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"QUEM NÃO PODE COM A FORMIGA NÃO ASSANHA O CAJUEIRO”: violência,
margens e interstícios da judicialização do conflito socioambiental na Comunidade do
Cajueiro, em São Luís – Maranhão
Viviane Vazzi Pedro1
Resumo O trabalho apresenta os resultados da minha pesquisa de tese, que discute as margens, interstícios e violência presentes na atuação dos agentes e no processo de judicialização dos conflitos ambientais na Comunidade do Cajueiro, em São Luís – MA, diante da pretensão, da WPR São Luís Gestão de Portos e Terminais Ltda., de instalar um terminal portuário e de logística na região.
Palavras-chave: conflito socioambiental; judicialização; margens; Estado; direitos.
Abstract The paper presents the results of my thesis research, which discusses the margins, interstices and violence present in the agents' activities and in the process of judicialisation of environmental conflicts in the community of Cajueiro, in São Luís - MA, from the pretension of WPR São Luís Gestão de Portos e Terminais Ltda., Of installing a port and logistics terminal in the region.
Keywords: social and environmental conflict; Judicialization; margins; State; rights.
I. INTRODUÇÃO
O trabalho visa apresentar os resultados da minha pesquisa de tese, que discute
o processo de judicialização dos conflitos ambientais na Comunidade do Cajueiro – no
sudeste da Ilha do Maranhão, em São Luís –, a partir de 2014, diante da pretensão, da WPR
São Luís Gestão de Portos e Terminais Ltda. (WPR), de instalar um terminal portuário e de
logística na região. Minha pesquisa participativa (na qualidade de assistente jurídica da
Comunidade) e análise do caso tiveram a duração de, praticamente, dois anos, e
compreendem o período de julho de 2014 a junho de 2016.
1 Universidade Federal do Maranhão-UFMA. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais.
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Na fase inicial da pesquisa e escrita da tese, ao me referir aos processos de
“judicialização”, propunha a discussão sobre os processos de mobilização, formulação de
argumentos e estratégias, por parte de lideranças, mediadores e integrantes da luta em
defesa do Cajueiro, para o enfrentamento do medo, da violência, da desconstituição e
negativa de direitos das famílias locais. Esses processos passam pela apropriação das
questões postas no conflito socioambiental e pela tentativa de defesa jurídica da
Comunidade, inclusive por meio de denúncias e ações encaminhadas ao Poder Judiciário.
Porém, ao longo da tese, o fenômeno a judicialização deste conflito socioambiental, como
me propus a analisar, foi se revelando como de amplo conteúdo, em espaços de
repercussão, de disputas e meios de decisão, apontando para aspectos marginais,
extrajurídicos e até mesmo antijurídicos.
Inicialmente, percebi que a menção ao Judiciário ou “judicialização” surgia nas
reuniões comunitárias em um contexto de medo, pavor, negação de direitos, de status e de
identidades. Aos poucos, pareceu-me que estes termos se relacionavam à tentativa
adicional de ampliar publicamente o debate político acerca do conflito, dando visibilidade
para as demandas e acusações contra WPR e o Estado. Ao longo do conflito, porém, as
palavras passavam a ser mencionadas em situações, marcadas por boatos jurídicos, por
distorções de fatos, tentativas de consumação – extralegal – do deslocamento compulsório
(ALMEIDA, 2006) dos moradores por parte da WPR. Por isso, o meu próprio entendimento
inicial acerca da “judicialização” como fenômeno ou processo vai ganhando significados,
desconstruções e questionamentos, principalmente a partir de margens e interstícios
observados pela etnografia do caso e do conflito socioambiental. Passo a encarar a
“judicialização” como tentativa de compreensão etnográfica acerca das formas de
percepção, construção de fatos, argumentos, “realidades” e “verdades” sob o respaldo ou
pretexto “jurídicos” (FOUCAULT, 1999). De acordo com etnografia proposta por Goldman
(2003), procurei deixar que a luta, as lideranças, moradores e mediadores do Cajueiro
fossem revelando-me as formas de apropriação ou ressignificação de meios ou espaços de
reivindicações, suas próprias expressões, sentidos jurídicos e sensos de justiça, nessa
arena desigual e violenta de disputa e de poderes que culmina no conflito socioambiental.
