questÕes sobre a - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda...

22
150 Estilos da Clínica, 2009, Vol. XIV, n° 27, 150-171 que se quer dizer quando se denomina uma criança de autista? 1 Esse questionamento nos parece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que o tema do autismo infantil vem ocupando – verificamos ten- tativas de respostas controversas e divergentes, for- mando um contexto excessivamente polêmico, se- melhante ao que já havíamos assinalado (Rocha, 2003). Apesar de hoje ser considerado por setores cien- tíficos como um dos principais transtornos do de- senvolvimento infantil, o campo do autismo denota, pelas querelas e posições antinômicas, possuir con- tornos ainda imprecisos. Além das disputas decor- rentes das distintas bases epistemológicas e metodo- lógicas, observamos definições diferentes até entre os de mesmo referencial teórico (Tamanaha, Perissi- noto & Chiari, 2008; Rocha, 2003). Diverge-se também quanto às descrições dos ditos autistas, não estando claro se se fala sobre os mesmos sujeitos. Seguindo os manuais das áreas Psicólogo Escolar do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). RESUMO Apesar das controvérsias, desde sua invenção o autismo é carac- terizado como um prejuízo seve- ro do laço com a alteridade. Com o conceito de Outro, recolocamos a pergunta sobre a alteridade no autismo: essa condição subjetiva decorreria da ausência de rela- ção ou da presença de um laço específico com o Outro? A posi- ção autista parece-nos implicar uma tentativa de se proteger do verbo, do campo da linguagem, sendo determinada por um laço específico com um Outro invasivo, que traz a ameaça de tomar os autistas completamente em seu gozo absoluto. Descritores: psicanálise; au- tismo infantil; Outro. QUESTÕES SOBRE A ALTERIDADE NO AUTISMO INFANTIL Fúlvio Holanda Rocha O Artigo

Upload: others

Post on 09-Nov-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

150 Estilos da Clínica, 2009, Vol. XIV, n° 27, 150-171

que se quer dizer quando se denominauma criança de autista?1 Esse questionamento nosparece ainda importante hoje, pois – a despeito dolugar social (científico ou não) destacado que o temado autismo infantil vem ocupando – verificamos ten-tativas de respostas controversas e divergentes, for-mando um contexto excessivamente polêmico, se-melhante ao que já havíamos assinalado (Rocha,2003).

Apesar de hoje ser considerado por setores cien-tíficos como um dos principais transtornos do de-senvolvimento infantil, o campo do autismo denota,pelas querelas e posições antinômicas, possuir con-tornos ainda imprecisos. Além das disputas decor-rentes das distintas bases epistemológicas e metodo-lógicas, observamos definições diferentes até entreos de mesmo referencial teórico (Tamanaha, Perissi-noto & Chiari, 2008; Rocha, 2003).

Diverge-se também quanto às descrições dosditos autistas, não estando claro se se fala sobre osmesmos sujeitos. Seguindo os manuais das áreas

Psicólogo Escolar do Instituto Federal de Educação,Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).

RESUMO

Apesar das controvérsias, desdesua invenção o autismo é carac-terizado como um prejuízo seve-ro do laço com a alteridade. Como conceito de Outro, recolocamosa pergunta sobre a alteridade noautismo: essa condição subjetivadecorreria da ausência de rela-ção ou da presença de um laçoespecífico com o Outro? A posi-ção autista parece-nos implicaruma tentativa de se proteger doverbo, do campo da linguagem,sendo determinada por um laçoespecífico com um Outro invasivo,que traz a ameaça de tomar osautistas completamente em seugozo absoluto.Descritores: psicanálise; au-tismo infantil; Outro.

QUESTÕES SOBRE AALTERIDADE NO

AUTISMO INFANTIL

Fúlvio Holanda Rocha

O

Artigo

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51150

Page 2: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

Dossiê

151

Artigo

médica e psicológica com fins de objetividade no diagnóstico doTranstorno Autista (TA), chegamos a inúmeras combinaçõesfenomênicas (APA, 2002). Ademais, cada prejuízo relacionado nastrês dimensões determinantes do TA pode se apresentar na práticade maneira diversa. Como exemplo, o prejuízo qualitativo na interaçãosocial pode se manifestar em um não-interesse por amizades ou nointeresse por amizades, sem a compreensão das convenções sociais(ibid., p. 99). Outrossim, para alguns é índice de autismo tanto umaatitude demasiado abstrata quanto concreta em excesso.

Para os que baseiam o diagnóstico na presença de sintomas,essa situação causa certa dificuldade, fazendo do diagnóstico e dadelimitação do autismo “uma decisão clínica um tanto arbitrária”(Gadia, Tuchman & Rotta, 2004, p. 84). O resultado de se introduzira noção de espectro autista parece ser apenas disfarçar fragilmente aimprecisão da categoria autismo (Maleval, 2003).

A coexistência de quadros clínicos tão variados é um dos prin-cipais fatores que faz oscilar enormemente as taxas de prevalência.Dependendo da teoria e dos critérios diagnósticos adotados, aprevalência do autismo oscila entre 0,5 e 16 por 10.000, ocupando oterceiro lugar entre os transtornos de desenvolvimento e sendo maisfrequente do que as malformações congênitas do sistema nervosocentral e a síndrome de Down (APA, 2002; Carvalheira, Vergani &Brunoni, 2004; Gadia et al.; Rocha, 2003). Se considerarmos tam-bém o espectro autista, os índices chegam a 50 por 10.000, levandoalguns a acreditar em uma epidemia dos Transtornos Invasivos doDesenvolvimento (Gadia et al., 2004).

Diante disso, foi de grande relevância constatar que, de um modoou de outro, desde sua invenção como síndrome por L. Kanner, arelação do dito autista com a alteridade parece central (Rocha, 2003).

Autismo e alteridade

O termo “autismo” – ao ser formulado por Bleuler polemica-mente em relação a Freud – foi cunhado para expressar o isolamen-to do mundo externo como sintoma da esquizofrenia. O termo foiretomado por Kanner quando da invenção da síndrome, mantendocerta ideia de afastamento do mundo externo, embora em uma pers-pectiva diferente e de certo modo distorcida daquela proposta por

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51151

Page 3: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

152 Estilos da Clínica, 2009, Vol. XIV, n° 27, 150-171

Bleuler (Rocha, 2003; Tafuri, 2002;Cavalcanti & Rocha, 2001).

Em seu texto inaugural, conside-ramos possível afirmar que as váriascaracterísticas enumeradas porKanner dependem basicamente dedois fatores: desejo de isolamento ex-tremo e obsessão pela imutabilidade;posição que assume explicitamenteem 1956 (Tafuri, 2002; Lampreia,2004). Esse autor se refere a crises deraiva, de desespero, medos de obje-tos e situações inusitadas, apego a ro-tinas, problemas de linguagem, boamemória e potencialidades cognitivasetc. (Kanner, 1997, p. 165). Todavia,tudo parece convergir para a funçãode garantir o isolamento e a anulaçãode qualquer marca de diferença.

