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I  

Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

razões para esta sessão Júlio Mota

Luís Peres Lopes

Margarida Antunes

22 de Novembro de 2010

Este caderno de textos abre com uma reportagem do

Washington Post sobre a realidade chinesa onde o autor é claro

ao considerar que os grandes medos das oligarquias chinesas,

no aparelho de Estado ou fora dele, vêm dos mais pobres da

China rural, os cento e cinquenta milhões de camponeses

chineses, que, sob o regime de migração interna com passaporte

para circular no próprio país (o regime houku — que torna

ilegal no seu próprio país quem não consegue aceder-lhe)

alimentam e sustentam a máquina da fábrica do mundo,

expressão esta que é símbolo do modelo neoliberal levado ao

extremo e à escala planetária. Neste mesmo caderno, seguem-se

pequenos textos que abordam a temática do documentário e

que, sem falta de rigor, seguem na esteira do tema das crianças

deixadas para trás por nós tratado num anterior caderno de

textos de apoio e disponível no nosso site. A terminar o caderno

publicamos um texto de análise sobre o sistema neoliberal à

escala mundial e a forma por este assumida, a sua emanação, na

China, através de um sistema caracterizado pelo capitalismo de

Page 3: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

II  

Estado Chinês. Esta análise toma como seu suporte a empresa

Foxconn, que só na China emprega 900.000 trabalhadores. Aqui

são analisadas as condições sociais e técnicas de produção, as

condições de repartição do rendimento e de apropriação do

excedente naquela que é inegavelmente um dos mais

emblemáticos ícones do que é a globalização hoje, regida ou

ignorada nos seus efeitos pelas grandes instâncias

internacionais, chamem-se elas Banco Mundial, FMI, OMC, ou

União Europeia.

Ora, sabemos a importância que a China assume hoje na

desertificação dos grandes espaços industriais a Ocidente;

sabemos igualmente que o seu poderio lhe advém sobretudo dos

baixos salários e das deslocalizações de tecnologias, desde as

banalizadas às de “quase de ponta”, as da penúltima geração,

feitas pelo Ocidente; sabemos igualmente que estes baixos

salários são mantidos por fluxos migratórios intensos, legais e

ilegais no interior do próprio país; sabemos igualmente que o

maior volume destes fluxos migratórios são de gente jovem, daí

o poder falar-se de cidades eternamente jovens. A partir disto e

por esta via colocamos então as migrações no centro do debate

sobre a crise económica actual e, com ela, a grave problemática

do emprego a Ocidente, onde já se considera que a geração dos

16 aos 25 anos de hoje é uma geração perdida, uma “lost

generation”.

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III  

Estranha, muita estranha mesmo, a situação que se

atravessa e as coincidências que a percorrem quanto à

problemática da juventude nas economias de hoje, regidas sob o

modelo económico neoliberal e condicionadas pelos objectivos

do custo mínimo e do lucro máximo a apropriar pelo sistema

financeiro, independentemente dos efeitos sobre a indústria,

sobre o sector industrial propriamente dito, sobre a estrutura

produtiva e sobre o emprego nacional. O exemplo desta lógica

encontramo-lo exactamente na Foxconn, onde os salários são de

miséria e onde a taxa de lucro para uma empresa que mobiliza

um milhão e meio de empregados em todo o mundo, pasme-se,

situa-se na ordem dos 4%, margem bruta de lucro. Os elementos

reguladores aí são as intensidades de trabalho, o aumento das

horas de trabalho e os salários apesar de extremamente baixos,

onde a maioria dos trabalhadores jovens nem sequer direitos de

cidadania tem, nem sequer direitos de trabalhadores na indústria

tem. Aqueles dois objectivos, o de custo mínimo e lucro

financeiro máximo, são a cara e a coroa do actual modelo de

sociedade que a todos está a ser imposto e são estes mesmos

objectivos que determinam e moldam a nossa forma de viver e

de estar. Moldam-na assim desde há décadas, desde que a lógica

neoliberal passou a ser determinante, desde a ascensão de

Thatcher e Reagan ao poder. As violências desta lógica não

param de surgir! Provavelmente hoje o caso mais evidente é o

Page 5: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

IV  

que se está a passar na Foxconn, na China, com suicídios de

trabalhadores em série que são interpretados como uma forma

brutal de protesto de uma geração que assim estará a assumir as

suas formas mais radicais algumas vezes pensadas contra a

sociedade que lhes rouba o direito a ter futuro. Falamos de

futuro das novas gerações na China. Como se assinala no

caderno de textos de apoio: “As zonas recém-industrializadas e

as cidades na China apresentam numerosos dormitórios

colectivos, onde um prédio de cinco andares pode albergar

várias centenas de trabalhadores. Nas noites ventosas, as roupas

dos trabalhadores, nos corredores do dormitório, esvoaçam

como as bandeiras coloridas das multinacionais nos mastros.

Estas e essas bandeiras são as bandeiras da nova classe de

trabalhadores da China, simbolizando o fluxo de capital sem

fronteiras e a miséria na terra socialista”. Bandeiras espalhadas

por todo um grande país, a China, bandeiras que assinalam

também o sacrifício de uma geração em que os seus anos de

juventude como trabalhadores “são completamente queimados

com o ritmo das máquinas, à medida que as suas peças e

componentes vão funcionando, à medida que estas vão

trabalhando. Os tempos livres e até mesmo as próprias vidas

nisso são sacrificadas”. A juventude encontrará as suas formas

correctas de protesto, aquelas que a História mais cedo ou mais

tarde imporá ou, como assinala o professor Beverly J. Silver,

Page 6: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

V  

“se os comportamentos do passado podem dar alguma indicação

para o futuro, então poderemos esperar mais vagas, mais ondas,

de mal-estar e de protesto feitas pelos trabalhadores (do tipo das

descritas por Marx) na indústria e a ocorrerem nas regiões que

foram sujeitas a uma mais rápida industrialização e

proletarização”. (Deste ponto de vista, o caso da China é da

mais alta importância histórica a nível mundial)”.

Curiosamente, em Dezembro de 2009, a revista Time ao eleger

o povo chinês como candidato a personalidade do ano afirmava:

“Perto da fábrica encontramos algumas das pessoas que estão a

liderar o mundo no caminho para a recuperação económica:

homens e mulheres chineses, as suas lutas no passado, os seus

pensamentos sobre o presente e os olhos no futuro”.

Pouco tempo depois, muito pouco tempo mesmo,

começaram a verificar-se os suicídios de jovens na fábrica

símbolo do capital total: a Foxconn. A juventude começava a

dar mostras de ver o futuro de forma completamente diferente

do que assinalava e premiava a revista Time, por se começar a

sentir sem futuro.

Estranhas coincidências, dizemos nós, se olharmos agora

para a nossa juventude, que nos parece ser a outra face e do

mesmo modelo aplicado geograficamente em pontos diferentes.

Com efeito, em Abril de 2010, a OCDE, depois a OIT e mais

tarde o FMI e a OIT em conjunto lançaram textos de alarme que

Page 7: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

VI  

nos mostravam que o modelo de sociedades de hoje está

perigosamente a criar uma “lost generation”, na faixa etária das

pessoas entre os 16-25 anos. Estranha situação quando em nome

do futuro dessa geração, que sente ela mesma que o não tem, se

obrigam agora, sob a tutela das Instituições comunitárias, os

Estados-membros a políticas de austeridade que reduzem os

volumes de emprego, a políticas de austeridade que, pela

mesma lógica, aumentam o tempo de vida activa de quem está a

trabalhar, reduzindo, por essa via, ainda mais a viabilidade de

referida geração vir a ter o direito de ter futuro, a ter trabalho.

Ou será que as Instituições europeias com isto estão a criar

condições para efectivar o mercado único ao nível do trabalho,

ou seja, criando concorrência entre os jovens europeus na

procura de trabalho, constituindo-se por aí o cadinho das novas

migrações no espaço europeu, sonho dos arquitectos da actual

construção da União Europeia?

Qual será então a dinâmica de crescimento do

capitalismo europeu? Será que se quer centrar na mesma

dinâmica da Alemanha, assente nas exportações a partir de uma

política de desinflação competitiva, de contenção dos níveis

salariais? Mas sendo assim, será que o que queremos é ser

competitivos com a China ou antes ser competitivos na China?

Ou em ambas as situações? E quando se fala de aumentos de

competitividade estamos a falar de contenção de custos salariais

Page 8: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

VII  

por unidade produzida, estamos a falar do aumento da

intensidade de trabalho em que se inscreve a desregulação dos

mercados de trabalho ou estamos a falar dos efeitos do

progresso técnico com melhoria de bem-estar das populações,

as de hoje e as de amanhã? Desta última hipótese, não se está a

falar, seguramente. Por onde passa então a dinâmica do

capitalismo na Europa?

Nas antípodas em termos geográficos, também cá o

modelo neoliberal está a atirar a juventude para becos sem

saída. Todas estas questões de contornos complexos têm que ser

discutidas pela e na sociedade para que se possam encontrar

respostas globais convincentes que ponham em causa a

continuação das bases estruturantes do modelo económico

neoliberal que nos encaminharam para a situação presente e não

respostas como as que têm sido dadas, nomeadamente pela

União Europeia, que não só se inscrevem neste mesmo modelo

como ainda o reforçam. A continuar nesta via, nada de

fundamental e estruturante se irá alterar. A ilustrar o que

acabamos de dizer, basta ver o que se está a passar com a

regulamentação dos hedge funds, agentes especuladores por

excelência e agentes extremamente importantes na dimensão da

crise actual, no âmbito da União Europeia. O que as Instituições

europeias estão a fazer não é nada mais do que dar corpo à ideia

expressa pelo príncipe Fabrízio di Salina, personagem de

Page 9: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

VIII  

Lampedusa, de que é necessário de que alguma coisa mude para

que tudo possa ficar na mesma. Com efeito, como assinala Jean

Claude Paye:

Ao contrário das instituições financeiras, bancos, seguradoras,

fundos de investimento que utilizam as poupanças obtidas junto do

público, os hedge funds não têm controladores específicos. Estes

podem fazer uma plena utilização das isenções previstas nos textos

legislativos. No entanto, se os hedge funds não são a causa da actual

crise, a facilidade na obtenção do crédito bancário e a criação

monetária que este induz, o risco sistémico que os hedge funds

representam para todo o sistema financeiro, esse foi claro. De facto,

para atingirem elevados resultados, os hegde funds utilizam a

alavancagem. Eles contraem grandes empréstimos junto dos bancos

para compensar a pequena dimensão dos fundos próprios aplicados

em cada acção e, assim, induzem, em caso de problema, um efeito

multiplicador sobre os desequilíbrios. Ao não enquadrar a

possibilidade de recorrerem ao crédito e de criarem bolhas financeiras,

a União Europeia não está a resolver a questão central. A directiva

sobre os hedge funds aponta, formalmente, um bode expiatório para a

crise, os hedge funds, sem que, no entanto, aumente a sua vigilância

sobre os mesmos, antes pelo contrário, elimina, de facto, as

possibilidades de controlo das autoridades nacionais sobre os mesmos.

Não é um passo em frente na criação de um espaço financeiro

europeu. Em vez disso, a directiva estende o nível nacional de

acreditação destes fundos, permitindo que as organizações

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IX  

domiciliadas num Estado-membro tenham, sem autorização de cada

autoridade nacional, acesso ao conjunto de todo o espaço que constitui

a União Europeia. Ao contrário do efeito anunciado, o texto reforça a

nação dominante ao nível financeiro e, portanto, a posição da City

londrina, que gere a maioria dos hedge funds localizada em solo

europeu.

A directiva é igualmente apresentada como estando inscrita na

luta contra os paraísos fiscais, enquanto, na realidade, através da City,

ela abre as portas da União Europeia, sem qualquer controlo por parte

dos Estados-membros, excepto das autoridades britânicas, bastante

indulgentes.

Que tudo fique na mesma, parece pois ser o lema das

Instituições europeias, quanto aos mercados financeiros. A crise, os

outros que a paguem. E é neste quadro que não se vislumbra uma

política capaz de dar resposta às graves questões do emprego que na

juventude atinge já taxas que rondam o insuportável.Juventude de um

lado, na China, massacrada pelo trabalho até ao limite físico, ao limite

do insuportável, juventude do outro, na Europa, sem futuro por não ter

trabalho, eis a situação que o neoliberalismo no quadro da economia

global nos está a impor, e que são pois as duas faces da mesma moeda.

Contra a globalização económica? Ou contra o modelo que a sustenta?

Ou contra as duas coisas? Dê-se a palavra a um dos mais importantes

ideólogos do neoliberalismo, Pascal Lamy, e sigam-se os seus

conselhos actuais, que ele não segue seguramente:

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X  

Não, a globalização não é necessariamente uma ameaça à

identidade, um rolo compressor que tudo esmaga, tudo destrói, que

aniquila as identidades. Não, a “identidade de resistência” não é uma

fatalidade. Se as relações entre a globalização e a identidade são

concebidas e discutidas a nível global, com um espírito de abertura e

sensibilidade, se os espaços são reorganizados para permitir que as

identidades se expressem num contexto global, a globalização também

pode ser uma hipótese, uma oportunidade. Uma globalização que

respeite os valores, as culturas, as histórias múltiplas que formam o

tecido social do nosso mundo é possível. Cabe a cada um de nós

trabalhar nesse sentido para uma “identidade de projecto”.

Contra esta globalização seguramente. Uma globalização

respeitadora do homem é possível, mas não é seguramente esta e nisto

estamos de acordo com Pascal Lamy, que agora afirma: “Nos últimos

anos, interrogo-me sobre as raízes culturais e antropológicos do

capitalismo de mercado que é estruturalmente injusto e que tende a

destruir os recursos humanos e naturais”.

Falamos de novo de uma geração perdida no lado de cá, no

lado da Europa, e quanto a isto o que tem vindo a desenhar desde há

anos no quadro europeu? Vê-se, por um lado, uma política de ensino e

formação redutora da juventude, banalizando-a na sua maior parte,

assentando a sua política de ensino e formação na depreciação dos

trajectos escolares e na desclassificação dos diplomas e dos

diplomados que não encontram emprego correspondente à formação

adquirida, e criando profundas desigualdades ao nível do ensino

superior deixando as melhores carreiras a uma elite cada vez mais

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XI  

pequena. A depreciação da maioria da juventude, vista pela redução

dos seus custos de formação como objectivo de base, é, por outro

lado, inserida num projecto mais vasto de políticas, o projecto ou

modelo que rege globalmente a União Europeia: o modelo neoliberal

em toda a sua dimensão.

Agora, apesar da crise presente, vê-se, por outro lado, que a

política global das instâncias comunitárias continua a ser a de reforçar

e a de endurecer os mecanismos que foram também eles determinantes

na criação da crise da dívida soberana dos seus Estados-membros,

quase todos eles na mesma situação, continuando a virar as costas ao

crescimento económico e, por essa via, também ao emprego decente,

também ao emprego dos mais jovens, a “lost generation”. Face à crise

da dívida soberana resultado ela própria da incapacidade da União em

regular seja o que for nestes mercados, como se viu acima com os

hedge funds. Em vez de fazer como o Banco do Japão ou como o Fed,

as Instituições comunitárias tornam os Estados dependentes dos

mercados de capitais, o que faz disparar as taxas, disparar os encargos,

a bola de neve da dívida pública instala-se e instala-se assim a crise da

dívida soberana. Instalada ou criada a crise da dívida soberana que

querem fazer agora as Instituições comunitárias? Simplesmente mais

austeridade, simplesmente mais desemprego, simplesmente menores

défices públicos, simplesmente menor actividade do Estado na

reconstrução social que a crise dramaticamente abalou, simplesmente

menor peso da dívida pública e esta que há um ano não era

identificada como problema para ninguém, é agora o objectivo

número um destas mesmas Instituições porque foi assim que os

mercados o desejaram. Mas beneficiará a “lost generation”? Vejamos

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XII  

então, com mais detalhe o que pretendem as Instituições europeias, a

senhora Merkle, o Presidente Sarkosy, o Presidente da Comissão

Europeia, Durão Barroso, e os seus comissários, assim como o

Presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. Vejamos

pois a lógica de uma proposta da Comissão Europeia aprovada a 18 de

Outubro, que deverá ainda ter o acordo dos Chefes de Estado e de

Governo. Como assinala Sterdyniak, “o risco é grande de que a

proposta aí seja aprovada, uma vez que os países mais pequenos não

quererão ser alvo das iras dos mercados financeiros”, dependentes que

estão dos mercados obrigacionistas e dos seus leilões de títulos. A

Espanha, por exemplo, com um défice público de 11,1% do PIB em

2009 e que tem que recorrer no próximo ano ao mercado de capitais

para levantar 192 mil milhões de euros dos quais 150 mil milhões para

refinanciamento. Qual a sua margem de manobra face ao quadro

institucional que as Instituições europeias deixaram criar?

Possivelmente, estará a fazer um plano B ainda mais restritivo para

acalmar as iras dos mercados e para lhes garantir que em 2011 será

capaz de colocar o défice público em cerca de 6%. Na sequência da

proposta feita pela Comissão e aprovada pelo Conselho de ministros

da Economia e das Finanças, o Ecofin, admitamos um país, com um

ratio da dívida pública relativamente ao PIB de 90%. Pelas regras

agora aprovadas o país terá que reduzir um vinte avos por ano a

diferença existente entre este ratio e o ratio de 60% de referência do

Pacto de Estabilidade e Crescimento; esta mesma diferença, ou seja,

30%, a dividir por 20, leva pois, a que se reduza o ratio da dívida em

1,5% ao ano. Neste caso, este ratio da dívida não poderá ultrapassar

88,5%. Seja então uma taxa de inflação de 2% e uma taxa de

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XIII  

crescimento de 1%, neste contexto de crise. O ratio da dívida

automaticamente reduz-se para o valor dado para 90% a dividir por

(1+0,2+0,1), ou seja, reduz-se para 87,38%. Como o ratio da dívida

não pode ultrapassar os 88,5% e como a dívida real desce apenas para

87,38% então o défice não poderá ultrapassar a diferença (88,5 -

87,38), ou seja, o ratio do défice público não poderá ultrapassar

1,12% e assim se vai embora até a triste regra dos 3%. Como se

ilustra, esta é a situação que a Comissão quer agora impor com a

proposta recentemente aprovada que é elucidativa da sua submissão

aos mercados financeiros e às agências de rating privadas, cada uma

propriedade de uma família, na sua submissão ao senhor Murdoch

(detentor da Moodys’s), ao senhor McGraw-Hill (detentor da Standard

& Poor’s) ao senhor Marc Ladreit de la Charrière (detentor da Fitch).

Os mecanismos que querem ver aplicados têm associados um

conjunto de parâmetros a ter também em conta, como a

competitividade, o défice externo, a dívida pública e privada, mas

curiosamente nesses parâmetros não está a taxa de desemprego.

Olhemos para os números de taxas de desemprego na Europa

para quem tem menos de 25 anos (dados corrigidos de sazonalidade) e

segundo o EUROSTAT, em Setembro de 2010.

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XIV  

Taxa de desemprego (%) Setembro de 2010

União Europeia a 27 20,3 União Europeia a 15 19,7 Zona euro 20,0 Bélgica 24,4 Irlanda 29,1 Grécia 32,1* Espanha 42,5 França 24,4 Itália 26,4 Portugal 19,8 Finlândia 21,0 Suécia 24,9 Reino Unido 19,2*

* Dados do mês de Agosto

As taxas de desemprego dos mais jovens são elucidativas, para

não se poder compreender este desejo de submissão total aos

mercados em vez de os regular, o que leva a poder afirmar que cá

como lá e por formas diversas se está a criar uma massa de gente

disponível para percorrer mundo, para migrar à procura de trabalho. É

essa a Europa do mercado único? Não sabemos.

As migrações maciças de gente jovem na China são, afinal,

entre vários, um verdadeiro suporte da não empregabilidade das

camadas jovens correspondentes do outro lado do planeta, na Europa,

possivelmente candidatos também eles a migrantes, agora. De resto, já

não é por acaso que os nossos melhores alunos, os nossos melhores

licenciados, deambulam por essa Europa à procura de fazer carreira,

suprindo as falhas existentes nos outros países, pela mesma má

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XV  

qualidade do ensino também aí e pela razão, a redução dos custos

sociais ao nível dos Estados, o aumento dos resultados financeiros.