As duas questões-chave que discuto na tese e apresento no presente trabalho são:
a) No caso do conflito socioambiental do Cajueiro, como compreender o Estado e os
processos de “judicialização”, quando contemplam práticas, lugares, consumação de fatos,
formas de legitimação, comunicação ou imposição de poder que são considerados
“marginais ou extrajudiciais”? b) Quais foram, como ocorrem e quais os efeitos gerados
pelos interstícios, estratégias, exceções, repercussões extrajudiciais e marginais nos
processos de “judicialização” nesse caso concreto?
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II. INTERSTÍCIOS E MARGENS DA “JUDICIALIZAÇÃO”
Academicamente, pelas perspectivas da Sociologia, da Ciência Política e do
Direito, os debates acerca do fenômeno judicialização normalmente referem-se à tendência
da politização do Poder Judiciário na recepção e atendimento de demandas sociais. Este
debate diz respeito não apenas à falta de separação clara entre os poderes Judiciário,
Legislativo e Executivo quanto na própria “politização da justiça”, que leva à preponderância
de fatores políticos como motivadores das decisões judiciais. Normalmente, aborda-se; (i) a
repercussão e a legitimidade das Cortes Supremas para criar direitos constitucionais; (ii) os
impactos administrativos, orçamentários e jurídicos da atuação política de magistrados, que
interfere na dinâmica do Poder Executivo; ou, então, (iii) a tendência de se politizar a busca
jurídica por direitos sociais, via sistema judiciário. Werneck Vianna (1999), por exemplo,
destaca que, em torno do Poder Judiciário, tem se formado uma nova arena pública como
uma alternativa para a solução de conflitos coletivos. Para Raúl-Enrique Rojo (2004), a
judicialização dos conflitos sociais traduz a tendência de se recorrer a soluções jurídicas
quando todos os outros meios de obtenção de direitos se mostram deficitários.
O que pude observar, a partir da etnografia e do olhar de diversas lideranças do
Cajueiro e de seus mediadores ou aliados, parece contribuir para complexificar os debates
sobre o suposto “fenômeno” e os efeitos extrajudiciais e marginais do Estado e do sistema
jurídico contemporâneo, especialmente diante do ritmo desenvolvimentista novamente
embalado no Brasil e na América Latina. Ao mesmo tempo, parece contribuir para pensar
nas atuais implicações da “judicialização” e seus usos nos casos de conflitos
socioambientais. Havia um fenômeno que colidia e contrariava completamente as noções
sobre as quais se assentam, desde o século XVII, a racionalidade e funcionalidade do
Estado e do Direito modernos mas que, também, não poderia ser uma judicialização, se
essa fosse compreendida meramente como ampliação da discussão política para o
Judiciário.
Para tentar compreender esse fenômeno, tão naturalizado por meu senso comum e
trajetória, procurei:
encarar as práticas nativas (discursivas e não discursivas), sobre os processos políticos dominantes, como verdadeiras teorias políticas produzidas por observadores suficientemente deslocados em relação ao objeto, para produzir visões realmente alternativas e usar essas práticas e teorias como guias para análise antropológica. Em suma, em lugar de abordar a política em si mesma e por
si mesma, tratar-se-ia, nos termos de Michel Foucault (1980, p. 101-2), de tentar decodificá-la por meio de filtros oriundos de outros campos sociais (GOLDMAN (2003, p. 468-469).
Com isso, dando autoridade teórica às lideranças e moradores do Cajueiro que
participaram da luta em defesa do território e alguns mediadores, passei a identificar
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interstícios ou “falhas tectônicas”, margens espaciais e sociais desse mesmo Estado, as
quais contempladas nos lugares nos quais a lei não se impõe, se distorce ou se concretiza
extrajudicialmente (DAAS; POOLE, 2008), sob o respaldo ou “escudo” do desenvolvimento.
Sob o pretexto desta “ordem e justificadora” ou do desenvolvimento como “sonho difuso e
universal”, ocorrem práticas que, à luz de Foucault (2008), Agamben (2004) e Radomsky
(2015) seriam exercício do biopoder e configurações de estado de exceção por parte dos
governos. A Antropologia também aportou contribuições significativas para a compreensão
do fazer e transformação do estado, sua performance e produção de efeitos.
A seguir, procuro apresentar e analisar, etnograficamente, alguns fragmentos de
relatos dos moradores e episódios do confronto político (McADAM, TARROW, TILLY, 2009),
bem como as estratégias da empreendedora WPR e do governo do estado do Maranhão.
