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Universidade Cruzeiro do Sul UNICSUL Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Questões de cidadania, ética e moral no trânsito de São Paulo: análise sociocognitiva dos discursos jornalísticos Orientadora Profa. Dra. Sonia Sueli Berti Santos Allyne de Abreu Erra Moreno Pires São Paulo 2012

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Universidade Cruzeiro do Sul – UNICSUL

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Questões de cidadania, ética e moral no trânsito de

São Paulo: análise sociocognitiva dos discursos

jornalísticos

Orientadora Profa. Dra. Sonia Sueli Berti Santos

Allyne de Abreu Erra Moreno Pires

São Paulo

2012

1

Análise de notícias retiradas do Jornal

Folha de S. Paulo no primeiro semestre

de 2011 sobre desrespeito às leis de

trânsito, multas e acidentes com

pedestres, para estudo sobre questões de

cidadania, ética e moral e no âmbito

linguístico com foco em Bakhtin no livro

de Koch e Elias.

Orientadora

Profa. Dra. Sonia Sueli Berti Santos

Allyne de Abreu Erra Moreno Pires

2

Sumário

Introdução 04

1. Justificativa 04

2. Objetivos 05

3. Metodologia 06

4. Fundamentação teórica 07

4.1. Foucault e as práticas discursivas 07

4.2. Bakhtin: enunciado, atitude responsiva e tom emotivo-

volitivo

08

4.3. Isotopia, alteridade e cronotopia 09

4.4. Competências linguísticas 11

4.5. Esferas de comunicação 12

4.6. Gêneros discursivos 17

5. Percurso histórico 22

5.1. Dos primórdios à Revolução Industrial: as cidades no

mundo

22

5.2. Brasil: da Colonização à Indústria 24

5.2.1. Pós Guerra e a economia 25

5.3. População: ocupação e industrialização em São Paulo 27

5.4. Indústria automobilística, história e repercussão em São

Paulo

29

5.5. Trânsito na cidade de São Paulo 30

5.5.1. Violência no trânsito de São Paulo 31

5.6. Cidadania, ética e moral 33

5.6.1. Cidadania 33

5.6.2. Ética e moral 36

6. Análise 40

6.1. Motorista não respeita faixa de pedestre na V. Olímpia, diz

leitora – 10 de janeiro de 2011

40

6.2. Carro-forte para até em vaga de idoso – 14 de fevereiro de

2011

42

3

6.3. Marronzinho ignora abuso de carro oficial no trânsito – 4 de

março de 2011

45

6.4. SP multa um motorista a cada cindo segundos; Um

motorista é multado a cada 5 segundos na capital – 5 de março

47

6.5. A escalada das multas – 9 de março de 2011 49

6.6. Não é por aí – 12 de março de 2011 52

6.7. Multa de trânsito vai deixar “nome sujo” em São Paulo – 13

de abril de 2011

52

6.8. Sé lidera ranking de atropelados em São Paulo – 20 de abril

de 2011

54

6.9. CET fará operação por respeito a pedestre – 29 de abril de

2011

56

Conclusão 58

Bibliografia 60

Anexos 62

Anexo 1 62

Anexo 2 64

Anexo 3 64

Anexo 4 68

Anexo 5 71

Anexo 6 72

Anexo 7 74

Anexo 8 76

Anexo 9 78

4

Introdução

A sociedade atual vive em um espaço apressado o que leva as pessoas a se

tratarem superficialmente. Nas grandes cidades, os homens querem enxergar

apenas a si, ignorando a vontade do outro e o respeito ao próximo. Hoje, o que

importa é se está sendo feita a vontade do indivíduo e se seu respeito está sendo

preservado.

Essa questão deixa de lado a civilidade e a cidadania e esse distanciamento

do ser humano pode ser comprovado nas ruas, no trânsito. Nesse ambiente, a

pessoa está sozinha no carro, o motorista não respeita o semáforo, as placas de

trânsito, ou seja, desrespeita as regras. O que acontece muito é o motorista

estacionar em locais proibidos, como na faixa de pedestre, em calçadas, deixando

evidente que não pensa nos outros, pois, ao parar em cima de uma calçada, não

deixa espaço, muitas vezes, para o pedestre passar que tem de ir pela via dos

carros. Se no caso for uma criança ou um idoso, cadeirantes e deficientes visuais,

por exemplo, é ainda mais perigoso. Ao desrespeitar o próximo, desrespeita a si e à

sociedade, consequentemente, a ética e a moral que deveriam ser aplicadas dentro

da sociedade deixam de existir, pensando kantianamente.

Isso acontece devido à evolução das cidades e da vida social delas, pois no

início havia poucas pessoas e as cidades não possuíam infraestrutura. Havia menos

mobilidade e as pessoas se conheciam mais, saíam pouco. Devido a isso, a relação

entre as pessoas era mais próxima e cordata. Havia também a questão do

isolamento, causado por barreiras geográficas e por dificuldades dos meios de

locomoção. O trajeto era feito a pé, no lombo dos cavalos e mulas, em carroças, por

mar. As estradas eram precárias e havia montanhas, morros, lagos a serem

transpostos que dificultavam o ir e o vir.

1. Justificativa

Esse trabalho falará sobre a cidadania, ética e moral nos dias atuais,

focados no trânsito. Para, assim, analisar seus problemas e o que a falta desses

valores acarretam na vida urbana.

5

O avanço tecnológico afasta cada vez mais os seres humanos. Um exemplo

simples pode ser o telefone, antes se tínhamos algum recado a dar íamos até a casa

da pessoa, depois que o telefone se tornou um objeto comum nas casas, só vamos

visitar alguém muito raramente, mesmo com tecnologias que facilitam nosso

transporte. O automóvel, um desses facilitadores, também é uma tecnologia que

separa cada vez mais os homens. Um carro tem lugar para cinco pessoas e vemos

nos trânsitos apenas o motorista dentro deles.

O retrocesso nas relações sociais não é apenas pelo fato de que o motorista

vai sozinho em seu carro, mas inclui a falta de respeito cada vez maior entre eles e

com pedestres, pela pressa característica da sociedade moderna dos grandes

centros urbanos. Vemos mais brigas de trânsito ocasionando até mortes. Essas

discussões muitas vezes são ocasionadas por uma “fechada”, porque se esqueceu

de utilizar a seta para orientar o lado em que se quer ir ou até por causa de uma

vaga em um shopping. Com o pedestre, o desrespeito e a falta de observância de

princípios éticos e morais estão ao parar em cima da faixa de pedestre ou na

calçada, por exemplo. A pesquisa objetiva estudar os enunciados verbo visualmente

e como se dão as relações sociais nas cidades modernas, por meio do levantamento

de tom, isotopia, cronotopia e alteridade de Bakhtin.

A partir de reportagens do jornal Folha de S. Paulo, que constitui

documentos da realidade, poderemos observar questões que extrapolam os

“valores” apreendidos na infância como sendo éticos e morais e colocam em xeque

a cidadania. Analisando nos discursos verbo visuais como se apresentam esses

valores na sociedade hoje.

2. Objetivos

Para isso, trabalharemos os objetivos apontados:

Objetivo Geral: identificar os avanços da tecnologia e os seus reflexos nas

relações interpessoais, por meio de análises verbo visualmente de cada reportagem.

Objetivos Específicos:

Traçar breve histórico da evolução das sociedades;

Analisar como a evolução tecnológica afeta/interfere, nas relações

sociais e na constituição das sociedades;

6

Analisar e definir, no corpus, como se evidenciam problemas de

cidadania, ética e moral na sociedade;

Analisar os enunciados verbo visualmente.

3. Metodologia

Essa pesquisa se orienta por busca em exemplares do jornal Folha de S.

Paulo de reportagens que tratam das questões referentes ao tema de estudo –

cidadania, ética e moral.

Serão analisadas as reportagens retiradas da Folha de S. Paulo:

1. Motorista não respeita faixa de pedestre na V. Olímpia, diz leitora – 10

de janeiro de 2011, Cotidiano;

2. Carro-forte para até em vaga de idoso – 14 de fevereiro de 2011,

Cotidiano;

3. Marronzinho ignora abuso de carro oficial no trânsito – 4 de março de

2011, Cotidiano;

4. SP multa um motorista a cada cinco segundos – Capa; Um motorista é

multado a cada 5 segundos na capital – 5 de março de 2011,

Cotidiano;

5. A escalada das multas – 9 de março de 2011, Opinião;

6. Não é por aí – 12 de março de 2011, Cotidiano;

7. Multa de trânsito vai deixar “nome sujo” em São Paulo – 13 de abril de

2011, Cotidiano;

8. Sé lidera o ranking de atropelados em São Paulo – 20 de abril de 2011,

Cotidiano;

9. CET fará operação por respeito a pedestre – 29 de abril de 2011,

Cotidiano.

Faremos pesquisas em biblioteca para aprofundarmos as teorias que

servirão de base para nossas análises. Pesquisaremos no Arquivo da Folha Digital

reportagens para serem analisadas.

A análise será fundamentada com base nas “Competências Sociocognitivas”

das autoras Ingedore Kock e Vanda Elias e na análise dialógica do discurso de

Bakhtin.

7

Assim como, baseando-se nos conceitos de atitude responsiva, tom,

isotopia, cronotopia e alteridade de Bakhtin.

4. Fundamentação teórica

Para analisarmos o corpus e buscarmos entender como se dão as relações

sociais de cidadania, ética e moral nas sociedades modernas, ater-nos-emos nos

postulados de Ingedore Kock e Vanda Elias sobre as competências sociocognitivas

e na análise dialógica do discurso de Bakhtin e seu Círculo.

Segundo as autoras (2007) para lermos e compreendermos um enunciado é

necessário o domínio de algumas competências. O mesmo se dá quando

escrevemos. Em ambos os casos, tanto para ler quanto para escrever, é preciso que

os autores do processo tenham o mesmo domínio da competência sociocognitiva.

4.1. Foucault e as práticas discursivas

Os enunciados estão presentes nas práticas discursivas das quais nos

servirmos para nos comunicarmos. Segundo Foucault (1969), prática discursiva

pode formar grupos de objetos, conjuntos de enunciações, jogos de conceitos,

séries de escolhas teóricas. Os elementos assim formados são experiências. Eles

são a base a partir da qual se constroem proposições coerentes (ou não), se

desenvolvem descrições mais ou menos exatas, se efetuam verificações, se

desdobram teorias.

Ao conjunto de elementos, formados de maneira regular por uma prática

discursiva e indispensáveis à constituição de uma ciência pode-se chamar saber.

Um saber é aquilo de que podemos falar em uma prática discursiva que se encontra

assim especificada: o domínio constituído pelos diferentes objetos que irão adquirir

ou não um status científico; o espaço em que o sujeito pode tomar posição para falar

dos objetos de que se ocupa em seu discurso; o campo de coordenação e de

subordinação dos enunciados em que os conceitos aparecem, se definem, se

aplicam e se transformam; um saber se define por possibilidades de utilização e de

apropriação oferecidas pelo discurso. Há saberes que são independentes das

ciências; mas não há saber sem uma prática discursiva definida, e toda prática

8

discursiva pode definir-se pelo saber que ela forma em um contexto de enunciação.

(FOUCAULT, 1969). Nas enunciações, segundo Bakhtin, há sempre uma atitude

responsiva.

4.2. Bakhtin: enunciado, atitude responsiva e tom emotivo-volitivo

Segundo Bakhtin (2003), todo enunciado suscita uma atitude responsiva no

leitor, seja ele presumido ou real. A atitude responsiva pode ser ativa que é quando

o ouvinte que recebe e compreende um discurso concorda ou discorda, completa,

adapta, apronta-se para executar etc., e esta atitude do ouvinte está em elaboração

constante durante todo o processo de audição e de compreensão desde o início do

discurso. A compreensão passiva das significações do discurso ouvido é apenas o

elemento abstrato de um fato real que é o todo constituído pela compreensão

responsiva ativa e que se materializa no ato real da resposta subsequente.

A compreensão responsiva ativa do que foi ouvido pode realizar-se

diretamente como um ato, pode permanecer, por certo lapso de tempo,

compreensão responsiva muda, mas neste caso trata-se de uma compreensão

responsiva de ação retardada. (BAKHTIN, 2003)

A atitude responsiva só pode ser evidenciada pela materialidade linguística,

pelas unidades da língua e pelas unidades discursivas. Bakhtin (2003, pg. 270)

entende as palavras como unidades da língua, quando as palavras estão fora dos

discursos, “em estado de dicionário”, podem ser, neste estado, decomponíveis, são

finitas e inertes em seu significado. Como unidades discursivas, signos ideológicos,

são infinitas as possibilidades de sua atualização pelos falantes. As unidades

discursivas são “prenhes de significação”.

Ao proceder a escolha de uma unidade discursiva, o falante/autor procede a

uma escolha estética, uma vez que pode escolher esta ou aquela palavra; no

entanto, essa escolha é igualmente ética, pois, cada unidade discursiva é carregada

de valores éticos, juízos de valores, posições axiológicas de seu autor. Assim, a

escolha da palavra no discurso empresta a ele um tom valorativo. Quanto ao tom

valorativo, Bakhtin nos diz que:

O tom emotivo-volitivo que impregna esse mundo das coisas é o da dor. Este quando se relaciona com o corpo está sempre vinculado às possibilidades e aos seus estados internos – dor, prazer, paixão, satisfação

9

etc. Apesar de ser vinculado à palavra e como que fixado à sua imagem fônico-entonacional, não se refere à palavra, mas ao objeto expresso pela palavra. (BAKHTIN, 2003)

O tom emotivo-volitivo – embora vinculado à palavra e a sua imagem sonora

– não diz respeito à palavra, mas ao objeto que esta exprime, mesmo que não se

realize na consciência como imagem visual; só pelo objeto assimila-se o tom

emocional, mesmo que junto com o som da palavra. (BAKHTIN, 2003)

O tom não é determinado pelo material do conteúdo do enunciado ou pela

vivência do locutor, mas pela atitude do locutor para com a pessoa do interlocutor (a

atitude para com sua posição social, para com sua importância etc.). (BAKHTIN,

2003)

4.3. Isotopia, alteridade e cronotopia

Desse modo, o autor se posiciona isotopicamente. Isotopia é a posição

exterior, é algo por conquistar. Costuma ser difícil situar-se fora daquele que é o

companheiro do acontecimento quanto fora daquele que é o adversário; tanto faz

situar-se dentro do herói, ao seu lado ou à sua frente. (BAKHTIN, 2003)

A isotopia concreta beneficia só a si, e a de todos os outros a seu respeito, assim como o excedente de sua visão que ela condiciona. Relaciona-se no tempo, no espaço e no sentido, a respeito da vida do outro em seu todo, com sua orientação de valores e sua responsabilidade. Graças a essa posição isotópica, o que era possível na ordem das coisas físicas e impossível de operar em si mesmo e para si mesmo, torna-se possível também na ordem moral. (BAKHTIN, 2003)

Para Bakhtin, a compreensão é a isotopia do indivíduo que compreende – no

tempo, no espaço, na cultura – em relação àquilo que ele pretende compreender de

forma criativa. (BAKHTIN, 2003)

A escolha das palavras, o tom valorativo emprestado por elas, a isotopia, a

postura axiológica marcam sua alteridade, sua identidade.