Migrantes desvalorizados de um lado, na China e algures, e potenciais

candidatos a migrantes no outro, na Europa, eis pois uma estranha

situação, mas só na aparência, pois ela é o resultado lógico da

globalização económica dado o modelo de políticas que a sustenta.

Com efeito, “a China pode ser a fábrica do mundo [e a Foxconn, a

fábrica de material electrónico do mundo], a Índia pode ser o

escritório do mundo, mas nós, os ingleses e os americanos, somos o

centro dos capitais do mundo. E isto não foi por acaso, foi por opção”,

disse em tempos Gordon Brown enquanto primeiro-ministro da

Inglaterra. É essa opção que uns e outros continuam a impor na

Europa e na China. Na Europa, pelo capital financeiro e pelas

Instituições comunitárias; na China também, pelo capitalismo de

Estado associado ao capital internacional e, porque não dizê-lo, pela

repressão. É essa opção que gera os desempregados jovens do lado de

cá, também eles sem futuro. É esta opção que gera os jovens

esmagados pelo trabalho, do lado de lá, que na lógica da actual divisão

internacional do trabalho e do modelo export led-growth imposto e

depois aceite, estão eles também a deixar que o seu futuro seja

destruído pelo trabalho intenso das máquinas da fábrica do mundo. É

contra esta globalização económica que todos estamos contra até

porque desde há muito tempo que defendemos os pontos de vista

subjacentes nas declarações de Pascal Lamy.

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Economia Global, Capitalismo de Estado e

Neoliberalismo (O exemplo da Foxconn)

PARTE I

Na China, o que interessa é a prosperidade, não a

liberdade David Ignatius

Washington Post

21 de Outubro, 2010

Beijing

Na semana em que a liderança da China desvenda a identidade do

próximo possível presidente do país, eu encontro-me com grupos de

estudantes do ensino secundário, empresários, jornalistas e

académicos chineses. O estranho é que políticos quase nunca

aparecem.

Por vezes, os americanos assumem que uma China mais rica irá

brevemente exigir maior liberdade e democracia. Não apostem nisso:

O que os chineses repetem aos visitantes estrangeiros, das várias

maneiras que tornam frases pré-feitas credíveis, é algo como isto: Nós

gostamos do que temos; nós estamos preocupados em perder isso; nós

queremos estabilidade mesmo que isso implique menos liberdade e

franqueza.

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4  

Os chineses não parecem saber muito acerca de Xi Jinping, o homem

que esta semana se tornou o sucessor aparente do Presidente Hu

Jintao, para além do facto de que ele é um filho do poder e é casado

com uma cantora famosa. Isto faz dele um homem susceptível de

manter o estatuto – e talvez reformar o sistema e difundir a riqueza a

nível suficiente para manter alguns discordantes calados. Para a

maioria dos Chineses com que me deparei, estas qualidades parecem

ser suficientes.

“Eu não encontro muitos idealistas na China actualmente,” diz Alan

Guo, antigo empregado da Google que criou um negócio de compras

online aqui. “É mais importante resolver um engarrafamento em

Beijing do que votar para escolher o presidente.”

Há protestos na China, com certeza, mas é sobretudo acerca de

questões económicas e de propriedade. A agenda de liberdade de

Tiananmen Square em 1989, simbolizada hoje pelo prémio Nobel

preso, Liu Xiaobo, foi na maior parte estrangulada. Por entre a elite

das cidades ricas da China, o medo dos camponeses no interior parece

ser uma bem maior preocupação do que a opaca liderança do Partido

Comunista.

Para uma breve previsão do futuro da China, falem com os estudantes

da Beijing High School 101. Vestidos nos seus uniformes azuis e

brancos para receber os jornalistas ocidentais (organizado pelo Comité

dos 100, um grupo privado dos EUA que promove o diálogo sino-

americano), as crianças são incrivelmente brilhantes e falam bem

inglês. Mas, mesmo aqui no topo da pirâmide, há uma fragilidade.

Eles são todos o produto da política chinesa do filho único, e sente-se

bem as pesadas expectativas dos seus pais: estuda, tem sucesso e

Page 22: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

5  

prosperidade, não percas o teu lugar no comboio para a riqueza, para a

prosperidade.

Um menino com um fio de bigode preocupa-se que o fosso entre ricos

e pobres na China esteja a aumentar e que os ricos “só queiram jogar

golfe.” A sua colega concorda: Nesta sociedade, o materialismo

prevalece. As pessoas correm atrás da riqueza. “Mas estas crianças

não parecem capazes de romper com esta mentalidade. Muitos olham

com estranheza quando os visitantes os aconselham a seguir os seus

sonhos na escolha de uma carreira.

Na universidade de Tsinghua, um estudante chamado Yin Wang dá-

nos uma frase surpreendente mas directa: “Os jovens não se

preocupam com quem irá suceder a Hu Jintao, eles preocupam-se sim

com quem irá suceder a Michael Jackson”.

Um tema recorrente aqui é censurado pela própria população que não

quer arriscar cruzar os limites da “liberdade” de expressão. Os

estudantes frequentam a escola de jornalismo em parte para ficarem a

saber quais são os assuntos «proibidos». Os jovens repórteres que

pesquisam para além da versão oficial ficam marcados como sendo

pessoas «indignas de confiança» e perdem boas oportunidades de

trabalho

O governo controla a Internet, e os consumidores e produtores

chineses não se queixam. Um dos maiores Web sites chineses

emprega mais de 100 pessoas para pesquisar a proliferação de micro-

blogs. Os pais evitam falar aos filhos sobre Tiananmen com medo que

eles façam ainda mais perguntas e arranjar problemas.

A ameaça para esta vida urbana vem das pacatas e ainda pobres

províncias rurais. A revolução chinesa começou entre camponeses, e

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6  

há um medo, algo tangível, que a desigualdade crescente na China

possa desencadear outra revolta. É uma razão para as pessoas estarem

nervosas sobre a democracia: Não querem emancipar os camponeses

fortemente descontentes. O partido comunista aprovou esta semana

um plano quinquenal que promove o “crescimento interno”, com uma

maior fatia para as nervosas áreas rurais.

No banquete no Grande Salão do Povo, um oficial chinês chamado

Nan Zhenzhong explica que apesar de as cidades costeiras se

assemelharem à Europa, o interior chinês parece-se mais com África.

Ele repete a palavra estabilidade tão frequentemente que mais parece

uma oração.

Em quase duas horas de conversa, Nan nem uma só vez menciona o

novo líder, Xi, que era nomeado nesse mesmo dia. Outro sinal desta

apatia política. Talvez apenas um país nascido numa revolução podia

ser tão cauteloso com a mudança.

Disponível em http://www.washingtonpost.com/wp

dyn/content/article/2010/10/20/AR2010102004820.html

Page 24: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

7  

PARTE II

Sobre o filme O Último Comboio Para Casa (The Last

Train Home)

Curta Introdução

Todas as Primaveras as cidades chinesas mergulham no caos, quando

de uma só vez, a vaga de êxodo humano tenta regressar a casa por

comboio. É o Novo Ano Chinês. Esta onda humana é composta por

milhões de trabalhadores fabris, e os seus destinos, as suas vilas rurais

e famílias que estes abandonaram para procurar emprego nas grandes

cidades costeiras. É um espectáculo de proporções épicas que mostra a

crescente mudança Chinesa, de um país altamente tradicional para

uma sociedade moderna e integrada na economia global.

O Último Comboio para Casa é um filme emocionante e belo em

termos visuais realizado por Lixin Fan, que mostra a vida de um

migrante chinês apanhado neste turbilhão de indivíduos que como ele

procuram chegar a casa nesta altura do ano.

Há dezasseis anos atrás, os Zhangs deixaram os seus filhos e família

para procurarem emprego na cidade, apoiados na esperança de que os

seus salários iriam proporcionar uma vida melhor aos seus

descendentes. No entanto, e com um toque de ironia, os seus desejos

para o futuro não são alcançados pela própria ausência familiar. Qin, a

criança deixada para trás, é agora uma adolescente atormentada pelo

“abandono” dos pais, que num acto de rebeldia desiste dos estudos.

Também ela irá tornar-se, para tormento dos pais, uma trabalhadora

migrante.

Page 25: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

8  

Num estilo cinematográfico vérité style, O Último Comboio para

Casa segue os Zhangs nas suas tentativas para mudar a vida da filha e

reparar a família destroçada. Íntimo e sincero, o filme mostra o lado

humano da rápida modernização chinesa. Identificamo-nos com os

Zhangs à medida que estes tomam duras decisões para sobreviverem

numa sociedade “presa” entre o antigo e a nova realidade.

Conseguirão eles ultrapassar as dificuldades e ainda assim reparar os

estragos que a sua família sofreu?

Sinopse

Todas as Primaveras as cidades chinesas mergulham no caos, quando

de uma só vez, a vaga de êxodo humano tenta regressar a casa por

comboio. É o Novo Ano Chinês. Esta onda humana é composta por

milhões de trabalhadores fabris, e os seus destinos, as suas vilas rurais

e famílias que estes abandonaram para procurar emprego nas

indústrias citadinas. As breves férias são o seu meio de escape das

sufocantes realidades das fábricas, uma curta oportunidade para

recordarem o que deixaram para trás. É um espectáculo de proporções

épicas que mostra a crescente mudança na China, de um país

altamente tradicional para uma sociedade moderna e integrada na

economia global.

O Último Comboio para Casa é um filme emocionante e belo em

termos visuais realizado por LIxin Fan, que mostra a vida de um

migrante chinês apanhado no movimento entre a cidade e o campo. O

filme começa com cenas desconfortantes e incompreensíveis: uma

multidão desesperada a chorar e a gritar, à espera dos comboios que

podem ou não chegar. Os bilhetes são limitados dada a procura de

Page 26: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

9  

dimensões astronómicas, e os indivíduos estão determinados a voltar a

casa a qualquer custo. O controlo ténue de uma situação que parece

rebentar a qualquer momento é assegurado por um punhado de

polícias visivelmente assustados.

O filme permite-nos observar esta migração massiva pelos olhos de

um casal de meia-idade: os Zhang. Carregando os seus pertences, o

casal consegue entrar num comboio em Guangzhou e para fazer uma

viagem, que foi um autêntico pesadelo, de cinquenta horas pelo país

para conseguirem voltar a ver os seus filhos. Há dezasseis anos atrás

deixaram a sua aldeia ancestral e a sua filha pequena para encontrar

emprego na cidade. Trabalharam em fábricas de vestuário pouco

ventiladas e iluminadas, confortados apenas pela hipótese de que com

os seus salários poderiam pagar a educação dos seus filhos e

proporcionar-lhes uma vida melhor. Ironicamente, as suas

desesperantes esperanças são goradas pela sua própria ausência da

vida familiar. Qin, a criança deixada para trás para ser criada pela avó,

cresceu até à adolescência com um sentimento de abandono, longe dos

pais, não segue qualquer conselho destes e desiste dos estudos em acto

de desafio. Atraída pelo brilhar do dinheiro da cidade, também ela

tornar-se-á uma trabalhadora migrante. Tal decisão é um duro golpe

para os seus pais. Num estilo cinematográfico vérité style, O Último

Comboio para Casa segue os Zhangs nas suas tentativas para mudar a

vida da filha e reparar a família destroçada.

Qin é uma entre milhões de crianças que crescem sem os pais. Em

quase todas as aldeias rurais chinesas, parece haver falta de uma

geração e famílias divididas. Os avós cuidam de netos e dos campos,

enquanto os pais trabalham na cidade e enviam os seus salários. O

Page 27: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

10  

incrível crescimento chinês baseia-se na exploração intensiva e a

baixo custo dos trabalhadores que emigram do meio rural. O

resultado, são famílias divididas, crianças iletradas e uma instabilidade

social que rompe com os tradicionais valores familiares e culturais

chineses. Os Zhang são um “microcosmos” de uma sociedade

apanhada entre a antiga e a nova realidade.

Neste contexto, a rebelião de Qin toma um significado especial, pois

rejeita não só os desejos da família, como também os valores morais

chineses de auto-sacrifício. Neste novo ciclo, o dinheiro e a liberdade

que este oferece substituem os valores familiares. À medida que

acompanhamos Qin desde estar a trabalhar num campo, passando por

trabalhar numa fábrica e mais tarde a servir bebidas num bar,

partilhamos a confusão que as mudanças rápidas trouxeram à China. É

uma confusão e frustração também, patente em outras personagens do

filme, que lutam para atribuir um papel à sua vida num contexto em

que novos valores estão em jogo num país em que se produzem roupas

baratas, brinquedos e produtos electrónicos para o mercado mundial.

Intimista e cheio de ternura O Último Comboio para Casa humaniza o

custo destas mudanças que ocorrem ao longo de toda a China. Ao

longo do filme, identificamo-nos com os pais enquanto estes tomam

decisões difíceis mas cruciais para a sua vida. Conseguirão eles

reparar a sua família? O filme é tenso e melancólico, mas não há falta

de esperança. À medida que observamos Qin e os seus amigos

adolescentes a brincar e a rir nos dormitórios da fábrica, uma réstia de

esperança parece nascer e acredita-se que uma saída deste ciclo pode

surgir da energia e atitude da juventude chinesa.

Page 28: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

11  

A família Zhang

Zhang Changhua (pai)

Nascido numa aldeia rural na provincial de Sichuan, Changhua, tem

trabalhado com a sua mulher nas indústrias da província de

Guangzhou desde os dezassete anos. Autorizou o realizador e a sua

equipa a mostrar a dura realidade da vida do casal. Trabalhadores

migrantes como os Zhangs são considerados cidadãos de segunda na

China. Desprezados pelos citadinos, estes indivíduos têm de viajar

para longe para ocuparem os empregos mais difíceis e mais “custosos”

da economia em crescimento e por salários baixíssimos. O “sistema de

registo familiar” Chinês (o sistema hukou) exclui-os do sistema de

saúde pública e da segurança social. Os seus filhos também não

podem frequentar as escolas públicas das cidades. Vivem em

condições deploráveis e são discriminados diariamente.

Conduzido pela necessidade de voltar e rever os seus filhos, Changhua

paga o triplo do bilhete normal para conseguir um almejado lugar no

comboio que o irá conduzir durante vários dias pela China, gastando

um ano das suas poupanças e com os seus pertences em risco de se

perderem. Apesar de serem extremamente pobres, os Zhang tentam

compensar os filhos com dinheiro e brinquedos pelos anos de

ausência. Mas Changhua vai sentir extremas dificuldades em aceitar e

ultrapassar o impacto que a rebelião da sua filha adolescente lhe

causa.

Page 29: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

12  

Zhang Qin (filha)

Qin é a mais velha de dois filhos. Com dezassete anos no tempo das

filmagens, foi criada pela avó na aldeia rural. Pela lei chinesa, tanto

ela como o irmão estão impedidos de acompanhar os seus pais

migrantes, dado que não iriam ter autorização de residência na cidade,

e assim estariam impedidos de frequentar as escolas públicas na

cidade. Qin apenas vê os seus pais uma vez por ano, durante o Ano

Novo Chinês. Rancorosa, acredita que os seus pais se importam mais

com o dinheiro do que com ela. Não lhes consegue perdoar.

A vida de Qin é simples, e gira entre uma agricultura de subsistência e

a escola da aldeia. Atraída pelo dinheiro e pela vida excitante da

cidade, deixa a escola contra a vontade dos pais, viaja para Guangzhou

para se juntar à vaga de trabalhadores migrantes das fábricas. Começa

aqui a trabalhar catorze horas por dia, recebendo apenas cinco dólares

e vivendo num quarto de um dormitório com mais doze pessoas. Qin é

o estereótipo de um adolescente que desiste da escola na China, um

país onde pelo menos um terço dos 120 milhões de trabalhadores

migrantes são mulheres dos dezassete aos vinte e cinco anos. Ingénua,

acredita que “ganhar” dinheiro é mais importante que a escola na

sociedade actual, apesar do sonho chinês excluir aspirações de

mudança de estatuto para os migrantes. No fim do filme, o futuro de

Qin continua incerto.

Page 30: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

13  

Chen Suqin (mãe)

No início do filme, e com grande dificuldade, Chen conta-nos como

deixou a sua filha recém-nascida para acompanhar o marido e

procurar trabalho na cidade. Não via os seus filhos desde há três anos.

Destroçada pelo sentimento de culpa, admite ao realizador que não foi

uma boa mãe, mas que tinha de fazer o que teve de fazer. O Último

Comboio para Casa documenta o desesperante desejo de reatar

relações com a sua filha rebelde e o esforço para a conduzir em

direcção a um futuro melhor e diferente. Nas cenas finais do filme,

Chen deixa o seu marido a trabalhar sozinho na cidade, volta para a

aldeia na esperança de impedir que o seu filho mais novo siga as

pegadas da irmã.

A família Zhang é um exemplo de inúmeras famílias chinesas cujas

relações e valores foram destruídos por um crescimento desenfreado

na era de uma economia altamente globalizada.

Comentário do Realizador

Trabalhei em várias estações de TV na China. Durante esses tempos

viajei pelo país, e pude verificar a grande diferença entre as cidades e

as zonas rurais. Escondida pelo glamour das metrópoles modernas, a

pobreza nas zonas rurais é profundamente chocante. Enquanto viajava,

comecei a concentrar-me nos trabalhadores migrantes que, para mim,

foram os que mais contribuíram para o crescimento espantoso da

China, sendo no entanto os que menos beneficiaram com isso. À parte

de outras dificuldades, os trabalhadores têm de suportar também o

Page 31: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

14  

facto de terem deixado para trás as famílias. Decidi por isso fazer um

documentário sobre a vida deste grupo social que têm um papel

extremamente activo e único na China.

O êxodo migratório anual entre as cidades e os meios rurais durante o

Ano Novo Chinês proporcionou-me a oportunidade perfeita para

filmar e examinar de perto o empenho dos trabalhadores. A história

dos Zhangs assemelha-se à de milhões de outros indivíduos. O filme

explora a iniquidade social criada pelo desempenho industrial do país,

bem como os efeitos da globalização tanto a nível humano como

social. Ao observar os destinos de uma família, espero conseguir

mostrar o choque entre a ambição de uma nação em elevado

crescimento e o impacto na cultura, sociedade e indivíduo.

Culturalmente, o valor confuciano do “respeito geracional” (respeito

pelos mais velhos e antepassados) tem desde há muito um papel

relevante na vida chinesa. Estar longe da família é desencorajado, mas

as mudanças na mentalidade da sociedade tornou esta abordagem mais

pragmática, de agora melhorar a vida material. Os pais trabalham

agora longe de casa, enviam as poupanças para os avós e filhos.

Infelizmente, o conforto material isolado não se traduz em afecto. Sem

a presença dos pais e sem laços emocionais, os filhos deixados para

trás não se identificam com os primeiros, criando uma separação, uma

distância, cada vez maior e com menos hipótese de reparação entre

pais e filhos.

A nível nacional, a China caminha rapidamente para um nível de

riqueza nunca antes alcançado. Mas devemos questionar-nos se a

tradição, a moral e a solidariedade humana devem ser arrastadas para

este turbilhão. Para o governo, manter um equilíbrio entre crescimento

Page 32: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

15  

económico e riqueza para todos os cidadãos é o derradeiro objectivo

nestes tempos de mudança. Na filosofia taoista, sabemos que na

Natureza os opostos coexistem em harmonia. O equilíbrio entre

opostos cria as melhores condições possíveis de bem-estar e harmonia.

“Yin e Yang”. É o que esperamos para o futuro.

Perguntas e Respostas com o realizador Lixin Fan Ed Moy

LA Asian American Movie Examiner

6 de Setembro, 2010

P: Porque é que escolheu a situação difícil dos trabalhadores

migrantes chineses como tema do seu primeiro filme? Este

assunto teve alguma influência na sua vida?

R: Nasci numa família normal. O meu pai era professor universitário e

a minha mãe era contabilista. Estudei na universidade na minha terra

natal, e assim não tive grande experiência como emigrante. No

passado, quando trabalhava na televisão e viajava, ficava sempre

muito incomodado pela pobreza e miséria das zonas rurais ofuscadas

pelo glamour das metrópoles modernas. Comecei a reparar que estes

trabalhadores, responsáveis pela prosperidade actual do país viam ser-

lhes negadas as necessidades sociais básicas. Tinham de suportar um

constante mal-estar afectivo pela ausência das suas famílias. Decidi

fazer o filme para mostrar quer a crescente importância deste grupo

Page 33: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

16  

social no crescimento chinês quer a maneira como são afectados por

este mesmo crescimento.