II. 1. O olhar dos moradores
Quando chegou ao Cajueiro, em junho de 2014, a empreendedora WPR São Luís
Gestão de Portos e Terminais Ltda. (WPR) causou espanto entre vários os moradores. A
empresa ameaçava, com milícia armada, os moradores e os acusava de “invasores”. Uma
das lideranças locais, o Sr. Clóvis Amorim, procurou algumas instituições que pudessem
apoiar a defesa das famílias e fornecer informações:
O negócio é o seguinte: essa reunião aqui tem muito a ver com o que está acontecendo com nós aqui, da comunidade do Cajueiro, e eu queria saber do senhor [oficial da Capitania dos Portos], assim, vagamente, o que faz essa empresa que tá aqui, dizendo pra nós que vai tirar nossos direitos aqui da terra, dizendo que vai construir um porto aí? Queria saber do senhor o seguinte: o que tem lá de pedido para porto? Se é autorizado fazer porto? O que que já foi feito? O que que elas têm que fazer para que venha cumprir? (questionamento do Sr. Clóvis ao oficial de porto da Capitania dos Portos, durante a reunião realizada no Cajueiro, em 20.09.2014. Gravação e transcrição de audio).
A Comunidade é situada no sudeste da Ilha do Maranhão, em São Luís – MA e é
dividida em seis localidades: Sol Nascente, Terreiro do Egito, Guarimanduba, Andirobal,
Parnauaçu e Cajueiro. Na região do Parnauaçu – local de interesse direto para a pretensa
instalação do terminal portuário da empresa WPR –, a beleza da praia e dos mangues
contrastava com um o efeito desolador, de ruínas e incêndios de casas. Em diversos locais
estava afixada uma placa avisando “Acesso Restrito - Propriedade particular. Proibido:
novas construções e entrada de caminhões sem prévia autorização”. Os moradores se
recolhiam dos quintais para o interior de suas casas ao verem nossos carros. As casas
estavam numeradas pela a empresa, com códigos que pareciam determinar “o destino” de
cada família. A violência estava estampada nas paisagens das ruínas, casas, roças e
árvores incendiadas e no olhar das pessoas, que nos acompanhavam, por brechas de
portas e janelas.
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Segundo o relato do Sr. João Germano, conhecido como Sr. Joca, antigo
morador e liderança do Cajueiro, a empresa só conseguiu a “liberdade” para invadir o
Cajueiro porque mentiu, falando em nome do Estado:
Eles chegaram entrando na nossa área sem pedir licença e autorização e nós tivemos um fracasso nessa parte porque demos a liberdade para eles entrarem, né? Porque eles disseram que era só pra fazer uma medição, uma análise da terra e que isso era um serviço do Estado. Já chegaram mentindo, desde o começo (Transcrição da entrevista concedida por Sr. Joca à repórter da TV Assembleia, durante a reunião ocorrida na União dos Moradores, no Cajueiro, em 30.10.2014).
Na reunião, os relatos dos moradores foram confirmando que estes não sabiam
bem quem era a empresa responsável pelo porto. Os agentes que agiam em favor da WPR
apresentaram-se, primeiramente, por intermédio de funcionários da sua consultoria
ambiental (Urbaniza). Em seguida, mudaram a estratégia de comunicação e alegaram
serem representantes do Estado, responsáveis por levantar dados das famílias que seriam
beneficiadas por uma ação de governo. Por fim, revelaram ser os funcionários de uma
empresa que seria a “real proprietária do Cajueiro”, de uma área de aproximadamente dois
milhões e um metros quadrados, o que incluiria o Parnauaçu. Confira-se a seguir, um dos
relatos, feito por Dona Diná, antiga moradora desta região:
É o seguinte que tá acontecendo comigo: veio negociar a Urbaniza Engenharia. (...) Primeiro, ela veio fazer a medição comigo, eu não dei atenção, mas ela falou que estava fazendo um benefício pelo estado. Não sabia pra quem ela estava trabalhando, não ia dar meu documento, perguntou quantas pessoas tem, e tudo bem, foi embora. Depois, ela passou, pedindo meu documento de conta porque ela ia fichar a gente. Aí, quando, na volta, não sei se passou mês, ela passou, dizendo que era para a gente desocupar. Era 40 mil que ela ia dar na nossa casa, tá entendendo, e mais nada. E eu perguntei: e o benefício? Disse não, nós lutamos! Aqui trabalha eu, meu marido, meus filhos. Sou mãe de treze filhos. A mais velha morreu, deixou três netos para eu criar. E hoje, nós vivemos era na pesca, trabalhando de lavoura na roça. Hoje eles chegam, dizendo que vão derrubar tudo, nós não temos direito a nada, aqui eu faço farinha, tenho jaca, manga, acerola, banana, tudo nós temos lá em casa, nós criamos, e eles vieram agora. Como nós não vamos negociar?! Ele não voltou. Eu disse olha, não dá de nós sair. Eu não vou sair com esse dinheiro daqui não. Eles voltaram depois com nova proposta, com outros que já negociaram. Mas nós paramos. O que aconteceu? Aí veio dizendo que nós não podia fazer mais nada. E veio o Promotor que não podia fazer nada. E eu ia fazer uma casa, que é no mesmo local, dentro do meu terreno. Foi fazer a casa. Agora, faz três dias que meu filho já tava começando, aí vieram com esse papel aqui [uma notificação da Promotoria de Justiça Especializada em Conflitos Agrários]. Ele veio com 3 deles seguranças: que tu vai fazer aí? Que tá pensando que vai fazer? Isso aí é teu? Disse, tô terminando, vou fazer. Aí, no dia que ele levantou, eles ficaram lá, até 12 horas lá, só na cerca. Aí eu disse: menino, sai daí, não gosto de estar trabalhando e homem tá me olhando. Fica lá – um bocado de homem – lá do lado de fora da cerca. No próximo dia, chegaram xingando, xingando mesmo. Um veio calmo, o outro veio pra nós, tu é invasor, invasor... Invasor?! 35 anos! 35 anos de moradia aqui! 35 anos de moradia aqui! De moradia! E 71, meu marido, como é que é? 81 e nós somos invasor?! E ainda pra polícia... Não, vocês são invasor, são invasor! Menino, isso é muito importante, nós somos invasor?! E foi aquela confusão. Eles agredindo o meu filho dentro do meu terreno. (...) No outro dia, ouvi falar na delegacia do idoso, eu fui, tava lá, chegou de lá o menino passou e viu: Vó, eles tão cortando a cerca! Essa criança aqui viu, e eles tavam lá com facão cortando. (...) Eles dizem: mais um terreno que nós ganhamos, mais um terreno que nós ganhamos! E com facão na mão. (...) Então, eu vô vivendo violência em cima de mim. 35 anos trabalhando na luta ali e eles vir dizendo que sou invasor e vindo pra expulsar a gente! E eles passam e diz: “tem gente que deve sair porque o trator vai passar!” E nós vamos esperar... (manifestação de D. Diná em reunião realizada na Comunidade do Cajueiro, em 20.09.2014).
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D. Diná narra a dinâmica violenta da chegada da empresa e as ameaças e
agressões àqueles que não estavam dispostos a aceitar as propostas de compra das terras,
como é o caso desta família. Os jagunços da empresa cercavam a casa e impediam novas
roças e construções. E, ainda, criminalizavam os moradores tradicionais como invasores de
terras. Veja-se que, desde o início, os jagunços já ameaçavam derrubar a casa da família
com um trator, o que, como veremos, acabou ocorrendo 3 meses depois...
Já nessa ocasião, esta e outras famílias haviam sido ludibriadas em seus
direitos pelos representantes da empresa. Estes exibiam uma notificação da 38ª Promotoria
de Justiça da Capital, Especializada em Conflitos Agrários, a qual informava sobre a
instauração de um procedimento de investigação criminal envolvendo a Comunidade do
Cajueiro. Como o documento falava, também, sobre o interesse de um “proprietário da área”
para a “instalação de empreendimento industrial” e notificava a comunidade a “se abster de
qualquer intervenção ou construção”, esta Notificação fora usada pela WPR como se fosse
uma ordem judicial de embargo às construções e roças pelos moradores. Com isso, a
insegurança de fato somava-se, então, à insegurança jurídica da população local...
Posteriormente, descobriu-se a empresa WPR faria parte do grupo WTORRE e
teria sido recém constituída, em 26.09.2013, com sede em São Paulo - SP, com um capital
social que integralizava dez mil reais para gerir um projeto de terminal portuário que requeria
o investimento de oitocentos milhões de reais.