Em 1943, Kanner (1997, p. 156)afirma que o traço patognomônicoseria a “‘incapacidade dessas criançasde estabelecer relações’ de maneiranormal com as pessoas e situações,desde o princípio de suas vidas”. Asdificuldades de contato com as pes-soas seriam bastante características: ouinexistiria (como se as crianças bas-tassem a si mesmas ou estivessem fe-chadas em uma concha, agindo comse os outros não estivessem ao seuredor…) ou o contato seria apenas osuficiente para se desvencilhar daspessoas (atendendo as ordens demodo mecânico, sem iniciativa), pa-recendo ser-lhes indiferentes e semafeição.

Já a relação com os objetos seriadiversa. Ainda que mostrassem pobre-za imaginativa, podiam passar o dia

manuseando-os. Inclusive, assinalaque, quando partes do corpo do ou-tro eram tratadas como objetos, essascrianças poderiam mesmo aceitar ocontato. Destacamos que, a despeitode Kanner tender a interpretar nessetexto os comportamentos e falas deautistas apenas como expressão dodeficit, parece haver por trás dessa apa-rente passividade uma tentativa deevitar a interferência do outro, que,quando não obtida, ocasionava gran-de agitação, ansiedade, pânico ou có-lera, como se as crianças vivenciassemcomo um ato intrusivo assustador.Preferimos, então, afirmar que há maispropriamente uma exclusão ativa dooutro (Rocha, 2003; Cavalcanti &Rocha, 2001). De toda maneira, pare-ce-nos ser a relação com a alteridadeque se sobressai na descrição inaugu-ral de Kanner.

Para os psicanalistas que acolhe-ram entusiasticamente de imediato ainvenção de Kanner, as vicissitudes darelação criança-mundo exterior man-tiveram-se como centrais. Não obs-tante as peculiaridades teóricas de cadaautor, parece comum a visão do autis-mo como a patologia mais primitivaque desvelaria um mínimo ou mesmoa ausência de subjetividade. Em geral,podemos dizer que esses autores seapegam à imagem de que o dito autistase encontraria em um mundo pré-ver-bal, primitivo e dominado por sensações, tor-nando deficitário o reconhecimentoda realidade (do outro), em virtude deuma indiferenciação eu-mundo exter-no (Rocha, 2003; Maleval, 2003).

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51152

Page 4: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

Dossiê

153

Artigo

Entre as denominadas teoriascognitivistas e afetivas (desenvolvi-mentistas), que nas últimas décadasganham força no debate sobre o au-tismo, a interação social sofreria aí deum deficit básico. A oposição nos anos1970-80 entre essas teorias era em sa-ber se o dano na interação social, ca-racterístico do autismo, seria primá-rio ou secundário ao prejuízo nodesempenho linguístico. A tendênciaatual é “considerar que está implícita,no conceito de interação social, a ideiade comunicação e que nesta está im-plícito o conceito de interação social”(Lampreia, 2004, p. 112). Assim, inte-gram os aspectos sociais e linguísti-cos, compreendendo o autismo comoum deficit relacional.

Dessa maneira, se é a relação coma alteridade que parece perpassar ahistória do autismo, formulamos ahipótese de que a leitura lacaniana daobra de Freud pode contribuir paraesse debate ao oferecer outra inteligi-bilidade ao tema por sua maneira pe-culiar de conceber a alteridade.

Sujeito, outro e Outro

Para Zenoni (1991), as correntespsiquiátricas, psicológicas e a psicaná-lise de viés psicogenético realizaraminúmeras pesquisas visando à compro-vação de que as anomalias orgânicasou as falhas do ambiente seriam osfatores responsáveis pelo defici tautístico. Mais atualmente, verificamos

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51153

Page 5: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

154 Estilos da Clínica, 2009, Vol. XIV, n° 27, 150-171

ainda esse apego a essas duas ordenscausais (Grupta & State, 2006). Con-tudo, parece-nos que, mesmo comtodo avanço dos estudos em genéti-ca, permanece polêmico afirmar aetiologia orgânica e/ou ambiental,embora alguns autores professem essacrença como princípio. Assim, perma-nece produtiva a crítica de Zenoni(1991, p. 102) de que por um passe demágica o fracasso de que nem uma enem outra hipótese fora comprovadacomo causação do autismo se conver-teu em uma e outra simultaneamente,ou seja, sem justificativa epistemoló-gica plausível, transformaram a nãoverificação da validade da hipótesebiológica ou da ambiental na compro-vação da ação interativa das duas. Issosó se explica se o plano de causalida-de psicopatológica for reduzido aoconfronto eu-outro, isto é, aos termosorgânico (inato) e ambiente (represen-tado pela estimulação produzida poroutro semelhante, em geral a mãe). Oraciocínio seria mais ou menos o se-guinte: se não é uma nem outra isola-damente só pode ser as duas conco-mitantemente, uma vez que não hámais nenhuma outra determinaçãocausal para explicar a existência des-ses pequenos sujeitos batizados pelosadultos de autistas.

Por isso, vale lembrar a afirma-ção de Zenoni de que aquele planode causalidade psicopatológica, quan-do adotado por psicanalistas, engen-dra uma contradição por ser pré-freu-diano. O autor afirma que a referênciade Freud à pré-história, filogênese,

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51154

Page 6: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

Dossiê

155

Artigo

mito, assassinato do pai primordial, fantasia são algumas formas defirmar que o plano de explicação da psicopatologia humana é prévioà interação do indivíduo com seu ambiente, uma vez que estainteração já está no campo dos efeitos.

Assim, além daquela criticável operação epistemológica, essaperspectiva esbarra sempre na dificuldade de estabelecer na relaçãoconcreta, recíproca (simétrica) com o outro a motivação do autismo.Isso só serviu para incentivar uma disputa de culpabilização parental:de um lado, historicamente, a tese da ação (real, observável) inade-quada da “mãe” (primeiro cuidador), levou a acusações aos pais deserem frios emocionalmente, de não amar os filhos suficientemente,de não saberem estimulá-los. Por outro lado, a proposição de umdano orgânico primário retirava qualquer implicação dos pais na vi-cissitude dos filhos.

Contudo, a conceituação lacaniana acerca da alteridade preten-de ultrapassar essa dicotomia da causalidade psicopatológica no in-divíduo, uma vez que o campo da alteridade é cindido entre o outro(o semelhante) e o Outro. Mas, assinalar que o nascimento subjetivonão coincide com o biológico não significa que o orgânico e oambiental devam ser descartados, mas sim inseridos no campo dalinguagem. Em Lacan, isso é possível, pois a constituição de umsujeito se dá relativamente ao Outro.

Outro lacaniano

O conceito de Outro foi elaborado por Lacan durante toda asua obra, tendo vários usos. Não pretendemos aqui acompanhartodas as suas matizes, mas delimitar aspectos centrais que frequen-temente são postos em jogo por psicanalistas que refletem sobre oautismo.

A definição inicial de Outro aparece nos anos 1950, no cernedo projeto lacaniano de retorno a Freud, a partir da máxima de queo inconsciente é estruturado como uma linguagem, ou seja, de quehá uma analogia estrutural entre o inconsciente e a linguagem, sen-do esta a condição daquele. Isso significa que são com as leis dosignificante que nos havemos no funcionamento inconsciente, poisa estrutura da linguagem desvela o predomínio da ordem do signifi-cante sobre a do significado.