P: Como encontrou as personagens? Foi difícil convencer a

família a participar?

R: Na cidade de Guangzhou visitei mais de trinta fábricas. Tudo aí é

fabricado: brinquedos, roupa, componentes electrónicos, tudo…

Passeei pelos bairros residenciais dessas fábricas e falei com os

trabalhadores que conheci. São geralmente simpáticos, mas também

cautelosos quando falam com estranhos. Numa população que está em

constante mudança pela migração desenfreada, demora-se tempo a

ganharmos a sua confiança. Por simples acaso conheci os Zhang. No

inicio estavam reticentes em falar comigo, no entanto, com o passar

do tempo tornámo-nos amigos e concordaram em participar no filme.

Ao fazer parte de muitos momentos marcantes das suas vidas ficámos

grandes amigos, e agora a equipa trata-os como irmãos. Éramos como

uma grande família.

P: Alguma vez se sentiu tentado a largar a câmara e ajudar os

Zhangs com as suas crescentes dificuldades?

R: Penso que esta é a questão que qualquer realizador de um

documentário acaba por pôr a si próprio. A escolha é sempre difícil.

Como já referi, uma razão pela qual quis fazer este filme foi para

divulgar e tentar melhorar as vidas dos trabalhadores. Há momentos

em que o bem-estar de um indivíduo entra em conflito com o processo

de filmagem. Por exemplo, quando o pai bate na filha, será que devia

ter baixado a câmara, ou devia ter filmado o momento emocional para

Page 34: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

17  

dar uma narrativa mais forte e para ter mais impacto junto da

audiência e iniciar mudanças? Neste conflito ético todos somos

pressionados para decidir de forma sensata. Naquele momento, eu

estava noutro quarto, e o meu operador de câmara estava a gravar.

Ouvi barulho e entrei em cena para acalmar toda a gente. Os chineses

acreditam que o mundo em que vivemos não é um mundo a preto e

branco. Como Tao argumenta com o ying e o yang: toda a acção cria

uma contra-acção natural. Como o símbolo Tao mostra, há preto no

branco, mas também, há branco no preto.

P: Porque é que acha que a China tem este maciço movimento

migratório?

R: A migração do trabalhador rural começou no inicio dos anos

oitenta quando o país abriu a sua economia. A entrada de capital

estrangeiro criou imensas fábricas nas zonas costeiras do sul. Uma

crescente procura de trabalho atraiu milhões da sua terra natal rural

para as fábricas. Uma redução nas restrições de movimentos entre

regiões do país, permitiu encontrar oportunidades de melhoria de vida.

Salários baixos e a falta de direitos impede-os de trazer as famílias das

terras natal para as cidades, mesmo depois de décadas de trabalho.

P: Que região atrai mais trabalhadores, e de onde é que eles

vieram?

R: A tendência geral da migração é do Oeste não desenvolvido para

um Este mais desenvolvido e litoral Sul. Pessoas de zonas densamente

populadas como Henan, Sichuan, Hubei e Hunan são os que mais

procuram a emigração para as grandes cidades.

Page 35: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

18  

P: Pensa que o sistema de transportes na China pode ser

melhorado, como?

R: Desenvolver o sistema de transportes do país está no topo das

prioridades de Pequim. Assim este “festival” está mais relacionado

com políticas sociais do que com o sistema de transportes. De facto,

não interessa quantas estradas são construídas, é impossível

transportar uma quantidade enorme de passageiros de uma só vez e

numa só direcção. Uma solução mais racional seria a implementação

de legislação laboral, garantindo cuidados sociais e apoiar a

deslocação das famílias para as cidades. A China definiu o objectivo

de urbanizar metade da sua população em 2020 e setenta por cento em

2050.

P: O que pensa dos cuidados inter-geracionais (avós a cuidar de

netos)? Qual o impacto na nova geração?

R: Os avós tendem a mimar os netos porque hoje em dia a maioria dos

casais só tem um filho. Como os netos são mais desobedientes com os

avós, tornam-se os chamados “pequenos imperadores”, o que é bom e

é mau. A nova geração tem mais liberdade para pensar e fazer o que

quer, o que pode transitar para uma força positiva de mudança. Por

outro lado, os miúdos mimados têm muitas vezes a falta de vontade de

mudança, e a falta de consideração para com os outros, o que é mau.

P: Como é que o fenómeno de migração dos trabalhadores afectou

os valores tradicionais da família chinesa?

R: É verdade que a virtude confuciana do “respeito geracional” tem

um papel histórico na sociedade chinesa. Estar longe da família nunca

Page 36: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

19  

foi encorajado pelos valores tradicionais. Agora numa sociedade em

mudança são tomadas decisões mais pragmáticas e de carácter

material. No entanto os chineses não estão a perder completamente os

valores tradicionais. Por exemplo, no filme, os pais trabalham longe

de casa mas enviam as suas poupanças para os seus pais e filhos. Eu

penso que apesar do modo de vida ter mudado, os valores mais

profundos mantêm-se.

P: Quem é que influenciou o seus estilo artístico?

R: Eu admiro o realizador chinês Jia Zhangke. Ele é calmo,

meticuloso, sensível e a sua forma especial de olhar para uma China

em mudança de um ponto de vista humano num contexto histórico

mais alargado deu-me muita inspiração. Ele utiliza a paisagem e o

ambiente para definir o tema. Também aprendi muito com o meu

grande amigo Yung Chang, realizador de Subindo o Rio Yangtzé.

P: Ao realizar este filme, o que é que de mais importante

aprendeu?

R: Uma coisa que aprendi é que uma relação próxima entre o

realizador e o objecto é essencial para fazer uma representação forte e

realista da vida. Durante a produção, a equipa e as personagens

falaram sobre tudo. Pressenti como realizador que não se pode apenas

pensar no que se pode retirar do objecto, é necessário partilhar ideias e

emoções. Muitas vezes, conseguia uma grande filmagem quando

sentia que estava ligado emocionalmente às personagens.

Page 37: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

20  

Vivo o momento com as personagens, o meu coração sente a sua dor,

o seu amor, a sua tristeza e a sua coragem. Mas ao mesmo tempo,

penso sempre de forma racional.

Devem ver no IDFA DOC: “O Último Comboio para

Casa” Eugene Hernandez

indieWIRE

25 de Novembro, 2009

Programadores passam meses a viajar pelo mundo à procura de filmes

para as audiências sempre de acordo com os interesses e ideias

dominantes neste sector. De vez em quando, alguns filmes despertam

curiosidade, mas raramente algum é considerado memorável.

Se há algum filme que definitivamente deve ser visto no festival de

Cinema IDFA é O Último Comboio para Casa, um filme do

realizador Lixin Fan. O filme é um documento excepcional sobre a

vida dramática de uma família chinesa mas que representa igualmente

os grandes desafios que uma nação em mudança está a enfrentar num

mundo perturbado

Cerca de 130 milhões de trabalhadores chineses viajam para a sua

terra natal uma vez por ano para celebrar o ano novo chinês. Os mais

velhos tomam conta das crianças enquanto os pais vão trabalhar para

as fábricas para poderem assegurar os cuidados às suas famílias

enquanto produzem bens vendidos no mercado internacional. A única

Page 38: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

21  

forma dos pais conseguirem ajudar as famílias e quebrar o ciclo de

pobreza é deixar a família para trás.

O Último Comboio para Casa é extremamente emocional. O rosto de

um pai, as palavras de uma mãe, a dor de uma filha.

Os bebés dormem em longas mesas enquanto as mães costuram em

máquinas por perto, trabalhadores sentam-se numa pilha de “jeans” à

medida que fazem mais calças, um operário carrega caixas de cartão

onde está impresso “made in China”.

Literalmente um mar de seres humanos tentam embarcar num número

limitado de comboios. Nem todos o conseguirão…

“É tudo pelos nossos filhos, pelos nossos pais, é a nossa vida”, diz um

trabalhador chinês.

“Queres filmar verdadeiramente o que eu sou?! Isto é realmente o que

eu sou!” grita um adolescente irado ao pai enquanto o operador tenta

capturar o momento intenso de confronto entre pai e filha.

Com uma fotografia e montagem de altíssima qualidade, o filme

mostra o trabalho do realizador que mergulhou na vida do casal, os

Zhangs, para captar a história da sua família. Muitos momentos neste

filme são altamente sensibilizadores. O drama da história pessoal dos

Zhangs, e a sua luta para simplesmente voltar a casa, é extremamente

mordaz e de tal modo que, por vezes, parece que é interpretado por

muitíssimos bons actores desconhecidos.

“Eu aproximei-me primeiro, e eles deixaram que me aproximasse e

entrasse na vida deles”, explicou o realizador no Festival Internacional

de Documentários em Amesterdão onde o filme teve a sua estreia

internacional. Estreou no inicio deste mês e ganhou um premio no

Rencontres Internationales du Documentaire em Montreal.

Page 39: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

22  

Fan, que trabalhou para o canal CCTV Chinês antes de se mudar para

o Canadá, voltou à China para trabalhar com a EyeSteelFilm no

documentário Subindo o Rio Yangtzé antes de pegar no seu projecto.

Ele disse que o seu filme foi inspirado na curiosidade da ideia de uma

mãe que não via a filha à três anos. Ganhou a confiança e a estima

com os Zhang, convencendo-os de que a sua história podia mudar uma

situação mais profunda.

“Gostava que o meu público se identificasse com os trabalhadores”

disse Fan antes da estreia no Canadá. “Hoje, todo o mundo está

interligado. Somos realmente uma totalidade, uma unidade. A maneira

como vivemos a nossa vida no Ocidente tem um laço muito próprio

com a forma como se vive nos países em desenvolvimento”.

No entanto, na sequência de vários comentários positivos Lixin

explicou a razão principal para fazer o filme: “Gostaria de agradecer

às pessoas que labutam nas fábricas e que fazem tudo o que

utilizamos”. Reiterando ainda: “É sobre emigrantes, é sobre o país, é

sobre a maneira como funciona o mundo”.

Disponível em http://www.last-train.com/category/press/

Page 40: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

23  

PARTE III

Os suicídios como protesto para as novas gerações de

trabalhadores migrantes chineses: Foxconn, Capital

Global e o Estado Jenny Chan e Ngai Pun

The Asia-Pacific Journal

13 de Setembro, 2010

Síntese

Surpreendentemente 13 jovens trabalhadores da Foxconn tentaram ou

suicidaram-se nas suas duas instalações fabris no sul da China entre

Janeiro e Maio de 2010. Podemos interpretar os seus actos como uma

forma de protesto contra um regime de trabalho global que é

amplamente praticado na China. As suas mortes são uma exigência e

um verdadeiro desafio para que a sociedade reflicta sobre os custos de

modelo de desenvolvimento promovido por um capitalismo de Estado

em que se sacrifica a dignidade humana em proveito dos lucros das

grandes empresas e em nome do crescimento económico. As

condições de trabalho dos migrantes na China são geridas pelo Estado,

são moldadas por um conjunto de forças interligadas: em primeiro

lugar, as principais marcas internacionais têm adoptado práticas de

compra com desrespeito total pela ética, resultando daí condições

precárias nas suas cadeias de fornecimento global de produtos

electrónicos. Em segundo lugar, os gestores têm utilizado métodos

abusivos e ilegais de modo a aumentar a eficiência do trabalhador,

provocando queixas generalizadas e resistências no local de trabalho.

Page 41: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

24  

Em terceiro lugar, as autoridades chinesas locais, em conluio com os

gestores das empresas, sistematicamente negligenciam os direitos dos

trabalhadores, resultando daí uma pobreza generalizada e um enorme

aprofundamento das desigualdades sociais. A tragédia humana na

Foxconn levanta uma série de profundas questões sobre as condições

de trabalho da nova geração de trabalhadores migrantes chineses. Isto

também contesta a actual política estatal baseada na utilização

intensiva de trabalhadores rurais migrantes, cujos direitos de trabalho

e cidadania têm sido sistematicamente violados.

Morrer é a única maneira de testemunhar que de facto já vivemos

Talvez para os trabalhadores da Foxconn e para trabalhadores como

nós

-- nós, a quem chamam nongmingong, trabalhadores rurais migrantes,

na China –

A morte serve apenas para certificar que estivemos vivos, sem dúvida,

e que foi apenas no desespero que sempre vivemos.

-- De um blogue operário (depois do 12º salto na Foxconn) (1)

Page 42: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

25  

Introdução

Hon Hai Precision Industry Company, mais conhecida pelo seu nome

comercial de Foxconn (Fushikang), foi criada em Taipei em 1974 (2).

A Foxconn é actualmente a maior fabricante do mundo em produtos

electrónicos a trabalhar em regime de contratos, o que significa que

faz a maioria do seu volume de negócios como fabricante em regime

de subcontratação com terceiros e não pela venda de produtos de

marca própria. A empresa está em condições de garantir a produção de

mais de 50 por cento do valor global em produtos electrónicos para a

indústria de serviços em 2011. (3) Sob a liderança do seu fundador e

actual presidente, Terry Gou, a Foxconn considera-se "o parceiro mais

fiável e preferido em todos os aspectos de outsourcing global em

material electrónico para ajudar os clientes nos seus negócios."(4)

Tragicamente, nos primeiros cinco meses deste ano até 27 de Maio de

2010, lamentável e inesperadamente, 13 jovens trabalhadores

suicidaram-se ou tentaram fazê-lo nas duas instalações de produção da

Foxconn em Shenzhen, uma cidade no sudeste da China, abrindo uma

crise de relações públicas e uma crise ao nível da responsabilidade das

empresas quanto à imagem e à consciência moral de praticamente

todos os clientes da Foxconn, incluindo a Apple, HP, Dell, IBM,

Samsung, Nokia, Hitachi e outros gigantes da electrónica. Dez

trabalhadores migrantes chineses morreram e três sobreviveram aos

ferimentos. Todos tinham entre os 17 e os 25 anos, estavam pois no

auge da sua juventude. A sua morte deve levar a sociedade tanto a

chinesa como a internacional a tomar consciência e a reflectir sobre os

custos de um modelo de desenvolvimento que sacrifica a dignidade

em nome do crescimento económico.

Page 43: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

26  

O sucesso da Foxconn testemunha o dinamismo no modelo de

crescimento assente nas exportações da Zona Económica Especial de

Shenzhen, no âmbito da política de abertura da China, conhecido

como modelo export-led growth. Nos seus mais de 20 anos desde o

seu investimento inicial em 1988, a Foxconn tem crescido de tal modo

que é o maior exportador da China. O fabricante de material

electrónico tem uma força de trabalho de 900.000 pessoas no país, 85

por cento das quais são jovens vindos das áreas rurais.(5) Podemos

mesmo dizer que a Foxconn é um microcosmos da vida dos

trabalhadores migrantes chineses. Quando a revista Time escolheu os

trabalhadores da China como candidatos a «Personalidades do Ano»

de 2009, o chefe de redacção dessa revista referiu que os trabalhadores

chineses tinham contribuído para tornar mais brilhante o futuro da

humanidade ao «encabeçarem a marcha do mundo pela via da

recuperação económica»."(6) A nova geração de trabalhadores

migrantes chineses (xinshengdai nongmingong), porém, parece tomar

consciência de que está ela própria a perder o seu futuro. A tragédia na

Foxconn tem sido considerada como um "suicídio em série" pelos

media chineses.(7)

Podemos interpretar que os empregados da Foxconn se tenham

suicidado em protesto contra um regime de trabalho global em que a

China fornece a parte mais violenta e mais dura. No âmbito da política

de reforma e de portas abertas, a economia chinesa está orientada para

a exportação e mostra assim que é capaz de garantir o seu crescimento

económico. As empresas investiram na Ásia e os fabricantes nacionais

na China Continental cresceram rapidamente para se tornar

fornecedores e subcontratados das empresas multinacionais

Page 44: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

27  

ocidentais, com base na exploração dos baixos salários dos

trabalhadores migrantes. Nas fábricas, o stress no trabalho associado

com a concorrência desenfreada e os métodos de gestão da produção

just-in-time, o modo de gestão na produção, é imenso. O suicídio é,

sobretudo, a manifestação extrema do que sentem as suas centenas de

milhões de trabalhadores nas suas vidas. Alguns suicídios podem ter

sido provocados por problemas pessoais, como a direcção da Foxconn

gostaria que aceitássemos. Mas há um contexto social mais amplo

partilhado pelos seus trabalhadores e por muitos outros mais que está

subjacente nas acções individuais desesperadas.

Este artigo revê e analisa a questão dos recentes suicídios na Foxconn

como um meio para investigar as condições de trabalho e de vida da

nova geração de trabalhadores migrantes chineses. Partilhamos a visão

dos investigadores chineses e internacionais, que assinaram uma carta

sem precedentes mostrando a sua preocupação para com as vítimas da

Foxconn, em Junho de 2010, para chamar a atenção para a

necessidade de aplicar as normas sobre o trabalho na Foxconn e em

muitos outros locais de trabalho global.(8) Entrevistámos vários

trabalhadores da Foxconn no decorrer da nossa investigação fora das

instalações da Foxconn na China meridional e oriental, que iniciámos

em Maio de 2010, a fim de saber quais as suas condições de trabalho.

Obtivemos também informações a partir de fontes quer da indústria,

quer do governo, sobre as características e as mudanças de pontos de

vista dos trabalhadores mais jovens sobre os trabalhadores mais

velhos. Ao proporcionar-nos um olhar para o interior do regime de

trabalho global na China, através de estudo empírico do sistema de

trabalho na Foxconn, o nosso estudo levou-nos a sublinhar a

Page 45: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

28  

necessidade urgente de reformas progressistas. Os jovens

trabalhadores migrantes, que foram colocados na “melhor” área dos

dormitórios da fábrica Foxconn, (9) pareciam apenas mostrar maior

ansiedade, e viam menos alternativas do que os seus colegas. Os

esforços para remediar a situação devem assentar fundamentalmente

na participação dos trabalhadores directamente envolvidos nas

situações e nas decisões que lhes digam respeito, no trabalho e para

além dele.

A seguir, analisamos as condições do aparecimento do regime de

trabalho global na China desde 1980. Os empregados da Foxconn são

uma muita boa representação da nova geração de trabalhadores

migrantes chineses. Eles querem mudar a sua dagong(10), a sua

identidade de género e de classe que surgiu depois de Mao e que é a

de trabalho fabril para a pessoa que tem o estatuto de patrão na cidade,

mas nisso enfrentam dificuldades intransponíveis. A empresa Foxconn

é uma forma extrema dessa situação de trabalho, como mostraremos a

seguir, quando falarmos sobre o que está na origem da Foxconn se

tornar "a fábrica de produtos electrónicos do mundo." A partir daí,

propomos um triplo quadro explicativo das causas estruturais dos

suicídios na Foxconn. Primeiro, as principais marcas internacionais

têm adoptado práticas de compra de produtos aí fabricados que não

são eticamente aceitáveis, resultando daí condições precárias nas suas

cadeias de abastecimento. Em segundo lugar, a direcção da Foxconn

utilizou métodos abusivos para aumentar a eficiência do trabalhador,

gerando queixas generalizadas e muitas resistências. Em terceiro

lugar, as autoridades chinesas locais foram coniventes com empresas

como a Foxconn para privar os trabalhadores dos direitos legítimos e

Page 46: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

29  

do seu bem-estar, do que resultou um aprofundamento das situações

de pobreza e em que aumentou a desigualdade social. Para muitos

jovens trabalhadores afigura-se impossível lutar pela melhoria da vida

quotidiana em que vivem e, eventualmente, consideram impossível

realizar os sonhos que têm para o futuro.

A partir daí, concluímos que a tragédia humana na Foxconn levanta

questões profundas sobre a sustentabilidade do modelo de

desenvolvimento da China e da produção global. O centro do maior

problema, sugerimos, é que os trabalhadores na China não têm

estruturas sindicais que façam ouvir a sua voz. Ao nível mais baixo da

cadeia de fornecimento internacional de mercadorias, as commodities,

milhões de trabalhadores migrantes chineses estão permanentemente a

serem privados quer de salários quer de benefícios sociais decentes.

Os trabalhadores jovens com origens rurais (hukou, é o registo interno

oficial, com passaporte interno igualmente), tal como os seus pais, são

cidadãos marginalizados. Estes, os jovens, agora com melhor nível de

escolaridade, anseiam por uma vida em sintonia com os tempos e a

cidade é o local onde tudo está a acontecer. Quanto maiores as suas

aspirações de um futuro melhor, mais óbvio se torna o contraste com a

sua dura realidade. Através de várias formas de protesto, de que o

suicídio é a expressão mais desesperada, os jovens estão a tentar

recuperar os seus direitos e a sua dignidade.

