmácias, surgiu a pergunta sobre a

utilização das plantas medicinais nos dias atuais, os dados do questionamento estão

representados no Gráfico 01. Alguns entrevistados responderam que a utilização das

plantas medicinais é só para os casos de emergência como: resfriados, dores de barriga,

dor dente, tosse.

Os entrevistados mencionaram que a grande utilização das plantas medicinais se

dá devido aos altos preços dos medicamentos alopáticos e ao fato de estes não serem

acessíveis à grande maioria dos membros das comunidades, que por morarem longe da

cidade, preferem fazer uso das plantas antes mesmo de consultar um médico

especializado ou de comprarem os remédios em farmácias tradicionais.

Gráfico 01: utilização das plantas medicinais nos dias atuais.

Fonte: arquivo da autora.

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As comunidades estudadas conhecem as plantas e as práticas da medicina

tradicional e as utilizam como paliativo na cura de enfermidades, seja por questões

culturais, religiosas ou econômicas.

Os entrevistados citaram 63 plantas medicinais utilizadas nas comunidades

quilombolas com fins terapêuticos. Na maioria das visitas aos domicílios, houve um

passeio no terreiro e as plantas foram apresentadas. Parte dessas plantas, são

encontradas nas matas que rodeiam as comunidades, em alguns casos, as plantas são

compradas em mercados e feiras livres e guardadas em casa para utilização posterior.

As espécies citadas, partes utilizadas, modo de preparo e indicações terapêuticas

encontram-se descritos no Quadro 01.

Quadro 01: lista de plantas medicinais citadas pelos quilombolas entrevistados, nome científico, popular,

indicação terapêutica, partes utilizadas, preparo e modo de uso*.

(continua)

Nome científico Nome popular Indicação

terapêutica Partes Preparo Uso

Persea americana Abacate Pressão alta /rim

/cólica /fígado Fo/ Se Dec/ Inf Ch

Cucurbita Pepo Abóbora Doenças de pele Se Torrar Ig

Alpinia speciosa

Água de

colônia/flor do

paraíso

Ansiedade/coração Se/Fl/Fo Dec/Inf Ch

Rosmarinus officinalis Alecrim

Intestino/

estômago/cólica/

atrativo

Todas Dec/ Inf Ch/ Bh

Mentha viridis Alevante Cefaleia/intestino Fl/fo Dec Ch

Allium sativum Alho Fortificante/

gripe/pressão/ameba Todas ME/Dec Ch/X

Arnica montana Arnica Anti-inflamatório/dor

muscular Todas MA/Dec T/Bh

Schinus terebinthifolius Aroeira/pimenta

rosa

Anti-inflamatória/

cicatrizante Fl/Ca Dec Ch/Bh

Ruta graveolens Arruda Mal olhado/dilatador

uterino Todas MA/Dec T/Ch

Vernonia polysphaera Assa peixe Expectorante Fo MA/Dec Ch/X

Aloe vera Babosa Cicatrizante/trato dos

cabelos Ca Ma T

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Quadro 01: lista de plantas medicinais citadas pelos quilombolas entrevistados, nome científico, popular,

indicação terapêutica, partes utilizadas, preparo e modo de uso*.

(continuação)