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51155

Page 7: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

156 Estilos da Clínica, 2009, Vol. XIV, n° 27, 150-171

O Outro é o lugar da cadeia designificantes, o tesouro dos significan-tes fundamental na constituição sub-jetiva. Lacan o define também comoo lugar da cultura, o campo da lingua-gem, sendo um sistema mediante oqual podemos referenciar as manifes-tações fenomênicas, pois não pos-suem sentido em si na proporção emque “a realidade é marcada de saída pelaaniquilação simbólica” (Lacan, 1988,p. 171). O Outro é o lugar de onde setoma emprestado as palavras para quese possa dizer algo, ou seja, para umsujeito se servir de sua língua é preci-so o atamento ao Outro. Em conso-nância, Miller (1988, p. 22) define: “oOutro é o grande Outro (A) da lin-guagem, que está sempre já aí. É oOutro do discurso universal, de tudoo que foi dito, na medida em que épensável”. O Outro é, assim, o uni-verso prévio da linguagem, a partir doqual a existência pode adquirir algumsentido.

Essa noção radicaliza a ideia deexterioridade ao sujeito. Se falamoscom quem nos identificamos,dirigimo-nos a algo que se perfila atrásdesse semelhante. Esse lugar terceiro(o Outro) se põe além da relação ima-ginária entre o eu (especular) e o ou-tro, mas é o que permite a estabilida-de dessa relação, uma vez que garantehaver sentido no que se diz (logo,constituindo o sujeito como falante).

É interessante ressaltar que, nãosó na sua estabilidade, mas na própriainstauração da relação imaginária, oOutro já toma parte. Isto repele uma

lógica desenvolvimentista para pensara subjetividade que põe a instauraçãoda relação especular (imaginária) pri-meiro, para depois ocorrer a entradado significante. No Estádio do Espe-lho, se produz uma miragem de unida-de corporal com a qual o infans irá seidentificar, antecipando (pois, imaturoorganicamente) de modo ortopédicouma forma de totalidade de seu corpo.Mas Lacan (1998a, p. 685) assinala serum equívoco esquecer que, já nessemomento, é necessário o Outro paraautenticar a assunção da imagem porparte do sujeito (para ocorrer a identi-ficação especular), pois o Outro devedestinar aí um lugar no Ideal do eu dequem o encarna; bem como adverteque a “estrutura de presença” aíevocada para este reconhecimento é deum lugar terceiro (simbólico) que “nãodeve nada à anedota do personagem”que o encarna.

A importância do Outro na cons-tituição subjetiva fica ainda mais evi-dente no processo de inscrição dametáfora paterna, central no pensa-mento lacaniano na década de 1950.A incidência da ordem da cultura so-bre o infans, permitindo-o sair de suacondição de organismo, se dá no cam-po da fantasia e desejo “parental”(desses adultos do entorno). A crian-ça ao nascer já tem que se haver comum lugar simbólico destinado a ela.Alguém desse entorno ocupa o lugarde Outro, tomando, conforme seusdesejos, sons e movimentos do infanscomo portadores de sentido, logo,supondo um sujeito que demanda.

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51156

Page 8: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

Dossiê

157

Artigo

À criança não resta outra saída senão se assujeitar a essa investidado Outro para que algum sentido possa surgir e a experiência desatisfação seja tecida, de modo que “se o desejo da mãe é o falo, acriança quer ser o falo para satisfazê-lo” (Lacan, 1958/1998a, p. 700).Dessa forma, o Outro (encarnado por mãe, pai, babá…) submete oinfans a seu saber, fixando-o sob certos significantes, a partir dosquais é recortada a imagem do corpo unificado.

Para sair dessa condição de objeto de desejo é necessária a in-tervenção da Lei paterna (Lacan, 1988; 1998b). Essa Lei opera quandoé inscrito no lugar do Outro o significante Nome-do-Pai, provocan-do um furo no saber do Outro, até então, completo, absoluto. Issosignifica que se trata de uma lei que interdita a captação do outrocomo falo imaginário e que o pai entra em jogo como significante.

A inscrição do Nome-do-Pai se faz por uma operação metafó-rica (substituição significante) denominada de metáfora paterna(Lacan, 1998b). Esse novo significante se inscreve no Outro aometaforizar os significantes do desejo “materno”, aquele primeirosaber a que se submete o infans. O Nome-do-Pai é o agente dessametáfora “que coloca esse Nome em substituição ao lugar primeira-mente simbolizado pela operação de ausência da mãe” (Lacan, 1998b,p. 563). Os efeitos metafóricos podem ser resumidos na possibilida-de de significação fálica: a inscrição do falo como “o significantedestinado a designar, em seu conjunto, os efeitos de significado, namedida em que o significante os condiciona por sua presença signi-ficante” (Lacan, 1998c, p. 697). Isso possibilita a condição de seatribuir significado ao objeto de desejo “materno” (ao enigma doque o infans era nesse desejo), permitindo ao sujeito se situar notocante ao sexo e à sua existência: como homem ou mulher nasexuação e a possibilidade de não ser.

Com a operação da metáfora paterna, o Outro está irremedia-velmente dividido. Dado que a inscrição do falo no Outro, comosignificante do desejo “materno”, remete a uma falta estrutural, nãohá nesse lugar um significante último ao qual todos os outros seremeteriam, fazendo com que inexista um Outro do Outro. O signi-ficante falo, assim, aponta que o objeto primordial do desejo estáalém da ordem simbólica. Logo, a questão sobre o objeto do desejodo Outro permanece em aberto, não podendo ser fixada em certosignificado ou imagem absoluta à qual o sujeito deveria se colar. ONome-do-Pai retira a significação do objeto de desejo do caprichode um Outro absoluto, inscrevendo o Outro não só mais como lu-

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51157

Page 9: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

158 Estilos da Clínica, 2009, Vol. XIV, n° 27, 150-171

gar dos significantes, mas tambémcomo o portador da lei que orientaráa busca e a identificação com atribu-tos fálicos. A ordem simbólica nãopode significar tudo, mas isso nãoimpede de se obter alguma significa-ção para a existência. Portanto, com ainscrição da lei paterna no Outro te-mos a emergência de um sujeito dodesejo (condição da estrutura neuró-tica).

Essas considerações sobre a fun-ção do Outro na constituição subjetivasão redimensionadas (e não mera-mente abandonadas) com as opera-ções de causação do sujeito elabo-radas por Lacan em 1964 (Lacan,1993). A alienação e a separação de-vem ser entendidas como momen-tos lógicos e não cronológicos, o quenão autoriza pensar as vicissitudessubjetivas como paradas no desen-volvimento.

A operação de alienação corres-ponde à tese de que o sujeito nascesob um significante que o petrifica.Assim, se “o sujeito, in initio, começano lugar do Outro, no que é lá quesurge o primeiro significante” (p. 187),então, a posição subjetiva inicial paraqualquer sujeito é a de ser falado, re-presentado pelos significantes provin-dos do Outro. Soler (1999) afirma queessa posição é a de ser suposto, sub-posto, posto embaixo dos significan-tes do Outro, à proporção que se éobjeto da fala do Outro, que antecedeo surgimento de qualquer sujeito.