Page 47: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

30  

Regime de Trabalho Global

Num cenário habitual, num dormitório de trabalhadores numa zona

industrial de Shenzhen, a cidade de mais rápido crescimento na China,

com uma população, em 2008, oficialmente estimada em 14 milhões,

nós fomos rodeados pelos trabalhadores da Foxconn, que estavam a

conversar e a assistir a um programa de novelas numa mercearia, no

verão de 2010. Era uma área aberta onde os jovens trabalhadores

rurais migrantes, a maioria sem família, passava as suas poucas horas

de lazer. O complexo fabril estava fechado e para lá do portão,

estavam situados mais de dez edifícios de dormitórios a sul das

instalações de produção da empresa. Cá fora do portão, viviam mais

de 50.000 trabalhadores em casas do bairro, transformando-os em

dormitórios colectivos. Impedidos de viverem na cidade onde eles

vendem a sua força de trabalho, os trabalhadores têm de encontrar um

sítio para viver próximo do seu empregador ou vivem em dormitórios

da empresa. As zonas recém-industrializadas e as cidades na China

apresentam numerosos dormitórios colectivos, onde um prédio de

cinco andares, pode albergar várias centenas de trabalhadores. Nas

noites ventosas, as roupas dos trabalhadores, nos corredores do

dormitório, esvoaçam como as bandeiras coloridas das multinacionais

nos mastros. Estas e essas bandeiras são as bandeiras da nova classe

de trabalhadores da China, simbolizando o fluxo de capital sem

fronteiras e a miséria na terra socialista.

A China, uma vez que é caracterizada pela existência de relações

sociais não-capitalistas,(11) é hoje o maior caso da reprodução

alargada do capital no século XXI. Recentemente, a China enfrentou a

Page 48: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

31  

pior crise económica do pós-guerra e tornou-se entretanto a segunda

maior economia do mundo, ultrapassando o Japão. Com o capital

transnacional e privado a invadir as zonas industriais costeiras e

algumas cidades e vilas do interior a China tem estado a ter, desde a

década de 1970, o mais rápido crescimento a nível mundial quer das

suas importações quer das suas exportações.(12) "Made in China",

uma referência, um rótulo, que não corresponde à actual distribuição

da riqueza na cadeia da produção global, tem contribuído para a

crescente importância da China na economia global.

Os Salários Chineses

A competitividade da China pela via dos salários é atractiva tanto para

os capitais nacionais como para os internacionais e é o resultado das

políticas do governo chinês. (13) Durante o período entre meados dos

anos 1980 e 2004, os planos estatais de desenvolvimento tinham, na

verdade, levado à banca rota as zonas rurais do interior, daí que estas

tenham registado saídas maciças de trabalhadores.(14) O "excedente"

de trabalhadores partiram para as mais prósperas cidades costeiras e

outras cidades em busca de trabalho através das suas redes de amigos

e familiares dispersos pelo país. Enquanto isso, os governos locais

incentivam o trabalhador rural a deslocar-se para bairros urbanos das

zonas industriais através dos projectos de "redução da pobreza" e,

desta forma, adicionalmente levavam, para fora, os trabalhadores mais

bem formados e mais capazes que eram os jovens que seriam mais

necessários para a reconstrução da economia rural.(15) Sob esta

dicotomia entre estruturas sociais rurais e urbanas, os salários

Page 49: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

32  

industriais na China permaneceram muito baixos, e não foi ainda em

2005-06 que testemunhámos nenhum significativo aumento.(16) O

grande volume de migração rural é orientado por um modelo

económico de largo enviesamento a favor da indústria. Embora os

resultados da política do filho único na família implementada a partir

dos anos 1970 tenham sido importantes para as mudanças

demográficas a longo prazo na população nacional de trabalhadores as

gerações sucessivas de migrantes das zonas rurais para as zonas

urbanas, o conjunto potencial dos migrantes no meio rural têm sido e

ainda é enorme. Os trabalhadores migrantes chineses têm sido

incorporados num regime de trabalho industrial global.

Os salários da indústria transformadora na China como uma

percentagem dos correspondentes salários dos EUA,(17) em

comparação com os do Japão e dos tigres do Sueste Asiático, como a

Coreia do Sul e Taiwan nos primeiros anos da sua descolagem

económica, têm-se mantido constantemente sempre baixos. Os

economistas Erin Lett e Judith Banister (2009) estimaram que o custo

médio de remuneração horária dos trabalhadores industriais da China

em 2006 foi de apenas 0.81 dólares americanos.(18) A revista The

Economist afirmava, em Julho de 2010, que os trabalhadores

migrantes da China "ainda se tinham tornado mais baratos... apenas

2,7 por cento do custo das suas contrapartes americanas".(19) Com

base em estatísticas do governo, a parte dos salários no produto

interno bruto da China (PIB) caiu de 56,5 por cento em 1983 para 36,7

por cento em 2005; por contraste, muitos países da OCDE mantiveram

a parte dos salários no PIB em cerca de 60 por cento ou mais, para o

período comparável de 1978-2008 (20) Se os salários, particularmente

Page 50: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

33  

os salários dos migrantes rurais têm permanecido baixos, os lucros das

empresas na China têm rapidamente aumentado, com um crescimento

de cerca de 20 por cento entre 1978 e 2005, com a única excepção da

recessão que acompanhou a crise financeira e a crise das moedas na

Ásia de 1997-1998.(21) O sector de exportação transforma a maioria

de seus lucros em poupanças das empresas, dividendos e

reinvestimentos, ao invés de partilhá-los com os trabalhadores.

O rendimento dos trabalhadores rurais migrantes é, diríamos, à justa

para fazer face a uma vida em condições mínimas em áreas urbanas.

Um relatório de 2004 do Ministério do Trabalho e da Segurança

Social revelou que o salário mínimo mensal aumentou tão pouco

como 68 yuan nos últimos 12 anos, na região do Delta do Rio das

Pérolas na província de Guangdong, o núcleo central da "fábrica do

mundo" (22). Pior ainda, o não-pagamento de salários e os tratamentos

injustos continuam a ser um mal geral, enquanto os conflitos laborais

têm vindo a aumentar desde os anos 90.(23)

Em resposta, o novo governo liderado por Hu Jintao e Wen Jiabao

tomou várias medidas de apoio tendo como alvo os camponeses e

trabalhadores migrantes rurais. O Ministério do Trabalho e da

Segurança Social, codificou as exigências do salário mínimo através

da aplicação das disposições sobre o salário mínimo em 1 de Março de

2004 (Zuidi Gongzi Guiding), com uma tentativa de reforçar a

protecção oferecida aos trabalhadores através do salário mínimo (24).

Em Junho de 2007, o Comité Permanente da Assembleia Popular

Nacional (APN) promulgou a Lei do Contrato de Trabalho com o

objectivo de proteger o direito legítimo dos trabalhadores aos seus

salários, benefícios sociais, bem-estar e à segurança no emprego. Os

Page 51: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

34  

investigadores têm considerado a lei como a parte mais significativa

da legislação sobre o trabalho na China desde há mais de uma

década.(25) Este ano, o Comité Central do Partido Comunista da

China (PCC) e do Conselho de Estado, emitiram em conjunto o

"Documento Central No.1" (Zhongyang wenjian yihao) pretendendo

uma melhor coordenação das reformas urbanas e rurais e que responda

às necessidades da nova geração de trabalhadores migrantes.(26) Estes

esforços de reequilíbrio entre os diferentes níveis de governo,

juntamente com os protestos espontâneos dos trabalhadores, tiveram

algum impacto sobre ambos os rendimentos, sobre os salários dos

trabalhadores rurais e sobre os salários dos trabalhadores

migrantes.(27)

Mas a crise financeira mundial resultou na falência de dezenas de

milhares de fábricas no final de 2008 e no início de 2009 e atingiu os

trabalhadores migrantes de forma particularmente dura.(28) A

vulnerabilidade do modelo económico chinês, que continua muito

dependente do sector exportador, foi claramente posta em evidência.

O sociólogo Ho-Fung Hung (2009) usa uma imagem provocadora da

China como o empregado-chefe da América dirigindo outros

empregados, como o Japão, os Tigres originais (Coreia do Sul,

Taiwan, Singapura e Hong Kong), e exportadores que apareceram

mais tarde, como a Tailândia, as Filipinas e Indonésia, e assim se

fornecem produtos baratos para os mercados consumidores dos EUA

através de grande volume de exportações e se adquirem títulos do

Tesouro americanos.(29) A China e os seus parceiros comerciais na

rede global de produção estão cada vez mais prisioneiros das

vicissitudes dos mercados internacionais instáveis e das

Page 52: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

35  

vulnerabilidades dos mercados financeiros internacionais, enquanto o

capital internacional se apropria dos lucros obtidos com os baixos

salários na China.

A nova geração de trabalhadores migrantes chineses

Os trabalhadores migrantes rurais são o sustentáculo da força de

trabalho utilizada na indústria da China. Em Março de 2010 o

inquérito divulgado pela China National Bureau of Statistics (NBS),

com base numa amostra nacional que cobre mais de 7.100 aldeias e

vilas espalhadas pelas 31 unidades a nível provincial do país, o

número de trabalhadores migrantes chegou quase a 230 milhões em

2009, cerca de 1,9 por cento mais do que no ano anterior (30). Um

sub-grupo de 145 milhões de trabalhadores migrantes tinham emprego

fora das suas aldeias e vilas (nongmingong waichu), registando-se um

aumento de 3,5 por cento anualmente.(31) Desse grupo de imigrantes,

a maioria (61,6 por cento) está na faixa etária entre os 16 e os 30 anos

de idade (ver Tabela 1). A maioria dos 100 milhões de migrantes

chineses das novas gerações - com uma média de idade de 23 anos,

são solteiros(32) e, com as dificuldades financeiras e sociais a que

estão sujeitos, estes migrantes mais jovens têm muitos problemas em

se conseguir casar, ter filhos, ter uma casa na cidade e apoiar as

famílias da aldeia.

Page 53: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

36  

Tabela 1. Trabalhadores migrantes chineses por idade, 2009 (total=100)

Percentagem 16-25 41,6% 26-30 20% 31-40 22,3% 41-50 11,9% 50 e mais anos 4,2%

Fonte: NBS (2010: secção 3, ponto 1) [em chinês] Os jovens trabalhadores migrantes rurais (nongmingong Qingnian)

estão a enfrentar uma enorme discrepância entre as suas expectativas e

a realidade, e entre os rendimentos do seu trabalho e os ganhos

obtidos por melhores salários pagos aos trabalhadores urbanos,

profissionais e aos empregados governamentais.(33) A central sindical

do Município de Shenzhen e a Universidade de Shenzhen com base

num inquérito conjunto feito a 5.000 jovens trabalhadores migrantes

na cidade de Shenzhen, entre Abril e Junho de 2010, constatou que o

salário dos entrevistados em média mensal era de apenas 1.838,6

yuans (ou seja 267 dólares), ou seja, menos de metade (47 por cento)

do montante do que os empregados residentes em Shenzhen ganham.

(34) Este montante constituído por um montante fixo, o salário de

base, e por prémios extras, bastante duros de ganhar, mal cobre as

despesas mínimas e pouco fica para despesas "extra", para os seus

estudos ou para actividades de lazer. Apesar do forte desejo dos

trabalhadores migrantes inquiridos em comprarem casa na cidade, o

preço de habitação mais barata na maioria das cidades designadas

(jianzhi zhen) é de 5.000 yuans por metro quadrado, um nível muito

além do que podem dispor. (35) Como titulares inscritos com o

Page 54: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

37  

estatuto de agregados familiares rurais (hukou nongcun), os jovens

migrantes mostram profundos sinais de ansiedade quanto ao emprego

e mostram igualmente muita frustração quanto ao seu futuro, e tudo

isto é um produto de se sentirem permanentemente bloqueados em

empregos de salário mínimo, com poucos benefícios e poucos direitos.

Entre Março e Maio de 2010, a Federação Chinesa de Sindicatos

(ACFTU) investigou as condições sociais e económicas dos jovens

trabalhadores migrantes em 10 cidades das províncias de Guangdong,

Fujian, Shandong, Liaoning e de Sichuan. (36) Em Junho, a equipa da

central sindical nacional, a ACFTU, publicou um relatório em que

mostra que "a geração pós-80" é diferente da dos seus pais ou dos

emigrantes trabalhadores mais velhos no que se refere à sua exigência

de condições dignas de trabalho. Estas crianças, filhos da reforma, têm

crescido. Eles vieram de áreas rurais, com aspirações de viver o sonho

chinês na cidade. Alguns jovens foram criados em áreas urbanas,

quando eles acompanharam as suas famílias nas suas migrações

durante a sua infância (liudong ertong, traduzido literalmente como

"crianças móvel"), isto é, eles são moradores urbanos da segunda

geração, mas a sua residência oficial continua a ser na aldeia. (37) Um

maior número deixou as suas aldeias ou cidades (xiangzhen)

imediatamente após terem terminado a escola para procurar emprego

nas cidades. O emprego assalariado nas grandes cidades tornou-se o

principal meio de ganhar a vida para os jovens migrantes.

A nível nacional, os dados apresentados pelo BNE de 2009 mostraram

que 65,1 por cento da população rural migrante é do sexo masculino.

(38) O casamento reduz a probabilidade de saída do trabalho,

especialmente se houver crianças pequenas. Embora a segmentação de

Page 55: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

38  

género no mercado de trabalho é persistente, as mulheres jovens,

solteiras, e cada vez mais homens são recrutados nas fábricas do

sector de exportação onde a procura de trabalhadores não qualificados

e de baixo custo está a crescer. Os investigadores da ACFTU

verificaram que a nova geração de trabalhadores migrantes está cada

vez mais preocupada com o ambiente de trabalho global, com os

salários e os benefícios sociais, bem como as oportunidades de

desenvolvimento pessoal. Os trabalhadores migrantes são empregados

principalmente na indústria transformadora e serviços, conforme

demonstrado na Tabela 2.

Tabela 2. Trabalhadores migrantes chineses por emprego, 2004 e 2009 (total=100)

2004 (%) 2009 (%) Indústria Transformadora

33,3 39,1

Serviços 21,7 25,5 Construção 22,9 17,3 Outros 22,1 18,1

Fonte: ACFTU (2010: secção 2, ponto 5) [em chinês]

Os jovens migrantes estão cada vez mais conscientes das questões

sobre as igualdades e os direitos, e têm expectativas mais altas quanto

à possibilidade de conseguir boas oportunidades de trabalho justo,

emprego e bem-estar social e outros serviços públicos básicos. Isto é

em parte explicado pela sua mais elevada formação. Dos 145.330 mil

trabalhadores migrantes, com base nos dados do inquérito de 2009

feito pelo NBS, quase um terço (31,1 por cento) têm entre 21 e 25

anos de idade e são titulares de diplomas do ensino médio ou superior.

Page 56: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

39  

(39) Eles têm aspirações mais altas quanto à sua progressão na carreira

do que os trabalhadores migrantes mais velhos. Em 2007, a China

Youth and Children Research Center publicou um relatório, com base

em inquéritos a 4.673 jovens trabalhadores migrantes empregados em

quatro sectores de construção em Beijing City, nas minas da cidade de

Tangshan, nas fábricas da província de Shandong, e serviços na cidade

de Chengdu, em que reflecte o desejo dos entrevistados em obterem

conhecimentos e formação profissional especializada (69,7 por cento),

formação jurídica (54,7 por cento), e cultura geral (47,8 por

cento).(40)

Os trabalhadores que foram classificados como trabalhadores

migrantes, incluindo os de segunda geração que vivem e trabalham

nas cidades, são categoricamente tratados como parte da população

rural, mesmo que trabalhem e vivam nas zonas urbanas, desde há

muitos anos. Nas suas vidas do dia-a-dia, enfrentam inúmeras

dificuldades no acesso aos serviços da comunidade de base, porque

não são reconhecidos como moradores da região. Os seus legítimos

direitos não são efectivamente protegidos: o estudo da ACFTU

constatou que apenas 34,8 por cento dispõem de cuidados médicos

básicos, 21,3 por cento de seguro de reforma, e apenas 8,5 por cento

são elegíveis para a obtenção de subsídios de desemprego.(41) Os

patrões, muitas vezes protegidos pelas autoridades locais ligadas às

questões do mundo do trabalho assim como pelos departamentos

judiciais, frequentemente negligenciam as responsabilidades legais

para com os trabalhadores. O Direito Chinês do Trabalho, muitas

vezes homenageado quando é desrespeitado, exige não só a cobertura

completa, a 100 por cento, nestes três tipos de seguro social, mas

Page 57: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

40  

também a protecção obrigatória e os benefícios ligados a acidentes do

trabalho, doenças profissionais e nascimento de filhos (artigo 73). A

colaboração entre as autoridades locais e os gestores das unidades

fabris, no entanto, permite que muitas empresas se esquivem às suas

responsabilidades legais para com os trabalhadores.

O regime de trabalho global está enraizado e assente na privação dos

direitos dos trabalhadores migrantes e dos seus direitos de cidadania.

Um tema de discussão geral, se não a sua crítica pura e simples, ligado

à nova geração de trabalhadores é a sua incapacidade para "engolir a

amargura" (chi-ku). Costuma-se dizer que aqueles que nasceram

depois de 1980, já na economia de mercado e na nova sociedade, não

são suficiente fortes para suportar as pressões, as privações. Eles são

emocionalmente ou psicologicamente vulneráveis a pressões. O que

eles precisam é de trabalhar diligentemente e de melhorar as suas capacidades. Os grupos de elite do governo e os empregadores têm

interesse neste tipo de discurso, uma vez que precisam de

trabalhadores disciplinados e de baixo custo, como combustível para a

economia chinesa assente nas exportações. Mas à medida que se

intensifica a exploração, desencadeiam-se fortes protestos locais,

como o explica magistralmente o especialista dos mercados de

trabalho Beverly Silver (2003).(42)

Foxconn: "A fábrica de material electrónico do mundo"

A subsidiária Foxconn é um produto da empresa-mãe, a Hon Hai,

especialista em produção em massa de material electrónico desde a

década de 80 quando o mercado de computadores pessoais ganhou

Page 58: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

41  

visibilidade.(43) Em 1988, o presidente e fundador Terry Gou investiu

na produção a baixo custo na China continental, mantendo as

estruturas de investigação e desenvolvimento (I&D) nas suas

instalações de Taiwan.(44) Desde o início dos anos 90, a empresa

instalou mais de 40 fábricas e centros de I & D na Ásia (Índia,

Vietname, Tailândia, Malásia, Singapura, Japão, Coreia do Sul e

Austrália), Rússia, Europa (República Checa, Eslováquia, Hungria,

Dinamarca, Holanda, Finlândia, Reino Unido e Turquia), e na

America.(45) O grupo dispõe de tecnologia que oferece aos seus

clientes "a melhor rapidez, qualidade, serviços de engenharia,

eficiência e valor acrescentado ", chamando ao conjunto “as cinco

competências fundamentais”. (46) Mas o que é que tem feito pelos

450 mil trabalhadores em grande parte trabalhadores migrantes que

produzem os produtos nas suas duas fábricas de Shenzhen ou noutros

lugares? Os resultados sugerem um crescimento continuado e altos

lucros gerados possivelmente pelos trabalhadores chineses, a maioria

dos quais continuam a trabalhar ao nível dos salários mínimos

decorrentes da determinação dos governos locais tendo visto muito

pouco ou mesmo nenhum ganho decorrente do crescimento da

empresa.

Em 2001, a Hon Hai tornou-se a maior empresa do sector privado de

Taiwan, em termos de volume de vendas, gerando uma receita de 4,4

mil milhões de dólares.(47) A Business Week, em 2002, considerava

Terry Gou "o rei do outsourcing" (48), quando Foxconn Electronics

ainda estava muito atrás dos líderes de produtos electrónicos como

Solectron (18,7 mil milhões de USD) (49) e de Flextronics (12,1 mil

milhões de USD) (50). Desde 2003, que a empresa sediada em Taiwan

Page 59: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

42  

é o maior exportador da China. (51) Em 2008, as receitas de Foxconn

atingiram os 61,8 mil milhões de dólares, (52) do quais 55,6 mil

milhões de dólares foram de exportações e representaram cerca de 3,9

por cento de todas as exportações da China.(53) Apesar da forte

contracção da procura americana e europeia em produtos electrónicos

de consumo durante a recente crise económica, a receita gerada em

2009 pela Foxconn foi de 59,3 mil milhões de dólares americanos com

apenas uma ligeira queda nas vendas de 4,1 por cento face ao ano

anterior (ver gráfico 1)(54).