Nome científico Nome popular Indicação

terapêutica Partes Preparo Uso

Stryphnodendron Barbatimão Anti-inflamatório/

cicatrizante Fo/Cl MA/Dec Ch/T

Solanum tuberosum

doré Batata inglesa Azia Tu/Ca MA Ig

Beta Beterraba Expectorante R Dec X

Plectranthus barbathus Boldo Problemas do fígado Fo/Cl MA Ig

Matricária chamomilla Camomila Calmante/cosmético Fo/Fl Ma/Dec Ch/T

Costus spicatus Cana de macaco Diurético/limpa útero Fo/Cl MA/Dec Ch

Cymbopogom citratus

Capim

cidreira/capim

melão

Calmante/

estimulador do sono Todas Dec Ch

Carduus benedictus Cardo

santo/cardo bento

Cicatrizante/

analgésico Fl/Fo Dec/ME Ch/Ig

Allium Cepa Cebola Expectorante/tosse R Dec Ch/X

Copaifera langsdorffii Copaíba Anti-inflamatório/

antiséptico Cl Dec Ol In/T

Cocos nucifera Coqueiro Fungicida Fr Dec Ol T

Leonotus nepetaefolia Cordão de frade Tosse/antiasmática Fl Dec Ch

Cosmos caudatus

Cravo de

defunto/picão de

padre

Antiespasmódico/

antirreumático Fl/Fo Dec Ch

Elaeis guineensis Dendezeiro Cicatrizante Fr Dec T

Taraxacum officinale Dente de leão Redutor do colesterol Fl/Fo Dec Ch

Melissa oficinallis Erva cidreira Insônia/gases

estômago Fo Dec Ch

Pimpinella anisum Erva doce Calmante/cólica/

gases Todas Dec Ch

Eucalyptus Eucalipto Sinusite/febre/

infecção Fo Dec/In In

Nicotiana tabacum Fumo Descarrego/

articulação/dores Todas Dec Bh

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Quadro 1: lista de plantas medicinais citadas pelos quilombolas entrevistados, nome científico, popular,

indicação terapêutica, partes utilizadas, preparo e modo de uso*.

(continuação)

Nome científico Nome popular Indicação

terapêutica Partes Preparo Uso

Zingiber officinales Gengibre Afrodisíaco/

antiasmático R Inf Ch

Stachytarpheta

jamaicensis Gervão Ùlcera/afecções renais Fo Inf Ch

Psidium guajava Goiabeira Bronquite/tosse/dor

de barriga Fo/Ca Dec Ch

Petiveria alliacea Guiné/ tipim Anti-inflamatório

descarrego Todas De/ME Ch/Bh

Mentha arvensis Hortelã miúdo Cefaleia/gases/condi

mento Fl/Fo Dec/In In/Ig

Plectranthus

amboinicus Hortelã grande Condimentos/gases Fl/Fo/Cl Dec/MA Ig/Ch

Acmella oleracea Jambu, dor de

dente Analgésico tópico Fl/Fo Dec/MA Bo/T

Jasminum Jasmim Cólicas menstruais Fl/Fo Dec Ch

Syzygium cumini Jamelão Diurético/controle

pressão alta Fo Dec Ig/Ch

Cyperus esculentus Junco branco Calmante/relaxante

muscular Fl/Fo Dec Ch

Citrus x sinensis Laranjeira Gripe/febre

expectorante Fo/Ca Dec Ch/X

Artemisia absinthium Losna/ labsinto Má digestão/

verminoses Fo/Cl Dec/MA Ig/Ch

Leonurus sibiricus Macaé/cabelo de

iaiá Má digestão/cólica Fl/Fo Dec/Inf Ch

Ocimun basilicum Manjericão Gripe/constipação

intestinal Fl/Fo Dec Ch

Dhyspania

ambrosioides

Mastruz/ erva

santa

Dor de

barriga/verminose Fo/Cl MA Ig

Mormodica Charantia Melão de São

Caetano

Purifica o

sangue/coceira Fo/Fr Dec/MA Bh/T

Ageratum conyzoides Mentrasto Dilatador uterino/

Anti-inflamatório Fl/Fo Dec/Ma T/Ch

Myrtus communis Murta Rim/expectorante Fo Dec/MA Ch

Bauhinia forficata Pata de vaca Antimicrobiana/

fungicida Todas Dec Ch

Platycyamus regnellii Pau pereira Má digestão/tontura/

febre Ca Dec Ch

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Quadro 01: lista de plantas medicinais citadas pelos quilombolas entrevistados, nome

científico, popular, indicação terapêutica, partes utilizadas, preparo e modo de uso*.

(conclusão)

Nome científico Nome popular Indicação

terapêutica Partes Preparo Uso

Bidens pilosa Pico preto Estômago/tosse/

úlceras Todas Dec Ch/Bh

Eugenia uniflora Pitangueira Diabete/diurética/

calmante Fo Dec Ch

Rosa alba Rosa branca Calmante/oferenda Fl Dec/Inf Ch/Bh

Punica granatum Romã Anti-inflamatória/

antisséptica Ca/Se Dec/Ma Ga/ig

Phyllanthus niruri Quebra- pedra Elimina cálculos

renais Todas Dec Ch

Cinchona calisaya Quina rosa Limpar o sangue Ca ME Gar

Sambucus nigra Sabugueiro Sarampo Todas Dec Bh

Kalanchoe Saião Anti-inflamatório/

cicatrizante Fo/Fl Inf Ch

Salvia officinalis Sálvia Bronquite/gengivite Fo Dec Ch

Imperata brasilienses Sapê Anestésico R Dec Ch

Tamarindus indica Tamarindo Expectorante/tosse Fr Dec Ch/X

Plantago Major Tansagem Cicatrizante/

expectorante Fl/Fo Dec/MA Ch/T

Solanum lycopersicum

cerasiforme

Tamarindo/

tamarineira

Anti-inflamatório/

erisipela Todas Dec Bh

__________*Abreviações: partes utilizadas (Fo-folhas, Fl-fores, F-fruto, R-raíz, Se-semente, Tu-

tubérculos, Ca-casca, Cl-caule), modo de preparo (Ol-óleo, Dec-decocção, In- infusão, MA-maceração