Mas a operação de alienação im-plica uma escolha em que sempre há

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51158

Page 10: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

Dossiê

159

Artigo

uma perda, divisão, pois o sujeito sópode surgir na captura significante eesta não contempla a totalidade de seuser. Para ter representação, só resta aosujeito desconhecer o que pode seralém do significante. Para Lacan(1993, p. 188), “o sujeito é esse surgi-mento que, justo antes, como sujeito,não era nada, mas que apenas apare-cido, se coagula em significante”, ouseja, o significante reduz o sujeito “anão ser mais do que um significante,petrificando-o pelo mesmo movimen-to com que o chama a funcionar, afalar, como sujeito” (p. 187). Essa cris-talização sob significante correspon-de a afânise, desaparecimento letal dosujeito.

Lacan (1993) representa essaoperação, diferenciando o vel da alie-nação de dois outros usos do conectorlatino “ou” (o vel exaustivo e o inclu-sivo). O vel da alienação se expressana forma lógica da reunião e implicauma escolha forçada, pois um mes-mo termo sempre está excluído. Aoperação que faz surgir o sujeito nocampo do Outro, leva aquele a optarentre o ser (condição de puro vivo) eo sentido (existência sob o significan-te). O termo sempre excluído é o ser,uma vez que, para existir como sujei-to, é preciso que se petrifique sob osignificante, perdendo uma parte doseu ser.

Contudo, para a emergência deum sujeito do desejo, é preciso aindaa torção lógica operada pela separa-ção. A forma lógica aqui é o produto,ou seja, a interseção entre o que é co-

mum a dois conjuntos. Mas, entre osujeito e o Outro, o ponto comum é aexistência de duas faltas que se reco-brem, sendo a separação o produtode dois vazios.

Uma falta é posta em jogo pelodiscurso do Outro primordial. Isto éverificável na medida em que “nosintervalos do discurso do Outro, sur-ge na experiência da criança o seguin-te, que é radicalmente destacável – eleme diz isso, mas o que é que ele quer?” (p.203). Soler (1997) destaca que aquinão é mais um Outro cheio de signi-ficantes, na separação há um Outro aque falta algo. Esta impossibilidade detudo dizer, em outras palavras, do ditoestar sempre aquém ou além do quese quis dizer, faz emergir a dimensãodo desejo do Outro. A outra falta étrazida pelo próprio sujeito, por suacondição de perda de ser: “uma faltaengendrada no tempo precedente queserve para responder à falta suscitadapelo tempo seguinte” (Lacan, 1993,p. 203). O recobrimento dessas duasfaltas significa uma torção na medidaem que promove um retorno ao pon-to inaugural de sua afânise, como res-posta à falta no Outro primordial.

O efeito desse produto é a que-da do objeto a. Pela função desse ob-jeto, “o sujeito se separa, deixa de es-tar ligado à vacilação do ser, ao sentidoque constitui o essencial da alienação”(p. 243). Ao cair esse objeto, é produ-zida uma subtração de gozo em rela-ção ao qual o sujeito ainda terá que sehaver, ou seja, com algo nãorepresentável, não abrangível pelo sig-

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51159

Page 11: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

160 Estilos da Clínica, 2009, Vol. XIV, n° 27, 150-171

nificante. Assim, desde que a separa-ção opere, o sujeito tenta representaro gozo no interior do Outro, mas, sópode inscrever aí um gozo parcial(Laurent, 1997, p. 38). No entanto, poroutro lado, pode sair da posição deser objeto da fantasia “materna”,condensador de gozo para tentar sedefinir mediante sua fantasia, susten-tando-se como sujeito de desejo.

Autismo e Outro

Diante desses delineamentos dafunção do Outro na subjetivação, aprimeira pergunta sobre o que se querdizer com autismo no referencial la-caniano passa a ser se essa condiçãodesvela uma ausência de relação como Outro ou qual relação peculiar seconstitui, que não leva a um sujeitodo desejo.

Percorremos textos de psicana-listas lacanianos e percebemos gran-de dificuldade em conceber uma rela-ção do dito autista com o Outro(Rocha, 2003). Isso, principalmente,em virtude do alheamento e de sinto-mas indicando uma fragmentação docorpo cujos orifícios parecem não fa-zer borda, em que saliva e excremen-tos muitas vezes escorrem incontinen-tes. Desse modo, muitos, ante àconstatação unânime do dito autismodesvelar uma problemática pré-espe-cular (denotada na não construção deuma unidade corporal), sustentarama tese da ausência de Outro, assina-

lando também como índices de au-sência: o mutismo ou emissão de sonsisolados, frases, mas sem enunciação;escassa vida imaginativa; indiferençaa pessoas; não-sustentação do olhar;surdez à voz humana; apresentar-seamorfo e mesmo a regularidade me-cânica no funcionamento orgânico,enfim, fenômenos clínicos que apa-rentam passividade.

Esse posicionamento parece terse originado em certas teses de M.-C.Laznik que definem o autismo como“o fato de permanecer aquém do re-gistro da alienação” (Laznik-Penot,1997, p. 178), ainda que em textosmais recentes a autora indique ter re-cuado em algumas delas, como sobrea falta do olhar fundador do Outroprimordial como determinante doautismo (Laznik, 2004). No entanto,como constataram Rocha (2003) eKupfer, Faria e Keiko (2007), pode-seencontrar esse posicionamento emoutros autores ao pensarem o autis-mo como um fracasso da operação dealienação, uma vez que ninguém doentorno da criança ocuparia o lugarde Outro, impossibilitando a emer-gência de um sujeito.

Apoiados, em geral, naquelas te-ses de Laznik, afirmam que esse fatorepercutiria nas dimensões simbólica(relativa à falta de significantes quedemarcassem a criança), real (à nãoinstalação do circuito pulsional) e ima-ginária (à não instauração da imagemespecular), que, na verdade, fazemparte de um mesmo e único processode alienação. Acerca da primeira,

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51160

Page 12: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

Dossiê

161

Artigo

apoiam-se na afirmação de que, sema alienação, o infans não se submete-ria aos significantes do Outro, fazen-do as produções infantis (gestos,sons…) caírem no vazio por falta doreconhecimento simbólico, asseme-lhando-se a puras descargas motoras(Laznik-Penot, 1998).

No que tange à dimensão real,formula-se que só surgiria um sujeitoda pulsão se houvesse a efetivação deum terceiro tempo do circuito pulsio-nal. Esse seria o tempo de se fazer ob-jeto de um outro que, assim, se en-contra no lugar do Outro. Sem ofechamento do circuito, o corpo doautista não formaria limite, bordas, ouseja, poder-se-ia pensar o autismocomo um quadro clínico que desvelaa ausência de Eros, “sem que se possaretorquir que, já que há vida, manu-tenção da vida, é porque há pulsão emfuncionamento” (Laznik-Penot, 2000,p. 79). Repete-se aí, de certo modo,Bleuler para quem autismo é autoe-rotismo sem Eros. Portanto, o dito au-tista sobreviveria somente como umorganismo regulado pela necessidadee não pela pulsão.