Gráfico 1. Rendimento da Foxconn, 1996-2009

Fonte: Foxconn corporate and environment report (2008); Fortune Global 500 (2010).

Na sequência de uma recuperação económica global, a empresa

Foxconn tem vindo a crescer rapidamente. No final dos primeiros seis

meses de 2010, as vendas da empresa aumentaram 48 por cento

Page 60: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

43  

relativamente a um ano antes para cerca de 37,43 mil milhões de

dólares e o lucro líquido aumentou de 22 por cento 1,08 mil milhões

de dólares. (55) A Foxconn, apesar da má publicidade no país e no

estrangeiro que se seguiu à sequência dos 13 suicídios de

trabalhadores até Maio e apesar da pressão para aumentar os salários

em Shenzhen e aos apelos mundiais para um boicote aos produtos

Foxconn, incluindo o iPhone da Apple, durante o mês de Junho, (56)

registou um aumento das suas exportações. No mercado da indústria

transformadora de material electrónico, o volume de receitas da

Foxconn é quase três vezes maior ao do seu rival mais próximo,

Flextronics, fabricante em Singapura.

Foxconn produtos e serviços

Os executivos da Foxconn fazem um forte e agressivo controle de

gastos relacionados com os custos em trabalho e com a redução do

tempo de entrega dos produtos para o mercado. A Foxconn lança no

mercado uma vasta gama de produtos desde a gama baixa até

aos produtos de tecnologia sofisticada, para as principais

marcas mundiais. Esta também oferece serviços de

engenharia de projecto e de ferramentas mecânicas.

O grupo tecnológico expandiu a sua gama "3C -computadores,

comunicações e consumo final" (57) - computadores (desktop, laptop

e computadores portáteis), equipamento de comunicações (telefones

portáteis e smartphones), e produtos de consumo (players de música

digital, câmeras digitais e consolas de jogos) para incluir mais três

"C's": carros (produtos electrónicos para automóveis), canais ou

Page 61: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

44  

interfaces (para produtos electrónicos e de computador, como placas-

mãe), (58) e conteúdo (e-book leitores, uma plataforma de software e

hardware para ecrãs de e-books).(59) A diversidade reforça a

competitividade dos produtos da Foxconn no mercado. A empresa está

a avançar para o topo de gama (high-end) nas áreas de nanotecnologia,

transferência de calor, ligações sem fios, ciências de materiais e de

processos de tecnologias "verdes". (60) O gigante na electrónica tem

acumulado mais de 25.000 patentes a nível mundial. (61)

A Foxconn encurta a sua cadeia de fornecimento com a produção das

suas componentes internamente. O seu porta-voz, Arthur Huang (62)

explicou a estratégia de redução de custos da empresa:

“Nós, tanto encomendamos a produção de componentes a outros

fabricantes como podemos conceber e produzir internamente as nossas

próprias componentes. Temos até mesmo contratos com outros

fabricantes que estão localizados perto das nossas fábricas.”

A integração de negócios é fundamental para a expansão e

desenvolvimento da Foxconn. Na integração vertical, ela sintetiza

duas características especialidades para oferecer aos clientes as

vantagens de custo-benefício:(63)

Existem duas categorias de fabricantes de tecnologia da informação e

comunicação na cadeia de abastecimento global (TIC). A primeira

concentra-se no projecto e montagem de componentes electrónicas,

tais como placas de circuito, armazenamento de dados ou ecrãs. A

segunda categoria concentra-se em fabricar os elementos estruturais

Page 62: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

45  

dos produtos electrónicos (as caixas para os produtos electrónicos). A

Foxconn tem integrado estas duas características anteriormente

separadas para criar um novo modelo de negócios mais eficientes

A Foxconn bate assim os seus concorrentes no preço, na rapidez de

entrega e na qualidade dos seus produtos acabados.

Os clientes da Foxconn

A Foxconn possui uma grande equipa de engenheiros e gestores de

marketing para responder à sua base de clientes no mundo inteiro. A

empresa foi classificada em 112 º lugar na lista anual da Fortune

Global 500 em 2010, maior do que algumas das empresas para as

quais produz, tais como Microsoft, Nokia, Dell, Apple, Cisco

Systems, Intel ou Motorola (ver tabela 3)(64). Tomando como base o

volume de vendas a HP continua a ser a maior empresa do segmento

de computadores pessoais, servidores e impressoras.

Tabela 3. Rendimentos de clientes seleccionados da Foxconn e o seu ranking na Fortune Global 500, 2010 Rendimentos (mil

milhões) Ranking Global

500 Hewllet-Packard (HP) 114,552 26 Sansung Electronics 108,927 32 Hitachi 96,593 47 International Business Machine

95,758 48

Panasonic 79,893 65 LG 78,892 67 Sony 77,692 69

Page 63: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

46  

Toshiba 68,731 89 Microsoft 58,437 115 Nokia 56,966 120 Dell 52,906 131 Apple 36,537 197 Cisco Systems 36,117 200 Intel 35,127 209 Motorola 22,063 391 Fonte: Global 500 (annual ranking of the world’s largest corporations), 2010

O crescimento dos lucros da Foxconn, porém, não é comparável ao

das grandes marcas como Apple e Microsoft. Com base na

capitalização de mercado, em Maio de 2010 Apple (237 mil milhões

de dólares americanos) ultrapassou a Microsoft (que obteve 221 mil

milhões dólares) aparece como o número um mundial na indústria das

novas tecnologias.(65) A empresa Apple tornou-se assim a nível das

tecnologia da informação mundial como a mais importante empresa

do mundo.(66) No conjunto dos diversos tipos de empresas, a Apple

quanto a capitalização de mercado está em segundo lugar, apenas

ultrapassada pela empresa gigante do petróleo Exxon Mobil (que está

em 315 mil milhões de dólares americanos). Até ao final do ano fiscal

de 2010, a Apple, em volume de vendas, tem como projecção crescer

46 por cento, para 62,6 mil milhões de dólares(67) movendo-se

rapidamente para o top 100 das empresas globais segundo a

classificação pela revista Fortune.

A Foxconn depende e em muito das encomendas feitas pelas empresas

de tecnologia de ponta (e cada vez mais das marcas de automóvel).

Beneficiando de fortes encomendas durante a recuperação económica,

a Foxconn produziu mais de 6 milhões de notebooks no primeiro

Page 64: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

47  

semestre de 2010(68). As vendas de Foxconn, de notebooks para a HP

poderá alcançar 10 a 12 milhões de unidades até ao final deste ano, e o

total de remessas para a HP está projectada aumentar para 20 milhões

de unidades em 2011. (69) Em Julho de 2010, a Foxconn já

ultrapassou a Quanta Computer ao tornar-se o terceiro maior

fornecedor de notebooks para a Dell (apenas atrás da Wistron e da

Compal Electronics). Foxconn irá produzir 4 a 5 milhões de

notebooks para a Dell em 2011(70).

Para lidar com esse mercado em expansão, Foxconn utiliza uma

enorme força de trabalho em todo o mundo, incluindo cerca de

900.000 trabalhadores somente na China. Espera-se que a empresa vá

ainda crescer mais de 40 por cento e passe a utilizar cerca de 1,3

milhões de trabalhadores chineses(71), muitos deles jovens migrantes

rurais e estudantes estagiários, em 2011.

A produção de Foxconn na China

A Foxconn aproveitou-se das vantagens das políticas

macroeconómicas da China ao expandir os seus investimentos. A

empresa tecnológica tem instalações fabris em quatro regiões

geográficas estratégicas em todo o país: o Delta do Rio Pérola

(Shenzhen, Dongguan, Foshan, Zhongshan e), o Delta do Rio Yangtze

(Xangai, Kunshan, Hangzhou, Ningbo, Nanjing, Huaian, Jiashan, e

Changshu), a área do Golfo de Bohai no Norte da China (Pequim,

Langfang, Qinhuangdao, Tianjin, Taiyuan, Yantai, Yingkou e

Shenyang) e as cidades da zona central e ocidental (Chongqing,

Chengdu, Zhengzhou, Wuhan, Jincheng e Nanning) (72) O acesso da

Page 65: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

48  

Foxconn aos recursos e aos talentos nas principais cidades chinesas é

fundamental para o seu crescimento.

Embora o governo chinês tenha congelado o salário mínimo ao longo

de 2009, em resposta à crise económica, desde o início de 2010 uma

série de cidades e províncias aumentaram o salário mínimo de 10 a 30

por cento.(73) Na China, em suma, não há salário mínimo nacional,

mas um leque de salários mínimos ao nível das províncias e das

cidades. É interessante notar que Pequim e Tianjin mantêm o salário

mínimo bem abaixo daqueles que são estabelecidos para Shenzhen e

Xangai, enquanto as cidades do interior como Chengdu, Chongqing

ou Zhengzhou procuram atrair os investimentos com salários mínimos

que são ainda muito menores. A falta de trabalhadores migrantes (ou

yonggong mingong huang huang) no Delta do Rio Pérola e Yangtze

River Delta tem estimulado à existência de salários mais altos para

atrair migrantes dada a concorrência para obter trabalhadores. Em

contrapartida, os investidores, como a Foxconn, consideram as

cidades do interior cada vez mais atractivas porque oferecem terras

mais baratas e com melhores infra-estruturas, com salários e com

custos de segurança social mais baixos do que as regiões a leste e a sul

do litoral e estas foram as zonas que inicialmente asseguraram o

crescimento económico assente nas exportações. Tabela 4. Salário mínimo legal por cidades chinesas, em Agosto de 2010 Salário (yuan renmimbi/mês) Chengdu, Província de Sichuan

450 ou 550 ou 650 (específico à localização)

Zhengzhou, Província de 600 ou 700 ou 800 (específico à

Page 66: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

49  

Henan localização) Chongding 680 Taiyuan, Província de Shanxi

850

Beijing 900 Langfang, Provícia de Hebei 900 Wuhan, Província de Hubei 900 Tianjin 920 Yantai, Província de Shandon

920

Kunshan, Província de Jiangsu

960

Hangzhou, Província de Zhejiang

1.100

Shenzen 1.100 Shangai 1.120 Fonte: Ministério dos Recursos Humanos e Segurança Social da China, 2010 Diante do escândalo do suicídio de trabalhadores e das campanhas

contra a exploração intensiva do trabalho a visar a Foxconn quer

internamente quer externamente, a Foxconn aumentou os salários dos

trabalhadores de Shenzhen para 1.200 yuans (176 dólares) por mês

com início a 1 de Junho de 2010.(74) Quando comparado com o

padrão do salário mínimo estabelecido em Shenzhen (em vigor desde

1 de Julho de 2010), a Foxconn ajustou a base de pagamento em cerca

de apenas 9 por cento acima do mínimo legal.(75) Ainda assim, este

insuficiente aumento de remuneração para os seus 450.000

empregados, metade dos efectivos da empresa que totalizou 900 mil

pessoas no país, tornou os directores e accionistas das empresas

Foxconn sensíveis ao custo para acelerar o ritmo de deslocalização das

fábricas. Ao mesmo tempo, ao enfrentarem um crescente clamor quer

Page 67: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

50  

dos consumidores quer do público em geral, a Foxconn anunciou um

segundo aumento a pagar a trabalhadores "qualificados" até 2.000

yuans (293 dólares EUA) por mês, a partir de 1 de Outubro.(76) Os

seus directores, no entanto, recusaram revelar os detalhes da revisão a

fazer daqui a três meses, que poderá permitir que alguns trabalhadores

venham a ganhar salários mais altos. Ao mesmo tempo, ainda não há

nenhuma indicação de como é que muitos dos trabalhadores de

produção poderão eventualmente beneficiar da nova política

salarial.(77) Enquanto isso, em Junho, após o primeiro aumento de

salário, a Foxconn parou de contratar nas suas maiores unidades, nos

seus principais campus de Shenzhen.(78) Nos próximos cinco anos, de

acordo com fontes da empresa, o número de trabalhadores nas suas

instalações de Foxconn em Shenzhen serão reduzidos em mais de 30

por cento, para cerca de 300.000 pessoas. (79) Os trabalhadores de

Foxconn em Shenzhen estão agora a ser transferidos para outros

campus.

A Foxconn está activamente a transferir a produção para as cidades do

interior e para o norte para economizar em custos e para explorar

novas oportunidades de negócios. China Newsweek (Zhongguo

Xinwen Zhoukan) (80) publicou uma reportagem que na capa

intitulava " A luta para manter a Foxconn" (Zheng Fushikang Qiang)

na sua edição de Julho 2010, no auge de uma nova ronda de esforços

coordenados dos governos locais para atrair a Foxconn. Muitas

cidades do interior e do norte já concorriam agressivamente pela

oportunidade de ser sede de uma base da Foxconn, proporcionando-

lhe baixos salários e subsídios que reduzam os custos de

deslocalização.

Page 68: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

51  

Já no início de 2009, a Foxconn e outros fabricantes de material

electrónico (81) obtiveram do governo um pacote de estímulos fiscais

para a criação de novas instalações no município de Chongqing, a

maior cidade e de mais rápido crescimento da China ocidental.

Chongqing lançou o seu plano de estímulo Warm Winter [na

sequência da crise financeira global de 2008], gastando grandes

somas, inclusive com programas de crédito para permitir que muitos

dos seus 3,5 milhões de trabalhadores desempregados pudessem

iniciar os seus próprios negócios, fornecendo empréstimos e garantias

de crédito às pequenas empresas, organizando o lançamento de início

de parques industriais para novas empresas, fornecendo subsídios

directos para 1.500 empresas.(82)

No quadro promocional de investimentos e do emprego, as

autoridades de Chongqing concederam a Foxconn uma redução na

taxa de imposição fiscal de 15%, 10% mais baixa que a taxa de base, a

taxa de referência. (83) Além disso, o governo local irá prolongar a

pista do aeroporto em 400 metros para responder a necessidades

crescentes de transporte e de logística. (84) Em Junho de 2010,

Foxconn assinou um acordo com 119 escolas profissionais de

Chongqing para organizar estágios de estudantes e de emprego na sua

empresa local.(85) A empresa Foxconn planeia recrutar cerca de 100

mil pessoas na cidade, cujo salário mínimo é uma fracção do salário

de Xangai e de Shenzhen.

Foxconn vai continuar a aumentar o investimento na parte ocidental

da China, especialmente em Chengdu, capital da província de

Sichuan. Em Junho de 2009, as autoridades municipais e provinciais

de Sichuan Chengdu lideraram uma delegação à sede da Foxconn, em

Page 69: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

52  

Taiwan para assinar um memorando de cooperação. Em 2010, a

Foxconn registou-se para criar as empresas Futaihua Precision

Electronics (Chengdu) e Hongfujin Precision Electronics (Chengdu),

centradas na produção de computadores em forma de tablete e de

montagem de set-top box digitais. (86) As autoridades locais

prometeram atrair outras indústrias a deslocalizarem-se e a virem para

o Oeste "Go West" para impulsionar o seu crescimento económico.

Em 2 de Agosto de 2010, a Foxconn começou a produção em

Zhengzhou, capital da província de Henan, no centro da China. Um

funcionário do governo local disse publicamente, "Nós oferecemos

muitas vantagens à Foxconn para se localizar aqui, como a abertura de

uma via rápida para a importação das suas instalações e dos materiais

de construção." (87) A Foxconn alugou uma fábrica renovada e

dormitórios ao governo local para os seus 100.000 empregados. As

autoridades concederam-lhe terreno para construir uma fábrica de raiz

com uma capacidade final de 300 mil trabalhadores, onde a primeira

fase de construção irá abranger 133 hectares. (88) A Secretaria de

Estado da Educação de Henan, as escolas profissionais, as faculdades

e as universidades "mobilizaram" os estudantes para participar em

programas de estágio na Foxconn, o que teria sido uma exigência para

completar a sua formação profissional.(89) Quer os estudantes

trabalhadores temporários quer os outros trabalhadores são

responsáveis por produzir os iPhones da Apple, e em que atingirá uma

produção diária de 200.000 unidades no total da capacidade.(90)

É óbvio que a Foxconn visa consolidar as suas linhas de produção na

China para construir uma rede com custos fortemente competitivos.

Os incentivos que o governo local ofereceu à Foxconn ao longo destes

Page 70: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

53  

mais de 20 anos contribuíram fortemente para o seu sucesso

económico. A partir do Outono de 2010, a empresa planeia abrir lojas

de vendas ao público para vender aparelhos electrónicos de consumo

domésticos. (91) Esta iniciativa é destinada a sua diversificação a

partir do seu modelo de actividade até aí assente na dinâmica das

exportações.

Jovens Trabalhadores: Lutam dentro da "Cidade Foxconn"

A Foxconn descreve o local da sua fábrica de Shenzhen Longhua,

como estando sub-dividido em 11 zonas assinaladas por ordem

alfabética, de A a K, como um campus. É o maior parque tecnológico

na China, onde 300.000 trabalhadores trabalham, ou seja um terço da

sua força de trabalho da Foxconn na China. Segundo o perfil expresso

pela empresa e relatado pelos media (92) o campus de 2,3 quilómetros

quadrados inclui:

fábricas, residências, bancos, hospitais, correios, bombeiros, com dois

carros de bombeiros, uma rede de televisão exclusiva, um instituto de

ensino, livrarias, campos de futebol, zonas de basquete, atletismo,

piscinas, supermercados, e um conjunto de cafés, pastelarias e

restaurantes.

O nosso trabalho de campo confirma que a maioria dos trabalhadores

da Foxconn na China são jovens migrantes que trabalham e vivem nos

campus. Esses trabalhadores produzem e montam os produtos

electrónicos de alta qualidade. Num slogan da propaganda Foxconn

Page 71: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

54  

sobre recrutamento em todo o mundo lê-se: "A marca Foxconn é o

talento dos seus trabalhadores " (no original chinês, rencai shi Hon

Hai de pinpai). (93) Os factos sugerem, contudo, que a empresa está a

perder o seu talento mais precioso. Até ao final de Maio, 12

trabalhadores Foxconn tinha saltado ou caído para a morte e o

décimo-terceiro, um trabalhador de 25 anos, cortou os pulsos depois

de ter sido impedido de saltar de um dormitório (vide tabela 5). Dados

os recentes acontecimentos, o termo usado para se referir aos

trabalhadores, "o povo da Foxconn" ou Fu Kang ren, soa com uma

muito amarga ironia, uma vez que estas palavras em chinês, traduzidas

à letra, significam as pessoas "ricas" e "saudáveis".

Tabela 5. Suicídios na Foxconn em Shenzenn, Janeiro a Maio,

2010. Sexo Idade Local de

nascimento Data Nota

1 Ma Xianqian* M 19 Henan 23-01-10 Queda de um

edifício2 Li(sobrenome) M 20s Henan 11-03-10 Salto do

5º andar3 Tian Yu # F 17 Hubei 17-03-10 Salto do

4º andar4 Liu Zhijun M 23 Hunan 29-03-10 Salto do

14º andar5Rao Leqin # F 18 Jiangxi 06-04-10 Salto do

7º andar6 Ning Ling# F 18 Yunnan 07-04-10 Salto de

um edifício

7 Lu XIn M 24 Hunan 06-05-10 Salto do 6º andar

8 Zhu Chenming F 24 Henan 11-05-10 Salto do

Page 72: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

55  

9º andar9 Liang Chao M 21 Anhui 14-05-10 Salto do

7º andar10 Nan Gang M 21 Hubei 21-05-10 Salto do

4º andar11 Li Hai M 19 Hunan 25-05-10 Salto do

4º andar12 He (sobrenome) M 23 Gansu 26-05-10 Salto do

7º andar13 Chen Lin # M 25 Hunan 27-05--10 Cortou os

pulsos depois de

uma tentativa de salto falhada

* Os media Chinese locais relataram a morte de Ma Xianqian como a “primeira” das 13 tentativas de suicídio falhadas desde Janeiro de 2010 nas instalações da Foxconn en Shenzhen. # Sobreviveu com ferimentos Fonte: News reports Foxconn publicita visitas feitas por psicólogos com a sugestão

vergonhosa de que o número de suicídios nos seus dois locais de

trabalho em Shenzhen está abaixo do nível nacional, (94) numa fria

tentativa feita tanto para evitar a responsabilidade como para esconder

o problema. Nenhum estudo científico genuíno se iria basear em tal

comparação que deixa fora de consideração que os suicídios na

Foxconn foram de jovens empregados na cidade Foxconn.(95) Nem se

considera como "norma" que os trabalhadores chineses cometem

suicídio a lutar por péssimas condições de trabalho.