em água, ME-maceração em álcool, S- sumo, O-outros), formas de uso (Ch-chá, Bh-banho, Al-alimento,

Bo-bochecho, Ga-gargarejo, In-inalação, T-tópico, X-xarope, Ig-ingestão, Gar-garrafada).

Das plantas citadas, a maior parte utilizada são as folhas, a maneira de preparo

mais utilizada foi a decocção4, seguido da infusão e a forma de uso mais mencionada foi

o chá. Os valores em porcentagem das manipulações mais apresentadas são encontrados

no Quadro 02.

4 Termo da química que designa um experimento que consiste em submergir plantas em um líquido

efervescente, a fim de extrair o princípio ativo da mesma.

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Quadro 02: forma de manejo das plantas, partes utilizadas, modo de preparo, formas de uso e

porcentagem das mais utilizadas.

Partes utilizadas (%) Modo de preparo (%) Forma de uso (%)

Folhas 43 Decocção 70 Chá 72

Flores 25 Infusão 13 Banho 15

Todas 17 Maceração/água 11 Tópico 6

Caule 11 Maceração/álcool 4 Xarope 4

Outros 4 Outros 2 Outros 3

As plantas mais citadas foram capim cidreira, alecrim, romã, quebra pedra e

cana de macaco. A escolha do jambu para realizar análise fitoquímica se deu do

interesse de dar continuidade em pesquisas com essa planta, devido a grande quantidade

de espilantol em suas estruturas, principalmente nas folhas.

As indicações das plantas mencionadas pelos entrevistados em sua maioria

referem-se à terapêutica de trato intestinal, anti-inflamatório, respiratório, renal,

estomacal, pressão arterial, analgésico e ansiedade. As devidas indicações e suas

quantidades são representadas no gráfico 02.

Gráfico 02: indicações terapêuticas das plantas mencionadas.

Quanto à utilização das plantas medicinais para uso próprio, alguns entrevistados

responderam que fazem uso das plantas antes mesmo de recorrer a medicamentos

Fonte: autoria da autora.

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alopáticos, outros utilizam as plantas medicinais e os alopáticos simultaneamente.

Houve informações também de moradores que utilizam somente as plantas medicinais

no trato da saúde. Os dados decorrentes da pergunta encontram-se no Quadro 03.

Ainda que o consumo de plantas com fins terapêuticos seja uma automedicação,

é muito difícil ou quase impossível ingerir uma dose tóxica ou letal de um medicamento

vegetal, devido à minúscula quantidade de um único composto em um extrato integral

(SCHULZ, 2001).

4.2. Resultado das análises fitoquímica

Das 63 espécies apresentadas pelos entrevistados, as escolhidas para a análise

fitoquímica foram: alecrim, capim cidreira e jambu. Os extratos obtidos foram

submetidos a análises fitoquímicas para identificação de terpenoides, alcaloides,

cumarinas, saponinas, fenóis, esteroides, flavonoides, taninos.

Para o extrato de jambu os compostos identificados foram alcaloides, fenóis,

taninos, esteroides, terpenoides e flavonoides. Os resultados das análises das três

espécies selecionadas estão apresentados no Quadro 04, acompanhados dos compostos.

Segundo Simões (2007) e Bandoni (2008), as principais classes dos metabólitos

secundários das plantas com ação anti-inflamatória, anestésica e calmante são os

compostos fenólicos, taninos, alcaloides e flavonoides. O presente trabalho condiz com

a literatura, onde foram encontrados tais compostos responsáveis pelas ações curativas

das plantas.

Utilização Quantidade (%)

Uso antes de recorrer a medicamentos alopáticos 65

Uso simultâneo com medicamentos alopáticos 25

Uso apenas de plantas medicinais 02

Não responderam 08

Quadro 03: utilização de plantas das medicinais para uso dos entrevistados.

Fonte: autoria da autora.