A alteridade (do outro possível, do ouvinte, do leitor), tal como é formulada pelos românticos, é quase sempre marcada de antropomaquia. Os acentos de teomaquia e de antropomaquia (resultado do desespero) tornam impossível a ordem estética. O que é possível é a auto-isenção infinita de uma contrição, e essa modalidade tem analogia com o ódio inspirado pela dominação do espelho: a imagem refletida do rosto pode também ser a da alma. (BAKHTIN, 2003)

10

Segundo Bakhtin, a natureza da alteridade da personagem é a

extrassemântica do passado. (BAKHTIN, 2003)

O mundo imediato, a que pertencem a personagem e o autor é o mundo da

alteridade, pois consiste em vários valores e não em valores isolados ou acabados,

não há limites. (BAKHTIN, 2003)

O valor genealógico como categoria do ser consolidado da alteridade que incorpora também a mim a seu círculo axiológico de realizações. Eu não começo a vida, eu não sou seu iniciador axiologicamente responsável, não disponho sequer de um enfoque axiológico que me permita iniciar ativamente a série da vida responsável pelos valores e pelo sentido; eu posso agir e emitir juízo de valor com base na vida já dada e valorada; a série de meus atos não parte de mim, eu apenas lhe dou continuidade; (BAKHTIN, 2003)

A alteridade também existe em relação a palavra, com suas assimilações, as

suas várias posições de independência em relação ao falante. As palavras

atribuídas em diferentes planos e em diferentes distâncias em face do plano da

palavra do autor. (BAKHTIN, 2003)

Cronotopia é o sincronismo, a coexistência dos tempos em um ponto do

espaço. A fusão dos tempos, a plenitude e a precisão da visibilidade do tempo no

espaço, a inseparabilidade entre o tempo do acontecimento e o lugar concreto de

sua realização, a relação visível entre os tempos, o caráter criador-ativo do tempo

(do passado no presente e do próprio presente), a necessidade que penetra o tempo

localizado, vincula-o ao espaço e vincula os tempos entre si; por último a inclusão do

futuro que conclui a plenitude do tempo nas imagens de Goethe. (BAKHTIN, 2003)

Tudo leva em si a marca do tempo, a cronotopia, ganhando a sua forma e o

seu sentido. Por isso, para Goethe, não há lugares mortos, imóveis, paralisados, não

existe fundo imutável, não existe decoração nem ambiente que não participe da

ação e da formação. Por outro lado, esse tempo está localizado em um espaço

concreto. (BAKHTIN, 2003)

Rousseau descobriu para a literatura um cronotopo específico: a natureza.

Ele sabia perceber o tempo na natureza. Do fundo cíclico do tempo da natureza

destacaram-se para ele apenas o tempo idílico e o tempo biográfico. (BAKHTIN,

2003)

11

Saturado de tempo também é o folclore; todas as suas imagens são

cronotópicas. O tempo do folclore, a plenitude de tempo, o futuro folclórico, os

medidores humanos do tempo. O folclore local assimila e satura o espaço de tempo,

incorpora-o à história. (BAKHTIN, 2003)

A índole cronotópica do pensamento artístico abrange tanto o elemento

espacial quanto o temporal. O cronotopo de um acontecimento representado, o

cronotopo do narrador e o cronotopo do autor. O espaço ideal e o espaço real nas

artes plásticas. (BAKHTIN, 2003)

4.4. Competências linguísticas

Segundo Koch e Elias (2007), bagagem sociocognitiva é o conhecimento da

língua e das coisas do mundo. As estratégias sociocognitivas realizam o

processamento textual, mobilizam vários tipos de conhecimento que temos

armazenados na memória.

Afirmam (2007, p. 40 a 54) que, para o processamento textual, recorremos a

três grandes sistemas de conhecimento:

Linguístico – abrange o conhecimento gramatical e lexical;

Enciclopédico – conhecimentos gerais sobre o mundo bem como as

vivências pessoais;

Interacional – refere-se às formas de interação por meio de linguagem

e engloba os conhecimentos:

Ilocucional, que nos permite reconhecer os objetivos do autor do

texto;

Comunicacional, que é a quantidade de informação necessária

para o gênero textual;

Metacomunicativo, permitindo ao locutor compreender o texto;

Superestrutural ou conhecimento sobre gêneros textuais, que

permite a identificação de textos aos diversos eventos da vida

social.

Para elas (2007, p. 102 e 103) a competência metagenérica possibilita-nos

interagir de forma conveniente, na medida em que se envolvem nas diversas

práticas sociais. Essa competência possibilita a produção e a compreensão de

gêneros textuais é de fundamental importância para a produção de sentido do texto.

12

Já Orlandi (2003) afirma que na análise de discurso, procura-se

compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, parte do

trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história. Concebe a linguagem

como mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social.

A Análise de Discurso não trabalha com a língua enquanto um sistema

abstrato, mas com a língua no mundo, com maneiras de significar, com homens

falando. (ORLANDI, 2003)

Considera que a linguagem não é transparente. Desse modo ela não

procura atravessar o texto para encontrar um sentido do outro lado, mas sim como

este texto significa. (ORLANDI, 2003)

A Análise de Discurso se constitui no espaço de questões criadas pela

relação entre três domínios disciplinares: a Linguística que tem como objeto a

língua; o Marxismo que trabalha com a forma material; e a Psicanálise que gera uma

relação simbólica com o real da língua e com o real da história. (ORLANDI, 2003)

Análise de Discurso visa fazer compreender como os objetos simbólicos

produzem sentidos, analisando os próprios gestos de interpretação que ela

considera como ato simbólico, pois eles intervêm no real do sentido. (ORLANDI,

2003)

O interdiscurso – a memória discursiva – sustenta o dizer em uma

estratificação de formulações já feitas, mas esquecidas e que vão construindo uma

história de sentidos. (ORLANDI, 2003)

4.5. Esfera de comunicação

Para Sheila Grillo a esfera da comunicação está presente ao longo de toda a

obra de Bakhtin e de seu Círculo. Por um lado está a teorização dos aspectos

sociais nas obras literárias e, por outro, a natureza onipresente e diversa da

linguagem verbal humana. Portanto, a esfera ou campo da comunicação discursiva

é um conceito para compreender o modo de articulação discursiva entre os domínios

da Sociologia, da Linguística e da Teoria Literária. (BRAIT, 2006, p. 133 e 134)

Na construção de um método sociológico para o estudo da linguagem,

Bakhtin e seu grupo se contrapõem às duas orientações do pensamento filosófico

linguístico: o subjetivismo idealista e o objetivismo abstrato. A primeira localiza no

psiquismo individual, o fundamento da língua. Segundo Bakhtin e Voloshinov as leis

13

da criação Linguística são as leis da psicologia individual, e devem ser estudadas

pelo linguista e pelo filósofo da linguagem. Ao colocarem em primeiro plano os

fatores psicológicos e os dados estilísticos individuais, os representantes do

subjetivismo permanecem em uma dimensão monológica da linguagem como

expressão das particularidades do sujeito. (BRAIT, 2006, p. 135)

Bakhtin e Bourdieu formularam suas obras no objetivismo. Sem a visão do

sujeito como consciência livre, autorreflexiva e criadora, própria do subjetivismo, os

dois teóricos se contrapõem a uma concepção da língua e da sociedade, como

sistema sem sujeito. Bakhtin situa as raízes filosóficas do objetivismo no

racionalismo cartesiano do século XVII na França, onde, ainda no início do século

XX, se mantém influente. (BRAIT, 2006, p. 136)

A obra do Círculo de Bakhtin e do sociólogo francês Pierre Bourdieu são

próximas na identificação das linhas mestras do pensamento de suas épocas e nas

críticas que fazem ao subjetivismo e ao objetivismo, com vistas a redimensionar a

inclusão da linguagem, do sujeito, da história, da ideologia e do social no âmbito das

Ciências Humanas. (BRAIT, 2006, p. 137)

Bourdieu concentra-se no estudo da relação entre estruturas sociais e

constituição da subjetividade, enquanto a obra do Círculo privilegia a natureza social

da linguagem. (BRAIT, 2006, p. 137)

Bakhtin e seus companheiros localizam na interação verbal o espaço de

constituição e existência da língua. Bakhtin e Voloshinov afirmam que a verdadeira

substância da língua é feita pelo fenômeno social da interação verbal, realizada

através das enunciações. O conceito de interação verbal concentra os principais

aspectos da teoria dialógica da linguagem, elaborada pelo Círculo a relação do

enunciado com o contexto social imediato e amplo, o modo de constituição da

subjetividade na intersubjetividade e a delimitação do conteúdo temático. (BRAIT,

2006, p. 137 e 138)

A interação se dá entre indivíduos organizados socialmente, o que coloca

em risco condições sócio-históricas de duas ordens. Primeira, a situação social mais

imediata, cujos componentes são o horizonte social comum aos coenunciadores, o

conhecimento e a compreensão da situação, compartilhados pelos coenunciadores,

e a avaliação que eles fazem dessa situação. Segunda, o meio social mais amplo,

definido pelas especificidades de cada esfera da produção ideológica (ciência,

literatura, jornalismo, religião etc.) e pelo “horizonte social” de temas recorrentes, em

14

razão da onipresença social da linguagem verbal e da relação que as esferas

ideológicas estabelecem com a ideologia do cotidiano. Nessa relação entre material

verbal e contexto, o discurso não é concebido como um reflexo da situação, mas

como o seu acabamento avaliativo. Brait vê a participação do interdiscurso que,

apesar de nem sempre explícito, faz parte da produção de sentidos. (BRAIT, 2006,

p. 138)

Em segundo lugar, a consciência individual é constituída no meio social, por

meio de materiais semióticos que a organizam, adquiridos nas interações verbais.

No contexto interior, esses signos assumem novas significações, devido à sua

inserção em um novo contexto vivencial. Sua orientação ideológica ocorre em razão

das duas dimensões sociais descritas. Com isso, a expressão individual já é

dialogicamente orientada, uma vez que se manifestará em razão das condições

sócio-históricas da existência dos sujeitos e da relação com a alteridade.

Poderíamos dizer que o Círculo não apresenta uma teoria propriamente da

subjetividade, mas da intersubjetividade. (BRAIT, 2006, p. 138)

Terceiro, a questão do sentido dos enunciados é resolvida pela distinção

entre significação e tema. A significação se define pelos elementos reiteráveis e

estáveis do sistema linguístico e o tema pelo seu caráter concreto, singular, sócio-

historicamente determinado e irredutível a uma análise totalizante. O tema incorpora

o caráter ativo da compreensão de um enunciado, ou seja, o interpretativo do

coenunciador se dá na sua capacidade de dialogar com o enunciado, por meio da

sua inserção em um novo universo pessoal. Além do tema e da significação, toda

palavra é constituída por “acento de valor ou apreciativo”, cuja manifestação mais

evidente é a entonação expressiva. (BRAIT, 2006, p. 139)

Semelhante à obra do Círculo, Bourdieu concebe que o sentido da

constituição dos sujeitos caminha do social para o individual. Os sujeitos são

formados pela incorporação de disposições produzidas por regularidades objetivas,

situada dentro da lógica de um campo determinado, mas que são redimensionadas

em razão da trajetória individual e da posição ocupada pelo sujeito nesse campo.

(BRAIT, 2006, p. 139 e 140)

Medvedev e Bakhtin destacam a natureza do objeto de estudo que impõe

uma aproximação interdisciplinar, a fim de não mutilar a sua compreensão. Esse

princípio pode explicar a impossibilidade de enquadrar a obra do Círculo em uma

disciplina particular. Já Bourdieu se mostra preocupado com a consolidação da

15

autonomia e da abrangência do campo sociológico, o que explica o seu ataque a

outras disciplinas. (BRAIT, 2006, p. 142)

Primeiramente, o Círculo de Bakhtin e Bourdieu questionaram as mesmas

duas correntes de pensamento: o subjetivismo e o objetivismo. Em seguida, suas

obras apresentaram soluções distintas, mas que partiram de um terreno comum: a

constituição sócio-histórica do sujeito agente que não é um produto de um

determinismo mecânico da estrutura, mas também não é uma individualidade

autoconsciente e livre de coerções. Por fim, os dois elaboraram suas teorias em uma

dialética entre o contexto socioideológico do campo intelectual e a compreensão da

natureza do seu objeto de estudo. (BRAIT, 2006, p. 142)

Em 1928 o Círculo desenvolve o conceito de esfera para explicar a natureza

e as especificidades das produções literárias. A posição do Círculo se constrói no

diálogo com duas correntes teóricas da época: o formalismo russo e o marxismo. O

Círculo se opõe à ideia dos formalistas da existência de um núcleo imanente dos

estudos literários, o qual escaparia às influências das transformações

socioeconômicas e das outras esferas ideológicas, mas sem negar o modo próprio

de refratar esses domínios externos. (BRAIT, 2006, p. 142)

Bakhtin defende que Dostoiévski não inventava as ideias encarnadas por

suas personagens, mas a apreendia a partir da realidade de sua época. O

romancista não copiou nem expôs esses protótipos, mas os reelaborou de maneira

artística, convertendo-os em imagens artísticas vivas das ideias. Para Bakhtin, essa

reelaboração se deu sob a forma de polifonia em que as ideias eram colocadas em

interação dialógica. Com isso, a obra literária, como produto ideológico, não é nem

cópia do real nem criação, mas um modo próprio de refração da realidade social,

segundo a lógica específica da esfera artística. (BRAIT, 2006, p. 143)

O diálogo com o marxismo aparece mais completa em 1929, em que se

busca superar a visão determinista e mecanicista proveniente da ortodoxia marxista,

da influência dos fatos da base socioeconômica comum sobre os produtos

ideológicos. Nesse sentido, a noção de esfera da comunicação discursiva (ou da

criatividade ideológica, ou da atividade humana, ou da comunicação social, ou da

utilização da língua, ou simplesmente ideologia) é compreendida como um nível

específico de coerções que, sem desconsiderar a influência da instância

socioeconômica, constitui as produções ideológicas, segundo a lógica particular de

cada esfera/campo. (BRAIT, 2006, p. 143)

16

Segundo Bakhtin e Voloshinov, no domínio dos signos, isto é, na esfera

ideológica, existem diferenças profundas, pois este domínio é o: da representação,

do símbolo religioso, da fórmula científica, da forma jurídica etc. Cada campo da

criatividade ideológica tem seu próprio modo de orientação para a realidade e refrata

a realidade à sua própria maneira. Cada campo dispõe da sua própria função no

conjunto da vida social. É seu caráter semiótico que coloca todos os fenômenos

ideológicos sob a mesma definição geral. (BRAIT, 2006, p. 143 e 144)

A obra do Círculo caracteriza-se por admitir as especificidades coercivas de

cada campo/esfera e por assentar a sua natureza comum sobre a constituição

semiótica, em especial no signo linguístico. A onipresença social da palavra, ou seja,

a sua influência em todos os campos ideológicos confere-lhe o estatuto privilegiado

para o estudo da organização dos diversos campos. (BRAIT, 2006, p. 144)

Uma vez que o signo ideológico, e em especial o linguístico, só ocorre entre

indivíduos socialmente organizados, ou seja, na interação verbal, este é o lugar de

existência da psicologia do corpo social e de contato entre a base socioeconômica

comum e as diversas esferas ideológicas. A interação verbal foi apontada, por

Bakhtin e Voloshinov, como o objeto de reflexão alternativo às correntes reinantes

do objetivismo e do subjetivismo. Na interação verbal, materializam-se a língua, os

signos ideológicos, a intersubjetividade, a articulação fatores externos/internos à

esfera. Sobre isso, o Círculo estabelece uma distinção entre ideologia do cotidiano e

os sistemas ou esferas ideológicas constituídas. A ideologia do cotidiano está ligada

à palavra interior e acompanha todos os gestos e atos da consciência humana,

ponto de partida para a constituição das esferas ideológicas, mas também sofre

delas a influência. Voloshinov e Bakhtin fazem uma distinção entre o nível inferior da

ideologia do cotidiano, em que o fator biográfico e o biológico têm papel importante;

e seus níveis superiores, caracterizados pelo contato direto com os sistemas ou

esferas ideológicas e mais suscetíveis à sua influência. A obra do Círculo

estabelece, na teorização das esferas, a distinção e a relação entre as interações

que ocorrem na ideologia do cotidiano e aquelas que ocorrem nos sistemas ou

esferas ideológicas constituídos. (BRAIT, 2006, p. 144 e 145)

Bakhtin examina o papel do discurso alheio no romance, ao mesmo tempo

em que trata da presença e transmissão em outros domínios da vida e da criação

ideológica, ou seja, dos campos/esferas. A palavra alheia desempenha um papel

fundamental na formação ideológica do homem e se apresenta como palavra

17

autoritária e como palavra interiormente persuasiva. A palavra autoritária exige

reconhecimento e assimilação, uma vez que está associada às posições de poder

das diversas esferas ideológicas – família, escola, religião etc. A palavra

interiormente persuasiva está entrelaçada com as palavras do homem em formação

e é fundamental para o seu processo de independência, está presente em todos os

domínios ou esferas da criação ideológica. Após essa distinção, Bakhtin passa a

examinar a presença e o papel da palavra alheia em diversas esferas. Portanto, as

esferas são determinantes para a compreensão da presença e do tratamento dado à

palavra alheia. (BRAIT, 2006, p. 144 e 145)

4.6. Gêneros discursivos

No texto sobre os gêneros do discurso, de Bakhtin, a noção de esfera/campo

surge como uma dificuldade de teorização dos gêneros é associada, entre outros, à

sua grande diversidade decorrente da complexidade das esferas da atividade

humana. (BRAIT, 2006, p. 145)

Para colocar suas ideias, para fazer críticas, comentários, registros do

cotidiano, reportagens etc. usamos gêneros do discurso, que é denominado como

sendo cada uma das esferas de utilização da língua que elabora seus tipos

relativamente estáveis de enunciados. (BAKHTIN, 2003)

Para Bakhtin (2003) os gêneros do discurso podem ser: primários, que são

gêneros usados no cotidiano e exigem menos domínio e recursos linguísticos; e

secundários, que aparecem em uma comunicação cultural mais complexa. Durante

o processo de sua formação, esses gêneros secundários absorvem e transmutam os

gêneros primários. (BAKHTIN, 2003)

Ao questionar a falta de critérios unificados para a classificação dos gêneros

discursivos, Bakhtin atribui essa falha à incompreensão da natureza do gênero dos

estilos de linguagem e da ausência de uma classificação bem pensada dos gêneros

discursivos por campos de atividade. Bakhtin demonstra a importância da noção

esfera/campo para a compreensão da natureza e a consequente classificação dos

gêneros. Em seguida, o autor passa a investigar as características das unidades da

enunciação e das unidades da língua (oração e palavra). A noção de esfera permeia

a caracterização do enunciado e dos seus tipos estáveis. Os gêneros, no que diz

respeito ao seu tema, à sua relação com os elos procedentes (enunciados

18

anteriores) e com os elos subsequentes (a atitude responsiva dos coenunciadores).