Aqui apresentamos a nossa recolha de dados, análises sobre a

indústria, e relatórios de investigação feitos e publicados pelos media

e por grupos de defesa dos direitos dos trabalhadores para assim se

Page 73: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

56  

conseguir uma melhor e mais profunda compreensão dos problemas.

Concluímos que os três principais autores a saber (as grandes

empresas internacionais de marca, a Foxconn e os governos locais e

nacionais) deveriam agir com responsabilidade para acabar com esta

tendência dos trabalhadores da Foxconn escolherem acabar com as

suas vidas.

Outsourcing, os lucros da Apple e os baixos salários

Do ponto de vista da cadeia de oferta global relativamente ao poder de

compra, as principais marcas internacionais têm uma enorme

influência sobre os fabricantes com quem contratam. Ainda agora,

descobrimos que a Apple e as outras empresas globais estão a

pressionar os seus fornecedores em todo o mundo com muito pouca

preocupação quanto aos efeitos das suas acções sobre as pessoas que

produzem esses produtos. A Apple já expandiu e diversificou os seus

investimentos na produção na Ásia. (96) Os analistas do sector

estimam que as margens de lucro operacionais entre os principais

fornecedores de produtos electrónicos terão sido, na melhor das

hipóteses, entre 4 a 5 por cento, em média, em 2007.(97) Por

segmento de produto, a concorrência pela obtenção de encomendas

leva a que se espere taxas brutas ainda menores para os fabricantes de

notebooks " em 2011 a partir do nível já reduzido de 4 por cento em

2010.(98)

A Apple, que teve lucros recordes no meio de uma enorme crise

económica, continua a aproveitar todas as oportunidades para tentar

conseguir os preços mais baixos dos fornecedores. De facto, fontes

Page 74: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

57  

deste sector da indústria sugeriram que a Apple fez encomendas à

Foxconn para o seu iPhone depois da Foxconn ter concordado em

vender partes a "lucro zero".(99) A Foxconn provavelmente aceitou o

acordo a fim de manter outros contratos mais lucrativos com a Apple e

para vencer os seus concorrentes. Ofereceu um preço o baixo possível

e imbatível dado a sua enorme dimensão do seu mercado para garantir

uma posição líder na indústria. As receitas da Apple para o trimestre

fiscal de 2009 pela primeira vez ultrapassaram os 10 mil milhões de

dólares.(100)

A Foxconn monta os dispositivos móveis de maior sucesso da Apple,

tal comos os iPod, o iPhone 4 (o mais recente projecto de smartphones

da marca Apple) e iPads (computadores de mesa que são mais finos e

mais leves que netbooks ou mini-notebooks). Segundo a empresa de

pesquisa de mercado iSuppli, o custo das componentes e

montagem(101) de uma versão iPhone de 16 Giga é de 187,5 dólares,

ou seja menos de um terço (31,3 por cento) do preço de venda dos

EUA que é de 599 dólares. Estima-se que a Apple tem margens brutas

na ordem dos 50 por cento sobre o iPhone, em comparação com 20

por cento a 40 por cento para os produtos concorrentes de outros

produtores.(102)

A Apple encaixa fortes margens de lucro sobre o seu hardware dada a

sua supremacia no mercado, ficando com a parte do leão do montante

dos lucros. O IPAD foi colocado à venda em 3 de Abril de 2010. Em

Junho, a Apple anunciou que vendeu 3 milhões de iPads nos 80 dias a

seguir à sua introdução nos Estados Unidos. (103) A iSuppli considera

que o custo de fabricação de um iPad é só de 9 dólares, ou 1,8 por

cento de do menor preço nos Estados Unidos, 499 dólares pelo IPad, e

Page 75: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

58  

que o custo dos materiais está estimado em 250,6 dólares, ou seja,

cerca de 50,2 por cento do preço de venda.(104) Com menos de 2 por

cento do custo do mais barato Ipad por unidade a ficar nas mãos do

fabricante, os trabalhadores da produção da Foxconn ficam ainda

mesmo com menos.

Na externalização da produção (outsourcing) a Apple é a mais

lucrativa das empresas de tecnologia de ponta. No seu terceiro

trimestre fiscal de 2010, a Apple registou uma receita recorde de 15,7

mil milhões, com uma grande margem bruta de lucro de 39,1 por

cento.(105) O comunicado da empresa descreve o "trimestre fabuloso

que superou todas as nossas expectativas, incluindo o lançamento do

produto mais bem sucedido na história da Apple, o iPhone 4. O IPad,

está a ter um óptimo começo... e nós pretendemos que novos produtos

ainda comecem a ser comercializados este ano." Um analista da

DigiTimes diz que a Apple encomendou 24 milhões de unidades do

iPhone 4 só para este ano à Foxconn,(106) e espera-se que haja

também muitas mais encomendas para os iPads.

Os compradores de produtos Foxconn querem que os seus iPhones e

computadores sejam rapidamente fabricados para responder à procura

global. Por exemplo, a Apple está a tentar obter os seus modelos de

cor branca de iPhone 4 para colocar no mercado, sem qualquer

demora, mantendo-se com a disponibilidade de modelos de cor

preta.(107) Tudo isto pressiona quer a produtividade quer a qualidade,

tudo isto pressiona fortemente os trabalhadores da Foxconn. As peças

e componentes electrónicos são montados rapidamente e

movimentam-se 24 horas sobre 24 horas nas cadeias de transporte, os

tapetes rolantes, e de montagem, sem paragem. Ao mesmo tempo, a

Page 76: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

59  

juventude e o suor dos jovens trabalhadores são gastos a trabalhar com

máquinas e ritmos implacáveis.

A Foxconn ganha quer com a entrada de encomendas de grande

volume quer com o trabalho duro dos jovens trabalhadores migrantes.

No entanto, o lucro não é em nada comparável ao das principais

grandes marcas. Sob a pressão directa da Apple e de outros

compradores e dada a ganância por cada vez mais lucros, a Foxconn, a

partir de 31 de Maio de 2010, pagou aos 450 mil trabalhadores da

linha de produção das suas duas fábricas em Shenzhen apenas 900

yuan (132 dólares) por mês e com 40 horas de trabalho por semana.

Por outras palavras, a Foxconn estabeleceu o seu salário de base

máximo ao nível do salário mínimo local.

Mas quanto é que os trabalhadores realmente ganham? Os jornalistas

da Qingnian Bao de Pequim (Beijing Youth Daily) publicaram um

esboço do salário de um trabalhador da Foxconn em Shenzhen do mês

de Novembro de 2009 a 7 de Junho de 2010 (108). Estes mostram

claramente:

O rendimento total mensal do trabalhador é 2.149.5 yuans. O salário

de base é de 900 yuans, que é o salário mínimo local obrigatório para

um mês normal de trabalho de 21,75 dias. Todo o rendimento restante

do trabalhador é o pagamento de 136 horas de trabalho extra

[precisamente 100 horas acima do mínimo legal limite máximo de

horas extras].

Neste exemplo, 60 por cento do salário mensal total ganha-se a fazer

horas extraordinárias. O trabalhador não está em minoria na Foxconn.

Segundo um estudo sobre 5.044 pessoas, conduzido por Shenzhen

Human Resources and Social Security Bureau, 72,5 por cento da força

Page 77: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

60  

de trabalho da Foxconn é colocada com horas de trabalho extra muito

para além dos limites legais para conseguir ganhar um pouco mais de

rendimento.(109)

Para salvaguardar os direitos dos trabalhadores e garantir as condições

mínimas de subsistência, os grupos de estudantes e professores

defensores dos direitos humanos baseados em Hong Kong, Students

and Scholars Against Corporate Misbehavior (SACOM)), calcularam

que a base de salários em Shenzhen deverá ser de 2.297 yuans (337

dólares) por mês. (110) China Labor Bulletin também defende que um

salário base de 2.000 yuans por mês é "absolutamente necessário", em

Shenzhen, na fronteira de Hong Kong.(111) A direcção da Foxconn

não mudou os seus métodos de gestão, na sequência dos suicídios

havidos. Os sindicatos de Taiwan e grupos de trabalhadores

protestaram na sede da Foxconn perguntando: "Qual é o preço de um

corpo humano" (rou xue ele AIJ)? (112) Numa conferência de

imprensa em Taipé, alguns professores leram uma carta aberta

assinada por 180 universitários de Taiwan em 13 de Junho de 2010.

Nesta afirmava-se que "os recentes aumentos salariais [na Foxconn]

não resolvem o problema... nós pensamos que o conjunto de suicídios

na Foxconn é uma amarga acusação feita com 13 vidas de jovens

contra o regime de exploração desumana."(113)

Na base do problema estão as marcas globais, tais como a Apple com

a sua pressão sobre os seus fornecedores, como a Foxconn, colocando-

os em concorrência uns contra os outros em termos de preços, de

qualidade e de tempos de entrega. Para garantir os contratos, a

Foxconn minimiza os custos e transfere a pressão das baixas margens

de lucro para os trabalhadores da linha de frente. A pressão para se

Page 78: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

61  

manter em linha com preços competitivos face a novas ordens de

encomenda leva os trabalhadores da Foxconn a novos níveis de

exaustão.

Os empregados da Foxconn têm bem experiência das suas longas

horas de trabalho repetitivo com baixos rendimentos. Eles submetem-

se ao controlo de gestão do trabalho e os seus baixos rendimentos e

fracos tempos livres restringem as suas opções na forma de estar e de

viver fora do trabalho. Muitos trabalhadores, homens e mulheres

jovens, raramente deixam de trabalhar, excepto para comer e dormir,

simplesmente para poderem fazer face às suas despesas. O resultado é

uma comunidade de pessoas sob stress intenso, com poucos recursos,

ou seja, uma situação propícia à depressão.

A gestão da Foxconn, a disciplina do trabalho e as pressões

Os gestores da Foxconn continuaram a insistir que o tratamento dado

aos trabalhadores é o que se faz ao "nível mundial" (114), mesmo

depois do oitavo salto para a morte desde o início do ano até 11 de

Maio de 2010. Respondendo a perguntas da imprensa internacional, a

Foxconn insistiu que a empresa "tem proporcionado aos trabalhadores

um ambiente muito melhor e mais benefícios do [que] a indústria

transformadora como um todo." (115) As críticas vindas a público da

China Labor Watch (Nova Iorque) (116) e da China Labor Bulletin

(Hong Kong)(117) sublinhavam não as instalações em si, mas a saúde

dos trabalhadores e o seu bem-estar. O seu Presidente Terry Gou,

finalmente quebrou o seu silêncio sobre o suicídio de dez

Page 79: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

62  

trabalhadores a em 24 de Maio, mas apenas para negar que ele estava

a dirigir “fábricas de sangue e de suor".(118)

O número recorde de suicídios, diz Foxconn, não está relacionado

nem com o seu estilo de gestão, nem com as condições de trabalho

nem com as políticas de salários. O seu porta-voz Edmund Ding disse

à imprensa que alguns dos trabalhadores tiveram "problemas

pessoais".(119) Assim, a Foxconn criou um centro de cuidados de

saúde e criou uma linha telefónica de apoio permanente aos

empregados, 24 sobre 24 horas para ajudar os trabalhadores a manter a

sua"saúde mental".(120). Os trabalhadores podem estar a socar em

sacos sobre fotos dos seus supervisores para descarregar as suas raivas

e frustrações no recém-inaugurado ginásio para libertação do

stress.(121) A direcção também convidou um grupo de psicólogos

para tentarem sugerir maneiras para os 300 mil trabalhadores jovens

da Foxconn das fábricas de Longhua aprenderem a lidar com "as

necessidades emocionais e psicológicas."(122) Enquanto isso, a

Foxconn trouxe também monges com a tentativa de libertar as almas

dos trabalhadores falecidos do seu sofrimento e para dissipar os

infortúnios.(123) A realização do ritual religioso, no entanto, não pode

parar o 11 º, o 12 º e o 13º salto para a morte. Depois da tentativa de

suicídio em 27 de Maio, a Foxconn começou a instalar 3.000 mil

metros quadrados de redes de segurança entre os edifícios que serviam

de dormitórios para impedir que os trabalhadores se matassem

atirando-se para o chão. O Presidente Terry Gou apelidado de "ai Xin

Wang ", o que traduzido à letra significa “ redes com um coração

amoroso."(124) Mas a questão é: "podem as redes realmente ajudar a

salvar vidas?”

Page 80: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

63  

Questionamos o enquadramento feito pela Foxconn relativamente aos

suicídios como sendo casos isolados e individuais num típico exemplo

de tentar culpar as vítimas. Depois de uma sequência de suicídios dos

empregado nas duas fábricas de Shenzhen, a Foxconn anunciou que

iria testar os empregados aquando da sua admissão na fábrica para

identificar eventuais questões de "saúde mental"(125) não visíveis e

em todas as suas unidades fabris que tem em toda a China. A direcção

alegou que as mortes estavam principalmente relacionadas

principalmente com a imaturidade e o frágil estado de espírito dos

jovens migrantes rurais. A sua abordagem de culpar as vítimas leva a

sugerir que Foxconn continua relutante em avaliar os problemas de

base dos locais de trabalho e em avaliar também o seu impacto

negativo sobre o estado físico e mental dos seus trabalhadores.

Cultura militar

"Um líder", diz Terry Gou, (fundador da Foxconn) deve ter a coragem

suficiente para ser "um ditador para o bem comum" (ducai wei

gong).(126) Sob a sua liderança, a Foxconn Longhua construiu a sua

própria “cidade”em Shenzhen, onde os gestores de empresas e agentes

de segurança detêm um controlo supra-governamental sobre seus

funcionários. Um exemplo extremo é que as chamadas de emergência

feitas à polícia através de telefones da fábrica são automaticamente transferidas para o departamento de segurança da Foxconn

privada!(127) Parece que não há uma via alternativa para os

trabalhadores procurarem ajuda.

Page 81: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

64  

A empresa contratou mais de 1000 seguranças para manter a ordem

dentro da Foxconn Longhua (não há lixo, não há desrespeito, ninguém

pisa o risco) e para impedir que pessoas não autorizadas entrem nas

áreas consideradas restritas.(128) Os trabalhadores vestem uniformes

de cores diferentes de acordo com o seu departamento. Todos os

edifícios da fábrica e até o dormitório têm postos de segurança, com

guardas 24 horas por dia.

Todos os funcionários, estejam eles a caminho da casa de banho ou de

uma pausa para comer, devem ser revistados. Todo o staff tem de

passar cartões electrónicos nas portas, enquanto os trabalhadores de

outras empresas que entrem em contacto com a fábrica, como os

camionistas, deixam as suas impressões digitais nos scanners.(129)

Para impedir tentativas de espionagem industrial, os funcionários

estão proibidos de trazer leitores de música ou telemóveis para o andar

das vendas, e serem revistados é algo que faz parte da rotina. Os

homens devem tirar os cintos que tenham fivelas de metal e as

mulheres os sutiãs com aro antes de passarem pela segurança.

A Foxconn é conhecida e criticada por ter “mão pesada” no que toca

ao tratamento dos seus funcionários. Existem inúmeros relatos de

fontes oficiais e meios de comunicação social sobre a detenção, abuso

e uso da violência pelos seguranças. Um exemplo trágico foi a morte

de Sun Danyong na fábrica da Foxconn em Longhua a 16 de Julho de

2009. Sun um jovem de 25 anos de idade formado no Instituto de

Tecnologia de Harbin, foi responsável pela perda de um dos 16

protótipos do iPhone da Apple de quarta geração. Posteriormente

saltou do 12º andar do seu prédio. A Foxconn emitiu um

comunicado:(130)

Page 82: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

65  

Independentemente do motivo que levou ao suicídio do Sun, ele é em

certa medida um reflexo das deficiências internas de gestão da

Foxconn, especialmente no que toca a ajudar os jovens trabalhadores a

lidar com as pressões psicológicas da vida profissional na empresa.

As "pressões psicológicas" incluíram a suspeita de roubar, um

interrogatório brutal, o isolamento e a revista da sua casa. Ele foi

ainda alegadamente espancado e humilhado. As suas últimas

conversas online com os amigos revelam tanto a sua agonia como o

seu alívio: "Só de pensar que não vou ser intimidado amanha, que não

vão continuar a fazer de mim o bode expiatório, sinto-me muito

melhor."(131)

Os escândalos sobre o uso abusivo da força por parte dos seguranças

da Foxconn chegaram às primeiras páginas apenas algumas semanas

após o suicídio do jovem empregado da empresa. A localização desta

nova história foi em Pequim, num dos locais principais de produção

de material para a Nokia e para a Motorola. Na fábrica da Foxconn em

Pequim, de acordo com um relatório(132), os guardas envolveram-se

num confronto com os trabalhadores a 6 de Agosto de 2009.

Comentadores e analistas, baseando-se nos vídeos publicados online

do desacato e nas entrevistas aos envolvidos asseguram que a

violência física e verbal é uma constante no seio da Foxconn.(133) Os

trabalhadores são perseguidos e agredidos sem motivo aparente. Um

gerente respondeu à comunicação social, afirmando que "o incidente

foi um mal entendido." (134) A terem havido acções disciplinares

contra os trabalhadores, estas não foram publicamente divulgadas.

Page 83: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

66  

De modo a manter o sigilo absoluto para os seus compradores, como a

Apple, Nokia e Motorola, a Foxconn mantém um verdadeiro exército

de agentes de segurança privada. O alto nível de segurança de 24

horas por dia instalado na Foxconn justifica-se pela sua

responsabilidade contratual de garantir os direitos de propriedade

intelectual aos seus clientes. A fuga de "informações comerciais"

resultaria em enormes perdas financeiras.(135) Por isso, as

multinacionais ligadas às produções de elevada tecnologia têm feito

imensa pressão de modo a garantir a segurança do seu trabalho. Isto

leva a que os trabalhadores da Foxconn sejam vigiados quer dentro

quer fora da linha de produção.

O desespero e a falta de esperança

A geração do pós 80 e 90 de trabalhadores migrantes tem maiores

expectativas de vida do que as gerações anteriores, o que os faz sentir

mais desapontados com cada fracasso. Com 19 anos, Li Hai saltou do

5º andar do centro de treino da empresa a 25 de Maio de 2010 (foi

apelidado de “o 11º saltador”). A polícia encontrou uma nota de

suicídio na qual pede desculpas à sua família. A nota indicava que Li

tinha "perdido a confiança no seu futuro." (136) Nela pode-se ler: “As

minhas expectativas do que eu poderia fazer no trabalho e para a

minha família vão muito para lá do que eu poderia alcançar.”

Li nasceu em 1991 numa aldeia pobre da província de Hunan. A sua

família arrendou uma pequena fazenda de apenas três “mu”, o que

corresponde a apenas 0,4 hectares. O seu primo disse que ele poderia

ganhar dinheiro se trabalhasse na Foxconn. Depois de vender a mota

Page 84: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

67  

por 300 yuan (cerca de 33€) para comprar um bilhete de comboio,

viajou para o sul. (137) Na fábrica Guanlan Shenzhen, durante os 42

dias de trabalho, terá sido repreendido pelo seu supervisor de linha

quase todos os dias. Na sua nota de suicídio continua:

Eu gosto de desenhar, como o faz a Xiao Ye, mas realmente eu não

gosto de ….[fushikang]

Li, um recém-formado, ficou desiludido com o modo de vida em

Foxconn. Vindo do campo, ele encontrou no processo de adaptação à montagem robotizada a alta velocidade e com uma precisão extrema

uma grande dificuldade. Sentindo-se incapaz de voltar para casa, ele

pôs termo à sua vida no início da manhã. Shenzhen acabou por

mostrar não ser o mundo de oportunidades que nela havia visto.