Apesar de a empresa se apresentar como a empreendedora privada do referido
terminal portuário e logístico, hoje se sabe que há diversas outras empresas – do ramo da
produção de grãos, celulose, fertilizantes e combustíveis líquidos – interessadas no
empreendimento, tal como a Suzano Papel e Celulose e a Petrobrás (MOREIRA, 2015). A
empresa Suzano, inclusive, intentara, poucos anos antes, constituir a sede do seu porto
privado na mesma localidade, valendo-se de vários métodos, manobras políticas e jurídicas
similares aos da WPR, para adquirir e controlar o território. No entanto, segundo informantes
(que, por segurança, mantenho anônimos), esta empresa teria “desistido” de seu intento, ao
perceber o risco financeiro e “social” que ameaçaria a manutenção do seu “selo verde” e sua
imagem empresarial frente às agências financiadoras e ao mercado internacional e diante
da constatação de que enfrentariam uma forte resistência, por parte das populações
tradicionais locais, as quais, com uma organização histórica, já haviam impedido a
instalação de um grande polo siderúrgico na mesma região. Segundo esses mesmos
informantes, por este motivo, a empresa optara por “apoiar” anonimamente uma nova
empresa vinculada ao grupo WTorre e utilizar o porto privado desta empresa para o
escoamento da produção de sua celulose.
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A área que, documentalmente, apresentava-se como comprada pela WPR,
estava matriculada sob o nº 30.952, no 2º Cartório de Registro de Imóveis de São Luís.
Nesse mesmo cartório, anos antes da compra e registro, já estava matriculado um título de
propriedade coletiva concedido pelo ITERMA, em 1998, aos moradores do Cajueiro. A
descrição do perímetro, das coordenadas cartográficas e referências de recursos
geográficos confrontantes com o terreno “adquirido” pela empresa pareciam não ter nexo...
Na matrícula do imóvel, usada no licenciamento ambiental, falava-se em uma área
correspondente ao terreno situado em São Benedito do Cajueiro (região distante da praia),
mas, em seu discurso, a WPR alegava ser proprietária de terreno que abrangia o
Parnauaçu, abrangendo a zona litorânea, onde pretendia instalar o porto. Ao ler a matrícula
de propriedade do imóvel da WPR, o Sr. Clóvis, liderança do Cajueiro, profundo conhecedor
do seu território, não se conformava porque a empresa queria edificar na área da praia, mas
as coordenadas de sua matrícula se referiam a uma área do Cajueiro onde se situa o
Terreno do Egito e um vasto manguezal. A liderança chegara a advertir o sócio da WPR de
que ela havia sido “enganada” ao comprar o seu terreno: “É o mangue que consta, de um
jeito grosseiro, no documento de vocês. Quem vendeu pra vocês, vendeu mangue, não
vendeu terra (...) Eu tô dizendo... erro no documento que vocês compraram. Erro geográfico”
(Transcrição de gravação da conversa entre Sr. Clóvis e representante da WPR, durante
reunião realizada na SEDINC, em 04.12.2014).
Para dar aparência de regularidade dessa propriedade, a WPR apresentou no
processo licenciatório ambiental e em processos judiciais, mapas que não condiziam com o
descrito na matrícula de imóvel nem com o atual Zoneamento Urbano do município (Zona
denominada como Z-13). O mapa apontava, então, para a propriedade de um terreno no
Parnauaçu – ainda não adquirida pela empresa - e, ainda, simulava um projeto de porto
instalado em uma “zona portuária” que ainda não fora instituída ou alterada pela Lei de
Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo do Município de São Luís vigente.
Ademais, a WPR e o Estado desprezam o fato de a área do Parnauaçu
(Cajueiro) fazer parte do território da reserva extrativista (RESEX) de Tauá-Mirim, aprovada
pelo governo federal em 2007, que aguarda apenas o Decreto presidencial para a sua
institucionalização oficial. Essa RESEX já foi decretada, de fato, por lideranças das
comunidades locais, as quais instituíram um conselho gestor provisório e que vêm atuando
para o consenso de normas de manejo, uso e gestão próprias. O ICMBio sequer é ouvido ou
consultado no processo de licenciamento ambiental na área, o qual vem sendo realizado
pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão (SEMA).