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Fonte: acervo próprio.

Quadro 04: resultados das análises fitoquímicas, identificação dos compostos e plantas selecionadas.

Classes de

compostos

Alecrim Jambu Capim cidreira

Alcaloides + + +

Cumarinas - - -

Esteroides e terpenos + + +

Fenois e taninos + + +

Flavonoides + + +

Saponinas + - -

__________*Abreviações (+) positivo, (-) negativo.

O teste para identificação de alcaloides demonstrou resultado positivo para as

três espécies, devido à presença de precipitado observado. A positividade para o extrato

de jambu corrobora com a literatura, uma vez que esse possui caráter anestésico devido

à presença do espilantol, um alcaloide rico em propriedades antioxidantes, anti-

inflamatórias e anestésicas (BORGES, 2009). O resultado do teste pode ser observado

na Fotografia 08.

Fotografia 08- Teste para determinação de alcaloides.

A caracterização das cumarinas no extrato etanólico pode ser feita pela

observação na luz ultravioleta, pois a maioria possui fluorescência azul-brilhante ou

verde. Diante dos resultados apresentados na Fotografia 09, pode-se observar que, não

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Fonte: acervo próprio.

Fonte: acervo próprio.

foi possível a determinação desses compostos nos extratos etanólicos das três plantas,

uma vez que a fluorescência não foi observada.

Fotografia 09- Teste para determinação de cumarinas.

Os testes para a determinação de esteroides e terpenos foram realizados na

capela de exaustão de gases, devido a metodologia sugerida, que utiliza ácido sulfúrico

concentrado. Essa reação é altamente exotérmica e libera grande quantidade de gás

hidrogênio. O teste apresentou resultado positivo para as três espécies. Nesse caso a

positividade foi evidenciada pela coloração observada que começou azul. Após o

equilíbrio da reação química, a cor verde se estabilizou e houve formação de

precipitado, como demonstrado na Fotografia 10.

Fotografia 10 - Teste para a determinação de esteroides e terpenos.

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Fonte: acervo próprio.

O teste para a determinação de fenóis e taninos, mostrou resultado positivo,

ocorrido pela observação da mutação de cor começando por avermelhado, seguido de

estabilidade da coloração que se manteve laranja para o extra etanólico de jambu e

marrom para os extratos de alecrim e capim cidreira (Fotografia 11). O teste de

identificação de fenóis e taninos sugeridos pela metodologia de (Simões, 2007), com

utilização de cloreto de ferro a 2%, apresenta mutação de cor, devido ao fato de os

polifenois serem substâncias redutoras, e portanto, oxidam-se facilmente. As cores

apresentadas pelo produto de oxidação, devem-se ao elevado número de conjugações

existentes nas estruturas dos polifenois.

Fotografia 11- Testes para determinação de fenóis e taninos.

O teste com reação de cianidina para a determinação de flavonoides apresentou

resultado positivo apenas para o extrato de capim cidreira, uma vez que a evidência

desse teste se dá a partir de coloração que varia de laranja a vermelha. Segundo Simões,

(2007) existem 4200 flavonoides distintos, esse grande número de espécie desse

metabólito, pode ocasionar interferência nos testes de identificação qualitativos

dependendo do método utilizado, uma vez que a quantidade de um metabólito

sobressaia a quantidade de outro. O resultado para este teste encontra-se na Fotografia

12. Na reação de AlCl3, demonstrado na Fotografia 13 o resultado foi positivo para os

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Fonte: acervo próprio.

Fonte: acervo próprio.

três extratos etanólicos. Nesse teste, a reação de AlCl3, tem como produto o complexo

flavonoide-Al3+

de coloração verde florescente intensa.

Fotografia 12 - Testes para flavonoides (reação de cianidina).

Fonte: acervo próprio

Fotografia 13- teste para flavonoides (reação de AlCl3).

O teste para saponinas apresenta resultado positivo quando a espuma formada

nos tubos permanece estável por longo tempo. Como demonstrado na Fotografia 14, o

teste mostrou positividade apenas para o extrato etanólico de alecrim.

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Fonte: acervo próprio.

Fotografia 14- Teste para saponinas.

Os testes fitoquímicos estão de acordo com a literatura. O componente

majoritário do jambu – espilantol é um alcaloide responsável pelo efeito anestésico que

essa planta possui. A estrutura química do espilantol está demonstrada na Figura 07,

página 29. A indicação terapêutica dos entrevistados também está de acordo com a

literatura.