(BRAIT, 2006, p. 145 e 146)

O tema se refere ao modo de relação do enunciado com o objeto do sentido;

ele é de natureza semântica. Nessa relação, o tema caracteriza-se por atribuir uma

apreensão delimitadora do objeto do sentido e por compor-se de uma expressão

valorativa, uma vez que não há neutralidade no domínio do enunciado. A relação

deste com o seu referente é condicionada pelo campo da comunicação discursiva.

(BRAIT, 2006, p. 147)

O diálogo do enunciado com os elos precedentes, que podemos nomear sob

os títulos de interdiscurso e de intertexto, é condicionado pela identidade e pelas

coerções de um determinado campo. (BRAIT, 2006, p. 147)

A relação do enunciado com seus coenunciadores – a antecipação de sua

atitude responsiva, o conhecimento de sua posição social, seus gostos, suas

preferências etc. – também é condicionada pelas especificidades de um campo.

(BRAIT, 2006, p. 147)

Organizados pelo campo/esfera, esses três aspectos dos enunciados a

elaboração do tema é motivada pela reação a enunciados precedentes sobre o

mesmo tema e pela antecipação da posição responsiva do destinatário. O

campo/esfera é um espaço de refração que condiciona a relação enunciado/objeto

do sentido, enunciado/enunciado, enunciado/coenunciadores. (BRAIT, 2006, p. 147)

A noção de campo/esfera se constitui em importante alternativa para pensar

as especificidades das produções ideológicas (obras literárias, artigos científicos,

reportagens de jornal etc.), sem cair na visão imanente da obra de arte do

formalismo nem no determinismo do marxismo ortodoxo. As esferas dão conta da

realidade plural da atividade humana. Essa diversidade é condicionadora do modo

de apreensão e transmissão do discurso alheio, bem como da caracterização dos

enunciados e de seus gêneros. (BRAIT, 2006, p. 147)

Bourdieu define campo como “o lugar de uma luta para determinar as

condições e os critérios de pertencimento e hierarquia legítimos”, sendo que o

conceito de campo coloca-se como alternativa tanto ao formalismo quanto ao

marxismo. (BRAIT, 2006, p. 148)

Assim como o Círculo, Bourdieu desenvolve o conceito de campo, a fim de

explicar a complexidade das produções ideológicas. Dessa forma, o conceito de

19

campo de Bourdieu aparece como um espaço social de transformação das

demandas externas. (BRAIT, 2006, p. 148)

Uma das manifestações da autonomia do campo é sua capacidade de

refratar, reduzindo sob uma forma específica as pressões ou as demandas externas.

(BRAIT, 2006, p. 148)

Quanto mais autônomo for um campo, maior será o seu poder de refração e

mais as imposições serão transfiguradas, a ponto de se tornarem perfeitamente

irreconhecíveis. O grau de autonomia de um campo tem por indicador principal seu

poder de refração, de retradução, as demandas externas. (BRAIT, 2006, p. 148)

O campo é como um espaço social capaz de refratar, traduzir ou transformar

as demandas externas, sobretudo da base socioeconômica comum. Busca-se

escapar à visão de que os produtos ideológicos refletem diretamente as

transformações políticas, sociais e econômicas, tirando-lhes a sua autonomia social

e também, na visão bakhtiniana, semiótica. (BRAIT, 2006, p. 148)

Primeiramente, o campo é uma rede de relações objetivas entre posições e

se constitui em um espaço de lutas, onde os agentes assumem posições segundo

quatro coerções: a relação com o habitus, ou seja, as disposições incorporadas sob

a forma de modos de agir, preferências; o capital simbólico, decorrente da posição

ocupada no campo e do consequente reconhecimento pelos pares; o capital

econômico, proveniente da herança e da renda; e as possibilidades e as

impossibilidades oferecidas por um campo aos seus agentes, segundo as

disposições por eles incorporadas. Esse espaço social define-se por um sistema de

propriedades relativas, isto é, as posições são apreendidas por suas relações

recíprocas em um dado momento da existência do campo, portanto, social e

historicamente situadas. As posições relativas comandam as tomadas de posição

que se definem pelo espaço apresentados na herança acumulada pelo trabalho

coletivo. (BRAIT, 2006, p. 149)

Na obra do Círculo não é indiferente às posições relativas dos enunciados

em um dado campo. Porque o enunciado ocupa uma posição definida em uma dada

esfera da comunicação, em um dado assunto, é impossível definir sua posição sem

correlacioná-la com outras. Por isso, cada enunciado possui variadas atitudes

responsivas a outros enunciados de uma esfera. (BRAIT, 2006, p. 149)

20

A especificidade está no enfoque dado à linguagem e na concepção de que

a posição relativa de cada enunciado se manifesta na sua atitude responsiva em

relação aos demais de uma determinada esfera. (BRAIT, 2006, p. 149)

Um segundo aspecto do campo é sua relação de maior ou menor

independência com as condições econômicas de existência. Bourdieu mostra que as

sanções dos campos literário, artístico ou científico advêm do reconhecimento do

capital simbólico, isto é, do conhecimento e do reconhecimento que os pares fazem

da trajetória e do prestígio pessoal, decorrente das produções por eles valorizadas.

Essas sanções são inversas à lógica econômica. (BRAIT, 2006, p. 149)

Outro componente diz respeito à relação hierárquica entre os gêneros do

discurso que o campo causa e que nele circulam. Essa hierarquia estabelece uma

gradação entre os gêneros que melhor representam o campo e aqueles que estão

em suas margens. O prestígio do agente se mede pelo modo de acesso aos

gêneros “maiores” e aos “menores”. O valor do gênero pode ser medido pelas

características do seu público-alvo: em determinados campos, os gêneros voltados

aos pares costumam ser mais valorizados do que os produzidos para agentes

externos. (BRAIT, 2006, p. 150)

Um quarto aspecto refere-se ao fato de que o processo histórico de

formação do campo acompanha-se de uma reflexão sobre os gêneros e as obras

nele produzidas. (BRAIT, 2006, p. 150)

Para Bourdieu, a percepção exigida pela obra produzida na lógica do campo

é uma percepção diferencial, comprometendo na percepção de cada obra singular o

espaço das obras compossíveis, logo, atenta e sensível às variações com relação a

outras obras, contemporâneas e também passadas. (BRAIT, 2006, p. 150 e 151)

O quinto aspecto compreende a elaboração de uma linguagem própria que

seja parte do processo de emergência de um campo. Todos os campos produzem

uma linguagem própria. Essa linguagem elabora esquemas de classificação e de

apreciação que visam, dentro da lógica interna do campo, construir hierarquias e

modos de percepção. (BRAIT, 2006, p. 151)

A autonomia do campo pode se construir sob o preceito da primazia da

forma sobre a função, ou estilo sobre o conteúdo: coagir a linguagem para coagir a

atenção para a linguagem, tudo isso equivale a afirmar a especificidade e o caráter

insubstituível do produto e do produtor, ressaltando o aspecto mais específico e

mais insubstituível do ato de produção. (BRAIT, 2006, p. 151)

21

A noção de campo remete sempre a uma realidade social plural, isto é, à

diversidade de manifestações da atividade humana e de seus modos de

organização em uma dada formação social. Essa pluralidade se deve a dois

componentes inter-relacionados constitutivos do campo: a sua autonomia relativa e

a sua capacidade de refração das demandas externas. A autonomia se mede pela

capacidade de transformar as demandas externas, originárias das outras esferas e

de uma base socioeconômica comum. A refração ou transformação ocorre em razão

das relações objetivas entre os agentes, as instituições, e do diálogo entre as dobras

de um campo. (BRAIT, 2006, p. 152)

Há três campos: o científico, que a divulgação costuma assumir a forma do

gênero artigo, com um público-alvo mais restrito, normalmente composto por

cientistas, universitários e pós-graduandos; o educacional, que está presente em

gêneros como livros e manuais didáticos, a aula etc., seu público-alvo é composto

por estudantes divididos por faixa etária e nível de escolaridade, os quais, quando

inseridos na instituição universitária, podem vir a se tornar pares do campo científico;

e o jornalístico, que toma a forma dos gêneros notícia, reportagem, artigo, perguntas

do leitor, ele se dirige a um público amplo, variável em função do meio tecnológico

de difusão, e recebe o nome de jornalismo científico. Cada um deles é formado por

gêneros próprios, que representam um segundo nível de coerções ou de normas.

(BRAIT, 2006, p. 152 e 153)

A divulgação da ciência em jornais e revistas assume particularidades

discursivas que são produzidas por cinco coerções constitutivas do campo/esfera

jornalístico:

1. A atualidade caracteriza o jornalismo com um relato dos

acontecimentos contemporâneos à sua realização. Esse aspecto é responsável

pela falta de perspectiva histórica dos fatos narrados, que são apresentados como

um presente sem história.

2. A periodicidade está na base do ritmo das publicações.

3. A informatividade estabelece uma relação de interlocução jornalística,

baseada na detenção de uma informação pelo jornalismo e no interesse do leitor

em obtê-la.

4. A objetividade é produzida por meio de recursos enunciativos que

mostram os acontecimentos noticiados como anteriores e independentes da

instância jornalística, cujo papel é registrar e relatar fatos de forma imparcial. No

22

gênero reportagem jornalística, a objetividade é produzida com a utilização

maciça do discurso citado de atores possuidores de legitimidade social para falar

sobre o tema. Essa utilização produz o efeito de duplicação do real ou de

reprodução das falas dos envolvidos nos fatos.

5. A captação do leitor é constitutiva do caráter comercial dos veículos de

comunicação de massa, os quais sobrevivem da venda do seu produto. (BRAIT,

2006, p. 152 a 155)

A linguagem é o terreno comum sobre o qual se assentam todos os

campos/esferas, adquire especificidades e é responsável pela identidade de cada

um deles. (BRAIT, 2006, p. 156)

O campo/esfera é um conceito fundamental para o estudo e a classificação

dos gêneros discursivos. A relação de um texto com outros da mesma espécie

passa pela sua inserção em determinado domínio cultural, adquirindo um modo

próprio de refratar a realidade em seus diversos aspectos. (BRAIT, 2006, p. 156)

5. Percurso histórico

5.1. Dos primórdios à Revolução Industrial: as cidades no mundo

A questão das cidades superlotadas e da necessidade de evasão para o

campo não é nova, já no período do Arcadismo, começa-se a discutir a superlotação

das cidades. Poetas incentivaram as pessoas a irem para o campo, porque para

eles o equilíbrio com a natureza era uma alternativa numa época em que o

desenvolvimento urbano tornava intranquila a vida na cidade. (CANDIDO, 2000). O

princípio do “bom selvagem” é aventado, como afirmava Rousseau, o homem é bom

por natureza, mas a sociedade o corrompe. (ARRUDA, 1978)

O Iluminismo defendia uma sociedade em que os direitos do homem fossem

respeitados. Os soberanos europeus que tentaram conciliar o poder absoluto com

essa ideologia ficaram conhecidos como déspotas esclarecidos, realizaram reformas

sociais preocupados em conter suas manifestações do que em satisfazer suas

necessidades. (ARRUDA, 1978)

Posteriormente, o grande “bum” foi a Revolução Industrial com suas

máquinas de produção em série, desenvolvimento dos meios de comunicação e

23

transporte. Começa claramente o capitalismo, explorando o trabalho infantil e

feminino, as longas jornadas de trabalho e os salários pequenos, evidenciando as

diferenças de classe. (ARRUDA, 1978)

A Revolução Francesa com ideais de liberdade, igualdade e fraternidade

indicava que todos os homens nascessem iguais e livres e tentaram construir um

mundo racional diante desses princípios. Quando a burguesia retomou ao poder

encerrou a Revolução que deixou a Declaração dos Direitos dos Homens e do

Cidadão e o regime republicano. (ARRUDA, 1978)

Com o Neocolonialismo o fator crucial era econômico, com matérias-primas

industriais; socialmente relacionou-se à necessidade de encontrar terras novas, pois,

a população europeia estava crescendo em ritmo acelerado. Esse aumento de

número de pessoas obrigava as sociedades a uma maior produção de bens, de

modo industrializado. Havia superlotação nas cidades com poucas ou quase

nenhuma condição de infraestrutura, as pessoas aglomeravam-se nas ruas, viviam

em condições subumanas. Por conseguinte, o campo esvaziava-se cada vez mais.