Um dos mais graves episódios de “fraude” no uso de documentos jurídicos pela
WPR à Comunidade do Cajueiro ocorreu, em 18.12.2014, às vésperas do Natal. Nessa
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ocasião, a WPR demoliu, com um trator, 21 (vinte e uma) casas de moradores locais, sem
que houvesse qualquer ordem judicial de demolição para tanto. E, ainda, descumpriu uma
decisão judicial vigente (liminar, atualmente confirmada por sentença), que resguardam a
posse, o modo de vida e o direito de construção das famílias do Cajueiro. Uma situação de
grande repercussão foi a derrubada da casa que estava sendo erguida por Daniel, filho de
Sr. Joca e D. Diná, e a violência sofrida pelas filhas dele, na época, com 9 e 10 anos. O
caso nos foi assim relatado por um vizinho:
Rapaz, é revoltante... A pessoa, nessa idade, trabalhando, guardando dinheiro... Tá lá, a família dele, as crianças, a filha dele... uma delas desmaiou, não dá pra acreditar. As crianças assistindo... Imagina o trauma das crianças... Eles são covardes porque, veja bem, 9, 10 horas, não tem nenhum pai de família dentro de casa, está todo mundo trabalhando. Então, eles pegam esse horário, que está desguarnecido, só tem as mulheres e as crianças, e aí eles destroem... Tanto tempo guardando pra sair de uma casa de barro, taipa, que já está toda pra cair, para ir para uma de tijolo... Sinceramente, se eu tô em casa, eu saía de lá morto ou preso... Porque gente, é uma casa. Casa tem um valor muito maior que qualquer coisa, é onde guarda sua família, sua esposa, seus filhos... É o sonho de todo o ser humano. Era um Natal que ia ser o melhor Natal, porque eles estavam na casa deles...
A fala desse morador expressa a descrença do Estado ou da polícia como
defensores de seus direitos; pior, para os moradores, essas instituições atuariam, no
máximo, na sua criminalização. Para o morador, parece haver apenas a opção de auto-
defesa ou exercício das próprias razões, a fim de defender-se a si mesmo e à sua família, e,
como conseqüência, sair desse combate ou “morto ou preso”...
Segundo alguns informantes, nesse dia, no meio da manhã, um oficial de justiça,
acompanhado por um policial militar, apresentou-se à tesoureira da União dos Moradores e
indagou se ela sabia de alguma ordem judicial para a derrubada de casas. Ela negou. O
oficial, sem ler a decisão, entregou a ela um documento. O teor da decisão, depois, fora
identificado, pelos advogados do movimento social como um “interdito proibitório” para
futuras construções (sem o condão de afetar construções pré-existentes). E mais: este
interdito era juridicamente nulo, pois contrariava liminar anterior que respaldava o livre
direito de posse dos moradores e, também, porque fora deferido por um juiz que,
normalmente responde pela Vara de Trânsitoi. Esse “Juiz de Trânsito”, segundo portaria do
TJMA, tinha sido provisoriamente nomeado para atuar como substituto em Vara Cível, mas,
segundo portaria do Conselho Nacional de Justiça, estava afastado desta na data em que
deferiu o “interdito proibitório”. Em outras palavras, tratava-se de uma decisão nula, que
tentava alterar matéria já julgada, e era concedida por juiz absolutamente incompetente...
Ainda, segundo o relato de moradores, a derrubada da primeira casa teve a escolta de um
carro do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Estado.
Em reunião da comunidade, um dos líderes grita: “A gente tem que saber o que
está acontecendo, porque nós vamos tirar por lei ou por marra esse pessoal aqui de
dentro... porque não dá mais para a gente viver do jeito que está”. Outro morador
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complementa: “A gente não pode deixar que essa empresa chegue desse jeito, derrubando
as casas de moradores que estão aqui há mais de 80 anos, sem ter, sequer, documento
para isso” (transcrição de caderno de campo da fala de lideranças, que mantenho anônimas,
em reunião realizada no Cajueiro, em 21.12.2014).