O fracasso da alienação tambémsignificaria o impedimento daassunção da imagem especular forma-dora do eu ideal. Não se constituiriauma imagem que deveria se formarpreviamente para e no Outro, a partirda qual o infans demandaria confirma-ção ao Outro de que seria ele (o infans)nessa imagem. Seria esse tempo daafirmação da imagem – uma oferta doOutro, ao imaturo infans antes de qual-

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51161

Page 13: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

162 Estilos da Clínica, 2009, Vol. XIV, n° 27, 150-171

quer demanda deste – que faltaria no autismo. Dessa forma, a con-dição autista seria explicada pela ausência de laço com o Outro.

Contudo, também verificamos enormes dificuldades em negara existência desse laço com o Outro (Rocha, 2003). Primeiro, obser-vamos que a hipótese de não haver relação com o Outro e suacorrelata de que inexiste pulsão no autismo impõem o seguinte dile-ma teórico: ou o autismo é uma subjetivação sem pulsão e Outro(obrigando a reconhecer os limites da Psicanálise como demasiadosestreitos, pois aí a pulsão é um conceito fundamental para se enten-der a vida humana) ou inexiste subjetivação no autismo. Essa últimaleva a recusar às crianças que nomeiam de autistas o que é peculiar àcondição humana e faz pulular, em certos textos expressões, indi-cando a necessidade de fazê-las entrar no mundo humano, apesar deserem raras as descrições clínicas nas quais se possa ir tão fundonessa suposição. Se estão fora do que é humano, onde as situar?

Para a Psicanálise, afirmar que a constituição subjetiva não seprocessou faz existir o dito autista apenas na qualidade do vivo, donada a que se refere Lacan. Consideramos que essas conjunturas sópodem ser aceitas se equivocadamente tomarmos a neurose comosinônima de mundo humano, analogamente à nulificação subjetivados “loucos”, historicamente promovida pelo saber psiquiátrico namedida em que se recusava pensar a diferença senão como erro,deficit, patologia a ser corrigida quando possível ou então a reclusão.

Mas, seria possível afirmar a inexistência de laço com Outro? Épreciso observar de início que, em geral, os pais falam destas crian-ças, inclusive constroem teorias nas quais expressam saber com todacerteza sobre o avatar subjetivo dos filhos – como atestam os depoi-mentos nas consultas com uma infinidade de especialistas procura-dos para tratamento, situação reforçada pelas crianças estarem emmuitos saberes especialistas apenas como objeto, só importando emsua doença. Parece haver aí a condição dessas crianças serem faladaspelos outros, tomadas em um saber absolutizante de especialistas.

Além disso, há outra forte razão para não aceitarmos a tese deausência de relação com o Outro no autismo, ainda mais decisiva porprovir da clínica (Egge, 2008, p. 149; Rocha, 2003). É possível consta-tar nos relatos de tratamento feitos por vários psicanalistas, inclusiveentre os que negam o laço com o Outro, a existência no discursoparental de significantes balizadores das vicissitudes subjetivas das crian-ças e mesmo o assinalamento de lugar na fantasia “materna”, aindaque seja o de nada. Também surgem nesses relatos momentos em que

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51162

Page 14: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

Dossiê

163

Artigo

as crianças são ativas, agitadas e mesmoautomatizadas, de modo que o quadronão pode ser descrito somente comodesvitalização (Rocha, 2003).

Ademais, mesmo nos ditos com-portamentos passivos há algumas pe-culiaridades. Mais do que não olhar,não sustentar o olhar, por exemplo,os denominados de autistas parecemdesviar, evitar o contato direto peloolhar, como se pode observar na des-crição de um bebê torcendo o pesco-ço para o lado oposto de quem o se-gura. Em outros casos, apresentamuma seletividade na sustentação doolhar, que pode ocorrer em certas si-tuações e não em outras – constataçãorelatada também por representantesde outras teorias (Lampreia, 2004, p.115). Mais do que não sustentar, nãofixar o olhar, essas crianças talvez nãopossam olhar, ou, mais precisamente,não possam não evitar o olhar, não possamnão desviar, pois não nos parece ha-ver aí uma mera casualidade, mas umaativa exclusão do encontro com osolhares dos adultos, denunciada pelaseletividade nos quais ocorrem. Logo,isso não seria somente constatar anegatividade de uma ação (não olhar),mas assinalar para uma ação negativa(rejeitar, repelir, evitar o olhar).

O mesmo parece assinalável paraa surdez de certos autistas. Parece serespecífica à voz humana e/ou se notaque se muitas vezes agem com indi-ferença ante a fala dos outros, emoutros momentos acompanham aten-ta e seletivamente. Também a repeti-ção “mecânica” dessa ou daquela fra-

se não pode ser simplesmente redu-zida à passividade, visto que há umaseleção do que se repete, são umas,mas não outras frases que são fixadas.Mas, se evitam, se desviam, do que seprotegem? Como, então, explicar essaexclusão ativa?

Poderíamos argumentar que esseevitamento decorreria exatamente dafalta de Outro fazendo com que, porexemplo, a criança ao notar a ausên-cia de construção da imagem primor-dial pelo Outro se defenderia desvian-do o olhar, virando o rosto? Mas, sede início é o Outro quem oferta, acriança não tem intenção, não deman-da a priori, o que a predisporia esperardali tal imagem? Poderíamos, então,dizer que sem investimento do Outronão se formaria o aparelho psíquico esó restaria ao autista fechar seu cam-po perceptual ante um estímulo fortee a investida dos outros? Mas, comoexplicar a seletividade manifestada noque é evitado ou o fato de que às ve-zes o contato é possível? Se a criançanão está concernida na dinâmica sub-jetiva dos adultos de seu entorno, sen-do apenas um mero organismo, comoentender que o tratamento os mobili-za subjetivamente?

Ora, mas se alguns psicanalistasassinalam que os adultos do entornolidam com a criança autista “silencio-samente”, apenas na necessidade ouainda de forma mecanizada, isso nãose deveria ao fato dela ser colocadana posição de objeto para tais adultosque se arvorariam inconscientementede donos absolutos de seu corpo,

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51163

Page 15: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

164 Estilos da Clínica, 2009, Vol. XIV, n° 27, 150-171

como, por exemplo, quando alguémretira um objeto da boca da criança sempedir ou falar nada, como se removes-se algo da própria boca?

Para Zenoni (1991), o autismodesvela uma tomada absoluta, sem li-mite, da criança no campo da lingua-gem. Não se trata de uma parada ouum bloqueio na via de humanização,mas que as crianças autistas estão pre-sas completamente nesta dimensão doOutro que nos especifica como hu-manos. Os fenômenos de não apon-tar, tomar a mão do outro para pegarum objeto, por exemplo, demonstra-riam que a criança só tem lugar nosimbólico como prolongamento doOutro, fato decorrente da posição in-fantil como objeto do gozo absolutode um Outro intrusivo que se apode-ra sem lei do ser do infans.