Ainda aqui, as condições para a locomoção eram difíceis, embora já houvesse o

transporte a vapor, usado mais para transporte de carga, algumas pessoas com

poder aquisitivo maior podiam utilizar para sua locomoção os carros. Isso não era

pertinente às classes mais baixas. A divisão de classes sociais já há muito estava

estabelecida e se intensificou com a Revolução Industrial. (ARRUDA, 1978)

Na segunda Revolução Industrial destacou-se a fabricação do aço, a energia

elétrica e o petróleo substituíram a energia a vapor. A partir de então, o setor da

comunicação cresceu com a invenção do rádio, telefone, telégrafo e o dos

transportes com a fabricação de automóveis e aviões. (ARRUDA, 1978)

A Primeira Guerra Mundial ocorreu devido à concentração de capitalistas de

um lado e de muitas colonizações do outro. A vitória da Tríplice Entente (Império

Russo, Inglaterra e França) resultou em vários tratados de paz. (ARRUDA, 1978)

O Tratado de Versalhes humilhou a nação alemã e contribuiu para a

ascensão do nazismo e sua política expansionista. A quebra da bolsa em 1929

abalou as democracias liberais, dando espaço às ideias socialistas entre os

trabalhadores e à instalação de regimes totalitários. Esses dois fatores e entre

outros deram iniciativa à Segunda Guerra Mundial. A capacidade bélica que cada

país possuía ficou clara e assustou ao mundo. (ARRUDA, 1978)

24

Terminada a Segunda Guerra Mundial, as grandes cidades europeias

estavam arrasadas, a comunicação e os transportes interrompidos com a destruição

de pontes, rodovias e ferrovias. Os Estados Unidos se tornaram a maior potência

econômica, política e militar do lado capitalista e a União Soviética líder do lado

comunista. (ARRUDA, 1978)

A África e a Ásia ficaram em segundo plano em questão de colonização,

devido ao capitalismo comercial estar cada vez mais em ascensão, voltando à

exploração da América. A consequência disso foi a criação do Terceiro Mundo,

denominação utilizada aos países que mantêm algum vínculo de dependência

econômica com países capitalistas desenvolvidos (Primeiro Mundo) ou com países

socialistas desenvolvidos (Segundo Mundo). (ARRUDA, 1978)

O urbanismo na América Latina está ligado à lenta industrialização

periférica. Em alguns países construída pela massa urbana, classe operária, que

compreendia um grande contingente de imigrantes europeus que fugiam da crise do

pós-guerra. (ARRUDA, 1978)

Esses imigrantes trouxeram seus costumes, seus hábitos que se misturaram

com os que aqui existiam. Junto com essas atividades industriais, desenvolveram-se

transportes, iluminação, sistema financeiro, entre outros. Levou ao crescimento

econômico e ao aumento da população brasileira, de modo bastante acelerado,

porém mal distribuído. (ARRUDA, 1978)

5.2. Brasil: da Colonização a Indústria

Para ocupar o Brasil, os colonizadores exploraram a agricultura. O açúcar

teve importância pelo fato econômico como pelo aumento do território brasileiro.

(REGO e MARQUES, 2003)

O açúcar foi substituído pelo ouro, que perdurou durante um século no

centro da economia. A descoberta do metal ocasionou um movimento migratório

para o Brasil, alterando o perfil populacional, sobretudo pelo surgimento de uma

camada média na escala social. (REGO e MARQUES, 2003)

Durante o século XIX a economia cafeeira estava sobre o regime do trabalho

escravo. Na segunda metade do século, teve introdução ao trabalho livre. A

utilização do trabalho assalariado representou a primeira fase do capitalismo no

Brasil. (REGO e MARQUES, 2003)

25

A formação dos primeiros focos de produção industrial começou no Brasil no

final do século XIX. Surgiu, então, o mercado de mão-de-obra assalariada originado

pela imigração em massa, abolição da escravatura e a intensificação da

deterioração das estruturas pré-capitalistas. (REGO e MARQUES, 2003)

A indústria brasileira tornou-se o principal fator de crescimento do país a

partir da Grande Depressão dos anos 1930, com a quebra da bolsa de valores. O

avanço da industrialização deu-se por meio do processo de substituição de

importações, começando com bens de consumo não duráveis, como alimentos e

tecidos, e evoluindo na direção de bens de consumo duráveis e de capital. (REGO e

MARQUES, 2003)

5.2.1. Pós Guerra e a Economia

O período compreendido entre o pós-guerra e início dos anos 1970 é

conhecido como os 30 anos gloriosos da economia capitalista. No Brasil, o milagre

econômico foi um período de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e da

produção industrial entre 1968 e 1973. A economia brasileira beneficiou-se do

grande crescimento do comércio mundial e dos fluxos financeiros internacionais para

aumentar sua abertura comercial e financeira em relação ao exterior. Observou-se a

predominância dos setores produtores de bens duráveis e de bens de capital, a

partir da estrutura industrial implantada no Plano de Metas, de Juscelino Kubitschek.

(REGO e MARQUES, 2003)

No período 1974-1977, a dívida externa do Brasil cresceu aceleradamente

com o financiamento dos altos déficits em transações correntes. O aumento do

endividamento decorreu também da decisão de implantar o II PND – assumia os

riscos de aumentar provisoriamente os déficits comerciais e a dívida externa, mas

construindo uma estrutura industrial avançada que permitiria superar conjuntamente

a crise e o subdesenvolvimento. O aumento da dívida decorreu dos grandes

investimentos estatais desse período, que foram financiados por empréstimos

externos. Simultaneamente, ocorreu uma retração nos investimentos privados

financiados por esses recursos. Os empréstimos passaram a ser feitos a taxas de

juros variáveis que se tornariam cada vez maiores. (REGO e MARQUES, 2003)

Em 1986 o então presidente José Sarney anunciou à população brasileira

uma reforma das bases que regiam a economia nacional, o Plano Cruzado. As

26

principais medidas tomadas foram: substituição do cruzeiro pelo cruzado; conversão

geral dos preços finais dos produtos; conversão dos salários com base na média do

seu poder de compra nos seis meses anteriores, e mais um acréscimo de 8% para

os salários em geral e de 16% para o salário mínimo; aluguéis e hipotecas seriam

convertidos seguindo-se a mesma fórmula aplicada aos salários, mas sem o

aumento de 8%; introdução da garantia de um reajuste salarial automático; proibição

da indexação em contratos com prazo inferior a um ano; conversão dos contratos

previamente estabelecidos em cruzeiros para cruzados. (REGO e MARQUES, 2003)

Em 1987, Luiz Carlos Bresser Pereira, lançou o Plano de Estabilização

Econômica, Plano Bresser, que é um pacote híbrido, com elementos ortodoxos e

heterodoxos. O plano não visava atingir inflação zero nem eliminar a indexação, mas

apenas controlar os índices para evitar que se estabelecesse uma hiperinflação. As

taxas de juros reais foram mantidas elevadas para inibir o consumo de bens

duráveis. (REGO e MARQUES, 2003)

Já Maílson Nóbrega, em 1988, estabeleceu a política do feijão-com-arroz

com objetivo de cortar o déficit operacional de 8% para 4% e reter a inflação ao

redor dos 15% ao mês. Dentre as medidas tomadas para suspensão temporária dos

reajustes do funcionalismo público e o adiamento dos aumentos de preços

administrados. (REGO e MARQUES, 2003)

Em 1989, foi anunciado o Plano Verão. Com características também

heterodoxas e ortodoxas. Foi o terceiro choque econômico e a segunda reforma

monetária do governo Sarney. Criou-se uma nova unidade monetária, o cruzado

novo. O Plano procuraria contrair a demanda agregada e promover a queda das

taxas reais de juros elevadas, restrição do crédito ao setor privado, desindexação e

promessa de ajuste fiscal. (REGO e MARQUES, 2003)

Em seguida, em 1990, o Plano Collor I combinava confisco dos depósitos à

vista e aplicações financeiras e a chamada “reforma administrativas”, que implicou o

fechamento de inúmeros órgãos públicos e demissão de grande quantidade de

funcionários. (REGO e MARQUES, 2003)

Em 1990 também teve a proposta de Diretrizes Gerais para a Política

Industrial e de Comércio Exterior (Pice). O objetivo da nova política industrial,

apontado no documento, era o aumento da eficiência na produção e comercialização

de bens e serviços, com base na modernização e reestruturação da indústria.

(REGO e MARQUES, 2003)

27

Em 1991, o Plano Collor II em situação de desespero devido à aceleração

da inflação. Mais uma vez não teve o congelamento de preços e salários e da

unificação das datas-base de reajustes salariais, além de novas medidas de

contração monetária e fiscal. (REGO e MARQUES, 2003)

O ministro da Economia do governo Itamar Franco, Fernando Henrique

Cardoso, em 1993 implantou um plano econômico de estabilização conhecido como

Plano Real. O plano serviu para: estabelecimento do equilíbrio das contas do

governo, objetivando eliminar a principal causa da inflação; criação de um padrão

estável de valor, a Unidade Real de Valor (URV); emissão de uma nova moeda

nacional com poder aquisitivo estável, o real. (REGO e MARQUES, 2003)

5.3. População: ocupação e industrialização em São Paulo

Em relação à população brasileira houve um acréscimo de mais de 20 anos

a esperança de vida da população brasileira desde 1940. Apesar da esperança de

vida ser desigual entre as regiões do país, essa diferença vem diminuindo ao longo

dos anos, por exemplo: em 1940, a diferença entre o Nordeste e o Sul era de 12

anos; em 1990, ficou reduzida a 4,46 ano. (REGO e MARQUES, 2003)

No âmbito do estado de São Paulo, seu desenvolvimento acompanhou essa

vinda dos imigrantes e o seu povoamento do se fez em função de fatores

econômicos distintos: colonização e expansão territorial; expansão cafeeira;

expansão industrial; expansão da policultura; e integração econômica.

(MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

A marcha do povoamento foi de base europeia em São Paulo. Os primeiros

indícios de colonização do Estado podem ser encontrados com os náufragos e as

expedições portuguesas cujas ações não se restringiram apenas ao litoral. Os

jesuítas fundaram o colégio de Piratininga, na tentativa da catequização dos

indígenas, em 1554, quando foi criada a vila de São Paulo de Piratininga, atual São

Paulo. (MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

O grande fator de povoamento do estado é o café, que se torna significativo

em 1830-1840; o café levou o povoamento ao planalto ocidental de São Paulo,

alcançando o oeste paulista rapidamente e ultrapassando as fronteiras estaduais. A

expansão do café, em 1850, criou cidades e núcleos produtores, cujas

características sócio-econômicas constituíam a base do povoamento. Assim, de

28

1836 a 1854, a população paulista se elevara de 231 mil para 322 mil.

(MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

Em 1886 a população de São Paulo já atingia 1.036.000 habitantes e em

1920 chegava a 3.652.774. Esse aumento, talvez, se deva ao fato de que o ano de

1920 tenha sido o mais importante para o progresso da cafeicultura, devido aos altos

preços obtidos no mercado internacional e à considerável exportação.

(MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

Em 1900, São Paulo contava com alguns estabelecimentos fabris,

principalmente têxteis. Em 1919, São Paulo possuía 4145 estabelecimentos,

registrava-se, então, a diversificação industrial, destacando-se as indústrias têxteis,

de alimentação, vestuário e toucador, metalurgia e produtos químicos.

(MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

Ao término da Primeira Guerra Mundial, o surto de industrialização em São

Paulo constituía apoio indispensável ao crescimento urbano e demográfico. Em

1920, 4.592.188 habitantes para o estado, dos quais 579 mil eram paulistanos.

(MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

A mudança da sociedade rural, patriarcal e tradicionalista, para a sociedade

urbano-industrial modifica as taxas de natalidade, dada a introdução de novo valores

no grupo, os quais diferem dos referentes à prole numerosa. (MARCONDES e

PIMENTEL, 1968)

O ingresso de escravos teve forte impacto na população de São Paulo no

último quartel do século XIX. Assim, também, o imigrante europeu alterou os grupos

étnicos presentes no estado de São Paulo. Com o início da Segunda Guerra Mundial

a imigração europeia para São Paulo teve seu fim. (MARCONDES e PIMENTEL,

1968)

Entre 1900 e 1939, o estado de São Paulo recebeu 2.215.639 imigrantes,

tanto estrangeiros como nacionais. Em 1950, pouco mais de 10% da população de

São Paulo havia nascido em outros estados, pouco se comparado a estrangeiros.

No conjunto do estado os migrantes nacionais ultrapassavam os oriundos de outros

países. (MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

A participação das atividades primárias na renda do estado diminuiu,

passando de 30% para 23,4%, enquanto as atividades secundárias se elevaram de

25% para 33,2% refletindo a industrialização alcançada. A do setor terciário se tem

mantido entre 45% e 43%. As alterações na estrutura da economia paulista revelam

29

que as forças atuantes no seu crescimento já não são a agricultura, mas sim a

industrialização. (MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

5.4. Indústria automobilística, história e repercussão em São Paulo

A indústria paulista experimentou alterações na sua estrutura. No período de

1949-1958 a participação da indústria têxtil e a de produtos alimentares caíram. No

mesmo período, a participação das indústrias metalúrgicas e mecânica e a da

indústria química e farmacêutica elevaram-se. Assim como o conjunto das indústrias

de material de transporte, material elétrico e comunicação. (MARCONDES e

PIMENTEL, 1968)

A indústria automobilística fez aumentar a intensidade de tráfego rodoviário.

O transporte conseguiu expandir-se graças às vantagens que oferece tais como:

flexibilidade e rapidez. Sua expansão, porém, se deu por causa da expansão da

ferrovia. (MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

Os estabelecimentos fabris no estado de São Paulo eram apenas 165 em

1900, passa para 34.864 em 1964. Esses dados revelam um progresso realizado

pelas atividades industriais de São Paulo nas últimas seis décadas, que marcam

precisamente seu nascimento e desenvolvimento considerável, e que o definem

como o maior parque fabril do país e um dos maiores de todo o mundo.

(MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

Nos primeiro anos seguintes ao descobrimento, a única via existente para

comunicação entre os poucos lugares então povoados era o mar. Os meios de

transporte terrestre – a mula, a tropa, o cavalo etc. – serviam precariamente, visto

que não havia estradas ou mesmo caminhos permanentes. (MARCONDES e

PIMENTEL, 1968)

Em 1808, com a vinda da família Real, muitos homens vêm para o Brasil à

procura de novas fontes de riqueza. Surgem estradas e pontes a fim de atender,

ainda de modo primitivo, as necessidades de transporte. As tropas de mulas são

parcialmente substituídas por carroças e carros, e o transporte se torna mais

eficiente. (MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

Com a rarefação do ímpeto cafeeiro e paralela evolução industrial, as

necessidades de transporte foram alteradas profundamente. Enquanto a ferrovia

precisa de grandes aglomerações de carga para ser econômica, a rodovia, por exigir

30

apenas uma complementação de investimentos, pode suportar uma menor

densidade de tráfego. (MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

Em 1968, a inadequação e a incapacidade do sistema de transporte urbano

com a consequente desorganização do trânsito eram as principais responsáveis pelo

problema que acarreta, anualmente, um prejuízo estimado de 100 milhões de

dólares. Os desperdícios advinham do consumo de combustível e das horas

perdidas em congestionamentos e na queda da produção e da produtividade dos

usuários dos serviços de transporte coletivo. (MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

Em 1968, não se podia mais fazer a cidade evoluir a ponto de sequer

acompanhar o número de veículos que eram diariamente integrados ao total já

existente. (MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

5.5. Trânsito na cidade de São Paulo

Hoje, o problema continua, a locomoção no interior da cidade é, talvez, um

dos aspectos mais exaustivos da vida dos moradores da cidade de São Paulo. Os

automóveis são o meio de transporte mais utilizado pelas classes média e alta, e a

classe trabalhadora depende, desde o final da década de 1930, de serviços de

ônibus. (KOK, 2004)

Para melhorar a qualidade de transporte público da capital paulista, no final

da década de 1960 tiveram início as obras do metrô. Em setembro de 1974 foi

inaugurada a Linha 1 Azul. Hoje a rede de metrô soma 65,3 quilômetros de extensão

e a rede de trens 260,8 quilômetros (dados da Companhia do Metropolitano de São

Paulo e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, março de 2012) e ainda é

insuficiente para atender as necessidades da população. (KOK, 2004)

Existem quatro maneiras pelas quais os veículos são usados em conexão

com as atividades humanas, e em relação às quais se deve fazer o planejamento

dos transportes:

Transporte de matérias-primas, mercadorias e alimentos;

Transporte coletivo de passageiros;

Transporte de pessoas individualmente ou em pequeno número;

Serviços móveis (bombeiros, ambulância, polícia etc.). (MARCONDES

e PIMENTEL, 1968)

31

O crescimento dos meios de transporte da cidade verifica-se que enquanto

os de força animada tendem a desaparecer, os transportes coletivos diminuíram sua

participação, já que ônibus e táxis não acompanharam o aumento da população. Há

em contrapartida, um aumento desproporcional dos veículos particulares como

consequência da política nacional nesse setor, da elevação do nível de renda da

população, mas, sobretudo, em virtude da maior rapidez e conforto deste meio.

(MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

De acordo com os resultados dos censos de 1940, 1950 e 1960, a

população urbana do estado passou de 37,4% para 39,9%, nas primeiras décadas,

para 66% no último período. (MARCONDES e PIMENTEL, 1968)

5.5.1. Violência no trânsito de São Paulo

Conforme o art. 1°, § 1° do Código de Trânsito Brasileiro (CTB, 2008, p. 9)

considera-se trânsito como “a utilização das vias por pessoas, veículos e animais,

isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada,

estacionamento e operação de carga ou descarga”. No Anexo I – Dos Conceitos e

Definições (CTB, 2008, p. 106), trânsito é a “movimentação e imobilização de

veículos, pessoas e animais nas vias terrestres”.

A violência no trânsito decorre, principalmente, de fatores humanos e ligados

ao veículo. No primeiro caso podemos verificar a desatenção, cansaço, consumo de

álcool ou droga, excesso de velocidade, desrespeito a distância mínima entre

veículos, ultrapassagem indevida, imprudência de pedestres, de ciclistas, de

motociclistas e entre outros fatores humanos. No segundo o choque entre os

veículos (causado, muitas vezes, pelo primeiro fator), defeitos de manutenção e

outros. (retirado do site Vias Seguras)

Há três fases no transporte:

Pré-código de trânsito, até 1996: quando se alastra as constantes

mortes por acidentes de transporte que vinham sendo observadas

desde a década de 1980. As taxas anuais de crescimento de

mortalidade foram de 7,2% ao ano;

Impacto do Código, de 1997 a 2000, vigência do novo Código: as taxas

começam a cair, com um ritmo médio de 7,5% ao ano na população

total e 7,7% na população jovem;

32

Pós-Código, a partir do ano 2000: interrompem as quedas do período

anterior e as taxas começam a crescer novamente. Entre 2000 e

2008, a taxa de crescimento anual foi de 2,1%. (WAISELFISZ, 2011)

De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET):

atropelamento é a batida de um veículo contra um pedestre; colisão é a batida de

dois veículos em movimento; e choque é a batida de um veículo contra um obstáculo

fixo. (retirado do Relatório Anual da CET, 2012)

Em 2011 o número de acidentes fatais no trânsito é de 1365 com divisões

em: 596 de pedestres atropelados e mais outros casos, em um total de 617;

motoristas/passageiro, 187; motociclistas, 512; e ciclistas, 49. (retirado do Relatório

Anual da CET, 2012)

Em comparação com ano anterior, 2010, o número de mortes: de pedestres

diminui de 630 para 617; motoristas/passageiros de 200 para 187; motociclistas com

aumento de 478 para 512; ciclistas manteve o número 49. O total de mortes no

trânsito em 2010 foi de 1357 e 2011 obteve um pequeno aumento, 1365. (retirado do

Relatório Anual da CET, 2012)

A localização geocodificada dos maiores atropelamentos de acidentes de

trânsito fatais em 2011 concentra-se no centro da cidade de São Paulo. Em relação

a distribuição dos acidentes fatais por subprefeitura, os maiores números estão na

subprefeitura: da Sé, com 79; Capela do Socorro, 75; Vila Prudente/Sapopemba, 68;

e M’Boi Mirim, 62. Os menores números estão nas subprefeituras: de Parelheiros,

10; Cidade Tiradente, 13; Ermelíneo Matarazzo, 14; e Perus, 19. (retirado do

Relatório Anual da CET, 2012)

A avenida com mais acidentes de trânsito fatais é a Marginal Tietê, mesmo

com diminuição se comparado com 2008, 58 para 54 em 2011. (retirado do Relatório

Anual da CET, 2012)

Os veículos envolvidos nos acidentes de trânsito fatais estão:

Nos atropelamentos (veículo atropelante) – 232 automóveis, 112

motocicletas, 109 ônibus, 48 caminhões;

Nos choques – 86 automóveis, 103 motocicletas, 1 ônibus, 7

caminhões e 5 bicicletas;

Nas colisões – 1 bicicleta com bicicleta, 3 caminhões com bicicletas, 2

caminhões com caminhões, 12 ônibus com bicicletas, 2 motociclistas

com bicicletas, 53 motocicletas com caminhões, 61 motocicletas com

33

ônibus, 12 motocicletas com motocicletas, 16 automóveis com

bicicletas, 17 automóveis com caminhões, 20 automóveis com ônibus,

153 automóveis com motocicletas e 34 automóveis com automóveis.

(retirado do Relatório Anual da CET, 2012)

O perfil das vítimas mortais dos acidentes de trânsito são: 617 pedestres,

454 sendo masculinos, a idade média é de 50 anos; 187 motoristas/passageiros,

141 masculinos, idade média de 36 anos; 512 motociclistas, 471 masculinos, idade

média de 28 anos; e 49 ciclistas, 47 masculinos, idade média de 37 anos. (retirado

do Relatório Anual da CET, 2012)

5.6. Cidadania, ética e moral

Todos esses acontecimentos levaram a uma grande modificação dos

costumes, ritmos e ao questionamento dos valores de cidadania, ética e moral da

sociedade que, por conseguinte, ficaram um pouco esquecidos.

5.6.1. Cidadania

A prática da cidadania não se limita no consumo crescente de bens e de

serviços públicos, compondo-se também na efetiva participação dos cidadãos no

exercício do poder que delibera sobre tais serviços. (LERNER, 1998)

A cidadania significa o amplo e pleno exercício dos direitos fundamentais,

incluindo os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. É a prática de

vida em todas as instâncias de convívio social dos indivíduos: na família, na escola,

no trabalho, na comunidade, na igreja e no conjunto da sociedade. (LERNER, 1998)

A cidadania é a mais avançada conquista dos direitos humanos e se realiza

na vida cotidiana. (LENER, 1998)

A "democracia", "justiça" e "cidadania" não são presentes concedidos de

cima para baixo, mas um trabalho permanente e engajado da sociedade. Somos nós

e apenas nós que construímos a cidadania. (LENER, 1998)

"Cidadão é o indivíduo que tem consciência de seus direitos e deveres e

participa ativamente de todas as questões da sociedade. Um cidadão com um

sentimento ético forte e consciência da cidadania não deixa passar nada, não abre

mão desse poder de participação (...). A ideia de cidadania ativa é ser alguém que

34

cobra, propõe e pressiona o tempo todo. O cidadão precisa ter consciência de seu

poder." Estas são as palavras de Betinho, símbolo brasileiro da construção da

verdadeira cidadania, a ativa. (LENER, 1998)

O conceito de cidadania vem sendo largamente difundido, por políticos, pela

sociedade civil organizada, pelos meios acadêmicos etc. Porém, a prática é

inversamente proporcional a sua difusão. Talvez, dois sejam os motivos para essa

realidade: o primeiro, a discrepância entre as diversas maneiras de se pensar o

exercício da cidadania; o segundo, a desunião entre os diversos setores que, afinal,

buscam o mesmo ideal. (LENER, 1998)

A Constituição brasileira de 1988 aponta para o conceito de cidadania como

conjunto de direitos, mas igualmente de deveres. Interpretando a Constituição,

teríamos cidadania como coragem de participar dos esforços em criar a sociedade

livre, justa e solidária de que trata a Constituição (artigo 3º, I). (LENER, 1998)

Três ideias são básicas para a construção desse novo conceito de

cidadania: uma nova visão dos direitos humanos, o estabelecimento de uma ética da

solidariedade e a necessidade de parcerias criativas entre Estado e sociedade no

exercício do dever de convivência. (LENER, 1998)

A luta pela cidadania é uma luta contra preconceitos, uma luta contra o

individualismo exacerbado, em favor da solidariedade ativa. (LENER, 1998)

A prática da cidadania não se limita nem se esgota na demanda e no

consumo crescente de bens e de serviços públicos, constituindo-se também na

efetiva participação dos cidadãos no exercício do poder que delibera sobre tais

serviços. Se ficarmos apenas no terreno das reivindicações, o Estado permanecerá

como doador e não como servidor da cidadania. Porém, como a maioria da

população paulistana e brasileira mal experimenta o direito e o desempenho de

deveres nas áreas essenciais da vida social (saúde, educação, moradia, transporte

etc.), quase nenhuma brecha se abre para a discussão da construção de um poder

do qual se participe e o qual se tenha nas mãos. (LENER, 1998)

A Constituição de 1988 emana princípios de respeito à cidadania, à

autonomia do homem, à inviolabilidade da vida e o direito à saúde. (LENER, 1998)

A cidadania e os direitos humanos identificam-se em geral com

problemáticas voltadas à violência, à discriminação, à impunidade, à desigualdade,

dentre outras questões. (LENER, 1998)

35

Contudo, as relações existentes no trânsito e em sua dinâmica simbolizam

de forma concreta como a cidadania se desenvolve diariamente, como as pessoas

atuam no âmbito do espaço público, o grau de respeito aos direitos, o grau de

cumprimento aos deveres, a agressividade no trânsito, o padrão de indisciplina, os

tantos acidentes e as tantas mortes. Em suma, as relações vividas no trânsito

refletem o modo pelo qual os indivíduos internalizam (ou não) as regras de respeito

à segurança, à vida, à liberdade individual e coletiva. Neste contexto, a soma de

performances individuais aponta à resultante do coletivo, que espelha o grau de

civilidade ou barbárie alcançado. (LENER, 1998)

Civilidade, segundo o dicionário de língua brasileira Aurélio, é um conjunto

de formalidades observadas pelos cidadãos entre si em sinal de respeito mútuo e

consideração.

A cidadania significa o amplo e pleno exercício dos direitos fundamentais,

incluindo os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Implica sempre

no exercício de direitos conjugado com a observância de deveres, o que compõe

uma gramática marcada pela corresponsabilidade social. (LENER, 1998)

A ideia de corresponsabilidade social inaugura uma nova era no processo de

construção da cidadania. Nela os indivíduos convertem-se em sujeitos ativos com

participação vital ao sucesso da vivência democrática. A cidadania depende não

apenas da atuação governamental, mas do comprometimento de cada indivíduo na

realização do projeto democrático. A cidadania passa a operar por meio desta lógica

renovada, que reflete o próprio amadurecimento do processo de construção e

reconstrução da cidadania. (LENER, 1998)

Reduzir os acidentes de trânsito e seus efeitos é uma questão de cidadania.

Daí a diferença entre os direitos humanos e cidadania. Os direitos humanos são de

todos os cidadãos, extrapolam uma nação, e por isso são universais e históricos,

enquanto que a cidadania é regulamentada por cada Estado, pode variar de uma

sociedade para outra, além de ser sempre uma conquista de cada povo. A cidadania

é um conceito político cuja ideia está ligada à de participação política. Dessa forma,

a cidadania é entendida como um conjunto de direitos e deveres que garante à

pessoa humana a sua inserção na sociedade. (LENER, 1998)

Educar para a cidadania é entender que direitos humanos e cidadania

significam prática de vida em todas as instâncias de convívio social dos indivíduos:

na família, na escola, no trabalho, no conjunto da sociedade. A escola é um espaço

36

privilegiado no processo de conscientização ao trabalhar com o conhecimento,

valores, atitudes e formação de hábitos. Entende-se que a educação para a

formação da cidadania não pode ser vista como solução para todos os males da

sociedade, pois, a educação produz no conjunto da sociedade e reflete o modelo em

que se estrutura. (LENER, 1998)

Cidadania, ética e moral imbricam-se.

5.6.2. Ética e moral

Ética é teórica e reflexiva, é a teoria ou ciência do comportamento moral do

homem em sociedade. (VÁSQUEZ, 2005, p. 23). É parte da filosofia. Considera

entendimentos de fundo acerca da vida, do universo, do ser humano e de seu

destino, estatui princípios e valores que orientam pessoas e sociedades. (BOFF,

2003, p. 37)

Foucault explica a ética com o exemplo da arqueologia da sexualidade,

orientando-se no sentido da episteme. No século XIX, formaram-se figuras

epistemológicas como a biologia ou a psicologia da sexualidade; com Freud

instalou-se um discurso de tipo científico. Foucault ao invés de estudar o

comportamento sexual dos homens em uma dada época (procurando sua lei em

uma estrutura social ou em uma certa atitude moral), ao invés de descrever o que os

homens pudessem pensar da sexualidade, perguntou se, nessas condutas, assim

como nessas representações, toda uma prática discursiva não se encontra inserida;

se a sexualidade, fora de qualquer orientação para um discurso científico, não é um

conjunto de objetos de que se pode falar (ou de que é proibido falar), um campo de

enunciações possíveis, um conjunto de conceitos. Ainda segundo Foucault, tal

arqueologia, se bem sucedida em sua tarefa, mostraria como as proibições, as

exclusões, os limites, as valorizações, as liberdades, as transgressões da

sexualidade, todas as suas manifestações, verbais ou não, estão ligadas a uma

prática discursiva determinada. Faria aparecer, não como verdade última da

sexualidade, mas como uma das dimensões segundo as quais pode ser descrita,

uma certa “maneira de falar”; e essa maneira de falar mostraria como ela está

inserida, não em discursos científicos, mas em um sistema de proibições e de

valores. Tal análise seria feita não na direção de episteme, mas no sentido do que

poderia chamar de ética. (FOUCAULT, 2008, p. 216 e 217)

37

Já Kant, no final do século XVIII, buscava uma ética de validade universal,

que se apoiasse apenas na igualdade fundamental entre os homens. Sua filosofia se

volta, para o homem, e se chama filosofia transcendental porque busca encontrar no

homem as condições de possibilidade do conhecimento verdadeiro e do agir livre.

No centro das questões éticas, aparece o dever, ou obrigação moral, uma

necessidade diferente da natural, ou da matemática, pois há uma necessidade para

uma liberdade. O dever obriga moralmente a consciência moral livre, a vontade

verdadeiramente boa deve agir sempre conforme o dever e por respeito ao dever.

(VALLS, 1994, p. 18)

A posição de Kant, em relação a ética, é racionalista. Considera irrelevantes

as motivações e intenções do sujeito, uma vez que a ética diz respeito à forma

universal do ato moral, como ato livre de uma vontade racional boa, que age por

dever segundo as leis universais que deu a si mesma. (CHAUI, 2009, p.327)

O que mais caracteriza a ética de Platão é a ideia do Sumo Bem, da vida

divina, da equivalência de contemplação filosófica e virtude, e da virtude como

ordem a harmonia universal. A distância entre as virtudes intelectuais e morais é

pequena, pois, a vida prática se assemelha muito à prática teórica. (VALLS, 1994, p.

28)

A ética para Aristóteles é uma ação voluntária e moral do indivíduo, finalista

e eudemonista, quer dizer, marcada pelos fins que devem ser alcançados para que

o homem atinja a felicidade (eudaimonía). (VALLS, 1994, p. 29)

Aristóteles estabeleceu uma distinção sobre a ética: a diferença entre

poiesis, ação fabricadora, e práxis (a ação livre do agente moral e do sujeito

político). Ele valoriza mais a práxis, pois, a sociedade grega que vivia Aristóteles

dizia que liberdade é não precisar ocupar-se com as atividades de sobrevivência,

mas dispor de ócio para cuidar da coisa pública. (CHAUI, 2009, p. 390)

A ética se refere às ações humanas, e se elas são totalmente determinadas

de fora para dentro, não há espaço para a liberdade, como autodeterminação, e,

consequentemente, não há espaço para a ética. (VALLS, 1994, p. 49)

Na ética a ação é realizada pela vontade guiada pela razão tendo como

finalidade o bem do indivíduo, sendo este bem alcançado pela prática voluntária e

deliberado das virtudes morais (coragem, generosidade, fidelidade, lealdade,

prudência, justiça, modéstia, honradez etc.). (CHAUI, 2009, p. 44)

38

Para Marilena Chaui a ética é um estudo dos valores morais (as virtudes), da

relação entre vontade e paixão, vontade e razão; finalidades e valores da ação

moral; ideias de liberdade, responsabilidade, dever, obrigação etc. (CHAUI, 2009, p.