A família de Daniel e Adriana, sua esposa, está entre as que tiveram a casa
derrubada pela WPR, às vésperas do Natal. A seguir, apresento o depoimento, registrado
em vídeo, da filha de Daniel, na época, com 9 anos, que presenciara e tentara impedir a
derrubada da casa pela WPR, juntamente com sua irmã, cerca de 1 ano mais velha. A
criança pediu para os pais filmarem, com o celular, o que ela gostaria de contar, para que
“todo mundo soubesse quem é a WPR” e o que a empresa fez com a família dela. Este
vídeo, com o depoimento da menina Daniele, está disponível no blog “Cajueiro Resiste”, no
youtube e facebookii. Confira-se a transcrição:
Meu nome é Daniele e eu queria falar da empresa WPR. Ela é uma destruidora de sonhos. Eu, minha irmã e minha família queríamos ter um sonho de ter uma casa. Eu moro em uma casa emprestada da minha avó e que está quase pra cair. Esse material [mostra os escombros da demolição] é da casa do meu pai [começa a chorar e soluçar]... que ele estava fazendo com uma felicidade. E uma máquina que a WPR contratou veio destruir muitas casas aqui [soluça, chorando].... inclusive a minha. [soluça, chorando] Quando a gente ouviu o barulho minha irmã começou a chorar [chora muito e mal consegue falar]... e aí, com uma gritaria, ela desmaiou [chora muito, torce as mãos]... e não teve como impedir da casa ser derrubada. [chora e cruza os braços, desprotegida]. Bom, o que eu queria mesmo, o meu sonho, é de ter uma casa nova, porque a WPR destruiu a minha [chora]. É só isso.
A imagem da derrubada da casa, vista como a demolição do “sonho” de uma
criança é impactante, assim como o sentimento de injustiça e de impotência delas diante da
empresa e seu trator. As crianças, desesperadas, tentaram colocar-se a frente da casa para
protegê-la, mas com o avanço do trator sobre elas, a menina mais velha desmaiou.
Durante toda a minha pesquisa, ouvi denúncias de moradores que afirmavam
que a WPR exercia, permanentemente, atos violentos e “boatos” marcados por “mentiras”
para conseguir a imediata desocupação pelos moradores da área. Pior: isso ocorria
independentemente das decisões judiciais que protegiam e reconheciam a posse legítima
dos moradores do Cajueiro. Sobre isso, quase dois anos depois da chegada da WPR, o
vice-presidente da União de Moradores, ainda reiterava o seu alerta à Comunidade:
O que eu quero dizer é que eu não to acreditando no que a empresa esta colocando aqui dentro do lugar, o que a empresa, pra mim, o que ela fala, pra mim é mentira. Nada acontecido, nada legal (...) eu quero dizer pro meus vizinhos do Cajueiro, é que se, futuramente, nós viermos sair daqui, mas não é agora, e não é, também, com esses desesperos de mentiras que a empresa coloca aqui dentro, nas mente e nos pensamentos dos moradores aqui. (Manifestação do Sr. Davi, na audiência popular realizada na União de Moradores, no Cajueiro, em fevereiro de 2016)
Como se vê, esta liderança se refere à comunicação promovida pela WPR na
comunidade com as expressões “mentira”, “nada acontecido”, “nada legal”, “desesperos de
mentiras colocados na mente dos moradores” e que envolviam, muitas vezes, questões
judicializadas. Com essa comunicação, o fato ou mero boato sobre o fato, embora
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inexistente, acabava se transformando em direito; e vice-versa: o direito, mesmo inexistente
ou não declarado, poderia ter os efeitos de reverberar como fato, suspendendo ou alterando
a rotina, a compreensão e a livre decisão por parte dos moradores. Eis que se
retroalimentam a insegurança ou “desespero” de fato, que se consumam como “insegurança
jurídica” permanente às famílias do Cajueiro...
Segundo informantes, até mesmo as casas não negociadas estavam sendo
plaqueadas como sendo “propriedade da empresa”. Esta mentira sob uma condição jurídica
intimidava os moradores, os desunia, causava ganâncias e especulações por valores; dava
a aparência de que “aqueles que estavam na luta já haviam se rendido”. Ainda, houve casos
de ex-funcionários ou agentes públicos, notórios do governo, desligarem-se de seus cargos
públicos e começarem a trabalhar para a WPR, mas, não esclarecerem essa “nova
condição” à Comunidade, confundindo-a sobre a condição desses agentes. Não bastasse
isso, por vezes, alguns oficiais da polícia civil e militar também acompanharem os
representantes da WPR no Cajueiro.