Também para Egge (2008), oautista está na linguagem. Isso signi-fica que, como qualquer um, recebesua condição da relação com o signi-ficante. Porém, não se faz represen-tante do significante, uma vez que vemsaturar a falta no Outro alienante emortífero, ao realizar no real a pre-sença do objeto da fantasia.

Mas, então, a hipótese de haverum Outro absoluto pode explicar adesvitalização e automatização dacriança dita autista?

Soler propõe que a posição sub-jetiva das crianças autistas é a de purosignificado do Outro. Isso significa que“essas crianças são sujeitos, mesmoque elas não falem, uma vez que sãotomadas no significante pelo fato de se falar

delas; no Outro há significantes que os re-presentam”. Essa é a posição de ser “re-presentado, sub-posto/suposto, pos-to embaixo dos significantes que orepresentam no Outro … aliás esta éa primeira emergência de todo sujei-to, qualquer que ele seja” (Soler, 1999,p. 222, grifo nosso). Essa posição é ade objeto do discurso do Outro; oque nos faz relembrar a situação doautista que é falado incessantementepelo saber dos especialistas (sejampais ou não). Essa posição indica quemesmo sendo sujeitos, os autistas nãosão capazes de enunciação, não sen-do possível inverter a mensagem doOutro.

Nessa condição, o sujeito autistaestabelece uma relação com o Outroque é o paradoxo da posição primeirade todo sujeito: de como puro efeitodo significante provindo do Outro,pode devir falante, desejante e anima-do de libido, ou seja, como articularsujeito do significante e gozo. Oautista confrontado com um Outroabsoluto (no qual não foi inscrito ne-nhuma falta), suposto em seus signi-ficantes, quando surge animado de li-bido, essa só pode ser do Outro, o quepermite, ainda segundo Soler (1999,p. 222), “sua inclusão no lugar doOutro”. Mas a estabilidade da posi-ção autista dependeria de certa imo-bilidade do Outro, pois este, ao se“mexer”, proliferar demandas, acres-centar significantes, pode produzir oapagamento do sujeito autista, umavez que inexiste uma cadeia significan-te para suportá-lo. Isso faz com que

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51164

Page 16: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

Dossiê

165

Artigo

toda atividade do autista vise a “man-ter uma espécie de homeostase, emtravar a dialética da palavra” (Soler,1999, p. 226), agarrando-se a umaspoucas demandas estereotipadas.Nesse sentido, Egge (2008) afirma queessas atividades repetitivas são tenta-tivas do dito autista de frear o gozo, abem dizer, tentativas falhas, apesar doritmo e da repetição já serem um pri-meiro esboço do simbólico.

Em decorrência, Soler assinalaque as crianças autistas se comportamcomo se fossem perseguidas pelos sig-nos de presença do Outro, sendo quea autora inclui aí tudo que é imprevi-sível, que sai da rotina (desde um des-locamento brusco a um ínfimo movi-mento). Outros comportamentos dascrianças autistas são tentativas de anu-lação do Outro, com a evitação doolhar, da voz. Haveria também rejei-ção da palavra do Outro que intima,tendo a ausência de apelo como con-trapartida. Por fim, decorreria aindauma dificuldade concreta de se sepa-rar do adulto (que ocupa o lugar deOutro).

Essa posição subjetiva do ditoautista é representada por Soler (1999,p. 229) mediante a fórmula da aliena-ção: “ou ele é puro vivente, sem libi-do, no sentido do desejo, portanto,inerte, ou ele se torna uma máquinasignificante, ele é maquinizado”. Emoutras palavras, o campo do ser e dosentido, postos em diagramas porLacan no Seminário 11, de uma par-te, não se interpenetrariam, contudo,de outro, estariam reunidos por um

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51165

Page 17: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

166 Estilos da Clínica, 2009, Vol. XIV, n° 27, 150-171

ponto no qual o Outro invade o vivo, capturando o dito autista,mecanizando-o pelo significante. Daí, compreendemos que quandoa autora assinala que o dito autista estaria em um “aquém” da aliena-ção, é no sentido de permanecer na “borda”, posição que não deixade estar marcada pelo significante, logo, pelo Outro em relação aoqual aparece quer como em continuidade, quer desvitalizado quan-do o Outro se afasta. Dessa maneira, os comportamentos se distri-buiriam, grosso modo, em dois estados: ou de torpor, no qual acriança parece uma massa amorfa, inerte; ou de automatização.

Segundo Egge (2008), o trabalho da criança autista se estruturariaem uma dupla operação. Por um lado, a autodefesa (o autoisolamento,evitando se tornar marionete do Outro), por outro, a autoconstrução(contando apenas com a estrutura elementar do simbólico do ritmoe da repetição).

Portanto, na condição autista o balizamento das fronteiras como Outro é afetado, resultando nos problemas de constituição imagi-nária, assim como do funcionamento pulsional, porquanto dependedas demandas do Outro. Com isso, podem surgir ora o deficit motor(no controle dos esfíncteres, andar, coordenação do movimento, porexemplo), visual, da linguagem..., ora, os desempenhos superiores(Soler, 1999). Dessa forma, a aparente passividade e a atividade queassinalamos acima se apresentam nos relatos clínicos, a partir de umlaço peculiar com o Outro.

Comentários Finais

Em nosso percurso, chamaram-nos a atenção, de forma decisi-va, os dados dos tratamentos das crianças autistas. Apesar das expli-cações dos psicanalistas tradicionalmente apontarem para uma inér-cia psíquica em que se sobressai uma não-ação dessas crianças, emseus relatos nos deparamos com uma atividade infantil de virar-sede costas para não se defrontar com o outro, tapar os ouvidos, tor-cer o pescoço, baixar, desviar o olhar. Não se trata apenas da nãosustentação do olhar, mas, possivelmente, de não poder não evitar oolhar. Ora, então, o que evitam, do que se furtam, senão da invasãoavassaladora do Outro?

Julgamos, assim, pertinente pensar a condição das crianças di-tas autistas como uma vicissitude na alienação. Não se trata de uma

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51166

Page 18: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

Dossiê

167

Artigo

ausência de subjetivação, mas exata-mente da forma como o campo dalinguagem as concerne, da incidênciado Outro como uma “presença” in-vasiva, excessiva, não confrontadacom um vazio, com um tempo de au-sência. É desse Outro não subtraídode gozo que essas crianças parecemse proteger.

Essa concepção parece se apro-ximar das esparsas observações explí-citas de Lacan sobre esse tema. Emuma delas, em outubro de 1975 naconferência de Genebra sobre Le symp-tôme, Lacan (1998d, p. 12), ao ser questi-onado sobre os autistas e após dizer queé difícil imaginar seres que nunca escu-tam nada, pois escutar faz parte da pa-lavra, propõe: “como o nome indica, osautistas escutam a si mesmos. Eles ou-vem muitas coisas … nem todos os au-tistas escutam vozes, mas eles articulammuitas coisas e trata-se, precisamente deentender onde escutaram o que articu-lam”. Na continuação, afirma a seu in-terlocutor que essas crianças não o es-cutam enquanto se ocupa delas,lembrando que ainda assim há algo adizê-las e conclui: “trata-se de saber porque há algo no autista, ou no chamadoesquizofrênico, que se congela, se sepode dizer isso. O senhor, porém, nãopode dizer que ele não fala. Que o se-nhor tenha dificuldade para escutá-los,para dar seu entendimento ao que di-zem, não impedem que sejam, final-mente, personagens bastante verbo-sos.” (Lacan, 1998d, p. 12).