Os entrevistados citaram que a utilização do jambu é para dor de dente, assim o

conhecimento tradicional está de acordo com o cientifico, uma vez que a análise

fitoquímica determinou a presença do alcaloide espilantol no extrato etanólico desta

planta.

Os entrevistados citaram o alecrim para tratos terapêuticos de gases intestinais,

dentre outros. A literatura relata que o alecrim contém uma enorme quantidade de

princípios ativos. São eles: canfeno, mirceno, limoneno, cineol, alcanfor, linalol,

verbinol, terpenoides (carnosol, ácido carnosílico), flavonoides (apigenina, diosmetina,

diosmina), taninos, entre outros (SIMÕES, 2007).

Dentre os princípios ativos do alecrim, os flavonoides como as diosmetina, são

os responsáveis pelos efeitos carminativos5 citados pelos entrevistados. A análise

fitoquímica demonstrou resultado positivo para a presença desse metabólico secundário

5 Diz-se de substâncias que combatem a formação de gases intestinais.

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no extrato etanólico de alecrim, validando o conhecimento popular acerca da indicação

terapêutica desta planta.

O componente majoritário do capim cidreira é o citral, um terpenoides

responsável pelo potencial sedativo desta planta. As indicações terapêuticas do capim

cidreira, citadas pelos entrevistados é calmante estimulador do sono, corroborando com

a literatura e com análise fitoquímica que apresentou resultado positivo na determinação

de terpenoides para o capim cidreira.

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5. CONCLUSÃO

Neste trabalho, buscou-se conhecer a prática popular das comunidades

quilombolas Angelim I e São Jorge acerca do uso das plantas medicinais para fins

terapêuticos, obter os extratos e caracterizar os princípios ativos existentes em três das

plantas citadas.

Os quilombolas entrevistados guardam consigo a preciosidade da crença e da

cultura em relação às plantas medicinais. O grande número de plantas citadas demonstra

o enorme conhecimento sobre esses vegetais e os fins terapêuticos para os quais são

designados. A ancestralidade africana pode ser observada pela prevalência do uso de

banhos como uma das formas das preparações tradicionais utilizadas em cultos de

matrizes africanas. O grande número de indicações de plantas para tratos do sistema

respiratório e digestivo pode ser devido às condições sanitárias nas quais ambas as

comunidades se encontram.

O chá ainda é a forma de uso mais utilizada pelas comunidades, que na maioria

das vezes, as plantas para a confecção desses chás, são coletadas direto dos quintais e

consumida in natura.

As espécies mais referidas neste trabalho correspondem àquelas mais abundantes

na região, sendo representativas também em outras regiões do país como comprovado

em outros trabalhos.

As propriedades curativas das plantas medicinais ocorrem devido aos princípios

ativos presentes nos vegetais. A Análise fitoquímica demonstrou a existência de:

alcaloides, fenóis, taninos, flavonoides, esteroides terpenos e saponinas, esses

metabólitos secundários estão diretamente relacionados com os efeitos biológicos

citados nas indicações terapêuticas nomeadas pelos entrevistados.

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Fonte: acervo próprio.

APÊNDICE 01

Fabricação da pomada de jambu, obtida a partir da planta fresca.

Pomada de jambu

Nome científico: Acamella oleracea.

Nome popular: jambu, agrião do mato, planta de dor de dente.

Fórmula:

Modo de preparo:

Colocar em um recipiente que possa ser levado ao aquecimento, a planta fresca ou seca,

macerada, (folha, flores e caule) e o óleo de girassol, para cozimento durante 25

minutos a 70º C. A presença de água pode causar deterioração da pomada. Após o

passar do tempo, retirar o recipiente do aquecimento e misturar a cera de abelha.

Misturar até ficar homogêneo e consistente. Deixar esfriar, em seguida, embalar e

armazenar.

Embalagem e armazenamento:

Acondicionar em frascos de plástico ou de vidro com tampa e não transparente.

Armazenar em local fresco, seco e ao abrigo da luz.

Indicações: Analgésico e anti-inflamatório em dores associadas à musculatura e aos

tendões.

Componentes Quantidades (g)

Material vegetal 50

Óleo de girassol 200

Cera de abelha 15

Fotografia 15: etapas para a fabricação da pomada de jambu.

Fonte: acervo próprio.

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Fonte: acervo próprio.

Fotografia 15: etapas para a fabricação da pomada de jambu..