III. CONCLUSÃO
No caso do conflito socioambiental do Cajueiro, o “desenvolvimento” como
palavra de ordem, ou como diretriz para a atuação de agentes políticos e econômicos em
disputa, amplia e reforça a politização do Estado e do sistema Judiciário. Porém, os efeitos
repercutem muito além dos campos político ou jurídico. Ao olhar para o processo de
“judicialização” desse conflito – para além do sistema judiciário –, percebo que existe um
amplo espaço – ou interstício –, marginal e violento, no qual os poderes político e
econômico se conjugaram. Ambos agindo, revestidos da aparência de jurídica e do discurso
desenvolvimentista, ganham uma espécie de bipoder (FOUCAULT, 2008) “extra-estatal”.
Este conjugado e refinado “biopoder extraestatal” dá aos agentes políticos e econômicos
interessados no terminal portuário a gerência e o controle da vida e dos direitos das famílias
do Cajueiro. Ele também abre margens para exceções ou sacrifícios de direitos. Mas,
principalmente, ele concede aos agentes e corporações econômicas poderes sobre a ordem
jurídica e sobre a violência que incidirão no Cajueiro.
Nesse interstício ou espécie de “conjugação de biopoder extraestatal”,
juntamente com o Estado, os agentes econômicos interessados no porto passam a exercer
a violência sobre os corpos dos moradores, o controle sobre o modo de vida e a jurisdição
“sobre o direito existente ou desconstituído” no conflito. Mas, também, forjam realidades,
revestidas sob a aparência jurídica e garantidas pela violência simbólica (BOURDIEU, 1999)
do Estado e do Direito.
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Os efeitos dessa apropriação e manipulação, reforçados pela capacidade de
dominação e exclusão de acesso ao próprio campo jurídico, se refletem para algumas
famílias do Cajueiro em impactos – psicológicos, comunitários, familiares, éticos, sociais,
culturais, mobilizatórios, midiáticos, de construções de argumentos, repertórios, acesso a
redes de aliados etc. – que acentuam o conflito socioambiental e dificultam ainda mais a
resistência civil e comunitária ao projeto desenvolvimentista. Grande parte da luta impingida
por algumas lideranças e famílias da Comunidade desloca-se para um aparente campo
“jurídico”, restrito em linguagem e acessibilidade e marcado por forte dominação simbólica
(BOURDIEU, 1999; FOUCAULT, 1999).
Todavia, nesse contexto de margem e interstício, as lideranças e mediadores
que atuam em favor do Cajueiro, além de buscarem “ativistas jurídicos”, também recorreram
aos espaços não-institucionais ou jurídicos para o confronto político. Eles ocuparam a
rodovia BR135, prédios públicos, protestavam nas ruas e criavam fóruns de debate popular.
A construção do processo de “judicialização” significava o fôlego para a luta mas, também,
ajudava a dar visibilidade para os riscos e violências sofridos pelas famílias locais.
No Cajueiro, a trajetória do processo de judicialização é marcada por efeitos da
“verdade criada”, ratificada em nome do desenvolvimento e violentamente legitimada como
“ato jurídico” ou “aparência jurídica” para tentar se acelerar e facilitar o violento
deslocamento compulsório de famílias, com o respaldo dos governos, independentemente
das decisões judiciais incidentes sobre o caso. Com base nesse caso, venho propondo que
os efeitos da “politização” sejam estudados em suas amplas repercussões, além do campo
jurídico ou político, contribuindo para a compreensão antropológica do Estado
desenvolvimentista e das dinâmicas atuais de confronto, em casos de conflitos
socioambientais.
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i A decisão fora proferida, em 05.12.2014, por José Eulálio Figueiredo de Almeida, Juiz de Direito, Titular do Juizado Especial de Trânsito, o qual fora nomeado para responder junto à 8ª Vara Cível somente nos dias 01 e 02 de dezembro. Ação: Interdito Proibitório nº 46813-44.2014.8.10.0001 proposta pela WPR contra a associação civil União do Bom Jesus do Cajueiro ii https://www.youtube.com/watch?v=G6p4vy7k0f4. Menina do povoado Cajueiro, em São Luís, chora e lamenta depois de ter casa derrubada por empresa. 23.12.2014. Acesso em 10.08.2016. ; https://www.facebook.com/resextaua/videos/vb.179946215353086/974621335885566/?type=2&theater e http://cajueiroresiste.blogspot.com.br/