Algumas semanas depois, em de-zembro de 1975, nas conferências e

entrevistas nas universidades america-nas, Lacan observa que “há aquelespara quem dizer algumas palavras nãoé tão fácil. Chama-se isso de autismo. Éir rápido demais. Não é em absolutonecessariamente isso. Simplesmentesão pessoas para quem o peso das pa-lavras é muito sério e que não estãofacilmente dispostas a estar à vontadecom essas palavras.” (Lacan, 1976, pp.45-46, tradução nossa)

Essas considerações nos pare-cem apontar para a imersão dosautistas na linguagem, em uma cap-tura sem limite, sendo personagensbastante verbosos, ainda que não fa-lem, ou ao menos não os escutemos,quando os sujeitamos aos nossos cui-dados. Ora, por que falar, se estãoinvadidos pela linguagem, escutandoa si mesmos? Trata-se, então, não doOutro da separação, mas de um Ou-tro não barrado, submetendo a crian-ça dita autista a um significante S1,tornando o peso das palavras sério,na medida em que a dialética da pa-lavra ameaça essa posição infantil.Portanto, para lidar com a criança ditaautista é preciso levar em conta o po-sicionamento subjetivo já presente,de maneira que não se reforce essapostura de saber absoluto, auxilian-do em seu trabalho de construir umaalternativa para um invasivo Outroabsoluto, o que de modo geral nãodifere da ação de qualquer outro su-jeito, uma vez que “toda formaçãohumana tem por essência, e não poracidente, refrear o gozo” (Lacan, 1992,p. 3, grifo nosso).

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51167

Page 19: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

168 Estilos da Clínica, 2009, Vol. XIV, n° 27, 150-171

Dessa maneira, afirmar uma in-vasão avassaladora do Outro é consi-derar que, atualmente, não obstantetensionar os limites teóricos, a teselevantada por alguns psicanalistas deinexistência de laço com o Outro nocaso do dito autismo não parece sesustentar (embora, a clínica semprepossa nos apresentar novos casos queexijam reformulações teóricas). Ade-mais, é lembrar que, malgrado nossavontade, a linguagem produz efeitos,porém de modo diverso em cada con-dição, disponibilizando a uns maioresrecursos psíquicos e outorgando esti-los diferentes para refrear o gozo queé o labor fundamental de todo serhumano. Portanto, é se permitiraprender – ao não encontrarmos asformas subjetivas a que nos habitua-mos, como por exemplo, as da neu-rose e seus recursos subjetivos quepermitem certa inscrição do gozo nocampo do Outro – outros modos deexistir.

Logo, por mais que se argumen-te a recusa deste sujeito ao que nosfundamenta como humanos, afirma-mos que, com os recursos subjetivosque lhes são disponíveis, essas crian-ças denominadas de autistas fazem oque todo sujeito humano precisa fa-zer para manter-se subjetivamente.

Por último, gostaríamos de assi-nalar que o campo do autismo, ape-sar das controvérsias, mostra-se po-tencialmente fecundo para novaspesquisas. Dentre os temas de maiorrelevância, mas que não desenvolve-mos aqui por fugir de nosso objetivo

que foi se perguntar sobre a relaçãoentre autismo e alteridade, está o de-bate sobre os tratamentos clínico-ins-titucionais com essas crianças, comoos que se fazem na perspectiva de umtratamento do Outro (Egge, 2008;Zenoni, 1991).

Considerando que o dito autistadispõe de limitados recursos simbóli-cos, em virtude da fragmentação sig-nificante, no tratamento é necessáriosair da posição de todo saber, de darsentido a tudo o que faz a criança, deum Outro que goza plenamente des-te sujeito. Para tanto, é preciso supor-tar o movimento inicial da criança deanular radicalmente o outro. Tratar oOutro não é refazê-lo ou enxertá-loonde ausente, mas criar outra Alteri-dade, uma que seja alternativa a exis-tente, permitindo pacificar, abrandaresta invasão de gozo. Isto nos parececorresponder ao depoimento unânimede que os tratamentos dessas crian-ças foram alvo de uma reviravolta,quando este que estava no lugar deOutro confessa de forma não calculadasua impotência em entender a crian-ça, em consentir em algum ato, emsaber o que fazer; enfim, enunciandode sua própria falta na qualidade deOutro barrado.

Contudo, outro campo de pesqui-sa que se delineia são estudos queretracem historicamente a produção daideia de autismo infantil. Temos comohipótese, após pesquisa anterior (Ro-cha, 2003), que o lugar no imagináriosocial angariado pelo autismo e a se-dução provocada em muitos – mani-

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51168

Page 20: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

Dossiê

169

Artigo

festada no fascínio e no horror tãocomumente relatados, inclusive pelopróprio Kanner (1997) na primeirafrase de seu escrito inaugural – nãoparecem se dever somente à novida-de do que se acredita ter sido a desco-berta do autismo. Talvez, não sejamera coincidência que a dificuldadede se relacionar, compartilhar os afe-tos, medo do outro seja comumenteassociadas à contemporaneidade. Poroutro lado, não esqueçamos que a in-venção de Kanner pode ser conside-rada a categoria essencial na funda-ção da psicopatologia e psiquiatriainfantil moderna – derradeiro ato deum processo iniciado por J.-M. Itard150 anos antes – na medida em que éo primeiro quadro nosográfico cons-truído sem ter como modelo as cate-gorias da psicopatologia do adulto(Gineste, 2000). Como aponta Maleval(2003), rapidamente a ideia de autismofoi relacionada com a de originário ese substituiu o adjetivo precoce porprecocíssimo, o que faz situá-lo em umsuposto tempo anterior aos dos mitosde origem: em uma espécie de eloperdido ou ponto zero da subjetivi-dade, sem que se pergunte se não se-riam, antes, os limites de nossas teo-rias de compreensão da vida humanaque se mostram estreitos demais. Qui-çá, ao fazer a genealogia das relaçõesentre as referências ao originário, oprecocíssimo, autoisolamento, laçossociais frágeis e a infância tambémentendamos um pouco mais sobre oautismo e como se produzem as sub-jetividades atualmente.

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51169

Page 21: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

170 Estilos da Clínica, 2009, Vol. XIV, n° 27, 150-171

QUESTIONS ABOUT OTHERNESS ININFANTILE AUTISM

ABSTRACT

Since its invention, despite some controversy, autismhas usually been characterized as a severe damage tothe bond between the autistic child and the otherness.In this work, we discuss otherness in autism by meansof the concept of Other : would this subjectivecondition come from the absence of a relationshipwith the Other or from the presence of a specific bondwith the Other? It seems to us that the autisticsituation implies an attempt of protecting oneselffrom the verb, from the field of language. As aconsequence, autism becomes determined by a specificbond to an invasive Other, who threatens to swallowthe autistic children in its absolute jouissance.