58)

A ética se preocupa com as formas humanas de resolver as contradições

entre necessidade e possibilidade, entre tempo e eternidade, entre o individual e o

social, entre o econômico e o moral, entre o corporal e o psíquico, entre o natural e o

cultural e entre a inteligência e a vontade. Essas contradições não são todas do

mesmo tipo, mas brotam do fato de que o homem não é o que apenas é, pois ele

precisa tornar-se um homem, realizando em sua vida a síntese das contradições que

o constituem inicialmente. (VALLS, 1994, p. 56)

Quando uma cultura e uma sociedade definem o que entendem por mal, crime e vício, definem aquilo que julgam ser violência contra um indivíduo ou contra o grupo. Simultaneamente, erguem os valores positivos – o bem, o mérito e a virtude – como barreiras éticas contra a violência. (CHAUI, 2009, p. 308)

No dicionário jurídico, ética é um corpo de normas que disciplinam a postura

moral, os deveres e obrigações das pessoas e da sociedade, ou das classes

profissionais específicas. (SANTOS, 2001, p. 92)

Uma pessoa ética é aquela que age sempre a partir da alternativa bem ou

mal, isto é, aquela que resolveu pautar seu comportamento por uma tal opção, uma

tal disjunção. E quem não vive dessa maneira, optando sempre, não vive

eticamente. (VALLS, 1994, p. 68)

A ética contemporânea preocupa-se com o julgamento do sistema

econômico como um todo. O bem e o mal não existem apenas nas consciências

individuais, mas também nas próprias estruturas institucionalizadas de um sistema.

(VALLS, 1994, p. 73)

Ética e moral referem-se ao conjunto de costumes tradicionais de uma sociedade e que, como tais, são considerados valores e obrigações para a conduta de seus membros. (CHAUI, 2009, p. 310)

Cada cultura e sociedade estabelecem uma moral, isto é, valores referentes

ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido e à conduta correta e à incorreta.

Culturas e sociedades fortemente hierarquizadas e com diferenças de classes

39

muitos profundas podem até mesmo possuir várias morais, cada uma delas referida

aos valores de uma classe social. (CHAUI, 2009, p. 310)

A simples existência da moral não significa a presença explícita de uma

ética, entendida como filosofia moral, que é uma reflexão que discute, problematiza

e interpreta o significado dos valores morais. Toda sociedade tende a naturalizar a

moral de maneira a assegurar sua perpetuação através dos tempos. Os costumes

são anteriores ao nosso nascimento e formam o tecido da sociedade em que

vivemos, de modo que acabam sendo considerados inquestionáveis e as

sociedades tendem a naturalizá-los, existentes por si mesmo. (CHAUI, 2009, p. 310)

A moral é parte da vida concreta. Trata-se da prática real das pessoas que

se expressam por costumes, hábitos e valores culturalmente estabelecidos. Uma

pessoa é moral quando age em conformidade com os costumes e valores

consagrados. (BOFF, 2003, p. 37)

A moral é um conjunto de normas e regras destinadas a regular as relações

entre indivíduos de uma mesma comunidade. É um fato histórico mutável e dinâmico

que acompanha as mudanças políticas, econômicas e sociais. (VÁSQUEZ, 2005, p.

50 e 51)

A consciência moral deveria ser ao menos uma espécie de critério imediato.

Agir moralmente significaria agir de acordo com a própria consciência. (VALLS,

1994, p. 43)

A moral é uma ciência prática, cujo objeto é o estudo e a direção dos atos

humanos em ordem a conseguir a perfeição integral do homem, no que consiste a

felicidade. Os atos humanos são particulares, e enquanto ciência prática, a moral

deve atender e descer ao particular. O julgamento concreto de cada ação exige

exatamente todos os pressupostos éticos. Já se discutirá menos sobre a questão da

busca da felicidade, e se discutirá menos sobre a relação entre o agir ético e a

perfeição do homem enquanto homem. (VALLS, 1994, p. 68)

Segundo o dicionário jurídico, a moral é a regra do bem proceder e que está

gravada na consciência de cada um. A moral é a distinção entre o bem o mal.

Relativo aos costumes. Trata dos deveres do homem social. A moral do ser humano

é o conjunto de predicados que distinguem das coisas, como individualidade, a

consciência, a liberdade e a religiosidade. (SANTOS, 2001, p. 149, 163 e 187)

Kant, final do século XVIII, opõe-se a “moral do coração” de Rousseau. Para

Kant não existe bondade natural. Por natureza somos egoístas, ambiciosos,

40

destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos de prazeres que nunca nos saciam e pelos

quais matamos, mentimos, roubamos. É justamente por isso que precisamos do

dever para nos tornarmos seres morais. (CHAUI, 2009, p. 315)

Kant deduz a moral em três máximas que exprimem a incondicionalidade

dos atos realizados por dever. São elas:

1. Age como se a máxima de tua ação devesse ser construída por tua

vontade em lei universal da natureza. – afirma a universalidade da

conduta ética, aquilo que todo ser humano deve fazer como se fosse

uma lei natural.

2. Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como

na pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca como um meio. –

afirma a dignidade do ser humano como pessoa e não devem ser

tratados como instrumentos para interesse.

3. Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para

todos os seres racionais. – exprime a diferença entre o reino natural das

causas e o reino humano dos fins. (CHAUI, 2009, p. 317)

Já para o filósofo francês Henri Bergson, no início do século XX, a moral é

dividida em duas: moral fechada, que é o acordo entre os valores e os costumes de

uma sociedade e os sentimentos e as ações dos indivíduos que nela vivem é uma

moral repetitiva, habitual, respeitada quase automaticamente; e a moral aberta é

uma criação de novos valores e novas condutas. (CHAUI, 2009, p. 321)

6. Análise

6.1. Motorista não respeita faixa de pedestre na V. Olímpia, diz leitora –

10 de janeiro de 2011

(Anexo 1)

No texto “Motorista não respeita faixa de pedestre na V. Olímpia, diz leitora”,

a leitora escreve uma carta ao Jornal Folha de S. Paulo relatando que na Vila

Olímpia a faixa de pedestres não é respeitada pelos motoristas. Diz que depois de

seis meses fazendo reclamações a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego)

ainda não foram tomadas providências.

41

Em seguida o jornalista colocou a reposta da CET, que explica que foram

aplicadas no local, nos últimos meses, 89 multas contra os motoristas que pararam

sobre a faixa na mudança do sinal.

Em análise do título, para não ser culpado, o jornalista, coloca que foi a

leitora quem diz sobre a falta de respeito do motorista com a faixa de pedestre.

Para dar mais credibilidade o jornalista inicia o período adjetivando a leitora.

No adjetivo, fica evidenciado o tom valorativo da jornalista, que, aos colocar a

profissão psicóloga cria no leitor uma atitude responsiva. Prepara-o, induzindo-o a

uma expectativa frente a pessoa que relata: de credibilidade.

Dessa maneira, o jornalista se constitui como enunciante, evidenciando sua

postura axiológica (juízo de valor) e sua alteridade.

Ao colocar que a leitora “afirma que motoristas não respeitam faixa de

pedestre” quer dizer que ela tem certeza do que diz e deixa evidenciada a

generalização que faz em relação a todos os motoristas e dá a entender que sempre

a faixa é desrespeitada na Vila Olímpia.

O jornalista faz o uso do discurso indireto no segundo parágrafo. A palavra

“após” junta-se com a palavra “ainda”, “após seis meses... ainda não tomou

nenhuma providência”, dando a entender a crítica em relação a CET. Para entender

esse enunciado, o leitor necessita ter as competências linguísticas, enciclopédica e

interacional. Uma vez que ele precisará estabelecer a relação dessas palavras na

construção da crítica feita psicóloga.

Já no terceiro parágrafo o jornalista faz uso do discurso indireto livre, quando

a fala dele e dela se misturam. Coloca a profissão da leitora, psicóloga, que estuda o

comportamento humano.

Ao dizer “meramente decorativa”, a leitora diz que a faixa de pedestre não

serve para o que realmente deveria ser utilizada e é apenas um enfeite.

O parágrafo entre aspas é fala da leitora, usando o recurso do discurso

direto, novamente, o jornalista, marca sua postura axiológica, sua opinião some ao

fato, e estabelece um diálogo com o leitor. Como Machado de Assis, torna o leitor

seu cúmplice.

Na resposta da CET, ao colocar a palavra “diz”, o jornalista fica isento

novamente. No caso quem diz é a CET e ele não pode dar a certeza da ação.

Para dar cunho de verdade e atestar o fato, traz como argumento dados

estatísticos, de multas aplicadas, que reiteram suas afirmações e a da leitora.

42

Para essa leitura é necessário, principalmente ter o conhecimento

enciclopédico para saber sobre a profissão de psicólogo, assim como o que é a

CET; e o interacional, para relacionar tudo e construir o sentido do enunciado.

Utiliza-se no texto o gênero secundário do discurso e absorve e transmuta

pelo gênero primário (simples), que se constituiu por meio de uma comunicação

verbal espontânea.

Está inserido no campo jornalístico, na forma de gênero perguntas do leitor.

A objetividade é produzida com a utilização do discurso citado, produzindo o efeito

de duplicação do real e de reprodução das falas dos envolvidos nos fatos.

Ao colocar, no texto, os discursos direto, indireto e indireto livre o escritor se

posiciona isotopicamente, ou seja, coloca-se em posição exterior.

Existe o cronotopo de um acontecimento representado, juntando-se com a

isotopia se relaciona no tempo, no espaço e no sentido, a respeito da vida do outro

em seu todo, com sua orientação de valores e sua responsabilidade. Envolve-se

com a moral.

No caso a moral está na consciência da leitora, dos motoristas que não

obedecem às leis de trânsito e a Companhia de Engenharia do Tráfego (CET).

Percebe-se, então, a moral defendida por Kant no final do século XVIII que o ser

humano por natureza é egoísta. Dessa forma deixa-se de lado a cidadania e a

civilidade em relação de respeito mútuo e consideração, como também a usa como

o cidadão deve.

6.2. Carro-forte para até em vaga de idoso – 14 de fevereiro de 2011

(Anexo 2)

Na notícia “Carro-forte para até em vaga de idoso”, o jornalista descreve as

várias infrações de trânsito de quatro carros-fortes na Rua das Palmeiras, região

central de São Paulo, na hora do almoço. Cita que tais infrações se repetem em

outros pontos da cidade.

Explica o que estimula essa situação e qual a opinião da Companhia de

Engenharia de Tráfego (CET). Expõe o valor da soma de multas que apenas esses

quatros carros-fortes acumularam e os transtornos que acarreta.

Inicialmente, para que o leitor possa compreender o título ele necessita de

conhecimento enciclopédico para dois fatores, o primeiro em relação a carro-forte –

43

o leitor precisa saber o que é e para que serve – e o segundo, à vaga de idoso –

deve ter o conhecimento das diferentes vagas especiais.

Em conhecimento linguístico, a palavra “até” mostra que os carros-fortes

para em qualquer vaga.

Para a palavra “só” indica que quatro veículos foram flagrados e que outros

podem estar infringindo a lei naquele mesmo momento. Mostra, também, que

apenas esses quatro acumulam R$ 390 mil em multas da CET, pendentes. O leitor

precisa saber o que é a sigla, especificada depois no decorrer do texto.

As palavras “enfileirados” e “sequência” se relacionam por terem a esmo

ideia, um após o outro e referem-se as mesmas coisas, os carros-fortes.

A palavra “obriga” é uma imposição, força os passageiros dos ônibus a

embarcarem no meio da rua.

A utilização da palavra “come” entre aspas no texto, quando se refere ao

carro-forte estacionado em um pedaço da guia rebaixada, não se utiliza do

significado dado pelo dicionário, precisando-se da atitude responsiva de cada leitor.

Entende-se o que o jornalista quer dizer pelo fato de ser uma fala utilizada pelos

leitores. Utiliza-se o conhecimento enciclopédico para entender que este lugar não é

permitido estacionar.

“Intimida”, mostra que a placa deveria impor ao motorista que não estacione

no local, mas não é o acontece.

O mesmo se dá com a frase “ignora a exigência do cartão de Zona Azul”,

pois o verbo ignorar indica que a pessoa não toma conhecimento por desprezo ou

indiferença. Neste caso, o motorista tem conhecimento que precisa do cartão de

Zona Azul, mas não o utiliza por achar indiferente.

Ao citar que os carros-fortes ficam ligados durante uma e duas horas,

contribuindo para a mãe qualidade do ar, o leitor tem que utilizar-se novamente do

conhecimento enciclopédico, pois hoje em dia a uma preocupação muito grande

com o meio ambiente e a poluição da cidade de São Paulo. Posiciona-se

isotopicamente, pois relaciona-se no tempo a respeito da vida em seu todo, com

orientação de valores e responsabilidade, marcando a alteridade tanto do emissor

quanto do receptor.

A explicação que eles dão para essas inflações é a hora do almoço, ao

colocar a palavra “diária” o jornalista mostra que todos os dias elas acontecem.

44

Ao utilizar o “também”, o jornalista indica que não são desrespeitadas

apenas as infrações flagradas (estacionado: diante do ponto de ônibus, de um

pedaço da guia rebaixada, em local proibido estacionar e a não utilização do cartão

de Zona Azul), mas outras leis de trânsito são desrespeitas, como: paradas em filas

duplas, sobre as calçadas e sobre as faixas de pedestres.

O jornalista explica que a Contran (Conselho Nacional de Trânsito)

reconhece que os carros-fortes podem parar em qualquer lugar desde que estejam

em serviço. Em contraposição, mostrado pela palavra “já”, a CET diz que só isenta

quando o serviço é na via, público.

Em relação a frase “quando em atendimento na via”, o jornalista informa que

retirou uma expressão em um artigo do código de trânsito, o que dá credibilidade em

seu texto. Para o leitor entender o que é esse atendimento na via ele dá um

exemplo.

O jornalista mostra que a teoria e a prática se contradizem em relação as

multas aplicadas a esses veículos.

Ao citar a distância entre o veículo parado e a sede da CET, o jornalista

mostra que a CET não faz seu trabalho e o motorista do carro-forte não obedece a

lei mesmo quando próximo de um órgão que possa cobrá-lo e multá-lo.

“Segundo informações do Detran” novamente dá credibilidade a sua notícia,

mas em seguida há uma contradição, pois a Transbank nega tais informações.

Ao colocar números o jornalista faz uma melhor comparação dos transtornos

causados, mostra, também, que para fazer tal notícia com um tom de crítica, ele está

embasado em algo.

Em relação às fotos da notícia elas comunicam-se, a posição dos três carros

parados com os três homens também parados, espelhados na mesma angulação. A

legenda mostra uma contradição na explicação dos motoristas, pois dois deles que

aparecem, não estão almoçando.

Encontra-se no campo jornalístico, como gênero de notícia. Possui a

atualidade, a informatividade, a objetividade.

Para o entendimento do texto, o leitor necessita ter a competência

metagenérica para reconhecer que se trata de uma notícia. Utiliza-se do gênero do

discurso para fazer crítica e registrar o cotidiano.

45

Igualmente na primeira análise, este texto utiliza-se do gênero secundário.

Mistura o gênero primário fazendo a utilização de palavras utilizadas no cotidiano,

“come”, com palavras de difícil entendimento, “contumazes” e “imbróglio”.

Baseado nas pesquisas sobre cidadania, esses motoristas não possuem

uma ética de solidariedade, uma das três ideias básica para construção do conceito

de cidadania. Mostram-se como individualistas.

Essa falta de cidadania no trânsito, como citado, está em relação ao

desrespeito aos direitos, cumprimento aos deveres, a indisciplina. O que espelha a

civilidade de tais motoristas, que não respeitam e nem consideram o outro.

O jornalista expõe a falta de ética e moral dos motoristas e de quem deveria multá-

los, pois faltam com suas obrigações de conduta.

6.3. Marronzinho ignora abuso de carro oficial no trânsito – 4 de março

de 2011

(Anexo 3)

O jornalista conta que flagrou um carro oficial, da Prefeitura de São José do

Rio Pardo, parado irregularmente, na cidade de São Paulo, em uma vaga sem

cartão Zona Azul e um pouco em uma vaga de idoso.

Para o entendimento do título, o leitor, precisa ter conhecimento

enciclopédico para saber o que é o “marronzinho” e de quem é o carro oficial.