Lu Xin, também ele natural de Hunan, saltou do 6 º andar no

apartamento da Foxconn em Shenzhen no dia 6 de Maio de 2010 (o

“7º saltador”).(138) Como Li Hai, Lu precisava de dinheiro para

melhorar as condições de vida da sua família. Sendo formado, Lu, tem

uma remuneração base a partir de 2.000 Yuan (222€), mais do o dobro

de trabalhadores da linha de montagem. Durante os oito meses de

trabalho, ele conseguiu enviar para casa mais de 13.000 Yuan

(1446€), tendo para isso feito uma quantidade excessiva de horas

extra. No seu blog data um post escrito a 26 de Outubro de 2009,

citado pela China Central Television (CCTV), no qual se lê (139):

Eu vim para esta empresa por dinheiro. E foi aí que me apercebi, isto é

um desperdício da minha vida e do meu futuro. Logo na primeira

etapa da minha vida adulta eu fui pelo caminho errado. Estou perdido.

Page 85: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

68  

Lu foi designado para o departamento de produção, e não para a

unidade de investigação e desenvolvimento como preferia. Em Abril

de 2010, ele trabalhava todos os dias até as 21horas. De acordo com a

lei chinesa, a jornada de trabalho não deve exceder 8 horas por dia e

40 horas semanais (artigo 3 º do Regimento do Conselho de Estado

sobre o Horário de Trabalho) e as horas extraordinárias não deverão

exceder 3 horas diárias (artigo 41 da Lei do Trabalho). Lu não viu

qualquer esperança para si ou perspectivas para o futuro. Noutro post

online datado de 14 de Março de 2010 lê-se:(140)

Se eu realmente pudesse, escreveria música todos os dias. Eu não

tenho dinheiro para comprar hardware necessário para música. Eu

nem quero gastar dinheiro num computador. Não consigo sequer

encontrar uma produtora. A juventude desaparece muito rápido. Aos

24 anos, será que eu ainda posso fazer isso?

Lu adorava música e queria ser um cantor profissional. Ele chegou

mesmo a participar no concurso de canto da empresa e ficou em

segundo lugar. Mas na vida real ele era responsável por tarefas

monótonas na oficina de montagem. No início de Maio estava à beira

de um colapso. Ele apresentou sintomas de delírios como "ser seguido

e ameaçado por alguém que queria matá-lo" Naquela noite de insónia,

o seu colega de universidade e de trabalho, recordou as palavras finais

de Lu:(141)

Page 86: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

69  

Ele disse que ia olhar para a paisagem e mal acabou a frase abriu a

janela e foi para a varanda, depois saltou. Não hesitou em momento

algum. Tentei agarrá-lo, mas só consegui tocar na roupa do seu braço

esquerdo e ele esquivou-se da minha mão.

A função do Lu era o controlo de qualidade. Se ele não conseguisse

monitorizar correctamente a qualidade dos produtos, não só ele como

cada funcionário do departamento seriam punidos.(142) Como

resultado desta medida, ele estava sempre muito nervoso com as taxas

de aprovação de produtos, com medo da punição ou de um corte no

bónus.

A nova geração de trabalhadores migrantes melhor educados quer uma

vida nova, mas não vê perspectiva em trabalhar dia e noite nas linhas

de montagem padronizada. Eles enfrentam uma enorme discrepância

entre as expectativas crescentes e a dura realidade que é a vida nas

fábricas.(143) Apenas alguns dias após o suicídio de Lu Xin, de 24

anos, a trabalhadora Henan Zhu Chenming atirou-se também do

telhado do apartamento (apelidado de "8º saltador"). Um amigo

contou os seus sonhos de fama como uma super modelo:(144)

Ela tem 1,74m. Antes de entrar na Foxconn aprendeu sobre moda. A

sua aspiração era viajar para o estrangeiro para estudar.

Na noite de 11 de Maio de 2010, o corpo de Zhu foi encontrado no

chão. Todo o glamour com que sonhava se havia dissipado.

Os trabalhadores vindos do meio rural são marginalizados e excluídos

material e culturalmente. Sentem-se inseguros, especialmente os mais

jovens, pois nem são da cidade nem são já capazes de voltar para a

vida do campo. Todos os dias, centenas de jovens trabalhadores

Page 87: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

70  

abandonam o seu emprego e deixam a empresa. Mas aqueles que se

mudam para outras fábricas em pouco tempo estão a ser explorados

sensivelmente da mesma forma como acontecia na Foxconn. A

carreira de alguns chega ao fim devido a acidentes de trabalho.145

Outros tentam desesperadamente seguir uma outra vida.(146)

Nove professores universitários da China e de Hong Kong fizeram

uma declaração pedindo que a Foxconn e que o Governo sejam justos

para com a nova geração de trabalhadores migrantes.(147) A

declaração diz:

A partir do momento que eles [a nova geração] passam para lá da

porta de casa nunca pensam em voltar para a agricultura, como os seus

pais. Nesse sentido, eles não vêem outra opção quando entram na

cidade para trabalhar. Quando a possibilidade de construir uma casa

na cidade graças ao seu próprio trabalho se esvanece, esvanece-se

também o próprio significado desse mesmo trabalho. O caminho

adiante é bloqueado, e o caminho de regresso a casa está fechado.

Presa nesta situação, a nova geração de trabalhadores migrantes

enfrenta uma séria crise de identidade, o que aumenta os problemas

psicológicos e emocionais. Ao estudar mais aprofundadamente estas

condições sociais e estruturais, compreendemos e sentimos mais

profundamente a ideia de que não há um caminho de regresso a casa

para os funcionários da Foxconn.

A pressão de estar longe de casa e de sentir que há muito pouca

preocupação e justiça pelo lado da sociedade foi um dos principais

factores que esteve por detrás dos suicídios.(148) Milhões de

trabalhadores migrantes como os da Foxconn são deixados numa

situação de profunda contradição. Eles rejeitam aceitar as duras

Page 88: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

71  

dificuldades que os seus antecessores sentiram e viveram como sendo

trabalhadores de baixos salários e de serem considerados cidadãos de

segunda. Eles revoltam-se contra a sua condição de marginalizados e

contra o facto de terem uma vida sem sentido. Assim sendo a sua

única opção é, segundo um especialista no tema, “deixar de ter

preocupação com os seus próprios corpos e destruí-los, como sinal de

frustração e desconfiança.(149) Ao cometerem suicídio de modo a

desafiar e a provocar esta realidade, apelam à sua pátria e ao resto do

Mundo para que se faça algo, antes que mais vidas se percam.

Conclusão

A emergência da China como potência económica global não se

poderia ter dado sem o árduo esforço das gerações mais velhas e mais

novas de trabalhadores migrantes. Os suicídios dentro da Foxconn

receberam muita atenção dos media e ainda há muitos outros

trabalhadores que trabalham sob condições igualmente terríveis.

Acreditamos que o trabalho e questões de direitos humanos suscitadas

por esta tragédia humana vão muito além das condições específicas da

Foxconn, e exigem mudanças abrangentes na indústria e a nível

governamental.

A supressão da possibilidade de subida dos salários em indústrias

orientadas para as exportações na década de 80 trouxe um grande

influxo de investimentos estrangeiros para a China. Acelerado na

década de 90, as empresas transnacionais e os contratantes de Taiwan

têm terciarizado a produção de baixo valor agregado para os

Page 89: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

72  

fabricantes chineses. Milhões de fábricas orientadas para as

exportações estão sujeitas a especificações de multinacionais

Ocidentais e Asiáticas. As margens de lucro no decorrer do trabalho

permanecem pequenas. A nível internacional, os produtores do

Vietname, Índia, Camboja, Bangladesh e outros países em

desenvolvimento são confrontados contra a China numa batalha para

se tornarem fornecedores de segunda escala na cadeia global de

fornecimento de mercadorias. Nas fábricas, os trabalhadores carregam

o peso das pressões para cortar nos custos.

Jovens trabalhadores oriundos do meio rural saem das suas terras e

tornaram-se na espinha dorsal das indústrias urbanas de exportação da

China. São mal pagos e muito lhes é exigido. Os grandes compradores

preocupados com a sua imagem e os seus fornecedores expressam por

vezes preocupação no tratamento e nas condições dos trabalhadores.

Mas muitas vezes isso parece simples retórica visando a

responsabilidade social empresarial (RSE). Os críticos apontam a

realidade por trás da retórica:(150)

As promessas de programas de RSE - hoje um negócio de cerca 40

mil milhões de dólares/ano nos EUA - foram minados por um

"triângulo de ferro": menor preço por unidade possível, maior

qualidade possível e tempos de entrega mais rápidos. Contudo as

fábricas mais pequenas que fornecem as grandes empresas não são

subsidiadas para suportar políticas de RSE, e ainda enfrentam

reduzidas margens de lucro e custos adicionais que só podem ser

combatidos reduzindo/cortando ainda mais na sua própria força de

trabalho.

Page 90: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

73  

Os anos de juventude dos trabalhadores são completamente

queimados com o ritmo das máquinas, à medida que as suas peças e

componentes vão funcionando, à medida que estas vão trabalhando.

Os tempos livres e até mesmo as próprias vidas nisso são sacrificadas.

A estratégia da Foxconn de produção de baixo custo, e desprezo pelos

direitos dos trabalhadores não é nem economicamente sustentável nem

moralmente defensável. Como o maior fabricante de material

electrónico no mundo, a Foxconn lança no mercado grandes volumes

de mercadorias, concebidos por empresas multinacionais. Apesar de

ter margens de lucro pequenas, os seus lucros totais e quota de

mercado são grandes. Ainda assim, a empresa não fornece aos seus

funcionários um salário adequado, condições de trabalho aceitáveis,

nem benefícios sociais adequados. Horas extraordinárias excessivas,

alto nível de stress relacionado com o trabalho, e desrespeito dos

direitos dos trabalhadores à representação sindical estão embutidos no

sistema de gestão da Foxconn. Sob estas condições extremas, pelo

menos 13 funcionários da Foxconn decidiram por termo às suas vidas

nos últimos cinco meses deste ano.(151) Para evitar que tragédias

semelhantes aconteçam na Foxconn e noutras fábricas é fundamental,

em primeiro lugar, assegurar os direitos dos trabalhadores para que se

organizem democraticamente e negoceiem colectivamente. Reforçar a

participação dos trabalhadores na gestão das empresas vai ajudar a

melhorar as condições de trabalho. Encorajamos as organizações

independentes não-governamentais (ONGs) e dirigentes sindicais

credíveis para darem sessões de esclarecimento sobre os direitos dos

trabalhadores no local de trabalho. Além disso, nós defendemos que o

acompanhamento conjunto dos mecanismos de reclamações sobre a

Page 91: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

74  

empresa seja conduzido por parte dos governos locais e entidades

externas, excluindo aqueles que estão ligados a interesses

corporativos.

Estamos preocupados com o papel dos estados nacionais e regionais

no que diz respeito à protecção da nova classe trabalhadora. A

utilização de um grande grupo de jovens trabalhadores migrantes para

alimentar a economia chinesa orientada para as exportações, acarreta

um grande custo humano. As necessidades básicas dos trabalhadores

como a habitação, segurança social e educação para os seus filhos não

são acautelados pelo governo local. Enquanto estes problemas não

forem resolvidos, os problemas mentais ou psicológicos que até aqui

têm aumentado nunca irão desaparecer. O governo deve redistribuir o

rendimento e garantir que haja benefícios para os residentes rurais e

para os trabalhadores migrantes com vista a melhorar a sua qualidade

de vida. A discriminação institucional contra trabalhadores migrantes,

baseada no lugar onde residem, e outras políticas também, devem ser

eliminadas para facilitar mobilidade laboral e reduzir a segmentação

do mercado e a discriminação dos trabalhadores oriundos do meio

rural. A participação dos trabalhadores na reforma social e laboral vai

construir os alicerces na comunidade para reduzir suicídios. Em geral,

é fundamental que haja um modelo de desenvolvimento urbano-rural

mais equilibrado para a estabilidade social e económica.

O suicídio é a forma mais desesperada de protesto. Não deve ser

utilizado como meio de resistir à injustiça social. Devem ser tomadas

medidas no sentido de melhorar as condições na Foxconn, mas o

trabalho não deve ficar por aí. Desde Maio de 2010, eventos de

condolências às vítimas e suas famílias Foxconn foram organizados

Page 92: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

75  

em Shenzhen, Beijing, Hong Kong, Taipei, Nova York, Washington

DC, São Francisco, Boston, Canadá, México, República Checa,

Berlim, Amesterdão, Suíça, França, Austrália, Coreia do Sul, Índia e

outros lugares pelo mundo.(152) A 22 de Julho, dois dias

imediatamente após o suicídio de um trabalhador-estudante de 18 anos

na fábrica de Foshan, na província de Guangdong,(153) uma

coligação de 45 investidores institucionais em todo o mundo emitiu

uma declaração pública no sentido de pedir investimento, ética e

melhores condições fabris em toda a cadeia global de produção.(154)

No dia 4 de Agosto, apesar da instalação de redes de segurança em

torno das instalações do edifício, um de 22 anos de idade, Liu, caiu de

um dormitório na instalação de Kunshan em Jiangs, na província

oriental.(155)

Enquanto ainda se estavam a verificar novos casos de suicídio de

jovens trabalhadores, neste Verão, a Foxconn organizou uma sessão

para aumentar a auto-estima dos seus jovens funcionários num estádio

em Longhua Shenzhen no dia 18 de Agosto de 2010. Alguns

trabalhadores estavam vestidos com uniformes da empresa, t-shirts

cor-de-rosa com uma frase a vermelho que diz “amo-te Foxconn”.

Outros, com roupas de líderes de claque, empunharam cartazes

enormes do Presidente da Foxconn, Terry Gou, em que dizem "Adoro-

me, adoro-te, adoro o Terry."(156) Na altura, todos os 20.000

participantes se levantaram e gritaram palavras de ordem, comandados

pelos organizadores da empresa. Um gerente gritava palavras de

motivação para os jovens: "Dê valor à sua vida, ame a sua

família!"(157) E mais importante ainda, gritavam: "Cuidemos uns dos

outros no sentido de construir um futuro maravilhoso."(158)

Page 93: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

76  

Sem reforçar a protecção dos direitos fundamentais dos trabalhadores

de modo a lutar por um trabalho digno, qualquer que o esforço da das

empresas, parece quase certo que vamos assistir a um crescimento

nominal de mortes.

Page 94: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

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NOTAS

1. Tradução de extractos de um blog datado de 27 de Maio de 2010.

2. Hon Hai Precision Industry, Ltd, website

3. iSuppli, 27 de Julho 2010, Foxconn rides partnership with Apple to

take 50 percent of the EMS market in 2011.

Page 97: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

80  

4. Descrição da empresa em Hon Hai Precision Industry informação

datada de 26 Abril de 2010.

5. Sun Yaping. 20 Maio 2010. Foxconn spokesperson responds to “9

consecutive jumps,” acknowledging management problems.

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6. Austin Ramzy. 16 Dezembro 2009. Runners up: the Chinese

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7. Wang Yi (Net Ease). 9 Abril 2010. Who can bring the Foxconn

“suicide express” to a halt? [em chinês].

8. Appeal by concerned international scholars: create humane labor

standards at Foxconn and end “stealth manufacturing” in information

technology! 8 Junho 2010.

9 De acordo com uma cronologia das etapas importantes no site da

Foxconn, em 2006, a empresa foi nomeada uma das "melhores

empregadoras na China"

10 Dagongmei / dagongzai (feminino / masculino de trabalhador

migrante) é uma nova identidade de género e de classe que apareceu

na era pós-Mao, na China. Dagong é definida por contraste com

gongren. Dagong refere-se aos residentes rurais que migram para as

cidades onde trabalham com ou sem contratos de trabalho temporário,

habitualmente para empresas privadas por oposição a gongren em que

se tem, pelo menos nominalmente contratos para a vida com empresas

estatais e se tem igualmente registo urbano de habitação. Ver Ching

Kwan Lee. 1998. Gender and the South China miracle: two worlds of

factory women. Berkeley: University of California Press; Pun Ngai.

2005. Made in China: women factory workers in a global workplace.

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15. Dorothy J. Solinger. 1999. Contesting citizenship in urban China:

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University of California Press.

16. O crescimento do salário real do trabalhador migrante chinês

calculado através do índice nacional dos preços ao consumidor parece

ser positivo desde 2005 até 2009. Ver quadro 2 em John Knight, Deng

Quheng, and Li Shi. 2010. The puzzle of migrant labor shortage and

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Department of Economics, Oxford University.

17. Ho-Fung Hung. 2009. America’s head servant? The PRC’s

dilemma in the global crisis. New Left Review 60 (Nov/Dec): 5-25. Os

dados sobre os salários na indústria transformadora durante o processo

de convergência, 1950-2005, são mostrados na figura 5

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82  

18. Erin Lett e Judith Banister. 2009. China’s manufacturing

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19. The Economist. 29 Julho 2010. The next China.

20. Zeng Xiangqun. 4 Agosto 2010. Labor’s share of Chinese GDP

fell for 10 consecutive years [em chinês]. Renmin Wang (People Net).

21. Zhang Jianguo, All China Federation of Trade Unions (ACFTU)’s

Director of the Collective Contracts Department, citado in China

Daily. 12 May 2010. Os dados mostram que a parte das remunerações

do trabalho no PIB caíu na China pelo 22º ano consecutivo.

22. Ministério do Trabalho e da Segurança Social da China 2004. A

survey report on migrant labor shortage [em chinês]

23. Ching Kwan Lee. 2007. Against the law: labor protests in China’s

rustbelt and sunbelt. Berkeley: University of California Press.

24. Artigo 3 de China’s Provisions on Minimum Wage (2004) estipula

que aos empregados devem ser pagas as férias anuais, feriados,

casamento ou funeral e período maternal.

25 Ver por exemplo, Haiyan Wang, Richard P. Appelbaum, Francesca

Degiuli, e Nelson Lichtenstein. 2009. China’s new labor contract law:

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Rights Forum (ILRF).

26. No.1 Central Document [2010]—Opiniões do Comité Central do

Partido Comunista e do Conselho de Estado para que se façam mais

Page 100: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

83  

esforços na planificação global do desenvolvimento das áreas rurais e

urbanas e na solidificação do desenvolvimento da agricultura e das

áreas ruaris. 31 Dezembro de 2009. O parágrafo 23 pretende mesmo

que haja mais rápido desenvolvimento de pequenas e médias cidades e

vilas e que haja também uma reforma do sistema de registo das

famílias.

27. Mary E. Gallagher. 23 Agosto 2010. “We are not machines:” teen

spirit on China’s shopfloor. The China Beat.

28. Kam Wing Chan. 2010. The global financial crisis and migrant

workers in China: ‘There is no future as a laborer; returning to the

village has no meaning.’ International Journal of Urban and Regional

Research (Julho): 1-19.

29. O excedente comercial chinês, por seu lado, é utilizado na compra

de títulos americanos da dívida pública, financiando assim o

endividamento crescente dos americanos em produtos importados de

baixo custo. Ver Ho-Fung Hung. America’s head servant? The PRC’s

dilemma in the global crisis.

30. China’s National Bureau of Statistics (NBS). 2010. Monitoring

survey of migrant workers in 2009 [em chinês].

31. Em termos nacionais, 84,45 milhões de trabalhadores migrantes

chineses estão a trabalhar em empregos rurais não agrícolas (bendi

nongmingong or jiudi zhuanyi nongmingong). Estes têm estado a

trabalhar em empresas nas suas cidades e vilas (xiang zhen) há mais

de 6 meses, aquando do inquérito. Em 2009, o número deste sub-

grupo de trabalhadores rurais migrantes decresceu cerca de 0.7 por

cento anualmente.

Page 101: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

84  

32. A Federação All China Federation of Trade Unions (ACFTU).

2010. Research report on problems of the new generation of Chinese

migrant workers [em chinês]. O departamento de investigação da

Central Sindical, a ACFTU, estimou que em 2009 somente 20 por

cento dos jovens trabalhadores migrantes estavam casados. De todos

os grupos etários, 56 por cento dos 145,33 milhões de trabalhadores

migrantes chineses tinham casado, segundo o inquérito realizado por

NBS.

33. Pun Ngai and Lu Huilin. 2010. Unfinished proletarianization: self,

anger, and class action among the second generation of peasant-

workers in present-day China. Modern China 36(5): 493-519.

34. Shenzhen Federation of Trade Unions and the Institute of Labor

Law and Social Security Law of Shenzhen University. 2010. A survey

on the lives of the new generation of migrant workers in Shenzhen [em

chinês]. Os 5.000 migrantes inquiridos nasceram depois de 1980..