Index terms: psychoanalysis; autism in thechildhood; Other.

CUESTIONES SOBRE LA ALTERIDADEN EL AUTISMO INFANTIL

RESUMEN

Desde su invención, pese a las controversias, el autis-mo es caracterizado como un déficit severo del lazocon la alteridad. Con el concepto de Otro, reinstalamosla pregunta sobre la alteridad en el autismo: ¿Esacontradicción subjetiva sucedería de la ausencia derelación o de la presencia de un lazo específico con elOtro? La posición autista parece implicar un inten-to de resguardarse del verbo, del campo del lenguaje,siendo determinada por un lazo específico con un Otroinvasivo, que amenaza sujetar completamente losautistas a un goce absoluto.

Palabras clave: psicoanálisis; autismo infantil;Otro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

American Psychiatric Association [APA](2002). DSM-IV-TR – Manual diagnóstico eestatístico de transtorno mentais. (4a ed. rev.).Porto Alegre: Artmed.

Carvalheira, G., Vergani N., & Brunoni, D.(2004). Genética do autismo. Revista Bra-sileira de Psiquiatria, 26 (4), 270-272.

Cavalcanti, A. e Rocha, P. (2001). Autismo. SãoPaulo: Casa do Psicólogo.

Egge, M. (2008). El tratamiento del niño autista.Madrid: Gredos.

Gadia, C., Tuchman, R., & Rotta, N. (2004).Autismo e doenças invasivas do desenvolvi-mento. Jornal de Pediatria, 80 (2-supl.), 83-94.

Gineste, T. (2000). Nacimiento de la psiquia-tria infantil: destinos de la idiocia, origende la psicosis. In J. Postel & C. Quétel(Coords.). Nueva historia de la psiquiatria.(pp. 364-380). Mexico: Fondo de CulturaEconómica.

Grupta, A. & State, M. (2006). Autismo: ge-nética. Revista Brasileira de Psiquiatria, 28(supl.-I), 29-38.

Kanner, L. (1997). Os distúrbios autísticosdo contato afetivo. In P. Rocha (Org.),Autismos (pp. 111-170). São Paulo: Ed. Es-cuta.

Kupfer, M. C., Faria, C. & Keiko, C. (2007).O tratamento institucional do Outro napsicose e no autismo. Arquivos Brasileirosde Psicologia, 59 (2), 156-166.

Lacan, J. (1976). Conférences et entretiensdans les Universités Nord-Américaines.Scilicet, 6/7, 5-63.

Lacan, J. (1988). O seminário, livro 3: As psico-ses, 1955-56. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

______ (1992). Discurso de encerramentodas jornadas sobre as psicoses na criança.Boletim da APPOA, 4 (7), 2-5.

______ (1993). O seminário, livro 11: Os quatroconceitos fundamentais de psicanálise, 1964. Riode Janeiro: Jorge Zahar.

______ (1998a). Observação sobre o relató-rio de Daniel Lagache: “Psicanálise e es-trutura da personalidade”. In J. Lacan,Escritos (pp. 653-691) Rio de Janeiro: Jor-ge Zahar.

______ (1998b). De uma questão preliminara todo tratamento possível da psicose. InJ. Lacan, Escritos (pp. 537-590). Rio de Ja-neiro: Jorge Zahar.

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51170

Page 22: QUESTÕES SOBRE A - bvsalud.orgpepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v14n27/a10v14n27.pdfparece ainda importante hoje, pois – a despeito do lugar social (científico ou não) destacado que

Dossiê

171

Artigo

______ (1998c). A significação do falo. In J.Lacan, Escritos (pp. 693-703). Rio de Ja-neiro: Jorge Zahar.

______ (1998d). Conferência em Genebrasobre o sintoma. Opção Lacaniana, 23, 6-16.

Lampreia, C. (2004). Os enfoques cognitivistae desenvolvimentista no autismo: umaanálise preliminar. Psicologia, Reflexão e Crí-tica, 17 (1), 111-120.

Laurent, E. (1997) Alienação e separação I.In R. Feldstein, B. Fink & M. Jaanus(Orgs.), Para ler o seminário 11 de Lacan: Osquatro conceitos fundamentais da psicanálise. (pp.31-41). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Laznik, M.-C. (2004). Introdução. A voz dasereia. (pp. 13-17). Salvador, Álgama.

Laznik-Penot, M.-C. (1997). Rumo à palavra.São Paulo: Escuta.

Laznik-Penot, M.-C. (1998). Do fracassoda instauração da imagem do corpo aofracasso da instauração do circuito pul-sional: quando a alienação faz falta. InM.-C Laznik-Penot (Org.), O que a clíni-ca do autismo pode ensinar aos psicanalistas(pp. 31-48). Salvador, Álgama.

Laznik-Penot, M.-C. (2000). Poderia a teorialacaniana da pulsão fazer avançar a pes-quisa sobre o autismo? Psicanálise e clínicade bebês, 4, 76-90.

Maleval, J.-C. (2003). De la psychose précocissimeau spectre de L’autisme : histoire d ’unemutation dans l’appréhension dusyndrome de Kanner. Recuperado em 16de maio. 2003, de Ornicar? Digital (240):http://www.wapol.org

Miller, J.-A. (1988). Percurso de Lacan. Rio deJaneiro: Jorge Zahar.

Rocha, F. (2003). Elementos psicanalíticos parase pensar o autismo na infância. Dissertaçãode Mestrado, Faculdade de Educação,Universidade de São Paulo, São Paulo.

Soler, C. (1997). O sujeito e o Outro II. InR. Feldstein; B. Fink & M. Jaanus(Orgs.). Para ler o seminário 11 de Lacan: Osquatro conceitos fundamentais da psicanálise(pp. 58-67). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

______ (1999). Autismo e paranoia. In S.Alberti (Org.), Autismo e esquizofrenia na clí-nica da esquize (pp. 219-232). Rio de Janei-ro: Marca d’Água.

Tafuri, M. (2002). Dos sons à palavra: explora-ções sobre o tratamento psicanalítico da criançaautista. Tese de Doutorado, Instituto dePsicologia, Universidade de São Paulo, SãoPaulo.

Tamanha, C., Perissionto, J. & Chiari, B.(2008). Uma breve revisão histórica so-bre a construção dos conceitos do autis-mo infantil e da síndrome de Asperger.Revis ta da Sociedade Bras ileira deFonoaudiologia, 13 (3), 296-299.

Zenoni, A. (1991). Traitement de l’Autre.Préliminaire, 3, 101-112.

NOTA

1 Essa pergunta norteou a elaboração dadissertação de mestrado – Elementos psicanalí-ticos para se pensar o autismo na infância – desen-volvida no LEPSI/FeUSP (Laboratório deEstudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educa-cionais Sobre a Infância na Faculdade de Edu-cação da USP), financiada pela CAPES eorientada pelo prof. Dr. Leandro deLajonquière, a quem se faz um agradecimen-to especial.

[email protected]

Recebido em junho/2009.Aceito em outubro/2009.

9 Dossie Estilos 27.pmd 13/1/2011, 14:51171