Ainda no título a palavra “ignora” remete ao marronzinho que não faz sua

função, e a palavra “abuso” refere-se ao carro oficial que aproveita do poder que

tem.

Para a linha fina o leitor também necessita do conhecimento enciclopédico

para saber o que significa “Zona Azul” e reconhecer que existem vagas especiais e

que ao desrespeitar tais leis de trânsito o veículo deveria ser multado, o que não

ocorre.

Ao usar o conhecimento linguístico em “apesar de”, já se entende que algo

não acontece, no caso a penalidade prevista em lei teoricamente. Utilizando-se

novamente do conhecimento enciclopédico, o leitor, necessita saber quem é o

agente da CET e o que significa tal sigla, assim como a placa preta.

46

O jornalista faz uso das apenas em “comendo”, pois é uma expressão usada

coloquialmente, utilizando-se do tom para vincular a palavra ao que ela exprime para

assimilar a ação, a alteridade, precisando do leitor sua atitude responsiva.

Ao utilizar-se da expressão “parecia só mais um caso de abuso no trânsito

cometido por veículo oficial”, o jornalista deixa implícito que casos como esses

acontecem o tempo todo.

“Até que” une-se com a frase descrita acima. Pois, um marronzinho aparece

multa um taxista estacionado em, também, lugar proibido, mas não multa o carro

oficial. Para responder tal ato do marronzinho diz não poder fazer nada, o jornalista

utiliza o discurso indireto.

Ao colocar que o agente da CET “afirmou”, além do jornalista se isentar

mostra que o agente tem certeza do que diz. “Não podem”, na fala descrita do

agente, quer dizer que não possuem autorização para, e “não conseguem” não é

bem sucedido ao querer multá-lo.

“Pela legislação, esses carros devem cumprir as regras de trânsito

normalmente”. Mostra que, na teoria, os carros oficiais deviam cumprir as regras,

fato que não acontece na prática.

Utiliza-se do discurso direto para descrever a fala do especialista. O

jornalista coloca o nome completo, a especialidade e as profissões atuais de quem

disse para dar credibilidade ao seu texto. O leitor precisa do conhecimento

enciclopédico para saber o que é a sigla PM.

O especialista afirma que só, unicamente, os agentes da PM podem abordar

os motoristas e conseguir multar os carros oficiais, contradizendo a informação da

CET, que diz orientar seus agentes a multar esses veículos. “Ter poder”, direito de.

“Para isso” retorna à multa que os agentes da Polícia Militar podem dar,

explicando como se procede para localizar a placa original do carro. “Ou seja” é uma

metalinguagem, esclarecendo a própria linguagem.

Ao colocar valores de multa e qual o procedimento por lei o jornalista mostra

que os carros não deveriam ser isentos.

Utiliza-se novamente do discurso direto ao colocar a fala do agente da CET,

que diz que o jornalista “só está vendo uma cena”, dando a entender que acontece

outros desrespeitos as leis de trânsito por esses carros.

Ao colocar que o motorista do carro pode ser punido a Prefeitura de São

José do Rio Pardo não deu a certeza de que ele será punido.

47

Quando o jornalista faz uso do discurso direto e indireto ele se posiciona fora

do texto, ou seja, isotopicamente. Isenta-se da responsabilidade só para si, tendo

sua alteridade.

O jornalista utiliza o gênero do discurso secundário, com palavras mais

complexas, como “contumaz”; e durante sua matéria usa o gênero primário, com

palavras mais simples e coloquiais.

Na questão de cidadania, o motorista do carro não tem uma ética de solidariedade,

ativa, e possui o individualismo, ou seja, falta-lhe civilidade por falta de respeito

mútuo. O que afirma que a prática da cidadania não se limita ao Estado, pois, não

serve à cidadania pela sua indisciplina no trânsito. O que mostra a moral de Kant,

diz que por natureza somos egoístas.

6.4. SP multa um motorista a cada cinco segundos; Um motorista é

multado a cada 5 segundos na capital – 5 de março de 2011

(Anexo 4)

Na matéria “Um motorista é multado a cada 5 segundos na capital” o

jornalista relata os dados divulgados pela CET (Companhia de Engenharia de

Tráfego) referente às multas na capital em relação ao ano de 2010. Houve um

crescimento em comparação aos dados de 2009, fato que se explica devido à maior

fiscalização. Ao final há dois especialistas que criticam o modo e qual a prioridade

da fiscalização.

Na primeira página do jornal a matéria aparece com o título “SP multa um

motorista a cada cinco segundos”. Para o leitor o conhecimento enciclopédico é

necessário para saber que SP trata-se da sigla dada ao estado e a cidade de São

Paulo. No caso quem multa não é o estado ou a cidade, mas os agentes da CET.

No caderno Cotidiano a matéria vem com o título mais específico, “Um

motorista é multado a cada 5 segundo na capital”, mostrando que é na cidade de

São Paulo e não no estado inteiro.

Na linha fina o jornalista coloca qual o total de infrações na cidade em 2010

e qual foi o crescimento em porcentagem. Em resumo expõe que o “crescimento

coincide com maior fiscalização”, ou seja, provavelmente o número das infrações já

era esse, mas só conseguiram contabilizar mais por causa da maior fiscalização.

48

Na notícia o jornalista coloca novamente que a cada cinco segundos um

motorista é multado e diz que esse dado está no balanço da CET, o que dá

credibilidade ao que escreve.

“Além do” fornece ao leitor que não foram apenas os radares que

aumentaram, mas que houve mais mudanças, que são os radares inteligentes. O

jornalista explica para seus leitores que esses radares fazem a mais do que os

comuns. O jornalista dá o número exato dos radares que foram acrescidos na

primeira página e coloca quantos radares comuns tinham em 2009 e quantos

passaram a ter em 2010, além dos chamados radares inteligentes.

“Houve ainda” tem o mesmo sentido que o “além do”. O jornalista no resumo

da matéria na primeira página do jornal diz que houve um reforço de “mais de 300

policiais militares” e dentro da matéria afirma que foram “cerca de 300”.

O jornalista fornece ao leitor quais foram as multas que mais tiveram,

utilizando-se do termo “saltar” o leitor entende que foi um grande aumento por ser

uma expressão utilizada no cotidiano, tendo a atitude responsiva para o significado

do verbo saltar, que apesar de sua vinculação a imagem de uma pessoa ou um

animal pulando o tom que o jornalista dá se refere ao “objeto expresso pela palavra”.

A alteridade também está presente em relação a palavra, por causa de sua

assimilação, suas várias posições referente ao plano do autor.

Fornece a porcentagem desse aumento tanto na primeira página quanto no

corpo da matéria, para mais informações ao leitor utiliza-se de um infográfico com as

multas aplicadas na capital em 2009 e em 2010 com números absolutos e a

porcentagem do aumento de multas, assim como, a porcentagem do aumento de

veículos e mostra quais são as principais infrações em 2010.

No parágrafo seguinte o jornalista coloca “mas”, indicando oposição ao que

escreveu anteriormente, ou seja, de acordo com números absolutos a infração mais

desrespeitada foi ao rodízio, dá ao leitor quantas multas foram aplicadas e o a

porcentagem de crescimento de um ano para o outro. Coloca que “continua sendo a

campeã” o que se entende que no ano anterior também era a multa mais aplicada.

O jornalista utiliza-se de aspas ao colocar parte da nota divulgada pela CET,

discurso direto, para mostrar que não é ele quem diz que a fiscalização está “mais

eficiente e precisa”.

“Com isso” refere-se ao aumento de radares, o que possibilitou liberar os

agentes para organizar e dar segurança ao trânsito. “O resultado”, a CET quer

49

mostrar com números que realmente houve resultados na organização do trânsito,

devido a queda de lentidão de um ano para outro.

Em oposição o jornalista coloca duas pessoas que faz críticas às atitudes

tomadas pela CET, informa o trabalho de ambos primeiro que seus nomes para dar

credibilidade e também informa o nome completo dos dois para o mesmo fim.

Faz utilização das aspas nas falas de cada um, discurso direto, e também do

discurso indireto para não ter nenhuma responsabilidade sobre si. A utilização do

discurso direto e indireto no decorrer do texto faz com que o jornalista se posicione

isotopicamente.

Para o entendimento do texto o leitor precisa da competência metagenérica

identificando ser um gênero de discurso no campo jornalístico no gênero de notícia.

Utiliza o gênero de discurso primário, pois usa palavras do cotidiano.

A cidadania nesta notícia se encaixa em relação as infrações de trânsito e as

multas que lhe são estipuladas, denominando as práticas no convívio social dos

indivíduos. O que vai contra o individualismo exacerbado, buscando a solidariedade.

Falta a civilidade desses motoristas que não respeitam os deveres, portanto com

indisciplina.

Comparando a descrição de ética, está relacionada às multas são normas

que disciplinam a postura moral, os deveres e obrigações de cada um e da

sociedade. Os motoristas que desrespeitam as leis de trânsito não estão sendo

moral no trânsito, pois não age como o conjunto de normas e regras referente.

6.5. A escalada das multas – 9 de março de 2011

(Anexo 5)

Esta matéria faz um resumo da notícia publicada no dia 05 de março “Um

motorista é multado a cada 5 segundos na capital”. Novamente cita as multas que

são dadas na cidade de São Paulo e como se deram.

A palavra “escalada” está no sentido de subida, aumento.

O leitor precisa ter conhecimento enciclopédico para saber que o trânsito de

São Paulo a muito está “caótico” e consecutivamente conhecimento linguístico para

saber o que significa tal palavra, muito confuso.

50

O jornalista coloca dados numéricos em seu texto para dar credibilidade ao

seu texto voltando a palavra “escalada” do título. Coloca também, com o mesmo

intuito, o valor que essas multas rendem a prefeitura.

“Além dos” está estabelecendo a adição. O leitor precisa de conhecimento

lingüístico para identificar que a palavra “lavrada” significa propagar-se. “Auxílio”

está no significado denotativo, ajuda. A palavra “como” estabelece relação, explica.

O jornalista explicita que há críticas a essas atitudes e usa a palavra

“suposta” para expor que essas multas são falsas, hipotéticas. Utiliza-se do termo

“indústria da multa” entre aspas mesmo informando que esse termo não existe, é

uma invenção que o jornalista fez para ser entendido melhor, como sendo uma

fábrica de multas. Tais, na opinião do jornalista são dadas para vantagem da

prefeitura, colocando a palavra “apetite” como sendo algo para saciar-se. O

jornalista o utiliza-se do “mas”, indicando oposição, pois, apesar das multas serem

utilizadas pela prefeitura para o seu “apetite arrecadatório” elas informam também a

falta de civilidade dos motoristas.

O leitor necessita novamente do conhecimento linguístico para saber que a

palavra “campeia” tem significado de prevalece, domina. O jornalista, assim, expõe

qual o segundo abuso mais comum, informando sua porcentagem.

O jornalista explica que os radares somente captam aqueles que não

respeitam as normas e seus “concidadãos”, exclui os casos de redução abrupta da

velocidade.

Compara o fato como uma guerra, pois, é um cidadão contra o outro. Coloca

o número de pessoas que morrem por ano no trânsito da cidade de São Paulo e

novamente faz uma comparação, dessa vez com a cidade Nova York, tendo o leitor

o conhecimento enciclopédico consegue identificar que essa cidade é uma das

áreas mais populosas do mundo e centro de uma metrópole, assim como São Paulo.

Na questão do cidadão é a prática de vida no convívio social no conjunto da

sociedade. Tendo uma ética de solidariedade, com isso, ser contra o individualismo

exacerbado. Falta, então, a civilidade do indivíduo que não respeita ao outro, não o

considera.

A propagação dos radares eletrônicos produz um efeito positivo, para a

palavra “incutir” o leitor precisa do conhecimento linguístico para saber que significa

inspirar. “Para isso” estabelece relação e resposta e expõe que acredita que a

principal função no trânsito é educar.

51

Ao colocar que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) argumenta, o

jornalista utiliza-se do discurso indireto, a palavra “ainda” significa adição a

explicação da CET. “Isso teria” retoma o que foi escrito e não está claro se propiciou

ou não.

O jornalista expõe que deve-se identificar para onde está indo o dinheiro das

multas, pois, para ele, “a velocidade” – voltando ao segundo tipo de abuso, excesso

de velocidade – que o número de multas aumenta não ocorre, de acordo, as

melhorias no trânsito que, para ele, os motoristas encontram um grande sofrimento,

“calvário” – o leitor necessita de conhecimento linguístico.

“Premente”, conhecimento linguístico, significa urgente. Coloca o caso dos

semáforos estragados pela chuva em São Paulo sendo o caso mais urgente. Diz

que os equipamentos estão velhos e não possuem conserto rapidamente, o leitor

novamente precisa do conhecimento linguístico para saber o significado da palavra

“antiquado”. O jornalista atribui um aspecto personificado para os semáforos, “à

espera”, quem espera são pessoas.

Termina com o dado em reais de multa e como esse valor poderia ser

aplicado às melhorias para o tráfego.

O leitor precisa ter uma atitude responsiva para evidenciar o seu significado

no texto, o objeto expresso em si.

O jornalista utiliza o discurso indireto posicionando-se isotopicamente,

referindo a algo que não é a fala dele, pensamento.

Marca-se a alteridade do jornalista e do leitor, para basear-se no passado e

no presente da cidade, em sua cultura, em seu tempo, para abranger os valores da

sociedade e não apenas de si. Utilizando-se, assim, da cronotopia.

O leitor, com a competência metagenérica, identifica que está no campo

jornalístico no gênero de opinião, crônica.

O discurso do jornalista é secundário, pois ele usa palavras muito

complexas.

Nota-se no texto a questão de cidadania e civilidade que se aplicam na ética

como comportamento moral do homem. O jornalista cita algumas normas

estabelecidas no trânsito, que disciplinam e mostra o dever e obrigação de cada

cidadão, ou seja, identifica a moral estabelecida pela sociedade.

52

6.6. Não é por aí – 12 de março de 2011

(Anexo 6)

Dentro da editoria de Cotidiano há um espaço “por aí”, no dia 12 de março

de 2011 saiu uma foto com título “NÃO É POR AÍ” com legenda “SEM

ACESSIBILIDADE Carro parado obstrui rampa de cadeirante na calçada da entrada

do pq. da Aclimação; CET diz que isso pode tender autuação e guinchamento”.

Como base no nome do espaço, o jornalista faz o título da foto, dando outro

significado e como uma advertência ao motorista. Utiliza-se o discurso primário, pois,

é como se o jornalista estivesse conversando com seu leitor.

A palavra “sem” refere-se ao que não há, no caso acessibilidade. O leitor

necessita de conhecimento linguístico e enciclopédico para entender o que significa

a palavra “acessibilidade”, acesso, e que precisa de acesso para os cadeirantes e

idosos subirem nas calçadas com essa rampa, respectivamente.

Para entendimento da palavra “obstrui” o leitor precisa novamente do

conhecimento linguístico, compreendendo ser algo que bloqueia a passagem.

O leitor precisa do conhecimento enciclopédico para identificar a sigla CET,

pois, não há o nome completo (Companhia de Engenharia de Tráfego). Utiliza-se do

discurso indireto ao colocar o que a CET diz, deixando-se assim isento, dessa forma

o jornalista posiciona-se isotopicamente.

A palavra “pode” indica que não é certeza que tal ato, carro parado em frente

a rampa de cadeirante na calçada, dê autuação e guinchamento.

Focando a falta de cidadania do motorista, no caso há: uma falta de ética de

solidariedade; individualismo, pois, não pensa no outro; indisciplina no trânsito.

Faltando civilidade do motorista com relação ao respeito e consideração pelo outro.

6.7. Multa de trânstio vai deixar “nome sujo” em São Paulo – 13 de

abril de 2011

(Anexo 7)

Para o título da matéria o leitor já precisa ter o conhecimento enciclopédico

para identificar que antes multas de trânsito não deixavam “nome sujo”, este último é

um gênero primário, o que falam no cotidiano.