35. Na China, uma aldeia ou vila, a town (jianzhi zhen), em termos de

casas significa mais 2.500 residentes locais permanentes, dos quais

mais que 70 por cento não estão empregados na agricultura. A central

sindical All China Federation of Trade Unions (ACFTU). 2010.

Research report on problems of the new generation of Chinese

migrant workers [em chinês].

36. All China Federation of Trade Unions (ACFTU). 2010. Research

report on problems of the new generation of Chinese migrant workers

[em chinês]..

37. O inquérito NBS mostra-nos que menos de 30 mihões de

trabalhadores migrantes à escala nacional se juntaram às suas famílias.

Nos anos recentes o problema social de liushou ertong ou crianças

Page 102: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

85  

deixadas para trás no interior do país (pelos pais, a trabalharem longe)

começou a ter grande importância.Mas as efectivas soluções estão

ainda por aparecer..

38. Para cerca de 145 milhões de trabalhadores migrantes que

deixaram as suas terras, as suas casas, as suas localidades, em 2009,

não havia ventilação realizada pelo NBS por idade e por género.

39. China’s National Bureau of Statistics (NBS). 2010. Monitoring

survey of migrant workers in 2009 [em chinês].

40. China Youth and Children Research Center. 2007. Research

report on development conditions and generational differences of the

new-generation Chinese migrant workers [em chinês].

41. All China Federation of Trade Unions (ACFTU). 2010. Research

report on problems of the new generation of Chinese migrant workers

[em chinês].

42. Beverly J. Silver. 2003. Forces of labor: workers’ movements and

globalization since 1870. Cambridge: Cambridge University Press.

Nas palavras de Silver (2003: 169), “Se os comportamentos do

passado podem dar alguma indicação para o futuro, então poderemos

esperar mais vagas, mais ondas, de mal estar e de protexto feitas pelos

trabalhadores (do tipo das descritas por Marx) na indústria e a

ocorrerem nas regiões que foram sujeitas a uma mais rápida

industrialização e proletarização. (Deste ponto de vista, o caso da

China é da mais alta importância histórica a nivel mundial.)”

43. Subsidiárias de Hon Hai em Taiwan e na China, ver a lista

Foxconn International Holdings (FIH) de Hong Kong..

44. Foxconn Technology Group [em chinês].

45. Foxconn Technology Group. 2010. Global distribution..

Page 103: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

86  

46. Foxconn Technology Group. 2009. Corporate social and

environmental responsibility report 2008. P. 8.

47. Foxconn Technology Group. 2009. Corporate social and

environmental responsibility report 2008. Pp. 10-11.

48. Bloomberg BusinessWeek. 8 July 2002. Terry T.M. Gou,

Chairman, Hon Hai Precision Industry.

49. Julie M. LaNasa. 2002. Solectron: building customer teams to

deliver on your company’s value proposition.

50. Flextronics. 2008. Apresentações (webcast). Em Junho 2007,

Flextronics adquiriu Solectron. Ver Flextronics. 4 Junho 2007.

Flextronics to acquire Solectron.

51. Foxconn Technology Group. 2009. Corporate social and

environmental responsibility report 2008. P. 10.

52. Foxconn Technology Group. 2009. Corporate social and

environmental responsibility report 2008. P. 11.

53. Foxconn Technology Group. 2010. Group profile.

54. Fortune Global 500. 2010. Hon Hai Precision Industry—rank 112

(anteriormente era nº 109).

55. Tim Culpan. 30 Agosto 2010. O rendimento líquido de Hon Hai

erra quanto às estimativas depois da subida dos salários na China.

Bloomberg Businessweek.

56. Estudantes e Professores contra o mau comportamento das grandes

empresas - Students and Scholars Against Corporate Misbehavior

(SACOM). 27 Maio 2010..

57. Foxconn Technology Group. 2009. Corporate social and

environmental responsibility report 2008. P. 8.

58. Foxconn Technology Group. 2010. Channel business.

Page 104: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

87  

59. Amazon é um cliente de Foxconn (ver Kindle na Wikipedia). Ver

também Radio Taiwan International. 20 Julho 2010. Amazon: as

vendas de Kindle ultrapassam os livros impressos.

60. Foxconn Technology Group. 18 Agosto 2006. Foxconn social and

environmental responsibility update.

61. Foxconn Technology Group. 2010. Company introduction.

62. O porta-voz de Hon Hai, Arthur Huang, citado em David Barboza.

6 Julho 2010. iPhone supply chain highlights rising costs in China.

New York Times.

63. Foxconn Technology Group. 2009. Corporate social and

environmental responsibility report 2008. P. 10.

64. Fortune Global 500. 2010. Annual ranking of the world’s largest

corporations (by revenues).

65. New York Times. 27 Maio 2010. Apple and Microsoft’s tug of war.

66. iSuppli. 28 Junho 2010. Apple rides high-margin hardware to

competitive supremacy.

67. an Sherr. 22 Julho 2010. Apple building teams to push sales to

small business. The Wall Street Journal.

68. Yen-Shyang Hwang, Ninelu Tu, and Joseph Tsai. 5 Agosto 2010.

A Foxconn embarcou cerca de 6 milhões de notebooks in 1H10.

Digitimes.

69. Reuters. 22 Julho 2010. O embarque de laptops na Hon Hai em

2011 foi para acima de 70 por cento.

70. Yen-Shyang Hwang and Joseph Tsai. 22 Julho 2010. As empresas

Wistron e Compal ainda são os primeiros fornecedores de notebooks

para a Dell in 2011; Foxconn avança para ser o terceiro. Digitimes.

Page 105: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

88  

71. Gillian Wong. 19 Agosto 2010. Foxconn gets the pompoms out to

raise morale at “suicide factory.” The Independent.

72. Foxconn Technology Group. 2010. Company introduction.

73. Xinjing Bao (New Beijing News). 18 Agosto 2010. Já vinte e sete

províncias aumentaram o salário mínimo neste ano, muitas delas para

mais de 30 por cento.

74. David Barboza. 2 Junho 2010. After spate of suicides, technology

firm in China raises workers’ salaries. New York Times.

75. Efectivamente no dia 1 Julho 2010, o salário mínimo em Shenzhen

foi aumentado para 1.100 yuans por mêsh. AFP. 9 Junho 2010. China

export hub Shenzhen to raise minimum wage.

76. Sean Hollister. 6 Junho 2010. Foxconn oferece uma subida

adicional de 66 por cento durante, durante uma misteriosa revisão de

resultados. Engadget.

77. China Labor Bulletin. 7 Junho 2010. Foxconn’s latest pay offer

comes with strings attached.

78. Kathrin Hile. 28 Junho 2010. Foxconn to shift some of Apple

assembly. Financial Times.

79. Louis Woo, assistente especial do presidente da Foxconn, citado

por Eilot Van Buskirk. 18 Agosto 2010. Foxconn rallies workers,

leave suicide nets in place. Wired.com.

80. Zhongguo Xinwen Zhoukan (China Newsweek). 2010. Fight to

grab Foxconn. No. 27 (Julho) [em chinês].

81. The China Post. 1 Julho 2010. HP, Foxconn, Quanta, Inventec

escolhem Chongqing para base.

82. Robert Dreyfuss. 18 Novembro 2009. Chongqing: socialism in one

city. The Nation.

Page 106: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

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83. Song Jingli. 5 Agosto 2009. HP, Foxconn to build laptop

manufacturing hub in Chongqing. China Daily.

84. Tong Hao. 6 Agosto 2009. HP, Foxconn to set up laptop unit.

China Daily.

85. Hu Yinan and Wang Yu. 29 Junho 2010. Foxconn mulls move

northward. China Daily.

86. China International Investment Promotion Platform. 28 Julho

2010. Foxconn investe 64 milhões de dólares em Zhengzhou e

Chengdu.

87. Figura do governo de Zhengzhou citada em Xinhua. 2 Agosto

2010. A nova fábrica da Foxconn na China central começa a sua

produção com esperança de paz e prosperidade.

88. Xinhua. 30 Junho 2010. Xinhua insight: Foxconn’s inland moving

a win-win solution.

89. Hu Yinan. 26 Junho 2010. Students “forced” to work at Foxconn.

China Daily.

90. CNTV (China Central TV). 4 Agosto 2010. Foxconn moves

factories further inland in Henan.

91. China Daily. 27 Julho 2010. Foxconn to open IT chainstores in

central China.

92. Xinhua. 26 May 2010. Foxconn’s president initiates media tour at

Shenzhen plant.

93. Recursos humanos em Hon Hai.

94. Em 2007, O Ministério da Saude na China estimou que houve 25

suicídios por cada 100.000 pessoas no país. Dados citados em China

Daily. 8 Abril, em 2010.

Page 107: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

90  

95. China Economic Review. 28 Maio 2010. Crunching the suicide

statistics at Foxconn.. Ver também People’s Daily. 25 Junho 2010.

Suicide rates up among Chinese urban men; Global Times. 16

Setembro 2009. Os velhos procuram o suicídio como solução. As

taxas de suicídio estão a aumentar entre os residentes nas cidades,

especialmente entre os mais velhos, de acordo com o Ministério da

Saúde.

96. Evertiq. 14 Julho 2010. Apple to go for additional manufacturing

partner.

97. Bloomberg Businessweek. 5 Junho 2007. Flextronics’ merger

muscle.

98. Yen-Shyang Hwang, Ninelu Tu, e Joseph Tsai. 5 Agosto 2010.

Foxconn ships over 6 million notebooks in 1H10. Digitimes.

99. Stephanie Wong, John Liu, and Tim Culpan. 3 Junho 2010. Why

Apple and others are nervous about Foxconn. Bloomberg

Businessweek.

100. Apple. 21 Janeiro 2009. Apple reports first quarter results. Os

resultados trimestrais de Apple que se concluiram a 27 Dezeembro de

2008, foram de 10.17 mil milhões de dólares..

101. Um 16Gbyte Apple iPhone, desmontado por iSuppli para a sua

análise de custos tem principalmente como peças de electronica e

componentes: aplicação de processadores, módulo de memória,

receptor de frequências de radio, alimentação, fichas de ligação,

controlador de ecrã, bateria e outras componentes eléctricas e electro-

mecânicas. O custo total das suas componentes é estimado em 187.51

dólares.. Ver iSuppli. 28 Junho 2010. iPhone 4 carries bill of

materials of US$187.51.

Page 108: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

91  

102. iSuppli. 28 Junho 2010. Apple rides high-margin hardware to

competitive supremacy.

103. Apple. 22 Junho 2010. Apple sells three million iPads in 80 days.

104. iSuppli. 7 Abril 2010. User-interface-focused iPad changes the

game in electronic design.

105. Apple. 20 Julho 2010. Apple reports third quarter results

(concluído a 26 Junho 2010): all-time record revenue, earnings

increase 78 percent.

106. Rik Myslewski. 18 Maio 2010. Apple said to order 24 million

iPhone 4Gs. The Register.

107. Arik Hesseldahl. 23 Julho 2010. Apple: white iPhone 4 delayed

again. Bloomberg Businessweek.

108. Beijing Qingnian Bao (Beijing Youth Daily). 7 Junho 2010.

Dissect Foxconn: respect “Made-in-China” human dignity [em

chinês].

109. Os resultados do inquérito do Governo são citados em Lu

Xiaohong. 17 Junho 2010. Foxconn raised wages for 5 times in 6

years but with no substantial change: only the ratio of overtime

premiums increases. Diyi Caijing Ribao (China Business News) [em

chinês].

110. Students and Scholars Against Corporate Misbehavior

(SACOM). 25 Maio 2010. Grupos em Hong Kong propuseram à

Foxconn fazer luto pelas mortes, Foxconn recusou responder.

SACOM propôs um salário decente em Shenzhen, considerando os

seguintes elementos: despesas em alimentação de 613 yuans por mês,

um coeficinete de Engel de 0.5, e um rácio de dependência de 1.87

Page 109: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

92  

(um trabalhador suporta em média 1.87 membros da familía) [em

chinês].

111. Geoffrey Crothall, director de China Labor Bulletin, citado por

Reuters. 2 Junho 2010. Dez trabalhadores nas fábricas chinesas

suicidaram-se para se obter 30 por cento de aumento salarial.

112. Coolloud (Bitter Labor). 28 Maio 2010. Taiwan protestors

outside Hon Hai headquarters [em Chinês].

113. Apelo feito em Taiwan por 180 professores a 13 Junho 2010.

“End to sweatshops, safeguard labor and human rights”!.

114. Xinhua. 13 Maio 2010. Foxconn ‘regrets’ suicide cluster.

115. Tania Branigan. 17 Maio 2010. Latest Foxconn suicide raises

concern over factory life in China. Guardian.

116. China Labor Watch. 18 Maio 2010. “We are extremely tired,

with tremendous pressure,” said Foxconn workers.

117. China Labor Bulletin. 9 Abril 2010. Foxconn suicides highlight

the pressures on young factory workers in China.

118. Evertiq. 24 Maio 2010. Terry Gou: “No blood and sweat shop.”

119. Cindy Sui. 18 Maio 2010. Foxconn calls on monks and

counselors to stem suicides. BBC.

120. Wang Qian. 13 Maio 2010. Foxconn invites monks in wake of

six suicides. China Daily.

121. Barbara Demick and David Sarno. 27 Maio 2010. Suicides roil

factory in China. Los Angeles Times.

122. Nanfang Zhoumo (Southern Weekend). 12 Maio 2010. Break the

suicide “spell” of Foxconn employees [em chinês].

123. Sina. 13 Maio 2010. Foxconn responds to hiring monks:

blessings for workers [em chinês].

Page 110: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

93  

124. Mingpao Daily. 17 Agosto 2010. Foxconn removes protective

nets from all its facilities in the country [em chinês].

125. Wang Xiang. 5 Agosto 2010. Foxconn seeks “mature” workers

for its Wuhan plant. Shanghai Daily.

126. Renmin Wang (People Net). 12 Setembro 2010. Brief profile of

Terry Gou [em chinês].

127. Li Kecheng. 26 Maio 2010. Foxconn: life in the 10 billion-tax

“lonely island.” Dongfang Zaobao (Oriental Daily) [em chinês].

128. Jason Dean. 11 Agosto 2007. The forbidden city of Terry Gou.

The Wall Street Journal.

129. Yanzhao Dushi Bao (Yanzhao Metropolis Daily). 9 Junho 2010.

Upstream companies exploitations, supplier Foxconn the king falls

from the heavenly grace [em chinês].

130. Li Jinming, director geral da Foxconn, citado por Zhongguo

Xinwen Wang (China News Net). 22 Julho 2009. Foxconn deeply

entrapped in ‘suicides,’ general manager reviewed internal

management deficiencies [em chinês].

131. Sun Danyong, ermpregado da Foxconn,citado por Cheng Wen.

21 Julho 2009. O empregado saltou para a morte e suspeita-se por

estar sobre muita pressão. Nanfang Dushi Bao (Southern Metropolis

Daily) [em chinês].

132. Foxconn Technology Group. 20 Maio 2010. Announcement on

behalf of company subsidiary..

133. China Review News. 20 Maio 2010. Foxconn Beijing tens of

security guards accused of beating employees [em chinês].

134. China.org.cn. 21 Maio 2010. Foxconn confirms guards beat up

workers.

Page 111: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

94  

135. James Pomfret and Kelvin So. 17 Fevereiro 2010. For Apple

suppliers, loose lips can sink contracts. Reuters.

136. Xinhua. 25 Maio 2010. Another Foxconn employee falls to death

at Shenzhen factory; uma nota encontrada.

137. Deng Fei. 13 Junho 2010. Inside story of Foxconn: cruelty of the

13 young people. Fenghuang Zhoukan (Phoenix Weekly) [em chinês].

138. Nanfang Dushi Bao (Southern Metropolis Daily). 7 Maio 2010.

One more Foxconn employee jumped from building, allegedly

followed by a killer [em chinês].

139. Lu Xin, empregado da Foxconn, citado por CCTV. 11 Maio

2010. Foxconn “seven consecutive jumps” incident. [narrado em

Mandarim, com legendas em chinês].

140. Zhongguo Pinglun Xinwen Wang (China Review News). 13 Maio

2010. Eight consecutive jumps, why? Foxconn eventually reflected on

it [em chinês].

141. Zeng Hongling, Foxconn employee and former university

classmate of Lu Xin, citado em CCTV Xinwen 1+ 1 (News 1 + 1). 11

Maio 2010. Foxconn: “seven consecutive jumps” mystery. [narrado

em Mandarim, com legendas em chinês].

142. Zhou Hongquan, Yang Yan, and Xia Xiong. 17 Maio 2010. Lu

Xin a graduate from Xiangtan University lost his soul at Foxconn, is

domination by machines the root cause for his death? Renmin Wang

(People Net) [em chinês].

143. Jonathan Adams. 14 Junho 2010. China workers suicides: a lost

generation? GlobalPost.

144. Xiao Li, irmão do trabalhador da Foxconn, Zhu Chenming,

citado por CCTV Jingji ban xiaoshi (Economy for half-an-hour). 23

Page 112: Questões sobre migrações e sobre a crise: Algumas

95  

Maio 2010. Foxconn “ten consecutive jumps” mystery. [narrado em

mandarim].

145. Jonathan Adams and Kathleen E. McLaughlin. 2009-2010.

Silicon sweatshops (a series of feature stories about workers in

Taiwan and mainland China). GlobalPost; ver também Students and

Scholars Against Corporate Misbehavior (SACOM). 18 Agosto 2010..

146. Mark Lee. 26 May 2010. Suicides among China factory workers

surge, labor group says. Bloomberg Businessweek.

147. As nove assinaturas do texto de 18 Maio 2010 são: Shen Yuan

(Tsinghua University), Guo Yuhua (Tsinghua University), Lu Huilin

(Peking University), Pun Ngai (Hong Kong Polytechnic University),

Dai Jianzhong (Beijing Academy of Social Sciences), Tan Shen

(China Academy of Social Sciences), Shen Hong (China Academy of

Social Sciences), Ren Yan (Sun Yat-sen University), and Zhang

Dunfu (Shanghai University). Veja-se também o texto completo em

Sina Tech [em chinês].

148. Li Ping, Secretário geral do Governo em Shenzhen, citado por

The Mail. 28 Maio 2010. Décimo terceiro empregado na fábrica da

China Foxconn onde se produz o iPhone tentou suicidar-se no meio de

grande polémica sobre as condições de trabalho existentes.

149. Russell C. Leong. 27 Maio 2010. Blood in exchange for gold?

UCLA U.S.-China Comunicado.

150. Garrett Brown. 4 Agosto 2010. Global electronics factories in

spotlight. Occupational Health & Safety.

151. No meio de intensa investigação dos jornalistas sobre os

suicídios na Foxconn em Maio 2010, veio a público a morte de Rong

Bo com 19 anos. Em 8 Janeiro 2010, Rong saltou de um andar do

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96  

dormitório no campus da Foxconn Langfang na província de Hebei.

Veja-se fonte oficial segundo Xinhua. 21 Maio 2010. O 11º salto para

a morte trouxe a Foxconn para os focos dos media.

152. Veja-se, por exemplo, os artigos relevantes acerca dos suicídios

da Foxconn organizados por Students and Scholars Against Corporate

Misbehavior (SACOM), United Students Against Sweatshops

(USAS), China Study Group (CSG), GoodElectronics, makeITfair,

procureITfair, International Metalworkers’ Federation (IMF), Maquila

Solidarity Network (MSN), Maquiladora Health & Safety Support

Network (MHSSN),GreenIT, and Talking Union.

153. A male student-worker died from falling in Foxconn Foshan

plant on 20 Julho 2010. Xinhua. 20 Julho 2010. Another Foxconn

worker falls to death.

154. Boston Common Asset Management, Trillium Asset

Management Corporation, As You Sow, Domini Social Investments,

and Interfaith Center on Corporate Responsibility. 22 Julho 2010.

International investor coalition urgently calls for improved working

conditions in electronics manufacturing facilities.

155. BBC. 6 Agosto 2010. China Foxconn factory confirms another

worker death.

156. Sophie Beach. 18 Agosto 2010. Foxconn rallies China workers

amid suicide concerns (with photos and a video). China Digital Times.

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157. Gillian Wong. 19 Agosto 2010. Foxconn gets the pompoms out

to raise morale at “suicide factory.” The Independent.

158. Gillian Wong. 18 Agosto 2010. iPhone maker Foxconn holds

rallies after suicides. The Globe and Mail.

Disponível em http://japanfocus.org/-Jenny-Chan/3408

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