53

No resumo da matéria para a palavra “inadimplentes” o leitor precisa do

conhecimento linguístico. O jornalista utiliza dados numéricos para mostrar que a

quantidade de devedores é muita.

Ao utilizar-se da palavra “além” quer dizer que mais que. A palavra “risco”

informa que não é certo que o carro é apreendido, há um perigo. “Ameaça” está

imposta como uma intimidação. Nesse primeiro parágrafo o jornalista faz uso

constante do gênero primário, linguagem que as pessoas geralmente fazem uso.

Faz-se uso novamente de dados numéricos para expor ao leitor o valor de

multas aplicadas e devedoras em um período de três anos e informa que essa valor

é apenas 10% do total, ou seja, deixa implícito que apesar de uma porcentagem

baixa o valor é muito grande.

O jornalista utiliza dois advérbios de tempo, hoje e agora, para simbolizar

que houve mudanças, principalmente quando utiliza a palavra “novas”. Para expor

quais serão as “novas ameaças” usa “uma delas” e depois faz uso da palavra

“também” acrescentando às ameaças.

Ao exemplificar os dinheiros que não poderá receber do governo o jornalista

explica no caso de empresas e utiliza a palavra “já” como uma oposição das

pessoas físicas.

O jornalista coloca o valor dos débitos e para mostrar ao leitor o quanto esse

dinheiro vale ele coloca dois grandes projetos da prefeitura.

Ele faz uso do discurso direto para dar credibilidade ao seu texto,

principalmente porque a fala vem do diretor do Departamento do Sistema Viário

(DSV).

O jornalista para finalizar coloca três depoimentos, utilizando-se do discurso

direto. No último ele coloca a palavra “já” contrapondo a fala do presidente da

Comissão de Assistência Judiciária da OAB-SP, pois, o advogado Marcos Pantaleão

concorda com a medida da prefeitura.

A matéria possui infografia para exemplificar ao leitor como funciona a

punição, quantas multas e quantas receitas foram dadas no governo de Gilberto

Kassab no período de 2005 a 2010 e quantas infrações e quantas pessoas que

poderão ficar com nome sujo informando também o valor que a prefeitura deixou de

arrecadar.

A linguagem da matéria está no gênero primário com palavras de fácil

entendimento.

54

A cidadania, ética e moral estão juntos em relação ao valor e regras

estabelecidas pela prefeitura, esperando que os cidadãos passem a respeitar mais

as que já estão pré-estabelecidas.

6.8. Sé lidera ranking de atropelados em São Paulo – 20 de abril de

2011

(Anexo 8)

No título, a palavra “lidera” nos permite entender que está em primeiro lugar

em uma avaliação. Apesar de “ranking” ser uma palavra em inglês ela se trata do

gênero de discurso primário, pois, é como na fala das pessoas.

O jornalista no subtítulo fornece a porcentagem de pessoas atropelados com

mais de 50 anos em 2010, ano anterior, para chamar a atenção dos seus leitores.

Na linha fina, para dar credibilidade a sua matéria e para se posicionar

isotopicamente, o jornalista coloca que um especialista critica o tempo dos

semáforos e a falta de ilhas de refúgio em avenidas largas.

Como resposta ao seu título e primeiro parágrafo o jornalista nos permite

entender que a região da subprefeitura da Sé tem mais atropelamentos por ser um

dos lugares mais movimentados da cidade.

O jornalista nos informa sobre o perfil dos pedestres para aproximar mais o

seu leitor, o que se refere à cronotopia. Mostra através de dados qual a idade média

de motociclistas, motoristas/passageiros e atropelamentos que resultam em morte,

indicando a informação dada anteriormente com mais afinco.

Confirmando ainda a informação dada no subtítulo, o jornalista fornece

novamente a porcentagem de 55% das vítimas tem mais de 50 anos e ainda

acrescenta que em média morrem atropelados três idosos com mais de 70 anos por

semana. Logo em seguida explica o que causa tanta morte, no caso, o desrespeito

do motorista e a menor mobilidade, agilidade e reflexo dos idosos.

Como outro título dentro da matéria, podemos ler a palavra “armadilha” o

que indica que o tempo dos semáforos, ausência de refúgios em vias largas e

calçadas estreitas são alguns casos que parecem ser dessa forma

propositadamente, como que para pegar um animal. O que deixa ainda mais claro

na fala do presidente da Associação Brasileira de Pedestres, que se encontra a

55

palavra “carnificina”, dando um tom emotivo-volitivo de dor com significado de

matança.

Novamente, para dar credibilidade ao seu texto, o jornalista coloca como

entrevista o presidente da Associação Brasileira de Pedestres, ao colocar sua idade

chama a atenção do leitor, pois, o presidente possui 78 anos, segunda idade que

mais morre por atropelamento, conforme uma das tabelas fornecida no infográfico

que está ao lado da matéria. Acrescenta, em discurso direto, a fala do presidente

sobre o tempo dos semáforos e como forneceu sua idade o leitor imagina que ele

tenha passado pelo problema que relata.

Daros, o presidente, apontou no centro de São Paulo algumas dificuldades

que justificariam o motivo de a subprefeitura da Sé estar em primeiro lugar no

ranking de atropelamentos. No caso, a falta de refúgio para pedestres em vias

largas, calçadas estreitas. A fala final do presidente apesar de estar em discurso

direto, deixa a entender que é uma opinião também do jornalista, pois, ele não

coloca de quem é a fala, apenas deixa a entender ao leitor que é do presidente.

Como uma submatéria informa quais são as vias que mais tem acidentes de

trânsito fatais. Com maiores dados em uma das tabelas do infográfico ao lado das

duas matérias, o jornalista coloca que a marginal Tietê teve um crescimento de 12%

de mortes. Ao colocar “seguiu disparada” mostra ao leitor que em comparação com

o segundo lugar a diferença é grande, o que se afirma na tabela (diferença de 20

mortes em 2009 e 33 em 2010 em comparação com a Marginal Pinheiros, segunda

via mais perigosa). Aqui a alteridade e a cronotopia ficam claras, pois, vemos, como

afirma Bakhtin, que estamos inseridos em um lugar que já tem passado e o passado

com o presente se mostram juntos.

O jornalista informa que mesmo com as alterações na marginal Tietê,

ampliação, reforma, restrições de motociclistas e redução de velocidade para

caminhões, o número de mortes aumentou. No parágrafo seguinte explica que um

dos motivos pode ser que após a entrega da nova pista não havia sinalização e tinha

trechos inacabados.

Para dar credibilidade ao seu texto, o jornalista informa que a CET acredita

que as mortes ocorreram devido ao aumento do tráfego na via e da velocidade

média dos carros. Aqui o leitor precisa ter competência enciclopédica para saber que

CET é a sigla para Companhia de Engenharia de Tráfego e que é essa empresa que

aplica as multas e ajuda no trânsito de São Paulo.

56

Como dito, ao fazer uso do discurso direto o jornalista toma uma posição

isotópica dentro de seu texto, mantendo-se isento da fala do presidente.

A matéria, mesmo com as palavras “semafórico” e “carnificina”, encontra-se

no gênero primário, pois, é de fácil entendimento para o leitor comum.

Nessa matéria podemos verificar a falta de cidadania no trânsito, com

relação ao desrespeito aos direitos, deveres, com agressividade no trânsito,

indisciplina, ocasionando os acidentes fatais. Falta civilidade entre os cidadãos, pois,

não possuem respeito e nem consideração pelo outro.

O jornalista deixa claro em seu texto qual é a norma de disciplina, os

deveres e obrigações das pessoas dentro da sociedade, exemplificando parte da

ética e a moral da cidade de São Paulo.

Mostra que motoristas que desrespeitam as regras de trânsito não se

encaixa em uma pessoa moral. Sendo, como Kant afirma, agressivos, resultando na

morte de muitos.

6.9. CET fará operação por respeito a pedestre – 29 de abril de 2011

(Anexo 9)

No título o leitor necessita da competência enciclopédica para saber que a

sigla CET refere-se a Companhia de Engenharia de Tráfego.

No subtítulo ao colocar a palavra “ainda” e “mas”, o jornalista faz uma

ligação entre elas, estabelecendo um advérbio de tempo e adversidade,

respectivamente. O jornalista faz uso da palavra “enfim”, o que permite ao leitor

entender que a multa aos motoristas que não dão preferência ao pedestre já devia

ocorrer. O título e o subtítulo permanecem juntos, pois, não é necessário o jornalista

colocar que a preferência deve ser dada ao pedestre, porque ele colocou no título.

Na linha fina o jornalista intensifica a palavra “enfim” utilizada no subtítulo,

pois, explica que desde 1997, onde há faixa e não houver sinal, o pedestre tem

prioridade. Continua sua explicação no primeiro parágrafo, utilizando novamente a

palavra “enfim” em relação a cumprir a lei e multar motoristas que não derem

prioridade aos pedestres.

Ao colocar que São Paulo não possui fiscalização, o jornalista dá um tom

negativo a sua frase, dando adversidade ao que disse coloca uma promessa da

CET, “mas isso vai mudar”.

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Para dar credibilidade ao seu texto, o jornalista faz uso de fotografia com um

táxi parado em cima da faixa de pedestre, enquanto os pedestres atravessam a rua,

com a legenda especificando em que lugar está localizado. Isso credita ainda mais o

texto do jornalista, pois, a foto é na Sé, região – esclarecida na matéria – onde a

operação vai começar, porque concentra o maior índice de atropelamentos da

cidade. Utiliza, também, um infográfico da área onde começará a campanha de

respeito ao pedestre, com mapa e explicação da regra de proteção ao pedestre.

O jornalista coloca-se isotopicamente ao fazer uso do discurso indireto,

também, com isso, dá credibilidade ao seu texto, pois, deixa claro que não é ele

quem diz e sim a Prefeitura de São Paulo, a CET e o Código de Trânsito Brasileiro.

Todo o texto é uma isotopia concreta, pois, mostra ao leitor uma orientação

de valores e responsabilidade, encontrando-se com a moral estabelecida na

sociedade.

Faz uso da alteridade e da cronotopia, colocando dados passados e,

principalmente, quando coloca o Código de Trânsito, pois, é algo estabelecido desde

o passado que prevalece atualmente. O uso da cronotopia faz-se, também, quando

o jornalista fala que a operação começará no centro de São Paulo, porque é a região

com maior índice de atropelamentos, assim como, quando utiliza dados de 2005 a

2010, para justificar a campanha presente.

Todo o texto é feito com gênero de discurso primário, porque ele é de fácil

entendimento, estabelecendo que a competência linguística do jornalista e do leitor

estão na mesma proporção.

Nessa matéria, o jornalista expõe a falta de cidadania entre os cidadãos,

porque mostra o individualismo. Desrespeitam os direitos, não cumprem os deveres,

são agressivos no trânsito, são indisciplinados, tudo isso resulta na falta de respeito

à segurança, à vida de si próprio e do outro. O que permite identificar a falta de

civilidade, em relação a falta de respeito e consideração que se tem um pelo outro. A

questão de cidadania vista positiva começa a aparecer quando exposta a vontade

da CET em reduzir em até 50% o número de mortes de atropelamentos na cidade.

58

Conclusão

Quando o autor não está no mesmo espaço que o receptor da mensagem,

ou não pode receber a resposta imediatamente após mandá-la, não se pode saber

qual foi a atitude responsiva de quem lê (revista, jornal, carta etc.), vê (televisão) ou

escuta (rádio). No caso do jornal verifica-se a atitude responsiva do leitor quando

recebem as cartas, mas ainda assim não dá para saber se foi uma atitude

responsiva ativa ou passiva. Coloca no indivíduo a isotopia, que, como visto, é a

compreensão.

Todos os jornalistas ao escreverem suas notícias escolhem as palavras a

serem utilizadas, dando a cada uma o tom valorativo adequado. O que lhe exprime

também o objeto vinculado a palavra usada.

Os jornalistas fazem uso do discurso direto e indireto para colocarem-se

isotopicamente, para dar credibilidade ao seu texto colocam falas de entrevistados

que vivenciaram a situação, assim como, de pessoas ou órgãos especializados no

assunto em questão. Como nas notícias extraídas trata-se do trânsito o depoimento

principal é da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

A alteridade está presente na maioria das notícias, pois, ela exprime o

passado, consistindo em vários valores. Exemplifica a afirmação de Bakhtin, quando

este diz que agimos e emitimos juízo de valor com base na vida já dada e valorada,

damos apenas continuidade. O que resulta também na cronotopia, pois, os tempos –

passado e presente – coexistem, e em alguns textos o próprio futuro se insere,

exemplo, da operação que será feito por respeito ao pedestre, com intuito de baixar

no nível de acidentes fatais.

Para devido entendimento das notícias o leitor necessita dos conhecimentos

estabelecidos por Koch e Elias: o linguístico para compreender o textos, as palavras

inseridas; enciclopédico, na questão dos conhecimentos gerais, principalmente

quando não esclarecido na notícia; e o interacional com relação ao ilocucional,

metacomunicativo e superestrutural para conhecimento do gênero textual, junto com

essa competência há a metagenérica. O jornalista faz uso das competências:

linguística, enciclopédica e interacional ligada a comunicacional para a quantidade

de informações necessárias para o gênero textual.

Pode-se notar que os gêneros do discurso utilizados pelos jornalistas na

maioria das vezes o gênero primário que é de fácil entendimento a todos os leitores,

59

mesmo quando fazem uso do gênero secundário, os jornalistas inserem o gênero

primário.

Tais textos encaixam-se na denominação de campo jornalístico, na forma de

notícia e dirigindo-se a um público amplo. Como notícia assumem as

particularidades discursivas: atualidade, pois, relata acontecimentos, na época,

atuais, apesar de alguns terem uma perspectiva histórica, apresentando por meio de

dados passado; informatividade; e objetividade.

Verificamos nessas notícias que a cidadania sempre deve estar presente na

convivência em sociedade, seja em relação ao conjunto de direitos ou pelos deveres

que devem ser cumpridos. No âmbito de relação com o trânsito podemos perceber a

falta de solidariedade e o individualismo exagerado dos cidadãos, pelos números

altos de desrespeito as leis de trânsito e acidentes que, muitas vezes, acabam

sendo fatais.

Pelas notícias que estudamos se pensarmos na Constituição de 1988, a

cidadania não está sendo exercida devidamente no trânsito, pois, não há respeito

pelo outro. Simbolizam de que forma a cidadania se desenvolve diariamente, não há

respeito aos direitos, não se cumpre os deveres, a agressividade no trânsito é nítida,

assim como a indisciplina. Todos esses fatores evidenciados em números de

acidentes e mortes. Nota-se que não há uma civilidade e sim uma barbárie, rudes.

Nas notícias pode-se ver a ética, pois, mostra os princípios e valores que

orientam as pessoas na convivência em sociedade.

Permitem observar a ética estabelecida pela cultura e sociedade, mostrando

os “crimes” no trânsito, o que julgam ser uma violência contra um ou vários

indivíduos, apontando as soluções, as barreiras éticas contra essa violência no

trânsito.

Por conseguinte as notícias acabam por fornecer parte da moral aplicada na

sociedade, pois, como Chaui explica, ética e moral são conjuntos de costumes de

uma sociedade e que são considerados valores e obrigações para a conduta dos

membros.

Nota-se a afirmação de Kant, que por natureza somos egoístas, agressivos,

cruéis, resultando em mortes.

Diante dessas questões de cidadania, ética e moral, ou a falta dessas, os

órgãos responsáveis (CET, Detran, DENATRAN e até mesmo a Prefeitura)

entrevistados em cada notícia se responsabilizaram em fazer alguma mudança para

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os números de acidentes ter redução. Apesar de ainda não ter o relatório de mortes

do ano de 2012, podemos verificar no nosso cotidiano que as mudanças prometidas

estão acontecendo, pelo menos por parte das entidades. Por exemplo, há

propagandas de respeito ao pedestre nas mídias, nos ônibus, assim como, alerta

aos transeuntes a parte que devem fazer também.

Para saber se essas atitudes tomadas darão certo é preciso esperar 2013,

quando sair o relatório anual com dados desse ano.

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